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“Gestão do Desenvolvimento Inclusivo da Escola” Módulo IV Rio Grande, 2014

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“Gestão do Desenvolvimento Inclusivo da Escola”

Módulo IV

Rio Grande, 2014

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Módulo IV – DISCIPLINA VI - Deficiência Visual (15h)

DANER MARTINS

________________________________________________________

1. DEFINIÇÕES SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL

A cegueira é a incapacidade de enxergar, mesmo em condição proximal, podendo

ser considerada desde a ausência total da visão, até a perda da projeção de luz,

necessitando, par seu aprendizado, de recursos que não requeiram o uso da visão, como

o sistema Braille e outros instrumentos de comunicação sobretudo tátil.

A pessoa com baixa visão tem alterações na capacidade funcional de ambos os

olhos, apresenta dificuldades para enxergar com clareza os elementos físicos do mundo

que a cerca. A acuidade visual dessa pessoa pode apresentar-se em três níveis: leve,

moderado ou severo. É importante enfatizar que o nível de acuidade pode ser influenciado

por fatores ambientais inadequados.

2. UM POUCO DE HISTÓRIA

Histórico sobre a Educação de Pessoas com Deficiência Visual

Para um melhor entendimento sobre a realidade da educação especial no Brasil,

relataremos acontecimentos históricos que apresentam os primeiros indícios da

preocupação da sociedade em relação à educação de pessoas com de necessidades

especiais. Compreender o processo de inclusão hoje implica resgatar uma trajetória ao

longo dos últimos séculos.

Para tal percurso histórico, referenciaremos inicialmente as ideias apresentadas pelo

Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta (2005), no livro Educação Especial no Brasil: História

e Políticas Públicas.

Vamos conversar sobre a educação especial? Acesse:

http://youtu.be/OjVPf9wrf18

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Segundo ele, no século XVIII, as pessoas com algum tipo de deficiência eram

tratadas como inválidas e marginalizadas pela sociedade da época. A própria religião

colaborava para isso, uma vez que disseminava a ideia de que o ser humano seria a

imagem e semelhança de Deus, não deixando, assim, espaço para imperfeições.

A partir de ações isoladas, oriundas de pessoas com deficiência ou com alguma

identificação com as mesmas, principalmente, na Europa, a realidade de descaso em

relação aos deficientes foi sendo, lentamente, alterada, pois espaços na sociedade para

reflexão sobre a educação especial foram sendo criados, até o surgimento das primeiras

medidas educacionais para as pessoas com deficiência.

De acordo com o pesquisador, a primeira obra impressa sobre a educação de

deficientes teve autoria de Jean-Paul Bonet, intitulada Redação das Letras e Arte de

Ensinar os Mudos a Falar, publicada na França em 1620. Porém, apenas em 1770 foi

fundada a primeira instituição especializada para educação de surdos-mudos, pelo abade

Charles M. Eppée, em Paris.

A educação de deficientes visuais, entretanto, teve como marco inicial a fundação

do Institute Nacionale des Jeunes Aveugles (Instituto Nacional dos Jovens Cegos), por

Valentin Haüy, em 1784, também, em Paris. Instituição esta preocupada em iniciar o

deficiente na leitura, utilizando letras em relevo. Alguns anos mais tarde, outras escolas

para cegos foram abertas: em Liverpool (1791), Londres (1799), Viena (1805) e Berlim

(1806).

Em 1819, o oficial do exército Francês Charles Barbier levou para o Instituto Nacional

dos Jovens Cegos um procedimento de escrita por ele idealizado para transmissão de

mensagens entre soldados à noite, através de pontos em relevo. Porém esse código não

se mostrou eficiente para o desempenho dessa tarefa, uma vez que apresentava uma

combinação de 12 pontos em relevo para a representação do alfabeto. A escrita, então,

chamou a atenção em especial de um aluno do instituto, Louis Braille (1809-1852), que

durante alguns anos trabalhou na adaptação deste código militar, reduzindo-o de 12 para

6 pontos, a fim de atender às suas necessidades e, consequentemente, de seus colegas

cegos. Esse método, inicialmente, foi intitulado de sonografia e, posteriormente, de Braille,

em homenagem a esse estudante.

