pereira, yvonne amaral - recordações da mediunidade

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  • 8/8/2019 PEREIRA, Yvonne Amaral - Recordaes da Mediunidade

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    RECORDAES DA MEDIUNIDADEYVONNE DO AMARAL PEREIRA

    DITADO PELO ESPRITO ADOLFO BEZERRA DE MENEZES

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    NDICEINTRODUO

    CAPTULO 1 = FACULDADES EM ESTUDOCAPTULO 2 = FACULDADE NATIVACAPTULO 3 = REMINISCNCIAS DE VIDAS PASSADASCAPTULO 4 = OS ARQUIVOS DA ALMACAPTULO 5 = MATERIALIZAESCAPTULO 6 = TESTEMUNHOCAPTULO 7 = AMIGO IGNORADOCAPTULO 8 = COMPLEXOS PSQUICOSCAPTULO 9 = PREMONIESCAPTULO 10 = O COMPLEXO OBSESSO

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    INTRODUOMuitas cartas temos recebido, principalmente depois que saiu a lume o

    nosso livro Devassando o Invisvel, onde algo relatamos do que conosco hsucedido, referncia feita ao nosso mbito medinico. Desejariam os nossoscorrespondentes que outro noticirio naqueles moldes fosse escrito, que novosrelatrios viessem, de algum modo, esclarecer algo do obscuro campomedinico, esquecidos de que o melhor relatrio para instruo do esprita e domdium so os prprios compndios da Doutrina, em cujos testos os mdiunsse habilitam para os devidos desempenhos. Confessamos, entretanto, que noatenderamos aos reiterados alvitres que nos fizeram os nossos amigos eleitores se no fora a ordem superior recebida para que o tentssemos, ordemque nos decidiu a dar o presente volume publicidade. Como mdium, jamaisagimos por nossa livre iniciativa, seno fortemente acionada pela vontadepositiva das entidades amigas que nos dirigem, pois entendemos que omdium por si mesmo nada representa e que jamais dever adotar a pretensode realizar isto ou aquilo sem antes observar se, realmente, influenciadopelas verdadeiras foras espirituais superiores.

    Disseram-nos os nossos Instrutores Espirituais h cerca de seis meses,quando aguardvamos novas ordens para o que ainda tentariamos no nguloda mediunidade psicogrfica:

    Narrars o que a ti mesma sucedeu, como m dium, desde o teunascimento. Nada mais ser necessrio. Sers assistida pelos superiores doAlm durante o decorrer das exposies, que por eles sero selecio nadas dastuas recordaes pessoais, e escrevers sob o influxo da inspirao.

    E por essa razo ai est o livro Recordaes da Mediunidade, porqueestas pginas nada mais so que pequeno punhado de recordaes da nossavida de mdium e de esprita.

    Muito mais do que aqui fica poderia ser relatado. Podemos mesmo diser

    que nossa vida foi frtil em dores, lgrimas e provaes desde o bero. Talcomo hoje nos avaliamos, consideramo-nos testemunho vivo do valor doEspiritismo na recuperao de uma alma para si mesma e para Deus, p orquesentimos que absolutamente no teramos vencido, nas lutas e nostestemunhos que a vida exigia das nossas foras, se desde o bero noframos acalentada pela proteo vigorosa da Revelao Celeste denominadaEspiritismo.

    Poderamos, pois, relatar aqui tambm as recordaes do que foi oamargor das lgrimas que chormos durante as provaes, as peripcias ehumilhaes que nos acompanharam em todo o decurso da presenteexistncia, e os quais a Doutrina Esprita remediou e consolou. Mas para qu etal ex planao pudesse ser feita seria necessrio apontar ou criticar aqueles

    que foram os instrumentos para a dor dos resgates que urgia realizssemos, eno foram acusaes ao prximo que aprendemos nos cdigos espritas, osquais antes nos ensinaram o Amor, a Fraternidade e o Perdo. Encobrindo,pois, as personalidades que se tornaram pe dra de escndalo para a nossaexpiao e olvidando os seus atos para somente tratarmos da sublime teseesprita, o testemunho do Perdo que aqui deixamos, nico testemunho, aodemais, que nos faltava apresentar e o qual os nossos ascendentes espirituaisde ns exigem no presente momento.

    Ao que parece, o presente livro a despedida da nossa mediunidade ao

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    pblico. Obteremos ainda outros ditados do Alm? bem possvel que no, quase certo que no. O mais que ainda poder acontecer a publi cao detemas antigos conservados inditos at hoje, porqanto nunca tivemos pressana publicao das nossas produes medinicas, possuindo ainda, arquivadosem nossas gavetas, trabalhos obtidos do Espao h mais de vinte anos.

    As fontes vitais que so o veculo da mediunidade:

    fluido vital, fluido nervoso, fluido magntico, j se esgo tam em nossaorganizao fsica. O prprio perisprito encontra -se traumatizado, cansado,exausto. As dores morais, ininterruptamente renovadas, sem jamais permi tiremum nico dia de verdadeira alegria, e o longo exer cicio de uma mediunidadepositiva, que se desdobrou em todos os setores da prtica esprita, esgotaramaquelas foras, que, realmente, tendem a diminuir e a se extinguirem em todosos mdiuns, aps certo tempo de labor. Se assim for, consoante fomosadvertida pelos nossos maiores espirituais e ns mesma o sentimos, esta -remos tranquila, certa de que nosso dever nos campos e spritas foi cumprido,embora por entre espinhos e lutas, e, encerrando nossa tarefa medinicaliterria na presente jornada, cremos que poderemos orar ao Criador, dizendo:

    Obrigada, meu Deus, pela bno da mediuni dade que me concedestecomo ensejo para a reabilitao do meu Esprito culpado. A chama imaculadaque do Alto me mandaste, com a revelao dos pontos da tua Dou trina, a mimconfiados para desenvolver e aplicar, eu ta devolvo, no fim da tarefa cumprida,pura e imaculada conforme a recebi: amei-a e respeitei-a sempre, no aadulterei com idias pessoais porque me renovei com ela a fim de servi -la; noa conspurquei, dela me servindo para incentivo s prprias paixes, nemnegligenciei no seu cultivo para benefcio do prximo, porque todos os me usrecursos pessoais utilizei na sua aplicao. Perdoa, no entanto, Senhor, semelhor no pude cumprir o dever sagrado de servi -la, transmitindo aos homense aos Espritos menos esclarecidos do que eu o bem que ela pr pria meconcedeu.

    E, assim sendo, neste crepsculo da nossa penosa marcha terrenarecordamos e aqui deixamos, aos leitores de boa vomtade, parcelas de nsmesma, nas confidncias que a ficam registradas, patrimnio sagrado dequem nada mais, nada mais nem mesmo um lar, possuiu neste mundo. E aosamados Guias Espirituais que nos amaram e sustentaram na jornadaespinhosa que se apaga, o testemunho da nossa venerao.

    Rio de Janeiro, 29 de Junho de 1966.

    YVONNE A. PEREIRA

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    1FACULDADES EM ESTUDO

    P Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-selaos prestes a se desfazerem e restituir -se vida um ser que

    definitivamente morreria se no fosse socorrido?R Sem dvida e todos os dias tendes a prova disso. Omagnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso meio deao, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter ofuncionamento dos rgos.

    (O Livro dos Espritos, Allan Kardec, pergunta 424.)

    Alm desse interessante tpico do livro ureo da filosofia esprita, pedimosvnia aos provveis leitores destas pginas para tambm transcrever ocomentrio de Allan Kardec, situado logo aps a questo acima cita da, umavez que temos por norma, aconselhada pelos instrutores espirituais, basear orelatrio das nossas experincias espritas em geral no ensinamento das

    entidades que revelaram a Doutrina Esprita a Allan Kardec. Diz o citadocomentrio:A letargia e a catalepsia derivam do mesmo prin cpio, que a perdatemporria da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiolgica aindainexplicada. Diferem uma da outra, em que, na letargia, a suspenso dasforas vitais geral e d ao corpo todas as aparn cias da morte; na catalepsiafica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo, desorte a permitir que a inteligncia se manifeste livremente, o que a tornainconfundvel com a morte. A letargia sempre natural; a catalepsia por vezes magntica. (1)

    Por sua vez, respondendo a uma pergunta que lhe fizemos acerca dedeterminados fenmenos espritas, o venervel Es prito Adolfo Bezerra deMenezes disse-nos o seguinte, pequena lio que colocamos dispo sio doleitor para observao e meditao:

    Podereis dizer-nos algo sobre a catalepsia e a letargia? perguntmos pois o que conhecemos a respeito pouco sat isfatrio.

    E a benemrita entidade respondeu:Quem for atento ao edificante estudo das Escri turas Crists encontrar em

    o Novo Testamento de N. S. Jesus-Cristo, exatamente nos captulos 9, de SoMateus; 5, de So Marcos; 8, de So Lucas, e 11, de S o Joo, verso doPadre Antnio Pereira de Figueiredo, a excelente descrio dos fenmenos decatalepsia (talvez os fenmenos sejam, de preferncia, de letargia, segundo asanlises dos compndios espritas acima citados) ocorridos no crculomessinico e registados pelos quatro cronistas do Evangelho, lembrando aindao caso, igualmente empolgante, do filho da viva de Nam, caso que nada maisseria do que a mesma letargia, ou catalepsia.

    A cincia moderna oficial, a Medicina, conhece a catalepsia e a l etargia,classifica-as, mas no se interessa por elas, talvez percebendo no ser da suaalada o fato de cur-las. A cincia psquica, no entanto, assim tambm aDoutrina Esprita, no s as conhecem como se interessam grandemente por elas, pois que as estudam, tirando delas grandes ensinamentos e revelaesem torno da alma humana, e por isso podem cur -las e at evit-las, aomesmo tempo que tambm podero provoc -las, contorn-las, dirigi-las,

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    orient-las e delas extrair conhecimentos esplendentes para a instruocientfico-transcendente a benefcio da Humanidade. Se

    (1) A bibliografia esprita copiosa nas referncias s experincias sobrea catalepsia e a letargia e interessante ser o seu estudo para o aprendizdedicado.

    os adeptos encarnados dessa grande revelao celeste a Doutrina Esprita no curam, no presente momento, as crises catalpticas do prximo, asquais at mesmo uma obsesso poder provocar, ser porque elas so rarasou, pelo menos, ignoradas, ou porque, lamen tvelmente, se descuram dainstruo doutrinria necessria habilitao para o importante certame.

    A catalepsia, tal como a letargia, no uma enfer midade fsica, mas umafaculdade que, como qualquer outra faculdade medianmica insipiente ouincompreendida, ou ainda descurada e mal orientada, se torna pre judicial aoseu possuidor. Como as demais faculdades suas companheiras, a catalepsia ea letargia tambm podero ser exploradas pela mistificao e pela obsesso deinimigos e perseguidores invisveis, degenerando ento em um estado mrbidodo chamado perisprito, tendncia viciosa das vibraes perispirituais para oaniquilamento, as quais se recolhem e fecham em si mesmas como a plantasensitiva ao ser tocada, negando-se s expanses necessrias ao bomfuncionamento do consrcio fsico-psquico, o que arrasta uma comoneutralidade do fluido vital, dando em resultado o estado de anestesia geral ouparcial, a perda da sensibilidade, quando todos os sintomas da morte e atmesmo o incio da decomposio fsica se apresentam, e smente aconscincia estar vigilante, visto que esta, fagulha da Mente Divina animandoa criatura, jamais se deter num aniquilamento, mesmo temporrio.

