apontamentos de direito comercial e sociedades

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Apontamentos de Direito 2004

I – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES(Aula de 15/10/2004)1.1A Relação Jurídica. O Direito Subjectivo.

Noção de relação jurídica

Relação Jurídica (noção abstracta) – é uma relação social regulada pelo direito, mediante a atribuição de um poder a uma parte e de uma obrigação à outra (p.e. contrato de empréstimo, em que o credor é o titular protegido e o devedor é quem tem a obrigação)

Elementos da relação jurídica

Sujeitos - as pessoas, aquelas em que se vincula a relação jurídica, um tem o direito (lado activo) e outro tem o dever (lado passivo).

Objecto - é aquilo em que incidem os poderes do titular activo da relação.

Facto jurídico - é todo o facto, acto humano ou evento natural, produtivo de efeitos jurídicos.

Garantia - os meios que o direito coloca à disposição do titular do activo, para que o lado passivo cumpra. São as providências coercivas.

Direito objectivo e subjectivo

Direito objectivo - é um conjunto de normas gerais e abstractas que ordenam a vida em sociedade, são impostas pelo Estado e criadas por um órgão com competência legislativa. Exemplo: Artigo 43 - 1, CRP “É garantida a liberdade de aprender e ensinar”.

Direito subjectivo - é a faculdade dada a uma pessoa de um direito objectivo, de agir ou não de acordo com o conteúdo daquele, ou seja permite a qualquer pessoa exigir determinada conduta a determinada pessoa ou de exigir a si própria, ou em certos casos, produzir certos efeitos jurídicos que se impõem inevitavelmente a outra pessoa. Exemplo: “Todos os alunos têm direito ao ensino gratuito.”

2. As Obrigações2.1 Conceito de Obrigação. Fontes, Modalidades, Garantias e CumprimentoConceito de obrigação: (artº 397 C.Civil): vínculo jurídico pelo qual uma pessoa fica sujeita a outra. A pessoa vinculada fica obrigada à realização de uma prestação.

Garantias das obrigações classificam-se em (i) garantias gerais e (ii) em garantias especiais

- garantias gerais (artº 601º C.Civil): a garantia principal é o património do devedor e é constituído pelos bens do devedor, sujeitos a penhora. - garantias especiais: caracterizam-se pelo facto de incidirem sobre o valor/rendimentos de certos bens, do próprio devedor ou do terceiro – visam reforçar as anteriores.

As garantias especiais (art 623º e ss do C.Civil) classificam-se em: (a) reais - incidem sobre um património especifico do devedor e ou de um

terceiro: (p.e. hipoteca – artº 686º C.Civil; penhor – artº 666 C.Civil, direito de retenção – artº 754 C.Civil) e

(b) pessoais - para além do património do devedor, o terceiro também se torna responsável pela obrigação (p.e. aval, fiança)

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As garantias especiais visam reforçar as garantias gerais (art 623º e ss C.Civil), nomeadamente:

Prestação de caução (artº 623º C.Civil) – acto materializa-se num documento de manifestação de vontade que visa garantir ao credor que, se a obrigação não for cumprida, pode exercer os direitos inerentes à caução, sem recurso ao tribunal - garantia prestada sob forma de depósito de dinheiro, garantia bancária, hipoteca, etc;

Fiança (artº 627º C.Civil) – é uma garantia pessoal e tem que ser prestada por um terceiro, diferente do devedor. O fiador garante a satisfação do crédito, ficando, pessoalmente, obrigado com todo o seu património, perante o credor. Deste modo, existem dois patrimónios penhoráveis - o do devedor e o do fiador. A fiança pode ser (i) civil ou (ii) comercial, o que distingue uma da outra é o nível de responsabilidade, ou seja:

(i) civil (subsidiária): só responde o património do fiador, quando esgotado o património do devedor – “benefício de exclusão prévia” artº 638 C.Civil – só existe na fiança civil, podendo ser, no entanto, afastadas pelas partes (p.e. contratos de empréstimos, em que os pais são fiadores, estes ficam responsáveis solidariamente, e não subsidiariamente, uma vez que vem explicitamente escrito no ctt de empréstimo);

(ii) comercial (solidária) – se a obrigação for comercial, a lei considera o fiador como principal pagador artº 101 C.Comercial – a responsabilidade é solidária.

Aval (previsto na LULL)- a responsabilidade é solidária e configura-se numa garantia pessoal.

Consignação de rendimentos (artº 659 C.Civil): é a afectação de um rendimento de um determinado bem ao cumprimento de uma obrigação. É uma garantia real e só pode incidir sobre bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo. O acto de consignação requer escritura pública para bens imóveis e de escritura particular para bens móveis (artº 660 C.Civil). O prazo máximo é de 15 anos (art º 659 C.Civil).

Penhor (artº 666 C.Civil) – garantia real – confere ao credor a satisfação do seu crédito, com preferência sobre os demais credores, pelo valor da coisa móvel, ou pelo valor dos créditos ou outros direitos não susceptíveis de hipoteca. O penhor das coisas consiste na entrega da coisa empenhada ao credor – vencida a obrigação, o credor pode promover a sua venda, pagando-se pelo valor obtido.

Hipoteca (artº 686º C.Civil) – garantia real – incide sobre coisas imóveis. Deve ser registada sob pena de não produzir efeitos. Confere ao credor o direito de ser pago pelo valor dos bens hipotecados com preferência sobre os demais credores, que não gozem de privilégio especial. Se o devedor não cumprir a obrigação, o credor começar por executar o bem hipotecado, que consiste na sua penhora e posterior venda. Pois, é nula a convenção pela qual se reconheça ao credor o direito de fazer sua a coisa hipotecada, no caso de o devedor não cumprir. Direito de preferência dos credores (a administração fiscal e a segurança social são credores preferenciais face ao credor hipotecário) sobre os bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo, desde que não haja para além destes outros credores mais preferenciais, ie, outros que fizeram registos anteriores. Artº 733 C.Civil – Privilégios creditórios: é a própria lei da administração fiscal e da segurança social que define que têm privilégios sobre os outros credores.

Direito de retenção (artº 754 C.Civil) – quem prestou o serviço retém o bem até ao momento que o devedor lhe pagar. Persistindo o

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incumprimento, o credor pode recorrer aos tribunais para a venda do objecto, pagando-se pelo valor obtido.

Alínea f) do art 755º - confere ao promitente comprador o direito de retenção sobre o bem imóvel, objecto de CPCV, desde que (i) tenha efectuado a entrega de sinal conforme estabelecido no ctt e (ii) se encontre na posse do bem transferido (mediante entrega de chave). Assim, quando há execução pelo credor hipotecário, o preferencial é o promitente comprador, desde que se verifique os requisitos anteriores, ie, tenha efectivamente pago o sinal e esteja na posse do imóvel.

Meios de conservação da garantia patrimonial: são instrumentos colocados à disposição dos credores, de forma a impedir que o devedor se desfaça do património, não cumprindo, assim, com as suas obrigações.

Declaração de nulidade (artº 605 C.Civil) – medida posterior ao acto; Sub-rogação do credor ao devedor (artº 606 C.Civil) – antes da

transmissão de bens; Impugnação pauliana (artº 610 C.Civil) – medida posterior ao acto; Arresto (artº 619 C.Civil) – medida preventiva

Declaração de nulidade

Impugnação pauliana

Arresto Sub-rogação do credor ao devedor

o bem regressa à esfera jurídica do devedor; o acto é declarado nulo; e o negócio jurídico é nulo; pode ser proposta por qq interessado e em qq momento. Se do produto da execução restar algo após pagtº ao credor, esse valor é entregue ao devedor.

o negócio não é anulado. p.e. a venda mantém-se válida, o credor executa o bem, que já não pertence ao devedor, mas sim a um 3º, a quem o imóvel foi vendido. requisitos especiais: tem que ser instaurada no prazo de 5 anos após o acto; só produz efeitos ao credor que a propôs; o credor, para além de provar a má fé do devedor, tem, igualmente, que provar a má fé do 3º que comprou o imóvel (artº 612 C.Civil) Se do produto da execução (venda em

o credor que tem receio de perder a garantia patrimonial do seu crédito, pode requer o arresto dos bens do devedor.

Situação: A, empresta a B e C empresta a A o C exerce o direito de crédito sobre B, ie, o credor C assume a posição de devedor (A), na cobrança do credito a B.

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tribunal) restar algo após pagtº ao credor, esse valor é entregue ao 3º , pois o acto jurídico não é anulado: o proprietário fica a ser na mesma o 3º

Modalidade de cumprimento (artº 762 C.Civil) – o devedor cumpre a obrigação quando efectua o pagamento da prestação.Outras formas de cumprimento das obrigações:

Dação em cumprimento (artº 837 C.Civil) – o devedor pode cumprir a sua obrigação entregando outra coisa, para além de dinheiro, bens móveis ou bens imóveis, desde que o credor dê o seu consentimento. Com a escritura pública extingue-se a obrigação.

Dação pró solvendo (artº 840 C.Civil) – a entrega do bem extingue de imediato a obrigação, mas não através de registo. O devedor “entrega” o bem ao credor, que realiza a venda a um terceiro e é o produto da venda que extingue a obrigação. O credor tem que promover a venda do bem.

Consignação em depósito (artº 841 C.Civil) - a obrigação extingue-se mediante o depósito da coisa, efectuado pelo devedor se (i) não puder extinguir de outra foram e (ii) quando estiver em mora. O credor não se pode opor.

Compensação (artº 847 C.Civil) – p.e. compensão de créditos. Acontece quando uma das partes decide cumprir unilateralmente, sendo necessário a verificação dos seguintes requisitos:

(i) tem de haver reciprocidade – p.e. relação do cliente com o banco, quando existe simultaneamente, depósitos e crédito,

(ii) qualquer uma das parte se pode livrar da sua obrigação;(iii) o crédito tem que ser exigível judicialmente (p.e. quando

estiver vencido, e o cliente não paga a prestação);(iv) terem as duas obrigações por objecto coisas fungíveis/da

mesma espécie (p.e. se for um bem e $, não se aplica, tem que ser $ nas duas partes);

(v) a compensação tem que ser declarada ao devedor por escrito (carta registada).

A compensação de créditos só aplica sobre os depósitos à ordem – o banco não tem legitimidade de efectuar a compensação de créditos sobre (i) depósitos a prazo ou (ii) outras aplicações financeiras, a não ser que esses produtos tenham sido penhorados.

Novação (artº 857 C.Civil) – objectiva: quando uma obrigação é substituída por outra (p.e. reforma da letra) ou subjectiva quando ocorre alteração do sujeito.

Remissão (artº 863 C,Civil) – o credor pode aceitar que o devedor fique desobrigado da sua obrigação, mediante realização de contrato. A remissão é um contrato não formal, bastando para a sua perfeição, o acordo consensual de ambas as partes.

Confusão (artº 868 C.Civil) – reúne-se na mesma pessoa as qualidades de credor e devedor e extinguem-se a divida e o crédito. (p.ex. pai e filho celebram um ctt de comodato por 10 anos, ficando o filho obrigado a entregar o bem ao pai. Se o pai morre o filho herda o bem. Agora o filho é

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devedor e credor do bem – reuniu-se na mm pessoa as qualidades de devedor e credor, o que extingue a obrigação).

2.2 Negócios Jurídicos em Geral. Os ContratosContrato: acordo vinculativo para ambas as partes, assenta sobre uma ou mais

declarações de vontade, opostas entre si, mas harmonizadas – é um acordo de vontades.

Artº 232 C.Civil (acordo de vontades): mútuo consentimento.Artº 227 C.Civil (culpa na formação dos contratos): quer nos preliminares como

na formação do ctt, é preciso negociar de boa-fé, sob pena de responder pelos danos culposamente causados à outra parte.

Art 483º C.Civil (obrigação de indemnizar): p.e. A garante a venda da sua casa a B. Este, entretanto, procede à venda da sua casa, para puder comprar a A. A desiste de vender. A terá que indemnizar B, pelo facto de ter criado uma expectativa que não cumpriu. Nos termos deste artigo, a obrigação de indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação, decorre da verificação de 3 requisitos: (i) alguém sofre um dano, (ii) nexo de casualidade, e (iii) é preciso seja o outro lado do que causou o dano.

Contratos típicos (previstos na legislação) Artº 874 e ss C.Civil: CPCV, Ctt doação, Ctt sociedade, Ctt locação (art 1022º) , etc…

Princípios que regem todos os contratos (típicos ou não) Artº 405º a 456º C.Civil: Princípio da autonomia privada (art 405º C.Civil), as partes têm a

faculdade de fixar livremente o conteúdo dos ctt, dentro dos limites da lei.

Principio da confiança: cada contraente deve responder pelas expectativas que criou na outra parte;

Principio da equivalência objectiva: aplica-se a ctt a título oneroso – prestação deve ter um valor objectivo, que deve ser equivalente ao valor do bem – exige-se a equivalência entre as duas partes.

Classificação de Contratos:Típicos/

nominadosAtípicos Mistos Coligação de ctt

Têm um regime jurídico na lei

Regem-se pelas regras gerais

Num único contrato se reúne elementos de 1 ou mais ctts.

Dois ou mais ctts estão ligados entre si (p.e. ctt de financiamento c/banco, reúne o ctt empréstimo; ctt hipoteca, ctt compra venda.

2.3. Personalidade e Capacidade Jurídica. Capacidade de Celebração de Negócios Jurídicos. Incapacidade de gozo e de exercício.

Personalidade jurídica: - pessoas singulares (artº 66 C.Civil): é a susceptibilidade de se ser sujeito de

direitos e obrigações. A personalidade jurídica adquire-se com o nascimento completo e com vida.

- pessoas colectivas (artº 158 C.Civil e artº 5. CSC): a personalidade jurídica adquire-se no momento da constituição (escritura pública). Artº 5 CSC: a partir do registo definitivo na Conservatória Registo Comercial.

Capacidade jurídica:

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- pessoas singulares (artº 67 C.Civil): classifica-se em (i) capacidade de gozo e em (ii) capacidade de exercício. Capacidade de gozo: um conjunto de direitos e obrigações que uma pessoa pode ser titular.Capacidade de exercício: possibilidade de uma pessoa por si própria, sem depender de outrem, exercer aqueles direitos e obrigações que a capacidade de gozo define.

- pessoas colectivas (artº 160 C.Civil e artº 6 CSC)É a medida de direitos e obrigações que a pessoa colectiva pode exercer. Abrange todos os direitos e obrigações compatíveis com a sua natureza e necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins.

Incapacidade jurídica (afecta apenas as pessoas singulares), assume as seguintes formas – restrições/limitações:

Menoridade (artº 122 C.Civil): é incapacidade biológica – é menor quem não tiver completado 18 anos - podem ser titulares de direitos, têm capacidade de gozo, mas carecem de capacidade de exercício de direitos. Excepção: para o menor ou emancipado (idade > 16 anos), contudo, o legislador permite-lhe a capacidade de gerir os seus rendimentos de trabalho (artº 127 C.Civil). Maioridade (artº 130º C.Civil) - aquele quer perfizer 18 anos adquire capacidade de exercício.

Interdição (artº 138 C.Civil): é uma incapacidade que normalmente se aplica a maiores, assim, como na inabilitação. Tem que ser decretada judicialmente e tem que ter um representante legal. Aplica-se a pessoas incapazes de reger o seu património e a sua pessoa – os interditos são equiparados a menores – deixam de ter capacidade de exercício.

Inabilitação (artº 152 C.Civil): menos grave – incapacidade de reger o seu património, a capacidade de exercício permanece, mas é limitada. O representante legal é o curador e a inabilitação pode ser levantada, nos termos do (artº 155 CCivil).

Nos contratos, as partes têm que ter capacidade jurídica de exercício, sob pena de o acto não ser considerado válido.

2.4. Invalidade, Ineficácia, Nulidade e Anulabilidade de Negócios Jurídicos.

- Invalidade: quando existem no negócio jurídico certos vícios (p.e. incapacidade) ou quando no mesmo negócio existe desconformidades com a lei jurídica.

- Ineficácia em sentido estrito: O negócio não sofre de vícios, mas de factores externos que impedem a totalidade dos efeitos jurídicos (p.e. o falido que celebra um ctt de venda de um bem – o produto dessa venda é para a massa falida)

Invalidade, pode ser demonstrada através: Nulidade (artº 286 C.Civil): quando falta algum elemento essencial ou quando

vai contra a norma imperativa (artº 220 C.Civil)- p.e. (i) nos bens imóveis a transferência só é válida se houver escritura pública, (ii) quando falta a identificação das partes, (iii) incapacidade de um dos contraentes, etc.A nulidade constitui a forma mais severa e grave da invalidade, visa, sobretudo, defender o interesse público, e caracteriza-se por:

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Ineficácia em

sentido lato

Um negócio

jurídico não

produz todos os

efeitos que

deveria produzir

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i) operar por simples força da lei, não se tornado necessário emitir declaração ou obter sentença judicial, pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal, sempre que o processo reúna elementos para tal;

ii) é invocável por qualquer pessoa interessada, ie, pelo sujeito de qualquer relação jurídica afectada pelo acto nulo;

iii) é insanável ao longo do tempo, subsiste a possibilidade de ser invocada a todo o tempo e sem limite de prazo;

Anulabilidade (artº 287 C.Civil): quando o interesse de uma pessoa não foi atendido como deveria ter sido. Essa pessoa tem o direito de requer a anulação do negócio jurídico, sendo necessário que haja um interesse juridicamente protegido (p.e. o senhorio não pode vender o imóvel a um terceiro sem ter observado o direito de preferência do inquilino). Pode requer a anulação do acto jurídico, dentro do prazo de 1 ano.Caracteriza-se por:

i) ter que ser invocada por pessoa com legitimidade, não podendo ser oficiosamente declarada pelo tribunal, salvo se invocada por via de excepção;

ii) só pode ser invocada por pessoas cujo interesse a lei estabelece ou por aquelas que a lei indique;

iii) é sanável no tempo, ie, deve ser arguida dentro do prazo de 1 ano , esgotado o prazo, a anulação deixa de ser possível.

iv) compete à pessoa a quem a lei atribui o direito de anulação a confirmação, por forma a validar o acto

Condições para a celebração de ctt (artº 217 C.Civil): capacidade jurídica de exercício; forma decisiva; perfeito acordo; preenchimentos dos requisitos legais

II – DIREITO EMPRESARIAL

Direito Comercial: é conjunto de normas, conceitos e princípios jurídicos que gerem os factos e as relações jurídicas comerciais, dentro do domínio do direito privado.

