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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA - ProPPEC GERÊNCIA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO PARA FORMAÇÃO PARA O MAGISTÉRIO SUPERIOR GUILHERME SIMÕES DE BARROS APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR AO COMÉRCIO ELETRÔNICO BRASILEIRO Itajaí, SC 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA

- ProPPEC GERÊNCIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO PARA FORMAÇÃO PARA O MAGISTÉRIO SUPERIOR

GUILHERME SIMÕES DE BARROS

APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR AO COMÉRCIO ELETRÔNICO

BRASILEIRO

Itajaí, SC 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA

- ProPPEC GERÊNCIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO PARA FORMAÇÃO PARA O MAGISTÉRIO SUPERIOR

GUILHERME SIMÕES DE BARROS

APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR AO COMÉRCIO ELETRÔNICO

BRASILEIRO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), como requisito parcial à obtenção do título de especialista no magistério superior.

Orientador: Prof. Dr. Diego Richard Ronconi.

Itajaí, SC

2008

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Dedicatória

Dedico este trabalho à Sherlana, minha companheira e

incentivadora de todas as horas; ao meu filho, Guilherme Augusto;

aos meus pais, José Augusto e Maria do Carmo e a minha irmã,

Marcela.

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Agradecimentos

Agradeço ao meu orientador, Prof. Diego Richard Ronconi, por sua

paciência e dedicação durante a execução deste trabalho.

Agradeço, também, à Profª. Ana Cláudia Reiser de Melo, pela

criteriosa e dedicada correção.

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GUILHERME SIMÕES DE BARROS

APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR AO COMÉRCIO ELETRÔNICO BRASILEIRO

Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Especialista no

Magistério Superior e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí, Centro de Educação de Itajaí.

Área de Concentração: Direito Empresarial

Prof. Dr. Diego Richard Ronconi

UNIVALI – CE Itajaí

Orientador

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DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando

a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito e

o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), maio de 2008.

Guilherme Simões de Barros

Pós-Graduando

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RESUMO

Esta monografia discorre especialmente sobre a aplicação do Código de Proteção

e Defesa do Consumidor ao comércio eletrônico brasileiro e sobre os aspectos

mais relevantes dos contratos eletrônicos e sua validade jurídica. O tema é

relativamente recente, e no que tange ao contrato eletrônico ainda não existe

legislação específica nacional que regulamente sua formalização. Em razão desta

falta de legislação específica, a doutrina e a jurisprudência têm acolhido a

aplicação de normas internacionais na solução dos conflitos oriundos desta forma

de contração, todavia, quanto à validade jurídica dos contratos eletrônicos, não há

dúvida que, quando a lei não exige forma especial, o contrato eletrônico é

perfeitamente aplicável, desde que observados os princípios gerais da teoria

contratual tradicional. A matéria é relevante e desperta grande atenção em função

do significativo aumento das vendas de produtos, serviços e informações através

dos meios eletrônicos.

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ABSTRACT

This monograph talks specially about the application of the Code of Protection and

Defense of the Consumer to the electronic Brazilian commerce and about the

most relevant aspects of the electronic contracts and his legal validity. The subject

is relatively recent, and as regards the electronic contract there is still not specific

national legislation that regularizes his formalization. On account of this lack of

specific legislation, the doctrine and the jurisprudence they have been welcoming

the application of international standards in the solution of the originating conflicts

in this way of contraction, however, as for the legal validity of the electronic

contracts, there is no doubt of which, when the law does not demand special form,

the electronic contract is perfectly applicable, when since the general beginnings

of the contractual traditional theory were observed. The matter is a relevant and

awake great attention in function of the significant increase of the sales of

products, services and informations through the electronic ways.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................10

1 PRINCÍPIOS DA TEORIA GERAL DOS CONTRATOS....................................12

1.1 Objetivo e conceito de contrato ...................................................................12

1.2 Elementos subjetivos, objetivos e formais da validade dos contratos .........13

1.3 Princípios fundamentais do direito contratual ..............................................19

1.3.1 Princípio da autonomia da vontade....................................................20

1.3.2 Princípio da função social do contrato ...............................................21

1.3.3 Princípio da boa-fé contratual ............................................................22

1.3.4 Princípio do equilíbrio contratual ........................................................23

1.4. Proteção contratual no Código de Proteção e Defesa do Consumidor.......24

1.4.1 Força vinculante da oferta e da publicidade.......................................25

1.4.2 Consentimento informado ..................................................................26

1.4.3 Interpretação favorável ao consumidor ..............................................28

1.4.4 Onerosidade excessiva......................................................................28

1.4.5 Nulidade contratual ............................................................................30

2 CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DA INTERNET E O COMÉRCIO ELETRÔNICO....................................................................................................31

2.1 Breve histórico sobre a Internet e o comércio eletrônico .............................31

2.2 Conceito e funcionamento da Internet .........................................................36

2.3 Sistemas de comunicação na Internet.........................................................38

2.3.1 Correio eletrônico ou e-mail ...............................................................39

2.3.2 Lista de correio eletrônico ..................................................................41

2.3.3 Comunicação em tempo real ou chat.................................................42

2.3.4 Obtenção remota de informações......................................................43

2.4 O contrato no comércio eletrônico ...............................................................44

3 GENERALIDADES ACERCA DO CONTRATO ELETRÔNICO........................48

3.1 Conceito de contrato eletrônico ...................................................................48

3.2 Classificação dos contratos eletrônicos.......................................................50

3.2.1 Contratos eletrônicos intersistêmicos.................................................50

3.2.2 Contratos eletrônicos interpessoais ...................................................52

3.2.3 Contratos eletrônicos interativos........................................................53

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3.3 Formação dos contratos eletrônicos............................................................55

3.3.1 Tratativas ou negociações preliminares.............................................56

3.3.2 Oferta ou policitação ..........................................................................57

3.3.3 Aceitação ou oblação.........................................................................59

3.4 Validade dos contratos eletrônicos ..............................................................63

4 APLICAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS CONTRATOS ELETRÔNICOS .................................................................67

4.1 Relação jurídica de consumo na Internet ....................................................67

4.1.1 Os contratos eletrônicos como contratos de adesão .........................70

4.1.2 Equiparação dos contratos eletrônicos aos contratos a distância, realizados fora estabelecimento comercial ........................................73

4.1.3 Aplicação aos contratos eletrônicos do prazo de arrependimento em benefício do consumidor....................................................................75

4.1.4 A responsabilidade dos participantes da cadeia de fornecimento .....79

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................86

REFERÊNCIAS ....................................................................................................89

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INTRODUÇÃO

O crescente desenvolvimento de novas tecnologias de informação e

comunicação tem aumentado em muito a realização de negócios através da

Internet. Esta nova maneira de contratar revolucionou o comércio, que se

convencionou chamar de comércio eletrônico.

Dentre as várias formas de comércio eletrônico, neste trabalho

optou-se por dar maior atenção ao contrato eletrônico nas relações de consumo,

em razão do grande aumento de volume na aquisição de bens, serviços e

informações através dos meios virtuais.

Neste trabalho monográfico, foi realizado um estudo que buscou

verificar a possibilidade de aplicação dos institutos do direito contratual e do

direito do consumidor nas lides decorrentes de contratos eletrônicos de consumo.

Cabe, antes de se apresentar o trabalho, fazer uma observação

preliminar acerca de delimitação do tema proposto. A análise se restringe à

aplicação dos institutos do Código de Proteção e Defesa do Consumidor ao

comércio eletrônico brasileiro, todavia serão citados, no decorrer do trabalho,

alguns dispositivos legais internacionais que orientam o comércio eletrônico

mundial, em especial as Diretivas da Comunidade Européia.

São objetivos específicos deste trabalho: a) verificar as

características dos contratos eletrônicos; b) analisar a validade jurídica destes

contratos; c) verificar a possibilidade da aplicação do Código de Defesa do

Consumidor aos Contratos Eletrônicos firmados nas transações do comércio

eletrônico no âmbito nacional.

Esta monografia contém quatro capítulos. O primeiro capítulo serve

como revisão da teoria geral dos contratos sob a ótica do direito civil e a proteção

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contratual garantida pelo direito do consumidor, com fundamento na legislação

pátria e o entendimento dos doutrinadores.

No segundo capítulo, abordam-se noções gerais acerca da Internet,

como uma breve evolução histórica e seu funcionamento, e ainda uma análise do

comércio eletrônico, suas formas e tipos mais usuais.

O terceiro capítulo trata do contrato eletrônico, analisando sua

classificação, formação e validade.

No último capítulo, faz-se uma análise especial sobre a

aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor aos Contratos Eletrônicos,

com ênfase na possibilidade, ou não: da equiparação dos contratos eletrônicos

aos contratos a distância; aplicação aos contratos eletrônicos do prazo de

arrependimento em benefício do consumidor; e, por fim, na responsabilidade dos

participantes da cadeia de fornecimento através dos meios virtuais.

Pretende-se analisar, com ênfase, se os contratos eletrônicos

obedecem aos princípios gerais do direito contratual brasileiro, e ainda, por

serem, na maioria das vezes, firmado na forma de contratos de adesão, se podem

sofrer a aplicação do Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

Nas considerações finais, destacam-se os pontos mais relevantes

analisando os resultados obtidos.

O método1 utilizado na fase de investigação é o indutivo; na fase de

tratamento dos dados o cartesiano, utilizando-se a técnica da pesquisa

bibliográfica e eletrônica.

1 “Método é a forma lógico-comportamental na qual se baseia o Pesquisador para investigar,

tratar os dados colhidos e relatar os resultados”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica - idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 8 ed. rev.atual.amp. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003, p.104.

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1 PRINCÍPIOS DA TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

1.1 Objetivo e conceito de contrato

Ao longo da história, o homem tem agido de forma a relacionar-se

com os demais, tendo trocado, vendido e emprestado bens, e ainda, prestado

serviços. Estes atos, que na grande maioria das vezes são de caráter oneroso,

geram obrigações entre as partes.

Estas obrigações se formalizam através dos contratos, mas antes de

adentrar-se ao estudo mais especifico acerca do conceito e da teoria geral dos

contratos, é importante, como ponto de partida, indicar a base legal dos atos e

negócios jurídicos.

O Código Civil Brasileiro de 2002 dispõe sobre os negócios jurídicos

em seus artigos 104 e seguintes, e segundo a citada codificação, a validade do

negócio jurídico requer: a) agente capaz; b) objeto lícito, possível, determinado ou

determinável; e c) forma prescrita ou não defesa em lei.

E o contrato, categoria dos negócios jurídicos, além do plano da

validade, para figurar no mundo jurídico deve ainda situar-se sob os planos da

existência e eficácia, que serão estudados no decorrer deste trabalho.

O contrato é um instituto jurídico muito complexo, é não admite um

conceito definitivo e de abrangência absoluta, entretanto, para delimitar melhor

este estudo, é imprescindível a apresentação de alguns conceitos legais e

doutrinários.

O Código Civil de 1916 conceituava o ato jurídico com sendo: “Todo

o ato lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou

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extinguir direitos, se denomina ato jurídico”, este conceito não foi reproduzido no

Código Civil vigente.

A partir do conceito de ato jurídico foram elaborados os conceitos de

negócio jurídico e de contrato. Os primeiros conceitos de contrato surgiram na

época do Estado Liberal e por isso apresentavam um cunho voluntarista, no qual

o ponto mais importante era a vontade das partes. Hoje, com fundamento nos

princípios da dignidade da pessoa jurídica e na função social do contrato, o

conceito mais atual de contrato difere um pouco da antiga conceituação.

Para Gomes,2 “contrato é uma espécie de negocio jurídico que se

distingue, na formação, por exigir a presença pelo menos de duas partes.

Contrato é, portanto, negócio jurídico bilateral, ou plurilateral”.

Rodrigues3 define contrato como “uma espécie de negócio jurídico,

de natureza bilateral ou plurilateral, dependendo, para sua formação, do encontro

da vontade das partes”.

Já a conceituação por Diniz4 trata o contrato de forma mais ampla:

[...] contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar o extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial.

1.2 Elementos subjetivos, objetivos e formais da validade dos contratos

Não há um consenso na doutrina nacional, todavia a maior parte dos

autores admite que, no que se refere à validade dos contratos em geral, existem

alguns elementos essenciais, divididos em: subjetivos, objetivos e formais. Os

2 GOMES, Orlando. Contratos. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 4. 3 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: Dos Contratos e das Declarações Unilaterais de Vontade. 28.

ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p 9. 4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 3º volume: teoria das obrigações

contratuais e extracontratuais. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 14.

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elementos subjetivos de validade dos contratos são relativos: ao consentimento

válido ou declaração hábil de vontade das partes, à capacidade das partes e à

legitimação para a prática do ato.

A declaração de vontade é todo comportamento da pessoa, através

do qual ela exterioriza um conteúdo de vontade negocial.

O acordo de vontades, para exprimir a formação bilateral do negócio

jurídico contratual depende do consentimento, que nas lições de Gomes5,

representa “a integração das vontades distintas”.

Diniz,6 esclarece a respeito do consentimento das partes:

Visto que o contrato é originário do acordo de duas ou mais vontades isentas de vícios (erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo, simulação e fraude) sobre a existência e natureza do contrato, o seu objeto e as cláusulas que o compõem. Deve haver coincidência de vontades, porque cada contraente tem determinado interesse e porque o acordo volitivo é a força propulsora do contrato: é ele que cria a relação jurídica que vincula os contraentes sobre determinado objeto.

Segundo Leal,7 nos contratos “a manifestação da vontade leva ao

consentimento, isto é, ao encontro de duas ou mais declarações de vontade”.

Completando este raciocínio, Gomes8 assevera: “Para que o consenso se forme,

proposta e aceitação devem coincidir no conteúdo. Cada qual precisa ser limitada

em relação a outra. Necessita, em síntese, a correspondência entre as duas”.

Estará o contrato formado, quando houver a integração entre a

declaração de vontade do solicitante ou proponente e a declaração de vontade do

aceitante ou oblato.

5 GOMES, Orlando. Contratos. p. 48. 6 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 3º volume. p. 17. 7 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos eletrônicos: validade jurídica dos contratos via

internet. São Paulo: Altlas, 2007. p. 48. 8 GOMES, Orlando. Contratos. p. 49.

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Quanto ao segundo elemento subjetivo, a capacidade das partes,

deve-se lembrar que o contrato, como negócio jurídico bilateral, deve ser

realizado por agente capaz, para ser considerado válido. Agente capaz é o sujeito

apto a praticar sozinho os atos da vida civil.

O Código Civil Brasileiro vigente trata da capacidade civil em seus

primeiros artigos e dispõe de forma expressa no artigo 3º o rol dos que são

absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, são eles:

I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência

mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; e III -

os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

A representação supre a incapacidade absoluta das pessoas

arroladas nos incisos do artigo 3º do Código Civil Brasileiro, podendo, por

exemplo, os filhos menores serem representados pelo pai, mãe ou tutor. A falta

de representação de ato praticado por absolutamente capaz torna o ato nulo, não

sendo possível, nem mesmo, a sua convalidação.

Já o artigo 4º do Código Civil Brasileiro arrola os relativamente

incapazes, que são impedidos de praticar certos atos ou têm restrições quanto à

maneira de praticá-los, são eles:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Quanto aos índios, dispõe o parágrafo único, que a sua capacidade será regulada por legislação especial.

A incapacidade relativa é suprida com a assistência dos pais, do

tutor ou do curador, conforme o caso. Os institutos da representação e da

assistência são diferentes, na representação não há manifestação da vontade do

absolutamente incapaz, já na assistência, a pessoa relativamente incapaz pode

pratica o negócio jurídico, mas sua declaração de vontade só será válida se

presente o assistente.

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Por este motivo, o ato praticado por relativamente incapaz não

assistido é anulável, podendo ser validado pela confirmação do assistente,

diferentemente do instituto da representação, que não admite validação, por ser

nulo.

Com relação à maioridade, dispõe o artigo 5º do Código Civil vigente

que, ao completar 18 anos, a pessoa torna-se capaz, ou seja, apta para praticar

todos os atos da vida civil. Além dos dezoito anos completos, existem outros

meios de adquirir a capacidade genérica, estas formas estão descritas no

parágrafo único do mesmo artigo, são eles:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

A aptidão específica para contratar ou legitimação para a prática do

ato é também um elemento subjetivo de validade, e diferencia-se da capacidade,

pois em alguns casos pode haver capacidade genérica, mas faltar legitimação.

