apelaÇÃo cÍvel nº 0335245.29.2014.8.09.0051 comarca...
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Gabinete do Desembargador Fausto Moreira Diniz6ª Câmara Cível
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0335245.29.2014.8.09.0051
COMARCA DE GOIÂNIA
APELANTE : BOATE WOODS
APELADA : ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA
RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. NEXO CAUSAL ENTRE O DANO E A
CONDUTA DO AGENTE DEMONSTRADO.
CONSTRANGIMENTOS SOFRIDOS NO ESTABELECIMENTO
COMERCIAL DA RECORRENTE. RELAÇÃO CONSUMERISTA.
NÃO COMPROVAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.
QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO. LITIGÂNCIA DE MÁ-
FÉ AFASTADA. SUCUMBÊNCIA RECURSAL. I - Restando
satisfatoriamente comprovada a presença dos elementos da culpa,
quais sejam, a conduta (má prestação do serviço), o resultado
(constrangimentos físicos e moral) e o nexo causal, impositiva a
obrigação de indenizar os danos morais sofridos pela autora ao ser
colocada em uma sala isolada da boate, onde sofreu
constrangimentos, como alternativa da empresa para tentar coibir
comportamento que considerava inadequado. II - As provas dos
autos autorizam seja atribuída a ré a responsabilidade pelo evento
danoso, não tendo ela se desincumbindo do ônus de desconstituir o
direito da autora, sequer comprovando a existência de quaisquer
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excludentes de sua culpabilidade, na forma dos artigos 373, inciso
II, do Código de Processo Civil e 14, § 3º, II, do Código de Defesa
do Consumidor. III - Quantum indenizatório fixado mantido.
Existem hipóteses em que o pedido é ilíquido e o valor dos danos
não é mensurável no momento do ajuizamento da ação, ficando ao
arbítrio do juiz a sua fixação. IV - Inexistindo no feito elementos
probantes da prática pela autora da ação, de litigância de má-fé,
nos moldes do artigo 80, do Código de Processo Civil, não merece
prosperar o pleito da apelante de imposição das sanções inerentes.
IV - Evidenciada a sucumbência recursal impende majorar a verba
honorária anteriormente fixada, conforme disposto no artigo 85, §
11, do Código de Processo Civil de 2015. APELO CONHECIDO E
DESPROVIDO.
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os presentes
autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 0335245.29.2014.8.09.0051,
Comarca de GOIÂNIA, sendo apelante BOATE WOODS e apelada
ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA.
Acordam os integrantes da Segunda
Turma Julgadora da Sexta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer
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e desprover o apelo, nos termos do voto do Relator. Custas de
lei.
Votaram, além do Relator, Desembargador
Fausto Moreira Diniz, Desembargador Norival Santomé e
Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis, que também
presidiu o julgamento.
Presente a ilustre Procuradora de Justiça,
Doutor Rodolfo Pereira Lima Júnior.
Goiânia, 05 de junho de 2018.
DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
RELATOR
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COMARCA DE GOIÂNIA
APELANTE : BOATE WOODS
APELADA : ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA
RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível (evento 11) interposta por WGOIÂNIA
BAR LTDA (BOATE WOODS) contra a sentença (evento 8)
proferida pelo MM. Juiz de Direito da 13ª Vara Cível e Ambiental da
comarca de Goiânia, Dr. Otacílio de Mesquita Zago, nos autos
da ação de indenização por danos morais ajuizada em seu desfavor
por ANAMARA CRISTIANE DE BRITO BARREIRA.
No ato judicial atacado, o douto magistrado a quo julgou
procedente o pedido inicial para condenar a requerida a pagar, a
título de danos morais, a quantia de R$ 12.000,00 (doze mil reais),
ao fundamento de que "... resta cristalino o nexo de causalidade entre
o dano suportado pela requerente (constragimento (sic), agressão física
e intimidações) e a conduta ilícita do estabelecimento (má prestação do
serviço) ..." (sic, evento 8).
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Inconformada, a ré manejou o presente apelo e, em suas prédicas
recursais, após breve relato dos fatos, alega, preliminarmente, que
a apelada juntou o boletim de ocorrência após a apresentação da
contestação, portanto, de forma extemporânea, prejudicando a
apresentação de defesa pela parte contrária, além de ter sido
fundamento expresso da sentença condenatória.
Com relação ao mérito, alega que "... a sentença não possui conexão
lógica com os documentos anexados e os depoimentos pessoais das
testemunhas, nota-se, que a apelada não apresentou nenhuma prova
para constituição do seu provável direito, ou seja, não comprovou
através de documentos qualquer dano físico que alegou durante todo o
curso do processo, tais como, exame realizado pelo IML (Corpo e Delito),
uma vez que alegou que sofreu várias agressões. Tampouco trouxe nos
autos qualquer exame particular, receitas médicas ou até mesmo
comprovante de remédio que a mesma tenha comprado para diminuir as
supostas dores e/ou escoriações existente (sic) em seu corpo." (sic, fl.
4, evento 11).
Defende que as discussões ocorridas na boate foram provocadas,
única e exclusivamente, pela apelada e invoca o artigo 14, § 3º, do
Código de Defesa do Consumidor para se isentar de qualquer
responsabilidade.
