antologia brasil 1890 1930 internet - fotografia

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antologia, brasil 1890-1930, fotografia, antonio cabral filho

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  • Ricardo Mendes

    PENSAMENTO

    CRTICO EM

    FOTOGRAFIA

    organizao

    Antologia Brasil, 1 890-1930

  • PENSAMENTO

    CRTICO EM

    FOTOGRAFIA

  • Este projeto foi contemplado com o XII PRMIO FUNARTE MARC FERREZ DE FOTOGRAFIA 2012

    F i cha tcn i ca

    concepo, pesquisa, texto e edio

    Ricardo Mendes

    impresso

    Mattavelli

    realizao

    XII Prmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia

    2012

    agradecimentos

    Maria Inah Alves de Miranda

    Fernando Chaves

    Joaquim Maral

    Mrcio RM

    Maria Luiza Vieira

    Maria Teresa Bandeira de Mello

    Mnica Carneiro Alves

    Ricardo Dias

    Tadeu Chiarelli

    e

    Confoto, FBN, MAM Rio

    aos pesquisadores

    Helouise Costa e Rubens Fernandes Junior

    tiragem

    1 000 exemplares

    editorado com

    SCRIBUS

  • Antologia Brasil, 1 890-1930

    Antologia Brasil, 1 890-1930

    Pensamento c rt i co em fo tog ra f i a

  • Fon tes

    arquivos e bibliotecas digitais

    Arquivo Pblico do Estado de So Paulo

    Fundao Biblioteca Nacional - Hemeroteca

    Digital

    e ainda

    Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte

    Arquivo Pblico do Espirito Santo

    Arquivo Pblico Mineiro

    Biblioteca Pblica do Estado do Rio

    Brasiliana USP

    Centro de Documentao Dom Joo IV

    Pr-Memria de Nova Friburgo

    Centro de Memria-Cmara Municipal

    de Caxias do Sul

    Fundao Casa de Rui Barbosa

    Fundao Joaquim Nabuco

    Hemeroteca Municipal de Lisboa

    Museu Lasar Segall - Biblioteca Digital das

    Artes do Espetculo

    Projeto J. Carlos

    Pr-Memria Jacare

    arquivos fsicos

    Arquivo Pblico do Estado de So Paulo

    Fundao Biblioteca Nacional

    FUNARTE-CEDOC

    IEB-USP

    MAM Rio - Pesquisa e Documentao

    Museu Lasar Segall

    Museu Paulista-USP

    portais

    O Estado de S. Paulo

    Folha de S. Paulo

    JusBrasil

    FotoPlus

  • Ricardo Mendes

    organizao

    Antologia Brasil, 1 890-1930

    Pensamento c rt i co em fo tog ra f i a

    2013

  • plano-piloto

    contexto

    blocos temticos

    seleo de artigos

    ndice onomstico

    artigos em

    ordem cronolgica

    bibliografia de apoio

    5

    7

    17

    337

    23

    327

    345

  • Antologia Brasil, 1 890-1930 constitui um gesto que procura estimular a

    diversidade editorial sobre a histria da fotografia no Brasil.

    Os ltimos vinte anos so marcados por intensa produo nos campos da reflexo e

    histria nesse segmento. O mercado editorial fotogrfico, porm, extremamente

    desigual, com aes episdicas, dificultando a difuso dessa produo e o ensino

    especializado. Entre as grandes ausncias editoriais, em especial se atentarmos

    para obras de referncia, est o parco conjunto de ttulos voltados para a histria

    do pensamento crtico. No recorte amplo que se esconde sob tal denominao deve-

    se destacar a extrema dificuldade de acesso ao conjunto ensastico sobre foto-

    grafia em praticamente toda a sua extenso temporal de quase dois sculos.

    Essa proposio tem como objetivo a produo de uma antologia de ensaios

    elaborados no perodo, como primeiro tomo simblico de uma srie, que

    constitua um estmulo a iniciativas similares de recortes temporais ou temticos

    os mais distintos.

    Antologia Brasil trabalha atravs de duas perspectivas. Promover o contato

    com fontes documentais, que estimule o leitor, o jovem pesquisador etc a refletir

    e dialogar com a historiografia. Nesse sentido, a antologia prope-se como

    material didtico. Por outro lado, ao aproximar o leitor de textos de poca, a

    edio procura promov-lo como agente de anlise e questionamento da prpria

    historiografia, estimulando novas aproximaes.

    A literatura fotogrfica constitui o repositrio tradicional para o pensamento sobre

    fotografia em sua diversidade: reflexo, ensino e memria. atravs deste

    conjunto que entendemos a expresso, provisria: pensamento crtico. Quase

    sempre associada crtica na imprensa, modalidade que entre ns marca largo

    perodo do sculo XX, a produo crtica encontra, porm, ao longo dos quase

    duzentos anos de prtica fotogrfica veculos e locais distintos para gnese e

    difuso: a grande imprensa, revistas especializadas de recorte variado ao longo do

    tempo, o universo acadmico e a internet. Se a escrita suporte tradicional dessa

    reflexo, necessrio apontar que so contemporneos hoje novos autores como o

    curador e novas formas como a produo audiovisual.

    p l ano -p i l o to

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    5

  • Antologia Brasil: 1 890-1930 privilegia um momento marcado pelo movimento

    fotopictorialista e a primeira fase do fotoclubismo entre ns. Ambas as

    referncias constituem por si justificativas para priorizao desse perodo: a

    primeira ocorrncia de uma proposta que aproxime os campos da fotografia e

    das artes visuais e o delineamento precrio de um circuito de discusso e

    circulao de ideias atravs dos clubes fotogrficos. Ao redor dessas

    associaes, por vezes com vnculos diretos, tem lugar no Brasil o surgimento de

    revistas especializadas, ao mesmo tempo em que num panorama maior ocorre a

    expanso de uma imprensa que tem no uso intensivo da fotografia uma de suas

    marcas: as revistas ilustradas.

    Estamos assim entre dois momentos. Aquele que antecede o perodo em anlise,

    dos primeiros sessenta anos de introduo e difuso da fotografia no Brasil,

    marcado pela discusso da fotografia como produto tecnolgico e sua

    contribuio para os diversos campos da cultura, expresso das interaes ten-

    sas entre cincia e cultura de que somos to prximos. E ao fim, no extremo

    oposto, o marcante momento da discusso da fotografia moderna, em especial

    no segundo ps-guerra, como expresso esttica autnoma, como sincronia com

    a cultura da modernidade.

    A seleo dos ensaios um desafio, que cedo revela a necessidade de avaliar as

    formas de circulao de ideias de cada momento. A identificao de tipologias de

    ensaios, como resenhas, crticas de exposies etc, e a identificao de veculos

    como revistas e jornais de grande circulao ou publicaes especializadas so

    exemplos desse trabalho. No caso, privilegiou-se o ensaio terico sobre a

    reportagem, buscou-se a proposio programtica, mas logo o leitor descobrir

    que a edio final mais ampla.

    O estabelecimento do texto uma questo relevante, embora tenha sido adotada

    uma abordagem provocadora. Do ponto de vista de transcrio, tomou-se

    arbitrariamente como referncia a edio online do Grande Dicionrio Houaiss.

    No entanto, a origem diversa dos ensaios, a ocorrncia de escritas com registros

    distintos ao longo de um perodo algo extenso de 4 dcadas deixam marcas, que

    seria impossvel remover.

    Preservou-se integralmente a paragrafao, a pontuao etc. Interveio-se

    apenas para eliminar o que parecessem erros de reviso, privilegiou-se o

    arcasmo at mesmo em expresses to conhecidas como "kodack", sempre

    tendo como referncia a obra de Houaiss, que se revelou surpreendentemente

    oportuna. O objetivo era usar essas escritas como meio de atrao e repulsa

    entre leitor e texto, procurando assim trabalhar com as reaes de identi-

    ficao e distanciamento crtico.

    6

    plano-piloto

  • con texto

    Photo Club Brasileiro, 1 896

    Chega So Paulo em 20 de maio de 1897, vinda do Rio, uma comitiva de oficiais

    chilenos. O jornal O ESTADO DE S. PAULO, do dia seguinte, p.1 , comenta a

    chegada:

    Acompanhando os ilustres viajantes, vieram o capito do mar e guerra

    Jos Carlos de Carvalho, os drs. (. . . ) e Ricardo Ramos, engenheiro da

    Estrada de Ferro Central, e mais trs membros do Photo Club Brasileiro.

    O povo abriu alas para dar passagem aos recm-chegados.

    Em outubro do mesmo ano, o Photo Club Paulista, por sua vez, nomeia uma

    comitiva para tirar diversas fotografias, no desembarque em Santos e na

    chegada a esta capital do 1 batalho da polcia do Estado, como informa nota

    no CORREIO PAULISTANO do dia 23, primeira pgina.

    Os amadores fotogrficos, novidade entre ns, parecem revelar interesse

    incomum. O resultado merece comentrios na imprensa. Assim, na edio de 15 de

    maio de 1897, em artigo sobre as festas em honra da esquadra chilena em visita

    ao Rio, cujos oficiais visitariam depois So Paulo, o jornal DON QUIXOTE, editado

    por Angelo Agostini, comenta, no artigo Festas chilenas, p.3: .. . graas

    gentileza do Photo Club, dessa magnfica recepo ficaro perenemente guardados

    diversos pontos de vista em excelentes fotografias instantneas.

    Em novembro de 1899, novamente nota em DON QUIXOTE, do dia 15, p.7,

    registra os convites recebidos: Do Photo Club para a sua exposio de

    fotografias. Ser o salo do ativo Photo Club Brasileiro de dois anos antes?

    Notcias de eventos similares correm. O peridico lisboeta BOLETIM PHOTO-

    GRAPHICO, editado por Arnaldo Fonseca, registra, na edio de setembro de

    1901 , p.1 36: O Photo Club Paraense, no Par (Brasil) inaugura no prximo ms

    de outubro uma exposio permanente de fotografia.

    O que informa essa atividade, febril vista de hoje, desses engajados amadores?

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    7

  • Falam antes de tudo, na perspectiva historiogrfica que interessa aqui, sobre quo

    pouco se sabe sobre o fotoclubismo, sobre a fotografia daquele perodo. Basta

    dizer que essas notas no parecem ter registro na historiografia conhecida. Essas

    e outras que surgem hoje muito rapidamente. E a surpreender-nos ao encontrar um

    fotoclube homnimo, ativo, fundado em abril de 1 896, que precede em 27 anos o

    Photo Club Brasileiro, principal associao brasileira das dcadas de 1920 e 1930.

    Um vazio historiogrfico

    possvel afirmar que a historiografia da fotografia no Brasil apresenta um vazio

    sobre um perodo algo extenso entre o final do sculo XIX e as primeiras dcadas

    do sculo seguinte.

    Ao longo da crescente e intensa produo historiogrfica que se estabelece entre

    ns a partir da dcada de 1970, esse vazio surge lentamente. Os primeiros

    estudos histricos concentram-se na introduo e desenvolvimento da fotografia

    no Brasil, em tantos segmentos, nas suas aplicaes, e ainda na produo e

    difuso das imagens de um estado nacional em formao. No segundo momento,

    outro grande ncleo temtico construdo ao redor da fotografia moderna, a

    partir da segunda metade da dcada de 1990.

    Um pouco ao acaso, um pouco devido a ausncias de arquivos estruturados, um

    pouco pela falta de uma crtica historiogrfica, um espao entre esses dois polos

    foi tomando forma.

    As bordas delimitadoras desse espao no permaneceram fixas. Pesquisas

    histricas sobre o modernismo, por exemplo, comearam gradativamente a

    corroer os limites imediatos, retrocedendo-os em parte. A dificuldade maior seria

    enfrentar a pouca documentao em acervos e, por que no, um vago

    preconceito, no contexto da reflexo sobre a fotografia moderna, frente ao

    pictorialismo.