    Tanto a catalepsia como a letargia, pois elas so faculdades gmeas, seespontneas (elas podero ser tambm provocadas e dirigidas, uma vez que apersonalidade humana rica de poderes espirituais, sendo, como foi, criada imagem e semelhana de Deus), se espontneas, sero, portanto, um comovcio que impe o acontecimento, como os cas os de animismo nas demaisfaculdades medinicas, vcio que, mais melindroso que os outros lembrados,se a tempo no for corrigido, poder acarretar consequncias imprevisveis,tais como a morte total da organizao fsica, a loucura, dado que as clulascerebrais, se atingidas frequentemente e por demasiado tempo, podero levar obsesso, ao suicdio, ao homicdio e a graves enfermidades nervosas: esgo -tamento, depresso, alucinaes, etc. Mas, uma vez con tornadas por tratamento psquico adequado, transformar-se-o em faculdades anmicasimportantes, capazes de altas realizaes supranormais, consoante a prtica otem demonstrado, fornecendo aos estudiosos e obser vadores dos fatosmedinicos vasto campo de elucidao cientfica -transcendental.

    Entretanto, se os adeptos da grande doutrina da imortalidade osespritas no sabem, conscientemente, ou no querem resolver osintrincados problemas oferecidos pela catalepsia e sua irm gmea, a letargia(eles, os espritas, no se preocupam com esses fen menos), sem o querereme o saberem corrigem a sua possibilidade de expanso com o cultivo geral damediunidade comum, visto que, ao contacto das corren tes vibratriasmagnticas constantes, e o suprimento das foras vitais prprias dosfenmenos medinicos mais conhecidos, aquele vcio, se ameaa, ser corrigi -

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    do, podendo, no obstante, a faculdade catalptica ser orientadainteligentemente para fins dignificantes a bem da evoluo do seu possuidor eda coletividade. De outro modo, o tratamento magntico a travs de passes, emparticular os passes ditos espirituais, aplicados por m diuns idneos e no por magnetizadores, e a interveno oculta, mas eficiente, dos mestres daEspiritualidade, tm evitado que a catalepsia e a letargia se propaguem entre

    os homens com feio de calamidade, da advindo a relativa raridade,espontnea, de tais fenmenOs nos dias presentes. E essa nossa assertivatambm revela que todas as criaturas humanas mais ou menos possuem emgerme as ditas faculdades e as podero dirigir p rpria vontade, seconhecedoras dos seus fundamentos, uma vez que nenhum filho de Deus jamais foi agraciado com predilees ou menosprezado com desatenes pelaobra da Criao.

    Dos casos citados nos Evangelhos cristos, toda via, destaca-se o deLzaro pela sua estranha particularidade. A vemos um estado catalpticosuperagudo, porque espontneo, relaxamento dos elos vitais pela de pressocansada por uma enfermidade, fato patolgico, portanto, provando o desejoincontido que o esprito encarnado tinha de deixar a matria para alar-se aoinfinito, e onde o prprio fluido vital, que anima os organismos vivos, aoencontrava quase totalmente extinto, e cujos liames magnticos do perispritoem direo carne se encontravam de tal forma frgeis, dani ficados peloenfraquecimento das vibraes e da vontade.

    (Lzaro j cheirava mal, o que frequente em casos de crises catalpticasagudas, mesmo se provocadas, quando o paciente poder at mesmo ser sepultado vivo, ou antes, no de todo no estado de cadver) , que foranecessrio, com efeito, o poder restaurador de uma alma virtuosa como a doNazareno para se impor ao fato, substituir clulas j corrompidas, renovar avitalidade animal, fortalecer liames magnticos com o seu poderosomagnetismo em ao. Na filha de Jairo, porm, e no filho da viva de Nam asforas vitais se encontravam antes como que anestesiadas peloenfraquecimento fsico derivado da enfermidade, mas no no mesmo grau dosucedido a Lzaro. Neste, as mesmas foras vitais se encontravam j emdesorganizao adiantada, e no fora o concurso dos liames magnticos aindaaproveitveis e as reservas vitais conservadas pelo perisprito nasconstituies fsicas robustas (o perisprito age qual reservatrio de forasvitais e os laos magnticos so os agentes transmissores que suprem aorganizao fsica) e se no fssem aquelas reservas Jesus no se abalaria cura porque esta seria impossvel. Muitos homens e at crianas assim tmdesencarnado. E se tal acontece antes da poca prevista pela progr amao dalei da Criao, nova existncia corprea os reclamar para o cumprimento dosdeveres assumidos e, portanto, para a continuao da prpria evoluo.

    Perguntar, no entanto, o leitor:Porque ento tal coisa possvel sob as vistas da harmoniosa lei da

    Criao? Que culpa tem o homem de sofrer tais ou quais acidentes se no ele quem os provoca e que se realizam, muitas vezes, revelia da suavontade?

    A resposta ser ento a seguinte:Tais acidentes so prprios do carreiro da evoluo, e enqua nto o homem

    no se integrar de boamente na sua condio de ser divino, vibrandosatisfatria-mente no mbito das expanses sublimes da Natureza,

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    mecnicamente estar sujeito a esse e demais distrbios. Segue -se que, paraa lei da Criao, a chamada morte no s no existe como consideradafenmeno natural, absolutamente destitudo da importncia que os homens lheatribuem, exceo feita aos casos de suicdio e homi cdio. A morte natural,ento, em muitos casos ser um acidente fcilmente reparvel e norepercutir com os foros de anormalidade como acontece entre os homens. De

    outro modo, sendo a catalepsia e a letargia uma faculdade, patrimnio psquicoda criatura e no prpria-mente uma enfermidade, compreender-se- que nemsempre a sua ao comprova inferioridade do seu possuidor, pois que, umavez adestradas, ambas podero prestar excelentes servios causa do bem,tais como as demais faculdades medinicas, que, no adestradas, servem depasto a terrveis obsesses, que infelicitam a sociedade, e qu ando bemcompreendidas e dirigidas atingiro feio sublime. No se poder afirmar,entretanto, que o prprio homem, ou a sua mente, a sua vontade, o seupensamento, se encontrem isentos de responsabilidade no caso vertente, tantona ao negativa como na positiva, ou seja, tanto nas manifestaesprejudiciais como nas teis e benemritas.

    Um esprito encarnado, por exemplo, j evolvido, ou apenas de boavontade, senhor das prprias vibraes, poder cair em transe letrgico, oucatalptico, voluntriamente (2), alar-se ao Espao para desfrutar o

    (2) Esses transes so comuns noite, durante o repouso do sono, emuitas vezes o prprio paciente no se apercebe deles, ou se apercebevagamente. Entre os espiritualistas orientais torna -se fato comum,conforme sabido, dado que os mesmos cultivam carinhosamente ospoderes da prpria alma.

    consolador convvio dos amigos espirituais mais inten samente, dedicar-se aestudos profundos, colaborar com o bem e depois retornar carne, reanimadoe apto a excelentes realizaes. No obstante, homens comuns ou inferiorespodero cair nos mesmos transes, conviver com entidades espirituais inferiorescomo eles e retornar obsidiados, predispostos aos maus atos e at inclinadosao homicdio e ao suicdio. Um distrbio vibratrio poder ter vrias causas, euma delas ser o prprio suicdio em passada existncia. Um distrbiovibratrio agudo poder ocasionar um estado patolgico, um transe catalptico,tal o mdium comum que, quando esgotado ou desatento da prpria h igienemental ou moral (queda de vibraes e, portanto, distrbio vibratrio), darpossibilidades s mistificaes do animismo e obsesso. Nesse caso, noentanto, o transe catalptico trar feio de enfermidade grave, embora no oseja prpriamente, e ser interpretado como ataques incurveis, indefin veis,etc. O alcolatra poder renascer predisposto catalepsia porque o lcool lheviciou as vibraes, anestesiando-as, o mesmo acontecendo aos viciados ementorpecentes, todos considerados suicidas pelos cdigos da Criao. Emambos os casos a teraputica psquica bem aplicada, mormente a renovaomental, influindo poderosamente no sistema de vibraes nervosas, ser deexcelentes resultados para a corrigenda do distrbio, enquanto que a atuaoesprita prpriamente dita abrir novos horizontes para o porvir daqueledistrbio, que evolver para o seu justo plano de faculdade an mica. E tudoisso, fazendo parte de uma expiao, porque ser o efeito grave de causasgraves, tambm assinalar o estado de evoluo, visto que, se o indivduo

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    fsse realmente superior, estaria isento de padecer os contratempos que acimadescrevemos. Todavia, repetimos, tanto a catalepsia como a letargia, uma vezbem compreendidas e dirigidas, quer pelos homens quer pelos E spritosSuperiores, transformar-se-o em faculdades preciosas, conquanto raras emesmo perigosas, pois que ambas podero causar o desenlace fsico do seupaciente se uma assistncia espiritual poderosa no o resguardar de possveis

    acidentes. A letargia, contudo, presta-se mais ao do seu possuidor noplano espiritual. Ao despertar, o paciente trar apenas intuies, s vezes teise preciosas, das instrues que recebeu e sua apli cao nos ambientesterrenos. faculdade comum aos gnios e sbios, sem contudo constituir privilgio, agindo sem que eles prprios dela se apercebam, porque seefetivam durante o sono e sob vigilncia de Espritos prepostos ao caso.

    A provocao desses fenmenos nada mais que a ao magnticaanestesiando as foras vibratrias at ao estado agudo, e anulando, por assimdizer, os fluidos vitais, ocasionando a chamada morte aparente, por sus pender-lhe, momentneamente, a sensibilidade, as cor rentes de comunicao com ocorpo carnal, qual ocorre no fenmeno espontneo, se b em que o fenmenoespontneo possa ocupar um agente oculto, espiritual, de elevada ou inferior categoria. Se, no entanto, o fen meno espontneo se apresentar frequentemente e de forma como que obsessiva, a cura ser inteiramentemoral e psquica, com a aproximao do paciente aos princpios nobres doEvangelho moralizador e ao cultivo da faculdade sob normas espritas oumagnticas legtimas, at ao seu pleno florescimento nos campos me dinicos.

    Casos h em que um consciencioso experimentador remove apossibilidade, ou causa de tais acontecimentos, e o paciente volta ao estadonormal anterior. Mas o desenvolvimento pleno de tal faculdade queconscienciosamente restituir ao indivduo o equilbrio das prprias funespsquicas e orgnicas. O tratamento fsico medicinal, atingindo o sistemaneuro-vegetativo, fortalecendo o sistema nervoso com a aplicao de tnicosreconstituintes, etc., tambm ser de importncia va liosa, visto que a escassezde fluidos vitais poder incentivar o acontecimento, emprestando-lhe feio deenfermidade. Cumpre-nos ainda advertir que tais faculdades, relativamenteraras porque no cultivadas, na atuali dade, agem de preferncia no planoespiritual, com o mdium encarnado sob a direo dos vigilantes espirituais,campo apropriado, o mundo espiritual, para as suas operosidades, tornando -seento o seu possuidor prestimoso colaborador dos obreiros do mundo invisvelem numerosas espcies de especulaes a benefcio da Humanidadeencarnada e desencarnada. Entre os ho mens a ao de tais mdiuns seapresentar de menor vulto, mas, se souberem atentar nas intuies que comeles viro ao despertar, grandes feitos chegaro a rea lizar tambm no planoterreno.

