apostila educação patrimonial

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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Olhar o passado para entender o presente e projetar o futuro

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Uma apostila elaborada em forma de revista para dinamizar o ensino do conteúdo

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Page 1: Apostila Educação Patrimonial

Educação Patrimonial

Olhar o passado para entender o presente e projetar o futuro

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Educação Patrimonial

Olhar o passado para entender o presente e projetar o futuro

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RealizaçãoPetróleo Brasileiro S. A. Petrobras

Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito SantoGerência de Exploração

Gerência Setorial de Segurança, Meio Ambiente e Saúde Coordenação do Projeto

UN-ES/EXP/SMS

Execução TécnicaCTA- Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente

Coordenação GeralAlessandro Trazzi

Gerente de Projeto e Coordenação TécnicaSérgio Rodrigues

Coordenação de ArqueologiaCelso Perota

Pesquisa e RedaçãoFernanda Tabacow

Projeto Gráfico, Editoração e DiagramaçãoLeticia Orlandi

Paulo Gois Bastos

RevisãoRegina Simões

Este caderno é parte integrante do Projeto de Educação Patrimonial que contempla em seu escopo: capacitação de trabalhadores, exposição itinerante e excursões didáticas na área de

influência das atividades de exploração e produção de hidrocarbonetos na porção continental da região norte do Estado do Espírito Santo.

Uma iniciativa da Petróleo Brasileiro S. A. – Petrobras. Todos os direitos reservados à Petróleo Brasileiro S. A.

Informações

PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A.

Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito Santo

Tel: 0800 39-5005

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Se pensarmos que a principal função da educação é o seu caráter liber-tador e de que, em síntese, a educação deve possibilitar o crescimento in-dividual e a iniciação social, veremos que a Educação Patrimonial cumpre bem isso, uma vez que visa, a partir da experiência de cada aluno, fazê-lo perceber e entender o contexto sócio-histórico no qual está inserido. Dessa forma são constituídos sujeitos críticos, pois isso é possível somente após o entendimento de sua própria realidade.

A Educação Patrimonial é um instrumento para a afirmação da ci-dadania e deve contar com o envolvimento da comunidade na gestão do seu Patrimônio Cultural. Assim, realiza-se um processo de alfabetização cultural que habilita os alunos para uma leitura e percepção crítica do seu meio. A partir desse olhar, da valorização do passado para o entendimen-to do presente, é que a comunidade projeta um futuro alicerçado nos seus reais e mais importantes valores.

A inserção desta perspectiva, bem como o resgate da identidade local e a consciência dos valores e das marcas do patrimônio pessoal e coletivo são os objetivos prioritários do Programa de Educação Patrimonial do Norte Capixaba. A motivação para o desenvolvimento dessa iniciativa se deu a partir da descoberta de diversos sítios arqueológicos durante a realização de programas de aquisição sísmica realizado pelo Ativo Explo-ratório da Unidade de Negócios de Exploração e Produção do Espírito Santo (UN-ES) da Petrobras.

O Programa de Educação Patrimonial do Norte Capixaba tem como atividades principais a formação de professores, a difusão de ma-terial didático específico, que reúne parte das descobertas realizadas pela Petrobras em mais de 40 anos de atividades no Espírito Santo, além de exposições itinerantes e visitas orientadas a patrimônios históricos e sítios arqueológicos.

Como a Educação Patrimonial possui um caráter transdisciplinar, ou seja, enquanto metodologia pode ser trabalhada em todas as disciplinas, indicamos formas de aplicação desse conteúdo nas disciplinas de Ciên-cias, Português, História e Geografia. Há sugestões de atividades para cada disciplina, mas adiantamos que não há receitas prontas para serem seguidas.

Façam um bom uso desse material!

aPrESEntação

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ÍndicE

Educação Patrimonial 7

ciÊnciaS 19

PortuGuÊS 31

hiStÓria 41

GEoGraFia 53

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9 << Educação Patrimonial

O patrimônio é o le-gado que recebemos do passado, vivemos

no presente e transmitimos às futuras gerações. Nosso Patrimônio Cultural e Natu-ral é fonte insubstituível de vida e inspiração, nossa pedra de toque, nosso ponto de referência, nossa identidade. O que faz com que o conceito de Patrimônio Mundial seja excepcional é sua aplicação universal. Os sítios do Patri-mônio Mundial pertencem a todos os povos do mun-do, independentemente do território em que estejam localizados.

PatrimÔnio cultural

É o conjunto de todos os bens, materiais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, são considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo. O patrimônio é a nossa herança do passado, com que vivemos hoje, e passamos às gerações futuras.

O Brasil, em toda sua imensa extensão territorial, é uma nação multicultural. Nos-sa cultura vem sendo trans-mitida através das sucessivas gerações, sempre se renovando e se recriando num processo vivo e dinâmico, propiciando à nação a possibilidade de

construir sua própria identi-dade. A manifestação dessa identidade revela-se através do nosso Patrimônio Cultural que não se restringe somen-te aos bens culturais móveis e imóveis, mas de todos os elementos representantes de nossa memória nacional.

o PatrimÔnio ViVo:a dinÂmica cultural

Todas as ações, por meio das quais, os povos expressam seu modo específico de ser constituem a sua cultura, que vai ao longo do tempo ad-quirindo formas e expressões diferentes. A cultura é um processo dinâmico, transmiti-do de geração em geração, que se aprende com os ancestrais,

Educação Patrimonial

Patrimônio cultural é tudo que representa costumes e valores de um povo e de um lugar.

O Convento da Penha, Vilha Velha, é um dos patrimónios culturais mais conhe-cidos no Espírito Santo e também um dos que mais representa a memória capixaba

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se cria e recria no cotidiano do presente, na solução dos pequenos e grandes proble-mas que cada sociedade ou indivíduo enfrentam. Neste processo dinâmico de sociali-zação, em que se aprende a fa-zer parte de um grupo social, o indivíduo constrói a própria identidade. Reconhecer que todos os povos produzem cultura e que cada um tem uma forma diferente de se expressar é aceitar a diversida-de cultural. Este conceito nos permite ter uma visão mais ampla do processo histórico, reconhecendo que não há cultura mais importante do que outra.

o PatrimÔnio tEm QuE SEr ProtEGido

No Brasil o órgão gover-namental que cuida do Patri-mônio é o Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, nascido como secretaria durante o go-verno Vargas – SPHAN. Este

A preservação do patrimônio histórico teve início como atividades sistemáticas no século XIX, após a Segunda Guerra Mundial e a Revolução Industrial, inicialmente para restaurar os Monumentos destruídos na guerra.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura (UNESCO) propõe-se promover a identifi-cação, a proteção e a preservação do patrimônio cultural e natural de todo o mundo, considerado especialmente valio-so para a humanidade. Este objetivo está incorporado em um tratado internacional denominado Convenção sobre a proteção do patrimônio mundial cultural e natural, aprovada pela UNESCO em 1972.

órgão vem atuando no sentido de concretizar esse processo de resgate pela sociedade de seu Patrimônio Cultural e acredita que pelo processo educacional estas práticas se efetivarão. Para tanto, preparou um Guia Básico de Educação Patrimo-nial (Horta 1999), contendo propostas para o desenvolvi-mento de ações que auxiliem e contribuam para o (re) conhe-cimento das pessoas no que se refere às questões do Patrimô-nio cultural.

conhEcEr Para PrESErVar

A preservação do patrimô-nio pressupõe um projeto de construção do presente, pois a cultura de um povo não se constitui só dos bens móveis ou imóveis, mas de toda mani-festação que se origine de con-ceitos históricos, ambientais, paisagísticos, arquivísticos, etnográficos, que em alguma época possam ter contribuído para a consolidação da identi-dade de um grupo social.

PrESErVando o PatrimÔnio cultural

A proteção do meio am-biente compreende não apenas o ambiente natural, mas o meio ambiente artificial, cultural e do trabalho. O meio ambiente, na interpretação moderna, engloba a natureza e as modificações que o homem nela introduziu. O meio am-biente natural é constituído da água, da flora, do ar, da fauna

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e o cultural, das obras de arte, os imóveis históricos, museus, belas paisagens e tudo mais que identifique a memória do ser humano. Por isso, é im-prescindível que a população e os governos se conscientizem da relevância da preservação cultural para o bem-estar pró-prio de seus descendentes.

Como preservar? A primeira condição para a

preservação de um patrimônio tombado é a consciência de seu valor histórico, artístico, científico e/ou afetivo, pela coletividade envolvida. Outra condição fundamental é seu uso efetivo. Nada contribui tanto para a degradação de um prédio como a sua não utilização. Toda matéria tem uma vida útil determinada por suas características intrínsecas e pela forma como é mantida. Assim, a manutenção sistemá-tica, preventiva ou corretiva é a melhor maneira de se pre-servar um patrimônio, tomba-do ou não.

Quais as etapas de um trabalho de restauração?

Resumidamente, o trabalho de restauração de monumen-tos arquitetônicos tombados pode ser discriminado nas seguintes etapas:

Pesquisa Histórica do Edi-fício; Levantamentos Arquite-tônicos e Fotográficos; Mape-amento de danos; Diagnóstico do quadro de deterioração; Formulação dos critérios e técnicas de intervenção a se-rem usados já considerando a

adaptação para os novos usos; Execução dos projetos a serem aprovados pelos órgãos oficiais fiscalizadores; Elaboração das especificações de serviços e materiais bem como dos cronogramas físico-financeiros que nortearão a execução das obras de restauração; Acom-panhamento técnico das inter-venções.

Reconstituição de cerâmica antiga (foto ao lado) e intervenção casario antigo

(foto abaixo) são ações para preservação do patrimônio artístico e arquitetônico

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Patrimônio Material Maneiras de vestir, hábitos alimentares, instrumentos musicais, obra de arte, técni-cas construtivas, movimentos, máquinas e equipamentos, móveis, moedas...

Patrimônio Imaterial Canções, crenças, celebrações, lendas, saberes que passam de uma geração para outra, manifestações cênicas, lúdicas e plásti-cas, lugares e espaços de convívios, dialetos...

claSSiFicação do PatrimÔnio cultural

Patrimônio Artístico Obras de arte, danças folclóricas, pinturas, esculturas, artesa-

nato.

Patrimônio Arqueológico Locais de antigas moradias,

artefatos, restos alimentares, representações artísticas, rituais.

Pintura rupestre em rocha no Par-que Nacional da Serra da Capivara, no sul do Piauí. Figuras desenhadas pelos primeiros habitantes do conti-nente americano.

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Patrimônio Arquitetôni-co ou edificado Construções de diferentes: residências, fortificações, tem-plos, praças, edifícios públicos, fábricas, selos, portos, moin-hos.

Patrimônio Ambiental ou Natural

Elementos naturais - fauna e flora da região, mananciais hídricos e as reservas minerais. A preservação do patrimônio ambiental é de primordial importância, no dia a dia das pessoas, no mundo inteiro, pois o meio ambiente é antes de tudo, um sustentáculo da

Patrimônio Religioso ou Sacro Elementos significativos das

crenças e manifestações de fé, independentemente da religião: igrejas, terreiros de umbanda, ob-jetos e utensílios que fazem parte dos rituais, estatuária...

vida, tanto a humana, quanto a dos animais e vegetais.

Ouro Preto, Minas Gerais

Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, Rio de Janeiro

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o PatrimÔnio hiStÓrico E artiStico

Patrimônio histórico e artístico de um povo é mais do que um conjunto de anti-güidades ou mera coleção de curiosidades que a corrente do tempo foi largando pela vida. Ele é responsável pela continuidade histórica de uma comunidade que se reconhece como tal e corporifica seus ideais e valores, transcenden-do as gerações. Dessa forma, incita ao patriotismo e à ética, convidando ao saber e à reve-rência.

Dinâmica conceitualO conceito de patrimônio

cultural tem-se modificado ao longo dos últimos anos. Deixa de privilegiar, apenas, um período histórico ou estilístico, como o barroco, por exemplo, para se estender aos demais períodos, inclusive o moder-nismo. Deixa de se preocupar apenas com o excepcional voltando-se, também, para o exemplar, aqueles objetos que documentam a história, abrangendo, inclusive, diver-sas classes sociais. Na visão contemporânea do patrimô-nio, a questão dos conjuntos urbanos surge como uma forte presença norteadora. Não se coloca mais o edifício isolado como o mais importante, mas privilegiam-se as relações de entorno e as paisagens urba-nas coesas que referenciam o tempo histórico e ambientam as cidades, contribuindo para a identidade de seu povo.

Educação Patrimonial Atualmente, cada vez mais,

exige-se dos educadores que trabalhem com conteúdos que evidenciem a diversidade cultural e a sua transposição didática, conforme previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e nos Temas Transversais da Educação (TTE). Entretanto, existem poucas publicações dirigidas aos educadores no Brasil que tratam dos aspectos relacio-nados à educação e à cultura oferecendo alternativas para a prática cotidiana. Desta forma, as dificuldades são inúmeras para que o educador passe a utilizar abordagens menos comprometidas com o conte-údo tradicional presentes nos planejamentos educacionais e nos livros didáticos, e passe então, a construir situações de aprendizado sobre o processo cultural no qual se está inseri-do. Sendo assim, este material foi produzido com o objeti-vo de apoiar o professor do

ensino básico na promoção do conhecimento sobre a utili-zação e exploração dos bens culturais e do meio ambiente nas escolas. Para tanto, esse caderno procura mostrar como identificar, explorar e valorizar o patrimônio cultural brasilei-ro, tendo como base as infor-mações conceituais e práticas metodológicas de Educação Patrimonial proposta no “Guia Básico de Educação Patrimonial” (Horta 1999).

Um tema importante!A Educação Patrimonial

busca resgatar uma relação de afeto da comunidade pelo patrimônio. Assim, desenca-deia-se um processo de apro-ximação da população ao pa-trimônio, à memória, ao bem cultural, de forma agradável, prazerosa, lúdica. A metodo-logia da Educação Patrimonial pode ser voltada a grupos de qualquer idade e aplicada a qualquer bem cultural, desde museus até sítios culturais, como um córrego, por exemplo.

O Museu Imperial de Petrópolis-RJ se destaca nacionalmete pela promoção e realização de atividades de Educação Patrimonial

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Partindo do pressuposto de que para preservar é preciso conhecer, esse material foi produzido para motivar os professores do ensino básico a desenvolver um trabalho de educação patrimonial na sua escola, com o intuito de esclarecer e informar a popu-lação a respeito do patrimônio cultural de sua comunidade. Dessa maneira, pode-se pro-mover a conscientização sobre a importância de seus bens na construção de uma memória coletiva e, conseqüentemente, da preservação de suas rique-zas culturais.

o QuE É Educação Patrimonial?

