antropofagia cultural brasileira e educacao

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  • 5/20/2018 Antropofagia Cultural Brasileira e Educacao

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    Poisis, Tubaro, n. 1, v. 1, p. 20-41, jan./abr. 2008.

    ANTROPOFAGIA CULTURAL BRASILEIRA E EDUCAO CONTRIBUIES ECOLOGISTAS PARA UMA PEDAGOGIA DADEVORAOBRAZILIAN CULTURAL ANTHROPOPHAGI AND EDUCATION

    ECOLOGIST CONTRIBUTIONS TO A PEDAGOGY OF THEDEVOURING

    Valdo BARCELOS1

    Ivete Souza da SILVA2

    Resumo: Este texto o resultado de uma pesquisa sobre as contribuies da Antropofagia Cultural

    Brasileira, na sua vertente ps-Semana de Arte Moderna de 1922, para a formao de professores (as)em geral e em educao ambiental (EA), em particular. Esta pesquisa se desenvolve h cerca de quatroanos e tem financiamento pela CAPES e pelo CNPq. Na formao de professores (as), em EA, saberese experincias so um repertrio que no pode ser desconsiderado. Na formao de professores nopodemos nos basear apenas na transmisso de conhecimentos e de tcnicas. Procuramos demonstrarno texto que as idias que orientaram o pensamento antropofgico constituem-se num chamamentono sentido de mostrar que o processo educativo precisa buscar novos interlocutores. No maisaceitvel que continuemos repetindo normas, regras e importando modelos sem fazer a sua devidadevorao. A antropofagia cultural e a EA tm, ambas, na sua origem, esse compromisso: dialogar como (a) outro(a) sem, no entanto, abrir mo do seu eu.

    Palavras-chave:Antropofagia Cultural; Formao de Professores; Educao Ambiental.

    Abstract: This is the result of a research about the contributions of the Brazilian CulturalAnthropophagi, in its overflowing post 1922 Modern Art Week, to the formation of teachers in generaland in environmental education, in particular. This research is being developed since the last fouryears and it is being funded by CAPES and by CNPq. In teachers formation, in environmentaleducation, knowledge and experiences are a repertory that can not be disregarded. Teachersformation cant be based only in the transmission of knowledge and in techniques. We try todemonstrate in the text that the ideas that orientate anthropophagic thought constitute in a calling inthe sense of showing that the educative process needs to seek for new speakers. It is not acceptableanymore, that we continue to repeat norms, rules, and importing models without doing its properdevouring. The cultural anthropophagi and the environmental education have both, in their origins,this commitment: to dialogue with the other without, however, giving up its own being.

    Key words: Cultural Anthropophagi; Teachers Formation; Environmental Education.

    A proposta de pesquisar as contribuies ecologistas das idias filosficas da

    Antropofagia Cultural Brasileira para a formao do pedagogo partiu da necessidade

    1Doutor em Educao/UFSC. Professor do PPGE/Mestrado da UFSM. Pesquisador do Ncleo MOVER:Educao Interculturale Movimentos Sociais da UFSC. E-mail: [email protected] em Educao, Bolsista CAPES da UFSM. E-mail: [email protected].

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    de repensar a maneira como a educao em geral, e a Educao Ambiental (EA) em

    particular, vem lidando com as intensas mudanas ocorridas na sociedade.

    As transformaes sociais e culturais tm-se intensificado ao longo do tempo e

    a forma como, at ento, lidvamos com elas tem-se mostrado, seno inadequada,pelo menos insuficiente. Estamos vivendo e construindo um espao em que

    diferentes pessoas e culturas se cruzam, se encontram, se relacionam e se confrontam

    (CANCLINI, 2003) a todo instante. Essa convivncia no ocorre de maneira

    simplista, e a forma como lidamos com as particularidades encontradas nesse

    relacionar-se tem contribudo para a excluso de muitas culturas. Propomos, assim,

    pensar a cultura e suas diferentes formas de manifestao como um territrio de

    entre-lugares (BHABHA, 2003), no qual se buscaro dilogos nas interfaces dos

    diferentes processos de construo de identidades (HALL, 1997).

    A escola um dos ambientes de atuao do pedagogo - um destes espaos,

    no qual as mais diversas culturas se encontram, se atravessam. Neste

    encontro/confronto, de culturas e valores, as diferenas aparecem, mas o que

    fazermos com elas?! As alternativas que tnhamos j no nos so mais suficientes ou

    eficientes. Os caminhos so outros e o mapa deste trajeto ainda no est pronto.

    Aos poucos o espao escolar tem buscado criar alternativas para o

    entendimento das questes que o desafia, porm ainda temos um longo caminho a

    percorrer. Conviver neste espao exige de ns homens e mulheres, muitas vezes,

    transformar alguns princpios ecolgicos em atitudes, tais como respeito e a aceitao

    do outro, responsabilidade, cooperao, cuidado (MATURANA, 2002). As questes

    ambientais nos desafiam a todo instante. No nos referimos somente questo do

    desmatamento, da poluio e o auge das discusses sobre o aquecimento global, mas

    tambm questo social, das relaes que estabelecemos e da forma como as

    vivemos. Como nos lembra Reigota (1999), a discusso sobre o multiculturalismo

    tambm papel atribudo a EA. No s as questes de aspectos fsicos e biolgicos

    dizem respeito EA, mas tambm as que tratam das relaes que ns, seres

    humanos, estabelecemos como forma de viabilizar nossa convivncia no e com o

    mundo que vivemos.

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    Todas essas questes atravessam a escola, e ns, educadores e educadoras,

    somos desafiados a construir alternativas para lidarmos com elas. Porm, o que

    ocorre que nossas idias, muitas vezes cristalizadas e presas a padres sociais e

    morais, nos impedem de ver o que est a nossa volta, ou, quando as percebemos, nosabemos como trat-las. Ento, insistimos na tentativa de retorno ao antigo, do

    reler e ressignificar o passado, ou, ento, aceitamos passivamente as idias

    novas, sem nos questionarmos e sem contextualiz-las.

