apostila de drenagem

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 246 14. HISTÓRIA DA DRENAGEM URBANA 14.1. CONCEITO HIGIENISTA Entre 1850 e o fim do século XIX, Paris tornou-se uma referência mundial por construir uma importante rede de esgotos, denominada “TOUT À ÉGOUT”, ajudando a cristalizar o conceito higienista (higiene pública). O conceito higienista não demorou a chegar ao Brasil como testemunham as primeiras redes enterradas de esgoto sanitário implantadas em 1864 no Rio de Janeiro, mas ele somente seria aplicado mais decididamente após a proclamação da República em 1889 (Melo Franco, 1968). Nesta época, havia no mundo um casamento bem sucedido a filosofia higienista e o domínio da hidráulica de condutos e canais que permitia promover o saneamento junto com as reformas urbanísticas. Os sanitaristas da época estavam atentos a isso e, no fim do século XIX, o Brasil vê surgir entre eles a grande figura do engenheiro fluminense Saturnino de Brito (1864-1929), formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Adepto do  positivismo, ele revoluciona o conceito higienista no Brasil ao trabalhar no saneamento da cidade de Santos (Obras, 1943). Saturnino de Brito, apresenta argumentos sólidos em favor do sistema separador absoluto (redes de condutos separados para esgotos pluviais e cloacais) contra o sistema dominante da época que era o unitário. Em decorrência da atuação de Saturnino de Brito, já no início do século XX, o conceito higienista, usando uma rede de drenagem pluvial separada dos esgotos domésticos, ficou estabelecido como regra para as cidades brasileiras. Em 2000, cerca de 82% dos municípios brasileiros com redes subterrâneas tinham sistemas separadores (Pesquisa, 2002). OBSERVAÇÃO:  A intensidade das chuvas tropicais não favorecem os sistemas unitários, pois a vazão é muito grande comprometendo o tratamento do “esgoto”.  O conceito higienista predominou até século XX no mundo inteiro, mas o fim da sua história já foi decretada nos anos 60, nos países desenvolvidos, quando a consciência ecológica expôs suas limitações para levar em conta os conflitos ambientais entre as cidades e o ciclo hidrológico.

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Apostila de drenagem urbana, usada como referência em TCC de faculdades renomadas de todo o Brasil.

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  • 246

    14. HISTRIA DA DRENAGEM URBANA

    14.1. CONCEITO HIGIENISTA

    Entre 1850 e o fim do sculo XIX, Paris tornou-se uma referncia mundial por

    construir uma importante rede de esgotos, denominada TOUT GOUT, ajudando a

    cristalizar o conceito higienista (higiene pblica).

    O conceito higienista no demorou a chegar ao Brasil como testemunham as primeiras

    redes enterradas de esgoto sanitrio implantadas em 1864 no Rio de Janeiro, mas ele somente

    seria aplicado mais decididamente aps a proclamao da Repblica em 1889 (Melo Franco,

    1968). Nesta poca, havia no mundo um casamento bem sucedido a filosofia higienista e o

    domnio da hidrulica de condutos e canais que permitia promover o saneamento junto com as

    reformas urbansticas. Os sanitaristas da poca estavam atentos a isso e, no fim do sculo

    XIX, o Brasil v surgir entre eles a grande figura do engenheiro fluminense Saturnino de

    Brito (1864-1929), formado pela Escola Politcnica do Rio de Janeiro. Adepto do

    positivismo, ele revoluciona o conceito higienista no Brasil ao trabalhar no saneamento da

    cidade de Santos (Obras, 1943). Saturnino de Brito, apresenta argumentos slidos em favor do

    sistema separador absoluto (redes de condutos separados para esgotos pluviais e cloacais)

    contra o sistema dominante da poca que era o unitrio.

    Em decorrncia da atuao de Saturnino de Brito, j no incio do sculo XX, o

    conceito higienista, usando uma rede de drenagem pluvial separada dos esgotos domsticos,

    ficou estabelecido como regra para as cidades brasileiras. Em 2000, cerca de 82% dos

    municpios brasileiros com redes subterrneas tinham sistemas separadores (Pesquisa, 2002).

    OBSERVAO: A intensidade das chuvas tropicais no favorecem os sistemas

    unitrios, pois a vazo muito grande comprometendo o tratamento do esgoto.

    O conceito higienista predominou at sculo XX no mundo inteiro, mas o fim da sua

    histria j foi decretada nos anos 60, nos pases desenvolvidos, quando a conscincia

    ecolgica exps suas limitaes para levar em conta os conflitos ambientais entre as cidades e

    o ciclo hidrolgico.

  • 247

    14.2. CONCEITO AMBIENTAL

    O conceito ambiental aplicado drenagem urbana fez com que os cones das solues

    higienistas deixassem de reinar sozinhos, ou seja, o rol de obras tradicionais como condutos,

    sarjetas, bocas-de-lobo, crregos retificados, entre outras, teria de ser ampliado para admitir

    solues alternativas e complementares evacuao rpida dos excessos pluviais, dentro de

    um contexto de preservao ambiental (Tucci e Genz, 1995). Obras de reteno e

    amortecimento de escoamentos, como pavimentos permeveis, superfcies e valas de

    infiltrao, reservatrios e lagos de deteno e a preservao dos arroios naturais passaram a

    fazer parte do vocabulrio da drenagem urbana. Alm disso, o enfoque ambiental preconiza

    tambm o tratamento dos esgotos pluviais que podem ser to poluidores quanto os esgotos

    cloacais.

    14.3. TENDNCIA DOS CONCEITOS NO BRASIL

    A maioria das obras de drenagem urbana no Brasil ainda segue o conceito higienista.

    A razo principal que o conceito ambiental muito mais difcil e caro de aplicar porque

    exige aes integradas sobre grandes reas, com conhecimento tcnico multidisciplinar, ao

    contrrio das aes higienistas, voltadas a solues locais, e concebidas unicamente por

    engenheiros civis. Alm disso, o conceito higienista, embora ultrapassado, exerce ainda um

    atrativo muito grande pela sua simplicidade (toda gua circulante deve ir rapidamente para o

    sistema de captao, evitando insalubridades e desconfortos, nas casas e nas ruas) e pelo fato

    das obras de infra-estrutura por ele exigidas terem um comportamento dinamicamente restrito,

    portanto fceis de dimensionar, pois s tm uma funo de transporte rpido, isto , pegar e

    largar rpido.

    O livrar-se rapidamente da gua tornou-se praticamente um dogma no meio tcnico,

    convencendo inclusive populao que aplica a mesma idia na suas propriedades

    particulares urbanas. No Brasil, como parece ser em outros pases em desenvolvimento, h o

    agravante ainda de o conceito higienista ser mal aplicado, seja por falta de recursos, mau

    dimensionamento, m execuo ou por manuteno deficiente. Adicionalmente, as presses

    scio-econmicas exercidas pela sociedade brasileira como um todo agravam o quadro

  • 248

    estabelecendo um cenrio difcil para implantao de qualquer conceito de drenagem urbana,

    sobretudo a ambiental: urbanizao acelerada e desordenada, criao de um mosaico de

    ocupaes (favelas desassistidas vizinhas a bairros equipados) e nvel de educao ambiental

    deficiente (arroios e bocas-de-lobo vistos por grande parte da populao como locais de

    destino de dejetos e lixo).

    A histria da drenagem urbana no Brasil apesar dessas dificuldades parece estar hoje

    numa transio entre a abordagem higienista e a ambiental. Muitas capitais, como Rio de

    Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, esto promovendo aes no sentido de

    estabelecer planos diretores de drenagem urbana, seguindo os preceitos do conceito ambiental

    que passa pela conscientizao de que a drenagem urbana deve se integrar ao planejamento

    ambiental das cidades, deixando de ser apenas um mero problema de engenharia.

    O que importa uma correta gesto dos impactos do meio urbano sobre o meio-

    ambiente hidrolgico e isto transcende a um simples receiturio de obras padro e remete a

    uma abordagem mais complexa incluindo aspectos tcnicos de engenharia, sanitrios,

    ecolgicos, legais e econmicos e que exige uma conexo muito mais estreita com a

    concepo e gesto dos espaos urbanos. O ciclo hidrolgico elemento chave na definio

    do saneamento urbano e da drenagem.

    Portanto, as conseqncias do conceito higienista so:

    Acelerao do escoamento,

    Afastamento rpido dos picos de cheias para os corpos receptores, com

    sobrecargas destes, comprometendo principalmente a macrodrenagem.

    14.4. CONCEITOS INUNDAES, ENCHENTES E DRENAGEM (TUCCI,

    2002)

    14.4.1. Inundaes

    Os rios transbordam sempre que as chuvas forem muitos intensas. Normalmente um

    rio, ou mesmo um pequeno crrego, escoa por um canal natural que suficiente para

    transportar apenas uma pequena quantidade de gua durante o tempo todo.

    Quando ocorrem as chuvas contnuas por longos perodos de tempo, aquele canal que

    alimentado por estas chuvas pode transbordar, passando a ocupar uma faixa lateral ao canal.

  • 249

    Esta faixa tem o nome de vrzea ou zona de inundao natural. Ainda hoje, muitos campos de

    futebol so feitos nas vrzeas de rios, o futebol de vrzea. Muito antes que os homens

    construssem as primeiras cidades, os rios inundavam suas margens durante a poca das

    chuvas.

    Rio

    Vrzea (Zona de inundao)

    Vrzea (Zona de inundao)

    14.4.2. Enchente

    As enchentes so mais graves que as inundaes porque a gua das chuvas ocupa uma

    rea maior do que simplesmente as vrzeas dos rios.

    No caso de uma enchente, no se pode falar em transbordamento dos rios. Uma

    enchente muito mais que isto porque mesmo que os rios sejam bem largos e profundos,

    ainda assim no so suficientes para transportar a grande quantidade de gua das chuvas.

    As grandes enchentes que ocorrem uma vez a cada 20 ou 30 anos so fenmenos

    naturais provocados por chuvas excepcionais, ou seja, chuvas muito raras muito intensas ou

    contnuas. Mas, se a cada vez que ocorre uma chuva mais ou menos forte, tambm ocorrem

    enchentes nas cidades, alguma coisa est errada.

    14.4.3. Drenagem

    A drenagem um conjunto de obras construdas com a finalidade de evitar

    inundaes freqentes. Um sistema de drenagem composto basicamente pelas bocas de lobo

    que captam as guas das chuvas que escoa pelas ruas, caladas e sarjetas e pelas galerias

    pluviais que recebem essas guas e conduziro as mesmas para os rios e canais que

    atravessam a cidade.

  • 250

    14.5. GUA NO MEIO URBANO

    Nos pases em desenvolvimento, a prioridade n 2 o tratamento de esgoto. Em alguns

    pases, como o Brasil, o abastecimento de gua, prioridade n 1 que poderia estar resolvido,

    devido grande cobertura de abastecimento, volta a ser um problema devido a forte

    contaminao dos mananciais (Tucci, 2002). Este problema decorrncia da baixa cobertura

    de esgoto tratado. As regies metropolitanas expandem-se na periferia, justamente onde se

    concentram os mananciais, agravando sua condio. A tendncia de que as cidades

    continuem buscando novos mananciais sempre mais distantes e com alto custo. Neste

    contexto, o estgio do controle da qualidade da gua resultante da drenagem est ainda mais

    distante nos pases em desenvolvimento. At o controle quantitativo da drenagem urbana

    ainda limitado nesses pases.

    Tucci (2002) fala em um ciclo de contaminao urbana que se observa nas cidades

    brasileiras devido a um gerenciamento precrio.

