apelaÇÃo cÍvel nº 0335245.29.2014.8.09.0051 comarca...

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Gabinete do Desembargador Fausto Moreira Diniz 6ª Câmara Cível APELAÇÃO CÍVEL Nº 0335245.29.2014.8.09.0051 COMARCA DE GOIÂNIA APELANTE : BOATE WOODS APELADA : ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NEXO CAUSAL ENTRE O DANO E A CONDUTA DO AGENTE DEMONSTRADO. CONSTRANGIMENTOS SOFRIDOS NO ESTABELECIMENTO COMERCIAL DA RECORRENTE. RELAÇÃO CONSUMERISTA . NÃO COMPROVAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO. LITIGÂNCIA DE MÁ- FÉ AFASTADA. SUCUMBÊNCIA RECURSAL. I - Restando satisfatoriamente comprovada a presença dos elementos da culpa, quais sejam, a conduta (má prestação do serviço), o resultado (constrangimentos físicos e moral) e o nexo causal, impositiva a obrigação de indenizar os danos morais sofridos pela autora ao ser colocada em uma sala isolada da boate, onde sofreu constrangimentos, como alternativa da empresa para tentar coibir comportamento que considerava inadequado. II - As provas dos autos autorizam seja atribuída a ré a responsabilidade pelo evento danoso, não tendo ela se desincumbindo do ônus de desconstituir o direito da autora, sequer comprovando a existência de quaisquer Ac 0335245.29 1

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Gabinete do Desembargador Fausto Moreira Diniz6ª Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0335245.29.2014.8.09.0051

COMARCA DE GOIÂNIA

APELANTE : BOATE WOODS

APELADA : ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA

RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS. NEXO CAUSAL ENTRE O DANO E A

CONDUTA DO AGENTE DEMONSTRADO.

CONSTRANGIMENTOS SOFRIDOS NO ESTABELECIMENTO

COMERCIAL DA RECORRENTE. RELAÇÃO CONSUMERISTA.

NÃO COMPROVAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.

QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO. LITIGÂNCIA DE MÁ-

FÉ AFASTADA. SUCUMBÊNCIA RECURSAL. I - Restando

satisfatoriamente comprovada a presença dos elementos da culpa,

quais sejam, a conduta (má prestação do serviço), o resultado

(constrangimentos físicos e moral) e o nexo causal, impositiva a

obrigação de indenizar os danos morais sofridos pela autora ao ser

colocada em uma sala isolada da boate, onde sofreu

constrangimentos, como alternativa da empresa para tentar coibir

comportamento que considerava inadequado. II - As provas dos

autos autorizam seja atribuída a ré a responsabilidade pelo evento

danoso, não tendo ela se desincumbindo do ônus de desconstituir o

direito da autora, sequer comprovando a existência de quaisquer

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excludentes de sua culpabilidade, na forma dos artigos 373, inciso

II, do Código de Processo Civil e 14, § 3º, II, do Código de Defesa

do Consumidor. III - Quantum indenizatório fixado mantido.

Existem hipóteses em que o pedido é ilíquido e o valor dos danos

não é mensurável no momento do ajuizamento da ação, ficando ao

arbítrio do juiz a sua fixação. IV - Inexistindo no feito elementos

probantes da prática pela autora da ação, de litigância de má-fé,

nos moldes do artigo 80, do Código de Processo Civil, não merece

prosperar o pleito da apelante de imposição das sanções inerentes.

IV - Evidenciada a sucumbência recursal impende majorar a verba

honorária anteriormente fixada, conforme disposto no artigo 85, §

11, do Código de Processo Civil de 2015. APELO CONHECIDO E

DESPROVIDO.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os presentes

autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 0335245.29.2014.8.09.0051,

Comarca de GOIÂNIA, sendo apelante BOATE WOODS e apelada

ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA.

Acordam os integrantes da Segunda

Turma Julgadora da Sexta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de

Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer

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e desprover o apelo, nos termos do voto do Relator. Custas de

lei.

Votaram, além do Relator, Desembargador

Fausto Moreira Diniz, Desembargador Norival Santomé e

Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis, que também

presidiu o julgamento.

Presente a ilustre Procuradora de Justiça,

Doutor Rodolfo Pereira Lima Júnior.

Goiânia, 05 de junho de 2018.

DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ

RELATOR

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Gabinete do Desembargador Fausto Moreira Diniz6ª Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0335245.29.2014.8.09.0051

COMARCA DE GOIÂNIA

APELANTE : BOATE WOODS

APELADA : ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA

RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ

RELATÓRIO

Trata-se de apelação cível (evento 11) interposta por WGOIÂNIA

BAR LTDA (BOATE WOODS) contra a sentença (evento 8)

proferida pelo MM. Juiz de Direito da 13ª Vara Cível e Ambiental da

comarca de Goiânia, Dr. Otacílio de Mesquita Zago, nos autos

da ação de indenização por danos morais ajuizada em seu desfavor

por ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA.

No ato judicial atacado, o douto magistrado a quo julgou

procedente o pedido inicial para condenar a requerida a pagar, a

título de danos morais, a quantia de R$ 12.000,00 (doze mil reais),

ao fundamento de que "... resta cristalino o nexo de causalidade entre

o dano suportado pela requerente (constragimento (sic), agressão física

e intimidações) e a conduta ilícita do estabelecimento (má prestação do

serviço) ..." (sic, evento 8).

