apostila experimentação agrícola

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Experimentação Agrícola 1 Experimentação Agrícola Material Didático Apostila da disciplina de experimentação agrícola destinada aos acadêmicos do curso de graduação em agronomia da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Prof. Dr. Willian Krause 2011 x H 0 = t 1 + ... + t i

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Apostila de experimentação agrícola

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Page 1: Apostila Experimentação Agrícola

Experimentação Agrícola

1

Experimentação Agrícola Material Didático

Apostila da disciplina de experimentação agrícola destinada aos

acadêmicos do curso de graduação em agronomia da

Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT.

Prof. Dr. Willian Krause

2011

� x���

H0 = t1 + ... + ti

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Experimentação Agrícola Prof. Dr. Willian Krause

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1. Noções básicas de experimentação agrícola

A Estatística Experimental é a ciência que tem como objetivo estudar experimentos (ensaios),

englobando etapas como o planejamento, execução, coleta e análise dos dados experimentais e interpretação

dos resultados obtidos. Ela foi proposta inicialmente na área de ciências biológicas por Ronald A. Fisher em

1919. Fisher propôs o uso da análise de variância (ANAVA) como ferramenta para análise e interpretação de

dados. A ANAVA permite a decomposição do grau de liberdade e da soma de quadrados total em somas de

quadrados correspondentes às fontes de variação previamente definidas no planejamento do experimento.

A fase de planejamento do experimento merece considerável atenção por parte do pesquisador, pois

dela dependerá o sucesso da análise e interpretação dos resultados sendo, portanto, recomendável uma

consulta a um estatístico antes da instalação do experimento. O planejamento envolve etapas como:

a) Formulação de hipóteses

Ao planejar o problema que se vai pesquisar, deverá ser dada especial atenção aos seguintes pontos:

- Definição da importância do problema que se estuda;

- Determinação do(s) objetivo(s) e finalidade da investigação.

Definir a importância do problema que se estuda é explicar o que vamos estudar. Será impossível o

planejamento das etapas subseqüentes se não ficar claramente evidenciado o problema a investigar. Não

basta, por exemplo, dizer que se vai estudar a biodiversidade do Pantanal, o efeito da poluição do rio

Sepotuba, pois provavelmente nenhum pesquisador terá possibilidade e capacidade de abordar todos os

aspectos da biodiversidade ou da poluição. É importante também especificar sua extensão.

Antes de empreender o experimento, o pesquisador deve revisar tudo o que diz respeito ao fato em

estudo, com a finalidade de saber o que já se conhece sobre o assunto. Decerto serão encontrados vários

subsídios que fornecerão valiosa colaboração para o estudo. A revisão bibliográfica sobre o assunto deverá

sofrer cuidadosa seleção para que os resultados mais afins possam ser aproveitados no conforto e discussão

posteriores à da pesquisa.

A hipótese, resultado de um raciocínio indutivo (consciente ou subconsciente), requer demonstração

ou prova de sua adequação. Sabemos que a veracidade de uma hipótese nunca pode ser demonstrada ou

provada definitivamente. O que se faz é verificar se ela não seria falsa; o que nos levaria a rejeitá-la e a

formular outra, se necessário. Enquanto não se possa demonstrar que ela é incorreta, mantém-se a hipótese

como boa. Dela deduzimos as conseqüências ou fazemos previsões. Por sua vez, essas conseqüências e

previsões serão testadas, para ver se a hipótese adotada ainda se mantém ou não.

A hipótese estatística formulada é denominada hipótese de nulidade e é simbolizada por Ho. Suponha

que se deseja estudar qual cultivar (considerando, por exemplo, três cultivares diferentes) proporcionará a

melhor produtividade na cultura da soja. No exemplo, Ho seria: não existem diferenças significativas entre as

cultivares (ou seja, qualquer diferença observada é devida a fatores não controlados). Ho poderá ser aceita ou

rejeitada; caso seja rejeitada, aceitaremos uma hipótese denominada alternativa, simbolizada por H1 que no

exemplo seria: as cultivares diferem significativamente entre si (ou as cultivares se comportam de modo

diferente quanto a produtividade).