    Apenas os estudos sobre o retrato no campo da fotografia profissional e as

    pesquisas sobre documentao urbana, ou desdobramentos como postais,

    parecem delinear olhares sobre o intervalo em questo.

    A proposio pode parecer grosseira, mas como imagem esclarecedora de

    aspectos de desenvolvimento de um historiografia to jovem. H, contudo, como

    conhecido, contribuies fundamentais para o estudo do recorte temporal que o

    projeto Antologia Brasil enfoca: 1 890-1 930. Sua extenso , em verdade, longa,

    abrangendo mais de duas geraes.

    Como indicado pouco antes, estudos importantes sobre a fotografia moderna

    dedicaro tempo a estabelecer uma ponte precria com o fotoclubismo mais

    8

    contexto

  • prximo e a influncia do pictorialismo que parte deles adota como prtica.

    Helouise Costa (1 960) e Renato Rodrigues da Silva lanam, em 1995, o livro

    A fotografia moderna no Brasil. A edio resulta de pesquisa premiada pela

    FUNARTE, finalizada em 1987. Helouise, em seu mestrado (1 992), analisa, por sua

    vez, a influncia do fotopictorialismo na revista O CRUZEIRO, lanada em 1928.

    Uma dose de acaso, associada a momentos de intensa poltica cultural voltada

    para o setor da fotografia a cargo da Funarte, permitiu que importante conjunto

    de imagens integrantes desse circuito fosse preservado. A recuperao da obra

    de Hermnia de Mello Nogueira Borges (1 894-1 989), fotoclubista, esposa de

    importante membro do Photo Club Brasileiro, fundado em 1923, tem lugar em

    1981 em exposio realizada no Rio, evento parcialmente remontado em So

    Paulo no ano seguinte. Com a morte da fotgrafa, a coleo doada ao Museu

    de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

    Em 1994, Maria Teresa Bandeira de Mello (1 962) finaliza a pesquisa Arte e

    fotografia: o movimento pictorialista no Brasil, realizada no programa de

    mestrado da ECO-UFRJ. Publicada quatro anos depois, pela FUNARTE, com o

    mesmo ttulo, sua anlise constitui ainda hoje extensa e pertinente apreciao do

    movimento na dcada de 1920. Centrado estritamente sobre o conjunto deixado

    por Hermnia Borges, a autora enfoca a produo do Photo Club Brasileiro.

    A abordagem sofre, porm, em alguns momento com a parca historiografia

    existente. Dados sobre a presena do fotoclubismo no Brasil em seus diversos

    aspectos surgem truncados, repetem-se datas desconexas, o que no invalida a

    obra, nem as demais citadas. Um exemplo est presente nas referncias sobre s

    duas primeiras dcadas do sculo, entre elas, as relativas ao Photo Club Helios.

    Talvez um dos mais duradouros fotoclubes do momento, sediado em Porto

    Alegre, a associao tem registros de atividades desde meados da dcada de

    1900, participando, por exemplo, da Exposio Nacional de 1908, no Rio. E

    prossegue, com atividades aparentemente regulares at o final da dcada de

    1930. Essa trajetria eclipsada constitui exemplo perfeito de desencontro de

    dados, intensamente disseminados na bibliografia brasileira.

    Espanta a ausncia de pesquisa sobre o Photo Club Helios, que cubra

    efetivamente seu percurso. Registre-se, porm, que o seminrio Dilogos entre

    histria, patrimnio e educao (Universidade Federal do Rio Grande, 1 2-1 3 de

    junho de 2012), trouxe comunicao de Luzia Costa Rodeghiero, mestranda da

    Universidade Federal de Pelotas, que comea a recuperar as aes do Helios,

    entre maio de 1907, quando fundado, at 1 949. Disponvel em:

    < http://seminariodialogos.files.wordpress.com>

    Apenas nos ltimos dez anos surgem contribuies significativas que abordam a

    fotografia amadora no incio do sculo XX. o caso, por exemplo, da tese de

    9

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    9

  • doutorado de Suzana Barretto Ribeiro Percursos do olhar da fotografia

    profissional e amadora de Campinas (1900-1925) (IFHC-Unicamp, 2003;

    Annablume, 2007). Contudo, significativa recuperao da cultura amadora

    fotogrfica, focando o contexto carioca da primeira dcada do sculo XX,

    resultou em outro projeto de doutorado, apresentado em 2010, por Adriana

    Pereira: A cultura amadora na virada do sculo XIX: a fotografia de Alberto

    Sampaio (FFLCH-USP).

    Como Suzana Ribeiro, a autora discute o tema a partir da atuao de um amador,

    mas aqui, tendo como panorama as cidades do Rio e Petrpolis, quando surgem

    as referncias ao desenvolvimento do Photo Club do Rio de Janeiro ([1 902-

    1 91 ?]). Certamente, importante fonte de informao para o projeto a cobertura

    realizada pela revista carioca RENASCENA (1904-1 908). Em certa medida, a

    pesquisa integra um conjunto de projetos recentes que abordam esse peridico

    no tocante a sua relevncia para a histria da crtica de arte.

    Por fim, contribuio bibliogrfica recente a mencionar, lanada em 2012, o

    livro Fotoclubismo no Brasil: o legado da Sociedade Fluminense de Fotografia,

    de ngela Magalhes e Nadja Peregrino (SENAC Nacional/SFF). A edio traa

    o percurso de fotoclube fundado em 1944, a mais importante associao flumi-

    nense a partir da dcada de 1950, quando passa a ocupar o espao deixado

    pelo Photo Club Brasileiro. No segmento inicial da obra, as autoras estabelecem

    o mais significativo panorama histrico, na historiografia brasileira, sobre o

    fotopictorialismo internacional.

    Fontes documentais, instrumentos de pesquisa

    A proposta de constituir uma antologia crtica implica em caracterizar um

    sistema de circulao de ideias e identificar seus canais de comunicao e

    repositrios. No recorte temporal em questo, no ser o livro o meio de

    circulao, excetuada a literatura fotogrfica estrangeira, cuja avaliao ser

    feita de forma indireta pela referncias na produo local. a imprensa o

    veculo central. Seja a imprensa geral, voltada para o grande pblico; seja,

    entre os aspectos que caracterizam o perodo, a imprensa especializada em

    fotografia.

    Surgem ento as primeiras colunas e revistas especializadas. Embora ttulos

    conhecidos, so veculos ainda poucos referenciados e estudados, exceto em

    breves ensaios (CAMARGO & MENDES, 1 992; MENDES, 1 998; FERNANDES JR,

    2010). Em vrios momentos da Antologia Brasil esses peridicos sero

    caracterizados. A pesquisa permitiu registrar novos ttulos, alterando o limite

    temporal de surgimento desse segmento.

    1 0

    contexto

  • O elenco de peridicos conhecido: as editadas em So Paulo REVISTA

    PHOTOGRAPHICA (1 908-[1 909]), ILLUSTRAO PHOTOGRAPHICA (1 919-

    [1 920]) e REVISTA BRASILEIRA DE PHOTOGRAPHIA (1 926-[1 926]), e as

    cariocas, as duas primeiras como revistas associadas ao Photo Club Brasileiro,

    por algum momento, e a ltima, de sua propriedade, com longa durao

    FOTO-FILM (1924-[1 925]), PHOTO REVISTA DO BRASIL (1 925-[1 926]), e

    PHOTOGRAMMA (1926-[1 931 ]).

    Sobre as colunas especializadas, destaquemos aqui o primeiro registro

    conhecido, de 1898, no jornal CORREIO PAULISTANO, da srie Artes de amador,

    com dezessete inseres. Mas importante lembrar que a experincia editorial

    do Photo Club Brasileiro tem incio na coluna O Photo Club Brasleiro, na revista

    carioca FON-FON, com curta durao, em meados de 1924.

    O projeto Antologia Brasil alterou esse conjunto, em parte. A ele, agregam-se

    dois novos ttulos cariocas, editados pelo fotgrafo A. Leterre: em 1902, a

    REVISTA PHOTOGRAPHICA, com quatro edies, e dois anos aps, PHOTO

    GAZETA, hoje, o mais antigo peridico remanescente. E, experincia nica entre

    ns, o paulistano BOLETIM PHOTOGRAPHICO, lanado em 1924, como iniciativa

    promocional associada futura REVISTA BRASILEIRA DE PHOTOGRAPHIA,

    programada para 1926.

    Desse conjunto, cerca de 76 edies tiveram exemplares preservados,

    significativa parcela de um total de 85 nmeros. Esto disponveis em acervos

    pblicos, em So Paulo e no Rio de Janeiro, 53 edies nenhuma delas em

    forma digital.

    Foi possvel rever todo esse conjunto, excetuando 23 edies da edio

    paulista da REVISTA PHOTOGRAPHICA, da PHOTO REVISTA DO BRASIL e da

    REVISTA BRASILEIRA DE PHOTOGRAPHIA, todas em coleo privada.

    Contudo, esse conjunto havia sido brevemente anotado pelo pesquisador h

    quase duas dcadas, o que permitiu um balano parcial. possvel apontar,

    assim, que seria oportuno avaliar as contribuies para esta ltima publicao

    de autores, como Guilherme Malfatti e Valncio de Barros, fotoclubistas que de

    certo modo fazem a ponte, no contexto paulista, entre o fotoclubismo da

    dcada de 1920 e de 1940.

    A recuperao desse conjunto de peridicos tarefa realizada a partir de obras

    de referncias conhecidas. Sobre a imprensa em geral, alm de levantamentos

    existentes j mencionados, tomou-se por base fontes historiogrficas como:

    Affonso de Freitas (1 915), Jos Freitas Nobre (1 950) e Heloisa de Faria Cruz

    (1 997), entre outras. Essenciais ainda, no caso dos artigos selecionados, foram

    os estudos especializados sobre autores como Joo do Rio e Olavo Bilac, que

    dedicaram parte significativa de suas produes ao jornalismo.

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    11

  • Evento fundamental para o projeto foi a introduo recente, e em expanso, dos

    portais de acesso online a acervos digitais. Reunindo conjunto heterodoxo de

    acervos, quanto a ttulos, cobertura regional, formas de acesso e possibilidade

    de recuperao de informao, como uma leitura das fontes na abertura da

    antologia permite reconhecer , esses repositrios ampliaram de forma

    expressiva, em nmero e diversidade de textos, o horizonte de trabalho do

    projeto. Ainda assim no foi possvel garantir uma cobertura regional ampliada,

    com pareceu plausvel num momento inicial, ficando restrita a seleo final,

    salvo raras excees, a artigos publicados na imprensa carioca e paulistana.

    Uma cultura fotogrfica em formao

    O desenvolvimento do projeto exigiu avaliar, de forma operacional, parmetros

    para compreenso e anlise da cultura fotogrfica num contexto dado. Tomou-

    se como ponto bsico, como fica em parte evidente no trecho acima, o

    reconhecimento de uma circulao de informaes sobre fotografia em escala

    inesperada, em todos os seus aspectos. Surpreendeu descobrir em contraste

    com a impresso registrada nos estudos disponveis, que aponta uma difuso

    restrita, quando muito s cidades de So Paulo e do Rio de Janeiro , que

    existe uma circulao, difusa, em escala maior, e em momento anterior ao

    usualmente pressuposto a partir da dcada de 1910.

    Existe aparentemente uma demanda por informao, que alimentada por

    capilaridade a partir de jornais editados no Sudeste, rumo a outros centros.

    Certamente, essa difuso, que hoje possvel comear a identificar com o

    acesso ampliado, via digital, a colees de peridicos, no deve ter permitido,

    porm, aos leitores de ento um viso geral desse panorama estilhaado.

