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O Direito brasileiro e a igreja A Constituição legal de uma igreja Sem qualquer pretensão ou interesse de esgotar qualquer assunto entre a legislação e a igreja brasileira, ao contrário, tendo como objetivo contribuir em breves palavras, importantes informações e esclarecimentos do tema, iniciaremos essa seção observando a constituição e a natureza jurídica dispensada pela norma brasileira às igrejas. Inicialmente, é importante compreender como foi estabelecido o regime legal das igrejas em nosso País. O Brasil, um Estado Democrático de Direito, que adotou o regime republicano[1], estabeleceu como Lei, acima de todas as Leis, a Constituição Federal, que vigora desde 1988. As demais leis, infraconstitucionais, como, por exemplo, o Código Civil, Código Penal, entre tantas outras, deverão sempre estar em total consonância com o que determina a Constituição Federal, sob pena de serem declaradas inconstitucionais no todo ou em algum de seus dispositivos. O legislador constituinte, em 1988, procurou preservar a independência da Igreja com relação ao Estado, e, nesse sentido, estabeleceu alguns dispositivos na Constituição Federal cujo conhecimento é de extrema importância para a Igreja Brasileira: artigo 5º, inciso VI - “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;” inciso VIII - “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

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Apostila de Noções de Direito

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Page 1: Apostila de Noções de Direito

O Direito brasileiro e a igreja

A Constituição legal de uma igreja

Sem qualquer pretensão ou interesse de esgotar qualquer assunto entre a legislação e a igreja brasileira, ao contrário, tendo como objetivo contribuir em breves palavras, importantes informações e esclarecimentos do tema, iniciaremos essa seção observando a constituição e a natureza jurídica dispensada pela norma brasileira às igrejas.

Inicialmente, é importante compreender como foi estabelecido o regime legal das igrejas em nosso País.

O Brasil, um Estado Democrático de Direito, que adotou o regime republicano[1], estabeleceu como Lei, acima de todas as Leis, a Constituição Federal, que vigora desde 1988. As demais leis, infraconstitucionais, como, por exemplo, o Código Civil, Código Penal, entre tantas outras, deverão sempre estar em total consonância com o que determina a Constituição Federal, sob pena de serem declaradas inconstitucionais no todo ou em algum de seus dispositivos.

O legislador constituinte, em 1988, procurou preservar a independência da Igreja com relação ao Estado, e, nesse sentido, estabeleceu alguns dispositivos na Constituição Federal cujo conhecimento é de extrema importância para a Igreja Brasileira:

artigo 5º, inciso VI - “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”

inciso VIII - “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

artigo 19, inciso I - “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na

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forma da lei, a colaboração de interesse público;”

E, no artigo 150, VI, b, determinou ainda que:

“Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI – instituir impostos sobre: b) templos de qualquer culto;”

Como se vê, a Constituição Federal deixou clara a não interferência do Estado sobre a Igreja. Assim, por falta de um regime jurídico no Código Civil para regulamentá-la, a igreja evangélica brasileira, na maioria de suas denominações (Batista, Presbiteriana, Pentecostal, etc), até o ano de 2002, ainda na vigência do Código Civil “antigo” regido pela Lei n. 3.071 de 1916, tinha natureza jurídica a associação civil.

Ocorre que, com o atual Código Civil, regido pela Lei 10.406, em vigor desde 11 de Janeiro de 2003, o legislador determinou que a igreja passaria a ter a natureza jurídica de associação, nos termos dos artigos 53 a 61.

A dificuldade de submeter a Igreja ao regime de associação é que ela passa a não deter total liberdade para administrar suas questões internas de maneira independente, sem a interferência do Estado. Desta forma, o legislador do Código Civil, contrariou o que o legislador constituinte estabeleceu na própria Constituição Federal. Exemplo dessa contrariedade se verifica no artigo 60 do Código Civil, que determina que: “A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-la”.

Com esta determinação legal, a Igreja se fragilizou e estava sujeita a que uma minoria composta de 1/5 (um quinto), com poderes para convocar assembléias, deliberasse sobre assuntos como: estabelecer uma disciplina a um de seus membros, ou até mesmo a constrangedora situação de excluir o líder/ministro religioso/pastor. Este grupo teria poderes, ainda, para deliberar sobre quaisquer outros assuntos, levando-os para votação e eventual decisão, afetando a totalidade da igreja.

Ou seja, quando o legislador (o Estado) estabeleceu que 1/5 (um quinto) dos membros teria direito de convocar assembléia para deliberação de algum assunto, muitas vezes de exclusivo interesse dessa minoria, e não da igreja, acabou por interferir na organização e administração da Igreja, condicionando sua administração, sua organização, suprimindo sua constitucional e garantida liberdade ao

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exercício de culto e a sua liturgia.

Mas, o momento que o “novo” Código Civil entrou em vigência, o Brasil também passava por um importante momento histórico, pois coincidiu com o primeiro ano do primeiro mandato do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, como o Código impôs prazo para as igrejas se adequarem ao novo regime legal, até 11 de Janeiro de 2007[2], diante da nítida inconstitucionalidade praticada pelo legislador que criou o então “novo” Código Civil, e da reação da Igreja brasileira em sofrer uma interferência estatal, enquanto a Constituição Federal de 1988 lhe garantia a liberdade religiosa e a prática de culto, em 23 de Dezembro de 2003 foi publicada a Lei Federal nº 10.825, que alterou o Código Civil em seu artigo 44, acrescentando a organização religiosa como mais uma modalidade entre as pessoas jurídicas de direito privado, isentando-a do cumprimento daquele prazo estabelecido para reforma e adequação de seus estatutos para o regime de associação civil.

Então, o Código Civil assim passou a legislar sobre a Igreja no Brasil:

Art. 44 – São pessoas jurídicas de direito privado:

I – as associações;

II – as sociedades;

III – as fundações;

IV – as organizações religiosas;

V – os partidos políticos.

§1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao funcionamento.

§2º As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.

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§3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme disposto em lei específica.

Como se vê, o legislador reparou o erro e criou a pessoa jurídica “organização religiosa” para conferir esse regime jurídico às igrejas, não mais submetidas ao equivocado regime e natureza jurídica de associação civil, esclarecendo, ainda, no §1º que a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas é livre, proibindo ainda o Poder Público de não reconhecer ou não registrar seus atos constitutivos e necessários ao funcionamento da igreja.

Daí se conclui, portanto, que a Igreja no Brasil recebeu o tratamento legal de ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA, com liberdade de estruturação e funcionamento, que, para se materializar, exige que seus atos constitutivos sejam reduzidos a um instrumento particular ou público, já que a legislação não exige a forma de instrumento público[3] para registro de seus atos perante o respectivo cartório registral. Este documento é denominado ESTATUTO SOCIAL da igreja.

Como a Lei garantiu a liberdade de estruturação e funcionamento, cada igreja poderá estabelecer em seu estatuto social as normas e regras que melhor atenderem sua doutrina, filosofia e objetivos. Todavia, alguns requisitos são essenciais a qualquer estatuto social, e nesse sentido, o artigo 54, que dispõe sobre o estatuto das associações, serve como direção na elaboração do estatuto da igreja:

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:

I – a denominação, os fins e a sede da associação;

II – os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

III – os direitos e deveres dos associados;

IV – as fontes de recursos para sua manutenção;

V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos

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deliberativos;

VI – as condições para alteração das disposições estatutárias e para a dissolução;

VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

Com o estatuto social elaborado, é necessário seja aprovado através de uma Assembléia Extraordinária, que votará a aprovação do referido estatuto e respectiva fundação da igreja. Uma ata deverá ser lavrada, consignando a votação, com assinatura de todos os presentes votantes, e esses documentos devem ser levados ao Cartório de Registro de Títulos e Documentos Civil e de Pessoas Jurídicas competente pelo local da igreja, requerendo o registro do ato constitutivo.

A partir do registro, a igreja também terá que ser inscrita perante a Receita Federal, no Cadastro Nacional da Pessoas Jurídicas para obtenção do número do CNPJ, atendendo as instruções determinadas pela Receita Federal para tanto.

Pronto, a igreja está constituída legalmente. A partir de então, conforme for estabelecido no estatuto social, recomenda-se que todas as assembléias sejam sempre lavradas em atas e levadas a registro no mesmo cartório onde se encontram já registrados os demais atos constitutivos (estatuto social).

[1] República – res publica – coisa pública – regime pelo qual o povo governa, através da eleição direta daqueles que os representa, para governar o Estado, tendo o Presidente da República como chefe do Poder Executivo Federal, o Governador como chefe do Poder Executivo no âmbito Estadual, bem como o Prefeito como chefe do Poder Executivo no âmbito Municipal.

[2] Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007.

[3] Instrumento público é aquele elaborado, lavrado, de competência,

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geralmente, do Tabelião de Notas (Cartório de Notas).

AS IGREJAS E SUAS OBRIGAÇÕES LEGAIS No Brasil vige o princípio constitucional da separação Igreja-Estado, não podendo o Estado intervir com relação a questões religiosas, espirituais ou de fé, bispos, pastores, ministros, diáconos, presbíteros, evangelistas etc, para os quais não existe qualquer regramento legal, tendo a Organização Religiosa, qualquer seja sua confissão de fé, toda a autoridade de estabelecer os critérios para o exercício destas funções eclesiásticas, em face da garantia da ampla liberdade religiosa constitucional, pressupondo respeito a lei, inclusive, no exercício da fé.       Contundo, é vital registrar que, para o ordenamento jurídico brasileiro, a Igreja, enquanto organização social, é pessoa jurídica de direito privado, como disciplinado no Código Civil, e sua diretoria estatutária responde judicialmente pelos danos causados a Instituição de Fé, aos membros e a terceiros, independente de ter havido culpa (ação involuntária) ou dolo (ato intencional) pelo causador, pois desde a Constituição Federal de 1988, graças a Deus, vivemos num Estado Democrático de Direito, o que pressupõe uma atuação ética eclesiástica. Destacamos, para exemplificação algumas áreas e aspectos legais nas quais as Igrejas, Entidades Eclesiásticas ou Instituições de Fé, estão obrigadas a respeitar, tais como quaisquer organizações associativas, junto a Sociedade Civil Organizada. Área civil: orientar que só os membros civilmente capazes, em geral os maiores de 18 anos, devem participar de assembléias deliberativas, votando ou sendo votados, podendo legalmente ser eleitos para quaisquer cargos de diretoria estatutária, conselho fiscal, conselho de ética, exatamente numa proposição de governança ética etc; Estatutária: ter o Estatuto Associativo averbado no Cartório do RCPJ, que é uma espécie de Certidão de Nascimento da Organização Religiosa o qual possibilita o cumprimento de deveres e o exercício de direitos, inclusive na obtenção de seu CNPJ na Receita Federal; Associativa: que os membros devem possuir um exemplar do Estatuto, onde constam seus direitos e deveres, e que a exclusão dos membros deve ser efetivada com procedimentos bíblicos e legais, sob pena de reintegração por descumprimento estatutário e direito a indenização de dano moral por exposição ao vexame público etc. Tributária: usufruir o direito à imunidade da Pessoa Jurídica, com relação a impostos, requerendo o reconhecimento junto aos órgãos públicos, e obrigatoriedade de apresentação da declaração de imposto de renda anual, além de reter e recolher ao Fisco o imposto devido pelo pastor, ministros e funcionários, além da obrigação com os demais tributos, tais como: taxas e contribuições, especialmente as sociais; Trabalhista: registrar a Carteira de Trabalho dos seus prestadores de serviço, pagando seus direitos em dia, tendo o Zelador(a) o direito a receber as horas extras prestadas, e, que sua família, se não for contratada, não tem obrigação de prestar serviços a Igreja, sob pena desta também ter direito a pleitear indenização trabalhista etc; Voluntariado: ter consciência de que a Lei do Voluntariado não se aplica as Igrejas e Organizações Religiosas, não devendo a Igreja utilizar mão-de-obra de irmãos e irmãs que não seja direcionada para “atos de fé”, como: Diretoria Estatutária, Professor da EBD, Regente do Coro da Igreja, Grupos Musicais, Lider de Grupos de Oração, Presidente das Sociedades Internas: Homens, Mulheres, Jovens etc. 

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Previdenciária: quitar mensalmente as contribuições sociais de seus empregados, e, facultativamente de seus pastores e ministros etc; Administrativa: respeito às atribuições dos diretores estatutários - presidente, vice-presidente, secretários, tesoureiros, conselho fiscal, conselho de ética, no cumprimento de suas funções, realização de assembléias periódicas, manutenção dos livros de atas etc. Criminal: evitar e inibir a pratica de ilícitos penais, por sua liderança ou fiéis, tais como a prática do charlatanismo, respeito lei do silêncio etc; Financeira: não expor, de forma vexatória, lista pública de dízimistas ou não, sendo importante à instituição de um Conselho Fiscal, com a prestação de contas das contribuições recebidas, com a apresentação de balanços contábeis periódicos aos membros, numa visão de transparência, sobretudo na comprovação de aplicação nos seus fins; Imobiliária: reunir-se em local que possua Alvará ou Autorização Municipal, ou quando for o caso de construção nova “Habite-se”, e ainda, o Certificado da Vistoria do Corpo de Bombeiros etc; Responsabilidade civil: manutenção de instalações de alvenaria, elétricas e hidráulicas em bom estado de conservação, extintores de incêndio, saídas de emergências etc, sendo recomendado, a contratação de um seguro contra incêndio e acidentes no templo e dependências, e, para veículos da Igreja; Obrigação moral e espiritual relativa aos pastores e ministros religiosos que devem ser sustentados condignamente através dos rendimentos eclesiásticos. Que possamos “Dar a César o que de César e a Deus o que de Deus”, sendo exemplo dos fiéis, inclusive nas questões legais, tem sido o mote do exercício de nosso Ministério de Atalaia Jurídico. 

