antropologia. in a formação da antropologia americana 1883-1911 - boas, f

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    A N T R O P O L O G I A

    s inamentosesotricos dim inui entre as tribos m aisao norte e ma isao nor-deste do continente. les so provavelmente pouco desenvolvidos entreos esquims as tribos da bacia do Mackenzie e as tribos da regio dogrande plat poisesses ndios no sofreram influncia dosndios dasplanciese da costa do Pacfico.

    De modo geral os ndios tendem fortem ente a todas as formas de co-moo religiosa. Isso demonstrado no s pe lo desenvolvimento exube-rantedas antigas formas religiosas mas tambm pela frequn cia com queapareceram entre eles os profetas que ens inaram novas doutr inas e no-vos ritos baseados em crenas religiosas mais antigas ou nosens inamen-tos de origem parcialmente criste parcialme nte indgena. Talvez a ma isbe m conhecida dessas formas de religio seja a dan a do esprito que sealastrou po r grande parte do cont inente durante a ltima dcada do s-culo XIX. M as houv e muitos outros profetas de tipo semelhante e grand einfluncia. Um desses profetas foi Tensk wataw a o irmo fam oso de Te-cumseh; outro o v iden te Smo halla da costa do Pacfico; at entre os es-quims tem-se notciadessesprofetas particularmen te na Groenlndia.

    TEXTO 4

    ntropologiaAo tentar expor brevemente osprincipaisresultados dapesquisa antropo-lgica descubro quem inha tarefaenfrenta mu itas dif iculdades.No f-ci lenun ciar claramente os objetivos e mtodo s da cincia fsica ou biol-gica. Porm enco ntram -se dificuldades m uitas vezes maiores na tentativade explicar a posio atualda investigao que trata da hum anidad e a par-ti r do spontos de vista biolgico geogrfico e psicolgico temas qu eno parecem te ru n i d a d e e que apresentam muitos aspectos divergentes.Por causa da aparente heterogeneidade de mtodo parece se r necessrioexplicar os objetivos que unificam as linhas de pesquisa antropolgica.Depois posso passara descrever o pouco que foialcanado e como espe-ramos realizar os futuros passos.

    Conferncia pronunciada na Universidade de Colmbia na srie sobre cincia fi -losofia e arte 18d e dezembro de 1907. Anthropology Nova York: Colmbia Univer-sity Press 1908.

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    N o discutimos as caractersticas anatmicas fisiolgicas e mentaisdo hom em considerado como indivduo . Estamos interessadosn adiversi-dade dessas caractersticas em grupos de homens encontrados em dife-rentes reas geogrficas e em diferentes classes sociais. Nossa tarefa pesquisar as causasque provocaram a diferenciao observada e investi-gar a sequncia deacontecimentos que levaram a que se estabelecessemformas mltiplasd e vida. Estamos interessados nas caractersticasanat-micas e mentais na medida em que elas so peculiares a grupos de ho-mensquevivem n o resmo am biente biolgico geogrfico e social comum passado que os determina. Estamos preocupados com os efeitos doclima e de produtos de uma regio sobre a vida huma na com a influn-cia do calor e do frio sobre a con stituio corporal com as mo dificaesna vida das comunidades provocadas pelo isolamento geogrfico e comaquelascausadas pela suficincia o u insuficincia da sreservasdealimen-tos. N o menos interessantes nosparecem os fenmenos da dependnciada vida hum ana em relao quelas condies sociais que se expressamno m odo costumeiro de nutrio e ocupao nos efeitos do contato entreos grupos vizinhos de povos nas mo dificaes provocadas pelas migra-es e nas formas de vida influenciadas pela densidade da populao.Para compreender essas modificaes precisamos conhecer anatomia in-dividual fisiolog ia e psicologia pois um grupo social caracterstico s seestabelece se todosos indivduos expostos ainfluncias semelhantes ex -perimentam um desenvolvimen to paralelo.

    Assim a gnese dos tipos de hom em considerados a partir de umponto de vista anatmico fisiolgico e psicolgico parece ser o principalobjeto da pesquisa antropolgica. Quando nosso problema formuladodessa maneira logo reconhecemos que impossvel separar os mtodosantropolgicos e os m todos da biologia e da psicologia. Reconhecemostambm o fato de que certos problemas da antropologia s podem serabordados do ponto de vista dessas cincias.Talvez at se pudesse dizerque a investigao do s tipos do homem um problema puram ente biol-gico e que as questes nela implicadas s podem ser tratadas por meiodo s mtodos biolgicos que aos poucos esto esclarecendo a gnese dostipos de animais e plantas. Pode-se fazer uma afirmao semelhante emrelao ao s problemas psicolgicos. Se h leis quedeterminam o cresci-mentoe o desenvolvimento da mente human a elas s podem ser leis que

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    operam em nvel individua l e conseqientemente devem ser determina-das pela aplicao da psicologia individual.

    Assim um exame de nossos problemas sugere que todo o grupo dosfenmenos antropolgicos talvezseja evanescente.No fundo eles podemse r problemas biolgicos e psicolgicos. Todo o campo da antropologiapertenceria quer a uma quer a outra dessas cincias.

