“pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da alcoa...2013/07/05 · – alumar (16 a 18 de...
TRANSCRIPT
São Paulo
Abril de 2013
SEDE NACIONAL
Rua Dona Brígida, 299 - Vila Mariana – São Paulo/ SP
Fone: (+ 55 11) 3105-0884 / Fax: (+ 55 11) 3107-0538
www.os.org.br
“Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da Alcoa
no Brasil –
unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís;
Alcoa World Alumina, em Juruti (PA), e Alcoa Alumínio S.A.,
em Poços de Caldas (MG)”.
(Relatório da Primeira Fase)
2
Instituto Observatório Social
DIRETORIA EXECUTIVA
Roni Anderson Barbosa
Quintino Marques Severo
João Antônio Felício
Siderelei Silva de Oliveira
Maria Inês Barreto
Carlos Roberto Horta
João Vicente Silva Cayres
CONSELHO DIRETOR
João Vicente Silva Cayres
Francisco José Carvalho Mazzeu
Silvia Araújo
TulloVigevani
Maria Inês Barreto
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenadora de pesquisas: Lilian Arruda
COORDENAÇÃO DA PESQUISA
Juliana Sousa
Lilian Arruda
EQUIPE TÉCNICA
Juliana Sousa
Rafaela Semíramis Suiron
Raimunda Rodrigues
Rosane da Silva
Roni Anderson Barbosa
Maria Aparecida do Amaral Godoi de Faria
Quintino Marques Severo
Artur Henrique da Silva Santos
Siderlei Silva de Oliveira
João Antônio Felício
Valeir Ertle
Maria Luzia Feltes
3
Sumário
Introdução.................................................................................................................................. 6
A. Informações gerais sobre a pesquisa e procedimentos da pesquisa de campo......... 7
1. Perfil da Alcoa Inc. ............................................................................................................... 9
1.1. A Alcoa no Mundo ........................................................................................................... 12
1.2. A Alcoa no Brasil ............................................................................................................. 13
1.3. Outras informações sobre a empresa ............................................................................... 19
1.4. Programa de Responsabilidade Social ............................................................................. 24
2. Consórcio de Alumínio do Maranhão (Alumar) ................................................................. 30
2.1. Condições de trabalho na Alumar, conforme parâmetros do Trabalho Decente (OIT) ... 35
2.1.1. Oportunidades de Emprego ............................................................................... 35
2.1.2. Trabalho Inaceitável .......................................................................................... 38
2.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo ........................................................ 39
2.1.4. Jornada Decente ................................................................................................ 42
2.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho ................................................................. 44
2.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar ........................................................ 44
2.1.7. Tratamento Digno no Emprego ......................................................................... 45
2.1.8. Trabalho Seguro ................................................................................................ 47
2.1.9. Proteção Social .................................................................................................. 51
2.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva) .......................... 52
2.2. Saúde das comunidades do entorno e impactos do processo produtivo
sobre o meio ambiente ............................................................................................................ 55
3. Alcoa World Alumina em Juruti, no Pará ............................................................................ 57
3.1. Condições de trabalho na Alcoa em Juruti, conforme parâmetros do
Trabalho Decente (OIT) .......................................................................................................... 62
3.1.1. Oportunidades de Emprego ............................................................................... 63
3.1.2. Trabalho Inaceitável. ........................................................................................ 66
3.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo ........................................................ 66
3.1.4. Jornada Decente .................................................................................................70
3.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho ................................................................. 71
3.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar ........................................................ 72
3.1.7. Tratamento Digno no Emprego ......................................................................... 72
3.1.8. Trabalho Seguro ................................................................................................ 73
3.1.9. Proteção Social .................................................................................................. 75
3.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva) ......................... 75
4. Alcoa Alumínio S.A. em Poços de Caldas, em Minas Gerais ............................................ 77
4.1. Condições de trabalho na Alcoa em Poços de Caldas, conforme parâmetros do
Trabalho Decente (OIT) .......................................................................................................... 78
4.1.1. Oportunidades de Emprego ............................................................................... 78
4.1.2. Trabalho Inaceitável ......................................................................................... 79
4.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo ........................................................ 79
4.1.4. Jornada Decente ................................................................................................ 83
4.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho ................................................................. 84
4
4.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar ........................................................ 86
4.1.7. Tratamento Digno no Emprego ........................................................................ 87
4.1.8. Trabalho Seguro ................................................................................................ 89
4.1.9. Proteção Social .................................................................................................. 93
4.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva) .......................... 94
Considerações finais ............................................................................................................... 96
Anexo: Quadro: Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Equipamentos de Proteção Coletiva
(EPC) – setor de Metalurgia ................................................................................................................. 97
Referências consultadas ........................................................................................................................ 98
5
Lista de gráficos, quadros e tabelas:
Tabela 1: Produção brasileira de alumínio primário – 2011 e 2012 (em mil toneladas)........ 15
Tabela 2: Informações gerais da Alcoa no Brasil (relacionadas às das empresas Vale e
Petrobrás)................................................................................................................................. 16
Tabela 3: Unidades da Alcoa no Brasil, segundo localidade, atividades e produtos (2012).. 17
Quadro 1: Alcoa – participação acionária em usinas hidrelétricas no Brasil......................... 17
Tabela 4: Principais divisões comerciais da Alcoa no Brasil................................................. 18
Tabela 5: Presença da Alcoa por estados brasileiros.............................................................. 19
Gráfico 1: Alcoa - vendas por segmentos de produção em 2011 (em bilhões de dólares)..... 20
Gráfico 2: Alcoa na América Latina – cargos ocupados por gênero em 2011....................... 23
Tabela 6: Percentual de negros/pardos por cargos ocupados na América Latina em 2011.... 24
Tabela 7: Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL) – dados
gerais (2012)............................................................................................................................ 35
Quadro 2: Benefícios oferecidos a trabalhadoras e trabalhadores da Alcoa (2012)............... 37
Tabela 8: Comparativo entre o turno de revezamento e o turno fixo na Alumar – dados
gerais........................................................................................................................................ 42
Tabela 9: Movimentação de carga no porto de Juruti – Alcoa World Alumina S.A. Ltda.
(2009 a 2012) .......................................................................................................................... 61
Tabela 10: Empregados diretos e indiretos da Alcoa em Juruti, por origem (2006 a 2010) .. 63
Tabela 11: Faixa etária dos trabalhadores diretos entrevistados em Juruti (PA), em outubro de
2012 ......................................................................................................................................... 64
Tabela 12: Alcoa Alumínio S.A. – Poços de Caldas: produtos e destinação ......................... 77
6
Introdução
Este documento apresenta os resultados da pesquisa realizada pelo Instituto
Observatório Social (IOS) no período de setembro a dezembro de 2012, em estudo sobre o
comportamento sociotrabalhista da Alcoa nas unidades da Alumar (Consórcio de Alumínio do
Maranhão), em São Luís; Alcoa World Alumina em Juruti, Pará, e Alcoa Alumínio S.A., em
Poços de Caldas, Minas Gerais. Trata-se de um estudo preliminar e o objetivo central deste
mapa de atuação da Alcoa no Brasil, nas unidades selecionadas, é, portanto, compor um
panorama geral da empresa nessas localidades e avaliar suas práticas no que se refere ao
respeito a direitos e princípios fundamentais no trabalho.
A proposta para a realização do estudo partiu do Centro de Solidariedade da
AFL-CIO. Com a pesquisa, pretendemos sistematizar uma ferramenta de luta com a
finalidade de subsidiar aos dirigentes sindicais, trabalhadoras e trabalhadores da Alcoa o
processo de formação e consolidação de uma rede sindical internacional.
O IOS é uma iniciativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Brasil) em
parceria com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e a Rede Interuniversitária
de Estudos do Trabalho (Unitrabalho). O compromisso do instituto é organizar e analisar as
informações sobre o desempenho social e trabalhista de empresas, tendo como referência os
princípios e direitos fundamentais do trabalho definidos pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Nossos estudos abordam temas como liberdade sindical, negociação coletiva,
trabalho infantil, trabalho forçado, discriminação de gênero e raça, segurança e saúde no
trabalho, meio ambiente e responsabilidade social.
Para a concretização desta pesquisa obtivemos apoio do Sindicato dos
Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL), filiado à Central dos Trabalhadores
e Trabalhadoras do Brasil (CTB); do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de
Minerais não Ferrosos do Oeste do Pará com sede em Porto Trombetas, município de
Oriximiná e Delegacia Sindical em de Juruti (STIEMNFOPA), no Pará, filiado à CUT; do
Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Poços de Caldas e Região, filiado à Força
Sindical, além da gerência de Recursos Humanos e Relações do Trabalho da Alcoa no Brasil
e das gerências locais das unidades pesquisadas.
Agradecemos à parceira AFL-CIO, financiadora da pesquisa. Aos dirigentes
sindicais entrevistados e, sobretudo, às trabalhadoras e trabalhadores que contribuíram com a
7
narrativa de suas experiências cotidianas, bem como à Alcoa no Brasil, incluindo os gestores
das unidades estudadas.
A. Informações gerais sobre a pesquisa e procedimentos da pesquisa de campo:
Para a realização desta pesquisa foram utilizados os Indicadores de Trabalho
Decente desenvolvidos por toda a equipe de pesquisadoras e pesquisadores do IOS ao longo
dos últimos anos. A construção destes indicadores teve como referência as convenções e
recomendações elaboradas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), cujos textos
foram integralmente concedidos pelo Escritório de Atividades para os Trabalhadores
(ACTRAV), membro da OIT.
A respeito da metodologia empregada, foi desempenhada pesquisa qualitativa
em caráter de profundidade, com entrevistas conduzidas a partir da aplicação da técnica de
grupos focais, em discussões norteadas por questionário elaborado tendo como referência o
conceito de Trabalho Decente proposto pela OIT – procedimento condizente aos recursos
financeiros e prazo previsto para a realização do estudo; em se tratando das fontes
secundárias, foram consultados os sítios oficiais da Alcoa e dos sindicatos, bem como
materiais de divulgação destas entidades (como documentos corporativos e boletins sindicais)
e notícias veiculadas pela imprensa. Trata-se, portanto, de uma abordagem analítico-
descritiva, construída empiricamente a partir de observações diretas e das narrativas dos
agentes envolvidos (pesquisa etnográfica), sobretudo, com a finalidade de compreendermos e
interpretarmos suas percepções e experiências cotidianas relacionadas ao trabalho.
As unidades pesquisadas, com as respectivas atividades desenvolvidas, foram:
– Alumar (16 a 18 de outubro de 2012):
1. Entrevista com gestores da empresa: Perila Moreira (consultora de RH), Tereza
Cavalca (gerente de RH) e Dulcimar Soares (gerente de Saúde, Segurança, Meio
Ambiente, Sistema de Gestão e Relações Institucionais). Data: 17 e 18 de outubro de
2012. Local: Alumar.
2. Oficina sindical: José Maria Araújo, José Gomes Castro, Ubiranei Muniz Vieira,
Honório Cantanhede Neto, José Antônio Araújo Reis, José Ribamar Costa Lindoso,
Antônio da Conceição Lopes e Antônio de Assis Padilha. Data: 17 de outubro de
2012, às 18 horas. Local: sede do sindicato, no centro histórico de São Luís.
3. Entrevista com grupos focais de trabalhadoras e trabalhadores – selecionados em
sorteio aleatório a partir das listas de funcionários enviadas pela empresa:
3.1. 1º Grupo focal: 10 trabalhadores entrevistados (3 mulheres e 7 homens). Data: 18
de outubro de 2012, das 8 horas às 12 horas. Local: Alumar.
8
3.2. 2º Grupo focal: 5 trabalhadores (1 mulher e 4 homens). Data: 18 de outubro de
2012, das 15 horas às 18h30. Local: Alumar.
4. Entrevista com o diretor do site Alumar: Nilson Ferraz. Data: 18 de outubro de
2012, às 15h30. Local: Alumar.
– Alcoa World Alumina - Juruti (22 a 25 de outubro de 2012):
1. Entrevista com gestores da empresa: Perila Moreira (consultora de RH da Alumar),
Ana Luisa (gerente de RH), Cláudio Vilaça (gerente Geral da Mina Juruti), Pedro
Pinto (gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente) e Luiz Burgardt. Data: 22 e 24
de outubro de 2012. Local: Alcoa.
2. Oficina sindical: Raimundo Azevedo e Pedro. Data: 22 de 23 de outubro de 2012,
das 14 às 18 horas. Local: sede do sindicato, localizado no centro de Juruti.
3. Entrevista com grupo focal de trabalhadoras e trabalhadores: 10 trabalhadores
entrevistados (3 mulheres e 7 homens). Data: 23 de outubro de 2012, das 8 horas às
12 horas. Local: Casa de reuniões da Alcoa, localizada no centro da cidade.
– Alcoa Alumínio S.A. - Poços de Caldas (29 a 30 de outubro de 2012):
1. Entrevista com gestores da empresa: Rogério Ribas (gerente de RH), Thiago Pereira
(funcionário do RH), Lilian (Médica do Trabalho) e Wagner Drey (gerente de Saúde,
Segurança e Meio Ambiente). Data: 29 e 30 de outubro de 2012. Local: Alcoa.
2. Oficina sindical: Sérgio Inácio Oliveira. Data: 30 de outubro de 2012, às 7 horas.
Local: Sindicato dos Metalúrgicos de Poços de Caldas e Região.
3. Entrevista com grupos focais de trabalhadoras e trabalhadores: 10 trabalhadores
entrevistados (3 mulheres e 7 homens). Data: 29 de outubro de 2012, das 13 horas às
17 horas. Local: Alcoa.
9
1. Perfil da Alcoa Inc.
História da empresa
A Alcoa (Aluminium Company of America) Inc. teve origem nos Estados
Unidos em 1888 e inicialmente levava o nome de Pittsburgh Reduction Company. Seu
fundador, Charles Martin Hall, foi o responsável pela invenção do método de redução
eletrolítica do alumínio, que permitiu que a fabricação desse material fosse economicamente
viável para ser comercializado1. Após a transferência para New Kensington, na Pensilvânia
em 1891, além de estabelecer seus negócios ligados à fundição, a empresa ampliou suas
atividades, incorporando a fabricação, extração e produção de matérias-primas, além da
geração de energia. Quatro anos depois, a companhia começou a produzir alumínio na usina
Niagara Works, em Nova Iorque. O objetivo do grupo era tornar o alumínio um metal comum
com capacidade para concorrer com outros materiais disponíveis no mercado, como madeira e
aço, através da progressiva redução de seu custo de fabricação e aumento da capacidade de
produção.
Durante a Primeira Guerra Mundial, 90% da produção da Alcoa destinava-se
ao uso militar dos EUA. Em 1918, a fábrica New Kensington estava praticamente voltada à
produção de artigos de guerra, como capacetes e cantis, em detrimento da produção de
utensílios de cozinha. As consequências da guerra foram o excesso de produção, devido à
queda da demanda, ocasionando devoluções de importações. Nessa época não havia controle
de preço e o excesso de alumínio produzido foi destinado aos usos sociais cotidianos.
Com a Guerra, a Alemanha desenvolveu avanços tecnológicos e científicos em
muitos setores, dentre eles na fabricação de uma liga metálica mais resistente que o alumínio,
composta por cobre, alumínio e magnésio, que levava o nome de duralumínio. A partir daí a
Alcoa passou a investir em pesquisas nessa área, criando a liga 17S, similar e com capacidade
para substituir o duralumínio. Em 1930, foi construído um laboratório de última geração na
Pensilvânia que atendia às novas demandas de mercado.
Após o período de guerra, com o encarecimento dos recursos energéticos nos
Estados Unidos, a Alcoa precisou expandir sua atuação para outras partes do mundo, como
Canadá e Europa. Durante a década de 1930 a Alcoa detinha a maior parte da capacidade
mundial de alumínio primário: 90 mil toneladas nos Estados Unidos, 45 mil no Canadá e 15
1 As técnicas complexas anteriormente desenvolvidas tornava o alumínio um dos metais mais caros do mundo, a
ser utilizado principalmente na fabricação de utensílios e adornos da realeza nos séculos passados. Fonte: Alcoa
(2012).
10
mil na Europa. Nessa época a Alcoa passou por problemas administrativos e alienou sua
participação em 34 empresas em todo mundo, passando para a Aluminium Limited of Canada
(empresa canadense, cujo controle acionário era feito pela Alcoa).
Na mesma época a Alcoa esteve envolvida em novos processos judiciais pela
formação de trustes – em 1912 a Alcoa respondia por 63% da produção mundial de alumínio
e havia sido acusada de violar a Lei Sherman, antitruste –, recebendo a acusação de
monopolizar a bauxita (matéria-prima elementar na produção de alumínio) e a energia hídrica
mundial, bem como de dominar e controlar “o mercado internacional de alumínio nos
Estados Unidos e promover cortes prejudiciais de preços”2. O desfecho desses
acontecimentos deu-se anos depois, após a Alcoa assumir um papel estratégico no
fornecimento de alumínio em larga escala ao exército americano durante a 2ª Guerra Mundial.
Nos anos que se seguiram, a Alcoa sofreu acusações por parte do governo
norte-americano de prejudicar a capacidade nacional de produção de alumínio primário, em
termos estratégicos a empresa foi incapaz de prever a forte demanda gerada pela guerra, já
que detinha o monopólio da produção nos EUA. A partir daí, num curto prazo de tempo, a
companhia ampliou o número de suas instalações e em três anos construiu 8 unidades de
fundição, 11 fábricas e 4 refinarias, operando-as para o governo.
Com o fim da 2ª Grande Guerra e dos arrendamentos consentidos pelos
Estados Unidos para as instalações da companhia, a maioria das fábricas foram vendidas para
a Kaiser e Reynolds, que também obtiveram capacitação tecnológica para operá-las. Na
época, apenas a fábrica de Extrusão de Cressona permaneceu controlada pela Alcoa,
localizada na Pensilvânia. Após alguns anos, a Alcoa deixou de ser uma empresa de
participação familiar e suas ações passaram a ser negociadas na Bolsa de Valores de Nova
Iorque. Em 1952 foi criada a Alcoa Foundation com o propósito de beneficiar com ações
sociais voltadas à qualidade de vida das populações residentes nas localidades onde a empresa
atua.
O fim dos anos 1950 foi marcado pela concorrência com outras três empresas
no ramo de usinas de fundição nos Estados Unidos: a Anaconda em 1955, a Ormet em 1956 e
a Harvey em 1958. Mesmo diante desse contexto, a Alcoa marcou presença no mercado
motivada pelo aumento da demanda de seus produtos. Nessa mesma época a companhia
assumiu uma política de expansão dos negócios, fazendo parte de um consórcio franco-suíço-
2 Fonte: http://www.alcoa.com/brazil/pt/custom_page/story_alcoa.asp. Acesso em 16/7/2012.
11
canadense para pesquisar minérios na Guiné. Em 1958, no Suriname, a Alcoa realizou seu
primeiro empreendimento de transformação de minério em metal.
Os anos 1960 também foram marcados pela expansão dos negócios para outros
países, como a Austrália, com foco nas reservas de bauxita, e o Brasil. A Alcoa também
diversificou suas atividades, tendo o ramo imobiliário como um dos seus focos de negócios,
tornando-se a ser a segunda maior empreendedora imobiliária dos Estados Unidos. O grupo
alcançou posição de prestígio e foi pioneiro em diversos empreendimentos, dentre eles, o
mercado de sucatas de alumínio. A partir daí, a Alcoa desenvolveu a tecnologia da tampa de
alumínio de “fácil abertura” que posteriormente foi utilizada em latas de cervejas, tal qual
como são comercializadas até hoje.
Na década de 1970, o processo de expansão internacional continuou. A Alcoa
instalou suas fábricas na Colômbia, El Salvador, França, Holanda, Alemanha Ocidental,
Marrocos, Tunísia e Líbia. O contexto histórico da época foi marcado pela crise do petróleo,
cujas consequências implicaram na escassez e embargos sobre o produto, ocasionando a
elevação em 400% dos custos de energia elétrica nas sete fábricas de fundição da Alcoa nos
EUA. Entretanto, a década de 1970 também foi marcada pela modernização das operações,
através do uso de um sistema informatizado de operações de fundição e laminação,
juntamente, com técnicas de racionalização da produção e corte de custos. Cabe destacar
também que foi nesse período que os investimentos nas novas instalações fabris na Austrália e
no Brasil passaram a receber mais investimentos.
Com o fim da URSS, o preço do alumínio caiu expressivamente devido à
quantidade exorbitante do produto injetada no mercado numa atitude de salvar a Rússia
através da obtenção de recursos. Na mesma época, com as convulsões da economia durante a
década de 1990 algumas medidas drásticas foram tomadas por parte da Alcoa, como
demissões e cortes de custos.
O início dos anos 2000 foi marcado pela conclusão de três novas aquisições
estratégicas da Alcoa: a Alumax, Reynolds e Howmet. Em 2002, foi criada a Alcoa Women
Network e, em 2003, a Alcoa African Heritage Network. A companhia continuou sua
estratégia de crescimento por meio de aquisições, racionalização de custos e focando-se em
mercados importantes, como aeroespacial, transporte e defesa. Após os acontecimentos de 11
de setembro de 2001, a companhia foi afetada pela instabilidade dos mercados de metais e a
crise econômica global, mas recuperou gradativamente sua participação no mercado de
aeronaves; contudo, com o aumento dos custos de energia em todo o mundo nessa época,
houve a retração de todos os mercados de transportes.
12
1.1. A Alcoa no mundo
Mundialmente, a Alcoa opera em mais de 200 localidades em 31 países –
embora possua instalações em 48 países3. A Alcoa Inc. atua nos setores de mineração e
metalurgia, sendo a principal produtora mundial de alumínio primário e alumínio
industrializado, bem como a maior mineradora de bauxita e refinadora de alumina do mundo.
A companhia opera em todos os principais setores indústria, mineração, refinamento, redução,
industrialização e reciclagem do metal.
Devido ao alumínio ser uma commodity negociada na LME (London Metal
Exchange), cuja oscilação de preço varia diariamente de acordo com a oferta e demanda do
mercado internacional, seu preço influencia diretamente nos resultados operacionais da Alcoa
Inc. em todo mundo e, por conseguinte, em toda cadeia produtiva que este insumo é
empregado, haja vista a diversa gama de aplicações industriais e comerciais correspondentes
aos mercados automotivo, aeroespacial, de embalagens, de construção, de transporte
comercial, de produtos eletrônicos e industriais. Neste sentido, o alumínio e alumina são
importantes insumos para a companhia, pois representam, segundo a Alcoa4, mais de 46% das
receitas da companhia no mundo. Em suma, as operações da Alcoa Inc. consistem em quatro
segmentos reportáveis: alumina, metais primários, produtos laminados planos, e produtos e
soluções5.
Resultados financeiros
No segundo trimestre de 2012 a Alcoa Inc. apresentou prejuízo líquido de
US$ 2 milhões, sendo que, no mesmo período de 2011 o resultado final havia sido positivo
em US$ 322 milhões – porém, a Alcoa Inc. anunciou que, em 2011, obteve prejuízo de US$
193 milhões em decorrência da redução do preço do alumínio (causado pelo excesso de
produção global), do elevado custo das matérias primas, assim como de custos de
reestruturação, decorrentes da crise financeira mundial6. Em nota, a empresa divulgou ter
registrado itens especiais durante o segundo trimestre de 2012 – como reservas destinadas à
recuperação ambiental, um acordo judicial com a Alba, em US$ 45 milhões, bem como
pagamentos de impostos –, sem os quais o lucro alcançaria US$ 61 milhões. A receita líquida
3 Fonte: Alcoa Inc. 2012. Disponível em:
<http://www.alcoa.com/global/en/about_alcoa/map/globalmap.asp?lc=16&continent=Europe>. 4 ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar. “Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da
Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio no Maranhão), em São Luis (MA); Alcoa Word
Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A, em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo, Janeiro 2013. 5 Fonte: Alcoa. Annual Report: Part, p. 4, 2011.
6 Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 5.
13
do grupo, contudo, apresentou redução atenuada no trimestre, de 9,5% em bases anuais, a
despeito da significativa baixa nos preços do alumínio no mercado global, em torno de 18%
em 12 meses. O faturamento foi da ordem de US$ 5,96 bilhões entre maio e junho. Ao final
do primeiro semestre o caixa da empresa somava US$ 1,7 bilhão, com gastos de capital de
US$ 291 milhões no segundo trimestre. Dentre os investimentos, destaca-se o projeto na
Arábia Saudita em parceria com a mineradora local Ma’aden, da ordem de US$ 55 milhões7.
Impactos sobre as estratégias mundiais da empresa
Na Itália, a empresa anunciou, em 1º de setembro de 2012, que fechará a
fábrica de alumínio primário na ilha da Sardenha em virtude da “situação econômica e dos
encargos impostos pelo sistema regulatório europeu”, que resultaria, segundo a empresa, em
elevados custos de produção. Em protesto, 600 trabalhadoras e trabalhadores, juntamente ao
sindicato CGIL, realizaram uma manifestação, em 10 de setembro, no centro de Roma – em
frente ao Ministério do Desenvolvimento, onde ocorria uma reunião entre sindicatos, empresa
e governo italiano –, e houve confronto com a polícia: com a medida, cerca de 1.500 serão
demitidos, entre trabalhadores diretos e outros envolvidos. Embora não haja declaração
oficial, a multinacional suíça de commodities Glencore International avalia a compra da
instalação8.
1.2. A Alcoa no Brasil
Histórico
A Alcoa Alumínio S.A9 integra a Alcoa Inc., empresa líder de mercado na
produção de alumínio primário, alumínio fabricado e alumina, tem operações no Brasil há
mais de 47 anos, apesar de já possuir sua primeira representação no Brasil em 1915 e iniciar
suas operações comerciais em 1940.
A primeira aquisição da Alcoa no Brasil ocorreu na década de 1960, quando
adquiriu a Companhia Geral de Minas, detentora de jazidas de bauxita em Poços de Caldas
7 Fonte: Valor Econômico. “Alcoa perde US$ 2 milhões no segundo trimestre” (09/7/2012). Disponível em:
http://www.valor.com.br/empresas/2743414/alcoa-perde-us-2-milhoes-no-segundo-trimestre. Acesso em
16/8/2012 8 Fontes: Estadão. “Alcoa desativa fábrica na Itália e anuncia demissões” (1º/9/2012); TVI 24. “Itália:
trabalhadores em confronto com autoridades” (10/9/2012). Acesso em 11/9/2012. 9 Em 2011 a Alcoa foi nomeada uma das empresas-modelo do ano pelo Guia Exame de Sustentabilidade. Está
também na lista “As 100 Melhores Empresas para se Trabalhar” de 2011, avaliadas pelo Great Place to Work
Institute, em parceria com a revista Época e o Jornal O Estado de São Paulo. (Relatório de Sustentabilidade
2011, p. 4).
14
(MG). Essa instalação foi responsável pela produção de alumínio para o mercado interno no
período de 1967 a 1970.
A Alcoa consolidou-se como uma companhia que possui operações em toda a
cadeia produtiva do alumínio, ou seja, desde a mineração da bauxita até a produção de
transformados. Esse processo de mineração de bauxita teve início em Poços de Caldas (MG) e
Juriti (PA) e posteriormente foi destinado a outros locais para a transformação.
Atualmente a empresa produz alumínio primário, alumina, extrudados, chapas
e folhas, pó de alumínio e produtos químicos industriais. A companhia atua, além das
unidades produtivas e escritórios, através de participação acionária nas usinas hidrelétricas de
Machadinho, Barra Grande, Serra do Facão e Estreito, estabelecendo poder estratégico
fundamental no controle do fornecimento de energia necessária para a transformação da
alumina em alumínio primário. Segundo informações fornecidas pela Alcoa10
o percentual de
participação acionária sobre essas hidrelétricas são de 25% em Machadinho; 42% em Barra
Grande; 35% em Serra do Facão e 25,49% em Estreito.
A Alcoa possui 70% de autossuficiência energética no Brasil e os recursos
destinam-se em parte à fábrica de Poços de Caldas e em parte ao consumo da Alumar, em São
Luís. O restante do fornecimento ocorre por contrato estabelecido com a Eletronorte.
Dados da Produção da Alcoa no Brasil
Em julho de 2012 a produção brasileira de alumínio primário mostrou-se
praticamente estável, totalizando 120,4 mil toneladas e registrando ligeira alta de 0,3% ante o
observado em julho de 2011, conforme dados divulgados pela Associação Brasileira do
Alumínio (Abal) 11
. Em se tratando da Alcoa, o volume produzido decresceu 11% em julho
de 2012 em relação ao mesmo mês do ano anterior, contudo, ao analisar o acumulado do
período entre janeiro a dezembro de 2012 a produção registrou queda de 6,5% ante o mesmo
período de 2011 (vide tabela 1). No mesmo período, a produção da unidade de Poços de
Caldas teve um decréscimo de 2,3% e a Alumar um decréscimo de 8,0%.