    A ineficincia pblica segundo Tucci (2002) observada em vrios domnios das

    guas urbanas que podem ser resumidos no seguinte:

    Perda significativa (cerca de 40%) da gua tratada nas redes de distribuio

    urbana;

    Redes que no coletam esgoto suficiente, da mesma forma, que estaes de

    tratamento continuam funcionando abaixo da sua capacidade instalada:

    Redes pluviais com dois problemas bsicos:.(a) transporte indesejado de esgoto

    cloacal in natura, assim como da contaminao do escoamento pluvial (carga

    orgnica, txicos e metais); (b) canais e condutos so construdos sem muito

    planejamento, havendo excesso deles, cujo efeito apenas de transferir

    inundaes de um local para outro dentro da cidade, a custos insustentveis

    para os municpios.

    Isto demonstra que os aspectos relacionados com a infra-estrutura das guas urbanas

    tm sido planejados de forma inadequada. Grande parte dos problemas citados est

    relacionada com a forma setorial de como so tratados. Por isso, a gesto integrada das guas

    urbanas v a drenagem urbana moderna enquadrada numa viso ampla de planejamento das

    reas urbanas, que envolve principalmente:

    planejamento do desenvolvimento urbano;

  • 251

    transporte;

    abastecimento de gua e saneamento;

    drenagem urbana e controle de inundaes;

    resduo slidos;

    controle ambiental.

    14.6. DRENAGEM URBANA MODERNA

    O enfoque ambiental da drenagem urbana moderna preocupa-se com a manuteno e

    recuperao de ambientes saudveis interna e externamente rea urbana, ao invs de s

    procurar sanear o interior da cidade, segundo preceitos meramente sanitaristas.

    A drenagem urbana moderna deve ter os seguintes princpios (Tucci e Genz, 1995):

    No transferir impactos para jusante;

    No ampliar cheias naturais;

    Propor medidas de controle para o conjunto da bacia;

    Legislao e Planos de Drenagem para controle e orientao;

    Constante atualizao de planejamento por estudo de horizontes de expanso;

    Controle permanente do uso do solo e reas de risco;

    Competncia tcnico-administrativa dos rgos pblicos gestores;

    Educao ambiental qualificada para o poder pblico, populao e meio

    tcnico.

    Na verdade h a proposio de mudana de paradigma da gesto da drenagem urbana

    de um enfoque sanitrio-higienista (do livrar-se das guas pluviais o mais rpido possvel)

    para um enfoque ambiental (reequilbrio do ciclo hidrolgico para mais perto do natural) que

    segue os princpios acima, destacando-se o controle na fonte. Para isso necessria uma

    verdadeira integrao entre todos os chamados setores da gua.

    Para Tucci (2002) esta integrao est vinculada ao reconhecimento de que as

    seguintes inter-relaes devem ser efetivamente consideradas no planejamento urbano:

    o abastecimento de gua realizado partir de mananciais que podem ser

    contaminados pelo esgoto cloacal, pluvial ou por depsitos de resduos slidos;

    a soluo do controle da drenagem urbana depende da existncia de rede de

  • 252

    esgoto cloacal e suas caractersticas;

    a limpeza das ruas, a coleta e disposio de resduos slidos interfere na

    quantidade e na qualidade da gua dos pluviais.

    O enfoque sanitrio-higienista que setorizou demasiadamente a drenagem pluvial

    influenciou at a estrutura institucional municipal. Hoje, os municpios apresentam uma

    capacidade institucional limitada para enfrentar problemas to complexos e interdisciplinares.

    14.7. POR QUE ATUALMENTE OCORREM TANTAS ENCHENTES NAS

    CIDADES?

    Algumas cidades so mais sujeitas a inundaes e enchentes porque nasceram muito

    prximas de rios. A gua necessria para tudo; assim, nada mais natural que os homens de

    antigamente construrem suas casas e vilas ao lado de rios. Com o passar do tempo, estas vilas

    transformaram-se em grandes cidades.

    Outras cidades, comearam a sofrer com as enchentes mesmo situando-se longe dos

    rios. Algumas das causas das enchentes so devidas prpria construo das cidades e tudo

    que elas contm: casas, prdios e ruas.

    Vamos aqui explicar um pouco disso de uma forma bem simplificada.

    Quando construmos uma casa, um ptio, ou uma calada, o que estamos fazendo

    revestir a terra, o cho. Antes da construo a gua da chuva podia penetrar no solo com mais

    facilidade. Mas depois, a gua da chuva no consegue se infiltrar e ento ela escorre pelas

    superficies. Isto se chama impermeabilizao do solo. Em um campo aberto com rvores, uma

    grande parte da gua da chuva fica retida nas rvores ou infiltra-se no solo. Mas o que ocorre

    em uma rea ocupada com muitas construes?

    Quando a superficie por onde a gua escoa lisa, por exemplo, no caso dos ptios

    de cimento ou das sarjetas ou ainda o asfalto das ruas, a velocidade da gua pode ser muito

    maior do que quando a gua escoa por uma superficie mais spera, como um gramado.Isso

    significa que a gua escoa mais depressa e pode se acumular nos pontos mais baixos de uma

    rea da cidade.

    Por isso, com o crescimento das cidades, temos maiores acmulos de gua da chuva

    que no se infiltra no solo e, portanto, escoa mais rpido em direo aos pontos crticos.

  • 253

    14.8. O QUE FAZER PARA EVITAR ENCHENTES E INUNDAES?

    Vamos enumerar algumas coisas que podem estar ao nosso alcance. Primeiramente,

    em nossa prpria casa e depois vamos tambm pensar em nosso bairro e na cidade em que

    vivemos.

    Evitar fazer grandes ptios cimentados. Um quintal mantido com grama, horta

    ou rvores facilita a infiltrao da gua das chuvas no solo ou mesmo a

    reteno desta gua nas folhas das plantas.

    Se em nosso ptio existe um crrego, devemos mant-lo aberto e limpo.

    Quando canalizamos um crrego com um bueiro ou construmos sobre ele,

    estamos dificultando a passagem da gua.

    Os esgotos domsticos no devem ser ligados s galerias pluviais. Se no

    existe rede de esgotos em nosso bairro, devemos buscar os rgos responsveis

    para que faam a sua parte. Enquanto isso, podemos tratar os esgotos de nossa

    casa com uma fossa.

    No jogar papis ou lixo nas ruas porque as bocas de lobo ficaro entupidas e

    no podero dar entrada para a gua nas galerias pluviais.

    Um lote na margem de um crrego no um bom local para se construir uma

    casa. Mais cedo ou mais tarde, este crrego vai transbordar e poder causar

    srios prejuzos. As margens dos crregos e rios devem ser conservadas sem

    construes, numa faixa de 30 metros (varia de municpio para municpio).

    Os loteamentos devem ter rea verde nas partes mais baixas e prximas dos

    crregos. As reas verdes ajudam a infiltrao e a reteno da gua das chuvas.

    Um loteamento de uma rea situada em um morro deve ser muito bem

    planejado porque, na maior parte das vezes, a construo de ruas e casas nestas

    reas mais altas ir agravar muito as enchentes nas reas mais baixas. Isto sem

    contar ainda o perigo dos deslizamentos.

  • 254

    Fig

    ura

    70

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    2).

    15. GERENCIAMENTO DAS GUAS

    15.1. DESEQUILBRIO DO CICLO HIDROLGICO: EFEITO DA

    URBANIZAO

    medida que a urbanizao avana h menos perdas anuais de evapotranspirao e

    maiores parcelas do escoamento passam a circular na rede pluvial e nos arroios diminuido a

    recarga dos aqferos, passando a haver menos escoamento de base.

    A figura 70 mostra o efeito da urbanizao sobre o comportamento hidrolgico.

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  • 255

    t1 t2 tempo

    Qmx.2

    Qmx.1

    15.2. EFEITO DA URBANIZAO SOBRE O ESCOAMENTO SUPERFICIAL

    O escoamento superficial o excesso de gua no infiltrado da precipitao que surge

    sobre o solo pela ao da gravidade, na direo das cotas mais baixas, vencendo

    principalmente o atrito com a superficie do solo. , por isso, um escoamento rpido se

    comparado ao escoamento subterrneo e mesmo ao hipodrmico. Pode ser capturado por

    depresses e banhados (deteno superficial), onde infiltra, evapora ou amortecido. O

    escoamento superficial livre manifesta-se inicialmente na forma de pequenos filetes de gua

    que se moldam ao microrrelevo do solo. A eroso de partculas de solo em seus trajetos na

    topografia existente molda, por sua vez, uma microrede de drenagem efmera que converge

    para a rede de cursos dgua mais estveis, formada por arroios e rios.

    A figura 71 mostra o efeito da urbanizao sobre o escoamente superficial.

    Figura 71 Efeito da urbanizao sobre o escoamento superfcial, segundo TUCCI, 2002.

    Em sntese, a urbanizao desequilibra o fluxo natural das guas, seja ela mesmo

    alterando os volumes dos diversos processos hidrolgicos, seja interpondo-se ao caminho

    natural delas.

    As consequncias objetivas da urbanizao so as seguintes:

    Inundaes ribeirinhas: ocorrem principalmente pelo processo natural no

    qual o rio escoa pelo seu leito maior, assim este tipo de enchente decorrncia

  • 256

    de processo natural do ciclo hidrolgico, de modo que, quando a populao

    ocupa o leito maior, que so reas de risco, os impactos so freqentes (Tucci,

    2002);

    Inundaes intra-urbanas: a impermeabilizao do solo reduz ou at mesmo

    evita a infiltrao da chuva no solo, produzindo mais gua para drenagem e a

    rede pluvial acelera os escoamentos, favorecendo a acumulao de gua em

    pontos de saturao.

    Com respeito s inundaes ribeirinhas, baseado em Tucci (2002), podemos apontar o

    seguinte:

    na quase totalidade das cidades brasileiras, mesmo as com Plano Diretor, no

    existe nenhuma restrio quanto ao loteamento de reas de risco de inundao,

    e uma seqncia de anos sem enchentes razo suficiente para que

    empresrios loteiem reas inadequadas;

    populao de baixa renda invade com facilidade reas ribeirinhas que

    pertencem ao poder pblico;

    reas de mdio risco, que so atingidas com freqncia menor, sofrem

    prejuzos significativos quando as enchentes as atingem.

    Desta forma, os principais impactos sobre a populao so (Tucci, 2002):

    prejuzos de perdas materiais e humanas;

    interrupo da atividade econmica das reas inundadas;

    contaminao por doenas de veiculao hdrica como leptospirose, clera,

    entre outras;

    contaminao da gua pela inundao de depsitos de material txico, de

    estaes de tratamentos entre outros.

    As inundaes devido a urbanizao, por outro lado, acarretam nos seguintes impactos

    principais (Tucci, 2002):

    aumento das vazes mximas e da sua freqncia;

    aumento da produo de sedimentos devido desproteo das superfcies e

    produo de resduos slidos (lixo);

    deteriorao da qualidade da gua superficial e subterrnea, devido a lavagem

    das ruas, transporte de material slido e s ligaes clandestinas de esgoto

    cloacal e pluvial e contaminao de aqiferos;

  • 257

    15.3. REEQUILBRIO DO CICLO HIDROLGICO URBANO

    Deve-se buscar:

    Favorecer a infiltrao da chuva no solo para no saturar a rede pluvial

    existente nem incentivar a construo excessiva de rede de condutos e canais

    para drenagem.

