apostila - neuroteologia

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NEUROTEOLOGIA 1 INSTITUTO ROBERTO DOS SANTOS Centro de Estudos e Pesquisas Avançadas Teologia. Filosofia. Educação. Direito.Psicanálise NEUROTEOLOGIA Prof. Dr. Roberto dos Santos, PhD Doutor em Filosofia, Cambridge Doutor em Estudos Religiosos, Friends University Doutor Honoris Causa em Letras, Jerusalem University Mestre em Educação, UEP Especialista em Docência Superior, Universidade Gama Filho

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Page 1: Apostila - Neuroteologia

NEUROTEOLOGIA 1

INSTITUTO ROBERTO DOS SANTOS

Centro de Estudos e Pesquisas Avançadas

Teologia. Filosofia. Educação. Direito.Psicanálise

NEUROTEOLOGIA

Prof. Dr. Roberto dos Santos, PhD

Doutor em Filosofia, Cambridge

Doutor em Estudos Religiosos, Friends University

Doutor Honoris Causa em Letras, Jerusalem University

Mestre em Educação, UEP

Especialista em Docência Superior, Universidade Gama Filho

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Teólogo. Psicanalista. Pedagogo

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Capítulo 1

NEUROTEOLOGIA

"Neuroteologia", também conhecida como Bioteologia ou Neurociência Espiritual é o estudo da base neural da espiritualidade e emoção religiosa. A meta da Neuroteologia está em descobrir os processos cognitivos que produzem experiências espirituais ou religiosas e relacioná-las com padrões de atividade no cérebro, como elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas experiências .

"Neuroteologia", também conhecida como Bioteologia ou Neurociência Espiritualé o estudo da base neural da espiritualidade e emoção religiosa. A meta da Neuroteologia está em descobrir os processos cognitivos que produzem experiências religiosas e relacioná-las com padrões de atividade no cérebro, como elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas experiências para o ser humano.

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Áreas de estudo da Neuroteologia

Existem varias áreas de estudo dentro da neuroteologia. Algumas delas sao:

Estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir essas experiências (alguns chamam esta área de Neuroteologia evolutiva)

Estudo do desenvolvimento espiritual na criança e sentido de Deus,do nascimento ate a infância (alguns chamam esta área de Neuroteologia desenvolvimental)

Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça humana por toda a história, e de ancestrais de humanos como o homo erectus, e outras espécies como o neanderthal (alguns chamam esta área de Neuroteoantropologia)

Estudo do comportamento religioso de primatas e outros mamíferos (alguns chamam esta área de Zooneuroteologia)

História e Metodologia de estudo

Ciêncistas há muito tempo têm especulado que sentimentos religiosos poderiam estar ligados a lugares específicos no cérebro. Um dos mais antigos escritos sobre o assunto datam de 1892 nos quais alguns textos sobre doenças cerebrais falavam de uma ligação entre "emoção religiosa" e epilepsia.

O MRIscanner e um instrumento que ajuda a estudar o cerebro em funcionamento. E um instrumento de grande ajuda a Neuroteologia.

Em estudos na década de 1950 e

de 1960, foram tentados o uso de EEGs para estudar o comportamento das ondas cerebrais relacionado com estados espirituais. Em 1975, o neurologista Norma

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Geschwidn descreveu pacientes epilépticos com intensa experiência religiosa.

Durante a década de 1980s o Dr. Michael Persinger estimulou o lobo temporal de pacientes humanos com um campo magnético fraco usando um equipamento que ele chamava de capacete de Deus (God helmet). Os pacientes relataram ter a sensação de "uma presença celestial no quarto". Esse trabalho ganhou atenção na época, mas não foi explicado o mecanismo que causava esses efeitos. Em 1987, Michael Persinger publicou um

livro sobre o assunto intitulado "Neuropsychological Bases of God Beliefs".

Numa tentativa de focalizar o crescente interesse no campo, em 1994, o professor Laurence O. McKinney publicou o primeiro livro com o termo neuroteologia no título: "Neurotheology: Virtual Religion in the 21st Century" (Neuroteologia: Religião Virtual no Século XXI), escrito para uma audiência leiga. O livro ganhou grande interesse de pessoas como o Dalai Lama e o eminente teólogo Harvey Cox.

Um livro de 1998 sobre o assunto ganhou muita atenção foi "Zen and the Brain", escrito pelo Neurologista e Praticante de Zen, James H. Austin.

No final da década de 90, os neurocientistas Andrew Newberg e Eugene d’Aquili usaram varias tecnicas de neuroimagem em budistas experientes em profunda meditação, e nos anos subseqüentes fizeram testes em freiras enquanto estavam rezando. Andrew Newberg e Eugene d’Aquili escreveram vários livros sobre o assunto:

em 1999, "A mente mística : entendo a biologia da experiência religiosa"

em 2002, "Porque Deus não quer ir embora: Ciência do cérebro e a biologia da crença".

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em 2006, "Porque acreditamos no que acreditamos:

Descobrindo sobre nossa necessidade biológica por significado, espiritualidade e verdade"

em outubro de 2007, "Nascidos para acreditar: Deus, Ciência, e a origem da crença ordinária e extraordinária".

Alguns recentes estudos com o uso de neuroimagem para localizar as regiões no cérebro ativas durante experiências que os pacientes associam como espiritual. David Wulf, um psicólogo da Wheaton Universidade de Massachusetts, disse que o "estudo de

imagens do cérebro com os novos e poderosos aparelhos de neuroimagem como o MRIscanner (imagem), junto com a consistência do histórico de experiências espirituais por várias culturas, pela história e por religiões, sugerem um ponto em comum , e que isso reflete a estrutura e processos no cérebro humano. Ecoando antigas teorias de que sentimentos associados com experiências místicas ou religiosas são aspectos normais do funcionamento do cérebro sob circunstâncias extremas, e não comunicação direta com Deus ou outras entidades."

Alguns cientistas dizem que a neuroteologia pode reconciliar religião e ciência, mas, se não conseguir, a neuroteologia pode desevolver métodos seguros e precisos de indução a experiências espirituais para pessoas que nao conseguem tê-las facilmente. Por causa dos efeitos positivos que essas experiências causam em pessoas que já a tiveram, alguns cientistas especulam que a habilidade de induzí -las artificialmente pode tranformar a vida de algumas pessoas, tornando-as mais felizes, saudáveis e com melhor concentração.

"Gene Divino"

A hipótese do gene divino propõe que alguns seres humanos carregam um gene que lhes dão a predisposição para episódios interpretados por algumas pessoas como revelação religiosa. A idéia foi postulada e promovida pelo geneticista Dr. Dean Hamer,

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diretor da Unidade Estrutura do gene e regulação , no Instituto

nacional do câncer nos Estados Unidos . Hamer escreveu um livro sobre o assunto intitulado, O gene divino : Como a fé e pré-programada dentro dos nossos genes . (The God Gene: How Faith is Hardwired into our Genes)

De acordo com a hipótese, o gene divino (VMAT2), não é “codificado” para a crença em Deus, mas é arranjado fisiologicamente para produzir sensações associadas, por alguns, com a presença de Deus ou outras experiências místicas, ou mais especificamente espiritualidade como um estado da mente.

Que vantagens evolutivas isso pode levar, e de que esses efeitos vantajosos são efeitos colaterais , são questões que ainda estão para serem totalmente exploradas. Dr. Hames teorizou que a transcendência faz as pessoas ficarem mais otimistas, o que leva elas a ficarem mais saudáveis e com mais probabilidade de terem muitos filhos.

Principais dúvidas dentro da Neuroteologia

A oração pode levar a pessoa a ter emoções religiosas, como a sensação de estar em contato com Deus.

Evolução - Porque e como as

experiências espirituais surgiram? Idade – Pode-se relacionar o desenvolvimento da crença

“religiosa” (crença no sobrenatural e/ou pós-morte ou crença em Deus) com o desenvolvimento do cérebro na criança? Existe alguma relação neurológica com o fato de que a maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias nos seus 30 anos?

Doenças Mentais – Pode se mapear a relação entre comportamento religioso em pessoas com doenças mentais como esquizofrenia, com o comportamento

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religioso normal nos fatores neurológicos de determinada

doença mental? Alucinógenos e Enteógenos – Pode-se relacionar o

comportamento religioso que surge sob a influência de alucinógenos com o conhecimento do efeito neuroquímico dessas substâncias?

Sexo – Como homens e mulheres diferenciam-se em crença e comportamento religioso, e se podemos estabelecer uma relação entre os dois e como o cérebro se diferencia em estrutura?

Sonhos - Qual é a relação entre experiências de Deus ou sobrenatural enquanto a pessoa esta dormindo e enquanto a pessoa esta acordada e a diferença nos preocessos neurológicos nos dois estados?

Hipnose – A crença religiosa é uma forma, ou compartilha mecanismos com a hipnose?

Musica - Cerimônias religiosas quase sempre envolvem música, e música pode gerar sentimentos religiosos, provando que a neurologia da música pode dar insight na neuroteologia.

Genética – Em adição aos aspectos Histórico-Cultural, e às idéias transmitidas, que são base para a religião, podem haver fatores genéticos específicos também, como aqueles que podem predispor certas pessoas para o comportamento e crença religiosa?

Espécies – Pode-se relacionar a diferença entre o comportamento religioso dos primatas avançados e de humanos primitivos com os dos humanos modernos, com o nosso conhecimento de como nosso cérebro evoluiu em cima dos deles? (neurozoologia)

Definindo e medindo a espiritualidade

Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para aquelas experiências, que são popularmente chamadas de "espirituais" religiosas, ou místicas ou outros termos para formas

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anormais de cognição, que quase sempre envolvem um ou mais dos seguintes itens:

União com o universo A sensação de que o tempo, medo ou consciência do "eu"

se dissolveram Encontro com Deus ou alguma entidade "superior" Êxtase Iluminação Estados alterados de consciência

Essas experiências são vistas como base de diferentes formas de religião e crenças e comportamentos.

Eventos que podem causar experiências espirituais

Meditação Oração Rituais religiosos Experiências de quase morte Exercícios de respiração Música Dança Jejum prolongado Consumo de substâncias psicoativas (Como DMT, Salvia

divinorum, Peiote e várias outras).

Partes do cérebro relacionadas a experiências espirituais

Lobo frontal em azul; Lobo parietal em

amarelo; Varias partes do cérebro estão relacionada com experiências místicas. São elas: *Lobo occipital em vermelho; Lobo temporal em verde.

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Lobo parietal : diminuição de neuro-sinapses levando a

sensação de união como o universo. Lobo frontal : Concentração ampliada (meditação) bloqueia

outros impulsos neurais. Lobo temporal : Ativa intensa emoção , como prazer e

medo Lobo occipital : Processa imagens que facilitam praticas

espirituais (velas,cruzes, etc.)

Livros sobre Neuroteologia

NeuroTheology: Brain, Science, Spirituality, Religious Experience]

Why God Won't Go Away: Brain Science and the Biology of Belief

Why We Believe What We Believe: Uncovering Our Biological Need for Meaning, Spirituality, and Truth

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Capítulo 2

NEUROBIOLOGIA DA RELIGIÃO OU NEUROTEOLOGIA

Uma nova área do conhecimento científico está a dar os primeiros passos em Portugal e no mundo. Provavelmente chamar-se-á: «Neurobiologia da Religião» ou «Neuroteologia». O título Fátima e a Ciência - investigação multidisciplinar das experiências religiosas, integra-se na coleção Ciência e

Consciência e a coordenação científica está a cargo do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência (CTEC), com sede na Universidade Fernando Pessoa, no Porto.

Fátima e a Ciência... é um estudo que se pretende «inovador, enriquecedor e não-dogmático», sendo que o objetivo central, é «identificar as zonas do cérebro que possam estimular, deliberadamente, as sensações transcendentes». Para os investigadores, «as primeiras sugestões assinalam que as experiências religiosas dependem de 'cada cultura' e que o cérebro criou a necessidade de experimentar o 'mais além' como parte do processo evolutivo humano».

A obra dedica-se com especial acuidade aos fenômenos e experiências pararreligiosas, nomeadamente às «aparições

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marianas», debruçando-se sobre os eventos da Cova da Iria, em

1917, e sobre outras manifestações semelhantes como aquelas registradas em Medjugorge, na ex-Jugoslávia.

O propósito do volume é contrariar a falta de interpelação científica a estas matérias, tradicionalmente «delimitadas ao foro confessional e à crença, no pressuposto de que seriam exclusivas e indignas de observação e reflexão racionais». Estas análises têm colidido com a interpretação católica oficial dos episódios de Fátima.

É importante que estes fenômenos sejam estudados e que seja encontradas explicações científicas para situações em que o homem, só pela via espiritual ou religiosa - no meu entender, não consegue ir além das suas subjetivas respostas.

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Capítulo 3 NEUROLOGIA E ESPIRITISMO

Também conhecida como Bioteologia ou Neurociência Espiritual é o estudo da base neural da espiritualidade e emoção religiosa. A meta da

Neuroteologia está em descobrir os processos cognitivos que produzem experiências espirituais ou religiosas e relacioná-las com padrões de

atividade no cérebro, como elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas experiências.

No início do séc. XX a psiquiatria e a psicologia viam os estudos com as experiências religiosas com indiferença e remeteram as experiências místicas para o quarto escuro do inconsciente, isto é, experiência mística seria o mesmo que desvio mental ou doença mental. Hoje, com as descobertas da neuroteologia, a religião e a fé deixam o quarto escuro do

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inconsciente preconceituoso de outrora para fazer parte das

experiências neurológicas e psicológicas, que apontam para uma interação entre espiritualidade e o cérebro, daí podermos considerar a neuroteologia como uma aproximação da biologia com a fé.

Na década de 90 foi feita uma pesquisa pelo Instituto Gallup, que apurou o seguinte: 53% dos americanos adultos admitiram terem vivenciado um momento súbito de despertar espiritual. No Brasil, o Instituto Vox Populi apurou em uma pesquisa que 99% da população compartilham a crença em Deus. Pelos resultados podemos concluir que as experiências transcendentais não se limitam apenas aos círculos religiosos.

As pesquisas neuroteológicas foram iniciadas nos anos 70 pelo psiquiatra e antropólogo Eugene d’Aquili (já desencarnado). No início da década de 90 d’Aquili se juntou ao radiologista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, que aos 35 anos tornou-se uma das principais figuras da emergente ciência da neuroteologia, que explora as ligações entre espiritualidade e o cérebro.

O radiologista Andrew Newberg submeteu a exames tomográficos o cérebro de budistas tibetanos mergulhados em profunda meditação e um grupo de freiras franciscanas, que rezavam fervorosamente durante 45 minutos.

O resultado da pesquisa mostrou que as imagens do lobo parietal superior acusavam uma queda na atividade dessa região,

que chegava a ficar bloqueada no momento mais intenso, isto é, no momento que o meditador experimenta a sensação de iluminação religiosa. O mais interessante é que essa área do cérebro proporciona ao homem o senso de orientação no espaço e no tempo. Isso levou os pesquisadores a concluírem que, privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo parietal desligariam os mecanismos das funções visuais e motoras do organismo. Isso levou Newberg a dizer: “O sentimento de unicidade parece paralisar os receptores sensórios da região parietal”. Exatamente por isso, o cérebro não consegue traçar

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fronteiras e por isso percebe o “eu” como um ente expandido,

ilimitado e unido a todas as coisas. As imagens dos lobos temporais, na região do “cérebro emocional”, também conhecida como sistema límbico, indicam uma atividade intensa dessas áreas durante as experiências contemplativas.

Para ratificar essas experiências Michael Persinger, da Universidade Laurentian, em Sudbury, no Canadá, inventou uma engenhoca (um capacete) que, através de estímulos elétricos na base do sistema límbico, pode provocar alucinações ou a sensação de estar fora do corpo e o senso do divino.

Os resultados dos testes foram apresentados no livro “Why God Won’t Go Away: Brain Science and the Biology of Belief” (Por que Deus não vai embora: a ciência do cérebro e a biologia da fé”), ainda sem tradução no Brasil.

Allan Kardec esclarece que “a Ciência e a Religião são duas alavancas da inteligência humana” porque “uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral.” Daí conclui que: “Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idéias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.”

Entre as causas de conflito está o reducionismo (“tendência que consiste em reduzir os fenômenos complexos a seus componentes mais simples e a considerar estes últimos como mais importantes que o fenômenos observados”) que é um dos principais argumentos do materialismo; ora, o Espiritismo é o antípoda do materialismo.

O Livro dos Espíritos na questão 367 aborda o tema materialismo e mostra o erro do reducionismo científico:

“Unindo-se ao corpo, o Espírito se identifica com a matéria?

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- A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o

vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual.”

O atributo essencial do ser humano é sem dúvida a inteligência, mas a causa da inteligência não reside no cérebro humano, mas sim no ser espiritual que sobrevive ao corpo fí sico.

A neuroteologia na verdade levantou apenas uma ponta do véu, pois a matéria é como um “vidro muito opaco” que embaça a visão dos cientistas reducionistas. Kardec, comentando a questão 368, esclarece que: “Pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o Espírito a de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos movimentos.”

Na questão 369 Kardec pergunta: “O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?” E os Espíritos respondem com sabedoria: “Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinação ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”

Bem sabemos que a ciência sempre tentou encerrar o Espírito no cérebro, como se ele fosse um prisioneiro, para dissecá-lo e provar que o cérebro é a causa de tudo, mas o Espírito sempre escapa do reducionismo cientificista ileso.

Kardec, conhecedor das idéias de Franz Josef Gall (1758-

1828), médico alemão e anatomista renomado e também fundador da frenologia (“que liga cada função mental a uma zona do cérebro”), pergunta aos Espíritos: “Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?” A resposta não deixa margens para dúvidas: “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”

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Não devemos confundir “alhos com bugalhos!” O Espírito é

a causa e o cérebro a conseqüência.

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BIBLIOGRAFIA: 1. Revista Superinteressante, edição 168, setembro de 2001, págs 98 e 99) 2. Revista Superinteressante, edição 179, agosto de 2002, págs. 58, 59, 60 e 62

3. O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, 110ª edição, tradução de Guillon Ribeiro, 3/1995, FEB, cap. I, págs. 57 e 58, Aliança da Ciência e da Religião. 4. Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Nova Cultural, 1998, volume 20, pág. 4952. 5. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 30ª edição, tradução de Guillon Ribeiro, 1967, FEB, questões 367, 368, 369 e 370.

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Capítulo 4

O ENDEREÇO DE DEUS NO CÉREBRO HUMANO

Resenha critica sobre o livro A RELIGIÃO DO CÉREBRO: As

novas descobertas da neurociência a respeito da fé humana.

Prof. Raul Marino Jr. (169 p) Editora Gente, agosto 2005.

professor da Faculdade de Medicina da USP

O Neurocirurgião, Psiquiatra, livre-docente em Neurologia,

médico laureado pela Academia Brasileira de Neurologia, com

um livro editado em 1975. Fisiologia das Emoções pela editora

Sarvier, que serviu de base para esse novo trabalho. Conta com

mais de 200 artigos científicos publicados e mais de 400

participações em Congressos e eventos científicos, com trabalhos

realizados no MIT – Massachusetts Institute of Technology,

especializado na Harvard Medical School, em Boston, e na McGill

University, em Montreal. Fundador da Divisão de Neurocirurgia

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funcional e do centro de estudos de Psicofisiologia Humana do

Hospital das Clinicas de São Paulo, onde atua como professor e

orientador de teses de mestrado e doutorado em Neurologia e

Neurocirurgia. Atua também como Teólogo desenvolvendo

pesquisas no campo da Neuroteologia, como esta obra que

acaba de lançar.

A obra tem como tema central as pesquisas do autor,

realizadas durante a sua vida profissional, na busca do

entendimento racional do que acontece no cérebro durante as

orações e na contemplação do transcendente Espiritual, de

modo que possa explicar a interação do humano com Deus.

Acredita e demonstra pela neuroanatomia e pela neurofisiologia

que existem áreas cerebrais que promovem essa comunicação

relacional com o Altíssimo.

O trabalho do professor Marino Jr estabelece uma ponte

entre a razão e a fé na arena mais complexa da natureza e da

criação de Deus, o cérebro humano. Local central de onde

emana todo o controle físico, emocional, sensitivo,

contemplativo e, sem dúvida, o espiritual. Com isso, restabelece

o elo entre consciência e corpo, perdido com Descarte, trazendo

de volta luz sobre a integralidade entre mente, matéria e

Espírito.

A Obra inicia-se com uma reflexão profunda de que a

ciência não pode provar a não existência de Deus. Ë nesse ponto

que as neurociências deveriam se embasar da Neuroteologia e

acatar a fé, que, como resposta afirmativa à revelação, é

também um instrumento de conhecimento da verdade, superior

a nossa limitada razão ou raciocínio. Ela é uma sabedoria

revelada pelo Espírito, e não pela razão, mas, que age na

matéria, nos sentidos e nas emoções, fluindo no natural, no

fisiológico, no endócrino, no corpóreo, e no físico-sensorial.

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Destaca que todo ser humano possui três tipos básicos de

conhecimento: o olho da carne, o olho da mente e o olho da

contemplação. A visão da carne aprofunda-se no empirismo da

ciência a visão da mente atua no conhecimento racional e lógico,

enquanto a visão da contemplação relaciona-se com a gnose ou

conhecimento espiritual. Com isso, demonstra também que

possuímos três cérebros em um conjunto cerebral o retilíneo que

se envolve com a preservação e por ser primitivo tem a

conotação do réptil (serpente), atuando com agressividade o

segundo cérebro trata do comportamento animal e das

perturbações psicossomáticas, além dos instintos de

sobrevivência: alimentação, defesa e procriação finalmente a

última aquisição dos mamíferos superiores é o terceiro cérebro,

que MacLean denominou de neocórtex .

O autor apresenta toda a arquitetura físico-funcional do

cérebro, dissecando-o com precisão neurocirúrgica,

demonstrando a estrutura e o funcionamento de cada área,

mapeando os milhões de neurônios e encanta aos leitores com

sua narrativa desse relacional com o contemplativo-espiritual,

fornecendo dados de anatomofisiologia e dos mecanismos

neurais da emoção, bem como, a ação das substancias e dos

hormônios naturais produzidos pelo cérebro quanto em

meditação e oração contemplativa, ou seja, quando em contato

direto com Deus mediante a oração, a contemplação e o louvor,

demonstrando ser esta a forma racional de Deus agir na

fisiologia e na funcionalidade das emoções físicas, provinda do

espiritual (direto do Trono do Pai).