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b) Escolha dos fatores e seus respectivos níveis

Fatores (ou tratamentos) são aqueles que o pesquisador tem interesse em estudar o seu efeito sobre as

variáveis respostas. As subdivisões de um fator são os níveis dos mesmos. Por exemplo, se o interesse for

planejar um experimento para se estudar o efeito de seis tipos diferentes de rotações de cultura, o fator em

estudo é rotação e os níveis deste fator são os seis tipos de rotação. Em alguns casos, como por exemplo, nos

experimentos fatoriais ou em parcelas subdivididas, dois ou mais fatores são estudados. Suponha que se

deseja estudar o efeito de duas variedades de cana de açúcar e três doses de nitrogênio; neste caso se trata de

um experimento em fatorial 2x3, em que se tem dois fatores (variedade e dose de nitrogênio); dois níveis do

fator variedade e três níveis do fator dose de nitrogênio.

Um fator pode ser classificado em:

b.1) Qualitativo: quando os níveis do fator são categorias, atributos.

Por exemplo: nome de variedades de cana de açúcar (SP701143 e SP813250); métodos de plantio

(direto, convencional); origem de solos (MG, RJ, BA, SP); etc.

b.2) Quantitativo: quando os níveis do fator são mensurações de valores reais. Normalmente os

níveis são valores numéricos acompanhados de uma unidade de medida. Por exemplo: dose de nitrogênio (0,

25 e 50 kg ha-1); espaçamento de plantio de maracujá (1, 2, 3, 4m entre plantas), etc.

c) Escolha da parcela (unidade experimental)

Parcela é a unidade experimental que receberá o tratamento. A parcela pode assumir diferentes

formas e tamanhos. Por exemplo, uma parcela poderá ser constituída por uma ou várias plantas; um vaso

contendo uma ou mais plantas; uma placa de Petri com determinado meio de cultura; uma área com várias

plantas; um animal; etc.

d) Escolha do delineamento experimental

Delineamento experimental é o plano de distribuição dos tratamentos na área experimental. Como

exemplo de delineamentos tem-se o delineamento inteiramente casualizado (DIC), o delineamento em blocos

casualizados (DBC), o delineamento em quadrados latinos (DQL), os delineamentos em blocos incompletos

(por exemplo, os látices, blocos aumentados, etc.).

e) Escolha das variáveis a serem analisadas

Variáveis respostas ou variáveis dependentes ou simplesmente variáveis são características obtidas

em cada parcela. Os dados (observações) são realizações de uma variável e serão analisados para verificar se

há diferença entre os níveis dos fatores (tratamentos). Assim, exemplos de variáveis são: produção de grãos

de feijão; altura de plantas de milho; pH, teor de Ca, Mg e P em amostras de solo; número de plantas de

cana-de-açúcar atacadas por cercosporiose; etc.

Uma variável também pode ser classificada, semelhantemente aos fatores (tratamentos), em:

e.1) Qualitativa

e.1.1) Nominal: quando são categorias, atributos, sem uma ordenação natural. Por exemplo: cor dos

grãos do feijoeiro (marrom, preto, branco); textura do solo (arenoso, argiloso, silte); etc.

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e.1.2) Ordinal: quando são atributos com uma ordenação natural. Por exemplo: suscetibilidade do

cafeeiro à ferrugem (alta, média, baixa); nota para o ataque de cercosporiose em cana-de-açúcar (escala de 1,

para ausência da doença, até 9, para o máximo de doença); etc.

e.2) Quantitativa

e.2.1) Discretas: quando são contagens de números inteiros positivos com uma ordenação natural.

Por exemplo: número de chuvas em 2002 superior a 80 mm/h (ex. 20 chuvas); número de plantas atacadas

com a broca do fruto do cafeeiro (ex. 200 plantas); número de minhocas encontradas em determinada

amostra de solo (ex. 50 minhocas).

e.2.2) Contínuas: quando são mensurações de valores reais; normalmente existe uma unidade de

medida acompanhando a variável. Por exemplo: produtividade (100,0 kg ha-1); renda (R$2050,73/mês);

altura (2,5 m); diâmetro (8,18 cm); peso (98,5 g); pH (5,5); teor de P, Ca, Mg, K, matéria orgânica, etc.

f) Análise dos dados obtidos com o experimento.