Segundo Diniz:9

a ordem jurídica impõe certas limitações à liberdade de celebrar determinados contratos; p. ex.: o art. 496 do Código Civil proíbe, sob pena de anulabilidade, contrato de compra e venda entre ascendente e descendente, sem que haja consentimento expresso dos demais descendente e do cônjuge do alienante; o art. 497 do Código Civil veda, sob pena de nulidade, a compra e venda entre tutor e tutelado etc. Os contratantes devem ter, portanto, legitimação para efetuar o negócio jurídico;

Gomes10 lembra que a distinção entre capacidade e legitimação tem

origem no Direito Processual, pois “para exercer o direito de ação, não basta ao

9 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 3º volume. p. 18 10 GOMES, Orlando. Contratos. p. 47.

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titular ser capaz. Requer-se ainda que seja parte legítima, isto é, idônea, para

movimentar a relação processual, por ter interesse a ser protegido”.

Além dos elementos subjetivos já vistos, e ainda relacionados à

validade dos contratos, têm-se os elementos objetivos, que por sua vez, dizem

respeito ao objeto do contrato e de sua licitude, possibilidade e determinabilidade.

Por licitude do objeto, entende-se que este último não pode ser

contrário à lei, à moral, aos bons costumes e aos princípios da ordem pública.

Desta forma, contratos que versem, por exemplo, sobre contrabando ou outros

ato criminosos, são ilícitos e nulos.

O reconhecido doutrinador em Direito contratual Rizzardo,11

esclarece, “em primeiro lugar, deve o objeto revelar-se licito como pressuposto

para a validade do contrato. Para ser lícita a operação, é necessário que seja

conforme a moral, a ordem pública e os bons costumes”

O objeto do contrato necessita ainda ser possível, esta possibilidade

se refere ao campo físico e jurídico. Venosa12 usa como exemplo de

impossibilidade física ou material, quando se contrata uma pessoa muda para

cantar, ou seja “a impossibilidade é física quando o contratante não tem as

condições de realiza-la”, já a impossibilidade jurídica dá-se quando a própria

norma impede a realização do ato, como um contrato sobre herança de pessoa

viva.

Com relação aos elementos objetivos de validade, tem-se

necessidade de determinação do objeto, e neste particular, Rizzardo13 esclarece:

O contrato envolverá objeto determinado ou determinável, isto é, que possa ser identificado, localizado, percebido, medido, aferido. Inviável a aquisição de um bem que se confunde com outros, ou se torne impossível a sua descrição e individualização.

11 RIZZARDO, Arnaldo, Contratos. – Rio de Janeiro: Forense, 2005. p.11. 12 VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.

7. ed. – São Paulo: Atlas, 2007. v. 2. p. 408. 13 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. p. 12.

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Nesta linha, a venda de um certo número de hectares de terra, ou de animais, ou de outros bens, sendo impossível chegar a uma definição.

Os elementos formais de validade dizem respeito à forma e à prova

dos atos negociais.

Em que pese nos negócios jurídicos em geral exigir-se forma para

serem realizados, como requisito essencial de validade, nos contratos, segundo o

que dispõe o Código Civil, vigora o princípio da forma livre14.

Acerca da forma livre dos contratos, Diniz ensina que atualmente:

Não há rigorismo de forma, pois a simples declaração volitiva tem o condão de estabelecer o liame obrigacional entre os contraentes, gerando efeitos jurídicos independentemente da forma de que se revista, seja ela oral ou escrita (por meio de instrumento particular ou público), de tal sorte que o elemento formal, na seara contratual, constitui uma exceção nos casos em que a lei exige, para a validade do negócio, a observância de certa forma.

O princípio da forma livre é, segundo as lições de Venosa15, uma

adequação aos tempos atuais, pois “á medida que se expandem as relações

mercantis, seu dinamismo não mais permite prisão à forma”.

Ainda a respeito da forma e da prova dos contratos, Gomes16 aduz:

Embora não exigida para a maioria dos contratos, a forma escrita é preferida. Sua superioridade sobre a forma verbal é manifesta, principalmente no que diz respeito a prova do contrato. Ordinariamente, os contratos celebram-se por instrumento particular. Para valer, é preciso que seja assinado por pessoa que esteja na disposição e administração livre de seus bens, sendo necessário ainda, que seja subscrito por duas testemunhas.

14 GOMES, Orlando. Contratos. p. 53. 15 VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.

7. ed. São Paulo : Atlas, 2007. v. 2. p. 409. 16 GOMES, Orlando. Contratos. p. 53.

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Apesar de existir certa proximidade, forma e prova não se

confundem nos atos jurídicos em geral, a forma “é o envoltório que reveste a

manifestação de vontade”, enquanto que a “prova é o meio de que o interessado

se vale para demonstrar legalmente a existência de um negócio jurídico”.17

Mas a estreita proximidade entre forma e prova existe em razão dos

dispositivos do Código de Processo Civil, por exemplo, caso exigir-se a forma

pública para o contrato, o instrumento público será o único meio de prova, mas se

tratar-se de negócio jurídico não-formal, qualquer meio de prova será permitido

pela ordem jurídica, desde que não seja por ela proibido ou restringido, segundo o

que ensina Diniz.18

1.3 Princípios fundamentais do direito contratual

Os negócios jurídicos, assim como os contratos, sofreram

significativas mudanças em sua forma e finalidade ao longo da história da

humanidade, assim como o direito contratual.

De acordo com o que ensina Leal,19 no panorama contratual dos

séculos XVIII e XIX, o dogma da vontade desfrutava de posição inviolável,

considerando-se válido e, portanto, justo o contrato em que a vontade das partes

fosse manifestada de forma consciente, livre de vícios. Imperava a máxima: “o

contrato faz lei entre as partes”, em razão da forte influência do Estado liberal.

Hoje, dada a importância do contrato na sociedade brasileira, e a

proliferação dos contratos de massa e dos contratos de adesão, bem como a

grande ocorrência de abusos cometidos, tornou-se imprescindível a intervenção

do Estado para garantir a tão desejada justiça social.

17 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. V. 2. p. 410. 18 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 3º volume. p. 21. 19 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 57

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20

1.3.1 Princípio da autonomia da vontade

O princípio da autonomia da vontade tem fundamento na liberdade

contratual dos contratantes e consiste no poder de estipular livremente, mediante

acordo de vontades.

A respeito da liberdade contratual, as lições de Venosa20 assim

descrevem:

Essa liberdade de contratar pode ser vista sob dois aspectos. Pelo prisma da liberdade propriamente dita de contratar o não, estabelecendo-se o conteúdo do contrato, ou pelo prisma da escolha da modalidade do contrato. A liberdade contratual permite que as partes se valham dos modelos contratuais constantes do ordenamento jurídico (contratos típicos), ou criem uma modalidade de contrato de acordo com suas necessidades (contratos atípicos).

A liberdade contratual nunca foi ilimitada, mas como já dito,

atualmente as limitações impostas pelo Estado são mais evidentes. Venosa

adverte que “na contemporaneidade, a autonomia da vontade clássica é

substituída pela autonomia privada, sob a égide do interesse social. Nesse

sentido o Código Civil de 2002 aponta para a liberdade de contratar, sob o freio

da função social”.21

No sentido de conter os excessos do individualismo e impor limites à

autonomia da vontade, o Código Civil vigente, no artigo 421, estabelece que “A

liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do

contrato”.

20 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. V. 2. p. 343. 21 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. V. 2. p. 349.

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21

Diniz22 sintetiza de forma moderna e atualizada, dizendo: “o principio

da autonomia privada é o poder conferido aos contratantes de estabelecer vínculo

obrigacional, desde que se submetam às normas jurídicas e seus fins não

contrariem o interesse geral, de tal sorte que a ordem pública e os bons costumes

constituem limites à liberdade contratual”.

Como se vê, o princípio da autonomia da vontade na atualidade não

é mais absoluto e está sujeito a outros princípios, como ao da função social do

contrato, e ainda, ao princípio constitucional da função social da propriedade,

norteador da ordem econômica. E, segundo Venosa,23 as limitações impostas a

liberdade de contratar têm como objetivo maior, resguardar o equilíbrio

econômico-contratual e facilitar o reajuste das prestações, que por ventura sejam

declaradas desproporcionais, mediante provocação da parte interessada.

1.3.2 Princípio da função social do contrato

Essa questão já foi citada no item anterior, pois, como se destacou,

a autonomia de vontade sofre limitações em razão do princípio da função social

do contrato.

O artigo 421 do Código Civil, que determina que o contrato deve

cumprir uma função social, indica uma norma aberta ou genérica, a ser

preenchida pelo julgador no caso concreto. Assim, conforme as lições de

Venosa:24

Cabe ao interessado apontar e ao juiz decidir sobre a adequação social de um contrato ou de uma ou algumas de suas cláusulas. Em determinado momento histórico do País, por exemplo, pode não atender ao interesse social o contrato de leasing de veículos a pessoas naturais, como já ocorreu no passado. Eis uma das importantes razões pelas quais se exigem uma sentença afinada

22 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 3º volume. p. 27. 23 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. V. 2. p. 344. 24 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. V. 2. p. 349.

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22

com o momento histórico e um juiz antenado perante os fatos sociais e com os princípios interpretativos constitucionais.

Por serem amplos e imprecisos os conceitos de função social do

contrato, esta será sempre avaliada na forma concreta, mas com muita cautela,

de modo que não coloque em risco a segurança jurídica.

1.3.3 Princípio da boa-fé contratual

O princípio da boa-fé não está apenas relacionado à interpretação

do contrato, mas com todo o Direito Civil. O Código Civil de 1916 previa de forma

expressa apenas a boa-fé subjetiva, que se resumia a convicção de se guardar

um comportamento de acordo com o direito, como resultado da intenção de não

prejudicar ou da ignorância de vícios.

Já o artigo 422 do Código Civil vigente traz de forma expressa “Os

contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em

sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”

Segundo Diniz,25 a boa-fé contratual descrita no artigo 422 do

Código Civil de 2002 se refere à boa-fé objetiva, “consistindo no dever das partes

de agir com lealdade, honestidade, honradez, probidade, confiança recíprocas”,

além de “esclarecer os fatos e os conteúdos das cláusulas, procurar o equilíbrio

nas prestações, respeitando o outro contratante, não traindo a confiança

depositada, procurando cooperar, etc.”

Venosa26 esclarece que o artigo 422 do Código Civil é uma norma

genérica, “cujo conteúdo é dirigido ao juiz, para que este tenha um sentido

norteador no trabalho de hermenêutica”.

25 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 3º volume. p. 34. 26 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. v. 2. p. 347.

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1.3.4 Princípio do equilíbrio contratual

O pacta sunt servanda, ou princípio da força obrigatória dos

contratos, pelo qual o contrato é tido como lei entre as partes, não é mais

absoluto. Na atualidade, o princípio do equilíbrio contratual, previsto de forma

explícita em alguns artigos do Código Civil, fez com que o antigo princípio não

possa mais ser tomado de forma peremptória.

O princípio do equilíbrio das prestações está contemplado no

Código Civil vigente, por exemplo, nos seguintes artigos:

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. [...] Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato. Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. [...] Art. 620. Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão-de-obra superior a um décimo do preço global convencionado, poderá este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se lhe assegure a diferença apurada.

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24

Com se vê, o legislador atual demonstra grande preocupação com o

equilíbrio contratual, autorizando o juiz, mediante provocação da parte, a corrigir e

adequar prestações excessivamente onerosas ou desproporcionais.

Acerca da aplicação destes modernos princípios, Leal27 arremata:

O novo paradigma de segurança das relações contratuais é justamente o de saber que a aplicação dos princípios da função social do contrato, da boa-fé objetiva e do equilíbrio das prestações contratuais, independentemente da categoria jurídica estar ou não disciplinada em lei, garantirá a correção dos excessos, a desconsideração das cláusulas abusivas e o equilíbrio do contrato com vistas à realização da justiça contratual.

Segundo Rizzardo28, “o direito tende a uma constante socialização

de suas normas. Os estipulantes assumem cada vez mais uma posição de

igualdade legal, o que importa, com freqüência, na intervenção do Estado para

refrear a excessiva autonomia de vontade”.

Fica evidente, nas normas editadas nos últimos anos, a intenção do

legislador em autorizar o judiciário a intervir nas relações contratuais, quando

provocado, para restaurar o equilíbrio, garantindo assim, a necessária justiça

contratual.

1.4 Proteção contratual no Código de Proteção e Defesa do Consumidor

Com a intenção de atenuar as disparidades que ocorrem em função

do desequilíbrio social, foi aprovado o Código de Defesas do Consumidor, Lei

8.078/90, marcado pela concretização da interferência do Estado nas relações

contratuais de consumo. Suas normas, com forte influência dos princípios

27 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 68. 28 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. p. 33.

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25

constitucionais da atividade econômica, são de natureza cogente, de ordem

pública e de interesse social.29

As partes não podem renunciar ou afastar a aplicação das normas

ditadas pelo Código de Defesa do Consumidor, porque elas extrapolam o

interesse individual dos envolvidos na relação jurídica e alcançam toda a

coletividade, no intuito de garantir o equilíbrio das relações de consumo.

Marques30 ressalta que o Código de Defesa do Consumidor dispõe

sobre a proteção contratual em dois momentos distintos: na fase pré-contratual e

durante a execução do contrato:

O método escolhido pelo Código de Defesa do Consumidor para harmonizar ou dar maior transparência às relações de consumo tem dois momentos. No primeiro, cria o Código novos direitos para os consumidores e novos deveres para os fornecedores de bens, visando a assegurar a sua proteção na fase pré-contratual e no momento da formação do vinculo. No segundo momento, cria o Código normas proibindo expressamente as cláusulas abusivas nestes contratos, assegurando, assim, uma proteção a posteriori do consumidor, através de um efetivo controle judicial do conteúdo do contrato de consumo.

Como se vê, o Código de Defesa do Consumidor protege a parte

mais fraca da relação de consumo, não só na fase da oferta e da publicidade, e

pré-contratual, mas também dá cobertura ao momento que se segue a vigência

do contrato.

1.4.1 Força vinculante da oferta e da publicidade

Segundo Gomes,31 oferta ou proposta “é a firme declaração

receptícia de vontade dirigida à pessoa com a qual pretende alguém celebrar um

contrato, ou ao público”, é ainda, a fase que dá início à formação do contrato.

29 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. 5. ed. São Paulo : RT, 2005. p. 281-282. 30 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. p. 289. 31 GOMES, Orlando. Contratos. p. 62.

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Nas relações de consumo, a oferta é vinculatória e irretratável,

obrigando o fornecedor a cumprir o seu conteúdo para não frustrar a expectativa

do consumidor de vir a concluir o negócio. Venosa32 complementa:

Com a simples oferta ao público o fornecedor vincula-se aos termos da proposta [...]. Isso ocorre independentemente da presença do consumidor no estabelecimento comercial. Desde a proposta, e enquanto ela tiver validade, o fornecedor deve garantir suas condições: não pode revogar a proposta nem alterar o preço. Existe aqui, sem dúvida, evolução de posição com relação às teorias expostas no passado. Deve o fornecedor atender aos adquirentes no limite do estoque anunciado, sob pena de responsabilidade.

Esta responsabilidade, a qual se refere o doutrinador, está prevista

no artigo 35 do Código de Defesa do Consumidor, que, caso o fornecedor se

recuse ao cumprimento da oferta, autoriza o consumidor:

I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

Mais uma vez, pode perceber-se a grande preocupação do

legislador, em proteger o consumidor contra a propaganda enganosa e outras

práticas repudiadas nas relações de consumo.

1.4.2 Consentimento informado

No âmbito do direito do consumidor, uma importante conquista dos

consumidores é o direito a informação. O Código de Defesa do Consumidor

possui diversos artigos que garantem aos consumidores o direito à informação,

quanto aos riscos e características dos produtos.

32 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. V. 2. p. 482-483.

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A informação ao consumidor abrange dois momentos importantes: o

pré-contratual e o contratual, ou seja, o dever à informação não está apenas

vinculado à fase da publicidade, a informação prestada pelo fornecedor é também

obrigatória na fase contratual.33

Não basta tão somente dar conhecimento dos termos do contrato ao

consumidor, mas o fornecedor tem a obrigação de explicar detalhadamente o que

prevê o contrato, em especial as cláusulas restritivas de direitos, cláusulas estas

que o Código determina, sejam redigidas em destaque. Desta forma, para que a

relação de consumo seja considerada válida, segundo Leal:34

[...] não basta declaração de vontade livre de vícios, uma vez que o contrato só obriga os contratantes se for assegurado ao consumidor conhecimento prévio e esclarecido do seu conteúdo. A necessidade do consentimento informado ganha especial destaque diante da proliferação dos chamados contratos de adesão, nos quais as cláusulas contratuais são pré-redigidas unilateralmente pelo fornecedor, sem qualquer participação do consumidor, quanto ao estabelecimento do conteúdo do contrato e das condições de seu cumprimento. Tais cláusulas, não raro, são de difícil compreensão para o consumidor, justificando perfeitamente a inclusão deste dispositivo no Código de Defesa do Consumidor.

