apostila do curso de canto - marcio vilegas

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Page 1: Apostila Do Curso de Canto - Marcio Vilegas

* Essa apostila é parte integrante do curso de canto on-line com o professor Márcio Vilegas!

* Com ela você acompanhará vídeos que serão postados em sua caixa de entrada YOUTUBE, explicando o seu conteúdo de forma teórica e prática.

* Visite regularmente sua caixa de entrada ( Terças e quintas feira )

Msn: [email protected]

Breve, acompanhamento pela web cam ao vivo.

Sem mais... Márcio Vilegas

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INTRODUCAO AO CANTO

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Como é Produzida a Voz Humana

A produção do som depende, basicamente, de ar e da laringe, onde estão as cordas vocais. A laringe é composta por três anéis de cartilagem. Dentro destes anéis, estão as cordas vocais, que são pequenos músculos com grande poder de contração/extensão. São classificadas em verdadeiras e falsas. As verdadeiras (com cerca de 1 cm nos homens e até 1,5 nas mulheres) estão na parte inferior da laringe e as falsas na parte superior. O som da voz normal é produzido pelas verdadeiras e o falsete pelas falsas.

Durante a respiração, as cordas vocais permanecem abertas, enquanto que para a produção de som elas se fecham, e o ar faz pressão, causando uma vibração que produz o som.

Laringe: Cordas Vocais em movimento (vista transversal)

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Articulação e Clareza do Som

Cantar é um elemento da articulação. As palavras da música devem ser muito claras e objetivas, para causar um processo de ação e reação imediata. Para que isto aconteça, deve-se levar em conta dois processos:

Articulação: processo pelo qual os órgãos da fala moldam o som vocal em sons reconhecíveis da fala.

Interpretação: processo pelo qual se carrega o espírito ou significado da música através do modo como se executa.

O primeiro passo para uma boa interpretação é o domínio de uma boa articulação. Tanto no canto, quanto na fala (a muitas pessoas), os movimentos articulares devem ser mais acentuados do que na conversação usual.

Os elementos na figura acima estão intimamente envolvidos no que se refere à articulação e clareza do som. Qualquer alteração no funcionamento deles irá interferir no som emitido.

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Lábios

Há pessoas que possuem um problema de excessiva tensão labial, o que impede a boa mobilidade e flexibilidade. Por outro lado, existem pessoas que possuem um tônus labial baixo, ou seja, flácido.

A posição ideal para os lábios, é aquela que ajuda o rosto a Ter uma expressão agradável, feliz. Deve-se evitar puxá-los exageradamente para os cantos ou para frente quando se estiver cantando ou falando, pois isto pode modificar a qualidade sonora.

Para aqueles com problema de tensão ou flacidez labial, existe um procedimento muito simples e bastante eficaz, sugerido pelo fisioterapeuta e fonoaudiólogo Noélio Duarte. Primeiramente, deve-se visualizar a boca e seus pontos-chave:

Quem tem excessiva tensão, deve relaxar os lábios, apertando com o indicador e o polegar nos pontos indicados acima, seguindo a ordem numérica referida. Deve apertar cada ponto com firmeza, no entanto, sem exageros, durante 5 a 10 segundos. Pode ser incômodo, mas, ao final, os resultados vão valer à pena.

Já quem tem lábios flácidos, precisa de tonificação. O procedimento é o mesmo, só que ao invés de apertar demoradamente, dá-se ligeiros apertões (apertando e soltando imediatamente) no mesmo sentido numérico do esquema. Estas pessoas também podem fazer exercícios do "i" ou do "u", torcendo a boca para um lado e para o outro.

De um modo em geral, neste exercício das vogais, pode-se utilizar o "p" e o "b" para treino labial, pois estas consoantes são totalmente dependentes dos lábios.

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Língua

A língua é o principal órgão da articulação, pois interfere na formação das vogais e consoantes. Em média, a língua trabalha numa velocidade de 370 movimentos por minuto.

Cerca de 90% dos problemas que envolvem a língua são de tensão. Isso causa o ressecamento da boca pela retração constante da língua. Este posicionamento não estimula muito a produção de saliva em termos fisiológicos, e também interfere consideravelmente na emissão do som, por razões explicadas mais adiante quando falarmos da faringe.

Existem, também, aqueles que precisam tonificar a língua, sendo caracterizados pelo acúmulo excessivo de saliva.

A língua deve permanecer numa determinada posição, chamada de "posição de repouso", ao longo do "assoalho" da boca tocando os dentes inferiores. Veja os seguintes exercícios de relaxamento.

- colocar a língua um pouco para fora da boca e morder levemente a pontinha da língua

- pressionar a língua fortemente contra os dentes fechados por 5 segundos;

Em seguida, deve-se associar os dois exercícios lentamente. Alguns problemas da pronúncia do "S" podem ser resolvidos com a colocação da língua na posição de repouso.

Maxilar

A tensão é um grande fator limitante da boa atuação dos maxilares. Pode-se perceber a tensão existente ao se fechar os dentes e engolir a saliva. Quando se canta de boca fechada ocorre isto. Por isso, aparecem dores após o ensaio ou apresentação, ou mesmo após a fala.

O maxilar interfere nos músculos da face, modificando o poder de contração. Portanto, deve-se relaxar esses músculos, facilitando a abertura e a flexibilidade da boca e liberando os músculos da garganta.

Nunca se deve usar posições forçadas, tais como empurrar o maxilar para frente, puxá-lo para trás ou trancá-lo numa posição. A sonoridade vai depender, em parte, da abertura que for dada ao maxilar. Em relação à tensão ao maxilar inferior, pode-se realizar alguns exercícios, lembrando que devem ter maior cuidado ao realizá-los aqueles com tendência à luxação do maxilar.

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1. LateralizaçãoAbrindo a boca e movimentando o maxilar para a direita e para a esquerda.

2. Abertura totalAbrindo bem a boca por alguns segundos.

3. Projeção anteriorCom a língua na posição de repouso, projetando-se o maxilar para a frente, permanecendo assim por alguns segundos.

4. Projeção posteriorCom a ajuda de um dedo, fazendo-se um recuo do maxilar por alguns segundos.

Faringe

A faringe tem a função de ampliar o som, e embora não seja essencial para a articulação, está intimamente ligada à posição assumida pela língua. Seu melhor desempenho dependerá do comportamento da língua.

A ampliação do som será tanto melhor quanto melhor for o espaço que o som puder ocupar dentro da boca.

Como se pode ver neste esquema, a voz terá uma melhor ampliação na posição 1, a qual tem o dobro do tamanho da posição 2. Deve-se notar como o hábito tão comum da posição 3 diminui consideravelmente o espaço para a ampliação da voz.

Existem exercícios que facilitam a aquisição do hábito da posição 1:

- sabe-se que ao se fazer o movimento de engolir, a língua inicialmente sobe e em seguida, sua parte posterior desce. Então, com o dedo indicador e o polegar em cada extremo do maxilar inferior, faz-se o movimento de engolir. Quando a parte posterior da língua estiver descendo, mantém-se uma pressão para baixo, forçando os dedos, sem esquecer que a ponta da língua deve estar no padrão de repouso.

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Palato

O palato se divide em 2 partes: o palato duro (céu da boca) e o palato mole (úvula, conhecida como campainha).

O palato duro está envolvido com a projeção da voz, e o palato mole com a formação de sons orais e nasais.

O som, na verdade, é formado por ondas. As ondas só se propagam em linha reta, daí a importância do palato duro aliado a uma boa postura da cabeça:

Sabe-se que as narinas são responsáveis pela ressonância nasal. Porém, o som nasal só será emitido com a "permissão" do palato mole (a úvula).

Sons nasais

Sons orais

Para emitir esses sons nasais, a úvula desce. Caso suba, os sons emitidos serão orais.

O excesso ou a falta de nasalidade podem representar sérios problemas de voz, afastando-se da normalidade e modificando o som original que deveria ser produzido.

A origem dos problemas pode estar no hábito de colocação errada da voz, até problemas mais sérios, como tumores, sinusite, adenóide e excesso de muco.

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4. O Mau Uso da Voz

Deve-se ter em mente que o mau uso da voz não começa ao se cantar de forma errada, mas sim ao se falar de forma errada. Os cantores estão duplamente expostos a ter problemas nas cordas vocais. Por isso, é necessário saber como preservar a voz tanto ao se falar quanto ao se cantar.

O início dos problemas nas cordas vocais pode ser sutil, uma rouquidão aqui, uma dorzinha ali. No entanto, este é um assunto extremamente importante para ser ignorado, pois, às vezes, o descaso pode levar à perda completa da voz.

Ao menor sinal de que algo não vai bem com as cordas vocais, ou em qualquer outro órgão envolvido com a fonação, deve-se procurar um especialista, o fonoaudiólogo.

Um dos problemas comuns é sentir gosto de sangue na boca após uma apresentação musical, ou se falar muito. Apesar de o ferimento ser minúsculo, gotículas de sangue são jogadas pelo ar na boca, causando essa sensação. Outra sensação comum é o de areia. As dores, geralmente, são em pontadas. Com o tempo, uma simples lesão pode-se tornar em uma espécie de cicatriz chamada fibrose, apresentar vários cistos, calos e até mesmo se tornar em um tumor.

Timbre

Um erro comum, porém muito grave, é em relação ao timbre. O timbre é o fato determinante do tipo de voz: soprano, mezzo soprano, contralto, tenor, barítono e baixo. O timbre de uma pessoa não é escolhido aleatoriamente, ele existe por razões anatômicas: o tamanho da laringe. Por exemplo, os homens que têm o "gogó" pronunciado ou pontiagudo têm maior facilidade de ressonância, e conseqüentemente voz mais grave.

O desconhecimento disto é muito sério e pode destruir a voz de uma pessoa. Muitas pessoas com características de voz grave têm cantado por aí com uma voz aguda e vice-versa. Alguns deles até com uma voz "linda". Porém, esta voz "linda" foi apenas fabricada, e não vai durar muito.

Em quase 100% das pessoas existe um padrão anatômico determinante do timbre. Diz-se que as pessoas com pescoço comprido e "gogó" proeminente possuem timbre grave (baixo e contralto); pessoas com pescoço de tamanho médio com pouca proeminência possuem timbre médio (barítono e mezzo); e pessoas com pescoço mais curto, praticamente sem saliência possuem um timbre agudo (tenor e soprano).

Cantar e falar fora do próprio timbre natural pode provocar um "destimbramento" vocal, ou seja, uma descaracterização da voz com perda da qualidade.

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Tensão da Corda Vocal

Em relação à tensão da corda vocal, podem ocorrer 3 tipos de problemas:

1. Frouxidão completa 2. Excesso de compressão 3. Desequilíbrio no funcionamento

Na Frouxidão completa, as cordas não se fecham totalmente, resultando em um som soprado, pois uma dose excessiva de ar está fluindo, e devido a esta interferência na voz, a pessoa fará mais esforço para produzir sons.

Quando há excesso de compressão, as cordas vocais ficam muito apertadas. Isto pode ser devido a tensões, falta de orientação técnica, e resulta em um som difícil, tenso, irritante, estrangulado ("taquara rachada"), forçado, provocando tensão nos outros músculos associados na produção vocal.

Havendo Desequilíbrio no funcionamento das cordas vocais (ora tensas, ora relaxadas), ocorrerão mudanças sensíveis na produção do som vocal.

O ideal é que a corda fique num meio termo, suficientemente contraída para não deixar o ar escapar rapidamente.

Sustentação e Força

Os problemas de sustentação de nota e também a falta de força sonora (voz de pouco alcance, volume), tem sua origem nos produtores (elemento do aparelho fonador), ou mesmo em razões pessoais, como o medo de soltar a voz, talvez não por falta de capacidade, mas por não ter aprendido a usá-la. Então, é necessário um trabalho de conscientização de voz orientada por um professor de canto.

Por outro lado, a pessoa que tem o hábito de falar alto demais, não pronunciando bem as palavras, correm um alto risco de apresentar calos de corda vocal, além de outros problemas como dor de cabeça, sinusite, faringite, e até mesmo cáries pelo desgaste do esmalte.

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Perda de Tons

A perda de tons, não é, necessariamente, um problema vocal. Esta é uma questão mais ligada a um fator hormonal. As crianças possuem timbres muito semelhantes, não sendo distintos os timbres de meninos ou meninas. Porém, por volta dos 10 -12 anos, o corpo começa a receber uma descarga de hormônios, e os rapazes passam por um processo de transição de voz mais significativo que as moças, pois podem chegar a perder até 7 tons, enquanto que as moças apenas cerca de 3 tons.

Outra situação que isto acontece é nas mulheres após os 45 anos, devido a perda de hormônios, com uma perda de cerca de 3 tons. Isto pode ser remediado com a reposição hormonal, sob prescrição médica, evidentemente. Nos homens, após 50-55 anos, ocorre o oposto, pois têm sua voz "agudizada", também por questões hormonais. Quando se cuida bem da voz, as mudanças são mais sutis, não provocando nenhum distúrbio vocal.

Voz Cansada

Alguns dizem que a voz cansada é uma coisa natural ou normal depois de uma fala prolongada, ou mesmo fala leve. Falando assim, fica parecendo que os músculos da laringe e faringe (músculos que produzem voz) se cansassem e aceitassem a rouquidão, a ardência ou mesmo a perda parcial da voz, faringite e até laringite como algo plenamente normal.

Outros acreditam que algumas pessoas nascem com garganta débil, ou com voz insuficiente, e que sempre tenderão a transtornos vocais.

Isto tudo não é verdade, e sim coisa de gente mal informada, pois a voz bem empregada não se cansa, não produz sintomas negativos e nem esforços extras para falar. O uso constante em si não leva a problemas de voz; o que causa esses problemas é o uso indevido, mal administrado, abusivo e vocalização incorreta.

A voz bem definida (tom apropriado, entonação e ritmo corretos) pode ser usada durante jornadas de trabalho de até 8 horas diárias. No entanto, deve-se lembrar que o cansaço físico acarreta cansaço vocal, assim como a saúde geral do indivíduo deve ser levada em conta.

O que deve acontecer é identificar o problema e procurar o especialista, seja médico, fonoaudidlogo, professor de canto, e não sair por aí fazendo as receitinhas caseiras aleatoriamente, pois além de não trazer benefícios, podem, algumas vezes, constituir riscos em potencial.

É comum se confundir faringe e laringe ao se pensar nesses preparados e receitas. É importante se ter em mente que nenhum desses xaropes, chás e gargarejos chegam até as cordas vocais. Basta conhecer a

anatomia para verificar este fato:

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À menor gota ou farelo tocar as cordas vocais, desencadeia-se um processo muito desagradável de tosse, desespero, falta de ar.

Alguns especialistas acreditam que não se deve fazer o gargarejo com o objetivo de medicar as cordas vocais, uma vez que o líquido não chega efetivamente até elas.

Alguns métodos caseiros podem ser até úteis, porém durante períodos limitados, apenas mascarando os sintomas verdadeiros sem eliminar a causa do problema, que pode ser uma vocalização incorreta ou uso abusivo da voz, ou até problemas como faringite.

Problema Central

Um erro freqüente é a não focalização no problema central causador da doença. Assim, muitas pessoas chegam a trocar de profissão para usar menos a voz, ou fazer um repouso vocal exagerado (que não é significativo nas terapias da voz), e até mesmo, alguns se utilizam de tranqüilizantes por tempo indefinido. Os relaxamentos (ioga, meditação transcendental, regressões psíquicas...) não devem ser tentados como resolução do problema vocal. A pessoa deve procurar um especialista.

Educação Vocal

Um grande mito é que só se educa a voz para o canto. A voz falada merece tanta atenção quanto a voz cantada, pois uma pode acabar interferindo na outra.

Há casos de pessoas que perdem completamente sua voz devido ao modo de falar errado, sendo às vezes necessário uma cirurgia para a retirada das cordas vocais.

Existem "dicas" para "melhorar" a voz que são tão fora da realidade que chegam a agredir a inteligência. Algumas destas são o uso de lápis ou

bolinhas na boca durante a fala; fazer massagem com álcool canforado na garganta; fazer vocalizes com grande intensidade, de madrugada, para aumentar a extensão vocal...

Diante de tais afirmações, é preciso usar o bom senso e perceber que se deve trabalhar os órgãos envolvidos na produção do som com sensibilidade, conscientização, percepção. Algumas "receitas" podem ser perigosas, podendo causar até queimaduras. E alguns vocalises feitos com grande intensidade levam à Parafonia Hipercinética (distensão das cordas vocais).

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Aquecimento Vocal

A laringe é muito sensível, e é um dos primeiros órgãos a ser afetado diante do estresse, emoções, cansaço e outros. Isso faz com que haja modificação na voz, e muitas vezes, a situação obriga às pessoas a forçarem seu "instrumento ". E, algumas vezes, a situação se torna pior, pois "soltam" a voz de qualquer jeito , sem um aquecimento prévio.

O aquecimento vocal é tão importante para o cantor quanto o aquecimento físico é para um jogador de futebol, por exemplo; pois pode evitar lesões importantes. Por outro lado, não é correto gastar tempo demais "esquentando" a voz. Há pessoas que passam 30 minutos neste processo, e ao final, em vez de terem "aquecido", terão é mesmo "fervido" a voz. Isto resulta em pouca produtividade durante o período que se segue.

O ideal é que o vocalize não exceda 5 minutos.

6. Características Vocais

Voz Rouca

A rouquidão pode ser causada por vários fatores, tais como o uso abusivo, processos patológicos (calos, tumores...), e também pela mb colocação da voz devido a algum processo emocional (traumático ou não).

Não é raro encontrar crianças que se expressam através de berros. Isso acontece por vários motivos: moram em lugares com alta poluição sonora, ou mesmo porque seus familiares falam muito alto. Neste caso, o referencial que acompanha a criança desde pequena é que o normal é falar com um volume de voz elevado. Outras vezes é comum que numa mesma família todos falem com voz rouca, sem necessariamente existir algum impedimento físico por tanto, sendo apenas uma questão de referencial adquirido com a convivência familiar.

Assim, as pessoas vão assimilando este comportamento, e, ao emitir a voz, forçam as cordas vocais sem saber, e o que antes era apenas um costume familiar, torna-se um problema orgânico sério: calor, inchaço, pólipos, etc.

O que deve acontecer é identificar o problema e procurar o especialista, seja médico, fonoaudiólogo, professor de canto, e não sair por aí fazendo as receitinhas caseiras aleatoriamente, pois além de não trazer benefícios, podem, algumas vezes, constituir riscos em potencial.

Outro fator causador de sérios problemas nas cordas vocais é o cigarro. Não só o fumante ativo está sujeito aos problemas vocais, mas também, os fumantes passivos, que absorvem a fumaça emitida pelo ativo. Portanto, é um crime familiares fumarem perto de crianças, principalmente em ambientes fechados, pois a poluição envenena o sistema respiratório e afeta as cordas vocais, causando rouquidão e outros problemas mais graves, como tumores malignos. Vale lembrar que de acordo com uma pesquisa de 1997, 73% dos tumores de corda vocal são malignos.

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Não se deve ignorar o problema da voz rouca. É de extrema importância realizar o trabalho de correção dos problemas orgânicos com um otorrinolaringologista (medicações/cirurgias) e também dos problemas "mecânicos" com um fonoaudiólogo (timbre, colocação, exercícios, volume, etc.).

Voz Fina

Em 99% dos casos, segundo pesquisas, a voz fina é de origem emocional. O mais comum é, ao entrar na puberdade, o rapaz assustar-se com a mudança e procurar manter a voz da infância, apesar de sua laringe já estar pronta para a transformação.

Um ponto perigoso é o excesso de mimo na infância em ambos os sexos, podendo alterar o ritmo da fala, além de manter a voz infantil. Isso é muito perigoso para os meninos, que podem ser taxados de homossexuais logo cedo, podendo gerar traumas muito profundos na criança.