Na questão relacional do córtex pré-frontal, giro cíngulo e

dos temporais, em especial do temporal direito, o autor

demonstra toda a geometria cerebral usada na meditação, no

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louvor e na oração que nos levam daqui de dentro para o

contato com o lá fora (relacional Superior) com Deus, dando-nos

o caminho dessa suprema interação, com êxtase emocional que

se reflete na fisiologia do cérebro e que pode desencadear todo

o processo de comunicação neural e neuronal, atingindo todo o

corpo, manifestando-se fisicamente. Seria esse o caminho do

Espírito Santo em nós?

Depois de apresentar toda a anatomia e fisiologia do

cérebro, demonstrando os efeitos dos medicamentos e das

drogas nesse órgão, demonstra também que reações

semelhantes de contemplação e de revelação provocam esse

tipo de fisiologia, sem danos, mas, ao contrario, dando-nos

naturalmente a sensação de segurança, felicidade e alegria. O

autor nos leva a entender que essas áreas são operadas pelo

Espiritual, sem nenhuma droga exógena, mas apenas com o

desencadear fisiológico realizado por esse relacional.

O livro esta bem estruturado em 14 capítulos e um

glossário dos termos médicos utilizados, além de um excelente

referencial teórico como bibliografia da obra. Capa muito bonita

e atraente.

A obra traz também a questão da nova visão da Teologia

que adota a ciência como principio instituído por Deus e que

Ciência e Religião não deveriam ser incongruentes e antagônicas,

mas intrínsecas entre si, com leis naturais criadas por Deus, por

método peculiar, onde nem o criacionismo e nem o

evolucionismo são incongruentes ou incompatíveis entre si, mas

complementares e explicativos, nessa complexidade criada pelo

Pai.

Destaca a nova forma de pesquisas neste campo da

medicina, através da Neuroteologia, levando-nos a traçar

paralelos para outras áreas do saber cientifico, que poderão

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abraçar esse elo, entre razão e fé e entre a ciência e a teologia,

tais como: cosmoteologia, física-quantica e teologia,

sociobiologia e teologia, bioquímica-molecular e teologia, e

especialmente computação relacional e teologia. Sem dúvida o

autor abriu a porta da academia para debates sérios em relação

ao elo entre ciência e religião.

Recomenda-se a obra pelo seu instigante conteúdo e por

levar o leitor a uma profunda reflexão sobre essa comunicação

com Deus. Somos imagem e semelhança de Deus, portanto,

infere-se que essa vibração espiritual se faz por meio de um

relacional, cujo canal se estabelece tal qual no sistema

computacional, da mente de Deus para o nosso Cérebro. O seja,

se estivermos ligados, plugados no Pai, então o contato se faz e

as sensações são neurotransmitidas, revelando a presença do

Espírito Santo de Deus. Tal qual Cristo nos revelou: “Somos

templo do Espírito Santo de Deus”. O autor nos leva à essa fé

racional e quebra um grande paradigma, dando um salto, no

propósito de ligar o saber humano à Sabedoria de Deus.

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Capítulo 5

NEUROTEOLOGIA E PSICANÁLISE-OS NERVOS DE DEUS NÃO SÃO NEURÔNIOS

ANTES DO PAI: BIOLOGIA COMO FIGURA DO MATERIALISMO

A reportagem de capa da revista "Forbes" [1] celebra o encontro das neurociências com o marketing produzindo uma nova disciplina, a neuromarketing. Existe também a neurofilosofia, que advogando a tese de naturalizar conceitos como desejo, intencionalidade, consciência, foi transformada por Churchland de um neologismo curioso em uma disciplina reconhecida. Há também a neuroética, a neuropsicanálise, a neurobica, etc.

A significação do prefixo neuro implica numa referência às

neurodisciplinas e, como sugere Luc Ferry [2], denota a biologia como uma nova figura do materialismo. Fazendo-se porta-voz do

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privilégio atribuído às neurociências na atualidade, Francis

Fukuyama [3] comentando as conseqüências da revolução da biotecnologia, prevê um controle social que no futuro será regulado pelo controle do comportamento. Este controle social teria se tornado possível pela passagem da neuropsicofarmacologia, antes restrita unicamente à modificação de sintomas intensos, para uma atuação sutil no estado anímico, no que foi chamado por Peter Kramer [4] de farmacologia cosmética.

Haveria uma neurobiologia específica dos Homens bomba, dos serial killers, seria exata a hipótese a existência de uma ‘Síndrome amidaliana’ hipótese de uma malformação dessa estrutura cerebral para explicar condutas extremas? Existiria a molécula do fanatismo?

O que caracteriza as neurociências atuais são os avanços tecnológicos na área das neuroimagens que permitiram uma investigação dos neurotransmissores produzindo uma revivência do localizacionismo. Depois da radiografia e da tomografia, a ressonância magnética (MRI) é o mais novo instrumento de investigação do cérebro. Mais recente é, a ressonância magnética funcional que, fornecendo informações sobre mudanças no volume, e oxigenação do sangue, produzem imagens de como regiões específicas do cérebro funcionam. Porém, o mais notável avanço na investigação do cérebro é a tomografia por emissão de pósitrons, ou PET que difere da

ressonância magnética, por mostrar não apenas a estrutura e o funcionamento do cérebro, mas também como este usa a energia bioquímica.

A partir de imagens obtidas por PET, pesquisadores procuraram entender o relacionamento entre espiritualidade e cérebro, lançando as bases de uma biologia da fé.

Segundo um novo ramo da neurociência, chamado neuroteologia, há uma ligação entre o cérebro humano e a experiência religiosa. A neuroteologia, ou o estudo da neurobiologia da religião e da espiritualidade, foi destaque

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graças a um artigo da revista "Newsweek" e ao livro "Why God

won't go away: brain science and the biology of belief" ("Por que Deus não vai embora: a ciência do cérebro e a biologia da fé").

Andrew Newberg e Eugene Aquili descobriram em pesquisas feitas com um grupo de monges budistas tibetanos e numa comunidade de religiosas franciscanas que algumas partes do cérebro são estimuladas e outras ficam inativas pelas atividades religiosas como a meditação e a oração.

Segundo os autores “a sensação que os budistas chamam” "unidade com o Universo" e que os franciscanos atribuem à presença palpável de Deus, é uma cadeia de eventos neurológicos que podem ser observados objetivamente, registrados. As tomografias revelaram que, nos momentos de pique das preces e da meditação, o fluxo sanguíneo sofria uma redução drástica e uma intensa atividade elétrica nos lobos temporais acompanhava o êxtase místico, o que leva a considerar uma conexão entre o fenômeno religioso e o ataque de epilético, quando idêntica atividade dos lobos é registrada. O PAI E O HOMEM DESNATURALIZADO

Para a psicanálise não há nenhum Deus, nenhuma natureza bondosa, existe a dor dos desamparados e a neurose religiosa dos que acreditam estar protegidos por Deus.

Os seres humanos moldam Deus à imagem do “pai”. Deus é “um pai enaltecido”; “uma transfiguração do pai”; “um retrato

do pai”; uma sublimação do pai, “um suplente do pai”, “um substituto do pai”, "uma cópia do pai", Deus ”é realmente o pai”.

Os deuses são encarregados de uma tarefa tripla: exorcizar os terrores da natureza, reconciliar os seres humanos com a crueldade do destino e compensá-los por seus sofrimentos. O monoteísmo renovou o relacionamento com o pai. “Agora que Deus é uma única pessoa, as relações humanas com ele podiam recobrar a intimidade e a intensidade da relação da criança com seu pai”.

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ALÉM DO PAI: O DEUS DE SCHREBER E A MULHER Lacan assimila Deus ao Outro, lugar da verdade. Para Lacan,

Deus não seria nem uma sublimação nem uma idealização do pai. As religiões seriam tentativas de domesticar Deus, de modelar o real com o simbólico das palavras e o imaginário dos corpos. Em lugar de ser uma sublimação ou uma idealização do pai, como supunha Freud, para Lacan as religiões seriam rebaixamentos dos deuses à indignidade do pai.

Lacan delimita um ponto que falta na reflexão filosófica moderna: Deus é existir e não ser. Os filósofos árabes concebem o ser criado como uma essência que não contém em si a razão de sua própria existência. A existência se distingue da essência. Para Deus, existência e essência faz sempre um.

Na leitura de Lacan, a existência reduz a importância da essência: “Sou o que sou”. O ser é uma essência a qual só sua causa confere a existência.”O tetragrámaton impronunciável” Yahve significa a existência necessária. O nome de Deus é mais um eu sou, que um ser ou uma essência.

Zizek no texto "O real da ilusão cristã: notas sobre Lacan e a religião" [5] aponta dois aspectos do Real lacaniano: a Coisa primordial e a letra/fórmula sem sentido, como no Real da ciência moderna. A esses dois Zizek acrescenta um terceiro Real, o “Real da ilusão”, o real de um puro semblante.

Para Zizek há três modalidades do Real, pois a tríade IRS

reflete-se no interior da ordem do Real, de tal modo que temos o “Real” (a Coisa aterradora, o objeto primordial), o “Real simbólico” (o significante reduzido a uma fórmula insensata, como as fórmulas da física quântica), e o “Real imaginário” (o insondável que introduz uma divisão em um objeto ordinário).

Como Lacan diz que os Deuses são da ordem do Real, a Trindade Cristã poderia ser lida como Trindade do Real: Deus, o Pai, é o “Real real” da violenta Coisa primordial; Deus, o Filho, é o “Real imaginário”; o Espírito Santo é o “Real simbólico” da comunidade dos crentes.

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Freud no estudo de Schreber, mostra a satisfação que o

leva a contemplar, vestido de mulher, sua imagem no espelho, que no seu delírio, o leva a copular com Deus fazendo-o digno da fecundação divina.

A este gozo sem limite Lacan chamou de “empuxo-à-Mulher”, explicado como um gozo ligado à falta da função fálica, pois este Deus que goza dele, é o gozo do Outro, um gozo não fálico ligado à falta da castração.

Escreve Lacan: “Sem dúvida a adivinhação do inconsciente adverte o sujeito, desde muito cedo, de que, na impossibilidade de ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher que falta aos homens” ou ser a Mulher de Deus.

A inclinação para a feminização, o “empuxo-à-Mulher”, é uma obrigação na sexuação do psicótico. No livro “Memórias...” com sua transformação em mulher e sua posição diante de Deus, Schreber dá um exemplo da feminização no psicótico: “Só a título de uma possibilidade que haja que ter em conta lhe digo: minha emasculação, de qualquer maneira, ainda poderia produzir-se, ao efeito do que uma nova geração saia de meu seio por jogo de uma fecundação divina”.

Ainda nas “Memórias...” Schreber afirmou: “Por duas vezes já tive órgãos genitais femininos, ainda imperfeitamente desenvolvidos, e experimentei no corpo movimentos de saltos, parecidos às primeiras agitações de um embrião humano. Nervos de Deus, correspondentes a um sêmen masculino, haviam sido

projetados em direção a meu corpo por um milagre divino, e desse modo se havia produzido uma fecundação”.

Schreber se coloca como objeto do gozo do Outro, pois "empuxo-à-Mulher" exige a confrontação com as exigências de um Deus tirânico, o que justifica outros sintomas como a tentação suicida, a cadaverização do corpo, o prejuízo do sentimento íntimo da vida, a perda da identidade viril, as tentativas de automutilação, e a demanda de operação cirúrgica.

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Schreber o exemplifica com sua transformação em mulher

e sua posição diante de Deus: “como seria bom ser uma mulher copulando e ser a mulher de Deus”.

A identificação ao desejo da mãe está no fundamento da psicose: por não poder ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher que falta aos homens.

Freud e Lacan mostram a satisfação que leva Schreber a contemplar, vestido de mulher, sua imagem no espelho. É a dimensão do gozo ligado à cópula divina que o conduz a tornar-se digno da fecundação divina. Nesta figura de Deus que goza dele, evoca-se o gozo do Outro, um gozo não fálico ligado a uma falta da castração.

É este efeito diante do chamado do gozo sem limite, que Lacan chamou de empuxo-à-Mulher, gozo ligado à falta da função fálica. Escreve Lacan: “Sem dúvida a adivinhação do inconsciente adverte o sujeito, desde muito cedo, de que, na impossibilidade de ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher que falta aos homens” ou, ser a "Mulher de Deus".

A foraclusão do Nome-do-Pai tem como efeito fazer existir A Mulher. “Deus é a mulher tornada toda”. “Dito que faz da mulher não-toda o Deus da castração” [6]. “O que, porém, não faz de Deus um Todo não há Outro que responda como parceiro - sendo a necessidade da espécie humana que haja Outro do Outro. É aquele a que se chama geralmente Deus, mas que a

análise revela que é simplesmente a mulher encarnação de um gozo infinito, uma Mulher completa, não marcada pela castração” [7].

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BIBLIOGRAFIA

[1] Set de 2003, pag. 62 [2] Ferry, L., A sabedoria dos modernos [3] Fukuyama, Francis. Nosso Futuro Pós-Humano [4] Kramer,P., Ouvindo Prozac [5] Zizek S.,O real da ilusão cristã: notas sobre Lacan e a

religião, in Um limite tenso: Lacan entre a filosofia e a psicanálise,Wladimir Safatle (Org), Editora Unesp, 2003.

[6] RSI in Ornicar? Num 5 pg. 25 [7] RSI in Ornicar num 9 pg. 39

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Capitulo 6 ALGUNS TEMAS SOBRE A NEUROTEOLOGIA

A discussão da relação entre ciência e fé nunca pára de nos

surpreender de novo e estar na moda. Certamente, muitos dos nossos leitores vão ficar espantados com o título do artigo. Neuro ... Por quê? Sim, como parece, neuroteologia. Dois estudiosos da Universidade da Pensilvânia, Aquiles Andrew Newberg e Eugene tornaram pública a sua investigação sobre o impacto da meditação no cérebro humano. Achilles, professor de psiquiatria e, simultaneamente, um antropólogo da religião, morreu em agosto de 1998. Newberg é um membro do programa de medicina nuclear do hospital da universidade:. Ambos têm trabalhado juntos desde 1993 e divulgou os resultados de sua pesquisa no livro "A Mística Mind Sondagem de Biologia da Experiência Religiosa ( Fortaleza, 1999) e Por que Deus não vai embora: Brain Science & the Biologia da Self (Ballantine, 2001), este último assunto a mais ampla revisão. Para sua pesquisa, Aquiles e Andrew usaram criatividade, a Specter, que permite obter imagens da atividade cerebral. Eles

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analisaram dados de um estudo com monges budistas tibetanos

e freiras franciscanas, meditando in'extreuen uma chocante conclusão: O impulso religioso é enraizado na biologia do cérebro. Em outras palavras, Deus está usando e-terminologia "wired" (hard-wired) no cérebro da pessoa humana. O cérebro humano é, pois, segundo eles, geneticamente estruturado, ao mesmo tempo que incentiva a fé religiosa. A pesquisa começou em 1970. Foi a prova de que a meditação ea oração causar variações significativas nos dados fisiológicos, tais como ondas cerebrais, batimentos cardíacos e respiração e consumo de oxigênio. Tem sido demonstrado que a estrutura do cérebro não é tão estático como se pensava anteriormente. O cérebro, recentes estudos que revelam, está

constantemente mudando. Sua estrutura e função são modificados em relação ao comportamento humano, moldando-los. A meditação de um monge budista, uma oração ou religiosa católica, têm efeitos físicos sobre o cérebro, especialmente nos lobos pré-frontais, resultando na sensação

de unicidade com o universo vivenciado um monge, ou proximidade Deus sente a freira franciscana. Estas experiências, sentimentos que transcendem o mero plano individual, nascido de um fato neurológico: a atividade dos lobos pré-frontais do cérebro. Esta parte do cérebro que corresponde à capacidade de

concentração, perseverança, apreciar, pensar abstratamente, de força de vontade e senso de humor e, finalmente, a integração harmoniosa do ser. Os autores destes estudos, utilizando uma palavra de Aldous Huxley, têm chamado a Neuroteologia disciplina emergente dedicada a compreender a complexa relação entre a espiritualidade ea atividade do cérebro, baseado em alterações no cérebro experimental no uso de práticas espirituais. Com dados científicos oferecer uma reflexão teológica a partir de uma perspectiva neuropsicológica. Essa nova ciência é estudada hoje

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como um assunto em diversas áreas de especialização em

universidades e centros acadêmicos da América, por exemplo, em "The Ohio State University, na" Harvard Divinity School ", em A Faculdade de Medicina da Pensilvânia e do "Seminário Teológico Evangélico Garrett. D'Aquila e André tentam responder a questões como a origem da elaboração de mitos, a ligação entre il'orgasme êxtase religioso, sexual e dados que proporcionam experiências de quase-morte sobre a natureza dos fenômenos espirituais . Onde a necessidade humana de magia mitos? Muitos pensadores Secularitzants acreditam que a religião é uma invenção nascida da necessidade psicológica de encontrar e aliviar os medos existenciais e conforto, essas âncoras no meio de um mundo confuso e perigoso. Id'Aquili Newberg defende, por sua parte, aprovando-o com dados científicos já mencionadas, o impulso religioso está enraizada na biologia do cérebro humano. O sentimento de unidade com o cosmos ou a aproximação de Deus não é uma mera ilusão ou um fenômeno puramente subjetivo da psicologia, mas é uma cadeia de eventos neurológicos que podem ser observadas, registradas e fotografadas hoje. Obviamente Ambos os investigadores dizem que não são imagens de Deus em seus estudos.

Usando dados e da reflexão que dedicar mostram que o cérebro humano está configurado (set up) para ter sucesso na vida. Religião e experiências religiosas, dizem os cientistas, e que

o cérebro faz para nos mover na mesma direção. Mesmo adversas, como dissemos, que Deus é, nas palavras dos pesquisadores, a fiação no cérebro humano. Outros cientistas têm apoiado esses dados científicos e as respectivas conclusões. Na verdade, o Dr.. Peter Van Houten, diretor da Faculdade de Medicina da Família e Clínica Serra médico residente durante algum tempo na aldeia de Ananda, uma comunidade que se originou nos ensinamentos de Paramahansa professor Yogaranda e ligado à tradição da Kriya Yoga, e intitulou um de seus artigos "Projetado para Divinity - O

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Cérebro (The Brain, desenhado pelo Divino). Outro estudioso, o

Dr. Richard Davinson Universidade de Wisconsin, mostra que podemos trabalhar nos lobos pré-frontais ou com medicação (tais como o Prozac, Paxil e Zolof), quer com a meditação. No entanto, a remoção da medicação, o efeito acaba, enquanto os efeitos remanescentes da meditação: um pesquisador na vanguarda da ciência neurológica, a defesa, sem medo de que a prática continuada da meditação e decisiva influência positiva sobre esta parte cérebro e, portanto, sobre o comportamento humano. Nós podemos avançar num futuro próximo, a prescrição de momentos de meditação, melhorar nosso caráter ou comportamento de qualquer deficiência. Mas não há nada novo sobre a Terra desde Pio XII, em 27 de junho de 1949, afirmou na Segunda Assembléia Mundial da Saúde que "a Igreja, longe de considerar a saúde como um objeto de forma única biológica, sempre sublinhou a importância, a fim de mantê-lo, a moral e as forças religiosas. "id'Aquili Newberg procurar materialismo médico argumentar contra um fechado e barrados para a transcendência. A interpretação dos dados é, no entanto bivalente. Fé em Deus é o resultado da atividade do cérebro? Quem é, na verdade, o engenheiro que desenvolveu um cérebro tão complexo? A religião é apenas um produto da biologia (uma ilusão neurológica), ou o cérebro humano tem sido misteriosamente capacidade de conhecer a Deus? Ele é criado pelo cérebro on'és Deus, o Criador? Além disso, tais experiências

religiosas são percepções reais do Absoluto, ou não são nada mais do que a percepção que o cérebro faz a sua própria atividade? A experiência religiosa ou mística reverência pode ser reduzido a um mero fluxo neurológico? O neuroteòlegs já reconhecem que não há certeza científica total a ser determinado exclusivamente e afirmam que o religioso experiencial dimensão mística transcende os eventos bioquímicos, que concluem, ao mesmo tempo defendendo a primazia da realidade transcendente.

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Os resultados de Aquiles e extrair Newberg acordo com a

reflexão teológica católica do homem criado como capax Dei. "O desejo de Deus, diz o Catecismo da Igreja Católica, está inscrita no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus continua a atrair o homem para ele, e só Deus, o homem pode encontrar a verdade ea felicidade que você deseja constantemente "(CEC 27). Todos estes resultados são uma reminiscência do célebre frase de Santo Agostinho: "Você é a instigação, fazendo com que ele encontra prazer no louvor, porque você nos fez para si e para a nossa ansiedade é o coração enquanto não repousar em ti" ( Conf. 1,1,1). Os resultados, dizem, o que não quer dizer que seu argumento não exige, como veremos mais tarde, um atento discernimento. A partir da reflexão filosófica, a prova da existência de Deus, porém, desde o seu objectivo al'anuència perfeita liberdade de consistência, não sujeito a coerção. A existência de agnosticismo e ateísmo são bastante decisiva para a afirmação deste. A tradição cristã tem desenvolvido um conjunto de argumentos que demonstram a existência do Criador. Existem duas formas de abordagem: o mundo eo homem. O mundo de movimento e devir, da contingência, da ordem e beleza, se refere a Deus como origem e fim do universo. O homem, por sua abertura à verdade e à beleza, por seu senso moral do direito e liberdade para a voz da consciência e da aspiração de infinito e de felicidade, interroga-se sobre a existência Deus. Através de

tudo isso, vê sinais de sua alma espiritual que traz em si uma semente de eternidade, irredutível a um sujeito (cf. CEC 31-35). De agora em diante, com os estudos neurológicos, podemos acrescentar um outro: a estrutura eo funcionamento do cérebro humano. No entanto, o fato de que existe uma relação comprovada entre a meditação efetiva atividade cerebral não é deduzido cientificamente que Deus existe. No entanto, esta harmonia profunda da estrutura humana e as suas ambições com os

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ensinamentos religiosos abre a porta para mais de um pedido de

desculpas por não irracionalidade. Esta interpretação é aberta à transcendência, entretanto, sido alvo de críticas. Visões da existência materialistas se baseiam em dados científicos fornecidos por Aquiles e Newberg para sustentar à luz das experiências similares em pessoas psicóticas ou sob efeito de substâncias tóxicas, como LSD, cogumelos, ou outras substâncias químicos que o sentimento de unidade com o todo, durante o tempo da meditação nada mais é que uma produção do cérebro, e não tem que ser uma percepção real do fato divino. J. Allan Hobson (A Química do Consciente Estados: Rumo a um modelo unificado do Cérebro e da Mente [Little Brown & Co., 1994]), por exemplo, reduz o conhecimento de que certas combinações de substâncias químicas genéticos e ambientais. Cientistas que pensam como ele são deterministas. Eu limitei a quantidade de anatomia humana com suas predisposições, história química da função cerebral ao longo da nossa existência e influência de fatores ambientais. Para Hobson, alma, mente e espírito não existem em si, mas sim uma descrição da experiência de reações químicas do cérebro. Outros, que também reduz a explicação do ser humano a um cientista visão, fornecer dados que são dignos de consideração. Estudos neurológicos confirmar-Dr. Jesus Pujol-CETIR pesquisador mostram que a repetição contínua de um ou

curta frase, palavra ou com conteúdo semântico religioso, significa que não quer, ou a prática comum de exercício das palavras de pesquisa que começam com uma determinada carta, ou por estímulos externos tais instrumentos por parte magnética do cérebro tem uma influência real nos lobos pré-frontais que causam efeitos semelhantes aos registrados por Aquiles e Newberg. De outra perspectiva, sem negar a conclusão dos religiosos dimensão intrínseca da pessoa humana, pelo contrário, Wayne Proudfoot, Professor de Religião na Universidade de Columbia

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em Nova York, mostra que a experiência religiosa sabiamente Eu

não posso descrever apenas em termos biológicos. Na verdade, toda a experiência é interpretada pela pessoa, e é esta a interpretação que fez no caso do religioso. Dois indivíduos diferentes podem ser interpretadas de forma diferente, e mesmo opostos, a mesma experiência, embora detectada em seus cérebros, a partir da fenomenologia e pontos de vista biológico, o técnico mesmos parâmetros. Além adve significado religioso. O estudo da experiência religiosa exigida, também, algo mais do que química pura e dados fisiológicos. Na verdade, deve-se considerar o histórico e contexto cultural em que as experiências são interpretadas internamente, bem como a realidade espiritual do ser humano. Você não pode, portanto, dispensar, e tentar id'Aquili Newberg, as condições históricas e culturais, a fim de oferecer uma explicação da religião para todos os homens de todos os tempos e lugares. Os operadores que alegadamente controlar o sentido de unidade, porque o cérebro od'emoció, os autores eliminam a necessidade de estudar os juízos e interpretações, bem como a linguagem e os conceitos com os quais eles são feitos. Então rebitagem Wayne Proudfoot, a partir de uma técnica simples ponto de vista não pode ser dada razão experimental para fazer esta experiência religiosa.

