1º edição do jornal 1911

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JORNAL ECONÓMICO Nº 1 | 23 de Maio - 2013 | GRATUITO www.facebook.com/HamburgueriaDoBairro PRINCIPE REAL Travessa Monte do Carmo, nº 19, Lisboa Tel: 213 422 043 SÃO BENTO Rua dos Industri- ais, nº 9, Lisboa Tel: 213 960 405 RESTELO Rua Duarte Pacheco Pereira, nº 7-A, Lisboa Tel: 213 010 610 As nossas lojas: Entrevista a Emanuel dos Santos Ex Secretário de Estado do Orçamento Manuela Arcanjo “Eis que tudo continua a ser construído pelo telhado e não pelos alicerces” Helena Sacadura Cabral “De que falamos” António Garcia Pereira “Pretendem impor aos trabalhadores portu- gueses (..) serem os chineses da europa” David Ferreira “Num mercado laboral liberalizado, a inovação e a informação fluem com maior rapidez” Entre Francesinhas Economia Sociedade Sociedade André Neves “Destruí a televisão, estava farto de mentira” “Segundo a ideologia oficial, tudo o que é keynesiano é mau” “Reforçar a austeridade foi um erro de palmatória”

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Page 1: 1º Edição do Jornal 1911

JORNALECONÓMICO

Nº 1 | 23 de Maio - 2013 | GRATUITO

www.facebook.com/HamburgueriaDoBairro

PRINCIPE REAL Travessa Monte do Carmo, nº 19, Lisboa

Tel: 213 422 043

SÃO BENTORua dos Industri-ais, nº 9, Lisboa

Tel: 213 960 405

RESTELORua Duarte Pacheco Pereira, nº 7-A, Lisboa

Tel: 213 010 610

As nossas lojas:

Entrevista a Emanuel dos SantosEx Secretário de Estado do Orçamento

Manuela Arcanjo“Eis que tudo continua a ser construído pelo telhado e não pelos alicerces”

Helena Sacadura Cabral

“De que falamos”

António Garcia Pereira“Pretendem impor aos trabalhadores portu-gueses (..) serem os chineses da europa”

David Ferreira“Num mercado laboral liberalizado, a inovação

e a informação fluem com maior rapidez”

EntreFrancesinhas

EconomiaSociedade Sociedade

André Neves“Destruí a televisão, estava

farto de mentira”

“Segundo a ideologia oficial,

tudo o que é keynesiano é

mau”

“Reforçar a austeridade foi

um erro de palmatória”

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02 | 23 de Maio - 2013 ISEG

Editorial Estatutos Editoriais

Organograma

Esta podia ter sido apenas mais uma ideia que não passava disso mesmo. Podia ser mais um projecto que nunca viria a ser concretizado. De resto, foi o que aconte-ceu o ano passado. Não deu. Foi preciso arranjar uma equipa, pessoas que acreditas-sem e estivessem dispostas a trabalhar. Foi fundamental a receptividade por parte das diferentes pessoas que hoje integram, enquanto colaboradores e convidados, esta edição. Para isso foi preciso esperar um ano e amadure-cer a ideia. Um jornal económico e cultural preparado por jovens, editado em papel e distribuído numa faculdade onde duas das principais publicações especializadas na área estão disponíveis de forma gratuita. À primeira vista um perfeito disparate. Sê-lo ia, de facto, não fosse o princi-pal objectivo deste jornal promover o debate, despertar o sentido crítico e valorizar o contraditório. O que procuramos é chegar às pessoas, fazê-las pensar. Quem nós procuramos são pessoas que pensem. Pessoas que pensem de forma diferente, com abordagens e experiên-cias de vida diferentes. Só assim é possível, sem precon-ceitos e com total desprendimento, assegurar a liberdade e a pluralidade que pretendemos que sejam a marca distintiva deste projecto. Nestas últimas semanas, senão mesmo nos últimos dois meses, promovi activamente o trabalho não remunerado. Confesso que nunca pensei dizer isto, muito menos admiti-lo publicamente. Estou certo porém, de que esta forma de trabalho não remunerado, ao contrário de outras com as quais nos habituámos a conviver, é gratifi-cante. Todos os membros da equipa, todos os colabora-dores, todos os convidados, todos aqueles que de forma directa ou indirecta deram o seu contributo para que esta publicação pudesse ser uma realidade, trabalharam sem qualquer tipo de contrapartidas. A todos eles, em nome de toda a equipa, o meu genuíno agradecimento. Em particular, não poderia deixar de destacar a Professora Manuela Arcanjo e o Professor António Garcia Pereira que, desde o início, nos incentivaram a avançar com este projecto. Gostaria de dirigir também uma palavra de apreço ao Departamento de Marketing do ISEG, cujo apoio foi determinante para assegurar a materialização do 1911. De uma forma geral, o acolhimento que este projec-to teve junto de professores, convidados, alunos e empre-sas foi maior do que prevíamos. Esperamos estar á altura das expectativas que criámos.

Data: 21 de maio de 2013

- O 1911 pretende ser um jornal de informação e opinião cultural e económica, com publicação bimestral. Suportada por artigos de opinião de professores e alunos do ISEG, tem por objectivo colocar em confronto várias correntes de pensamento. Deste modo promoveremos o debate na nossa socie-dade, no momento actual. - Não pretendemos ser concorrentes directos de jornais ou de publicações nesta área nem actuar como seus substitutos, procuramos um conceito novo de jornal que dê aos nossos leitores a possibilidade de entender o que se passa no mundo à volta de uma maneira simples, de modo a poder-em formular, eles próprios, a sua opinião. Tentaremos ser o menos tecnicistas possível, não em prejuízo ou perda de rigor dos artigos ou opinião publicados, mas sim de modo a maximizar o acesso a essa informação e torná-la o mais transversal possível. Temos assim como missão democratizar o acesso à informação económica de qualidade. - Regendo-nos por elevados padrões éticos pretendemos ser directos e frontais em cada uma das nossas acções, sem rodeios nem subterfúgios, apenas procurando o esclarecimento e a transpar-ência de tudo o que é digno de nota na actualidade económica. - Trabalharemos sempre com grande honestidade intelectual e reconhecendo os nossos limites ao nível de conhecimento, embora nunca nos inibindo de discutir com especialistas o que pensamos da sociedade à nossa volta. - Promoveremos a pluralidade de matérias e de opiniões. O que ambicionamos é dar a conhecer todos os pontos de vista e todas as soluções possíveis e pensadas, não querendo influenciar nem condi-cionar ninguém ao nível do seu intelecto. Pretendemos apenas facultar informação, comunicar e dar bases para que os nossos leitores desenvolvam as suas próprias opiniões. - Propomo-nos assim, com este jornal, ajudar a envolver a sociedade na discussão que se tem imposto e que diz respeito a todos nós. Lançamos, por isso, esta publicação bimestral, preparada total-mente por alunos do ISEG, com a certeza de que podemos fomentar e alargar o debate. - Existimos para provocar consciências e contestar certezas. Temos por objectivo mover os nossos leitores da sua zona de conforto para uma zona de confronto, confronto de ideias, factos e valores

Parece que conseguimos! Mais de três meses de muitas reuniões, centenas de e-mails, muitas horas empregues a pensar, conceber e estruturar este projecto. Não foi fácil.

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Page 3: 1º Edição do Jornal 1911

23 de Maio - 2013 ISEG | 03

Economia

Uma política orçamental absurdaManuela Arcanjo | Professora doutorada do ISEG

Como contrapartida do resgate financeiro, o Estado português negociou um pacote de medidas cuja imple-mentação permitira um ajustamento orçamental avaliado pela redução progressiva do défice público (saldo global em percentagem do PIB) das Administrações Públicas. A margem negocial terá sido, certamente, reduzida mas o certo é que as metas fixadas para aquele indicador eram irrealizáveis num quadro de queda, que se previa prolongada, da actividade económica. A realidade veio confirmar, infelizmente, que as suces-sivas previsões macroeconómicas foram ultrapassadas para além do que a incerteza poderia justificar e que os indicadores de referência (saldo global e dívida pública) contrariavam, nos valores alcançados, as trajectórias esperadas.

Pior, o perfil da política orçamental adoptada (contracionista e pró-cíclica), assente no forte aumento da carga fiscal e na redução do rendimento do trabalho e das pensões, acentuou o declínio da actividade económica, determinou o aumento histórico do desemprego e uma degradação inaceitável das condições de vida de milhões de portugueses. Quando se poderia esperar que, após a experiência de um Orçamento do Estado para 2013 que entrou em vigor já desactualizado nos seus fundamentos macroeconómicos e previsões orçamentais, se seguissem metodologias, princípios e práticas que orientam uma boa tomada de decisão, eis que tudo continua a ser construído pelo telhado e não pelos alicerc-es. O primeiro sinal foi a apresentação do Documento de Estratégia Orçamental (DEO)

para 2013-2017. Com base em previsões macroeco-nómicas irrealistas, e omitindo-se qualquer potencial efeito do tão divulgado “memorando para o crescimento”, são apresentadas as trajectórias de médio prazo para grandes agregados das receitas e das despesas das Administrações Públicas (Quadro II.9, p.26). Idealmente, aquelas deveriam já resultar de um trabalho sólido sobre as áreas e medidas de intervenção. Mas a nota de rodapé do referido quadro – “os valores apresentados não têm em conta a composição exacta das medidas que possam vir a ser adoptadas” – permite perce-ber que afinal se fixaram valores agregados antes da definição das medidas e, pior, sem avaliar o seu impacto recessivo sobre o cresci-mento económico e o desemprego. O segundo sinal veio com o pacote de novas medidas: a ausência de fundamentação

técnica, o absurdo de algumas das justificações apresentadas e o risco de potenci-ais novas inconstitucionalidades revelam, uma vez mais, uma tomada de decisão apressada em que um fim/desejo irrealista justifica todos os meios. Consideremos, a título ilustrativo, apenas dois exemplos. Primeiro, a redução do número de funcionários públicos: era de admitir que se conhecesse à priori onde e quantos são os excedentários em função das necessidades e de uma fusão/extinção de organismos; nada disto foi feito, deixando-se apenas ao bom senso dos dirigentes esta selecção; também não se cuidou de pensar no que esta medida pode vir a originar em termos de uma degra-dação dos serviços públicos e/ou de um futuro aumento de despesa em aquisição de serviços a empresas privadas. Segundo, a equiparação dos níveis

salariais entre trabalhadores do Estado e do sector privado. Como é possível alguma decisão racional na ausência de um estudo técnico credível e bem fundamentado? Será apenas mais um corte de despesa mascarado de medida estrutural. Se no quadro de um resgate financeiro a política orçamental não pode cumprir plenamente a sua função de estabi-lização macroeconómica, pelo menos deveria ser orientada para metas credíveis, com recurso a medidas fundamentadas – e com avaliação dos seus e efeitos directos e indirec-tos - e apoiada com intervenções promotoras de crescimento. Uma política orçamental assente em medidas irreflectidas que continua a prosseguir um objectivo não alcançável só pode continuar a gerar maus resultados na economia real – empresas e famílias – e, por consequência, nos agregados financeiros.