Argumenta que agiu no exercício regular do seu direito.
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Aponta contradições e inconsistências nos depoimentos
testemunhais, único meio de prova utilizado, destacando a questão
do celular da autora e da suposta sala reservada para onde teria
sido levada após a confusão na boate.
Ressalta ser entendimento pacífico deste tribunal que, em caso de
dúvida ou incerteza no depoimento das testemunhas, a parte
acusada não deve arcar com prejuízos que efetivamente não foram
comprovados.
Argumenta que os princípios da proporcionalidade e razoabilidade
não foram ponderados no arbitramento dos danos morais,
requerendo sua minoração para R$ 1.000,00 (mil reais), valor dado
à causa pela autora, nos termos do artigo 292, V, do Código de
Processo Civil.
Insurge-se com relação à inversão do ônus probatório.
Pleiteia pela condenação da recorrida em litigância de má-fé, nos
termos do artigo 80, II, do Código de Ritos.
Ao final, pede pelo conhecimento e provimento do recurso nos
moldes acima alinhavados.
O preparo é visto no evento 11.
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A recorrida Anamara Cristiane de Brito Barreira apresentou
suas contrarrazões ao 16º evento, onde pugna pela manutenção
incólume do ato sentencial atacado.
É o relatório.
Peço dia para julgamento.
Goiânia, 16 de maio de 2018.
DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
RELATOR
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VOTO DO RELATOR
Presentes os pressupostos de admissibilidade conheço do apelo,
passando à sua análise.
Conforme relatado, na sentença atacada em ação de indenização
por danos morais, o douto magistrado a quo julgou procedente o
pedido inicial ao fundamento de que "... resta cristalino o nexo de
causalidade entre o dano suportado pela requerente (constragimento (sic),
agressão física e intimidações) e a conduta ilícita do estabelecimento (má
prestação do serviço) ..." (sic, evento 8).
Inconformada, a requerida manejou a presente apelação,
alegando, em preliminar, que o boletim de ocorrência foi juntado
aos autos apenas no momento da impugnação à contestação,
cerceando o seu direito de defesa quanto a esta prova.
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Destaca o equívoco do magistrado a quo ao ter se firmado somente
no depoimento testemunhal para proferir o decisum, prova que
julga contraditória e inapta a demonstrar o nexo causal entre a
conduta da agente e os danos alegados.
Defende a culpa exclusiva da vítima, requer sua condenação por
litigância de má-fé e, alternativamente, pleiteia a minoração dos
danos morais para o valor da causa, nos termos do artigo 292, V,
do Código de Processo Civil.
Passo ao voto.
Primeiramente, entendo não ter configurado o cerceamento do
direito de defesa da apelante, no tocando à não oportunização para
se manifestar acerca do boletim de ocorrência anexo à impugnação
à contestação.
Conquanto tenha o magistrado condutor do feito, realmente,
omitido essa oitiva específica, o processo seguiu seu regular
trâmite antes de proferida a sentença, com realização de audiência
de conciliação, oportunidade de manifestação acerca de produção
probatória, audiência de instrução (doc. 59, evento 03) e
memoriais, tornando-se inequívoca a ciência desta prova, em
particular.
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Nesse contexto, coerente a aplicação do artigo 278 do Código de
Processo Civil, o qual prevê que "A nulidade dos atos deve ser alegada
na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob
pena de preclusão."
Assim, entendo preclusa esta alegativa. Passo à análise do
mérito.
A autora/apelada relatou, em sua petição inicial, as seguintes
circunstâncias, reproduzidas na sentença, ora recorrida:
"... no dia 24/08/2014 foi acompanhada de alguns amigos ao recinto da ré,
e ao chegar à boate, por volta de 22h30, se dirigiu ao camarote de um
amigo, no qual houve uma discussão envolvendo sua amiga Priscila
Nascimento, razão pela qual tentou apaziguar e saber o que havia ocorrido.
Asseverou que em razão da situação desagradável convidou a amiga para ir
ao banheiro, o que foi aceito. Ao sair do banheiro, se depararam com a
mulher que havia começado a discussão, acompanhada de uma segurança
do estabelecimento. Tal segurança puxou a autora pelo braço e a agrediu
com palavras, momento em que esta se afastou e afirmou que não queria
confusão e retornou ao camarote.
Afirmou que posteriormente, por volta de 03 horas da manhã, um cliente da
boate, embrigado, solicitou uma foto e puxou a autora pelo braço, tentando
abraçá-la, situação que a fez desvencilhar-se e retornar ao camarote, o que
ensejou o rapaz começar a proferir palavras de baixo calão, humilhando-a
na frente de todos. Na ocasião, Claryane Borges, amiga da autora, ao
presenciar o ocorrido, tentou defendê-la, o que resultou nova discussão.
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Tal circunstância fez com o que o chefe de segurança, de nome Sinésio,
saísse arrastando a autora pelo braço ao argumento de que havia causado
muita confusão no local.
Ressaltou que das duas confusões ocorridas na boate nenhuma se originou
por conduta da autora, tendo sido apenas vítima.
Relatou que foi levada para uma sala de acesso privado, onde mais três
funcionários ficaram acusando-a de ter agredido uma funcionária da boate.
