ano novo – novos horizontes - missionários combonianos · são profunda da bondade de deus. e é...

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bom sonhar porque «o sonho comanda a vida». Deus sonhou com um homem feliz num paraíso terrestre. Adão sonhou com uma vida ainda melhor... Os profetas sonharam. Martin Luther King tam- bém sonhou. E foram tais sonhos que mobilizaram vontades para a construção de um mundo melhor. Ao começar o Novo Ano, o Sol já se sente mais perto anunciando a Primavera de um novo renascer da Natureza, da nossa natureza e das nossas energias espirituais para construir os novos céus e a nova Terra. Liberdade Religiosa, caminho para a paz Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, com que começa- mos 2011, Bento XVI convida-nos a ver na liberdade religiosa o caminho para a paz mundial. A sua mensagem fala das perseguições contra os cris- tãos, tanto na Europa como no resto do mundo; fundamenta o direito à liberdade religiosa e dá pistas para a construção de uma paz mundial com mais garantias de futuro. Mas já antes dele, as Nações Uni- das declararam, a 10 de Dezembro de 1948: «Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de cons- ciência e de religião» (Artigo 18). E o Vaticano II, a 7 de Dezembro de 1965, ensina: «É patente que todos os po- vos se unem cada vez mais [...] para que se estabeleçam e consolidem as relações pacíficas e a concórdia no género humano, é necessário que em toda a parte a liberdade religiosa tenha uma eficaz tutela jurídica» (Dignidade Humana, 15). Bento XVI verifica que «em algu- mas regiões do mundo, não é possível uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional.» Um rosto missionário para a Igreja em Portugal Neste ano que acaba, os bispos de Portugal deixaram-nos outra tarefa com longo futuro: evangelizar Por- tugal. Dizem: «Hoje Portugal faz parte daqueles espaços tradicio- nalmente cristãos, onde se requer, em determinados casos, a primeira evangelizaçãoA Igreja é missionária, enviada a anunciar o Evangelho. Cada cristão recebe do Evangelho o mandato mis- sionário. Mas hoje é preciso organi- zar-se para uma ingente tarefa: levar Cristo àqueles que vivem ao nosso lado, dentro das nossas casas. Não podemos deixar que os nossos mais próximos amigos e familiares sejam privados do bem mais precioso que temos: a nossa fé em Jesus. Para tal, os bispos pedem que em cada paróquia se criem Grupos Mis- sionários Paroquiais (GMP). Grande desafio para os nossos tempos! So- bretudo para os mais jovens! Será que ainda temos energia e fé para pôr mãos à obra? Já todos vivemos em território de missão. Vamos fazer-nos ao largo e dar um alegre testemunho da nossa fé aos que vivem connosco, tanto aos de mais perto como aos de mais longe. professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal... Isto é uma ameaça à segurança e à paz». E continua: «O mundo tem neces- sidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de

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Page 1: Ano Novo – novos horizontes - Missionários Combonianos · são profunda da bondade de Deus. E é a bondade de Deus que está na origem e no fi m da evangelização. No centro

Publicação BIMESTRAL

Nº 209 Janeiro-Fevereiro 2011

ISSN 0871-5688 l PREÇO - 0,10 (IVA incluído)

Ano Novo � novos horizontes

Por P.e Inácio [email protected]

É bom sonhar porque «o sonho comanda a vida». Deus sonhou

com um homem feliz num paraíso terrestre. Adão sonhou com uma vida ainda melhor... Os profetas sonharam. Martin Luther King tam-bém sonhou. E foram tais sonhos que mobilizaram vontades para a construção de um mundo melhor. Ao começar o Novo Ano, o Sol já se sente mais perto anunciando a Primavera de um novo renascer da Natureza, da nossa natureza e das nossas energias espirituais para construir os novos

céus e a nova Terra.

Liberdade Religiosa, caminho

para a paz

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, com que começa-mos 2011, Bento XVI convida-nos a ver na liberdade religiosa o caminho para a paz mundial. A sua mensagem fala das perseguições contra os cris-tãos, tanto na Europa como no resto do mundo; fundamenta o direito à liberdade religiosa e dá pistas para a construção de uma paz mundial com mais garantias de futuro.