ASPECTOS ADMINISTRATIVOS, JURÍDICOS E CONTÁBEIS DAS IGREJAS                                                                                                                              Gilberto Garcia* A mídia nacional como publicado pela Revista Época - Edição Dupla de Aniversário - nº. 575, O Brasil em 2020, “Metade do Brasil será evangélica? Estudiosos afirmam que o crescimento da religião pode dar uma nova cara ao país.”, tem destacado o crescimento da população evangélica  no Brasil. Segundo Época: “[...]Em 1960, os evangélicos eram apenas 4% da população.  Hoje, na falta de estatísticas recentes, estima-se que sejam quase 24%. Agora os estudiosos da Sepal (Serviço de Evangelização para a América Latina,  [órgão] protestante de estudos teológicos) prevêem que em 12 anos essa proporção poderá dobrar.[...]”, e, profetiza: “a influência evangélica em 2020 contribuirá para a diminuição no consumo do álcool, o aumento da escolaridade e a diminuição no número de lares desfeitos, já que a família é prioridade para os evangélicos [...]”. Neste mesmo sentido pesquisas apontam que atualmente existem cerca de 200 mil templos e 2 mil denominações representando os evangélicos em nosso país, confirmando os números que apontam que estes somam aproximadamente 40 milhões brasileiros, além do grande crescimento de outros grupos religiosos.  Ocorre que inúmeras Igrejas e Organizações Religiosas, incluindo Casas de Santo, Mosteiros, Sinagogas, Terreiros de Umbanda e Candomblé, Templos Católicos, Mesquitas Mulçumanas, Espaços Orientais, Centros Espíritas etc, na maioria das vezes, por falta de conhecimento de seus líderes, não tem qualquer registro legal, seja administrativo, jurídico ou contábil. Contribuindo para que a fé do cidadão seja exercida dentro da lei a Universidade de Guarulhos/SP está disponibilizando, em parceria com o Instituto Keynes, de Londrina/PR, iniciando-se pelo Centro da Capital Paulistana, instrumentalização para líderes religiosos, numa proposição de organizações eclesiásticas com legalidade, com abertas inscrições e informações no Portal da UnG - www.ung.br “Curso Aspectos Administrativos, Jurídicos e Contábeis das Igrejas na UnG:PÚBLICO-ALVO. Ministros Religiosos, Obreiros, Pastores, Presbíteros, Religiosos(as), Evangelistas, Diáconos, Advogados, Administradores, Contadores, Estudantes de Teologia, Direito, Contabilidade e interessados em Gestão de Igrejas e Organizações Eclesiásticas.

CONTEÚDO. A Constituição Federal e a Liberdade Religiosa; O Código Civil e a Igreja; Estrutura Jurídica de uma Organização Religiosa; Sistemas de Governos Eclesiásticos; Estrutura de Governança Eclesiástica; Responsabilização dos Administradores e Associados Eclesiásticos; Exclusão de Membros e a Indenização por Danos Morais; Alvará e Habite-se; A Legalidade de Atas e Assembléias; Implicações Tributárias e Leis Trabalhistas das Igrejas.

MINISTRANTE. Prof. Msc. Gilberto Garcia. Advogado; Mestre em Direito; Especialista em Direito Religioso relativo as Igrejas e Organizações Eclesiásticas; Professor Universitário;  Conselheiro Estadual da OAB/RJ: 2007/2009, e  Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros; Autor dos Livros: "O Novo Código Civil e as Igrejas" (2003) e "O Direito Nosso de Cada Dia" (2004), Editora Vida, e, "Novo Direito Associativo" (2007), e, ainda Co-Autor na Obra Coletiva: "Questões Controvertidas - Parte Geral do Código Civil" (2007), Editora Método, além do DVD - "Implicações Tributárias das Igrejas" (2008), Editora CPAD;   Idealizador  e Gestor do Site Direito Nosso.

LOCAL. Shopping Light – Esquina com Viaduto do Chá – Capital Paulista. Rua Xavier de Toledo, nº 23, 4º Andar -

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Centro - São Paulo / SP.

PERÍODO. Aulas quinzenais aos sábados, das 9h às 16h – Março, Abril e Maio/2010: 06 e 27/03/2010; 10 e 24/04/2010; e, 08 e 29/05/2010.

CARGA HORÁRIA. 60 horas, sendo: 36 horas / presenciais - 24 horas/ semipresenciais. Informações e Inscrições: Fone - 0800.15.88.22

INVESTIMENTO. R$ 200,00 (duzentos reais) – pagamento até 30/11/2009;R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais) – pagamentos de 01/12/2009 até 31/12/2009; R$ 300,00 (trezentos reais) – pagamentos de 04/01/2010 até 31/01/2010; R$ 350,00 (trezentos e cinqüenta reais) – pagamentos de 01/02/2010 até 27/02/2010.”. Em função deste desconhecimento de que as normas legais se aplicam de igual maneira a todas as Igrejas e Organizações Religiosas, qualquer seja sua confissão espiritual, que temos tido diversos líderes religiosos, de inúmeras vertentes de fé, envolvidos em situações delicadas com a justiça dos homens. É vital destacar que o Estado, através dos poderes constituídos, não pode intervir no exercício da fé, espiritualidade ou religiosidade do cidadão brasileiro, devendo sim assegurar a liberdade religiosa constitucionalmente vigente em nosso país. *Gilberto Garcia é Advogado, Pós-Graduado, Mestre em Direito. Especialista em Direito Religioso, Professor Universitário, Conselheiro Estadual da OAB/RJ: 2007/2009, e,  Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros. Autor dos Livros: "O Novo Código Civil e as Igrejas" (2003) e "O Direito Nosso de Cada Dia" (2004), Editora Vida, e, "Novo Direito Associativo" (2007), e, ainda Co-Autor na Obra Coletiva: "Questões Controvertidas - Parte Geral do Código Civil" (2007), Editora Método, além do DVD - "Implicações Tributárias das Igrejas" (2008), Editora CPAD. Site: www.direitonosso.com.br

LEGISLAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA - IGREJAS & PASTORES I “Pastor é condenado por sonegação fiscal em Maringá a dois anos e meio de prisão e 200 dias-multa, valor que pode ultrapassar R$ 40 mil. (...). A sentença foi firmada no dia 16 de fevereiro, pelo juiz substituto da Vara Federal Criminal de Maringá/PR.”. [...] Os réus [o pastor e sua esposa] alegaram que viviam da venda de produtos particulares, como livros bíblias e CDs, e que o dinheiro obtido com essas vendas era depositado nas contas da igreja Só o Senhor é Deus. Para o juiz, essas declarações, quando junto com as demais provas, demonstram a intenção dos acusados de esconderem os fatos - “ou seja, a utilização em proveito próprio do dinheiro daIgreja Evangélica Missionária Só o Senhor é Deus, sem a declaração de tais rendimentos no ajuste anual do Imposto de Renda de pessoa física”. [...].como noticiou o Jornal Paraná On-Line. Esta notícia não é isolada, demonstrado uma realidade que precisamos estar atentos, pelo que, temos conhecimento através de membros das Igrejas que existem pastores que estão orientando as Igrejas que estas não devem proceder a retenção do imposto de renda na fonte, por isso é vital alertar as lideranças eclesiásticas que pelo Regulamento do Imposto de Renda vigente, é da Igreja - Pessoa Jurídica de Direito Privado, a responsabilidade pelo desconto no Sustento Ministerial concedido ao Pastor-Ministro, bem como, o recolhimento junto a Receita Federal, devendo o obreiro lançar em sua declaração anual de renda os valores retidos. De igual maneira, estão sujeitos os Ministros de Confissão Religiosa, pastor ou auxiliares, que percebem valores, abrangidos pela tabela do imposto de renda, divulgada pela Receita Federal do Brasil, sob qualquer título, de forma direta, que é sustento ministerial, ou indireta, que podem ser, ajuda de aluguel de imóvel, condomínio, plano de saúde, aposentadoria privada, escola dos filhos, cursos, viagens etc, em espécie ou em benefícios concedidos pela Igreja, e aí reter na fonte, e, recolher referidos valores devidos aos cofres federais, como declarado por um auditor fiscal a uma Igreja.      A imunidade fiscal da Igreja-Pessoa Jurídica, que é prerrogativa constitucional, não se confunde com as Pessoas Físicas que as integram, por isso, não exime as Igrejas e Organizações Religiosas da obrigação de descontar o Imposto de Renda e Recolher ao Fisco, sendo objetivo quando menciona que os rendimentos pagos ou creditados, como se caracterizam: “Sustento Ministerial”, “Rendimento Eclesiástico”, “Provento Pastoral”, “Prebenda Religiosa” etc, estão sujeitos a retenção do I.R.R.F - Imposto de Renda Retido na Fonte.    Daí sua incidência legal, como disciplina o Artigo 167 do Regulamento do Imposto de Renda/99,  “As imunidades, isenções e não incidências de que trata este Capítulo não eximem as pessoas jurídicas das demais obrigações previstas neste Decreto, especialmente as relativas à retenção e recolhimento de impostos sobre rendimentos pagos ou creditados e à prestação de informações (Lei nº 4.506, de 1964, art. 33). Parágrafo único.  A imunidade, isenção ou não incidência concedida às pessoas jurídicas não aproveita aos que delas percebam rendimentos sob qualquer título e forma (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 31).”    Desta forma, referida a obrigação fiscal das Igrejas e Organizações Religiosas só pode ser alterada através de lei federal, como por exemplo é nos EUA, onde a norma legal não prevê a incidência de imposto de renda sobre o rendimento dos ministros religiosos, bem como, contempla que as doações dos fiéis concedidas as Igrejas podem ser deduzidas no pagamento do Imposto de Renda, o que também não é possível em nosso sistema legal.    

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Já temos notícias de Igrejas e Organizações Religiosas que foram multadas, processadas judicialmente, e, inclusive algumas perdendo a prerrogativa da imunidade, na medida em que é Pessoa Jurídica de Direito Privado que responde diante da Receita Federal do Brasil, também denominada “Super-Receita”. Com a aglutinação da Secretaria da Receita Federal com os órgãos do INSS responsáveis pelo recolhimento e fiscalização previdenciária, a “Super-Receita” tem apertado a fiscalização, especialmente de quem não tem feito a retenção ou o não recolhimento dos valores devidos ao Fisco Nacional. Gilberto Garcia é Mestre em Direito, Conselheiro Estadual da OAB-RJ e Sócio Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros. Professor Universitário, Especialista em Direito Religioso e Autor dos livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida, e, “Novo Direito Associativo”, e, Co-autor da Obra Coletiva: “Questões Controvertidas - Parte Geral Código Civil”, Editora Método, e, do DVD - Implicações Tributárias das Igrejas, Editora CPAD. Site: www.direitonosso.com.br   

A LEGISLAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA E AS IGREJAS - PARTE II                                                                                                                            Gilberto Garcia*

  A Constituição Federal de 1988, no artigo 150, estabelece que “... Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios ...”, “... VI – instituir impostos sobre: a) ...;  b) templos de qualquer culto ...”, § 4º, “As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c,compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.” Tributo é gênero, imposto é espécie. De igual forma que o gênero humano, criado por Deus, possui duas espécies, macho e fêmea. Assim a Igreja, como afirmamos, é imune de impostos, incidentes sobre seu templo, mas não de outros tributos, tais como taxas e contribuições de melhoria, estabelecidos no Código Tributário Nacional.  No que tange as taxas que incidem sobre suas dependências, casa pastoral, veículos etc, e ainda, outras de iluminação pública municipal, de limpeza urbana, bem como a contribuição de melhoria, estas são tributos devidos pela Igreja. A isenção é um “privilégio fiscal” que o poder público, seja o federal, o estadual ou municipal, pode conceder e retirar quando bem lhe aprouver, é claro que quando concede através de Lei Especifica, só poderá retirá-lo, com a aquiescência do poder legislativo, através de outra Lei Especifica. Referida isenção deve ser requerida, comprovando-se que as contas estão em nome da Igreja, sendo a mesma Pessoa Jurídica e atendidos os preceitos estabelecidos pelas Normas Federais, Estaduais ou Municipais, que regulamentam a concessão do respectivo beneficio legal junto as concessionárias. É a própria Carta Magna que concedeu as Igrejas, de qualquer confissão religiosa, a “prerrogativa da imunidade” relativa aos impostos, ou seja, é proibido ao poder público, seja em nível Federal, Estadual ou Municipal, instituir impostos que incida sobre seus templos, independente da orientação espiritual adotada pela Instituição de Fé. O Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência, ou seja, decisão definitiva, especificando que “Templo” não é só o espaço físico do culto religioso, e sim todos os bens da Organização Religiosa, os quais devem estar registrados em nome da Igreja - Pessoa Jurídica de Direito Privado, desde que, de forma direta, estejam também a serviço do culto, escola dominical, ensaio de coros etc. Como decidido pela maior corte judicial do país, esta imunidade tributária relativa aos templos de qualquer culto, relaciona-se a seu “patrimônio, renda e os serviços”, abrangendo o prédio, veículos, móveis, equipamentos, utensílios etc, os quais são necessariamente utilizados na atividade religiosa, desde que “relacionados com as finalidades essências das entidades nelas mencionadas.” A Igreja deve requerer junto aos órgãos públicos o “reconhecimento da imunidade”, eis que ela já possui a “prerrogativa constitucional”, pelo fato de ter sido constituída como Organização Religiosa, juntando o Estatuto Associativo devidamente averbado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, a Ata da Diretoria Eleita, também registrada no Cartório, bem como, as comprovações da propriedade dos bens, tais como: a Escritura de Compra e Venda do Imóvel, averbado no Cartório do Registro Geral de Imóveis etc.  Assim a prefeitura municipal, ou órgãos estaduais ou federais, não estão fazendo nenhum favor ao reconhecer referida imunidade constitucional da Igreja, relativo ao I.P.T.U. (Imposto Predial Territorial Urbano), ou outros impostos, tais como: ITBI (Imposto Predial Territorial Urbano), ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículo Automotor), IPI (Imposto sobre Produto Industrializado), IRRF (Imposto sobre a Renda), e ainda, ISS (Imposto sobre os Serviços), e quaisquer outros impostos que existem ou forem criados. A Igreja, como qualquer instituição da sociedade civil, esta sujeita a Legislação Federal do Imposto de Renda, que a obriga a entregar Declaração Anual a Receita Federal, bem como é sua responsabilidade legal, em nível

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federal, reter e recolher os valores devidos ao fisco de seus ministros religiosos e/ou prestadores de serviços, sejam funcionários ou autônomos. *Gilberto Garcia é Mestre em Direito, Conselheiro Estadual da OAB-RJ e Sócio Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros. Professor Universitário, Especialista em Direito Religioso e Autor dos livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida, e, “Novo Direito Associativo”, e, Co-autor da Obra Coletiva: “Questões Controvertidas - Parte Geral Código Civil”, Editora Método, e, do DVD - Implicações Tributárias das Igrejas, Editora CPAD. Site: www.direitonosso.com.br 

