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  • 7/31/2019 AP03-parte1-Sinopse de Estudos sobre Minas Gerais

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    SINOPSE DE ALGUNS TRABALHOS DE DEMOGRAFIA HISTRICAREFERENTES A MINAS GERAIS

    FRANCISCO VIDAL LUNA (*)IRACI DEL NERO DA COSTA

    SUMRIO

    Vila Rica: Casamentos, bitos e Batizados.Vila Rica: Profisses, Atividades Produtivas e Posse de Escravos (1804).Estrutura da Massa Escrava de Algumas Localidades Mineiras (1804).Estruturas Populacionais Tpicas.Algumas Caractersticas da Estrutura Populacional Urbana.Algumas Caractersticas do Contingente de Cativos em Minas Gerais.Estrutura da Posse de Escravos em Minas Gerais.Presena do Elemento Forro no Conjunto de Proprietrios de Escravos.

    Devassa: Observaes Sobre Casos de Concubinato.Notas.Referncias Bibliogrficas.Fontes Primrias.

    Nesta comunicao arrolamos alguns dos resultados de nossos estudos concernentes a certosncleos populacionais existentes em Minas Gerais no perodo colonial brasileiro. No se trata, pois,de um sumrio exaustivo de nossos trabalhos; selecionamos, to-somente, uma srie deobservaes que consideramos, a par de sugestivas, relevantes para entendimento dos processosdemogrficos e econmicos verificados na rea de Minas Gerais na qual predominou a exploraodo ouro e das pedras preciosas. Deve-se frisar, ademais, que nossas pesquisas, conquanto se

    refiram a parcela significativa dos centros mineratrios e a amplo lapso temporal, no abarcam atotalidade da populao mineira nem abrangem todo o perodo colonial. Efetuadas estas ressalvaspreliminares, passemos s evidncias acima referidas.

    VILA RICA: CASAMENTOS, BITOS E BATIZADOS

    Neste item apresentaremos algumas informaes derivadas dos registros de batismos,bitos e casamentos da freguesia de Nossa Senhora da Conceio de Antnio Dias, umadas duas parquias existentes, no perodo colonial, em Vila Rica. Estes trs eventosapresentaram, no correr do sculo XVIII e incio do XIX, comportamento semelhante:correspondendo ao incremento (retrocesso) da atividade exploratria, observava-se ocrescimento (decrscimo) das cifras referentes a mortes, casamentos e batizados.

    Assim, verificou-se rpido aumento no nmero de bitos entre os decnios 1719-28 e1744-53 -- da mdia anual equivalente a 61 mortes, passou-se a quantidade quatro vezessuperior (238 por ano). Altos nveis para os valores mdios anuais ocorreram at odecnio 1759-68; seguiu-se queda substancial na dcada 1769-78 -- de 232 caiu-se a 191mortes por ano. De ento at o final do sculo XVIII configurou-se um patamar no qualobservou-se estreita faixa de variao -- entre o mnimo de 189 e o mximo de 196 bitosanuais. De fins do sculo XVIII e inicio do XIX at o limite cronolgico superior de nossoestudo (1818), apresentou-se persistente decrscimo na quantidade de falecimentos --

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    de 196 mortes por ano (decnio 1789-98) passou-se a 137; quebra correspondente apouco menos de um tero.

    Os batismos mostraram comportamento muito prximo ao observado para os bitos. De47, em mdia, correspondentes dcada 1719-28, passou-se para valor quatro vezesmais elevado no perodo 1764-73 -- 170 batizados por ano --, desta cifra mxima passou-

    se, no decnio 1779-88, para a mdia anual de 147 batismos. Deste ltimo perodo aocompreendido pelos anos 1794-1803 configurou-se um patamar no qual a oscilaomxima foi de 4 batismos. De 1794-1803 ao fim do intervalo temporal analisado,observou-se queda substantiva na varivel em foco -- de 147 passamos para 126batismos anuais, em mdia, no decnio 1809-18, ou seja, quebra proporcional de 14,3%.

    Esboava-se, no fim do perodo estudado, o equilbrio entre nascimentos e bitos,prenncio de relevante mudana no crescimento vegetativo da populao de AntnioDias -- que, de negativo, como se mostrara por quase todo o sculo XVIII e incio do XIX,passou a positivo nos ltimos anos do primeiro quinto do sculo passado. (1)

    Como no caso de bitos e batismos, a anlise dos dados relativos evoluo dos

    casamentos evidencia, de imediato, perodos de acrscimo e queda nos valores mdios.Assim, de 1727 dcada 1760-69, verificou-se substancial aumento na quantidade deunies. De fins da dcada dos 60 dos 80 os casamentos rarefizeram-se segundo taxamais elevada do que a correspondente ao acrscimo ocorrido no perodo anterior.

    Ao final dos anos 70 e em todo o decnio dos 80, o nmero de casamentos estabilizou-se em torno da mdia prevalecente nos anos 30 e 40 -- em 1786 o nmero de casamentosigualou o registrado em 1737 e, em 1790, observou-se quantidade correspondente mdia dos anos compreendidos entre 1732 e 1741. Dos anos 80 ao incio do sculo XIXverificou-se rpida recuperao, seguida de baixa que se estendeu at o segundodecnio do sculo (Cf. Grfico 1).

    GRFICO 1NMERO ANUAL MDIO DE CASAMENTOS, BITOS, BATISMOS E EXPORTAO

    (PRODUO) DE OURO, POR PERODOS DE 10 ANOS.

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    Cuidemos, agora, dos principais condicionantes das variaes observadas nos dadosora analisados. Ressaltam, desde logo, trs fatores explicativos bsicos, intimamentecorrelacionados.

    Parece ter sido altamente relevante o grande afluxo e posterior retrao numrica naentrada do elemento africano. A populao escrava de Vila Rica apresentou rpidoincremento nas quatro primeiras dcadas do sculo XVIII. Em 1716 contaram-se 6.721cativos e, dois anos depois, 7.110; em 1728 a cifra subia a 11.521. Em 1735, segundodados incorporados ao Cdice Costa Matoso, o nmero de cativos atingia 20.863. Em1743, somaram 21.746. A partir desse ano a tendncia declinante mostrou-se evidente;em 1749 o nmero de escravos cai a 18.293.

    Com respeito aos cativos, deve-se lembrar, ainda, sua alta taxa de mortalidade. Martinhode Mendona, delegado da Coroa e conhecedor das condies reinantes em Minas,relatava, em 1734, que os senhores no esperavam conseguir, em mdia, mais de dozeanos de trabalho dos escravos comprados ainda jovens. Com base no documento

    annimo Consideraes sobre as duas classes mais importantes depovoadores daCapitania de Minas Gerais pode-se estabelecer que, grosseiramente, a taxa demortalidade dos escravos estaria entre 50 e 66 mortes por mil cativos. ndiceextremamente elevado e muito superior taxa bruta de mortalidade -- de 23,4 bitos pormil habitantes -- calculada para Vila Rica (Comarca) com base em dados referentes a1776.

    A estas consideraes devemos juntar a alta taxa de mortalidade infantil relativa aosfilhos de cativos. Em que pese a baixa fecundidade das escravas, dado seu grandenmero, o peso relativo de nascimento (e, por conseqncia, de bitos) de crianasescravas mostrava-se elevado; fato a contribuir para o alto ndice de mortalidade.

    Ao afluxo dos africanos deve-se somar a rpida convergncia, para a rea mineratria,de grande contingente de livres e escravos que se deslocaram do Reino e de outraspartes do prprio territrio da Colnia.

    A relativa pobreza do solo na rea mineratria, em geral, e em torno de Vila Rica, emparticular, d-nos o embasamento do terceiro fator explicativo do evoluir das variveisem estudo: com a decadncia da atividade mineratria, a populao, sobretudo a parcelalivre, tendeu a deslocar-se para novas reas procura de ouro ou, em momento maistardio -- quando esgotado o estoque aurfero acumulado milenarmente --, a demandarterra mais rica que lhe pudesse garantir o sustento, baseado, agora, na lide agrcola.

    Subjacente ao processo demogrfico analisado, sempre esteve presente, pois, a

    atividade exploratria. esta a concluso que deriva, justamente, do confronto entre asvariaes referentes ao nmero de casamentos, bitos e batizados e as relativas aomontante extrado de ouro, conforme patenteado no Grfico 1.

    Casamentos: 1727-1826

    Com respeito aos casamentos, caso se segmente a populao em estratoscorrespondentes a livres, forros e escravos, reconhecemos, associado a cada

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    subconjunto, comportamento diverso. Assim, o evoluir dos enlaces referentes aescravos e forros apresenta grande similitude. Ambos os grupos -- o primeiro mais doque o segundo revelaram-se altamente correlacionados atividade aurfera em todo operodo analisado, enquanto a evoluo dos casamentos de livres ganha autonomia --com respeito extrao do ouro -- a partir do ltimo quinto do sculo XVIII. Assim,distinguem-se claramente os escravos dos livres e, em posicionamento intermedirio,

    dispem-se os forros (ver Grficos 2 e 3).

    GRFICO 2NMERO ANUAL MDIO DE CASAMENTOS POR PERODOS DE 10 ANOS E

    EXPORTAO (PRODUO) DE OURO

    Alm dos empecilhos decorrentes de maneira imediata de maior ou menor dinamismo daatividade exploratria, ocorriam, tambm, condicionantes de ordem institucional.

    Assim, a par das diferentes vivncias relativas aos estratos sociais componentes dasociedade brasileira colonial, derivam-se limitaes colocadas pelo prprio mecanismoimposto pela Igreja consecuo do sacramento indispensvel legitimao dosconsrcios. bices advindos, por um lado, do procedimento formal exigido para seconseguir a autorizao necessria para que fosse celebrado o casamento e, por outro,dos custos monetrios associados s prescries ditadas pelo poder espiritual.

    GRFICO 3NMERO ANUAL MDIO DE CASAMENTOS POR PERODOS DE 10 ANOS EEXPORTAO (PRODUO) DE OURO

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    Quanto aos segmentos populacionais aludidos, verificou-se que os casamentos "dentro"do mesmo segmento prevaleceram sobre as unies entre indivduos de "diferentes"grupos populacionais (ver Tabela 1). Por outro lado, no encontramos rigidez absolutacom respeito aos casamentos entre indivduos de grupos distintos; no se verificoucasamento a reunir escravos e livres, mas o nmero de consrcios entre escravos eforros parece-nos altamente significativo (ver Tabela 2).

    TABELA 1CASAMENTOS, SEGUNDO A CONDIO SOCIAL DOS CNJUGES

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Esposa Esposo .Livres Forros Escravos Indeterminados

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Livres 957 20 -- --

    (60,16) (1,26)Forras 55 351 38 1

    (3,46) (22,07) (2,38) (0,06)Escravas -- 12 150 --

    (0,75) (9,44)Indeterm. 1 4 -- 2

    (0,06) (0,24) (0,12)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Os nmeros entre parnteses so porcentagens.

    Alguns dos casamentos a envolver libertos e escravos so muitos sugestivos e trazemsubsdios ao entendimento do papel representado pelo escravismo na sociedadebrasileira. Evidentemente, so casos isolados mas que, justamente por suaexcepcionalidade, emprestam colorido ao quadro, por vezes esquemtico, das relaespessoais e entre as camadas sociais ento vigentes.