1.1. ACTO DE COMÉRCIO (NOÇÃO) E TIPOS DE ACTOS DE COMÉRCIOA noção de acto de comércio está descrita nos artigos 2º e 230 do C.Comercial. Art 230º C.Comercial - encontram-se definidas várias actividades económicas, excluindo na definição certas actividades como a dos agricultores, artesãos e autores que editam ou publicam as suas próprias obras. Parece significar, que as actividades enumeradas neste artigo, constituem actos de comércio objectivos. Contudo, pode-se considerar que o alcance do art 230º é de carácter subjectivo, uma vez que atribui a qualidade de comerciante aos que praticam actividades nele enumeradas. A conjugação deste artigo com o artº 13 C.Comercial, pode-se dizer que o exercício das actividades qualificadas como comerciais atribui aos que as exercem a qualidade de comerciantes, seja em nome individual (art º 13, nº1), ou sociedades comerciais (art º 13, nº2). Em suma, os actos praticados no exercício de uma das actividades abrangidas pelo artº 230 C.Comercial, serão sempre actos de comércio, por não terem “natureza essencialmente civil” (2ª parte do artº 2) e por serem praticados por um comerciante no âmbito do seu comércio.

Para o Direito Comercial o conceito-chave delimitador da matéria comercial é o acto de comércio. Segundo, o artº 2 C.Comercial “ serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código e, para além, todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar”.

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A primeira parte deste artigo “(…) serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código (…)” são designados actos de comércio objectivos pelo facto de se tratar de uma circunstância objectiva.Do artº 2, deduz-se que a expressão acto de comércio é utilizada no âmbito do facto jurídico mercantil, em sentido amplo, pois abrange, tantos factos isolados como ocasionais, como actividades comerciais. O artº 2 para determinar o que são actos de comércio, não emprega uma definição, nem adopta o sistema de enumeração, por meio de uma lista taxativa dos actos considerados comerciais, refere que “são actos de comércio os que se acharem especialmente regulados neste Código”. Considera, assim, que são actos de comércio os que se encontram “especialmente regulados neste Código”, bem como aqueles que se encontram, simultaneamente, regulados no Código Comercial e no Código Civil. Exclui, os actos dos comerciantes que sejam de natureza exclusivamente civil (p.e. casamento, doação). A segunda parte do artigo “todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar”, trata-se dos actos que são comerciais, não pelo factor objectivo, mas pelo elemento subjectivo por serem praticados por comerciantes – é a qualidade do sujeito que os pratica que lhe confere comercialidade. Os actos do comerciante são actos de comércio por se presumir estarem ligados à sua empresa.Acresce referir que a segunda parte tem duas ressalvas – não serão actos de comércio se (i) forem de natureza exclusivamente civil e (ii) o contrário do próprio resultar. (i) forem de natureza exclusivamente civil: aqueles que estão unicamente regulados no código civil, que não possam ser comercializados.(ii) o contrário do próprio resultar: não acto de comércio, se o acto resultar que não tem relação com o exercício do comércio do comerciante que o pratica.Em conclusão o artº 2 C.Comercial abrange como actos de comércio: (i) os que estiverem regulados no C.Comercial e em outras leis, em razão dos interesses de comércio – são actos objectivos e os (ii) que forem praticados por comerciantes – actos subjectivos – presumindo-se que o são no exercício da sua actividade mercantil.

Existe um interesse prático na qualificação de um acto comercial:(i) regra da solidariedade nas obrigações comerciais artº 100

C.Comercial; (ii) regime de responsabilidade dos bens do casal por dividas resultantes

de actos de comércio artº 1691 C.Civil; e(iii) qualificação de uma pessoa como comerciante – é

considerada comerciante, aquela que tiver capacidade para praticar actos de comércio e fá-lo dentro do âmbito da sua profissão artº 13 C.Comercial.

1.2. REGIME JURÍDICO ESPECIAL: FORMA, SOLIDARIEDADE PASSIVA, PRESCRIÇÃO, JUROS E RESPONSABILIDADE DOS BENS DOS CÔNJUGES

FORMA (Principio da consensualidade ou liberdade de forma):Artº 396 C.Comercial: o empréstimo mercantil seja qual for o valor é válido, admitindo todo o género de prova. Cabe às partes escolher a forma do contrato, ie, pode ser verbal ou por escrito, sob forma de documento particular ou por escritura pública.Artº 219 C.Civil: É levado mais longe no direito comercial – aqui procura promover-se as relações mercantis, protegendo o crédito e a boa-fé, que resulta na promoção da simplicidade da forma – p.e. ctt mútuo: artº 1143: todos os ctt mútuo até 2 000 € não carecem de forma especial (liberdade forma), qdo. > 20 000 €, o ctt mutuo só é válido se for celebrado por escritura pública.

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SOLIDARIEDADE PASSIVA (a solidariedade nas obrigações não se presume – tem de resultar da lei ou da vontade das partes artº 513 C.Civil) Nas obrigações comerciais, o próprio legislador impõe a regra da solidariedade artº 100 C.Comercial, salvo estipulação em contrário, os co-obrigados são solidários (para garantia dos credores), a menos que se trate de actos de comércio unilaterais, nos quais não existe solidariedade para os obrigados em relação aos quais o acto não for comercial.Artº 101 – fiança comercial/fiança civil: na 1ª - o credor tem o poder de escolher qual dos sujeito que vai ser executado.Nas obrigações civis – a regra é a conjunção (responsabilidade solidária): o credor está obrigado a executar primeiro o devedor, e só depois, poderá executar o garante.

PRESCRIÇÃO (a obrigação deixa de puder ser executada)Artº 317, alínea B) C.CIVIL: estabelece a sujeição à prescrição presuntiva no prazo de 2 anos, dos créditos dos comerciantes pelas vendas de objectos do seu comércio a não comerciantes ou aos comerciantes que os não destinem ao seu comércio. Significa isto, se não houver uma acção de cobrança, no prazo de 2 anos, presume-se que o crédito foi liquidado. O devedor comerciante não beneficia da prescrição (aliás presuntiva, ie, fundada na presunção de que o débito foi pago artº 312 C.Civil), porque a leia privilegia a boa-fé e segurança das relações jurídicas que integram o circuito económico.

JUROSNas obrigações comerciais, nos actos de comércio vigora o princípio da onerosidade artº 102 C.Comercial, de acordo com o qual, em regra, salvo estipulação, em contrário, à prestação de cada parte deve corresponder uma retribuição pela contraparte. Juros legais – decorrem da lei; Juros convencionais - decorrem de estipulação das partes; Juros remuneratórios: remuneração do próprio capital (p.e. taxa fixada durante o

decorrer das obrigações); Juros moratórios: visam compensar o credor pelo prazo que o devedor levou a

liquidar a sua obrigação – a mora – é o estado em que se entra, desde que a obrigação se vence até ao momento em que esta é liquidada ou qd. o credor deixa de ter interesse no seu cumprimento e toma a decisão de incumprimento definitivo

Obrigações pecuniárias artº 805 C.Civil – é a indemnização respeita aos juros a contar do dia do seu vencimento.

RESPONSABILIDADE DOS BENS DOS CÔNJUGES:No actual regime dos efeitos do casamento sobre os direitos patrimoniais dos cônjuges, prevalece o principio da igualdade de direitos e deveres artº 1671 C.Civil, ie, a ambos pertence a orientação da vida comum e a direcção da família.

Relativamente às dívidas contraídas pelos cônjuges aquele princípio tem como corolário o disposto nº1 do artº 1690 C.Civil – qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do outro. O artº 1691 C.Civil, enuncia quais as dividas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges, pelas quais, respondem os bens comuns do casal, e na falta ou insuficiência deles, solidariamente, os bens próprios de ambos os cônjuges artº 1695, nº1 C.Civil. Pelo nº2 artº 1691, no regime de separação de bens, a responsabilidade dos cônjuges não é solidária.

A)Responsabilidade pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges no exercício do comércio (sem o consentimento do outro)

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REGRA GERAL: O artº 1692 C.Civil, enumera os casos de dívidas da exclusiva responsabilidade do cônjuge a que dizem respeito – por estas dividas respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns artº 1696, nº 1 C.Civil (só em regime de comunhão de adquiridos, pois nesta situação existem bens comuns – bens adquiridos a titulo oneroso após o casamento). A meação não é materializável até ao momento em que o casamento se dissolva (por morte ou divórcio). Para que o credor não fique lesado, o Código do Processo Civil, permite ao credor a nomeação à penhora da meação nos bens comuns.

REGRA ESPECIAL: Quando o casal se sujeita a qualquer regime de bens que não seja o da separação, serão da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas por qualquer deles no exercício do comércio, nos termos do artº 1691, nº 1, alínea d) C.Civil, excepto se fizer prova que a dívida não foi contraída para o bem comum do casal – o legislador salvaguarda a sobrevivência da família. Quer isto dizer que, quando um dos cônjuges for comerciante (exerça profissionalmente o comércio) responderão pelas dívidas do casal os bens comuns e, na falta ou insuficiência destes, os bens próprios de ambos os cônjuges, solidariamente artº 1695, nº1 C.Civil.Contudo, a lei não se consubstancia somente no disposto da alínea d), do nº 1 do artº 1691 C.Civil, para assegurar a protecção dos credores dos comerciantes, o artº 15 C.Comercial determina que “as dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do comércio”

Conclui-se que, se um credor de comerciante fizer a prova de que a dívida (i) é comercial, e o (ii) devedor comerciante, presume-se que a divida foi contraída por este no exercício do comércio, como tal, é da responsabilidade de ambos os cônjuges, nos termos dos artº 1691, alínea d) e artº 1695 C.Civil e do artº 15 C.Comercial.É de referir que o cônjuge pode afastar a sua responsabilidade pela divida se provar que tal dívida não foi contraída para proveito comum do casal Existe proveito comum do casal, quando o cônjuge do comerciante não aufere quaisquer rendimentos, todas as necessidades são sempre pagas pelo comerciante, só assim, impede que os bens comuns respondam pelas dívidas do comerciante.Quando existe separação de facto, mesmo que ainda estejam casados e exista bens comuns – não existe proveito comum, pois eles vivem em separação de facto.

B)Responsabilidade de um só cônjuge pelas dividas comerciaisRegime da responsabilidade pelas dividas comercias que são apenas do cônjuge que as contraiu – não interessa que o devedor seja comerciante ou não – o que importa é que a divida provenha de um acto de comércio e que por ela seja responsável o devedor casado e não o cônjuge deste também artº 1692 C.Civil.Resumo: São da exclusiva responsabilidade do cônjuge a que respeitam:

(a) as dividas contraídas, antes ou depois da celebração do casamento, por cada um dos cônjuges sem o consentimento do outro, excepto artº 1691 alineas b) e c) – dividas contraídas para ocorrer aos encargos normais da vida familiar, e as dividas contraídas em proveito comum do casal;

(b) as dividas provenientes de crimes e indemnizações (…)

Não são dividas da responsabilidade de ambos os cônjuges, quando:(a) não constituem proveito comum do casal;

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(b) quando a divida não é contraída no exercício do seu comércio – nestes casos não responde o património comum do casal, apenas o património próprio do cônjuge que contraiu a divida.

2. COMERCIANTE2.1. NOÇÃO E ESPÉCIES DE COMERCIANTE2.2. REQUISITOS E CONSEQUÊNCIAS DA QUALIDADE DE COMERCIANTE

Comerciante é quem, se enquadra numa das categorias do artº 13 C.Comercial(i) pessoas singulares com capacidade jurídica de exercício, que fazem

desta a prática da sua profissão, e as(ii) pessoas colectivas

Temos assim, de um lado os comerciantes que são pessoas singulares, geralmente designadas por comerciantes em nome individual, e os comerciantes que são pessoas colectivas – as sociedades comerciais.

No domínio do direito comercial prevalece a noção de comerciante que resulta do art. 13º: comerciante é quem se enquadra numa das duas categorias deste artigo, ou que seja titular de uma empresa que exerça uma das actividades comerciais, tais como as estão qualificadas no art. 230º C.Comercial e as demais disposições avulsas que caracterizam e englobam no direito comercial certas actividades económicas.

De realçar que a aquisição da qualidade de comerciante é sempre originária, não podendo transmitir-se, nem inter vivos, nem mortis causa.

Portanto, quem quiser organizar ou adquirir uma empresa comercial terá de preencher, os requisitos necessários para obter para si a qualidade de comerciante. De acordo com o art. 18º n.º 3 C.Comercial “os comerciantes são especialmente obrigados a fazer inscrever no registo comercial os actos a eles sujeitos”. Ora, um desses actos é a própria aquisição da qualidade de comerciante, que dá origem à matrícula no registo comercial – obrigações especiais da qualidade de comerciante: firma, escrituração comercial, balanço e prestação de contas.

Todavia, o mesmo não se poderá dizer quanto às sociedades comerciais: quanto a estas prevalece o disposto no art. 5º CSC, segundo o qual as sociedades comerciais “existem como tais a partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem”.

Requisitos para a atribuição da qualidade de comerciante (nome individual):

(i) Personalidade jurídica, é a susceptibilidade de se ser sujeito de direitos e obrigações. A personalidade jurídica adquire-se com o nascimento completo e com vida artº 66 C.Civil), para as pessoas singulares. Artº 5 CSC com a escritura pública, para as sociedades comerciais; Artº 1, nº 4 CSC, para as sociedades civis em forma comercial;

(ii) Capacidade Jurídica, consiste na medida dos direitos e obrigações de que uma pessoa é susceptível de ser sujeito artº 67 C.Civil. A capacidade comercial – de gozo e de exercício – depende de uma pessoa (singular ou colectiva) ter capacidade civil e não estar abrangida por algumas normas que estabeleça uma restrição ao exercício do comércio, artº 7 C.Comercial;

(iii) Exercício Profissional do Comércio o art. 13º n.º 1 C.Comercial - exige para a aquisição da qualidade de comerciante em nome individual, a pratica de actos de comércio e que se faça deste profissão. Significa isso, que:

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em primeiro lugar, não basta a prática de actos de comércio isolados é indispensável a prática regular, habitual, sistemática de actos de comércio.

não basta a prática, mesmo que habitual, de quaisquer actos de comércio, nem todos estes actos têm a mesma potencialidade de atribuir a quem os pratique a qualidade de comerciante. Desde logo, ficam excluídos os actos subjectivos.

é indispensável que exerça como modo de vida uma das actividades económicas que a lei prevê no art. 230º C.Comercial

deve entender-se como indispensável que a profissão de comerciante seja exercida de modo pessoal, independente e autónomo, isto é, em nome próprio, sem subordinação a outrem. Se alguém actua como representante de outrem, não haverá aquisição da qualidade de comerciante, porque os actos praticados se reportam e inserem na esfera jurídica do representado (este é que será o comerciante) e não o representante.

3. OS PRINCIPAIS INSTRUMENTOS JURÍDICOS DA ACTIVIDADE COMERCIAL3.1. CONTRATOS JURÍDICOS COMERCIAIS

Contratos jurídicos-comerciais: são instrumentos jurídicos que permitem regular novas realidades comerciais – (i) contrato típico, tem que ser escrito, (ii) contrato atípico, não têm obrigatoriedade escrita e por outro lado, não estão previstos na lei (p.e. contrato de franchising) Artº 405 C.Civil – liberdade contratual, novas figuras contratuais, por regra contratos atípicos, dotados de tipicidade social. Exemplos de contratos criados pelos comerciantes e não pelo legislador: contrato de leasing; contrato de know how; contrato de factoring; contrato de join venture; contrato de agência; contrato de franchising; contrato de concessão comercial

Contrato de promoção, distribuição e cooperação: visam estabelecer regras jurídicas e disciplinar as actividades de promoção comercial (p.e de um certo produto), de distribuição e de cooperação entre os agentes económicos distintos.Contratos financeiros: pressupõem uma contrapartida financeira p.e. (i) contrato típico – contrato de leasing e contrato de agência, (ii) contrato atípico – contrato de franquia.

CONTRATO DE COMPRA E VENDAEstá regulado no C.Civil (art 874º a 939º) e no C.Comercial (artº 463 a 476) – será comercial quando a compra for feita para revenda ou para fins industriais, se será civil sempre que for feita com a intenção de consumo. A definição de compra e venda (artº 874 C.Civil): contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço.

CONTRATO DE LEASING (DL 149/95 DE 24 DE JUNHO)Leasing – significa arrendar, alugar bens móveis ou imóveis. O locatário tem a posse do bem durante a vigência do ctt e paga uma contrapartida pecuniária (renda). No final do ctt, o locatário pode tornar-se proprietário, mediante o pagamento do valor residual.

O ctt de arrendamento só poder ter por objecto bens imóveis e não pode comprar o bem no final do ctt, enquanto, que o ctt de leasing tem por objecto bens móveis e bens imóveis e tem direito de opção de compra no final do período do contrato.