Em razão da hipossuficiência presumida do consumidor nas

relações de consumo, é imprescindível que o fornecedor de bens ou serviços não

só dê conhecimento do contrato ao consumidor, como ainda, esclarece e explique

detalhadamente as disposições contidas nos contratos, para que a avença tenha

plena validade.

33 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. Curitiba: Juruá, 2007. p.

106. 34 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 72.

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1.4.3 Interpretação favorável ao consumidor

O artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor enumera alguns

princípios do direito do consumidor, ao tratar da Política nacional das relações de

consumo, entre estes princípios, prevê no inciso I a vulnerabilidade do

consumidor.

Em respeito a este princípio, o Código estabelece no artigo 47 que

“As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao

consumidor”.

Esta estipulação é muito importante, não só porque o consumidor é

evidentemente a parte mais fraca na relação de consumo, mas também, em razão

da freqüente aplicação dos contratos de adesão nas relações, nas quais não é

possível discutir ou alterar as cláusulas pré-estabelecidas.

Assim, a interpretação dos contratos à luz do Direito do Consumidor

adota, ainda, o princípio da Conservação, segundo o qual as cláusulas válidas

devem ser interpretadas de modo a que tenham aplicação, delas se extraindo o

máximo de utilidade.

1.4.4 Onerosidade excessiva

O Direito do Consumidor ainda oferece proteção aos consumidores

que por ventura se sujeitem à onerosidade excessiva. O artigo 6º, inciso V, do

Código, possibilita a modificação das cláusulas que estabeleçam prestações

desproporcionais e a revisão dos contratos por onerosidade excessiva.

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Diferentemente do que ocorre no Direito Civil, no Direito do

Consumidor se dispensa a Teoria da Imprevisão35, para autorizar a revisão das

cláusulas contratuais, conforme explica Leal36, o disposto no artigo 6º, inciso V do

Código de Defesa do Consumidor:

[...] não exige, como ocorre com a Teoria da Imprevisão do Direito Civil (fundada na cláusula rebus sic statibus), a imprevisibilidade do evento ao tempo da avença, nem tampouco a sua irresistibilidade, bastando a quebra do equilíbrio das prestações contratuais que autoriza a revisão na busca do restabelecimento das prestações conforme inicialmente estabelecido, ou seja, o restabelecimento da comutatividade contratual.

Basta que esteja presente a vantagem manifestamente excessiva,

para que se declare a nulidade, conforme disposto no artigo 51 do Código de

Defesa do Consumidor:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

O parágrafo primeiro do mesmo artigo trata de conceituar vantagem

exagerada:

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

35 Código Civil Brasileiro de 2002: “Artigo 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida,

se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.”

36 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 74.

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Como se percebe, o dispositivo legal enumerou, de forma

exemplificativa, algumas situações em que há onerosidade excessiva, mas

deixando aberta a norma, ao fazer constar expressamente o termo “entre outros

casos”.

1.4.5 Nulidade contratual

O Código de Defesa do Consumidor adota o princípio da

conservação, ao lidar com a nulidade nos contratos, desconsiderando as

cláusulas que atentam aos interesses dos consumidores e mantendo vigentes as

demais. Este sistema é adotado, pois a desconsideração total do contrato não

serviria como remédio adequado à tutela do consumidor, o qual acabaria sendo

privado dos bens ou serviços que por meio do contrato havia procurado e

necessitava alcançar, conforme dispõe o artigo 51, § 2º:

§ 2º A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

A declaração de nulidade no direito do consumidor dependerá da

iniciativa do consumidor ou da entidade, que eventualmente o represente.

Cabe lembrar que a harmonia, a transparência nas relações de

consumo e o equilíbrio entre os contratantes, assim como a desconsideração das

cláusulas abusivas são conseqüências da aplicação do Princípio da Boa-fé,

expresso nos artigos 4º, inciso III, e 54, inciso IV, do Código de Defesa do

Consumidor.

Feita a breve revista aos princípios gerais da teoria dos contratos e

os fundamentos do direito do consumidor aplicáveis aos contratos, no próximo

capítulo se fará uma análise acerca da Internet e seus reflexos sobre o comércio

eletrônico.

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2 CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DA INTERNET E O COMÉRCIO ELETRÔNICO

2.1 Breve histórico sobre a Internet e o comércio eletrônico

A origem da Internet remonta aos anos 60, no auge da Guerra Fria,

época em que os militares americanos, receando sofrer um ataque nuclear que

pudesse obstruir ou interromper suas comunicações e o tráfego de sinais

eletrônicos, criaram um sistema descentralizado que permitiu a comunicação e a

interação de vários computadores ao mesmo tempo.

Este projeto foi denominado ARPANET37 e a rede, ativada em 1969

com fins militares, conectava apenas quatro Universidades para pesquisas com

este fim. O aumento das comunicações entre os cientistas, tanto para fins

científicos quanto para fins pessoais, acabou provocando a abertura para mais

Universidades.38

Na década de 80, a National Science Foundation expandiu os

métodos de comunicação da ARPANET, integrando à ‘rede das redes’, além de

várias Universidades, agências governamentais e institutos de pesquisa, mas

ainda restrito ao território dos Estados Unidos da América.

A rede que se conhece atualmente é composta pela interligação

internacional de várias redes, a International Net39 (Internet), teve início em 1983,

quando foi estabelecido o protocolo TCP/IP. Este protocolo padrão permite a

conexão de todos os usuários em abrangência mundial.40

37 Advanced Research Projects Agency (ARPA) – Agência de Projetos de Pesquisa Avançada, do

Departamento de Defesa dos EUA. 38 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 57. 39 Em português: Rede Internacional 40 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumior. Barueri, SP: Manole, 2004. p. 11.

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Mas, observa-se com Martins41 que a saída da rede dos restritos

círculos acadêmicos se deu apenas em 1989, com a criação de um protótipo da

World Wide Web42 (WWW):

[...] pelo cientista Tim Berners-Lee e sua equipe, junto ao CERN (European Particle Physics Laboratory), em Genebra, objetivando encontrar um método mais simples e fácil de dividir informações entre os pesquisadores, chegando-se então ao padrão HTML, consistente no armazenamento de informações, de modo que os dados em várias formas (texto, imagem, som ou vídeo) fossem visualizados em um único arquivo conjuntamente, sob os padrões de hipertexto.

Nos dizeres de Correa,43 a World Wide Web é:

Uma convergência de concepções relativas à Grande Rede, a utilização de um padrão universal, um protocolo, que permite ao acesso de qualquer computador ligado à rede ao hipertexto, procurando relacionar toda a informação despesa nela.

Após a criação da World Wide Web, surgiram os navegadores ou

browsers, ou seja, programas de computador utilizados para se ter acesso a

Internet, por exemplo, Internet Explorer, Netscape, etc. Com a invenção destes

programas, em apenas um ano, o tráfego de comunicações na rede elevou-se de

forma muito significativa.44

No Brasil, a Internet deu seus primeiros passos em 1988, com a

iniciativa de Oscar Sala, professor da Universidade de São Paulo (USP) e

conselheiro da Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado da São Paulo

(Fapesp).

Em 1992, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

(Ibase) firmou convênio com a Associação para o Progresso das Comunicações

41 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 34. 42 Em português: Teia de Alcance Mundial 43 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p.

11. 44 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. p. 13.

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(APC) liberando o uso da Internet para Organizações Não Governamentais

(ONGs). No mesmo ano, o Ministério da Ciência e Tecnologia inaugurou a Rede

Nacional de Pesquisa (RNP) e organizou o acesso à rede por meio de um

backbone45, operado pela Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel).46

Até então, o acesso a Internet no Brasil se limitava a órgãos

governamentais, universidades e ONGs, mas, a partir de 1995, surgiram os

provedores de aceso à Internet, popularizando a rede e intensificando a sua

utilização para fins pessoais e comerciais.

Ainda em 1995, com o objetivo de efetivar a participação da

sociedade nas decisões sobre a implantação, administração e uso da Internet, o

Ministério das Comunicações e o Ministério da Ciência e Tecnologia, em nota

conjunta, constituíram um comitê gestor, com a participação de entidades

operadoras e gestoras de backbones, de representantes de provedores de

acesso ou de informações, de representantes dos usuários e da comunidade

acadêmica.47

O comitê gestor da Internet no Brasil, atualmente, tem como

principais atribuições: a) fomentar o desenvolvimento de serviços ligados à

Internet no Brasil; b) recomendar padrões e procedimentos técnicos e

operacionais para a Internet no país; c) coordenar a atribuição de endereços na

Internet, o registro de nomes e domínios e a interconexão de backbones; d)

coletar, organizar e disseminar informações sobre serviços ligados à Internet.

No início da Internet no país, os serviços oferecidos pelos

provedores de acesso à Internet, eram obrigatoriamente pagos, todavia,

atualmente existem alguns serviços de acesso gratuito, fato que, na visão de

45 Estrutura física de internet tipo espinha dorsal com capacidade para manipular grandes volumes

de informação mediante roteadores de tráfego interligados por circuitos de alta velocidade. 46 Anos 90: o desenvolvimento da internet no Brasil. Tecnologia – Internet 10 anos, Redação

Terra, disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/internet10anos/interna/0,,OI541825-EI5026,00.html> Acesso em 16 fev. 2008.

47 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. p. 17.

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Andrade,48 “contribuiu sensivelmente para a ampliação do número de pessoas e

de computadores interligados à Internet, tornando o computador um meio de

comunicação tão essencial quanto o telefone [...]”.

No que tange ao comércio eletrônico, ou contratação eletrônica,

tem-se que as primeiras formas surgiram nos anos 80 e eram baseadas no

Electronic Data Interchange (EDI), que segundo Martins,49 consiste:

[...] na realização de transações, mormente comerciais, de forma automatizada, através da troca de ordens normalizadas de compra e venda e pagamento de computador a computador, dentro de comunidades setoriais e geralmente através de redes fechadas, tais quais a VAN (Value-Added Networks), cujo uso, previamente pago, é proporcionado pelos correspondentes provedores de serviços.

Ou seja, duas empresas formalizam um contrato prévio, que

permitia a troca de ordens comercias entre elas através de computadores

programados para este fim, automatizando seus sistemas de fornecimento e

vendas.

Com a popularização da Internet os contratos eletrônicos deixaram

de ser apenas firmados através das redes fechadas e passaram a ser firmados

em ambiente virtual através das várias formas de comunicação possíveis na

Internet.

Na visão de Andrade:50

O barateamento do custo dos computadores e a expansão da internet, que se tornou acessível a milhões de pessoas, são fatos que não passaram despercebidos pelo empresário, que, lançando maio de sua aguçada intuição para colocar seu produto ou serviço no mercado de consumo de forma a aumentar seu lucro, viu na internet um forte veículo para exercer sua atividade empresarial a um custo mais baixo que o do sistema tradicional,

48 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato Eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumior. p. 13. 49 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. p. 35 50 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumior. p. 14.

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uma vez que poderia utilizar a grande rede de computadores para fazer negócios sem a necessidade de aumentar sua estrutura física e, principalmente, seu custo operacional. No inicio, a rede interessou somente a pequenos empresários, passando eles a usar este poderoso instrumento de comunicação que, pouco a pouco, avolumou-se e passou a chamar a atenção dos grandes conglomerados econômicos.

Atualmente, o comércio tem sido a atividade mais atrativa e visada

do ciberespaço, segundo Canut:51

O comercio eletrônico, por possibilitar que ofertas, informações e até produtos (digitais) estejam disponíveis em qualquer parte do globo, instantaneamente, vinte e quatro horas por dia, durante todos os dias do ano, tem crescido de forma rápida e avassaladora.

Além do comércio de mercadorias tangíveis através da Internet,

merece atenção uma nova forma de transação, a de bens intangíveis. É certo de

que não há maiores problemas na aplicação da analogia e da jurisprudência aos

contratos eletrônicos que dispõem sobre a compra e venda de livros, CDs e até

automóveis. Todavia, o maior desafio dos operadores do Direito está na resolução

de conflitos e definição do regime tributário, quando o objeto da transação é um

bem intangível, tais como: bancos de dados, livros virtuais ou programas de

computador, que são transferidos de computador para computador, em forma

muito diversa, do comércio tradicional.

Em razão do surgimento desta nova modalidade de comércio,

Correa52 afirma ser necessária:

[...] a criação de uma nova lei comercial objetivando a modificação, transferência e distribuição de softwares, produtos multimídia interativos, bens materiais, dados e base de dados de computadores, através da internet ou outro meio semelhante contribuindo para a facilitação da realização do comercio eletrônico, em todo o seu potencial, e para a uniformização legal brasileira.

51 CANUT, Letícia. Proteção do Consumidor no comércio eletrônico. p. 133. 52 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. p. 41.

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Este novo modelo de contratação fornece, diante de suas diversas

novidades, vantagens tanto para o consumidor quanto para o fornecedor.

Estas vantagens levaram ao grande aumento dos negócios feitos

através da Internet. No Brasil, segundo dados da Câmara Brasileira de Comércio

Eletrônico, as vendas, pela internet, de CDs, DVDs, livros e outros bens de

consumo, somadas à aquisição de automóveis e serviços ligados ao turismo,

alcançaram 4,4 bilhões de reais, somente no primeiro semestre de 2007.53

2.2 Conceito e funcionamento da Internet

A Internet tem características marcantes, entre elas: a estrutura

aberta, que impede que ela tenha um dono; o caráter transfronteiriço, que permite

a integração entre vários usuários de distintos países; o caráter ‘universal’ que

viabiliza seu uso geral e assim, uma multiplicidade de operadores; e, por fim, a

interatividade, permitindo a comunicação em tempo real, em mão-dupla e entre

todos os usuários conectados.54

A partir destas características, pode-se formular o conceito de

Internet, que nas palavras de Correa55 significa:

[...] um sistema global de rede de computadores que possibilita a comunicação e a transferência de arquivos de uma máquina a qualquer outra máquina conectada a rede, possibilitando, assim, um intercâmbio de informações sem precedentes na história, de maneira rápida, eficiente e sem limitação de fronteiras, culminando na criação de novos mecanismos de relacionamento.

Peck56, ao tempo que conceitua Internet, faz uma breve análise do

funcionamento da rede:

53 Estudo da E-Consulting e da Câmara-e.net aponta um crescimento de 57% no faturamento do

comércio eletrônico. Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico: disponível em: <http://www.camara-e.net/interna.asp?tipo=1&valor=4114> Acesso em: 16 fev. 2008.

54 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 58. 55 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. p. 8.

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A internet consiste na interligação de milhares de redes de computadores do mundo inteiro, através de protocolos (IP – abreviação de Internet Protocol). Ou seja, essa interligação é possível porque utiliza um mesmo padrão de transmissão de dados. A ligação física é feita por meio de linhas telefônicas, fibra óptica, satélite ou rádio. A conexão do computador com a rede pode ser direta ou por outro computador, conhecido como servidor. Esse servidor pode ser próprio ou, no caso dos provedores de acesso, de terceiros.

A Internet é uma rede complexa, formada por subredes, servidores e

provedores, a esse respeito, a mesma autora57 esclarece:

Os servidores e provedores de acesso utilizam a estrutura do serviço de telecomunicação existente, para viabilizar o acesso, o armazenamento, a movimentação e a recuperação de informações do usuário à rede. O endereço IP é dado ao computador que se conecta à rede, e os subendereços são dados aos computadores conectados com os provedores. A tradução dos endereços IP, numéricos, para os seus correspondentes em palavras é feita pelo protocolo DNS (Domain Name System). As terminações do endereço são feitas de acordo com os TLDs (Top Level Domains), o primeiro grupo de caracteres após o último ponto de nome de domínio propriamente dito. Exemplos são o ‘.com’, ‘.gov’, ‘.net’, ‘.org’, ‘.tv’. Outros TLDs indicam o país de origem do usuário. Os registros são feitos em órgãos especializados. No caso brasileiro, a responsável pelos registros é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através do website www.registro.br.

Essa interligação física, uniformizadora do sistema de transmissão

de dados, permitiu que a Internet fosse colocada à disposição de vários usuários,

bastando conectarem-se à rede.