A Educação Patrimonial é um processo permanente e sistemático de trabalho educa-cional centrado no patrimônio cultural como fonte primária de conhecimento, enriqueci-mento individual e coletivo. A partir do conhecimento dos múltiplos aspectos culturais, o trabalho de Educação Patri-monial busca levar crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento critico e valorização de sua herança cultural. Dessa maneira, os objetos e expressões do Patri-mônio Cultural são o ponto de partida para a atividade pedagógica, realizada através da observação, do questiona-mento e da exploração de to-dos os aspectos desses objetos e expressões. Dessa forma, a Educação Patrimonial pode ser assim um instrumento de

“alfabetização cultural” que auxilia o indivíduo a fazer a leitura do mundo que o rodeia, incentivando-o a reconhecer o universo sócio-cultural e a tra-jetória histórico-temporal em que está inserido. Em outras palavras, a Educação Patrimo-nial nada mais é do que uma proposta interdisciplinar de ensino voltada para questões do patrimônio cultural. Com-preende desde a inclusão nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, de temá-ticas ou de conteúdos progra-máticos que versem sobre o conhecimento e a conservação

do patrimônio histórico, até a realização de cursos de aper-feiçoamento e extensão para os educadores e a comunidade em geral.

a Educação Patrimonial EStÁ PrEViSta noS ParÂ-mEtroS curricularES nacionaiS

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o en-sino fundamental, elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), trazem uma inovação, ao permitir a necessária interdis-ciplinaridade na educação básica, mediante a introdução dos

Visitar museus é uma exce-lente maneira de conhecer e valorizar o patrimônio cultural

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chamados “temas transversais’’, que deverão ser explorados nas diferentes disciplinas escolares. Dois desses temas transversais possibilitam à escola o estudo do patrimônio histórico e a conseqüente adoção de proje-tos de educação patrimonial. Trata-se dos temas do meio ambiente e da diversidade cultural.

Dessa maneira, a Educação Patrimonial está prevista nos Parâmetros Curriculares Na-cionais (PCN) para o ensino fundamental. Os parâmetros são referências para reorien-tação curricular e constituem o eixo norteador da política educacional no país. Uma das qualidades do documen-to é justamente a questão da memória, a incorporação das histórias locais, e no interior delas a Educação Patrimonial. Na descrição dos conteúdos obrigatórios para o primeiro ciclo do ensino fundamental, por exemplo, o eixo temático é a história local e do cotidia-no. O professor é orientado a enfocar preferencialmente diferentes histórias do local em que o aluno vive. O objeti-vo é que os estudos da história local ampliem a capacidade do aluno de observar o seu entorno para a compreensão de relações sociais existentes no seu próprio tempo.

Educação Patrimonial naS EScolaS: rESGatan-do PatrimÔnio cultural

Em termos teórico-meto-dológicos, a Educação Patri-monial se utiliza dos lugares e

suportes da memória (museus, monumentos históricos, arqui-vos, bibliotecas, sítios pré-his-tóricos e históricos, etc.) no processo educativo, a fim de desenvolver a sensibilidade e a consciência dos alunos e dos cidadãos para a importância da preservação desses bens culturais. Por meio da Educa-ção Patrimonial, o processo de ensino e aprendizagem pode ser dinamizado e ampliado, muito além do ambiente escolar onde toda uma co-munidade pode estar envol-vida. Dessa maneira, passa a ser mais um instrumento no processo de educação que deve contribuir para o despertar de uma consciência crítica e de responsabilidade para com a preservação do patrimônio e, conseqüentemente, do meio ambiente.

dinÂmica no EnSinoPor meio da Educação

Patrimonial, o processo de en-sino e aprendizagem pode ser dinamizado e ampliado, muito

além do ambiente escolar onde toda uma comunidade pode estar envolvida. Sen-do assim, o desenvolvimento de programas de Educação Patrimonial, envolvendo não só a rede escolar, mas também as organizações da comunidade local, as famílias, as empresas e, principalmente, as autoridades responsáveis, contribuem para a ampliação de uma nova visão do Patrimônio Cultural Bra-sileiro em sua diversidade de manifestações.

dESEnVolVimEnto dE concEitoS E haBilidadES

O processo educativo, em qualquer área de ensi-no/aprendizagem, tem como objetivo levar os alunos a utilizarem suas capacidades intelectuais para a aquisição de conceitos e habilidades, assim como para o uso desses con-ceitos e habilidades na prática, em sua vida diária e no pró-prio processo educacional.

mEtodoloGia ESPEcÍFicaA metodologia específi-

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ca da Educação Patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidência material ou mani-festação da cultura, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um sítio histórico ou arqueológico, uma paisagem natural, um par-que ou uma área de proteção ambiental, um centro histórico urbano ou uma comunidade da área rural, uma manifesta-ção popular de caráter folcló-rico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expressão resultante da relação entre os indivíduos e seu meio ambiente.

A Educação Patrimonial procura provocar situações de aprendizado sobre o proces-so cultural e seus produtos e manifestações, que despertem nos alunos o interesse em resolver questões significativa para suas próprias vidas, pes-soal e coletiva. O patrimônio cultural e o meio-ambiente histórico em que está inserido oferecem oportunidades de provocar nos alunos sentimen-tos de surpresa e curiosidade, levando-os a querer conhecer mais sobre eles. Outro aspecto de fundamental importân-cia no trabalho da Educação Patrimonial é o seu caráter transdisciplinar, podendo ser aplicado como métodos em todas as disciplinas.

aPlicando a mEtodolo-Gia

A análise de um objeto ou fenômeno cultural pode ser

feita através de uma séria de perguntas e reflexões.

Perguntas: Quais os aspectos físicos/

matérias?Qual a forma/desenho?Qual a função/uso?Como se deu a construção/

processo?Qual o valor/significado?Como descobrimos isso?Por meio da observação,

feita através da pesquisa/es-tudo originamos a discussão. Por fim, chegamos à conclusão que é o conhecimento trazido pelo objeto.

EtaPaS mEtodolÓGicaSPara ajudar no processo de

identificação do objeto/tema de estudo podemos sistemati-zar algumas etapas, são elas:

Observação: O que está sendo visto? A discussão a respeito do patrimônio leva o grupo a observar e pensar sobre o que está vendo. Nesta fase, geralmente são utilizados jogos, como o de memória, para, de uma forma lúdica, prender a concentração do grupo.

Registro: O segundo mo-mento está voltado para que as pessoas demonstrem o que acharam de mais significativo. O registro pode ser verbal, por meio de desenho, escrita etc...

Pesquisa: Esta fase abrange a discussão no grupo sobre o patrimônio – as dúvidas, opiniões – e uma pesquisa – a partir de livros, revistas, jornais entrevistas ou qualquer outro material, que agregue informações mais amplas.

Apropriação: Este é o mo-mento que o grupo tem para expressar, da maneira que for mais conveniente e informal, o significado que ficou para cada um.

NOTAAntes de iniciar o tra-balho com qualquer dos temas do Patrimônio Cultural, procure estudar e conhecer o tema a ser tratado. Você pode con-versar com os técnicos do Museu local, do Insti-tuto do Patrimônio, com membros da comunidade, ir a bibliotecas e arquivos para ampliar seu enfoque e conhecer os recursos a serem explorados. Defina seus objetivos educa-cionais e os resultados pretendidos. Decida que habilidades, conceitos e conhecimentos você quer que seus alunos adquiram e de que modo o trabalho se insere no seu currícu-lo. Verifique que outras disciplinas poderiam estar envolvidas na exploração do tema e converse com outros professores dessas matérias. Converse com a coordenação pedagógica de sua escola para discu-tir como o trabalho será avaliado e como poderá ser mostrado na escola, de maneira a serem aprovei-tados pelos demais alunos.

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Educação Patrimonial >> 18

ETAPAS RECURSOS/ATIVIDADES

OBJETIVOS

Observação Exercícios de percepção visual/sensorial, utilizando perguntas, manipu-lação de objetos, experimentação, pesquisa e anota-ções, brincadeira, jogos de detetive...

- Identificação do objeto/ função/ significado;- desenvolvimento da percepção visual e simbólica.

Registro Desenhos, descri-ção verbal ou escri-ta, gráficas, foto-gráficas, maquetes, mapas...

- fixação do conhe-cimento percebido, aprofundamento da observação e análise crítica;- desenvolvimento da memória, pensa-mento lógico, intui-tivo e operacional.

Exploração Análise do proble-ma, levantamen-to de hipóteses, discussão, questio-namento, avaliação, pesquisa em outras fontes (bibliotecas, arquivos, cartórios, instituições, jornais, revistas)

- desenvolvimento das capacidades de análise e julgamen-to crítico, interpre-tação das evidên-cias e significados.

Apropriação Recriação, releitu-ra, dramatização, interpretação em diferentes meios de expressão como pintura, escultura, drama, dança, mú-sica, poesia, texto, filme e vídeo.

- envolvimento afetivo, desenvolvi-mento da capacida-de de auto-expres-são, apropriação, participação criati-va, valorização do bem cultural.

a multiPlicação do mÉ-todo

A metodologia da Educa-ção Patrimonial pretende ser um instrumento valioso para o trabalho pedagógico dentro e fora da escola. Para alcançar a multiplicação das idéias e conceitos propostos no campo da educação sobre o patrimô-nio cultural é importante que se faça um treinamento com os agentes que irão desenvol-ver este trabalho nas escolas, nas associações de bairros, ou qualquer espaço ou grupo so-cial que se pretende sensibili-zar. Esse treinamento pode ser realizado por meio de Oficinas de Educação Patrimonial, que levarão os participantes a experimentar diretamente a metodologia de trabalho pro-posta, podendo assim avaliar a sua eficiência e potencialidade.

Como favorecer esse pro-cesso?

Durante o trabalho de campo, os alunos podem usar lentes para examinar os dife-rentes materiais e suas texturas e qualidades. A deterioração dos materiais em objetos e edifícios históricos é um bom pretexto para se produzir hipóteses e pesquisas sobre como e porque alguns mate-riais se deterioram diferente-mente de outros. As questões sobre o clima e a umidade são importantes nesta questão. Pode-se fazer experiências com madeiras, metais, ferro, plástico, papel, vidro, etc., submetendo-os a diferentes

Fonte: Adaptado do Guia Básico de Educação Patrimonial (Horta 1999).

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agentes de deterioração e a um processo de observação: jogando na água, enterrando, deixando ao ar livre, sacudin-do, submetendo a impacto, manipulando o objeto ou ma-terial estudado. Pode-se assim discutir as diferentes maneiras de preservação desses mate-riais.

FontE PrimÁria dE co-nhEcimEnto

A habilidade de interpre-tar os objetos e fenômenos culturais amplia a nossa capacidade de compreender o mundo. A observação direta, a manipulação e o questiona-mento do objeto, feito com perguntas apropriadas, podem revelar estas informações em um primeiro nível de conheci-mento, que deverá ser extrapo-lado por meio do estudo e da investigação de fontes com-plementares como fotografias, livros, documentos, arquivos, pesquisas etc. Neste contexto, o objeto mais comum de uso doméstico ou cotidiano pode oferecer uma vasta gama de informações a respeito do seu contexto histórico-temporal, da sociedade que o criou, usou e transformou, dos gostos, valores e preferências de um grupo social, de seus hábitos, da complexa rede de relações sociais. Neste processo de etapas sucessivas de percepção, analise e interpretação das ex-pressões culturais é necessário definir e delimitar os objetivos e metas da atividade de acordo com o que se quer alcançar.

Formulando hiPotESES SoBrE oBJEtoS

A metodologia da Edu-cação Patrimonial nos leva a formular hipóteses sobre os objetos e fenômenos observa-dos, buscando descobrir sua função original e sua impor-tância no modo de vida das pessoas que os criaram. Por exemplo, um simples botão, de plástico, de osso ou de madei-ra, parece não oferecer uma grande margem de exploração de significados. Mas se pen-sarmos em como era a vida das pessoas antes da invenção do botão, podemos descobrir fatos interessantes.

COMO SURGIRAM OS BOTÕES?

Até a Idade Média, na Europa, as roupas, em especial os casacos e coletes, eram amarradas com laços e cadarços, de tecido ou de couro. Após o surgimento do botão, fechando o vestuário, as pes-soas passaram a ter uma melhor proteção contra o frio e o vento, em suas atividades diárias. Isto veio contribuir para a diminuição das doenças contraídas pela exposição a esses fatores atmosféri-cos, inclusive à umidade, em uma época em que a medicina ainda estava engatinhando, e em que não se conheciam os antibióticos e outros medicamentos para combater a gripe, a pneumonia, a bronquite. A invenção do botão veio assim aumentar a expectativa de vida dos indivíduos, influenciando também a moda, e gerando uma sucessão de outros recursos para o fechamento das roupas, em tempos posteriores, como os zíperes, os botões de pressão em metal, e mais recentemente as fitas “velcro”. A popularização do uso do botão levou à criação de usos correla-tos para este pequeno objeto, que passa a ostentar monogramas, indicativos da profissão do usuário (como nos uniformes do perío-do imperial, no Brasil, que ostentam a sigla PI ou PII, em referência aos dois Imperadores), a ser símbolo de prestígio social, como as abotoaduras de ouro ou madrepérola usadas nos punhos das cami-sas, ou ainda o uso na propaganda, com os conhecidos “buttons”/ botões com siglas partidárias, de campanhas sociais, de eventos ou clubes. Podemos ainda lembrar o “futebol de botão”, tão popular entre adultos e crianças. (Maria de Lourdes Pereira Horta).

AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Em qualquer atividade de Educação Patrimonial, a avaliação da experiência pode trazer subsídios que possibilitem aos educado-res enriquecer a aplicação da metodologia utilizada, verificando o nível de en-volvimento e compreensão dos alunos com o tema explorado.Um método possível para se fazer esta avaliação é o uso de questionários, aplicados aos professores e alunos, a partir da experi-ência vivenciada.

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ciÊnciaS

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Educação Patrimonial >> 22

O trabalho com o Patrimônio Cultural e Histórico é mais

facilmente compreendido no âmbito das disciplinas que podem abordar esse tema, como a História. Trabalhar o Patrimônio, nas demais dis-ciplinas, quase sempre passa despercebido pelos professo-res, já que é comum a sobre-carga nos currículos escolares, com disciplinas que compe-tem entre si pela limitação do tempo em sala de aula e pelas normas oficiais estabelecidas. Contudo, os objetos patrimo-niais, os monumentos, sítios e centros históricos, além do patrimônio imaterial e natural que representam, são recursos educacionais importantes que permitem ultrapassar os limi-tes interdisciplinares. Desta forma, podem ser utilizados como motivadores, para qual-quer área do currículo ou para reunir áreas aparentemente distantes no processo de ensi-no/aprendizagem.

Disciplina de Ciências e a Educação Patrimonial: os edifícios e monumentos podem ser usados para o estudo dos fenômenos e das leis da Física, por exemplo, a força da gravidade: galpões e salões antigos, com estrutura aparente, podem ajudar a compreensão dos problemas de construção e de distri-buição dos pesos do telhado e paredes. Tijolos de brin-quedo podem ser usados em sala de aula para reconstruir problemas estruturais e testar

a resistência de diferentes tipos de materiais. O mesmo pode ser feito com maquetes de estruturas e arcos.

inVEStiGando o PrESEntE Para conhEcEr o PaSSado

O longo período de tem-po que antecede a História, período em que não se tem registros escritos ou orais, é chamado Pré-História. Mas se não há registros escritos, ou orais, dos tempos pré-histó-ricos, como podemos estudá-los? Para um arqueólogo, um montinho de lascas de pedra pode trazer muitas informa-ções importantes, mas, para uma pessoa comum, pode não ter significado. A desco-berta de sítios arqueológicos é freqüentemente ocasional, sendo muitas vezes feita por proprietários rurais, agriculto-res, construtores ou pedreiros durante suas atividades de trabalho.

