aperfeiçoamento humano pró e contra
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Introdução
Gostaria de ser mais inteligente? Mais forte? Gostaria de viver durantemais tempo e com boa saúde? De escolher o sexo e aparência dumacriança da qual vai ser um dos progenitores?
Há quem garanta que os avanços da ciência adiarão oenvelhecimento e a decadência do corpo. Poderemos ainda recuperar avisão e melhorar a memória.
Quem não gostaria de ter todas estas vantagens sem precisar detrabalhar para as obter?
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Objeções à ideia de aperfeiçoamento biológico
Apresentam-se três objeções à ideia de aperfeiçoamento biológico do ser humano.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
1.ª Objeção
«Devemos dar prioridade ao que é natural face ao artificial porque oque é natural é, em geral bom, e o que não é natural é mau.»
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Comentário à 1.ª Objeção
Receia-se que haja desigualdade entre os seres humanosaperfeiçoados e os que «ficam para trás». Um igual estatuto moraldepende de uma mesma natureza humana. Se se aperfeiçoar essanatureza, não a farão em todos os seres humanos. Logo, uns «serãomais iguais do que outros» ou deixaremos de ter um igual estatutomoral.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Comentário à 1.ª Objeção
Os bioconservadores dizem que todos são iguais por naturezareduzindo, contudo, assim o conceito de pessoa a uma caraterísticabiológica. Por outro lado, considerar como bom o que é natural é fazerda natureza humana mais uma avaliação do que um dado. Trata-se deuma construção: é naturalmente bom o que é desejável.
As teorias sobre a natureza humana são muitas e algumas como ade Hobbes salientam a maldade e não a tendência para o bem. E falarde «sabedoria da natureza» é mais uma crença metafísica do que umajustificação plausível.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
2.ª Objeção
«Ao querermos aperfeiçoar a natureza humana estamos a “brincar aDeus” e, por isso, a ser arrogantes.»
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Comentário à 2.ª Objeção
Esta é uma das objeções mais usadas: o argumento do «brincar aDeus». Modificar e intervir na natureza humana é arrogância perante oCriador. No entanto, este argumento só será plausível para os crentes edificilmente convencerá os ateus ou agnósticos. Esta segunda objeção éhabitualmente reforçada pela ideia de que a natureza é boa e sábia. Sejanum contexto religioso seja num contexto secular, julga-se que cabe àprópria natureza e não ao ser humano a tarefa do aperfeiçoamento. Enós, humanos, devemos aceitar só o que a natureza nos deu?
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
3.ª Objeção
«As intervenções técnicas da engenharia genética na naturezahumana são muito caras e só os mais favorecidos poderão beneficiardelas. Por outro lado, não aceitar as contingências da lotaria genética efazer com que a natureza humana seja o resultado de escolhascontroladas artificialmente reduziria o peso de valores como ahumildade e a solidariedade. A valorização dos dons naturais de umatleta e de um cantor é algo de que não devemos prescindir.»
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Comentário à 3.ª Objeção
Esta é uma questão de justiça social que implicitamentereconhece que o aperfeiçoamento é uma coisa boa. Se a intervençãodas biotecnologias for no sentido de criar seres humanos superioresinterferindo no genoma tal como ele é, o risco de desigualdade é claro.Podemos antever uma elite de pós-humanos com mais aptidõesmentais, mais capacidade atlética, vidas mais longas e melhores, maiscapacidade para criar riqueza e, desde logo, a propensão para setornarem dominantes. A divisão entre humanos e pós-humanos, osbeneficiários do aperfeiçoamento, criaria um fosso e um conflito grave.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Contra este cenário, a aceitação dos dons da natureza évalorizada por pensadores como Michael Sandel, por exemplo, que nãodescarta as intervenções terapêuticas, mas opõe-se a técnicas deaperfeiçoamento. Uma coisa é intervir na natureza para a restaurar, pararestaurar a saúde ou para curar, outra é querer mudar essa natureza emnome de uma ideia de natureza humana perfeita.
