apostila gestao e gerenciamento de rs schalch et al

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  • Universidade de So Paulo

    Escola de Engenharia de So Carlos

    Departamento de Hidrulica e Saneamento

    GESTO E GERENCIAMENTO DE

    RESDUOS SLIDOS

    Valdir Schalch1

    Wellington Cyro de Almeida Leite2

    Jos Leomar Fernandes Jnior3

    Marcus Cesar Avezum Alves de Castro4

    So Carlos

    Outubro de 2002

    1 Professor Doutor do Departamento de Hidrulica e Saneamento da EESC-USP 2 Professor Doutor do Departamento de Engenharia Civil - FEG-UNESP 3Professor Doutor do Departamento de Transportes da EESC-USP 4Professor Doutor do Centro Universitrio Anhanguera - FIAN e Universidade de Araraquara - UNIARA

  • i

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ....................................................................... ii

    LISTA DE TABELAS ....................................................................... iii

    LISTA DE QUADROS ..................................................................... iii

    1 INTRODUO .......................................................................... 1

    2 CONSIDERAES SOBRE RESDUOS SLIDOS .............. 3

    2.1 Resduos Slidos: Definio e Classificao ...................... 3

    2.2 Resduos Slidos no Meio Urbano ..................................... 6

    2.3 Tecnologias de Tratamento e Destinao Final de Resduos Slidos Domiciliares ........................................... 10

    2.3.1 Reciclagem de resduos slidos domiciliares ......... 11

    2.3.2 Compostagem ......................................................... 22

    2.3.3 Incinerao ............................................................. 34

    2.3.4 Disposio final de resduos slidos domiciliares . 47

    2.3.4.1 Aterro sanitrio ........................................ 47

    2.4 Gesto de Resduos Slidos ............................................... 71

    2.5 Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos ................ 72

    3 A EXPERINCIA INTERNACIONAL NA GESTO DE RESDUOS SLIDOS ..............................................................

    76

    4 CONSIDERAES FINAIS .................................................... 87

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................... 89

  • ii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Recipientes com cores diferenciadas para a entrega voluntria de materiais reciclveis ............................................................................ 13

    Figura 2 - Composio mdia da coleta seletiva .............................................. 16

    Figura 3 - Composio mdia dos plsticos rgidos na coleta seletiva ......... 16

    Figura 4 - Fluxograma do processo de compostagem em usinas .................. 23

    Figura 5 - Usinas para cidades com populao entre 75 e 150 mil habitantes (processo "natural") ............................................................................ 26

    Figura 6 - Usinas para cidades com populao superior a 300 mil habitantes (processo "acelerado") ........................................................................ 27

    Figura 7 - Partes constituintes de um incinerador ............................................ 37

    Figura 8 - Estruturas das famlias de dioxinas e furanos .............................. 43

    Figura 9 - Estrutura do tetraclorodibenzeno-para-dioxina 2,3,7,8 (TCDD) e do tetracloro-dibenzenofurano 2,3,7,8 (TCDF) ........................... 44

    Figura 10 - Volume de controle utilizado em estudos de aterros sanitrios ... 51

    Figura 11 - Fluxograma para a obteno do licenciamento ambiental ........... 54

    Figura 12 - Mtodo da trincheira ......................................................................... 58

    Figura 13 - Mtodo da rampa ............................................................................... 59

    Figura 14 - Mtodo da rea ................................................................................... 59

    Figura 15 - Aterro em depresses ou ondulaes .............................................. 60

    Figura 16 - Aterro em lagoa ................................................................................. 60

    Figura 17 - Vista geral da superposio de clulas sanitrias e da distribuio dos drenos de gases em aterros sanitrios ................ 62

    Figura 18 - Detalhe do dreno de captao de gases no aterro sanitrio .......... 63

    Figura 19 - Corte transversal de um dreno horizontal .................................... 64

    Figura 20 - Aes recomendveis para o gerenciamento integrado de resduos slidos .................................................................................................. 74

    Figura 21 - Operaes efetuadas na rea de resduos slidos domiciliares ......... 75

  • iii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Responsabilidade pelo gerenciamento de cada tipo de resduo ... 6

    Tabela 2 - Processos de transformaes utilizados para o gerenciamento de resduos slidos domiciliares ................................................................ 11

    Tabela 3 - Distribuio de programas de coleta seletiva no Brasil, em relao a faixa populacional ............................................................. 15

    Tabela 4 - Valores dos principais parmetros fsicos e qumicos para o controle de composto orgnico, conforme a legislao em vigor no Brasil .............................................................................................. 29

    Tabela 5 - Especificao para a granulometria de fertilizantes ..................... 29

    LISTA DE TABELAS

    Quadro 1 - Recomendaes de projeto para uma usina de triagem e compostagem de resduos slidos domiciliares ........................... 21

    Quadro 2 - Critrio para a avaliao das reas para a instalao de aterro sanitrio .............................................................................................. 57

    Quadro 3 - Aes obrigatrias para o gerenciamento integrado de resduos slidos ................................................................................................. 74

  • 1

    1 INTRODUO

    A maioria dos municpios brasileiros dispe seus resduos

    slidos domiciliares sem nenhum controle, uma prtica de graves

    conseqncias: contaminao do ar, do solo, das guas superficiais e

    subterrneas, criao de focos de organismos patognicos, vetores de

    transmisso de doenas, com srios impactos na sade pblica. O quadro

    vem se agravando com a presena de resduos industriais e de servios de

    sade em muitos depsitos de resduos domiciliares, e, no raramente, com

    pontos de descargas clandestinas.

    Nota-se que, na maioria dos municpios, o circuito dos

    resduos slidos apresenta caractersticas muito semelhantes, da gerao

    disposio final, envolvendo apenas as atividades de coleta regular,

    transporte e descarga final, em locais quase sempre selecionados pela

    disponibilidade de reas e pela distncia em relao ao centro urbano e s

    vias de acesso, ocorrendo a cu aberto, em valas etc.

    Em raras situaes, este circuito inclui procedimentos

    diferenciados: coleta seletiva, processos de compostagem, tratamento

    trmico, etc., e, mesmo assim, freqentemente esses processos so mal

    planejados, o que dificulta a operao e torna-os inviveis em curtssimo

    prazo.

    O manejo inadequado de resduos slidos de qualquer origem

    gera desperdcios, contribui de forma importante manuteno das

    desigualdades sociais, constitui ameaa constante sade pblica e agrava

    a degradao ambiental, comprometendo a qualidade de vida das

    populaes, especialmente nos centros urbanos de mdio e grande portes.

    No Brasil, a ausncia de definies polticas e diretrizes para a

    rea de resduos nos trs nveis de governo (federal, estadual e municipal)

  • 2

    associa-se escassez de recursos tcnicos e financeiros para o

    equacionamento do problema. Com relao aos aspectos legais, a

    legislao brasileira ainda bastante restrita e genrica, por vezes

    impraticvel, devido falta de instrumentos adequados ou de recursos que

    viabilizem sua implementao.

    Observando o Estado de So Paulo, constata-se que inmeras

    intervenes pontuais, e no raro desencontradas vm se realizando. Os

    exemplos mais freqentes se dirigem ao campo das alternativas de modelos

    tecnolgico-operacionais, para sistemas integrados ou no de

    gerenciamento de resduos slidos - coleta regular e seletiva, reciclagem,

    unidades de triagem de resduos, compostagem manual ou mecanizada, etc.

    Nesses casos, quase sempre a desarticulao institucional manifesta-se na

    coexistncia de mltiplos agentes atuando de forma descoordenada no

    setor, com superposio de competncias, baixa eficincia do processo

    decisrio e evidente pulverizao na aplicao de recursos pblicos.

    A situao evidencia a urgncia em se adotar um sistema de

    manejo adequado dos resduos, definindo uma poltica para a gesto e o

    gerenciamento, que assegure a melhoria continuada do nvel de qualidade

    de vida, promova prticas recomendadas para a sade pblica e proteja o

    meio ambiente contra as fontes poluidoras.

    consenso entre os especialistas na rea de resduos slidos a

    urgncia em equacionar o problema do tratamento e da destinao final do

    lixo. Na verdade, em raras situaes h de fato o tratamento dos resduos

    slidos, que em geral so apenas depositados em "lixes".

    Uma anlise detida da questo dos resduos slidos no Brasil

    constata que um dos grandes impasses existentes est no campo da gesto e

    do gerenciamento do lixo.

  • 3

    somente criando uma poltica em que se definam claramente

    diretrizes, arranjos institucionais e recursos a serem aplicados, enfim,

    explicitando e sistematizando a articulao entre instrumentos legais e

    financeiros que se poder garantir de fato a constncia e a eficcia nesse

    campo.

    Nos nveis de ao do governo so necessrias as maiores

    mudanas: preciso fomentar o planejamento integrado, abarcando as

    relaes entre questes ambientais, urbansticas, tecnolgicas, polticas,

    sociais e econmicas.

    A garantia de promoes continuadas no setor dos resduos

    slidos s ocorrer com a existncia de uma poltica de gesto e o

    compromisso de instituies sociais solidamente firmadas para mant-la. A

    participao da sociedade civil componente indispensvel para isso.

    2 CONSIDERAES SOBRE RESDUOS SLIDOS

    2.1 Resduos Slidos: Definio e Classificao Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas -

    ABNT:

    resduos slidos so resduos nos estados slidos e semi-slidos, que resultam de atividades da comunidade, de origem: industrial, domstica, de servios de sade, comercial, agrcola, de servios e de varrio. Consideram-se tambm resduos slidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como determinados lquidos, cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgotos ou corpo d'gua, ou exijam para isso solues tcnicas e economicamente inviveis em face melhor tecnologia disponvel. (ABNT, 1987)

  • 4

    x Classificao de resduos slidos

    Normalmente os resduos slidos so classificados segundo a

    sua origem, como:

    Urbanos: incluem o resduo domiciliar gerado nas

    residncias, o resduo comercial, produzido em escritrios, lojas, hotis,

    supermercados, restaurantes e em outros estabelecimentos afins, os

    resduos de servios, oriundos da limpeza pblica urbana, alm dos

    resduos de varrio das vias pblicas, limpezas de galerias, terrenos,

    crregos, praias, feiras, podas, capinao;

    Industriais: correspondem aos resduos gerados nos diversos

    tipos de indstrias de processamentos. Em funo da periculosidade

    oferecida por alguns desses resduos, o seguinte agrupamento proposto

    pela ABNT-NBR 10.004 (1987):

    Resduos Classe I (perigosos): pelas suas caractersticas de

    inflamabilidade, corrosividade , reatividade, toxidade e patogenicidade,

    podem apresentar riscos sade pblica, provocando ou contribuindo para

    o aumento da mortalidade ou apresentarem efeitos adversos ao meio

    ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada;

    Resduos Classe II (no inertes): incluem-se nesta classe os

    resduos potencialmente biodegradveis ou combustveis;

    Resduos Classe III (inertes): perfazem esta classe os resduos

    considerados inertes e no combustveis.

