apocalipse, capítulo 3 carta à igreja de...

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Apocalipse, capítulo 3 1 Carta à igreja de Sardes Sardes era uma das mais gloriosas cidades da Ásia Menor, embora vivesse, em parte, da glória do passado. Era também uma das mais antigas da região e a primeira a cunhar moedas de ouro e de prata. Sua riqueza se devia, em parte, ao fato de se ter achado ouro em um rio próximo à cidade. Seus reis eram famosos por sua riqueza. A cidade foi conquistada por Ciro da Pérsia em 546 a.C., quando esse feito era considerado quase impossível, pois um despenhadeiro tornava dificílimo o acesso à cidade caso não fosse feito pela entrada principal. “Capturar Sardes” era sinônimo de algo impossível. Hoje, próxima ao local onde antes ficava Sardes, existe uma pequena cidade de nome Sartes, mas as ruínas da antiga Sardes ainda estão lá para testificar sua história e podem ser visitadas. Ruínas da cidade de Sardes 1 Este estudo não é autoral. Consiste, em sua quase totalidade, na compilação de ideias dos autores citados nas referências, ao final do capítulo.

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Apocalipse, capítulo 31

Carta à igreja de Sardes

Sardes era uma das mais gloriosas cidades da Ásia Menor, embora

vivesse, em parte, da glória do passado. Era também uma das mais antigas da

região e a primeira a cunhar moedas de ouro e de prata. Sua riqueza se devia,

em parte, ao fato de se ter achado ouro em um rio próximo à cidade. Seus reis

eram famosos por sua riqueza.

A cidade foi conquistada por Ciro da Pérsia em 546 a.C., quando esse

feito era considerado quase impossível, pois um despenhadeiro tornava

dificílimo o acesso à cidade caso não fosse feito pela entrada principal.

“Capturar Sardes” era sinônimo de algo impossível.

Hoje, próxima ao local onde antes ficava Sardes, existe uma pequena

cidade de nome Sartes, mas as ruínas da antiga Sardes ainda estão lá para

testificar sua história e podem ser visitadas.

Ruínas da cidade de Sardes

1 Este estudo não é autoral. Consiste, em sua quase totalidade, na compilação de ideias dos

autores citados nas referências, ao final do capítulo.

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Sartes, a antiga Sardes

Verso 1: Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete

espíritos de Deus, e as estrelas: Conheço as tuas obras; tens nome de que

vives, e estás morto.

O título de Jesus faz referência ao Espírito Santo, que são os sete

espíritos de Deus, e às estrelas, que são os líderes de cada uma das sete

igrejas.

A mesma estrutura das cartas anteriores se mantém aqui: um atributo de

Jesus é apresentado logo no início da carta, e a expressão “Conheço suas

obras”, que normalmente anuncia os pontos fortes da igreja, também aparece.

Todavia, uma diferença muito significativa se faz perceber. Diferentemente das

cartas anteriores, “Conheço suas obras” é seguida de terrível constatação.

Jesus conhece o coração da igreja de Sardes e sabe que a visão que

ela e outros têm da comunidade não coincide com a avaliação divina. Embora

aparente estar viva, já morreu espiritualmente.

O texto não entra em detalhes sobre em que consiste essa morte

espiritual, mas os versículos seguintes dão algumas pistas.

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Verso 2: Sê vigilante, e confirma o restante, que estava para morrer; porque

não tenho achado as tuas obras perfeitas diante do meu Deus.

Apesar da declaração contundente do primeiro versículo, o verso 2

revela a existência de um remanescente vivo na comunidade. Está para

morrer, mas ainda há salvação para ele. O texto provavelmente esteja se

referindo a pessoas, mas há estudiosos que levantam a possibilidade de se

estar falando de algumas atitudes cristãs da igreja que ainda não se perderam,

pois, em seguida, os versos fazem menção a obras. Seja como for, a igreja

está mortalmente doente e pouco se salva nessa comunidade.