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Contrato de locação financeira: contrato típico que conjuga diferentes figuras contratuais: compra e venda, locação e mútuo. Segundo o artigo 1 - noção - se um contrato não se enquadrar dentro da definição, não poderá ser classificado como locação financeira, contudo se se aproximar, podemos, por analogia, aplicar as regras deste.

podem ser celebrados por documento particular; quando forem bens imóveis tem exigências adicionais, são as mesmas que para o CPCV (1º notário, 2º reconhecimento das assinaturas) artº 3 Dec-lei 149/95;

o prazo da locação financeira para os bens móveis não deve ultrapassar a vida útil do bem artº 6, nº1;

o ctt nunca poderá ultrapassar o período temporal máximo – 30 anos ¸artº6, nº2;

não havendo estipulação de prazo, considera-se para (i) os bens móveis – 18 meses e (ii) para os bens imóveis – 7 anos;

atribui-se ao locatário a faculdade (não a obrigação) de adquirir o bem no final do ctt artº 7. Se o locatário não quiser exercer essa faculdade de compra, é atribuída ao locador a possibilidade de fazer do bem o que ele entender;

artº 11 “transmissão das posições jurídicas” - tratando-se de bens de equipamento é possível a sua transmissão em vida, e é possível por morte, desde que o sucessor prossiga a actividade profissional do falecido. Quando não se trata de bens de equipamento só é possível, quando o locador consinta a transmissão. O nº3 do artº 11 estabelece que o locador pode-se opor à transmissão da posição contratual, desde que prove que quem ficou com a posição contratual não oferece garantias para a execução do ctt;

o risco do ctt de locação corre por conta do locatário artº 15, salvo estipulação em contrário – é o caso de uma norma supletiva, pode ser afastada por vontade das partes.

Nota: as normas imperativas – são obrigatórias (p.e nº 2 do artº 6 deste dec-lei, relativo ao prazo di ctt); as normas supletivas, permitem às partes contratantes derrogar a legislação (p.e. “salvo estipulação em contrário”).

artº 21 “providência cautelar de entrega judicial e cancelamento de registo” – permite ao locador através do requerimento a tribunal de uma providência cautelar, recuperar o bem, quando este não é entregue pelo locatário no final do ctt, não tendo este exercido a sua opção de compra.

o ctt de llocação financeira é nulo quando (i) o objecto é física ou legalmente impossível artº 280, nº1 C.Civil, ou (ii) quando não respeitar a forma artº 3, nº 1 Dec-lei 149/95 (p.e. nos bens imóveis quando não se verifiquem os requisitos previstos no nº1)

Contrato de cessão financeira (factoring): Contrato que não está regulado na lei, contudo, DL 171/95 de 18 de Julho regula a actividade de factoring. Contrato em que uma pessoa (o franquiador) concede a outra (o franquiado) a utilização dentro de certa área, cumulativamente ou não, de mascas, nomes insígnias comerciais, processos de fabrico, mediante contrapartidas.

Exigência da forma jurídica:

Até 2 000 euros – não à obrigatoriedade quanto à forma

De 2 000 a 20 000 euros – só são válidos os contratos celebrados por documento escrito, caso contrário são considerados nulos,

Superiores a 20 000 euros – só celebrados por escritura pública, excepto se uma das entidades for uma instituição financeira – art. 32 765/43 de 29 de Abril

Contrato de agência – DL 118/93 de 13 de Abril:

O agente divulga o produto, contacta os clientes e obtém as encomendas que remete ao principal, para que este aceite ou as recuse. É um profissional independente, actua

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por conta do principal, mas em nome próprio e a sua retribuição reveste a forma de uma comissão pelos contratos de promove artº 1, nº1 DL 118/93

artº 1, nº2: nenhuma das partes pode, à priori, fazer alterações ao ctt, isto porque é válido um ctt de agência ainda que seja verbal. Se uma das partes quiser pôr por escrito a outra não pode renunciar;

artº 3 nº 1, não está prevista, à prior, a cobrança dos créditos – para existir tem que estar escrito;

artº 15, retribuição (norma supletiva);

artº 16, comissão é o elemento determinante num ctt de agência, ocorre pela promoção da celebração de ctts e não pela celebração dos ctts em si. Temos uma dupla comissão no caso do agente exclusivo art 16, nº2. Se o agente não tiver poder para celebrar ctts’ a comissão é devida apenas pela promoção;

artº 2, os actos jurídicos praticados pelo agente não se vão repercutir nele próprio mas na entidade que ele representa;

artº 24, um ctt de agência pode cessar por (i) acordo entre as partes; (ii) caducidade; (iii) denúncia; (iv) resolução. O contrato de agência pode terminar por: (i) por acordo das partes (por escrito) - artigo 25; (ii) caducidade, desde que exista prazo pré-definido e (iii) denúncia - contratos por tempo indeterminado (quando não há prazo pré-definido), evita vinculações perpétuas, carecendo de pré-aviso artigo 28, (iv) resolução - carece de ser fundamentada artigo 30, implica que haja violações do que estava acordado.

artº 27, se as partes não tiverem convencionado o prazo do ctt, presume-se que o prazo do ctt é indeterminado – não estabelece o prazo mínimo nem máximo

Aspectos gerais

O agente é independente do principal e actua com autonomia: não está sob autoridade e direcção do principal, como os assalariados.

O agente exerce a sua actividade de modo estável, num número indefinido de operações e não num acto isolado.

Por regra é atribuído ao agente certa zona ou círculo de clientes. Pode ter um direito de exclusivo, que depende de acordo escrito – artigo 4, isto é, o principal não pode vender directamente na área atribuída ao agente e se o fizer, o mesmo tem direito à comissão.

Obrigação de informação aos interessados – o agente deve informar os interessados sobre os poderes que possui artº 21: (i) se tem poderes de representação ou não e (ii) se pode efectuar a cobrança de créditos ou não.

Indemnização de clientela

É a compensação devida ao agente, após a cessação do contrato, pelos benefícios que o principal continue a auferir com a clientela angariada ou desenvolvida pelo agente artº 33, isto é, o agente teve de trazer mais-valias para o principal (mais clientes, maiores volumes de vendas, etc), para se colocar a questão da indemnização. Esta indemnização tem como máximo um ano de comissões, tendo por base a média dos últimos cinco anos.

Independentemente da forma pela qual terminou o contrato (caducidade, denúncia, resolução ou acordo das partes), pode ser colocada a questão da indemnização. Se for por causa imputável ao agente, este perde esse direito.

Contrato franchising

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O ctt franchising não está legalmente regulado, vigora o principio da autonomia privada artº 405 C.Civil. A negociação é livre assim como o conteúdo do ctt, respeitando os princípios relativos ao objecto do negócio artº 280 C.Civil, vigora também o principio da liberdade da forma art 219 C.CivilÉ um meio de expansão da empresa sem necessidade de novos investimentos, consiste na utilização de marcas, nomes, insígnias comerciais, processos de fabrico, numa zona geográfica, mediantes contrapartidas.

Contrato de concessão: Ao contrário do contrato de agência, a concessão não se encontra regulada por lei. Pressupõe a existência de um produto identificado por uma marca, o titular da marca atribui à outra parte o direito de vender os produtos numa determinada zona geográfica, com correspondência obrigação de compra e de revenda por parte concessionário

2.TÍTULOS DE CRÉDITO2.1. NOÇÃO DE TÍTULO DE CRÉDITO

2.2. NOÇÃO LETRA, LIVRANÇA E CHEQUE: CONCEITO E DISTINÇÃO

Crédito – é a troca de uma prestação presente por uma prestação futura, ou seja, é o diferimento no tempo de uma contraprestação.O conceito de crédito assenta em dois pressupostos:

(i) a confiança do credor na honestidade e solvabilidade do devedor, ou seja, na sua aptidão moral e patrimonial para cumprir a obrigação no prazo concedido, ou pelo menos, no valor das garantias (pessoais ou reais) constituídas pelo devedor para assegurar a efectivação da prestação a que se obrigou;

(ii) fixação do período/prazo entre a prestação actual do credor e a prestação futura do devedor.

Títulos de crédito artº 362 C.Civil são documentos e têm que ser escritos, ou seja, têm que representar uma manifestação de vontade. Os títulos de crédito são documentos constitutivos, ie, são indispensáveis para a própria constituição, exercício e transmissão dos direitos que neles são mencionados, os quais não podem subsistir sem o próprio título – título de crédito documento constitutivo – permite a execução da própria obrigação assumida pelo devedor.

Os títulos de crédito são constitutivos porque o que está inscrito nos documentos vale por si próprio, independentemente das relações entre os sujeitos jurídicos (p.e. letra vale sempre por aquilo que está inscrito nela, não nos interessa quem a emitiu e a favor de quem).

Definição de Vivante: título crédito é “o documento necessário para exercitar o direito literal e autónomo nele mencionado.” Assim:

É um documento, isto é, um ”objecto elaborado pelo homem com o fim de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto”. É um meio de prova. Nos títulos de crédito o documento é mais do que um meio de prova - é algo que é necessário para a existência do direito nele mencionado. É um direito incorporado no título – direito cartular. Só o possuidor do documento pode exercer o direito nele mencionado ou transmiti-lo.

É um direito literal, é a letra do documento que determina o conteúdo, limites e modalidades do direito nele mencionado. O direito afere-se pelos dizeres do documento, vale nos termos em que está escrito.

É um direito autónomo, cada possuidor legítimo adquire o direito nele mencionado de um modo originário (aquisição originária/aquisição derivada de direitos). O direito

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adquirido surge “ex novo” na titularidade do seu possuidor, independentemente da titularidade dos anteriores possuidores e dos possíveis vícios dessas titularidades.

O título de crédito tem ainda uma eficácia que ultrapassa a de mera constituição do direito – o título adere permanentemente ao direito, de modo tal que aquele é indispensável para que o direito possa ser exercido e transmitido, ie, para que o seu titular possa dispor dele.

Títulos de crédito têm que ser (i) celebrados por documento escrito; (ii) conter declaração de vontade e (iii) são considerados constitutivos.

Características do título de crédito incorporação ou legitimidade: a posse do documento adquirida segundo a lei da

circulação, habilita o portador a exercer o direito, mesmo que ele não seja o verdadeiro titular – o verdadeiro titular está impedido de exercer o seu direito enquanto não estiver na posse do respectivo documento. O título de crédito atribui ao seu possuidor a legitimidade sobre ele – só pode exercer ou transferir o direito quem tiver na sua posse regular ou legitima do título;

circulabilidade: possibilidade de serem transmitidos a outrem; literalidade: deve entender-se que o documento só vale pelo que nele está

escrito; autonomia: o legítimo possuidor do título, o que o recebe segundo a lei da

circulação, adquire o direito nele referido, independentemente da titularidade do seu antecessor e dos possíveis vícios dessa titularidade. Art 16º LULL.

LETRA LIVRANÇA CHEQUE

É um título de crédito, pelo qual uma pessoa (sacador) ordena a outro (sacado), que lhe pague a si ou a um 3º (tomador), determinada quantia, numa certa data.

É um título de crédito (TC) a prazo

É uma ordem de pagamento.

É um título de crédito negociável, pelo qual o subscritor se compromete a pagar ao seu credor (beneficiário).

É um título de crédito (TC) a prazo

É uma promessa de pagamento.

É uma ordem de pagamento dada pelo sacador (titular da conta) ao sacado (banco), para que este efectue o pagamento de uma certa quantia ao beneficiário.

É um meio de pagamento à vista;

O cheque pode-se ser ao portador ou nominativo – qd. É nominativo, pode ser transmitido por endosso.

Fontes do direito cambiário: Lei Uniforme da Letra e Livrança (LULL); Lei Uniforme do Cheque (LUC); DL 454/91 alterado pelo DL 316/97 – Regime Jurídico Cheque

LETRAFunção económica da letra

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A letra destaca-se dos demais TC pela importância da função que desempenha no comércio e, de uma forma geral, na vida económica. As suas principais funções são: (i) garantia, (ii) meio de pagamento, e (iii) instrumento de crédito.Se o sacador detém a letra até à data do seu vencimento, a letra desempenha a simples função de garantia de crédito. Porém, ele pode ser devedor de alguém e, neste caso, pode endossar a letra a essa pessoa como meio de pagamento

AutonomiaO legítimo possuidor da letra detém o direito sobre ela, automaticamente. O artº 16 LULL confere ao portador legitimo da letra um direito autónomo. Porém, para a autonomia se possa verificar, é necessário que o portador não tenha adquirido a letra de má fé ou com falta grave – se o portador desapossado provar qualquer uma destas ocorrências (má fé ou falta grave) – não se verifica a autonomia do direito do possuidor, este será obrigado a restituir o título ao portador desapossado.

Requisitos essenciais da letraA letra é um título formal. A letra deve conter os seguintes requisitos artº 1 LULL:

1. inserção da palavra “letra” ;2. mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada – esta ordem é o

saque da letra, o sacador não pode condicionar a ordem de pagamento. É inadmissível a inserção na letra de cláusulas penais. No entanto, a cláusula de juros, só é admissível nas letras pagáveis à vista ou a termo de vista artº 5 LULL – a taxa de juro deve ser indicada na letra, se não o for, a cláusula dos juros é considerada como não escrita;

3. indicação do nome do sacado ;4. indicação da época de pagamento : artº 2 LULL, estabelece que a letra em que

não se indique a época do pagamento entende-se pagável à vista – na falta deste elemento essencial presume o preceito deste artigo. Por conseguinte, se numa letra forem indicadas várias épocas de pagamento ou se o mm for irregular a letra é nula.

5. indicação do lugar de pagamento – na sua falta considera-se o domicilio do sacado

6. indicação do nome do tomador : o tomador é a primeiro portador da letra, aquele a quem o título é transmitido pelo sacador

7. indicação data e lugar do saque : se faltar a data a letra é nula. Se faltar a indicação do lugar, presume-se como lugar do saque. A letra nula se nenhum lugar vem mencionado na letra ao lado do nome do sacador – é tb nula a letra se forem indicados vários lugares ou datas de emissão.

8. assinatura do sacador : pois é através da assinatura que o sacador manifesta a sua declaração de vontade. A letra pode ser assinada por um representante do sacador. Contudo, o representante deve declarar que assina em nome do representado, pois de outro modo, ficará ele próprio obrigado, com base no princípio da literalidade.

Falta de um requisito essencial na letraDe acordo com o artº 2 LULL na falta de algum dos requisitos essenciais da letra, não produzirá efeitos como letra, com excepção das alíneas previstas nesse disposto. A letra em branco é aquela que falta algum dos requisitos essenciais, mas que incorpora, pelo menos uma assinatura feita com o fim de contrair uma obrigação cambiária. É necessário que o subscritor dê ao credor autorização para a preencher – sem essa autorização estamos perante uma letra incompleta, e não uma letra em branca.A admissibilidade da letra em branca resulta do artº 10 LULL – a letra pode ser passada em branca, desde que seja posteriormente preenchida nos termos do artº 1 LULL. O momento em que a letra deve integra todos os seus elementos essenciais não é o da emissão, mas sim o vencimento. Para certos autores, a obrigação cambiária só

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nasce no momento do preenchimento integra da letra – o que existe antes do preenchimento para o emitente do título – não é uma obrigação cambiária, mas antes o estar ele sujeito ao exercício do direito do portador a preencher a letra

RESUMO:

REQUISITOS FORMAIS DA LETRA

NEGÓCIOS CAMBIÁRI

OS

VENCIMENTO PAGAMENTO

ACCÇÃO DE REGRESSO

Artº 1 LULL São os elementos

que têm que existir na pp letra p/ que esta produza efeitos – se não os tiver não vale como letra Artº 2 LULL

Saque; Aceite; Endos

so; Aval.

Artº 34 LULL

Artº 38 LULL

Artº 43 LULL

SAQUE: acto pelo qual o emitente cria a letra, dá a ordem de pagamento. É a declaração cambiária que enuncia uma ordem de pagamento a um terceiro (sacado). O sacador fica obrigado, ele próprio, a pagar a letra se o sacado a não aceitar, ou aceitando-a não a liquidar - o acto pelo qual o sacador aceita que o pagamento da divida seja a prazo e que seja emitida a letra p/ titular a divida – sacador: credor; sacado: devedor – este não é obrigado ao pagamento, só quando assumir também a posição de aceitante. A obrigação cambiária principal é a do sacado, no entanto, ele só se torna obrigado depois de aceite – declaração através da qual ele assume a obrigação de pagar a letra, prometendo executar a ordem que na mesma se contém. Depois, da letra aceite, o sacado passa a denominar-se aceitante.

ACEITE: artº 21 LULL – declaração de vontade através da qual o sacado (devedor) assume a obrigação de proceder ao pagamento do valor inscrito na letra e na sua data de vencimento, a quem for o portador legitimo desta.

ENDOSSO: artº 11 e artº 14 LULL – é a “dinâmica da letra”, forma de transmissão dos títulos de crédito –. Só pela aposição de cláusula expressa em contrário a letra deixa de ser endossável “não à ordem” – esta designação impede que o título seja transmitido – neste caso a letra não pode ser endossada. Quando o sacador endossa a letra, este torna-se endossante e o beneficiário é o endossado. O endosso é uma nova ordem de pagamento. O endosso pode ser (i) incompleto ou em branco, (ii) endosso completo – tem que dizer quem é o endossado no verso da letra e assinar.A letra pode ser transmitida por outros meios:

(a) por acto entre vivos¸ com os efeitos de cessão ordinária de créditos;(b) por sucessão, mortis causa, transmitindo-se aos herdeiros a posse legitima da letra e o crédito que ela representa.

Além da função de transferência, o endosso realiza também as funções de legitimação do portador e de garantia – de garantia, porque o endossante assume a responsabilidade pelo aceite e pagamento da letra. Em suma, o endosso, é a declaração que normalmente tem os efeitos de transmitir a letra, garantir ao portador a sua aceitação e pagamento e justificar a sua posse. Requisitos do endosso:

o endosso deve conter a declaração “pague-se a X ou “à sua ordem” e a assinatura do endossante;

o endosso deve ser simples e puro artº 12 LULL e relativo à totalidade do crédito – a ordem de pagamento não poder condicionada – no entanto, o endosso condicionado não é nulo – apenas a condição é considerada por lei como não escrita artº 12 LULL;

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o endosso deve transmitir a totalidade do crédito, sendo o endosso parcial nulo;

o endosso em branco, o endossante não designa o nome do beneficiário – limita-se a colocar a sua assinatura. O detentor da letra com endosso em branco é o seu portador legítimo.