Outro desencadeador da voz fina são os traumas, como os cirúrgicos. A retirada das amídalas é um bom exemplo, pois a criança pode ficar com medo de falar firme, mantendo a voz infantil.

As causas orgânicas são mais raras, e ocorrem, normalmente, diante de uma atrofia física de origem hormonal. Existem alguns métodos de tratamento, e a pessoa deve procurar um especialista.

Voz Trêmula

Embora seja um problema de difícil resolução, existem métodos, que bem aplicados e praticados podem surtir excelentes resultados.

Este é um problema difícil, pois advém de um trauma muito forte, onde a pessoa insiste em falar apesar de tudo. A voz falha, fica trêmula, o que causa uma forte tensão nas cordas vocais. Então, a pessoa sente dificuldade de se adaptar ao enfrentar situações semelhantes ao trauma. É interessante notar que durante o relaxamento da musculatura das cordas vocais, como no sorriso, a pessoa consegue emitir a voz corretamente.

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7. Postura Corporal Correta

É impossível imaginar um piano que tenha um som perfeito se estiver com alguma parte faltando, ou quebrado, ou mesmo mal posicionado. Uma flauta amassada não terá o mesmo som de uma que está perfeita.

Desta forma, acontece com o corpo humano. O som produzido será sempre influenciado pela postura que se adota, por diversas razões. Uma boa postura:

É bem menos cansativa do que uma postura má ou relaxada, pois assim, os ossos e músculos fìcam posicionados de modo que haja o mínimo de esforço e tensão.

Causa um melhor aproveitamento respiratório. Dá um melhor aspecto à visualização, além de transmitir maior segurança. Coloca o mecanismo vocal na melhor posição para o seu posicionamento, tornando mais fácil a

produção de uma sonoridade com qualidade. Traz confiança, bem-estar psicológico e físico o todo o organismo. Faz o corpo funcionar melhor, conseqüentemente beneficia a saúde vocal.

A boa postura para cantar deve ser aprendida e praticada até que se torne um bom hábito.

1. Pés: uma boa base dá maior segurança e firmeza. Inicialmente, deverão estar um pouco afastados. Em apresentações mais demoradas, o ideal é variar a sustentação do peso entre os pés, porém não de forma demorada, para evitar fadiga e tensão. Não se deve colocar o peso apenas sobre os calcanhares.

2. Pernas: como ajudam a fixar e sustentar o corpo, elas nunca ficam totalmente relaxadas. No entanto, elas devem ficar flexíveis, nunca rígidas, prontas para o movimento. Não se deve apoiar todo 0 peso do corpo somente em uma perna, pois haverá uma forte tendência a tremer. Para ajudar a resolver a tensão nas pernas e pés, pode-se fazer algum alongamento nesta região.

3. Quadris: devem estar equilibrados, evitando um lado estar mais elevado que o outro. Porém, uma leve alternância, ou movimentação ajuda a relaxar esta região, pois não é bom que esteja muito rígida durante a apresentação.

4. Abdome: não deve estar exageradamente projetado para dentro ou para fora. Deve-se evitar tensões demasiadas neste local, pois a musculatura desta região é de extrema importância para a respiração controlada, como é a de um cantor ou orador.

5. Costas: manter a coluna ereta de forma não rígida favorece o bem estar do som, por melhorar as condições da expansão do tórax, melhorando a respiração. Deve permanecer de forma equilibrada, sem inclinações exageradas.

6. Tórax: deve estar numa posição relaxada, evitando-se qualquer contração muscular exagerada, para facilitar o mecanismo do ar. Deve-se sentir todo o tórax agindo em conjunto.

7. Ombros: devem estar descontraídos, sem nenhuma tensão nestas articulações. Qualquer rigidez nesta região pode comprometer a ação dos músculos do tórax e do pescoço. Eles não devem se

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mover muito para frente, nem para trás, nem para baixo, muito menos para cima. A rigidez local pode complicar a toda a postura.

8. Braços e mãos: devem estar caídos livremente ao longo do corpo, de forma natural, o mais livre de tensão possível. Os maneirismos devem ser evitados, como ficar apertando as mãos à frente ou atrás, ou torcendo-as, pois isso causa uma tremenda tensão nos braços e no tórax, além de interferir na ação dos outros músculos do corpo. Esse tipo de atitude também é bastante deselegante. E ao segurar o microfone, deve-se ter o cuidado de manter os ombros e braços relaxados, para evitar tensão no pescoço.

9. Cabeça: deve estar centralizada. O olhar deve estar na direção das pessoas, e o queixo não deve estar nem muito baixo nem muito alto.

10.Posição sentada: quando se está sentado, o principal apoio do corpo é o assento. O tronco e a cabeça devem estar alinhados, com a coluna ereta, e os quadris devem estar bem apoiados no encosto, sem, no entanto, fazer com que o abdome fique projetado para frente, ou o oposto, ficando com a coluna inclinada para frente. Em ambas as situações haverá comprometimento da respiração, e cansaço em pouco tempo. Se se está sentado em uma cadeira com braços, não se deve apoiar os próprios braços sobre os da cadeira, pois haverá maior sobrecarga nos ombros, prejudicando a coluna.

8. O Sistema Respiratório

O Sistema Respiratório possui várias funções, que vão além da respiração, como a de defesa e a de fonação. É importante, no entanto, saber que sua principal função é a realização da entrada e saída de ar (gás) nos pulmões, processo chamado de ventilação. Desta forma, o sistema respiratório é comparado a uma "bomba vital" que trabalha 24 horas por dia, realizando suas funções sem que se tenha consciência desse movimento.

A entrada do ar é extremamente importante para o organismo, pois ele é composto pelo Oxigênio (21%), Nitrogênio (75%), Gás Carbônico e outros gases. O metabolismo humano depende da contínua chegada de Oxigênio (O2), retirado do meio ambiente.

As necessidades básicas de um adulto sadio em repouso, são em torno de 250 ml de 02. Por outro lado, é necessário que o Gás Carbônico (C02), produto final de inúmeros processos metabólicos, seja continuamente retirado do organismo. Com a ventilação, o 02 é abundantemente oferecido ao corpo com a entrada de ar nos pulmões, enquanto que o CO2 é retirado com a saída do ar.

As Vias Respiratórias

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O ar entra pelo nariz e pela boca; passa pela faringe; laringe; traquéia; brônquios e bronquíolos (no pulmão).

Cada uma dessas estruturas possui uma significativa função na respiração. O nariz, além de servir de "porta de entrada e saída" do ar, o precondiciona de vários modos, aquecendo-o (37°), umidificando-o e limpando-o. A faringe, comumente chamada de garganta, divide-se em duas vias: na traquéia e no esôfago. É nessa região que o alimento é separado do ar. O ar vai para a traquéia, enquanto o alimento atinge o esôfago. Essa separação é controlada por reflexos nervosos. A laringe forma a transição das vias aéreas superiores e inferiores, e é nela que se localizam as cordas vocais.

Continuando-se com a traquéia, estão dois tubos de passagem de ar para cada pulmão, os brônquios. Estes tubos vão diminuindo de espessura e se dividindo cada vez mais à medida em que entram nos pulmões, num total de 23 divisões.

Ao final dessas divisões, estão os bronquíolos, que por sua vez dividem-se em bronquíolos respiratórios. Até esse ponto, a "árvore brônquica" já possui cerca de 1 milhão de tubos. No entanto, a troca gasosa ocorre apenas em estruturas que encerram estas divisões, os alvéolos (explicados posteriormente).

Os Pulmões

Os pulmões são órgãos essenciais da respiração, localizados dentro da caixa torácica, um de cada lado do coração e revestidos por uma membrana muito delicada, a pleura.

O volume pulmonar varia entre 4 a 6 litros, aproximadamente a quantidade de ar contida numa bola de basquete.O peso aproximado dos pulmões de uma pessoa com dimensões médias é 1 kg. A área de superfície pulmonar é considerável. Se o pulmão fosse estendido, o tecido cobriria cerca de 60 a 80 m2.

Isto é aproximadamente 35 vezes maior que a superfície corporal da pessoa, e superfície para cobrir quase a metade de uma quadra de tênis.

9. Os Grupos Musculares da Respiração

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Existe uma diferença de pressão entre o ar dentro dos pulmões e a superfície de contato com a parede torácica, que faz com que os pulmões fiquem aderidos ao interior dessa parede. Por isso, os pulmões acompanham literalmente todos os movimentos, ou qualquer mudança no volume do tórax.

Sozinhos, os pulmões não conseguem alterar seu volume, pois, para isso, precisam dos músculos.

Os movimentos da caixa torácica, assim como qualquer outro movimento corporal (andar, chutar, comer...) dependem de uma contração muscular.

O ato de respirar pode ser dividido em 2 momentos: a inspiração (entrada de ar) e a expiração (saída de ar).

Existe um grupo de músculos responsável por cada uma das etapas. É importante saber que nem todos eles são usados ao mesmo tempo, a depender da situação, torna-se necessária a presença de apenas alguns deles.

No entanto, em cada grupo, existem aqueles que são os mais solicitados, e são tidos como os principais; e os demais, são tidos como acessórios.

O grupo dos inspiratórios é bem grande, com mais de 15 músculos, que elevam as costelas ao se contraírem. Eles podem ser classificados como:

Músculos Inspiratórios Principais

Diafragma (principal) Intercostais externos

Músculos Inspiratórios Acessórios

Esternocleidoccíptomastoideo (ECOM) Escalenos outros

O grupo dos expiratórios é menor, com cerca de 8 músculos, que atuam no sentido de abaixar as costelas:

Músculos Expiratórios Principais

Intercostais Internos

Músculos Expiratórios Acessórios

Músculos abdominais Outros

A Respiração

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A diferença de pressão que existe entre o ar ambiente e o ar de dentro do pulmão é que faz com que o ar entre. Algo parecido acontece com uma seringa ou um aspirador de pó.

Dentro do pulmão, a pressão é negativa, e devido à gravidade, em uma pessoa sentada ou de pé, a pressão da parte de baixo é mais próxima do zero que a da parte de cima. Por isso o ar entra primeiro na parte de baixo, e em seguida na de cima, e ao final da inspiração, todo o pulmão deve estar cheio por igual. Daí a importância de uma boa postura durante a inspiração, caso contrário, não é possível usar toda a capacidade pulmonar, o que interfere diretamente no "fôlego" e nas trocas gasosas de uma pessoa.

Quando o processo dessas trocas termina, começa a expiração. A caixa torácica vai voltando à sua posição inicial, empurrando o ar para fora. É como um elástico esticado que tende a voltar ao normal.

A Inspiração

A contração dos músculos inspiratórios aumenta o volume da caixa torácica, conseqüentemente do pulmão. Um exemplo deste movimento é a elevação da alça do balde, representado a inspiração. Isto causa aquele efeito da seringa, porque mais espaço para o ar vai surgindo.

O principal responsável por este efeito é o diafragma, por ser o mais forte. Os intercostais também são muito importantes, principalmente para aqueles que precisam de muito ar, como os cantores.

Há dois tipos de inspiração:

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relaxada, a normalmente usada, e realizada pelos inspiradores principais; forçada, feita pelos inspiradores principais mais os acessórios.

Os músculos acessórios não devem ser usados na respiração normal, principalmente para quem canta. Como a maioria deles está localizada na região do pescoço, e sua contração (tensão) pode prejudicar o som produzido pelas cordas vocais.

O Diafragma

O diafragma é um músculo plano, amplo, em forma de guarda-chuva, que fica entre o tórax e o abdome, e está preso nas costelas e na coluna.

Ao se contrair o diafragma, suas bordas levantam as costelas, enquanto o seu centro se abaixa, empurrando os órgãos do abdome.

Intercostais Externos

Os intercostais externos são, junto com o diafragma, fazem parte dos músculos inspiratórios principais. Eles estão localizados entre cada uma das costelas. Quando eles se contraem, eles elevam a caixa torácica, aumentando o seu volume, e promovendo a entrada do ar. Na figura abaixo, os intercostais externos estão representados pela cor vermelha. Leve em consideração que a ilustração está indicando apenas um grupo de músculos, entre um par de costelas. Na verdade, eles estão presentes unindo todas as costelas.

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Na cor verde, vemos os intercostais internos, responsáveis pela expiração, explicada mais adiante. Observe na "visão superposta" como eles ficam posicionados atrás dos intercostais externos. O fato de eles serem inclinados em posições opostas causa os movimentos opostos de inspiração e expiração. Os intercostais internos abaixam as costelas, fazendo com que o ar saia na expiração forçada.

Esses músculos estão entre as costelas e atuam para que todas elas façam o mesmo movimento durante a inspiração ou expiração e atuam para que todas elas façam o mesmo movimento durante a inspiração ou expiração.

Acessórios

Estes músculos atuam no sentido de elevar as costelas na inspiração forçada. Devem estar relaxados na hora de cantar. Na ilustração fica mais visível que existem dois ECOMs, um de cada lado; com os escalemos ocorre o mesmo, estão em pares.

ECOM Escalenos

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Expiração

Existem dois tipos de expiração, a normal e a forçada. A expiração normal, relaxada é uma ação natural, assim como a volta de um elástico puxado. O diafragma e os intercostais externos simplesmente voltam ao normal. Os músculos da expiração apenas devem entrar em ação quando se precisar de uma expiração forçada, como soprar uma vela, numa tosse ou espirro, por exemplo.

A expiração dura cerca de 2 a 3 vezes mais que a inspiração. Mas, mesmo assim, um cantor deve ter total controle sobre o relaxamento do diafragma, para que sua volta à posição inicial seja o mais lenta possível, de acordo com a necessidade, e para não soltar o ar de vez.

10. Exercícios

Treino da Utilização Muscular

1. Respiração DiafragmáticaPessoa deitada com um livro no abdome. A intenção é elevar o livro.

2. Diafragma e IntercostaisEm pé, fazendo a respiração diafragmática, e expandindo as laterais do tórax.

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Treino do Aumento da Capacidade Pulmonar

1. Soluço InspiratórioInspirar aos poucos pelo nariz até encher o pulmão: inspirar - pausa - inspirar pausa - inspirar o máximo - soltar o ar de vez pela boca.

2. Expiração AbreviadaInspirar fundo normalmente (nariz) e soltar um pouquinho; inspirar fundo outra vez e soltar um pouquinho; inspirar mais uma vez, até sentir o pulmão o mais cheio possível, e soltar de vez pela boca.

Treino do Controle Diafragmático

1. Inspiração ProfundaInspirar profundamente pelo nariz, e soltar pela boca, em "SSS", demorando o maior tempo possível.

2. Exercício da velaSoprar a vela a uma pequena distância (cerca de 1 palmo) sem apagar a chama, e mantendo-a em equilíbrio na posição oblíqua.

11. O Pigarro

O Sistema Respiratório tem um mecanismo muito interessante para se defender das muitas impurezas do ar respirado. Esse mecanismo é formado por um sistema de células que possuem cílio, de células que fabricam muco e de muco.

O mecanismo funciona como uma esteira rolante, pois a sujeira do ar gruda no muco e os cílios tratam de empurrá-lo para cima, em direção da laringe.

Diariamente, a produção de muco chega a 100 - 150 ml em 24 horas. Sem o muco, os cílios não funcionam, como no caso de uma desidratação séria. E o excesso de muco pode dificultar muito o trabalho dos cílios, como nas infecções ou ao inalar substâncias irritáveis, como fumo, álcool ou sedativos.

O ato de fumar modifica o efeito de esteira rolante, porque no fumante há perda de cílios, e excesso de muco, entre outros problemas.

Comumente, o muco é chamado de pigarro quando interfere na voz, causa tosse etc. O muco ou pigarro precisa ser eliminado do organismo, e quando passa pelas cordas vocais, podem causar uma diferença na sua vibração, modificando o som produzido.

A forma que o corpo usa naturalmente para eliminar o pigarro é através da tosse.

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12. Tosse

A tosse existe para eliminar as secreções do Sistema Respiratório, e por isso precisa ser eficiente.

A melhor posição para tossir é a sentada ou a inclinada para frente, com o pescoço voltado um pouco para baixo. A inspiração deve ser profunda, pelo diafragma. A expiração deve ser forçada pelos músculos da barriga, os abdominais, podendo fazer um som de "Q" durante a tosse, que deve ser tripla, para ser mais eficiente.

O cantor deve ter cuidado ao tossir, para não agredir suas cordas vocais com a força da grande quantidade de ar que passa por elas.

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Introdução ao Canto

Entendendo o Canto: Para o canto, como no estudo de um instrumento, estudaremos musicalização e técnica.

Musicalização - trabalhamos a percepção, ouvindo, reconhecendo e repetindo o som na sua exatidão, através das escalas, tríades e tétrades maiores e menores, notas isoladas;para isso você vai precisar da ajuda de um instrumento, de preferência um piano, teclado ou violão. Nesse processo você vai descobrir a sua tessitura vocal, que é desde a nota mais grave até a mais aguda que sua voz alcança, e dentro dela, o registro médio, que é aquela região onde sua voz fica mais firme e bonita. Descoberto e firmado esse registro através de exercícios, vai ficar mais fácil você colocar as canções que e gosta nos tons mais adequados à sua voz.

Técnica - o som da nossa voz é resultado da vibração do ar nas pregas vocais, no ato da expiração. Esse trabalho conta com o apoio do músculo diafragma, fundamental para o canto. Quando não usamos esse músculo da maneira adequada, colocamos muita força na garganta, produzindo um som "seco", sem brilho, gritado, o que pode causar rouquidão, cansaço e machucar as pregas vocais. A respiração deve ser mista, isto é, pelo nariz na introdução e intervalos maiores das canções, e pela boca entre as frases com intervalos curtos. O nariz filtra e aquece o ar, mas só quando há tempo suficiente respiramos por ele para cantar, pois precisamos de uma boa quantidade de ar e no tempo curto entre as frases é melhor respirarmos pela boca. Também precisamos trabalhar a articulação das palavras, a abertura de boca para evitar o som muito anasalado, e a ressonância do som na nossa "caixa acústica", a boca, faringe, fossas nasais e cavidades da cabeça.

O terceiro fator - esse independe do professor, pois é o fator emocional. A laringe, que contém as pregas vocais, é um filtro para as nossas emoções. Se você tem bloqueios, inseguranças, nervosismo (o que pode acontecer com qualquer um, profissional ou não), já deve ter sentido uma espécie de "garra" na garganta, principalmente nos sons agudos, algo que nos impede de cantar como queremos. Os exercícios ajudam bastante a dar segurança, mas as emoções precisam ser trabalhadas para o som fluir tranqüilo e afinado.

Então, para cantar bem, precisamos:

Entoar o som na sua exatidão Respirar bem e sempre entre as frase Apoiar a saída do ar com o diafragma Articular bem as palavras Manter o som ressoando na nossa "caixa de som"

Vamos ver isso aos poucos, mas para começar você pode verificar como está trabalhando com o músculo diafragma, fazendo o seguinte exercício:

O diafragma fica sob o pulmão, é um músculo elástico, que quando você inspira ele abaixa, projetando o abdômen à frente. Quando você expira ele vai subindo, contraindo a base do pulmão, expulsando o ar. Como aprendemos a respirar errado, estufando o peito e encolhendo a barriga, ele fica sem firmeza. Vamos então fazer um exercício para reativá-lo e reforçá-lo.

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Expansão - Sentado(a), coluna reta, inspire bruscamente pelo nariz, deixando expandir o abdômen, SEM ESTUFAR O PEITO; expire logo em seguida pela boca suavemente, retraindo o abdômen. Faça-o 15 vezes seguidas, todos os dias. Se sentir tontura, pare uns segundos e recomece, é normal. Não exagere, 15 vezes está bem, o que importa é a qualidade e a constância. Esse exercício é para dar agilidade e firmeza ao músculo, mas para cantar o uso é diferente, o que veremos na próxima aula, além dos outros assuntos acima.

