apostila meliponas

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Cuidados básicos para quem quer ser meliponicultor As meliponídeas são abelhas de trato fácil. Para criá-las, não é necessário adquirir máscaras, macacões, fumigadores, centrífugas e outros apetrechos comuns na apicultura, já que têm o ferrão atrofiado. Podem ser instaladas em ambientes diversos como ocos de pau, tubos de PVC ou caixas de madeira construídas especificamente para este fim, chamadas de caixas, colmeias ou cortiços. As modulares, com espaços distintos para ninhos e potes, são mais adequadas, porque facilitam o manejo. Os meliponários não devem ser muito altos, porque as abelhas preferem trabalhar na horizontal, não na vertical. Funis de plástico ou de lata sobre a entrada das colmeias, fileira de azulejos lisos na parede de sustentação do meliponário e graxa no arame que prende a caixa ao galho da árvore, por exemplo, são comuns no sertão. Escorregadios, impedem o acesso de formigas ou lagartixas. O método mais comum de multiplicação é a divisão pela metade de uma colônia de abelhas com muitas crias e potes de alimento, tendo-se o cuidado de resguardar a rainha fecundada numa das novas colmeias e as crias nascentes, em outra. Na primeira, a rainha fecundada formará novo ninho. Na segunda, nascerão rainhas virgens, uma das quais será selecionada pelas companheiras para ser fecundada e iniciar, então, outro ninho. No sertão nordestino, o mel é retirado dos cortiços 30 a 60 dias após o início das chuvas. Na colheita tradicional, furam-se os potes com faca ou garfo, recolhendo- se o mel que se deposita no fundo do cortiço através de uma abertura (um furo) na base da caixa, geralmente vedada com rolha. Depois, coa-se o produto numa peneira de plástico para separar impurezas. Após a retirada do mel, as caixas devem ser vedadas com barro ou cerume para impedir a ação dos predadores. De maneira geral, o mel das espécies melíponas é menos denso que o das abelhas africanizadas. A cor varia do quase transparente ao dourado, e o gosto e níveis de açúcar dependerão do paladar, da espécie, da época, da região e, principalmente, da florada.

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Page 1: Apostila Meliponas

Cuidados básicos para quem quer ser meliponicultor

As meliponídeas são abelhas de trato fácil. Para criá-las, não é necessário adquirir máscaras, macacões, fumigadores, centrífugas e outros apetrechos comuns na apicultura, já que têm o ferrão atrofiado. Podem ser instaladas em ambientes diversos como ocos de pau, tubos de PVC ou caixas de madeira construídas especificamente para este fim, chamadas de caixas, colmeias ou cortiços. As modulares, com espaços distintos para ninhos e potes, são mais adequadas, porque facilitam o manejo. Os meliponários não devem ser muito altos, porque as abelhas preferem trabalhar na horizontal, não na vertical.

Funis de plástico ou de lata sobre a entrada das colmeias, fileira de azulejos lisos na parede de sustentação do meliponário e graxa no arame que prende a caixa ao galho da árvore, por exemplo, são comuns no sertão. Escorregadios, impedem o acesso de formigas ou lagartixas. O método mais comum de multiplicação é a divisão pela metade de uma colônia de abelhas com muitas crias e potes de alimento, tendo-se o cuidado de resguardar a rainha fecundada numa das novas colmeias e as crias nascentes, em outra. Na primeira, a rainha fecundada formará novo ninho. Na segunda, nascerão rainhas virgens, uma das quais será selecionada pelas companheiras para ser fecundada e iniciar, então, outro ninho.

No sertão nordestino, o mel é retirado dos cortiços 30 a 60 dias após o início das chuvas. Na colheita tradicional, furam-se os potes com faca ou garfo, recolhendo-se o mel que se deposita no fundo do cortiço através de uma abertura (um furo) na base da caixa, geralmente vedada com rolha. Depois, coa-se o produto numa peneira de plástico para separar impurezas. Após a retirada do mel, as caixas devem ser vedadas com barro ou cerume para impedir a ação dos predadores. De maneira geral, o mel das espécies melíponas é menos denso que o das abelhas africanizadas. A cor varia do quase transparente ao dourado, e o gosto e níveis de açúcar dependerão do paladar, da espécie, da época, da região e, principalmente, da florada.