Efeitos do endosso efeito translativo – o endosso transmite todos os direitos emergentes da

letra, e transmite-os com autonomia, coloca o portador na situação de credor originário. Para que o efeito translativo se verifique é indispensável que este tenha sido feito por alguém com legitimidade para endossar a letra – o seu portador legítimo. Exemplos em que o endosso não produz a sua plena eficácia translativa (são endossos que transmitem apenas certos direitos), são (i) endosso por procuração, (ii) endosso em garantia, (iii) endosso posterior ao protesto por falta de pagamento;

efeito de legitimação do portador – o endosso legitima formalmente o portador.

efeito constitutivo – o endosso é como o saque, uma promessa cambiária, mas apenas dirigida ao respectivo endossado ou endossados subsequentes;

AVAL: artº 30 LULL – é uma garantia pessoal. Existe um terceiro que garante ao credor uma parte ou a totalidade do valor da letra. O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa. No aval a responsabilidade é solidária com a responsabilidade de devedor – a não ser que exista um vicio na forma, artº 32 LULLP.e. se o aval foi dado por um 3º a favor de “C”, e se este 3º paga a letra, fica com direito de regresso não só contra “C”, mas também contra “B” e “A”, subscritores anteriores a “C”.

VENCIMENTO (ARTº 33 LULL) à vista (a letra é pagável quando for apresentada) – impõe ao beneficiário a

apresentação da letra, no prazo de 1 ano, após a emissão da letra; a certo termo à vista (pagável num determinado prazo, desde da data do aceite,

pe. 30 dias à vista); a certo termo de data (o prazo começa a contar a partir da data de emissão) ; pagável no dia fixado (tem prazo fixado)

A letra é pagável no dia do vencimento ou nos dois dias seguintes art 38º LULL O sacado após o pagamento, pode exigir que a letra lhe seja entregue, uma vez que funciona como recibo de quitação artº 39 LULL Pagamento parcial da letra – Juridicamente, a reforma da letra respeita à extinção da primeira letra e ao saque de uma nova letra, que corresponde a uma nova obrigação. O sacado deverá pedir a primeira letra, para garantir o pagamento efectuado por si, de forma a evitar que lhe seja exigido novamente o valor da letra. Se o sacador (credor) ficar com a posse da letra, mesmo após receber o valor da dívida, pode, ainda, executar novamente a letra, porque é ele quem detém o título de crédito.O direito de crédito não se extingue com o pagamento se o título continuar em circulação, na pose, do portador legítimo.

ACÇÃO DE REGRESSO (ARTº 43 LULL)O portador da letra pode exercer o direito de regresso contra os endossantes – sacador e outros co-obrigados, nas seguintes situações:

no vencimento: se o pagamento não for realizado; antes do vencimento: (i) se houver recusa total ou parcial do aceite, (ii) nos

casos de falência do sacado, quer ele tenha aceite ou não; (iv) de suspensão de pagamentos, (v) nos casos de falência do sacador de uma letra não

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aceitável – a recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por acto formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento).

Nos casos de (i) falência declarada do sacado, quer seja aceitante ou não, e da (ii) falência declarada do sacador de uma letra não aceitável - apresentação de sentença de declaração de falência é suficiente para que o portador da letra possa exercer os seus direitos de acção, não sendo, necessário o protesto.

LUGAR E FORMALIDADES DO PROTESTO (ARTº 44 LULL)A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por acto formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento) – protesto é um acto jurídico declarativo não negocial, praticado perante o notário, destinado a comprovar e a dar conhecimento aos intervenientes na cadeia cambiária da falta do aceite ou do pagamento . A letra é enviada ao notário para que este lavre uma declaração formal de que o pagamento não foi efectuado. O portador da letra só pode exercer o seu direito de acção após a apresentação da mesma ao sacado para pagamento.

O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentação do aceite, o protesto por falte de pagamento deve ser feito num dos 2 duas úteis seguintes àquele em que a letra é pagável. Se o portador não fizer o protesto na falte de aceite ou de pagamento, perde os seus direitos de acção contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados, à excepção do aceitante – este como obrigado principal responde sempre pelo pagamento.

O sacador, um endossante ou avalista pode, pela cláusula “sem despesas”, dispensar o portador de fazer o protesto por falte de aceite ou de pagamento, para poder exercer os seus direitos contra os obrigados de regresso. Se o portador faz o protesto as despesas são por conta dele.O artº 43 LULL, prevê que o sacador pode exercer os seus direitos de acção contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados.

Principio da solidariedade dos obrigados cambiáriosTodos os subscritores de uma letra são todos solidariamente responsáveis pelo pagamento da letra perante o portador artº 47 LULL. Este tem o direito de accionar todas essas pessoas individual ou colectivamente sem ter de se observar a ordem porque elas se obrigam.O portador pode reclamar daquele contra quem exerceu o seu direito de acção artº 48 LULL:

o pagamento da letra não aceite ou não paga, com juros se assim foi estipulado; juros à taxa de 6%, desde data de vencimento; as despesas de protesto ou dos avisos dados, bem como outras despesas.

Aquele que paga uma letra pode reclamar dos seus garantes artº 49 LULL: a soma integral que pagou; os juros da dita soma; as despesas que tiver feito

PRESCRIÇÃO DA LETRA (ARTº 70 LULL)Todas as acções contra o aceitante relativas a letras prescrevem no prazo de 3 anos a contar do seu vencimento.As acções do portador contra os endossantes e sacador prescrevem no prazo de 1 ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil, ou da data do vencimento, se se tratar de uma letra contendo a clausula “sem despesas”.

- 3 anos: para o aceitante; - 1 ano: endossantes e sacador;

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- 6 meses: endossantes entre siSe não for feito dentro do prazo prescricional a acção cambiária/executiva prescreve, então, tem que se recorrer por via da acção declarativa

LIVRANÇA Artº 75º LULL – requisitos da livrança Artº 76º LULL – o escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no

artigo anterior não produz efeito como livrança, salvo certos casos. Artº 77 LULL – são aplicáveis às Livranças as disposições relativas às letras. Artº 78 LULL – o subscritor de uma livrança é responsável da mesma forma

que o aceitante de uma letra – responsabilidade solidária. A recusa do subscritor a dar o seu visto é comprovada por protesto.

CHEQUE Cheque é um documento pelo qual o depositante (sacador) – entidade quem emite

o cheque, ordena ao sacado que pague determinada quantia; REQUISITOS FORMAIS DO CHEQUE (Artº 1 LUC) - São os elementos que têm que existir

no cheque p/ que este produza efeitos – se não os tiver não vale como cheque Artº 2 LUC;

PROVISÃO (ARTº 3 LUC) – pressupõe a existência de um contrato prévio – contrato de abertura de conta – elemento que distingue da letra e da livrança. O sacado (banco) para poder cumprir a ordem de pagamento dada pelo cheque, tem que ter fundos. No entanto, a validade do cheque não fica prejudicada no caso de não haver provisão (2ª parte artº 3 LUC).

INADMISSIBILIDADE DO CHEQUE (ARTº 4 LUC) – o cheque não pode ser aceite – a menção “aceite” no cheque considera-se como não escrita.

MODALIDDADE (ARTº 5 LUC) – o cheque pode ser pagável (i) a uma determinada pessoa, com ou sem clausula expressa “à ordem”, (ii) a uma determinada pessoa, com a clausula “não à ordem”, e (iii) ao portador

PAGAMENTO (ARTº 28 LUC) – o cheque é pagável à vista (quando o cheque for apresentado no banco); o prazo de pagamento é de 8 dias após a data de vencimento artº 29 LUC

RESPONSABILIDADE DO SACADOR (ARTº 12 LUC) – o sacador garante o pagamento. CHEQUE CRUZADO (ARTº 37 LUC) – reveste-se numa instrução especial de pagamento -

o título só pode ser pago pelo próprio banco – o cheque cruzado tem por finalidade acautelar na medida do possível os riscos de extravio, de fruto ou de fraude. Essa simbologia é constituída por 2 traços paralelos. O cruzamento por ser (i) geral – os cheques nesta situação só pode ser pago pelo sacador, a um banco ou a um cliente do banco sacado ou (ii) especial – se entre os traços se menciona o nome dum banco – o pagamento só poderá ser feito ao banco designado no cruzamento ou a outro, mas sempre por intermédio daquele.

CHEQUE “PARA LEVAR EM CONTA” (ARTº 39 LUC) – reveste-se numa instrução especial de pagamento - o cheque nesta condição não pode ser cobrado directamente, tem que ser depositado. Significa isto, que o banco sacado fica proibido de pagar o cheque em dinheiro, limitando a sua acção a fazer o lançamento de escrita, creditando a conta do beneficiário pelo valor do cheque.

A propriedade do cheque pode ser transmitida nas seguintes situações:(i) tratando-se de cheque ao portador – o banco sacado efectua o respectivo

pagamento à pessoa que apresenta o cheque no balcão, pelo que a transmissão da propriedade de um cheque deste tipo exige a entrega do título;

(ii) no caso de cheque nominativo – o banco sacado apenas poderá efectuar o pagamento à pessoa cujo nome se encontra nele escrito. A transmissão de um cheque nominativo exige o endosso.

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ACÇÃO POR FALTA DE PAGAMENTO (ARTº 40 LUC) – se o cheque apresentado ao sacado (banco) dentro dos prazos estabelecidos pela lei não for pago, o portador pode recorrer aos tribunais interpondo um acção contra qualquer das pessoas obrigadas – estas são solidariamente responsáveis pelo pagamento do cheque. O portador, para exercer os seus direitos, terá que provar a falta de pagamento por uma das seguintes formas:

(i) por acto formal – protesto;(ii) por uma declaração ao sacado (banco), indicando a falta de provisão….;(iii) por uma declaração, datada, da câmara de compensação, onde conste a

data da apresentação em tempo útil (8 dias a partir da data de vencimento) e a indicação de que não foi pago.

Deste modo, o portador pode exercer os seus direitos de acção cambiária contra (i) os endossantes, (ii) sacador e (iii) outros co-obrigados, se o cheque apresentado em tempo útil (8 dias após a data de vencimento), não for pago e se a recusa do pagamento for verificada.A falta de pagamento tem que ser provada por acto formal (protesto), que é feita normalmente pelo banco, colocando a designação “devolvido por falta de provisão”. O protesto deve ser feito antes de expirar o prazo para a apresentação (8 dias após a data de vencimento) – caso o carimbo seja colocado após os 8 dias, já não se pode interpor a acção cambiária.A acção cambiária prescreve após 6 meses a contar da data formal de apresentação do cheque artº 52 LUC, ou seja, após os dias 8 para a apresentação a pagamento – p.e. 01.01.04 até 08.01.04 o portador do título interpôs a acção cambial, a qual entrou no tribunal até ao dia 08.07.04, após esta data a acção cambiária prescreverá. O facto de prescrever a acção cambiária não significa que prescreve a dívida.

Em suma, consequências por falta de pagamento:(i) possibilidade da acção cambiária art º 40 LUC, e(ii) obrigatoriedade de rescisão da convenção de uso de cheque (Regime Jurídico

do Cheque s/ Provisão ) artº 1 e ss RJC, implica que a pessoa deixa de poder emitir cheques, quer em nome próprio, quer em representação de terceiros. As instituições de crédito são obrigadas a comunicar ao Banco de Portugal, este por sua vez, divulga a listagem a todos os bancos, os quais são obrigados a rescindir também as convenções que tenham com essa pessoa. A instituição de crédito que tenha rescindido a convenção de cheque não pode celebrar nova convenção com essa entidade no prazo de 2 anos.

3. ESTABELECIMENTO COMERCIAL3.1. NOÇÃO E ELEMENTOS

3.2. PRINCIPAIS NEGÓCIOS: TRESPASSE E CESSÃO DE EXPLORAÇÃO

Noção jurídica de estabelecimento comercial (ou empresa): “organização concreta de factores produtivos como valor de posição no mercado”.

O estabelecimento comercial é o conjunto de elementos reunidos e organizados pelo empresário para através dele exercer a sua actividade comercial, de produção ou circulação de bens e serviços. O estabelecimento comercial pressupõe, antes demais, um titular, ele é o conjunto de meios predestinados por um empresário, que é o titular de um determinado direito sobre ele. Por outro lado, o estabelecimento é um acervo patrimonial que engloba um conjunto de bens e de direitos das mais variadas categorias e naturezas, que têm em comum a afectação à finalidade a que o comerciante os destina.

Elementos do estabelecimento comercial

O estabelecimento comercial caracteriza-se pela diversidade dos elementos que o compõem. As principais categorias de elementos potencialmente constituitivos, são:

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(a) Elementos corpóreos : nesta categoria devem considerar-se as mercadorias, as matérias-primas e os produtos semi-acabados. Incluem-se também as máquinas e utensílios, ou seja, a maquinaria, os veículos e os instrumentos destinados a serem utilizados directamente nas tarefas do estabelecimento;

(b) Elementos incorpóreos: consideram-se os direitos resultantes do contrato ou de outras fontes, que dizem respeito à vida do estabelecimento. São normalmente, o direito de arrendamento do imóvel, os créditos resultantes de vendas, empréstimos, locações. Os direitos resultantes de certos contratos relacionados com a esfera de actividade mercantil.

Exemplos: direito ao arrendamento, direitos de crédito, patentes, marcas, insígnias, direitos emergentes de contratos de trabalho e de prestação de serviços, direitos emergentes de contratos de agência, concessão ou franquia, etc.

(c) Clientela - relações contratuais com certa estabilidade; expectativa ou capacidade de angariar novos clientes. Consagração legal do direito à clientela: a indemnização de clientela, consagrada no regime legal do contrato de agência. Há uma clientela certa, que resulta de relações contratuais com certa estabilidade (ex: contratos de fornecimento ou prestações de serviços a clientes durante um prazo) ou quando a própria natureza da actividade assegura que os clientes renovarão as suas encomendas.

(d) Aviamento - capacidade lucrativa, aptidão para gerar lucros. Certas situações de facto que potenciam o lucro do comerciante. É um elemento ou qualidade do estabelecimento. p.e. relações com fornecedores ou clientes, acesso ao crédito, eficiência da organização, reputação ou “goodwill”, posição no mercado, etc. É a capacidade lucrativa da empresa, ou seja, a aptidão para gerar lucros resultantes do conjunto de factores nele reunidos. O aviamento resulta, também, das relações com os clientes, com os fornecedores de mercadorias, com as instituições financeiras, com os clientes, a eficiência na organização, a posição mais ou menos forte no mercado. O aviamento exprime uma capacidade lucrativa, que confere ao estabelecimento uma mais-valia em relação aos outros elementos patrimoniais que o integram, daí a possibilidade do trespasse valer mais do que a soma dos elementos que o integram.

Do ponto de vista económico, e em sentido amplo, o estabelecimento comercial apresenta-se-nos como um acervo de elementos heterogéneos, de direitos e de facto, mas que são aglutinados numa organização, pois o objectivo assenta na actividade que o comerciante visa desenvolver

Trespasse: É a transmissão definitiva, por acto entre vivos, com ou sem carácter oneroso, da propriedade do estabelecimento comercial, abrangendo a globalidade dos elementos que o integram. Pode se uma venda, troca, doação, entrada em sociedade ou venda executiva - Artigos 115 e 116 do R.A.U.

O trespasse é todo e qualquer negócio jurídico pelo qual sejam transmitidos definitivamente e “inter-vivos” um estabelecimento comercial, como unidade. Ficam excluídos do âmbito do conceito os casos de transmissão “mortis causa”. Mas o que é essencial para que haja trespasse, é que o estabelecimento seja alienado como um todo unitário, abrangendo a globalidade dos elementos que o integram. Pode, no entanto, algum ou alguns desses elementos ser especificamente dele retirados e subtraídos à transmissão, que ainda haverá trespasse.

O primeiro aspecto do regime do trespasse, focado na lei é o da forma, já que condiciona a validade do negócio jurídico à sua celebração por escritura pública, da qual devem constar todos os seus elementos essenciais.

O segundo aspecto, consiste no direito de preferência, que é atribuído ao senhorio do prédio arrendado no caso de trespasse por venda ou doação em cumprimento do estabelecimento. Ficando de fora, os casos em que o trespasse se deva a doação, a

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realização da entrada de um sócio na sociedade, a adjudicação na liquidação da sociedade.

Cessão de exploração: É a disposição temporária e remunerada do mero gozo do estabelecimento comercial. O locador explora a empresa por sua conta e risco, pagando uma determinada remuneração ao dono do estabelecimento - Artigo 111 do R.A.U.

A cessão de exploração do estabelecimento comercial é um contrato de locação do estabelecimento como unidade jurídica, isto é, um negócio jurídico pelo qual o titular do estabelecimento proporciona a outrem, temporariamente e mediante retribuição, o gozo e fruição do estabelecimento, isto é, a sua exploração mercantil.

O cedente ou locador demite-se temporariamente do exercício da actividade comercial e, quem o assume é o cessionário ou locatário. A cessão de exploração tem de ser celebrada em escritura pública.

O objecto da cessão de exploração não é o imóvel em si, mas sim o estabelecimento como um bem unitário, compreendendo a globalidade dos elementos que o integram e, o prosseguimento de uma dada actividade.

4. AS FORMAS JURÍDICAS DA EMPRESA4.1. EMPRESA INDIVIDUAL - EIRL4.2. EMPRESAS EXPLORADAS SOBRE FORMA COLECTIVA: SOCIEDADES, COOPERATIVAS, ACE, AEIE, ETC..)

EIRL (artº 1 DL 248/86): corresponde a uma modalidade de exercício do comércio por um comerciante individual, que se caracteriza pela limitação da responsabilidade desta ao valor dos bens afectados ao EIRL.