    A escola vive em meio a essa turbulncia paradigmtica, agindo, em alguns

    momentos, com certa resistncia a tudo o que est acontecendo. claro que essa

    resistncia no particularidade somente da instituio escolar nem somente do

    (a) pedagogo. Da mesma forma, tal prtica de acomodao no comum a todosos educadores, mas, sim, apresenta-se no contexto de algumas realidades. Talvez por

    medo, despreparo ou at mesmo comodidade, ao chegarmos escola e nos

    depararmos com tamanha diversidade, acabamos, muitas vezes, optando pela cpia

    de idias j existentes sem fazermos a contextualizao histrica e social delas.

    como se pegssemos os mapas de uma cidade e andssemos em outra. No entanto,

    como bem nos alerta Boaventura Santos (2002, p. 41), importante lembrarmos que:

    Os mapas que nos so familiares deixam de ser confiveis. Os novos mapas so poragora, linhas tnues, pouco menos que indecifrveis.

    E nessa dupla desfamiliarizao3 que, segundo Boaventura Santos (2002),

    est a origem do nosso desassossego. Mas importante considerar que, nesse

    desassossego, pode estar a possibilidade do novo. A possibilidade da criao.

    Nesse sentido o pensamento antropofgico nos convida a andar por mapas ainda no

    conhecidos ou, quem sabe, ainda por serem desenhados. Convida-nos, no cpia,

    mas devorao do que j existe para, assim, construirmos algo nosso. A idiafilosfica da antropofagia acredita que so atravs dos encontros/confrontos de

    idias, valores, conceitos que pode surgir algo diferente.

    No podemos ficar desatentos(as) s mudanas que esto ocorrendo, pois so

    elas que nos indicaro os caminhos a seguir. Cada caminho nico, e medida que

    3Termo utilizado por Boaventura Santos no livro A crtica da razo indolente: contra o desperdcio da experincia(2002, p.41).

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    ele vai se revelando, temos que ir criando alternativas para lidar com os desafios

    apresentados. A cpia de modelos que deram certo no percurso de um caminho nem

    sempre dar certo no outro, porm no precisamos ignorar o que j nos conhecido,

    mas, sim, devor-lo e, a partir da fuso do velho e do novo, criar algo prprio. Oprincpio do pensamento antropofgico a criao por meio da devorao. A ela s

    interessa o que lhe estranho, aquilo que no lhe familiar no momento. a partir

    da deglutio e devorao desse estranho que faremos algo diferente. Esse um dos

    principais desafios colocados educao nos tempos atuais a criao a partir da

    devorao do estranho, pois, em tempos to turbulentos, acabamos nos

    acomodando e optamos, muitas vezes, por guiarmo-nos por mapas j prontos, de

    caminhos j percorridos. Porm, nos esquecemos de que este mapa de um caminho

    estranho ao que estamos vivendo, ento, se no nos arriscarmos a construirmos

    outras trilhas, cairemos na mesmice da cpia. Da cpia pura, medrosa e preguiosa

    que constri em ns uma cultura de acomodao frente s questes que nos

    desafiam. hora de nos despirmos do medo que temos do desconhecido, do

    estranho, do estrangeiro, e ousarmos andar por caminhos desconhecidos. Precisamos

    pensar numa Pedagogia da devorao, ousada e observadora do e no mundo a sua

    volta.

    Antropofagia Cultural Brasileira: um pouco do seu caminho devorativo e criativo

    O Z Pereira chegou de caravelaE perguntou pro guarani da mata virgem

    __ Sois cristo?__ No. Sou bravo, sou forte sou filho da Morte

    Teter tet Quiz Quiz Quec!L longe a ona resmungava Uu! ua! uu!

    O negro zonzo sado da fornalhaTomou a palavra e respondeu

    __ Sim pela graa de DeusCanhem Bab Canhem Bab Cum Cum!E fizeram o carnaval

    (Oswald de Andrade)

    A Antropofagia foi um movimento cultural que surgiu na dcada de 20, sculo

    XX, e que teve como principal objetivo romper com padres artsticos e culturais

    institudos na poca. Estes padres eram originrios da Europa, regio que era

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    considerada bero da civilizao, e vinham para o Brasil sem nenhum tipo de

    contextualizao. Embora a Antropofagia tenha ficado historicamente marcada pela

    fase modernista, mais especificamente pela Semana da Arte Moderna, ocorrida no

    teatro municipal da cidade de So Paulo em 1922, suas idias foram muito alm desteperodo ou fase. A Antropofagia oswaldiana representa bem mais que os

    movimentos culturais do perodo modernista vivido no Brasil. Arriscamo-nos a dizer

    que a antropofagia uma forma peculiar de olhar e de pensar o mundo.

    Metafisicamente falando, o rito antropofgico est ligado a

    [...] transformao do tabu em totem. Do valor oposto, ao valor favorvel. Avida feita de devorao pura. Nesse devorar que ameaa cada minuto aexistncia humana, cabe ao homem totemizar o tabu. O que o tabu seno ointocvel, o limite? (ANDRADE, 1997, p. 78)

    E atravs da transformao do tabu em totem, da devorao/deglutiodo

    que lhe estranho, que o pensamento filosfico antropofgico traz no s uma nova

    tendncia para a arte brasileira, mas tambm outra forma de perceber e construir o

    mundo. um pensar livre, sem imposies ou restries. Livre para andar. Livre

    para criar. o fim da cpia ou da submisso a povos, a culturas, a idias trazidas de

    alm mar (BARCELOS, 2003) que so impostas por mentes preguiosas e cansadas

    que, a bem da verdade, tm medo de criar. Medo de serem devorados.

    O nascimento das idias filosficas da antropofagia oswaldiana iniciou-se

    aps a Semana de Arte Moderna (1922) com oManifesto Poesia Pau-Brasil(1924), mais

    tarde sendo retomada atravs do Manifesto Antropfago (1928). Porm os estudos

    e/ou devoraes de Oswald no cessaram por a. O autor deu continuidade s idias

    antropofgicas defendendo-as como tese para o concurso da cadeira de Filosofia da

    Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da Universidade de So Paulo.