Mas já antes dele, as Nações Uni-das declararam, a 10 de Dezembro de 1948: «Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de cons-ciência e de religião» (Artigo 18). E o Vaticano II, a 7 de Dezembro de 1965, ensina: «É patente que todos os po-

vos se unem cada vez mais [...] para que se estabeleçam e consolidem as relações pacífi cas e a concórdia no género humano, é necessário que em toda a parte a liberdade religiosa tenha uma eficaz tutela jurídica» (Dignidade Humana, 15).

Bento XVI verifi ca que «em algu-mas regiões do mundo, não é possível

uma ordem social justa e pacífi ca a nível nacional e internacional.»

Um rosto missionário para a

Igreja em Portugal

Neste ano que acaba, os bispos de Portugal deixaram-nos outra tarefa com longo futuro: evangelizar Por-

tugal. Dizem: «Hoje Portugal faz

parte daqueles espaços tradicio-

nalmente cristãos, onde se requer,

em determinados casos, a primeira

evangelização.»A Igreja é missionária, enviada a

anunciar o Evangelho. Cada cristão recebe do Evangelho o mandato mis-sionário. Mas hoje é preciso organi-zar-se para uma ingente tarefa: levar Cristo àqueles que vivem ao nosso lado, dentro das nossas casas. Não podemos deixar que os nossos mais próximos amigos e familiares sejam privados do bem mais precioso que temos: a nossa fé em Jesus.

Para tal, os bispos pedem que em cada paróquia se criem Grupos Mis-sionários Paroquiais (GMP). Grande desafi o para os nossos tempos! So-bretudo para os mais jovens! Será que ainda temos energia e fé para pôr mãos à obra? Já todos vivemos em território de missão. Vamos fazer-nos ao largo e dar um alegre testemunho da nossa fé aos que vivem connosco, tanto aos de mais perto como aos de mais longe.

professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal... Isto é

uma ameaça à segurança e à paz». E continua: «O mundo tem neces-sidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de

Catedral de Bagdad, Iraque.

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2 FAMÍLIA COMBONIANA

A ex-menina-soldadoPor P.e António Carlos

[email protected]

Justiça e Paz

China Keitetsi, ex-criança-soldado durante dez anos no Uganda, passou por

Portugal a fim de alertar para o flagelo de 250 mil crianças-soldados e contar a

sua experiência.

Nunca utilizar crianças-soldadosA utilização de crianças como combatentes nos confl itos é «uma das

piores formas de escravidão: as crianças são usadas como soldados numa idade na qual deveriam aprender como amar e respeitar os seus vizinhos», denunciou o observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, D. Francis Chullikatt.

Calcula-se que 250 mil crianças sejam usadas com este objectivo, «obriga-das a matar os seus vizinhos, às vezes até mesmo os seus próprios familiares, irmãos e amigos».

Todas as partes interessadas devem-se «comprometer de forma concreta na defesa» dos mais jovens e na promoção de «planos de acção» para enfrentar estes «crimes» com a fi nalidade de que «acabem para sempre».

Com 32 anos e 3 fi lhos, China Keitetsi é hoje em dia uma pessoa integrada na sociedade e feliz. Para a sua felicidade muito contribuem os seus fi lhos e o ter falado e escrito sobre a sua história de menina-soldado que combateu na guerra civil do Uganda nos anos 1980. Mas para chegar a este pon-to passou por uma experiência

muito dura e traumática que lhe deixou marcas para toda a vida.

Já escreveu um livro relatando a sua experiência e visita países com o intuito de chamar a atenção da opinião pública internacional, da sociedade e das autoridades governamentais para o flagelo das 250 mil crianças-soldados que existem no mundo. Hoje tem uma

atitude positiva perante a vida e o seu passado. Agora só quer aju-dar outros meninos-soldados que não foram tão afortunados como ela. Para isso, abriu uma casa para crianças-soldados e fi lhos de me-ninos-soldados no Ruanda, onde se ajudam as crianças a reintegrar-

se na sociedade.China Keitetsi foi capturada com

9 anos em 1984 para lutar ao lado da guerrilha de Yoweri Museveni, hoje presidente do Uganda. Deram-lhe uma

arma para «matar o inimigo» e da qual não se podia separar. A partir daí, nunca mais soube o que era ser criança, não brincou, não foi amada por ninguém, fala de uma «adolescência perdida».