Este regime caracteriza pela:

possibilidade de afectar parte do património artº 1, nº 2;

constitui-se por documento particular, excepto se as entradas no património forem em espécie (imóveis) artº 2;

a responsabilidade é limitada aos bens afectos ao estabelecimento, com excepção dos casos em que seja decretada a falência e que haja prova de que na gestão do estabelecimento não foi verificada a separação do património artº 11, nº 2. Fazer esta prova é do interesse dos credores, uma vez que podem ir ao património pessoal do empresário;

limitação da remuneração do titular do EIRL a 3 vezes o salário mínimo nacional artº 13

Artigo 10, 1 - DL nº248/86, Dividas pelas quais responde o património do EIRL – “...o património do estabelecimento individual de responsabilidade limitada responde unicamente pelas dividas contraídas no desenvolvimento das actividades compreendidas no âmbito da respectiva empresa.” O património do EIRL, não responde por dividas que não sejam da empresa.

Artigo 11, 1 - DL nº248/86, Responsabilidade pelas dividas do EIRL – “Pelas dividas resultantes de actividades compreendidas no objecto do estabelecimento individual de responsabilidade limitada respondem apenas os bens a este afectos.”

Artigo 11, 2 - DL nº248/86, Responsabilidade pelas dividas do EIRL – “No entanto, em caso de falência do titular por causa relacionada com a actividade exercida naquele estabelecimento, o falido responde com todo o seu património pelas dividas contraídas nesse exercício, contando que se prove que o princípio da separação patrimonial não foi devidamente observado na gestão do estabelecimento.”

4.2 EMPRESAS EXPLORADAS SOB FORMA COLECTIVA

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Sociedades (civis e comerciais) artº 1, nº 2 CSC e artº 980 C.Civil – a sociedade implica pessoas, bens, organização e fins.

Cooperativas artº 2 do Código Cooperativo: (i) pessoas colectivas autónomas, (ii) obrigação de registo, (iii) poder ser decretadas falidas, (iv) existe um nº mínimo de cooperação e de capital, (v) exige-se que haja entreajuda, (vi) proibida a obtenção de lucro, (vii) o objectivo é a satisfação das necessidades económicas, sociais e culturais dos seus membros e (viii) podem celebrar ctts com outras entidades que não sejam cooperativas ou membros destes. Podem ser de (a) 1º grau – pessoas singulares ou colectivas, (b) de grau superior (associação de cooperativas), e (c) confederações (qd são do mesmo ramo ou da mesma área geográfica)

ACE (Agrupamentos Complementares de Empresas) nº1 da Lei 4/73, a função dos ACE’s pode ser genericamente caracterizada como a de proporcionar maior racionalidade económica ao conjunto. O agrupamento realiza uma função de (i) investigação, (ii) de formação profissional, (iii) de publicidade, que beneficie as empresas agrupadas. Deste modo, as empresas conservam a sua personalidade jurídica, mas o agrupamento adquire personalidade jurídica, com o registo comercial.

Pessoas singulares e colectivas podem constituir um ACE;

Não há perda de personalidade jurídica dos seus membros (no caso das fusões extingue-se a personalidade de uma das partes);

O objectivo assenta em atingir determinado fim, relacionado com a actividade dos agrupados;

O âmbito de aplicação territorial é nacional.

AEIE (Agrupamentos Europeus de Interesse Económico) Reg.CEE nº 2137/85, os membros do Agrupamento podem ser sociedades ou outras entidades jurídicas públicas ou privadas. É uma figura comunitária, daí que terá que ser formado por membros de diferentes estados-membros (pelo menos dois). O objectivo do agrupamento é acessório daquele que é prosseguido pelos seus membros – não é o de realizar lucros por si. Não poderá, nomeadamente, dirigir actividades dos seus membros ou doutra empresa, ou ter quotas ou acções de uma empresa membro.

O âmbito de aplicação territorial é comunitário, enquanto que no ACE’s só podem ser constituídos por entidades nacionais.

Empresas públicas artº 3 do DL 558/99, empresas públicas são pessoas colectivas de origem pública e de funcionamento privado. As empresas públicas destinam-se à exploração de actividades de natureza económica e social.

5. AS EMPRESAS EM CRISE

5.1. NOÇÕES GERAIS

5.2. PROCESSO DE RECUPERAÇÃO

5.3. PROCESSO DE FALÊNCIA

Código do processo especial de recuperação de empresas: DL 132/93 de 23.04 com alterações introduzidas pelo DL 315/98 de 20.10. Em Setembro de 2004 foi criado um novo regime de falências - CIRE

Existem três regimes para legislar o mesmo fenómeno:

- Até 1993: Código Civil:

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- Entre 1993 e 2004: CPEREF;

- A partir de Setembro de 2004: CIRE

No CPEREF coexistem dois processos judiciais: (i) processo recuperatório e o (ii) processo de falência – ambos podem ser requeridos por um credor ou pelo Ministério Público artº 8 CPREF. Enquanto, que no CIRE não existe processo recuperatório, cria apenas o processo de insolvência, cujo resultado pode traduzir-se na recuperação na empresa ou na sua falência.

Processo de recuperaçãoÉ um mecanismo colocado à disposição das Empresas, para que quando estas se encontram em situação de graves dificuldades económicas, “tecnicamente falidas”, se possam socorrer. A empresa quando está numa situação destas, é-lhe impossível celebrar um acordo com todos os credores que lhe permita continuar a sua actividade, por isso foi criado este regime de processo especial de recuperação de empresas (CPEREF). Até 1980 estava previsto no código de processo civil, depois autonomizou-se.

Uma empresa quando se apresenta à recuperação, quem “decide” são os credores, os accionistas perdem “importância” no processo de decisão. Este regime procura conjugar os vários interesses: credores; accionistas; empresa; trabalhadores, etc., este regime implica também que os credores sejam obrigados a seguir este regime não permitindo negociações paralelas para recuperação das suas dívidas.

Em 1998, também se registou um novo conceito, em que não só a Empresa insolvente se deve apresentar a este regime. Uma empresa insolvente é uma empresa que por falta de activos é-lhe impossível cumprir todas as responsabilidades. Agora também a sociedade em situação económica difícil (que revela que dentro de algum tempo se possa tornar insolvente, não é insolvente mas indicia dificuldades financeiras graves que levarão a que dentro de algum tempo não terá capacidade para cumprir as suas obrigações). Estas sociedades deverão apresentar-se a este regime, senão se apresentarem constitui uma falta grave; inclusivamente caso não se submetam a um processo de recuperação, devem apresentar falência, senão o fizer o empresário comete um crime grave, o de falência fraudulenta, punido nos termos do Código Penal artº 288. Há sempre o dever de actuar no caso de empresa insolvente, ou pedido de recuperação ou pedido de falência. Na prática este crime tem vindo a ser punido.

Processo de recuperação (na 1ª fase é igual ao regime do processo de falência)

1) Requerimento inicialPode ser feito pela Empresa, por um credor, por trabalhadores ou pelo ministério público. É um requerimento de natureza económica, faz-se por meio de petição escrita. É necessário demonstrar que a empresa se encontra insolvente ou em situação económica difícil, mas que está em situação de recuperar com uma série de medidas a adoptar, as quais deverão estar medianamente definidas no requerimento inicial.

Aqui o ROC tem relevo na medida em que é necessário apresentar os seguintes elementos: (a) relação de credores; (b) relação de processos movidos contra a Empresa; (c) contas dos três últimos anos e respectiva CLC se for o caso; e (d) têm que ser entregues todos os meios de prova de (i) insolvência e (ii) possibilidade de recuperação - p.e. se a empresa for saneada, há que demonstrar que há mercado, e a prova tem que ser demonstrada logo de início.

2) Citação de credores

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O juiz convoca então a citação de credores: aos 5 maiores credores, por carta registada, os restantes credores são citados por edital publicado em: (i) Diário da republica e (ii) Jornal de grande tiragem. É nomeada uma comissão de credores, que tem por função representar todos os credores.

Desta forma, a empresa em causa poderá só tomar conhecimento que está em processo de falência por edital, caso o requerimento inicial seja feito por um terceiro.

3) Análise de provasO juiz vai analisar as provas, este tem toda a liberdade de pedir novas provas e pedir esclarecimentos para verificação das provas dadas.

4) Despacho do prosseguimento da acção artº 25

Após terem sido apreciados os meios de prova o juiz deve, dentro de 5 dias, dar o despacho de prosseguimento da acção. Até esse momento: (a) a empresa que apresentou o requerimento pode desistir do processo e (b) se 51% dos credores conhecidos (que reclamam os créditos) disserem que a empresa não é viável, a empresa segue para processo de falência: (i) identificação do passivo, (ii) liquidação por rateio do activo e (iii) fecho da Empresa

No Despacho do prosseguimento da acção o juiz vai verificar se a Empresa está ou não insolvente (falida), não havendo provas dos pressupostos legalmente exigidos, então, o processo é arquivado. Havendo provas de qq um dos processos, o juiz terá que aferir se a empresa é recuperável ou se deve ser remetida para a falência.

Artº 25, nº 3: se os credores que representem, pelo menos 30% dos créditos se opuserem, o juiz pode mandar prosseguir a acção como recuperação de empresa, ao invés do processo de falência inicialmente requerido.

Artº 25, nº 4: se for pedida a recuperação pode o juiz mandar prosseguir a falência, quando nenhuma probabilidade séria prevista exista de recuperação.

O juiz não tem poder de decisão, tem apenas a função de verificar se o processo decorre no âmbito dos procedimentos exigíveis na lei.

5) Nomeação de um gestor judicial e da comissão de credoresOrdenado o prosseguimento da acção de recuperação da empresa artº 28, o juiz vai (a) nomear um gestor judicial, (que em termos práticos passa a ser o gestor da Empresa) e (b) uma comissão de credores, vai designar a data para a assembleia de credores e fixar um período de estudo e observação da empresa, não superior a 90 dias. A comissão de credores só tem funções consultivas, não executivas. É o órgão que representa os credores

6) Período de estudo e observação da empresaNeste período, o gestor judicial vai ter que elaborar:

- Uma relação provisória dos créditos da Empresa à data da proposta o que implica (i) verificar as contas da Empresa (ii) levantar no tribunal todas as acções e créditos, (iii) aferir a qualidade do credor com prova de que o crédito existe (iv) preparar a lista de créditos reconhecidos, (v) preparar lista de créditos não reconhecidos apesar de reclamados, (vi) preparar lista de créditos reconhecidos e não impugnados e ainda (vii) a lista de créditos, incluídos nas restantes listagens, que têm garantias reais, pessoais, etc. Estas listas servem para definir quem é que vota.

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- Relatório (artº 38) de verificação da situação da Empresa (i) verifica a exactidão do balanço da Empresa, devendo montar o balanço real se as contas da Empresa não se encontrarem consistentes (ii) avaliar a actividade da Empresa; (iii) avaliar se a empresa faz sentido no seu meio económico, se tem mercado, se se integra bem no tecido económico (iv) efectuar uma análise dinâmica da Empresa, preparar um business plan e projectar a actividade no tempo e finalmente (v) concluir por uma proposta a aplicar à Empresa, no sentido negativo ou no sentido positivo

Este relatório é apresentado à comissão de credores para ser discutido na assembleia de credores.

7) Assembleia provisória de credoresQuem preside à assembleia de credores é o juiz. Estão presentes os membros da comissão de credores, o delegado do ministério público (Estado e segurança social), o gestor judicial e ainda os credores chamados pela lista anteriormente preparada. Aqui vai-se apurar quem são os efectivos credores da Empresa, quem vai ter direito a voto.

Ninguém se pode opor aos credores da lista de credores reconhecidos e não impugnados, os créditos impugnados tem que ser votados para ser aceites. Desta decisão da assembleia de credores há ainda a reclamação ao juiz, que vai analisar e vai aferir se é credor ou não. Após a decisão do juiz ficamos com uma lista única, a de créditos com assento na Assembleia de credores, identificando quem tem garantia e quem não tem.

8) Assembleia definitiva de credoresFunciona com se tratasse de uma assembleia geral. O gestor judicial aparece como um administrador que vai à assembleia propor medidas (15 dias antes tem que estar disponível o relatório). Faz uma apresentação da Empresa e propõe a falência ou medidas de recuperação. Qualquer credor pode também propor medidas de recuperação.

Apresentada a proposta aos credores, estes podem requerer a suspensão da assembleia para estudar a proposta (tem que ser votado por pelo menos 51% dos credores).

Na segunda cessão, é submetida a votação a proposta do gestor judicial, para que seja aprovada que tem que ser votada favoravelmente por pelo menos 2/3 do valor de todos os créditos da lista, sem que haja oposição de pelo menos 50% dos créditos afectados pela medida.

Se a medida for aprovada vai-se aplicar à empresa a proposta do gestor, a qual deve ser homologada pelo juíz (a homologação consiste apenas na verificação de que todas as formalidades foram cumpridas).

Se a medida não for aprovada: (a) se 2/3 aprovarem a falência, a empresa entra no processo de falência ou (b) a empresa fica à espera que mais alguém (Estado; Empresa, gestor judicial, etc) apresente uma medida - fica suspensa até que uma nova medida seja aprovada. Se seis meses após a convocatória da assembleia provisória, nenhuma medida for aprovada, é então declarada a falência automática

Notas: Não pode o juiz decretar a falência, mas antes mandar prosseguir a acção para

processo de falência e convocar a Assembleia de credores para que estes decidam. Só após esta decisão da Assembleia de credores pode o tribunal decretar a falência, seguindo-se a fase de liquidação dos activos. Após decretado o estado de falência aplicam-se os artº 122 e ss;

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Quando o processo não tenha que seguir o processo de falência, mas sim como processo de recuperação tem que vir explicitado na declaração a medida concreta de recuperação, as quais são aprovada em Assembleia Geral,

artº 62: consagra a igualdade dos credores nos processos especiais de recuperação, com a excepção dos credores com garantias reais (salvo se estes não derem o seu acordo);

artº 63: consagra a manutenção dos direitos do credor relativamente a terceiros, p.e. um credor não vai poder executar os avalistas de uma livrança porque ele concorda com a mesma medida de recuperação. O credor para poder executar os avalistas, tem que vota contra ou não aprovar a medida recuperatória proposta e aprova em Assembleia de credores. Caso não vote contra, o credor não pode agir contra terceiros.

Medidas de recuperação:

Concordata (artº 66 a 77º)

É a medida mais simples, corresponde ao rescalonamento da dívida, envolvendo não só o perdão de juros, moratória no vencimento, redução de crédito. Esta figura mexe apenas no crédito. Os administradores da empresa anteriores podem permanecer artº 68

Reconstituição empresarial (artº 78 a 86º)

Assenta na extinção da personalidade jurídica da sociedade e criam-se novas empresas, com o património anterior. Consiste no desmembramento da empresa pela constituição de outras empresas por área de negócio, de forma a isolar aquelas que são mais rentáveis conseguindo, assim, ganhos que associados a outras empresas poderá traduzir-se na recuperação da Empresa. Em termos práticos esta medida é pouco aplicável. Pode ser anulada, nos termos do artº 85, é constituída a situação que existia antes da reconstituição empresarial, ie, é determinada a extinção das novas sociedades, surgindo de novo a entidade que existia antes.

Reestruturação financeira (artº 87 a 96º)

Consiste na implementação de determinadas medidas para que se consiga chegar a uma situação em que o activo fique superior ao passivo e ainda fique com fundo maneio – p.e: (a) redução de créditos, (b) aumento de capital, (c) dação de bens em pagamento; (d) conversão de créditos em capital, (e) diminuição de capital para cobertura de prejuízos, etc.- medida prevista no artº 88, nº 1 – para alteração do passivo; medida prevista no artº 88, nº 2 - para alteração do activo

Gestão controlada (artº 97 a 117º)

É a medida mais utilizada é a mistura das três anteriores com um plano concertado entre os credores e a Empresa. Nesta figura o gestor vai fazer o desenvolvimento do proposto no relatório.

Na gestão controlada, há uma nova administração (nomeada pelos credores) que inclui normalmente os gestores judiciais. Nesta gestão controlada há uma comissão de fiscalização que tem que obrigatoriamente incluir um ROC.

Nas restantes medidas a acção do gestor judicial termina com a aprovação de medidas, na gestão controlada, o gestor judicial normalmente segue com a nova administração nomeada.

Nos termos do artº 99, a lei permite que o plano de actuação possa ser complementando com outras medidas. A gestão controlada tem o seu prazo definido, não pode ser superior a 2 anos, podendo ser o prazo prorrogado apenas uma vez e por mais de 1 ano.

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PROCEDIMENTO EXTRAJUDICIAL DE CONCILIAÇÃO RELATIVO A EMPRESAS EM DIFICULDADES ECONÓMICAS (DEC-LEI Nº 316/98)

Este decreto foi aprovado aquando da grande reforma do CPEREF. O acordo entre as partes (credores e empresa) era mais fácil se houvesse uma entidade moderadora, a quem fosse atribuído poderes de zelação do processo. A função de moderador foi atribuída ao IAPMEI.

Artº 1: a iniciativa compete à Empresa, desde que preenchidos certos requisitos;

Artº 2: a finalidade consiste na obtenção de um acordo entre a empresa e os credores, sendo o conteúdo de forma livre;

Artº 3: o procedimento de conciliação é requerido pelo IAPMEI;

Artº 4: o IAPMEI pode recusar o requerimento para aplicação do procedimento de conciliação, se entender que (a) a empresa é economicamente inviável, (b) não é provável o acordo entre as partes, e (c) não é eficaz a sua intervenção para a obtenção do acordo. Em qualquer momento, o IAPMEI concluir a verificação de uma daquelas situações, pode declarar extinto o procedimento arº 10 – o IAPMEI não necessita de fundamentar a sua decisão, apenas necessita de invocar uma das situações previstas no artº 4.

A extinção pelo IAPMEI do procedimento de conciliação não implica a falência – o pedido é que se extingue. Nos casos judiciais, a não aprovação do processo de recuperação leva ao processo de falência e inevitavelmente à declaração de falência. Nos termos do artº 10, se já estiver a decorrer o processo judicial, este fica pendente da decisão do IAPMEI, quando este decidir, o processo judicial continua.