    Aind a assim os fenm enos antropolg icos apresentam um interesse eum a unidade muito genuno s. Em grande parte isso se deve ao fato deque tudo o que diz respeito nossa espcie tem um interesse especialpara ns. O sentimento de solidariedade do hom em mais particularmen-te doindivduo em relaoao seupovo e classeda sociedade a queper-tence que se expressa hoje co m mais fora na luta entre as naes fe zcom que aspequenas diferenasd eorganizao fsica das diversas raastipos e grupos sociais cham assem ateno com mais fora do que as dife-renas similares no resto do reino animal. Logo se tornaram importantesalgunspontos de vista que at recentemente receberam pouca ateno daparte dos bilogos ou que ainda no reclamaram a sua ateno. A distri-buio dosdiferen tes tipos psicolgicos tem serevelado um estudo aindamais fascinante cuja investigao levou a problemas que apsicologia in -dutivados tempos modernos aindano est preparada para tratar.

    O interesse nas man ifestaes da vida tais como ocorrem em unid a-des sociais tem determ inado o rum o da antropologia.

    /A pesquisa antropolgica nos leva-a duas perguntas fu ndam entais: porqu e as tribose as naesdo mundoso diferentes? Comose desenvolve-ram as diferenas atuais? A primeira pergun ta se que pode se r respon-dida adequadam ente sempre nos levar a leis biolgicas e psicolgicasque operam no homem como indivduo nas quais vemos o aconteci-mento singular projetado numa amplageneralizao.Porm mesmo qu econsegussemos reduzir a uma srie de leis a multiplicidade do saconte-cimentos que se manifestam no desenvolvimento de novos tipos e nocrescimentod e novas atividadesmentais ainda restariaum forte interes-se pelos desenvolvimentos reais que tm ocorrido entre os vrios povosdo mundo.

    Isso n o vale apenas para a antropologia m as tambm para a biolo-gia apsicologia genticae ou tras cinciasquedescrevem asequnciad e

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    acontecimentos no universo. O intenso interesse moderno na evoluoexpressa o reconhecimento da importncia do que poderia ser chamado opontodev ista histrico.

    Nesse sentido a antropologia a cincia que procura reconstruir a his-tria antiga da humanidade e tenta namedida do possvel expressarnaforma de leis os modos sempre recorrentes de acontecimentos histricos.Como a histria escrita abrange um breve perodo de tempo relatandoem registros fragmentrios o destino de apenas alguns dos milhares depovos o antroplogo deve procurar esclarecer pormtodos prprios a es-curidodaseraspassadase dasregiesremotasdomundo.

    Em bora desse ponto de vista terico a antropologia deva dedicar-se investigao dos tipos hum anos e das atividades e pensam ento hum anosem todo omundo o seu campo real de trabalho muito mais restrito.A biologia e a psicologia por um lado e a histria a economia asocio-logiae a filologia po routro adotaram os problemas antropolgicos cadaqualde seu ponto de vistae cada qual em conexo com seu prprio temade investigao. Na realidade o campo de trabalho teoricamen te esboa-dorequereria uma variedadede treinamentoto imensaqu e nenhum in -divduo poderia dominar. A tarefa especial atribuda hoje ao antroplogo investigar as tribos antigas que no tm histria escrita be m como osrestos humanos pr-histricos e os tipos de homem que tm habitado omu n d onos tempo s presentes e passados. Essa lim itao do campo de tra-balho do antroplogo mais ou menos acidental decorrente do fato dequ e outras cincias ocuparam parte do terreno antesdo desenvolvimentoda antropologia mod erna.No entanto ela tambm implica um ponto de vista fundam entalmentedistinto do histrico no sentido estrito do termo. Na histria em geral sestamos preocupados com os acontecimentos que tiveram influncia nodesenvolvimento de nossaprpria civilizao;n a antropologia a vida detodosos povos do mundo igualmente importante. Portanto em sentidomais am plo impossvel excluir qualquer parte da humanidade das con-sideraes da antropologia. Os resultado s dos estudos realizados pelo his-toriador ou pelo sinlogo no devem ser desconsiderados pelo antroplo-go que investiga a histria da humanidade e suas foras controladoras.Ver-se- assim que a antropologia difere da histria assemelhando-se scincias naturais nos seus esforos para no levar em conta os valoressubjetivos dos acontecimentos histricos. Ela tenta consider-los de mo-

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    do objetivo como uma sequncia de acontecimentos independentementede sua influncia sobre ocurso de nossa c ivi l izao.Na im ensido da histria no escrita de eras passadas o indivduo inteiramente inserido na unidade social da qual faz parte. N a dis tnciavaga do tempo e do espao vemos os mo vime ntos dos povos o surgimen-to denovos tipos deh o m e m odesenvolvimento gradualdenovas fo rmasde civilizao e uma constante repetio dos processos de integrao edesintegrao de povos e culturas. Os restos pr-histricos as caracters-ticas da forma corporal as formas da l inguagem as realizaes produti-va s e econmicas os costumes e crenaspeculiares so as nicas evidn-cias que podemos usar evidncias pouco consideradas pela histriaantes que o ponto de vista antropolgico comeasse a se desenvolver.Embora o antroplogo talvez no possa investigar problemas relaciona-dos histria moderna da Europa e da China por causada especializa-o d os mtodos de pesquisa o historiador e o sinlogo sero capazes dever seus problemas de um ponto de vista antropolgico. Com a expansode nosso conhecimento sobre ospovos do mundo a especializao deveaumentar e a antropologia se tornar cada vez m ais ummto o que podese raplicado por um grande nmero decincias e no propriamente um acincia em si mesma.