Na ocasião, esclareceu que não havia agredido ninguém, e tampouco havia
iniciado qualquer confusão, bem ainda solicitou que apurassem as imagens
nas câmeras, entretanto não permitiram a sua retirada da sala, ficando
impossibilitada de pedir ajuda, uma vez que também estava sem bateria de
celular. Por sua vez, as amigas foram informadas pela segurança que a
autora já havia ido embora.
Ponderou que após alguns minutos presa na sala, entrou no ambiente a
segurança que participou da primeira confusão, alegando que havia sido
agredida pela autora; esta ao perceber que estava em uma emboscada,
começou a gritar para que a retirassem da sala, momento em que a chefia
da segurança propôs que saíssem pelos fundos, o que foi feito, sendo
conduzida como se fosse uma criminosa.
Narrou que ao sair da sala foi atingida diretamente nas costas por um soco
da segurança envolvida na confusão, vindo a cair na escada e a machucar o
joelho.
Na sequência, dirigiu-se a uma delegacia e registrou ocorrência." (evento
8).
As provas a respeito da dinâmica do ocorrido são as acostadas ao
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doc. 22 do evento 03 e os depoimentos colhidos (doc. 59 e doc.
67, da mesma movimentação), de modo que, em audiência
instrutória, as testemunhas ouvidas fizeram afirmações condizentes
com o afirmado na exordial e relatado no boletim de ocorrência.
Apesar da testemunha Priscila Soares Nascimento ter sido ouvida
como informante, seu depoimento não destoou das outras
declarações, notadamente do fato incontroverso de que houve uma
discussão na boate envolvendo a autora e que ela foi afastada do
local e sofreu constrangimentos por parte da equipe da recorrente.
A propósito, invocável o seguinte excerto da motivação
empreendida pelo julgador de instância originária:
"No boletim de ocorrência juntado no evento 03, arquivo 22, páginas 09 e
10, a requerente assim relata:
'RELATA-NOS A COMUNICANTE, ORA VÍTIMA, QUE NA DATA DE ONTEM,
24/08/2014, POR VOLTA DAS 22H00, CHEGOU NA BOATE WOOD'S,
SITUADA NA AV. T-10, SETOR BUENO, NESTA CAPITAL, COM ALGUNS
AMIGOS, SENDO QUE POR VOLTA DAS 22H30, HOUVE UMA DISCUSSÃO
DENTRO DA BOATE, ENVOLVENDO UMA AMIGA, MOMENTO EM QUE UMA
DAS SEGURANÇAS PUXOU A COMUNICANTE PELO BRAÇO E HOUVE UMA
PEQUENA DISCUSSÃO. QUE POR VOLTA DAS 03H00, DO DIA DE HOJE,
OCORREU OUTRA CONFUSÃO, DEVIDO ALGUMAS PESSOAS ACHAR EM QUE
A COMUNICANTE ERA OBRIGADA A TIRAR FOTOS" COM ELES. QUE
DURANTE A CONFUSÃO, A COMUNICANTE FOI COLOCADA EM UMA SALA,
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COM O CHEFE DA SEGURANÇA E QUANDO A COMUNICANTE DISSE QUE ELE
PODERIA SER INDICIADO POR CÁRCERE PRIVADO, ESTE DISSE QUE A
COMUNICANTE HAVIA AGREDIDO UMA DAS SEGURANÇAS DE NOME
ANTONIETA, O QUE NÃO É VERDADE. QUE APÓS ARGUMENTAR COM O
CHEFE DA SEGURANÇA, DIZENDO QUE PRECISAVA SAIR, COM OS AMIGOS,
O CHEFE DA SEGURANÇA MANDOU QUE A COMUNICANTE SAÍSSE PELAS
ESCADAS, MOMENTO EM QUE A O SE VIRAR FOI AGREDIDA FISICAMENTE
PELA SEGURANÇA, DE NOME ANTONIETA, TENDO A COMUNICANTE CAÍDO
NO CHÃO, APÓS RECEBER UM SOCO NA ALTURA DA FACE. QUE AO SAIR DA
BOATE, ACOMPANHADA PELO CHEFE DA SEGURANÇA, QUE A CONSTRANGIA
TODO O TEMPO, NÃO MAIS ENCONTROU OS AMIGOS E UMA EQUIPE DA
POLICIA MILITAR, QUE SE ENCONTRAVA EM UMA VI ATURA NA PORTA DA
BOATE, SE RECUSOU A AJUDAR A COMUNICANTE A SE DIRIGIR A UMA
DELEGACIA PARA REGISTRAR OS FATOS. QUE A COMUNICANTE TOMOU UM
TÁXI, SE DIRIGIU À DEAM, ONDE FOI ORIENTADA A REGISTRAR O FATO
NESTA DELEGACIA. REGISTRA-SE PARA FINS DE DIREITO.'