Ficou estipulado que cada letra na escrita Braille é representada pela combinação

de um conjunto de 6 pontos em relevo, a cela Braille, a qual pode ser perfurada de 63

maneiras distintas, formando o alfabeto, os sinais de pontuação e os códigos matemáticos,

conforme apreciaremos nas figuras abaixo:

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Figura 1– Cela Braille Figura 2 – Numeração convencionada dos pontos

Figura 3 – Alfabeto Braille

Essa escrita revolucionou a educação de deficientes visuais, os quais passaram a

ter autonomia na leitura e escrita. O método criado por Louis Braille é, ainda hoje, utilizado

pelos deficientes visuais em todo o mundo.

Curso de Braille Virtual fornecido gratuitamente pela USP.

Acesse em:

file:///C:/Program%20Files%20%28x86%29/Braille%20Virtual%201.0/BrailleVirtual.pt.html

É importante ressaltarmos que a utilização da escrita Braille, na sala de aula, é um

recurso que permite a percepção da escrita e facilita a comunicação entre professor e aluno.

Vamos conhecer a história da escrita Braille? Acesse: http://youtu.be/9AcA1U8YIX0

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No transcorrer da história, nas Américas, a fundação das escolas especiais para

deficientes visuais ocorreu um pouco mais tarde, por volta de 1830, em Massachusetts, e

em Nova York. No ano de 1837, foi criada, no centro de Columbus, em Ohio, nos Estados

Unidos, a Ohio State School for the Blind, a primeira escola de cegos inteiramente

subsidiada pelo governo.

Percebemos que os movimentos em prol da educação de deficientes visuais foi

construído no decorrer dos séculos. No entanto, é notável que, no Brasil, as escolas

especiais surgiram tardiamente, como veremos a seguir.

É relevante destacarmos a iniciativa do brasileiro José Álvares de Azevedo,

deficiente visual, que muito cedo foi estudar em Paris, no Instituto Imperial dos Jovens

Cegos, onde permaneceu por 8 anos, e teve a oportunidade de ser alfabetizado no sistema

Braille. De volta ao Brasil, em 1852, o mesmo iniciou sua luta em busca da criação de uma

escola para as pessoas com deficiência visual, nos moldes da qual havia estudado na

França.

José Álvares passou, então, a alfabetizar cegos. Nesse período conheceu D. Pedro

II, a quem apresentou o sistema especial de escrita. O Imperador gostou bastante do

método e, assim, demonstrou interesse em apoiá-lo.

Em 1854, a primeira ação efetiva do governo, voltada para a educação especial, foi

tomada pelo imperador D. Pedro II, que através de um decreto imperial fundou, na cidade

do Rio de Janeiro, O Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

A fim de verificar a insuficiência do atendimento no instituto, o professor Mazzota

aponta que em 1872 a população brasileira com deficiência visual era de 15.848 pessoas,

dos quais apenas 35 recebiam atendimento no Instituto. A partir daí, abriu-se um grande

espaço para debates relativos à ineficiência da educação inclusiva.

Ocorre, em 1883, através da convocação do Imperador, o 1º Congresso de Instrução

Pública que tinha entre seus objetivos discutir os currículos e a formação de professores

para a educação de cegos e surdos. Registra-se aqui a primeira ação efetiva em direção à

preparação do docente para atuar na educação especial.

Após algumas décadas, já no governo republicano, em 1891, o Imperial Instituto dos

Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant (IBC), como é chamado

até os dias de hoje, em homenagem ao seu ex-professor de matemática e ex-diretor

Benjamin Constant Botelho de Magalhães. Na época, o instituto preocupava-se em oferecer

aos alunos cegos, além do sistema Braille, oficinas de profissionalização que objetivavam

ensinar tipografia e encadernação para os meninos, e tricô para as meninas.

