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Toda a beleza nos fala de Deus, que é a beleza perfeita. No tempo do des- canso, fugimos à rotina, procuramos lugares novos, vamos ao encontro da Natureza. Brincamos com a água, a areia, no campo, na montanha. Que- remos elevar o espírito e desfrutar os mimos que a mãe Natureza nos con- cede todos os dias. Todos, grandes e pequenos, nos tornamos crianças para compreender, com olhar de criança, a beleza que nos envolve. O descanso é para isso mesmo, para nos deixarmos invadir pelas for- ças celestes e terrestres, pelo cosmos total criado pelo Senhor do Universo, que encheu da Sua glória os céus e a terra, para nos dizer que temos ao nosso lado tudo quanto é preciso para sermos felizes. E, elevando-se, o nosso espírito chega mais facil- mente à contemplação do Senhor do Universo. De facto, “o espírito do Senhor enche a terra; Ele, que a tudo dá consistência, tem conhecimento de tudo” (Sabedoria 1, 7). A vastidão do mar, a altura do céu, o ribombar das ondas, a areia que acolhe o nosso corpo na praia, o sol que nos aquece e a brisa mansinha que acaricia a nossa pele: tudo nos fala de um Criador e Pai, que viu que tudo quanto fez é muito bom (cf. Génesis 1, 31) para todos nós. É normal que O louvemos por tantos benefícios. Contemplando a beleza que Ele espa- lhou no Universo, vem ao nosso cora- ção, e até aos nossos lábios, um hino de adoração. São Paulo exclama: Deu-nos a conhecer o mistério de Sua vontade, con- forme o projecto que em Cristo se propôs, a fim de realizá-lo na plenitude dos tem- pos: unir sob uma só cabeça todas as coisas em Cristo, tanto as que estão no céu como as que estão na terra” (Efésios 1, 9-10). Por campos, montes e vales, ouvi- mos os passarinhos e lembramo-nos da palavra de Jesus: “Olhai os pássaros do céu: não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros, mas o Pai celeste os alimenta. E vós valeis muito mais do que todos os passarinhos do mundo” (Mateus 6, 26). No contacto com a Natureza, en- contramos a Deus; mas, em Deus, encontramos a Humanidade. Há sempre olhares ofuscados por muitos motivos: a angústia, o medo de um futuro sempre incerto, dores do cor- po e dores da alma… É a esses que o Senhor nos envia para os ajudarmos a ler o livro mais belo das Suas mara- vilhas e nele encontrarmos as pegadas do Criador: “Observai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam. Mas Eu vos digo que nem Salomão com toda a sua glória se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, quanto mais vos vestirá a vós!” (Mateus 6, 29-30). Tempo de descanso, de férias, de pensarmos mais em nós e de tentar- mos realizar alguns dos nossos sonhos. É sempre tempo de missão, porque depois de criar o Universo, Deus des- cansou e começou assim o tempo da felicidade completa que nós tentamos saborear durante estes dias que temos para descansar, contemplar, adorar e falar desse Deus tão maravilhoso e tão bom em Quem pusemos toda a nossa esperança, tanto para o presente como para o futuro.

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Publicação BIMESTRAL

Nº 212 Julho-Agosto 2011

ISSN 0871-5688 l PREÇO - 0,10 (IVA incluído)

Deus criou o descanso

Por P.e Inácio [email protected]

Toda a beleza nos fala de Deus, que é a beleza perfeita. No tempo do des-canso, fugimos à rotina, procuramos lugares novos, vamos ao encontro da Natureza. Brincamos com a água, a areia, no campo, na montanha. Que-remos elevar o espírito e desfrutar os mimos que a mãe Natureza nos con-cede todos os dias. Todos, grandes e pequenos, nos tornamos crianças para compreender, com olhar de criança, a beleza que nos envolve.

O descanso é para isso mesmo, para nos deixarmos invadir pelas for-ças celestes e terrestres, pelo cosmos

total criado pelo Senhor do Universo, que encheu da Sua glória os céus e a terra, para nos dizer que temos ao nosso lado tudo quanto é preciso para sermos felizes. E, elevando-se, o nosso espírito chega mais facil-mente à contemplação do Senhor do Universo. De facto, “o espírito do

Senhor enche a terra; Ele, que a tudo dá consistência, tem conhecimento de tudo” (Sabedoria 1, 7).