    Promover onde possvel a reservao temporria das guas pluviais para

    tambm no onerar a rede pluvial e propiciar alagamentos em locais indevidos.

    OBSERVAES: 1) O ideal fazer com que o ciclo hidrolgico em meio urbano

    tenha volumes dgua nos diversos compartimentos (escoamento superficial, infiltrao no

    solo, evapotranspirao) em nveis anlogos situao de pr-urbanizao.2) Os

    reequilbrios necessrios inserem-se dentro de uma filosofia ambientalisla da gesto da

    drenagem pluvial, na qual a drenagem urbana deve se integrar ao planejamento urbano

    ambiental das cidades, deixando de ser apenas um mero problema de engenharia. A palavra-

    chave sustentabilidade.

    15.4. IMPACTOS DO DESENVOLVIMENTO URBANO NA DRENAGEM

    15.4.1. Consideraes

    Com a urbanizao, temos os principais impactos de quantidade e de qualidade, tais

    como:

    bacias de pequeno porte, onde se concentra a rea impermeabilizada;

    aumento da vazo de pico e antecipao da frequncia de ocorrncia;

    aumento do volume do escoamento superficial;

    diminuio da evaporao e da recarga subterrnea;

    aumento da poluio de origem pluvial;

    aumento da produo de sedimentos.

    Aumento da vazo mdia de cheia (6 a 7 vezes) devido impermeabilizao.

  • 258

    Reduo do tempo de concentrao e aumento das reas impermeveis devido

    canalizao.

    15.4.2. Fatores agravantes das inundaes

    Temos:

    Canalizao de crregos sem a devida anlise de impactos jusante

    (transferncia de inundaes de um ponto para outros).

    Uso do sistema de drenagem para esgotamento sanitrio domstico e industrial;

    Ocupao das reas de inundao pela populao depois de anos de cheias

    menores;

    Aumento da produo de sedimentos;

    Geralmente, as reas mais atingidas so de populaes pobres;

    No existe tradio em medidas preventivas nas reas de inundao.

  • 259

    16. IMPORTNCIA E COMPETNCIA DOS SISTEMAS DE DRENAGEM

    16.1. RESPONSABILIDADE

    No Brasil, institucionalmente, a infraestrutura de microdrenagem reconhecida como

    competncia dos governos municipais que devem total responsabilidade para definir as aes

    no setor, ampliando-se esta competncia em direo aos governos estaduais e at federais na

    medida em que crescem de relevncia as questes de maior abrangncia como dissipador de

    energia, canalizao de rios, estudo das bacias hidrogrfica, etc.

    16.2. OCUPAO DO SUB-SOLO NA VIA PBLICA

    Um sistema de drenagem de guas pluviais por ser constitudo de tubulaes de

    grande porte, normalmente interfere com outras redes tais como, tubulaes de gua, esgoto,

    gs, dutos (cabos) eltricos, telefnicos, etc. Esse aspecto deve merecer cuidadoso estudo,

    principalmente na fase de execuo, quando pode aparecer tais obstculos cadastrados ou no.

    16.3.CONSEQUNCIAS DA URBANIZAO

    Na implantao de uma cidade, o desmatamento pode causar eroso num certo local

    do terreno e consequentemente assorear outros locais mais baixos, isto se, o desenvolvimento

    urbano ocorrer de forma desordenada.

    Uma ocupao urbana bem planejada deve sempre prever obras que, possibilitem

    adequado escoamento das guas pluviais excessivas, evitando inundaes, acmulo de gua

    parada e velocidades excessivas. Com o aumento da rea impermevel (aumento da vazo)

    muitas cidades esto passando por dificuldades (transtornos) nas regies sujeitas as

    inundaes com prejuzos materiais, sociais e sanitrios.

    Uma coleta de lixo ineficiente, somada a um comportamento indisciplinado dos

  • 260

    cidados, acaba por entupir galerias, bueiros e poluir ainda mais as guas do corpo receptor

    (rio, lago).

    Os problemas de controle de poluio diretamente relacionados drenagem urbana

    tm sua origem na deteriorao da qualidade dos cursos receptores das guas pluviais. Alm

    de aumentar o volume do escoamento superficial direto, a impermeabilizao da superficie

    tambm faz com que a recarga subterrnea, j reduzida pelo aumento do volume das guas

    servidas (conseqncia do aumento da densidade populacional), diminua ainda mais,

    restringindo as vazes bsicas a nveis que podem chegar a comprometer a qualidade da gua

    pluvial nestes cursos receptores, no bastasse o fato de que o aumento do volume das guas

    servidas j um fator de degradao da qualidade das guas pluviais.

    Dentre os problemas relativos ocupao do solo, sobressaem-se as conseqncias da

    proliferao de loteamentos executados sem condies tcnicas adequadas, decorrente da

    desonestidade e da ausncia quase total de fiscalizao apropriada, idnea e confivel, o que

    dificulta (e muito) a aplicao de critrios tcnicos na liberao de reas para loteamento.

    Como conseqncia direta da ausncia absoluta da observao de normas que

    impeam a ocupao de cabeceiras ngremes e de vrzeas de inundao, so ocupados

    terrenos totalmente inadequados ao assentamento. Os problemas sociais decorrentes,

    principalmente, da migrao interna, faz com que grandes contingentes populacionais se

    instalem em condies extremamente desfavorveis, desprovidos das mnimas condies de

    urbanidade, inviabilizando a imposio das mais bsicas normas de atenuao de inundaes.

    Compostas em grande parte por indivduos analfabetos ou semi-alfabetizados, estas

    comunidades no tem interesse em qualquer tentativa de elucidao de problemas tipicamente

    urbanos.

    O xodo rural e o conseqente crescimento desenfreado e catico das populaes

    urbanas no Brasil tm contribudo negativa e significativamente aos problemas relacionados

    s questes da drenagem urbana. A inexistncia de controle tcnico da distribuio racional

    da populao dificulta a construo de canalizaes para que se possa eliminar reas de

    armazenamento. Dentro da realidade brasileira, a hipertrofia acelerada e desordenada das

    grandes cidades faz com que dificilmente seja possvel impedir o loteamento e a ocupao de

    reas vazias, j que no h interesse do poder pblico em desapropri-las e ocup-las

    adequada e racionalmente, fazendo que surjam reas extensas e adensadas sem qualquer

    critrio (Professor: Antonio Cardoso Neto).

  • 261

    16.4. PLANO DIRETOR

    Um plano de desenvolvimento urbano deve considerar de modo mais amplo os

    aspectos relativos ao escoamento de guas pluviais, procurando controlar a

    impermeabilizao com mais reas permeveis (grama, brita, elementos vasados, etc),

    preservar reas para reteno natural e principalmente rea para escoamento dos excessos de

    gua ao longo dos fundos de vale.

    Assim, um plano diretor deve considerar o problema do escoamento das guas

    superficiais excessivas e, principalmente, adequar os fundos de vale para as vazes de

    enchentes que ali podero ocorrer. Muitas vezes mais econmico adequar o uso de um

    fundo de vale as inundaes peridicas do que construir obras de proteo contra essas

    inundaes.

    altamente recomendvel que um plano diretor de drenagem urbana evite medidas

    locais de carter restritivo (que freqentemente deslocam o problema para outros locais,

    chegando agravar as inundaes jusante), atravs da bacia hidrogrfica como um todo.

    O plano diretor deve possibilitar a identificao das reas a serem preservadas e a

    seleo das que possam ser adquiridas pelo poder pblico antes que sejam ocupadas, loteadas

    ou que seus preos se elevem e tornem a aquisio praticamente impossvel. tambm

    recomendado um estudo da zona de inundao. O plano de drenagem deve ser articulado com

    outras atividades urbanas (abastecimento de gua, rede de esgoto, transporte pblico, planos

    virios, etc). Do plano deve tambm constar a elaborao de campanhas educativas que visem

    a informar a populao sobre a natureza e a origem do problema das enchentes, sua

    magnitude e conseqncias.

    OBSERVAO: A solicitao de recursos deve ser respaldada tcnica e

    politicamente, dando sempre preferncia adoo de medidas preventivas de maior alcance

    social e menor custo.

    O plano de Drenagem Urbana deve obedecer aos controles estabelecidos no plano da

    bacia no qual estiver inserido, lembrando que o uso do solo, a Constituio Federal, define

    que de responsabilidade do Municpio.

    O esquema a seguir mostra o controle do ciclo da gua nas cidades.

  • 262

    OBSERVAO: Na implantao da urbanizao de uma cidade, o projeto de

    drenagem dever fazer parte do projeto de urbanizao e de todas as demais obras de infra

    estrutura. Para implementar medidas sustentveis na cidade necessrio desenvolver o

    Plano Diretor de Drenagem Urbana. O Plano se baseia em princpios onde os principais so

    os seguintes: (a) os novos desenvolvimentos no podem aumentar a vazo mxima da

    jusante; (b) o planejamento e controle dos impactos existentes devem ser elaborados

    considerando a bacia como um todo; (c) o horizonte de planejamento deve ser integrada ao

    Plano Diretor da cidade; (d) o controle dos efluentes deve ser avaliado de forma integrada

    como o esgotamento sanitrio e os resduos slidos.

    16.5. ALTERAES NO CORPO RECEPTOR

    Com a implantao de um sistema de guas pluviais, conseqentemente aumentar a

    vazo de pico no ponto de lanamento, alterando as condies de escoamento do corpo

    receptor (rios, lagos, oceanos).

    As bocas de descarga das galerias de guas pluviais, quando no h dissipador de

    energia so facilmente obstrudas pelo crescimento da vegetao circunvizinha tubulao.

  • 263

    Este crescimento faz com que os materiais slidos encontrados no interior da tubulao e

    carregados pela chuva, se acumulem nos pontos de lanamento prejudicando o bom

    funcionamento da galeria, podendo surgir reas alagadas.

    16.6. REAS DE CONHECIMENTO

    Num projeto de galeria de guas pluviais h a necessidade de rever alguns assuntos de

    Hidrologia e de Hidrulica, como veremos no decorrer deste material.

    OBSERVAO: Como na maioria dos projetos que envolvem a Engenharia

    Sanitria, o de guas Pluviais importante que se conhea as reas (terrenos) adjacentes,

    principalmente as reas montante e a jusante da rea em questo.

    16.7. RESERVATRIOS URBANOS SECOS

    Alguns lugares pblicos principalmente os localizados em zonas baixas das cidades,

    podem ser utilizados para armazenar temporariamente as guas das chuvas, atravs de

    reservatrios enterrados ou semi-enterrados com o propsito de amortecimento das descargas

    mximas.

    Atualmente a maior dificuldade no projeto e implementao desses reservatrios a

    rea disponvel e a quantidade de lixo transportada pela drenagem que obstrui a entrada da

    gua nos reservatrios, e com o seu represamento pode vir a se constituir em uma eventual

    fonte de molstias e at de epidemias.

    16.8. DRENAGEM EM RODOVIAS

    As guas em rodovias devem ter seu escoamento controlado, pois poder ocorrer

    eroso nos acostamentos e taludes de cortes, resultando em manuteno cara e perigosa

  • 264

    devido ao trfego de veculos.

    As valetas ao longo das rodovias, em geral, so construdas em forma de V raso, j

    que essa seo pode ser facilmente conservada e oferece menos riscos aos veculos.

    Estimativas indicam que aproximadamente um quinto (1/5) do custo das rodovias

    destina-se a valas, bueiros e outras estruturas que visam drenagem.

