aparelho psíquico e material inconsciente€¦ · ao paciente expressar-se livremente, sem censura...

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12 d Terapia da Mente OS SINTOMAS A análise dos sintomas visa facilitar a libertação da pulsão original reprimida, ajudando-os a perderem o seu valor patológico Sigmund Freud fundou a escola psicanalítica, a qual enfatiza a influência de motivos inconscientes sobre o comportamento. Dedicou-se ao estudo das então chamadas ‘doenças nervosas’ (nomeadamente, a histeria, afecção muito comum no final do séc. XIX), a partir do qual nasceu a psicanálise. Por Lúcia Soares * F reud observou que na história clínica dos doentes diagnosticados com ‘histeria’, aparecia a se- xualidade como uma questão problemática. Os sintomas apresentados, como a perda da fala e as paralisias dos membros (entre outros), não tinham uma causa orgânica e os médicos mostravam-se impotentes no tratamento dos doentes. Colocou a hipótese da causa ser emocional e inconsciente, concluindo APARELHO PSÍQUICO E MATERIAL INCONSCIENTE Para Freud a mente era dividida em três instâncias psíquicas: o Consciente (acessível à mente), o Pré-consciente (con- teúdos não conscientes, mas acessíveis) e o Inconsciente (conteúdos apenas acessíveis indirectamente, por exemplo, através de sonhos). Mais tarde, descreveu o psiquismo com- posto pelo: Id (os impulsos inconscientes), Ego (a percep- ção-consciência) e Superego (a interiorização das exigências e proibições; o juiz do Ego). Além de estudar os sonhos, analisou os ‘actos falhados’: equívocos orais (dizer uma pala- vra no lugar de outra) e esquecimentos (de nomes, objectos ou compromissos), frequentes na vida diária. Concluiu não serem casualidades e sim actos psíquicos com um sentido, resultantes de conflitos entre intenções incompatíveis. Sonhos e actos falhados são fenómenos do inconsciente, cujas mensagens têm um significado a analisar. A psicanálise de Freud

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Page 1: APAreLho PSíquico e mAteriAL inconSciente€¦ · ao paciente expressar-se livremente, sem censura e de um modo associativo e espontâneo. Pretendia facilitar o acesso às recordações

12 d Terapia da Mente

os sintomasA análise dos sintomas visa facilitar a libertação da pulsão original reprimida, ajudando-os a perderem o seu valor

patológico

Sigmund Freud fundou a escola psicanalítica, a qual enfatiza a influência de motivos inconscientes sobre o comportamento. Dedicou-se ao estudo das então chamadas ‘doenças nervosas’ (nomeadamente, a histeria, afecção muito comum no final do séc. XIX), a partir do qual nasceu a psicanálise. Por Lúcia Soares *

Freud observou que na história clínica dos doentes diagnosticados

com ‘histeria’, aparecia a se-xualidade como uma questão problemática. Os sintomas apresentados, como a perda da fala e as paralisias dos membros (entre outros), não tinham uma causa orgânica e os médicos mostravam-se impotentes no tratamento dos doentes. Colocou a hipótese da causa ser emocional e inconsciente, concluindo

APAreLho PSíquico e mAteriAL inconSciente Para Freud a mente era dividida em três instâncias psíquicas: o Consciente (acessível à mente), o Pré-consciente (con-teúdos não conscientes, mas acessíveis) e o Inconsciente (conteúdos apenas acessíveis indirectamente, por exemplo, através de sonhos). Mais tarde, descreveu o psiquismo com-posto pelo: Id (os impulsos inconscientes), Ego (a percep-ção-consciência) e Superego (a interiorização das exigências e proibições; o juiz do Ego). Além de estudar os sonhos, analisou os ‘actos falhados’: equívocos orais (dizer uma pala-vra no lugar de outra) e esquecimentos (de nomes, objectos ou compromissos), frequentes na vida diária. Concluiu não serem casualidades e sim actos psíquicos com um sentido, resultantes de conflitos entre intenções incompatíveis. Sonhos e actos falhados são fenómenos do inconsciente, cujas mensagens têm um significado a analisar.