10
ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da
Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio no Maranhão), em São Luis (MA); Alcoa Word
Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A, em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo, Janeiro 2013. 11
Fonte: Valor Econômico. “Produção de alumínio primário fica estável em julho” (13/8/2012). Disponível em:
http://www.valor.com.br/empresas/2786364/producao-de-aluminio-primario-fica-estavel-em-julho. Acesso em
16/8/2012.
15
Em suma, tomando como referência os últimos dados divulgados pela Abal12
, o
acumulado dos doze meses de 2012 foi produzido em território nacional 1.436,4 mil toneladas
de alumínio, o que representa pequena queda de 0,3% na comparação com o volume apurado
no mesmo período do ano precedente.
Tabela 1: Produção brasileira de alumínio primário (em mil toneladas)
Empresa 2011 2012 Variação 2012/2011 (%)
Dezembro Jan-Dez Dezembro Jan-Dez Dezembro Jan-Dez
ALBRAS (PA) 38,9 458,1 36,7 446,7 -5,7 -2,5
ALCOA
Poços de Caldas (MG)
São Luís (MA)
29,1 350,5 26,5 327,6 -8,9 -6,5
7,5 87,9 6,7 85,9 -10,7 -2,3
21,6 262,6 19,8 241,7 -8,3 -8,0
BHP BILLITON (MA) 14,4 175,7 13,2 160,7 -8,3 -8,5
NOVELIS (MG) 3,9 47,1 3,8 46,5 -2,6 -1,3
VOTORANTIM METAIS – CBA* (SP) 38,1 409,0 37,4 454,9 -1,8 11,2
Total 124,4 1.440,4 117,6 1.436,4 -5,5 -0,3
Fonte: Produtores Primários.
*A Votorantim Metais – CBA (Companhia Brasileira de Alumínio) é a líder na produção de alumínio primário
no Brasil desde 2008, com produção de 475 mil toneladas/ano, e possui a maior planta integrada desse metal do
mundo, realizando no mesmo local desde o processamento da bauxita até a fabricação de produtos. Em 2010
adquiriu a Metalex, que agregou volume e operações de reciclagem de alumínio, o que consistiu numa
alternativa para ampliar a participação no crescente mercado brasileiro, além de destinar parte da produção ao
mercado externo, sobretudo aos Estados Unidos, Europa e América Latina. A empresa é independente no
suprimento de bauxita e produz a maior parte da energia que consome, superando a média mundial de
autossuficiência energética. Fonte: Votorantim.
Em 2011, abrangendo 6.122 funcionários no país13
, a Alcoa registrou
faturamento de US$ 1.302,0 milhões no Brasil, o que significou variação de 13,1% em
relação ao ano anterior, embora o lucro líquido tenha apresentado contração de 66%
(acompanhe na tabela 2). No ranking das 500 maiores empresas da América Latina em 2011,
a Alcoa no Brasil ocupou a 445ª colocação, sendo a 464ª colocada em 2010 – a título de
comparação, a mineradora brasileira Vale esteve na 4ª posição em 2010 e 2011 neste ranking,
enquanto a Petrobrás ocupou a liderança nos dois anos. No sub-ranking das empresas que
mais se capitalizaram em 2011, a Alcoa Brasil ocupou a 17ª posição, com 70,0% de variação
patrimonial em 2011 comparativamente ao ano anterior.
12
Disponível em: http://www.abal.org.br/industria/estatisticas_prodempresa.asp. Acesso em: 18/02/2013. 13
ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da
Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio no Maranhão), em São Luis (MA); Alcoa Word
Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A, em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo, Janeiro 2013.
16
Tabela 2: Informações gerais da Alcoa no Brasil (relacionadas às das empresas
Vale e Petrobrás) Dados Alcoa no Brasil Vale Petrobrás
Posição no Ranking 2011 445 4 1
Posição no Ranking 2010 464 4 1
Setor Siderurgia/Metalurgia Mineração Petróleo/gás
Tipo de propriedade Privada estrangeira Privada nacional Estatal
Presença na bolsa Não Sim Sim
Faturamento 2011(US$ milhões) 1.302,0 55.014,1 130.171,7
Faturamento 2010 (US$ milhões) 1.151,2 49.949,0 128.000,0
Variação no faturamento 2011/2010 13,1% 10,1% 1,7%
Lucro líquido 2011(US$ milhões) -66,0 20.158,7 17.759,4
Lucro líquido 2010 (US$ milhões) -169,0 18.047,1 21.119,5
Variação no lucro líquido 2011/2010 60,9% 11,7% -15,9%
EBITDA 2011 (US$ milhões) N.D. 31.997,0 33.035,6
EBITDA 2010 (US$ milhões) N.D. 27.717,9 36.283,6
Variação no EBITDA 2011/2010 - 15,4% -9,0%
Ativo total 2011(US$ milhões) 4.854,0 128.896,0 319.410,4
Patrimônio líquido 2011 (US$ milhões) 2.443,0 76.487,6 175.839,0
Nº de funcionários 2011 3.547 79.646 81.918
Exportações 2011 (US$ milhões) 238,1 34.653,1 22.912,2
Retorno sobre Patrimônio (ROE) -2,7% 26,4% 10,1%
Retorno sobre ativo (ROA) -1,4% 15,6% 5,6%
Margem de lucro líquida -5,1% 36,6% 13,6%
Margem EBITDA - 58,2% 25,4%
Participação das exportações no faturamento 2011 18,3% 63,0% 17,6%
Fonte: Revista AméricaEconomia Brasil. As 500 maiores empresas da América Latina. Julho/2012.
Unidades e setores de atuação da Alcoa no Brasil
Na tabela a seguir é possível visualizar as unidades da Alcoa no Brasil, em seus
respectivos estados, assim como atividades desenvolvidas e produtos fabricados:
17
Tabela 3: Unidades da Alcoa no Brasil, segundo localidade, atividades e produtos (2012) Localidade Atividades e produtos Nome
Belém (Pará) Assuntos institucionais Alcoa Alumínio S.A.
Brasília (Distrito Federal) Relações governamentais Escritório de Relações
Governamentais
Itapissuma (Pernambuco) Chapas, folhas, perfis extrudados Alcoa Alumínio S.A.
Juruti (Pará)* Mineração de bauxita Alcoa World Alumina
Poços de Caldas (Minas
Gerais)*
Mineração de bauxita, alumínio primário,
alumina, pó de alumínio, serviços
compartilhados.
Alcoa Alumínio S.A.
São Luís (Maranhão)* Alumínio primário, alumina, químicos Consórcio Alumar
São Paulo (São Paulo) Áreas corporativas Escritório Central
Santo André (São Paulo) Perfis e tubos extrudados, produtos para o
mercado industrial
Alcoa Alumínio S.A.
Tubarão (Santa Catarina) Ferramentas e acessórios para extrusão, perfis
e tubos extrudados
Alcoa Alumínio S.A.
*Unidades que serão abordadas neste relatório preliminar.
Fonte: Alcoa (2012).
Em suma, no Brasil, a Alcoa atua nos setores econômicos de metalurgia,
mineração e energia – a Alcoa também participa como acionária em usinas hidrelétricas,
conforme detalha o quadro 1 a seguir:
Quadro 1: Alcoa – Participação acionária em usinas hidrelétricas no Brasil
Usinas hidrelétricas em operação - localização
Machadinho – Piratuba (SC) e Maximiliano de Almeida (RS)
Barra Grande – Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS)
Estreito – Estreito (MA), Aguiarnópolis (TO) e Palmeiras do Tocantins (TO)
Serra do Facão – Catalão (GO) e Davinópolis (GO)
Projetos em licenciamento*
Santa Isabel – rio Araguaia, entre Ananás (TO) e Palestina do Pará (PA)
Pai Querê – rio Pelotas, entre Lages (SC) e Bom Jesus (RS)
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 4.
*Ainda não obtiveram licenciamento ambiental.
A respeito da usina de Santa Isabel, o projeto recebeu em março de 2012
pareceres favoráveis pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) quanto ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA), apresentados pelo consórcio GESAI – também constituído, além da
Alcoa Alumínio S.A., pela BHB Billiton Metais S.A., Camargo Corrêa S.A., Votorantim
Cimentos S.A. e Vale S.A.. A próxima etapa prevê audiências públicas da obra, em que os
estudos serão submetidos à população afetada pela construção. Colhidas as manifestações, o
IBAMA poderá decidir pela emissão da Licença Prévia. Com contrato de concessão assinado
em 2002 e particularmente polêmica, a usina de Santa Isabel prevê a inundação de um dos
18
sítios arqueológicos mais ricos do Brasil, a Ilha dos Martírios, localizada no meio do rio
Araguaia e onde já foram encontradas mais de 5 mil gravuras rupestres em pedras. A região
também abrigou a Guerrilha do Araguaia, na década de 1960, onde se suspeita que haja mais
de 50 corpos de combatentes desaparecidos durante o regime da ditadura militar, liderados
por militantes do Partido Comunista do Brasil. Entre as comunidades locais estão a tribo
indígena Sororó e as comunidades quilombolas Pé de Morro e Projeto Baviera. Em
contrapartida, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) pleiteia o
tombamento da região, o que tornaria o empreendimento inviável; esse movimento, no
entanto, não tem avançado.14
A tabela a seguir, com base em informações institucionais e notícias veiculadas
no site da companhia, traça o perfil do que podemos nomear de cinco divisões principais da
Alcoa presentes no mercado brasileiro, responsáveis pelo fornecimento de produtos e
soluções às diversas indústrias instaladas no país:
Tabela 4: Principais divisões comerciais da Alcoa no Brasil
Divisões Produtos Aplicação por setores de atuação
Aeroespacial*
Ligas, tecnologias e soluções integradas com o
objetivo de ampliar a eficiência dos aviões e torná-
los mais leves, econômicos e seguros.
Aeronaves
Primários
Alumínio primário e ligas especiais na forma
líquida, lingotes e tarugos de alumínio; alumina
hidratada e calcinada; pó de alumínio.
Setores industriais
Extrudados
Perfis de alumínio
Setores industriais diversos, como
transporte, máquinas e
equipamentos, bens de consumo,
construção civil, entre outro.
Laminados
Folhas, chapas e bobinas de alumínio em sua
fábrica.
Mercado de embalagens (longa
vida, descartáveis, alimentícias,
farmacêuticas, entre outras),
construção civil, automobilístico,
naval, têxtil e de eletrodomésticos
Transporte
comercial
Rodas forjadas de alumínio, estruturas de alumínio.
Utilizadas em veículos pesados,
como caminhões, ônibus e
implementos rodoviários.
(*) As fábricas da Alcoa que produzem materiais para o mercado aeroespacial estão localizadas em Davenport,
nos Estados Unidos, e Kitts Green, na Inglaterra.
Fonte: Alcoa.
Elaboração: IOS.
No total de operações a Alcoa atua nos seguintes estados brasileiros: Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Brasília, Pernambuco,
14
Fonte: Valor. “Hidrelétrica é aprovada pelo IBAMA após 10 anos” (11/4/2012).
19
Maranhão, Pará. A próxima tabela revela a distribuição geral de operações da Alcoa nos
respectivos estados brasileiros:
Tabela 5: Presença da Alcoa por estados brasileiros
Escritórios
São Paulo (SP)
Brasília (DF)
Belém (PA)
Poços de Caldas (MG)
Fábrica/Mineração Poços de Caldas (MG)
Fábricas
São Luís (MA)
Itapissuma (PE)
Santo André (SP)
Tubarão (SC)
Mineração Juruti (PA)
Usina Hidrelétrica em operação
Machadinho - Piratuba (SC) e Maximiliano de Almeida (RS)
Barra Grande - Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS)
Estreito - Estreito (MA), Aguiamópolis (TO) e Palmeiras do
Tocantins (TO)
Serra do Falcão - Catalão (GO) e Davinópolis (GO)
Projeto de hidrelétrica em
licenciamento
Santa Isabel - Ananás (TO) e Palestina do Pará (PA)
Pai Querê - Lages (SC) e Bom Jesus (RS)
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 4.
Elaboração: IOS.
1.3. Outras informações sobre a empresa
Lucro e faturamento (mundial e brasileiro)
De acordo com relatório anual da Alcoa Inc.15
, seu lucro líquido em 2011 foi
de $611 milhões de dólares16
. Neste relatório também é possível visualizar que em 2010 a
Alcoa obteve lucro líquido de $254 milhões de dólares, demonstrando uma elevação de 141%
no comparativo com os dois anos anteriores.
Contudo, o ano de 2011 foi marcado por grandes dificuldades financeiras para
a Alcoa, que obteve um prejuízo de US$ 193 milhões, ocasionado pela queda do preço do
alumínio e alta dos custos com matérias-primas, assim como dos custos com reestruturação,
promovidos pela crise financeira mundial.
Mesmo diante desse cenário, as vendas da Alcoa em âmbito mundial somaram
$25 milhões de dólares. O gráfico abaixo indica as vendas por segmento:
15
Fonte: Alcoa. Annual Report, 2011, p. 45. 16
Para os fins que desse perfil, não foram considerados, conforme disponível no referido relatório, os seguintes
itens: Restructuring and other charges; Discrete tax items; Other special items, que somados contabilizam $812
milhões de dólares.
20
Gráfico 1: Alcoa - vendas por segmentos* de produção em 2011 (em bilhões de dólares)
(*) Tradução: Metais primários; Produtos laminados; Produtos e Soluções Industriais;
Alumina; Outros.
Fonte: Alcoa. Annual Report, 2011.
Elaboração: IOS.
Já as vendas por áreas geográficas correspondem a 47% nos Estados Unidos,
27% na Europa, 17% no Pacífico e 7% no restante do continente Americano.
Conforme aponta o Relatório de Sustentabilidade da Alcoa, 2011 também foi
um ano de dificuldades de crescimento para a Companhia no Brasil, o alumínio registrou
queda de 27% nos preços, acompanhado dos altos custos com energia, um dos principais
insumos da produção. Diante desse contexto, somados à amortização dos investimentos em
expansão, a empresa registrou prejuízo de R$124 milhões no Brasil em 2011, o que ainda
demonstra ritmo de recuperação em comparação ao ano anterior, que foi de R$ 317 milhões.
Contudo, o Brasil ainda possui vantagens competitivas, pois possui extensa reserva de bauxita
e possibilita a autogeração de energia. Em 2011, a empresa informou um patrimônio líquido
da empresa no Brasil foi de R$ 4,6 bilhões, com receita líquida de R$2,4 bilhões.
De acordo com as demonstrações de resultados durante o exercício da Alcoa
Alumínio S.A, em 201117
, o lucro operacional da companhia e de suas controladas
respectivamente, foi de R$85.661 milhões e R$10.373 milhões18
respectivamente. No Brasil a
empresa é caracterizada por ser de capital fechado, embora a Alcoa Inc. possua ações
negociadas na bolsa de Valores de Nova Iorque.
Estratégias da empresa
17
Disponível em: http://www.alcoa.com/brazil/pt/alcoa_brazil/pdfs/BALANCO_ALCOA_2011.pdf, pp. 4-58,
Acesso em: 03/8/2012. 18
Para as demonstrações dos resultados e exercícios financeiros até 31 de dezembro de 2011, estão incluídos os
resultados da Alcoa Alumínio S.A. (“Companhia”), bem como de suas controladas (“Consolidado”).
8,2
7,6
5,4
3,4
0,3 Primary Metals
Flat-Rolled Products
Engineered products and solution Alumina
Other
21
Nos últimos dez anos a Alcoa investiu no Brasil cerca de US$ 5 bilhões em
projetos de expansão na unidade de São Luís (MA), com a ativação de uma mina de bauxita
em Juruti (PA) e com a construção e participação em quatro hidrelétricas no Brasil.
Ainda segundo noticia divulgado no site da Alcoa Brasil S.A19
, o Presidente da
Alcoa América Latina e Caribe, Franklin L. Feder, afirmou que mesmo diante da instabilidade
do mercado mundial em relação ao preço do alumínio, o Brasil receberá investimentos na
ordem de US$ 150 milhões20
, sendo 60% dessa quantia destinada somente à construção da
Usina Hidrelétrica de Estreito.
Segundo matéria veiculada no site do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo
e Mogi das Cruzes21
, em 2011, o principal executivo da Alcoa, Klaus Kleinfeld, reuniu-se
com o governo para pedir que o país seja mais atrativo a novos investimentos na indústria do
alumínio. São dois fatores que se constituem enquanto entraves a essas projeções: altos custos
com energia e elevação na taxação do royalty22
sobre a extração de bauxita.
Somente no Pará o grupo Alcoa investiu US$ 2 bilhões na abertura de uma
nova mina em Juruti, a qual seria comprometida com o aumento da taxa de royalties proposta
pelo governo. Cogita-se que esta mina possua reservas para 100 anos, sendo possível expandir
seu tamanho futuramente.
Como o custo de energia tem forte peso na produção de alumínio no Brasil –
representando mais de 35% do custo total – desde 2001, a Alcoa, juntamente com outras
19
Disponível em: http://www.alcoa.com/brazil/pt/news/whats_new/2012_04_23_Metal_multiuso.asp. Acesso
em 09/8/2012. 20
Dados atualizados em fevereiro de 2013. Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar:
“Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio
no Maranhão), em São Luis (MA); Alcoa Word Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A, em Poços de
Caldas (MG)”. São Paulo, Janeiro 2013. 21
Disponível em: http://www.metalurgicos.org.br/materia.asp?id_CON=4172. Acesso em 14/8/2012. 22
A CFEM (Compensação Financeira por Exploração de Recursos Minerais) é o royalty do setor mineral,
estabelecida pela Constituição de 1988, no Art. 20, § 1o, abrangendo os estados, o Distrito Federal, os
Municípios e os órgãos da administração da União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos
minerais em seus respectivos territórios. Os contribuintes que sofrem taxação correspondem àqueles que
exercem atividade de mineração em decorrência da exploração ou extração de recursos minerais, para fins de
aproveitamento econômico. A CFEM incide sobre o valor do faturamento líquido, obtido por ocasião da venda
do produto mineral; caso esse mineral seja consumido, transformado ou utilizado pelo próprio minerador, a
CFEM é calculada sobre o valor da soma das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da utilização
do produto mineral. As alíquotas praticadas para a obtenção da CFEM variam de acordo com o referido mineral:
3% para minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio; 2% para ferro, fertilizantes, carvão e demais
substâncias; 0,2% para pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais nobres e 1% para ouro.
Contudo, um novo código da mineração, em tramite no Congresso Nacional, estuda a possibilidade da aplicação
de um marco regulatório sobre a atividade mineradora, apontando algumas mudanças, como a criação de uma
nova agência de regulação do setor, e prevê o aumento do percentual de taxação do royalty sobre a produção
mineral. Fonte: Departamento Nacional de Produção Mineral; Revista Exame. Disponível em:
http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=60; http://exame.abril.com.br/economia/noticias/governo-pode-
fixar-teto-de-6-para-royalty-da-mineracao. Acesso em 13/9/2012.
22
empresas, busca manter seus patamares de competitividade investindo em quatro hidrelétricas
no país, o que garantiu 70% de autossuficiência em obtenção de energia em 2011 e a
substituição de parte do fornecimento por parte da Eletronorte à fábrica do Maranhão.
A estratégia da empresa para aumentar sua competitividade é obter 100% de
controle sobre a geração de energia própria através da obtenção de duas outras concessões:
Santa Isabel (região norte) e Pai-Querê (região sul).
De acordo com Franklin L. Feder, em dez anos a empresa investiu US$ 4,9
bilhões no Brasil e ainda pretende aproveitar as oportunidades disponíveis, que segundo a
Alcoa23
, podem ou não contar com financiamento do BNDES. Desse montante investido,
foram aplicados US$ 1,6 bilhão numa refinaria de alumina no Maranhão e US$ 1,347 bilhão
na construção de quatro hidrelétricas, através de consórcio com outras empresas industriais e
elétricas.
Empresas que consomem grande quantidade de energia, mas que possuem
capacidade para autogeração, como é o caso da Vale, CSN, Gerdau, Votorantim, Alcoa,
Camargo Correa, irão juntas investir R$ 27,3 bilhões24
na construção de 31 usinas
hidrelétricas, 9 termelétricas e 9 pequenas hidrelétricas até 2020, com capacidade total de
geração de 6.033 MW25
.
Na década de 1980, em consórcio com a BHP Billiton, a companhia investiu na
construção da Alumar em São Luís (MA) encorajada pela oferta de energia a custo
competitivo proporcionado pela hidrelétrica de Tucuruí. Esse contrato foi renovado em 2004
e possui validade até 2024. A Alumar tem capacidade média de produção de 450 mil
toneladas de alumínio e 3,5 milhões de toneladas de alumina ao ano.
Ainda segundo executivo, o Brasil possui algumas vantagens, como o forte
potencial hidrelétrico e a terceira maior jazida de bauxita do mundo; contudo, ainda é
necessário explorar esses potenciais.
A Alcoa identificou ainda oportunidades estratégicas em três nichos de
mercado (petróleo e gás, construção civil e sistemas de fixação) para lançar negócios no País,
por isso decidiu ampliar sua atuação com base na expertise da companhia nessas áreas e no
23
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 24
Idem. 25
Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/economia-brasileira-setembro-de-2-
010/65538/. Acesso em 13/9/2012.
23
conhecimento do mercado brasileiro. Essa ação reforça o compromisso que a Companhia tem
com o Brasil26
.
Número de trabalhadores
A Alcoa emprega aproximadamente 61.000 trabalhadores em 31 países em
todo o mundo. No Brasil esse número chegou a 6.238 trabalhadores no final de 2011,
registrando elevação em 4,7% no número de contratações de “funcionários, colaboradores e
aprendizes” em relação ao ano anterior.
Segundo informações da Companhia27
a maioria dos trabalhadores, cerca de
50%, está concentrada na Região Nordeste e 30% na Região Sudeste.
Já o número de funcionários por tipo de contrato de trabalho distribui-se da
seguinte forma: 85 aprendizes, 6.037 funcionários e 116 estagiários.
Segundo informações do relatório de sustentabilidade, o número de mulheres
no total de trabalhadores da Alcoa na América Latina é de apenas 15%28
. O gráfico a seguir
demonstra a distribuição por gênero e tipo de cargos:
Gráfico 2: Alcoa na América Latina - cargos ocupados por gênero em 2011
Fonte: Relatório de Sustentabilidade 2011 – Alcoa, p. 13.
Elaboração: IOS.
Ainda de acordo com o relatório, o percentual de negros ou pardos no total de
funcionários da Alcoa foi de 50% em 2011, cuja distribuição por cargos pode ser visualizada
na tabela a seguir:
26
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 27
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 12. 28
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 13.
94% 84% 80% 67% 85%
6% 16% 20% 33% 15%
Mulheres
Homes
24
Tabela 6: Percentual de negros/pardos por cargos ocupados na América Latina em 2011
Diretores /Presidentes 13%
Gerentes 13%
Supervisões 31%
Estagiários 54%
Demais Cargos 53%
Fonte: Relatório de Sustentabilidade 2011 – Alcoa, p. 13.
Elaboração: IOS.
1.4.Programa de Responsabilidade Social
Segundo informações do Relatório de Responsabilidade da Alcoa 2011, a
empresa aplica os requisitos da norma de responsabilidade social S.A. 8000, objetivando
conquistar elevação da qualidade no ambiente de trabalho. Ainda de acordo com informações
institucionais29
, as unidades de São Luís e Poços de Caldas são certificados desde 2004 e
2003, respectivamente, e recertificados em 2011. A Alumar, por exemplo, está desde 2007
sem nenhuma inconformidade registrada em auditorias externas.
Cabe ressaltar que a Companhia possui também uma ferramenta interna de
controle dos seus principais fornecedores no cumprimento de cláusulas referentes aos direitos
humanos, ou seja, a Alcoa qualifica e contrata serviços e produtos de acordo com os critérios
de sustentabilidade garantidos pelo Programa Compras Sustentáveis. Em 2011 foram
firmados 1.100 contratos com fornecedores expressivos, os quais são responsáveis pelo
cumprimento e adequação às condições pré-estabelecidas com a Alcoa, pautadas nos quesitos
trabalhistas, sociais, ambientais e de governança.
A perspectiva da empresa é que o abastecimento de sua cadeia produtiva seja
feito através da contratação de fornecedores locais, ou seja, situados na mesma cidade onde a
Alcoa possua operações. Para alcançar esse objetivo, no Pará e Maranhão a Alcoa aplica o
Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, em Pernambuco é desenvolvido o
Programa Vínculos, que em suma tem como objetivo o desenvolvimento da indústria local
para que ela possa atender corretamente as demandas de fornecimento da organização.
O investimento social praticado pela a Alcoa é feito por duas frentes: a Alcoa
Foundation – com sede nos Estados Unidos desde 1952 – e o Instituto Alcoa no Brasil. A
entidade internacional tem como objetivo destinar recursos para projetos comunitários das
unidades da empresa em todos os países. Juntamente com o Instituto Alcoa, disponibiliza
29
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 12.
25
recursos repartidos entre doações pontuais, projetos comunitários e programas de
voluntariado. O investimento que recebeu maior evidência por parte da Alcoa Foundation foi
de U$ 8,6 milhões, dirigido ao Programa de Bolsas para Conservação e Sustentabilidade
(Conservation and Sustainability Fellowship Program) com duração de seis anos.
Desenvolvido em parceria com instituições acadêmicas e organizações não governamentais
em todo o mundo, o projeto é voltado a pesquisas na área de conservação ambiental e
sustentabilidade30
.
A Alcoa também possui o Programa Bravo!, que incentiva seus trabalhadores
em todo mundo a praticarem 50 horas de trabalho voluntariado durante o ano, recebendo ao
final desta carga horária um prêmio na quantia de US$ 250 por voluntário para serem doados
à própria entidade onde foram realizadas as atividades. No Brasil esse programa obteve
adesão de 50% dos trabalhadores e beneficiou 450 instituições31
.
Políticas e programas ambientais
Segundo matéria da revista Inove Ambiental Magazine, veiculada no site da
Alcoa32
, desde sua inauguração no Brasil em 1965 a companhia desenvolve práticas
sustentáveis baseadas no seguinte tripé: respeito pelo meio ambiente, responsabilidade social
e sucesso econômico. Um dos exemplos bem sucedidos dessa prática é a mina de Poços de
Caldas (MG), cujo sistema de recuperação das áreas atingidas pela mineração de bauxita
tornou-se referencia mundial nesse campo e por duas vezes recebeu o Prêmio de Excelência
Ambiental durante a década de 1990 concedido pela Alcoa Inc. Essa unidade também possui
uma trilha de 300 metros que leva até um mirante onde é possível que a comunidade conheça
as áreas que já foram recuperadas.
Para que a Alcoa inicie suas operações é essencial que a empresa adote a
sustentabilidade como um fator de integração em sua estratégia de negócios. A postura de
diálogo constante com a sociedade era “extremamente estratégico para que empresa pudesse
ganhar sua licença social em Juruti", afirma o presidente da Alcoa América Latina e Caribe
ao longo da matéria.
30
Disponível em http://www.responsabilidadesocial.com/article/article_view.php?id=1060. Acesso em
17/9/2012. 31
Fonte: Associação Brasileira de Alumínio. Disponível em
http://www.abal.org.br/desenvsust/acoes_respsocial.asp. Acesso em 17/9/2012. 32
Disponível em: http://www.alcoa.com/brazil/en/news/whats_new/2012_06_01_alcoa_no_brasil_ING.asp.
Acesso em 21/8/2012.
26
Além disso, a Alumar também possui um Parque Ambiental no meio da área
industrial, de 1.800ha, considerado o grande pulmão da Ilha de São Luis. A empresa é
reconhecida nacionalmente por seus projetos de meio ambiente, tendo sido premiada quatro
vezes com o Benchmarking ambiental brasileiro, bem como é um dos destaques das
companhias que integram a lista dos melhores cases de Sustentabilidade no Brasil33
.
Contudo, ao analisar as notícias regionais veiculadas no sítio da Associação
das Comunidades da Região de Juruti Velho (ACORJUVE) 34
nota-se que as negociações
entre empresa e a comunidade do entorno são bastante ásperas no que concerne aos impactos
ambientais e sociais provocados pela atividade mineradora no distrito onde residem 3.500
famílias de 60 comunidades. Ainda de acordo com as notícias, o movimento de ribeirinhos
afetados pelas obras mineradoras contesta a atuação da Alcoa na condução do diálogo e sua
posição em relação ao reconhecimento da comunidade de Juruti. Segundo entrevista com
presidente da ACORJUVE35
, Gerdeonor Pereira, a Alcoa foi responsável pelo desmatamento
de 800 hectares de floresta, e no Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Juruti Velha
foram 40 hectares de um total de 109 mil hectares.