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O final do século XIX foi marcado por grandes investimentos financeiros por parte do

governo na área da educação especial. Como consequência desta política, destacamos o

crescimento significativo no número de escolas destinadas exclusivamente à educação

especial, em todo o Brasil, até 1950. Entre elas merece destaque a inauguração do Instituto

de Cegos Padre Chico, em 1928, na cidade de São Paulo, para atender a crianças cegas

em idade escolar.

Segundo os pesquisadores do IBC, Ferreira e Lemos (1995), uma demonstração de

preocupação com a educação de pessoas com necessidades especiais no país deve-se à

inspiração do deputado Cornélio França, da Província da Bahia, que em 1935 apresentou

um projeto de lei que previa a criação de uma cadeira de Professores de Primeiras Letras

para o ensino de cegos e surdos, nas escolas da Corte e Capitanias das Províncias. Porém,

a esse projeto não foi dada a devida importância, pois não houve reeleição do deputado.

Também foi criada a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, em 1946, pela

professora Dorina de Gouvêa Nowill, com a finalidade de produzir manualmente livros em

Braille, por uma equipe de voluntários. Hoje, a fundação é chamada de Fundação Dorina

Nowill, em homenagem a sua fundadora.

Em 1942, o Instituto Benjamin Constant editou a primeira revista em Braille do país:

a Revista Brasileira para Cegos. No ano seguinte, implantou a imprensa Braille a fim de

suprir as necessidades internas da Instituição. No entanto, após portaria ministerial, em

1949, passou a distribuir livro em Braille para todo País.

Através de portaria ministerial, em 1946, o curso ginasial ministrado no IBC foi

equiparado ao ginásio comum, possibilitando assim que, em 1950, alguns alunos cegos

prosseguissem seus estudos na escola regular. Essa ação foi o primeiro registro que

encontramos do ensino integrado no Brasil, isto é, alunos deficientes convivendo e

estudando no mesmo ambiente que alunos sem deficiência.

Em 1947, o Instituto Benjamin Constant juntamente com a Fundação Getúlio Vargas

do Rio de Janeiro promoveram o primeiro Curso de Especialização de Professores na

Didática de Cegos o qual se repetiria entre 1951 a 1973, em convênio com o Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos.

Vamos conhecer um pouco do trabalho do IBC? Acesse : http://youtu.be/Ucq0KZdCTO0 http://youtu.be/UkKYDkY8A9Q http://youtu.be/OVyN0CbKmL0 http://youtu.be/--kaTyE3iFI

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3. VIGOTISKY E A DEFICIÊNCIA VISUAL

Vigotsky desenvolveu pesquisas significativas relacionadas à educação especial.

Contemplou, então, estudos sobre os processos ligados à percepção do desenvolvimento

da criança com deficiência física, auditiva, visual e múltipla. Esses trabalhos foram

amparados em uma ciência, intitulada, na época, de Defectologia.

Pensar na inclusão do deficiente visual no processo de ensino e aprendizagem, na

área de educação, requer um estudo sobre o desenvolvimento cognitivo das pessoas com

deficiência. Vigotsky refletiu a respeito da deficiência visual, o que verificamos no extrato a

seguir.

A cegueira não é meramente a ausência da visão (o fracasso de um órgão isolado); a cegueira causa uma total reestruturação de todas as potencialidades do organismo e personalidade. A cegueira, na criação de uma nova e única forma de personalidade, traz à vida forças novas; ela muda as tendências normais de funcionamento; ela, criativa e, organicamente, refaz e transforma a mente de uma pessoa. Consequentemente não é um mero defeito, um menos, uma fraqueza, mas é em algum sentido também a origem de manifestações de habilidades, um mais, uma força (contudo estranha ou paradoxal como pode parecer!) (VIGOTSKY, 1997, p.1)

Segundo o autor, a visão sobre a cegueira sofreu distorções ao longo dos tempos.