O avanço da Internet tem modificado o cotidiano das pessoas,

influenciado no comportamento, e revolucionado o meio comercial. Correa58

afirma que:

[...] a internet é importante, porque muda nossas vidas, disponibilizando uma vasta gama de ‘comunicações eletrônicas bidirecionais’, expandindo a interatividade entre homem e máquina. Na medida em que a quantidade de usuários da

56 PECK, Patrícia. Direito Digital. – São Paulo: Saraiva, 2002. p. 14. 57 PECK, Patrícia. Direito Digital. p. 14. 58 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. p. 9.

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internet cresce, um grande número de companhias explorará os potenciais de propaganda, publicidade de venda de mercadorias através da Rede, sendo assim, responsáveis pela identificação das necessidades desses usuários e, também, pela mudança da concepção de comércio, fazendo do ciberespaço um ambiente mais confiável e seguro.

A forma de conexão mais comum, atualmente, é realizada através

de provedores de acesso. Peck59 resume, em poucas palavras, o que é um

provedor de acesso:

É uma empresa prestadora de serviços de conexão à internet e de serviços de valor adicionado como hospedagem, que detém ou utiliza uma determinada tecnologia, linhas de telefone e troncos de telecomunicação próprios ou de terceiros.

Estes provedores, além de conectarem o usuário à rede,

disponibilizam os serviços de: correio eletrônico (e-mail); comunicação

instantânea ou bate-papo (chat); hospedagem de páginas da Internet (home

pages); transferência de arquivos diversos (download). Estas diversas formas de

comunicação serão tratadas nos próximos itens.

2.3 Sistemas de comunicação na Internet

Vive-se, atualmente, na era da tecnologia da informação. O

fenômeno da Internet, em um curto espaço de tempo, originou uma série de

alterações sociais que contribuíram em muito para o avanço da globalização e a

formação desta nova cultura.

A Internet possibilita, aos seus usuários, o acesso a uma enorme

quantidade de informação. E essa informação é trazida quase em tempo real.

Atualmente, por exemplo, o mundo todo tem acesso a notícias em apenas um

instante após a ocorrência dos fatos. Estas notícias, graças ao hipertexto, podem

conter, além de texto, sons e imagens. 59 PECK, Patrícia. Direito Digital. p. 52

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Mas não só notícias estão disponíveis na rede mundial, uma

infinidade de dados está disponível na Internet, para a consulta e a interação dos

seus usuários.

A Internet revolucionou, ainda, a comunicação, entregando aos

usuários, diversas formas de interação, entre elas: o correio eletrônico, as listas

de correio eletrônico, os chats, etc.

Nos próximos itens, far-se-á uma breve análise dos meios mais

comuns de interação na Internet.

2.3.1 Correio eletrônico ou e-mail

O correio eletrônico é uma importante ferramenta da Internet que

possibilita o envio e o recebimento de mensagens. Estas mensagens percorrem

diversos caminhos até chegarem a um ou a vários destinatários. Atualmente,

além de textos, todos os tipos de arquivos de computador podem ser enviados,

através do anexo do e-mail.

Martins60 conceitua o correio eletrônico, asseverando: “consiste o e-

mail num arquivo de texto contendo signos alfabéticos divididos em duas partes: a

primeira refere-se à identificação do destinatário e do emitente, e a segunda diz

respeito à mensagem em si.”

Para a troca de mensagens pelo correio eletrônico, não é necessário

que os usuários estejam simultaneamente conectados. A mensagem, ao sair do

computador do autor, segue até o servidor de e-mails deste, e de lá é

encaminhada para o servidor do destinatário, no qual ficará armazenada até que

60 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. p. 41.

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o destinatário se conecte à rede, e faça o download da mensagem para o seu

computador.

Apesar de muito semelhante ao correio convencional, existem

diferenças importantes. Entre eles, no correio virtual, as mensagens não

encriptadas61 podem ser acessadas pelos ordenadores intermediários que as

transmitem, não se revestindo do sigilo das cartas envidadas pelos correios, as

quais chegam fechadas ao destinatário.

No entendimento de Peck62, em razão da falta de sigilo do correio

eletrônico, não se pode simplesmente aplicar a legislação sobre sigilo de

correspondência e a sua proteção constitucional.

É importante ainda destacar a diferença entre o e-mail pessoal e o

corporativo. Enquanto o primeiro é criado e utilizado exclusivamente pelo usuário

com finalidades pessoais, este último é criado e mantido pela empresa, e posto à

disposição de seus funcionários para fins profissionais. No caso do e-mail

corporativo, a empresa deve cientificar o usuário, de forma inequívoca, quanto à

forma e os limites de sua utilização, e ainda, se o conteúdo será ou não

monitorado pela empresa.

Além disso, Martins63 alerta para a falta de certeza da entrega da

mensagem enviada por correio eletrônico, afirmando:

Evidentemente, não se trata de um meio de comunicação instantâneo e totalmente confiável, não podendo o emitente se certificar a cerca de quando e se o destinatário recebe ou lê a mensagem, ainda que, devido a tal problema, alguns sistemas permitem que o emitente solicite um aviso de recebimento do destinatário, no momento em que este tenha em seu poder e disposição o e-mail. Porem, tal recibo é normalmente enviado sob forma de outro e-mail.

61 Escritas em código, que permitem apenas a leitura dos que possuem a chave para

decodificação. 62 PECK, Patrícia. Direito Digital. p. 68. 63 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. p. 42.

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Cabe ainda ressaltar que a solicitação de aviso de recebimento,

pode ainda ser negada, pelo destinatário do e-mail, ficando o emitente, se a

esperada confirmação.

Mesmo com todas estas restrições, o correio eletrônico significa um

grande avanço e constitui-se de uma importante ferramenta de comunicação

pessoal e empresarial.

2.3.2 Lista de correio eletrônico

Derivadas do correio eletrônico, as listas de correio, nas palavras de

Leal,64 são serviços que:

[...] permitem a um grupo de pessoas com interesses comuns comunicar-se entre si. Qualquer dos inscritos pode enviar mensagens pelo correio eletrônico relativas à matéria própria da listas, diretamente, ou através de moderador, que controla a lista, distribuindo as respostas a todos os subscritores.

Por exemplo, um usuário da rede cria uma lista de correio, também

conhecida por lista de discussão, voltada a assuntos relacionados a um

determinado assunto, outras pessoas interessadas, aderem à lista, cadastrando

seus endereços de correio eletrônico. De forma que, cada mensagem enviada por

um integrante da lista, de forma automatizada, será encaminhada aos endereços

dos demais integrantes da lista, assim como suas respostas.

Em alguns grupos, pode haver um moderador, que pode exercer

certo controle, permitindo ou bloqueando a circulação de algumas mensagens.

64 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 19.

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2.3.3 Comunicação em tempo real ou chat

Outro recurso disponível na Internet é o de diálogo em tempo real,

no qual podem estar duas ou mais pessoas conectadas à rede. Entre os mais

utilizados, destaca-se o programa Internet Relay Chat (IRC), que funciona da

seguinte forma: um usuário digita suas mensagens, que são lidas, quase que ao

mesmo tempo, pelos demais usuários que naquele momento estão conectados na

mesma sala de ‘bate-papo’.

Martins65 define o funcionamento do IRC como sendo:

Programa afeto a um servidor, permitindo um diálogo simultâneo entre vários usuários ligados a outros servidores do mesmo tipo, a partir da troca de mensagens digitadas pelos integrantes, que podem ser dirigidas a todos os que se encontram num dada canal ou sala de conversação.

Estas conversas diferem das conversas telefônicas, pois não

ocorrem de forma oral, mas sim digitadas por usuários, e do outro lado, lidas na

tela pelos demais.

As trocas de mensagens em tempo real, geralmente ocorrem em

salas, que podem ser livremente criadas por qualquer usuário, e são, na grande

maioria, temáticas, dividindo-se os interessados por assuntos. O emitente da

mensagem, pode ainda, encaminhar sua mensagem de forma privada, de forma

que a respectiva mensagem seja lida apenas por um dos usuários presentes na

sala virtual.

Alguns sistemas diferem, e as conversas não ocorrem em “salas

abertas ao público”, mas somente entre pessoas previamente autorizadas, como

é o caso dos programas Icq e Messenger.

65 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. p. 44.

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Algumas empresas têm adotado o chat66 como um dos canais de

comunicação oferecidos ao atendimento de seus consumidores.

2.3.4 Obtenção remota de informações

A Internet é, também, um importante meio de acesso e obtenção de

informações, para isso, existem basicamente três métodos para localizá-las ou

obtê-las:

Primeiro, o File Transfer Protocol (FTP), ou Protocolo de

Transferência de Arquivo. Este método lista os arquivos disponíveis em um

determinado computador e permite a transferência de um ou vários desses

arquivos ao computador do usuário.

Segundo, o Gopher, que se utiliza de um programa informativo que

guia as buscas através dos recursos disponíveis de um ordenador remoto.

E o terceiro, e mais popular, World Wide Web (WWW), é o sistema

utilizado em larga escala, sendo responsável pela maioria das contratações

eletrônicas interativas e interpessoais realizadas na rede.

A WWW utiliza um protocolo com padrão universal, que permite

acesso a qualquer computador ligado à rede a um sistema de hipertexto.

Segundo Correa67, esse protocolo de transferência de hipertexto, conhecido como

http, desenvolve-se em quatro fases, a saber:

66 Em português: conversa, bate-papo. 67 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. p. 14.

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a) conexão: nesta fase, o navegador68 tenta relacionar-se com o

servidor endereçado;

b) requerimento: o navegador define o protocolo, determinando o

tipo de servidor selecionado;

c) resposta: equivale ao momento no qual se efetiva a troca de

informações entre o navegador e o servidor;

d) fechamento: fase em que é fechada a conexão com o servidor.

O hipertexto, presente nas páginas da WWW, tornou a Internet mais

interativa, permitindo a criação de páginas em três dimensões, mostrando

imagens, sons, animação ou vídeo, mas ainda de forma limitada.

O nível de interação da Internet aumenta, na medida em que outros

programas vêm se adequando à rede, por exemplo, o desenvolvimento das

tecnologias Shockwave, Java e Flash, permitem que a Internet fique ainda mais

atrativa ao usuário.

2.4 O contrato no comércio eletrônico

Com seus incontáveis recursos e inovações, a Internet atraiu cada

vez mais a atenção das empresas e se expandiu, principalmente no meio

comercial, criando novas formas de fazer negócios e dando surgimento ao e-

commerce, ou comércio eletrônico.

Cabe esclarecer que o comércio por via eletrônica não é novo e nem

exclusividade da Internet. Segundo o entendimento de Peck69, o comércio

68 Sistema ou programa de computador utilizado para acessar páginas na WWW. Exemplos:

Netscape, Internet Explorer, etc.

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eletrônico já ocorria através de aparelhos de fax, machine-machine, etc. Todavia,

neste trabalho, a expressão ‘comércio eletrônico’ será utilizada apenas para tratar

das relações firmadas em ambiente virtual, ou seja, entre computadores ligados à

rede.

Nesse sentido, Andrade70 alerta que o contrato eletrônico:

[...] não desponta como nova figura contratual e tampouco configura contrato inominado como são os de leasing, de provimento de acesso, de scroll ou de engeneering. Trata-se [...] de nova forma de realizar um contrato. Assim, o contrato eletrônico pode encerrar desde uma prosaica locação até um intrincado contrato de fusão entre duas empresas, todavia trata-se de meio especial de formação de contrato, que por isso merece tratamento especial.

Quanto à forma do comércio eletrônico, Leal71 cita duas

modalidades:

Direto e indireto. No primeiro, o direto, dá-se a encomenda, pagamento e entrega direta (on line), de bens incorpóreos e serviços, como programas de computador, sistemas de segurança eletrônica, conteúdo de diversão, serviços de informação e outros. No segundo – comércio indireto –, opera-se a encomenda de bens a serem entregues fisicamente pelos meios tradicionais de postagem e transporte.

Quanto aos partícipes da relação, a mesma autora faz a seguinte

distinção:

O e-commerce pode ser classificado em B2B – business to business, quando realizado entre empresas que comercializam entre si, mantendo links (conexões) com seus fornecedores e distribuidores, e B2C – bussines to consumer – quando se reflete nas relações jurídicas de consumo na internet, por meio das quais as empresas ofertam bens e serviços, na Rede, para aquisição direta pelo consumidor, sem intemediários.

Na primeira modalidade, negócio-a-negócio (B2B), em geral, as

empresas mantêm grandes volumes de negócios, em contratos de fornecimentos

69 PECK, Patrícia. Direito Digital. p. 89. 70 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumior. p. 17. 71 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 34.

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de matérias-primas e outros bens para a linha de produção ou ainda distribuição e

comercialização de produtos em grande escala. Por outro lado, a segunda

modalidade de comércio, negócio-a-cliente (B2C), é responsável pelas relações

de varejo, ocorre na compra e venda de mercadorias e serviços, físicos ou não,

por meio eletrônico, entre lojas virtuais e o consumidor final. Neste trabalho

monográfico, dar-se-á maior ênfase às relações contratuais mantidas entre

empresas e consumidores (B2C).

Além das formas já consagradas B2B e B2C, surgiu recentemente

uma nova modalidade de comércio eletrônico, denominada M-commerce (móbile

commerce), ou comércio móvel, esta nova forma de comércio eletrônico é

operacionalizada através de telefones celulares e automóveis, permitindo ao

usuário realizar negócios em qualquer lugar, sem que esteja conectado a fios,

dando total mobilidade ao consumidor.

Atualmente, não se pode conceber o comércio eletrônico, tanto nas

formas negócio-a-negócio, como na negócio-a-cliente, sem o tradicional

instrumento jurídico de manifestação vontade: o contrato. Mas o contrato

tradicional vem sofrendo alterações para se adequar aos novos tempos.

A mais significante alteração foi quanto à forma de contratação, pois

com a Internet, o instrumento deixou de ser formalizado apenas por escrito, por

telefone, por fax ou oralmente, e passou a ser feito também por computador, o

que permitiu dar maior segurança às transações através da criptografia ou

sistema de chaves públicas, e mais, possibilitou a transferência em tempo real de

imagens, sons, textos, documentos, etc, tornando o comércio eletrônico uma

importante forma negocial.

O contrato eletrônico ainda não está previsto no ordenamento

jurídico pátrio, todavia, a Comissão Especial de Informática Jurídica da OAB/SP

elaborou e apresentou ao Congresso Nacional um projeto de lei, que tomou o

número 1.589/99, o qual objetiva a regulamentação do comércio eletrônico,

assinatura digital e certificações eletrônicas.

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Segundo Dr. Marcos Costa – presidente da Comissão Especial de

Informática Jurídica da OAB paulista –, o referido projeto tem a finalidade de fazer

com que a venda eletrônica torne-se mais segura, e os documentos e assinaturas

digitais tenham a mesma validade jurídica dos documentos e assinaturas

tradicionais.72

No próximo capítulo, far-se-á o estudo mais detalhado dos tipos e

das peculiaridades dos contratos eletrônicos.

72 CORREA, Gustavo Testa. Aspectos jurídicos da internet. p. 42.

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3 GENERALIDADES ACERCA DO CONTRATO ELETRÔNICO

3.1 Conceito de contrato eletrônico

Trata-se de assunto relativamente novo, e perante a doutrina

nacional ainda não há consenso quanto à denominação dos contratos realizados

entre computadores. Pelos estudiosos do assunto são usadas várias

nomenclaturas, entre elas: contratos cibernéticos, contratos digitais, contratos por

computador, contratos informáticos ou contratos eletrônicos. Neste trabalho, opta-

se por utilizar a última denominação, por ser a de maior consenso entre os

doutrinadores, e ainda por ser a designação utilizada nos projetos de lei

brasileiros sobre comércio eletrônico, em trâmite no Congresso Nacional.73

Conforme comentado no capítulo anterior, o comércio por via

eletrônica também pode se operar através de outros equipamentos, entretanto os

conceitos a seguir se referem exclusivamente às formas contratuais celebradas

através de computadores conectados à rede.

Nos dizeres de Diniz,74 o contrato eletrônico “é uma modalidade de

negócio à distância ou entre ausentes, efetivando-se via Internet por meio de

instrumento eletrônico, no qual está consignado o consenso da partes

contratantes”.

Leal75 foca na forma de manifestação da vontade, que é a

característica diferencial deste tipo de contrato para conceituá-lo, dizendo: “é

aquele em que o computador é utilizado como meio de manifestação e de

instrumentalização da vontade das partes”. 73 Projeto de Lei nº 1.589, de 1999. Dispõe sobre o comércio eletrônico, a validade jurídica do

documento eletrônico e a assinatura digital, e dá outras providências. Câmara dos Deputados. Brasília. Disponível em: < http://www2.camara.gov.br/proposicoes > Acesso em: 26 fev. 2008.

