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Apostila

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  • Equipe Portal F3

    FOCO, FORA & F

  • DICAS DE LEIS ESPECIAIS DO PROF. GABRIEL HABIB.

    Dicas retiradas do livro Leis Penais Especiais. Gabriel Habib. Ed. Juspodivm.

    LEI DE CRIMES HEDIONDOS. 8072/90.

    1. O feminicdio consiste em matar mulher por razes de condio de sexo

    feminino,consideradas como tais quando o crime envolver: 1. violncia domstica e familiar; 2.

    menosprezo ou discriminao condio de mulher.

    2. O feminicdio considerado crime hediondo. Entretanto, no retroage para alcanar fatos

    ocorridos antes do advento da lei 13.104 de 2015, ou seja, crimes praticados antes de

    10.03.2015, por se tratar de novatio leis in pejus.

    3. De acordo com o critrio legal, adotado pela lei brasileira, somente o legislador pode definir

    os delitos considerados hediondos, em um rol exaustivo previsto na lei.

    4. O homicdio qualificado-privilegiado no considerado delito hediondo por falta de previso

    legal.

    5. A vedao da concesso da graa aos delitos hediondos e equiparados feita pelo art. 5,

    XLIII da CRFB/88 abrange tambm a vedao do indulto. Portanto, a vedao do indulto pela

    lei de crimes hediondos constitucional.

    6. Aps o julgamento da ordem de habeas corpus n 82.959/SP pelo STF, no qual se declarou

    a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado, bem como aps o advento da lei

    11.464/07, que inseriu na lei de crimes hediondos o regime inicialmente fechado, a

    jurisprudncia passou a admitir a substituio da pena privativa de liberdade pela pena

    restritiva de direitos nos crimes hediondos e equiparados.

    7. Os novos prazos para a progresso de regimes para os condenados por crimes hediondos

    ou equiparados inseridos pela lei 11.464 de 28 de maro de 2007 no retroagem, por se tratar

    de lei posterior mais severa. Smula 471 do STJ.

    LEI DE TORTURA. 9455/97.

    8. Compete Justia Comum, Federal ou Estadual processar e julgar o delito de tortura. Caso

    a prtica do delito cause violao a algum bem, interesse ou servio da Unio Federal, suas

    entidades autrquicas ou empresas pblicas, a competncia ser da Justia Federal, na forma

    do art. 109, IV da CRFB/88, como na hiptese de a tortura ser praticada dentro de uma

    Delegacia de Polcia Federal ou dentro do INSS, autarquia federal. Caso contrrio, a

    competncia para processo e julgamento ser da Justia Estadual. Devero ser seguidas as

  • regras de competncia do Cdigo de Processo Penal, sendo, portanto o local da consumao

    do crime o competente para processar e julgar o autor da tortura (art. 70).

    9. Na hiptese de ser o sujeito ativo da tortura um militar, a competncia para processo e

    julgamento do delito continua sendo da Justia Comum, Federal ou Estadual. No ser

    deslocada para a Justia Militar, uma vez que se trata de um delito comum, e, no, militar, por

    no estar previsto no Cdigo Penal Militar (DL 1001/69).

    10. No caso de conexo entre tortura e homicdio doloso, como na hiptese de o agente

    torturar a vtima, causando-lhe intenso sofrimento fsico ou mental para obter informao e

    depois mat-la, como queima de arquivo, aplica-se a norma contida no art. 78, I do CPP, sendo

    o Tribunal do Jri o rgo competente para processar e julgar os dois delitos, uma vez que a

    conexo, como causa de modificao de competncia que , modificar a competncia para

    processo e julgamento da tortura.

    11. O delito de tortura, salvo as excees legais, crime comum, podendo ser praticado por

    qualquer pessoa, no se exigindo a condio especial de funcionrio pblico.

    12. A informao, declarao ou confisso da vtima ou de terceira pessoa obtida no caso da

    denominada tortura probatria constituir prova obtida por meio ilcito, vedada na forma do art.

    5, LVI da CRFB/88, devendo ser desentranhada dos autos do processo ou do inqurito

    policial.