    Durante seus estudos, muitas foram as definies elaboradas para essa nova e

    desafiadora filosofia. As idias filosficas da antropofagia oswaldiana no foram defcil definio nem mesmo para aquele que a criou, como bem lembra Maltz (1993),

    em seu artigo intitulado Antropofagia: Rito, Metfora e Pau-Brasil. Oswald, ao ser

    desafiado a definir sua criao, diz o seguinte:

    Definir a Antropofagia (Anthropophagia) no coisa fcil. [...] Masexperimentemos: A Antropofagia o culto esttica instintiva da TerraNova. Outra: a reduo a cacarecos, dos dolos importados, para aascenso dos totens raciais. Mais outra: a prpria terra da Amrica, o

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    prprio limo fecundo, filtrando e se expressando atravs do temperamentovassalo de seus artistas. Estas, as definies que consigo construir, nomomento. Definies de emergncia, secas como o martini que tomamos, e,que surpreendem apenas um flanco no assunto. (MALTZ, 1993, p. 11-12,apud ANDRADE, 1990, p. 43)

    Representando o nascimento das idias antropofgicas, Oswald prope no

    Manifesto Poesia Pau-Brasil, publicado no jornal Correio da Manh, em 18 de maro de

    1924, uma: Poesia de exportao contra poesia de importao. Oswald de Andrade

    comea a romper com as idias modernistas institudas em nosso pas, as quais

    aceitavam passivamente os conceitos trazidos pelos povos estrangeiros. Ao fazer uso

    da palavra passivamente, tomamo-la no sentido de que as idias vindas de outros

    pases, quando chegadas ao Brasil, no eram contestadas nem contextualizadas. As

    poesias e pinturas no refletiam a cultura e a cara do Brasil, mas, sim, de um outroespao. A linguagem usada nas poesias, as cores empregadas nas telas em nada se

    pareciam com o jeito do Brasil. Com esse caldeiro de diversidades que faz do

    Brasil como ele (BARCELOS, 2007).

    Assim oManifesto Poesia Pau-Brasilvem exaltar as riquezas do nosso pas. No

    s a riqueza natural, mas tambm, e principalmente, a riqueza cultural. Oswald fala

    de um Brasil selvagem, feliz e despido de pudores que, com a chegada dos jesutas,

    tem seu espao invadido por uma cultura estranha, cultura esta que lhe impostasem contextualizao alguma. Como bem coloca Oswald (1970, p. 208),

    Parece uma piada grotesca o fato de os jesutas que aqui aportaram fazertraduzir o Declogo para o tupi.Soa como uma bufoneria de mau gosto a insistncia de se querer incutir nondio nu, polgamo e ocioso o respeito mulher do prximo (NonoMandamento) e a guarda do domingo para o descanso (TerceiroMandamento).

    De forma indita, irnica e, porque no dizer extravagante, Oswald escrevia e

    descrevia no Manifesto Poesia Pau-Brasil o retrato do pas. Forma esta que trazia,

    segundo ele, a tcnica do risco e do impacto, pois apresentava em suas obras o que

    havia de mais brasileiro: seu povo, seus costumes, seus valores, sua linguagem, sua

    dana, enfim, sua forma de expressar-se. O autor, ao falar sobre o ndio, o portugus

    e o padre latino que, segundo ele, so a formao inicial do Brasil (ANDRADE,

    1992, p. 29) faz crticas ao gabinetismo, ao lado doutor, a todos aqueles e aquelas

    que, de olhos e ouvidos bem fechados, contavam uma histria que no era a nossa. E,

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    ao contar essa histria, continuavam fazendo o que, h tempos, os jesutas fizeram

    com os povos que por estas terras viviam felizes e despidos, sem roupas e sem

    vergonha.

    Em Piratininga, 1928, ano 374 da Deglutio do Bispo Sardinha, Oswald deAndrade inicia oManifesto Antropfago, publicado na Revista de Antropofagia, Ano I,

    n I. Neste, Oswald d seguimento as suas crticas contra, segundo ele, todos os

    importadores de conscincia enlatada. A Revista Antropofgica, na qual foi publicado

    o Manifesto Antropfago, teve duas edies, ou melhor, denties como Oswald

    preferiu chamar. A primeira era publicada mensalmente e teve durao de 9 meses.

    A segunda foi publicada semanalmente no Dirio de So Paulo, de maro a agosto de

    1929. atravs deste manifesto que, segundo Reigota (1999, p. 53), Oswald rompe

    definitivamente com as idias modernistas, havendo uma diviso entre os

    principais intelectuais brasileiros que participaram do movimento.

    O movimento cultural antropofgico brasileiro nasce, portanto, desse processo

    de mistura, de mestiagem, de rejeio s normas e regras impostas. Seno vejamos:

    a origem do nome, Antropofgico, a este movimento decorre de um quadro que a

    pintora Tarsila do Amaral deu como presente de aniversrio, (11 de janeiro de 1928)

    ao seu ento marido Oswald de Andrade, um dos fundadores do movimento e autor

    doManifesto Antropfago (1928). A pintura constava de uma figura humana um pouco

    estranha, grotesca, diriam alguns, a exemplo do tambm antropfago Raul Bopp.

    Tratava-se de um homem de tamanho fora do normal: um gigante. Curiosamente

    tinha mos e ps muito grandes em contraste com uma cabea diminuta. A colorao

    de terra da figura contrastava com o azul do cu, o sol alaranjado e um cactus

    verdejante. To logo recebeu o inusitado quadro como presente Oswald de Andrade,

    no o entendendo, socorreu-se de seu amigo antropofgico Raul Bopp (chamado de o

    antropfago de si) que tambm ficou intrigado com aquilo, com aquela coisa

    estranha que Tarsila tinha pintado. Resolveram, ento, chamar a pintora da obra. A

    prpria autora do quadro, Tarsila do Amaral, ao ver o resultado de sua obra chegou

    a exclamar surpresa: Mas como que eu fiz isso?Como brincadeira Oswald sugeriu

    que dessem figura o apelido de um selvagem gigante. Recorreram ao dicionrio de

    lngua Tupi. L encontraram como sinnimo de Homem:Aba. Para aquele que come

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    carne humana: Poru. Foi fcil a ligao Aba-Poru. Aquele que come carne humana:

    Antropfago.