Conhecendo a sua Voz

Bem, então já vimos que para cantar precisamos de AR. A quantidade necessária varia de pessoa para pessoa, pelo tamanho físico e da vontade de cada um, e de canção para canção. A vontade é a maneira como você quer cantar, se está mais para Elis Regina, precisa de mais ar e emoção, se mais para João Gilberto, menos ar e emoção mais contida, se nenhum dos dois, procure o meio termo. Se quer cantar "gritado" e rouco como alguns roqueiros, é melhor redobrar o cuidado, pois a longo prazo isso pode criar calos vocais difíceis de tratar. É uma escolha sua, faça o possível para respirar bem e apoiar a voz com o diafragma, forçando a garganta o menos possível.

Também precisamos do uso do diafragma, que, ao inspirarmos, deve abaixar-se expandindo o abdômen, e ao começarmos a cantar, ele vai subindo, empurrando a base do pulmão e ajudando o ar a sair e vibrar nas cordas vocais; você também ajuda retraindo o abdômen devagar até o ar acabar. É necessário também abrir a boca, deixar o ar ressoar dentro dela, nas fossas nasais e demais cavidades e, para isso, você precisa concentrar-se, não afobar-se e jogar o ar fora de uma só vez. É bom exercitar-se frente ao espelho, gravar-se e ouvir-se para você mesmo(a) corrigir-se e escolher como quer cantar. O canto é a expressão de sua alma, só você pode saber como deseja expressá-la, por isso conscientize-se de si mesmo (a), ouça-se, perceba-se.

Os exercícios respiratórios são para fortalecer a musculatura, mas você também pode fazê-lo cantando, desde que o faça com consciência e constância, pois como qualquer músculo, o diafragma e as pregas vocais ficam sem força pelo uso inadequado.

.Existem muitos modos musicais para exercitar a voz e muitos exercícios para o diafragma e respiração, o importante é exercitar. A "malhação vocal" fortalece a musculatura da laringe e sua voz sai mais fácil, mais segura e bonita.

Sim, você pode fazer isso somente cantando, mas é preciso escolher um repertório com canções que explorem bem os graves e os agudos. A maioria das pessoas tem duas oitavas de extensão, algumas chegam a três, mas não é preciso se preocupar com a quantidade e sim com a qualidade vocal, já que a maioria das canções cabem dentro de duas oitavas, ok? Aí é só ir descobrindo os tons de cada canção para sua voz. Isso você percebe ao sentir conforto ou desconforto quando canta. Se sua voz está sumindo nos graves, experimente subir um tom ou dois, às vezes meio tom resolve. Se é o agudo que está difícil, experimente abaixar um tom, ou o quanto precisa até verificar que a canção está bonita em toda a sua extensão vocal. Não force sua voz para cantar num tom inadequado, o instrumento conserta-se ou troca-se a corda, a voz não, né?

Na próxima aula vamos falar sobre relaxamento, alongamento e aquecimento de corpo e voz.

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Relaxar e Aquecer

Hoje vamos falar um pouco sobre Relaxamento, Alongamento e Aquecimento: para cantarmos bem, necessitamos estar com a musculatura do corpo, principalmente a região dos ombros, costas e pescoço, relaxada, alongada e com as pregas vocais devidamente aquecidas. Para esse fim, existem inúmeros exercícios; abaixo, alguns dos mais usados:

Relaxamento:

1. Do corpo: de pé, pernas afastadas dois palmos, braços ao longo do corpo; girar o tronco para esquerda e direita, lentamente, os braços acompanhando o movimento, a cabeça e o olhar também; o calcanhar direito levanta-se levemente e o joelho direito dobra um pouco quando o tronco gira para a esquerda, e vice-versa. Duração: dois minutos ou até sentir o corpo relaxado.

2. Ombros: de pé, pernas unidas, girar os ombros para trás algumas vezes e depois para a frente, com os braços pendentes e articulando bem, lentamente. Duração: dois minutos ou até relaxar.

3. Massagem: com as pontas dos dedos, massagear suavemente a região do pescoço, rosto e couro cabeludo.

Alongamento:

1. Do corpo: de pé, pernas unidas, braços ao longo, iniciar uma inspiração pelo nariz, lentamente, ao mesmo tempo em que eleva os calcanhares e os braços ( lateralmente ) . Ao findar a inspiração, as mãos devem estar unidas e os braços esticados para cima, os calcanhares elevados ao máximo. Feito isto, prende-se a respiração por 3 segundos e solta-se o ar suavemente pela boca, em sopro, ao mesmo tempo em que descem os braços e calcanhares. 3 vezes seguidas.

2. Pescoço: de pé ou sentado, braços levantados lateralmente na altura dos ombros, e mãos no peito; iniciar uma inspiração pelo nariz lentamente, ao mesmo tempo em que estica-se o pescoço à frente, até encostar o queixo no peito; prender o ar 3 segundos e voltar à posição inicial, soltando o ar suavemente em sopro e esticando o pescoço. 3 vezes seguidas.

3. Giro da Cabeça: suavemente, girar a cabeça para direita e esquerda, depois tombando-a para ambos os lados, para frente e para trás, e produzir o giro completo, executando cada posição quatro ou cinco vezes, sentindo o alongamento da musculatura do pescoço.

4. Rosto: inspirar e, com a boca fechada, produzindo um som em "m", movimentar lenta e largamente os músculos da face, como se estivesse mastigando. 3 vezes até acabar, depois 3 vezes com a boca aberta.

Aquecimento:

1. Motorzinho: inspirar e soltar o ar produzindo um som gutural, como um motor, retraindo o abdômen, abrindo bem a boca, até o ar acabar. 3 vezes.

2. Baforada: inspirar e soltar o ar como uma baforada, lentamente, como um "A" susurrado, até o ar acabar. Retrair o abdômen devagar e relaxar a garganta. 3 vezes.

3. Língua: inspirar e produzir uma vibração com os lábios, em "TR", soltando o ar e sentindo a vibração da língua no céu da boca, sempre retraindo o abdômen devagar, controlando o ar. 3 vezes.

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4. Lábios: inspirar e produzir uma vibração com os lábios, em "BR", até o ar acabar, trabalhando abdômen.3 vezes.

5. Ressonância: inspirar e produzir som de "DZ", com a ponta da língua encostada nos dentes frontais da arcada superior, até o ar acabar, trabalhando o abdômen. 3 vezes.

6. Glissando: inspirar e produzir som com "TR" ou "BR", começando do som mais grave e subindo gradativamente até o mais agudo da voz, voltando ao grave da mesma forma, como uma escala.3 vezes.

Obs: Todos os exercícios devem ser executados com muita atenção à respiração e o uso do diafragma, controlando o ar expirado, sem forçar a garganta. Além desses exercícios, o aquecimento com vocalizes, trabalhando vogais e consoantes com boa articulação, em escalas, tríades ou tétrades, também devem ser feitos ao menos uma hora antes de cantar, por vinte minutos no mínimo.

Na próxima aula: Ressonância vocal, vocalizações e exercícios para afinação e percepção.

Ressonância Vocal

Colocação do ar nas cavidades de ressonância: O ar vibra e se coloca de forma diversificada nas cavidades de ressonância, conforme os tons sejam graves, médios e agudos.

Nos graves, o ar sai dos pulmões e vibra na parte anterior do céu da boca, e um pequeno filete vibra nas fossas nasais. O movimento é maior pra fora.

Nos médios, o ar divide-se igualmente para as fossas nasais e o céu da boca, vibrando com mais intensidade na parte posterior deste. O movimento é para dentro e para fora.

Nos agudos, o ar vibra nas cavidades da cabeça, seios paranasais, nariz e seio frontal. O movimento é mais para dentro. É a chamada "voz de cabeça" ou falsete.

Segue figura que ilustra essas ressonâncias:

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A - As linhas indicam a divisão do ar na ressonância palatal, na tessitura mais grave das vozes masculinas e femininas.B - As linhas indicam a divisão do ar na tessitura média.C - As linhas indicam a divisão do ar na ressonância da cavidade da cabeça, na tessitura aguda.

1 - Ressonância no seio frontal.

Timbre, Intensidade e Altura:

Timbre é a qualidade vocal, aquilo que caracteriza uma voz conferindo-lhe personalidade, diferenciando-a das demais. Não há timbres iguais, apenas semelhantes; é a identidade vocal.

Intensidade é a qualidade que diferencia a voz forte da voz fraca e depende da amplitude de vibração das cordas vocais, da emoção e vontade de quem canta.

Altura é a qualidade que diferencia a voz grave da aguda. A altura da voz depende da extensão e espessura, ou massa das cordas vocais.

Para exercitar as cordas vocais e perceber sua ressonância, faça vocalizações, cante pequenas frases com vogais ou Larará, como você quiser, explorando os graves, médios e agudos de sua voz, respirando bem e apoiando como o diafragma, com o abdômen retraindo devagarzinho.

Faça-o concentradamente para perceber a ressonância do som nas cavidades como na figura dada.

Próxima aula: Higiene vocal.

A Higiene Vocal

Alguns cuidados são necessários para manter a voz em bom estado, principalmente para quem a usa profissionalmente:

- O que evitar:

1. A fumaça quente do cigarro agride todo o sistema respiratório e, principalmente, as pregas vocais causando irritação, pigarro, tosse, edema, aumento de secreção e infecções; a fumaça agride diretamente a mucosa que protege as pregas, aumentando o muco e provocando pigarro, favorecendo irritação e alteração na voz.

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2. O álcool causa irritação semelhante à produzida pelo cigarro; embora a pessoa que ingere álcool sinta-se mais solta, há uma leve anestesia na faringe, e pode-se abusar da voz sem que se perceba. Quando passa o efeito, pode-se sentir ardor, queimação e voz rouca e fraca.

3. As drogas inalatórias ou injetáveis tem ação direta sobre a laringe e a voz, podem alterar a mucosa e causar lesões no septo nasal.

4. Se você sofre de problemas nas vias respiratórias, evite umidade, mofo, poeira, agasalhos de lã, perfumes, inseticidas, desinfetantes, tintas frescas e tudo que possa desencadear suas crises.

5. Bebidas geladas ou quentes agridem o muco, se não dá para evitá-las deixe uns segundos na boca antes de engolir; café altera o sistema nervoso e agride o muco pelo calor; leite e chocolate aderem ao muco; balas, pastilhas e sprays podem mascarar a dor do esforço vocal, prejudicando as mucosas.

6. Roupas apertadas na cintura e no pescoço impedem a livre movimentação do diafragma e da laringe.

7. Pigarrear e tossir com freqüência contribui para alterações nas pregas vocais, pelo atrito. Melhor inspirar e engolir a saliva, tomar água e fazer gargarejos para limpar a garganta.

8. Mudanças bruscas de temperatura e o ar condicionado, favorecem alterações na mucosa.

- O que podemos fazer:

1. Tomar água na temperatura ambiente antes, durante e depois da apresentação, para repormos os sais perdidos pelo esforço e hidratarmos as pregas vocais.

2. A maçã é excelente para a voz, auxilia a limpeza da boca e da faringe; suco de laranja auxilia a absorção do excesso de secreção. No caso de garganta irritada, gargarejos de água morna com sal, meio copo para uma colher de café ou de água morna com tintura de própolis, meio copo para dez gotas ajudam bastante. Cristais de gengibre auxiliam, mas em excesso agridem.

3. Fazer relaxamento, alongamento e aquecimento do corpo e pregas vocais antes de cada apresentação, por quinze, vinte minutos ou meia hora, o mais próximo possível da hora de cantar.

4. Ingerir comidas protéicas e leves, como massas, que digerem rápido, ao menos uma hora e meia antes de cantar, temos alto gasto energético no palco, e precisamos dessa energia. Cantar de barriga vazia cansa e de barriga cheia atrapalha a movimentação do diafragma.

5. Dormir bem, pois a voz necessita de energia e do corpo descansado.

6. Caminhar e nadar são os melhores exercícios para quem canta, pois trabalham de forma geral a musculatura e respiração. OBS: sentindo alterações na voz por período prolongado ou muita freqüência, procure um fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista.

Principal fonte destas informações: Higiene Vocal, de Mara Behlau e Paulo Pontes.

Próxima aula: Dicção e exercícios para o controle do ar.

Dicção e Exercícios para o Controle do Ar

Alguns exercícios ajudam a termos a percepção de como podemos controlar o ar na hora do canto, pois muitas vezes jogamos muito ar fora logo na primeira palavra, aí não conseguimos acabar a frase ou desafinamos. Confira alguns abaixo:

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Bexiga de ar: Inspirar enchendo todo o pulmão, sem estufar o peito, encher de uma vez só uma bexiga de ar e vedar a saída com o indicador e o polegar. Inspirar de mesma maneira e soltar o ar devagar, em sopro, controlando a saída, ao mesmo tempo em que solta o da bexiga com os dedos. Devem acabar juntos, o seu ar e o da bexiga. No começo é difícil, mas é um ótimo exercício de percepção. Depois tente controlar o ar com as frases longas das canções.

Vela: Acender uma vela, posicioná-la a um palmo da boca; inspirar como acima e soltar o ar, como em sopro, controlando a saída retraindo o abdômen devagar, sobre a chama da vela, sem apagá-la. Procurar manter a chama sempre dançando da mesma maneira, se ela diminuir muito ou apagar, você soprou muito forte, se ela ficou ereta, seu ar falhou.

Freqüência dos exercícios: três vezes cada, três vezes na semana.

Dicção: A boa dicção é muito importante para o canto, pois se você não articula bem as palavras, fica difícil de se entender o que você está dizendo, e se não abre a boca o suficiente, a voz sai anasalada. Um exercício fácil é cantar exagerando na articulação, ou ler textos exagerando, abrindo mais a boca do que necessário, pra que ganhe mais abertura.

Você pode também cantar os vocalizes articulando bem as vogais e consoantes, usando sílabas como:

- TRA, TRE, TRI, TRO, TRU- BLA, BLE, BLI...- LARA, LERA...- VINE...VIVIU- AU...AI...AÊ...ÓI- NAU...NOIM...

enfim, invente e articule!

Um bom exercício para "amaciar" e relaxar a boca é fazer uma mastigação de boca fechada e depois aberta, fazendo muita careta, com som de "humm".

2a. voz: A segunda voz é uma mesma frase da canção cantada com notas diferentes da primeira. A mais comum é quando você canta as mesmas notas da primeira frase uma terça acima ou abaixo, ou uma quinta. Muita gente tem essa percepção natural e faz isso sem nunca ter estudado música, mas isso não deve se constituir uma regra. A 2a. voz é qualquer frase cantada com notas diferentes da primeira, mas que soe bonito, harmônico, que combine.

Você pode treinar isso escolhendo canções de algum cantor ou cantora cuja voz se aproxime da sua na extensão vocal, ou seja, que você consiga cantar junto sem fazer muito esforço, então você ao invés de cantar na mesma altura, com as mesmas notas, vá tentando fazer diferente, cantando mais grave ou mais agudo um pouco, procure gravar e ouça com atenção prá ver se soa harmônico, se está combinando.

Trêmulo: O trêmulo, aquela tremidinha no final das frases que alguns cantores fazem, na minha concepção é um recurso natural, da personalidade de cada um, eu desconheço técnica para isso. Se você der uns soquinhos na barriga a voz treme, mas não é natural.

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Próxima aula: tipos de canto e trabalho com o microfone.

Tipos de Canto

Existem dois tipos básicos de canto, com técnicas diferenciadas: o Lírico e o Popular.

O lírico, também chamado de Bel Canto, tem a voz como instrumento - o que emociona é o som, não tanto o texto. É o caminho da virtuose, como a ópera. Exige um esforço físico e emocional muito maior, são horas de treino para ter a voz em boas condições de cantar, há muito trabalho por trás de um cantor lírico, a impostação da voz é bem diferente do canto popular.

O popular, ao qual nos dirigimos neste curso, além do timbre e emoção, importa também o assunto, o sentido da mensagem e o modo como ela é passada (forma, melodia, o sentimento aliado à palavra). Por isso, ao escolher canções para seu repertório, procure ver se o que a letra está dizendo tem a ver com o que você pensa, ou se só está repetindo mecanicamente o que ouve. Isso é importante para você aliar emoção à palavra, para cantar de maneira mais integral, corpo e alma.

Procure a sua forma de cantar, que deve ser única, você pode ter cantores e cantoras como parâmetros mas nunca cantará igual a ninguém, pois para isso precisaria ter a mesma estrutura física e emocional que aquela pessoa. Impossível, certo?

Procure também os estilos que mais gosta. Estes estilos são muitos e variados, dentro da MPB mesmo há diversos estilos. Romântico, pop, rock, samba, blues, heavy, bossa, enfim, você pode cantar em português ou qualquer outra língua qualquer estilo. Invente, crie, pesquise. Procure ouvir muito, ver bons shows, não se atenha só ao que a mídia, como TV e rádio, lhe impõe, há muita música de qualidade excelente que não aparece na mídia.

Procure rádios alternativas e TVs educativas se quiser aprimorar seu conhecimento musical. Busque nos jornais de sua cidade os cadernos culturais, onde com certeza há indicações semanais de ótimos shows, e por fim procure em lojas de CD onde possa ouvir e escolher o quer levar.

Lembre-se que nenhum professor tem o poder de lhe transformar num cantor assim ou assado, ele é só um instrumento para lhe mostrar o caminho, mas o esforço maior para encontrá-lo é seu, pois só você pode saber o que realmente sua alma, mente e corpo necessitam. Se você prefere ser autodidata, recomendo que procure vídeos e livros sobre o assunto, além de ouvir muita música. A dica que posso dar é o livro da Clara Sandroni, "260 dicas para o cantor popular". O curso pela Internet é limitado pois impede a demonstração, por isso você deve procurar um professor em sua cidade, para depois que aprender o básico, tentar sozinho.

Vamos falar um porquinho sobre os elementos básicos da canção, que é o casamento da música com a letra.

Os elementos que estruturam uma composição musical são a Melodia, a Harmonia e o Ritmo. Pode ser só instrumental ou com letra, habituamos a chamar esta última de canção.

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Melodia é a sucessão ascendente e descendente de notas, a intervalos e alturas variáveis, formando um fraseado, de forma consecutiva. É o que faz a voz do cantor ou o solista do instrumento.

Harmonia é a sucessão de acordes combinados a partir da tonalidade da canção, que formam a base e a sustentação para a melodia. Acordes são conjuntos de notas combinadas tocadas simultaneamente. É aquilo que faz o violão, o piano, o acordeão, quando acompanham o melodista.

Ritmo é a sucessão regular de tempos fortes e fracos, cuja função é estruturar uma canção. A lei do ritmo baseia-se na divisão ordenada do tempo. As mais comuns são: compasso binário (2/4), ternário (3/4) e o quaternário 4/4.

Existem diversas outras combinações e só um estudo mais aprofundado de música nos dá esse conhecimento. Dadas as nossas limitações, falarei um pouquinho de cada um desses três, mais usados na nossa MPB.

O dois por quatro (2/4) tem o acento forte no primeiro tempo e fraco no segundo, e é muito usado nos sambas e algumas bossas.

O três por quatro(3/4) tem o primeiro tempo forte e os dois seguintes fracos, são as valsas, como por ex: Rosa, de Pixinguina, João e Maria, do Chico Buarque, Romaria, do Renato Teixeira, Coleção do Cassiano, etc.

O quatro por quatro (4/4) é o mais comum, se encontra na maioria das canções. Tem o primeiro acento forte, o segundo fraco, o terceiro meio forte e o quarto fraco. O andamento indica se o ritmo é rápido, lento ou médio. A intensidade, se é tocado ou cantado de maneira suave, mediana ou forte.