Tais fatos foram confirmados pelas testemunhas, senão vejamos:
'Que na noite dos fatos a depoente chegou a Boate e foi direto ao camarote
ao lado daquele em que estava a autora; Que percebeu o momento em que
um jovem a abordou e tentou tirar uma foto 'na marra'; Que a autora
recusou aquela abordagem e isso gerou tumulto; Que a depoente viu o
instante em que autora solicitou a intervenção de um segurança; Que ele
não interviu e apenas gesticulou dando a entender que não agiria; Que
depois tudo se acalmou e a depoente continuou conversando com um
amigo; Que passado algum tempo a depoente não avistou a autora e
acreditou que ela tivesse ido embora; Que no dia seguinte conversou com a
autora pelo Watsapp e comentou que ela havia ido embora sem se despedir;
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Que neste momento a autora lhe contou o ocorrido; Que faz algum tempo e
não se lembra de muitos detalhes narrados pela autora, mas em resumo ela
lhe disse que uma segurança a chamou até uma sala reservada, e lá a
autora foi trancada, e impedida de sair, sob o argumento de que ali
permaneceria até o término do expediente da boate; Que ela também
comentou que tal segurança lhe agrediu com um murro nas costas quando
ela tentava sair do local. Dada a palavra ao procurador da autora nada
perguntou. Dada a palavra ao procurador da requerida as suas perguntas
respondeu: Que a autora comentou com a depoente que quando estava
presa disse que queria ir embora, mesmo que fosse pela porta dos fundos,
providência não permitida pelos seguranças; Que conhece a autora por
conta do círculo de amizade em comum, mas não tem maiores contatos com
ela; Que a depoente participou de uma festa anterior ao encontro na boate;
Que na festa anterior não estava próxima a autora e não sabe dizer se ela
ingeriu bebida alcoólica; Que na boate também não ficou perto da autora e
não pode dizer se ela ingeriu bebida alcoólica; Que não sabe dizer se ao ser
conduzida para a sala reservada a autora estava com o telefone celular,
mesmo porque pensou que a autora tivesse ido embora; Que não sabe dizer
onde fica a sala reservada para a qual a autora foi conduzida; Que a autora
nada comentou sobre o Boletim de Ocorrência.' (testemunha Daiane
Rodrigues de Souza, evento 03, arquivo 59, página 02).
'Que na noite dos fatos participava de uma festa na companhia da autora e
de vários amigos; Que de tal festa o grupo decidiu ir para a Boate requerida;
Que lá chegando o grupo se dirigiu ao camarote vip; Que depois de algum
tempo a declarante decidiu ir ao banheiro; Que quando retornava do
banheiro foi assediada por um rapaz e em resposta jogou-lhe no rosto o
conteúdo de um copo de bebida; Que a bebida também atingiu uma jovem
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que estava atrás do rapaz; Que irritada, a jovem tentou agredir fisicamente
a declarante, mas por conta da intervenção das pessoas que ali estavam o
fato não se consumou; Que citada jovem ameaçou a declarante dizendo que
se ela retornasse ao local iria apanhar; Que assustada, a declarante voltou
para o camarote vip e comentou o ocorrido aos amigos; Que antes disso ela
reclamou do ocorrido ao segurança e ele, após verificar que o agressor se
tratava de cliente vip, disse que não poderia fazer nada; Que mais tarde a
declarante precisou retornar ao banheiro e nisso a autora disse que iria
acompanhá-la; Que do lado de fora do camarote vip, logo que a jovem,
autora das ameaças, lhe avistou partiu em sua direção, não conseguindo
agredi-la por conta da intervenção das pessoas que ali estavam; Que havia
uma segurança no local e pelo que a declarante percebeu que ela tentou
proteger aquela jovem; Que ato contínuo a declarante voltou para o
camarote na companhia da autora; Que no camarote a declarante viu o
momento em que um rapaz tentou abordar a autora e tirar uma foto na
companhia dela; Que ela não aceitou a abordagem forçada e tentou se
desvencilhar do jovem; Que tal fato gerou nova confusão e os seguranças
foram para o local; Que uns dez minutos depois a declarante foi embora;
Que passado duas horas a autora ligou para a declarante e lhe informou que
os seguranças lhe haviam conduzido para uma sala reservada, proibindo-lhe
o contato com seus amigos, apesar da ressalva feita por ela no sentido de
que aquela atitude era abusiva e configurava cárcere privado; Que a autora
também ressaltou que caso eles quisessem retirá-la da festa, bastaria
colocá-la para fora da Boate; Que a autora também comentou que depois de
permanecer algum tempo na sala reservada, foi colocada para fora da Boate
pelos seguranças, inclusive sendo agredida por uma segurança que lhe
desferiu um murro nas costas; Que ela comentou que ficou bastante tempo
na sala reservada, contra a sua vontade. Dada a palavra ao procurador da
autora nada perguntou. Dada a palavra à procuradora da requerida as suas
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perguntas respondeu: Que a autora disse que foi conduzida à sala reservada
por uma segurança mulher, e a declarante entendeu que eles teriam tomado
o celular da autora, fato não confirmado por esta última; Que todos do grupo
estavam ingerindo bebida alcoólica socialmente e a autora, em nenhum
momento, se expôs indevidamente; Que a declarante entendeu que a jovem
que lhe agrediu era conhecida da segurança mulher, pois antes de entrar no
banheiro as duas estavam conversando junto ao balcão; Que as vestes
identificavam a segurança mencionada pela declarante, além disso, já havia
frequentado o local outras vezes e sabia que ela trabalhava ali; Que a
declarante não havia sofrido assédio anterior que culminasse com contato
físico, conforme o ocorrido na Boate na noite do evento; Que não sabe dizer
se o fato envolvendo a autora foi noticiado na mídia, até porque acredita que
ela queria resguardar sua imagem; Que não sabe o motivo pelo qual a
autora foi sozinha para a Delegacia.' (Informante Priscila Soares Nascimento,
evento 03, arquivo 59, página 03).