Além disso, fontes de subsistência da comunidade ribeirinha foram
praticamente destruídas com a derrubada de castanheiras, assoreamento dos igarapés e a
contaminação das cabeceiras dos rios. Na época da reportagem, Franklin Feder e outros
diretores assinaram um acordo com a Associação assegurando que a Alcoa assumiria o
compromisso de pagar pelos os danos sofridos pela comunidade, bem como de sua
participação no lucro da lavra da bauxita em 1,5%, no entanto, durante a entrevista, foi
revelado que a empresa possui um histórico de não cumprir os acordos firmados,
desconsiderando a realização da agenda acordada com as comunidades de dois Projetos de
Assentamento (Socó I e Socó II), na qual previa a construção de passarelas, estradas e uma
escola.
Contudo, a Alcoa diverge dessas observações. Segundo a empresa36
, com a
Agenda Positiva foram investidos no município R$ 69 milhões num conjunto de ações
33
ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da
Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís (MA); Alcoa World
Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo, Janeiro 2013. 34
Fonte: ACORJUVE. Disponível em: http://acorjuve-acorjuve.blogspot.com.br/. Acesso em 13/02/2013. 35
Fonte: ACORJUVE. Juruti - Território em Disputa no Coração da Amazônia. Disponível em: http://acorjuve-
acorjuve.blogspot.com.br/2011/04/juruti-territorio-em-disputa-no-coracao.html. Acesso em 19/9/2012. 36
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
27
infraestruturais que contempla áreas de Saúde, Segurança e Justiça, Educação e Cultura,
Infraestrutura Urbana e Rural, bem como Ação Social. Esses investimentos orientam-se,
conforme argumenta a empresa, pelos principais anseios da população local, manifestados
durante as audiências públicas ocorridas em 2005 e que resultaram no licenciamento de
implantação da Mina de Juruti.
Ainda de acordo com a Alcoa, nos Projetos de Assentamento Socó, está em
curso desde 2007 um conjunto de 33 ações compensatórias às comunidades, pois estão nas
áreas de influência direta da Ferrovia e da Rodovia do empreendimento – é a chamada Matriz
de Compensação Coletiva (MCC) que foi definida a partir do acordo entre Prefeitura
Municipal, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Associação dos
Produtores Rurais Assentados no Socó (APRAS), Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Juruti (STTR) e Alcoa. As obras contemplam as áreas de
Infraestrutura, Meio Ambiente, Economia, Educação e Lazer. A comunidade São Pedro, de
acordo com informações fornecidas pela empresa, recebeu novo centro comunitário, quadra
poliesportiva e ampliação do microssistema de abastecimento de água. Outro exemplo, na
comunidade Santa Terezinha, foi implantado um microssistema de abastecimento, além da
perfuração de cinco poços amazônicos e um novo campo de futebol. Em Café Torrado, foi
feita a instalação de telefone público, além de melhorias no campo de futebol e da
implantação de microssistemas de abastecimento.
Em 28 de janeiro de 2009, época do Fórum Social Mundial em Belém, houve
um embate entre a Alcoa e a ACORJUVE, em manifestação organizada por lideranças
camponesas, religiosas e sindicais, que resultou na criação do movimento “Juruti em Ação”.
No protesto, cerca de 1.500 moradores de comunidades atingidas pelo empreendimento na
região ocuparam por 9 dias a ferrovia, o porto e rodovias e, em decorrência, conquistaram a
titulação coletiva de suas terras e o direito a 1,5% sobre o lucro gerado pela lavra da bauxita
extraída do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) de Juruti Velho, auferido pela
Alcoa – numa forma de compensar danos e prejuízos causados às comunidades pelas extração
do minério.37
Diante desse fato, a Alcoa afirma que: “São conhecidas as dificuldades para
compatibilizar a mineração em territórios com comunidades tradicionais, porém, Juruti está
escrevendo uma história de convivência entre mina de bauxita e projeto agroextrativista de
37
NAHUM, João dos Santos; CASTRO, Isabela Andrade de. “Um Capítulo da Questão Agrária na Amazônia:
Mineração e Campesinato no Município de Juruti (PA)”. Universidade Federal do Pará. XXI Encontro Nacional
de Geografia Agrária (UFU). Uberlândia (MG), 15 a 19 de outubro de 2012.
28
reforma agrária. Isto é resultado de intensa e complexa negociação entre Alcoa, Incra,
Associação Comunidades da Região Juruti Velho, Ministérios Públicos Estadual e Federal.
As negociações estabelecem acordos de convergência entre direitos fundiários, minerários e
ambientais. Neste âmbito, pela primeira vez no Pará, o INCRA concedeu o Direito Real de
Uso para a Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho (ACORJUVE). Com
isso, pôde-se inovar no pagamento de royalties para comunidades, pois a associação tornou-
se sujeito do direito à participação nos resultados da lavra. Anualmente a ACORJUVE
recebe cerca de R$ 5 milhões da Mina de Juruti. Por fim, as partes estão definindo a
indenização decorrente das externalidades provocadas pelo empreendimento no
assentamento, utilizando nova tecnologia social de valoração ambiental”38
.
Em relação aos resíduos, segundo informações da empresa, os processos que
geram substratos sólidos ou perigosos estão passando por um processo de reutilização ou até
mesmo reciclagem para que sejam atenuados os envios aos aterros industriais desse tipo de
materiais. Além disso, a empresa promove campanhas educativas entre os trabalhadores
diretos e terceiros de suas unidades para o uso adequado da água39
, bem como pratica o reuso
em alguns processos produtivos40
. A proteção da biodiversidade é outra preocupação
manifesta pela Alcoa. De acordo com o Relatório de Sustentabilidade41
, a companhia
compromete-se a realizar um estudo detalhado com a finalidade de identificar as espécies
vegetais e animais nos locais onde realiza suas operações com o objetivo de recuperá-las.
Em 2010, a empresa lançou um Programa de Eficiência Energética na
América Latina e no Caribe que visa à otimização de processos industriais e
desenvolvimento de novas tecnologias, possibilitando a redução do consumo de energia e as
emissões dos gases de efeito estufa (GEE). Em 2011 a empresa realizou “nove sessões de
mapeamento de oportunidades nas unidades, identificando 118 ações que permitam a
redução de até 5,2% no consumo específico de energia. Durante o ano de 2011, foram
implementadas 21 ações, e outras estão em implantação, o que permitiu redução de 2,6% no
consumo” 42
.
38
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 39
Em se tratando do uso da água, em 2011 a eliminação de vazamentos possibilitou economia significativa de
água em todas as unidades da Alcoa. Em São Luís, a identificação de desperdícios permitiu a redução de 12% no
consumo em 2011. Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 20. 40
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 19. 41
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 21. 42
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 18.
29
De maneira geral, a Alcoa viabiliza investimentos na construção das usinas
hidrelétricas nas quais tem participação43
. O intuito é ampliar para outras fontes de energia,
como a de gás natural e liquefeito que substituiriam o óleo combustível e o diesel, “bem como
estudos para a utilização de biomassa a partir de uma fonte sustentável para parcialmente
substituir o carvão em alguns processos”. Nesse sentido, a Alcoa já investiu no Brasil cerca
de US$ 1,250 bilhão visando soluções na área de energia.
Um exemplo dessas práticas é o que ocorre na unidade de Poços de Caldas
(MG), na qual caldeiras e calcinadores ao invés de serem alimentadas por óleo diesel
passaram para o gás natural, eliminando, de acordo com a Alcoa44
, 36% das emissões de
carbono na atmosfera. Essa técnica praticamente eliminará as emissões de dióxido de enxofre
liberado durante o processo de refino de bauxita. Além disso, a empresa acrescenta que a
“substituição de óleo diesel por flexgás (mistura de GLP com ar), como combustível usado
nos fornos de cozimento de anodos da Alumar trouxe os seguintes benefícios ambientais:
redução de cerca de 15% nas emissões de dióxido de carbono (CO2), que é um gás de efeito
estufa; redução de cerca de 20% nas emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) e dióxido de
enxofre (SO2); redução de cerca de 50% nas emissões de material particulado (fuligem);
eliminação do consumo de água para atomização do combustível; eliminação do risco de
vazamentos de combustível para o solo e para as águas superficiais”45
.
Em 2011 a Alcoa Brasil ganhou a certificação Gold do Programa Brasileiro
GHG Protocol46
, cuja finalidade foi fornecer dados sobre as emissões de gases causadores do
efeito estufa que ocorreram em 2010. Além de todas essas iniciativas, outro compromisso
assumido pela Alcoa em 2011 correspondente à questão ambiental é o apoio ao Instituto
Ethos na criação e divulgação da “Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e
Responsável”47
.
43
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 44
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 45
Idem. 46
Fonte: Protocolo de Gases de Efeito Estufa. Disponível em: http://www.ghgprotocol.org/. Acesso em
24/8/2012. 47
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 5.
30
2. Consórcio de Alumínio do Maranhão (Alumar)
Consórcio Alumar: a Alcoa em São Luís (Maranhão)
A Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão) consiste num dos maiores
complexos do mundo para produção de alumínio primário e alumina. Constituída pelas
empresas Alcoa – com participação de 54% do empreendimento48
–, Rio Tinto Alcan (10%) e
BHP Billiton (36%), foi inaugurada em julho de 1984 e possui capacidade de produzir 450
mil toneladas por ano. Em 2010, o volume de alumínio primário atingiu o patamar recorde de
350 mil toneladas produzidas, registrado de janeiro a dezembro49
. Agrupando cerca de 2 mil
trabalhadoras e trabalhadores em agosto de 201250
, dos quais 90% são maranhenses, o
processo de produção do alumínio em São Luís envolve Porto – Terminal Portuário
Privativo da Alumar –, Refinaria e Fábrica de Redução51
.
Em dezembro de 2009 foi inaugurada a Expansão da Refinaria de Alumina
da Alumar, iniciado em janeiro de 2007, com investimentos de R$ 5,2 bilhões e que deverá
elevar de 1,5 milhões para 3,5 milhões de toneladas a produção anual de alumina. No pico da
obra de expansão, foram empregados cerca de 13 mil funcionários, sendo 30% de São Luís.
De acordo com a empresa, o projeto tornou-se benchmark em “segurança no trabalho”,
atingindo 20 milhões de homens-horas trabalhadas sem acidentes com afastamento. Os
procedimentos na área de saúde e segurança do trabalhador receberam o prêmio Proteção
2009, da revista Proteção, especializada em segurança industrial, nas seguintes categorias:
48
Fonte: Valor Econômico. “Custo da energia inviabiliza novos investimentos no Brasil, diz Alcoa” (15/7/2011).
Disponível em: <http://www.valor.com.br/arquivo/898591/custo-da-energia-inviabiliza-novos-investimentos-no-
brasil-diz-alcoa>. Acesso em 10/8/2012. 49
Fonte: Alcoa. Consórcio Alumar – São Luís, agosto de 2012. Disponível em:
<http://www.alcoa.com/locations/brazil_sao_luis/pt/home.asp>. 50
Estimativa mencionada pelo gerente de Relações Trabalhistas da Alcoa na América Latina e Caribe, Luiz
Burgardt. 51
No porto ocorre o desembarque dos insumos – tais quais a bauxita proveniente de Trombetas e Juruti (Pará),
bem como carvão mineral, soda-cáustica, óleo combustível, coque e piche –, além da operação de embarque do
excedente de produção da alumina (óxido de alumínio). Na refinaria, composta pelas áreas de Digestão,
Clarificação, Precipitação e Calcinação, a bauxita recebida é refinada e transformada em alumina, a matéria-
prima da produção do alumínio: o minério é refinado através de um processo denominado Processo Bayer, no
qual a bauxita é moída, misturada a uma solução de soda cáustica e enviada à digestão, onde é aquecida sob
pressão, acontecendo a dissolução da alumina. Na redução – constituída pelas áreas de Eletrodos, Salas de
Cubas, Sistema de Transporte de Alumina e Banho, Sistema de Tratamento de Gases e Lingotamento –, a
alumina produzida na refinaria é dissolvida num banho eletrolítico fundido a 950°C dentro das cubas
eletrolíticas, sendo reduzida para alumínio. De acordo com a Alcoa, a área de redução, que consome em torno de
25% da alumina produzida na refinaria, é responsável pela produção de aproximadamente 440 mil toneladas de
alumínio anualmente, comercializadas em todo o mundo. Já a alumina é matéria-prima utilizada pelas indústrias
de cerâmicas, vidros, medicamentos e cosméticos. Fonte: Alumar, 2010. Disponível em:
<http://www.alumar.com.br/internas_template4.aspx?tbsid=18>.
31
Ações Corretivas em Saúde e Segurança do Trabalho – SST, Comunicação em SST, Higiene
Ocupacional, Política de SST para Terceirizados e Trabalho em Altura.52
Em 2011 a categoria dos trabalhadores metalúrgicos de São Luís decretou
estado de greve geral em virtude do não atendimento, pelo sindicato patronal e Alumar, ao
repasse de reajuste salarial prevendo ganho real solicitado na campanha salarial. Em
negociação com diversas empresas, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos
(SINDMETAL – São Luís) já havia fechado outros acordos com média de reajustes de 9% e
10%, superando o índice inflacionário do período, de 6,36%, mas enfrentava maior resistência
por parte da Alumar. A pauta de reivindicações da categoria também envolvia temas com
saúde e segurança no ambiente de trabalho, fim do assédio moral e de terceirizações, redução
da jornada de trabalho e um turno de trabalho que favoreça a conjugação da vida profissional
com outras vivências amplas. A empresa alegava expressivos prejuízos financeiros na planta
de São Luís, assim como elevados custos com energia elétrica. Os trabalhadores, no entanto,
ressaltaram que a tarifa de energia (valor do quilowatt/hora) paga pela Alumar é diferenciada,
haja vista que a empresa negocia diretamente com a Eletrobrás e é beneficiada com subsídio
do Governo Federal, além de usufruir de acesso gratuito à água e de investimentos do Banco
Nacional de Desenvolvimento (BNDES).53
A problemática da energia elétrica no Brasil
O custo de energia, a rigor, tem sido argumento a fim de se cogitar possível
corte de produção em uma das duas unidades de fundição do alumínio da Alcoa no Brasil:
uma linha da Alumar em São Luís (MA)54
ou a unidade de Poços de Caldas (MG)55
– de
acordo com Nilson Ferraz, diretor da Alumar, a energia elétrica é o fator produtivo
responsável por 40% dos custos da produção de alumínio56
. Desde o início de 2012 a Alcoa
vem avaliando a possibilidade de realizar cortes de produção no país – aos moldes do que tem
ocorrido em outros países, como EUA, onde as operações, segundo a empresa, estavam se
52
Fonte: Alumar, 2010. Disponível em: <http://www.alumar.com.br/internas_template4.aspx?tbsid=18>. 53
Fonte: SINDMETAL – MA. “Metalúrgicos de São Luís entram em estado de greve” (13/4/2011). Disponível
em: <http://www.metalurgicoscaxias.com.br/index.php/noticia/1685>. Acesso em 13/8/2012. 54
A Alumar demanda cerca de 500 MW de energia, cujo abastecimento é, em grande parte, suprido pela
Eletronorte, embora a Alcoa já abasteça com energia gerada em hidrelétricas próprias aproximadamente 350
MW, metade do que consome em São Luís e em Poços de Caldas. Fonte: Valor Econômico. “Custo alto da
energia pode inviabilizar Alcoa no país” (17/01/2012). Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/1199738/custo-alto-da-energia-pode-inviabilizar-alcoa-no-pais>. Acesso em
14/8/2012. 55
A Alcoa considera como meta, até o final de 2012, prover 70% de autogeração de energia elétrica, tendo em
vista o início das operações da usina hidrelétrica de Estreito (MA) em 2011, quando essa proporção foi
equivalente a 65% de autogeração de energia (Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, pp. 3 e 18). 56
Em entrevista concedida ao IOS em 18 de outubro, na Alumar.
32
tornando economicamente inviáveis em decorrência da queda nos preços57
da commodity no
mercado internacional: em alta, negociado a US$ 2,7 mil a tonelada até abril, em maio o preço
do metal esteve cotado a US$ 1.979 a tonelada na Bolsa de Metais de Londres58
, enquanto o
custo de produção no Brasil seria de algo em torno de US$ 2,3 mil a tonelada59
. O presidente
mundial da Alcoa, Klaus Kleinfeld, encontrou-se, também em maio de 2012, com a presidente
Dilma Rousseff em Brasília, para discutir os rumos das operações da multinacional no país.
Na ocasião, em entrevista ao Valor, Franklin Feder, presidente da Alcoa para
América Latina e Caribe, mencionou a possibilidade de que fosse transferida a energia da
matriz de geração própria de Poços de Caldas para as operações do Norte, mais eficientes;
também destacou que o custo da energia é o aspecto determinante da fabricação de alumínio
no Brasil, onde o preço seria de US$ 80 o MWh, mais do que o dobro da média mundial60
. De
acordo com o periódico, se houvesse a migração da energia própria que supre a unidade de
Poços de Caldas para a Alumar, a empresa deixaria de produzir 95 mil toneladas de alumínio
por ano, o que acarretaria a demissão de 900 funcionários e não asseguraria que a Alumar
sairia ilesa desse processo61
. Após reunião com a presidenta Dilma, entretanto, com
compromisso firmado no sentido de que o governo reduza as tarifas de energia para as
indústrias, Feder declarou que, por ora, não haverá fechamento de linhas nas operações da
subsidiária brasileira62
.
Em 11 de setembro de 2012 o governo federal anunciou um pacote de redução
das tarifas de energia elétrica no Brasil, que deve ser de até 28% para o setor industrial – e de
57
Em 2011 as cotações internacionais do alumínio recuaram 19%; o piso que o mercado considera competitivo é
de US$ 2,5 mil a tonelada. Fonte: Valor Econômico. “Alcoa adia decisão sobre corte produtivo no Brasil”
(04/4/2012). Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/2601646/alcoa-adia-decisao-sobre-corte-
produtivo-no-brasil>. Acesso em 14/8/2012. 58
Fonte: Valor Econômico. “CEO da Alcoa discutirá com Dilma futuro de operações no Brasil” (04/6/2012).
Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/2691012/ceo-da-alcoa-discutira-com-dilma-futuro-de-
operacoes-no-brasil>. Acesso em 13/8/2012. 59
Fonte: Valor Econômico. “Custo alto da energia pode inviabilizar Alcoa no país” (17/01/2012). Disponível
em:< http://www.valor.com.br/empresas/2601646/alcoa-adia-decisao-sobre-corte-produtivo-no-brasil>. Acesso
em 14/8/2012. 60
Feder acrescentou que “O Brasil tem de decidir se quer manter a cadeia de produção de alumínio no país ou se
quer ser exportador de matéria-prima (bauxita e alumina) e importador do metal, produtos transformados e até de
produtos acabados”. Fonte: Valor Econômico. “Custo alto da energia pode inviabilizar Alcoa no país”
(17/01/2012). Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/2601646/alcoa-adia-decisao-sobre-corte-
produtivo-no-brasil>. Acesso em 14/8/2012. 61
Fonte: Valor Econômico. “Alcoa mostra preocupação com energia ao governo” (05/6/2012). Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/2691958/alcoa-mostra-preocupacao-com-energia-ao-governo>. Acesso em
13/8/2012. 62
Fonte: Valor Econômico. “Alcoa tira Brasil do mapa de corte de produção” (06/6/2012). Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/2693882/alcoa-tira-brasil-do-mapa-de-corte-de-producao>. Acesso em
14/8/2012.
33
até 16,2% para os consumidores residenciais – a incidir a partir de 201363
. Embora reconheça
que a redução no preço da energia elétrica aproxima o custo do insumo na indústria brasileira
de alumínio à média internacional, de US$ 40 MWh, Feder declarou que “Aqui, chegamos a
pagar US$ 82 por MWh, no pico. (...) Mas, ainda assim, o valor deve seguir acima do de
concorrentes”; e completou afirmando que países do Oriente Médio oferecem energia elétrica
a valores abaixo de US$ 20 MWh. Atualmente, a recente desvalorização do real propiciou a
queda da tarifa para patamar em torno de US$ 60 MWh.64
O executivo da Alcoa destacou que a indústria global de alumínio possui
imensos estoques (de quase 20% do consumo global de alumínio, que é de 45 milhões de
toneladas por ano), o que pressiona para baixo os preços da commodity e desestimula novos
investimentos em ampliação de capacidade; porém, assegurou que está afastado o risco de
corte de produção nas fábricas em Poços de Caldas e Maranhão. Particularmente em se
tratando da fábrica em São Luís, no Maranhão, a Alcoa terá de renegociar o contrato com a
Eletronorte, vigente até 2024, para viabilizar o desconto. Já a FIESP ressaltou que “A queda
média do preço da energia será de 20,2%. Não temos como negar que isso é uma revolução
no setor. Nunca houve uma queda de energia na história como essa” (Carlos Cavalcanti,
diretor do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias de São Paulo, a
FIESP).65
Em abril de 2012 o presidente do SINDMETAL – São Luís, José Maria
Araújo, que trabalha há 25 anos na Alumar, contestou a afirmação de Feder a respeito do
prejuízo observado nas operações da Alcoa no Brasil, a despeito de que, conforme tenha
registrado o próprio executivo, a receita anual da empresa no país tenha saltado de US$ 1,6
bilhão para US$ 2 bilhões em 201166
. O dirigente enfatizou que, somente no primeiro
trimestre de 2012 o lucro líquido do grupo foi de US$ 94 milhões, tendo acrescentado que em
63
O pacote ainda inclui um aporte de R$ 3,3 bilhões por parte da União, a redução de encargos setoriais e a
prorrogação das concessões de energia, cujos contratos poderão ser prorrogados por mais 20 anos e requererão,
como contrapartida, investimentos superiores a R$ 20 bilhões pela concessionária. Além disso, discute-se a
redução da alíquota do ICMS, cobrado pelos estados nas contas de energia elétrica. Com a medida, o governo
espera impulsionar a competitividade de mercadorias e serviços brasileiros no comércio exterior, assim como
estimular o crescimento e aliviar pressões inflacionárias. 64
Fonte: Valor Econômico. “Indústria elogia medidas, mas diz que impacto nos custos será modesto”
(12/9/2012). Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/2825690/industria-elogia-medidas-mas-diz-que-
impacto-nos-custos-sera-modesto>. “Redução de tarifas de energia garante operações da Alcoa no Brasil”
(11/9/2012). Disponível em: http://www.valor.com.br/empresas/2825104/reducao-de-tarifas-de-energia-garante-
operacoes-da-alcoa-no-brasil. Acesso em 13/9/2012. 65
Idem. 66
A notícia também divulga que a receita global da Alcoa totalizou US$ 24,9 bilhões em 2011. Fonte: Valor
Econômico. “Custo alto da energia pode inviabilizar Alcoa no país” (17/01/2012). Disponível em:
<http://publicidade-valordigital.valor.com.br/empresas/1199738/custo-alto-da-energia-pode-inviabilizar-alcoa-
no-pais>. Acesso em 14/8/2012.
34
2011 o grupo havia registrado lucro líquido de US$ 611 milhões e completou: a Alumar
“implantou uma jornada extenuante de trabalho, pratica terceirização fraudulenta e paga um
dos piores salários do setor” (Araújo)67
. Em negociação por aumento salarial – com data-
base em 1º de março –, o sindicato reivindicava aumento de 5,47%, conforme Índice Nacional
de Preços ao Consumidor (INPC) calculado para o período de fevereiro de 2011 a fevereiro de
2012, mais 5% de aumento real para a categoria e sinalizava possibilidade de paralisação da
produção caso não houvesse diálogo. Além disso, há de se mencionar as vantagens
comparativas no setor apresentadas pelo Brasil, que dispõe de significativo potencial
hidrelétrico, bem como jazidas de bauxita expressivas – a bauxita brasileira compõe cerca de
10% das reservas mundiais do insumo, com 3,6 bilhões de toneladas de excelente qualidade68
.
Diante desses fatos, em outubro de 2005, a Alumar alterou o sistema de
trabalho da área operacional, de turno ininterrupto de revezamento, com jornada diária de
7h30min para o horário fixo, com jornada de 7h e uma hora de intervalo intrajornada. Esse
sistema é considerado, segundo a empresa, um benéfico aos trabalhadores, tanto por
profissionais de saúde, como pelo Tribunal Superior do Trabalho. As terceirizações praticadas
na empresa, conforme destacou a Alcoa, seguem o entendimento da súmula 331, do TST,
única orientação legal em vigor. As terceirizações citadas, ligadas à atividade fim da empresa,
atenderam à previsão legal da lei 6.019, inclusive no que se refere à comunicação ao
Ministério do Trabalho. Por fim, quanto aos salários praticados, a Alcoa afirma realizar
pesquisa anual de salários e tem remuneração, normalmente, três vezes superior à praticada
nos mercados locais, possuindo piso salarial superior às demais empresas integrantes da
Convenção Coletiva de Trabalho.69
Representação Sindical: Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís
(SINDMETAL), filiado à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Contato: José Maria Araújo (presidente). Oficina sindical: realizada em 17 de outubro de
2012, às 18 horas, na sede do sindicato em São Luís. Estiveram presentes José Maria Araújo,
67
Fonte: Maranhão Hoje. “Sindicato contesta crise na Alcoa e ameaça paralisar atividades no Consórcio Alumar
se não houver reajuste de salários” (13/4/2012). Disponível em: <http://www.maranhaohoje.com.br/?p=3298>.
Acesso em 14/8/2012. 68
Fonte: Ministério de Minas e Energia. Perfil da Mineração de Bauxita. Setembro de 2009. Disponível em:
<http://www.mme.gov.br/sgm/galerias/arquivos/plano_duo_decenal/a_mineracao_brasileira/P11_RT22_Perfil_d
a_Mineraxo_de_Bauxita.pdf>. Acesso em 14/8/2012. 69
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
35
José Gomes Castro, Ubiranei Muniz Vieira, Honório Cantanhede Neto, José Antônio Araújo
Reis, José Ribamar Costa Lindoso, Antônio da Conceição Lopes e Antônio de Assis Padilha.
Tabela 7: Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL) –
dados gerais
Números aproximados
Número de trabalhadores(as) na base do sindicato 7.000
Número de trabalhadores(as) na empresa 1.835 (26%)
Total de sindicalizados(as) na base 1.300 (19%)
Número de trabalhadores(as) sindicalizados(as) da empresa 570 (31%)
Fonte: Dirigentes sindicais (oficina realizada em 17/10/2012).
2.1. Condições de Trabalho na Alumar, conforme parâmetros do
Trabalho Decente (OIT):
2.1.1 Oportunidades de Emprego70
Segundo material veiculado pelo sindicato, a Alumar contratou a Empresa
Nacional Serviços Temporários Ltda., cujos trabalhadores estariam atuando em atividades-fim
da empresa – utilizando a sala de cubas e equipamentos da contratante –, entretanto auferindo
salários em média 60% inferiores aos recebidos pelos funcionários diretos no exercício das
mesmas atividades, o que motivou o acionamento, pelo sindicato, do Ministério Público do
Trabalho (MPT) e da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE). Em outra
ocasião, os órgãos de fiscalização do poder público já haviam sido acionados em virtude da
contratação da empresa Reframax para atuar no revestimento de cubas e operação da sala de
cubas, tendo a Alumar assumido estas atividades após a investigação. No entanto, de acordo
70
Estudo realizado pela OIT aponta que o Maranhão é um dos estados brasileiros que apresenta a maior
proporção de trabalhadores pobres: eram 19,7% em 2009, ou seja, uma em cada quatro pessoas ocupadas no
estado viviam em domicílios cujo rendimento mensal per capita era equivalente a até 1/4 do salário mínimo. A
incidência de extrema pobreza era particularmente elevada no Maranhão, em 2010, onde 25,7% da população
vivia em situação de extrema pobreza, afetando quase metade da população que vivia na área rural. Entretanto, o
Maranhão é um dos estados que revela mais expressiva redução da desigualdade de renda medida pelo índice de
Gini no período de 2004 a 2009, quando o índice declinou de 0,609 para 0,511 (o índice varia de 0, a perfeita
igualdade, até 1, a concentração absoluta ou desigualdade máxima). Fonte: OIT. Perfil do Trabalho Decente no
Brasil. Um Olhar sobre as Unidades da Federação. 2012, pp. 101, 104 e 309-310.