2. Definições gerais

a) Pesquisa e experimentação: o termo pesquisa deve ser empregado quando se investigam

coisas novas, e experimentação, ao se verificar a adaptação de conhecimentos ou tecnologias a situação

diversas daquelas nas quais foram criadas ou desenvolvidas. Assim a criação de novas cultivares deve ser

considerada como pesquisa, mas a realização de um ensaio de competição de linhagens e/ou cultivares em

ambiente diverso àquele no qual foram criadas é uma experimentação.

b) Fator: aquilo que se aplica em um ensaio de forma não homogênea, por exemplo, cultivar,

quando se testam várias delas; adubação ao se compararem diversas formulações; etc.

c) Nível: as diferentes manifestações de um fator, por exemplo as doses de adubações

empregadas, os espaçamentos utilizados, as cultivares que se testam, diferentes temperaturas de cocção, etc.

d) Tratamento: cada um dos níveis do fator ou cada uma das combinações dos níveis dos

fatores, quando testando mais de um fator.

e) Testemunha: tratamento padrão de comparação. Pode ser a ausência de um fator (dose zero

de um adubo), ou a aplicação usual do fator (cultivar recomendada para cultivo na região, espaçamento

adotado pelos agricultores, etc).

f) Ensaio ou experimento: o conjunto de todos os tratamentos, aplicados de forma repetida.

Quando mais de um fator estiver sendo estudado, o ensaio é chamado de ensaio ou experimento fatorial.

g) Delineamento: o esquema adotado para a distribuição dos tratamentos.

h) Unidade experimental (parcela): sujeito ao se aplica um dos tratamentos. Pode ser uma área

de solo, um vaso, um animal, uma placa de petri, um indivíduo, etc.

i) Área útil: porção da unidade experimental efetivamente utilizada na avaliação do tratamento.

j) Bordadura: parte da parcela não coletada para avaliação do efeito do tratamento. É

empregada para evitar efeito de competição ou de contaminação entre parcelas vizinhas. Normalmente é

constituída pelo mesmo material da área útil.

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k) Repetição: cada uma das aplicações de um tratamento.

l) Bloco: conjunto ambiental homogêneo que contém todos os tratamentos ou parte deles (no

caso de blocos incompletos).

3. Análise de variância

A análise de variância (ANAVA) é um dos métodos para análise dos dados que visa decompor a

variação total entre parcelas em fontes (causas) de variação devidas a efeitos principais dos fatores, efeitos

de interações entre fatores, efeitos de aninhamento e resíduo (erro). Para facilitar o entendimento, antes de

partirmos para exemplos de análises de variância, é necessário fazer alguns comentários sobre os princípios

básicos da experimentação e também sobre as pressuposições da análise de variância.

3.1. Princípios básicos da experimentação

Os delineamentos experimentais clássicos são baseados nos três conceitos a seguir, estabelecidos por

Fisher (1935).

a) Repetição: refere-se ao número de parcelas que receberão um mesmo tratamento. Os tratamentos

devem ser repetidos, possibilitando, assim, estimar o erro experimental sem o qual não seria possível realizar

testes de hipóteses. O uso de um número adequado de repetições, possibilita uma boa estimativa do erro

experimental, melhorando as estimativas de interesse. No entanto, o número de repetições pode ser limitado,

por exemplo, pelo número de tratamentos que serão comparados, pela disponibilidade de material e de área

experimental, entre outros fatores.

b) Casualização: refere-se à distribuição aleatória dos tratamentos às parcelas de modo que todas as

parcelas tenham a mesma chance de receber qualquer um dos tratamentos. Com isso, a casualização evita

que determinado tratamento seja favorecido e garante que os erros sejam independentes (Mead & Curnow,

1983). Alguns programas computacionais elaboram planilhas de campo já com os tratamentos aleatorizados,

como por exemplo o GENES, SISVAR e outros.

c) Controle local: a idéia básica do controle local é a partição do conjunto total de parcelas em

subconjuntos (blocos) que sejam os mais homogêneos possíveis. Para Hinkelmann & Kempthorne (1994), o

princípio do controle local é o reconhecimento de padrões supostamente associados às parcelas. Este

princípio é utilizado para atenuar problemas de heterogeneidade ambiental (por exemplo de solo, de

distribuição de água no caso de experimentos irrigados, etc).