    13. O inciso II do art. 1 trata de denominada tortura castigo ou tortura punitiva. Como a prpria

    redao legal est a sugerir, nesta modalidade de tortura, a violncia ou grave ameaa

    provocada na vtima gerando intenso sofrimento fsico ou mental, so empregadas como forma

    de castigar a vtima ou aplicar-lhe medida de carter preventivo. Esse tipo penal se parece

    muito com o tipo penal do art. 136 do Cdigo Penal, que trata do crime de maus tratos. O

    conflito aparente de normas deve ser resolvido pelo princpio da especialidade. Com efeito, a

    distino entre ambos reside em diversos pontos, sobretudo no dolo do agente. Em relao ao

    dolo, enquanto o delito do art. 136 do Cdigo Penal tem carter educativo e o dolo do agente

    a repreenso a uma indisciplina e se aperfeioa com a simples exposio a perigo a vida ou a

    sade da vtima, em razo de excesso no uso dos meios de correo ou disciplina, no delito de

    tortura ora estudado, o dolo do agente causar padecimento vtima, causando-lhe sofrimento

    fsico ou mental, sem nenhum cunho educativo. A outra distino reside no fato de que o crime

    do art. 136 do Cdigo Penal de perigo, ao passo que o delito de tortura de dano.

    14. A perda do cargo e a interdio para seu exerccio so efeitos da condenao, e s podem

    ser aplicados aps o trnsito em julgado da sentena penal condenatria. Esses efeitos so

    automticos e decorrem da condenao, no sendo necessria motivao expressa na

    sentena.

  • LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE. 4898/65.

    15. Considerando-se que a pena mxima cominada ao delito de abuso de autoridade prevista

    no art. 6, 3. b no ultrapassa dois anos, o abuso de autoridade considerado infrao penal

    de menor potencial ofensivo, sendo, portanto, a competncia, dos Juizados Especiais

    Criminais, e l devem ser aplicadas as medidas despenalizadoras. Aps a alterao do art. 61

    da lei 9099/95 pela lei 11.313/2006, mesmo os delitos para os quais haja procedimento

    especial previsto em lei so considerados infraes penais de menor potencial ofensivo.

    16. Competncia para processo e julgamento do abuso de autoridade praticado por militar. Na

    hiptese de ser um militar o sujeito ativo do abuso, a competncia para processo e julgamento

    do delito continua sendo da Justia Comum, Federal ou Estadual. No ser deslocada para a

    Justia Militar, uma vez que se trata de um delito comum, e, no, militar, por no estar previsto

    no Cdigo Penal Militar (DL 1001/69). Nesse sentido, smula 172 do STJ: Compete a justia

    comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em

    servio.

    17. Competncia para processo e julgamento do abuso de autoridade previsto no cdigo Penal

    Militar, praticado por militar. Existe o delito de abuso de autoridade previsto no art. 176 do

    Cdigo Penal Militar, que possui a seguinte redao: Ofender inferior, mediante ato de

    violncia que, por natureza ou pelo meio empregado, se considere aviltante: Pena - deteno,

    de seis meses a dois anos. Nessa hiptese, o militar realmente ser julgado pela Justia

    Militar, mas to-somente em razo de ser esse um crime militar por estar previsto no Cdigo

    Penal Militar, o que no se passa com o abuso previsto na lei 4.898/65.

    18. Competncia para processo e julgamento no caso de conexo entre abuso de autoridade

    praticado por militar e outro crime militar. No caso de o militar praticar um crime militar

    qualquer, por exemplo, abandono de posto (art. 195 do CPM) em conexo com o delito de

    abuso de autoridade previsto na lei 4898/65, dever haver a separao dos processos para o

    processo e julgamento. Assim, Justia Militar competir o processo e o julgamento do crime

    militar, e Justia Comum competir o processo e o julgamento do crime de abuso de

    autoridade. Nesse sentido, smula 90 do STJ: Compete a justia estadual militar processar e

    julgar o policial militar pela pratica do crime militar, e a comum pela pratica do crime comum

    simultneo aquele.

    19. Natureza jurdica da representao e ao penal. A representao constitui um espelho do

    direito de petio, positivado no art. 5, XXXIV, alnea a da CRFB/88, por meio do qual se leva

    ao conhecimento das autoridades pblicas qualquer abuso de poder. Dessa forma, a

    representao tem natureza jurdica de notitia criminis. Nesse sentido, o art. 1 da lei 5249/67

    que dispe: A falta de representao do ofendido, nos casos de abusos previstos na Lei n

    4.898, de 9 de dezembro de 1965, no obsta a iniciativa ou o curso da ao penal. Assim, a

    ao penal pblica incondicionada.

