recordaÇÕes da mediunidade yvonne pereira

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Recordaes da mediunidade

YVONNE A. PEREIRA

2 YvonneA.Pereir a

RECORDAESDAMEDIUNIDADE YvonnedoAmaralPereira(19001984) 1968 EditoraFEB FEDERAOESPRITABRASILEIRA www.febnet.org.br Digitalizadapor: L.Neilmoris 2009 Brasil www.luzespirita.org.br

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Recordaes da mediunidadeYVONNEA.PEREIRA

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CONVITE: Convidamosvoc,queteveaopor tunidadedelerlivr ementeestaobr a, apar ticipardanossacampanhade SEMEADURADELETRAS, queconsisteemcadaqualcompr ar umlivr oespr ita, leredepoispr esenteloaoutr em,colabor andoassimna divulgaodoEspir itismoeincentivandoaspessoasboaleitur a. Essaao,cer tamente,r ender timosfr utos. Abr aofr ater noemuitaLUZpar atodos!

www.luzespirita.org.br

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ndice

Introduo pg 6 1 Faculdadesemestudo pg 8 2 Faculdadenativa pg 14 3 Reminiscnciasdevidaspassadas pg 20 4 Osarquivosdaalma pg 33 5 Materializaespg 45 6 Testemunho pg 54 7 Amigoignorado pg 63 8 Complexospsquicospg 71 9 Premoniespg 84 10 Ocomplexoobsesso pg 96

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Introduo

Muitas cartas temos recebido, principalmente depois que saiu a lume o nosso livroDEVASSANDOOINVISVEL,ondealgorelatamosdoqueconoscohsucedido,refernciafeitaao

nosso mbito medinico. Desejariam os nossos correspondentes que outro noticirio naqueles moldes fosse escrito, que novos relatrios viessem, de algum modo, esclarecer algo do obscuro campomedinico, esquecidos de que o melhorrelatrio para instruo do esprita e domdium soosprprioscompndiosdaDoutrina,emcujostestososmdiunssehabilitamparaosdevidos desempenhos. Confessamos, entretanto, que no atenderamos aos reiterados alvitres que nos fizeramosnossosamigoseleitoressenoforaaordemsuperiorrecebidaparaqueotentssemos, ordemquenosdecidiuadaropresentevolumepublicidade.Comomdium,jamaisagimospor nossalivreiniciativa,senofortementeacionadapelavontadepositivadasentidadesamigasque nos dirigem, pois entendemos que omdium por simesmonadarepresenta e que jamais dever adotarapretensoderealizaristoouaquilosemantesobservarse,realmente,influenciadopelas verdadeirasforasespirituaissuperiores. Disseramnos os nossos Instrutores Espirituais h cerca de seis meses, quando aguardvamosnovasordensparaoqueainda tentaramos nongulo damediunidadepsicogrfica:

Narrars o que a ti mesma sucedeu, como mdium, desde o teu nascimento. Nadamaissernecessrio.SersassistidapelossuperioresdoAlmduranteodecorrer das exposies, que por eles sero selecionadas das tuas recordaes pessoais, e escreverssoboinfluxodainspirao. EporessarazoaiestolivroRECORDAESDAMEDIUNIDADE,porque estaspginas nadamaissoquepequenopunhadoderecordaesdanossavidademdiumedeesprita.Muito mais do que aqui fica poderia ser relatado. Podemos mesmo dizer que nossa vida foi frtil em dores, lgrimas e provaes desde o bero. Tal como hoje nos avaliamos, consideramonos testemunhovivodovalordoEspiritismonarecuperaodeumaalmaparasimesmaeparaDeus, porquesentimosqueabsolutamentenoteramosvencido,naslutasenostestemunhosqueavida exigia das nossas foras, se desde o bero no framos acalentada pela proteo vigorosa da RevelaoCelestedenominada Espiritismo. Poderamos,pois,relataraquitambmasrecordaesdoquefoioamargordaslgrimas quechoramosduranteasprovaes,asperipciasehumilhaesquenosacompanharamemtodo odecursodapresente existncia,eosquaisaDoutrinaEspritaremedioueconsolou.Masparaque tal explanao pudesse ser feita seria necessrio apontar ou criticar aqueles que foram os instrumentosparaadordosresgatesqueurgiarealizssemos,enoforamacusaesaoprximo que aprendemosnos cdigos espritas, os quais antesnos ensinaram o Amor,a Fraternidade e o Perdo. Encobrindo, pois, as personalidades que se tornaram pedra de escndalo para a nossa expiaoeolvidandoosseusatosparasomentetratarmosdasublimeteseesprita,otestemunho

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doPerdo queaquideixamos,nicotestemunho,ao demais,quenosfaltavaapresentareoqualos nossosascendentesespirituais densexigemnopresentemomento. Ao que parece, o presente livro a despedida da nossa mediunidade ao pblico. ObteremosaindaoutrosditadosdoAlm?bempossvelqueno,quasecertoqueno.Omais que ainda poder acontecer a publicao de temas antigos conservados inditos at hoje, porquantonuncativemospressanapublicaodasnossasproduesmedinicas,possuindoainda, arquivadosemnossasgavetas,trabalhosobtidosdoEspaohmaisdevinteanos. As fontes vitais que so o veculo da mediunidade: fluido vital, fluido nervoso, fluido magntico, j se esgotam em nossa organizao fsica. O prprio perisprito encontrase traumatizado, cansado, exausto. As dores morais, ininterruptamente renovadas, sem jamais permitiremumnicodiadeverdadeiraalegria,eolongoexercciodeumamediunidadepositiva, quesedesdobrouemtodosossetoresdaprticaesprita,esgotaram aquelasforas,que,realmente, tendemadiminuireaseextinguirememtodososmdiuns,apscertotempodelabor.Seassim for, consoante fomos advertida pelos nossos maiores espirituais e ns mesma o sentimos, estaremostranquila,certadequenossodevernoscamposespritasfoicumprido,emboraporentre espinhos e lutas, e, encerrando nossa tarefa medinica literria na presente jornada, cremos que poderemos oraraoCriador,dizendo:Obrigada,meuDeus,pelabnodamediunidadeque meconcedestecomoensejoparaareabilitaodomeuEspritoculpado.Achamaimaculadaque do Alto me mandaste, com a revelao dos pontos da tua Doutrina, a mim confiados para desenvolver e aplicar, eu ta devolvo, no fim da tarefa cumprida, pura e imaculada conforme a recebi:ameiaerespeiteiasempre,noa adultereicomideiaspessoaisporquemerenoveicomela a fim de servila no a conspurquei, dela me servindo para incentivo s prprias paixes, nem negligenciei no seu cultivo para benefcio do prximo, porque todos os meus recursos pessoais utilizeinasuaaplicao.Perdoa,noentanto,Senhor,semelhornopudecumprirodeversagrado deservila,transmitindoaoshomenseaosEspritosmenosesclarecidosdoqueeuobemqueela prpriame concedeu. E, assim sendo, neste crepsculo da nossa penosa marcha terrena recordamos e aqui deixamos, aos leitores de boa vontade, parcelas de ns mesma, nas confidncias que a ficam registradas,patrimniosagradodequemnadamais,nadamaisnemmesmoumlar,possuiuneste mundo.EaosamadosGuiasEspirituaisquenosamaramesustentaramnajornadaespinhosaque seapaga,otestemunhodanossavenerao. YVONNEA.PEREIRA RiodeJaneiro,29deJunhode1966.

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1 Faculdades em estudoPor meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatarse laos prestes a se desfazeremerestituirsevidaumserque definitivamentemorreriasenofossesocorrido? Sem dvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso meio de ao, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe faltaparamantero funcionamentodosrgos. (OLIVRODOSESPRITOS,AllanKardec,pergunta424)

Alm desse interessante tpico do livro ureo da filosofia esprita, pedimos vnia aos provveisleitoresdestaspginasparatambmtranscreverocomentriodeAllanKardec,situado logo aps a questo acima citada, uma vez que temos por norma, aconselhada pelos instrutores espirituais, basear o relatrio das nossas experincias espritas em geral no ensinamento das entidadesquerevelaramaDoutrinaEspritaaAllanKardec.Dizocitado comentrio:

A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princpio, que a perda temporria da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiolgica ainda inexplicada.Diferemumadaoutra,emque,naletargia,asuspensodasforasvitais geraledaocorpotodasasaparnciasdamortenacatalepsiaficalocalizada,podendo atingirumapartemaisoumenosextensadocorpo,desorteapermitirqueainteligncia se manifestelivremente, o que a tornainconfundvelcoma morte.A letargia sempre 1 naturalacatalepsiaporvezesmagntica .Por sua vez, respondendo a uma pergunta que lhe fizemos acerca de determinados fenmenos espritas, o venervel Esprito Adolfo Bezerra de Menezes dissenos o seguinte, pequenalioquecolocamosdisposiodo leitorparaobservaoemeditao: Podereisdizernosalgosobreacatalepsiaealetargia?perguntamospoisoque conhecemosarespeitopoucosatisfatrio. Eabenemritaentidaderespondeu:

Quem for atento ao edificante estudo das Escrituras Crists encontrar em o Novo TestamentodeN.S.JesusCristo,exatamentenoscaptulos9,deSoMateus5,deSoMarcos 8,deSoLucas,e11,deSoJoo,versodoPadreAntnioPereiradeFigueiredo,aexcelente descrio dos fenmenos de catalepsia (talvez os fenmenos sejam, de preferncia, de letargia, segundo as anlises dos compndiosespritas acima citados) ocorridos no crculomessinicoe registrados pelos quatro cronistas do Evangelho, lembrando ainda o caso, igualmente

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Abibliografiaesprita copiosa nasrefernciass experincias sobrea catalepsia ealetargia einteressante ser o seu estudoparaoaprendizdedicado.

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empolgante, do filho da vivade Nam, caso que nada mais seria doque a mesma letargia,ou catalepsia. Acinciamodernaoficial,aMedicina,conheceacatalepsiaealetargia,classificaas, mas no se interessa por elas, talvez percebendo no ser da sua alada o fato de curlas. A cincia psquica, no entanto, assim tambm a Doutrina Esprita, no s as conhecem como se interessam grandemente por elas, pois que as estudam, tirando delas grandes ensinamentos e revelaesemtornodaalmahumana,eporissopodemcurlaseatevitlas,aomesmotempo que tambm podero provoclas, contornlas, dirigilas, orientlas e delas extrair conhecimentos esplendentes para a instruo cientficotranscendente a benefcio da Humanidade.SeosadeptosencarnadosdessagranderevelaocelesteaDoutrinaEsprita no curam, no presente momento, as crises catalpticas do prximo, as quais at mesmo uma obsesso poder provocar, ser porque elas so raras ou, pelo menos, ignoradas, ou porque, lamentavelmente, se descuram da instruo doutrinria necessria habilitao para o importantecertame. A catalepsia, tal como a letargia, no uma enfermidade fsica, mas uma faculdade que, como qualquer outra faculdade medianmica insipiente ou incompreendida, ou ainda descurada e mal orientada, se torna prejudicial ao seu possuidor. Como as demais faculdades suascompanheiras,acatalepsiaealetargiatambmpoderoserexploradaspelamistificaoe pelaobsessodeinimigoseperseguidoresinvisveis,degenerandoentoemumestadomrbido do chamadoperisprito,tendncia viciosadas vibraes perispirituais para oaniquilamento, as quaisserecolhemefechamemsimesmascomoaplantasensitivaaosertocada,negandoses expanses necessrias ao bom funcionamento do consrcio fsicopsquico, o que arrasta uma comoneutralidadedofluidovital,dandoemresultadooestadodeanestesiageralouparcial,a perdadasensibilidade,quandotodosossintomasdamorteeatmesmooinciodadecomposio fsicaseapresentam,esomenteaconscinciaestarvigilante,vistoqueesta,fagulhadaMente Divinaanimandoacriatura,jamaissedeternumaniquilamento,mesmotemporrio. Tanto a catalepsia como a letargia, pois elas so faculdades gmeas, se espontneas (elaspoderosertambmprovocadasedirigidas,umavezqueapersonalidadehumanaricade poderes espirituais, sendo, como foi, criada imagem e semelhana de Deus), se espontneas, sero, portanto, um como vcio que impe o acontecimento, como os casos de animismo nas demaisfaculdades medinicas, vcio que, mais melindrosoque os outros lembrados,sea tempo no for corrigido, poder acarretar consequncias imprevisveis, tais como a morte total da organizao fsica, aloucura,dado que asclulascerebrais, se atingidasfrequentementee por demasiadotempo,poderolevarobsesso,aosuicdio,aohomicdioeagravesenfermidades nervosas: esgotamento, depresso, alucinaes, etc. Mas, uma vez contornadas por tratamento psquico adequado, transformarseo em faculdades anmicas importantes, capazes de altas realizaes supranormais,consoantea prtica otem demonstrado,fornecendo aos estudiosos e observadoresdosfatosmedinicosvastocampodeelucidaocientficatranscendental. Entretanto, se os adeptos da grande doutrina da imortalidade os espritas no sabem, conscientemente, ou no querem resolver os intrincados problemas oferecidos pela catalepsia e sua irm gmea, a letargia (eles, os espritas, no se preocupam com esses fenmenos),semoquereremeosaberemcorrigemasuapossibilidadedeexpansocomocultivo geral da mediunidade comum, visto que, ao contacto das correntes vibratrias magnticas constantes,eosuprimentodasforasvitaisprpriasdosfenmenosmedinicosmaisconhecidos, aquele vcio, se ameaa, ser corrigido, podendo, no obstante, a faculdade catalptica ser