36
com o jornal sindical, a empresa estaria firmando contrato com outra prestadora, a RIP, que se
tornaria a responsável por desempenhar o serviço.71
Os trabalhadores terceirizados, conforme afirmaram os dirigentes sindicais,
constituem uma parcela do contingente da mão de obra que supera o quadro efetivo de
funcionários da Alumar e atuam em todos os setores da empresa, da administração à produção
(nas áreas de redução, refinaria e no porto), inclusive na atividade-fim – além disso, são
enquadrados, em contrato, na categoria da construção civil e não como metalúrgicos, o que os
impede de serem representados pelo sindicato dos trabalhadores diretos. São observadas
diferenças nas condições de trabalho entre os trabalhadores diretos e os terceirizados, que
recebem salários inferiores, não são contemplados com os mesmos benefícios (assistência
médica, por exemplo, não oferecida aos terceirizados e que funciona em regime de
coparticipação, com descontos em folha de pagamento do trabalhador direto – veja no quadro
2 os benefícios oferecidos pela Alumar a funcionários diretos) e apresentam mais elevada
rotatividade.
Em relação à questão de representatividade sindical a Alcoa esclarece,
conforme seu entendimento, que “o enquadramento sindical no Brasil dá-se por categorias
econômicas ou profissionais específicas, com regulamentação fundamentada na CLT, sendo,
portanto, um assunto de competência do Estado. Entretanto, as empresas terceirizadas são
certificadas, possuem suas próprias políticas de gestão de pessoas, de acordo com as
práticas de mercado e seguem o Código de Conduta Ética da Alcoa, com todos os seus
princípios e parâmetros, para serem provedores de serviço à Cia.”72
.
71
Fonte: Jornal do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL). Ano 8, nº 47, edição
Jan/Fev de 2012, p. 2. Disponível em: http://www.sindmetal-
slz.com.br/novo3/JORNAL%20DO%20SINDMETAL%20JAN%20FEV%2020122.pdf. 72
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG”). São Paulo,
Janeiro 2013.
37
Quadro 2: Benefícios oferecidos a trabalhadoras e trabalhadores da Alcoa (2012): Transporte – coparticipação
Auxílio farmácia – alguns medicamentos, em farmácias cadastradas
Assistência Médica – coparticipação
Plano de previdência
Refeição
Assistência Odontológica – coparticipação (percentual descontado do salário, limite 10%)
Seguro de vida
Kit escolar
Orientação jurídica, social, psicológica e financeira – acesso voluntário (Programa Conte Comigo)
Cesta de Natal
Programa Viva Vida
(trabalho, saúde, meio ambiente e segurança, cultura, esporte, lazer)
Fonte: Manual de Benefícios Alcoa.
Os dirigentes mencionaram que há tratamento discriminatório, com a proibição
de que os terceirizados permaneçam em determinada sala de repouso da unidade, podendo
apenas utilizar os bebedouros e banheiros disponíveis. Em 2007 foi realizado um protesto
pelos terceirizados das contratadas Enesa, Carioca, Enec, Usiminas, Rit e Camargo Correa,
com paralisação das atividades e bloqueio em frente à entrada da Alumar, na BR-135.
Trabalhando no projeto “Alref U2”, de expansão da refinaria da Alumar, os terceirizados
reivindicavam melhores salários, pagamentos de horas extras, adicionais de insalubridade e
periculosidade73
.
Sobre o tratamento destinado aos terceiros, segundo a Alcoa, “as salas de
descanso são destinadas às pausas dos trabalhadores que executam tarefas específicas de
rotina onde há, por exemplo, exposição ao calor. Neste caso, qualquer trabalhador tem
acesso à sala com ar condicionado e água para que sejam cumpridas as pausas e realizada
hidratação. Portanto, não há discriminação” 74
.
Na pesquisa de campo, foram entrevistados 15 trabalhadoras e trabalhadores da
Alumar (3 trabalhadoras e 7 trabalhadores no primeiro grupo focal – sendo que uma das
pessoas entrevistadas alegou estar sentindo-se mal e deixou a sala logo no início da entrevista
73
Fonte: “Metalúrgicos protestam na BR-135 por melhores salários” (12/10/2007). Disponível em:
<http://www.forumcarajas.org.br>. Acesso em 13/11/2012. 74
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
38
– e, no segundo grupo, uma trabalhadora e 4 trabalhadores)75
. Ainda em se tratando de
terceirizados, os trabalhadores comentaram que algumas empresas contratadas atrasam o
pagamento dos salários que, com frequência, são pagos “em pacotes”.
Contudo, de acordo com a Alcoa “as empresas contratadas cumprem com a
exigência legal de efetivar o pagamento até o 5º dia útil; algumas praticam, por liberalidade,
adiantamento salarial, podendo ocorrer, de acordo com a administração financeira destas,
variações nessa prática, entretanto, não há atrasos no limite legal, que é o 5º dia útil”76
.
A participação de mulheres trabalhadoras no quadro funcional da Alumar, na
área operacional (segundo cálculos a partir da lista de trabalhadores enviada pela empresa), é
de menos de 6,5% – a metalurgia é umas das categorias profissionais mais masculinas e
machistas em todo o Brasil. Conforme revelaram as gestoras de Recursos Humanos
entrevistadas77
, as mulheres representam cerca de 50% dos empregados no setor
administrativo da empresa, compondo quase 100% do quadro responsável pelo RH. Em
cargos de comando, há apenas 3 áreas gerenciais chefiadas por mulheres na Alumar: as
gerências de meio ambiente, assuntos comunitários e RH, propriamente (âmbitos tradicionais
de incorporação de mulheres na composição funcional de empresas, com acesso restrito a
espaços de maior prestígio como finanças ou jurídico, dentre outras). Em se tratando da
dimensão de raça, a presença de trabalhadoras ou trabalhadores negros não é acompanhada
pelo radar de indicadores da empresa; contudo, as gerentes de RH ressaltaram que não há, na
atual equipe de “liderança” (ou seja, dentre os gestores da empresa), nenhum autodeclarante
preto/negro e a maioria dos quadros é composta por pardos. Quanto às pessoas com
deficiências, a empresa atende ao que determina a legislação no que ser refere à proporção do
contingente efetivo.
2.1.2. Trabalho Inaceitável78
75
Trabalhadoras e trabalhadores entrevistados atuam em áreas como refinaria, redução, controladoria
(contabilidade), ambulatório, administrativo, almoxarifado, laboratório físico-químico, segurança do trabalho e
meio ambiente, manutenção (mecânica) e operação de apoio. 76
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 77
As gestoras de RH da Alumar foram entrevistadas nos dias 17 e 18 de outubro de 2012, na própria unidade. 78
O governo brasileiro criou, em 1996, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que envolve um
conjunto de ações com a finalidade de retirar crianças e adolescentes de até 16 anos das práticas de trabalho
infantil – exceto na condição de aprendiz, a partir de 14 anos de idade. Em abril de 2012, o maior contingente de
crianças e adolescentes a ser atendido pelo PETI (em torno de 540 mil) encontrava-se na Região Nordeste, que
39
A Alumar não contrata menores de idade. Com relação ao Programa Jovem
Aprendiz, são contratados para atuar nas áreas operacionais jovens na faixa etária de 18 a 24
anos, estudantes do SENAI, cuja remuneração é de um salário mínimo (R$ 622,00).
2.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo
A média salarial mensal na Alumar, de acordo com os dirigentes, é de
R$ 2.000,00 – na área operacional o salário inicial é de R$ 1.200,00, no entanto, há
remunerações na empresa que superam R$ 20.000,00 mensais. No entanto, um dos
sindicalistas entrevistados mencionou que trabalhou durante 9 anos na Alumar e não chegou a
ser remunerado com o salário médio79
. Há alguns anos (aproximadamente em 2009), a
empresa teria lançado um programa de valorização dos quadros de engenharia numa tentativa
de conter a perda crescente de profissionais para outras empresas.
A carreira por habilidade implementada pela Alumar foi intensamente
criticada pelos dirigentes, que completaram que o sistema dificulta e retarda a ascensão na
hierarquia funcional da empresa, o que resulta num período de aproximadamente 11 anos até
que um operador atinja o nível especializado A (o topo na hierarquia operacional básica) – o
processo de ascensão é acentuadamente fracionado e envolve pequenas
movimentações/promoções que, no entanto, na prática, exigem várias pequenas promoções e
grande intervalo de tempo para resultarem numa progressão que de fato contemple os
trabalhadores. A carreira por habilidade é um mecanismo que envolve avaliações anuais por
chefias imediatas, bem como outros gestores – considerando aspectos como competência
técnica, relacionamento interpessoal, pontualidade, absenteísmo, “entrega”, autoavaliação,
boas condições de saúde –, e influencia nas oportunidades de promoção, a depender também
englobava cerca de 63% da capacidade de atendimento em território nacional. A Bahia (124 mil), Pernambuco
(110 mil) e Maranhão (98 mil) representavam as unidades federativas que contavam com maior número de
crianças e adolescentes a serem atendidos pelo PETI. Desde 2005 o PETI compõe o Sistema Único de
Assistência Social (SUAS) e possui 3 eixos que norteiam sua implementação: transferência direta de renda a
famílias com crianças ou adolescentes em situação de trabalho, serviços e atividades de convivência e
fortalecimento de vínculos para crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos e acompanhamento familiar
através do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS). Fonte: OIT, 2012, p. 177. 79
Um parâmetro analítico interessante é o “Salário mínimo necessário”, calculado pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), de R$ 2.617,33 em outubro de 2012. A
definição de salário mínimo necessário, em consonância com as diretrizes constitucionais: “Salário mínimo de
acordo com o preceito constitucional ‘salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender
às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder
aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim’ (Constituição da República Federativa do Brasil, capítulo
II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV).” Fonte: DIEESE. Disponível em:
<http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml>. Acesso em 07/11/2012.
40
da disponibilidade de vagas. Além disso, afirmaram que as avaliações não são objetivas e
fundamentam-se em personalismos, favorecendo determinados funcionários segundo
afinidades pessoais. Os dirigentes também enfatizaram que tanto sindicalistas quanto
trabalhadores sindicalizados são preteridos em momentos de promoção e aqueles que almejam
tornarem-se líderes em atuação na empresa têm de estar desvinculados do sindicato.
A este respeito a Alcoa esclarece que “o sistema de Carreira por Habilidade
tem o objetivo de recompensar o empregado por novas habilidades aprendidas e efetivamente
desempenhadas. Lançado em 2003, movimentou mais de 800 empregados da área
operacional na sua implantação. O sistema permite que os empregados acompanhem a
própria carreira e não mais só a sua liderança. Está implantado em outras grandes
organizações do mercado, mas a empresa reconhece que, por ser um tema que exige
conhecimentos técnicos sobre Plano de Carreira, a comunicação com os empregados precisa
de constante aprimoramento para melhor entendimento do processo, relação que possui
suporte da liderança imediata e da área de Recursos Humanos”80
.
Os trabalhadores entrevistados também manifestaram insatisfação com o plano
de carreira praticado. Acrescentaram que não se sentem bem esclarecidos quanto ao método
de funcionamento, assim como quanto aos critérios (são “obscuros”) e que não há discussão
a esse respeito. Avaliam que cada um é, por si só, responsável por sua carreira. Acreditam que
as avaliações não são eficientes ou adequadas para o pessoal operacional, tendo em vista que
são realizadas com a aplicação de provas teóricas e formais, que não captam o mérito e a
destreza no exercício prático das atividades. Também afirmaram que não há progressão por
tempo de serviço – há pessoas que ocupam há 10 anos o mesmo cargo. A empresa, segundo
esclareceram, alega que não há vagas para promovê-los, no entanto, já foram indicadas
pessoas recém-contratadas para ocupar vagas disponíveis. Manifestaram, de modo geral,
desmotivação com relação à profissão, não visualizando possibilidades de ascensão – em
pesquisa de opinião noticiada pelo SINDMETAL, realizada entre os dias 8 e 11 de outubro de
2012, 91,4% dos trabalhadores entrevistados responderam que a Carreira por Habilidade não
garante a satisfação e valorização salarial do funcionário81
.
A Alumar oferece um plano de Participação nos Lucros e Resultados (PLR),
negociado por comissão interna eleita anualmente. Composta por 5 membros representantes
80
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 81
Foram ouvidos 581 trabalhadores de todos os horários, dentro da Alumar. Fonte: SINDMETAL. Disponível
em: <http://www.sindmetal-slz.com.br/novo3/>. Acesso em 23/11/2012.
41
de cada área da empresa (refinaria, redução e administrativo), a comissão nos últimos dois
anos não conta com a participação de nenhum dirigente sindical – embora 50% das vagas
sejam reservadas ao sindicato, segundo representantes da empresa –, uma vez que os
sindicalistas reivindicam negociação direta com o sindicato, sem a comissão. Prevê, conforme
acordo estabelecido, o pagamento de até dois salários e meio por ano; contudo, informaram os
sindicalistas, neste ano, será pago 93% do salário mensal por semestre, com a empresa
justificando elevados custos e metas de produção não atingidas, bem como em virtude da
ocorrência de acidentes de trabalho (não houve o cumprimento das metas de segurança)82
.
A empresa também oferece um benefício denominado Vantagem Pessoal (VP),
criado em 2005 no momento de implementação do turno fixo de trabalho – em substituição
ao turno de revezamento – com a finalidade de compensar a perda do adicional noturno,
contemplando somente trabalhadores empregados durante a transição – após paralisação do
processo produtivo, em protesto contra a alteração – e que sofreriam redução na remuneração
(acompanhe na tabela 2 a seguir um comparativo de jornadas entre o turno de revezamento e
o turno de horário fixo). A VP é equivalente à média das horas de adicional noturno
remunerado antes da implantação do horário fixo.
A respeito da VP, a Alcoa informa que: “a vantagem pessoal é uma verba de
compensação – não um benefício –, criada por liberalidade, a partir da implantação do
horário fixo. O objetivo foi preservar o padrão de vida dos empregados que trabalhavam no
sistema de turno. Para tanto, calculamos a média do adicional nos últimos 12 meses e
criamos a verba VP, de forma a preservar a remuneração do empregado. Importante
ressaltar o caráter de liberalidade, já que o adicional noturno é um adicional condicional, ou
seja, saiu da condição, deixa de receber” 83
.
82
“Nas operações no Brasil, o número de incidentes de qualquer espécie, bem como sua gravidade, impactam
diretamente a remuneração do funcionário da operação até a alta liderança. Para os funcionários da operação,
os indicadores de segurança influenciam o Plano de Participação em Resultados (PPR) e, para a alta liderança,
a composição do bônus.” (Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 15). 83
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
42
Tabela 8: Comparativo entre o turno de revezamento e o turno fixo na Alumar
– dados gerais
Turno de
revezamento
Horário
fixo A
Horário
fixo B
Horário
fixo C
Horas normais 132,00 168,67 168,67 168,67
Folga 44,00 22,00 22,00 22,00
Descanso semanal remunerado 44,00 29,33 29,33 29,33
Adicional noturno 46,50 126,50 0 34,50
Total 220h/mês 220h/mês 220h/mês 220h/mês Fonte: Consórcio de Alumínio do Maranhão (Alumar).
Elaboração: Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL).
Há avaliações de desempenho anuais na empresa, a partir de metas
estabelecidas pelos gestores, acompanhadas semestralmente pelas supervisões imediatas.
Essas avaliações determinam as possibilidades de promoção e demissão, interferindo na
concessão de benefícios, tal como o reembolso escolar, cujo percentual do subsídio concedido
é atrelado à nota individual do trabalhador. Comentando acerca da política de qualificação
da mão de obra na Alumar, os dirigentes mencionaram que as áreas operacionais não recebem
quaisquer incentivos com a finalidade de incrementar sua qualificação. Os trabalhadores, por
sua vez, confirmam esta percepção, reafirmando que, de modo geral, não são incentivados a
se qualificar. Muitas vezes os cursos solicitados, mesmo sendo condizentes à função
desempenhada, não são aprovados.
2.1.4. Jornada Decente
O SINDMETAL informa que há jornada de trabalho excessiva, com
trabalhadores convocados para realizar horas extras em dias de folga84
.
Na Alumar está em exercício, desde 2005, o turno fixo de trabalho, a partir do
qual os trabalhadores operacionais trabalham por 7 horas diárias durante 6 dias e folgam os 2
dias seguintes – há, portanto, três horários de trabalho: das 7h30 às 15h30, das 15h30 às
23h30 e das 23h30 às 7h30. O turno fixo foi inserido, de acordo com gestores da empresa,
porque a unidade estava perdendo competitividade com o modelo de jornada anterior. O
horário de almoço, segundo entrevistados, nem sempre é respeitado e com frequência os
trabalhadores operacionais usufruem de apenas meia hora para refeição e descanso, podendo
ser requisitados pelo telefone ou rádio de controle. Contudo, os gestores da empresa afirmam
84
Fonte: Jornal do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL). Ano 8, nº 47, edição
Jan/Fev de 2012, p. 3. Disponível em: http://www.sindmetal-
slz.com.br/novo3/JORNAL%20DO%20SINDMETAL%20JAN%20FEV%2020122.pdf
43
que “tanto os trabalhadores do horário administrativo, quanto os do horário fixo, possuem 1
hora de intrajornada, decidindo livremente sobre a sua utilização. Para facilitar o acesso, a
empresa conta com 2 refeitórios na Refinaria, 1 no Porto, e 2 na Redução, além do
restaurante central”85
.
As horas extras, por sua vez, são desempenhadas somente em situações de
necessidade, sendo no máximo 2 horas extraordinárias por dia, de acordo com os
trabalhadores. Os dirigentes, contudo, acrescentaram que há ocasiões em que a realização de
horas extras ultrapassa o limite diário de 2 horas: o trabalhador é orientado a registrar o ponto
(“bater o cartão”) no horário previsto, com a expectativa de negociar posteriormente com o
supervisor o recebimento da jornada excessiva – sem a posse de qualquer documento que
comprove essa realização –, que será “distribuída” ao longo da jornada registrada no mês,
evitando assim formalizar irregularidades. Alguns entrevistados afirmaram que, se houver a
recusa para a realização de horas extras, há alguma penalização por parte da empresa porque o
trabalhador “fica mal visto”.
Além disso, a Alumar não adota nenhuma medida especial com a finalidade de
facilitar o acesso ou as condições de trabalho para trabalhadores no turno da noite, apenas o
transporte oferecido coletivamente – entretanto os ônibus operam em itinerários definidos e
conduzem os trabalhadores até determinado caminho, a partir do qual têm de prosseguir
caminhando.
A Alcoa, no entanto, informa que “a empresa disponibiliza vários canais de
comunicação com os empregados e não há registros dessa prática, bem como não há registro
de medidas administrativas por recusa em realizar hora extra. Ao contrário, a empresa
possui ‘política’ e procedimento para restringir a sua realização, por entender que ela
representa uma situação fora do planejamento operacional, gerando custos adicionais ao
processo e ampliação da jornada de trabalho por período determinado, sem a contrapartida
em produtividade. Além disso, a hora extra na Alumar tem custo elevado, já que é pago 100%
do valor da hora trabalhada em qualquer horário, portanto, bem superior ao previsto em
legislação, que é de 50%”.86
85
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 86
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
44
Já em relação ao transporte noturno, a empresa esclareceu que “o transporte
coletivo oferecido pela empresa, com ar condicionado, possui roteiros cobrindo toda a
cidade de São Luís, inclusive algumas áreas da região metropolitana, como São José de
Ribamar. A cidade de São Luís cresceu significativamente nos últimos anos, com áreas que
ainda não permitem boa acessibilidade aos ônibus, o que limita a prestação do serviço.
Nestes casos, a empresa deixa o empregado o mais próximo possível da sua residência”87
.
Nos cargos técnicos os trabalhadores podem estar de plantão, inclusive aos
finais de semana e feriados, sendo contatados através de aparelhos celulares que não podem
ser desligados; ficam, portanto, à disposição da empresa, não sendo entretanto remunerados
por este tempo. Já a área administrativa funciona em horário comercial: 8 horas diárias de
segunda-feira a sexta-feira; contudo, há determinados setores nos quais, em ocasiões
específicas, trabalhadores são convocados para trabalhar aos finais de semana, inclusive aos
domingos, além de que não têm horário para sair da fábrica – nestes casos, particularmente,
essas horas não são contabilizadas como horas extras, ou seja, não são remuneradas, nem
compõem um banco de horas.
2.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho
Os trabalhadores entrevistados revelaram que pretendem estar empregados na
Alumar daqui a um ano. Ressaltaram, no entanto, que não existe estabilidade assegurada, em
virtude das frequentes demissões – por baixos rendimentos (“baixa performance”) ou por
falhas cometidas na execução do trabalho, assim como, inclusive, por pedidos de promoção, e
mesmo para aqueles que trabalham há muitos anos na empresa. Observam uma tendência à
expansão da terceirização na Alumar, bem como redução do quadro geral de funcionários –
segundo eles, auditorias recentes têm indicado esta tendência. Acompanha o desligamento de
trabalhadores diretos, muitas vezes, seu retono como terceirizado.
2.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar
A respeito da possibilidade de acompanhar filhos, cônjuges e pais em consultas
e exames médicos e da possibilidade de participar das atividades escolares dos filhos, os
87
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
45
entrevistados ressaltaram que, nas áreas operacionais, comprovantes para justificativa de
acompanhamento são muitas vezes recebidos com sermões e repreensão – para consultas
médicas do próprio trabalhador, os atestados são aceitos –, o que condiciona trabalhadores a
evitar essas situações ou apenas se disponibilizar aos compromissos familiares em último
caso. Já nas áreas administrativas, nas quais não há registro do ponto, esse tipo de negociação
é mais fácil. Conforme destacaram os dirigentes, a implementação do horário fixo resultou em
prejuízos à vida social e familiar de trabalhadores, repercutindo inclusive na elevação do
número de separações conjugais após a modificação do regime de jornada. Comentando
acerca do tempo dedicado à realização de afazeres domésticos e cuidado dos filhos, os
homens trabalhadores entrevistados em geral afirmaram que não o fazem sistematicamente,
apenas quando estão de folga – um dos entrevistados, no entanto, destacou que compartilha
destas atividades com a esposa diariamente; já as trabalhadoras relataram que os afazeres
domésticos fazem parte de suas jornadas cotidianas, à exceção daquelas que moram com a
mãe88
. O tempo de deslocamento de casa ao trabalho é de cerca de 45 minutos a 1 hora e 15
minutos no trajeto de ida e o retorno pode levar até 2 horas.
2.1.7. Tratamento Digno no Emprego
A respeito de assédio moral, o SINDMETAL denuncia em jornal a ocorrência
de punições arbitrárias a trabalhadores em São Luís, com descontos no salário, contrariando o
próprio Código de Conduta Empresarial da Alcoa89
– o periódico, contudo, não relata o
contexto em que tais punições estariam ocorrendo. Trabalhadores entrevistados também
mencionaram situações em que foram alvo ou presenciaram colegas sendo submetidos a
assédio moral: em uma dessas situações, o trabalhador presenciou o chefe chamando o
subordinado de “burro”; outro entrevistado referiu-se ao encarregado como “carrasco” e, no
caso de uma empresa contratada, o supervisor foi acusado de autoritarismo. Os relatos
também apontaram que um superintendente, em virtude de uma falha constatada em uma das
operações produtivas, referiu-se aos subordinados como “incompetentes e irresponsáveis”,
dando dois socos na mesa, e ameaçando-os de demissão.
88
A jornada semanal total dedicada ao mercado de trabalho e aos afazeres domésticos no Maranhão era, em
2009, equivalente a 56,1 horas em se tratando dos homens e, em relação às mulheres, de 62 horas. Na Paraíba e
em Pernambuco, a jornada semanal total feminina superava em mais de 8 horas a desempenhada pelos homens,
em virtude, sobretudo, da sobrecarga dos afazeres domésticos. Fonte: OIT, 2012, pp. 114-115. 89
Fonte: Jornal do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL). Ano 8, nº 47, edição
Jan/Fev de 2012, p. 3. Disponível em: http://www.sindmetal-
slz.com.br/novo3/JORNAL%20DO%20SINDMETAL%20JAN%20FEV%2020122.pdf.
46
Sobre essas narrativas a Alcoa esclarece que “possui código de conduta ética e
valores publicados, divulgados a todos os empregados, que proíbem este tipo de conduta. Os
empregados possuem canais de comunicação para reportar eventuais situações, que são
imediatamente tratadas. Além disso, as auditorias externas fazem um monitoramento a cada
seis meses”.90
Ainda em se tratando de assédio moral, os dirigentes sindicais afirmaram que
frequentemente trabalhadoras e trabalhadores comparecem ao sindicato queixando-se de
tratamento hostil na Alumar. Mencionaram o caso recente de uma trabalhadora, em restrição
médica, que teria sido demitida após reclamar das condições de tratamento por outros
operadores e pela chefia imediata. Ela teria realizado uma denúncia pelo serviço 0800 (sobre
conduta ética) oferecido pela empresa e, em seguida, queixado-se presencialmente no
departamento de RH. De acordo com os sindicalistas, um dos acusados teria sofrido
suspensão do trabalho por 2 ou 3 dias e a trabalhadora denunciante foi demitida. O sindicato,
entretanto, rejeitou a homologação mas a trabalhadora recusa-se a retornar ao local de
trabalho, possivelmente por sentir-se constrangida em virtude dos acontecimentos.
No que concerne a assédio sexual, em visita à Alumar fomos informados de
que há um dirigente sindical sendo processado na Justiça, pela empresa, pois teria forçado a
uma técnica de segurança de uma empreiteira um beijo dentro da fábrica. O processo corre há
dois anos; suspenso pela empresa, o dirigente chegou a ser demitido e, posteriormente
religado à empresa por decisão judicial, em virtude do veredito ainda não ter sido proferido e,
portanto, não ser possível sua condenação. Em entrevista, o sindicalista negou a procedência
da acusação e reafirmou sua inocência.
Entretanto, os gestores da Alcoa afirmam que “a Alumar nunca desligou este
dirigente sindical. Desde o início do processo, a empresa suspendeu o contrato de trabalho
para a apuração de falta grave, nos termos legais previstos. A demanda ainda está sub
judice.” 91
.
Outros casos de assédio sexual foram mencionados e, segundo gestores da
empresa, foram averiguados e já houve desligamentos – a empresa oferece um mecanismo de
denúncia através de ligação telefônica sigilosa e pode encaminhar para investigações. Os
90
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 91
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
47
sindicalistas também se referiram a situações de assédio sexual, com 2 casos recentes
ocorridos no setor de refinaria.
Trabalhadores e dirigentes entrevistados ressaltaram que existe tratamento
discriminatório por participação sindical na Alumar, cerceando as chances de ascensão na
hierarquia funcional da empresa, tanto de sindicalizados como de sindicalistas, além de que
não são contemplados quando solicitam cursos de qualificação ou mudanças de turno.
2.1.8. Trabalho Seguro
O periódico sindical comenta que há subnotificação de Comunicados de
Acidente de Trabalho (CAT) e relata que há casos em que a emissão do laudo técnico Perfil
Profissiográfico Previdenciário (PPP), não apresenta os devidos efeitos para aposentadoria
especial92
– possivelmente por incorreções no preenchimento dos dados, o que implica em
prejuízos aos trabalhadores e configura crime de falsificação.93
Já a Alcoa aponta que “emite CAT para todos os acidentes de trabalho,
independente de afastamento ou de restrição da capacidade laboral, mesmo para incidentes
menos graves e não relacionados à tarefa, demonstrando uma prática bastante conservadora
e protetora dos trabalhadores. Em 2012, foram emitidas 13 CATs”94
.
As entrevistas revelaram que o ritmo de trabalho na Alumar é bastante
extenuante, com trabalhadores tensionados sob forte pressão psicológica, além dos esforços
físicos exigidos em algumas áreas, e há casos de trabalhadores que permanecem afastados por
anos em virtude de problemas de saúde decorrentes da sobrecarga de trabalho. Nas áreas
operacionais há com frequência situações em que trabalhadores não conseguem cumprir e
desempenhar todas as solicitações, pelo expressivo volume de trabalho, e as tarefas são
acumuladas para o dia seguinte – nesse sentido, os trabalhadores operacionais não possuem
horário fixo para o almoço e muitas vezes têm de encurtar o período previsto para refeição e
descanso. As campanhas sustentadas pela empresa com a finalidade de promover melhor
92
Fonte: Jornal do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL). Ano 8, nº 47, edição
Jan/Fev de 2012, p. 3. Disponível em: http://www.sindmetal-
slz.com.br/novo3/JORNAL%20DO%20SINDMETAL%20JAN%20FEV%2020122.pdf.. 93
Embora tenha sido observada redução de 14,0% no número de acidentes sem CAT registrada no período de
2008 a 2010 no Brasil, em 2010 vários estados brasileiros ainda apresentavam elevada proporção de acidentes
sem CAT registrada no total de acidentes, correspondendo a 61,7% no Piauí, 46,5% no Acre e 43,9% no
Maranhão. Fonte: OIT, 2012, p. 273. 94
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
48
qualidade de vida foram questionadas, uma vez que o ritmo de trabalho dificulta a realização
de atividades físicas: os trabalhadores saem muito cedo de casa e retornam exaustos, com a
expectativa de estudar e incrementar a carreira; no caso das mulheres trabalhadoras há outro
agravante: a responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos e a prevalência da percepção
cultural de que se trata de “atribuições femininas”.