A psicanálise de Freud

Page 2: APAreLho PSíquico e mAteriAL inconSciente€¦ · ao paciente expressar-se livremente, sem censura e de um modo associativo e espontâneo. Pretendia facilitar o acesso às recordações

Terapia da Mente d 13

AbordAgem terApêuticA A psicanálise baseia-se na existência de factores inconscientes, com potencial para produzirem dor mental e infelicidade que se expressam através de sintomas, traços de perso-nalidade perturbadores, dificuldades de relacionamento interpessoal e perturbações da auto-estima e do humor. Confrontado com métodos que considerou ineficazes no tratamento das perturbações psico-emocionais, Freud começou por optar pelo uso da hipnose como aborda-gem terapêutica, a qual abandonou posteriormente e substituiu pela ‘associação livre’, método que permite ao paciente expressar-se livremente, sem censura e de um modo associativo e espontâneo. Pretendia facilitar o acesso às recordações dolorosas, de modo a que o material inconsciente pudesse ser analisado e interpretado, o que facilitaria a cura. Incorporou a análise e interpretação dos actos falhados e dos sonhos ao tratamento psicanalítico, já que o sonho expressa, de forma simbólica, o conflito na origem do transtorno psíquico. A análise dos sintomas visa facilitar a libertação da pulsão original reprimida, ajudando-os a perderem o seu valor patológico. A psicanálise pretende tornar consciente o inconsciente, ao serviço da libertação da dor mental. Desde o início que despertou grandes paixões, a favor e contra, mas não resta dúvida que se constituiu numa revolução para a psicologia, mantendo-se actual e servindo de base a novas teorias e escolas psicológicas... impossível ficar-lhe indiferente.

que na origem das perturba-ções psicoló-gicas (como a angústia, a ansiedade, a depressão, as fobias ou as obsessões) estão conflitos e/ou traumas vividos na infância e que não foram ultrapassados. Sendo essas vivências recalcadas no inconsciente, os pacientes não se lembram das mesmas, o que implica que as emo-ções de medo, tristeza, raiva, ansiedade e ódio não pare-cem ter razão para existir, deixando a pessoa ainda mais angustiada e em sofrimento.

SintomaS e géne-Se daS perturba-çõeS mentaiS

Os conflitos resultam de impulsos naturais que querem ser satisfeitos (como a pulsão sexual), mas que entram em conflito com as regras parentais ou morais. Surge a frustração da não satisfação e os impulsos são recalcados, permanecendo

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INTRO

DU

ÇÃO

(*) Psicóloga ClínicaPsicoterapeuta;

www.tuka-maladeviagem.blogspot.com

em estado latente no inconsciente. A ansiedade, a depressão, ou a insatisfação generalizada,

surgem mais tarde a partir

desse material doloroso, relegado

ao esquecimento, mas que regressa em determinadas circunstâncias da vida, relembrando a sua existência através da dor psicológica. Como a sociedade vitoria-na era bastante repressora, muitas das afecções dos pa-cientes de Freud tinham uma origem sexual: impulsos se-xuais reprimidos moralmente tendiam a surgir na forma de sintomas de conversão, como as paralisias. Por exemplo, a paralisia de uma mão poderia estar ligada como o facto de o paciente ter tocado ou de-sejado tocar algo ‘proibido’. Como os sintomas surgiam sem causa aparente, e ten-diam a desaparecer quando se conseguia chegar à causa dos mesmos, Freud perce-beu que a cura passaria

pela busca desse significado oculto. Descobriu ainda que, o facto de os pacientes pode-rem falar livremente sobre o que sentiam, proporcionava

alívio à sua dor, intuindo as potencialidades de um tratamento através da palavra – a psicanálise dava os seus primeiros passos.

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