A íntima conexão entre as dimensões física e mental do ser humano é bem conhecida. A perda de auto-conhecimento de algumas pessoas que sofreram acidentes traumáticos mostra

que a noção de quem eu sou e experiência são indissociáveis em neurônios e na química do cérebro em si. Também substâncias químicas, como LSD ou outras drogas causam alucinações e consideráveis experiências sensíveis. Além disso, existem fenómenos que a relação entre nossos pensamentos, sentimentos e as reações químicas do cérebro não é exclusivamente causada por dados químicos. De fato, mudanças repentinas podem causar depressão emocional real. Ambos os casos refletem a unidade intrínseca do ser humano corpo, e,

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corpo, mente e alma corporalitzada animado, filosofia

personalista unidade tem posto em relevo mais. Os dados obtidos em experimentos de química e atividade

interações cérebro revelam algo do que está acontecendo no cérebro. Mas isso é atividade cerebral elétrica e produtos químicos causou o resultado final, da mesma forma como um programa de computador faz com que o computador programado para gerar uma resposta? Se assim for, conceitos como liberdade, responsabilidade, o bem eo mal, amor e arte seria subsumits em bioquímica e categorias elétrica. Se a responsabilidade está no campo da química, as condenações seriam motivos judiciais para elétrica do cérebro produtos químicos discriminação. É poesia, arte, literatura, cultura, mera questão de química? Poderia atingir apenas determinadas actividades causando homem capacitéssim neurológica para a poesia? Ou é mais uma atividade da alma que, como toda atividade humana, exige um suporte orgânico? É um amor fiel profundamente pessoal, dedicado ao heroísmo, incondicionalmente pura, química generoso? É apenas um amor químicas e não os outros:? Convincingly Acho que a resposta é não negar que a responsabilidade ea química do amor e até mesmo repercussões fisiológicas, mas sempre podemos inverter os papéis. Devemos, portanto, manter a realidade espiritual que transcende a mera fisiologia humana, sem negá-lo.

A interpretação bivalència desses fenômenos neurológicos

está presente no espelho e balcão. Hobson argumentou contra Aquiles e Newberg mostram efeitos semelhantes provocados pela ingestão de certas substâncias químicas que borram a fronteira do que é a percepção real. Outros observam, mas também endossando estudos científicos, a diferença na captura da realidade sob a influência de drogas. É como se fosse real, eles dizem, mas não percebem a realidade dessa experiência. Stanislav Grof (Além do Cérebro. Nascimento, Morte e Transcendência em Psicoterapia [SUNY Press, 1985]), fornecendo uma terceira interpretação, procura mostrar a relação entre a

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mente humana e da unidade do cosmos e do mundo

sobrenatural, com uma destina-se a evidência clínica: os pacientes sob efeito de LSD fornecer informações que anteriormente não tinham, com dados muito precisos, o que revela a existência dessa link. Do mesmo modo, a hipnose tem se tornado comum na fronteira da realidade do que é experimentado. Na prática, o sistema judicial americano desacreditado testemunhas sob hipnose. Não aceitar a incapacidade de distinguir entre a memória real e impressões experiente no estado de hipnose, que de fato não aconteceu na realidade.

É, portanto, também por razões bioquímicas e elétrica do cérebro interpretar os mesmos dados tão diversos? Explicado isso neurológico? E se sim, porquê? Qualquer questão científica, se honesto com o pedido, uma resposta extremamente filosófico, metafísico e, finalmente, religiosa.

ALGUNS DETALHES SOBRE A MEDITAÇÃO E ORAÇÃO Como vimos, e Newberg conclusões de Aquiles foram baseadas em dados obtidos a partir da observação de monges budistas tibetanos e religiosos franciscanos enquanto meditava. Nós podemos, do ponto de vista católico, colocar no cesto de meditação budista e mesmo a oração cristã, entendida como um diálogo com Deus? A meditação budista é algo peculiar. De acordo com as

escolas, por vezes, é uma técnica de yoga, outros uma espécie de esforço para se preparar para o nirvana, entendida como um estado místico no sentido negativo do caminho dos gnósticos. Oração, no entanto, envolve uma dinâmica diferente. Para Santa Teresa do Menino Jesus é "um impulso do coração, é um simples olhar dirigido para o céu, é um grito de reconhecimento e amor, tanto o teste e na alegria" (Ms. Autobar. C 25R) . São João Damasceno descreveu como "a elevação da alma a Deus ou a submissão a Deus bens desejáveis. "Oração", diz o Catecismo da Igreja Católica, "nós sabemos ou não, é o encontro da sede de

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Deus e nossa. Deus tem colocado que temos sete Dele" (CCE

2560). E nunca devemos esquecer que Deus é uma Trindade. A oração torna-se uma relação de aliança cristã entre Deus eo homem em Cristo. "É a ação de Deus e do homem nasce do Espírito Santo e que tudo se encaminhava para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem" (CCE 2564). A oração é cristã enquanto é comunhão com Cristo is'escampa na Igreja, que é o seu corpo. " Portanto, precisamos de pontos como a Carta da Congregação para a Doutrina da Fé sobre alguns aspectos da meditação cristã (15 de Outubro de 1989), a partir de uma premissa essencial: a oração cristã é sempre determinado pelo estrutura da fé cristã, é configurado como um diálogo pessoal, íntimo e profundo entre o homem e Deus Trino, e é o encontro de duas liberdades, a Deus que o homem finito infinito. No entanto, essas advertências não excluem o uso de métodos orientais de meditação como uma preparação psicofísica para um cristão verdadeiramente contemplação.

Nivelamento de oração budista de meditação cristã significa o esvaziamento da dimensão dialógica do seu profundo, vivido pelo dom do Espírito Santo. A tentação, porém, não é uma novidade. Desde o Novo Testamento menciona vários erros semelhantes (cf. 1 Jo 4.3, 1 Timóteo 1, 3-7). Mais tarde, os Padres da Igreja teve que lidar com dois desvios: o pseudognosi e messalianisme. A primeira considerou a matéria como algo

impuro, negativo, que a alma envolta em uma ignorância do que estava para entregar a oração. O messalianisme, poder carismático do século IV, identificou a graça do Espírito Santo com a experiência psicológica da sua presença na alma. Confrontado com estas reducionista não pode degradar ao nível da psicologia natural que deve ser considerado é a graça de Deus. A união com Deus é o mistério, não só para o ano chegou a uma técnica de meditação. Esta união pode ser feito também através de experiências de sofrimento e até desespero.

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Capítulo 6

A SOBREVIVÊNCIA DA FÉ

Deus foi morto no século XIX e os matadores são

conhecidos. Karl Marx, Charles Darwin, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud, para ficar nos nomes mais grandiosos, elaboraram teorias para o mundo e para a natureza humana que prescindiam das explicações tradicionalmente oferecidas pela religião. Mais do que prescindiam: competiam com elas, com todas as vantagens oferecidas pela lógica e pela irreversível marcha da História. Os seres humanos, que desde a noite dos tempos se perguntavam de onde viemos e para onde vamos, já podiam buscar respostas fora da esfera divina. Viemos de um longo processo de evolução, muito mais fabuloso do que qualquer lenda bíblica sobre um boneco de barro transformado pelo sopro daquele Senhor de Barbas Brancas e cara de poucos amigos. E iríamos certamente para um lugar melhor, onde não existiriam crendices primitivas, nem a vigilância castradora do Deus judaico-cristão, nem a injusta ordem social alimentada

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pelas hierarquias religiosas. Num mundo onde predominassem a

ciência e a razão, todas as perguntas essenciais seriam eventualmente respondidas. Pela ordem natural das coisas, impulsos religiosos e crenças em entidades sobrenaturais acabariam no mesmo arquivo dos tempos em que se acreditava que a Terra era plana e o Sol girava em torno dela.

Desnecessário dizer que as coisas não aconteceram exatamente assim. A ciência progrediu, sim, e de uma forma tão espantosa que hoje muitas vezes mais intimida o leigo do que oferece respostas compreensíveis. Ouvir explicações cosmogônicas de um cientista é quase como tentar encetar diálogo com um ET.

O fabuloso progresso material desencadeado com o alvorecer da Era da Razão é contrabalançado pelas mazelas sobejamente conhecidas que atormentam o mundo contemporâneo. "Acreditava-se que a ciência resolveria todos os males e seria o instrumento para melhorar o mundo. Ela criou uma série de aspirações e expectativas que não conseguiu satisfazer", resume Lísias Nogueira Negrão, sociólogo estudioso da religião da Universidade de São Paulo.

A morte de Deus operada por Marx, Freud e companhia, e sua substituição pela ciência, também não foi um espetáculo de alegre libertação. Na definição do filósofo francês Jean-Paul Sartre, o desaparecimento de "uma das maiores idéias humanas

de todos os tempos" deixou na consciência dos homens "um buraco em forma de Deus" (Sartre foi um dos coveiros mais recentes do divino, propondo que, mesmo que Deus existisse, seria necessário rejeitá-lo, pois a idéia dele nega a nossa liberdade). Para a teóloga inglesa Karen Armstrong, autora de Uma História de Deus, o fim do Senhor de Barbas foi "acompanhado de dúvida, temor e, em alguns casos, um agônico conflito". O sofrimento psíquico provocado pela morte de Deus, somado à decepção com as promessas não cumpridas pela ciência, ajuda a entender por que quase dois séculos de

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destruição sistemática dos pilares religiosos do Ocidente ainda

não produziram uma maioria generalizada de não-crentes. Ao contrário, o que se vê hoje em muitos países de tradição cristã é uma linha divisória entre uma minoria, geralmente da elite intelectual, que seguiu adiante com a visão laica do mundo e, do outro lado, uma maioria que se apega obstinadamente à fé e a diferentes concepções religiosas. Em outras palavras, se Deus morreu, sua sombra se recusa a deixar o mundo.

As pesquisas sobre crença e religiosidade apontam números impressionantes, especialmente no continente americano. Estados Unidos e Brasil têm um forte traço em comum: cerca de 90% da população declara acreditar em Deus. Os EUA são a exceção entre os países industrializados. Na Alemanha, os que declaram crer em um Criador caem para 53%. Na Suécia, o número de crentes é o mais baixo do mundo desenvolvido: 36% da população. Além da esmagadora maioria que crê em Deus, os americanos também acreditam em milagres (84%) e, mais surpreendentemente, continuam a não aceitar o darwinismo quase 200 anos depois de sua exposição ao mundo: 44% acreditam que o homem foi criado exatamente da maneira descrita na Bíblia, há menos de 10 000 anos. Examinar as razões da sobrevivência da fé e da religião exige um enorme exercício de neutralidade. Em questão de fé, quem não tem se sente implicitamente superior a quem tem. E quem tem olha com pena, quando não com desprezo, os

desprovidos dela. É possível responder com equilíbrio à pergunta: por que a fé existe e sobrevive? Ao longo dos tempos, as explicações para o sentimento da fé, e o seu desdobramento na forma de religião organizada, têm se dividido em duas correntes. Uma busca-as em razões exteriores, freqüentemente de cunho utilitarista. Outra as localiza nas profundezas da natureza humana (seja na alma, como reza a crença tradicional, seja nos genes, como alegam alguns cientistas contemporâneos). O bom senso mais elementar consegue alinhavar, sem muito esforço, uma pilha de motivos que explicam a necessidade de

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religião e de fé. A mente humana exige explicações para o

sentido da vida (e não resiste a respostas fáceis para perguntas muito difíceis, acrescentariam os incréus), nosso coração precisa de conforto e as sociedades não florescem sem a ordem legitimada por um mandato de inspiração divina. A religião atenua nosso terror diante da finitude da vida, dá alguma explicação para a origem do mundo, impõe obediência a valores morais essenciais para a convivência humana – uma necessidade resumida magistralmente por Dostoiévski através de seu Ivan Karamazov: "Se Deus não existe, tudo é permitido".

A outra vertente das explicações para a fé finca raízes em águas mais profundas. Entre os teólogos modernos, seu representante mais conhecido é Rudolf Otto, autor de O Sagrado, termo que escolheu para substituir a palavra Deus. Otto defendeu a teoria de que o sagrado existe por si só e as religiões são respostas a essa existência. Os homens não criam nada nesse campo e as manifestações religiosas, mesmo moldadas pelo filtro da cultura, são uma simples reação a uma dimensão que já existe. O teólogo, que viveu na Alemanha no início do século XX, colocava essa dimensão fora, ou mais além, do humano, mas a moda hoje entre cientistas que pretendem comprovar a existência do divino é vasculhar não os mistérios da alma, mas os circuitos do cérebro. São todos dos Estados Unidos, um país onde quatro em cada dez cientistas têm algum tipo de crença religiosa – com certeza um recorde da categoria. Eles

dizem, resumidamente, que existe uma área do cérebro especializada em sentimentos religiosos.

Esse novo "ramo" de pesquisa já tem até um nome: neuroteologia. Entre os mais conhecidos estão o radiologista Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene d'Aquili, autores do livro Why God Won't Go Away (Por que Deus Não Desaparece). Eles partem do princípio de que as práticas místicas foram fundamentais para a sobrevivência e a evolução de nossos ancestrais. A partir daí, dão um grande salto, afirmando ter encontrado evidências de "um processo neurológico que evoluiu

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de forma a permitir aos seres humanos transcender a existência

material e se conectar com uma parte mais profunda e espiritual de nós mesmos, percebida como uma realidade absoluta e universal". As provas do tal "cérebro religioso", afirmam, foram constatadas através da monitoração da atividade cerebral de dois grupos: um de budistas, em processo de meditação, e outro de freiras, durante orações fervorosas. Outros adeptos conhecidos da neuroteologia são Carol Rausch Albright e James Ashbrook, estudiosos da religião e autores de Where God Lives in the Human Brain (Onde Está Deus no Cérebro Humano). A tese deles é mais exótica ainda: o próprio circuito cerebral seria uma espécie de espelho dos atributos divinos.

Cientistas sérios riem dessas teorias – alguns até notam que tanta empolgação é alimentada pelas pilhas de doações legadas por piedosos milionários americanos para pesquisas que "comprovem" a existência de Deus. Os proponentes da neuroteologia "misturam no mesmo saco os termos e os métodos da ciência e da religião na tentativa de conferir a esta a autoridade daquela", escreveu o médico e pesquisador Jerome Groopman, que é judeu praticante. "A ciência é uma disciplina que demanda medições precisas de fenômenos para a elaboração de modelos de causa e efeito. As dimensões do que chamamos de alma, a centelha divina na vida humana, não podem ser medidas dessa forma."

Teólogos sofisticados também desprezam essas tentativas

de comprovação científica da existência de Deus, que reduzem os anseios espirituais e o desejo de transcendência dos seres humanos a simples mecanismos automáticos. Para eles, aliás, o Deus pessoal e histórico já foi mesmo desta para a melhor, e isso representa um progresso. "Aqueles de nós que tiveram problemas com a religião consideraram um alívio quando se libertaram de um Deus que lhes aterrorizou a infância", escreveu a ex-freira Karen Armstrong. "É maravilhoso não ter de se acovardar diante de uma divindade vingativa, que nos ameaça com a danação eterna se não seguirmos suas regras." Em lugar

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do Senhor de Barbas, parecido com o retratado por

Michelangelo na Capela Sistina, que pairou durante séculos sobre as consciências ocidentais, cultiva-se nesses círculos de crentes intelectuais um certo misticismo chique, com uma divindade rarefeita e intelectualizada. "Esse Deus deve ser abordado por meio da imaginação e pode ser visto como uma espécie de arte, semelhante aos outros grandes símbolos artísticos que têm expressado o mistério inefável, a beleza e o valor da vida", diz Armstrong. Complicado? Pois nesse meio até a palavra Deus, tão carregada de significados, já foi superada. O termo que mais se aproximaria do conceito moderno de divindade transpessoal seria Ser-em-si.

Imagine-se um avião em plena pane com os passageiros crentes rezando: Valha-me, Ser-em-si. Mais delicada ainda seria a situação dos não-crentes, enfrentando a possibilidade do fim apegando-se a quê? Ao Big Bang? À Teoria das Cordas? Ao grande fluxo da vida? Quem não consegue se ver em nenhuma dessas situações entende por que o Senhor de Barbas, o Deus Pai tradicional, ainda estará entre nós por um bom tempo, atestando a extraordinária sobrevivência da fé nos corações humanos. Quem consegue pode rezar simplesmente para que o piloto seja muito, muito bom.

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Capítulo 8

NEUROTEOLOGIA - DIVINO CÉREBRO

Em livro, médico descreve asdesscobertas da neuroteologia, ciência que estuda reações cerebraisdiante das experiências místicas. Cilene Pereira e Mônica Tarantino

O neurocirurgião Raul Marino Jr., 68 anos, conhece o cérebro humano como poucos. Em 35 anos de carreira, estudou-o, analisou as mudanças de comportamento relacionadas à sua química e se preocupou em explicar os caminhos das emoções entre os 100 bilhões de neurônios do órgão. Trabalhou em alguns dos melhores centros de pesquisa, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Estudou para entender o que acontece no cérebro durante as orações, transes e outras práticas místicas. Na semana passada, Marino, professor de neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de

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São Paulo, lançou o livro A religião do cérebro (Ed. Gente), no

qual resume as descobertas mais recentes sobre a origem e os efeitos da experiência religiosa ou mística. “Fiz um depoimento sobre o que existe e acredito, como, por exemplo, o fato de que somos dotados de áreas cerebrais para que possamos nos comunicar com Deus”, disse Marino – além de médico, cristão –, na entrevista concedida a ISTOÉ.

ISTOÉ – Qual a concepção mais atual sobre o funcionamento do cérebro?

Raul Marino Jr. – Um dos princípios da neurociência do comportamento é que nossas experiências são geradas pela atividade cerebral. Assim, os sentimentosde amor, a consciência e até a presença de uma divindade estão associados a eventos que acontecem no cérebro.

ISTOÉ – E o que é a neuroteologia? Marino Jr. – Estudamos o processamento das emoções

relacionadas à religião,à espiritualidade, no cérebro. ISTOÉ – Como são feitos os estudos? Marino Jr. – Foram feitas experiências com monges e

freiras em clausura mostrando como e quando áreas cerebrais se alteravam durante a meditaçãoe a oração. Viu-se que, em estado meditativo, eles apresentam alterações reaise detectáveis. Há mudanças na química do sangue e das ondas cerebrais.

ISTOÉ – Qual foi, até agora, o maior achado da neuroteologia?

Marino Jr. – Foi ter encontrado, no cérebro, as áreas ativadas pelaoração e pela meditação, quando entramos em contato com o divino.

ISTOÉ – E quais são essas regiões? Marino Jr. – Uma das mais importantes é o lobo límbico e

suas conexões.Lá estão estruturas que nos ligam ao Criador e ao significado do mundo.

ISTOÉ – Seu livro descreve experiências de estimulação de áreas do cérebro situadas no lobo temporal direito, seguidas de

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reações que podem ser interpretadas como experiências

místicas. Pode explicar isso? Marino Jr. – Durante os últimos 15 anos, um importante

pesquisador, Michael Persinger, aplicou campos magnéticos sobre o hemisfério direito do cérebrode jornalistas, músicos, escritores e estudantes. Todos referiram-se à sensaçãode uma presença ou ao deslocamento para fora dos seus corpos. Uma das conclusões foi a de que crenças sobre a existência de deuses são propriedades normais do cérebro humano, tendo se desenvolvido em nossa espécie como funções para facilitar nossa adaptabilidade. O autor mostrou a evidência de que certas experiências de cunho religioso podem ser simuladas em laboratório. Isso não quer dizer, porém, que elas sejam fruto do cérebro. A experiência mística é algo que vem de dentro. E só o ser humano pode ter essa experiência divina. Só ele possui as estruturas cerebrais capazes de processá-la.

ISTOÉ – De que maneira os conhecimentos da neuroteologia podem melhoraro atendimento ao paciente?

Marino Jr. – Pode-se usá-los em favor do doente. É como ajudá-lo a usar umafonte de benefícios que ele tem em si próprio, mas que muitos desconhecem. ISTOÉ – Quais são esses benefícios? Marino Jr. – A vivência da espiritualidade ajuda no bom funcionamento do organismo. As pessoas que têm fé se recuperam melhor de tratamentos dedoenças crônicas, por exemplo.