Educação Patrimonial e Arqueologia

Descobrindo e estudando sítios arqueológicos no Brasil, os arqueólogos encontram pistas para desvendar a vida das pessoas que habitaram, ou que já passaram, pelo que chamamos hoje de território brasileiro. Para tanto, eles lançam mão de metodologias e técnicas indispensáveis para transformar as descobertas ar-queológicas em conhecimento sobre o passado. O trabalho de Educação Patrimonial é pare-

cido com o dos arqueólogos: aprender a ler as evidências do passado no presente, para delas tirar conclusões e conhe-cimentos.

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23 << Educação Patrimonial

Investigando o passado:Um arqueólogo é como um

detetive que investiga os ves-tígios e as pistas que mostram como viviam as sociedades no passado. Existem diferentes tipos de trabalhos arqueoló-gicos. Os mais praticados no Brasil são: a Arqueologia Pré-histórica, que estudo o perí-odo antes de 1500 quando os europeus chegaram ao Brasil; e a Arqueologia Histórica que estuda o passado do homem que viveu a partir dessa data.

As pistas do passado:As principais evidências

que os arqueólogos podem encontrar em um sítio arque-ológico, como pistas para des-vendar o mistério da vida dos povos que nos antecederam, enterradas ou sobre a superfí-cie do solo, são:

- artefatos: qualquer objeto feito pelo homem, como ins-trumentos de trabalho, para caça ou de pesca, de música ou ritual, brinquedos, vasilhas, peças de indumentária, modos

de enterramento etc.- estruturas: as construções

de todos os tipos, para atender às suas necessidades e mo-dos de vida, tais como casas, abrigos, depósitos de alimen-tos e grãos, igrejas, cemitérios, colégios, fortificações etc.

- ecofatos: ou as coisas da natureza usadas pelo homem de acordo com suas necessida-des, como por exemplo, restos de alimentos, ossos e conchas, sementes, carvão, fibras, pedras etc.

O que é Arqueologia?Arqueologia é uma ciência social que estuda e in-terpreta a vida das sociedades passadas através de seus restos materiais em seus devidos contextos. Esses restos, chamados de Cultura Material, são as manifestações físicas das atividades humanas para se adaptarem aos diversos ambientes do planeta, em uma escala de tempo que teve início com os primei-ros seres humanos até chegar aos dias atuais. Em outras palavras, a arqueologia se dedica ao estudo das sociedades humanas através de seus vestígios materiais e das modificações que imprimiram no ambiente em que viveram, alterando a paisagem, fauna e flora.

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De viajante a detetiveO trabalho do arqueólogo

pode também, em vários as-pectos, ser comparado à busca de um detetive. Através dos mais variados vestígios mate-riais deixados pelas sociedades antigas, ele procura reconsti-tuir o mundo que lhe é invi-

em períodos mais antigos, o homem utilizou um determi-nado espaço. Em alguns casos, o encontro dos sítios arqueo-lógicos pode ser casual, como por exemplo, durante a perfu-ração de um poço, construção de estradas, trabalhos de agri-cultura, edificações de prédios, dentre outras atividades. Já existiram casos em que em meio a essas atividades foram encontrados grandes sítios arqueológicos. As característi-cas topográficas e cartográficas (mapas) e fotografias aéreas, muitas vezes permitem iden-tificar a existência de sítios arqueológicos. A partir da analise de fotografias aéreas (chamadas de aerofotografia), já foram percebidos vários in-dícios de ocupações do perío-do pré-histórico e histórico.

E os sambaquis? Sambaqui (do tupi

tamba’kï; literalmente “monte de conchas”) são depósitos criados pelo Homem consti-tuídos por materiais orgânicos, calcários, empilhados ao longo do tempo e sofrendo a ação da intempérie, que acaba por promover uma fossilização química, pois a chuva deforma as estruturas dos moluscos e dos ossos enterrados, di-fundindo o cálcio em toda a estrutura e petrificando os detritos e ossadas porventura ali existentes.

Sua ocorrência (elevação) é facilmente percebida pelo des-taque dos montículos em uma área plana da paisagem. A sua

Tirando a prova

Os sambaquis nos provam a existência de comunida-des de coletores/caçado-res, os quais consumiam os moluscos, para depois amontoar suas cascas para morar sobre elas, já que constituíam um lugar alto e seco.No interior dos sambaquis podem ser encontrados vestígios de fogueiras, instrumentos cortantes, amoladores, restos de mamíferos, além de ossos de peixes, répteis e baleias, além de sepultamentos.

sível, formado pelas crenças, comportamentos e idéias. Os vestígios materiais constituem, portanto, as pistas de que o arqueólogo-detetive dispõe para reconstruir os diferentes modos de vida do passado. Encontrar estas pistas torna-se o primeiro passo da inves-tigação. O local em que os vestígios materiais aparecem é chamado, pelos pesquisadores, de “sítio arqueológico”.

Como são encontrados os Sítios Arqueológicos?

Um sítio arqueológico é um local no qual os homens que viveram antes do início de nossa civilização e deixaram algum vestígio de suas ativida-des: uma ferramenta de pedra lascada, uma fogueira na qual assaram sua comida, uma pin-tura, uma sepultura, a simples marca de seus passos.

Descobrindo a historiaExistem algumas formas

de o arqueólogo perceber que,

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jetos arqueológicos no interior dos solos, uma vez que a terra é condutora de eletricidade. Para conhecer o que está en-terrado, o arqueólogo também conta com recursos sofistica-dos, que “enxergam” o que está abaixo da superfície. Existem diversos métodos e aparelhos desenvolvidos pelos geofísi-cos, como o GPR (Ground Penetrating Radar - radar de penetração do solo): através da emissão de ondas magné-ticas, ele detecta a presença de corpos enterrados, fornecendo um “raio-X” do subsolo. Estes aparelhos são ainda úteis para definir áreas mais favoráveis de escavações, ou então para indicar porções que devem ser preservadas para pesquisas futuras.

EScaVaçÕES

Muito utilizado em áre-as como a Paleontologia e a Arqueologia, a Escavação é um recurso para descobrir evidências sobre a evolução

existência pode ser também reconhecida em estudos de ge-omorfologia (área da geografia que estuda o relevo e seus componentes).

Arqueologia dos animaisA Zooarqueologia, ou

“arqueologia dos animais” se dedica a outros temas rela-cionados aos diferentes usos que os homens faziam dos animais, no passado: no início, perseguiam-nos como fontes de alimento depois aprende-ram domesticá-los e utilizá-los como força motriz. Hoje voltam sua atenção para o aprimoramento de raças com experimentos genéticos. A análise de seus restos permite identificar os tipos de animais consumidos, as preferências do grupo, as variações na dieta alimentar das pessoas que pertenciam a níveis distintos na hierarquia social e política, ou até mesmo mudanças nos hábitos alimentares de toda uma população, ao longo do tempo. Através de todos estes trabalhos o Zooarqueólogo procura recuperar os vestígios animais presentes nos sítios arqueológicos, para então começar a estudar o papel que eles desempenharam, em nossa História.

TecnologiaA arqueologia tem atu-

almente métodos e técnicas modernas para recuperar as informações do passado, como por exemplo, a utilização de um detector eletromagnético que é capaz de identificar ob-

“Escavar um sítio arqueo-lógico é como comer um delicioso bolo que contém as sucessivas camadas de nossa História”

Um momento!... Agora começaram as escavações! Quando a geologia e o homem se cruzam... pode aparecer... A Arqueologia

da História no mundo através dos vestígios que ficaram en-terrados por conta da ação do tempo. Uma variedade rele-vante é composta pelas escava-ções de emergência, realizadas quando se encontra um sítio arqueológico que será afetado ou destruído por uma obra.

Desde o início, a noção de

Restos ósseos de um cão podem ser interpretados como vestígios de domesticação animal em épocas remotas

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escavação esteve fortemente vinculada ao processo geo-lógico de estratificação do solo, que obedece à denomi-nada “lei da superposição”: as camadas superiores do terreno seriam resultado de ações recentes, enquanto camadas inferiores e mais profun-das seria resultado de ações antigas. A deposição de peças arqueológicas no solo obede-ce ao mesmo princípio geral: as encaixadas nos estratos próximos à superfície seriam relacionadas a uma ocupa-ção humana mais recente, enquanto peças encontradas em estratos profundos per-tenceriam a uma ocupação bem mais antiga. Deste modo, os estratos se acumulam em seqüência, ao longo do tempo, dando ao sítio arqueológico a feição de um delicioso bolo, com suas sucessivas camadas de recheio.

PatrimÔnio GEolÓGico como Valor EducatiVo

A individualização dos conceitos de Patrimônio Geo-lógico, dentro dos temas mais abrangentes de Conservação da Natureza e do Ambien-te, representa uma evolução positiva relativamente re-cente, sendo estes conceitos ainda pouco reconhecidos por grande parte dos agentes educativos. O conhecimento geológico é fundamental para a manutenção da vida e con-servação do planeta, pois sua superfície, habitat do homem e dos demais seres vivos, nos

A preservação do pa-trimônio histórico teve início como atividades sis-temáticas no século XIX, após a Segunda Guerra Mundial e a Revolução In-dustrial, inicialmente para restaurar os Monumentos destruídos na guerra.

fornece o substrato e o ma-terial para nossa subsistência. O meio geológico é fonte de riquezas minerais, das águas, de solos férteis, origina cadeias de montanhas, vales, sendo base para as culturas, atuando como suporte físico (substra-to) para o desenvolvimento e fornecendo o material para sua subsistência.

PatrimÔnio hiStÓrico E cultural: conhEcEr Para PrESErVar

A preservação do patrimô-nio pressupõe um projeto de construção do presente, pois

a cultura de um povo não se constitui só dos bens móveis ou imóveis, mas de toda mani-festação que se origine de con-ceitos históricos, ambientais, paisagísticos, arquivísticos, etnográficos, que em alguma época possam ter contribuído para a consolidação da identi-dade de um grupo social.

Parque Paulo César Vinha, em Guarapari

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curioSidadES:

oS animaiS na PrÉ-hiStÓria humana

O melhor e velho amigo do Homem

Quem tem animais de estimação sabe o cuidado que eles exigem e a dor que senti-mos quando se machucam ou morrem, existindo, nos dias de hoje, até mesmo cemitérios para que sejam enterrados.

Era assim também no Uru-guai há mais de 2.500 anos. Durante escavações no sítio Potrerillo de Santa Teresa os arqueólogos vinham retirando uma série de esqueletos hu-manos quando se depararam com uma ossada diferente, de animal. O zooarqueólogo da equipe entra em cena e cons-

Acampamentos de caça e sítios açougue

Os restos animais podem ter grande importância para definir o tipo de atividade que o homem desenvolveu, no sítio arqueológico estudado.

Muitos grupos humanos erguiam acampamentos de caça, onde tocaiavam suas presas e armavam armadilhas para aprisioná-las. Cânions

A domesticação dos animais

Outra importante questão tratada pela Zooarqueologia é o início da domesticação dos animais. Até que momento o homem se serviu de animais em seu estado selvagem, e quando começou a criá-los em cativeiro?

Uma das formas de identificar a prática da domesticação é reconhecer algumas alterações físicas que começam a ocorrer em animais aprisionados.

Por ter menos espaço para se movimentar e uma alimentação empobrecida, os animais em cativeiro tendem a ser menores, tanto no tamanho do corpo como no tamanho dos dentes. Também apresentam uma deteriorização genética, causada pelo constante cruzamento das espécies dentro de um pequeno grupo de animais. Pesquisas recentes se valem inclusive de análises de DNA para identificar a domesticação.

Os humanos, já no tempo da pré-história utilizavam conhecimentos de genética através da domesticação e do cruzamento seletivo de animais e plantas. Atualmente, a genética proporciona ferramentas importantes para a investigação das funções dos genes, isto é, a análise das interações genéticas. No interior dos organismos, a informação genética está normalmente contida nos cromossomos, onde é representada na estrutura química da molécula de DNA.

Por outro lado, animais utilizados em trabalhos de carga ou tração podem trazer marcas ou deformidades ósseas, resultando em ótimos indicadores de domesticação.

Assim, a Zooarqueologia abre diferentes portas para conhecer inúmeros aspectos do nosso passado, a partir do relacionamento que os homens mantiveram com os animais que os cercavam.

tata: a ossada é de cachorro.O que teria feito aquele

grupo indígena enterrar, junto com seus mortos, um cão?

Provavelmente teria sido um animal de estimação, re-velando que mesmo há milha-res de anos atrás os animais participavam da vida cotidiana e recebiam, em alguns casos, cuidados especiais.

eram utilizados para encur-ralar os animais, que depois eram facilmente abatidos. Bei-ras de rio permitiam apanhar as presas no momento em que fossem beber água. E locais de cachoeira se mostravam excelentes pontos de pesca.

Depois de abatidos, muitos animais recebiam uma espécie de tratamento prévio, igual ao que pôde ser observado durante as escavações de um sítio arqueológico em São Paulo. Dali retirou-se uma grande quantidade de ossos provenientes apenas das partes menos nobres da caça (crânio e patas). As demais partes, que contêm carne, teriam sido levadas para consumo no local onde o grupo habitava. Trata-va-se, portanto, de um verda-deiro “açougue pré-histórico”.

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Nos municípios de Concei-ção da Barra, São Mateus, Linhares e Pancas possuem sítios e monumentos históri-co-culturais tombados pelo IPHAN e também, pelo Con-selho Estadual de Cultura.

monumEntoS E SÍtioS hiStÓricoSOs monumentos são geralmente construídos com o du-

plo objetivo de comemorar um acontecimento importante, ou homenagear uma figura ilustre, e, simultaneamente, criar um objeto artístico que melhorará o aspecto de uma cidade ou local. Estruturas funcionais que se tornaram notáveis pela sua anti-guidade, tamanho ou significado histórico, podem também ser consideradas monumentos.

monumEntoS E SÍtioS arQuEolÓGicoS do ESPÍrito Santo

Em todos os municípios do norte do Estado são encontrados remanescentes da varias culturas pretéritas, como a Tupinam-bá. Na região já foram identificados mais de duzentos sítios de diferentes tamanhos (desde pequenos sambaquis a outros que caracterizam grandes aldeias).

conceição da Barra

As áreas do Parque de Itaúnas e seu entorno imediato, abrigam sítios arqueológicos datados entre 500 A.C. e 500 D.C., sendo encontrados ali artefatos de população indíge-na ligada à tradição Itaipu. Re-gistram-se ainda informações da ocupação de outras épocas: índios e negros, século XVIII; da antiga Vila de Itaúnas, de-senvolvida a partir do comércio, principalmente, de farinha de mandioca. A partir de 1950 a Vila de Itaúnas sofreu o proces-so de soterramento pelas dunas. Devido ao desmatamento e aos fortes ventos constantes, a anti-ga Vila foi soterrada pela movi-mentação de areia, forçando os moradores a se mudarem para a margem direita do Rio itaúnas. No lugar do antigo vilarejo formou-se dunas, que hoje são internacionalmente famosas, algumas com até 30 metros de altura. Do passado sobraram as histórias e lembranças dos

habitantes e a visão do mastro da velha igreja, única parte da antiga vila que ainda se mostra visível.

As dunasAs Dunas de Itaúnas e os

sítios arqueológicos foram tombados como patrimônio arqueológico, etnográfico, paisagístico e científico pelo Conselho Estadual de Cultura.