  • 5

    Resduos de servios de sade: so os resduos produzidos

    em hospitais, clnicas mdicas e veterinrias, laboratrios de anlises

    clnicas, farmcias, centros de sade, consultrios odontolgicos e outros

    estabelecimentos afins. Esses resduos podem ser agrupados em dois nveis

    distintos:

    Resduos comuns: compreendem os restos de alimentos,

    papis, invlucros, etc.;

    Resduos spticos: constitudos de restos de salas de cirurgia,

    reas de isolamento, centros de hemodilise, etc. O seu manuseio

    (acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e destinao final) exige

    ateno especial, devido ao potencial risco sade pblica que podem

    oferecer.

    Resduos de portos, aeroportos, terminais rodovirios e

    ferrovirios: constituem os resduos spticos, que podem conter

    organismos patognicos, tais como: materiais de higiene e de asseio

    pessoal, restos de alimentos, etc., e veicular doenas de outras cidades,

    estados e pases.

    Resduos agrcolas: correspondem aos resduos das atividades

    da agricultura e da pecuria, como embalagens de adubos, defensivos

    agrcolas, rao, restos de colheita, esterco animal. A maior preocupao,

    no momento, est voltada para as embalagens de agroqumicos, pelo alto

    grau de toxicidade que apresentam, sendo alvo de legislao especfica.

    Entulho: constitui-se de resduos da construo civil:

    demolies, restos de obras, solos de escavaes etc.

  • 6

    Resduos Radioativos (lixo atmico): so resduos

    provenientes dos combustveis nucleares. Seu gerenciamento de

    competncia exclusiva da CNEN - Comisso Nacional de Energia Nuclear.

    A seguir, na Tabela 1, expem-se os responsveis pelo

    gerenciamento dos diferentes tipos de resduos.

    TABELA l - Responsabilidade pelo gerenciamento de cada tipo de resduo TIPOS DE LIXO RESPONSVEL

    Domiciliar Prefeitura

    Comercial Prefeitura*

    De Servios Prefeitura

    Industrial Gerador (indstrias)

    Servios de sade Gerador (hospitais etc.)

    Portos, aeroportos e terminais ferrovirios e rodovirios Gerador (portos etc.)

    Agrcola Gerador (agricultor)

    Entulho Gerador*

    Radioativo CNEN

    Obs.: (*) a Prefeitura co-responsvel por pequenas quantidades (geralmente menos que 50 kg/dia), e de acordo com a legislao municipal especfica

    Fonte: JARDIM et al. (1995)

    2.2 Resduos Slidos no Meio Urbano

    Os conflitos decorrentes da gesto e do gerenciamento

    inadequado dos resduos slidos urbanos esto crescendo em relao direta

    com a conscientizao da sociedade a respeito das questes ambientais.

    O aparecimento de solues inovadoras, "adequadas a

    qualquer situao" segundo os seus defensores, tem criado situaes

  • 7

    confusas junto s administraes municipais, aliadas peridica

    rotatividade das equipes de dirigentes das prefeituras. O mesmo processo

    que aprimora politicamente a democracia, promove, por outro lado,

    descontinuidades e reestudos que muitas vezes ultrapassam o perodo frtil

    de realizaes das administraes, protelando perigosamente solues de

    lenta e complexa maturao, como as relativas aos problemas relacionados

    com o tratamento e disposio final do lixo (ZULAUF, 1989).

    O problema do volume de resduos slidos no Brasil, pode ser

    visualizado ao constatarmos que, segundo o IBGE (Fundao Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica) (1992) o pas produziu no ano de

    1991 perto de 250 mil toneladas dirias de resduos. Desse total, 76%

    foram descarregados a cu aberto (lixo), 13% encerrados em aterros que

    recebem algum tipo de controle (cobertura peridica), 10% dispostos em

    aterros sanitrios, 0,9% tratados em usinas de compostagem e 0,1%

    incinerados.

    Ressalte-se que, cerca de 90 mil toneladas desse total era

    composta por resduos de origem domiciliar, dos quais, cerca de 21% nem

    sequer foram coletados, sendo destinados clandestinamente a terrenos

    baldios, crregos, encostas, etc. (IBGE, 1992).

    Provavelmente, desde a data do censo citado, esta quantidade

    de resduos aumentou, no sendo registrada, no entanto, a implantao de

    um conjunto de aes organizadas nos trs nveis de governo (federal,

    estadual e municipal), capazes de comear a reverter a numerologia do

    lixo.

    Essa enorme quantidade de resduos no constitui somente um

    problema de ordem esttica, mas representa tambm uma sria ameaa ao

    homem e ao meio ambiente, diminuindo consideravelmente os espaos

    teis disponveis.

  • 8

    No Brasil, os inmeros episdios crticos de poluio,

    relacionada com a ausncia de tratamento e m disposio dos resduos,

    registram principalmente a contaminao do solo e dos recursos hdricos

    por metais pesados, solventes orgnicos halogenados e resduos de

    denfensivos agrcolas. A ausncia de definies e diretrizes nos trs nveis

    de governo associa-se escassez de recursos tcnicos e financeiros para o

    equacionamento do problema, alm das dificuldades na aplicao das

    determinaes legais.

    consenso entre os especialistas a urgncia do estado adotar

    um sistema de manejo adequado dos resduos, definindo uma poltica para

    a gesto que garanta a melhoria da qualidade de vida, promova as prticas

    recomendadas para a sade pblica e o saneamento ambiental.

    O manejo dos resduos slidos depende de vrios fatores,

    dentre os quais devem ser ressaltados: a forma de gerao,

    acondicionamento na fonte geradora, coleta, transporte, processamento,

    recuperao e disposio final. Portanto, deve-se criar um sistema dirigido

    pelos princpios de engenharia e tcnicas de projetos, que possibilite a

    construo de dispositivos capazes de propiciar a segurana sanitria s

    comunidades, contra os efeitos adversos dos resduos.

    A importncia desse sistema ressaltada quando se analisa o

    manejo dos resduos, considerando-se os impactos ecolgicos, a correlao

    com a defesa da sade pblica, modo de gerao na sociedade tecnolgica

    e sua grandeza em termos qualitativos e quantitativos. O planejamento de

    um sistema dessa natureza exige uma atividade multidisciplinar que, alm

    dos preceitos da boa engenharia, envolve tambm: economia, urbanismo,

    aspectos sociais, alm da participao efetiva dos diversos setores

    organizados da sociedade (LEME, 1984).

    Na maioria dos municpios brasileiros, a ausncia de modelos

  • 9

    de gesto e de prticas de gerenciamento adequado para os resduos slidos

    d lugar a uma variedade de solues que, nos dias atuais, parece ser o

    grande complicador do processo decisrio. O aterro sanitrio a soluo

    mais econmica para as condies brasileiras, mas tem sido contestado

    pelos incmodos que provoca junto vizinhana e se aplica com maiores

    dificuldades nos grandes centros.

    As usinas de triagem e compostagem tm ampliado o seu

    espao no mercado, graas a fontes de financiamento em bancos de

    desenvolvimento e devido ao desenvolvimento tecnolgico, embora ainda

    seja questionada a qualidade do composto orgnico e o preo pago pelos

    produtos reciclados nessas instalaes; a incinerao, se por um lado reduz

    consideravelmente o volume do lixo, transformando sua frao orgnica

    em cinzas inertes, tem contra si os elevados custos operacionais e de

    investimentos, tanto nas instalaes de incinerao propriamente ditas

    como em outras instalaes de proteo ambiental, que so imprescindveis

    nos dias de hoje.

    O fato que a significativa presena de matria orgnica em

    decomposio, encontrada nos resduos domiciliares, determina a

    necessidade de transporte gil e destinao imediata. A limpeza pblica

    um servio oneroso, onde so consumidos entre 10 e 15% de todo o

    oramento dos municpios (LEITE, 1995).

    H ainda outras questes a serem consideradas: os servios de

    limpeza pblica, por manusearem um produto de apelo forte, o lixo, tm sua

    imagem ligada ao produto (o lixo) e no ao objetivo (a limpeza). Perde-se a

    ligao a um conceito nobre em troca do resto, mal-cheiroso, do descartvel e

    do objeto, o que acaba prejudicando o setor por falta do charme, que to

    bem caracteriza as administraes de parques e jardins, dos calades, das

    avenidas, do asfalto e das obras pblicas em geral (ZULAUF, 1989).

  • 10

    2.3 Tecnologias de Tratamento e Destinao Final de Resduos Slidos Domiciliares

    A proposta de um modelo de gesto e de gerenciamento de

    resduos slidos exige o conhecimento das distintas formas de tratamento e

    destinao final de resduos.

    O tratamento ou a industrializao dos resduos envolve um

    conjunto de atividades e processos com o objetivo de promover a

    reciclagem de alguns de seus componentes, como o plstico, o papelo, os

    metais e os vidros, alm da transformao da matria orgnica em

    composto, para ser utilizado como fertilizante e condicionador do solo, ou

    em polpa para a utilizao como combustvel.

    O tratamento nunca constitui um sistema de destinao final

    completo ou definitivo, pois sempre h um remanescente inaproveitvel.

    Entretanto, as vantagens decorrentes dessas aes, tornam-se mais claras

    aps o equacionamento dos sistemas de manejo e de destinao final dos

    resduos.

    Segundo JARDIM (1995), as vantagens so de ordem

    ambiental e econmica. No caso dos benefcios econmicos, a reduo de

    custos com a disposio final a vantagem econmica que mais sobressai.

    Dentre os fatores que recomendam o tratamento dos resduos pode-se citar:

    - a escassez de reas para a destinao final dos resduos; - a disputa pelo uso das reas remanescentes com a populao de menor renda; - a valorizao dos componentes do lixo como forma de promover a conservao de recursos; - a economia de energia; - a diminuio da poluio das guas e do ar; - a inertizao dos resduos spticos;

  • 11

    - a gerao de empregos, atravs da criao de indstrias recicladoras.