Quais as consequências de uma trajectória como a que Portugal seguiu? De défices sucessivos, endividamento constan-temente e crescente, e um desemprego que mais do que quadruplicou em 12 anos? E com uma economia que praticamente não cresceu? Penso que qualquer discussão tem que ter aqui um ponto de partida. A pergunta é, como inverter a tendência na nova década? Parece-me indispensável, numa primeira fase, a necessidade de um ajusta-mento forte, que permita organizar as contas públicas (reduzir os défices), travar o endividamento, e, ao mesmo tempo, viabilizar o financiamento. (Ninguém nos cede crédito se não houver um compromisso claro de ajustamento, e esta questão é decisiva por Portugal ser um país com necessidades de financiamento). O ajusta-mento poderá então servir, numa primeira fase, para inverter a trajectória negativa que se mencionou (sobretudo ao nível das Contas Públicas). Mas, mais importante, deverá servir também para reformar o país, de modo a que se possa ter uma economia mais competitiva, um Estado mais eficiente, e um país que cria riqueza (viabilizando o que se queira definir politicamente). Só assim tem sentido o esforço de curto prazo. Se esse for

acompanhado de uma perspectiva de médio e longo prazo. Se agora a meta é consolidar, o objectivo tem que ser bem mais amplo e estrutural. De que modo? Simplificando, penso que existem alguns pontos centrais:Em primeiro lugar, a aposta contínua na educação. Que se traduza em capacidade de inovar e criar valor, de gerar maior eficiência e produtividade. Numa economia desenvolvi-da esta é a base de qualquer crescimento sustentado. Ainda, a forma possível de aliar competitividade com aumento dos níveis de vida.Em segundo lugar, e de maneira diferente, acredito que o foco deve estar na economia real. Isto é, na criação dos mecanismos para o mercado prosperar. É “aqui” que está em grande medida o emprego, e assim, a riqueza, receita e dinamismo. Os Governos devem ter nisto um farol de actuação. De várias formas, desde logo começando pela reforma da Justiça, sistema fiscal e orga- nização administrativa. Precisamos de procurar aumentos de eficiên-cia que se traduzam numa maior capacidade de concre-tizar oportunidades, nomeada-mente de investimento. (Podemos pensar em impostos baixos? Se os impostos altos têm feito diminuir a receita e feito aumentar, indirectamente, a despesa? Se o

(Cres)pensamento

Diogo AiresCoelho

imposto reduzido se traduzir em mais investi-mento, empresas, produção, e emprego, e assim, em mais receita fiscal e menos despe-sa social?)Em terceiro lugar, apostar na abertura. Na conquista de novos mercados. Portugal temtodas as condições para aumentar o peso das suas exportações. 36% do PIB em 2011? Países como a Holanda, Bélgica e Irlanda, apresentaram no mesmo ano, respectiva-mente, 83%, 84% e 107%. Não que as expor-tações só por si resolvam os problemas, mas são uma solução. (Não será razoável pensar num cenário de excedentes comerciais? Os três países citados apresentam um registo assinalável nesta matéria. E se o défice interno se impõe e "custa" tanto, não será o saldo externo uma forma realista de equilibrar as contas?) Neste âmbito, os mercados extracomunitários parecem-me fundamen-tais, sobretudo os de forte crescimento e com os quais Portugal pode ter relações privilegia-das. Por ultimo, o financiamento. Este tem que estar ao serviço do investimento produtivo. De que interessa a liquidez dos bancos, e mesmo do próprio Estado, se isso não se reflecte na economia, e assim, no pais? As "conquistas" ao nível das taxas de juro têm que se traduzir na economia real. Atravessamos um período relevante de ajustamento, muito penoso, com medidas e metas de curto-prazo. Ainda que sejam

decisivas, não podemos bastar-nos a elas: precisamos de estratégia política e económi-ca.Existe um futuro, o chamado "pós-Troika", que merece toda a nossa atenção e energia. Não se pode dizer toda a vida que não há tempo para mudar ou melhorar. O tempo é agora. A reflexão tem que começar já.

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Após uma década de estagnação económica, Portugal vive hoje uma crise económica e social muito profunda e sem solução à vista. Um dos factores de aprofundamen-to dessa crise tem sido a orientação económica e financeira imposta pela chama-da troika e prosseguida pelas autoridades nacionais. Dessa troika faz parte o Fundo Monetário Internacional (FMI), o qual intervem agora pela terceira vez directa-mente na vida do país. Com efeito, em 1961 Portugal tornou-se formalmente membro deste organ-ismo internacional, apesar de na prática ter sempre cumprido as regras de disciplina monetária saídas de Bretton Woods. Criado em simultâneo com o Sistema Monetário Internacional (SMI) ali desenhado ainda no decurso da Segunda Guerra Mundial, o FMI teve o propósito de introduzir flexibilidade no referido SMI proporcionando liquidez a países com problemas conjunturais nas suas contas externas, de modo a permitir-lhes continuar a cumprir, no essen-cial, as regras daquele sistema monetário. A primeira intervenção do FMI em Portugal com este propósito data de 1978. Nessa época, a vida do país carac-teriva-se, entre outros aspectos, pela conso-

lidação — após a derrota do projecto social-ista em Novembro de 1975 — de um sistema capitalista de mercado regulado, no âmbito de uma estratégia de aprofundamento da ligação ao capitalismo transnacional, nomeadamente de adesão às comunidades europeias. Conjunturalmente, este processo desencadeou um forte desequilíbrio das contas externas resultante em primeiro lugar da crise económica internacional, da degra-dação dos termos de troca internacionais e da significativa expansão da procura interna resultante dos aumentos salariais alcança-dos no período posterior à Revolução de Abril. Neste contexto, o 2º Governo Constitucional, suportado por uma coligação entre PS e CDS, estabeleceu um primeiro acordo de estabilização com o FMI — condição imposta para o acesso ao financia-mento internacional — contendo um progra-ma, de duração anual, que incluía a desval-orização cambial deslizante, o aumento das taxas de juro, a liberalização do comércio externo e um reordenar da despesa publica em desfavor dos subsidios a empresas. Daí resultou, a redução significativa do défice da balança de transações correntes (de -9,2% do PIB em 1977 para -0,3% do PIB em 1979), que constituía o objetivo da intervenção, com um

custo muito moderado em termos da desacel-eração do crescimento do PIB e do aumento do desemprego, mas com a quebra acentuada dos salários reais e o aumento da concen-tração da riqueza. A aplicação de tal programa suscitou significativo protesto social que no entanto não foi além de greves parciais nem demonstrou força suficiente para impor uma alteração da política económica. Entre 1983 e 1985 o país viu-se confrontado com uma segunda intervenção do FMI. Então de novo enfrentando um forte desequilíbrio externo e com a necessidade de garantir o acesso ao financiamento internacional, o 9º Governo Constitucional, então suportado por uma coligação entre PS e PSD, assinou um segun-do acordo de estabilização em Setembro de 1983, de execução mais longa que o primeiro e que viria a ser rectificado com uma segunda carta de intenções depois de uma avaliação em Março de 1984 apontar a necessidade de corrigir os níveis de inflação e os desequilíbrios nas finanças públicas. À semelhança do programa anterior, este segundo programa incluía também as exigências de desvalorização cambial deslizante, de aumento das taxas de juro, de liberalização do comércio externo e de reordenamento da despesa pública em desfa-vor dos subsídios a empresas mas também

uma exigência de reforma do sistema fiscal. Também este segundo programa permitiu o acesso aos mercados financeiros internacionais e um saldo positivo da balança de transacções correntes mas agora com uma quebra da taxa de crescimento do PIB, que atingiu cerca de -1,8% em 1984, apesar de recuperar para cerca de 3% em 1985. Quanto ao mais, o programa resultou no aumento do desem-prego, em mais uma quebra significativa dos salários reais e num protesto social que, também então, não foi além de greves parciais nem demonstrou força suficiente para impor uma alter-ação da política económica.Estes resultados devem no entanto ser avalia-dos em conjunto com outras medidas de política económica – e sobretudo de modifi-cação do sistema económico — articulados com o processo já em curso de adesão à CEE na mesma época histórica, designadamente a abertura à iniciativa privada de alguns sectores, a liquidação da reforma agrária e a precarização das relações laborais com a introdução dos contratos a prazo.

FMI, um velho conhecido dos portuguesesCarlos Bastien| Professor doutorado do ISEG

04 | ISEG

EditorialEconomia

23 de Maio - 2013

Pergunta a:

Porque é que a dívida pública aumenta no período 2010-2012? Uma das questões que tem suscitado maior perplexidade, tendo em conta o processo de ajustamento das contas públicas que está em curso, é o aumento substancial dos níveis de dívida pública que ocorreu desde 2010. De facto, entre 2010 e 2012, o rácio de dívida pública no PIB passou, de acordo com os últimos dados divulgados no quadro das notificações de défices excessivos, de cerca de 94,1% para 123,6%, um aumento de cerca de 30 pontos percentuais, claramente superior aos défices públicos registados no mesmo período, que foram, recorde-se, de 4,4% do PIB em 2011 e 6,4% do PIB em 2012. Esta diferença suscita a questão de saber porque é que é que o valor da dívida aumenta muito mais do que o que decorreria dos défices registados, pois sendo a dívida o stock e o défice o fluxo, seria de esperar que a variação do stock estivesse associada aos níveis de fluxo verificados. Tal não acontece porque há um conjunto de outras razões, para além do nível de défice verificado, que podem aumentar a dívida. Normalmente, a análise da variação do rácio de dívida decompõe essa variação no efeito do saldo primário, o efeito dinâmico (designado snow ball effect) associado ao efeito dos juros e da variação nominal do PIB e um efeito residual associado a outros fatores que influenciam o ajustamento défice-dívida, ou seja, elementos que não tendo repercussão no défice têm efeitos em termos de dívida. No período em análise, o saldo primário representou menos de 2 p.p. da

variação da dívida pública. O efeito dinâmico associado quer à redução nominal do PIB quer ao aumento da despesa com juros tem representado uma importante parcela da variação da divida na ordem dos 13 p.p. Na rubrica residual, que representou mais de 12 p.p. da variação da dívida, tiveram grande relevância nestes dois últimos anos, por um lado, a acumulação de depósitos por parte das administrações públicas, em resultado da liquidez inicial não utilizada dos fundos transferidos no âmbito do PAEF e da transferência dos ativos dos fundos de pensões dos bancários e a constituição (líquida) de ativos financeiros, nomeadamente, sob a forma de empréstimos (titulados), para efeitos de recapitalização do setor bancário.