    Os ensinamentos contidos nos cdigos espritas, a advertncia doselevados Espritos que os organizaram e a prtica do Espiritismo demonstramque nenhum indivduo dever provocar, forando-o, o desenvolvimento dassuas faculdades medinicas, porque tal princpio ser contraproducente,ocasionando novos fenmenos psquicos e no prpriamente espritas, taiscomo a auto-sugesto ou a sugesto exercida por pes soas presentes norecinto das experimentaes, a hipnose, o animismo, ou personismo, tal comoo sbio Dr. Alexandre Aksakof classifica o fenmeno, distin guindo-o daquelesdenominados efeitos fsicos. A me diunidade dever ser espontnea por

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    excelncia, a fim de frutescer com segurana e brilhantismo, e ser em voque o pretendente se esforar por atra -la antes da ocasio propcia. Talinsofridez redundar, inapelvelmente, repetimos, em fenmenos de auto -sugesto ou o chamado animismo, ou personismo, isto , a mente doprprio mdium criando aquilo que se faz passar por uma comunicao deEspritos desencarnados. Existem mediunidades que do bero se revelam n o

    seu portador, e estas so as mais seguras, porque as mais positivas, frutos delongas etapas reencarnatrias, durante as quais os seus possuidoresexerceram atividades marcantes, assim desenvolvendo foras do perisprito,sede da mediunidade, vibrando intensamente num e noutro setor da existnciae assim adquirindo vibratilidades acomodatcias do fenmeno. Outras exis temainda em formao (foras vibratrias frgeis, incompletas, os chamadosagentes negativos), que jamais chegaro a se adestrar satisfatoriamentenuma s existncia, e que se mesclaro de enxertos mentais do prpriomdium em qualquer operosidade tentada, dando-se tambm a possibilidadeat mesmo da pseudo-perturbao mental, ocorrendo ento a necessidade dosestgios em casas de sade e hospitais psiquitricos se se tratar de indivduosdesconhecedores das cincias psquicas. Por outro lado, esse tratamento serbalsamizante e at necessrio, na maioria dos casos, visto que tais impassescomumente sobrecarregam as clulas nervosas do paciente, consumindo aindagrande percentagem de fluidos vitais, etc., etc.

    Possuindo na minha clnica espiritual fatos interessantes cabveis nostemas em apreo, consignados neste livro, patrocinarei aqui a exposio dealguns deles para estudo e anlises dos fatos espritas, convidando o leitor meditao sobre eles, pois o esprita necessita profundamente de instruogeral em torno dos fenmenos e ensinamentos apresentados pela cinciatranscendente de que se fz adepto, cincia hnortal que no po der sofrer oabandono das verdadeiras atenes do senso e da razo.

    (a) Adolfo Bezerra de Menezes.

    *

    Por nossa vez, conhecemos pessoalmente, faz alguns anos, na cidadefluminense de Barra Mansa, ao tempo em que ali exercia as funesespiritistas o eminente mdium e expositor evanglico Manoel Ferreira Horta,amplamente conhecido pela alcunha de Zico Horta, a mdium catalpticaChiquinha. Tratava-se de uma jovem de 19 anos de idade, filha derespeitvel famlia e finamente educada. Sua facu ldade apresentou-se, ini-cialmente, em feio de enfermidade, com longos ataques que desafiaram otratamento mdico para a cura. Observada, porm, a pedido da famlia, ehbilmente dirigida por aquele lcido esprita, a jovem tornou -se mdium deadmirveis possibilidades, com a inslita faculdade catalptica, que lhe permitiaat mesmo o fenmeno da incorporao de entidades sofredoras e ignorantes,a fim de serem esclarecidas. Em vinte minutos a m dium apresentava osvariados graus da catalepsia, inclusive o estado cadavrico aps as vinte equatro horas depois da morte, e os sintomas do incio da decompo sio, comas placas esverdeadas pelo corpo e o desa gradvel almscar comum aoscadveres que entram em decomposio. De outras vezes, no primeiro ou nosegundo grau do transe, transmitia verbalmente o recei turio que ouvia dasentidades mdicas desencarnadas que a assistiam, obtendo, assim, excelentes

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    curas nos numerosos doentes que procuravam a antiga Assistn cia EspritaBittencourt Sampaio, dirigida por Zico Horta. Narrava fatos que via no Espao,transmitia instrues de individualidades espirituais sobre diversos assuntos,penetrava o corpo humano com a viso espiritual, e seus diagnsticos eramseguros, visto que os reproduzia verbalmente, ou vindo-os, em esprito, dosmdicos espirituais. O tom da voz com que se exprimia era pausado e grave, e

    sua aparncia fsica reproduzia o estado cadavrico: rigidez impressionante,algidez, arroxeamento dos tecidos carnais, inclusive as unhas, fisionomiaabatida e triste, prpria do cadver, olheiras profundas. O mesmo sucedia,como sabido, ao mdium Carlos Mirabelli, que, em poucos minutos, atingia ograu de decomposio, a ponto de as pessoas presentes s sesses, em queele trabalhasse, s muito penosamente suportarem o ftido que dele seexalava, at que o transe variasse de grau, em escala descendente, fazen do-odespertar. Ao que parece, a catalepsia ai era com pleta. Ambos de nadarecordavam ao despertar.

    Uma vez de posse das indicaes que a fica m, animada nos sentimos adescrever nestas pginas alguns acontecimentos supranormais de quetambm temos sido paciente na presente vida orgnica. Que o suposto leitor ajuize e por si mesmo deduza at onde poder chegar o intricado mistrio damediunidade, porque a mediunidade ainda constitui mistrio para ns outros,que apenas lhe conhecemos os efeitos surpreendentes, isto , apenas aprimeira parte dos seus estranhos poderes.

    Devemos declarar, de incio, que, para a descrio dos fenmenosocorridos conosco, usaremos o tratamento da primeira pessoa do singular, epara a primeira parte de cada capitulo, ou seja, para as anlises e exposiesobtidas pelas intuies do dirigente espiri tual da presente obra, Adolfo Bezerrade Menezes, usaremos o tratamento da primeira pessoa do plural, assimdestacando as duas feies do presente volume.

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    2FACULDADE NATIVA

    Todos a choravam, e se feriam de pena. Jesus, porm, lhes disse:No choreis, que a menina no est morta, mas dorme.

    Ento Jesus, tomando-lhe a mo, disse em alta voz: Talita, kume!Menina, desperta! Ento a sua alma tornou ao corpo e ela se levantoulogo. E Jesus mandou que lhe dessem de comer.

    (Mateus, captulo 9, versculos 18 a 20. Marcos, captulo 5, versculos22 a 43. Lucas, captulo 8, versculos 41 a 56.)

    *

    Na letargia o corpo no est morto, porqanto h funces quecontinuam a executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente,como na crislida, porm, no aniquilada. Ora, enquanto o corpo vi ve, oEspirito se lhe acha ligado.

    (Allan Kardec, O Livro dos Espritos, pergunta 423.)Em um livro de memrias que nossos dirigentes espirituais nos

    aconselharam escrever, existem as seguintes pginas, que dali extraimos parao presente volume, oferecendo-as meditao do leitor, pois jamais deve mosdesprezar fatos autnticos que atestem a verdade esprita. Escrevemo -las numgrande desabafo, pois tantos foram os fatos espritas que desde a infnciarodearam a nossa vida, que, em verdade, nossa conscincia se acusaria se osretivssemos somente para deleite das nossas recordaes. Eis as aludidaspginas:

    Creio que nasci mdium j desenvolvido, pois jamais me dei aotrabalho de procurar desenvolver faculdades medianmicas. Al gumasfaculdades se apresentaram ainda em minha primeira infncia: a vidncia, aaudio e o prprio desdobramento em corpo astral, com o curioso fenmenoda morte aparente. Creio mesmo, e o leitor ajuizar, que o primeiro grandefenmeno medinico ocorrido comigo se verificou quando eu estava apenasvinte e nove dias de existncia.

    Tendo vindo ao mundo na noite de Natal, 24 de Dezembro, a 23 deJaneiro, durante um sbito acesso de tosse, em que sobreveio sufocao,fiquei como morta. Tudo indica que, em existncia pretrita, eu morreraafogada por suicdio, e aquela sufocao, no pri meiro ms do meu nascimento,nada mais seria que um dos muitos complexos que acompanham o Esprito dosuicida, mesmo quando reencarnado, reminiscncias mentais e vibratrias queo traumatizam por perodos longos, comumente.

    Durante seis horas consecutivas permaneci com rigidez cadavrica, ocorpo arroxeado, a fisionomia abatida e macilenta do cadver, os olhosaprofundados, o nariz afilado, a boca cerrada e o queixo endurecido ,enregelada, sem respirao e sem pulso. O nico mdico da localidade pequena cidade do Sul do Estado do Rio de Janeiro, hoje denominada Rio dasFlores, mas ento chamada Santa Teresa de Valena , o nico mdico e ofarmacutico, examinando-me, constataram a morte sbita por sufocao, falta de outra causa mortis mais lgica. A certido de bito foi, portanto,legalmente passada. Minha av e minhas tias trataram de me amortalhar para

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    o sepultamento, tarde, pois o bito ocorrera pela manh, bem c edo. Eu erarecm-chegada na famlia e, por isso, ao que parece, minha morte noabalava o sentimento de ningum, pois, havendo ao todo vinte e oito pessoasna residncia rural de minha av materna, onde nasci, porqanto a famlia sehavia reunido para as comemoraes do Natal e do Ano-Novo, ningumdemonstrava pesar pelo acontecimento, muito ao contrrio do que se passara

    na residncia do fariseu Jairo, h quase dois mil anos...Vestiram-me ento de branco e azul, como o Menino Jesus, comrendinhas prateadas na tnica de cetim, faixas e estrelinhas, e meengrinaldaram a fronte com uma coroa de rosinhas brancas. Choviatorrencialmente e esfriara o tempo, numa localidade prpria para o veraneio,como a minha cidade natal. A ea mor turia, uma mesinha com toalhasrendadas, com as velas e o crucifixo tradicional, encontrava -se minha espera,solenemente preparada na sala de visitas.

    Nem minha me chorava. Mas esta no chorava porque no acreditava naminha morte.

    Opunha-se terminantemente que me expuses sem na sala eencomendassem o caixo morturio. A fim de no excit -la, deixaram-me nobero mesmo, mas encomendaram o caixozinho, todo branco, bordado deestrelinhas e franjas douradas... Minha me, ento, quando havia j seis horasque eu me encontrava naquele estado inslito, conservando-se ainda catlicaromana, por aquele tempo, e vendo que se aproximava a hora do enterro,retirou-se para um aposento solitrio da casa, fechou -se nele, acompanhou-sede um quadro com estampa representando Maria, Me de Jesus, e, com umavela acesa, prostrou-se de joelhos ali, szinha, e fz a invocao seguinte, con -centrando-se em preces durante uma hora:

    Maria Santssima, Santa Me de Jesus e nossa Me, vs, que tambmfostes me e passastes pelas aflies de ver p adecer e morrer o vosso Filhosob os pecados dos homens, ouvi o apelo da minha angstia e atendei -o,Senhora, pelo amor do vosso Filho: Se minha filha estiver realmente morta,podereis lev-la de retorno a Deus, porque eu me resignarei inevitvel lei damorte. Mas se, como creio, ela estiver viva, apenas sofrendo um distrbio cujacausa ignoramos, rogo a vossa interveno junto a Deus Pai para que ela tornea si, a fim de que no seja sepultada viva. E como prova do meureconhecimento por essa caridade que me fareis eu vo-la entregarei parasempre. Renunciarei aos meus direitos sobre ela a partir deste momento! Ela vossa! Eu vo-la entrego! E seja qual for o destino que a esperar, uma vezretorne vida, estarei serena e confiante, porque ser previsto pe la vossaproteo.