ISTOÉ – No livro, o sr. afirma que a intuição é uma ferramenta que desprezamos cada vez mais. Como usá-la melhor?

Marino Jr. – Uma das maneiras é aprender a fazer silêncio para ouvir a sua voz.Ela não é alta e clara, dizendo faça isso ou aquilo. É um sopro, um sentimento,uma certeza. Isso depende de prática, de meditação, oração ou como você quiser chamar esses momentos em que a pessoa se desliga da corrente dos acontecimentos e entra em contato consigo e com Deus. Extraído do site:

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http://www.terra.com.br/istoe/1870/medicina/1870_divino_cer

ebro.htm

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Capítulo 9

A NEUROTEOLOGIA E A HISTÓRIA DAS EXPERIENCIAS MISTICAS TRANSCENDENTES.

O MRIscanner é um dos instrumentos usados por

neuroteólogos para estudar o cérebro durante experiências religiosas . Neuroteologia, também conhecida como bioteologia ou neurociência espiritual, é o estudo da base neural da espiritualidade e emoção religiosa. A meta da neuroteologia está em descobrir os processos cognitivos que produzem experiências religiosas, relacioná-los com padrões de atividade no cérebro,

descobrir como evoluíram nos seres humanos e os benefícios dessas experiências para o ser humano.

Existem várias áreas de estudo dentro da neuroteologia. Algumas delas são:

estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir essas experiências (alguns chamam esta área de neuroteologia evolutiva).

Estudo do desenvolvimento espiritual e do sentido de Deus, do nascimento até a morte (alguns chamam esta área de neuroteologia desenvolvimental).

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Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça

humana por toda a história e de ancestrais de humanos como o Homo erectus e outras espécies como o homem de neanderthal (alguns chamam esta área de neuroteoantropologia).

Estudo do comportamento religioso de primatas e outros mamíferos (alguns chamam esta área de zooneuroteologia) PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

A psicologia transpessoal é uma área da psicologia que estuda o transpessoal, o transcendente ou o aspecto espiritual da experiência humana. Dentre os assuntos estudados na psicologia transpessoal, estão as experiências religiosas.

A psicologia transpessoal tem entre seus objetos de trabalho e pesquisa os estados não ordinários de consciência que abrangem das experiências com alucinógenos (Grof, Huxley) aos estados místicos das tradições religiosas mundiais. Ken Wilber, um dos seus principais teóricos, em O espectro da consciência, propõe uma cartografia do ser que abrange do físico ao psíquico e deste ao espírito. Assim, a psicologia transpessoal abrange o ego, como as demais escolas de psicologia, e os estados além do ego (transpessoal).

De acordo com a psicologia transpessoal, existem cinco níveis de consciência, sendo eles:

Níveis de consciência de acordo com a psicologia transpessoal a sombra - aqui o homem tem seu self distorcido. A

sombra acumula porções da psique que causam incongruências, incompatibilidades. É um nível negativo e patológico.

Ego - é o nível superficial da consciência, onde o homem se identifica com uma imagem criada, seu self individual, sem se interessar profundamente em questões sociais ou ecológicas, ou seja, pensando em si próprio.

Biossocial - neste nível, o homem tende a ter uma preocupação com o outro, enxergando também o que o rodeia. Ele aceita uma responsabilidade perante os outros e pelo ambiente natural.

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Existencial - o homem encontra, neste nível, a ligação entre

corpo/mente, que tende à auto-organização. É ligado a um alto grau de desenvolvimento e auto-realização. É o grau perfeito para a filosofia e o humanismo. Emoção e razão se unem para o crescimento.

Transpessoal - este é o nível que a psicologia transpessoal estuda. É o nível mais profundo a que, atualmente, se consegue chegar. É o nível aproximado das experiências místicas, onde tudo está imerso no todo, o Tao, como uma gota d'água no oceano, mas não de uma forma linear, cartesiana. Os limites do ego são ultrapassados. É possível entrar em contato com o inconsciente coletivo, entre outros fenômenos relacionados. PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

A psicologia da religião é a área da psicologia que estuda as experiências, crenças e atividades religiosas.

A psicologia da religião também estuda enteogénos e meditação. Entre os psicólogos mais famosos que já escreveram sobre a psicologia da religião estão Sigmund Freud, Carl Jung,William James,Rudolf Otto,Erik Erikson,Erich Fromm, dentre outros.

O trabalho de Carl Jung consigo mesmo e com seus pacientes convenceram-no de que a vida tem um propósito espiritual que vai além das buscas materiais. Nossa principal

tarefa, ele acreditava, era a de descobrir nosso mais profundo e incondicionado potencial, como a capacidade de uma lagarta de virar borboleta.

Baseado no seu estudo sobre o cristianismo, hinduísmo, budismo, gnosticismo, taoísmo e outras tradições, Jung percebeu que esta jornada de transformação está no coração de todas as religiões.

É uma jornada para encontrarmos a nós mesmos e ao mesmo tempo encontrarmos o divino. Paralelamente a Sigmund

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Freud, Jung pensava que a experiência espiritual era essencial

para nosso bem estar. BASE GENÉTICA PARA AS EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS

A hipótese do gene divino propõe que alguns seres humanos carregam um gene que lhes dão a predisposição para episódios interpretados por algumas pessoas como revelação religiosa. A ideia foi postulada e promovida pelo geneticista Dr. Dean Hamer, diretor da unidade de estrutura e regulação do gene, no instituto nacional do câncer dos Estados Unidos. Hamer escreveu um livro sobre o assunto intitulado: O gene divino: como a fé é pré-programada dentro dos nossos genes (The God Gene: How Faith is Hardwired into our Genes).

De acordo com a hipótese, o gene divino (VMAT2) não é “codificado” para a crença em Deus, mas é arranjado fisiologicamente para produzir sensações associadas, por alguns, com a presença de Deus ou outras experiências místicas, ou mais especificamente, espiritualidade como um estado da mente.

Que vantagens evolutivas isso pode levar e de que esses efeitos vantajosos são efeitos colaterais são questões que ainda estão para serem totalmente exploradas.

Lobo frontal em azul; Lobo parietal em amarelo; Lobo occipital em vermelho; Lobo temporal em verde.Dr. Hames teorizou que a transcendência faz as pessoas ficarem mais otimistas, o que leva elas a ficarem mais saudáveis e com mais

probabilidade de terem muitos filhos. PARTES DO CÉREBRO RELACIONADAS A EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS

Lobo parietal: Diminuição de neuro-sinapses levando a sensação de união como o universo.

Lobo frontal: Concentração ampliada (meditação) bloqueia outros impulsos neurais.

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Lobo temporal: Ativa intensa emoção, como prazer e medo

Lobo occipital: Processa imagens que facilitam praticas espirituais (velas, cruzes, etc.) ORIGEM EVOLUTIVA DAS EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS

As experiências religiosas são tipicamente complexas, envolvendo emoções, pensamentos, sensações e comportamentos. De acordo com cientistas, essas experiências são muito complexas para acontecer apenas em um local no cérebro.

É possível que a evolução da capacidade do ser humano (e de outras espécies próximas aos seres humanos) de ter experiências religiosas seja sub-produto da evolução de várias partes do cérebro. Sendo isso verdade poderíamos descartar a hipótese de que a experiência religiosa evoluiu por ela ajudar na sobrevivência da espécie.

Alguns cientistas teorizam que a experiência religiosa tem relação com o orgasmo humano e dizem que o orgasmo e a experiência religiosa evoluíram juntas, baseado em estudos feitos no cérebro durante experiências religiosas e experiências de orgasmo e a semelhança entre áreas ativadas no cérebro durante essas experiências. HISTÓRIA DE EVENTOS RELACIONADOS A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA:

A relação dos humanos com as experiências religiosas durante o curso da história. PRÉ-HISTÓRIA

130.000 anos atrás - Surgimento do cérebro humano moderno

12.000 anos atrás - Práticas xamânicas são possivelmente as primeiras formas de religião, sendo elas da época paleolítica e Neolítica .

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Várias práticas xamânicas existentes hoje em dia contém

uso de enteógenos e experiências religiosas , e possivelmente seres humanos vêm usando técnicas e substâncias para obter experiências religiosas desde a época paleolítica. IDADE ANTIGA

Aproximadamente 2500 a. C. - A meditação, que é uma das técnicas para se conseguir obter uma experiência religiosa, existe desde antes da escrita. Arqueólogos dizem que a prática pode ter surgido entre as primeiras civilizações indianas.

Várias esculturas descobertas na Civilização do Vale do Indo (3300–1700 a.C.) mostram figuras em posturas de meditação. Nas Upanishads (escrituras sagradas hindus), existe umas das primeiras referências a meditação. Ela é feita no Upanishad Brihadaranyaka.A Civilização do Indo (por volta de 2000 a.C.) pode ter a primeira imagem representando meditação . A imagem representa Shiva.

Aproximadamente 2000 a.C. - Abraão recebe uma ordem divina e se muda da Mesopotâmia para a Palestina, dando início ao povo judeu.

Aproximadamente 1500 a.C. - Moisés lidera os judeus na saída do Egito e institui os Dez Mandamentos sob inspiração divina.

Século VII a.C. - Zoroastro funda uma nova religião na Pérsia, o Zoroastrismo, baseada na luta do bem contra o mal.

599 a.C.(ou 540 a.C.) - 527 a.C.(ou 470 a.C.) - Mahavira propaga a religião jainista na Índia. Uma das características principais do Jainismo é a defesa da não-violência.

Por volta de 563 a.C. - 483 a.C. - Siddhartha Gautama cria o Budismo na Índia, tendo como base a extinção dos desejos.

8-4? a.C. – 29-36? - Jesus Cristo cria o Cristianismo, religião que se baseia no amor ao próximo. Após ser perseguido pelo Império Romano, o Cristianismo torna-se a sua religião oficial. O calendário ocidental posteriormente passa a ser contado a partir da suposta data do nascimento de Jesus.

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IDADE MÉDIA

570 - 632 - Maomé, um comerciante da cidade de Meca, na Península Arábica, recebe uma revelação do Arcanjo Gabriel incitando-o a criar uma nova religião, o Islamismo.

788 – 820 - Shânkara foi um reformador do Hinduísmo, filósofo brilhante e autor de muitos milagres.

1207 - 1273 - Rumi, um poeta afegão muçulmano, escreve algumas das melhores poesias místicas de todos os tempos. IDADE MODERNA

1515 - 1582 - Teresa de Ávila reforma a ordem das freiras carmelitas, na Espanha, vivencia muitos fenômenos místicos e deixa escritos muitos clássicos da literatura religiosa mundial.

1531 - Aparição de Nossa Senhora de Guadalupe no México a um índio asteca convertido ao catolicismo.

1542 - 1591 - São João da Cruz, com o apoio de Santa Teresa de Ávila, reforma a ordem dos carmelitas na Espanha e escreve também muitos clássicos da literatura mística mundial. IDADE CONTEMPORÂNEA 1469 - 1539 - Guru Nanak 1817 - 1892 - Bahá'u'lláh 1836 - 1886 - Ramakrishna 1847 - 1910 - William James 1858 - Aparição de Nossa Senhora em Lourdes, na França

1875 - 1941 - Evelyn Underhill 1893 - 1952 - Yogananda 1894 – 1963 - Aldous Huxley 1915 – 1968 - Thomas Merton 1917 - Aparição de Nossa Senhora de Fátima em Portugal 1926 - Satya Sai Baba COMO SE TER UMA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA?

Quais técnicas existem para ser ter uma experiência religiosa? Existem substancias ou equipamentos que causam

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experiências religiosas? Quais são as causas passivas que causam

experiências religiosas? Os processos e técnicas para conseguir uma experiência

religiosa têm diferentes nomes dependendo da religião ou filosofia como:

Faqr (Sufismo) Dhyana or bhakti (Hinduísmo) Wu-wei (Taoísmo) Fana (Sufismo/Árabe e Persa) Makhafah/Mahabbah/Ma'rifah (Sufismo/Egito) Nobre Caminho Óctuplo(Budismo) O caminho Enteogenia

TÉCNICAS MEDITAÇÃO

A meditação consiste na prática de focar a atenção, freqüentemente formalizada em uma rotina específica. A meditação pode ser utilizada para se ter experiências religiosas. ZAZEN

Zazen é um tipo de meditação e tambem é a base da prática Zen Budista. O objetivo do zazen é "apenas sentar", com a mente aberta, sem apegar-se aos pensamentos que fluem

livremente. Isto é feito tanto através do uso de koans, o principal método Rinzai, ou o sentar-se completamnete alerta (o "apenas sentar", shikantaza), o qual é o método da escola Soto. O princípio do zazen é o de que uma vez que a mente esteja livre de suas diversas camadas, pode-se realizar a natureza búdica, atingindo-se a iluminação (satori). ORAÇÃO

Oração é prática religiosa comum a diversas tradições religiosas. É um ato de reconhecimento e louvor diante de um

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ser transcendente. A oração assim como a meditação pode ser

utilizada para se ter experiências religiosas. ORAÇÃO CONTEMPLATIVA

No Cristianismo mistico, a oração contemplativa é uma oração em que o praticante controla a respiração, ou repete cantos ou apenas se concentra para acalmar os pensamentos e sentimentos e entra em comunicação com uma entidade que muitos acreditam ser Deus. ORAÇÃO DE JESUS

Oração de Jesus também chamada Oração do Coração, é uma oração curta cuja fórmula é orada de forma repetida. Ela foi amplamente praticada, ensinada e discutida através da história do Cristianismo Oriental.

A Oração de Jesus é, para os ortodoxos orientais e os católicos orientais, uma das orações mais profundas e místicas; é frequentemente repetida continuamente coma parte de uma prática ascética. Apesar de existirem muitos textos da Igreja Católica sobre a Oração de Jesus, sua prática nunca atingiu a mesma popularidade da Igreja Católica Ortodoxa. RITUAL Exercicios de Respiração Jejum

Música Música Sacra (Música Religiosa) DANÇA SUFISTA

Dança Sufista A order sufista Mevlevi nas suas práticas dhikr atribuem grande importância à música e à dança. O exercício de meditação da ordem, denominado sama, envolve a recitação de orações e hinos, após os quais os participantes realizam voltas à sala, numa dança em que abrem os braços à

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altura dos ombros, com a palma da mão direita virada para cima

e a da mão esquerda para baixo. Os membros desta ordem são mais conhecidos no Ocidente

como os "dervixes rodopiantes". Sufistas procuram experiencias religiosas por meio trances misticos e estados alterados da mente induzidos por meio da desta dança. CHACRAS MANDALA.

Sri YantraChacras são, segundo a filosofia ioga, canais dentro do corpo humano (nadis) por onde circula a energia vital (prana) que nutre órgãos e sistemas. Existem várias rotas diferentes e independentes por onde circulam esta energia. Os chakras são os pontos onde essas rotas energéticas estão mais próximos da superfície do corpo.

Várias terapias, como o Reiki e a cromoterapia se utilizam dos chakras como base para o tratamento do corpo físico até o espiritual. Concentrar-se no que está fazendo, pensando na região do chakra já é uma forma de reativá-lo. Procure ficar em um lugar tranqüilo, para que nenhum barulho possa tirar sua concentração. " Coloque uma de suas mãos aberta em frente ao chakra, sem tocar no corpo, e faça movimentos circulares no sentido horário, como se estivesse massageando o local, mas à distância. " Sentar-se na posição de lótus - pernas cruzadas -

tronco ereto - e fixar o olhar na ponta do nariz estimula o chakra frontal ou do terceiro olho. KUNDALINÍ

Kundaliní é o poder espiritual primordial ou energia cósmica que jaz adormecida no Múládhára Chakra, o centro de força situado próximo à base da coluna, e aos órgãos genitais. É a energia que transita entre os chakras.

Enquanto está adormecida, assemelha-se a uma chama congelada. O "despertar" da energia divina Shakti Kundalini

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requer a orientação de um mestre realizado, para que o

ativamento e desenvolvimento sejam apropriados e conduzam à meta suprema do Yoga que é a paz interior e a realização divina. MANDALAS

Mandala é a palavra sânscrita que significa círculo, uma representação geométrica da dinâmica relação entre o homem e o cosmo. De fato, toda mandala é a exposição plástica e visual do retorno à unidade pela delimitação de um espaço sagrado e atualização de um tempo divino. Em termos de artes plásticas, a mandala apresenta sempre grande profusão de cores e representa um objeto ou figura que ajuda na concentração para se atingir outros níveis de contemplação. Há toda uma simbologia envolvida e uma grande variedade de desenhos de acordo com a origem. A mandala representa para o homem o seu abrigo interior onde se permite um reencontro com Deus. Uso de Enteógenos Algumas substâncias psicoaticas, particularmente enteógenos , tem sido utilizado para propositos religiosos desde tempos pre-historicos. DMT

O chá de ayahuasca contém DMT, podem induzir a pessoa a

ter experiências religiosas Delosperma contém DMT é a abreviação da substância N,N-

dimetiltriptamina . DMT é encontrada in natura em vários gêneros de plantas (Acacia, Mimosa, Anadenanthera, Chrysanthemum, Psychotria, Desmanthus, Pilocarpus, Virola, Prestonia, Diplopterys, Arundo, Phalaris, dentre outros), em alguns animais (Bufo alvarius possui 5-Meo-DMT, um alcalóide bastante parecido em estrutura e em propriedades químicas) e também produzida pelo corpo humano.

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Capítulo 10

NEUROTEOLOGIA INVESTIGA A CRIAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS MÍSTICAS INDUZIDAS

A base neural da espiritualidade podem ser ativados de maneiras diferentes

Neuroteologia é um ramo da neurociência que estuda a componente neurológico das experiências religiosas. Foram descobertos os padrões de atividade eletromagnética do cérebro que são ativados por certos costumes, como a meditação, ou por

outros métodos, como a indução de pulsos eletromagnéticos do cérebro, substâncias psicodélicas, e até mesmo a modificação genética. Neuroteologia agora investigar se é possível integrar artificialmente experiências religiosas em nossas vidas. Para Yaiza Martínez.

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O cérebro (esquerda) e na meditação. Andrew Newberg. A revista Slate abordada em dois documentos recentemente apareceu que desenvolvem pesquisas sobre o comportamento humano religioso e sua base neurológica

possível. De acordo com essas investigações, experiências místicas parecem ser o produto de certos padrões de comportamento eletromagnético dos nossos neurônios

próprios. Esses padrões podem ser facilitadas com algum tipo de

atividades (tais como o pulso eletromagnético ou o consumo de certas substâncias), da qual se infere que a espiritualidade não pode ser um ato consciente transcendente, mas imanente ao cérebro e, portanto, pode propiciar "Talvez, quando nós queremos.

No primeiro artigo, intitulado " Como ligar o seu cérebro para os Religiosos ecstasy "fala John Horgan sobre a" máquina de Deus ", um dispositivo que foi repetido em 2004 a revista Nature e foi desenvolvido pelo neurocientista Michael Persinger parece capaz de induzir experiências místicas entre seus usuários, graças a um solenóide que, colocado na parte externa do crânio, o cérebro estimula alguns pulsos eletromagnéticos.

Persinger é um dos estudiosos do campo da neuro (que

visa explicar o fenômeno da religião a partir dos orçamentos das neurociências), um ramo da ciência que se infiltra profundamente na sociedade pelos seus métodos curiosos para induzir experiências religiosas.

Como tal, poderia ser definido experiências espirituais que parecem fugir de nós mesmos. De fato, essas experiências foram experimentadas desde tempos imemoriais, sem artifícios, por determinadas atividades como yoga, meditação ou oração, com a qual o cérebro parece ser capaz de desenvolver padrões de

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comportamento eletromagnéticas que produzem os mesmos

sentimentos Os solenóides, por exemplo. BIOLÓGICA PERSONAGENS MÍSTICOS

Mas a "máquina de Deus" não foi a única tentativa de reproduzir em laboratório, artificialmente, as sensações. Já em 1950, o neurocirurgião canadense Wilder Penfield , para preparar os pacientes para cirurgia de epilepsia, estimulada pela exposição de suas o efeito de eletrodos no cérebro:. O resultado, alguns deles começaram a ouvir vozes e música e até mesmo para perceber aparições em resposta à estimulação na região do cérebro chamada lobo temporal .

Mais recentemente, houve outras tentativas de induzir experiências religiosas, como aquele realizado por outro neurocientista Todd Murphy , que fez uma versão da máquina chamou Deus Shakti (hindu prazo para a divindade).

O geneticista Dean Hamer do National Cancer Institutes of America, disse que a existência de um gene associado com a auto-transcendência ou espiritualidade, e Rick Strassman , um psiquiatra da Universidade do Novo México, sugeriu que, se esses genes estão ligados a uma substância, dimeltitriptamina , o único conhecido psychedelic naturalmente nosso cérebro, que poderia modificar a nossa genética artificialmente para modular os níveis de religiosidade.

Em seu livro The Spirit Molecule , Strassman apresenta

evidências de que esta substância pode produzir visões místicas, alucinações e até mesmo psicóticos abduções alienígenas, assim como as experiências de quase-morte. Portanto, Strassman aponta que a nossa capacidade natural mística pode ser aumentado modificando os genes que produzem dimeltitriptamina. O CÉREBRO RELIGIOSO

Outras tentativas foram envolvidos nas substâncias psicodélicas como o LSD e psilocibina, o agente ativo dos

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chamados "cogumelos mágicos" e falamos em outro artigo

Tendencias21 . Neste artigo, explicou que esta substância pode induzir experiências místicas e espirituais idênticas às descritas por pessoas que tiveram experiências desse tipo ao longo dos séculos, como demonstrado pelos resultados de experimentos realizados na Universidade americana John Hopkins. Mas o que acontece no cérebro quando ele é submetido a estímulos tais? Conforme explicado pelo segundo artigo na Slate, o cientista Andrew Newberg da Universidade da Pensilvânia estudaram os cérebros de monges franciscanos e meditação budista dedicado a descobrir que tinha aumentado a atividade no lobo frontal (associada à concentração e atenção), enquanto o lobo parietal , associado com a informação sensorial, tinha pouca atividade nestes indivíduos.

Em Tendencias21 já explicado neste contexto que esta pesquisa também mostrou que a atividade cerebral muda com atividades espirituais. A atividade é intensificada na parte frontal do cérebro quando ele desenvolve sua própria concentração de meditação ou oração. Ao mesmo tempo, revelou um decréscimo na atividade na região dos lóbulos parietais, que é o papel fundamental desempenhado pelo espaço, e permite-me a distinguir-se dos outros.

POSSIBILIDADES O decréscimo da atividade nos lóbulos parietais causas

anormais percepções espaciais e perda do sentido usual de ser que é no estado de vigília. É neste momento que tornou possível a experiência chamada mística, que é o que permite ao indivíduo transcender sua identidade individual e se identificar com tudo o que sustenta o universo físico é conhecido.

