apostila fontes de financiamento 2010

151
UNIVERSIDADE PAULISTA CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA CAMPUS MARQUÊS FONTES DE FINANCIAMENTO Material produzido pelo Prof. Fábio Arten Formatado pelo Prof. Rodrigo Marchesin www.rodrigomarchesin.spaces.live.com

Upload: rodrigo-marchesin

Post on 26-Jul-2015

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Apostila Fontes de Financiamento 2010

UNIVERSIDADE PAULISTACURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA

CAMPUS MARQUÊS

FONTES DE FINANCIAMENTO

Material produzido pelo Prof. Fábio ArtenFormatado pelo Prof. Rodrigo Marchesinwww.rodrigomarchesin.spaces.live.com

São Paulo2010

Page 2: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Agenda do Estudante

Esta agenda tem como objetivo auxiliar o aluno na construção dos alicerces para a

aprovação acadêmica na disciplina Fontes de Financiamento, através da organização e do

planejamento dos estudos durante o primeiro semestre letivo de 2010. Na agenda, estão

apresentadas as distintas fases das atividades previstas no Plano de Aulas, e os prazos de

entrega das Atividades Complementares – AC (ver Calendário e Anexo 1).

FASES DAS ATIVIDADES INÍCIO FIM

1 Apresentação da Disciplina; Direcionamento Metodológico* 02.02.10 05.03.10

2 Consolidação dos Conceitos Básicos da Disciplina; Entrega AC 08.03.10 09.04.10

3 Avaliação NP1; Resultados; Entrega AC 12.04.10 23.04.10

4 Consolidação dos Conceitos Avançados da Disciplina; Entrega AC 26.04.10 04.06.10

5 Avaliação NP2, Apresentação do PIM; Substitutivas 07.06.10 25.06.10

6 Resultados Finais; Encerramento do Semestre 28.06.10 01.07.10

* As turmas calouras tem o início das aulas previsto para 18/02/2010.

CALENDÁRIO 2010 – 1º SEMESTRE**

FEVEREIRO MARÇO ABRILD S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 37 8 9 10 11 12 13 7 8 9 10 11 12 13 4 5 6 7 8 9 10

14 15 16 17 18 19 20 14 15 16 17 18 19 20 11 12 13 14 15 16 1721 22 23 24 25 26 27 21 22 23 24 25 26 27 18 19 20 21 22 23 2428 28 29 30 31 25 26 27 28 29 30

02 Início das Aulas Veteranos16 Carnaval18 Início das Aulas Calouros

22 a 26 Atividades Complementares (AC1) 02 Paixão de Cristo21 Tiradentes14, 19 a 23 Atividades Complementares (AC2)

MAIO JUNHO JULHOD S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S

1 1 2 3 4 5 1 2 32 3 4 5 6 7 8 6 7 8 9 10 11 12 4 5 6 7 8 9 109 10 11 12 13 14 15 13 14 15 16 17 18 19 11 12 13 14 15 16 17

16 17 18 19 20 21 22 20 21 22 23 24 25 26 18 19 20 21 22 23 2423 24 25 26 27 28 29 27 28 29 30 25 26 27 28 29 30 3130 3101 Dia do Trabalho03 a 07 Atividades Complementares (AC3)17 a 21 Atividades Complementares (AC4)

03 Corpus Christi 02 a 31 Férias

** A relação, com indicações de Atividades Complementares, encontra-se no Anexo 1 desta Apostila.

Page 3: Apostila Fontes de Financiamento 2010

PLANO DE AULAS – 1º SEMESTRE/2010

Fontes de Financiamento (FF)

TEMA CONTEÚDO*** LEITURA PRÉVIA ATIVIDADE

01 Capital de Giro (6)

Apostila – Cap. 2 (pág. 12 a 23)Apostila – Cap. 3 (pág. 24 a 32)Apostila – Cap. 4 (pág. 33 a 36)Apostila – Cap. 5 (pág. 37 a 47)Apostila – Cap. 6 (pág. 48 a 56)

Estudo de Caso

Exercícios

Exercícios

Exercícios

Exercícios

02 Operações de Desconto (2)Apostila – Cap. 7 (pág. 59 a 72)

Exercícios

03 Mercado Aberto (1)Apostila – Cap. 8 (pág. 73 a 78)

Exercícios

04 Operações Hot Money (2)Apostila – Cap. 9 (pág. 79 a 81)

Exercícios

05 Floating (1)Apostila – Cap. 10 (pág. 82 a 84)

Exercícios

06 Factoring (1)Apostila – Cap. 11(pág. 85 a 87)

Exercícios

07 Crédito Rotativo (1)Apostila – Cap. 12(pág. 88 a 90)

Exercícios

08 Vendor e Compror (1)Apostila – Cap. 13(pág. 91 a 92)

Exercícios

*** Os números entre parênteses indicam o número de aulas referentes àquele tema, porém a distribuição das aulas pode sofrer alterações para atendimento do Calendário Acadêmico.

ORIENTAÇÕES:

O Plano de Aulas tem por objetivo apresentar, detalhadamente, todas as

temáticas a serem trabalhadas ao longo da disciplina, de acordo com a

ementa prevista pela universidade. Desse modo, para cada etapa do

conteúdo programático e adequado desenvolvimento discente, é

importante que o estudante tome ciência da matéria a ser ministrada,

preparando-se antecipadamente, através da leitura preliminar do

capítulo programado para aquela data.

Page 4: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Para acompanhar os TEMAS e suas respectivas datas, o aluno deve utilizar

o Cronograma de Aulas, apresentado na página seguinte, atentando-se

para a identificação (legenda) de sua turma e dia da semana, no qual os

encontros (aulas) serão realizados.

Page 5: Apostila Fontes de Financiamento 2010

CRONOGRAMA DE AULAS – 1º SEMESTRE/2010****

DIA FEVEREIRO DIA MARÇO DIA ABRIL DIA MAIO DIA JUNHO

01 01 TEMA 2 TURMA AAPRES TURMA B 01 RECESSO sáb TRABALHO 01 TEMA 8 TURMA C

02 APRES TURMA C 02 TEMA 1 TURMA C 02 PAIXÃO dom 02 TEMA 8 TURMA DTEMA 8 TURMA E

03 03 TEMA 1 TURMA DTEMA 1 TURMA E sáb 03 TEMA 6 TURMA A

TEMA 5 TURMA B 03 CORPUS CHRISTI

04 APRES TURMA G 04 TEMA 1 TURMA FTEMA 3 TURMA G dom 04 TEMA 4 TURMA C 04 RECESSO

05 05 TEMA 1 TURMA H 05 TEMA 5 TURMA ATEMA 3 TURMA B 05 TEMA 6 TURMA D

TEMA 6 TURMA E sáb

sáb sáb 06 TEMA 2 TURMA C 06 TEMA 6 TURMA FTEMA 7 TURMA G dom

dom dom 07 TEMA 4 TURMA DTEMA 4 TURMA E 07 TEMA 6 TURMA H 07 PROVA 2 TURMA A

PROVA 2 TURMA B

08 APRES TURMA A 08 TEMA 3 TURMA ATEMA 1 TURMA B 08 TEMA 4 TURMA F

TEMA 5 TURMA G sáb 08 PROVA 2 TURMA C

09 TEMA 1 TURMA C 09 TEMA 1 TURMA C 09 TEMA 4 TURMA H dom 09 PROVA 2 TURMA DPROVA 2 TURMA E

10 10 TEMA 1 TURMA DTEMA 1 TURMA E sáb 10 TEMA 7 TURMA A

TEMA 6 TURMA B 10 PROVA 2 TURMA FPROVA 2 TURMA G

11 TEMA 1 TURMA G 11 TEMA 1 TURMA FTEMA 3 TURMA G dom 11 TEMA 5 TURMA C 11 PROVA 2 TURMA H

12 12 TEMA 2 TURMA H 12 PROVA 1 TURMA APROVA 1 TURMA B 12 TEMA 6 TURMA D

TEMA 6 TURMA E sáb

sáb sáb 13 PROVA 1 TURMA C 13 TEMA 7 TURMA FTEMA 7 TURMA G dom

dom dom 14 PROVA 1 TURMA DPROVA 1 TURMA E 14 TEMA 7 TURMA H 14

PIM15 RECESSO 15 TEMA 4 TURMA A

TEMA 2 TURMA B 15 PROVA 1 TURMA FPROVA 1 TURMA G sáb 15

16 CARNAVAL 16 TEMA 1 TURMA C 16 PROVA 1 TURMA H dom 16

17 CINZAS 17 TEMA 2 TURMA DTEMA 2 TURMA E sáb 17 TEMA 8 TURMA A

TEMA 6 TURMA B 17

18 TEMA 1 TURMA G 18 TEMA 2 TURMA FTEMA 4 TURMA G dom 18 TEMA 6 TURMA C 18

19 APRES TURMA H 19 TEMA 3 TURMA H 19 TEMA 5 TURMA ATEMA 4 TURMA B 19 TEMA 7 TURMA D

TEMA 7 TURMA E sáb

sáb sáb 20 TEMA 3 TURMA C 20 TEMA 7 TURMA FTEMA 8 TURMA G dom

dom dom 21 TIRADENTES 21 TEMA 7 TURMA H 21 SUB TURMA ASUB TURMA B

22 TEMA 1 TURMA A 22 TEMA 4 TURMA ATEMA 2 TURMA B 22 TEMA 5 TURMA F

TEMA 6 TURMA G sáb 22 SUB TURMA C

23 TEMA 1 TURMA C 23 TEMA 1 TURMA C 23 TEMA 5 TURMA H dom 23 SUB TURMA DSUB TURMA E

24 APRES TURMA DAPRES TURMA E 24 TEMA 3 TURMA D

TEMA 3 TURMA E sáb 24 TEMA 9 TURMA ATEMA 7 TURMA B 24 SUB TURMA F

SUB TURMA G

25 APRES TURMA FTEMA 2 TURMA G 25 TEMA 3 TURMA F

TEMA 4 TURMA G dom 25 TEMA 7 TURMA C 25 SUB TURMA H

26 TEMA 1 TURMA H 26 TEMA 3 TURMA H 26 TEMA 6 TURMA ATEMA 5 TURMA B 26 TEMA 8 TURMA D

TEMA 8 TURMA E sáb

sáb sáb 27 TEMA 4 TURMA C 27 TEMA 8 TURMA FTEMA 8 TURMA G dom

dom dom 28 TEMA 5 TURMA DTEMA 5 TURMA E 28 TEMA 8 TURMA H 28

RESULTADOS FINAIS29 TEMA 4 TURMA A

TEMA 3 TURMA B 29 TEMA 6 TURMA FTEMA 6 TURMA G sáb 29

30 TEMA 2 TURMA C 30 TEMA 6 TURMA H dom 30

31 TEMA 3 TURMA DTEMA 3 TURMA E 31 TEMA 10 TURMA A

TEMA 8 TURMA B 01 ENCERRAMENTO

**** Os campos preenchidos na cor verde correspondem às semanas de entrega das Atividades Complementares.

Legenda / Turmas:

MAT A = Paraíso / ACS D = Marquês / ECM F = Marquês / ECM

NOT B = Chácara / RMP C = Marquês / FF E = Anchieta / ECM G = Pinheiros / ECM H = Chácara / ECM

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

Page 6: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Apresentação

Este material teórico está voltado para a administração de itens do circulante (curto

prazo). As seções foram divididas de forma que cubram seus aspectos mais importantes,

com ênfase no tratamento da realidade brasileira.

O estudo deste segmento é de grande importância para as Finanças Corporativas,

uma vez que determina reflexos visíveis no desempenho futuro das empresas. Na realidade,

todas as decisões financeiras que venham a ser tomadas por uma empresa requerem

cuidadosa atenção a seus elementos circulantes. São eles, em última análise, que produzem

capacidade de sustentação e crescimento dos negócios.

Este material está dividido em duas seções. A primeira, Capital de giro, aborda

segundo um nível conceitual, os vários aspectos e características do capital circulante e do

conceito de equilíbrio financeiro; a segunda seção, Fontes de Financiamento e aplicações a

curto prazo no Brasil, descreve, em um nível de detalhamento indispensável ao

administrador financeiro, as principais operações financeiras ativas e passivas a curto prazo

disponíveis no sistema financeiro nacional.

Page 7: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Sumário

1 PROGRAMA DA DISCIPLINA 8

1.1 UNIDADE CURRICULAR 8

1.2 PERÍODO LETIVO 8

1.3 EMENTA 8

1.4 CARGA HORÁRIA TOTAL 8

1.5 OBJETIVOS 8

1.6 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 9

1.7 METODOLOGIA 9

1.8 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 10

1.9 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 11

PARTE I – CAPITAL DE GIRO 12

2 O CAPITAL DE GIRO 13

2.1 INTRODUÇÃO 13

2.2 VÁRIOS CONCEITOS 14

3 CAPITAL DE GIRO E INFLAÇÃO 25

4 INVESTIMENTO EM CAPITAL DE GIRO 34

5 FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO 38

5.1 COMPORTAMENTO DAS TAXAS DE JUROS A CURTO E A LONGO PRAZOS 38

5.2 DILEMA RISCO-RETORNO NA COMPOSIÇÃO DE FINANCIAMENTO 40

5.3 ABORDAGEM PARA O FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO 42

6 NECESSIDADES DE INVESTIMENTO EM CAPITAL DE GIRO 49

6.1 CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO (CCL) E NECESSIDADE DE INVESTIMENTO EM GIRO (NIG) 52

6.2 FINANCIAMENTO DO GIRO EM SITUAÇÃO DE EXPANSÃO DO VOLUME DE ATIVIDADES 56

PARTE II – FONTES DE FINANCIAMENTO 58

FONTES DE FINANCIAMENTO E APLICAÇÕES FINANCEIRAS A CURTO PRAZO NO BRASIL 59

Page 8: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

7 OPERAÇÕES DE DESCONTO 60

7.1 OPERAÇÕES DE DESCONTO 60

7.2 DESCONTO BANCÁRIO/COMERCIAL 61

7.3 INCLUSÃO DO IOF NAS OPERAÇÕES DE DESCONTO 66

7.4 RECIPROCIDADE BANCÁRIA 68

7.5 DESCONTO DE BORDERÔ DE DUPLICATAS 69

7.6 INFLUÊNCIA DO PRAZO SOBRE O CUSTO DO CRÉDITO 72

8 MERCADO ABERTO 74

8.1 MERCADO PRIMÁRIO E MERCADO SECUNDÁRIO 75

8.2 TAXA OVER DE JUROS – JUROS POR DIAS ÚTEIS 76

8.3 TAXA OVER EFETIVA ANUAL 78

9 MERCADO INTERFINANCEIRO E OPERAÇÕES HOT MONEY 80

9.1 PRIMEIRO DIA DO HOT MONEY 81

9.2 DEMAIS DIAS DO HOT MONEY – ALTERAÇÕES NAS TAXAS DO CDI 82

10 FLOATING EM OPERAÇÕES BANCÁRIAS 83

11 OPERAÇÕES DE FOMENTO COMERCIAL (FACTORING) 86

12 CRÉDITO ROTATIVO 89

13 LINHAS DE CRÉDITO: VENDOR E COMPROR 92

13.1 VENDOR 92

13.2 COMPROR 93

REFERÊNCIAS 94

BIBLIOGRÁFICAS 94

ANEXOS 95

ANEXO 1: ATIVIDADES COMPLEMENTARES 96

ANEXO 2: CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DETALHADO 98

ANEXO 3: A IMPORTÂNCIA DA IGNORÂNCIA NA PESQUISA CIENTÍFICA 100

Page 9: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

1 Programa da Disciplina

1.1 Unidade Curricular

Fontes de Financiamento.

1.2 Período Letivo

3º Semestre.

1.3 Ementa

Capital de Giro. Operacionalização da Empresa. Necessidades de Captação. Fontes

de Financiamento. Custos das Fontes de Financiamento. Despesas Financeiras. Viabilidade

de Financiamento.

1.4 Carga Horária Total

60 horas.

1.5 Objetivos

Analisar e identificar a necessidade de financiamento para o capital de giro da

empresa. Verificar as despesas financeiras. Conhecer, analisar e identificar a melhor fonte

de financiamento a curto, médio e longo prazos.

3

Page 10: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

1.6 Conteúdo Programático1

1.6.1 Capital de Giro

Características

Investimentos e Financiamentos

Necessidades de Investimentos

1.6.2 Fontes de Financiamento

Aplicações de Curto Prazo no Brasil

Operações de Desconto

Mercado Aberto

Mercado Interfinanceiro (Hot Money)

Factoring

Crédito Rotativo

Vendor e Compror

1.7 Metodologia2

Para o desenvolvimento do conteúdo proposto, serão utilizadas as seguintes

técnicas:

Aulas expositivas dialogadas;

Estudos dirigidos;

Estudos de casos.

As atividades contidas no Cronograma de Aulas poderão ser alteradas conforme

necessidade ou mudança do Calendário Acadêmico do Curso.

1 O detalhamento do Conteúdo Programático encontra-se no Anexo 2 desta apostila.2 Ver Agenda do Estudante: Cronograma de Aulas.

4

Page 11: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

1.8 Critérios de Avaliação3

O processo de avaliação será contínuo, através de provas escritas, estudos dirigidos

(individuais e/ou em grupo) e participação ativa nas atividades desenvolvidas durante o

andamento da disciplina.

Todas as atividades previstas serão medidas, através de uma escala de 0 (zero)

ponto até 10,0 (dez) pontos, e terão pesos proporcionais ao seu grau de importância e

dificuldade, de acordo com o quadro a seguir:

Etapas de Avaliação Peso

Atividades Programadas 20%

Avaliação Bimestral 80%

As Atividades Programadas referem-se aos estudos de caso, interpretação e análise

de textos ou planilhas de cálculos. A Avaliação Bimestral é o instrumento final de

acompanhamento do(a) aluno(a) para classificação do nível de domínio da matéria

lecionada e será aplicada individualmente, sem consulta a qualquer fonte bibliográfica,

anotações ou outros meios classificados como material de apoio à aprendizagem.

O(A) aluno(a) será considerado(a) aprovado(a) se alcançar média semestral (MS)

igual ou superior a 5,0 (cinco) pontos no conjunto das habilidades que compõem a disciplina

cursada e obtiver freqüência mínima de 75% (setenta e cinco por cento). O(A) aluno(a) que

não comparecer à prova (NP1 ou NP2) na data marcada, deverá abrir pedido junto a

Secretaria Acadêmica, solicitando oportunidade para realizar Prova Substitutiva, conforme

orientação da Coordenação Geral e previsto no Manual do Aluno.