Para sobreviver teve de matar, ser guarda-costas, cozinheira, escrava sexual, obedecer em tudo aos chefes militares. Vítima de abusos sexuais, engravidou aos 13 anos e foi-lhe tirado o seu fi lho. Aos 17 anos, tornou a engravi-dar, aproveitou para fugir do país deixando o fi lho para trás. Sente vergonha por ter fugido sem ele e por ter andado de arma em punho a matar. A separação dos seus fi lhos foi a «coisa mais dolorosa» que lhe aconteceu.

Na África do Sul foi-lhe conce-dido estatuto de refugiada política e foi para a Dinamarca. Ali en-controu todo o apoio necessário, acompanhamento psicológico e famílias que a acolheram. Keitetsi iniciava a sua caminhada de recu-peração, «tive de aprender a viver

de novo», diz. A segurança social do país proporcionou-lhe o reencontro com os seus dois fi lhos que havia deixa-do no Uganda e na África do Sul.

Sente-se feliz, recuperada mas com

a amargura de nunca ter tido infância. «Pareço forte mas não sou, tenho os mesmos temores e dores que vocês», afi rma ela na palestra que proferiu em Lisboa. Não perde tempo a lamentar-se, não fi ca parada a chorar, quer continuar a dar o seu contributo na conscienciali-zação do seu drama e do de milhares de crianças-soldados.

China Keitetsi, criança ex-soldado, na sua passagem por Portugal.

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FAMÍLIA COMBONIANA 3

A compaixãode Cristo Bom Pastor

Para a Missão em Portugal e na Europa

Por P.e Victor Dias [email protected]

A compaixãode Cristo Bom Pastor

Uma das dimensões de Jesus

Cristo que esteve na origem e serviu

de inspiração na vida e missão de S.

Daniel Comboni foi a contempla-

ção de Cristo Bom Pastor. A Sua

compaixão continua a ser um dos

fundamentos da actividade missio-

nária da Igreja.

A missão é questão de amor; do amor de Deus pela humanidade, que quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. De facto, a evangelização não se pode reduzir nunca a uma mera comunicação de normas e conhecimentos doutrinais! É sim a partilha da experiência de um Deus que é amor, e que por amor veio, vem e virá sempre incessantemente à procura da pessoa para a salvar.

QUE NOS ENSINA CRISTO BOM PASTOR

Primeiro que tudo, a bondade de Deus. Cristo é a imagem visível do amor de Deus por toda a humanidade. Cristo é não só pastor, mas é um pastor bom! Longe devem estar de nós a ideia de um Deus tirano, polícia, mero juiz, e que condena! Cristo Bom Pastor é a expres-são profunda da bondade de Deus. E é a bondade de Deus que está na origem e no fi m da evangelização. No centro de toda a espiritualidade missionária tem de estar sempre e só o amor e a bondade de Deus. S. João exulta no seu Evangelho e nas suas cartas: Vede com que admirável

amor Deus nos amou… Deus enviou o

Seu Filho ao mundo não para o condenar

mas para o salvar.

BONDADE DE DEUSOs salmos, na Bíblia, são orações lin-

díssimas de contemplação do amor e da bondade de Deus: Cantarei eternamente a

bondade e a misericórdia do Senhor, rezam muitos dos salmos. A bondade do Senhor não tem limites, e o seu amor é eterno.

O Bom Pastor tem uma dupla mis-

são: cuidar das ovelhas do rebanho e ir à procura da tresmalhada e daquelas que ainda não fazem parte do rebanho. Onde houver uma ovelha perdida, ou uma ovelha que não pertence ao redil de Cristo, aí deve estar a Igreja, o missioná-rio. Foi esta convicção que levou S. Da-niel Comboni a dedicar toda a sua vida à evangelização da África Central, e que o levaria hoje, estou convencido, a pensar num novo «Plano» para a evangelização da Ásia. A maior parte das ovelhas que não têm Cristo como pastor vive hoje naquele vasto continente.