Por outro lado, a pesquisa de Richard Davidson , da Universidade de Wisconsin, com monges tibetanos também mostraram que os padrões do eletroencefalograma dessas pessoas tinham níveis mais elevados de ondas gama durante os períodos de meditação, e mesmo depois deles.

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Essas investigações revelaram que haveria, portanto, ser um

modelo de cérebro, no caso de experiências espirituais. A pergunta seria: se conhecido métodos artificiais para provocar a mesma experiência religiosa e conhecer o efeito destes métodos no cérebro, podemos sempre artificialmente integrar essas experiências em nossas vidas?

De acordo com John Horgan, o neuroteólogos poderá em breve encontrar uma tecnologia definitiva, que nos permite desenvolver um sentido de transcendência espiritual ou permanentemente e sem efeitos colaterais.

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Capítulo 11

À PROCURA DA CHAVE CIENTÍFICA PARA A RELIGIÃO

Livro de jornalista científico

examina aspectos da pesquisa sobre a fé, da antropologia à neuroteologia. Para que ela serve? Provado está seu

aspecto genético. E que os religiosos se reproduzem mais.

Cavernas de Lascaux, no sudoeste da FrançaO ser humano

é religioso e as provas disto se encontram espalhadas por todo o mundo: das pinturas rupestres em Lascaux, passando pela arte dos xamãs san nos rochedos da África do Sul (que, apesar de muito mais recente do que as obras das cavernas européias, apresenta motivos pictóricos semelhantes), seguindo pelo budismo e o hinduísmo

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até as modernas "religiões patchwork" (cujo edifício espiritual é

composto de elementos de diferentes tendências teístas). Toda cultura conhece formas de concepção religiosa, por

mais distintas que sejam daquilo que o Ocidente considera religião. O jornalista Ulrich Schnabel, redator de ciência do semanário Die Zeit, defende a tese que a religião é uma predisposição humana original. Em seu livro Die Vermessung des Glaubens (A medição da fé), lançado recentemente, ele tenta compilar tudo o que se sabe sobre o tema, do ponto de vista científico. Entre outras tendências, ocupa-se do ramo da neuroteologia.

"Segundo todos os dados de que se dispõe, a crença religiosa tem acompanhado a humanidade desde o princípio. Certos biólogos evolucionistas afirmam ser a fé a única característica que realmente nos distingue dos animais. Pois todas as habilidades, como linguagem, cultura e emprego de ferramentas, se encontram também em forma rudimentar entre os animais. Apenas a fé religiosa não é observada em nenhuma outra espécie, é exclusiva do homem."

COMO NO FUTEBOL

Capa do livro de Ulrich SchnabelO homem é, portanto, religioso por natureza. Entenda-se aqui "por natureza" realmente no sentido antropológico, e não genético. Schnabel

considera total disparate o "gene de

Deus", que o biólogo molecular norte-americano Dean Hamer pretende haver descoberto já há alguns anos. "Entretanto está provado existir uma bem definida disposição genética geral

para a fé. Simplificando bastante: quem tem pai pastor tenderá antes a procurar um sistema religioso do que alguém em cujo lar a religião não representa qualquer papel."

Se a fé é humana, de uma maneira ou de outra, não há realmente como se decidir contra ou a favor; a questão é apenas

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como esta predisposição se expressa em cada indivíduo.

Schnabel encontra resquícios dela mesmo nos mais ferrenhos críticos da religião, como Christopher Hitchens ou Richard Dawkins.

Para ele, a grande discussão sobre o assunto em todos os níveis, até o da "luta das culturas", fundamenta-se justamente em crenças, ou seja, em posições pessoais, defendidas com veemência mas sem base real em dados empíricos. "E tenho a sensação de que esta discussão tem se realizado num nível bem baixo", recrimina o jornalista.

Hooligans em DresdenO sentimento religioso certamente traz sempre consigo a ameaça da mentalidade tacanha, a qual pode levar ao fundamentalismo. Mas aqui Schnabel traça um

paralelo com outro fenômeno, bastante determinante em nossa época. "No futebol, dá-se exatamente o mesmo. Ele é também forte amalgamador em nossa sociedade, e também aqui há o perigo de a coisa desandar, ou dos hooligans, que

abusam dessa qualidade. Creio que forças tão poderosas, que tocam as pessoas tão fundo, jamais são apenas positivas, mas sempre as duas coisas, e é preciso ter isso em mente."

FÉ E REPRODUÇÃO Peregrinos na LituâniaEm sua "Medição da fé", o jornalista

científico traça um quadro bem completo das descobertas da pesquisa teológica, e inquire quanto à sua plausibilidade. Além disso, ele reúne respostas bastante contraditórias sobre o efeito medicinal da fé, ou se ela é capaz de tornar os seres humanos mais

felizes. Schnabel menciona ainda as incertas constatações da

neurociência em relação à meditação, e busca a influência da fé

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nos campos social e demográfico. E aqui se registra um efeito

pouco espetacular, porém mensurável, da religião: em todo o mundo, as pessoas religiosas têm, em média, mais filhos do que as que não se consideram religiosas.

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Capítulo 12

PROGRAMADO PARA A FÉ

Imagens do cérebro, obtidas durante sessões de preces e meditação, ajudam a neurologia a desvendar os mistérios que cercam os fenômenos espirituais e indicam que há uma base biológica para a crença humana

No início, é só uma sensação de crescente tranqüilidade.

Pequenos incômodos ambientais, como o zumbido de um mosquito ou a elevação da temperatura, deixam de ser

obstáculos à concentração. A ansiedade cede lugar à observação serena da vida, a uma paz indefinível. Então, numa súbita e indelével onda tem-se a impressão de que o corpo e a própria individualidade se dissolveram. Não existe mais limite entre o indivíduo e o resto do mundo, não há tempo nem espaço. Uma "iluminação" repentina parece esclarecer todas as coisas.

Você já experimentou ou deve conhecer alguém que passou por uma experiência semelhante. Delírio? Viagem?

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Mergulho numa outra dimensão? O Dalai Lama diz que já

passou por isso (e, muito à vontade, repete a dose diariamente). No século XII, São Francisco de Assis, o santo do mundo natural, experimentou as mesmas sensações. Chico Xavier, o médium brasileiro que morreu no dia 30 de junho, conhecia o fenômeno desde criancinha. Na verdade, não existe uma única religião no planeta sem casos do gênero para narrar. Mas, afinal, o que é esse estado alterado de consciência tão constante em todos os credos? A resposta pode estar no seu cérebro. Pelo menos, segundo a mais recente tentativa da ciência para explicar a origem das experiências místicas que une a neurologia com a teologia: a neuroteologia.

O estudo das experiências religiosas não é novo. Mas quase nunca a ciência levou a sério esse tipo de pesquisa. A psiquiatria e a psicologia do início do século XX incluíram a experiência mística dentro do rol de doenças mentais. "Apesar da sua importância na vida das pessoas, a religião sempre foi tratada com indiferença ou apatia pela maioria dos psicólogos e neurocientistas", diz David Wulff, psicólogo e professor do Wheaton College, em Massachusetts, Estados Unidos. Com a neuroteologia, isso está mudando. A partir de imagens obtidas por tomógrafos que detectam quais áreas do cérebro são ativadas em diferentes atividades, pesquisadores procuram agora entender o complexo relacionamento entre espiritualidade e cérebro, lançando as bases do que vem sendo

considerada uma biologia da fé. Não se trata de conversão dos céticos cientistas às crenças

milenares. Eles continuam exigentes como antes na busca de provas que possam ser confirmadas em experiências realizadas por laboratórios. A diferença está nas novas técnicas de investigação e na importância crescente atribuída a esse tipo de pesquisa. Para isso, certos cientistas não têm hesitado sequer em se transformar em cobaias de seus próprios estudos. Eles se submetem ao fenômeno da consciência alterada durante transes naturais ou provocados, a fim de avaliarem nas entranhas a

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sensação de estar fora do espaço e do tempo relatada pelos

religiosos. E, ao retornarem à normalidade, quase sempre trazem consigo alguma descoberta.

Nessas ocasiões, é comum um místico afirmar que se encontra na presença de Deus ou de uma entidade espiritual. Um cientista pode ter uma resposta diferente, como ocorreu com o neurologista americano James Austin quando experimentou, há 20 anos, uma sensação semelhante à descrita no início desta reportagem. Austin apreciava o rio Tâmisa fluir enquanto esperava um metrô em Londres quando tudo aconteceu: o senso de individualidade desapareceu e ele sentiu-se unido aos edifícios, ao rio e às nuvens, em meio a uma sensação de eternidade. Foram segundos infindáveis de deslumbramento. "Todos os meus receios, inclusive o medo da morte, desapareceram.

Eu havia alcançado a compreensão da natureza última das coisas", revelou Austin, há três anos, no livro Zen and the Brain (O Zen e o cérebro), publicado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, e ainda não traduzido para o português. Para o neurologista, no entanto, o extraordinário fenômeno não foi uma prova da existência de Deus. "Foi uma prova da existência do cérebro", diz o pesquisador.

O estudo de Austin tem o mérito de ser um dos pioneiros na nova vertente de pesquisas dos eventos místicos, mas está longe de encerrar o assunto. De lá para cá, várias outras

experiências foram realizadas por cientistas de universidades renomadas, como Harvard e Columbia, culminando com uma incursão inédita no território cerebral realizada por dois pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, também nos Estados Unidos: o radiologista Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene d’Aquili, falecido há dois anos. Os dados da pesquisa estão no livro Why God Won’t Go Away (Por que Deus não vai embora, ainda sem tradução no Brasil) e confirmam o avanço do estudo dos fenômenos místicos em relação às técnicas tradicionais. Antes, podia-se apenas medir a alteração das ondas

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cerebrais – de beta para alfa – durante as experiências

contemplativas, mas não se sabia por que a mudança ocorria nem que áreas do cérebro eram responsáveis por isso. Newberg e D’Aquili avaliaram o desempenho cerebral de oito praticantes budistas, durante sessões de meditação, e o de um grupo de freiras franciscanas, enquanto elas rezavam fervorosamente durante 45 minutos. A maior novidade emergiu das imagens do lobo parietal superior, a área do cérebro localizada na parte de trás do crânio. Constatou-se que, no transcorrer das meditações, a atividade nessa região diminuía gradualmente até ficar praticamente bloqueada no momento de pico, aquele em que o meditador experimenta a sensação de iluminação religiosa. Justamente a mesma área do cérebro que, em estado normal, proporciona ao homem o senso de orientação no espaço e no tempo, bem como a diferenciação entre o indivíduo e os demais seres e coisas. É como se, privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo parietal desligassem os mecanismos das funções visuais e motoras do organismo. Quando a experiência foi repetida com as franciscanas – cujas rezas enfatizam mais palavras que imagens – registrou-se uma excitação da região associada à linguagem, na base do lobo parietal, mas elas também tiveram os impulsos da área de orientação bloqueados ao atingirem o êxtase.

O que os budistas e as freiras sentiram não é resultado de

auto-sugestão ou de uma doença mental, asseguram os pesquisadores. É algo real, baseado em eventos biológicos. "O sentimento de unicidade parece paralisar os receptores sensórios da região parietal", diz Newberg. Com isso, o cérebro fica impossibilitado de traçar fronteiras e percebe o "eu" como um ente expandido, ilimitado e unido a todas as coisas. A sensação de unicidade, porém, é apenas uma – talvez a mais marcante – das impressões causadas pelas experiências místicas profundas. Os êxtases incluem, ainda, uma intensa alteração

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emocional com expressões de alegria e pavor. E, nesse aspecto,

as imagens do cérebro trazem mais revelações. As imagens dos lobos temporais, onde repousa o chamado "cérebro emocional" ou sistema límbico, mostram uma atividade redobrada dessas áreas durante as experiências contemplativas, o que ajuda a explicar as marcas deixadas por tais eventos na personalidade das pessoas. Formado numa etapa remota da evolução, quando surgiram os répteis, o sistema límbico está associado às emoções e reações instintivas. Nos humanos esses impulsos estão integrados a funções cognitivas superiores produzindo assim uma complexa experiência emocional. Cabe ao sistema límbico monitorar nossas vivências, atribuindo a cada uma delas um valor sentimental, o traço emotivo que permanece na memória e, não raro, pode ser a causa de fortes mudanças de atitude.

Você certamente já ouviu falar de alguém que mudou radicalmente os hábitos e o modo de ver a vida depois de escapar ileso de um acidente ou após ser alvo de uma demonstração extrema de amor num momento de dificuldade. Em escalas diferentes, eu e você certamente já fomos protagonistas de cenas do gênero, nas quais o sistema límbico assume o papel de diretor da peça. Na história das religiões eventos como esse são freqüentes. O judeu Saulo, por exemplo, comandava uma blitz policial para prender líderes cristãos no século I, quando teria experimentado um transe durante o qual

viu o próprio Cristo propor-lhe uma nova vida. Depois disso, convertido, tornou-se o apóstolo Paulo, o grande responsável pela propagação do Cristianismo.

Sabe-se agora que uma intensa atividade elétrica nos lobos temporais pode levar alguém ao êxtase místico, o que faz com que alguns pesquisadores associem uma conexão entre o fenômeno religioso e o ataque de epilepsia, quando idêntica atividade dos lobos é registrada. Não há nada conclusivo sobre tal hipótese, mas uma engenhoca concebida para testá-la – um capacete que emite descargas elétricas, inventado por Michael

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Persinger, da Universidade Laurentian, em Sudbury, Canadá –

confirmou que estímulos elétricos na base do sistema límbico podem provocar alucinações, a sensação de estar fora do corpo e o senso do divino. Ao estimular a mesma área, durante cirurgias no cérebro, alguns pacientes também relataram sentimentos religiosos.

A influência decisiva do "cérebro emocional" nos eventos místicos, diz Newberg, pode esclarecer, ainda, por que os rituais são uma prática tão importante nas religiões. Os movimentos estilizados e repetitivos, os símbolos como a cruz e as imagens sagradas e os cânticos usados nas cerimônias religiosas as diferenciam das ações cotidianas e, desse modo, ajudariam o cérebro a percebê-los como eventos mais significativos. Esses acessórios ativam o sistema límbico, ora produzindo alegria e harmonia, ora tensão e medo, facilitando a transição para os estados alterados de consciência.

E as experiências transcendentais não estariam restritas aos círculos de iniciados, mas são comuns mesmo entre as pessoas que não são religiosas. Na década passada, uma pesquisa do Instituto Gallup apurou que 53% dos americanos adultos admitiam já ter vivenciado um momento de súbito despertar espiritual ou insight, um lampejo intuitivo. Os relatos dessas experiências aumentavam com a idade, a educação e a renda das pessoas ouvidas. Apesar de não existirem dados precisos sobre o assunto no Brasil, seria razoável admitir que

uma sondagem do gênero poderia registrar percentuais ainda maiores que os da pesquisa americana, se considerarmos que a crença em Deus é compartilhada por 99% da população, segundo apurou o Instituto Vox Populi no semestre passado – e o país é um celeiro mundial de religiões mediúnicas.

Os pesquisadores acreditam que não existe um só homem com as funções cerebrais em dia que não tenha experimentado um estado de êxtase semelhante aos dos místicos. Lembra aquele grito de gol que você deixou sair no meio da torcida organizada do seu time? Pois é, aquela impressão de que o

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tempo parou e você ficou maior que o estádio, enquanto

berrava? É a mesma que, desde o início deste texto, estamos chamando de sensação de unicidade. E aquele arrepio que tomou conta de você ao cantar o hino nacional naquela passeata? Até quando você dança ou ouve um discurso empolgante – enfim, quando está diante de algum recurso que desperte o sistema límbico – é possível sentir, pelo menos parcialmente, o que os místicos costumam vivenciar quando buscam Deus.

Newberg e D’Aquili estudaram essas variantes e concluíram que isso acontece com pessoas absolutamente saudáveis. Os portadores de psicoses, como os esquizofrênicos, podem até entrar em transe, ter visões e ouvir vozes. Mas, nesse caso, segundo os pesquisadores, o fenômeno, relacionado a processos obsessivos, é repetitivo e torturante e não espontâneo e criativo como ocorre nas experiências místicas. Robert Formam, especialista em religiões comparadas do Hunter College de Nova York, diz que os indivíduos que passaram por uma experiência mística se mostram mais abertos a inovações e apresentam um grau maior de tolerância com a ambigüidade e a incerteza. Em compensação, diz o psicólogo David Wullf, eles também teriam mais dificuldade em distinguir o que é imaginação do que é real. OK. Depois de tudo o que foi escrito, podemos então dizer que o funcionamento do cérebro explica todas as sensações que, ao longo de milênios, o homem tem atribuído aos deuses e a outras

forças imponderáveis? Não é bem assim. No fundo, a polêmica continua. O que mudou foram os novos argumentos trazidos pela neuroteologia.

Proponha-se a questão a um neurofisiologista convencional, como o professor Luis Eugênio Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e a resposta virá, taxativa: "As experiências místicas têm relação direta com o efeito placebo, que pode ser gerado por condicionamento ou por expectativa. O fato de se acreditar que alguma coisa vai acontecer acaba gerando conseqüências sobre as reações

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fisiológicas". Luis Eugênio não aceita a hipótese de que o cérebro

foi "meticulosamente preparado" para a experiência transcendental, como acredita Newberg, e acha que se temos essa predisposição à fé ela surgiu "por acaso", usando áreas relevantes para outros processos neurais. Idéia semelhante têm ateus e materialistas, para os quais o denominador comum de todos aqueles fenômenos é o cérebro e nada mais.

"Não podemos dizer que eles estão errados", afirma Newberg. "Nem que estão errados os que acreditam na existência de algum tipo de interação do cérebro com algo divino." O único consenso, por enquanto, é que todas as nossas experiências, sejam as da realidade concreta sejam as místicas, ocorrem em nossa estrutura cerebral. A neuroteologia, no entanto, levanta suspeitas sobre o que poderia ser uma dimensão da consciência além dos lobos e feixes de neurônios, a partir da constatação de que a consciência persiste quando o indivíduo perde a noção do "eu" e os sentidos deixam de funcionar.

O fato de as experiências espirituais estarem associadas à atividade dos neurônios não quer dizer, necessariamente, que tais experiências são meras ilusões neurológicas, segundo Newberg, mas certamente que a engrenagem cerebral possui um mecanismo para a transcendência. "A questão central é determinar se a atividade neurológica associada à experiência espiritual significa que o cérebro é a causa dessa experiência ou

se, em vez isso, está percebendo uma realidade além do corpo", acrescenta o cientista. Até que se alcance um consenso, só a fé, seja numa teoria científica seja num dogma, será capaz de responder se Deus é uma criação do nosso cérebro ou se o nosso cérebro foi criado por Deus. O cérebro de uma freira se altera quando ela se concentra em uma oração

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Na década passada, uma pesquisa do Instituto Gallup

revelou que 53% dos americanos de diversas religiões já vivenciaram um momento de súbito despertar espiritual Ninguém precisa ser religioso para ter uma experiência transcendental Há 50 000 anos, os neardentais que vagaram entre a África, a Ásia e a Europa, tornaram-se as primeiras criaturas a sepultar seus mortos com cerimônia. Junto com os corpos, eles enterraram ferramentas, armas, roupas e outros suprimentos que deixaram para a posteridade uma dúvida: teriam os nossos primos da Idade da Pedra equipado os defuntos com utensílios por acharem que, além do túmulo, eles continuariam a viver? É significativo que tais esboços de prática religiosa, os mais antigos de que se tem notícia na história, estejam associados a esse grupo. Segundo Andrew Newberg, em seu estudo sobre o "circuito espiritual" do cérebro, eles foram os primeiros a possuir uma estrutura cerebral suficientemente poderosa para compreender a morte, dotada de um lobo parietal semelhante ao nosso, e, portanto, habilitada a processar as construções mitológicas. Em resumo: sabiam diferenciar a vida da morte e transcender a essa com a crença na imortalidade. Milhões de anos antes, outro ancestral humano, o Australopithecus, também chegou a exibir um lobo parietal desenvolvido mas, ao que parece, jamais foi capaz de produzir algum tipo de cerimônia elaborada. Faltava-lhe a estrutura neuronial necessária à

linguagem, outro detalhe fundamental no desenvolvimento dos mitos.

Com o lobo parietal, possibilidades opostas – por exemplo, vida-morte, existência do predador-não-existência do predador – foram resolvidas por meio das mesmas funções cognitivas usadas para perceber o mundo físico. Como conseqüência, isso pode ter induzido a mente a transformar idéias em convicções e possibilidades em crenças. Os mitos e a própria religião seriam, dessa forma, quase uma conseqüência da evolução da nossa

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espécie. Isso explicaria, então, porque os mitos estão presentes

em todas as culturas humanas. Pascal Boyer, professor da Universidade Washington, em

Saint Louis, Estados Unidos, é um dos poucos pesquisadores que discordam dessa "inevitabilidade biológica" para a crença nos mitos. No livro Religion Explained (A religião explicada, ainda não traduzido para o português), Boyer diz que a suposta universalidade de tais conceitos é apenas o efeito de uma seleção aleatória. A experiência humana, afirma, teria gerado um gigantesco arquivo de informações que o homem só conseguiu preservar parcialmente, em meio a milhões de mensagens perdidas, esquecidas, ignoradas, distorcidas e, algumas vezes, inventadas por nada. Formou-se então, segundo Boyer, uma sopa de representações e mensagens das quais só algumas acabaram fixando-se no imaginário coletivo. Seria o caso de alguns mitos religiosos.

Joseph Campbell, o renomado especialista em religiões autor dos livros As Máscaras de Deus e O Poder do Mito, foi um dos primeiros pesquisadores a destacar a universalidade de algumas dessas narrativas. Virgens que concebem enviados divinos, dilúvios, expulsões do paraíso, regiões celestes e infernais, tentações demoníacas e ressurreições não seriam exclusividade da Bíblia judaico-cristã. São argumentos mitológicos que se repetem nas diversas tradições religiosas do planeta e têm origem, segundo Campbell, em aspirações e

crenças comuns. Veja-se, por exemplo, o episódio da tentação de Cristo. O Evangelho narra que Jesus retirou-se para orar no deserto e ali, durante 40 dias, foi assediado por Satanás, disposto a desviá-lo do seu propósito mediante a oferta de poder e prazeres. Cristo sobreviveu ao cerco e retornou fortalecido para cumprir sua missão. Cinco séculos antes, conforme a tradição budista, o jovem príncipe Sidarta enfrentou provação semelhante.