3 A Média Semestral (MS) é composta do somatório das notas NP1 e NP2 (peso 4) e PIM (peso 2), divididos por 10, de acordo com a fórmula abaixo e disposta no Manual de Informações Acadêmicas/UNIP 2010:

MS =(NP1 x 4) + (NP2 x 4) + (PIM x 2)

10

5

Page 12: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

1.9 Bibliografia Recomendada

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas,

2007.

ASSAF NETO, Alexandre e SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do Capital

de Giro. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil. São Paulo: Atlas, 2001.

BERNI, Mauro Tadeu. Operação e Concessão de Crédito: Os Parâmetros para

Decisão de Crédito. São Paulo: Atlas, 1999.

6

Page 13: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

PARTE I

CAPITAL DE GIRO

Parte I – Capital de Giro

7

Page 14: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

2 O Capital de Giro

2.1 Introdução

A administração do capital de giro (circulante) envolve basicamente as decisões de

compra e venda tomadas pela empresa, assim como suas mais diversas atividades

operacionais e financeiras. Nessa abrangência, coloca-se de forma nítida que a

administração do capital de giro deve garantir a uma empresa a adequada consecução de

sua política de estocagem, compra de materiais, produção, venda de produtos e

mercadorias a prazo de recebimento.

A importância da administração do capital de giro para as empresas tem-se

acentuado bastante nos últimos tempos, em razão, principalmente, das elevadas taxas de

juros praticados no mercado, do acirramento da concorrência determinado pela abertura de

mercado e das políticas de expansão adotadas pelas empresas.

Como resultado da maior preocupação com a administração do capital de giro, as

técnicas de controle e gerenciamento dos valores circulantes foram aprimoradas, tornando

esse segmento de estudo mais especializado e, também, mais complexo.

Esta seção inicial analisa, de forma conceitual, as características básicas da

administração de capital de giro. Seu entendimento é de fundamental importância para a

administração de vários elementos circulantes, constituindo-se no arcabouço teórico

indispensável de todo o estudo.

Basicamente, a seção encontra-se dividida em quatro grandes partes. A primeira

parte descreve o significado das expressões capital de giro (ou capital circulante) e capital

de giro líquido. A segunda aborda o investimento no capital circulante, incluindo-se também

o montante necessário para a manutenção de seu valor diante de alterações nos níveis

gerais de preços. A terceira parte focaliza o financiamento do capital de giro, onde são

descritas as várias abordagens possíveis e seus reflexos em economias em desenvolvimento.

8

Page 15: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

A quarta parte desenvolve o conceito e cálculo da necessidade de investimento em giro e

seu confronto com o montante do capital circulante líquido.

2.2 Vários Conceitos

O conceito de capital de giro apresenta usualmente diferentes interpretações que

são aplicadas segundo os critérios e a natureza do estudo desenvolvido. Em virtude de

terem sido esboçadas, muitas vezes, metodologias alternativas de cálculo de acordo com as

definições consideradas, é fundamental que se descrevam os principais conceitos e formas

de remuneração do capital de giro, conforme usualmente considerados.

No entanto, qualquer que seja a definição adota, o conceito de capital de giro (ou

capital circulante) identifica os recursos que giram (circulam) várias vezes em determinado

período. Em outras palavras, corresponde a uma parcela de capital aplicada pela empresa

em seu ciclo operacional, caracteristicamente de curto prazo, a qual assume diversas formas

ao longo de seu processo produtivo e de venda. Por exemplo, um capital alocado no

disponível pode ser aplicado inicialmente em estoque, assumindo posteriormente a venda

realizada ou a forma de realizável (crédito, se a venda for realizada a prazo) ou novamente

de disponível (se a venda for realizada a vista). Esse processo ininterrupto constitui-se, em

essência, no ciclo operacional (produção e venda) de uma empresa.

O nível e a importância do capital de giro variam, evidentemente, em função das

características de atuação de cada empresa, do desempenho da conjuntura econômica e da

relação risco (liquidez) e rentabilidade desejada.

2.2.1 Capital de Giro (CG) ou Capital Circulante (CC)

O capital de giro corresponde ao ativo circulante de uma empresa. Em sentido

amplo, o capital de giro representa o valor dos recursos demandados pela empresa para

9

Page 16: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

financiar seu ciclo operacional, o que engloba, conforme comentado, as necessidades

circulantes identificadas desde a aquisição de matérias-primas até a venda e o recebimento

dos produtos elaborados.

Utilizando-se da ilustração desenvolvida, a Figura 1 retrata o fluxo de capital de giro

de acordo com o ciclo de produção e venda (operacional) de uma empresa industrial.

Observa-se que os recursos (próprios ou de terceiros) aplicados no ativo circulante são

canalizados, numa etapa inicial do processo de produção e venda da empresa, para o

disponível, o qual irá alimentar todas as necessidades financeiras de suas operações.

Assim, numa primeira saída, os recursos são transferidos para a produção da

empresa, mediante aquisições de estoques de materiais e pagamentos de custos fabris.

Posteriormente, os produtos acabados são estocados à espera de serem vendidos e geram

novos dispêndios à empresa. Quando vendidos, os recursos obtidos retornam, alguns

imediatamente (se as vendas forem a vista) e outros em curto prazo (se as vendas forem a

prazo) ao disponível da empresa, dando início novamente ao ciclo operacional descrito.

RECURSOSDISPONÍVEL

ESTOQUE DEAPLICADOS NO AC MATERIAIS

REALIZÁVEL

VENDAS A VISTA

VENDAS A PRAZO

ESTOQUE DEPRODUTOS ACABADOS

PRODUÇÃO

Figura 1 – Fluxo do Ativo Circulante

10

Page 17: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Esse processo ocorre de maneira ininterrupta na atividade operacional de uma

empresa, e toda vez que os recursos retornam ao disponível (pelas vendas realizadas) são

acrescidos dos lucros auferidos e dos montantes de dispêndios não desembolsáveis

(depreciação, por exemplo).

Conforme comentado, o ciclo descrito refere-se a uma etapa inicial das operações

de uma empresa. A finalidade de sua interpretação está voltada à melhor compreensão do

fluxo do ativo circulante, pois, em qualquer momento posterior, a empresa poderá

apresentar, simultaneamente, vários ciclos operacionais que se desenvolvem em diferentes

estágios. Dessa maneira, conclui-se que uma importante característica do capital de giro é

seu grau de volatilidade, que é explicado, conforme comentado, pela curta duração de seus

elementos e constante mutação dos itens circulantes com outros de natureza idêntica.

Por outro lado, comparando-se o capital de giro com o ativo fixo (permanente) de

uma empresa, podem ser observadas duas outras importantes características.

A primeira refere-se à baixa rentabilidade produzida pelos investimentos em itens

circulantes. Executando-se, em parte, as empresas em que a administração do capital de

giro consiste na essência de seus negócios (empresas comerciais, basicamente), para os

setores industriais os investimentos circulantes tendem a produzir a mais baixa

rentabilidade. Como é evidente, essa situação induz a minimizar, tanto quanto possível, as

aplicações em circulante, notadamente nos itens em que os recursos se apresentam mais

expostos à perda de poder aquisitivo.

A segunda característica refere-se à divisibilidade dos elementos circulantes, que se

apresenta bem superior à dos ativos fixos.

Esse aspecto permite que o aporte de recursos nos itens de curto prazo ocorra em

níveis variados e relativamente baixos, podendo-se, muitas vezes, alocar recursos no

momento do surgimento das necessidades financeiras.

11

Page 18: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

2.2.2 Capital de Giro Líquido (CGL) ou Capital Circulante Líquido (CCL)

É a interpretação mais usual. Representa, de maneira geral, o valor líquido das

aplicações (deduzidas das dívidas de curto prazo) processadas no ativo (capital) circulante

da empresa.

Segundo essa conceituação, a forma mais direta de obter-se o valor do capital de

giro líquido é mediante a simples diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante, ou

seja:

CGL (CCL) = ATIVO CIRCULANTE – PASSIVO CIRCULANTE

Segundo um enfoque mais rigoroso, o capital circulante líquido representa

normalmente a parcela dos recursos de longo prazo (recursos permanentes) aplicada em

itens ativos de curto prazo (circulantes).

Na realidade, essa interpretação acurada do capital de giro líquido é processada de

“baixo para cima” no balanço, isto é, identificando-se os valores passivos de longo prazo

(próprios ou de terceiros) que estão financiando o ativo circulante da empresa.

Em outras palavras, o CCL representa a parcela do financiamento total de longo

prazo que excede as aplicações também de longo prazo. Algebricamente, o caçulo desse

valor pode ser obtido pela seguinte expressão:

CGL (CCL) = (PATRIMÔNIO LÍQUIDO + EXIGÍVEL A LONGO PRAZO)

(ATIVO PERMANENTE + REALIZÁVEL A LONGO PRAZO)

O balanço por massas patrimoniais, ilustrado no Quadro 1, evidencia os conceitos

enunciados:

12

Page 19: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Ativo Circulante 160.000

Passivo Circulante 120.000

Realizável a LP 20.000

Exigível a LP 80.000

Ativo Permanente 120.000

Patrimônio Líquido 100.000

Quadro 1 – Identificação do CGL (CCL)

Observa-se que o valor do capital circulante líquido apresenta, para qualquer das

identidades sugeridas, resultados idênticos, ou seja:

CCL = 160.000 – 120.000

CCL = R$ 40.000

ou:

CCL = (100.000 + 80.000) – (120.000 + 20.000)

CCL = 180.000 – 140.000

CCL = R$ 40.000

Do total de R$ 160.000 aplicados no ativo circulante, R$ 120.000 são oriundos de

créditos de curto prazo (passivo circulante), e os R$ 40.000 restantes (que representam o

CCL) estão identificados nos recursos permanentes da empresa (exigível a longo prazo e

patrimônio líquido) que estão financiando o giro. De forma inversa, dos R$ 180.000 de

fundos levantados a longo prazo, R$ 140.000 estão alocados em ativos também de longo

prazo (realizável a longo prazo e ativo permanente), enquanto os R$ R$ 40.000 excedentes

(CCL) foram destinados a financiar o ativo circulante. Essa posição induz, conforme

comentado, uma folga na liquidez da empresa, a qual se processa pela manutenção de certa

sobra de recursos passivos de longo prazo disponíveis para suprir eventuais ausências de

sincronização entre os elementos de um fluxo caixa.

13

Page 20: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Na ilustração apresentada, considerou-se a existência de um capital circulante

líquido positivo. No entanto, de acordo com a conceituação exposta, o CCL poderá ser nulo

ou, até mesmo, negativo. Os quadros 2 e 3 identificam, respectivamente, essas

possibilidades.

Ativo Circulante 160.000

Passivo Circulante 160.000

Realizável a LP 20.000

Exigível a LP 80.000

Ativo Permanente 160.000

Patrimônio Líquido 100.000

Quadro 2 – Capital de Giro Nulo

Ativo Circulante 160.000

Passivo Circulante 170.000

Realizável a LP 20.000

Exigível a LP 80.000

Ativo Permanente 170.000

Patrimônio Líquido 100.000

Quadro 3 – Capital de Giro Negativo

Observa-se que quando o capital circulante líquido é negativo, os recursos passivos

permanentes da empresa não são suficientes para cobrir todas as suas necessidades de

investimentos de longo prazo, devendo, nessa situação, ser utilizados fundos provenientes

do passivo circulante (curto prazo). Dessa forma, um CCL negativo, conforme ilustrado no

Quadro 3, identifica a presença de dívidas de curto prazo financiando aplicações com prazos

de retornos maiores. Essa posição, evidentemente, determina um aperto na liquidez da

empresa, principalmente ao observar-se que parte de suas dívidas vencerá em prazos

inferiores aos retornos das aplicações desses recursos.

14

Page 21: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

A presença de um capital circulante líquido nulo, por sua vez, ocorre, conforme

demonstra o quadro 2, quando há total igualdade entre os prazos e os valores dos recursos

captados e aplicados pela empresa. Por essa composição justa de valores, a empresa, na

realidade, não trabalha com recursos de longo prazo financiando seus ativos circulantes. As

aplicações de curto prazo estão totalmente financiadas com fundos de mesma duração, e a

posição de liquidez não apresenta folga alguma.

Conforme será detalhado adiante, qualquer das posições de liquidez comentadas é

decidida muitas vezes (mas nem sempre) pela preferência entre risco (liquidez) e retorno

(lucratividade), e a opção deve recair evidentemente sobre a estrutura que melhor satisfaça

as necessidades e aos objetivos da empresa.

2.2.3 Capital de Giro Próprio (CGP)

Um indicador de capital de giro muitas vezes utilizado na prática é o denominado

capital de giro próprio. É comumente obtido pela seguinte expressão de cálculo:

Patrimônio Líquido $$$$

(-) Aplicações Permanentes

Ativo Permanente $$$$

Realizável a Longo Prazo $$$$

Capital de Giro Próprio $$$$

O valor assim obtido é interpretado como o volume de recursos próprios que a

empresa tem aplicado em seu ativo circulante.

Uma maneira mais simplificada e também bastante adotada pelo mercado é

calcular o capital de giro próprio pela simples diferença entre o patrimônio líquido e o ativo

permanente. Nesse caso, a medida revela o volume de capital próprio da empresa que está

financiando o ativo circulante e o realizável a longo prazo. Segundo médias geralmente 15

Page 22: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

divulgadas pelos analistas de mercado, o valor mínimo ideal dessa medida é zero, ou deve

atingir, pelo menos 5% das receitas auferidas pela empresa.

É importante acrescentar que essa medida não identifica rigorosamente os

recursos próprios da empresa em que estão financiando sua atividade. Dada a evidente

impossibilidade de “casarem-se” todas as operações de captação e aplicação de uma

empresa (o dinheiro não “carimbado”), o valor encontrado reflete mais adequadamente

recursos do passivo de longo prazo (próprios ou de terceiros) alocados em itens ativos não

permanentes, e não necessariamente do patrimônio líquido.

Um balanço por massas patrimoniais, conforme apresentado a seguir, ilustra

melhor a idéia:

Ativo Circulante 100

Passivo Circulante 50

Realizável a LP 40

Exigível a LP 70

Ativo Permanente 60

Patrimônio Líquido 80

Verifica-se no demonstrativo que o capital de giro próprio é de R$ 20 (patrimônio

líquido = R$ 80 – ativo permanente = R$ 60), o qual encontra-se financiando o ativo

circulante e o realizável a longo prazo, juntamente com as exigibilidades da empresa

(passivo circulante e exigível a longo prazo). Dizer-se que o patrimônio líquido de R$ 80

excede em R$ 20 as aplicações em ativo permanente, e que esta diferença (capital próprio)

vai financiar outros ativos é tirar conclusões limitadas. É desconhecido o destino dado, em

termos de aplicações ativas, às exigibilidades tanto a curto como a longo prazo da empresa.

Dessa maneira, apesar de já citada aceitação da medida, prefere-se trabalhar com o

conceito sugerido de capital de giro (ou circulante) líquido.

16

Page 23: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

2.2.4 Ciclos operacionais

As atividades operacionais de uma empresa envolvem, de forma seqüencial e

repetitiva, a produção de bens e serviços e, em conseqüência, a realização de vendas e

respectivos recebimentos. Nessas operações básicas procura a empresa obter determinado

volume de lucros, de forma a remunerar as expectativas de retorno de suas diversas fontes

de financiamento (credores e proprietários).

É diante desse processo natural e permanente que sobressai o ciclo operacional da

empresa, composto por todas as fases de suas atividades operacionais. O ciclo operacional

completo, para o caso de uma empresa industrial, inicia-se com a aquisição das matérias-

primas, passa pela armazenagem, produção e venda e desemboca no efetivo recebimento

das vendas realizadas. A Figura 2 ilustra, de forma linear, esse processo.

COM

PRA

(PED

IDO

)

ARM

AZEN

AGEM

(R

ECEB

IMEN

TO)

FABR

ICAÇ

ÃO (I

NÍC

IO D

E)

ARM

AZEN

AGEM

(IN

ÍCIO

DE)

VEN

DA

COBR

ANÇA

ESPERA PMEMP PMF PMV PMC

CICLO OPERACIONAL

CICLO ECONÔMICO

PMPF CICLO DE CAIXA FINANCEIRO

Figura 2 – O Ciclo Operacional

Legenda:

PMEMP = prazo médio de estocagem das matérias-primas

PMF = prazo médio de fabricação

PMEPT/PMV = prazo médio de estocagem dos produtos terminados/prazo médio

de venda

17

Page 24: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

PMC = prazo médio de cobrança

PMPF = prazo médio de pagamento a fornecedores

Observe-se, na Figura 2, que cada uma das fases operacionais possui determinada

duração. Assim, a compra (pedido) de matérias-primas embute, além do prazo de espera de

recebimento, um prazo de armazenagem; a produção, o prazo de transformação das

matérias-primas em produtos terminados; a venda, o prazo de armazenagem dos produtos

terminados; e a cobrança, o prazo de recebimento das vendas realizadas a prazo. A Figura 2

ilustra também três tipos de ciclos identificados nas operações da empresa.

O ciclo operacional total é composto de todas as fases operacionais da empresa,

iniciando-se no momento do recebimento dos materiais a serem utilizados no processo de

produção e encerrando-se na cobrança das vendas realizadas. Ou seja:

Ciclo Operacional Total = PMEMP + PMF + PMV + PMC

O ciclo econômico engloba fundamentalmente toda a base de produção da

empresa, ou seja, estocagem de matérias-primas, fabricação e venda.

Ciclo Econômico = PMEMP + PMF + PMV

A primeira fase do ciclo operacional (PMEMP) pode ser financiada, em sua

totalidade ou em parte, mediante créditos de fornecedores. Assim, o ciclo financeiro (de

caixa) identifica as necessidades de recursos da empresa que ocorrem desde o momento do

pagamento aos fornecedores até o efetivo recebimento das vendas realizadas, ou seja:

Ciclo Financeiro = (PMEMP + PMF + PMV + PMC) – PMPF

As expressões de cálculo das durações de cada fase operacional são apresentadas

no Quadro 4. Esses indicadores são dinâmicos e permitem melhor avaliação do desempenho

operacional da empresa.

18

Page 25: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Índice Fórmula O que identifica

PMEMPSALDO MÉDIO DE MATERIAIS

CONSUMO ANUAL x 360Prazo médio (em dia) em que os materiais permanecem estocados à espera de ingressarem no processo de produção.

