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A Bondade de Deus Por Silvio Dutra Dez/2018

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Page 1: A Bondade de Deus · bondade tão infinita quanto sua essência. Uma . 8 bondade totalmente pura e perfeita em todos os seus motivos e efeitos. Somente Deus é bom no exato sentido

A Bondade de Deus

Por

Silvio Dutra

Dez/2018

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A474 Alves, Silvio Dutra A bondade de Deus Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2018. 200p.; 14,8 x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252

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“E Jesus disse-lhe: Por que me chamas bom?

Não há bom senão um, isto é, Deus.” (Marcos 10:

18)

As palavras são parte de uma resposta do

nosso Salvador à petição do jovem para ele: uma

certa pessoa veio às pressas, "correndo" como

estando ansioso por satisfação, para pedir

instruções, o que deveria fazer para herdar a

vida eterna; a pessoa é descrita apenas em geral

(v. 17), "Veio um", um certo homem: mas Lucas

descreve-o por sua dignidade (Lucas 18:18), "Um

certo governante"; uma autoridade entre os

judeus. Ele deseja dele uma resposta a uma

pergunta fundada na Lei: "O que ele deve fazer?"

Ou, como Mateus, "Que coisa boa farei, para que

tenha a vida eterna” (Mateus 19:16)? Ele

imaginou que a felicidade eterna seria adquirida

pelas obras da lei; ele não tinha o menor

sentimento de fé; e a resposta de Cristo implica,

que não havia esperanças da felicidade de outro

mundo pelas obras da lei, a menos que eles

fossem perfeitos e respondessem a todo

preceito divino. Ele não parece ter nenhuma

intenção doente ou hipócrita em seu

questionamento a Cristo; não para tentá-lo, mas

para ser instruído por ele. Ele parece vir com um

desejo ardente, e ser satisfeito em sua consulta;

ele realizou um ato solene de respeito a ele, ele

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se ajoelhou diante dele, γονυπετήσας , prostrou-

se no chão; além disso, e de Cristo é dito (ver. 21)

amá-lo, o que teria sido inconsistente com o

conhecimento que Cristo teve dos corações e

pensamentos dos homens, e a aversão que ele

tinha dos hipócritas, se ele tivesse sido apenas

uma falsificação nessa questão. Mas a primeira

resposta que Cristo lhe dá, respeita ao título de

"Bom Mestre", que este jovem rico lhe deu em

sua saudação.

1. Alguns pensam que Cristo, por meio disto, o

atrairia para um reconhecimento dele como

Deus; você me reconhece "bom"; você me saúda

com um título tão grande. Você deve

considerar-me ser Deus, desde que você me

considera “bom”: bondade sendo um título

somente devido, e pertencente propriamente

ao Ser Supremo. Se você me tomar por um

homem comum, com que consciência você

pode me saudar de uma maneira que é

apropriada somente para Deus? Desde que

nenhum homem é "bom", não, nenhum, mas o

coração do homem é mal continuamente.

Os arianos usaram esta passagem para apoiar a

negação deles da Divindade de Cristo: porque,

dizem eles, ele não se reconheceu “bom”,

portanto ele não se reconheceu Deus.

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Mas ele não nega aqui sua Deidade, mas o

repreende por chamá-lo de bom, quando ele

ainda não o confessou ser mais do que um

homem. Vês a minha carne, mas não consideras

a plenitude da minha divindade; se você me

considera "bom", conta-me como Deus e

imagina-me não ser um homem simples. Ele

não renega sua própria Deidade, mas atrai o

jovem para uma confissão dela. Por que me

chamas bom, já que não descobres nenhuma

apreensão do meu ser mais do que um homem?

Ainda que me atribuas uma estima maior do que

é comumente entretida dos doutores da cadeira

de Moisés, por que você me considera “bom”, a

menos que você me tenha como Deus?

Se Cristo se negou neste discurso a ser "bom",

ele preferiu entreter essa pessoa com uma

carranca e uma forte reprovação por dar-lhe um

título devido apenas a Deus, que o recebeu com

essa cortesia e complacência como ele fez. Se

ele tivesse dito, não há “Bom”, senão o Pai, ele se

excluiria; mas ao dizer que não há ninguém

“bom”, senão Deus, ele compreende a si

mesmo. Todavia, sabemos pelas Escrituras que

Jesus era tão bom quanto o Pai, e então não se

excluiria da condição de ser bom, pelas palavras

que disse ao jovem. Certamente, nosso Senhor

pretendeu dizer ao jovem rico que não há

nenhum homem bom, que todos são pecadores

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e não detentores em si mesmos daquela

bondade essencial que existe somente em Deus,

pois, sabia que o jovem o procurara como um

rabino que fazia sinais extraordinários, mas não

que Ele fosse necessariamente divino por causa

disso. Daí a razão da pergunta que Jesus fez,

como a dizer: “por que me chamas bom já que

não me vês como sendo Deus, senão como

homem?”

A pergunta que Jesus dirigiu ao jovem tinha

então o propósito de ajudá-lo a enxergar que a

par de todo o seu empenho em guardar os

mandamentos de Deus, ele era um pecador

necessitado de salvação como qualquer outra

pessoa. De modo que o foco do diálogo não se

encontra tanto em Jesus tentar definir

teologicamente a singularidade da bondade que

existe somente em Deus, mas em mostrar que já

que Ele é tão santo, bom, justo e perfeito em Sua

natureza, como um pecador poderia agradá-lo a

ponto de obter a vida eterna, por simplesmente

se empenhar em guardar as obras da Lei?

Somente Deus tem a honra da bondade

absoluta, e ninguém, a não ser Deus, merece o

nome de “bom”.

1. Apenas Deus é originalmente bom de si

mesmo. Toda a bondade criada é um riacho

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desta fonte, mas a bondade Divina não tem

fonte; Deus não depende de outro para sua

bondade; ele a tem, e de si mesmo. O homem

não tem bondade de si mesmo, Deus não tem

bondade de fora de si mesmo; sua bondade não

é mais derivada de outro que não seja seu ser; se

fôssemos bons por qualquer coisa externa, essa

coisa deve estar diante dele ou depois dele; se

antes dele, ele não era ele mesmo desde a

eternidade; se depois dele, ele não seria bom em

si mesmo desde a eternidade. O fim de suas

criações, então, não era conferir bondade a suas

criaturas, mas participar de uma bondade de

suas criaturas. Deus é bom por si mesmo, visto

que todas as coisas são boas para ele; e toda essa

bondade que está nas criaturas, é senão a

respiração de sua própria bondade sobre elas.

Embora pela criação Deus fosse declarado bom,

ainda assim ele não foi feito por qualquer um,

nem por todas as criaturas. Ele participa de

nenhuma, mas todas as coisas participam dele.

Ele é tão bom que dá tudo e não recebe nada; só

ele é bom, porque nada é bom senão por ele;

nada tem uma bondade, senão dele.

2. Só Deus é infinitamente bom. Uma bondade

ilimitada que não conhece limites, uma

bondade tão infinita quanto sua essência. Uma

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bondade totalmente pura e perfeita em todos os

seus motivos e efeitos.

Somente Deus é bom no exato sentido do termo,

porque a bondade demanda que se dê a outros

tudo o que necessitam receber de outros para

que sejam providos e avançados naquilo que é

para o seu bem. De modo que para que seja de

fato bondade deve ser acompanhado pela

benignidade, porque se o efeito de dar não

produzir o bem, já não se pode dizer que foi bom

o que se fez.

Nesse sentido, ninguém pode ser bom para

Deus, porque Ele é pleno em si mesmo e de nada

necessita para ser provido ou avançado para se

tornar melhor ou maior. Deus é perfeito e de

nada necessita, sendo ao contrário, a fonte de

toda bondade, pois tudo o que temos ou somos

de bom, procede dele.

Tudo quanto temos de nossa própria natureza

terrena é o pecado, ou o que está manchado por

ele, de modo que o apóstolo Paulo chegou ao

pleno reconhecimento de que nenhum bem de

nós mesmos habita em nossa natureza terrena.

Então, podemos perceber que as palavras que

Jesus disse ao jovem rico que somente Deus é

bom em essência não configuram qualquer

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forma exagerada de se expressar, senão a mais

pura expressão da verdade.

Então, erram aqueles que pensam que Deus é

bom porque sempre está disposto a dar tudo o

que desejarmos. Erram porque Ele realmente

está disposto, a ponto de nos ter dado o próprio

Filho Unigênito para morrer na cruz por nós,

para que pudéssemos ser perdoados de nossos

pecados e vivermos por Sua vida, todavia, nem

todos desfrutarão deste benefício, porque Deus

é livre para dar e escolhe usar de misericórdia

com quem ele quiser, não estando obrigado a

qualquer criatura.

Além disso, Ele jamais nos dará aquilo que possa

contribuir para que sejamos desperdiçadores,

ou orgulhosos, ou avarentos, ou que venha a

produzir qualquer efeito mau previsível e que é

conhecido por ele em sua onisciência.

Assim como evitamos dar dinheiro a quem

sabemos que fará uso dele para adquirir drogas

ou bebida alcoólica, de igual forma é de se supor

que Deus não nos dará algo que não contribuirá

para o nosso bem, senão para o nosso mal.

Então, pela consideração destas e de outras

verdades relacionadas ao assunto da bondade,

Jesus tentou dissuadir aquele jovem que o dom

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supremo da vida eterna poderia ser adquirido

por alguma forma de compra de nossa parte do

favor de Deus, ainda que tentando agradá-lo

com a prática de boas obras.

Além de que nossas melhores obras estão

manchadas pelo pecado, e, portanto, jamais

poderiam agradar a Deus para a obtenção de

qualquer recompensa de sua parte, deve-se

reconhecer que a bondade é um ato livre que

para que seja bondade deve ser inteiramente

gracioso, e não receber nada em troca como

forma de pagamento ou recompensa. Tanto que

quando alguém dá algo com a intenção de

receber algo do beneficiado em troca, isto já não

é bondade, mas comércio disfarçado. E se o ato

de dar tem a intenção de constranger a pessoa

futuramente a ficar compromissada para nos

prestar algum favor, isto não é bondade, mas

chantagem.

Por outro lado, se tencionamos fazer alguma

boa obra ou dar algo para Deus para que Ele nos

salve, jamais seremos salvos por este meio,

porque a salvação é pela exclusiva graça, e no

caso, a graça não seria graça, mas um salário

que nos seria devido por Deus. O apóstolo se

refere a isto no quarto capítulo da epístola aos

Romanos.

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O jovem rico fez então uma pergunta na qual ele

apresentava as suas concepções e em que dava

algumas respostas antecipadas. “Bom Mestre”,

como se estivesse na alçada de algum homem

poder responder sobre o destino eterno da alma

em bem-aventurança, pois viu Jesus como um

mero rabino e não como o Filho do Deus vivo,

tanto que não se dispôs a segui-lo na incerteza

de que se valeria a pena ou não abrir mão das

riquezas terrenas para se arriscar em viver para

Jesus. E também: “O que farei para herdar”.

Como se a herança dependesse de alguma coisa

que pudéssemos fazer de nós mesmos, de modo

a satisfazer a justiça de Deus. Quando somos

completamente miseráveis e destituídos de

qualquer bem em nós mesmos para

satisfazermos não somente a justiça divina,

como também a Sua vontade e santidade.

Então, precisamos rever nossos conceitos sobre

o que seja a bondade de Deus, para que não

incorramos em erros grosseiros nos quais

poderá até mesmo estar sendo arriscado o nosso

destino eterno.

Muitos vão para o inferno por causa da ideia

errada de que Deus não enviará qualquer pessoa

para lá porque Ele é bom.

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Outros, não se corrigem e vivem no pecado,

porque não creem que Deus nos julgue,

especialmente os crentes, para serem

corrigidos por Ele. E o argumento deles é

sempre o mesmo: “Deus é bom e tudo tolera.”

Deus é bom de fato, mas também é justo, e não

deixará de punir o pecado que não foi perdoado.

E não perdoará pecados que não foram cobertos

pela fé no sangue de Jesus, e confessados e

abandonados.

E não se julgue que a bondade de Deus em

assuntos temporais, assim como faz o seu sol e

chuva virem tanto sobre justos como injustos,

que isto signifique que esteja agradado dos

injustos do mesmo modo que se agrada dos

justos. Ao contrário, os injustos permanecem

debaixo da Sua maldição e somente poderão ser

resgatados dela por meio do arrependimento e

da fé.

Mas em tudo o que faz, Deus sempre visa ao que

é bom, não apenas bom para pessoas de um

modo particular, mas para o conjunto da sua

criação, consoante o Seu plano eterno.

Deus não é apenas bom, mas bondade em si,

suprema bondade inconcebível. Todas as outras

coisas são apenas pequenas partículas de Deus,

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pequenas faíscas desta imensa chama, goles de

bondade para esta fonte. Nada que é bom por sua

influência pode igualar a quem é bom em Si

mesmo: bondade derivada nunca pode igualar

bondade primitiva. A bondade divina se

comunica com um vasto número de criaturas

em vários graus; a anjos, espíritos glorificados,

homens na terra, a toda criatura; e quando

comunicou tudo o que o mundo presente é

capaz de conceber, ainda é mais extensa, por ser

infinita.

Todas as criaturas possíveis não são capazes de

esgotar a riqueza dos tesouros com que a

generosidade divina é preenchida.

Somente Deus é perfeitamente bom, porque é

infinitamente bom. Ele é bom sem indigência,

porque tem toda a natureza de bondade, não

apenas alguns feixes que podem admitir

aumento de grau. Como nele está toda a

natureza da entidade, então nele está toda

natureza da excelência. Como nada tem um ser

absoluto e perfeito, senão Deus, então nada tem

uma bondade absolutamente perfeita, a não ser

Deus; como o sol tem uma perfeição de calor,

mas o que é aquecido pelo sol é

imperfeitamente aquecido, e não é igual ao sol

nessa perfeição de calor com a qual é

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naturalmente dotado. A bondade de Deus é a

medida e a regra do bem em tudo o mais.

Somente Deus é imutavelmente bom. Outras

coisas podem ser perpetuamente boas pelo

poder sobrenatural, mas não imutavelmente

boas em suas próprias naturezas. Outras coisas

não são tão boas, mas podem ser ruins; Deus é

tão bom que não pode ser mau. Foi o discurso de

um filósofo, que era difícil encontrar um

homem bom, sim, impossível; mas embora

fosse possível encontrar um bom homem, ele

seria bom, mas por algum momento, ou pouco

tempo: embora ele devesse ser bom neste

instante, estava acima da natureza do homem

continuar em um hábito de bondade, sem dar

errado e entortar. Mas “a bondade de Deus

permanece para sempre” (Salmos 52: 1). Deus

sempre reluz na bondade, como o sol, que os

pagãos chamavam a imagem visível da

Divindade, com luz. Não existe tal luz perpétua

no sol, como há plenitude de bondade em Deus;

“Não variabilidade” nele, como ele é o “Pai das

Luzes” (Tiago 1:17).

Antes de chegar à doutrina, isto é, o escopo

principal das palavras, algumas observações

podem ser feitas sobre a pergunta do jovem: “O

que devo fazer para herdar a vida eterna?”

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1. A opinião de ganhar a vida eterna pela

observação externa da lei, parecerá muito

insatisfatória para uma consciência inquisitiva.

Este jovem certamente acreditou

confiantemente, que ele tinha cumprido a lei (v.

20): “Tudo isso eu tenho observado desde a

minha juventude”, mas ele não tinha satisfação

plena em sua própria consciência; seu coração

fraquejava, e começou a surgir alguns

sentimentos nele, que algo mais era necessário,

e o que ele fez poderia ser muito fraco, muito

curto para abrir a fechadura do céu para ele. E

para esse propósito ele vem a Cristo, receber

instruções para consertar tudo que fosse

defeituoso. Quem vai considerar a natureza de

Deus, e a relação de uma criatura, não pode com

razão pensar, que a vida eterna era em si mesma

devida por Deus como uma recompensa para

Adão, se ele persistisse em um estado de

inocência. Quem pode pensar em uma

recompensa tão grande, por ter realizado aquilo

que uma criatura naquela relação foi obrigada a

fazer? Alguém pode pensar que outro seja

obrigado a transmitir uma herança de cem mil

dólares por ano sobre o seu pagamento de

alguns serviços, a menos que qualquer

insensato apareça para apoiar tal conceito? E se

não fosse esperado na integridade da natureza,

mas somente da bondade de Deus, como pode

ser esperado desde a revolta do homem, e o

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dilúvio universal de corrupção? Deus não deve

nada à criatura mais santa; o que ele dá é um

presente de sua recompensa, não a recompensa

pelo mérito da criatura. E o apóstolo desafia

todas as criaturas, do maior ao menor, do mais

alto anjo ao mais baixo arbusto, para trazer

qualquer criatura que primeiro deu a Deus

(Rom 11:35); “Quem primeiro deu a ele e lhe será

recompensado?”

O dever da criatura, e o presente de Deus da vida

eterna, não é uma barganha e venda. Deus dá à

criatura, ele não paga corretamente; porque

aquele que paga, recebeu algo de igual valor

antes. Quando Deus coroa anjos e homens, ele

concede a eles puramente o que é seu, não o que

é deles por mérito e obrigação natural: embora

de fato, o que Deus dá em virtude de uma

promessa feita antes, é, sobre o desempenho da

condição devida à obrigação graciosa. Deus não

estava em dívida com o homem em inocência,

mas a consciência de todo homem pode agora

pensar que ele não está no mesmo nível que no

estado de integridade; e que ele não pode

esperar nada de Deus, como o salário de seu

mérito, senão o dom gratuito da liberalidade

divina. O homem é obrigado a praticar o que é

bom, tanto pela excelência dos preceitos

divinos, como pelo dever que ele tem com Deus;

e não pode, sem alguma declaração de Deus,

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esperar por qualquer outra recompensa, do que

a satisfação de ter sido bem absolvido. Daí a

ordenança: “De graça recebestes, de graça dai.”

2. É a doença da natureza humana, desde a sua

corrupção, a esperança de vida eterna pelo teor

do pacto das obras. Embora nisso a consciência

do jovem rico não estivesse completamente

satisfeita com o que ele tinha feito, mas

imaginava que ele poderia, apesar de tudo, ficar

aquém da vida eterna, ele ainda abraça a

imaginação de obtê-lo por obras (v. 17); “O que

devo fazer para herdar a vida eterna?” Isso é

natural para o homem corrompido.

Caim pensou ser aceito por causa de seu

sacrifício; e, quando ele encontrou o seu erro,

ele estava tão cansado de procurar a felicidade

por obras, que ele cortejaria a miséria

assassinando. Todos os homens atribuem um

valor muito alto aos seus próprios serviços.

Criaturas pecaminosas desejariam fazer de

Deus um devedor para eles, e serem

compradores de felicidade: eles não teriam isto

transmitido a eles pela generosidade soberana

de Deus, mas por uma obrigação de justiça sobre

o valor de suas obras. Os pagãos pensavam que

Deus trataria os homens de acordo com o mérito

de seus serviços; e não é de admirar que eles

devam ter esse sentimento, quando os judeus,

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educados por Deus em uma escola mais sábia,

foram casados com aquela noção. Os fariseus

gostavam muito disso: era o único argumento

que usavam em oração pela bênção divina. Você

tem um deles gabando-se de sua frequência no

jejum e de sua exatidão em pagar seus dízimos

(Lucas 19:12); como se Deus estivesse em dívida

com ele e não pudesse negar-lhe suas

demandas.

Este sentimento da natureza corrompida

humana, que perdeu inteiramente a noção e a

condição de entender a graça divina como pura

expressão da Sua bondade, e que Ele tem prazer

em dar e doar-se independentemente de nossos

méritos, e movidos pelo orgulho de receber

reconhecimento e recompensa por tudo o que

pensamos fazer de bem a outros, ficamos

sujeitos a este sentimento de sermos

merecedores de receber o bem das mãos de

Deus, especialmente se cumprimos alguma

obrigação religiosa.

Disto se queixavam os israelitas dizendo que

eles não estavam recebendo a devida

consideração da parte de Deus por seus

sacrifícios, jejuns e orações, porque, a juízo

deles, não estavam tendo o retorno em bênçãos

que julgavam serem merecedores de receber.

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“Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas

para isso? Por que afligimos as nossas almas, e

tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais

achais o vosso próprio contentamento, e

requereis todo o vosso trabalho.” (Isaías 58.3).

O homem tolamente acha que tem o suficiente

para se estabelecer depois de ter falido, e

perdido toda sua propriedade. Essa imaginação

nasce conosco, e os melhores cristãos podem

encontrar algumas faíscas em si mesmos,

quando há nascimentos de alegria em seus

corações, no desempenho mais próximo de um

dever do que de outro; como se o bom tivesse

apagado a pontuação do mau e deu a Deus uma

satisfação por suas negligências anteriores.

"Nós abandonamos tudo e te seguimos", foi o

orgulho de seus discípulos: o que teremos,

portanto? Era um ramo dessa raiz (Mt 19.27). A

vida eterna é um presente, não por qualquer

obrigação de direito, mas uma abundância de

bondade; é devido, não à dignidade de nossas

obras, mas à magnífica generosidade da

natureza Divina, e deve ser processado pelo

título da promessa de Deus, não pelo título dos

serviços da criatura.

Podemos observar,

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3. Quão insuficientes são alguns assentamentos

à verdade Divina, e algumas expressões de

afeição a Cristo, sem a prática dos preceitos do

cristianismo. Este homem dirigiu-se a Cristo

com um profundo respeito, reconhecendo-o

mais do que uma pessoa comum, com uma

atitude reverente: ele caiu a seus pés, beijou

seus joelhos, como era o costume, quando eles

testemunhariam o grande respeito que tinham

para com qualquer pessoa eminente,

especialmente com seus rabinos. Ele parece

reconhecê-lo como Messias, dando-lhe o título

de "Bom", um título que eles não deram aos seus

doutores da cadeira de Moisés; ele transpira sua

opinião, de que ele seria capaz de instruí-lo além

da capacidade da lei; ele veio com um afeto mais

do que comum para ele, e expectativa de

vantagem dele, evidente por sua partida triste,

quando suas expectativas foram frustradas por

sua própria perversidade; era um sinal de que

ele tinha uma alta estima de si mesmo da qual

ele não podia se separar sem marcas de sua dor.

Qual foi a causa de ele recusar as instruções que

ele pretendia que tal afeição recebesse? Ele

tinha posses no mundo. Em quanto tempo

algumas gotas de vantagens mundanas saciarão

as primeiras faíscas de um amor infundado por

Cristo!

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Quão vaidosa é uma devoção complacente e

penosa, sem uma preferência suprema de Deus,

e valorização de Cristo acima de cada atração

exterior. Podemos observar nisso que,

4. Nunca devemos admitir que algo nos seja

atribuído, o que é próprio de Deus. “Por que me

chamas bom? Não há ninguém bom, senão um,

isto é, Deus.” Se você não me reconhece como

Deus, não me atribua o título de Bom. Ele tira

todos os títulos que bajuladores, aduladores dão

aos homens, “poderosos”, “invencíveis” aos

príncipes, “santidade” ao papa. Chamamos um

ao outro de bom, sem considerar quão mal seja;

e de sábio, sem considerar quão tolo; e

poderoso, sem considerar quão fraco seja.

Deus é um Deus ciumento de sua própria honra;

ele não terá a criatura compartilhando com ele

em seus títulos reais. É uma parte da idolatria

dar aos homens títulos que são devidos a Deus;

uma espécie de adoração da criatura junto com

o Criador. Os vermes não se destacam, mas

atacam Herodes em sua púrpura, quando ele

usurpa a prerrogativa de Deus, e prova

vindicadores duros e invencíveis da honra do

seu Criador, quando convocado para os braços

pela palavra do Criador (Atos 12:22, 23).

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A observação que pretendo processar, é esta:

pura e perfeita bondade é apenas a prerrogativa

real de Deus; a bondade é uma perfeição da

natureza divina. Esse é o verdadeiro e genuíno

caráter de Deus; ele é bom, ele é bondade, bom

nele mesmo, bom em sua essência, bom no

mais alto grau, possuindo tudo que é belo,

excelente, desejável; o bem maior, porque é o

primeiro bem: tudo que é bondade perfeita é de

Deus; tudo o que é verdadeiramente bondade

em qualquer criatura é uma semelhança de

Deus. Todos os nomes de Deus estão

compreendidos neste de bom. Todos os dons,

toda variedade de bondade, estão contidos nele

como um bem comum.

Ele é a causa eficiente de todo bem, por uma

bondade transbordante de sua natureza, ele se

refere a todas as coisas para si mesmo, como o

fim, para a representação de sua própria

bondade; “Verdadeiramente Deus é bom”

(Salmo 73: 1). Certamente, é uma verdade

indubitável; está escrito em suas obras de

natureza e seus atos de graça (Êx 34: 6). "Ele é

abundante em bondade." E cada coisa é um

memorial, não de algumas poucas faíscas, mas

de sua maior bondade (Salmo 145: 7). Isso é

frequentemente celebrado nos Salmos, e

homens são convidados mais de uma vez, para

cantar os Seus louvores (Salmo 107: 8, 15, 21, 31).

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Pode ser melhor ser admirado do que

suficientemente falado, ou pensado, como ele

merece. É descoberto em todas as suas

operações como a bondade de uma árvore em

todos os seus frutos; é fácil de ser visto e mais

agradável de ser contemplado. Em geral,

1. Todas as nações do mundo reconheceram a

bondade de Deus. Quaisquer que fossem as

divisões ou disputas que houvesse entre as

outras perfeições de Deus, todas elas

concordavam sem contestação quanto a esta da

bondade.

Quando se diz que Deus é bom não se deve

pensar apenas que Ele faça o que é bom, como

também que Ele não tem qualquer coisa má em

sua natureza. Ele não somente faz o que é bom,

como é bom em Sua própria pessoa.

Nenhuma perfeição da natureza Divina é mais

eminentemente, nem mais rapidamente visível

em todo o livro da criação, do que isso.

Sua grandeza não brilha em nenhuma parte

dela, onde sua bondade não resplandeça

gloriosamente: seja qual for o instrumento de

sua obra, como seu poder; qualquer que seja o

encarregado de sua obra, como sua sabedoria;

contudo, nada pode ser adorado como motivo

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de seu trabalho, senão a bondade de sua

natureza. Isso só poderia induzi-lo a resolver

criar sua sabedoria, em seguida, intervém, para

dispor os métodos do que ele tem resolvido; e

seu poder segue para executar o que sua

sabedoria tem disposto e sua bondade

projetado. Seu poder de fazer e sua sabedoria em

ordenar são subservientes à sua bondade; e esta

bondade, que é o fim da criação, é tão visível aos

olhos de homens, como legíveis à compreensão

dos homens, como seu poder em formá-los, e

sua sabedoria em ajustá-los. E como o livro da

criação, então os registros de seu governo

devem familiarizá-los com uma grande parte

dele, quando eles frequentemente o viram,

estendendo a mão, para suprir os indigentes,

aliviar os oprimidos e punir os opressores, e dar-

lhes, em suas aflições, o que pode “encher o

coração de alimento e alegria”. É isso a que o

apóstolo (Rom 1:20, 21) se refere pela sua

divindade, à qual ele liga sua eternidade e poder,

como claramente visto nas coisas que são feitas,

como em um espelho puro, "Porque as coisas

invisíveis dele desde a criação do mundo, são

claramente vistas, sendo entendidas pelas

coisas que são feitas, pelo seu eterno poder e

divindade.”

A Divindade que compreende toda a natureza de

Deus como revelável para suas criaturas, não

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era conhecida, sim, era impossível ser

conhecido, pelas obras da criação. Não havia

nada, então, reservado para ser manifestado em

Cristo: senão sua bondade, que

apropriadamente significava pela sua

divindade, seria tão claramente visível como o

seu poder. O apóstolo censura-os com sua

ingratidão, e argumenta que são indesculpáveis,

porque o braço de seu poder na criação não

causou a devida impressão de temor em seus

espíritos, nem os raios de sua bondade

produziram sentimentos suficientes de

gratidão. Sua não glorificação a Deus, foi um

desprezo do primeiro; e sua não gratidão, foi

uma consequência do último. Deus é o objeto de

honra, como ele é poderoso, e o objeto de

gratidão corretamente como ele é abundante.

No texto de Efésios 1.3-14, o apóstolo bendiz a

Deus pelo Seu beneplácito, ou seja, pelo Seu

planejamento da salvação antes da fundação do

mundo em razão de ter sido movido pelo bem

em Si mesmo, para nos abençoar em Cristo:

“3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus

Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte

de bênção espiritual nas regiões celestiais em

Cristo,

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4 assim como nos escolheu, nele, antes da

fundação do mundo, para sermos santos e

irrepreensíveis perante ele; e em amor

5 nos predestinou para ele, para a adoção de

filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o

beneplácito de sua vontade,

6 para louvor da glória de sua graça, que ele nos

concedeu gratuitamente no Amado,

7 no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a

remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua

graça,

8 que Deus derramou abundantemente sobre

nós em toda a sabedoria e prudência,

9 desvendando-nos o mistério da sua vontade,

segundo o seu beneplácito que propusera em

Cristo,

10 de fazer convergir nele, na dispensação da

plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as

do céu como as da terra;

11 nele, digo, no qual fomos também feitos

herança, predestinados segundo o propósito

daquele que faz todas as coisas conforme o

conselho da sua vontade,

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12 a fim de sermos para louvor da sua glória, nós,

os que de antemão esperamos em Cristo;

13 em quem também vós, depois que ouvistes a

palavra da verdade, o evangelho da vossa

salvação, tendo nele também crido, fostes

selados com o Santo Espírito da promessa;

14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao

resgate da sua propriedade, em louvor da sua

glória.”