    A Tabela 2 resume alguns processos de transformaes de resduos

    slidos domiciliares. TABELA 2 - Processos de transformaes utilizados para o gerenciamento de resduos slidos

    domiciliares

    Processo de Transformao Mtodos de Transformao Principal converso em produtos

    Fsico Separao de componentes Manual ou mecnica Componentes individuais encon-

    trados nos resduos domiciliares Reduo de volume Aplicao de energia em forma de

    fora ou presso Reduo de volume do material original

    Reduo de tamanho Aplicao de energia para reta-lhamento e moagem

    Reduo de tamanho dos compo-nentes originais

    Qumico Combusto Oxidao trmica Dixido de carbono (CO2), dixido

    de enxofre (SO2), outros produtos de oxidao, cinzas

    Pirlise Destilao destrutiva Vrios gases, alcatro e composto de carbono

    Biolgico Compostagem aerbica Converso biolgica aerbica Composto humificado usado como

    condicionador de solos Digesto anaerbica Converso biolgica anaerbica Metano (CH4), dixido de carbono

    (CO2), hmus

    Fonte: TCHOBANOGLOUS et al. (1993)

    2.3.1 Reciclagem de resduos slidos domiciliares

    A reciclagem uma atividade econmica, que deve ser vista

    como um elemento dentro do conjunto de atividades integradas no

    gerenciamento dos resduos, no se traduzindo, portanto, como a principal

    "soluo" para o lixo, j que nem todos os materiais so tcnica ou

    economicamente reciclveis.

    Segundo REINFELD (1994), a reciclagem no nova, pois os

    comerciantes de sucata, com suas carrocinhas andando pelos arredores das

  • 12

    cidades em busca de materiais para serem reciclados, mostram uma

    atividade de reciclagem j muito praticada.

    Entretanto, no passado, procurava-se reciclar tudo o que

    gerasse renda. Nos dias atuais, a sociedade de consumo tornou-se to

    diversificada, que em muitos casos mais barato para as indstrias

    produzirem materiais utilizando matria-prima virgem, em vez de

    retrabalharem a sucata. Um exemplo disso diz respeito ao ao, uma vez que

    existem mais de 30.000 graduaes desta liga que no so intercambiveis,

    e algumas dessas graduaes altamente especializadas devem ser

    produzidas a partir de fontes virgens, a fim de se garantir o contedo

    qumico em quantidades necessrias. Quando o ao produzido a partir de

    sucata, a utilizao do material resultante limitada. O ao de eixos e o de

    estruturas de carros, quando misturados, no servem para qualquer um

    desses propsitos. Os mesmos problemas ocorrem com a reutilizao do

    papel, do vidro e do plstico, embora em escala diferenciada.

    No obstante, alguns produtos podem ser produzidos a partir

    do reaproveitamento quase que integral do material antigo, ou parte dele,

    conforme a sua especificao. O alumnio e o vidro so exemplos desse

    caso, principalmente quando esse ltimo separado em cores

    diferenciadas.

    Conforme JARDIM (1995), antes de uma comunidade decidir

    estimular ou implantar a segregao de materiais, visando a reciclagem,

    importante verificar se existe na regio mercado para o escoamento desses

    materiais, pois segregar sem mercado, o mesmo que enterrar separado.

    Outro fator importante, diz respeito sazonalidade de preos

    para a venda de reciclveis, que varia de um material para outro. Segundo o

    Compromisso Empresarial Para a Reciclagem, CEMPRE (1993), este fato

  • 13

    sugere que, no planejamento de programas de reciclagem, deve-se prever

    um local para o armazenamento dos materiais coletados, para vend-los

    quando os preos estiverem no pico.

    x Coleta seletiva

    Um dos caminhos para a segregao dos materiais reciclveis

    a coleta seletiva, que consiste na separao de papis, plsticos, metais e

    vidros na fonte geradora, sendo esses materiais posteriormente

    classificados por categoria e encaminhados s indstrias recicladoras

    (AMAZONAS, 1992). Este mtodo deve estar baseado na tecnologia,

    empregada na separao, coleta e reciclagem dos materiais; na informao,

    visando sensibilizar e motivar o pblico alvo; no mercado, para a absoro

    do material recuperado.

    A coleta seletiva pode ser realizada nos domiclios, por

    veculo de carroceria adaptada, com freqncia semanal, ou atravs de

    Postos de Entrega Voluntria (PEVs), mediante a instalao de caambas e

    contineres de cores diferenciadas, em pontos estratgicos, onde a

    populao possa levar os materiais segregados, conforme ilustra a Figura a

    1.

    Azul amarelo verde vermelho

    papel metal vidro plstico FIGURA.1 -.Recipientes com cores diferenciadas para a entrega voluntria de materiais reciclveis

  • 14

    x Educao ambiental Uma comunicao cuidadosa e clara com a comunidade vital

    para qualquer programa de coleta seletiva. Se o processo de planejamento

    estimular a participao pblica, a comunidade provavelmente ter uma

    identificao com o programa de reciclagem proposto, bem antes que ele se

    inicie de fato. A educao ambiental tem se mostrado a chave fundamental

    para o sucesso dos programas de reciclagem, pois propicia a aprendizagem

    do cidado sobre o seu papel como gerador de resduos, atingindo escolas,

    reparties pblicas, residncias, escritrios, fbricas, lojas, enfim, todos os

    locais onde os cidados geram resduos.

    Um dos princpios bsicos da educao ambiental sobre os

    resduos o conceito dos trs "Rs": reduzir, reutilizar e reciclar.

    reduzir: estimular o cidado a reduzir a quantidade de

    resduos que gera, atravs do reordenamento dos materiais usados no seu

    cotidiano, combatendo o desperdcio que resulta em nus para o poder

    pblico, e conseqentemente, para o contribuinte, a par de favorecer a

    preservao dos recursos naturais.

    reutilizar: reaproveitar os mesmos objetos, escrever na frente

    e verso da folha de papel, usar embalagens retornveis e reaproveitar

    embalagens descartveis para outros fins so algumas prticas

    recomendadas para os programas de educao ambiental.

    reciclar: contribuir com os programas de coleta seletiva,

    separando e entregando os materiais reciclveis, quando no for possvel

    reduzi-los ou reutiliz-los.

  • 15

    x Coleta seletiva no Brasil

    Segundo JARDIM (1995), o Compromisso Empresarial Para a

    Reciclagem (CEMPRE) e o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT),

    constataram, no ano de 1994, a existncia de 82 programas de coleta

    seletiva operados pelas prefeituras no Brasil. Esses programas se

    concentravam nos estados de So Paulo (26 programas), Rio Grande do Sul

    (12), Paran (8), Minas Gerais (8), Santa Catarina (7), Bahia (4),

    Pernambuco (4), Rio de Janeiro (4), Espirito Santo (2), Paraba (2),

    Acre (1), Braslia (1), Mato Grosso do sul (1), Par (1) e abrangiam, at

    ento, desde pequenos municpios at grandes capitais, conforme mostra a

    Tabela 3.

    TABELA 3 - Distribuio de programas de coleta seletiva no Brasil, em relao a faixa

    populacional

    Faixa Populacional (hab) Nmero de Municpios com Coleta Seletiva

    menor que 20.000 17

    entre 20.001 e 50.000 16

    entre 50.001 e 100.000 14

    entre 100.001 e 300.000 17

    entre 300.001 e 600.000 7

    maior que 600.000 11

    Fonte: JARDIM (1995)

    O desempenho desses programas foi avaliado pelo CEMPRE

    atravs de uma linha de pesquisa denominada Ciclosoft, que pesquisou oito

    cidades entre 1992 e 1994: Curitiba, Florianpolis, Porto Alegre, Salvador,

    Santo Andr, Santos, So Jos dos Campos e So Paulo. As Figuras 2 e 3

    ilustram alguns resultados obtidos pela pesquisa.

  • 16

    FIGURA 2 -.Composio mdia da coleta seletiva

    Fonte: JARDIM (1995)

    FIGURA 3 - Composio mdia dos plsticos rgidos na coleta seletiva

    Fonte: JARDIM (1995)

  • 17

    Conforme mostra a Figura. 2, o conjunto papel/papelo se

    destaca, embora, no perodo pesquisado, o item que mais tenha crescido,

    seja o plstico.

    O CEMPRE (apud JARDIM, 1995) estima que 25% da

    porcentagem em peso do lixo domstico pode ser reciclado, embora esses

    programas tenham apontado uma mdia de somente 4,6% de material

    efetivamente reciclado, alcanando na localidade melhor sucedida um

    ndice de 10,7%.

    Outro fator preocupante o alto custo dos programas, em

    mdia US$ 240 por tonelada, contra uma receita mdia de US$ 30 por

    tonelada mdia de material comercializado.

    Atualmente, o empenho na reciclagem no muito expressivo,

    pois a disposio dos resduos ainda pouco onerosa, devido ao fato de se

    utilizarem instalaes que basicamente so lixes, e no aterros

    sanitrios.

    x Aspectos econmicos e financeiros da coleta seletiva Do ponto de vista estritamente financeiro, a viabilidade de um

    sistema de coleta seletiva pode ser determinada atravs de uma anlise de

    custo-benefcio.

    Os custos so classificados em : custo de capital e custos de

    operao e de manuteno do sistema. Os custos de capital compreendem

    terrenos, instalaes, veculos, conjunto de recipientes para a segregao,

    projeto do sistema e demais custos iniciais. Os custos de operao e

    manuteno compreendem: salrios, e encargos, combustveis e

  • 18

    lubrificantes, gua, energia, seguros, licenas, manuteno, administrao,

    divulgao, servios de terceiros, leasing de equipamentos, entre outros.

    Os benefcios so classificados em receitas e economias. As

    receitas so oriundas da venda dos materiais reciclveis e as economias

    dizem respeito reduo no custo de transferncia e disposio final desses

    materiais.

    Segundo o CEMPRE (1993), importante observar que a

    anlise custo-benefcio no o nico indicador de viabilidade, j que no

    leva em conta os benefcios sociais e ambientais decorrentes da reciclagem. x Vantagens da coleta seletiva

    A coleta seletiva apresenta algumas vantagens expressivas,

    dentre as quais se sobressai:

    - a boa qualidade dos materiais recuperados, uma vez que no

    ficaram sujeitos mistura com outros materiais presentes na massa de

    resduos;

    - a reduo do volume de resduos a serem dispostos em

    aterros sanitrios;

    - o estmulo cidadania;

    - a maior flexibilidade, pois pode ser feita em pequena escala e

    ampliada gradativamente;

    - a possibilidade de parcerias entre escolas, associaes

    ecolgicas, empresas, catadores, sucateiros, etc.