PMFVALOR MÉDIO DOS

PRODUTOS EM ELABORAÇÃO CUSTO DE PRODUÇÃO ANUAL

x 360Prazo médio (em dias) que a empresa despende em fabricar o produto final.

PMV

VALOR MÉDIO DOS PRODUTOS ACABADOS CUSTO DOS PRODUTOS

VENDIDOS

x 360Prazo médio (em dias) que o produto acabado permanece estocado à espera de ser vendido, isto é, prazo médio de estocagem do produto acabado.

PMAT

(Prazo Médio de

Armazenagem

Total)

PMEMP + PMF + PMV

Prazo médio (em dias) em que os estoques totais (materiais, produtos em transformação e produtos acabados) permanecem armazenados à espera de serem consumidos, produzidos e vendidos.

Ou seja, o tempo médio total compreendido desde a compra dos materiais até a venda do produto acabado.

Na hipótese de não ser possível calcular os prazos para cada fase operacional dos estoques, utiliza-se esse índice como valor aproximado dos três primeiros apresentados.

PMAM

(Prazo Médio de

Armazenagem

de Mercadorias)

VALOR MÉDIO DOS ESTOQUES DE MERCADORIAS

CUSTO TOTAL DA MERCADORIA VENDIDA NO

ANO

x 360

Prazo médio (em dias), para empresas comerciais, em que as mercadorias permanecem armazenadas à espera de serem vendidas. De outra forma, é o prazo médio de venda de empresas comerciais.

PMCVALOR MÉDIO DAS

DUPLICATAS A RECEBER VENDAS ANUAIS A PRAZO

x 360Prazo médio (em dias) em que a empresa recebe as vendas realizadas a prazo.

PMPFVALOR MÉDIO DAS

DUPLICATAS A PAGAR COMPRAS ANUAIS A PRAZO

x 360Prazo médio (em dias) em que a empresa paga seus fornecedores.

Quadro 4 – Índices Operacionais

19

Page 26: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

3 Capital de Giro e Inflação

Basicamente, o volume de capital de giro adequado para determinado negócio é

função da política de produção e venda adotada, cabendo à administração da empresa

adequar-se a esses critérios para delimitar suas necessidades de aplicações a curto prazo. Os

itens seguintes abordarão, com mais detalhes, as formas de mensuração do capital de giro

necessário de uma empresa.

Nesse ponto, é interessante frisar que, após definido o investimento necessário em

capital de giro, se pode esperar, desde que não ocorram alterações nas operações de

produção e venda da empresa, uma estabilidade nessa participação. Ou seja, espera-se que,

após ter efetuado um aporte inicial de capital de giro, a empresa, utilizando-se somente das

receitas operacionais de um ciclo, possa financiar as necessidades financeiras do ciclo

seguinte, determinando-se um equilíbrio de seus recursos a curto prazo. Assim, a

manutenção do nível ideal de capital de giro para sustentar as operações de uma empresa

pode ser efetuada mediante transferências de receitas de um ciclo operacional para outro.

Uma vez formado (investido no negócio) o capital de giro inicial, as receitas obtidas

em determinado ciclo de produção podem ser utilizadas para financiar os gastos do ciclo

seguinte. Estabelece-se, assim um regime de equilíbrio, não sendo necessários novos

aportes de capital de giro, o qual se estabiliza em certo nível.

O equilíbrio do capital de giro, ainda, é mais factível em economias relativamente

estáveis, em que além da hipótese de manutenção dos níveis operacionais (produção e

venda) das empresas, não se verificam alterações nos vários preços específicos

determinadas pela ocorrência de variações nos níveis gerais de preços. Dentro de um

contexto com inflação, não obstante, mesmo que ocorra estabilidade na atividade nominal

da empresa, as variações desproporcionais nos preços dos fatores de produção

(característica típica de uma conjuntura em inflação) determinam, normalmente,

necessidades geometricamente crescentes de investimentos em capital de giro.

20

Page 27: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

É importante ressaltar que essas alterações desiguais nos preços dos fatores

costumam-se verificar em todas as economias, não se vinculando àquelas com taxas de

inflação mais elevadas. Economias mais desenvolvidas, que apresentam taxas de inflação

historicamente reduzidas, também convivem com evoluções desproporcionais em sua

estrutura de preços, distanciando-se diversos fatores relevantemente da taxa média de

variação dos preços gerais. Em verdade, a taxa de inflação é uma média dos vários

elementos que compõem uma cesta básica de bens e serviços, não sendo necessariamente

verdadeira para nenhum item específico, porém apresentando-se válida para a

amostragem.

Por exemplo, uma empresa pode ter simplisticamente definido que o volume de

seu capital de giro deve corresponder a um mês e meio de seu faturamento. Dessa forma,

se seu faturamento médio mensal atingir R$ 10.000.000, deverá ter, em média, investido

em seu ativo circulante o correspondente a R$ 15.000.000 para sustentar suas operações.

No entanto, pode ocorrer, e isso se verifica com certa freqüência, que os custos relativos à

sua produção se tenham, em grande parte, incrementado mais do que proporcionalmente

às taxas inflacionárias, não podendo ainda os preços de venda acompanhar pari passu essas

indexações. Como conseqüência, as necessidades circulantes, mesmo que o nível de

produção e venda não tenha se alterado, incrementam-se acima da proporção previamente

estabelecida. Em outras palavras, os recursos alocados aos itens ativos circulantes estarão

depreciando-se (perdendo seu valor real) em razão da necessidade de serem efetuados

dispêndios operacionais proporcionalmente mais elevados do que as receitas nominais

geradas. Como agravante, observa-se ainda o fato de as despesas operacionais surgirem

antes das receitas.

Em suma, o que se nota é que muitas vezes, para manter a mesma capacidade de

produção e venda, a empresa que atua em contextos inflacionários se vê obrigada a efetuar

aplicações financeiras adicionais em seu capital de giro.

21

Page 28: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

É como se as necessidades de investimentos em giro crescessem de forma

exponencial, não sendo acompanhadas, com a mesma intensidade, pela entrada de novos

recursos para financiamento.

Como ilustração adicional, considere-se a seguinte situação hipotética. Suponha-se

que uma empresa comercial tenha definido como ideal um volume mínimo de caixa de R$

150.000 e cem unidades de mercadorias (supondo-se que ela venda somente um tipo de

produto) em estoques. Simplificadamente, as vendas e as compras são totalmente

realizadas a vista e seu passivo é constituído exclusivamente de recursos próprios.

Ao final de determinado período, sua situação patrimonial apresenta-se da forma

seguinte:

Disponível = R$ 150.000

Estoques:

100 unidades x R$ 2.500 = R$ 250.000

Capital de Giro = R$ 400.000

Ativo Permanente = R$ 600.000 Patrimônio Líquido = R$ 1.000.000

Total de Ativo = $ 1.000.000 Total do Passivo + PL = R$ 1.000.000

Ao final do período seguinte, a empresa vende todos os seus estoques, repondo-os

integralmente logo a seguir. A inflação verificada no período atinge 10%. A empresa adota o

critério de fixação de seu preço de venda uma margem de 20% sobre o custo corrigido na

mercadoria. Assim, ao final do referido período, o valor unitário de venda de seus estoques

atinge R$ 3.300, ou seja:

Preço unitário de venda = R$ 2.500 x 1,10 x 1,20 = R$ 3.300

Admitindo-se a manutenção dessa política de preço de venda serão analisadas a

seguir três situações com o objetivo de melhor ilustrar as necessidades de capital de giro em

inflação.

22

Page 29: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

1ª Situação

Custos incrementam-se na mesma proporção da taxa de inflação:

Nessa situação (menos provável na prática), os resultados da empresa ao final do

período, supondo-se despesas operacionais incorridas ao final do período de R$ 10.000, são

os seguintes:

Vendas: 100 um. x R$ 3.300 R$ 330.000

CMV corrigido: 100 un. x R$ 2.500 x 1.10 (R$ 275.000)

Lucro Bruto R$ 55.000

Despesas Operacionais (R$ 10.000)

Lucro Operacional R$ 45.000

Perdas na capacidade de compra dos Ativos Monetários (disponível):10% x R$ 150.000 (R$ 15.000)

Lucro Antes do IR R$ 30.000

Imposto de Renda (40%) (R$ 12.000)

Lucro Líquido R$ 18.000

Para manter o poder aquisitivo de seu saldo mínimo de caixa (R$ 150.000 x 1.10 =

R$ 165.000) e o estoque mínimo de 100 unidades, a empresa deverá reter R$ 15.000 de

seus resultados, os quais correspondem exatamente às perdas de capacidade de compra

registradas em seu disponível.

Uma identificação mais nítida dessa perda é efetuada pelo critério mais analítico de

apuração de resultados pela correção integral, conforme foi demonstrado.

Mantendo-se a empresa no nível atual de atividade e supondo-se, ainda, uma

elevação nos custos em proporção idêntica à inflação considerada, o resultado líquido

obtido de R$ 18.000 poderá ser aplicado em qualquer outra finalidade fora do circulante.

Assim, supondo-se que o lucro tenha sido integralmente distribuído aos acionistas,

o capital de giro da empresa apresenta os seguintes valores ao final do período:

23

Page 30: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Saldo inicial de caixa R$ 150.000

Receita de vendas R$ 330.000

Reposição de estoques (100 un. x R$ 2.500 x 1.10) (R$ 275.000)

Pagamento de despesas operacionais (R$ 10.000)

Imposto de renda provisionado (R$ 12.000)

Distribuição do lucro líquido (R$ 18.000)

Disponível R$ 165.000

Estoques 100 un. x (R$ 2.500 x 1.10) R$ 275.000

Capital de giro R$ 440.000

Observe-se que o capital de giro, na hipótese considerada de a inflação atingir

equitativamente os vários elementos operacionais da empresa, manteve a capacidade de

sustentação da empresa, incrementando-se em taxa idêntica à inflação (10%). O resultado

líquido integralmente distribuído (R$ 18.000) não prejudicou, na situação considerada, o

nível mínimo de capital de giro. Na realidade, o lucro financeiro da empresa é

absolutamente igual ao lucro contábil (R$ 18.000) obtido, dada a hipótese de influência

proporcional da inflação nos resultados, e não considerando quanto à depreciação do ativo

permanente. Assim, ao efetuar-se a demonstração de entradas e saídas de caixa somente

das transações ocorridas no período considerado, chega-se a um resultado, antes da

distribuição dos dividendos, de R$ 18.000, o qual corresponde ao lucro contábil da empresa,

isto é:

Receita de vendas R$ 330.000

Reposição de estoques (100 un. x R$ 2.500 x 1.10) (R$ 275.000)

Pagamento de despesas operacionais (R$ 10.000)

Imposto de renda provisionado (R$ 12.000)

Reinvestimento no capital de giro para manter seu poder de compra (R$ 15.000)

Resultado de caixa = lucro líquido R$ 18.000

A situação seguinte prevê majoração proporcionalmente maior nas despesas em

relação à taxa de inflação.

24

Page 31: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

2ª Situação

Os custos incrementam-se em taxas superiores à inflação:

Comportando-se os preços de qualquer dos itens operacionais (receitas, custos e

despesas) em ritmo diverso ao da taxa de inflação, a empresa necessariamente deverá

efetuar, internamente, ajustes em sua demonstração de resultados para mensurar suas

necessidades reais (de mesma capacidade de compra) de capital de giro.

Por exemplo, incrementando-se os custos de produção ou das despesas

operacionais em proporção superior à taxa inflacionária, sem se observar uma contrapartida

nas receitas, a empresa forçosamente deverá lançar mão de uma parcela maior de seus

resultados para reinvestimento em seu ativo circulante.

De acordo com a ilustração anterior, suponha-se que o CMV da empresa se eleve

em 15% o período (em vez de 10%, conforme a taxa de inflação considerada), com os

demais itens de resultados acompanhando perfeitamente a inflação verificada. Essa

situação, independentemente de qualquer variação na atividade física da empresa,

determina uma elevação nos investimentos em capital de giro em proporção superior aos

10% de inflação. Na realidade, essas aplicações financeiras, destinadas a repor a capacidade

real de compra do ativo circulante, devem ser processadas em intervalos curtos e regulares

de tempo.

Aplicando-se essa situação na ilustração desenvolvida anteriormente, o critério de

apuração de lucro determina conforme calculado, um resultado líquido (após o imposto de

renda) de R$ 18.000.

No entanto, não é difícil visualizar nessa situação bem simplificada que o

incremento mais que proporcional nos custos das mercadorias determina investimentos

adicionais nos estoques (e, em conseqüência, no capital de giro da empresa). Mantendo-se

o nível de caixa nos limites anteriores, o estoque exigirá um investimento de R$ 287.500

25

Page 32: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

(100 un. x R$ 2.500 x 1,15), que excede em R$ 12.500 o investimento necessário na situação

anterior (estoque = R$ 275.000, supondo-se sua valorização idêntica à inflação).

Dessa maneira, do resultado líquido de R$ 18.000, conforme calculado deverá ser

reduzida ainda a diferença de R$ 12.500 para reinvestimento no capital de giro, restando

somente R$ 5.500 para outras participações extra-circulantes. Em razão dessa retenção

adicional, a participação do ativo circulante em relação ao ativo se elevará, denotando-se

maior presença de recursos aplicados no capital de giro, conforme é ilustrado a seguir:

1ª Situação 2ª Situação

Disponível R$ 165.000 (15%) R$ 165.000 (14,8%)

Estoques100 un. x R$ 2.500 x 1,10

R$ 275.000 (25%)100 un. x R$ 2.500 x 1,15

R$ 287.500 (25,8%)

Capital de giro R$ 440.000 (40%) R$ 452.000 (40,7%)

Ativo permanenteR$ 600.000 x 1,10R$ 660.000 (60%)

R$ 600.000 x 1,10R$ 660.000 (59,3%)

Ativo total R$ 1.100.000 (100%) R$ 1.112.500 (100%)

(aqui houve distribuição de todo o lucro de R$ 18.000)

(aqui foram distribuídos somente R$ 5.500 do lucro de

R$ 18.000)

Ao persistir essa situação, o crescimento das necessidades de capital de giro será

cada vez mais elevado nos demais períodos, tornando-se em curto período insuficientes os

resultados operacionais para repor o valor real do capital de giro.

Nesse exemplo, a geração líquida de R$ 18.000 foi suficiente para alimentar esse

incremento de R$ 12.500, mas às vezes isso não ocorre.

Deve ficar claro a esta altura como um processo inflacionário pode aviltar o capital

de giro de uma empresa, demandando-se, para a manutenção da capacidade física de

produção e venda de uma empresa, aplicações adicionais crescentes e periódicas nos vários

itens circulantes.

26

Page 33: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

3ª Situação:

Os custos incrementam-se em taxas inferiores à inflação:

Ao contrário da situação anterior, se a taxa de inflação for superior ao aumento

verificado nos custos e despesas, e mantiver ainda a variação do preço de venda paralela à

inflação de 10% (conforme critério definido), a empresa poderá dispor de maior volume de

recursos disponíveis para outras aplicações.

Por exemplo, supondo-se que o custo das mercadorias eleve-se somente 5% no

período (em que a inflação atinge 10%) e acompanhando simplisticamente os demais

elementos da demonstração de resultados à taxa inflacionária verificada, o resultado líquido

legal da empresa ao final do período será igual aos R$ 18.000 calculados anteriormente. No

entanto, se atividade física da empresa se mantiver inalterada, os recursos de caixa ao final

do período excederão em R$ 12.500 o volume mínimo expresso em moeda de poder

aquisitivo do final do período (R$ 165.000), ou seja:

Saldo inicial de caixa R$ 150.000

Receita de vendas R$ 330.000

Reposição de estoques (100 un. x R$ 2.500 x 1.05) (R$ 262.500)

Pagamento de despesas operacionais (R$ 10.000)

Imposto de renda provisionado (R$ 12.000)

Saldo de caixa antes de distribuições e aplicações R$ 195.500

Sabendo-se que R$ 165.000 representam o valor mínimo exigido de caixa pela

empresa, em moeda ao final do período, verifica-se um excedente de R$ 30.500 (R$ 195.000

– R$ 165.000). Distribuindo-se integralmente o lucro líquido do período de R$ 18.000,

conforme calculado restarão ainda R$ 12.500, em excesso, no caixa, que representam o

decréscimo nos investimentos necessários em estoques.

27

Page 34: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

O excedente de R$ 12.500 está disponível à empresa para aplicações extra-

circulantes, ou pode ser retido para financiar eventuais expansões em sua atividade

comercial ou políticas mais recessivas nos preços de venda dos produtos.

28

Page 35: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

4 Investimento em Capital de Giro

É sabido que o ativo circulante constitui-se, para diversos segmentos empresariais,

no grupo patrimonial menos rentável. Os investimentos em capital de giro, conforme

comentado, não geram diretamente unidades físicas de produção e venda, meta final do

processo empresarial de obtenção de lucros. A manutenção de determinado volume de

recursos aplicado ao capital de giro visa, fundamentalmente, à sustentação de atividade

operacional de uma empresa.

O capital de giro é constituído, em grande parte, por ativos monetários, ou seja, por

valores depreciáveis perante a inflação. Tipicamente, investimentos em disponível e créditos

realizáveis a curto prazo produzem, no mínimo, perdas por redução da capacidade de

compra à empresa, as quais são determinadas em função do tempo em que os recursos

ficam expostos à inflação.

Dessa maneira, o mais rentável para qualquer empresa seria manter em seus ativos

circulantes valores mínimos ou exatamente iguais as suas necessidades operacionais. Por

exemplo, os valores disponíveis poderiam ser sempre iguais aos desembolsos de caixa

efetuados em diferentes momentos.

Da mesma forma, o valor investido no realizável a curto prazo seria reflexo do

volume e prazo ideais de venda e crédito, e os estoques deveriam conter a quantidade

estritamente necessária para a consecução da meta de produção e venda estabelecida pela

empresa.

Ressalta-se que os baixos níveis de ativo circulante determinam, juntamente com o

aumento na rentabilidade, uma elevação nos riscos da empresa. Evidentemente, valores

mínimos de capital de giro, ou exatamente iguais à demanda por esses recursos, podem

levar a empresa a um aperto em sua liquidez, no caso de eventuais atrasos nos

recebimentos, ou a sacrificar seu processo normal de produção e venda, na eventualidade

de falta de estoques.