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Inconformada, a ré manejou o presente apelo e, em suas prédicas

recursais, após breve relato dos fatos, alega, preliminarmente, que

a apelada juntou o boletim de ocorrência após a apresentação da

contestação, portanto, de forma extemporânea, prejudicando a

apresentação de defesa pela parte contrária, além de ter sido

fundamento expresso da sentença condenatória.

Com relação ao mérito, alega que "... a sentença não possui conexão

lógica com os documentos anexados e os depoimentos pessoais das

testemunhas, nota-se, que a apelada não apresentou nenhuma prova

para constituição do seu provável direito, ou seja, não comprovou

através de documentos qualquer dano físico que alegou durante todo o

curso do processo, tais como, exame realizado pelo IML (Corpo e Delito),

uma vez que alegou que sofreu várias agressões. Tampouco trouxe nos

autos qualquer exame particular, receitas médicas ou até mesmo

comprovante de remédio que a mesma tenha comprado para diminuir as

supostas dores e/ou escoriações existente (sic) em seu corpo." (sic, fl.

4, evento 11).

Defende que as discussões ocorridas na boate foram provocadas,

única e exclusivamente, pela apelada e invoca o artigo 14, § 3º, do

Código de Defesa do Consumidor para se isentar de qualquer

responsabilidade.

Argumenta que agiu no exercício regular do seu direito.

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Aponta contradições e inconsistências nos depoimentos

testemunhais, único meio de prova utilizado, destacando a questão

do celular da autora e da suposta sala reservada para onde teria

sido levada após a confusão na boate.

Ressalta ser entendimento pacífico deste tribunal que, em caso de

dúvida ou incerteza no depoimento das testemunhas, a parte

acusada não deve arcar com prejuízos que efetivamente não foram

comprovados.

Argumenta que os princípios da proporcionalidade e razoabilidade

não foram ponderados no arbitramento dos danos morais,

requerendo sua minoração para R$ 1.000,00 (mil reais), valor dado

à causa pela autora, nos termos do artigo 292, V, do Código de

Processo Civil.

Insurge-se com relação à inversão do ônus probatório.

Pleiteia pela condenação da recorrida em litigância de má-fé, nos

termos do artigo 80, II, do Código de Ritos.

Ao final, pede pelo conhecimento e provimento do recurso nos

moldes acima alinhavados.

O preparo é visto no evento 11.

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A recorrida Anamara Cristiane de Brito Barreira apresentou

suas contrarrazões ao 16º evento, onde pugna pela manutenção

incólume do ato sentencial atacado.

É o relatório.

Peço dia para julgamento.

Goiânia, 16 de maio de 2018.

DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ

RELATOR

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APELANTE : BOATE WOODS

APELADA : ANAMARA CRISTIANE DE BRITO

BARREIRA

RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ

VOTO DO RELATOR

Presentes os pressupostos de admissibilidade conheço do apelo,

passando à sua análise.

Conforme relatado, na sentença atacada em ação de indenização

por danos morais, o douto magistrado a quo julgou procedente o

pedido inicial ao fundamento de que "... resta cristalino o nexo de

causalidade entre o dano suportado pela requerente (constragimento (sic),

agressão física e intimidações) e a conduta ilícita do estabelecimento (má

prestação do serviço) ..." (sic, evento 8).

Inconformada, a requerida manejou a presente apelação,

alegando, em preliminar, que o boletim de ocorrência foi juntado

aos autos apenas no momento da impugnação à contestação,

cerceando o seu direito de defesa quanto a esta prova.

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Destaca o equívoco do magistrado a quo ao ter se firmado somente

no depoimento testemunhal para proferir o decisum, prova que

julga contraditória e inapta a demonstrar o nexo causal entre a

conduta da agente e os danos alegados.

Defende a culpa exclusiva da vítima, requer sua condenação por

litigância de má-fé e, alternativamente, pleiteia a minoração dos

danos morais para o valor da causa, nos termos do artigo 292, V,

do Código de Processo Civil.

Passo ao voto.

Primeiramente, entendo não ter configurado o cerceamento do

direito de defesa da apelante, no tocando à não oportunização para

se manifestar acerca do boletim de ocorrência anexo à impugnação

à contestação.

Conquanto tenha o magistrado condutor do feito, realmente,

omitido essa oitiva específica, o processo seguiu seu regular

trâmite antes de proferida a sentença, com realização de audiência

de conciliação, oportunidade de manifestação acerca de produção

probatória, audiência de instrução (doc. 59, evento 03) e

memoriais, tornando-se inequívoca a ciência desta prova, em

particular.

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Nesse contexto, coerente a aplicação do artigo 278 do Código de

Processo Civil, o qual prevê que "A nulidade dos atos deve ser alegada

na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob

pena de preclusão."

Assim, entendo preclusa esta alegativa. Passo à análise do

mérito.

A autora/apelada relatou, em sua petição inicial, as seguintes

circunstâncias, reproduzidas na sentença, ora recorrida:

"... no dia 24/08/2014 foi acompanhada de alguns amigos ao recinto da ré,

e ao chegar à boate, por volta de 22h30, se dirigiu ao camarote de um

amigo, no qual houve uma discussão envolvendo sua amiga Priscila

Nascimento, razão pela qual tentou apaziguar e saber o que havia ocorrido.

Asseverou que em razão da situação desagradável convidou a amiga para ir

ao banheiro, o que foi aceito. Ao sair do banheiro, se depararam com a

mulher que havia começado a discussão, acompanhada de uma segurança

do estabelecimento. Tal segurança puxou a autora pelo braço e a agrediu

com palavras, momento em que esta se afastou e afirmou que não queria

confusão e retornou ao camarote.