O verso 2 e o próximo apresentam cinco imperativos (“sê vigilante”;

“consolida”; “lembra-te”; “guarda-o”; “arrepende-te”), que são o caminho que

Deus oferece à igreja de Sardes para que sua morte espiritual não se

consolide.

O primeiro imperativo é para que vigie, fique alerta, preste atenção, de

modo que aquilo que ainda não se perdeu de todo possa ser restaurado. A

cidade de Sardes foi conquistada duas vezes, por Ciro e por Antíoco III, porque

não vigiou devidamente seus portões. Também a igreja nesta cidade não tem

vigiado e tem deixado se perder o que de Deus recebeu. O compromisso com

Deus reduziu-se e eles precisam ficar em prontidão e retornar para Cristo.

A ordem seguinte é para que confirme o restante que está para morrer.

Se a referência for a pessoas, elas deverão ser cuidadas e ensinadas, para

que o verdadeiro conhecimento as faça sair da letargia e do descaminho em

que se enfronharam. Se forem virtudes que ainda se aproveitam, deverão, a

partir delas, buscar a restauração do todo.

Deus examinou a igreja em Sardes e a reprovou, pois suas obras não

foram achadas perfeitas. O padrão de Deus não foi satisfeito e sua reprovação

terá consequências caso a igreja não capitule e produza obras de outra

natureza. Deus faz seus servos saberem com o que ele não está satisfeito,

pois não compactua com o erro, não obstante sempre esteja disposto a apontar

a direção correta.

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O texto fala que Cristo não achou perfeitas, diante de Deus, as obras da

igreja em Sardes, o que, como inúmeras outras vezes, demonstra a harmonia

entre Deus Pai e Deus Filho, pois sentem da mesma maneira.

Verso 3: Lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e

arrepende-te. Pois se não vigiares, virei como um ladrão, e não saberás a que

hora sobre ti virei.

O terceiro imperativo é para que a igreja se lembre do que recebeu e do

que ouviu. O ensino lhes foi dado, mas eles o deixaram de lado com o passar

do tempo. É necessário trazê-lo à memória novamente. Como quando Deus

falou com a igreja em Éfeso para que se lembrasse de onde havia caído,

também Sardes precisará refletir sobre a instrução que recebeu, a fim de que

ela volte a nortear seus caminhos.

O quarto imperativo completa a ação anterior: depois de trazido à mente

o ensino recebido e ouvido, a igreja precisará vivenciá-lo, fazê-lo presente em

seu coração e em suas ações. A verdade aceita no coração transborda em

boas obras sempre.

Rememorada a tradição apostólica, ou seja, o ensino recebido pelos que

os instruíram em seu nascimento espiritual, o resultado será concordar com

Deus que as obras praticadas têm sido más e que eles se distanciaram do

Criador. A exposição à palavra de Deus é capaz de produzir arrependimento,

pois é luz e evidencia as trevas.

A advertência é para que o juízo não lhes sobrevenha, mas ele virá,

caso não vigiem, e virá inesperadamente, como um ladrão. Quando menos

esperarem, a mão de Deus lhes pesará, pois já foram advertidos. De Deus não

se zomba (Gl 6.7). Em inúmeras passagens bíblicas, Deus adverte seus filhos

a vigiar para que aquilo que foi conquistado não se perca (Mt 24.43; 1Ts 5.2-4;

2Pe 3.10). Essa postura vigilante afasta o erro e o consequente juízo.

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Verso 4: Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não

contaminaram as suas vestes e comigo andarão vestidas de branco, porquanto

são dignas.

Como dito, há um remanescente fiel, pois nem todos se

desencaminharam, embora o texto afirme que são bem poucos os que

preservaram sua santidade. A igreja em Sardes provavelmente se acomodou

ao ambiente pagão, contaminou-se e tornou-se impura, restando poucos em

situação diversa. Esses que se mantiveram fiéis andarão vestidos de branco

(símbolo de pureza e de justificação), pois são dignos de Cristo.