Por duas vezes ele se refere ao beneplácito da

vontade divina no texto (v. 5 e 9), e que tal

propósito se destinava ao louvor da glória da Sua

graça, ou seja, tudo girou em torno da bondade

de Deus quanto à nossa salvação, e não por algo

em nós mesmos.

Deus continuará realizando pela eternidade

afora criações e operações segundo a sua

bondade infinita. Neste sentido se excluem

todas as criaturas do título de BOM,

exclusivamente aplicável a Deus, porque

ninguém possui bondade a ponto de fazer o bem

numa dimensão eterna, e especialmente

porque há variadas implicações nisto que

escapam totalmente ao poder da criatura, como

por exemplo o exercício de juízos justos e

adequados para a promoção e continuidade do

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bem. Não foi isto o que ocorreu no Egito nos dias

de Moisés? Eles haviam matado crianças

israelitas para evitar a multiplicação do povo

que haviam escravizado de forma tão cruel. Eles

não tiveram a menor consideração por todo o

bem que Deus havia feito a eles através de José,

e o pior de tudo, faraó apresentava-se como

deus e era adorado como tal, em meio a um

grande panteão de deuses, em que até mesmo

rãs e bois eram adorados.

Que bem Deus fez então não somente a Israel,

quando quebrou as cadeias do cativeiro, como

também aos próprios egípcios e às nações não

apenas daquela época, como de todas aquelas às

quais tem chegado o testemunho do que o

Senhor fizera no Egito, pois os falsos deuses

foram subjugados e humilhados, revelando-se

ao mundo que o único Deus verdadeiro é o de

Israel.

Quantos milhões não têm sido salvos da

idolatria, pelo crédito que têm dado ao que o

Senhor fizera com o Seu grande poder? A

idolatria é um mal que conduz à morte eterna.

Então quão grande bem é demonstrado por

Deus em Sua bondade ao erigir monumentos de

seus juízos contra o pecado, como também

fizera nos dias de Noé com o dilúvio, e em

Sodoma e Gomorra.

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Então, voltamos a perguntar: Quem dentre os

homens poderia conduzir a vida na terra, até

que tudo chegue ao grande objetivo final de

Deus na criação do homem, que é o de formar

dessa humanidade caída no pecado um povo

santo, exclusivamente seu, zeloso de boas obras,

uma nação santa, um reino sacerdotal, pois dos

crentes é dito que reinarão com Cristo pelos

séculos dos séculos sem fim?

Quem pode afirmar que esta criação é tudo o

que Deus tem para fazer e controlar? O que

sucederá depois do Milênio? Quantos mundos

Ele poderá ainda criar? Temos nas Escrituras a

profecia da criação de novos céus e uma nova

Terra. Agora, se novos céus serão criados e se de

uma humanidade caída, Deus planejou dar um

corpo a Cristo, do qual Ele é a cabeça, para o

governo de tudo, então não é de se supor que ele

possa trazer novos seres morais à existência

para povoarem estes novos céus e Terra, e

colocar os crentes glorificados como reis sobre

eles, debaixo da autoridade de Jesus?

Afinal, quem melhor do que os crentes que

foram resgatados da maldição, e purificados do

pecado, e que testemunharam a necessidade

absoluta da graça de Jesus para que possam ter

vida eterna e estarem firmes, para serem

colocados como professores daqueles que

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seriam criados como por exemplo, Deus criou

os anjos? Quem melhor para ensinar as

criancinhas que morreram e foram para o céu

do que estes crentes que foram provados e

experimentados em muitas aflições e

sofrimentos causados pelo pecado? A Bíblia

estará aberta por toda a eternidade dando o

testemunho de quão dura coisa é afastar-se do

Deus vivo, e ninguém melhor do que os crentes

glorificados, para provarem a bênção que há em

permanecer unido a Cristo, e o inferno, para

demonstrar qual é o destino horrível e

vergonhoso que aguarda a todos aqueles que se

levantam contra Deus e o Seu Ungido.

Os anjos eleitos jamais estariam habilitados a

esta tarefa de serem os professores das almas

recém criadas por Deus, porque eles não

experimentaram em suas próprias vidas os

efeitos deletérios do pecado, assim como os

crentes. Por isso que os anjos não foram dados

sob a cabeça de Jesus para serem um só corpo

com Ele, senão somente os crentes.

Não é sem motivo então, que somos ordenados

a andarmos de modo digno da vocação a que

fomos chamados. O apóstolo, nestes termos,

admoestou a Igreja de Corinto em seu andar

desordenado, que se levantassem, porque

deveriam saber que até os próprios anjos serão

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julgados pelos crentes quando Cristo se

manifestar no dia do Juízo.

Então, o que de bom o homem pode fazer para

trazer à existência todas estas coisas boas e

eternas que foram planejadas por Deus?

Que mérito pode haver em Suas obras para que

Deus se mostre bondoso para ele?

Não é sem motivo que Jesus disse aos judeus que

a obra que eles deveriam fazer para Deus era a

de crer que havia sido enviado para ser o Senhor

e Salvador do mundo.

Quão distante está esta verdade de todo

pensamento idólatra dos pagãos, que é um claro

testemunho de seu sentimento comum da

bondade de Deus: uma vez que quanto mais

eminentemente útil qualquer pessoa fosse em

alguma invenção vantajosa para o benefício da

humanidade, eles pensaram que merecia um

posto no número de suas divindades. Os

italianos estimavam Pitágoras um deus, porque

ele era Φ ιλαιθρωπόιατος; ser bom e útil, era

alguém que se aproximava da natureza Divina.

Por isso, quando os habitantes de Listra viram

uma semelhança da bondade divina na caridade

e cura milagrosa de um de seus cidadãos

aleijados, eles confundiram Paulo e Barnabé

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com os deuses, e inferiram daí o direito deles ao

culto divino, indagando sobre nada além do

caráter visível de sua bondade e utilidade, para

capacitá-los pela honra de um sacrifício (Atos 14:

8-11). Por isso, adoravam aquelas criaturas que

eram um benefício comum, como o sol e a lua,

que deve ser fundado sobre uma noção

preexistente, não só de um Ser, mas da

generosidade e bondade de Deus, que era

naturalmente implantado neles e legível em

todas as obras de Deus. E o mais benéfico foi

para eles, e quanto mais sensato das vantagens

que recebiam dele, a posição mais alta que eles

davam no posto de seus ídolos, e conferiam a ele

a mais solene adoração: um erro absurdo de

pensar tudo o que era sensivelmente bom para

eles, para ser Deus, vestindo-se de tal forma

para ser adorado por eles. E, por causa disso, os

egípcios adoravam a Deus sob a figura de um

boi; e os índios do leste, em algumas partes do

seu país, deificaram uma novilha, insinuando a

bondade de Deus, como seu nutridor e

preservador, dando-lhes trigo, do qual o boi é

um instrumento que serve para arar e preparar

o solo.

2. A noção de bondade é inseparável da noção de

um Deus. Nós podemos não admitir a existência

de Deus, mas devemos confessar também a

bondade de sua natureza. Assim, o apóstolo dá à

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sua bondade o título de sua divindade, como se

bondade e divindade fossem termos

conversíveis (Rom. 1:20).

Sua natureza é tão boa quanto majestosa; assim

também o salmista se junta a ele (Salmo 145: 6,

7), “Falar-se-á do poder dos teus feitos

tremendos, e contarei a tua grandeza.

Divulgarão a memória de tua muita bondade e

com júbilo celebrarão a tua justiça.”

A bondade é o brilho e a beleza de nosso

majestoso Criador.

Na prossecução disto, vamos ver.

I. O que esta bondade é.

II. Algumas proposições concernentes à

natureza da mesma.

III. Que Deus é bom.

IV. A manifestação disso na criação, providência

e redenção.

I. O que é essa bondade. Há uma bondade de ser,

que é a perfeição natural de uma coisa; existe a

bondade da vontade, que é a santidade e a justiça

de uma pessoa; existe a bondade da mão, que

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nós chamamos de liberalidade, ou beneficência,

fazendo o bem para outros.

1. Não queremos dizer por isso, que pela

bondade de sua essência ou pela perfeição de

sua natureza, Deus é assim bom, porque sua

natureza é infinitamente perfeita; ele tem todas

as coisas necessárias para completar o Ser mais

perfeito e soberano. Tudo de bom encontra em

sua essência, como toda a água se encontra no

oceano. Sob esta noção todos os atributos de

Deus, que são requisitos para um Ser tão ilustre,

são compreendidos.

“Porventura, desvendarás os arcanos de Deus

ou penetrarás até à perfeição do Todo-

Poderoso?” (Jó 11: 7); nada é necessário à sua

essência, que seja necessário para a perfeição

dela; mas isso não é o que a Escritura expressa

sob o termo de bondade, senão uma perfeição

da natureza de Deus como relacionada a nós, e

que ele derrama sobre todas as suas criaturas,

como bondade que flui desta perfeição natural

da Deidade.

2. Nem é o mesmo com a bem-aventurança de

Deus, mas algo que flui de sua bem-

aventurança. Não fosse ele primeiro

infinitamente abençoado, e cheio em si mesmo,

ele não poderia ser infinitamente bom e

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difusivo para nós; se ele não tivesse uma

abundância infinita em sua própria natureza,

ele não poderia transbordar para suas criaturas;

não tivesse o sol uma plenitude de luz em si e o

mar uma vastidão de água que não pudesse

enriquecer o mundo com seus raios, nem o

outro encher cada riacho com suas águas.

3. Nem é o mesmo com a santidade de Deus. A

santidade de Deus é a retidão de sua natureza,

pela qual ele é puro e sem mancha em si mesmo;

a bondade de Deus é a efusão de sua vontade,

pela qual ele é benéfico para suas criaturas: a

santidade de Deus é manifesta em suas

criaturas racionais; mas a bondade de Deus se

estende a todas as obras de suas mãos. Sua

santidade irradia mais em sua lei; sua bondade

alcança tudo o que tinha um ser dele (Salmo 145:

9): "O Senhor é bom para todos." E embora dele

seja dito no mesmo Salmo (v. 17) ser "santo em

todas as suas obras", deve ser entendido de sua

generosidade, abundante em todas as suas

obras; a palavra hebraica significa tanto santo e

liberal, e a margem da Bíblia o lê

“misericordioso” ou “abundante”.

4. Tampouco essa bondade de Deus é igual à

misericórdia de Deus. A bondade se estende a

mais objetos do que a misericórdia; a bondade

estica-se para todas as obras das suas mãos; a

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misericórdia se estende apenas a um objeto

miserável: pois se une a um sentimento de

piedade, ocasionado pela calamidade do outro.

A misericórdia de Deus é exercida sobre aqueles

que merecem punição; a bondade de Deus é

exercida sobre objetos que não mereceram

nada contrário aos atos de sua generosidade. A

criação é um ato de bondade, não de

misericórdia; a providência em governar

alguma parte do mundo, é um ato de bondade,

não de misericórdia. Os céus, diz Agostinho,

precisam da bondade de Deus para governá-los,

mas não da misericórdia de Deus para aliviá-los;

a terra está cheia da miséria do homem e das

misericórdias de Deus; mas os céus não

precisam da misericórdia de Deus para ter pena

deles, porque eles não são miseráveis; embora

eles precisem da bondade e poder de Deus para

sustentá-los; porque, como criaturas, são

impotentes sem ele. A bondade de Deus se

estende aos anjos, que mantiveram sua posição

e o homem em inocência, que naquele estado

não precisava de misericórdia. Bondade e

misericórdia são distintas, embora a

misericórdia seja um ramo da bondade; pode

haver uma manifestação de bondade, embora

nenhuma de misericórdia. Alguns acham que

Cristo teria encarnado, se o homem não tivesse

caído; e se tivesse sido assim, haveria uma

manifestação de bondade à nossa natureza, mas

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não de misericórdia, porque o pecado não teria

feito nossas naturezas miseráveis. Os demônios

são monumentos da bondade que Deus cria,

mas não de suas misericórdias perdoadoras. A

graça de Deus respeita à criatura racional; mera

criatura miserável; a bondade a todas as suas

criaturas, animais e plantas, bem como ao

homem racional.

5. Por bondade, se entende a generosidade de

Deus. Essa é a noção de bondade no mundo;

quando dizemos um bom homem, queremos

dizer um homem santo em sua vida, ou um

homem caridoso e liberal na administração de

seus bens. Um homem justo e um homem bom

são distintos (Rm 5: 7). “Porque dificilmente um

homem justo morrerá; contudo, para um

homem bom, alguém se atreveria a morrer;

porque um homem inocente, alguém tão

inocente do crime como ele mesmo

dificilmente arriscaria sua vida; senão para um

homem bom, um liberal, de coração terno, que

tinha sido um bem comum no lugar onde ele

vivia, ou tinha feito outro benefício tão grande

como a própria vida equivale a, um homem por

gratidão pode ousar morrer. "A bondade de Deus

é a sua inclinação para lidar bem e

generosamente com suas criaturas.", por meio

do qual ele deseja que haja algo além de si

mesmo para sua própria glória. Deus é bom em

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si mesmo e a si mesmo, ou seja, altamente

amável para ele mesmo; e, portanto, alguns

definem uma perfeição de Deus, pela qual ele

ama a si mesmo e a sua própria excelência; mas

como está em relação às suas criaturas, é essa

perfeição de Deus em que ele se deleita em suas

obras, e é benéfico para elas. Deus é a mais alta

bondade, porque ele não age para seu próprio

benefício, mas para o bem-estar de suas

criaturas e a manifestação de sua própria

bondade. Ele envia seus raios de bondade, sem

receber qualquer adição a si mesmo, ou

vantagem substancial de suas criaturas. É dessa

perfeição que ele ama tudo o que é bom, e é isso

que ele fez, “porque toda criatura de Deus é boa”

(1 Tim 4: 4); cada criatura tem algumas

comunicações dele, o que não pode ser sem

algum afeto para elas; toda criatura tem um

passo de bondade divina sobre ela; Deus,

portanto, ama essa bondade na criatura, senão

ele não se amaria. Deus não odeia a criatura,

nem os demônios e condenados, como

criaturas; ele não é um inimigo para eles, como

eles são as obras de suas mãos; pois é

propriamente um inimigo aquele que

simplesmente deseja o mal ao outro; mas Deus

não deseja absolutamente o mal aos

condenados; que a justiça que ele inflige sobre

eles, a merecida punição de seu pecado, faz

parte de sua bondade, como depois será

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mostrado. Esta é a mais agradável perfeição da

natureza divina; seu poder criador nos

surpreende; Sua sabedoria de condução nos

surpreende; sua bondade, como nos fornecendo

com todas as conveniências, nos deleita; e torna

tanto seu incrível poder como uma sabedoria

surpreendente, prazerosos para nós. Como o

sol, por efetuar as coisas, é um emblema do

poder de Deus; descobrindo coisas para nós, é

um emblema de sua sabedoria; mas refrescando

e confortando-nos, é um emblema de sua

bondade; e sem esta virtude refrescante que nos

comunica, não devemos ter prazer nas criaturas

que produz, nem nas belezas que descobre.

Como Deus é grande e poderoso, ele é o objeto

de nossa compreensão; mas como bom e

abundante, ele é o objeto de nosso amor e

desejo.

6. A bondade de Deus compreende todos os seus

atributos. Todos os atos de Deus nada mais são

que as efusões de sua bondade, distinguida por

vários nomes, de acordo com os objetos sobre os

quais é exercida. Como o mar, embora seja uma

massa de água, ainda assim distingue-se por

vários nomes, de acordo com as margens que

ela lava e banha; como o oceano britânico e

alemão, embora todos sejam um mar. Quando

Moisés ansiava. para ver sua glória, Deus diz a

ele, que lhe daria uma perspectiva de sua

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bondade (Êxodo 33:19): “Eu farei toda minha

bondade passar diante de ti.” Sua bondade é a

sua glória e divindade, tanto quanto é

deleitavelmente visível para suas criaturas, e

por meio da qual ele beneficia o homem: "Farei

com que minha bondade, passe diante de ti", o

que é isso, senão a soma de todas as suas

encantadoras perfeições brotando de sua

bondade? Todo o catálogo de misericórdia,

graça, longanimidade, abundância de verdade,

resumida nesta palavra (Êx 34: 6). Todos são

correntes desta fonte; ele poderia ser nada

disso, se ele não fosse bom primeiro.

Quando confere felicidade sem mérito, é graça;

quando concede felicidade contra mérito, é

misericórdia; quando ele suporta provocações

rebeldes, é longanimidade; quando ele realiza

sua promessa, é verdade; quando se encontra

com uma pessoa a quem não é obrigado, é graça;

quando ele se encontra com uma pessoa no

mundo, a quem ele se comprometeu pela

promessa, é verdade; quando se compadece de

uma pessoa angustiada, é misericórdia; quando

fornece uma pessoa indigente, é generosidade;

quando socorre uma pessoa inocente, é justiça;

e quando perdoa uma pessoa penitente, é

misericórdia; tudo resumido neste único nome

de bondade; e o salmista expressa o mesmo

sentimento nas mesmas palavras (Salmo 145: 7-

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9): “Divulgarão a memória de tua muita

bondade e com júbilo celebrarão a tua

justiça. Benigno e misericordioso é o SENHOR,

tardio em irar-se e de grande clemência. O

SENHOR é bom para todos, e as suas ternas

misericórdias permeiam todas as suas obras.”

Ele é primeiro bom e depois compassivo. A

justiça é muitas vezes nas Escrituras, usada não

por justiça, mas caridade; esse atributo, diz um

deles, é tão cheio de Deus que deifica todo o

resto e atesta a adorabilidade dele. A sabedoria

dele pode nos inventar, seu poder é muito duro

para nós; que pode ser muito difícil para um

ignorante, e o outro muito poderoso para uma

criatura impotente; sua santidade assustaria

uma criatura impura e culpada, mas sua

bondade os conduz a todos e torna-os todos

amigáveis para nós; qualquer que seja a graça

que tenham no olho de uma criatura, seja qual

for o conforto que proporcionem ao coração de

uma criatura, somos obrigados por todos à sua

bondade. Isso coloca todo o resto em um

exercício prazeroso; isso faz seu desígnio de

sabedoria para nós, e isso faz com que ele possa

agir por nós; isto oculta a sua santidade de nos

assustar, e isto exibe a sua misericórdia para nos

aliviar: todos os seus atos para o homem, são

apenas a obra disso. O que o moveu a princípio

para criar o mundo a partir do nada, e erigir tão

nobre criatura como o homem, dotado de tais

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dons excelentes; não foi sua bondade? O que o

fez separar o seu Filho para ser um sacrifício por

nós, depois que nos empenhamos em eliminar

as primeiras marcas de seu favor; não foi um

forte borbulhar de bondade? O que o move a

reduzir uma criatura caída ao devido senso de

seu dever, e finalmente levá-la a uma felicidade

eterna; não é somente a bondade dele? Este é o

atributo chefe que leva o resto a agir. Isso os

atende e os anima em todos os seus modos de

agir. Este é o complemento e perfeição de todas

as suas obras; se não fosse por isso, o que

colocasse todo o resto no trabalho, nada de suas

maravilhas teria sido visto na criação, nada de

suas compaixões seria visto na redenção.

II. A segunda coisa é, algumas proposições para

explicar a natureza dessa bondade.

1. Ele é bom por sua própria essência. Deus não é

apenas bom em sua essência, mas é bom por sua

essência; a essência de "todo ser criado é boa”;

assim o Deus infalível pronunciou tudo o que ele

havia feito (Gên 1:31). A essência das piores

criaturas, sim, dos demônios impuros e

selvagens, é boa; mas eles não são bons por

essência, pois então eles não poderiam ser

maus, maliciosos e opressivos. Deus é bom,

como ele é Deus; e portanto bom por si mesmo;

e de si mesmo, não pela participação de outro;

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ele fez tudo bem, mas nenhum o fez bem; já que

sua bondade não foi recebida de outro, ele é

bom por sua própria natureza. Ele não poderia

recebê-lo das coisas que ele criou, eles são

posteriores a ele; desde que eles receberam

tudo dele, eles nada poderiam lhe dar.

As criaturas são boas sendo feitas por ele, e se

apegando a ele; e ele é bom sem se apegar a

qualquer bondade fora dele. A bondade não é

uma qualidade nele, mas uma natureza; não é

algo adicionado à sua essência, mas sua própria

essência; ele não é primeiro Deus e depois o

bem; mas ele é bom como ele é Deus; sua

essência, sendo um e o mesmo, é formal e

igualmente Deus e bom. Αυιάγαθον , “bem de si

mesmo”, foi um dos nomes que os platonistas

lhe deram.

Ele é essencialmente bom em sua própria

natureza, e não por qualquer ação exterior que

segue sua essência. Ele é um ser independente e

nada há de bondade ou felicidade de qualquer

coisa sem ele, ou qualquer coisa que ele faça. Se

ele não fosse bom por sua essência, ele não

poderia ser eternamente bom, ele não poderia

ser o primeiro bem; ele teria algo antes dele, de

onde ele derivaria bondade com que ele é

possuído.

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Daí a sua bondade deve ser infinita e

circunscrita sem limites; o exercício de sua

bondade pode ser limitado por ele mesmo; mas

sua bondade, o princípio, não pode; porque

desde que sua essência é infinita, e sua bondade

não é distinta de sua essência, é infinita

também; se isso fosse limitado, seria finito; ele

não pode ser limitado por nada exterior a ele; se

assim for, então ele não seria Deus, porque ele

teria algo superior a ele, para colocar barreiras

em seu caminho; se houvesse alguma coisa para

consertá-lo, deveria ser um bem ou mal; bom

não pode ser, pois é a propriedade de bondade

para encorajar o bem, não para apagá-lo; o mal

não pode ser, pois então extinguiria o bem,

assim como o limite disto; não se contentaria

em circunscrevê-lo, sem destruí-lo; porque é a

natureza de todo o contrário, esforçar-se para a

destruição de seu oposto. Ele é essencialmente

bom por sua própria essência; portanto, bem de

si mesmo; portanto, eternamente bom; e

portanto, abundantemente bom.

2. Deus é o principal bem. Sendo bom em si e por

sua própria essência, ele precisa ser a principal

bondade, em quem não pode haver nada além

de bom, de quem não pode proceder senão o

bem, a quem todo o bem deve ser referido, como

a causa final de tudo de bom. Como ele é o

principal ser, ele é o principal bem; e à medida

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que nos elevamos a passos da existência das

coisas criadas, para reconhecer um Ser

Supremo, que é Deus, então nós subimos por

etapas a partir da consideração da bondade das

coisas criadas, para reconhecer um Oceano

Infinito de bondade soberana, de onde derivam

as correntes da bondade criada.

Quando contemplamos as coisas que partem da

bondade de outro, devemos concordar com

aquele que tem bondade pela participação de

nenhum outro, senão originalmente de si

mesmo, e, portanto, supremamente em si

mesmo acima de todas as outras coisas: de

modo que, como nada maior e mais majestoso

pode ser imaginado, assim também nada

melhor e mais excelente pode ser concebido do

que Deus. Nada pode ser adicionado a ele, ou

torná-lo melhor do que ele é; nada pode

prejudicá-lo, torná-lo pior; nada pode ser

adicionado a ele, nada pode ser separado dele; e

nenhum mal, de qualquer criatura, pode torná-

lo menos excelente; "Digo ao SENHOR: Tu és o

meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti

somente." (Salmos 16: 2); “Se és justo, que lhe dás

ou que recebe ele da tua mão? A tua impiedade

só pode fazer o mal ao homem como tu mesmo;

e a tua justiça, dar proveito ao filho do homem.”

(Jó 35: 7, 8)? Como ele não tem superior no lugar

acima dele, então, sendo chefe de todos, ele não

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pode ser melhorado por alguém inferior a ele.

Como pode ele ser aperfeiçoado por alguém que

tem de si tudo o que tem?

“Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu

que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por

que te vanglorias, como se o não tiveras

recebido?” (I Coríntios 4.7).

“Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e

tolerância, e longanimidade, ignorando que a

bondade de Deus é que te conduz ao

arrependimento?” (Romanos 2.4).

A bondade de uma criatura pode ser mudada,

mas a bondade do Criador é imutável; ele é

sempre como ele é, tão bom que ele não pode

ser mau, porque é tão abençoado que não pode

ser infeliz. Nada é bom senão Deus, porque nada

é assim em si senão Deus; como todas as coisas,

que sendo do nada, nada são em comparação a

Deus, então todas as coisas, sendo feitas do

nada, são escassas e más em comparação a

Deus. Somente de Deus pode-se dizer ser bom

no sentido de excelso, excelente, mais do que

ótimo, perfeito em bondade.

Deus é totalmente bom; outras coisas são boas

em sua espécie; como um bom homem, um bom

anjo, uma boa árvore, mas Deus tem um bem de

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todos os tipos eminentemente em sua natureza.

Ele não é menos bom do que é onipotente e

onisciente; como o sol contém toda a luz e mais

luz do que todos os corpos mais claros do

mundo, assim Deus contém em si mesmo tudo

de bom e mais bem do que há nas criaturas mais

ricas.

3. Essa bondade de Deus é comunicativa.

Ninguém é tão comunicativamente bom como

Deus. Como a noção de Deus inclui o bem,

também a noção de bondade inclui difusividade;

sem bondade ele deixaria de ser uma divindade,

e sem difusividade deixaria de ser bom. O ser

bom é necessário ao ser de Deus; pois o bem não

é mais do que isso, na noção disso, senão uma

forte inclinação para fazer o que é bom; ou para

encontrar ou fazer um objeto, em que se

exercitar, de acordo com a propensão de sua

própria natureza; e é uma inclinação de se

comunicar, não para seu próprio interesse, mas

para o bem do objeto sobre o qual se lança.

Assim Deus é bom por natureza; e sua natureza

não está sem atividade; ele age

convenientemente em sua própria natureza

(Salmo 119: 68): “Tu és bom e fazes o bem;

ensina-me os teus decretos.” E nada acumula-se

para ele, pelas comunicações de si mesmo com

os outros, uma vez que sua bem-aventurança

era tão grande diante da estrutura de qualquer

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criatura quanto sempre foi desde a fundação do

mundo. Ele não é de natureza mesquinha e

invejosa; ele é rico demais para ter qualquer

motivo para invejar, e bom demais para ter

vontade de invejar; ele é tão liberal quanto rico,

de acordo com a capacidade do objeto sobre o

qual sua bondade é exercitada. A bondade

divina, sendo a bondade suprema, é bondade no

mais alto grau de atividade; não ociosa, fechada,

ou uma fonte selada, borbulhando dentro de si

mesma, mas borbulhando de si mesma para ser

uma fonte de jardins para regar todas as partes

de sua criação; "Ele é um unguento derramado"

(Cantares 1: 3): nada se espalha mais do que o

óleo, e ocupa um maior espaço onde quer que

caia. Pode não ser menos dito da bondade de

Deus, como é da plenitude de Cristo (Ef 1:23); "Ele

preenche tudo em todos”; ele enche criaturas

racionais com compreensão, natureza sensível

com vigor e movimento, o mundo inteiro com

beleza e doçura. Todo gosto, todo toque de uma

criatura, é um gosto e um toque de bondade

Divina.

Deus é mais propenso a se comunicar do que o

sol para espalhar seus raios, ou a terra para

acumular seus frutos, ou a água para multiplicar

criaturas vivas. A bondade é a natureza dele. Daí

houve comunicações internas de si mesmo

desde a eternidade; difusões de si mesmo. Ele

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criou o mundo para que ele pudesse transmitir

sua bondade a algo fora dele, e difundir maiores

medidas de sua bondade, depois de ter

estabelecido o primeiro fundamento do mesmo

em seu ser; e, portanto, ele criou vários tipos de

criaturas, que podem ser capazes de várias e

distintas medidas de sua liberalidade, de acordo

com as distintas capacidades de sua natureza.

Ele é a maior bondade e, portanto, uma bondade

comunicativa, e age excelentemente de acordo

com sua natureza.

4. Deus é necessariamente bom. Ninguém é

necessariamente bom, senão Deus; ele é

necessariamente bom, como ele é

necessariamente Deus. Sua bondade é tão

inseparável de sua natureza como sua

santidade. Ele é bom por natureza, não apenas

pela vontade; como ele é santo por natureza, não

só pela vontade, ele é bom em sua natureza e

bom em suas ações; e como ele não pode ser

mau em sua natureza, também não pode ser

mau em suas comunicações; ele não pode fazer

qualquer coisa contrária a esta bondade em suas

ações, do que ele não pode deixar de ser Deus.

Não é necessário que Deus crie um mundo; e

que fosse a sua própria escolha se ele criaria ou

não; mas quando ele resolve fazer um mundo, é

necessário que ele faça-o bem, porque ele é o

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próprio bem e não pode agir contra a sua própria

natureza. Ele não poderia criar nada sem

bondade; o próprio ato de criação, ou comunicar

qualquer coisa fora dele mesmo, é em si um ato

de bondade, bem como um ato de poder; se ele

não tivesse sido bom consigo mesmo, nada

poderia ter sido dotado de qualquer bondade

por ele. No ato de dar o ser, ele é liberal; o ser que

ele concede é mostrar sua própria liberalidade;

ele não poderia conferir o que ele não precisa,

sem ser generoso; desde o que não era nada, não

poderia merecer ser trazido à existência, o

próprio ato de dar a nada um ser, era um ato de

escolha da bondade.