Afirmou que posteriormente, por volta de 03 horas da manhã, um cliente da

boate, embrigado, solicitou uma foto e puxou a autora pelo braço, tentando

abraçá-la, situação que a fez desvencilhar-se e retornar ao camarote, o que

ensejou o rapaz começar a proferir palavras de baixo calão, humilhando-a

na frente de todos. Na ocasião, Claryane Borges, amiga da autora, ao

presenciar o ocorrido, tentou defendê-la, o que resultou nova discussão.

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Tal circunstância fez com o que o chefe de segurança, de nome Sinésio,

saísse arrastando a autora pelo braço ao argumento de que havia causado

muita confusão no local.

Ressaltou que das duas confusões ocorridas na boate nenhuma se originou

por conduta da autora, tendo sido apenas vítima.

Relatou que foi levada para uma sala de acesso privado, onde mais três

funcionários ficaram acusando-a de ter agredido uma funcionária da boate.

Na ocasião, esclareceu que não havia agredido ninguém, e tampouco havia

iniciado qualquer confusão, bem ainda solicitou que apurassem as imagens

nas câmeras, entretanto não permitiram a sua retirada da sala, ficando

impossibilitada de pedir ajuda, uma vez que também estava sem bateria de

celular. Por sua vez, as amigas foram informadas pela segurança que a

autora já havia ido embora.

Ponderou que após alguns minutos presa na sala, entrou no ambiente a

segurança que participou da primeira confusão, alegando que havia sido

agredida pela autora; esta ao perceber que estava em uma emboscada,

começou a gritar para que a retirassem da sala, momento em que a chefia

da segurança propôs que saíssem pelos fundos, o que foi feito, sendo

conduzida como se fosse uma criminosa.

Narrou que ao sair da sala foi atingida diretamente nas costas por um soco

da segurança envolvida na confusão, vindo a cair na escada e a machucar o

joelho.

Na sequência, dirigiu-se a uma delegacia e registrou ocorrência." (evento

8).

As provas a respeito da dinâmica do ocorrido são as acostadas ao

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doc. 22 do evento 03 e os depoimentos colhidos (doc. 59 e doc.

67, da mesma movimentação), de modo que, em audiência

instrutória, as testemunhas ouvidas fizeram afirmações condizentes

com o afirmado na exordial e relatado no boletim de ocorrência.

Apesar da testemunha Priscila Soares Nascimento ter sido ouvida

como informante, seu depoimento não destoou das outras

declarações, notadamente do fato incontroverso de que houve uma

discussão na boate envolvendo a autora e que ela foi afastada do

local e sofreu constrangimentos por parte da equipe da recorrente.

A propósito, invocável o seguinte excerto da motivação

empreendida pelo julgador de instância originária:

"No boletim de ocorrência juntado no evento 03, arquivo 22, páginas 09 e

10, a requerente assim relata:

'RELATA-NOS A COMUNICANTE, ORA VÍTIMA, QUE NA DATA DE ONTEM,

24/08/2014, POR VOLTA DAS 22H00, CHEGOU NA BOATE WOOD'S,

SITUADA NA AV. T-10, SETOR BUENO, NESTA CAPITAL, COM ALGUNS

AMIGOS, SENDO QUE POR VOLTA DAS 22H30, HOUVE UMA DISCUSSÃO

DENTRO DA BOATE, ENVOLVENDO UMA AMIGA, MOMENTO EM QUE UMA

DAS SEGURANÇAS PUXOU A COMUNICANTE PELO BRAÇO E HOUVE UMA

PEQUENA DISCUSSÃO. QUE POR VOLTA DAS 03H00, DO DIA DE HOJE,

OCORREU OUTRA CONFUSÃO, DEVIDO ALGUMAS PESSOAS ACHAR EM QUE

A COMUNICANTE ERA OBRIGADA A TIRAR FOTOS" COM ELES. QUE

DURANTE A CONFUSÃO, A COMUNICANTE FOI COLOCADA EM UMA SALA,

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COM O CHEFE DA SEGURANÇA E QUANDO A COMUNICANTE DISSE QUE ELE

PODERIA SER INDICIADO POR CÁRCERE PRIVADO, ESTE DISSE QUE A

COMUNICANTE HAVIA AGREDIDO UMA DAS SEGURANÇAS DE NOME

ANTONIETA, O QUE NÃO É VERDADE. QUE APÓS ARGUMENTAR COM O

CHEFE DA SEGURANÇA, DIZENDO QUE PRECISAVA SAIR, COM OS AMIGOS,

O CHEFE DA SEGURANÇA MANDOU QUE A COMUNICANTE SAÍSSE PELAS

ESCADAS, MOMENTO EM QUE A O SE VIRAR FOI AGREDIDA FISICAMENTE

PELA SEGURANÇA, DE NOME ANTONIETA, TENDO A COMUNICANTE CAÍDO

NO CHÃO, APÓS RECEBER UM SOCO NA ALTURA DA FACE. QUE AO SAIR DA

BOATE, ACOMPANHADA PELO CHEFE DA SEGURANÇA, QUE A CONSTRANGIA

TODO O TEMPO, NÃO MAIS ENCONTROU OS AMIGOS E UMA EQUIPE DA

POLICIA MILITAR, QUE SE ENCONTRAVA EM UMA VI ATURA NA PORTA DA

BOATE, SE RECUSOU A AJUDAR A COMUNICANTE A SE DIRIGIR A UMA

DELEGACIA PARA REGISTRAR OS FATOS. QUE A COMUNICANTE TOMOU UM

TÁXI, SE DIRIGIU À DEAM, ONDE FOI ORIENTADA A REGISTRAR O FATO

NESTA DELEGACIA. REGISTRA-SE PARA FINS DE DIREITO.'