Caix

as com Crias e Potes de Mel e Pólen de Jandaira

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Potes de Pólen (Saburá)

Abelhas sem ferrão, a importância da preservação

A criação racional das abelhas da tribo meliponini e da tribo trigonini é denominada de meliponicultura.

Conhecidas popularmente como abelhas sem ferrão ou abelhas nativas ou indígenas, essas abelhas

possuem ferrão atrofiado, não conseguindo utilizá-lo como forma de defesa. Algumas espécies são pouco

agressivas, adaptam-se bem a colméias racionais e ao manejo e produzem um mel saboroso e apreciado.

No Brasil são conhecidas mais de 400 espécies de abelhas sem ferrão que apresentam grande

heterogeneidade na cor, tamanho, forma, hábitos de nidificação e população dos ninhos. Algumas se

adaptam ao manejo, outras não. Embora vantajosa, a criação racional dessas abelhas é dificultada pela

escassez de informações biológicas e zootécnicas, pois muitas sequer foram identificadas ao nível de

espécie. Entretanto, muitos produtores em busca de enxames para povoarem os meliponários, acabam

atuando como verdadeiros predadores, derrubando árvores para retirada das colônias, que, muitas vezes,

acabam morrendo devido a falta de cuidado durante o translado e ao manejo inadequado.Outra causa da

morte das colônias é a criação de espécies não adaptadas à sua região

Abelha Jandaira - Melípona subnitida - Envólucro

do ninho, Disco e Rainha.

Abelha Jandaira - Melípona subnitida - Potes de

Mel e Pólen

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CAIXA POTES DE MEL

Descrição das partes da caixaA caixa para a criação de uruçu-amarela deve medir 22 cm x 22 cm externamente. A espessura da caixa deve ser de 2,5 cm. Ela é composta de quatro unidades sobrepostas de 8 cm de altura, ninho, sobreninho, duas melgueiras iguais e uma tampa. A altura de 8 cm de todas as partes facilita o processo de fabricação das mesmas em larga escala. Entretanto, algumas colônias são muito grandes e produtivas; neste caso, mais partes poderão ser dispostas, aumentando a área destinada aos favos de cria e potes de alimento

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Arquitetura do ninho

O que caracteriza os ninhos das abelhas sem ferrão é a construção das células de cria (figura 1a)

utilizadas somente uma vez pelas operárias; o alimento larval líquido é oferecido todo de uma vez antes da

rainha ali colocar seu ovo; o ovo é colocado pela rainha em posição vertical em relação ao alimento larval

(figura 2). O tempo de desenvolvimento do ovo até adulto é cerca da 40 dias. Após o nascimento, a célula

é destruída pelas operárias. Na jandaíra, as células de cria apresentam, predominantemente, disposição

Page 5: Apostila Meliponas

horizontal (figura 3). Os favos de cria são geralmente envoltos por camadas de cerume que auxiliam na

termorregulação do ninho. A entrada do ninho, ao redor de raias de barro, é construída de tal modo que

permite a passagem de apenas uma abelha de cada vez.

O mel e o pólen são guardados em potes especiais ovóides cujo tamanho varia com o estado da colonia

(colônias fortes tem potes maiores) (figura 1b). Os potes de alimento ficam concentrados em áreas

específicas dos ninhos. As figuras 4 e 5 mostram potes de mel com paredes finas e grossas, construídos

na época das chuvas e de seca respectivamente. Investir na fabricação do cerume é uma forma de

economizar energia quando há alimento.

Nas abelhas Melipona, machos, rainhas e operárias são criados em células iguais. São aproximadamente

do mesmo tamanho, mas as proporções corporais diferem muito.

Os machos passam aproximadamente 15 dias dentro da colméia. Após esse período saem do ninho e

podem formar aglomerados junto aos ninhos onde há rainha para ser fecundada ou nas proximidades do

meliponário.