5. Embora Deus seja necessariamente bom, ele

também é livremente bom. A necessidade da

bondade de sua natureza não impede a

liberdade de suas ações; a questão de sua

atuação não é de todo necessária, mas a maneira

de agir dele de uma maneira boa e abundante

também é necessária, como livre. Ele criou o

mundo e o homem livremente, porque ele

poderia escolher se ele iria criá-lo, mas ele os

criou bem necessariamente, porque ele foi

primeiro necessariamente bom em sua

natureza, antes de ser livremente um Criador.

Quando ele criou o homem, ele lhe deu

livremente uma lei positiva, mas

necessariamente uma lei sábia e justa; porque

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ele era necessariamente sábio e justo antes de

ser um Legislador. Quando ele faz uma

promessa, ele livremente deixa a palavra sair de

seus lábios, mas quando ele fez isso, ele é

necessariamente um artista fiel; porque ele era

necessariamente verdadeiro e justo em sua

natureza, antes de ser livremente um

prometedor. Deus é necessariamente bom em

sua natureza, mas livre em suas comunicações.

Ele é um agente compreensivo e tem o direito

soberano de escolher seus próprios súditos; não

seria uma bondade suprema, se não fosse uma

bondade voluntária. É agradável à natureza do

bem maior, ser absolutamente livre, dispensar

sua bondade em quais métodos ele mede, de

acordo com as determinações livres de sua

própria vontade, guiado pela sabedoria de sua

mente, e regulado pela santidade de sua

natureza. Ele não deve “dar conta de nenhum de

seus assuntos” (Jó 33:13); “Ele terá misericórdia

de quem ele tiver misericórdia, e ele terá

compaixão de quem ele tiver compaixão” (Rom

9:15); e ele será bom, a quem ele será bom;

quando ele age, ele não pode deixar de agir bem,

então é necessário; contudo, ele pode agir assim

ou bem, neste ou naquele grau, então é livre.

Esta liberdade de escolha da parte de Deus não

significa que ele deixará de ser bom com os que

não são escolhidos, uma vez que, o pior deles, na

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condição de vaso de ira, que se oponha

tenazmente à Sua vontade, concede por Sua

bondade e extraordinária longanimidade que

continue desfrutando de todo o bem da criação,

por muitos anos vivendo na prática deliberada

do mal, e afrontando ao Criador, e quando um

destes se converte a Cristo, nada lhe é lançado

em rosto ou em sua conta, sendo recebido como

qualquer outro filho de Deus, por meio da

concessão de Sua graça, conforme Sua muita

bondade.

Assim, é o próprio homem obstinado em Seu

pecado, e pela rejeição contumaz da graça que

está sendo oferecida livremente em Cristo, que

sela o seu destino eterno em horror e vergonha,

pois não seria do próprio agrado dele, sendo o

rebelde que é, reconciliar-se com Deus por meio

da submissão a Cristo, pois o pecador

impenitente não deseja ser governado por

ninguém, nem pelo próprio Deus, escolhendo

ser o senhor do seu próprio destino. Como

podem então os que se perdem acusar Deus de

falta de bondade quando os julga e condena? É

um ato de bondade, por acaso, deixar que o

malfeitor continue livre para praticar suas

maldades? É bom o magistrado que manda

soltar o bandido, sabendo que por este ato de

soltura ele continuará prejudicando e ceifando

muitas vidas inocentes?

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Deus não seria bom se não executasse os juízos

que são devidos aos transgressores

impenitentes que não se convertem de suas más

ações? Já não é por uma bondade infinita que

transgressores contumazes, por anos a fio,

sejam perdoados gratuitamente pela graça que

está em Cristo Jesus? Que demonstração maior

de bondade paciente pode ultrapassar esta de

Deus, que suporta até mesmo os pecados dos

crentes, disciplinando-os por amor? Um Deus

que é totalmente perfeito, santo, bom e justo,

relacionando-se com os pecadores, sem levar

em conta as suas transgressões do tempo de

ignorância! Quem tem maior bondade do que

esta? Quem pode ser bom de tal forma e

continuar sendo justo, conforme é o caso do

nosso Deus?

“Ora, não levou Deus em conta os tempos da

ignorância; agora, porém, notifica aos homens

que todos, em toda parte, se

arrependam; porquanto estabeleceu um dia em

que há de julgar o mundo com justiça, por meio

de um varão que destinou e acreditou diante de

todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” (Atos

17.30,31).

6. Essa bondade é comunicativa com o maior

prazer. Moisés desejou ver a sua glória, Deus

garante que ele deveria ver a sua bondade

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(Êxodo 33: 18, 19); insinuando que a sua bondade

é a sua glória, e a sua glória o seu deleite

também.

Quando Moisés fez este pedido os israelitas já

haviam sido libertados do Egito e encontravam-

se ao pé do monte Sinai construindo e erigindo

o tabernáculo. Seria de se esperar, depois de

todas aquelas grandes pragas que haviam sido

despejadas sobre os egípcios, que Deus

respondesse ao pedido de Moisés com estas

palavras?

“Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha

bondade diante de ti e te proclamarei o nome do

SENHOR; terei misericórdia de quem eu tiver

misericórdia e me compadecerei de quem eu

me compadecer.” (Êxodo 33.19).

O Egito recebeu aquela visitação em juízos, para

que aquele povo aprendesse que o propósito de

Deus é que o homem viva em amor e pratique a

justiça. E como isto pode ser feito sem bondade?

Sem uma natureza carnal transformada em

natureza santa? Deus é amor. Deus é bom. E

criou o homem para compartilhar do mesmo

amor e bondade, tanto com Ele, quanto com o

Seu próximo. O Egito foi julgado porque aquele

modo de vida daquela nação era um impeditivo

para este propósito divino. Então Moisés deveria

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aprender que tinha a seu cargo formar não um

povo cruel e guerreiro, mas uma nação justa,

santa, que vivesse no amor de Deus, cada um

amando e servindo ao seu próximo. Quão bom e

agradável é que os irmãos vivam em união!

O caráter de Deus é bom, e não destruidor. Se o

Senhor traz algum juízo de destruição, é como

uma amputação de uma parte gangrenada para

que as demais partes do corpo vivam

saudavelmente. Ele tem prazer na misericórdia,

porque por ela restaura vidas miseráveis que se

aproximam dEle confiantemente para serem

curadas por Sua bondade.

Ele não envia suas bênçãos com uma má

vontade; ele não fica até que sejam espremidas

dele; ele enche os homens com suas bênçãos de

bondade (Salmos 21: 3); ele é mais encantado

quando ele é mais difuso; e seu prazer em

conceder, é maior do que a posse de sua

criatura.

Ele usa a sua bondade para expô-la com uma

complacência totalmente divina.

Seus benefícios não o impediram de conceder

sua generosidade. Ele é incapaz de inveja; sua

própria felicidade não pode ser diminuída, mais

do que pode ser aumentada. Ninguém pode

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superá-lo na bondade, porque nada tem

qualquer bem, senão o que é derivado dele; seus

dons são sem arrependimento: a tristeza não

tem fundamento nele, que é infinitamente feliz,

bem como infinitamente bom.

Bondade e inveja são inconsistentes. Como

injustamente, então, o diabo acusou a Deus! O

que Deus dá da bondade, ele dá com alegria.

Ele não apenas desejaria que fôssemos alegres,

mas que nos alegrássemos com o fato de ele nos

ter criado; como ele se alegrou em suas obras

(Salmo 104: 31), e sua sabedoria permaneceu ao

lado dele, “deleitando-se nas partes habitáveis

da terra” (Provérbios 8:31). Ele viu o mundo

depois de sua criação com uma complacência, e

ainda o governa com o mesmo prazer com o qual

ele o criou. A alegria infinita atende à bondade

infinita. Ele não daria, se ele não tivesse um

prazer que os outros deveriam desfrutar de sua

bondade; desde que ele é melhor que qualquer

coisa, e mais comunicativo do que qualquer

coisa; ele é mais alegre em dar, do que o sol pode

correr sua corrida, derramando luz.

Dele é dito apenas arrepender-se e lamentar-se

quando os homens não responderem às

obrigações e aos fins de sua bondade; que

seriam para a própria felicidade deles, bem

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como para a sua glória. Embora ele não force

graus maiores de sua bondade sobre aqueles

que a negligenciam, contudo, ele não os nega

àqueles que o buscam para isso; pois é sempre o

maior prazer para ele transmitir sobre as

importunidades das criaturas, do que é para

uma mãe para amamentar o seu bebê que chora

de fome. Ele não está cansado das solicitações

dos homens; ele está satisfeito com suas

orações, porque ele está satisfeito com a

transmissão de sua própria bondade.

É em decorrência do exercício da bondade que

Deus tanto ama ver os crentes darem com

alegria para assistir às necessidades do próximo.

“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando

assim, é mister socorrer os necessitados e

recordar as palavras do próprio Senhor Jesus:

Mais bem-aventurado é dar que receber.” (Atos

20.35).

“Cada um contribua segundo tiver proposto no

coração, não com tristeza ou por necessidade;

porque Deus ama a quem dá com alegria.” (II

Coríntios 9.7).

7. A exibição dessa bondade foi o motivo e o fim

de todas as suas obras de criação e providência.

Evidentemente, não se pode esquecer que Deus

tem em Si mesmo todo o conselho eterno do que

tem criado e que ainda criará. Sabemos, pela

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forma como tem lidado conosco que todas as

suas obras são a expressão da Sua bondade,

como isto foi manifestado plenamente pelo

Senhor Jesus Cristo.

“Aquele que pratica o pecado procede do diabo,

porque o diabo vive pecando desde o princípio.

Para isto se manifestou o Filho de Deus: para

destruir as obras do diabo.” (I João 3.8).

“Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o

Espírito Santo e com poder, o qual andou por

toda parte, fazendo o bem e curando a todos os

oprimidos do diabo, porque Deus era com ele.”

(Atos 10.38).

A restauração da criação da condição a que ficou

caída em razão do pecado, é, portanto, uma obra

da bondade de Deus.

Não há maior alegria do que aquela que é

desfrutada na comunhão de uns com os outros,

na reunião da Igreja para o fim da adoração a

Deus, e quando o Espírito Santo une os corações

numa abençoada unidade. O mundo do porvir

será a perfeita expressão do amor e da bondade

de Deus refletidos na adoração conjunta dos

próprios crentes. Um mundo sem tentações,

quando o diabo e os demônios estiverem em

cadeias eternas, e quando o ímpio tiver sido

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desarraigado da Terra, e os filhos de Deus

unidos naqueles céus e Terra nos quais habita a

justiça. O gozo espiritual será perfeito, e fluirá

como um rio de águas vivas e cristalinas desde o

trono de Deus. É principalmente para este

propósito que há salvação no presente, e que a

criação caminha para a restauração total pelo

poder do Senhor.

Agora, como isto poderia ser visto onde

prevalece o pecado? Nosso dever de nos

despojarmos das obras do velho homem, e nos

revestirmos do novo, tem principalmente em

vista capacitar-nos para esta vida de comunhão

em amor e bondade.

III. A terceira coisa, que Deus é bom.

1. Quanto mais excelente é algo na natureza,

mais bondade ele tem. Porque nós vemos mais

de amor e bondade em criaturas que são

dotadas de sentido, para seus descendentes, do

que nas plantas, que têm apenas um princípio

de crescimento. Plantas preservam suas

sementes inteiras que estão encerradas

nelas; os animais olham para seus filhotes

somente depois de saírem deles; ainda, depois

de algum tempo, não mais os notam do que de

um estranho que nunca teve nenhum

nascimento deles.

Mas o homem, que tem o princípio superior da

razão, ama a sua descendência e dá-lhes marcas

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da sua bondade enquanto vive, e não deixa o

mundo no momento da sua morte sem alguns

testemunhos disto, então muito mais deve

Deus, que é um princípio mais elevado que o

sentido ou a razão, ser “bom” e generoso para

com todos os seus descendentes. Quanto mais

perfeito tudo é, mais se comunica. O sol é mais

excelente que as estrelas e, portanto, mais

sensatamente, mais extensivamente, dispersa

seus raios liberais do que as estrelas. E quanto

melhor qualquer homem, mais amoroso ele

é; Deus sendo a natureza mais excelente, tendo

nada mais excelente do que ele mesmo, porque

nada mais antigo que ele mesmo, quem é o

Ancião de Dias: não há nada, portanto, melhor e

mais abundante que ele mesmo.

2. Ele é a causa de toda a bondade criada; ele

deve, portanto, ser ele mesmo o Supremo

Bem. Que bem está nos céus, é o produto de

algum Ser acima da terra; e essas variedades de

bondade na terra e várias criaturas estão em

algum lugar em sua plenitude e união: que,

portanto, quem possui todas as benesses

dispersas em sua plenitude, deve ser tudo de

bom, todo aquele bem que é exibido em

criaturas; portanto, possui soberanamente

melhor. Qualquer bondade natural ou moral

que existe no mundo, em anjos ou homens, ou

criaturas inferiores, é uma linha traçada a partir

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desse centro. Deus não pode deixar de ser

melhor que todos, desde que a bondade que está

nas criaturas é o fruto da sua própria. Se ele não

fosse bom, ele não poderia produzir nada de

bom: ele não poderia dar o que ele não tinha. Se

a criatura for “boa”, como o apóstolo diz “toda

criatura é” (1 Tim 4: 4), ela precisa ser melhor

que todos, porque eles têm nada além do que é

derivado para eles dele; e muito mais bondade

do que tudo, porque os seres finitos não são

capazes de receber neles, e conter em si

mesmos, toda essa bondade que está em um Ser

Infinito; quando procuramos pelo bem nas

criaturas, elas ficam aquém daquela satisfação

que está em Deus (Salmos 4: 6). Como a certeza

de um primeiro princípio de todas as coisas, é

necessariamente concluída do ser das criaturas,

e o poder de sustentação e a virtude de Deus são

concluídos a partir da mutabilidade daquelas

coisas no mundo; de onde inferimos, que deve

haver alguma fundação estável dessas coisas

cambaleantes, de alguma firmeza dependem

essas coisas mutáveis que se movem, sem as

quais não haveria estabilidade nos tipos de

coisas, nenhuma ordem, nenhum acordo ou

união entre eles: assim, da bondade de tudo, e

sua utilidade para nós, devemos concluir que

Ele fez bem todas aquelas coisas. E uma vez que

encontramos qualidades distintas na criatura,

devemos concluir que um princípio de onde

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elas fluem, se destaca na glória de bondade:

todos aqueles pequenos lampejos de bondade

que estão espalhados nas criaturas, como a

imagem no espelho, representam a face,

postura, movimento daquele cuja imagem é,

mas não na plenitude da vida e do espírito, como

no original; é apenas uma sombra no melhor e

fala algo mais excelente na cópia. Como Deus

tem uma infinidade de estar acima deles, então

ele tem uma supremacia de bondade além

deles; pois o que eles têm, é apenas uma

participação dele; o que ele tem deve ser infinita

e supereminentemente acima deles.

Mas o que pretendo é a defesa dessa bondade.

Primeiro, a bondade de Deus não é prejudicada

pela entrada do pecado no mundo. É sim um

testemunho da bondade de Deus, que ele deu ao

homem a capacidade de ser feliz, do que

qualquer acusação contra a sua bondade, que

ele estabeleceu o homem em uma capacidade

de ser mal. Deus foi o primeiro benfeitor do

homem, antes que o homem pudesse se rebelar

contra Deus. Não pode ser perguntado, se não

tivesse sido contra a sabedoria de Deus, ter feito

uma criatura racional com liberdade, e não

permitir que ela agisse de acordo com a

natureza que ele era dotada, e seguir a sua

própria escolha por algum tempo? Teria sido

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sábio enquadrar uma criatura livre e restringir

totalmente essa criatura de seguir sua

liberdade? Teria sido bom, por assim dizer,

forçar a criatura a ser feliz contra sua vontade?

Além disso, como já explicamos anteriormente,

Deus tinha um plano eterno em Seu decreto, de

que o homem deveria aprender a sua total

dependência da graça divina, pelo caminho que

percorreria na condição de caído no pecado.

Então, ainda que Deus não tenha agido para que

o homem pecasse e nem tivesse prazer em que

o homem lhe desobedecesse, todavia havia este

plano e uma provisão para que a sabedoria

divina prevalecesse e todas as coisas boas e

eternas que seriam resultantes disso, ficariam

indelevelmente marcadas e registradas para o

testemunho de todas as gerações de criaturas

que se seguirem à do homem.

Deus providenciou para que o pecado fique

eternamente revelado, marcado, registrado,

punido, de modo que seus filhos temam e

aprendam a evitar o pecado, permanecendo

debaixo do poder da graça de Jesus.

Séculos de guerras, de conflitos, de dissensões,

de impurezas, de violências de todo tipo, de

destruição e morte, e qual a razão de tudo isso

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senão essa coisa chamada pecado, que consiste

em se resistir à ação benéfica da graça divina?

Tudo isto está sendo observado pelos anjos

eleitos, porque eles participam nestes conflitos

como agentes de Deus. E os homens têm sentido

em sua própria pele o efeito maligno do pecado,

e que a vitória sobre ele somente é possível por

se submeterem à graça de Jesus.

Então tem sido muita bondade da parte do

Senhor ter gerido este plano por meio do qual

podemos ser alertados para o grande perigo do

pecado. As tribulações e aflições que sofremos

no mundo nos ensinam que Deus as enviou

como grande prova do seu amor e misericórdia

para conosco, para que sejamos aperfeiçoados e

livrados de todo orgulho e justiça própria, e

andemos humildemente com o Senhor,

confiando-nos inteiramente a Ele e à Sua justiça,

Em segundo lugar, tampouco a sua bondade é

prejudicada, por não fazer de todas as coisas

sujeitos iguais a ela.

1. É verdade que todas as coisas não são sujeitos

de uma bondade igual. A bondade de Deus não é

tão ilustradamente manifestada em uma coisa

como em outra. Na criação, ele derramou

bondade sobre alguns, dando-lhes seres e

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sentidos, e derramou sobre outros dotando-os

de compreensão e razão. O sol está cheio de luz,

mas tem falta de sentido; os animais se

destacam no vigor do sentido, mas eles são

destituídos da luz da razão; o homem tem uma

mente e uma razão conferidas a ele, mas ele não

tem a perspicácia de mente, nem a rapidez do

movimento igual ao de um anjo. Na providência

também ele dá abundância e abre a mão para

alguns; para outros ele é mais poupador: ele dá

maiores dons de conhecimento para alguns,

enquanto ele deixa os outros permanecerem na

ignorância; ele derruba alguns e levanta outros;

ele aflige alguns com uma dor contínua,

enquanto ele abençoa os outros com uma saúde

ininterrupta; ele escolheu uma nação onde

estabelece o seu sol do evangelho, e deixa outra

ignorante em sua própria ignorância.

“Conhecido era Deus em Judá; eles somente

eram as pessoas peculiares de todas as nações

da terra” (Deuteronômio 14: 2). Ele não era

igualmente bom para os anjos: ele estendeu a

mão para apoiar alguns em sua habitação feliz,

enquanto ele conduziu outros para afundar em

ruína irreparável.

Mas alguma criatura é destituída das marcas

abertas de sua bondade, embora nem todos

sejam enriquecidos com aqueles sinais que ele

concede aos outros? Aquele que é infalível,

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pronunciando tudo como bom distintamente

em sua produção, e todo o bem em sua perfeição

universal (Gên 1: 4, 10, 12, 18, 21, 25, 31). Embora

ele não tenha feito todas as coisas igualmente

boas, mas ele não fez nada mal; e embora uma

criatura em relação à sua natureza possa ser

melhor do que outra, ainda uma criatura

inferior, em relação à sua utilidade na ordem da

criação, pode ser melhor que uma superior.

“Toda a terra está cheia da sua misericórdia”

(Salmo 119: 64). Um bom homem é bom para seu

gado, para seus servos; ele faz uma provisão para

todos, mas ele não concede aquelas inundações

de graça sobre eles que ele faz sobre seus filhos.

Como existem vários dons, mas um só Espírito (1

Cor 12: 4), então existem várias distribuições,

mas de uma só bondade; as gotas, assim como os

riachos mais cheios, são da mesma fonte, e

prazer da natureza disto; e embora ele não faça

todos os homens participarem das riquezas de

sua graça após a corrupção de sua natureza, é

sua bondade arruinada por este meio? Ou ele

merece o título de crueldade?

Nós vemos que Deus estabeleceu um grau de

glória para cada criatura, conforme testemunho

do apóstolo em I Coríntios 15. Todavia, não

significa isto que Ele tenha menos amor ou

bondade por aqueles aos quais deu uma menor

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glória. Na mesma epístola é dito pelo apóstolo

que Deus tem um maior cuidado e dá mais

honra aos membros mais fracos do corpo, e isto

pode ser visto no cuidado e atenção que os bebês

recebem mais do que os filhos adultos.

Ainda, deve ser considerado que há uma

necessidade de demonstração prática de

submissão de uns aos outros, conforme as

relações de dependência que Deus criou. O

próprio Senhor Jesus Cristo é sujeito ao Pai, e

afirma expressamente que o Pai é maior do que

Ele, assim, como o Espírito Santo glorifica o

Filho. Se na própria Trindade há ordem e

submissão, porque isto não seria estendido às

criaturas?

Onde todos são reis, onde estariam os súditos? E

onde não há súditos, não há reis. Mas Deus

determinou criar um reino sacerdotal, e aos

crentes, como já dito antes, será dada esta

honra.

2. A bondade de Deus às criaturas deve ser

medida pela sua utilidade distinta para o fim

comum. Seria melhor para um sapo ou serpente

ser um homem, ou seria, melhor para a própria

criatura, como foi avançado para um grau mais

elevado de ser, mas não melhor para o universo;

ele poderia ter feito de cada pedregulho uma

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criatura viva, e de toda criatura viva uma

criatura racional; mas aquele que fez tudo como

vemos, tinha uma bondade para a própria

criatura; mas que ele não tenha feito com uma

elevação maior na natureza, era uma parte de

sua bondade para a criatura racional. Se todos

fossem criaturas racionais, haveria criaturas

carentes de natureza inferior por sua

conveniência e necessidade; teria faltado a

manifestação da variedade e “plenitude de sua

bondade”. Se todas as coisas do mundo fossem

criaturas racionais, muito daquela bondade que

ele transmitiu a criaturas racionais não teria

aparecido: como poderia o homem ter mostrado

sua habilidade em domesticar e gerenciar

criaturas mais poderosas do que ele? Que

materiais haveria para manifestar a bondade de

Deus, concedida às criaturas racionais para

enquadrar excelentes obras e invenções? Muito

da bondade de Deus teria falta de senso e

compreensão. Todas as outras coisas não

participam de uma bondade tão grande quanto

o homem; ainda assim eles são tão

subservientes a essa bondade derramada sobre

o homem, pouco disto poderia ter sido visto sem

eles. Considere o homem, cada membro em seu

corpo tem uma bondade em si mesmo; mas uma

bondade maior como se refere ao todo, sem a

qual a bondade da parte mais nobre não se

manifestaria. A cabeça é o membro mais

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excelente, e possui maiores impressões da

bondade Divina sobre ela, que é o órgão do

entendimento. Se cada membro do corpo fosse

uma cabeça, que monstro deformado seria o

homem! Se ele fosse todo cabeça, onde estariam

os pés para o movimento e os braços para a

ação? O homem estaria apto apenas para o

pensamento, e não para o exercício. A bondade

de Deus, dando ao homem uma parte tão nobre

como a cabeça, não poderia ser conhecida sem

uma língua, por meio da qual expressar a

concepção de sua mente; e sem pés e mãos para

agir muito do que ele concebe e determina e

executa as resoluções de sua vontade; todos

aqueles têm uma bondade em si mesmos, uma

honra, uma graça da bondade de Deus (1 Cor

12:22, 23), mas não tão grande como a bondade

de Deus.

3. “A bondade de Deus é mais vista nesta

desigualdade.” Se Deus fosse igualmente bom

para todos, destruiria o comércio, unidade, e

ligações da sociedade humana, e tornaria inútil

aquele que é um dos mais nobres e deleitáveis

deveres a serem exercidos aqui; esfriaria a

oração, que é excitada por desejos e é uma

demonstração necessária da dependência da

criatura em relação a Deus.

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Mas, nesta desigualdade cada homem tem o

suficiente em seus prazeres para louvor, e em

seus desejos, matéria para sua oração. Além da

desigualdade da criatura ser o ornamento do

mundo; que prazer poderia dar um jardim se

houvesse apenas um tipo de flor ou um tipo de

planta?

Ainda, a liberdade da bondade divina, que é a

glória disto, é evidente por este meio; se ele

fosse igualmente bom para todos, teria parecido

um ato necessário, não um ato livre; mas pela

desigualdade, é manifestado que ele não faz isso

por uma necessidade natural como o sol brilha,

mas por uma liberdade voluntária, como sendo

o Senhor soberano, e livre dispensador de seus

próprios bens; e esse é o dom do prazer de sua

vontade, assim como a efusão de sua natureza,

que ele não tem uma bondade sem sabedoria,

mas uma sabedoria tão rica quanto sua

generosidade.

IV. A quarta coisa é a manifestação dessa

bondade na Criação, Redenção e Providência.

Primeiro, na criação. Isto é evidente a partir do

que foi dito antes, que nenhum outro atributo

poderia ser o motivo de sua criação, senão sua

bondade; sua bondade era a causa que ele fez

qualquer coisa, e sua sabedoria foi a causa que

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ele fez tudo em ordem e harmonia. Ele

pronunciou “todas as coisas boas”, isto é, tais

como as que se tornaram sua bondade para

gerar e descansar nelas, mais como eles eram

selos de sua bondade, do que como eles eram

marcas de seu poder, ou raios de sua sabedoria.

E se todas as criaturas fossem capazes de

responder a esta pergunta, sobre quem foi que

as criou? A resposta seria, poder todo-poderoso,

mas empregado pelo movimento de bondade

infinita. Todas as variedades de criaturas são

aparições dessa bondade. Embora Deus seja um,

ele não pode aparecer como Deus senão na

variedade. Como a grandeza do poder não é

manifesta, senão em uma variedade de obras, e

uma compreensão aguda não descoberta, senão

em uma variedade de raciocínios, assim uma

bondade infinita não é tão aparente como na

variedade de comunicações.

1. A criação procede da bondade. É a bondade de

Deus extrair tais multidões das coisas das

profundezas do nada.

Porque Deus é bom, as coisas têm um ser; se ele

não tivesse sido bom, nada poderia ter sido bom:

nada poderia deixar comunicado aquilo que não

possuía; nada além de bondade poderia ter

comunicado às coisas uma excelência, que

antes lhes faltava. Ser é muito mais excelente

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que nada. Por essa bondade, portanto, toda a

criação foi trazida do útero escuro do nada,

quando tudo foi habilitado para agir o bem do

mundo comum. Deus não criou coisas porque

ele era um Ser vivo, mas porque ele era um bom

Ser.

O ser das coisas não era o fim de Deus na criação,

mas a bondade do seu ser. Deus não descansou

de suas obras porque eram suas obras, ou seja,

porque elas são más; mas porque eles tinham

um ser bom (Gên 1); porque elas eram

naturalmente úteis ao universo; nada lhe

agradava mais do que contemplar aquelas

sombras e cópias de sua própria bondade em

suas obras.

2. A criação foi o primeiro ato de bondade fora

dele mesmo. Quando ele estava sozinho desde a

eternidade, ele se contentou consigo mesmo,

sedo abundante em sua própria bem-

aventurança, deleitando-se nessa abundância;

ele era incompreensivelmente rico na posse de

uma felicidade sem mancha. Essa criação foi a

primeira efusão de sua bondade fora dele

mesmo.

3. Não há uma criatura, que não tenha um

caráter de sua bondade. O mundo inteiro é um

mapa para representar e um arauto para

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proclamar essa perfeição. É tão difícil não ver

algo em cada criatura com o olho de nossas

mentes, como é não ver os raios de sol brilhante

com os nossos corpos. “Ele é bom para todos”

(Salmos 145: 9); ele é, portanto, bom em todos;

não é uma gota da criação, mas é uma gota de

sua bondade. Estas são as cores usadas nas

cabeças de todas as criaturas. Como em toda

faísca a luz do fogo é manifestada, cada grão da

criação usa os emblemas visíveis dessa

perfeição. Em todas as luzes, o Pai das Luzes tem

feito as riquezas da bondade aparentes;

nenhuma criatura está em silêncio nela; é

legível a todas as nações em todas as obras de

suas mãos. Isso, como se diz de Cristo (Salmo 40:

7), "no volume do teu livro está escrito de mim".

No volume do livro das Escrituras está escrito de

mim, e minha bondade na redenção: assim pode

ser dito de Deus, no volume do livro da criatura

está escrito de mim, e minha bondade na

criação. Cada criatura é uma página neste livro,

cuja "linha passou por toda a terra, e suas

palavras até o final do mundo” (Salmo 19: 4);

embora, de fato, menos bondade em alguns seja

obscurecida pela bondade mais resplandecente

que ele transmitiu a outros. Que maravilha de

bondade é comunicar a vida a uma mosca!

Como devemos ficar observando, até virarmos

nossos olhos para dentro, e ver o nosso próprio

quadro, que é muito mais arrebatador!

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Deus colocou uma maior plenitude de bondade

na natureza do homem, a quem ele colocou em

uma condição mais sublime, e dotado de

prerrogativas, do que outras criaturas. Ele foi

feito, senão pouco menor que os anjos, e muito

mais coroado de glória e honra do que outras

criaturas (Salmos 8: 5). Se não fosse pela

bondade divina, aquela excelente criatura teria

se escondido no abismo do nada.