• Dunas de Itaúnas (Resol. 08/86 – CEC – Proc.18/84)

O TicumbiEnquanto manifestação cultu-

ral merece destaque os grupos folclóricos de Ticumbi. Realizado há mais de 200 anos e passado de pai para filho, o Ticumbi é o mais tradicional folguedo em louvor a São Benedito realizado pelos núcleos de cultura negra em Conceição da Barra e Itaúnas. O Ticumbi foi registrado, pelo Conselho Estadual de Cultura, como bem cultural de natureza imaterial.

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São mateus

Dentre os bens de interesse histórico e cultural encon-trados no município de São Mateus deve ser destacado o casario do Porto Histórico de São Mateus, composto de 32 sobrados construídos entre os séculos XVIII e XIX. Tom-bado pelo Conselho Estadual de Cultura na década de 70, o núcleo histórico do Porto de São Mateus é um dos mais expressivos conjuntos arquite-tônicos do Estado do Espírito Santo. Destacam-se ainda: a Igreja Velha, ruína de uma construção de estilo colonial português da metade do sécu-lo XIX; e a Igreja Matriz, uma construção das mais antigas do Estado.

linhares

No que concerne aos bens de interesse histórico-culturais no município de Linhares, são destacados o Farol do Rio Doce, o Museu Lorenzutti, que possui um grande acervo de animais com tratamento taxidérmico, contando com mais de 1.000 exemplares em

exposição. As tradicionais bandas de congo que se reú-nem em Regência e o Festival de Concertinas que acontece na localidade de Baixo Quar-tel. O Farol do Rio Doce, no distrito de Regência, um monumento de aço do sécu-lo XIX que hoje se encontra descaracterizado, faz parte da relação de bens arquitetônicos tombados pelo Conselho de Cultura Estadual.

• Farol do Rio Doce (Re-solução 05/98 – CEC – Proc. 08/83 – 30/98)

A Ilha do Imperador, na Lagoa Juparanã, possui

interesse histórico e apresen-ta sua vegetação natural bem preservada, por isso faz parte do acervo de bens naturais de interesse arqueológico, etno-gráfico, paisagístico e científico do Estado.

• Ilha do Imperador (Re-solução 02/99 – CEC – Proc. 47/91)

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atiVidadESSuGEridaS

A Educação Patrimonial consiste na implementação de atividades educativas como a inves-tigação, identificação e valorização cultural. Antes de iniciar o trabalho, defina os objetos educa-cionais e os resultados pretendidos. Decida que habilidade de conhecimento você quer que seus alunos adquiram e que modo o trabalho se insere no estudo em ciências.

1-O arqueólogo do futuro:Os alunos podem imagi-

nar que são arqueólogos do ano 3000. A sala de aula ou o jardim da escola podem ser sítios arqueológicos, que serão explorados pelos alunos para descobrir as pistas sobre a vida no início do século XXI. Cada grupo de alunos deve recolher, em um saco plástico, alguns artefatos ou coisas que foram para o lixo, na sala ou no pátio da escola. Cada aluno, em

informações obtidas, a partir da análise do material reco-lhido, discutindo ainda tudo o que não está representado por esse material o que está faltando, ou o que fica pouco claro, a partir dessas evidên-cias. Este exercício, que pode ser bem divertido e lúdico, estimulando a criatividade dos alunos, também os fará perce-ber as limitações da Arqueolo-gia, na descoberta dos mundos passados.

Pancas

O maior patrimônio cul-tural do município de Pancas é a sua paisagem natural, com algumas das mais belas for-mações rochosas do Estado e encravado numa região mon-tanhosa, onde se destacam as Serras de Pancas e de Santa Luzia. O destaque fica por conta da Pedra da Agulha, com 500 metros de altura e da Pedra do Camelo, com 720 metros de altura, ambas tom-badas como bens arqueológi-cos, etnográficos, paisagísticos e científicos, pelo Conselho Estadual de Cultura do Espíri-to Santo.

• Pedra do Camelo (Reso-lução 02/97 – CEC – Proc. 23/84)

• Pedra da Agulha (Reso-lução 03/97 – CEC – Proc. 15/84)

Em relação aos bens de natureza imaterial, o destaque fica por conta das atividades relacionadas às tradições da cultura Pomerana, concentra-das em Lajinha. São as festas populares, em geral em torno da igreja luterana, e a dança, destacando-se o Grupo de Danças Folclóricas Alemãs, com seu vestuário tradicional.

cada grupo, descreve em uma ficha um objeto encontrado. Quando todos os objetos esti-verem descritos, o grupo pode discutir a função de cada um, discutindo as várias hipóteses de uso, como se não soubes-sem como era a vida em nossa época.

Cada grupo apresentará aos demais suas hipóteses sobre o material encontrado; no final da atividade, é possível fazer um painel, em classe, sobre as

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2-Mapas mentais:Peça aos seus alunos para

desenhar um mapa o mais detalhado possível, marcando o maior número de edifícios que possam lembrar-se em seu caminho diário entre a casa e a escola, ou da rua principal da cidade, ou das ruas que con-tornam a escola.

O resultado permitirá vá-rias reflexões a respeito do que se olha e do pouco que se re-gistra de tudo aquilo que se vê. Uma comparação entre todos os mapas elaborados demons-trará que alguns edifícios são lembrados por todos os alunos e outros por quase ninguém. Por que isso acontece? Muitas discussões poderão surgir a partir deste exercício.

2-Fazer uma compara-ção da forma de abasteci-mento de água e alimentos no passado e atual:

- Como a água chega-va ás casas no passado? E Atualmente?

- Como os alimentos eram e são transportados?

3-Escavação simulada:Como fazer com que alu-

nos compreendam a Pré-His-tória? Não é tarefa fácil! Uma ótima maneira de fazer com que entendam de que forma se dá as pesquisas é apresentando o mundo da arqueologia. Para isso, o professor pode realizar uma simulação de uma escava-ção em sítio arqueológico.

Num primeiro momento os alunos poderão receber explicações sobre os objetivos da Arqueologia. Com auxílio dos conceitos citados ante-riormente, os alunos deverão receber instruções dos mé-todos e técnicas em campo, quais seriam os procedimentos adequados e as causas de tanto rigor para “escavar” o chão.

atiVidadES comPlEmEntarES

1-Pesquisa sobre a fauna e flora da região:

Elaboração de uma pesquisa sobre as plantas e ou dos animais encontrados na região.

- Identificar animais extintos e a causa de sua extinção.- Fazer um cartaz com desenhos /fotos dos animais iden-

tificando os locais onde são encontrados ou existiam e mon-tar uma exposição.

As crianças, assim, serão encaminhadas à escavação simulada divididas ao longo da área de escavação. O professor pode levar estacas e corda e fazer com os alunos a demar-cação de um terreno qualquer que tenha areia. Em seguida, os alunos podem começar a fazer a procura e a escavação dos artefatos. Aos poucos as crianças irão escavando e evi-denciando a cultura material que anteriormente tinha sido enterrada (lítico, cerâmica, réplica dos esqueletos, estru-turas, etc). No final, os alunos podem fazer uma breve análise do material recolhido.

A aula, dessa forma, fica mais divertida, atrativa e esti-mula a atenção e aprendizado dos alunos.

3-Oficina de Arqueologia: Oficinas sistemáticas são desenvolvidas pelos professores com o objetivo de desmitificar e

demonstrar o trabalho da arqueologia, sua importância e a responsabilidade de todos frente a esse Patrimônio, que constitui uma referência material do desenvolvimento das culturas que existiram no local. A partir desta experiência procura-se desenvolver o aspecto investigativo latente na criança, de forma lúdica, levando-a a compreender o papel do arqueólogo na tra-dução das evidências do passado e a relacionar este passado com o presente e o futuro.

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Educação Patrimonial >> 32

AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Em qualquer atividade de Educação Patrimonial, a avaliação da experiência pode trazer subsídios que possibilitem aos educadores enriquecer a aplicação da me-todologia utilizada, verificando o nível de envolvimento e compreensão dos alu-nos com o tema explorado. Um método possível para se fazer esta avaliação é o uso de questionários, aplicados aos professores e alunos, a partir da experiência vivenciada. Os questionários preenchidos após a visita ou atividade permitem avaliar:

1- Aspectos relativos ao professor: familiaridade com o local visitado, intenção, motivação da visita, nível de preparação em sala de aula, conhecimento prévio do tema, expectativa em relação à visita e aos resultados alcançados.

2- Aspectos relativos ao aluno: motivação, dificuldades, adequação da atividade ao tempo disponível, nível de apreensão do tema.

3-Aspectos relativos à escola e à integração pedagógica: exploração do tema por várias disciplinas, envolvimento de diferentes professores, elaboração de traba-lhos interdisciplinares, resultado e produtos apresentados, envolvimento de alu-nos, professores, coordenadores e pais, envolvimento com a comunidade, organi-zação e recursos disponibilizados para a atividade.

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PortuGuÊS

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A raiz da palavra pa-trimônio é herança paterna. Quando se

trata de patrimônio cultural, seu significado está associado à construção e acumulação de bens e à sua permanência, no tempo e no espaço. Está associado, portanto, à história e à sua continuidade e traje-tória. São os testemunhos da história e da cultura, produzi-dos pelos grupos sociais, que permitem conhecer o modo de vida de pessoas que viveram em outras épocas e lugares, em situações diferentes das nossas, mas que como nós, trabalha-ram, lutaram, amaram, sofre-ram, foram felizes ou tristes. Tudo isto nos dá consciência de que fazemos parte de um todo maior, que continua nos dias de hoje e se estenderá para o futuro.

Linguagem: as sugestões para a dramatização/ repre-sentação de papéis/ solução de problemas podem servir como ponto de partida para o trabalho de criação verbal, falada ou escrita. O material coletado pelo aluno, no papel de jornalista ou produtor de rádio/TV/video, pode ser usa-do de diversas maneiras: para elaborar um artigo de jornal, uma novela ou documentá-rio de televisão, uma peça de teatro, uma história infantil, ilustrada ou em quadrinhos, uma exposição, etc. Ou pode ser usado simplesmente como base para discussão em sala de aula. Todas essas criações demandam o uso imaginativo e competente da linguagem. A poesia e a metáfora podem ser usadas como expressão dos sentimentos e percepções

provocados pela observação dos objetos ou monumentos. A pesquisa das linguagens e termos de épocas passadas, comparados com os da atuali-dade, as diferentes expressões e formas de linguagem, ritmo e pronúncia, características das diferentes regiões e de diversas origens étnicas, pode contri-buir para a compreensão dos processos culturais e históri-cos em nosso país, com seus diferentes elementos e aportes. Representar papéis e vivenciar experiências de outros con-textos culturais no tempo e no espaço requer a compreensão da linguagem e expressões de grupos diferenciados, contri-buindo para o envolvimento dos alunos com os fenômenos e grupos característicos da

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pluralidade cultural brasileira. A leitura de obras da litera-tura da época, ou da região, pode enriquecer o processo de conhecimento e discussão do tema abordado.

oriGEm E SiGniFicado da PalaVra PatrimÔnio

A palavra Patrimônio tem origem latina Pater que signi-fica herança, legado, deixado de pai para filho. Sendo o pa-trimônio o conjunto de bens de uma instituição, empresa ou pessoas em geral. Também é o conjunto de experiências produzido por outras gera-ções que ficam registradas na coletividade.

O Patrimônio subdivide-se em Patrimônio Cultural e Patrimônio Natural.

Patrimônio Cultural: É composto por monumentos, grupos de edifícios ou sítios que tenham valor histórico, estético, arqueológico, cientí-fico, etnológico ou antropoló-gico.

Patrimônio Natural: Significa as formações físicas, biológicas e geológicas excep-

Constitui o Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país, cuja conservação seja de interesse público, quer por seu excepcional valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico.

cionais, habitats de espécies animais e vegetais ameaça-das e áreas que tenham valor científico, de conservação ou estético.

maniFEStaçÕES PoPula-rES: o PatrimÔnio imatE-rial E o Encontro daS linGuaGEnS

Em cada sentido moram outros sentidos. Os olhos, os ouvidos, a boca o nariz, a pele, o corpo todo está inserido na cultura. Sentimos o mundo e construímos os sentidos a partir do que vivemos. Dan-ças, músicas, histórias, objetos, roupas, utensílios, comidas, remédios, crenças, valores - as

Ainda constituem o Patrimônio Vivo: artesanatos, maneiras de pescar, caçar, plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir moradias e fabri-car objetos de uso, a culinária, as danças e músicas, os mo-dos de vestir e de falar, os rituais e festas religiosas e popu-lares, as relações sociais e familiares, as canções, as histórias e lendas contadas de geração a geração.

linguagens através das quais registramos, expressamos e transmitimos o que pensamos, o que sentimos e tudo o mais que diz respeito à nossa vida - pertencem a um acervo re-velador: o patrimônio cultural, tradição, herança de outros tempos que se junta ao pre-sente, ganhando o futuro.

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A linguagem é uma herança social, “uma realidade primeira”, que uma vez assimilada, envolve os indivíduos e faz com que as estruturas mentais, emocionais e perceptivas sejam re-guladas pelo seu simbolismo. Permeia o conhecimento e as formas de conhecer o pensamento e as formas de pensar, a comunicação e os modos de comunicar, a ação e os modos de agir. Ela é a roda invertida que movimenta o homem e é movimentada por ele.

lÍnGua: PatrimÔnio cul-tural dE um PoVo

A população brasileira foi formada por pessoas oriundas de diversos países e continen-tes, mas as normas grama-ticais não contemplaram as modificações que ocorreram na linguagem oral, informal, provenientes dessa mistura de culturas tão diferentes. En-tretanto, a língua portuguesa, com mais de 215 milhões de falantes nativos, é a quinta lín-gua mais falada no mundo e a terceira mais falada no mundo ocidental. Idioma oficial de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçam-bique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, sendo falada na antiga Índia Portuguesa (Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli), Macau e Guiné Equatorial, além de ter tam-bém estatuto oficial na União Europeia, no Mercosul e na União Africana.

A OriginalidadeSendo um país de propor-

ção continental, cada estado do Brasil conservou algumas particularidades do povo que primeiro o ocupou. Por isso, muitas vezes se fala em língua regional, que são derivações das línguas originais, com modificações em sua estrutura, neologismos e sotaque dife-rente. Assim, muitas palavras têm uma significação própria, única, em cada estado. Cada qual possui também expres-sões peculiares, de maneira que, existe uma grande dificul-dade em se ter um padrão de língua nacional. Além disso, a

linguagem verbal difere-se por classes sociais e por nível de instrução. Pessoas com pouco estudo normalmente utilizam uma linguagem que é trans-mitida por meios orais; essa linguagem quase sempre con-tém incorreções gramaticais. Por outro lado, pessoas com maior nível de conhecimento procuram utilizar o vernáculo em sua forma correta, norma-tiva. O meio termo encon-tra-se naqueles que fazem da palavra a matéria-prima de seus trabalhos. Estes mesclam a linguagem culta e a infor-mal, a fim de conseguirem máximo valor expressivo em suas criações; para eles, tudo é válido, contanto que se busque a originalidade.

Linguagem brasileira - pa-trimônio cultural do povo

Considerando que a lin-guagem oral, popular, muito se difere da linguagem culta, qual seria, então, a língua do cora-ção brasileiro? Esta ou aquela? A resposta está em quando ela é utilizada. Em situações formais e textos técnicos, é conveniente utilizar a língua culta. Em situações informais ou em obras literárias, o que deve preponderar é a eufonia,

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Discutir e entender a no-ção de patrimônio cultural no cenário atual é essencial para entendermos o desen-volvimento e permanência das manifestações popula-res.