  • 20. Os crimes previstos no art. 3 da lei so classificados como crimes de atentado, que so

    aqueles que j trazem a figura da tentativa como elemento do tipo. Logo, se a tentativa j

    esgota a figura tpica na conduta do agente, o delito j est consumado. Seria correto, portanto,

    afirmar que, nesses crimes, o tentar j consumar. Dessa forma, o delito no admite a figura

    da tentativa.

    21. A lei de abuso de autoridade possibilitou a trplice sano autoridade pblica, quais

    sejam: sano administrativa, sano civil e sano penal. Tais sanes so autnomas e

    podem ser aplicadas cumulativamente, sem que isso implique bis in idem, por possurem

    naturezas diversas.

    22. O legislador elencou as trs espcies de pena criminal que podem ser aplicadas ao autor

    do abuso de autoridade (1. multa, 2. deteno e 3. perda do cargo e inabilitao para o seu

    exerccio por at 3 anos). Tais penas so autnomas e podem ser aplicadas cumulativamente.

    23. Pena privativa de liberdade e substituio por pena restritiva de direitos. De acordo com a

    pena mxima cominada, provavelmente a pena privativa de liberdade, uma vez aplicada, no

    ultrapassar o limite de 4 anos. Assim, se os demais requisitos previstos no art. 44 do Cdigo

    Penal estiverem presentes, ser possvel a substituio da pena privativa de liberdade por

    pena restritiva de direitos.

    24. Perda do cargo e a inabilitao para o exerccio de qualquer outra funo pblica por prazo

    at trs anos. O legislador tratou da perda do cargo e da inabilitao para exercer qualquer

    outra funo pblica pelo prazo de at 3 anos. Os institutos so distintos. A perda se refere ao

    cargo que j era ocupado pelo autor do abuso. A inabilitao se refere impossibilidade de o

    agente vir a ocupar qualquer outra funo pblica pelo prazo de 3 anos, isso , com efeitos

    futuros.

    25. Prescrio nos crimes de abuso de autoridade. Como a lei traz 3 espcies de pena, o prazo

    de prescrio poder variar. Tendo em vista que a lei 4.898/65 no regulou o tema prescrio,

    o intrprete deve socorrer-se do Cdigo Penal.

    26. Prescrio da pena de multa. Aplica-se o art. 114, I do Cdigo Penal. Portanto, a pena de

    multa prescreve em 2 anos.

    27. Prescrio da deteno por dez dias a seis meses. Considerando a pena mxima

    cominada, a prescrio ocorre em 3 anos, com base no art. 109, VI do Cdigo Penal. Salvo se

    o delito foi praticado antes do advento da lei 12.234 de 2010, especificamente antes de

    6.5.2010, caso em que o prazo prescricional ser de 2 anos.

    28. Prescrio da perda do cargo e a inabilitao para o exerccio de qualquer outra funo

    pblica por prazo at trs anos. Para esse tipo de pena, a lei 4.898/65 e o Cdigo Penal no

    fazem previso do prazo prescricional. Isso poderia levar o intrprete a concluir que seria

    imprescritvel. Entretanto, as nicas hipteses de imprescritibilidade esto na CRFB/88, art. 5,

  • XLII (racismo) e XLIV (ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem

    constitucional e o Estado Democrtico). Dessa forma, a nica soluo encontrada pela doutrina

    e pela jurisprudncia foi estabelecer o menor prazo prescricional previsto no Cdigo Penal,

    qual seja: 3 anos, com base no art. 109, VI. Salvo se o delito foi praticado antes do advento da

    lei 12.234 de 2010, especificamente antes de 6.5.2010, caso em que o prazo prescricional ser

    de 2 anos.

    LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO. 9.613/98.

    29. A lavagem de dinheiro consiste na atividade revestida de objeto lcito, que tem por

    finalidade a transformao de recursos financeiros obtidos de forma ilcita em lcitos, operada

    por meio das fases da Introduo (placement), dissimulao (layering), integrao (integration),

    para que seja ocultada aquela origem ilcita.