    Apenas na dcada de 1920, com o estabelecimento no pas de mecanismos de

    distribuio de jornais e revistas de forma mais estruturada possvel imaginar

    algum avano, mais pela formao de pblico e menos por condies de acesso a

    esses canais por pequenos editores. Um alternativa existe na constituio de

    uma rede de representantes, como faz PHOTOGRAMMA, oferecendo ao leitor,

    fora dos centros principais, volume e qualidade de informao. Investigao

    relevante seria avaliar por exemplo essas representaes, que PHOTOGRAMMA

    relaciona regularmente em todas as edies.

    Quase certo, porm de forma diversa ao que as revistas brasileiras dedicadas ao

    cinema parecem ter conseguido ento, essas iniciativas jornalsticas voltadas

    para a fotografia, de menor envergadura de investimento e de interesse mais

    restrito, no geraram uma sinergia mais efetiva entre amadores e profissionais

    espalhados pelo pas.

    12

    contexto

  • Esse interesse difuso, apontado ao incio, que ocorre na imprensa regional

    revelado quase sempre em notas, desde do limite inicial do recorte temporal em

    questo. Valorizam-se as novidades tecnolgicas, como a fotografia colorida, o

    raio X, as teleobjetivas etc. De certo modo, todas estas referncias podem

    entendidas como formas de ampliao das vises do real, conjunto em que

    ganham destaque ainda a fotografia astronmica, as aplicaes em medicina, a

    fotografia de espritos e emanaes corpreas as mais diversas. Enfim, novas

    virtualidades que tornam prximo o invisvel, o microcspico, o distante.

    Aspecto significativo que os ensaios aqui reunidos revelam como o grande arco

    do pensamento crtico toma forma lentamente, fragmentariamente. A cultura

    como troca e transmisso de valores pode ser identificada em seus diferentes

    momentos. Suas referncias internas e externas podem ser dimensionadas desde

    j em uma rpida leitura do ndice onomstico ao final da antologia.

    Surgem inesperadamente, numa cultura que revela assim pretender sua

    transmisso entre geraes, a proposio das revistas especializadas (em

    especial, o persistente projeto editorial do Photo Club Brasileiro por quase uma

    dcada), o museu de documentos fotogrficos pelo Photo Club do Rio de

    Janeiro, em meados da dcada de 1900, e a necessidade, apontada por Guerra

    Duval, de estabelecer o ensino formal em escala ambiciosa, na dcada de 1920,

    expresso final de uma questo que se impe desde a virada do sculo.

    Ensino, memria, produo crtica e difuso da fotografia so campos que

    surgem certamente marcados pela contexto ao redor do fotoclubismo, que atua

    ento como articulador intensivo de iniciativas culturais. Questes essas, que

    esto ausentes, digamos assim, no campo da fotografia profissional.

    Essas aes e proposies tiram proveito, em parte, da expanso dos locais e

    agentes do circuito de arte, ao qual pretendem se aproximar. Contudo, preciso

    reconhecer, esse panorama fotogrfico tem dinmicas e agentes prprios, que

    ativamente buscam essa sinergia. Ao longo do arco temporal aqui tratado

    possvel identificar, atravs dos textos selecionados, essa expanso, a adoo de

    hbitos e prticas culturais, e a constituio de um pblico para esse circuito novo.

    Fotografia e arte

    O perodo marca uma mudana radical, episdica de incio, mas em seguida

    difusa e regular, na percepo da fotografia como objeto cultural complexo.

    Parte-se da sua proposio como expresso mxima das conquistas da cincia,

    com aplicaes nos mais diversos setores, expandindo o conhecimento tcnico,

    para a concepo de uma fotografia integrada s expresses artsticas.

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    1 3

  • O fotoclubismo, em sua faceta associada ao pictorialismo, veculo dessa

    proposio. Sua presena no Brasil ocorre, como em outras sociedades similares,

    de forma abrupta, sujeita a ruptura e acomodaes de ideias importadas, processo

    que exige instrumental analtico, observao e documentao rigorosos.

    Seria mais correto evitar uma anlise estrita do panorama local pela tica da

    historiografia internacional sobre o pictorialismo, que at aqui tem apenas

    ajustado o figurino conceitual ao pouco que se sabe sobre a produo e recepo

    da produo brasileira.

    Ao invs disso, procurando estender a anlise a um campo ampliado, em especial

    ao longo da primeira dcada do sculo XX, possvel identificar essas

    ocorrncias como uma contribuio original ao debate sobre uma questo chave

    que se impe a partir da segunda metade do sculo anterior sobre a cultura: as

    relaes entre indstria e arte.

    Visto por essa perspectiva, o fotoclubismo brasileiro em sua primeira fase a

    melhor expresso, num pas de industrializao precria, dos conflitos desen-

    cadeados. O automatismo do processo fotogrfico ponto central na cartilha

    adotada, o instantneo como metfora do conflito entre mecnico e o humano,

    negando o autor. Questes associadas, como o conflito entre o amador e o

    profissional, expressam o papel e a autoimagem dos agentes nesse debate.

    O aggiornamento que tem lugar ento est sujeito aos conflitos decorrentes da

    ausncia de um debate sobre arte e cincia no pas, como o que ocorre ao longo do

    sculo XIX no contexto europeu, por exemplo. Ainda assim essas ocorrncias

    permitem que sejam apreciadas como uma das melhores expresses desse conflito

    entre ns.

    Para entrar e sair da modernidade

    Contra a caixa preta, o pictorialismo? As estratgias para acesso modernidade

    podem ser avaliadas num contexto inesperado. H um slido debate internacional

    que chega at ns, em referncias a autores como Robert de la Sizeranne, cujo

    foco precisamente o estatuto artstico da fotografia.

    O pictorialismo, que pode ser tomado numa leitura imediata como opo

    conservadora para insero na cultura moderna, no pode ser visto, pelo que

    sabemos agora do panorama brasileiro, como um produto solidrio ao longo do

    extenso arco temporal em que se desenvolve.

    O Photo Club Brasileiro, na dcada de 1920, nesse segundo desdobramento do

    movimento fotoclubista no Brasil em sua primeira fase, certo, faz aos poucos

    1 4

    contexto

  • mera adeso arte acadmica, ignora o universo urbano, as mudanas nas artes

    visuais em curso aqui mesmo. Essas decises geram um esgotamento e

    desvalorizao severa ante s novas geraes.

    Ainda assim, curiosamente, no sero taxados abertamente de passadistas.

    Talvez porque circulem em campo controlado, em que se partilham os mesmos

    valores, em jornais e peridicos: uma bolha de valores mdios.

    A dcada de 1920 tem certamente tenses de fundo na cultura local, que se

    expressam em momentos os mais diversos, at mesmo nesse universo das revistas

    ilustradas, que mesclam cobertura social e reportagens culturais variegadas.

    Em fevereiro de 1924, uma revista carioca FROU-FROU..., em sua nona edio,

    traz o artigo Bilhetes da Pauliceia, um comentrio detalhado, acompanhado de

    charges, sobre o pseudo futurismo paulista. O autor, que assina simplesmente

    B. B. B., encerra assertivamente o extenso desabafo:

    Registramos a incoerncia unicamente para declarar que no levamos a

    srio o "futurismo" desses senhores e para pedir-lhes, pela alma de

    Jpiter, o obsquio extremo de no mexerem mais nos nossos

    empoeirados figures mitolgicos.

    Cantem, em versos livres a beleza da gasolina, faam odes virgindade

    da telegrafia, team madrigais candura do "fox-trot", mas no se

    esqueam das palavras sensatas daquele profundo psiclogo que foi La

    Bruyre, ao falar de Teofrasto: "Nous qui sommes si modernes seron

    anciens dans quelques sicles".

    E principalmente, (ah! muito principalmente! ) no digam nunca mais que

    so futuristas.

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    15

  • 16

    Os blocos articulam conjunto abran-

    gente de temas e manifestaes do

    perodo, embora com dimenses e re-

    cortes distintos. Dois deles ARTE e

    FOTOGRAFIA ARTSTICA apre-

    sentam a maior parte dos ensaios, pu-

    blicados em veculos variados, da

    grande imprensa a colunas e revistas

    especializadas em fotografia, modali-

    dade que surge no pais a partir de

    1 890. Os dois conjuntos em destaque

    revelam o trao que caracteriza a pro-

    duo escrita sobre fotografia do pe-

    rodo: a discusso sobre o estatuto

    artstico da fotografia.

    Os demais conjuntos procuram carac-

    terizar temas como ENSINO e IM-

    PRENSA ESPECIALIZADA, e apon-

    tam nesses casos para a circulao de

    idias e imagens. Os demais blocos in-

    troduzem outros campos de aplicao

    ou temas como a imagem social do

    fotgrafo, expondo usos e funes em

    rearranjo contnuo.

    Cada bloco traz os ensaios em ordem

    cronolgica, embora sujeita aos sub-

    temas. Como apoio ao leitor, alm da

    relao completa dos artigos por data

    ao final da edio, um conjunto de

    TAGs, para usar um termo contempo-

    rneo, indicam pontos de destaques.

  • b l ocos temt i cos

    COMPORTAMENTO: crnica, feminino, fabulaes

    JOE. Cinematgrafo. GAZETA DE NOTCIAS, RJ, 30.8.1 908, p.1

    O convescote de domingo. CIDADE DE FRIBURGO, Nova Friburgo,

    1 0.1 2.1 916, p.1

    BILAC, Olavo. Dirio do Rio. O ESTADO DE S. PAULO, SP, 21 .1 .1 898,

    p.1

    TEX, Leo. Pelos "ateliers" e sales... CORREIO PAULISTANO, SP,

    27.6.1 913, p.1

    BEVILACQUA, Sylvio . No T. S. F. PHOTOGRAMMA, RJ, I I (23):

    8-1 0, maio 1 928

    SILVA, Oswaldo. Viagens maravilhosas do Dr. Alpha ao mundo dos

    planetas No mundo de Marte. Cap. XV. O TICO-TICO, RJ,

    I I I (1 02): n.p., 1 8.9.1 907

    ARTE: estatuto, pictorialismo, difuso

    GRAPHITE, Xisto. Belas-artes. REVISTA ILLUSTRADA, RJ, 1 4 (566):

    6, 1 2.1 0.1 889

    GRAPHITE, Xisto. Belas-artes (continuao). REVISTA ILLUSTRADA,

    RJ, 1 4 (567): 6-7, 26.1 0.1 889

    GRAPHITE, Xisto. Belas-artes (continuao). REVISTA ILLUSTRADA,

    RJ, 1 4 (568): 6, 2.11 .1 889

    DEIR, Eunapio. A arte. KOSMOS, RJ, 1 (11 ): n.p, nov.1 904

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    25

    37

    41

    45

    49

    55

    59

    61

    63

    67

  • SILVA, Bethencourt da. A arte e os artistas. O BRAZIL ARTSTICO,

    RJ, Nova fase, 1 (1 ): 266-270, 1 911

    GUERRA DUVAL, Fernando. 1 Salo de Fotografia. GAZETA DE

    NOTCIAS, RJ, 9.7.1 924, p.2

    BEVILACQUA, Sylvio. Fotografia e pintura. PHOTOGRAMMA, RJ,

    1 (2): 6-7, 30.8.1 926

    GUERRA DUVAL, Fernando. a fotografia uma das belas-artes?

    PHOTOGRAMMA, RJ, 1 (2): 1 -2, 30.8.1 926

    FRIEDMANN, Alberto. Os meios de expresso na Fotografia Pictorial.

    PHOTOGRAMMA, RJ, 1 (5): 1 -2, 4 e 6, 30.nov.1 926

    GUERRA DUVAL, Fernando. Observaes sobre "Meios de expresso

    na Fotografa Pictorial". PHOTOGRAMMA, RJ, 1 (7): 1 -2 e 4,

    fev.1 927

    VECCHIO, Jos Del. Os meios de expresso na Fotografia Pictorial.