As principais doenças ocupacionais que acometem os trabalhadores da
Alumar citadas em entrevistas foram: problemas de coluna, doenças de pele, doenças
respiratórias, LER/DORT (Doenças Ortomoleculares Relacionadas ao Trabalho), diabetes –
que afeta sobretudo trabalhadores do horário noturno –, estresse – particularmente comum –,
síndrome do pânico, alcoolismo e dependência química95
, assim como casos de câncer e
contaminação por alumínio no sangue e ossos – o que teria sido comprovado por exames
clínicos: há um trabalhador em estado grave, sem a possibilidade de cura, e aproximadamente
outros 5 casos cujos trabalhadores estariam em tratamento médico, segundo os dirigentes. Foi
citado o caso em que um trabalhador sofreu paralisia facial em função de choque térmico, no
horário do almoço, pelo uso do ar condicionado.
Em relação aos casos de trabalhadores com ou em tratamento de câncer, a
Alcoa acrescenta que “o alumínio (CAS 7429-90-5) é classificado pela ACGIH (American
Conference of Governmental Industrial Hygienists) como uma substância A4 (Não
Carcinogênico Humano). Não há registro de câncer ocupacional no histórico da Alumar. A
Alumar conta com um programa de vigilância à saúde do trabalhador bastante robusto e
cientificamente embasado. Além da vigilância ocupacional, a Alumar ainda se dedica a ações
preventivas e de promoção da saúde, por meio do Centro de Orientação (CO), que conta com
consultas preventivas e aconselhamento em saúde. Apenas em 2012, 8.161 pessoas foram
atendidas no CO. A Alumar possui um programa de reabilitação de trabalhadores afastados,
independente da causa do afastamento ser relacionada ou não com o trabalho. Em parceria
com o INSS, a Alumar tem reintegrado vários trabalhadores todos os anos a novas
atividades”96
.
95
A Alumar dispõe de um programa de assistência social a seus funcionários, o PARE (Programa de Apoio e
Recuperação do Empregado), que oferece tratamento – e inclusive, a depender do caso, internação – a
trabalhadoras e trabalhadores dependentes de álcool ou drogas. O atendimento, segundo esclareceram as gestoras
da empresa entrevistadas, pode ser realizado por quaisquer trabalhadores que manifestem voluntariamente o
desejo ao tratamento, desenvolvido de forma confidencial e mantido em sigilo. 96
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
49
No que concerne à atuação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(CIPA) – composta por 32 membros, dos quais 16 são representantes da empresa, inclusive o
presidente, indicado pela empresa, e os outros 16, incluindo o vice-presidente, que seria o
mais votado dentre os representantes eleitos pelos trabalhadores –, alguns dos entrevistados
avaliaram-na negativamente e frisaram que a entidade não desempenha de fato sua função de
zelar pela saúde do trabalhador, uma vez que os membros não são presentes no dia-a-dia.
A propósito dos acidentes de trabalho, os dirigentes afirmaram que as
ocorrências são frequentes – o que se comprovaria pelo fato de que a meta de segurança este
ano não teria sido atingida e a PPLR foi reduzida –, e citaram o acontecimento de um acidente
fatal após a queda de um descarregador ocupado por um trabalhador terceirizado97
. Sobre este
caso específico, a Alcoa esclareceu que “o Programa de Participação nos Lucros e/ou
Resultados não inclui estatísticas de acidentes com terceiros e, além disso, o referido
acidente ocorreu em 2010 com um empregado da Alumar e não terceiro” 98
.
Abordaram ainda a ocorrência de um acidente com um trabalhador recém-
contratado (havia 4 dias), prestando serviço em regime temporário, que quase teve o dedo
decepado executando uma tarefa para a qual não havia sido treinado. Este ano teriam
acontecido 4 acidentes no mesmo setor em menos de 60 dias: num deles, o trabalhador teria
sofrido choque de arco voltaico (choque elétrico), teve parada cardíaca e está atualmente
afastado; aqueles que o socorreram teriam sido demitidos (o trabalhador desempenhava uma
tarefa em altura e foi removido pelos companheiros de trabalho). Segundo os dirigentes,
comentários sobre os acidentes são coibidos e os envolvidos, incluindo a vítima acidentada,
são normalmente condenados – punidos com a demissão – por “infringir” as normas de
segurança da empresa. Essas penalizações podem desencadear medo e resultar na ocultação
de acidentes, como a situação narrada segundo a qual um terceirizado se queimou com soda
cáustica e omitiu o ocorrido, não teve o atendimento usual recomendado e está sofrendo
sequelas que poderiam facilmente ter sido evitadas, caso as devidas providências tivessem
sido tomadas em tempo hábil.
97
O número de óbitos em acidentes de trabalho registrou expansão em oito estados brasileiros entre 2008 e 2010,
dos quais seis estão na Região Nordeste: Rondônia, Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande
do Sul e Goiás. No Maranhão, o crescimento do número de óbitos foi de 28,9%, enquanto em Pernambuco a
elevação foi de 44,1%. Já a Taxa de Mortalidade por Acidentes de Trabalho aumentou em Goiás, Maranhão,
Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí – no Maranhão, passou de 10,0 em 2008 para 11,6 óbitos por 100.000
vínculos em 2010. Fonte: OIT, 2012, pp. 275-277 e 280. 98
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
50
Já a Alcoa aponta que os incidentes são divulgados com a finalidade de “gerar
aprendizados, achar a causa raiz e evitar recorrências. A empresa trabalha para evitar a não
comunicação, inclusive de acidentes ocorridos fora do trabalho” 99.
De acordo com os entrevistados é comum os trabalhadores desempenharem as
atividades profissionais mesmo quando estão com alguma doença ou sentindo-se mal (com
gripe ou dor de cabeça, por exemplo): houve relatos segundo os quais supervisores
questionam os atestados médicos ou recebem-nos com ironia (“você vai quebrar minhas
pernas!”). Há situações rotineiras nas quais o funcionário, mesmo tendo recebido atestado de
um médico do plano de saúde ou do Sistema Único de Saúde (SUS), deve consultar-se com o
médico da Alumar, que pode colocá-lo “em restrição”, isto é, embora não desempenhe as
funções cotidianas, tem obrigatoriamente de comparecer ao local de trabalho e registrar o
ponto: desse modo, há implicações sobre o exato registro dos índices de absenteísmo e
afastamento, além da possibilidade de prejudicar o devido preenchimento do PPP (em casos
de acidente de trabalho ou acidente de trajeto).
Analisando o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e
equipamentos de proteção coletiva (EPC) na empresa, quanto à eficiência, disponibilidade e
regularidade do uso (vide quadro anexo), os entrevistados avaliaram positivamente os itens
em geral. Acrescentaram que o produto “diphoterine” – que neutraliza a reação da soda
cáustica no corpo quando aplicado imediatamente na região afetada, impedindo queimaduras
–, essencial para o trabalho na refinaria, e que requer alto investimento pela Alumar, de fato
realizado, em virtude de seu custo elevado, é no entanto disponibilizado em quantidade
insuficiente – o produto é provido em cilindros de 5 litros para uso coletivo nas áreas e em
frascos pequenos para uso individual. Foram avaliados com nota “regular” alguns itens tais
como: célula fotoelétrica (dispositivo de segurança de máquinas), presentes na oficina central,
e etiquetas/cordões de isolamento; como “ruim”, foram classificados comandos bimanuais
(dispositivo de segurança de máquinas), barricadas, luzes de advertência e iluminação
artificial. Acerca das camisas de mangas compridas com proteção química, em tecido
impermeável, os entrevistados enfatizaram que a propriedade impermeabilizante é garantida
somente até a terceira lavagem, quando a vestimenta precisaria ser substituída porque se torna
99
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
51
uma camisa convencional. Quanto às áreas de redução, os equipamentos foram bem
avaliados.
Ainda a respeito do uso dos equipamentos de proteção individual (EPI), os
dirigentes entrevistados destacaram que aqueles utilizados pelos terceirizados, em
determinados setores, são de qualidade inferior e disponibilizados em menor quantidade – as
máscaras, particularmente, para uso dos diretos são mais resistentes e funcionam por 18 dias,
sendo que aquelas de uso dos terceirizados são descartáveis e podem ser trocadas, no máximo,
três vezes ao dia, o que seria insuficiente, de acordo com os dirigentes, em função do suor e
tornaria sua utilização ineficaz. Os trabalhadores, no entanto, completaram afirmando que os
terceirizados fazem uso dos mesmos EPIs, de responsabilidade da contratada, que deve seguir
as mesmas recomendações de segurança empregadas pela Alumar.
Sobre a exposição da mão de obra à radiação ionizante (em atendimento à NR-
7) na Alumar, as gestoras da empresa afirmaram que é realizado um controle com medição da
radiação através de um equipamento especial, o dosímetro, destinado àqueles que
desempenham o trabalho nas proximidades de uma fonte de exposição, localizados sobretudo
em áreas da refinaria. Nas salas de cubas, particularmente, realiza-se o controle da dosagem
do fluoreto, cujo exame para prevenir contaminações é realizado semestralmente, a partir da
urina de trabalhadores expostos.
2.1.9. Proteção Social
Comentando acerca do retorno e da garantia ao emprego após licença-
maternidade e licença-paternidade, os entrevistados mencionaram casos em que trabalhadores
não se mantiveram na empresa após o período do benefício. Também citaram o caso em que
um trabalhador afastado por acidente de trabalho, e que teria cometido uma falha no
desempenho de suas funções, foi demitido ao retornar à empresa. Contudo, ao se posicionar a
esse respeito, a Alcoa esclareceu que “além de cumprir rigorosamente a estabilidade legal
prevista para os que retornam após afastamentos por acidente de trabalho, a empresa
esforça-se na recuperação e reintegração do empregado, buscando fazê-lo efetivo e ativo no
retorno ao trabalho” 100
.
100
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
52
Além disso, a Alumar não oferece, como benefício a trabalhadoras e
trabalhadores que venham a se tornar mães ou pais, creche ou auxílio-creche (reembolso
creche), em descumprimento à legislação trabalhista – o artigo 389 da CLT prevê que as
empresas que empreguem pelo menos 30 mulheres com mais de 16 anos de idade são
obrigadas a disponibilizar creche às trabalhadoras pelo período da amamentação, que vai do
nascimento aos 6 meses do bebê. A este respeito, as gestoras da empresa afirmaram na
entrevista que realmente se trata de uma “oportunidade para a Alumar”. Em posicionamento
oficial após a apresentação preliminar deste relatório, a Alcoa enfatizou que “a empresa
estuda a implantação do benefício creche em todas as unidades da Alcoa no Brasil”101
.
2.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva)
No jornal do SINDMETAL, edição de janeiro e fevereiro de 2012, foram
denunciadas práticas antissindicais cometidas pela Alumar. Em novembro de 2011 houve
ameaça de suspensão do pagamento de salários dos três dirigentes licenciados para o exercício
sindical, obrigando-os a retornarem às atividades fabris – o presidente do sindicato salientou
que, no período em que teve de retornar ao trabalho na fábrica, foi entretanto mantido em
isolamento –, além de cerceamentos à atuação efetiva dos dirigentes na empresa – não
oferecendo estrutura necessária, como acesso à internet, recusando o uso de celular, bem
como a distribuição de comunicados.102
Com a assinatura da Convenção Coletiva de 2012 foi
retomada a liberação integral para o exercício sindical pelo presidente do SINDMETAL, José
Maria Araújo, pelo período de 2 anos103
.
No que se refere às denúncias tratando de práticas antissindicais, os gestores da
empresa afirmam que “a Alumar é certificada na Norma de Responsabilidade Social
(SA8000) auditada de 6 em 6 meses, que dentre outros requisitos avalia a liberdade de
atuação sindical; possui 25 dirigentes sindicais, atuando nas áreas administrativas e
operacionais; libera o Presidente do Sindicato, com remuneração, para o exercício das suas
funções sindicais; tem mais de 30% dos trabalhadores associados ao sindicato, quando a
101
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 102
Fonte: Jornal do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL). Ano 8, nº 47, edição
Jan/Fev de 2012, p. 2. Disponível em: http://www.sindmetal-
slz.com.br/novo3/JORNAL%20DO%20SINDMETAL%20JAN%20FEV%2020122.pdf. 103
Fonte: Jornal do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Luís (SINDMETAL). Ano 8, nº 49, edição
Mai/Jun de 2012, p. 3.
53
média no mercado é de 18%. Por fim, respondeu, oficialmente, a uma demanda do Sindicato
na Justiça do Trabalho, que nada comprovou sobre tal conduta antissindical. A Cláusula 51ª
da CCT 2012, que diz respeito à liberação com remuneração do Dirigente Sindical, é
integralmente cumprida pela Alumar”104
.
Na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) de 2012, em cláusula 6ª referente à
produtividade, estava previsto o pagamento, a título de Participação nos Lucros e Resultados
(PLR), do valor de R$ 500,00 aos funcionários da Alumar (que constem na folha de
pagamento de 29/02/2012) – a ser pago até 26 de outubro de 2012. O benefício, conforme o
documento assinado pelos sindicatos patronal e laboral, está vinculado à redução do custo de
energia para a indústria do alumínio. Tendo o Governo Federal anunciado o recente pacote de
redução das tarifas de energia (até 28%), a incidir a partir de janeiro de 2013, principiou-se
uma tensão entre empresa e sindicato a respeito do pagamento do benefício, com a empresa
argumentando que a redução anunciada terá incidência apenas em 2013 e ainda não está
definido efetivamente o índice de redução. Após um processo conflituoso de negociação,
cujas discordâncias inclusive culminaram num momento de ruptura dos diálogos, foi enfim
estabelecido um consenso, com a assinatura de um documento aditivo, e a Alumar
comprometeu-se a pagar o benefício este ano em duas parcelas, sendo R$ 300,00 em 26 de
outubro de 2012 e RS 210,00 em 14 de dezembro de 2012.105
A esse respeito, o posicionamento oficial da Alcoa: “a divergência citada
ocorreu devido ao anúncio do Governo Federal sobre a redução do custo de energia no
Brasil. Na negociação coletiva ficou acordado que a empresa concederia um pagamento de
R$500,00 desde que o Governo concedesse a redução do preço da energia”. E completando,
“como é de conhecimento público, a MP 579 foi aprovada no Congresso, mas não foi
sancionada pela presidente Dilma e, portanto, ainda não há data acertada para que entre em
vigor. Mesmo com a aprovação da MP, a Alcoa não alcança a redução anunciada pelo
Governo de 28% no preço de energia e sim 11%. Essa redução depende, ainda, de uma
renegociação do contrato atual com a Eletronorte. Em resumo: até o presente momento a
Alcoa ainda não conseguiu ser beneficiada por redução do custo de energia. A matéria ainda
está sendo discutida no âmbito governamental. A divergência foi exatamente sobre a data de
104
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 105
Fontes: documentos concedidos pela Alumar e entrevistas com dirigentes sindicais e gestores da empresa nos
dias 17 e 18 de outubro de 2012.
54
pagamento. Para solucionar o impasse, a empresa pagou o valor em 2012, mas até o
momento não obteve a redução anunciada pelo Governo” 106
.
Os entrevistados em geral avaliam que há expressiva discriminação contra
dirigentes sindicais bem como trabalhadores mais próximos do sindicato e que participam de
greves, por exemplo; ressaltaram que muitos manifestam o receio de sofrer retaliações ao
envolverem-se mais ativamente com a política sindical, tendo em vista que já houve demissão
de um trabalhador fotografado por agente da empresa em manifestação durante uma greve. Os
sindicalistas não desfrutam das mesmas oportunidades de promoção oferecidas aos demais
trabalhadores e, de acordo com as percepções dos entrevistados, se houver substituição dos
membros do sindicato ao término da gestão que vem se mantendo ao longo dos últimos
pleitos, como chapa única, certamente os atuais membros serão demitidos pela empresa.
Em abril de 2010 houve uma paralisação na Alumar, em reivindicação de
reajuste salarial, e segundo os depoimentos trabalhadores receberam ligações de supervisores
pressionando-os a retornaram ao trabalho. Em assembleia sindical realizada na fábrica, na
portaria externa, no primeiro semestre de 2012 – ainda a propósito do princípio de liberdade
sindical e da proteção ao livre exercício do direito sindical –, houve participação considerada
satisfatória pelos dirigentes, a despeito de que a empresa, ao abonar por uma hora a ausência
de trabalhadores que manifestaram o desejo de comparecer à assembleia, pagou uma
remuneração extra àqueles que se mantiveram no desempenho das funções, numa atitude que
desestimula a prática da política sindical ao “premiar” trabalhadoras e trabalhadores que não
se aproximam das atividades do sindicato.
Sobre a ocasião, segundo a Alcoa “a assembleia realizada na rodoviária da
empresa foi uma iniciativa da Alumar. Para facilitar a participação dos empregados, a
Alumar abonou ausências de turno por mais de uma hora, bem como pagou hora extra aos
empregados que permaneceram nos postos de trabalho enquanto os colegas estavam
liberados para participação na assembleia. Esse fato foi, inclusive, elogiado como uma boa
prática pelo sindicato na época” 107
.
Contudo, os dirigentes entrevistados foram muito enfáticos ao afirmar que
sofrem perseguições por sua atuação, com tentativas de intimidá-los, recorrendo, por
106
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 107
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
55
exemplo, ao uso de câmeras de filmagem quando fazem abordagens na portaria ou utilizam
carro de som.
As entrevistas também revelaram que as lideranças sindicais têm acesso ao
local de trabalho quando solicitam por ofício previamente, porém com restrições, pois
somente podem desenvolver as atividades na portaria ou na rodoviária externa – a fixação de
comunicados sindicais é realizada em espaços previstos pela empresa para comunicação,
exclusivamente num mural localizado na rodoviária externa, local de passagem e considerado
pelos dirigentes como insuficiente. Nesse sentido, os dirigentes mencionaram ter
encaminhado diretamente ao gerente de RH da Alcoa na América Latina e Caribe, Luiz
Burgardt, as seguintes requisições: 1º) quadros de aviso para comunicação, disponibilizados
no interior da empresa; 2º) adequação da disponibilização de EPIs que atualmente estão sendo
compartilhados (caso de fardamentos reservas) e 3º) negociação do pagamento de adicional de
periculosidade.
2.2. Saúde das comunidades do entorno e impactos do processo produtivo
sobre o meio ambiente108
:
O resíduo de bauxita é o principal impacto gerado pelas atividades da Alumar e
não há reutilização possível da substância, haja vista que se trata de material contaminante. O
armazenamento do resíduo de bauxita é realizado em cinco lagos de contenção, localizados
nas dependências da empresa e destinados a tal fim – esses lagos possuem algumas camadas
de revestimento, constituídas por argila, areia, entre outros compostos, com a finalidade de
evitar a contaminação do entorno. As gestoras da empresa entrevistadas salientaram que
existem 87 poços para monitoramento dos resíduos nos lagos e, em cerca de 30 anos de
atuação da empresa na região, não houve indícios de contaminação; além disso, dois destes
lagos já estariam reabilitados, cobertos pela vegetação nativa.
As gestoras acrescentaram que existe uma fabriqueta na unidade, uma
experiência já desenvolvida em outros países, onde são produzidos tijolos (feitos pela mistura
do resíduo de bauxita com cimento para fazer uma espécie de concreto) utilizados para
pavimentação das ruas da Alumar – estes tijolos não poderiam ser aproveitados para
construção de casas, uma vez que são contaminantes. No que concerne à assinatura de algum
108
Infelizmente no escopo desta pesquisa não esteve prevista a realização de entrevistadas com moradores das
comunidades do entorno das instalações da Alumar e, portanto, não será possível dimensionar os impactos das
atividades produtivas da empresa sobre seu modo de vida e segundo suas próprias percepções.
56
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pela Alumar com órgão ambiental, as gestoras
comentaram que já houve negociação, em 2009, em decorrência da execução do projeto de
expansão da refinaria, quando houve deslizamento de mangue durante atividade de dragagem
(em movimentação para aprofundamento do leito do mar) no porto.
57
3. Alcoa World Alumina em Juruti, no Pará
A Mina de Bauxita de Juruti109
está localizada no oeste do estado do Pará. O
projeto de mineração e beneficiamento de bauxita da Alcoa foi originado em 2000, quando a
Alcoa Inc. adquiriu a Reynolds Metals. Por meio de sua subsidiária, a então Omnia Minérios,
foram iniciadas as atividades de pesquisa mineral no município de Juruti com o objetivo de
avaliar o potencial de reservas de bauxita lá existentes, numa área aproximada de 270 mil
hectares, formada por vários platôs entre Juruti e Santarém. A confirmação das reservas foi
intensificada numa área de 50 mil hectares, que compreendia os platôs Capiranga, Guaraná e
Mauari.
Para licenciamento da mina em 2005, após a realização dos Estudos de
Impacto Ambiental (EIA) e a elaboração do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a
Alcoa, segundo consta em seus documentos, realizou várias reuniões preliminares com líderes
comunitários, instituições públicas e privadas e outras partes interessadas. As reuniões foram
sucedidas por três audiências públicas, que deram oportunidade de participação aos
moradores de Juruti, Santarém e de Belém. A primeira audiência pública foi realizada no
centro do município e reuniu seis mil pessoas, número considerado recorde para um evento
dessa natureza. Após as três reuniões foram construídos os Planos de Controle Ambiental
(PCAs)110, o conjunto de infraestrutura da Agenda Positiva111 e o Modelo Juruti Sustentável.
Ainda no mesmo ano, foram concedidas as Licenças Prévias e de Instalação.
As atividades de construção da mina de bauxita de Juruti começaram em 2006 e em 15 de
setembro de 2009 a mina entrou em operação, segundo a Alcoa112, com investimentos de US$ 1,3
109
Juruti (PA), município fundado em 1883, situado à beira do Rio Amazonas, conta com uma população de
cerca de 47 mil habitantes (IBGE, Censo 2010) dos quais cerca de 31.000 residem nas 150 comunidades rurais
da região. Tradicionalmente, sua economia está baseada no cultivo da mandioca, pesca, pecuária e extrativismo.
Fonte: http://www.revistaminerios.com.br / http://www.alcoa.com/brazil/pt/custom_page/environment_juruti.asp 110
Os PCAs compreendem 35 programas, abrangendo ações de monitoramento do clima, do ar, sonora e da
água, a conservação da flora e da fauna, a produção de mudas, educação ambiental, serviços médico-sanitários e
educacionais, de segurança pública, valorizar e reviver a cultura local e de apoio para a elaboração do Plano
Diretor Municipal de Juruti e outros programas. Fonte: Alcoa. Disponível em:
http://www.alcoa.com/brazil/en/custom_page/environment_juruti.asp 111
A Agenda Positiva é um conjunto de ações elaboradas e implantadas pela Alcoa, em parceria com a
Prefeitura Municipal de Juruti, acordadas diretamente com a comunidade local, a partir das audiências públicas
que resultaram no licenciamento de implantação da Mina de Juruti. Com investimentos de R$ 50 milhões, o
pacote de ações contempla as áreas de infraestrutura rural e urbana, saúde, educação, cultura, meio ambiente,
segurança pública e assistência social. A lista completa de ações da Agenda Positiva pode ser consultada na
página da Alcoa Brasil/Mineração Juruti/Desenvolvimento Sustentável na Amazônia. Fonte: Alcoa. Disponível
em: http://www.alcoa.com/brazil/pt/custom_page/environment_juruti_agenda.asp 112
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
58
bilhões, um dos maiores investimentos de mineração da Alcoa. A unidade incorpora as mais
modernas tecnologias de extração da bauxita e tem alcançado evoluções significativas em seus
resultados desde o início das operações, com estrutura para produzir até 12 milhões de toneladas
de minério por ano, com novos investimentos. A vida útil do empreendimento está previsto para
até 70 anos (no mínimo)113. De acordo com a Alcoa114, atualmente possui capacidade de produção
de 4,3 milhões de toneladas.
Estrutura da Mina de Juruti
▪ Beneficiamento: As instalações industriais da área de beneficiamento de bauxita, situadas a
cerca de 60 km da cidade, foram construídas perto do planalto Capiranga, a primeira área
onde a mineração está ocorrendo;
▪Porto: O porto de Juruti terminal terá capacidade para receber navios com peso de até 75 mil
toneladas. O porto está localizado a dois quilômetros do centro da cidade, às margens do rio
Amazonas.
▪Ferrovia: A ferrovia é de aproximadamente 55 km de extensão e opera com 40 vagões, cada
um com capacidade para transportar 80 toneladas. Longos trechos da ferrovia foram
construídos paralelamente à rodovia estadual PA 257, que também foi melhorada com asfalto
e ciclofaixas em trechos que atravessam áreas construídas.
Processo de Produção – O caminho da bauxita115
a) Desmatamento
b) Decapeamento
c) Desmonte mecânico
d) Escavação e transporte da bauxita
e) Britagem
f) Pátio de homogeneização
g) Lavagem
h) Disposição de rejeito
i) Lavagem
113
Fonte: http://www.alcoa.com/brazil/pt/juruti_info_page/vagas-juruti.html. 114
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 115
Fonte: http://www.alcoa.com/brazil/pt/juruti_info_page/Hotsite_CaminhodaBauxita2.html.
59
j) Ferrovia
k) Pátio Porto
l) Embarque
Estrutura de gestão, produção e emprego.
Segundo a gerente de recursos humanos da Alcoa a tomada de decisão passa
por dois níveis: corporativo e local. As decisões tomadas a nível corporativo estão
relacionadas às questões mais estratégicas, como recursos humanos, remuneração, entre
outros. Ainda de acordo com a empresa, a Alcoa “possui um modelo de Recursos Humanos
em que existem três papéis que funcionam integrados: o CoE (Center of expertise),
responsável por trazer boas práticas de mercado, políticas e alinhamento; o GBS-RH,
responsável pela parte transacional das atividades de RH; e na localidade fica o Business
Partner, que é o parceiro do negócio que conecta todas as estratégias de negócio e RH,
garantindo o alinhamento entre políticas e procedimentos e construindo junto com o CoE e o
GBS as ações necessárias ao avanço do negócio e RH” 116
.
Em relação à reestruturação ocorrida nos últimos 5 anos, os gestores
entrevistados enfatizaram que ocorreram mudanças no corpo gerencial de Juruti, na gerência
de RH, organograma das áreas, gerência geral, entre outros. Uma das ações frente às
mudanças ocorridas foi a realização da pesquisa de clima organizacional (Global Voices
Survey) x mudança de gestão (sobre vários itens), apontando como resultado impactos
positivos nas relações de trabalho. De acordo com a Alcoa, a satisfação dos trabalhadores
ficou em 79% em 2011 e 75% em 2012117
. Hoje, os desafios apontados são de ordem
estrutural (projetos de lazer, entre outros).
A repercussão dessas mudanças na organização, nas relações e nas condições
de trabalho reflete-se, sobretudo, no quadro funcional, no qual 28% são jurutienses, 45% de
outros municípios paraenses (maior concentração de municípios do oeste do Pará) e somente
27% de outros estados do Brasil. O crescimento da mão de obra local representa o
compromisso com a política de sustentabilidade da empresa, segundo observações feitas pelo
diretor geral da unidade Alcoa Juruti.
116
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 117
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
60
Para os dirigentes sindicais entrevistados, do ponto de vista de fortalecimento
do sindicato (em Juruti) isso foi ruim, porque “é um pessoal que tem medo de participar em
atividades sindicais, devido ao fato da Alcoa ser a única na cidade que oferece oferta de
emprego” (Azevedo, vice-presidente do STIEMNFOPA).
No que se refere aos critérios de contratação, a Alcoa adota a política de
valorização da mão e obra local (jurutiense) e da mão de obra feminina, que já corresponde a
18% do total de trabalhadores da empresa, desempenhando funções de operadoras,
engenheiras, lideranças e outras posições estratégicas. No quesito treinamento, a empresa
adota a mesma política da Alumar.
As mudanças ocorridas, segundo a gerente de RH, foram (e são)
compartilhadas (mensalmente) com o sindicato, assim como as estratégias que vão impactar
os trabalhadores. Consta na carta de princípios (Cód. De relacionamento sindical). A Alcoa
complementa que “a nova estrutura é composta por oito gerências, uma consultoria de
Relações Comunitárias e Comunicação e um gerente geral da Mina de Juruti. Todos se
reportam diretamente ao gerente geral da mina que, por sua vez, reporta-se ao presidente do
Grupo Global de Produtos Primários da Alcoa América Latina e Caribe”118
.