    30. Fases da lavagem. Introduo (placement), dissimulao (layering), integrao

    (integration). A introduo (placement) consiste na separao fsica entre o agente e o produto

    auferido pelo crime, dificultando a identificao da procedncia delituosa do dinheiro. O

    dinheiro ilcito introduzido no mercado formal para a sua converso em ativos lcitos,

    normalmente por meio do fracionamento dos valores; utilizao dos valores ilcitos em

    estabelecimentos que trabalham com dinheiro em espcie; aplicaes financeiras; troca de

    notas de menor valor por de maior valor para reduzir o montante fsico de papel-moeda;

    converso do valor ilcito em moeda estrangeira; remessa dos valores ilcitos para o exterior,

    para parasos fiscais; aquisio de bens, mveis ou imveis com valores superfaturados;

    aquisio de bens inexistentes etc. A dissimulao (layering) a lavagem propriamente dita.

    Nessa fase pretende-se construir uma nova origem lcita, legtima do dinheiro, por meio da

    prtica de condutas que buscam impedir a descoberta da procedncia ilcita dos valores,

    espalhando-os em diversas operaes e transaes financeiras de diversas empresas e

    instituies financeiras nacionais e estrangeiras. Por fim, na integrao (integration), agora,

    com a aparncia de lcitos, os valores so formalmente incorporados ao sistema econmico,

    por meio da criao, aquisio ou do investimento em negcios lcitos, ou compra de bens.

    Utilizam-se instituies financeiras que movimentam grande volume de dinheiro.

    31. O delito de lavagem de dinheiro crime acessrio, que depende da prtica de uma infrao

    penal antecedente, podendo tal infrao penal consistir em crime ou em contraveno penal.

    Essa natureza acessria est descrita no art. 1 e no art. 2, 1 da lei.

    32. Geraes da lei que dispe sobre a lavagem de dinheiro. Existem trs geraes das leis

    que tratam do tema lavagem de dinheiro. As leis de primeira gerao so aquelas que trazem

    apenas o delito de trfico de drogas como infrao penal antecedente. As leis de segunda

    gerao estabelecem um rol das denominadas infraes penais antecedentes, das quais se

    pode lavar dinheiro. Por fim, as denominadas leis de terceira gerao so aquelas que

    admitem qualquer infrao penal como antecedente. A lei brasileira sempre foi uma lei de

    segunda gerao, uma vez que trazia no seu art. 1 um rol de infraes penais antecedentes

    das quais poderia haver a lavagem de dinheiro proveniente delas. Entretanto, com a alterao

    operada pela lei 12.683/2012, ocorreu a revogao desse rol de infraes penais

  • antecedentes, passando a ser possvel a lavagem do produto de qualquer infrao penal, razo

    pela qual se conclui que a lei brasileira passou a ser uma lei de terceira gerao.

    33. Mesmo na hiptese de tentativa do crime antecedente, ser possvel a lavagem, desde que

    o delito antecedente tenha gerado bens, direitos ou valores que possam ser lavados.

    34. Em razo da autonomia entre o delito de lavagem de dinheiro e a infrao penal

    antecedente, no h que se falar em absoro da infrao antecedente pela lavagem de

    dinheiro, sobretudo porque no h uma relao de dependncia entre elas.

    LEI DE VIOLNCIA DOMSTICA CONTRA A MULHER. 11.340/06.

    35. Estabeleceram-se trs mbitos onde estar configurada a violncia domstica e familiar

    contra a mulher: mbito da unidade domstica; mbito da famlia; e qualquer relao ntima de

    afeto.

    36. Por mbito da unidade domstica o legislador abrangeu o espao de convvio permanente

    de pessoas, com ou sem vnculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas. Nessa

    hiptese, o importante que a mulher deve fazer parte desse convvio permanente. O

    problema que no h um conceito do que seja permanente e justamente esse o requisito

    para configurar a violncia domstica contra a mulher. Na ausncia de especificao

    legal, pensamos que o convvio permanente significa um convvio habitual, duradouro, e no

    fulgs, passageiro. No h um limite de tempo pr-determinado. No se exige o vnculo

    familiar, o que significa dizer que a violncia domstica contra a mulher pode ocorrer fora dos

    casos de marido e mulher, podendo d-se entre irmos, pai e filha, amigos, namorados, noivos

    etc.