    Vamos considerar a seguir os resultados das pesquisas biolgicas epsicolgicas desenvolvidas pelos antroplogos. notvel que esses doisgrandes ramos de investigao tenham se m antido separados e que os re-sultados de um lancem pouca lu z sobre os problemas do outro.A an-tropologia biolgica tem se preocupado principalmente com a classifica-o das raas e suas relaes com os antecessores. Pouco progresso temsido feito para esclarecer as relaes genealgicas dos tipos distintos.A pesquisa tem revelado vrias formas inferiores que viveram durante osperodos do incio do quaternrio e do final do tercirio o que ajuda atranspor a enorme lacuna entre o homem e o animal mas ainda estamosinteiramentenoescuro em relao origem dasraas fundamentais e dostipos de homem. Como as observaes nas diferentes reas geogrficasrevelaram num perodo antigo a diferenciao de tipos locais difcil dedefinir em palavras a antropologia foi a pr imeiradas cincias biolgicasa recorrer ao s mtodos mtricos. Todo o moderno desenvolvimento dabiometria origina-se da aplicaode mtodos desenvolvidos pelos antro-

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    plogos pormeio dos quais distines sutis entre tipos intimamente rela-cionados podem se rdescobertas. Originalmente os mtodos mtricos dosantroplogos eram usados para fins puramente taxionmicos tendo emvista descrever t ipos dist intos. Durante anos deu-se especial ateno classificao dos tipos de homem segundo suas semelhanas bem como especulao sobre suas relaes. Mas com a influncia de Francis Gal-ton e de seus sucessores estamos ao s poucos superando essa condio.Vemos tornar-se objeto de estudo um nmero cada vez maior de proble-mas relacionados com a influncia do ambiente social e geogrfico dahereditariedade da mistura e seleo das raas. Esse desenvolvimentotem sido estreitamente associado ao crescimento do smtodos biomtri-co s aplicados zoologia e botnica.Um dos fatos mais importantes reconhecidos pelo estudo d a morfolo-gia das raas que o homem deve se rconsideradou m animaldomesticado. At as tr ibos mais antigas esto afastadas das condies anatmicasque caracterizam os animais selvagens. O grau de dom esticao tem au-mentado muito com a crescente complexidade da organizao econmi-ca e a m aioria das raas atuais est anatomicam entena mesma condiodaqueles t ipos de animais domesticados muito modificados pela alimen-tao regular e o desuso de uma poro considerveldo s i s tema m uscu-lar. Essa parece ser uma das causasd o alto grau de variabilidade das ra-a s humanas .Embora ainda no seja possvel formular posies claras sobre a re-lao da s raas humanas alguns fatos parecem se r importantes. Reco-nhecemos que osdois tipos extremos de hum anidade sorepresentadospelas raas negra e m ongolide. A primeira inclui as raas da fr ica emuitos daqueles povos que habitam as grandes ilhas que c i rcundam aAustrlia; a outra inclui os povos da sia oriental e da Amrica. Os ou-tros t ipos human os m uito divergentes podem se rclassif icados mais facil-mente a part ir desses dois t ipos fundamentais sendo considerados m u-tantes que se desenvolveram num perodo antigo. Assim encontramosdois tipos divergentes afiliados com a raa negra mas com uma relaoaparentemente estreita co m essa raa o pigmeu sul-africano que tal-vez esteja intimamente relacionado co m muitas tribos de pigmeus isola-das de outras regies da fr ica e do sul da sia e o au straliano. O tipomongol poroutro lado tambm possui u m nmero considervel de tiposafiliados que talvez representem mu tantes desse t ipo. A esse grupo per-

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    tencemo malaio do sudeste dasia oainudonortedoJapoetalvezoeuropeu. Se nossa concepo da diviso da humanidade basear-se nesseesboo amplo as duas grandes divises araa do oceano ndico qu erepresenta todos ostipos negrides e a raa do oceano Pacfico que re-presenta ostipos mongiseafiliados parecem ter seestabelecidonu mperodo geolgico antigo.O enorme aumento no nmero d eeuropeusdu-rante os ltimos 2 m il ou 3 mil anos e sua rpida disperso pela superf-cie do globo perturbam a clareza dessa viso. Devemos lembrar que araa branca representava originalmente uma pequena parte da humanida-de eocupavaumapequena poro domundo habitado.No se sabe qu e relao os dois tipos principais tiveram com o ante-cessor da humanidade representado pela raado incio do quaternrio naEuropa.A histria da disperso dessas grandes raas pelos continentes tam-bm permanece em grande medida obscura. Parece provvel entretantoqu e a raa do ocearrcrPacfico tenha imigrado pa ra a Amrica num pero-do muito anterior e que depois do recuo da camada de gelo voltou a sealastrarpelonortedasiae a seestabelecernovamente em toda aregionorte do Velho Mundo que permanecera desabitada por longos perodos.Grande parte disso continua a serapenasuma hiptese qu epode se rcon-firmada ou negada por novos estudos.Emb ora a divergncia dos tipos hum ano s sugira que a tendncia a for-m ar mu tantes sempre esteve presente as variedadesquesobreviveram a tos nossos dias tm sido muito estveis dentro dos limites de suas varia-es caractersticas. Os restos humanos encontrados na Europa que da-tam de muitos milhares de anos e os restos human os do antigo Egito ambos podendo se r comparados com os tipos presentes na populaoatual dessas regies so muito parecidos com as formas modernas.Aparentemente no ocorreu nenhuma mudana de tipo nessas regies du-rante milhares de anos. A mesm a estabilidade dos tipos de raas se mani-festaem casos de mistura. Parece que entre as raas humanas h um a for-te tendncia paraque os hbridos revertam ao tipo de um dosprogenitoresse m formarumaraa intermediria. Nooeste dasia po r exemplo per-sistem o tipo semita de cabea curta e o tipo armnio de cabea longaemboraessespovos semisturem hmilharesde anos.Ainda assim deve-se reconhecer um a influncia do ambiente. Elapodese robservada po r exemplo no desenvolvimento d oeuropeu depois