    Mas as discusses em torno do estranho quadro e da representao que seu

    nome trazia (homem que come carne humana) no pararam por a. Como de costumeas calorosas reunies entre os modernistas antropfagos continuaram e, nelas, muitas

    questes filosficas eram levantadas e debatidas. Em um almoo onde saboreavam

    carne de r, Oswald, ao teorizar sobre a evoluo das espcies, defende que o

    homem, nesse processo evolutivo, passava pela r. Desse fato surge um comentrio

    de Tarsila que, de acordo com Gotlib (1998), confirma a idia de carter

    antropfago latente no grupo de artistas: Em resumo, isso significa que,

    teoricamente, deglutindo rs, somos uns... quase antropfagos 4. Para a mesma

    autora, a unio entre o acontecimento do almoo e o quadro pintado por Tarsila,

    [...] se encaixam para definir uma linha de reflexo sobre a realidadebrasileira. Reflexo que valorizava o selvagem antes da descoberta do Brasil,tal como era ele ento, livre, puro, feliz, solto, antes da chegada de Cabral eda imposio da colonizao portuguesa, que veio explorar a terra e acristianizar o ndio. Por isso o calendrio antropofgico comea na data dedeglutio do bispo Sardinha, o nosso primeiro bispo, que, depois de salvode um naufrgio, foi devorado pelos indgenas. (GOTLIB, 1998, p. 144)

    O episdio da devorao do Bispo Sardinha foi usado por Oswald com o

    propsito de reforar a cultura dos nativos que por estas terras viviam antes dachegada dos Portugueses. Para Bina Maltz (1993), a ousadia do autor antropfago de

    propor um novo calendrio nacional demonstra uma reao dessacralizante

    contra o poder, reao, nesse caso, antropofgica. Porm a autora alerta para a

    seguinte questo:

    H que se cuidar, portanto para no cair na interpretao ligeira da senhaantropofgica adotada por Oswald como sinnimo do festival canibalista em que se matava e comia o inimigo por gula ou vingana -, o que reduziriaa metfora antropofgica ao simples ato literrio de destruio, quando, na

    verdade, opera-se nesse ato um processo dialtico. (...) o que Oswald quis foirecusar, incorporar e questionar ao mesmo tempo a cultura e os modelos erepertrios literrios dominantes, revisando-os e analisando-os criticamentea realidade cultural brasileira. (MALTZ, 1993, p. 11)

    Oswald, no Manifesto Antropfago, d continuidade s idias filosficas e

    antropofgicas iniciadas no Manifesto Poesia Pau-Brasil, valorizando cada vez mais o

    4Raul Bopp, Vida e morte da Antropofagia. Rio de Janeiro; Braslia: Civilizao Brasileira; MEC/INL, p.40 (apud Ndia BattellaGotlib, Tarsila do Amaral: a modernista, de 1998, p. 144).

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    chamado Brasil Selvagem. As riquezas culturais do Brasil so exaltadas e defendidas

    ainda com mais vigor, pois, segundo o autor, Antes dos portugueses descobrirem o

    Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade (ANDRADE, 1928), uma felicidade que

    cultuava outros valores e outros costumes, livres de normas e regras queaprisionassem sua alma. Como bem coloca Oswald (1928), Tnhamos a justia da

    vingana, a cincia codificao da Magia. Antropofagia. A transformao

    permanente do Tabu em totem.

    Se j no Manifesto Poesia Pau-Brasil, Oswald de Andrade no poupava crticas

    ao gabinetismo, no Manifesto Antropfago sua ironia e extravagncia no conhecem

    limites. O autor refora suas crticas Contra todos os importadores de conscincia

    enlatada (ANDRADE, 1928) e a estes chama, no manifesto, ironicamente de elites

    vegetais em comunicao com o solo. Suas crticas contra a preguia cultural das

    elites brasileiras prosseguiram mesmo aps o manifesto. Mais tarde em uma

    coletnea de textos publicados em 1943 e 1944, intitulado Ponta de Lana, Oswald,

    como bem coloca Barcelos (2007), prossegue sua provocao ao ironizar a jactncia

    doutoral das elites ao sugerir a Roberto Freyre que o mesmo proceda a uma curva

    clnica da palavra doutor entre ns.

    Uma das maiores marcas do Manifesto Antropfago, e da idia antropofgica

    em si, foi a de buscar uma identidade nacional prpria em que a diversidade cultural

    brasileira fosse reconhecida e respeitada como legtima. Sem a imposio de uma

    sobre a outra, mas, sim, uma conversa e troca recproca. Devorao. Algo na

    perspectiva antropofgica proposta por Barcelos (2007) quando defende uma

    reciprocidade antropofgica para os povos latino-americanos frente s diferentes

    formas de imperialismo. Logo, para que esta conversa seja possvel e que a troca de

    fato ocorra preciso livrar-se de certos vcios, pois, como lembra Oswald, no

    referido manifesto, A alegria a prova dos nove. E, por falar nisso, o banquete

    ainda no acabou. Apenas deu umpausepara que todos possam fazer a digesto

    O perodo antropofgico passou, mas suas idias no morreram. O

    Tropicalismoe o movimento ecologista que o digam!

    As origens do Tropicalismo (dcada de 60) esto muito ligadas a Antropofagia

    Cultural Brasileira. Este movimento constituiu-se em uma tendncia que se

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    manifestou em vrios campos da cultura nacional, nas artes plsticas, com Hlio

    Oiticica; Glauber Rocha no cinema novo; a msica que tornou mais conhecida esta

    tendncia contou, entre outros, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Z, Torquato

    Neto, Capinam, Gal Costa, Nara Leo, maestro Rogrio Duprat, etc.Assim como o movimento antropofgico, o tropicalismo buscava quebrar

    alguns tabus e (des) acomodar idias cristalizadas e cansadas. Buscava a valorizao

    das coisas da nossa terra e, ao mesmo tempo, denunciava a realidade vivida, na

    poca, pelos brasileiros. E foi como um chamamento contestao, organizao dos

    diferentes grupos sociais e a busca de espaos de contestao aos acontecimentos do

    momento que a composio Tropiclia, smbolo do movimento Tropicalista, foi

    criada.