    16.9. ESTUDOS PARA IMPLANTAO DE UM SISTEMA DE DRENAGEM

    16.9.1. Diagnstico da situao atual

    Devemos aplicar uma metodologia apropriada, iniciando pela coleta de dados tais

    como, situao scio-econmica da rea a ser beneficiada; condies naturais do escoamento;

    intensidades de chuvas; valores das vazes j ocorridas; dificuldades de implantao das

    obras; tipo de terreno etc. Com os dados confiveis, justifica-se a necessidade da execuo da

    obra, como por exemplo, indicando as reas que esto sujeitas s inundaes, os prejuzos

    sociais, materiais e sanitrios.

    16.9.2. Prognstico da situao

    Devemos considerar os dados de crescimento econmico, social e urbano, pois, as

    vazes de escoamento superficial so estimadas considerando a previso da

    impermeabilizao no horizonte do projeto. Portanto, aps a anlise de todos os dados

    resultados qualitativos e quantitativos do prognstico, estes normalmente que definem a

    implantao de um sistema de galeria, pois a situao futura sero mais crticas (severas) que

    as atuais.

    16.9.3. Solues alternativas

    Obviamente antes de se implantar qualquer sistema, devemos considerar o benefcio e

    o custo que em regra alto. De um modo geral sempre so feitos estudos alternativos visando

    diminuir os custos.

  • 265

    16.9.4. Estudos Regionais

    No caso de crregos que atravessam zonas urbanas e suburbanas, deve-se levar em

    conta o tipo de canalizao a ser feita: um canal em terra sem revestimento ou um canal

    revestido. Observe que um canal sem revestimento custar menos, mais em compensao

    exigir, cuidados com a proliferao de mosquitos aps as enchentes em locais onde houver

    grama, eroso em seus taludes, desapropriaes ou reduo de faixas laterais destinadas ao

    trfego.

    Apesar de independentes, as obras de macrodrenagem e microdrenagem, mantm um

    estreito relacionamento, devendo ser projetadas conjuntamente para uma determinada rea.

    As obras de macrodrenagem consistem em retificar ou ampliar as sees dos cursos

    naturais, construo de canais artificiais ou galerias de grandes dimenses e estruturas

    auxiliares para proteo contra eroses e assoreamento.

    Os revestimentos utilizados em canais podem ser de concreto armado ou ciclpico,

    alvenaria de pedra argamassada, pedras, pr-moldados, gabies e gramas em pontos

    raramente atingidos pela gua com plantio de placas ou mudas.

    Vantagens de revestir os canais:

    - diminui os desbarrancamentos dos taludes;

    - diminui as eroses de fundo e das margens;

    - diminui as perdas por infiltrao;

    - aumento da velocidade da gua;

    - impede o crescimento da vegetao, e;

    - diminui a freqncia da manuteno.

    OBSERVAO: A maior desvantagem o custo.

    16.9.5. Consideraes finais

    Infelizmente, na prtica, tem-se mostrado que a relao entre custos das obras e os

    prejuzos previsveis quase sempre a soluo adotada no a mais tecnicamente conveniente.

    Apesar de haver uma tendncia generalizada de se declarar prejuzos maiores que os

    realmente ocorridos, os danos causados, por exemplo, por uma inundao so grandes,

    podendo ocasionar perdas de vidas humanas, alm de prejuzos materiais e perda de prestgio

    de administradores municipais.

  • 266

    17. PARTES CONSTITUTIVAS DE UM SISTEMA DE DRENAGEM URBANA

    17.1. MICRO E MACRODRENAGEM

    A microdrenagem urbana consiste do sistema de condutos principais a nvel de

    loteamento ou de rede primria urbana em que capta atravs de bocas-de-lobo as guas

    excessivas e as leva para os fundos de vale, vrzeas, etc, enquanto que a macrodrenagem

    abrange crregos, rios, que so responsveis pelo escoamento final (normalmente aps o

    dissipador de energia) dessas guas.

    17.2. SARJETAS

    So pequenos canais situados ao longo da guia (meio fio) com a finalidade de dirigir o

    escoamento superficial para a captao. As sarjetas devem manter o fluxo dentro de sua

    capacidade e dentro das velocidades admissveis mnimas e mximas pr-estabelecidas por

    normas.

    17.3. CAPTAES

    So dispositivos (caixas de concreto ou alvenaria) chamados de BOCAS DE LOBO

    localizados em intervalos ao longo das sarjetas, com a finalidade de captar o escoamento

    superficial quando a vazo ultrapassa a capacidade da sarjeta (guas excessivas) ou quando a

    gua tende a ficar parada (pontos baixos) ou ainda quando a velocidade for muito grande.

    Observe nos cruzamentos de ruas e ou avenidas que as bocas de lobo se localizam antes das

    faixas de pedestres.

  • 267

    17.4. CONDUTOS DE LIGAO

    So condutos que tm como finalidade, encaminhar a gua captada galeria

    propriamente dita. So condutos que ligam as bocas de lobo as caixas de ligao mais

    prximas ou a poos de visita ou at mesmo ligam boca de lobo com boca de lobo.

    17.5. CAIXAS DE LIGAO

    So caixas de concreto ou alvenaria sem tampo externo para visita (sem entrada para

    os homens do servio). Destinadas a ligar galeria aos condutos de ligao de bocas de lobo

    ou conectar duas ou mais canalizaes de esgotamento de bocas de lobo, quando se desejar

    reuni-las em um nico conduto.

    17.6. POOS DE VISITA

    Poo de visita uma cmara visitvel atravs de uma abertura existente na sua parte

    superior, ao nvel do terreno, destinado a permitir a reunio de dois ou mais trechos

    consecutivos.

    Proporcionam acesso as pessoas de servio aos condutos para inspeo, limpeza e

    reparos e funcionam como caixas de ligao. So semelhantes aos P.V. de esgoto.

    Podem ser previstos nas seguintes situaes:

    - mudanas de direo ou declividade da galeria;

    - junes de galerias;

    - mudanas de dimetro;

    - trechos longos, de modo que a distncia entre dois poos de visita sucessivos

    no exceda cerca de 100 metros. Esta distncia pode ser maior ou menor de acordo

    com a velocidade de escoamento e do sistema de limpeza e manuteno.

  • 268

    17.7. GALERIAS

    So canalizaes fechadas e subterrneas, destinadas a receber as guas pluviais

    atravs dos condutos de ligao e conduzi-las ao seu destino final que pode ser um rio, lago,

    oceano, etc.

    17.8. CANAIS DE DRENAGEM

    So obras artificiais destinadas a conduzir o excesso de gua de uma regio, que

    depende principalmente da topografia do terreno e da natureza do solo, que determinam a

    declividade longitudinal do canal e as inclinaes dos taludes. Tambm existem outros fatores

    que podem interferir no projeto principalmente na construo de um canal de drenagem, como

    por exemplos, a existncia de obras prximas ou no alinhamento do futuro canal, condies

    construtivas etc.

    17.9. DISSIPADOR DE ENERGIA

    So obras especiais destinadas a diminuir as velocidades do fluxo de gua, para evitar

    efeitos prejudiciais estrutura ou natureza de um canal. Os dissipadores de energia so

    utilizados nas bocas de descarga das galerias, que tambm ajudam a evitar o crescimento da

    vegetao no ponto de lanamento.

    17.10. PISCINES

    Os piscines (enormes reservatrios) tm o objetivo de armazenar as guas das chuvas

    durante o pico e reduzir a velocidade com que elas chegam aos rios e crregos, evitando

    transbordamento e alagamento em regies baixas.

  • 269

    Aps as chuvas, as guas armazenadas so liberadas atravs de comportas.

    So Paulo possui vrios piscines com volume de armazenamento variando de 100000

    m a 500000 m.

    17.11. APRESENTAO EM PLANTA DAS PRINCIPAIS PARTES

    CONSTITUINTES

    A seguir temos exemplos de localizao de bocas de lobo (BL), condutos de ligao

    (CL), caixas de ligao (CX), poos de visita (PV) e a galeria propriamente dita em ruas

    pblicas.

    Exemplo 01 Localizao das singularidades, condutos de ligaes e galeria ao longo

    de uma rua, segundo a Secretaria Municipal de Servios Pblicos da cidade de Maring.

  • 270

    Passeio

    Passeio

    Passeio

    Passeio

    faixa de

    pedestre

    sarjeta

    PV Galeria

    45

    45

    45

    45

    CL CL

    CX

    CX

    CL

    CL

    Exemplo 02 Localizao das singularidades, condutos de ligao e galeria num

    cruzamento, segundo a Secretaria Municipal de Servios Pblicos de Maring.

  • 271

    18. MANUTENO E LIMPEZA DOS SISTEMAS DE GALERIAS DE

    GUAS PLUVIAIS

    18.1. INTRODUO

    Dentre as possibilidades de poluio dos mananciais, daremos nfase poluio

    provocada pelo lanamento de poluentes atravs das galerias de guas pluviais que possam

    prejudicar a qualidade da gua de rios e lagos que abastecem diversos municpios.

    Quando uma galeria obstruda normalmente ocasiona o surgimento de reas alagadas

    com transtorno para a populao local. A desobstruo se faz necessria, onde muitas vezes

    h a necessidade de se refazer trechos inteiros da galeria obstruda com custos altssimos.

    A prtica tem mostrado que em muitos casos mesmo que um projeto de galeria de

    guas pluviais tenha sido projetado e executado conforme as Normas Brasileiras ainda assim

    tm trazido problemas como os citados.

    18.2. MANUTENO DAS BOCAS DE LOBO

    18.2.1. Consideraes

    A limpeza rotineira de bocas de lobo atribuio em geral ao Servio de Limpeza

    Pblica por estar ligada varrio das vias pblicas e por no depender de abertura e

    reconstruo de pavimento.

    imprescindvel proceder a sua limpeza peridica a fim de se evitar o carregamento

    de slidos para os ramais e galerias de guas pluviais obstruindo-os total ou parcialmente.

    A freqncia de limpeza de bocas de lobo deve ser executada em funo das

    caractersticas de cada regio.

  • 272

    18.2.2. Caractersticas pluviomtricas

    Regies onde o ndice pluviomtrico alto (limpeza mais freqente) ou baixo

    (limpeza menos freqente) a chuva carrega os materiais encontrados nas vias pblicas para o

    interior das caixas das bocas de lobo, com possibilidades desse material ir para a galeria

    obstruindo-a.

    18.2.3. Caractersticas da vegetao

    A arborizao do Municpio tambm de grande importncia para determinao da

    freqncia de limpeza das bocas de lobo, sendo as rvores, grandes contribuintes para o

    depsito de folhas e flores nas vias pblicas, que acabam sendo levadas junto com a argila

    para o interior das caixas das bocas de lobo.

    18.2.4. Caracterstica do Solo

    Um solo arenoso facilmente carregado pela chuva e mesmo quando ele se encontra

    depositado no interior da boca de lobo, ele facilmente carregado pela chuva seguinte. Um

    solo argiloso, por sua vez, se deposita no interior das bocas de lobo em muitas vezes junto

    com folhas e flores compactado de forma que a chuva no consegue transport-los atravs da

    galeria, permanecendo no interior da boca de lobo at sua retirada.

    18.2.5. Caractersticas topogrficas

    Cidades que possuem uma topografia muito acidentada tem ruas e avenidas com

    grande declividade o que em geral acarreta certa dificuldade para captar essas guas atravs

    das bocas de lobo, onde uma percentagem considervel passa pela boca de lobo sem ser

    captada trazendo transtornos jusante. J em lugares com baixa declividade, fundos de vale,

    estas reas esto sujeitas a inundaes e alagamentos.