Tais fatos foram confirmados pelas testemunhas, senão vejamos:

'Que na noite dos fatos a depoente chegou a Boate e foi direto ao camarote

ao lado daquele em que estava a autora; Que percebeu o momento em que

um jovem a abordou e tentou tirar uma foto 'na marra'; Que a autora

recusou aquela abordagem e isso gerou tumulto; Que a depoente viu o

instante em que autora solicitou a intervenção de um segurança; Que ele

não interviu e apenas gesticulou dando a entender que não agiria; Que

depois tudo se acalmou e a depoente continuou conversando com um

amigo; Que passado algum tempo a depoente não avistou a autora e

acreditou que ela tivesse ido embora; Que no dia seguinte conversou com a

autora pelo Watsapp e comentou que ela havia ido embora sem se despedir;

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Que neste momento a autora lhe contou o ocorrido; Que faz algum tempo e

não se lembra de muitos detalhes narrados pela autora, mas em resumo ela

lhe disse que uma segurança a chamou até uma sala reservada, e lá a

autora foi trancada, e impedida de sair, sob o argumento de que ali

permaneceria até o término do expediente da boate; Que ela também

comentou que tal segurança lhe agrediu com um murro nas costas quando

ela tentava sair do local. Dada a palavra ao procurador da autora nada

perguntou. Dada a palavra ao procurador da requerida as suas perguntas

respondeu: Que a autora comentou com a depoente que quando estava

presa disse que queria ir embora, mesmo que fosse pela porta dos fundos,

providência não permitida pelos seguranças; Que conhece a autora por

conta do círculo de amizade em comum, mas não tem maiores contatos com

ela; Que a depoente participou de uma festa anterior ao encontro na boate;

Que na festa anterior não estava próxima a autora e não sabe dizer se ela

ingeriu bebida alcoólica; Que na boate também não ficou perto da autora e

não pode dizer se ela ingeriu bebida alcoólica; Que não sabe dizer se ao ser

conduzida para a sala reservada a autora estava com o telefone celular,

mesmo porque pensou que a autora tivesse ido embora; Que não sabe dizer

onde fica a sala reservada para a qual a autora foi conduzida; Que a autora

nada comentou sobre o Boletim de Ocorrência.' (testemunha Daiane

Rodrigues de Souza, evento 03, arquivo 59, página 02).

'Que na noite dos fatos participava de uma festa na companhia da autora e

de vários amigos; Que de tal festa o grupo decidiu ir para a Boate requerida;

Que lá chegando o grupo se dirigiu ao camarote vip; Que depois de algum

tempo a declarante decidiu ir ao banheiro; Que quando retornava do

banheiro foi assediada por um rapaz e em resposta jogou-lhe no rosto o

conteúdo de um copo de bebida; Que a bebida também atingiu uma jovem

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que estava atrás do rapaz; Que irritada, a jovem tentou agredir fisicamente

a declarante, mas por conta da intervenção das pessoas que ali estavam o

fato não se consumou; Que citada jovem ameaçou a declarante dizendo que

se ela retornasse ao local iria apanhar; Que assustada, a declarante voltou

para o camarote vip e comentou o ocorrido aos amigos; Que antes disso ela

reclamou do ocorrido ao segurança e ele, após verificar que o agressor se

tratava de cliente vip, disse que não poderia fazer nada; Que mais tarde a

declarante precisou retornar ao banheiro e nisso a autora disse que iria

acompanhá-la; Que do lado de fora do camarote vip, logo que a jovem,

autora das ameaças, lhe avistou partiu em sua direção, não conseguindo

agredi-la por conta da intervenção das pessoas que ali estavam; Que havia

uma segurança no local e pelo que a declarante percebeu que ela tentou

proteger aquela jovem; Que ato contínuo a declarante voltou para o

camarote na companhia da autora; Que no camarote a declarante viu o

momento em que um rapaz tentou abordar a autora e tirar uma foto na

companhia dela; Que ela não aceitou a abordagem forçada e tentou se

desvencilhar do jovem; Que tal fato gerou nova confusão e os seguranças

foram para o local; Que uns dez minutos depois a declarante foi embora;

Que passado duas horas a autora ligou para a declarante e lhe informou que

os seguranças lhe haviam conduzido para uma sala reservada, proibindo-lhe

o contato com seus amigos, apesar da ressalva feita por ela no sentido de

que aquela atitude era abusiva e configurava cárcere privado; Que a autora

também ressaltou que caso eles quisessem retirá-la da festa, bastaria

colocá-la para fora da Boate; Que a autora também comentou que depois de

permanecer algum tempo na sala reservada, foi colocada para fora da Boate

pelos seguranças, inclusive sendo agredida por uma segurança que lhe

desferiu um murro nas costas; Que ela comentou que ficou bastante tempo

na sala reservada, contra a sua vontade. Dada a palavra ao procurador da

autora nada perguntou. Dada a palavra à procuradora da requerida as suas

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perguntas respondeu: Que a autora disse que foi conduzida à sala reservada