A IGREJA CUIDA DOS FIÉISO Bom Pastor cuida das ovelhas do

rebanho e leva-as a pastar em verdes prados. Do mesmo modo, a Igreja cuida dos seus fi éis com amor e carinho e ali-menta-os com os seus sacramentos.

O Bom Pastor vai à procura da ovelha perdida. E, ao encontrá-la, põe-na aos om-bros e leva-a para o redil. Não lhe bate… não lhe dá uma lição… não a mata! Assim faz e deve fazer cada vez mais a Igreja. No nosso mundo de hoje, não é tão comum as pessoas virem à procura da Igreja! É preci-so que a Igreja vá à procura das pessoas… e das que mais precisam… dos pobres, dos abandonados, dos marginalizados e desprezados. A Igreja deve levar a todos a compaixão de Cristo, como Ele mesmo o fez: Jesus encheu-Se de compaixão pela

multidão porque eram como ovelhas sem

pastor. E, ao encontrar estes irmãos e irmãs confusos e perdidos, a Igreja deve levar o perdão e a misericórdia de Deus.

DEUS GOSTA DE PERDOAREstou intimamente convencido, e

vou partilhando com muitos cristãos no sacramento da reconciliação, que o que Deus mais gosta de fazer é perdoar. Se Cristo nasceu, viveu, morreu e res-suscitou foi para nos perdoar, para nos salvar. De Cristo Bom Pastor devemos aprender a perdoar, a levar nos nossos ombros e nos nossos corações o nosso irmão ou irmã que se extraviou. Parti-lhar com os outros a bondade, o amor e a misericórdia de Deus signifi ca ajudá-los a carregar a sua cruz, as suas dores e desilusões, a fortalecer a sua esperança num mundo melhor e mais belo.

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6 FAMÍLIA COMBONIANA

Quinze anos de sacerdócio

Diário da missão

Quinze anos ao serviço da missão como sacerdote missionário combonia-no. Quero exprimir a minha gratidão a Deus e a quantos fi zeram e fazem parte da minha história. Por isso, recordo o apoio incondicional dos meus pais e irmãos e restantes familiares e amigos que, ao longo destes anos todos, sempre estiveram ao meu lado e me encorajaram a ser fi el ao meu sacerdócio. Este é tam-bém um momento para fazer memória de algumas outras pessoas e eventos que marcaram a minha vida como sacerdote. Tiveram uma importância fundamental os primeiros três anos logo a seguir à minha ordenação, passados no Sudão do Sul. Tempos difíceis da guerra, foram marca-dos sobretudo pelo exemplo e entusiasmo missionário de dois homens que me ensi-naram a ser missionário e sacerdote. Falo do P.e Elvio Chellana, que já se encontra na casa do Pai, e do Ir. Valentino Fabris, que foram para mim exemplos de entusiasmo, serviço, fi delidade, entrega e amor à gente que todos procurámos servir.

Da Zâmbia, o P.e Horácio Rossas recorda com gratidão 15 anos de sacerdócio. Dá

graças a Deus pela vocação, lembra as pessoas e a experiência missionária no

Sul do Sudão, a passagem por Portugal e a missão em Lusaca, na Zâmbia.

VIAGENS DE BICICLETAAs viagens intermináveis de bicicleta

pela fl oresta densa e verde são algo que eu recordarei sempre como uma experiência extraordinária da minha vida. Às vezes difíceis, por causa da malária que nos visi-tava frequentemente como amiga fi el, estas viagens faziam-me sentir perto de Deus e da Natureza; faziam-me também sentir muito perto das pessoas, pois quando visitávamos as aldeias fi cávamos sempre várias semanas fora, vivendo no meio da gente e adoptando o seu estilo de vida.

Passei os anos que se seguiram (de 1998 a 2005) em Portugal, trabalhando na formação de seminaristas e na anima-ção missionária da Igreja local.

NA ZÂMBIANa Zâmbia, tive a oportunidade de

trabalhar em Chikowa, uma missão no interior do país, em muitos aspectos se-melhante a Nzara, no Sul do Sudão. E ago-ra encontro-me na capital, Lusaca. Aqui a vida da comunidade cristã é marcada pela celebração e pela festa que contrastam com a pobreza generalizada característica dos bairros pobres da cidade.