A letra tem muita importância na canção popular brasileira, e é bom se pensar na mensagem que está passando quando canta uma canção. A mensagem está na letra e na música, faça as suas escolhas conscientemente, o cantor também é um educador, certo? Já pensou nisso? O que você quer dizer para as pessoas a quem dirige o seu canto? Que emoção quer passar?

Uso do Microfone

Muita gente fica inibida com o microfone, mas para nós, cantores populares, ele é nosso grande aliado. Com ele utilizamos menos força física, podemos lapidar a emissão vocal tirando ou colocando graves, médios e agudos, se a mesa de som for boa. É bom que você se acostume a ser seu próprio técnico, ou ao menos ter uma noção, pois há lugares em que você vai se apresentar que não dispõem de um técnico para o som.

Para isso, plugue o microfone e vá treinando, falando ou cantando, e mexendo nos botões de graves, médios, agudos e no "reverb", o eco. Quando estiver cantando, afaste um pouquinho o microfone quando for emitir agudos ou quiser colocar mais força física e emocional, não afaste demais a menos que tenha

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uma baita potência vocal e quiser mostrá-lo. Nos graves, aproxime-se mais do microfone. Deixe sempre a boca próxima, mas não grudada.

Cuidado com as palavras com a letra "P", que produz aquele "puff" incômodo, e o "S". Não exagere nas terminações porque ele sibila. No mais, é treinar e se ouvir.

O repertório

Bom, isso vai do gosto de cada um e depende do que você pretende com a música. A maioria das pessoas começa cantando na noite, em bares, ou numa banda que monta com os amigos. Agora, com o videokê, muita gente se descobre também. No princípio a maioria canta ou toca por hobbye, mas existem aqueles que já nascem sabendo que serão músicos profissionais, que estudam desde cedo e já sabem o que querem como músicos, outros descobrem-se mais tarde e outros tem sempre a música como lazer.

Onde você se encaixa? O trabalho com banda é muito legal, pois você aprende a trabalhar em grupo e a conhecer os outros instrumentos. Aí é ensaiar e conseguir lugar para tocar. O trabalho de voz e violão ou teclado é mais intimista, sozinho ou em duplas, ou ainda acrescentando a percussão, ou flauta, fica bom e mais fácil de arrumar trabalho, pois com o videokê diminuiram os espaços para música ao vivo.

Em bares, geralmente faz-se duas ou três entradas de cinquenta minutos, ou quarenta. Descansa-se quinze minutos nos intervalos.

Isso é muito cansativo para o cantor principalmente, a produção da voz é um trabalho físico e emocional que libera muita energia, você deve tomar bastante água natural na temperatura ambiente, antes, durante e depois de cada entrada, para repor os sais perdidos, siga os passos de "aquecimento, etc e higiene vocal". Nos intervalos coma algo leve,uma maçã, uma barra de cereal,que é calórica e não pesa no estômago. Em cada entrada você canta mais ou menos 10, 12 músicas, depende de como as canta, se repete a canção, se o músico sola. A média para 50min são doze músicas.

Se você faz apenas um show, em teatro ou outro espaço, a média da apresentação é de uma hora ou pouco mais, uma hora e vinte. Aí você escolhe umas quinze músicas, pensa nos arranjos, nos solos.

Em videokê você fica limitado ao repertório do local, e deve tentar colocar a música num tom adequado para sua voz, tem lá os comandos que abaixam e levantam os tons, vá tentando, até chegar no mais confortável pra você, testando graves e agudos.

Comece tendo um repertório de no mínimo trinta músicas, isso vale pra todos, pra você poder variar, e já as tenha nos tons adequados para sua voz, trabalhe com o músico que o acompanha, o violonista ou tecladista para descobrir esses tons. Já o trabalho próprio é diferente.

Sozinho ou em banda, você tem que acreditar muito em sua música e batalhar para conseguir ser ouvido, pois a maioria das pessoas, como diz um amigo meu, "aplaude a própria memória", ou seja, aplaude aquilo que já conhece, é claro que isso não é uma regra, mas a maioria quer ouvir o que é conhecido. Mas se você pensar que, para aquela canção ter se tornado conhecida, precisou que alguém se dispusesse a ouvi-la primeiro, isso também pode acontecer com a sua. Uma boa dica é mesclar, colocar um pouco de músicas conhecidas e ir intercalando com as suas, até que as suas fiquem conhecidas. Ou se você tem um bando grande de amigos, levá-los sempre que pode para seus shows de canções próprias. O importante é

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saber que o meio musical é difícil, mas não impossível, é preciso acreditar, estudar e trabalhar muito, ter objetivos bem claros e direcionar-se para eles. Também procure a sua turma, há bares e espaços para todo tipo de música, aproxime-se do que combina com você, com suas idéias e sua música. Quem procura acha, né? Pergunte, informe-se.

Voz e Instrumento

Para quem toca e canta, o trabalho é dobrado e a atenção dividida, mas é muito compensador, pela independência e autonomia que nos dá.

No caso do piano ou teclado e voz é mais fácil, não só pela posição, pois ficamos mais eretos e podemos prestar mais atenção ao diafragma e respiração, mas pelo piano ser um instrumento mais completo e não precisar adequar os tons, pela facilidade de qualquer acorde soar bem.

No caso do violão ou guitarra, é um namoro mais difícil, mas muito prazeroso quando se entra num acordo entre o que quer a voz e o que pode o instrumento. Também precisamos prestar mais atenção à postura, para não comprimir o diafragma.

Há quem cante e toque bateria, percussão, acordeon, baixo, etc, mas o trabalho é sempre o mesmo: dividir a atenção entre a voz e o instrumento, da maneira mais harmoniosa possível. Para isso, são necessários estudo e treino, se possível diários.

Você pode escolher entre se aprimorar no instrumento, fazendo solos inclusive, ou só se acompanhar com a parte harmônica e rítmica, deixando a melodia para a voz. Tudo questão de escolha.

Bom, aqui termina o curso, espero que tenha sido legal para vocês. Espero que vocês aproveitem bem o material e procurem outras fontes de informação, procurem professores, livros, vídeos, pois a voz é um instrumento delicado e merece todo o cuidado.

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Curso Básico de Técnica VocalGuia de introdução para o aperfeiçoamento da voz

Introdução:

Este mini curso tem como intuito auxiliar todas as pessoas que utilizam a voz profissionalmente, sejam cantores (profissionais ou amadores), professores, jornalistas, locutores, advogados, atores, vendedores, operadores de telemarketing, telefonistas ou você que gosta de cantar no banheiro, em festinhas, em

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videokê, enfim, todos aqueles que se interessarem em utilizar as técnicas apresentadas aqui em prol da melhoria da sua qualidade vocal.

Informamos que este curso não dispensa as aulas de canto ou sessões de fonaudiologia, ao contrário, é o primeiro passo para que você se conscientize do quão importante é a presença de um profissional para acompanhar seu progresso.

Capítulo 1: Dicas Iniciais

1ª Parte – Noções Básicas sobre a Produção do Som

Para que consigamos produzir o som através da nossa voz, recorremos a vários órgãos do nosso corpo que trabalham conjuntamente para viabilizar este processo. São eles: o Aparelho Respiratório, a laringe, as pregas vocais, os ressonadores, (como a cavidade nasal, a cavidade craniana, a cavidade toráxica, a cavidade bucal e a faringe), os articuladores (língua, lábios, palato duro (céu da boca), palato mole, dentes e mandíbula.A produção do som acontece quando o ar ao ser expirado, passa pelas pregas vocais fazendo-as vibrar. Neste momento entram em ação os articuladores cuja função, neste contexto, é levar o som para as cavidades de ressonância.Como vemos, não cantamos ou falamos "pela garganta" como muitos pensam, e sim com todo o conjunto de órgãos que se interligam são os responsáveis diretos pela transformação do ar inspirado em som. A esse conjunto de órgãos poderemos chamar de "Aparelho Fonador".

VOCÊ SABIA QUE...

* Pregas vocais é o nome correto e não "cordas vocais", pois tratam-se de pregas de tecido fibro-elástico e muscular revestidas por uma mucosa.

* A pessoas que necessita do uso mais intenso da voz, devem conscientizar-se que há um considerável gasto de energia neste evento, sendo de grande importância a ingestão de alimentos de fácil digestão antes das atividades vocais.

2ª Parte – Saúde Vocal

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Neste capítulo iremos apresentar hábitos e alimentações saudáveis ou não para uma boa higiene vocal. Prestem bastante atenção e vamos, desde já, procurar cuidar bastante do nosso instrumento de trabalho que é precioso e único, nosso Aparelho Vocal.

Permitido Evitar Proibido

- Beba bastante água em temperatura natural! (no mínimo 2 litros por dia) para manter as pregas vocais

hidratadas e em boa condição de vibração.

- Coma maçã! A maçã possui propriedades adstringentes que auxiliam na limpeza da boca e da faringe,

favorecendo uma voz com melhor ressonância.

- Beba suco de frutas! (Principalmente de frutas cítricas).

- Evite usar roupas apertadas, principalmente nas regiões do abdômen, cintura, peito e pescoço, pois

isso poderá dificultar a respiração.

- Não use pastilhas, sprays, anestésicos sem orientação médica, pois para cada caso existe uma

medicação específica, portanto não se automedique nunca!

- Evite alimentos gordurosos e "pesados" antes das apresentações, pois dificultam a digestão.

- Dê preferência aos alimentos leves e de fácil digestão (verduras, frutas, peixe, frango).

- Durma bem! Procure dormir, no mínimo, 8 horas por dia.

- Não durma de estômago cheio pois pode provocar refluxo gastresofágico que é altamente prejudicial às

pregas vocais.

- Não cante se estiver doente! Quando cantamos envolvemos todo o nosso corpo e gastamos muita

energia, então recupere-se antes de voltar a cantar.

- Evite ficar exposto por muitas horas em ambiente que utiliza ar-condicionado pois provoca o

ressecamento das pregas vocais. Em casos onde isso não for possível, procure estar sempre lubrificando as pregas vocais com água ou suco sem gelo.

- Evite ambiente com mofo, poeira ou cheiros muito fortes, principalmente se você for alérgico.

- Evite a competição sonora, ou seja, falar ou cantar em lugares muito barulhentos.

- Evite choques bruscos de temperatura.

- Evite bebidas geladas.

- Evite cochichar pois, ao contrário do que pensamos, no ato de cochichar submentemos nossas pregas

vocais a um grande esforço provocando um desgaste muitas vezes maior do que se conversarmos normalmente.

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- É proibido gritar, pigarrear, falar durante muito tempo sem lubrificar as pregas vocais, fumar, ingerir

bebidas alcoólicas antes de cantar para "melhorar" a voz.

IMPORTANTE!!!

Se você utiliza sua voz profissionalmente, é indispensável a consulta com um médico especialista para que ele possa fazer uma avaliação do seu aparelho vocal.

Não se esqueça de que o nosso "instrumento de trabalho" é único e merece toda a nossa dedicação e atenção.

Nossas pregas vocais são a nossa identidade, são nosso registro pessoal, portanto não se esforce para cantar músicas em tons que não lhes são confortáveis pois assim você estará prejudicando-as.

3ª Parte – A Postura Ideal

Devemos estar atentos a alguns aspectos relacionados à postura no canto:

Os pés devem estar afastados na direção dos ombros Coluna reta Ombros e braços relaxados a fim de não tencionar o pescoço Queixo reto, olhando sempre para frente Não fixar o olhar em nenhum ponto para não perder a concentração

Podemos também cantar sentados observando:

Sentar na ponta da cadeira sobre os ossos das nádegas (faça o movimento para os lados, como uma canoa e verifique se está na posição correta)

Manter a coluna e o queixo retos Braços e ombros relaxados

4ª Parte – A Respiração: "Respirando bem, cantamos bem"

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Para uma boa projeção da voz no canto, é necessário obter o controle da respiração. Para realizarmos uma respiração correta, devemos estar numa postura adequada, pois a postura e a respiração andam juntas.

A inspiração deverá ser sempre nasal, pois o nariz funciona como um filtro de ar. Se inspirarmos pela boca, estaremos inspirando todas as impurezas podendo ocasionar doenças inflamatórias do aparelho respiratório. Caso você não consiga respirar pelo nariz, sugiro que procure imediatamente um médico especialista.

Utilizaremos para o canto a respiração chamada diafragmática, costo-diafragmática, ou abdominal-intercostal.

1. Devemos inspirar pelo nariz e canalizarmos esse ar em direção à região abdominal (enchendo a barriga de ar). É importante que os ombros e o peito não se movam.

2. Expire pela boca observando que enquanto o ar é expelido a barriga vai esvaziando lentamente até chegar ao normal.

ATENÇÃO!!!

Cuidado para não utilizar o ar de reserva, ou seja, não pressione a barriga forçando-a a se esvaziar mais depressa que o normal pois este feito poderá causar mal-estar.

Exercícios para o Controle da Respiração

1. Inspire lentamente (pelo nariz) até encher bastante as paredes abdominais. 2. Coloque o dorso da mão em frete à boca e expire lentamente . 3. Observe que o ar expirado estará quente. 4. Repita este exercício por 15 vezes (3 seqüências de 5) em frente a um espelho (de preferência

vertical) para que você possa corrigir a postura e observar os ombros e peito (que não deverão se movimentar)

5. Lembre-se de que ao término de cada seqüência, você deverá relaxar, respirar fundo, encher os pulmões e soltar o ar pela boca por 3 vezes para evitar mal-estar.

LEMBRE-SE:

Este tipo de respiração é uma novidade para muitos de vocês, sendo assim, não deverá ser usada no dia-a-dia sem que haja necessidade.

Capítulo 2: O Pré-Aquecimento Vocal

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O que é pré-aquecimento vocal?

É, como o nome já diz, um aquecimento prévio da voz ou simplesmente a preparação da voz para o seu uso por um tempo prolongado e intenso.

Podemos aquecer nossa voz através de sons que irão "massagear" nossas pregas vocais (que são músculos) que como todo músculo precisam ser preparadas e aquecidas antes de serem utilizadas na sua plenitude.

Lembrem-se que este pré aquecimento pode (e deve) ser feito não só pelos cantores mas também por todos os profissionais da voz, ou seja, todas as pessoas que trabalham falando.

Exercício 1:

1. Inspire (armazenando o ar na região abdominal, como vocês já aprenderam) até que a barriga esteja repleta de ar.

2. Agora solte o ar aos pouco utilizando o som:

Prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr......

Observe que neste exercício a língua deve vibrar bastante!!!! Caso a sua língua não vibre e você esteja forçando para emitir este som, PARE, pois estará fazendo da forma errada. Mas se você conseguiu emitir o som com a vibração constante da língua, repita este exercício todos os dias pelo menos durante 10 minutos.

Se for cantar em uma apresentação ou videokê ou ensaiar com sua banda por muito tempo, pré-aqueça sua voz durante 20 minutos (no mínimo) antes de começar a cantar.

Pode-se também utilizar outras consoantes que possibilitarão o mesmo efeito como, por exemplo, o som:

Trrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr...

Como se você fosse imitar o som do telefone (' TRRRRRIM!!!), mas lembrando de prolongar bastante os erres (RRRR...) até acabar o ar.

Exercício 2:

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Depois de já haver treinado bastante e já estar emitindo os sons PRRRR... e TRRRR... sem falhas ou interrupções, vamos repetir o exercício anterior com uma diferença:

No final de cada som iremos acrescentar as vogais A,E,I,O,U.

Exemplo1:

PrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÁ!!!!PrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÉ!!!!PrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÍ!!!!PrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÓ!!!!PrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÚ!!!!

Exemplo2:

TrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÁ!!!!TrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÉ!!!!TrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÍ!!!!TrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÓ!!!!TrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrÚ!!!!

IMPORTANTE!!!

Assim como nos exemplos acima, o som que você estiver produzindo para pré-aquecer, deverá estar no mesmo volume, intensidade e tom.

NÃO BRINQUE COM ESTE EXERCÍCIO FAZENDO SONS MUITO AGUDOS, MUITO GRAVES OU MISTURANDO OS DOIS TONS.

Repita os exercício SEMPRE no seu tom natural.

Como fazer para identificar o seu tom natural?

É simples, o seu tom natural é aquele que você emite sem"forçar a garganta", é um som natural que sai sem esforço nenhum, como se você estivesse falando.

Se você não conseguiu fazer estes exercícios até acabar o ar armazenado (sem utilizar o ar de reserva, certo???), ou seja, você começou bem mas no meio do exercício o som falhou,PARE! Respire fundo por 3 vezes, relaxe um pouco e só então recomece.

É muito comum, no início, não conseguirmos emitir estes sons até o final, pois trata-se de sons que nós não estamos habituados a produzir, mas com o treino diário, fica cada vez mais fácil, acreditem!!!

Capítulo 3: Dicas e Dúvidas Iniciais para a Função Vocal

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Postura de Cantor

A postura é muito importante para o cantor, pois apesar de termos que ficar bem à vontade e descontraídos, temos também de observar alguns pontos importantes tais como:

Pés paralelos na direção dos ombros Braços e ombros relaxados Coluna reta Observando também que como utilizamos a respiração diafragmática, devemos deixar a região

abdominal livre para que o diafragma funcione tranqüilamente.

Procurar seguir estes passos não significa que devamos ficar parados nesta posição para que tenhamos um bom resultado, mas ficarmos soltos, relaxados e principalmente nos sentirmos bem e à vontade quando estamos cantando, pois cantar tem que ser sempre prazeroso.

Podemos também cantar sentados observando a postura reta deixando o diafragma livre para funcionar bem.

Movimento das Pregas Vocais

As pregas vocais fazem o movimento abre-fecha, ou seja, quando estamos calados elas estão abertas (momento da respiração) e quando falamos ou cantamos elas se fecham (momento da fonação). Infelizmente elas não fazem somente estes movimentos mas também se chocam quando são submetidas a abusos vocais como: gritos, pigarreios e tosses excessivos, utilizar tons graves ou agudos demais, praticar esportes falando, competição sonora, etc... Estes choques pode prejudicar demasiadamente as pregas vocais.

Eu cuido bem da minha voz???

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Responda as questões a seguir como uma forma de auto-avaliação sobre o cuidado que você tem com sua voz.

1. Você percebe se ao final de um dia de trabalho (ou apresentação) sua voz está mais fraca? 2. Você canta em diversos tons? 3. Quando você canta, leciona ou fala em público, suas veias ou músculos do pescoço saltam? 4. Você sente dores na região do pescoço? 5. Após cantar você sente dor de cabeça? 6. Quando você canta acompanhando um cd, por exemplo, você segue sempre o tom do cantor? 7. Você canta freqüentemente? 8. Você canta ou ensaia durante horas seguidas? 9. Você tem resfriados freqüentes? 10.Você fuma? 11.Você pigarreia muito? 12.Você tem alergia das vias respiratórias? 13.Você tem faringite, amigdalite ou laringite freqüentes? 14.Você se auto-medica quando tem problemas na voz? 15.Você tem dificuldades digestivas? (azia, úlcera, refluxo gastresofágico)

Observação:

Se você marcou mais que 4 itens fique atento e procure tomar alguma providencia no sentido de modificar seus hábitos.

Se você marcou mais de 6 itens procure um especialista para que ele avalie o estado de suas pregas vocais pois com estes sintomas você já tem que ficar atento para que não ocorra problemas maiores futuramente.

Quais as conseqüências que os abusos vocais podem me causar?

Estes abusos podem provocar alterações como:

Calos vocais Nódulos Pólipos

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Edemas Fendas

Dentre outras alterações ocasionadas pelas constantes formas de abuso vocal.

Qual o primeiro passo a ser tomado para cuidar da minha voz?

A primeira providência a ser tomada é a consulta a um especialista, o OTORRINOLARINGOLOGISTA, que é o médico que poderá detectar se há ou não alguma alteração no seu aparelho fonador.