Mas, além disso, ele não apenas fez do homem

uma criatura tão nobre em sua estrutura, mas

“ele o fez segundo sua própria imagem em

santidade”, lhe transmitindo uma centelha de

sua própria beleza, a fim de uma comunhão

consigo mesmo em felicidade.

O espírito do homem foi criado à "imagem de

Deus": não à imagem de anjos.

Deus criou o homem, os anjos não o

criaram; Deus criou o homem à sua própria

imagem, não, portanto, à imagem dos anjos: a

natureza de Deus e a natureza dos anjos não são

o mesmo. Onde, em toda a Escritura, é dito do

homem ter sido feito segundo a imagem de

anjos? Deus fez o homem não à imagem dos

anjos, para se conformar a eles como seu

protótipo, mas à imagem do Deus abençoado,

para ser conformado à natureza divina: que

como ele, foi conformado à imagem de sua

santidade, ele também poderia participar da

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imagem de sua bem-aventurança, a qual, sem

ela, não poderia ser alcançada; pois, como a

felicidade de Deus não poderia ser clara sem

uma santidade sem manchas, assim também

não pode haver uma felicidade gloriosa sem

pureza na criatura.

Em segundo lugar, a manifestação desta

bondade na redenção. Todo o evangelho não é

senão um espelho inteiro da bondade Divina.

Toda a redenção está envolvida naquela única

expressão da canção dos anjos (Lucas 2:14), "Boa

vontade para com os homens". Os anjos

cantaram uma canção antes, que está no

registro, mas a questão dela parece ser a

sabedoria de Deus principalmente na criação (Jó

38: 7; comparar com cap. 9: 5, 6, 8, 9). Os anjos

estão lá designados por "estrelas da manhã"; as

estrelas visíveis do céu não foram distintamente

formadas quando as fundações da terra foram

colocadas: e o título dos filhos de Deus verifica-

se uma vez que ninguém além de criaturas de

entendimento são dignas de receber na

Escritura esse título. Lá eles celebram sua

sabedoria na criação; aqui sua bondade na

redenção, que é toda a questão da canção.

I. A bondade foi a fonte da redenção. Toda e

qualquer parte dela deve-se apenas a essa

perfeição. Somente uma grande sabedoria

poderia corrigir tão grande mal como a

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apostasia do homem, para a recuperação dele.

Quando o homem caiu de sua bondade criada,

Deus iria evidenciar que ele não poderia cair de

sua infinita bondade: que o maior mal não

poderia superar a capacidade de sua sabedoria

para inventar, nem as riquezas de sua

generosidade para nos apresentar um remédio

para isso. A bondade Divina não fica ao lado

como um espectador, sem ser apaziguador

daquela miséria em que o homem mergulhara;

mas por métodos surpreendentes ele seria

recuperado para a felicidade, que se arrancou

de suas mãos, para se lançar na mais deplorável

calamidade.

Qual poderia ser a fonte de tal procedimento,

senão esta excelência da natureza Divina, já que

nenhuma violência poderia forçá-lo, nem havia

algum mérito para persuadir tal restauração?

Isso, sob o nome de seu "amor", é a única causa

da morte redentora do Filho: foi para elogiar o

seu amor com o mais alto brilho, e de maneira

tão singular que não tinha paralelo na natureza,

nem em todas as suas outras obras, e atinge no

brilho além da extensão manifestada de

qualquer outro atributo (Rom 5: 8).

Deveria ser apenas uma bondade milagrosa que

o induziu a expor a vida de seu Filho àquelas

dificuldades no mundo e à morte na cruz, para a

liberdade de rebeldes sórdidos: seu grande

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objetivo era dar tal demonstração da

liberalidade de sua natureza, como poderia ser

atraente para sua criatura, remover seus

temores e tremores, e encorajar suas

aproximações a ele. É nisso que ele não só

manifestaria seu amor, mas assume o nome de

“Amor”. Por este nome o Espírito Santo o

chama, em relação a essa boa vontade

manifestada em seu Filho (1 João 4: 8,9). “Deus é

amor”. Nisto se manifesta o amor de Deus para

conosco, porque Deus enviou seu Filho

unigênito ao mundo, para que nós vivamos

através dele". Ele levaria o nome pelo qual ele

nunca se expressou antes. Ele era Jeová, em

relação à verdade de sua promessa; então ele

seria conhecido do passado: ele é o bem, em

relação à grandeza de sua afeição na missão de

seu Filho: e, portanto, ele seria conhecido pelo

nome de Amor agora, nos dias do evangelho.

II. Foi uma bondade pura. Ele não tinha a menor

obrigação de sentir pena de nossa miséria e

reparar nossas ruínas: ele poderia ter cumprido

os termos do primeiro pacto, e exigido a nossa

morte eterna, uma vez que havíamos cometido

uma transgressão infinita: ele não tinha

nenhuma obrigação para mudar as vestes de um

juiz para as entranhas de um pai, e erigir um

assento de misericórdia acima de seu tribunal

de justiça. A restauração do homem não tinha

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necessidade de conexão com sua criação; não se

segue que, porque a bondade nos tirou do nada

por um poder poderoso, isso deve nos tirar

agora da miséria intencional por uma poderosa

graça. Certamente que Deus, que não tinha

necessidade de nos criar, tinha muito menos

necessidade de nos redimir; desde que ele criou

um mundo, ele poderia ter facilmente

destruído, e criado outro. Não teria sido

impróprio à Bondade Divina ou Sabedoria, ter

deixado o homem perpetuamente afundar no

poço em que ele mergulhara, já que ele era

criminoso por sua própria vontade, e, portanto,

miserável por sua própria culpa: nada poderia

exigir essa reparação. Se a Bondade Divina não

poderia ser obrigada pela dignidade angelical

para reparar essa natureza, ele está mais longe

de qualquer obrigação pela mesquinhez do

homem para reparar a natureza humana.

O que poderia o homem fazer para obrigar Deus

a uma restauração dele, já que ele podia não lhe

render uma recompensa por sua bondade

manifestada em sua criação? Ele deve ser muito

mais impotente para torná-lo um devedor pela

redenção dele da miséria. Poderia ser um

salário para qualquer coisa que fizemos? Ai!

Estamos tão longe de merecer isso, que pelos

nossos deméritos diários, parece-nos ambicioso

pôr um fim a qualquer outra efusão: não

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poderíamos ter reclamado dele, se ele nos

tivesse deixado na miséria que havíamos

cortejado, já que ele não estava obrigado por

nenhuma lei a nos conceder a recuperação que

necessitávamos. Quando o apóstolo fala do

evangelho da "redenção", ele dá o título do

"evangelho do Deus bendito" (2 Timóteo 1:11). Foi

o evangelho de um Deus abundante em sua

própria bem-aventurança, que não recebeu

nenhum acréscimo pela redenção do homem;

se ele tivesse sido abençoado por isso, teria sido

uma bondade para si mesmo, bem como à

criatura: não era uma bondade indigente que

precisava receber nada de nós; mas foi uma

bondade pura fluindo de si mesmo, sem trazer

nada para a perfeição: não havia bondade em

nós para ser o motivo de seu amor, mas sua

bondade era a fonte do nosso benefício.

III. Foi uma bondade distinta de toda a Trindade.

Na criação do homem, encontramos uma

consulta geral (Gên 1:26), sem os trabalhos

distintos e ofícios de cada pessoa, e sem as

expressões levantadas e marcas de alegria e

triunfo como na restauração do homem.

Neste existem funções distintas; a graça do Pai,

o mérito do Filho e a eficácia do Espírito. O Pai

faz a promessa de redenção, o Filho sela com seu

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sangue e o Espírito aplica-o. O Pai nos adota para

sermos seus filhos, o Filho nos redime para

sermos seus membros, e o Espírito nos renova

para sermos seus templos. Nesta obra de

redenção o Pai testifica-se bem satisfeito em

uma voz; o Filho proclama o seu próprio deleite

em fazer a vontade de Deus, e o Espírito apressa-

se, com a asa de uma pomba, para o ajustar ao

seu trabalho, e depois, em sua aparição à

semelhança de línguas de fogo, manifesta seu

zelo pela propagação do evangelho redentor.

IV. Os efeitos disso proclamam Sua grande

bondade. É por isso que somos libertos da

corrupção de nossa natureza, a ruína de nossa

felicidade, a deformidade de nossos pecados e a

punição de nossas transgressões; ele nos liberta

da ignorância com a qual estávamos

entenebrecidos e da escravidão em que fomos

acorrentados. Quando ele veio para fazer o

processo de Adão após o crime, em vez de

pronunciar a sentença de morte que merecia,

profere uma promessa que o homem não

poderia esperar; Sua bondade incha acima de

sua justiça e, enquanto ele o coloca para fora do

paraíso, ele lhe dá esperanças de recuperar o

mesmo, ou uma habitação melhor; e é, no todo,

mais pronto para aplicar-lhe as bênçãos de sua

bondade, do que acusá-lo com o horror de seus

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crimes (Gên 3:15). É uma bondade que nos

perdoa mais transgressões do que momentos

em nossas vidas, e ignora tantas loucuras

quanto são os pensamentos em nosso coração:

ele não apenas alivia nossas necessidades, mas

nos restaura à nossa dignidade. É um

testemunho maior de bondade instalar uma

pessoa nas mais altas honras, do que apenas

suprir sua necessidade de cura; é uma

compaixão admirável por meio da qual ele

estava inclinado a nos redimir e uma

incomparável afeição pela qual ele estava

decidido a nos exaltar. O que pode ser desejado

mais dele do que sua bondade tem concedido?

Ele nos procurou quando estávamos perdidos e

nos resgatou quando éramos cativos; ele nos

perdoou quando éramos condenados e nos

levantou quando estávamos mortos. Na criação,

ele nos criou do nada, na redenção ele livra a

nossa compreensão da ignorância e vaidade, e

nossas vontades da impotência e obstinação, e

todo o nosso homem de uma morte eterna.

V. Portanto, podemos considerar que a altura

dessa bondade na redenção excede a da criação.

Ele deu ao homem um ser na criação, mas não o

tirou de miséria inexprimível por esse ato. Sua

liberalidade no evangelho supera infinitamente

o que admiramos nas obras da natureza; sua

bondade no último é mais surpreendente para

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nossa crença do que sua bondade na criação é

visível aos nossos olhos. Há sim mais de sua

generosidade expressa naquele único verso:

“Então Deus amou o mundo, que deu o seu Filho

unigênito” (João 3:16), do que existe em todo o

volume do mundo: é incompreensível assim;

que todos os anjos no céu não possam analisar;

e pouco comentar sobre, ou entender, as

dimensões disso. Na criação, ele formou uma

criatura inocente do pó do solo; na redenção ele

restaura uma criatura rebelde pelo sangue de

seu Filho: é maior do que aquela bondade

manifestada na criação.

1º Em relação à dificuldade em efetuá-lo. Na

criação, nada foi derrotado para nos trazer à

existência; na redenção, a inimizade foi vencida

para o desfrute de nossa restauração; na criação,

ele subjugou uma nulidade para nos tornar

criaturas; na redenção, sua bondade supera sua

justiça onipotente para nos restaurar à

felicidade. Uma palavra da boca da bondade

inspirou e tornou o pó do corpo do homem com

uma alma viva; mas o sangue de seu Filho deve

ser derramado, e as leis da afeição natural

parecem ser derrubadas, para estabelecer o

alicerce de nossa felicidade renovada. No

primeiro, o céu apenas falou, e a terra foi

formada; no segundo, o próprio céu deve

afundar na terra, e ser vestido com terra

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empoeirada, para reduzir a poeira do homem ao

seu estado original.

2º. Essa bondade é maior do que aquela

manifestada na criação, em relação ao seu

custo. Esta foi uma bondade mais cara do que a

que era exposta na criação. “O resgate de uma

alma é precioso” (Salmo 49: 8), muito mais caro

do que todo o tecido do mundo, ou como muitos

mundos, como o entendimento dos anjos em

sua extensão máxima, podem conceber para

serem criados. Para o efeito disso, as partes de

Deus com seu tesouro mais querido, e seu filho

eclipsa sua maior glória. Para isso, Deus deve ser

feito homem, a eternidade deve sofrer a morte,

o Senhor dos anjos deve chorar em um berço, e

o Criador do mundo deve pendurá-lo como um

escravo; ele deve estar em uma manjedoura em

Belém, e morrer em cima de uma cruz no

Calvário; a justiça não manchada deve ser feita

pecado, e a bênção sem mancha será feita uma

maldição. Ele não estava em outra despesa que o

sopro de sua boca para formar o homem; os

frutos da terra poderiam ter mantido o homem

inocente sem qualquer outro custo; mas sua

natureza quebrada não pode ser curada sem o

inestimável remédio do sangue de Deus. Ver

Cristo no ventre e na manjedoura, em seus

passos cansados e famintos, em suas

prostrações no jardim e em suas gotas de suor

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ensanguentado; a visão de sua cabeça perfurada

com uma coroa de espinhos e seu rosto coberto

de lama com a saliva de soldados; vê-lo em sua

marcha para o Calvário, e sua elevação na

dolorosa cruz, com a cabeça pendurada e o

sangue escorrendo pelo seu lado; vê-lo zombado

com as ridicularizações dos governadores e as

zombarias da ralé; e ver, em tudo isso, a que

custo a Bondade estava para a redenção do

homem! Na criação, seu poder fez o sol brilhar

sobre nós e, na redenção, suas entranhas

enviaram um Filho para morrer por nós.

3º. Essa bondade de Deus na redenção é maior

do que aquela manifestada na criação, em

relação ao deserto do homem em contrário. Mas

nisso ele encontra ingratidão contra as antigas

marcas de sua bondade e rebelião contra a

doçura de sua soberania - em tempos indignos

do orvalho da bondade e digna dos mais

profundos traços de vingança; e portanto, a

Escritura eleva a honra dela acima do título de

mera bondade para a da “graça” (Romanos 1: 2;

Tito 2:11); porque os homens não eram apenas

indignos de uma bênção, mas dignos de uma

maldição. Uma criatura culpada não merece

uma isenção de destruição. Quando o homem

caiu e deu ocasião a Deus para se arrepender de

sua obra criada, a bondade arrebatadora

superou as ocasiões em que ele se arrependeu e

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as provocações que ele provocou à destruição de

sua estrutura.

4º. Foi uma bondade maior do que foi expressa

para os anjos.

1. Uma bondade maior do que foi expressa para

os anjos eleitos. O Filho de Deus não mais expôs

sua vida pela confirmação daqueles que se

levantaram, do que para a restauração daqueles

que caíram; a morte de Cristo não foi para os

santos anjos, mas somente para o homem; eles

precisavam da graça de Deus para confirmá-los,

mas não da morte de Cristo para restaurá-los ou

preservá-los; eles tinham uma santidade amada

a ser estabelecida pela poderosa graça de Deus,

mas nenhum pecado abominável a ser apagado

pelo sangue de Deus; eles não tinham dívidas

para pagar senão de obediência; mas nós dois

tivemos uma dívida de obediência aos preceitos

e uma dívida de sujeição à penalidade, depois da

queda. Se os santos anjos foram confirmados

por Cristo, ou não, é uma questão: alguns

pensam que foram, de Col 1:20, onde é dito que

“as coisas no céu” são “reconciliadas”, mas

alguns pensam que esse lugar significa não mais

do que a reconciliação das coisas no céu, se

quisesse dizer dos anjos, às coisas na Terra, com

quem eles estavam em inimizade na causa de

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seu soberano; ou a reconciliação de coisas no

céu para Deus, significa os santos glorificados,

que já estiveram em estado de pecado, e a quem

a morte de Cristo na cruz alcançou, embora

tivessem morrido muito antes. Mas se os anjos

foram confirmados por Cristo, não foi por ele

como um sacrifício morto, mas como uma

Cabeça soberana de toda a criação, designada

por Deus para reunir todas as coisas em uma só;

que alguns pensam ser a intenção de Ef. 1:10

onde todas as coisas, bem como as do céu, como

as da Terra, são ditas “reunidas em uma só, em

Cristo”. Não pela confirmação de um, mas pela

reconciliação do outro; de modo que a bondade

com que Deus continuou aqueles espíritos

abençoados no céu, através das efusões de sua

graça, é uma coisa pequena para nos restaurar à

nossa felicidade perdida, através das correntes

do sangue Divino. A preservação de um homem

na vida é uma coisa pequena, e um menor

benefício do que ressuscitar um homem da

morte espiritual. O resgate de um homem de

um castigo ignominioso, estabelece uma

obrigação maior do que para impedi-lo de

cometer um crime capital. A preservação de um

homem em pé no topo de uma colina íngreme é

mais fácil do que trazer um homem aleijado de

baixo para cima. A continuação que Deus deu

aos anjos, não é tanto o sinal de uma marca de

sua bondade como a libertação que ele nos deu;

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desde que não foram afundados no pecado, nem

por qualquer crime caíram na miséria.

2. Sua bondade na redenção é maior do que

qualquer bondade expressada aos anjos caídos.

É a maravilha de sua bondade para nós, que ele

estava atento ao homem caído e descuidado dos

anjos caídos; que ele deveria visitar o homem,

chafurdando em morte e sangue, com a luz do

alto, e nunca transformar a escuridão dos

demônios em dia alegre; quando eles pecaram,

trovejando a divina frustração a eles no inferno;

quando o homem pecou, o sangue divino sopra

a criatura caída de sua miséria; os anjos

chafurdam em seu próprio sangue para sempre,

enquanto Cristo é feito participante de nosso

sangue, e mora em seu sangue, para que não

possamos corromper para sempre no nosso;

eles caíram do céu, e a bondade divina não

permitiria capturá-los; o homem cai, e a

bondade divina sustenta uma mão encharcada

no sangue dEle, que era das fundações do

mundo, para nos erguer (Hb 2:16). Ele não

poupou aqueles espíritos dignificados, quando

se revoltaram; e não poupou-se de punir seu

Filho pelo homem empoeirado, quando

ofendeu; quando ele poderia muito bem ter

sempre deixado o homem nas cadeias em que

ele se emaranhou a si mesmo. Nós éramos

objetos tão justos quanto eles, e eles se

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encaixam em objetos de bondade como nós; eles

não eram mais infelizes por sua queda do que

nós; e a pobreza da nossa natureza nos tornou

mais incapazes de recuperar a nós mesmos, do

que a dignidade deles; eles eram seus Rúbens

seu primogênito; eles eram sua força e o

começo de sua força; ainda aqueles filhos mais

velhos que ele negligenciava, para preferir o

mais novo; eles eram as peças principais e

douradas da criação, não carregadas de matéria

grosseira, no entanto, eles se encontram sob as

ruínas de sua queda, enquanto o homem, em

comparação com eles, é refinado para outro

mundo. Toda a sua bondade redentora foi

lançada sobre o homem (Salmo 144: 3); todo anjo

pecou por sua própria vontade, enquanto a

posteridade de Adão pecou pela vontade do

primeiro homem, a raiz comum de todos. Deus

privaria o diabo de qualquer glória na satisfação

de seu desejo invejoso de impedir o homem de

alcançar e possuir aquela felicidade que ele

mesmo havia perdido.

E finalmente, porque na restauração dos anjos,

teria havido apenas uma restauração de uma

natureza, que não era abrangente da natureza

das coisas inferiores; mas depois de todas essas

conjecturas, o homem deve sentar-se e

reconhecer que a bondade divina é a única

fonte, sem qualquer outro motivo. Já que a

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Infinita Sabedoria poderia ter planejado um

caminho para a redenção dos anjos caídos,

assim como para o homem caído, e restaurar

um e outro; por que Cristo não poderia ter

assumido sua natureza, assim como a nossa, na

unidade da pessoa Divina, e sofrer a ira de Deus

em sua natureza por eles, bem como em sua

alma humana por nós? É tão concebível que

duas naturezas possam ter sido assumidas pelo

Filho de Deus, assim como três almas estão no

homem distintamente, como alguns pensam

que existem.

3. Aumentar essa bondade ainda mais; foi uma

bondade maior para nós do que por um tempo

manifestado ao próprio Cristo. Para demonstrar

sua bondade ao homem, ao impedir sua eterna

ruína, ele por algum tempo reterá sua bondade

de seu Filho, expondo sua vida como o preço de

nosso resgate; não só sujeitando-o aos ataques

de inimigos, deserções de amigos e malícia de

demônios, mas para a inexprimível amargura de

sua própria ira em sua alma, como uma oferta

pelo pecado. A partícula assim (João 3:16) parece

intimar essa supremacia do bem; Ele “amou o

mundo de tal maneira que deu o seu Filho

unigênito”. Ele amou o mundo de tal maneira

que ele pareceu por algum tempo não amar seu

Filho em comparação ou igual a ele. A pessoa a

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quem um presente é dado é, a esse respeito,

considerado mais valioso do que o presente

dado a ele: assim Deus valorizou a nossa

redenção acima da felicidade do Redentor, e

sentenciou-o a uma humilhação na terra, a fim

de nossa exaltação no céu; ele estava desejoso de

ouvi-lo gemendo e vendo-o sangrando, para que

não gemêssemos sob suas carrancas e

sangrássemos sob sua ira; ele não o poupou,

para que ele possa nos poupar; recusou-se a não

bater nele, para que ele pudesse estar bem

satisfeito conosco; encharcou sua espada no

sangue de seu Filho, para que não fosse molhada

para sempre com o nosso, mas para que sua

bondade possa triunfar para sempre em nossa

salvação; ele estava disposto a ter seu filho feito

homem e morrer, em vez de perecer o homem,

que se deleitara em estragar a si mesmo; ele

pareceu degradá-lo por um tempo no que ele

era. Mas desde que ele não poderia ser unido a

qualquer outro senão a uma criatura

intelectual, ele não poderia ser unido a qualquer

vil e sórdida criatura da natureza terrena do

homem: e quando este Filho, em nossa

natureza, orou para que o cálice pudesse passar

dele, a bondade não sofreria, para mostrar como

valorizava a manifestação de si mesmo, na

salvação do homem, acima da preservação da

vida de uma pessoa tão querida.

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Em particular, onde esta bondade aparece:

1º. A primeira resolução a redimir, e os meios

designados para a redenção, não poderiam ter

outro incentivo senão a bondade divina. Nós não

podemos valorizar muito o mérito de Cristo;

mas não devemos estender tanto o mérito de

Cristo, como para tirar um valor para eclipsar a

bondade de Deus; embora devamos a nossa

redenção e os seus frutos à morte de Cristo,

contudo não devemos as primeiras resoluções

de redenção e assunção de nossa natureza, os

meios de redenção, ao mérito de Cristo.

Bondade divina apenas, sem a associação de

qualquer mérito, não só do homem, mas do

próprio Redentor, bateu o primeiro propósito de

nossa recuperação; ele foi escolhido e

predestinado para ser nosso Redentor, antes de

tomar nossa natureza para merecer nossa

redenção. "Deus enviou seu Filho", é uma

expressão frequente no Evangelho de João (João

3:34; 5:24; 17: 3). Para que fim Deus enviou Cristo,

senão para redimir? O propósito da redenção

portanto, precedeu o lançamento em Cristo

como o meio e a causa de provação disto, isto é,

de nossa redenção presente, mas não do

propósito redentor; o fim está sempre em

intenção antes dos meios. “Deus amou o mundo

de tal maneira que deu o seu Filho unigênito”; o

amor de Deus ao mundo foi o primeiro em

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intenção e a ordem da natureza, antes da

vontade de dar seu Filho ao mundo. Sua

intenção da dispensação foi antes da missão de

um Salvador; de modo que esta afeição se

levantou, não do mérito de Cristo, mas o mérito

de Cristo era dirigido por esse amor. Foi o efeito

disso, não a causa. Nem a união de nossa

natureza com a merecida por ele; todos os atos

meritórios dele foram realizados em nossa

natureza; a natureza, portanto, em que ele o

executou, não foi merecida; aquela graça que foi

exibida, não poderia merecer o que era; ele não

poderia merecer essa humanidade, o que deve

ser assumido antes que ele pudesse merecer

qualquer coisa por nós, porque todo mérito para

nós deve ser oferecido na natureza que ofendeu.

É verdade "Cristo deu a si mesmo", mas pela

ordem da Divina bondade; aquele que o gerou,

lançou-se sobre ele e chamou-o para esta

grande obra (Hb 5: 5); ele é, portanto, chamado

de "o Cordeiro de Deus" como sendo separado

por Deus para ser um sacrifício propiciador e

apaziguador. Ele é a “Sabedoria de Deus”, já que

do Pai ele revela o conselho e a ordem de

redenção. A esse respeito, ele chama Deus “seu

Deus” no profeta (Isaías 49: 4) e no evangelista

(João 20:17); embora fosse grande com afeição

pela realização, ainda assim ele veio não para

fazer sua “vontade própria”, mas a vontade da

bondade divina; a própria vontade dele foi

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também, mas não principalmente, como sendo

a primeira engrenagem em movimento, mas

subordinada à vontade eterna da generosidade

divina. isso foi pela vontade de Deus que ele veio,

e por sua vontade ele bebeu o cálice de

amargura. A justiça divina colocou sobre ele a

iniquidade de todos nós, mas a bondade divina

pretendia isso para nosso resgate; a bondade

divina o distinguiu e o separou; a bondade divina

convidou-o para isso; a bondade divina ordenou-

lhe que efetuasse isso e colocasse uma lei em

seu coração, para influenciá-lo no desempenho

dela; a bondade divina enviou-o, e a bondade

divina moveu a justiça para feri-lo; e, depois de

seu sacrifício, a bondade divina o aceitou e o

acariciou para isso. Tão sincero foi por nossa

redenção, como dar ordens especiais e

irreversíveis: a morte foi ordenada para ser

suportada por ele para nós, e a vida ordenada

para ser comunicada por ele a nós (João 10:16,

18). Se Deus não tivesse sido o propulsor, mas

tivesse recebido a proposta de outro, ele poderia

ter ouvido, mas não estava obrigado a concedê-

lo; sua autoridade soberana, não tinha qualquer

obrigação de receber o patrocínio de outro pelo

criminoso miserável. Como Cristo é a cabeça do

homem, assim “Deus é a cabeça de Cristo” (1 Cor

11: 3); ele nada fez além de suas direções, já que

ele não era um mediador, senão pela

constituição da bondade divina. Como um

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homem liberal concebe coisas liberais” (Isaías 2:

8), assim como um Deus generoso inventou um

ato generoso, em que sua bondade e amor como

Salvador apareceu: ele estava possuído com as

resoluções para manifestar a sua bondade em

Cristo, “no princípio do seu caminho”

(Provérbios 8:22, 23), antes que ele desceu ao ato

de criação. Essa intenção de bondade precedeu-

o a fazer aquele homem criatura que, ele previu,

cairia e, por sua queda, emaranharia todo o

quadro do mundo, sem tal disposição.

2º. Em Deus dando a Cristo para ser nosso

Redentor, ele deu o mais alto dom que foi

possível para a bondade Divina outorgar. Assim

como não há um Deus maior do que ele próprio

para ser concebido, então não há um dom maior

para este grande Deus apresentar às suas

criaturas. Nunca Deus vai além disso, em

qualquer de suas excelentes perfeições. É uma

concessão que não pode ser transcendida, nem

mesmo que ele criasse milhões de mundos para

nós, ele não poderia dar um Filho maior para

nós. Além disso, este maravilhoso dom de amor

não foi concedido a seres imaculados e

merecedores, mas a inimigos e malfeitores,

transgressores das Suas leis. Não foi apenas uma

concessão de perdão, mas uma chamada para se

tornarem filhos amados por meio do Dom

recebido.

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Quando lemos então nas Escrituras que Deus

nos deu o próprio Filho Unigênito por amor, não

podemos medir e avaliar adequadamente qual é

a real extensão deste Dom tão precioso, em tudo

o que está implicado na sua concessão. E deve

ser devidamente considerado que nada mais

havia que pudesse ser feito para a nossa

restauração.

Uma outra grandiosidade inestimável desde

Dom precioso, que é a própria pessoa de Jesus

para nós, reside em que tal é a segurança da

bênção que nos tem sido prometida, que uma

vez ligados a Ele pela fé, jamais poderemos ser

separados do Seu amor, e nem mesmo o próprio

Deus o fará, porque na promessa que nos fez,

determinou que nos daria um tal coração que

jamais poderíamos nos afastar dEle. Então, nós

temos nisto a segurança de nunca mais

pecarmos quando alcançarmos a glória celestial

depois desta vida, e seremos garantidos pela

concessão da Sua graça em medida tão

excelente, que como os anjos eleitos, jamais

seremos expulsos da Sua presença.

“38 Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.

39 Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho,

para que me temam todos os dias, para seu bem

e bem de seus filhos.

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40 Farei com eles aliança eterna, segundo a qual

não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu

temor no seu coração, para que nunca se

apartem de mim.” (Jeremias 32.38-40).

“26 Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de

vós espírito novo; tirarei de vós o coração de

pedra e vos darei coração de carne.

27 Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que

andeis nos meus estatutos, guardeis os meus

juízos e os observeis.” (Ezequiel 36.26,27).

Quando Deus assegurou nosso conforto, ele

jurou "por si mesmo", porque ele não pode jurar

"por alguém maior” (Hb 6:13): assim, quando

assegura nossa felicidade, ele nos dá seu Filho,

porque ele não pode dar um maior, sendo igual

a ele mesmo.

De modo que nossa segurança eterna em

relação à nossa salvação é garantida pelo

próprio Deus, e por nos ter sido dado Jesus por

nosso Fiador, e esta é a razão de Ele ter afirmado

que aquele que vem a Ele jamais será lançado

fora, e o apóstolo Paulo o confirma na parte final

do oitavo capítulo da epístola aos Romanos que

nada poderá nos separar do amor de Deus que

está em Cristo Jesus. O apóstolo usa um

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excelente argumento para comprová-lo,

dizendo:

“8 Mas Deus prova o seu próprio amor para

conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,

sendo nós ainda pecadores.