por uma segurança mulher, e a declarante entendeu que eles teriam tomado

o celular da autora, fato não confirmado por esta última; Que todos do grupo

estavam ingerindo bebida alcoólica socialmente e a autora, em nenhum

momento, se expôs indevidamente; Que a declarante entendeu que a jovem

que lhe agrediu era conhecida da segurança mulher, pois antes de entrar no

banheiro as duas estavam conversando junto ao balcão; Que as vestes

identificavam a segurança mencionada pela declarante, além disso, já havia

frequentado o local outras vezes e sabia que ela trabalhava ali; Que a

declarante não havia sofrido assédio anterior que culminasse com contato

físico, conforme o ocorrido na Boate na noite do evento; Que não sabe dizer

se o fato envolvendo a autora foi noticiado na mídia, até porque acredita que

ela queria resguardar sua imagem; Que não sabe o motivo pelo qual a

autora foi sozinha para a Delegacia.' (Informante Priscila Soares Nascimento,

evento 03, arquivo 59, página 03).

'Que ao tempo dos fatos o depoente era segurança da Boate demandada,

situação que persiste até os dias atuais; Que naquela data o depoente

trabalhava no controle da saída da Boate e não teve qualquer contato com a

autora; Que ouviu apenas comentários envolvendo o nome da autora em

uma provável briga ocorrida no interior dos camarotes; Que a autora saiu

pela área vip e portanto o depoente não a avistou naquele momento. Dada a

palavra ao procurador da requerida as suas perguntas respondeu: Que na

hipótese de ocorrência de briga no interior da Boate a recomendação aos

seguranças é de que as partes envolvidas sejam conduzidas a portarias

distintas (vip e normal), de modo a evitar o contato visual e novos

confrontos, e naquele momento as partes envolvidas são convidadas a

acertar o cartão de consumo e deixar a Boate; Que na hipótese da parte

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envolvida pedir a presença da policia, os próprios seguranças acionam a

viatura que atende a região; Que a área comum da Boate é um galpão e não

existe sala reservada para que clientes em situação de confronto sejam

conduzidos e lá permaneçam sob vigilância; Que o depoente apenas soube

que a autora tinha brigado no interior da Boate, mas não sabe dizer detalhes

a respeito dos fatos; Que o depoente não foi intimado para esclarecer

perante autoridade policial a respeito dos fatos envolvendo a autora. Dada a

palavra ao procurador da autora as suas perguntas respondeu: Que não

existe acesso direto entre a área comum da Boate e a parte usada pela

administração.' (testemunha Divino Sinézio Moraes de Souza, evento 03,

arquivo 67, página 04).

'Que conheceu a autora Anamara naquele final de semana em razão da

comemoração do aniversário de uma amiga em comum de nome Rosana

Oliveira, a 'Rosaninha'; Que no dia dos fatos chegaram na boate ré e se

dirigiram ao banheiro como é comum acontecer para se arrumarem; Que lá

chegando, não sabe informar direito o motivo, ocorreu uma discussão entre

a pessoa de Priscila e uma outra moça; Que Priscila é uma modelo muito

conhecida em Goiânia -GO e estava no grupo da depoente e da autora; Que

em razão dessa discussão a autora interviu para apartar a briga entre

Priscila e esta moça; Que quando isto aconteceu uma segurança do local não

gostou da atitude da autora e lhe disse que este serviço era de sua

responsabilidade; Que passado este incidente o grupo da depoente e da

autora se dirigiu até o seu camarote; Que a intençao do grupo era

permanecer pouco tempo no local, pois a 'balada' estava ruim e vazia; Que

pouco tempo após o incidente do banheiro, quando o grupo da autora se

encontrava no camarote, um rapaz que se encontrava bêbado, reconheceu a

autora Anamara e se aproximou de forma agressiva dizendo que iria tirar

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foto com a mesma; Que Anamara se escondeu para não tirar a foto com

este homem; Que este homem insistiu querendo entrar no camarote ocasião

em que disse que o grupo era formado por mulheres 'vagabundas' e

'prostitutas', ocasião em que a depoente reagiu e jogou o líquido de um copo

que estava em sua mão no rosto daquele rapaz; Que diante disto o rapaz

forçou ainda mais a entrada no camarote sendo impedido pelo segurança;

Que imediatamente apareceu a mulher que também é segurança no local e

que interviu no episódio ocorrido no banheiro; Que esta segurança segurou

firme no braço da autora Anamara e a levou para uma sala no fundo e que

fica próxima ao camarote onde estavam, de onde a depoente tinha

visibilidade; Que a autora Anamara disse que não havia feito nada e que não

estava entendendo o que acontecia; Que a depoente também intercedeu a

favor de Anamara já que foi a depoente que jogou a bebida no rosto do

rapaz; Que apesar dessas declarações a segurança levou a autora Anamara

e a jogou na sala fechando a porta; Que a segurança chegou a dizer que a

autora Anamara já havia dado trabalho demais; Que a depoente foi atrás da

segurança e da autora e ficou batendo na porta da referida sala, tentando

abri-la; Que as pessoas que estavam no interior da sala não permitiram o

acesso da depoente; Que a depoente chegou a escutar vozes no interior da

sala, principalmente da autora Anamara que gritava pedindo para sair e por

socorro; Que quando a depoente conseguia ser atendida por alguém da sala,

a pessoa lhe informava que a autora Anamara não estava mais no local e já

havia ido embora, mas a depoente tem certeza que isso não era verdade

pois continuava escutando a voz de Anamara; Que em uma oportunidade

que a porta se abriu a depoente tentou forçar a mesma para entrar ocasião

em que sua mão ficou presa no local, e nesta oportunidade também escutou

a voz de Anamara; Que quando a porta ficou entreaberta chegou a ver um

homem segurando Anamara e a segurança do sexo feminino lhe batendo,

ocasião em que um segurança homem fechou a porta prendendo a mão da

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depoente; Que o ambiente no local ficou tenso e os amigos da depoente lhe