Segundo a gerente de RH, na maioria das vezes, os cargos de chefia são
ocupados por funcionários antigos que começaram a trabalhar na empresa como operador,
engenheiro, trainee, técnico de manutenção, etc. Caso seja avaliada e concluída a
indisponibilidade de candidatos internos para ocupar as vagas disponíveis (para qualquer
cargo), o departamento de RH aciona a empresa prestadora de serviços para realizar o
processo de recrutamento e seleção externa, emitindo o perfil da vaga. Essa informação foi
confirmada também por dirigentes sindicais e trabalhadores, durante as oficinas desenvolvidas
nos dias 22 e 23 de outubro de 2012.
Conforme consta em documentos da Alcoa, e segundo entrevista realizada com
gestores, a empresa procura cumprir a legislação, admitindo pessoas portadoras de
necessidades especiais e mulheres, por meio de programas e projetos como: Programa de
Estágio e Projeto Jovem Aprendiz.
A Alcoa (Unidade Juruti) tem um programa para estagiários cujo objetivo
principal é oferecer oportunidades de complementação de ensino Superior e de 2º Grau
Profissionalizante, possibilitando a consolidação dos conhecimentos adquiridos e a
118
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
61
complementação das atividades acadêmicas através de experiências práticas. O programa é
desenvolvido em estágio regular119
e, para participar do programa, o estudante deverá estar
regularmente matriculado em uma escola registrada no Ministério da Educação (MEC).
Capacidade Produtiva
Juruti possui um dos maiores depósitos mundiais de bauxita, com reservas
potenciais de cerca de 700 milhões de toneladas métricas. A produção inicial da Mina de
Juruti foi planejada para atingir 2,6 milhões de toneladas métricas por ano120
. Atualmente a
capacidade produtiva, segundo dados da própria empresa, é de cerca de 4 milhões de
toneladas/ano.
A movimentação de cargas (bauxita) no Porto de Juruti, no período de 2009 a
2012, apresentou produção total de bauxita de 7.616.087 (MT), conforme ilustrado na tabela 1
abaixo:
Tabela 9: Movimentação de carga no porto de Juruti – Alcoa World Alumina Ltda.
(2009 a 2012)
Produto 2009 2010 2011 2012
Bauxita úmida à
granel (MT)
279.633
2.598.331 3.929.446 808.677
Fonte: Alcoa.
Elaboração: IOS.
É importante destacar que a produção de bauxita no ano de 2009 é referente a
três meses (outubro a dezembro). Nos anos de 2010 e 2011 o total apresentado (bauxita em
MT) corresponde aos doze meses do ano (janeiro a dezembro). E, em 2012, somente aos
meses de janeiro e fevereiro.
Fornecedores
Apesar de não haver uma política formal da empresa em relação à preferência
por fornecedores locais, a Alcoa prioriza a contratação de fornecedores locais seguindo
119
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 120
Fonte: Alcoa. Mina de Bauxita de Juruti. Disponível em:
http://www.alcoa.com/brazil/en/custom_page/environment_juruti.asp.
62
critérios de sustentabilidade estabelecidos pelo Programa Compras Sustentáveis, da
companhia. Desde 2009, conforme consta em documentos, a empresa avalia, qualifica e
contrata parceiros comerciais com base nesses critérios. No Pará e no Maranhão a Alcoa
desenvolve o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores.
Exige, ainda, o cumprimento integral da legislação trabalhista e a não
utilização de trabalho infantil e escravo. São escolhidos, preferencialmente, aqueles que
tenham programas de saúde e segurança e tenham seus sistemas de gestão certificados por
instituições reconhecidas.
Em Juruti, segundo dados do Relatório de Sustentabilidade 2011, houve
aumento no número de fornecedores, passando de 15% em 2009 para 18% em 2011. 121
Responsabilidade socioambiental
A mina de Juruti também é o empreendimento piloto na aplicação da nova
metodologia de “Gradação de Impactos Ambientais” do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC) e, em 2007, a companhia assinou o Termo de Compromisso junto à
Sema, para investimento de mais de R$ 25 milhões em compensação ambiental em
contrapartida à instalação da mina no oeste do Pará.
O projeto Juruti Sustentável122, desenvolvido pela Alcoa em parceria com a
Fundação Getúlio Vargas e o Fundo Brasileiro pela Biodiversidade (Funbio), norteou o
modelo de sustentabilidade para Juruti. Hoje a operação da mina é considerada um modelo de
mineração sustentável, já que se fundamenta no triple bottom line: respeito ao meio ambiente,
responsabilidade social e sucesso econômico. Além disso, existe a Agenda Positiva, com
atividades complementares voluntárias da companhia que beneficiam diretamente a
comunidade local, atendendo aos principais anseios manifestados pelos próprios jurutienses e
assegurando melhorias nas áreas de saúde, educação, cultura, meio ambiente, infraestrutura
urbana e rural, segurança, justiça e assistência social.
3.1. Condições de Trabalho na Alcoa Juruti (PA), conforme parâmetros do
Trabalho Decente (OIT):
121
Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011. 122
Fonte: www.alcoa.com.br/brazil/juruti. Em conjunto com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio),
a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o World Resources Institute (WRI), a Alcoa incentivou a criação do Modelo
Juruti Sustentável, composto por um conselho consultivo (Conselho Juruti Sustentável), um sistema de
indicadores de desenvolvimento para monitorar e diagnosticar a dinâmica local e um fundo de financiamento
(Fundo Juruti Sustentável) para apoiar projetos de organizações sociais que promovam a sustentabilidade na
região. Para saber mais acesse: Conselho Juruti Sustentável: http://www.conjus.org.br.
63
3.1.1. Oportunidades de Emprego
O perfil dos trabalhadores da Alcoa em Juruti foi elaborado a partir de dados
fornecidos pela empresa e das oficinas realizadas junto aos trabalhadores e dirigentes
sindicais, contemplando os seguintes aspectos: sexo, idade, escolaridade, cor/raça,
cargo/função, atividades exercidas.
Segundo dados dos Indicadores de Juruti - Monitoramento 2011, a Alcoa
empregou em 2010 um total de 2.155123
trabalhadores na unidade, dentre funcionários
próprios e terceirizados. Quanto aos trabalhadores diretos, o quadro funcional da Alcoa em
Juruti é composto por um total de 444 pessoas. Somente 29% do total de trabalhadores são de
outros estados do Brasil124
, conforme pode ser observado na tabela abaixo:
Tabela 10: Empregados diretos e indiretos da Alcoa em Juruti, por origem (2006 a 2010)
2006 2007 2008 2009 2010
Juruti Diretos 6 5 15 52 115
Indiretos 1.156 2.070 2.017 1.335 689
Outras cidades
do Pará
Diretos 32 30 134 151 200
Indiretos 604 2.509 3.154 1.369 753
Outros Estados Diretos 18 41 126 138 129
Indiretos 382 1.087 1.967 487 269 Fonte: Alcoa. Indicadores de Juruti - 2006 a 2010.
Elaboração: IOS.
Apesar do crescimento da mão de obra local/regional, é perceptível o grande
números de empregados indiretos125
na Alcoa, chegando a concentrar cerca de 1.711
trabalhadores (79% ), num total de 2.155 em 2010.
Na oficina com trabalhadores, em relação à faixa etária dos entrevistados126
, a
predominância foi entre 25 a 29 anos (50% dos entrevistados), conforme tabela abaixo.
123
Fonte: www.indicadoresjuruti.com.br, dados referentes a 2010, incluindo trabalhadores diretos e indiretos. Os
trabalhadores indiretos representam cerca de 79% do total indicado. 124
Esses dados foram fornecidos pela gerente de RH da Alcoa Juruti, durante entrevista realizada no dia 22 de
outubro de 2012. Nestes números não estão incluídos trabalhadores indiretos (terceirizados). 125
Hoje, a Alcoa possui aproximadamente 1.600 empregados de empresas contratadas que prestam serviços de
apoio contínuo, três vezes mais que o número dos trabalhadores diretos. 126
Foram entrevistados 10 trabalhadores diretos, sendo 7 homens e 3 mulheres, por meio de uma oficina,
realizada em uma residência da Alcoa, no centro da cidade de Juruti. Estes trabalhadores desenvolvem suas
atividades em áreas/setores como: Recursos Humanos, Ambulatório, Almoxarifado e Laboratório.
64
Tabela 11: Faixa etária dos trabalhadores diretos entrevistados em Juruti (PA),
em outubro de 2012
Faixa Etária % Até 17 anos 0% De 18 a 24 anos 10% De 25 a 29 anos 50% De 30 a 39 anos 30% De 40 a 49 anos 0% De 50 a 64 anos 10% 65 ou mais 0%
Total 100,00% Fonte: Pesquisa com grupo focal efetuada em Juruti.
Elaboração: IOS.
Porém, de acordo com informações obtidas junto aos dirigentes sindicais e na
própria empresa, a faixa etária que concentra um maior número de trabalhadores está entre 30
a 40 anos.
O cargo/função desses trabalhadores são: analista, operador de equipamento,
operador de máquinas, analista ambiental (atendimento às condicionantes),
planejamento/topografia (mapeamento), analista de aquisição logística, coordenador de
auditorias (organizar as auditorias internas e externas), operador de equipamentos.
Em relação aos trabalhadores terceirizados, 75% dos funcionários na Alcoa
na unidade Juruti são de empresas contratadas, os quais desempenham atividades em quase
todos os setores da empresa. Os terceirizados trabalham principalmente nas áreas de serviços
e de apoio à produção, mas são registrados como funcionários da construção civil, de acordo
com o enquadramento sindical legal das contratadas. Segundo representantes da empresa, os
terceirizados recebem o mesmo tratamento dos funcionários diretos e participam de todos os
treinamentos de segurança. Mas a Alcoa não interfere na gestão de Recursos Humanos dos
terceirizados – apenas realiza auditorias que garantam a aplicação das normas trabalhistas
e/ou acordos ou convenções coletivas de trabalho próprias. As diferenças nas condições de
trabalho entre trabalhadores diretos e terceirizados se dão em relação a benefícios sociais e
salários .
Além da terceirização, há outras formas de contratação, como estagiários
(alocados mais no setor administrativo) e serviços de consultorias pontuais.
Sexo
A maioria dos funcionários, segundo informações da gerente de recursos
humanos, é composta por homens. Apenas 18% são mulheres. A mão de obra feminina
65
concentra-se em posições estratégicas, desenvolvendo funções como operadoras, engenheiras
e em lideranças. Os homens estão principalmente concentrados nas áreas do porto (82,%),
enquanto as mulheres estão mais concentradas em posições estratégicas (31%).
É significativo o número de mulheres que ocupam cargos técnicos em setores
como laboratório, saúde e segurança e meio ambiente. Das doze mulheres que trabalham na
manutenção da Mina127
, cinco são engenheiras, três mecânicas de manutenção, uma é
eletricista e uma instrumentista. Este resultado pode ser o reflexo da mudança que vem
ocorrendo na formação profissional das mulheres, que buscam cada vez mais cursos técnicos.
E mostra, também, que a empresa está absorvendo essas mulheres para assumir cargos
tradicionalmente ocupados por homens.
A gerente de RH declarou na entrevista que faz parte da política de igualdade
da empresa buscar o equilíbrio na contratação de homens e mulheres em relação ao mercado.
Afirmou que, em 2005, as mulheres representavam 5% do total de empregados da Alcoa e que
atualmente são 18%, com meta de se utilizar o indicador de distribuição de gênero (10%
anualmente), até que se atinja o equilíbrio. Os projetos profissionalizantes (cursos técnicos) e
o programa de formação de operadoras da Alcoa contribuem nesse sentido, buscando
interligar os cursos de qualificação e a atividade na empresa. A gerente também declarou que
a empresa pretende contratar mulheres para o nível operacional e para os cargos de liderança.
Hoje, existem duas mulheres em cargos de gerência na unidade.
Cor / Raça
Em relação ao quesito cor/raça, os resultados da pesquisa de campo (oficina
com trabalhadores) mostraram que na autoclassificação feita pelos entrevistados, 2
autodeclararam-se brancos e 8, pardos. A empresa colhe o quesito no momento da admissão,
porém, não existe um indicador de acompanhamento tal como no caso de gênero.
Escolaridade
No que se refere à escolaridade, dos 10 trabalhadores entrevistados, 1 possui o
ensino médio completo, 4 superior completo, 3 superior cursando, 1 com pós-graduação
completo e 1 está cursando pós-graduação.
127
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
66
Os dados cadastrais mostram que a maioria dos trabalhadores da Alcoa possui,
pelo menos, o 2º grau completo (ensino médio), nível exigido pela empresa para contratação.
Provavelmente, aqueles que ainda não possuem o 2º grau são os funcionários mais antigos, do
período em que ainda não havia essa exigência.
3.1.2. Trabalho Inaceitável
A Alcoa não emprega, diretamente ou através de terceiros, adolescentes com
idade inferior a 16 anos e menores de 18 anos em atividades consideradas perigosas ou
penosas. Segundo os sindicalistas, a empresa exige dos seus fornecedores que eles não
utilizem trabalho infantil, mas o sindicato não sabe informar de que forma é feita essa
fiscalização.
A empresa desenvolve o “Programa Jovem Aprendiz128
”, para adolescentes e
jovens de 16 a 24 anos, em parceria com o SENAI, em meio período, com o custo de meio
salário mínimo. Durante os 11 meses de contrato, os jovens ficam no centro de treinamento da
Alcoa (próximo à área da unidade), em atividades conforme estabelecidas na lei.
3.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo
Faixa Salarial
O piso salarial da categoria, conforme consta no Acordo Coletivo (Cláusula 4ª)
é de R$ 700,00, excluídos os empregados classificados como aprendizes.
As faixas salariais definidas na pesquisa foram as seguintes: a) até R$ 622,00;
b) de R$ 623,00 a R$ 1.244,00; c) de R$ 1.245,00 a R$ 1.866,00; d) de R$ 1.867,00 a
R$3.110,00 e e) mais de R$ 3.110,00. Os resultados encontrados foram:
Mais da metade dos funcionários entrevistados recebem entre R$ 1.244,00 e
R$ 1.866,00, sendo a mesma proporção para homens e mulheres. Nas faixas
128
No primeiro semestre de 2012, mais de seiscentos jovens com idades entre 16 e 24 anos disputaram as 16
vagas da terceira turma do Programa Jovem Aprendiz ofertadas pela Alcoa em Juruti. Do total de 638 inscritos
para o processo seletivo, 39 são filhos de funcionários da Companhia e os 599 restantes são das comunidades do
entorno da Mina de Bauxita de Juruti. A nova turma irá participar do curso de Operador de Manutenção em
Eletromecânica, com duração aproximada de 18 meses. Os aprovados serão admitidos como funcionários da
Alcoa durante o período de aprendizagem. Em Juruti, a Alcoa conta com o suporte do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) para oferecer o curso. Fonte: www.alcoa.com.
67
“d” e “e” os percentuais são menores, mostrando que há predominância para
homens;
Em média, um operador 3C (nível mais elevado), ganha R$ 1.570,00 reais (os
níveis vão de 1A a 3C). Porém, para alcançar o nível mais elevado, de 6 em 6
meses o trabalhador passa por um processo avaliativo, de acordo com a política
corporativa denominada “360°”. No setor administrativo, a faixa salarial está
entre R$ 1.000,00 e R$ 1.100,00.
Além do salário, consta no Acordo Coletivo de Trabalho/2012 o
pagamento de:
Horas Extras (Cláusula 6ª): Quando o trabalhador ultrapassar a jornada
de trabalho contratual (44 horas/semanais), por necessidade da empresa, as
primeiras duas horas extraordinárias diárias serão pagas com um
acréscimo de 55% (cinquenta e cinco por cento) sobre a hora normal e as
demais a 60% (sessenta por cento) sobre a hora normal;
Adicional Noturno (Cláusula 8ª): Durante a vigência do ACT a empresa
pagará o adicional noturno (das 22h00min às 05h00min horas) de 35% (trinta e
cinco por cento).
Horas In Itinere (Cláusula 9ª): Estipulado a média de horas in itinere de 40
minutos na ida para o trabalho e de 40 minutos no retorno para casa,
totalizando 01h20min/dia para os empregados que utilizam o transporte
fornecido pelo empregador no trajeto da cidade ao beneficiamento, com
acréscimo de 50% a 70% sobre a hora normal.
Em relação aos benefícios sociais, durante as oficinas realizadas com
trabalhadores, dirigentes sindicais e entrevistas realizadas com gestores da empresa foram
citados os seguintes benefícios (política corporativa e local):
Plano de saúde (familiar, que varia de acordo com o Job129
/abrangência
regional e nacional);
Plano odontológico;
129
A empresa trabalha por Job, que varia de acordo com os níveis, e os trabalhadores ganham os benefícios de
transporte de acordo com essa hierarquização. O mesmo acontece com o aluguel: o Job em que o trabalhador se
posiciona determina o percentual pago pela Alcoa do valor do aluguel. Tanto na oficina com os trabalhadores,
quanto com os dirigentes sindicais, o Job foi bastante questionado, enquanto parâmetro para definição de alguns
benefícios, em especial no que se refere a planos de saúde, plano odontológico, entre outros.
68
Reembolso escolar (não é para todos);
Auxílio Farmácia;
Bônus Fronteira (recebe a partir de determinada faixa salarial. Após 4
anos deixa de receber o auxílio moradia e passa a receber este
auxílo/bônus) – política local;
Auxílio Moradia (independente do Job) – política local;
Auxílio Transporte Mudança – política local;
Passagem de Férias (3 primeiros períodos aquisitivos/4 anos, há
diferenciação de Job para uso desse benefício) – política local;
Seguro de Vida;
Kit Escolar;
Auxílio Funeral;
Cesta de Natal e Brinquedos;
Plano de Previdência Privada (Alcoa Previ) – política local;
Empréstimo Consignado (Bradesco) – política local;
PR130
(Participação nos Resultados) – Há uma comissão que negocia com
a empresa, eleita por todos os trabalhadores (a eleição é feita em toda a
planta). Vários indicadores são considerados para a PR: volume de
produção, segurança, SAT/Protocolos; PR – 75% (mínimo), 100%
(médio), 125% (máximo); no 1º semestre chegou a 83,3% e no segundo
semestre (julho a dezembro), até outubro (data da pesquisa), o acumulado
estava em 94%. Se todas as metas forem alcançadas, a PR poderá chegar
no final do ano a 125%, os trabalhadores poderão ganhar dois salários.
Plano de Cargos e Salários (PCS)
Segundo os trabalhadores entrevistados, o PCS não funciona bem na unidade.
Eles afirmam que para melhorar, a empresa tem que sentar com funcionários para planejar o
seu desempenho e a visibilidade de onde o funcionário poderia estar futuramente. Falta um
planejamento de progressão funcional, como exemplo, o setor administrativo leva em média
de 6 anos para ser promovido, afirmou um dos entrevistados. Entretanto, a empresa justifica
que “o crescimento na carreira precisa contar fortemente com o autodesenvolvimento do
130
Consta no Acordo Coletivo/2012, cláusula 2ª, que durante a vigência do ACT a empresa proporcionará a seus
empregados 2 modelos de Participação nos Resultados, conforme estabelece a Lei Nº 10.101 de 19 de
Dezembro de 2000.
69
profissional, alinhado ao seu bom desempenho e disponibilidade de vaga para
movimentação. Falar em média é transformar os talentos da Companhia em apenas números
e não em verdadeiros atores que contribuem para o desenvolvimento da companhia, das
comunidades e do País”131
.
Um aspecto positivo levantado pelos trabalhadores em relação ao PCS é a
oportunidade de vaga disponibilizada pela empresa para o quadro interno (funcional). A vaga
fica disponível por dez dias, internamente, para depois ser divulgada externamente.
A avaliação de desempenho é realizada anualmente (durante o 1º semestre),
tendo, como parâmetros, metas e objetivos (segurança e 5 S’s) e 360º (no final do ano, para
fazer uma avaliação das metas estabelecidas), onde gerentes e gestores são avaliados por seus
comandados. “A avaliação propicia caminhar dentro da empresa”, afirmou um dos
trabalhadores entrevistados. A avaliação individual é atrelada à avaliação geral.
Em relação aos itens que integram o processo avaliativo, as respostas mais
frequentes foram: avaliação dos pontos positivos e negativos dentro da descrição de cargos;
nas mínimas habilidades da função que exerce; o líder do grupo avalia os funcionários;
autoavaliação e avaliação pelo chefe, supervisor ou encarregado; através do PM (Plano de
Metas); auditoria feita pelos técnicos todos os dias para pontuar as tarefas; através da
observação do trabalho; avaliação 360º; contrato de expectativas; através de um comitê;
através de parâmetros objetivos e subjetivos; encarregado observa o comportamento e a
relação com os colegas; entrevista e questionário.
Para complementar as informações acima, sobre PCS/PCC e critérios de
promoção na unidade, apurou-se que os trabalhadores são avaliados no desempenho de suas
funções pela chefia direta, por meio de avaliações individuais e coletivas feitas pelo
supervisor/gerente (diariamente, mensalmente e anualmente), levando-se em consideração
comportamento, presença no trabalho, organização no trabalho, metas alcançadas (a nota
máxima é 5, a qual serve para a PR), atividades com segurança, desempenho na função,
participação no trabalho, qualidade do serviço.
A avaliação de desempenho na Alcoa, segundo consta em documentos
consultados, é feita de acordo com o modelo 360º: “Um instrumento que tem por objetivo
apoiar o desenvolvimento e a melhoria de desempenho gerencial, contribuindo para o
desenvolvimento de competências e comportamentos de liderança demandados pela
131
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
70
organização”. Trata-se de um processo segundo o qual os funcionários recebem
simultaneamente feedbacks estruturados de seus superiores, pares, subordinados e outros
stakeholders, complementados por uma autoavaliação. Os feedbacks são fornecidos por meio
de um questionário específico que descreve os comportamentos de liderança considerados
essenciais pela organização, a fim de viabilizar seus objetivos estratégicos. De posse das
informações, a liderança conversa com cada um dos avaliados para identificar os pontos
positivos e negativos do seu desempenho. Dependendo da avaliação, alguns são
encaminhados para treinamento, outros recebem indicação de um livro que pode ajudar num
determinado assunto, entre outras ações.
Os entrevistados da área de RH declararam que a movimentação na estrutura
de cargos depende da competência do funcionário, ou seja, do conhecimento e da habilidade
que a pessoa necessita para ascender profissionalmente, e avaliam que essa estrutura permitiu
maior transparência em relação aos critérios de promoção.
A empresa possui política de qualificação para os trabalhadores, tendo como
estratégia a integração da empresa e a comunidade local. “O objetivo da Alcoa Juruti é inserir
mão de obra local em cargos estratégicos, em até 15 anos”, afirmou a gerente de RH.
Para isso, a empresa vem desenvolvendo programas como Jovem Engenheiro,
em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e cursos técnicos de
agronomia e engenharia de minas, desenvolvidos pelo SENAI.
3.1.4. Jornada Decente
A Cláusula 15ª do ACT 2012 rege o Código de Relacionamento, em que as
partes ratificam o Código de Relacionamento Sindical firmado entre empresa e sindicato
“como instrumento legal que norteia as relações trabalhistas e sindicais da categoria
econômica e profissional” (ACT/2012).
Em relação à jornada de trabalho na Alcoa, os trabalhadores são alocados em
turno administrativo e turno de revezamento. Segundo consta no ACT (Cláusula 14ª) o
horário administrativo é de 40 horas semanais e, na área operacional, existe turno132
ininterrupto de revezamento, com 12 horas diárias (jornada de trabalho 10 horas e 45 minutos
trabalhados, uma hora para refeição e 15 minutos para pausa/descanso), negociado com o
132
Segundo informações da gerente de RH, os trabalhadores que não residem em Juruti recebem duas passagens
ao mês para visitarem seus familiares. O trabalho noturno ocorre somente para turmas de turno, assim como as
horas extras, feitas somente com justificativas (das chefias), a maioria no setor de manutenção e produção.
71
sindicato. São 4 turmas, trabalhando por 2 dias durante o dia e 2 dias durante a noite, com
folgas de 4 dias.
Em se tratando das horas extras, seu pagamento será realizado da seguinte
maneira, conforme prevê o ACT:
a) 55% para as duas primeiras horas extras trabalhadas, sobre a hora normal;
b) 60% para as horas extras trabalhadas a partir da terceira hora;
O acordo coletivo (Cláusula 14ª, Parágrafo I) apresenta formalmente um
sistema bem estruturado de horas extras. Os entrevistados (sindicalistas e trabalhadores)
corroboram esta informação ao afirmarem que as horas extras são raras e em momentos
específicos.
Dos trabalhadores entrevistados, alguns disseram não ser tão comum efetuar
horas extras. Acontece somente quando há necessidade (avaliada e justificada pelo gestor
direto), sendo as horas extras trabalhadas todas pagas, não podendo ultrapassar 12 horas/mês.
Na empresa é possível a recusa de horas extras, desde que seja justificado o motivo junto ao
chefe.
O trabalho aos finais de semana é desenvolvido geralmente por quem trabalha
no sistema de turno. Segundo a direção do STIEMNFOPA, no trabalho noturno a empresa
adota medidas que ofereçam condições de trabalho aos trabalhadores. Porém, para aqueles
que trabalham no porto, a iluminação é um problema, pois ocorre queda de energia
constantemente, ocasionando riscos para os trabalhadores. Há um ambulatório e equipe de
emergência (inclusive durante os plantões). Se houver qualquer problema pode ser acionado o
ramal (Centro de Comunicação de Emergência – CCE).
3.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho
Segundo informações do sindicato e da empresa, a unidade passou por
reestruturação (mudanças no processo produtivo) e/ou reorganização (mudanças no processo
de gestão) nos últimos três anos. Não houve grandes alterações (redução) no quadro
funcional, porém houve redução de custos, sobretudo corte no pagamento de horas extras. A
empresa comunicou aos trabalhadores sobre os cortes (justificativa das horas extras cortadas,
em decorrência da crise do alumínio), via chefias.
Outro aspecto observado é a rotatividade de gestores, sendo justificado o custo
alto, sobretudo para quem vem de outras cidades e, como a “empresa não dá condições, as
72
pessoas ficam confinadas”, afirmou um trabalhador entrevistado. No entanto, a empresa
afirma que “as pessoas possuem total liberdade para sair da cidade com recursos próprios,
inclusive, a empresa fornece para os funcionários que residem, por exemplo, em Obidos e
Oriximiná, passagem de lancha para irem a suas residências durante as folgas”133
. Um
ponto positivo dessas mudanças foi a nova forma de gestão adotada pela empresa, “gestores
estão mais atentos para ouvir, valorizando o trato com os funcionários” (de todos os setores).
O perfil de gestão adotada na unidade de Juruti destada-se das demais unidades da Alcoa,
afirmaram sindicalistas e trabalhadores. Em relação ao tempo de serviço, os trabalhadores
entrevistados têm em média de 1 a 5 anos de empresa.
3.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar
Na Alcoa Juruti há flexibilidade para os trabalhadores negociarem com os
gestores o acompanhamento de filhos, cônjuges e pais em consultas e exames médicos e/ou
em atividades escolares (consta no AC), desde que seja comunicado e/ou justificado à chefia
direta, com antecedência.
Na empresa há um formulário em que o trabalhador, a cada entrada de turno,
responde se está bem emocionalmente. Caso não esteja (por problemas familiares, pessoais,
etc.) a própria chefia é orientada a dar atenção especial a este trabalhador(a).
As horas da semana dedicadas pelos trabalhadores entrevistados aos afazeres
domésticos variam em média de 2 horas a 2 dias (para evitar estresse, que se reflete no
trabalho). O tempo de deslocamento casa/empresa leva em torno de 10 a 20 minutos (para
chegar até a mina levam, em média, uma hora e meia).
3.1.7. Tratamento Digno no Emprego
Discriminação
Nesse tema, os sindicalistas entrevistados, assim como os trabalhadores,
relataram que a empresa promove e discute assuntos relacionados com a igualdade de
133
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
73
oportunidade entre homens e mulheres, brancos e negros. A pesquisa identificou a existência
de algumas iniciativas da Alcoa na temática da diversidade, como a “Semana da
Diversidade”, promovido pela Alcoa Juruti, em dezembro de 2011.
Dentre os trabalhadores entrevistados, nenhum relatou caso de discriminação
sofrido na empresa. Também disseram nunca terem presenciado casos de discriminação.