    Muitas vezes, durante a minha infncia, minha me narrava -me esseepisdio da nossa vida por entre sorrisos de satisfao, repetindo cem vezes aprece que a fica, por ela inventada no momento, acrescentando -a do Pai-Nosso e da Ave-Maria, e, igualmente entre sorrisos, era que eu a ouvia dizer,tornando-me ento muito eufrica por isso mesmo:

    Eu nada mais tenho com voc... Voc pertence a Maria, Me de Jesus...Entrementes, ao se retirar do aposento, onde se dera a comunho com o

    Alto, minha me abeirou-se do meu insignificante fardo carnal, que continuavaimerso em catalepsia, e tocou-o carinhosamente com as mos, repetidasvezes, como se transmitisse energias novas atravs de um passe. Ento, umgrito estridente, como de susto, de angstia, acompanhado de choro

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    inconsolvel de criana, surpreendeu as pessoas pre sentes. Minha me,provvel veculo dos favores caritativos de Maria de Nazar, levantou-me dobero e despiu-me a mortalha, verificando que a grinalda de rosinhas me feriraa cabea.

    As velas que deveriam alumiar o meu cadver foram retiradas e apagadas,a ea foi destituda das solenes toalhas rendadas, o crucifixo retornou ao ora -

    trio de minha av e a casa funerria recebera de volta um caixo deanjinho, porque eu revivera para os testemunhos que, de direito, fssem por mim provados, como esprito revel que fora no passado... e revivera sob o doceinfluxo maternal de Maria, Me de Jesus.

    Recordando, agora, nestas pginas, esse pattico episdio de minhapresente existncia, a mim narrado tantas vezes pelos meus familiares, neleprefiro compreender tambm um smbolo, a par do fenmeno psquico:ingressando na vida terrena para uma encar nao expiatria, eu deveria, comefeito, morrer para mim mesma, renunciando ao mundo e s suas atraes,para ressuscitar o meu esprito, morto no pecado, atravs do respeito s leis deDeus e do cumprimento do dever, outrora vilipendiado pelo meu livre arbtrio.No obstante, que seria o fato acima exposto se no a faculdade que comigoviera de outras etapas antigas, o prprio fenmeno medinico que ocorre aindahoje, quando, s vezes, espontneamente, advm transes idnticos ao acimanarrado, enquanto, em esprito, eu me vejo acompanhando os InstrutoresEspirituais para com eles socorrer sofredores da Terra e do Espao, ou assistir,sob seus influxos vibratrios mentais, aos dramas do mundo invisvel, que maistarde so descritos em romances ou historietas?

    Aos quatro anos de idade j eu me comunicava com Espritosdesencarnados, atravs da viso e da audio: via-os e falava com eles. Eu ossupunha seres humanos, uma vez que os percebia com essa aparncia e mepareciam todos muito concretos, trajados como quaisquer homens e mulheres.Ao meu entender de ento, eram pessoas da famlia, e por isso, talvez, jamaisme surpreendi com a presena deles. Uma dessas personagens era -meparticularmente afeioada:eu a reconhecia como pai e a proclamava como tal a todos os de casa, comnaturalidade, julgando-a realmente meu pai e amando-a profundamente. Maistarde, esse Esprito tornou-se meu assistente ostensivo, auxiliando-mepoderosamente a vitria nas provaes e tornando -se orientador dos trabalhospor mim realizados como esprita e mdium. Tratava-se do Esprito Charies, jconhecido do leitor atravs de duas obras por ele ditadas minha psicografia:Amor e dio e Nas Voragens do Pecado.

    Durante minha primeira infncia esse Esprito fa lava-me muitas vezes,usando de autoridade e energia, assim como a entidade Roberto, tambmentrevista pelo leitor nos volumes Dramas da Obsesso, de Adolfo Bezerra deMenezes, e Memrias de um Suicida, como sendo o mdico espanhol Robertode Canalejas, e que teria existido na Espanha pelos meados do 19 sculo.

    Lembro-me ainda de que, muitas vezes, sentada no soalho, a brincar comas bonecas, eu via Roberto numa cadeira que invariavelmente era posta nomesmo local. Ele curvava-se, apoiava os cotovelos nos joelhos e sustentava orosto com as mos numa atitude muito humana, e assim, tristemente, pois e raum Esprito triste, me falava com doura e eu respondia. No sei se taisconversaes seriam telepticas ou verbais, sei apenas que eram reais. Masno pude conservar lembranas do assunto de que tratavam. Alis, tudo me

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    parecia comum, natural, e, como criana que era, certamente no poderiahaver preocupao de reter na lembrana o assunto daquelas conversaes.Essa entidade era por mim distinguida muito perfeitamente, trajada como oshomens do sculo 19, mostrando olhos grandes e vivos, muito profund os,cabelos fartos e altos na frente, pequena barba circulando o rosto e terminandosuavemente em ponta, no queixo, e bigodes relativos, espessos. Dir -se-ia

    pessoa doente, pois trazia faces encovadas e feies abatidas, e mosdescarnadas e muito brancas. Era esse o Esprito companheiro de minhasexistncias passadas, a quem poderosos laos espirituais me ligam, a quemmuito feri em idades pretritas e por quem me submeti s duras provaes queme afligiram neste mundo, na esperana de reaver o perdo da le i de Deuspelo mal outrora praticado contra ele prprio.

    *

    Foi smente aos oito anos de idade que se repetiu o fenmeno dedesprendimento parcial a que chamamos morte aparente, o qual, no entanto,sempre espontneo, dos dezesseis anos em diante se tor nou, por assim dizer,comum em minha vida, iniciando-se ento a srie de exposies espirituais quederam em resultado as obras literrias por mim recebidas do Alm atravs dapsicografia auxiliada pela viso espiritual superior. Repetindo -se, porm, ofenmeno, aos meus oito anos de idade, recebi, atravs dele, em quadrosparablicos descritos com a mesma tcnica usada para a literatura medinica,o primeiro aviso para me dedicar Doutrina do Senhor e do que seria a minhavida de provaes, sendo essa exposio produzida singelamente, altura deuma compreenso infantil.

    Quem conhecer a vida da clebre herona francesa Joana dArc e atentar em certos detalhes que circundaram a sua mediunidade, compreenderfcilmente que as entidades espirituais que se co municavam com ela, e squais ela atribua os nomes dos santos por ela venerados, cujas imagensexistiam na igrejinha de Domremy, sua terra natal, fcilmente compreendertambm o que exporei em seguida, pois o fenmeno esprita jamais serisolado ou ser particular a uma nica pessoa, porque a tcnica para produzi -lo idntica em toda parte e em todas as idades, referncia feita aos operadoresespirituais.

    Joana fora criada desde o bero amando aquela igreja e as imagens nelaexpostas com a denominao de Santa Catarina, Santa Margarida e SoMiguel. E porque raciocinasse que, realmente, as imagens retra tavam aquelasalmas eleitas que ela acreditava desfrutando a bem-aventurana eterna,confiava nelas, certa de que jamais lhe negariam amor e proteo. Mas averdade era que as entidades celestes que se mos travam a Joana, e lhefalavam, nada mais seriam que os seus prprios guias espirituais ou osGuardies Espirituais da coletividade francesa, como Santa Genoveva, SoLus ou Carlos Magno, que tomariam a aparncia daquelas imagens a fim deinfundirem respeito e confiana quele corao herico, capaz de um feitoimportante que se refletiria at mesmo alm-fronteiras da Frana. Tambmnada impediria que as vises de Joana fssem realmente materializa es dosEspritos daqueles vultos da igreja de Domremy, dado que Santa Catarina eSanta Margarida tivessem, com efeito, exis tido. Quanto a So Miguel, citado noVelho Testamento pelos antigos profetas, possui essa credencial para a prpria

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    identidade, O acontecimento, alis, comum nos fastos espritas e o caso deJoana no isolado na histria das aparies supranormais, conquanto sejados mais positivos e belos de quantos temos notcias.

    Assim, nos meus oito anos de idade fato anlogo passou -se, embora comcarter muito restrito e particular, em condies de vidncia, verdade,diversas do ocorrido em Domremy, mas fundamentado nos mes mos princpios.

    Por aquela poca, eu residia na cidade de Barra do Pira, no Estado do Riode Janeiro, e frequentava o catecismo da doutrina Catlica Romana na igrejamatriz de SantAna, ao lado da qual morava. A essa poca j meus paishaviam adotado o Espiritismo (meu pai adotara -o ainda antes do meunascimento), permitindo, no obstante, minha frequncia ao catecis mo catlico,como era comum entre famlias espritas, no passado. Aquele templo catlico,portanto, com seus vitrais sugestivos, seus sinos melodiosos, seu formoso jardim em derredor, exercia suave impresso em minhas sensibilidades, e adoce poesia que se desprendia de tudo aquilo infundia verdadeiroencantamento ao meu corao. Eu venerava aquele ambiente e hojecompreendo que, ento, me sentia como que tutelada daquela (SenhoraSantAna, que me era to familiar, e daquela Nossa Senhora da Conceio,que eu tinha a satisfao de coroar, fantasiada de anjo, nas festividades doms de Maio. E imaginava-as como fazendo parte da minha famlia, porquediziam delas as nossas babs:

    A Senhora SantAna nossa av; Nossa Se nhora nossa me,portanto temos que respeit-las e lhes pedir a bno todos os dias...

    Mas, sobre todas as imagens existentes naquele templo, a que mais meimpressionava e comovia era a do Senhor dos Passos, cado sobre os joelhos, com a cruz nos ombros. Eu amava aquela imagem, profun dassugestes ela infundia em minha alma, e, s vezes, chorava ao lado dela,porque diziam as (babs):

    Foi para nos salvar que Ele padeceu e morreu na cruz... Temos queam-lo muito...

    Reconfortava-me, porm, beijar a ponta da sua tnica ou um ngulo dacruz, e no raro levava uma ou outra humilde flor para oferecer -lhe, com a qualpretendia testemunhar-lhe o meu sentimento, e grande tristeza me invadia ocorao em tais momentos.

    Entretanto, a imagem permanecia sobre um andor, na capela -mor, e nono altar, visto no existir, na ocasio, acomodaes para ela em nenhum outrolocal. Em verdade, j por essa poca eu no passava de uma criana infeliz,pois, como vimos, o sofrimento me acompanhava desde o nascimento, e eusofria no s a saudade de minha existncia anterior, da qual lembrava, comoainda a insatisfao no ambiente familiar, que eu estranhava singularmente,como veremos mais adiante. Dentre as muitas angstias que ento me afli -giam, destacava-se o temor que eu experimentava por um dos meus ir mos, oqual, como si acontecer entre proles numerosas, me surrava frequentementepor qualquer contrariedade durante nossas peraltices, fato que me pungia eaterrorizava muito, e que a minha talvez excessiva sensibilidade exageravacomo se se tratasse de um martirolgio por mim sofrido, tornando-me entocomplexada no prprio lar paterno.