Ao exilar-se na floresta para meditar, durante 40 dias ele combateu as insinuações do demônio Mara, obstinado em tirá-lo

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da sua busca. Sidarta resistiu e alcançou a meta da iluminação

espiritual, tornando-se Buda. São igualmente universais certos elementos da ritualística

religiosa, como a música e os movimentos ritmados, importantes na estimulação do sistema límbico que levariam ao estado de transe. Durante a história, a humanidade experimentou transes provocados pelo canto, pela dança ou por plantas alucinógenas. Alguns pesquisadores dizem que a perda desse costume – ainda preservado pelo espiritismo, os cultos afro-brasileiros, os evangélicos pentecostais e os católicos carismáticos – pode ter sido nociva ao homem.

"Trata-se de uma perda perigosa", diz o doutor em Antropologia da Religião José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília. "As pessoas que praticam o transe formam uma grande reserva de autocontrole. Muitas são capazes de enfrentar situações de adversidade extrema sem se estressarem." A ênfase dada à racionalidade na civilização moderna privilegia as atividades do córtex cerebral mas, de acordo com José Jorge, o córtex é eficiente para mapear e controlar o mundo externo, não para lidar com o mundo interior, o mundo das emoções. "No transe, o cérebro emocional é exercitado", diz José Jorge. No passado, acredita Newberg, o sentimento e as práticas místicas foram fundamentais para a própria sobrevivência e evolução da humanidade, ainda que as religiões estejam associadas aos conflitos mais sangrentos da civilização. Os rituais

ajudaram a reduzir a agressividade dos membros do grupo e a estabelecer laços sociais fortes entre eles. Evitaram a dispersão e facilitaram o esforço coletivo como nenhum outro recurso. "O poder dos mitos está no fato de que seus símbolos e temas nos conectam à parte mais essencial de nós mesmos de um modo que a lógica e a razão, sozinhas, não conseguem fazer", diz Newberg.

Os mitos seriam uma conseqüência natural da evolução humana

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NA LIVRARIA

Why God Won't Go Away, Andrew Newberg e Eugene D'Aquili, Ballantine Books, EUA, 2001 Religion Explained, Pascal Boyer, Basic Books, EUA, 2001 O Universo Autoconsiente, Amit Goswami, Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro, 2001 O Tao da Física, Fritjof Capra, Cultrix, São Paulo, 1999 NA INTERNET www.andrewnewberg.com www.innerworlds.50megs.com

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Capítulo 13

METANEUROLOGÍA

Visão espiritual do cérebro:

O estudo de crânios fósseis está acumulando revelações surpreendentes sobre o cérebro de animais que viveram há milhões de anos. Esta nova especialidade, neuropaleontología, estudando pequenos sinais marcados no crânio desses animais. A expansão do cérebro como o uso dominante da mão direita, a melhoria da visão em detrimento do olfato, a capacidade de produzir ferramentas e para o desenvolvimento das áreas de linguagem, que se reflecte nas alterações crânio em determinadas áreas que nós vemos mais tarde , milhares de anos mais tarde.

Desde os anos setenta do século passado os cientistas notaram que o cérebro poderia considerar exibindo mecanismos biológicos. fenômenos complexos, tais como atenção, memória e linguagem são analisados, agora, dos neurônios, sinapses, neurotransmissores, redes neurais e sistemas modulares comprometidos com essas funções. Foi criado e neurociência

cognitiva, cujo objetivo é revelar quais são os fenômenos biológicos que ocorrem no cérebro que estão relacionadas a determinados fenômenos psicológicos.

Por outro lado, analisando os comportamentos que ocorrem em animais de diferentes níveis de desenvolvimento, os pesquisadores criaram a psicologia evolucionista e quantificar a participação dos genes ligados a estes comportamentos pode ser desdobrada genética comportamental.

Progressos na neurociência está revelando a função cerebral nunca suspeitou. Assim, até de espiritualidade, que se

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revela em muitos tons diferentes em cada um de nós, está a ser

estudada cientificamente. Neuroteologia foi identificar a atividade do cérebro que se relaciona com esse tipo de sentimento.

O cérebro funciona através da mobilização de multi-funcional, integrado e organizado em um sistema hierárquico. Um fenômeno simples como sentir o aperto de uma picada de agulha é um lugar de anatomia em uma região do cérebro ligada à sensibilidade à dor, mas o seu impacto psicológico movimentos diferentes áreas. Por outro lado, as funções complexas como a linguagem, matemática, escrita, memória e exigem decisões desde o início, a integração das diversas regiões anatômicas, cada um desses procedimentos pode recrutar caminhos diferentes para a execução.

A interpretação de cada fenômenos cerebrais que sabemos, ainda exige o raciocínio reducionista utilizado pelo método científico. Em uma área particular do cérebro, que motiva o nosso interesse, podemos estudar as rotas de entrada e saída do seu eixo de fibras nervosas e estender sob o microscópio para estudar neurônios. O neurônio, por sua vez, revelará as suas membranas, receptores e desencadeia a sua comunicação química com seus milhões de habitantes. A composição química de neurotransmissores e é identificada em dezenas de substâncias que contêm. Temos métodos bioquímicos para identificar sua produção e distribuição em

regiões específicas do cérebro. Sabemos, por exemplo, onde circulam serotonina, noradrenalina e dopamina em várias regiões do cérebro.

No estudo de funções complexas para as quais já nos referimos, também seguem o caminho inverso. Adicione funções de diversas áreas na tentativa de entender toda a complexidade que envolve o fenômeno. Memória e linguagem são bons exemplos para exigir a nossa reflexão sobre a sua multiforme apresentação. O que nos faz esquecer? Porque a criança como se expande rapidamente seu vocabulário e adultos têm dificuldade

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em aprender uma segunda língua? Como podemos lembrar de

um rosto familiar em uma multidão? As várias áreas da neurociência são, na verdade,

produzindo um enorme avanço na interpretação do cérebro e da mente, entretanto, ainda está longe da fronteira final. Física e consolidada com as teorias que funcionam muito bem em seu papel de explicar o mundo físico. A relação de identidade entre energia e matéria princípios unificados entre estas teorias. Biologia e construiu a sua fundação, a descobrir o celular, a evolução das espécies e DNA, mas a psicologia, fingindo estudar a mente, mas produz apenas teorias provisórias e não certificada como válida. Temos de reconhecer que ainda estamos longe de ter uma teoria unificadora para explicar a mente.

Quando eu escrevi sobre o "corpo mental" Tenho a intenção de trazer para a neurociência um estudo clínico, pode introduzir um novo paradigma na compreensão da mente. Sem qualquer presunção de que estou chamando este conhecimento como metaneurología.

AS FUNÇÕES CEREBRAIS

Vamos considerar os mecanismos de que as funções do cérebro já estão razoavelmente bem conhecidas:

"A visão de um objeto - a luz que reflete sobre o objeto é projetada em nossos olhos sinalização neurônios da retina. De lá, atravessa o estímulo nervoso com este vias anatômicas estimular

o córtex visual. Distribuído em superfícies concêntricas como as camadas de uma cebola, os neurônios codificam em áreas vizinhas, cada uma das características do objeto a ser exibido. Assim, temos um lugar específico para ver a forma do objeto, outro local para ver a sua cor e ainda um outro sentido ao movimento. Este objeto pode ser, por exemplo, chamar a mão de alguém. Depois disso, enfrentamos um grande enigma: como o cérebro essa informação quebrado selo: a forma, cor e movimento em um único objeto, juntamente com o seu

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significado, ou seja, o reconhecimento de um objeto que é

familiar ou não ? "Vamos falar sobre a memória - todos sabem que temos

uma memória de curto prazo, que nos ajuda nas decisões cotidianas. Qual é o meu compromisso hoje? O que acabei de assistir na TV? Quando a minha mulher perguntou a que horas eu lhe disse que iria voltar para casa? Nós também temos uma longa memória. Quem são meus pais?, Onde eu nasci? e qual o medicamento que eu uso para dor de cabeça?. Esta memória pode ser recuperada em parte de um esforço. Nós nos lembramos das cenas que vivemos na viagem de férias passado. Às vezes, essa memória é traiçoeira e não vamos nos permite lembrar o nome de um amigo. estudos sistemáticos sobre a recuperação da memória confirmou que todos os fatos memorizados história estão imbuídos de imaginação. Podemos afirmar, também, que as pessoas não se lembram o que aconteceu, de fato, lembrou do que pensamos que aconteceu. Mente cientistas estão usando a "facção" para se referir a essa mistura de realidade com a ficção. E a nossa memória é generosa na criação que mistura explosiva.

"A língua falada - Em 1867, Paul Broca, confirmou que o giro frontal inferior do hemisfério esquerdo está relacionado com a emissão da língua falada e, alguns anos mais tarde, Carl Wernick, compreensão da linguagem relacionadas a uma área situada um pouco há, no lobo parietal esquerdo. De lá, com

adições de neurologistas eminentes como Pierre Marie, foi definido um "anel", com estruturas sub-corticais e corticais relacionadas à nossa capacidade de revelar os nossos pensamentos, a língua falada e ser compreendido por aqueles que nos ouvem. Após Noan trabalho Chronski, sabemos que o bebê nasce com uma forma gramatical que o torna fácil de aprender qualquer língua humana. O estímulo do ambiente ea cultura de cada cidade é vocabulário acrescentando que se instala na língua da criança da mãe.

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"A escrita - atividades motoras simples, como estender a

perna, pode ser realizada com o reflexo patelar, que envolve, teoricamente, dois neurônios - um para estimular a reflexão e outro para desenvolver a resposta. Segurando a mão e exige uma certa dose de intencionalidade e digitando um texto, implica a capacidade de criar uma idéia, jogando-o em um texto com palavras, e utilizado um instrumento como a caneta ou o computador para transcrever.

"O diálogo humano - uma conversa com um amigo que acabou de chegar vai nos forçar a mudar uma série de idéias e transmiti-los em palavras. Esse amigo pode perguntar: "Que carro você dirige agora?" Eu quase que imediatamente respondeu: "A Honda verde Cyvic". Daí a pouco, nós dois ouvimos a voz de minha esposa fazer uma correcção - "o verde da Honda foi o carro do ano passado, têm agora uma Honda preta." Fui traído pela distração e falta de memória.

"Dreams - neurologia e esclarecemos os ritmos viajamos durante o sono e alguns mecanismos químicos associados a ela. Centros já foram identificados no hipotálamo que estimulam o lobo frontal ficar acordado e núcleos de neurônios localizados na ponte que nos leva a dormir. Sabemos também que, durante alguns períodos de sono, os olhos se movem, revelando que neste momento estamos sonhando. O sono eo sonho são essenciais para nossa própria sobrevivência. Temos que ficar mais tempo sem alimento do que sem dormir. O sonho está

intimamente ligada à consolidação da memória. Nosso Eva não será lembrado, se não dormir e sonolento, alguns deles ligados aos últimos momentos da festa que nos incentivou. O ESTUDO DA MENTE

Grande parte da atividade cerebral é fácil de ser conhecida e definida. Por exemplo, os reflexos são respostas para o sistema nervoso produz, em reação a estímulos.

Os comportamentos podem ser reduzidos a um conjunto de atitudes. A emoção é um estado de humor. Quando definimos

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a mente, não há termos e acordo entre os especialistas.

Classicamente, a mente é vista como um conjunto de funções complexas, incluindo memória, percepção, linguagem, consciência e emoção. De qualquer maneira, a mente é o produto de uma complexa atividade do cérebro. O CORPO MENTAL

Neurociência compreende que todos os fenômenos psicológicos que há um substrato biológico é revelada na atividade cerebral. despolarizar neurônios, circuitos que estão organizados em redes, áreas do cérebro que se especializam em movimento e as sensações e as regiões que compõem as funções são agrupadas de memória de construção mais ou menos complexas e escrever o idioma. A mente seria o resultado da atividade cerebral inerente complexa. Sem o cérebro, não haveria mente.

Minha proposta para o "corpo mental" é baseado em evidências clínicas. exemplos neurológicos sugerem a existência de um corpo composto, construídos e expressos os fenômenos da mente. Com o "metaneurología" intenção de liquidar a idéia de que possamos investigar e adicione, aos poucos, o conhecimento da anatomia e da fisiologia do "corpo mental". fragmento de Neurologia obtido várias funções do cérebro.

Sabemos, por exemplo, onde o cérebro decodifica as características físicas de um objeto, mas não sabe como o

cérebro faz a integração dessas informações. Como o cérebro integra nossas memórias para nos oferecer uma identidade única e permanente? O "corpo mental" pode resolver todas estas questões.

A investigação do que acontece em condições clínicas, tais como a histeria, o sonambulismo em transe, na narcolepsia, no fantasma, que nos permite acreditar na existência de uma fisiologia específica do "corpo mental". Dessa forma, consideramos que ele não aprisionar os limites do nosso corpo físico não está restrita aos circuitos e os caminhos da anatomia

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do cérebro e viaja através de ambientes que transcendem a

realidade física que conhecemos. CORPO FUNÇÕES MENTAIS

-Visão - O olho humano registra o pulso de luz que nos permite identificar os objetos ao nosso redor. O "corpo mental" não vê necessidade de luz. Ele assume as propriedades dos objetos. Vamos considerar que estamos diante de uma moeda. Com nossos olhos nós sabemos o seu tamanho, cor, forma, talvez a sua origem e valor. Digamos que uma moeda é o tempo do Império. Com o "corpo mental", independentemente da luz que ilumina a moeda, vamos identificar, além das características físicas relacionadas, podemos registrar todos os eventos relacionados com esta moeda. A atmosfera de fabricação e as mãos onde era negociada várias vezes. O "corpo mental" registra os eventos físicos e psicológicos relacionados a ela. O olho humano não é o instrumento da visão de "corpo mental". Como ele sente a vibração dos corpos, os objetos são percebidos em qualquer parte do "mental", por exemplo, as pontas dos dedos tocando o objeto.

"A língua falada - a capacidade de falar, ler e escrever estão intimamente relacionados. Para cada uma dessas funções, o cérebro usa um conjunto de módulos que estão vinculados por meio de associação. A criança ouvinte aprende a falar com as pessoas ao redor aumentando gradualmente seu vocabulário.

Para ler e escrever, ele terá de absorver o significado dos símbolos que representam coisas e idéias em palavras. Há pacientes clínicos neurológicos didaticamente ilustram o comportamento dessas funções. Nós podemos produzir lesões incapacidade de reconhecer palavras - agnosia visual; a escrever - agrafia; de ler - dislexia; para falar - afasia. No corpo mental essas capacidades estão ligadas à percepção do conteúdo mental das idéias, independentemente da forma como são expressas. Vamos agora considerar que estamos diante de um livro. Precisamos ler todo o seu conteúdo para saber o que é. Com o

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"corpo mental" que levou das ideias expressas no livro, os

eventos relacionados a ele e seu autor. "A Memória - A média individual é capaz de memorizar

uma seqüência de sete números, a família mantém alguns telefones, você conhece o endereço de alguns amigos, lembre-se seus nomes e é capaz de relacionar o que ele fez nos últimos dias. Quando histórias de eventos passados, como festas ou reuniões com amigos, diz mais ou menos incompleta, observando que alguns desses encontros foram mais acentuadas e são consideradas inesquecíveis. Cada uma destas histórias, quando confrontado com o testemunho dos outros, sempre tem uma versão colorida de outros mais ou menos enfático. Descreva um baile tem muitas versões como o número de diplomados. A memória de um computador nos permite abrir um texto já escrito e revisado para corrigir ou acrescentar detalhes. A memória do "corpo mental" nos permite abrir o cenário do ambiente experimentado durante os eventos que presenciamos. Ele nos permite reviver o passado e se você trouxer para o presente. Vivendo uma chacrinha, podemos acrescentar elementos que não tinha notado a primeira vez que aconteceu. Um detetive poderia ver um assalto e, desta vez anote a placa do carro que gira em vôo.

"Sonhos - O" corpo mental "não é um prisioneiro do corpo físico durante o sono, é possível liberar parte mais ou menos. A emancipação do "corpo mental", previsto pelo sonho coloca o

"corpo mental" na frente de outras realidades que ele descobre que seu nível de conhecimento. Uma pessoa inexperiente colocado na frente de um ambiente estranho notará muito pouco do que você está testemunhando. Nenhuma experiência seremos totalmente perdida na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital, em meio a uma densa floresta na direção de um avião ou no meio da multidão em um país estrangeiro. E assim, essas experiências terão que ser notificados após passar pelo filtro do cérebro físico. Às vezes, em situações

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NEUROTEOLOGIA 95

especiais, conseguimos gravar uma cópia fiel da fixação de

eventos ao vivo sonhando com toda clareza. "A mente - nós supor que a mente é uma entidade que

incorpora em uma estrutura organizada que chamamos de" corpo mental ". Esse órgão tem existência extra-cerebral e propriedades que diferem de função do cérebro conhecida. Semiologia neurológica, analisando certas condições médicas, podem revelar as características que confirmam claramente a existência de "corpo mental". Podemos ver que a fisiologia do "corpo mental" nos dá informações confiáveis que está além do cérebro físico. Explorando suas memórias podem claramente reviver o passado. Nós confirmamos que a sensibilidade é afetada pela vibração das substâncias. Sua maneira de percepção nos permite manter contato com o conteúdo e significado dos objetos, mas com a forma e linguagem são processadas através da transmissão de idéias

O "corpo mental" abre um novo paradigma para a neurociência clínica.

(Dr. Nubor Orlando Facure (aposentado médico, escritor e

professor da Universidade de Campinas - São Paulo, Brasil)

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Capítulo 14

PSICOLOGIA JUNGUIANA À LUZ DA NEUROCIÊNCIA

Carlos A. C. Harmath M. D.

Neuropsiquiatra. Analista membro

da ABPA e da IAAP. Ex-Professor

Titular de Fisiologia e Biofísica da

Universidade Estadual de Londrina.

Ex-Professor de Neurofisiologia da

Universidade Federal do Paraná.

A neurociência compreende um conjunto de metodologias

e técnicas utilizadas para estudar os múltiplos aspectos

estruturais e funcionais do Sistema Nervoso. Neuroanatomia,

Neurohistologia, Neurofisiologia, Psicofisiologia, Neurobiologia

Molecular, Neurogenética, Neuroetologia, Neurobiologia

computacional, Neurociência cognitiva, Neuroteologia etc. fazem

parte do conjunto das Neurociências. Todas se interagem na

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NEUROTEOLOGIA 98

busca de compreender como o Cérebro cria a Atividade Mental e

os Comportamentos – isto é – como esses fenômenos resultam

da atividade cerebral (1).

Jung lançou as bases para a estruturação arquetípica da

natureza humana, campo hoje também investigado pela

neuroetologia, considerando que tanto a psique, como o corpo

humano, têm uma estrutura definida que compartilha a

continuidade filogenética com os demais filos do reino animal

(2).

Jung adiantou-se aos conhecimentos de sua época.

Enquanto a psicologia acadêmica e a própria psicanálise, em

parte, insistia que o repertório do comportamento humano era

infinitamente plástico, quase que completamente dependente

das vissitudes e ocorrências do ambiente e pouco influenciados

pelas estruturas inatas ou geneticamente predeterminadas, Jung

insistia no oposto – enfatizava a estruturação arquetípica do

comportamento humano (3). Para Jung o homem não luta para

se tornar uma totalidade, já nasce como uma totalidade que

buscará se desenvolver, realizar suas potencialidades na sua

interação com o ambiente, com o social e com o cultural (4). Na

visão de Jung, compete ao homem desenvolver esse todo, esse

potencial genético que se manifestará fenotipicamente a partir

das influências peristáticas (5). Em 1935, na Clínica Tavistock em

Londres, Jung dizia: “O cérebro nasce com uma estrutura

acabada, funcionará de maneira a inserir-se no mundo de hoje,

tendo, entretanto a sua história. Foi elaborado ao longo de

milhões de anos e representa a história da qual é o resultado.

Naturalmente traços de tal história estão presentes como em

todo o corpo, e se mergulharmos em direção à estrutura básica

da mente, por certo encontraremos traços de uma mente

arcaica (6) .” e no campo da neurofisiologia Paul D. MacLean

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NEUROTEOLOGIA 99

aborda a análise da evolução funcional filogenética do cérebro,

da qual fala Jung, e propõe o modelo do cérebro triuno (7). Tanto

estruturalmente como na sua função o cérebro retrata a sua

longa evolução. Apresentando-se constituído por estruturas

características dos mamíferos mais evoluídos, que manifesta o

seu mais alto grau de complexidade e desenvolvimento no

homem. A seguir observam-se estruturas próprias dos

mamíferos mais primitivos e estruturas que compartilhamos com

os répteis. Esses três cérebros funcionam em uníssono, porém

não em harmonia. Os etologistas dizem que a emissão dos

comportamentos ambientalmente estáveis (invariantes) e

ambientalmente instáveis (variantes) depende do

funcionamento dos três subsistemas propostos por MacLean, e

que integram circuitos neurais presentes indistintamente nos

três cérebros. Similarmente ao que afirma Jung, MacLean

descreve: “Radicalmente diferentes na estrutura, na química e

evolutivamente separados por incontáveis gerações, as três

formações constituem uma hierarquia de três cérebros em um –

um cérebro triuno. Tal situação sugere que as funções

psicológicas e comportamentais estão sob a direção conjunta

de três diferentes mentalidades. Nos seres humanos

acrescenta-se a complicação das duas formações mais antigas

não disporem da possibilidade de comunicação verbal” (8). A

presença dessas estruturas neurais dá embasamento às

afirmações de Jung: “Não há nada que impeça de assumir que

certos arquétipos existam até mesmo nos animais, e que eles

(arquétipos) se fundam nas peculiaridades dos organismos

vivos e que, portanto expressam diretamente a vida, cuja

natureza não pode ser em maior profundidade explicada. Não

somente os arquétipos são aparentemente, as impressões

incontavelmente repetidas de experiências, mas ao mesmo

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NEUROTEOLOGIA 100

tempo, comportam-se como agentes que promovem a

repetição dessas mesmas experiências” (9), e “ Mas existem

várias coisas na psique humana que não são aquisições

individuais, pois a mente humana não nasce tabula rasa, nem

sequer cada ser humano é dotado de um cérebro novo e único.

Ele nasce dotado de um cérebro que é o resultado do

desenvolvimento de incontáveis elos ancestrais. Esse cérebro é

produzido em cada embrião com toda a perfeição diferenciada,

e quando começa a funcionar, produzirá fielmente os mesmos

resultados que foram produzidos inumeráveis vezes ao longa da

linha ancestral. Toda a anatomia humana constitui um sistema

herdado idêntico em sua constituição aos ancestrais e que

funcionará da mesma maneira. Todos os fatores que foram

essenciais aos nossos antepassados, recentes ou remotos,

continuam essenciais para nós,estão embebidos no nosso

sistema orgânico hereditário(10).”