Vitor EscáriaProfessor do ISEG

O primeiro teorema da economia do bem-estar demonstra que, sob certas condições (informação e concorrência perfeit-as, completude dos mercados, ausência de externalidades, exogeneidade das preferên-cias, etc.), uma economia de troca generaliza-da configura um óptimo de Pareto. Nestes ou noutros termos, é daqui que parte a formação típica de um economista, sendo só lá mais para a frente que se olha para as situações (preten-samente excepcionais) que justificam a intervenção (sempre limitada) do Estado: externalidades, bens públicos e situações de poder de mercado. Estas situações são apresentadas como excepções à regra, mas na realidade o que é excepcional, ou na verdade ficcional, são as premissas em que assenta a pretensa optimalidade do ‘mercado livre’. Nas economi-as reais, reina a incerteza, as preferências são endógenas, a concorrência monopolística é a regra, e as externalidades e o poder de merca-do estão por toda a parte. E, claro, acresce que a eficiência (a la Pareto ou de outro tipo) é um fraco critério de optimalidade social: não serão a justiça, a dignidade e a coesão sociais igualmente, se não mesmo mais, importantes? O pensamento neoliberal (síntese das ferramentas analíticas neoclássicas com a filosofia política austro-libertária, na caracter-ização de Ha-Joon Chang), além de rejeitar todos estes outros fins, afirma um modelo irrealista da sociedade que, ainda que susceptível de posterior complexificação (como fazem os Novos Keynesianos, por exemplo), tem como principal efeito a formatação

ideológica daqueles que a ele são expostos no início da sua formação. O ‘mercado livre’ é o ideal, a provisão pública deve ser a excepção – alegadamente, porque o Estado não dispõe da capacidade de promover o bem-estar social da mesma forma que o mercado. Daí decorre a conclusão que a privatização é, por regra, promotora do bem-estar: preços mais baixos, melhor qualidade, maior eficiência. E no mundo real? Nesse, o que temos são grandes empresas quase-monopolistas, recém-privatizadas pelo Estado, que obtêm lucros anuais de centenas de milhões de Euros através da penalização do bem-estar das famílias e da estrutura de custos das PME (veja-se o caso da EDP); temos monopólios naturais em mãos privadas com contratos de rendas asseguradas (veja-se as autoestradas); e temos situações de pretensa concorrência em que o regulador é simplesmente incapaz de impedir a colusão na formação de preços (veja-se os combustíveis ou as telecomuni-cações). A história da economia portuguesa nas últimas décadas é em grande medida a história da consolidação de um padrão de acumulação rentista, voltado para o sector dos bens não-transaccionáveis, para a qual o processo de privatizações iniciado em 1989 contribuiu de forma decisiva. Para corrigir estas distorções, assegurar a coesão social e promover o desenvolvimento, é necessário compreender até que ponto o Estado e o bem comum têm vindo a ser capturados por interesses particulares – e iniciar quanto antes a sua reconquista.

A (ir)racionalidade das privatizações

Alexandre AbreuProfessor convidado do ISEG/UTL e investigador do CEsA-ISEG/UTL

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União Europeia: o nacionalismo contra-ataca

São tempos interessantes, estes em que vivemos. Enquanto as instituições europeias têm vindo a trabalhar no sentido de estreitar a cooperação entre países europeus e promover, nos cidadãos, o sentimento de pertença à comunidade europeia, a famigerada crise da dívida soberana da Zona Euro, ainda em curso, tem atirado para a ribalta forças políticas caracterizadas pelos seus ideais e discursos de cariz populista e nacionalista. Estas forças encontram terreno ideológico comum na defesa de assuntos tais como a redução ou interrupção da imigração e a tomada de uma postura desfavorável face a uma religião particular – comumente, o Islão –, assim como na desconfiança ou total descrença na União Europeia. A sua crescente notoriedade aliada à conjuntura específica que se vive nesta parte do globo tem vindo a dar origem, no passado recente, a uma tendência de aumento da representa-tividade destes partidos no panorama político dos Estados em que se inserem.Exemplos disto mesmo podem ser encontra-dos um pouco por todo o velho continente: em França, nas eleições legislativas de 2012, a Frente Nacional obteve 2 assentos parlamentares – os primeiros em 15 anos;

nos Países Baixos, o Partido para a Liber-dade conquistou 15,5% das intenções de voto nas eleições legislativas de 2010 e 10,1% nas eleições legislativas de 2012; na Suíça, o Partido Popular arrecadou 26,6% dos votos nas eleições federais; na Finlân-dia, o apoio ao Partido dos Verdadeiros Finlandeses escalou de 4,1% dos votos nas eleições legislativas de 2007 para 19% dos votos nas eleições legislativas de 2011. Conhecendo estes dados, duas perguntas se elevam: quem compõe o eleito-rado destas forças políticas e por que motivo as apoiam num cenário social e macroeco-nómico tão peculiar? Em primeiro lugar, uma parte substancial do apoio às forças políticas em questão vem, tendencialmente, daqueles que se sentem economicamente menos protegidos. Contudo, não são necessaria-mente aqueles com menores rendimentos na sociedade que integram este grupo. Pelo contrário, será mais provável o apoio vir da parte de indivíduos que, por terem algo a perder em termos económicos, sintam os seus patrimónios em risco. Este sentimento agrava-se numa situação de elevada incerteza como aquela que existe na Zona Euro, devido à crise financeira. Consequent-emente, os eleitores que temam pela estabil-idade dos seus patrimónios e estilos de vida

são mais propensos a procurar no nacional-ismo uma espécie de mecanismo de defesa que julgam garantir a segurança dos seus bens e do seu bem-estar. Para além disto, os apoiantes dos partidos em causa são, tendencialmente, a favor da redução ou interrupção da imigração, por motivos normalmente económicos. Contudo, é de notar que não se põem de lado eventuais motivos sociais e culturais, alimentados pelas noções, não necessariamente verda-deiras, de que travando a imigração haja uma redução do desemprego ou que o influxo de imigrantes faça com que a cultura específica do país de chegada seja invadida e profundamente alterada pela introdução de elementos de culturas alheias; numa última instância, poderá ainda existir alguma preocupação por parte dos indivíduos se estes julgarem que os interesses particu-lares do seu país estão subordinados aos interesses da União Europeia. Assim, alguns eleitores poderão voltar-se para o nacionalismo com o objectivo de colocarem os interesses nacionais no topo da agenda política, em detrimento dos interesses da União Europeia.Ora, torna-se evidente a existência de um conflito entre estes fenómenos e os ideais basilares de união, solidariedade e harmonia entre os povos da Europa por detrás da criação

da União Europeia. Se os tempos vindouros nos reservarem um continuado aumento da importância do nacionalismo, tudo aponta para que a crise da Zona Euro se torne mais compl-exa e difícil de gerir. Por um lado, os cidadãos de países com economias mais fracas e que receberam, nos últimos anos, assistência financeira ressentir-se-ão das condições austeras que lhes têm vindo a ser impostas. Por outro lado, os cidadãos dos países com economias mais fortes poderão não apreciar ser chamados a prestar auxílio financeiro aos países em dificuldades, nem tão pouco estar associados a estes, por verem a prosperidade da sua própria economia ameaça-da. O resultado desta combinação tóxica de factores, nas condições apresentadas, leva ao ressentimento mútuo destes indivíduos contra as instituições europeias e o Euro. Este cenário revela-se particularmente interessante se se tiver em conta que, por simplificação, apenas existem duas soluções para ultrapassar a crise – a integração europeia, que tem à sua frente o obstáculo do nacionalismo, ou o fim da União Económica e Monetária. No final, a solução que prosperará para resolver a situação em que o velho continente se encontra e o papel que o nacionalismo desempenhou na sua escolha, só o tempo nos dirá.

Artigo: Daniela Feijoca

23 de Maio - 2013 ISEG | 05

Sociedade

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06 | ISEG

EditorialSociedade

23 de Maio - 2013

Do que falamos...Helena Sacadura Cabral | Economista e jornalista

Se olharmos para a transformação de Portugal nas últimas três décadas, encontraremos sempre quem, com saudosismo, fale do passado. Não porque tenham reais saudades desse bucólico rectângulo de então, à beira mar plantado, mas porque os tempos actuais lhes lembram os do passado, sem consigo trazerem esse especial odor de ruralidade que os caracterizava.Com efeito, a revolução dos cravos, se tem sido muito estudada pelo ângulo das transformações económico-sociais, está longe de ter alcançado o mesmo nível de profundidade no que ao ânimo das pessoas se refere. E este, para o bem ou para o mal, está longe de ser uma variável desprezível na equação que defina o país.Tomemos um exemplo que me é caro, já que além de economista sou, também, uma pessoa que fez da comunicação o seu outro mister. Quem acompanhe a informação – nacional ou estrangeira – passou a conviver diariamente com termos técnicos de que a maior parte não sabe precisamente o significado. Assim swaps, spreads, cd’s, offshores, maturidades, divida pública, divida privada, deficit, etc., são jargões que povoam diariamente os nossos olhos e os nossos ouvidos, sem que saibamos exactamente o que querem, de facto, dizer.

Servem para conversa de salão, mesas redondas ou quadradas, onde pontificam em debate por norma televisivo, a elite económica ou financeira, a elite partidária e, de quando em vez, alguém que tenta tornar compreensíveis aqueles conceitos. Mas que, por norma, é “abafado” porque os outros não estão ali para explicar nada aos que ouvem ou lêem, mas sim para se afirmarem como especialistas. Ora a mim que estive no ensino universitário a tentar tornar simples aqueles conceitos ou os da matemática aplicada à economia, esta situação entristece-me. A televisão que “informa” devia também “formar”. Não através de aulas que poderiam correr o risco de ser cansativas, mas criando programas inteligentes ou mesmo divertidos, que dessem àqueles termos técnicos uma dimensão, digamos, doméstica. Não é sequer difícil, porque uma vez já o fiz e sei o retorno que teve. Num país que vive uma crise tremenda e está inserido numa Europa enfraquecida e num mundo onde a única linguagem universal é a financeira, parece-me que tentar tal objectivo, seria permitir à comunicação social um papel importante de serviço público. Do qual precisa quem fala e de que carece quem ouve. Para que todos saibamos do que falamos quando nos dirigimos uns aos outros!