Na antiguidade, por exemplo, creditava-se à cegueira uma grande desgraça, a pessoa cega

era desamparada, indefesa e abandonada. A sociedade acreditava que o cego possuía

poderes místicos da alma e que, com a perda da visão, a pessoa ficava aberta a uma luz

espiritual.

Apenas no século XVIII, a ciência tomou o lugar do misticismo, a partir de ações que

proporcionavam a criação de escolas especializadas a fim de disponibilizar educação ao

cego. Anteriormente a essa fase, baseava-se em uma doutrina denominada de “vicariança”,

ou seja, a substituição das funções desempenhadas por órgão com funcionamento

insuficiente, por outro. Como exemplo, a falta de visão substituída pela audição ou tato.

Lendas foram criadas em torno do deficiente visual, tais como, a de que o cego tem uma

audição mais desenvolvida em relação a uma pessoa que não apresenta deficiência.

Vigotsky resgata resultados obtidos em pesquisas que rejeitam essa teoria, ou seja,

refuta a ideia, da mesma forma que K. Bürk, H. A. Friche, Stukey e outros estudiosos acerca

do pensamento de compensação fisiológica. Como ratificado no fragmento abaixo:

(...) o fenômeno surge não de uma compensação fisiológica direta pela perda da visão (como a expansão de um rim), mas prossegue ao longo de um caminho muito complicado e indireto da compensação sóciopsicológica global, sem substituir ou repor o órgão debilitado. (VIGOTSKY, 1997, p.2)

Esse processo de compensação social é centralizado na capacidade da

comunicação e da linguagem para superar as barreiras impostas pela ausência da visão,

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pois o autor acredita que “no caso do cego, a origem da compensação não é o

desenvolvimento do toque ou refinamento da audição, mas a fala – o uso da experiência

social e a comunicação com o vidente” (VIGOTSKY, 1997, p.8).

Com a importância da fala e, consequentemente das interações sociais para o

desenvolvimento cognitivo das pessoas com deficiência visual, trazemos novamente o

pensador russo, que discute acerca da escola preparada para desenvolver um trabalho que

respeite as diferenças entre uma criança portadora ou não de deficiência. De acordo com

ele:

é necessário liquidar o isolamento, a educação orientada para a invalidez do cego e apagar a demarcação entre a escola especial e a escola normal. A educação de uma criança cega deve ser realmente organizada sobre os mesmos termos como a educação de qualquer criança capaz de um desenvolvimento normal. A educação deve de fato fazer uma criança cega tornar-se uma criança normal, um adulto socialmente aceito e deve eliminar o rótulo e a noção de “defeituoso”, fixado ao cego. (VIGOTSKY, 1997, p.13)

Como já mencionamos, a educação especial sofreu mudanças ao longo dos anos.

Entretanto, ainda não percorremos o suficiente para proporcionar uma escola

verdadeiramente inclusiva, capaz de formar o jovem em sua plenitude e potencialidade, a

fim de inseri-lo no meio social, tornando-o apto ao trabalho.

4. RESUMO DA OBRA: ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO -

DEFICIÊNCIA VISUAL

Os conteúdos escolares privilegiam a visualização em todas as áreas de

conhecimento, de um universo permeado de símbolos gráficos, imagens, letras e números.

O sistema visual detecta e integra de forma instantânea e imediata mais de 80% dos

estímulos no ambiente. Por isso, necessitam de um ambiente estimulador, de mediadores

e condições favoráveis à exploração de seu referencial perceptivo particular. No mais, não

são diferentes de seus colegas que enxergam no que diz respeito ao desejo de aprender,

aos interesses, à curiosidade, às motivações, às necessidades gerais de cuidados,

proteção, afeto, brincadeiras, limites, convívio e recreação dentre outros aspectos

relacionados à formação da identidade e aos processos de desenvolvimento e

aprendizagem. Devem ser tratados como qualquer educando no que se refere aos direitos,

deveres, normas, regulamentos, combinados, disciplina e demais aspectos da vida escolar.

A cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das funções elementares

da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância,

forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Pode ocorrer

desde o nascimento (cegueira congênita), ou posteriormente (cegueira adventícia,

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usualmente conhecida como adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais.

Se a falta da visão afetar apenas um dos olhos (visão monocular), o outro assumirá as

funções visuais sem causar transtornos significativos no que diz respeito ao uso satisfatório

e eficiente da visão.

Os sentidos têm as mesmas características e potencialidades para todas as

pessoas. As informações tátil, auditiva, sinestésica e olfativa são mais desenvolvidas pelas

pessoas cegas porque elas recorrem a esses sentidos com mais frequência para

decodificar e guardar na memória as informações. Sem a visão, os outros sentidos passam

a receber a informação de forma intermitente, fugidia e fragmentária. O desenvolvimento

aguçado da audição, do tato, do olfato e do paladar é resultante da ativação contínua

desses sentidos por força da necessidade. Portanto, não é um fenômeno extraordinário ou

um efeito compensatório. Os sentidos remanescentes funcionam de forma complementar

e não isolada.

O sistema háptico é o tato ativo, constituído por componentes cutâneos e

sinestésicos, através dos quais impressões, sensações e vibrações detectadas pelo

indivíduo são interpretadas pelo cérebro e constituem fontes valiosas de informação. A

habilidade para compreender, interpretar e assimilar a informação será ampliada de acordo

com a pluralidade das experiências, a variedade e qualidade do material, a clareza, a

simplicidade e a forma como o comportamento exploratório é estimulado e desenvolvido.

Recursos ópticos

Recursos ópticos para longe: telescópio: usado para leitura no quadro negro, restringem

muito o campo visual; telessistemas, telelupas e lunetas.

Recursos ópticos para perto: óculos especiais com lentes de aumento que servem para

melhorar a visão de perto. (óculos bifocais, lentes esferoprismáticas, lentes monofocais

esféricas, sistemas telemicroscópicos).

Lupas manuais ou lupas de mesa e de apoio: úteis para ampliar o tamanho de fontes

para a leitura, as dimensões de mapas, gráficos, diagramas, figuras etc. Quanto maior a

ampliação do tamanho, menor o campo de visão com diminuição da velocidade de leitura

e maior fadiga visual.

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Recursos Não ópticos

Tipos ampliados: ampliação de fontes, de sinais e símbolos gráficos em livros, apostilas,

textos avulsos, jogos, agendas, entre outros.

Acetato amarelo: diminui a incidência de claridade sobre o papel.

Plano inclinado: carteira adaptada, com a mesa inclinada para que o aluno possa realizar

as atividades com conforto visual e estabilidade da coluna vertebral.

Acessórios: lápis 4B ou 6B, canetas de ponta porosa, suporte para livros, cadernos com

pautas pretas espaçadas, tiposcópios (guia de leitura), gravadores.

Softwares com magnificadores de tela e Programas com síntese de voz.

Chapéus e bonés: ajudam a diminuir o reflexo da luz em sala de aula ou em ambientes

externos.

Circuito fechado de televisão --- CCTV:

aparelho acoplado a um monitor de TV monocromático ou colorido que amplia até 60 vezes

as imagens e as transfere para o monitor.

Alfabetização e Aprendizagem

Para que o aprendizado seja completo e significativo é importante possibilitar a coleta

de informação por meio dos sentidos remanescentes. A audição, o tato, o paladar e o olfato

são importantes canais ou porta de entrada de dados e informações

que serão levados ao cérebro. Lembramos que se torna necessário criar um ambiente que

privilegia a convivência e a interação com diversos meios de acesso à leitura, à escrita e

aos conteúdos escolares em geral.