Segundo a gerente de RH, a empresa tem a preocupação constante com todo tipo de
discriminação existente, em especial as relacionadas às questões de gênero e raça.
A empresa não possui um diagnóstico sobre a divisão sexual e racial do
trabalho em suas unidades, mas há ações desenvolvidas que esboçam a preocupação com a
diversidade e a inclusão (mulheres, pessoas portadoras de necessidades especiais, negros e
grupos GLS), buscando a equidade por funções, cargos e salários.
O acordo coletivo não traz nenhuma informação específica sobre ações da
empresa no combate às possíveis discriminações às quais trabalhadores e trabalhadoras
possam vir a ser submetidos. Na empresa existe um canal para denúncias (0800), referente à
Linha de Conduta Ética134
, além de treinamentos e palestras sobre o tema.
Assédio Moral e Sexual
Dos trabalhadores entrevistados, nenhum afirmou ter sofrido ou presenciado
casos de assédio moral (humilhação, ofensa, constrangimento de maneira continuada e
repetitiva no contexto de trabalho) ou de casos de assédio sexual na Alcoa Juruti.
3.1.8. Trabalho Seguro
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)
A CIPA foi avaliada por trabalhadores e dirigentes como “regular”. Na opinião
dos entrevistados a atuação da CIPA na empresa precisa evoluir. “Para a localidade é boa,
porém, precisa melhorar a sua atuação, ser mais presente”, disse um dos entrevistados.
Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT)
134
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
74
A Alcoa compromete-se, pelo ACT assinado com o STIEMNFOPA, a enviar
ao sindicato as cópias de CATs emitidas, em prazo de 5 dias úteis a partir da emissão. Em
situações de acidente grave ou fatal, a remessa da CAT deverá ser feita em 2 dias úteis após o
acidente (entende-se o sábado como dia útil).
Segundo trabalhadores e sindicalistas entrevistados, a Alcoa sempre comunica
quando há algum acidente de trabalho e desenvolve um conjunto de atividades que visam
prevenir acidentes futuros, tais como palestras e treinamentos. Todos os funcionários são
treinados e informados, inclusive os terceiros.
A Alcoa assegura o acesso do sindicato às dependências da empresa para
verificação das condições de saúde e segurança do trabalho estabelecidas no PGR ou PPRA,
após o entendimento com a gerência local responsável pela área de Relações Trabalhistas.
A Alcoa criou também o programa PARE135
de sugestão para os operadores,
cujo objetivo é melhorar a qualidade do local de trabalho na produção e evitar acidentes.
Os problemas de saúde relacionados às atividades de trabalho, relatados pelos
trabalhadores entrevistados, que se manifestaram depois de terem começado a trabalhar na
empresa foram: problemas de coluna, lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) e estresse.
O sindicato relatou casos de trabalhadores afastados por contaminação com alumina/fluoreto
nos ossos e síndrome do pânico (8 meses). A Alcoa, no entanto, discorda de tal afirmação,
esclarecendo que “existe um programa de saúde e segurança preventivo, com exame
admissional, e anualmente são realizados exames periódicos, nos quais não constatamos ou
temos registro desse tipo de queixa” 136
.
Nenhum dos trabalhadores entrevistados relatou ter deixado de revelar que
estava doente ou passando mal enquanto trabalhava por medo de ser prejudicado(a) na
empresa. A justificativa foi de que a relação com a direção e chefias transcorre por meio de
diálogo constante.
Em relação a afastamento do trabalho por causa de acidente de trabalho ou
outros problemas de saúde, somente um caso foi relatado por parte dos dirigentes
entrevistados (afastamento de 2 dias, por choque térmico, durante período de adaptação).
135
Cartão PARE: assinado pelo presidente da Alcoa. Caso ocorra algum problema, todo trabalhador pode usar o
cartão; mais voltado para questões de saúde e segurança. Exemplo de situação: descarregamento de material sem
proteção da área (operador de Munk) riscos ao auxiliar. O trabalhador que denuncia é reconhecido/valorizado
pela empresa. 136
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
75
Quanto aos EPIs e EPCs na empresa, segundo trabalhadores e dirigentes
entrevistados, são utilizados com regularidade. Os equipamentos são considerados adequados,
de ótima qualidade (material estudado). A utilização dos EPIs é regra fundamental da política
da Alcoa para qualquer atividade. Foi citado o caso de um trabalhador que foi mandado
embora (demitido) porque não comunicou um corte no pé por falta do uso de botas.
3.1.9. Proteção Social
Segundo trabalhadores e dirigentes entrevistados, a empresa adota licença-
maternidade (180 dias) e paternidade. Há garantia do emprego após retorno das licenças
maternidade e paternidade. Afirmaram ainda que a empresa respeita os direitos dos
trabalhadores afastados por doença ou acidente do trabalho.
A trabalhadora gestante terá garantido pela Alcoa seu emprego ou salário no
período de 120 dias após o término da licença-maternidade, com exceção das situações de
demissão por justa causa ou fim de contrato a prazo.
3.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva)
As trabalhadoras e os trabalhadores da Alcoa Juruti são representados pelo
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Minerais Não Ferrosos do Oeste do
Pará (STIENMFOPA). O STIEMNFOPA assinou com a direção da empresa da empresa, em
fevereiro de 2012, um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), cuja vigência abrange o período
de 1º/01/2012 a 31/12/2012.
Em entrevista com dirigentes sindicais em 22 e 23 de outubro de 2012, na sede
do SIENMFOPA, em Juruti, os sindicalistas afirmaram não sofrer perseguição por conta de
sua atividade sindical.
Os dirigentes sindicais e a representante de RH da unidade salientaram a
construção do diálogo entre sindicato e empresa como um instrumento de relacionamento
exitoso no avanço das questões trabalhistas na mina de Juruti. Do ponto de vista desses
dirigentes, a estratégia do diálogo tem favorecido o curso das negociações e facilitado
conquistas trabalhistas para a categoria.
76
Na empresa existe comissão para negociar a PR (Participação nos Resultados),
com representação de trabalhadores dos setores e representação do sindicato (delegados
sindicais) no Porto e na Mina. A relação da empresa com esses delegados é constante (agenda
mensal) e as questões mais urgentes são resolvidas no dia a dia. O delegado sindical tem
acesso a todos os níveis da Alcoa. Existem ainda os grupos multidisciplinares de fatalidade
(SSMA), que tratam de temas relacionados à saúde e segurança de forma multidisciplinar,
contando sempre com a participação do sindicato.
Os dirigentes completaram afirmando que a empresa se empenha em promover
o diálogo com o sindicato, na tentativa de manter uma boa relação que, ao final, possa
beneficiar a todos os trabalhadores e as necessidades da própria empresa.
Nas rodadas de negociação do Acordo Coletivo de Trabalho, segundo os
sindicalistas entrevistados, a empresa e o sindicato construíram “um entendimento pautado no
diálogo, no respeito, embora em alguns momentos haja discordância de opiniões”.
O STIEMNFOPA considera que há uma boa relação com a Alcoa, no sentido
de respeito mútuo, sendo que uma parte das questões é resolvida com diálogo, mas outras, se
necessário, podem partir para serem resolvidas na Justiça.
Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2012
A pauta de reivindicações elaborada pelo STIEMNFOPA a fim de sistematizar
as propostas dos trabalhadores a serem encaminhadas às mesas de negociação com a Alcoa
foi discutida e aprovada em assembleias por trabalhadores. O instrumento jurídico que
regulamenta as relações de trabalho com os funcionários diretos da Alcoa Juruti é o Acordo
Coletivo de Trabalho (ACT)137
. A data-base da categoria é o mês de janeiro.
Os principais meios de comunicação entre o sindicato e os trabalhadores são os
boletins, panfletos ou jornais. O sindicato entrega mensalmente o boletim, denominado
“Martelada”, na porta da fábrica e a empresa disponibiliza um mural para afixar os
informativos sindicais, além do informativo (online) da própria empresa. Dos trabalhadores
entrevistados, apenas um afirmou ser sindicalizado.
137
O Acordo Coletivo de Trabalho abrange os empregados da Alcoa e MRN representados pelo STIEMNFOPA,
que trabalhem nas Minas de Ferro e Manganês de Carajás e que residam no Núcleo Urbano de Porto Trombetas
e Juruti. Fonte: ACT - STIEMNFOPA/2012.
77
4. Alcoa Alumínio S.A.: a Alcoa em Poços de Caldas (Minas Gerais)
Fundada em 1965, a fábrica de alumínio primário em Poços de Caldas, Minas
Gerais, foi a primeira unidade da Alcoa no Brasil. Inicialmente denominada Alcominas,
passou a atuar em 1970 e, 10 anos depois, foi renomeada como Alcoa Alumínio S.A.
Constituída por 4 unidades de produção integradas – que incluem Mineração, Refinaria138
,
Redução e Fábrica de Pó de Alumínio –, realiza a produção de aluminas calcinadas e
hidratadas, metal na forma líquida, tarugos, lingotes e alumínio em pó (fabricado
exclusivamente no Brasil, dentre as unidades da Alcoa na América Latina). Em
reconhecimento à “localização estratégica da unidade, mão de obra qualificada e valores
competitivos” (Alcoa Inc., 2012), em 2005 foi instalado mais um escritório de negócios da
empresa, o GBS (Global Business Services) na unidade, responsável por serviços financeiros
e administrativos139
.
Tabela 12: Alcoa Alumínio S.A. - Poços de Caldas: produtos e destinação Produtos Finalidades
Alumina
52%: Produção de alumínio a ser comercializado nos mercados nacional e internacional.
48% (na forma de hidrato e alumina): Indústrias de sulfato de alumínio, papel, dióxido de
titânio, polimento de lentes e metais, aluminatos de sódio, retardantes de chama,
fabricação de vidros, pigmentos, produtos refratários, cerâmicos, abrasivos e eletrofusão,
etc.
Alumínio em pó Refratários, metalurgia e químicos. Comercializado no mercado interno e exportado para o
Mercosul, Japão, Europa e EUA.
Alumínio em pó fino Fabricação de pigmentos para a indústria automotiva e de equipamentos eletrônicos.
Fonte: Alcoa Alumínio S.A., 2012.
Atualmente, a unidade possui cerca de 1.100 trabalhadores, dos quais 800 estão
empregados nas atividades operacionais. De acordo com informações primárias, esta unidade
é mais completa em termos de cadeia de produção, mas estruturalmente é a menor do Brasil.
Segundo o gerente de Recursos Humanos, Rogério Ribas, a empresa passa por
um momento de crise, com fortes indícios que no futuro encerre suas atividades relacionadas
diretamente à extração e beneficiamento. Ainda segundo ele, mesmo que o governo federal
tenha apresentado um pacote de redução de custos de energia elétrica, nada afetaria os planos
de reestruturação para esta unidade, haja vista que possuem autossuficiência em energia.
Embora essa medida não impacte na Alcoa Poços, a empresa manifestou que “reconhece os
esforços do governo na redução dos preços da energia, e que, com relação ao futuro, a Alcoa 138
De acordo com a empresa, em 2011 houve a substituição de óleo combustível por gás natural na refinaria de
bauxita em Poços de Caldas (Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 19). 139
Fonte: Alcoa 2012. Disponível em: <http://www.alcoa.com/locations/brazil_pocos/pt/home.asp>.
78
está trabalhando fortemente para aumentar a produtividade e alcançar a redução de custos
desejada” 140
.
Portanto, a corporação tem como plano estratégico para 2014 transferir sua
energia para a unidade da Alumar, o que representará maiores vantagens em termos de
negócios para a corporação. Nesse sentido, a planta de Poços de Caldas terá uma produção
flexível, ou seja, o funcionamento das cubas será modulado de acordo com as vantagens do
mercado de energia.
Recentemente o governo de Minas Gerais devolveu à Alcoa o valor de imposto
que pertencia à empresa e estava retido, o que possibilitou o investimento de R$ 14 milhões
na construção de um lago onde são armazenados os resíduos de bauxita. Segundo notícia
veiculada no site do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) essa construção tem
finalidade de armazenamento para a “manutenção da operação da refinaria em 2013 e em
procedimentos para melhorias no sistema de automação de uma das linhas de produção da
planta industrial” 141
. Em suma, o que define o futuro da empresa hoje é sua viabilidade
econômico-financeira e, consequentemente, a viabilidade da unidade.
Representação sindical: Os trabalhadores da Alcoa em Poços de Caldas são representados
pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Poços de Caldas e Região, com sede na mesma cidade e
filiado à Força Sindical. Segundo dados do sindicato, há 5 mil trabalhadores que compõem
sua base, dos quais 800 são sindicalizadas (16%), sendo aproximadamente 220 somente da
Alcoa (22% do total de trabalhadores na empresa, cerca de 1.000). A oficina sindical foi
realizada com apenas um dirigente sindical, Sergio Inácio Oliveira (não liberado de suas
atividades), em 30 de outubro de 2012.
4.1. Condições de trabalho na Alcoa em Poços de Caldas, conforme parâmetros do
Trabalho Decente (OIT).
4.1.1. Oportunidade de Emprego
140
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 141
Fonte: IBRAM. Disponível em: <http://www.ibram.org.br/150/15001002.asp?ttCD_CHAVE=173219>.
Acesso em 27/11/2012.
79
A oficina foi realizada com um grupo focal de 10 trabalhadores, composto por
7 homens e 3 mulheres, dentre os quais havia trabalhadores dos setores administrativo e
operacional142
. O primeiro item a ser abordado durante oficina relaciona-se ao tema da
terceirização dentro da Alcoa, bem como as condições de trabalho e benefícios oferecidos aos
trabalhadores terceiros. Ao longo da entrevista, muitos dos presentes afirmaram que não
existiam alterações significativas em relação aos diretos trabalhistas entre terceiros e diretos,
contudo, relataram que para os primeiros o plano de saúde não é estendido aos dependentes.
Em relação a este tema, na opinião do sindicalista entrevistado, embora a Alcoa não possua
mão de obra terceirizada na atividade fim, atualmente possui cerca de 400 trabalhadores
terceirizados distribuídos entre os setores de manutenção, limpeza de sala de cubas e
administração. Ainda na opinião dele, as diferenças existentes entre terceiros e diretos
correspondem principalmente aos salários defasados dos primeiros. Já em relação à
infraestrutura oferecida pela empresa a esta parcela de trabalhadores, os relatos apontaram que
os terceiros almoçam no mesmo restaurante disponibilizado pela Alcoa, porém, o mesmo não
ocorre no setor químico, onde a área de descanso é separada dos trabalhadores diretos. A
empresa, por sua vez, afirma que “não há qualquer separação entre trabalhadores efetivos
da Alcoa e seus contratados. Além disso, as atividades na área de químicos não exigem
descanso e não existe um local específico, independente do trabalhador envolvido na
atividade”143
.
De maneira geral, os trabalhadores entrevistados revelaram que além da
terceirização há outras formas de contratação na Alcoa, como de estagiários em diversas áreas
e temporários na área de redução.
4.1.2. Trabalho Inaceitável
Todos os atores envolvidos na pesquisa afirmaram desconhecer relatos ou
casos de menores ou pessoas submetidas a regime de trabalho degradante ou forçado.
4.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo
142
Os trabalhadores das áreas operacionais entrevistados atuam na redução e na refinaria da fábrica. A lista com
os nomes de trabalhadoras e trabalhadores encaminhada pela empresa para sorteio não continha a relação de
funcionários empregados nas minas. 143
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
80
De acordo com os entrevistados, o salário inicial no setor operacional é de
aproximadamente R$ 1.200,00, já no nível mais elevado de cargos (5C), os trabalhadores
recebem o teto salarial de aproximadamente de R$ 1.900,00. Ainda de acordo com
informações fornecidas pelo sindicato, o salário dos trabalhadores terceirizados
correspondentes ao setor operacional varia entre R$ 700,00 a R$ 800,00. Para os
trabalhadores da Alcoa, além do salário, são pagos adicional noturno, periculosidade e
insalubridade.
Em relação aos benefícios, os trabalhadores afirmaram que possuem plano
médico (Unimed e Climep), plano odontológico, auxílio farmácia, PPR (Programa de
Participação nos Resultados), refeição no local de trabalho, clube de campo, cooperativa de
crédito e transporte – porém todos com descontos em folha144
.
A unidade de Poços de Caldas, como as demais unidades, segue o Plano de
Participação nos Resultados (PPR) de acordo com as prerrogativas da corporação. Nesse
sentido, segundo o relato dos entrevistados, o PPR é calculado de acordo com um percentual
sobre o salário e recebem em duas parcelas, uma em janeiro e outra em julho. De acordo com
a fala dos entrevistados, no ano de 2012 chegaram a cumprir 97% das metas estipuladas pela
empresa no primeiro semestre e, portanto, foram contemplados com uma bonificação de um
salário sobre o salário individual. Segundo a empresa essa bonificação citada pelos
entrevistados corresponde ao ano de 2012, e pode chegar a 2,5 salários no ano (1,25 salários
por semestre), caso os trabalhadores cheguem a cumprir 125% das metas semestrais no
período de um ano145
.
Ao serem questionados sobre a participação do sindicato nas negociações na
comissão de PPR, os entrevistados relataram que o sindicato nunca foi convidado pela
empresa para participar. Contudo, a comissão é aberta para todos participarem e, a fim de
garantir a representatividade dos setores, os trabalhadores decidiram quem iriam participar de
acordo com as áreas específicas, portanto, cada área tem seu representante, formando um total
de sete pessoas na comissão.
Para a gestão de Recursos Humanos a comissão de PPR garante a
proporcionalidade – quanto maior o salário, maior o valor da PPR recebido – e segundo os
144
Essa informação é completada com a fala da gerência de Recursos Humanos que confirma os benefícios
descritos acima, acrescentando a extensão da licença maternidade para as trabalhadoras, bem como sala de
aleitamento materno e auxílio creche, contudo, nenhum dos demais atores entrevistados confirmou esse tipo de
benefício oferecido pela empresa. 145
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
81
representantes da empresa, o sindicato é sempre convidado, mas se nega a participar das
mesas de negociações, pois não concorda com o critério variável da participação nos
resultados. O posicionamento do setor de Recursos Humanos, diante desse impasse, é que o
critério variável, do ponto de vista dos negócios, é melhor porque não prejudica aqueles que
contribuíram com os resultados da empresa ao longo de sua carreira. Atualmente, as metas
atingidas em Poços de Caldas estão em 85%.
Contudo, para o sindicato a crítica a esse critério de remuneração ocorre
porque a atuação da comissão é “considerada desleal”, entendendo que favorece o setor
administrativo no qual há as maiores remunerações. Além disso, o sindicato dos trabalhadores
é comunicado sem aviso prévio sobre as negociações e funcionamento da comissão, o que o
motivou levar esse caso à delegacia do trabalho. Segundo informações primárias, a fim de
respaldar a posição do sindicato houve um plebiscito entre os trabalhadores sobre os critérios
da atual PPR, constando que a maioria destes era contrária à posição da empresa, dando
respaldo à posição do sindicato na defesa do critério não variável.
De acordo com os entrevistados a empresa possui um Plano de Cargos e
Salários e a cada seis meses os trabalhadores podem rever seu cargo que no máximo pode
chegar ao nível “5C” (no caso do operacional). Em algumas áreas somente chega a esse
patamar quem é líder de equipe. Complementando essa informação, a Alcoa esclarece que em
duas áreas (Químicos e Mineração), somente pode chegar ao nível 5C quem possui função de
coordenação146
.
Segundo as falas de alguns trabalhadores, por certo tempo esse plano de cargos
e salários estacionou por causa da crise, pois há casos de trabalhadores que possuem 8 anos de
empresa e ainda estão no nível “3C”. Os trabalhadores revelaram que são muitos
trabalhadores competindo por poucas vagas e, mesmo assim, existem áreas em que não houve
expansão dos cargos. Na opinião do sindicato esse plano é precário, pois mesmo após
considerável tempo na empresa o trabalhador não é contemplado com a promoção ou o
aumento do salário. A média para se atingir o topo da carreira seriam 5 anos; contudo, a
maioria não consegue, pois representaria um “peso” na folha de pagamentos da Alcoa.
Em relação ao Plano de Cargos e Salários, segundo representantes da empresa
a Alcoa em Poços de Caldas possui política de remuneração balizada de acordo com a
mediana de mercado da região. O gestor entrevistado revelou que o PCS é desenvolvido por
146
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
82
unidade: na Alumar, com relação aos horistas, há a consideração da carreira por habilidade; já
no caso da unidade de Poços de Caldas, são considerados o tempo de casa, performance e as
vagas disponíveis, obedecendo a uma estrutura que denominou como “mais vertical”147
.
Segundo o entrevistado, houve mudanças significativas na gestão em termos de melhoras na
produtividade que influenciaram os planos de cargos, como por exemplo, a contratação de um
gerente de operações. Essa reorganização da gerência, todavia em curso, cabe a uma decisão
corporativa; já as mudanças relacionadas a turno e em algumas linhas de produção, bem como
demissões e contratações, são negociadas com o sindicato.
Segundo o grupo focal, a avaliação de desempenho existente na Alcoa é feita
pelo supervisor da área, o qual verifica o desenvolvimento do trabalhador. Abaixo do
supervisor tem um líder de turno que também é questionado na avaliação, já os trabalhadores
do administrativo respondem e são diretamente avaliados por seus respectivos supervisores.
Dentre as queixas levantadas sobre este tema nota-se o descontentamento de muitos
trabalhadores quanto ao sistema de avaliação, pois, dependendo da área, muitos nunca
chegaram à meta 100%. Ademais, alguns entrevistados afirmaram que somente alguns
departamentos levam em consideração o tempo de casa do funcionário como critério de
promoção. Segundo o sindicalista entrevistado, já houve um tempo em que os grupos de
trabalhadores se avaliavam entre si.
Em relação ao “método” de avaliações, a empresa afirma que “há muitos anos
a Alcoa adota um modelo de avaliação por competência, que garante a transparência, o
feedback e o planejamento efetivo de ações para o desenvolvimento dos funcionários da
Companhia. O processo é repedido anualmente, a fim de garantir que a avaliação de cada
funcionário esteja concentrada no último ano de atuação”148
.
Para o representante de Recursos Humanos o critério de avaliação define-se
por indicadores individuais, que se dividem em: financeiro, pessoas, clientes e processos. Essa
avaliação influencia na carreira e caso algum trabalhador fique abaixo das expectativas da
empresa por dois anos consecutivos certamente será desligado da organização. Durante o
processo de avaliação indicam-se oportunidades e cria-se um plano de desenvolvimento, para
que a partir deles sejam desenvolvidos os treinamentos abrangendo todas as áreas (supervisão,
147
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 148
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
83
gerência, superintendência e operação). No ano de 2012 esse treinamento atendeu um gap nas
áreas de finanças e os grupos de liderança.
Segundo os entrevistados, para que o trabalhador faça parte da política de
qualificação da empresa existe uma avaliação à qual é submetido, podendo ser classificado
entre três a cinco pontos. Dependendo da pontuação atingida pelo trabalhador a empresa
financia uma porcentagem do valor do curso, podendo chegar a 90%. Segundo a percepção
dos trabalhadores, a empresa costuma privilegiar o pagamento de cursos técnicos para horistas
(cargos do operacional) ao invés de curso superior, contudo, um trabalhador relatou que
trabalha num departamento como horista e teve seu curso superior reembolsado pela empresa.
De acordo com a percepção dos trabalhadores, havia uma política de
qualificação, mas com o decorrer da crise nos últimos anos esse cenário mudou muito. Os
cursos eram relacionados à área de atuação dentro da empresa, como de segurança. No
campo de relacionamento com as pessoas os treinamentos eram melhores, contudo, existem
processos seletivos que ajudam a concorrer a vagas em determinadas funções.
4.1.4. Jornada Decente
O horário formal praticado pelo pessoal do administrativo na Alcoa é de 40
horas semanais, sendo que as horas a mais durante a semana ocorrem devido às emendas de
feriado. Já para o pessoal operacional é praticado o regime de turno: trabalham por 2 dias no
turno diurno e os 2 dias posteriores no turno da noite. Na opinião dos trabalhadores esse
regime é bem aceito pela maioria, pois mesmo trabalhando 12 horas diárias eles preferem, já
que possuem 4 dias consecutivos de folga – trabalham 4 dias e folgam 4 dias. Durante a
jornada de trabalho do operacional os intervalos ocorrem de uma hora para o almoço e 15
minutos para o café.
De acordo com entrevistados representantes do RH da empresa, a unidade
possui 4 turmas de revezamento, duas trabalham das 7h às 19h, e o restante das 19h às 7h. As
horas extras ocorrem em volume pequeno, contabilizando 0,17% no último mês
(setembro/2012) do total de funcionários da planta. Nesse sentindo, a Alcoa pratica o limite
de horas extras de acordo com a CLT, ou seja, duas horas extras no dia de forma não habitual.
Ainda de acordo com os representantes, o setor administrativo segue uma cláusula do acordo
coletivo que estipula duas horas extraordinárias semanais sem serem pagas.
Segundo os relatos dos trabalhadores, antigamente o regime de turno era de
6x4 (seis dias de 8 horas trabalhadas e quatro dias de folga). Os problemas quanto a este
84
regime eram somente nas férias, mas para a maioria dos trabalhadores a negociação do turno
que se tem atualmente é melhor. De acordo com a percepção dos trabalhadores, o atual regime
de turno foi possível de ser implantado porque o cenário atual da fábrica mostra que também
há uma redução do grupo. Para os trabalhadores a desvantagem desse turno é quando
trabalham aos finais de semana.
Na opinião dos entrevistados responsáveis pelo setor de Recursos Humanos
esse tipo de turno é mais produtivo em comparação ao turno fixo, além disso, as pessoas estão
sujeitas a sofrer menos acidentes. Essa proposta de turno foi concebida no Canadá e EUA,
contudo, para sua implantação no Brasil foi preciso uma negociação envolvendo sindicato e
trabalhadores. Já de acordo com o relato do representante sindical, no começo da mudança a
fadiga e o estresse da adoção do novo horário trouxeram maior probabilidade de acidentes,
contudo, atualmente há melhor assimilação por parte dos trabalhadores, pois já se adaptaram.
Segundo os trabalhadores, durante o trabalho noturno a empresa oferece
condições para facilitação do deslocamento, além do adicional noturno.
4.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho
De maneira geral, a expectativa dos trabalhadores entrevistados é de que
continuem trabalhando na Alcoa durante o próximo ano, contudo, ao se referirem às
expectativas dos demais companheiros de trabalho acreditam que mais da metade dos
trabalhadores que há 6 meses entraram na Alcoa seguem desmotivados, pois a empresa alerta
constantemente para a redução de custos e a crise dos últimos anos. Os entrevistados
revelaram que atualmente os trabalhadores do operacional são admitidos por 1,5 salários
mínimos, portanto, muitos preferem trabalhar em empresas menores, conforme pode ser
percebido na seguinte fala de um dos entrevistados:
“O novato ganha muito pouco em relação aos veteranos. Há
motivação dos líderes, só que querem saber do salário melhor e não
da motivação. Por isso existem bastantes solteiros na empresa, pois
os casados desistem. [Em suma] a desmotivação é salarial”.
(trabalhador entrevistado)
Essa fala confirma a própria posição do representante da empresa, ao afirmar
que há uma concentração maior de pessoas em cargos no fim de carreira, pois quando um
trabalhador chega ao cargo máximo no operacional, a única ascensão possível seria pleitear
85
cargos no setor administrativo. Segundo dados fornecidos pela empresa, “nos últimos 12
meses houve 550 movimentações no plano de carreira de horistas, representando um
incremento de 4,93% na folha de pagamento 149
. Além disso, a Alcoa ressalta que “quando se
chega ao topo da carreira operacional, o profissional poderá verificar as habilidades
necessárias para migrar para as áreas técnicas, manutenção, coordenação, planejamento e
administrativa. Esse processo de qualificação acontece naturalmente para qualquer posição
de carreira. É necessário um forte investimento no autodesenvolvimento para que
movimentações possam acontecer ao longo da trajetória profissional” 150
.
Segundo o sindicato, atualmente a rotatividade é maior porque o emprego não
compensa, ou seja, não há tanta diferença quanto aos benefícios oferecidos pela Alcoa em
comparação a outras empresas. Ainda de acordo com relatos dos entrevistados, houve um
consenso de que os salários oferecidos tenham se defasado muito ao longo dos últimos anos.
Com base nas falas do grupo, percebe-se que o sentimento de desmotivação
dos trabalhadores nas diversas áreas da Alcoa pode ser causado também pela ameaça de
fechamento da fábrica na região. Segundo os entrevistados, ocorreram duas crises
significativas na Alcoa que contribuíram para a situação atual: a primeira foi a crise no
sistema de fornecimento e distribuição elétrica em 2001 e, anos depois, a crise financeira
internacional, congelando salários e a evolução do plano de cargos e salários de diversos
setores.