    18.2.6. Caractersticas econmicas

    Nas cidades, devem ser feito um levantamento das caractersticas comerciais das

    vrias regies, para a determinao da freqncia da limpeza das bocas de lobo.

  • 273

    Regies onde h presena de supermercados, comrcio cerealista, feiras livres, so

    locais onde restos de alimentos, embalagens so constantemente encontrados nas vias

    pblicas e que, no havendo uma boa limpeza das mesmas, podem ser carregados para o

    interior das bocas de lobo.

    Com estas consideraes, o municpio deve fazer uma escala de freqncia de

    limpeza, onde com mais freqncia nesse tipo de comrcio e com menos freqncia, por

    exemplo, em zonas residenciais.

    OBSERVAO: O ideal fazer uma limpeza antes e outra aps o perodo de

    chuvas.

    18.3. EXECUO DA LIMPEZA DAS BOCAS DE LOBO

    18.3.1. Limpeza manual

    A limpeza manual executada com a utilizao de ps de ngulo reto e ganchos.

    Primeiro retiram-se a tampa da boca de lobo utilizado um gancho prprio para tal ou

    at mesmo com uma picareta. Retirada a tampa, faz-se a limpeza retirando-se todo o material

    do interior da caixa com auxlio das ps. Quando o material se encontra muito compactado a

    sua retirada feita com o auxlio de gua que ajuda a descompactar o material, atravs de

    caminhes pipa.

    Aps a retirada do material verificado o estado de conservao dos condutos de

    ligao e da galeria, limpando o passeio e o leito carrovel e retirando no mesmo dia todo o

    material encontrado.

    OBSERVAO: O sistema manual de limpeza cansativo, incmodo e de baixo

    rendimento.

    18.3.2. Limpeza mecanizada

    A limpeza pode ser feita por:

  • 274

    18.3.2.1. Caminhes eductores

    Possuem equipamentos com dispositivos aspiradores que sugam o material depositado

    no fundo da caixa. Atravs da utilizao de um tubo acoplado uma mangueira de suco do

    caminho, executada a limpeza, a extremidade livre do tubo serrilhada e um sistema

    hidrulico de movimentao da mangueira possibilita o esboroamento do material para sua

    posterior aspirao.

    Estes veculos possuem tambm um sistema especfico para a remoo do material

    compactado, atravs da utilizao de jatos de gua que tambm servem para a lavagem final

    dos passeios e da pavimentao circunvizinha caixa.

    18.3.2.2. Caminho hidro-jato vcuo (tatuzo)

    Possui um reservatrio com capacidade para 6000 litros de gua, uma bomba de alta

    presso, mangueiras e bicos especiais para a desobstruo e limpeza das tubulaes. O

    caminho possui mais um reservatrio para 4000 litros equipado com bomba de suco

    utilizada para a retirada de detritos das bocas de lobo, caixas de ligao e poos de visita.

    18.4. DESOBSTRUO DE RAMAIS E GALERIAS

    A desobstruo de ramais e galerias constitui um dos servios mais trabalhosos entre

    os atribudos Limpeza Pblica, pois requer em muitos casos abertura e reposio de

    pavimentao, construo de novos poos de visita, bocas de lobo, reconstruo de trechos de

    galeria de guas pluviais e outras obras.

    A limpeza de galeria acontece juntamente com a limpeza e manuteno das bocas de

    lobo, sendo, portanto, de igual importncia, trazendo benefcios sade pblica e ao conforto

    da populao.

    Recomenda-se tambm a limpeza da boca de descarga da galeria, pois uma vez que

    esta estiver obstruda (principalmente pelo crescimento da vegetao local), a limpeza dos

    ramais e da galeria no teriam os resultados desejados.

  • 275

    18.5. CAUSAS MAIS COMUNS NA OCORRNCIA DE OBSTRUO DE

    GALERIAS DE GUAS PLUVIAIS

    18.5.1. Pequena declividade da galeria

    Mesmo utilizando as declividades mnimas permitidas por Normas, conforme os

    materiais depositados nas ruas e avenidas o seu transporte utilizando as guas das chuvas

    dificultado, resultando na sua obstruo parcial ou at mesmo total.

    18.5.2. Ausncia ou deficincia das atividades de varrio das vias pblicas

    A ausncia da varrio peridica das vias pblicas resulta em um acmulo de diversos

    materiais tais como folhas, flores, galhos de rvores pequenos, solo, papis e lixo de pequenas

    dimenses que vo parar nas sarjetas e so carregados pelas guas das chuvas para as bocas

    de lobo, tubulao de ligao, caixa de ligao, poos de visita e no fundo da galeria, que com

    o passar do tempo sofrem um processo de compactao e com isso diminuindo a seco de

    escoamento.

    18.5.3. Ausncia da manuteno das bocas de lobo

    A manuteno e limpeza das bocas de lobo como vimos um dos fatores mais

    importantes para se evitar a obstruo da galeria de guas pluviais.

    18.5.4. Intensidade das precipitaes

    Observe que as chuvas rpidas e fracas na maioria das vezes prejudicam o escoamento

    das guas pluviais, que transportam materiais levando-os at o interior das tubulaes

    depositando-os ali mesmo sem atingir as bocas de descarga, j com as chuvas de longa

    durao e de grande intensidade estas j por possurem um grande volume de gua, carregam

    os materiais at o lanamento da galeria evitando assim a sua obstruo.

  • 276

    18.5.5. Caractersticas da vegetao circunvizinha galeria

    A presena de rvores de grande porte atravs de suas razes pode penetrar nas juntas

    dos tubos (cimento e areia) indo para o interior da tubulao, formando uma malha onde os

    materiais que esto sendo carregados pela gua da chuva so interceptados (parcialmente ou

    totalmente) e assim obstruindo trecho.

    18.5.6. Lanamento de lixo domstico nas galerias

    O lanamento de folhas, flores e lixo encontrados nas sarjetas e passeios para o

    interior das bocas de lobo atravs da limpeza (varrio) feita pelas donas de casa e

    comerciantes so cenas vistas diariamente. Ainda podemos notar outros tipos de

    desinformao da populao, tais como lavagem de caladas e sarjetas empurrando

    normalmente com uma vassoura a sujeira para as bocas de lobo, a falta de coleta de lixo em

    algumas regies que resultam no carregamento de parte desse lixo para as galerias.

    OBSERVAES: 1)Materiais de grandes dimenses, como pedaos de madeira,

    tijolos, garrafas descartveis, entre outros so constantemente encontrados no interior das

    bocas de lobo, caixas e galerias. 2)O trabalho com TATUZO (equipamento de alta presso

    destinado a fazer a limpeza de tubulaes entupidas) necessita de uma retro-escavadeira

    para a retirada do lixo acumulado e um caminho para carregar este lixo.

  • 277

    19. HIDRULICA DOS SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA (MEDIDAS

    CONVENCIONAIS)

    19.1. TIPOS DE ESCOAMENTO EM CANAIS

    19.1.1. Permanentes

    O escoamento ou regime permanente se a velocidade local em um ponto qualquer da

    corrente permanecer invarivel no tempo, em mdulo e direo. A profundidade, a vazo e a

    rea molhada etc. mantm constante ao longo do canal, com uma continuidade de vazo.

    19.1.2. No permanentes

    O escoamento ou regime no permanente se a velocidade em um certo ponto varia

    com o passar do tempo, que neste caso no existe uma continuidade de vazo.

    A altura dgua, a rea molhada e o raio hidrulico variam de seo para seo e no

    tempo.

    OBSERVAO: O escoamento dito uniforme desde que as velocidades

    (trajetrias) sejam paralelas entre si e constantes ao longo de uma mesma trajetria e a linha

    dgua paralela ao fundo (altura da gua constante). Quando as trajetrias no so

    paralelas entre si o escoamento dito no uniforme, a declividade da linha dgua no

    paralela declividade de fundo e os elementos variam de seo para seo.

    Classificao dos movimentos:

    Q e V constantes = movimento permanente e uniforme

    Q constante e V varivel = movimento uniformemente variado

    Q e V variveis = movimento variado

  • 278

    19.2. ELEMENTOS GEOMTRICOS DOS CANAIS

    19.2.1 rea molhada (AM)

    a rea da seo reta do escoamento, normal direo do fluxo.

    19.2.2. Permetro molhado (PM)

    o comprimento da parte da fronteira slida da seo do canal (fundo e paredes) em

    contato com o lquido.

    19.2.3. Raio hidrulico (RH)

    a relao entre a rea molhada e o permetro molhado (RH = AM / PM).

    19.2.4. Altura da gua ou tirante dgua (y)

    a distncia vertical do ponto mais baixo da seco do canal at a superfcie

    livre.

    19.2.5. Altura de escoamento da seo (h)

    a altura do escoamento medida perpendicularmente ao fundo do canal.

    19.2.6. Largura de topo (B)

    a largura da seco do canal na superfcie livre, funo da forma geomtrica da

    seo e da altura dgua.

    19.2.7. Altura hidrulica ou altura mdia (hm)

    a relao entre a rea molhada e a largura da seo na superfcie livre. a altura de

    um retngulo de rea equivalente rea molhada.

  • 279

    19.3. CONSIDERAES SOBRE O PROJETO E CONSTRUO DE

    CANAIS URBANOS

    19.3.1. Retificao e alargamento

    Devem ser feitas, na medida do possvel, de jusante para montante, pois o contrrio

    quando ocorrer chuvas intensas, jusante poder sofrer ainda mais com as condies de

    escoamento.

    A retificao de canais e crregos deve ter cuidados especiais devido diminuio do

    comprimento longitudinal com o aumento da declividade e conseqentemente da velocidade.

    19.3.2. Envelhecimento do canal

    O projetista deve prever um aumento da rugosidade das paredes e fundo dos canais em

    torno de 10 a 15% devido ao uso e m manuteno do mesmo.

    19.3.3. Folga na altura dgua

    Prever uma folga em torno de 20 a 25% da altura dgua, acima do nvel mximo de

    projeto (40cm no mximo). Esta folga importante como fator de segurana, visto que,

    poder haver deposio de materiais no fundo do canal e garantia na previso da vazo.

    19.3.4. Canais de concreto

    Prever drenos nas paredes e fundo, com certo espaamento longitudinal, para evitar

    subpresso quando o nvel do lenol fretico estiver alto.

    19.3.5. Canais em pedras argamassadas

    Devem prever drenos nos taludes, pois a alvenaria de pedras possuem uma certa

    permeabilidade, considerando que o fundo seja de concreto magro.

    19.3.6. Declividade em canais

  • 280

    Deve garantir uma velocidade mnima (mdia) para evitar deposio de materiais em

    suspenso e crescimento de plantas aquticas e uma velocidade mxima (mdia) para evitar

    eroso do material das paredes e fundo do canal.

    A tabela 11 mostra alguns valores recomendados para a velocidade mdia de

    escoamento em canais.

    TABELA 11 Velocidade mdia em canais em funo dos materiais e das paredes.

    Material das paredes do canal Velocidade mdia (m/s)

    Areia 0,30 a 0,60

    Terreno arenoso 0,60 a 0,75

    Terreno argiloso 0,75 a 0,85

    Terreno de aluvio 0,85 a 0,90

    Terreno argiloso-compacto 0,90 a 1,20

    Solo cascalhado 1,20 a 1,50

    Pedregulho, piarra 1,50 a 1,80

    Rochas sedimentares moles 1,80 a 2,45

    Alvenaria 2,45 a 3,05

    Rochas compactas 3,05 a 4,00

    Concreto 4,00 a 6,00

    19.3.7. Inclinao dos taludes

    A mxima inclinao dos taludes deve ser menor que o ngulo de repouso do material

    de revestimento.