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orientada inteligentemente para fins dignificantes a bem da evoluo do seu possuidor e da coletividade.Deoutromodo,otratamentomagnticoatravsdepasses,emparticularospasses ditos espirituais, aplicados por mdiuns idneos e no por magnetizadores, e a interveno oculta,maseficiente,dosmestresdaEspiritualidade,tmevitadoqueacatalepsiaealetargiase propaguem entre os homens com feio de calamidade, da advindo a relativa raridade, espontnea,detaisfenmenosnosdiaspresentes.Eessanossaassertivatambmrevelaquetodas ascriaturashumanasmaisoumenospossuemem germeasditasfaculdadeseaspoderodirigir prpria vontade, se conhecedoras dos seus fundamentos, uma vez que nenhum filho de Deus jamaisfoiagraciadocompredileesoumenosprezadocomdesatenespelaobradaCriao. Dos casos citados nos Evangelhos cristos, todavia, destacase o de Lzaro pela sua estranha particularidade. A vemos um estado catalptico superagudo, porque espontneo, relaxamento dos elos vitais pela depresso cansada por uma enfermidade, fato patolgico, portanto, provando o desejo incontidoqueo esprito encarnado tinha de deixar a matria para alarseaoinfinito,eondeoprpriofluidovital,queanimaosorganismosvivos,aoencontrava quase totalmente extinto, e cujos liames magnticos do perisprito em direo carne se encontravamdetalformafrgeis,danificadospeloenfraquecimentodasvibraesedavontade. (Lzaro j cheirava mal, o que frequente em casos de crises catalpticas agudas, mesmo se provocadas, quando o paciente poder at mesmo ser sepultado vivo, ou antes, no detodo no estadodecadver), que foranecessrio,com efeito, o poder restaurador de uma alma virtuosa comoado Nazarenoparaseimporaofato,substituirclulasjcorrompidas,renovara vitalidade animal,fortalecerliamesmagnticoscomoseupoderosomagnetismoemao.NafilhadeJairo, porm,enofilhodavivadeNamasforasvitaisseencontravamantescomoqueanestesiadas pelo enfraquecimento fsico derivado da enfermidade, mas no no mesmo grau do sucedido a Lzaro. Neste, as mesmas foras vitais se encontravam j em desorganizao adiantada, e no foraoconcursodosliamesmagnticosaindaaproveitveiseasreservasvitaisconservadaspelo perispritonasconstituiesfsicasrobustas(operispritoagequalreservatriodeforasvitaise os laos magnticos so os agentes transmissores que suprem a organizao fsica) e se no fossem aquelas reservas Jesus no se abalaria cura porque esta seria impossvel. Muitos homens e at crianas assim tm desencarnado. E se talacontece antes da poca prevista pela programaodaleidaCriao,novaexistnciacorpreaosreclamarparaocumprimentodos deveresassumidose,portanto,paraacontinuaodaprpriaevoluo. Perguntar, no entanto, o leitor: Porque ento tal coisa possvel sob as vistas da harmoniosaleidaCriao?Queculpatemohomemdesofrertaisouquaisacidentesseno ele quemosprovocaequeserealizam,muitasvezes,reveliadasua vontade? Arespostaserentoaseguinte: Tais acidentes so prprios do carreiro da evoluo, e enquanto o homem no se integrar de boamente na sua condio de ser divino, vibrando satisfatoriamente no mbito das expansessublimesdaNatureza,mecanicamenteestarsujeitoaesseedemaisdistrbios.Segue seque,paraaleidaCriao,achamadamortenosnoexistecomoconsideradafenmeno natural,absolutamentedestitudodaimportnciaqueoshomenslheatribuem,exceofeitaaos casos de suicdio e homicdio. A morte natural, ento, em muitos casos ser um acidente facilmente reparvel e no repercutir com os foros de anormalidade como acontece entre os homens.Deoutromodo,sendoacatalepsiaealetargiaumafaculdade,patrimniopsquicoda criatura e no prpriamente uma enfermidade, compreenderse que nem sempre a sua ao comprovainferioridadedoseupossuidor,poisque,umavezadestradas,ambaspoderoprestar excelentes servios causa do bem, tais como as demais faculdades medinicas, que, no

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adestradas, servem de pasto a terrveis obsesses, que infelicitam a sociedade, e quando bem compreendidas e dirigidas atingiro feio sublime. No se poder afirmar, entretanto, que o prprio homem, ou a sua mente, a sua vontade, o seu pensamento, se encontrem isentos de responsabilidade no caso vertente, tanto na ao negativa como na positiva, ou seja, tanto nas manifestaes prejudiciaiscomonasteisebenemritas. Um Esprito encarnado, por exemplo, j evolvido, ou apenas de boa vontade, senhor 2 dasprpriasvibraes,podercairemtranseletrgico,oucatalptico,voluntriamente ,alar se ao Espao para desfrutar o consolador convvio dos amigos espirituais mais intensamente, dedicarsea estudosprofundos,colaborarcomobemedepoisretornarcarne,reanimado eapto a excelentes realizaes. No obstante, homens comuns ou inferiores podero cair nos mesmos transes, conviver com entidades espirituais inferiores como eles e retornar obsidiados, predispostosaosmausatoseatinclinadosaohomicdioeaosuicdio.Umdistrbiovibratrio podertervriascausas,e umadelasseroprpriosuicdioempassadaexistncia.Umdistrbio vibratrio agudo poder ocasionar um estado patolgico, um transe catalptico, tal o mdium comum que, quando esgotado ou desatento da prpria higiene mental ou moral (queda de vibraese,portanto,distrbiovibratrio),darpossibilidadessmistificaesdoanimismoe obsesso.Nessecaso,noentanto,otransecatalpticotrarfeiodeenfermidadegrave,embora no o seja propriamente, e ser interpretado como ataques incurveis, indefinveis, etc. O alcolatra poder renascer predisposto catalepsia porque o lcool lhe viciou as vibraes, anestesiandoas, o mesmo acontecendo aos viciados em entorpecentes, todos considerados suicidas pelos cdigos da Criao. Em ambos os casos a teraputica psquica bem aplicada, mormente a renovao mental, influindopoderosamente no sistemadevibraesnervosas, ser de excelentes resultados para a corrigenda do distrbio, enquanto que a atuao esprita propriamenteditaabrirnovoshorizontesparaoporvirdaqueledistrbio,queevolverparao seujustoplanodefaculdadeanmica.Etudoisso,fazendopartedeumaexpiao,porquesero efeitogravedecausasgraves,tambmassinalaroestadodeevoluo,vistoque,seoindivduo fosse realmente superior, estaria isento de padecer os contratempos que acima descrevemos. Todavia,repetimos,tantoacatalepsiacomoaletargia,umavezbemcompreendidasedirigidas, quer pelos homens quer pelos Espritos Superiores, transformarseo em faculdades preciosas, conquanto raras e mesmo perigosas, pois que ambas podero causar o desenlace fsico do seu paciente se uma assistncia espiritual poderosa no o resguardar de possveis acidentes. A letargia, contudo, prestase mais ao do seu possuidor no plano espiritual. Ao despertar, o paciente trar apenas intuies, s vezes teis e preciosas, das instrues que recebeu e sua aplicaonosambientes terrenos.faculdadecomumaosgniosesbios,semcontudoconstituir privilgio,agindosemqueelesprpriosdelaseapercebam,porqueseefetivamduranteosonoe sobvigilnciadeEspritosprepostosaocaso. A provocao desses fenmenos nada mais que a ao magntica anestesiando as forasvibratriasataoestadoagudo,eanulando,porassimdizer,osfluidosvitais,ocasionando a chamada morte aparente, por suspenderlhe, momentaneamente, a sensibilidade, as correntes de comunicao com o corpo carnal, qual ocorre no fenmeno espontneo, se bem que o

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Essestransessocomunsnoite,duranteorepousodosono,emuitasvezesoprpriopacientenoseapercebedeles,ou se apercebe vagamente. Entre os espiritualistas orientais tornase fato comum, conforme sabido, dado que os mesmos cultivamcarinhosamenteos poderesdaprpriaalma.

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fenmenoespontneopossaocuparumagenteoculto,espiritual,deelevadaouinferior categoria. Se, no entanto, o fenmeno espontneo se apresentar frequentemente e de forma como que obsessiva, a cura ser inteiramente moral e psquica, com a aproximao do paciente aos princpios nobres do Evangelho moralizador e aocultivoda faculdade sob normas espritas ou magnticaslegtimas,ataoseuplenoflorescimentonoscamposmedinicos. Casoshemqueumconscienciosoexperimentadorremoveapossibilidade,oucausade taisacontecimentos,eopacientevoltaaoestadonormalanterior.Masodesenvolvimentopleno de tal faculdade que conscienciosamente restituir ao indivduo o equilbrio das prprias funes psquicas e orgnicas. O tratamento fsico medicinal, atingindo o sistema neuro vegetativo, fortalecendo o sistema nervoso com a aplicao de tnicos reconstituintes, etc., tambm ser de importncia valiosa, visto que a escassez de fluidos vitais poder incentivar o acontecimento, emprestandolhe feio de enfermidade. Cumprenos ainda advertir que tais faculdades, relativamente raras porque no cultivadas, na atualidade, agem de preferncia no plano espiritual, com o mdium encarnado sob a direo dos vigilantes espirituais, campo apropriado, o mundo espiritual, para as suas operosidades, tornandose ento o seu possuidor prestimosocolaboradordosobreirosdomundoinvisvelemnumerosasespciesdeespeculaes abenefciodaHumanidadeencarnadaedesencarnada.Entreoshomensaaodetaismdiuns se apresentar de menor vulto, mas, se souberem atentar nas intuies que com eles viro ao despertar,grandesfeitoschegaroarealizartambmnoplanoterreno. Os ensinamentos contidos nos cdigos espritas, a advertncia dos elevados Espritos que os organizaram e a prtica do Espiritismo demonstram que nenhum indivduo dever provocar, forandoo, o desenvolvimento das suas faculdades medinicas, porque tal princpio sercontraproducente,ocasionandonovosfenmenospsquicosenopropriamenteespritas,tais como a autosugesto ou a sugesto exercida por pessoas presentes no recinto das experimentaes,ahipnose,oanimismo,oupersonismo,talcomoosbioDr.AlexandreAksakof classifica o fenmeno, distinguindoo daqueles denominados efeitos fsicos. A mediunidade deverserespontneaporexcelncia,afimdefrutescercomseguranaebrilhantismo,eserem vo que o pretendente se esforar por atrala antes da ocasio propcia. Tal insofridez redundar, inapelavelmente, repetimos, em fenmenos de autosugesto ou o chamado animismo,oupersonismo,isto,amentedoprpriomdiumcriandoaquiloquesefazpassar por uma comunicao de Espritos desencarnados. Existem mediunidades que do bero se revelamnoseuportador,eestassoasmaisseguras,porqueasmaispositivas,frutosdelongas etapas reencarnatrias, durante as quais os seus possuidores exerceram atividades marcantes, assim desenvolvendo foras do perisprito, sede da mediunidade, vibrando intensamente num e noutrosetordaexistnciaeassimadquirindovibratilidadesacomodatciasdofenmeno.Outras existem ainda em formao (foras vibratrias frgeis, incompletas, os chamados agentes negativos), que jamais chegaro a se adestrar satisfatoriamente numa s existncia, e que se mesclaro de enxertos mentais do prprio mdium em qualquer operosidade tentada, dandose tambmapossibilidadeatmesmodapseudoperturbaomental,ocorrendoentoanecessidade dos estgios em casas de sade e hospitais psiquitricos se se tratar de indivduos desconhecedoresdascinciaspsquicas.Poroutrolado,essetratamentoserbalsamizanteeat necessrio, na maioria dos casos,visto quetais impasses comumente sobrecarregam as clulas nervosasdopaciente,consumindoainda grandepercentagemdefluidosvitais,etc.,etc. Possuindonaminhaclnicaespiritualfatosinteressantescabveisnostemasemapreo, consignadosnestelivro,patrocinareiaquiaexposiodealgunsdelesparaestudoeanlisesdos fatos espritas, convidando o leitor meditao sobre eles, pois o esprita necessita