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    TABELA 2CASAMENTOS A ENVOLVER PELO MENOS UM CNJUGE ESCRAVO

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Esposa Esposo .

    Forros Escravos-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Forras -- 38

    (19,0)Escravas 12 150

    (6,0) (75,0)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Os nmeros entre parnteses so porcentagens.

    Ocorriam, por exemplo, casamentos entre senhores e seus prprios cativos. Deste feitiofoi o enlace de "Garcia Pedroso preto forro com Maria da Costa tambm preta sua

    escrava" celebrado aos 15 de novembro de 1744; dois meses depois, aos 9 de janeiro de1745, celebrava-se a unio de "Toms de Freitas preto de nao Mina escravo dacontraente, Ana de Jesus, com a dita Ana de Jesus preta forra de nao Guin".

    Aos cinco de maio de 1740 acontecia outro casamento sui generis: "...na minhapresena se casaram por palavras de presente Brs Gonalves negro Angola escravo deJoana Fernandes Lima com Juliana Fernandes Lima filha da dita Joana Fernandescrioula forra..."

    Em termos de estrato social e cor -- considerados os trs segmentos populacionaisaludidos verificou-se, quanto escolha do parceiro, mais liberdade de opo para o sexomasculino, em geral, e para os homens livres, em particular. O estudo das mdias

    mensais revelou variaes sazonais devidas s posturas religiosas contrrias acasamentos durante a Quaresma e o Advento. Em relao ao local de origem doscnjuges, nascidos e/ou batizados no Brasil, registrou-se menor mobilidade da massafeminina; quanto ao fluxo imigratrio, apresentou-se predominante o elementomasculino.

    Batismos: 1719-1818

    Como j salientamos, o comportamento das variveis demogrficas apresentou-sedistinto quando considerados os segmentos populacionais relativos a livres, forros eescravos. Assim, enquanto os batismos de livres mostraram tendncia ascendente at a

    dcada 1799-1808 -- verificando-se, a seguir, ligeira queda, devida, ao que parece, emigrao dos habitantes de Vila Rica --, os valores relativos aos batizados de escravos,depois de subirem rapidamente nas primeiras quatro dcadas do sculo XVIII, tenderama declinar gradativamente (ver Grfico 4). Estes movimentos divergentes deveram-se atrs condicionantes: quebra no nmero de escravos entrados na rea; afluncia delivres, notadamente nas primeiras dcadas do sculo XVIII e, por fim, concesso oucompra de alforria, processo este que engrossava o contingente de crianas nascidaslivres.

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    GRFICO 4NMERO ANUAL MDIO, POR PERODOS DE 10 ANOS, DE BATISMOS,

    SEGUNDO A CONDIO SOCIAL

    Atenhamo-nos, agora, aos expostos. Trata-se de recm-nascidos abandonados portade residncias particulares, igrejas ou do Senado da Cmara. O conhecimento do evoluirno tempo do nmero e peso relativo dos enjeitados mostra-se importante porque nospermite lanar luz sobre as condies econmicas gerais das comunidades estudadas;espera-se, nos perodos de dificuldade econmica ou empobrecimento persistente, oaumento do peso relativo dos expostos. No perodo em foco, verificou-se incrementocontinuado no nmero dos expostos at a dcada 1799-1808; tal aumento numricoassumiu carter dramtico -- de 4 enjeitados batizados no decnio 1724-33 atingiu-se a

    cifra de 167 na dcada 1799-1808. Desta ltima ao espao de tempo compreendido entre1809 e 1818 observou-se ligeira queda -- de 167 passou-se a 129 -- decorrente, comcerteza, do processo emigratrio que abatia a populao ouro-pretana.

    Referentemente ao peso relativo dos enjeitados sobre o total de batismos, verificou-semovimento igualmente significativo -- de 0,45% na dcada 1724-33 chegou-se a cifrasque giravam em torno de 11% no intervalo 1779-1818. Este incremento representa umdos aspectos do impacto, sobre as variveis demogrficas, da decadncia da atividademineratria (ver Grfico 5).

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    GRFICO 5PORCENTAGENS DE EXPOSTOS SOBRE O TOTAL DE BATISMOS

    bitos: 1719-1818

    Quanto aos bitos, ressalta, desde logo, o estreito liame entre a evoluo das mortes decativos e as quantidades extradas de ouro. Quanto s mortes de alforriados verifIcou-se, at a dcada 1774-83, rpido movimento ascendente seguido de patamar que seestendeu at o ltimo decnio do sculo XVIII, para, subseqentemente, revelar-setendncia decrescente condicionada, sobretudo, pelo decremento observado no nmero

    de novos escravos encaminhados a Vila Rica.

    O evolver dos bitos de livres expressa, tambm, os percalos da economia mineira;num primeiro momento, por causa da grande concorrncia de pessoas para a reamineratria no auge da atividade aurfera, observou-se rpido incremento no nmero demortes de livres -- de 42 bitos ocorridos na dcada 1719-28 passou-se, no decnio1764-73, para 543; acrscimo correspondente a mais de 1.200%. A seguir observou-seum patamar que se estendeu at o perodo 1779-88. Deste ltimo decnio at o incio dosculo XIX verificou-se um acrscimo, condicionado, sobretudo, pelas geraes livresde pais forros. Por fim, apresentou-se novo patamar, decorrente, a nosso ver, dadispora populacional j referida (ver Grfico 6).

    GRFICO 6NMERO ANUAL MDIO, POR PERODOS DE 10 ANOS, DE BITOS (SEGUNDO A

    CONDIO SOCIAL) E PRODUO DE OURO

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    Nossa ltima observao prende-se, ainda, ao Grfico 6 e diz respeito composiopopulacional em termos de condio social (livres e escravos). Mesmo admitida aelevada taxa de mortalidade dos cativos, no nos parece descabido afirmar que oequilbrio entre livres (inclusive os forros) e escravos ocorreu "tardiamente", vale dizer,efetivou-se depois do auge da atividade mineradora; a preponderncia dos livresaparece, portanto, como caracterstica do perodo de decadncia da economia deminerao. Evidentemente, tal assertiva limita-se, concretamente, parquia em foco.Atrevemo-nos, no entanto, considerado o grande diferencial entre bitos de escravos elivres (inclusive alforriados) observado ao tempo do apogeu da lide mineratria, ageneralizar tal afirmativa para toda a rea que se voltou, precipuamente, minerao.

    Mortalidade Infantil: 1800-1809

    O perodo selecionado para o clculo da mortalidade infantil foi condicionado peladisponibilidade e, sobretudo, pela qualidade dos dados constantes dos cdices debitos e batismos.

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    Conseguimos determinar a data do nascimento para 75,76% dos inocentes mortos nodecnio em tela. Com base nestes dados elaboramos a tabela abaixo, na qual inclumos,entre as crianas falecidas ao primeiro ms de vida, as que haviam sido batizadas in

    periculo vitae,pois existe forte evidencia a indicar terem estes prvulos morrido antesde completado o primeiro ms de existncia.

    TABELA 3DISTRIBUIO DOS BITOS DE INOCENTES

    (Freguesia de Na. Sa. da Conceio de Antnio Dias, 1800-1809)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FALECIDOS... No. DE BITOS % SOBRE O TOTAL(a) % ACUMULADA-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ao 1o. ms de vida 78 19,80 19,80entre o 1o. e o 12o. ms 130 33,00 52,80entre o 12o. e o 24o. ms 78 19,80 72,60entre o 24o. e o 36o. ms 35 8,88 81,48entre o 36o. e o 48o. ms 18 4,56 86,04

    aps o 48o. ms de vida 55 3,96 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) Computados, apenas, os inocentes para os quais foi possvel estabelecer aidade ao falecerem.

    Para efeito do clculo da taxa de mortalidade infantil consideramos, como falecidos commais de um ano de existncia, os inocentes para os quais foi impossvel determinar aidade. Computados os batismos ocorridos entre 1800 e 1809 determinou-se o ndice de151,8 por mil para a taxa de mortalidade no perodo em analise.

    Como se infere da Tabela 4 verificaram-se grandes discrepncias nas taxas de

    mortalidade infantil quando consideradas as camadas sociais referentes a livres eescravos. Para os ltimos, o ndice aludido apresentou-se 64,2% mais elevado do quepara os livres.

    TABELA 4TAXAS DE MORTALIDADE INFANTIL, SEGUNDO A CONDIO SOCIAL DO INOCENTE

    (Freguesia de Na. Sa. da Conceio de Antnio Dias, 1800-1809)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------VARIVEIS GERAL LIVRES ESCRAVOS-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------bitos 208 154 54

    Batismos 1.370 1.129 241

    Taxas (a) 151,8 136,4 224,1-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) Os ndices referem-se a bitos por mil batismos.

    Revelaram-se divergncias igualmente significativas quando consideramos a filiaodas crianas. Para os legtimos observou-se o ndice mais baixo -- 109,7 mortes por mil

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    batismos. Os bastardos revelaram-se mais sujeitos a morte precoce -- 182,2 bitos pormil batismos; dentre estes, coube aos expostos o maior ndice: 191,3 por mil contra179,8 por mil referente aos filhos naturais que no haviam sido expostos. Entre estesltimos (filhos naturais no expostos) estava a grande maioria dos filhos de mes forras,fato a indicar que a taxa de mortalidade infantil para os inocentes forros ou filhos dealforriados colocava-se em posio intermediaria com referncia s crianas livres, por

    um lado, e escravas, por outro.

    TABELA 5TAXAS DE MORTALIDADE INFANTIL, SEGUNDO A FILIAO DO INOCENTE

    (Freguesia de Na. Sa. da Conceio de AntnioDias, 1800-1809)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------VARIVEIS GERAL LEGTIMOS EXPOSTOS NATURAIS BASTARDOS

    (Expost.+Natur.)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------bitos 208 63 31 114 145Batismos 1.370 574 162 634 796

    Taxas (a) 151,8 109,7 191,3 179,8 182,2

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) Os ndices referem-se a mortes por mil batismos.

    Evidencia-se, portanto, tambm com relao aos ndices de mortalidade infantil, aexistncia de trs segmentos populacionais bsicos na sociedade escravista mineira:livres, forros e escravos.

    Anlise da Morbidade: 1799-1801.

    O lapso temporal estudado, abril de 1799 a junho de 1801, imp-se nossa observaoporque somente durante estes vinte e seis meses os livros de bitos registram a causamortis. A identificao da causa do bito com sintomas ou enfermidades, praticadaordinariamente, permite estabelecer, ainda que de maneira genrica, como seapresentava, poca, o quadro da morbidade.

    Na analise dos registros paroquiais nos ocupamos, especialmente, com as principaisdoenas acusadas e sua distribuio entre os mais significativos segmentospopulacionais da sociedade colonial: escravos, forros e demais homens livres(ressaltando, dentre os ltimos, aqueles explicitamente indicados como brancos). Nossointuito foi procurar, com base nos estratos da sociedade, os possveis condicionantes

    sociais dos dados empricos revelados com referncia morbidade.