29

Page 36: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Esse dilema risco-retorno é ilustrado, geralmente, com três posturas que uma

empresa pode assumir com relação a seus investimentos em ativo circulante: conservadora,

média e agressiva. A política conservadora levaria a empresa a diminuir seu risco mediante

aplicações em capital de giro maiores para um mesmo nível de produção e vendas. Assim,

seriam elevados os recursos aplicados em caixa para fazer frente a desembolsos não

previstos; em valores a receber, permitiria, com uma política de cobrança mais frouxa,

elevar as vendas; e em estoques, diminuiria o risco de eventuais atrasos no processo

produtivo ou a perda de vendas inesperadas e de maior volume, por falta de itens

estocados. As demais políticas poderiam ser adotadas (média e agressiva) prevêem

progressivas reduções nesses investimentos circulantes, o que determina elevação do risco

da empresa e também paralelo incremento em sua rentabilidade por adotar menos

participação relativa de itens menos rentáveis.

Exemplificando o raciocínio desenvolvido, considerem-se no Quadro 5 os três níveis

de aplicações em capital de giro. Note-se, para efeitos de melhor ilustrar o dilema risco-

retorno, que o ativo permanente assume um valor físico quaisquer que sejam os níveis de

participação do ativo circulante. O passivo da empresa, por sua vez, é estruturado de forma

proporcional ao total; das aplicações. Assim, o passivo circulante financia 20% do ativo total,

o exigível a longo prazo, 30% e o patrimônio líquido, 50%.

Supondo-se que o custo nominal de crédito de curto prazo seja 15% e o do exigível

a longo prazo de 20% a empresa apresentaria, para um lucro operacional bruto (antes dos

juros e do Imposto de Renda) de R$ 1.000.000, os seguintes resultados para cada um dos

níveis considerados (Quadro 6).

Baixo Médio Alto

Ativo circulanteAtivo permanenteTotalPassivo circulanteExigível a Longo PrazoPatrimônio Líquido

R$ 800.000R$ 1.200.000R$ 2.000.000

R$ 400.000R$ 600.000

R$ 1.000.000

R$ 1.100.000R$ 1.200.000R$ 2.300.000

R$ 460.000R$ 690.000

R$ 1.150.000

R$ 1.400.000R$ 1.200.000R$ 2.600.000

R$ 520.000R$ 780.000

R$ 1.300.000

Quadro 5 - Níveis de Investimento em Capital de Giro30

Page 37: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Observe na ilustração numérica considerada que, quanto maior for a participação

do capital de giro sobre o total do ativo, menor será a rentabilidade da empresa.

Ao adotar uma postura de maior risco, com menores aplicações no capital de giro,

a empresa consegue auferir retorno maior do que se adotasse uma política tradicional,

definida pelos altos investimentos em circulantes.

Baixa Média Alta

Lucro Operacional Bruto R$ 1.000.000 R$ 1.000.000 R$ 1.000.000

Despesas Financeiras:

Passivo Circulante

Exigível a Longo Prazo

15% x 400.000 =

(60.000)

20% x 600.000 =

(120.000)

15% x 460.000 =

(69.000)

20% x 690.000 =

(138.000)

15% x 520.000 =

(78.000)

20% x 780.000 =

(156.000)

Lucro antes do IR R$ 820.000 R$ 793.000 R$ 766.000

Imposto de Renda (40%) (R$ 328.000) (R$ 317.200) (R$ 306.400)

Lucro Líquido R$ 492.000 R$ 475.800 R$ 459.600

ROE 49,2% 41,4% 35,4%

Quadro 6 – Níveis de Investimento em Capital de Giro

Dessa maneira, o dilema risco-retorno da administração de capital de giro pode ser

enfocado em função da participação dos investimentos circulantes em relação ao ativo

total.

A definição do volume adequado (ótimo) de capital de giro deverá, ao mesmo

tempo, obedecidas as particularidades operacionais da empresa e de seu ambiente,

maximizar seu risco.

No entanto, a fixação desse volume ótimo depende de uma série de expectativas

futuras, cujos valores, são muitas vezes, de quantificação incerta.31

Page 38: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

No tratamento dispensado às várias situações de incerteza do capital de giro são

adotadas, atualmente, inúmeras técnicas de previsão, principalmente mediante o uso do

cálculo de probabilidades e modelos de simulação por computador. Por fugirem ao escopo

desta disciplina, esses instrumentos não serão abordados, de forma mais profunda.

32

Page 39: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

5 Financiamento do Capital de Giro

5.1 Comportamento das Taxas de Juros a Curto e a Longo Prazos

O custo de um crédito a longo prazo é mais caro que o de curto prazo. Essa

desigualdade é explicada, basicamente, pelo risco envolvido na duração do empréstimo.

Evidentemente, um credor assume maior risco ao comprometer a devolução de seu capital

emprestado por cinco anos, por exemplo, em vez de três meses. As menores condições de

previsibilidade da capacidade de pagamento do devedor impõem um custo adicional ao

empréstimo. O tomador de recursos de longo prazo, por sua vez obriga-se também a

remunerar expectativas de flutuações nas taxas de juros por um tempo maior, as quais

assumem geralmente um comportamento crescente em razão da incerteza associada à

duração do empréstimo. Ou seja, quanto maior for o prazo de concessão de um

empréstimo, maior será seu custo em razão do risco que o credor assume em não obter um

retorno condizente com os padrões de juros da época.

É interessante observar, em várias operações financeiras a introdução de taxas

flexíveis (por exemplo, nas operações de repasse de recursos externos, as taxas de juros

definidas pela Libor, apresentam validade para somente um curto período de tempo) e

taxas de juros com cláusulas de repactuação (por exemplo, lançamento de debêntures). Na

realidade, esses aspectos de pós-fixação dos juros, aliados a uma política mais rigorosa de

exigências de garantias nas operações de créditos, visam, em última análise, minimizar o

risco da definição da taxa de juros a longo prazo.

Em economias emergentes, ainda, o comportamento dos juros a curto prazo e

longo prazo, conforme descrito inicialmente, pode, muitas vezes, ser mantido. O que altera

essa situação, entretanto, são os eventuais desequilíbrios estruturais mais agudos ou

critérios mais rigorosos de ajustes das condições de uma economia. Exemplificando, pode-

se dizer que, quando as taxas de juros de um mercado, tanto a curto como a longo prazo,

estiverem excessivamente altas, ou quando as disponibilidades de recursos monetários para

empréstimos forem minimizadas (com reflexos normalmente mais acentuados nas

33

Page 40: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

operações de longo prazo), o custo do crédito a curto prazo poderá assumir níveis

superiores ao do longo prazo. É evidente, pelas razões expostas anteriormente, que essa

situação é tratada como um ciclo atípico e passageiro da economia, sendo improvável que

ela conviva, por prazos dilatados, com taxas de juros maiores nas operações de curta

duração.

Ao se analisar o custo recente do crédito no Brasil, por sua vez, nota-se,

principalmente nas décadas de 80 e 90, que os empréstimos de curto prazo foram em

grande parte, mais onerosos às empresas que os de longo prazo. Mesmo que as taxas de

juros a curto prazo tenham permanecido em níveis abaixo das de longo prazo, os encargos

adicionais costumeiramente definidos para as operações créditos circulantes determinam

em geral ônus maior à empresa que o custo mensurado nas captações de longo prazo.

De forma geral, podem-se enumerar as seguintes causas que determinaram o

desequilíbrio nos custos efetivos dos créditos a curto prazos, no Brasil, nessa época: a

escassez de poupança livre e conseqüentemente de fundos para empréstimos, o subsídio ao

crédito a longo prazo e a reciprocidade exigida pelos bancos em suas operações de curto

prazo.

A escassez de recursos para empréstimos deflagrada no país naqueles tempos

determinou, em diversas ocasiões, quantidade insuficiente de fundos de longo prazo em

relação às necessidades permanentes das empresas. Dentro desse panorama, o setor

empresarial passou, desde então, a se socorrer com as operações de curto prazo, elevando

sensivelmente a demanda por esses recursos e conseqüentemente, seu custo final.

Não obstante isso, a escassez de oferta de crédito de longo prazo não produziu

ampla e equivalente elevação em suas taxas em razão da política de subsídio adotada em

expressiva parte do mercado. É interessante notar, ainda, nítida tendência de segmentação

na oferta de crédito. Dados do mercado revelam que mais da metade do volume de crédito

a longo prazo no Brasil é administrado por instituições oficiais, ficando o dinheiro a curto

prazo sob o controle dos bancos privados. Cria-se, com isso, uma série de linhas de crédito a

34

Page 41: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

longo prazo subsidiadas (ou praticadas a taxas inferiores às livremente operadas no

mercado), as quais se justificam como forma de fomentar o desenvolvimento regional e

setorial e promover a capitalização da empresa nacional.

Permanecendo o crédito a curto prazo circunscrito basicamente às instituições

financeiras privadas, e com expansão normalmente controlada pelas autoridades, elevou-se

significativamente o nível de reciprocidade exigida pelos bancos. Mesmo com taxas de juros

controladas (e, teoricamente, inferiores às taxas de longo prazo), o custo a curto prazo,

quando acrescido dessas exigências adicionais, assume valor mais significativo e, muitas

vezes, superior ao de longo prazo.

Em suma, pode-se concluir afirmando que o nível mais baixo do custo do crédito a

curto prazo, em relação ao de longo prazo, constitui mera expectativa normal. Situação

inversa pode ocorrer, mas denota, por suas características atípicas, fenômeno cíclico de

duração limitada.

5.2 Dilema Risco-Retorno na Composição de Financiamento

As características do dilema risco-retorno, conforme descritas na seção anterior,

também podem ser observadas na definição de uma política de financiamento do capital

giro.

Se o custo do crédito a curto prazo for mais barato, os resultados de uma empresa

poderão elevar-se mediante maior participação de seu passivo circulante em relação às

outras fontes de financiamento. Na ilustração desenvolvida anteriormente, e identificada a

partir do Quadro 5, observa-se uma participação percentual fixa das várias fontes de

financiamento da empresa.

Se optássemos, no exemplo anterior, por uma maior participação do passivo

circulante, em detrimento do exigível a longo prazo, os resultados líquidos finais elevar-se-

35

Page 42: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

iam em função dos menores custos de curto prazo. Por exemplo, se o passivo circulante

passasse a representar 40%, no nível alto, do ativo total, (o exigível a longo prazo 10%, e o

patrimônio líquido inalterado em 50%), o lucro da empresa cresceria 3,4% e a rentabilidade

sobre o capital próprio, 35,4% (ver Quadro 6), seria elevada para 36,6%, ou seja:

Investimento alto em capital de giro

Lucro operacional R$ 1.000.000

Despesas financeiras:

Passivo circulante: 15% x R$ 1.040.000

Exigível a longo prazo: 20% x R$ 260.000

(R$ 156.000)

(R$ 52.000)

LAIR R$ 792.000

Imposto de Renda (40%) (R$ 316.800)

Lucro líquido R$ 475.200

Retorno sobre o patrimônio líquido

R$ 475.200 / R$ 1.300.00036,6%

Evolução do lucro líquido

(R$ 475.200 / R$ 459.600) – 13,4%

Dessa maneira, a perda de rentabilidade provocada por uma política tradicional nos

investimentos em capital de giro poderá ser minimizada com as alterações em sua estrutura

de financiamento. Não obstante isso, maior preferência por fundos de curto prazo (mais

baratos) na composição do passivo acarreta, paralelamente, a maior retorno, elevação do

risco da empresa.

Essa elevação do risco é determinada, fundamentalmente, pelas seguintes razões:

as taxas de juros a curto prazo são bem mais sensíveis às alterações conjunturais

do que as taxas de longo prazo. Na realidade, empresas com maior participação

de créditos de curto prazo apresentam maior risco pela natural falta de certeza

no conhecimento do comportamento futuro de seus custos. Enquanto um

empréstimo de longo prazo mantém o encargo de juros fixo por um período de

36

Page 43: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

tempo maior, um empréstimo de curto prazo, a ser renovado periodicamente,

absorve com maior freqüência as oscilações (normalmente crescentes) nas taxas

de juros;

uma política de financiamento com maior ênfase no crédito de curto prazo

determina, igualmente, maior dependência da empresa às disponibilidades de

crédito no mercado. Eventuais dificuldades de repor os recursos de curto prazo,

mesmo que temporárias, poderão abalar a liquidez da empresa e gerar péssimas

conseqüências na relação com seus credores.

Na realidade, os aspectos considerados envolvem o dilema maior na administração

do capital de giro: risco x retorno. Utilizando-se mais de créditos de curto prazo, sempre que

seus custos forem inferiores aos de longo prazo, a empresa poderá obter melhores

resultados operacionais. No entanto, pelos motivos expostos, o risco da empresa se elevará.

5.3 Abordagem para o financiamento do capital de giro

No dilema risco-retorno abordado, as decisões relativas ao financiamento do

capital de giro assumem grande importância. Nesse processo, o passivo deve ser composto

de forma que se mantenha, da melhor maneira possível, o equilíbrio entre o risco e o

retorno.

Antes de descrever as principais abordagens de financiamento, é importante

entender o conceito de capital de giro mediante sua classificação em permanente (ou fixo) e

sazonal (ou variável).

A parte fixa do capital circulante é determinada pela atividade normal da empresa,

e seu montante definido pelo nível mínimo de necessidades de recursos demandados pelo

ciclo operacional em determinado período. Por exemplo: se a empresa vende R$ 600 mil

todo mês a prazo e costuma receber (em média) em 45 dias, manterá necessariamente um

investimento mínimo determinado por seus negócios igual a R$ 900 mil em valores a

37

Page 44: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

receber; identicamente, o estoque mínimo necessário à manutenção das atividades normais

da empresa é um investimento fixo em capital de giro e assim por diante.

O capital de giro fixo constitui-se, em outras palavras, num investimento cíclico de

recursos em giro que se repete periodicamente, assumindo em conseqüência um caráter

permanente.

O capital de giro sazonal, por sua vez é determinado pelas variações temporárias

que ocorrem normalmente nos negócios de uma empresa. Por exemplo, maiores vendas em

determinados períodos do ano, ou grandes aquisições de estoques antes do período de

entressafra, produzem variações temporárias no ativo circulante; por isso, são denominados

sazonais ou variáveis. O comportamento do capital de giro permanente (cíclico) e sazonal

(variável) é representado graficamente na Figura 3.

Figura 3 – Capital de Giro Permanente e Sazonal

5.3.1 Abordagem pelo Equilíbrio Tradicional

De acordo com a abordagem representada na Figura 4, o ativo permanente e o

capital de giro permanente são financiados também por recursos de longo prazo (próprios

ou de terceiros). As necessidades sazonais de capital de giro, por sua vez, são cobertas por

exigibilidades de curto prazo. Por denotar uma forma de proteção pelo equilíbrio

38

Capital de giro sazonal (variável)

Capital de giro permanente (fixo)

Tempo

$

Page 45: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

(compensação) verificado entre os prazos de captação e aplicação de recursos, essa

abordagem é também conhecida como compensatória. Ou seja, ocorrendo oscilações no

capital de giro, essas necessidades temporárias deverão ser financiadas, à medida que

forem ocorrendo, por recursos de terceiros a curto prazo; e os investimentos de caráter

permanente serão cobertos por fundos de prazo compatível (longo prazo).

Um aspecto de risco dessa abordagem refere-se a uma possível retração (mesmo

que temporária) nas disponibilidades de empréstimos de curto prazo. Evidentemente,

ocorrendo alterações nas necessidades sazonais em níveis mais significativos, a empresa

poderá encontrar dificuldades de captar recursos circulantes no mercado, o que viria a

prejudicar sua liquidez. Mesmo que os obtenha, poderá ainda contratá-los a custos mais

elevados, o que onerará sua rentabilidade.

No entanto, ao adotar essa abordagem compensatória, a empresa não teria

recursos dispendiosos aplicados em itens sem nenhum retorno. Por exemplo, se financiasse

suas necessidades sazonais de fundo com captações de longo prazo, a empresa arcaria, em

alguns períodos com o custo desse dinheiro sem obter nenhum tipo de retorno.

Evidentemente, essa limitação poderia desaparecer mediante aplicações financeiras

temporárias no mercado, que devem render no mínimo o custo do dinheiro captado.

Figura 4 – Abordagem pelo Equilíbrio Tradicional

39

Ativo permanente

Capital de giro sazonal

Financiamento a longo prazo

Financiamento a curto prazo

$

Tempo

Page 46: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

5.3.2 Abordagem de Risco Mínimo

Figura 5 – Abordagem de Risco Mínimo

Uma postura de minimização do risco pode ser adotada por uma abordagem

conservadora para financeiro do capital de giro, conforme é apresentada na Figura 5.

Nessa composição mais extrema e de pouca aplicação prática, a empresa encontra-

se totalmente financiada por recursos permanentes (longo prazo), inclusive em suas

necessidades sazonais de fundos. O capital de giro líquido, nessa situação é igual ao capital

de giro (ativo circulante) da empresa.

O risco é colocado em níveis mínimos em razão de a empresa não necessitar utilizar

sua capacidade de capitação de recursos a curto prazo, a qual seria acionada somente para

atender a necessidades financeiras inesperadas (imprevistas).

O custo dessa abordagem seria bem elevado, em razão da preferência por créditos

a longo prazo (normalmente mais onerosos que os de curto prazo) e da ociosidade desses

recursos em vários períodos.

Uma preferência por essa composição poderia ocorrer, não obstante isso, em

certos momentos da economia, em que prevalecem, atipicamente, conforme comentado,

40

Ativo permanente

Capital de girosazonal

Capital de giropermanente Financiamento a longo prazo

$

Tempo

Page 47: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

maior custo ao crédito circulante e oportunidades de aplicações financeiras cujas

remunerações excedessem ao custo do capital. Nessas situações, a empresa minimizaria

seus custos de financiamento e auferiria, ao mesmo tempo, retornos compensadores nos

períodos em que seus recursos armazenados não apresentassem utilidade alguma.

5.3.3 Outras Abordagens de Financiamentos

Outras formas de composição do financiamento do capital de giro podem,

evidentemente, ser estabelecidas. As Figuras 6 e 7 ilustram duas possíveis abordagens, que

variam em função do nível de participação das fontes de financiamento.

A abordagem da Figura 6 ilustra uma empresa que financia todos os seus

investimentos permanentes (ativo permanente e capital de giro permanente) com recursos

a longo prazo, inclusive uma parte de suas necessidades financeiras sazonais, que é

demarcada pela linha tracejada.

Nessa situação, a empresa mantém seus créditos a curto prazo mais voltados para

o financiamento de suas necessidades sazonais mais extremas e mantém em outros

períodos recursos disponíveis para eventuais aplicações financeiras.

A abordagem descrita na Figura 7 revela maior participação de recursos de curto

prazo no financiamento do capital de giro, os quais cobrem todas as necessidades variáveis

e parte das necessidades permanentes.