  • 19

    x Desvantagens da coleta seletiva

    Como desvantagens, destacam-se as seguintes:

    - elevado custo da coleta e transporte, pois necessita de

    veculos especiais, que passam em dias diferentes dos da coleta

    convencional;

    - necessidade de um centro de triagem, onde os reciclveis so

    separados por tipo, mesmo aps a segregao na fonte.

    x Usinas de triagem e compostagem de resduos slidos domiciliares

    Segundo GALVO JNIOR (1994), as usinas de triagem e

    compostagem so centros de separao das fraes orgnicas e inorgnicas

    dos resduos slidos domsticos, operacionalizados em maior ou menor

    escala por equipamentos eletro-mecnicos. uma alternativa coleta

    seletiva, podendo existir independentemente de haver ou no o sistema de

    compostagem.

    A instalao de usinas de resduos no Brasil iniciou-se em

    Braslia-DF, h cerca de 30 anos, embora o maior incremento na utilizao

    desses centros tenha ocorrido a partir da segunda metade da dcada de 80,

    por iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    (BNDES), que colocou disposio das prefeituras municipais uma linha

    de crdito para a compra de equipamentos (BLEY JNIOR, 1993). At o

  • 20

    incio do ano de 1994, mais de 70 usinas haviam sido instaladas no pas,

    conforme levantamento realizado por GALVO JNIOR (1994).

    As instalaes das usinas de triagem e compostagem podem

    ser agrupadas em cinco setores: recepo e expedio, usina de triagem,

    ptio de compostagem, beneficiamento e armazenamento de composto e

    outras instalaes, conforme ilustra o Quadro 1, a seguir.

  • 21

    QUADRO 1 - Recomendaes de projeto para uma usina de triagem e compostagem de resduos

    slidos domiciliares Fonte: JARDIM, (1995)

  • 22

    2.3.2 Compostagem

    KIEHL (1979), define compostagem como sendo um processo

    de transformao de resduos orgnicos em adubo humificado. Dois

    estgios podem ser identificados nessa transformao: o primeiro

    denominado digesto, e corresponde fase inicial da fermentao, na qual

    o material alcana o estado de bioestabilizao e a decomposio ainda no

    se completou. Porm, quando bem caracterizada, a digesto permite que se

    use o composto como adubo, sem o risco de causar danos s plantas. O

    segundo estgio, mais longo, o da maturao, no qual a massa em

    fermentao atinge a humificao, estado em que o composto apresenta

    melhores condies como melhorador do solo e fertilizante.

    O produto final da compostagem, denominado composto,

    definido como sendo um adubo preparado com restos de animais e/ou

    vegetais. Esses resduos, em estado natural, no tm nenhum valor agrcola;

    no entanto, aps passarem pelo processo de compostagem, podem

    transformar-se em excelente adubo orgnico.

    x Sistemas de compostagem

    O processo de compostagem a partir dos resduos slidos

    domiciliares pode ser dividido em duas fases distintas: a primeira, onde

    ocorre um tratamento mecnico, visando retirar da massa de resduos os

    produtos reciclveis e indesejveis e homogeneizar a massa de resduos e

    reduzir a dimenso de seus constituintes; a segunda, em que o material

    fermentado em leiras, completando o processo.

    A Figura 4, resume o processo de compostagem em usinas.

  • 23

    RECEPO ESTEIRA DECATAO MOAGEM COPOSTAGEM PENEIRAMENTO

    RECICLVEIS

    REJEITOS

    INDSTRIA

    ATERROSANITRIO

    COMPOSTO

    SOLOPROCESSO

    PRODUTO

    DESTINO FINAL

    LEGENDA

    FIGURA 4 - Fluxograma do processo de compostagem em usinas

    Fonte: GALVO JUNIOR (1994)

    x Custos para a implantao de usinas de triagem e compostagem

    Estudos do Compromisso Empresarial Para a Reciclagem -

    CEMPRE e do Instituto de Pesquisas Tecnolgicas - IPT apud JARDIM

    (1995), estimam que o custo mdio de investimento por tonelada diria de

    capacidade instalada da ordem de US$ 11.000 para instalaes de usinas

    com processamento pelo mtodo "natural" de composto; e US$ 25.000 para

    usinas operadas com processamento de composto pelo mtodo "acelerado",

    excluindo-se o desembolso para a aquisio da rea, terraplenagem e

    preparo do ptio de compostagem.

    Caso se opte pela contratao de terceiros, esses valores

    seriam da ordem de US$ 25.000 e US$ 45.000 para os processos "normal"

    e "acelerado", respectivamente. Nesses valores est inclusa a terraplenagem

    e o preparo do ptio de compostagem.

    A prtica tem mostrado que as instalaes operadas pelo

    processo "acelerado" so recomendveis para regies com produo diria

  • 24

    de resduos domiciliares superior a 200 toneladas dirias, uma vez que

    requerem menor espao para os ptios, devido ao menor tempo de

    permanncia do material compostvel.

    Quanto s despesas operacionais, os dados brasileiros so

    bastante imprecisos e desencontrados, pois dependem de uma srie de

    possibilidades e de combinaes contratuais, que variam de uma localidade

    para outra, tais como: operao pela prefeitura ou pela iniciativa privada,

    incluso dos custos de manuteno, propriedade e comercializao do

    composto e dos reciclveis etc.

    Um modelo de usina com capacidade de operao de 110

    ton/dia, operando pelo processo "acelerado", recebe do poder pblico cerca

    de US$ 13,50 (excluindo-se as despesas de manuteno) por tonelada

    processada, ficando com a propriedade tanto do composto como dos

    materiais reciclveis. Esse preo pode atingir valores entre US$ 35,00 e

    US$ 45,00 para usinas com capacidade de 50 ton/dia operando pelo

    processo "natural" e at US$ 80,00 para usinas com capacidade superior a

    200 ton/dia, operadas pelo processo acelerado, em que o composto e os

    reciclveis no ficam com a operadora; neste caso, a operadora presta

    servios especiais, tais como monitoramento do processo ou emprego de

    pessoal altamente qualificado (JARDIM 1995).

    CASTRO (1996) realizou levantamento do custo de operao

    da usina de So Matheus, na cidade de So Paulo, cuja mdia mensal de

    resduos processados foi no ano de 1995 cerca de 11.000 toneladas,

    concluindo que esse custo foi de aproximadamente US$ 12 por tonelada

    processada, relativo aos gastos com mo-de-obra e com a energia eltrica,

    excluindo-se os gastos com a manuteno do equipamento.

  • 25

    x Espao fsico para a instalao de usinas de triagem e compostagem

    As dimenses das reas para a implantao das usinas variam

    de acordo com a topografia local, com o nvel de instalaes adicionais e

    com o mtodo empregado no processamento do composto. Por exemplo,

    para uma unidade com capacidade de processamento de 200 ton/dia,

    recomenda-se uma rea de 12 hectares para uma usina operar pelo processo

    "natural" e 8 hectares para operar pelo processo "acelerado", estando

    includa a rea destinada ao aterro de rejeitos, que normalmente ocupa

    metade da rea destinada usina. LINDENBERG (1992) sugere uma rea

    mnima de 200 m2 por tonelada diria processada.

    x Recursos humanos

    A mo-de-obra pode ser considerada o fator que mais

    influencia o custo operacional de uma usina de triagem e compostagem.

    Seu dimensionamento depende de vrios fatores como: capacidade da

    usina, qualificao, grau de mecanizao da usina, grau de beneficiamento

    dos produtos etc.

    Para um municpio de 110 mil habitantes, com uma usina

    operando com duas esteiras de 16 metros de comprimento cada uma,

    JARDIM (1994) sugere: 1 gerente, 6 funcionrios administrativos, 2

    tcnicos de nvel mdio, 2 motoristas, 2 operadores de mquina e 53

    tcnicos no qualificados.

    GALVO JNIOR (1994), estudando 14 usinas, chegou a

    uma relao mdia entre quantidade de resduos processados e mo-de-obra

    empregada, de aproximadamente 1,6 ton/homens.dia. Segundo a pesquisa,

    este ndice pode ser tomado como um dos indicadores de produtividade e

  • 26

    de eficincia das usinas, no significando, porm, que uma usina com

    maior processamento de resduos por mo-de-obra seja melhor

    operacionalizada que as demais. Para uma melhor avaliao de

    desempenho seria necessrio compararem-se a produo de materiais

    reciclveis, a quantidade e qualidade do composto e a quantidade de

    rejeitos encaminhados para o aterro sanitrio.

    As Figuras 5 e 6 ilustram alternativas de instalaes de triagem

    e compostagem para cidades com populao entre 75 e 150 mil habitantes

    (operadas pelo processo "natural"), e cidades com populao superior a 300

    mil habitantes (operadas pelo processo "acelerado").

    FIGURA 5 - Usinas para cidades com populao entre 75 e 150 mil habitantes (processo "natural").

    Fonte: JARDIM (1995).

  • 27

    FIGURA 6 - Usinas para cidades com populao superior a 300 mil habitantes (processo "acelerado").

    Fonte: JARDIM (1995). x Fatores que influenciam o processo da compostagem

    Os principais fatores que influenciam o processo da

    compostagem so de ordem nutricional e ambiental e, esto relacionados ao

    controle do processo pelo homem e ao tipo de tecnologia utilizada no

    processamento do composto (GALVO JNIOR, 1994).

    x A influncia da aerao x A influncia da temperatura x A influncia da umidade x A influncia da relao carbono-nitrognio (C/N)

    bioestabilizador

  • 28

    x Tempo de processamento da compostagem

    O tempo necessrio para a compostagem de resduos orgnicos

    est associado aos fatores que influem no processo, ao mtodo empregado

    e s tcnicas operacionais. A compostagem natural demanda um tempo de

    dois a trs meses para atingir a bioestabilizao e de trs a quatro meses

    para a humificao. Pelo mtodo acelerado, a semicura atingida entre 45 e

    60 dias e a humificao entre 60 e 90 dias. Essa diferena deve-se

    basicamente durao da fase termfila no processo acelerado, que

    reduzida de algumas semanas para 2 a 4 dias (JARDIM, 1995).

    x Composto orgnico e legislao brasileira

    O composto orgnico produzido atravs de resduos urbanos

    domiciliares enquadrado na lei como fertilizante orgnico. Os textos

    legais que dispem sobre o assunto so: Legislao Brasileira, do

    Ministrio da Agricultura, Decreto-Lei 86955, de 18 de fevereiro de 1982,

    que condiciona a comercializao de composto a seu prvio registro no

    Ministrio da Agricultura e vrias portarias. A Portaria MA-84, de 29 de

    maro de 1982 e a Portaria 01, da Secretaria de Fiscalizao Agropecuria

    do Ministrio da Agricultura de 4 de maro de 1983, fixa parmetros

    fsicos, qumicos e de granulometria, juntamente com as tolerncias

    admitidas, conforme mostram as Tabelas 4 e 5.

