anuário de jurisprudência maria celeste

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 ANUÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA  6 7 PROCESSO N.° 2.643 ACÓRDÃO Explos ão e incêndio. Subttiersão. N av io em des-  carga de inflamá veis. M or te de estivadores e tripularu   tes . Ava rias em alvarengas. Indeterm inada a causa   da explosão. Ac ide nte equiparad o aos resultantes d e  caso fortuito. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, verifica-se que, às nove horas e trinta minutos do dia 16 de março de 1954, a bordo do navio-a-motor “Maria Celeste”, pertencente à Companhia de Nav e gação São Paulo, sob o comando do 2.° pilôto Ornilo da Costa Monteiro, fretado à Navegação Rodolfo Souza Limitada, suito no canal interno do pôrto de São Luís, em operações de descarga, ocorreram explosões em tambores de gasolina estivados no convés, propagando-se as chamas rapidamente a todo o navio e às alva rengas acostadas, perecendo doze estivadores e quatro tripulantes, feridos dois dêstes indo o navio a pique. Na capitania dos Portos do Estado do Maranhão foi instau rado inquérito para apurar as causas do acidente e individuar pos síveis responsáveis. A carga compunha-se de 2000 tam bores de gasolina, 1 500 tam bores de óleo combustível e 850 volumes de carga diversa, pesando tud o 7 44 500 qu ilos (m anifesto, fls. 10) . O navio e as alvarengas foram abandonados rapidamente por aquêles que puderam fazè-Io, lançando-se às águas ou recolhidos por embarcações portuárias. A carga resultou perda total. Vistoriadas as alvarengas “ D” e “Guajará” ; apresentavam as seguintes avarias, comprovadas pelos peritos da Capitania: a pri meira — chapeamento das obras vivas e do costado, cavernas, sobrequilha, trincaniz, anteparas, váus, pés-de-carneiro e chapea mento do convés de proa, empenados; fixação dos guinchos e dos cabeços, quinze metros do verdugo de amixxs os bordos e cóbro do porão, destruídos; a segunda — chapeamento do fundo e das obras mortas, anteparas, cavernas, sobrequilha, escoas, váus, pés- -de-carneiro. braçolas das escotilhas e parte do verdugo, empena dos; destruição do cóbro do porão (têrmos de vistorias, fls. 27/23). Faleceram os seguintes tripulantes do navio: contramestre Ga- ribalòi Matias; marinheiro Jonas Ribeiro Santos e Antônio Ivan da Silva; eletricista Edgar Quaresma da Silva. As investigações não conseguindo determinar a causa da ex plosão que provocou incêndio e afundamento do navio, o sinistro deve ser equiparado aos resultantes de caso fortuito. Sem elementos para apontar a culpa de alguém, o dr. 1.° adjunto- -tíe-procurador requereu o arquivamento do processo. Do exposto e considerando tudo o que consta dos autos; Acordam os juizes do Tribunal Marítimo, unanimemente: o) quanto à natureza e extensão do acidente: incêndio do navio- -motor “Maria Celeste” carregado de inflamá veis, quando em ser viço de descarga, e conseqüente naufrágio; avarias nas alvarengas

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7/18/2019 Anuário de Jurisprudência Maria Celeste

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ANUÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA   67

PROCESSO N.° 2.643

ACÓRDÃO

Explosão e incêndio. Subttiersão. Nav io em des- 

carga de inflamáveis. M or te de estivadores e t r i p u l a r u   tes. Avarias em alvarengas. Indeterm inada a causa  da explosão. Ac idente equiparado aos resultantes d e  caso fortuito.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, verifica-se que,às nove horas e trinta minutos do dia 16 de março de 1954, a bordodo navio-a-motor “Maria Celeste” , pertencente à Companhia de Nave

gação São Paulo, sob o comando do 2.° pilôto Ornilo da CostaMonteiro, fretado à Navegação Rodolfo Souza Limitada, suito nocanal interno do pôrto de São Luís, em operações de descarga,ocorreram explosões em tambores de gasolina estivados no convés,propagando-se as chamas rapidamente a todo o navio e às alvarengas acostadas, perecendo doze estivadores e quatro tripulantes,feridos dois dêstes indo o navio a pique.

Na capitania dos Portos do Estado do Maranhão foi instaurado inquérito para apurar as causas do acidente e individuar possíveis responsáveis.

A carga compunha-se de 2000 tambores de gasolina, 1 500 tambores de óleo combustível e 850 volumes de carga diversa, pesandotudo 744 500 quilos (manifesto, fls. 10).

O navio e as alvarengas foram abandonados rapidamente poraquêles que puderam fazè-Io, lançando-se às águas ou recolhidospor embarcações portuárias.

A carga resultou perda total.Vistoriadas as alvarengas “ D” e “Guajará” ; apresentavam as

seguintes avarias, comprovadas pelos peritos da Capitania: a primeira — chapeamento das obras vivas e do costado, cavernas,sobrequilha, trincaniz, anteparas, váus, pés-de-carneiro e chapea

mento do convés de proa, empenados; fixação dos guinchos e doscabeços, quinze metros do verdugo de amixxs os bordos e cóbrodo porão, destruídos; a segunda — chapeamento do fundo e dasobras mortas, anteparas, cavernas, sobrequilha, escoas, váus, pés--de-carneiro. braçolas das escotilhas e parte do verdugo, empenados; destruição do cóbro do porão (têrmos de vistorias, fls. 27/23).

Faleceram os seguintes tripulantes do navio: contramestre Ga-ribalòi Matias; marinheiro Jonas Ribeiro Santos e Antônio Ivanda Silva; eletricista Edgar Quaresma da Silva.

As investigações não conseguindo determinar a causa da explosão que provocou incêndio e afundamento do navio, o sinistro

deve ser equiparado aos resultantes de caso fortuito.Sem elementos para apontar a culpa de alguém, o dr. 1.° adjunto-

-tíe-procurador requereu o arquivamento do processo.Do exposto e considerando tudo o que consta dos autos;Acordam os juizes do Tribunal Marítimo, unanimemente:

o) quanto à natureza e extensão do acidente: incêndio do navio--motor “ Maria Celeste” carregado de inflamáveis, quando em serviço de descarga, e conseqüente naufrágio; avarias nas alvarengas“ D” e “Guajara” , prejuízos descritos nos autos, desaparecidos doze

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7/18/2019 Anuário de Jurisprudência Maria Celeste

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68  T R I B U N A L M A R Í T I M O

estivadores e três tripulantes: feridos gravemente três tripulantes,tendo falecido um; b ) quanto à causa determinante: não apuradae referen te à causa de irrupção do fôgo; c) conseqüentemente, ju lga ro acidente equiparado aos resultantes de caso fortuito e mandar

arquiva r o processo. — P .C .R . — Rio de Janeiro, 8 de maio de 1956.Humberto de Area Leão,  almirante-de-esquadra, presidente — A gnello  d e Azevedo Mesquita,  relator — João Stoll Gonçalves    — Carlos  Lafayette Bezerra de Miranda   — Francisco José da Rocha   — Gerson  R o c h a da Cruz   — Alberto Epaminondas de Souza.  Fui presente:Gilberto Goulart de Barros,   2.° adjunto-de-procurador.