    PHOTOGRAMMA, RJ, I (7): 1 0-11 , fev.1 927

    GUERRA DUVAL, Fernando. Consideraes sobre a Fotografia

    Pictorial. PHOTOGRAMMA, RJ, I I I (31 ): 1 -3, abr.1 929

    (parte 1 )

    GUERRA DUVAL, Fernando. Consideraes sobre a Fotografia

    Pictorial. PHOTOGRAMMA, RJ, I I I (32): 1 -5, maio 1 929

    (parte 2)

    VALFER, F. de. A Fotografia pictorial. PHOTOGRAMMA, RJ, IV (35):

    3-5, set.1 930

    BORGES, Nogueira. O conceito moderno da fotografia.

    PHOTOGRAMMA, RJ, V (39): 6-1 0, jan.1 931

    No mundo artstico: A arte na fotografia. FROU-FROU..., RJ, I (1 ):

    n.p., jun.1 923

    No mundo artstico: A arte na fotografia. FROU-FROU..., RJ, I (8):

    n.p., jan.1 924

    1 8

    blocos temticos

    83

    117

    121

    125

    133

    139

    1 45

    1 49

    89

    95

    99

    103

    111

  • IMPRENSA ESPECIALIZADA

    Nosso intuito. PHOTOGAZETA, RJ, I (1 ): 1 , 1 .11 .1 904

    LETERRE, A. Fotografia. PHOTOGAZETA, RJ, I (1 ): 1 , 1 .11 .1 904

    LOBO, A. de Barros. A nossa misso. ILLUSTRAO

    PHOTOGRAPHICA, SP, 1 (3): 11 , maio de 1919

    O que pretendemos fazer. REVISTA BRASILEIRA DE

    PHOTOGRAPHIA, SP, (1 ): 3-4, jan.1 926

    FOTOGRAFIA ARTSTICA: notas do exterior, fotoclubes,

    o artista, outros circuitos

    CUNHA, A. da. A fotografia artstica. REVISTA MODERNA, Paris,

    I I (26): 75-79, dez.1 898

    A fotografia na Exposio. O ESTADO DE S. PAULO, SP, 2.1 0.1 900,

    p.2-3

    Cartas da Itlia: Roma, 26.04.1 911 . CORREIO PAULISTANO, SP,

    27.5.1 911 , p.5-6

    A exposio do Fotoclube. RENASCENA, RJ, I (5): 1 97-203,

    jul.1 904

    EFF, Von Ab. Segunda exposio do Fotoclube. RENASCENA, RJ,

    I I (1 9): 95-1 01 , set. 1 905

    FARE, H. De la. L'Exposition du Photo Club au Museu Commercial.

    REVISTA DA SEMANA, RJ, (377): 501 0, 4.8.1 907

    LIMA, lvaro de. Terceira exposio artstica do Fotoclube.

    RENASCENA, RJ, IV (46): 246-256, dez.1 907

    MARIANNO Filho, Jos. Arte fotogrfica. PHOTOGRAMMA, RJ,

    1 (3): 1 -2, 30.9.1 926

    VALLE, F. do. A 4 exposio anual do Photo Club Brasileiro. PARA

    TODOS, RJ, IX (457): 32-33, 17.9.1 927

    Concurso de fotografias. O ESTADO DE S. PAULO, SP, 31 .1 0.1 929,

    p.7

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    153

    155

    159

    163

    167

    173

    179

    183

    193

    199

    205

    213

    217

    223

  • A propaganda pela fotografia. O PAIZ, RJ, 22-23.9.1 930, p.1 -2

    RIO, Joo do. O caador de beleza. A ILUSTRAO BRASILEIRA,

    RJ, 1 .8.1 909, p.81 -83

    CARREIRO, Carlos Porto. Impresso artstica. O PAIZ, RJ,

    24.11 .1 911 , p.1

    Exposio Sylvio Bevilacqua. O PAIZ, RJ, 24.6.1 913, p.3

    CHRYSANTHME. A arte na fotografia. ILLUSTRAO

    BRASILEIRA, RJ, X (1 01 ): n.p., jan.1 929

    Como se explicam os artistas: F. Guerra Duval. PHOTOGRAMMA,

    RJ, V (40): 4-7, fev.1 931

    VERA-CRUZ. Exposio Valrio. SANTA CRUZ, SP, VI (4): 1 83-1 86,

    jan.1 906

    GUERRA DUVAL, Fernando. Exposio de fotografias do Sr. San

    Payo. FOTO-FILM, RJ, I I (22): 1 3-1 4, nov.1 925

    ENSINO

    BORGES Filho, Nogueira. Curso de fotografia terico e prtico.

    FOTO-FILM, RJ, I I (22): 9-1 0, nov.1 925

    GUERRA DUVAL, Fernando. Escolas de fotografia. PHOTOGRAMMA,

    RJ, I I (24): 1 -3, jul.1 928

    JORNALISMO

    BILAC, Olavo. Crnica. GAZETA DE NOTCIAS, RJ, 1 3.1 .1 901 , p.1

    LOPES, Oscar. A semana. O PAIZ, RJ, 21 .5.1 911 , p.1

    X. Os fotgrafos. O PIRRALHO, SP, I I I (1 39): n.p., 1 8.4.1 91 4

    BARRETO, Plinio. Um bilhete. A CIGARRA, SP, I (1 9): n.p., 25.3.1 915

    20

    blocos temticos

    271

    277

    281

    285

    291

    295

    267

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    243

    249

    253

    257

    263

  • USOS E FUNES: o livro, a cidade, o retrato, a marinha,

    a imagem da guerra

    A velha e a nova cidade de So Paulo. A PROVNCIA DE SO PAULO,

    SP, 11 .8.1 887, p.2

    CARLOS, Luis. O retrato. A CIGARRA, SP, I I (42): n.p., 20.5.1 916

    Vida militar inglesa. A NOITE, RJ, 1 8.6.1 917, p.2

    O recorde mundial de fotografia. So Paulo: Officinas Graphicas

    Monteiro Lobato & Cia, [1 922]

    GUERRA DUVAL, Fernando. Marinhas. FOTO-FILM, RJ, I I (23): 2-3,

    dez.1 925

    ZOILO. Nossas ilustraes. FOTO-FILM, RJ, I I (23): 2-3, dez.1 925

    O retrato de S. Majestade a Rainha dos Estudantes. A ESQUERDA,

    Fortaleza, 2.4.1 928, p.1

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    21

    299

    303

    307

    311

    317

    319

    323

  • 23

    se l eo de a r t i g os

  • JOE. Cinematgrafo.

    GAZETA DE NOTCIAS, Rio de Janeiro,

    (243): 30.8.1 908, p.1 . il.

    (domingo)

    O texto ocupa toda a primeira pgina

    da edio de domingo. Aberto h pou-

    co mais de duas semanas, o grande

    evento tema da foto: o Morro da Ur-

    ca, ao fundo, rivaliza com o arco gi-

    gantesco sob o ttulo "Portal monu-

    mental da Exposio".

    A Exposio Nacional, comemorativa

    do centenrio da abertura dos portos,

    representa um dos grandes investi-

    mentos simblicos do governo republi-

    cano, vitrine para o mundo, mas,

    antes de tudo, para seus cidados.

    Joe, como assina o escritor e jorna-

    lista Joo do Rio (1 881 -1 921 ),

    mais um pseudnimo de Joo Paulo

    Emlio Cristvo dos Santos Coelho

    Barreto. Aos 27 anos, ele, persona-

    gem e cronista da cena carioca, re-

    gistra nesse artigo fatos ao longo

    de uma semana na Capital Federal,

    campo de intervenes urbansti-

    cas, que rompem com o ar tmido

    da antiga sede da Corte, dando um

    ar metropolitano a uma sociedade

    de contrastes socioculturais sur-

    preendentes.

    O inesperado, nesse contexto, iden-

    tificar uma nova expresso social para

    o fotgrafo. O texto exemplifica tam-

    bm a qualidade do escritor na sua

    produo como cronista.

    Um estudo mais atento revela, no s

    a escrita caracterstica, mas a criao

    afluente em transformao contnua.

    Dias antes, na edio de 26 de agos-

    to, no jornal Correio Paulistano, a par-

    te inicial do artigo era publicada sob o

    ttulo "Os animais da Exposio".

    Anos depois, como "Clic! Clac! O fo-

    tgrafo! ", ele incluir o segmento fi-

    nal no livro PallMall Rio (1 917.)

    evento social

    comportamento

    lugar social do fotgrafo

    24

  • DOMINGO

    A exposio de canrios, uma poro de gaiolas todas do mesmo feitio.

    As avezitas parecem assustadas com tanta gente, e so quase cor de

    creme algumas, outras amarelo ouro, outras de aafro e castanha,

    outras cor de gema de ovo, to delicadas, to areas, to imateriais que

    parecem flocos animados de um sopro a perder-se minutos depois.

    Como fui dar ali? Os homens gostam de animais de uma esquisita

    maneira. O homem da cidade de tal modo vive separado que no o

    conhece e no o v seno por excentricidade. Os cachorros so como

    elementos decorativos das senhoras, os cavalos ningum os separa das

    condues que puxam, salvo quando se membro da Sociedade

    Protetora dos Animais. Os gatos no passam de um cacoete filosfico

    literrio que se usa por pose porque Renan e Baudelaire gostavam de

    gatos como a Sarah em tempo gostou de jaguares. Eu abomino os

    gatos, os cachorros, os passarinhos, as galinhas. Um gato ronronando

    em cima de uma poltrona enfeza-me, e nada mais desolador do que

    uma gaiola com alguns bichinhos, presos pelo egosmo humano, a

    trinar vagamente vagas rias, s vezes tristes.

    Como fui dar ali? O fato que passei dos canrios aos pombos. E foi

    uma linda impresso. H-os todos brancos e todos cinzas e todos

    salmo e todos cor de havana; h-os como encrespados artificialmente

    com a cauda abrindo em leque e a cabea perdida [num] cocar de penas;

    h-os com rebrilhos de cobre e ao, que parecem sados da fantasia de

    um forno de faianas de Golfe Juan. Algumas so enormes abrindo as

    rmiges fortes; outros podem caber na palma da mo de uma donzela. E

    vendo os cartes com informaes sobre os cruzamentos, olhando-lhes

    o olhar o olhar dos pombos que olham como se no vissem , o

    arrulho exercia em mim como uma fascinao. Diante das gaiolas dos

    Cinematgrafo

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    25

  • pombos minha recordao voltavam os versos gregos, Vnus, o velho

    Virglio e o prudente Enas. Certo, Enas no teria descido aos infernos,

    se Vnus no o fizesse conduzir pelas suas pombas brancas.. .

    Os pombos levaram-me at ao local da Exposio de bois, de cavalos,

    de touros. Que aspecto! O sol, abrindo na porcelana azul do cu,

    dardejava uma poeira de diamante cegadora. E naquele brilho

    impalpvel acotovelava-se a multido. Eram empregados do comrcio,

    eram operrios, eram sujeitos bem postos, eram "sportsmen" e

    estrangeiros, mulheres do povo e senhoras do alto tom, cabeas em

    cabelo e grandes chapus a Gainsborough, crianas endomingadas e

    babys como escapados aos figurinos de luva de seda branca e

    gestinhos tenros. A luz tirava chispas e fulguraes das joias, dava um

    cunho de apoteose a tudo. Era como se estivssemos na pesagem de

    um prado em dia do grande prmio. Os animais estavam na sombra e a

    curiosidade era toda para eles. Damas flexveis e delicadas paravam em

    xtase diante dos bois formidveis, e os tratadores perfilados davam

    informaes:

    Esse cavalo?

    do Sr. baro do Paran.