A vastidão do mar, a altura do céu, o ribombar das ondas, a areia que acolhe o nosso corpo na praia, o sol que nos aquece e a brisa mansinha que acaricia a nossa pele: tudo nos fala de um Criador e Pai, que viu que tudo quanto fez é muito bom (cf. Génesis 1, 31) para todos nós.

A criação leva-nos a Deus

É normal que O louvemos por tantos benefícios. Contemplando a

beleza que Ele espa-lhou no Universo, vem ao nosso cora-ção, e até aos nossos lábios, um hino de adoração. São Paulo exclama: “Deu-nos a conhecer o mistério de Sua vontade, con-forme o projecto que em Cristo se propôs, a fi m de realizá-lo na plenitude dos tem-pos: unir sob uma

só cabeça todas as coisas em Cristo, tanto as que estão no céu como as que estão na terra” (Efésios 1, 9-10).

Por campos, montes e vales, ouvi-mos os passarinhos e lembramo-nos da palavra de Jesus: “Olhai os pássaros do céu: não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros, mas o Pai

celeste os alimenta. E vós valeis muito mais do que todos os passarinhos do mundo” (Mateus 6, 26).

Deus manda-nos aos irmãos

No contacto com a Natureza, en-contramos a Deus; mas, em Deus, encontramos a Humanidade. Há sempre olhares ofuscados por muitos motivos: a angústia, o medo de um futuro sempre incerto, dores do cor-po e dores da alma… É a esses que o Senhor nos envia para os ajudarmos a ler o livro mais belo das Suas mara-vilhas e nele encontrarmos as pegadas do Criador: “Observai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fi am. Mas Eu vos digo que nem Salomão com toda a sua glória se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, quanto mais vos vestirá a vós!” (Mateus 6, 29-30).

Tempo para a Missão

Tempo de descanso, de férias, de pensarmos mais em nós e de tentar-mos realizar alguns dos nossos sonhos. É sempre tempo de missão, porque depois de criar o Universo, Deus des-cansou e começou assim o tempo da felicidade completa que nós tentamos saborear durante estes dias que temos para descansar, contemplar, adorar e falar desse Deus tão maravilhoso e tão bom em Quem pusemos toda a nossa esperança, tanto para o presente como para o futuro.

2 FAMÍLIA COMBONIANA

Evangelizar o socialPor P.e António Carlos

[email protected]

Justiça e Paz

É necessária hoje, no mundo da globalização, uma nova evangelização do social, que ofereça luz para os desafios e exigências da justiça e do bem comum, afirmou o Papa Bento XVI por ocasião dos 50 anos da encíclica Mater et Magistra de João XIII.

1891: Leão XIII: Rerum Novarum (situação dos trabalhadores)1931: Pio IX: Quadragesimo Anno (reconstrução da ordem social)1961: João XXIII: Mater et Magistra (Cristianismo e progresso social)1963: João XXIII: Pacem in Terris (paz na Terra)1967: Paulo VI: Populorum Progressio (desenvolvimento dos povos)1971: Paulo VI: Octogesima Adveniens (convocação à acção)1981: João Paulo II: Laborem Exercens (trabalho humano)1987: João Paulo II: Sollicitudo Rei Socialis (solicitude social da Igreja)1991: João Paulo II: Centesimus Annus (ano centenário)2009: Bento XVI: Caritas in Veritate (desenvolvimento humano integral)

Para marcar o 50.º aniversário da Mater et Magistra, o Conselho Pontifício Justiça e Paz organizou em Roma um congresso internacional com o objectivo de estudar e difundir a doutrina social da Igreja, a partir da encíclica de João XIII e da Caritas in Veritate de Bento XVI.

A originalidade da Mater et Magistra consistiu em trazer para a doutrina social da Igreja os graves problemas do sector agrícola e dos trabalhadores do campo, dos famintos, a difi culdade de acesso à terra para os que nela trabalham, os desequilíbrios entre a agricultura, a indústria e os serviços, e ainda as desi-gualdades entre os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.