3.2. Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC)

a) Características

- Os tratamentos são distribuídos nas parcelas de forma inteiramente casual (aleatória).

- O DIC possui apenas os princípios da casualização e da repetição, não possuindo controle local e, portanto,

as repetições não são organizadas em blocos.

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- Normalmente é mais utilizado em experimentos de laboratório; experimentos em vasos ou bandejas em

casa de vegetação, onde há possibilidade de controle das condições ambientais. Nos experimentos em casa

de vegetação recomenda-se constantemente mudar as parcelas de posição para evitar diferenças ambientais

devido a posição da parcela na casa de vegetação. Com esta tratamento. A instalação do DIC no campo

experimental exige uma certa homogeneidade das condições ambientais (como por exemplo quanto a

fertilidade do solo, distribuição uniforme de água, etc.).

b) Vantagens

- Possui grande flexibilidade quanto ao número de tratamentos e repetições, sendo dependente, entretanto, da

quantidade de material e área experimental disponíveis.

- Pode-se ter DIC não balanceado, ou seja, com números de repetições diferentes entre tratamentos, o que

não leva a grandes alterações.

- A análise de variância; mas os testes de comparações múltiplas passam a ser aproximados e não mais

exatos. O ideal é que os tratamentos sejam igualmente repetidos.

- Considerando o mesmo número de parcelas e tratamentos avaliados, é o delineamento que possibilita o

maior grau de liberdade do erro.

c) Desvantagens

- Exige homogeneidade das condições experimentais. Se as condições não forem uniformes, como se

esperava antes da instalação do experimento, toda variação (exceto à devida a tratamentos) irá para o erro,

aumentando sua estimativa e reduzindo, portanto, a precisão do experimento.

d) Modelo estatístico do DIC

y�� = m + t� + e��, em que, y�� representa a observação do i-ésimo tratamento na j-ésima repetição;

m representa uma constante geral associada a esta variável aleatória; t� representa o efeito do i-ésimo

tratamento; e e�� representa o erro experimental associado a observação y��, suposto ter distribuição normal

com média zero e variância comum.

e) Exemplo de DIC

Suponha que foi avaliado o peso seco da parte aérea (g/parcela) de 4 variedades de cana-de-açúcar.

O experimento foi instalado em casa de vegetação. O delineamento foi o inteiramente casualizado com 6

repetições. Cada parcela era constituída de 1 vaso com 3 plantas. Os dados de peso estão dispostos no

Quadro a seguir:

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Peso seco da parte aérea (g/parcela) de 4 variedades de cana-de-açúcar (A, B, C e D) em um delineamento

inteiramente casualizado com 3 repetições.

Tratamento (Cultivares) Repetição Variável (Peso em g) Total dos Tratamentos A 1 200

730 A 2 280 A 3 250 B 1 390

1220 B 2 420 B 3 410 C 1 180

580 C 2 210 C 3 190 D 1 650

1885 D 2 610 D 3 625

Total Geral 4415

Croqui de campo

C A B B

D C C D

A B A D

A disposição das repetições de cada tratamento é realizada de forma totalmente aleatória às parcelas.

f) Esquema de análise de variância do DIC com fontes de variação e graus de liberdade

Considerando I tratamento e cada tratamento com J repetições, temos a representação esquemática

dos dados do exemplo acima num delineamento inteiramente casualizado.