Ë inegável, como se vê nas citações acima, que Jung

considerava o cérebro como o órgão essencialmente ligado à

psique e valorizava a influência da genética. Antecipou-se à

moderna concepção de que a mente resulta de um complexo

processamento eletroquímico de informações pelas estruturas

neurais (11). Modernamente o cérebro é considerado um

sofisticado sistema hipercomplexo que processa e gera

informações como substrato das emoções, dos pensamentos, da

cognição, da criatividade e dos comportamentos. A mente é o

principal produto do funcionamento cerebral. É o resultado da

pressão evolutiva que como conceitua Max Delbrück (Premio

Nobel, um dos fundadores da moderna Biologia Molecular),

quando diz: “No contexto da evolução, a mente de um ser

humano adulto, o objeto de centenas de anos de estudos

filosóficos, cessa de ser um fenômeno misterioso, uma coisa em

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NEUROTEOLOGIA 101

si. A mente passa a ser considerada como um processo

adaptativo em resposta às pressões adaptativas, como todos os

processos vitais” (12).

O grande erro de Descartes foi o de considerar a mente

como algo com vida própria, independente do corpo, o que

influenciou a psicologia acadêmica e o pensamento ocidental

durante séculos, constituindo um paradigma que só agora

começa a mudar (13), (14).

“O cérebro está organizado em processadores (sistemas

neurais) que funcionam de maneira independente (até certo

ponto). Uma vez que cada um desses sistemas tem tarefas

específicas, várias atividades podem ser executadas pelo

cérebro simultaneamente, isto é, esses sistemas trabalham em

paralelo. Essa arquitetura permite que você masque chicletes, e

caminhe pela rua, dirigindo-se a um destino sentindo-se feliz e

lembrando-se do numero do telefone que seu amigo lhe

forneceu na quadra anterior, tudo isso ao mesmo tempo em

que a sua postura é mantida ereta, sua pressão sangüínea é

mantida num nível adequado e a sua freqüência respiratória é

sincronizada pela necessidade de oxigênio exigido pelas

atividades em que está engajado nesse momento” (15). Para

executar todas as atividades necessárias à homeostasia e

interagir com o ambiente físico e social em que se encontra o

sistema nervoso processa dados captados pelos canais sensoriais

transformando-os em informações pertinentes à situação do

momento e ao estado mental, que também é o resultado de

processamento em outras redes neurais, e dessa complexa

atividade neural resulta o estado mental, as emoções, as atitudes

e os comportamentos.

Os elementos básicos constituintes dessas redes neurais

são os neurônios. Existem cerca de 100 bilhões de neurônios e

Page 102: Apostila - Neuroteologia

NEUROTEOLOGIA 102

uns 10 mil tipos de neurônios no cérebro humano. São células

excitáveis capazes de produzirem sinais elétricos e químicos,

verdadeiros bits, representando dados que permitem codificar

tudo que nos atinge tanto do meio externo quanto do meio

interno. Basicamente o neurônio apresenta o corpo celular do

qual emerge dois tipos de prolongamentos. Prolongamentos

múltiplos e ramificados, os dendritos que são especializados para

a recepção de sinais de entrada, e um prolongamento longo e

único o axônio, que veicula os sinais de saída. O axônio se

ramifica profusamente estabelecendo contato com os dendritos

ou com o corpo celular de outros neurônios e eventualmente

com outros axônios. A região onde ocorre esse contato é

denominada sinapse. A sinapse pode ser considerada como um

chip biológico (16), onde ocorrem as operações computacionais

efetuadas pelas redes neurais. Cada neurônio estabelece

contatos sinápticos com cerca de 10 mil outros neurônios, em

média. O total de sinapses ultrapassa 100 trilhões. As sinapses

são extremamente plásticas e participam ativamente na gênese

de todas as atividades mentais. “O desempenho da sinapse

equivale ao dos transistores nos computadores, com a

diferença de serem muito mais versáteis, permitindo uma vasta

gama de possibilidades em vez de simplesmente aberto -

fechado (17).” “As sinapses codificam quem você é (18). ” Nas

sinapses, onde as proteínas codificadas no genoma são

moduladas durante o processamento de sinais, é que se

estabelecem elos entre a atividade eletroquímica da membrana

neuronal e o código genético. Forma-se assim uma conexão

entre o meio ambiente e os genes – uma alça química

informacional entre o ambiente e os genes estabelecendo a

ocorrência da expressividade gênica (19), (20).

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NEUROTEOLOGIA 103

O desenvolvimento e estruturação das conexões sinápticas

dependem em parte do código genético e em parte dos eventos

vivenciais de cada individuo. Pode-se postular que o conjunto de

circuitos e sinapses predominantemente programados pelo

código genético sirva de suporte para os arquétipos enquanto

que os circuitos e sinapses formados durante o

desenvolvimento ontogenético constituem o suporte para os

complexos que se formam ao redor dos núcleos arquetípicos.

Os genes contêm as informações necessárias para, em sinergia

com o ambiente químico intra-uterino, estabelecer a

estruturação da circuitaria básica (21), constituindo o que Jung

denominou sistemas básicos de ação – “Os arquétipos

constituem sistemas de prontidão para a ação e constituem ao

mesmo tempo imagens e emoções. São herdados juntamente

com a estrutura do cérebro – constituem na verdade o aspecto

psíquico dessa estrutura (22)”.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

1. Harmath, C.: Mente – Cérebro: noções básicas de neurociências para psicólogos e psiquiatras. No prelo

2. Stevens, A.: Archetype a Natural History of the Self. Routledge & Kegan Paul. 1982. Page22.

3. Stevens, A.: Archetype a Natural History of the Self. Routledge & Kegan Paul. 1982. Page21.

4. Hall, C. S. e Nordby, V. J.: Introdução à Psicologia Junguiana. Editora Cultrix 1980, pagina 25.

5. Hall, C. S. e Nordby, V. J.: Introdução à Psicologia Junguiana. Editora Cultrix 1980, pagina 26.

6. Jung, C. G.: Collected Works. Vol XVIII. Parágrafo 84, pagina 41

7. MacLean, P. D.: A Triune Concept of Brain and Behavior. University of Toronto Press. 1969.

8. MacLean, P. D.: In Primate Brain Evolution. Edited by E. Armstrong and D. Falk, Plenum Press 1982. On the origin and progressive evolution of the triune brain. Pages 291-316.

9. Jung C. G.: Collected Works. Vol VII. The Personal and the Collective Unconscious. Pages 43-44. Pargraph 109.

10. Jung, C. G.: Analytical Psychology and Weltanschaung. Page 371 and 372. Paragraph 717 and 718).

11. Bownds, M. D.: The Biology of Mind – Origins and Structures of Mind, Brain, and Consciousness. Fitzgerald Science Press. 1999.)

12. Delbrück, M.: Mind from Matter? Blackwell Scientific Publications.1986.

13. Goldberg, E. The Executive Brain – Frontal Lobes and the Civilized Mind. Oxford University Press. 2001.

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NEUROTEOLOGIA 106

14. Damásio, A. R.: Descartes’ Error Emotion, Reason,

and the Human Brain. G. P. Putnam’s Sons. 1994. 15. LeDoux, J.: Synaptic Self. Viking Press 2002 16. Lent, R.: Cem bilhões de neurônios. Conceitos

Fundamentais de Neurociência. Atheneu. 2002 17. Harmath, C.: Mente – Cérebro: noções básicas de

neurociências para psicólogos e psiquiatras. No prelo 18. LeDoux, J.: Synaptic Self. Viking Press 2002. 19. Siegfried, T. The Bit and the Pendulum – from

quantum computing to M theory. The New Physics of Information. J. Wiley. 2000.

20. Black, I.: Information in the Brain. MIT Press. 1991 21. Harmath, C.: Neurociências, Psicanálise e Psicologia

Analítica 1990. Trabalho de conclusão apresentado à SBPA, não publicado.

22. Jung, C. G.: Collected Works: Vol X, Mind and Earth. Page31, paragraph 53.

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Capítulo 15

FILOSOFIA DA MENTE

Mariluze Ferreira de Andrade e Silva (Orientadora)

Dentre as discussões abordadas na Filosofia da Mente contemporânea, nota-se, nas últimas décadas, um interesse crescente pelo debates concernentes à noção de consciência. Discute-se, sobretudo, com o avanço dos programas de pesquisa advindos da Neurociência e da Inteligência Artificial, a possibilidade de inserção dos estudos sobre a mente consciente no campo do saber científico. No entanto, as teorias que habitam a área da Filosofia da Mente parecem estar longe de chegar a um consenso quanto ao tema em questão. Afinal de contas, até que ponto poderia fornecer uma explicação científica para o domínio consciente dos estados mentais?Em termos mais precisos, estaríamos confinados a conceber a consciência como uma propriedade irredutivelmente subjetiva, não-analisável, indecomponível (não relacional), que faz com que os estados de consciência sejam, de maneira privilegiada, acessíveis apenas para o próprio sujeito, do ponto de vista da primeira pessoa? Ou estaríamos diante de um fenômeno que pode ser objetivado,

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passível de receber uma definição e uma explicação causal,

necessariamente formulada na terceira pessoa?

INTRODUÇÃO O conceito de consciente que usamos hoje nasceu com o

"pai" da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud. Sendo que em sua primeira descrição apresentou o nosso aparelho psíquico em três instâncias (níveis): o inconsciente, o subconsciente e o consciente. O consciente é a parte do nosso aparelho psíquico que tem a noção da realidade do nosso meio ambiente imediato. É a zona responsável pelo contato com o mundo exterior. Ao consciente corresponde a zona da razão conhecida através da introspecção (descrição das próprias experiências ou padrões de comportamento). No passado, acreditava-se que, em alguma parte do corpo, havia uma substância responsável pela formação da consciência. Essa idéia "queimava os neurônios" dos pensadores gregos da antiguidade, os quais achavam que a mente e a consciência tinham assento nos pulmões, sendo o ar o elemento responsável pela sua produção. Mesmo quando os conceitos se modificaram em meados do sexto século A.C., e o cérebro passou a ser reconhecido como o centro das atividades mentais, ainda assim persistiu a idéia da existência de uma substância determinante dessas atividades, a

responsabilidade tendo sido transferida para o líquido céfalo-raquiano. Aliada a essa concepção, surgiu outra indagação: Existe um "centro cerebral da consciência"? No século XVII, por assim pensar ou talvez por receio das poderosas pressões teológicas da época, René Descartes enunciou estar à mente assentada na glândula pineal e que, através dela, a "alma" (uma espécie de etéreo consciente superior, mais tarde representada, metaforicamente, por um homúnculo – símbolo herdado dos teólogos medievais), se

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comunicava com o soma. Assim, "alma" e mente (e, por

inferência, a consciência) se dissociavam do cérebro e do corpo. Estava criado o dualismo. Três séculos depois, Daniel Dennett, em seu livro "Consciousness Explained", ao se referir à teoria de Descartes como sendo "O Teatro Cartesiano", contestaria, com veemência, a sua validade. Mas as tentativas para "localizar" a consciência prosseguiram: Ao constatar que pacientes com a síndrome do "split-brain" (cada um dos hemisférios cerebrais funciona separadamente), ainda assim se identificavam como uma única pessoa, Derek Parfit concluiu que isto só poderia ser explicado pela existência de uma "região executiva da consciência", para onde convergiriam todas as informações geradas no cérebro. Recentemente, Joseph Bogen situou o mecanismo de formação da consciência (não ela em si) no núcleo intralaminar do tálamo. Conquanto tais estudos sejam relevantes, tudo indica que a consciência não está circunscrita a essa ou aquela área, mas se espalha, difusamente, pelo cérebro, em consonância com uma de suas principais características: ser, simultaneamente, uni temporal e múltiplo espacial. TEORIAS DA CONSCIÊNCIA Poderíamos neste momento de nossa pesquisa e na intenção de criar um vasto liame conceitual, discorrer a respeito de uma série de postulados á respeito de “Teorias” que dizem

respeito à consciência em sua formação, conteúdo e outras abordagens. Mais nos ateremos em apenas dois postulados que tenham mais consonância com a pesquisa em Filosofia da Mente e com o módulo de estudo em questão. A razão desta teorização através de mais autores intenta enriquecer a discussão sobre a consciência, para posteriormente estarmos seguramente fundamentados para discussão sobre consciência primária e consciência elaborada e suas implicações.

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Discutiremos então a Teoria Subjetivista de John Searle e a

Teoria Reducionista de Daniel Dennet, o que em muito enriquecerá nossa pesquisa. Temos uma teoria subjetivista da consciência, defendida por John Searle, que se apóia na idéia de que os nossos estados de consciência (experiências sensoriais, pensamentos, etc.) são estados intrinsecamente subjetivos e, portanto, quanto a esse aspecto, irredutíveis a qualquer definição e explicação de caráter científico, cuja formulação estaria ancorada no ponto de vista da terceira pessoa. Presume-se, na abordagem proposta por Searle, que os referidos estados de consciência – enquanto estados irredutivelmente subjetivos – somente possam ser revelados para o próprio sujeito, do ponto de vista da primeira pessoa. Outra teoria que consideraremos é a de Daniel Dennett, que apoiado em programas de pesquisa em Neurociência e em Inteligência Artificial, irá adotar uma teoria reducionista da consciência, que busca, do ponto de vista da terceira pessoa, analisar a estrutura da mente consciente em termos funcionais, ou seja, tal teoria caracteriza-se pelas tentativas de definir e explicar os estados e processos mentais conscientes em termos de uma atividade funcional específica (não necessariamente exercida pelo cérebro enquanto um órgão biológico), que envolva, por exemplo, a capacidade de um sistema de receber estímulos ambientais, processar um conjunto de informações e exercer uma resposta comportamental para qual seja requerida

algum nível de inteligência. Para Dennett, nosso cérebro pode ser comparado a uma espécie de computador e a consciência – enquanto uma propriedade funcional – a certo tipo de software, uma “máquina virtual” em nosso cérebro. Enquanto Dennett empenha-se em mostrar que a consciência é um fenômeno de terceira pessoa e, por isso mesmo, passível de ser analisado cientificamente, Searle chamaria nossa atenção para a irredutibilidade do “caráter subjetivo” intrínseco à experiência consciente, acessível apenas do ponto de vista da primeira pessoa. Tal “caráter subjetivo” (denominado de qualia – termo

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em latim para designar as qualidades fenomenológicas de nossa

experiência consciente, tais como, perceber o vermelho, sentir o sabor do amargo, ouvir um ruído barulhento, etc.) torna-se, para Searle, o aspecto essencial de nossos estados de consciência. Searle acusa Daniel Dennett de negar, em sua teoria funcionalista da consciência, a existência de fenômenos como os qualia, isto é, de negar a existência de experiências subjetivas, fenômenos de primeira pessoa, e assim por diante. Searle é categórico em afirmar que: “O problema da consciência, tanto na filosofia quanto nas ciências naturais, consiste em explicar tais sentimentos subjetivos” (p. 118). Mas, como superar o desafio de explicar tais “sentimentos subjetivos”? Conceber propriedades subjetivas em termos de “propriedades intrínsecas” significa concebê-las em termos de propriedades não-relacionais, o que pode sugerir, em princípio, a idéia um tanto quanto inadequada em ciência de que uma coisa possa ser explicada em seus próprios termos (ou em si mesma). Para pensar a consciência, Dennett parte de uma ontologia extrinsecalista ou funcional, apoiando-se na tese de que não há algo como “propriedades intrínsecas”. A concepção de Dennett pressupõe a idéia de que as propriedades de uma coisa são “propriedades extrínsecas” (analisáveis, decomponíveis, relacionais, etc.). Em uma teoria extrinsecalista, a propriedade de uma coisa não é aquilo que está intrinsecamente presente na coisa, enquanto uma “essência

real”, mas sim, aquilo que possibilita a descrição (identificação, classificação, quantificação, etc.) da coisa. Dennett propõe, em sua teoria funcionalista da consciência, que a propriedade de “ser consciente” possa ser pensada como uma propriedade extrínseca (ou funcional), passível de definição e explicação causal, possibilitando, então, que determinados estados e processos exercidos pelo cérebro (ou mesmo por algum outro sistema capaz de exercer tais processos) sejam identificados, classificados, enfim, descritos objetivamente enquanto estados e processos mentais conscientes. O desafio ao qual Searle se

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refere – de explicar tais sentimentos subjetivos intrínsecos à

experiência consciente – somente seria um desafio legítimo para Dennett, caso esse último traísse a sua ontologia funcionalista, abrindo uma exceção para a mente consciente, concebendo-a em termos de propriedades intrínsecas. Conforme o próprio Dennett faz questão de ressaltar: “Postular qualidades internas especiais que são não apenas privadas e intrinsecamente valiosas, mas também que não podem ser confirmadas nem investigadas é apenas obscurantismo” (p. 126). Se Searle atém-se às qualidades subjetivas da experiência consciente em função das “evidências” intuitivas da primeira pessoa, Dennett nega tais qualidades para não auto-contradizer a sua própria ontologia extrinsecalista. Além disso, Searle supõe que o acesso privilegiado do sujeito aos seus próprios estados de consciência (experiências sensoriais, pensamentos, etc.) comportaria certa infalibilidade, isto é, do ponto de vista da primeira pessoa, o autor presume que o sujeito jamais poderia estar errado quanto ao estado de consciência em que se encontra naquele momento, pois, de acordo com a abordagem em questão, no que se refere à consciência, a aparência é a realidade. Ao confrontar, no ponto de vista da primeira pessoa, a aparência com a realidade, Searle exclui a possibilidade do erro, justamente aquilo que, em princípio, parece ser condição para a corrigibilidade de qualquer ponto de vista, algo imprescindível para a possibilidade de refutação de qualquer teoria, para a

formulação de novas hipóteses ou conjecturas teóricas. Ao contrário de Searle, Dennett coloca em questão a existência dos qualia, ao afirmar que: “… aparentemente, para nós, os qualia existem. Mas isto é um julgamento errôneo que fazemos sobre o que, de fato, acontece” (p. 119). Colocando em questão o que para Searle é uma “evidência”, Dennett restabelece quanto ao que nos é revelado do ponto de vista da primeira pessoa, a distinção entre aparência e realidade. Não poder fazer tal distinção significa “não poder errar”, não poder estar errado é algo que tornaria a própria evolução da vida e da

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inteligência impossíveis, pois, sem feed-back negativo a vida

seria impossível, já que essa evolui em sistemas abertos; e sem ensaio-e-erro-e-novo-ensaio… a inteligência também seria impossível, já que essa evolui em sistemas capazes de aprender com a experiência. Portanto, se os motivos de Searle para defender uma “ontologia subjetiva” da consciência justificam-se, em princípio, na peculiaridade das qualidades subjetivas intrínsecas à experiência consciente e na “evidência intuitiva” através da qual tais qualidades subjetivas nos são reveladas, os motivos de Dennett para questionar tal subjetivismo encontram justificativa em sua ontologia extrinsicalista e na legitimidade da distinção entre aparência e realidade para aquilo que nos é revelado do ponto de vista da primeira pessoa. Consciência Primária e Consciência elaborada Podemos distinguir dois tipos de consciência nos animais, segundo Edelman, a mais simples delas é a consciência primária, apoiada, anatomicamente, nos sistemas córtico-talâmico e límbico (com o auxílio de núcleos do tronco cerebral). O primeiro organiza a informação enquanto o segundo atribui valores. Consciência primária é um estado de consciência ou entendimento dos acontecimentos, que considera apenas um ‘estar ciente’ em relação ao Mundo presente, não estando ligada

a nenhum sentido de passado ou futuro. A consciência primária está embasada em um pequeno intervalo de memória, determinado no tempo presente, sendo que nela não encontraremos uma noção explícita ou conceito de um EU pessoal e nem lhe sendo rogada a capacidade de modular um objeto no passado ou futuro, ou como parte de uma cena. Na consciência elaborada estou apenas ‘ciente’, mas não contextualizado; como numa fotografia eu capto única e tão somente o agora. Isto não significa que um animal com consciência primária não desenvolva memória de longo prazo ou

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aja segundo ela, significa apenas que, em regra geral, ele não

tem consciência desta memória ou lança mão dela para planejar ou agir no futuro. Nesta primeira forma de consciência, o animal constrói categorias conceituais de suas percepções (cheiros, imagens, emoções, etc.). Há fortes indícios de que a maioria dos mamíferos e aves possui este tipo de consciência, que deve ter surgido há cerca de 300 milhões de anos. Sugere-se ainda que animais de sangue frio tivessem dificuldades para desenvolvê-la, por não possuírem um aparato bioquímico estável capaz de sustentá-la. Uma hipótese de trabalho, ainda não comprovada empiricamente, é que animais, para os quais olharem nos olhos de outros tem algum significado, possuiriam esta capacidade. O outro tipo de consciência, evolutivamente mais recente, é a consciência elaborada que evoluiu apartir da anteri or e se diferencia dela por permitir uma percepção de continuidade no tempo: eu sou o mesmo que fui no passado e serei no futuro. A consciência do indivíduo reconhece seus próprios atos/e ou afetos, tendo lucidez de estar consciente (consciente da consciência). Nesta forma de consciência, há uma memória simbólica, um gigantesco avanço no processamento de informações pelo cérebro. É um saber não inferencial ou apriorístico dos acontecimentos, sendo inserido dentro de um contexto, não apenas como uma fotografia, mas com ligações e

inferências temporais, espaciais e fenomenológicas. O indivíduo consciente torna-se também capaz de introspecção – a possibilidade de refletir sobre si mesmo. Este progresso é possibilitado pela emergência de duas novas estruturas cerebrais, as áreas de Brocca, que evoluiu do córtex motor, e Wernicke, que evoluiu do córtex auditivo. Nos seres humanos, elas respondem respectivamente pela produção da fala e pelo entendimento da linguagem. A consciência elaborada seria então aquela que envolve o reconhecimento por um sujeito pensante, dos seus próprios atos