    A titulao da msica teve origem numa obra de Helio Oiticica chamada

    Tropiclia. A obra de Helio Oiticica era um tanto quanto esquisita para a poca.

    Uma instalao ou, como chamou Oiticica, uma obra Penetrvel, composta de um

    labirinto com plantas, pssaros, capas de Parangol5e tudo o que lembrasse o Brasil.

    A inteno do autor era, assim como o movimento antropofgico, romper com o que

    estava institudo tanto em relao arte brasileira, na qual predominavam

    composies bidimensionais em que o pblico apenas apreciava as obras prontas e

    terminadas, como tambm no que diz respeito construo de uma cultura na qual

    aquilo que nosso pudesse ser valorizado e conhecido, sem que, para isso,

    precisssemos ignorar o que nos fosse estranho, pois A Tropiclia veio contribuir

    fortemente para essa objetivao de uma imagem brasileira total, para a derrubada

    do mito universalista da cultura brasileira, toda calcada na Europa e na Amrica do

    Norte6.Helio Oiticica, em um ensaio escrito em maro de 1968, traduz sua criao e

    a inteno que tinha com ela, da seguinte forma:

    Na verdade, quis eu com a Tropiclia criar o mito da miscigenao somosnegros, ndios, brancos, tudo ao mesmo tempo -, nossa cultura nada tem aver com a europia, apesar de estar at hoje a ela submetida: s o negro e ondio no capitularam a ela. Quem no tiver a conscincia disso que caiafora. Para a criao de uma verdadeira cultura brasileira, caracterstica eforte, expressiva ao menos, essa herana maldita europia ter de serabsorvida, antropofagicamente, pela negra e ndia da nossa terra, que na

    5Obra de arte feita para ser usada como roupa. Uma espcie de capa que fazia referncia ao movimento do corpo.6Citao publicada na Revista Cultpor Denise Ges, ano 10, n. 111, p. 31. Retirada de um texto publicado por Hlio Oiticica em1968, cuja fonte a autora no menciona.

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    verdade so as nicas significativas, pois a maioria dos produtos da artebrasileira hbrida, intelectualizada ao extremo, vazia de um significadoprprio. (CALADO, 1997, p. 162)

    O autor procura criar o mito da miscigenao, ou, como diria Oswald, ele

    busca fazer a transformao do tabu em totem, ou seja, tocar em assuntos do

    cotidiano do povo brasileiro fazendo uma desidealizao do Brasil.

    Assim como a antropofagia, o tropicalismo, ou melhor, os tropicalistas,

    comeram de tudo e absorveram somente o que lhes interessava. Foi com influncias

    da Bossa nova, do Pop, do Rock, do i i i, e das idias antropofgicas oswaldianas

    que os jovens artistas brasileiros construram um novo ritmo brasileiro.

    Um componente que considero muito importante para a educao, e que foi

    uma marca no movimento tropicalista em seu devir antropofgico, o apelo, adisposio para a participao, para a reinveno, para a criao a partir do vivido e

    do experienciado.

    Desta participao que pode surgir o novo, o inusitado, criando-se, assim, as

    possibilidades para o agenciamento de novas realidades. Contudo, para que isso

    ocorra, necessria a disposio para a mudana, para abertura ao risco. Como

    desafiava Oiticica, sempre que lhe perguntavam de onde vinha sua inspirao

    criativa,

    A minha posio foi sempre de que s o experimental que interessa, a mimno interessa nada que j tenha sido feito... a meu ver, tudo isto preldiopara o que eu quero fazer, um novo tipo de coisa que no tenha nada quever com os modelos, do que se chamou e se conheceu (SALOMO, 2003, p.100).

    Considerando as palavras de Helio Oiticica, fica aqui um desafio: ser que no

    podemos fazer uma traduo devorativa dessa forma de pensar e fazer arte para

    nossas prticas pedaggicas, didticas e/ou metodolgicas, de trabalho na educao

    em geral e na educao ambiental em particular?

    Por uma pedagogia da devorao: um olhar ecolgico e antropofgico

    Qualquer esforo natural nesse sentido ser bom.Poesia Pau-Brasil 7

    7Oswald de Andrade,ManifestoPoesia Pau-Brasil, 1924.

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    A educao teve seu processo formador e transformador pensado, ao longo dos

    anos, de diferentes formas e por diferentes estudiosos. Gadotti (2002), em seu livro

    Histrias das Idias Pedaggicas, ao discorrer sobre o processo histrico da educao,como prtica fundamental da existncia humana, mostra o quanto esta evoluiu, bem

    como necessita evoluir para atender os desafios postos a ela. J na concepo

    pedaggica positivista, comeou-se a discutir na educao um significado para a

    vida. Dessa forma, o ambiente cultural em que professores e educandos esto

    inseridos passa a ser de grande importncia para a efetivao desta proposta. A

    busca de tal significado fez com que os professores, segundo Gadotti (2002),

    sentissem cada vez mais necessidade de discutir sua prtica e analisar o cotidiano

    escolar.

    O mesmo autor, ao falar sobre a educao que pretendemos construir, desafia

    o professor a buscar identificar o novo no velho, a caminhar para frente,

    construindo uma educao do futuro (GADOTTI, 2002, p. 313). Nesse sentido, a

    antropofagia vem ao encontro deste pensamento na medida em que prope, por

    meio de suas idias filosficas, a troca recproca (BARCELOS, 2007) entre o que

    conhecemos e o que ainda nos estranho. Assim sendo, no processo de devorao

    proposto pelos antropfagos, no devemos ignorar o que j existe, mas, sim, devor-lo

    e criar algo novo.