A partir do diagnóstico feito pelo Otorrinolaringologista, se necessário o médico indicará o tratamento para a correção de tais alterações com outro especialista, o FONAUDIÓLOGO, que fará a correção destes problemas através de exercícios.

Que tipo de exame é feito para detectar alterações no meu aparelho fonador?

Um primeiro e importantíssimo exame a ser feito e que é rápido e indolor, é a LARINGOSCOPIA, que é o exame médico das cordas vocais. À partir deste exame se o médico julgar necessário, solicitará outros exames mais específicos.

Estes cuidados servem para todos ou apenas para os cantores?

"As normas de cuidados com a voz devem ser seguidas por todos, particularmente por aqueles que utilizam mais a voz ou que apresentam tendências a alterações vocais. Esses são chamados de Profissionais da Voz, ou seja, professores, atores, cantores, locutores, apresentadores, advogados, telefonistas, telemarketing, vendedores, palestristas, dentre outros. Entretanto muitos destes profissionais muitas vezes por falta de tempo para se dedicar ao cuidado de sua voz, podem estar cultivando um distúrbio vocal decorrente do abuso ou mal uso da voz".

Capítulo 4: Classificação Vocal

Este assunto é muito importante pois muitas vezes acontece de não conseguirmos alcançar tons muito agudos (finos) ou muito graves (grossos) sem saber que isso se dá porque temos um naipe vocal característico.

Existem 3 classificações básicas para a voz masculina e para a voz feminina como indicado abaixo:47

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HOMENS MULHERES

BAIXO (Voz Grave) CONTRALTO (Voz Grave)

BARÍTONO (Voz Média) MEIO-SOPRANO ou MEZZO-SOPRANO (Voz Média)

TENOR (Voz Aguda) SOPRANO (Voz Aguda)

Para saber a sua classificação vocal, você tem de ser avaliado por um professor de Canto/Técnica Vocal que irá, através de exercícios vocais (vocalises) classificar sua voz dentro das três opções acima.

Quase sempre nos espelhamos em algum cantor/cantora/banda da qual somos fãs e tentamos imitá-los sem saber que podemos agredir nossas pregas vocais tentando cantar numa extensão vocal que não é a nossa.

Podemos cantar qualquer música que quisermos desde que ela esteja no nosso tom.

O que significa a música estar no meu tom?

Quer dizer que eu consigo cantá-la sem me esforçar demais até minha garganta doer ou minha voz falhar ou até mesmo eu engasgar. Isso acontece com muita freqüência por falta de informação e orientação.Muitas vezes é difícil, principalmente para quem não toca nenhum instrumento, identificar em que tom está a música que queremos cantar e mais ainda qual é o tom confortável para mim.

Pois bem, vai aí uma dica:

Escolha uma música de sua preferência e cante junto com o cantor observando alguns pontos:

Não deixe que as veias do seu pescoço saltem Não se esforce até ficar vermelho Não se preocupe em imitar a voz do cantor, cante do seu jeito, com sua voz natural. Não se preocupe se está desafinando, pense apenas em seguir a música de uma forma bem

confortável para você.

Se ao final da música você verificou que:

Suas veias do pescoço não saltaram Você não ficou vermelho Não engasgou e sua voz não falhou em momento algum...

PARABÉNS!!!!!! Você acaba de descobrir e cantar no seu tom!!!

Capítulo 5: Exercícios de Relaxamento48

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Faça esses exercícios com roupas confortáveis e ambiente tranqüilo.

DEITADO

Deite-se de costas, certifique-se de que sua coluna esteja em contato com o chão. Observe a oscilação natural de sua respiração, que se expande e contrai, por meio de seu tórax e

abdomem, e pelo ouvir atento dos sons que emanam do interior. Apenas observe e ouça as ações de seu corpo. Não as manipule, não as controle. Apenas respire e

conscientize-se de sua respiração.

EM PÉ

Fique ereto, com as pernas afastadas e na direção dos ombros. Distribua o peso igualmente. Imagine-se agora segurando uma bola de praia debaixo de cada axila e sinta os espaços respiratórios que se abrem. (Isso o encorajará a alongar os seus ombros e a abrir as suas axilas e, conseqüentemente, expandir o volume de seu tórax para uma respiração mais profunda). Seu pescoço e cabeça devem estar alongados e livres. Mantenha essa posição por um minuto ou mais. Desfrute a extensão de sua coluna dorsal, o espaço respiratório extra e a sensação de equilíbrio adequado entre o estado de calmaria e o de atenção.

EXERCÍCIOS DINÂMICOS

Os exercícios dinâmicos combinam o movimento com o controle da respiração.

RISO

Sorria para o mundo! Em círculos, movimente, vigorosamente, as suas mãos, braços, pernas e pés. Permita-se alguns segundos de relaxamento entre cada rotação. Mas continue sorrindo. Você pode fazer este exercício em pé, sentado ou deitado.

EQUILÍBRIO

O equilíbrio é importante. Tente estipular um horário para o exercício de "comportamento modal" – o andar, o virar-se e o inclinar-se com livros sobre a cabeça. Respire suave e conscientemente, em harmonia com os movimentos de seu corpo. Isto encoraja a coordenação suave graciosa dos músculos.

EXERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO COMPLETA

Permaneça com seus pés confortavelmente dissociados dos seus ombros, que apontam para cima; os braços e as mãos soltas ao lado do corpo. Concentre-se em sim mesmo, confira a sua postura. Inspire pelo nariz o mais demoradamente possível e expire todo o ar também devagar e silenciosamente. Quando sentir-se vazio de ar, tussa e mostre para você mesmo que ainda possui reservas de ar escondidas. Tente tocar o solo com a ponta dos dedos, curve os joelhos se necessário. Segure sua respiração por alguns segundos.

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Conforme você respira, silenciosamente, pelo nariz, você, gradativamente, torna-se ereto. Estenda os braços como asas, erguendo-as calma e suavemente, até equilibra-los horizontalmente.

Assim que você completar o movimento e a inspiração, coloque as mãos juntas acima da cabeça (como se estivesse em oração). Lembre-se que as mãos postas devem estar acima do topo de sua cabeça. Segure a inspiração.

Quando você estiver preparado, silenciosamente, expire pela boca, e abaixe os seus braços, reta e vagarosamente, até que estejam abaixo da horizontal. Rapidamente solte o ar que sobrou em um suspiro forte e permita que a parte superior do seu corpo caia pesadamente, curve o quadril para a frente, deixando a cabeça pendente. Conscientemente libere todo o ar "usado", de que você não mais precisa. Relaxe por algum tempo e repita o exercício desde o início.

EXERCÍCIO DE LIBERAÇÃO DA VOZ

Algumas pessoas sentem-se incapazes de facilitar e de liberar as suas vocalizações. Elas podem sentir sua voz natural, de alguma forma, bloqueada, amarrada ou suprimida. Tente este exercício de liberação da voz como parte de seu programa vocal.

Sente-se de cócoras, dobre e recurve o seu corpo em um nó, teso e compacto, de braços e pernas; tente condensar-se em uma menor massa possível. Segure a sua respiração e os órgãos vocalizadores no centro desta massa.

Como último esforço, respire e estique-se, rápida e vigorosamente. Solte a sua voz num profundo "UGH", por meio do som mais profundo que você possa encontrar. Maximize e aproveite o espreguiçamento.

Descanse por um minuto. Repita o exercício por até dez vezes. A cada vez, interiorize mais, e projete sua voz relaxada mais forte e prolongue cada vez mais o som. Observe que você envolve todo os seu corpo na vocalização, particularmente a pélvis e o diafragma.

OBS: Exercícios extraídos do livro: "A Cura pelo Som" de Olivea Dewhurst-Maddock

Capítulo 6: A Voz e Suas Particularidades

"E Deus soprou em suas narinas o sopro da vida, e o homem tornou-se uma alma viva" Gênesis 2:7

O seu corpo produz todos os tipos de sons, desde o aplaudir até bater dos pés, o ranger dos dentes e o digerir dos alimentos. Esses ruídos têm, entretanto, importância mínima, se comparados às suas vocalizações – sons produzidos pelas cordas vocais, em sua caixa de ressonância ou laringe. Isto dá-se

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porque a voz reflete a condição mental emocional e física da pessoa; ela é, verdadeiramente, a parábola da alma.

Este capitulo explica como a voz pode ser usada e controlada. Ela demonstra como descobrir e relaxar a voz beneficiam não só a sua saúde físico-mental e os estados emocionais como a sua aparência, a confiança frente à sociedade e as sua habilidades comunicativas. A compreensão da voz é um excelente disciplina de auto-conscientização e é vital para a arte de ouvir. Por meio de cuidadosa atenção, você aprenderá a compreender, através das vozes dos outros, os significados impronunciáveis, que se escondem através das palavras.

O modo como você usa a sua voz proporciona o discernimento vital para a vida em geral. As suas vocalizações revelam como as suas energias, sentimentos, pensamentos e intuições colaboram na produção de um único estilo vocal. Este estilo reage às influencias externas tanto quanto os sentimentos no seu interior, que se desenvolvem atrás do tempo em emoções e experiências passadas acumuladas e amadurecidas. Logo, a voz é diagnosticável e terapêutica. Em suma: aprenda a usar a sua voz, e você se sentirá melhor.

A voz é formada durante a respiração. A primeira parte deste capitulo explora os mecanismos da respiração e o seu uso na produção da voz, alem de incluir alguns exercícios vocálicos básicos e de respiração. Esses são fórmulas praticas que ampliam a extensão da voz e as suas técnicas de respiração, assim como aumentam a conscientização das partes do seu corpo envolvidas na respiração e nas vocalizações.

O MECANISMO DA RESPIRAÇÃO

A cada quatro ou cinco segundos, os seus pulmões aspiram ar puro contendo oxigênio, e exalam resíduos venenosos de dióxido de carbono. Essa função respiratória, reflexiva e vital, é continua, consciente e inconsciente, esteja você em atividade, repouso ou adormecido. É a principal motivação do organismo; sem ela, você sufocaria e morreria.

Os seus órgãos respiratórios incluem o nariz e a boca, a garganta, a traquéia, os canais inferiores (brônquios e bronquíolos) e os próprios pulmões. Os músculos envolvidos na respiração incluem os do tórax. Ele marca a divisão entre a caixa torácica e o abdômen.

Quando você inspira, esses músculos expandem os pulmões, e inalam o ar para dentro do nariz e boca, que encaminham-no para a traquéia. Quando os músculos do tórax e do diafragma relaxam, o ressalto flexível dos pulmões encolhe-os, como balões vazios que expelem o ar ao serem expirados. Esta exalação, quando você fala ou canta, é um processo passivo não-muscular, que se baseia no volume pulmonar naturalmente contraído.

A PRODUÇÃO DOS SONS VOCÁLICOS

Cada instrumento musical possui três aspectos, que associados são responsáveis pela produção de som. São eles: uma saída, ou fonte de energia; um vibrador, que determina o som e o tom; e os ressonadores, que somam as tonais. Em uma guitarra são o dedo na corda tocada, a corda e o corpo da guitarra, respectivamente. A sua voz – apesar de todos os preconceitos que possa ter – pode ser um instrumento musical de grande valia, poder e adaptabilidade. A sua saída é o ar exalado pelos pulmões; o seu vibrador

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são as cordas vocais, em sua caixa torácica ou laringe; e as suas ressonâncias são as cavidades de ar e estruturas como: garganta, boca, nariz e cavidades.

Similarmente, a vocalização é dividida em três processos essenciais. Esses são a formação, ou produção do som; a ressonância, ou amplitude harmônica do som; e a articulação – o formato, a modelagem e a saída dos sons vocálicos, em formas lingüísticas conhecidas por palavras.

Conforme você realizar os exercícios vocais, você estará trabalhando as sensações físicas da fonação, ressonância e articulação. Sinta-os como parte de você. E acima de tudo, ouça-os! O retorno auditivo, através das suas expressões vocais, é uma parte vital do processo de vocalização. Lembre-se: é a pessoa, em um todo, que fala e canta.

AS CORDAS VOCAIS

Suas cordas vocais são duas protuberâncias brilhantes, aperoladas, situadas em ambos os lados da caixa torácica ou laringe, em seu pescoço. Elas não podem vibrar livremente, como a corda do violino. E são minuciosamente descritas como pregas vocais porque projetam-se, semelhantemente a uma concha, das paredes da laringe. Durante a respiração suave, elas formam dois lados compridos de um orifício triangular – a glote – por onde o ar alcança seus pulmões.

Quando você fala, os músculos do seu pescoço e os que circundam a laringe revestem as cordas vocais até que elas se movimentem para dentro, em direção ao centro da laringe, quase tocando-se. O ar deve, então, passar por um orifício estreito e comprido. Conforme isto se dá, o ar vibra as cordas. Elas são acompanhadas por um segundo par de dobras, algumas vezes descritas, meio grosseiramente, como falsas cordas vocais, que se movem acima do par verdadeiro. Juntos, esses dois pares de dobras formam um vaso similar ao útero

Para vocalizar notas de tom alto, os músculos da laringe cobrem as cordas, e alargam-se na extensa e hermeticamente. Assim, elas vibram em uma freqüência mais alta, como uma corda de guitarra soa uma nota alta quando é comprimida pela cravelha. Se quiser aumentar a sua sonoridade, aumente a velocidade e pressione o ar que circula fora de seus pulmões. Tente repetir a mesma sentença longa ou um poema em tons mais baixos, e a seguir em um estilo alto e dramático. Observe a rapidez com que você libera o ar no segundo caso.

OBS: Informações extraídas do livro: "A Cura pelo Som" de Olivea Dewhurst-Maddock

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Saúde Vocal para Cantores - Parte 1

Saúde Vocal

Quando pensamos numa pessoa com saúde vocal, imaginamos que aquele indivíduo encontra-se num equilíbrio de saúde física e mental que o deixará em condições para produzir a sua melhor voz. Se esta já e uma situação ideal para qualquer falante, para os cantores esta é uma condição imprescindível! Lembre de todas as vezes que você teve que cantar e não estava se sentindo muito bem, levemente gripado ou apenas cansado....

É importante ressaltar que a saúde vocal estará sempre relacionada ao estado geral do indivíduo, uma vez que todo o corpo colabora com a produção da voz e da fala.

O termo saúde vocal (ou higiene vocal) refere-se aos cuidados que cada indivíduo deve ter com a sua voz para prevenção de qualquer alteração vocal bem como a manutenção da qualidade desta voz. Embora partam de princípios básicos comuns, esses cuidados devem ser pensados individualmente, pois cada pessoa será sensível a cada um deles de forma diferente.

Para mapear quais são os fatores que prejudicam ou beneficiam a sua voz, você deve partir de uma simples, porém importante, observação pessoal. Quais são os fatores que estão sempre presentes quando você tem algum problema de voz? Eles podem ser desde os mais óbvios: fumo, drogas, esforço vocal, alergias, até razões menos conhecidas como alterações que surgem devido a problemas gástricos, hormonais, ou mesmo porque você faz algum esforço desnecessário quando fala. Da mesma forma, aumentar a quantidade de água que você bebe por dia ou tomar cuidado com sua alimentação podem trazer benefícios à sua voz, você sabia?

Algumas vezes o cantor já apresenta alterações vocais: aquela rouquidão que está persistindo ou a percepção de perda de agudos e/ou graves na extensão. É difícil perceber quando exatamente estes processos se iniciam e muitas vezes você acaba achando que isso é normal e vai passar logo, não é? Pois saiba que com uma rouquidão de mais de duas semanas você já pode desconfiar que as coisas não vão bem! Nesses casos o ideal é procurar um médico otorrinolaringologista, que poderá diagnosticar se existe alguma alteração física e/ou funcional em suas pregas vocais (cordas vocais), receitar algum remédio, se for o caso, ou encaminhá-lo para um trabalho terapêutico com um fonoaudiólogo.

Acredito que a situação ideal para o cantor é, aliado a este auto-conhecimento, ter sempre profissionais competentes orientando sua formação. Todo o cantor deve ter um professor de canto, e deve passar por uma avaliação com um otorrinolaringologista e um fonoaudiólogo pelo menos uma vez por ano.

Por ser este um assunto tão extenso, será divido em partes, e nos próximos artigos, estes fatores que podem afetar sua voz serão apresentados. Isto vai ajudá-lo a entender um pouco mais como funciona a sua voz e o que você pode fazer por ela!

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Saúde Vocal para Cantores - Parte 2

Os Efeitos de Fumo, Drogas, Álcool e Medicamentos

Na primeira parte deste artigo foram feitas algumas considerações sobre o que é saúde vocal e como você pode aprender a lidar com ela. Nesta 2ª parte comento aspectos que poderão influenciar sua saúde vocal.

Para que haja produção de voz, é preciso atuação da respiração, da fonação - produção sonora propriamente dita -, e da ampliação e articulação desses sons nas cavidades de ressonância. Qualquer fator que altere um desses componentes pode influenciar a voz. Nunca é demais lembrar que a saúde vocal está relacionada à saúde geral de um indivíduo. Por isso qualquer evento que atue sobre a saúde geral poderá trazer reflexos à saúde vocal.

Vamos começar com os óbvios. São aqueles que, via de regra, todos sabemos que fazem mal para a voz. Vamos, então explicar o porque, os efeitos de cada um sobre a voz:

O fumo é altamente prejudicial causando ressecamento do trato vocal (aparelho fonador) e irritação do trato respiratório. Rouquidão, tosse e até inflamação da laringe poderão aparecer e, muitas vezes o cantor pode perceber um agravamento do seu tom habitual. A mucosa laríngea tem em sua extensão pequenos cílios que ajudam a varrer o excesso de muco retido nas paredes da laringe. O fumo vai provocar uma diminuição dos movimentos ciliares acarretando não só o aumento da produção de muco como acúmulo desta secreção tendo como resultado o famoso pigarro do fumante.

O efeito das drogas também são parecidos com os do cigarro. Vamos falar aqui da maconha e cocaína, as mais usuais. Na maconha , além de todas as conseqüências já citadas, ocorre a inalação de inúmeras impurezas encontradas na erva, inclusive agrotóxicos e inseticidas, e um superaquecimento da região do trato vocal que se dá basicamente pela forma com que se fuma aumentando a pressão com os lábios. Em relação à voz e fala podemos perceber: imprecisão da articulação, alterações no ritmo e na fluência da fala, voz mais grave e, muitas vezes, dificuldade em manter a afinação. A cocaína é altamente irritativa às mucosas do nariz e da laringe. Pode apresentar alterações neurológica e cardiovasculares (vasoconstrição). Quanto às conseqüências podemos encontrar um endurecimento da articulação temporo-mandibular (a famosa "trava", típica da cocaína) , voz mais aguda e hipernasal e a aceleração da fala.

O álcool também pode causar irritação de todo o trato vocal. Ele atua como vasodilatador alargando os pequenos vasos sanguíneos das pregas (cordas) vocais. O efeito percebido pode ser rouquidão e agravamento do tom de voz. O álcool também relaxa e produz um efeito anestesiante sobre nós. Sob essas circunstâncias o cantor poderá realizar, sem perceber, abuso vocal, realizando um esforço desnecessário, que será mascarado pelo efeito anestésico. É importante destacar também que a associação de cigarro + álcool é um dos maiores causadores do câncer de laringe e pulmão.

Outro fator que gostaria de chamar a sua atenção neste artigo é sobre o uso de medicamentos e sua relação com o uso da voz. Em primeiro lugar não use medicamentos sem consultar um medico, pois ele é o

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profissional competente para isto. O medicamento usado por um amigo, para um mesmo problema com sucesso, nem sempre terá o mesmo resultado em você. A Segunda coisa é que um medicamento que você está fazendo uso para um outro problema não relacionado necessariamente à voz, poderá ter alguma influência sobre sua voz, trazendo alguma modificação. Por exemplo, um remédio usado para dieta com diurético poderá trazer um grande ressecamento ao trato vocal pela perda excessiva de água , o uso de hormônios pode alterar a tonalidade da voz, etc. Diga sempre ao seu medico que é cantor e questione sobre possíveis implicações em sua voz.