    E aquela zebra?

    Ah! isso cruzado. O Sr. baro tem dezenove. Este filho de um

    cavalo e de uma zebra. Com aquele deu-se o contrrio. E so menos

    maus que os burros, os zebroides.

    Os cavalos pareciam orgulhosos da admirao da turba. Os bois eram

    majestosamente paternais. O olhar amistoso de um desses animais

    consola a alma. E que estranha sensao a do ambiente! O cheiro

    saudvel dos bois, aquelas cabeas to graves e belas, em que o rosa

    tem desmaios, o pelo macio e lustroso, a fartura, a plenitude, a pujana

    dos exemplares tudo se ligava para infiltrar nas anemias urbanas e

    nas neurastenias presentes, a "griserie" de uma outra vida, o desejo

    animal de ter muita sade, de no conhecer perfumes e fatuidades, de

    viver como os tratadores, dormindo no feno, amando livremente,

    refocilando com os bichos. As damas ainda resistiam em passar a mo

    pelo dorso dos touros. Os homens iam fatalmente do desejo ao gesto.

    As crianas, que esto mais perto da natureza, pediam...

    26

    Cinematgrafo, 1 908

  • E parecia que ns todos ramos melhores, sentamos um fluxo de

    bondade infinita nessa atmosfera rural.

    que no h como a aproximao dos animais domsticos para nos

    encher de bondade. As aves dos ares so a msica do viver. Os

    pombos so o amor. Os galos so como natais da vida. E os bois so o

    conforto e o bem da existncia.

    Encontr-los assim belos e bem tratados uma delcia a que o

    homem urbano se entrega com um prazer infinito tanto mais

    quanto os v e logo dali sai para a civilizao requintada, em pleno

    domnio da Cidade Maravilha.

    SEGUNDA

    Segunda do "Quebranto". Casa cheia. Aplausos, comentrios como na

    primeira noite. muito melhor assistir s segundas. A sensao do

    pblico muito mais intensa. A pea de Coelho Netto resiste bem ao

    contato do grande pblico.

    Mas por que os deuses imortais no consentem que se possa louvar

    totalmente aquele tentmen? A pea uma stira feroz a um certo

    meio. Fraquear um pouco na caricatura dar motivo a que no se

    tome a srio a stira. E que fizeram aqueles artistas fingindo elegncia?

    Os artistas foram lamentveis. A cena do "five o'clock" foi um

    verdadeiro carnaval. Alguns atores apareceram agarrando uma luva

    com o ar de quem segura vela em dia de procisso. O Sr. Alfredo Silva,

    to inteligente, fazia um tipo de carioca cinicamente gozador e elegante

    como um vegete de farsa, com as calas suspensas e uma velha

    sobrecasaca; o Sr. Nazareth, com uma cabeleira loira enorme tinha um

    fato positivamente de revista de ano. O Sr. Joo de Deus apareceu

    valha-nos Deus de "smoking" s cinco da tarde. A Sra. Luiza de

    Oliveira tinha um vestido integralmente mgico, e para no faltar nada

    quela sarabanda de adelo, um ator de casaca fazia de criado.

    Os atores tm a mania de que o fato de somenos importncia. No!

    O fato tudo no teatro, ou pelo menos a maior parte. No se faz um

    homem elegante com uma velha redingote, e a composio de um

    "five o'clock" deixa de ser flagrante apanhado da vida real para passar

    insulsa pilhria quando a fazem daquele modo.

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    27

  • A regenerao teatral! Ela s se far quando um sujeito, como o

    Christiano e com muito dinheiro, ditar aos atores as roupas e for

    obedecido.

    De resto, eu ouvia duas senhoras conversarem:

    curioso este "five o'clock"!

    Muito.

    J viste? Faz-se tudo menos tomar ch.

    verdade. S se l dentro.. .

    Mas que tem tudo isso? A obra de Netto fica. uma das facetas do

    gnio desse homem admirvel. E eu ouvindo o terceiro ato empolgante

    lembro uma carta do grande artista de dolorosa melancolia:

    "Quando escreveres, pe um rochedo sobre o corao para que te no

    suceda compores s com expresses de amor o que devia sair

    integralmente do crebro, justo e forte como Minerva armada. A

    bondade desvairou-te onde apontaste um gnio h apenas um pobre

    diabo que, h 22 anos, sem trguas, empurra uma pedra para o cimo da

    escarpa e, quando imagina haver cumprido a tarefa, v a pedra

    despenhar-se no fundo da indiferena. Torna faina e comea a labuta,

    arquejando. Se a to estpida contumcia pes o rtulo de 'gnio',

    glria a Ssifo!"

    Se no fosse esse trabalho incessante do grande beneditino da arte, to

    soberbamente as nossas letras contemporneas no fulgurariam, nem

    aos pobres mortais seria dado o prazer de gozar a obra desse crebro

    extraordinrio, sempre novo e sempre assombroso.. .

    QUARTA

    Hora de Exposio. Bar. Adolpho Araujo, o jornalista paulista das

    frases imprevistas, j chamou um "garon", que se diz italiano

    brasileiro, de "panach de nacionalidades", e disse sobre certas

    criaturas da literatura cousas horrendas. Ns estamos num ponto

    estratgico. V-se a fita do Rio, todo o Rio que passa, e o interessante

    que Joaquim Morse e Adolpho Araujo, apesar de serem de S. Paulo,

    conhecem toda a gente. Esses jornalistas!

    Cinematgrafo, 1 908

    28

  • Aquela espanhola? - Situao admirvel com o deputado do

    Amazonas. Mas a crise da borracha? Para tais cousas h sempre

    dinheiro.. . Olha o Coelho Netto. O Netto est a entrar no

    mercado estrangeiro, primeiras colunas dos jornais de Paris, um

    romance sobre imigrantes a sair na "Tribuna Italiana". Srio?

    Tudo quanto h de mais srio. E o seu "Up-to-date"? Dizem que

    uma pea clef. clef era o "Five o'clock". Imagina tu.. . Mas a

    histria daquele casal que ali vai. Ele est mais gordo... Ela tambm,

    a impudncia da luz.. . Olha que causa admirao esta concorrncia.

    Para tais cousas h sempre dinheiro. O general T... . Sabes que o

    general foi encontrado... Silncio, uma questo militar! Decidida

    com as ltimas armas do carcs de Eros.. . Mas aquele jovem

    elegante o Luiz Edmundo. . Vai para a Europa. Duas edies do

    livro esgotadas, dois ou trs jornais. E depois, filho, uma flor com

    talento e amabilidade. Aquela a Mme. X? - No, agora I., Mme. I.

    Casou de novo por uma nova religio. E os prmios de automveis

    bem postos? A concorrncia no deve ser grande. H pouco

    dinheiro e muito pouco chic. Essa gente tem carros mas falta-lhe a

    linha; aquela linha de elegncia do David Campista. O Gasto de

    Almeida, que guia deliciosamente, talvez seja bem. E o Leopoldo da

    Cunha, homem da moda, tambm... Vais ver que do a alguma

    troupe familiar burguesa! Decises do amvel feiticeiro que o

    Thaumaturgo. - O general Gregrio Thaumaturgo de Azevedo?

    Sim, o general.. .

    E a conversa continua, enquanto a luz envolve os grandes palcios

    num zamph multicor de pr de sol esfriado pelas nvoas do mar.. .

    SBADO

    Ah! um fotgrafo!

    A cena foi rpida. Era na Avenida, Mme. de Figueiroa abriu nervo-

    samente o leque, baixou a cabea e deitou quase a correr. Na sua

    frente, porm, um sujeito louro, com o "kodack" na mo, ria a bom rir,

    e quando a linda senhora passou a seu lado, cumprimentou:

    V. Ex. fez muito mal, minha senhora. A chapa vai sair preta.

    Vai sair preta?

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    29

  • Pois est claro! A cabea curvada, o leque escurecendo o rosto.. .

    Mas o senhor vai fazer sair isto?

    para um jornal ilustrado. Com sua licena.. .

    Tem que sair mesmo?

    fatal.

    Mme. de Figueiroa mordeu o lbio, hesitou, e de sbito resolvida:

    Ento se no h remdio, tire outro instantneo direito.

    E ficou de p, numa pose de ave real, sorrindo, enquanto o moo

    louro de novo a "kodacklsava".

    Era na Avenida e a cena foi rpida. Mas em outras ruas em outros

    pontos da cidade, quantas cenas idnticas a essa se passam? Porque

    ns temos agora mais um exagero, mais uma doena nervosa: a da

    informao fotogrfica, a da reportagem fotogrfica, a do diletantismo

    fotogrfico, a da exibio fotogrfica a loucura da fotografia. J no

    h propriamente mais fotgrafos profissionais, porque toda a cidade

    fotgrafa. J no h propriamente pessoas notveis cuja fisionomia se

    faa necessidade informativa dos jornais, porque no h cara que no

    seja publicada. No s as caras. As caras no bastam. As ruas, as casas,

    os aspectos dos cus, os combustores da iluminao, os carros, as

    carroas, as montanhas, as rvores. H cinco anos, em visita a qualquer

    famlia de mediania burguesa, o visitante contava com quatro ou cinco

    desastres fatais: ouvir os progressos da filha mais velha ao piano,

    admirar as aquarelas da petiz do meio, aplaudir a caula que recitava de

    cor versinhos estropiados. Agora no. Agora s fotografia.

    Esteve ontem no corso?

    No, minha senhora.

    Foi pena. Estavam l os fotgrafos de todos os jornais ilustrados. E

    contaram-me que um dos cinematgrafos mandou tirar uma fita.

    Aparecemos todos.

    Esta Maria vaidosa! No se farta. Olhe que j tem sado numa

    poro de instantneos.

    A esta frase, caem em cima da visita ruma de hebdomadrios elegantes

    e fotogrficos. E a dona do lar d opinies tcnicas.

    Cinematgrafo, 1 908

    30

  • No saiu ntido. Um pouco escuro. Ms condies de luz. Este que

    est um "Rembrandt" de primeirssima! Ah! Eu entendo. Admira-se? Aqui

    no h quem no tenha o seu "kodack". Foi um lote que comprei em

    liquidao e a prestaes mensais. At o Juquinha j tira a sua fotografia!

    E, em lugar de ver as aquarelas, vemos os retratos tirados pelo

    Juquinha: o gato da casa, a cozinheira espantando as galinhas, o

    cachorro lambendo as mos do dono da casa tudo sem proporo

    sem perspectiva, mas encantador.

    Na alta sociedade, no chic mostrar um apetite to vulgar pela

    reproduo das imagens. As senhoras tm um ar de desdm, os homens

    fingem fugir, mas os retratos das "professional-beauties" aparecem em

    instantneos custosamente posados e no h semana em que um

    ilustrado no nos fornea a ttulo de documento exato o interior

    embelezado de vrios palacetes. De modo que se a burguesia e a alta

    roda sentem a vivaz vontade da fotografia, a cidade inteira, todas as

    classes sociais, num acordo definitivo do ladro preso ao diplomata

    transferido, exigem a reproduo dos seus gestos. mesmo provvel que

    at os mortos de mortes violentas sintam a necessidade de reproduo

    da sua ltima atitude para no desmerecer no outro mundo.

    Sim! a verdade dolorosa! O mundo no tem a obsesso do espelho,

    como disse o poeta tem a obsesso da fotografia! Arde uma casa em

    certa rua? possvel que o incomparvel corpo de bombeiros demore.