Verso 5: O que vencer será assim vestido de vestes brancas, e de maneira

nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; antes confessarei o seu nome

diante de meu Pai e diante dos seus anjos.

Ao vencedor — aquele que perseverar e se mantiver fiel apesar das

pressões externas e internas — será dado vestir-se de branco, como símbolo

do seu estado espiritual. As vestes brancas são o reconhecimento de que a

pessoa foi lavada no sangue do Cordeiro e está limpa de todo pecado. Sobre

ela não recai nenhuma condenação e sua entrada no reino de Deus está

garantida.

O livro da vida, mencionado nas Escrituras desde o Antigo Testamento,

contém o registro dos nomes e das obras dos filhos de Deus. Aquele cujo

nome estiver registrado tem assegurada a vida eterna e habitará com Deus (Lc

10.20; Fp 4.3). A promessa, no verso 5, é que, de maneira nenhuma, o nome

do vencedor será riscado desse livro.

A terceira promessa fala do reconhecimento e da deferência que o fiel

receberá de Cristo, que, diante de Deus e de seus anjos, o reconhecerá como

filho. Sardes havia se envergonhado de Cristo e Cristo também se

envergonhará deles diante do Pai, mas aqueles que perseverarem em crer e

obedecer serão reconhecidos por Jesus.

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Verso 6: Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

O texto da carta à igreja de Sardes se encerra com a mesma

advertência profética para que se dê ouvidos ao que Cristo está dizendo.

Carta à igreja de Filadélfia

Filadélfia foi fundada pelos reis de Pérgamo para ser um posto avançado

do seu reino desde antes do nascimento de Cristo. No tempo do Novo

Testamento, a cidade fazia parte da província romana da Ásia.

Ficava em um vale, aos pés de uma cadeia de montanhas e estava

estrategicamente localizada em rotas militares e comerciais, o que a tornou

conhecida como “o portal para o leste”. Era cortada por uma estrada muito

importante que ligava o norte de Pérgamo ao sul de Laodiceia.

Seu solo vulcânico era muito fértil, ideal para a plantação de uvas, por

isso Dionísio, o deus romano do vinho, era o padroeiro da cidade. Embora

fosse a mais nova das sete cidades, sua atividade agrícola era desenvolvida,

com plantação de cereais além de uvas.

Seu nome teve inspiração no amor incondicional que Átalo Filadelfo

sentia pelo irmão mais velho. Diante da notícia da morte do irmão, Átalo

assumiu o trono, mas quando este retornou, ficando comprovado que sua

morte não passava de boato, Filadelfo renunciou. Mesmo pressionado a tomar

o poder, recusou-se, assumindo o trono apenas após a morte do irmão. Toda a

família era muito unida, e Filadélfia passou a representar a cidade do amor

fraterno. Nos séculos que se seguiram, seu nome foi trocado para Neocesareia

e depois para Flávia.

Durante o século I, não se tem conhecimento se o culto ao imperador

era algo importante na cidade, mas há registros de que, no século III, a cidade

era guardiã do templo e de que, no século VI, foi considerada uma “pequena

Atenas”, em razão dos vários templos e movimentos religiosos que abrigava. A

cidade foi provavelmente evangelizada por discípulos de Paulo, como as

demais igrejas da Ásia Menor.

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O mesmo terremoto que destruiu Sardes destruiu Filadélfia. Hoje o

vilarejo de Alaseir ocupa o lugar da antiga cidade de Filadélfia.

Ruínas da cidade de Filadélfia

Alaseir, a antiga Filadélfia

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Verso 7: Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é

verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e

ninguém abre:

Até então, a abertura das cartas às igrejas guardava total ou estreita

semelhança com os atributos do Cristo glorificado visto por João no capítulo 1.

Aqui, novos atributos são trazidos.

Aquele que fala à igreja em Filadélfia é santo (separado deste mundo) e

verdadeiro, o messias fiel, o genuíno emissário de Deus para salvação dos que

creem. Ele tem a chave de Davi (Is 22.22) e controla a entrada no reino de

Deus. Seu poder é absoluto, pois nada nem ninguém pode lhe obstar as ações.