Identicamente, a demarcação da parte permanente financiada por fundos

circulantes de terceiros é efetuada pela linha tracejada.

Comparativamente, essa abordagem apresenta maior risco que a anterior, pelo

maior esgotamento dos limites de crédito a curto prazo da empresa, e também menores

disponibilidades de aplicações financeiras.

41

Page 48: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Figura 6 – Outras Abordagens de Financiamentos (A)

Figura 7 – Outras Abordagens de Financiamentos (B)

Outras composições poderiam naturalmente ser estabelecidas. No entanto, a

definição da melhor estrutura para a empresa é determinada, conforme se comentou, por

suas características operacionais e de seu ambiente, e pelo grau de aversão ao risco de seus

administradores.

42

Ativo permanente

Capital de girosazonal

Capital de giropermanente Financiamento a longo prazo

Financiamento a curto prazo

$

Tempo

Ativo permanente

Capital de girosazonal

Financiamento a longo prazo

Financiamento a curto prazo

$

Tempo

Capital de giropermanente

Page 49: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Ao optar por maior participação de recursos de curto prazo, por serem mais

baratos, a empresa deverá estar ciente do risco que a composição trará e do nível de

flexibilidade em obter fundos adicionais no mercado toda vez que surgirem saídas

inesperadas do circulante. Uma posição mais conservadora poderá determinar menor risco

e afetar a rentabilidade da empresa.

43

Page 50: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

6 Necessidades de Investimento em Capital de Giro

A necessidade de investimento em capital de giro, ou simplesmente em giro, reflete

o volume líquido e recursos demandados pelo ciclo operacional da empresa, determinado

em função de suas políticas de compra, venda e estocagem. É essencialmente uma

necessidade de capital de longo prazo, que deve lastrear financeiramente os investimentos

cíclicos – que se repetem periodicamente – em cada capital de giro.

Pela abordagem da estrutura de equilíbrio financeiro, ficou demonstrado que o

capital circulante líquido adequado deve cobrir as necessidades mínimas (permanentes) de

ativos circulantes de uma empresa, e as necessidades sazonais (curto prazo) de recursos são

supridas por passivos circulantes de maturidade equivalente. Nesse contexto exposto, o

investimento em giro a ser mantido deve se equiparar, no mínimo, ao montante do ativo

circulante caracterizado como permanente, e esses recursos, visando à manutenção do

equilíbrio financeiro da empresa, devem ser lastreados por fundos de longo prazo.

Utilizando-se de fundos de curto prazo para financiar suas necessidades cíclicas (ou

permanentes) de capital circulante, a empresa, para manter sua posição de liquidez, assume

maior dependência pela renovação desses passivos, elevando seu risco financeiro.

Ilustrativamente, admita uma empresa com a seguinte estrutura patrimonial:

Ativo Circulante

Caixa

Valores a Receber

Estoques

Ativo Permanente

R$ 20.000

R$ 2.000

R$ 10.000

R$ 8.000

R$ 30.000

Passivo Circulante

Exigível a Longo Prazo

Patrimônio Líquido

R$ 10.000

R$ 20.000

R$ 20.000

Total R$ 50.000 Total R$ 50.000

Os resultados apresentados revelam um capital circulante líquido de R$ 10.000,

que representa 50% do total de investimento, em ativo circulante. Em outras palavras, dos 44

Page 51: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

R$ 40.000 de fontes permanentes de recursos (exigível a longo prazo e patrimônio líquido),

uma quarta parte foi direcionada para financiar o ativo circulante, constituindo-se no

denominado capital circulante líquido. Os R$ 30.000 restantes dos fundos de longo prazo

estão financiando o ativo permanente dito da empresa (prédios, máquinas, equipamentos

etc.)

Essas informações extraídas da empresa não revelam, contudo, se esse volume

apurado de capital circulante líquido é suficiente para financiar as necessidades cíclicas (de

natureza permanente) de capital de giro.

A empresa pode estar captando recursos de curto prazo no mercado, por exemplo,

para financiar seu investimento em estoque mínimo exigido por suas atividades

operacionais normais, assumindo rigorosa dependência financeira pela renovação desses

empréstimos. Financia, em outras palavras, necessidades permanentes em giro com fundos

passivos de curto prazo, elevando seu risco financeiro de suas atividades.

Pelo conceito tradicional apresentado do equilíbrio financeiro, a necessidade de

capital de giro líquido a ser mantido por uma empresa equivale a seu investimento de

caráter cíclico (permanente) no ativo circulante. Considere as seguintes informações

adicionais para determinado mês no exemplo ilustrativo em desenvolvimento:

Volume de vendas: R$ 40.000 / mês, sendo R$ 10.000 a prazo e o restante a

vista;

Prazo médio de cobrança: 18 dias;

Estoque mínimo para manter a empresa normalmente em operação: 15 dias de

vendas (a preço de custo);

Porcentagem do custo de produção em relação ao preço de venda: 40%;

Volume mínimo de caixa exigido pelas atividades da empresa: R$ 1.500. Esse

valor equivale a 10 dias de desembolsos de caixa previstos.

Pode ser apurado o seguinte montante de capital de sazonal e permanente:

45

Page 52: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Ativo CirculantePermanent

e

(R$)

Sazonal

(R$)

Total

(R$)

Caixa

Valores a receber (R$ 10.000 x 18/30)

Estoques (40% x R$ 40.000) x 15/30

Total

1.500

6.000

8.000

15.500

500

4.000

__ -__

4.500

2.000

10.000

8.000

20.000

Pelos resultados apurados, observa-se que, do total de R$ 20.000 investidos em

capital circulante, R$ 15.500 são de natureza permanente e devem ser financiados com

recursos de idêntica maturidade.

Os recursos de longo prazo aplicados em giro (CCL = R$ 10.000) são suficientes para

financiar, em condições de equilíbrio financeiro, essa necessidade permanente de giro. A

empresa, embora apresente capital circulante líquido positivo, revela uma posição de maior

risco (desequilíbrio financeiro), financiando investimentos cíclicos (permanentes) de giro

com passivos de curto prazo.

A manutenção de sua saúde financeira, nessas condições passa a depender mais

fortemente da renovação de suas dívidas circulantes com os credores. A Figura 7 retrata

graficamente essa estrutura da empresa, visando melhor compreensão da situação de

desequilíbrio comentada.

Observe na Figura 8 que a empresa necessita de, no mínimo, R$ 5.500 de recursos

de longo prazo para estabelecer seu equilíbrio financeiro. Esse montante permite que os

prazos de transformação em caixa de seus ativos de ajuste aos desembolsos exigidos por

seus passivos.

Somente o cálculo do capital circulante líquido não é suficiente para uma avaliação

mais completa da posição financeira de uma empresa, sendo exigida também a

determinação da necessidade de investimento em giro.

46

Page 53: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Ativo Circulante Sazonal 4.500

Passivo Circulante 10.000

Ativo Circulante Cíclico 15.500

Exigível a LP 20.000

Ativo Permanente 30.000

Patrimônio Líquido 20.000

Figura 8 – Financiamento de Investimentos Cíclicos por Passivos Circulantes

6.1 Capital Circulante Líquido (CCL) e Necessidade de Investimento

em Giro (NIG)

No desenvolvimento do exemplo ilustrativo, conclui-se que o total de

investimentos em giro é de R$ 20.000, dos quais uma parte (R$ 15.500) é representada por

ativos cíclicos (de natureza permanente) e outra (R$ 4.500) por ativos sazonais.

Os ativos de giro cíclico, conforme ainda descritos, são formados basicamente pelas

políticas de compra, venda e estocagem adotadas pela empresa na consecução de seus

negócios, sendo, por isso, admitidos como de caráter essencialmente operacional. Seus

valores apresentam uma relação direta e proporcional com o desempenho do ciclo

operacional.

O ativo de giro sazonal, por seu lado, pode eventualmente conter valores que não

sejam formados diretamente pelo ciclo operacional, como saldos de depósitos judiciais,

aplicações financeiras, etc., devendo ser destacado para efeito de apuração da necessidade

de investimento em giro (NIG) como não cíclico. São muitas vezes denominados de

financeiros ou erráticos.

47

Page 54: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Nessa identificação da necessidade de investimento em giro é importante destacar,

ainda, que parte do passivo circulante constitui-se também em fontes cíclicas de recursos.

Esses passivos, admitidos igualmente como operacionais, se renovam periodicamente,

tornando-se uma fonte permanente de recursos para financiamento do capital de giro.

Exemplos: montantes a pagar a fornecedores mantidos periodicamente pela empresa;

encargos sociais e impostos sobre vendas recolhidos em cada período; salários a pagar que

se renovam a cada período; etc.

Os demais passivos correntes não apresentam uma relação direta e proporcional

com o ciclo da empresa como os cíclicos, podendo também ser classificados como

financeiros (ou erráticos) e assim destacados do grupo do passivo circulante. Exemplos:

empréstimos e financiamentos, dividendos a pagar, imposto de renda a pagar, etc.

Admitindo-se simplisticamente que R$ 5.500 do passivo circulante da ilustração em

desenvolvimento sejam classificados como cíclicos, fontes operacionais periodicamente

renováveis de recursos, conclui-se que o equilíbrio financeiro da empresa se estabelece. A

empresa nessa situação passa a apresentar uma posição totalmente ajustada em termos de

maturidade entre seus ativos e passivos, financiando aplicações permanentes em giro e

bens fixos com montante exatamente igual de passivos da mesma natureza. Os ativos

sazonais são lastreados financeiramente, pelos valores considerados nos exemplo, com

exigibilidades também correntes.

Essa situação é descrita na Figura 9A. Observe nessa representação que o capital

circulante líquido da empresa alcança R$ 10.000, conforme calculado anteriormente. A

necessidade de investimento em giro, determinada pelos ativos e passivos de naturezas

cíclicas (permanentes), pela posição de equilíbrio apresentada, também atinge R$ 10.000

(ativos cíclicos – passivos cíclicos = R$ 15.500 – R$ 5.500), estando integralmente suprida

por fontes permanentes de recursos.

Ao se admitir, ao contrário, que somente R$ 3.000 do passivo circulante sejam de

natureza cíclica, e mantidas as demais condições da ilustração, identificam-se problemas na

48

Page 55: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

estrutura de equilíbrio financeiro da empresa. A Figura 9B demonstra graficamente essa

situação de existência de CCL positivo, porém apontando desajustes na estrutura financeira.

O capital circulante líquido continua fixado em R$ 10.000, porém a necessidade de

investimento em giro (NIG) eleva-se para R$ 12.500 (NIG = R$ 15.500 – R$ 3.000).

Nessas condições, o volume do financiamento de longo prazo disponível já não se

mostra suficiente para cobrir todas as necessidades permanentes de recursos, exigindo a

participação de passivos sazonais para financiar ativos tipicamente de longo prazo.

Quanto maior se apresenta o montante do passivo cíclico, menor se calcula a

necessidade de investimento em giro de uma empresa.

Ao se supor na ilustração que o passivo de natureza cíclica atinja R$ 8.500, a NIG se

reduz para R$ 7.000 (R$ 15.500 – R$ 8.500), sendo coberta com folga pelo CCL existente,

medida pela diferença entre o CCL de R$ 10.000 e a NIG de R$ 7.000.

Em condições de equilíbrio, pode elevar seus investimentos em giro em até esse

montante sem necessidade de recorrer a créditos externos. A Figura 9C retrata essa

situação.

Ativo Circulante Sazonal 4.500

Passivo Circulante Sazonal 4.500

Ativo Circulante Cíclico 15.500

Passivo Circulante Cíclico 5.500

Ativo Permanente 30.000

Exigível a LP 20.000

Patrimônio Líquido 20.000

Figura 9A – Financiamento com Ativos e Passivos Cíclicos

49

Page 56: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Ativo Circulante Sazonal 4.500

Passivo Circulante Sazonal 7.000

Ativo Circulante Cíclico 15.500

Passivo Circulante Cíclico 3.000

Ativo Permanente 30.000

Exigível a LP 20.000

Patrimônio Líquido 20.000

Figura 9B – Financiamento com Ativos e Passivos Cíclicos

Ativo Circulante Sazonal 4.500

Passivo Circulante Sazonal 1.500

Ativo Circulante Cíclico 15.500

Passivo Circulante Cíclico 8.500

Ativo Permanente 30.000

Exigível a LP 20.000

Patrimônio Líquido 20.000

Figura 9C – Financiamento com Ativos e Passivos Cíclicos

Em contexto de equilíbrio financeiro, tem-se o mesmo montante para o CCL e o

NIG. Valores maiores de CCL em relação às necessidades de aplicações em devem ser

procurados, revelando maior segurança financeira para a empresa, principalmente diante

de retrações não previstas em seus negócios.

50

Page 57: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Na situação inversa de maior necessidade de investimento em giro, tem-se uma

situação de desequilíbrio financeiro, em que os recursos passivos correntes encontram-se

financiando ativos de giro de giro cíclicos, exigindo uma preocupação constante com a

renovação desses passivos para se manter a liquidez da empresa.

6.2 Financiamento do Giro em Situação de Expansão do Volume de

Atividades

Em condições de expansão da atividade operacional da empresa, é fundamental

para a manutenção de seu equilíbrio financeiro a presença de um lastro financeiro

direcionado a suportar essas necessidades crescentes de recursos.

Efetivamente, toda empresa possui uma capacidade limitada, capaz de suportar

determinado nível de negócio. Ao exercer esse limite, surge naturalmente uma redução na

margem de segurança do capital de giro, tornando o equilíbrio financeiro bastante

vulnerável a eventuais oscilações dos negócios.

Toda expansão da atividade de uma empresa demanda normalmente maior volume

de investimento em giro, principalmente em duplicatas a receber e estoques. A NIG

calculada para esse ambiente é crescente, podendo ultrapassar inclusive o CCL da empresa.

Essa situação é denominada de overtrading, revelando-se a hipótese de o CCL existente não

ser suficiente para cobrir os investimentos adicionais necessários em giro.

Inúmeras situações podem evidenciar o overtrading. Por exemplo, uma empresa,

ao determinar forte expansão em seu nível de atividade com o intuito de reduzir sua

capacidade ociosa e promover uma economia de escala, corre o risco de apurar uma

necessidade de investimento em giro superior ao montante de CCL, evidenciando uma

situação de overtrading.

51

Page 58: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Outros casos, podem também levar uma empresa a promover um crescimento sem

sustentação, como ambientes de aumentos consecutivos de preços, reduções no capital

circulante líquido, políticas de grandes investimentos em bens fixos, crescimentos

superdimensionados, etc. Nessas condições de crescimento da atividade sem o adequado

suporte financeiro para cobrir as necessidades adicionais de investimento em giro, a

empresa é levada geralmente a se financiar com créditos onerosos de curto prazo, tornando

seus negócios dependentes da manutenção de seus passivos.

52

Page 59: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

PARTE II

FONTES DE FINANCIAMENTO

Parte II – Fontes de Financiamento

53

Page 60: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Fontes de Financiamento e Aplicações Financeiras a Curto Prazo no Brasil

As operações financeiras disponíveis para suprir as necessidades circulantes, ou

atender aos excessos monetários de caixa das empresas, conforme serão tratadas nesta

seção são desenvolvidas no mercado de crédito e no mercado monetário.

O mercado de crédito tem como objetivo suprir a demanda por recursos de curto

(e médio) prazo da economia, sendo constituído por todas as instituições financeiras

bancárias ou monetárias (bancos comerciais). Do ponto de vista empresarial de

atendimento de suas necessidades circulantes, as modalidades básicas de crédito desse

segmento concentram-se no desconto de notas promissórias (identificadas como títulos –

efeitos de comércio – representativos de uma dívida assumida perante a instituição

financeira) e de duplicatas (documento representativo de um crédito empresarial). Por

assumirem o mesmo tratamento do cálculo de seus custos, essas operações serão tratadas

como similares nesta seção.

Já no mercado monetário, onde são realizadas operações que envolvem títulos e

valores mobiliários de renda fixa, as empresas dispõem de condições para aplicar seus

eventuais excessos de liquidez com vista em auferir determinada remuneração financeira.

As principais operações desse segmento assim como os créditos de determinação do custo e

da rentabilidade produzidos nas negociações de compra e venda de títulos também são

desenvolvidos nesta seção.

Destaque, também, é atribuído à operação de fomento comercial (factoring), que

se constitui num suporte financeiro importante principalmente para as pequenas e médias

empresas.

54

Page 61: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

7 Operações de Desconto

7.1 Operações de Desconto

O desconto equivale a negociação de um título representativo de um crédito em

alguma data anterior a de seu vencimento. Ou seja, é uma forma de antecipar o

recebimento de um crédito mediante a cessão de seus direitos a um mutuante. Por

exemplo, se um credor de uma nota promissória, cujo vencimento se dará em alguma data

futura, necessitar do dinheiro antes, poderá negociá-la, isto é, receber a vista o valor de seu

crédito mediante o pagamento de alguma compensação financeira. Um empréstimo a curto

prazo, porém, conforme praticado normalmente pelos bancos comerciais, mediante a

emissão de uma nota promissória, geralmente também é considerado como desconto, dada

a existência de um crédito cujo vencimento ocorrerá em determinada data posterior a sua

negociação.

Pode-se compreender a remuneração devida pela antecipação do crédito mediante

critérios: os encargos financeiros são adicionados ao capital e pagos posteriormente ou são

deduzidos em sua liberação.

No primeiro caso, típico de operações passivas de prazos mais longos, tomador do

empréstimo recebe exatamente o valor do empréstimo solicitado, os juros devidos são

capitalizados (linear ou exponencialmente) e o montante assim gerado é pago na data

futura avançada. Mais especificamente, o que caracteriza essa modalidade de remuneração

de crédito é que os encargos financeiros não são pagos antecipadamente (no ato da

liberação do empréstimo); ao contrário, são devidos, juntamente com o principal, em

alguma data futura. Esse critério de remuneração é definido como postecipado e apresenta

pouca aplicação prática em operações de curto prazo.

A segunda modalidade de remuneração especifica justamente o inverso do

enunciado anterior; ou seja, os juros são deduzidos (e não acrescidos) do valor nominal do

crédito no momento de sua concessão (liberação). O valor do crédito negociado, nesse caso,

55

Page 62: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

já se constitui no próprio montante da operação, e os juros são pagos antecipadamente, ou

seja, antes do uso efetivo do capital empenhado. Dessa maneira, o valor liberado é

evidentemente inferior ao valor contratado do crédito; essa diferença, conforme observado

representa o custo da operação.