Choca-me a quantidade desses peixes produzidos, alimentados com essa ração rasca, activamente presentes nesta sociedade. Tornaram obrigatório a presença dos nossos peixinhos nos cativeiros até ao 12º ano. Ilusoria-mente preocupados com a sua formação e criação, no entanto a maior preocupação é mostrarem as estatísticas ao tubarão de como somos uns peixes cultos e instituídos. E quanto menos pensarem, melhor. O desenvolvimento do espírito crítico é uma ameaça, assim entretém-lhos com televisões, jogos virtuais, filmes e séries irreais, afastando-os da realidade e da verdade, fazen-do-os crer na suposta veracidade das notícias da comunicação social. Quanto a vocês não sei, mas a mim assusta-me! Assusta-me a superficialidade dos temas tratados na maioria das novelas, séries e filmes, e o que ainda mais me assusta é a interpretação, ou falta dela, dos telespectadores e como facilmente se teletransportam para aquele mundo e fecham os olhos para o resto. Hoje em dia, os nossos peixinhos, nascem a escrever mensagem, crescem agarra-dos a um computador, o melhor amigo torna-se o comando da consola. Os objectivos estão a ser atingidos. O isolamento e o atraso na criação da massa crítica são extremamente perigosos para a forma de desenvolvimento da nossa sociedade e temo que o caminho que este segue não é de todo benéfico para a nossa liberdade. Artigo: Anna Lavrenko

“O Olho que Vê Tudo” é uma peça muito importante no puzzle que é “A Grande Tribulação”, a mensagem incide com espe-cial enfoque nas questões da bancarrota planetária, da propaganda, do controlo populacional, da polícia, do pensamento, do Big Brother e outros temas Orwellianos, nas análises de vigilância e punição de Foucault tão relevantes na sociedade contem-porânea. A frase "destruí a televisão estava farto de mentira" foi escrita após um período de vida em que optei por não ter televisão em casa e preferi, durante uns anos, seguir o percurso da desintoxi-cação mental de algum lixo que diariamente nos é dado “a comer” pelos meios de comu-nicação social, desde sempre utilizados de forma a servir fins políticos e para promover determinados estados de espírito colectivos, sendo muitas vezes a arma primordial do sistema. Não quero desta forma dizer que a televisão é a raiz de todo o mal, pois é evidente o seu potencial cultural se for bem canalizado, mas tendo em conta a sua base comercial não posso ignorar que a caixa mágica há muito é usada para nos instru-mentalizar.

Vivemos, sem dúvida, tempos conturbados para a economia mundi-al, sinto que descemos a velocidade descontrolada o novo looping desta montanha russa . A sombra da iminente falência da segurança social e a desconfiança no sistema bancário fomentam a existência de economias

O Olho que vê tudo

André Neves (Maze) - Dealema

paralelas. Agudiza-se a guerra do poder, quem o tem agarra-se a ele com unhas e dentes mantendo viva a ideia de que não existe abundância suficiente neste planeta para todos vivermos bem, perpetuando a sua permanência no topo da cadeia alimentar, quem não tem poder luta pela sobrevivência, movido pelo instinto animal, tenta escalar um pouco essa pirâmide de forma a atingir uma determinada zona de conforto. Este período de obsolescência programada, vigilância constante, vida virtual, bombardeamento de informação e alienação consumista provoca uma natural reação e fico feliz quando vejo os meus pais a cultivarem uma pequena bio-horta na varanda ou amigos a trocar os seus carros por bicicletas, consumidores a libertarem-se da “vergonha” da compra de produtos em segunda-mão, alegra-me perceber o crescente número de pessoas a fazer jogging nas ruas, por verificar que existe maior cuidado com a alimentação e o combate preventivo da doença. Fico feliz também com as mensagens deixadas nas paredes brancas das ruas, pelos Banksys deste mundo fora que apelam à mudança de consciência que mesmo que demore 25, 50 ou 100 anos a ganhar uma dimensão global é uma locomotiva sem freios rumo á verdadeira libertação das grilhetas do capitalismo e à verdadeira revolução económica.

“Destruí a televisão, estava farto de mentiraComunicação social é a arma estatalQue controla o mental, lança o pânico geralNa área, cancelei a conta bancáriaA reforma está guardada debaixo do colchãoPara sobreviver à bancarrota planetáriaCuidado, eles andam a cruzar informação

Vigiar e punir, promover a ignorânciaPara manter o poder, dominar desde a infânciaIludir e mascarar a infinita abundânciaQuerem perpetuar o fermento da ganânciaPropagandear a crise com voto unânimeImpedir-me totalmente de ascender na pirâmide”

Sociedadeem cativeiro

O aumento do nível de aquicultura é preocupante. Dos maiores problemas deste país e completamente ignorado.

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Sociedade

1ª liga da culpa e do tacho

Com o final do campeonato de futebol os Portugueses têm finalmente neurónios disponíveis para dedicar a modali-dades “menores”, mas não menos interes-santes.Uma das modalidades em destaque é, claro, a política nacional. As regras são algo ambíguas. Por um lado dizem as regras (constituição) que todas as equipas participantes estão lá para representar a vontade dos cidadãos e, independentemente de ideologias lutar pelo bem do país, por outro, nenhuma das equipas se dedica a isso, optando por outras vias para ganhar o campeonato.

Distribuir tachos a amigos, e dizer que a culpa de tudo é de quem lá esteve antes, são jogadas famosas. E de quem é a culpa realmente?Quem for Português, tiver cérebro, e uma pitada de cultura saberá que o nosso país tem imenso potencial e que já provámos o nosso valor diversas vezes. Então porque estamos tão miseráveis? Talvez o leitor tenha inúmeras ideias de pessoas e entidades culpadas, mas provavelmente estará a esquecer-se destes dois culpados:1 – O sistema. Parece cliché mas com um

pouco de estudo, (lendo sobre o método de D’Hondt, “Gerrymandering”, o financiamento dos partidos e o voto útil entre outros), as falhas na forma de funcionamento do nosso Estado, e desta balbúrdia que as pessoas chamam democracia, explicam perfeita-men-te como este sistema incentiva a medi-ocridade e porque são sempre os mesmos no poleiro.2 – Se há culpado da situação do país é o “Zé Povinho”. O sistema incentiva a mediocridade, não a cria. Se o “Zé” não fosse inculto, mesquinho, invejoso e com um valente complexo de

inferioridade Portugal podia ser um país rico! “É impossível hoje em dia ser pequeno e poderoso!” É?! Então aqui fica algo em que pensar: A Coreia do Sul que tem aproxi-madamente a mesma área que nós, (110 mil km2 e nós 92 mil km2), em 1960, destroçada da guerra, sem recursos naturais, com apenas 20 milhões de habitantes, sem mão-de-obra especializada, e sem a nossa história de conquistas e riqueza começou um crescimento que a tornou a 15ª econo-mia do mundo. Se eles conseguiram, do quê que nós estamos à espera?

Artigo: Vasco de Sousa de Câmara

Entre Francesinhas

A chamada “liberalização do merca-do de Trabalho” é um conceito tão mítico quanto suficientemente equívoco para procu-rar fazer passar a ideia de que as reformas laborais em curso seriam tão modernas e inelutáveis quanto indispensáveis para o reforço da produtividade e da competitividade da nossa economia. Nada de mais falso, porém! Por um lado, tais reformas pretensa-mente tão “avançadas” e “actuais” não passam de um remake das reacções legislati-vas às várias crises do sistema capitalista, e muito em particular das reformas dos anos 70 e 80 do século passado, e chamadas de “emergência” ou de “crise”. Por outro, porque, entendendo-se por “liberalização” o que se queira entender (mas normalmente significando a facilitação e o embaratecimento das formas precárias de contratação e dos despedimentos), não existe nenhuma demonstração científica de qualquer relação causa-efeito entre tal “liberalização” – ou, como é frequente referir-se, “flexibilização” – e aumento da produtividade. Em terceiro lugar, porquanto a afirmação – mil vezes repetida mas nem por isso menos falsa – de que a nossa legislação laboral era antes do Código do Trabalho de 2003, e ainda agora seria, das mais “rígidas” da Europa e até do mundo, não é verdadeira, sendo que já estudos como os de Colin Crouch* do final dos ano 90 permitiam definir Portugal como um País dos mais baixos níveis de regulamentação do mercado de Trabalho e o nosso sistema jurídico-laboral como “duro, desregulado e dominado pelos empre-gadores”. E se tal era assim em 2002, com o Código de 2003 e as suas sucessivas alterações, em particular as de 2012, ainda mais se tornou.

Em quarto lugar porque o discurso de que a economia portuguesa se caracterizaria por custos unitários do trabalho demasiado eleva-dos e por diminutas horas de trabalho é, também ele, redondamente falso, convindo recordar que, segundo o próprio Eurostat, em 2011 o custo-hora de trabalho era na UE-27 de 23,10, na Espanha de 20,60, na Alemanha de 30,10 enquanto em Portugal era de 12,00! E, por outro lado, de acordo com os próprios dados da OCDE, no mesmo ano de 2011 o número médio de horas anuais do trabalhador português foi de 1.711 enquanto o do alemão foi de 1.443, ou seja, menos 298!

Assim, a tão proclamada “liberal-ização” visa apenas justificar ideologicamente o destino que os sucessivos governos, e em particular o actual, pretendem impôr aos trabalhadores portugueses e que é o de, num País que praticamente nada produz e em que mais de 85% do PIB provém do sector dos serviços, quase todos de baixa qualificação, serem os “chineses da Europa” para assim enriquecerem ainda mais os credores de uma dívida pública cada vez mais impagável e que não foi o Povo Português que contraiu nem foi contraída em seu benefício. Os resultados as reformas da “liberalização”, como é hoje cada vez mais evidente, só podem ser os do aumento exponencial do desemprego, da miséria e da fome e a destruição da economia do País.

*Ver “Revised diversity: from the neo-liberal decade to beyond Maastricht”, Industrial Relations in Europe – traditions and transi-tions, coord. J. Van Ruysseveldt e J. Visser, Londres, 1996.