    Um exemplo de criao antropofgica est no surgimento das culturas

    hbridas, discutido por Hall (1997). Essas culturas nasceram do dilogo

    devorativo entre as diferentes culturas, caracterizando-se pela capacidade de, ao

    mesmo tempo em que mantm atributos de suas razes, aceitam a outra cultura que

    estranha. O autor, ao tratar sobre o processo de transformao vivido pelas

    identidades culturais nos chama a ateno para o fato de considerarmos os aspectoslocais e as mudanas ocorridas neste espao mudanas essas que, para Hall, esto

    diretamente ligadas ao processo de globalizao vivido atualmente. Assim,

    [...] uma das caractersticas principais da globalizao a compressoespao-tempo, a acelerao dos processos globais, de forma que se sente queo mundo menor e as distncias mais curtas, que os eventos em umdeterminado lugar tm um impacto imediato sobre pessoas e lugaressituados a uma grande distncia. (HALL, 1997, p. 73)

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    a favor de uma Pedagogia da devorao, que busque conhecer e entender as

    mudanas a sua volta, e a favor de uma Pedagogia que se permita ver com olhos

    livres as diversas formas de expresso do mundo e que, em vez de cultivar tabus,

    transforme-os em totens, que continuamos o banquete antropofgico da e para aeducao.

    Esse banquete, segundo o ecologista Marcos Reigota (1996, p. 49), em seu

    artigo intitulado Narrativas Ficcionais da prxis ecologista8, j foi inaugurado, e h

    muito tempo, pelo educador antropfago Paulo Freire. Para o autor, Freire um dos

    mais antropofgicos entre os intelectuais latino-americanos, pois soube como

    ningum absorver diferentes influncias e lan-las ao mundo com um estilo

    singular. Para Barcelos, em concordncia com Reigota, Freire talvez seja o nico

    exemplo de educador a dialogar com a antropofagia por estas terras Brasilis

    (JORNAL DIRIO DE SANTA MARIA, 2007, p. 14). E foi em suas andanas

    antropofgicas que Freire devorou tudo o que lhe interessava. E dessa devoraocriou

    uma pedagogia problematizadora e/ou libertadora, como ele mesmo denominou.

    Enfim, uma pedagogia baseada na dialogicidade, capaz de trocar e de criar.

    O pensamento pedaggico de Freire (1983) prope uma educao

    fundamentada no dilogo e no encontro dos homens mediatizados pelo mundo. O

    autor entende que a educao deve se dar num espao baseado na ao dialgica.

    Esta ao possibilita a atuao tanto do professor quanto do aluno. Para esse autor,

    somente as relaes baseadas na ao dialgica possibilitaro que educador e

    educando (termos utilizados por Freire) construam um espao de aprendizagem

    fundamentado na emancipao do sujeito, e no na sua explorao e domesticao.

    Freire (1983) defende uma educao problematizadora em que o educador deixa de

    ser um mero transmissor do conhecimento e se torna o mediador desse processo

    superando, assim, a contradio educador e educando.

    A possibilidade da construo desse espao dialgico se d na medida em que

    ambos os atores envolvidos no processo educativo se conheam e se reconheam

    como legtimos buscando, juntos, entender e satisfazer suas necessidades e

    8 Artigo publicado na Coletnea da ANPEPP - Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Psicologia. Novascontribuies para a teorizao e pesquisa em representaes sociais. Florianpolis, 1996.

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    inquietaes. Tais sujeitos carregam consigo seus saberes (TARDIF, 2002) oriundos

    de suas vivncias e experincias. Falo aqui da experincia no sentido proposto por

    Larrosa (2002, p. 23) em que a experincia no o que nos acontece, mas o que

    fizemos com o que nos acontece. Dessa forma, tais saberes devem ser considerados,pois, como afirma Freire (1983), ningum educa ningum, os homens aprendem em

    comunho uns com os outros.

    Para Barcelos, esse ato de ensinar/aprender em comunho devorativa

    fundamental para a educao em geral e, em especial no que se refere ao trabalho

    com a educao ambiental. Segundo este autor, ao agirmos dessa forma, estamos:

    Valorizando, radicalmente, nossas experincias, subjetividades, histrias, memrias,

    trajetrias e individualidades (2007). a partir dessa relao que se dar o primeiro

    passo para uma Pedagogia da devorao, observadora e comprometida com o

    contexto social e cultural em que est imersa. Uma pedagogia que promova a

    sntese cultural, defendida por Freire (1983), a qual no exclui o diferente, mas,

    sim, busca conhec-lo, abrindo espao para a investigao, a troca e a criao. Esta

    atitude importante e necessria j que vivemos um momento de intensas

    transformaes. Logo, a educao em geral, e a educao ambiental em particular,

    precisam ter um olhar aberto buscando acolher as diferentes pessoas e suas

    diferentes culturas. Sobre as contribuies da antropofagia nesse sentido, Barcelos

    (2005), no artigo intitulado Antropfagos, Ecologistas e outros Brbaros uma

    contribuio filosfica a educao, assim se pronuncia

    A filosofia antropofgica traz, tambm, esse ingrediente fundamental para opensamento ecologista que a capacidade de se relacionarantropofagicamente com diferentes culturas. Ou seja: estar aberta sdiferenas, ao paradoxal, a necessidade de dilogo mesmo entre oscontrrios e/ou momentaneamente opostos. (BARCELOS, 2005, p.302)

    Dessa forma as idias filosficas da Antropofagia Cultural Brasileira tm muito

    a oferecer s lidas pedaggicas e, em especial no que se refere ao trabalho com

    educao ambiental. A antropofagia oswaldiana prope um dilogo entre as

    diferentes culturas, sem imposio de verdades, hbitos ou costumes, dilogo este

    necessrio para uma educao voltada a sua realidade9, capaz de fazer a

    contextualizao de seu tempo e de seu povo. Tais questes que valorizem as

    9Segundo Castoriadis (1982, p. 192), este fator no simples real, cada sociedade constitui o seureal.