(Na realidade esse “pagamento antecipado” é ilusório. Existe, na verdade, um

recebimento menor, que corresponde ao capital tomado emprestado, e um encargo que

será pago no vencimento quando se liquidar a dívida total assumida.)

Essa forma descrita de remuneração de desconto, bastante adotada nas operações

de crédito (bancárias ou comerciais) de curto prazo é definida como desconto bancário ou

comercial.

Por exemplo, uma empresa, ao realizar uma operação de venda a prazo, emite um

comprovante da existência desse crédito, normalmente representado por uma duplicata, no

qual consta, entre outras informações, o valor a receber e a data de seu vencimento. Ao

necessitar desses recursos ainda não realizados financeiramente em qualquer época

anterior à do vencimento, poderá antecipar o recebimento do título descontando-o em

algum banco comercial. Evidentemente, o valor que a instituição liberará à empresa é

inferior ao do resgate, em função dos encargos financeiros.

O processo de desconto, assim como o das demais operações de curto e curtíssimo

prazo, geralmente é desenvolvido na prática segundo o critério de juros simples. No

entanto, sempre no cálculo do custo efetivo dessas operações será atribuída preferência ao

critério de juros compostos, principalmente, pela mensuração da taxa interna de retorno.

7.2 Desconto Bancário/Comercial

Podem ser adotadas duas metodologias de cálculo dos encargos antecipados de

uma operação de desconto: juros “por dentro” e juros “por fora”.

56

Page 63: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

O primeiro critério de desconto, apesar de praticamente inexistir em termos de

aplicação prática, representa rigorosamente o conceito de juros, sendo mensurado

racionalmente com base no capital efetivamente empenhado numa operação.

A operação de desconto “por fora” (desconto bancário/comercial), por sua vez, é

amplamente utilizada nas operações financeiras de curto prazo. Contrariamente ao crédito

anterior, a taxa de desconto incide sobre o montante da operação (valor a pagar), e não

sobre o capital liberado, determinando um custo efetivo maior.

O valor do desconto “por fora” é obtido pela multiplicação entre o valor nominal do

título (valor de resgate ou montante), a taxa de juro (desconto) adotada na operação e o

prazo de antecipação em que o título é descontado, isto é:

DF = N x d x nonde:

DF = valor (em R$) do desconto “por fora” (bancário ou comercial)

N = valor (em R$) nominal da operação (valor de resgate na data de vencimento)

d = taxa de desconto “por fora” aplicada na operação

n = prazo de antecipação.

Ilustrativamente, suponha uma operação de desconto bancário de R$ 100.000

realizada por uma empresa pelo prazo de três meses. A taxa de juros cobrada pela

instituição financeira é de 2,5% ao mês, e os valores dos encargos são descontados no ato

da operação.

Aplicando as duas metodologias de cálculo do desconto ao exemplo ilustrativo,

observa-se que o desconto racional (“por dentro”) envolve maior volume de recursos

liberados, destacando-se como o de menor custo. Nessa modalidade, de rara aplicação

prática, os encargos são calculados sobre o valor liberado da operação, e não sobre o seu

montante.

57

Page 64: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Esquematicamente, pode-se representar a aplicação das duas modalidades de

desconto bancário da seguinte forma:

58

Page 65: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

a) Desconto Bancário/Comercial:

“por dentro” (racional):

R$ 100.000,00

Liberação do empréstimo Resgate do empréstimo

“por fora”:

R$ 92.500,00 R$ 100.000,00

Liberação do empréstimo Resgate do empréstimo

Pelo desconto bancário “por fora”, a empresa é creditada em somente R$

92.500,00 e os juros são descontados do capital e antecipadamente apurados pelo valor do

resgate empréstimo, isto é:

Valor do Desconto (DF) = R$ 100.000,00 x 0,025 x 3 = R$ 7.500,00

Essa característica de cálculo dos juros faz com que a taxa efetiva da operação seja

maior no desconto bancário “por fora”, a qual atinge 8,1% no trimestre (2,6% a.m.),

comparativamente aos 7,5% a.t. (2,4% a.m.) obtidos na modalidade “por dentro”, ou seja:

b) Custo efetivo:

Desconto “por fora”:

59

Page 66: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Desconto “por dentro”:

Note que o custo efetivo da operação é calculado de maneira correta pelo capital

líquido liberado pelo credor, ou seja, relacionando-se os encargos financeiros com o capital

efetivamente empenhado no empréstimo.

Evidentemente, quanto maior se apresentar o prazo do desconto bancário “por

fora”, mais elevadas serão as taxas efetivas e menores os valores liberados ao tomador do

empréstimo. Por exemplo, se o prazo for estendido para quatro meses, o valor do desconto

“por fora” atingirá R$ 10.000 (DF = R$ 100.000 x 0,025 x 4), o capital liberado reduz-se para

R$ 90.000 (R$ 100.000 – R$ 10.000), e a taxa efetiva da operação eleva-se para 11% a.q.

(2,7% a.m.).

Em suma, por serem os encargos financeiros pagos antecipadamente e incidentes

sobre o montante, a taxa de juros efetiva obtida da modalidade de desconto bancário “por

fora” é sempre maior que aquela aparentemente contratada na operação. Representa, na

realidade, um juro sobre o montante (valor de resgate) do empréstimo, e seu valor é cada

vez mais elevado quanto maior for o prazo da operação.

O custo efetivo de uma operação de desconto bancário pode ser obtido, de forma

direta, por meio da seguinte fórmula:

i = d x n

1 – (d x n)

60

Page 67: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Essa identidade facilita bastante a determinação da taxa de juros, a qual,

prescindido dos diversos valores da operação, produz diretamente o resultado efetivo com

base na taxa de desconto “por fora”.

Conforme se comentou, quanto maior for prazo (n) maior será a taxa de juros (i).

Aplicando a identidade no exemplo ilustrativo anterior, obtém-se, para uma taxa de

desconto (d) de 2,5% ao mês e um prazo (n) de três meses, o custo efetivo de 8,1% ao

trimestre, ou seja:

Que equivale, em termos de juros compostos, a 2,6% a.m.

Adicionalmente, considere o seguinte exemplo. Uma duplicata no valor de R$

40.000 é descontada, em determinado banco comercial, 132 dias antes de seu vencimento.

Admitindo que a taxa cobrada para o desconto “por fora” seja de 4% a.m., o custo

efetivo da operação, de acordo com a fórmula enunciada, eleva-se para 4,5% ao mês, ou

seja:

Equivalente ao mês:

61

Page 68: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Os principais valores de operação, conforme usualmente apurados pelas

instituições financeiras, são os seguintes:

Valor de desconto (DF) = R$ 40.000 x (0,04/30) x 132 = R$ 7.040

Valor líquido creditado à empresa = R$ 40.000 – R$ 7.040 = R$ 32.960

Conseqüentemente, o custo efetivo da operação obtido racionalmente do valor

empenhado (valor líquido do crédito concebido pelo banco) atinge os 4,5% a.m.

demonstrados, isto é:

7.3 Inclusão do IOF nas operações de desconto

Além da cobrança de uma taxa de juros, as operações bancárias de desconto

geralmente incluem também encargos provenientes do Imposto sobre Operações

Financeiras (IOF), cujo pagamento é de responsabilidade do financiado.

Nesse caso, a instituição responsabiliza-se somente pelo seu recolhimento ao

erário público.

Dessa maneira, supondo-se que o IOF atinja, para uma operação de desconto

bancário, a alíquota de 0,0041% ao dia (0,123% ao mês), calculada antecipadamente sobre o

valor nominal do título, obtém-se, na ilustração anterior de desconto de uma duplicata de

R$ 40.000, com 132 dias de antecipação e juros de 4% a.m., os resultados seguintes:

62

Page 69: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Valor nominal do título R$ 40.000,00

(-)R$ 7.040,00

(-)R$ 216,50

Valor líquido liberado R$ 32.743,50

Por assumir encargos maiores, o custo efetivo da operação, pelo critério mais

rigoroso de juros compostos, eleva-se para 4,7% a.m., isto é:

Calculando-se a equivalente composta mensal:

Incluindo o IOF na fórmula de cálculo da taxa efetiva de juros com base na taxa de

desconto “por fora”, obtém-se:

Uma vez mais, é ressaltado que a taxa efetiva de juros é calculada sobre o valor

realmente empenhado pelo credor (R$ 32.743,50), e não sobre o montante (valor nominal)

da dívida. Na realidade, o desconto “por fora” não representa a taxa de juros, em sua

expressão mais rigorosa; constitui uma metodologia de cálculos de encargos financeiros, a

qual produz custos efetivos sempre mais elevados que as taxas aparentemente

consideradas na operação.

63

Page 70: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

7.4 Reciprocidade bancária

Nas operações de empréstimos a curto prazo, os bancos costumam elevar a

rentabilidade de suas operações (e, conseqüentemente, o custo para o financiado)

mediante certas exigências de reciprocidade. Essa forma indireta de encargo é mais

fortemente adotada em períodos de prevalência de políticas monetárias mais restritivas,

quando o crédito assume um caráter mais seletivo. Evidentemente, a escassez de recursos

para aplicações a curto prazo leva normalmente as instituições a impor certas condições

financeiras às empresas solicitantes de crédito, o que vem ocasionando um incremento no

custo efetivo da operação.

Uma forma bastante usual de reciprocidade exigida pelos bancos é a retenção, em

conta corrente, de determinado percentual do crédito concedido, sob a forma de saldo

médio. Na realidade, esses valores não produzem rendimento algum para o financiado e

permanecem indisponíveis nas instituições normalmente pelo prazo de vigência da

operação de crédito, representando um adiantamento do resgate do título.

Utilizando a ilustração anterior, suponha que, no desconto de R$ 40.000 de uma

duplicata, 10% permanecem retidos na instituição bancária (a título de saldo médio), pelo

prazo de operação (132 dias). Nessa situação, os resultados serão os seguintes:

Valor nominal do título R$ 40.000,00

(-)R$ 7.040,00

(-) R$ 216,50

(-) saldo médio exigido: 10% 40.000 R$ 4.000,00

Valor líquido liberado R$ 28.743,50

O custo efetivo operação eleva-se, dessa forma, para 5,2% ao mês:

64

Page 71: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Note que a reciprocidade exigida elevou custo de operação de 4,7% a.m., calculado

antes da formação do saldo médio exigido, para 5,2% a.m. Volumes maiores de

reciprocidade bancária determinam menores disponibilidades de recursos aos tomadores

de empréstimos e, conseqüentemente, maiores custos efetivos. O nível exigido de saldo

varia de uma instituição financeira para outra, assumindo percentuais mais elevados

principalmente em períodos de baixa liquidez financeira do mercado.

7.5 Desconto de Borderô de Duplicatas

Os créditos de apuração do custo efetivo de uma operação de crédito a curto

prazo, conforme desenvolvidos anteriormente, levam em consideração o processo de

desconto de um único título. No entanto, é comum uma empresa efetuar o desconto de

vários títulos, compondo o que se chama de borderô de duplicatas.

Suponha-se que uma empresa leve a um banco para desconto as seguintes

duplicatas:

Duplicata Valor Nominal (R$)Prazo de Desconto

(antecipação)

A 30.000 2 meses

B 25.000 2 meses

C 45.000 3 meses

D 10.000 4 meses

E 20.000 4 meses

F 20.000 5 meses

Total 150.000

65

Page 72: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Diante desse borderô, admita-se que a instituição bancária tenha creditado na

conta da empresa a importância líquida de R$ 115.000.

Pelo enunciado da ilustração, obtêm-se, assim, as seguintes informações:

Valor total das duplicatas apresentadas para desconto (N) R$ 150.000

Valor líquido liberado ao financiado (C) R$ 115.000

Valor do desconto cobrado no ato pelo Banco

(D = R$ 150.000 – R$ 115.000)(R$ 35.000)

66

Page 73: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Entrada de Recursos

Valor Líquido Liberado = 115.000

0 2 3 4 5

meses

Saída de Recursos(Resgate de Duplicatas)

30.00025.00055.000

45.000 10.00020.00030.000

20.000

A metodologia de cálculo do custo efetivo dessa operação é similar à apresentada

para o desconto que envolve um único título. A diferença básica refere-se à existência de

vários títulos com diferentes datas de vencimento e, por conseguinte, diferentes prazos de

antecipação.

Essa característica determina uma dificuldade adicional de determinação do prazo

representativo da operação (e conseqüente de seu custo efetivo), a qual pode ser

solucionada de acordo com os critérios expostos a seguir.

Um critério simples e bem difundido no mercado prevê inicialmente o cálculo do

período médio ponderado da carteira de duplicatas. Essa variável é obtida pelo somatório

do valor de cada título ponderado por seu respectivo prazo de desconto, ou seja:

onde:

n = prazo médio ponderado da carteira de duplicatas

Nj = Valor nominal de cada duplicata

nj = prazo de desconto (antecipação) de cada duplicata.

Substituindo-se os valores do exemplo ilustrativo, obtém-se:67

Page 74: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Aplicando, a seguir, o cálculo do custo efetivo de juros com base no prazo médio da

operação, chega-se ao seguinte resultado:

Logo, a taxa equivalente mensal atinge:

i = (1,304)1/3,1 – 1 = 8,9% a.m.

Dessa forma, 8,9% a.m. representa a taxa efetiva de juros que iguala, para um

prazo médio ponderado de 3,1 meses (representativo de todas as duplicatas), a entrada

(valor liberado de R$ 115.000) com as várias saídas de caixa (valor nominal das duplicatas

em diferentes datas).

7.6 Influência do prazo sobre o custo do crédito

Um dos aspectos do desconto bancário que merece maior atenção é a influência

que o prazo de antecipação exerce sobre o custo efetivo acumulado do crédito.

Efetivamente, quanto maior for o prazo de desconto, maior também será seu custo. Essa

particularidade, conforme será desenvolvida a seguir, pode determinar preferência por

68

Page 75: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

parte das empresas por empréstimos de menor duração, mesmo com o risco de não se

conseguir renová-los com maior freqüência e à mesma taxa de desconto inicialmente

contratada.

Para melhor entendimento, suponha que um empréstimo de R$ 50.000 seja

concedido pelo prazo de quatro meses a uma taxa de desconto mensal de 3,5%. Nessa

situação, a empresa paga no ato um montante de juros (em verdade, é descontado do

principal liberado) de R$ 7.000 (DF = R$ 50.000 x 0,035 x 4), sendo creditada somente R$

43.000.

O custo efetivo mensal da operação atinge, em conseqüência, 3,8%, perfazendo um

total acumulado de 16,3% ao quadrimestre, ou 57,2% ao ano pelo regime de juros

compostos. Em outras palavras, se a operação financeira se repetir três vezes num ano

(renovar o empréstimo a cada quatro meses), o custo anual efetivo será de 57,2%.

Por outro lado, considere que a mesma operação tenha sido contratada pelo prazo

de dois meses. Dessa maneira, o desconto e o valor líquido liberado passam,

respectivamente, para R$ 3.500 (DF = R$ 50.000 x 0,035 x 2) e R$ 46.000. O custo efetivo,

identicamente, atinge 3,7% ao mês, acumulando 15,6% ao quadrimestre, ou 54,5% ao ano.

Em conclusão, o prazo de uma operação de desconto exerce significativa influência

sobre seu custo efetivo. Em princípio, é mais atraente para empresa financiada endivida-se,

mediante operações de desconto, por prazos mais curtos e procurar renovar seus

empréstimos o maior número de vezes no ano. No exemplo apresentado, demonstrou-se

ser mais barato o empréstimo por dois meses, mesmo tendo a obrigatoriedade de renová-lo

seis vezes durante o ano. Implementando essa decisão, o custo efetivo anual de reduz-se de

57,2% para 54,5%.

No entanto, conforme assinalado, a política de barateamento dos custos

financeiros mediante empréstimos de prazos menores traz dois importantes riscos à

atividade da empresa. O primeiro refere-se à possibilidade de a empresa não conseguir

renovar seus empréstimos várias vezes ao ano. Políticas de controle restritivo dos meios de

69

Page 76: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

pagamento estão sempre presentes em nosso ambiente econômico. Uma dificuldade de

acesso mais constante ao crédito pode levar a que uma empresa conviva com índices

insatisfatórios de liquidez, e gerar ainda, em situações mais extremas, sérios problemas

financeiros. Da mesma forma, a expectativa de uma queda nos custos pode ser ainda

anulada por variações que venham a ocorrer nas taxas de descontos do mercado.

Renovando com maior freqüência seus empréstimos, a empresa estará, evidentemente,

mais sujeita a absorver maiores juros, os quais poderão elevar de forma mais significativa

seus custos financeiros.

Em suma, na definição do prazo do empréstimo, sempre que este constitua uma

variável de controle da empresa, devem ser levados em consideração os riscos envolvidos

na operação de curto prazo, tanto no que se refere a seus custos como na oferta de

recursos no mercado.

70

Page 77: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

8 Mercado Aberto

Basicamente, as operações de mercado aberto funcionam como um instrumento

de política monetária no sentido de melhor regular o fluxo monetário de uma economia e

influenciar os níveis das taxas de juros a curto prazo.

De forma inicial, essas operações são fundamentadas pela compra e venda de

títulos de dívida pública no mercado, processadas pelo Banco Central na qualidade de

agente monetário do governo. O mecanismo de funcionamento deste instrumento de

política econômica é relativamente simples. Com o intuito, por exemplo, de uma expansão

no volume dos meios de pagamento disponíveis na economia, de forma a elevar a liquidez e

reduzir as taxas de juros, as autoridades monetárias intervêm no mercado, resgatando

(adquirindo) consideráveis volumes de títulos em poder dos agentes econômicas. De modo

contrário, ao desejar limitar a oferta monetária (reduzir a liquidez do mercado) e, ao mesmo

tempo, elevar as taxas de juros vigentes a curto prazo, a postura assumida é de emitir e

colocar em circulação novos títulos da dívida pública.

No âmbito da política monetária, a grande contribuição das operações de mercado

aberto centra-se em seu dinamismo e flexibilidade, podendo com isso produzir, de forma

mais eficiente e rápida, os resultados almejados. Isso se explica, principalmente, pelo

caráter de controle mais permanente da liquidez do sistema financeiro, em comparação

com outros instrumentos de política monetária (redesconto bancário, depósitos

compulsórios, controles diretos sobre o volume e o preço de crédito, etc.), os quais não se

adaptam às variações diárias que ocorrem normalmente nas reservas monetárias da

economia.