A IGREJA E O CUIDADO COM AS INFRAÇÕES PENAIS Dr. Gilberto Garcia

 A Igreja, na qualidade de pessoa jurídica de direito privado, está, da mesma forma que outras entidades, sujeita a cometer, através de seus representantes legais, delitos penais. Em nosso sistema legal, o direito penal, está fundado no princípio esculpido no brocardo latino, “Nullum crimen, nula poena sine legis”, ou seja, “Não há crime, sem lei anterior que o defina”.  Assim destacamos algumas práticas que podem ensejar numa ação ilícita e com conseqüência legais, eis que, uma determinada atitude pode ser deselegante, antipática, não cristã, incorreta, antiética ou mesmo imoral, sem ser ilegal, se esta não estiver tipificada, descrita especificamente de forma detalhada como tal.  A Constituição Federal resguardou a Igreja em suas manifestações de fé, no seu art. 5º, inciso VI, CF/88 – “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício de cultos religiosos e garantidos, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”.  Destaco, para o conhecimento de nossos líderes, algumas questões penais, que reputamos de maior interesse, as quais podem envolver nossas Igrejas, como instituição da sociedade civil, seja como “agente causadora”, ou “paciente atingida” de infrações criminais.  Esta religiosidade é respeitada e protegida pelos poderes republicanos constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário, em suas esferas: Federal, Estadual e/ou Municipal, estando mesmo, em algumas questões jurídicas limitado, conforme determinação legal, a proceder citação judicial no culto religioso, como previsto no art. 217 do Código de Processo Civil, “Não se fará, porém a citação, salvo para evitar o perecimento do direito: I – a quem estiver assistindo a qualquer ato de culto religioso...”.  A liderança da Igreja, especialmente seus diretores estatutários, presidente, vice, secretários, tesoureiros, conselho fiscal, conselho de ética etc, devem estar atentos para não incorrer na violação de “divulgação de segredo”, estabelecida no art. 153 do Código Penal, “Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem!..”. Deve o líder eclesiástico evitar a propagação de meias-verdades, que na realidade são inverdades inteiras, como orientar sua congregação a não fazê-lo, diante do risco de atingir a honra das pessoas, congregados ou não, à qual tem proteção Constitucional, e que a justiça prevê ser devidamente indenizado o dano moral causado a terceiros. De igual forma, também dá ensejo à indenização por dano moral quando se infringi a norma legal, a divulgação de segredo compartilhado em função da ocupação exercida, que é ao mesmo tempo direito e dever do ministro de confissão religiosa, qualquer seja sua expressão de fé, aplicando-se ao pastor, padre, rabino, sheik etc, que também se atinge ao advogado e ao psicólogo, eis que tal prática é definida

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como crime pelo Código Penal no artigo 154: “Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem." O legislador penal também se preocupou com relação à necessidade de se respeitar a manifestação de fé de uma pessoa, independente de sua crença, de acordo com o artigo 208 do Código Penal, “Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa, impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso, vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso (...)”.  Outra questão que tem trazido grandes dissabores às Igrejas é a chamada “Perturbação do sossego alheio”, regulado na Lei de Contravenções Penais, no artigo 43, Inciso III: “Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios (...) III – Abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos”. Tenho conhecimento de que em grandes cidades como no Rio e SP, diversas Igrejas Evangélicas foram multadas, em valores vultuosos, por desrespeitarem as regras relativas ao sossego na cidade.  De igual maneira deve ter cuidado o Ministro Religioso com o registrado no art. 238, Código Penal: "Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento. (...)"., só realizando cerimônias religiosas, com efeito civil, com a devida autorização legal.  Outro importante cuidado é o registrado na Lei das Contravenções Penais, art. 27: "Explorar a credulidade pública mediante sortilégios, predição do futuro, explicação de sonho, ou práticas congêneres (...)". E, ainda, é necessário atenção para Lei de Assédio Sexual - Lei 10.224/2001, à qual acrescentou ao Código Penal, o texto do art. 216-A. "Constranger alguém com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. (...)".Artigo 226, inciso II, do Código Penal: "A pena é aumentada da Quarta parte: (...) II - se o agente é ascendente, pai adotivo, padrasto, irmão, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.". Grifos Nossos. Neste tempo de cuidados com as infrações penais necessário se faz, que os líderes do povo de Deus, estejam atentos para a influenciarem na elaboração e o cumprimento das leis que afetam a Igreja, enquanto peregrina nesta terra, eis que nós cristãos possuímos a condição de cidadãos de duas pátrias. “Bem aventurados os que observam o direito, que praticam a justiça em todos os tempos ”. Salmo 106:3 *Gilberto Garcia é Advogado, Pós-Graduado e Mestre em Direito. Consultor Jurídico de Igrejas, Instituições e Organizações Evangélicas. Professor Universitário e Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil - Rio de Janeiro. Autor dos Livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida, e, “Questões Controvertidas - Parte Geral do Código Civil”, e “Novo Direito Associativo”, Editora Método. Site: www.direitonosso.com.br  

AS IGREJAS E AS OBRIGAÇÕES LEGAIS No Brasil vige o princípio constitucional da separação Igreja-Estado, não podendo o Estado, intervir com relação à eleição e/ou nomeação dos oficiais da Igreja, sejam apóstolos, bispos, pastores, ministros, diáconos, presbíteros, evangelistas etc, para os quais não existe qualquer regramento legal, tendo a Organização

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Religiosa, qualquer seja sua confissão de fé, toda a autoridade de estabelecer os critérios para o exercício destas funções eclesiásticas, em face da garantia da ampla liberdade religiosa constitucional.       É vital registrar que, para o ordenamento jurídico brasileiro, a Igreja é pessoa jurídica de direito privado, como disciplinado no Código Civil, e sua diretoria estatutária responde judicialmente pelos danos causados a Instituição de Fé, aos membros e a terceiros, independente de ter havido culpa (ação involuntária) ou dolo (ato intencional) pelo causador, pois desde a Constituição Federal de 1988, graças a Deus, vivemos num Estado Democrático de Direito. Destacamos, para exemplificação algumas áreas e aspectos legais nas quais as Igrejas, Entidades Eclesiásticas ou Instituições de Fé, estão obrigadas a respeitar, tais como quaisquer organizações associativas, junto ao Estado, como a civil: orientar que só os membros civilmente capazes, em geral os maiores de 18 anos, devem participar de assembléias deliberativas, votando ou sendo votados, podendo legalmente ser eleitos para quaisquer cargos de diretoria estatutária, conselho fiscal, conselho de ética etc; Estatutária: ter o Estatuto Associativo averbado no Cartório do RCPJ, que é uma espécie de Certidão de Nascimento da Organização Religiosa o qual possibilita o cumprimento de deveres e o exercício de direitos, inclusive na obtenção de seu CNPJ na Receita Federal; associativo: que os membros devem possuir um exemplar do Estatuto, onde constam seus direitos e deveres, e que a exclusão dos membros deve ser efetivada com procedimentos bíblicos e legais, sob pena de reintegração por descumprimento estatutário e processo de dano moral por exposição ao vexame público etc. Seguem outras áreas, como a tributário: direito à imunidade da Pessoa Jurídica, com relação a impostos, e obrigatoriedade de apresentação da declaração de imposto de renda anual, além de reter e recolher ao Fisco o imposto devido pelo pastor, ministros e funcionários; trabalhista: registrar a Carteira de Trabalho dos seus prestadores de serviço, pagando seus direitos em dia etc; previdenciário: quitar mensalmente as contribuições sociais de seus empregados, e, facultativamente de seus pastores e ministros etc; administrativa: respeito às atribuições dos diretores estatutários - presidente, vice-presidente, secretários, tesoureiros, conselho fiscal, conselho de ética, no cumprimento de suas funções, realização de assembléias periódicas, manutenção dos livros de atas etc. E, finamente, mais algumas, como a criminal: evitar e inibir a pratica de ilícitos penais, por sua liderança ou fiéis, tais como a prática do charlatanismo, respeito lei do silêncio etc; financeiro: não expor, de forma vexatória, lista pública de dízimistas ou não, sendo importante à instituição de um Conselho Fiscal, com a prestação de contas das contribuições recebidas, com a apresentação de balanços contábeis periódicos aos membros; imobiliária: reunir-se em local que possua Alvará, onde houver exigência legal, e/ou “Habite-se” da construção, junto à prefeitura, vistoria do Corpo de Bombeiros etc; Responsabilidade civil: manutenção de instalações de alvenaria, elétricas e hidráulicas em bom estado de conservação, extintores de incêndio, saídas de emergências etc, sendo recomendado, a contratação de um seguro contra incêndio e acidentes no templo e dependências da Igreja; além da obrigação moral e espiritualrelativa aos pastores e ministros religiosos que devem ser sustentados condignamente através dos rendimentos eclesiásticos. Que possamos “Dar a César o que de César e a Deus o que de Deus”, sendo exemplo dos fiéis, inclusive nas questões legais, tem sido o mote do exercício de nossoMinistério de Atalaia Jurídico. Gilberto Garcia é advogado, pós-graduado, mestre em direito. Professor Universitário e Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil - Rio de Janeiro. Autor dos livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida, e, Co-autor da Obra Coletiva: “Questões Controvertidas - Parte Geral Código Civil”, e, “Novo Direito Associativo”, Editora Método. Site: www.direitonosso.com.br

EVANGELIZAÇÃO E O JUDICIÁRIO                                                                                                                             Dr. Gilberto Garcia* 

Por sua formação multirracial o Brasil tem um povo voltado para o misticismo, sendo um campo livre para que diversos grupos religiosos propaguem suas crenças, inclusive os evangélicos, e o Estado brasileiro, que desde 1891, em função da Constituição Republicana, é laico, ou seja, nas suas diversas representações, em nível municipal, estadual ou federal, ou dos poderes da república: executivo, legislativo e judiciário, são vedados de professar, apoiar, financiar ou proibir, qualquer tipo de  manifestação de fé, sendo esta a garantia constitucional da igualdade religiosa, tendo este estado o papel institucional de assegurar a expressão de religiosidade do povo, seja qual for, dentro dos limites da lei.

 

A Igreja Evangélica, na condição de pessoa jurídica de direito privado, Organização Religiosa, como disciplinado no Código Civil brasileiro, bem como qualquer Grupo Religioso tem todo o direito a liberdade de crença, e, portanto, ao exercício de sua fé, desde que a metodologia não fira o prisma da dignidade da pessoa humana, bem como, não coloque em risco os direitos civis do cristão, que é “cidadão da pátria celeste”, mas ainda é “cidadão da pátria terrestre”.

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Por isso, em que pese estar resguardada pelas normas jurídicas instituídas pela sociedade civil, a Igreja, como qualquer outra Organização Associativa, também esta submetida ao exame da legalidade de seus atos pelo Poder Judiciário, e aí vemos os juizes, em nome da sociedade civil, ao serem provocados pelos interessados, intervindo em questões, nas quais não só podem, como devem agir para restabelecer o equilíbrio das relações sociais, coibindo os excessos, ou mesmo abusos no exercício de direitos, com base ordenamento jurídico brasileiro, ainda que envolvendo Organizações Religiosas.

 

Esta intervenção, exatamente pela laicidade do estado brasileiro, como contido na proposição bíblica da separação da Igreja e do Estado, “Dar a César o que de César e a Deus o que de Deus”, assegurada constitucionalmente, não pode ocorrer em questões de religiosidade, espiritualidade ou de fé, entretanto no que tange a aspectos estatutários, associativos, tributários, trabalhistas, administrativos, penais, financeiros etc, as Igrejas, de qualquer confissão religiosa, estão submissas ao ordenamento jurídico nacional, portanto nas questões civis adstritas ao judiciário pátrio.

 

Por isso é vital que a Igreja, inclusive em sua atuação evangelizadora, tenha as devidas cautelas legais quando for expressar sua fé, em respeito às leis que regem a sociedade civil, elaboradas através de seus representantes, eis que, graças a Deus não vivemos e não queremos viver em um estado fundamentalista, onde um Grupo Religioso, qualquer seja ele determine, por suas conveniências espirituais, os comportamentos sociais dos cidadãos.

 

Registre-se que estamos acompanhando atualmente uma grande discussão nas grandes cidades, especialmente Rio e São Paulo, que é: “Até onde vai o direito de alguns irmãos pregarem o evangelho nos trens, metros e barcas etc?”, “Será que os passageiros são obrigados a receberem as “boas novas” , numa situação onde eles não tem a opção de não querer ouvir ?”. Já existem grupos sociais questionando se esta liberdade de pregação do cristão, não se choca com o exercício de privacidade do cidadão, e caberá ao judiciário, “dizer do direito”, podendo ser interpretado, por um lado, como cerceamento a pregação, e por outro lado, como exacerbação da liberdade religiosa, em detrimento do direito à privacidade do cidadão. Conceda o Senhor sabedoria aos nossos juizes é minha oração, no cumprimento de sua missão bíblica no estabelecimento da “possível paz social”, para a resolução deste e de outros casos, enquanto instrumentos da justiça de Deus, Romanos 13:3-4. 

Nossa sociedade, para resguardo de todos os cidadãos, instituiu um sistema jurídico para que os conflitos sejam satisfatoriamente resolvidos, com base no Estado Democrático de Direito, que é o primado da lei para todos os cidadãos, e aí a Igreja que tem contribuído na formação de bons crentes, também precisa contribuir decisivamente para a formação de bons cidadãos, para que os homens vejam nossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus, e aí muitos sejam, pelo Espirito Santo, atraídos ao evangelho de Cristo, eis que os servos de Deus, também são exemplos dos fiéis nos cumprimento das Leis de César.

 

“Bem aventurados os que observam o direito, que praticam a justiça em todos os tempos.” Salmo. 106:3

 

Gilberto Garcia é advogado, pós-graduado e mestre em direito. Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Rio de Janeiro. Autor dos livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas" e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida. Site:www.direitonosso.com.br

 

O PLANO DIRETOR DA CIDADE E AS IGREJAS 

O Estatuto da Cidade, aprovado em outubro de 2001, concedeu as prefeituras de todo o país um prazo de cinco anos para a elaboração do Plano Diretor Municipal, que regulamenta, sobretudo as intervenções urbanísticas e a organização do solo em nosso país.

 

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Este é um instrumento legal votado pela Câmara de Vereadores que normatiza a metodologia de crescimento da cidade, no que tange as suas construções, investimentos habitacionais, e de expansão e criação de pólos empresarias, visando propiciar para a população uma melhor qualidade de vida.