O papel do professorO professor de Língua Por-

tuguesa e Literatura é impor-tante divulgador do processo sistemático de uma educação patrimonial, por ser fonte primária da cultura popular e capaz de enriquecer o indiví-duo e o coletivo, tornando-se um poderoso instrumento de reencontro do povo com suas origens através das artes literárias. Seu envolvimento no processo de fortalecimento da Cultura, é primordial, diria

mesmo, fundamental para a construção de uma postura consciente e ativa no desen-volvimento da cidadania e da Cultura.

a musicalidade, o valor expres-sivo, tudo quanto a transforma num patrimônio cultural de um povo.

De Corpo e AlmaNa linguagem dos cantos,

danças, fantasias e comidas, o brasileiro fala sobre a socieda-de em que vive, seus valores e crenças. Nas festas e por meio delas, são permanentemente construídas maneiras de viver e ver o mundo. São Bumbas-meu-boi juninos, Maracatus carnavalescos, Folias de Reis e Pastorinhas, Cavalhadas e Festas do Divino, candomblés e festas de Iemanjá que fazem a alegria do povo brasileiro e determinam um calendá-rio que ainda é muito pouco explorado por professores e escolas. São instrumentos que podem instigar o olhar, ultra-passando a barreira do somen-te estético para agregar a per-cepção dos contextos originais em que as manifestações se desenvolvem e desenrolam de corpo e alma.

SuGEStÕESNo desenvolvimento da

Educação Patrimonial, pode-se escolher núcleos temáticos a serem trabalhados a partir desta metodologia:

- A casa, espaços e mobili-ário;

- Documentos familiares;- Instrumentos de trabalho

e técnicas de uso;- Cultivos e alimentação;- A flora e a fauna nativas.Cada um desses temas

pode servir como objeto de estudo e exploração durante todo um semestre letivo, em todas as áreas/disciplinas do currículo, por meio de ativi-dades e experiências concretas de observação, coleta, pesquisa e exploração, partindo sempre do enfoque da realidade quoti-diana dos alunos. Os aspectos do trabalho, do plantio e da colheita e de outras atividades comuns na região poderão ser observados no campo. A valorização dos ofícios rurais e do conhecimento tradicional

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passado de geração a geração trará um resultado altamente positivo das atividades, levan-do os alunos a reconhecerem e a terem orgulho de sua histó-ria pessoal e coletiva, de seus pais e avós. Por intermédio do manuseio, do registro em diferentes meios, dos jogos, das entrevistas com familiares e integrantes da comunidade, alunos e professores têm a possibilidade de entender e reconstituir as tramas sociais, tecnológicas, econômicas e culturais que compõem o teci-do de sua trajetória e identida-de históricas.

Inspirado no PoemaA leitura do poema de

Carlos Drummond de An-drade, intitulado “A CHAVE” pode servir de inspiração, e de metáfora, para o trabalho da Educação Patrimonial. A partir de um simples objeto comum, como uma chave (e logo imaginamos uma chave antiga, talvez já enferrujada), o poeta nos abre a porta da imaginação e da evocação de todo um universo do passa-do, onde transitam paisagens,

Poetizar para crianças não é tarefa fácil. Trabalhar poesia em salas de aula também não é tão simples assim. É preciso ter sensibilidade e prazer pela poesia, entrar no mundo da imaginação do poeta e deixar a criança bailar na sua imagina-ção, unir esses dois mundos é o grande desafio do professor. Transmitir conhecimento através da poesia é uma forma de valorização do sentimento infantil que procura se identificar com os conceitos que lhes chegam prontos. É preciso deixar a poesia falar na criança e a criança falar com a poesia, en-quanto se aprende a escrever a palavra alegria.

personagens, sons, animais, e toda a força da criação huma-na, cristalizada no gesto do serralheiro... “o serralheiro não sabia / o ato de criação como é potente/ e na coisa criada se prolonga, ressoante...”

Ouvir a voz das coisas (“Ora, direis, ouvir estrelas...” diz um outro poeta brasileiro), perceber o ato de criação que se prolonga nelas, e chega até nós, escutar as histórias que nos contam. Esta é a “alfabeti-zação cultural” que se propõe com o trabalho e a metodolo-gia da Educação Patrimonial.

Aprendendo a arte da comunicação

Os alunos do Ensino fundamental devem apren-der, desde cedo, que a leitura e a escrita são ferramentas essenciais na arte da comuni-cação. Com elas são possíveis a transformação em pessoas ativas, participativas e agentes transformadores da socieda-de. Assim, é imprescindível o incentivo aos alunos de boas leituras e que, acima de tudo, eles apliquem as informações deste hábito no dia-a-dia.

Confira abaixo o poema que fala de preservação e meio ambiente. Uma poesia escrita por alunos do Ensino Funda-mental que foram inspirados sobre este tema após a leitura do livro O Mundinho Azul.

Água

A natureza precisa de pes-soas com o compromisso da Educação.Para aprender o sentido da palavra conservação.Os rios, mares e oceanos ne-cessitam de maior atenção.A água “pede” por preserva-ção.Sem água não há vida.A nossa água está sendo poluída.O Homem não deve poluir.Mas, sim aprender a contri-buir.A água é nossa maior riqueza.O Homem deve conviver e respeitar a natureza.

Todos os brasileiros sabem que o português é a língua majoritária e oficial do Bra-sil, e muitos sabem que ele é derivado do latim. Mas a maioria desconhece a história do idioma no país e da sua relação com as diversas outras línguas que aqui se falavam antes da chegada de Pedro Álvares Cabral e com as que vieram durante e depois da colonização.

A herança na linguagem dos índios

Antes do Descobrimento

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do Brasil no ano de 1500, já viviam ali populações de nativos conhecidos como Tupi-guarani, que deixaram inúmeros topônimos. Uns, como Guarujá e Aracaju são tradicionais, utilizados pelas populações indígenas antigas, outros são modernos, apos-tos por eruditos utilizando as línguas tupi-guaranis, como Anhembi ou Urubupunga. A colonização portuguesa começou gradativamente pelo litoral, a partir de 1532, com a instituição das capitanias hereditárias. Nesse período, diversas comunidades da família Tupi e Guarani habi-tavam o litoral brasileiro entre a Bahia e o Rio de Janeiro. Havia entre elas uma grande proximidade cultural e lin-guística. Para estabelecer uma comunicação com os nativos, os portugueses foram apren-dendo os dialetos e idiomas indígenas. A partir do tupi-nambá, falado pelos grupos mais abertos ao contato com os colonizadores, criou-se uma língua geral comum a índios e não-índios. Ela foi estudada e documentada pelos jesuítas para a catequização dos povos indígenas. Em 1595, o padre José de Anchieta a registrou em sua Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil. Essa língua geral derivada do tupinambá foi a primeira influência recebida pelo idioma dos portugueses no Brasil.

ToponomiaMuitos nomes de plantas,

frutas e animais brasileiros têm origem no tupinambá. Alguns exemplos são abacaxi, araticum, buriti, caatinga, caju, capim, capivara, carnaúba, cipó, cupim, curió, ipê, imbuia, jaboticaba, jacarandá, man-dacaru, mandioca, maracujá, piranha, quati, sucuri e tatu.

A toponímia do Brasil é o conjunto de topônimos mais utilizados no Brasil, e demonstra claramente o modo de ocupação da terra à partir do descobrimento e do início da colonização.

Podemos dizer que a Educação Patrimonial deve ter como um dos pilares a preservação, a valorização e o fortaleci-mento da Língua Portuguesa, nesta acepção, importa aqui, defender também, a trilogia índio, negro e branco, pois foram eles que constituíram o povo brasileiro, enriquecendo a língua que tornou-se comum aos três com a interação de suas culturas.

A toponímia, ciência que estuda a origem dos nomes de lugares, também revela um grande número de palavras indígenas na fala do brasileiro: Aracaju, Avaí, Caraguatatuba, Guanabara, Guaporé, Jaba-quara, Jacarépaguá, Jundiaí, Parati, Piracicaba, Tijuca, etc. A influência indígena também acabou propiciando a criação de expressões idiomáticas, como “andar na pindaíba” e “estar de tocaia”, que são mar-cas linguísticas de uma cultura específica.

Além dos nomes de locali-dades (cidades, vilas, municí-pios, províncias, países etc.), a

toponímia ainda estuda:Os hidrônimos: nomes de

rios e outros cursos d’agua;Os limnônimos: nomes de

lagos; Os orônimos: nomes dos

montes e outros relevos;Os corônimos:, nomes de

subdivisiões administrativas e de estradas.

A linguagem NegraOutro contato que influen-

ciou a língua portuguesa na América foi com as línguas dos negros africanos trazidos como escravos para o país.Depois de quatro séculos de contato direto e permanente de falantes africanos com a

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língua portuguesa no Brasil, esse processo de interação lingüística, apoiada por fa-tores favoráveis de ordem sócio-histórica e cultural, foi provavelmente facilitado pela proximidade relativa da estru-tura lingüística do português europeu antigo e regional com as línguas negro-africanas que o mestiçaram. Essa semelhan-ça estrutural provavelmente precipitou o desenvolvimento interno da língua portuguesa e possibilitou a continuidade da pronúncia vocalizada do português antigo na modali-dade brasileira (onde as vogais átonas também são pronun-ciadas), afastando-a, portanto, do português de Portugal, de pronúncia muito consonantal, o que dificulta o seu entendi-mento por parte do ouvinte brasileiro. Nesse processo, o negro banto, pela antiguidade, volume populacional e ampli-tude territorial alcançada pela sua presença humana no Bra-sil colônia, ele, como os outros, adquiriu o português como segunda língua, tornando-se o principal agente transfor-mador da língua portuguesa em sua modalidade brasileira e seu difusor pelo território brasileiro sob regime colonial e escravista.

a contriBuição doS nE-GroS Para a cultura Po-Pular do ESPÍrito Santo

Apesar de todo o sofri-mento que lhes foi imposto pela sociedade escravista, os negros deram uma contri-

buição decisiva para a cultura popular do Espírito Santo. Nas áreas onde houve uma presença muito forte do afri-cano, situadas especialmente no Norte, estão hoje as mais expressivas manifestações do folclore capixaba como o Ti-cumbí, a Marujada, os Reis de Boi e o Jongo de São Bene-dito. A mais conhecida delas, o Ticumbí, tem origem no quilombo do “Negro Rugero”, localizado no Sapé do Norte, Conceição da Barra, por ini-ciativa de Silvestre Nagô. Esse auto sobrevive até hoje graças a uma elite de negros, consti-tuída de pequenos produtores rurais, que anualmente, no dia 1º de janeiro, faz uma única apresentação diante da capela de São Benedito. Dentro do folclore brasileiro, o Ticumbí tem características únicas, não sendo encontrado nada idên-

tico a ele em qualquer região do país.

o oFÍcio daS PanElEiraS do ESPÍrito Santo

O ofício das Paneleiras de Goiabeiras foi o primeiro bem cultural inscrito no Livro de Registro dos Saberes, em 20 de dezembro de 2002. O Pedido foi feito a pedido da Associação das Paneleiras de Goiabeiras e pela Secretaria Municipal de Cultura de Vi-tória, Espírito Santo. A fabri-cação artesanal de panelas de barro em Goiabeiras Velhas, Vitória do Espírito Santo é uma atividade eminentemen-te feminina e constitui um saber repassado de mãe para filha por gerações sucessivas. É também o meio de vida de mais de 120 famílias, muitas das quais aparentadas entre si.

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para análise da História e da Geografia de um lugar. Com o estudo de sua cozinha típica, os alunos poderão perceber e compreender as alterações que os pratos sofrem ao longo do tempo, a descoberta de inven-ções humanas, a influência que os povos recebem de outros povos. Além disso, a culinária possui um aspecto afetivo pelo fato de os aromas e os sabores das comidas invocarem em nós lembranças e sentimentos agradáveis. A função social da refeição é importante também porque as pessoas não comem somente para se alimen-tar, mas para vivenciar com parentes e amigos um prazer compartilhado, um modo de ser e de viver.

O que os alunos aprende-rão com esta atividade?

Ler para obtenção de in-formações em textos descriti-vos e de instruções (receitas).

Usar procedimentos para a realização de entrevistas (aprender a perguntar e regis-trar informações).

Usar a escrita como recurso

atiVidadES

1-o Patrimônio da minha terra

Por que fazer um livro de receitas típicas do lugar onde se vive?

A atividade “As receitas da minha terra” tem como objeti-vo promover a aprendizagem da escrita e da cultura por meio da produção de um livro de receitas das comidas típi-cas da região onde os alunos vivem. Como essa produção não envolve um processo de criação mas, sim, o registro de ingredientes e de instruções para se preparar um prato, a atividade privilegia os aspectos do como escrever, e ao mesmo tempo o reconhecimento da cultura local. Favorece, assim, o trabalho com os alunos durante o processo de alfabe-tização.

Além disso, esta atividade permite aos alunos aproxima-rem-se do universo da culiná-ria e conhecer as receitas que marcam a trajetória de sua fa-mília e a cultura local. Ao pes-quisar as tradições culinárias de sua cidade e de seu estado, os alunos estarão também es-tudando aspectos da História e da Geografia local. Será uma oportunidade inclusive para que eles aprendam a valorizar e a preservar a pluralidade cultural que caracteriza nosso país. A culinária representa um dos aspectos mais sabo-rosos de uma cultura, além de ser um possível recorte

de sistematização e socializa-ção dos conhecimentos adqui-ridos.

Produzir textos, utilizando estratégias de planejamento e revisão.

Usar recursos tecnológicos (transcrição das fitas, lingua-gem e manuseio de gravador, computador e fotografia).

Valorizar a cultura local.

Qual o tempo de duração da atividade?

A produção do livro de receitas das comidas típicas da região envolve uma ampla pesquisa sobre as tradições da culinária local. Para tanto, é preciso levantar os pratos, temperos e sabores caracterís-ticos do lugar, identificar sua origem, experimentar algumas receitas e, é claro, produzir o livro. Por isso mesmo, é interessante que a atividade seja realizada ao longo de um semestre escolar (4 meses).

Onde pesquisar?Livros, revistas e cadernos

de receita. É possível tam-bém obter informações junto às merendeiras das escolas,

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referente ao Patrimônio Cul-tural com a premiação dos três primeiros lugares.

4- montagem de uma carti-lha:

Familiarizados com os con-ceitos e toda a problemática relacionada com o patrimônio cultural da cidade, os alunos poderão criar cartilhas do pa-trimônio cultural ilustradas.

5- Elaboração de lista de ações prioritárias em defesa do patrimônio cultural.

Os alunos podem elaborar uma lista propondo ações de

quitandeiras da cidade, cozi-nheiros de restaurantes típicos e familiares.

Que recursos tecnológicos poderão ser utilizados?

Esta atividade permite a utilização de recursos tec-nológicos como a máquina fotográfica, o computador e o gravador.

Que outros produtos po-derão ser gerados?

Cada aluno pode receber uma cópia do livro de recei-tas. No dia do lançamento do livro, ocorrerá também um evento de degustação de algumas das receitas tratadas no livro. Mas outros materiais - como cartazes e/ou calendá-rios - poderão ser confeccio-nados, utilizando-se as mes-mas imagens e textos do livro. Estes produtos poderão ser distribuídos para as outras tur-mas da escola e também para pessoas ou instituições da co-munidade. É importante que a biblioteca da escola receba um exemplar de cada material gerado, servindo como fonte de informação para outros professores e alunos.

