apesar de tudo, mais bikes nas ruas

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34 Algomais NOV/2013 M esmo sem a infraestrutu- ra adequada e convivendo com a incompreensão dos motoristas, a circulação de bicicle- tas no Recife está se multiplicando. O trânsito caótico – apontado pelo Ipea como o quarto pior do País – e a experiência de pedalar nos finais de semana são os dois combustíveis que começam a motivar os recifenses a deixar o carro e optar pelas magrelas para ir ao trabalho. Apesar da sim- patia que o modal vai conquistando, não houve um centímetro de ciclovia ou ciclofaixa inaugurado neste ano. Apesar de tudo, mais bikes nas ruas Crescimento do modal cicloviário é o tema da terceira matéria da série "A Mobilidade que Precisamos" mobilidade Apesar de ter praticamente o mes- mo território de Amsterdã, conhecida mundialmente pelo uso intensivo das bicicletas, no Recife a prática de pe- dalar é mais vista como uma opção de lazer do que um caminho para a mo- bilidade. Pesquisa sobre os motivos de uso ou não uso da bicicleta, reali- zada pela Ameciclo e pela consultoria Valença e Associados, apontou que a segurança e a infraestrutura são insu- ficientes e funcionam como os garga- los que afastam os cidadãos das bikes. “O Recife é plano, agradável de pedalar e pequeno. Se a cidade pro- move uma condição mais adequada aos ciclistas, observando esses fato- res que foram apontados, as pessoas tendem a não usar tanto o carro”, afirma Daniel Valença, presidente da Ameciclo. A pesquisa indicou que a insegurança está relacionada princi- palmente ao desrespeito dos moto- ristas, que ainda não estão prepara- dos para dividir a via pública com o ciclista. Quanto a infraestrutura, as queixas são relacionadas a ausência de ciclofaixas/ciclovias, a falta de ar- borização e as barreiras físicas, como viadutos e trechos urbanos impró- TRANSPORTE. MUITOS CICLISTAS DOMINGUEIROS ESTÃO EXPERIMENTANDO DEIXAR O CARRO. Rafael Dantas

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Page 1: Apesar de tudo, mais bikes nas ruas

34 Algomais • nov/2013

Mesmo sem a infraestrutu-ra adequada e convivendo com a incompreensão dos

motoristas, a circulação de bicicle-tas no Recife está se multiplicando. O trânsito caótico – apontado pelo Ipea como o quarto pior do País – e a experiência de pedalar nos finais de semana são os dois combustíveis que começam a motivar os recifenses a deixar o carro e optar pelas magrelas para ir ao trabalho. Apesar da sim-patia que o modal vai conquistando, não houve um centímetro de ciclovia ou ciclofaixa inaugurado neste ano.

Apesar de tudo, mais bikes nas ruasCrescimento do modal cicloviário é o tema da terceira matéria da série "A Mobilidade que Precisamos"

mobilidade

Apesar de ter praticamente o mes-mo território de Amsterdã, conhecida mundialmente pelo uso intensivo das bicicletas, no Recife a prática de pe-dalar é mais vista como uma opção de lazer do que um caminho para a mo-bilidade. Pesquisa sobre os motivos de uso ou não uso da bicicleta, reali-zada pela Ameciclo e pela consultoria Valença e Associados, apontou que a segurança e a infraestrutura são insu-ficientes e funcionam como os garga-los que afastam os cidadãos das bikes.