    A tabela 12 mostra alguns valores para taludes de canais abertos.

  • 281

    TABELA 12 Declividade mdia de taludes em canais abertos

    Natureza das paredes Z = tg

    Canais em terra, sem revestimento 0,3 a 0,5

    Canais em saibro, terra porosa 0,50

    Cascalho rolio 0,60

    Terra compacta, sem revestimento 0,70

    Terra muito compacta, paredes rochosas 0,80

    Rochas estratificadas 2,00

    Rochas compactas, alvenaria acabada,

    Concreto

    19.4. ENERGIA (CARGA) ESPECFICA (PORTO, 2001)

    Muitos fenmenos que ocorrem em canais podem ser analisados utilizando-se o

    princpio da energia.

    Uma mesma vazo pode ser escoada num canal, com a mesma energia especfica de

    duas formas diferentes, conforme a declividade do canal.

    1 Grande lmina de gua y1 e pequena velocidade, isto , grande energia potencial

    e pequena energia cintica (escoamento subcrtico).

    2 Pequena lmina de gua y2 e grande velocidade, ou seja, pequena energia

    potencial e grande energia cintica (escoamento supercrtico).

    A energia especfica por unidade de peso, em uma seo qualquer do canal dada por:

    2

    2

    VE y

    g

    Isto , a energia especfica a soma da altura dgua no canal (y) com a carga cintica

    (V/2g).

    A figura 72 mostra a seo de um canal para uma vazo constante e a figura 73 ilustra

    a variao da energia especfica (E) com a altura dgua (y).

  • 282

    Figura 72 - Seo de um canal Figura 73 - Energia Especfica (E) x Altura dgua (y)

    Considerando a equao da continuidade Q = SV e a equao da energia especfica E

    = y + g2

    V2, temos a equao das vazes.

    2

    2

    ..2 Sg

    QyE

    yESgQ ..2

    A figura 74 mostra a representao grfica denominada de curva das vazes, onde Q

    representa o valor de uma vazo para duas lminas y1 e y2. Q ser mximo para o yc (y

    crtico).

    Figura 74 Vazo x lminas dgua.

  • 283

    CONCLUSES

    01. Um dado valor de E, pode ocorrer em duas profundidades diferentes y1 e y2

    (figura 4).

    02. Existe um ponto E (mnimo) ao qual corresponde uma profundidade crtica, yc.

    Este ponto denominado de crtico Ec (figura 4).

    03. O fluxo no ponto crtico ou em suas proximidades instvel. Uma alterao

    pequena de energia pode causar uma alterao significativa na altura da gua, razo pela qual

    deve-se evitar projetos de canais funcionando nas proximidades do regime crtico.

    04. A classificao quanto ao regime de escoamento pode ser determinado da

    seguinte maneira:

    Se y > yc subcrtico ou fluvial

    Se y = yc crtico, e

    Se y < yc supercrtico ou torrencial.

    19.5. ESCOAMENTO CRTICO

    19.5.1. Definio

    Corresponde ao estgio em que a energia especfica mnima para uma dada vazo ou

    o estgio em que a vazo mxima para uma dada energia especfica.

    19.5.2. Velocidade crtica (Vc)

    Considerando a equao da energia especfica E = y + g2

    V2 e a equao da

    profundidade mdia ym = 2(E y), temos:

    Vc = my g => .c cV g y

    Onde: yc = altura crtica

  • 284

    19.5.3. Nmero de Froude (Fr)

    O nmero de Froude permite classificar os escoamentos livres e dado pela seguinte

    frmula para canais.

    m hr

    VF

    g

    Onde:

    v velocidade mdia na seo

    g acelerao da gravidade

    hm altura hidrulica da seo.

    Conforme o valor do Nmero de Froude, temos:

    Se Fr < 1 subcrtico ou fluvial

    Se Fr = 1 crtico

    Se Fr > 1 supercrtico ou torrencial

    OBSERVAO: Para a seo retangular a altura hidrulica (hm) igual altura

    dgua (y), isto , hm = y.

    19.6. MOVIMENTO PERMANENTE UNIFORME (ESCOAMENTO LIVRE)

    19.6.1. Frmulas

    19.6.1.1. Equao da continuidade:

    Q = A V

    19.6.1.2. Frmula de Chzy:

    V = C I RH

  • 285

    19.6.1.3. Frmula de Chzy utilizando a equao da continuidade:

    Q = C A I RH

    19.6.1.4. Frmula de Manning

    n

    R C

    61

    H

    V = n

    1 3

    2

    HR 2

    1

    I

    19.6.1.5.Composio de frmulas anteriores:

    namento-dimensio de

    parmetros

    I

    Q n =

    geomtrica forma

    32

    HR A

  • 286

    TABELAS

    As tabelas 13 e 14 fornecem os valores n para a frmula de Manning.

    TABELA 13 Valores de n em funo das condies das paredes

  • 287

    TABELA 14 Valores de n.

    Fonte: BANDINI, Hidrulica, vol.1.

  • 288

    19.7. SEO DE CANAIS

    19.7.1. Seo retangular

    - profundidade crtica (yc) 2

    32 g

    c

    Qy

    b

    - velocidade crtica (Vc) .c cV g y

    - declividade crtica (Ic) 2/3

    c

    Q.

    Ic H

    nA R

    19.7.2. Seo trapezoidal

    - fator da seo crtico (Zc): Zc = g

    Qc

    - fator da seo (Z): Z =

    c

    23

    cc

    y z 2 b

    y y z b

    onde z = tg

    Bordo livre

  • 289

    19.7.3. Seo circular

    - Velocidade Mxima

    Se = 257 ou D

    y = 0,81

    - Vazo mxima

    Se = 302,5 ou D

    y = 0,94

    - ngulo Central ()

    = 2arc cos (1 2 D

    y)

    - rea molhada (Am)

    AM = D2

    8

    sen -

    - Raio Hidrulico (RH)

    RH = 4

    D (1 -

    sen)

    - Corda (B)

    B = D sen

    2 = 2 y) - (D y

    Profundidade

    - Normal

    yN = D 2

    2 cos - 1

    - Crtica

    yC = 8

    D

    2sen

    sen -

    - Fator da Seo (Z)

    Z =

    2

    1

    2sen 32

    D sen - 22

    5

    2

    3

  • 290

  • 291

    EXERCCIOS

    01) Um canal retangular com revestimento em concreto mal conservado com 3,0m

    de largura transporta 6,0m3/s, determinar os itens 1.1, 1.2, 1.3 e 1.4.

    1.1 A profundidade crtica yc;

    1.2 A velocidade crtica Vc;

    1.3 A declividade crtica Ic.

    1.4 Altura (bordo) livre.

    Bordo livre

    yc

  • 292

    1.5 Se o mesmo canal tiver uma declividade de 0,002m/m determinar a

    profundidade normal y.

    1.6 Classificar o regime de escoamento em subcrtico (fluvial) crtico ou

    supercrtico (torrencial).

    02) Um canal trapezoidal construdo em gabies (rochas irregulares) em boas

    condies, com 3m de largura no fundo e taludes de 1H : 1V e declividade de 0,005m/m,

    conduz uma vazo de 15m3/s. Determinar.

    2.1 A profundidade normal yN.

    2.2 A profundidade crtica yc.

  • 293

    2.3 Classificar o regime de escoamento em subcrtico (fluvial), crtico ou

    supercrtico (torrencial).

    03) Um canal feito para galeria de guas pluviais, em concreto n = 0,0135 tem

    dimetro de 1,20m e declividade de fundo de 0,0055m/m com uma lmina de gua igual

    0,96m. Determinar os itens 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4.

    3.1 O ngulo central ;

    3.2 A rea molhada Am;

    3.3 O raio hidrulico RH;

  • 294

    3.4 A capacidade da galeria Q.

    3.5 Para essa mesma galeria s que funcionando para uma vazo de 0,7m3/s, qual

    ser a altura da lmina y e verificar o tipo de escoamento.

    3.5.1 Capacidade a seo plena QSP.

    Determinar os itens 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4.

    3.5.2 Entrar na tabela: Condutos circulares parcialmente cheios e determinar y.

    3.5.3 Classificar o escoamento em subcrtico (fluvial), crtico ou supercrtico

    (torrencial).

  • 295

    EXERCCIOS

    01) Um canal retangular em concreto n = 0,0135, com 3,00 de largura, conduz

    3600 l/s, quando a profundidade de 1,5m. Determine:

    1.1 energia especfica E;

    1.2 o regime de escoamento;

    1.3 a profundidade crtica;

    1.4 a velocidade crtica;

    1.5 a declividade crtica.

    02) Um canal de drenagem, trapezoidal, em terra com vegetao rasteira nos

    taludes e fundo, com taludes 1,5H : 1,0V, declividade do fundo 1% e a largura do leito junto

    ao fundo de 4,00m, e conduz uma vazo de 20m3/s.

    Determinar:

    2.1 a profundidade normal, yn;

    2.2 a velocidade relativa y, V(y);

    2.3 profundidade crtica, yc;

    2.4 vazo crtica, Qc.

    Bordo livre

  • 296

    03) Uma galeria de guas pluviais de 1,0m de dimetro, coeficiente de rugosidade

    de Manning n = 0,0135 (concreto) e declividade de fundo I = 2,5 103

    m/m transporta, em

    condio de regime permanente e uniforme, uma vazo de 1,20m3/s.

    3.1) Determinar a altura dgua y e a velocidade mdia Vm.

    3.2) Qual seria a capacidade de vazo da galeria, se ela funcionasse na condio de

    mxima vazo?

    04) Uma galeria de guas pluviais de concreto, aps anos de uso, apresentou a

    formao de um depsito de material solidificado, como mostra a figura. Supondo que o nvel

    dgua na galeria permanea constante e que o coeficiente de rugosidade do material

    solidificado seja o mesmo do concreto, determine em que percentagem foi reduzida a

    capacidade de vazo da galeria.

    y = 0,70D

    y = 0,20D

  • 297

    20. ESTIMATIVA DAS VAZES DE GUAS PLUVIAIS

    20.1. INTENSIDADE DAS CHUVAS (i)

    A intensidade das chuvas (i) a medida da quantidade de chuva que cai numa rea

    num certo tempo.

    EXEMPLO:

    Uma chuva de 10mm/h, significa que em 1 hora caiu por m, uma altura de gua de

    10mm = 1cm = 0,01m. Considerando que no h evaporao nem infiltrao.

    Chuva

    1m

    1mh = 1cm

    Portanto, o volume acumulado em 1 hora para uma chuva de 10mm, ser:

    V = Ab.h

    V = 1m . 0,01m

    V = 0,01m

    A intensidade da chuva a ser considerada para os estudos do escoamento superficial

    o parmetro bsico para a elaborao do projeto das galerias. Assim sendo, o projetista deve

    obter a equao da chuva para a localidade em questo ou as curvas intensidade x durao x

    freqncia.

    A intensidade mdia (im) da precipitao sobre toda a rea drenada uma grandeza

    que mede a altura de gua precipitada na unidade de tempo (mm/hora ou l/s . ha).

    Existem vrias equaes correspondentes s chuvas intensas que so em funo do

    tempo de durao da chuva (t) em minutos e do perodo de recorrncia (T) em anos. Veja

    algumas delas dadas em mm/h.