  • 29

    TABELA 4 - Valores dos principais parmetros fsicos e qumicos para o controle de composto orgnico, conforme a legislao em vigor no Brasil

    Parmetro Valor Tolerncia

    pH mnimo de 6,0 at 5,4

    Matria orgnica mximo de 40% at 36%

    Nitrognio total mnimo de 1,0% at 0,9%

    Umidade mximo de 40% at 44%

    Relao C/N mximo 18/l at 21/l

    Fonte: LUZ (1986)

    TABELA 5 - Especificao para a granulometria de fertilizantes

    Granulometria Exigncia (o produto deve passar)

    Tolerncia

    Farelado 100% em peneira de 4,8mm 90% em peneira de 2,8mm

    at 85%

    Farelado grosso 100% em peneira de 38mm 90% em peneira de 25mm

    no admite

    Fonte: JARDIM (1995)

    Convm frisar que a Legislao Brasileira omissa para o

    composto orgnico, quanto presena de metais pesados, fator que

    preocupa os pases desenvolvidos, quando se trata de composto oriundo do

    lixo urbano, que contm baterias, lmpadas opacas, cermicas, tinta de

    impresso, couro, entre outros.

    Pesquisas do IPT (1993) com amostras de compostos de

    usinas do Estado de So Paulo, apresentaram valores mdios de metais

    pesados: cobre (Cu) = 182 mg/Kg, zinco (Zn) = 433 mg/kg, chumbo

    (Pb) = 188 mg/kg, cromo (Cr) = 54 mg/Kg, nquel (Ni) = 22 mg/Kg e

  • 30

    cdmio (Cd) = 6 mg/Kg. Ainda ressalta a pesquisa que, de acordo com a

    legislao de alguns pases, esse composto poderia ser aplicado em solos da

    Frana, ustria e Itlia, sendo proibido na Sua, pela concentrao de

    cdmio e chumbo.

    x Aplicao do composto

    Os adubos qumicos (minerais ou inorgnicos) so fabricados

    de modo a apresentarem uma relao ideal entre os chamados

    macronutrientes, nitrognio (N), fsforo (P) e potssio (K), elementos

    bsicos que os vegetais retiram do solo para a sua formao e

    desenvolvimento.

    Os adubos minerais, por lei, devem apresentar uma

    concentrao no mnimo de 24%, em peso, desses macronutrientes e so

    aplicados, com facilidade, na proporo de 500 kg em mdia por hectare.

    Os compostos orgnicos obtidos pelo processo de

    compostagem de lixo, pelo contrrio, apresentam uma concentrao baixa

    desses macronutrientes, entre 1,5 a 2,5 % em peso (1,2% N + 0,6% K) e a

    utilizao como adubo deve ser vista com reservas, uma vez que o seu uso

    implica em mdia em uma quantidade 17 vezes maior em relao ao

    fertilizante mineral. Sua utilizao aconselhada primordialmente para

    melhorar as propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do solo, com

    objetivos especificados por LUZ (1986):

    - melhorar a estrutura do solo, conglomerando as terras frgeis

    e soltas;

    - aumentar a capacidade de reteno de ar e de gua no solo;

    - prevenir e combater a formao de eroses;

  • 31

    - favorecer o estabelecimento de minhocas, besouros,

    microrganismos e outros seres que revolvem e adubam o solo;

    - facilitar o desenvolvimento das plantas, uma vez que as

    razes crescem insinuando-se nos vazios existentes na terra;

    - tornar o solo mais arvel.

    Convm frisar que o composto de resduos slidos

    domiciliares no pode ser empregado de maneira generalizada, pois seu

    contedo relativamente elevado de sais pode ser prejudicial a uma srie de

    plantas. Tambm o pH alcalino do composto restringe a sua aplicao em

    plantas acidfilas: cenouras, alface, feijo, cebola, arbustos frutferos,

    conferas e azalas so algumas plantas sensveis ao composto orgnico.

    Dentre as plantas que aceitam bem o composto orgnico,

    podem-se citar: rvores frutferas, vinhedos, plantas ornamentais, couve e

    outras hortalias afins.

    x Preo do composto

    Com relao ao custo, estudos do IPT (apud JARDIM, 1995),

    tomaram como base reas de plantio variando entre 5 hectares e 50

    hectares: foram calculados o consumo de fertilizante mineral, o consumo

    equivalente de composto orgnico e os respectivos custos de transporte por

    quilmetro. Para distncia de 20 Km, apontada como mdia em vrias

    usinas paulistas, o composto poderia ser comercializado por at US$

    5,80/ton. se comparado ao fertilizante produzido base de uria, e at por

    US$ 8,40/ton. se comparado ao fertilizante produzido base de sulfato de

    amnia.

  • 32

    Nas usinas de compostagem, existe atualmente uma tendncia

    a subsidiar a aquisio do composto orgnico para pequenos produtores,

    em alguns casos entregando-o at a certas distncias, sem cobrar frete.

    x Situao das usinas de triagem e compostagem no Brasil

    Estudos realizados pelo IPT, em 1990, apontaram que 37

    municpios detinham usinas de triagem e compostagem pelo processo

    "natural", sendo que 17 delas encontravam-se paralisadas ou desativadas, 5

    em obras e 15 em operao. Nesta ocasio, 20 municpios contavam com

    instalaes de triagem e compostagem pelo mtodo "acelerado", sendo que

    7 estavam paralisadas ou desativadas, 10 em obras e 3 em operao. No

    ano de 1994, 8 instalaes pelo mtodo acelerado estavam em operao no

    Brasil.

    As principais causas das paralisaes e desativaes apontadas

    pelo IPT (1993) e GALVO JNIOR (1994) foram:

    - instalaes mal planejadas devido disputa das empreiteiras

    pelos recursos do BNDES, cuja convico tcnica e mercadolgica nem

    sempre foi ao encontro das especificidades dos municpios;

    - falta de capacitao gerencial, tcnica e institucional para a

    conduo das atividades;

    - administradores pblicos equivocados ou vtimas de

    propaganda enganosa por parte de vendedores, afirmando que as usinas

    eram capazes de transformar todo o lixo em lucro, dispensando os aterros

    sanitrios de rejeitos;

  • 33

    - localizao inadequada das usinas, acarretando problemas de

    ordem ambiental e desentendimento com a populao vizinha ao

    empreendimento;

    - falta de mercados consumidores, tanto para os reciclveis

    quanto para o composto, em distncias compatveis para esse gnero de

    empreendimento.

    Com base nas pesquisas de GALVO JNIOR (1994) e

    CASTRO (1996), pode-se citar dois motivos que tm tornado a alternativa

    das usinas de triagem e compostagem pouco atraentes para o

    equacionamento do problema do lixo:

    as usinas no solucionam o problema do lixo, pois qualquer

    que seja o processo de operao apresentam no raramente at 50% de

    sobras, rejeitos e refugos, constitudos por materiais orgnicos de difcil

    decomposio, tais como: couro, borracha, madeira, alm de materiais

    inertes, como areia, terra, cacos, plsticos, lixo de varredura, entulhos e

    outros, que devem ser encaminhados para um aterro sanitrio, sempre

    imprescindvel para receber os materiais no reaproveitveis.

    - as usinas no so economicamente viveis, pois os produtos

    reciclveis separados do lixo (sujos), no apresentam qualidades e

    vantagens que justifiquem preo compensador, como pode ocorrer quando

    esses produtos so separados (limpos) nas residncias.

    Quanto ao uso do composto, devido ao fato de o lixo chegar s

    usinas completamente misturado, mesmo submetido a onerosos processos

    de beneficiamento, este apresenta uma srie de impurezas, tais como

    partculas de vidros, de papis, de plsticos, de metais, etc., impossveis de

    serem separadas do composto, fato que o torna bastante inferior aos

  • 34

    compostos provenientes de granjas, estbulos ou de torta de farelo de

    algodo e mamona, disponveis no mercado a preos atraentes. Portanto,

    nenhuma usina de triagem e compostagem mostrou-se auto-suficiente at

    hoje, como propagam os vendedores aos dirigentes municipais.

    Na aquisio desses equipamentos de "industrializao do

    lixo", a preocupao no deve ser centrada somente na reciclagem de

    material como metais, vidros, papis, papeles e plsticos, cuja proporo

    aproveitvel no lixo chega no mximo a 15% da massa de resduos da

    coleta regular, mas tambm na destinao final da parte orgnica do lixo,

    cujo teor, no Brasil, chega a 50%, e uma vez disposta inadequadamente,

    pode causar dano sade pblica e ao meio ambiente. Como j foi

    explicitado anteriormente, o composto orgnico humificado pode ser

    aplicado como corretivo em alguns tipos de solo, sem efeitos nocivos para

    a sade pblica e o meio ambiente (LUZ, 1986).

    consenso entre os pesquisadores em resduos slidos que as

    instalaes de triagem e compostagem devem ser melhor estudas, tanto em

    nvel tecnolgico quanto em nvel operacional, pois so grandes as

    expectativas quanto otimizao desses equipamentos para auxiliarem no

    equacionamento do problema dos resduos slidos domiciliares no Brasil.

    2.3.3 Incinerao

    A prtica de empilhar resduos e atear fogo ao ar livre um

    costume que vem de vrios sculos. Esta atividade visava principalmente

    evitar que a parcela orgnica do lixo entrasse em decomposio,

    propagando vetores como ratos, baratas, moscas, alm do mau-cheiro.

    Com o crescimento das cidades e o estabelecimento dos

  • 35

    servios de coleta do lixo esta prtica tornou-se inadequada, devido aos

    incmodos causados s vizinhanas e aos danos provocados ao meio

    ambiente. Entretanto, bastante comum verificar nos dias de hoje a adoo

    deste procedimento, principalmente na zona rural e na periferia das cidades,

    onde os servios de coleta de resduos se mostrem deficientes (LIMA,

    1986).

    J h algum tempo, principalmente nas grandes metrpoles,

    em que a existncia de reas para a construo de aterros sanitrios cada

    vez mais escassa, a incinerao vem sendo apontada como uma das

    alternativas de tratamento de resduos slidos.

    A incinerao de resduos consiste na sua combusto,

    controlada atravs de equipamentos especiais denominados incineradores;

    ela considerada um mtodo de tratamento de resduos slidos, semi-

    slidos e lquidos.

    Basicamente, a incinerao consiste num processo de reduo

    de peso e volume do lixo. Os remanescentes da queima so geralmente

    constitudos de gases, como o anidrido carbnico (CO2), o anidrido

    sulfuroso (SO2), o nitrognio (N2), o oxignio (O2) proveniente do ar em

    excesso que no foi queimado completamente, gua (H2O), cinzas e

    escrias constitudas de metais ferrosos e inertes, como vidro e pedras.