 

A grande novidade é que a Lei 10.257/01, Estatuto da Cidade, é que ele instituiu a participação da sociedade civil organizada na elaboração do Plano Diretor Municipal, seja para renova-lo, eis que ele vige por dez anos, seja para implementá-lo, sob pena, entre outras, de não recebimento de verbas públicas para projetos habitacionais, além de penalidades para os prefeitos e vereadores.

 

Assim as cidades com mais de 20.000 habitantes, entre outras, que somam cerca de 1.500 no Brasil, como contido na Lei Federal, estão sendo “obrigadas” a realizarem audiências públicas envolvendo os cidadãos, as entidades empresarias, as organizações associativas etc, para o atendimento do preceito legal, ou seja, as Câmaras de Vereadores, que tem até outubro de 2006, aprovarem o Plano Diretor Municipal, com conseqüências legais para os ocupantes do executivo e legislativo municipal.

 

Entre os pontos, especialmente no interesse das Igrejas, que mais se destacam no Estatuto da Cidade, o qual visa “...estabelecer diretrizes gerais de política urbana ...”, está o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), previsto no artigo 36, dispondo que, “... empreendimentos ou atividades em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter licenças ou autorizações de construções, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público Municipal.”, o qual deverá constar do Plano Diretor Municipal.

 

Segundo Estatuto da Cidade a lei municipal estabelecerá, entre outros, o contido no artigo 37, “O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: I – adensamento populacional; II – equipamentos urbanos e comunitários; III – uso e ocupação do solo; IV – ventilação imobiliária; V – geração de tráfego e demanda por transporte público; VI – ventilação e iluminação; VII – paisagem urbana e patrimônio cultural.”.

 O Plano Diretor Municipal deverá, inclusive, conter a previsão da realização de audiências públicas, para que a população possa se manifestar sobre os impactos ou transtornos, que obras ou eventos, que se queiram realizar na cidade, possam ter sobre a vida cotidiana da população, e aí, os cidadãos  interessados em um tipo de projeto certamente se mobilizarão para influenciar sua aprovação ou sua rejeição, à luz das preferências de cada grupo representativo, como acontece em países democráticos, como é o Brasil. 

Os evangélicos necessitam também contribuir, de forma objetiva, para que o cumprimento do mandamento legal no município seja revestido de critérios técnicos, que de forma igual submeta todas as construções ou atividades de impacto na comunidade, seja de um estádio, casa de show, parque de diversões, shopping, hipermercado, Igreja ou organização religiosa de qualquer vertente de fé, sede de alguma entidade filantrópica ou assistencial, sede de um clube social etc.

 

A sociedade civil organizada está se articulando ao participar dos debates públicos que estão ocorrendo nas diversas cidades do Brasil, visando influenciar o poder público na elaboração final do Plano Diretor Municipal, em cumprimento ao Estatuto da Cidade até outubro de 2006.

 

Nossa participação comunitária, contribuindo neste exercício de cidadania, é vital que este instrumento legal não se transforme em obstáculo jurídico intransponível na expansão patrimonial e na realização de eventos de grande porte pelas Igrejas pelo país, numa espécie de limitação da expressão da fé do povo de Deus, bem como, na contribuição para uma sociedade mais igualitária e pluralista, na construção de um mundo melhor, iniciando-se pelas cidades.

 

GILBERTO GARCIA é advogado, pós-graduado e mestre em direito. Autor dos Livros: “O Novo Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida. Site: www.direitonosso.com.br

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DÍZIMO: CONTRIBUIÇÃO VOLUNTÁRIA DO FIEL Na perspectiva religiosa a entrega do dízimo é compromisso espiritual do fiel com Deussendo esta uma contribuição feita com amor, desprendimento e generosidade, destinada para o sustento e propagação da obra de pregação do evangelho de Cristo, como contido em Malaquias e reforçado por Paulo, que nos exorta a dar com alegria. Esta, inclusive, é a natureza jurídica do dízimo, uma doação voluntária, onde é o crente que determina, à luz de suas conveniências pessoalíssimas, num exercício de fé, espiritualidade e religiosidade, quanto vai contribuir para o Reino, entregando este valor para que a Igreja o administre e preste contas de sua mordomia cristã. A contribuição é de livre vontade, eis que é fruto de compromisso pessoal do fiel, num ato de culto a Deus, não cabendo a Organização Religiosa fiscalizar, ou mesmo estabelecer quaisquer benefícios a quem contribua com mais, ou mesmo, penalidades ao membro que queira contribuir com menos do que o valor relativo a dez por cento. Destaque-se que o novo Código Civil proíbe a exposição vexatória de pessoas, daí não ser recomendado ao pastor, diretores estatutários, inclusive aos tesoureiros, ao conselho fiscal, ou mesmo a qualquer membro da Igreja a divulgação de valores contribuídos ou não, por este ou aquele irmão, sendo importante que a Igreja se abstenha de afixar lista de contribuintes em lugares de acesso a membresia, eis que este é um assunto privativo do fiel. Conseqüentemente a contribuição do crente à Igreja, qualquer seja sua confissão de fé, é espontânea, não devendo, sob qualquer hipótese, ser cobrada, nem mesmo indiretamente, através do cerceamento do exercício de atividades, cargos ou funções eclesiásticas, sendo que sua destinação deve estar prevista em um orçamento aprovado por todos, inclusive com vital atuação do Conselho Fiscal, contribuindo para o zelo no uso dos recursos do Reino de Deus. Por isso é obrigação da direção da Igreja prestar contas aos membros e fiéis, eis que ela é tão somente administradora dos valores, de onde e como foram aplicados os recursos financeiros auferidos com a entrega dos dízimos e ofertas, num procedimento de transparência administrativa e no afã de estimular novas contribuições. Registre-se que a Constituição Federal estabelece a imunidade fiscal para os partidos políticos, sindicatos de trabalhadores e as Igrejas, de qualquer confissão religiosa, não podendo estes ser tributados com impostos, mas podem ser tributadas com taxas ou contribuições, em função de suas atividades na condição de pessoa jurídica de direito privado.Assim os dízimos, ofertas e contribuições dos membros e fiéis estão constitucionalmente imunes de impostos, entretanto, por normatização legal, necessitam as Igrejas manter sua contabilidade de acordo com normas contábeis vigentes para as organizações com fins não econômicos, como contido no Código Tributário Nacional, ainda disciplinado pelo Conselho Federal de Contabilidade. As Igrejas podem ser, inclusive, acionadas pelo Ministério Público para que apresente seus Livros Contábeis, comprovando que suas atividades eclesiásticas não visam lucro financeiro, além de obrigatoriamente prestar contas a Receita Federal de suas receitas e despesas, sob pena de pagamento de multa, através da Declaração Anual de Imposto de Renda Pessoa Jurídica. Compete a Igreja ensinar que foi Bíblia Sagrada que institui o dízimo, ou seja, os dez por cento dos rendimentos, exatamente para que a obra não sofra solução de continuidade, não que Deus dependa do dinheiro do fiel, mas que a entrega do dízimo, oferta ou contribuição, também materializa, de forma concreta e palpável, o comprometimento de fé do membro. Surge uma oportunidade impar para que as Igrejas orientem aos membros, a administrarem seus recursos financeiros, poupando, investindo, e assumindo compromissos dentro de suas possibilidades, não se deixando levar pelo mote da sociedade consumista, e aí ficarem impedidos de participar ativamente, através da amorosa entrega dos dízimos e ofertas, assumindo a condição de cooperador do Reino, que é de Deus, para o sustento da Igreja, e, a propagação do evangelho de Cristo, crendo que o Senhor da Obra é seu grande provedor. Gilberto Garcia é Advogado, Pós-Graduado, Mestre em Direito e Conselheiro Estadual da OAB/RJ. Autor dos Livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida. Site: www.direitonosso.com.br

 

AS IMPLICAÇÕES LEGAIS  DAS EXCLUSÕESDE MEMBROS DAS IGREJAS I

 Dr. Gilberto Garcia*

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Num debate na Rádio ElShadai, 93.3 FM - Rio, tivemos a alegria de expor para os ouvintes alguns dos princípios que devem nortear a exclusão de membros da Igrejas, aos quais compartilhamos com nossos leitores, no afã de alertar os líderes religiosos sobre as implicações jurídicas neste novo tempo legal. É vital destacar que foi o Senhor Jesus que, no cristianismo, criou a associação de fé, ao asseverar, como registrado pelo evangelho de Mateus. 18:20, “Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles”. Para efeito da legislação brasileira, a reunião de duas ou mais pessoas, tem conseqüências jurídicas, à luz de suas finalidades, que podem ser, principalmente três, como sociedade, ou seja com fito lucrativo, na forma de associação, sem finalidade lucrativa, disciplinado no Código Civil, ou ainda, para praticas de atos ilícitos, sendo então uma quadrilha, como contido no Código Penal. Assim a Igreja, em que pese constar no Código Civil na condição de Organização Religiosa, mantém sua natureza associativa, eis que reúne pessoas com finalidade de propagação de sua fé, com objetivo não econômico. É desta forma que os juristas tem entendido a mudança efetuada no Código Civil em dez/2003, tendo sido consubstanciada na III Jornada de Direito Civil, promovida em 2004, pelo Conselho da Justiça Federal, através dos Enunciados 142 e 143. Estes, respectivamente, orientam: “Os partidos políticos, sindicatos e associações religiosas possuem natureza associativa aplicando-se-lhes o Código Civil.”, e, “A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos.”. Registre-se que os procedimentos para a exclusão do membro da Igreja estão contidos na Bíblia Sagrada, como relatado por Mateus. 18:15-17, que disciplina a metodologia que necessita ser seguida pela Organização Religiosa, estabelecendo a necessidade de cumprir-se as quatro fases para efetivar a exclusão do membro. Admoesta-nos o livro sagrado, “Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada. Se recusar ouvi-los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano.”. A Carta Magna de 1988, consagrou princípios constitucionais, que são da presunção de inocência, a ampla defesa, o devido processo legal e a garantia do contraditório, assegurando que os associados eclesiásticos tem direito de que seus acusadores provem as alegações; tem direito a ter ciência do que esta sendo acusado; tem o direito a instauração de um procedimento, onde hajam prazos para manifestações das partes; tem direito a apresentar provas de sua inocência, contrapondo alegações acusatórias. Estes princípios são aplicáveis a qualquer Organização Associativa, seja ela religiosa, comunitária, esportiva, filantrópica, beneficente, cultural, cientifica, de mutualidade, filosófica, política, profissional, de moradores de bairros etc. Na última alteração ocorrida no Código Civil, promovida pela Lei 11.127 de 28 de junho de 2005, ficou regulamentado que a exclusão do membro só poder ser procedido por justa causa, sendo obrigatório constar do Estatuto Social a metodologia utilizada pela Organização Associativa, para aplicação da pena capital aos  seus integrantes. Referidos alertas legais visam sobretudo prover a liderança religiosa de forma geral, e a evangélica de modo especifico, para o respeito dos direitos dos cidadãos, à qual a Igreja, na condição de Pessoa Jurídica de Direito Privado, nas questões civis, também está adstrita. Por isso, o Estatuto Social da Igreja deve estar adequado ao Código Civil contendo os regramentos que instrumentalizam a liderança da Organização inserindo nele os preceitos que forem atinentes especificamente, tal qual “roupa sob medida”, ao Grupo Religioso. “Porque os magistrados não motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os fazem o mal. [...]; porquanto ele é ministro de Deus para o teu bem.” Romanos 13:3,4. *Gilberto Garcia é advogado, pós-graduado e mestre em direito. Autor do Livro: “O Direito Nosso de Cada Dia”. Site: www.direitonosso.com.br 

AS IMPLICAÇÕES LEGAIS  DAS EXCLUSÕES DEMEMBROS DAS IGREJAS II

 Num outro momento, fruto da abençoadora parceria que mantemos com o Programa Reencontro, que vai ao “ar” aos sábados, as 07h15 da manhã, na TVEBrasil, no quadro “O Direito Nosso de Cada Dia”, fizemos uma série de gravações televisivas sobre a questão das exclusões de membros das Igrejas. Recebemos mensagens eletrônicas de todo o país, de membros de Igrejas de denominações variadas, relatando situações onde alguns tem sido excluídos sumariamente, sem qualquer preocupação em se respeitar direitos civis dos cidadãos que são crentes, e por isso cidadãos de duas pátrias. O Estatuto Social da Igreja, documento que fiel deve possuir para que conheça a formatação jurídica da Organização Religiosa da qual é filiado, devendo nele constar a visão, a missão, os valores, os objetivos, as estratégias, que são a razão de ser da Organização Religiosa, bem como estabelecer sua forma de governo,

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sua metodologia administrativa, e ainda, os procedimentos eleitorais, os poderes e limitações dos exercentes dos diretores estatutários, os deveres e direitos dos membros, pelos quais se espelha e diferencia a atuação de um grupo associativo na sociedade civil organizada. Por isso, entendemos que houve sim, uma grande mudança na perspectiva social do legislador civil brasileiro, quando inovou inserindo todo um regramento para organizações associativas, entidades com fito não econômico, não importando qual sua formatação finalistica, o que as força, mesmo as que estão por norma legal desobrigadas de proceder a adequação no prazo concedido, a promover ajustes em seu Estatuto Social, diante da nova ordem jurídica vigente à partir de 2003.  O Código Civil em sua redação original continha a possibilidade de as Organizações Associativas instituírem um órgão interno, com poderes de deliberação com relação a aplicação de penalidades para os associados, garantindo-se a estes associados o acesso a assembléia geral, em grau de recurso, o que, em que função de suas recentes alterações tornou-se facultativo, mas que permanece, especialmente, com relação as Igrejas, Organizações Religiosas, um regramento altamente salutar. Em nosso livro “O Novo Código Civil e as Igrejas”, publicado pela Editora Vida, orientamos as entidades e instituições a adoção do Conselho de Ética, órgão interno, que pode ter poderes estatutários para, inclusive, excluir o membro, garantindo-se a ele o direito de recurso a assembléia geral da Igreja, evitando-se assim a exposição vexatória, que tem causado ações de indenização por dano moral. Este Conselho de Ética, ou Comissão de Disciplina, tem três principais atuações: instaurar um procedimento de averiguação, primeiro, recebendo a denúncia comprovada, à luz de Deuteronômio. 19:15, “Uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniquidade, ou qualquer pecado, seja qual for o pecado cometido, pela boca de duas ou três testemunhas se estabelecerá o fato.”; segundo, ouvindo o denunciado, concedendo-lhe direito a ampla defesa; e, terceiro, emitindo seu parecer conclusivo com relação a denuncia, no qual poderá conter a inocência, ou falta de comprovação da acusação, e ainda, penalidades proporcionais a falta cometida, tais como, advertência, suspensão de cargos ou exclusão da membresia. Enfatizamos que as Igrejas permanecem com o direito de proceder a exclusão de um membro que não esteja atendendo os princípios defendidos pela Organização Religiosa, desde que observados, os procedimentos bíblicos e jurídicos para a exclusão, para que esta, além de atender os ditames cristãos, também tenha legalidade, sendo reconhecida pelo judiciário pátrio. A Igreja, Organização Associativa, de qualquer confissão de fé, seja evangélica, católica, judaica, muçulmana, espirita, oriental etc, em questões de espiritualidade, religiosidade, de fé, estão imunes de qualquer intervenção do poder judiciário, em função do estado brasileiro ser laico, ou seja, não existir religião oficial no Brasil, entretanto, nas questões civis, estatutárias, administrativas, trabalhistas, associativas, penais, tributárias, financeiras, patrimoniais etc, estão submissas ao ordenamento jurídico pátrio, à luz do Estado Democrático de Direito, graças a Deus, vigente no País.  “Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás o louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debate a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal.” Romanos 13:3,4 Gilberto Garcia é Advogado, Pós-Graduado e Mestre em Direito. Autor dos livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”. Site: www.direitonosso.com.br