A linguagem amplia o desenvolvimento cognitivo porque favorece o relacionamento

e proporciona os meios de controle do que está fora de alcance pela falta da visão. Trata-

se de uma atividade complexa que engloba a comunicação e as representações, sendo um

valioso instrumento de interação com o meio físico e social. O aprimoramento e a aplicação

das linguagens oral e escrita manifestam-se nas habilidades de falar e ouvir, ler e escrever.

É tarefa do educador observar como os alunos se relacionam com os seus

colegas e com os adultos e verificar a qualidade da experiência comunicativa nas diversas

situações de aprendizagem.

As crianças cegas operam com dois tipos

de conceitos:

1) Aqueles que têm significado real para elas a partir de suas experiências.

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2) Aqueles que fazem referência a situações visuais, que embora sejam importantes meios

de comunicação, podem não ser adequadamente compreendidos ou decodificados e ficam

desprovidos de sentido. Nesse caso, essas crianças podem utilizar palavras ou expressões

descontextualizadas, sem nexo ou significado real, por não basearem-se em experiências

diretas e concretas. Esse fenômeno é denominado verbalismo e sua preponderância pode

ter efeitos negativos em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento (conceito de nuvem,

por exemplo).

5. ALGUNS RECURSOS TECNOLÓGICOS

Inicialmente, apresentamos o sistema DOSVOX1 o qual utiliza um sintetizador de

voz, que permite ao deficiente visual: ler documentos no formato de texto, acompanhar as

aulas e estudar com o auxílio do computador, bem como realizar pesquisas na internet. O

software apresenta ferramentas pedagógicas destinadas ao ensino de matemática, tais

como: jogo da tabuada, planivox (planilha eletrônica semelhante ao Excel), calculadora

vocal , contavox e sudoku que possibilitam ao aluno uma interação com a matemática e

informática, ainda nos anos iniciais. Podemos apreciar sua interface na figura a seguir:

Figura 4- Interface do Sistema DosVox

1 Disponível em http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/

Vamos conhecer a diferença entre cubarítimo e sorobã? Acesse : http://youtu.be/HdJSkMZvuTo

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Outro software bastante importante, para o professor, é o Braille Fácil2, o qual

permite a codificação para o Braille de qualquer arquivo no formato de texto ou a digitação

direta do material em sua interface, para posterior impressão em Braille. Sua funcionalidade

pode ser apreciada na figura:

Figura 5 – Interface do software Braille Fácil

Cabe ressaltar que o software aproxima o professor da linguagem Braille, o que

possibilita uma maior interação com os alunos. Esse fato, segundo Vigotsky, é de extrema

importância para o sucesso no processo de ensino e aprendizagem de alunos deficientes

visuais.

Com o auxílio do mesmo programa, na interface Braille Pintor, podemos construir

gráficos e tabelas para serem impressos em uma impressora Braille. Como verificaremos

nas imagens abaixo.

Figura 6 – Braille Fácil: transformação de texto em tabela em Braille

2 Disponível em http://intervox.nce.ufrj.br/brfacil/

Transforma o texto

digitado em tabela em

Braille.

Transcreve o texto

digitado para o sistema

Braille

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Para a confecção de gráficos e figuras temos o software Monet3, com o qual

podemos desenhar gráficos em barras e transcrever para o Braille qualquer imagem em

formato digital.

Figura 7 – Interface do software Monet: figura geométrica desenhada em Braille

Figura 8– Gráfico de barras

Testamos, na Oficina, uma ferramenta bastante interessante no software em

questão. A opção Brailizar figura transforma qualquer imagem no formato jpeg em pontos

em relevo, como percebemos nas figuras a seguir:

3 Disponível em http://www.acessobrasil.org.br/softwares/monet.html

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Figura 9 – Imagem colada em formato jpeg diretamente na interface do Monet

Figura 10 – Imagem anterior após a utilização da ferramenta Brailizar

A utilização desta ferramenta traz uma questão bastante significativa, pois as figuras

confeccionadas através de pontos em Braille tem uma relevância muito significativa uma

vez que o deficiente visual já está acostumado com sua percepção tátil dos pontos.