'Que ao tempo dos fatos o depoente era segurança da Boate demandada,
situação que persiste até os dias atuais; Que naquela data o depoente
trabalhava no controle da saída da Boate e não teve qualquer contato com a
autora; Que ouviu apenas comentários envolvendo o nome da autora em
uma provável briga ocorrida no interior dos camarotes; Que a autora saiu
pela área vip e portanto o depoente não a avistou naquele momento. Dada a
palavra ao procurador da requerida as suas perguntas respondeu: Que na
hipótese de ocorrência de briga no interior da Boate a recomendação aos
seguranças é de que as partes envolvidas sejam conduzidas a portarias
distintas (vip e normal), de modo a evitar o contato visual e novos
confrontos, e naquele momento as partes envolvidas são convidadas a
acertar o cartão de consumo e deixar a Boate; Que na hipótese da parte
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envolvida pedir a presença da policia, os próprios seguranças acionam a
viatura que atende a região; Que a área comum da Boate é um galpão e não
existe sala reservada para que clientes em situação de confronto sejam
conduzidos e lá permaneçam sob vigilância; Que o depoente apenas soube
que a autora tinha brigado no interior da Boate, mas não sabe dizer detalhes
a respeito dos fatos; Que o depoente não foi intimado para esclarecer
perante autoridade policial a respeito dos fatos envolvendo a autora. Dada a
palavra ao procurador da autora as suas perguntas respondeu: Que não
existe acesso direto entre a área comum da Boate e a parte usada pela
administração.' (testemunha Divino Sinézio Moraes de Souza, evento 03,
arquivo 67, página 04).
'Que conheceu a autora Anamara naquele final de semana em razão da
comemoração do aniversário de uma amiga em comum de nome Rosana
Oliveira, a 'Rosaninha'; Que no dia dos fatos chegaram na boate ré e se
dirigiram ao banheiro como é comum acontecer para se arrumarem; Que lá
chegando, não sabe informar direito o motivo, ocorreu uma discussão entre
a pessoa de Priscila e uma outra moça; Que Priscila é uma modelo muito
conhecida em Goiânia -GO e estava no grupo da depoente e da autora; Que
em razão dessa discussão a autora interviu para apartar a briga entre
Priscila e esta moça; Que quando isto aconteceu uma segurança do local não
gostou da atitude da autora e lhe disse que este serviço era de sua
responsabilidade; Que passado este incidente o grupo da depoente e da
autora se dirigiu até o seu camarote; Que a intençao do grupo era
permanecer pouco tempo no local, pois a 'balada' estava ruim e vazia; Que
pouco tempo após o incidente do banheiro, quando o grupo da autora se
encontrava no camarote, um rapaz que se encontrava bêbado, reconheceu a
autora Anamara e se aproximou de forma agressiva dizendo que iria tirar
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foto com a mesma; Que Anamara se escondeu para não tirar a foto com
este homem; Que este homem insistiu querendo entrar no camarote ocasião
em que disse que o grupo era formado por mulheres 'vagabundas' e
'prostitutas', ocasião em que a depoente reagiu e jogou o líquido de um copo
que estava em sua mão no rosto daquele rapaz; Que diante disto o rapaz
forçou ainda mais a entrada no camarote sendo impedido pelo segurança;
Que imediatamente apareceu a mulher que também é segurança no local e
que interviu no episódio ocorrido no banheiro; Que esta segurança segurou
firme no braço da autora Anamara e a levou para uma sala no fundo e que
fica próxima ao camarote onde estavam, de onde a depoente tinha
visibilidade; Que a autora Anamara disse que não havia feito nada e que não
estava entendendo o que acontecia; Que a depoente também intercedeu a
favor de Anamara já que foi a depoente que jogou a bebida no rosto do
rapaz; Que apesar dessas declarações a segurança levou a autora Anamara
e a jogou na sala fechando a porta; Que a segurança chegou a dizer que a
autora Anamara já havia dado trabalho demais; Que a depoente foi atrás da
segurança e da autora e ficou batendo na porta da referida sala, tentando
abri-la; Que as pessoas que estavam no interior da sala não permitiram o
acesso da depoente; Que a depoente chegou a escutar vozes no interior da
sala, principalmente da autora Anamara que gritava pedindo para sair e por
socorro; Que quando a depoente conseguia ser atendida por alguém da sala,
a pessoa lhe informava que a autora Anamara não estava mais no local e já
havia ido embora, mas a depoente tem certeza que isso não era verdade
pois continuava escutando a voz de Anamara; Que em uma oportunidade
que a porta se abriu a depoente tentou forçar a mesma para entrar ocasião
em que sua mão ficou presa no local, e nesta oportunidade também escutou
a voz de Anamara; Que quando a porta ficou entreaberta chegou a ver um
homem segurando Anamara e a segurança do sexo feminino lhe batendo,
ocasião em que um segurança homem fechou a porta prendendo a mão da
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depoente; Que o ambiente no local ficou tenso e os amigos da depoente lhe
convenceram a ir embora da boate ré em razão da segurança dos mesmos,
mesmo deixando Anamara para trás; Que até o momento que deixaram o