JOÃO XIII NO SEU TEMPONa altura, o Papa João XIII sugeriu

três critérios para analisar e resolver os problemas de então: a verdade, o amor e a justiça, elementos que Bento XVI retomou na Caritas in Veritate e aos

quais acrescentou o princípio do destino universal dos bens, que continuam a ser “os pilares para interpretar e procurar solucionar também os desequilíbrios internos da globalização actual”.

A encíclica surgiu num contexto

colonialismos e pelo aparecimento do neocolonialismo depois da euforia das independências.

Com o Papa Roncalli, a Igreja passa a estar menos centrada em si mesma e mais focada nas necessidades e angústias da Humanidade, mais atenta aos “sinais dos tempos”.

NOVIDADES DA MATER ET MAGISTRA

As grandes novidades da Mater et

Magistra foram, em primeiro lugar, como o título indica, o facto de a Igreja se apresentar como “mãe e mestra”, que anima mais do que reprova, corrige mais do que condena, ama mais do recrimina. Pela primeira vez um do-cumento pontifício dirige-se não só aos bispos, clero e fi éis, mas a “todos os homens de boa vontade”. Nova foi também a ideia de que a construção de um mundo mais justo é tarefa de todas as pessoas e instituições civis, nacionais e internacionais, dos Estados e dos sindicatos. É neste sentido que a encíclica deu o seu apoio à Organização Mundial do Trabalho e à Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.

Na audiência aos 200 participantes no congresso internacional que assinalou os 50 anos da Mater et Magistra, Bento XVI indicou a “grande actualidade também no mundo globalizado” do documento pelas respostas que deu aos problemas de então e que podem servir de critérios de análise e solução aos desequilíbrios de hoje.

Encíclicas sociais

A Igreja, como �mãe e mestra�, anima

mais do que reprova, corrige mais do que condena, ama mais

do recrimina.

marcado pela questão social, pelo papel crescente dos sindicatos que reivindicam a melhoria nas condições de trabalho, pelo desequilíbrio entre o sector agrí-cola obsoleto e a rápida modernização da indústria e dos serviços, pelas desi-gualdades entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, pela queda dos

FAMÍLIA COMBONIANA 3

Comboni

animador missionário

Para a Missão em Portugal e na Europa

Por P.e Victor Dias [email protected]

Comboni

animador missionárioO beato João Paulo II apelidou São

Comboni de “campeão da missão”. África foi, de facto, a única paixão da sua vida, o único amor desde a sua juventude.

São Daniel Comboni foi um grande missionário na África Central. Os Afri-canos chamavam-lhe Abuna Bitana – Pai dos Negros – a ele que foi o primeiro bispo daquela região. Lá, em África, tra-balhou, enfrentou muitas difi culdades, fundou missões, colégios e cooperativas agrícolas, viu padecer alguns dos seus missionários e acabou ele mesmo tam-bém por morrer em solo africano, com apenas 50 anos. Deu todas as suas forças, até ao último suspiro, por aqueles mais de 100 milhões de africanos que viviam longe da Igreja e da luz do Evangelho.

Animador missionário na EuropaSão Daniel Comboni foi também um

grande animador missionário na Europa. Desde quando partiu pela primeira vez para África, em 1857, até à sua morte, em 1881, decorreram 24 anos. Comboni passou 8 destes anos em África e 16 na Europa. Ou seja, ele dedicou mais tempo à animação missionária na Europa do que à missão em terras africanas (para onde, porém, enviava os seus missioná-rios e a colaboração dos benfeitores). Isto mostra-nos como Comboni foi um grande missionário tanto em África como na Europa.

Nos 16 anos que Daniel Comboni trabalhou na Europa como animador missionário, ele percorreu quase todas as capitais europeias, num tempo em que não era tão fácil viajar. Foi a voz dos

Africanos na Europa, a voz dos que não tinham voz. Aproveitou tudo e todas as ocasiões para falar de África e do impe-rioso que era a Igreja interessar-se por aqueles povos, que ele apresentou como os mais pobres e abandonados de todo o mundo. Estava convencido de que tinha chegado a “hora de África”, de que Deus o tinha escolhido para ser o apóstolo dos Africanos, e teve a inspiração, que lhe veio de uma experiência mística, de

África: autoridades políticas, reis e im-peradores, autoridades religiosas, papa, cardeais, bispos e sacerdotes, gente das ciências, grupos, associações, movimen-tos, pessoas cultas e simples.