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    de sua imigrao para a Amrica. Talvez se possa reconhec-la nas dife-renaspequenas m as observveis dos tipos nas vriasregiesd a Europae nas diferentes ocupaes na acelerao do crescimento das crianasdas classes abastadas e no efeito de atrofia e retardamento causado peladesnutrio.No sabem os porm se esses efeitos podem ser considera-dos permanentes.

    Nossas investigaes sobre a permanncia e as relaesdos tipos hu -manos tambm revelaram ser extremam ente difcil se no impossvelencontrar o que se poderia cha ma r de tipo puro. Devem os desistir dos es-foros para encon trar raas purasnamistura a partir daqual talvez se te-nham originado os tipos atuais. Reconhecemos que as transies entre ostipos so to graduais e em tantasdirees diferentes que seria arbitr-rioestabelecer qualqu eruma dassries como tipo primrio. Todasas na-es dos tempos modernos as da Europa e as demais so mistura-das. No existe a pureza racial de que as naes europeias se orgulham.

    Em outras direes as investigaes d a antropologia abalaram rude-mente algumas de nossas iluses mais queridas. H uma pressuposioproclamada em voz alta de que um dos efeitosd o progresso daciviliza-o foi o aperfeioamento daorganizao fsicadocorpo hum anoepar-t icularmente do sistema nervoso central. Hoje porm no consideramosque esse pressuposto esteja confirmado. A t agora no foi provado ne-nhum desenvolvimento progressivo do sistema nervoso jiem no que dizrespeito complexidade de conexes nem ao tam anho delas. Um exam ecrtico dos fatos revelaque odesejode nos sentirmos superioresanossoscompanheiros deexistncia onico suporte dessa afirmao.Aquestoenvolvida nisso muito importante como um aspecto da questo geraldatransmisso doscaracteresadquiridos m as nossa atitude atual s podeser a de exigir mais investigaes.

    Tambm se deve dizer uma palavra sobre a questo da diferena decapacidade m ental nas diferentes raas. Tam bm nesse ponto a evidnciafornecida pelaantropologian o sustenta areivindicao de superioridadede qualquer uma das raas sobre as outras. Todos os argumentos que fo-ram apresentados para provar a superioridade da raa branca sobre as de-mais podem ser explicados por outras consideraes antropolgicas. Hdiferenas naformae no tamanhodoscrebros das diferentes raas m asa variabilidade dentro de cadaraa to grande que as pequenas diferen-as mdias entre os diferentes tipos raciais so quase insignificantes se

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    comparadas com o alcance total davariabilidade racial.Sebasearmosasnossas inferncias inteiramente nos resultados do estudo anatmico hrazes para acreditar que a maioria das pessoas que constituem as duasraas distintas est aproximadamente no mesmo nvel. Parece razovelsupor que as diferenas na forma do corpo devam ser acompanhadas pordiferenas defuno e quehaja certas peculiaridades nas tendncias men-tais gerais de cada raa.M as devemos no sprecaver contra aideiade quedivergir do tipo europeu seja sinnimo de inferioridade.

    A histria do desenvolvimento da antropologia voltada para o estudoda mente tem sido muito diferente do desenvolvimento da antropologiafsica. Neste ltimo ramo da nossa cincia as diferen s entre os tiposhumanos atraram ateno desde o incio. Porm os etnlogos ficaramimpressionados em primeiro lugar com asemelh n dos tipos culturaisencontrados em regies remotas. A comparao das descries dos cos-tumes dos povos antigos em todo o mundo revelou um nmero crescentede analogias primeiro relacionadas com as impresses gerais a respeitodosgrausdecivilizao.Um dosproblemasmais difceis e complexos daetnologia a saber a questo da evoluo tpica da histria geral da ci-vilizaohum ana foi o primeiro a receber as atenes. No posso dei-xar passar esse tema sem mencionar a profunda impresso criada por ho-mens como Tylor e Bacho fen Morga n e Spencer que estavam entre osprimeiros a apresentar os dados da antropologia como esclarecedores dahistria da civilizao.

    O trabalho de Da rwin e de seus sucessores estimu lou o desenvolvi-mento dessa rea da antropologia cujas ideias fundamentais s podemser compreendidas como uma aplicao da teoria da evoluo biolgicaao sfenmenosm entais. A concepo de que as manifestaes da vida t-nica formam um a srie que de primrdios simples progrediu para o tipocomplexo dacivilizao moderna temsidoopensamento subjacente des-se ramo da cincia antropolgica.