Os machos não trabalham para a colônia. Desidratam o néctar antes de abandonar a colonia-mãe e

também quando participam dos aglomerados.

As operárias são responsáveis por todas as atividades da colônia: constroem células de cria, aprovisionam

as células, são guardas da colônia, coletam alimento que armazenam nos potes por elas construídos. A

mesma operária realiza diferentes trabalhos durante a sua vida, que em média é de 60 dias.

As rainhas virgens nascem em grande número nessa espécie. Geralmente são mortas pelas operárias

logo depois de saírem das células. Às vezes desenvolvem seu poder de atração dentro da colônia.

Distendem seu abdome e são cercadas pelas operárias, com as quais interagem, como mostram as

figuras 7 e 8.

Após essa etapa a rainha está pronta para se acasalar. Pode sair da colônia e ter o vôo nupcial, onde será

fecundada. As rainhas fecundadas desenvolvem seu abdome (ficam fisogástricas) e não podem mais voar.

A CRIAÇÃO DE ABELHAS INDÍGENAS SEM FERRÃO

Atração de Enxames

Para se atrair enxames, utilizam-se caixas de madeira. No seu interior coloca-se um pouco de cerume e

resina, retirados de colônias de abelhas indígenas. Usam-se, também, caixas nas quais estiveram

instalados colônias dessas abelhas, que foram transferidas e que ainda contêm restos da colônia original.

Estas caixas devem estar bem fechadas e possuir uma abertura por onde as abelhas possam penetrar.

Devem ser colocadas em locais protegidos, onde existam colônias naturais, que possam enxamear.

Devem ser periodicamente inspecionadas, retirando colônias de formigas e outros animais que possam aí

haver se instalado. Quando uma colônia de abelha indígena enxameia, ela contém um vínculo

relativamente duradouro com a colméia mãe, da qual as operárias levam, aos poucos, alimento e cerume

para a nova colônia. Por esta razão, um enxame recém -estabelecido, com boa quantidade de favos e

alimento estocado, pode então ser transportada para o meliponário

Divisão de Colônias

Para a divisão, retiram-se favos com cria velha (pupas e abelhas prestes a emergir), devendo-se usar,

para isso, colônias fortes, com bastante cria. Se a colônia for de uma Melipona (mandaçaia, manduri,

uruçu, jandaíra, tujuba, tiúba, etc), espécies que se caracterizam por serem relativamente grandes e

Page 6: Apostila Meliponas

construírem a entrada do ninho com barro, formando uma estrutura raiada, não há necessidade de se

preocupar com célula real, pois estas abelhas não as constroem, estando a cria, que dará origem às

rainhas, distribuídas pelo favo, em células iguais àquelas de onde nascem as operárias e machos. Se a

colônia for de uma espécie da tribo Trigonini (Jataí, iraí, mandaguari, tubiba, timirim, mirim, mirim preguiça,

moça-branca, etc), é necessário que , nos favos, exista uma ou mais células reais, de preferência prestes

a emergir. Esta célula real é facilmente reconhecida por ser maior que as células das quais emergirão

operárias e machos. Além dos favos, retiram-se, também, cerume e potes de alimento com mel e pólen da

colméias que estão sendo divididas, cuidando-se para não danifica-los. Com esses elementos monta-se a

nova colméia, tomando-se todos os cuidados na transferência para outra caixa. A nova colméia deve

receber abelhas jovens, reconhecidas pela sua cor clara e por não voarem. Após a montagem da nova

colônia, esta deve ser colocada no local onde se encontrava a antiga que deve ser transportada para outro

lugar. Este cuidado visa suprir a nova colônia com abelhas campeiras. A nova colônia deve estar bem

protegida contra o ataque de formigas, pois nesta fase o enxame ainda está desorganizado. Na formação

de uma nova colônia podem ser utilizados elementos de mais de uma colônia da mesma espécie,

tomando-se o cuidado para não misturar abelhas adultas de mais de uma colméia, pois isto acarretaria

luta e, consequentemente, a morte de muitas delas. A divisão de colônias deve ser realizada em época na

qual as abelhas estejam trabalhando intensamente, e deve ser realizada pela manhã, em dia quente e só

deve envolver colônias fortes nas quais existam bastante alimento e favos de cria.