    A ausncia da causa mortis para a maioria das crianas -- apenas 10,8% dos assentos(11 sobre 102) a registrou -- lacuna sensvel. Para os adultos, 73,2% dos mortos (ouseja, 280 sobre 382), a causa do bito viu-se explicitada em 82,2% dos casos (230 sobre280); porcentual satisfatrio para o estudo vertente.

    As doenas das crianas foram tratadas juntamente com as dos adultos no s porcausa do pequeno nmero de registros relativos a inocentes que declaram a causa

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    mortis mas, sobretudo, porque os males apontados como causadores da morte decrianas so os mesmos que o foram para adultos; no apresentam, portanto, qualquerespecificidade que pudesse ser entendida como caracterstica da infncia.

    Considerando-se apenas os assentos dos adultos, a causa mortis vem indicada para95% dos brancos, 81% dos escravos, 76% dos forros e 83% dos demais livres (exceto

    brancos e forros).

    Dos registros sem especificao da causa mortis, em 72% (77% para escravos, 80% paraforros e 45% para "demais livres") anotou-se: "morreu repentinamente" ou "de morteapressada". Tais assentos foram desprezados nesta parte de nossa anlise, pois acircunstncia apontada diz respeito impossibilidade de serem ministrados ossacramentos da penitncia e extrema uno, sem caracterizar realmente as condiesfsicas do passamento.

    Com base nos grandes grupos de molstias ou causas de morte (Tabela 8) elaboramosa tabela abaixo.

    TABELA 6PARTICIPAO DE CADA GRUPO DE DOENAS, SEGUNDO

    OS DIFERENTES SEGMENTOS SOCIAIS(Freguesia de Na. Sa. da Conceio de Antnio Dias, abril de 1799 a junho de 1801; osvalores -- ndices -- so as propores por mil bitos, isto para cada segmento social)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------CAUSAS DOS DEMAIS LIVRES .BITOS (a) ESCRAVOS FORROS EXCLUSIVE INCLUSIVE GERAL

    BRANCOS BRANCOS BRANCOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------I. 213 188 233 250 237 216

    II. 35 - 36 83 50 33III. 9 - - - - 4IV. 88 21 71 42 63 66V. 514 666 500 376 462 527VI. 9 21 18 83 37 21VII. 53 62 71 83 75 63VIII. - - 18 - 13 4IX. 35 21 53 83 63 41X. 44 21 - - - 25-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Participao, sobre o total, dos principais grupos de doenas-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    I, IV, V e VII 868 937 875 751 837 872-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------(a) Os grupos de doenas, em algarismos romanos, vo especificados na Tabela 8.

    Verifica-se que as enfermidades enquadradas nos grupos I, IV, V e VII foramresponsveis por 87,2% do total das mortes; as demais categorias no apresentaramgrandes discrepncias, quer na participao sobre o total das mortes, quer com respeito distribuio entre os segmentos sociais.

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    A anlise da tabela acima leva concluso de que para cada segmento social de per siexistem disparidades significativas com referncia ao peso de cada grupo no total dasmortes. Por outro lado, entre os grupos populacionais revelam-se duas discordnciasde maior monta. A primeira refere-se ao grupo I. Neste grupo, forros e brancos, colocam-se em posicionamento excntrico com referncia populao como um todo; o que

    provavelmente se deva, por um lado, como pode ser visto na Tabela 23, maiorincidncia de tuberculose entre os alforriados, doena de grande peso (42,3%) no grupoinfecto-contagioso, e, por outro, maior susceptibilidade apresentada pelos forros hidropisia, componente do grupo V.

    Justamente neste ltimo encontramos outra discrepncia: os brancos morreram emmenor proporo de hidropisia (mal de grande peso no grupo V). A prpria indefinioda etiologia deste mal impossibilita-nos qualquer afirmativa categrica. Estaria esteconjunto de sintomas e molstias ao qual se dava o nome de "hidropisia" ligadoimediatamente s condies de higiene e qualidade da alimentao? A nosso ver, aresposta a esta pergunta afirmativa, no entanto, a falta de conhecimentos maisprecisos nos obriga a ficar em terreno meramente conjetural.

    Na Tabela 7 realamos os quatro grupos de maior peso nos assentos estudados eindicamos para cada um as enfermidades com presena marcante. Nela evidencia-seque brancos e escravos morreram em maior proporo do que forros e "demais livres"de tuberculose pulmonar, enquanto estes ltimos estiveram mais expostos a febresintermitentes. A hidropisia, apesar de se distribuir assimetricamente em relao aosagrupamentos sociais, revela-se grande responsvel pelas mortes causadas,presumivelmente, por distrbios do aparelho digestivo. Coube gangrena papeligualmente significante no grupo de molstias da pele e do tecido celular subcutneo.

    TABELA 7

    PARTICIPAO DAS PRINCIPAIS DOENAS NOS DIFERENTES SEGMENTOS SOCIAIS(os ndices so as propores, por mil bitos, para cada grupo de doenas e para cadasegmento social)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------CAUSAS DE PESO DA DEMAIS LIVRES .BITOS DOENA NO ESCRAVOS FORROS Exclusive BRANCOS Inclusive(a) SEU GRUPO Brancos Brancos-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------I. (216)(b)Febre re-corrente 365 291 444 539 167 421Tuberculose

    Pulmonar 423 542 222 308 500 368Total 788 833 666 847 667 789

    IV. (66)Pneumonia 438 500 -- 500 -- 400

    V. (527)Hidropisia 969 966 1.000 929 1.000 946

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    VII. (63)Gangrena 667 834 667 250 1.000 500-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) Os grupos de doenas, indicados em algarismos romanos, esto especificadosna Tabela 8. (b) Os ndices entre parnteses indicam a participao do grupo por milmortes em geral.

    * * *

    Estes resultados comparados aos obtidos por Maria Luza Marclio (3) referentes parquia da S, So Paulo (SP), apresentam pontos de concordncia e divergncia. Osgrupos II, VI, VII e X (tomamos aqui os dados relativos aos livres exclusive os forros eincludos os brancos) esto bem prximos, por sua composio, dos apontados para area paulista. Para os grupos I, IV e V largas diferenas distinguem mineiros e paulistas.

    Em Vila Rica as molstias infecto-contagiosas jogavam papel de menor realce do que em

    So Paulo (237 contra 622,6 por mil mortes), sendo menos expressiva nesta ltima aparticipao da tuberculose pulmonar. As doenas do aparelho respiratrioapresentavam-se inexpressivas em So Paulo (1,9 por mil mortes) e de maiorimportncia em Vila Rica: 66 por mil mortes (4). As enfermidades do aparelho digestivo(462 mortes em mil para Vila Rica contra 95,6 por mil em So Paulo) marcam outradiferena significativa entre os dois ncleos populacionais.

    * * *

    No se revelou grande discrepncia entre os diferentes grupos sociais em que foi

    decomposta a amostra. Os grupos so relativamente homogneos, quer no que dizrespeito incidncia de molstias, quer no que tange ao peso relativo delas.

    O elemento distintivo fundamental fica, pois, escamoteado, se analisarmos apenas asmolstias e sua distribuio entre as camadas sociais. Aparece quando se toma emconta a relao entre as taxas de mortalidade dos diversos grupos (5) grupos. Verificou-se, tanto para adultos como para crianas, ser a condio social ou de cor (que seconfundiam em larga escala no perodo colonial) decisiva para explicar a desproporoentre os pesos relativos dos grupos sociais na populao viva, de um lado, e noconjunto dos mortos por outro.

    Elemento merecedor de realce o meio fsico, entendido como o conjunto das

    condies geogrficas e de trabalho. A encontramos as razes para algumas diferenasencontradas no confronto entre os estudos sobre os paulistas e os mineiros.

    O ambiente cultural, hbitos de higiene e de alimentao, aliados ao nvel coevo dosconhecimentos mdicos e ao momento histrico, marcado pela decadncia econmica,compuseram, a nosso ver, com relevncia, o quadro explicativo das enfermidades demaior presena: as infecto-contagiosas e as do aparelho digestivo.

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    Tabela 8REPARTIO DOS BITOS POR CAUSAS: POPULAO LIVRE E ESCRAVA

    (Freguesia de Na. Sa. da Conceio de Antnio Dias, abril de 1799 a junho de 1801)----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    CAUSA DO BITO ESCRAVOS LIVRES TOTAL PROPORO (a) H M H M H M H+M

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------I) Doenas Infecciosase Parasitrias:Coqueluche 1 - - - 1 - 1Difteria - - 1 - 1 - 1Disenteria 1 - - - 1 - 1Febre recorrente 6 1 7 5 13 6 19Ictercia - - - 2 - 2 2Lepra - 1 2 - 2 1 3Tuberculose pulmonar 7 6 5 4 12 10 22Outras Tuberculoses - - 1 - 1 - 1Tumor Maligno 1 - 1 - 2 - 2

    Total 16 8 17 11 33 19 52 216

    II) Doenas do Sist. Ner-voso e dos rgos dosSentidos:Deficincia Mental 1 - 1 - 2 - 2Epilepsia - - 1 1 1 1 2Paralisia 3 - 1 - 4 - 4Total 4 - 3 1 7 1 8 33

    III) Doenas do AparelhoCirculatrio

    Aneurisma 1 - - - 1 - 1 4

    IV) Doenas do AparelhoRespiratrio (A. R.):Asma - - 1 1 1 1 2Empiema - 1 - - - 1 1Laringite Aguda - - 1 - 1 - 1Pneumonia 4 1 1 1 5 2 7Outras doenas do A. R. - 4 1 - 1 4 5Total 4 6 4 2 8 8 16 66

    V) Doenas do Aparelho

    Digestivo:Hidropisia 45 11 26 41 71 52 123Obstruo Intestinale Hrnia 2 - 1 1 3 1 4Total 47 11 27 42 74 53 127 527

    VI) Doenas do AparelhoGeniturinrio:Anria - - 4 - 4 - 4

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    Hemorragia Uterina - 1 - - - 1 1Total - 1 4 - 4 1 5 21

    VII) Doenas da Pele edo Tecido Celular Sub-cutneo:

    Gangrena 2 3 5 - 7 3 10Morfia - - 1 - 1 - 1Abcessos - 1 - 2 - 3 3Sarnas - - 1 - 1 - 1Total 2 4 7 2 9 6 15 63VIII) Doenas doSist. Osteomuscular:Reumatismo noespecificado - - - 1 - 1 1 4

    IX) Sintomas e Estados

    Mrbidos Mal Definidos:Apoplexia 1 - 3 1 4 1 5Clica 2 - - - 2 - 2Entrevada - 1 - - - 1 1Hemorragia desangue - - 1 1 1 1 2Total 3 1 4 2 7 3 10 41

    X) Acidentes, Envenena-mentos e Violncias:Afogamento 1 - - - 1 - 1Acidentes devidos a

    fatores ambientais 1 - - - 1 - 1Soterramentos 2 1 1 - 3 1 4Total 4 1 1 - 5 1 6 25

    TOTAL GERAL 81 32 67 61 148 93 241 1.000-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: H = Homens / M. = Mulheres. (a) Proporo por mil bitos (causas especificadas).