Quando não podia deslocar-se para encontrar as pessoas, Comboni escre-via… e escreveu muito. Numa carta dirigida ao bispo de Verona, Luís de Canossa, em Maio de 1871, ele dizia que desde Janeiro já tinha escrito 1347 cartas… em cinco meses! Algo impres-sionante se pensarmos na grande activi-dade que ele tinha, e que naquele tempo não havia computadores! Além de cartas familiares e ofi ciais, Daniel Comboni também escreveu muitos relatórios sobre a missão em África, e começou uma revista missionária – Anais do Bom

Pastor – para apoiar a sua animação mis-sionária na Europa. Escreveu também três documentos oficiais: “Regras do Instituto das Missões para a Nigrizia”, sobre a formação dos missionários; “Pla-no para a Regeneração de África”, sobre a nova metodologia de evangelização em África; e o “Postulado”, um pedido a toda a Igreja reunida no Concilio Vaticano I, para voltar a sua atenção e forças para a evangelização de África.

Animação eficazA animação de Daniel Comboni na

Europa foi efi caz, porque era feita com muito entusiasmo, esperança e paixão por África; foi credível, porque era fundada sobre a sua experiência vivida em África; era precisa, pois ele lia tudo sobre a História de África, da Igreja e da Missão; e era convincente, pois levava as pessoas a comprometerem-se.

elaborar um plano de evangelização de África, quando muitos pensavam que era uma tarefa impossível. A juventude e o dinamismo da Igreja africana e a nossa Família Comboniana testemu-nham que os esforços de Comboni não foram em vão.

Convocou a todos para a missãoNa Europa, Daniel Comboni foi ao

encontro de todos para lhes falar de

6 FAMÍLIA COMBONIANA

Novo país, nova missão

Diário da missão

Cheguei ao Peru no dia 25 de Feverei-ro, véspera dos meus anos. O tempo era quente e muito húmido. Mesmo sendo muito húmido, pelo menos vê-se o Sol. O Outono está à porta e, com ele, a neblina que cobre constantemente Lima. Nunca chove. No meu aniversário, cozinharam o ceviche (peixe cru com limão, cebola e piripiri), que eu não consegui comer. Ainda bem que havia arroz com milho.

Na comunidade somos dois sacerdotes e 14 estudantes de onze nacionalidades e de três continentes. As condições de vida nesta comunidade são, por opção, bastante austeras: lavamos a rou-pa e cuidamos da casa.

Autocarros e pessoasA zona onde vivemos é uma

zona tranquila de classe média. Lima tem zonas bonitas e vê-se que procuram melhorá-la. Infelizmente, aumentam também os «assentamentos humanos» ou bairros-de-lata. Os auto-carros, velhos e obsoletos, são nume-

O P.e Manuel Pinheiro é o responsável pelos estudantes de Teologia combonianos, em Lima, capital do Peru, desde Fevereiro deste ano. No seu «diário da missão», conta a experiência de um novo país e a visita a uma comunidade cristã na periferia da cidade.

rosíssimos e disputam acerrimamente o espaço e os clientes. São baratos e levam-nos a todo o lado. Agora já não os vejo como instrumentos de tortura e quando encontro um assento disponível até me parece um táxi de luxo!

As pessoas ainda são um mistério para mim, muito diferentes das que tenho encontrado noutros lados. Aqui,

em Lima, são uma mistura de povos e as suas reacções são próprias de gente sofredora. Há gentes da costa, indíge-nas da serra (descendentes dos Incas) e nativos da selva.

Bom ambienteApesar de uma vida bastante austera

e da casa ser velha e mal arranjada, o ambiente com os estudantes tem supe-rado as minhas expectativas. Há espírito de colaboração, de sacrifício e um forte sentido de pertença. Isto ajuda a superar as difi culdades que vão surgindo. Fico edifi cado com a sua entrega e doação

aos mais pobres no apostolado de fi m-de-semana e que exige muito deles. O meu colega formador, P.e Sergio Agustoni, é um homem de Deus e de uma bondade extraor-dinária. Tem sido uma presença serena e de grande ajuda neste trabalho que faremos juntos e que requer colaboração, compreensão e ajuda mútua.