    Certa noite, inesperadamente, verificou -se o fenmeno de transporte emcorpo astral, com a caracterstica de morte aparente. Felizmente para todos osde casa, a ocorrncia fora em hora adiantada da noite, como sucede nos dias

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    presentes, e apenas percebido pela velha ama que dormia conosco e que foratestemunha do primeiro fenmeno, no primeiro ms do meu nascimento.

    Ps-se ela ento a debulhar o seu rosrio, temerosa de acordar os decasa, o que no a impediu de me supor atacada de um ataque de vermes e por isso mesmo dando-me vinagre a cheirar. Mas como o alvitre se verificarainfrutfero para resolver a situao, preferiu as prprias oraes, o que,

    certamente, equivaleu a excelente ajuda para a garantia do transe. Smente nodia seguinte, portanto, o fato foi conhecido por todos, por mim inclusive, queme lembrava do acontecimento como se tratasse de um sonho muito lcido einteligente.

    Entrementes, sob a ao do fenmeno, vi-me no interior da igreja que euamava, diante da imagem do Senhor dos Passos, como frequentementeacontecia, agora, porm, permanecendo aqum dos degraus que subiam paraa capela-mor. O familiar acima citado torturava -me ento com os habituaismaus tratos, espancando-me furiosamente, despedaando-me as roupas epuxando-me os cabelos. Sentindo-me aterrorizada, como sempre, em dadomomento apelei para o socorro do Senhor. Ento, como que vi a imagemdesprender-se do andor, com a cruz nas costas, descer os degraus, estender amo livre para mim e dizer, bondosamente: Vem comigo, minha filha... Ser o nico re curso que ters parasuportar os sofrimentos que te esperam...

    Aceitei a mo que se estendia, apoiei-me nela, subi os degrauzinhos dacapela-mor... e de nada mais me apercebi, enquanto que a viso no foi jamaisesquecida, constituindo antes grande refrigrio para o meu corao, at hoje,sua lembrana.

    Efetivamente, grandes provaes e testemunhos, lgrimas ininterruptas,sem me permitirem um nico dia de alegria neste mundo, se sobrepuseram nodecurso da minha presente existncia. Mas bem cedo eu me fortalecera paraos embates, pois, naquela mesma idade, oito anos, li o primeiro livro esprita,uma vez que j lia correntemente, pela citada poca.

    Certamente que no pude assimil-lo devidamente, mas li-o do princpio aofim, embora a sua literatura clssica me confundisse. Mas o assunto principalde que tratava, a tcnica esprita, revelando o fenmeno da morte de umapersonagem, calou-me profundamente no corao e eu o compreendiperfeitamente. Esse livro foi o romance Marieta e Estrela obtido pela mediu -nidade de Daniel Suarez Artazu, em Barcelona, Espa nha, pelo ano de 1870, eo captulo O primeiro dia de um. morto foi, para mim, como que o chamamentopara os assuntos espritas.

    E assim foi que a Doutrina do Senhor, a esperana na Sua justia, a f e apacincia que sempre me impeliram para o Espiritismo, a par do cultivo dosdons medinicos que espontneamente se me impuse ram desde a minhainfncia, me tornaram bastante forte para dominar e superar, at agora, asdificuldades que comigo vieram para a reencarnao expiatria, comoresultado inapelvel de um passado espiritual desarmonizado com o bem.

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    3REMINISCNCIAS DE VIDAS PASSADAS

    Podemos ter algumas revelaes a respeito de nossas vidasanteriores?

    Nem sempre. Contudo, muitos sabem o que foram e o que faziam. Sese lhes permitisse diz-lo abertamente, extraordinrias revelaes fariamsobre o passado.

    (Allan Kardec, O Livro dos Espritos, pergunta 395.)

    *

    Quanto mais grave o mal, tanto mais enr gico deve ser o remdio.Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar edeve regozijar-se Ideia da sua prxima cura. Dele depende, pelaresignao, tornar proveitoso o seu sofrimento e no lhe estragar o frutocom as suas Impacincias, visto que, do contrrio, ter de recomear.

    (Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, captulo 5, tem10.)

    Muitos dos nossos amigos freqentemente nos pro curam, quer pessoalmente ou atravs de cartas que nos escrevem, a fim de solicitar informaes sobre a reencarnao do prximo em geral e, em particular, adeles prprios. Nada poderemos, porm, acrescentar sobre o assunto sinstrues dos Espritos que organizaram os cdigos do Espiritismo. Se, comoficou dito, a lei da Criao encobriu o nosso passado espiritual, ser porque oseu conhecimento no traria vantagem para o nosso progresso, antes poderiaprejudic-lo, como to hbilmente ficou assinalado por Allan Kardec e seuscolaboradores. Todavia, a observao de sbios investigadores daspropriedades e foras da personalidade humana, e a prtica dos fenmenosespritas, do-nos a conhecer substanciosos exemplos de que nem sempre ovu do esquecimento totalmente distendido sobre a nossa memria normal,apagando as recordaes de vidas anteriores, pois a verdade que de quandoem vez surgem indivduos idneos apresentando lembranas de suasexistncias passadas, muitas delas verificadas exatas por investigaescriteriosas, e a maioria dos casos, seno a totalidade deles, revelando tantalgica e firmeza nas narrativas, que impossvel seria descrer -se deles semdemonstrar desprezo pela honestidade do prximo. De outro lado, o fenmenode recordao de vidas passadas parece mais raro do que em verdade e, umavez que podemos ter estranhas reminiscncias sem saber que elas sejam opassado espiritual a se manifestar timidamente s nossas faculdades, alis, amaioria das pessoas que as recordam, ignorando os fatos espritas, sofrem asua presso sem saberem, realmente, do que se trata, e por isso noparticipam a outrem o que com elas se passa.

    O Esprito Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a quem tanto amamos,observou, em recentes instrues a ns concedidas, que nos manicmiosterrestres existem muitos casos de suposta loucura que mais no so queestados agudos de excitao da subconscincia re cordando existnciaspassadas tumultuosas, ou criminosas, ocasionando o remorso no presente, omesmo acontecendo com a obsesso, que bem poder ser o tumulto de

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    recordaes do passado enegrecido pelos erros cometidos, recordaesindevidamente levantadas pela presso da vtima de ontem transformada emalgoz do presente. Muitos chamados loucos, e tambm certo nmero deobsidiados, costumam asseverar que foram esta ou aquela personalidade jvivida e fizeram isto ou aquilo, narrando, por vezes, atos deplorveis. Bempoder acontecer que tais narrativas nada mais sejam que remi niscncias,

    talvez desfiguradas por alguma circunstncia de momento, de um passadoaflorando para o presente por entre choques traumticos, causan do a alteraonervosa ou mental.

    A lei divina, que rege a condio do ser encarnado na Terra, estabeleceu oesquecimento das migraes pretritas, por se tratar do que mais convm aocomum das criaturas, sendo mesmo essa a situao normal de cada ser, e,assim sendo, o fato de recordar produzir choques morais por vezes intensos,na personalidade que assim se destaca, acarretando anormalidades quevariam de grau, conforme a situao moral ou conscien cial de cada um, pois squem realmente recorda o prprio passado reencarnatrio, no qual faliu, estarcapacitado a compreender o desequilbrio e a amargura que tal situaoprovoca. Ao que parece, o fato de recordar existncias passadas constituiprovao para as criaturas comuns, ainda pouco evolvidas, ou conces so aomrito, nas de ordem mais elevada na escala moral. No primeiro caso, como foidito acima, verifica-se, no raro, uma espcie de obsesso, haja ou no haja oinimigo desencarnado a provocar a anormalidade, e, de qualquer forma, umagrande tristeza, um grande desnimo atingir o que recorda, que pressentirapenas espinhos e lgrimas no decorrer da exis tncia. E assim como o Espritodesencarnado, de categoria inferior, muitas vezes sofre e se tumultua at loucura, diante do desfile mental das prprias existncias passadasdesvirtuadas pelo crime, assim o encarnado se anomia lizar sob os choquesdos mesmos acontecimentos, por diminutos que sejam.

    No obstante, existem tambm homens que recor dam suas vidaspassadas sem padecerem aqueles desequilbrios, conservando -se normais. Osmdiuns positivos, ou seja, que possuam grandes foras intermedirias (ele tro-magnetismo, vitalidade, intensidade vibratria, sensibilidade superior, vigor mental em diapaso harmnico com as foras fsico-cerebrais), sero maisaptos do que o normal das criaturas ao fenmeno de remi niscncias dopassado, por predisposies particulares, portanto. Assim sendo, e diante dovasto noticirio que possumos acerca do empolgante acontecimento, temos odireito de deduzir que o fato de recordar o prprio passado reencarnatrio uma faculdade que bem poder ser medinica, que, se bem d esenvolvida eequilibrada, no alterar o curso da vida do seu possuidor, mas, se ainda emelaborao e prejudicada por circunstncias menos boas, causar lamentveisdistrbios, tal a mediunidade comum, j que o ser mdium no implica aobrigatoriedade de ser esprita. Se aquele que recor da, e por isso sofredesequilbrios vibratrios, procurar o remdio que o poder aliviar, nas fontesfecundas do psiquismo, estar salvo de grandes dissabores. Se, ao contrrio,desconhecer a origem dos fatos e se alhear do psiquismo, ser consideradolouco por todas as opinies, at mesmo para a opinio do seu mdico, emborano o seja realmente; e como o manicmio o ltimo recurso que lheproporcionaria a cura, segue-se que ele no se poder curar.

    Mas porque ento tais fatos se enquadram na vida organizada pelas leissuperiores do plano divino? Sero tais casos acontecimentos normais da

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    evoluo?Certamente, muito provvel que assim seja, visto que, tratando -se de

    uma faculdade que tende a atingir a plenitude das pr prias funes, haver otrabalho de evoluo, e, alm do mais, no. o Esprito, encarnado ou no, oartfice da prpria glria? Da as lutas tre mendas do roteiro a vencer...

    Ou tratar-se-, porventura, de punio?

    De qualquer forma ser o trabalho de evoluo...Mas at onde chegam os nossos conhecimentos a respeito do singular fato, tambm por ns vivido e, portanto, por ns sentido, observado eestudado, poderemos afirmar que, na sua maioria, trata-se do efeito de causasgraves e, portanto, punio atravs da lei natural das coisas, podendo ser tambm o fato auxiliado pela natural disposio de organizaes fsico -psquicas muito lcidas, aquisio de mentes trabalha das pelo esforo dainteligncia, fruto do cultivo dos dons da alma, se o acontecime nto no implicar distrbios conscienciais, pois nossa personalidade rica de dons emelaborao lenta, mas segura.