    A escria, geralmente da ordem de 15 a 20% da massa original

    do lixo, deve ser encaminhada para um aterro sanitrio, e a sucata de ferro

    pode ser reciclada.

    Quando a combusto incompleta, os gases, principalmente o

    monxido de carbono (CO) e partculas (fuligem ou negro de fumo)

    exercem forte ao poluidora na atmosfera. Portanto, imprescindvel que

  • 36

    os incineradores modernos contem, alm da cmara de combusto, com

    equipamentos complementares, como filtros destinados ao tratamento de

    gases e agregados leves resultantes da combusto dos resduos (CETESB,

    1985).

    Outro aspecto importante a ser considerado na instalao de

    incineradores a possibilidade da recuperao do calor gerado no processo

    da queima dos resduos.

    x Partes constituintes de um incinerador

    Os rgos responsveis pelo controle da poluio ambiental

    tm aumentado, cada vez mais, as exigncias relacionadas minimizao

    dos impactos negativos gerados nos processos de tratamento e destinao

    final de resduos slidos, principalmente no que diz respeito a instalaes

    de incineradores. Essas exigncias visam a impedir que as experincias

    desastrosas com usinas de incinerao em vrias partes do mundo se

    repitam aqui, principalmente aquelas envolvendo resduos industriais.

    Para que uma usina de incinerao opere com sucesso, uma

    srie de informaes a respeito dos resduos a serem incinerados devero

    direcionar o projeto. Entre elas incluem-se: - tipo, quantidade e composio dos resduos a serem

    incinerados;

    - poder calorfico inferior (PCI), que indica a quantidade de

    calor liberado por uma determinada quantidade de resduos durante o

    processo de queima;

    - quantidade de ar necessrio para a combusto completa dos

    resduos;

  • 37

    - quantidade e natureza das cinzas, eventualmente geradas no

    processo etc.

    O desconhecimento dessas e de outras variveis, pode resultar

    em projetos equivocados, dificultando o controle, a operao e a

    manuteno do equipamento, alm de aumentar os riscos de poluio do

    meio ambiente. Equipamentos com essas caractersticas tm sido fechados

    em vrios pases do mundo, gerando formidveis prejuzos aos cofres

    pblicos, em funo do seu elevado custo. A Figura 7 ilustra um

    incinerador utilizado para a combusto controlada de resduos slidos

    urbanos nos Estados Unidos e seus principais componentes.

    FIGURA 7 - Partes constituintes de um incinerador. Fonte: TCHOBANOGLOUS (1993)

    Os componentes do incinerador mostrados na Figura 7

    executam as seguintes etapas do processo:

  • 38

    a- recepo e carregamento - os veculos coletores, aps serem

    pesados, descarregam os resduos em um fosso de armazenamento, dotado

    de um dispositivo de drenagem e um sistema de aspirao de poeira.

    Um ou dois sistemas multi-garras, que se movimentam atravs

    de pontes rolantes, apanham os resduos, conduzindo-os a uma tremonha

    ou funil de alimentao, ligado fornalha.

    b- tremonha de alimentao - nas instalaes modernas, as

    tremonhas de alimentao so dotadas de dispositivos que retm os

    resduos, impedindo a troca de calor entre a fornalha e o meio externo,

    alm de permitir a alimentao contnua da cmara de combusto.

    c- pr-secagem - realizada para aumentar o poder calorfico dos

    resduos; os incineradores modernos contam com uma grelha especfica para

    esse fim.

    d- cmara de combusto - trs fatores principais controlam

    essa fase do processo: temperatura, tempo e turbilhonamento.

    A temperatura deve se situar na faixa de 800 a 1000oC, uma

    vez que os odores de compostos orgnicos so eliminados entre 800 e

    900oC.

    O tempo de permanncia de gases na cmara de combusto

    muito importante para que se obtenha a combusto completa. As cmaras

    de combusto devem ser amplas para reduzir a vazo dos gases, e altas,

    para que os materiais volteis, cujo teor alto no lixo, misturem-se ao ar e

    se inflamem.

    O turbilhonamento indispensvel, pois provoca o aumento da

    rea de contato das partculas com o oxignio necessrio para a queima. A

    turbulncia obtida artificialmente, por injeo de ar a alta presso em

    locais previamente escolhidos da cmara de combusto.

  • 39

    Alguns incineradores de resduos industriais perigosos contam

    com uma cmara complementar, onde se completa a combusto dos gases e

    das partculas por eles carregadas.

    e- grelhas - so dispositivos intimamente ligados eficincia

    do processo de queima; nos incineradores atuais, so constitudas por

    barras estreitamente espaadas em forma de degraus, que oscilam

    automaticamente em movimentos desencontrados, de forma a favorecer um

    maior contato entre os resduos e o ar insuflado entre as barras. As escrias,

    resultantes da queima, so transportadas de um degrau para o outro, at

    deixarem a cmara de combusto.

    f- extrao de escrias e cinzas - na sada da cmara de

    combusto, as escrias passam por um britador que desfaz os torres de

    lixo incinerado e amassa as latas. Em seguida, as escrias so

    descarregadas em um tanque contendo gua para o seu resfriamento e,

    posteriormente, empurradas por um rodo at uma correia transportadora

    que conduz o material para a caamba de um veculo coletor. Essa escria,

    representando cerca de 15% do material original, em seguida

    encaminhada para um aterro sanitrio. Alguns incineradores so dotados de

    ms encarregados de separar das escrias os materiais ferrosos, para serem

    comercializados como sucata.

    As cinzas, acumuladas na cmara de combusto, nos dutos e

    na base da chamin, so removidas durante as paradas peridicas do

    incinerador, atravs de sistemas mecnicos ou pneumticos.

    g- dispositivos para recuperao de energia - alguns

    incineradores so equipados com caldeiras, visando a recuperao do calor

    gerado na combusto dos resduos.

  • 40

    O vapor gerado nesse equipamento devido troca de calor

    com os gases da combusto, a ser utilizado diretamente para o aquecimento

    de gua em industrias localizadas nas proximidades da usina de

    incinerao, ou ainda ser transformado em energia eltrica atravs de

    instalaes especiais, como as turbinas, a ser vendida s concessionrias de

    energia.

    h- filtragem e tratamento dos gases - segundo a CETESB

    (1985), os gases de combusto deixam a cmara do incinerador a uma

    temperatura entre 800 e 1000oC e devem ser resfriados antes de serem

    submetidos a qualquer processo convencional de tratamento. Para os

    incineradores atuais, so previstos um trocador de calor e um precipitador

    eletrosttico. O trocador de calor pode produzir calor ou gua quente, gerar

    eletricidade, ou mesmo fazer funcionar linhas de aquecimento, e desse

    modo contribuir para a reduo dos custos de operao. Dessa forma, a

    temperatura dos gases de combusto baixam, situando-se entre 200 e

    300oC, permitindo que os precipitadores eletrostticos entrem em operao

    e removendo grande quantidade de partculas, resultantes da combusto dos

    resduos.

    Os incineradores devem ainda ser dotados de sistemas de

    lavagem de gases, para controlar a emisso de gases cidos tambm

    formados durante o processo de queima dos resduos.

    i- dispositivos de tiragem de gases - so constitudos de

    chamins e ventiladores que lanam os gases na atmosfera. O tipo de

    chamin mais empregada a "multi-flue", que consiste em um duto

    principal, envolvido por uma camisa de concreto, contendo em seu interior

    outros dutos menores, destinados a aumentar a velocidade de fluxo.

  • 41

    x Monitorizao do processo de incinerao No processo de incinerao, a temperatura de combusto dos

    resduos e a emisso de gases devem ser rigorosamente monitoradas. Para

    tanto, os incineradores devem ser dotados de sistemas de alarme e de

    segurana contra eventuais falhas de operao. A temperatura monitorada

    em vrios pontos do equipamento, principalmente na rea de combusto

    dos resduos e na cmara de ps-queima, garantindo a ativao, caso haja

    necessidade, de ps-queimadores para a adequao da temperatura de

    queima dos resduos gasosos.

    A monitorizao da velocidade do ar e dos nveis de oxignio

    orienta a distribuio de ar no interior do incinerador.

    x Controle da poluio As instalaes trmicas projetadas e operadas sem o devido

    rigor tcnico produzem impactos ambientais diversos, incluindo emisses

    gasosas e particuladas indesejveis, resduos slidos e efluentes lquidos.

    Em condies apropriadas de construo, operao e manuteno, pode-se

    atenuar a emisso desses agentes.

    Vrios incineradores na Europa tiveram suas atividades

    encerradas devido ao fato de a composio dos gases em particulado

    emitidos na atmosfera no estar ajustada aos padres ambientais fixados.

    x Controle de material particulado O material particulado formado no processo da incinerao

    coletado por dispositivos como:

    - filtros de tecido (filtros-manga), projetados com sacos de

    tecido resistentes ao calor, que capturam as partculas;

  • 42

    - precipitadores eletrostticos, que tratam as emisses pela

    aplicao de uma tenso nas partculas, carregando-as negativamente,

    para posteriormente serem removidas por um sistema de placas carregadas

    com carga positiva;

    - lavadores venturi, que utilizam grandes volumes de gua

    em forma de gotculas e, ao impactar a corrente gasosa, capturam as

    partculas. O efluente lquido resultante desse processo deve ser

    encaminhado para uma estao de tratamento.

    x Controle de gases cidos O enxofre, o cloro orgnico e o nitrognio presentes nos

    resduos domiciliares formam os gases cidos: xidos de enxofre (SOx),

    cido clordrico (HCl) e xidos de nitrognio (NOx). As unidades

    consideradas mais eficientes de controle desses gases so os lavadores de

    "spray" de cal, seguidos de filtros-manga. Essa tcnica tambm eficiente

    no controle da emisso de metais, dioxinas e furanos.

    TCHOBANOGLOUS et al. (1993) e JARDIM (1995) detalham e

    comparam a eficincia das tecnologias citadas.

    x Dioxinas e os furanos As dioxinas (PCDD's) e os furanos (PCDF's) constituem uma

    famlia de substncias organocloradas de 210 ismeros (75 de dioxinas e

    135 de furanos), onde o elemento cloro (Cl), pode estar presente em

    qualquer uma das posies numeradas (1,2,3,4,6,7,8,9), ou em todas

    simultaneamente, conforme mostra a Figura 8.