Antes de mais é necessário desmisti-ficar e compreender a definição de mercado de trabalho liberalizado. Esta necessidade advém da exposição dos media tendencial-mente negativa e dos argumentos, na maioria dos casos, falaciosos que não motivam o pensamento crítico de quem os ouve ou lê. Posto isto, entenda-se como mercado de trabalho liberalizado, um mercado em que as partes contratantes têm a possibilidade de discutir preço, condições e obrigações do contrato em causa, como entenderem. É importante, então, apresentar algumas das vantagens que esta organização

do mercado de trabalho pode trazer à socie-dade em geral, contrariamente à pré-concebi-da ideia de um aumento exponencial do desemprego. Em primeiro lugar podemos afirmar que num mercado laboral liberalizado, a inovação e a informação fluem com maior rapidez entre as empresas, face à maior movimentação de trabalhadores e técnicos das mais diversas áreas, potenciando o desenvolvimento da economia e o crescimen-to da produção no sector industrial. Depois, e contrariamente ao geralmente defendido, um mercado laboral liberalizado tem uma maior profundidade no que ao número de empregos disponíveis em determinado período de tempo diz respeito, isto é, a empresa tem mais facilidade de rescindir os contratos em caso de descontentamento, mas isso também permite aos trabalhadores mais oportuni-dades de carreira em diversas áreas, fieis à noção de que mais emprego leva a uma maior movimentação da força laboral. Analoga-mente esta possibilidade de contratação/re-scisão leva a uma maior facilidade de coadu-nar a vontade do trabalhador com a da empre-sa, ou seja, escolher o par salário/função que mais lhes convêm.

De fácil explicação é, também, a capacidade crescente de reestruturação das empresas em caso de mercado de trabalho mais flexível, na medida em que o trade-off capital por trabalho e vice-versa se torna mais acessível e a reorganização das mesmas uma realidade mais fácil de atingir. Ora, para além disso, e consideran-do os salários elevados como uma causa de desemprego em períodos de maiores dificul-dades de pagamento, podemos afirmar que num mercado de trabalho liberalizado as contratações/despedimentos são mais frequentes, levando as entidades patronais a rever em baixa o seu tecto e massa salarial, ajustando a oferta e a procura através de uma redução dos preços, ao contrario do que acontece num mercado inflexível em que a procura e a ofertam não se ajustam e os trabalhadores excedentários saem directa-mente para o desemprego. Finalmente e por último lugar, temos a questão da avaliação do risco das contratações, ou seja, a capacidade dos empregadores de avaliarem o “futuro” das suas contratações de hoje, o que num merca-do rígido irá levar a uma tomada de posição conservadora e de restrição da contratação, caso estejam descontentes com a produtivi-dade dos vários elementos da sua cadeia produtiva. Mercado de trabalho liberalizado é sinonimo de mais oportunidades, de maior selecção natural no processo produtivo.

David Pato Ferreira

Estudante do ISEG

António Garcia Pereira

Doutor em Direito, Profes-sor Auxiliar do ISEG,

Advogado Especialista do Direito do Trabalho

Liberalização do Mercado de Trabalho

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08 | ISEG

EditorialEntrevista

23 de Maio - 2013

1 - Concluiu os seus estudos no ISEG num período de profunda transformação política e social em Portugal, em 1975. Quais eram as expectativas de futuro para um jovem com um percurso académico de excelência como o seu?

As perspectivas eram muito boas, ainda melhores quando compara-das com a situação de hoje. A razão é simples: o acesso ao ensino superior na altura era bastante mais limitado. Só pessoas que disfrutavam de alguma riqueza ou pessoas com alguma sorte (como foi o meu caso) é que tinham acesso ao ensino superior. Eu tinha que me deslocar da província para Lisboa e só a chamada pensão ou aluguer de quarto custava muito dinheiro, não estava ao alcance de um operário ou de um trabalhador agrícola, longe disso, era impossível com os ordenados que se recebiam nessa altura. Tive acesso a uma bolsa da fundação Calouste Gulbenkian ainda durante o meu curso do secundário, foi uma preciosa ajuda. Tive também a sorte de conseguir ficar na residência universitária perto da Estrela. Pagava pouco, até porque essas residências eram financiadas pelos serviços sociais da universidade. Além disso, a primeira coisa que eu fiz quando cheguei a Lisboa foi trabalhar. Logo no verão de 1966, antes mesmo de ter entrado na universidade, arranjei

EMANUEL DOS SANTOS BIOGRAFIA

Nome: Emanuel Augusto dos Santos

Data de nascimento: 22 de Junho de 1951

Formação: - Licencidado em economia, pelo Instituto Superior de Economia, hoje ISEG- Grau mestre em Economia pela Univesi-dade Nova de Lisboa

Cargos exercidos: - Secretário de Estado Adjunto e do Orça-mento entre 2005 e 2011- Diretor-Geral de Estudos e Previsão do Ministério das Finanças - Vogal do Conselho Diretivo do Instituto de Gestão do Crédito Público. - Membro do Conselho Superior de Es-tatística e do Conselho Económico e Social. - Membro do Comité de Política Económi-ca e do Comité Económico e Financeiro da União Europeia- Docente no ISEG e na Universidade Nova de Lisboa

emprego, não era tão difícil como é hoje. Vivíamos um tempo completa-mente diferente do que vivemos hoje, quer do ponto de vista das saídas profissionais, que eram muitas até porque o número de licenciados naque-la altura comparado com o actual era menor. Ter uma licenciatura era de facto um passaporte para o emprego. Lem-bro-me que os licenciados que não encontravam lugar nas empresas tinham lugar no ensino. A democra-tização do ensino deu emprego a muitos licenciados em economia. O primeiro emprego mais fácil era ser professor do secundário. Eu, mesmo antes de acabar a licenciatura, fui professor provisório na escola secunda-ria do Montijo.

“Se tivermos que acredi-tar em alguma coisa e a escolha for entre merca-dos e estados, eu prefiro acreditar nos estados”

2 – Considera que esse período foi importante para a formação da sua ideologia económica e política?

Tenho para mim que as pessoas têm um lado de inato, por assim dizer, que nasceram assim, com as suas qualidades e tem outro lado que é o circunstancial, o adquirido. São estas duas coisas que fazem a personalidade. Eu penso que nasci com alguma curiosi-dade para as coisas e desde muito pequenino comecei a ler jornais. As únicas acções cívicas em que eu estive envolvido, antes de me mudar para Lisboa, foram grupos católicos progressistas porque a igreja dava um pouco de liberdade de expressão. Discutia-se mais as questões dos jovens do que política porque isso era arriscado de maneira que quando vim pra Lisboa havia uma abertura maior. Havia já um fervilhar de ideias, já me chegavam coisas semiclandestinas. Nós éramos estudantes de economia e como sabem há uma figura marcante no pensamento económico mundial e que teve uma influência marcante, por exemplo, na formação das nações de ideolo-gia socialista: Karl Marx. Existia, inclusive, na altura uma cadeira onde se estudava a teoria marxiana. Quando eu entrei não era livre mas criávamos, conseguíamos criar espaços totalmente livres na asso-ciação de estudantes, liberdade de reunião e expressão, porque isto a liberdade também se conquista. Era um estudante sério principal-mente nas cadeiras de matemática, gostando de mostrar que podia ser contestatário e bom estudante, são coisas inatas, tal como gosta-va de ler também gostava dos números. Essa experiência marcou muito a minha vida e marcou mais tarde eu ter aceite o lugar no gover-no de Portugal como aconteceu em 2005.

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Entrevista

3 - Avançando um pouco no tempo até à actualidade e ao passado recente em que teve responsabilidades governativas e escreveu um livro intitulado “Sem crescimento não há consolidação orçamental”. Num país que não é reconhecido por uma cultura de rigor orçamental, como foi pos-sível nos primeiros anos de mandato manter o défice abaixo dos 3%?

Muita persistência e uma orientação política muito determinada que conju-gava a consolidação orçamental com o crescimento económico.Quando entrei no governo, no primeiro trimestre de 2005, a economia estava praticamente em recessão técnica. Houve reformas que mesmo não sendo directamente orçamentais prepararam o futuro para que as contas públicas fossem efectivamente equilibradas. Estabelecemos, também, a convergência do sistema público com o sistema privado, começado em 2005, e fizemo-lo de uma forma séria e transparente, onde a idade da reforma aumentaria para os 65 anos de idade e no futuro 6 meses por ano. O que este governo fez foi saltar um ano e acabar com esse período que eles decidiram antecipar, encontrando obviamente resistências. Fomos tomando medidas de crescimento económico que per-mitiram em 2007 ter um crescimento de 2,4%, não se esqueçam disso, porque a opinião generalizada é que Portugal teve uma década perdida de crescimento mas em 2007 o crescimento criado dava para gerar emprego. Algumas medidas estabele-cidas mereceram o aplauso e os elogios das organizações internacionais como OCDE e FMI, um trabalho que eu vos convido a ver nos relatórios da OCDE de 2008. Implementámos também o sistema de avaliação do CIADAP e o programa Simplex para a desburocratização da administração pública.

“Se viesse um extraterrestre e aterrasse aqui em 2006 ou 2007 e olhasse para algumas manifestações, podia achar que havia qualquer coisa que não estava a correr bem neste país, todavia, se depois fosse olhar para os dados orçamentais via que existiam resultados. Neste momento existem igualmente manifestações de rua, a diferença é que nós tínhamos consoli-dação orçamental, o que não acontece hoje.”

4 - Com que frequência se recorre a práticas de desorçamen-tação e a receitas extraordinárias para manter as contas públicas em ordem? Até que ponto é que isso contribui para chegar à situação a que chegámos? Fiz uma caixa no meu livro onde o título era “défice oculto”. O “défice oculto” é um conceito muito simples, que tem, obviamente, as suas limitações mas que se baseia nisto: a dívida pública cresce com os suces-sivos défices públicos e se não houvesse desorçamentação nem operações de outra natureza que inclusivamente trazem receitas, como privatizações, a nossa dívida pública seria um somatório dos défices passados. O que acontece em boa medida para ver o “défice oculto” é comparar o défice que é reportado e o défice oficial com a variação homóloga anual da dívida pública e isso com o défice de todas as AP. Tenho um gráfico que mostra que a maior parte da desorçamentação foi antes da entrada no euro e até meados da década de 90, sendo aí que está a evidência maior explicada por um regime monetário diferente. O da União Monetária é mais exigente em termos orçamentais e não se iludam com a ideia de que o País andou a desorçamentar nos últimos 15 anos.”

“Eu não sou crítico de todas as Parcerias Público-Privadas. Critiquei algumas, sobretudo as rodoviárias mas apoio as da saúde. Apoio o TGV, visto que a grande maioria do investimento viria de fundos comunitários e neste momento teríamos um elo de ligação Lisboa-Madrid, que estou convencido ser importante.”

5 – O que está por detrás do aumento dos números do défice após o aparecimento da crise? Foi uma resposta à crise? Foi derivado da crise mundial?