Posso dizer que os cristãos de Lilanda me têm ensinado a ser sacerdote sobre-tudo pela grande capacidade de pôr tudo nas mãos de Deus e de celebrar a fé.

Ser padre para mim tem sido um ca-minho de contínua descoberta; descober-ta de Deus na oração e no ministério que me foi confi ado; descoberta dos valores e da fé daqueles que se têm cruzado comigo ao longo da minha vida; descoberta de mim mesmo e dos dons que o Senhor me tem concedido para o exercício da minha vocação missionária. Descoberta do facto de que nunca estive sozinho nesta bonita aventura de servir a gente na simplicidade e na pobreza da minha pessoa.

Obrigado

«Não peças para que a carga da tua vida seja leve,

Mas a coragem de perseverar;Não peças pela tua realização pessoal

em toda a tua vida,Mas a paciência na aceitação da frus-

tração;Não peças por perfeição em tudo o

que fazes,Mas pela sabedoria para não repetir

os mesmos erros;E, fi nalmente, não peças por mais nada

sem antes dizer“Obrigado!” pelo que já recebeste.»

P.e Horácio Rossas na Zâmbia há seis anos

P.e Horácio Rossas durante a procissão do Santíssimo Sacramento

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FAMÍLIA COMBONIANA 7

Linha directa

«Sempre me senti feliz»

Como surgiu a sua vocação?Eu era autónomo desde os 15 anos,

tinha de trabalhar para a minha subsis-tência, porque tinha fi cado órfão de pai e mãe. Comecei a frequentar o Seminá-rio das Missões, em Viseu, e assinei o primeiro número da revista Além-Mar. Lia as revistas do princí-pio ao fi m e foi assim que me inteirei da actividade dos missionários e pensei que também podia ser um deles.

Porquê irmão?Nos artigos da revista

Além-Mar saíam muitos testemunhos de irmãos e eu nunca senti a vocação de ser padre. Ser comboniano e irmão foi uma decisão minha.

O que é a vocação de irmão missionário?

O irmão missionário é aquele que consagra a sua vida ao serviço das missões e colabora com o sacerdote missionário em todas as suas activida-des. Irmão e padre missionários têm o mesmo ideal, e é este ideal que nos une e faz viver numa família.

Sente-se feliz como irmão?Sempre me senti feliz como irmão

e, se hoje voltasse atrás, tornaria a ser irmão.

Como foram os anos da guerra civil em Moçambique?

Foram anos difíceis, porque, a certa

altura, pelas circunstâncias, fi quei sozi-nho na missão com um grupo de irmãs de São José de Cluny e tinha de visitar as capelas e as escolas no mato, com a ajuda delas. Dava a comunhão aos cristãos – era uma zona onde havia muitos cris-tãos. Presidi muitas vezes à Celebração

da Palavra aos domingos, dias santos e noutras festas litúrgicas.

A guerra afectou-o?A guerra afectou-me, porque, a dado

momento, fi cámos rodeados pelas minas. Quando saíamos de casa, não sabíamos se iríamos regressar. Num espírito de fé, eu e as irmãs pusemo-nos de acordo e, sempre que eu saía de casa, porque era preciso abastecer o hospital da missão, duas irmãs revezavam-se a rezar frente ao Santíssimo. Estou consciente de que passei muitas vezes por cima de minas, e os próprios guerrilheiros me disseram. Passava com as viaturas da missão e não

acontecia nada, depois passava um carro da tropa e ia pelos ares. Foi coincidên-cia, não houve nenhum milagre. Fui acusado pela PIDE de colaborar com os guerrilheiros.

Vim de Moçambique cansado e doente por ter vivido a guerra colonial.

Depois de recuperado, e pas-sados oito anos em Portugal, fui enviado para o Peru.

Como foi a sua experiên-cia no Peru?

Foi muito boa. Trabalhei quase sempre na casa de for-mação dos postulantes. Trata-va da economia e colaborava na formação com os dois for-madores. Permaneci lá nove anos. Por motivos de saúde, tive de voltar urgentemente a Portugal, e fi quei oito anos.

E no Brasil? No Brasil não tive proble-

mas. Adaptei-me muito bem à menta-lidade brasileira. Fazia a manutenção da casa e participava nos trabalhos da paróquia e também em encontros com grupos, em casa das famílias. Durante oito anos fui responsável da comuni-dade.