Vamos conhecer o recurso multiplano? Acesse: http://youtu.be/FmugbE2Yhds

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6. Dicas para auxiliar uma pessoa cega

Dicas de Ensino

Adoção sistema Braille;

Descrição de imagens usando ferramentas do Word e ppt;

Produzir formas, gráficos, desenhos em alto relevo texturizado, legendado utilizando

materiais reciclados, papéis texturizados, cordões, fitas, palitos;

Programar atividades em que o aluno cego possa participar evitando a exclusão;

Evitar de deixar o aluno cego de fora da programação da aula por sua deficiência,

quando não for possível ele realizar a atividade proposta aos demais, adaptar a

atividade para ele considerando sua deficiência e o objetivo da atividade;

Desenvolver atividades em que os alunos videntes Também possam experimentar

os sentidos como tato, audição;

Utilizar as tecnologias assistivas adequadas a aula e proporcionar que os demais

alunos vivenciem o uso destas tecnologias Também para promover a integração

entre todos os alunos;

Trabalhar com a valorização dos potenciais das pessoas e não com as limitações;

Proporcionar ao aluno cego que usa computador um lugar próximo a um ponto de

energia elétrica;

Em salas em que se usa carteiras e tiver aluno cego, providenciar classe para que

possa acomodar seus materiais e máquina de Braille;

Quando usar microfone, antes de iniciar a falar com o dispositivo, falar sem este para

que a pessoa cega possa se situar onde se encontra quem está falando;

Chamar a pessoa pelo nome;

Estimular a solidariedade entre os colegas de aulas para que auxiliem o colega na

locomoção;

Atentar para arrumação física dos móveis na sala, facilitando o acesso e locomoção

da pessoa cega;

Evitar modificar qualquer móvel de lugar na sala sem antes comunicar e situar o

aluno cego da modificação;

Identificar os espaços na escola com placas em Braille, se possível piso tátil;

Orientar os diferentes profissionais da escola como conduzir e como orientar a

pessoa cega, inclusive quanto ao uso da bengala;

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Ter um local na sala de aula para acomodar o computador e a máquina de Braille

para que ele não precise carregar consigo constantemente estes materiais visto que

precisa de suas mãos livres para o uso da bengala;

Procurar usar livros que tenham em versão digital, para que o aluno cego possa

utilizar;

Fazer consultas a instituição especializadas para se capacitar na área e se informar

de recursos e novidades na área;

Promover trocas de experiências com outras pessoas que atuam com educação para

cegos;

Realizar o estudo do caso individualmente e com equipe multidisciplinar para

elaborar as melhores alternativas e estratégias de ensino;

Promover atividades de lazer e cultura que incluam o aluno cego promovendo a

inclusão no grupo social;

Podem ser solicitados materiais táteis ao IBC, através de ofícios, enviados pelo

Correio ou pelos telefones: FAX (021)3478-4475/(021)3478-4474 ou por e-mails:

[email protected] /[email protected];

Estimular o uso do sorobã e do multiplano nas atividades de matemática tanto para

o aluno cego como para os demais;

É importante que o aluno cego participe das práticas esportivas para desenvolver

sua consciência corporal;

Dicas de conduta e mobilidade

As pessoas que estabelecem contato com deficientes visual, seja de forma ocasional

ou regular, revelam-se de um modo geral inseguras sobre como agir nas diferentes

situações. No convívio com deficientes visuais aja com naturalidade e observe alguns

procedimentos:

Ofereça sua ajuda sempre que um(a) cego(a) parecer necessitar. Mas não ajude sem que ele(a) concorde;

Não fale com a pessoa cega como se fosse surda; o fato de não ver não significa que não ouça bem.