2-montagem de um Jornal histórico sobre a cidade:

Pedir aos alunos para narrar os principais acontecimentos que ocorreram na cidade como se fossem matérias de jornal.

3- concurso de redação sobre o tema:

Elaboração de um concurso de redações entre os alunos

preservação do patrimônio cultural.

6- Elaboração de palestraPeça aos alunos para prepa-

rarem uma palestra referente aos trabalhos de educação patrimonial. Conceitos a se-rem trabalhados: bem cultural, cidadania, memória, iden-tidade, patrimônio cultural, defesa do patrimônio cultural, importância dos trabalhos re-lacionados com a preservação do patrimônio cultural (In-ventário, dossiês, restauração, conservação e registros).

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hiStÓria

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Os currículos escola-res são comumente sobrecarregados,

com disciplinas que compe-tem entre si por limitação do tempo em sala de aula e pelas normas oficiais estabelecidas. Contudo, os objetos patrimo-niais, os monumentos, sítios e centros históricos, ou patri-mônio natural são um recurso educacional importante, pois permitem a ultrapassagem dos limites de cada disciplina, e o aprendizado de habilidades e temas que serão importantes para a vida dos alunos. Des-ta forma, podem ser usados como detonadores ou moti-vadores para qualquer área do currículo ou ainda, para reunir áreas aparentemente distantes no processo de ensino/apren-dizagem.

Educação Patrimonial e a Disciplina de HISTÓRIA: os objetos patrimoniais e os edifícios e centros históri-cos, os sítios arqueológicos e paisagísticos podem refletir a maior parte da História do Brasil e do mundo. Os obje-tos e monumentos do passa-do são a evidência concreta da comunidade e da mudança dos processos culturais. A comparação da própria casa com as casas do passado pode dar aos alunos a compreensão de como os estilos e modos de vida das sociedades mu-dam ao longo do tempo. Os detalhes de diferenciação dos objetos do passado e do presente podem ser traçados num gráfico, ou linha do

tempo, que pode ser compa-rada a uma árvore genealógi-ca, situando os personagens familiares em diferentes épocas.

O termo cultura é bastan-te amplo e pode ser definido como tudo aquilo que o ho-mem, ao longo da sua evolu-ção, criou e vem criando para interagir com a natureza, que o distinguiu dos animais.

Assim, a cultura é um processo dinâmico transmi-tido de geração em geração que se aprende com todos os ancestrais e se cria e recria no cotidiano presente, na solução de pequenos problemas que cada sociedade ou indivíduos enfrentam. Dessa maneira, a cultura ao longo do tempo vai adquirindo formas diferentes de expressão que constituirão um conjunto de manifestações artísticas, sociais, lingüísticas e comportamentais de um povo e sua cultura. Portanto, fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestações: música, tea-tro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquite-tura, invenções, pensamentos, formas de organização social, etc.

Enquanto patrimônio, a cul-tura é um longo rio cujas águas envolvem uma deter-minada geração de seres humanos, e lhes transmite valores morais e estéticos, ideologias, história, códi-gos e símbolos... Enfim, um rico patrimônio elaborado por seus ancestrais que as novas gerações recebem quando existe um ponto de passagem e encontro possível entre este tesouro e o receptor dessa enorme oferenda”. Manuel Vázquez Montalbán

CONHECER PARA VALORIZARTrabalhar o Patrimônio Cultural nas escolas forta-lece a relação das pessoas com suas heranças cultu-rais, estabelecendo um me-lhor relacionamento destas com estes bens, perceben-do sua responsabilidade pela valorização e preserva-ção do Patrimônio, enrique-cendo a vivência real com a cidadania, num processo de inclusão social.

“o cEnÁrio cultural Em QuE ViVEmoS hoJE ValoriZa o noVo, o amanhã E o Futuro”.

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Monumento as Bandeiras em São Paulo, ou o Monumen-to aos Mortos na 2 Guerra Mundial no Rio de Janeiro, ou o Memorial JK em Brasília. Outros são remanescentes do passado, que sobreviveram ao tempo, e que são consagrados pela sociedade como símbolos coletivos, e como referência da memória de um povo como, por exemplo, as esculturas do Mestre Aleijadinho em Ouro Preto.

monumEntoS E SÍtioS hiStÓricoS

Um monumento é uma edificação ou sítio histórico de caráter exemplar, por seu sig-nificado na trajetória de vida de uma sociedade/comunidade e por suas características pecu-liares de forma, estilo e função. Existem monumentos cons-truídos especialmente para celebrar ou relembrar algum episódio, momento ou perso-nagem de nossa história, cria-dos por arquitetos, escultores, artistas, como por exemplo: o

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monumEntoS E SÍtioS hiStÓricoS dE São matEuS - ES

Ruínas da IgReja dos

jesuítas Praça José de Anchieta

(séc. XVI).

sítIo HIstóRIco PoRto de são Mateus

Sítio Histórico – Locali-zado na cidade baixa, a 500m do centro. È composto por casarões do século passado, tombados pelo patrimônio histórico. No local existe um dos poucos pelourinhos do país, São Mateus, situa-se ao norte do Espírito Santo, a 218 km de Vitória.

Biquinha Data de 1880 e durante

muito tempo serviu à comu-nidade, fornecendo-lhe água potável. Integra o Patrimônio Histórico de São Mateus.

No Espírito Santo, o entor-no do Porto de São Mateus, que possui 32 sobrados construídos no século XVII e século XIX, é um monu-mento tombado pelo Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional.

Igreja de São Benedito Construída a mais de um

século, ocupa lugar de desta-que no cenário cultural mate-ense.

Ruínas da Igreja Velha de São Mateus

Ruínas da Igreja Velha – Construída em 1596. Ruí-nas de um templo construído por índio e escravos. Para sua construção foram utilizadas pedras que vinham como las-tros nas embarcações e como

aderente dos blocos, uma liga obtida com óleo de baleia e cal. Diz a lenda que em suas paredes foram escondidos tesouros. Está localizada na Praça Anchieta, Centro.

Mistérios e LendasAlguns monumentos conti-

nuam a servir à mesma função original, como as igrejas da época colonial. A Igreja Velha é um monumento que vem atravessando os séculos, um mistério ronda-a: por que uma edificação tão grandiosa não chegou a ser terminada?

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As obras do monumento histórico da Igreja Velha ora são atribuídas ao padre José de Anchieta, ora ao barão de Timbuí (num movimento popular que teria reunido des-cendentes de índios e negros). Construída com blocos de pedra a Igreja avançava estra-tegicamente sobre um campo em plano inferior onde hoje estão a rodoviária e a Praça Mesquita Neto e prometia ser, ao que a arquitetura indica, um grande templo popular disposto para um largo espaço campal. As obras nunca foram terminadas e possivelmente a razão disso jamais será revela-da, bem como a procedência da lenda que por muitos anos foi contada na região de que haveria um túnel ligando a Igreja Velha ao Porto de São Mateus, à margem do Rio Cricaré.

tomBamEntoAlguns edifícios isolados,

sítios ou conjuntos de edifica-ções têm um significado espe-cial para a História do Brasil. Os técnicos do IPHAN iden-tificam estes edifícios e sítios por meio de estudos e pesqui-sas, como base para o trabalho de conservação e restauração, e para sua proteção oficial, de acordo com a Constitui-ção Federal e Decreto Lei no 25, de novembro de 1937, a chamada Lei do Tombamento. Os monumentos assim iden-tificados são chamados monu-mentos ou edifícios tombados, quando inscritos nos Lavros do Tombo do Patrimônio Na-cional, estadual ou municipais.

O tombamento é assim um registro oficial e legal de um edifício, um conjunto de edificações, centros urbanos

históricos, ou objetos e cole-ções de significado exemplar para a sociedade. Um monu-mento, por exemplo deve ser visto como um elemento do meio ambiente histórico, e como tal deve ser analisado em seu contexto social e histó-rico, ao longo do tempo. Dessa maneira, os monumentos e sítios históricos de importân-cia e significado para a cultura nacional são em geral tomba-dos – protegidos pelo Institu-to do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN ou pelas instituições estaduais e municipais de Patrimônio. Entretanto, em qualquer lugar, pequena vila ou cidade, e mes-mo na área rural existem sítios e edificações que, embora não sejam registrados oficialmente, apresentam características e significados semelhantes aos que são protegidos por lei. A

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casa, a escola, a rua, a estrada, também são parte do meio ambiente histórico e do patri-mônio cultural das comunida-des em que vivem os alunos, e como tal podem ser utilizadas como objeto de estudo na Educação Patrimonial.

PANELAS DE BARRO – PA-trimonio imatErial Bra-SilEiro

Tombadas em novembro de 2002 pelo IPHAN - como patrimônio imaterial brasilei-ro, essas panelas de barro são mais do que um utensílio para o preparo da moqueca e da torta capixabas, comida típica do estado do Espírito Santo. Elas têm status de ingrediente: sem a panela, a receita fica di-ferente. As panelas são produ-zidas de acordo com técnicas indígenas, principalmente da tribo una.

SaiBa maiS SoBrE a hiS-tÓria da cidadE dE São matEuS:

A colonização portuguesa

De acordo com a tradição oral, os primeiros colonizado-res portugueses chegaram a São Mateus no ano de 1544. O município comemora no 21 de setembro seu aniversário de colonização. A pequena povoação do Rio Cricaré (Kiri-Kerê, que quer dizer manso, propenso a dormir) recebeu o nome de São Ma-teus por ter sido em um dia 21 de setembro (dia consagrado

ao evangelista Mateus) que o Padre José de Anchieta visitou essa povoação. É provável que tenha sido no ano de 1566, quando Anchieta passou pela capitania do Espírito Santo, visitando as aldeias. (In: His-tória de São Mateus - Eliezer Nardoto e Herinéa Lima, pág. 406)

A batalha do Cricaré

Atravessar o oceano Atlân-tico para fixar residência no Brasil, no século XVI, era considerado, no mínimo, uma loucura. Enfrentar as doenças tropicais, os animais selvagens e os índios não era coisa fácil.

Bem por isso que os primeiros portugueses que Vasco Fer-nandes Coutinho trouxe para sua capitania do Espírito San-to vieram dos cárceres de Por-tugal. Eram ladrões, salteado-res e assassinos que recebiam perdão dos seus crimes, desde que viessem para ficar no Bra-sil. Isso era o que determinava um decreto do Rei Dom João III, em 1534. (In: História de São Mateus - Eliezer Nardoto e Herinéa Lima, nota nº 2, pág. 27).Quando aqui chega-vam com suas armas de fogo, dominavam os índios que se defendiam com armas primi-tivas - arco e flecha, tacape (lança de madeira) e bordunas

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(pedaço de pau tipo cacetete). Os índios eram escravizados para o trabalho nos engenhos e suas mulheres violentadas.

E como aconteceu?A batalha aconteceu em

vários pontos da margem do rio Cricaré, inclusive no rio Mariricu (variação da palavra Marerique, que quer dizer for-taleza de pau-a-pique), no iní-cio do ano de 1558. Depois da Batalha do Cricaré a povoação de São Mateus recebeu mais colonos que foram transfor-mando a povoação numa das maiores produtoras de farinha de mandioca da costa brasi-leira. Marinheiros de várias partes aqui chegavam trocan-do facões, machados e pólvora por alimento (principalmente a farinha). Já os mineiros que viviam nos sertões de São Mateus vinham trocar pedras preciosas por armas, pólvora, ferramentas e roupas.

A chegada dos negrosNo século XVII o Espírito

Santo começava a dar sinais de prosperidade, chegando a abastecer com farinha de mandioca outras províncias e o próprio reino. Na área de São Mateus foi criado um porto para o escoamento desses produtos agrícolas. Em, 1621 chegaram ao Espírito Santo os primeiros negros, para ajudar na lavoura.As terras do Espírito Santo e, particularmente, as de São Mateus configuram território onde floresceu o mercado de escravos.

Criação do municípioEm 03 de abril de 1848, a

Villa Nova do Rio São Ma-theus foi elevada a cidade, com o nome São Matheus, e criado o correspondente município. Nessa época, o município de São Matheus totalizava uma área de 13.588 km2, correspondendo a 1/3 do território do Espírito Santo. Com o correr dos tempos, particularmente na primeira metade do século XX, novos municípios foram criados a partir do desmembramento do município original.

o QuE É mEio amBiEntE hiStÓrico?

É o espaço criado e trans-formado pela atividade hu-mana ao longo do tempo e da história. O meio ambiente histórico está em toda parte, em torno de nós; o que pode variar é a extensão e o modo em que ele pode ser identifica-do. O meio ambiente histórico é dinâmico e continua a mu-dar no presente. O conceito de mudança e continuidade é

essencial para a compreensão do Patrimônio Cultural, como um dos processos básicos a ser abordado no processo de Educação Patrimonial.

As dimensões do meio ambiente histórico

O meio ambiente histórico tem duas dimensões: a hori-zontal que revela o aspecto de toda uma área em determina-do período do tempo, no pas-sado, ou presente, e a dimen-são, que mostra as sucessivas camadas e modificações de uma mesma área ao longo do tempo vertical. A sobrevivên-cia de cada uma dessas cama-das depende de uma série de fatores, como tipo de material usado, ou o processo de mu-dança nas atividades agrícolas e industriais e na população.

Como encontramos o meio ambiente histórico?

Podemos encontrá-lo todo dia, a qualquer momento, em torno de nós. Para as crianças com um tempo de vida mais recente e menor que dos adul-

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tos, quase tudo que as rodeia é produto de um passado distante, do tempo da vovó. A própria casa, a família ou a escola podem ser material útil para iniciar a compreensão da mudança e continuidade nos alunos.

A louça quebrada

O objetivo desta atividade é iniciar o aluno na compreen-são da evidência cultural e nos diferentes modos de analisá-la, levando-o a perceber o proces-so de reconstituição do passa-do, por meio dos fragmentos e vestígios observados no pre-sente. A experiência pode ser usada como preparação para o estudo de qualquer evidência, de objetos de museus a mo-numentos em ruínas ou sítios históricos e arqueológicos.

• Apresente aos alunos um objeto qualquer de cerâmi-ca ou louça comum (xícara, prato, bule, pote, caneca, etc.), previamente quebrado em pe-quenos pedaços, dentro de um saco plástico transparente;

• Peça aos alunos para identificar o que é este ob-jeto. A resposta nem sempre será óbvia. Faça perguntas

atiVidadES SuGEri-daS

1-reconhecendo os objetos

O homem produz objetos variados que utiliza para dar conta das suas necessidades cotidianas. Seus instrumentos de trabalho, objetos de adorno, peças utilizadas em rituais, na alimentação, na higiene pesso-al, nos deslocamentos diferem segundo utilidade e durabili-dade.

Para identificação dos ob-jetos, o professor poderá pedir aos alunos que levantem as se-guintes informações a respeito do objeto selecionado:

• Aspectos físicos: tama-nho, forma, cor, peso, material empregado, ornamentos, estado atual de conservação;

• Processo construtivo: onde foi feito, quem participou do processo de construção, que partes compõem o objeto, se ele é resultado de um processo artesanal, industrial etc;

• Função do objeto: Qual o seu uso e as suas transforma-ções durante os anos;

• Significado atual: O valor que é conferido nos dias atuais.

que levem à observação do material empregado, vestígios de decoração e a forma dos fragmentos;

• Escolha um dos frag-mentos que permita uma fácil identificação (a alça, por exemplo). Faça perguntas que levem a uma interpretação deste fragmento de evidência. Nem sempre você pode ter certeza absoluta de como era o objeto original. A borda de uma caneca, ou de um pote, pode ser semelhante;

• Repita o exercício com os demais fragmentos. Os alunos podem desenhá-los para ten-tar montar o quebra-cabeça, ou tentar reconstituir o objeto juntando os próprios frag-mentos (desde que não haja risco para os alunos).