O que ele fecha ninguém abre e o que abre ninguém fecha. O poder absoluto

de Deus e de Cristo e sua santidade são grandes temas do livro de Apocalipse.

Verso 8: Conheço as tuas obras (eis que tenho posto diante de ti uma porta

aberta, que ninguém pode fechar), que tens pouca força, entretanto guardaste

a minha palavra e não negaste o meu nome.

Obedecendo à estrutura predominante nas cartas, a expressão “conheço

as tuas obras” traz os pontos fortes da igreja. Filadélfia é elogiada por guardar

a palavra de Deus e por não negar o seu nome. A oposição sofrida pela igreja

não a impediu de ser fiel aos ensinamentos recebidos dos apóstolos e nem

impediu que os crentes sustentassem diante dos infiéis o glorioso nome de

Jesus. Não são as provas que afastam as pessoas de Deus, mas um coração

não firmado nas verdades reveladas e na mensagem do evangelho.

Embora não sendo uma igreja influente e poderosa, Filadélfia mantinha-

se fiel, e o reconhecimento dessa pouca força, mas muita fé, fez com que Deus

colocasse diante dela uma porta aberta, a qual ninguém poderia fechar.

Embora não se saiba de que dádiva se trate, é certo que a igreja de Filadélfia

estava recebendo algo que a abençoaria muito.

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Verso 9: Eis que farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus,

e não o são, mas mentem – eis que farei que venham, e adorem prostrados

aos teus pés, e saibam que eu te amo.

Mais uma vez os falsos judeus se opõem à igreja de Jesus. A negação

de Cristo como o cumprimento da promessa messiânica resultou em

perseguição à igreja e em perdição de grande parte dos judeus. Novamente

Jesus se refere a eles como sinagoga de Satanás, pois, se fossem verdadeiros

adoradores, não teriam negado o sacrifício de Cristo, antes seriam, com todos

os demais convertidos, a igreja invisível de Deus (Rm 2.28,29).

Diante de tamanha oposição e em face da fidelidade da igreja em

Filadélfia, Deus fará com que os judeus reconheçam, prostrados, que aquela

comunidade é amada. O zelo de Deus pelos fiéis em Filadélfia subjugará os

seus inimigos, como Deus sempre faz, saindo em disputa em favor do seu

povo.

Nesta carta, a promessa de Jesus é para a toda a igreja, pois todos se

fizeram merecedores de honra, e não apenas um remanescente, pois não lhe é

apontado nenhum ponto fraco. Juntamente com Esmirna, Filadélfia não é alvo

de repreensões, apenas de elogios (Ap 2.9).

Verso 10: Porquanto guardaste a palavra da minha perseverança, também eu

te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr

à prova os que habitam sobre a terra.

Dias maus virão sobre todos, mas Deus não desampara aqueles que

perseveram em ser fiéis e sua promessa para a igreja em Filadélfia é que ela

será guardada, protegida e preservada quando a provação chegar.

A provação a que se refere o texto pode ser lutas pelas quais todo o

mundo irá passar e, para alguns estudiosos, inclusive o povo de Deus. Para

eles, os cristãos não são alvo da ira de Deus, mas podem sofrer os efeitos da

ação de Satanás no mundo (Ap 6.10; 8.13; 11.10). Há, todavia, os que creem

que esse sofrimento não afetará a igreja, que já terá sido arrebatada, cabendo

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apenas àqueles que se converteram depois do arrebatamento passar por

situações dificílimas. Nos últimos tempos, sabemos que os adoradores da

besta perseguirão a igreja do Senhor e, nesses dias, a igreja precisará de sua

proteção e livramento mais do que nunca, e sua promessa é que a terão. Desta

e de outras passagens do livro de Apocalipse resulta acirrado debate,

dividindo-se os estudiosos em sua posição pré e pós-tribulacionista. Este tema

será visto mais para frente em nosso estudo.

Verso 11: Venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a

tua coroa.