    Consultando preciosos livros de instruo doutrinria espritaencontraremos copioso noticirio do fato em estudo. Homens ilustres dopassado no s confessavam as prprias convices em torno dareencarnao das almas em novos corpos como afirmavam, com boas provas,lembrar de suas vidas anteriores, sendo que esses homens no deram, jamais,provas de debilidade mental, o que nos leva a dedu zir ser o fato mais comumdo que se pensa, e que os casos extremos, ocasionando a citada pseudo -loucura, sero, com efeito, como que uma punio natural na ordem dascoisas, efeito de vidas passadas anormais, onde avultavam aes crimi nosas.No seu precioso livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, o grandemestre da Doutrina Esprita, Lon Denis, cita casos interessantes de pessoasconhecidas na Histria, que recordavam as prprias existncias passadas. de notar que todas essas individualidades citadas possuam inteligncia lcida,eram mesmo pessoas geniais, fazendo crer que suas mentes haviam sidotrabalhadas pelo labor intelectual desde longas etapas anteriores, o queequivale dizer que a faculdade de recordar estava mais ou menos desenvolvi -da, no produzindo choques vibratrios violentos (1). Assim que, no captuloX1V daquela obra magistral, na segunda parte, ele diz o seguinte, permitindo oleitor, a seu prprio benefcio, que transcrevamos trechos do original:

    fato bem conhecido que Pitgoras se recordava pelo menos de trsdas suas existncias e dos nomes que, em cada uma delas, usava. Declaravater sido Hermtimo, Eufrbio e um dos Argonautas. Julia no,

    (1) A prtica do Espiritismo, contudo, e o ensino dos Es pritos, naatualidade, tambm parecem demonstrar que outras circunstncias

    podem cooperar para as recordaes do passado, e que no apenas osEspiritos superiores, encarnados ou no, se acham na situao derecordar algo das prprias existncias percorridas, conquanto o fat o sedeclare revelia da sua vontade, podendo mesmo tais lembranas serprovocadas por um agente desencarnado, que bem poder ser um amigoou um inimigo, ou por um choque emocional grave.

    cognominado o apstata, to caluniado pelos cris tos, mas que foi, narealidade, uma das grandes figuras da Histria Romana, recordava -se de ter

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    sido Alexandre da Macednia. Empdocles afirmava que, pelo que lhe diziarespeito, se recordava de ter sido rapaz e rapa riga.

    Na opinio de Herder (Dialogues sur la Metem -psicose) continuaLon Denis deve-se ajuntar a estes nomes os de Yarcas e de Apolnio deTiana. Na Idade Mdia, tornamos a encontrar a mesma fa culdade em JernimoCardan. Entre os modernos, Lamartine declara no seu livro Voyage en

    Orient, ter tido reminiscncias muito claras de um passado lon gnquo.Transcreveremos o seu testemunho: Na Judeia eu no tinha Biblia nem livro de viagem; ningum que me

    desse o nome dos lugares e o nome antigo dos vales e dos montes. Noobstante, reconheci sem demora o vale de Terebinto e o campo de batalha deSaul. Quando estivemos no convento, os padres confirmaram -me a exatidodas minhas descobertas. Os meus companheiros recusavam acredit -lo. Domesmo modo, em Sfora, apontara com o dedo e designara pelo nome um acolina que tinha no alto um castelo arruinado, como o local provvel donascimento da Virgem. No dia seguinte, ao sop de um monte rido, reconhecio tmulo dos Macabeus e falava verdade sem o saber. Excetuando os vales doLbano, quase que no encontrei na Judeia um lugar ou uma coisa que nofsse para mim como uma recordao.Temos ento vivido duas ou mil vezes. , pois, a nossa memria umasimples imagem embaciada que o sopro de Deus aviva?

    O prprio Vtor Hugo, que to de perto nos fala ao corao , afirmava julgar-se a reencarnao de Juvenal e squilo, enquanto o mesmo Lon Denis, emoutra obra magistral da sua lavra, O Grande Enigma, con fessa as agitaesda sua alma durante uma visita clebre Chartreuse, quando sentiu efervescer dos refolhos do prprio ser a recordao de uma existncia tambm ali vivida.Vejamos o que a sua pena vigorosa narra no capitulo 13 daquela obra:

    O cemitrio do convento de aspecto lgubre. Nenhuma laje, nenhumainscrio determina as sepulturas. Na fossa aberta, deposita-se simplesmenteo corpo do monge, revestido de um hbito e estirado sobre uma tbua, semesquife; depois, cobrem-no de terra. Nenhum outro sinal, alm de uma cruz,designa a sepultura desse passageiro da vida, desse hspede do silncio, doqual ningum, exceo do prior, saber o nome verdadeiro!

    Ser a primeira vez que percorro estes longos corredores e estesclaustros solitrios? No!

    Quando sondo o meu passado, sinto estremecer em mim a mis teriosacadeia que liga minha personalidade at ual dos sculos escoados. Sei queentre os despojos que ali jazem, nesse cemitrio, h um que meu Espritoanimou. Possuo um terrvel privilgio, o de conhecer minhas existnciaspassadas. Uma delas acabou nesses lugares. Depois dos cinco lustros daepopeia napolenica, nos quais o destino me havia imergido, exausto de tudo,afrontado pela vista do sangue e do fumo de tantas batalhas, aqui vim buscar apaz profunda.

    Mas nenhum de tais exemplos se equipara aos referentes a outrapersonalidade, tambm citada pelo grande Denis. Trata-se igualmente de umintelectual, um poeta assaz apreciado, cujo nome era Jos Mry,simplesmente. O Journal Litteraire, de 25 de Novem bro de 1864, diz dele oseguinte, entre outras tantas referncias interessantes sobre o mesm o assunto:

    H teoriaas singulares que, para ele, so con vices. Assim, crfirmemente que viveu muitas vezes; lembra -se das menores circunstncias das

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    suas existncias anteriores e descreve-as com tanta minuciosidade e com umtom de certeza to entusistico que se impe como autoridade.

    Assim, foi um dos amigos de Verglio e Horcio, conheceu Augusto(Imperador Romano), conheceu Germnico; fz a guerra nas Glias e na Ger -minha. Era general e comandava tropas romanas quando atravessaram oReno. Reconhece os montes e stios onde acampou, e os vales onde outrora

    combateu. Chamava-se ento Mnio.Seria longo descrever as recordaes desse reencar nacionista do sculopassado, Jos Mry, e que vo at s ndias, em passado remoto. Ele to bemdescrevia as paisagens orientais nas suas obras literrias que jamais osleitores duvidaram de que ele tivesse viajado longa mente por aquele pas. Eacrescenta o Journal Litteraire, finalizando:

    preciso ouvi-lo contar os seus poemas, porque so verdadeirospoemas essas lembranas Swedenborg. No suspeiteis da sua seriedade,que muito grande. No h mistificao feita custa dos seus ouvintes; huma realidade de que ele consegue con vencer-vos!Gabriel Delanne no menos substancioso nos exemplos apr esentados emseu livro Reencarnao, cuja leitura empolgante enriquece a mente doesprita. Impossvel citar alguns desses exemplos, que poderiam alongar demasiadamente a nossa tese. Cumpre -nos, porm, informar o leitor deapenas um desses aludidos exemplos, pelo encantamento das circunstnciasem que foi vivido. Quem o viveu e o descreveu foi a Sra. Ma tilde de Krapkoff,dama francesa casada com um nobre russo, pelo ano de 1893, a quem oprprio Sr. Delanne conheceu pessoalmente. Durante uma cavalgada n asimensas florestas do interior da Orimeia, essa dama, recm -chegada Rssia,aps o casamento, e sua comitiva perderam-se na espessura das mesmas,sem poderem reencontrar o caminho de regresso ou algum outro que oslevasse a qualquer aldeia onde pudessem passar a noite. de notar que a Sra.Matilde de Krapkoff, sendo francesa, sentia tal atrao pela Rssia que aca -bara desposando um varo russo, enquanto que sua adaptao nova ptriamais no fora do que um reencontro de coisas e costumes que vivia m em seuspensamentos. Perdidos na floresta, e avizinhando -se a noite, a consternaoera geral, enquanto Matilde era a nica que se conservava tranquila. Vejamoscom que mestria ela consegue pintar a cena das exploses das suaslembranas de uma antiga existncia passada na solido de uma aldeia russada Crimeia, pedindo perdo ao leitor por no ser possvel transcrever anarrativa por extenso:

    ... Meu marido vem tranquilizar-me, mas me encontra calma; sinto quesei onde estamos.

    Dir-se-ia que outro ser complementar entrou em mim, e que esse duploconhece o lugar.

    Gravemente, declaro que todos devem sossegar, que no estamosperdidos, que s tomar o atalho esquerda e segui -lo; que ele nos levar auma clareira, ao fundo da qual, por trs de umas rvo res, h uma aldeia meiotrtara, meio russa. Eu a vejo; suas casas erguem -se em torno de uma praaquadrada; no fundo h um prtico sustentado por ele gantes colunas de estilobizantino. Sob esse prtico, bela fonte de mrmore, e, atrs, os degraus deuma casa antiga, com janelinhas de caixilhos, tudo encan tador de antiguidade.Parei. Falara rpidamente, com segurana. A viso era em mim ntida, precisa.Vi j tudo isso, muitas vezes, parece-me. Todos me rodeiam e olham com

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    espanto; que singular gracejo! Isso lhes parece fora de propsito, mas essasfrancesas..

    Devia estar plida; fiquei gelada. Meu marido me examina cominquietao, mas eu repito alto:

    Sim, tudo est certo e vocs vo ver.Toro as rdeas para o atalho esquerda. Como me tratam qual uma

    criana querida, e os guias, acabrunhados, se acham sentados no cho,seguem-me, um tanto maquinalmente, sem cuidarem do que se passa.O quadro evocado est sempre em mim, eu o vejo e sinto -me calma. Meu

    marido, perturbado, diz ao irmo: Minha mulher pode ter o dom da segunda vista, e, uma vez que

    estamos perdidos, vamos com ela.Robustecida pela sua aprovao, meto-me pelas matas, que cada vez se

    adensam menos, e corto pelo bosque, tanta a impacincia de chegar.Ningum fala; a bruma se eleva e nada faz pressentir uma clareira, mas eu seique ela est l, bem diante de ns, e prossigo a marcha.

    Estendo, enfim, o brao, e com o chicote aponto para a clareira, palavramgica. H exclamaes, todos se apressam; uma clareira, mais compridaque larga; vem-na entre a penumbra; o fundo perde-se na bruma, mas oscavalos, tambm eles, parecem sentir que estamos prestes a chegar, galopam,e vamos dar com grandes rvores, sob as quais penetramos.

    Estou fora de mim, projetada para o que quero ver. Um l timo vu sedesprende. Vejo uma fraca luz e, ao mesmo tempo, uma voz murmura, no aomeu ouvido, mas a meu corao:

    Marina, Marina, eis que voltas! Tua fonte rumoreja ainda, tua casaest sempre l. S benvinda, cara Marina!

    Ah, que emoo, que alegria sobre-humana! Jaz ali tudo diante de mim, oprtico, a fonte, a casa. demais: cambaleio e caio, mas meu marido logo meapanha e me coloca docemente sobre esta terra, que minha, perto de minhadoce fonte. Como descrever meu enlevo? Estou prostrada pe la emoo; caioem soluos. Sombras aparecem; fala-se russo, trtaro. Levam-me para a casa;minhas pernas claudicantes sobem os degraus. O corao se me confrange,ao atravessar-lhe os umbrais. Depois, de repente, fico substi tui-se arealidade; vejo um quarto desconhecido, objetos. estranhos; a sombra deMarina apagou-se; no saberei jamais quem ela foi, nem quando viveu, massei que estava aqui, que morreu jovem. Sinto-o, estou certa...