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2-utilizando a história oral

A voz dos moradores é um recurso importante para re-construirmos o modo de vida social e suas inúmeras impli-cações no cotidiano de uma determinada época.

• A história de vida consiste no levantamento da história de indivíduos particulares;

• Descreve e analisa valo-res, atitudes e experiências do entrevistado.;

• A história temática pres-supõe a determinação de um tema para pesquisa.

Roteiro para esta atividade1. Identificar os possíveis

informantes, segundo os obje-tivos do trabalho;

2. Contatar com os infor-mantes e marcar dia e hora da entrevista;

3. Organizar o roteiro da entrevista com os alunos, segundo o gênero (história te-mática ou de vida), elaborando perguntas simples e diretas que possibilitem respostas com a maior quantidade de informações possíveis;

4. Dividir as tarefas entre os membros do grupo que vai realizar o trabalho;

5. Testar o equipamento (gravador, fitas, microfone, pilhas);

6. Identificar as fitas gra-vadas com data, o nome e endereço do entrevistado;

7. Transcrever as fitas.

3-Jogo de identificação:

Utilizar fotografias / transparências de objetos e detalhes de prédios.

Dividir a turma em dois grupos. Os alunos terão que identi-ficar os detalhes e objetos.

No final, peça aos alunos para elaborar um álbum de figuri-nhas referente aos bens culturais:

• Criar um prêmio para os três primeiros alunos que monta-rem o álbum.

material de apoio:

Vários tipos de materiais podem ser elaborados para auxi-liar na exploração dos bens culturais, entre eles podemos usar a folha didática, que tem como objetivo orientar os alunos no processo de descoberta. Esse material estimula a capacidade de percepção do aluno para uma melhor compreensão do que está sendo observado. A seguir sugerimos algumas abordagens que podem ser trabalhadas:

1-Análise de documentos:

Os documentos referem–se aos manuscritos ou impressos que contêm informações importantes sobre o modo de vida, há-bitos e valores de uma determinada época. Veja abaixo a relação de documentos que podem ser analisados pelos alunos:

• Jornais, revistas, livros, passaportes, certidões; • Convites, escrituras, testamentos, inventários,;• Registros paroquiais, censos;• Telegramas, cartas, atas, notas fiscais, mapas; • Receitas culinárias;• Ofícios, prontuários médicos, laudos periciais;• Folhas de pagamento de empregados;• Registros contábeis.

O professor pode elaborar uma folha didática, para os alunos preencherem, contendo os seguintes itens para auxiliar na anali-se dos documentos:

1. Aspectos físicos dos documentos: qual o seu tamanho, forma, cor, estado de conservação;

2. Tipologia: é um convite, ofício, memorando, ata, nota fiscal;

3. Local e data: Qual sua origem e época de produção.

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Educação Patrimonial >> 52

4. Autoria: quem produziu o documento? Documento da administração pública, de instituição privada, de um indivíduo em particular?;

5. Destinatário: a quem se destina? Há destinatário explícito?;

6. Finalidade da sua produção: informa? Solicita? Comunica?

2-O Patrimônio Cultural através da observação da casa dos alunos.

A exploração do Patrimô-nio Cultural pode partir da própria casa do aluno numa perspectiva de análise do pre-sente para o passado.

Na investigação dos dados com os alunos, o professor poderá utilizar a entrevista oral, pesquisa de objetos, as características das residências, as roupas, os alimentos, os móveis e as características e transformações que ocorrem no tempo. Levando em consi-deração, por exemplo:

• Material empregado na construção;

• Compartimentos existen-tes;

• Tarefas que são desempe-nhadas na casa.

Observação: Também po-demos analisar o abastecimen-to de água, iluminação, deslo-camento, formas de diversão, reuniões familiares.

3-A Produção Artesanal

A produção artesanal pode se destacar no município de São Mateus e pode servir de fonte de pesquisa para análise dos produtos.

Dados sobre os artesãos da comunidade Para a coleta de informações sobre os artesões da comunida-

de, peça aos alunos para anotar as seguintes informações:

• Nome do artesão, endereço atual, tipo de artesanato.;• Endereço onde funcionava a oficina e descrição do local;• Dados sobre sua formação (com quem e onde aprendeu o

ofício);• Situação espaço-temporal do exercício da sua atividade;• Caracterização do contexto social em condições econômi-

cas do artesão.

Tipo de produto Não se esqueça de pedir aos alunos para descreverem o

produto do artesão (fotografar ou desenhar), verificar as dife-rentes partes do produto e nomeá-los, verificar transformações das partes ou do produto com um todo ao longo do tempo e as técnicas empregadas na sua produção.

Matéria-Prima Também é importante observar os instrumentos e elemen-

tos utilizados, organização do processo produtivo, circulares e consumo do produto.

4-Festas e Comemorações

A investigação detalhada das festas e comemorações permite-nos analisar a dinâ-mica de seus componentes estruturais que, na simples participação, passam-nos des-percebidos.

Dados de identificação do ato festivo

1. Localização espacial: ocorrência (cidade, instituição, pavilhão, praça, parque, rua, igreja, sala...);

2. Abrangência: local, re-gional, nacional, internacional, espaço físico próprio ou não;

3. Denominação da festa: origem do nome, mudança na denominação ao longo do tempo, acontecimento que originou a comemoração;

4. Organização: quem coordena quais entidades ou associações participam dessa organização, comissões, divi-são de tarefas.;

5. A preparação da festa: ações que precedem a festa,

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53 << Educação Patrimonial

TicumbiDança dramática, de origem africana, cultuada especial-mente no norte do Espírito Santo, principalmente nas cidades de São Mateus e Con-ceição da Barra.

ornamentação do local, lim-peza, montagem do cenário, alegorias, tendas e barracas;

6. Descrição da festa ou comemoração: símbolos, signos e representações que a festa pretenda transmitir, dan-ças, músicas, carro alegórico, discursos;

7. Os atores sociais: pú-blico que freqüenta, meios de divulgação - folders, pôsteres, cartazes;

8. Transformações ocorri-das: estruturação e organiza-ção do evento.

5-Patrimônio Folclórico

As danças e folguedos que compõem o patrimônio folclórico capixaba resultaram da contribuição inestimável das diferentes etnias que influíram em nossa formação histórica e cultural. É um patrimônio riquíssimo e variado que ainda sobrevive em vá-rios pontos do Estado. Nesse patrimônio evidencia-se a influên-cia lusitana, na dança das fitas e nas folias de reis; dos africanos, no ticumbi, no jongo e nas bandas de congo, nas quais também se fez sentir, em traços sincréticos, a presença da contribuição indígena; dos colonos europeus, que povoaram o Espírito Santo como imigrantes, e trouxeram suas danças de coreografia visto-sa, em que sobressaem os movimentos rápidos e a indumentária típica dos dançantes.

6-Patrimônio Religioso

Diz respeito sobre as mani-festações religiosas:

• Identificação do elemento sacro;

• O espaço físico;• O espaço interno;• Os rituais que fazem parte

do culto;• Os celebrantes.

7-Reconhecendo a Igreja:Prepare uma ficha para os

alunos preencherem contendo as seguintes perguntas:

1. O nome da igreja ma-triz do município, quando foi construída, quem construiu, o

material utilizado para a sua construção, qual o Santo de Devoçao;

2. Pesquise sobre a vida do Santo: como viveu, o que fez e como morreu;

3. Identifique os atributos da imagem. De onde veio a imagem? Quem produziu? Como foi adquirida?

4.Existe uma festa em ho-menagem ao Santo? Quando, onde e como acontece? Des-creva a festa;

5.Entreviste o principal responsável pela festa usando o seguinte roteiro:

• Nome;

• Função na festa;• Quando surgiu a festa?;• Por que acontece a festa?;• Quem financia?;• Principais participantes;• Como acontece a festa:

Início, meio, fim;• Como é o altar principal

da igreja? Descreva o ele-mento decorativo que mais te chamou atenção.

No final, peça aos alunos para fazer um desenho do in-terior da Igreja, identificando as principais imagens e onde estão localizadas.

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Educação Patrimonial >> 54

SuGEStÕEScomPlEmEntarES dE atiVidadES

• Desenhar e fotografar objetos, utensílios, lugares;

• Entrevistar artesãos locais, antigos moradores, personalidades públicas;

• Empreender ações de conservação em prédios ou áreas abandonadas;

• Organizar manifestações em prol da preservação de bens patrimoniais seleciona-dos pelos alunos;

• Organizar campanhas de conscientização da importân-cia da preservação do patri-mônio;

• Organizar álbuns de fotografias sobre eventos, festas, ou situações relativas de ocupação do espaço ou mesmo

de instituições ou associações da comunidade;

• Montar painéis com des-crição das etapas dos processos produtivos características do local;

• Organizar inventários gastronômicos ou colecionar receita de pratos típicos do lugar.

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55 << Educação Patrimonial

GEoGraFia

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Educação Patrimonial >> 56

Atualmente, o Bra-sil, depara-se com a Educação em pleno

período de transformação. Cada vez mais, exige-se dos educadores que trabalhem com conteúdos em que sejam explicitadas a diversidade cultural e a sua transposição didática, conforme propos-ta expressa nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e nos Temas Transversais da Educação (TTE). O momen-to é, por exemplo, propício para inserir novas teorias e práticas na Educação, tais como projetos envolvendo Educação Patrimonial, fugin-do um pouco dos currículos engessados em ações tradicio-nais e autoritárias. Trata-se de atividades extracurriculares, hoje classificadas como trans ou interdisciplinares, que pro-

curam reconhecer e valorizar as referências culturais locais, regionais ou nacionais.

O estudo de um centro histórico, de um parque bo-tânico ou do meio ambiente natural pode ser o ponto de partida para a abordagem dos temas que envolvem a disci-plina de geografia. A elabo-ração de mapas e plantas de edificações, a comparação com mapas antigos, a análise dos registros populacionais de uma determinada loca-lidade são outros recursos a explorar, tendo como base a evidência histórico/cultural. A procedência dos materiais, as técnicas construtivas, a decoração podem dar infor-mações interessantes para o conhecimento da Geografia Física e Humana. Ao iden-

O trabalho de educação patrimonial é imprescindível para a adequada proteção do Patrimônio Cultural. Tra-ta-se de um trabalho cons-tante de conscientização e envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade, nos trabalhos de preservação dos marcos e manifestações culturais, definindo conceitos, esclare-cendo dúvidas, divulgando e mostrando o resultado dos trabalhos e, o mais impor-tante, dividindo responsabi-lidades.

tificar os recursos e carac-terísticas que dão o caráter especial de uma localidade ou região, os alunos podem discutir as alternativas para sua preservação.

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57 << Educação Patrimonial

Geografia Física do Brasil

A Geografia Física do Brasil tem como objeto de estudo todos os aspectos naturais (geologia, hidrografia, clima, relevo, vegetação), nessa análise o foco limita-se a esses temas, sem o envolvimento o homem, tendo em vista as características originais.

Geografia Humana do Brasil

A Geografia Humana do Brasil tem como objetivo principal a realização de uma leitura da sociedade brasileira levando em conta os aspectos da população, economia, fluxo de migração, meio-ambiente, industrial, tecnologia, turis-mo, agropecuária, conflitos no campo, enfim todas relações humanas desenvolvidas no território nacional.

Campos da geografia humana

Como a geografia humana estuda a própria sociedade através do espaço (ou a espa-cialidade da vida social), as di-mensões do estudo da geogra-fia humana são as dimensões básicas da sociedade, ou seja a dimensão econômica, a di-mensão política, e a dimensão cultural da sociedade, entre outras coisas. Resultam da geografia humana a geografia econômica, a geografia políti-ca, a geografia cultural, entre outros campos.

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Educação Patrimonial >> 58

arQuEoloGia E a GEoGraFia

Ainda hoje, muitas pesso-as associam a arqueologia às aventuras vividas por perso-nagens dos filmes de aven-tura. Ou seja, um caçador de relíquias antigas e valiosas. Porém, esta ciência atual nada tem a ver com essa imagem plantada pelos filmes. Por ser uma ciência como outra qualquer, utiliza de métodos de investigação e trabalho científico. Atua em parceria com outras áreas do conhe-cimento como, por exemplo, antropologia, história, socio-logia, química, paleontologia, botânica, biologia, geografia,

entre outras. A arqueologia tem como

objetivo entender as mudan-ças ocorridas na vida do ser humano, desde suas origens. Para tanto, utiliza de vestígios do passado para reconstituir as fases históricas. Estes vestí-gios, também chamados de documentos históricos, podem ser escritos ou não-escritos. Ossos, restos de fogueiras, pinturas rupestres ruínas, textos antigos, objetos de cerâmica, entre outros, podem ser analisados e fornecerem informações sobre o passado.

Geografia Cultural

Pode ser entendida como um ramo da Geografia Humana preocupada com a distribuição espacial das manifestações cultu-rais, como: religiões, crenças, rituais, artes, formas de trabalho, enfim tudo que é resultado de uma criação ou transformação do homem sobre a natureza ou das suas relações com o espaço. Seja no planeta, em um continente, país etc. Atualmente, pode-se pensar na Geografia Cultural como sendo aquela que considera os sentimentos e as idéias de um grupo ou povo sobre o espaço a partir da experiência vivida. É uma geografia do lugar. Sua re-levância será estabelecida à medida que as referências culturais determinem as ações da sociedade sobre a natureza.

Festa de Caboclo

Bernardo festa po-pular que acontece

na vila de Regência,

Linhares-ES

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59 << Educação Patrimonial

Sítios ArqueológicosOs locais onde são encon-

trados estes objetos são cha-mados de sítios arqueológicos. Os pesquisadores fazem seus estudos e suas investigações neste espaço, escavando com muito cuidado, para não quebrar peças importantes e para não perder informações importantes que os sítios contém. A posição em que os objetos são encontrados é de fundamental importância para a reconstituição de uma época. Desta forma, os cientistas anotam as posições e condi-ções em que estes fragmentos foram encontrados para serem analisados com mais rigor em laboratórios e museus.

Registros fósseisOs fósseis também são

importantes fontes de in-formações para os estudos. Formados a milhões de anos, são registros do passado que podem mostrar como foi a vida e o meio ambiente num tempo muito distante. Quem estuda esses fósseis são os paleontólogos.

A ciência conta com um preciso sistema de datação, conhecido como Carbono-14. Este elemento químico, pre-sente nos seres vivos, começa a se desprender após a morte. A cada 5.700 anos, o objeto per-de aproximadamente metade da radiação. Através da com-paração, é possível determinar a idade do objeto com uma margem de erro de 40 anos aproximadamente. Quando se trata de épocas acima de milhares de anos, essa margem de erro torna-se insignificante. As datações de Carbono-14 são usadas em contextos arqueológicos. As datações de fósseis são feitas por outros métodos. Na realidade a ar-queologia é que mais utiliza o método de Carbono-14.