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profundamente de instruo geral em torno dos fenmenos e ensinamentos apresentados pela cinciatranscendentedequesefezadepto,cinciaimortalquenopodersofreroabandonodas verdadeirasatenes dosensoedarazo. AdolfoBezerradeMenezes.*** Pornossavez,conhecemospessoalmente,fazalgunsanos,nacidade fluminensedeBarra Mansa, ao tempo em que ali exercia as funes espiritistas o eminente mdium e expositor evanglico Manoel Ferreira Horta, amplamente conhecido pela alcunha de Zico Horta, a mdium catalptica Chiquinha. Tratavase de uma jovem de 19 anos de idade, filha de respeitvelfamliaefinamenteeducada.Suafaculdadeapresentouse,inicialmente,emfeiode enfermidade, com longos ataques que desafiaram o tratamento mdico para a cura. Observada, porm, a pedido da famlia, ehabilmente dirigida por aquele lcido esprita, a jovem tornouse mdium deadmirveis possibilidades, com a inslita faculdade catalptica, que lhe permitia at mesmo o fenmeno da incorporao de entidades sofredoras e ignorantes, a fim de serem esclarecidas.Emvinteminutosamdiumapresentavaosvariadosgrausdacatalepsia,inclusiveo estado cadavrico aps as vinte e quatro horas depois da morte, e os sintomas do incio da decomposio, com as placas esverdeadas pelo corpo e o desagradvel almscar comum aos cadveres que entram em decomposio. De outras vezes, no primeiro ou no segundo grau do transe,transmitiaverbalmenteoreceiturioqueouviadasentidadesmdicasdesencarnadasquea assistiam, obtendo, assim, excelentes curas nos numerosos doentes que procuravam a antiga Assistncia Esprita Bittencourt Sampaio, dirigida por Zico Horta. Narrava fatos que via no Espao,transmitiainstruesdeindividualidadesespirituaissobrediversosassuntos,penetravao corpo humano com a viso espiritual, e seus diagnsticos eramseguros, visto que os reproduzia verbalmente,ouvindoos,emesprito,dosmdicosespirituais.Otomdavozcomqueseexprimia erapausadoegrave,e suaaparnciafsicareproduziaoestadocadavrico:rigidezimpressionante, algidez,arroxeamentodostecidoscarnais,inclusiveasunhas,fisionomiaabatidaetriste,prpria do cadver, olheiras profundas. O mesmo sucedia, como sabido, ao mdium Carlos Mirabelli, que, em poucos minutos, atingia o grau de decomposio, a ponto de as pessoas presentes s sesses,emque eletrabalhasse,smuitopenosamentesuportaremoftidoquedelese exalava,at que o transe variasse de grau, em escala descendente, fazendoo despertar. Ao que parece, a catalepsiaaieracompleta.Ambosdenada recordavamaodespertar. Umavezdepossedasindicaesqueaficam,animadanossentimosadescrevernestas pginasalgunsacontecimentossupranormaisdequetambmtemossidopacientenapresentevida orgnica.Queo supostoleitor ajuzeeporsimesmodeduzaatondepoderchegarointricado mistrio da mediunidade, porque a mediunidade ainda constitui mistrio para ns outros, que apenas lhe conhecemos os efeitos surpreendentes, isto , apenas a primeira parte dos seus estranhospoderes. Devemos declarar, de incio, que, para a descrio dos fenmenos ocorridos conosco, usaremosotratamentodaprimeirapessoadosingular,eparaaprimeirapartedecadacapitulo,ou seja,paraasanliseseexposiesobtidaspelasintuiesdodirigenteespiritualdapresenteobra, Adolfo Bezerra de Menezes, usaremos o tratamento da primeira pessoa do plural, assim destacandoasduasfeiesdopresentevolume.

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2 Faculdade nativaTodos achoravam,ese feriamde pena.Jesus,porm,lhesdisse: No choreis, que a meninanoestmorta,masdorme.EntoJesus,tomandolheamo,disseemalta voz:Talita, kume! Menina, desperta! Ento a sua alma tornou ao corpo e ela se levantou logo. E Jesus mandouquelhedessemdecomer. (Mateus,9: 1820.Marcos,5: 2243.Lucas,8: 4156)

***Naletargiaocorpo noest morto,porquantoh funes quecontinuama executar se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crislida, porm, no aniquilada. Ora, enquantoocorpovive,o Esprito selheachaligado. (AllanKardec, OLIVRODOSESPRITOS,pergunta423)

Em umlivro de memrias que nossos dirigentes espirituais nos aconselharam escrever, existem as seguintes pginas, que dali extramos para o presente volume, oferecendoas meditaodoleitor,poisjamaisdevemos desprezarfatosautnticosqueatestemaverdadeesprita. Escrevemolas num grande desabafo, pois tantos foram os fatos espritas que desde a infncia rodearamanossavida,que,emverdade,nossaconscinciaseacusariaseosretivssemossomente paradeleitedasnossasrecordaes.Eisasaludidas pginas: Creioquenascimdiumjdesenvolvido,poisjamaismedeiaotrabalhodeprocurar desenvolver faculdades medianmicas. Algumas faculdades se apresentaram ainda em minha primeirainfncia:avidncia,aaudioeoprpriodesdobramentoemcorpoastral,comocurioso fenmenodamorteaparente.Creiomesmo,e oleitorajuizar,queoprimeirograndefenmeno medinicoocorridocomigoseverificouquandoeuestavaapenasvinteenovediasdeexistncia. Tendo vindo ao mundo nanoite de Natal, 24 de Dezembro, a 23 deJaneiro, durante um sbito acessodetosse,emquesobreveiosufocao,fiqueicomomorta.Tudoindicaque,emexistncia pretrita, eu morrera afogada por suicdio, e aquela sufocao, no primeiro ms do meu nascimento, nadamaisseriaqueumdosmuitoscomplexosqueacompanhamoEspritodo suicida, mesmoquandoreencarnado,reminiscnciasmentaisevibratriasqueotraumatizamporperodos longos, comumente. Durante seis horas consecutivas permaneci comrigidez cadavrica, ocorpo arroxeado,afisionomiaabatidaemacilentadocadver,osolhosaprofundados,onarizafilado,a bocacerradaeoqueixoendurecido,enregelada,semrespiraoesempulso.Onicomdicoda localidade pequena cidade do Sul do Estado do Rio de Janeiro, hoje denominada Rio das Flores, mas ento chamada Santa Teresa de Valena , o nico mdico e o farmacutico, examinandome, constataram a morte sbita por sufocao, falta de outra causa mortis mais lgica.Acertidodebitofoi,portanto,legalmentepassada.Minhaaveminhastiastrataramde meamortalharparaosepultamento,tarde,poisobitoocorrerapelamanh,bemcedo.Euera recmchegadanafamliae,porisso,aoqueparece,minhamortenoabalavaosentimentode

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ningum, pois, havendo ao todo vinte e oito pessoas na residncia rural de minha av materna, ondenasci,porquantoafamliasehaviareunidoparaascomemoraesdoNataledoAnoNovo, ningum demonstrava pesar pelo acontecimento, muito ao contrrio do que se passara na residnciadofariseuJairo,hquasedoismilanos...Vestirammeentodebrancoeazul,comoo Menino Jesus, com rendinhas prateadas na tnica de cetim, faixas e estrelinhas, e me engrinaldarama fronte com uma coroa de rosinhas brancas. Chovia torrencialmente e esfriara o tempo,numalocalidadeprpriaparao veraneio,comoa minhacidadenatal.Aeamorturia, umamesinhacomtoalhasrendadas,comasvelaseocrucifixotradicional,encontravaseminha espera,solenementepreparadanasaladevisitas.Nemminhamechorava.Masestanochorava porquenoacreditavana minhamorte. Opunhase terminantemente que me expusessem na sala e encomendassem o caixo morturio. A fim de no excitla, deixaramme no bero mesmo, mas encomendaram o caixozinho,todobranco,bordadodeestrelinhasefranjasdouradas...Minhame,ento,quando havia j seis horas que eu me encontravanaquele estado inslito, conservandose ainda catlica romana, por aquele tempo, e vendo que se aproximava a hora do enterro, retirouse para um aposento solitrio da casa, fechouse nele, acompanhouse de um quadro com estampa representandoMaria,MedeJesus,e,comumavelaacesa,prostrousedejoelhosali,sozinha,e fezainvocaoseguinte,concentrandoseemprecesduranteumahora: Maria Santssima, Santa Me de Jesus enossa Me, vs, que tambm fostes me e passastespelasafliesdeverpadeceremorrerovossoFilhosobospecadosdoshomens,ouvio apelo da minha angstia e atendeio, Senhora,pelo amordo vosso Filho: Se minha filha estiver realmentemorta, podereislevla deretornoa Deus, porque eu meresignarei inevitvel leida morte.Masse,comocreio,elaestiverviva,apenassofrendoumdistrbiocujacausaignoramos, rogoavossaintervenojuntoaDeusPaiparaqueelatorneasi,afimdequenosejasepultada viva. E como prova do meureconhecimento por essa caridade queme fareis eu vola entregarei parasempre.Renunciareiaosmeusdireitossobreelaapartirdestemomento!Elavossa!Euvo la entrego! E seja qual for o destino que a esperar, uma vez retorne vida, estarei serena e confiante,porqueserprevistopelavossaproteo. Muitas vezes, durante a minha infncia, minha me narravame esse episdio da nossa vidaporentresorrisosdesatisfao,repetindocemvezesaprecequeafica,porelainventadano momento,acrescentandoadoPaiNossoedaAveMaria,e,igualmenteentresorrisos,eraqueeua ouviadizer, tornandomeentomuitoeufricaporissomesmo: Eunadamaistenhocomvoc...VocpertenceaMaria,MedeJesus... Entrementes,aoseretirardoaposento,ondesederaacomunhocomoAlto,minhame abeirouse do meu insignificante fardo carnal, que continuava imerso em catalepsia, e tocouo carinhosamentecomasmos,repetidasvezes,comosetransmitisseenergiasnovasatravsdeum passe.Ento,umgritoestridente,comodesusto,deangstia,acompanhadodechoro inconsolvel decriana,surpreendeuaspessoaspresentes.Minhame,provvelveculodosfavorescaritativos deMariadeNazar,levantoumedoberoedespiumeamortalha,verificandoqueagrinaldade rosinhas me ferira a cabea. As velas que deveriam alumiar o meu cadver foram retiradas e apagadas, a ea foi destituda das solenes toalhas rendadas, o crucifixo retornou ao oratrio de minhaaveacasafunerriareceberadevoltaumcaixode anjinho,porqueeureviveraparaos testemunhosque,dedireito,fossempormimprovados,comoespritorevelqueforanopassado... ereviverasobodoce influxomaternaldeMaria,MedeJesus.