AS IGREJAS E OS CONTABILISTAS NO CÓDIGO CIVIL                                                                                                                                 Gilberto Garcia*Neste tempo em que algumas Instituições estão sendo autuadas pela Receita Federal por praticarem lançamentos de receitas e despesas  e não as contabilizarem, ou seja, utilização do “caixa dois”, alertamos as Igrejas, que são organizações sem fins lucrativos, mas que são legalmente obrigadas a manterem sua contabilidade em ordem, da necessidade de contarem com profissionais idôneos na área contábil. Entre as grandes inovações que o novo Código Civil trouxe para a sociedade brasileira esta o tratamento especialíssimo dado às atribuições do contabilista, podendo ser considerados até responsáveis solidariamente pelos atos dolosos, inclusive estando inserido na Lei 10.406/2002, na Seção III - Do Contabilista e Outros Auxiliares, nos artigos 1.177 a 1.178, e, ainda, Capítulo IV - Da Escrituração, dos artigos 1.179 a 1.195.Registra o art. 1.177, “Os assentamentos lançados nos livros ou fichas do proponente, por qualquer dos proponentes encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedimento de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele. Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos”, grifo nosso. Aprofundando essa responsabilidade ainda mais o legislador estabeleceu no art. 1.178, “Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito. Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados pelos atos fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor.”, grifo nosso. 

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Desta forma, os líderes de organizações religiosas necessitam estar atentos na contratação de escritórios de contabilidade, entregando sua escrita a contadores experientes, competentes e atualizados, os quais, por conseqüência devem ser bem remunerados em seus honorários, para que prestem serviços profissionais de excelência, à luz de suas responsabilidades legais. O próprio texto da lei é por si só um alerta para a sociedade empresária, que se aplica, por analogia a todas as instituições, como consta do art. 1.179, “O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1o Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970.”, grifo nosso. A atuação legal do contador relativa a escrituração está registrada no art. 1.182, “(...) a escrituração ficará sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilitado (...)”, daí a importância de também o profissional da contabilidade estar atento a quem presta seus serviços, para que tenha tranqüilidade das informações e documentos idôneos que lhe são fornecidos pelos seus clientes.   O novo Código Civil estabelece ainda uma importante e vital advertência relativa aos documentos contábeis no art. 1.194, “O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante nos atos neles consignados.”, grifo nosso. A responsabilidade por desvios no que tange a questões financeiras da Igreja é de sua diretoria estatutária, conselho fiscal etc, bem como dos associados eclesiásticos, se estes, de forma direta ou indireta, contribuírem para a pratica da irregularidade, inclusive, com o risco de ter bens pessoais atingidos, como contido na Lei. Aproveito o ensejo para congratular-me com os contadores que prestam serviços as Igrejas e Organizações Religiosas, possibilitando a estas a tranqüilidade para propagar “as virtudes daqueles que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz”. Gilberto Garcia é Advogado, Pós-Graduado e Mestre em Direito. Autor do Livro; “O Direito Nosso de Cada Dia”. Site: www.direitonosso.com.br

 

ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS E A NOVISSIMA ALTERAÇÃO NO CÓDIGO CIVIL

 Alteração recentíssima foi promovida no Código Civil, através da Lei 11.127, de 28.06.05, sendo, mais uma vez, prorrogado o prazo de adequação dos Estatutos Sociais das Associações e Fundações, e, Contratos Sociais para os Empresários e Sociedades Empresárias até 11 de janeiro de 2007, como disposto no artigo 2.031, sendo que referido prazo, como contido na Lei 10.825/03, não se aplica as Organizações Religiosas (Igrejas de Qualquer Confissão de Fé) e aos Partidos Políticos. Na realidade a nova ampliação do prazo de adequação foi tão somente uma das muitas e importantíssimas alterações desta lei de junho de 2005, à qual trouxe diversas outras mudanças para a estrutura das Associações e Instituições Afins, fortalecendo ainda mais o principio da auto-regulamentação das organizações associativas. As principais alterações promovidas no Código Civil de 2002 pela Lei 11.127/05 atingem diretamente a constituição das Associações, às quais destacaremos, de forma breve, à luz dos textos legais. No artigo 54, incisos: “V   e VII”, ficam disciplinadas que, doravante, o estatuto social de uma associação necessitará estabelecer como devem ser constituídos e o funcionamento seus órgãos deliberativos, e ainda conterão uma novidade, que não constava da lei, a normatização estatutária da forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. Uma importante mudança foi procedida no artigo 57, dispondo agora, de forma categórica, que a exclusão do associado só poderá ocorrer em caso de justa causa, e que esta obrigatoriamente deverá ser reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, devendo estes termos estar previstos no Estatuto da Associação. Desta forma, passa a ser da organização associativa a obrigatoriedade desta provar que a exclusão esta sendo procedida mediante uma justa causa comprovada, e que foi concedido, como constante no Estatuto Social o amplo direito à defesa e o acesso a recurso de decisão que deliberou pela exclusão, ratificando a importância do Comitê de Ética, e a vital utilização pelas Igrejas, organizações associativas, dos ensinamentos de Mateus 18:15-17. Duas significativas alterações foram efetivadas no artigo 59, a primeira, é a que estabelece as competências privativas das Assembléias, agora passam a ser duas: destituir os administradores e alterar o estatuto, ou seja, tão somente estes dois tópicos associativos obrigatoriamente necessitam ser deliberados pela Assembléia Geral da Associação. 

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Já a segunda, em seu parágrafo único, que estabelecia quoruns rígidos para deliberações, o qual também foi profundamente alterado, passando a dispor que estes quoruns devem estar fixados no Estatuto Social, no livre arbítrio da Associação, bem como, o critério para eleição dos administradores da Associação. Estas mudanças no artigo 59, com relação aos quoruns de instalação e deliberação das Assembléias, inclusive havia sido objeto de uma Ação Declaratória de Inconstitucionalidade pela AMB - Associação de Magistrados do Brasil junto ao Supremo Tribunal Federal, já tendo parecer da Procuradoria Geral da República e o voto do Ministro Celso Melo contrários os pleitos da AMB, os quais, entretanto, foram acatados pelo legislador nacional. A última alteração efetuada pela Lei 11.127/05 está contida no artigo 60, que ampliou o poder de influência decisória de 1/5 (um quinto) dos associados, podendo estes, doravante, convocar e promover reuniões, em quaisquer dos órgãos deliberativos das Associações, e não somente das assembléias como anteriormente previsto. Agora foram ainda mais fortalecidos os preceitos de auto-regulamentação das Associações e Instituições Afins, o que demonstra, claramente, que mesmo que não houvesse prazo estabelecendo obrigatoriedade para adequação do Estatuto Social, esta deve ser procedida, com a participação dos assessores jurídicos, os quais saúdo, neste mês do advogado, em face da alteração do ordenamento legal brasileiro promovido pelo novo Código Civil. Gilberto Garcia é Advogado e Mestre em Direito. Site: www.direitonosso.com.br

 

O CASAMENTO  E O NOVO CÓDIGO CIVIL I 

Uma das áreas sociais que mais vem sofrendo alterações no aspecto legal é o campo do direito de família, questões que a doutrina jurídica e a jurisprudência dos tribunais de longa data vem reconhecendo, concedendo legalidade a novas situações familiares, sendo essas as chamadas inovações jurídicas que foram absorvidas pelo novo Código Civil. A Constituição Federal prevê no art. 226, “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 2o – O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.” Vale lembrar que antigamente era a Igreja Oficial que realizava os casamentos, sendo ele unicamente religioso e reconhecido por toda a sociedade, após o Estado, através do ordenamento jurídico pátrio, manteve o direito das Igrejas de realizá-los, entretanto, tornando-o um ato regido pela lei civil, para o qual foram criadas regras próprias.

 

Destaque-se no Estado Democrático de Direito, graças a Deus, vigente no Brasil, encontramos o preceito constitucional, disposto no Artigo 5º, Inciso II, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, reforçando o direito da Igreja auto-regulamentar-se em seu Estatuto Social, usufruindo da prerrogativa contida no Código Civil de 2002.

 Registramos que não existe em nosso ordenamento jurídico qualquer dispositivo legal que obrigue uma Igreja a realizar uma cerimônia de casamento, seja com efeitos civis ou religiosos. 

Essa atuação comunitária é uma faculdade da Organização Religiosa e não uma obrigação, à luz de suas conveniências e regramentos internos, entendido que o casamento é uma instituição divina, e por isso possuiu um prisma espiritual de fé, que é preservado pela Igreja.

 

Vejamos como esta disciplinado o casamento, em alguns artigos lei civil, como inserido no art. 1.511 - “O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.”, grifo nosso, neste texto está consubstanciado a igualdade entre o homem e a mulher já prevista desde 1988 na Carta Magna brasileira, assim delimitando que os direitos e deveres, quaisquer sejam eles, são plenamente iguais na relação conjugal.

 

Temos a garantia do acesso a legalização da situação conjugal, como regulado no art. 1.512, independente de situação financeira dos nubentes, como vemos: “O casamento é civil e gratuita a sua celebração. Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira

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certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.”

 Lemos no Art. 1.515,  “O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.”. Prossegue no tema o Art. 1.516 – O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil. § 1° O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação. § 2° O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532. § 3° Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil.”, grifos nossos.

 

Assim a Lei concedeu as Igrejas o direito de efetuar o casamento religioso, com efeitos civis, desde que, como citado artigo 1.515, sejam cumpridas as exigências legais para a “Celebração do Casamento”, sob pena de nulidade, estabelecidas nos artigos 1.533 a 1.542 do novo Código Civil. “Bem aventurados os que observam o direito, que praticam a justiça em todos os tempos.” Sal. 106:3Gilberto Garcia é advogado e Mestre em Direito. Autor do livro: O Direito Nosso de Cada Dia.

O CASAMENTO  E O NOVO CÓDIGO CIVIL II Já em seu artigo 1o o Código Civil de 2002, demonstra a nova orientação jurídica vigente ao substituiu a expressão “todo homem” por “toda pessoa”. 

O legislador civil reconheceu o que já um consenso, que tanto o homem, quanto a mulher gozam dos

mesmos privilégios e responsabilidades perante a sociedade, por isso, são igualmente responsáveis,

ou seja obrigados, na proporção de seus bens, pelos encargos e sustento da família e educação dos

filhos.

 

Eles também tem a faculdade, ou seja não é obrigatória, de acrescentar o sobrenome, do homem

para mulher e vice-versa, sendo ainda proibido qualquer tipo de imposição pública ou privada, quanto

ao planejamento familiar, sendo decisão exclusiva do casal, cabendo ao Estado prover recursos

educacionais e financeiros para o exercício do livre direito do casal fixar a quantidade de filhos.

 

Isto está dito de forma límpida no Art. 1.565 – Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. § 1° Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.§ 2° O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas.”, e ainda, art. 1.568 – “Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.”,grifos nossos.

 

O Código Civil estabelece deveres conjugais recíprocos do casal, criando para ambos obrigações previstas na lei, daí o casamento ter também o prisma de um contrato de vontades, o qual  cria restrições sociais para quem assume o compromisso conjugal, sendo inclusive motivação para ruptura deste pacto legal, também o descumprimento de qualquer destes itens especificados pelo legislador, no mote de preservação do casamento pela sociedade civil. 

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Entre estes deveres estão a fidelidade, que é a manutenção de relacionamento monogâmico, a constância da vida em comum, diferente de outros países onde casais já mantém residências independentes, mútua assistência, que é o cuidado reciproco de um com outro, em todos os sentidos, seja físico, espiritual, moral, intelectual, financeiro etc, a obrigação recíproca do sustento, guarda e educação dos filhos, e ainda o respeito e consideração mútuos, conceitos subjetivos que o legislador incorporou a lei no afã de registrar a importância da instituição familiar para a sociedade civil organizada. 

Contempla o art. 1.566 – São deveres de ambos os cônjuges: I – fidelidade recíproca; II – vida em comum, no domicílio conjugal; III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos; V –  respeito e consideração mútuos;”, grifo nosso.

 Esta é uma das grandes alterações que o legislador civil, em reconhecimento aos novos tempos, onde a mulher passou a exercer papel preponderante na sociedade civil, em todos os níveis de atuação, inclusive na Igreja de Cristo. Desta forma, também na família, desapareceu o “pátrio poder”, onde o homem deixou, no prisma legal, de ser o “chefe da família”, passando a direção da família para o casal, surgindo no Código Civil de 2002 o “poder familiar”. Nas famílias onde não se encontrem estratégias ou metodologias de caminhos de conciliação das decisões do casal, havendo divergências insuperáveis, o judiciário será chamado para deliberar sobre o direcionamento dos destinos dos cônjuges, impondo um decisão judicial sobre a vida familiar do casal. 

Este preceito está contido no art. 1.567 – “A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos. Parágrafo único – Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses.”

 Rogamos a Deus, que por sua graça e misericórdia, permaneça a sustentar nossas famílias saudáveis, onde seu amor seja paradigma para nós e nossos filhos. 

Gilberto Garcia é advogado e Mestre em Direito. Autor do livro: O Direito Nosso de Cada Dia.

AS CONSEQÜÊNCIAS LEGAIS DA ALTERAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL PARA AS IGREJAS.