O grupo focal ao se referir aos anos de crise lembra que a equipe que
trabalhava na área da redução e na mina permaneceu muito profissional diante das
dificuldades, pois houve a reutilização e a redução do número de EPIs, bem como o corte de
benefícios e prêmios. A promessa da empresa foi de retomar alguns desses benefícios, o que
ainda não ocorreu em muitos casos. A opinião de muitos trabalhadores da Alcoa, ressaltada
em diversos momentos durante a entrevista seria que a Alcoa “está se aproveitando um pouco
dessas crises, pois uma fábrica não fecha de um dia para o outro, nesse sentido o governo
não deixaria”.
Já para muitos trabalhadores essa atual conjuntura de crise se confirma no
dissídio salarial, fruto de negociação, que na opinião dos trabalhadores “foi vergonhosa”,
149
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 150
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
86
limitando-se ao reajuste da inflação. “Já faz muitos anos que estamos em crise. Faz tempo
que não estamos bem, mas vemos muito sendo produzido”151
,disse um dos entrevistados. Em
suma, a crise é percebida pelos trabalhadores, que possuem a noção de que o câmbio, entre
outros fatores econômicos, influencia nas negociações da data-base; contudo, opinam que
falta disposição para controlar a situação dos gastos da empresa, pois acreditam que a empresa
contrata serviços muito caros e que deveria haver a redução de custos nesse sentido,
ressaltado ainda, que um dos motivos que mantém os trabalhadores na empresa são os
benefícios, como por exemplo, o plano médico, considerado por muitos, excelente.
Do ponto de vista da empresa, os negócios da Alcoa não estão favorecendo o
oferecimento de resultados positivos, implicando nos reajustes anuais que apenas repõem a
inflação. Nesse sentido, em relação à opinião dos diversos atores entrevistados o representante
da empresa afirma que a planta de Poços de Caldas requer um maciço investimento em
tecnologia, além dos problemas relacionados à viabilidade econômico-financeira que enfrenta,
pois nos últimos anos o preço do alumínio cotado na Bolsa de Metais em Londres (LME)
enfrenta constante queda, afetando negativamente esta unidade com o aumento de seu
estoque. Atualmente Poços de Caldas vende a tonelada do alumínio a US$ 1.800 dólares,
quando o ideal para suprir os atuais custos de produção , que praticamente ultrapassam o
preço de venda, seria a US$ 2.300 dólares/ton.
Para o entrevistado a perspectiva é que essa unidade de Poços de Caldas
encerre suas atividades, haja vista que parte de sua energia será transferida para a Alumar a
partir de 2014. Contudo, segundo sua fala:
“As pessoas são engajadas para darem resultados positivos, e isso faz
muita diferença, se fecha o resultado positivo ou não. Se não houvesse
sinalização no governo federal e estadual acho que Alcoa fecharia. A
empresa não joga com esse tipo de assunto e muitos pensaram que
era um blefe”. (Gerente de RH da Alcoa)
4.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar
Os trabalhadores do administrativo afirmaram que não enfrentam muitos
problemas ao acompanhar filhos, cônjuges e pais em consultas e exames médicos, caso
151
Em relação às negociações que levaram ao dissídio coletivo o sindicato não quis se posicionar, o
representante sindical apenas afirmou que as clausulas do Acordo coletivo de trabalho nos últimos 3 anos não
são cumpridas.
87
avisem antecipadamente o supervisor responsável. Nos casos de falecimento na família
também é possível ser dispensado do trabalho.
De maneira geral, em relação ao tema de conciliação entre trabalho e vida
familiar, os trabalhadores afirmaram que a dedicação aos afazeres domésticos é feita de
acordo com os períodos de folga de turno, bem como revelaram que dividem as tarefas
domésticas com os respectivos parceiros conjugais, tendo em vista que muitas vezes ambos
trabalham fora. No caso específico dos trabalhadores do sexo masculino, afirmaram que suas
respectivas esposas também trabalham e, portanto, também se dedicam durante o período de
folga aos afazeres domésticos semanalmente.
Segundo os trabalhadores, o tempo de deslocamento de suas residências até a
empresa, em média, dura cerca de 40 minutos a 1 hora.
4.1.7. Tratamento Digno no Emprego
Sobre os temas relacionados à discriminação e às políticas direcionadas a
combatê-las a Alcoa procura focar no tema da diversidade em três dimensões: mulheres,
pessoas com deficiência e raça. Segundo o gestor responsável pelo setor de Recursos
Humanos, a Alcoa promove palestras sobre o tema de raça aos funcionários em cargos de
lideranças; já em relação às mulheres, a área de recursos e seleção tem de apresentar metas de
participação de mulheres em processos seletivos e o mesmo ocorre para as vagas de estágio
em relação às pessoas com deficiências.
Em relação aos casos de assédio moral no local de trabalho o representante da
empresa revelou que é disponibilizado aos trabalhadores um canal de denúncias vinculado ao
sistema global da Alcoa (0800), no qual não é preciso se identificar, bem como mecanismos
da S.A. 8000 – que ajuda a desenvolver esses programas internamente e também avalia os
fornecedores quanto a essas questões. Outro mecanismo desenvolvido pela Alcoa são as
“mesas redondas”, durante as quais os trabalhadores podem expressar suas opiniões. Além
disso, recentemente foram organizados treinamentos entre as lideranças sobre este tema com a
preocupação de assegurar o tratamento digno na relação entre os cargos de gerência e
operadores:
“Na questão de assédio moral na gestão percebemos que as pessoas
agem melhor quando se conversa mais. Conversamos bastante com os
líderes. Nos treinamentos para liderança isso é muito debatido, sendo
88
um tema específico no treinamento dos líderes. Há um tratamento
muito formal entre os operadores”. (Gerente de RH da Alcoa).
Atitudes que configuram o assédio moral já foram percebidas por um dos
entrevistados em sua respectiva área. Segundo o relato, cerca de um ano atrás, um
trabalhador152
que tinha dificuldade de aprender sobre os processos de sua função sofria
constantes constrangimentos por parte de um dos gestores; contudo, como a denúncia é feita
pelo sistema informacional da empresa, a vítima sentiu medo de ser punida, pois temia a
possibilidade de que fosse rastreado seu acesso. A Alcoa alega desconhecer o fato de que
trabalhador tenha sofrido tal constrangimento e completa: “o canal de denúncia é
confidencial e não há possibilidade de rastreamento. Nenhuma denúncia sobre esse caso foi
registrada em nossa ouvidoria”153
.
Além desse caso, foi confirmado durante as entrevistas que houve dois casos
de trabalhadores que questionaram alguns procedimentos referentes às áreas correspondentes
e foram demitidos. Quando questionados sobre este episódio os entrevistados não souberam
fornecer maiores detalhes, mas afirmaram que um dos demitidos era considerado um
excelente profissional pelos demais trabalhadores. Em suma, nota-se que há certo “medo” de
questionar alguns procedimentos, mesmo ao utilizar a intranet, pois não sentem que é uma
maneira segura de manter o sigilo da denúncia efetuada.
Em relação aos casos de assédio sexual, os entrevistados relataram que houve
um caso recentemente no setor administrativo, envolvendo uma estagiária e um trabalhador
do mesmo setor. Embora os entrevistados não soubessem afirmar quais foram as atitudes
corretivas ou punitivas em relação tanto à vítima quanto ao acusado, afirmaram que a empresa
procurou demitir os dois, sem maiores averiguações sobre o caso. Em contraposição aos
relatos, a empresa afirma que “não tem conhecimento ou registro oficial sobre o caso em que
houve essas duas demissões e nenhuma ação é tomada sem que haja mais averiguações”154
.
Em relação a outros motivos que levam a atitudes discriminatórias, pode-se
afirmar que os trabalhadores entrevistados nunca presenciaram tais posturas ou já foram
diretamente discriminados por seus colegas de trabalho ou supervisores em relação à condição
152
Não foi fornecido à equipe de pesquisa dados como sexo, cargo ou função. 153
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013. 154
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
89
de raça ou gênero. Contudo, quando o representante sindical foi questionado sobre este tema,
houve uma ressalva, relatando que os dirigentes sindicais não têm as mesmas condições e
oportunidades dentro da empresa, acrescentando que a discriminação por participação sindical
é estendida até mesmo aos demais membros de sua família, como por exemplo, a seu filho,
que jamais terá a oportunidade de trabalhar na Alcoa. Em relação aos demais casos de
discriminação ou assédio moral ou sexual, o dirigente não quis se posicionar, afirmando
serem sigilosos.
De acordo com a perspectiva da Alcoa, “não há nenhuma restrição com
relação aos dirigentes sindicais, as oportunidades são iguais para todos. Quanto à questão
de filhos, os processos seletivos são abertos a todos e a aprovação para as vagas depende do
perfil, habilidade, background”, não havendo qualquer influência acerca do grau de
parentesco ou afinidade dos candidatos a vagas 155
.
4.1.8. Trabalho Seguro
Durante entrevista com um dos gestores responsável pela área de Saúde e
Segurança da unidade de Poços de Caldas, foi mencionado que há cinco técnicos de segurança
que trabalham em horário administrativo, das 8h às 17h, além de um engenheiro de segurança
e higienista industrial; contudo, existe um sistema de plantão para comunicação via telefone
caso seja necessário. Além da equipe técnica, a empresa segue as recomendações da NR-5
quanto à constituição da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), comunicando
o sindicato com antecedência sobre o início do processo eleitoral. Durante as eleições as
pessoas se candidatam, existe um período para a publicação dos nomes e todos os
trabalhadores são convocados à votação, que cobre todos os horários de turno.
Em relação às condições do ritmo de trabalho e seus riscos à saúde mental ou
física, os entrevistados revelaram que algumas áreas na empresa, como por exemplo, as salas
de cubas, apresentam riscos à segurança dos trabalhadores “o tempo todo”.
Com certa frequência ocorrem “atrasos” na produção por causa de quebra de
equipamentos e, consequentemente, a tarefa paralisada acaba retardando a subsequente;
portanto, todos os trabalhadores necessitam desempenhar suas funções com muita atenção
para que o fluxo da produção não seja interrompido. Os supervisores do operacional somente
155
Fonte: ALCOA. Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar: “Pesquisa sobre as condições
sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís
(MA); Alcoa World Alumina, em Juruti (PA); e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas (MG)”. São Paulo,
Janeiro 2013.
90
estão presentes durante o horário administrativo, mas os trabalhadores se comunicam com
eles por meio de mensagens via celular durante a noite caso aconteça algum problema, pois
com frequência ocorre a quebra das máquinas. De acordo com os entrevistados, existem
equipamentos que são adaptados e necessitam de constantes manutenções pelo tempo de uso,
o que acaba interrompendo a dinâmica de trabalho. Na área da manutenção, devido ao número
de ocorrências que chegam pelo rádio, “é necessário priorizar as atividades mais urgentes”,
relatou um dos entrevistados da área.
Segundo os relatos dos trabalhadores, a empresa preza pela saúde tanto física
como psicológica do trabalhador. Nesse sentido, todos são submetidos ao DDS (Diálogo
Diário de Segurança) antes de entrar na fábrica e, caso não estejam aptos para realizarem suas
tarefas, normalmente são direcionados pelos respectivos líderes ao ambulatório onde passam
por uma avaliação médica. Caso o fator psicológico do trabalhador esteja afetado, o gestor
responsável pela área pode transferi-lo para outra atividade que não ofereça situação de riscos
de acidentes. Durante a entrevista, um exemplo citado confirma essa prática no que concerne
às atividades ligadas à operação de equipamentos móveis: os trabalhadores são prontamente
impedidos de operá-los sob estas condições. Em relação aos casos de acidentes ocorridos nos
últimos três anos, o representante sindical afirmou que a política de segurança da Alcoa é
muito boa; contudo, ainda ocorrem pequenos atendimentos, já nos casos de acidentes mais
graves houve raros afastamentos nesse período.
O grupo de trabalhadores revelou que a empresa emite a Comunicação de
Acidente de Trabalho (CAT) para todos os acidentes nos locais de trabalho. No que se refere a
doenças relacionadas à atividade laboral, muitos trabalhadores, das diversas áreas, afirmaram
que possuem problemas na coluna, sendo este atualmente um dos principais motivos de
afastamentos na Alcoa. Dentre os entrevistados, havia apenas um que estava afastado de suas
funções e readaptado para o setor administrativo por este motivo, contudo, em ambos os
setores há pessoas que apresentam problemas de lesão por esforços repetitivos (LER/DORT).
Além disso, houve relatos de trabalhadores estressados, com depressão e síndrome do pânico,
bem como a existência de casos de alcoolismo e dependência química, mas que estão sendo
tratados no programa corporativo da Alcoa, chamado PARE. Segundo informações sindicais,
antigamente houve casos de doença causada pelo manuseio de amianto e asbesto, mas a
empresa não trabalha mais com esses produtos. Ainda segundo o sindicato, atualmente o
principal motivo de afastamento por doenças relacionadas à atividade laboral refere-se a
problemas na coluna.
91
Nesse sentido, a fim de atenuar os problemas relacionados aos riscos à saúde, o
representante da empresa afirmou que a Alcoa tem todas as estatísticas de acidente e
incidentes, apresentadas em reuniões mensais aos níveis mais elevados da hierarquia
institucional, como gestores e superintendentes, que por sua vez, reportam aos trabalhadores
do operacional. A SSMA (Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente) investiga até os
incidentes, ou seja, quando não há feridos. Sempre participa dessas investigações um membro
da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), que normalmente é funcionário do
setor onde ocorreu o incidente.
Em relação à CIPA o grupo constatou que a qualidade de sua atuação varia ano
a ano, mas atualmente ela é boa. Um dos trabalhadores presentes no grupo focal afirmou que
sua atuação pode fazer muita coisa, mas quem está fora dela tem que cobrar também. Ela
participa de auditorias nas áreas, divulgação de antitabagismo e de outros eventos. Já na
opinião do sindicato, ela não orienta muito bem os trabalhadores, é apenas para cumprir o
regulamento e, portanto, poderia ser melhor.
Quando questionados sobre a qualidade dos EPIs (equipamentos de proteção
individuais) e EPCs (equipamentos de proteção coletiva) quanto aos quesitos de eficiência,
disponibilidade e regularidade o grupo afirmou que são bons de maneira geral, como por
exemplo, os protetores faciais, auricular e botas de couro / PVC, dentre outros, utilizados nas
áreas de refinaria, casa de força (região das caldeiras), operação com soda cáustica,
equipamentos de transporte de bauxita, segurança elétrica e instrumentação, e serviços de
soldador. Além disso, os trabalhadores relataram que a empresa fornece camisas e calças
jeans, contudo, ao questionarmos sobre o uso de equipamentos indispensáveis à segurança do
trabalhador em casos de emergências, notamos que está em falta, no setor de refinaria, o
medicamento “diphoterine”, utilizado para neutralizar queimaduras por agentes químicos.
Segundo os entrevistados, a ausência do medicamento ocorre devido a problemas com o
fornecedor.
Na opinião dos trabalhadores, a Alcoa procura seguir as normas internacionais
na compra de EPIs e chama a atenção para garantir o quite para cada trabalhador. Os EPIs são
administrados para que não ocorra desperdício e a troca varia de acordo com a finalidade de
uso. O representante sindical pode confirmar essa preocupação por parte da empresa,
acrescentando que na sala de cubas os equipamentos como máscaras de proteção e
fardamentos também são eficientes.
Em relação à saúde do trabalhador, a empresa afirmou que todos os exames
necessários à manutenção do padrão de segurança da Alcoa são realizados. Sobre o exame de
92
radiação ionizante, é feito mensalmente. A Alcoa possui uma equipe de rádio proteção, cujo
representante realiza cursos e testes na CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Além
disso, os trabalhadores que lidam com certas atividades utilizam filmes dosimétricos,
mecanismo responsável por mensurar a dosagem de radiação a que são submetidos. Esses
filmes são enviados mensalmente aos órgãos competentes para avaliação; contudo, nunca
houve uma exposição fora do padrão de normalidade dentro do protocolo seguido pela Alcoa.
Geralmente os trabalhadores expostos a esse tipo de radiação são aqueles em situações de
manutenção de equipamentos que contêm material radioativo. Em suma, todos os controles
existem e são auditados pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nacional).
Segundo o responsável pela área de saúde e segurança, assim como pela
médica do trabalho da Alcoa, a empresa segue o que está na legislação brasileira, valendo-se
também da legislação norte-americana, de maneira que se complementem entre si. Além dos
protocolos internos referentes à saúde e segurança, a Alcoa adota dois protocolos
internacionais: The Occupational Safety and Health Administration (OSHA) e The American
Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIHU)156
. Caso seja necessário, a
empresa não se opõe a que o INSS e o SUS fiscalizem os locais onde ocorreram acidentes;
contudo, o sindicato normalmente não participa dessas fiscalizações. A Alcoa possui diversos
meios para que todos os trabalhadores possam participar da gestão da segurança, seja através
do programa DDS (Diálogo Diário de Segurança) ou de monitores de segurança, que a cada 6
meses se revezam e fazem a notificação de perigos nas áreas. Ainda segundo o representante
da empresa, inclusive as contratadas participam de todos esses processos.
Para prevenir e limitar a contaminação através de algumas substâncias a Alcoa
possui um profissional de higiene ocupacional que faz avaliações com foco na saúde
ambiental. Na unidade há três engenheiros ambientais contratados pela Alcoa, que constituem
parte do programa de controle ambiental em conjunto com a Fundação Estadual do Meio
Ambiente (FEMA), que estabelece onde, quando e como o monitoramento deve ser feito;
156
O OSHA é um órgão governamental criado pelo Congresso dos EUA, com a finalidade de garantir condições
de trabalho seguras e saudáveis para homens e mulheres através da criação e aplicação de normas, fornecendo
treinamentos, acompanhamento, educação e assistência. Fonte: http://www.osha.gov/about.html. Acesso em
29/11/2012. A ACGIHU é uma organização formada por profissionais higienistas oriundos de universidades e
instituições governamentais. Sua função é coletar e disponibilizar informações para os profissionais da área
acerca dos valores- limites de substâncias químicas aos quais os trabalhadores podem ser expostos diariamente
sem riscos de adoecerem. Atualmente, concentra áreas como: segurança agrícola e saúde, instrumentos de
amostragem de ar, bioaerossóis, índices de exposição biológicos, ventilação industrial, internacional, pequenos
negócios, valores-limite para as substâncias químicas e valores-limite para os agentes físicos. Fonte:
http://www.acgih.org/about/history.htm. Acesso em 28/11/2012.
93
além disso, existem procedimentos de monitoramento que correspondem a outros órgãos,
como a CETESB, por exemplo.
Segundo o representante desta área, os trabalhadores são informados quanto
aos riscos a que estão expostos e possuem acesso aos resultados de exames a que são
submetidos. Os resultados dos exames são encaminhados à CIPA e podem ser
disponibilizados para os representantes dos trabalhadores, conforme ocorre com as CATs.
Em relação à determinação da Convenção 170 da OIT referente a produtos
químicos e mecanismos de autorregulação aplicáveis ao ramo de atividade, o responsável pela
área afirmou que os resíduos da bauxita, após passarem por um processo de filtragem, são
armazenados em um lago forrado. Como medida mais específica concernente à convenção da
OIT, a empresa possui as fichas de todos os produtos químicos, contendo informações em
relação à característica, riscos à saúde e aos diversos tipos de contato. Assim, todos os
produtos são catalogados e aqueles que oferecem riscos à saúde são banidos – tais como: tinta
à base de chumbo, mercúrio e benzeno.
De acordo com o representante da empresa as principais emissões ocasionadas
pela produção de alumínio e alumina são líquidas, gasosas e sólidas; contudo, a Alcoa está
dentro dos limites estabelecidos pela Agência Estadual de Meio Ambiente, órgão responsável
pela regulamentação das emissões com base num modelo de dispersão atmosférica que
calcula o quanto a atmosfera pode acumular. Os rejeitos líquidos são despejados no rio, de
acordo com parâmetros estabelecidos por lei, e em todos os processos industriais a água é
reutilizada. A comunidade possui um canal de comunicação com a Alcoa e, em caso
necessário, a empresa tem 48 horas para responder por alguma irregularidade. Além disso, há
outros meios de envolvimento com a comunidade, como o fórum “Comunidade Poços
Sustentável” – cujos participantes reúnem-se periodicamente para tratar da gestão ambiental
da empresa – e o programa “Casa Aberta” – em que é possível visitar as instalações da
fábrica. Em Poços de Caldas há um parque ambiental onde são ministradas aulas sobre meio
ambiente e sustentabilidade para crianças das escolas da região. Em relação ao envolvimento
direto dos trabalhadores nas questões ambientais da empresa, a Alcoa promove
trimestralmente o Diálogo de Educação Ambiental (DEA) por meio de palestras que abordam
temas condizentes às questões enfrentadas pela sociedade nesse âmbito.
4.1.9. Proteção Social
94
De acordo com os entrevistados, a empresa oferece seis meses de licença
maternidade, bem como licença paternidade conforme prevê a legislação trabalhista, com
garantia de emprego após o período de licença; contudo, o representante sindical afirmou que
nos casos de licença paternidade não é assegurado o retorno. No caso de afastamentos por
acidentes de trabalho o trabalhador retorna a suas atividades, mas pode ser demitido caso
tenha descumprido alguma norma da empresa.
4.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva)
No grupo focal de trabalhadores havia apenas dois filiados ao sindicato. A
participação dos trabalhadores em atividades sindicais ocorre somente durante as negociações
salariais, de data-base e horário.
Conforme confirmaram os representantes da Alcoa, a atuação dos sindicalistas
geralmente se restringe à portaria, onde existe um quadro em que são afixados os materiais do
sindicato pela gerência, após prévia análise. Para as assembleias realizadas no sindicato a
empresa disponibiliza transporte aos trabalhadores; contudo, no ano de 2012 a Alcoa não
disponibilizou porque o sindicato afirmou que muitos trabalhadores não compareciam. Na
opinião do representante sindical, a empresa respeita o sindicato porque é “obrigada” a
respeitar, mas não é uma prática sempre comum, pois já houve alguma restrição na tentativa
de impedir o acesso à fábrica durante o período de implantação do turno fixo.
De acordo com os trabalhadores, o único mecanismo de organização no local
de trabalho, além da CIPA, é a comissão de PPR. Quando questionados sobre os últimos
conflitos ocorridos na empresa, os trabalhadores afirmaram que, com a mudança de turno,
houve uma série de conflitos com a empresa, envolvendo mais de 50% dos trabalhadores.
Em relação a esses tipos de negociação, o gerente do setor de Recursos
Humanos, afirmou que estas são feitas diretamente entre Alcoa e sindicato em reuniões
classificadas como “muito tensas” pelo entrevistado, tendo em vista que as opiniões são
muito divergentes. Ainda segundo ele, não está totalmente afastado o risco de fechamento da
fábrica de Poços de Caldas e, no entanto, o sindicato insiste que o reajuste da data-base seja
acima da inflação. Segundo a fala de um dos entrevistados, a empresa preferiu reajustar o
aumento real antes do acordo assinado com o sindicato que costumava ocorrer após uma
negociação muito prolongada e difícil. Na visão da empresa:
95
“Este ano tentou-se privilegiar os funcionários. Historicamente, aqui,
as negociações demoram três meses para fechar (...). Fizemos
somente duas reuniões: uma de 5 horas e outra de meio dia (...)
preparamos o material, mostramos a realidade do negócio, que não é
boa, e deixamos a decisão para os funcionários (...). A votação era na
sede do sindicato, houve dois dias inteiros para a votação das
propostas: [os trabalhadores] ou aceitavam o que a Alcoa ofereceu
que era inflação, ou não aceitavam e iria para dissídio.” (Gerente de
RH da Alcoa)
De acordo com o discurso da gerência, a unidade de Poços de Caldas vem
sofrendo com as baixas cotações do alumínio na LME, o que resulta em perdas significativas
nos negócios da unidade.
Segundo um dos representantes da empresa, a Alcoa procura envolver os
trabalhadores em decisões estratégicas e operacionais, com a Global Voice, que se caracteriza
como uma pesquisa para aprimorar alguns processos dentro da empresa, bem como o plano de
sugestões, premiando funcionários criadores de inovações.
96
Considerações Finais
A primeira fase desta pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas na Alcoa
envolveu a análise das unidades da Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São
Luís; Alcoa World Alumina em Juruti, Pará, e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas,
Minas Gerais. Neste processo, contribuíram para a realização do estudo alguns dos principais
sujeitos diretamente interessados pelas atividades da empresa: trabalhadoras e trabalhadores,
sindicalistas e gestores da Alcoa, que, com suas narrativas, possibilitaram-nos a tentativa de
uma compreensão mais minuciosa de seus cotidianos no trabalho. Com este relatório, enfim,
nossa expectativa é atuar em colaboração com vistas ao aprimoramento das relações de
trabalho na Alcoa no Brasil e subsidiar o poder de barganha de trabalhadoras e trabalhadores,
bem como suas conquistas trabalhistas.
97
Anexo:
Pesquisa Alcoa
Quadro: Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Coletiva (EPC) – setor de Metalurgia
Área EPI EPC
Refinaria¹
Diphoterine (solução de lavagem);
Camisa mangas compridas com proteção química
(tecido impermeável);
Calça comprida jeans;
Óculos ampla visão;
Protetor facial;
Protetor auricular;
Botas de couro –
para áreas alagadas: botas de PVC
Chuveiros lava-olhos;
Célula fotoelétrica (dispositivo de segurança
da máquina); Comandos bimanuais (dispositivo de segurança
da máquina); Barricadas;
Placas de aviso;
Luzes de advertência;
Iluminação artificial;
Etiquetas/cordões de
isolamento
Precipitação e
calcinação Protetor auricular
Casa de força
(região de
caldeiras)
Óculos de segurança
Visores especiais
Operação com
soda cáustica
Calça, camisa, gorro e sapatos de PVC, óculos ampla
visão, luvas PVC, protetor facial integral, camisa
resistente a meios ácidos e álcalis
Mangueiras de água;
Meio de comunicação
eficiente;
Equipamentos de
transporte de
bauxita
Alarme sonoro
Segurança
elétrica e
instrumentação
Luvas de alta tensão, roupas de proteção em Nomex® -
vestimentas: camisa de calça manga longa resistente à
chama e calças longas ou macacões; óculos de
segurança com protetores laterais e armações
eletricamente não-condutivas; sapatos de segurança
eletricamente classificados; capacete eletricamente
não-condutivo; jaleco e luvas em Nomex®, capuz com
proteção facial.
Material isolante (a ser
usado entre o corpo e a
terra ou aparelhos
aterrados)
Moagem Protetor auricular
Digestão e
clarificação
Óculos de ampla visão, máscaras ou respiradores
aprovados, proteção facial
Porto Creme protetor para pele (prevenção de dermatite
ocupacional); colete salva-vidas (demais?)
Serviços de
soldador
Blusão, avental em raspa, mangas, luvas, perneiras,
proteção respiratória (PFF2)
¹ O processo de extração de alumina da bauxita (refinação) é feito com soda cáustica, a elevadas temperaturas.
Fonte: Alcoa Alumínio S.A. Caderno de EHS (Saúde, Segurança e Meio Ambiente) para Expansão da Refinaria
Alumar, 2007.
98
Referências consultadas:
ALCOA. Relatório de Sustentabilidade 2011.
ALCOA ALUMÍNIO S.A.. Caderno de EHS para Expansão da Refinaria ALUMAR. 2007.
ALCOA ALUMÍNIO S.A.. Demonstrações financeiras consolidadas e individuais em 31 de
dezembro de 2011 e relatórios dos auditores independentes. São Luís, abril de 2012.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (MME) – Secretaria de Geologia, Mineração e
Transformação Mineral (SGM); Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento
(BIRD). Relatório Técnico 22. Perfil da Mineração da Bauxita. Produto 11. Minério de
Alumínio. Setembro de 2009.
NAHUM, João dos Santos; CASTRO, Isabela Andrade de. “Um Capítulo da Questão
Agrária na Amazônia: Mineração e Campesinato no Município de Juruti (PA)”.
Universidade Federal do Pará. In: Territórios em Disputa: os Desafios da Geografia Agrária
nas Contradições do Desenvolvimento Brasileiro. XXI Encontro Nacional de Geografia
Agrária (UFU). Uberlândia (MG), 15 a 19 de outubro de 2012.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Perfil do Trabalho Decente
no Brasil. Um Olhar sobre as Unidades da Federação. 2012.
REVISTA AMÉRICA ECONOMIA BRASIL. As 500 maiores empresas da América Latina.
Julho/2012.