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Recordando,agora,nestaspginas,essepatticoepisdiodeminhapresenteexistncia,a mimnarradotantasvezespelosmeusfamiliares,neleprefirocompreendertambmumsmbolo,a par do fenmeno psquico: ingressando na vida terrena para uma encarnao expiatria, eu deveria, com efeito, morrer para mim mesma, renunciando ao mundo e s suas atraes, para ressuscitaromeuesprito,mortonopecado,atravsdorespeitosleisdeDeusedocumprimento dodever,outroravilipendiadopelomeulivrearbtrio. No obstante, que seria o fato acima exposto se no a faculdade que comigo viera de outras etapas antigas, o prprio fenmeno medinico que ocorre ainda hoje, quando, s vezes, espontaneamente, advm transes idnticos ao acima narrado, enquanto, em esprito, eu me vejo acompanhandoosInstrutoresEspirituaisparacomelessocorrersofredoresdaTerraedoEspao, ouassistir,sobseusinfluxosvibratriosmentais,aosdramasdomundoinvisvel,quemaistarde sodescritosemromancesouhistorietas? AosquatroanosdeidadejeumecomunicavacomEspritosdesencarnados,atravsda viso e da audio: viaos e falava com eles. Eu os supunha seres humanos, uma vez que os percebia com essa aparncia e me pareciam todos muito concretos, trajados como quaisquer homensemulheres.Aomeuentenderdeento,erampessoasdafamlia,eporisso,talvez,jamais mesurpreendicomapresenadeles.Umadessaspersonagenserameparticularmenteafeioada: euareconheciacomopaieaproclamavacomotalatodososdecasa,comnaturalidade,julgando arealmentemeupaieamandoaprofundamente.Mais tarde,esseEspritotornousemeuassistente ostensivo, auxiliandome poderosamente a vitria nas provaes e tornandose orientador dos trabalhos por mim realizados como esprita e mdium. Tratavase do Esprito Charles, j conhecido do leitor atravs de duas obras por ele ditadas minha psicografia: AMOR E DIO e NASVORAGENSDOPECADO. Durante minha primeira infncia esse Esprito falavame muitas vezes, usando de autoridadeeenergia,assimcomoaentidadeRoberto,tambmentrevistapeloleitornosvolumes DRAMASDAOBSESSO,deAdolfoBezerradeMenezes,e MEMRIASDEUMSUICIDA,como sendoomdicoespanholRobertodeCanalejas,equeteriaexistidonaEspanhapelosmeadosdo 19sculo. Lembromeaindadeque,muitasvezes,sentadanosoalho,abrincarcomasbonecas,eu viaRobertonumacadeiraqueinvariavelmenteerapostanomesmolocal.Elecurvavase,apoiava oscotovelosnosjoelhosesustentavaorostocomasmosnumaatitudemuitohumana,eassim, tristemente, pois era um Esprito triste, me falava com doura e eu respondia. No sei se tais conversaes seriam telepticas ou verbais, sei apenas que eram reais. Mas no pude conservar lembranasdoassuntodequetratavam.Alis,tudomepareciacomum,natural,e,comocriana que era, certamente no poderia haver preocupao de reter na lembrana o assunto daquelas conversaes. Essaentidadeerapormimdistinguidamuitoperfeitamente,trajadacomo oshomensdo sculoXIX, mostrando olhos grandes e vivos, muito profundos, cabelos fartos e altos na frente, pequena barba circulando o rosto e terminando suavemente em ponta, no queixo, e bigodes relativos,espessos.Dirseiapessoadoente,poistraziafacesencovadasefeiesabatidas,emos descarnadasemuitobrancas.Eraesse oEspritocompanheirodeminhasexistnciaspassadas,a quempoderososlaosespirituaismeligam,aquem muitoferiemidadespretritaseporquemme submetisdurasprovaesquemeafligiramnestemundo,naesperanadereaveroperdodalei deDeuspelomaloutrorapraticadocontraeleprprio. ** *

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Foisomenteaosoitoanosdeidadequeserepetiuofenmenodedesprendimentoparcial a que chamamos morteaparente, o qual,no entanto, sempre espontneo, dos dezesseis anos em diantesetornou,porassimdizer,comumemminhavida,iniciandoseentoasriedeexposies espirituais que deram em resultado as obras literrias por mim recebidas do Alm atravs da psicografia auxiliada pela viso espiritual superior. Repetindose, porm, ofenmeno, aos meus oito anos de idade, recebi, atravs dele, em quadros parablicos descritos com a mesma tcnica usadaparaaliteraturamedinica,oprimeiroavisoparamededicarDoutrinadoSenhoredoque seria aminha vida de provaes, sendo essa exposio produzida singelamente, altura deuma compreensoinfantil. Quem conhecer a vida da clebre herona francesa Joana dArc e atentar em certos detalhes que circundaram a sua mediunidade, compreender facilmente que as entidades espirituais que se comunicavam com ela, e s quais ela atribua os nomes dos santos por ela venerados, cujas imagens existiam na igrejinha de Domremy, sua terra natal, facilmente compreendertambmoqueexporeiemseguida,poisofenmenoespritajamaisserisoladoou serparticularaumanicapessoa,porqueatcnicaparaproduziloidnticaemtodaparteeem todasasidades,refernciafeitaaosoperadoresespirituais. Joanaforacriadadesdeoberoamandoaquelaigrejaeasimagensnelaexpostascoma denominao de Santa Catarina, Santa Margarida e So Miguel. E porque raciocinasse que, realmente, as imagens retratavam aquelas almas eleitas que ela acreditava desfrutando a bem aventurana eterna, confiava nelas, certa de que jamais lhe negariam amor e proteo. Mas a verdadeeraqueasentidadescelestesquesemostravamaJoana,elhefalavam,nadamaisseriam queosseusprpriosguiasespirituaisouosGuardiesEspirituaisdacoletividadefrancesa,como SantaGenoveva,So LusouCarlosMagno,quetomariamaaparnciadaquelasimagensafimde infundirem respeito e confiana quele corao herico, capaz de um feito importante que se refletiria at mesmo almfronteiras da Frana. Tambm nada impediria que as vises de Joana fossemrealmentematerializaesdosEspritosdaquelesvultosdaigrejadeDomremy,dadoque SantaCatarinaeSantaMargaridativessem,comefeito,existido.QuantoaSoMiguel,citadono Velho Testamento pelos antigos profetas, possui essa credencial para a prpria identidade, O acontecimento,alis,comumnosfastosespritaseocasodeJoananoisoladonahistriadas apariessupranormais,conquantosejadosmaispositivosebelosdequantostemosnotcias. Assim,nos meus oito anos de idade fato anlogo passouse, embora com carter muito restritoeparticular,emcondiesdevidncia,verdade,diversasdoocorridoemDomremy,mas fundamentadonosmesmosprincpios. Poraquelapoca,euresidianacidadedeBarradoPira,noEstadodoRiodeJaneiro,e frequentava o catecismo da doutrina Catlica Romanana igreja matriz de SantAna, ao lado da qualmorava.Aessapocajmeuspaishaviamadotadoo Espiritismo(meupaiadotaraoainda antes do meu nascimento), permitindo, no obstante, minha frequncia ao catecismo catlico, comoeracomumentrefamliasespritas,nopassado.Aqueletemplocatlico,portanto,comseus vitrais sugestivos, seus sinos melodiosos, seu formoso jardim em derredor, exercia suave impresso em minhas sensibilidades, e a doce poesia que se desprendia de tudo aquilo infundia verdadeiroencantamentoaomeucorao.Euveneravaaqueleambienteehojecompreendoque, ento,mesentiacomoquetuteladadaquela(SenhoraSantAna,quemeeratofamiliar,edaquela Nossa Senhora da Conceio, que eu tinha a satisfao de coroar, fantasiada de anjo, nas festividadesdo msdeMaio.Eimaginavaascomofazendopartedaminhafamlia,porque diziam delasasnossasbabs:

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A Senhora SantAna nossa av Nossa Senhora nossa me, portanto temos que respeitlaselhespedirabnotodososdias... Mas,sobretodasasimagensexistentesnaqueletemplo,aquemaismeimpressionavae comoviaeraadoSenhordosPassos,cadosobreosjoelhos,comacruznosombros.Euamava aquela imagem, profundas sugestes ela infundia em minha alma, e, s vezes, chorava ao lado dela, porquediziamas(babs): FoiparanossalvarqueElepadeceuemorreunacruz...Temosque amlomuito... Reconfortavame,porm,beijarapontadasuatnicaouumngulodacruz,enoraro levavaumaououtrahumildeflorparaoferecerlhe,comaqualpretendiatestemunharlheomeu sentimento,egrandetristezameinvadiao coraoemtaismomentos. Entretanto, a imagem permanecia sobre um andor, na capelamor, e nono altar, visto no existir, na ocasio, acomodaes para ela em nenhum outro local. Em verdade, j por essa poca eu no passava de uma criana infeliz, pois, como vimos, o sofrimento me acompanhava desdeonascimento,eeusofrianosasaudadedeminhaexistnciaanterior,daquallembrava, comoaindaainsatisfaonoambientefamiliar,queeuestranhavasingularmente,comoveremos mais adiante. Dentre as muitas angstias que ento me afligiam, destacavase o temor que eu experimentavaporumdosmeusirmos,oqual,comosi acontecerentreprolesnumerosas,me surravafrequentemente porqualquercontrariedadedurantenossasperaltices,fatoquemepungiae aterrorizavamuito,equeaminhatalvezexcessivasensibilidadeexageravacomosesetratassede ummartirolgiopormimsofrido,tornandomeento complexadanoprpriolarpaterno. Certanoite,inesperadamente,verificouseofenmenodetransporteemcorpoastral,com a caracterstica de morte aparente. Felizmente para todos os de casa, a ocorrncia fora em hora adiantadadanoite,comosucedenosdiaspresentes,eapenaspercebidopelavelhaamaquedormia conoscoequeforatestemunhadoprimeirofenmeno,noprimeiromsdomeunascimento.Ps seelaentoadebulharoseurosrio,temerosadeacordarosdecasa,oquenoaimpediudeme suporatacadadeumataquedevermeseporissomesmodandomevinagreacheirar.Mascomoo alvitre se verificara infrutfero para resolver a situao, preferiu as prprias oraes, o que, certamente, equivaleu a excelente ajuda para a garantia do transe. Somente no dia seguinte, portanto,o fato foiconhecidoportodos,pormiminclusive,quemelembravadoacontecimento comosetratassedeumsonhomuitolcidoe inteligente. Entrementes,sobaao dofenmeno,vimenointeriordaigrejaqueeu amava,dianteda imagem do Senhor dos Passos, como frequentemente acontecia, agora, porm, permanecendo aqumdosdegrausquesubiampara acapelamor.Ofamiliaracimacitadotorturavameentocom oshabituaismaustratos,espancandomefuriosamente,despedaandomeasroupasepuxandome os cabelos.Sentindomeaterrorizada,como sempre,emdadomomentoapeleiparaosocorrodo Senhor.Ento,comoque viaimagemdesprendersedoandor,comacruznascostas,desceros degraus,estendera molivreparamimedizer,bondosamente: Vem comigo, minha filha... Ser o nico recurso que ters para suportar os sofrimentosqueteesperam... Aceiteiamoqueseestendia,apoieimenela,subiosdegrauzinhosdacapelamor...ede nadamaismeapercebi,enquantoqueavisonofoijamaisesquecida,constituindoantesgrande refrigrioparaomeucorao,athoje,sualembrana. Efetivamente, grandes provaes e testemunhos, lgrimas ininterruptas, sem me permitiremumnicodiadealegrianestemundo,sesobrepuseramnodecursodaminhapresente existncia. Mas bem cedo eu me fortalecera para os embates, pois, naquela mesma idade, oito anos,lioprimeirolivroesprita,umavezquejliacorrentemente,pelacitadapoca.Certamente

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que no pude assimillo devidamente, mas lio do princpio ao fim, embora a sua literatura clssica me confundisse. Mas o assunto principal de que tratava, a tcnica esprita, revelando o fenmenodamortedeumapersonagem,caloumeprofundamentenocoraoeeuocompreendi perfeitamente.EsselivrofoioromanceMARIETAEESTRELA obtidopelamediunidadedeDaniel Suarez Artazu, em Barcelona, Espanha, pelo ano de 1870, e o captulo O primeiro dia de um morto foi,paramim,comoqueochamamento paraosassuntosespritas. EassimfoiqueaDoutrinadoSenhor,aesperananaSuajustia,afeapacinciaque sempre me impeliram para o Espiritismo, a par do cultivo dos dons medinicos que espontaneamente se me impuseram desde a minha infncia, me tornaram bastante forte para dominaresuperar,atagora,asdificuldadesquecomigo vieramparaareencarnaoexpiatria, como resultadoinapelveldeumpassadoespiritualdesarmonizadocomobem.