convenceram a ir embora da boate ré em razão da segurança dos mesmos,

mesmo deixando Anamara para trás; Que até o momento que deixaram o

local insistiram com os funcionários da boate para liberarem Anamara e eles

afirmavam que ela já havia saído da boate, mas os gritos dela eram ouvidos

quando se aproximava da sala onde a levaram; Que no dia seguinte a

depoente ligou para Anamara e ela estava muito assustada, chorando, e lhe

disse que havia sido agredida, possuindo hematomas pelo corpo; Que a

autora Anamara lhe informou que foi liberada muito tarde do local e após

todos os seus conhecidos não estarem mais lá; Que se recorda que a autora

Anamara fez uso de bebida alcoólica no dia dos fatos, porém em pequena

quantidade em razão do fato de ter preocupação com seu corpo físico

cuidando para não ingerir calorias em excesso, podendo dizer que ela não

estava embriagada; Que a depoente também fez uso de bebida alcoólica,

também em pequena quantidade, já que não possui o hábito de consumir

álcool; Que quando receberam a informação que a autora já havia deixado o

local, tentaram falar com a mesma, porém não era possível porque a bolsa

da autora Anamara ficou com a declarante e suas amigas, e no interior da

bolsa se encontrava seu celular, carteira e documentos pessoais; Que não

sabe informar como Anamara foi embora para casa já que estava sem

dinheiro; Que Anamara estava hospedada na casa de Rafael Eduardo e

chegou muito tarde na casa dele; Que a bolsa de Anamara foi entregue a

Rafael Eduardo para que ele pudesse devolvê-la a Anamara; Que chegou a

encontrar no final do dia seguinte aos fatos com a autora e pode afirmar que

ela estava muito abalada, chorava muito, dizia que não havia feito nada para

ser tratada como foi, mostrava os hematomas no braço, dizia que recebeu

tapas no rosto e queria de todas as formas deixar a cidade de Goiânia -GO, e

salvo engano a depoente acredita, inclusive, que tenha antecipado a viagem.

DADA A PALAVRA A MMa. JUÍZA RESPONDEU: Que se recorda que o fato da

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autora Anamara ter sido policial foi citado pela segurança do sexo feminino

tanto quando ela pegou a autora e a levou para o interior da sala, como

quando a porta da sala se abriu e a mão da depoente ficou presa, momento

em que a depoente viu um segurança masculino segurando Anamara e a

segurança do sexo feminino lhe batendo, enquanto outro homem segurava a

porta; Que os seguranças da boate provocavam Anamara dizendo que ela já

tinha sido policial e que ela poderia se defender, e Anamara respondeu que

desde que entrou no BBB deixou de ser policial e não poderia agir como tal;

Que a depoente percebeu que os seguranças provocavam muito Anamara

com o fato dela ter sido policial.' (testemunha Clariany Cunha Borges,

evento 03, arquivo 77, páginas 71 a 75)

Desse modo, infere-se dos depoimentos acima transcritos que a autora foi

submetida a situação constrangedora e insegura em decorrência da falha da

prestação de serviços, na medida em que a autora foi retirada para uma

área restrita sem poder comunicar com seus amigos e, posteriormente,

sendo atingida com um soco pela segurança." (sic, evento nº 08).

Dessarte, no caso dos autos, ficou satisfatoriamente comprovada a

presença dos elementos da culpa, quais sejam, a conduta (má

prestação do serviço), o resultado (constrangimentos físicos e

moral) e o nexo causal. Logo, impositiva a obrigação de indenizar.

Além do mais, a ré/apelante não se desincumbiu do ônus de

apresentar fatos extintivos ou modificativos da pretensão

indenizatória da autora, na forma do artigo 373, inciso II, do

Código de Processo Civil.

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Acerca do ônus da prova, leciona o professor Fredie Didier Jr.:

“As regras de distribuição dos ônus da prova são regras de juízo:

orientam o juiz quando há um non liquet em matéria de fato e

constituem, também, uma indicação às partes quanto à sua atividade

probatória.” (in Curso de Direito Processual Civil, 12ª ed., Salvador:

Editora Jus Podivm, v. I, 2010, p. 425).

Nesse contexto, considerando-se que se aplica, in casu, o Código

de Defesa do Consumidor, rechaço a tese da apelante de isenção

de responsabilidade do fornecedor, sob a alegação de culpa

exclusivamente da vítima:

"Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da

existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores

por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações

insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

"§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro." Destaquei.

Conforme explicado alhures, a insurgente não se desincumbiu

deste ônus, qual seja, comprovar esta isenção.

Assim, conclui-se que a autora comprovou o fato constitutivo do

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seu direito, em relação à responsabilidade da requerida, nos

termos do artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil, ao

passo que a requerida não observou devidamente o inciso II do

mesmo dispositivo legal.