É a quarta vez, em apenas três capítulos, que a volta iminente de Cristo

é anunciada e enfatizada. A palavra de alerta da parte de Deus é para que a

igreja de Filadélfia mantenha-se fiel e guarde o que alcançou, para que

ninguém roube sua coroa, recompensa simbólica que receberão todos os que

perseverarem até o fim. É um apelo ao esforço contínuo necessário para se

manter a caminhada cristã no rumo correto.

As igrejas de Éfeso, Pérgamo e Sardes são advertidas por Cristo a

perseverar, caso contrário o juízo sobrevirá a elas. A igreja de Filadélfia não é

repreendida em nada, mas precisará ficar alerta, pois a vinda de Cristo se

aproxima velozmente e ele os quer encontrar de pé.

Verso 12: A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, donde

jamais sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade

do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e

também o meu novo nome.

Ao vencedor são reservadas sete promessas. No reino de Deus não

haverá templo material (Ap 21.20), mas os fiéis serão feitos coluna do templo

imaterial, metáfora sobre a firmeza e a estabilidade de que gozarão (Gl 2.9; 1

Tm 3.15). Eles permanecerão firmes e ninguém irá demovê-los dessa posição.

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O nome de Deus será escrito sobre eles como prova de que são

propriedade divina, filhos amados. Vemos aqui o contraste com aqueles que

empunharão o nome da besta e a ela pertencerão quando se deixarem marcar.

Também o nome da cidade de Deus estará registrado no cristão fiel

como sinal da cidadania celestial. A nova Jerusalém, a cidade escatológica,

que desce do céu, porque vem da parte de Deus, inaugurará uma nova era.

O novo nome de Cristo também será escrito sobre o cristão, embora não

se saiba exatamente do que se trata. Essa referência aparece novamente em

Ap 19.12, mas como o nome ninguém sabe a não ser Jesus, não se pode

afirmar o que seja ou qual seja. Pode ser que este nome seja revelado quando

da volta do Messias.

Verso 13: Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Novamente o Espírito Santo chama os destinatários da carta a

responderem à mensagem positivamente.

Carta à igreja de Laodiceia

A cidade foi fundada por Antíoco II, antes de se divorciar de sua esposa

Laódice, em cuja homenagem deu o nome à cidade.

A região era importante politicamente e a cidade se destacava na

atividade comercial. Laodiceia tornou-se mais importante que Colossos e

enriqueceu como centro bancário. Produzia uma lã negra e macia e fez

prosperar toda a região com suas atividades econômicas.

Havia na cidade uma escola de medicina famosa, responsável pela

descoberta de um remédio para os olhos chamado “pó frígio”. Em razão do

despertamento para essa área de conhecimento, passaram a adorar o deus

Men Karou, o deus da cura.

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A região era propensa a terremotos e, em 60 d.C., Laodiceia foi

destruída. Os ricos da cidade, não querendo depender de Roma,

reconstruíram-na de forma ainda mais glamorosa.

Outro problema enfrentado pelos laodicenses era a falta de água, que

tinha de ser canalizada de outro local.

A religião era sincrética, contando com deuses locais e romanos. O

judaísmo era importante ali, tanto em número quanto em influência.

É possível que Epafras, que fundou a igreja de Colossos, tenha também

fundado a igreja em Laodiceia (Cl 1.7; 4.13) durante os três anos de ministério

de Paulo em Éfeso.

Em Colossenses 4.16, é mencionada uma “carta de Laodiceia”, que não

chegou até nós. Há estudiosos que consideram tratar-se, na verdade, da carta

aos efésios, que, sendo uma carta-circular, foi também lida na igreja de

Laodiceia.

Ruínas da cidade de Laodiceia

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Denzli (antiga Laodiceia)

Verso 14: Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a

testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:

A palavra hebraica “amém” significa em português “assim seja”. Cristo é

a confirmação de Deus. Ele diz a verdade de forma fiel. Pai e Filho são um em

veracidade. Esses atributos de Cristo se contrastam com os indiferentes e

mornos laodicenses, que não são verdadeiros nem leais a Deus. Em Cristo,

foram criadas todas as coisas, daí ele ser a fonte, a origem da criação (Jo

1.2,3).