    Os argumentos em apoio teoria de que o desenvolvimento da civili-zao seguiu um curso sem elhante em toda parte e de que entre as tribosantigas ainda podemos reconhecer os estgios pelos qua is passou a nossaprpria civilizao so emgrandeparte baseadosnassemelhanas cultu-rais encontradas nas diferentes raas em todo o mundo mas tambm naocorrncia de costumes peculiares em nossa prpria civilizao. Eles s

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    podem se r compreendidos como remanescncias de costumes mais anti-gos que em tempos remotos tinham um significado mais profundo e queainda so encontrados em plenovigor entre os povo s antigos.

    Para deixar claro o s ignificado da teoria evolucionista da civilizaohumana necessrio apontar pelo menos alguns dos spectos desse pro-blema geral.

    A organizao social das tribos antigas mostra caractersticas seme-lhantes em diferentes regies do mundo. Em vez de considerar a des-cendncia nossa maneira mu itas tribos consideram a criana apenascomo membro da famlia da me e reconhecem a relao de sangue ape-nas pela linhagem materna. Os primos pelo lado da me so considera-do s parentes prximos enquanto os primos pelo lado do pai so consi-derados parentes distantes. H tribos que tm uma organizao paternaestrita de modo que a criana pertence apenas fam lia do pai e no dame enqu anto outras seguem os mesm os princpios que adotamos con-tando as relaes em ambas as direes. Ligada a esses costumes est aseleo do domiclio do par recm-casado que svezes reside com a triboou famlia da mulher s vezescom atribooufamliadohomem. Quandoo casal fixa residncia com o grupo social a que pertence a mulher o ho-mem tratado como um estranho at nascer o primeiro filho. Submetidosa estudos minuciosos esses fenmenos mostram que os costumes da resi-dncia e da descendncia esto intimamente associados. Como resultadodessas pesquisas conc luiu-se que em toda parte as instituies maternasprecederam as instituies paternas que a organizao social da human i-dade era tal que talvez no existisse originalme nte nenh um a organizaofamiliar distinta e que mais tarde se desenvo lveram as instituies mater-nas seguidas pelas instituies paternas e nova m ente pelo sistema queconsidera as relaes de sanguep or ambas as linhagens.

    O estudo das invenes humanas chegou a resul tados semelhantes.Tem-se observado que osgoril se os m acacos s vezes usam pedras paradefender-se e os abrigos artificiais de animais indicam os primrdios doprocesso de inveno. Neste sentido podemos buscar entre os animaisa origem dos instrumentos e dos utenslios. N os tempos mais remotosquando os restos humanos eram depositados sobre a superfcie da terraencontramos o homem usando instrumentos simples formados por lascasrudes de pedra. Mas a multiplicidade d as formas dos instrum entos au-menta com rapidez. Como muitos instrumentos talvez fossem feitos co m

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    materiais perecveis n o somos capazes de dizer se nesses perodos re -motos os instrumentos e utenslios usados lim itavam -se realmente aospoucos objetos depedra que agora podem se r recuperados. certo po -rm que os instrumentos eram poucos e relativamente simples. Dessapoca em diante os usos do fogo e de ferramentas para cortar e atacarou raspar e perfurar aumentaram em nmero e em complexidade. Pode-se traar um desenvolvimento gradual desde as ferramentas simples dohomem antigo at a maquinaria moderna. O gnio inventivo de todas asraas e de inmeros indivduos contribuiu para o estado de perfeio in-dustrial em que nos encontramos. De modo geral as invene s uma vezrealizadas foram preservadas com grande tenacidade e por meio de adi-es incessantes os recursos disponveis da hum anida de tm sido cons-tantemente aumentadose m ultiplicados.Aspesquisas sobre a arte produziram resultados semelhantes. Desdeque os habitantes das cavernas da Frana traaram o contorno da rena edo mamute o homem tentou reproduzir em desenhos os animais da re-gio em que vivia. Nas produes artsticas de muitos povos tm-se en-contrado desenhos que so prontamente associados com representaespictogrficas mas que perderam sua fornia realista tornand o-se cada vezmais convencionais. Em muitos casos um m otivo puramente decorativofo i interpretado como odesenvolvimentode um pictograma realista queaos poucos se rompeu sob a presso dos motivos estticos. As ilhas dooceano Pacfico a No va Guin as Am ricas do Sul e Central e a Europapr-histrica fornecem exemplos para essa linha de desenvolvimento re-conhecida como uma dastendnci simportantes da evoluo da arte de-corativa humana e descrita como algo que comeou com o realismo epor meio do convencionalismo simblico passou a motivos puramenteestticos.A religio mostra outro exemplo de evoluo tpica do pensamentohumano. Em pocas remotas o homem comeou a meditar sobre os fe-nmenos da natureza. Tudo lhe aparecia sob um pensamen to com formaantropomrfica. Assim surgiram os primeiros conceitos antigos sobre omundo nos quais a pedra a m ontan ha e o orbe celeste eram vistos comoseres antropomrficos vivos dotados d opoderda vontade desejando aju-dar o home m ou ameaando coloc-lo em perigo. A observ ao das ativi-dades do corpo e da mente humanos conduziu formulao da ideia deuma alma independente do corpo e com o desenvolvimento do conheci-

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    men to e do pensam ento filosfico a religio e a cincia nasceram dessesprimrdios.

    A identidade desses fenmenos nas diferentes regies do mundo temsido considerada uma prova no s da unidade fund ame ntal da mente detodas as raashumanas mas tambm uma confirmao da teoria da evo-luo da civilizao; assim tem se erigido um a estrutura grandiosa naqualvemos nossa civilizao atualcomooresultado necessrio das ativi-dades de todas as raas humanas que ascenderam numa grandiosa pro-cisso desde os primrdios mais simples da cultura passandopor pero-do s de barbrie at o estgio de civilizao que ocupam agora. O ritmoda marcha no tem sido distribudo por igual; alguns ainda esto na reta-guarda enquanto outros avanaram e ocupam os primeiros lugares noprogressogeral.