    Os fotgrafos surgem logo. O incndio aumenta? possvel que o

    valoroso corpo nico e incomparvel como o Po de Acar e a

    pedra da Itapuca no o limite. Os fotgrafos, porm, l esto para

    fotografar a chegada do corpo, a primeira ordem do comandante, as

    chamas, os primeiros esguichos das mangueiras, o povo, os jornalistas,

    os donos da casa, a companhia que a segurava. o delrio! Um

    cavalheiro faz a coisa mais imprudente e mais vulgar do mundo: casa

    como qualquer de ns. possvel que o pretor no aparea ou as

    testemunhas no venham. Os fotgrafos l esto para dar o casal

    subindo o altar, subindo para o carro, subindo as escadarias da casa e a

    de ns! para o futuro breve se no houver um paradeiro pelo menos

    para certas intimidades familiares, com a neurose do documento exato.

    Mas no s. Dois homens brigam. Morre um, vai outro para a cadeia,

    saem ambos fotografados no jornal. Um tipo suicida-se? Retrato dele

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    31

  • em todas as idades nas folhas! H uma senhora que saiu rua? Zs!

    kodack nela! Voc vai ali confeitaria? Instantneo! E a alucinao.

    No se anda nas caladas sem desconfiar dos transeuntes, no se sai

    rua sem estudar o andar, por causa das dvidas no se atravessa uma

    praa sem a pergunta ntima:

    Quantos fotgrafos estaro agora fotografando-me?

    E no mesmo preciso sair rua. Na Cmara os deputados esto

    sentados e de repente um tiro de magnsio: foi um instantneo. Nas

    secretarias, os funcionrios esforadamente escrevem cartas s

    namoradas, quando de sbito invadem as salas batalhes de homens

    de unhas envernizadas, e clic! clac! e tome instantneos. Nas fbricas,

    os operrios esto a palestrar sobre a ltima greve e o direito que todo

    o operrio tem de ver a diria aumentada, as horas de labor diminudas,

    e aparece um homem, ergue a mo e paf! bifa o quadro natural. E

    como j se do as senhoras na missa, s compras, nos banquetes,

    escrevendo no seu hall ntimo, e os cavalheiros em mangas de camisa

    no seu escritrio, e as cocottes em [menores] grupos e os pic-nics

    carnavalescos muito provvel que muito em breve um fotgrafo,

    se no for chamado, solicitado, rogado antes entre em casa de uma

    pessoa qualquer e exija, seja ele ministro ou contnuo:

    Dispa-se e mostre-me como vai para o banheiro! Quero tirar um

    instantneo!

    E, tremendo de gozo, a vtima, s com a ideia do instantneo, correr

    ao banheiro, mesmo que tenha por esse stio do lar uma inexplicvel

    implicncia.. .

    que o fotgrafo o tirano, o agente da vaidade, o Boreas da

    grande tolice universal, o nico sacerdote acreditado no fandango do

    mundo. Quando um homem se erige em fotgrafo a sociedade

    prostra-se.

    Voc tira retratos?

    E instantneos.

    Venha da, vamos jantar!

    A gente encontra na flora enorme uma infinita variedade de

    representantes: o fotgrafo artstico de quadros, o amador da fotografia

    Cinematgrafo, 1 908

    32

  • de arte, que tira retratos de senhoras bonitas em ambientes lnguidos e

    aspectos do luar nos lagos e nas florestas, o fotgrafo da cidade para

    cartes postais, o fotgrafo reprter, o fotgrafo ilustrador a que

    no escapam nem as vagas das ressacas na baa, o turbilho de

    fotgrafos amadores, o fotgrafo high-life, o fotgrafo pndego que

    inventa por justaposies de chapas cenas picarescas e de pessoas

    graves, o fotgrafo instalado, o "vieux genre", que olha para toda flora

    com os ares de pai nobre abandonado pelo filho prdigo.. . Ele entra,

    h o estremeo emocionante da massa, e ei-lo a manejar todos como

    polichinelos.

    Parem!

    Todos param.

    Vira a cabea!

    Todos viram.

    Olhe para aqui!

    Todos olham.

    que ele tem esse direito. No s aqui. Em toda a parte do mundo.

    Ainda outro dia, diz o "Hong-Kong Daily Express", havia em Canto,

    na China, a execuo de oito malandros. Cada vez que os executores

    suspendiam um dos coitados, a chusma de fotgrafos assestava

    baterias e apanhava o derradeiro esgar. O ltimo ia ter a cabea

    decepada. J o carrasco passava o fio do gldio pelo pescoo do pobre

    diabo, quando um dos fotgrafos bradou:

    Um instante.

    O carrasco parou e o criminoso viveu no transe mais um instante,

    porque o macabro fotgrafo queria o instantneo perfeito.

    Em transe vivemos ns agora, com a obsesso de apanhar na mquina

    os outros e de ver a nossa figura em cada jornal. J comea a no ser

    chic passar um ms sem ser fotografado seis vezes. Que ser da

    cidade, com tal mania, amanh?

    E ao assistir cena de Mme. de Figueiroa, na Avenida, ao pensar,

    trmulo de medo, na assustadora epidemia fotogrfica, eu no pude

    deixar de recordar que h duas semanas, indo visitar um deputado,

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    33

  • tambm amador de fotografia, o deputado fez-me travar

    conhecimento com o seu filho de trs meses e meio por estas

    palavras:

    Um pimpolho j clebre!

    Clebre?

    Venceu o "record" da fotografia.

    Ora esta!

    J foi fotografado vinte vezes e, outro dia no meu colo, verdade

    que sem querer, tirou o instantneo da ama de leite a preparar-lhe a

    fralda.. .

    Joe

    Cinematgrafo, 1 908

    34

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

    35

  • 36

    O convescote de domingo.

    CIDADE DE FRIBURGO, Nova Fribur-

    go, 1 0.1 2.1 916, p.1

    (domingo)

    Cidade serrana fluminense, Nova Fri-

    burgo acolhe ao longo do sculo XIX

    colonos europeus, alemes e suios

    em especial. Isso talvez explique o

    costume de passeios e uma vida social

    ao livre. No entanto, em muitas cida-

    des brasileiras, "pic-nics", excurses e

    convescotes tornam-se um novo hbi-

    to da sociedade, momento de expres-

    so social, interao e investimento.

    Esse gnero de evento se revela logo

    como objeto de interesse para o ama-

    dor fotogrfico, espcie nova de prati-

    cante, ou como oportunidade para o

    profissional. Um exemplo paulistano

    registrado em 1902, no jornal O

    ESTADO DE S. PAULO, do dia seis de

    maio, trs dias aps o passeio. Outo-

    no, poca oportuna para uma "Excur-

    so a M'Boy", ttulo do artigo, e visita

    ao antigo colgio dos jesutas, naque-

    le sbado reunem-se ao grupo autori-

    dades como o secretrio de agri-

    cultura, entre outros polticos, repre-

    evento social

    comportamento

    lugar social do fotgrafo

    sentantes da imprensa e o fotgrafo

    amador J. de S Rocha. O texto,

    publicado s pginas 1 e 2, descreve

    todos os momentos da excurso inclu-

    sive uma cascata fotografada por Ro-

    cha de trs pontos diferentes.

    O convescote fluminense segue a

    mesma estruturao. Fica, porm,

    mais evidente a presena da impren-

    sa e dos senhores amadores, ganhan-

    do destaque a produo de imagens e

    o comrcio ao redor dessas fotografi-

    as, elas mesmo entendidas como

    parte estrutural do fato social.

  • O convescote de domingo

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    37

    Conforme estava anunciado, teve lugar, domingo, 3 do corrente, o

    grande "pic-nic", organizado pelos srs. Odilon Vital, Didimo Manoel de

    Oliveira e Aristides Mello, na Olaria, de propriedade dos srs. Thurler.

    Embora o tempo estivesse incerto, 1 hora da tarde os bondes

    partiram levando um grupo musical, formado de distintos moos, os

    srs. Vicente Fassetta e Denencourt Scholts, fotgrafos, e perto de 100

    pessoas, entre famlias e representantes da imprensa local. A chuva

    impertinente, logo hora da sada dos bondes, caa impiedosa, tendo-

    se prolongado durante toda a viagem.

    Chegados que foram Olaria, local escolhido ultima hora, devido ao

    mau tempo, os convidados, acomodados num vasto salo, oferecido

    gentilmente pelo sr. Antonio Thurler, deram comeo a uma elegante

    matin danante, que se estendeu at s 4 horas da tarde.

    A essa hora, oferecendo o tempo ocasio para fotografias, pois que a

    tarde j comeava a tornar-se clara e limpa, os srs. amadores-

    fotogrficos tiraram vrios retratos dos presentes ao encantador

    convescote.

    Em seguida foi servido um magnfico "lunch", regado de excelentes

    bebidas, tendo reinado durante ele a melhor harmonia possvel.

    Recomearam as danas e vrios outros brinquedos, que terminaram

    s 5 horas. A essa hora, perto de 120 pessoas, jornalistas, fotgrafos,

    msicos, tomaram assentos nos diversos bondes, que os conduziram a

    esta cidade, onde chegaram s 5 horas da tarde sob ruidosos vivas e

    aclamaes imprensa, comisso organizadora e ao convescote. Os

    convidados se dispersaram, retirando-se cada um para sua residncia,

    sob uma impresso magnfica da festa de domingo ltimo.

    * * *

  • As fotografias tiradas pelo amador Vicente Fassetta, que primam pela

    nitidez e apurado gosto artstico, que revela a inteligncia do ilustrado

    moo, foram colocadas nas vitrines das casas comerciais dos srs. Jos

    El-Jachi e Bazar Santos Dumont s vistas do pblico.

    Nesta redao, onde tambm se encontram em exposio, os

    interessados podero obt-las pelo insignificante preo de 2$000 mil

    ris cada uma.

    * * *

    A comisso organizadora, por nosso intermdio, agradece penho-

    radssima a todas as exmas. famlias, jornalistas, fotgrafos e especial-

    mente ao destemido grupo musical que to gentilmente compareceram

    ao convescote de domingo, emprestando-lhe com sua presena o

    maior brilho e valor que se pode admitir.

    O convescote de domingo, 1 916

    38

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

    39

  • 40

    BILAC, Olavo. Dirio do Rio.

    O ESTADO DE S. PAULO, SP,

    21 .01 .1 898, p.1 .

    (sexta-feira)

    Jornalista e poeta, Olavo Bilac (1 865-

    1 918) est presente nesta antologia

    em dois momentos, como tambm

    Joo do Rio. Embora menos conhecido

    hoje por sua produo na imprensa,

    esta, em especial suas crnicas,

    avaliada em estudos como o de

    Antonio Dimas (1 996). revelante

    assim que o artigo em questo tenha

    sido publicado num jornal paulista,

    reflexo quase certo do seu prestgio

    como jornalista.

    Mais sucinto, em estilo distinto,

    igualmente tirando proveito do tom

    leve, Bilac comenta nesse ensaio, de

    1898, uma oportunidade de negcios

    que mira a Exposio Universal

    programada para dois anos aps em

    Paris. Grandes realizaes que

    dominam as ltimas dcadas do sculo

    XIX, esses eventos representam

    momento para exposio das naes

    desenvolvidas, em representaes

    nacionais, com seus pavilhes.

    o feminino

    comportamento

    crnica

    O artigo introduz nesta seleo tema

    de fundo, de presena intensa no

    perodo coberto pela antologia,

    expresso na representao visual da

    mulher, do feminino. Ao longo desse

    recorte temporal registra-se uma

    identidade muito forte entre essas

    manifestaes e a prpria expresso

    artstica dominante.

    Bilac toma como mote anncio na

    imprensa do fotgrafo Holzer Fay

    Bla, radicado no Rio de Janeiro,

    Rua Gonalves Dias, onde se dedica

    como boa parte dos profissionais ao

    retrato. Pouco se sabe sobre o

    profissional, alm de associao

    eventual com Bastos & Dias.