Assim, os principais objetivos que podem ser alcançados pelas operações de

mercado aberto são:

o controle diário do volume de oferta de moeda;

a manipulação das taxas de juros a curto prazo (não só em decorrência do

volume de oferta da moeda, como também das taxas pagas pelas autoridades

71

Page 78: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

monetárias em suas operações com os títulos do tesouro nacional negociados);

às instituições financeiras a realização de aplicações, a curto e a curtíssimo

prazo, de suas disponibilidades monetárias ociosas;

a criação de liquidez para os títulos públicos.

8.1 Mercado Primário e Mercado Secundário

As operações de mercado aberto, conforme foram comentadas processam-se

inicialmente pela colocação (ou resgate) de títulos da dívida pública, permitindo que as

autoridades monetárias executem a política de expansão ou retração dos meios de

pagamento da economia. As colocações desses títulos para os investidores, quando

realizadas pela primeira vez, constituem o denominado mercado primário. Em outras

palavras, o mercado primário é representado pela negociação direta (e primária) entre o

emitente dos títulos (governo federal) e seus adquirentes (instituições financeiras).

Diante dos objetivos retratados do mercado aberto, o mercado primário contribui

para realização dos dois primeiros, ou seja, o Banco Central, negociando diretamente com

os agentes econômicos esses ativos, no volume dos meios de pagamento e no custo do

crédito a curto prazo.

As colocações primárias dos títulos públicos costumam desenvolver-se por meio de

leilões periódicos, coordenados pelo Banco Central, nos quais estabelecidas a priori as

principais características da oferta, como quantidade de títulos colocados em negociação,

etc.

No denominado mercado secundário, verifica-se a transferência (ou renegociação)

para terceiros dos títulos adquiridos no mercado primário, no qual não ocorre a negociação

direta entre o órgão público emitente do título e os aplicadores.

Em realidade, o mercado secundário constitui a principal fonte de financiamento

das carteiras de aplicações formadas pelas instituições financeiras. Por exemplo, se uma

72

Page 79: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

instituição adquire um título público com resgate em 182 dias a uma taxa de desconto de

20%, procurará financiar essa posição com a revenda do título a uma taxa naturalmente

inferior à que obteve de desconto (deságio) em sua aplicação. Como o financiamento ocorre

naturalmente a prazos bem curtos (inferiores ao prazo de resgate do título negociado), a

instituição financeira, passado o tempo de colocação pactuado com o aplicador, deverá

recomprar o título à taxa de desconto contratada quando de sua colocação. Posteriormente

à recompra do título do aplicador (poupador que, ao mesmo tempo, obtém algum

rendimento em suas disponibilidades ociosas e financia também a carteira de aplicações da

instituição financeira), inicia-se novamente o processo de revenda do título, o qual se

repetirá até a data de vencimento (resgate) nele definida.

Deve-se acrescentar, ainda, que no mercado primário podem ser negociados títulos

da dívida pública originados dos estoques do Banco Central, e que essas operações são

praticadas pelas instituições financeiras legalmente credenciadas, denominadas dealers.

Esses dealers, na realidade, agem no mercado de títulos de curto prazo em nome do Banco

Central, adquirindo-os e repassando-os posteriormente ao mercado secundário.

8.2 Taxa Over de Juros – Juros por Dias Úteis

A denominada taxa over de juros apresenta-se comumente bastante sensível à

evolução da conjuntura do país, revelando freqüentes variações em seus percentuais.

Basicamente, são identificadas as seguintes importantes características nas taxas over:

a taxa de referência over no mercado é normalmente mensal, e os juros são

apropriados segundo o regime de juros simples para os dias previstos na

operação financeira;

os juros somente são considerados nos dias úteis. Mesmo que a taxa over esteja

definida para um mês, sua incidência ocorre unicamente em dias considerados

úteis (basicamente, dias de funcionamento do mercado financeiro).

Diversas taxas de curto prazo são expressas no mercado segundo critério de taxa

over, requerendo sua conversão em taxa efetiva para uma melhor decisão. Outras vezes,

73

Page 80: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

ainda, é apresentada determinada taxa over como equivalente a uma taxa efetiva,

sugerindo dois percentuais de juros na mesma operação financeira. Dessa maneira, é

importante conhecer-se a forma de conversão de uma taxa over em taxa efetiva, e vice-

versa.

8.2.1 Over – Efetiva

O cálculo da taxa efetiva é processado simplesmente pela divisão as taxa over

mensal por 30 (número de dias corridos do mês), seguida de sua respectiva capitalização

composta pelo número de dias úteis do período

Por exemplo, admita que um investidor esteja avaliando determinada aplicação

que paga 2,7% a.m. de taxa over. No período a que se refere essa taxa, são previstos 20 dias

úteis. O cálculo da taxa efetiva dessa operação desenvolve-se da seguinte forma:

Taxa por dia corrido = 2,7%/30 = 0,09% ao dia (corrido)

Por ser referenciada no regime linear, a descapitalização da taxa over segue a

proporcionalidade dos juros simples.

Capitalização pelos dias úteis:

Taxa Efetiva (i) = (1 + 0,0009)20 – 1 = 1,82% ao mês

Pode se concluir que a taxa over de 2,7% a.m., para um intervalo de 20 dias úteis, é

equivalente (produz os mesmos resultados financeiros) a uma taxa efetiva de juros de 1,82%

a.m.

8.2.2 Efetiva – Over

74

Page 81: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Um procedimento inverso envolve a conversão de uma taxa efetiva de juros em

taxa over. Por exemplo, o rendimento mensal de 2,2% de um certificado de depósito

bancário (CDB) equivale, para um mês com 22 dias úteis, a um taxa over de 2,97% a.m., isto

é:

Descapitalização da Taxa Efetiva por dia útil:

por dia útil

Conversão em Taxa Over:

Taxa Over = 0,099% x 30 dias = 2,97% a.m.

8.3 Taxa Over Efetiva Anual

As taxas over descritas estão todas referenciadas em bases mensais. Essas taxas, a

partir de 1998, por determinação do Banco Central, passaram também a ser apuradas em

padrões efetivos anuais. O intuito da autoridade monetária com a medida é o de difundir no

mercado uma visão de longo prazo em suas operações.

O Banco Central fixou, para cada ano, 252 dias úteis. Por exemplo, ao publicar uma

taxa over efetiva anual de juros de 13,0%, a taxa por dia útil é apurada da seguinte forma:

a.du. (ao dia útil)

A taxa over nominal, calculada em bases mensais atinge:

75

Page 82: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

0,0485% x 30 dias = 1,455% a.m.o. (ao mês over)

Por outro lado, a taxa efetiva do mês é:

(1,000485)Du – 1

Admitindo que existam 22 dias úteis no mês, tem-se a taxa over mensal efetiva de:

(1,000485)22 – 1 = 1,072% a.m.o. (efetiva)

No exemplo ilustrativo tem-se as seguintes taxas:

Taxa over efetiva anual: 13,0% a.a.o. (ao ano over)

Taxa over nominal mensal: 1,455% a.m.o.

Taxa over efetiva mensal: 1,072% a.m.o.

Taxa over efetiva por dia útil: 0,0485% a.du.

76

Page 83: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

9 Mercado Interfinanceiro e Operações Hot Money

O Mercado Interfinanceiro é privativo de instituições financeiras que atuam, em

verdade, como intermediadoras de compradores e vendedores de dinheiro. As operações

realizadas nesse mercado são lastreadas em títulos de emissão privada. Normalmente, as

taxas negociadas no interfinanceiro não sofrem intervenções oficiais diretas, refletindo, de

forma mais isenta, as expectativas do mercado em relação ao comportamento das taxas de

juros da economia. Essas taxas são definidas diariamente em função dos negócios realizados

e tem ampla divulgação pela imprensa.

As operações do interfinanceiro são lastreadas pelo Certificado de Depósitos

Interfinanceiro (CDI) emitido pelas instituições que atuam nesse segmento do mercado

financeiro.

Basicamente, as operações do mercado interfinanceiro são realizadas por dia, e é

estabelecida a taxa over como padrão de juros do CDI. Mesmo que eventualmente ocorram

operações com prazos maiores, a taxa de juros é geralmente computada com base na

cotação diária do mercado.

São essas taxas de CDI over, ainda, que determinam a taxa de juros-base para

operações de empréstimos de curtíssimo prazo, conhecidas por hot money. Geralmente,

essas operações costumam cobrar a taxa média do dia de CDI over mais um spread, que

representa a remuneração da instituição financeira que promove a intermediação do

empréstimo.

Ilustrativamente, admita-se que uma instituição financeira esteja oferecendo uma

linha de crédito hot money, no valor de R$ 150.000, por cinco dias corridos. Sabe-se que

nesse período existem somente três dias úteis. Os juros definidos para a operação são de

3,6% a.m. (taxa média de CDI over no dia), mais um spread de 1,6% a.m. O mês de

referência da taxa over tem 21 dias úteis. A empresa, ainda, utiliza integralmente seu

crédito no primeiro dia da operação.

77

Page 84: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

A seguir, são processados diversos cálculos que envolvem pagamentos e custo

efetivo para cada um dos dias previstos para o hot money.

9.1 Primeiro Dia do Hot Money

Os encargos totais do empréstimo envolvem a taxa over mais o spread cobrado

pelo banco. Conforme se comentou, a taxa over é linear e válida somente para os dias úteis,

e é definida pela média do CDI over fixado em cada dia.

O spread, por outro lado, é um custo cobrado pela instituição financeira

intermediadora da operação, devendo ser incorporado (capitalizado) aos juros cobrados.

Admitindo-se uma formação de juros compostos para os encargos obtêm-se:

Spread = ao dia

CDI over = ao dia

Juro total do 1º dia = (1 + 0,00076) x (1 + 0,0012) – 1 = 0,196%

Saldo da dívida = R$ 150.000 x (1 + 0,00196) = R$ 150.294,00

Encargos totais = R$ 150,294 – R$ 150.000 = R$ 294,00

Mantendo-se constante a taxa de CDI over até o final da operação (cinco dia

corridos ou três úteis), o saldo devedor e os encargos atingem:

Saldo da dívida no 5º dia = R$ 150.000 x (1 + 0,00196)3 = R$ 150.883,70

Encargos totais = R$ 150.883,70 – R$ 150.000 = R$ 883,70

78

Page 85: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Esses valores projetam, permanecendo inalterados os percentuais do CDI over até

o final da operação, uma taxa efetiva mensal de 4,2%, ou seja:

[i = (1,00196)21 – 1]

Alterando-se a taxa over nos demais dias do empréstimo, devem ser considerados

os novos percentuais no cálculo do custo, conforme demonstramos a seguir.

9.2 Demais Dias do Hot Money – Alterações nas Taxas do CDI

Alterando-se a taxa do CDI over, respectivamente para 3,9% e 3,7% no segundo e

no terceiro dia útil da operação, por exemplo, obtêm-se os seguintes resultados ao final (5º

dia):

Juro total acumulado =

= 0,603% por três dias úteis

Saldo da dívida no 5º dia = R$ 150.000 x (1,00603) = R$ 150.904,50

Custo efetivo do mês = (1 + 0,00603)7 – 1 = 4,3% a.m.

O custo efetivo foi calculado com base em uma taxa de 0,603% válida para os três

dias úteis da operação capitalizada por sete períodos (21 dias úteis/3).

79

Page 86: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

10 Floating em Operações Bancárias

Em operações de cobrança bancária, pode ocorrer de os recursos financeiros não

serem imediatamente creditados em conta corrente da empresa, permanecendo um ou

mais dias no banco. Essa situação, denominada de floating, promove evidentemente um

custo adicional à empresa, definido geralmente pela taxa diária de oportunidade do

dinheiro.

Por exemplo, uma carteira de duplicatas de R$ 200.000 colocada em cobrança num

banco, tendo sido creditado o dinheiro na conta do cliente somente dois dias úteis após o

respectivo recebimento, produz para uma taxa líquida de aplicação de 0,10% ao dia um

custo de R$ 400,20, ou seja:

R$ 200.000 x [(1,001)2 – 1] = R$ 400,20

Que equivale a um percentual acumulado de 0,2001% para os dois dias.

Também o mecanismo de floating é muitas vezes utilizado como forma de

reciprocidade exigida pelas instituições financeiras para a concessão de créditos. Nessa

situação, o custo efetivo da operação é acrescido com base no custo diário do dinheiro.

Para melhor esclarecer uma forma de floating, admita-se que a empresa esteja

avaliando uma operação de desconto bancário no valor de R$ 14.000, pelo prazo de 40 dias.

A taxa de desconto definida para a operação é de 5,8% a.m., mais IOF de 0,0041% a.d.

Adotando-se as fórmulas enunciadas no início desta seção, pode se operar o custo

efetivo mensal da operação:

80

Page 87: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

para 40 dias

Em bases mensais, o custo efetivo da operação atinge:

(1 + 0,086)30/40 – 1 = 6,4% a.m.

Esse é o custo efetivo do crédito bancário em levar em consideração nenhuma

forma de reciprocidade.

Ao se admitir, por exemplo, que o banco retenha por três dias o dinheiro da

cobrança dos títulos, o custo efetivo do tomador é onerado.

Em verdade, para cada dia de floating praticado pelo banco, a empresa assume um

custo pelo menos igual à taxa da oportunidade do mercado.

Na prática, o cálculo do custo de crédito com floating, é efetivado segundo uma

metodologia mais simplificada, da forma seguinte:

Custo com floating = (1 + 0,086)43/40 – 1 = 9,3% para 40 dias,

que equivale a 6,9% ao mês.

Um detalhamento de como o floating onera o custo efetivo de uma operação de

crédito bancário é desenvolvido a seguir:

Encargos financeiros do desconto

Juros: R$ 14.000 x (0,058/30) x 40 = R$ 1082,70

81

Page 88: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

IOF: R$ 14.000 x 0,0041% x 40 = R$ 23,00

R$ 1.105,70

Custo do floating

R$ 14.000 x [(1,086)3/40 – 1] = R$ 86,90

R$ 1.192,60

Valor líquido liberado: R$ 14.000 – R$ 1.105,70 = R$ 12.984,30

Custo efetivo (i) = R$ 1.192,60/R$ 12.894,30 = 9,3% por 40 dias,

equivalendo a 6,9% ao mês.

Alternativamente, o custo da operação pode ser determinado:

Sem floating

R$ 12.894,30

40 dias

14.000

Com floating

R$ 12.894,30

37 dias

14.000

82

Page 89: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

11 Operações de Fomento Comercial (Factoring)

O factoring constitui basicamente uma modalidade de assistência financeira a curto

prazo, cujos benefícios concentram-se potencialmente nas micro, pequenas e médias

empresas, notadamente por não apresentarem uma cobertura satisfatória na oferta de

recursos de giro pelo mercado. A importância deste segmento de empresas é relevante em

qualquer economia, principalmente naquelas subdesenvolvidas, por absorver um

contingente expressivo de mão-de-obra não qualificada.

O factoring, denominado no Brasil, como atividade de fomento comercial, destina-

se basicamente a negociar os créditos (valores a receber) de curto prazo das empresas

produtoras. Na realidade, essa atividade procura reequilibrar o fluxo monetário da empresa

carente de liquidez imediata, por meio da canalização dos valores aplicados em contas a

receber (realizável) para seu disponível.

Uma das mais importantes características de uma operação de factoring consiste

na transferência, juntamente com os valores a receber, dos riscos inerentes a esse ativo.

Dessa forma, além de reforçar a liquidez imediata de seus clientes, a casa de factoring

absorve o risco pelo recebimento desses valores realizáveis. Ao contrário de uma operação

de desconto bancário, conforme descrita anteriormente, a atividade de fomento comercial

não constitui uma operação de crédito. É considerada, efetivamente, uma transferência

(cessão) plena dos créditos do cliente para o factor, isto é, uma aquisição definitiva dos

valores a receber, inclusive do risco de pagamento desses ativos realizáveis. Uma

importante economia que pode advir dessa operação para a empresa produtora cliente

refere-se aos gastos inerentes à instalação e ao funcionamento de um departamento de

crédito e cobrança, os quais passam a ser de responsabilidade financeira da factoring.

Tradicionalmente, a empresa de fomento comercial somente opera com pessoas

jurídicas, ou seja, o título de crédito (normalmente duplicata) que vier a ser adquirido de

empresas clientes deverá originar-se de um saque contra outra pessoa jurídica. Assim, os

três agentes envolvidos numa operação de crédito dessa natureza, são:

83

Page 90: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

a empresa de fomento comercial – a casa Factoring;

o cliente da empresa de fomento comercial – vendedora do bem ou serviço;

a empresa compradora do bem ou serviço vendido por esse cliente.

Na definição da taxa de juros cobrada do usuário (cliente) de factoring pelo

adiantamento recebido embute-se, conforme comentado, um prêmio pelo risco assumido, o

qual tende a variar em função principalmente dos resultados das análises dos créditos

considerados.

As principais despesas que envolvem uma operação de factoring podem ser

descritas da seguinte forma:

Comissão de factoring: refere-se a um valor cobrado pela casa de factoring

visando cobrir suas despesas operacionais de análise, seleção e cobrança de

crédito. Normalmente, o pagamento dessa despesa é efetuado mediante uma

porcentagem fixa calculada sobre o valor nominal dos títulos negociados;

Juros por Antecipações: o valor deste encargo depende, basicamente, das taxas

de mercado e do risco atribuído à operação. Normalmente, os juros são pagos

antecipadamente e calculados de acordo com o critério de desconto bancário

(deságio) considerado;

Reserva e Caução: consiste na retenção do valor nominal dos títulos. A retenção

desse valor, o qual é liberado geralmente quando do recebimento dos créditos,

justifica-se como forma de garantia pela fidelidade dos títulos negociados.

Resumidamente, podem-se expor as vantagens de uma operação de factoring da

seguinte forma:

produz maior flexibilidade de financiamento, mormente se é necessário

expandir o volume de atividade da empresa;

dispensa a manutenção de saldos médios e outras formas de reciprocidade

exigidas pelas instituições bancárias;

84

Page 91: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

os serviços prestados nas vendas a prazo possibilitam reduzir ou,

eventualmente, eliminar as várias despesas demandadas na manutenção, por

uma empresa, de departamento de crédito e cobrança;

garantia do recebimento e conseqüente eliminação do risco.

Não obstante essas vantagens para a empresa, não se pode generalizar que uma

operação de factoring constitua sempre a opção de crédito mais atrativa para empresa.

Seus custos financeiros assumem tradicionalmente valores mais altos que os de mercado. É

necessário quantificar todas as vantagens da operação e associá-las a seus custos, obtendo

assim, os encargos líquidos do factoring. A decisão final será evidentemente originada da

comparação desses encargos com os custos efetivos do mercado de crédito, inclusive

reciprocidade.