Para guiar uma pessoa cega, ela deve segurar-lhe pelo braço, de preferência no cotovelo ou no ombro. Não a pegue pelo braço: além de perigoso, isso pode assustá-la. À medida que encontrar degraus, meios fios e outros obstáculos, vá orientando-a. Em lugares muito estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado, ponha seu braço para trás de modo que a pessoa cega possa lhe seguir;

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Informe verbalmente o trajeto, sem utilizar sinais ou gestos. Use os termos: em frente, à direita, à esquerda, atrás, acima, abaixo, sempre em relação à posição do cego;

Ao orientar um cego indique sempre um ponto de referência. De preferência a parede. Indique o corrimão de uma escada comum, de uma escada rolante ou da escada de um ônibus, que ela subirá ou descerá sozinha, sem a necessidade de ser empurrada ou levada.

Sempre pergunte antes de agir. Se você não souber em que e como ajudar, peça explicações de como fazê-lo;

Não pegue a pessoa cega pelos braços rodando com ela para pô-la na posição de sentar-se, empurrando-a depois para a cadeira. Basta pôr-lhe a mão no espaldar ou no braço da cadeira, que isso lhe indicará sua posição;

Não encha a xícara ou o copo da pessoa cega até a beirada. Neste caso ela terá dificuldades em mantê-los equilibrados;

Se você estiver com ela durante a refeição pergunte se ela que auxílio para cortar os alimentos ou para adoçar o café e explique a posição dos alimentos no prato;

Não deixe de oferecer auxílio à pessoa cega que esteja querendo atravessar a rua ou tomar condução. Ainda que seu oferecimento seja recusado ou mesmo mal recebido por algumas delas, esteja certo de que a maioria lhe agradecerá o gesto;

Não se dirija a uma pessoa cega chamando-a de “cego” ou “ceguinho”; é falta elementar de educação, podendo mesmo constituir ofensa, chamar alguém pela palavra designativa de sua deficiência sensorial, física, moral ou intelectual;

Não exclame “maravilhoso”, “extraordinário” ao ver a pessoa cega consultar o relógio, discar o telefone ou assinar o nome;

Não fale de “sexto sentido” nem de “compensação da natureza” – isso perpetua conceitos errôneos. O que há na pessoa cega é simples desenvolvimento de recursos mentais latentes em todas as criaturas;

Não se dirija à pessoa cega através de seu guia ou companheiro, admitindo assim que ela não tenha condição de compreendê-lo e de expressar-se;

Não saia de repente quando estiver conversando com uma pessoa cega, principalmente se houver algo que a impeça de perceber seu afastamento. Ela pode dirigir-lhe a palavra e ver-se na situação desagradável de falar sozinha;

Não deixe de apertar a mão de uma pessoa cega ao encontrá-la ou ao despedir-se dela. O aperto de mão substitui para ela o sorriso amável;

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7. REFERÊNCIAS

SÁ, Elizabet Dias de. CAMPOS, Izilda Maria de. SILVA Myriam Beatriz Campolina. Atendimento educacional especializado-deficiência visual. Brasília, 2007.

FERREIRA, P. F.; LEMOS, F. M. Instituto Benjamin Constant: uma história centenária. Revista

Benjamin Constant, Rio de Janeiro, n.1, pp.1-8, 1995. MARTINS, Daner. Educação Especial: Oficina de Capacitação para Professores de

Matemática na Área da Deficiência Visual. Dissertação (Mestrado em Ensino de Matemática),

Universidade Federal do Rio Grande, 2013.p.113.

MAZZOTTA, Marcos J. S. Educação especial no Brasil: História e Políticas Públicas. 5.ed. São Paulo: Editora Cortez, 2005.

VIGOTSKI. L. S. Obras Escogidas V – Fundamentos da defectologia. Madri: Visor, 1997.