9 Logo, muito mais agora, sendo justificados

pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.

10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos

reconciliados com Deus mediante a morte do

seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,

seremos salvos pela sua vida.” (Romanos 5.8-10).

1. É uma dádiva maior que os mundos, ou todas

as coisas compradas por ele. O que foi esse dom,

senão “a imagem de sua pessoa e o brilho da sua

glória” (Hb 1: 3)? O que foi esse dom, senão

aquele que possuía a plenitude da Terra e as

riquezas mais imensas do céu?

As feridas de um Deus Todo Poderoso para nós

são um testemunho maior de bondade, do que

se tivéssemos todas as outras riquezas do céu e

da terra.

É em razão da preciosidade inestimável do dom,

que não se pode esperar senão a condenação

eterna de todo aquele que o desprezar e rejeitar,

de modo que é o próprio Jesus que afirma que

aquele que não crê já está condenado.

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Jesus nos foi dado para nos resgatar por sua

morte. Foi um presente para nós; por amor ao

Pai, desceu do seu trono e habitou na Terra; por

nossa causa ele foi “feito carne”; por nossa

causa ele foi "feito maldição" e queimado na

fornalha da ira do seu Pai contra o pecado; por

nós, ele ficou nu, armado apenas com sua

própria força, nas feridas daquele combate com

os demônios, que nos traziam cativos.

Se ele tivesse dado a ele para ser um líder para a

conquista de alguns inimigos terrestres, teria

sido uma grande bondade exibir suas bandeiras,

e trazer-nos sob sua conduta; mas ele enviou-o a

dar a vida da maneira mais amarga e inglória, e

o expôs a uma morte amaldiçoada por nossa

redenção daquela terrível maldição, que teria

nos despedaçado e irremediavelmente nos

esmagado. Ele o deu a nós, para sofrer por nós

como homem e nos redimir como Deus; ser um

sacrifício para expiar nosso pecado carregando

a punição sobre si mesmo, que era merecida por

nós. Assim, ele foi feito baixo para nos exaltar, e

degradado para nos avançar, "feito pobre para

nos enriquecer" (2 Cor 8: 9); e se eclipsou para

iluminar nossas naturezas manchadas e feridas,

para que ele pudesse ser um médico para nossas

enfermidades. Ele teve que provar o amargo

cálice da morte, para que pudéssemos beber dos

rios da vida e dos prazeres imortais. Ele se

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submeteu às fraquezas da natureza humana,

para que possuíssemos as glórias da divina; foi

ordenado para ser um sofredor, para que não

fôssemos mais cativos; e passar pelo fogo da ira

divina, para que ele pudesse purificar nossa

natureza da escória que havia contraído. Assim

foi o justo dado pelo pecador, o inocente pelos

criminosos, a glória do céu pelos resíduos da

terra e as imensas riquezas de uma Divindade

gastas para restaurar o homem.

Jesus é um Filho que foi exaltado pelo que ele

havia feito por nós pela ordem da bondade

divina. A exaltação de Cristo não era menor sinal

de sua bondade milagrosa para nós, do que de

sua afeição a ele: desde que ele foi obediente

pela bondade divina de morrer por nós, seu

avanço foi por sua obediência a essas ordens. O

nome dado a ele “acima de todo nome” (Fp 2: 8,

9), foi um triunfo repetido desta perfeição; já

que sua paixão não era para ele, ele era

totalmente inocente, mas para nós que éramos

criminosos.

Seu progresso não foi apenas para si mesmo

como Redentor, mas para nós como redimidos:

bondade divina centrada nele, tanto em sua cruz

e na sua coroa; porque foi para “purificar os

nossos pecados, que se assentou à destra da

Majestade nas alturas” (Hebreus 1: 3).

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Uma abençoada sociedade de principados e

poderes no céu admira esta bondade de Deus, e

atribui-lhe “honra, glória e poder”, ao “Cordeiro

que foi morto” (Apocalipse 5: 11–13). A bondade

divina não apenas o deu a nós, mas deu-lhe

poder, riquezas, força e honras, por manifestar

esta bondade para nós, e abrir as passagens para

seus mais completos meios de transmissão para

os filhos dos homens. Se Deus não tivesse

pensamentos de uma bondade perpétua, ele

não o teria acomodado tão perto dele, para

administrar nossa causa, e testificar tanto afeto

por ele em nosso nome. Essa bondade deu a ele

para ser humilhado por nós, e ordenou que ele

fosse entronizado para nós: como ele nos foi

dado para sangrar, assim, ele nos daria

triunfando; que, como temos uma participação

pela graça nos méritos de sua humilhação,

possamos também participar das glórias de sua

coroação; em que, do começo ao fim, não

podemos ver nada além dos triunfos da bondade

divina para o homem caído.

Ao conceder este dom a nós, a bondade divina

nos dá todo o Deus. Tudo o que é grande e

excelente na Divindade, o Pai se nos dá, dando-

nos seu Filho: o Criador se doa a nós em seu

Filho Jesus Cristo. Em dar criaturas para nós, ele

dá as riquezas da Terra; dando-se a nós, ele dá as

riquezas do céu, que superam todo

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entendimento: é neste dom que ele se torna

nosso Deus, e passa o título de tudo o que ele é

para nosso uso e benefício, para que todo

atributo na natureza divina possa ser

reivindicado por nós; não para que seja o meio

pelo qual possamos ser deificados, mas

empregados para nosso bem-estar, pelo qual

podemos ser abençoados. Ele se entregou na

criação para nós na imagem de sua santidade;

mas, na redenção, ele se entrega na imagem de

sua pessoa: ele não apenas comunicou a

bondade externa a ele, mas outorgou-nos a

infinita bondade de sua própria natureza; para

que aquilo que era seu próprio fim e felicidade

possa ser o nosso fim e felicidade, a saber, ele

mesmo. Ao dar o seu Filho, ele se entregou; e em

ambos os dons ele nos deu todas as coisas.

O Criador de todas as coisas é eminentemente

todas as coisas: "Ele entregou todas as coisas nas

mãos de seu Filho" (João 3:35); e

consequentemente, entregou todas as coisas

nas mãos de suas criaturas remidas, dando-lhes

a quem ele deu todas as coisas; qualquer que

seja o que fomos investidos pela criação, seja

qual for o que nos foi privado pela corrupção, e

mais, ele depositou em mãos seguras para o

nosso gozo: e o que a bondade divina poderia

fazer mais por nós? O que mais nos pode dar do

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que aquilo que nos deu, e nesse dom projetado

para nós?

3º. Essa bondade é reforçada considerando o

estado do homem na primeira transgressão e

desde então.

1. Primeira transgressão do homem. Se nós

deveríamos rasgar todas as veias daquele

primeiro pecado, deveríamos achar qualquer

falta de maldade para excitar uma justa

indignação contra o pecado? O que havia ali

senão a ingratidão pela generosidade divina e a

rebelião contra a soberania divina? A realeza de

Deus foi tentada; a supremacia do

conhecimento Divino acima do conhecimento

do homem invejado; as riquezas do bem, pelo

qual ele viveu e respirou, foram desprezadas. Há

um descontentamento com Deus sobre um

sentimento irracional, que Deus lhe negou um

conhecimento que era seu direito e devido,

quando deveria ter havido um humilde

reconhecimento daquela bondade imerecida,

que não só tinha lhe dado um ser acima de

outras criaturas, mas colocou-o como

governador e senhor daqueles que eram

inferiores a ele. Que alienação de seu

entendimento havia lá de conhecer a Deus e de

sua vontade de amá-lo! Um deboche de todas as

suas faculdades; um adultério espiritual, em

preferir não apenas uma das criaturas de Deus,

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mas um de seus inimigos desesperados, diante

dele; pensando nele como um conselheiro mais

sábio do que a Infinita Sabedoria, e imaginando-

o possuído com afeições mais amáveis para ele

do que aquele Deus que o havia criado

recentemente. Assim ele se junta em liga com o

inferno contra o céu, com um espírito caído

contra o seu benfeitor generoso, e entra na

sociedade com rebeldes que pouco antes

iniciaram uma guerra contra o seu Soberano

comum: ele não apenas vacilou, mas rejeitou a

obediência devida ao seu Criador; esforçou-se

para roubar sua glória e realmente assassinou

todos aqueles que estavam virtualmente em

seus lombos. "O pecado entrou no mundo" por

ele, “e a morte pelo pecado, foi passada a todos

os homens” (Rom 5:12), tirando-os de sua

sujeição a Deus, para serem escravos dos

espíritos condenados e herdeiros de sua

miséria: e, depois de tudo isso, ele acrescenta

uma imposição impura sobre Deus, taxando-o

como o autor de seu pecado e, assim, mancha a

beleza da Sua santidade. Mas, apesar de tudo

isso, Deus não fecha as comportas de sua

bondade, nem faz resoluções ardentes contra o

homem, mas traz uma promessa de cura; e não

envia um anjo sob comissão para revelá-lo a ele,

mas prega a si mesmo a esta criatura

abandonada e rebelde (Gên 3:15).

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2. Poderia haver alguma coisa nessa criatura

caída para atrair a Deus para a expressão de sua

bondade? Houve alguma boa ação em todo o seu

comportamento que poderia pedir uma

readmissão dele ao seu estado anterior? Havia

uma boa qualidade, que poderia ser um orador

para persuadir a bondade divina a tal

procedimento gracioso? Havia alguma bondade

moral no homem, depois desse deboche, que

poderia ser um objeto do amor divino? O que

havia nele, isso não era mais uma provocação do

que uma sedução? Você poderia esperar que

qualquer perfeição em Deus deve encontrar um

motivo neste apóstata ingrato para abrir uma

boca para ele, e ser um defensor para apoiá-lo, e

tirá-lo de um tribunal justo? Ou, depois de a

bondade Divina ter começado a sentir piedade e

a pleitear pelo homem, não é maravilhoso que

não deva descontinuar o apelo, depois de achar

que a desculpa do homem era tão negra quanto

o seu crime (Gên. 3:12), e sua conduta, após seu

exame, ser tão irresponsável quanto sua

primeira revolta? Pode-se esperar que todas as

perfeições da natureza Divina tenham entrado

em associação eternamente para tratar este

rebelde de acordo com suas deserções? Que

atrativos havia em um verme, muito menos em

tal completa perversidade, inimizade

indesculpável, rebelião infame, para projetar

um Redentor para ele, e tal pessoa como o Filho

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de Deus para um corpo carnal, um eclipse de

glória e uma cruz ignominiosa? A mesquinhez

do homem estava mais longe de seduzir a Deus

a isso, do que a dignidade de anjos.

De fato, uma justiça perfeita e implacável jamais

poderia passar por alto a transgressão do

homem, e deixar de aplicar a pena de morte

devida a ele. E Deus não deixou de fazê-lo, só que

o fez em Si mesmo, colocando o Seu Filho

Unigênito para morrer no lugar do criminoso.

3. Não havia um mundo de demérito no homem

para animar a graça, bem como a ira contra ele?

Nós estávamos tão longe de merecer a abertura

de quaisquer correntes de bondade, porque

merecemos inundações de ira devoradora.

Quem eram todos os homens, senão inimigos de

Deus em alta maneira? Cada ofensa era infinita,

como sendo cometida contra um ser de

dignidade infinita; foi um golpe no próprio ser

de Deus, uma resistência a todos os seus

atributos; que iria degradá-lo da altura e

perfeição de Sua natureza; que não iria, por sua

boa vontade, sofrer sendo Deus. Se aquele que

odeia seu irmão é um assassino de seu irmão (1

João 3:15), aquele que odeia seu Criador é um

assassino da Deidade, e toda “mente carnal é

inimizade contra Deus” (Romanos 8: 7): todo

pecado inveja sua autoridade, quebrando seu

preceito; e inveja a sua bondade, desfigurando

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as marcas dela: todo pecado compreende nele

mais do que os homens ou os anjos podem

conceber. Somente Deus que tem as claras

apreensões de sua própria dignidade, tem as

claras apreensões da malignidade do pecado.

Todos os homens eram assim por natureza:

aqueles que pecaram antes da vinda do

Redentor estavam em estado de pecado; aqueles

que viriam depois dele estariam em um estado

de pecado pelo seu nascimento, e são

criminosos, assim como sempre foram

criaturas. Todos os homens, assim como os

glorificados, como os que estavam na carne na

vinda do Redentor, e aqueles que deveriam

nascer depois, foram considerados em estado

de pecado por Deus, quando ele feriu o Redentor

para eles; todos eram imundos e indignos aos

olhos de Deus; todos tinham empregado as

faculdades de suas almas, e os membros de seus

corpos, que eles desfrutaram por sua bondade,

contra o interesse de sua glória. Cada criatura

racional se tornou um escravo para aquelas

criaturas sobre as quais ele havia sido designado

senhor, submetendo-se a si mesmo como servo

de seu inferior, e exibia-se como um superior

contra seu soberano liberal, e por todo pecado

se tornou mais um filho de Satanás, e inimigo de

Deus, e mais digno das maldições da lei e dos

tormentos do inferno. Não era, agora, uma

grande bondade que superasse aquelas altas

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montanhas de demérito e elevar tais criaturas

pelo rebaixamento de seu Filho? Se tivéssemos

sido possuídos da mais alta santidade, uma

recompensa teria sido o efeito natural da

bondade. Não era possível que Deus fosse

indelicado a uma criatura justa e inocente; sua

graça teria coroado o que tinha sido tão

agradável para ele. Ele teria sido um negador de

si mesmo, se ele tivesse inúmeras criaturas

inocentes na classificação dos miseráveis; mas

ser gentil com um inimigo, contrariar a vastidão

do demérito no homem, era uma bondade

superlativa, uma bondade triunfando acima de

todas as provocações dos homens e dos apelos

da justiça: era uma bondade abundante da

graça; “onde o pecado abundou a graça, muito

mais abundou” (Rom 5:20), inchou acima das

alturas do pecado e triunfou mais do que todos

os seus outros atributos.

4. O homem foi reduzido para a condição mais

baixa. Nossos crimes nos levaram à mais baixa

calamidade; fomos levados ao pó e preparados

para o inferno. Adão não teve coragem de pedir

e, portanto, podemos julgar que ele não tinha a

menor esperança de perdão; ele estava

afundado sob a ira, e não poderia esperar um

conforto melhor do que o do tentador, cujas

solicitações ele atendeu. Nós tínhamos lançado

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fora o diadema de nossas cabeças e perdemos

toda a nossa excelência original; nós estávamos

perdidos para nossa própria felicidade, e

perdidos para servir o nosso Criador, quando ele

foi tão gentil a ponto de enviar seu Filho para nos

buscar (Mat 18:11), e tão liberal a ponto de

derramar seu sangue para nossa cura e

preservação. Quão grande foi essa bondade que

não nos abandonaria em nosso clamor, mas

remeteria nossos crimes e resgataria nossas

pessoas, e resgataria nossas almas por um preço

tão alto dos direitos da justiça, e horrores do

inferno, para que estávamos tão preparados?

5. Toda humanidade multiplicou provocações;

todas as eras do mundo se mostraram mais

degeneradas. As tradições, que eram mais puras

e mais vivas entre a posteridade imediata de

Adão, e eram mais obscuras entre seus

descendentes posteriores; idolatria, da qual não

temos marcas no mundo antigo antes do

dilúvio, era frequente depois em todas as

nações: não apenas o conhecimento do

verdadeiro Deus estava perdido, mas os

pensamentos reverentes de uma Divindade

foram expulsos. Por isso os deuses eram

apelidados de acordo com os humores dos

homens; e não apenas por paixões humanas,

mas vícios brutais, atribuídos a eles: como pela

queda nos tornamos menos do que os homens,

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por isso não gostaríamos mais de Deus do que

um animal, uma vez que os animais eram

adorados como deuses (Rom 1:21); sim,

imaginou-se Deus não melhor do que um

demônio, desde que aquele destruidor era

adorado em vez do Criador, e uma homenagem

aos poderes do inferno que os arruinaram, o que

foi devido à bondade daquele Benfeitor, que

tinha feito e preservado o mundo. As criaturas

mais vis bravas eram deificadas; a razão foi

degradada abaixo do senso comum; e os

homens adoravam uma extremidade de um

“tronco”, enquanto “se aqueciam com a outra”

(Is 44:14, 16, 17); como se aquilo que foi ordenado

para a cozinha era uma representação adequada

para Deus no templo. Assim eram as noções

naturais de uma Deidade depravada; o mundo

inteiro encharcado de idolatria; e embora os

judeus estivessem livres daquele abuso

grosseiro de Deus, ainda assim eles foram

afundados também em repugnantes

superstições, quando a bondade de Deus trouxe

em seu Redentor projetado a redenção ao

mundo.

6. A impotência do homem aumenta essa

bondade. Nossos próprios olhos tinham pouca

pena de nós, e era impossível para nossas

próprias mãos nos aliviarem; nós éramos

insensíveis à nossa miséria, apaixonados pela

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nossa morte; nós cortejamos nossas cadeias, e o

barulho de nossas luxúrias era nossa música,

“servindo diversas luxúrias e prazeres” (Tt 3: 3).

Nossas luxúrias eram nossos prazeres; o jugo de

Satanás foi tão prazeroso para nós, para ele

impor: em vez de ser seus opositores em suas

tentações contra nós, éramos seus seguidores

voluntários, e sempre tão dispostos a abraçar,

como ele proporia, suas tentações arruinadoras.

Como ninguém pode se recuperar da morte,

ninguém pode se recuperar da ira; ele é tão

incapaz de redimir, quanto de criar a si mesmo;

ele poderia logo ter se despojado de seu ser,

como um fim à sua miséria; seu cativeiro teria

sido interminável, e suas correntes sem

remédio, para qualquer coisa que ele pudesse

fazer para derrubá-las; e livrar a si mesmo; ele

estava muito apaixonado pelo sumidouro do

pecado, para deixá-lo chafurdar e, sob uma mão

muito poderosa, para parar de queimar nas

chamas da ira. Como a lei não podia ser

obedecida pelo homem, depois de um princípio

corrupto ter entrado nele, também não podia

haver satisfação da justiça por ele depois de sua

transgressão. O pecador estava endividado, mas

falido; como ele era incapaz de pagar um pouco

dessa obediência que ele devia ao preceito, por

causa de sua inimizade, então ele foi incapaz de

satisfazer o que ele devia à penalidade, por causa

de sua fraqueza: ele era tanto sem amor para

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observar um, como “sem força” para suportar o

outro: ele não podia, por causa de sua

“inimizade, estar sujeito à lei” (Rom. 8: 7), ou

compensar o seu pecado, porque ele estava

“sem força” (Rom. 5: 6). Sua força para ofender

era grande; mas para livrar-se era um mero

nada. O arrependimento não era uma coisa

conhecida pelo homem após a queda, até que

ele tivesse esperanças de redenção; e se ele

conhecesse e exercitasse, que compensação

seriam as lágrimas de um malfeitor por uma

lesão feita à coroa, e tentar contra a vida do seu

príncipe? Quão grande era a bondade divina,

não apenas para se compadecer dos homens

neste estado, mas para prover um forte

Redentor para eles! "Ó Senhor, minha força e

meu Redentor!”, disse o salmista (Salmos 19:14):

quando ele descobriu um Redentor para nossa

miséria, ele descobriu uma força para a nossa

impotência.

A par da grande verdade desta situação e

condição em que toda pessoa se encontra

naturalmente, é muito grande o contingente

daqueles que sempre andaram e continuarão

andando ignorando-a ou a desconsiderando,

por uma busca irrefreada de prazeres e

felicidade neste mundo, sem levar em conta o

estado miserável e perigosíssimo que o pecado

não justificado e perdoado representa para

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qualquer um. É possível que um morto

espiritual, a quem aguarda a morte eterna, ande

neste mundo como se nada devesse temer

quanto ao estado eterno de sua alma, porque o

engano do pecado é muito forte e se Deus não

abrir os nossos olhos e não nos atrair a Cristo

para sermos salvos, estamos

irremediavelmente perdidos.

Para concluir isso: contemple a “bondade de

Deus”, quando assim lidamos com ele de

maneira desmedida; nada havia para atrair a sua

bondade, multidões de provocações para

incensá-lo, foi reduzido a uma condição tão

baixa quanto poderia ser, por causa de seus

escárnios e da rejeição da justiça divina, e tão

fracos que não pudemos reparar nossas

próprias ruínas; então ele abriu uma fonte de

bondade renovada na morte de seu Filho, e

enviou fluxos tão agradáveis, como em nossa

criação original, nunca poderíamos ter provado;

não só superou os ressentimentos de uma

justiça provocada, como nos fortaleceu em

nossa fraqueza. Sua bondade antes criara um

inocente, mas aqui salva um malfeitor; e envia

seu Filho para morrer por nós, como se o Santo

dos santos fosse o criminoso e os rebeldes, os

inocentes. Teria sido uma maravilhosa bondade

ter dado a ele como rei; mas uma bondade de

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maior grandeza para expô-lo como sacrifício de

escravos e inimigos.

Se Adão permanecesse inocente e se mostrasse

grato pelo que ele tinha recebido, teria sido uma

grande bondade tê-lo levado à glória; mas trazer

Adão imundo e rebelde para ele, supera, por

graus inexprimíveis, esse tipo de bondade que

ele experimentara antes; já que não era de um

mal leve, uma maldição tolerável desprevenida

trazida sobre nós, mas do jugo a que havíamos

nos submetido voluntariamente, do poder das

trevas que havíamos cortejado, e da fornalha de

ira que havíamos acendido por nós mesmos. O

que somos nós, cães mortos, que ele deveria nos

contemplar com olhos tão graciosos? Essa

bondade é assim reforçada, se você considerar o

estado do homem em sua primeira

transgressão, e depois.

4º. Essa bondade aparece ainda no alto avanço

de nossa natureza, depois de ter sido tão

ofendido. Pela criação, nós tivemos uma

afinidade com animais em nossos corpos, com

anjos em nossos espíritos, com Deus à sua

imagem; mas não com Deus em nossa natureza,

até a encarnação do Redentor. Adão, pela

criação, era o filho de Deus (Lucas 3:38), mas sua

natureza não era uma com a pessoa de Deus: ele

era seu filho, como criado por ele, mas não tinha

afinidade com ele em virtude de união com ele:

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mas agora o homem não apenas vê sua natureza

em multidões de homens na terra, mas, por uma

bondade surpreendente, contempla sua

natureza unida à Deidade no céu: que como ele

era o filho de Deus pela criação, ele é agora o

irmão de Deus pela redenção; pois com tal título,

aquela Pessoa que era o Filho de Deus bem como

o Filho do homem, honra seus discípulos (João

20:17): e porque ele é da mesma natureza com

eles, ele "não se envergonha de chamá-los

irmãos.” (Hb 2:11). Nossa natureza, que estava

infinitamente distante e abaixo da Divindade,

agora é feita uma pessoa com o Filho de Deus.

O Filho de Deus desceu para dignificar nossa

natureza, assumindo-a; e ascendeu com a nossa

natureza para que fosse coroada acima daqueles

monumentos permanentes do poder e da

bondade Divina (Ef 1:20, 21). A pessoa que desceu

em nossa natureza para a sepultura, e na mesma

natureza foi ressuscitada, está, nessa mesma

natureza, à destra de Deus no céu, "acima de

todo principado, e potestade, e poder, e

domínio, e de todo nome que se possa referir

não só no presente século, mas também no

vindouro."

O barro refinado, por uma união indissolúvel

com esta Pessoa Divina, tem a honra de

permanecer para sempre sobre um trono acima

de todas as tribos de serafins e querubins; e a

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Pessoa que a usa é a cabeça dos anjos bons e a

conquistadora dos maus; aquele é colocado sob

os seus pés, e o outro ordenado a adorá-lo, "que

purificou os nossos pecados em nossa natureza"

(Hb 1: 3, 6): essa pessoa divina em nossa natureza

recebe adoração dos anjos; mas a natureza do

homem não é obrigada a prestar qualquer

homenagem e adoração aos anjos. Como

poderia a bondade divina para o homem, ser

mais ampliada? Como não poderíamos ter uma

descida menor do que a que tivemos pelo

pecado, como poderíamos ter uma ascensão

que por uma participação substancial de uma

vida divina, em nossa natureza, na unidade de

uma Pessoa Divina? Nossa natureza terrena é

unida a uma pessoa celestial; nossa natureza

desfeita unida a "um igual a Deus" (Filipenses 2:

6). Pode realmente ser dito que o homem é

Deus, que é infinitamente mais glorioso para

nós, do que se pudesse ser dito, que o homem é

um anjo. Se fosse bom para avançar nossa

natureza inocente acima de outras criaturas, o

avanço da nossa natureza degenerada acima dos

anjos merece um título mais elevado do que a

mera bondade.

É mais ato gracioso, do que se todos os homens

tivessem sido transformados na pura natureza

espiritual dos mais altos querubins.

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5º. Essa bondade é manifestada no pacto da

graça feito conosco, pelo qual somos libertos do

rigor das obras. Deus poderia ter insistido nos

termos do antigo pacto e requerido do homem a

melhoria de seu comportamento original; mas

Deus tem condescendido em baixar os termos e

oferecer ao homem métodos mais corteses, e

mitigar o rigor do primeiro, pela doçura do

segundo.

1. É bondade que ele se digne a fazer outro pacto

com o homem. Porque considerar Adão

inocente e justo por sua obediência, foi uma

escadaria de sua soberania; embora ele tivesse

dado o preceito como um soberano Senhor,

ainda em seu pacto, ele parece descer a algum

tipo de igualdade com aquele pó e cinzas.

“31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que

firmarei nova aliança com a casa de Israel e com

a casa de Judá.

32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais,

no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da

terra do Egito; porquanto eles anularam a minha

aliança, não obstante eu os haver desposado, diz

o SENHOR.

33 Porque esta é a aliança que firmarei com a

casa de Israel, depois daqueles dias, diz o

SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas

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leis, também no coração lhas inscreverei; eu

serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.

34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo,

nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece

ao SENHOR, porque todos me conhecerão,

desde o menor até ao maior deles, diz o

SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e

dos seus pecados jamais me lembrarei.”

(Jeremias 31.31-34).

Na primeira aliança havia grande parte da

soberania, bem como bondade; na segunda há

menos soberania e mais graça: na primeira

havia um homem justo para um Deus santo; na

segunda, uma criatura contaminada diante de

um Deus puro e provocado: na primeira ele

segura seu cetro em sua mão, para governar

seus súditos; na segunda, ele parece abaixar

com seu cetro, cortejar e abraçar um mendigo

(Os 2: 18-20): na primeira ele é um senhor; na

segunda, marido; e liga-se a condições graciosas

para se tornar um devedor. Como essa bondade

deve nos preencher com um humilde

assombro, como fez Abraão, quando ele “caiu

com o rosto no pó”, quando ouviu Deus falando

de fazer um pacto com ele! (Gên 17: 2, 3). E se

Deus falando com Israel do fogo, e fazendo-os

ouvir a sua voz do céu, para que ele pudesse

instruí-los, foi uma consideração por meio da

qual Moisés aumentaria sua admiração pela

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bondade Divina e engajaria sua afetuosa

obediência a ele (Deut 4:32, 36, 40), quão mais

admirável é para Deus falar tão gentilmente

conosco através do sangue pacificador do pacto,

que silenciava os terrores do velho, e

estabeleceu a ternura do novo!

2. Sua bondade é vista na natureza e no teor da

nova aliança. Há nesta, rico fluxo de amor e

piedade. O idioma da primeira era: Morra, se

pecares; a da outra, Viva, se creres: a antiga

aliança foi fundada sobre a obediência do

homem; a nova não se baseia na inconstância da

vontade do homem, mas na firmeza do amor

divino e no valioso mérito de Cristo. A cabeça da

primeira aliança era humana e mutável; a

cabeça da segunda é divina e imutável. A

maldição devido a nós pela violação da primeira,

é retirada pela indulgência da segunda: nós

somos por ela arrebatados das garras da lei, para

sermos envolvidos no seio da graça (Rom 8: 1).

“Porque não estais debaixo da lei, mas debaixo

da graça” (Romanos 6:14); da maldição e

condenação da lei, para a doçura e perdão da

graça. Cristo, sendo "feito maldição por nós" (Gl

3:13), para que pudéssemos desfrutar da doçura

da outra; por isso somos trazidos do Monte

Sinai, o monte do terror, para o Monte Sião, o

monte do sacrifício, o tipo do grande Sacrifício

(Hb 12:18, 22). Aquela aliança trazida à morte

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sobre uma ofensa, esta aliança oferece a vida

por muitas ofensas (Rom 5:16,17): a primeira nos

envolve em uma maldição, e esta nos enriquece

com uma bênção; as brechas do que nos

expulsou do Paraíso, e o abraçar isso que nos

admite no céu. Esta aliança exige, e admite

aquele arrependimento do qual não houve

menção na primeira; que exigia obediência,

nenhum arrependimento após um fracasso; e

embora o exercício dele nunca tivesse sido tão

profundo na criatura caída, nada da severidade

da lei havia sido remido por qualquer virtude

dela. Ainda, o primeiro pacto exigiu justiça

exata, mas não transmitiu nenhuma virtude

purificadora ao confrontar qualquer sujeira. O

primeiro exige uma continuação na justiça

conferida na criação; o segundo imprime um

coração gracioso na regeneração. “Eu

derramarei água limpa sobre você; eu vou

colocar um novo espírito dentro de você ” é a voz

da segunda aliança, não da primeira.