    VILA RICA: PROFISSES, ATIVIDADES PRODUTIVAS E POSSE DE ESCRAVOS (1804)Em outros trabalhos de nossa autoria -- arrolados ao fim desta comunicao --

    apresentamos estudo similar ao reportado neste tpico e referente a outras localidadesmineiras, quais sejam: Passagem de Mariana, Mariana, Furquim, Santa Luzia de Sabar,Gama, Capela do Barreto, So Caetano, Nossa Senhora dos Remdios e Serto do AbreCampo.

    Neste item, como avanado em seu ttulo, apresentamos alguns dos elementos daestrutura populacional segundo profisses, atividades produtivas e posse de escravosem Vila Rica no incio do sculo XIX. Utilizamos os dados relativos ao levantamentopopulacional realizado em 1804 e concernente rea correspondente ao permetro

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    urbano atual de Ouro Preto. Conforme as normas imperantes poca, efetuou-se olevantamento em nvel de residncia e segundo os distritos que integravam a urbe.

    Consideramos, no referente s profisses, apenas os escravos para os quais foramexplicitadas, inequivocamente, ocupaes especficas. (6)

    Lembramos ainda, com o objetivo de evitar qualquer mal-entendido quanto s nossasconcluses, que, da massa total da populao de Vila Rica, em 1804, pouco menos deum tero (31,39%) constitua-se de escravos. Estes cativos, certamente, suportavam opeso maior das atividades econmicas da urbe; no entanto, apenas tomamos em conta171 deles, vale dizer, 6,14% do nmero total de escravos. Em contraposio,consideramos 25,21% dos livres: 1.534 indivduos livres para os quais constou aocupao. Caso tomssemos os porcentuais em relao aos indivduos em idade ativa(faixa etria dos 15 aos 64 anos), as cifras no se veriam substancialmente alteradas:6,19% para escravos e 25,70% relativa aos livres. Estamos, portanto, a tomar apenasparte dos membros ativos da comunidade; a lacuna maior, evidentemente, refere-se aoscativos.

    Cabe-nos notar, ainda, que algumas das atividades econmicas acusadas no censo de1804 no puderam merecer maiores cuidados de nossa parte dada a ambigidade daterminologia utilizada pelos recenseadores. Deste rol figuram atividades como: "vive desua agncia" e "homem particular", por ns qualificadas como "indeterminadas.Tambm computamos parte -- por no se referirem a atividades propriamente ditas --as seguintes atribuies: "estudantes", "vive do aluguel de suas casas", "do jornal deseus escravos". Por outro lado, estudamos, em separado, os mendigos e aquelaspessoas ditas "pobres" ou qualificadas como a "viver de esmolas".

    Por ltimo, cabe notar que as atividades foram enquadradas nos trs setoreseconmicos bsicos classicamente distinguidos pelos economistas: primrio, secun-drio e tercirio.

    Estrutura Populacional: Consideraes Genricas

    Os habitantes de Vila Rica somavam 8.867 indivduos em 1804. Predominavam,numericamente, os livres e forros (68,61%) enquanto os escravos e quartados (cativosque estavam a comprar a liberdade) representavam pouco menos de um tero dapopulao total (31,39%). Os agregados correspondiam a 16,14% dos livres.

    Quanto ao sexo, verifica-se preponderar, poca, o feminino: 51,13% contra 48,87% deelementos do sexo masculino. Fato significativo refere-se discrepncia do pesorelativo dos sexos entre escravos e livres. Para os primeiros dominavam os homens,57,99%, contra apenas 44,69% dentre os segundos. A razo de masculinidadeconcernente aos escravos (138,07 homens para 100,00 cativas) explica-se pelas prpriascaractersticas do destino que se lhes dava: o trabalho mineratrio, a exigir,preferencialmente, mo-de-obra masculina. Para os livres a razo de masculinidadecorrespondia, apenas, a 80,80 -- vale dizer contvamos 80,8 homens para cada grupo de100 mulheres. Esses resultados rompem o relativo equilbrio existente entre os sexos seconsiderada a populao total, na qual computamos 95,56homens para 100 indivduosdo sexo oposto.

    Os ouro-pretanos distribuam-se pelos seis distritos j mencionados. Nos dois maispopulosos -- Ouro Preto e Antnio Dias -- concentrava-se 50,77% da populao, 48,13%

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    dos livres e 56,56% dos cativos. Neste ncleo principal centralizava-se a vidaadministrativa, militar e religiosa da urbe. Estas duas unidades distritais assemelhavam-se, ainda, pela estratificao de seus moradores e com respeito ao peso relativo dossexos. Dos residentes em Antnio Dias, 68,20% constituam-se de livres enquanto noOuro Preto 63,81% de indivduos pertenciam a igual estrato; neste ltimo distrito a razode masculinidade dos livres alcanava 84,68, muito prximo da prevalecente em Antnio

    Dias: 84,20.Com respeito ao posicionamento social encontramos maior parcela de livres no Alto daCruz (77,85%), Padre Faria (73,35%) e Morro (73,20%). Fato a merecer realce diz respeito razo de masculinidade dos livres verificada nestes distritos: 70,27; 67,53 e 81,73,respectivamente. Neles apresentaram significante peso relativo ocupaes tradicionaisou em decadncia -- faiscadores, mineradores e roceiros -- o que, a nosso ver, se podetomar como um dos elementos explicativos das relaes acima anotadas.

    Por fim, a ocupar posicionamento intermedirio em relao s demais unidadesanalisadas, aparece o distrito das Cabeas. Nele residiam 15,82% dos habitantes de VilaRica; 66,86% dos seus moradores compunham-se de livres, a razo de masculinidadecorrespondia a 85,37. Estes indicadores, cujos valores se aproximam muito dos

    verificados em Antnio Dias e Ouro Preto, parecem condicionar-se pela dominncia deatividades artesanais, das quais decorria o relativo "equilbrio" populacional.

    Parece-nos lcito, vista do exposto, avanar algumas concluses. No processoemigratrio, claramente identificado, predominava o elemento masculino do estratocorrespondente aos livres. O ncleo principal da urbe, acompanhado pelo distrito dasCabeas, apresentou-se menos erodido pelo movimento de expulso populacionaldecorrente da decadncia da atividade exploratria. Por outro lado, nos distritos em quepredominavam as atividades tradicionais -- em recesso -- verificou-se maior porcentualde livres e apresentou-se mais significativa a exciso da parcela masculina doshabitantes, a demandar novas reas do territrio colonial.

    Estrutura Populacional Segundo Profisses e Atividades Produtivas

    A corresponder ao carter tipicamente urbano de Vila Rica cabia papel poucosignificativo ao setor primrio -- ele absorvia, apenas, 7,04% dos indivduos.Correlatamente, as atividades vinculadas aos demais setores revelavam grande pesorelativo.

    O secundrio aparecia com preeminncia -- nele colocavam-se 53,61%das pessoas --, asatividades relacionadas ao setor tercirio, tambm em concordncia com ascaractersticas citadinas da urbe, ocupavam posio de realce -- a ele correspondiam39,35% dos elementos computados.

    Quanto distribuio segundo o sexo, evidenciou-se a predominncia dos homens --

    78,41% contra 21,59% do sexo oposto.Tomadas isoladamente, verificou-se no haver disparidade muito acentuada (exclusivepara o setor primrio) nas distribuies de homens e mulheres segundo os setoresconsiderados. Assim, do total dos homens, 5,16% vinculavam-se ao primrio, 54,60% aosecundrio e 40,24% ao tercirio. Para o sexo oposto as cifras correspondentes foram13,86%, 50,00% e 36,14%.

    Evidentemente, estas cifras no permitem a inferncia de que as mesmas atribuiescoubessem a homens e mulheres. Como veremos adiante, ao estudarmos as vrias

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    atividades afetas a cada setor, existiam marcadas diferenas de natureza entre asocupaes correspondentes a cada sexo.

    Por outro lado, observam-se significativas discrepncia quanto participao dehomens e mulheres nos setores aludidos, quando computados, em conjunto, ambos ossexos. Enquanto no primrio ocorria relativo equilbrio entre os sexos -- 57,5% de

    homens contra 42,5% de elementos do sexo oposto --, no secundrio a divergnciarevelava-se de grande monta -- 79,87% de indivduos do sexo masculino em face de20,13% de mulheres. Com respeito ao tercirio verificava-se discrepncia igualmenteacentuada: 80,17% de homens versus 19,83% de mulheres. Evidentemente, osdiferenciais apontados devem-se, sobretudo, aos nmeros absolutos de indivduos decada sexo, vale dizer, ao maior contingente de homens.

    O parcelamento da populao segundo o posicionamento social -- livres e escravos --permite-nos verificar que, tomadas as duas categorias isoladamente, existia francodesequilbrio nos setores primrio e tercirio. Assim, 20,47% dos cativos vinculavam-seao primrio enquanto apenas 5,54% dos livres a se colocavam; por outro lado, 40,74%de livres enquadravam-se no tercirio e apenas 26,90% dos escravos ocupavam posioidntica. Quanto ao secundrio o equilbrio mostrava-se patente (7).

    Analogamente ao caso anterior, em que distribumos a populao segundo o sexo, asdscrepncias -- devidas ao maior contingente de livres em face do nmero de escravos-- revelam-se altamente significativas quando computamos conjuntamente os doisestratos sociais. Os livres -- largamente majoritrios no primrio (70,83%) -- praticamentemonopolizavam o secundrio (90,15%) e o tercirio (93,14%), independentemente, como

    j notamos, da natureza das funes desempenhadas.

    Passemos ao estudo, em termos de condio social e sexo, das atividades pertinentes acada setor.

    No primrio encontramos as mulheres a predominar entre os roceiros, lavradores ehortelos, 51 mulheres contra 27 homens. Entre os lenheiros, por outro lado,encontramos apenas indivduos do sexo masculino. Com respeito distribuiosegundo o posicionamento social, verificou-se que os livres compunham a maioriaesmagadora dos lavradores, roceiros e hortelos -- em 78 indivduos a enquadradosencontramos apenas 1 cativo. Quanto aos lenheiros a situao inverte-se, poispredominavam os escravos na razo de 5 para 1.

    Com referncia ao secundrio, em termos de sexo, verificou-se ampla especializao--as mulheres ocupavam-se de reduzido nmero de atividades. Ao mesmo tempo,algumas atribuies cabiam exclusivamente s pessoas do sexo feminino. Destarte,pouco menos de dois teros das mulheres vinculadas ao setor em tela apareciam comocostureiras e fiandeiras, mais da metade delas eram costureiras. Exerciam, de maneiraexclusiva, as seguintes atividades: costureiras, doceiras, fiandeiras e rendeiras. Quantos atribuies que partilhavam com os homens podemos distinguir dois grupos; o

    primeiro englobava atividades nas quais as mulheres predominavam -- padeiros etecedeiras --, no outro cabia preeminncia aos homens -- tintureiros, mineiros efaiscadores. Quanto s duas ltimas, cabem algumas consideraes. Em primeiro, deve-se observar seu grande peso relativo -- cerca de um quarto (24,94%) dos indivduos deambos os sexos (vinculados ao setor em anlise) nelas enquadrava-se. Ainda em termosrelativos, havia predomnio das mulheres -- 30,43% (ou seja, 56 em 184), sobre elementosdo sexo oposto, 23,57%(172 em 730). Com respeito ao nmero absoluto a preeminnciaestava com os homens (172 versus 56) segundo a razo de 3,33 relativamente aosfaiscadores e de 2,47 quanto aos mineradores.