    Emboraesseaspectoevolucionrio tenha ocupado o centro da atenopor longo tempo Bastian defendeu outra viso dos fenm enos estudadospela etnologia. Suainfluncia cresce com opassar dotempo.A identida-de das formas de pensamento encontradas em regies muito distantes en-tre si pareceu a Bastian uma prova da unidade da mente humana mastambm lhe sugeriu que essas formas de pensamento seguem tipos defi-nidos no importa em que ambiente o homem viva e quais possam sersuasrelaessociaisehistricas.Eleinterpretou asvariedades de pensa-mento encontradas entre povos de reas distantes como sendo o resultadoda influncia do ambiente geogrfico esocial sobreessas formas funda-mentais de pensamen to que cham ou de ideias elemen tares. A teoria dapermanncia das formas de pensamento de Bastian relacionada com aconcepo de Dilthey sobre a limitao dos possveis tipos de filosofia.A similaridade das ideias desses dois homens tambm aparece claramen-te nas constantes referncias de Bastian s teorias dos filsofos qua ndocomparadas ao spontos de vista do homem antigo. Para Bastian a ques-to de um tipo nico ou mltiplo de evoluo da civilizao parecia irre-levante. O fenmeno importante era a identidade fundamen tal dasformasde pensamento hum ano em todas as culturas avanadas ou antigas.

    Pode-se reconhecer um certo tipo de misticismo em seu ponto de vis-ta pois as ideias elementares aparecem com o entidades intangve is. Ne-nhum pensamento pode esclarecer sua origem porque todos somos com-pelidos a pensar seg undo essas ideias elementares.

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    Decertomodo os evolucionistas e Bastian representam dois pontosde vista distintos: os primeiros oponto de vista histrico; o ltimo umponto de vista psicolgico no campo da etnologia. Algumas discussesmais recentes tomaram os dois fios da investigao e as duas propostasesto lentamente passando por mudanas radicais.Com o avano da antropologia as formas da sociedade da religio eda arte bem como o desenvolvimento da inven o no parecem to sim-ples como pareciam aos primeiros investigadores. Vrias tentativas foramfeitas para adequar a evoluo hipottica considerada tpica dahumani-dade ao desen volvime nto histrico das cultu ras nas diferentes regies domundo at opontoem queesse desenvolvim ento tinha sido reconstrudo.Criou-se assim uma oportunidade para se examinar se a teoria aceita es-tavacorreia. Feito isso surgiram dificuldades peculiares indicadoras dequ e ateoria quase nuncaera aplicvel a casos especficos. O desenvol-vimento real conforme traadopela reconstruo histrica diferiacon-sideravelmente da teoria. A partir dessa inv estigao desenvolveu-se umanovaviso sobre arelaoda sdiferentes raas. Comeamos areconhecerque nos tempos pr-histricos a transmisso dos elementos cu lturais foiquase ilimitada. As invenes e as ideias transpuseram distncias queabrangem continentes inteiros. Como exem plo da rapidez com que as rea-lizaes culturais so transm itidas pode-semencionar a histria modernade algumas plantas cultivadas.O tabaco fo i introduzidon africa depoisda descoberta da Amrica; a planta levou pouco tempo para espalhar-sepor todo o continente tendo penetrado to profundamente na cultura donegro que ningum suspeitaria de sua origem estrangeira. A banana jest presente em quase toda aAmrica do Sul.A histria do milho ind-gena outro exem plo da incrvel rapidez com que um a aquisio cultura ltil pode se espalhar por todo o mu ndo . A histria do cavalo do gado edos gros europeus ilustra que condies semelhantes prevaleceram nostempos pr-histricos.Esses animais eplanta s esto presentes em toda aextenso do Velho M und o desde o oceano Atlntico at as praias do Pa-cfico. O uso do leite fo i provavelmente disseminado de maneira seme-lhante num perodoantigo; quando os povos do m und o inteiro entram emnosso conhecimento histrico encontramos o leite sendo usado em todaaEuropa na frica e na regio oeste da sia.Talvez a melhor prova da transmisso esteja contida no folclore dastribos do m und o. Nada parece se deslocar mais facilmente do que os con-