Também tive a oportunidade de estar presente na abertura do novo ano académico no ISET

(universidade) e fi quei positivamente impressionado. Ao falar com o director para tratar de algum caso dos nossos estudantes, pude comprovar a seriedade do ISET.

Baptismo pastoralPor opção, eu e os estudantes só usamos os transportes públicos. De nossa

casa até aos bairros onde trabalhamos são duas horas de viagem de autocarro. Mudamos de autocarro três vezes. Cada vez que se muda, muda-se para uma carripana mais pequena, atafulhada de gente. Imaginem viajar numa carrinha Volkswagen de pé, curvados para não bater com as cabeças no tecto. Passa-se por algumas das partes mais bonitas da cidade à beira-mar (oceano Pacífi co) até que se começam a ver os morros de areia e pedras repletos de casario amontoado de qualquer maneira. À medida que nos aproximamos, apercebemo-nos da pobreza extrema daquelas gentes: sem água, luz, esgotos, sem qualquer privacidade. Entrei na pobre capela (uma barraca maior e com luz) e já me senti mais confortável. Pelo menos tinha uma cadeira de plástico que me concedeu um pouco de con-forto à minha espinha dorsal. E como sempre acontece, eis o milagre: o sorriso das crianças e das poucas pessoas que participam na celebração.

P.e Manuel Pinheiro, terceiro de pé, a contar da direita para

a esquerda

FAMÍLIA COMBONIANA 7

Linha directa

«A Igreja tem uma grande responsabilidade na construção do Sudão do Sul»

Qual é a posição da Igreja Católica? E de que forma os cristãos podem aju-dar ao nascimento e desenvolvimento do Sudão do Sul?

Para um país que tem a taxa mais alta de pessoas analfabetas no mundo (somente 15 % dos homens e 9 % das mulheres sabem ler e escrever), agora, mais do que nunca, precisamos formar a classe dirigente do futuro para que a autodeterminação deste povo seja plena e madura. Como Igreja, temos, ainda hoje, uma grande responsabilidade na construção do novo Estado: devemos ensinar a arte paciente do diálogo, da comunicação e da reconciliação, para colocar as bases de um novo país que praticamente só conhece o ca-minho da violência.

Como vai erigir o primei-ro centro para a formação de professores sul-sudane-ses?

Actualmente, estamos a construir um centro para pro-fessores em Cuiebet, localidade a 80 quilómetros de Rumbek. É uma escola que formará, cada ano, 30 professores capazes de oferecer uma instrução básica a mais de 5000 crianças, somente nos primeiros cinco anos de actividade. Levar a cabo esta obra requer o compromisso das insti-tuições internacionais; o nosso apelo vai para elas, para que possam dar um novo impulso aos projectos, nesta

terra martirizada pela guerra civil e pela pobreza. Por isso, sustentamos as instituições de uma embaixada italiana em Juba, que poderia naturalmente pôr em marcha uma mudança signifi cativa nesta direcção.

Como podem contribuir as insti-tuições internacionais, os governos e as Igrejas cristãs para a realização dos projectos de desenvolvimento para o Sudão do Sul?

Infelizmente, o Sudão do Sul é o país mais pobre do mundo: 90 % dos habi-tantes vive com menos de um dólar por

dia. No entanto, a superfície e o subsolo deste país escondem enormes riquezas a serem descobertas: petróleo, ouro, ma-deiras preciosas, como ébano e mogno. Faltam pessoas que saibam explorar esta riqueza para dá-la a conhecer dentro e

fora das fronteiras do Sudão do Sul. A ideia de construir uma carpintaria dirige-se precisa-mente a isso: investir no Sudão do Sul, dando a possibilidade aos cidadãos de trabalhar os recursos que a terra oferece.

Que difi culdades prevê en-contrar e quais os recursos hu-manos a serem mobilizados?