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    Outro fato marcante diz respeito maior presena de faiscadores (169) vis--vis osmineradores (59). Estes nmeros por si mesmos -- como observou Caio Prado Jnior --atestam a decadncia da explorao aurfera em Vila Rica.

    Restavam, por fim, as ocupaes exercidas exclusivamente pelos homens, em nmerode 33. Essa cifra representa a maioria das atividades do setor. Caracterizavam-se pela

    especializao exigida para seu desempenho -- armeiros, funileiros, fundidores etc. --e/ou pelo maior esforo fsico requerido -- capineiros, ferradores etc. -- e/ou pelotradicional relacionamento estabelecido entre algumas atividades e o sexo -- porexemplo, alfaiates de um lado, costureiras por outro. (8)

    Como se verifica na Tabela 11, havia larga diversidade de ocupaes. Dentre elasocupavam papel de realce os alfaiates (113), carpinteiros (69), ferreiros (48), latoeiros(51) e sapateiros (145); conjuntamente, as ocupaes acima enumeradas absorviam maisda metade (58,36%)dos homens relacionados no secundrio.

    Com respeito ao posicionamento social observou-se apenas uma atribuio exercidaexclusivamente por escravo (esteireiro). Predominaram as atividades exclusivas delivres (em nmero de 28), enquanto 13 desempenhavam-nas tanto livres quanto cativos.Estes ltimos, em termos absolutos, apenas exerciam majoritariamente a funo decapneiro - certamente das mais rduas. Por outro lado, vemo-los representados entre osalfaiates, carpinteiros, faiscadores, ferreiros, latoeiros, pedreiros, sapateiros, seleiros,serralheiros e relojoeiros. A simples enunciao destas atividades expressaeloqentemente a variedade das tarefas desenvolvidas pelos escravos e, tambm,mostra-nos os cativos a exercerem atividades que exigiam razovel nvel deespecializao.

    No tercirio, encontramos maiores dscrepncias tanto com respeito ao sexo quanto noreferente ao posicionamento social. Os escravos apareciam representados somenteentre os barbeiros, cozinheiros, jornaleiros (ocupao que exerciam com exclusividade),lavadeiras e quitandeiras.

    Quanto ao sexo, o predomnio dos homens apresentava-se macio. Nas atividadeseclesisticas e da administrao civil no apareciam mulheres. Relativamente sprofisses liberais contvamos com enfermeiras (em nmero de 2 vis--vis 5 homens) eparteiras.

    No comrcio o sexo feminino encontrava-se melhor representado -- considerados osnegociantes de secos e/ou molhados contamos 45 mulheres de um total de 142. Comrespeito aos quitandeiros computamos 36 mulheres e apenas 2 homens.

    Nos transportes, a participao feminina mostrou-se de pequena monta.

    Quanto aos "outros servios", 2 caixeiras (de um total de 21), 4 criadas (a superar oshomens, em nmero de 3), 12 cozinheiras (entre 19) e 28 lavadeiras -- funo exclusivado sexo feminino.

    Com referncia aos homens, realce particular deve-se dar aos msicos, funcionrios daadministrao civil, eclesisticos, negociantes e, sobretudo, aos militares. Estes, emnmero de 125, representavam pouco menos de um quarto (23,23%) do total de homensenquadrados no tercirio.

    A repartio das pessoas para as quais se indicou a profisso, segundo faixas etriascorrespondentes a crianas (0 a 14 anos), indivduos em idade ativa (15 a 64 anos) evelhos (65 e mais anos), mostrou a eficcia dos intervalos etrios considerados.Destarte, menos de 3% colocou-se no primeiro intervalo, pouco mais de 6% situou-se no

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    terceiro, enquanto mais de 90% apareceu na faixa correspondente idade ativa.

    Quanto aos pobres, apresentou-se dominante o sexo feminino: 170 em 220, vale dizerque mais de trs quartos (exatamente 77,27%) das pessoas identificadas comomendigos, pobres ou a viver de esmolas compunha-se de mulheres.

    Verificou-se estar entre os indivduos com mais de 50 anos o maior contingente de

    despossudos -- 58,06%. Para os menores de 20 anos observou-se a cifra de 6,45%.Destarte, as mulheres em idade avanada compunham a massa dos pobres.

    Relativamente cor predominaram os pretos e pardos (170 sobre 220 -- 77,27%), osbrancos apareceram minoritariamente (18 em 220 -- 8,18%); para 14,55% foi impossveldeterminar a cor.

    Em termos de estado civil dominaram os solteiros (ou aqueles que assim consideramos)com peso relativo correspondente a quatro quintos (80,45%) do total; a eles seguiram-seos vivos (10,45%) e, por fim, os casados (9,10%).

    Os elementos informativos coletados permitem a caracterizao dos seis distritoscomponentes de Vila Rica.

    Assim, em Antnio Dias e Ouro Preto concentrava-se a vida administrativa, militar ereligiosa. Com pouco mais da metade (50,77%) da populao da urbe, estes distritoscontavam com quatro quintos dos militares (79,20%) e 85,52%dos demais integrantes daadministrao civil. Neles residiam 33 dos 40 eclesisticos (82,50%) e 76,31% dosprofissionais liberais, quatro quintos dos comerciantes (80,62%) e 78,98% das pessoasrelacionadas em "outros servios". Por outro lado, neles congregaram-se 49,76% damassa vinculada ao secundrio e apenas 39,17% dos elementos enquadrados no setorprimrio.

    O distrito do Padre Faria, com apenas 6,98% da populao total, contribua com a maissignificativa parcela de roceiros, hortelos e lavradores: 53,85% do total. No secundriopredominavam faiscadores e mineiros -- mais da metade (53,77%) dos moradores doPadre Faria, enquadrados no secundrio, exerciam estas atividades.

    No distrito do Morro, que contava com 14,56% da populao ouro-pretana, dominavamos faiscadores (em maior nmero que nos demais distritos) seguidos pelos mineradores.Este distrito -- vis--vis os demais, tomados isoladamente -- apresentava o maior nmerode pessoas relacionadas s duas atividades aludidas. Com respeito ao total de mineirose faiscadores representava, a quantidade encontrada no Morro, 36,40%. Com respeitoaos indivduos deste distrito, enquadrados no secundrio, o porcentual sobe a 79,80%.

    No Alto da Cruz residia 11,87% da populao ouro-pretense. Possua este distrito setortercirio mais desenvolvido que os dois precedentemente analisados; o secundrioapresentava-se mais diversificado, embora no se aproximasse da riqueza qualitativa edos nmeros relativos mais significantes encontrados no Ouro Preto e Antnio Dias. Osfaiscadores e mineradores representavam 29,35% das pessoas vinculadas ao

    secundrio.Finalmente, o distrito das Cabeas -- com 15,82% dos habitantes da urbe -- revelava-se,proporcionalmente, menos rico do que o Alto da Cruz com respeito ao tercirio. Noentanto, no secundrio, aparecia mais significativo o peso das atividades artesanais.Enquanto no Alto da Cruz, alfaiates, carpinteiros, ferreiros, latoeiros e sapateiroscorrespondiam a 55,96%, no distrito das Cabeas a cifra respectiva alcanava 70,58%.Por outro lado, os faiscadores e mineradores representavam apenas 11,76% daspessoas adstritas ao secundrio.

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    Sobre a Posse de Escravos

    Computamos, em Vila Rica, baseados no censo de 1804, 757 proprietrios de escravos-- 475 indivduos do sexo masculino e 282 mulheres. Considerada a parcela dapopulao total correspondente a livres e forros com mais de 14 anos (1.705 homens e

    2.383 elementos do sexo oposto) verifica-se que os senhores de escravos re-presentavam 18,5% do nmero de adultos (aqui entendidos como aqueles com 15 oumais anos). Dentre os homens, 27,9% possuam escravos; para as mulheres a cifraatingia somente 11,8%.

    Os cativos somavam 2.839 indivduos. Tem-se, pois, uma mdia de 3,7 escravos pordono. Tomados isoladamente os seis distritos componentes de Vila Rica, revelam-sesignificativas variaes em torno deste valor mdio. No Ouro Preto e Alto da Cruzprevalecia o mnimo de 3,5%, enquanto em Cabeas observava-se o ndice mximo: 4,8.

    Para classificarmos a estrutura de posse de escravos em Vila Rica e em cada um dosseus distritos faz-se necessria uma medida estatstica de concentrao; para tanto,recorremos ao ndice de Gini (9) (Cf. Tabela 9).

    Tomando-se o total de proprietrios e cativos encontramos para tal ndice o valor de0,502. Para os distritos, considerados isoladamente, encontramos significativasvariaes em torno da cifra acima anotada. Assim, verificou-se menor concentrao nosdistritos do Padre Faria (0,424) e Ouro Preto (0,437); o valor mximo correspondeu aodistrito de Cabeas (0,599); nas demais unidades distritais o aludido parmetro assumiunveis intermedirios: 0,519 em Antnio Dias, 0,520 no distrito do Morro e 0,536 no Altoda Cruz.

    TABELA 9INDICADORES REFERENTES POSSE DE ESCRAVOS

    (VILA RICA - 1804)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------Distritos ndice de Gini Mdia

    ------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Antnio Dias 0,519 3,6Ouro Preto 0,437 3,5Alto da Cruz 0,536 3,5Cabeas 0,599 4,8Padre Faria, gua Limpa eTaquaral 0,424 3,8Morro 0,520 4,0

    Total 0,502 3,7------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Cabem, desde logo, algumas observaes quanto aos valores acima arrolados. Nodistrito de Cabeas, o alto ndice de concentrao deveu-se presena do Coronel JosVelloso Carmo que vivia "de mnerar com Fbrica" e possua elevadssimo nmero deescravos vis--vis a mdia vigente na urbe; tratava-se, de um dos ltimos grandes

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    mineradores da regio conforme o testemunho de vrios viajantes da poca.

    Com respeito ao Alto da Cruz outro minerador revelou-se grande proprietrio deescravos, o Capito Francisco Caetano Ribeiro; seus 69 escravos correspondiam a 24%do total de cativos do distrito.

    No Morro, como j afirmado, predominavam os faiscadores e mineiros. Entre os ltimos,

    apareciam 3 senhores com cerca de 22% do total de escravos do distrito o quecorrespondia a 58% dos cativos pertencentes aos mineradores ali residentes.

    O ndice de Antnio Dias explica-se, por um lado, pela presena de dignitrios daadministrao pblica e militar e, por outro, pelo significativo nmero de cativospertencentes a reduzido nmero de proprietrios.