Neste parte do artigo foram abordados os efeitos de fumo, drogas, álcool e remédios relacionados à saúde vocal. No próximo serão tratados aspectos sobre hidratação, alimentação , alergias e problemas gástricos relacionados à voz.

Saúde Vocal para Cantores - Parte 3

Hidratação, Alimentação, Alergias e Problemas Gástricos Relacionados à Voz

Nos dois primeiros artigos sobre saúde vocal começamos a falar sobre como é importante um cantor estar atento ao que acontece com sua voz e os aspectos que podem afetá-la. Vamos continuar abordando mais alguns tópicos que podem trazer algum tipo de alteração na voz. Neste artigo vamos falar de Hidratação, Alimentação, Alergias e problemas gástricos relacionados à voz.

Vamos começar com um ítem importante, a Hidratação. Todos nós sempre ouvimos falar da importância de se beber água para a saúde em geral bem como para a saúde vocal! Se nosso corpo está bem hidratado, nossas pregas vocais também estarão, com melhor flexibilidade e vibração.

Você sabe que a água (ou qualquer líquido) que ingerimos não passa pelas pregas vocais. Se isso acontecesse iríamos aspirar líquidos para o pulmão e poderíamos até morrer! Como hidratamos as pregas vocais, então? A laringe produz normalmente uma secreção. De acordo com cada organismo essa secreção pode ser mais viscosa, mais fluida ou mais grossa. Ela age como uma proteção para esta região, principalmente na mucosa das cordas vocais, diminuindo o atrito entre elas e aumentando sua flexibilidade e vibração. A água ajuda na melhor hidratação das células que, por conseguinte, produzem uma secreção mais fluída facilitando o processo de vibração das pregas vocais. Se a mucosa das pregas vocais estiver muito ressecada, poderá haver um grande atrito entre elas o que poderá acarretar,inclusive, o aparecimento de alguma lesão.

Em geral, se recomenda a ingestão de aproximadamente 2 litros de água por dia. É importante, porém, fazer uma observação de sua saúde como um todo. A ingestão de um medicamento que contenha diurético por exemplo (que pode ser encontado num remédio para emagrecer) pode fazer com que você perca muita água e precise elevar o seu nível de hidratação. Já a ingestão exagerada de água pode levar a uma perda de sódio no organismo causando danos à saúde em geral.

Pode se fazer também inalação direta das pregas vocais por inalação de vapor (vaporizador ou nebulizador por exemplo).

Uma boa forma de observar o nível de hidratação do corpo é pela observação da coloração da urina. Quanto mais hidratado estiver o indivíduo, mais clara será a coloração da urina.

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Quanto às alergias respiratórias, você sabia que existe uma grande relação entre elas e alterações vocais? Bronquites, sinusites, rinites, asma, laringite e faringite podem causar um inchaço nas mucosas do trato vocal , dificultando a movimentação das pregas vocais, impedindo, assim, que sua voz saia da melhor forma possível!

Pense nos ambientes em que você costuma cantar: estúdios com ar condicionado, carpetes, locais empoeirados, fechados, sem circulação de ar, tudo bem propício para uma crise alérgica!

Lembre-se que a respiração é parte importante na emissão vocal. Logo problemas na respiração serão facilitadores de possíveis problemas vocais. O efeito será sentido não só na emissão, quanto em toda a parte de ressonância, onde a ampliação do som estará prejudicada levando a um maior esforço para uma boa produção vocal.

Se você é um cantor alérgico, busque um tratamento para alergia. Converse com seu médico e procure o trabalho que mais lhe agradar, mas cuide dela!

Outro problema bastante comum que pode ter consequências sobre a produção vocal é de natureza gástrica. Pode ocorrer um refluxo de gases utilizados pelo nosso corpo no processo digestivo que podem atingir nossa mucosa laríngea. É o que chamamos de Refluxo Gastroesofágico! O ácido utilizado pelo estomago na digestão de alimentos é chamado ácido gástrico. Quando, por qualquer problema, este ácido retorna às porções mais altas da faringe e laringe, pode ocorrer uma irritação nas mucosas ocasionando problemas vocais. Por isso observe se você frequentemente sente azia, sensação de queimação , sensação de corpo estranho na garganta, rouquidão, pigarro, secreção espessa sobretudo ao acordar , e algumas vezes dor. Você pode estar com algum problema gástrico que estaria afetando também o seu processo vocal. Isto pode estar ocorrer e/ou ser agravado devido a ingestão de alimentos muito gordurosos, codimentados, bebidas alcoólicas e gasosas, coca-cola, derivados de leite e achocolatados,etc. Fatores psicoemocionais podem interferir neste quadro também.

Uma alimentação equilibrada e regular é essencial para a boa produção vocal. Antes de uma performance o cantor deve fazer uma dieta leve, rica em carboidratos, o que trará uma melhor eficiência na atividade física além de serem alimentos de fácil digestão. O ideal é uma alimentação rica em vegetais e frutas. Maçãs e laranjas são ricas em carboidratos, por exemplo.

Não é recomendável, antes da fazer uso profissional da voz, usar alimentos muito condimentados, pois a digestão lenta pode atrapalhar a movimentação e controle do diafragma.. Devemos evitar comidas pesadas, gorduras, chocolate e derivados do leite em geral, pois aumentam a produção de muco, prejudicando a ressonância.

O ideal é fazer um intervalo entre a refeição e a atividade profissional. Mastigar bem os alimentos proporcionará um relaxamento da mandíbula facilitando os movimentos articulatórios.

Neste artigo tratamos de mais alguns aspectos que afetam a saúde vocal. No próximo e último artigo sobre saúde vocal vamos abordar alguns outros tópicos que devemos estar atentos para melhor cuidar de nossa voz!

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Saúde Vocal para Cantores - Parte 4

Ana Calvente

Produção Vocal

Neste 4º. e último artigo sobre Saúde Vocal vamos abordar pontos gerais que podem influenciar a produção vocal.

O primeiro ponto a destacar, é a importância de uma boa noite de sono para a voz (bem como para o corpo inteiro!). Dormir o suficiente para descansar! No geral, são recomendadas 8 horas de sono, mas isto pode ser variável, pense em quanto tempo você precisa para descansar! As condições do local em que você dorme também serão importantes: um bom colchão, um local arejado, sem poeira e silencioso.

Um dos problemas com o qual o cantor mais se depara é a situação de competição sonora. Cantar em locais fechados barulhentos e com pouco retorno, nos faz imediatamente aumentar o volume da voz para ser melhor entendido. Estas situações em que precisamos falar ou cantar com maior intensidade para suplantar o ruído ambiente levam a um esforço vocal que não será benéfico à voz. A competição sonora é uma situação bem corriqueira: conversamos no carro enquanto ouvimos música e os carros buzinam do lado de fora, conversamos durante shows e em boates, falamos no celular no ônibus ou no metrô. Devemos ter consciência que também nestes momentos estamos cometendo um grande abuso vocal e tentar evitá-los!

A tosse é um grande abuso para as cordas vocais. Quando tossimos, nossas pregas vocais se chocam com grande intensidade. Devemos consultar um médico especialista para tratar a tosse. Da mesma forma o pigarro promove um atrito entre as pregas vocais. O pigarro pode ser um vício, e geralmente não nos damos conta disto. A ingestão de líquidos é indicada para fluidificar o muco e tentar diminuir o incômodo.

A prática de exercícios físicos é importante para a saúde em geral. Contudo devemos tomar cuidado para não falar durante a atividade física porque isto gera um aumento do fechamento glótico. Atividades com movimento violento dos braços como tênis, vôlei, basquete, boxe, etc. que podem causar tensão na área do pescoço, tórax e ombros devem ser evitadas. Atividades com baixo impacto, alongamento, ioga, natação são indicadas para pessoas que usam sua voz profissionalmente.

O ar condicionado pode ressecar a mucosa do trato vocal porque o ambiente é resfriado através da diminuição da umidade do ar [*]. Aconselhamos a ingestão de água quando ficamos por muito tempo num local com ar condicionado. Devemos tomar cuidado com as mudanças bruscas de temperatura, que podem causar problemas inflamatórios, edemas na mucosa ou uma maior descarga de muco na laringe. O excesso de frio ou de calor pode ser prejudicial à sua voz. Se você sabe que vai passar por uma situação como esta, por exemplo, numa turnê, tente ter sempre uma opção de roupa mais quente, agasalhe bem a área do peito e pescoço, mas tenha também uma opção mais fresca, pois se a temperatura esquentar, o suor o fará ficar com a roupa molhada no corpo.

Lembre-se também que a produção da voz é feita com todo seu corpo e assim qualquer coisa que não esteja indo bem, tanto fisicamente quanto e emocionalmente pode afetar sua performance vocal.

Para manter sua voz saudável é preciso conhecê-la. Observe sua voz e verifique o que mais a afeta. Você agora já tem algumas informações que poderão ajudá-lo a prevenir eventuais problemas vocais!

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Universidade Cruzeiro do Sul

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A Fonoaudiologia e o Canto

Lidia Maria de GouveiaUniversidade Cruzeiro do Sul

INTRODUÇÃO

Atualmente a fonoaudiologia tem se voltado para estudar o profissional da voz, mais especificamente o cantor, seja ele do estilo popular ou erudito. Porem pouco se fala sobre qual o momento esse profissional deve fazer um exame apurado sobre sua condição vocal, podendo ter assim uma orientação profissional sobre o desempenho de sua voz.

Nos últimos tempos a fonoaudiologia tem reservado atenção especial ao campo denominado voz profissional, de forma que indivíduos que utilizam a voz como instrumento de trabalho estão cada vez mais próximos dos Fonoaudiólogos, mostrando que ha necessidade de uma orientação para a preparação vocal, melhorando o desempenho vocal do indivíduo, seja ele professor, radialista, repórter, ator ou cantor.

Vamos considerar neste estudo o profissional da voz falada aquele indivíduo que, para exercer sua profissão, deve depender de sua voz, sendo esta seu instrumento de trabalho. Autores diversos procuram definir o profissional da voz como " indivíduos que utilizam a voz de maneira continuada, os quais procuram, por meio de um modo de expressão elaborada, atingir um publico especifico ou determinado" (Satallof – 1991) ou como " o indivíduo que ganha seu sustento utilizando sua voz" (Boone – 1992).

Especificamente neste estudo, não nos aprofundaremos na estrutura vocal, respiratória e demais esquemas os quais complementam a atividade canto, mas sim os problemas decorrentes do canto, seu mau uso, má formação ou orientação, e como tratar estes problemas através da fonoaudiologia.

Quando um cantor, no decorrer de seu trabalho vocal percebe que há "alguma coisa errada" com a emissão de seu som, questiona-se sobre o que estaria acontecendo com sua "garganta" e o que poderia estar prejudicando seu instrumento de trabalho.

O primeiro passo a ser feito é a consulta médico-clínica, para posterior encaminhamento ao médico-fonoaudiólogo.

Do ponto de vista funcional, cantar é essencialmente diferente do falar. As evidências indicam que seu controle central está em um local diverso no cérebro e os músculos do trato vocal movimentam-se de maneira distinta. Cantar também é uma forma de comunicação, e uma forma de expressão dos sentimentos. Em geral, temos um conceito pré-concebido de que através da fala nos comunicamos melhor e pelo canto nos expressamos artisticamente, como se pudéssemos separar na vida, uma metade racional para a fala e outra emocional para o canto, quando na realidade somos as duas partes concomitantes, onde podemos e devemos nos expressar e nos comunicar ao mesmo tempo.

Todos podemos cantar e o canto tem de ser trabalhado, exercitado e aprimorado. O dom de cantar existe mas, em grande parte dos casos, as condições anatômicas e fisiológicas podem ser auxiliares importantes.

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Quando o cantor procura um fonoaudiólogo , este profissional submete seu paciente às seguintes etapas:

Avaliação vocal do cantor; Anamnese -Levantamento histórico do problema: Exame físico Exame de imagem Tratamento proposto Orientação quanto a saúde vocal

AVALIAÇÃO VOCAL DO CANTOR

Existem diferenças entre a avaliação vocal de um cantor e a de um indivíduo que utilize apenas a voz falada, mesmo que de forma profissional. No primeiro momento, as características e as queixas vocais do cantor devem ser percebidas, pelo médico e pelo fonoaudiólogo, distintamente em relação aos aspectos particulares da fala e do canto.

Embora exista um único órgão e praticamente um mesmo grupo de músculos responsáveis pelas duas funções, há vários aspectos fundamentais relacionados a produção vocal que diferem muito se compararmos a voz falada com a voz cantada. Em muitos casos o cantor precisa do auxilio do terapeuta ou médico para identificar sua queixa em relação à voz, diferenciando as características da voz falada e da cantada, separadamente. É comum o indivíduo procurar um profissional queixando-se especificamente de problemas em relação à voz cantada, como por exemplo uma passagem de escala ou, ao contrario, não ter nenhuma percepção da forma como ele utiliza a voz falada.

No momento da avaliação, é necessário distinguir qual a real queixa , o motivo da consulta, e de que modo está inserida na voz falada ou cantada. Deve-se verificar ao mesmo tempo, qual a percepção que o indivíduo possui em relação a sua voz e sua queixa vocal.

Considerando-se a avaliação inicial de qualquer pessoa disfônica ou com queixas relacionadas , deve-se obter informações , antes de tratá-lo ou ser encaminhado à fonoterapia, as quais serão efetuadas na anamnese.

ANAMNESE

A história do paciente pode ser bastante elucidativa, oferecendo condições de visualizar as alterações, dando a impressão que estivessem sendo vistas através de uma fita de videocassete, em câmera lenta. A anamnese, ou história problemática do paciente, é o momento fundamental de qualquer avaliação. É o primeiro contato do cantor (paciente) com o profissional médico(fonoaudiólogo).

No caso dos cantores, é importante que estes se sintam à vontade para colocar suas ansiedades e possam sanar algumas de suas dúvidas, lembrando que, cultural e historicamente, é difícil um cantor ter qualquer contato com em fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista.

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Deve-se interrogar ou identificar alterações da audição, voz, deglutição, sensoriais (sensibilidade cervical ou faringo-laríngea), anatômicas de cabeça e pescoço, dos órgãos articulatórios da fala, dos órgãos ressonantais, da faringe e da laringe em particular, alterações funcionais e respiratórias.

A consulta otorrinolaringologia e o exame da laringe são intrinsecamente ligados e a anamnese detalhada do paciente disfônico é essencial para orientar o exame, qualquer que seja o caso, o que permite muitas vezes que a suspeita diagnóstica já se oriente nessa fase, por exemplo, pela administração de péssimos hábitos ou demonstração de enorme ansiedade por parte do paciente.

Nesses casos, obtêm-se fatores geradores por si só de alterações da voz, que também representam agravamento de outras situações e dificultam o restabelecimento do paciente, exigindo intervenção terapêutica especifica. Da mesma forma, há necessidade de se conhecer o quadro clinico geral, e as importantes e possíveis causas físicas e psicológicas que podem afetar a laringe e a voz. É fundamental a analise dos fatores específicos do aparelho fonador, paralelamente às alterações gerais tais como: diabetes mellitus, hipertensão arterial, diminuição da capacidade ventilatória pulmonar, insuficiência cardíaca, distúrbios metabólicos, endocrinos, alergicos, imunologicos, auto-imunes, neurológicos, infecciosos, inflamatórios, digestivos, entre outros; neoplasias benignas ou malignas; o uso ou abuso de drogas com álcool, cafeína, tabaco, tranqüilizantes, maconha, cocaína ou outras; uso permanente ou prolongado de medicamentos como corticóides, anticoagulantes plaquetariso, quimioterápicos, etc.; estados de ansiedade, depressão, fadiga, estresse, estafa, insônia, gravidez e sindrome pré-menstrual.

É importante conhecer o grau de autopercepção do indivíduo em relação a sua disfonia, o que faz antever a sua dedicação ao tratamento. Dificilmente alguém que não tenha consciência alguma de sua alteração vocal, sentindo-se normal, aceitará as medidas diagnósticas ou do próprio tratamento.

Igualmente significativo torna-se saber a relevância pessoal ou profissional que possa ter a disfonia. Temos dois casos distintos: o professor que se "beneficia" da disfonia ao estar disfônico e aquele que sofre intensamente com o impedimento vocal, ou seja um cantor ou ator em temporada. Ao primeiro pode-se supor que não se empenhe, ao menos subconscientemente, pela cura, ao contrário do segundo, que normalmente terá empenho exacerbado, ansioso, às vezes até tornando-se prejudicial, no sentido de tentar estar logo recuperado. Portanto há necessidade de saber dosar os extremos para obtenção de um bom resultado no tratamento.

A coleta detalhada da história vocal do paciente disfônico pode revelar aspectos decisivos ao diagnóstico e à conduta do tratamento. A descrição do paciente revela sua forma de encarar a relação com o médico e o fonoaudiólogo, se otimista, confiante, participante, interessado, ou se adota uma posição crítica, pessimista, pouco confiante e interpreta de foram deturpada as conclusões e determinações.

Deve-se proceder a pesquisa de história patológica detalhada sobre a saúde do paciente, ou seja, as enfermidades que tenha sofrido no passado ou ainda sofra, e que possam ter relevância no quadro atual. Em relação ao motivo recente que traz o paciente à consulta, deve-se colher os dados de maneira a localizar uma causa e mensurar sinais e sintomas.

O exame otorrinolaringologico inclui, igualmente, a avaliação da audição, da voz, da fala, da deglutição e as pesquisas de alterações anatômico-funcionais e preceptorias dos órgãos articulatórios e ressonâncias, como a boca e língua, fossas nasais, rinofaringe e faringe. Também a função pulmonar pode e deve ser avaliada, quando necessário.

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A laringoscopia indireta é um método perfeitamente satisfatório para o diagnóstico de indivíduos disfônicos ha poucos dias, aptos ou durante estado gripal, não tabagistas e que não façam uso profissional da voz. Casos mais intensos e duradouros, não associados a infeções virais ou bacterianas, devem demandar a utilização de um método mais preciso, que forneça dados de maior confiabilidade possível a decisão terapeutica. A utilizacao de videolaringoscopia e da videolaringoestroboscopia consagra-se como fundamental no manejo de enfermidades da laringe e da voz.

Os pacientes com indicação de fonoterapia devem ser encaminhados acompanhados de laudo minucioso que descreva a anamnese sumária ou dirigida, os achados no exame de pregas vocais, mencionando seu aspecto e mobilidade, as características, simetria e amplitude da onda mucosa e a eventual existência de fendas gloticas, referindo seu local, extensão e formato. A conclusão e conduta devem ser discriminadas e devidamente explanadas ao paciente.

AVALIAÇÃO DA VOZ DO CANTOR

A avaliação da voz do cantor inicia-se com a identificação da queixa, na anamnese, levando-se em conta os aspectos da voz falada e cantada. Deve-se fazer um exame clínico apurado, tentando compreender a ressonância e a articulação do cantor.