A primeira aliança nos relacionou com Deus

como um juiz; cada transgressão contra ela

perdeu sua indulgência como Pai: a segunda nos

livra de Deus como juiz condenador, para nos

colocar debaixo de suas asas, como um Pai

afetuoso; na primeira, havia uma expressão

horrível para nos assustar; mas na segunda,

uma asa de cura para nos cobrir e nos aliviar.

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Ainda, em relação à retidão: a primeira exigiu

nosso desempenho de uma justiça em e por nós

mesmos e nossa própria força; mas a segunda

exige nossa aceitação de uma justiça maior do

que nunca anjos eleitos tiveram; a justiça da

primeira aliança era a justiça de um homem, a

justiça da segunda é a justiça de um Deus (2 Cor

5:21).

Ainda, em relação à obediência exigida; não

exige de nós, como uma condição necessária, a

perfeição da obediência, mas a sinceridade de

obediência; uma retidão em nossa intenção, não

uma falta de aspersão em nossa ação;

integridade em nossos objetivos e uma

indústria em nossa obediência aos preceitos

divinos: “Anda diante de mim e sê perfeito”

(Gên 17: 1); isto é, sinceramente. O que é

saudável em nossas ações, é aceitável; e o que é

defeituoso, é negligenciado, e não é cobrado

sobre nós, por causa da obediência e justiça do

nosso Fiador.

O primeiro pacto rejeitou todos os nossos

serviços depois do pecado; os serviços de uma

pessoa sob a sentença de morte, são apenas

serviços mortos; mas o segundo aceita nossos

serviços imperfeitos, depois da fé; que não dava

força para obedecer, mas supunha; isso supõe

nossa incapacidade de obedecer e confere

alguma força para isso: "Vou colocar o meu

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espírito dentro de você, e fazer com que você

ande em meus estatutos" (Ezequiel 36:27). Mais

uma vez, em relação às promessas: a antiga

aliança fez bem, mas a nova tem “melhores

promessas” (Hb 8: 6), de justificação após a

culpa e santificação depois de impureza, e

glorificação finalmente do homem inteiro. Na

primeira, havia disposição contra a culpa, mas

nenhuma pela remoção dela; havia provisão

contra a impureza, mas nenhuma para a

limpeza dela; havia promessa de felicidade

implícita, mas não tão grande como aquela "vida

e imortalidade no céu, trazida à luz pelo

evangelho" (2 Timóteo 1:10). Por que disse ser

"trazido à luz pelo evangelho" porque era não

somente enterrado, sobre a queda do homem

sob as maldições da lei, mas não era tão óbvio

para as concepções do homem em seu estado

inocente. A vida, na verdade, estava implícita

para ser prometida em sua posição, mas não tão

gloriosa que uma imortalidade revelada, fosse

reservada para ele, se ele permanecesse: como

é um pacto de melhores promessas, então um

pacto de mais doces confortos; conforto mais

profundo e conforto mais durável; um “consolo

eterno e uma boa esperança” são os frutos da

“graça”, isto é, do pacto da graça (2 Ts 2:16). No

todo há tal amor revelado, como não pode ser

expressado; o apóstolo deixa para a mente de

todos os homens conceber, se ele pudesse, "Que

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tipo de amor que o Pai nos deu, para que

fôssemos chamados filhos de Deus” (1 João 3: 1).

Nos instaura de tal maneira no amor de Deus

como ele tem para o seu Filho, a imagem da sua

pessoa (João 17:23): “Para que o mundo conheça

que tu me enviaste e os amaste, como também

amaste a mim.”

3. Essa bondade aparece no dom de si mesmo

que ele fez nesta aliança (Gên 17: 7). Você sabe

como é executado nas Escrituras: "Eu serei o seu

Deus e eles serão o meu povo" (Jeremias 32:38):

uma propriedade na Deidade é feita por ela.

Como ele deu o sangue de seu Filho para selar o

pacto, assim ele se deu como a bênção do pacto;

"Ele não tem vergonha de ser chamado de seu

Deus" (Hebreus 11:16). Embora ele seja cercado

por milhões de anjos e os assuma em uma

inexprimível glória, ele não se envergonha de

suas condescendências ao homem, e passar por

si mesmo como propriedade de seu povo, assim

como levá-lo a ser dele. É uma diminuição do

sentido da passagem, entendê-la de Deus, como

Criador; que razão haveria para que Deus se

envergonhasse das expressões de seu poder,

sabedoria, bondade, nas obras de suas mãos?

Mas podemos ter razão para pensar que pode

haver algum fundamento em Deus para ter

vergonha de se fazer de dom para um verme

malvado e um rebelde imundo; isso pode

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parecer um menosprezo à sua majestade; mas

Deus não se envergonha de um título assim

como o de Deus de seu povo desprezado; um

título abaixo daqueles outros, do "Senhor dos

Exércitos, glorioso em santidade, tremendo em

louvores, fazendo maravilhas, cavalgando as

asas do vento, andando nos circuitos do céu.”

Ele não tem mais vergonha deste título de ser

nosso Deus, do que ele é daqueles que soam

mais gloriosos; ele preferiria ter sua grandeza

velada para sua bondade, que sua bondade seja

confinada por sua majestade; ele não é apenas

nosso Deus, mas nosso Deus como ele é o Deus

de Cristo: ele não se envergonha de ser nossa

propriedade, e Cristo não tem vergonha de

possuir seu povo em uma parceria com ele nesta

propriedade (João 20:17): “Subo ao meu Deus e

ao vosso Deus.” Isto, sendo Deus o nosso Deus, é

a quintessência da aliança, a alma de todas as

promessas; em que ele prometeu tudo o que é

infinito nele, seja qual for a glória e ornamento

de sua natureza, para nosso uso; não faz parte

dele, ou é uma única perfeição, mas todo o vigor

e força de todas. Como ele não é um Deus sem

sabedoria infinita e poder infinito, e bondade

infinita, e bem-aventurança infinita, etc., então

ele passa, nesta aliança, tudo aquilo que o

apresenta como o Ser mais adorável para suas

criaturas; ele será para eles tão grande, tão

sábio, tão poderoso, tão bom quanto ele é em si

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mesmo; e nos assegurando, neste pacto, para

ser nosso Deus, importa também que ele fará o

mesmo por nós, como faríamos por nós

mesmos, se estivéssemos equipados com a

mesma bondade, poder e sabedoria. Em ser

nosso Deus, ele testifica que é tudo um, como se

tivéssemos as mesmas perfeições em nosso

próprio poder para empregar para nosso uso;

por ele estar possuído por eles, é como se nós

mesmos estivéssemos possuídos por eles, para

nossa própria vantagem, de acordo com as

regras da sabedoria, e as várias condições pelas

quais passamos por sua glória. Mas isso deve ser

tomado com uma relação com essa sabedoria,

que ele observa em seus procedimentos

conosco como criaturas, e de acordo com as

várias condições que passamos através de sua

glória. Assim, o ser de Deus é mais do que se

todo o céu e a terra fossem nossos: “Portanto,

ninguém se glorie nos homens; porque tudo é

vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o

mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas

presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós,

de Cristo, e Cristo, de Deus.” (1 Coríntios 3:21-23);

e, portanto, não apenas todas as coisas que ele

tem criado, mas todas as coisas que ele pode

criar; não apenas todas as coisas que ele

inventou, mas todas as coisas que ele pode

inventar: nosso poder é nosso, seu poder

possível e seu poder ativo; seu poder, pelo qual

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ele pode efetuar mais do que ele tem feito, e sua

sabedoria, pela qual ele pode inventar mais do

que ele fez; de modo que, se houvesse

necessidade de empregar seu poder para criar

muitos mundos para o nosso bem, ele não iria

ficar com isso; porque se o fizesse, ele não seria

nosso Deus, na extensão de sua natureza, como

a promessa intima. “Ora, àquele que é poderoso

para fazer infinitamente mais do que tudo

quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu

poder que opera em nós.” (Efésios 3.20).

Que bondade rica e plenitude de generosidade

existe nesta breve expressão, tão completa

quanto a expressão de um Deus pode fazer isso,

para ser inteligível, para tais criaturas como nós

somos!

4. Essa bondade se manifesta ainda mais na

confirmação do pacto. Sua bondade não só

condescendeu em fazer isso por nossa

felicidade, depois que nos tornamos infelizes,

mas ainda condescendemos a ratificá-lo da

maneira mais solene para a nossa garantia, para

anular todos os desânimos que a descrença

poderia suscitar em nossas almas. A razão pela

qual ele confirmou isso por um juramento, foi

para mostrar a imutabilidade de seu glorioso

conselho, e não para amarrar-se a guardá-lo,

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pois sua palavra e promessa são em si mesmas

tão imutáveis quanto seu juramento; eles eram

“duas coisas imutáveis, sua palavra e seu

juramento”, uma tão imutável quanto a outra;

mas pela força do nosso consolo, para que não

possa ter razão para se abalar e cambalear (Hb

6:17, 18): ele condescende tão baixo quanto era

possível para um Deus fazer para a satisfação da

criatura abatida.

Quando a primeira aliança foi quebrada, e era

impossível para o homem cumprir os termos

dela, e montar para a felicidade assim, ele faz

outra; e, como se tivéssemos motivos para

desconfiar dele na primeira, ele solenemente o

ratifica em uma mais do que ele tinha feito na

outra, e jura por si mesmo que ele será fiel a ela,

não tanto fora de uma eleição de si mesmo,

como o objeto do juramento (Hb 6:13): "Porque

ele não podia jurar por um maior, ele jura por si

mesmo;" pelo qual o apóstolo claramente

sugere, que a bondade Divina foi elevada a tal

ponto para nós, que se houvesse algo mais

sagrado que ele, ou que pudesse castigá-lo se ele

tivesse quebrado o que ele teria jurado, para

silenciar qualquer desconfiança em nós, e nos

confirmar na realidade de suas intenções.

Agora, se fosse uma marca poderosa de

bondade para Deus inclinar-se a uma aliança

conosco, era mais para um soberano ligar-se tão

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solenemente para ser nosso devedor em uma

promessa, assim como ele era nosso soberano

no preceito, e se inclinar tão baixo para

satisfazer a desconfiança daquela criatura, que

merecia ser absorvida em suas próprias ruínas,

por não acreditar em sua palavra.

5. Essa bondade de Deus é notável também na

condição desta aliança que é a fé. Esta foi a

condição mais fácil, em sua própria natureza,

que poderia ser imaginada; nenhuma

dificuldade nisso, senão o que procede do

orgulho da natureza humana e da obstinação de

sua vontade. Isto não era impossível em si

mesmo; não era a velha condição de perfeita

obediência. Nem é um conhecimento exato que

ele exige de nós; todos os entendimentos dos

homens sendo de um tamanho diferente, eles

não teriam sido capazes disto. Era a condição

mais razoável, em relação à excelência das

coisas propostas, e os efeitos que se seguiram a

ela. Seria uma falta de bondade para si e para sua

própria honra; se ele tivesse descartado isso, se

ele não tivesse insistido nessa condição de fé,

sendo o mais baixo que ele poderia

condescender com uma salvação para a sua

glória. E foi uma bondade para nós; não é nada

mais que ele exige, senão uma disposição para

aceitar o que ele planejou e agiu para nós: e

nenhum homem pode ser feliz contra sua

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vontade; sem essa crença, pelo menos, o

homem nunca poderia voluntariamente ter

chegado à sua felicidade. A bondade de Deus é

evidenciada nisso.

[1º.] É uma condição fácil, não impossível.

1. Não era a condição da antiga aliança. A

condição disso foi uma total obediência a todo

preceito com toda a força de um homem e sem

qualquer falha. Mas a condição da aliança

evangélica é uma fé sincera, embora fraca; ele

adaptou esta aliança à miséria da condição caída

do homem; ele considera nossa fraqueza e que

somos apenas pó e, portanto, não exige de nós

uma obediência inteira, senão sincera. Se Deus

tivesse enviado Cristo para expiar o crime de

Adão, e restaurá-lo à sua propriedade

paradisíaca e reparar no homem a imagem

arruinada da santidade e, depois disso, teria

renovado o pacto de obras para o futuro, e

estabelecesse a mesma condição ao exigir uma

completa obediência para o tempo que viria; a

bondade divina estaria acima de qualquer

acusação, e mereceria a nossa mais alta

admiração com o perdão das antigas

transgressões, e dando-nos a nossa primeira

condição. Mas a bondade divina deu passos

largos: ele provou nossa primeira condição e

achou sua criatura mutável que rapidamente

violaria isto: se ele exigisse o mesmo agora, é

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provável que tivesse encontrado o mesmo

problema de antes, na desobediência e queda do

homem; nós deveríamos ter sido transgressores

como Adão (Os 6: 7), "transgredindo a aliança"; e

então deveríamos ter gemido sob nossa doença,

e chafurdando em nosso sangue, a menos que

Cristo tivesse vindo para morrer pela expiação

de nossos novos crimes; para cada transgressão

que houvesse sido uma violação desse pacto, e

uma perda do nosso direito aos benefícios dele.

Se nós tivéssemos quebrado, senão em um

único mandamento, nós nos tornaríamos

incapazes de cumpri-lo para o futuro; porque

uma transgressão havia sido uma barreira

contra os apelos da obediência posterior. Mas

Deus tem deixado totalmente essa condição de

lado quanto a nós, e estabeleceu a da fé, mais

fácil de ser realizada, e de ser renovada por nós.

É graça infinita nele, que ele aceitará a fé em

nós, em vez daquela obediência perfeita que ele

exigiu de nós no pacto das obras.

2. É fácil, não é como as cerimônias pesadas

designadas sob a lei. Ele não exige agora a

obediência legal, sacrifícios caros, incômodas

purificações e abstinências, que eram um "jugo

de escravidão" (Gálatas 5: 1) que eles "não foram

capazes de suportar" (Atos 15:10). Ele não nos

trata não como servos, sob os elementos do

mundo, nem requer aqueles inumeráveis

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exercícios corporais que ele exigiu deles: ele não

exige “mil cordeiros” e “rios de azeite”, mas ele

exige uma sincera confissão e arrependimento,

a fim de nossa absolvição; uma “fé não fingida”,

para nossa bem-aventurança e elevação a uma

vida gloriosa. Ele exige apenas que devamos

acreditar no que ele diz, e ter uma opinião tão

boa sobre sua bondade e veracidade, a fim de

nos persuadir da realidade de suas intenções,

confiar em sua palavra, e confiar em sua

promessa, abraçar cordialmente seu Filho

crucificado, a quem ele estabeleceu como o

meio da nossa felicidade, e ter um sincero

respeito a todas as descobertas de sua vontade.

O que pode ser mais fácil que isso?

Embora alguns nos dias dos apóstolos, e outros

desde que se esforçaram para introduzir uma

multiplicidade de encargos jurídicos, como se

invejassem Deus nas expressões de sua

bondade, ou pensavam que ele era culpado de

muita remissão, em tirar o jugo, e tratar o

homem também favoravelmente.

3. Nem é um conhecimento claro de toda

revelação, que é a condição desta aliança. Deus

em sua bondade ao homem tem feito revelações

de si mesmo, mas sua bondade se manifesta em

nos obrigar a acreditar nele, e não inteiramente

a entendê-lo. Ele as fez por testemunhos

suficientes, tão claros para nossa fé, como elas

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são incompreensíveis para nossa razão: ele

revelou uma Trindade de Pessoas, em seus

ofícios distintos, no negócio da redenção, sem a

qual revelação de uma Trindade não

poderíamos ter uma noção correta do plano da

graça redentora. Mas desde que a clareza da

compreensão dos homens é maculada pela

queda, e perdeu suas asas para voar até um

conhecimento de tais coisas sublimes como a da

Trindade, e outros mistérios da religião cristã,

Deus manifestou a sua bondade em não nos

obrigar a compreendê-los, mas a acreditar

neles; e nos deu razão suficiente para acreditar

que fosse sua revelação, (ambos da natureza da

própria revelação, e o modo e maneira de

propagá-la, que é totalmente divina, excedendo

todos os métodos da arte humana), embora ele

não tenha estendido nossa compreensão para

uma capacidade de entender a razão de cada

mistério. Ele não exigia de todo israelita, ou de

qualquer um deles que fosse picado pelas

serpentes ardentes, que eles entendessem, ou

fossem capazes de discursar sobre a natureza e

as qualidades daquele bronze do qual a serpente

sobre o poste foi feita, ou o que é essa arte da

serpente que foi formada, ou de que maneira a

visão dela operou neles para sua cura; bastava

que eles acreditassem na instituição e preceito

de Deus, e que a sua cura seria assegurada por

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ele: bastava que lançassem os olhares de acordo

com a ordem dada.

Os entendimentos dos homens são de vários

tamanhos e elevações, um superior ao outro: se

a condição deste pacto tivesse sido por uma

grandeza de conhecimento, somente os

homens mais aguçados desfrutariam dos

benefícios disso. Mas é "fé", que é tão fácil de ser

executada pelo ignorante e simples, como pela

mente mais forte e mais imponente: é o que está

dentro da esfera da compreensão de todo

homem. Deus não exigiu que cada um dentro do

limite da aliança fosse capaz de discursar sobre

isso com as razões de homens; ele não exigia que

todo homem fosse filósofo ou orador, mas

crente. O que poderia ser mais fácil do que

levantar o olho para a serpente de bronze, para

ser curado de uma picada venenosa? O que

poderia ser mais fácil do que um olhar, que é

feito sem qualquer dor, e em um momento? É

uma condição que pode ser realizada tanto pelos

mais fracos quanto pelos mais fortes.

[2º.] Como é fácil, então é razoável. Arrependa-

se e creia, é o que é requerido por Cristo e pelos

apóstolos para o desfrute do Reino dos céus. É

muito razoável que coisas tão grandes e

gloriosas, tão benéficas para os homens, e

reveladas a eles por uma tão boa autoridade, e

uma verdade infalível, deva ser acreditado. A

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excelência da coisa divulgada não poderia

admitir uma condição menor do que ser

acreditado e abraçado. Existe uma espécie de fé,

que é uma condição natural em tudo: todas as

religiões do mundo, embora nunca tão falsas,

dependem de um tipo de coisa; pois a menos que

haja uma crença em coisas futuras, nunca

haverá uma esperança do bem ou um medo do

mal, duas grandes dobradiças sobre as quais a

religião se move. Em todos os tipos de

aprendizado, muitas coisas devem ser

acreditadas antes que um progresso possa ser

feito.

A crença mútua é necessária em todos os atos da

vida humana; sem a qual a sociedade humana

seria desvinculada e dissolvida. O que é aquela

fé que Deus requer de nós nesta aliança, senão

uma disposição de alma para tomar Deus para

nosso Deus, Cristo para nosso Mediador, e o

comprador da nossa felicidade (Apo 22:17)? Que

príncipe poderia exigir menos em qualquer

promessa que ele faz a seus súditos, do que

apenas ser acreditado como verdadeiro, e

considerado tão bom; que eles deveriam aceitar

o seu perdão, e outras ofertas graciosas, e serem

sinceros em sua lealdade a ele, evitando todas as

coisas que podem ofendê-lo, e perseguindo

todas as coisas que possam agradá-lo? Assim,

Deus, por uma tão pequena e razoável condição

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como a fé, deixa entrar os frutos da morte de

Cristo em nossa alma, e nos envolve na fruição

de todos os privilégios adquiridos por ela.

Tanto ele tem condescendido em sua bondade,

que em uma condição tão pequena podemos

suplicar sua promessa, e humildemente

desafiar, por virtude da aliança, as boas coisas

que ele prometeu em sua Palavra. É uma

condição tão razoável, que se Deus não exigisse

isso no pacto da graça, a criatura seria obrigada

a realizá-lo; porque a publicação de qualquer

verdade de Deus, naturalmente pede crédito

para ser dado pela criatura, e um

comportamento dela na prática. Você poderia

oferecer uma condição mais razoável deixada à

sua escolha?

[3º.] É uma condição necessária.

1. Necessário para a honra de Deus. Um príncipe

é desacreditado se sua autoridade em sua lei, e

se sua graciosidade em suas promessas, não for

aceito e acreditado. Qual médico receitaria uma

cura se suas prescrições não fossem

acreditadas? É a primeira coisa na ordem da

natureza, que a revelação de Deus deve ser

acreditada, que a realidade de suas intenções

em convidar o homem à aceitação dos métodos

que ele prescreveu para alcançar sua felicidade

principal deve ser reconhecido.

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É uma noção aviltante de Deus, que ele deve dar

uma felicidade, adquirida pelo sangue divino, a

uma pessoa que não dê valor para ela, nem

qualquer abominação àqueles pecados que

ocasionou tão grande sofrimento, nem

qualquer vontade de evitá-los: ele não deve se

vilipendiar, dar um céu sobre aquele homem

que não acreditará nas ofertas dele, nem andará

nos caminhos que conduzem a ele? Que anda

assim, como se ele declarasse que não houvesse

verdade em sua Palavra, nem santidade em sua

natureza?

Como Deus estava tão desejoso de assegurar o

consolo dos crentes, que se houvesse um Ser

maior do que ele próprio para atestar, e para ele

ser responsável, pela confirmação de sua

promessa, ele teria voluntariamente se

submetido a ele, e feito dele o árbitro, "Ele jurou

por si mesmo, porque ele não podia jurar por um

maior” (Hebreus 6:19); pela mesma razão, tinha

estado com a majestade e sabedoria de Deus se

inclinar para abaixar as condições desta aliança,

para reduzir o homem ao seu dever e felicidade,

ele teria feito isso; mas sua bondade poderia não

dar passos mais baixos, com a preservação dos

direitos de sua majestade e a honra de sua

sabedoria. Você o teria totalmente submetido à

vontade obstinada de uma criatura rebelde, em

vez de ser governado apenas por seus termos?

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Você teria ele recebendo homens para a

felicidade deles, depois de terem aumentado

seus crimes por um desprezo de sua graça, bem

como de sua criação de bondade? Se ele

glorificar alguém que não acreditará no que ele

revelou, nem se arrependa do que ele mesmo

cometeu; e assim salvar um homem depois de

uma repetida ingratidão para a mais imensa

graça que já foi concedida, ou possa ser

descoberta, sem uma detestação de sua

ingratidão, e uma aceitação voluntária de suas

ofertas? Isto é necessário, para a honra de Deus,

que o homem deva aceitar seus termos, e não

dar leis àquele a quem ele é detestável como

pessoa culpada, bem como sujeito como uma

criatura.

Ainda, foi muito justo e necessário para a honra

de Deus, que desde que o homem caiu por uma

incredulidade de seu preceito e ameaça, ele não

deve se erguer novamente sem acreditar em

sua promessa, e lançar-se sobre a sua verdade

em que, desde que ele tinha difamado a honra

de sua verdade, é adequado que, em sua

recuperação, os mais altos poderes de sua alma,

sua compreensão e vontade, sejam submetidos

a ele em uma total renúncia.

Se o pecado original que sujeitou o homem à

miséria, consistisse apenas em um ato de

desobediência descuidado, do qual o homem

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poderia imediatamente se envergonhar e

confessá-lo a Deus em busca de perdão, a

salvação não seria algo tão difícil e custoso.

Quando o homem pecou, sua natureza entrou

instantaneamente no estado de inimizade

contra Deus, e ele descobriu em sua alma

sentimentos e inclinações malignos que nunca

havia experimentado antes em seu estado de

inocência. Somente um trabalho poderoso da

graça divina poderia iniciar nele a sua

restauração, mas para isto dependeria do

arrependimento e da fé.

Agora, enquanto o conhecimento parece ter

poder sobre seu objeto, a fé é uma submissão

completa àquilo que é o objeto dela.

Visto que o homem pretendia uma glória em si

mesmo, o pacto evangélico dirige toda a sua

bateria contra ele, para que os homens possam

“gloriar-se em nada”. Senão na bondade divina

(1 Coríntios 1: 29-31). Se o homem tivesse

realizado uma obediência exata por sua própria

força, ele teria algo em si mesmo como a

questão de sua glória. E, no entanto, após a

queda, a graça se fez ilustre ao colocá-lo em uma

nova posição, mas se tivesse a mesma condição

de obediência exata seria resolvido da mesma

maneira, pois o homem teria algo em que se

gloriar, o que é eliminado totalmente pela fé;

pela qual o homem em todo ato deve sair de si

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mesmo para um suprimento, para aquele

Mediador que a bondade e a graça Divinas

designaram.

2. É necessário para a felicidade do homem. Não

pode ser uma condição satisfatória aquela em

que a vontade do homem não concordar. Pois

aquele que é forçado à dieta mais deliciosa, ou a

usar o traje mais corajoso, ou ser armazenado

com abundância de tesouros, não pode ser feliz

naquelas coisas sem ter uma estima delas, e

deleitar-se nelas: se elas são enjoadas para ele, a

indisposição de sua mente é uma mosca morta

naqueles vasos de unguento precioso. Agora, a

fé sendo uma disposição sincera de aceitar a

Cristo e vir a Deus por ele, e o arrependimento

sendo uma detestação daquilo que fez a

separação do homem de Deus, é impossível que

ele pudesse ser voluntariamente feliz sem isto:

o homem não pode alcançar e desfrutar de uma

verdadeira felicidade sem uma operação de seu

entendimento sobre o objeto proposto, e os

meios designados para desfrutá-lo. Deve haver

um conhecimento do que é oferecido e do modo

de fazê-lo, e tal conhecimento determina a

vontade de afetar esse fim e abraçar esses

meios; que a vontade nunca poderá fazer, até

que o entendimento seja totalmente persuadido

da verdade do ofertante, e da bondade da

proposta em si, e da conveniência dos meios

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para alcançá-la. Isto é necessário, na natureza da

coisa, que o que é revelado seja considerado

uma revelação divina. Deus deve ser julgado

verdadeiro em prometer justificação e

santificação, os meios de felicidade; e se algum

homem deseja ser participante dessas

promessas, ele deve desejar ser santificado; e

como ele pode desejar aquilo que é a questão

daqueles, promessas, se ele se afogar em suas

próprias luxúrias, e desejar fazer isso, uma coisa

repugnante à promessa em si? Você teria o

homem pela força de Deus para ser feliz contra

sua vontade? Não é muito razoável que ele deve

exigir o consentimento de sua criatura racional

para essa bem-aventurança que ele oferece a

ele?

A nova aliança é uma “aliança de casamento”

(Os 2:16, 19, 20), o que implica um

consentimento de nossa parte, bem como um

consentimento da parte de Deus, porque não é

um casamento o que não tenha o

consentimento de ambas as partes. Agora a fé é

nosso real consentimento, arrependimento e

sincera obediência são os testemunhos da

verdade e da realidade deste consentimento.

6º. A bondade divina é eminente em seus

métodos de tratar com os homens para abraçar

esta aliança. Eles são métodos de gentileza e

doçura: é uma bondade sedutora e uma

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bondade que se apega; suas expressões são com

fortes moções de afeto: ele não se dedica ao

evangelho pela força das armas: ele não ameaça

os homens, como os conquistadores mundanos

fizeram; ele não age como Maomé, que saqueou

as propriedades dos homens, e feriu seus

corpos, para imprimir uma religião em suas

almas: ele não ergue as gazelas, e as inflama

para assustar os homens para entrar em aliança

com ele. Que multidões ele poderia ter

levantado pelo seu poder, assim como pelos

outros! Que legiões de anjos ele poderia ter

encontrado do céu, para ter batido homens em

uma profissão do evangelho! Nem ele só

interpõe sua autoridade soberana no preceito

da fé, mas usa expostulações racionais, para

mover os homens voluntariamente para

cumprir suas propostas (Isaías 1:18), “Vem agora

e raciocinemos juntos”, diz o Senhor. Ele parece

chamar o céu e a terra para ser juiz, se ele tivesse

faltando em qualquer maneira razoável de

bondade para superar a perversidade da

criatura; (Isaías 1: 2): “Ouve, ó céus, e dá ouvido ó

terra, tenho nutrido e criado filhos.” Que vários

encorajamentos ele usa de acordo com a

natureza dos homens, esforçando-se por

persuadi-los com toda ternura, a não desprezar

suas próprias misericórdias, e ser inimigos de

sua própria felicidade! Ele iria nos fascinar pela

sua beleza e nos conquistar pela sua

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misericórdia. Ele usa os braços de sua própria

excelência, e isso depois das mais altas

provocações. Quando Adão pisou em sua

bondade criadora, Deus o buscou com uma

promessa, mas Adão fugiu dele por inimizade e

medo (Gên 3). E quando os judeus ultrajaram

seu filho, a quem ele amava desde a eternidade,

e fez o Senhor do céu e da terra inclinar a cabeça

como um escravo na cruz, mas naquele lugar,

onde a mais terrível maldade foi cometida, deve

o evangelho ser pregado: a lei deve sair daquela

Sião, e os apóstolos não devem se mexer daí até

que eles recebessem a promessa do Espírito, e

publicassem a palavra da graça naquela cidade

ingrata, cujos habitantes ainda se incharam de

indignação contra o Senhor da Vida, e a doutrina

que ele havia pregado entre eles (Lucas 24:47;

Atos 1: 4, 5). Ele iria ignorar suas indignidades

por ternura em suas almas e expor os apóstolos

ao perigo de suas vidas, ao contrário do que

expor seus inimigos à fúria do diabo.

1. Como afetuosamente ele convida os homens!

Que multidões de promessas sedutoras e

exortações urgentes existem em toda parte

aspergidas nas Escrituras, e de uma maneira tão

apaixonada, como se Deus estivesse apenas

preocupado com o nosso bem, sem olhar para

sua própria glória! Quão ternamente ele corteja

os corações vacilantes e expressa mais piedade

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a eles do que eles a si mesmos! Com que afeto as

suas entranhas sobem até os lábios em seu

discurso no profeta, Isaías 51: 4: “Escuta-me,

povo meu, e dai-me ouvidos, ó minha nação!”