“Existem dois factores: o mais óbvio é a própria crise, o segundo uma diminuição das receitas em 13,9%. Este último teve um impacto tremendo no défice, o que quase só por si explica a derrapagem dos números do défice somado de alguma despesa que realizámos. Contudo, não deve-mos olhar apenas para nós. O salto da Finlândia que passa de um excedente para um défice é tão grande como o de Portugal.”

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Editorial Entrevista

23 de Maio - 2013

Economia

A crise não se esconde. Revela-se desafiante, dolorosa mas interessante. Sem pedir licença entra por nós, por todo o lado e a toda a hora. No entanto, no meio de tanta agitação que a estrutura actual da Sociedade nos proporciona, nem sempre temos tempo para ter tempo para reflectir sobre as suas verdadeiras causas. Falo de crise, evidente-mente, num sentido mais amplo da palavra, não apenas a económica e financeira que, para mim, nem é de todas a pior. Ao longo das últimas décadas, um pouco por toda a Europa, o sistema de ensino caminhou para a primazia das ciências exactas em detrimento das ciências sociais e humanas. As escolas transformaram-se em laboratórios de procedimentos experimentais mecanizados e não em espaços abertos de livre pensamen-to, de reflexão e desenvolvimento de espírito crítico e vontade de conhecimento. O gosto pelo verdadeiro saber é cada vez menor, reflexo do processo produtivo que as escolas hoje representam. Há uma linha de produção. Entra-se jovem, sai-se já empacotado e certifi-cado. Certificação, muitas vezes, longe da verdadeira formação. Tudo isto é muito pouco, não é? Fomos criando uma geração – e quando digo fomos refiro-me, logicamente, ao conjunto de todos nós – sem valores. A competição a todo o custo reina, a ausência de verdadeiras amizades impera. A crença no visível e material e o descrédito no intangível é rainha. A recusa de um bem comum, de uma partilha de recursos de forma equitativa é imperatriz. Uma sociedade sem valores autodestrói-se. Não respeita os recursos naturais, a dignidade à vida e ao bom tratamento de todos os seres vivos, não respei-ta o seu semelhante e o direito à sua diferença. Assim, a crise económica é apenas uma das muitas crises consequentes de uma sociedade em que o sistema de ensino não funciona. Em que os professores são mais burocratas (por força do regime) do que teste-munhas do gosto pelo saber. Em que o ensino técnico esquece a incrível beleza pela paixão da figura do ser humano e os valores fortes (e dignos) do Cristianismo (e outras doutrinas) só chegam a um conjunto restrito de pessoas. A Economia actual faz-se, assim, no vazio. Faz-se para ninguém, sem o conceito humano estar presente, sem a fé do Homem guiar a sua razão. Sem haver união entre as diferentes nações e estados. Só quando voltarmos a perceber que nem tudo é números e que o sistema de ensino deve ser ferramenta para formar estaremos aptos para ultrapassar estas crises. Só quando um novo sistema de valores se voltar a debruçar sobre o gosto pelo saber, sobre os valores doutrinais de enriquecimento humano poderemos resolver os nossos problemas. Só quando o Homem voltar a dominar sobre a Tecnologia (tirando o máximo proveito dela sem se destruir), quando olhar para o conheci-mento como a maior defesa e para a fé (no sentido mais lato) como o caminho para a Verdade, só aí a crise terminará.

Paulo Matos Mateiro, ISEG [email protected]

A Economia e a Fé. O actual sistema de educação na origem da crise

6 – Olhando para o Memorando e afastando as razões que nos levaram ao pedido de ajuda externa existe um excesso de ideologia no memorando?

“Antes de mais, não nos esqueçamos que o Memorando que temos hoje não é o inicialmente negociado. Poste-riormente, o actual Governo negociou mais austeridade do que aquela que era exigida. Isso foi um erro. Mas o memo-

rando inicial é mais tecnocrático que ideológico. Reforçar a austeridade foi um erro de pal-matória e se foi para isto que os contribuintes andaram a gastar dinheiro, para pagar a formação dos actuais economistas, não valeu a pena. Não ex-istem políticas contracionistas expansionistas, tiremos isso da ideia. Existe um grande consenso entre os especialistas a cerca dessa matéria, alguns deles vieram a Portugal afirmar isso mesmo. Hoje em dia, segundo a ideolo-gia oficial, tudo o que é Keynesiano é mau”.

7 - O professor Ferreira do Amaral é um grande defensor da saída do Euro, partilha desta ideia? Consid-era que esta é uma boa opção para a saída da crise?

“Teoricamente é uma alternativa. Porque na prática para passar por isso vamos ter um momento de transição de sérias dificuldades. O que o professor Ferreira do Amaral defende é uma saída ordenada, o problema é que essa saída ordenada não está prevista. Os arquitectos do Euro não previram essa possibilidade simplesmente. Devemos tentar adaptarmo-nos antes desta alternativa radical que é a saída do euro.”

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O Salário Minimo e Portugal

Numa altura em que o povo portu-guês se vê abraçado com uma crise sem par na memória recente e esta forçou muitas famílias a viver das mãos à boca, levan-tou-se assim a hipótese de subir o salário mínimo nacional (SMN) como meio de aliviar esta situação. A proposta da subida do SMN gerou um consenso entre sindicatos e confederações patronais nesse sentido. O Governo foi o único opositor, justificando-se nas palavras do Primeiro-Ministro: «pôr o Governo a determinar por lei o aumento do salário mínimo seria o melhor presente envenenado que poderíamos dar às pessoas, às empresas e ao país.» O Passos Coelho, licenciado em Economia, deixa transparecer na sua intervenção um típico raciocínio neoclássico: se o salário mínimo for superior ao de equilíbrio, então a procura de trabalho diminui e o desemprego, consequente-mente, aumenta. No entanto, como outros fizeram questão de salientar, esta análise émeramente parcial. Como estamos numa depressão – há desemprego de recursos –,

o aumento dos salários nominais traduz-se num aumento dos salários reais, o que aumenta a procura agregada, seguindo-se o produto e daqui resulta um aumento da procura do trabalho. É bem possível que o aumento do salário mínimo diminua o desemprego. Contudo, o nosso caso não é assim tão simples. O grande desafio de Portugal é a sua transformação numa economia expor-tadora, o que passa pela substituição de procura interna por externa. O aumento do salário mínimo traria o efeito oposto: aumen-taria a procura interna, e daí as importações; além de aumentar os custos do trabalho, o que dificultaria as exportações – os exporta-dores portugueses são largamente price-tak-ers. Um meio de ultrapassar este problema passa pela criação de um salário mínimo diferente para cada sector de activi-dade. Não só permite que os produtores de bens transaccionáveis não sejam afectados, como permite concentrar o aumento nos sectores com rendas excessivas.

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Economia sem Fronteiras

govina tornou-se numa grande conflito que deu origem à Guerra da Bósnia. Foi consider-ado o maior conflito étnico-religioso ocorrido na região obrigando à intervenção da ONU e da NATO. A desintegração da antiga República Socialista Federativa da Jugoslávia está relacionada com a coexistência de diferentes etnias, religiões e culturas num só país. Foi esse moisaico que deu origem a vários confli-tos étnicos e religiosos que conduziram, por seu turno, a conflitos político-económicos. Em 1992, a U.E. reconheceu todas as nações como independentes e a Jugoslávia mudou o seu nome de República Socialista Federativa da Jugoslávia para República Federal da Jugoslávia constituída pela Sérvia e Montenegro. Entre 1992 e 1995 a Jugoslávia foi alvo de várias sanções económicas que

Economia

Cataclismo político, social e económ-ico. Menos não bastaria para descrever as consequências da resposta neo-liberal à crise que assola o Ocidente. A mutilação infligida tanto no colectivo como no indivíduo terá efeitos permanentes. Os povos estão hoje em síntono num desânimo cabisbaixo, devasta-dor para uma sociedade, quanto menos para o pulsar de uma economia. A resposta falhada à crise económica foi marcadamente neo-lib-eral, ainda que expansionista. Parecia fácil demais. O sistema financeiro internacional era um castelo de cartas, que se desmoronava a velocidade relâmpago. Amedrontados, cedemos a que a dívida acumulada pela irresponsabilidade dos banqueiros – que viveram e continuam a viver num luxo desav-ergonhado – fosse transferida para todos nós, na figura do Estado. Tamanho ‘despesimo’, viria a Direita depois dizer, exigia o desman-telamento do Estado Social – Escola Pública, SNS, Segurança Social – lançando assim um golpe ao capital social e humano essencial para o desenvolvimento económico, como também uma transferência de riqueza dos pobres para os ricos sem precedentes. A elite continua a desfrutar enquanto a família trabalhadora paga. Nada disto é novo. Durante anos, o neo-liberalismo, através do FMI e do Banco Mundial, forçou a guerra e a pobreza onde antes havia a paz e a prosperidade, desde a América Latina, aos Ex-Soviéticos, até aos Tigres Asiáticos. Aí também se viviam situações terríveis, até

piores que as atuais na Europa, como por exemplo com a chacina e tortura operada pelas ditaduras latino-americanas. Os anos passaram e as multidões liberais da Europa chocavam-se. Mas até agora, era impensável sugerir uma alternativa realista. Ainda hoje não a conhecemos. Na realidade, de acordo com dados de Mitchell Orenstein, o mundo tem-se desliberalizado desde os anos 2000. Mas a hegemonia ideológica permaneceu, e esta crise foi uma nova oportunidade para avançar a sua agenda. Os resultados estão à vista e obrigam-nos a reavaliar a realidade. Há hoje uma crescente certeza de que este paradigma tem que ser substituído. A Europa unida, nunca antes tão integrada e interde-pendente, sente as consequências recessivas da austeridade que auto-impõe. Nunca se pensou que a pobreza e o desemprego poderia voltar a ser tão grave a norte do Mediterrâneo. O neo-liberalismo está a auto-destruir-se e cada vez mais reconhece-mos que ele tem de ser substituido enquanto paradigma. É pena que tenhamos demorado tanto a perceber. É triste que apenas dêmos por isso agora – que o monstro neo-liberal já ateou fogo a toda a nossa Civilização, agora que são as nossas casas e não as dos outros que estão a arder. Mas, enfim, mais vale tarde, que nunca. Haja esperança e vigor intelectual. O neo-liberalismo não passarádos pobres para os ricos sem precedentes.