  • 298

    im = 1,025

    0,172

    22) t(

    T 7,3462

    (So Paulo)

    im = 1,15

    0,217

    26) (

    T 5950

    t (Curitiba)

    im = 1,09

    0,213

    10) t(

    T 2085

    (Maring)

    OBSERVAO: Para transformar a unidade mm/h para l/s . ha, basta dividir pelo

    fator de transformao 0,36.

    EXEMPLO: im = 108 mm/h corresponde a 300l/s . ha

    As frmulas citadas so vlidas para t 120 minutos, pois as chuvas com durao

    superior a 120 minutos normalmente no so catalogadas, porque no dimensionamento de

    galerias o tempo de concentrao raramente atinge esse perodo.

    Portanto, para o dimensionamento das galerias de guas pluviais s interessam as

    chuvas de maior intensidade, capazes de produzirem maior volume de gua na unidade de

    tempo.

    As chuvas de maior intensidade so registradas em aparelhos chamados pluvigrafos.

    Os registros feitos atravs de grande nmero de anos por um pluvigrafo dizem que a

    intensidade mdia de uma chuva tanto maior quanto menor for a sua durao.

    20.2. PERODO DE RETORNO OU TEMPO DE RECORRNCIA (T)

    20.2.1. Conceito

    Para se decidir o grau de proteo conferido populao com a construo das obras

    de drenagem, deve-se determinar a vazo de projeto. Deve-se, tambm, conhecer a

    probabilidade (possibilidade de ocorrncia) P de o valor de uma determinada vazo ser

    igualado ou superado em um ano qualquer. A vazo de projeto imposta de tal forma que sua

  • 299

    probabilidade P no exceda um determinado valor pr-estabelecido.

    EXEMPLOS:

    1. Uma chuva de 5mm/h e tempo de ocorrncia 5 anos.

    Significa: Essa chuva s ocorre com essa intensidade (ou maior) uma vez em cada 5

    anos. Tambm podemos dizer que a possibilidade de ocorrncia de 20% (1/5).

    2. Calcular a vazo de um canal para um perodo de retorno de 30 anos.

    Significa: Uma vez a cada 30 anos o canal transbordar.

    20.2.2. Consideraes para a escolha de T

    1. A escolha e justificativa de um determinado perodo de retorno, para uma

    determinada obra prende-se a uma anlise da economia e da segurana da obra. A sociedade

    atravs de seus representantes pode ajudar a decidir o risco aceitvel pela comunidade e

    quanto ela est disposta a pagar pela proteo desta obra.

    2. Quanto maior for o perodo de retorno, maiores sero os valores das vazes de

    pico encontrados e, conseqentemente mais segura e cara ser a obra. Conseqentemente,

    quanto menor for T, a chuva ter uma menor intensidade (maior durao) obras de menor

    porte e menor custo. Lembramos tambm que quanto maior o porte das obras a sua

    interferncia no ambiente urbano sero maiores, conseqentemente teremos desapropriaes,

    relocao de populaes, interrupes no trfego, prejuzos no comrcio isto durante a fase de

    construo das obras, que induzem a custos adicionais e implicaes polticas de tratamento

    delicado. Por isso, de um modo geral, so escolhidos perodos de retorno pequenos (quanto

    menor maior o risco).

    3. Para adotar um T, considera-se a dificuldade em melhorar ou ampliar certa

    obra e as conseqncias quando no fizer tal obra, como os transtornos para a comunidade

    quando houver inundaes, alagamentos com certa freqncia e acidentes com prejuzos

    calculveis como, por exemplo, a destruio de aterros e incalculveis como morte de

    animais, pessoas, etc.

    O emprego de um perodo de retorno maior, qualquer que seja o seu valor, significa

    que o engenheiro quer adotar um risco calculado. Todavia, h uma possibilidade de que

    aquele perodo de retorno da chuva ser excedido ao menos uma vez em N anos.

    4. Nas reas residenciais o acmulo de gua nas ruas e principalmente nos

    cruzamentos (depende da freqncia e durao), tem menos importncia que numa zona

  • 300

    comercial esta menos importante que uma na zona industrial.

    5. Cabe ao engenheiro decidir (correr riscos) quando um projeto de drenagem

    envolve simultaneamente vrios perodos de retorno, como por exemplo, a drenagem em

    rodovias com um valor de T e bueiros com outro valor para T.

    20.2.3. Tabela para T

    A tabela 15 nos sugere alguns valores para o perodo de retorno, em funo da

    ocupao da rea.

    TABELA 15 Perodo de retorno em funo da ocupao da rea.

    Tipo de obra Tipo de ocupao Perodo de retorno (anos)

    Micro-drenagem Residencial 2

    Micro-drenagem Comercial 5

    Micro-drenagem Edifcios de servios ao pblico 5

    Micro-drenagem Aeroportos 2-5

    Micro-drenagem reas comerciais e artrias de trfego 5-10

    Macro-drenagem reas comerciais e residenciais 50-100

    Macro-drenagem reas de importncia especfica 500 Fonte: CETESB

    De um modo geral:

    - canalizao de rios...........................................T = 30 anos.

    - rede de guas pluviais (cidade)........................T = 10 anos.

    20.3. TEMPO DE DURAO DA CHUVA (td)

    o tempo que decorre entre o cair da primeira gota at o cair da ltima gota na rea

    em estudo.

    Escolhido o tempo de recorrncia ainda h a necessidade de se estabelecer o tempo de

    durao da chuva que deve estar associado precipitao que poder causar a maior vazo de

    pico em uma seco considerada.

    Mostra-se que essa durao da chuva, para a qual ocorre a maior vazo de pico

    aproximadamente igual ao perodo de tempo que uma gota de gua terica precipitada no

  • 301

    ponto da bacia mais distante da seco considerada, leva para atingir essa seco, ou seja, o

    tempo necessrio para que toda a rea de drenagem passe a contribuir para a vazo na seo

    estudada. Portanto, a maior vazo de pico dada quando: o tempo de durao da chuva

    igual ao tempo de concentrao.

    Em sntese:

    CHUVAS

    - Fortes (intensas) curta durao.

    - Fracas (baixa intensidade) so prolongadas.

    20.4. TEMPO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL (ts).

    O escoamento superficial considera o movimento da gua a partir da menor poro de

    chuva, que caindo sobre um solo saturado de umidade ou impermevel escoa pela sua

    superfcie. Na verdade o escoamento superficial comea algum tempo aps o incio da

    precipitao (uns 10 minutos aps) e cresce com o tempo at atingir um valor sensivelmente

    constante medida que a precipitao prossegue. Cessada esta, ele vai diminuindo, at anular-

    se.

    Parte da gua das chuvas interceptada pela vegetao e outros obstculos, de onde se

    evapora posteriormente. Do volume que atinge a superfcie do solo, parte retirada em

    depresses do terreno parte se infiltra e o restante escoa pela superfcie, logo que a

    intensidade da precipitao supere a capacidade de infiltrao no solo e os espaos nas

    superfcies retentoras tenham sido preenchidos.

    As trajetrias descritas pela gua no seu movimento so determinadas, principalmente,

    pelas linhas de maior decline de terreno, portanto o escoamento superficial influenciado pela

    vegetao, tipo de solo, declividade do terreno, da rea da bacia, etc.

    O tempo de escoamento superficial corresponde ao tempo que a gua leva para chegar

    do ponto mais distante (tempo de percurso da gua maior) at a seo considerada que num

    sistema de galerias pluviais o incio da mesma.

    O tempo de escoamento superficial (ts), dado em minutos, pode ser obtido pelas

    frmulas de:

  • 302

    GEORGE RIBEIRO

    0,04)(100.I . ).2,005,1(

    L 16

    pts

    10min (galeria de guas pluviais)st

    Onde:

    L comprimento do maior percurso (talvegue) em Km.

    I declividade mdia do percurso em m/m.

    p relao entre a rea coberta de vegetao pela rea total da bacia.

    TALVEGUE(L)

    Q

    KERBY

    ts = 1,44

    47,0

    I

    L

    n

    Para galerias de gua pluviais, recomenda-se: ts 10 minutos.

    Onde:

    ts tempo de escoamento superficial em minutos

    L comprimento do maior percurso em metros

    I declividade do percurso (mdia) em metro por metro

    n coeficiente relativo natureza do terreno (tabela)

    A tabela 16 nos d o valor de n para a frmula de Kerby, em funo da natureza do

    terrreno.

  • 303

    TABELA 16 Coeficiente n da Frmula de Kerby.

    Caracterstica do terreno n

    Superfcie lisa e impermevel 0,02

    Terreno endurecido e desnudo 0,10

    Pasto ralo, superfcie desnuda e moderadamente spera 0,20

    Pasto denso (altura mdia) 0,30

    Vegetao baixa e densa 0,40

    OBSERVAO: Em percursos com trechos de declividades diferentes ts deve ser

    calculado trecho a trecho e somado depois os tempos.

    20.5. TEMPO DE CONCENTRAO (tc) (CANHOLI, 2005)

    20.5.1. Conceitos

    Tempo de concentrao relativo a uma seo de um curso de gua o intervalo de

    tempo contado a partir do incio da precipitao para que toda a bacia de drenagem passe a

    contribuir na seo em estudo. Corresponde ao tempo que a gua leva para ir do ponto mais

    distante da bacia at a seo considerada (maior tempo de percurso).

    Logo, o tempo de concentrao (tc) dado por:

  • 304

    tc = tS1 + tS2

    Onde:

    tS1: o tempo que leva uma gota de gua caindo em um ponto extremo da bacia, at

    chegar ao vale de maior extenso (talvegue). Em geral se caracteriza por pequenas alturas de

    lminas dgua e baixas velocidades. Pode ser calculada pela frmula de George Ribeiro

    adaptada.

    4,05,0

    8,0

    2.

    ..091,0

    mm

    sIi

    Lnt

    Onde:

    n o coeficiente de rugosidade de Manning (s/m5/2).

    L o comprimento do trecho.

    im total precipitado em 24 horas para recorrncia de 2 anos (mm).

    Im a declividade mdia do terreno (m/m).

    A tabela a seguir (Tabela 17) apresenta alguns valores de n para escoamento em

    superfcies.

    TABELA 17 Valores de n para escoamento em superfcies.

    Tipo de Superfcie n (Manning)

    Asfalto liso 0,011

    Concreto liso/ rugoso 0,012

    Pisos cermicos 0,015

    Pavimento intertravado/ paraleleppedo 0,024

    Gramados (esparsos/ densos) 0,15/0,24

    Vegetao arbustiva (leve/ densa) 0,40/0,80

    Plantaes rasteiras (normais) 0,13

    ts2: o tempo que leva uma gota de gua para percorrer o talvegue at a primeira boca

    de lobo. Ocorre aps o trecho sobre a superfcie ts1, onde o escoamento tende a se concentrar,

    formando canais rasos. Pode ser calculado pela seguinte frmula.

    2S

    Lt

    V

    Onde:

    L o comprimento do trecho (m).

  • 305

    V a velocidade mdia do escoamento no trecho (m/min).

    Para estimar a velocidade mdia, podemos usar o grfico da Figura 75.

    Figura 75 - Estimativa da velocidade mdia em canais rasos (SCS, 1986).

    pt : o tempo de percurso dentro da galeria (canalizao). Idem caso anterior,

    isto :

    p

    Lt

    V

    Onde, 1/ 2 2/31

    . . HV I Rn

    Portanto:

    1 2c pS St t t t

    20.5.2. Tipos de Chuvas

    a) Chuva de baixa intensidade (uniforme) e grande durao.