Captura de Colônias e sua Transferência para Caixas

Para capturar colônias na natureza, o criador pode levar, para seu meliponário, galhos ou troncos onde

existam colônias, devendo, para isso, corta-los com cuidado para não atingir o ninho e fechar as

extremidades do oco, caso fiquem expostas. Antes de cortar é importante fechar a entrada da colméia com

tela ou algodão para impedir que muitas abelhas escapem. No caso de muitas abelhas estarem fora do

ninho após sua captura, o tronco ou galho contendo o ninho deve ser deixado com a entrada aberta, o

mais próximo possível de onde se encontrava originalmente, para que as abelhas retornem a ele. À

noitinha, quando todas as abelhas estiverem recolhidas, a entrada deve ser fechada com tela e então a

colônia pode ser transportada com cuidado para o meliponário, devendo o tronco ser colocado na mesma

posição em que se encontrava. A tela da entrada deve, então, ser retirada. Durante o trasnporte, choques

violentos devem ser evitados. Colônias que se encontram em outro tipo de cavidade, como paredes,

muros, barrancos, etc, devem ser transferidos para caixas, caso se deseje capturá-las. Para se transferir

uma colônia de abelha indígena para caixa é preciso ter acesso à cavidade onde o ninho se encontra

alojado. Caso este se encontre dentro de galho ou tronco de árvore, estes devem ser abertos com auxílio

de machado ou motoserra, tomando-se o cuidado para não atingir o ninho. Caso se encontre em

cavidades dentro de muros ou paredes, a cavidade pode ser atingida desmontando-se parte da

construção, o que nem sempre é fácil ou possível. Quando se trata de ninho subterrâneo, cava-se o solo

até atingir a cavidade onde ele se encontra, tendo-se, antes, o cuidado de introduzir, pela entrada, um

arame com um pedaço de algodão preso à ponta. Este arame serve de guia e se este cuidado não for

seguido pode-se perder o canal de entrada e, desse modo, não se conseguir achar o ninho. Após atingir a

cavidade onde se encontra o ninho, realiza-se a transferência de seus elementos para a caixa onde o

ninho será abrigado. No caso de ninhos subterrâneos, muitas vezes é possível transferi-lo inteiro, sem que

ele seja danificado. Neste caso, a caixa deve ter dimensões tais, que permitam o acondicionamento do

ninho inteiro. Quando tiver que desmontar o ninho, para transferi-lo, certos cuidados devem ser tomados:

Page 7: Apostila Meliponas

no caso de o ninho haver sido submetido a golpes fortes, como acontece normalmente com os alojados

em troncos ou galhos de árvores, só os favos que contenham larvas, que já ingeriram a maior parte do

alimento e favos mais velhos reconhecidos por sua cor mais clara e por serem mais resistentes, devem ser

aproveitados. Os favos mais novos, que contêm ovos e larvinhas novas, devem ser descartados. Todos os

danificados ou amassados devem ser, também, eliminados. Os favos devem ser colocados na mesma

posição em que se encontravam na colônia natural, e entre dois favos deve haver espaço suficiente para a

circulação das abelhas. O mesmo deve acontecer entre o fundo da colméia e o primeiro favo colocado.