  • 43

    Policlorodibenzeno-para-dioxina Policlorodibenzenofurano (PCDD's) (PCDF's) FIGURA 8 - Estruturas das famlias de dioxinas e furanos Fonte: TCHOBANOGLOUS et al (1993)

    Alguns ismeros das famlias de PCDDs e PCDFs so

    substncias extremamente txicas. Por exemplo: 2,3,7,8 TCDD - DL50

    (porco de guin) menor que 1 g/kg do peso corporal. O agente laranja

    (desfolhante usado na guerra do Vietn) estava contaminado com 2,3,7,8 TCDD.

    H evidncias de que os PCDDs e PCDFs so cancergenos

    em animais, mas para os seres humanos o fato ainda questionvel.

    O mecanismo de formao de PCDD e PCDF em processos

    trmicos envolvendo resduos slidos domiciliares no foram

    determinados. So propostas trs fontes:

    - a presena de PCDD e PCDF no prprio lixo;

    - a formao durante a combusto devido a presena de

    precursores aromticos clorados;

    - a formao durante a combusto pela presena de

    hidrocarbonetos e cloro.

    O controle de emisso de dioxinas, furanos e metais feito

    atravs do emprego de trs tecnologias distintas:

    - separao na fonte;

    - controle da combusto;

    - controle de emisso de particulados.

    tomos de oxignio

    tomos de oxignio

  • 44

    Nos Estados Unidos da Amrica, foi estabelecido pela

    Environmental Protection Agency -EPA, o limite de 30 ng/m3 para o total

    de dioxinas e furanos emitidos de incineradores de resduos slidos

    domiciliares, com capacidade igual ou superior a 250 ton/dia.

    Na Alemanha, esse limite para incineradores de resduos

    perigosos de 0,1 ng/m3 TEQ (unidade de Toxidade Equivalente), tendo

    como referncia, os ismeros, onde o elemento cloro ocupa as posies

    2,3,7,8 (tetraclorodibenzo-para-dioxina - TCDD), ou as mesmas posies

    2,3,7,8 (tetraclorodibenzenofurano - TCDF), considerando-se que, dentre

    as diversas combinaes possveis, esses ismeros so os que apresentam

    maior toxidade. O valor de ambos, tomado como referncia, igual a 1,0

    (um). As demais combinaes possveis so sempre menores que 1,0

    (TCHOBANOGLOUS et. al., 1993).

    Atualmente, no existem no Brasil entidades pblicas que

    realizem anlises de teores de dioxinas e furanos em nvel de concentrao

    to baixos. A Figura 9, mostra as estruturas tomadas como unidade de

    Toxidez Equivalente (TEQ).

    FIGURA 9 - Estrutura do tetraclorodibenzeno-para-dioxina 2,3,7,8 (TCDD) e do tetracloro-

    dibenzenofurano 2,3,7,8 (TCDF)

    Fonte: TCHOBANOGLOUS et. al. (1993)

    tomos de oxignio tomos de i i

    Cl

    Cl

    Cl

    Cl

    Cl

    Cl

    Cl

    Cl

  • 45

    x Custos da incinerao Para a anlise de custos das instalaes de incinerao, devem-

    se considerar os custos de capital e os custos operacionais

    Para os incineradores modulares, com capacidade de processar

    at 400 ton/dia, estima-se um custo de capital na faixa de US$ 100.000 a

    130.000 por tonelada de capacidade. Para instalaes de maior capacidade

    esse custo varia de US$ 80.000 a 90.000 por tonelada de capacidade.

    Ressalte-se que para qualquer uma das situaes, os custos de

    capital diminuem com o aumento da capacidade de processamento.

    Com relao aos custos operacionais estima-se, em termos

    internacionais, que uma instalao com capacidade de incinerao de 2000

    ton/dia, custo US$ 20 por tonelada em base anual, incluindo manuteno e

    operao.

    Esses custos podem variar, de acordo com as condies

    especficas locais e a tecnologia utilizada, devendo-se ressaltar que a

    incinerao dos resduos industriais bem mais onerosa, podendo chegar a

    US$ 3.000 por tonelada, dependendo do tipo de resduo (JARDIM, 1995).

    x Legislao sobre incinerao no Brasil No Brasil, para as instalaes de incinerao com capacidade

    superior a 40 ton/dia, exige-se a apresentao do Estudo de Impactos

    Ambientais e do Relatrio de Impacto Ambiental EIA/RIMA, segundo a

    resoluo CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente no 1, de 23

    de janeiro de 1986.

    Para instalaes com capacidade nominal menor, as

    Secretarias de Estado do Meio Ambiente se encarregam da exigncia ou

    dispensa do EIA/RIMA.

  • 46

    O licenciamento de incineradores compreende duas fases

    distintas: a Licena de Instalao (LI), em que o projeto submetido ao

    rgo de controle ambiental para anlise do projeto, dos impactos

    ambientais e das medidas mitigadoras propostas e o Licenciamento de

    Operao (LO), para o qual, entre outros, o interessado deve apresentar um

    "plano de teste de queima", a ser apreciado pelos rgos de controle

    ambiental.

    x Vantagens e desvantagens da incinerao So vantagens relevantes da incinerao:

    - reduo dos resduos em at 5% do volume e 15% do peso

    original, tranformando-os em cinzas e escria, e aumentando

    consideravelmente o perodo de vida til do aterro;

    - eliminao satisfatria, sob o ponto de vista sanitrio, de

    resduos de servios de sade, alimentos, medicamentos vencidos, sobras

    de laboratrios e animais mortos;

    - diminuio de distncia de transporte, devido possibilidade

    de localizao da instalao em reas prximas aos centros urbanos;

    - bom funcionamento, independentemente das condies

    meteorol-gicas;

    - possibilidade de recuperao de energia contida nos resduos.

    Como desvantagens desse processo, destaca-se:

    - investimento elevado;

    - alto custo de operao e manuteno;

  • 47

    - possibilidade de causar poluio atmosfrica quando o

    incinerador mal projetado ou mal operado;

    - exigncia de mo-de-obra especializada na operao.

    2.3.4 Disposio final de resduos slidos domiciliares

    2.3.4.1 Aterro sanitrio Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT

    aterro sanitrio de resduos slidos urbanos, consiste na tcnica de disposio de resduos slidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos sade pblica e segurana, minimizando os impactos ambientais, mtodo este que utiliza princpios de engenharia para confinar os resduos slidos menor rea possvel e reduzi-los ao menor volume permissvel, cobrindo-os com uma camada de terra na concluso de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores se for necessrio (ABNT, 1984).

    A aplicao desse processo difundida em quase todo o

    mundo, por se apresentar como a soluo mais econmica, quando

    comparada a outros processos (compostagem e incinerao, por exemplo),

    que exigem grandes investimentos para a construo e para a manuteno

    da estrutura tcnico-administrativa de operao (LEITE, 1991). Embora em

    alguns casos a compostagem e a incinerao tornem-se viveis

    economicamente, como o caso das grandes cidades, deve-se ressaltar que

    tais mtodos no descartam a existncia de aterros sanitrios em suas

    proximidades, uma vez que esses sistemas produzem resduos de processo

    que no so aproveitveis, ou ainda por fator de segurana, na ocorrncia

    de imprevistos que paralisem as instalaes.

  • 48

    A maioria das cidades brasileiras confunde aterro sanitrio

    com "vazadouros", "lixes", "depsitos", etc., mtodos que, desprovidos de

    critrios cientficos ou ecolgicos, so condenados sob o ponto de vista

    sanitrio. Ressalte-se tambm que o lixo urbano conta com grande parte de

    matria orgnica, que entra rapidamente em decomposio ao ar livre,

    proliferando moscas, baratas, ratos, urubus, alm de exalar mau-cheiro

    (BRANCO, 1980).

    A falta de revolvimento peridico dessa massa orgnica faz

    com que o oxignio em seu interior seja rapidamente consumido pela ao

    bacteriana, dando lugar decomposio anaerbica, com desprendimento

    de gases, como o metano, o gs carbnico, e alguns gases de odores

    desagradveis, como o gs sulfdrico e mercaptanas, entre outros.

    Outro fator preocupante a formao do "chorume" (frao

    lquida, escura, cida e de odor desagradvel), durante a decomposio

    anaerbia. Esse lquido pode infiltrar-se no solo ao ser lixiviado na forma

    de percolado, podendo vir a poluir e contaminar as guas superficiais e

    subterrneas.

    Segundo LUZ:

    chorume ou sumeiro o lquido oriundo da decomposio do

    lixo e provm de trs fontes:

    - umidade natural do lixo, que se agrava sensivelmente nos

    perodos prolongados de chuva, principalmente se forem usados

    recipientes abertos no acondicionamento

    - gua de constituio dos vrios materiais, que sobra durante a

    decomposio

    - lquidos provenientes da dissoluo da matria orgnica pelas

    enzimas expelidas pelas bactrias. Esses microrganismos

    unicelulares, para se alimentarem, expelem enzimas que

  • 49

    dissolvem a matria orgnica, possibilitando em seguida a

    absoro atravs das suas membranas. O excesso escorre como

    lquido negro, caracterstico de resduos orgnicos em

    decomposio (LUZ, 1981).

    E percolados, ainda de acordo com o mesmo autor:

    so as guas pluviais no desviadas da rea onde se realiza o

    aterro, infiltraes de lagoas vizinhas ou do prprio lenol

    fretico e nascentes no detectadas por ocasio da escolha do

    local, cuja vazo se intensifica nos perodos de chuva

    prolongada. Depois de atingido o ponto de saturao da massa

    disposta no aterro, essas guas escorrem arrastando o chorume e

    outros elementos prejudiciais tanto para o lenol subterrneo

    como para os cursos de gua prximos (LUZ, 1981).

    Segundo FELLENBERG (1980), os componentes orgnicos

    do lixo sofrem decomposio bacteriana. A umidade que se desprende do

    lixo arrasta consigo muitas substncias sulfuradas, nitrogenadas e cloradas,

    txicas e de odor desagradvel, situao que se assemelha destilao por

    arraste de vapor, que ocorre na queima do cigarro.

    Particularmente em perodos de chuva, ocorrem nos depsitos

    de lixo infiltraes de gua que penetram at as guas subterrneas.

    Substncias solveis presentes no lixo so, assim, arrastadas para as

    camadas mais profundas do solo.

    Nas infiltraes provenientes do lixo predominam substncias

    inorgnicas, como cloretos, nitratos, sulfatos e carbonatos. Entre os ctions,

    predominam os ons magnsio, sdio, potssio, clcio e amnio; ons de

    metais pesados ocorrem em quantidades menores que nas guas residurias

    industriais.