Quando se fala em avaliação da voz, deve-se levar em consideração vários aspectos físicos e da emissão da voz. Observa-se os seguintes tópicos:

Exame físico:

Postura Tipo Respiratório Tempo de emissão Coordenação Pneumofonoarticulatória Pitch Loudness Ressonância Articulação Ataque Vocal Qualidade Vocal Ritmo Tessitura Registro Brilho Projeção

Passaremos agora a dissertar sobre cada etapa da avaliação individual do cantor:

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EXAME FÍSICO

Inicia-se pela apalpação da região cervical e pescoço, investigando-se o nível de tensão de sua musculatura. Nesse exame pode-se observar a largura da laringe e o posicionamento vertical da cartilagem tireóide no pescoço, o deslocamento lateral e sua mobilidade vertical pela emissão ligada de tons agudos e graves. Pode-se verificar o tamanho da abertura da boca, a movimentação da articulação temporo-mandibular(ATM), a tonicidade e mobilidade dos lábios e bochechas. A língua é um músculo muito importante para a fonação portanto deve-se verificar o tamanho, se é proporcional a forma e tamanho da cavidade oral, seu tônus e sua mobilidade em relação aos sons. Verifica-se a oclusão dentária, o formato do palato e o tamanho de toda a cavidade oral. Observando-se a distância dos pilares amidalianos da parede da faringe (orofaringe/nasofaringe). Verifica-se também o movimento mastigatório, o qual é muito importante para a avaliação do profissional da voz. Se estiver sendo feita de maneira inadequada, irá prejudicar o estado dos músculos responsáveis pela fonação

POSTURA

Na conversa espontânea, deve-se verificar a inclinação da cabeça, a tensão muscular cervical, o posicionamento do queixo em relação ao peito, a inclinação dos ombros. Observa-se a curvatura da coluna vertebral no andar e sentar, observando se a postura assumida pelo cantor é a adequada para a fonação. É preciso observar se os aspectos que caracterizam a postura do cantor durante a fala se modifica ou se mantém durante o canto. É fácil encontrar pessoas que elevam o queixo quando cantam tons mais agudos, com o incorreto e prejudicial intuito de auxiliar a elevação da laringe, posição que, sem tensão e participação da musculatura extrínseca, ajudaria a emissão de sons agudos.

TIPOS RESPIRATÓRIOS

Há muita discussão sobre o tipo adequado de respiração para a fonação e canto, porém deve-se observar se a respiração efetuada pelo cantor é a adequada para o canto. Existem três tipos básicos de respiração que são o superior, misto e inferior. No canto encontram-se vários casos de respiração inferior e mista, ou seja, o cantor, no ato do canto recorre instintivamente a um tipo de respiração de forma que a pressão subglótica torne-se mais longa, forte e estável.

TEMPO DE EMISSÃO

A capacidade de emitir um som por longo período e de enfatizar uma nota nos momentos finais de uma sentença pode definir o repertório e longevidade da voz de um cantor. Observa-se tal fato quando existe a solicitação para a emissão de um som ou vogal prolongada ou sustentada, glissando ascendente e descendentemente e fazendo uma vogal sustentada com intensificação no terço final da emissão.

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COORDENAÇÃO PNEUMOFONOARTICULATÓRIA

É a coordenação entre a respiração e a fala. Observa-se o cantor durante uma conversa espontânea, ou durante a leitura de um texto, mas pode fornecer dados irreais sobre a coordenação respiratória. É comum verificarmos pessoas com dificuldade durante a fala, porém quando lhe é solicitado uma leitura, e a pessoa percebe que está sendo avaliada, imediatamente corrige as eventuais entradas de ar residual . A coordenação analisada é um aspecto no qual, na maioria das vezes não se modifica da fala para o canto. Algumas exceções acontecem quando o estilo de música adotado exige uma voz muito soprosa, com um gasto de ar muito grande.

PITCH

É a sensação auditiva que temos sobre a altura da voz, podendo ser classificado em grave, médio ou agudo. Mede-se o pitch através de sistemas computadorizados de análise vocal. Normalmente, no canto, o pitch eleva–se, pois há uma busca das cavidades superiores de ressonância que acaba levando para a agudização do pitch, muitas vezes camuflado por uma hipernasalisação.

LOUDNESS

Tem relação com a percepção do volume da voz e deve ter com o tipo de ambiente em que a voz está sendo emitida. Pode ser classificado em forte, fraco e adequado. Na voz cantada, deve-se lembrar do ambiente e da utilização da aparelhagem de amplificação sonora. O cantor pode não possuir uma boa aparelhagem de som ou retornos eficientes, fazendo com que produza uma voz cantada com muito volume, e solicitando ao seu corpo que produza um apoio muito potente para que não ocorra sobrecarga das pregas vocais. O cantor popular normalmente não precisa utilizar um volume maior para cantar pois possui um bom sistema de amplificação. O cantor de coral emprega muitas vezes excesso de volume para poder se escutar dentro do coro. O cantor lírico procura explorar todas as suas caixas de ressonância, todo o seu potencial respiratório para atingir o quarto formante e assim ser ouvido junto com a orquestra que o acompanha. A voz transforma-se, neste momento, em mais um e único instrumento.

RESSONÂNCIA

A ressonância é classificada em seis tipos principais: equilibrada quando se utiliza de forma distribuída os três focos principais de ressonância(laringe, oral e nasal); laringo-faríngea onde há predomínio do foco na região do pescoço; hipernasal com constrição de pilares onde o foco é acentuado no nariz, mas com esforço evidente causado por tensão de musculatura orofaríngea; hiponasal onde não há nenhuma ressonância nasal; laringo-faríngea com foco nasal compensatório onde o foco central é no pescoço e sem nenhuma oralidade, normalmente em articulações muito travadas. Semelhantemente ao pitch, a ressonância também se eleva, buscando as cavidades mais superiores no canto em relação à fala.

ARTICULAÇÃO

A articulação pode ser precisa, imprecisa, travada, exagerada, pastosa ou aberta. Estas características podem se combinar aos pares mas não de maneira fixa. Pode-se por exemplo, encontrar uma articulação travada e precisa assim como uma aberta e imprecisa. Nem sempre abrir mais a boca para cantar melhora a articulação das palavras. Pode sim projetá-la muito mais.

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ATAQUE VOCAL

O ataque vocal pode ser dividido em brusco, aspirado e suave, podendo ser observado na fala espontânea. Normalmente o tipo de ataque se modifica da fala para o canto. Existem pessoas que falam com ataque brusco, porém na hora de cantar optam pelo estilo bossa-nova , que trabalha com um ataque mais suave.

QUALIDADE VOCAL OU TIMBRE

É o item que esclarece o diagnóstico no nível de pregas vocais. Costuma fechar a avaliação perceptual da voz falada. No canto isso ocorre de forma diferente, pois na voz cantada avalia-se a qualidade em relação direta com o estilo de música adotado e com a forma pessoal de interpretação. Não é possível dizer que todo cantor de bossa-nova possui uma voz patológica soprosa, pois esta soprosidade faz parte de um estilo de cantar, de tornar a voz mais um instrumento dentro da música e não o principal deles. O cantor de hard rock tem a voz rouca e áspera, mas pode-se utilizar outro modo de cantar este estilo de música. A qualidade da voz cantada abre discussão para as características vocais mais freqüentes em cada estilo de música. É impossível se discutir a qualidade sem falar de estilo, ao contrário da voz falada, na qual a qualidade vocal tem relação direta com a patologia.

Há várias maneiras de se nomear as qualidades e características vocais. Utilizamo-nos da voz rouca (moderada/suave), suave, fluida, áspera, soprosa, com quebra de sonoridade, tensa, pastosa, trêmula, estrangulada, infantil e diplofônica (bitonal).

Há outros nomes diferentes dos utilizados acima, mas estes combinados entre si quando necessários são suficientes para definir precisamente uma qualidade vocal.

RITMO

É um aspecto que avaliamos apenas na voz falada, pois na cantada dependerá do estilo, melodia e harmonia da música e da maneira como o cantor interpreta a canção. Na fala usamos um ritmo lento, acelerado, muito acelerado e adequado.

TESSITURA

A tessitura e a extensão são dois aspectos a serem avaliados apenas na voz cantada. Quando o cantor disfônico tem queixa apenas na voz cantada não há necessidade de avaliação dos dois aspectos. Pesquisar a tessitura do cantor, que seriam as notas confortáveis dentro da sua extensão vocal, quando o cantor está totalmente disfônico, é algo que não tem muito sentido.

Quando o cantor apresenta a queixa de dificuldade nos agudos ou quebra de sonoridade na passagem, solicita-se que emita a escala completa para se avaliar a dificuldade, mas não há como classificar definitivamente a região onde esse cantor deve produzir sua voz cantada sem esforço ou prejuízo do trato vocal, pois a hora da avaliação é um momento atípico. Conforme o trabalho fonoterapêutico evolui deve-se rever a tessitura, assim como a extensão vocal.

A classificação vocal das vozes masculinas em tenor, barítono e baixo e das femininas em soprano, mezzo-soprano e contralto têm relação com o canto lírico, é muitas vezes empregada no canto popular, porém mais para auxiliar na definição da tessitura do que para classificar uma voz dentro de um repertório específico. Considerando-se as formas diferentes de configuração glótica do canto popular para o lírico, não acredita-se na importância dessa classificação para o canto popular.

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REGISTRO

É o modo de vibração variado das pregas vocais de acordo com vários pitchs, fornecendo diferentes qualidades vocais que são chamados de registro, que nada mais é do que a produção de freqüências consecutivas que se originam da mesma maneira da freqüência fundamental. Deve ser avaliado apenas na voz cantada, pois trata-se de um conceito dividido em registro basal (fry), modal (peito e cabeça) e falsete.

BRILHO

Tem relação direta com o uso das cavidades de ressonância e a produção de formantes. Quanto mais amplo for o uso dessas cavidades maior será a riqueza de harmônicos amplificados, fazendo com que a voz pareça cheia, preenchendo todo o ambiente.

A posição da laringe no pescoço é responsável pelo colorido do som produzido. No bel canto, com a laringe baixa, temos um som mais límpido e alegre, enquanto no canto dramático, com laringe alta, o som é escuro mas cheio de nuanças.

PROJEÇÃO

Termo advindo do canto, mas muito utilizado no meio teatral e em oratória. Tem relação direta com respiração, pressão subglótica e superiormente com a boca aberta. Não é possível se ouvir um cantor com projeção com a articulação totalmente travada. Na avaliação deve-se evitar termos qualitativos (boa projeção/péssima projeção). Deve-se gravar a voz do cantor para registro, solicitando sonorizações específicas, como vogais (/a/e/i/) prolongadas, escalas ascendente e descendente em stacatto e ligatto, fala encadeada (dias da semana, meses do ano) e conversa espontânea.

Havendo gravações antigas e recentes, é interessante ouví-lo para compreender o processo de desenvolvimento da voz cantada. A avaliação in locco é fundamental para comparar dados ao vivo, e para conhecer o ambiente de trabalho do cantor.

ALTERAÇAO DE VOZ NO CANTO – DISFONIA FUNCIONAL

As alterações de voz mais comumente encontradas nos cantores são chamadas de disfonias funcionais, que podem ser causadas por uso inadequado dos músculos voluntários da fonação, que incluem os músculos da laringe, faringe, mandíbula, língua, pescoço e sistema respiratório. O desalinhamento postural também é um achado clínico freqüente. Algumas disfonias podem ser atribuídas a técnicas vocais incorretas tais como: Coordenação pneumofonoarticulatória pobre, uso excessivo ou inadequado da válvula laríngea, foco ressonantal inadequado, dificuldades no controle dinâmico de pitch e loudness.

Por definição, a disfonia funcional é a alteração vocal que decorre geralmente do mau uso ou abuso de um aparelho fonador anatômica e fisiologicamente intacto, mas que também pode ser resultado de um mecanismo compensatório mal adaptado, como conseqüência de uma condição orgânica preexistente. Mesmo nos casos de alteração vocal onde a função laríngea é normal ao exame clínico, ou quando há presença de sinais de tensão muscular laríngea anormal, a disfonia é classificada com funcional.

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A disfonia funcional com abuso vocal prolongado pode levar ao desenvolvimento de alterações orgânicas secundárias, como os nódulos vocais. Apesar desses serem considerados entidades patológicas individualizadas, eles são resultado de uma disfonia funcional precedente.

CLASSIFICAÇÀO

Há várias propostas para a classificação das disfonias funcionais. Alguns autores propõem abordagens mais amplas referindo-se aos mecanismos casuais e outros baseiam-se nos aspectos clínicos-sintomáticos. É importante haver uma diferenciação entre cada subgrupo de pacientes portadores de disfonia funcional.

Podemos classificar as disfonias funcionais em quatro tipos, que são: as disfonias psicogênicas, a disfonia por habituação, o uso inapropriado de registro e as síndromes de abuso vocal.

DISFONIAS PSICOGÊNICAS

Podem ser divididas em dois subtipos: as conversivas e as recidivantes. O padrão recidivante normalmente é associado a um perfil psicopático e o conversivo, às características histéricas e o aparecimento da alteração vocal é associado a algum fator desencadeante. A qualidade vocal é caracterizada por afonia ou disfonia severa, com sonoridade pobre. A laringoscopia pode ser normal ou evidenciar fenda glótica triangular posterior(com redução da amplitude e assimetria da onda mucosa), ou ainda triangular em toda a extensão(fenda pararela). Pode ser observada a constrição supraglótica ântero-posterior parcial, projeção medial de pregas ventriculares ou inconsistência nos achados laringoscópicos.

DISFONIA POR HABITUAÇÃO

Inicia-se por uma laringite viral ou cirurgia das pregas vocais, o que propicia uma compensação inadequada do trato vocal organicamente comprometido. A disfonia persiste mesmo após o desaparecimento do processo viral ou da cicatrização cirúrgica. A terapia fonoaudiológica pré-cirúrgica pode evitar este tipo de alteração. Sintomas como fadiga vocal e odinofonia podem ser observados. A qualidade vocal pode apresentar soprosidade, aspereza, diplofonia ou fonação ventricular. A sonoridade geralmente é pobre e a laringoscopia pode ser normal, mostrar aproximação de pregas ventriculares, constrição supraglótica ântero-posterior parcial ou ainda fechamento supraglótico esfinctérico.

USO INAPROPRIADO DE REGISTRO

A alteração vocal ocorre em homens durante o crescimento, manifesta-se depois da puberdade como dificuldade em abaixar o pitch e acompanha-se de "quebras" no registro. Pode ocorrer em ambos os sexos, porém não é tão evidente nas mulheres em decorrência do seu tom habitual de fala. Alguns fatores psicológicos podem levar a inibições durante este período de transição e estabelecer um padrão de fonação em falsete. Estes casos devem ser diferenciados daqueles em que existam comprometimentos hormonais ou conversivos. Não há sintomas associados. A qualidade vocal caracteriza-se por pitch anormalmente alto e sonoridade pobre.

A laringoscopia é geralmente normal, mas pode haver tensão glótica. A laringe pode também estar elevada e sua tração para baixo pode mostrar mudança de registro vocal para um pitch mais adequado.

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SINDROMES DE ABUSO VOCAL

As alterações vocais decorrentes das síndromes de abuso vocal são geralmente flutuantes ou intermitentes e mantém-se por períodos prolongados. Os aspectos mais comumente observados nestas alterações são: fadiga vocal, redução da extensão dinâmica da voz, odinifonia, padrão respiratório inadequado e sindromes tencionais músculo-esqueléticas. Outros sintomas, como alterações ressonantais e de pitch, também podem ser observados. As síndromes de abuso vocal podem ocorrer com freqüência também em profissionais da voz.

A qualidade vocal dos pacientes portadores de síndrome de abuso vocal mostra características de soprosidade e aspereza, sonoridade pobre, quebras na voz, pitch geralmente agravado e ataque vocal brusco.

A laringoscopia pode ser normal, mas também pode apresentar aproximação de bandas ventriculares, constrição supraglótica ântero-posterior parcial e ainda fechamento supraglótico do tipo esfinctérico.

Outros fatores devem ser observados em profissionais da voz com alterações relacionadas ao abuso ou mau uso vocal. Algumas alterações na voz falada muitas vezes não ocorrem na voz cantada, ou ocorrem em menor grau. Como exemplo, uma boa técnica de canto não implicará em uma voz falada adequada. O apoio respiratório também pode mostrar-se deficiente somente na voz falada. Apesar disso, a extensão vocal não é afetada. A avaliação de profissionais da voz deve ser cuidadosa, levando-se em conta as variáveis entre a voz falada e cantada.

Como alterações orgânicas secundárias temos: nódulos de pregas vocais, edema de reinke e úlceras e granulomas, os quais passaremos a discertar.

NÓDULOS DE PREGAS VOCAIS

São lesões secundárias associadas às alterações funcionais da voz, caracterizando-se por alteração na camada superficial da lâmina própria, representada histologicamente pela presença de tecido edematoso e/ou fibrocolagenoso associado a um espessamento do epitélio das pregas vocais, com queratinização superficial e acantose entre as cristas epidérmicas. Apresentam-se como lesões esbranquiçadas, em torno da borda livre na junção do terço médio de ambas as pregas vocais , que, ao entrarem em contato durante a fonação, assumem a silhueta de um "beijo". Apresenta aspecto endurecido e algumas vezes edematoso, principalmente em crianças. Há um aumento de massa e rigidez da cobertura, assim como interferência na vibração mucosa contralateral. Na maioria dos casos há presença de fenda triangular médio-posterior.

A incidência desta alteração em adultos é maior no sexo feminino e está sempre associada ao abuso vocal e ao estresse. É a disfonia funcional mais comum entre as crianças, predominando no sexo masculino. Em cantores, pode ocorrer secundariamente à execução do canto fora da extensão adequada e por pobre apoio respiratório.

Os sintomas vocais mais comuns são fadiga vocal, alterações de pitch, alterações ressonantais e extensão dinâmica reduzida.

A qualidade vocal mostra características de soprosidade, aspereza, quebra vocal e ataque vocal brusco.

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EDEMA DE REINKE

É uma lesão de aspecto edematoso e por vezes polipóide, o que lhe rendeu a denominação de degeneração polipóide, ou ainda, pólipo edematoso de pregas vocais. É geralmente bilateral, porém quase sempre assimétrica. Estende-se ao longo de toda a borda livre das pregas vocais na maioria dos casos. Apresenta crescimento progressivo, podendo obstruir completamente a glote com conseqüente asfixia, em seu estágio mais avançado. Interfere na vibração mucosa contralateral e está freqüentemente associado ao tabagismo crônico e, em menor escala, ao hipotireoidismo e ao refluxo gastroesofágico. A fonoterapia pode reduzir a lesão em alguns casos, ainda que ocorra melhora importante da qualidade vocal nos casos com lesões pouco exuberantes. Entretanto, o encaminhamento posterior para tratamento cirúrgico é necessário.

A disfunção vocal geralmente é estável, de longa duração, e predomina no sexo feminino. Os principais sintomas associados são fadiga vocal, alterações ressonantais e extensão vocal reduzida. A qualidade vocal apresenta características de rouquidão, com pitch agravado, sonoridade pobre e quebras vocais.

ULCERAS E GRANULOMAS

São as únicas lesões orgânicas localizadas fora da borda livre das pregas vocais, decorrentes de distúrbios funcionais da laringe. São associadas a processos inflamatórios extralaríngeos ou secundários à entubação endotraqueal prolongada. Nos casos funcionais, são provocados por trauma fonatório na apófise vocal das aritenóides, em pacientes com importante tensão muscular laríngea e ataque vocal brusco. Geralmente são lesões pequenas que comprometem o fechamento glótico. Quando são de grandes dimensões, outras possibilidades diagnósticas devem ser aventadas.

O estabelecimento da alteração vocal é geralmente agudo(de dias a semanas), às vezes intermitente por meses. Os sintomas mais freqüentes associados são odinofonia e fadiga vocal.

A qualidade vocal manifesta-se sob forma de disfonia variável, com pitch grave e ataque vocal brusco. A laringoscopia mostra ulceração do processo vocal uni ou bilateral, ou granuloma, com hiperfechamento glótico posterior. Outros fatores observados em pacientes portadores de úlceras ou granulomas são apoio respiratório pobre, uso de ar residual, freqüente associação ao refluxo gastroesofágico, hábito de pigarrear e tossir e abuso vocal.

TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA PARA CANTORES

A terapia vocal do cantor não difere completamente do processo terapêutico de um paciente que apresenta disfonia funcional. O foco do tratamento, este sim, será diferente. Com a queixa bem definida em relação aos aspectos da voz falada e cantada, inicia-se a terapia que trabalhará simultaneamente os aspectos que forem necessários, tanto da voz falada quanto da cantada.