Na realidade, cada operação precisa ser analisada pelas circunstâncias do momento

e condições estabelecidas. Em geral, as pequenas e médias empresas, pelas várias razões

expostas, costumam considerar o factoring como uma operação das mais atraentes.

Em suma, são as características da empresa, das condições de mercado e dos

custos e vantagens envolvidas que irão determinar o grau de atratividade da operação.

85

Page 92: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

12 Crédito Rotativo

A operação de Crédito Rotativo refere-se a uma conta tipo empréstimo (também

chamada de conta corrente garantida), aberta pelos bancos comerciais, visando ao

financiamento de necessidades de curto prazo (capital de giro) das empresas.

Com a entrega de duplicatas como garantia da operação, a instituição bancária

abre uma linha de crédito à empresa com base em um percentual do montante caucionado

(valor nominal das duplicatas em garantia). À medida que as duplicatas vão sendo

resgatadas pelos clientes (sacados), a empresa deverá ir substituindo-as por outras, a fim de

manter o limite e a rotatividade do crédito concedido. Os saques dos recursos de crédito são

efetuados de acordo com as necessidades de giro da empresa, sendo processados

normalmente mediante cheques.

As negociações do crédito rotativo são desenvolvidas de acordo com resolução do

Banco Central.

Os principais encargos dessa operação são:

Juros, calculados sobre o saldo a descoberto (devedor) e devidos periodicamente

(mês, trimestre, etc.). Na realidade, o valor dos juros é obtido, segundo o método

hamburguês da seguinte forma:

x Somatório do Saldo Devedorcorrigido no período considerado

onde i representa a taxa nominal anual de juros definida para operação.

Outras despesas incluídas nessa operação referem-se à Comissão de Abertura de

Crédito, cujo percentual é calculado sobre o limite aprovado de crédito, IOF e Tarifas de

Serviços Bancários cobrados segundo a legislação em vigor.

86

Page 93: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Ilustrativamente, admita que tenham sido realizadas as seguintes movimentações

numa conta garantida com limite de R$ 300.000, contratada por dois anos e cobertura em

15-1.

Mês 1

Dia 15: saque de R$ 150.000 (data de abertura da conta)

Dia 20: saque de R$ 60.000

Mês 2

Dia 1º: saque de R$ 30.000

Dia 10: depósito de R$ 24.000

Dia 18: saque de R$ 21.000

Dia 22: saque de R$ 30.000

Os encargos financeiros cobrados na operação atingem 4% a.m., debitados ao final

de cada mês, e uma comissão de abertura de crédito de 2% cobrada no ato.

Os resultados das movimentações na conta são demonstrados a seguir:

Data Histórico Débito (D) /Crédito (C)

Saldo Devedor (R$)

Número de Dias

Número de Dias x Saldo

Devedor (R$)

15-1 Comissão 6.000 (D) 6.000 - -

15-1 Saque 150.000 (D) 156.000 5 780.000

20-1 Saque 60.000 (D) 216.000 11 2.376.000

30-1 Juros 4.208 (D) 220.208 - -

01-2 Saque 30.000 (D) 250.208 9 2.251.872

10-2 Depósito 24.000 (C) 226.208 8 1.809.664

18-2 Saque 21.000 (D) 247.208 4 988.832

22-2 Saque 30.000 (D) 277.208 8 2.217.664

28-2 Juros 9.691 (D) 286.899 - -

28-2 Total do Bimestre: 10.424.032

A comissão de abertura de crédito é calculada: R$ 300.000 x 2% = R$ 60.000.

87

Page 94: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Para o mês 1, o total de juros atinge:

Juros = (0,04/30) x (R$ 780.000 + R$ 2.376.000) = R$ 4.208,00

Esse valor é debitado na conta do mutuário ao final do primeiro mês.

Para o mês 2, os juros somam:

Juros = (0,04/30) x (R$ 2.251.872 + R$ 1.809.664 + R$ 988.832 + R$ 2.217.664)

Juros = R$ 9.691

Para todo o bimestre os juros totalizam:

Juros = (0,04/30) x R$ 10.424.032

Juros = R$ 13.899.

88

Page 95: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

13 Linhas de Crédito: Vendor e Compror

13.1 Vendor

O vendor é uma modalidade de financiamento de vendas, que permite que

empresas vendedoras de bens e serviços levantem, junto a uma instituição financeira,

crédito para seus clientes. Através desse crédito, o vendedor recebe a vista pelas vendas

realizadas. O risco da operação recai, geralmente, sobre as empresas vendedoras, as quais

se responsabilizam perante o banco financiador, pelo adequado cumprimento do crédito

concedido.

Uma operação de vendor é formada por três participantes:

vendedor: empresa vendedora (comércio ou fabricante) que deseja receber a

vista pelas vendas realizadas. Utiliza a intermediação de um banco para financiar

seus clientes de produtos e serviços. Suas principais vantagens são: recebimento

das vendas a vista, reforço da liquidez financeira, redução dos custos de

administração de carteiras de valores a receber. Como emite nota fiscal pelo

valor a vista, consegue também uma redução dos tributos incidentes sobre

vendas.

comprador: empresas que adquire os bens e serviços para transformação ou

revenda em condições de pagamento a vista, através de créditos concedidos por

um banco. A compra é realizada a vista e o pagamento a prazo, acrescido de

encargos financeiros acertados com o banco. O vendor oferece ao comprador

melhores condições de negociar preços com o fornecedor, considerando que o

pagamento é a vista, e também obtenção de maiores prazos de pagamento.

banco: instituição financeira que se compromete a financiar a aquisição de bens

e serviços das empresas compradoras. O Banco pratica taxas e prazos

compatíveis a cada operação. Em geral, o financiamento é processado por meio

89

Page 96: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

da liberação de um limite de crédito, e efetuado em depósito da empresa

vendedora toda vez que realizar uma operação de venda.

13.2 Compror

O compror equivale a um limite de crédito concedido a uma empresa compradora,

visando financiar compras de bens de transformação, mercadorias e serviços.

Através dessa modalidade, o adquirente reúne condições de negociar melhores

condições de pagamentos a vista com os fornecedores, substituindo outras modalidades de

financiamento bancário.

Outro atrativo do crédito é que não há incidência de CPMF para o comprador, pois

os recursos são creditados pelo Banco diretamente na conta da empresa vendedora.

Para o fornecedor, as vantagens mais importantes são o recebimento a vista das

vendas, e a redução da carga tributária, pois a nota fiscal é emitida pelo preço a vista.

90

Page 97: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Referências

Bibliográficas

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas,

2007.

91

Page 98: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

ANEXOS

Anexos

92

Page 99: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Anexo 1: Atividades Complementares

A1.1 Apresentação

As Atividades Complementares – AC são componentes curriculares obrigatórios dos

Projetos Pedagógicos dos Cursos Superiores de Tecnologia da UNIP, em consonância com as

respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais. As AC possibilitam o reconhecimento, por

avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno, incluindo a prática de

estudos e atividades independentes, transversais, opcionais e de caráter interdisciplinar,

especialmente nas relações com o mundo do trabalho, nas ações de extensão junto à

comunidade e no envolvimento inicial com a pesquisa acadêmica.

A1.2 Orientações

As indicações de AC estão distribuídas por categorias e em cada atividade proposta

constam os conceitos-chave da matéria correlata, as horas a serem validadas e os

respectivos prazos de entrega.

Os relatórios deverão ser, obrigatoriamente, de AUTORIA DO ALUNO e

MANUSCRITOS, com no mínimo 20 linhas e no máximo 2 páginas, e comprovantes em

anexo.

Estes comprovantes deverão ser, preferencialmente, os originais da atividade

realizada. Nos casos de artigos e/ou reportagens, uma cópia do mesmo deverá ser anexada.

Somente serão validadas, como cumprimento de horas de AC do semestre, as atividades

realizadas no próprio semestre.

Os alunos devem observar as datas previstas para entrega dos relatórios das AC.

Em hipótese alguma, serão aceitas atividades entregues fora do prazo!!

93

Page 100: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

A1.3 Indicações4/5

a) Atividade Complementar 1:

Descrição: ASSAF NETO, Alexandre. Administração de Caixa. In: Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

Gênero: Capítulo (25) de Livro.

Conceitos-Chave: Capital de Giro; Finanças; Gestão de Caixa.

Validação (horas): Até 06 horas.

Data de Entrega: Até 23.03.2010

b) Atividade Complementar 2:

Descrição: ASSAF NETO, Alexandre. Administração de Valores a Receber. In: Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

Gênero: Capítulo (26) de Livro.

Conceitos-Chave: Capital de Giro; Finanças.

Validação (horas): Até 06 horas.

Data de Entrega: Até 20.04.2010

c) Atividade Complementar 3:

Descrição: ASSAF NETO, Alexandre. Administração de Valores a Receber. In: Finanças Corporativas e Valor. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

Gênero: Capítulo (27) de Livro.

Conceitos-Chave: Capital de Giro; Finanças.

Validação (horas): Até 06 horas.

Data de Entrega: Até 04.05.2010

d) Atividade Complementar 4:

Descrição: Atividade Livre.

Gênero: Artigo Científico; Congresso; Feira; Palestra; Reportagem; Seminário.

Conceitos-Chave: Mercado; Finanças Corporativas.

Validação (horas): Até 10 horas.

Data de Entrega: Até 18.05.2010

4 Os alunos devem estar atentos às datas de entrega, conforme o dia da semana que têm aula da disciplina.5 As horas a serem atribuídas dependem do teor da matéria, podendo chegar às horas previstas.

94

Page 101: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Anexo 2: Conteúdo Programático Detalhado

Unidade Curricular: Fontes de Financiamento

Período Letivo: 3º Semestre

Carga Horária: 60 horas

ObjetivosAnalisar e identificar a necessidade de financiamento para o capital de giro da empresa, verificando as despesas financeiras. Conhecer, analisar e identificar a melhor fonte de financiamento a curto, médio prazo e longo prazo.

EmentasLevantamento do valor capital de giro para operacionalizar a empresa e verificação da necessidade de captação de financiamento para compor o capital de giro. Identificar os custos das fontes de financiamento. Definir as despesas financeiras. Analise da viabilidade de financiamento para o capital de giro.

Conteúdo ProgramáticoAnálise do valor necessário para capital de giro de uma empresa;Verificação da necessidade de financiamento para compor o capital de giro;Identificação das fontes de financiamentos e respectivos custos financeiros; Prazos de financiamentos e respectivos custos; Hot Money;Conta garantida;Operações de factoringOperações de Vendor e Compror;

Bibliografia

Bibliografia Básica (títulos, periódicos, etc.)

Título/Periódico Autor Edição Local Editora Ano

Administração do Capital de Giro

NETO, Alexandre Assaf e SILVA, César

Augusto Tibúrcio3ª São Paulo Atlas 2002

Factoring no Brasil LEITE, Luiz Lemos São Paulo Atlas 2001

Bibliografia Complementar (títulos, periódicos, etc.)

Título/Periódico Autor Edição Local Editora Ano

Operação e Concessão de Crédito:

Os Parâmetros para a Decisão de Crédito

BERNI, Mauro Tadeu. São Paulo Atlas 1999

Finanças Corporativas e Valor

NETO, Alexandre Assaf 3ª São Paulo Atlas 2007

95

Page 102: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Estratégias de EnsinoO curso contará com equilíbrio teórico – prático por meio de exposições e discussão de casos práticos, utilizando:

Aulas expositivas Aulas reflexivas com análise de casos Dinâmica de grupos Seminários Vídeos Debates

Será sempre indicada a bibliografia básica e específica necessária ao acompanhamento do curso e orientação do aluno na vida acadêmica e profissional.

A exposição será feita por meio de colocação dos pontos a serem discutidos de forma esquemática, seguida de apresentação por parte do professor. Para todas as exposições e para todos os pontos deverão ser utilizadas apresentações de casos práticos.

Estratégias de AvaliaçãoDuas provas teórico-práticas bimestrais e trabalhos individuais ou em grupo, mais o projeto PIM, sempre envolvendo os assuntos voltados à gestão das organizações, sendo que a média do semestre será constituída por 40% da nota da P1, 40% da nota da P2 e 20 % da nota do PIM.

96

Page 103: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

Anexo 3: A Importância da Ignorância na Pesquisa Científica6

Reencontrei recentemente uma velha amiga que não via há anos. Éramos alunos de

doutorado na mesma época, ambos estudando ciência mas em diferentes áreas. Ela deixou

a área e foi para faculdade de direito em Harvard e agora é advogada sênior de uma grande

organização ambiental. Num determinado momento a conversa pendeu para o porquê de

ela ter largado a academia. Para meu total espanto ela disse que saíra porque se cansou de

se sentir estúpida. Após alguns anos se sentindo estúpida todos os dias ela percebeu que

estava pronta para fazer outras coisas.

Para mim ela era uma das pessoas mais brilhantes que eu conheci, e a sua carreira

posterior prova esta constatação. O que ela disse me incomodou. Eu continuei pensando

naquilo, até que no dia seguinte caiu a ficha. A ciência me faz sentir idiota também. O que

acontece é que eu me acostumei com isso. Tanto me acostumei a isto que persigo

ativamente novas oportunidades de me sentir estúpido. Não sei o que eu faria sem este

sentimento, e até acho que é assim que deve ser. Deixe-me explicar.

Para a maioria de nós, uma das razões para gostarmos de ciências na escola era

que nós éramos bons nisto. Mas esta não pode ser a única razão – fascínio por entender o

mundo físico e uma necessidade emocional de descobrir novas coisas devem existir

também. Mas para a escola e a faculdade, a ciência consiste em fazer aulas, e ir bem nas

aulas significa dar as respostas certas nas provas. Se você souber as respostas você passa

bem e se sente esperto.

No doutorado, onde você tem um projeto de pesquisa, a coisa é bem diferente.

Para mim foi uma tarefa amedrontadora. Como eu poderia formular a pergunta que me

levaria a uma descoberta significativa; desenhar e interpretar um experimento para que as

conclusões fossem absolutamente convincentes; prever obstáculos e achar maneiras de

circundá-los, ou, caso falhasse nisso, resolvê-los quando aparecessem? Meu projeto de

doutorado era interdisciplinar e, por um tempo, sempre que tive um problema eu podia

6 Originalmente publicado no Journal of Cell Science e traduzido por Rafael Soares.97

Page 104: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

importunar alguém em meu departamento, que tinha especialistas em várias disciplinas de

meu interesse. Eu me lembro de um dia em que Henry Taube (que ganhou o prêmio Nobel

dois anos depois) me disse que não sabia como resolver um problema que eu estava tendo,

mesmo se tratando de sua área.

Percebi que eu era apenas um aluno de trinta anos e que Taube deveria, por baixo,

saber mil vezes mais do que eu. Se ele não tinha a resposta, então ninguém tinha.

Foi aí que entendi: ninguém sabe. Por isso mesmo que é um problema em

pesquisa. E sendo a MINHA pesquisa, era minha responsabilidade resolvê-lo. Ao encarar

este fato resolvi o problema em poucos dias. (E não era realmente muito difícil; apenas tive

que testar algumas poucas coisas.) A moral da história é que a área das coisas que eu não

sabia não era apenas vasta; era, na prática, infinita. Ao invés desta constatação ser

desencorajadora, ela era libertadora. Se a ignorância é infinita, a única atitude que nos

sobra é dar o melhor de nós.

Eu gostaria de dizer que os programas de pós-graduação geralmente fazem um

desserviço para a formação do estudante de duas formas. Primeiro, porque os estudantes

não percebem o quão difícil é fazer pesquisa. Mais difícil ainda pesquisa de grande

importância. É muito mais difícil que ir bem nas aulas, mesmo nas mais exigentes. O que

torna a pesquisa difícil é o mergulho no desconhecido. Nós simplesmente não sabemos o

que estamos fazendo. Até termos um resultado, nós nem ao menos estamos certos se

estamos fazendo as perguntas certas ou os experimentos adequados. Para atrapalhar, ainda

temos a competição por financiamento e visibilidade em revistas de prestígio. Mas fora isto,

fazer pesquisa relevante é intrinsecamente difícil, por isso qualquer mudança nos cursos,

departamentos ou instituições não vão diminuir esta dificuldade intrínseca.

Segundo, nós não ensinamos nossos alunos a serem ignorantes produtivos – ou

seja, se eu não me sinto estúpido, significa que eu não estou realmente me esforçando. Não

estou falando de ´ignorância relativa´, como quando os outros alunos na turma lêem as

lições, estudam, passam na prova, e você não. Também não estou falando de pessoas

98

Page 105: Apostila Fontes de Financiamento 2010

Prof. Rodrigo Marchesin Fontes de Financiamento

brilhantes que estejam em áreas que não aproveitam seus talentos. Ciência envolve

confronto com a ´ignorância absoluta'. Aquela que é um fato existencial inerente a nosso

esforço de adentrar no desconhecido. Exames de admissão e bancas de defesa atingem seus

objetivos quando forçam o aluno até começar a dar respostas erradas ou desistir e dizer,

´não sei´. O objetivo do exame não é avaliar se o aluno responde todas as perguntas. Se ele

responder, quem falhou no teste foi a banca. O objetivo real é identificar as fraquezas do

aluno, primeiro para ver onde ele deve se esforçar mais, e segundo para saber se o

conhecimento dele estaciona no nível alto o suficiente para tocar um projeto de pesquisa.

Estupidez produtiva significa ser ignorante por escolha. Focar em uma questão

importante nos coloca numa posição de ignorância. Uma coisa boa em ciência é que ela nos

permite tropeçar por aí, errar de vez em quando, e mesmo assim nos sentirmos bem,

contanto que aprendamos algo com isso tudo. Claro que isto é muito difícil para alunos que

estão acostumados a ter a resposta certa. Claro que um bom nível de confiança e equilíbrio

emocional ajudam, mas eu acho que educação científica deve fazer mais para atenuar esta

grande transição: de aprender as descobertas de outras pessoas para começar a fazer as

suas próprias. Quanto mais confortáveis estivermos sendo ignorantes, mais profundamente

poderemos penetrar no desconhecido para fazer grandes descobertas.

Referências7

SCHWARTZ, Martin. The importance of stupidity in scientific research. Virginia: Department

of Microbiology, UVA Health System, University of Virginia, 2008. Disponível em:

http://jcs.biologists.org/cgi/content/full/121/11/1771. Acesso em: 28/06/2009.

7 O texto traduzido encontra-se disponível no link: http://scienceblogs.com.br/rnam/2009/05/a_importancia_da_ignorancia_na.php

99