Verso 15: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio

ou quente!

Na estrutura das cartas, como já mencionado, a expressão “conheço as

tuas obras” é o momento em que são indicados os pontos fortes da igreja, mas

em Laodiceia não há o que elogiar. A expressão “não és frio nem quente” fala

da ausência de fervor e da falta de comprometimento e entrega a Cristo.

Naturalmente não é desejo de Deus que uma igreja seja fria, mas a frase

“oxalá foras frio ou quente” fala da necessidade de definição, pois aquele que

se vê frio pode ainda arrepender-se e tornar-se quente, mas aquele que não é

nem uma coisa nem outra é porque não tem consciência de seu estado

espiritual.

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Alguns estudiosos comparam o estado da igreja em Laodiceia com a

realidade do abastecimento de água da cidade. Laodiceia não possuía

recursos hídricos próprios, por isso tinha de canalizar de outro lugar a água que

consumia, como já foi dito. Essa água vinha de fontes termais, águas quentes

que tinham propriedades medicinais e que chegavam a Laodiceia mornas, em

razão do tempo de deslocamento. Tenha a figura utilizada por Cristo relação ou

não com a situação hídrica da cidade, o fato é que eles estavam sendo

reprovados por esse procedimento.

Verso 16: Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da

minha boca.

A consequência da indiferença da igreja em Laodiceia é a rejeição da

parte de Deus, que está a ponto de vomitá-la de sua boca.

Verso 17: Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho

falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;

A riqueza da igreja em Laodiceia trouxe-lhe autossuficiência e

complacência com o que estava errado segundo Deus, combinação mortal

para a vida espiritual de qualquer igreja ou cristão. Por serem ricos

materialmente, julgavam-se ricos espiritualmente e se esqueceram de

depender de Deus. O problema não é a riqueza, mas depositar nos bens

materiais a confiança que só deve estar em Deus. Laodiceia não sentia falta de

coisa alguma, porque o dinheiro se tornou sua fonte de segurança. Todo o

discurso da igreja é em primeira pessoa e se centra no que acha que é e no

tem (sou rico, estou enriquecido, de nada tenho falta).

Não há referência histórica de que a igreja fosse alvo de pressão ou de

perseguição da parte de judeus ou pagãos. A tranquilidade, em vez de levá-los

a aproveitar melhor a ocasião de servir a Deus e pregar o seu evangelho, fez

com que se acomodassem.

Diferentemente de como a igreja se via, Deus a reputou por coitada,

miserável, pobre, cega e nua. Seu estado é deplorável, pois não possui a

riqueza verdadeira, que é a espiritual e permanece para sempre, não consegue

enxergar a verdade por causa de sua arrogância e autossuficiência e se

encontra totalmente vulnerável como resultado dessa independência.

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Verso 18: aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que

te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a

vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que

vejas.

Deus tem a solução para o problema da igreja em Laodiceia, por isso lhe

dá um conselho, que é também uma advertência. Já que a igreja é tão rica e

sua confiança está firmada em seu poder aquisitivo, Deus usa a linguagem

comercial e lhe diz que compre dele ouro refinado no fogo, a fim de que, de

fato, fique rica. Com isso Cristo está dizendo à igreja que ele é a única fonte de

bens duráveis e que aquilo de que realmente precisa, que são os bens

espirituais, só nele encontrará.

Na verdade, de Jesus não podem comprar nada, pois ele nada vende,

antes dá graciosamente tudo aquilo de que precisamos. O que Deus lhes está

dizendo é que ele pode ajudar caso queiram.

Da igreja de Esmirna Deus diz que, embora pobre materialmente, era

rica; da igreja de Laociceia, que pensa ser rica, Deus diz que é miserável. A

diferença é onde está o tesouro, porque aí estará o coração, como dizem as

Escrituras.