74 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 3º volume. p. 751. 75 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 79.

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O conceito de contrato eletrônico formulado por Canut76 o define

como: “o negócio jurídico entre duas ou mais pessoas para entre si criar,

modificar ou extinguir um vínculo jurídico, de natureza patrimonial, diante de

declarações de vontade manifestadas por meio de internet.”

Quanto aos contratos eletrônicos, Andrade77 sintetiza: “é o negocio

jurídico celebrado mediante a transferência de informações entre computadores, e

cujo instrumento pode ser decalcado em mídia eletrônica”.

Não se pode confundir os contratos eletrônicos com contratos que

disponham sobre negócios relacionados à rede, tais como: a criação de web sites,

o fornecimento de conteúdo para web sites, ou sobre contratos confeccionados

em computador, etc., estes exemplos não se enquadram no tipo de contrato,

objeto deste trabalho.

O contrato eletrônico, como já dito, caracteriza-se por suportar a

manifestação da vontade das partes através de computadores ligados à Internet.

Cabe ainda destacar, por exemplo, a hipótese em que uma das

partes tomou conhecimento de uma oferta através da Internet, mas concluiu a

negociação através dos meios convencionais, ou seja, um contrato em suporte de

papel, esta contratação não é eletrônica. Por outro lado, por exemplo, se a parte

tomou conhecimento de uma oferta por um encarte, e em seguida contratou a

compra do produto através de um computador conectado à Internet, esta

modalidade de contratação é sim eletrônica, pois a manifestação da vontade se

deu através dos meios eletrônicos.

Ainda não há no Brasil legislação prevendo e dispondo sobre o

comércio e o contrato eletrônico, todavia, não há qualquer vedação legal à

formação do contrato via eletrônica.

76 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 136. 77 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico. p. 31.

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3.2 Classificação dos contratos eletrônicos

Até o momento não existe legislação específica que regulamente e

disponha sobre os contratos eletrônicos, todavia esta ausência não impede sua

validade. Como já citado, os contratos eletrônicos não se constituem um novo tipo

contratual, mas um novo meio de formalização contratual.

A esse respeito e sobre a natureza jurídica dos contratos

eletrônicos, Andrade78 complementa:

O contrato eletrônico não tem um perfil ou natureza jurídica distinta da dos contratos em geral. Não se trata de nova espécie não tipificada de contratos, como são os de leasing, de franquia, de cartão de crédito etc. Em verdade, é tão-somente um novo e atual meio de se efetivar um contrato, cuja instrumentação pode ser aportada em mídia eletrônica.

Isso significa, por exemplo, que negócios jurídicos como a compra e

venda ou a locação podem ser perfeitamente instrumentados através de contratos

eletrônicos.

Quanto à classificação, neste trabalho opta-se por utilizar uma

classificação sistemática, que é adotada por Barbagalo,79 levando em

consideração o grau de interação entre o homem e a máquina, classificando os

contratos eletrônicos em três modalidades: intersistêmicos, interpessoais e

interativos.

3.2.1 Contratos eletrônicos intersistêmicos

São assim caracterizados os contratos entre empresas, para

relações comerciais de atacado, utilizando-se o computador como ponto

78 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico. p. 31. 79 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos: contratos formados por meio de redes de

computadores. – São Paulo: Saraiva, 2001. p. 50.

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convergente de vontades preexistentes, ou seja, as partes formalizam um

contrato prévio de fornecimento de certo produto ou matéria-prima. Em havendo

necessidade, o computador do cliente emite, de forma automatizada, a

informação para o computador do fornecedor solicitando certa quantidade.

Neste tipo de contrato, não há interferência humana no momento da

comunicação entre os computadores, que normalmente ocorre através da

utilização do Eletronic Data Interchange (EDI), que permite a comunicação entre

os diferentes equipamentos de computação das empresas, mediante os quais

serão processadas e enviadas as informações80.

Segundo Barbagalo,81 neste tipo de contrato eletrônico:

[...] as partes contratam as regras que regerão as comunicações e transações a se realizar eletronicamente, tratando-se aqui de uma comunicação intersistêmica, na qual os sistemas de computador dos contratantes se interligam para a comunicação. As partes previamente acordam um protocolo de comunicação e a instalação deste, e a interligação dos sistemas caracteriza já a aceitação dos termos dos negócios jurídicos que vierem a ser realizados por meio desta comunicação, que dispensa a atuação humana em cada negócio jurídico efetuado, existindo tal intervenção somente no momento da preparação dos sistemas computacionais para a comunicação.

Essa figura de contrato firmado por computador, apesar de utilizar

rede de computadores, distingue-se do contrato eletrônico que se procura estudar

neste trabalho, por constituir-se negócio jurídico assessório de um contrato

principal que, em geral, é antecedido por demoradas negociações entre as partes,

com estipulações e declarações de vontades firmadas de forma tradicional.

80 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. p. 35. 81 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos: contratos formados por meio de redes de

computadores. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 51,

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3.2.2 Contratos eletrônicos interpessoais

Os contratos eletrônicos interpessoais são aqueles nos quais existe

um computador operado por uma pessoa em cada extremidade, manifestando

cada qual a sua vontade.

Segundo as lições de Leal,82 o contato eletrônico interpessoal ocorre

entre: “pessoas físicas ou jurídicas” e “opera-se por meio do computador, tanto no

momento da proposta, quanto no momento da aceitação e instrumentalização do

acordo.”

Canut83 assevera que os contratos interpessoais “são aqueles

realizados com a interação humana através de sistemas de correspondência

eletrônica.”

Em geral, esta forma de contratação é feita através de correio

eletrônico (e-mail), mas pode ainda se dar por videoconferência ou em salas de

conversação (chats) e divide-se em duas categorias distintas, quanto ao tempo

decorrido entre a declaração de uma parte e sua recepção pela outra, podendo

ser: simultâneo ou não-simultâneo.

De acordo com Barbagalo,84 são interpessoais simultâneos os:

[...] celebrados em tempo real, on line, os contratos firmados por partes que estejam, ao mesmo tempo, conectadas à rede, contanto que possibilitando que a declaração de vontade de uma parte seja recebida pela outra no mesmo momento em que é declarada ou em curto espaço de tempo.

Por simultâneos, podem ser considerados, por exemplo, os

contratos firmados por meio de salas de conversação ou por videoconferência,

pois estes sistemas permitem que o acordo de vontades ou consentimento se dê 82 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 85. 83 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 138. 84 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos: contratos formados por meio de redes de

computadores. – São Paulo: Saraiva, 2001. p. 53-54.

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de maneira imediata, ou em tempo real, não decorrendo muito tempo entre as

manifestações de vontades das partes.

Os contratos eletrônicos interpessoais simultâneos em muito se

assemelham aos contratos firmados por telefone em que, embora não estando as

partes fisicamente presentes, a declaração e a recepção da manifestação de

vontade são feitas simultaneamente.

Já os não simultâneos são os contratos nos quais a declaração e a

recepção de vontade não ocorrem simultaneamente, havendo um lapso temporal

entre a declaração de uma parte e a recepção desta pela outra parte. A esta

última categoria, pertencem os contratos firmados através de correio eletrônico.

Nos contratos eletrônicos interpessoais não simultâneos aplica-se o

disposto no artigo 434 do Código Civil85 vigente, que dispõe sobre os “contratos

entre ausentes”.

3.2.3 Contratos eletrônicos interativos

Os contratos eletrônicos interativos são aqueles nos quais uma

pessoa interage com um sistema de computador destinado ao processamento

eletrônico de informações, previamente programado por outra parte que não

necessariamente precisa estar acessando o sistema naquele momento.86

É o tipo mais comum de conclusão de contrato através de Internet,

pela World Wide Web, do qual derivam as compras de produtos ou contração de

serviços pela rede de computadores. A contratação eletrônica interativa é que

85 Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida,

exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado.

86 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos: contratos formados por meio de redes de computadores. p. 55.

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mais interessa a este trabalho por ser também a forma mais usual no mercado de

consumo.

Por exemplo, é interativo o contrato firmado entre uma pessoa que

acessa um site de uma loja virtual na Internet, na qual encontra múltiplas funções,

tais como: informações completas sobre o produto, imagens, sons, campos para

preenchimento de seus dados pessoais e bancários, opções de pagamento, etc.

No momento em que tais informações são disponibilizadas, considera-se feita a

oferta ao público e, conseqüentemente, manifestada a vontade do fornecedor. Já

a vontade do consumidor é manifestada no momento em que ele acessa o

sistema e com ele interage. Ao preencher e confirmar seus dados e a forma de

pagamento, o consumidor conclui a aceitação.

Os contratos eletrônicos interativos são também denominados de

clickwrap, contratos por um clique. Em geral, estes sistemas interativos permitem

ao usuário pesquisar os itens à venda, seus preços e detalhes, todavia, restando

apenas a possibilidade de aceitar ou rejeitar a oferta, ao premer o botão do

mouse.

Leal87 ressalta que os contratos eletrônicos interativos equiparam-se

aos contratos a distância:

[...] porque realizados com intermediação do computador, sem que as partes possam estar presentes no momento da sua conclusão, a eles se aplicando, por conseguinte, as normas que disciplinam a contratação a distância, inclusive as que visem a proteção dos direitos do consumidor.

Importante também ressaltar que os contratos eletrônicos interativos

são as formas predominantes no âmbito do comércio eletrônico B2C (bussines to

consumer) ou fornecedor ao consumidor,88 assunto já abordado no item 2.4 deste

trabalho.

87 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 87 88 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 138.

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3.3 Formação dos contratos eletrônicos

A falta de legislação específica não impede a formação dos

contratos eletrônicos, pois no âmbito dos contratos celebrados através de

computadores a disciplina contida no Código Civil é perfeitamente aplicável.89

A aplicação das normas do Direito Civil, aos contratos eletrônicos,

segundo Andrade,90 é possível, pois:

A formação do contrato eletrônico não difere dos demais contratos; dá-se como em todo negócio jurídico, ou seja, pela convergência da manifestação de vontade das partes. A única distinção reside na maneira como a vontade é manifestada, uma vez que no contrato eletrônico a vontade dos contratantes é exteriorizada por meio de um instrumento tecnológico de informática e transmitida de um computador a outro, de modo que a vontade de contratar, tanto do policitante – quem faz a proposta de contratar – como do oblato – a quem é dirigida a proposta de contratar –, não é transmitida diretamente à outra parte contratante, mas por um computador.

A formação do contrato, segundo Martins:91

[...] depende, da correspondência de ditos comportamentos e atos humanos em face do preceituado pelo ordenamento jurídico, de modo a satisfazer o interesse geral da certeza das relações jurídicas, e que permitem a individualização no momento em que o contrato é concluído.

A maior parte da doutrina nacional adota a divisão da formação do

contrato em três fases, a saber: as tratativas ou negociações preliminares; a

oferta ou policitação; e, por fim, a aceitação ou oblação.

89 DIAS, Jean Carlos. Direito contratual no ambiente virtual: De acordo com o novo Código

Civil. 2. ed. Curitiba : Juruá, 2004. p. 76 90 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumior. p. 32. 91 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. P. 123.

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3.3.1 Tratativas ou negociações preliminares

As negociações preliminares são aquelas nas quais as partes se

aproximam durante a fase pré-contratual, mas ainda não há vinculação nem

obrigações de parte a parte. Segundo Venosa,92 “as negociações preliminares

não traduzem uma vontade definitiva de vincular-se ao contrato.”

As partes devem agir, sempre, observando o princípio da boa-fé, em

especial nesta fase inicial. Nesse sentido, Luiz Guilherme Loureiro93 afirma:

Quando se aproximam para tratar de um possível e futuro contrato, as partes iniciam uma negociação que a lei não pode regular de uma maneira genérica e abstrata. Daí a importância, nesta etapa prévia à formação do contrato, da boa-fé.

Ainda, a respeito das negociações preliminares, Dias94 ressalta:

Essa fase embrionária visa exatamente à sondagem da vontade, e por isso mesmo, representa a fase identificadora dos interesses das partes e o que esperam obter com a realização do ajuste. Em geral, tudo o que é produzido nesse nível não possui repercussões jurídicas, excetuando-se alguns casos onde a própria negociação depende da formalização prévia de um ajuste que objetive disponibilizar informações essenciais ao prosseguimento das negociações, ou, no caso de danos produzidos contra uma das partes, já existe uma construção doutrinária e jurisprudencial bastante consolidada no campo da responsabilidade civil pré-contratual.

Nos contratos eletrônicos, a presença das negociações preliminares,

via de regra, é mais freqüente nos contratos interpessoais realizados por meio de

correio eletrônico, chats ou videoconferência, por outro lado, raramente figura nos

contratos eletrônicos interativos, nos quais o consumidor, de imediato, tem

contato com a oferta, que é a fase seguinte da formação do contrato.

92 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. v. 2. p. 479. 93 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Contratos no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Método, 2004.

p. 289. 94 DIAS, Jean Carlos. Direito contratual no ambiente virtual. p. 66.

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3.3.2 Oferta ou policitação

A oferta ou policitação marca o início da formação do contrato, nesta

fase, um dos contratantes manifesta de forma séria e inequívoca, ao outro, a sua

vontade de contratar.

Perante a lei, a oferta ou proposta é reconhecida como a primeira

fase do contato, é o momento no qual o contrato começa a demonstrar contornos

mais definidos. Nesse sentido, Venosa ensina:95

Na proposta, existe uma declaração de vontade pela qual uma pessoa (o proponente) propõe a outra (o oblato) os termos para a conclusão de um contrato. Para que este se aperfeiçoe, basta que o oblato o aceite. [...] A proposta deve ser clara e objetiva, descrevendo os pontos principais do contrato.

Diferentemente, do que ocorre nas negociações preliminares, a

oferta, que é manifestada de forma unilateral, vincula a parte e gera uma série de

obrigações e conseqüências jurídicas. A esse respeito, Loureiro afirma:96

A qualificação da oferta possui conseqüências não negligenciáveis. A determinação da existência de uma oferta permite determinar o momento no qual o contrato é concluído. O direito vincula a esse momento várias conseqüências jurídicas, como a determinação da entrada em vigor do contrato e da transferência de propriedade; irrevogabilidade da oferta e de sua aceitação; verificação da capacidade das partes; ponto de partida de vários prazos (retratação, garantia, prescrição); determinação da lei aplicável, etc.

Em razão do foco de interesse deste trabalho ser a aplicabilidade

das normas de defesa e proteção do consumidor aos contratos eletrônicos, cabe,

a partir daqui, fazer-se um corte epistemológico, no sentido de dar maior atenção

aos contratos eletrônicos interativos, em especial, aos firmados entre fornecedor e

consumidor (B2C).

95 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. v. 2. p. 480-481. 96 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Contratos no novo código civil. p. 290.

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Conforme ensina Dias,97 a “oferta contida em um site se constitui

como uma proposta pública, isto é, endereçada a todos os usuários que a

visitarem”. Desta forma, no caso da venda de produtos através de páginas na

Internet, os sites devem manter, de forma clara, precisa e completa as

informações relacionadas aos produtos, preços, formas de pagamento, prazo de

entrega, etc.

A oferta, revestida de seriedade, por si, já é vinculatória, segundo o

que dispõe o artigo 427 do Código Civil vigente: “A proposta de contrato obriga o

proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio,

ou das circunstâncias do caso”. Este dispositivo protege aquele que, de boa-fé,

toma conhecimento da oferta e confia na efetiva possibilidade de conclusão do

negócio nos termos daquela.

Neste sentido, Loureiro98 afirma:

[...] o vendedor está vinculado por sua oferta, embora possa ele limita-la, desde que apresente como simples proposição, recorrendo as fórmulas do tipo ‘sem vinculação de nossa parte’, ‘preços e condições sujeitos a mudanças’, ‘o pedido deverá ser objeto de uma aceitação especial de nossa parte’, etc. A oferta pode ainda, ser limitada no tempo. [...] Cumpre ressaltar que a internet permite tornar inacessível uma oferta cuja validade tenha expirado, o que deve eliminar o risco de um comprador responder a uma oferta obsoleta. Assim a oferta desaparece no momento em que ela é retirada de um ‘site’ Web. Ela não será mais acessível ao público, mesmo se subsistir no servidor. No entanto, se a oferta é aceita antes de desaparecer, o contrato será formado e nenhuma retratação será possível.

Como se vê, mesmo na fase pré-contratual, há vinculação da parte,

quando da divulgação da oferta, mas é lícito ao proponente limitar a oferta, desde

que também divulgue a limitação de forma clara e inequívoca.