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ou afetos, um modelo do que é pessoal, do passado e do futuro,

tal como presente. Exibe uma forma direta de estar ciente. É aquilo que como seres humanos possuímos para além da consciência primária. Para que esta forma de consciência seja própria apenas dos seres humanos, ela deveria ter evoluído muito rapidamente, em algumas centenas de milhares de anos, o que não seria muito provável. Porém, ainda que nenhum dos grandes macacos tenha a linguagem ou mesmo as áreas de Brocca e Wernicke desenvolvidas como o Homo sapiens, a comunicação por meio dos gestos, comum nos grandes primatas, é uma precursora da linguagem oral e parece ter surgido há bem mais tempo, entre 25 a 30 milhões de anos atrás. Também sabem que, se os olhos de outro animal estão voltados para uma direção, é para lá que está dirigida sua atenção. Esta capacidade de perceber que há outra mente por trás de outros olhos chama-se “teoria da mente” e é considerado um atributo da consciência elaborada. Nos seres humanos, uma anormalidade no desenvolvimento das partes do cérebro responsáveis por esta habilidade leva ao autismo, uma patologia do desenvolvimento infantil com graves déficits no relacionamento social. CONSCIÊNCIA PRIMÁRIA E CONSCIÊNCIA ELABORADA: IMPLICAÇÕES PRÁTICAS Quaisquer que tenham sido as pressões ou razões para o

desenvolvimento da consciência entre os seres vivos, estas mesmas pressões favoreceriam o desenvolvimento de diversos avanços como a cultura e a capacidade de simbolizar e exteriorizar percepções. A entrada no mundo simbólico só foi possível com o advento da linguagem nos seres humanos, segundo a Psicologia, e Edelman, por sua vez, vai relacionar o advento da fala e da linguagem com o surgimento da consciência elaborada e do "eu". De acordo com Edelman (1998), a capacidade de atribuir significados às coisas já está presente antes da epigênese da fala, isto é, antes do aparecimento da

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linguagem. Isto implica que o significado é anterior ao

significante. Portanto, assim como o "bootstrapping perceptivo" (conexão entre as imagens percebidas pelos sentidos e a memória categoria-valor) estaria na origem da consciência primária, o "bootstrapping semântico" (epigênese da fala e advento da linguagem) estaria na origem da consciência elaborada. Também a Cultura pode ser considerada uma aquisição herdada do processo evolutivo da consciência, sendo a cultura um método de aprender pelo aprendizado dos outros sem pagar o preço que eles pagaram para tal. Um exemplo eloqüente é o de um de grupo de elefantes africanos que, inocentes, se deixaram abater após terem destruído algumas plantações. Depois de assistirem à matança, animais que nunca tinham sido agredidos ou alvejados por armas de fogo passaram a temer os seres humanos, o que não é cultura, mas aprendizado. Quando os filhotes deste bando, muito depois da caça ter sido banida da região, continuaram a temer os humanos, repetindo o comportamento aprendido dos mais velhos, temos, então, uma forma de proto-cultura. (Wright, 2000, pp.282-97). No entanto, a cultura dos animais não produz mitos, lendas ou obras de arte como nos humanos, mas sabe criar hábitos alimentares, regras sociais e criações tecnológicas. Outra consideração que podemos refletir a respeito do impacto da Teoria de Edelman sobre consciência elaborada e

primária na prática é que, não somos os mesmos sempre, estamos em constante modificação através de processos de conexões neuronais, muitas vezes provocados pelas necessidades de resposta de adaptação ao meio externo, e também por movimentos subjetivos: lembranças, crenças, sentimentos, aprendizagens, etc. A partir desta Teoria poderíamos postular algumas reflexões: Somos os mesmos indefinidamente? Como podemos nos posicionar em nossas relações, considerando a inconstância ou da fluidez da consciência, da plasticidade dos organismos,

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NEUROTEOLOGIA 117

considerando a plasticidade do outro, assim como a de nosso

próprio ser? Por outro lado, constatando a existência desta constante dialética Heraclitiana podemos afirmar que sempre fomos e sempre seremos de determinada maneira? Podemos acreditar na capacidade de mudança semântica e simbólica em nossa forma de percepcionar nosso próprio mundo?

Concluímos esta pesquisa com a certeza de que apenas começamos a descortinar o universo da Consciência e que à medida que evoluirmos nossos estudos poderemos inclusive inferir, dentre outras coisas, a respeito dos nossos processos existenciais, epistemológicos e outros, questionando até que ponto são dirigidos e influenciados ou não pela consciência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIUB, Mônica. Causação Mental. – www.filosofiadamente.org/textos

COSTA, Cláudio. Filosofia da mente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

EDELMAN Gerald M. Bright Air, Brilliant Fire: On the Matter of the Mind. New York, NY: Basic Books, 1992.

EDELMAN, Gerald M.. Biologia da consciência: as raízes do

pensamento. Lisboa: Inst. Piaget, 1995. EPISTEME, Porto Alegre, n. 14, p. 181-184, jan./jul. 2002. KRICHMAR, J, et all. Characterizing functional hippocampal

pathways in a brain-based device as it solves a spatial memory task. The Neurosciences Institute, 10640 John Jay Hopkins Drive, San Diego, CA 92121. Contributed by Gerald M. Edelman, December 30, 2004

SEARLE, John. A redescoberta da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

Page 118: Apostila - Neuroteologia

NEUROTEOLOGIA 118

SEARLE, J. O Mistério da Consciência. São Paulo: Editora Paz

e Terra. 1998. 239 p. REVISTA MENTE E CÉREBRO, A consciência. Junho 2007.

São Paulo: Ed. Planeta. VERMONT, Andréa. Trabalho de Prévia para tese de

Doutorado. Instituto Packter – Módulos de I a VIII. Uberlândia, 2008.

LEITURAS COMPLEMENTARES

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

COSTA, Cláudio. Filosofia da mente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

DALBÉRIO, Osvaldo. Metodologia Científica. Uberaba. MG-2004.

EDELMAN Gerald M. Bright Air, Brilliant Fire: On the Matter of the Mind. New York, NY: Basic Books, 1992.

GARDNER, H. A nova ciência da mente. Uma história da revolução cognitiva. 2. Ed. São Paulo: Edusp, 1996.

Page 119: Apostila - Neuroteologia

NEUROTEOLOGIA 119

Capítulo 16

PSICANÁLISE & TEOLOGIA: IMAGO DEI NO PROCESSO DE

CONSTRUÇÃO DO SUJEITO

MOISÉS

A doutrina da imagem de Deus procura responder a

seguinte pergunta em termos genéricos: em que sentido o

homem é semelhante a Deus? Segundo as Escrituras o homem

foi criado à imagem de Deus. O texto de Moisés que relata essa

declaração encontra-se em Gênesis, capítulo um, versículo vinte

e sete: Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de

Deus o criou; homem e mulher os criou (Bíblia Anotada).

NATUREZA

A palavra imagem no hebraico vem do termo tselem e do

grego eikón, podendo significar a idéia de que a imagem tem

uma participação da natureza essencial e básica do Criador,

dando a entender que o homem participa da natureza espiritual

e moral de Deus, embora não de sua divindade essencial.

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NEUROTEOLOGIA 120

TERMO

Para Champlin, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e

Filosofia, analisa que as discussões sobre os termos hebraico e

grego envolvidos: não ajudam muito a entender a questão da

imagem, são palavras por demais plásticas e ambíguas, não

dando sempre indicações precisas e, por isso, não dá para

entender o sentido da imagem pela definição das palavras, mas

só por meios interpretativos (Champlin, 1991, p. 244).

QUESTÃO

Por essa indefinição do termo imagem, começou-se a ter

várias questões sobre a imagem de Deus no homem, como por

exemplo: a imagem tem a ver com o imaterial do homem, ou o

corpo também representa esta imagem? Qual é a condição

espiritual da imagem Deus? Qual é a essência dessa imagem? Até

que ponto a queda no pecado do homem maculou essa imagem?

A imagem está somente no homem, ou na criação toda? Quais

são as características da imagem de Deus? Quais são os

elementos que compõe a imagem de Deus? Os animais possuem

a imagem de Deus? E, Deus é a imagem do homem?

FILÓN

O primeiro a pensar mais precisamente sobre a imagem de

Deus depois de Moisés foi o filósofo judeu Fílon de Alexandria,

que viveu no primeiro século da era cristã, que influenciou

posteriormente, com a sua filosofia, a doutrina da imagem de

Deus no cristianismo, viu na alma humana a imagem de Deus,

alma no sentido de logos, que seria a mente racional, que

através da qual, o ser humano pode participar do Logos Divino,

dando, portanto, ênfase ao lado imaterial do ser humano nessa

imagem.

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NEUROTEOLOGIA 121

PATRÍSTICA

No período patrístico, que abrange do segundo ao oitavo

século, houve influência da filosofia grega, principalmente a de

Platão, a imagem de Deus foi pesquisada por vários Pais da

Igreja, entre quais estão Clemente de Alexandria, Gregório de

Nissa e Aurélio Agostinho.

CLEMENTE

Para Clemente de Alexandria essa imagem tem três

elementos: primeiro a do logos, que diz respeito à inteligência

racional, em que leva o homem a inteligir com o logos da Razão

Divina; o outro elemento recai sobre todos os homens, visto na

ação daquilo que o homem faz, consistindo no fazer o bem e

governar o mundo; e o último elemento seria a imagem de Deus

no cristão, tendo como resultado essencialmente o

conhecimento e o amor, que são expressos pela ação de Deus na

vida do cristão, e essa ação é mediada por Cristo.

GREGÓRIO

Gregório de Nissa, afirma que a imagem de Deus, refere-se à

imagem de Deus ideal e imagem de Deus real, histórica. Na

primeira o Criador decidiu criar a humanidade, em que a alma e

o corpo são traços marcados dessa imagem, com a alma o

homem se relaciona com Deus, e o corpo enquanto irradiação da

beleza da alma, e instrumento para a atividade física e

intelectual, leva para o exercício de sua realeza, que seria o

domínio do homem sobre todos os outros seres criados. Na

imagem real, histórica, refere-se à criação do homem e da

mulher, dotando-os de sexualidade, pela qual podem se

reproduzir, onde essa imagem é continuada na procriação.

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NEUROTEOLOGIA 122

AGOSTINHO

Aurélio Agostinho é considerado o maior expoente dos Pais

da Igreja, pensa que a imagem de Deus representa a triunidade

de Deus no homem, sendo esta, portanto, de natureza espiritual,

e pela queda do homem no pecado, essa imagem foi

desfigurada, mas, não perdida, e pela mediação de Cristo o

homem pode restaurar plenamente a sua imagem divina.

ESCOLÁSTICA

No período escolástico, que abrange o nono século ao

quatorze, que teve a influência da filosofia de Aristóteles, a

imagem de Deus foi analisada por Boaventura e Tomás de

Aquino.

BOAVENTURA

São Boaventura acredita que a imagem de Deus é

percebida nas imitações que as criaturas podem fazer de Deus,

mas em graus diferentes, algumas apenas por vestígios, outras

por imagem, e outras por semelhança bastante aproximada de

Deus. O vestígio encontra-se em todas as criaturas, por serem

irracionais, não se relacionam com o Criador, mas são criaturas

dele; a razão de imagem encontra-se em todos os intelectos

racionais, que seria o homem de maneira geral; e a razão de

semelhança encontra-se somente nos cristãos, que podem

relacionar-se com Deus.

AQUINO

Tomás de Aquino, visto como o expoente máximo do

escolasticismo percebe que a alma do homem é a imagem da

trindade, vista principalmente na natureza intelectual, que é

capaz de imitar a Deus, possibilitando ao ser humano conhecer-

se e amar-se e, conseqüentemente, conhecer e amar a Deus,

Page 123: Apostila - Neuroteologia

NEUROTEOLOGIA 123

assim, o homem é, contudo, da essência da imagem perfeita de

Deus, decorrente dele como do exemplar, não há nele imagem

quanto à igualdade, porque o exemplar excede infinitamente

àquele que é exemplado.

REFORMA

Na Reforma do século XVI, Martin Lutero e João Calvino

estudaram a imagem de Deus, tendo cada um uma conclusão

diferenciada, ambos foram influenciados pelo humanismo e pelo

movimento da renascença.

LUTERO

Para Lutero a imagem de Deus perdeu-se completamente

com o pecado de Adão, e que só pode ser restaurado mediante a

fé e o amor a Deus, e isso só é possível através da graça de

Cristo, portanto, se um homem tem boa vontade, bons impulsos

morais e o espírito de amor, isso só foi possível porque essas

virtudes lhe foram restauradas na regeneração que o Cristo

propõe ao ser humano pecador.

CALVINO

João Calvino vê a imagem de Deus num sentido mais amplo

e num sentido mais restrito. No amplo a imagem é percebida em

toda a criação, onde a mesma reflete, como um espelho, a

presença de Deus, e através desse espelho o homem é capaz de

ver a glória de Deus manifestada na criação. No sentido

particular, o homem reflete a imagem de Deus, quando dá uma

resposta inteligente à revelação bíblica de Deus, caracterizada

por uma vida de retidão que se traduz em constante

dependência de Deus, algo que somente é feito pelo cristão,

portanto, para Calvino, o homem, antes da queda, além de trazer

a imagem de Deus, também tinha capacidades sobrenaturais e,

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por ocasião da queda, o homem perdeu essas capacidades,

embora retendo a imagem de Deus, deformada, porém, não

perdida, que através da graça de Cristo é restabelecida,

impulsionando o homem a buscar a Deus novamente.

CATOLICISMO

Na teologia católica romana permaneceu uma

compreensão diferenciada da Reforma, que afirma a

impossibilidade da destruição da imagem de Deus, isto porque a

imagem faz parte da substância do homem, pois, se a imagem

tivesse sido destruída na queda, por conseguinte, o próprio

homem deveria ter deixado de existir, mas para que ele usufrua

plenamente essa imagem, precisa ser ajudado pelos meios da

graça, ministrados através da igreja romana, portanto, o homem

possui verdadeiramente a imagem de Deus, e pela razão o

homem pode buscar o Criador, sem, contudo, precisar da

intervenção sobrenatural, levando, assim, o homem ao

conhecimento de Deus, mediante a razão e a natureza.

TEÓLOGOS

Na teologia contemporânea existem muitos estudos sobre

a imagem de Deus, em que os teólogos, sob a égide da filosofia,

principalmente da filosofia cartesiana, procuram resgatar essa

doutrina na história da igreja cristã, além de estudarem o texto

de Moisés em Gênesis, fazem várias interpretações dessa

doutrina.

BERKHOF

Berkhof, que é um teólogo americano protestante, afirma

que a essência do homem consiste em ser ele a imagem de Deus,

distinguindo-se de todas as demais criaturas, sendo a expressão

máxima da criação, isto é, o homem é visto como um ser que é e

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leva a imagem de Deus, tendo recebido do Criador a autoridade

para dominar o restante da criação, portanto, no homem existe a

imagem de Deus que é constituída por esses elementos: que a

imagem de Deus não significa que o homem é igual a Deus, mas

assemelha-se a Ele, nos aspectos da moralidade,

intelectualidade, espiritualidade, imortalidade e autoridade.

LACY

Lacy investiga a imagem de Deus, mostrando que existem

três características dela no homem: personalidade, como

consciência e determinação própria, para cumprir a vontade do

Criador na sua vida; a outra se refere à santidade, que fora

contaminada pela queda no pecado, mas que pode ser

restabelecida através da renovação da fé cristã; e o última a

imagem seria vista na autoridade do homem sobre as demais

criaturas, mas em virtude do pecado ele perdeu a perfeição

desta característica.

MUNYON

Munyon, numa perspectiva da teologia pentecostal

americana, pensa que a imagem de Deus não pode ser vista no

aspecto físico, pois Deus não tem o aspecto material; nem

mesmo pode ser notada como se o homem fosse um pequeno

deus, mas se expressa no aspecto moral-intelectual-espiritual,

demonstrando mais o que as pessoas são essencialmente, do

que elas fazem; pelo elemento espiritual o homem pode ter a

capacidade de conhecer a Deus e ter uma comunicação

inteligente com o semelhante; na imagem da imortalidade, que

fora resgatado no sacrifício vicário de Cristo, o homem pode

viver com Deus por toda a eternidade; e por fim, a imagem é

percebida pela liberdade volitiva, em que a pessoa pode ter livre

escolha, ou seja, a capacidade de aceitar ou rejeitar a Deus.

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ERICKSON

Erickson, teólogo americano, entende que a imagem de

Deus tem três concepções diferenciadas: substantiva, relacional

e funcional. A imagem substantiva inclui as características físicas,

psicológicas e espirituais do ser humano; na imagem relacional

vincula-se a vivência de um relacionamento entre os homens e

Deus e dos homens entre si; e na imagem funcional, refere-se às

realizações das pessoas no seu cotidiano; portanto, a imagem de

Deus distingue o homem de todas as outras criaturas, e é nessa

imagem que o homem caracteriza-se como humano, traduzida

nas aptidões da personalidade, que o faz interagir com as demais

pessoas, de pensar e refletir, e finalmente, de possuir livre-

arbítrio para fazer o que quiser na vida.

WOLFF

Wolff, teólogo alemão, estuda a imagem de Deus no texto

de Moisés, pensando que através da imagem de Deus, o ser

humano foi criado para ser o regente administrador do mundo,

mostrando que toda criação de Deus é o mundo do homem e por

isso existe uma correspondência entre ambos: correspondência

na palavra, no interesse e na administração; essa administração

deve ser efetuada coletivamente, estando unidos uns com os

outros, tendo o interesse como homens e mulheres a

multiplicidade de seus membros, cabendo à humanidade

transformar e modelar o ambiente, e que o domínio do homem

sobre outro adultera a imagem de Deus.

RICOUER

Ricouer, filósofo francês, analisa a partir dos Pais da Igreja a

imagem de Deus, dizendo que é tarefa de todos os séculos

refletirem de forma renovada esse símbolo indestrutível, que

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pertence também ao futuro, e a veracidade bíblica vai depender

de como os teólogos interpretam essa imagem, e que a imagem

de Deus precisa ser vista no ser humano no sentido individual e

coletivo, impulsionando-o para um crescimento progressivo e

orientado para a visão de Deus.

CRÍTICA

Ricouer critica a visão da imagem de Deus meramente

espiritualista, pois, para ele, o homem supera a sua própria

consciência, tendo uma estrutura passível, como de uma

psicanálise da imaginação, que lhe permitiria dar-lhe força e

evolução, sendo nesse sentido que a cultura se institui no nível

da tradição do imaginário e, nesse nível também se deve

pesquisar os sinais do Reino de Deus; e essa imaginação tem

uma função metafísica, que não se poderia reduzir a uma

simples projeção do inconsciente vital recalcado, mas tem uma

imaginação em função do prospectivo, que leva à exploração das

possibilidades humanas.

FILOSOFIA

Em cada período da história da Igreja Cristã a imagem de

Deus foi interpretada pelas correntes filosóficas predominantes,

na patrística o predomínio foi da filosofia platônica, no período

escolástico teve-se a influência aristotélica, na reforma a égide

interpretativa foi o humanismo e o movimento da Renascença, e

na teologia contemporânea a interpretação recai sobre a

filosofia cartesiana.

CONSCIÊNCIA

Em todas essas abordagens percebe-se o predomínio de

uma teologia que leva em consideração apenas o sujeito humano

consciente, reduzindo o ser humano numa esfera

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NEUROTEOLOGIA 128

essencialmente espiritual que o leva a relacionar-se com Deus,

com o próximo e com o mundo criado, refletindo na imagem de

Deus algumas características do Criador, como notado em todas

as abordagens.

INCONSCIENTE

Exceto Ricouer que se preocupa não só com a questão

moral e individualista da imagem de Deus, mas procura

contemporizá-la aos movimentos da humanidade,

principalmente após o advento da psicanálise, que mostra o

homem muito mais do que consciência, tendo um sujeito

inconsciente, ainda que seja recalcado, que pode suscitar no

homem forças inspirativas para a sua evolução na conquista da

plena realização da imagem de Deus.

COGITO

Por sua vez, a teologia da tradicional vale-se da idéia de

Descartes que a existência do homem está na medida do seu

cogito, dando a entender que o centro da aprendizagem do

homem seria o seu Existo, sem levar em consideração que o

homem existe, segundo a psicanálise, a partir do seu sujeito que

vai além do seu consciente, que seria a manifestação da

existência da inconsciência, sendo a pessoa sempre percebida

como singular, isto é, que cada um constrói a sua constituição

humana, sendo diferente nessa construção uns dos outros,

tornando-se cada pessoa um sujeito singular.

PSICANÁLISE

Porém, a teologia interpretada a partir da psicanálise, que

leva em consideração a linguagem, faz associações diferentes

quanto à imagem de Deus, perguntando, por exemplo: em que

sentido Deus se parece como o homem? Pode-se dizer que Deus

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NEUROTEOLOGIA 129

se parece com o homem na fala, isto é, tem-se Deus que fala

infinitamente, e que cria um ser que fala a palavra finitamente.

LINGUAGEM

Sendo assim, uma das características que aparecem no

texto de Moisés em Gênesis é a linguagem; Deus aparece nos

capítulos um e dois falando ao criar ao mundo, inclusive, quando

criou a humanidade, dando a entender que a linguagem, que é

expressa pela fala oral de Deus, constitui-se uma estrutura da

Divindade.

CONSTITUIÇÃO

Tudo leva a entender que Deus já tinha esta estrutura antes

de criar o homem, e não a criou pelo fato de criar o ser humano,

mas ao contrário, o homem ao ser criado à imagem de Deus

passou a ter a mesma estrutura de linguagem como parte de sua

constituição.

SUJEITO

Linguagem aqui não somente entendida como

comunicação direta entre os sujeitos, mas compreendida no

sentido psicanalítico em que o ser humano é introduzido na

linguagem, onde os sujeitos são tecidos através da linguagem e

da fala. Portanto, Deus é constituído de uma linguagem que

infinitamente pode ser por Ele falada, e o homem tem uma

linguagem que nem sempre, por causa do registro real, pode dar

conta desta linguagem.

TEOLOGIA

Na teologia da consciência (a teologia da consciência

refere-se à teologia convencional que é ensinada nos seminários

em geral) prioriza-se a aquisição de conhecimentos, e na teologia

do inconsciente (a teologia da inconsciência refere-se ao que

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esta tese preconiza inicialmente, isto é, uma leitura da teologia a

partir de alguns conceitos psicanalíticos) espera-se que o cristão

elabore o conhecimento no nível do saber.

SIGNIFICANTE

Por isso, a linguagem seria o meio pelo qual o homem pode

interagir com o Criador, ainda que a linguagem humana

dificilmente possa captar a Deus, por que Deus não pode ser

definido completamente nesta linguagem, mas já que Deus

também utiliza a linguagem para expressar-se na criação do

mundo, a linguagem no ser humano pode construir significantes

para compreender a revelação de Deus nas Escrituras.

IMAGO DEI

O texto de Gênesis sobre a imagem de Deus pode,

portanto, ser associado em diferentes aspectos a partir da

psicanálise, mostrando que é possível laçar novos fundantes a

partir da psicanálise sobre a Imago Dei, levando assim a uma

compreensão melhor o processo de constituição do sujeito.