Quadro dos dados:

Tratamento (Cultivares) Repetição Variável (Peso em g) Total dos Tratamentos 1 1 yij = y11 = 200

yi. = y1. = y11 + y12 + y13 = 730 1 2 yij = y12 = 280 1 3 yij = y13 = 250 2 1 yij = y21 = 390

yi. = y2. = y21 + y22 + y23 = 1220 2 2 yij = y22 = 420 2 3 yij = y23 = 410 3 1 yij = y31 = 180

yi. = y3. = y31 + y32 + y33 = 580 3 2 yij = y32 = 210 3 3 yij = y33 = 190 4 1 yij = y41 = 650

yi. = y4. = y41 + y42 + y43 = 1885 4 2 yij = y42 = 610 4 3 yij = y43 = 625

Total Geral y.. = 4415

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Quadro da análise de variância:

Fonte de Variação

(FV)

Grau de Liberdade

(GL)

Soma de Quadrado

(SQ)

Quadrado Médio

(QM)

Teste F

(F)

Tratamento I-1 ∑ y�.�

j − y..�

i. j QM����GL����

QM����

QM�

Erro ou Resíduo I(J-1) SQ��� − SQ���� QM�GL�

Total IJ-1 � y��� − y..�

i. j

Média Geral "Y$..% = y..i. j

Coeficiente de Variação = CV"%% = )*+,-$..

. 100

I = nº de tratamentos; J = nº de repetições

Resolvendo o exemplo anterior, temos:

GLTot = (4 x 3) – 1 = 11

GLTrat = 4 - 1 = 3

GLE = 4 (3-1) = 8

Considerando C = y..

2

i.j, temos:

SQTot = (2002 + 2802 + 2502 + 3902 + 4202 + 4

102 + 1802 + 4102 + 1902 + 6502 + 6102 + 6252) - 001230 4 5

SQTot =350972,917

SQTrat = 675839 1��839 2:839 1::235 ; − C = 345956,250

SQE = 350972,917 - 345956,250 = 5016,667

QMTrat = 502<2=,�28

5 = 115318,750

QME = 5016,667

8 = 627,083

Fc = 11251:,728

=�7,8:5 = 183,897

Y$.. = 00120 4 5 = 367,917

CV"%% = √=�7,8:55=7,<17 . 100 = 6,81

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Quadro da análise de variância:

FV GL SQ QM Fc

Tratamento 3 345956,250 115318,750 183,897

Erro ou Resíduo 8 5016,667 627,083

Total 11 350972,917

Média 367,917

CV"%% 6,81

g) Conclusão e interpretação da análise de variância

Para verificar a significância do teste F, num nível α pré-estabelecido, o valor de F calculado (Fc) é

comparado com o valor de F tabelado (Ft). O valor de Ft é obtido da seguinte forma: Ft = Fα (GLTrat; GLE),

onde o valor do GLTrat é observado para identificar a coluna e o valor do GLE é observado para identificar a

linha. O valor da tabela encontrado mediante a intercessão da linha e coluna será o valor de Ft. Deve-se

observar o valor de Ft para α a 5% (Anexo 3)e 1% (Anexo 4). Assim:

- Se o valor de F calculado é maior ou igual que o valor de F tabelado (Fc ≥ Ft), rejeita-se H0, diz-se que o

teste foi significativo no nível de probabilidade esperado, logo existe diferença significativa entre os

tratamentos.

- Se o valor de F calculado é menor que o valor de F tabelado (Fc < Ft), não rejeita-se H0, diz-se que o teste

foi não significativo, logo não existe diferença significativa entre os tratamentos.

No exemplo acima, temos:

- Hipóteses

H0: trat 1 = trat 2 = trat 3 = trat 4

H1: trat 1 ≠ trat 2 ≠ trat 3 ≠ trat 4

- Fc = 183,897

- Ft = Fα (GLTrat; GLE) = F5% (3; 8) = 4,07 (Anexo 3)

Ft = Fα (GLTrat; GLE) = F1% (3; 8) = 7,59 (Anexo 4)

- Conclusão: Fc ≥ Ft, rejeita-se H0. Desta forma, existe diferença significativa entre os tratamentos ao nível de

1% de probabilidade de erro. Ou seja, as cultivares de cana de açúcar avaliadas no experimento acima

diferem estatisticamente quanto ao peso de massa seca.