97 DIAS, Jean Carlos. Direito contratual no ambiente virtual. p. 76. 98 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Contratos no novo código civil. p. 291.

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E quanto à existência de oferta no site, pode-se afirmar que ela

estará vigente enquanto estiver acessível, período no qual o consumidor poderá

aceita-la, formando o contrato.

3.3.3 Aceitação ou oblação

Em poucas palavras, a aceitação ou oblação pode representar a

fase final da formação do contrato, aquela na qual o oblato aceita as condições

contidas na oferta.

Venosa,99 a respeito da aceitação, ensina:

A aceitação é o ato de aderência à proposta feita. Somente é aceita proposta existente e válida, o que deve ser examinado em cada caso. A aceitação sob condição ou com novos elementos equivale a uma nova proposta, uma contra-proposta, como veremos. Decorre daí que, para ser idônea a formar o contrato, a aceitação deve equivaler à proposta formulada. A aceitação deve ser pura e simples, obedecendo aos requisitos de tempestividade de forma, se houver. Exterioriza-se a aceitação com um simples aquiescer, um ‘de acordo’, um ‘sim’ ou palavra equivalente. A simples aposição de um ‘visto’ do oblato não significa que a proposta tenha sido aceita. Nada impede, porém, que a aceitação venha com a redação mais completa, inclusive com repetição de todos os termos da oferta. Também a rejeição da proposta ocorre de forma singela, com um simples ‘não aceita’, ‘rejeitada’ ou equivalente. Nas ofertas ao público em geral, são elas aceitas à medida que os interessados se apresentam no estabelecimento do ofertante, quando não se tratar de reembolso postal ou outra modalidade de compra.

Como se vê, nos contratos tradicionais a aceitação é manifestada

por escrito, nos contratos verbais, pode ser, ainda, manifestada por gestos, ou

com uso de sinais de costume. Já, nos contratos eletrônicos, também poderá se

dar por escrito, na forma de documentos eletrônicos, além de mensagens em

chats, por voz nas videoconferências, ou com o acionamento de um comando, ou

99 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. v. 2. p. 484.

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conjunto de comandos, tais como pressionar o botão do mouse, sobre ícones com

a representação: ‘aceitar’ ou ‘confirmar’ nas páginas da web.

Nos contratos eletrônicos interpessoais, como por exemplo, nos

contratos formados através de correio eletrônicos, é perfeitamente possível, haver

manifestação e formulação de contra-proposta pelo oblato. Mas o momento da

formação se dará com a expedição da aceitação de forma inequívoca.100

Nos contratos eletrônicos interativos, a aceitação ocorre no

momento em que o oblato, após ter feito a escolha dos produtos ou serviços

oferecidos pelo proponente, aciona os comandos de aceitação que concluem o

vínculo. Barbagalo101 explica: “a manifestação de vontade expressa através do

acionamento de comandos informáticos pode ocorrer pelo pressionamento de

‘botões’ de sim, não ou concordo, existentes nas páginas eletrônicas de Web

sites.”

A formação dos contratos eletrônicos interativos pode de dar: entre

presentes ou entre ausentes.

O entendimento de Martins102 é no seguinte sentido:

O principal critério distintivo entre ambos reside no tempo que necessariamente medeia entre a proposta e a aceitação, sendo que a simples circunstancia dos lugares em que se encontram os contratantes não tem interesse para a determinação do momento em que se forma o contrato. [...] Pode-se afirmar, portanto, que a contratação eletrônica, em regra – a menos que seja utilizado um programa que permita uma conversação a viva-voz, hipótese que se aplicam as regras relativas aos contratos celebrados via telefone –, se subsume sob a categoria dos negócios realizados entre ausentes.

100 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos. p. 78. 101 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos. p. 61. 102 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. P. 162-163.

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A maior parte da doutrina, para diferenciar a formação do contrato

eletrônico entre ausentes e presentes, baseia-se na possibilidade ou não de

resposta imediata entre a proposta e a aceitação.

Barbagalo103 sustenta a possibilidade de formação do contrato

eletrônico interativo de forma mista, entre ausentes para o proponente e entre

presentes para o aceitante, citando o seguinte:

[...] é o caso de a proposta ser colocada a disposição para aceso por outra pessoa, sem que o proponente tenha sequer a certeza da existência do aceitante, apenas pressupondo que sua declaração inicial será conhecida. Assim, quando uma pessoa acessa a proposta, tem imediato conhecimento de seu conteúdo e, caso queira vincular-se, expedirá sua aceitação e formará o contrato. O proponente pode receber a aceitação sem ao menos ter tido ciência previa de conhecimento de sua proposta por outrem. Temos, aqui, um caso misto, no qual, quanto ao proponente, por não saber ele si et quando haverá aceitação, o contrato será considerado entre ausentes. O aceitante por sua vez, tem ciência imediata da proposta quando a acessa, e, para este, o contrato pode ser reputado entre presentes.

De uma forma geral, mesmo que as pessoas não estejam

fisicamente presentes, podendo cada parte estar em lugares distintos, mas desde

que a aceitação ocorrer simultaneamente, ou logo após a emissão da proposta, o

contrato será entre presentes, como por exemplo, nos sistemas de viva-voz, ou

chats, etc. Por outro lado, nos casos em que houver um espaço de tempo maior

entre a proposta e a aceitação, como por exemplo, nos contratos eletrônicos

firmados através de e-mail, o contrato será tido como entre ausentes.

Nos contratos eletrônicos interativos, como por exemplo, as lojas

virtuais, nas quais se convencionou chamar de estado de oferta pública

permanente, considera-se o contrato entre ausentes, pois tanto a proposta quanto

a aceitação não são conhecidas de imediato por seus respectivos destinatários.

103 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos. p. 79.

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Nestes casos, o momento de formação do contrato se dá quando o usuário da

Internet expede sua aceitação.104

A parte majoritária da doutrina pátria reconhece que nos contratos

eletrônicos simultâneos se dão entre presentes, e se formam no momento em que

o oblato manifesta sua aceitação, já que, em se tratando de comunicação

simultânea, ela será imediatamente conhecida pelo ofertante ou policitante.

Por outro lado, com relação aos contratos eletrônicos não

simultâneos, como por exemplo, os contratos celebrados por correspondência

eletrônica, a inexistência de conexão simultânea não permite ao oblato conhecer

imediatamente a proposta do policitante, bem como não possibilita a resposta

imediata de eventual aceitação. Nestes casos a formação se dará entre ausentes,

e se formam apenas no momento em que o aceitante expede a sua aceitação.105

A teoria da expedição aplicada aos contratos eletrônicos não

simultâneos em muito se assemelha à teoria das disposições aplicáveis aos

contratos tradicionais celebrados por correspondência convencional, tratada no

artigo 1.086 do revogado Código Civil Brasileiro de 1916, que atualmente tem

amparo nas disposições do artigo 424 do Código Civil de 2002.106

No sentido de uniformizar a jurisprudência o Centro de Estudos

Judiciários da Justiça Federal aprovou e publicou o Enunciado nº. 173107, que

estabelece: “A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por

meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente”, ou

seja, a justiça federal tem por entendimento, não adotar o princípio da expedição

previsto no Código Civil, mas o princípio da recepção.

104 LEAL, Sheia do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. p. 115. 105 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumidor. p. 43-45 106 Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida,

exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado.

107 CENTRO DE ESTUDOS DA JUSTIÇA FEDERAL – Enunciado nº 173 : disponível em < http://www.justicafederal.gov.br/portal/publicacao/download.wsp?tmp.arquivo=1294> : Acesso em: 13 de março de 2008.

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Não resta dúvida que aos contratos eletrônicos deverão ser

aplicadas as normas vigentes no Código Civil brasileiro, devendo ser

considerados entre ausentes e entre presentes, dependendo sempre das

circunstâncias em que forem realizados, cabendo aos operadores do direito um

exercício de hermenêutica a cada caso concreto.

3.4 Validade dos contratos eletrônicos

Os contratos eletrônicos ainda não possuem legislação específica

no direito pátrio, por outro lado, é certo de que não há vedação legal para sua

formação; mas para que tenham validade jurídica e surtam os efeitos pretendidos

pelas partes, é necessário que alguns elementos estejam presentes.

Nesse sentido, Barbagalo108 esclarece:

[...] os contratos eletrônicos, assim como quaisquer contratos, precisam ter presentes os requisitos que lhes asseguram a validade, como capacidade e legitimação da partes, objeto idôneo e licitude do objeto, forma prescrita ou não defesa em lei e consentimento.

Ou seja, para a plena validade dos contratos eletrônicos, devem

estar presentes os elementos de validade para os contratos em geral, os quais

foram objetos de análise no capítulo 1 deste trabalho.

Além da aplicação dos princípios gerais dos contratos, em razão da

peculiaridade dos contratos eletrônicos, e da já falada falta de legislação nacional

especifica, cabe demonstrar que, subsidiariamente, têm-se considerado possível

a aplicação das diretrizes constantes na lei modelo sobre o comércio eletrônico da

Comissão de Direito do Comércio Internacional da Organização das Nações

108 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos eletrônicos. p. 39.

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Unidas (UNCITRAL).109 Estas diretrizes têm por objetivo uniformizar e

regulamentar o comércio eletrônico em todo o mundo.

A doutrina e o judiciário pátrios têm visto com bons olhos a

aplicação das diretrizes da lei modelo sobre o comércio eletrônico da Comissão

de Direito do Comércio Internacional da Organização das Nações Unidas.

Outra questão importante, que diz respeito à validade dos contratos

eletrônicos, é relacionada à declaração de vontade através dos meios eletrônicos.

Sobre este particular, Canut110 afirma:

A validade da declaração de vontade manifestada pela rede, ou seja, a existente para a formação do contrato eletrônico, tem gerado vários debates. Os que possuem posicionamentos pessimistas em relação às transformações no comércio tradicional, que levam esta ‘problemática’ além do necessário, são desapontados pelas disposições do próprio Código Civil, arts. 107111 e 112112, que prevêem a liberdade de forma para a declaração de vontade, levando em conta mais a intenção do que a linguagem utilizada para a formação do vínculo (nesse caso, a linguagem digital).

Desta forma, se a lei não determinar expressamente forma especial,

a declaração de vontade poderá ser perfeitamente válida através dos meios

eletrônicos.

Atualmente, um dos maiores desafios dos contratos eletrônicos é

quanto à identificação das partes, para que se possa determinar a capacidade e

legitimação de cada contratante.

Para tentar solucionar e minimizar esta dificuldade, a cada dia,

novos sistemas de autenticação e certificação são desenvolvidos para dar maior

segurança nesta modalidade de contratação.

109 In: <http://www.cbeji.com.br/legislacao/uncitral001.htm> : acesso em 4 de março de 2008. 110 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 141. 111 “Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão

quando a lei expressamente a exigir.” 112 “Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do

que ao sentido literal da linguagem.”

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Para determinar-se com que se está contratando e evitar que um

sujeito tente passar-se por outro, estão disponíveis as tecnologias biométricas. As

técnicas mais difundidas são o reconhecimento de padrões de voz, exame de

retina, escaneamento das impressões digitais e da palma da mão. Segundo

Leal,113 “a identificação das pessoas por meios biométricos confere grande

segurança por não se poder como facilidade forjar ou roubar as características

físicas de uma pessoa.”

Outra solução para o problema da identidade das partes

contratantes em operações virtuais, segundo Dias:114

[...] encontra respaldo no sistema de senhas, assinatura digital, e assinatura eletrônica [...], valendo ressaltar, neste momento, que a identidade é um dos problemas que mais tem suscitado pesquisas na área da informática quando aplicada ao comércio eletrônico.

Mesmo com toda a tecnologia disponível, falhas e fraudes podem

ocorrer, nestes casos, Dias115 destaca a possibilidade de anulação do ato

praticado através dos meios eletrônicos, caso haja deficiência na capacidade das

partes, dizendo:

A questão da identidade é fundamental para determinar-se a validade das obrigações decorrentes de contratações por meio virtual, sendo perfeitamente adequado concluir que os contratos virtuais poderão ser objeto de anulação quando demonstrado que uma das partes não possuía capacidade civil ou mesmo que sua identidade não corresponda à realidade.

É certo que os contratos eletrônicos representam uma grande

inovação na forma de contratar, por outro lado, não se pode querer excluir-lhes a

validade apenas por falta de previsão legal específica, o que se exige apenas é

um maior empenho na sua interpretação dos princípios do direito contratual

vigente, conforme ensina Wald:116

113 LEAL, Sheila do Rocio Santos Cercal. Contratos eletrônicos. p. 159. 114 DIAS, Jean Carlos. Direito contratual no ambiente virtual. p. 83. 115 DIAS, Jean Carlos. Direito contratual no ambiente virtual. p. 84. 116 WALD, Arnoldo. Um novo direito para a nova economia: a evolução dos contratos e o código

civil. Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, Porto Alegre, n. 12, jul./ago. 2001

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A importância crescente dos contratos eletrônicos, nos quais se abandona o suporte de papel que, durante tantos anos, caracterizou a estrutura contratual, também modifica alguns dos aspectos da manifestação de vontade das partes, provocando novas regras de interpretação que decorrem das peculiaridades dos novos meios de transmissão.

É importante salientar que existem exceções, tais como: contratos

em que se exige determinada forma, por exemplo: o contrato de compra e venda

de bem imóvel, no qual é imprescindível a sua formalização através de escritura

pública. Estes tipos de contratos não podem ser formalizados através dos meios

eletrônicos.

No próximo capítulo, far-se-á a análise da possibilidade da aplicação

das normas constantes no Código de Proteção e Defesa do Consumidor aos

contratos eletrônicos.

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4 APLICAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS CONTRATOS ELETRÔNICOS

4.1 Relação jurídica de consumo na Internet

As possibilidades de aplicação das normas de proteção ao

consumidor aos contratos tradicionais já foram vistas no item 1.4 constantes no

primeiro capítulo deste trabalho.

Neste capítulo, analisar-se-á, de forma mais específica, a aplicação

das normas do Código de Defesa do Consumidor aos contratos eletrônicos que

configurem relações de consumo, definidos como bussines to consumer (B2C),

que são a forma mais comum de comércio eletrônico.

Leal117 conceitua e delimita, de forma simples e objetiva, os

contratos eletrônicos de consumo: “consideram-se contratos eletrônicos de

consumo aqueles nos quais a manifestação de vontades das partes ocorre em

meio eletrônico, tendo por objetivo relações jurídicas de consumo”.

Quanto aos tipos de contratos eletrônicos envolvendo relações de

consumo, Marques,118 na sua obra Contratos no Código de Defesa do

Consumidor, adota uma divisão pessoal, fixando quatro tipos distintos:

1. os contratos de acesso técnico às redes eletrônicas (contratos entre o consumidor e um fornecedor de acesso – servidores, TVs a cabo e outros); 2. o contrato de venda on-line, venda de produtos materiais, que serão entregas a posteriori no local indicado pelo consumidor, e venda de produtos imateriais (software etc.) a serem enviados pelo mesmo meio eletrônico; 3. contratos de bens ‘informacionais’, bens totalmente desmaterializados, como músicas, revistas on-line, educação a

117 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos eletrônicos. p. 98. 118 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 113-114.

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distância, acesso a informações, a imagens, filmes, traillers, histórias em quadrinhos, jogos, videogames etc.; 4. contratos de prestação de serviços on-line ou por internet, como contratação com agências de viagens, transportadoras, seguradoras, bancos e financeiras.

A aplicação do princípio da boa-fé já foi analisada no capítulo inicial

desta monografia, todavia, é muito Importante observar as lições de Andrade,119

que aponta para a fundamental importância da presença permanente da boa-fé

nos contratos eletrônicos que envolvam relações de consumo:

O primeiro aspecto que deve ser observado no contrato eletrônico que encerra relação de consumo, como de resto em qualquer relação humana, jurídica ou não, é o princípio da boa-fé, que antes de ser um princípio contratual, é um princípio de ordem moral, que dever reinar em qualquer relação humana. [...] No caso dos negócios jurídicos celebrados no espaço cibernético, a boa fé tem ainda mais relevância, uma vez que não há qualquer contato físico entre os dois pólos da relação contratual. No caso do contrato eletrônico de compra e venda, por exemplo, o consumidor não vê o vendedor nem o produto; por outro lado, o vendedor não vê o comprador e tampouco de tem condições de verificar imediatamente sua identidade e suas condições econômicas de cumprir o contrato. Portanto, aqui a boa-fé revela-se de grande importância, sobrelevando a credibilidade, a honestidade e a lealdade tanto do vendedor como do comprador. O primeiro porque é fornecedor e tem a obrigação de agir com lealdade colocando à venda produtos que efetivamente tem em seu estoque e realizando a entrega da mercadoria adquirida no prazo contratado, procedente com lealdade e honestidade, sem abusar do consumidor, dentro da boa prática empresarial. O consumidor, de sua parte, deverá agir da mesma forma, não lesando o fornecedor e agindo também, com honestidade e lealdade.