“Meu povo”, “minha nação!” - expressões

derretidas de um Deus bondoso solicitando a

um povo rebelde que fizesse sua retirada para

ele. Ele nunca esvaziou a mão de sua

recompensa, e não desvestiu seus lábios

daquelas expressões de caridade. Ele enviou

Noé para mover os ímpios do velho mundo a um

abraçar de sua bondade e frequentemente

profetas aos judeus provocadores; e como o

mundo continuou, e cresceu para uma mais alta

estatura no pecado, ele se inclina mais na

maneira de suas expressões. Nunca o mundo

esteve em um tom mais alto de idolatria do que

na primeira publicação do evangelho; contudo,

quando deveríamos esperar que ele fosse um

castigo, ele é um Deus suplicante. O apóstolo

teme não usar a expressão para a glória da

bondade da vida; “Somos embaixadores de

Cristo, como se Deus rogasse por nós” (2

Coríntios 5:20).

A voz suplicante de Deus está na voz do

ministério, como a voz do príncipe está na do

arauto: é como se a bondade divina se ajoelhasse

a um pecador com as mãos e faces rosadas,

pedindo que ele não o obrigasse a reassumir um

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tribunal de justiça na natureza de um juiz, uma

vez que ele trataria com o homem em um trono

de graça na natureza de um pai; sim, ele parece

se colocar na postura do criminoso, para que a

criatura ofensora não possa sentir a punição

devida a um rebelde. Não é a condescendência,

mas o interesse, de um traidor, de se ajoelhar

vestido de pano de saco diante do seu soberano,

implorando por sua vida; mas é uma bondade

milagrosa no soberano para rastejar na postura

mais baixa para o rebelde, para importuná-lo,

não só por uma amizade a ele, mas um amor por

sua própria vida e felicidade: isso Ele faz, não

somente em suas proclamações gerais, mas em

suas particularidades judiciais, naquelas

cerimônias interiores de seu Espírito,

solicitando-os com mais diligência (se o

observassem) à sua felicidade, do que o diabo os

tenta aos caminhos de sua miséria. Assim como

ele foi o primeiro em Cristo, reconciliando o

mundo, quando o mundo não olhou para ele,

então ele é o primeiro em seu Espírito,

cortejando o mundo para aceitar essa

reconciliação, quando o mundo não vai ouvi-lo.

Quantas vezes ele pisca a luz da natureza e luz da

palavra no coração dos homens, para movê-los

não para baixo em faíscas de seu próprio fogo,

mas para aspirar a uma felicidade melhor, e

prepará-los para estarem sujeitos a uma maior

misericórdia, se eles melhorassem suas

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súplicas atuais para tal fim! E para que são suas

ameaças destinadas, senão para mover a roda de

nossos medos, para que a roda do nosso desejo e

amor possa ser posta em movimento para

abraçar sua promessa? Eles não são tanto os

trovões de sua justiça, como a retórica de sua

boa vontade, para evitar a miséria dos homens

sob as taças da ira: é a sua bondade para assustar

os homens por ameaças, para que a justiça não

os atinja com a espada; não é a destruição, mas a

reforma preservadora, que ele visa; ele não tem

prazer na morte do ímpio; isso ele confirma por

seu juramento. Suas ameaças são explicações

graciosas com eles: “Por que morrerás, ó casa de

Israel” (Ezequiel 33:11)? Eles são como o barulho

que um oficial favorável faz na rua, para avisar o

criminoso que ele vem se apoderar dele, para

fazer sua fuga: ele nunca usou sua justiça para

esmagar os homens, até que ele usou sua

bondade para atraí-los. Todas as terríveis

descrições de uma futura ira, bem como as

animadas descrições da felicidade de outro

mundo, destinam-se a persuadir os homens; o

mel de sua bondade está nas entranhas

daqueles leões rugindo; tais dores levam à

bondade com os homens, para torná-los

candidatos ao céu.

2. Quão prontamente ele recebe os homens

quando eles retornam! Temos a experiência de

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Davi para isso (Salmos 32: 5); “Eu disse, vou

confessar minhas transgressões ao Senhor; e

perdoaste a iniquidade do meu pecado.”

Ele não apenas está pronto para receber nossas

petições enquanto estamos falando, mas nos

responde antes de falarmos (Isaías 65:24);

escutando os movimentos do nosso coração,

bem como as súplicas dos nossos lábios. Ele é o

verdadeiro Pai, que tem um passo mais rápido

no encontro do que o pródigo tem para retornar;

quem não teria seus abraços e carinhos

interrompido por sua confissão (Lucas 15: 20-

22); a confissão segue, não precede, a compaixão

do Pai. Como ele se alegra em ter a oportunidade

de expressar sua graça?

Isto porque “ele se deleita na misericórdia”

(Miquéias 7:18)!

3. Como ele tristemente lamenta a recusa

deliberada do homem de sua bondade! É uma

bondade poder oferecer graça a um rebelde;

uma poderosa bondade dada a ele depois de um

tempo afastado dos termos; uma bondade

surpreendente para se arrepender e lamentar

sua intencional perdição. Ele parece pronunciar

essas palavras num suspiro: “Oh! Que meu povo

me escutasse e Israel entrasse no meu

caminho” (Salmo 81:13)! É verdade que Deus não

tem paixões humanas, mas suas afeições não

podem ser expressadas de outra forma

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inteligível para nós; a excelência de sua natureza

está acima das paixões dos homens; mas tais

expressões de si mesmo manifestam-nos a

sinceridade de sua bondade; e que, se ele fosse

capaz de nossas paixões, ele se expressaria da

maneira que nós fazemos; e nós encontramos a

Bondade encarnada lamentando-se com

lágrimas e suspiros pela ruína de Jerusalém

(Lucas 19:42). Pela mesma razão que quando um

pecador retorna, há alegria no céu, sobre a sua

obstinação, há tristeza na terra.

Não são agora estes convites afetuosos, e

profundos lamentos de sua perversidade, altos

testemunhos de Divina bondade? As repetições

inoportunas de encorajamentos graciosos não

merecem um nome mais elevado do que o da

mera bondade? O que pode ser uma evidência

mais forte da sinceridade disso, do que o som de

sua voz salvadora em nossos prazeres, o

movimento de seu Espírito em nossa vida e

corações e sua tristeza pela negligência de

todos? Estes não são testemunhos de qualquer

falta de bondade em sua natureza para nos

responder, ou relutância em expressá-lo à sua

criatura. Tem alguma ideia de nos enganar, que

assim nos intriga? A majestade de sua natureza

é muito grande para tais turnos; ou, se não fosse,

a desprezabilidade de nossa condição o tornaria

acima do uso de qualquer um.

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7º. A bondade divina é eminente nos

sacramentos que ele uniu a essa aliança,

especialmente a Ceia do Senhor. Como ele se

entregou em seu Filho, então ele dá o seu Filho

no sacramento; ele não apenas dá a ele como um

sacrifício na cruz pela expiação de nossos

crimes, mas como uma festa sobre a mesa para

a nutrição de nossas almas: no que lhe foi dado

para ser oferecido; nisto ele lhe dá para ser de

todos os frutos de sua morte; sob a imagem dos

sinais sacramentais, todo crente come a carne e

bebe o sangue do grande Mediador da aliança.

As palavras de Cristo, "Este é o meu corpo, e este

é o meu sangue", são verdadeiras até o final do

mundo (Mt 26:26, 28). Esta é a iguaria mais

deliciosa do céu, a comida delicada e deliciosa

com que Deus pode nos alimentar: o deleite da

Divindade, a admiração dos anjos; uma festa

com Deus é grande, mas uma festa em Deus é

maior. Sob esses sinais que o corpo é

apresentado; aquilo que foi concebido pelo

Espírito, habitado pela divindade, ferido pelo Pai

para ser nosso alimento, assim como nossa

propiciação é apresentada a nós na mesa.

Aquele sangue que satisfez a justiça, lavou nossa

culpa na cruz e implorou por nossas pessoas no

trono da graça; aquele sangue que silenciou a

maldição, pacificou o céu e purificou a terra, nos

é dado para nosso descanso. Isto é o pão enviado

do céu, o verdadeiro maná; o cálice é “o cálice da

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bênção” e, portanto, um cálice de bondade (1

Coríntios 10:15). É verdade, o pão não deixará de

ser pão, nem o vinho deixará de ser vinho;

nenhum deles perde sua substância, mas ambos

adquirem uma santificação, pela relação que

eles têm com aquilo que eles representam, e

nutrem a fé que os recebe. Naqueles que Deus

nos oferece um remédio para a picada do

pecado e problemas de consciência; ele não nos

dá o sangue de um simples homem, ou o sangue

de um anjo encarnado, mas de Deus abençoado

para sempre; um sangue que pode nos

assegurar contra a ira do céu e os tumultos de

nossas consciências; um sangue que pode lavar

nossos pecados e embelezar nossas almas; um

sangue que tem mais força do que a nossa

sujeira, e mais prevalência do que o nosso

acusador; um sangue que nos protege contra os

terrores da morte e nos purifica para a bem-

aventurança do céu.

A bondade de Deus cumpre nossos sentidos e

condescende com nossa fraqueza; ele nos

instrui pelo olho, bem como pelo ouvido; ele nos

deixa ver e provar e senti-lo, bem como ouvi-lo;

ele oculta sua glória sob elementos terrenos e

informa nosso entendimento nos mistérios de

salvação por sinais familiares aos nossos

sentidos; e porque não podemos com nossos

olhos corporais contemplá-lo em sua glória, ele

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o apresenta aos olhos de nossas mentes em

elementos, para afetar nossa compreensão nas

representações de sua morte. O corpo de Cristo

crucificado é mais visível ao nosso sentido

espiritual, do que a Deidade invisível poderia ser

visível em sua carne sobre a terra; e o poder de

seu corpo e sangue é tão bem experimentado

em nossas almas, como o poder de sua

divindade foi visto pelos judeus em suas ações

milagrosas em seu corpo no mundo. Isto é a

bondade de Deus, para nos lembrarmos

frequentemente das grandes coisas que Cristo

comprou; e que não devemos ser privados por

nosso próprio esquecimento daquela graça que

Cristo comprou para nós; e para lembrar do

Redentor, “e mostrar a sua morte até que ele

venha” (1 Cor 11:25, 26).

1. Sua bondade é vista no final dela, que é um

selamento da aliança da graça. A natureza

comum e fim dos sacramentos é selar a aliança

a que pertencem e as verdades das promessas

dela. Os sacramentos legais da circuncisão e da

Páscoa selaram as promessas legais e o pacto na

administração judicial do mesmo; e os

sacramentos evangélicos selam as promessas

evangélicas, como um anel confirma um

contrato de casamento e um selo os artigos de

um contrato; pela mesma razão, a circuncisão é

chamada de "selo da justiça da fé” (Rom. 4:11);

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outros sacramentos podem ter o mesmo título;

Deus atesta que ele permanecerá firme em sua

promessa, e o recebedor atesta que

permanecerá firme em sua fé. Em todos as

alianças recíprocas, há compromissos mútuos e

que servem para um selo por parte daquele,

servem para um selo também por parte do

outro; Deus se compromete com o desempenho

da promessa, e o homem se compromete com o

desempenho do seu dever. A coisa confirmada

por este sacramento é a perpetuidade desta

aliança no sangue de Cristo, de onde é chamado

“o Novo Testamento”, ou aliança “no sangue de

Cristo” (Lucas 22:20). Em cada repetição, Deus,

ao apresentar, confirma sua resolução para nós,

de aderir a essa aliança pelo mérito do sangue

de Cristo; e o receptor, comendo o corpo e

bebendo o sangue, se engaja para manter-se

próximo da condição da fé, esperando uma

completa salvação e uma imortalidade

abençoada apenas pelo mérito do mesmo

sangue. Este sacramento não poderia ser

chamado de “Novo Testamento, ou Aliança” se

não tivesse alguma relação com o pacto; e o que

pode ser senão isso, eu não entendo. A aliança

em si foi confirmada "pela morte de Cristo" (Hb

9:15), e assim, tornou imutável tanto nos

benefícios para nós, e da condição exigida de

nós; mas ele sela nosso sentido em um

sacramento, para nos dar forte consolo; ou

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melhor, os artigos do pacto de redenção entre o

Pai e o Filho, acordado desde a eternidade,

foram realizados por parte de Cristo por sua

morte, por parte do Pai por sua ressurreição;

Cristo realizou o que prometeu em um, e Deus

reconhece a validade dele e realiza o que tinha

prometido no outro. O pacto da graça, fundado

sobre este pacto de redenção, é selado no

sacramento; Deus é dono de seu povo de acordo

com os termos do mesmo, como selado pelo

sangue do Mediador, apresentando-o a nós sob

esses sinais, e nos dá um direito sobre a fé para

o gozo dos frutos dela. Como o direito de uma

casa é feito pela entrega da chave, e o direito da

terra é traduzido pela entrega de um relvado;

por meio do qual ele nos dá garantia de sua

realidade e um forte apoio à nossa confiança

nele; não que haja qualquer virtude e poder de

selar os elementos em si, não mais do que há em

um território para dar uma enfeixamento em

uma parcela de terra; mas como o poder é

derivado da ordem da lei, assim o poder

confirmatório do sacramento é derivado da

instituição de Deus; como o óleo com o qual os

reis eram ungidos, não lhes conferia a

dignidade real, mas era um sinal da sua

investidura no cargo, ordenada pela instituição

Divina. Nós podemos, sem motivo imaginar, que

Deus os pretendia como sinais nus ou fotos, para

agradar os nossos olhos com a imagem deles,

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para representar suas próprias figuras para os

nossos olhos, mas para confirmar algo para a

nossa compreensão pela eficácia do Espírito que

os acompanha: eles transmitem ao receptor

crente o que eles representam, como o grande

selo de um príncipe, fixado no pergaminho, é o

perdão de um rebelde, assim como sua própria

figura. A morte de Cristo e a graça da aliança não

é apenas significado, mas os frutos e méritos

dessa morte também se comunicam. Assim, a

bondade divina evidencia a si mesma, não

apenas fazendo uma aliança graciosa conosco,

mas fixando selos a ela; não para reforçar a sua

própria obrigação, que era mais forte do que os

fundamentos do céu e da terra, a crédito de sua

palavra, mas para fortalecer nossa fraqueza, e

apoiar nossa segurança, por algo que pode

parecer mais formal e solene do que uma

simples palavra. Por isso, a bondade divina

provê contra desmaios de nossa espiritualidade,

e nos mostra por sinais reais, bem como

declarações verbais, que a aliança selada pelo

sangue de Cristo, é inalterável; e desse modo,

fortaleceria e elevaria nossas esperanças a

graus, em alguma medida adequados à bondade

do pacto, e à dignidade do sangue do redentor. E

é ainda mais um grau dessa bondade, que ele

nos designou tantas vezes para celebrá-la, por

meio do qual ele mostra quão cuidadoso ele é

para manter nossa fé cambaleante e preservar-

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nos constantemente em nossa obediência;

obrigando-se ao desempenho de sua promessa

e nos obrigando ao pagamento do nosso dever.

Então vemos nosso Senhor Jesus Cristo

afirmando que a Sua Palavra, na qual está

incluída principalmente esta promessa de

segurança eterna da nossa salvação, jamais

passará, e é mais firme, segura e eterna do que

os fundamentos da Terra e dos próprios céus, os

quais passarão um dia.

2. Sua bondade é vista no sacramento, dando-

nos uma união e comunhão com Cristo. Não

existe apenas uma Comemoração de Cristo

morrendo, mas uma comunicação de Cristo

vivo. O apóstolo afirma fortemente por meio de

interrogatório (1 Coríntios 10:16), “O cálice da

bênção que nós abençoamos, não é a comunhão

do sangue de Cristo? O pão que nós partimos,

não é a comunhão do corpo de Cristo?” No

cálice há uma comunicação do sangue de

Cristo, uma transmissão de um direito aos

méritos da sua morte e da bem-aventurança da

sua vida: não somos feitos menos por isso um

corpo com Cristo do que somos pelo batismo (1

Cor 12:13): e “revestir-se de Cristo” vivendo nele,

assim como no batismo (Gl 3:27); que, como ele

tomou nossa carne fraca, era uma encarnação

real, então o dar-nos a sua carne para comer é

uma encarnação mística nos crentes, através da

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qual eles se tornam um corpo com ele como

crucificado, e um corpo com ele como

ressuscitado; porque, se o próprio Cristo é

recebido pela fé na palavra (Col 2: 6), ele não é

menos recebido pela fé no sacramento.

Quando se diz que o Espírito Santo é recebido,

que as graças ou dons do Espírito Santo são

recebidos; então quando Cristo é recebido, os

frutos de Sua morte são realmente

compartilhados. Os israelitas que comiam dos

sacrifícios, "participavam do altar" (1 Cor 10:18),

ou seja, tinham uma comunhão com o Deus de

Israel, a quem eles tinham sacrificado; e aqueles

que “comiam dos sacrifícios” oferecidos aos

ídolos, tinham “comunhão com demônios”, a

quem esses sacrifícios foram oferecidos (v. 20).

Aqueles que participam dos sacramentos de

maneira devida, têm uma comunhão com

aquele Deus a quem foi sacrificado, e uma

comunhão com aquele corpo que foi sacrificado

a Deus; não que a substância daquele corpo e o

sangue estão envolvidos nos elementos, ou que

o pão e o vinho são transformados no corpo e no

sangue de Cristo, mas como eles o representam,

e em virtude da instituição são, em estimativa, o

próprio corpo e sangue; pela mesma razão que

ele é chamado "Cristo, nossa Páscoa", ele pode

ser chamado de "Cristo, nossa ceia" (1 Cor 5: 7);

porque como são contados aqueles que são

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receptores indignos, que não discerniam o

corpo do Senhor na Ceia, que eram o corpo real

e o sangue de Cristo, ou por considerá-lo como

pão comum, ele é julgado "culpado do corpo e

sangue de Cristo", culpado de tratá-lo de forma

tão vil como os judeus fizeram quando o

coroaram de espinhos (1 Coríntios 11:27, 29); pela

mesma razão devem ser considerados como

dignos receptores aqueles que o consideram

como o próprio corpo e sangue de Cristo, de

modo que, como o indigno recebedor “come e

bebe condenação”, o digno receptor “come e

bebe” a salvação. Seria um mistério vazio, e

indigno de uma instituição pela bondade divina,

se não houvesse alguma comunhão com Cristo

nela; seria algum tipo de engano no preceito:

"Pegue, coma e beba, este é o meu corpo e

sangue", se não houvesse um meio de

transportar influências vitais espirituais para

nossas almas: pois o fim natural de comer e

beber é a nutrição e o aumento do corpo, e

preservação da vida, por aquilo que comemos e

bebemos. O infinito, sábio, gracioso e

verdadeiro Deus, nunca nos daria figuras vazias

sem realizar aquilo que é significado por elas e

adequado a elas. Quão grande é essa bondade de

Deus! Ele teria seu Filho em nós, um conosco,

estreitamente unido a nós, como se fôssemos

sua própria carne e sangue: na encarnação, a

bondade divina o uniu à nossa natureza; no

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sacramento, ele o une com seus privilégios

adquiridos para nossas pessoas; nós não temos

uma comunhão com uma parte ou um membro

do corpo dele, ou uma gota do sangue dele, mas

com o corpo inteiro dele e sangue, representado

em toda parte dos elementos.

Os anjos no céu não desfrutam de um privilégio

tão grande; eles têm a honra de estar sob ele

como seu chefe, mas não o de tê-lo por sua

comida; eles o contemplam, mas não o provam.

E, certamente, essa bondade que condescendeu

tanto à nossa fraqueza se comunicaria a nós de

uma maneira muito gloriosa, se somos capazes

disso. Mas, porque um homem não pode

contemplar a luz do sol em todo o seu esplendor

por causa da fraqueza de seus olhos, ele deve

contemplá-lo com a ajuda de um vidro, e tal

comunicação através de um vidro colorido e

opaco, é tão real do próprio sol, embora não tão

glorioso, mas mais envolto e obscuro; é a

mesma luz que brilha através desse meio, como

se espalha gloriosamente ao ar livre, embora

um seja mascarado, e o outro de cara aberta.

Para concluir isso, a propósito, podemos tomar

conhecimento da negligência desta ordenança:

se é um sinal de bondade Divina quando o

nomearmos, não é sinal da nossa avaliação da

bondade Divina negligenciá-lo. Aquele que

valoriza a bondade de seu amigo, aceitará seu

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convite, se não houver alguns fortes

impedimentos no caminho, ou tanta

familiaridade com ele que sua recusa em uma

ocasião ao convite não seria indelicado. Mas,

embora Deus tenha posto à disposição um

amigo para nós, ele não perde a autoridade de

um soberano; e a humilde familiaridade a que

ele nos convida, não diminui a condição e o

dever de um sujeito. Um soberano não aceitaria

bem, se um favorito deve recusar a honra

oferecida de sua mesa. As iguarias de Deus não

devem ser menosprezadas. Podemos viver

melhor em nossa pobre miséria que em suas

guloseimas? A bondade divina não

condescendeu nela à fraqueza de nossa fé, e

devemos presumir nossa fé mais forte do que

Deus pensa? Se ele achava apropriado por

aqueles selos fazer um ato de presente para nós,

seríamos tão infelizes para ele, e tais inimigos à

segurança que ele nos oferece além de sua

palavra, para não aceitá-la? Não estamos

dispostos a ter nossas almas inflamadas?

Com amor, nossos corações se encheriam de

conforto e armados contra as tentações de

nossos inimigos? É verdade, existe uma culpa do

corpo e do sangue de Cristo se contraída

levemente na maneira de participar da Ceia; não

é também contraída por uma recusa e

negligência da mesma?

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Qual é a linguagem disso? Se não fala da morte

de Cristo em vão; fala da instituição desta

ordenação como uma lembrança de sua morte,

para ser uma vaidade, e nenhuma marca de

bondade divina. Vamos, portanto, colocar tal

valor sobre a bondade Divina neste caso, quanto

ao estar disposto a receber os meios de

transporte de seu amor e novos compromissos

de nosso dever; aquele é devido de nós para a

bondade de nosso amigo, e o outro pertence ao

nosso dever como seus súditos.

VI. Por essa redenção, Deus nos restaura a uma

condição mais excelente do que Adão teve na

inocência. Cristo foi enviado pela Divina

bondade, não apenas para restaurar a vida que o

pecado de Adão nos despojou, mas para dar

mais abundantemente do que a posição que

Adão poderia ter nos transmitido (João 10:10):

"Eu vim para que tenham vida e a tenham em

abundância". Abundantemente para a força,

mais abundantemente para a duração, uma vida

abundante com maior felicidade e glória: a

substância daquelas melhores promessas do

novo pacto do que as que assistiram ao antigo.

Existem correntes mais cheias de graça por

Cristo do que fluíram por Adão, ou poderiam

fluir de Adão. Como Cristo nunca restaurou a

saúde e a força enquanto esteve no mundo, mas

deu-lhes uma medida maior de ambos do que

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antes; então há a mesma bondade, sem dúvida,

manifesta em nossa condição espiritual. A vida

de Adão pode ter nos preservado, mas a morte

de Adão não poderia ter resgatado nem ele nem

sua posteridade; mas, em nossa redenção,

temos um Redentor, que "morreu para expiar

nossos pecados", e assim coroado com vida para

salvar e preservar para sempre nossas pessoas

(Rom 5:10), "Porque eu vivo, vós vivereis

também”; para que, redimida pela bondade, a

vida de um crente seja tão perpétua quanto a

vida do Cristo Redentor (João 14:19).

Adão, embora inocente, estava sob o perigo de

perecer; um crente, embora culpado, está acima

dos medos da mutabilidade. Adão teve uma

santidade em sua natureza, mas capaz de ser

perdida; mas os crentes têm uma santidade

concedida, não capaz de ser espancada, mas que

permanecerá até que seja finalmente

totalmente aperfeiçoada; embora eles tenham

um poder de mudar em sua natureza, ainda

assim eles estão acima de uma mudança pela

indulgência da graça divina. Adão ficou sozinho;

os crentes estão em uma raiz, impossível de ser

abalada ou corrompida; isso significa que “a

promessa é certa para toda a semente” (Rom

4:16). Cristo é uma pessoa mais forte do que

Adão, que nunca pode quebrar o pacto com

Deus, e a verdade de Deus nunca quebrará o

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pacto com ele. Estamos unidos a uma cabeça

mais excelente que Adão; em vez de uma raiz

meramente humana, temos uma raiz tanto

divina como humana. Em Adão nós tínhamos a

justiça de uma criatura meramente humana;

mas em Cristo temos uma justiça divina, a

justiça do homem-Deus; a garantia não está

mais em nossas próprias mãos, mas nas mãos de

Um que não pode desviar ou perder isso: a

bondade divina depositou-o fortemente para

nossa segurança. O selo que recebemos pela

Divina bondade, a partir do segundo Adão, é

mais nobre do que deveria ter recebido desde o

primeiro, se ele tivesse permanecido em seu

estado criado.

Adão foi formado do pó da terra, e o novo

homem é formado pela semente incorruptível

da palavra; e na ressurreição, o corpo do homem

será dotado de melhores qualidades do que

Adão teve na criação: elas serão como aquele

Corpo glorioso que está no céu, em união com a

pessoa do "Filho de Deus" (Filipenses 3:21).

Adão, na melhor das hipóteses, tinha apenas um

corpo terreno, mas o Senhor do céu tem um

“corpo celestial”, cuja imagem será carregada

pelos redimidos, como eles levaram a imagem

do terreno (1 Coríntios 15: 47-49).

Adão tinha a sociedade dos animais; os

redimidos esperam, pela bondade divina na

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redenção, uma sociedade com anjos; como eles

estão reconciliados com eles por sua morte, eles

certamente virão conversar com eles na

consumação de sua felicidade; como eles são

feitos uma família, então eles terão uma

intimidade peculiar.

Adão teve um paraíso, e os redimidos um

paraíso fornecido para eles; um lugar mais feliz

com um mobiliário mais rico. É muito dar um

paraíso tão completo ao inocente Adão; mas

mais dar o céu a um Adão ingrato e a sua

posteridade rebelde: foi uma bondade

abundante nos ter restaurado à mesma

condição naquele paraíso de onde fomos

expulsos; mas uma bondade superabundante de

nos conceder uma melhor habitação no céu, o

que nunca poderíamos esperar. Quão grande é

essa bondade, quando pelo pecado nós caímos

para sermos piores do que nada, que Ele deveria

nos erguer para sermos mais do que éramos;

que nos restaurou, não ao primeiro passo de

nossa criação; mas para muitos graus de

elevação além disso! Não apenas nos restaura,

mas nos prefere; não apenas atacando nossas

correntes, nos libertando, mas nos vestindo

com uma túnica de justiça, para nos tornar

honrados; não apenas apagando o nosso

inferno, mas preparando o céu; não uma

morada terrena, mas proporcionando um

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palácio mais rico: sua bondade era tão grande

que, depois de ter nos resgatado, não se

contentaria com a mobília antiga, mas faz tudo

novo para nós em outro mundo; um novo vinho

para beber; um novo céu para habitar; uma

estrutura mais magnífica para a nossa

habitação: assim a bondade preparou para nós

uma união mais estreita, uma vida mais forte,

uma justiça mais pura, uma posição inabalável,

e uma glória mais plena; tudo mais excelente do

que estava dentro da esfera da posse inocente de

Adão.

VII. Essa bondade na redenção se estende à

criação inferior. Ele leva, não só o homem, mas

toda a criação, exceto os anjos caídos, e dá uma

participação disto a criaturas insensíveis; sobre

a conta desta redenção o sol, e todo o tipo de

criaturas, foram preservados, que de outra

forma teriam afundado na destruição do pecado

do homem, e deixado de existir, como o homem

tinha cessado completamente de sua felicidade

(Col 1:17): "Por ele todas as coisas subsistem." A

queda do homem trouxe, não apenas uma

desgraça sobre si mesmo, mas uma vaidade

sobre a criatura; a terra gemeu sob uma

maldição por amor dele. Todos eles foram

criados para a glória de Deus e o apoio do

homem no desempenho do seu dever, que era

obrigado a usá-los para a honra daquele que os

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criou. O homem tinha sido fiel a suas

obrigações, e usou as criaturas para aquele fim

ao qual elas foram dedicadas pelo Criador; como

Deus teria então se alegrado em suas obras,

assim suas obras teriam regozijado na honra de

responder a tão excelente fim; mas quando o

homem perdeu sua integridade, as criaturas

perderam a perfeição; a honra delas foi

manchada quando eles foram rebaixados para

servir as luxúrias de um traidor, em vez de

apoiar o dever de um sujeito, e empregados na

defesa dos vícios dos homens contra os

preceitos e autoridade de seu Soberano.

A restauração do mundo à sua beleza e ordem

foi o desígnio da Divina bondade na vinda de

Cristo, como é indicado em Isaías 11: 6–9; como

ele "não veio para destruir a lei, mas para

cumpri-la", então ele não veio para destruir as

criaturas, mas para repará-las: para restaurar a

Deus a honra e o prazer da criação, e restaurar

para as criaturas sua felicidade em restaurar sua

ordem; a queda a corrompeu, e a redenção

completa dos homens a restaura. A última vez é

chamada, não é hora de destruição, mas um

"tempo de restauração", e "de todas as coisas"

(Atos 3:21) de natureza universal, a parte

principal da criação, pelo menos.