Na terapia com cantores, o ouvido adquire importância na condução das orientações, na forma de utilização da voz, assim como na maneira de realização dos exercícios propostos. Quando se trabalha com o cantor, não se deve ficar centrado na patologia laríngea ou no distúrbio da fonação e sim na maneira como o cantor está utilizando seu aparelho vocal para produção da voz dentro do estilo e interpretação desejados.

Pode-se compreender o estilo do canto e tentar, juntamente com o cantor, por meio de exercícios, possibilitar que produza, de maneira satisfatória e sem prejuízo do trato vocal, a voz cantada desejada. O

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fonoaudiólogo não deve discutir a escolha de repertório, mas esclarecer as possibilidades de cada voz, localizando o pitch confortável e a tessitura adequada para o cantor assim como demonstrar aspectos anatomofisiológicos existentes, mas muitas vezes desconhecidos, que possam facilitar ou limitar a produção de algum tipo de voz cantada.

É necessário possuir algum conhecimento de termos músicais que, em geral, estão presentes na terapia com o cantor, como por exemplo grave, agudo, oitava, glissando, stacatto, escala ascendente ou descendente, acorde e outros que podem aparecer conforme o tipo de canto adotado.

O cantor, em geral, questiona o profissional para saber como se procedem os exercícios e outras duvidas, pois é natural que a pessoa que tem na voz cantada seu instrumento profissional possua uma curiosidade maior em relação a sua voz, bem como receio em ser examinado pelo otorrinolaringologista e ansiedade em tratar as dificuldades que se manifestam na voz.

Aparecem alguns questionamentos por parte do cantor, porém esses são um desafio constante para quem trabalha com a área da voz e tem consciência da influência da vida emocional e psíquica na questão da comunicação.

As questões da saúde vocal devem ser tratadas com paciência e esclarecimento, sem virar uma lista de proibições, pois o ideal é passar informações aos poucos e obter o retorno do cantor sobre a verdadeira compreensão dos porquês sobre sua voz.

Não é fácil estabelecer um limite sobre onde começa a terapia fonoaudiológica do cantor, pois o início de cada processo dependerá de cada indivíduo. Não existe hierarquia dentro da terapia fonoaudiológica. Na voz tudo ocorre ao mesmo tempo. As necessidades são de cada caso e sempre que possível devem ser trabalhadas no conjunto.

No caso dos cantores é fundamental trabalhar a parte respiratória no sentido de conscientizar o papel da respiração na emissão da voz cantada, mostrando preferencialmente a respiração costo-diafragmática, como a mais adequada para a sua voz. O trabalho articulatório visando a abertura vertical e à precisão sonora dos fonemas também tem destaque na rotina terapêutica. Os exercícios que auxiliam no abaixamento da laringe tem demonstrado ótimo resultado, mesmo nos casos de cantores populares, permitindo um movimento vertical livre nos graves e agudos. Exercícios de resistência também são indicados para cantores que costumam cantar muitas horas por semana. Massagem digital na laringe depois de cantar, ou antes de dormir, promove a vasodilatação que possibilitará um maior relaxamento noturno, levando a uma qualidade vocal mais satisfatória para os dias seguintes no uso intensivo da voz.

Não é possível abordar a parte de exercícios, pois cada indivíduo tem seu problema e os exercícios devem ser aplicados de maneira pessoal. O terapeuta tem que experimentar os exercícios consigo mesmo e, posteriormente, observar como cada paciente realiza ou reage diante daquele exercício. De maneira geral, acredita-se que o terapeuta não necessita ser um cantor ou músico para poder prestar atendimento, porém deve ouvir as queixas do paciente e saber que as dúvidas que ocorrerem durante o processo terapêutico poderão ser investigadas e respondidas por ambos, paciente e terapeuta.

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CONCLUSÃO

Estivemos analisando alguns os problemas possíveis a serem apresentados na estrutura funcional da laringe e cordas vocais, nos profissionais da voz, em específico com os cantores.

Apresentamos alguns métodos a serem aplicados na avaliação e tratamento de tais problemas, porém tal explanação não esgota o assunto.

Ficou claro porém que, para a eficácia levantamento dos problemas apresentados, bem como o respectivo tratamento, há necessidade de se recorrer ao profissional médico da voz, especificamente ao Otorrinolaringologista e ao Fonoterapeuta para a obtenção de sucesso para a resolução dos distúrbios que possam ocorrer com a voz.

Creio porém que deve haver um relacionamento muito aproximado entre o profissional da voz, o médico da voz e o preparador vocal, pois suas atividades se interagem e, com essa aproximação o resultado pode se tornar mais produtivo, fazendo com que a voz do profissional possa ser melhor elaborada para um bom resultado profissional.

Com este tipo de relacionamento, creio que os cinco profissionais da voz – Otorrinolaringologista, Fonoaudiologista, Professor de Canto, Preparador Vocal e Cantor – poderão crescer em conhecimento e sucesso profissional, onde cada um individualmente alcançará a satisfação pessoal de aplicar o seu trabalho de modo direto, com conhecimento e bem feito.

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A utilização da voz humana como forma principal ou exclusiva de trabalho categoriza as profissões em dois grandes grupos: vocais e não-vocais.

As áreas da comunicação e artes, em especial os locutores, cantores e atores fazem parte do grupo dos profissionais vocais. Para estes a voz é seu principal instrumento de trabalho, embora nem sempre eles tenham consciência disso. É importante ressaltar que para ser um bom profissional desta área é fundamental cuidar bem da voz, mantendo saúde e estética vocal. Para tanto deve-se buscar a orientação e acompanhamento vocal com profissionais habilitados, pois a manutenção saudável e estética da voz garantem a estes permanência no mercado de trabalho.

Hoje, na era da comunicação, já é mito afirmarmos que somente os vocalmente "bem-dotados" podem exercer profissões vocais. As práticas fonoaudiológicas, legalmente reconhecidas na área da saúde, auxiliam no desenvolvimento do potencial vocal saudável sem recursos medicamentosos ou cirúrgicos. Apesar disso, o desconhecimento da higiene vocal tem levado muitos a manifestarem doenças laríngeas leves, e as freqüentes repetições destas afecções chegam até mesmo à agravamentos que culminam em tratamentos cirúrgicos.

O alto índice de alterações vocais nos profissionais da voz tem merecido especial atenção dos fonoaudiólogos, pois a utilização da voz inadequada, resulta em uso abusivo do aparelho fonador. A exposição aos fatores nocivos como falar/cantar prolongadamente em ambientes ruidosos, sem tratamento acústico apropriado, ou mesmo o inocente hábito de pigarrear bruscamente, sempre antes do ato da fala, deixam o falante mais vulnerável. Alguns profissionais utilizam erradamente como prevenção aos problemas vocais pastilhas, conhaques, gengibre, sprays, entre outros. É ainda muito comum encontrarmos locutores, atores e cantores dedicando grande parte do seu tempo em ensaios e preparos de leituras, sem contudo investir igual atenção na forma saudável de apresentá-las.

É preciso conhecer e desenvolver medidas preventivas, mudando pequenos hábitos e comportamentos no nosso cotidiano, não apenas quando a rouquidão aparece. Alguns cuidados básicos devem ser observados, como:

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1. disciplinar os horários de trabalho para que haja repouso vocal após cada apresentação; 2. hidratar-se com 7 à 8 copos de água por dia; 3. evitar a ingestão de drogas inalatórias ou injetáveis que têm ação direta sobre o laringe e a voz, além

de alterações cardiovasculares e neurológicas. 4. evitar o uso do fumo, inclusive da maconha, pois a aspiração provoca um super aquecimento no

trato vocal deixando a voz mais grave (grossa) 5. utilizar roupas leves que permitam a livre movimentação do corpo, principalmente na região do

pescoço e cintura, onde estão situados a laringe e o músculo diafragma; 6. evitar a ingestão de refrigerantes, comidas gordurosas ou condimentadas, pois estes produzem

gases e refluxo gastroesofágico prejudicando os movimentos respiratórios, além de lesar a mucosa; 7. evitar as mudanças bruscas de temperatura no ar ou líquido; 8. realizar exercícios de relaxamento regularmente, liberando a tensão corporal evitando a produção

vocal com esforço e tensão; 9. realizar avaliações auditivas e fonoaudiológicas periódicas. 10.manter a melhor postura da cabeça e do corpo durante a fala ou canto.

O melhor seguro que os profissionais vocais podem fazer para preservar seu instrumento de trabalho é manter a saúde vocal.

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Algumas Dicas Para Uma Boa Voz

Eduardo Guaiato

Aqui estão selecionadas algumas pequenas dicas, a serem colocadas em prática , antes, durante e após a apresentação vocal. Talvez algumas delas, não retratem o ponto de vista de outros colegas, e podem

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também, divergirem de pessoa para pessoa, de acordo com o organismo de cada um. Entretanto, procurei adaptar aquilo que mais se enquadra no "cantar" bem, norteado por amigos profissionais experientes e também, claro, por mim mesmo. Muito bem, vamos a elas...

Procure cantar sempre em pé, com postura ereta. Evite roupas apertadas. Postura ereta, neste caso, não significa rigidez, mas sim, prontidão. Prontidão à respostas imediatas

do organismo, exigidas para uma boa vocalização. Relaxe a musculatura do corpo, principalmente a do tronco. Através de exercícios técnicos, um aquecimento vocal é sempre fundamental antes de cada

apresentação. Após a apresentação, faça repouso vocal. No canto, a hidratação da mucosa é de fundamental importância. Procure tomar pelo menos dois

litros de água por dia. Procure ter ciência do que vai cantar. Isso evitará frustrações por medo, timidez, ansiedade, etc.. No

caso de uma melodia nova, procure estudar o texto em "off ", (sem acompanhamento), isso lhe trará maior segurança posterior.

Com o microfone, é muito importante ouvir sua própria voz. Se sentir que o acompanhamento está lhe incomodando, não hesite em pedir para aumentar o volume, ou pedir para abaixar a "cozinha" (acompanhamento).

Aprenda a reconhecer sua voz, novos timbres, tessituras ( tons graves, médios e agudos), partes ressonantes da máscara facial. É importante você monitorar sua voz, constantemente.

Procure não comer em excesso momentos antes das aulas, e beba água sem gelo durante o aprendizado.

Atenção às comidas super-condimentadas e gordurosas. Não fazem bem para a mucosa e prejudicam o sistema respiratório.

É relevante o hábito de exercícios de relaxamento, procurando evitar uma apresentação sob tensão e esforço.

Não é bem vista a auto-medicação via nasal. Procure antes um especialista. Abomine o uso de bebidas alcoólicas, drogas e fumo, dando ênfase especial à maconha, cuja

aspiração provoca super-aquecimento no complexo vocal, tornando a voz mais grave. Não exagere na ingestão de bebidas quentes em excesso, (chá, café, chocolate, etc..). Cuidado com mudanças bruscas de temperatura, seja por ingestão de líquidos ou fatores climáticos.

Fuja do contato próximo a ares-condicionados e ventiladores. Se não for possível, aumente a ingestão de água à temperatura ambiente.

Nada de esforços vocais desnecessários, como gritar e falar alto. Evite falar demais ao telefone. Ao falar, não force sua tessitura vocal (tons agudos ou graves). Fale no seu tom normal de voz. Por

falar nisso, exija de seu professor para acompanhar no seu tom de voz mais adequado. Ele que se vire se cair em bemóis ou sustenidos, (teclas pretas).

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Mantenha a concentração durante as aulas. Lembre-se de que sua voz é um instrumento que toca através do seu metabolismo, do seu espírito, da sua alma.

Esqueça os problemas extra-aula. Certifique-se de que você necessita de total relaxamento e concentração durante esse período.

Procure, pelo menos uma vez ao ano, visitar um otorrino para uma avaliação médica. Alimentos pesados antes de dormir irritam as pregas vocais. Dormir bem é de fundamental importância. Não cante estressado. É extremamente prejudicial cantar exaustivamente em ambientes de muito barulho, ou sem

tratamento acústico adequado. Evite cantar se não estiver bem de saúde. Até hoje, não ficou cientificamente provado o uso de sprays, gengibre, conhaque, pastilhas, alho na

manteiga, cebola crua, limão com mel, rapadura do Egito, e outras misturas milagrosas, como prevenção aos distúrbios vocais. Respeito a opinião de colegas, mas na minha ótica, é tudo uma questão de auto-sugestão, ou seja, se você por na cabeça que essas poções lhe farão bem, vá em frente, mas deixe seu clínico geral de sobreaviso.

Adquira seu próprio microfone. Uma questão de higiene e identificação.

Aquecimento Vocal - Três Técnicas Básicas

Técnicas para os lábios

Esse exercício é feito com a vibração dos lábios. Para isso, deve-se levar os lábios à frente, elevando o diafragma, para que este sirva de apoio na execução do exercício. Os lábios devem ficar completamente relaxados, para que a passagem de ar entre eles faça-os vibrar. O resultado desta vibração, lembra a pronúncia conjunta das letras BR e poderíamos compará-lo a uma imitação do ronco do motor de uma moto.

Técnica da língua

Esta técnica é realizada com a vibração da língua, lembrando uma pronúncia exagerada da letra R. Para a execução desta técnica, também deve-se elevar o diafragma fazendo com que este proporcione um bom apoio. O som deste exercício nos faz lembrar uma hélice de helicóptero em movimento. Procure passear com estas técnicas por regiões graves e agudas de sua voz.

Técnicas com a letra M

Este exercício é feito para que, a princípio, a pessoa sinta a vibração da letra M internamente e, sobretudo, sinta esta ressonância na região das bochechas (caixa de ressonância da voz).

O efeito deste M interno nada mais é do que a própria preparação bocal que fazemos normalmente para que possamos pronunciar palavras que comecem com esta letra, porém, esta preparação será agora prolongada.

Para se produzir este M interno corretamente, deve-se cerrar os lábios e imaginar um espaço dentro da boca suficiente para caber uma bola de ping-pong. A ponta da língua deve estar em contato com os dentes

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frontais superiores e o som do exercício lembra a pronúncia do nº 1, porém prolongado e com a boca fechada.

É preciso tomar cuidado para que a vibração do som não se torne nasal, pois após um tempo de sustentação deste som, com o apoio da elevação do diafragma, a boca se abre lentamente na pronúncia da sílaba MO, prolongando-se o O.

Para uma boa execução deste exercício, sugiro um prolongamento de quatro tempos, marcados pausadamente, para a sustentação do M interno e mais quatro tempos para a sustentação da letra O.

Este M interior, é muito utilizado na forma de "mantra" (sons utilizados no processo de meditação, que possuem significados importantes nas religiões orientais) e o ideal é que seja pronunciado como forma de reflexão do som que todos nós possuímos e queremos aprender a usar.

Mais uma vez quero ressaltar a importância da elevação do diafragma. Para isso, você pode, a princípio, contrair a barriga, descontraindo-a gradativamente a medida que o exercício é realizado e o ar inspirado no início é solto.

Quando falo das bochechas com caixa de ressonância, é para conscientiza-lo que, trazer a vibração do som exclusivamente para a garganta é um "suicídio vocal" ou seja, um convite a rouquidão ou a aquisição de nódulos vocais, entre outros danos.

Por fim, quero colocar que estes exercícios servem como um aquecimento para as cordas vocais, como um início de utilização do diafragma e devem ser feitos descontraidamente, pois desta forma serão incorporados, assim como a ginga natural de um bom sambista.

Exercícios de Aquecimento Vocal

Relaxamento:

- Circular a cabeça para a Direita e para a esquerda- Circular a cabeça para os lados, para cima e para baixo- Fazer caretas procurando utilizar todos os músculos do rosto- Articular A/E/I/O/U, forçando o diafragma e anasalando as expressões.

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Sibilação:

Execute estas sílabas:Zi - Si - Fi - Chi - Vi - Gui - Qui - Z - S - F - C - V

Para articulação dos RR:Bar - Mur - Per - Vur - Der - Xar - Cor -Ter - Quer - Dru - Cro - Vri - Fra - Tre - Terê - Fará - Viri - Coro - Duru.

Exercício para relaxamento:

Obs. De forma suave, com baixa intensidade.ME - TRÚ - VÊ - JÊ - QUE - GUE - ZÊ - BRÊ

Limpeza das cordas vocais e Fono-Articulação:"O mameluco maluco e melancólico meditava e a megera megalocéfala macabra e maquiavélica mastigava mostarda na maloca, minguadas e míseras miavam na moagem mas mitigavam mais e mais as meninas"

Para leitura lenta:

"E há nevoentos desencantos dos encantos dos pensamentos nos santos lentos dos recantos bentos, dos cantos dos conventos. Prantos de intentos, lentos tantos que encantam os atentos ventos."

Cuidados com a voz

Períodos curtos de rouquidão em adultas geralmente não são motivos de maiores preocupações. Costumam aparecer por causa de gripes que atinge a laringe aonde estão localizadas as cordas vocais.

Dificuldades emocionais também podem estar por trás dos sintomas. A associação entre agressões físicas causadas pelo cigarro, alergias, infecções e o uso inadequado da voz é de fato o agente causador de boa parte dos problemas das cordas vocais.

A ansiedade aumenta a tensão muscular e modifica a postura. O paciente tende a não relaxar o corpo para a respiração diafragmática, a forçar a voz na garganta e até agitar sem motivo.

O tratamento destes casos conjuga exercícios fono, técnicas de relaxamento e diminuição de ansiedade.

Em situações estressantes as pessoas podem perder complemente a voz.

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Solfejo Aplicado ao Canto

Adriano Andrade

Sabemos que a arte de cantar exige muito de todos os cantores em geral, além de cuidar da nossa saúde bucal e também das cordas vocais, respiração que acredito seja a base de todo o processo de canto e técnicas com a dicção das palavras e articulação.

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Page 81: Apostila Do Curso de Canto - Marcio Vilegas

Solfejo: é arte de cantar os sons em forma de notas musicais dentro de sua afinação ou seja sua altura (definição própria). Quando você aplicar o estudo do solfejo nas nossas canções, hinos, as coisas acontecem com facilidade. Cantamos através de música, ou seja, partitura, lendo as notas musicais com seu valor e sua altura (afinação) exata. Fazendo assim ganhamos tempo e fugimos desta coisa que às vezes atrapalha, que é cantar as músicas decoradas.

Para se ter um bom solfejo é preciso estudar escalas no piano acompanhando com a voz nota por nota. Escalas: é a sucessão de 7 notas uma após a outra, da mais grave a mais aguda (ascendente) e vice- versa (descendente). Os sons musicais, ou seja, as notas das escalas, são: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, que cantamos com a sua afinação correta seguida pelo o piano.

Quanto mais praticamos exercícios de escalas, mais conseguimos vencer as dificuldades de cantar afinado. É preciso muita dedicação.

Sempre que cantar antes faça um exercício de no mínimo 5 minutos, praticando as escalas, variando as formas e modelos para melhor assimilação; faça diferentes pronúncias de frases e silabas com as escalas.

Por exemplo: u...u...u...u...u , tátátátá, dádádadádá, iaiaiaia, i.........a......i...........a. Crie outras formas, mas sempre respeitando as formas ascendentes e descendentes e nota por nota.

Espero que após você assimilar bem estas dicas e colocá-las em prática, você descubra a arte de cantar com toda a suas artimanhas. É preciso vencer as dificuldades; "não existe cantor desafinado, mas vozes mal trabalhadas".

Pratique muito os exercícios de escalas, que com certeza você vai aprimorar muito sua maneira de cantar. Ser um cantor afinado é ser um adorador integrado com a obra de DEUS. Que sempre pensemos no melhor, porque Ele é merecedor!!! O segredo do solfejo está na disciplina e principalmente nas escalas.

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