Para se conseguir isto, coloca-se um pouco de lamelas de cerume entre os favos e entre estes e o fundo

da colméia. O cerume deve ser retirado da colônia antiga e colocado na nova, tomando-se o cuidado para

não amassar muito as lamelas. Estas devem ser colocadas em torno da cria para protegê-la. Só devem

ser colocados na nova colônia potes de alimento intactos. Potes rachados, principalmente de pólen atraem

forídeos (pequenas mosquinhas) que proliferam na colméia, utilizando como alimento, principalmente,

pólen e alimento de cria. A proliferação de forídeos pode levar à destruição da colônia. O mel contido em

potes danificados pode ser posteriormente devolvido à colônia em pequenas doses, colocadas em

alimentadores dos mais diversos tipos. O pólen pode ser devolvido, após o restabelecimento da colônia,

em potes de cera cuidadosamente fechados. É muito importante que a colônia receba pólen de sua

espécie, pois aí existem bactérias envolvidas na sua fermentação. Sem esta fermentação específica, o

pólen não pode ser usado como alimento pelas abelhas. Devem ser também transportados os depósitos

de resina e cera da colônia original, bem como todas as abelhas adultas. As que não conseguem voar

devem ser cuidadosamente coletadas e colocadas na nova colônia Cuidado especial deve ser tomado

com a raínha que é reconhecida pelo seu abdômem grandemente dilatado. As abelhas, que conseguirem

voar e escaparem no momento da captura, voltam ao local onde a colméia estava instalada. É aí que se

deve colocar a nova caixa para que elas entrem. É importante que a entrada da nova caixa fique

aproximadamente na mesma posição em que estava a entrada da colônia antiga. Um pouco de resina e

cerume da colônia original, colocados em torno da abertura da nova colônia, ajuda as abelhas a

encontrarem a entrada. Caso o ninho, antes de sua bertura, tenha sido transportado para longe do local

onde estava instalado, as abelhas que voarem tenderão a voltar ao local de abertura do ninho e a nova

colônia aí deve ser deixada até que a maioria das abelhas haja retornado e penetrado na colônia. Em

todos os casos, os restos da colônia antiga, especialmente as partes que contêm resina e cerume, devem

ser levados para longe, pois funcionam como atrativo para as abelhas que voaram, dificultando a chegada

destas à nova colméia. Após a montagem da colônia, a caixa deve ser fechada de modo a não deixar

frestas por onde possam penetrar parasitas ou abelhas saqueadoras. Para a proteção contra formigas, o

suporte da nova colônia pode ser untado com graxa de modo a impedir que elas a atinjam, pelo menos até

seu restabelceimento. Não se deve realizar transferência quando as abelhas não estiverem trabalhando

normalmente, especialmente em épocas frias, quando as novas colônias poderão ficar muito tempo

desorganizadas à mercê de predadores e parasitas.

Colméias Racionais

As abelhas indígenas sem ferrão podem ser acondicionadas em caixas rústicas de tamanhos variados,

com volume semelhante ao do ninho natural. Este tipo de acondicionamento tem sido muito utilizado em

diversas regiões. Muito comum também é o alojamento de colônias de abelhas indígenas dentro de

cabaças, sendo comum encontrar abelhas, assim, acondicionadas em casas da zona rural. As abelhas

que constroem ninhos subterrâneos normalmente só sobrevivem quando acondicionadas em abrigos

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subterrâneos. Estes abrigos podem ser construídos com tijolos ou mesmo vasos de barro, opostos pela

boca. Quando estes abrigos estão enterrados completamente, é importante deixar um tubo conectando o

abrigo com o exterior para funcionar como tubo de saída das abelhas. O tamanho do abrigo deve ser

semelhante ao da cavidade, onde o ninho estava alojado. O professor Paulo Nogueira Neto, sem dúvida o

maior especialista em criação de abelhas indígenas, idealizou uma colméia racional para estas abelhas,

que facilita o manuseio e extração do mel e a divisão das colméias. Seu livro sobre este assunto é leitura

indispensável àqueles que desejam criar abelhas indígenas sem ferrão. Para se transferirem colônias para

este modelo de caixa, deve-se tomar cuidado especial com os potes de alimento, pois a altura dos

espaços destinados a eles é limitada. Só devem ser transferidos diretamente os potes, se tiver certeza de

que não se vai danifica-los. O resto do alimento deve ser transferido, posteriormente, como já descrito.