    37. Por mbito da famlia o legislador conceituou-o como comunidade formada por indivduos

    que so ou se consideram aparentados, unidos por laos naturais, por afinidade ou por

    vontade expressa. Nesse caso, entende-se por famlia o casamento, a unio estvel

    (heterossexual ou homossexual) e a famlia monoparental.

    38. Por qualquer relao ntima de afeto o legislador abarcou a necessidade de o agressor

    conviver ou ter convivido com a ofendida, independentemente de coabitao. Na relao ntima

    de afeto, o importante que haja um relacionamento entre duas pessoas, seja ele baseado na

    amizade, seja ele baseado em qualquer sentimento que um tiver pelo outro. possvel o

    reconhecimento da violncia domstica e familiar contra a mulher entre filha e me, desde que

    os fatos tenham sido praticados em razo da relao de intimidade e afeto existente entre

    ambas.

    39. O Juizado de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher tem competncia mista, ou

    seja, cvel e criminal. Trata-se de uma norma que vai de encontro tradicional elaborao de

    normas de especializao de competncia, mas a inteno do legislador foi facilitar o acesso

    da vtima Justia, bem como otimizar e dar maior celeridade ao processo. Assim, ao mesmo

  • tempo em que se julga o delito praticado em situao de violncia domstica e familiar contra a

    mulher, praticam-se atos de natureza cvel, como

    a separao judicial, entre outros.

    40. A finalidade da priso preventiva garantir a execuo das medidas protetivas de urgncia.

    Como medida cautelar que , o Juiz sempre dever observar os princpios da necessidade, da

    excepcionalidade e da adequao ao caso concreto.

    41. Descumprimento das medidas protetivas de urgncia por parte do agressor. Questo

    relevante versa sobre a possibilidade de o descumprimento, pelo agressor, das medidas

    protetivas de urgncia impostas pelo Juiz configurar o delito de desobedincia previsto no art.

    330 do Cdigo Penal (Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionrio pblico: Pena -

    deteno, de quinze dias a seis meses, e multa.). Apesar de a princpio a conduta do agressor

    poder configurar esse tipo penal, entende-se que a sua conduta atpica, uma vez que a

    prpria lei, em seu art. 20, j estabelece a decretao da priso preventiva como consequncia

    do descumprimento das medidas protetivas estabelecidas, luz dos princpios da interveno

    mnima e da subsidiariedade do Direito Penal.

    42. O crime de leso corporal leve praticado contra a mulher no mbito das relaes

    domsticas de ao penal pblica incondicionada.

    INTERCEPTAO TELEFNICA. 9.296/96.

    43. Interceptar significa cortar a passagem de algo, interromper o fluxo de algo. Assim, por

    interceptao telefnica entenda-se o ato de interromper, realizar uma interferncia no fluxo de

    comunicao telefnica entre duas pessoas diferentes do interceptador. O interceptador capta

    o fluxo da comunicao entre duas pessoas estranhas a ele.

    44. Modificao superveniente de competncia. Caso haja posteriormente a modificao da

    competncia para processar e julgar o delito, a interceptao telefnica j realizada no se

    torna prova ilcita. Imagine-se a seguinte hiptese: o Juzo da 1 Vara Federal Criminal autoriza

    a interceptao telefnica para a investigao de um delito de trfico transnacional de drogas,

    delito de competncia da Justia Federal (art. 70 da lei 11.343/2006: O processo e o

    julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilcito

    transnacional, so da competncia da Justia Federal). Posteriormente, depois de concluda a

    interceptao e j na fase processual, verifica-se que no se trata de trfico transnacional,

    mas, sim, de trfico nacional, de competncia da Justia Estadual. O Juzo da 1 Vara Federal

    Criminal declara-se incompetente e remete os autos Justia Estadual. Nesse caso, a

    interceptao telefnica vlida e lcita? Pensamos que sim. Com efeito, no momento da

    autorizao para a realizao da interceptao, o Juzo competente era o da 1 Vara Federal

    Criminal. A sua incompetncia somente foi detectada posteriormente, sendo que isso no

    macula a prova produzida, nem a torna ilcita. O ato de autorizao da interceptao telefnica

    foi praticado pelo Juzo competente naquele momento da prtica dos atos investigatrios. A

    competncia criminal forma-se no momento em que uma ao judicial criminal ajuizada ou

  • que um pedido de medida cautelar apresentado em Juzo. Contudo, posteriormente, o Juzo

    que recebeu os autos do processo deve ratificar esse meio de prova.