Deus lhes oferece vestes brancas, que simbolizam a pureza e que são

recebidas como resultado da aprovação divina. É possível se vestir ricamente,

mas, aos olhos de Deus, estar nu. No Antigo Testamento, a nudez é símbolo

de castigo, de juízo (Is 20.1-4; Ez 16.36; 23.10). Em Apocalipse, as vestes

brancas são também símbolo de justiça e de justificação, pois resultado de

terem sido lavadas no sangue de Jesus. Enquanto a nudez é motivo de

vergonha, roupas novas são sinal de honra, como se pode ver no caso de

José, de Mordecai e do filho pródigo.

Deus lhes oferece, ainda, colírio para que vejam, pois os crentes de

Laodiceia não se aperceberam de seu estado e, não sabendo como Deus os

vê, como poderão mudar? Para mudar, é preciso haver arrependimento, que é

consequência de o crente se ver como Deus o vê. Havia em Laodiceia um

centro médico onde foi criado um remédio para doenças nos olhos, mas,

apesar disso, eles são cegos, não conseguindo ver sua verdadeira condição

espiritual (Jo 9.39). Devem “ver” sua cegueira espiritual, arrepender-se e

receber a cura de Cristo.

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Verso 19: Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e

arrepende-te.

Apesar de toda a maldade dos crentes laodicenses, Deus lhes declara

seu amor, afirmando que os repreende porque se importa com eles (Pv 13.24;

Hb 12.5,6). A desaprovação de Deus não exclui seu amor pela igreja. Para

aqueles que pecam o amor divino pode conduzir à restauração.

A igreja está sendo chamada a se acertar com o Senhor. Ao repreendê-

los, Deus os está tentando convencer de seu erro e evitar o castigo que

certamente virá, caso não haja arrependimento, pois Deus é justo juiz. Deus os

exorta a serem zelosos e a se apressarem a voltar atrás, mudando seu coração

e, consequentemente, sua postura.

O que Deus faz, faz para o bem dos seus filhos, por isso ele espera que

ouçam, aprendam e voltem atrás, retomando as boas obras.

Verso 20: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a

porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.

Embora esta passagem bíblica seja repetidamente usada em

mensagens evangelísticas, foi dirigida a crentes que, embora conhecendo a

palavra de Deus, fecharam-se para as verdades eternas. Jesus está do lado de

fora da vida deles e bate à porta, oferecendo bênçãos e intimidade. Que

grande demonstração de amor! Que pessoalidade em face de tão grande

indiferença. O amor de Cristo nos constrange a ser obedientes, pois é

sobremodo excelente. Linda demonstração de amor e compaixão: o visitante

amável buscando ser recebido na casa de alguém que o rejeitou para abençoá-

lo!

No entanto, essas bênçãos e essa intimidade só poderão ser

desfrutadas se os crentes de Laodiceia ouvirem sua voz e abrirem a porta.

Deus não obriga ninguém a atender ao seu chamado de amor (amor divino +

livre arbítrio), mas também não deixa sem consequências as escolhas

humanas (justiça). A resposta é pessoal, intransferível, e cabe àquele a quem

Deus chama tomar a decisão de permitir sua entrada. A porta aberta é símbolo

de aceitação e de convite à comunhão.

No Oriente Próximo, partilhar com alguém uma refeição é sinal de

apreço e de desejo de comunhão. Eles não se assentam à mesa com

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estranhos nem com aqueles a quem não aprovam. As refeições diárias eram

eventos complexos, pois momentos em que se ensinavam ou se reforçavam

valores sociais, limites, posições e hierarquia. Jesus violou esses limites ao

comer com pecadores e publicanos para lhes anunciar o reino de Deus e

sempre fará isso com os corações necessitados, a fim de que não fiquem sem

oportunidade de arrependimento.

Essa ceia a que se refere o versículo é o antegozo do banquete no reino

celestial — a refeição messiânica —, quando nos assentaremos à mesa com

todos os remidos. O crescimento espiritual em vida prenuncia a união completa

com Deus na eternidade.