local insistiram com os funcionários da boate para liberarem Anamara e eles
afirmavam que ela já havia saído da boate, mas os gritos dela eram ouvidos
quando se aproximava da sala onde a levaram; Que no dia seguinte a
depoente ligou para Anamara e ela estava muito assustada, chorando, e lhe
disse que havia sido agredida, possuindo hematomas pelo corpo; Que a
autora Anamara lhe informou que foi liberada muito tarde do local e após
todos os seus conhecidos não estarem mais lá; Que se recorda que a autora
Anamara fez uso de bebida alcoólica no dia dos fatos, porém em pequena
quantidade em razão do fato de ter preocupação com seu corpo físico
cuidando para não ingerir calorias em excesso, podendo dizer que ela não
estava embriagada; Que a depoente também fez uso de bebida alcoólica,
também em pequena quantidade, já que não possui o hábito de consumir
álcool; Que quando receberam a informação que a autora já havia deixado o
local, tentaram falar com a mesma, porém não era possível porque a bolsa
da autora Anamara ficou com a declarante e suas amigas, e no interior da
bolsa se encontrava seu celular, carteira e documentos pessoais; Que não
sabe informar como Anamara foi embora para casa já que estava sem
dinheiro; Que Anamara estava hospedada na casa de Rafael Eduardo e
chegou muito tarde na casa dele; Que a bolsa de Anamara foi entregue a
Rafael Eduardo para que ele pudesse devolvê-la a Anamara; Que chegou a
encontrar no final do dia seguinte aos fatos com a autora e pode afirmar que
ela estava muito abalada, chorava muito, dizia que não havia feito nada para
ser tratada como foi, mostrava os hematomas no braço, dizia que recebeu
tapas no rosto e queria de todas as formas deixar a cidade de Goiânia -GO, e
salvo engano a depoente acredita, inclusive, que tenha antecipado a viagem.
DADA A PALAVRA A MMa. JUÍZA RESPONDEU: Que se recorda que o fato da
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autora Anamara ter sido policial foi citado pela segurança do sexo feminino
tanto quando ela pegou a autora e a levou para o interior da sala, como
quando a porta da sala se abriu e a mão da depoente ficou presa, momento
em que a depoente viu um segurança masculino segurando Anamara e a
segurança do sexo feminino lhe batendo, enquanto outro homem segurava a
porta; Que os seguranças da boate provocavam Anamara dizendo que ela já
tinha sido policial e que ela poderia se defender, e Anamara respondeu que
desde que entrou no BBB deixou de ser policial e não poderia agir como tal;
Que a depoente percebeu que os seguranças provocavam muito Anamara
com o fato dela ter sido policial.' (testemunha Clariany Cunha Borges,
evento 03, arquivo 77, páginas 71 a 75)
Desse modo, infere-se dos depoimentos acima transcritos que a autora foi
submetida a situação constrangedora e insegura em decorrência da falha da
prestação de serviços, na medida em que a autora foi retirada para uma
área restrita sem poder comunicar com seus amigos e, posteriormente,
sendo atingida com um soco pela segurança." (sic, evento nº 08).
Dessarte, no caso dos autos, ficou satisfatoriamente comprovada a
presença dos elementos da culpa, quais sejam, a conduta (má
prestação do serviço), o resultado (constrangimentos físicos e
moral) e o nexo causal. Logo, impositiva a obrigação de indenizar.
Além do mais, a ré/apelante não se desincumbiu do ônus de
apresentar fatos extintivos ou modificativos da pretensão
indenizatória da autora, na forma do artigo 373, inciso II, do
Código de Processo Civil.
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Acerca do ônus da prova, leciona o professor Fredie Didier Jr.:
“As regras de distribuição dos ônus da prova são regras de juízo:
orientam o juiz quando há um non liquet em matéria de fato e
constituem, também, uma indicação às partes quanto à sua atividade
probatória.” (in Curso de Direito Processual Civil, 12ª ed., Salvador:
Editora Jus Podivm, v. I, 2010, p. 425).
Nesse contexto, considerando-se que se aplica, in casu, o Código
de Defesa do Consumidor, rechaço a tese da apelante de isenção
de responsabilidade do fornecedor, sob a alegação de culpa
exclusivamente da vítima:
"Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
"§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro." Destaquei.
Conforme explicado alhures, a insurgente não se desincumbiu
deste ônus, qual seja, comprovar esta isenção.
Assim, conclui-se que a autora comprovou o fato constitutivo do
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seu direito, em relação à responsabilidade da requerida, nos
termos do artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil, ao
passo que a requerida não observou devidamente o inciso II do
mesmo dispositivo legal.
Outrossim, de acordo com os artigos 186 e 927 do Código Civil,
quem causa danos tem o dever de repará-los:
"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito."
"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem."
A Constituição Federal também autoriza a reparação ora buscada,
nos termos do artigo 5º, inciso X:
"Art. 5.(...). X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação."