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3 Reminiscncias de vidas passadasPodemosteralgumasrevelaesarespeitodenossasvidas anteriores? Nemsempre.Contudo,muitossabemoqueforameoquefaziam.Se selhespermitisse dizloabertamente,extraordinriasrevelaesfariam sobreopassado. (AllanKardec,OLIVRODOSESPRITOS,pergunta395) * * * Quanto mais grave o mal,tanto mais enrgico deve ser o remdio. Aquele,pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijarse Ideia da sua prxima cura.Deledepende,pelaresignao,tornarproveitosooseusofrimentoenolheestragarofruto comassuasImpacincias,vistoque,docontrrio,terderecomear. (AllanKardec,OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO,captulo5, item10)

Muitos dos nossos amigos frequentemente nos procuram, quer pessoalmente ou atravs decartasquenosescrevem,afimdesolicitar informaes sobreareencarnaodoprximoem geral e, em particular, a deles prprios. Nada poderemos,porm,acrescentar sobre o assunto s instruesdosEspritosqueorganizaramoscdigosdoEspiritismo.Se,comoficoudito,aleida Criaoencobriuonossopassadoespiritual,serporqueoseuconhecimentonotrariavantagem paraonossoprogresso,antespoderia prejudiclo,comotohabilmenteficouassinaladoporAllan Kardeceseus colaboradores.Todavia,aobservaodesbiosinvestigadoresdaspropriedades e foras da personalidade humana, e a prtica dos fenmenos espritas, donos a conhecer substanciososexemplosdequenemsempreovudoesquecimentototalmentedistendidosobre a nossa memria normal, apagando as recordaes de vidas anteriores, pois a verdade que de quandoemvezsurgemindivduosidneosapresentandolembranasdesuasexistnciaspassadas, muitas delas verificadas exatas por investigaes criteriosas, e a maioria dos casos, seno a totalidade deles,revelando tanta lgica e firmezanas narrativas, que impossvel seria descrerse deles sem demonstrar desprezo pela honestidade do prximo. De outro lado, o fenmeno de recordao de vidas passadas parece mais raro do que em verdade e, uma vez que podemos ter estranhas reminiscncias sem saber que elas sejam o passado espiritual a se manifestar timidamentesnossasfaculdades,alis,a maioriadaspessoasqueasrecordam,ignorandoosfatos espritas,sofremasuapressosemsaberem,realmente,doquesetrata,eporissono participama outremoquecomelassepassa. OEspritoDr.AdolfoBezerradeMenezes,aquemtantoamamos,observou,emrecentes instrues a ns concedidas, que nos manicmios terrestres existem muitos casos de suposta loucura que mais no so que estados agudos de excitao da subconscincia recordando existncias passadas tumultuosas, ou criminosas, ocasionando o remorso no presente, o mesmo acontecendocomaobsesso,quebempoderserotumultode recordaesdopassadoenegrecido pelos erros cometidos, recordaes indevidamente levantadas pela presso da vtima de ontem transformada em algoz do presente. Muitos chamados loucos, e tambm certo nmero de

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obsidiados,costumamasseverarqueforamestaouaquelapersonalidadejvividaefizeramistoou aquilo,narrando,porvezes,atosdeplorveis.Bempoderacontecerquetaisnarrativasnadamais sejam que reminiscncias, talvez desfiguradas por alguma circunstncia de momento, de um passadoaflorandoparaopresenteporentrechoquestraumticos,causandoaalteraonervosaou mental. Aleidivina,queregeacondiodoserencarnadonaTerra,estabeleceuoesquecimento dasmigraespretritas,porsetratardoquemaisconvmaocomumdascriaturas,sendomesmo essaasituaonormaldecadaser,e,assimsendo,ofato derecordarproduzirchoquesmorais porvezesintensos,napersonalidadequeassimsedestaca,acarretandoanormalidadesquevariam degrau,conformeasituaomoralouconsciencialdecadaum,poiss quemrealmenterecordao prpriopassadoreencarnatrio,noqualfaliu,estarcapacitadoacompreenderodesequilbrioea amarguraquetalsituao provoca.Aoqueparece,ofatoderecordarexistnciaspassadasconstitui provaoparaascriaturascomuns,aindapoucoevolvidas,ouconcessoaomrito,nasdeordem maiselevadanaescalamoral.Noprimeirocaso,como foi ditoacima,verificase,noraro,uma espcie de obsesso, haja ounohaja oinimigodesencarnado a provocar a anormalidade, e, de qualquerforma,umagrandetristeza,umgrandedesnimoatingiroquerecorda,quepressentir apenasespinhoselgrimasnodecorrerdaexistncia.EassimcomooEspritodesencarnado,de categoria inferior, muitas vezes sofre e se tumultua at loucura, diante do desfile mental das prpriasexistnciaspassadasdesvirtuadaspelocrime,assimoencarnadoseanomializarsob os choquesdosmesmosacontecimentos,pordiminutosquesejam. Noobstante,existem tambmhomensquerecordamsuasvidaspassadassempadecerem aqueles desequilbrios, conservandose normais. Os mdiuns positivos, ou seja, que possuam grandes foras intermedirias (eletromagnetismo, vitalidade, intensidade vibratria, sensibilidade superior,vigormentalemdiapasoharmnicocomasforasfsicocerebrais),seromaisaptosdo que o normal das criaturas ao fenmeno de reminiscncias do passado, por predisposies particulares, portanto. Assim sendo, e diante do vasto noticirio que possumos acerca do empolgante acontecimento, temos odireito de deduzir que o fato de recordar o prprio passado reencarnatrio uma faculdade que bem poder ser medinica, que, se bem desenvolvida e equilibrada, no alterar o curso da vida do seu possuidor, mas, se ainda em elaborao e prejudicada por circunstncias menos boas, causar lamentveis distrbios, tal a mediunidade comum,jqueosermdiumnoimplicaaobrigatoriedadedeseresprita.Seaquelequerecorda, e por isso sofre desequilbrios vibratrios, procurar o remdio que o poder aliviar, nas fontes fecundasdopsiquismo,estarsalvodegrandesdissabores.Se,aocontrrio,desconheceraorigem dosfatosesealheardopsiquismo,serconsiderado loucoportodasasopinies,atmesmoparaa opiniodoseumdico,emboranoosejarealmenteecomoomanicmiooltimorecursoque lhe proporcionariaacura,seguesequeelenosepodercurar. Mas porque ento tais fatos se enquadram na vida organizada pelas leis superiores do planodivino?Serotaiscasosacontecimentosnormaisda evoluo? Certamente,muitoprovvelqueassimseja,vistoque,tratandosede umafaculdadeque tendeaatingiraplenitudedasprpriasfunes,haverotrabalhodeevoluo,e,almdomais, no.oEsprito,encarnadoouno,o artficedaprpriaglria?Daaslutastremendasdoroteiroa vencer... Outratarse,porventura,depunio? Dequalquerformaserotrabalhodeevoluo...

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Masatondechegamosnossosconhecimentosarespeitodosingular fato,tambmpor ns vivido e, portanto, por ns sentido, observado e estudado, poderemos afirmar que, na sua maioria,tratasedoefeitode causasgravese,portanto,punioatravsdaleinaturaldascoisas, podendo ser tambm o fato auxiliado pela natural disposio de organizaes fsicopsquicas muito lcidas,aquisio de mentestrabalhadas pelo esforo da inteligncia, fruto do cultivo dos donsdaalma,seoacontecimentonoimplicardistrbiosconscienciais,poisnossapersonalidade ricadedonsem elaboraolenta,massegura. Consultando preciosos livros de instruo doutrinria esprita encontraremos copioso noticirio do fato em estudo. Homens ilustres do passado no s confessavam as prprias convices em torno da reencarnao das almas em novos corpos como afirmavam, com boas provas, lembrar de suas vidas anteriores, sendo que esses homens no deram, jamais, provas de debilidademental,oquenoslevaadeduzirserofatomaiscomumdoquesepensa,equeoscasos extremos,ocasionandoacitadapseudoloucura,sero,comefeito,comoqueumapunionatural naordemdascoisas,efeitodevidaspassadasanormais,ondeavultavamaescriminosas. Noseupreciosolivro OPROBLEMADOSER,DODESTINOEDADOR,ograndemestre daDoutrinaEsprita,LonDenis,citacasosinteressantesdepessoasconhecidasnaHistria,que recordavamasprpriasexistnciaspassadas.denotarquetodasessasindividualidadescitadas possuaminteligncialcida,erammesmopessoasgeniais,fazendocrerquesuasmenteshaviam sidotrabalhadaspelolaborintelectualdesdelongasetapasanteriores,oqueequivaledizerquea faculdade de recordar estava mais ou menos desenvolvida, no produzindo choques vibratrios 3 violentos . Assim que, no captulo XIV daquela obra magistral, na segunda parte, ele diz o seguinte,permitindoo leitor,aseuprpriobenefcio,quetranscrevamostrechosdooriginal: fato bem conhecido que Pitgoras se recordava pelo menos de trs das suas existnciasedosnomesque,emcadaumadelas,usava.DeclaravatersidoHermtimo,Eufrbioe umdosArgonautas.Juliano,cognominadooapstata,tocaluniadopeloscristos,masquefoi,na realidade, uma das grandes figuras da Histria Romana, recordavase de ter sido Alexandre da Macednia.Empdoclesafirmavaque,peloquelhediziarespeito,serecordavadetersidorapaze rapariga. Na opinio de Herder (DIALOGUES SUR LA METEMPSICOSE) continua Lon Denis devese ajuntar a estes nomes os de Yarcas e de Apolnio de Tiana. Na Idade Mdia, tornamos a encontrar a mesma faculdade em Jernimo Cardan. Entre os modernos, Lamartine declara no seu livro VOYAGE EM ORIENT, ter tido reminiscncias muito claras de um passado longnquo.

Transcreveremososeutestemunho:NaJudeiaeunotinhaBblianemlivrodeviagemningumquemedesseonome doslugareseonomeantigodosvalesedosmontes.No obstante,reconhecisemdemoraovalede TerebintoeocampodebatalhadeSaul.Quandoestivemosnoconvento,ospadresconfirmaramme a exatido das minhas descobertas. Os meus companheiros recusavam acreditlo. Do mesmo modo, em Sfora, apontara com o dedo e designara pelo nome uma colina que tinha no alto um casteloarruinado,comoolocalprovveldo nascimentodaVirgem.Nodiaseguinte,aosopdeum

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A prtica do Espiritismo, contudo, e o ensino dos Espritos, na atualidade, tambm parecem demonstrar que outras circunstnciaspodem cooperar para as recordaes do passado, e que no apenas osEspritos superiores, encarnados ou no,seachamnasituaode recordaralgodasprpriasexistnciaspercorridas,conquantoofatose declarereveliadasua vontade,podendo mesmotaislembranasser provocadasporumagentedesencarnado,quebempoder serumamigoou uminimigo,ouporumchoqueemocionalgrave.

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monterido,reconheciotmulodosMacabeusefalavaverdadesemosaber.Excetuandoosvales doLbano,quasequenoencontreinaJudeiaumlugarouumacoisaqueno fosseparamimcomo uma recordao. Temos ento vivido duas ou mil vezes. , pois, a nossa memria uma simples imagemembaciadaqueosoprodeDeusaviva?

O prprio Vtor Hugo, que to de perto nos fala ao corao, afirmava julgarse a reencarnaodeJuvenalesquilo,enquantoomesmoLonDenis,emoutraobramagistraldasua lavra, O GRANDE ENIGMA, confessa as agitaes da sua alma durante uma visita clebre Chartreuse,quandosentiuefervescer dosrefolhosdoprprioserarecordaodeumaexistncia tambmalivivida.Vejamosoqueasuapenavigorosanarranocapitulo13daquelaobra: O cemitrio do convento de aspecto lgubre. Nenhuma laje, nenhuma inscrio determinaassepulturas.Nafossaaberta,depositasesimplesmenteocorpodomonge,revestidode umhbitoeestiradosobreumatbua,sem esquifedepois,cobremnodeterra.Nenhumoutrosinal, almdeumacruz,designaasepulturadessepassageirodavida,dessehspededosilncio,doqual ningum, exceo doprior,saberonome verdadeiro!Sera primeiravezquepercorroestes longoscorredorese estes claustrossolitrios?No! Quando sondo o meu passado, sinto estremecer em mim a misteriosa cadeia que liga minhapersonalidadeatual dos sculos escoados. Seiqueentre os despojos quealijazem,nesse cemitrio, h um que meu Espritoanimou. Possuo um terrvelprivilgio, o de conhecer minhas existncias passadas. Uma delas acabou nesses lugares. Depois dos cinco lustros da epopeia napolenica,nosquaisodestinomehaviaimergido,exaustodetudo, afrontadopelavistadosangue edofumodetantasbatalhas,aquivimbuscara pazprofunda.

Masnenhumdetaisexemplosseequiparaaosreferentesaoutrapersonalidade,tambm citadapelograndeDenis.Trataseigualmentedeumintelectual,umpoetaassazapreciado,cujo nomeeraJosMry,simplesmente.O JOURNALLITTERAIRE,de25deNovembrode1864,diz deleo seguinte,entreoutrastantasrefernciasinteressantessobreomesmoassunto:Hteoriassingularesque,paraele,soconvices.Assim,crfirmementequeviveu muitas vezes lembrase das menores circunstncias das suas existncias anteriores e descreveas comtantaminuciosidadeecomumtomdecertezatoentusisticoqueseimpecomoautoridade. Assim, foi um dos amigos de Verglio e Horcio, conheceu Augusto (Imperador Romano), conheceu Germnico fez a guerra nas Glias e na Germinha. Era general e comandava tropas romanasquandoatravessaramo Reno.Reconheceosmontesestiosondeacampou,eosvalesonde outroracombateu.ChamavaseentoMnio.

Seria longo descrever as recordaes desse reencarnacionista do sculo passado, Jos Mry, eque voatsndias,empassadoremoto.Eletobemdescreviaaspaisagensorientais nas suas obras literrias que jamais os leitores duvidaram de que ele tivesse viajado longamente poraquelepas.E acrescentaoJOURNALLITTERAIRE,finalizando: preciso ouvilo contar os seus poemas, porque so verdadeiros poemas essas lembranas Swedenborg. No suspeiteis da sua seriedade, que muito grande. No h mistificaofeitacustadosseusouvintesh umarealidadede queeleconsegueconvencervos!