Verso 21: Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu

trono.

Deus sempre incentiva à obediência, mostrando que grandes

recompensas esperam o cristão, em especial a maior de todas: a comunhão

sem limitações com Deus e com o seu Cristo. Em Mateus 19.28, Deus diz que

o vencedor não só se assentará no trono com Cristo, como também reinará

com ele, o que é reforçado em Ap 20.4 e 22.5.

Grant R. Osborne (2013) fala dos estágios da “teologia do trono”,

mencionando que, no Antigo Testamento, Javé se assenta sobre o trono em

majestade. Nos evangelhos, Jesus, como Filho do Homem, participa do trono

de Deus, também em majestade e juízo. Nos evangelhos, nas cartas e no

Apocalipse, os santos vitoriosos partilham do trono de glória e juízo. Jesus é

nosso modelo. Como ele venceu e se assentou no trono com o Pai, os

vencedores se assentarão no trono com ele.

O Novo Testamento traz o tema do Christus Victor (Sl 110.1), com Cristo

sendo vitorioso contra Satanás ao expulsar os demônios durante seu ministério

na terra e, na cruz, o último golpe contra o Maligno, vencendo-o definitivamente

(Cl 2.15). Da mesma forma, somos chamados à vitória, resultado da

perseverança até o fim.

Verso 22: Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Como nas outras cartas, a mensagem se encerra com o chamado para

ouvir e obedecer à palavra de Deus.

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AS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE

IGREJA

ATRIBUTO(S)

DE JESUS

PONTO(S) FORTE(S)

PONTO(S) FRACO(S)

RECOMPENSA AO VENCEDOR

Éfeso

Ap 2.1-7

Aquele que tem em sua destra as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros.

Trabalho, perseverança, sofrimento pelo nome de Jesus e rejeição aos maus e aos falsos mestres.

Abandonou o primeiro amor.

Comerá da árvore da vida.

Esmirna

Ap 2.8-11

O primeiro e o último, o que foi morto e reviveu.

Sofrimento e pobreza.

Nenhum.

Receberá a coroa da vida e não sofrerá o dano da segunda morte.

Pérgamo

Ap 2.12-17

Aquele que tem a espada aguda de dois gumes.

Retém o nome de Jesus e não negou a fé.

Tolera falsas doutrinas e falsos mestres.

Receberá o maná escondido e uma pedra branca com um nome secreto escrito.

Tiatira

Ap 2.18-29

O filho de Deus, que tem os olhos como chama de foto e os pés como latão reluzente.

Amor, fé, serviço, perseverança e obras numerosas.

Tolera falsos mestres.

Será investido de autoridade sobre as nações e receberá a estrela da manhã.

Sardes

Ap 3.1-6

Aquele que tem os sete espíritos de Deus e as estrelas.

Nenhum.

Suas obras não têm sido achadas perfeitas.

Será vestido de vestes brancas, não terá o nome riscado do livro da vida e o seu nome será confessado diante de Deus e dos anjos.

Filadélfia

Ap 3.7-13

Santo e verdadeiro, o que tem as chaves de Davi.

Guardou a palavra de Deus e não negou o seu nome.

Nenhum.

Será feito coluna no templo de Deus, e o nome de Deus, o da cidade de Deus e o de Cristo serão escritos sobre ele.

Laodiceia

Ap 3.14-22

O Amém; a testemunha fiel e verdadeira e o princípio da criação de Deus.

Nenhum.

É morno: não é frio nem quente.

Assentar-se-á no trono junto com Cristo.

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REFERÊNCIAS

DUCK, Daymond R. Guia fácil para entender Apocalipse. Rio de Janeiro:

Thomas Nelson, 2014.

MIRANDA, Neemias Carvalho. Apocalipse – comentário versículo por

versículo. Curitiba/PR: A. D. Santos Editora, 2013.

OSBORNE, Grant R. Apocalipse. São Paulo: Vida Nova, 2014.