A auto-destruiçãodo neo-liberalismo

Miguel Costa MatosEstudante da Universidade de Warwick, Reino Unido

SÉRVIA A Sérvia é um país europeu, uma ex-república Jugoslava, cuja capital é Belgra-do, uma cidade com 1.710.000 habitantes. É o país onde eu nasci em 1992 e no qual vivi até aos meus 8 anos de idade e que quero dar a conhecer neste artigo. A República Socialista Federativa da Jugoslávia, criada por Josip Broz Tito, foi um sistema político-étnico constituido por seis repúblicas (Sérvia, Croácia, Eslovénia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Macedónia) cinco etnias, quatro línguas, três religões, dois alfabetos e um partido. Durante a Guerra Fria, apesar de ter um governo socialista, o país permaneceu neutro. Foi uma das nações fundadoras do Movimento dos Países Não-Al-inhados juntamente com o Egipto e a Índia. Em 1991, a Jugoslávia separou-se da Eslovénia, Croácia, Macedónia e Bósnia e Herzegovina. A separação da Bósnia e Herze-

originou uma hiperinflação. Nessa altura o salário mensal de uma pessoa dava para comprar, por exemplo, apenas um pacote de leite. Esta altura foi especialmente dolorosa para o meu povo. Em 1999, Belgrado foi bombardeado pela NATO, devido à guerra do Kosovo. A NATO exigia que Slobodan Milosevic (Presi-dente da Sérvia entre 1989-1997 e da Repú-blica Federal da Jugoslávia entre 1997-2000) aceitasse as bases de acordo de paz de Rambouillet. Setenta e nove dias depois , os líderes ocidentais e Milosevic chegaram a um acordo para por fim à guerra do Kosovo, onde foi instaurado um governo provisório sob tutela de ONU. No início do processo de transição do socialismo para o capitalismo (1989), as perspectivas económicas da Sérvia não se verificaram pelos graves efeitos das sanções

económicas impostas pela ONU de 1992-1995, instabilidade política e destruição de parte da infra-estrutura e parque industrial durante a Guerra de Bósnia. No ano de 2012, a Sérvia foi classifi-cada pelo Banco Mundial como uma econo-mia média emergente. Apresentou, nesse mesmo ano, uma taxa de crescimento do PIB de 0.5 % e uma taxa de desemprego de 23.9 % que caminham lado a lado de um elevado défice e endividamento nacional.

Sara OstojicEstudante do ISEG

João RuivoEstudante do ISEG

Page 12: 1º Edição do Jornal 1911

12 | ISEG

EditorialNegócios e Mercados

23 de Maio - 2013

Numa altura em que o país atravessa uma crise socioeconómica profunda, o merca-do de trabalho em Portugal espelha também a conjuntura adversa, transversal a quase todos os sectores. A taxa de desemprego atingiu níveis históricos e, para os jovens, nomeada-mente aqueles que têm formação superior, a situação apresenta desafios para os quais é cada vez mais importante estar bem prepara-do. De facto, perante as actuais adversidades é necessário repensar os percursos e

possível apenas pela análise de um currículo. Concluindo, pela observação do mercado de trabalho, é certo que as melhores oportunidades, para quadros superiores e lugares de direcção, são mais acessíveis, se não mesmo exclusivas, para pessoas cuja formação académica, tanto a nível de licencia-tura como pós-graduada, é mais sólida. Por isso, vale a pena investir na formação, dinamizar as experiências pessoais e profis-sionais e, na hora da apresentação pessoal, saber valorizar o perfil individual, de modo a alcançar os objectivos. Porque em tempos adversos, este é o caminho mais seguro para o sucesso.

A importância da formação

mais marcada e, exactamente por isso, a construção do percurso deve ter em conta a valorização em diversas vertentes. Mas, apesar do grande peso que a formação académica e a experiência profis-sional têm na altura de conseguir uma colocação, há ainda que não descurar a postura pessoal num processo de recruta-mento e selecção. Efectivamente, para além de ser determinante que o currículo se destaque, permitindo o acesso a fase de entrevista para uma posição, a abordagem e apresentação numa entrevista é um factor determinante, é um cartão-de-visita da postu-ra profissional, perante o projecto e perante os desafios propostos. No fundo, a preparação adequada de uma entrevista, permite demon-strar o perfil de cada um de forma mais pessoal e transmitir uma impressão humana dos valores e expectativas, que não seria

dinamizar as experiências pessoais, académi-cas e profissionais, de modo a que a adaptabi-lidade ao mercado de trabalho seja mais efectiva. Na realidade, ainda que ter um curso superior não seja, por si só, garantia de emprego imediato, a aposta na formação académica constitui, sem dúvida a principal ferramenta para que a médio/longo prazo seja possível evoluir profissionalmente, potencian-do a capacidade de atingir posições em quadros superiores no mundo empresarial. Mas para além da formação académica, é hoje uma mais valia apostar também em formação adicional, na aprendizagem de outras línguas e em intercâmbios internacion-ais, entre outras, de modo a enriquecer o currículo e com isso promover o destaque na altura da integração no mercado de trabalho. Sem dúvida, a competitividade é hoje muito

Pedro Martins

Senior ConsultantMichael PageEngineering & Manufacturing

Afastados os complexos que poderi-am condicionar um posicionamento sobre a matéria, importa analisar o que está em causa. Claramente, está em causa a sustenta-bilidade do Estado Social. Seja qual for o caminho pelo qual cheguemos a essa conclusão, é impossível ignorar a sua relevân-cia. Atendendo ao caso português, é fundamental saber que Estado Social quere-mos e como pretendemos financiá-lo. Deve-mos fazê-lo sem ideias pré-concebidas. Evitando partir da obrigatoriedade de cortes cegos ou da impossibilidade de reformas. Reformar o Estado Social para conseguir a sua sustentabilidade tem que ser uma tarefa que promova um largo consenso social. Nesse sentido, devem discutir-se medidas como: a eliminação da duplicação de sistemas; o fim de regimes excepcionais; a convergência de regimes com diferentes graus de generosidade; o aprofundamento da

É suposto, ao discutir o Estado Social de uma perspectiva ideológica, tomar partido sobre um quadro definido à partida. De um lado estão os defensores do Estado Social, do outro lado estão os defensores do Estado Mínimo. Parece-me um quadro redutor e pouco útil. Prefiro uma perspectiva reformis-ta que permita a sustentabilidade do Estado Social, com ganhos de eficiência, aprofunda-mento da equidade e maior liberdade de escolha. Ao contrário do que muitas vezes é afirmado, o Estado Social não é património da esquerda, muito menos das esquerdas. Se é indiscutível o papel da social-democracia na criação e desenvolvimento do Estado Social, não menos importante foi o contributo da democracia-cristã. Basta para isso atender-mos ao que aconteceu na Alemanha ou nos países nórdicos, onde o Estado Social sempre foi uma construção consensual, para a qual todos contribuíram.

Estado Social: Reformar e Crescer

Editorial Economia

utilização da condição de recursos e o aproveitamento de sistemas complementares. Ainda assim, devemos ter consciên-cia que as duas maiores limitações à sustent-abilidade do nosso Estado Social não se resolvem com a sua reforma. São limitações expressas na evolução de indicadores tão claros como o rácio de dependência de idosos ou o crescimento do PIB. Desses indicadores retiramos a conclusão de que há dois proble-mas estruturais na base da difícil sustentabili-dade do nosso Estado Social. Sem cresci-mento económico e sem aumento da natali-dade não conseguimos resolver o problema. Por isso, convém que tenhamos atenção ao primeiro porque é também condição do segundo. Resumindo, por mais cortes que se façam, sem crescimento económico é muito difícil sustentar o Estado Social.

Artigo: João Pinho de AlmeidaDeputado do CDS

“Ao contrário do que muitas vezes é afirmado, o Estado Social não é património da esquerda, muito menos das esquerdas”

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Page 13: 1º Edição do Jornal 1911

23 de Maio - 2013 ISEG | 13

Notícias

02/04Portugal com maior quebra nos depósitos

das empresas entre os países da zona euro

03/04

Dificuldade de acesso ao crédito bancário e desaceleração económica são as principais razões. Menos 19,1% em termos homólogos.

Desfaz-se a ilusão de um aumento das receit-as fiscais

Enorme aumento de impostos para 2013, com o objectivo de aumentar as receitas fiscais em 9,6%, defrauda as expectativas contribuindo com um aumento de apenas 0,3% até Fevereiro relativamente a período homólogo.

04/04Empresas em lay-off aumentam 60% no espaço de um ano

05/04 Miguel Relvas demite-se após processo da sua licenciatura

08/04Vítor Gaspar emite despacho proibindo qualquer despesa sem a sua aprovação

12/04 Venda da ANA rende apenas 2400 milhões aos cofres públicos

Miguel Relvas é substituído por Marques Guedes e Poiares Maduro

16/04 Exportações da Galp crescem 17,4% no primeiro trimestre do ano 2013

Fim da crescente valorização do ouro

Valorização do dólar, das acções e receios sobre a inflação são as razões que levaram a uma quebra 29% na cotação do metal precioso face ao máximo histórico após um ciclo de 12 anos de valorização.

17/04 Recessão e altos níveis de desemprego pressionam Segurança Social a pedir

reforço orçamental

23/03

23/04

Hospitais recebem transferências de 862

milhões de euros

Carris ultrapassa limite de dívida

fixada pelo GovernoO limite da dívida fixada pelo Governo para a Carris era de 5% e a mesma aumentou em 6%.

Tx. Desemprego (%) 2011 2012 (1ºT) 2012 (2ºT) 2012 (3ºT) 2012(4ºT) 2013(1ºT) Portugal 12,7 15,7 15,0 15,8 16,9 17,7

Área Euro 10,2 11,4 11,3 11,5 11,8 12,0

Page 14: 1º Edição do Jornal 1911

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Editorial Notícias

23 de Maio - 2013

Estratégia de crescimento do Governo passa pela salvação das PME exportadoras

30/04

Plano inclui banco de fomento a PME exportadoras e vai gerir fundos entre 4 a 6 mil milhões de euros, a partir de 2014, podendo ainda obter reforço nesse ano com o programa de reindustrialização da UE

02/05

Aluno de 28 anos, Thomas Herndon, estudante de Massachusetts descobre erro no estudo da austeridade feito por Rogoff e

Reinhart

03/05Presidente do BCE, Mario Draghi, baixa taxa de juro de referência para mínimo histórico

de 0,5%, na esperança de revitalizar a economia europeia

07/05

Governo emite 3000 milhões a 10 anos em bilhetes do tesouro a uma taxa média pon-derada de colocação de 5,669% e a taxa de

cupão nos 5,65%

13/05 Troika dá boa nota a Portugal na 7ª avaliação … Presidente diz que foi inspiração de Nossa

Senhora de Fátima

16/05Bruxelas suspeita de concertação de preços nas petrolíferas

Valorização do dólar, das acções e receios sobre a inflação são as razões que levaram a uma quebra 29% na cotação do metal precioso face ao máximo histórico após um ciclo de 12 anos de valorização.