Gabriel Delanne no menos substancioso nos exemplos apresentados em seu livroREENCARNAO,cujaleituraempolganteenriqueceamentedoesprita.Impossvelcitaralguns

desses exemplos, que poderiam alongar demasiadamente a nossa tese. Cumprenos, porm, informar o leitordeapenas um desses aludidos exemplos, pelo encantamento das circunstncias em que foi vivido. Quem o viveu e o descreveu foi a Sra. Matilde de Krapkoff, dama francesa

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casada com um nobre russo, pelo ano de 1893, a quem o prprio Sr. Delanne conheceu pessoalmente. Durante uma cavalgada nas imensas florestas do interior da Orimeia, essa dama, recmchegadaRssia,apsocasamento,esuacomitivaperderamsenaespessuradasmesmas, sempoderemreencontrarocaminhoderegressooualgumoutroqueoslevasseaqualqueraldeia ondepudessempassaranoite.denotarqueaSra.MatildedeKrapkoff,sendofrancesa,sentiatal atraopelaRssiaqueacabaradesposandoumvarorusso,enquantoquesuaadaptaonova ptriamaisnoforadoqueumreencontrodecoisasecostumesqueviviamemseuspensamentos. Perdidos na floresta, e avizinhandose a noite, a consternao era geral, enquanto Matilde era a nica que se conservava tranquila. Vejamos com que mestria ela consegue pintar a cena das explosesdassuaslembranasdeumaantigaexistnciapassadanasolidodeumaaldeiarussada Crimeia,pedindoperdoaoleitorpornoserpossveltranscrevera narrativaporextenso: ... Meu marido vem tranquilizarme, mas me encontra calma sinto que sei onde estamos.Dirseiaqueoutrosercomplementarentrouemmim,equeesseduploconheceolugar. Gravemente,declaroquetodosdevemsossegar,quenoestamosperdidos,questomaroatalho esquerdaeseguiloqueelenoslevaraumaclareira,aofundodaqual,portrsdeumasrvores, h umaaldeia meiotrtara, meio russa. Eua vejo suas casas erguemse emtorno de uma praa quadrada no fundo h um prtico sustentado por elegantes colunas de estilobizantino. Sob esse prtico,belafontedemrmore,e,atrs,osdegrausdeumacasaantiga,comjanelinhasdecaixilhos, tudo encantador de antiguidade. Parei. Falara rpidamente, com segurana. A viso era em mim ntida,precisa.Vijtudoisso,muitasvezes,pareceme.Todosmerodeiameolhamcomespanto quesingulargracejo!Issolhespareceforadepropsito,masessasfrancesas.. Devia estar plida fiquei gelada. Meu marido me examina com inquietao, mas eu repitoalto: Sim,tudoestcertoevocsvover. Toroasrdeasparaoatalhoesquerda.Comometratamqualumacrianaquerida,e os guias, acabrunhados, se acham sentados no cho, seguemme, um tanto maquinalmente, sem cuidaremdoquesepassa. O quadro evocado est sempre em mim, eu o vejo e sintome calma. Meu marido, perturbado,dizaoirmo: Minha mulher podeter o dom da segunda vista, e, uma vez que estamos perdidos, vamoscomela. Robustecidapelasuaaprovao,metomepelasmatas,quecadavezseadensammenos, ecortopelobosque,tantaaimpacinciadechegar.Ningumfalaabrumaseelevaenadafaz pressentirumaclareira,maseusei queelaestl,bemdiantedens,eprossigoamarcha.Estendo, enfim,obrao,ecomochicoteapontoparaaclareira,palavramgica.Hexclamaes,todosse apressamumaclareira,maiscompridaquelargavemnaentreapenumbraofundoperdesena bruma, mas os cavalos, tambm eles, parecem sentir que estamos prestes a chegar, galopam, e vamosdarcomgrandesrvores,sobasquaispenetramos. Estouforademim,projetadaparaoquequerover.Umltimovusedesprende.Vejo umafracaluze,aomesmotempo,umavozmurmura,noao meuouvido,masameucorao: Marina,Marina,eisquevoltas!Tuafonterumorejaainda,tuacasaestsemprel. Sbenvinda,caraMarina! Ah, que emoo, que alegria sobrehumana! Jaz ali tudo diante de mim, o prtico, a fonte,acasa.demais:cambaleioecaio,masmeumaridologomeapanhaemecolocadocemente sobre esta terra, que minha, perto de minha doce fonte. Como descrever meu enlevo? Estou prostradapelaemoocaio emsoluos.Sombrasaparecemfalaserusso,trtaro.Levammeparaa casaminhaspernasclaudicantessobemosdegraus.Ocoraosemeconfrange,aoatravessarlhe os umbrais. Depois, de repente, fico substituise a realidade vejo um quarto desconhecido, objetos. estranhos a sombradeMarinaapagouse no saberei jamaisquemela foi,nem quando viveu,mas seiqueestavaaqui,quemorreu jovem.Sintoo,estoucerta...

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Comovemos,nessecasoarecordaoseexpandenomomentoprecisoasubconscincia expulsa,momentaneamente,aocalordeumaemooforte,asondasdaslembranascalcadasnos seus refolhos, h choque emocional e sofrimento indefinvel, pois no com facilidade que semelhanteoperaose realizanossagradosrepositriosdaalmahumana. Por tudo isso, pois, conforme ficou dito, chegaremos concluso de que o fato mais comumdoquesesupunhaequenemsempreocasionaracitadapseudoloucura,senoquandoa existam fatores conscienciais muito graves ou quando o crebro fsico e o sistema nervoso, por muito frgeis, no suportarem os choques emocionais advindos do fato, embora, de um modo geral,comovaeaturdaopaciente. Tendo exposto aos provveis leitores a possibilidade de a criaturahumana,em situao excepcional, recordar as prprias existncias pretritas, possibilidades referendadas por testemunhosinsuspeitos,sentimonosvontadeparaigualmenteapresentaronossotestemunhono singular certame, pois que tambm trouxemos, para a presente encarnao, certas lembranas, muitovivas,dedeterminadosepisdiosdenossaanteriorexistnciaterrena. Para ns, no entanto, esse fato constituiu durssima provao, e certamente teramos sucumbido a uma loucura total, ou mesmo ao suicdio, se no tivramos a felicidade de, desde muito cedo, ser amparada pela grandiosa proteo da Doutrina dos Espritos e do Evangelho de JesusCristo,que,comefeito,possuemrecursospararemediartodososimpassesdavidahumana. Cumpre, porm, advertir que, nestas pginas, tratamos de recordaes diretas que o indivduopossaterdesuasmigraesterrestresdopretritoenoderevelaestransmitidaspor possveismdiuns.BaseandonosnosprprioscdigosdoEspiritismo,comelesacreditamosque taisrevelaes,comexceesrarssimas,sosempreduvidosasenenhumdensdeverdaraelas grande apreo, porque os mistificadores do Invisvel frequentemente se divertem custa de espritas curiosos e invigilantes, servindose de tais revelaes, ao passo que, por sua vez, o mdiumpoderdeixarinfluenciarsepelasexcitaesdaprpriaimaginaoedizer,comosendo dapartedeuminstrutorespiritual,oqueasuaprpriamentecriou,poistudoissopossveleat previsto pelasinstrues da cincia esprita e pelaprtica damesma. Oque sentirmos dentro de ns, o que anossa prpria conscincianosrevela, as vises que, voluntriamente,nossos Guias Espirituais nos proporcionarem durante o sono provocado por eles prprios, o que recordamos, enfim,atangstia,saudade,aodesespero,convicorealenofantasiosa,eoqueanossa prpria vida confirma ou o que recordamos at ao benefcio da consolao, da emoo balsamizante, da esperana no futuro e mesmo da alegria santa do nosso esprito, isso sim, poderemosaceitarcomotestemunhosdaverdadevividaemoutrasetapasreencarnatrias. As pginas que se seguem, extradas sempre do nosso arquivo de memrias, so a narrativadatristeinfnciaquetivemosdevidosrecordaesconservadas,aoreencarnar,danossa passadaexistncia.Queoleitorjulgue doqueforamainfnciaeajuventudequetivemos,equeas virtudesdoConsoladorenviadoporJesuspuderamacalentareremediarsobaproteodoAmor, doTrabalhoedaF. *** Minha primeira infncia destacouse pelo trao de infortnio, que foi certamente a consequnciadamatuaodomeulivrearbtrioemexistnciaspassadas.Eumadasrazesdetal infortniofoialembrana,muitosignificativa,queemmimpermanecia,daltimaexistnciaque tivera.Desdeostrsanosdeidade,segundoinformaesdeminhameedeminhaavpaterna,

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pois com esta vivi grande parte da infncia, negueime a reconhecer em meus parentes, e principalmenteemmeupai,aquelesaquemeudeveria amarcomdesprendimentoeternura.Sentia queomeucrculodeafinidadesafetivasnoeraaqueleemqueeuagoravivia,poislembravame do meu pai, da passada existncia terrena, a quem muito amava, pedindo insistentemente, at muitotempomaistarde,paraquemelevassemde voltaparaacasadele.TratavasedoEsprito Charles,aquemeuviafrequentementeemnossacasa,conformeexplicaesdocaptuloanterior. Euodescreviacomminciasparaquemmequisesseouvir,masfaziaoporentrelgrimas,quala crianaperdidaentreestranhos,sentindo,dostrsaosnoveanosdeidade,umasaudadetorturante desse pai, saudade que, nos dias presentes, se no mais me tortura tanto, tambm ainda se no extinguiudomeucorao.Seassuasaparieseramfrequentes,eumesentiaamparadaemaisou menos serena, pois ele me falava, conversvamos, embora jamais eu me recordasse do que tratavam asnossas conversaes, tal como acontecia com a outra entidade, Roberto. Mas, se as apariesescasseavam,advinhaamargorinsuportvelparamim,fatoquetornouaminhainfncia umproblematantoparamimcomoparaosmeus. Ataosnoveanosdeidadenomelembrodequeconcordasse,deboamente,empedira bno a meu pai, o da atual existncia. Negavame a fazlo porque afirmava, convicta e veementeEssenoomeupai!Eentravaaexplicaraminhame,quetentavacontornara situao,aeleprprioeminhaavpaterna,quefoioanjobomdaminhainfncia,comoeraa personagemquedominavaasminhasrecordaes. Detalhessingularesviviamemmeuspensamentosporessapoca: Referindomecasademeupai,eudescreviaumsaguoquemeeramuitofamiliar,de tijolosdecermica,coloniais,ondeaminhacarruagementravaparaeusubiroudescer.Haviaa uma escada interna por onde eu subia para os andares superiores narrava eu, desfeita em prantos, descrevendo a casa a fim de que me levassem novamente para l e o corrimo da mesma,comobalcolavradoemobradetalha,pintadodebrancoecomfrisosdourados, mostrava o motivo de uma corsa perseguida por um co e pelo caador em atitude de atirar com a espingarda. O caador mais tarde eu o compreendi era tipo holands do sculo XVII. No entanto, jamais me referia a minha me de ento, isto , da existncia passada, o que leva suposiodequeeuteriasidomaisafimcomopai,vistoquefoiosentimentoconsagradoaele que venceuotempo,dominandoatmesmoadificuldadede umareencarnao. Mas, se jamais me referia a minha me de outrora, lembravame muito bem dos vesturiosqueprovavelmenteforampormimusados,egraasatalparticularidademaistardefoi possvellevantarapocaemqueseteriaverificadoaminhaltimaexistnciaterrestre:pocade Allan Kardec, de Vitor Hugo, de Frederico Chopin, ou seja, mais ou menos de 1830 a 1870 (reinadodeLusFilipeeImpriodeNapoleo,na Frana). horadobanho,tarde,frequentementeeuexigiademinhaavcertovestidoderendas negrascomgrandesbabadoseforrosdesedavermelha,muitoarmadoeamplo,inexistenteem nossacasa,equeeujamaisvira.Pediaasmulheres(eudizialuvassemdedos,coisaquetambm jamaisvira)pediaamantilha(xale)eacarruagemparaopasseio,porqueomeupaiesperavapara sairmosjuntos.Admiravamemuitodenoencontrarnada disso,assimcomotambmosquadros que viviam em minhas lembranas, quadros de grandes propores, os quais eu procurava pela casatodaafimderevlos,sem,todavia,encontrlos,eque,certamente,seriamcoleesdearte oupinacotecadosantepassadosdafamliadaltimaexistncia.Reparavaento,decepcionada,as paredes, muito pobres, da casa de minha av ou da de meus pais, e, subitamente, no sei que horrorosascrisesadvinhamparamealucinar,duranteasquaisverdadeirosataquesdenervos,ouo quer que fosse, e descontroles sentimentais indescritveis, uma saudade elevada a grau super