Não há dúvidas de que o princípio da boa-fé deve ser observado em

todos os negócios e relações jurídicas. Mas é muito pertinente a observação do

autor, pois os contratos eletrônicos têm a peculiaridade de serem praticados sem

que as partes tenham contato físico, o contato é estritamente virtual, o que

aumenta a importância da aplicação e respeito deste princípio.

119 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumidor. p. 104-107.

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Além do princípio da boa-fé, o princípio da transparência também é

essencial para a garantia de uma boa relação de consumo no comércio

eletrônico. Nesse sentido, Martins120 adverte:

O princípio da transparência, instituído no direito positivo brasileiro por meio do art. 4º, caput do Código de Defesa do Consumidor, significa, acima de tudo, clareza, lealdade e respeito, cabendo ao fornecedor o dever de informar o consumidor não só a respeito das características do produto ou serviço, mas também sobre o conteúdo do contrato, a partir das manifestações pré-contratuais, em especial a publicidade.

O comércio eletrônico, ao passo que facilita o contato e encurta

distâncias entre fornecedor e consumidor, também dificulta um maior

conhecimento prévio, por parte do consumidor, acerca do produto ou do serviço,

por esta razão é essencial o dever de dar ao consumidor informações completas

e precisas a respeito do produto ou serviço e do conteúdo do contrato.

Outro importante aspecto a ser observado nas relações de consumo

virtuais é quanto à vulnerabilidade e hipossuficiência dos consumidores. A esse

respeito, Dias esclarece:121

Vale alertar que o conceito de vulnerabilidade e hipossuficiência, hoje bastante estudados, são claramente diversos. O segundo é um agravamento do primeiro, onde, alem da situação natural de risco decorrente da própria situação de consumo, pelas suas condições pessoais (culturais, sociais, econômicas etc.), o consumidor necessita ainda mais de proteção. Em se tratando de contratos de consumo efetuados em meios virtuais, o consumidor, por definição, não somente se apresenta como parte vulnerável mas também como hipossuficiente, em razão do evidente fator de adversidade decorrente do elemento tecnológico. Por isso, deve-se deixar claro, no âmbito das relações de consumo efetuados em meio virtual, que há a necessidade ainda mais incisiva de proteção ao consumidor, razão pela qual as empresas que pretendem atuar, nesse mercado, devem, necessariamente, ter redobrado cuidado no intuito de atender as condições previstas em lei.

120 MARTINS, Guilherme Magalhães. Formação dos contratos eletrônicos de consumo via

internet. p. 132. 121 DIAS, Jean Carlos. Direito contratual no ambiente virtual. p. 111.

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A questão da hipossuficiência fica muito evidente, por exemplo, nos

negócios realizados em ambiente virtual entre um consumidor e um grande

magazine. Atualmente, quase todos os grandes conglomerados comerciais

mantêm, além de suas lojas físicas em grandes centros, uma loja virtual, na qual

expõe a venda através da Internet todos os produtos que comercializam em suas

lojas convencionais. É certo que a proteção ao consumidor em atenção à

hipossuficiência deve ser observada, mesmo nos negócios realizados em meio

eletrônico.

Não há dúvida que as regras de proteção e defesa do consumidor

se aplicam aos contratos eletrônicos de consumo. É certo, porém, que se faz

necessária uma dose de interpretação e adaptação a cada caso específico, em

razão das peculiaridades das formas de contratação em ambiente virtual, mas

isso não exige demasiado esforço dos operadores do direito, ao aplicar as normas

de direito do consumidor aos contratos eletrônicos. Dando continuidade a este

tema, nos próximos itens se fará uma análise dos casos mais comuns de

intervenção nos contratos eletrônicos de consumo, em razão das normas do

direito do consumidor.

4.1.1 Os contratos eletrônicos como contratos de adesão

A presença do contrato de adesão é freqüente nos contratos de

massa, como as ofertas de fornecimento de serviços de telefonia, energia elétrica,

TV a cabo, bem com nos serviços bancários, etc. Estes contratos em geral são

firmados em suporte de papel, mas atualmente, têm também ocorrido na

contratação destes serviços através da Internet.

Atualmente, tem-se ainda, contratado serviços adicionais, através

dos meios eletrônicos, como por exemplo: um pacote contendo mais canais de TV

a cabo, ou serviços extras do provedor de Internet.

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Estes serviços, em geral, são oferecidos sem que o consumidor

possa discutir ou alterar as cláusulas pré-dispostas destes contratos. Estes

contratos, mesmo que firmados através da Internet, são tidos como contratos de

adesão.

Acerca do conceito, Venosa122 afirma que este tipo de contrato:

[...] se apresenta com todas as cláusulas predispostas por uma das partes. A outra parte, o aderente, somente tem a alternativa de aceitar ou repelir o contrato. Essa modalidade não resiste a uma explicação dentro dos princípios tradicionais de direito contratual, como vimos. O consentimento manifesta-se, então, por simples adesão às cláusulas que foram apresentadas pelo outro contratante.

Marques,123 autora de grande referência nacional no direito do

consumidor, afirma a respeito do contrato de adesão:

[...] é aquele cujas cláusulas são pré-estabelecidas unilateralmente pelo parceiro contratual economicamente mais forte (fornecedor), ne varietur, isto é, sem que o outro parceiro (consumidor) possa discutir ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato escrito.

Além dos conceitos doutrinários, o artigo 54 do Código de Defesa do

Consumidor também contempla um conceito para os contratos de adesão:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Fica evidente que nos contratos de adesão o consumidor limita-se a

aceitar em bloco as cláusulas pré-estabelecidas de forma unilateral pelo

fornecedor. A adesão se dá no momento em que o consumidor expressa sua

vontade ou consentimento.

122 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. V. II. p. 352-353. 123 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 71.

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Não há consenso na doutrina pátria, acerca da denominação

‘contrato de adesão’, enquanto, Andrade, Martins e Leal defendem que os

contratos eletrônicos podem ser ‘de adesão’, Marques124 utiliza denominações:

‘contratos de adesão’ e ‘condições gerais dos contratos’, sustentando que a

primeira só pode estar presente em contratos tradicionais, por escrito, ‘preparados

e impressos com anterioridade pelo fornecedor’, enquanto as ‘condições gerais

dos contratos’ figuram nos contratos eletrônicos com cláusulas pré-estabelecidas.

A esse respeito, Andrade125 afirma:

Evidentemente, à forma eletrônica de contratar aplicam-se todas as regras do Código de Defesa do Consumidor que outorgam proteção contratual ao consumidor. Dessarte, quanto ao conteúdo do contrato, essa forma de contratar, não maioria dos casos, impõe um contrato de adesão em que o fornecedor dispõe de um modelo no qual já se encontram embutidas as condições gerais dos contratos, que terão vida com a realização deste, cabendo ao consumidor somente aderir. No caso do contrato eletrônico em que a maioria dos negócios jurídicos são celebrados entre o consumidor e um computador do fornecedor, será ele sempre por adesão e observadas as condições gerais impostas pelo fornecedor.

Os contratos tidos como de adesão excluem a possibilidade de uma

negociação preliminar e do estudo prévio das condições e cláusulas do contrato.

Segundo Canut,126 os “contratos de adesão deixam ao consumidor apenas a

opção de contratar ou não contratar, aderindo ou não as cláusulas já estipuladas.

Justamente por não permitirem a negociação entre os estipulantes”.

Canut127 ressalta, ainda, que por afastarem a possibilidade de

negociação entre os contratantes, “estes contratos são um ‘campo fértil’ para a

inserção de cláusulas abusivas”.

Nos contratos eletrônicos, segundo ensina Leal,128 a figura típica do

contrato de adesão se aperfeiçoa quando o aderente manifesta sua aceitação ao 124 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 69. 125 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código do

Consumidor. p. 121. 126 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 112. 127 CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico. p. 112.

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clicar o mouse do computador sobre palavras que aparecem na tela, tais como

aceito, confirma, sem a possibilidade de discutir ou alterar as condições e os

termos da contratação.

Atualmente, em razão da constante busca por agilidade nos

processos de contratação, e do fenômeno da massificação dos contratos, os

contratos de adesão têm se multiplicado de forma alarmante.

4.1.2 Equiparação dos contratos eletrônicos aos contratos a distância, realizados fora do estabelecimento comercial

Os contratos realizados fora do estabelecimento comercial, como se

pode aferir da própria denominação, são aqueles nos quais o consumidor

encomenda a compra do produto ou serviço fora do estabelecimento comercial do

fornecedor.

Schimitt129 conceitua os contratos a distância como sendo: “aqueles

realizados pela utilização de uma ou mais técnicas de comunicação da distância,

técnicas estas utilizadas num quadro organizado de vendas a distancia, sem a

presença simultânea do consumidor e do fornecedor”.

Marques130 reconhece o contrato eletrônico com sendo uma

modalidade de contratação a distância, afirmando:

Como se observa, o chamado ‘comércio eletrônico’ é realizado através de contratações a distância, por meios eletrônicos (e-mail etc.) por internet (on line) ou por meios de telecomunicação de massa (telemarketing, TV, TV a cabo etc.), é um fenômeno plúrimo, multifacetado e complexo, nacional e internacional, onde há realmente uma certa ‘desumanização do contrato’.

128 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos eletrônicos. p. 105. 129 SCHIMITT, Marco Antonio. Contratações a distância. Revista de Direito do Consumidor, São

Paulo, n. 25, p. 60, jan./mar. 1998. in LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos eletrônicos. p. 106.

130 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 118-119.

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Marques sustenta esta ‘desumanização’, alegando que “o

fornecedor não aparece materializado através de um vendedor, o fornecedor não

tem mais ‘cara’, tem sim uma marca, um nome comercial, uma determinada

imagem, um marketing virtual ou televisivo, uma estratégia de telemarketing.”

O Código de Defesa do Consumidor cita de maneira expressa duas

modalidades desta forma de negócio, por telefone ou a domicílio. Todavia as

modalidades enumeradas no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor não

esgotam todos os tipos possíveis de contratação a distância, que podem ser

ainda através da televisão, mala-direta, Internet, etc.

Tanto a doutrina como a jurisprudência são unânimes em

reconhecer a equiparação dos contratos eletrônicos aos contratos a distância,

realizados fora do estabelecimento comercial.

Andrade131 reconhece esta equiparação e esclarece que:

A relação de consumo mantida por meio de contrato eletrônico, ainda que realizada por comunicação simultânea, caracterizará fornecimento de produto ou serviço fora do estabelecimento do fornecedor – art. 40 do Código de Defesa do Consumidor – ou venda a distância, na linguagem adotada pela Diretiva da União Européia n. 7, de 20 de maio de 1997, uma vez que o contrato será concebido – formado – sem a presença física dos contratantes, e somente a execução do contrato por parte do fornecedor ocorrerá no mundo real, pois até mesmo a obrigação contratual do consumidor poderá ser virtual – pagamento por intermédio de cartão de crédito.

O autor melhor detalha a situação acerca do estabelecimento virtual

e físico explicando:

É importante ressaltar que, embora se fale em estabelecimento empresarial virtual eletrônico no qual o consumidor pode entrar virtualmente, como quando o consumidor adentra num site de um supermercado e corre virtualmente seus corredores e prateleiras, não se pode deslembrar que o conceito jurídico de estabelecimento empresarial ou comercial engloba não só os

131 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico. p. 107-109.

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aspectos imateriais, mas também e especialmente o aspecto material, que é constituído pelas mercadorias e pelo local onde está instalada a empresa. Nas relações efetivadas fora do estabelecimento – local físico onde está instalado o fornecedor –, o consumidor esta numa posição frágil e tende a realizar o contrato que normalmente não realizaria se estivesse no local onde o produto ou serviço é colocado à venda; pois ao dirigir-se a determinado estabelecimento comercial, refletiu na aquisição antes mesmo de nele adentrar, ao passo que, quando faz a compra em sua residência, dada a facilidade de processamento de aquisição, aumenta a possibilidade de que ela seja feita por impulso e sem qualquer reflexão, reflexão que se dará somente no momento do recebimento do produto ou serviço.

Além da dificuldade de determinação de todas as características do

objeto ou serviço a ser adquirido, o detalhe da possibilidade da compra impulsiva

por parte do consumidor, são questões que justificam a maior proteção do

consumidor nos casos de contratação fora do estabelecimento comercial ou a

distância.

4.1.3 Aplicação aos contratos eletrônicos do prazo de arrependimento em benefício do consumidor

O Código de Defesa do Consumidor prevê a possibilidade de

arrependimento em benefício do consumidor, podendo este desistir do contrato,

este benefício é previsto expressamente no artigo 49 do referido código, que

dispõe:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

Viu-se no item anterior que os contratos eletrônicos se equiparam às

vendas a distância, e, por conseqüência, o prazo de arrependimento previsto no

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artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor também se aplica aos contratos

eletrônicos.

Nesse sentido, Marques132 afirma: “a doutrina é unânime em que

aos contratos a distância do comércio eletrônico se aplicam o art. 49 do CDC e o

prazo de reflexão de sete dias”.

O direito de arrependimento não é uma simples questão de

protecionismo no direito do consumidor, a função deste benefício é muito

importante, segundo Canut:133

O direito de arrependimento justifica-se pelo fato de as técnicas de vendas explicitadas no art. 49 serem consideradas agressivas, que pegam o consumidor despreparado/desprevenido, além de deixar o consumidor vulnerável ao não conhecimento do produto ou serviço. Para o exercício deste direito, não é necessária qualquer justificativa por parte de consumidor, consistindo a denúncia vazia num direito deste sujeito.

Andrade134 ressalta ainda a importância desta previsão no Código

de Defesa do Consumidor, alegando que o consumidor do comércio eletrônico

“não tem contato real com o produto; em razão disso, por mais fidedigna que seja

a imagem do produto, ela será sempre uma representação que poderá não

corresponder as suas expectativas”.

Esta preocupação é compartilhada com Martins, que observa ainda:

Na medida em que o consumidor, nessas condições, possui menor possibilidade de avaliar o que estava contratando, deve lhe ser assegurado o prazo de arrependimento, não só nos contratos em distância em geral – tais como a venda porta-a-porta, por telefone, reembolso postal, por fax, videotexto, por prospectos etc. –, como também nos contratos via Internet, até mesmo pela disseminação de tais práticas, à margem de uam regulação, a partir dessas novas técnicas, que permitem que o consumidor contrate sem sair de sua casa, muitas vezes com empresas e fornecedores de outros países.

132 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 131. 133 CANUT, Letícia. Proteção do Consumidor no Comércio Eletrônico. p. 115. 134 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico. p. 109-110.

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Quanto ao procedimento, o parágrafo único do artigo 49 do Código

de Defesa do Consumidor prevê expressamente o seguinte:

Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

Assim, o consumidor, sentindo-se lesado com a compra, notando

que o produto ou serviço não representa o seu interesse, ou que agiu por impulso,

pode devolver o produto dentro do prazo de sete dias e solicitar a restituição do

preço pago.

Segundo Andrade,135 o exercício do direito de recesso implica a

resolução do contrato com a conseqüente reposição da partes ao stato quo ante.

Desta forma, em respeito à eqüidade, por ter o fornecedor arcado com as

despesas de envio, cabe ao consumidor fazer frente as custas da devolução.

Merece atenção a questão que diz respeito ao início da contagem

do prazo de sete dias para o desfazimento do contrato eletrônico. Segundo

Leal,136 a contagem deve iniciar apenas com o recebimento do produto ou

serviço, afirmando:

Assim, a interpretação mais favorável ao consumidor, e que corresponde à previsão legal para os contratos que não costumam ser assinados, com é o caso dos contratos eletrônicos via internet, é de que a contagem do prazo de arrependimento se inicie da data do recebimento do produto ou serviço.

Dias137 compartilha do mesmo entendimento, apesar de reconhecer

que o prazo poderia começar da data em que o contrato se formou, o autor

afirma:

Poderá o prazo também ser contato do recebimento do serviço ou produto, é evidente que, sendo regra de interpretação mais favorável ao consumidor, servirá como dia inicial o que ocorrer por último.

135 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico. p. 115. 136 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos eletrônicos. p. 109. 137 DIAS, Jean Carlos. Direito Contratual no Ambiente Virtual. p. 130.