    Como vemos, nesse caso a recordao se expande no momento pre ciso; asubconscincia expulsa, momentneamente, ao calor de uma emoo forte, asondas das lembranas calcadas nos seus refolhos, h choque emocional esofrimento indefinvel, pois no com faci lidade que semelhante operao serealiza nos sagrados repositrios da alma humana.

    Por tudo isso, pois, conforme ficou dito, chegare mos concluso de que ofato mais comum do que se supunha e que nem sempre ocasionar a citadapseudo-loucura, seno quando a existam fatores cons cienciais muito gravesou quando o crebro fisico e o sistema nervoso, por muito frgeis, nosuportarem os choques emocionais advindos do fato, embora, de um modogeral, comova e aturda o paciente.

    Tendo exposto aos provveis leitores a possibili dade de a criatura humana,em situao excepcional, recordar as prprias existncias pretritas,possibilidades referendadas por testemunhos insuspeitos, sentimo -nos

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    vontade para igualmente apresentar o nosso teste munho no singular certame,pois que tambm trouxemos, para a presente encarnao, certas lembranas,muito vivas, de determinados episdios de nossa ante rior existncia terrena.Para ns, no entanto, esse fato constituiu durssima provao, e certamenteteramos sucumbido a uma loucura total, ou mesmo ao suicdio, se notivramos a felicidade de, desde muito cedo, ser amparada pela grandiosa

    proteo da Doutrina dos Espritos e do Evangelho de Jesus -Cristo, que, comefeito, possuem recursos para remediar todos os impas ses da vida humana.Cumpre, porm, advertir que, nestas pgi nas, tratamos de recordaes diretasque o indivduo possa ter de suas migraes terrestres do pretrito e no derevelaes transmitidas por possveis mdiuns. Baseando -nos nos prprioscdigos do Espiritismo, com eles acreditamos que tais revelaes, co mexcees rarssimas, so sempre duvidosas e nenhum de ns dever dar aelas grande apreo, porque os mistificadores do Invisvel frequentemente sedivertem custa de espritas curiosos e invigilantes, servindo -se de taisrevelaes, ao passo que, por sua vez, o mdium poder deixar influenciar -sepelas excitaes da prpria imaginao e dizer, como sendo da parte de uminstrutor espiritual, o que a sua prpria mente criou, pois tudo isso possvel eat previsto pelas instrues da cincia esprita e p ela prtica da mesma. Oque sentirmos dentro de ns, o que a nossa prpria conscincia nos revela, asvises que, voluntriamente, nossos Guias Espirituais nos proporcionaremdurante o sono provocado por eles prprios, o que recordamos, enfim, at angstia, saudade, ao desespero, convico real e no fantasiosa, e o quea nossa prpria vida confirma; ou o que recordamos at ao benefcio daconsolao, da emoo balsamizante, da esperana no futuro e mesmo daalegria santa do nosso esprito, isso sim, poderemos aceitar como testemunhosda verdade vivida em outras etapas reencarnatrias.

    As pginas que se seguem, extradas sempre do nosso arquivo dememrias, so a narrativa da triste infncia que tivemos devido s recordaesconservadas, ao reencarnar, da nossa passada existncia. Que o leitor julguedo que foram a infncia e a juventude que tive mos, e que as virtudes doConsolador enviado por Jesus puderam acalentar e remediar sob a proteodo Amor, do Trabalho e da F.

    *

    Minha primeira infncia destacou-se pelo trao de infortnio, que foicertamente a consequncia da m atuao do meu livre arbtrio em existnciaspassadas. E uma das razes de tal infortnio foi a lem brana, muitosignificativa, que em mim permanecia, da ltima exist ncia que tivera. Desdeos trs anos de idade, segundo informaes de minha me e de minha avpaterna, pois com esta vivi grande parte da infn cia, neguei-me a reconhecer em meus parentes, e principalmente em meu pai, aqueles a quem eu deveriaamar com desprendimento e ternura. Sentia que o meu crculo de afinidadesafetivas no era aquele em que eu agora vivia, pois lembrava -me do meu pai,da passada existncia terrena, a quem muito amava, pedindo insistentemente,at muito tempo mais tarde, para que me levassem de volta para a casa dele.Tratava-se do Esprito Charles, a quem eu via frequentemente em nossa casa,conforme explicaes do captulo anterior. Eu o descrevia com mincias paraquem me quisesse ouvir, mas fazia-o por entre lgrimas, qual a criana perdida

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    entre estranhos, sentindo, dos trs aos nove anos de idade, uma saudadetorturante desse pai, saudade que, nos dias presentes, se no mais me torturatanto, tambm ainda se no extinguiu do meu corao. Se as suas aparieseram frequentes, eu me sentia amparada e mais ou menos serena, pois ele mefalava, conversvamos, embora jamais eu me recordasse do que tratavam asnossas conversaes, tal como acontecia com a outra entidade, Roberto. Mas,

    se as aparies escasseavam, advinha amargor insupo rtvel para mim, fatoque tornou a minha infncia um problema tanto para mim como para os meus.At aos nove anos de idade no me lembro de que concordasse, de

    boamente, em pedir a bno a meu pai, o da atual existncia. Negava -me afaz-lo porque afirmava, convicta e veemente Esse no o meu pai! Eentrava a explicar a minha me, que tentava contornar a situao, a ele prprioe minha av paterna, que foi o anjo bom da minha infncia, como era apersonagem que dominava as minhas recordaes.

    Detalhes singulares viviam em meus pensamentos por essa poca:Referindo-me casa de meu pai, eu descrevia um saguo que me era muitofamiliar, de tijolos de cermica, coloniais, onde a minha car ruagem entravapara eu subir ou descer. Havia a uma escada interna por onde eu subia paraos andares superiores narrava eu, desfeita em prantos, descre vendo a casaa fim de que me levassem novamente para l e o corrimo da mesma, como balco lavrado em obra de talha, pintado de branco e com frisos dourados,mostrava o motivo de uma corsa perseguida por um co e pelo caador ematitude de atirar com a espingarda. O caador mais tarde eu o compreendi era tipo holands do sculo 15II. No entanto, jamais me referia a minha me deento, isto , da existncia passada, o que leva suposio de que eu teriasido mais afim com o pai, visto que foi o sentimento con sagrado a ele quevenceu o tempo, dominando at mesmo a dificuldade de uma reencarnao.Mas, se jamais me referia a minha me de outrora, lembra va-me muito bemdos vesturios que provvelmente foram por mim usados, e graas a talparticularidade mais tarde foi possvel levantar a poca em que se teriaverificado a minha ltima existncia terrestre:

    poca de Allan Kardec, de Vitor Hugo, de Frederi co Chopin, ou seja, maisou menos de 1830 a 1870 (reinado de Lus Filipe e Imprio de Napoleo, naFrana).

    hora do banho, tarde, freqentemente eu exigia de minha av certovestido de rendas negras com grandes babados e forros de seda vermelha,muito armado e amplo, inexistente em nossa casa, e que eu jamais vira.Pedia as mulheres (eu dizia luvas sem dedos, coisa que tambm jamais vira);pedia a mantilha (xale) e a carruagem para o passeio, porque o meu paiesperava para sairmos juntos. Admirava-me muito de no encontrar nadadisso, assim como tambm os quadros que viviam em minhas lembranas,quadros de grandes propores, os quais eu procurava pela casa toda a fim derev-los, sem, todavia, encontr-los, e que, certamente, seriam colees dearte ou pinacoteca dos antepassados da famlia da ltima exis tncia. Reparavaento, decepcionada, as paredes, muito pobres, da casa de minha av ou dade meus pais, e, subitamente, no sei que horrorosas crises advinham para mealucinar, durante as quais verdadeiros ataques de nervos, ou o quer que fsse,e descontroles sentimentais indescritveis, uma saudade elevada a grau super -humano, me levavam quase loucura. Passava dias e noites em choro eexcitaes, que perturbavam toda a famlia, e o motivo era sempre o mesmo:

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    o desejo de regressar casa de meu pai, de onde me sentia banida, asaudade angustiosa que sentia dele e de tudo o mais de que me reconheciaseparada. Em tais condies, no podia folgar com as outras -crianas e jamaissenti prazer num divertimento infantil. Em verdade no encontrei jamais, desdea infncia, satisfao e alegria em parte alguma. Fui, portanto, uma crianaesquiva, sombria, excessivamente sria, criana sem risos nem peraltices,

    atormentada de saudades e angstias, imagem, na Terra, daqueles rprobosdo suicdio descritos nos livros especificados. O lenitivo para to anormalsituao apenas advinha dos trabalhos escolares, pois muito cedo comecei afrequentar a escola, e do amor com que me assistia minha av paterna , jmencionada, a qual, no obstante os seus pendores materialistas, me ensinoua orar muito cedo, suplicando a proteo de Maria Santssima.

    Certo dia, aos sete anos de idade, lembro -me ainda de que, ao metentarem obrigar a pedir a bno a meu pai, rec usei e expliquei, veemente:

    Esse no o meu pai! O meu usa um palet muito comprido(sobrecasaca ou coisa semelhante), com uma capinha dos lados (trajesmasculinos do tempo de Lus Filipe 1, da Frana); um chapu muito alto ecabelos meio brancos (grisalhos) e mais compridos. E usa bigodes grandes.Ele um pouco velho... no moo como esse a, no!... Tal franqueza, que para mim representava uma grande dor, para os demaisnada mais seria do que petulncia e desrespeito. Valeu -me, nesse dia, boadose de chineladas ministradas por meu pai, o que muito me surpreendeu e fzque me considerasse mrtir, pois fui castigada desconhecendo o motivo por que o era, visto que, sinceramente, o pai por mim reconhecido era o Espritoque frequentemente eu via e do qual me lembrava com inconsolvel saudade.Na verdade,eu necessitava mais de tratamento fsico, com vistas ao sistema nervoso epsquico, visando ao suprimento de fluidos balsamizantes, para o traumatismosediado no perisprito, do que de repreenses e castigos corporais, cujasrazes eu no compreendia. O castigo de que, realmente, eu necessitava aliestava, na tortura de conservar a lembrana de um pai amado de uma passa daexistncia, quando ali estava o pai do presente requerendo igual sentimento erespeito idntico, mas apenas temido e no propriamente amado, e no qualsempre deparei a severidade, til e muito necessria minha situao atual.

    No entanto, bastaria uma srie de passes bem aplicados, frequncia sreunies de estudo evanglico num Centro Esprita bem orientado e preces,para que to anormal situao declinasse.

    Se, como evidente, o fato de recordar existncias passadas , antesde mais nada, uma faculdade, aquele tratamento t -la-ia adormecido em mim,desaparecendo as incomodativas exploses da subconscincia, ou talvez fssemesmo necessria, ao meu reajustamento moral -espiritual, a conservao dasditas lembranas, e por isso elas foram conservadas. Mas o caso que,posteriormente, eu mesma, depois de bem norteadas as minhas faculdadessupranormais, tratei, com meus Guias Espirituais, de algumas crianas assimanormalizadas, conseguindo resolver terrveis impasses de naturezasemelhante. Mas apesar de meu pai se ter convertido crena esprita antesmesmo do meu nascimento, e certamente porque ao meu esprito serianecessrio que tais lembranas no fssem banidas da minha conscincia,esse tratamento no foi tentado e eu tive de vencer a primeira infnciarudemente torturada por uma situao intei ramente anormal, dolorosa.