CÓDIGO DA INSOLVÊNCIA E DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS (CIRE): DEC-LEI 53/2004Principais alterações:

De acordo com o artº 1 o objectivo do processo de insolvência, consiste na liquidação do património do devedor e a sua repartição pelos credores (defesa dos direitos dos credores). Enquanto que, no CPEREF primeiro deve-se aferir se a empresa é recuperável economicamente, caso não seja, então, prossegue o processo de falência;

Extingue-se a fase introdutória comum aos processos de falência e de recuperação – requer-se o processo de insolvência do devedor. Artº 2 estabelece os sujeitos passivos de declaração de insolvência: quaisquer pessoas singulares ou colectivas, desde que tenham personalidade jurídica, excepto as pessoas colectivas públicas, as instituições de crédito e financeiras, etc, porque estas têm regime próprio;

As figuras de gestor judicial e de liquidatário deixam de existir e passa haver um administrador da insolvência. Em termos de aprovação funciona da mm forma, pela Assembleia de credores. A comissão de credores também permanece.

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6. AS SOCIEDADES COMERCIAIS 2. CONCEITO DE SOCIEDADE COMERCIAL

O nº 2 do artº 13 C.Comercial, refere-se à espécie de comerciantes que denomina de sociedades comerciais artº 1 CSC. Assim, nos termos do artº 1, nº 2 CSC são sociedades comerciais “aquelas que tenham por objecto a prática de actos de comércio e adoptem o tipo de sociedade em nome colectivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita por acções” . A sociedade comercial é uma sociedade, obedecendo aos requisitos do artº 980 C.Civil, acrescidos dos requisitos específicos constantes do nº 2 do artº 1 CSC.Do conceito de sociedade do artº 980 C.Civil retiramos 4 elementos caracterizadores do conceito sociedade: (a) elemento pessoal, (b) elemento patrimonial, (c) elemento finalístico, e (d) elemento teológico

(a) elemento pessoal: pluralidade de sóciosO artº 980 C.CIVIL define sociedade como o contrato em que duas ou mais pessoas se obrigam (…), pelo artº 7, nº 2 CSC, o número mínimo das partes de um contrato é de dois, excepto quando a lei exija número superior ou permita que a sociedade seja constituída por uma só pessoa, é o caso das sociedades unipessoais. No artº 142 CSC, o legislador prevê o que acontece quando a sociedade fica diminuída a um único sócio: (i) ou o sócio é o Estado ou (ii) o sócio é uma pessoa individual ou colectiva e a sociedade pode ser dissolvida, decorrido um ano, na sequência de sentença judicial.Contudo, o CSC prevê dois casos de unipessoalidade originária: (a) SU por quotas artº 270-A, a unipessoalidade pode não ser originária, mas a partir da transformação, (b) SU anónima artº 488, o accionista único é neste caso uma sociedade comercial (por quotas, anónima ou em comandita por acções).OS sócios podem ser: - pessoas singulares capazes (os incapazes ou os interditos através de representação, nas SNC ou SC, só com autorização do tribunal artº 1889º, nº 1, alínea .d) do C.Civil. Nos termos do artº 8, nºa CSC, os cônjuges podem ser sócios, desde que só um deles assuma responsabilidade ilimitada (para a protecção do património pessoal); - pessoas colectivas artº 11, Nº 4,5,6 CSC

(b) elemento patrimonialConsiste na obrigação de contribuir com bens ou serviços. O artº 980 C.Civil expressa a obrigação de entrada, através da qual os sócios efectuam contribuições que irão formar o património inicial da sociedade. Artº 20 CSC: todo o sócio é obrigado a entrar p/ a sociedade com bens susceptíveis de

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penhora, ou, nas sociedades em que tal seja permitido (soc. em nome colectivo e nas soc. em comandita, qto aos sócios comanditados), com indústria (c/ prestação de serviços).As contribuições de entradas dos sócios desempenham 3 funções: 1. no seu conjunto, o património com o qual a sociedade vai iniciar a sua actividade; 2. definem a proporção da participação de cada sócio na sociedade e 3. fixam o capital social.

(c) elemento finalísticoÉ o exercício em comum de certa actividade económica que não de mera fruição, que se encontra expresso no contrato de sociedade. Nas sociedades comerciais expressa-se na prática de actos de comércio artº 1, nº2 do CSC. O objecto da sociedade vem regulado no artº 11 CSC e pede ser directo – vem definido no ctt da sociedade nº 2 e 3, ou indirecto, que consiste no exercício indirecto de uma actividade comercial através da participação noutras sociedades. Nos termos do disposto nº 4 deste artigo - não depende de autorização no ctt de sociedade nem de deliberação dos sócios, salvo disposição em ctt, a aquisição pela sociedade de participações em sociedades de responsabilidade limitada, cujo objecto seja igual àquele que a sociedade está exercendo.

(d) elemento teleológicoÉ a repartição dos lucros dessa actividade, o lucro define-se como um acréscimo patrimonial ou uma poupança de despesa. O direito aos lucros pelo menos no final de cada exercício está previsto na lei artº22 CSC – este direito é especialmente acentuado no regime das sociedades por quotas e anónimas – o legislador criou o direito a um dividendo mínimo obrigatório de 50% dos lucros de cada exercício, visando, assim, proteger os interesses minoritários. Dos lucros apresentados, os sócios só podem destinar a reservas, 50%, salvo clausula no ctt ou deliberação dos sócios tomada por maioria qualifica (3/4) dos votos correspondentes ao capital social.

O legislador admite um número muito restrito de tipos sociais, estes distinguem-se através de 3 características:

(i) responsabilidade dos sócios pela obrigação de entrada: trata-se de uma característica fundamental, pois identifica a responsabilidade dos sócios para com a sociedade, no que respeita à formação inicial do património da soc.;(ii) responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade, esta característica permite saber se os sócios são ou não responsáveis perante os credores da sociedade, pelas dívidas desta;(iii) modalidades de composição e titulação das participações na sociedade, permite caracterizar a natureza e aforma de cada parte do sócio da sociedade.

Pessoas singulares e capazesartº 8 do CSC, 67º, 122º e 1889º,

nº 1 d) do C.Civil

Directo: estatutário e do exercícioartº 9, nº1 d), e artº 11, nº 1,2,3 do

CSC

Indirecto: objecto aberto artº 11, nº 4 do CSC

A prática de actos de comércio

Presunção da sua comercialidade

Forma Principio da tipicidade artº 2, nº2, 2ª parte do CSC

Noção de soc.

Comercial

Limites à sua distribuição artº 31 a 35ª do CSC

Elementos

Objectoartº 2, nº2, 1ª parte do CSC

artº 13, nº 2 do C.Comercial

Finalistico Objecto

Teológico Lucro

Patrimonial Obrigação na entradaPatrimonio, garantia dos credores e determina o valor do capital social

artº 20, nº1,a); 25º a 30ª do CSC

PessoalPluralidade de sócio: minimo 2 - artº 7, nº1 do CSC

Pessoas colectivas artº 11, nº 4,5, CSC

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3.TIPOS DE SOCIEDADESDe acordo com ao artº 1,nº2 do CSC, o principio da tipicidade determina que só podem ser adoptados os tipos de sociedade previstos na lei, ou seja, (i) sociedades em nome colectivo (SNC); (ii) sociedades por quotas (SQ); (iii) sociedades anónimas (SA), e (iv) sociedades em comandita simples e comandita por acções (SCS e SCA). O legislador ao traçar as linhas básicas de caracterização de cada tipo de sociedade está a garantir sobretudo a segurança do comercio jurídico.

- ilimitada: respondem para além das suas entradas (c/ patrimonio pessoal) - limitada; respondem até à sua entrada

- solidária; pode apenas um sócio satisfazer na integra as obrigações sociais, tem, no entanto o direito de regresso sobre os restantes sócios artº 175, nº CSC

Modalidades de responsabilidade dos sócios: - individual: só o sócio responde pela sua entrada; - subsidiária: só responde perante os credores depois de esgotado o património societário;

3.1. SOCIEDADES EM NOME COLECTIVO (ARTº 175 A 196 DO CSC)CARACTERÍSTICAS:

A responsabilidade dos sócios: (a) perante a sociedade – respondem individualmente pela sua entrada; (b) pelas obrigações sociais e perante os credores - a responsabilidade é subsidiária em relação à sociedade, ie, primeiro responde os bens da sociedade só depois é que entram os bens pessoais, e solidária e ilimitada entres os sócios artº 175, nº 1 CSC. Cada sócio responde, com o seu património pessoal, solidariamente com os restantes sócios perante os credores da sociedade, inclusive pelas dividas anteriores à sua entrada para a sociedade;

Não há títulos representativos das partes sociais artº 176, nº 2 CSC (a partir do registo comercial sabe-se a estrutura societária);

São admitidas contribuições de indústria artº 176, nº 1 alínea a) e artº 188 do CSC, podendo todos ser sócios de indústria, porém essas participações não podem ser computadas no capital social;

Nenhum sócio poderá exercer actividade concorrente com a sociedade artº 180 CSC, nem ser sócio de responsabilidade ilimitada noutras sociedades, salvo consentimento dos restantes sócios;

As partes sociais só podem ser transmitidas entre vivos, através de escritura pública (quando a sociedade tiver bens imóveis), desde que haja consentimento dos restantes sócios artº 182, nº 1 CSC;

Em regra cada sócio tem 1 voto, podendo ser estabelecido outro critério de votação no contrato, desde que os sócios mantenham o direito de 1 voto e os sócios de indústria tenham números de votos igual ou menor número de votos atribuídos aos sócios de capital (votos equivalentes ao sócio minoritário) artº 190 CSC;

Quanto à gerência, salvo indicação em contrário no ctt da sociedade, todos os sócios são gerentes, mesmo que não sejam fundadores artº 191 CSC. No caso, de uma pessoa colectiva ser sócia deverá nomear pessoa singular para, em nome próprio, exercer o cargo de gerente artº 191, nº 3;

A alteração do ctt tem que ser deliberada por unanimidade dos sócios, a menos que o ctt autorize uma deliberação por maioria, a qual não deverá ser inferior a ¾ do número total de votos artº 194 CSC. Também só por unanimidade pode ser deliberada a admissão de novo sócio.

3.2. SOCIEDADES EM COMANDITA, SIMPLES E POR ACÇÕES (ARTº 465 A 480 DO CSC)

CARACTERÍSTICAS: Sociedades em comandita distinguem-se dos outros tipos por coexistir duas

espécies de sócios: (a) sócios comanditados (à semelhança do sócios da SNC) – têm uma responsabilidade ilimitada e representam a sociedade, ocupando

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cargos de gerência e de administração, e os (b) sócios comanditários - têm responsabilidade limitada às suas entradas, não representam a sociedade e não ocupam cargos de gerência ou de administração;

Nas SCS – não há representação do capital social por acções e estas aplicam as disposições previstas às SNC artº 474 CSC, enquanto que, nas SCA – existe representação do capital social por acções e a estas aplicam-se as disposições das SA artº 478 CSC, tem de ter pelo menos 5 sócios comanditários;

Tal como nas sociedades de capital, o sócio comanditário não pode consistir em indústria artº 468 CSC

3.3. SOCIEDADES POR QUOTAS (ARTº 197 A 270 DO CSC)CARACTERÍSTICAS:

Responsabilidade dos sócios artº 197 CSC – (a) solidária – em principio cada só sócio responde pela sua entrada, mas os sócios são solidariamente responsáveis por todas as entradas, de todos os sócios, convencionadas no pacto social; (b) limitada à sua participação social, tendo direito de regresso relativamente aos restantes sócios;

Só a sociedade com o seu património é que responde pelas suas dívidas para com os credores. Os sócios não respondem com os seus bens, a menos que no pacto social se tenha estipulado que um ou mais sócios serão responsáveis pelas dividas daquela, até determinado montante e solidária ou subsidiariamente em relação à sociedade artº 198 CSC;

A firma contém denominação “Limitada ou Lda.” artº 200 CSC; O capital mínimo é de 5 000 € artº 201 e as quotas não podem ser inferiores a

100 €; Não são permitidos sócios de industria artº 202 CSC, pelo que todos os seus

sócios só podem entrar com $ ou bens (requer o relatório do ROC); Pode haver diferimento de metade das entradas em $, até 5 anos, mas o

montante realizado não pode ser inferior ao montante fixado por lei para o capital social (5 000 €) artº 202, nº2 e artº 203 CSC;

Tempos das entradas artº 203 CSC – o sócio só entra em mora depois de interpelado pela sociedade para efectuar o pagamento, o prazo varia entre a 30 a 60 dias. Se o sócio não efectuar o pagamento, no prazo definido na interpelação artº 204 CSC, deve a sociedade avisá-lo por carta registada, que a partir do 30º dia seguinte à recepção da carta, fica sujeito a exclusão e a perda total ou parcial da quota

Artº 205 CSC Venda da quota excluída; Artº 207 CSC – Se um sócio não pagar à sociedade a sua entrada,

tempestivamente, pode ser excluído, sendo então os restantes sócios solidariamente responsáveis perante a sociedade, pelo pagamento da parte da entrada do sócio excluído que estiver em divida;

Artº 209 CSC Prestações acessórias: Podem ser pecuniárias ou não, podem ser gratuitas ou onerosas (remuneradas - juros), são impostas a alguns ou a todos os sócios por ctt; extinguem-se com a dissolução da sociedade;

Artº 210 CSC Prestações suplementares: Se as PS forem deliberadas e não estiverem previstas no ctt da sociedade, essas deliberações são anuláveis por força do artº 58 e 59 CSC; contudo, num prazo de 30 dias sana-se o vicio a contar do conhecimento por AG, depois de notificado por escrito (escritura pública);

Artº 215 CSC Direito à Informação; Artº 217º CSC Direitos aos lucros: Salvo cláusula contratual ou deliberação

tomada por maioria de 3/4 dos votos em AG, não pode deixar de ser distribuídos aos sócios 50% do lucro do exercício – conjugar com os artº 31 a 35 CSC (Limites aos lucros – conservação ao capital);

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Artº 225 e 229 CSC Transmissão das partes sociais: (a) Por morte - por clausula de intransmissibilidade ou de condicionamento, a respectiva quota do falecido não será transmitida aos seus sucessores, deve ser (i) amortizada (extinta) ou (ii) adquirida pela sociedade ou por sócio ou por terceiro por mediação da sociedade artº 225, (b) Por vida - Cessão de quotas: cessão condicionada ao consentimento da sociedade, o qual é deliberado em Assembleia Geral, salvo quando é transmitida a cônjuge, descendente ou ascendente (neste caso, é livre não necessita de deliberação em AG). É válida a clausula que proíbe a cessão de quotas, mas os sócios têm direito à exoneração, uma vez decorridos 10 anos enquanto sócio, nos termos do artº 229, nº 1 CSC. Quer o acto da (i) exoneração do sócio, quer o da (ii) amortização da quota dependem da deliberação dos sócios em AG, nos termos do artº 246 CSC

Artº 228 CSC Assembleias geraisResumo :

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(a) solidária– emprincipio cadasó sócio responde pelasuaentrada, mas os sócios sãosolidariamente responsáveis por todas as entradas, de todos os sócios, convencionadasno pacto social;

Artº 197 CSC

(b) limitada à sua participação social, tendo direito de regresso relativamente aos restantes sócios;

Artº 197 CSC

(c) Só asociedadecomo seupatrimónio équerespondepelassuasdívidasparacomoscredores. Os sócios não respondem com os seus bens, a menos que no pacto social setenha estipulado que um ou mais sócios serão responsáveis pelas dividas daquela, atédeterminado montante e solidária ou subsidiariamente em relação à sociedade

Artº 198 CSC

Montante - Capital minimo 5 000 €; o valor das quotas não pode ser a < 100 €Artº 201 e Artº

219/ 3 CSC - Deve mencionar o valor de cada quota e a identificação de cada titular - Deve mencionar as entradas efectuadas por cada sócio e as que foram diferidas - Não são permitidos sócios de indústria; - As entradas podem ser em $ e c/ bens (requer relatório ROC) - Pode haver diferimento de 50% das entradas em $, mas o montante realizado não pode ser < a 5 000 € - Se o sócio não pagar à sociedade a sua entrada, tempestivamente, pode ser excluído, sendo os restantes sócios solidariamente responsáveis perante a sociedade, pelo pagmento da parte da entrada do excluído que estiver em divida

Artigos 204º, 205º e 207º CSC

De prestações acessórias - Podem ser pecuniárias ou não, gratuitas ou onerosas (remuneradas - juros), impostas a

alguns ou a todos os sócios por ctt; extinguem-se com a dissolução da sociedade.

Artigo 209º CSC

- São pecuniárias (tem sempre $ por objecto); são deliberadas pelos sócios; são gratuitas, não vencem juros.

Artigo 210º CSC

- Se as PS forem deliberadas e não estiverem previstas no ctt da sociedade, essas deliberações são anuláveis por força do artº 58 CSC; contudo, num prazo de 30 dias sana-se o vicio a contar do conhecimento por AG, depois de notificado por escrito (escritura pública)

Artº 58 e 59 CSC

À Informação Artº 214 CSC

Aos Lucros

Salvo clausula contratual ou deliberação tomada por maioria de 3/ 4 dos votos em AG, não pode deixar de ser distribuídos aos sócios 50% do lucro do exercício - conjugar com artº 31 a 35 CSC (Limites aos lucros)

Artº 217 CSC

- Por morte

Por clausula de intransmissibilidade ou de condicionamento, a respectiva quota do falecido não será transmitida aos seus sucessores, deve ser (i) amortizada (extinta) ou (ii) adquirida pela sociedade ou por sócio ou por terceiro por mediação da sociedade.

Artº 225 CSC

Cessão de quotas: cessão condicionada ao consentimento da sociedade, o qual é deliberado em Assembleia Geral, salvo quando é transmitida a conjuge, descendente ou ascendente (neste caso, é livre não necessita de deliberação em AG).