    A distribuio existente no Padre Faria, local em que se verificou o menor ndice de Gini,justifica-se pela inexistncia de grandes proprietrios de escravos. A massa de senhorescompunha-se, ao que parece, de indivduos de medianas posses. Por outro lado, emboraa residissem muitos mineiros e faiscadores, a parcela deles que era possuidora deescravos revelou-se nfima. Possivelmente, a elevada razo de masculinidade dosescravos ali observada (217,31 -- a maior de Vila Rica) devia-se ao fato de os cativos

    destinarem-se, predominantemente, a fainas produtivas vinculadas ao secundrio,sendo reduzido o nmero de escravas ocupadas no servio caseiro.

    No distrito de Ouro Preto, cujo ndice mostrou-se pouco superior ao do Padre Faria eabaixo do vigente na urbe, inexistiam mineiros, os lavradores mostravam-sepraticamente ausentes e no ocorriam grandes proprietrios. Os escravos distribuam-seentre uma gama variada de senhores -- desde altos funcionrios da administraopblica e militar at elementos forros -- sem que se verificassem grandes discrepnciasno nmero mdio de cativos pertencentes a cada segmento de proprietrios.

    Evidentemente, poder-se-ia argir os elementos explicativos arrolados acima com baseem seu carter ad hoc. No entanto, a anlise em nvel mais desagregado parececonfirmar o contedo substantivo dos argumentos aludidos. Para tanto, vejamos o que

    nos revelam os dados anotados na Tabela 10. (10)

    TABELA 10MDIA DE ESCRAVOS POR PROPRIETRIO

    (VILA RICA - 1804)----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Segmentos Distritos Vila Rica (Total)socioeco- ------------------------------------------------------------------- ----------------------nmicos A.D. O.P. A.C. CB. P.F./A.L./TA. MO.

    (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (3)---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Mineiros 2,0 --- 1,8 126,0 3,0 9,6 11,8 3,0 9,6

    Faiscadores 2,0 --- 2,0 --- 2,5 1,8 2,0 1,3 0,7Agricultores 10,3 3,0 69,0 9,0 6,5 6,0 13,0 1,4 5,0Artesos 2,7 3,8 2,6 3,1 2,8 2,3 3,0 16,6 13,5Comerciantes 1,8 3,1 3,0 3,6 4,0 1,0 2,9 10,4 8,0Funcionrios 4,5 4,4 2,5 2,7 --- 3,0 4,2 6,8 7,7Eclesisticos 4,0 4,6 4,0 6,5 7,0 7,0 4,9 4,2 5,4Patentes 4,3 5,0 2,2 13,0 4,0 3,8 4,8 9,6 12,5Forros 2,5 2,2 --- 2,0 --- --- 2,2 2,9 1,7

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    Outros 4,5 3,5 2,7 4,9 2,3 2,0 3,4 9,6 8,6Indeterminados 4,0 2,8 3,0 2,5 4,2 2,9 3,0 34,2 27,3

    Total 3,6 3,5 3,5 4,8 3,8 4,0 3,7 100 100---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: A.D. = Antnio Dias; OP. = Ouro Preto; A.C. = Alto da Cruz; CB. = Cabeas;

    P.F./A.L./TA. = Padre Faria/gua Limpa/Taquaral; MO. = Morro.(1) Mdia de escravos por proprietrio.(2) Porcentagem dos proprietrios do segmento sobre o total de proprietrios.(3) Porcentagem dos escravos pertencentes ao segmento sobre o total de

    escravos.

    Consideremos, inicialmente, os segmentos referentes aos mineiros e agricultores.Chama-nos a ateno, desde logo, o elevado nmero mdio de cativos correspondente aestes dois grupos (11,8 e 13,0, respectivamente). Tais cifras apresentam-se excntricasem relao s prevalecentes para as outras categorias e, em conseqncia, muitosuperiores ao nmero mdio -- de 3,7 cativos por proprietrio -- referente totalidadedos distritos componentes da rea urbana de Vila Rica.

    Mesmo se efetussemos ajustes cabveis, ou seja, caso eliminssemos da populao 2senhores --- um minerador e outro agricultor -- possuidores de, respectivamente, 126 e69 cativos (nmeros a discrepar excessivamente dos padres vigentes na comunidadeem foco), ainda chegaramos a valores mdios muito superiores aos dos demaissegmentos: 6,6 para os mineiros e 7,4, para agricultores. Tais atividades permitiam,portanto, ainda que para reduzida parcela dos elementos a elas vinculados, amanuteno de nmero razovel de escravos. Por outro lado, devemos lembrar que, porsua prpria natureza, tanto a lide agrcola como a mineira tendiam a utilizarintensivamente o fator trabalho.

    Como seria de se esperar, aos faiscadores cabia nmero mdio de cativos muito inferiorquele relativo aos mineiros (2,0 versus 11,8). Ademais, da massa de escravos, somente

    0,7% achava-se em poder dos proprietrios ocupados com a faiscao -- estes, por suavez, representavam 1,3% do nmero total de indivduos possuidores de escravos. Poroutro lado, os mineiros -- 3,0% dos proprietrios -- detinham 9,6% da escravaria.

    As diferenas entre mineradores e faiscadores -- como j amplamente explorado pelahistoriografia brasileira -- diziam respeito, sobretudo, ao processo evolutivo da fainaexploratria. Assim, a presena de faiscadores marcava a prpria decadncia daminerao. As evidncias empricas encontradas no censo em estudo confirmamsobejamente tal assertiva. Destarte, do total de pessoas voltadas a estas duasatividades, pouco mais de um quarto (25,8%)anotou-se como mineiros. A grande massa,portanto, compunha-se de faiscadores.

    Um significativo indicador da disparidade econmica existente entre as categorias em

    questo consubstancia-se na parcela dos indivduos que, de cada uma delas,apresentaram-se como senhores de escravos. Enquanto para o total de mineiros osproprietrios correspondiam a 39%, apenas 6% dos faiscadores declararam possuircativos.

    Analisemos duas outras categorias econmicas -- artesos e comerciantes -- altamenterepresentativas, tanto em termos do peso relativo de proprietrios (27%), como daparcela de escravos a elas adstrita -- 21,5%. Nestes segmentos, relativamente aosdemais, os cativos distribuam-se mais harmoniosamente; disto deveriam decorrer as

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    pequenas oscilaes do nmero mdio de cativos por proprietrio entre os seis distritosconsiderados.

    O modesto nmero mdio de cativos por senhor -- 2,9 para comerciantes e 3,0correspondente aos artesos --, aliado ao pondervel peso relativo destas categorias,tanto sobre o total de proprietrios quanto com respeito escravaria, patenteia, por um

    lado, a existncia de avultada quantidade de pequenos negcios e, por outro, o carterfrancamente citadino de Vila Rica.

    Tal assero v-se corroborada pela macia presena de funcionrios, eclesisticos eindivduos detentores de patentes. Em conjunto estas categorias -- que desempenhavampapel de grande importncia na sociedade estamental do Brasil Colnia --representavam 20,6% dos proprietrios e possuam pouco mais de um quarto (25,6%) daescravaria. De modo geral com respeito aos distritos, e estritamente vlido para a vilacomo um todo, os segmentos em foco detinham, de per si, maior nmero mdio decativos por senhor do que o verificado para artesos e comerciantes.

    Finalmente, ocupemo-nos dos indivduos explicitamente qualificados como forros.Concentrados em Antnio Dias e Ouro Preto, atingiam 2,9% dos proprietrios econtrolavam 1,7% da massa de cativos. O nmero mdio de escravos por senhor forro(2,2) colocava-se muito abaixo das cifras correspondentes aos outros segmentos, excetoos faiscadores (2,0). Quanto ao porcentual da escravaria suplantavam to-somente dosfaiscadores (1,7% contra 0,7%); cifras a divergir grandemente das prevalecentes para asdemais categorias. Da poder-se concluir que, embora estivesse aberta aos forros apossibilidade de possurem escravos, a posio relativa por eles ocupada revelava-sedas mais modestas.

    TABELA 11REPARTIO DOS HABITANTES POR SETORES PRODUTIVOS

    SEGUNDO ATIVIDADES, SEXO E SITUAO SOCIAL------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sexo Situao social

    Setores e Atividades ----------------- ----------------------- TotalH M Livres Escravos

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------I - Setor PrimrioRoceiros, Lavradores e Hortelos 27 51 77 1 78Lenheiros 41 - 7 34 41Caador 1 - 1 - 1Total 69 51 85 35 120

    II - Setor SecundrioAlfaiates e Aprendizes 113 - 106 7 113

    Armeiro 1 - 1 - 1Almofaris 1 - 1 - 1Costureiras e Aprendizes - 93 92 1 93Carpinteiros 69 - 61 8 69Capineiros 11 - 3 8 11Caldeireiros e Aprendizes 7 - 7 - 7Chupeteiros 2 - 2 - 2Canteiro 1 - 1 - 1

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    Coronheiro 1 - 1 - 1Cirieiro 1 - 1 - 1Doceira - 1 1 - 1Entalhador 1 - 1 - 1Esteireiro 1 - - 1 1Ensaiador e Praticante 2 - 2 - 2

    Encadernador 1 - 1 - 1Fiandeiras - 24 24 - 24Fogueteiros 2 - 2 - 2Funileiro 1 - 1 - 1Fundidores 6 - 6 - 6Faiscadores 130 39 148 21 169Ferradores e Aprendizes 9 - 9 - 9Ferreiros e Aprendizes 48 - 42 6 48Latoeiros e Aprendizes 51 - 48 3 51Marceneiros 8 - 8 - 8Madeireiros 3 - 3 - 3Mineiros 42 17 58 1 59

    Oleiro 1 - 1 - 1Pedreiros e Serventes 31 - 24 7 31Pintores 7 - 7 - 7Padeiros 1 4 5 - 5Relojoeiros 3 - 2 1 3Rendeira - 1 1 - 1Sapateiros e Aprendizes 145 - 123 22 145Seleiros e Aprendizes 13 - 11 2 13Sirgueiros e Aprendizes 3 - 3 - 3Serralheiros 5 - 3 2 5Serrador 1 - 1 - 1Sombreireiro 1 - 1 - 1

    Torneiros 3 - 3 - 3Tintureiros 3 1 4 - 4Tecedores 1 4 5 - 5

    Total 730 184 824 90 914

    III - Setor TercirioIII.1 Profisses LiberaisAdvogados e Solicitadores 10 - 10 - 10Boticrios 7 - 7 - 7Cirurgies e Mdicos 7 - 7 - 7Enfermeiros 5 2 7 - 7Escultores 3 - 3 - 3

    Msicos e Aprendizes 31 - 31 - 31Parteiras - 2 2 - 2Requerentes 4 - 4 - 4Tabelies 5 - 5 - 5

    III.2 IgrejaEclesisticos 40 - 40 - 40Sacristes 7 - 7 - 7

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    III.3 Administrao CivilAlcaide 1 - 1 - 1Carcereiro 1 - 1 - 1Contadoria - Oficial e Ajudantes 5 - 5 - 5Escrives, Escreventes e Escriturrios 27 - 27 - 27Funcionrios em Geral 28 - 28 - 28

    Militares 125 - 125 - 125Meirinhos 8 - 8 - 8Porteiros 2 - 2 - 2Professores 4 - 4 - 4

    III.4 ComrcioBotequineiro 1 - 1 - 1Estalajadeiros 7 - 7 - 7Mascates 3 - 3 - 3Negociantes em Geral 62 43 105 - 105Fazenda Seca 21 2 23 - 23Fazenda Molhados 14 - 14 - 14

    Quitandeiros 2 36 23 15 38

    III.5 TransporteBoleeiro 1 - 1 - 1Carreiros e Carreteiros 10 2 12 - 12Carregadores 2 - 2 - 2Tropeiros 3 - 3 - 3

    III.6 Outros ServiosAndadores 7 - 7 - 7Barbeiros e Cabeleireiros 18 - 14 4 18Caixeiros 19 2 21 - 21

    Cobradores 13 - 13 - 13Criados 3 4 7 - 7Cozinheiros 7 12 2 17 19Feitores ou Administradores 14 - 14 - 14Jornaleiros 7 - - 7 7Lavadeiras - 28 25 3 28Viajantes 4 - 4 - 4

    Total 538 133 625 46 671Total Geral 1.337 368 1.534 171 1.705------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Computados apenas os habitantes para os quais se explicitou a atividade.