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    relaes sociais e as diferenas culturais abarcam as discusses a respeito do trabalho

    pedaggico com as temticas ambientais no espao escolar. Barcelos (2005, p. 295), ao

    fazer referncia ao ecologista e antropfago Marcos Reigota, sobre a idia trazida por

    este de que, assim como na educao, em educao ambiental, o conhecimento no setransmite, mas se produz; que no aprendemos de algum, mas com algum, faz a

    seguinte reflexo:

    Dificilmente viabilizaremos um efetivo dilogo entre conhecimentos, semlevar em considerao os diferentes espaos culturais que, inevitavelmente,fazem parte instituinte e instituidora do conhecimento produzido histrica esocialmente. Assim sendo, as alternativas em educao ambiental precisamlevar em considerao os diferentes aspectos culturais que envolvem asrelaes entre homens e mulheres no mundo contemporneo.

    Assim, ao pensar a formao de professores, um dos desafios atuais

    construir alternativas de trabalho com as questes ambientais, sem deixar de lado a

    valorizao e o respeito pelos saberes e experincias de cada pessoa envolvida no

    processo educativo. Dessa forma, a escola precisa estar aberta reflexo e, para tanto,

    necessrio que se d oportunidade para a criatividade. preciso que tanto

    professores(as) quanto alunos(as) se permitam ver com olhos livres (ANDRADE,

    1924). Para que isso ocorra, no h um nico lugar ou rea do conhecimento por

    onde comear. Devemos comear por todos os locais possveis e ao mesmo tempo

    (BARCELOS, 2001). Talvez aqui resida no s o maior desafio da educao em geral,

    e da educao ambiental em particular, como tambm o paradoxo da educao

    ambiental. Principalmente, se levar em conta que a perspectiva reducionista legada

    pela epistemologia cartesiana de cincia tem ainda fortes influncias no processo

    educativo, o que pode dificultar ou, at mesmo, como afirma Grum (1995, p. 48),

    inviabilizar uma adequada compreenso das questes ambientais em educao,

    compreenso essa que valorize, tambm, as relaes sociais e a diversidade cultural

    presente nelas.Reigota (1999), ao estudar as contribuies da Antropofagia CulturalBrasileira para o trabalho em educao ambiental, reafirma a importncia das

    questes relacionadas ao multiculturalismo para a ecologia global. Dessa forma, o

    autor v nos manifestos antropofgicos (Manifesto Poesia Pau-Brasil e Manifesto

    Antropfago) oswaldianos uma outra leitura sobre a cultura brasileira e sobre as

    relaes sociais que estas estabeleceram e estabelecem.

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    Os manifestos enfatizam a riqueza da formao multicultural da sociedadebrasileira, longe dos equvocos da miscigenao pacfica, sem ufanismonacionalista, rejeitando todo exotismo esttico e as idias colonialistas eneocolonialistas. So, por isso, textos que auxiliam na compreenso dotempo presente da sociedade civil planetria, onde o principal desafio garantir as identidades especficas com base em slidos parmetrosnacionais, tnicos, religiosos etc. e construir uma nova identidade global,mltipla, fragmentada, flexvel e em permanente mutao, que possibiliteno s a existncia das espcies animais e vegetais, mas tambm de culturase povos. (REIGOTA, 1999, p. 60)

    Esta leitura enfatizada por Reigota mostra-nos a necessidade de a educao e de

    o pedagogo considerarem a diversidade presente em seu universo de trabalho.

    Vivemos hoje um momento em que as diferentes culturas e seus diferentes valores e

    conceitos se cruzam e se relacionam com mais freqncia, e, nesse relacionar-se,

    conhecem mesmo que de forma superficial umas as outras.A educao no fica alheia aos processos de transformao da sociedade. Pelo

    contrrio, estes se refletem dentro do espao escolar, pois os sujeitos envolvidos no

    processo de ensino aprendizagem esto vivendo e fazendo tais mudanas. Dessa

    forma, a escola desafiada a ampliar seus universos simblicos e representacionais

    de mundo. chamada a olhar para as diferentes formas de conhecimentos e de

    saberes, ampliando, assim, seus territrios educativos, onde as prticas de ensinar e

    de aprender superem a mera transmisso/reproduo de contedos curriculares

    (BARCELOS, 2003). No entanto, dependendo da forma como cada sujeito lida com

    este encontro/confronto entre os diferentes, que se estabelecero as relaes entre

    eles.

    Embora o cotidiano escolar seja um espao onde esses encontros/confrontos

    aconteam muitas vezes tais diversidades no so levadas em considerao no

    trabalho pedaggico. E o professor acaba, ento, caindo no caminho da cpia. Essa

    postura se d devido a muitos fatores, e um deles, acreditamos, sejam as cobranas

    feitas a esse profissional. Cobranas feitas tanto por sua instituio de trabalho, como

    pela famlia de seus alunos. E, nesse universo, muitas vezes o caminho da cpia se

    apresenta como o mais fcil a ser percorrido. Mais fcil porque j se sabe o caminho a

    andar e o local a chegar. Assim, a inveno e a criao perdem lugar para o medo do

    desconhecido. Porm, ao se optar por esse caminho, como bem alertam Barcelos e

    Silva (2007), em seus estudos sobre as devoraes antropofgicas da e para a

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    educao, abdica, tambm, do prazer, do gozo proporcionado pela devorao do

    estranho, do estrangeiro, do desconhecido, que passa a conhecer apenas no momento

    da deglutio.

    Outro fator que faz com que os professores/pedagogos percorram o caminhoda cpia so as normas e as regras criadas e institudas na e para a educao. Estas

    podem ser comparadas imposio da cultura jesutica aos nativos que viviam nas

    terras brasileiras. Tanto professores (as) quanto alunos(as) so vtimas de polticas

    feitas para a educao, que muitas vezes em nada tm a ver com o contexto

    local/social, pois no foram pensadas para. Ou foram pensadas apenas para uma

    determinada regio do pas ou estado, que no cabe na realidade de todas as

    escolas. Assim, professores(as) e alunos(as) so, na maioria das vezes, formatados,

    para tornarem-se dceis e bondosos, como os jesutas fizeram com o povo nativo. Da

    mesma forma que vivemos tais imposies, repetimos essas atitudes, diga-se de

    passagem, nada ecolgicas com as pessoas com quem convivemos. Porm, acredito

    que isso no seja culpa do professor(a), ou do aluno(a). Acredito, inclusive, que no

    se trata de atribuir culpa a algum. Penso que esse fato seja apenas fruto de uma

    cultura pedaggica instituda em nossas escolas e universidades, pois, afinal, na

    universidade que so formados os professores(as) que atuam nas escolas. Neste

    sentido Barcelos e Silva (2007), mais uma vez nos chamam a ateno para a condio

    de elites vegetal em comunicao com o solo - como se refere Oswald (1924) s

    mentes intelectuais cansadas e pouco criativas - em que se encontram muitas vezes as

    prticas educativas. Para os autores,

    Nossa educao, como de resto grande parte de nossa produo intelectual,ainda continua prisioneira de um certo servilismo que mais copia queinventa, que opta pela preguia da imitao em detrimento dos riscos eperigos da criao. (BARCELOS; SILVA, 2007)