Que balanço faz dos seus 50 anos de vida consagrada?

Valeu a pena ter-me inserido na famí-lia comboniana e ter dedicado a minha vida ao serviço dos mais necessitados. Aos 75 anos, sinto-me feliz e realizado por todo o trabalho que fiz até este momento.

O Ir. Matias Martins dos Santos celebrou 50 anos de vida religiosa. Natural de

Campo de Madalena, Viseu, trabalhou em Moçambique nos anos difíceis da

guerra civil e depois rumou à América Latina, onde esteve no Peru e Brasil, num

total de 19 anos.

Irmão Matias na celebração dos 50 anos de vida religiosa

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8 FAMÍLIA COMBONIANA

«FAMÍLIA COMBONIANA»Propriedade: Missionários Combonianos do Coração de Jesus Pessoa Colectiva nº 500139989Director: António Carlos FerreiraRedacção: Fernando Félix/Carlos ReisGrafi smo: Luís FerreiraArquivo: Amélia Neves

Redacção e Administração: Calç. Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOARedacção: Tel. 21 395 52 86 / Fax 21 397 03 44E-mail: [email protected]: Manuel Ferreira HortaAdministração: Fax: 21 390 02 46E-mail: [email protected]

Nº de registo: 104210Depósito legal: 7937/85Impressão:Jorge Fernandes, Lda.Rua Quinta do Conde Mascarenhas, 92825-259 CHARNECA DA CAPARICATiragem: 41.230 exemplares

Missão é notícia

SÍTIO DOS COMBONIANOS: www.combonianos.pt

Consulte o sítio dos Missionários Combo-nianos que lhe dá a conhecer as actividades dos Combonianos em Portugal e além-fronteiras. Aí poderá saber as últimas notícias, inscrever-se para receber periodicamente novidades, bem como aceder à página de cada comunidade, encontrar contactos e saber as actividades or-ganizadas pelas comunidades.

Novo bispo combonianoO missionário comboniano Odelir

José Magri foi consagrado bispo no passado dia 12 de Dezembro, tendo-lhe sido confi ado a diocese de Sobral, no Nordeste do Brasil.

A celebração decorreu sob intensa chuva e, por isso, teve de se realizar no interior da catedral, albergando uma multidão de fi éis, juntamente com o nún-cio apostólico, dezasseis bispos, padres diocesanos, muitos combonianos, entre os quais dois membros do conselho geral do Instituto, e familiares do novo bispo. A diocese de Sobral tem cerca de um milhão de habitantes, quase todos católi-cos e pertence à província eclesiástica de Fortaleza, no Nordeste do Brasil.

Até à sua nomeação episcopal, D. Odelir José era vigário-geral dos Missio-nários Combonianos em Roma. Nascido em 1963, é natural de Santa Catarina, no Brasil, tendo sido missionário no Congo e no Brasil, onde foi formador e pároco.

Livro dos Cenáculos de Oração Missionária

D. Odelir José, bispo de Sobral

Acaba de sair o livro “Como eu vos fi z, fazei vós também”, que servirá de guião e texto de apoio para os “Cená-culos de Oração Missionária” (COM) ao longo de 2011.

Inspirado na carta pastoral dos bispos portugueses “Como eu vos fi z, fazei vós também. Para um rosto

missionário da Igreja em Portugal”, o livro contém três partes: esquema geral dos encontros de oração missionária, com vários passos a serem seguidos nos encontros habituais dos cenáculos; doze esquemas mensais, desenvolvidos a par-tir do esquema geral; algumas leituras missionárias.

Os Cenáculos de Oração Missio-nária (C.O.M.) nasceram em 1987 e inspiram-se no carisma e na espi-ritualidade de S. Daniel Comboni. São pequenos grupos locais liga-dos à paróquia, que agem sempre em comunhão com o pároco e conselho pastoral paroquial e, a nível diocesano, com o secreta-riado diocesano do apostolado laical e com o secretariado das missões.

Para adquirir o livro, con-tacte a Editorial Além Mar no seguinte endereço: Missionários CombonianosCalçada Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOATel: 213 955 286Email: [email protected]

O custo é 2 euros.