As médias dos tratamentos são calculadas conforme a seguinte fórmula Y$�. = -@.� . Assim, temos:

Y$1. = 7303 = 243,33

Y$�. = 12203 = 406,67

Y$5. = 5803 = 193,33

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Y$0. = 18853 = 628,33

3.2. Delineamento em Blocos Casualizados (DBC)

a) Características

Os tratamentos são distribuídos aleatoriamente em blocos (princípio do controle local) de modo que

haja maior uniformidade possível dentro de cada bloco. O número de parcelas por bloco é igual ao número

de tratamentos, ou seja, cada bloco deverá conter todos os tratamentos. O DBC possui os três princípios

básicos da experimentação: casualização, repetição e controle local e, portanto, as repetições são organizadas

em blocos. Normalmente, é o delineamento mais utilizado em condições de campo. A eficiência do DBC

depende da uniformidade dentro de cada bloco, podendo haver heterogeneidade entre blocos. Os blocos

podem ser instalados na forma quadrada, retangular ou irregular, desde que seja respeitada a uniformidade

dentro do bloco.

b) Vantagens

- Controla diferenças nas condições ambientais de um bloco para outro.

- Leva a uma estimativa mais exata da variância residual, uma vez que a variação ambiental entre blocos é

isolada.

d) Desvantagens

- Há uma redução no número de graus de liberdade do erro, pois o DBC utiliza o princípio do controle local.

- O número de tratamentos a ser utilizado é limitado pela exigência de homogeneidade dentro dos blocos,

não podendo ser muito elevado.

e) Modelo estatístico do DBC

y�� = m + b� + t� + e��, em que, y�� representa a observação do i-ésimo tratamento no j-ésimo bloco;

m representa uma constante geral associada a esta variável aleatória; b� representa o efeito do j-ésimo bloco;

t� representa o efeito do i-ésimo tratamento; e e�� representa o erro experimental associado a observação y��,

suposto ter distribuição normal com média zero e variância comum.

f) Exemplo de DBC

Estudou-se a influência de 4 tipos de cobertura morta (sorgo, crotalária, milheto e vegetação

espontânea) no peso seco de brócolis. O experimento foi instalado em DBC com 5 repetições. Os dados de

peso seco estão dispostos na Tabela a seguir:

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Peso seco (kg/parcela) de brócolis em um experimento em blocos casualizados (DBC) com 5 repetições em que foi avaliada a influência de 4 tipos de cobertura morta (1: sorgo, 2: crotalária; 3: milheto e 4: vegetação espontânea)

Tipos de cobertura morta Repetição Peso seco (kg/parcela) Sorgo 1 yij = y11 = 72,8 Sorgo 2 yij = y12 = 58,3 Sorgo 3 yij = y13 = 50,4 Sorgo 4 yij = y14 = 51,6 Sorgo 5 yij = y15 = 59,0

Crotalária 1 yij = y21 = 69,0 Crotalária 2 yij = y22 = 64,1 Crotalária 3 yij = y23 = 72,1 Crotalária 4 yij = y24 = 73,6 Crotalária 5 yij = y25 = 65,0 Milheto 1 yij = y31 = 45,3 Milheto 2 yij = y32 = 60,9 Milheto 3 yij = y33 = 67,2 Milheto 4 yij = y34 = 66,2 Milheto 5 yij = y35 = 52,0

Espontânea 1 yij = y41 = 66,5 Espontânea 2 yij = y42 = 67,4 Espontânea 3 yij = y43 = 59,3 Espontânea 4 yij = y44 = 27,4 Espontânea 5 yij = y45 = 39,0 Total Geral 1187,1