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    tos fantsticos. Sabemos de certos contos complexos que nopodem tersido inventados duas vezes narrados po rberberes no Ma rrocos italianosirlandeses russose habitantes da s selvasda ndia da sm ontanhasdo Ti-bete dastundrasdaSibriae daspradariasdaAm ricado Norte.A sni-ca sregies n o atingidaspor eles talvez sejam o sul da frica aAustr-lia a Polinsia e a Am rica do Sul. Os exemplos dessa transmisso somuito numerosos de modo que a primeira relao entre as raas huma-na sparece ter sido quase mundial.A culturad equalquer tribo por mais antiga que seja s pode se rple-namente explicada quando levamos em considerao o seu desenvolvi-mento interno e suarelao com a cultura de seus vizinhos prximos edistantes buscando o efeitoque eles possam ter exercido.A identidade de ideias e invenesfundamentais tem sugerido a algunsinvestigadores a crena de que h antigas realizaes culturais que per-tencem a um perodo anterior disperso geral da raa humana umateoriaque tem alguns pontosa seu favor embora nopossa serprovada.Uma considerao terica importante tambm abalou a nossa f nateoria evolucionista. Uma das caractersticas essenciais dessa teoria que em geral a civilizao se desenv olveu das formas simples para asformas complexas e que as reas extensasdacultura humanatm se de-senvolvido sob impulsos mais ou menos racionalistas. Nos ltimos anosestamos comeando a reconhecer que a cultura humana ne m sempre sedesenvolve do simples para o complex o; em mu itos aspectos duas ten-dncias se entrecruzam uma do complexo para o simples outra dosimples para o complexo. bvio que a histria do desenvolvimento in-dustrial apresenta em quase todo o seu percurso um a crescentecomplexidade. Por outro lado as atividades humanas que nodependem do raciocnio n o mostram um tipo similar de evoluo.Talvez seja maisfcil esclarecer esse pontocom oexemplodalnguaque em muitos aspectos uma das evidncias mais importantesda hist-ria do desenvolvimento humano.As lnguas antigas so em geral com-plexas. Pequenas diferenas de pontos de vista so expressas po rmeio deformas gramaticais diferentes.As categorias gramaticaisdo latim eain-da mais do ingls moderno parecem grosseiras quando comparadas coma complexidade das formas lgicas ou psicolgicas que as lnguas anti-ga sreconhecem mas quenossa fala desconsidera inteiramente. Demodogeral odesenvolvimento das lnguas parece tender a eliminar as distin-

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    coesmais sutis, demodo queelas comeam com as formas complexas eterminam com as formasmais simples, embora sedeva reconhecer que atendnciaoposta noestausente.Observaes similares podem se r feitas sobreaartedohomem an tigo.Tantonamsica como nodesenho decorativo encontram osum a comple-xidade que no temparalelo na arte popular de nossos dias. Na msica,particularmente, acomplexidade dees t rutura rtmica to grande que aartede umvi r tuoseposta em xeque quandoele tenta imit-la. Se reco-nhecermos que simplicidade nem sempre prova de antiguidade, vere-mos prontam ente que a teoria da evoluo da civil izao se fundamenta,em certamedida, em umerrolgico A classificao dosdadosda antro-pologia segundo asimplicidade te msido apresentada como um a sequn-ci ahistrica, sem atentativa adequadadeprovarque omais simples pre-cedeu omais complexo.Apesar dessa crtica sria, grande parte da teoria mais antiga perma-nece plausvel. Parece, no entanto, qu e ser necessrio rever completa-mente o desenvolvimento da civil izao nas diferentes regies do mun-do, buscando-seos aspectos mais individualizados.O aspecto psicolgico da antropologia, enfatizado primeiro por Bas-tian, tambm est passando por um rpido desenvolvimento, particular-menteno que dizrespeito aoproblema daorigem das ideias elementares,cuja investigao Bastian considerou impossvel. Nesse ponto, mais um avez, oestudoda l ngua promete apontar ocaminho para solucionar mui-tos denossosproblem as. Jafirmei que aslnguas dastribos antigas so,de modo geral , complexas, pois fazem diferenciaes sutis entre as cate-gorias de pensamento. extraordinrio constatar que essas categorias,qu e spodem serdescobertas por um estudo analtico das lnguas e sodesconhecidas pelos prprios falantes dessas lnguas quea suti l izam per-manentemente), coincidem com as categorias de pensamento que tmsido descobertas pelos filsofos. Nas l nguasdospovos antigos seria pos-svel encontrar formas gramaticais correspondentes a uma variedade desistemas filosficos. Nisso talvez sejapossvelreconhecer uma das pro-vas m ais bri lhantesafavor dateoriadeBastiane deDilthey sobreaexis-tncia de um n mero l imitado de tipos de pensam ento.Desses fatos lingusticos inferimosque ascategorias depensamento eas formas de ao encontradasem umpovo noprecisam se r desenvolvi-das pelo pensamento consciente Elas crescemporcausa da organizao

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    bsica damente humana.A evidncia lingustica degrand e valor poisascategorias e as formas gramaticais nunca atingem a conscincia do fa-lante ao passo que em quase todos os outros fenmenos etnolgicos ospovos observam o que pensam e o que fazem. No momento em que asatividades e os pensamen tos atingem a conscincia eles se tornam objetodeespeculao.Porisso ospovosdomundo tantoo s antigos comoosmais avanados esto sempre prontosa explicar seus costumesecren-as. O carter reiterado dessas explicaes secundrias de enorme im-portncia. Elas esto sempre presentes.O investigado r que pesquisa a his-tria das instituies e dos costumes sempre recebe explicaes baseadasnessa interpretao secundria. Entretanto elas no representam a hist-ria do costume ou da crena em questo mas apen as o resultado da espe-culao a seu respeito.