Não teremos a integração imediata, razão pela qual o Norte e o Sul deverão aceitar ser pobres pelo menos por mais dez anos. Não há hospitais, escolas, fontes de água, infra-estrutu-ras. Será necessária a ajuda da comunidade internacional para alcançar muitos dos objecti-vos que a independência trará consigo. Os contínuos ataques provocadores do Governo de Cartum, com a ocupação mili-tar da área de Abyei, disputada pelos jazigos petrolíferos de

que dispõe, convidam claramente à guerra. Mas o Governo do Sul reage às provocações, fazendo-as cair no vazio. A atmosfera, portanto, não é a mais serena, mas estou convencido de que o povo está decidido a alcançar a independência, e uma demonstração disso é suportar si-lenciosamente o Governo de Cartum.

No dia 9 de Julho, nasceu o 54.º país africano, o Sudão do Sul, cristão e animista, que se separou oficialmente do regime islâmico do Norte. Em entrevista à agência Zenit, D. Cesare Mazzolari, bispo comboniano de Rumbek (Sudão do Sul) fala da necessidade de reconciliação e desenvolvimento para o futuro país.

Bispo D. Cesare Mazzolari

8 FAMÍLIA COMBONIANA

«FAMÍLIA COMBONIANA»Propriedade: Missionários Combonianos do Coração de Jesus Pessoa Colectiva nº 500139989Director: António Carlos FerreiraRedacção: Fernando Félix/Carlos ReisGrafi smo: Luís FerreiraArquivo: Amélia Neves

Redacção e Administração: Calç. Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOARedacção: Tel. 21 395 52 86 / Fax 21 397 03 44E-mail: [email protected]: Manuel Ferreira HortaAdministração: Fax: 21 390 02 46E-mail: [email protected]

Nº de registo: 104210Depósito legal: 7937/85Impressão:Jorge Fernandes, Lda.Rua Quinta do Conde Mascarenhas, 92825-259 CHARNECA DA CAPARICATiragem: 31.900 exemplares

Missão é notícia

4.º ENCONTRO NACIONAL DOS COM

Decorreu, no passado dia 10 de Junho, o 4.º Encontro Nacional dos Ce-náculos de Oração Missionária (COM) nos Missionários Combonianos de Famalicão.

Estiveram presentes cerca de 120 pessoas, representantes de mais de 30 COM das dioceses de Braga, Porto, Aveiro e Coimbra.

O dia começou com uma oração que, à semelhança dos COM, se iniciou com a invocação do Espírito e com uma leitura bíblica.

O tema deste 4.º Encontro foi «En-contro com Deus, encontro com os Homens». Neste sentido, a formação da manhã fundamentou-se em três pi-lares: convocados, amados e enviados. Isto implica que todos somos amados e chamados por Deus a evangelizar nos diversos contextos.

Neste dia, em que se celebrou o Anjo de Portugal, a parte da manhã terminou com a eucaristia presidida pelo P.e Silvé-rio Malta e com a presença dos padres Alberto Silva, José Arieira, Inácio Babo,

PEREGRINAÇÃO COMBONIANA A FÁTIMA

Será no dia 30 de Julho, sábado, com o seguinte programa:

11h00: Eucaristia na Igreja da Santíssima TrindadeTempo para almoço15h30: Celebração mariana na Igreja da Santíssima Trindade17h00: Despedida

Aniversários de ordenação sacerdotal

30 de Agosto: P.e Avelino Maravilha(25 anos de ordenação sacerdotal)

30 de Agosto: P.e Luís Filipe Dias(25 anos de ordenação sacerdotal)

Francisco Machado e Abílio Simães.Depois do almoço partilhado, houve

um convívio onde os diversos COM apresentaram peças de teatro e can-ções.

Antes da oração e bênção fi nal, rea-lizada pelo P.e Alberto Silva, o P.e Carlos Nunes, que esteve na Zâmbia e no Ma-lawi, deu o seu testemunho.

Ao longo do dia foram lidos alguns passos da carta que o P.e Claudino (que não pôde estar presente) escreveu, a propósito deste encontro, exortando a que os COM perseverem e se multipli-quem.

No próximo ano, os COM celebram 25 anos, pelo que se estão a preparar outras actividades para festejar esta data, como o 5.º Encontro Nacional que será no dia 1 de Maio.

Os COM são pequenos grupos de vizinhos, que se reúnem regularmente, para apoiar com a sua oração a activi-dade missionária da Igreja. Em geral, são fundados e orientados por um(a) colaborador(a) comboniano(a).

Pessoas que participaram no encontro dos COM