    45. Juzo incompetente e encontro fortuito de provas ou serendipidade. O encontro fortuito de

    provas, tambm chamado serendipidade, ocorre quando a prova de uma infrao penal

    descoberta a partir da investigao de outra infrao penal. Nesse caso, se da interceptao

    telefnica surgirem provas da prtica de outro delito para o qual o Juzo que autorizou a

    interceptao telefnica no possui competncia, a interceptao vlida.

    46. Diferenas entre a lei 9.296/96 e o art. 3, II da lei 12.850/2013. A lei 9.296/96, que

    regulamentou o art. 5, XII da CRFB/88, trouxe, em seu texto, a figura jurdica da interceptao

    telefnica. A lei 12.850/2013, em seu art. 3, II, trata de captao ambiental de sinais

    eletromagnticos, pticos ou acsticos. Embora as duas leis tratem de institutos semelhantes,

    h diversas diferenas entre ambas, a seguir elencadas: 1. Na 12.850/2013 o legislador fez

    meno expressa captao ambiental. Na lei 9.296/96, o legislador fez meno somente

    interceptao; 2. Na lei 12.850/2013 no h prazo determinado para a durao da medida. Na

    lei 9.296/96, o prazo de 15 dias, renovvel por igual tempo, uma vez comprovada a

    indispensabilidade da medida; 3. A lei 12.850/2013 permite a captao ambiental de sinais

    eletromagnticos, ticos ou acsticos. A lei 9.296/96 permite a interceptao do fluxo de

    comunicaes em sistemas de informtica e telemtica; 4. Na lei 12.850/2013 a captao

    ambiental pode ser feita de forma incondicional. Na lei 9.296/96, a interceptao possui

    natureza de meio subsidirio de prova, uma vez que o legislador disps que tal medida

    somente ser cabvel se no houver outro meio disponvel para a formao da prova; 5. Na lei

    12.850/2013 possvel a captao ambiental para a investigao de qualquer infrao penal

    praticada no mbito de uma organizao criminosa. Na lei 9.296/96, a interceptao somente

    pode ser autorizada para fins de investigao de delito apenado com recluso.

    47. Encontro fortuito de provas ou serendipidade e notitia criminis. O encontro fortuito de

    provas, tambm chamado serendipidade ocorre quando a prova de uma infrao penal

    descoberta a partir da investigao de outra infrao penal. Vamos imaginar que, de uma

    interceptao telefnica autorizada para a investigao de um crime de lavagem de dinheiro,

    surjam indcios da prtica de um delito de estelionato. Nesse caso, em relao a esse delito,

    aquela interceptao telefnica no pode servir de meio de prova, pois encontra bice no art.

    2, I da uma vez que no se tem indcios pr-existentes de concorrncia do agente no delito de

    estelionato. Contudo, a interceptao telefnica poder servir de elemento que permita a

    instaurao de uma investigao criminal por

    esse delito (notitia criminis), mas nunca servir de meio de prova para o ajuizamento de um

    processo criminal. Ademais, conforme o inciso II, a interceptao telefnica um meio

    subsidirio de prova e no h, ainda, naquele momento, outros meios de prova do delito de

    estelionato.

    48. O termo inicial o dia em que a interceptao efetivada, e no o dia da autorizao

    judicial, devendo os 15 dias serem contados a partir do efetivo incio da interceptao.

  • 49. O legislador estabeleceu o prazo mximo de 15 dias para a durao da interceptao

    telefnica. Vencidos os 15 dias de durao mxima da interceptao telefnica, dever ser

    realizado um pedido de prorrogao. O Juiz ter, tambm, 24 horas para decidir sobre a

    prorrogao. Contudo, a prorrogao est condicionada demonstrao da indispensabilidade

    da medida de interceptao telefnica. A deciso de prorrogao tambm deve ser

    fundamentada.

    50. So possveis as prorrogaes sucessivas da interceptao telefnica sem que haja limite

    de vezes, desde que sejam indispensveis para a colheita de prova. Cabe ao representante ou

    requerente a avaliao da necessidade de manuteno da prorrogao tantas vezes quantas

    forem necessrias.

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