  • 306

    OBSERVAO: A partir t = tc, sem infiltrao, haver apenas o escoamento

    superficial atingindo a vazo mxima e constante.

    b) Chuva intensa (uniforme ) e de curta durao.

    Consideraes:

    01) Quando em uma rea de drenagem, a durao da chuva corresponde a toda a rea

    da bacia que contribui para o escoamento, ou seja, o tempo de durao igual tempo de

    concentrao da chuva, a vazo ser dita mxima ou crtica ou ainda vazo de pico.

    02) Se por acaso o percurso da gua que aflui a um determinado ponto puder ser

    efetuado de maneiras distintas, considera-se o maior tempo de percurso.

  • 307

    20.6. COEFICIENTE DE DEFLVIO (C)

    O coeficiente de deflvio ou coeficiente de escoamento superficial ou coeficiente de

    Runoff representa no projeto de galerias de guas pluviais, a parcela de gua de chuva cada

    na rea contribuinte que atinge a respectiva boca de lobo.

    Esse coeficiente, inferior unidade, depende principalmente:

    - do grau de permeabilidade da rea contribuinte.

    - do tempo de durao da chuva.

    - do tipo e utilizao do solo.

    - da declividade de bacia.

    Se as reas contribuintes das bocas de lobo que alimentam uma seco da galeria

    forem constitudas de subreas com coeficientes diferentes, deve ser adotado para a rea total

    um coeficiente resultante da mdia ponderada desses coeficientes.

    O coeficiente de deflvio pode aumentar no futuro, pois se uma rea hoje

    pavimentada com paraleleppedos sem rejuntamento no futuro pode receber um capeamento

    asfltico.

    O valor C normalmente aumenta tambm, com a durao da chuva, pois a medida que

    a chuva se desenvolve as depresses nos terrenos vo enchendo de gua o terreno permevel

    vai se saturando e com isso aumentando o escoamento superficial.

    O valor de C pode ser estimado empregando-se a expresso de Horner:

    C = 0,364 log tc + 0,0042 p 0,145

    Onde:

    tc tempo de concentrao em minutos

    p porcentagem (taxa) da rea impermeabilizada (ex: p = 80% - rea urbana

    ocupada ou que ser ocupada).

    A tabela 18 apresenta alguns valores de C (coeficiente de Deflvio), que podem ser

    sugeridos para projetos de redes de drenagem.

  • 308

    a) De acordo com a ocupao da rea.

    TABELA 18 (a) Valores do coeficiente de Runoff (C).

    Natureza da ocupao da rea Coeficiente C

    reas centrais, densamente construdas, com ruas

    pavimentadas 0,70 a 0,90

    reas adjacentes ao centro, com ruas pavimentadas 0,50 a 0,70

    reas residenciais com casas isoladas 0,25 a 0,50

    reas suburbanas pouco edificadas 0,10 a 0,20

    b) De acordo com o revestimento da superfcie.

    TABELA 18 (b) Valores do coeficiente de Runoff (C).

    Natureza da Superfcie Coeficiente C

    Cobertura das construes 0,70 a 0,95

    Pavimentao de concreto 0,80 a 0,95

    Pavimentao asfltica em bom estado 0,85 a 0,90

    Pavimentao asfltica m conservada 0,70 a 0,85

    Pavimentao a paraleleppedos com

    juntas argamassadas 0,75 a 0,85

    Pavimentao a paraleleppedos sem

    rejuntamento 0,50 a 0,70

    Pavimentao de pedras irregulares sem

    rejuntamento 0,40 a 0,50

    Revestimento de macadame 0,25 a 0,60

    Revestimento de cascalho 0,15 a 0,30

    Terreno desnudo 0,10 a 0,30

    Terrenos livres e ajardinados/ gramados

    - solos arenosos

    1 2% 2% < I < 7%

    I 7% - solos pesados (argilosos)

    1 2% 2% < I < 7%

    I 7%

    0,05 a 0,10

    0,10 a 0,15

    0,15 a 0,20

    0,15 a 0,20

    0,20 a 0,25

    0,25 a 0,30

  • 309

    20.7. MTODO RACIONAL

    O mtodo racional traz resultados bastante aceitveis para o estudo de pequenas

    bacias (reas 1km2) e tc 20 minutos, tendo em vista a sua simplicidade de operao bem

    como da inexistncia de outro mtodo de melhor confiabilidade.

    O mtodo racional no leva em considerao alguns fatores, tais como:

    a) condies de permeabilidade do terreno, variam durante a precipitao.

    b) retardamento natural do escoamento provocado por armazenamento temporrio

    de depresses existentes nas bacias ocasionando alterao no pico de cheia.

    c) variaes da intensidade da chuva, isto , admite uma precipitao uniforme e

    constante em toda a rea de contribuio.

    A seguir temos o hidrograma adotado (baseado no mtodo racional) em forma de um

    tringulo issceles com a base igual ao dobro do tc, onde td = tc.

    Para estimar a vazo pluvial (vazo de pico), a frmula mais utilizada a chamada

    frmula racional.

    Qp = C im A

    Onde:

    Qp a vazo pluvial, em l/s

    C coeficiente de escoamento, superficial ou de deflvio ou de Runoff.

    im intensidade mdia de chuva (mxima mdia), em l/s ha

    A rea de drenagem, em h

  • 310

    OBSERVAES:

    1) O seu nome, valor racional, devido razo Qp/im.

    2) Quanto maior a importncia de uma obra na rea em estudo, como por

    exemplo, piscines, rebaixamento da calha de rios, reservatrios de hidreltricas, ser

    necessrio um estudo mais detalhado das precipitaes e vazes de projeto.

    EXERCCIOS

    01) A figura a seguir mostra um hidrograma do mtodo racional em termos de

    vazo especfica, (vazo/rea), com o coeficiente de Runoff C = 0,70.

    (l/s.ha)

    Tempo (minutos)

    10 20 30 40 50 60

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    00

    contr

    ibui

    o u

    nitria

    Considerando o tempo necessrio para que toda a rea de drenagem passe a contribuir

    para a vazo na seo considerada; determine o tempo de durao da chuva em minutos, o

    tempo de concentrao em minutos e a intensidade de precipitao em litros por segundo por

    hectare.

    02) Um determinado trecho de galeria dever receber e escoar o deflvio

    superficial oriundo de uma rea estritamente comercial de 2,50 ha, com um coeficiente de

    escoamento superficial correspondente as reas adjacentes ao centro, com ruas pavimentadas.

    Se o tempo de concentrao previsto para o incio do trecho de 16,6 minutos, calcular a

  • 311

    vazo de jusante do mesmo.

    03) Toda a rea da figura abaixo contribui para as bocas de lobo assinalada.

    Observe as subreas e determine o coeficiente de escoamento superficial (C) para toda rea

    em questo.

    20m 10m 40m 10m 20m

    30m

    10m

    40m

    Pavimentao Asfltica Rua

    B.L

    B.L

    rea Comercial

    Central

    (prdios)

    c=0,80

    Parque

    (gramado)

    c=0,15

    Bairros

    (alguns

    prdios)

    c=0,60

    rea sem

    melhoramentos

    (desnuda)

    c=0,20

    Parque

    (gramado)

    c=0,15

    Rua

    Rua

    Rua

    c = 0,90

    04) Um determinado trecho de galeria dever receber e escoar o deflvio

    superficial oriundo de uma rea de 1,85ha, onde 18% correspondem a ruas asfaltadas e bem

    conservadas, 6% correspondem pavimentao de concreto, 46% de gramados em solos com

    declividade de 3%, alm de 30% de telhados cermicos. A sua inclinao mdia de 2%. Se o

    tempo de concentrao previsto para o incio do trecho de 14 minutos, calcular a vazo de

    jusante do mesmo.

    05) Encontrar um coeficiente de escoamento adequado para uma rea de pequena

    inclinao, bem urbanizada (rea adjacente ao centro), onde 22% correspondem a ruas

    asfaltadas e bem conservadas, 8% de passeios cimentados, 36% de ptios ajardinados e 34%

    de telhados cermicos. Que setor da rea urbana parece ser este (c)?

    06) DACACH (1984) Considerando que um estacionamento retangular (figura a

    seguir) possui 28m x 30m, onde a sua rea plana, impermevel e a declividade linear e

    est indicada pela seta. Considerando ainda que as linhas 01, 02, 03, ..., 12, so paralelas

  • 312

    canaleta e que as gotas cadas na linha 1, levam 1 minuto para chegar na canaleta, na linha 2,

    levam 2 minutos e assim sucessivamente at a linha 12.

    Tempo de recorrncia: 5 anos.

    0

    1 2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    30m

    28m

    ESTA

    CIONAM

    ENTO

    CANALETA

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    5 10 15 20 25 30 35

    Vazo (l/s)

    Tempo (min)

    0

    Determinar:

    6.1 A vazo mxima em litros por segundo, que atingir a canaleta e representar as

    variaes da vazo de chegada na canaleta.

    6.2 A vazo mxima em litros por segundo, para uma chuva de 6 minutos de

    durao e representar as variaes da vazo de chegada na canaleta (mesmo grfico

    acima).

    Respostas:

    01) td = 30 minutos

    tc = 30 minutos

    im = 357 l/s.ha

    02) Qj = 397 l/s

    03) C = 0,48

    04) Qj =

    05) C =

    06) 6.1 Q = 23,6 l/s

    6.2 Q = 16,7 l/s

  • 313

    21. MEDIDAS NO CONVENCIONAIS (CANHOLI, 2005)

    21.1. INTRODUO

    Os conceitos inovadores para aumentar a eficincia hidrulica dos sistemas de

    drenagem tm por objetivo:

    - reter os escoamentos pluviais nas proximidades de suas fontes;

    - retardar os escoamentos atravs de reservatrios;

    - aumentar os tempos de concentrao;

    - reduzir as vazes mximas (picos);

    - retardar o fluxo das calhas dos crregos e rios;

    - incrementar o processo de infiltrao.

    21.2. MANEIRAS DE INFILTRAO

    21.2.1. Superfcies de infiltrao

    Permitem que as guas superficiais percorram o terreno coberto por vegetao (ex:

    grama). Em reas pouco permeveis devem ser instalados drenos para eliminar guas

    paradas.

    21.2.2. Valetas de Infiltrao

    So valetas revestidas com vegetao (grama) adjacentes a ruas e estradas ou junto s

    reas de estacionamento para favorecer a infiltrao.

    21.2.3. Lagoas de Infiltrao

    So projetadas com nvel dgua permanente e volume de espera.

  • 314

    21.2.4. Bacias de Percolao

    construda por meio da escavao de uma valeta que posteriormente preenchida

    com brita ou cascalho, sendo sua superfcie reaterrada. O material granular promove a

    reservao temporria do escoamento, enquanto a percolao se processa lentamente para

    o subsolo.

    21.2.5. Pavimentos Porosos

    a) So constitudos normalmente de concreto ou asfalto convencionais, dos quais

    foram retiradas as partculas mais finas. Podem ser construdos sobre camadas permeveis

    geralmente bases de material granular.

    b) Elementos celulares, normalmente de concreto, tambm colocados sobre a base

    granular.

  • 315

    21.2.6. Infiltrao

    So medidas de conteno nas fontes mais recomendadas, quando no se dispe de

    espao ou ainda quando a urbanizao existente, j consolidada, inviabiliza outras medidas.

    importante observar a posio do lenol fretico como tambm o tipo de solo.

    21.3. DETENO DE ESCOAMENTOS

    realizada atravs da reservao