 Logo após a promulgação do novo Código Civil brasileiro, tornando-se a Lei 10.406, de 11.01.02, em fevereiro e março/02, tivemos a satisfação de, pioneiramente, através de periódicos evangélicos onde mantemos colunas intituladas, “O Direito Nosso de Cada Dia”, seja do “Jornal Novas”, do Centro e Juventude e Cultura Cristã, e de “O Jornal Batista”, órgão oficial da Convenção Batista Brasileira, publicar artigos de nossa autoria que alertavam a liderança evangélica de nosso país das implicações legais para as Igrejas do advento do novo Código Civil.

No final de 2002, ao tempo que realizamos o 1o Simpósio Nacional O Novo Código Civil e as Igrejas, é publicado no “Jornal Mensageiro da Paz”, órgão oficial da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil - CGADB, um rico e substancial material orientativo, com embasamento legal, produzido pela Comissão Jurídica da CGADB.

Desta forma, pela graça de Deus, tivemos juntamente com os irmãos assembleanos, a honra de chamar a atenção de toda a comunidade evangélica nacional para as implicações jurídicas que as alterações contidas no novo Código Civil trariam para as Igrejas, antes da entrada em vigor, que ocorreu em 11 de janeiro de 2003.

Diante das preocupações expressas pelos lideres religiosos relativos à nova situação jurídica da Igreja, que alertáramos, desde o início de 2002, é que em abril de 2003 protocola-se em Brasília, o projeto de lei, o qual foi em novembro de 2003, com substanciais alterações, aprovado pela Câmara de Deputados, sendo no inicio de dezembro, ratificado sem alterações pelo Senado Federal, para na semana natalina, tornar-se, após a sanção do presidente da República, a Lei 10.825, 22.12.03, com sua publicação, no Diário Oficial da União, em 23 de dezembro de 2003.

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Esta Lei está causando diversos questionamentos entre os líderes eclesiásticos, eis que desde a aprovação na Câmara de Deputados, no início de novembro/03, temos sido consultados por irmãos e irmãs de todo o Brasil, sobre as conseqüências legais da alteração promovida no Código Civil.

Assim, mais uma vez, pioneiramente, para suprir nossos amados irmãos de orientação legal segura é que, na condição de Atalaia Jurídico, estivemos, novamente numa bem sucedida parceria com o Centro de Juventude e Cultura Cristã, nos dias 26 e 27 de março de 2003, no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Tijuca, Rio/RJ, promovendo o 2o Simpósio Nacional O Novo Código Civil e as Igrejas, enfocando, desta feita, “As Implicações Jurídicas da Alteração do Código Civil e as Igrejas”, o qual contou com apoio institucional da CAARJ, e da OAB/RJ, inclusive na concessão de carga horária de estágio forense para os estudantes de direito.

Além de contarmos, mais uma vez, com a honrosa e enriquecedora participação do Desembargador Dr. Ademir Paulo Pimentel, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, numa conferência magna, onde abordou, na sexta-feira, à noite, de forma brilhante: “A Visão do Judiciário da Alteração do Código Civil”, enquanto, no sábado, durante todo o dia, pudemos enfocar, através de quatro conferências multimídia, os temas: A Liberdade Religiosa e a Constituição Federal do Brasil, Organização Religiosa – Pessoa Jurídica de Direito Privado, Sistemas de Governo Eclesiásticos Tradicionais: Episcopal, Presbiteral e Congregacional e a Lei de Registros Públicos e o Estatuto Social das Igrejas.

Ali ocorreu o lançamento nacional do “Suplemento com as alterações mais recentes” do livro ´O Novo Código Civil e as Igrejas´, com o qual já havíamos presenteado o Prof. Dr. Miguel Reale, Supervisor da Comissão Revisora do Novo Código Civil, bem como o Ministro José Carlos Moreira Alves, aposentado recentemente do Supremo Tribunal Federal, e que a Editora Vida já disponibilizou para todas as livrarias evangélicas de todo o Brasil, no qual sustentamos as seguintes posições jurídicas, numa orientação preventiva.

Que permanece, em função da Igreja ser pessoa jurídica de direito privado, com a necessidade da adaptação de seu Estatuto Social a nova ordem legal vigente no País.

Que a Igreja é essencialmente de caráter espiritual, mas tem também natureza associativa, e por isso, os princípios associativos a ela se aplicam.

Que a utilização da estrutura geral de associação resguarda a Igreja, concedendo-lhe maior segurança jurídica, inclusive constitucional.

Que a Igreja pode adotar o sistema de governo eclesiástico que lhe for conveniente, à luz da liberdade religiosa constitucional, desprezando o que for incompatível, em face de seu caráter espiritual, do estabelecido para as associações.

Que devem ser cumpridas as regras da Lei de Registros Públicos na elaboração ou adaptação do Estatuto Social da Igreja.

Somos gratos ao Senhor por todos os que ali puderam estar e conhecer as conseqüências legais da alteração do Código Civil brasileiro para as Igrejas e Organizações Religiosas, à quem rendemos toda honra, glória e louvor !!!

“Bem aventurados os que observam o direito, que praticam a justiça em todos os tempos”. Sal. 106:3

Gilberto Garcia é advogado, professor universitário e do STBSB. Autor do Livro “O Novo Código Civil e as Igrejas”. Site:www.direitonosso.com.br

LIBERDADE RELIGIOSA - UM DIREITOS DE TODOS Um dos valores fundamentais de povo brasileiro encontra-se estabelecido na Constituição Federal, no artigo 3o, "Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil ...", em seu inciso IV, "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer formas outras de discriminação". Há algum tempo um grupo de crentes ao “evangelizar na praia em meio a uma cerimônia umbandista”, após ter sido advertido pelos líderes, foi condenado judicialmente a pagar multa por “invadir” o espaço de outro grupo religioso para fazer proselitismo e ao mesmo tempo denegrir sua expressão de religiosidade e suas crenças. É importante destacar que a Constituição Federal de 1988, em seus artigos 5o, Inciso: VI, e, 19, inciso I, respectivamente, estabelecem a liberdade religiosa, garantindo a liberdade de culto, independente do credo, e respeito aos locais de culto, na forma da lei, e, a separação do Estado e Igreja, em nosso país. Isso implica dizer que o Estado brasileiro, desde 1891, com a instituição da república é laico, não tendo poder de intervir, para criar obstáculos ou facilitar qualquer confissão religiosa, mas não só pode, como deve, prerrogativa concedida pela sociedade civil organizada, manter a paz social, no respeito a toda e qualquer manifestação de fé, desde que atendidos os preceitos legais. Por isso, não há que se falar em ilegalidade na evangelização, desde que esta não afronte estes dois preceitos constitucionais, sobretudo no respeito a qualquer grupo religioso, eis que o mesmo sistema legal que concede a liberdade religiosa, nos obriga a respeitar os objetos, liturgias e locais de culto, sendo crime punido pelo Código

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Penal brasileiro,  artigo. 208, "...impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso...". A lei visa exatamente proteger as igrejas evangélicas, os templos católicos, as sinagogas, as mesquitas, os centros espíritas, os terreiros de umbanda, os recintos orientais, bem como os diversos locais, públicos ou privados, onde se pratica o culto religioso, e o judiciário brasileiro esta cada vez mais atento ao desrespeito aos direitos fundamentais do cidadão, inclusive quanto a livre expressão de sua espiritualidade. Justamente por isso, as penas relativas ao desrespeito à manifestação religiosa, se aplicam para todos os cidadãos, que se proponham a desrespeitar uma crença, seja ela evangélica, espírita, católica, judaica, muçulmana, oriental etc. Assim, evangelizar grupos em locais onde são realizados festejos religiosos pode ser, como tem sido, interpretado pelo judiciário pátrio como desrespeito a liberdade de manifestação religiosa, eis que graças a Deus, em nosso país existe uma aceitação pacifica de todas as religiões, inclusive para os denominados ateus e agnósticos, que não crêem em qualquer manifestação divina, e aí os excessos, de qualquer lado, tem sido coibidos, seja pela sociedade, seja pela justiça, e, inclusive pelas próprias lideranças eclesiásticas, no afã de que cada grupo religioso possa continuar propagando sua fé, sem ferir os preceitos da boa convivência social. Há alguns anos um grupo de evangélicos estavam realizando um "culto ar livre" na praça central de sua cidade, quando chegaram ao local católicos para uma programação. Acionado o guarda foi até o pastor para solicitar sua saída, quando foi surpreendido pelos ofícios, que comprovavam que ele havia remetido para as autoridades competentes: prefeitura, corpo de bombeiros, policia militar etc, cientificando ao poder público, de que naquele dia a Igreja estaria naquele local para sua manifestação religiosa, e aí a autoridade policial não teve outra alternativa senão convidar o padre e grupo de católicos, a se reunirem em outro lugar. Minha saudosa avó materna, Adonias Barbosa Viana, crente batista, oriunda de Itabuna/BA, ensinou-me uma das lições universais da vida em comunidade, relativa ao respeito pelo próximo: “Meu neto o seu direito começa, quando o do outro termina”, também aplicável no que tange ao exercício da liberdade de qualquer grupo religioso, em qualquer parte do mundo civilizado. Gilberto Garcia é advogado, pós-graduado e mestre em direito. Professor Universitário e Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil - Rio de Janeiro. Autor dos Livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida, e, Co-autor da Obra Coletiva: “Questões Controvertidas - Parte Geral Código Civil” e “Novo Direito Associativo”, Editora Método, e, do DVD - “Implicações Tributárias das Igrejas”, Editora CPAD. Site: www.direitonosso.com.br 

SER OU NÃO SER PERSONALIDADE JURÍDICA?

(INSTITUIÇÃO OU ORGANISMO?)

“A Lei, ora a Lei...”

Getúlio Vargas, 1948

"Aos amigos tudo! Aos inimigos, a lei."

Provérbio popular brasileiro

Em razão da única discussão existente, estimulada e entabulada por pequena minoria e que foi motivo de debate na reunião de fundação da Aliança Cristã Evangélica Brasileira - ACEB,  acontecida no último dia 30 de novembro,  girar em torno da formalização ou 

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não de sua existência jurídica, ouso apresentar a seguir breves e mal elaboradas linhas esclarecendo   minha   postura,   sem   o   refinamento   dos   grandes   doutrinadores   e respeitoso em relação às posturas divergentes.

Vamos direto ao assunto: tornar-se ou não pessoa jurídica, ou seja existir no mundo do direito ou não?

Diz o Código Civil  Brasileiro em seu artigo 45: “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.”

O   Legislador   tomou   cuidado  em   falar:   “existência   legal”,   ou   seja   a   existência   sob  o manto regulador das disposições constitucionais e da legislação infra constitucional, tal como  o   próprio  Código   Civil   Brasileiro   e   inúmeros  outros   dispositivos,   bem   como   e especialmente do ato constitutivo da pessoa jurídica,  que no caso de uma associação sem fins lucrativos é um estatuto[1]  .

Pois bem, o estatuto de uma associação sem fins lucrativos é um contrato entre seus subscritores,   determinando-se  direitos   e  obrigações   recíprocos   e  que  após  o   devido registro produz efeitos contra terceiros.

Minha experiência ao longo dos anos de magistério e como operador do direito é que estatutos são consultados ou lidos em poucas ocasiões e nem deveria ser diferente, e essas poucas ocasiões se resumem ao abrir contas bancárias, aquisição ou alienação de bens imóveis e grandes litígios entre os membros associados da pessoa jurídica ou de determinada igreja.

Estatutos  e   legislação  no geral   (ambos   tem natureza  contratual,  o  primeiro  natureza particular e o segundo natureza pública, pois o conjunto da legislação de um Estado é seu contrato social) são bons instrumentos para se justificar grandes falcatruas.

Afinal elaboramos contratos e estatutos no geral para que? Para alguém se proteger de outra pessoa ou para agredir outra pessoa. Quando uma eleição de uma associação é manipulada,   mas   perfeitamente   legal,   ou   seja,   transcorreu   de   acordo   com   o 

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contratado,  quer  dizer  que  alguém usou  da   lei   em benefício  próprio,   isto  é:   alguém agrediu a outra pessoa.

Por outro lado, quando nasce uma criança (pessoa física), em poucos dias é lavrado um termo de nascimento denominado “certidão de nascimento”, mas essa pessoa ainda é absolutamente  incapaz de exercer  pessoalmente os atos da vida civil[2]  ,  ou seja,  não pode por si só administrar e gerir seus recursos financeiros, seu patrimônio, seu estado civil. Quando, via de regra (existem exceções, tais como o casamento antes dos dezoito anos)   essa   pessoa   completa   dezoito   anos,   ela   passa   a   exercer   plenamente   e pessoalmente  os   atos   de   sua   vida   civil,   inclusive  utilizando   sua   identidade   civil,   sua inscrição no Cadastro das Pessoas Físicas (CPF) da Secretaria da Receita Federal e etc...

Creio   que   essa   mesma   dinâmica   pode   se   aplicar   a   uma   organização   qualquer: primeiramente   a   organização   passa   a   existir   no  mundo   fático   e   somente   após   sua maioridade é que passará a existir para o mundo do direito, pois ai   já estará estável, consolidada e bem estabelecida. Até mesmo preparada com anticorpos para lidar com seus   dilemas   internos,   tais   como   litígios   em   razão   de   cargos   e   funções   (poder   e dinheiro) e outros mais.

Lamentavelmente,  nós os profissionais  que  lidamos com os aspectos  institucionais  de uma determinada organização, somos pobres atores sociais quase sem importância,  e para   nosso   conforto   apresentamos   a   necessidade   de   formalização   de   determinada organização   como algo  de  muita   importância,  de  modo que  assim nossa  atividade  e nossa própria existência também passa a ter uma certa relevância e seja socialmente justificada e reconhecida.

Quase  sempre  as  pessoas  que  argumentam no  sentido  de  associar   legitimidade   com formalidade, são profissionais das áreas jurídicas, contábeis ou de áreas afins tais como consultores e auditores dos mais diversos tipos de atividades.

Poderia citar grandes exemplos de boas organizações devidamente institucionalizadas que  não   “deram   certo”   a   começar   pela   antiga  Aliança   Evangélica  Brasileira   –  AeVB, também lembro da boa editora da Convenção Batista Brasileira (das Igrejas Batista),  a JUERP,  e  poderíamos  citar  empresas  e  bancos,  que  de   tempos  em  tempos  são  alvos fáceis de grandes falcatruas, em que pese toda a (falsa) proteção jurídica, institucional que se cria em torno de tais organizações.