    ESTRUTURA DA MASSA ESCRAVA DE ALGUMAS LOCALIDADES MINEIRAS (1804)

    Neste tpico procuramos determinar em que medida assemelhavam-se, referentemente sua composio, os contingentes de cativos de algumas localidades mineiras as quais,embora espacialmente distanciadas, deveram sua formao a u'a matriz socioeconmicacomum.

    Selecionamos para estudo as seis unidades distritais componentes do atual permetro

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    urbano de Vila Rica (hoje Ouro Preto), os distritos do Abre Campo e Capela do Barreto --pertencentes Freguesia de Barra Longa -- e o de So Caetano situado, como os doisltimos, no termo de Mariana. Baseamo-nos em levantamentos censitrios efetuados em1804.

    Analisamos, comparativamente, a estrutura da escravaria segundo sexo, faixas etrias e

    segmentos correspondentes a cativos nascidos no Brasil (Coloniais) ou em frica.Distribumos estes ltimos em dois grandes grupos tnicos e/ou lingsticos: Bantos eSudaneses. A fim de captar eventuais discrepncias decorrentes da quantidade deescravos possudos pelos vrios senhores, contemplamos, separadamente, a massa decativos pertencente aos indivduos que se revelaram, em termos relativos, "grandes"proprietrios. Adicionalmente, visando a apreender divergncias devidas s distintasatividades econmicas dos senhores com avultado nmero de escravos, distribumo-losem dois grupos: agricultores e mineiros.

    Consideremos, inicialmente, os dados inscritos na tabela 12 e concernentes ao nmeroto tal de escravos de cada localidade. (11)

    TABELA 12CARACTERSTICAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, DA POPULAO ESCRAVA

    DOS NCLEOS ANALISADOS(1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Caractersticas Barra Longa So Caetano Vila Rica

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1. SEXO:Homens 63,6 66,8 57,9Mulheres 36,4 33,2 42,1

    2. FAIXAS ETRIAS:0 a 19 26,0 17,9 30,220 a 59 64,8 70,7 62,660 e mais anos 9,2 11,4 7,2

    3. TOTAL DE ESCRAVOS:Coloniais 65,6 59,2 59,2Africanos 34,4 40,8 40,8

    4. ESCRAVOS AFRICANOS:Bantos 96,5 90,8 84,7Sudaneses 3,5 9,2 15,3

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Quanto ao sexo, nota-se o claro predomnio dos homens. Em Barra Longa e SoCaetano, grosso modo, apenas um tero dos cativos correspondia ao sexo feminino; emVila Rica a desproporo revelava-se menos acentuada. A discrepncia observada entreVila Rica e os demais ncleos pode ser atribuda, em grande parte, s caractersticas dosdistritos de Antnio Dias e Ouro Preto nos quais concentrava-se a vida administrativa,militar e religiosa de Vila Rica e da Capitania. Destarte, caso tomemos, conjunta e

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    exclusivamente, as outras quatro unidades distritais ouro-pretanas contempladas nestetrabalho, verificamos a taxa de masculinidade de 0,649, muito prxima das vigentes emBarra Longa (0,636) e So Caetano (0,668).

    Quanto s idades, em todos os centros, a populao escrava apresentava-serelativamente "velha". Ocorria marcante concentrao na faixa dos 20 aos 59 anos --

    mnimo de 62,6% (Vila Rica) e mximo de 70,7% (So Caetano). Ademais, asdistribuies referentes a Vila Rica e a Barra Longa apresentavam grande similitude. EmSo Caetano, por outro lado, observvamos u'a massa escrava mais "envelhecida" emface das populaes cativas dos demais centros; neste distrito, 82,1% dos mancpiosmostravam idades superiores a vinte anos, em Vila Rica o porcentual correlato atingia69,8% e, em Barra Longa, alcanava 74,0%. Note-se, ainda, o significativo peso relativodos indivduos com 60 e mais anos -- cerca de 8,1% do total da escravaria.

    Referentemente origem, predominaram, francamente, os cativos nascidos no Brasil,pois, para todos os ncleos, cerca de 60% da massa escrava tratava-se de coloniais.Quanto a estes, marcou-se a presena dos crioulos (negros nascidos no Brasil) querepresentavam, aproximadamente, quatro quintos dos mesmos. Tal participao

    imperou nos trs ncleos em tela.

    Quanto aos africanos, evidenciou-se o peso relativo dominante dos Bantos -- mnimo de84,7%, em Vila Rica, e mximo de 96,5%, em Barra Longa.

    A distribuio porcentual dos escravos segundo a origem e faixas etrias permite-nosduas concluses adicionais. Patenteia-se, por um lado, a divergncia entre os coloniais,populao relativamente "jovem", e os africanos, populao francamente "velha". Poroutro, observa-se que os sudaneses mostravam-se "envelhecidos" em face dos bantos,pois, com 60 ou mais anos encontravam-se 31,7% dos sudaneses e apenas 10,2% dosbantos (Cf. Tabela 13).

    TABELA 13DISTRIBUIO PORCENTUAL DOS ESCRAVOS,

    SEGUNDO GRANDES FAIXAS ETRIAS E ORIGEM(1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Faixas Etrias Total de Escravos . Africanos .

    Coloniais Africanos Bantos Sudaneses-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0 a 19 41,2 8,0 8,8 2,5

    20 a 59 54,1 79,0 81,0 65,860 e mais anos 4,7 13,0 10,2 31,7

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Como avanado, procuramos, ao distinguir grandes proprietrios de escravos, verificarse havia distino relevante entre o conjunto de cativos dos possuidores de nmeroavultado de mancpios e o daqueles que os possuam em menor quantidade.

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    Relativamente ao sexo, tanto para grandes proprietrios como para os "demais",predominaram os escravos do sexo masculino. Grosso modo, pode-se afirmar que amassa de cativos dos grandes proprietrios apresentava peso relativo dos homensligeiramente superior dos demais proprietrios.

    Para os "grandes" observaram-se diferenas de pequena monta entre os ncleos

    estudados -- taxa de masculinidade mnima de 0,629 e mxima de 0,664. J para os"demais" a discrepncia entre as localidades mostrou-se mais vincada: taxa demasculinidade mnima de 0,574 e mxima de 0,678 (Cf. Tabela 14).

    Com referncia s idades, para ambos os grupos a distribuio aproximou-se da vigentepara toda a massa de cativos. Permanecem, pois, as concluses expendidas quanto aototal dos escravos (Cf. Tabela 14).

    TABELA 14CARACTERSTICAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, DA POPULAO ESCRAVA,

    POR LOCALIDADE E TIPO DE PROPRIETRIO

    (1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Caractersticas GRANDES PROPRIETRIOS . DEMAIS PROPRIETRIOS .

    Barra Longa S. Caetano V. Rica Barra Longa S. Caetano V. Rica-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1. SEXO:Homens 66,4 64,8 62,9 60,9 67,8 57,4Mulheres 33,6 35,2 37,1 39,1 32,2 42,6

    2. FAIXAS ETRIAS:0 a 19 26,2 13,1 32,4 25,8 20,3 30,0

    20a 59 66,4 65,3 61,0 63,3 73,4 62,7

    60e mais anos 7,4 21,6 6,6 10,9 6,3 7,3

    3.TOTAL DEESCRAVOS:Coloniais 68,9 72,3 79,3 62,5 52,7 57,0Africanos 31,1 27,7 20,7 37,5 47,3 43,0

    4. ESCRAVOSAFRICANOS:Bantos 94,7 91,5 77,4 97,9 90,6 85,1Sudaneses 5,3 8,5 22,6 2,1 9,4 14,9-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    OBS.: S. Caetano = So Caetano; V. Rica = Vila Rica.

    Com respeito origem, o elemento colonial revelou-se majoritrio para "grandes" e"demais". No entanto, as distribuies atinentes aos dois grupos de proprietriosresultaram significativamente diferentes. Para os "grandes", o porcentual de coloniaisgirou em torno de 73%, j para os "demais" a cifra correlata manteve-se em torno de 57%(Cf. Tabela 14).

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    Distinguimos, ainda, a massa de cativos pertencente aos grandes proprietrios segundoa atividade econmica na qual estavam engajados. Visamos, assim operando, a captarpossveis divergncias derivadas de ocupaes econmicas distintas. Os "grandes"foram distribudos em trs grupos: mineiros, agricultores e, por ltimo, o grupocorrespondente aos proprietrios que se dedicavam, concomitantemente, minerao e agricultura

    O predomnio do sexo masculino deu-se, sobretudo, no grupo dos mineiros -- 67,5% vis--vis 58,7%pertinentes aos agricultores. Fato devido, certamente, maior necessidadede mo-de-obra masculina na faina de explorao aurfera (Cf. Tabela 15).

    Tanto para mineiros como para agricultores, a expressar o verificado para toda a massaescrava, observou-se grande concentrao na faixa etria relativa aos adultos (20 a 59anos). Comparativamente, tal participao foi mais acentuada para os escravos dosmineiros (71,5%) em face dos cativos dos agricultores (55,4%). Fato indicativo de que osmineradores, em decorrncia da prpria atividade, demandavam, predominantemente,indivduos aptos para desempenharem as rduas tarefas afetas aludida faina. Outroindicador do supradito, encontramos na discrepncia do peso relativo dos ancios (60 e

    mais anos) na massa pertencente a mineiros e agricultores: 17,1% para estes ltimos e6,1% para aqueles (Cf. tabela 15).

    TABELA 15CARACTERSTICAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, DA POPULAO ESCRAVA,

    SEGUNDO A ATIVIDADE DOS GRANDES PROPRIETRIOS(Barra Longa, So Caetano e Vila Rica - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Caractersticas S Agricultura S Minerao Agricultura e Minerao-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1. SEXO:

    Homens 58,7 67,5 69,5Mulheres 41,3 32,5 30,5

    2. FAIXAS ETRIAS:0 a 19 27,5 22,4 21,0

    20 a 59 55,4 71,5 63,860e mais anos 17,1 6,1 15,2

    3. TOTAL DE ESCRAVOS:Coloniais 78,3 78,4 57,1Africanos 21,7 21,6 42,9

    4. ESCRAVOS AFRICANOS:Bantos 92,2 75,3 95,6Sudaneses 7,8 24,7 4,4-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Note-se, ademais, que, tanto com respeito ao sexo como no referente s faixas etrias,os escravos possudos pelos agricultores revelaram distribuio mais equilibrada vis--vis os cativos dos mineradores.