Alimentação artificial

No sertão, quando chove, tudo floresce. Na zona da mata atlântica, não. Por isso, nos meses de maio a agosto, quando mais chove, inspecionamos as colméias mensalmente. Não tendo mais potes de mel, deverão ser alimentadas. Como as colméias geralmente estão próximas das casas, sempre haverá suprimento de polem nem que seja de coqueiro. Porisso não nos preocupamos com a alimentação proteica.

Se a colméia se destina a fornecer mel, fazemos uma alimentação de subsistência, de manutenção, somente durante o período de chuvas (maio a agosto), se necessário.

Se a colméia se destina à multiplicação, fazemos uma alimentação estimulante permanente, diminuindo somente durante o auge da florada, pois alimento de origem floral tem a preferência das abelhas, o que pode provocar a fermentação do alimento artificial e consequente derramamento.

O melhor alimento energético para as uruçus é o mel da melífera (abelha italiana ou africanizada), que pode ser fornecido “in-natura”, internamente. Se for fornecido em demasia, será armazenado nos potes. Será que pode,ser considerado esse mel como verdadeiro mel de uruçu? E de origem floral e contém enzimas da uruçu, mas permanece a dúvida. Que fale o pessoal que trabalha com análise, em laboratório.

O alimento artificial que usamos atualmente é o seguinte:

03kg de açúcar cristal 1.200ml de água potável 300ml de mel de melífera

Fervemos e, após resfriado, usamos internamente. Contém aproximadamente 60% de açúcar.

Não conseguimos até hoje, talvez pela grande população, um aumentador externo de resultado satisfatório. Comparando com outras abelhas, as uruçus são briguentas: quando encostam uma noutra, mesmo num alimentador mais distante, se atracam e morrem as duas. Problemas de feromônio as separam. Relatam que, nessas brigas com as abelhas africanizadas, as uruçus vencem até 80% das lutas, devido a grande força nas mandíbulas que degolam aquelas. Mesmo assim, não há vantagem, pois proporcionalmente as colméias de uruçu saem perdendo.

Lembramos que, para alimentador externo, o xarope ou mel deverão ser bem diluídos com água, tornando-se menos pegajosos para as asas das abelhas.

Como alimentador interno, usamos o bebedouro de sabiá.

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Como colher o mel

Primeiro, inspecionamos as colméias destinadas à produção de mel, ou abrindo-as para verificação ou pela verificação sensorial do peso.

Retiramos a colméia escolhida, colocando outra, vazia, no lugar, para abrigaras campeiras.

Deslocamos a colméia para um recinto com menos luz (dentro de casa, por exemplo) e a abrimos.

Com um palito de churrasquinho ou outra ferramenta pontiaguda abrimos um furo na face superior dos potes de mel. Não furamos os potes de polem (estes têm a tampinha superior mais clara) para não sujar o palito . Caso aconteça, limpamos o palito para não provocar a fermentação do mel.

Com uma seringa de injeção grande e bem limpa, ou com um sugador de saliva usado por dentista, extraímos o mel diretamente dos potes. Se tratar-se de poucas caixas, usamos a seringa. Se são muitas caixas, o sugador motorizado dá maior produção.

Extraído o mel dos potes da camada superior, destruímos esses potes com uma faquinha tipo serra, entortada, e um garfo. Assim, temos acesso a outras camadas inferiores. Só destruímos os potes necessários à operação.

Se na colheita derramar um pouco de mel, não nos preocupamos, pois as abelhas colherão de volta para os potes. Mas se a quantidade derramada é grande, retiramos esse mel com um sugador semelhante ao testador de líquido de bateria, trasfega ou transferidor de gasolina. Esse mel, após filtrado, destinamos ao nosso consumo mais imediato, ou doamos às abelhas em aumentador. Não havendo meio de colher essa grande quantidade de mel na colméia durante a colheita, providenciamos a sua drenagem.

Após a operação, repomos a colméia no seu lugar, com o lado dos filhos um pouco mais elevado, para que o mel escorra em direção à outra extremidade. A caixa vazia que se encontrava no lugar da colméia é aberta para que as abelhas voltem para o seu ninho.