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De   tempos   em   tempos   aparece   em  matérias   jornalísticas   a   exposição   da   existência legal de pessoas jurídicas que não existiam no mundo real (eram somente papel), mas eram perfeitas  no  mundo do  direito,   e  dessa  maneira   foram usadas  para  alguém se locupletar legalmente mas sem qualquer pudor ético.

Pois bem, nem para proteger a organização sua institucionalização presta.

Mas   vejamos   se   seria   ilegal   manter   uma   grande   rede   de   interesses   comuns funcionando   sem   personalidade   jurídica   e   estatutária   (em   que   pese   o   fato   de   que certamente  existirá  uma forte  e  marcante personalidade  sociológica,  antropológica  e religiosa ou não).

Primeiramente   há   de   se   lembrar   de   nossa   Carta   Magna,   que   em   seu   artigo   5º. Inciso XVII dispõe   o   seguinte:   “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;” e combinando com o inciso II,  desse mesmo artigo, que  diz:   “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;” percebemos  uma grande força no texto constitucional  brasileiro,  pois não  existe   lei   alguma que  obrigue  alguém a   formalizar   juridicamente  sua  associação com  outra   pessoa   para  uma  mesma  e   determinada  finalidade.  Não   se   fala   aqui   em deveres fiscais, tais como emissão de notas fiscais, que uma empresa comercial estaria obrigada, mas tratamos da própria existência desta ou daquela associação.

Temos bons exemplos de grandes atores sociais que funcionam bem sem que tenham personalidade   jurídica,   tais  como o  MST  e  a   rede RENAS.  Observamos  que  nenhuma ilegalidade   existe   nesses   dois   “movimentos”,   simplesmente   não   existe   lei   que   os obrigue a uma existência jurídica.

A rede RENAS é “hors concours”, e é de conhecimento lato que está acima de qualquer suspeita,   não   tendo   competidores   a   lhe   fazer   frente  na  questão  de   transparência   e seriedade   em   sua   administração   e   o  MST,   ao   contrário   do   que   boatos   e   a   grande imprensa  divulgam mantém uma postura  muito   séria  na  administração  financeira  de seus recursos

Portanto,   temos   grandes   exemplos   de   grandes   golpes   aplicados   utilizando-se   a legitimidade  de  uma  personalidade   jurídica,   e   bons   exemplos   de  boas  organizações, que sem a existência de uma personalidade jurídica cumprem sua função. Poderemos discordar  ou  não sobre  a  finalidade  e  o  papel  social  de   tais  organizações  e  a   função para a qual elas existem, mas certamente são bons exemplos de funcionamento sem a existência de uma personalidade jurídica.

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Por   fim,   lembramos   de   um   pequeno   ditado   proferido   por   Tácito[3]  : "corruptissima republica, plurimae leges", ora dessa maneira vemos a lei alimentando a corrupção do estado.   Não   se   engane:   nosso   país   é   o   que   tem   a   maior   quantidade   de   direito positivado do mundo, e o direito positivado é típico de sociedade onde o tecido social ainda   é   rudimentar   e   frágil,   por   esse   motivo   precisa   de   muitas   leis   e   muitas   lei alimentam   essa   fragilidade   do   tecido   social,   é   um   verdadeiro   círculo   vicioso   que impregna o tecido social da nação.

Portanto, s.m.j.,   nosso   entendimento   é   que   a   Aliança   Cristã   Evangélica   Brasileira prossiga sua caminhada com a proposta de unidade, como rede, sem o engessamento de um estatuto e o custo da manutenção de um CNPJ com todos os ônus (não somente ônus   financeiros   desnecessários,   mas   principalmente   ônus   sócias,   emocionais, políticos,   etc.)   que   uma   instituição   nestes  moldes   dotada   de   personalidade   jurídica certamente teria. 

Cícero Duarte

[1] Código Civil Brasileiro: “Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos... Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:...”

[2] Código Civil Brasileiro: “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I - os menores de dezesseis anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.”

[3] Publius (Gaius) Cornelius Tacitus, historiador romano que viveu na segunda metade do primeiro século até os primeiros anos do segundo século.

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Page 28: Apostila de Noções de Direito

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TERÇA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2010

O princípio jurídico da subordinação do Estatuto à IgrejaAlguns irmãos e profissionais da área jurídica e contábil apresentam a necessidade de determinada igreja ter seu estatuto como sendo o fato mais importante na vida da igreja.

Na verdade quer se tentar dar, ao aspecto institucional e jurídico da igreja, um valor que não existe.

Não queremos dizer com isso, que o estatuto ou a dimensão jurídica da organização religiosa não tem qualquer importância, evidentemente tem sim sua importância, mas essa importância está limitada exatamente aos aspectos jurídicos ali tratados, ou seja, sob o ponto de vista teológico, eclesiológico, ético e outros mais, inerentes à vida de uma organização religiosa cristã que se apresente como Igreja, os aspectos jurídicos são assessórios e realmente a não tem importância que querem lhe dar.

Por outro lado, os aspectos jurídicos e institucionais da igreja, certamente deverão estar subordinados e a serviço da igreja e por esta delimitados.

Gosto de citar, para ilustrar essa subserviência do conteúdo jurídico da igreja, à própria igreja a seguinte estória:

"A Igreja Evangélica da Ilha Redonda

Determinada igreja, vou chamá-la de Igreja Ortodoxa da Ilha Quadrada, era uma belíssima igreja, servindo a Deus e ao povo da Ilha Quadrada, e também era uma igreja bem adaptada ao seu contexto social, pois tinha uma estrutura funcional eclesiológica quadrada, e como igreja bem organizada que era, também seu estatuto obedecia a um formato quadrado. Acontece que na Ilha Quadrada chegou um grupo de imigrantes de outras ilhas, e era um povo um pouco mais emocional, que gostava de músicas mais balançadas e com mais suing, e esse povo ao se misturar com o povo antigo provocou uma dinâmica que alterou a postura da Ilha Quadrada, e após ser eleito um novo governo para a Ilha Quadrada, foi efetuado um plebiscito, para que, acompanhando a mudança acontecida na Ilha Quadrada fosse alterado seu nome para Ilha Redonda, e assim aconteceu.

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Pois bem, a ilha de agora em diante, além de efetivamente ter se tornado uma ilha redonda, teve também a mudança de seu nome que daquele momento em diante passou a se chamar de Ilha Redonda.

Ora, como a Igreja Ortodoxa da Ilha Quadrada era uma igreja saudável e de bem com a vida, e por ser uma amostragem de seu contexto social, também houve mudança em sua estrutura eclesiológica, de modo que passou a ser uma igreja redonda (Isso me faz lembra a postura de Igrejas com Propósitos, que são apresentadas por Rick Warren, com estruturas redondas, ou melhor, compostas de círculos concêntricos).

A partir desse momento, também seus membros votaram pela mudança de seu nome para Igreja Evangélica da Ilha Redonda, pois o nome anterior não fazia mais sentido.

E, por fim, a assembléia geral de seus membros, oficialmente associados à pessoa jurídica, votaram um novo estatuto, transformando a igreja da Ilha Quadrada em igreja da Ilha Redonda..., como todas as alterações necessárias para tal. Evidentemente não foram somente alterações de nomenclatura, mas sim na própria estrutura jurídica que deve sempre ser serva da dinâmica acontecida no meio da igreja, e nunca servir de instrumento de cerceamento dessa dinâmica."

Poderíamos prolongar a estória, de modo que a Igreja Evangélica da Ilha Redonda tornou-se uma Igreja Batista Triangular, e daí ter-se-ia nova alteração em seu estatuto e em todo seu aspecto jurídico, e assim por diante. Mas, creio que a estória acima já permitiu exemplificarmos nossa afirmação de que a estrutura jurídica e institucional de uma igreja devem ser servas dessa igreja e não ao contrário, como alguns desavisados querem fazer crer.

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Marcadores: Estatuto de Igrejas

TERÇA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2010

DEMISSÃO OU EXCLUSÃO DE MEMBRO?Se o texto de lei fala em exclusão e demissão, é porque não está tratando as duas como sinônimas, mas sim como atos distintos um do outro.

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Exclusão de membro

Não restam dúvidas de que exclusão (lembro mais uma vez que não existe o termo “desligamento” no texto legal) é o ato unilateral da organização religiosa em não querer determinado membro, e obedecendo ao comando do artigo 5º, inciso X, de nossa Carta Magna, bem como às disposições estatutárias próprias, a igreja não precisa nem mesmo oferecer explicações dos motivos subjetivos da exclusão acontecida.

No caso de uma exclusão, a decisão da organização religiosa deverá ser claramente comunicada ao membro excluído.

Por outro lado, o membro excluído, sentindo-se lesado em alguma coisa, evidentemente poderá se socorrer do Poder Judiciário para reclamar os direitos que entenda terem sido agredidos.

O inciso II, do artigo 54, do NCCB, explicita que o estatuto obrigatoriamente conterá os requisitos de admissão, demissão e exclusão dos associados, e no caput do artigo 57 do Código Civil, existe a norma disciplinadora das possibilidades de exclusão do associado (membro), vejamos:

“Art. 57, do CCBA exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.”

Está claro que o grande motivo para aplicação da pena capital da exclusão é a “justa causa”, e justa causa nada mais é do que deixar de cumprir o que foi contratado no estatuto, no momento em que o cidadão aceitou se associar à organização religiosa.

É saudável que o estatuto expressamente descreva os motivos ensejadores da justa causa para fins de exclusão de membro, cumprindo dessa maneira o disposto no artigo 57 do CCB, conforme visto acima.

O estatuto também deverá expressar as possibilidades de defesa e de recurso ao membro, antes de sua exclusão. Ainda não tivemos oportunidade de ver a prática essas espécies de defesas e recursos administrativos.

De acordo com o exposto poderemos redigir uma cláusula de exclusão de membro, ou seja de perda da condição de membro, de maneira bem

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abrangente, sem pormenorizar os atos que levarão a tal exclusão, da seguinte maneira:

“A exclusão do rol de membros far-se-á em Assembléia, especialmente convocada para essa finalidade, onde o mesmo poderá apresentar seus motivos de defesa e de recurso, por escrito ou oralmente.

§ 1º - Será motivo de exclusão do rol de membros:a) o membro que não observar o presente estatuto, ou;b) não compactuar com os objetivos, hábitos e costumes morais da Igreja;c) bem como não observar a Bíblia como única regra de fé e prática;d) perturbar a ordem do culto e as demais atividades da Igreja;e) não zelar ou prejudicar sob qualquer pretexto o bom nome da Igreja,”

Evidentemente que a sugestão acima é genérica de modo que para sua utilização deverá ser levada em consideração cada igreja, com suas características próprias.

Consideramos ainda que, evidentemente o cidadão tem direito a peticionar e a requerer do poder judiciário apreciação sobre qualquer direito que julgue ter sido lesado, é expressamente garantido constitucionalmente, de modo que, se um membro excluído se sentir injustiçado por qualquer motivo, certamente este indivíduo poderá requerer ao Poder Judiciário que aprecie sua causa, e isto de maneira alguma foi alterado e nem poderia ser alterado por qualquer legislação infraconstitucional, seja pelo antigo Código Civil, seja pelo Novo Código Civil ou pela recente Lei 10.925/03.

Poderemos entender que o Código Civil é omisso, ou que deixou livre para cada associação ou organização religiosa a faculdade de aplicar outros tipos de penalidades a um membro faltoso.

Entendemos ser possível prever no estatuto diversos tipos de penalidade para o membro que praticar atos que agridam a igreja, sob quaisquer aspectos. Por exemplo, se o estatuto proíbe um associado de maiô, deverá também aplicar uma sanção ou pena para caso isto aconteça, sem que seja preciso usar a pena de exclusão.

Demissão de membro

Mas vejamos a demissão. Ao contrário da exclusão, quando a igreja não quer mais o membro, a demissão se dá quando o membro não quer mais a igreja, ou seja, poderíamos até dizer que o membro unilateralmente

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“exclui” todo o restante de associados.

Tal disposição tem amplo amparo constitucional, pois o artigo 5º, inciso XX, da Constituição Federal dispõe o seguinte:

“XX – ninguém será compelido a associar-se ou a permanecer associado.“

Em razão desse dispositivo constitucional juntamente com a previsão do Código Civil, mais a ampla e livre liberdade de culto, o cidadão que informar (veja bem, ele não irá pedir, pois não precisa pedir para não ser mais membro, basta ele informar de modo inequívoco), para a igreja seu desejo de que a partir daquele momento deixa de ser membro, efetivamente ele deixou de ser membro e, portanto, não mais se obriga ao estatuto da organização religiosa na qual era membro.

A demissão poderá ser expressa ou tácita. Expressa quando o membro comunica expressamente sua demissão, que seja por meio de notificação, carta, mensagem eletrônica, ou de qualquer forma onde não se permita dúvidas quanto a sua decisão e poderá ser tácita quando o membro deixa de manter qualquer relação de afinidade, jurídica ou não, com a organização religiosa, e para tanto é importante o estatuto da organização religiosa dispor sobre os prazos de ausência do membro para que ele seja considerado demitido.

O comunicado de demissão (volto a falar, não é um pedido de demissão, pois o cidadão nesta situação não precisa pedir coisa alguma), poderá ser feito até mesmo através de uma simples correspondência escrita, contanto que haja o inequívoco recebimento por parte da igreja.

Por esses motivos temos que entender que demissão implica em ato unilateral do membro ou de comum acordo com a igreja e exclusão é ato unilateral da igreja.

A RELAÇÃO JURÍDICA DA ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA COM O PASTOR E DEMAIS PESSOAS QUE TEM FUNÇÕES “ESPIRITUAIS” SOB O PONTO DE VISTA TRABALHISTAUm dos questionamentos mais freqüentes que tem sido formulada por alguns pastores e líderes de algumas igrejas sobre seus aspectos

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jurídicos, é se o pastor deverá ter um contrato de trabalho anotado em sua carteira de trabalho e previdência social, ou seja, se o pastor é ou não empregado da igreja? A melhor doutrina as decisões recentes de nossos tribunais deixam claro que o pastor não é empregado da igreja.

O Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) do Governo Federal define na Classificação Brasileira de Ocupação – CBO, quais são as atividades de um pastor, missionário, sacerdote e outras denominações dadas ao ministro de confissão religiosa ou de culto religioso.