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Nesse sentido, o fato do bem ou serviço ser adquirido por meio da internet por assinatura eletrônico ou mesmo simples aceitação de proposta veiculada na rede não desconstitui o direito de arrependimento previsto em Lei.

Além do disposto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor,

o consumidor ainda encontra amparo no artigo 6º da Diretiva 97/7138 da

Comunidade Européia.

Segundo as lições de Marques,139 nos casos de arrependimento:

[..] deve o fornecedor devolver (sem cobrança de qualquer valor ou taxa) todos os valores recebidos, enquanto o consumidor suporta os custos da devolução física do produto ou serviço ao fornecedor. A regra do art. 6º da Diretiva é, naturalmente, bastante complexa, pois contempla os vários tipos de serviços, mesmo os de prestação a distância, os vários tipos de serviços, mesmo os de prestação única, excluindo apenas a possibilidade de arrependimento sem causa nos contratos envolvendo bolsa de valores, fornecimento de software e gravações de vídeo e áudio (se o selo de fechamento for retirado pelo consumidor), assinaturas de jornais e revistas e contratos envolvendo jogos e loterias. (art. 6º, alínea 3).

É certo que alguns tipos de bens e serviços não podem ser

devolvidos e ressarcidos. Em razão disso, bem editado foi o artigo 6º da referida

Diretiva do CE, por exemplo, não se pode aceitar a devolução de um CD, porque

o consumidor pode abri-lo, fazer uma cópia, e pretender a devolução alegando o

direito de arrependimento. Para evitar esta prática, as lojas virtuais de CDs

permitem ao consumidor ouvir previamente um trecho de cada música que consta

no álbum musical.

Atualmente, a maioria dos fornecedores de bens e serviços na rede

tem oferecido prazo de arrependimento maior do que o previsto no Código de

Defesa do Consumidor, visando, assim, preservar o consumidor.

138 COMUNIDADE EUROPÉIA, Diretiva 97/7/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de

Maio de 1997 relativa à proteção dos consumidores em matéria de contratos à distância. Disponível em : < http://www.anacom.pt/template20.jsp?categoryId=96924&contentId=163215 > Acesso em: 7 abr. 2008.

139 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 155.

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4.1.4 A responsabilidade dos participantes da cadeia de fornecimento

A responsabilidade dos participantes da cadeia de fornecimento é

abordada no Código de Defesa do Consumidor em dois momentos diversos. No

primeiro, o Código dispõe sobre a “Responsabilidade pelo Fato do Produto e do

Serviço” (artigos 12 a 17), e no segundo, trata da “Responsabilidade por Vício do

Produto ou do Serviço” (artigos 18 a 25).

Marques140 afirma que “a doutrina brasileira mais moderna está

denominando teoria da qualidade o fundamento único que o sistema do CDC

instituiria para responsabilidade dos fornecedores”, segundo a autora, isto

significa dizer que a lei impõe ao fornecedor um dever de qualidade mínima dos

produtos e serviços que presta.

No primeiro caso, o artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor

impõe que o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o

importador respondam pela reparação dos danos causados aos consumidores,

em razão de eventos causados por defeitos do produto, ou ainda, em razão de

falta de informações sobre sua correta utilização e riscos, veja-se:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Note-se, ainda, que o dever de reparação é imposto aos produtores,

fabricantes, construtores e aos importadores, independentemente de culpa, ou

seja, a responsabilidade nestes casos é objetiva.

140 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 1148.

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Canut141 ressalta que nos incisos descritos no parágrafo 3º do artigo

12, o legislador tratou dos casos em que a responsabilidade objetiva pode ser

afastada, desde que o fabricante, o construtor, o produtor ou importador provar: a)

que não colocou o produto no mercado; b) que, embora haja colocado o produto

no mercado, o defeito inexiste; ou c) a culpa exclusiva do consumidor ou de

terceiro.

Outro detalhe que merece especial atenção é a ausência dos

comerciantes no rol previsto no artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor,

todavia, estes podem ser responsabilizados subsidiariamente, em situações

específicas, tais como: nos casos nos quais se pode identificar o fabricante, o

construtor, o produtor ou o importador; quando o produto for fornecido sem

identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; ou ainda,

quando o comerciante não conservar adequadamente os produtos perecíveis, de

acordo com o que dispõe os incisos do artigo 13 do Código de Defesa do

Consumidor.

Segundo Marques,142 esta hierarquia, prevista no Código de Defesa

do Consumidor, entre os responsabilizáveis, tem fundamento em doutrinas

estrangeiras, como a francesa, que criou a teoria da ‘guarda da estrutura do

produto’, que imputam as responsabilidades somente àqueles “que dominam a

técnica de fabricação e que poderiam ter evitado o defeito, a responsabilidade

pelo fato do produto.”

Desta forma, resta evidente que no comércio eletrônico o

comerciante, que expõe a venda mercadorias atrás de se sites na Internet, será

responsabilizado pelo ‘fato do produto’ somente nos casos previstos nos incisos

do artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor, conforme se viu anteriormente.

Sendo o comerciante responsabilizado e arcando com o pagamento

ao prejudicado, cabe a este exercer o direito de regresso contra os demais

141 CANUT, Letícia. Proteção do Consumidor no Comércio Eletrônico. p. 109. 142 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. p. 1211.

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responsáveis, conforme prevê o parágrafo único do artigo 13 do Código de

Defesa do Consumidor.

A responsabilidade extracontratual, como se depreende da própria

denominação prescinde do contrato e decorre de previsão expressa de Lei. A

esse respeito, Dias143 esclarece:

A teoria da responsabilidade comporta diversas forma de analise, uma delas diz respeito a configuração conforme o pressuposto que determina o dever de reparação. Quando este decorre exclusivamente de lei, baseada no critério geral de vedação ao enriquecimento ilícito, tratar-se-á de responsabilidade extracontratual. Por outro lado, quando decorre da lei e do contrato, teremos a forma contratual.

Canut144 adverte que a responsabilidade decorrente de defeito de

insegurança possui um aspecto muito relevante, pois suas conseqüências podem

ser graves, afirmando que “os danos materiais ultrapassam, em muito, os limites

valorativos do produto ou serviço”.

De outro lado, na responsabilidade decorrente dos vícios de

adequação, a desvantagem econômica para o consumidor se limitará ao valor do

produto ou serviço defeituoso, na proporção da sua inservibilidade ou

imprestabilidade.145

Tanto a responsabilidade extracontratual como a responsabilidade

contratual, consiste numa violação de um dever. A primeira, como já se viu,

decorre da previsão de lei, e a segunda da previsão de lei e de uma obrigação

contratual.

Como se vê, o Código de Defesa do Consumidor garante aos

consumidores a proteção e responsabiliza os fornecedores que colocarem no

mercado produtos com vícios ou defeitos.

143 DIAS, Jean Carlos. Direito Contratual no Ambiente Virtual. p. 118. 144 CANUT, Letícia. Proteção do Consumidor no Comércio Eletrônico. p. 109. 145 CANUT, Letícia. Proteção do Consumidor no Comércio Eletrônico. p. 109.

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Dias146 é categórico ao afirmar que “no caso dos contratos

celebrados em meio virtual não existe qualquer diferença quanto a aplicabilidade

dessa garantia ao consumidor”

A respeito dos produtos e serviços defeituosos colocados à venda

através da Internet, Dias ensina:

Se o contrato eletrônico celebrado resultar em um serviço ou produto considerado defeituoso, o colocador responderá perante o consumidor que contratou por meio de ambiente virtual. Então, se um determinado site servir de intermediário entre o fornecedor e o consumidor o seu responsável poderá ser considerado como comerciante para efeito de responsabilização, na hipótese de não ser possível identificar aquele. Assim, o responsável pela produção e colocação do site no ar, em servindo de intermediário, poderá ser responsabilizado pelo defeito do produto, quando se configurar a responsabilidade do comerciante.

Assim, pelas palavras do autor, tem-se a certeza que nos contratos

eletrônicos, os comerciantes ‘virtuais’ podem ser responsabilizados nos termos do

Código de Defesa do Consumidor, quando venderem produtos ou serviços

defeituosos, ou ainda nas outras hipóteses previstas no Código de Defesa do

Consumidor.

Conforme se viu no Capítulo 2 deste trabalho, em geral, o acesso à

Internet é feito através de um provedor de acesso, que conecta o usuário à

grande rede, assim como também foi dito que os provedores não se limitam a

servir como ponte de acesso entre uma pessoa e Internet.

O provedor armazena as mensagens recebidas pelos seus usuários,

hospeda as home pages, além de prestar diversos serviços, como fornecer

conteúdos em sua página, oferecer serviços de ‘disco virtual’, para que seus

clientes possam armazenar arquivos nos servidores do provedor.

146 DIAS, Jean Carlos. Direito Contratual no Ambiente Virtual. p. 128.

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Não há dúvida que o provedor de acesso é responsável no que

tange aos danos emergidos da relação contratual do provimento de acesso e dos

serviços contratados e prestados diretamente pelo provedor. Esse entendimento é

compartilhado por Rücker,147 que afirma “Sem sombra de dúvidas, que presente o

requisito principal para a configuração jurídica da relação de consumo, pois o

acesso, as informações, o lazer e a pesquisa são consumidas pelo contratante”.

Todavia, merece análise a questão da responsabilização solidária

do provedor de acesso por danos causados aos seus clientes oriundos de

relações de consumo realizadas por estes com fornecedores de produtos ou

serviços pela Internet.

Segundo Andrade,148 analisando estritamente o objeto do contrato

de provimento de acesso, não há responsabilidade de provedor, e nesse sentido

complementa:

O provedor de acesso não é garante de todos os fornecedores que realizam fornecimento pela internet, já que não participa da cadeia de todas as relações de consumo realizadas na grande rede. Aliás, se assim fosse, certamente não teríamos nenhum provedor de acesso, uma vez que tal atividade dificilmente resultaria em lucro para seus empreiteiros. Ademais, ninguém pode responder por danos que nem remotamente provocou. Não pode o provedor, por exemplo, responder por defeito apresentado por um automóvel adquirido por cliente seu pela internet, pela simples razão de não ter participado da cadeia de fornecimento.

Assim, não há como responsabilizar o provedor de acesso por

danos ocorridos ao consumidor, se o contrato para aquisição de produtos ou

serviços foi firmado entre o usuário/consumidor e terceiro que não seja parceiro

comercial e afim do provedor.

Há uma terceira hipótese em que o provedor de acesso poderá ser

responsável solidário na cadeia de fornecimento, segundo Andrade:149

147 RÜCKER, Bernardo. Responsabilidade do provedor de internet frente ao Código do

Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 49, fev. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1776>. Acesso em: 23 abr. 2008.

148 ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Eletrônico no Novo Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor. p. 125.

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Há, todavia, hipóteses nas quais o provedor deixa de ser mero fornecedor de acesso e passa a integrar a cadeia de fornecedores que prestam outros serviços. A realidade é que, hoje, e cada dia mais, os provedores participam ativamente dos negócios realizados pela internet, e transformaram-se em verdadeiros portais de fornecimento de serviços, que vão desde a propaganda de determinado serviço até o efetivo fornecimento deste e de produtos. [...] O poder dos provedores de controle da internet de fato aumentou de maneira brutal, de modo que a internet tem para o consumidor a imagem de provedor. Basta notar que o internauta, ao acessar a rede, primeiro entre no site de seu provedor, onde encontra uma gama de informações que o remete aos sites de interesse do provedor, depois em outro site, ligado àquele, mas todos interligados ao ramo principal que é o provedor, que, para controlar por onde seu cliente vai navegar, faz parcerias com outras empresas de publicidade, de informação – jornais, revistas, rádios e televisão – e com prestadores de serviços e produtos, sempre participando de forma decisiva do desenvolvimento desses negócios, às vezes só cobrando pelos serviços efetivamente prestados, noutras atuando com parceiro e sócio. Então para fixar a responsabilidade do provedor em face do consumidor, será necessário verificar o real envolvimento do provedor na relação jurídica de consumo praticada por seu cliente.

Rücker150 compartilha do mesmo entendimento, ponderando que a

responsabilidade solidária do provedor deve ser analisada caso a caso, veja-se:

Sugerimos, então, que a aplicação da solidariedade passiva às relações de consumo oriundas de serviços que envolvam de forma indireta os provedores de serviço de internet seja aplicada, sim, mas de forma ponderada analisando-se a peculiaridades do caso concreto, atento para a efetiva possibilidade de controle por parte do servidor sobre as informações e idoneidade de seus anunciantes e contratantes.

Desta forma, o provedor de acesso não será solidariamente

responsável nos casos em que a efetiva participação não ficar caracterizada,

todavia, será este responsabilizado quanto efetivamente mantiver com o

fornecedor relação jurídica que o coloque também nesta posição, seja quando

149 ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Eletrônico no Novo Código Civil e no Código de

Defesa do Consumidor. p. 126-127 150 RÜCKER, Bernardo. Responsabilidade do provedor de internet frente ao Código do

Consumidor.

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tiver participação nos lucros, ou quando figurar como sócio, assumindo assim os

ônus decorrentes perante os consumidores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O notável avanço nas tecnologias de informação e comunicação

revolucionou as formas de organização e relacionamento da sociedade. A

Internet, em especial, ampliou as possibilidades de comunicação,

compartilhamento de informações e as formas negociais.

O Direito não avançou na mesma velocidade, mas é certo que os

operadores do Direito e os doutrinadores se esforçam para indicar soluções para

a falta de legislação específica para regular os negócios formalizados através da

Internet, também denominados comércio eletrônico.

Neste trabalho, que não teve a pretensão de esgotar o tema, mas

sim de analisar alguns pontos específicos do comércio eletrônico, resultou em

algumas considerações, que serão agora apresentadas.

Como se viu, o contrato eletrônico não é um novo tipo de contrato,

mas sim um novo meio de formalizar o contrato. Sendo possível adotá-lo sempre

que a lei não exigir forma especial, como é o caso da compra e venda de bem

imóvel, na qual se exige a formalização através de escritura pública.

Ao contrato eletrônico se aplicam as normas e princípios gerais do

direito contratual tradicional, previstas em lei e tratadas pela doutrina, adaptando-

se a cada caso e às necessidades e realidades do meio virtual, assim, estando

presentes os elementos objetivos e subjetivos previstos no direito contratual

tradicional, o contrato eletrônico terá, em princípio, validade jurídica.

No ambiente virtual há uma grande liberdade quanto à forma, até

em razão da falta de regulamentação, impera o caráter transfronteiriço e a maior

tendência é pela dispensabilidade dos documentos físicos em suporte de papel.

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Sem prejuízo da observação de outros princípios, a presença da

boa-fé objetiva é requisito dos mais importantes nos contratos eletrônicos, pois as

partes, em geral, não estão presentes e não se conhecem, e ainda, na grande

maioria dos casos, as partes estão muito distantes umas das outras.

Quanto à aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor no

Comércio Eletrônico de Consumo, restou demonstrado que a posição unânime da

doutrina é pela possibilidade da aplicação.

Restou ainda observado através deste estudo que a grande maioria

dos contratos eletrônicos de consumo se enquadra no tipo contrato de adesão.

Nas transações virtuais, muitas vezes o consumidor nem tem conhecimento

prévio das cláusulas pré-estabelecidas, e quando tem, não lhe é permitido alterar

ou discutir os termos previstos. Razão pela qual a proteção prevista com relação

a esta prática é perfeitamente aplicável aos contratos eletrônicos.

Em atenção à questão do prazo de arrependimento previsto no

artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor, novamente, os estudos

empreendidos nesta monografia demonstraram que este dispositivo tem plena

aplicação e eficácia no âmbito do comércio eletrônico de consumo.

Este estudo também serviu para demonstrar que os agentes ligados

à cadeia de fornecimento serão responsabilizados da seguinte forma: os

produtores, os fabricantes, os construtores e os importadores serão

responsabilizados, independentemente de culpa, por fato do produto ou do

serviço, e não sendo estes identificados, a responsabilidade subsidiária será do

comerciante que mantém a loja virtual de produtos, serviços ou informação.

Já os provedores de acesso têm responsabilidade pelos serviços

que prestam de forma direta aos seus usuários, todavia, não podem ser

responsabilizados pela compra de determinado produto nas lojas virtuais, com

exceção dos casos em que o provedor for sócio, ou tiver participação nos lucros

da empresa que comercializa produtos ou serviços através da Internet.

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Em última análise, observa-se que os contratos eletrônicos devem

ser analisados de forma zelosa, aliando, sempre que possível, teorias do Direito

contratual tradicional às teorias mais modernas, tais como a nova realidade

contratual do atual Código Civil, em especial, até que se aprove a legislação

específica acerca dos contratos eletrônicos e do comércio eletrônico.

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