Totais dos Tratamentos

yi. = y1. = y11 + y12 + y13 + y14 + y15 = 292,1

yi. = y2. = y21 + y22 + y23 + y24 + y25 = 343,8

yi. = y3. = y31 + y32 + y33 + y34 + y35 = 291,6

yi. = y4. = y41 + y42 + y43 y44 + y45 = 259,6

Totais dos blocos

y.j = y.1 = y11 + y21 + y31 + y41 = 253,6

y.j = y.2 = y12 + y22 + y32 + y42 = 250,7

y.j = y.3 = y13 + y23 + y33 + y43 = 249,0

y.j = y.4 = y14 + y24 + y34 + y44 = 218,8

y.j = y.5 = y15 + y25 + y35 + y45 = 215,0

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Croqui de Campo

Bloco 1 2 3 1 4

Bloco 2 4 1 2 3

Bloco 3 2 1 4 3

Bloco 4 3 2 1 4

Bloco 5 1 4 3 2

A disposição dos tratamentos é realizada de forma aleatória dentro dos blocos.

g) Esquema de análise de variância do DBC com fontes de variação e graus de liberdade

No DBC as repetições representam os blocos, assim o quadro de análise de variância para os dados de

um DBC é expresso de uma maneira geral por:

Quadro da análise de variância:

FV GL SQ QM F

Bloco J-1 � y.��

i − y..�

i. j QMJGLJ

QMJQM�

Tratamento I-1 ∑ y�.�

j − y..�

i. j QM����GL����

QM����

QM�

Erro ou Resíduo (I-1) (J-1) SQ��� − SQ���� − SQJ QM�GL�

Total IJ-1 � y��� − y..�

ij

Média Geral "Y$..% = y..i. j

Coeficiente de Variação = CV"%% = )*+,-$..

. 100

I = nº de tratamentos; J = nº de blocos

Resolvendo o exemplo anterior, temos:

GLTot = (4 x 5) – 1 = 19

GLB = (5-1) = 4

GLTrat = (4-1) = 3

GLE = (4-1) (5-1) = 12

SQTot = (72,82 + 69,02 + … + 39,02) – 11:7,13

0 4 2 = 2748,7495

SQTrat = 6�<�,139 … 9 1::2�2<,=32 ; − C = 728,3935

Page 13: Apostila Experimentação Agrícola

Experimentação Agrícola Prof. Dr. Willian Krause

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SQJ = �25,=39 …9 �12,830 − C = 355,4020

SQE = 2748,7495 – 728,3935 – 355,4020 = 1664,9540

QMTrat = 7�:,5<52

5 = 242,7978

QMB = 522,08�8

0 = 88,8505

QME = 1==0,<208

:1� = 138,7462

Fc = �0�,7<7: 15:,70=� = 1,750

Média = 1187,14 x 5 = 59,4

CV"%% = √138,746259,4 . 100 = 19,83

Quadro da análise de variância:

FV GL SQ QM Fc

Bloco 4 355,4020 88,8505 0,640

Tratamento 3 728,3935 242,7978 1,750

Erro ou Resíduo 12 1664,9540 138,7462

Total 19 2748,7495

Média 59,4

CV"%% = 6,81 19,83

h) Conclusão e interpretação da análise de variância

Para o DBC, valem as mesmas considerações realizadas para o DIC.

No exemplo acima, temos:

- Hipóteses

H0: trat 1 = trat 2 = trat 3 = trat 4

H1: trat 1 ≠ trat 2 ≠ trat 3 ≠ trat 4

- Fc = 1,750

- Ft = Fα (GLTrat; GLE) = F5% (3; 12) = 3,49 (Anexo 3)

Ft = Fα (GLTrat; GLE) = F1% (3; 12) = 5,95 (Anexo 4)

- Conclusão: Fc < Ft, não rejeita-se H0. Desta forma, não existe diferença significativa entre os tratamentos.

Ou seja, os quatro tipos de cobertura morta avaliadas no experimento acima não influenciaram sobre o peso

seco de brócolis.

As médias dos tratamentos são calculadas conforme a seguinte fórmula Y$�. = -@.� . Assim, temos:

Y$1. = 292,15 = 58,42

Y$�. = 343,85 = 68,76

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Experimentação Agrícola Prof. Dr. Willian Krause

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Y$5. = 291,65 = 58,32

Y$0. = 259,65 = 51,92

3.3. Experimentos fatoriais

a) Características

Em alguns experimentos, o pesquisador avalia dois ou mais tipos de tratamentos e deseja verificar se

há interação entre estes tipos. Tais experimentos são denominados experimentos fatoriais e os tipos de

tratamentos são denominados fatores. As categorias (subdivisões) de cada fator são ditas níveis do fator.