    Nesse sentido, a antropofagia cultural oswaldiana prope a (des) construodas idias cadaverizadas, como coloca Oswald (1924) noManifesto Antropfago

    Contra o mundo reversvel e as idias objetivadas. Cadaverizadas.O stop do pensamento que dinmico.O individuo vtima do sistema.Fonte de injustias clssicas.Das injustias romnticas.E o esquecimento das conquistas interiores.

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    Pois estas s serviram at agora para impedir a criao, o olhar livre, a alegria. E

    reforou a desigualdade e a imposio, nada ecolgica, de uma cultura sobre a outra.

    Essa desigualdade e essa imposio foram iniciadas com o achamento do Brasil

    (RIBEIRO, 1996), pois, antes deste acontecimento, como bem coloca Oswald (1928) oBrasil, tinha descoberto a felicidade. Mas, para a antropofagia, nada est perdido.

    H sempre uma possibilidade de devorao, pois, como afirma Rud Andrade, neto

    de Oswald de Andrade,

    [...] o Brasil oswaldiano tem uma misso global a desempenhar nesteplaneta: partilhar sua rica experincia antropofgica cultivada por sculos.Uma estratgia cultural capaz de cruzar fronteiras e quebrar tabus.Desorganizar para reorganizar. Desculturalizar para culturalizar.Miscigenar. Agregar. Sincretizar. Somar as diferenas para fortalecer os nsdas redes onde se estendem as relaes humanas. Iluminar outras

    possibilidades de convvio com o outro. Criando frentes de negociaes paraos atritos estabelecidos diante das diversidades da sociedade. Abrindo novastrilhas dos densos matos das convivncias humanas para contornar aexplorao e extermnio do outro. (ANDRADE, 2005, p. 59).

    Dessa forma, os princpios filosficos da Antropofagia Cultural Brasileira tm

    muito a serem devorados pela educao. O processo de devorao, proposto pela

    antropofagia, possibilita tanto a inveno e a criao de metodologias de trabalho em

    educao como tambm em educao ambiental. Da mesma forma, contribuem para

    a construo de um olhar aberto s diferenas.

    A antropofagia sugere uma relao baseada no dilogo e na troca devorativa.

    Ela prope o conhecer daquilo que nos estranho, desconhecido, estrangeiro, sem

    ignorar o velho, o conhecido. a partir desse exerccio que ocorre o processo de

    devorao antropofgica, denominado por Oswald. Este processo, voltando s

    palavras de Rud, acima citadas, ao desorganizar, desculturalizar, miscigenar,

    agregar e sincretizar, cria outras possibilidades de viver aquilo que somos e de nos

    relacionarmos com o comum e o estranho.E devemos convir: nossa educao est

    precisando abrir novas trilhas nos densos matos da convivncia humana.

    No entanto, para o bem ou para o mal (BARCELOS, 2006), as trilhas j

    comearam a serem abertas e vm apresentando importantes contribuies para o

    trabalho em educao e em educao ambiental. Um exemplo dessa possibilidade

    apresentado pela ecologista Maria da Conceio Hatem de Souza, em seu trabalho

    sobre as contribuies do Estado de inveno de Hlio Oiticica. Esta autora, ao fazer

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    uma aproximao entre as idias antropofgicas do tropicalista Hlio Oiticica com o

    seu trabalho em educao ambiental, assim se manifesta:

    [...] as proposies de Oiticica revelaram uma ciso importante, o temperoque faltava para destemperar e produzir novas tmperas para meus olhos e

    sentidos. As ressonncias engendraram e atualizaram territrios subjetivos,que transversalmente com os territrios da tica e da cultura, possibilitaramdiferentes composies de suas foras, transformando meu trabalho comoeducadora ambiental, trabalhadora social e artista visual. (SOUZA, 2005,p.311)

    Outro exemplo oferecido por Barcelos (2007), quando, ao refletir sobre as

    dificuldades enfrentadas por professores e professoras no trabalho com educao de

    jovens e adultos, sugere uma aproximao entre o processo de criao e devorao

    proposto por Hlio Oiticica. O autor chama a ateno para a necessidade de uma

    abertura para a inveno/criao de novas metodologias e novas prticas didticas(BARCELOS, 2007:185). O autor prope em seuManifestoParangolgicoalgo como um

    Parangol Metodolgico, como uma alternativa metodolgica de trabalho em

    educao e, em especial, no que se refere educao ambiental. A metfora

    Parangol tomada em seus estudos como

    [...] uma forma de simbolizar e de radicalizar na valorizao da experinciavivida na busca de alternativas metodolgicas e pedaggicas em educaoambiental, bem como para ressaltar a necessidade de romper com as formase regras metodolgicas generalizantes e homogeneizadoras da vida.

    Parangol, como ato decorrente da inveno, da criao, da inovao, datransgresso. Enfim, como aquilo que resulta de uma relao intercultural derecproca devorao: a devorao antropofgica. (BARCELOS, 2007, p.3)

    E, assim, damos uma pausa neste banquete com um fragmento desafiador do

    manifesto Parangolgico, que como um convite a todos e a todas os/as profissionais da

    educao:

    Aceitem a criao,viva a (des)inteno,cheia,de intuio.Que acontea,

    a inveno.

    Quem sabe, se aceitarmos a criao, a inveno acontea, e, com ela,

    inventemos juntos, uma Pedagogia da devorao?!

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