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    Mais de trs quartos dos escravos havidos agricultores e mineiros resultaram coloniais.Os cativos de origem africana, quando considerados os conjuntos concernentes abantos e sudaneses, distribuam-se distintamente: 7,8% da escravaria dos agricultoresreferia-se a sudaneses, j para os mineiros o peso relativo correlato atingia a expressivacifra de 24,7%. Como sabido, os mineradores preferiam os "Mina", enquadrados no

    grupo dos sudaneses (Cf. tabela 15).

    ESTRUTURAS POPULACIONAIS TPICAS

    O estudo pormenorizado das populaes de dez localidades mineiras, (12) como seapresentavam no incio do sculo passado, sugeriu-nos a existncia de quatroestruturas populacionais distintas: urbana, rural-mineradora, intermdia e rural de auto-consumo. (13)

    Embora possamos identificar semelhanas genricas essenciais entre tais estruturaspopulacionais, impem-se algumas discrepncias da mais alta relevncia.

    Tais dessemelhanas, a nosso juzo, referir-se-iam, em ltima instncia, aoscondicionamentos derivados de distintos substratos econmicos. Assim, o maior oumenor peso de atividades vinculadas lida exploratria e/ou produo agrcola, osdestinos alternativos dados ao produto gerado pelo amanho da terra, o grau relativo dedesenvolvimento de ocupaes artesanais ou englobadas no setor de servios, assimcomo o correlato nvel de urbanizao comporiam o rol de caractersticas definidorasdos vrios embasamentos infra-estruturais nos quais enraizar-se-iam as diferentesestruturas populacionais acima aludidas.

    Como ficar evidente adiante, algumas variveis imediatamente relacionadas composio populacional revelaram-se decisivas na determinao da especificidade de

    cada uma das distintas estruturas populacionais ora estudadas. Tais componentesbsicos consubstanciaram-se nos porcentuais de livres e escravos, no peso relativo deagregados e escravos na populao total, nos nmeros mdios de escravos, agregados,pessoas livres e indivduos em geral por domicilio. Impuseram-se significativamente,ademais, as relaes entre os valores acima referidos e o seu ordenamento, assim comoo grau relativo de urbanizao. Por outro lado, como veremos, a anlise do substratoeconmico das vrias estruturas populacionais revelou-se igualmente essencial nacaracterizao definitiva dessas estruturas.

    Estas observaes introdutrias antecipam algumas das concluses decorrentes daanlise comparativa exposta a seguir, passemos pois a ela.

    A estrutura populacional urbana distinguia-se das demais por apresentar, em termosgerais, grande porcentual de livres (14) e os menores valores para o nmero mdio deescravos, agregados e pessoas livres por domicilio. Ademais, a mdia de escravosrevelava-se maior do que a de agregados; a de livres, por seu turno, colocava-se entreos valores referentes a cativos e agregados (Cf. Tabela 16).

    TABELA 16INDICADORES POPULACIONAIS

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    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Estruturas % de livres Nmero mdio, por domiclio, de % de Esc. e Agr.Populacionais Escravos Agregados Livres Pessoas na Populao-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Urbana 68,31 4,0 1,9 3,4 5,0 42,12Intermdia 50,32 7,2 2,8 3,3 6,5 56,53

    Rural de Autocons. 73,82 3,9 4,2 4,5 6,0 33,47Rural-Mineradora 44,16 18,2 23,6 9,1 20,7 80,28-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) considerados apenas os domiclios em que havia escravos. (b) consideradosapenas os domiclios nos quais havia agregados.

    Quanto aos setores classicamente definidos pelos economistas, observa-se modestaparticipao do primrio, domnio do secundrio e presena marcante do setor deservios. Como se observa na tabela 17, o secundrio absorvia mais da metade daspessoas para as quais se identificou atividade econmica, o tercirio englobava mais deum tero, cabendo ao primrio pouco mais do que um vigsimo.

    TABELA 17PARTICIPAO DOS SETORES ECONMICOS

    (Em porcentagens)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Estruturas Populacionais Primrio Secundrio Tercirio Total-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Urbana 6,4 56,4 37,2 100,0%

    Intermdia (a) 21,6 46,1 32,1 100,0%

    Rural de Autoconsumo 62,9 20,3 16,8 100,0%

    Rural-Mineradora (b):Capela do Barreto 52,5 37,7 9,8 100,0%Gama 5,5 82,2 12,3 100,0%-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) exclusive Santa Luzia; (b) exclusive Abre Campo.

    A categoria rural-mineradora abrangia ncleos marcados pela agricultura voltada para acomercializao (Capela do Barreto), ou pela dominncia da atividade exploratriabaseada, provavelmente, na existncia de lavras relativamente ricas. Neste ltimo caso,

    ao que parece, os habitantes "especializavam-se" na minerao. No Abre Campo, lidaaurfera conjugava-se a agricultura de subsistncia destinada manuteno do pessoalempenhado na faina extrativa. No Gama, embora residissem alguns mineradores comavultado nmero de escravos, havia grande quantidade de faiscadores e desenvolvia-sea agricultura de subsistncia; observava-se, portanto, a decadncia da faina mineradorae o processo de diversificao de atividades produtivas do qual teria decorrido aestrutura populacional aqui denominada "intermdia".

    A estrutura rural-mineradora, marcada pela especializao, fundava-se no predomnio

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    quantitativo dos cativos, indispensveis ao desenvolvimento das atividades extrativasou agrcolas. Em face das demais estruturas, a rural-mineradora caracterizava-se porapresentar a menor taxa de pessoas livres e os maiores valores mdios de escravos,agregados e livres por domiclio. Note-se, ainda, a supremacia do valor mdio deagregados sobre o relativo aos escravos e a inferioridade, em face dos outros grupos, dacifra concernente aos livres.

    Referentemente aos setores produtivos patenteava-se a inexpressividade do tercirio (agirar em torno de 10%) e a preponderncia absoluta do primrio ou do secundrio,evento este a depender do primado da agricultura ou da minerao (Cf. Tabela 17).

    Os ncleos nos quais definia-se a estrutura intermdia caracterizavam-se pela notriadecadncia da atividade aurfera. Nela os faiscadores predominavam decisiva eclaramente sobre os mineradores; ocorria ainda o desenvolvimento da agricultura desubsistncia voltada para a comercializao e para o autoconsumo.

    Da Tabela 16 infere-se, imediatamente, a posio intermdia do peso relativo dos livres edas mdias de agregados e cativos por domiclio. O nmero mdio de pessoas livres

    colocava-se pouco abaixo do vigorante na categoria urbana; j o nmero mdio depessoas por domiclio ocupava posio intermediria. Ademais, o valor mdio referenteaos escravos superava o concernente aos agregados e o relativo aos livres entremeavaas referidas mdias de cativos e agregados.

    Os trs setores econmicos viam-se expressivamente representados na categoriaintermdia. O peso relativo do primrio alava-se a pouco mais de um quinto, o dosecundrio colocava-se prximo dos cinqenta por cento e o do tercirio pouco abaixode um tero. Deve-se notar, com respeito s estruturas urbana e intermdia, a marcantedivergncia relativa observada no setor primrio.

    Resta-nos caracterizar a categoria rural de autoconsumo. Definimo-la, como avanado, a

    partir das evidncias empricas propiciadas pelo estudo do distrito de N. Sa. dosRemdios. Nele encontramos grande participao relativa do elemento livre, o menornmero mdio de escravos por domiclio e valores intermedirios para as mdias deagregados e livres por domiclio -- superiores aos vigentes nas estruturas urbana eintermdia e inferiores aos imperantes na categoria rural-mineradora. Ademais, onmero mdio de livres por domicilio superava o de agregados o qual, por sua vez,sobrepujava a mdia de escravos por unidade domiciliar. Como afirmamos, em N. Sa.dos Remdios praticava-se, dominantemente, a nosso ver, a agricultura de subsistnciavotada ao autoconsumo. Tal fato, alm de refletir-se nas relaes entre as variveissupracitadas, assinalava-se claramente nos pesos relativos concernentes aos setoreseconmicos.

    Destarte, ao primrio correspondia 63%, ao secundrio 20% e aos servios to-somente17%. Entre as atividades artesanais, cabia papel dos mais significativos s fiandeiras, asquais, certamente, utilizavam o algodo cultivado nas propriedades das unidadesfamiliares das quais elas mesmas eram integrantes.

    Antes de passarmos adiante, cabem algumas consideraes referentes s variveis"porcentagem de escravos e agregados na populao total" e "nmero mdio depessoas por domiclio". Como decorrncia das distintas participaes dos escravos napopulao total e da presena marcante dos agregados nos ncleos que apresentaram

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    estrutura populacional rural-mineradora, revelou-se distribuio coerente dos pesosrelativos de agregados e escravos nas estruturas populacionais aqui analisadas. Assim,a participao dos mesmos deu-se em maior escala na estrutura populacional rural-mineradora (80,3%), a menor freqncia ocorreu na estrutura rural de autoconsumo(33,5%) e os pesos referentes s demais categorias colocaram-se em faixa intermediria:42,1% na estrutura urbana e 56,5% na intermdia, a qual, em face da urbana, exigia maior

    contingente de escravos.

    Evento similar, derivado de fatores anlogos aos enunciados acima, observou-se comrespeito ao nmero mdio de pessoas por domiclio: maiores valores para a estruturarural-mineradora, menores na urbana e intermedirios nas demais (Cf. Tabela 16).Identificadas as variveis mais significativas para a caracterizao das peculiaridadesdas estruturas populacionais, passemos a considerar os elementos constitutivos daspopulaes estudadas que no revelaram grandes discrepncias e/ou comportamentosistemtico bastante para que fossem admitidos como definidores das distintasestruturas populacionais. Tais variveis denunciam as similitudes genricas essenciaisentre as estruturas populacionais aqui estudadas; semelhanas estas para as quais j

    chamamos a ateno do leitor.

    O peso relativo das mulheres entre os livres superou, sistematicamente, o nvel de 50%.No entanto, para as estruturas intermdia e rural de autoconsumo o diferencial entrehomens e mulheres integrantes do estrato dos livres revelou-se desprezvel. J nasestruturas urbana e rural-mineradora a supremacia numrica do sexo feminino marcava-se mais claramente: representavam elas cerca de 55% dos livres. Digno de nota, a nossover, o fato de verificar-se justamente na estrutura rural de autoconsumo a distribuiomais equilibrada entre os sexos (Cf. Tabela 18).

    Entre os escravos, para todas as estruturas populacionais tpicas, predominaram oshomens. Por outro lado, as discrepncias observadas entre as distintas estruturas, ao

    que tudo indica, expressam as condies econmicas caractersticas de cada uma.Assim, na urbana, a participao dos homens entre os cativos atingiu, em face dasdemais, o menor valor: 59%. Na rural de autoconsumo, dominada, poi