  • Dirio do Rio

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    41

    18 de janeiro de 1898

    Ontem, na Gazeta, esta deliciosa notcia:

    "O sr. Holzer F. Bla, fotgrafo, teve a ideia de reunir em precioso

    lbum, para figurar na Exposio Universal de Paris em 1900, as

    fotografias das mais belas senhoras deste pas, e para isso convida-as a

    comparecerem na sua oficina, para retratarem-se sem nus algum.

    Com este intuito distribuiu pela imprensa convites, afim de que esta os

    faa chegar s formosas senhoritas que se julguem no caso de aspirar a

    esta glria."

    Deliciosa, sim! Deliciosa notcia! Porque, enfim, o Brasil, se no fosse

    esse amvel retratista, no se poderia mostrar, dignamente

    representado, na exposio de 1900, aos olhos de todo o mundo... Em

    primeiro lugar, est provado que no temos dinheiro: nem poderamos

    pagar as passagens dos comissrios que fossem levar ao certame

    universal os nossos produtos. Em segundo lugar, que produtos

    mandaramos ns? O inqurito do atentado de 5 de novembro, para

    mostrar ao universo embasbacado os processos novos de que

    lanamos mo para fazer poltica? a garrucha de Marcelino, para que a

    Europa visse o que a nossa arma eleitoral? algumas folhas dirias,

    para que a Civilizao admirasse a planta rara e indgena do apedido? O

    nosso corpo de bombeiros, para que o velho mundo se certificasse de

    que somente por falta de gua que se no apagam aqui os incndios?

    a fotografia dos buracos de qualquer de nossas ruas? a Academia de

    Letras? Realmente, le jeu ne vaudrait pas la chandelle. . . .

  • Mas, o amvel sr. Bela acaba de salvar a situao: se no temos arte,

    temos natureza! Se no podemos mandar Europa os produtos da

    mo do homem, podemos mandar-lhe os produtos da mo do

    Criador! Vamos enviar Exposio Universal as fotografias das nossas

    mulheres belas, e isso, graas a Deus ou ao Diabo, no nos falta!

    Eu que os diga! Eu, que, com os olhos deslumbrados e tontos, as vejo

    passar por aqui, todos os dias, estas louras, de olhos de violetas,

    aquelas morenas, de olhos de nix!. . .

    Ai, sim! isso o que no nos falta! e a lembrana do fotgrafo foi uma

    lembrana verdadeiramente genial. . . Mas (em todas as grandes ideias

    h sempre esta adversativa malvada!. . . ) mas, o que torna a ideia pouco

    prtica que o fotgrafo, em m hora encarregue as senhoras belas de

    julgarem a si mesmas.

    Que perigo! Sabeis que no h mulher feia que se no suponha bonita;

    por outro lado, as mulheres realmente bonitas amam dizer que o no

    so, por modstia ou coquetterie. E, pois, muito provvel que s se

    apresentem diante da objetiva da mquina fotogrfica do sr. Bla, j

    no as matronas notoriamente feias, mas, o que ser pior, as

    senhoritas nem bonitas nem feias, nem carne nem peixe, nem dignas

    de adorao nem dignas de repulsa. E o resultado ser este: ou o sr.

    Bela desistir de sua ideia e o Brasil no aparecer na exposio, ou o

    sr. Bela se resignar a mandar a Paris as fotografias que tiver obtido, e

    as parisienses triunfantes e contentes zombaro das nossas

    formosuras.. .

    E assim se perde, s vezes, uma grande e rutilante ideia!

    O.B.

    42

    Dirio do Rio, 1 898

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

    43

  • 44

    TEX, Leo. Pelos "ateliers" e sales...

    CORREIO PAULISTANO, SP,

    27.6.1 913, p.1

    (sexta-feira)

    A estrutura do artigo curiosa,

    embora o uso de transcries e

    comentrios de outros jornais seja

    prtica comum no perodo. Mais uma

    vez, a nota num peridico paulistano

    sobre evento fotogrfico carioca

    merece ateno por si. Leo Tex, de

    quem no sabemos muito, alm de

    nota no mesmo CORREIO PAULIS-

    TANO, em 05 de maro daquele ano,

    que o apresenta como colaborador em

    partida para o Rio. Leopoldo Teixeira

    Leite Filho, seu nome verdadeiro,

    acabara de ser nomeado promotor

    pblico "no territrio do Alto Acre",

    para onde deveria partir brevemente.

    Isso talvez explique a peculiar

    transcrio de artigo de autoria de

    Lindolfo Collor (1 890-1 942), ento

    jovem jornalista. Fugindo do usual,

    Leo Tex usa o artigo como veculo

    para seus prprios comentrios muito

    provavelmente sobre uma tema que

    lhe prximo.

    o feminino

    comportamento

    exposio

    Sylvio Bevilacaqua (?-1 948) tem aqui

    sua primeira referncia nessa

    antologia. Ao lado de Fernando Guerra

    Duval (?-1 950), ele constitui uma das

    figuras de longa permanncia entre as

    dcadas de 1900 a 1930, delineando

    um percurso pessoal surpreendente

    desde sua atuao como professor do

    Colgio Pedro II at estabelecer seu

    estdio profissional, passando pelos

    principais momentos do fotoclubismo

    carioca. Nesse percurso, Bevilacqua

    se dedicar aos temas da mulher e da

    criana, em menor escala.

    fundamental, considerando a inser-

    o num artigo da grande imprensa, a

    referncia ao crtico francs Robert

    de la Sizeranne, marco terico eleito

    pelos principais agentes locais asso-

    ciados questo da fotografia

    artstica.

    Leia pgina 249 outro artigo sobre o

    mesmo evento.

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

    45

    Pelos "ateliers" e sales.. .

    A exposio de "pastis" Bevilacqua

    O Rio assiste, hoje, inaugurao da segunda exposio artstica do

    reputado fotgrafo Sylvio Bevilacqua.

    O acontecimento tem toda a importncia de uma nota mundana,

    como, alis, j o fez notar o cintilante cronista do Jornal do Commercio,

    Lindolfo Collor, na sua seo de sbado:

    " esta a segunda grande exposio de fotografia artstica feita por

    Sylvio Bevilacqua. Dizemos que a segunda grande exposio porque

    o ateli de Sylvio , de fato, uma bela exposio permanente, feita ao

    sabor do acaso, sem a pretenso de ordem de todas as exposies, e

    por isto mesmo tanto mais interessante.

    "Se o atelier de Sylvio uma exposio permanente, a sua frequncia

    no sofre tambm, logicamente, nenhuma interrupo. De fato, poder-

    se-ia afirmar que aquele recanto discreto dedicado ao trabalho artstico

    um dos pontos mais preferidos pelo nosso alto mundo artstico, de

    passagem pela avenida, para uma 'causerie' ligeira, entre uma 'pose' que

    Sylvio arranja e uma disposio definitiva para a rua, para o corso, para

    o 'five o'clock'. . .

    "De modo que como exposio permanente, o ateli Bevilacqua

    sempre um magnfico recanto de palestra, onde a quantidade e

    qualidade de esprito faz frente ausncia tanto quanto possvel do

    convencionalismo frvolo que sempre enregela as melhores disposies

    verbais."

    Deve-se registr-lo, portanto, com um comentrio, porque essa

    exposio significa, na realidade, alguma cousa mais que um esforo;

    exprime mais que uma tentativa.

  • tambm atestado e que eloquente atestado! do aperfeioamento

    a que tem chegado, entre ns, a fotografia, na sua expresso como arte.

    H tempos, ainda, discutia-se em Frana, se a fotografia era e se podia

    ser uma arte e a discusso assumia, na Revue des Deux Mondes,

    propores de uma verdadeira polmica, quando Robert de la Sizeranne

    solveu a questo, em magistralssimo artigo, concluindo pela negativa.

    No h dvida alguma que o problema est, nesse trabalho, reduzido

    s propores geomtricas de uma equao, que representa o conceito

    ruskiniano das belas-artes.

    A despeito, porm, da eloquente argumentao do autor das "Questions

    esthtiques contemporaines" a fotografia afigura-se-nos como uma arte ela

    reproduz a natureza, com sinceridade absoluta e a sua preciso ser a

    mais rigorosa, quando se tornarem definitivos os atuais ensaios de "viso

    e impresso colorida".

    No momento atual, em fotografia artstica, o pastel representa esse

    desideratum.

    A exposio Bevilacqua d-nos nitidamente a prova dessa afirmao:

    dos cinquenta e tantos trabalhos expostos, cinco podem ser reputados

    o nec plus ultra, a derradeira palavra no gnero.

    O pastel todo o grande segredo de Bevilacqua, como disse o cronista

    do "Jornal do Commercio":

    "Toda a reputao de Sylvio reside na feitura impecvel desses

    trabalhos que o recomendam verdadeiramente como um um artista

    perfeito no difcil 'mtier' de fazer fotografias sem cair no horrvel

    chavo da impassibilidade fotogrfica."

    fato: a fotografia colorida no poderia, jamais, rivalizar com esses cinco

    trabalhos impecveis do grande artista.

    O "pastel" que representa Mme. Vaz Carvalho uma maravilha a

    figurar nas mais notveis exposies internacionais de arte fotogrfica

    tal a expresso do olhar, tal a vida da fisionomia.

    Outro para o qual a ateno converge, naturalmente, o retrato de

    Mlle. Nabuco de Castro tipo esplendente de beleza tropical, que j

    tem sido laureado em alguns concursos de mundanidade.

    46

    Pelos 'ateliers' e sales, 1 913

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

    47

    A "pose" Mlle. Vera Barbosa , tambm, um elegante espcimen do

    catlogo, muito embora seja melhor o original perche parla. . . e o Rio-chic

    a reputa, mui justamente, como uma das mais finas causeuses dos seu

    sales aristocrticos.

    Para citar esses somente, silenciaremos, a contragosto, a linda srie de

    outros magnficos nmeros do catlogo: Teta e Odette Gasparoni,

    Hortncia de Mello, Viva Heitor Cordeiro, serena e sonhadora, em

    duas "poses"; Mme. Santos Lobo e finalmente o lindo "pastel" que

    representa Bilac, o poeta do Caador das Esmeraldas.

    H qualidades inestimveis nos pastis expostos, afora os atributos de

    excelente execuo e meticuloso acabamento.

    Sente-os, primeira vista, o observador.

    Bevilacqua tende a espiritualizar todos os seus retratos, pela "pose", pela

    expresso; depois, o seu colorido sbrio como uma "nuance"

    empresta s fisionomias intenes sonhadoras de grande efeito,

    enquanto a "luz" ou a "sombra" completa a composio da figura.

    * * *

    O pblico elegante desta capital vai se dar rendez-vous no elegante

    "atelier" do fotgrafo Bevilacqua, admirando as silhuetas femininas, em

    exposio.

    de esperar que contemplem os seus artsticos "pastis" com mais

    pastis do que entendimento.. .

    certo, porm, que aplaudiro o artista.

    J um personagem do teatro ibseniano afirmava que nada faz

    simpatizar tanto uma individualidade como a sua "boa estrela. . ."

    A "boa estrela" de Sylvio Bevilacqua apresenta-o, ao pblico, por um

    prisma encantador; veem todos nele o homem feliz e querido de

    todos.. . e vivendo no meio de uma centena tonteadora de formosas

    criaturas, cujas atitudes e "poses" e gestos ele modifica e altera sua

    fantasia e a seu capricho...

    E que no o fazem sofrer.

    Tambm no o podem...

    Rio, 23-VI-13. Lo TEX

  • 48

    BEVILACQUA, Sylvio. No T. S. F.