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humano, me levavam quase loucura. Passava dias e noites em choro e excitaes, que perturbavamtodaafamlia,eomotivoerasempreomesmo:odesejoderegressarcasademeu pai,deondemesentiabanida,asaudadeangustiosaquesentiadeleedetudoomaisdequeme reconhecia separada. Em tais condies, no podia folgar com as outras crianas e jamais senti prazernumdivertimentoinfantil.Emverdadenoencontreijamais,desdeainfncia,satisfaoe alegria em parte alguma. Fui, portanto, uma criana esquiva, sombria, excessivamente sria, crianasemrisosnemperaltices, atormentadadesaudadeseangstias,imagem,naTerra,daqueles rprobos do suicdio descritos nos livros especificados. O lenitivo para to anormal situao apenasadvinhadostrabalhosescolares,poismuitocedocomeceiafrequentaraescola,edoamor com que me assistia minha av paterna, j mencionada, a qual, no obstante os seus pendores materialistas,meensinou aorarmuitocedo,suplicandoaproteodeMariaSantssima. Certodia,aosseteanosdeidade,lembromeaindadeque,aome tentaremobrigarapedir abnoameupai,recuseieexpliquei,veemente: Essenoomeupai!Omeuusaumpaletmuitocomprido(sobrecasacaoucoisa semelhante),comumacapinhadoslados(trajesmasculinosdotempodeLusFilipe I,daFrana) um chapu muito alto e cabelos meio brancos (grisalhos) e mais compridos. E usa bigodes grandes. Ele umpoucovelho...no moocomoessea,no!... Tal franqueza, que para mim representava uma grande dor, para os demais nada mais seriadoquepetulnciaedesrespeito.Valeume,nessedia,boadosedechineladasministradaspor meu pai, o que muito me surpreendeu e fez que me considerasse mrtir, pois fui castigada desconhecendoomotivoporqueoera,vistoque,sinceramente,opaipormimreconhecidoerao Esprito quefrequentementeeuviaedoqualmelembravacominconsolvelsaudade. Na verdade, eu necessitava mais de tratamento fsico, com vistas ao sistema nervoso e psquico, visando ao suprimento de fluidos balsamizantes, para o traumatismo sediado no perisprito,doquederepreensesecastigoscorporais,cujas razeseunocompreendia.Ocastigo deque,realmente,eunecessitavaaliestava,natorturadeconservaralembranadeumpaiamado de uma passada existncia, quando ali estava o pai do presente requerendo igual sentimento e respeito idntico, mas apenas temido e no propriamente amado, e no qual sempre deparei a severidade,tilemuitonecessriaminhasituaoatual.Noentanto,bastariaumasriedepasses bemaplicados,frequnciasreuniesdeestudoevangliconumCentroEspritabemorientadoe preces,paraquetoanormalsituaodeclinasse. Se,como evidente,ofatoderecordarexistnciaspassadas,antesdemaisnada,uma faculdade, aquele tratamento tlaia adormecido em mim, desaparecendo as incomodativas exploses da subconscincia, ou talvez fosse mesmo necessria, ao meu reajustamento moral espiritual, a conservao das ditas lembranas, e por isso elas foram conservadas. Mas o caso que, posteriormente, eu mesma, depois de bem norteadas as minhas faculdades supranormais, tratei, com meus Guias Espirituais, de algumas crianas assim anormalizadas, conseguindo resolver terrveis impasses de natureza semelhante. Mas apesar de meu pai se ter convertido crena esprita antes mesmo do meu nascimento, e certamente porque ao meu esprito seria necessrioquetaislembranasnofossembanidasdaminhaconscincia,essetratamentonofoi tentadoeeutivedevenceraprimeirainfnciarudementetorturadaporumasituaointeiramente anormal,dolorosa. Maistarde,atingindoosnoveanosdeidade,queessetratamento naturalmenteseimps e, com os tradicionais passes, teraputica celeste que balsamizou minhas amarguras de ento, sobrevieramtrguaseconseguimaisserenidadeparaacontinuaodaexistncia.

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Entretanto, outra entidade igualmente dominava as minhas recordaes durante a infncia. TratavasedoEspritoaquemeudenominavaRoberto,conformeexplicaesdocaptulo anterior.Eunoopoderia,efetivamente,esquecer,umavezquesuapresenaemnossacasaera constante, durante toda a minha infncia e grande parte da juventude. Tal acontecimento aviventavaestranhasimpressesemmeuser,e,sedemoravaarevlo,saudadesmuitovivasme pungiam o corao. No raro perguntava por ele minha av, pedindolhe que o mandasse chamar.MasumsentimentoindefinvelseentrechocavaemminhaalmaarespeitodesseEsprito, queeusabiaseramigoemeamarcomveemncia.Euojulgavaentoumparentemuitoprximo, aoqualmesentialigadaecujacompanhiameerahabitual.Grandeeafetuosaatraomeimpelia paraele.Noobstante,detinhamecertotemorquandooviaeporalgumasvezesmeassusteicom sua presena, temio, e, em gritos de pavor, procurava socorro nos braos de minha av. Mais tardeeleprpriocorrigiutaisdistrbiosdeminhamente,afirmandoqueesseterrornadamaisera quereflexoconsciencialdoremorsopelodeslizepraticadocontraeleempassadaexistncia,mas quetalacontecimentoseperderanoabismodopretrito,queeuagorajnoseriacapazdeassim procedereporissonoassistiamrazesparatantomeamesquinharemsuapresena.Que,alm do mais, desde muito ele me favorecera com o perdo sinceramente extrado do corao, e eu, arrependida,reencarnaradecididaarepararoerrodopassadoadespeitodequaisquersofrimentos esacrifcios.AcrescentavaquelongopassadodeamoruniaosnossosEspritosatravsdotempoe que,portanto,laosespirituaisindissolveisigualmentenosuniriamparao futuro.Toperfeitas eramassuasapariesminhavidnciaque,certavez,contandoeucincoanosdeidade,lembro medeque,encostandocasualmenteopulsonumferrodeengomarsuperaquecido,eumequeimei edaresultouumaferidamuitodolorosa.Doisoutrsdiasdepoisdetalocorrncia,esseEsprito apresentousemesentadonacadeiradasaladevisitas,ondefrequentementeeuovia,emcasade minha av. Chamoume para junto dele, como habitualmente fazia. Mas, porque eu no o atendesse de imediato, estendeu a mo e seguroume pelo pulso ferido, atraindome para ele. O contacto magooume horrivelmente e eu me pus a chorar, explicando minha av o que se passava.MasningumatinavacomaidentidadedaqueleRoberto,omoodebarbinha,aquem eu me referia e a quem indicava como estando sentado na cadeira, pois no era visto por mais ningum.Lembromeaindadopesar,dodesapontamentodesua fisionomiacompreendendoque me magoara com o seu gesto afetuoso. E porque eu me refugiasse junto a minha av, que casualmenteseencontravadep,nocentrodasala,eprocurasseescondermedele,encobrindoo rostoemsuassaias,tambmele,procurandodistrairme,escondiaoprpriorostoentreasmos, para me espionar de esguelha. Pusme arir, cobrindo e descobrindo o rosto, como brincando de escondeesconde. Por sua vez, ele fazia o mesmo com as mos, e dentro em pouco eu me via satisfeita, dirigindome sempre cadeira, que para outrem continuava vazia, mas que para mim mostravaosermaisamadopelomeuesprito,emtodosos tempos,depoisdaqueleoutroaquem eu reconhecia como pai. A constncia dessa entidade a meu lado prolongouse at minha juventude,e,seforapossvelumaobsessopartirdeumEspritoemboascondies,queamaem vezdeodiar,houveobsessodelesobre mim.Eracomoumnoivo,umesposoamantequemorrera enoseconformavacomaseparao.Aosdozeanosdeidadejeuproduzialiteraturaprofana sob seu controle medinico (essa entidade nunca produziu literatura doutrinaria, embora me concedessecopiosaliteraturaprofana),semcontudo eumesmaestarmuitocertadofenmeno. Sob o seu influxo, eu escrevia febrilmente, sem nada pensar, completamente desperta, sem orar previamente, apenas sentindo o braoimpulsionado por fora incontrolvel.Tratavase de estilo literrio vivo, apaixonado, veemente, muito positivo, impossvel de pertencer a uma

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menina de doze anos de idade. Ao que parece, a dita entidade fora literato e poeta, e posteriormenteessasproduesmedinicasforampublicadasemjornaise revistasdointeriorsem, todavia,seresclarecidaasuaverdadeiraorigem. Explicavaele,ento,quemepreparavaparafuturosdesempenhosliterriosespritas. Assim,pois,aatuaodaentidadeRobertoexerceuaopoderosasobreomeucarter. Melancoliaprofundaacompanhoumeavidainteiradevidosuainfluncia,eminhaconscincia, reconhecendose culpada diante dele, negavame quaisquer possibilidades de alegrias para o corao. Eu, alis,no poderiaesquecer facilmente certos detalhes de minha passada existncia, porque as entidades Charles e Roberto pareciam interessadas em conservlos. De certa feita, Charlesdeclaroumesmo,veementeeautoritrioqualenrgicopai: No deixarei que esqueas certos episdios por ti vividos na anterior existncia, porque ser o nico meio de te fazer refletir para a emenda definitiva. No te pouparei os sofrimentosdaadvindos.Oquepodereifazerajudarteasuportloscomfirmezadenimo,e issoeuofarei. E,comefeito,nosmehajudadoavencerasintensasperipciasque meforamdadaa experimentarnestemundo,comotambm,atravsdoseuauxilio,boasresoluestenhotomadoa meu prprio benefcio, e tudo sob inspiraes extradas das impresses deixadas por aquelas recordaes,que,semuitomefizeramsofrer,tambmmetransmitiramacertezadequeerajusto queeuassofresse,vistotererradooutrora,eque,depoisdasriedeexpiaesnecessrias,outras fasesdeprogressoeensejosfelizesadviro. Prosseguindo, esclarecerei que, s vezes, as mesmas recordaes pareciam surgir subitamente,dandoaentenderqueseriamantesextradasdaminhaconscinciaprofundaporuma vontade exterior, uma sugesto de entidades do Invisvel, tal a operao dos magnetizadores e cientistas com os sujets sobre quem estudavam os fenmenos de regresso da memria, para indagaessobreareencarnao,duranteotransesonamblico.Osfatos curiososquepassareia narraremseguida,duranteosquaismevirepresentando,porassimdizer,osingularpapelde sujet de um operador do mundo invisvel, levamme a crer isso, ao mesmo tempo que desdobra o motivodascitadasrecordaesdeexistnciaspassadas. *** Nos meus catorze e quinze anos de idade, eu residia nas proximidades do Cemitrio Municipal, na cidade de Barra Mansa, Estado do Rio de Janeiro. Nessa localidade foi que se acentuaram certos fenmenos que desde a infncia ensaiavam verificarse com a minha personalidade. Frequentemente eu caa em transes espontneos de desdobramento espiritual, durante a noite, creio que atravs da catalepsia parcial (sem atingir o crebro), visto que, ao despertar,eurecordavagrandepartedoque entosepassava.Nessas ocasieseu viaaentidade Robertopresenteaomomentododesprendimento,comoseforaelaaprovocarofenmeno.Uma vez completado este, levavame no sei para onde, mas depois perdiaa de vista. Ento eram revividosparamim,eeuosvianovamente,comintensidade,grandestrechosdodramapormim provocado em minha anterior existncia: os meus erros, as amargas consequncias deles para aquelesmesmosaquemeumaisamava,minha prpriafelicidadedestruda,amortedele,Roberto, edeumacrianaregulando seisaseteanosdeidade,mortespelasquaiseumesentiaresponsvel, etc.Eunovamentemesentia,ento,presadoremorsoqueinfelicitouaminha conscinciae,como