  • 50

    O valor da DBO (demanda bioqumica de oxignio) de guas

    de infiltrao provenientes de depsitos de lixo mais antigos da ordem de

    200 a 2000 mg/l. Em lixo recente, estes valores atingem no raramente

    demandas superiores a 20000 mg/l. Nos esgotos sanitrios "in natura" estes

    valores so bem inferiores, oscilando entre 200 e 400 mg/l.

    O lixo de procedncia industrial geralmente altera a

    composio das guas de infiltrao; normalmente a proporo de

    compostos orgnicos menor que no lixo domstico. As guas de

    infiltrao passam a conter substncias de forte ao txica, quando ocorre

    despejo ilegal, e de resduos industriais contendo arseniatos, cianetos, etc.

    sem medidas de segurana.

    Se estas guas de infiltraes alcanarem guas superficiais ou

    profundas, contribuiro acentuadamante para a eutrofizao, por causa do

    elevado teor de substncias minerais. A contaminao das guas profundas

    por estas infiltraes depende no s da profundidade em que se situa o

    lenol, mas tambm da fora de adsoro e da capacidade de autodepurao

    do solo atravessado. A natureza do solo influencia tambm a velocidade de

    escoamento das guas infiltradas, de modo que "depsitos" de lixo ou at

    mesmo aterros sanitrios mal operados, podem comprometer as guas

    profundas imediatamente ou aps alguns decnios.

    A Figura 10 mostra um modelo terico da formao de

    lquidos percolados em aterros sanitrios.

  • 51

    FIGURA 10 - Volume de controle utilizado em estudos de aterros sanitrios.

    Fonte: TCHOBANOGLOUS et al. (1993)

    Na construo de aterros sanitrios, independentemente da

    tcnica construtiva empregada, o risco de contaminao das guas

    superficiais e subterrneas existe. Esse risco est aliado infiltrao do

    chorume, s falhas que eventualmente podem ocorrer na construo e

    operao dos aterros e infiltrao das guas de chuva, que aumentam

    consideravelmente a quantidade de percolado.

    A infiltrao do percolado geralmente ocorre na forma de

    pluma, com migrao descendente na direo da gua subterrnea.

    x Planejamento para locao

    Exigncias econmicas hoje obrigam a ocupao cada vez

    mais racional do solo, fazendo-se necessria a seleo criteriosa de locais

    para a deposio dos resduos slidos, de modo a preservar os recursos

    naturais peculiares a cada regio.

  • 52

    Pases que se adiantaram na questo dos resduos slidos j

    vm h algum tempo empreendendo estudos cujo objetivo otimizar a

    metodologia necessria escolha de stios para a implantao de aterros

    sanitrios.

    O Brasil, pas tropical, apresenta caractersticas bastante

    distintas das encontradas nesses pases, onde predomina o clima frio e

    moderado. Essas diferenas justificam estudos que levem em conta as

    nossas peculiaridades naturais - climticas, hidrolgicas e geolgicas -, a

    fim de que se estabelea um conjunto de regras para a seleo preliminar e

    a escolha desses stios, no deixando de mencionar, tambm, os aspectos

    sociais, econmicos e culturais, entre outros.

    Para a construo de um aterro verdadeiramente sanitrio, uma

    srie de exigncias devem ser verificadas, a fim de que todas as estruturas

    deste gnero de empreendimento funcionem conforme o previsto no

    projeto.

    x Critrios para implantao

    O licenciamento ambiental das instalaes de tratamento e

    disposio final de resduos slidos no Brasil realizado a partir da

    aplicao da Resoluo CONAMA 001/86 (Conselho Nacional do Meio

    Ambiente), que institui a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental

    - EIA, e do Relatrio de Impacto Ambiental-RIMA, para as atividades

    modificadoras do meio ambiente (aguarda-se nova Resoluo).

    No Estado de So Paulo, a normatizao dos procedimentos

    para o licenciamento ambiental foi estabelecida pela Resoluo SMA 42/94

    (Secretaria de Estado do Meio Ambiente), que institui dois instrumentos

    preliminares para a exigncia ou dispensa de EIA e de RIMA: o Relatrio

  • 53

    Ambiental Preliminar - RAP e o Termo de Referncia - TR.

    O RAP configura-se como o documento bsico para o

    licenciamento ambiental e instrumenta a deciso do rgo ambiental sobre

    a exigncia ou dispensa de EIA/RIMA. O contedo do RAP, a ser

    desenvolvido pelo empreendedor, geralmente atravs de consultoria

    especializada, inclui os seguintes itens:

    - objeto do empreendimento;

    - justificativa do empreendimento quanto necessidade,

    apresentao das alternativas locacionais e tecnolgicas estudadas e

    defesa da alternativa adotada;

    - caracterizao do empreendimento;

    - diagnstico ambiental preliminar na rea de influncia do

    empreendimento, refletindo as condies atuais do meio fsico, biolgico e

    scio-econmico, interrelacionadas em um diagnstico integrado, que

    permita a avaliao dos impactos decorrentes da implantao do

    empreendimento;

    - identificao dos principais impactos que podero ocorrer

    como conseqncia das diversas aes previstas para a implantao e a

    operao do empreendimento;

    - medidas mitigadoras, compensatrias e/ou de controle

    ambiental, considerando os impactos previstos.

    A Resoluo SMA 42/94 estabelece, ainda, que o

    licenciamento ambiental se dar atravs de trs etapas: Licena Prvia - LP,

    Licena de Instalao - LI e Licena de Operao LO, de acordo com o

    fluxograma mostrado na Figura 11.

  • 54

    RAP TR EIA

    LP LI LO

    FIGURA 11 - Fluxograma para a obteno do licenciamento ambiental

    Fonte: Secretaria de Estado do Meio Ambiente - RAP (1995)

    Deve-se observar que, dependendo do volume de resduos

    slidos gerado diariamente, ser necessria a apresentao do EIA/RIMA.

    No entanto, este fato no dispensa a apresentao do RAP.

    x Estudos para seleo de reas para a implantao

    No processo de escolha de reas para a implantao de aterros

    sanitrios, conforme JARDIM (1995), deve-se ter sempre em mente a

    importncia das caractersticas do meio fsico. Uma rea adequada significa

    menores gastos com preparo, operao e encerramento do aterro, mas

    fundamentalmente significa menores riscos ao meio ambiente e sade

    pblica.

    Os trabalhos de viabilizao exigem, assim, a compatibilizao

    de vrios fatores, buscando-se o equilbrio entre os aspectos sociais, as

    alteraes no meio ambiente e os custos do empreendimento. Para tanto,

    parte-se de estudos gerais, identificando-se as vrias reas potenciais, sendo

    priorizadas as mais promissoras.

    Os seguintes dados devem ser levantados para a orientao da

    escolha da rea do empreendimento:

  • 55

    x Dados gerais

    - dados populacionais: nmero de habitantes atuais, flutuante e

    projetado, bem como as taxas de variao populacional;

    - caracterizao dos resduos: quantidade e qualidade dos

    resduos que se deseja encerrar no aterro sanitrio;

    - informaes sobre o manejo de resduos slidos no

    municpio: este item contempla os dados referentes varrio,

    acondicionamento, coleta e transporte dos resduos, bem como os tipos e

    caractersticas dos equipamentos utilizados, tempo e rotina da coleta, entre

    outros.

    x Dados geolgicos e geotcnicos

    Constituem-se em ferramenta fundamental para a escolha do

    local mais adequado para a disposio, pois as informaes obtidas atravs

    desses estudos contribuem de forma decisiva na minimizao dos impactos

    ambientais provocados pela disposio dos resduos.

    Na construo de aterros sanitrios, independentemente da

    tcnica construtiva empregada, o risco de contaminao das guas

    superficiais e subterrneas existe. Esse risco est aliado infiltrao do

    chorume, s falhas que eventualmente podem ocorrer na construo e

    operao dos aterros e na infiltrao das guas de chuva que aumentam

    consideravelmente a quantidade de percolado.

    A infiltrao do percolado geralmente ocorre na forma de

    pluma, com migrao descendente na direo da gua subterrnea. O grau

    de contaminao pode ser controlado atravs do conhecimento das

  • 56

    caractersticas fsicas do solo e da distncia entre a fonte de poluio e o

    nvel do lenol fretico.

    A possibilidade de contaminao decresce com o aumento

    dessa distncia, devido acentuada diluio e absoro do poluente, sendo

    grande a chance de sua degradao. Nas regies planas, a poluio

    espalhada para fora da rea do aterro em numerosas ramificaes.

    Alguns atributos fsicos e ambientais devem ser identificados e

    analisados durante a seleo de stios para a construo dos aterros

    sanitrios, conforme destacam ZUQUETTE e GANDOLFI (1992). So

    eles:

    Relevo do solo

    Material no consolidado

    Escoamento superficial e infiltrao

    Nvel das guas subterrneas

    Substrato rochoso

    Compressibilidade do solo

    Material de cobertura do aterro

    x Dados sobre guas superficiais

    x Dados sobre clima

    x Dados sobre legislao

    x Dados scio-econmicos

    O Quadro 2 mostra o modelo proposto pelo autor citado.

  • 57

    CLASSIFICAO DAS REAS DADOS NECESSRIOS RECOMENDADA RECOMENDADA

    COM RESTRIES NO-

    RECOMENDADA Vida til Maior que 10 anos (10 anos, a critrio do rgo ambiental)

    Distncia do centro atendido Maior que 10 km 10-20 km Maior que 20 km Zoneamento ambiental reas sem restries no zoneamento ambiental Unidades de

    conservao ambiental e correlatas

    Zoneamento urbano Vetor de crescimento mnimo

    Vetor de crescimento intermedirio

    Vetor de crescimento mximo

    Densidade populacional Baixa Mdia Alta

    Uso e ocupao das terras reas devolutas ou pouco utilizadas Ocupao intensa

    Valorizao da terra Baixa Mdia Alta Aceitao da populao e de entidades ambientais no-governamentais

    Boa Razovel Inaceitvel

    Distncia dos cursos d'gua (crregos, nascentes etc.)

    Maior que 200 m Menor que 200 m, com aprovao do rgo ambiental responsvel

    QUADRO 2 - Critrio para a avaliao das reas para a instalao de aterro sanitrio

    Fonte: JARDIM (1995) x Classificao e mtodos de operao

    O aterro sanitrio tem por objetivo prioritrio a destinao

    final dos resduos slidos, entretanto, pode assumir, em determinadas

    situaes, um papel secundrio, porm no menos importante, recuperando

    reas degradadas pela ao do homem ou da prpria natureza. A tcnica e

    os cuidados a serem observados nesse caso, devem levar em conta os

    preceitos