    PHOTOGRAMMA, RJ, I I (23): 8-1 0,

    maio 1 928

    Novos tempos trazem o rdio. Na

    dcada de 1920 surgem emissoras

    locais com programao regular. Em

    1927, o Photo Club Brasileiro, em 2

    de setembro, realiza s 20h20 uma

    palestra sobre fotografia atravs da

    Rdio Sociedade do Rio de Janeiro.

    No causa surpresa, considerando o

    programa editorial do clube, que a

    transcrio seja publicada em

    PHOTOGRAMMA daquele mesmo

    ms. Em maro de 1928, novamente a

    revista do clube publica o contedo do

    programa realizado no dia nove. Silvio

    Bevilacqua o responsvel por ambas

    as apresentaes.

    As relaes entre fotografia e rdio

    no so incomuns. A telegrafia sem

    fio, denominao de poca que explica

    o ttulo do artigo, surge em anncios

    nas revistas fotogrficas. Em 1926, a

    sexta edio da REVISTA BRASILEIRA

    DE PHOTOGRAPHIA, publicada em

    So Paulo, traz novo subttulo: "arte

    fotogrfica e radiotelefonia". Ainda

    em So Paulo, em 1939, Jos Medina

    o feminino

    comportamento

    imprensa especializada

    produzir "Instantneos no ar", entre

    fevereiro e maio, na Rdio Bandei-

    rantes. O Foto Clube Brasileiro

    retomar ao rdio apenas em 1948,

    por alguns meses, com "Luz e sombra"

    pela Rdio Sociedade Guanabara, aos

    sbados.

    O importante aqui, porm, o tema do

    programa apresentado em 1928: a

    beleza e a graa feminina na

    fotografia. Que Sylvio Bevilacqua, com

    uma carreira dedicada aos temas da

    mulher e da criana, em menor grau,

    seja o apresentador, expressa a rele-

    vncia do artigo. O fotgrafo

    apresenta s ouvintes, em especial,

    um passo a passo para o retrato,

    estabelecendo um roteiro que busca

    promover melhor interao entre

    modelo e fotgrafo.

    A referncia a Chamfort, provavel-

    mente Nicholas Chamfort (1741 -1794),

    parece procurar estabelecer o tom

    para a conversao: "Quando se fala

    da mulher, deve-se molhar a pena no

    arco-ris e derramar sobre a escrita o

    p das asas das borboletas". Em

    tempo, a citao parece ser uma

    derivao de outra atribuda a Denis

    Diderot (1713-1784).

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

    49

    No T. S. F.

    O nosso tema de hoje ser: da beleza e da graa feminina em

    fotografia.

    bem conhecido o que dizia Chamfort: "Quand on parle de la femme,

    il faut tremper sa plume dans l'arc-en-ciel et rpandre sur l'criture la

    poussire des ailes des papillons."

    O fotgrafo retratista aproveita, de fato, o auxlio das cores do arco-

    ris e no as das asas das borboletas para por em relevo a beleza e a

    graa feminina, porque so elas que vm solcitas e amveis, atravs

    da objetiva, gravar na chapa esses primores de esttica humana que se

    colocam muito naturalmente diante da mquina fotogrfica, dando

    apenas ao retratista a dificuldade do embarao da escolha; mas.. .

    outras vezes.. . . o artista obrigado a lembrar-se que as graas eram

    somente trs e aquela que ele tem no momento diante dos olhos, ou

    diante da objetiva, no nem Tlia, nem Aglaia, nem Eufrosina e,

    como atualmente no se suporta mais um retrato rgido ou sem

    expresso, que tenha apenas a perfeio fotogrfica, preciso que se

    ponha, embora com dificuldade, no trabalho um pouco da alma do

    modelo ou um pouco de artifcio que substitua o que a natureza no

    deu ao modelo.

    necessrio, entretanto, que desde j se diga que a graa, um dos

    principais elementos da beleza, a graa fotogrfica tem de ser uma

    atitude especial, diferente da graa comum.

    Com o desenvolvimento desse ramo da esttica humana, princi-

    palmente depois do aparecimento do cinema, em que todos os gestos,

    todas as atitudes, todas as expresses, todos os movimentos esto

    estudados, analisados, medidos, comparados, catalogados, ficou bem

    evidente que um gesto, uma expresso, uma atitude que no possa

  • durar ao menos trs ou quatro segundos em sua plenitude, poder ser

    muito interessante como interrupo de um movimento, como um

    instantneo, como um documento, no tendo, porm, geralmente, o

    menor interesse sob o ponto de vista artstico e um retrato de

    mulher deve ser sempre uma obra de arte, quando retrato moderno,

    de luxo, retrato que se d a uma amiga, ou a um noivo e que no queira

    parecer um simples documento em forma de ficha de identificao.

    O primeiro, isto , o retrato cinematogrfico, o que representa um

    movimento interrompido, prprio para as danarinas ou atrizes de

    comdia, no exerccio de sua profisso; o outro, o retrato distinto deve

    conter ou exprimir a serena graa das expresses e das atitudes calmas,

    apresentando-nos a pessoa em idntica maneira a que a encontramos

    no convvio social e com a sua melhor cara. Expliquemo-nos. sabido

    que todos, principalmente a mulher, tm um dia em que se acham

    melhor; ou seja influncia da toilette, ou uma determinada incidncia

    da luz, ou seja a simpatia de uma cor qualquer, ou de uma dada

    expresso, o certo que esse o momento timo para o retrato,

    momento que o artista precisa surpreender, para fazer ressaltar a graa

    e a beleza do modelo, quando ele as tem.

    Infelizmente nem sempre nos vm ao ateli uma Vnus ou Climne, a

    melindrosa de Molire, ou uma houri do paraso de Maom, por isso

    estudemos os elementos que entram em jogo, elementos principais;

    so trs: o aparelhamento, o artista e o modelo.

    Quanto ao primeiro, se de boa qualidade, como deve ser o de um

    fotgrafo que se prope a fazer retratos de arte, nada preciso dizer

    porque ele obediente e a pessoa j o encontra quando vai ao retratista

    com quem simpatizou.

    Quanto ao artista.. . quanto ao artista, nada temos a dizer porque

    poucos sero os que me esto ouvindo e esses conhecem as suas

    regras. Somente talvez alguns amadores gostassem que se lhes dissesse

    que nunca devem ficar muito perto da luz, quando trabalham no

    interior, porque a luz forte aumenta os defeitos, cava rugas e descobre

    manchas; que procurem de preferncia uma luz suave e modeladora, a

    dois ou trs metros de uma janela, com um bom refletor do lado da

    sombra; assim com um retrato feito bem longe da luz com uma

    objetiva de grande abertura, de foco longo, uma chapa rpida e suave a

    50

    No T.S.F., 1 928

  • prpria Aeon, a me Eva dos gregos, talvez possa, ainda hoje, ter um

    bom retrato.. . anacromtico.

    Chegamos agora ao ponto principal da nossa palestra e naturalmente

    vs, minha senhora, que me estais ouvindo com tanta ateno, estareis

    pensando: que me vai dizer este homem com pretenses a ensinar-me

    a ter graa e elegncia?

    Em primeiro lugar devo dizer que falo para.. . as outras e depois que

    no se trata de graa comum, de graa social, nessa vs sois

    inexcedvel, trata-se de elegncia fotogrfica ou fotognica, como se

    diz atualmente; nesta o vosso espelho vos traz sempre enganada; a

    figura clssica da verdade saindo nua de um poo, ao espelho, s vale

    pela nudez. O espelho vos engana porque vos mostra a vossa beleza

    em sentido contrrio aquele em que ela se apresenta e isto, se tinha

    muita importncia antes dos cabelos cortados, porque mostrava

    esquerda todas as irregularidades da direita agora cresceu de valor por

    causa do repartido do cabelo; bem assim todas as outras assimetrias do

    rosto, alis indcio de inteligncia, vos so apresentadas s avessas.

    Alm disso a cor verde da massa do vidro faz mais plidas as louras e

    mais escuras as morenas.

    Ao entrar no ateli do artista o modelo deve preferir uma iluminao

    alta, como a que nos vem do cu, a luz anglica, como se diz em arte

    S ela simptica, s ela d profundidade e brilho ao olhar; a luz

    horizontal antiptica, a luz de baixo diablica.

    Os gregos que tinham o senso artstico to altamente desenvolvido s

    eram apresentados s suas noivas, quando no as conheciam, debaixo

    da cpula do Panteo, para que elas ficassem com o olhar

    criptoftlmico esta palavra complicada quer dizer: olhos ocultos,

    profundos.

    Com este conselho passemos ao vosso contingente pessoal, estudando,

    sem aprofundar muito as sete belezas da mulher: cabelo, olhos, boca,

    braos com as mos, colo, pernas e porte.

    De uma o cabelo, pouco se pode dizer porque j quase desapareceu;

    dele s se deve lembrar que o modelo deve vir para o retrato com o seu

    penteado habitual; se este for a negao esttica do cabelo " l'homme".. .

    pacincia. Se ainda houver um pouco dele ondulado e macio, tanto

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

    51

  • melhor. Aconselhamos, entretanto, o retrato de chapu porque as modas,

    de hoje ho de envergonhar as moas daqui a dez anos.

    Os olhos do modelo, se no trazem de casa a expresso tima para o

    retrato, sero para o artista um caso perdido; se ele hbil poder s

    vezes com um ligeiro toque dar-lhes o que lhes falta, porque no h

    conselho, no h splica, no h sugesto que possa dar a olhos

    insignificantes a graa que eles no tm, porque impossvel satisfazer

    o pedido de uma mocinha que queira ter nos seus retratos os olhos

    como os de D. Rosalina Coelho Lisboa.

    A boca que se pode exigir de uma boca? que sorria, desde que no

    se lhe pode pedir um bocejo. Aqui ocorre uma dificuldade, que o

    sorriso aumenta a boca e as moas tm medo de uma grande abertura

    bucal, por isso fazem a detestvel "bouche en coeur" com o rouge.

    No tm razo entretanto, hoje em dia no h mais medidas clssicas

    para os dotes femininos.

    Chegamos s mos. Elas so um tropeo para os pobres artistas; neste

    caso particular nada se pode dizer sem exemplificar e infelizmente o

    rdio ainda no dispe da placa para a viso distncia. Uma s

    observao ocorre aqui, ouvintes de mos bonitas, que o segredo da

    graa, nesse ponto, consiste em segurar tudo com o primeiro dedo e o

    terceiro, o polegar e o mdio; experimentai diante do espelho

    segurando uma flor, o vosso colar de prolas ou uma dobra do vestido.

    Quanto ao colo s h para ele a sua beleza prpria ou o auxlio de uma

    gaze ou de um colar disfaradamente dispostos; se tm ossos ou

    cavidades claviculares, s o retoque na chapa o poder melhorar; se

    belo e altivo, deixai-o livre em toda a sua beleza.

    Para as pernas, a linha a das esttuas, no useis meias de seda lustrosa

    e no as tenhais ambas na mesma posio, porque o porte, a stima

    beleza enunciada, depende muito delas com o auxlio das outras

    todas.. . e da toilette tambm.

    S. Bevilacqua

    52

    No T.S.F., 1 928

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

    53

  • 54

    SILVA, Oswaldo. Viagens

    maravilhosas do Dr. Alpha ao mundo

    dos planetas No mundo de Marte.

    Cap. XV.

    O TICO-TICO, RJ, I I I (1 02): n.p.,

    1 8.9.1 907. il.

    (quarta-feira)

    I lustrado pelo autor, a srie sobre as

    aventuras do Dr. Alpha publicada

    entre janeiro e outubro de 1907.

    Quase certo, seu autor Oswaldo de

    Souza Silva, com longa atuao na

    imprensa, aparentado possivelmente

    do fundador da revista O TICO-TICO

    (1 905-1 958), Luis Bartolomeu de

    Souza e Silva, dirigente do grupo

    editorial