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louca, percorria as dependncias da casa em que habitei nessa passada existncia, agitada por crisesdedesesperoinconsolvel. Mveis, lindos quadros a leo, tapetes, espelhos, reposteiros, etc., etc., a escada de servio, com o balco em obrade talha, de que eu tanto melembrava em criana, a carruagem, igualmente lembrada, o parque rodeando a habitao e at a rua onde se situava o casaro senhorial,tudoeurevia,habitavanovamenteomesmolarantigoqueforameu,aquelelardoqual tantasetodesesperadorassaudadeseusentianainfncia,enquantoasequnciadasocorrncias prosseguia, como se extrada por outrem da minha conscincia profunda at me conduzir a um camposanto,ondeeuprocuravaumtmuloporentrelgrimasdedesespero,cobertadelutoecom vus negros na cabea, acompanhada de meu pai, ou seja, o prprio Charles. Que tmulo, porm, seria esse? Ento, durante os transes, eu sabia que se tratava do tmulo dele prprio, Roberto,otmulodacrianadeseisanos,talvezo mesmoondeeuprpriaforasepultadaoutrora. Era um grande jazigo, rendilhado em mrmore, tmulo rico, apresentando excesso de detalhesornamentais,oquemefaziaconsiderlodemaugosto,rodeadoporumagradedeferro. Entravaseporumpequeninoportoparase atingiromonumento.Haviainscrieseatversosno mrmore, no s sobre a lousa principal como nas laterais. Eu me debruava sobre ele, em Esprito, reliaosversosechoravaemdesespero. Atravsdetaisfenmenos,revividosnolivrodaminhaconscincia,fuiinformadadeque minhaexistnciaanteriorpresenteverificousenaEspanha,quefuieducadanaFrana,masque o meu suicdio ocorreu em Portugal. O tmulo por mim visitado durante os transes parciais de catalepsia, ou o que quer que seja, era, portanto, em Lisboa, e to familiar era para mim tudo aquiloquenotenhodvidasdeque,seme fosse dadovisitaraquelacidade,nosreconheceriao tmulo,nocasodeelealiaindaexistir,como tambmocemitrioesuasimediaes.Noentanto, possvelqueaaodo progressotivessealteradodemuitoopanoramapormimentrevistoento. Revendoemnsmesmosopassadoquevivemos,aspaisagensseapresentamtaiscomo eram na poca em que as conhecemos e no como so na atualidade. Hoje, portanto, aquele cemitrio e suas imediaes estaro alterados, pois, da ocasio em que os conheci ao momento presente,medeia mais deum sculo. Mesmo assim,ambos se acham to decalcados em minhas lembranas que no me assaltam dvidas de que os reconheceria se visitasse Lisboa, visto que durante toda a minha juventude e mocidade visiteios em corpo espiritual, alm de revlos extradosdaminhaprpriaconscincianum fenmenopsquicodesignificativaimportncia. Ora,conformeexposiojreferida,doscatorzeaosquinzeanosdeidadeeuresidianas proximidadesdoCemitrioMunicipal,nacidadefluminensedeBarraMansa.Apraziame,ento, passar astardes entre os tmulos e quasediariamenteme dirigiaquele camposanto a ttulo de passeio,afimdelernatranquilidadeaprazveldolocalsagrado.Pordisciplinasimpostaspormeu pai,quemantinhafeiopatriarcalnadireodafamlia,raramentemeerapermitidoumpasseio, umdivertimentoqualquercomoutrasjovensdaminhaidade.E,porisso,porqueocemitriofosse vizinhodanossacasa,eraparalqueeumedirigiaprocuradedistrao.Umavezali,sentava menosdegrausdopedestaldocruzeiro,situadonolongedoportodeentrada,epunhamealer enquanto entardecia, despreocupada e tranquila. Por vezes, sentavame tambm beira dos tmulos de mrmore, enquanto apreciava a suavidade da tarde com as nuanas coloridas das nuvens e o gorjeio dos pssaros que regressavam aos ninhos. Romances como o WERTER, de Goethe EURICO,OPRESBTERO,deAlexandreHerculano MEMRIASDOPADREGERMANO, deAmliaDomingoSoler MARIETAEESTRELA,deDanielSuarezArtazu,oqualeuliaerelia desde os oito anos de idade, foramlidos e relidos naquelamorada dos mortos. Frequentemente, assimsendo,eupercebiaEspritossofredoresaindaachegadosaosprpriosdespojoscarnais,que

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se decompunham sob a terra. Eles eram quais homens comuns, assim mesmo trajados, muito concretizados minha viso e no vaporizados alguns chorando, os cabelos revoltos, olhos desvairados ou aterrorizados, indo e vindo por entre os tmulos sem atinarem com o porto de sada, outros desanimados e tristes, sentados sobre o prprio tmulo como que guardando o cadversepultado,asvestesrotas,esfarrapadasemiserveis,retratandonoprprioduplofludico, ou perisprito, o mau estado da indumentria do cadver que se decompunha com ela, e ainda outrosaturdidosesurpresos,etodosfeios,desolados,profundamentesofredores. Jamais os temi. Nunca me perturbaram ou causaram qualquer dano. Eu os amava e compreendia. Ao Esprito de um suicida,reencarnado ou no, nada surpreende,nada atemoriza, nada desespera, porque ele j experimentou todas as fases da desgraa superlativa. J por esse tempo eu tinha cincia da Doutrina Esprita, assistia a sesses prticas, estudava O LIVRO DOS ESPRITOS e OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO,almdealgunsoutros,eaquelesfatos, ento,mepareciamnaturalssimos.Sentiamefamiliarizadacomaquelessofredorescomose co participasse do seu estado de desencarnados, e ento orava em inteno deles, falavalhes mentalmente,Concentrandomeaospsdocruzeiro,concitandoosaorarcomigoeaseconfiarem ao amor de Deus, que os socorreria, eregressava depois a casa, serenamente Tal passatempo, o nico que me era dado desfrutar (quem sabe seria j um compromisso, um aprendizado?), prolongousepormuitosmeses.Nofuijamaisadvertidapor meuspais,esomentehojeavalioa grandeproteoespiritualqueoCumeconcedia,conservandomeisentadeinfiltraesnocivas nocontactodetaiscompanhias. Entrementes,fatosingularseverificoualgumaspoucasvezes,eque,nacitadaocasio,eu no sabia compreender, mas que com o decorrer do tempo, o conhecimento mais amplo da DoutrinaEspritaeaexperinciaadquiridanocontactodamediunidadeconvencerammetratarse deumestadocomoquedeexpansodasubconscincia,fenmenoPsquico,portanto,certamente medinico, visto que a mediunidade no implica to s O intercmbio com entidades desencarnadas, mas tambm um complexo de fatos e acontecimentos ainda no devidamente estudados e classificados. o nosso Esprito no devemos esqueclo um repositrio de foras incomensurveis possumos em nossa organizao espiritual poderes mltiplos e ainda longenosencontramosdeavalilosnasuaprofundidadeNo afirmarei,portanto,queofenmeno quemeacometeualgumasvezes,duranteospasseiosaocemitriofosseumtransemedinicona suafeiocomum. Masoquecertoqueaocorrnciadeverserapreciadacomo,talvez,umavariantedo fenmeno de regresso damemria, sbitaintromisso derecordaes contidasnos arquivos do perisprito, provocada por um agente espiritual, o qual no seria outro seno o prprio amigo Roberto, que assim mesmo procedia durante os transes de desdobramento do meu esprito, e, portanto, fenmeno implicando uma faculdade. Nas citadas ocasies, pois, eu comeava pressentindoapresenaespiritualdeRoberto,semcontudo distinguilocomavidncia. Subitamenteentravaasofrerangstiainsuportvel,duranteapermanncia nocemitrio. Procuravadominla,maseraimpotenteparaconseguilo,porqueelaexistiamuitodentro do meu ser, era o mesmo estado de sofrimento moral experimentado na infncia e durante os desprendimentosemesprito,quandomereportavaaopassado.Levantavameentode ondeme sentavae comeavaavisitarosjazigosetmulosdemrmoreprocuradotmulode Roberto. Advinhame a certeza de que ele estava sepultado ali, que talvez estivesse vivo sob a terra,atrozsaudademetorturavaocorao,confusoinsuportveldesorientavaomeuraciocnio, eumesentiacomoqueareaeVaga,echorava,acometidadedormoraldeprimente,comose o

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corao se despedaasse. Aprofundavame pelo cemitrio a dentro procurando os recantos mais sombrios,chamandoosemprepelonome,comoqueatingidadeumavolpiadedoredesgraa. Mas no perdia totalmente a conscincia doestado presente, tanto assim que me esforava para no gritar e despertar a ateno de estranhos que por ali se encontrassem, conseguindo, assim, atenuaroterrvelimpasseque seapresentavaindependentedaminhavontade,lembrandomede tudoatosdiaspresentes. Que fenmeno, pois, seria esse? Seria realmente um transe? Seria a expanso da subconscincia recordando o passado, cuja lembrana, se implicar expiao, poder levar o pacienteloucura?Seriaprovocadopelaprpriaentidadeinteressadaemnoseresquecida,isto, Roberto?Seria,certamente,aeclosodopassado,provocadapeloprpriocompanheirodeoutras vidas... O ambiente do camposanto, a presena do Esprito Roberto, ainda carregado de dolorosasrecordaes,omeudramantimodopretrito,odesejoqueeleprprio,Roberto,tinha de que nenhum detalhe desse passado fosse por mim esquecido reviviam na minha conscincia normal partculas de ocorrncias vividas outrora, ocorrncias que se teriam desenrolado aps a mortedeleprprio,equeresultaramnodesequilbrioquemelevouaosuicdio deento.Oestado, pois,queagoraecoavadaminhasubconscinciaseriaplidoreflexodomesmoquemeacometera no passado, os delrios de um corao grandemente ferido por si prprio, e de uma conscincia culpadaantecedendooatodosuicdio.Masigualmentedesbitoeuvoltavaamim,reintegrando menopresente.Otransecessava.Sentiameatordoada,estranhaamimmesma,apavoradadurante algunssegundos,mascertade que umpassadoterrvelviviacalcadonosarquivosdaminhaalma. Horrorizavameaideiadequeeuestivesseobsidiada...eentomeretiravadocemitrio convencidadequeeumesmafora,noutrotempo,aprisionadanumtmulocomoaqueles,porum acontecimento trgico,quenopodiadefinir... Semelhanteschoques,assimcontinuadosdesdeainfncia,teriamfatalmentedeafetaro meu estado geral, fsico e psquico. Inquieta, minha me providenciou tratamento em excelente ncleo esprita da localidade, a antiga Assistncia Esprita Bittencourt Sampaio, dirigida pelo lcidoespritae mdiumZicoHorta(ManoelFerreiraHorta),oqualprocuroucontornarasituao com os recursos fornecidos pelo Espiritismo. Talvez advertido por quem de direito, Roberto afastousedemim,oupelomenosjnoseinsinuavatanto,poisduranteoespaodequatroanos no o pressenti sequer, ao meu lado. Um perodo de trguas adveio, durante o qual fui pessoa normal, consciente j das grandes responsabilidades que me pesavam e entristecida pela certeza daquele tumultuoso passado de outras vidas. Porque fosse advertida pelo nobre Esprito BittencourtSampaio,dequepesadastarefasmeaguardavamnaprticadoEspiritismo,dediquei me ao estudo criterioso da Doutrina, preparandome para o cumprimento dos deveres que me acenavam. Mas o futuro reservavame tambm o mais importante transe de regresso da memria quepoderiaocorrercomaminhapersonalidade,comoveremosemseguida.

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4 Os arquivos da almaMergulhado na vida corprea, perde o Esprito, momentaneamente, a lembrana de suasexperinciasanteriores,comoseumvuascobrisse.Todavia,conservaalgumasvezesvaga conscincia dessas vidas, que, mesmo em certas circunstncias, lhe podem ser reveladas. Esta revelao,porm,sosEspritossuperioresespontaneamentelhafazem,comumfimtil,nunca parasatisfazeravcuriosidade. (OLIVRODOSESPRITOS,AllanKardec pergunta399) * ** E no somente aps a morte que o Esprito recobra a lembrana do passado. Pode dizerse que jamais a perde, pois que, como a experincia o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasio em que goza de certa liberdade, o Esprito tem conscincia de seus atos anteriores;sabeporquesofreequesofrecomjustia. (OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO, AllanKardec captulo5, item 11)

O estudo do perisprito, sua organizao, suas propriedades, sua utilidadeenecessidade naorganizaohumana,suaspossibilidadesverdadeiramentefabulosas,encantadoras,constituem, porcerto,umadasmaioresatraesdaDoutrinadosEspritos.Essedelicadoinvlucrodaalma, inigualavelmente concreto, poderosos nas funes que foi chamado a exercer na personalidade humana,tambmdenominadocorpofludico,dadaaestruturadasuanatureza,que,segundoos sbiospesquisadoresdaCinciaEsprita, compostadetrsespciesdefluido:ofluidoeltrico,o fluido magntico e o fluido csmico universal, este tambm considerado pelos espiritistas a quintaessnciadamatria.Essecorpofludicodaalma,pois,quejamaisaabandona,que,qualela prpria, imortal, mas no imutvel, pois evolui, partindo dos graus primitivos at galgar aos pinculosdasuperioridade,seguindoomesmotrajetogloriosodaquelaessnciadivina,ouseja,a alma esse admirvel corpo intermedirio, que tanto participa do