Este pensador considera que se devem valorizar as capacidadesnaturais humanas, o empenho, por exemplo, de um atleta que usa etrabalha o que a natura, por sorte, lhe deu. Se cada um de nós pudessedeterminar as suas capacidades com base no aperfeiçoamento artificial,então cada indivíduo deveria os seus sucessos e fracasso só a si mesmo,e este conceito asfixiante de responsabilidade reduziria a solidariedadesocial.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Comentário à 3.ª Objeção
Objeções ao aperfeiçoamento
As dúvidas sobre a segurança dos procedimentos
Muita gente se preocupa com a segurança das tecnologias doaperfeiçoamento e com o conhecimento limitado que mesmo osespecialistas têm sobre as consequências da engenharia genética emcertos domínios. No entanto, este argumento parece não ser suficientepara mostrar que melhorar não é ético. Se houvesse um avançocientífico significativo, poderia confirmar-se a segurança dosprocedimentos, e as consequências do aperfeiçoamento poderiam sercontroladas. Nessa altura, não haveria nenhuma objeção em avançarcom o aperfeiçoamento.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
O que é natural deve ter prioridade sobre o artificial.
Outra objeção ao aperfeiçoamento tem por base a ideia de que onatural é bom e de que o não natural é mau: resumidamente,devemos dar prioridade ao natural em detrimento do artificial.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Objeções ao aperfeiçoamento
Muitos consideram esta crença errada. Por exemplo, diz-se queos alimentos que surgem naturalmente são mais seguros ou maissaudáveis, mas em muitos casos, porém, os alimentos preparadosartificialmente são mais seguros e mais saudáveis.Quando os processos naturais são menos dispendiosos ou provocammenos danos no ambiente, há razões para preferi-los. No entanto, nãohá razão alguma para preferir um processo natural a um processoartificial na ausência de outras considerações relevantes. Pode-se darexemplos de acontecimentos naturais bons, como um brilhante pôr-do-Sol ou uma colheita abundante. Mas, por vezes, o natural também podeprovocar grandes danos (as enchentes, as secas…), podendo mesmocausar perdas de vidas humanas.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Objeções ao aperfeiçoamento
O que é natural deve ter prioridade sobre o artificial.
Também desta forma se teria de renunciar às práticas damedicina e às suas constantes descobertas, como as vacinas e osantibióticos. O ser humano fica naturalmente doente e é invadido pororganismos naturais como vírus e bactérias, que muitas vezes matam.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Objeções ao aperfeiçoamento
O que é natural deve ter prioridade sobre o artificial.
O dever de não tentar aperfeiçoar a natureza humana é muito discutível.
Outra objeção importante é a de «brincar a Deus», já referidaanteriormente, a ideia de que, ao procedermos a certosaperfeiçoamentos, somos culpados de arrogância.
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Objeções ao aperfeiçoamento
«Não se espera que os seres humanos criem melhores sereshumanos, pois isso seria arrogante da sua parte. Deveriam apenasaceitar o que Deus ou a natureza lhes deu, sem tentarem melhorá-lo.»A pergunta é: Haverá algo de errado em intervir nos genes, modificandoassim a natureza humana e evoluir por nós próprios?
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Objeções ao aperfeiçoamento
O dever de não tentar aperfeiçoar a natureza humana é muito discutível.
Lisa Bortollotti disserta acerca do possível facto da valorização dahumanidade enquanto tal. «O facto de todas as pessoas queconhecemos serem seres humanos é apenas um acaso. Seencontrássemos essas caraterísticas das pessoas em seres nãohumanos, íamos (ou devíamos) ainda valorizá-las e estimá-las. Taisconsiderações podem apoiar a ideia de que o valor intrínseco e oestatuto moral não dependem da espécie a que os indivíduospertencem, mas do facto de serem pessoas, e de, enquanto tal, tereminteresses de um certo tipo.»
O aperfeiçoamento biológico do ser humano
FILOSOFIA 11.º ano
Objeções ao aperfeiçoamento
O dever de não tentar aperfeiçoar a natureza humana é muito discutível.