“O Recife é plano, agradável de pedalar e pequeno. Se a cidade pro-

move uma condição mais adequada aos ciclistas, observando esses fato-res que foram apontados, as pessoas tendem a não usar tanto o carro”, afirma Daniel Valença, presidente da Ameciclo. A pesquisa indicou que a insegurança está relacionada princi-palmente ao desrespeito dos moto-ristas, que ainda não estão prepara-dos para dividir a via pública com o ciclista. Quanto a infraestrutura, as queixas são relacionadas a ausência de ciclofaixas/ciclovias, a falta de ar-borização e as barreiras físicas, como viadutos e trechos urbanos impró-

transporte. Muitos CiClistAs doMingueiros estão exPeriMentAndo deixAr o CArro.

rafael dantas

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prios para pedalar e caminhar.Em 2013, o grande avanço para o

transporte cicloviário na capital per-nambucana foi a inauguração e ex-pansão do sistema de aluguel de bi-cicletas. No balanço da Ameciclo, há um sentimento de frustração pela fal-ta de novas rotas de ciclovia ou ciclo-faixa na cidade. “O discurso de defesa aos ciclistas pela prefeitura continua, mas falta mais ação. Infelizmente, o modal ainda é tratado como uma op-ção de lazer”, aponta Daniel Valença.

O cicloativista Lucio Flausino, 27, há alguns anos usa a bike para ir ao trabalho, que fica cerca de dois quilô-metros de sua casa. Nos seus roteiros diários, apesar de não haver ciclovia, a quantidade de ciclistas é crescen-te. “É perceptível como o número de pessoas pedalando cresce na cidade. E no Centro é impressionante como as pessoas estão usando as bikes de alu-guel, principalmente nos caminhos onde funciona a ciclofaixa móvel”, afirma Flausino, que alerta para a sa-turação de ciclistas em alguns trechos nos domingos e para a necessidade de campanhas educativas para motoris-tas e até para os novos ciclistas da ci-dade. “Existem vias que precisam ser compartilhadas, então é necessário mais educação no trânsito.”

Apesar das críticas, os cicloativis-tas reconhecem na ciclofaixa móvel – promovida aos domingos pela PCR – um fator positivo no incentivo ao uso das bicicletas. O primeiro aspecto é que alguns ciclistas domingueiros tem feito o uso do modal também nos dias de semana. Esse fato é compro-vado pelo aumento do número de ci-clistas nos bairros de classe média da cidade. Além disso, mesmo que sigam com o transporte motorizado durante a semana, esses cidadãos, quando es-tão no volante, tem a tendência de ter um comportamento mais amistoso com os ciclistas.

De acordo com a presidente da CTTU, Taciana Ferreira, antes de iniciar novos trechos de ciclofaixa/ciclovias, a PCR está fazendo estu-dos e participando das discussões do plano diretor cicloviário metropolita-no. “Existe uma demanda latente de ligação entre bairros para trabalho e serviços, em deslocamentos em sua maioria em torno de 5 km. Teremos

Região Metropolitana, nos corredo-res exclusivos de TRO (Transporte Rápido de Ônibus) dos eixos Norte/Sul, Leste/Oeste e Ramal de Aces-so à Cidade da Copa. “Pernambuco, assim como a maioria dos Estados do Brasil, enfrenta o desafio de minorar os problemas de mobilidade. O uso da bicicleta como meio de transporte tornou-se uma alternativa. Sobretu-do quando esse uso é racional, para pequenos percursos, integrando a bi-cicleta a outros modais de transporte. Sem falar que em um único veículo agrega-se sustentabilidade, exercí-cio físico e não produção de poluição, além de um novo olhar às cidades”, declara o secretário das Cidades, Da-nilo Cabral.

um foco na integração desse modal com o transporte público”, declara Taciana, que sinalizou a possibilida-de da prefeitura inaugurar ao menos um trecho até o final do ano. O prazo estipulado pela PCR para entregar os 76 km de vias para ciclistas, prometi-do na campanha, é de mais 18 meses.

Pelo Governo do Estado, a grande aposta no incentivo ao transporte ci-cloviário está no Pedala PE. Por meio do programa, estão sendo construí-dos mais de 100 km de ciclovias na

InterMoDaLIDaDeAluguel de BiKes e Conexão CoM o trAnsPorte PÚBliCo são As APostAs do Poder PÚBliCo PArA inCentiVAr o ModAl CiCloViÁrio no reCiFe e eM PernAMBuCo.