    V ou mencionar outro ponto psicolgico que parece ser muito impor-tante na discusso do significado da cultura antiga e de sua relao comos tipos mais avan ados . Na cultura antiga certas atividades parecem terum a conexo ntima que j no est presente nos tipos mais avanados decivilizao. Uma das caractersticas fundamentais da cultura antiga quea organizao social e a crena religiosa tm uma relao inextricvel.Em certa medida essa tendncia persiste em nossa prpria civilizaomas demodo geral h umatendncia acentuada para separar a religioea organizao social e poltica. O mesmo vale para a arte e a religio an-tigas bem como para a cincia a organizao social e a religio antigas.Na medida em que somos capazes de investigar as causas das associa-es peculiares entre essas manifestaes variadas davida tnica e a his-triade seu desaparecimento gradual descobrimos que um estmulo sen-sorial muito propenso aliberar emoes fortes no fluxo de conscinciado homem antigo. Tais emoes por sua vez ligam-se acertos grupos deideias. Assim as emoes com uns aos dois impulsos estabelecem asso-ciaes entre grupos de ideias que nos parecem desconexos. Pela mesmarazo parece impossvel que o homem antigo estabelea aquelas associa-es puramente racionalistas caractersticas do homem civilizado entre as impresses sensoriais e os atos determinados pela vontade. O es-tudo da vida antiga mostra que toda ao costumeira adquire um tomemocional muito forte que aumenta a estabilidade do costume. Essas for-as ainda esto operando em nossa civilizao. Basta lembrar qualquerum a daquelas aes que cham amo s de boas maneiras para as quais no

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    se pode dar nenhum a razo satisfatria mas que ainda assim adquiriramum tom emocional to forte que uma quebra dessas boas maneiras per-cebida como uma ofensa grave. Por exemplo seria impossvel explicarpor que um cavalheiro no deve ficar de chapu dentro de casa enquan to de bom tom que umadama o faa. Consideramos rudeu mtransgressordessas regras e sentimos desconforto quando sem querer as violamos.Tais julgamentos instantneos mostram como os valores emocionais aelas associados esto profundamente arraigados.

    No h dvida que um a investigao psicolgica mais efetiva elam al comeou nos ajudar aexplicarde form a m ais satisfatria muitosfenmenos antropolgicos.

    A antropologia uma cincia que apenas comea a descobrir seusfundamentos. M uitas questes bsicas ainda esto em discusso e as li-nhas promissoras de abordagem mal comeam a se abrir.

    Ainda assim a antropologia tem sido capaz de ensinar certos fatosimportantes para a nossa vida comum de todos os dias. Pela am plitude desua perspectiva a antropologia ensina melhor do que qualquer outra cin-cia como os valores da civilizao so relativos. Ela nos capacita a noslibertar dos preconceitos de nossa civilizao e a aplicar padre s paramedir nossas prpria realizaes que tm um valor absoluto maior doque aqueles que decorrem apenas de um estudo da nossa civilizao. Asdiferenas entre a nossa civilizao e uma de outro tipo em que talvezse enfatize menos o lado racionalista de nossas atividades m entais e maiso ladoemocional ou em que as m anifestaesexteriores da cultura con-forme expressas nas m aneiras de ser e de vestir diferem das nossas aparecem menos como diferenas de valor e mais como diferenas detipo Essa perspectiva mais ampla tambm pode no s ajudar a reconhecera possibilidade de que existam linhas de progresso que no esto de acor-do com as ideias dominantes em nossa poca.

    A antropologia tambm pode nos ensinar a compreender m elhor nos-sa sprprias atividades. Orgulhamo-nosde seguir as determinaes da ra-zo e de ser fiis a convices cuidadosamente meditadas. O fato ensina-do pela antropologia o homem em todo o mundo acredita seguir asdeterminaes d a razo por mais irracionalmente que possa agir e oreconhecimento da tendncia da mente humana de chegar primeiro a umaconcluso e s depois dar as razes para isso nosajudam a abrir os olhos

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    para perceber que nossas vises filosficas e nossas convices polticasso em grande medida determinadas por inclinaes emocionais. As ra-zes qu e apresentamos no so aquelas pelas quais chegamos s nossasconcluses;so explicaes quedamos paraessas concluses.

    O desenvolvimento geral da sociedade tambm nos ensina um a lioimportante.A s unidades sociais antigas eram pequenas e seus membrospossuam um forte sentimento de solidariedade entre si e de hostilidadecontra os estranhos.A s unidades sociais tm aumentado de tamanho aolongo de todasas eras.Uma maiorliberdadeindividual foipermitidaaosmembros dos grupos e o sentimento de hostilidade contra os estranhosse enfraqueceu.A inda estamos no meio desse desenvolvimento. A hist-ria da humanidade m ostra qu e qualquer poltica queul trapasse os limitesda autoproteo necessria e busque assegurar o progresso de uma naopo r meio de medidas qu e desconsideram os interesses de outrasest fa -dada a perder no longo prazo pois representa um tipo mais antigo depensamento que est ao s poucos desaparecendo.

    No posso abandonar m eu tema se m dizer uma palavra a respeito daajuda que os mtodos antropolgicos podem oferecer investigao do sproblemas da higiene pblica da m istura de raas e da eugenia.Os mto-do s seguros da antropometria e antropologia biolgica e psicolgica nosajudaro aretirar essas questes da esfera daacaloradadiscusso poltica tornando-as objeto de uma calma investigao cientfica.

    Nesse quadro imperfeito de mtodos tentei delinear os objetivos e asesperanas da antropologia. Expus poucos fatos be m definidos pois at osfundamentos dessacincia ainda no parecembem assentados.Aindaassim com uma exposio de nossos objetivos bsicos espero te r des-pertado o sentimento de que estamos nos esforando para atingirum ob-jetivo fadado a iluminar a huma nidade e ser til para adquirirmos no fu-turo um a atitudecorreia na soluo do sproblemas da vida.