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    Mais tarde, atingindo os nove anos de idade, que esse tratamentonaturalmente se imps e, com os tradicionais passes, terapu tica celeste quebalsamizou minhas amarguras de ento, sobrevieram trguas e consegui maisserenidade para. a continuao da existncia.

    Entretanto, outra entidade igualmente dominava as minhas recordaesdurante a infncia.

    Tratava-se do Esprito a quem eu denominava Roberto, conformeexplicaes do captulo anterior. Eu no o poderia, efetiva mente, esquecer,uma vez que sua presena em nossa casa era constante, durante toda a minhainfncia e grande parte da juventude. Tal acontecimento aviven tava estranhasimpresses em meu ser, e, se demorava a rev -lo, saudades muito vivas mepungiam o corao. No raro perguntava por ele minha av, pedindo -lhe queo mandasse chamar. Mas um sentimento indefinvel se entrechocava em minhaalma a respeito desse Esprito, que eu sabia ser amigo e me amar comveemncia. Eu o julgava ento um parente muito pr ximo, ao qual me sentialigada e cuja companhia me era habitual. Grande e afetuosa atrao meimpelia para ele. No obstante, detinha-me certo temor quando o via e por algumas vezes me assustei com sua presena, temi -o, e, em gritos de pavor,procurava socorro nos braos de minha av. Mais tarde ele prprio corrigiu taisdistrbios de minha mente, afirmando que esse terror nada mais era quereflexo consciencial do remorso pelo deslize praticado contra ele em passadaexistncia, mas que tal acontecimento se perdera no abismo do pretrito, queeu agora j no seria capaz de assim proceder e por isso no assistiam razespara tanto me amesquinhar em sua presena. Que, alm do mais, desde muitoele me favorecera com o perdo sinceramente extrado do corao, e eu,arrependida, reencarnara decidida a reparar o erro do passado a despeito dequaisquer sofrimentos e sacrifcios. Acrescentava que longo passado de amor unia os nossos Espritos atravs do tempo e que, portanto, laos espirituaisindissolveis igualmente nos uniriam para o futuro. To perfeitas eram as suasaparies minha vidncia que, certa vez, contando eu cinco anos de idade,lembro-me de que, encostando casualmente o pulso num ferro de engomar superaquecido, eu me queimei e da resultou uma fer ida muito dolorosa. Doisou trs dias depois de tal ocorrncia, esse Esprito apresentou-se-me sentadona cadeira da sala de visitas, onde frequentemente eu o via, em casa de minhaav. Chamou-me para junto dele, como habitualmente fazia. Mas, porque euno o atendesse de imediato, estendeu a mo e segurou -me pelo pulso ferido,atraindo-me para ele. O contacto magoou-me horrivelmente e eu me pus achorar, explicando minha av o que se passava. Mas ningum atinava com aidentidade daquele Roberto, o moo de barbinha, a quem eu me referia e aquem indicava como estando sentado na cadeira, pois no era visto por maisningum. Lembro-me ainda do pesar, do desapontamento de sua fisionomiacompreendendo que me magoara com o seu gesto afetuoso. E porque eu merefugiasse junto a minha av, que casualmente se encontrava de p, no centroda sala, e procurasse esconder-me dele, encobrindo o rosto em suas saias,tambm ele, procurando distrair-me, escondia o prprio rosto entre as mos,para me espionar de esguelha. Pus-me a rir, cobrindo e descobrindo o rosto,como brincando de esconde-esconde. Por sua vez, ele fazia o mesmo com asmos, e dentro em pouco eu me via satisfeita, dirigindo -me sempre cadeira,que para outrem continuava vazia, mas que para mim mos trava o ser maisamado pelo meu esprito, em todos os tempos, depois daquele outro a quem

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    eu reconhecia como pai. A constncia dessa entidade a meu lado prolongou -seat minha juventude, e, se fora possvel uma obsesso partir de um Espritoem boas condies, que ama em vez de odiar, houve obsesso dele sobremim. Era como um noivo, um esposo amante que morrera e no seconformava com a separao. Aos doze anos de idade j eu produzia literaturaprofana sob seu controle medinico (essa entidade nunca pro duziu literatura

    doutrinaria, embora me concedesse copiosa literatura profana), sem contudoeu mesma estar muito certa do fenmeno.Sob o seu influxo, eu escrevia febrilmente, sem nada pensar, com -

    pletamente desperta, sem orar prviamente, apenas se ntindo o braoimpulsionado por fora incontrolvel. Tra tava-se de estilo literrio vivo,apaixonado, veemente, muito positivo, impossvel de pertencer a uma meninade doze anos de idade. Ao que parece, a dita entidade fora literato e poeta, eposteriormente essas produes medinicas foram publicadas em jornais erevistas do interior sem, todavia, ser esclarecida a sua verdadeira origem.Explicava ele, ento, que me preparava para futuros desempenhos literrios -espritas.

    Assim, pois, a atuao da entidade Roberto exerceu ao poderosa sobreo meu carter.Melancolia profunda acompanhou-me a vida inteira devido sua influncia,e minha conscincia, reconhecendo-se culpada diante dele, negava-mequaisquer possibilidades de alegrias para o corao. Eu, ali s, no poderiaesquecer fcilmente certos detalhes de minha passada existncia, porque asentidades Charles e Roberto pareciam inte ressadas em conserv-los. De certafeita, Charles declarou mesmo, veemente e autoritrio qual enrgico pai:

    No deixarei que esqueas certos episdios por ti vividos na anterior existncia, porque ser o nico meio de te fazer refletir para a emendadefinitiva. No te pouparei os sofrimentos da advindos. O que poderei fazer ajudar-te a suport-los com firmeza de nimo, e isso eu o farei.

    E, com efeito, no s me h ajudado a vencer as intensas peripcias queme foram dada a experimentar neste mundo, como tambm, atravs do seuauxilio, boas resolues tenho tomado a meu prprio benefcio, e tudo sobinspiraes extradas das impresses deixadas por aquelas recordaes, que,se muito me fizeram sofrer, tambm me transmitiram a certeza de que era. justo que eu as sofresse, visto ter errado outrora, e que, depois da srie deexpiaes necessrias, outras fases de progress o e ensejos felizes adviro.

    Prosseguindo, esclarecerei que, s vezes, as mesmas recordaespareciam surgir sbitamente, dando a entender que seriam antes extradas daminha conscincia profunda por uma vontade exterior, uma sugesto deentidades do Invisvel, tal a operao dos magnetizadores e cientistas com ossujets sobre quem estudavam os fenmenos de regresso da memria, paraindagaes sobre a reencarnao, durante o transe sonamblico. Os fatoscuriosos que passarei a narrar em seguida, durant e os quais me virepresentando, por assim dizer, o singular papel de sujet de um operador domundo invisvel, levam-me a crer isso, ao mesmo tempo que desdobra omotivo das citadas recordaes de existncias passadas.

    *

    Nos meus catorze e quinze anos de idade, eu residia nas proximidades do

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    Cemitrio Municipal, na cidade de Barra Mansa, Estado do Rio de Janeiro.Nessa localidade foi que se acentuaram certos fenmenos que desde ainfncia ensaiavam verificar-se com a minha personalidade. Frequentementeeu caa em transes espontneos de desdobramento espiritual, durante a noite,creio que atravs da catalepsia parcial (sem atingir o crebro), visto que, aodespertar, eu recordava grande parte do que ento se passava. Nessas

    ocasies eu via a entidade Roberto presente ao momento do desprendimento,como se fora ela a provocar o fenmeno. Uma vez comple tado este, levava-meno sei para onde, mas depois perdia-a de vista. Ento eram revividos paramim, e eu os via novamente, com intensidade, grandes t rechos do drama por mim provocado em minha anterior exis tncia: os meus erros, as amargasconsequncias deles para aqueles mesmos a quem eu mais amava, minhaprpria felicidade destruda, a morte dele, Roberto, e de uma criana regulandoseis a sete anos de idade, mortes pelas quais eu me sentia responsvel, etc.Eu novamente me sentia, ento, presa do remorso que infelicitou a minhaconscincia; e, como louca, percorria as depen dncias da casa em que habiteinessa passada existncia, agitada por crises de desespero inconsolvel.Mveis, lindos quadros a leo, tapetes, espelhos, reposteiros, etc., etc., aescada de servio, com o balco em obra de talha, de que eu tanto melembrava em criana, a carruagem, igualmente lembrada, o parque rodeando ahabitao e at a rua onde se situava o casaro senho rial, tudo eu revia,habitava novamente o mesmo lar antigo que fora meu, aquele lar do qualtantas e to desesperadoras saudades eu sentia na infncia, enquanto asequncia das ocorrncias prosseguia, como se e xtrada por outrem da minhaconscincia profunda at me conduzir a um campo santo, onde eu procuravaum tmulo por entre lgrimas de desespero, coberta de luto e com vus negrosna cabea, acompanhada de meu pai, ou seja, o prprio Charles. Quetmulo, porm, seria esse? Ento, durante os transes, eu sabia que se tratavado tmulo dele prprio, Roberto, o tmulo da criana de seis anos, talvez omesmo onde eu prpria fora sepultada outrora.

    Era um grande jazigo, rendilhado em mrmore, tmulo rico, apresentandoexcesso de detalhes ornamentais, o que me fazia consider-lo de mau gosto,rodeado por uma grade de ferro. Entrava -se por um pequenino porto para seatingir o monumento. Havia inscries e at versos no mrmore, no s sobrea lousa principal como nas laterais. Eu me debruava sobre ele, em Esprito,relia os versos e chorava em desespero.

    Atravs de tais fenmenos, revividos no livro da minha conscincia, fuiinformada de que minha existncia anterior presente verificou-se naEspanha, que fui educada na Frana, mas que o meu suicdio ocorreu emPortugal. O tmulo por mim visitado durante os transes parciais de catalepsia,ou o que quer que seja, era, portanto, em Lisboa, e to familiar era para mimtudo aquilo que no tenho dvidas de que, se me fsse dado visitar aquelacidade, no s reconheceria o tmulo, no caso de ele ali ainda existir, comotambm o cemitrio e suas imediaes. No entanto, possvel que a ao doprogresso tivesse alterado de muito o panorama por mim entrevisto ent o.Revendo em ns mesmos o passado que vivemos, as paisagens seapresentam tais como eram na poca em que as conhecemos e no como sona atualidade. Hoje, portanto, aquele cemi trio e suas imediaes estaroalterados, pois, da ocasio em que os conheci ao momento presente, medeiamais de um sculo. Mesmo assim, ambos se acham to decalcados em minhas

  • 8/8/2019 PEREIRA, Yvonne Amaral - Recordaes da Mediunidade

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    lembranas que no me assaltam dvidas de que os reconheceria se visitasseLisboa, visto que durante toda a minha juventude e mocidade visitei -os emcorpo espiritual, alm de rev-los extrados da minha prpria conscincia numfenmeno psquico de significativa importncia.

    Ora, conforme exposio j referida, dos catorze aos quinze anos de idadeeu residia nas proximidades do Cemitrio Municipal, na cidade fluminense de

    Barra Mansa. Aprazia-me, ento, passar as tardes entre os tmulos e quasedriamente me dirigia quele campo-santo a ttulo de passeio, a fim de ler natranquilidade aprazvel do local sagrado. Por disciplinas impos