Como exemplo, considere um experimento em que se comparou o efeito de 3 estirpes de rizóbio (BR 9001,

BR 9004 e BR 4812) e o efeito de um determinado fungo (presença e ausência do fungo) na variável número

de nódulos produzido pelo feijão. Neste caso, existem dois fatores: estirpe de rizóbio e a ocorrência do

fungo. Os níveis do fator estirpe são 3 (BR 9001, BR 9004 e BR 48122) e do fungo são 2 (presença e

ausência).

Costuma-se representar o fatorial pela multiplicação dos níveis. No exemplo anterior o fatorial é 3x2

(fatorial 3 por 2), assim fica claro que existem dois fatores, o primeiro fator com 3 níveis de estirpe e o

segundo com 2 níveis de fungo. O número total de tratamentos avaliados também é dado pela multiplicação

dos níveis, ou seja, no exemplo são avaliados 3x2 = 6 tratamentos avaliados (1: BR 9001 na presença do

fungo; 2: BR 9004 na presença do fungo; 3: BR 4812 na presença do fungo; 4: BR 9001 na ausência do

fungo; 5: BR 9004 na ausência do fungo; 6: BR 4812 na ausência do fungo. Se fossem, por exemplo, 3

fatores com 5, 2 e 3 níveis para cada fator respectivamente, a representação seria: fatorial 5x2x3, sendo

avaliado um total de 30 tratamentos e assim por diante. Vale lembrar que os experimentos fatoriais não são

delineamentos e sim um esquema de desdobramento de graus de liberdade de tratamentos, e podem ser

instalado em qualquer dos delineamentos experimentais, DIC, DBC, etc. (Banzatto & Kronka, 1989).

b) Vantagens

- Permite estudar os efeitos principais dos fatores e os efeitos das interações entre eles.

c) Desvantagens

- Como os tratamentos correspondem a todas as combinações possíveis entre os níveis dos fatores, o número

de tratamentos a ser avaliado pode aumentar muito, não podendo ser distribuídos em blocos completos

casualizados devido à exigência de homogeneidade das parcelas dentro de cada bloco. Isto pode levar a

complicações na análise, sendo preciso lançar mão de algumas técnicas alternativas (como por exemplo, o

uso de blocos incompletos).

- A análise estatística e a interpretação dos resultados pode tornar-se um pouco mais complicada que nos

experimentos simples.

d) Modelo estatístico do fatorial

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Experimentação Agrícola Prof. Dr. Willian Krause

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O modelo a seguir corresponde a um modelo de um delineamento em blocos casualizados (DBC) em

esquema fatorial com 2 fatores (a e g), mas pode ser estendido para os casos em que há mais fatores,

incluindo os fatores isolados e as interações duplas, triplas e outras entre os fatores.

ijk j i k ik ijk y = ì + b + a + g + (ag) + e

em que, ijk y é o valor observado referente a parcela que recebeu o i-ésimo nível do fator a e o k-ésimo nível

do fator g no j-ésimo bloco; m representa uma constante geral; bj representa o efeito do j-ésimo bloco; ai

representa o efeito do i-ésimo nível do fator a; g representa o efeito do k-ésimo nível do fator g; (ag)ik

representa a interação entre o efeito do i-ésimo nível do fator a e o efeito do do k-ésimo nível do fator g e

eijk representa o erro experimental associado à observação yijk, suposto ter distribuição normal com média

zero e variância comum.

e) Exemplo de fatorial

Em um experimento em blocos casualizados com 4 repetições, no esquema fatorial 2x3 foi avaliado

o efeito de 2 variedades de canade- açúcar (V1 e V2) e 3 tipos de inoculantes (I1, I2 e I3) quanto ao peso do

colmo (ton/ha). Os dados estão apresentados na Tabela 7 a seguir.

Tabela 7. Peso do colmo (ton/ha) para os 6 tratamentos de um experimento em blocos casualizados (DBC),

com 4 repetições, em esquema fatorial 2x3