Sobre o assunto segue o entendimento deste egrégio Tribunal de
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Justiça:
"APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ESTACIONAMENTO
DE SHOPPING. AUTOR AGREDIDO POR SEGURANÇAS DA RÉ. ATO ILÍCITO.
ABORDAGEM VIOLENTA E DESPROPORCIONAL. Alegação de legítima defesa
e/ou exercício regular do direito afastados. DEVER DE INDENIZAR
CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO e ENCARGOS DE SUCUMBÊNCIA
MANTIDOS. 1. Danos morais configurados em razão da agressão física
sofrida pelos autores, praticadas por prepostos do réu no momento em que
os demandantes chegavam para retirar seu veículo do estacionamento
demandado. 2. A abordagem violenta não pode ser considerada alternativa
da empresa para tentar coibir comportamento que considerada inadequado.
3. A conduta dos seguranças não comprova em nenhum momento, legítima
defesa e/ou exercício regular do direito. 4. Assim, a prova dos autos autoriza
seja atribuída ao réu a responsabilidade pelo evento danoso. 5. Quantum
indenizatório por dano moral mantido no valor de R$ 18.500,00 (dezoito mil
e quinhentos reais) para cada apelado, importância razoável que se mostra
suficiente para a recomposição dos prejuízos, não caracterizando
enriquecimento ilícito por parte dos requerentes, nem prejuízo excessivo
para a ré. 6. Honorários advocatícios mantidos. APELAÇÃO CONHECIDA E
DESPROVIDA." (5ª CC, AC nº 0421232-33, Rel. Des. Alan
Sebastião de Sena Conceição, DJ de 04/12/2017).
"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO POR
IRREGULARIDADE FORMAL AFASTADA. AGRESSÃO FÍSICA. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. CULPA DA VÍTIMA NÃO EVIDENCIADA. INDENIZAÇÃO
DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. PEDIDO DE CONDENAÇÃO DA PARTE POR
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LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ EM SEDE DE CONTRARRAZÕES. INADEQUAÇÃO DA
VIA ELEITA. HONORÁRIOS RECURSAIS. I - As apelantes apresentaram,
ainda que de forma sucinta, as razões do pedido de reforma da sentença
atacada, conforme previsto pelo art. 1.010, inc. III, do Código de Processo
Civil, pelo que não há que se falar em não conhecimento do presente apelo,
por irregularidade formal. II - Suficientemente demonstrados in casu os
requisitos exigidos por lei para caracterização do dever de indenizar
(conduta ilícita culposa, dano e o nexo de causalidade) e, ainda,
afastada na espécie dos autos a alegação de que a vítima seria
culpada pelas agressões físicas, que lhe acarretou danos morais, não
merece reforma a sentença fustigada que condenou as apelantes ao
pagamento de indenização por danos morais à apelada. (...). Apelação
Cível conhecida e desprovida." (2ª CC, AC nº 0223723-80, Rel. Des.
Carlos Alberto França, DJ de 04/10/2017). Destaquei.
Quanto aos danos morais, ressalto que as situações
experimentadas pela autora da ação refogem da seara do mero
aborrecimento, pois os transtornos suportados, como
constrangimento à sua liberdade de locomoção e agressões físicas
e verbais, gerou o desequilíbrio do seu bem-estar e impotência
diante da situação vivenciada, qual seja, o despreparo da equipe
de segurança da apelada para conter situação adversa dentro do
estabelecimento comercial, ocorrendo sim um abalo emocional a
ensejar reparação.
Com efeito, pertinente o valor da indenização pelos danos morais
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em R$ 12.000,00 (doze mil reais), destacando que a reparação
extrapatrimonial funciona como meio reparador e desestimulador.
Reparador porque compensa a dor intimamente sofrida, nem
sempre relacionada à perda patrimonial, e desestimulador à
medida que não fomenta a reiteração de condutas lesivas aos
direitos de outrem.
De tal arte, não prospera o pedido da ré/apelante de redução do
quantum indenizatório para o valor atribuído à causa.
Apesar da previsão do artigo 292, V, do Código de Ritos, de que "O
valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: (...) V -
na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor
pretendido;" nem sempre o valor da causa em ação de indenização
corresponderá ao requerido.
Segundo Teresa Arruda Alvim Wambier "... existem hipóteses em
que o pedido é ilíquido e o valor dos danos não é mensurável no momento
do ajuizamento da ação. Outrossim, nas ações de indenização por danos
morais é comum na praxe forense, que a parte deixe ao arbítrio do juiz a
sua fixação sem que a petição inicial sugira qualquer quantia. Nesses casos
(pedido ilíquido ou ausência de sugestão do valor da indenização por danos
morais), o valor da causa será indicado por estimativa da parte." (Breves
comentários ao novo Código de Processo Civil, 3ª ed., rev. e atual.
- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 849).
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Além disso, o próprio dispositivo prevê, mais adiante, que ao
constatar que a parte autora atribuiu à causa um valor não
correspondente ao proveito econômico perseguido por ela,
consoante disposto na legislação de regência, cabe ao MM. Juiz, de
ofício, corrigir tal montante, arbitrando-lhe a cifra que entender
correta.
Portanto, mantida a quantia indenizatória.