No acertado e preciso comentário de Aristeu de Oliveira e Valdo Romão, “o padre, o pastor, o ministro são, em síntese, sacerdotes, isto é, pessoas que, imbuídas de fé e convictas de suas doutrinas, resolvem, após necessários estudos, ser propagadores de suas doutrinas, e assim buscam conduzir as pessoas para o caminho da verdade, dentro dos princípios que crêem, desenvolvem funções espirituais, extremamente delicadas e singulares...” inROMÃO, Valdo e Oliveira, Aristeu. Manual do Terceiro Setor e Instituições Religiosas. São Paulo: Atlas, 2008, p. 59.

Mesmo que a igreja, inadvertidamente, contrate o pastor com anotação em sua Carteira de Trabalho de Previdência Social – CTPS, isto não o torna empregado da igreja, pois não altera a situação de fato de que o pastor, enquanto exercendo o ministério pastoral, não é empregado da igreja, evidentemente que o pastor poderá ser empregado da igreja exercendo uma outra função, por exemplo, como motorista, zelador, etc.

Para fins de ser reconhecido o vínculo trabalhista entre duas pessoas, a relação deverá principalmente e primordialmente ter as características enunciadas no artigo 3º, da Consolidação das Leis do Trabalho, a saber:

"Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário."

Acontece que a relação jurídica existente entre os diversos ministros de confissões religiosas, pastores, bispos ou que tenha qualquer outra denominação, não preenche os requisitos do artigo 3º da CLT, portanto, nunca deve ser entendida a relação entre pastor e igreja como relação de emprego.

O pastor não é um prestador de serviços espirituais, ele é, sob o ponto de vista jurídico, um vocacionado (assim tem sido o entendimento dos tribunais), para uma atividade religiosa, o pastor não está sob a dependência da igreja e nem recebe salário, isto tudo de acordo

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somente com o artigo 3º da CLT, mas a relação entre o pastor e a igreja também não possue outras características da relação de emprego, tais como a pessoalidade, subordinação, assiduidade.

Nossos tribunais reiteradamente têm entendido a inexistência de vínculo empregatício entre o pastor e sua igreja, conforme poderemos verificar adiante em recente decisão proferida pela E. 1ª Turma do C. TRT da 15ª Região:

VÍNCULO DE EMPREGO INEXISTENTE PASTOR EVANGÉLICO

O Pastor liga-se às Igrejas Evangélicas através de vocação religiosa, para o exercício de exclusiva atividade espiritual, que não se confunde com atividade profissional. Incogitável a pretendida criação de vínculo de emprego com a instituição religiosa. (TRT - 15ª Região - 1ª T.; Rec. Ord. nº 34.904/96-2-Ribeirão Preto-SP; Rel. Juiz Antônio Miguel Pereira; j. 18.08.1998; v.u.).BAASP, 2084/803-j, de 07.12.1998.

PENSÃO PARA RELIGIOSO – CÔNGRUA

ACÓRDÃO

Contra a r. sentença de fls. 318/323, que julgou IMPROCEDENTE a ação, recorre ordinariamente o reclamante, alegando, às fls. 326/331, em resumo, que, de acordo com a prova dos autos, estão preenchidos todos os requisitos do artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, ou seja, onerosidade vinda de uma única fonte pagadora, exclusividade, habitualidade e pessoalidade na prestação de serviços.

Afirma que a lei, a doutrina e a jurisprudência dominante consideram que Igreja é pessoa jurídica de direito privado e que, portanto, pode celebrar contratos de trabalho. Afirma que não existe nos autos impugnação aos salários recebidos e que sequer foram questionados pagamentos de férias, 13º salário, combustível e FGTS. Requer, pois, total provimento ao recurso.

Recolheu custas, conforme fls. 332.Contra-razões às fls. 336/337.Manifestação do Ministério Público do Trabalho às fls. 340.É o relatório.

VOTO

Conheço do recurso, por regularmente processado.

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O recorrente, Pastor evangélico, pretende o reconhecimento do vínculo empregatício com a recorrida, Igreja Evangélica, alegando preencher todos os requisitos do artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho.

Incontroverso nos autos que o reclamante era Pastor e recebia importância mensal, que não configura salário, como pretende, mas, como alega a recorrida, essa importância denomina-se côngrua, que é uma pensão destinada a conveniente sustentação do religioso e sua família, que não pode ser confundida como contraprestação. Tanto assim, que não havia desconto se o recorrente faltasse aos cultos, e a côngrua estava ligada à arrecadação monetária da Igreja.

O pagamento de uma gratificação natalina, que o recorrente denomina de 13º salário, não tem o condão de caracterizar vínculo de emprego, tampouco pagamento de salários.

Não há prestação pessoal de serviços, porque o Pastor não pode ser considerado profissional, no sentido técnico do termo, pois existe apenas o exercício de uma vocação, que o habilita ao serviço religioso e que não fica restrito à direção dos cultos, mas à orientação nos estudos da Bíblia e do ensino nas Escolas Dominicais, além da assistência religiosa aos paroquianos, que não pode ser dissociada da assistência social e educacional.

A direção dos cultos, a orientação espiritual, a assistência social e o ensino nas Escolas Dominicais não podem ser considerados atividades profissionais, mas apenas o exercício de vocação religiosa sem qualquer interesse em resultados econômicos, apenas em resultados espirituais decorrentes do voto religioso.

A subordinação aos superiores religiosos não tem o significado de subordinação profissional, mas submissão espiritual decorrente da fé e da vocação religiosa, não se confundindo a hierarquia da Igreja com a hierarquia profissional, porque o religioso é submisso, não só a Deus, mas também aos seus representantes eleitos pela fé.

Não há subordinação, apenas convergência de vontades e comunhão de fé com os superiores e paroquianos com objetivo comum de difundir, pelo culto e pelapregação, o ideário da Igreja. A dedicação e exclusividade não caracteriza vínculo de emprego, nem mesmo nas atividades profissionais, e muito menos nas atividades religiosas.

A definição de empregado contida no artigo 3º da Consolidação das Leis do

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Trabalho é complementada pela definição de empregador contida no artigo 2º, que é a empresa com a atividade econômica, equiparando-se a empresa, na conformidade do § 1º, às instituições sem fim lucrativo, que admitem trabalhadores como empregados.

Dessa forma, as Igrejas, de qualquer culto, equiparam-se às empresas e são consideradas empregadores somente em relação aos seus trabalhadores, e estes não se confundem com os Pastores, Sacerdotes e Irmãs religiosas pertencentes à Ordem ou Congregação, que exercem uma vocação impulsionada pela fé, e não pela contraprestação econômica.

A atividade piedosa da Igreja não se confunde com a atividade empresarial e somente se equipara a empregador em relação aos seus trabalhadores que são os serventes e outros profissionais que lhe prestam serviços ligados àcontraprestação econômica, sem vínculo religioso e como profissionais ligam- se ao empregador apenas por essa contraprestação. Tanto assim, que transferem-se de emprego por salários maiores, diferenciando-se dos Pastores, que se dedicam à propagação e solidificação da fé em decorrência do espírito piedoso.

Dessa forma, o Pastor liga-se às Igrejas Evangélicas através de vocação religiosa, para o exercício de exclusiva atividade espiritual, que não se confunde com a atividade profissional, sendo incogitável a criação de vínculo de emprego com a instituição religiosa.

CONCLUSÃO

Isso posto, nego provimento ao recurso ordinário interposto para manter íntegra a r. sentença de primeiro grau, nos termos da fundamentação.

Para fins recursais, mantenho os valores arbitrados pela r. decisão recorrida.Custas já satisfeitas (fls. 332).ANTÔNIO MIGUEL PEREIRA, Juiz Relator

Portanto, o ministério pastoral não é nem mesmo considerada uma atividade profissional. De maneira apropriado o tema é exposto por Rubens Moraes: “...se o cargo de pastor fosse uma profissão regulamentada, teria de existir um sindicato pastoral, regulamentado pelo Ministério do Trabalho. O pastor, como tal, não exerce uma profissão pastoral, nem o seu ministério se confunde com a prestação de serviço, como se ele fosse um profissional liberal. ” in Moraes, Rubens,

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Legislação para Igrejas, Rio de Janeiro, RJ, CPAD, 7ª Ed., 2000.

Chamamos a atenção para o fato de que a não existência do vínculo trabalhista não quer dizer que o pastor não teria direito à aposentadoria pela sistema previdenciário nacional, pois a contribuição decorrente de sua remuneração (que não é salário), deverá servir de fato gerador e base de cálculo para o devido recolhimento de sua contribuição previdenciária.

Deve ser esclarecido que, como o pastor não é empregado da igreja na qual exerce seu ministério (é assim que é visto pelo direito a relação entre pastor e igreja), o pastor também não recebe salário, mas sim uma remuneração que poderá ser denominada de remuneração pastoral. Sobre a denominação da remuneração do pastor, Rubens Moraes em sua obra acima citada sugere que qualquer valor pago ao pastor deverá ser discriminado como renda eclesiástica ou prebenda.

Sob o ponto de vista tributário, o pastor deverá apresentar sua declaração de ajuste anual para a receita federal, e conforme o caso deverá recolher o imposto de renda decorrente de sua remuneração, ou não, dependendo do enquadramento de sua remuneração na tabela progressiva expedida pela Secretaria da Receita Federal, em qualquer caso tais decisões deverão ser definidas juntamente com uma boa assessoria contábil.

Por fim deixamos claro que não existe dúvida de que o ministro de confissão religiosa NÃO é empregado, NÃO tem vínculo profissional ou mesmo jurídico especialmente decorrente do exercício de sua vocação com a organização religiosa onde serve, NÃO é prestador de qualquer tipo de serviço, NÃO é trabalhador autônomo e portanto, qualquer que seja o caso, sua remuneração NÃO é contraprestação de qualquer tipo de serviço por ele prestado na condição de ministro de confissão religiosa.

Dessa maneira também é absolutamente ilegal a criação de sindicatos ou órgãos de representação de classe para os ministros de confissão religiosa.

SUPREMO TRIBUNAL PERMITE ISENÇÃO DE ICMS A TEMPLO RELIGIOSOEm relação à tributação de seu patrimônio, a igreja goza de imunidade constitucional (aliás, entendemos imunidade como um instituto de não tributação, constitucional por excelência, não existe imunidade se não

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for por disposição expressa de nossa Constituição Federal).

O artigo 150, VI, “b”, da Constituição Federal dispõe que:

"Art. 150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

VI – instituir imposto sobre:...b) templos de qualquer culto."

Decorre dessa norma o não pagamento do Imposto Territorial Urbano, pois é o tributo que incide sobre o templo. Para que a igreja possa se beneficiar dessa imunidade constitucional é necessário que seja requerido no município no qual esteja instalado seu templo.

Mas, a imunidade tal como prevista acima não poderá ser aplicada somente ao templo, forçosamente teremos que entende-la aplicável também aos acessórios do templo e que possibilitam que este tenha sua finalidade cumprida.

No dizer de Aristeu de Oliveira e Valdo Romão: “entende-se que, ao instituir a imunidade tributária aos templos de qualquer culto, esperava o legislador também contemplando não somente o templo como local de culto, mas também suas dependências e outros imóveis relacionados com suas finalidades essenciais.” in ROMÃO, Valdo e Oliveira, Aristeu. Manual do Terceiro Setor e Instituições Religiosas. São Paulo: Atlas, 2008, p. 45. 

Até mesmo os veículos de uma organização religiosa, que tenham relação direta com a finalidade do templo, deveriam usufruir da imunidade constitucional, pois deve se considerar que a imunidade prevista no dispositivo constitucional acima citado decorre do princípio da laicidade do estado tal como previsto no Artigo 19, I, de nossa Carta Magna a saber: "Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;".

Certamente as organizações religiosas tem ferramentas jurídicas apropriadas para a discussão judicial visando a devolução de eventuais impostos arrecadados pelos entes públicos ao arrepio de nossa Lei

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Maior, bem como visando o não pagamento futuro de tais impostos, usufruindo dessa maneira da imunidade constitucional conforme acima apresentada.

Em recente decisão o Pleno nossa Corte Máxima, acolhendo o voto do Ministro Marco Aurélio na ADI 3421, decidiu no mesmo sentido de entender de maneira ampla a imunidade constitucional prevista no Artigo 150, VI, “b”, de Nossa Carta Magna, vejamos a seguir a íntegra da decisão:

"05/05/2010 STF - PLENÁRIOAÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.421 PARANÁV O T OO SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – A disciplina legal em exame apresenta peculiaridades a merecerem reflexão para concluir estar configurada, ou não, a denominada “guerra fiscal”. Vem-nos da Constituição Federal, em termos de limitações ao poder de tributar, norma de imunidade. Consoante o artigo 150, inciso VI, alínea “b”, os templos de qualquer culto estão imunes a impostos. A teor do § 4º do citado artigo, a isenção limita-se ao patrimônio, à renda e aos serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nela mencionadas. A toda evidência, o preceito versa a situação do contribuinte de direito. Ao lado da imunidade, há a isenção e, quanto ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, visando a editar verdadeira autofagia, a alínea “g” do inciso XII do § 2º do artigo 155 da Carta da República remete a lei complementar regular a forma como, mediante deliberação dos estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.A lei complementar relativa à disciplina da matéria é a nº 24/75. Nela está disposto que, ante as peculiaridades do ICMS, benefícios fiscais hão de estar previstos em instrumento formalizado por todas as unidades da Federação. Indago: o preceito alcança situação concreta que objetive beneficiar, sem que se possa apontar como alvo a cooptação, não o contribuinte de direito, mas o contribuinte de fato, presentes igrejas e templos de qualquer crença, quanto a serviços públicos estaduais próprios, delegados, terceirizados ou privatizados de água, luz, telefone e gás? A resposta é negativa.A proibição de introduzir-se benefício fiscal, sem o assentimento dos demais estados, tem como móvel evitar competição entre as unidades da Federação e isso não acontece na espécie. Friso, mais uma vez, que a disciplina não revela isenção alusiva a contribuinte de direito, a contribuinte que esteja no mercado, mas a contribuintes de fato, de especificidade toda própria, ou seja, igrejas e templos, notando-se, mais, que tudo ocorre no tocante ao preço de serviços públicos e à incidência do ICMS.

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Está-se diante de opção político-normativa possível, não cabendo cogitar de discrepância com as balizas constitucionais referentes ao orçamento, sendo irrelevante o Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 561117. ADI 3.421 / PR cotejo buscado com a Lei de Responsabilidade Fiscal, isso presente o controle abstrato de constitucionalidade. No caso, além da repercussão quanto à receita, há o enquadramento da espécie na previsão da primeira parte do § 6º do artigo 150 da Carta Federal, o qual remete a isenção a lei específica.Julgo improcedente o pedido formulado."