Outrossim, de acordo com os artigos 186 e 927 do Código Civil,

quem causa danos tem o dever de repará-los:

"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito."

"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a

outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente

de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade

normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,

risco para os direitos de outrem."

A Constituição Federal também autoriza a reparação ora buscada,

nos termos do artigo 5º, inciso X:

"Art. 5.(...). X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a

imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material

ou moral decorrente de sua violação."

Sobre o assunto segue o entendimento deste egrégio Tribunal de

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Justiça:

"APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ESTACIONAMENTO

DE SHOPPING. AUTOR AGREDIDO POR SEGURANÇAS DA RÉ. ATO ILÍCITO.

ABORDAGEM VIOLENTA E DESPROPORCIONAL. Alegação de legítima defesa

e/ou exercício regular do direito afastados. DEVER DE INDENIZAR

CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO e ENCARGOS DE SUCUMBÊNCIA

MANTIDOS. 1. Danos morais configurados em razão da agressão física

sofrida pelos autores, praticadas por prepostos do réu no momento em que

os demandantes chegavam para retirar seu veículo do estacionamento

demandado. 2. A abordagem violenta não pode ser considerada alternativa

da empresa para tentar coibir comportamento que considerada inadequado.

3. A conduta dos seguranças não comprova em nenhum momento, legítima

defesa e/ou exercício regular do direito. 4. Assim, a prova dos autos autoriza

seja atribuída ao réu a responsabilidade pelo evento danoso. 5. Quantum

indenizatório por dano moral mantido no valor de R$ 18.500,00 (dezoito mil

e quinhentos reais) para cada apelado, importância razoável que se mostra

suficiente para a recomposição dos prejuízos, não caracterizando

enriquecimento ilícito por parte dos requerentes, nem prejuízo excessivo

para a ré. 6. Honorários advocatícios mantidos. APELAÇÃO CONHECIDA E

DESPROVIDA." (5ª CC, AC nº 0421232-33, Rel. Des. Alan

Sebastião de Sena Conceição, DJ de 04/12/2017).

"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E

MORAIS. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO POR

IRREGULARIDADE FORMAL AFASTADA. AGRESSÃO FÍSICA. DANOS MORAIS

CONFIGURADOS. CULPA DA VÍTIMA NÃO EVIDENCIADA. INDENIZAÇÃO

DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. PEDIDO DE CONDENAÇÃO DA PARTE POR

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LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ EM SEDE DE CONTRARRAZÕES. INADEQUAÇÃO DA

VIA ELEITA. HONORÁRIOS RECURSAIS. I - As apelantes apresentaram,

ainda que de forma sucinta, as razões do pedido de reforma da sentença

atacada, conforme previsto pelo art. 1.010, inc. III, do Código de Processo

Civil, pelo que não há que se falar em não conhecimento do presente apelo,

por irregularidade formal. II - Suficientemente demonstrados in casu os

requisitos exigidos por lei para caracterização do dever de indenizar

(conduta ilícita culposa, dano e o nexo de causalidade) e, ainda,

afastada na espécie dos autos a alegação de que a vítima seria

culpada pelas agressões físicas, que lhe acarretou danos morais, não

merece reforma a sentença fustigada que condenou as apelantes ao

pagamento de indenização por danos morais à apelada. (...). Apelação

Cível conhecida e desprovida." (2ª CC, AC nº 0223723-80, Rel. Des.

Carlos Alberto França, DJ de 04/10/2017). Destaquei.

Quanto aos danos morais, ressalto que as situações

experimentadas pela autora da ação refogem da seara do mero

aborrecimento, pois os transtornos suportados, como

constrangimento à sua liberdade de locomoção e agressões físicas

e verbais, gerou o desequilíbrio do seu bem-estar e impotência

diante da situação vivenciada, qual seja, o despreparo da equipe

de segurança da apelada para conter situação adversa dentro do

estabelecimento comercial, ocorrendo sim um abalo emocional a

ensejar reparação.

Com efeito, pertinente o valor da indenização pelos danos morais

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em R$ 12.000,00 (doze mil reais), destacando que a reparação

extrapatrimonial funciona como meio reparador e desestimulador.

Reparador porque compensa a dor intimamente sofrida, nem

sempre relacionada à perda patrimonial, e desestimulador à

medida que não fomenta a reiteração de condutas lesivas aos

direitos de outrem.

De tal arte, não prospera o pedido da ré/apelante de redução do

quantum indenizatório para o valor atribuído à causa.

Apesar da previsão do artigo 292, V, do Código de Ritos, de que "O

valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: (...) V -

na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor

pretendido;" nem sempre o valor da causa em ação de indenização

corresponderá ao requerido.

Segundo Teresa Arruda Alvim Wambier "... existem hipóteses em

que o pedido é ilíquido e o valor dos danos não é mensurável no momento

do ajuizamento da ação. Outrossim, nas ações de indenização por danos

morais é comum na praxe forense, que a parte deixe ao arbítrio do juiz a

sua fixação sem que a petição inicial sugira qualquer quantia. Nesses casos

(pedido ilíquido ou ausência de sugestão do valor da indenização por danos

morais), o valor da causa será indicado por estimativa da parte." (Breves

comentários ao novo Código de Processo Civil, 3ª ed., rev. e atual.

- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 849).

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Além disso, o próprio dispositivo prevê, mais adiante, que ao

constatar que a parte autora atribuiu à causa um valor não

correspondente ao proveito econômico perseguido por ela,

consoante disposto na legislação de regência, cabe ao MM. Juiz, de

ofício, corrigir tal montante, arbitrando-lhe a cifra que entender

correta.