Por fim, inexistindo no processo elementos probantes da prática de
litigância de má-fé pela autora da ação, nos moldes do artigo 80,
do Código de Processo Civil, não merece prosperar o pleito da
apelante de imposição das sanções inerentes.
Mantida a sucumbência da recorrente, o artigo 85, § 11, do Código
de Processo Civil vigente estabelece a possibilidade de majoração
dos honorários advocatícios em sede recursal, senão vejamos:
“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado
do vencedor.
(…)
§ 11º. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados
anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau
recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo
vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao
advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos
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§§ 2º e 3º para a fase de conhecimento”.
In casu, torna-se aplicável a majoração do montante remuneratório
neste juízo ad quem, tendo em vista a presença concomitante dos
requisitos traçados pelo Superior Tribunal de Justiça:
“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. ACÓRDÃO EMBARGADO
PUBLICADO NA VIGÊNCIA DO CPC/2015. FALTA DE SIMILITUDE FÁTICA.
PRESCRIÇÃO. REPARAÇÃO. DIREITOS AUTORAIS. ILÍCITO
EXTRACONTRATUAL. ACÓRDÃO EMBARGADO CONFORME A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. NÃO CABIMENTO. DECISÃO MANTIDA. 1. Os
embargos de divergência não podem ser admitidos quando inexistente
semelhança fático-processual entre os arestos confrontados. 2. No caso,
a TERCEIRA TURMA apreciou controvérsia sobre a prescrição envolvendo
violação extracontratual de direitos autorais. O paradigma (REsp n.
1.211.949/MG), no entanto, enfrentou questão relativa ao prazo
prescricional para execução de multa cominatória, por descumprimento
de decisão judicial que proibia o réu de executar obra musical. Constata-
se assim a diferença fático- processual entre os julgados confrontados. 3.
A jurisprudência de ambas as turmas que compõem esta SEGUNDA
SEÇÃO firmou-se no mesmo sentido do acórdão embargado, segundo o
qual é de 3 (três) anos, quando se discute ilícito extracontratual, o prazo
de prescrição relativo à pretensão decorrente de afronta a direito autoral.
Precedentes. 4. As exigências relativas à demonstração da divergência
jurisprudencial não foram modificadas pelo CPC/2015, nos termos do seu
art. 1.043, § 4º. 5. É devida a majoração da verba honorária
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sucumbencial, na forma do art. 85, § 11, do CPC/2015, quando
estiverem presentes os seguintes requisitos, simultaneamente: a)
decisão recorrida publicada a partir de 18.3.2016, quando entrou
em vigor o novo Código de Processo Civil; b) recurso não
conhecido integralmente ou desprovido, monocraticamente ou
pelo órgão colegiado competente; e c) condenação em honorários
advocatícios desde a origem no feito em que interposto o recurso.
6. Não haverá honorários recursais no julgamento de agravo interno e de
embargos de declaração apresentados pela parte que, na decisão que
não conheceu integralmente de seu recurso ou negou-lhe provimento,
teve imposta contra si a majoração prevista no § 11 do art. 85 do
CPC/2015. 7. Com a interposição de embargos de divergência em
recurso especial tem início novo grau recursal, sujeitando-se o
embargante, ao questionar decisão publicada na vigência do CPC/2015, à
majoração dos honorários sucumbenciais, na forma do § 11 do art. 85,
quando indeferidos liminarmente pelo relator ou se o colegiado deles não
conhecer ou negar-lhes provimento. 8. Quando devida a verba honorária
recursal, mas, por omissão, o Relator deixar de aplicá-la em decisão
monocrática, poderá o colegiado, ao não conhecer ou desprover o
respectivo agravo interno, arbitrá-la ex officio, por se tratar de matéria
de ordem pública, que independe de provocação da parte, não se
verificando reformatio in pejus. 9. Da majoração dos honorários
sucumbenciais promovida com base no § 11 do art. 85 do CPC/2015 não
poderá resultar extrapolação dos limites previstos nos §§ 2º e 3º do
referido artigo. 10. É dispensada a configuração do trabalho
adicional do advogado para a majoração dos honorários na
instância recursal, que será considerado, no entanto, para
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quantificação de tal verba. 11. Agravo interno a que se nega
provimento. Honorários recursais arbitrados ex officio, sanada omissão
na decisão ora agravada.” (2ª Seção, AgInt nos EREsp nº
1539725/DF, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, DJe de
19/10/2017). Destaquei.
Assim, tendo em vista que os honorários sucumbenciais devidos
pela recorrente foram arbitrados na sentença em dez por cento
(10%) sobre o valor da condenação, majoro de ofício em mais três
por cento (3%) da verba de sucumbência, totalizando os
honorários advocatícios devidos ao advogado da apelada, vencedor
na demanda, em treze por cento (13%) sobre o valor da
condenação.
Ante ao exposto, já conhecido o apelo, DESPROVEJO-O a fim de
manter a sentença tal qual prolatada. E, de ofício, majoro os
honorários de sucumbência em mais 3% (três por cento),
totalizando em 13% (treze por cento), nos termos do artigo 85, §
11, do Código de Ritos.
É como voto.
Goiânia, 05 de junho de 2018
DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
RELATOR
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