Artº 228 CSC

É válida a clausula que proibe a cessão de quotas, mas os sócios têm direito à exoneração, uma vez decorridos 10 anos enquanto sócio

Artº 229 CSC

- Seguem as regras previstas para as SAArtº 248, nº 1

CSC - São convocadas por carta registada (ou outra formalidade se o ctt prever) copm antecedência minima de 15 dias

Artº 248, nº 3 CSC

- São presididas pelo sócio maioritário que nela estiver presente e as actas são assinadas por todos os presentes - os Sócios podem fazer-se representar pelo seu conjuge, descendente ou ascendente, a não ser que o ctt permita outros representantes

Artº 249, nº 5 CSC

- A cada centimo corresponde 1 voto (p.e a 5 000 €, corresponde 10 000 votos), podendo o ctt permitir 1 voto duplo por centimo a certos sócios, que não possuem mais de 20% do c.social - para não haver abusso de poder

Artº 250, nº 2 CSC

- Quando haja conflito de interesses o sócio não deverá votar Artº 241 CSC - A soc. é administrada por 1 ou mais gerentes e pode caber a sócios ou a terceiros; são nomeados no ctt ou por deliberação

Artº 252 CSC

- Salvo disposto em contrário no ctt, o gerente tem direito a remuneração Artº 255 CSC - A reúncia ao cargo de gerente deve ser dirigida por carta à sociedade, sob pena de poder ser exigida indemnização pelos prejuizos causados à sociedade

Artº 258 CSC

- Podem ter conselho fiscal, mas devem designar 1 ROC para proceder à revisão de contas (3 requisitos: total balanço > a 1 500 000 €; total de vendas liquidas e outros proveitos > 3 000 000 €; nº médio de trabalhadores > 50)

Artº 262, nº 2 CSC

- As alterações de ctt exigem uma maioria de 3/ 4 dos votos, podendo ser mais elevado por disposição contratual

Artº 265 CSC

- Nos aumentos de capital em $, os sócios gozam de direito de preferência, podendo ser efectuado no prazo de 10 dias a contar da deliberação ou da recepção da acta.

Artº 266, nº 1 e 5 CSC

Soci

edad

es p

or Q

uota

s

- Por vida

Transmissão das partes

sociais

Assembleias Gerais

Gerencia e Fiscalização

Artigo 202º CSC

ConteúdoArtigo 199º

CSC

Direitos

Respons. dos sócios

Contrato

De Entrada

Prestações suplementares

Obrigações

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3.4. SOCIEDADES ANÓNIMAS (ARTº 271 A 464 DO CSC)CARACTERÍSTICAS:

Cada sócio responde individual e exclusivamente para com a sociedade pelo valor da sua entrada artº 271;

Só a sociedade é responsável, com o seu património, perante os credores, pelas suas dívidas;

Têm de se constituir com um capital nominal mínimo de 50 000 € e não pode ser constituída por um nº inferior a 5 sócios, salvo se a lei dispense ou no caso em que a sociedade é detida directa ou indirectamente pelo Estado, em que este fique a deter a maioria do capital, a sociedade pode-se constituir apenas com 2 sócios artº 273 CSC;

Não são admitidas contribuições de indústria artº 277 CSC; nas entradas em $ só pode ser diferida a realização de 70% do valor nominal das acções (não pode ser diferido o valor do prémio, quando previsto);

O ctt de sociedade não pode diferir as entradas em $ por mais de 5 anos artº 285 CSC;

As participações são formadas por acções, que constituem fracções do capital social, com o mm valor nominal, não podendo ser < a 1 cêntimo artº 276 CSC, e são representados por títulos livremente transmissíveis artº 326 e 327 CSC;

Não cabe aos accionistas o ónus de administrar, controlar ou representar a sociedade, admitindo-se não accionistas para assumirem essa responsabilidade artº 390, nº 3 CSC

4. CONTRATO DE SOCIEDADERequisitos do processo constitutivo: Uma vez decidida a constituição da sociedade, o 1º passo a dar é a (i) obtenção do certificado de admissibilidade de firma no RNPC, sem o qual o notário não pode lavrar a respectiva escritura de constituição. (ii) Poder-se-à também requer o cartão provisório de identificação de pessoa colectiva (necessário para o depósito do capital). (iii) Antes da escritura de constituição os sócios terão que depositar numa instituição financeira os valores das entradas iniciais em $, numa conta em nome da sociedade. O depósito do capital social poderá ser comprovado pela exibição do titulo de deposito emitido pelo banco ou por declaração dos sócios sob sua responsabilidade artº 202, nº 3 e artº 277 CSC. No caso de haver entradas em espécie é necessário a apresentação do relatório do ROC sem interesse na sociedade, designado por deliberação dos sócios artº 28 CSC. (iv) O contrato de sociedade é um negócio formal e tem que ser celebrado por escritura pública artº 7 CSC, este acto deve ser acompanhado pela declaração de inicio de actividade. Na escritura de constituição os sócios devem autorizar os administradores a levantar o $ das entradas par pagamento das despesas de constituição. (v) Segue-se o registo comercial artº 5 CSC, é neste momento que a sociedade adquire personalidade jurídica e estão assegurados os interesses de terceiros e a publicação em Diário da Republica, no prazo de 30 dias após o registo e em jornal local.

C ontrato de sociedade: é um acordo vinculativo que assenta sobre duas ou mais declarações de vontades, contraditórias mas harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma regulamentação unitária de interesses. Deste modo, contrato de sociedade caracteriza por ser (i) plurilateral, uma vez que nele intervêm ou têm possibilidade de intervir mais de duas partes e por ter (ii) uma finalidade comum, quer de fim imediato (exercício da actividade social), quer de fim mediato – a partilha de lucros. As partes associam-se com vista à realização de um fim comum duradouro.

A falta de menções obrigatórias artº 9 CSC conduz à inexistência ou nulidade do contrato (quando existe algum vicio), nos termos do artº 42 CSC;

Menções obrigatórias especiais (conteúdo do ctt): SNC artº 176; SQ artº 199; SA artº 272; SC artº 466 CSC

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Sociedades irregulares: são aquelas cujo ctt está viciado por vícios de forma ou de substância, o ctt não cumpre os requisitos previstos na lei.Sociedade aparente: não há acordo sobre a futura constituição de sociedade comercial artº 36, nº 1 – respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas.Sociedade oculta: a sociedade existe mas não aparece como tal, quem aparece é alguém que actua em seu nome (um empresário). Acordos parassociais: são convenções celebradas entre todos ou alguns sócios relativos ao funcionamento da sociedade, ao exercício dos direitos sociais ou à transmissão de quotas ou acções. Estas convenções não beneficiam de protecção jurídica que têm os estatutos sociais – as deliberações contrárias aos estatutos são inválidas e os actos em contravenção com os estatutos são, em princípio, inoponiveis à sociedade, enquanto, que as violações dos acordos parassociais tem efeitos obrigacionais artº 17, nº1.

4.1. IRREGULARIDADE NA CONSTITUIÇÃO

Artº 36, nº 2 CSC

Artº 997, nº 1 C.Civil

Artº 6, d) CPC

Respons. Dos sócios

- entre si: aplicam-se as regras estipulados no ctt de sociedade; as transmissões por acto entre vivos das partes sociais e as modificações de ctt, requerem a unanimidade dos sócios

Artº 37, nº 1 e 2 CSC

- SNC: responsabilidade solidária e ilimitada; presume-se que há consentimento de todos os sócios na celebração desses negócios

Artº 38, nº 1 e 2 CSC

- SCS: responsabilidade pessoal e solidária dos sócios comanditados e dos comanditários que consentirem o inicio das actividades sociais, e também presume-se o consentimento de todos nos negócios em causa

Artº 39, nº 1 e 2CSC

- SQ, SA, SCA: responsabilidade ilimitada e solidária relativamente aos que agirem em representação da sociedade ou autorizaram o negócio, os restantes respondem até ao limite da sua entrada acrescida do que tiverem recebido a titulo de lucros ou de distribuição de reservas

Artº 40 CSC

Antes da escrituractt é nulo

Artº 42, nº 1, e) CSC

Artº 42, nº 1 e 2 CSC

Artº 52 CSCEfeitos da declaração de

invalidade do ctt

Irregularidade na constituição

- Entrada da sociedade em liquidação, no entanto, este acto não exime que os sócios de realizar as suas entradas - os sócios tem que ter as suas participações sociais realizadas, de forma a existir património societário, capaz de responder às obrigações perante terceiros.

- A declaração de inavilidade, quer no caso da nulidade, quer no da anulação, não prejudica a eficacia dos negocios celebrados anteriormente, salvo se (a) a nulidade proceder de simulação, violação da ordem pública, ou (b) se o terceiro conhece a invalidade (má fé)

- A invalidade resultante de vicio de vontade só é oponivel aos demais sócios (erro,simulação,declarações não series)

Antes do registonulo ou anulavel

Artº 41 CSC

Depois do registonulo ou anulavel

- Nas SQ,SA,SCA: só pode ser declarado nulo o ctt relativamente aos vicios referidos no artº 42, nº1, alguns são sanaveis: falta de firma e de sede

- Nas SNC e SCS: são fundamentos de invalidade as causas gerais de invalidade dos negocios juridicos de acordo com a lei civil, são sanaveis a falta de (a) firma,sede,obejecto e capital, bem como (b) o valor de entrada de algum sócio e das prestações por si realizadas.

Artº 43 CSC

O contrato da sociedade é nulo se não tiver sido reduzido a escritura pública - Rege-se pelas disposições aplicavéis aos negócios (i) nulos ou (ii) anuláveis - em função do vicio, o ctt é nulo ou anulavel

- A invalidade decorrente da incapacidade é oponivel pelo contraente incapaz ou pelo seu representante legal, tanto contra os outros como perante 3ºs.

Invalidade do contrato

Antes da escritura

- Aplicam-se as disposições que regem as sociedades civis (art. 980 C.Civil): os futuros socios até à celebração da escritura respondem como nas sociedades civis entre os sócios e perante 3ºs. - responsabilidade solidária e ilimitada

- O património da sociedade constituirá um património autonomo, com um regime especial de responsabilidades por dividas

- A sociedade em formação tem personalidade judiciária

Perante 3ºs

Antes do registo

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5. Sociabilidade e participação social5.1. Direitos dos sócios5.2. Obrigações dos sócios

Direitos dos sóciosO sócio entra para a sociedade com uma contribuição patrimonial em $ ou em espécie assumindo, em contrapartida a figura de sócio. Os sócios ao entrarem com as suas contribuições para a sociedade, perdem a sua titularidade, ficando a sociedade proprietária das mesmas. A participação social é composta por um conjunto de situações activas, quer de natureza patrimonial – direito aos lucros, direito de preferência na subscrição dos aumentos de capital – quer de natureza corporativa – direito de voto, direito à informação, bem como de outras situações passivas, como a obrigação de realizar as prestações de entrada e outras estipuladas no pacto social. O sócio adquire face à sociedade uma situação jurídica complexa, composta por posições activas e passivas, ou seja, direitos e obrigações. Esses direitos consubstanciam-se no:

a)Direito à qualidade de sócio: configura-se no direito de não ser excluído pela maioria (principio da conservação da empresa), excepto se o sócio pelo seu comportamento lesivo aos interesses sociais possa por em dúvida a subsistência da empresa, neste caso, o sócio poderá ser afastado para salvaguarda da própria empresa (p.e. artº 242 CSC). Por outro lado, o direito à qualidade de sócio poderá ser igualmente limitado pelo princípio do abuso do direito e do princípio da boa-fé. Contudo, o legislador prevê certas situações que tem como consequência a exclusão do sócio, nomeadamente (i) a falta de realização de entradas, (ii) falta de realização das prestações suplementares nas SQ, e (iii) a amortização forçada das quotas ou acções.

b) Direito aos lucros: o direito aos lucros é um direito fundamental dos sócios, pois ele é a causa na sua participação na sociedade. O direito aos lucros não se deve confundir com o direito aos dividendos, pois estes consistem apenas num modo de participação nos ganhos sociais que não pode ser afastado por tempo indeterminado. Os sócios também participam nos lucros retidos nas reservas, quer na liquidação das sociedades, quer antes, nas restituições de activos, nos aumentos de capital e na transmissão ou amortização de quotas ou acções.O direito aos lucros é inderrogável e irrenunciável – é nula a clausula que exclui o sócio da comunhão nos lucros, ou que isente de participar nas perdas artº 22, nº 2 CSC, salvo o disposto quanto aos sócios de indústria, que não são admissíveis nas sociedades de responsabilidade limitada.

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Artº 22, nº 1 CSC estabelece um principio – os sócios participam nos lucros e nas perdas da sociedade segundo a proporção dos valores nominais das respectivas participações no capital. Mas este principio não é absoluto, a própria lei admite um preceito especial – sócios de indústria artº 178 CSC - ou convenção ao contrário. Através de convenção em contrário os sócios podem estipular modalidades de participação nos lucros, que não coincidem com a participação no capital social, mas condicionados a certos limites.A regra supletiva não pode ser derrogada ou modificada por deliberação social maioritária.Nem todo o lucro é distribuível – vigora o principio da solidariedade dos exercícios – ie, o lucro deve ser visto como o resultado continuado da actividade comercial e não apenas de um único exercício. Só haverá lucro distribuível quando o activo for > à soma do capital social e da reserva legal. Também não podem ser distribuídos lucros enquanto as despesas de investigação, constituição, não estejam totalmente amortizadas artº 33 CSC.O artº 32 CSC trata da aplicação do principio da intangibilidade do capital social. Por último, a sociedade não pode distribuir lucros necessários para formar a reservar legal (5% do lucro até totalizar 20% do capital social) artº 295 e 218 CSC.

c) Direito a participar nas deliberações dos sócios: as deliberações são tomadas em assembleia geral formalmente convocadas para esse efeito, através dos votos dos sócios que nelas participem. O direito ao voto é um direito subjectivo dos sócios regulado no artº 21, nº1, b) CSC, cujo critério varia consoante o tipo de sociedade:

SNC Artº 190 CSC

SQArtº 250, nº 1 e

2 CSC

SA Artº 384 CSC

- Cada sócio tem 1 voto, podendo ser estabelecido outro critério de votação no ctt social, mas só desde que os sócios mantenham o direito de voto e os sócios de indústria tenham número de votos 0< número atribúido a sócios de capital

- A cada voto cabe 1 centimo de v.nominal da quota do sócio - pode ser no entanto conferido um direito de voto especial: 2 vostos por cada centimo do v.nominal da quota, desde que não exceda 20% do capital social

- Cada acção dá, em principio, direito a 1 voto, podendo ser estabelecidas limitações a esta regra, por forma a que só corresponda 1 voto a certo número de acções.

A existência de uma situação de conflito de interesses do sócio com a sociedade pode gerar um impedimento do exercício do direito de voto (SQ: artº 251 e SA: artº 384 CSC).

d) Direito à informação: este direito compreende o (i) direito geral à informação; (ii) direito à informação preparatória das assembleias gerais e (iii) direito à informação nas assembleias gerais.O direito geral à informação, nas SNC é pleno e ilimitado artº 181 CSC; nas SQ é em principio pleno, embora os estatutos possam estabelecer limites artº 214; nas SA o direito geral à informação varia consoante a % de capital detido pelo accionista, só é assegurado um direito mínimo à informação a accionistas detentores de, pelo menos, 1 % do capital social e desde que aleguem motivo justificado artº 288 CSC.O direito à informação preparatória das AG, consiste no direito de os sócios consultarem, na sede social, desde da data de convocação da AG os elementos constantes no artº 289. A falta de fornecimento destas informações pode determinar a anulabilidade da deliberação artº 51, nº 1, c) e nº 4 CSC.O direito à informação nas AG: consiste no direito de o sócio a que lhe sejam prestadas na AG informações verdadeiras, completas e elucidativas sobre a sociedade, que lhe permitem formar opinião fundamentada sobre os assuntos

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sujeitos a deliberação art 290 CSC. A informação só pode ser recusada (sob pena de anulabilidade da deliberação) se a sua prestação poder causar grave prejuízo à sociedade ou violar segredo imposto por lei.

e) Direito de ser nomeado para os órgãos sociais (de administração e fiscalização)A designação dos titulares dos órgãos sociais depende do tipo de sociedade

SNC Artº 191 CSC

SQ Artº 252, 1 e 2

SA Artº 391 CSC

- os gerentes são designados no ctt de sociedade ou posteriormente eleitos por deliberações dos sócios, salvo se no ctt social se previr outra forma de designação. Os membros do conselho fiscal ou o ROC são eleitos pela assembleia geral.

- os membros do conselho de adm. e do conselho geral podem ser designados por ctt social ou eleitos por assembleia - os membros de direcção são designados pelo ctt ou eleitos pelo conselho geral. A eleição dos membros do CA e do CG pode ser feita por grupos minoritários de accionistas. Os grupos minoritários também poderão requer 1 fiscal único ou membro do conselho fiscal, mediante nomeação judicial

- os gerentes serão em principio todos os sócios, salvo em convenção em contrário. Por deliberação unânime dos sócos, poderão ser designados gerentes pessoas que não sejam sócios

f) Direito de saída: direito à exoneração do sócio

Obrigações dos sócios(g) Obrigação de entrada

No contrato de sociedade os sócios subscrevem uma participação social, constituída por partes sociais, quotas ou acções, e obrigam-se a realizar ou liberar o respectivo valor artº 980 C.Civil.As entradas consistem na obrigação de contribuir com bens ou serviços. O artº 980 C.Civil expressa a obrigação de entrada, através da qual os sócios efectuam contribuições que irão formar o património inicial da sociedade. Artº 20 CSC: todo o sócio é obrigado a entrar p/ a sociedade com bens susceptíveis de penhora, ou, nas sociedades em que tal seja permitido (soc. em nome colectivo e nas soc. em comandita, qto aos sócios comanditados), com indústria (c/ prestação de serviços).As contribuições de entradas dos sócios desempenham 3 funções: 1. no seu conjunto, o património com o qual a sociedade vai iniciar a sua actividade; 2. definem a proporção da participação de cada sócio na sociedade e 3. fixam o capital social, assumindo-se como garantia para os credores. Só nas entradas em espécie é que o capital tem de ser integralmente realizado no momento da constituição artº 26 CSC. Nas entradas em $ é possível o seu diferimento por um período máximo de 5 anos artº 203, nº 1 - SQ e 285, nº 1 CSC-SA. As entradas podem ser:

(a) em dinheiro – só podem ser diferidas em 50% (mas nunca menos do mínimo legal – 5 000 €), nas SQ e nas SA 70%. As entradas diferidas devem ser realizadas nos prazos indicados nos estatutos, sendo nulos todos os actos de administração ou deliberações que dispensem o sócio dessa obrigação. Quando o sócio não efectuar no prazo estipulado, entra em mora depois de interpolado pela sociedade para realizar o pagamento, ficando sujeito às seguintes sanções legais: (i) vencimento antecipado de todas as entradas do mm sócio artº 27 CSC; (ii) compensação de crédito de eventuais dividendos a que tenha direito com a dívida de entrada; (iii) eventual exclusão do sócio, depois de interpolado para fazer o pagamento em prazo não inferior a 60 ou 90 dias, conforme seja SQ ou SA, se os sócios assim o deliberarem artº 203,204 e 285 CSC; e por último (iv) impedimento do exercício de voto nas SA artº 384 CSC.