Portanto, mantida a quantia indenizatória.

Por fim, inexistindo no processo elementos probantes da prática de

litigância de má-fé pela autora da ação, nos moldes do artigo 80,

do Código de Processo Civil, não merece prosperar o pleito da

apelante de imposição das sanções inerentes.

Mantida a sucumbência da recorrente, o artigo 85, § 11, do Código

de Processo Civil vigente estabelece a possibilidade de majoração

dos honorários advocatícios em sede recursal, senão vejamos:

“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado

do vencedor.

(…)

§ 11º. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados

anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau

recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo

vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao

advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos

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§§ 2º e 3º para a fase de conhecimento”.

In casu, torna-se aplicável a majoração do montante remuneratório

neste juízo ad quem, tendo em vista a presença concomitante dos

requisitos traçados pelo Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE

DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. ACÓRDÃO EMBARGADO

PUBLICADO NA VIGÊNCIA DO CPC/2015. FALTA DE SIMILITUDE FÁTICA.

PRESCRIÇÃO. REPARAÇÃO. DIREITOS AUTORAIS. ILÍCITO

EXTRACONTRATUAL. ACÓRDÃO EMBARGADO CONFORME A

JURISPRUDÊNCIA DO STJ. NÃO CABIMENTO. DECISÃO MANTIDA. 1. Os

embargos de divergência não podem ser admitidos quando inexistente

semelhança fático-processual entre os arestos confrontados. 2. No caso,

a TERCEIRA TURMA apreciou controvérsia sobre a prescrição envolvendo

violação extracontratual de direitos autorais. O paradigma (REsp n.

1.211.949/MG), no entanto, enfrentou questão relativa ao prazo

prescricional para execução de multa cominatória, por descumprimento

de decisão judicial que proibia o réu de executar obra musical. Constata-

se assim a diferença fático- processual entre os julgados confrontados. 3.

A jurisprudência de ambas as turmas que compõem esta SEGUNDA

SEÇÃO firmou-se no mesmo sentido do acórdão embargado, segundo o

qual é de 3 (três) anos, quando se discute ilícito extracontratual, o prazo

de prescrição relativo à pretensão decorrente de afronta a direito autoral.

Precedentes. 4. As exigências relativas à demonstração da divergência

jurisprudencial não foram modificadas pelo CPC/2015, nos termos do seu

art. 1.043, § 4º. 5. É devida a majoração da verba honorária

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sucumbencial, na forma do art. 85, § 11, do CPC/2015, quando

estiverem presentes os seguintes requisitos, simultaneamente: a)

decisão recorrida publicada a partir de 18.3.2016, quando entrou

em vigor o novo Código de Processo Civil; b) recurso não

conhecido integralmente ou desprovido, monocraticamente ou

pelo órgão colegiado competente; e c) condenação em honorários

advocatícios desde a origem no feito em que interposto o recurso.

6. Não haverá honorários recursais no julgamento de agravo interno e de

embargos de declaração apresentados pela parte que, na decisão que

não conheceu integralmente de seu recurso ou negou-lhe provimento,

teve imposta contra si a majoração prevista no § 11 do art. 85 do

CPC/2015. 7. Com a interposição de embargos de divergência em

recurso especial tem início novo grau recursal, sujeitando-se o

embargante, ao questionar decisão publicada na vigência do CPC/2015, à

majoração dos honorários sucumbenciais, na forma do § 11 do art. 85,

quando indeferidos liminarmente pelo relator ou se o colegiado deles não

conhecer ou negar-lhes provimento. 8. Quando devida a verba honorária

recursal, mas, por omissão, o Relator deixar de aplicá-la em decisão

monocrática, poderá o colegiado, ao não conhecer ou desprover o

respectivo agravo interno, arbitrá-la ex officio, por se tratar de matéria

de ordem pública, que independe de provocação da parte, não se

verificando reformatio in pejus. 9. Da majoração dos honorários

sucumbenciais promovida com base no § 11 do art. 85 do CPC/2015 não

poderá resultar extrapolação dos limites previstos nos §§ 2º e 3º do

referido artigo. 10. É dispensada a configuração do trabalho

adicional do advogado para a majoração dos honorários na

instância recursal, que será considerado, no entanto, para

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quantificação de tal verba. 11. Agravo interno a que se nega

provimento. Honorários recursais arbitrados ex officio, sanada omissão

na decisão ora agravada.” (2ª Seção, AgInt nos EREsp nº

1539725/DF, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, DJe de

19/10/2017). Destaquei.

Assim, tendo em vista que os honorários sucumbenciais devidos

pela recorrente foram arbitrados na sentença em dez por cento

(10%) sobre o valor da condenação, majoro de ofício em mais três

por cento (3%) da verba de sucumbência, totalizando os

honorários advocatícios devidos ao advogado da apelada, vencedor

na demanda, em treze por cento (13%) sobre o valor da

condenação.

Ante ao exposto, já conhecido o apelo, DESPROVEJO-O a fim de

manter a sentença tal qual prolatada. E, de ofício, majoro os

honorários de sucumbência em mais 3% (três por cento),

totalizando em 13% (treze por cento), nos termos do artigo 85, §

11, do Código de Ritos.

É como voto.

Goiânia, 05 de junho de 2018

DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ

RELATOR

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