20/05 Reunião de Conselho de Estado para discutir Portugal sem troika mas com aus-

teridade

24/04

23/05

Despacho de proibição a despesa de organ-ismos públicos é revogado

Lançada nova nota de 5€ com melhores medidas de

segurança

Page 15: 1º Edição do Jornal 1911

23 de Maio - 2013 ISEG | 15

Cultura

Assim começo o livro «Gap Year- o ano das nossas vidas» que escrevi em conjunto com o meu amigo Tiago Marques e que reporta o Gap Year que juntos fizemos aos 18 anos, fazendo assim um intervalo de um ano na vida académica para me conhecer melhor, fazer voluntariado e apren-der com o mundo, viajando por 25 países. Durante esta viagem, não nos limitámos a ser meros turistas espetadores e por isso fizemos questão de penetrar nas várias culturas e mentalidades do mundo, fazendo entrevistas e falando com cidadãos dos vários quadrantes da sociedade para que deles pudéssemos retirar o substrato dos vários países. Falámos com políticos, diretores de escolas, estudantes universitári-

os e do ensino secundário, com trabalhadores e desempregados, jovens e idosos que nos foram dando a conhecer a realidade que vai para além dos números aos quais nós, muitas vezes, cegamente nos agarramos. Cada país nos deixou algo diferente: da República Checa o exemplo “não euro”, da Alemanha o rigor e o empreendedorismo, da Dinamarca a riqueza, da Suécia a qualidade de vida, da Noruega os valores humanos, da Estónia o pequeno e medieval, da Finlândia o aborrecimento, da Rússia o frio e a opressão, da Ucrânia a surpre-sa, da Moldávia o nada, da Roménia a revolução, da Bulgária as religiões, da Turquia os bazares e as mesquitas, da Índia o choque, do Nepal o subdesenvolvimento, da China os chineses, do Vietname a guerra, do Camboja o

pós-massacre, da Tailândia a diversidade, da Malásia Kuala Lumpur do ocidente, de Singapura o desenvolvimento, da Indonésia o turismo, de Timor Portugal, da Austrália os desertos e a prosperidade, da Nova Zelândia a genuinidade. É neste contexto que surge esta crónica que, com muita satisfação, irei escrever regularmente. Daqui, todos os leitores poderão esperar uma análise feita por um jovem viajante, empreendedor e utópico que adora economia e política e que vos vai tentar trazer tudo isto de uma forma muito própria (espero eu). Se pensarmos bem, o mundo atual faz-nos muita confusão – pensar como a política se faz, como a sociedade e os diversos países se (des)organizam, ou mesmo como as várias economias vão reagindo às decisões dos homens – é interessantíssimo perceber

como é que tudo isto se mecaniza. No entan-to, para o perceber é necessário vivê-lo e só assim seremos rigorosos (ou não) na sua análise. Durante o meu Gap Year, e toda a minha vida, tive uma série de experiências motivadas pela minha curiosidade generaliza-da que me permitiram viver várias realidades a fundo, que agora vou sustentando com alguma teoria e maturidade. Irei, ao longo destes escritos, tentar fazer, partindo de vivências pessoais, a análise política, económica e social de vários países e de várias realidades. Espero ter-vos deixado com água na boca, até à próxima.

O primeiro ensaio

Sugestão de livro Este é um livro para todos aqueles que pretendem conhecer os factos e as causas por trás do atraso português relativamente a outros países desen-volvidos. Apesar de ser um livro de opinião, o autor consegue exprimir a sua opinião sem limitar a opinião do leitor. De modo a dar conteúdo histórico aos seus argumentos, o autor dedica a primeira parte do livro a relatar o que se passou depois do 25 de Abril de 1974 até à actualidade, aproveitando também para se iniciar nos seus argumentos e dar dicas ao leitor do que se passará mais à frente. Aqui o autor apresenta a convergência de Portugal em relação aos países desenvolvidos até 1974, o período de turbulência que

se viveu depois do 25 de Abril, a 1ª e 2ª intervenções do FMI em Portugal, os anos de crescimento de 1986 a 1992, logo a seguir à entrada de Portugal na CEE, aos quais ele chama anos de ouro e de seguida descreve todos os erros que Portugal cometeu depois da assinatura do tratado Maastricht até à chegada do euro, desde entrar com o escudo demasiado valoriza-do, até ao embaratecimento do crédito ao consumo, que levou a que se apostasse no sector não transacionáv-el da economia. A segunda parte do livro é divida em dois capitulos, o primeiro dedicado ao Estado Providência, onde se relatam os desafios pelo qual o Estado Providência passou e os que ainda terá de enfrentar e o segundo

Título: Economia Portuguesa, as últimas décadas

Autor: Luciano Amaral

George Soros Desordem financeira na

Europa

Vítor BentoEuro forte, Euro fraco

Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff

Desta vez é diferente

Há-Joon Chang 23 Coisas que nunca lhe

contam sobre a Economia

Daron Acemoglu e James A. Robinson

Porque falham as nações?

Francisco Louçã e Mariana Mortágua Isto é um assalto

João Ferreira do AmaralPorque devemos sair do Euro

João César das Neve10 questões da recuperação

dedicado ao tema do crescimento económico, sendo este capitulo dividido em 3 áreas, o mercado de trabalho, a educação e a produtividade. Neste capitulo, o autor explica que não é tanto devido aos dois primeiros factores mas sim ao terceiro que Portugal se encontra nesta situação, observando que “(…) os dois grandes problemas da economia portuguesa são (...) a baixa intensidade de capital (...) e a fraca produtividade desse mesmo capital". É de dar os parabéns ao autor pois consegue em tão poucas páginas sintetizar tudo o que de relevante se passou, do ponto de vista económico depois do 25 de Abril, deixando apenas a cargo do leitor a formação e desenvolvimento da sua opinião.

Biblioteca de Economia

Gonçalo AzevedoEstudante do ISEG

Page 16: 1º Edição do Jornal 1911

16 | ISEG

Editorial Cultura

23 de Maio - 2013

Cartoon

Turista por Lisboa

Do amanhecer ao anoitecer, Lost In apresenta propostas que nos atraem inevitavelmente ao seu espaço. A decoração que nos remete ao coração da Índia é um dos seus pontos fortes e o ambiente que nos envolve numa sensação calmante e aprazível aliado á vista magnifica sobre Lisboa e ao bem servir deixa em nós, ao partir, a vontade de regressar. Uma boa alternativa para quem procura além de todas as qualidades já descritas, um local com preços acessíveis sendo que dispõe de 3ª a 6ª de almoços com prato + bebida + sobremesa pelo valor de 10€, durante a semana dispõe ainda das 17h ás 19h de um serviço de happy hour, imperial a 1€ e copo de sangria a 2€. Tem, para acompanhar, uma carta internacional com pratos mediterrânicos e orientais que poderão apelar a uma viagem do seu palato. Para os amantes do Jazz existe todas as quintas-feiras uma Jazz Session na esplanada, das 21h ás 23h. Situado no Príncipe Real, o restaurante – bar – lounge, Lost In é a primeira sugestão do Turista por Lisboa

Festival Meo Out Jazz 2013, 7ª edição, decorre todas as sextas-feiras e domingos de Maio a Setembro.

Canela, Fnac do Chiado no dia 26 de Maio. F .akt, Hard Rock Café no dia 26 de Maio pelas 23h.

Seattle, Hard Rock Café no dia 27 de Maio pelas 23h.

Batida, Paus, Cais Sodré Funk Connection, Da Chick, Biru, Dj Johnny, em Red Bull Santo Vertical no Largo do Intendente, entre as 19h e as 02h.

The Parkinsons + Psycho Tramps + Fast Eddie Nelson + Dirty Coal Train, Alameda Keil do Amaral pelas 17h.

Maria João & Ogre, Fundação Calouste Gulbenkian no dia 25 de Julho pelas 21.30h.

Entre maio e setembro, no último domingo de cada mês, diferentes jardins da cidade de Lisboa vão ver nascer um verdadeiro oásis sónico: o Red Bull Silent Garden, um espaço com características únicas, integrado no Festival Meo Out Jazz.

26 de maio – Parque Tejo (Expo) » Gabriel Gomes vs. Rui Miguel Abreu

30 de junho – Anfiteatro Keil do Amaral » Mike Bek vs. Roots Dimension

28 de julho – Jardim da Estrela » Wag vs. Selecta Alice

25 de agosto – Parque Eduardo VII » Emylis vs. White Selecta

29 de setembro – Jardim da Tapada das Neces-sidades » Afonso Macedo vs. Deni Shain

Borlas

Cinema

O grupo de ilusionistas aparece intitulado por “The Four Horsemen” e tem como seu líder Michael Atlas (Jesse Eisenberg). O que o público não sabe é que este está longe de ser um vulgar grupo de ilusionistas e que para além de todos os truques de magia apresentados em cima do palco o grupo faz também aparecer dinheiro nas suas contas. Acontece que este grupo de ilusionistas enquanto distrai os espectadores sob o palco também rouba bancos em outro continente e distribui a quantia roubada nas contas dos próprios espectado-res. Não podendo ficar impunes, o agente do FBI Dylan Hobbs (Mark Ruffalo) está determinado a cáptura-los e conta com a ajuda de Alma Vargas (Melanie Laurent), uma detective da Interpol, e com um veterano desmistificador de mágicos, Thaddeus Bradley (Morgan Freeman) para os apanhar naque-le que o grupo anuncia ser o assalto mais audacioso de sempre.

ESTREIA: 13 de Junho

Grande parte do elenco original regressa neste que é sexto filme que prolonga a saga de Velocidade Furiosa. A família encontra-se separada desde o último filme dado estarem em fuga e portanto impedidos de voltarem ao seu país. Enquanto isso, o agente Hobbs persegue por 12 países um grupo de pilotos mercenários letalmente habilidosos e percebe que a única maneira de os intercetar é nas ruas, com um grupo que consiga fazer-lhes frente. Posto isto convida o grupo de Dom a comparecer em Londres e a ajudá-lo, ofere-cendo em troca o perdão a todos pelos crimes cometidos.

ESTREIA: 23 de Maio

Ilusionistas Velocidade Furiosa 6

Um dos filmes mais esperados do ano, aquele que concluirá a trilogia, está agora prestes a chegar às salas de cinema. Sabe-se que não há casamento, nem tão pouco despedida de solteiro portanto, o que virá desta vez? A matilha volta a reunir-se e por certo uma aventura se desencadeará.

ESTREIA: 30 de Maio

Ressaca III

ESTREIA: 20 de Junho

Monstros:A Universidade

ESTREIA: 4 de Junho

Gru - OMaldisposto 2