(b) em espécie – têm que ser claramente descritas, no acto constitutivo da sociedade, e podem consistir na transmissão de bens imóveis ou móveis. Todas as entradas têm que ser objecto de uma avaliação efectuada por um ROC independente artº 28 CSC, que não poderá exercer funções na sociedade

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durante 2 anos seguintes. Se o bem for privado de ser transmitido para a sociedade, a entrada em espécie converte-se em entrada em $ de igual valor.

(c) em trabalho – corresponde aos sócios de indústria que só são admitidos nas SNC e nas SC quanto aos sócios comanditários. Nas SA e nas SQ este tipo de sócio não é permitido, embora os estatutos possam estipular a obrigação de prestações acessórias de serviços ou de trabalho.

(h) Obrigação de quinhoar/participar nas perdasO direito de participar nos lucros e a obrigação de participar nas perdas, também deverá respeitar o principio de igualdade de tratamento artº 22, nº1 e 2 CSC¸ mas os estatutos podem estabelecer um critério de repartição diferente distinto na proporção na participação no capital social artº 22, nº 1 e 3 CSC. O sócio participa nas perdas da seguinte forma: (i) através dos lucros não distribuídos, (ii) pela diminuição do valor da quota de liquidação do sócio, e (iii) se o sócio vier a responder pelas dividas da sociedade (quando as regras legais ou estatutários prevejam tal responsabilidade). Relativamente às SNC, os sócios não respondem pelas perdas, nas relações internas (salvo clausula diferente), mas nas relações externas, perante terceiros estes sócios respondem pelas dividas, e têm direito de regresso sobre os demais sócios.

(i)Outras obrigações (acessórias e prestações suplementares)Nas SQ – obrigações acessórias e suplementares artº 209 e 210 CSC, e nas SA obrigações acessórias artº 287 CSC. As prestações suplementares são outras obrigações dos sócios de entradas em $ para além do capital social (SQ), mas dentro dos montantes indicados nos estatutos. O interesse das prestações suplementares é vincular os sócios nos estatutos à realização de entradas para além do capital social, sob pena de exclusão, naquelas situações em que, no momento da constituição da sociedade, se antevê a possibilidade de o capital se tornar insuficiente, para a realização do objecto social – mas não se quer constituir a sociedade desde logo com um capital elevado, que poderá não ser necessário, e que terá que ser realizado no prazo máximo de 5 anos artº 203 CSC.

O ctt de sociedade, quer as SA, quer nas SQ, pode impor a todos ou alguns sócios a obrigação de efectuarem prestações acessórias para além das entradas. Estas prestações podem consistir em $, em bens ou em serviços e podem ser gratuitas ou onerosas artº 209 e 287 CSC. Podem servir para vincular os sócios a suprir eventuais insuficiências de capital social, quando o seu objecto for suprimentos, ie, empréstimos feitos à sociedade que poderão vencer juros.

5.3. A participação social (quotas ou acções)As quotas

Principio da unidade e montante – artº 219 CSC - o sistema português é o da quota inicial única, no momento de constituição da sociedade, a cada sócio apenas fica a pertencer uma quota. Em caso de aumento de capital poderão ser

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criadas novas quotas ou aumentado proporcionalmente o valor nominal das existentes. Este sistema da quota inicial única é flexível quando permite a unificação e divisão de quotas. A unificação de quotas é um direito que assiste ao sócio e apenas está dependente da sua prévia liberação e de não lhe corresponderem direitos e obrigações nº 4 do artº 219 CSC. A unificação de quotas deve obedecer à forma de documento particular e ser registada e comunicada à sociedade regulado nº 5 do presente artigo. O montante de cada quota não pode ser < a 100 €.

A sociedade não pode adquirir quotas próprias que não estejam totalmente realizadas, excepto se for para assumir a posição de sócio excluído, artº 220, nº1 e 204 CSC.

A divisão da quota é possível apenas mediante a amortização da quota – para efeito de transmissão ou por partilha ou por divisão no caso de contitularidade, as quotas resultantes da divisão não podem ter valor nominal < 100 € artº 221, nº1 CSC. Exige escritura pública artº 221, salvo no caso da partilha ou divisão entre contitulares.

Transmissão de quotas: por morte ou por vida

- Por morte

Por clausula de intransmissibilidade ou de condicionamento, a respectiva quota do falecido não será transmitida aos seus sucessores, deve ser (i) amortizada (extinta) ou (ii) adquirida pela sociedade ou por sócio ou por terceiro por mediação da sociedade.

Artº 225 CSC

Cessão de quotas: cessão condicionada ao consentimento da sociedade, o qual é deliberado em Assembleia Geral, salvo quando é transmitida a conjuge, descendente ou ascendente (neste caso, é livre não necessita de deliberação em AG).

Artº 228 CSC

É válida a clausula que proibe a cessão de quotas, mas os sócios têm direito à exoneração, uma vez decorridos 10 anos enquanto sócio

Artº 229 CSC

- Por vida

Transmissão das partes

sociais

Amortização de quotas - artº 232 CSC – a amortização das quotas consiste na sua extinção, sem prejuízo dos direitos já adquiridos e das obrigações já vencidas. A amortização de uma quota não pode determinar o afastamento do sócio se ele for titular de outras quotas.A amortização só é possível quando (i) estiver prevista na lei ou (ii) nos estatutos, e está dependente da salvaguarda do capital social, significa isto, que não podem ser amortizadas quotas que não estejam integralmente liberadas – salvo se ao mesmo tempo se reduzir o capital social nº 2, 3. Por outro lado, a sociedade só pode amortizar quotas depois de satisfeita a contrapartida, a situação liquida não ficar < à soma do capital social e da reserva legal, artº 236, nº1 CSC.A amortização de quotas depende sempre da deliberação da AG artº 234, nº 1. Se com a amortização da quota não houver redução de capital, deve ocorrer deliberação sobre o aumento das restantes ou que a quota figure no balanço como quota amortizada. A amortização e o valor das restantes quotas devem constar de escritura pública e estão sujeitas a registo.A contrapartida da amortização é a que resultar dos estatutos. Se estes nada disserem, deverá ser elaborado um balanço especial para a apurar o valor da quota – esta contrapartida será paga em 2 prestações semestrais nº 1, b) artº 235 CSC. Só será licito a contrapartida pelo valor nominal da quota ou < a este quando se tratar da exclusão do sócio, ie, no caso da amortização por justos motivos.No caso da sociedade não ter fundos para pagar a contrapartida, a amortização ficará sem efeito, devendo o interessado restituir à sociedade as quantias já recebidas artº 236, nº 3. O interessado pode optar por esperar a sociedade ter fundos para lhe liquidar a contrapartida, no entanto, a espera não vence juros, já que a sociedade não entra em mora.

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As

Acções – no CSC

6. ESTRUTURA FINANCEIRA E ORGANIZATIVA6.1. O CAPITAL SOCIAL

O capital social não é mais do que o valor representativo do conjunto das entradasdos sócios para a sociedade e constitui a base patrimonial da económica desta,

como uma garantia fundamental para os credores sociais. Para se constituir uma sociedade, o capital social tem que constar obrigatoriamente do ctt da sociedade artº 9, nº1, f) e 14º CSC – aqui fica determinada a posição de cada sócio (direitos e obrigações) em razão do montante das suas participações.De acordo com o CSC o valor do capital social e o valor nominal, relativamente às SA e às SQ, são os seguintes: (i) nas SA: o valor mínimo do c.social é 50 000 € e o v.n mínimo das acções é 1 cêntimo, (ii) nas SQ: o valor mínimo do c.social é de 5 000 € e o valor nominal das quotas é de 100 €. O capital social caracteriza pelo seu (i) carácter imperativo da obrigação de entrada como garante à sua realização, nos termos do artº 27 CSC; (ii) pelo principio da fixidez, ou seja, o capital social é uma cifra estável do balanço (não varia em função das variações do activo da sociedade), representativa da soma das entradas em bens, e por último (iii) pelo principio da intangibilidade artº 32 CSC – impede os sócios de distribuir os activos necessários para manter o capital social intacto, ou que reduzem sem o consentimento expresso ou tácito dos credores. No caso de ocorrer violação deste preceito, os sócios terão que restituir à sociedade os valores recebidos à título de lucros ou reservas, conforme disposto do artº 34 CSC.Relativamente ao património social é definido como um conjunto de direitos e obrigações da sociedade susceptíveis de valorização pecuniária dos quais ela seja titular. A expressão património social pode ser utilizado em vários sentidos: (a) património bruto: como conjunto de direitos, avaliáveis em $, de que a sociedade é titular num dado momento, mais a soma das suas dividas; (b) património ilíquido: engloba um conjunto de activos da sociedade, sem ter em conta o seu passivo; (c) património líquido: designa o valor do activo depois de descontado o valor do passivo. Neste sentido, património social constitui uma realidade em constante mutação e de valor em permanente flutuação. Só com a constituição da sociedade é que se verifica a coincidência entre os valores do capital social e os valores do património social, já que as entradas dos sócios constituem o fundo comum.A importância do capital social reveste-se também no desempenho das seguintes funções:

- determinação da situação económica da sociedade: periodicamente a sociedade terá que proceder ao apuramento do lucro (ou prejuízo), haverá lucro se o valor do património liquido (activo menos passivo) exceder o capital social, o que significa que houve um acréscimo ao fundo comum constituído com as entradas dos sócios, senão haverá prejuízo;

- base de cálculo do quinhão que corresponde a cada sócio na repartição dos lucros ou das perdas: é pela proporção das suas participações sociais relativamente ao capital social, que os sócios vêem quantificados os seus direitos fundamentais (direito

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Quotas

principio da

unidadeartº 219

CSC

v.n. não pode ser < a 100

- não são representa

das por títulos artº 219, nº3

- não podem ser adquiridas quotas pp,

caso não estejam integralmente

liberadas, excepto se for p/ assumir a posição de sócio

excluído artº 220

- divididas: mediante

amortização parcial, partilha ou divisão artº

221Transmi

ssão - em vida: condicionada por AG, salvo p/ conjuge,desc.ou ascend. Artº 28 e 231

  - em morte: pode ser condicionada ou proibida, artº 225

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aos lucros). Também serve de medida ao exercício de determinados direitos, p.e nas SA têm direito a convocar AG os accionistas com pelo menos de 5% do c.social artº 375, nº 2 CSC;

- constitui uma garantia para terceiros: representa uma segurança para os credores uma vez que a lei não permite a distribuição pelos sócios de quantias ou valores necessários para manter o capital intacto artº 32 CSC. Esta garantia fortaleceu-se com a entrada em vigor do artº 35 CSC.

A função de garantia de credores desempenhada pelo capital social determina o principio da intangibilidade do capital social – significa que o capital social está indisponível relativamente aos sócios, quando este não seja > à soma do capital mais as reservas que a lei ou o ctt indiquem. Não podem ser distribuídos aos sócios bens da sociedade quando a sua situação liquida seja inferior àquele montante (c.social indisponível, caso o Z=capital + reservas legais seja < à sit.liquida) artº 32 CSC. Deste modo, a intangibilidade do capital social representa a (a) insusceptibilidade de distribuição pelos sócios de quantias ou valores necessários para manter intacto um fundo patrimonial líquido equivalente, pelo menos, ao capital artº 32 conservação do capital; (b) uma exigência que, por virtude de perdas, o património liquido da sociedade não deixe de manter certa proporção com o capital social (perda de metade do capital) artº 35 CSC - risco de dissolução da sociedade; (c) imodificabilidade, salvo em termos controlados, do c.social para mais ou para menos – aumento do cap.social artº 87 a 96, em geral, artº 201 a 206, nas SQ, e 456º a 462º, nas SA, e (d) uma garantia para com os credores, uma vez que o capital é intocável até certo montante.Outros reflexos do principio da intangibilidade do capital social:

- as prestações suplementares nas SQ só podem ser restituídas aos sócios desde que a sua situação liquida não seja < à soma do capital social e das reservas legais artº 213 CSC;

- constituição de reservas (legais) artº 295 e 296 CSC; - a aquisição de quotas próprias só se pode fazer a titulo gratuito, em acção

executiva contra o sócio, ou quando ela disponha de reservas livres em valor não inferior ao dobro do montante a pagar em contrapartida da aquisição, sob pena de nulidade artº 220, nº 2 e 3 CSC;

- só pode adquirir acções próprias representativas até 10% do capital social, ou ultrapassado esse valor, salvo nº 3 do artº 317 CSC;

- na redução do capital social art 95, nº2 CSC: a autorização judicial para redução do capital não deve ser concedida se a situação liquida da sociedade não ficar excedendo o novo capital em, pelo menos, 20%.

A intangibilidade do capital social é também um objectivo do legislador, ao estabelecer regras especificas, quer para o (i) aumento do capital social, quer para (ii) a redução do capital.

Aumento do capital socialConsiste numa alteração dos estatutos que terá que ser deliberado pela AG. Pode ser por (a) incorporação de reservas artº 91 CSC ou por (b) novas entradas em $ artº 89, nº1 ou em espécie artº 89 nº 2 CSC – se for em espécie é exigido o relatório do ROC independente artº 28 CSC.O aumento do c.social por novas entradas, não pode ser realizado enquanto não estiver definitivamente registado o aumento anterior nem estiverem vencidas todas as prestações de capital inicial ou supervenientes artº 87, nº 3 CSC.O aumento por incorporação de reservas está regulado no artº 91 CSC, caracteriza por:

requer a exibição de um balanço (o da ultima aprovação de contas ou se estiver decorrido mais de 6 meses, é necessário um balanço especial) nº 2;

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o aumento c.s não pode ser aprovado enquanto não estiverem vencidas todas as prestações de capital nº 3 (após os 5 anos, vence-se a obrigação de realização do capital);

em principio o aumento é realizado na proporção das participações, salvo convenção diferente art 92, nº 1;

o órgão de administração e o de fiscalização, quando existir, devem declarar na escritura ou em doc. 3m anexo, que desde a aprovação do balanço até à escritura não ocorreram diminuições patrimoniais que impeçam o aumento do capital artº 93, nº 2 e 3 CSC

Nas SQ o aumento do capital encontra-se previsto no artº 266 a 269 CSC: deliberação por maioria de ¾ artº 265 (pois o aumento do c.s. altera os

estatutos do ctt da sociedade); os sócios gozam de direito de preferência nos aumentos em $, esse direito é

alienável art 266, nº 5 CSCNas SA o aumento do capital encontra-se previsto no artº 456 a 462 CSC:

o ctt de sociedade pode autorizar o órgão de administração a realizar o aumento do capital por entradas em $, devendo fixar, pelo menos, o limite máximo do aumento e o prazo durante o qual essa competência poderá ser exercida, sendo na falta de indicação, é de 5 anos artº 456, nº 3;

caso conselho geral ou o conselho fiscal não dê o parecer favorável, o órgão de administração tem que submeter a deliberação da AG.

Nota: O capital social considera-se aumentado para efeitos internos a partir da data de escritura artº 88 CSC, mas para efeitos externos a sua eficácia fica dependente do registo

Redução do capital socialComo o capital social tem como garantia dos credores o legislador permite a redução do capital dentro de certos limites, nomeadamente requer a autorização judicial artº 95 CSC. Quando a redução não se destinar a cobrir perdas, a autorização judicial só pode ser autorizada, se a situação liquida da sociedade ficar excedendo o novo capital em, pelo menos, 20%.Uma vez deliberada a redução de capital em AG, a sociedade deve requer a autorização judicial para a sua efectivação, podendo os credores opor-se nos 30 dias seguintes à publicação do anúncio.A autorização judicial pode ser dispensada se a redução for destinada p/ cobertura de prejuízos, mas mesmo assim, qq credor, no prazo de 30 dias a contar da publicação da deliberação, pode requer que a distribuição de reservas disponíveis ou dos lucros do exercício seja proibida ou limitada artº 95, nº 4, c) CSC.

Por causa do principio da intangibilidade do capital social, que impede a distribuição de lucros necessários para manter intacto o capital social, as sociedades recorrem por vezes ao chamado efeito harmónico, que consiste em (i) reduzir o capital social para cobrir perdas – e assim podem ser distribuídos lucros – e (ii) sucessivamente aumentar o capital. Caso não se procedesse a esta redução a sociedade teria dificuldade em encontrar interessados a investir nela, pois ficaria impedidos de participar nos lucros, enquanto as perdas dos exercícios anteriores não tivessem sido cobertas. Deste modo, o legislador permite a redução, mesmo que o capital seja reduzido a um montante inferior ao mínimo, se tal redução ficar expressamente condicionada à efectivação de aumento de capital para montante igual ou > aquele mínimo, a realizar nos 60 dias seguintes à deliberação artº 96 CSC.

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