PatrimÔnio GEolÓGico

Só recentemente o Homem começou a ter consciência do todo natural e da posição que nele ocupa. As suas capacida-des intelectuais e tecnológicas conferem-lhe posições de acentuado domínio sobre os recursos biológicos e geoló-gicos, mas, em contrapartida,

atribuem-lhe o máximo de responsabilidades no uso que deles faz. O patrimônio geológico é um bem natural que precisa ser gerenciado, porém, para criar os meca-nismos de gestão, é preciso primeiro conhecer os locais de interesse geológico que tenham importância científica, e que que tenham importância científica e sejam representa-tivos na cronologia geológica de uma determinada região. Esses lugares podem revelar o conhecimento sobre a nossa existência no Planeta Terra.

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Educação Patrimonial >> 60

a PanEla dE Barro

A panela de barro é, sem dúvida, uma das maiores ex-pressões da cultura popular do Espírito Santo. Desde a sua origem - nas tribos indígenas que habitaram o litoral do Estado - até os dias de hoje, a técnica de sua confecção e a estrutura social das artesãs pouco mudou. O trabalho artesanal das paneleiras sem-pre garantiu a sobrevivência econômica de seus familiares, como também de suas tradi-ções. A região de Goiabeiras, ao norte da Ilha de Vitória, sempre foi o local tradicional da produção de panelas de

barro. No início, o trabalho era de cunho familiar e as pane-las eram feitas nos quintais das casas das paneleiras. As panelas de barro constituem o principal elemento cultural na elaboração de pratos típicos da culinária capixaba. A moqueca capixaba, a moqueca de garou-pa salgada com banana-da-terra e a torta capixaba têm de ser feitas em panela de barro, para serem autênticas. A pro-dução é constante e todas as peças produzidas são vendidas aos turistas e à população da Grande Vitória.

PatrimÔnio cultural do ESPÍrito Santo

O Espírito Santo vem se constituindo ao longo de sua história a partir de inúmeras matrizes culturais, gerando uma diversidade permeada de sensibilidades e produções variadas que requerem espaços de avivamento e expressão.Primeiro os índios, depois negros e imigrantes europeus trouxeram (e trazem) para o Espírito Santo manifestações, artefatos, música, culinária, ex-periências lúdicas, produções simbólicas, etc, estabelecendo espaços de interação e trans-versalidades, gerando tantos outros produtos híbridos que contém a vida de nossa gente.

Você sabia?O geoturismo compreende um novo segmento do turismo de natureza no Brasil, que surge com a intenção de divulgar o patrimônio geológico, bem como, possibilitar sua conser-vação. Tal atividade utiliza feições geológicas como atrativo turístico, divulgando a Geodiversidade das regiões turísticas.

Manifestação folclórica Ticumbi

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61 << Educação Patrimonial

o FolclorE

O dia 22 de agosto foi declarado Dia do Folclore, no Brasil, conforme D ecreto n° 56.747, de 17 de agosto de 1965. A palavra folclore vem do inglês folk, que significa povo, e lore, que é o particípio passado antigo do verbo to learn — aprender, conhecer. Assim, a palavra folclore re-fere-se à sabedoria popular e, de uma maneira geral, a tudo aquilo que o povo faz, cria e transmite pela tradição, me-diante aprendizagem comum.

No Espírito Santo, são manifestações folclóricas, por exemplo, as bandas de con-go, as puxadas de mastro, as cantigas de roda, o Ticumbi e o alardo, as receitas da medici-na popular à base de ervas, as crendices e superstições, o jon-go, artesanato como as panelas de barro e outros produtos do nosso artesanato, etc.

dançaS E FolGuEdoS caPiXaBaS

As danças e folguedos que compõem o patrimônio fol-clórico capixaba resultaram da contribuição inestimável das diferentes etnias que influíram em nossa formação histórica e cultural. É um patrimônio riquíssimo e variado que ainda sobrevive em vários pontos do Estado. Nesse patrimônio evi-dencia-se a influência lusitana, no alardo, na dança das fitas e nas folias de reis; dos afri-canos, no Ticumbi, no jongo e nas bandas de congo, nas

quais também se fez sentir, em traços sincréticos, a presença da contribuição indígena; dos colonos europeus, que povo-aram o Espírito Santo como imigrantes e trouxeram suas danças de coreografia vistosa, em que sobressaem os movi-mentos rápidos e a indumen-tária típica das suas regiões de origem.

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Educação Patrimonial >> 62

Por que trabalhar com a paisagem local?“As pessoas e as paisagens do lugar onde vivo” têm como

objetivo a organização de uma exposição de fotografias que retratem elementos culturais e naturais da paisagem local. Ao longo de seu desenvolvimento, os alunos aprenderão a usar um recurso tecnológico (a máquina fotográfica) de forma planejada e contextualizada. E como a fotografia geralmente é acompanhada por pequenos textos descritivos, chamados de textos de referência, produzirão textos sintéticos e objetivos sobre um conteúdo que já lhes é familiar. O nome do lugar retratado, a data da construção de um edifício ou uma breve explicação sobre a origem de uma reserva natural são exem-plos de assuntos que poderão aparecer nessa produção.

Além disso, o trabalho com a paisagem local permite que os alunos aprendam a valorizar o patrimônio histórico-cultu-ral e natural do lugar onde vivem. Quantos de nós passamos a vida sem conhecer um edifício histórico que marca a pai-sagem local, uma área de preservação natural do município ou os acontecimentos que fizeram o lugar onde vivemos ser aquilo que é hoje? Aqui, a escola tem um papel essencial: com atividades desenvolvidas ao longo do ano letivo, os alunos po-derão conhecer o patrimônio histórico e natural da sua cidade ou região por meio de textos, de depoimentos de pessoas da comunidade ou de visitas ao local.

O que os alunos aprende-rão com esta atividade?

• Selecionar fontes de informações adequadas aos propósitos do estudo;

• Reconhecer a estrutura e organização do texto informa-tivo;

• Usar procedimentos de leitura a partir de aspectos gráficos do texto;

• Usar a escrita como recurso de sistematização e so-cialização dos conhecimentos adquiridos;

• Produzir textos, utilizan-do estratégias de planejamen-to e revisão;

• Usar a máquina foto-gráfica enquanto recurso tecnológico para o registro da paisagem;

• Valorizar a paisagem local e o modo de vida do lugar.

Qual o tempo de duração da atividade?

A montagem de uma exposição fotográfica sobre as pessoas e as paisagens do lugar onde se vive envolve uma am-pla pesquisa sobre o que será retratado, o registro através da fotografia, a seleção das fotos que farão parte da exposição, a elaboração e revisão dos textos que acompanharão as imagens e, por fim, a organização da exposição. Por isso mesmo, é interessante que atividade seja realizada ao longo de um semestre escolar (4 meses).

Onde pesquisar?Em revistas, jornais, livros,

documentos históricos, CD-ROM, Internet, gravuras, fotografias e vídeos. É possível também entrevistar pessoas da comunidade que conheçam a história e a geografia local, consultar especialistas no assunto e instituições.

Que outros produtos po-derão ser gerados?

Além da exposição de fotografias sobre o patrimô-nio histórico-cultural e/ou natural da cidade destinada à comunidade, os alunos pode-rão produzir cartões postais utilizando as mesmas imagens e textos gerados para a expo-sição. É possível também pro-duzir cartazes sobre os locais importantes e/ou interessantes da cidade, com o objetivo de divulgá-los entre as pessoas da comunidade. Os cartazes poderão ser afixados na escola ou no comércio do bairro.

atiVidadES

1-as pessoas e as paisagens do lugar onde vivo

Que recursos tecnológicos poderão ser utilizados?

Esta atividade permite a utilização de recursos tec-nológicos como a máquina fotográfica, o computador e o gravador.

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63 << Educação Patrimonial

O que os alunos aprende-rão?

• Usar procedimentos de pesquisa como a busca de in-formações em fontes variadas (livros, jornais, revistas, mapas e junto a pessoas);

• Escrever textos informati-vos e descritivos;

• Usar recursos tecnológi-cos como a máquina fotográ-fica, o gravador, a filmadora e os computadores para registro de informações sobre pessoas, objetos e lugares;

• Usar procedimentos para a organização de acervos, como a coleta de objetos, re-latos e informações; o registro e catalogação de objetos e dados obtidos; o planejamento do espaço; a organização de exposições etc.;

• Valorizar o patrimônio histórico-cultural e natural.

2-criação de museu local

Nesta atividade os alunos organizarão um museu local (de pessoas, brinquedos e outros), destinados à comu-nidade escolar, moradores da cidade e visitantes. Um museu é por excelência a instituição que tem como função a con-servação do patrimônio cultu-ral de um determinado povo, a manutenção e a valorização de sua identidade. Esta atividade tem como objetivo central permitir aos alunos apropria-rem-se e identificarem-se com os elementos culturais da região onde vivem, para assim compreenderem o sentido de preservá-los. Afinal, será que museu é mesmo uma coisa chata? Guardar e preservar uma coisa não é trancá-la, mas, sim, zelar por ela para poder observá-la e admirá-la. Sendo assim, um dos eixos do trabalho é a própria discussão sobre o que é considerado patrimônio cultural e que, portanto, vale a pena ser reu-nido e guardado, levando-se em conta as particularidades de cada região e a sua memó-ria social.

O que temos na nossa cidade que merece tal trata-mento?

A realização de vários tipos de pesquisa pode colaborar na busca de resposta para a pergunta, permitindo que os alunos aprendam novas infor-mações obtidas em diversas fontes: mapas, livros, imagens, entrevistas com pessoas da cidade ou visitas a museus, para posteriormente deci-direm quais os acervos que serão eleitos como parte do museu. A partir do envolvi-mento em diversas situações de aprendizagem que culmi-narão na criação de um museu participativo e de autogestão - em que os alunos e pessoas da comunidade interessadas poderão discutir qual o local mais adequado, esquemas de doações e de monitoria -, espera-se que os alunos valori-zem cada vez mais seu patri-mônio histórico-cultural, bem como a possibilidade de todo e qualquer indivíduo, anônimo ou célebre, ter a sua história de vida registrada e preservada.

Onde pesquisar?

Em arquivos públicos, mu-seus, periódicos locais, livros, CD-ROM e também consul-tando pessoas da comunidade, a Secretaria de Cultura e Tu-rismo e associações de defesa do meio ambiente.

Que recursos tecnológicos poderão ser utilizados?

Esta atividade permite a utilização de recursos tecnoló-gicos como máquina fotográ-fica, filmadora, televisão, vídeo, gravador e computador.

Que outros produtos po-derão ser gerados?

Poderão ser produzidos folhetos e cartazes sobre o acervo do museu, utilizando-se textos e imagens que fazem parte da exposição. Com este material, os alunos poderão divulgar o museu entre as pessoas da comunidade, convi-dando-as para visitá-lo.

Qual o tempo de duração?Um semestre escolar (4

meses).

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1-Inventariando a cidade

O professor pode elabo-rar junto com os alunos um questionário cujo título pode ser “Reconhecendo a cidade” contendo as seguintes pergun-tas:

•Você conhece a história da sua cidade? Como nasceu a sua cidade?

•Desenhe a planta da sua cidade localizando os lugares e os prédios ou casas mais importantes.

gar a sua cidade, identificando os lugares por onde passa.

• Desenhe o caminho que você percorre para chegar na escola identificando as casas mais antigas.

• Quais são as festas mais importantes da cidade e onde acontecem. Descreva a festa que você considera a mais importante.

•Em sua opinião, qual o bem cultural mais importante

• Conte quantas escolas, ci-nemas, igrejas, praças existem na sua cidade.

• Quais os lugares de diver-são que você mais freqüenta. Escreva uma redação sobre este local.

• Você sabe onde nasce o rio que passa por sua cidade? Qual a origem do nome do rio?

• Faça um desenho do rio desde a sua nascente até che-

SuGEStÕES comPlEmEntarES dE atiVidadES

4-monumentos

Quais os monumentos, estátuas existem na nossa cidade?

Qual a relação desses monumentos com a nossa história?

Localização: argumentos para a localização da estátua ou monumento, características gerais do local (paisagem, pú-blico que freqüenta), relação do monumento com o local de instalação.

Descrição da estátua ou monumentos, material em-pregado na sua construção, responsável pela idealização e execução, dimensões descrição da ornamentação, elemento complementares.

3-Patrimônio arquitetônico

Todo o tipo de edificação que faz parte do patrimônio arqui-tetônico pode ser analisado pelos alunos através deste roteiro.

• Nome oficial e popular da edificação, endereço, mapa ou planta de situação, pontos de referência...

• Motivo da construção, pessoas ou órgãos envolvidos... • Marco temporal da construção, função inicial e atual da

edificação. • Características gerais do espaço em que o bem foi constru-

ído, o entorno. • Características originais internas e externas da edificação.• A construção do prédio, materiais utilizados, origem dos

materiais empregados. • Técnicas construtivas, elementos decorativos, estilos arqui-

tetônicos, profissionais envolvidos. • Números de peças, função de cada um, características parti-

culares dos espaços internos.• Organização inicial e atual do espaço. • A trajetória do patrimônio construído ao longo do tempo. • Alterações no uso e funções da edificação ao longo do tem-

po, reformas e intervenções realizadas. • Transformações dos elementos decorativas, mobiliário e

entorno da edificação. • A edificação e o meio social contextualização na história da

época em que foi construída-os acontecimentos político-sociais e culturais.

• Significativos da comunidade e sua relação com essa cons-trução.

Page 65: Apostila Educação Patrimonial

65 << Educação Patrimonial

da cidade. Por que?• O que você acha que deve

ser feito para se preservar os bens culturais da sua cidade.

• Quais os problemas que a sua cidade apresenta?

• Quais as soluções para estes problemas?

• Como é a sua cidade dos sonhos?

2- Elaboração de inven-

tário do acervo cultural da cidade:

1o passo- Peça aos alunos para fazerem um levantamen-to referente aos bens culturais da cidade contendo informa-ções históricas (construtor, época da construção, primeiros moradores, usos, etc.) e foto-grafias. Utilizar uma planta cadastral recente da cidade ou localidade.

2o passo- Utilizando uma cópia da planta cadastral da cidade, montar um painel para que os alunos colem as fotografias dos bens culturais mais expressivos na quadra ou região onde se localiza.

3o passo – Montar um mapa (planta cadastral) locali-zando os principais problemas da cidade.

3- Jogo de Comparações

O professor poderá trabalhar essa atividade em sala de aula.

1o passo - Peça para os alunos fazerem uma comparações utilizando fotografias atuais e antigas da região.

2o passo – elabore um formulário guia contendo as seguintes questões, por exemplo:

• O que existia e que não existe mais;• O meio de transporte do passado e o atual;• Como se vestiam as pessoas e como se vestem hoje;• Faça uma entrevista com um parente mais velho sobre a

sua vida na infância e adolescência : onde morava, onde es-tudava, se trabalhava, como brincava, lugares que freqüentava, músicas que ouvia, como se vestia.

4- Montagem do Júri simulado:

• Escolher um bem cultural com problemas que para ser o objeto de discussão;

• Escolher quatro alunos para interpretarem os papéis de dois irmãos a favor da preservação e dois contrários à preserva-ção;

• Um grupo de alunos fará o papel do corpo de jurados.

5- Jogo de identificação:

• Utilizando fotografias / transparências de objetos e detalhes de prédios;

• Dividir a turma em dois grupos. Os alunos terão que iden-tificar os detalhes e objetos.

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Apresentação

Realização Apoio