Uma nova dispensação é introduzida com a

vinda do Redentor, a chamada dispensação da

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graça ou o tempo da paciência de Deus, no qual

os juízos imediatos em grande parte são adiados

para o dia do juízo final, de forma que ao homem

seja dada a mais completa longanimidade pela

qual ele tem a oportunidade de chegar ao

arrependimento e à vida restaurada.

A condição dos servos deve ser adequada à de

seu Senhor, para quem eles foram projetados:

portanto, todas as criaturas são chamadas a se

regozijar com a perfeição da salvação, e a

aparência da realeza de Cristo no mundo. Se

fossem destruídos, não haveria motivo para

convidá-los a triunfar (Salmo 96:11, 12; 118: 7, 8).

Assim, a bondade Divina espalhou seus braços

gentis sobre toda a criação.

Em terceiro lugar. A terceira coisa é a bondade

de Deus em seu governo. Essa bondade que

desprezava a sua criação, não despreza sua

conduta. A mesma bondade que foi a cabeça que

os moldou, é o elmo que os guia; sua bondade

paira sobre o quadro inteiro, seja para prevenir

qualquer desordem selvagem que não seja

adequada ao seu fim criador, seja para conduzi-

los a esses fins que possam ilustrar sua

sabedoria e bondade para suas criaturas. Sua

bondade não inclina menos a provê-los do que

enquadrá-los. Isto é a inclinação natural do

homem para amar o que é puramente o

nascimento de sua própria força ou habilidade.

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Ele gosta de preservar suas próprias invenções,

bem como o trabalho em inventá-las. É a glória

de um homem preservá-los, assim como

produzi-los. Deus ama tudo o que ele fez, cujo

amor não poderia ser sem uma contínua

difusividade para eles adequado para o fim para

o qual ele os fez. Seria uma vaidosa bondade, se

não se interessasse em administrar o mundo,

nem o erigisse: sem o seu governo tudo no

mundo se empurraria um contra o outro; a

beleza do que seria mais desfigurado, seria uma

massa indisciplinada, um caos confuso ao invés

de um Κόσμος, um mundo gracioso.

A misericórdia em sua natureza, é um objeto em

movimento para excitá-la; como o

arrependimento de Nínive suscitou o exercício

da sua piedade e da preservação da bondade.

Certamente, visto que Deus é bom, ele é

generoso; e se for generoso, ele é providente.

O salmista, no Salmo 107, um salmo calculado

para a celebração desta perfeição, no curso

continuado de sua providência em todas as

épocas do mundo, atribui à bondade divina

imediatamente todos os benefícios que os

homens encontram. Ele os ajuda em suas ações,

preside seus movimentos, inspeciona suas

várias condições, trabalha dia e noite em um

cuidado perpétuo deles. Toda a vida do mundo

está unida pela bondade divina. Tudo é

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ordenado por ele no local onde ele o colocou,

sem o qual o mundo seria despojado daquela

excelência que ele criou.

Deve-se ter em conta que a aparência da falta de

bondade em Deus, no mundo que temos vivido

neste século XXI, em que o amor vai esfriando

cada vez mais e a iniquidade se multiplicando,

não é por falta da referida bondade, mas pelo

próprio endurecimento da humanidade

conforme está profetizado em várias passagens

bíblicas, especialmente próximo do tempo do

retorno de Jesus para julgar a Terra.

Deus em Sua presciência o conheceu e revelou

aos seus profetas para que ficasse registrado na

Bíblia para a nossa advertência, de modo a não

cairmos no mesmo endurecimento, por

desconfiarmos da falta de um governo ou

interesse de Deus pelo mundo.

“1 Sabe, porém, isto: nos últimos dias,

sobrevirão tempos difíceis,

2 pois os homens serão egoístas, avarentos,

jactanciosos, arrogantes, blasfemadores,

desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,

3 desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem

domínio de si, cruéis, inimigos do bem,

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4 traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos

dos prazeres que amigos de Deus,

5 tendo forma de piedade, negando-lhe,

entretanto, o poder. Foge também destes.” (II

Timóteo 3.1-5).

1º. Assim, a par de todo este quadro do tempo do

fim, essa bondade divina é evidente no cuidado

que ele tem de todas as criaturas. Há uma

bondade peculiar para o seu povo; mas isso não

exclui a sua bondade geral para o mundo:

embora um mestre de família tenha um afeto

sincero àqueles que têm uma afinidade com ele

na natureza, e desfrutam de uma relação mais

próxima, como sua esposa, filhos, servos;

contudo ele tem uma consideração para com

seu gado e outras criaturas que ele nutre em sua

casa, bem como seus vizinhos. Todas as coisas

não são apenas diante de seus olhos; mas em seu

peito; ele é o enfermeiro de todas as criaturas,

suprindo seus desejos e sustentando-os. A

“terra está cheia das suas riquezas” (Salmos 104:

24).

A bondade de Deus é o rio que rega toda a terra.

E como o sol ilumina todas as coisas que são

capazes de participar de sua luz, e difunde seus

raios para todas as coisas que são capazes de

recebê-la, assim Deus abre suas asas sobre toda

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a criação, e não negligencia nada, onde ele vê

uma marca de sua primeira criação.

1. Sua bondade é vista preservando todas as

coisas. "Ó Senhor, tu preservas o homem e os

animais" (Salmo 36: 6).

Ele visita o homem todos os dias, e faz com que

ele sinta os efeitos de sua providência, dando-

lhe “fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e

estações frutíferas, enchendo o vosso coração

de fartura e de alegria.” (Atos 14:17), como

testemunhas de sua liberalidade e bondade para

com o homem.

Todo dia brilha com novos raios de sua bondade

divina. A vastidão das cidade e as multidões de

almas viventes, é um argumento

surpreendente. Que correntes de nutrientes são

diariamente transportadas para elas! Cada boca

tem pão para sustentá-la.

Ele não encurta a mão, nem retira sua

recompensa: o aumento de um ano por sua

bênção, restaura o que foi gasto no primeiro. Ele

é a "força da nossa vida.” (Salmo 27: 1),

continuando o vigor de nossos membros e a

saúde de nossos corpos; nos protege de

“terrores de noite, e as flechas de doenças que

voam de dia” (Salmos 91: 5); “Estabelece uma

cobertura sobre as nossas propriedades” (Jó

1:10) e defende-as contra as tentativas de

violência; preserva nossas casas das chamas que

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podem consumi-las, e nossas pessoas dos

perigos que as aguardam; vigia sobre nós "em

nossas idas e nossas vindas" (Salmo 121: 8), e

livra-nos de mil perigos no caminho, os quais

não sabemos; e emprega as criaturas mais

gloriosas no céu a serviço dos “homens na

terra” (Salmo 91:11): não por uma ordem fraca,

mas por uma carga urgente sobre eles, para

"guardá-los em todos os seus caminhos."

Aqueles que são seus servos imediatos diante de

seu trono, ele envia para ministrar àqueles que

eram uma vez seus rebeldes. Por um anjo ele

conduziu os assuntos de Abraão (Gên 24: 7): e

por um anjo garantiu a vida de Ismael (Gên

21:17): anjos gloriosos para o homem mau, anjos

santos para o homem impuro, anjos poderosos

para o homem fraco. Como no meio de grandes

perigos, sua repentina luz dissipa nossa grande

escuridão e cria uma libertação do nada!

Quantas vezes ele encontrou uma ajuda

presente na hora do problema! Quando toda

outra assistência parece estar à distância, ele

voa para nós além de nossas expectativas, e nos

levanta repentinamente do poço do nosso

desalento, bem como do nosso perigo,

excedendo nossos desejos.

Ele tem preservações peculiares para seu Israel

no Egito, e seus Lós em Sodoma, seus Daniéis

nos covis dos leões, e seus filhos em uma

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fornalha ardente. Ele tem uma ternura por

todos, mas uma afeição peculiar àqueles que

fazem aliança com ele.

2. A bondade de Deus é vista em cuidar dos

animais e das coisas inanimadas. A bondade

divina abraça em seus braços o menor verme

bem como o mais alto querubim: ele provê

alimento para os “corvos que choram” (Salmo

147: 9), e uma presa para o apetite do “leão

faminto” (Salmos 104: 21): “Ele abre a mão e

enche de coisas inumeráveis, pequenos e

grandes animais; todos eles são garçons, e todos

ficam satisfeitos com o seu generoso Mestre

(Salmos 104: 25–28). Eles são melhor fornecidos

pela mão do céu, do que o melhor favorito é por

um príncipe terreno.

3. Sua bondade é vista em cuidar das pessoas

mais perversas. “A terra está cheia da sua

bondade” (Salmo 37: 5). Aqueles que ousam

levantar as mãos contra o céu na postura dos

rebeldes, bem como aqueles que levantam os

olhos na condição de suplicantes.

Fazer o bem a um criminoso, supera em muito a

bondade que flui para baixo sobre um objeto

inocente: agora, Deus não é apenas bom para

aqueles que têm alguns graus de bondade, mas

para aqueles que têm os maiores graus de

maldade, para os homens que transformam sua

liberalidade em afronta a ele e têm um apetite

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escasso por qualquer coisa que não seja a

violação de sua autoridade e bondade.

Embora, após a queda de Adão, tenhamos

perdido a agradável habitação do paraíso, e as

criaturas feitas para nosso uso tenham caído de

sua excelência original e doçura; mas ele não

deixou o mundo absolutamente abandonado,

mas ainda o armazena com coisas que não são

somente para a preservação, mas deleite

daqueles que tornam toda a sua vida invenções

contra este bom Deus. O maná caiu do céu para

os rebeldes, bem como para os israelitas

obedientes. Caim, assim como Abel e Esaú,

assim como Jacó, tiveram as influências de seu

sol, e os benefícios de suas chuvas. O mundo

ainda é uma espécie de paraíso para as maiores

feras da humanidade; a terra oferece suas

riquezas,

Os céus dão suas chuvas, e o sol sua luz, para

aqueles que o ferem e blasfemam: “Ele faz com

que o seu sol se levante sobre maus e bons, e

envia chuva aos justos e injustos” (Mateus 5:45).

Os mais rebeldes respiram em seu ar, andam

sobre sua terra e bebem sua água, bem como os

justos.

É raro que Ele prive qualquer uma das

faculdades de suas almas, ou quaisquer

membros de seus corpos. Deus distribui suas

bênçãos onde ele pode atirar seus trovões; e

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lança sua luz sobre aqueles que merecem uma

escuridão eterna; e apresenta as coisas boas da

terra àqueles que merecem as misérias do

inferno; porque "a terra e a sua plenitude são do

Senhor” (Salmo 24: 1); tudo nela é sua

propriedade (Os 2: 8); ele nunca se despojou da

propriedade, embora ele nos conceda o uso; e

por essas coisas boas ele apoia multidões de

homens maus, não um ou dois, mas todo o

cardume deles no mundo; pois ele é "o Salvador

de todos os homens", ou seja, é o preservador de

todos os homens (1 Timóteo 4:10).

E como ele os criou, quando previu que eles

seriam maus; assim ele provê para eles, quando

ele os contempla em sua impiedade.

A ingratidão dos homens não impede a corrente

de sua recompensa nem cansa sua mão liberal;

seja qual for o homem não lucrativo e injurioso

ele é liberal para eles; e sua bondade é a mais

admirável, por quanto mais a ingratidão dos

homens o está provocando; às vezes ele oferece

ao pior uma porção maior desses bens terrenos;

eles frequentemente nadam em riqueza,

quando outros vivem na pobreza. E o bicho-da-

seda produz em suas entranhas para fazer

púrpura para os tiranos, enquanto os oprimidos

escassamente têm da lã de ovelha o suficiente

para cobrir sua nudez.

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2º. Sua bondade é evidente na preservação da

sociedade humana. Pertence ao seu poder que

ele é capaz de fazê-lo, mas a sua bondade que ele

está disposto a fazer isso.

1. A bondade de Deus aparece na prescrição de

regras para a preservação da sociedade humana.

A lei moral consiste, senão de dez preceitos, e há

mais deles ordenados para o apoio da sociedade

humana, do que para a adoração e honra de Si

mesmo (Êx 20: 1, 2); quatro pelos direitos de

Deus e seis pelos direitos do homem e sua

segurança em sua autoridade, relações, vida,

bens e reputação; superiores não devem ser

desonrados, a vida não deve ser invadida, a

castidade não deve ser manchada, bens não

devem ser roubados, o bom nome não deve ser

infamado por falso testemunho, nem nada

pertencente a nosso próximo deve ser cobiçado;

e em toda a Escritura, não apenas aquilo que foi

calculado para os judeus, mas compilado para

todo o mundo; ele fixou regras para ordenar

todas as relações, magistrados e súditos; pais e

filhos; maridos e esposas; mestres e servos;

ricos e pobres, encontram suas distintas

qualificações e deveres. Haveria um estado

paradisíaco, se os homens tivessem a bondade

de observar o que Deus tem a bondade de

ordenar para fortalecer os tendões da sociedade

humana; o mundo não iria gemer sob a opressão

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dos tiranos, nem os príncipes tremeriam sob os

súditos descontentes, ou poderosos rebeldes; os

filhos não seriam provocadas à ira pela

irracionalidade de seus pais, nem os pais se

afundariam sob a tristeza pela rebelião de seus

filhos; os senhores não tiranizariam sobre os

mais humildes de seus servos, nem os servos

invadiriam a autoridade de seus senhores.

2. A bondade preservadora de Deus na sociedade

humana, é vista em estabelecer uma

magistratura para preservá-la. A magistratura é

de Deus em sua origem; a carta foi elaborada no

paraíso; a subordinação civil deveria ter

ocorrido se o homem permanecesse em estado

de inocência; mas a carta foi mais

explicitamente renovada e ampliada na

restauração do mundo após o dilúvio, e

entregue ao homem sob o selo amplo do céu; “O

que derramar o sangue do homem, pelo homem

o seu sangue será derramado” (Gên 9: 6). O

comando de derramar o sangue de um

assassino era parte de sua bondade, para

assegurar a vida daqueles que carregavam sua

imagem. Magistrados são "os escudos da terra",

mas eles "pertencem a Deus” (Salmo 47: 9). São

frutos de sua bondade em sua originalidade e

autoridade; se não houvesse magistratura, não

haveria governo, sem segurança para qualquer

homem sob sua própria videira e figueira; o

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mundo seria um covil de feras predando um ao

outro; cada um faria o que parece bom aos seus

olhos; a perda do governo é um julgamento que

Deus traz sobre uma nação quando homens

tornam-se “como os peixes do mar”, para

devorarem uns aos outros, porque “não têm

regente sobre eles” (Habacuque 1:14).

3. A bondade de Deus na preservação da

sociedade humana é vista nas restrições das

paixões dos homens. Ele estabelece limites para

as paixões dos homens e as ondas do mar; "Ele

acalma o ruído das ondas e os tumultos do povo"

(Salmo 65: 7).

Embora Deus tenha erigido uma magistratura

para impedir o surgimento dessas inundações

de licenciosidade, que incham nos corações dos

homens; ainda, se Deus não segurasse as rédeas

rígidas nos pescoços dessas paixões

tumultuadas e espumantes, o mundo seria um

lugar de indisciplina, confusão e inferno

triunfando sobre a terra; um estado louco seria

rapidamente quebrado em pedaços pela

natureza rebelde. Os tumultos de um povo não

poderiam mais ser subjugados pela força do

homem, do que a ira do mar por uma lufada de

vento; sem bondade divina, nem a sabedoria,

nem a vigilância dos magistrados, nem o

trabalho de oficiais, poderiam preservar um

estado. As leis dos homens seriam muito leves

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para refrear a luxúria dos homens, se a bondade

de Deus não os restringisse por uma mão

secreta, e entremeasse sua segurança temporal

com observância dessas leis.

Se Deus não restringisse a impetuosidade da

luxúria dos homens, eles seriam a ruína

completa da sociedade humana; suas luxúrias a

tornariam tão ruim quanto bestas e

transformariam o mundo em um deserto

selvagem.

4. A bondade de Deus é vista na preservação da

sociedade humana, dando várias inclinações

aos homens para benefício público. E se todos os

homens tivessem uma inclinação para uma

ciência ou arte, todos eles permaneceriam

espectadores ociosos um do outro; mas Deus

deu várias disposições e dons sobre os homens,

para promover o bem comum, para que possam

não apenas ser úteis para si mesmos, mas

também para a sociedade.

5. A bondade de Deus é vista no testemunho que

ele tem contra os pecados que perturbam a

sociedade humana. Nesses casos, ele tem prazer

em interessar-se de uma maneira mais

sinalizada, para esfriar aqueles que se

encarregam de derrubar a ordem que ele

estabeleceu para o bem da terra. Ele não age

tantas vezes neste mundo para punir aquelas

faltas cometidas imediatamente contra sua

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própria honra, como aquelas que colocam o

mundo em uma pressa e confusão; como um

bom governador é mais misericordioso com

crimes contra si mesmo, do que aqueles contra

a sua comunidade.

Deus, neste mundo, mais severamente corrige

aquelas ações que desvinculam a assistência

mútua entre homem e homem, e a caridade e

gentil correspondência que ele teria mantido.

Os pecados pelos quais a “ira de Deus vem sobre

os filhos da desobediência” (Col 3: 5, 6) neste

mundo são deste tipo; e quando os governantes

estiverem oprimindo o povo, Deus estará

"derramando desprezo sobre os príncipes, e

afugentando os pobres da aflição” (Salmo 107:

40, 41).

3º. Sua bondade é evidente ao encorajar

qualquer coisa de bondade moral no mundo.

Embora a bondade moral não possa reivindicar

uma recompensa, mas tem sido muitas vezes

recompensada com uma felicidade temporal;

ele frequentemente recompensou atos de

honestidade, justiça, e fidelidade, e puniu o

contrário por seus julgamentos, para dissuadir

o homem de tal prática indigna, e encorajar

outros ao que foi gracioso e de um bom

testemunho geral no mundo.

Baruque não era senão um amanuense ao

profeta Jeremias para escrever sua profecia e

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muito desalentado de seu próprio bem-estar (Jr

45:13); Deus sobre essa conta prevê sua

segurança e recompensa o seu esforço e serviço

com a segurança de sua pessoa; ele não era um

estadista, para declarar contra os conselhos

corruptos dos que estavam ao leme, nem um

profeta, para declarar contra suas práticas

profanas, mas o escriba do profeta; e como ele

escreve no serviço de Deus as profecias

reveladas ao profeta, Deus escreve seu nome no

rol daqueles que foram projetados para a

preservação naquele dilúvio de julgamentos

que viriam sobre aquela nação.

4º. A bondade divina é eminente em prover uma

Escritura como regra para nos guiar e continuá-

la no mundo. Se o homem é uma criatura

racional, governável por uma lei, pode-se

imaginar que não deveria haver revelação

daquela lei para ele? O homem, pela luz da

razão, deve confessar-se em outra condição do

que ele era pela criação, quando ele veio

primeiro das mãos de Deus; e pode ser pensado

que Deus deveria manter o mundo debaixo de

tantos pecados contra a luz da natureza, e

outorgar tantas influências providenciais, para

convidar os homens a retornar a ele, e não

equipar nenhum homem no mundo com os

meios desse retorno? Será que ele exigiria uma

obediência dos homens, como suas

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consciências testemunham, e não lhes

forneceria regras para guiá-los nas trevas? Não;

a bondade divina foi fornecida de outra maneira:

esta Bíblia que temos é sua palavra e regra. Que

bondade que derrubou os pesados ritos de

Moisés, e expulsou a tola idolatria dos pagãos,

teria descoberto a impostura disso, se não

tivesse sido uma transcrição de sua vontade.

Quaisquer que sejam os erros que ele sofra para

permanecer no mundo, que bondade houve

para sofrer este antigo entre os judeus, e depois

abri-lo para os mundos inteiros, para abusar de

homens em religião e culto, que assim quase

preocupado consigo mesmo e sua própria

honra, que o mundo deveria ser enganado pelo

diabo sem um remédio na manhã de sua

aparência? Ele tem sido honrado e admirado por

alguns pagãos, quando eles lançaram os olhos

sobre ele, e sua luz natural fez com que eles

contemplassem alguns passos de uma

Divindade. Se isto, portanto, não é uma

prescrição Divina, que qualquer um que a

negue, traga como bons argumentos para

qualquer outro livro, como pode ser trazido para

a Bíblia.

Agora, a publicação da Palavra é um argumento

da bondade divina: é projetado para ganhar as

afeições do homem miserável, para ser a defesa

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de um Deus de bem-aventurança eterna e

riquezas imensas.

É um jardim que a mão da generosidade divina

plantou para nós; nisso, é condescendente se

esconder nas expressões que o tornam de

alguma maneira inteligível para nós. Se Deus

tivesse escrito em um estilo elevado adequado à

grandeza de sua majestade, sua escrita teria sido

tão pouco compreendida por nós, como o brilho

de sua glória pode ser observado por nós. Mas

ele extrai frases de nossos assuntos, para

expressar sua mente para nós; ele encarna-se

em sua palavra às nossas mentes, antes que seu

Filho se encarnasse na carne aos olhos dos

homens: ele atribui a si mesmo os olhos,

ouvidos, mãos, que podemos ter, da

consideração de nós mesmos, e toda a natureza

humana, numa concepção de suas perfeições:

ele assume para si os membros de nossos

corpos, para direcionar nossos entendimentos

ao conhecimento de sua Deidade; esta é a sua

bondade.

Ainda, embora as Escrituras tenham sido

escritas em várias ocasiões, ainda que ditando

isso, a bondade de Deus lançou seus olhos às

últimas eras do mundo (1 Coríntios 10:11): “São

escritas para nossa admoestação, sobre quem

são chegados os fins do mundo”.

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Os antigos escritos dos profetas foram assim

projetados, mais os escritos posteriores dos

apóstolos. Assim, a bondade Divina pensou em

nós e preparou seus registros para nós, antes de

estarmos no mundo: estes ele escreveu

claramente para nossa instrução, e embrulhou

neles o que é necessário para nossa salvação: é

claro para informar nosso entendimento e rico

para nos confortar em nossa miséria; é uma luz

para nos guiar e um consolo para nos refrigerar;

é uma lâmpada para os nossos pés e um remédio

para nossas doenças; um purificador de nossa

sujeira e um restaurador em nossos desmaios.

Ele tem por sua bondade selado a verdade disso,

pela sua eficácia em multidões de homens: ele

fez a "palavra de regeneração" (Tiago 1:18).

Homens mais selvagens e mais monstruosos

que bestas, foram domados e mudados pelo

poder disto, que tem levantado multidões de

homens mortos de uma sepultura cheia de

horror.

O sol de sua Palavra é por sua bondade

preservado em nosso horizonte, assim como o

sol nos céus.

Quão admirável é a bondade divina! Ele enviou

seu Filho para morrer por nós, e sua palavra

escrita para instruir-nos, e seu Espírito para que

fosse uma entrada em nossas almas: ele abriu o

ventre da terra para nos nutrir, e enviou os

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registros do céu para nos dirigir em nossa

peregrinação: ele providenciou a terra para a

nossa habitação, enquanto somos viajantes, e

enviou a sua palavra para nos familiarizar com

uma felicidade no final da nossa jornada, e o

caminho para alcançar em outro mundo o que

queremos neste, a saber, uma imortalidade

feliz.

5º. Sua bondade em seu governo é evidente em

conversões de homens. Embora este trabalho

seja realizado por seu poder, ainda assim seu

poder foi primeiro solicitado por sua bondade.

Foi sua rica bondade que ele empregaria seu

poder para perfurar as escamas de um coração

tão duro quanto aquele do “leviatã”. Foi isto que

abriu os ouvidos dos homens para ouvi-lo, e os

atraiu da pressa dos cuidados mundanos, e dos

encantos dos prazeres sensuais e, acima de

tudo, das imposturas e fraudes de seus próprios

corações. É isso que envia uma centelha de sua

ira na consciência dos homens, para colocá-los

em uma posição no pecado, para que ele não

pudesse enviar uma chuva de enxofre

eternamente para consumir suas pessoas. Foi a

primeira vez que te mostrou a excelência do

Redentor, e te trouxe para provar a doçura de

seu sangue, e encontrar sua segurança nas

agonias de sua morte. É sua bondade chamar

um homem e não outro, transformar Paulo em

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seu curso, e não prender nenhum outro de seus

companheiros. É sua bondade chamar qualquer

um, quando ele não é obrigado a chamar

nenhum.

1. É sua bondade lançar-se sobre os homens

desprezíveis aos olhos do mundo; e chamar esse

pobre publicano, e ignorar aquele fariseu

orgulhoso, este homem que se senta em cima de

um monturo, e negligencia aquele que brilha

em sua púrpura. Sua majestade não é atraída

pelos títulos sublimes de homens, nem, o que

vale mais, pela aprendizagem e conhecimento

dos homens. "Nem muitos sábios, nem muitos

poderosos", nem muitos doutores, nem muitos

senhores, embora alguns deles; mas sua

bondade condescende às “coisas que não são”

do mundo e às coisas que são "desprezadas" (1

Cor 1: 26-28). “Os pobres recebem o evangelho”

(Mt 11: 5), quando os mais aguçados e equipados

com mais razão apreensiva, não são tocados por

ele.

2. Os piores homens. Às vezes ele procura os

homens mais sujos e negligencia outros que

parecem mais limpos e menos poluídos. Ele

transforma os homens em seu curso em pecado,

que, por suas práticas infernais, parecem ter ido

à escola para o inferno, e ter sugado unicamente

as instruções do diabo. Ele se apega a alguns

quando eles estão mais sob demérito real, e os

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arrebata como tições do fogo, como a Paulo

quando mais cheio de ira contra ele; e atira um

feixe de graça, onde nada poderia ser

justamente esperado, senão um raio de ira. É sua

bondade visitar qualquer um, quando eles se

apoderam de suas luxúrias repugnantes;

aproximar-se daqueles que têm sido culpados

do maior desprezo de Deus e da luz da natureza.

3. Sua bondade aparece em converter homens

possuídos com a maior inimizade contra ele,

enquanto ele estava lidando com eles. Todos

estavam em tal estado, e emoldurando

artimanhas contra ele, quando a bondade divina

bateu à porta (Col 1:21).

Ele cuidou de nós quando nossas costas estavam

voltadas para ele, e nos procurou quando o

desprezávamos, e éramos um “um povo rebelde

e contradizente” (Rom 10:21).

4. Sua bondade aparece ao converter os

homens, quando eles estavam satisfeitos com

sua própria miséria e incapazes de se

libertarem; quando eles preferiam um inferno

antes dele e estavam apaixonados por sua

própria vileza; quando seu chamado era nosso

tormento, e sua negligência de nós tinha sido

contabilizada como nossa felicidade. Não era

uma grande bondade manter a luz perto de

nossos olhos, quando nos esforçávamos para

apagá-la; e o corrosivo perto de nossos corações,

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quando nos esforçamos para arrancá-lo, sendo

mais afeiçoados à nossa doença do que ao

remédio? Nós deveríamos ter sido queimados

até a morte com o sodomita, se Deus não tivesse

colocado sua mão boa sobre nós, e nos tirado da

ruína que se aproximava.

E se tivéssemos ficado descontentes com nosso

estado, ainda assim, seríamos tão incapazes

espiritualmente de levantar a nós mesmos do

pecado para a graça, a fim de nos elevarmos

naturalmente do nada para o ser. Nesse estado

nós estávamos quando sua bondade triunfou

sobre nós; quando ele põe um gancho em nossas

narinas, para nos virar para a nossa salvação; e

nos tirou do poço que havíamos cavado quando

ele poderia ter nos deixado afundar sob os

rigores de sua justiça, conforme merecemos.

“Porque a minha mão fez todas estas coisas, e

todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o

homem para quem olharei é este: o aflito e

abatido de espírito e que treme da minha

palavra.” (Isaías 66: 2).

6º. A bondade divina aparece em responder às

orações. Ele se deleita em estar familiarizado

com seu povo e em ouvi-lo chamá-lo. Ele lhes dá

livre acesso e se deleita em toda oração de um

“homem reto” (Provérbios 15: 8). O maravilhoso

é que a eficácia da oração não depende da

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natureza de nossas petições ou do

temperamento de nossa alma, mas da bondade

de Deus a quem nós recorremos. Cristo

estabelece isto sobre este fundo: quando ele

exorta a pedir em seu nome, ele diz a eles que a

fonte de todas as suas concessões é o amor do

pai: "Eu não digo, que eu vou orar o Pai por ti,

porque o próprio Pai te ama" (João 16:26, 27).

Cristo anuncia a promessa de responder a

oração com uma nota de grande certeza: "Eu

digo a você, peça, e será dado a você" (Lucas 11: 9,

10). Eu, que conheço a mente do meu Pai e sua

boa disposição, garanto-lhe que sua oração não

será em vão. Talvez você não esteja tão

preparado para imaginar uma liberalidade tão

grande; mas tome a minha palavra, é verdade, e

assim você a encontrará.

E suas viagens de recompensa, por assim dizer,

no nascimento, para dar as maiores bênçãos,

em cima de nosso pedido, em lugar de o mais

pequeno: "seu Pai celestial dará o Espírito Santo

dele para aqueles que o pedirem" (v. 13): que em

Mat 7:11, é chamado de "coisas boas". De todas as

coisas boas e ricas que a bondade divina tem em

seu tesouro, ele se deleita em dar o melhor ao

pedirmos, porque Deus age de modo a

manifestar a grandeza de sua generosidade e

magnificência aos homens; e, portanto, está

encantado quando os homens, por peticionar a

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ele, admitem haver nele uma disposição tão

liberal, e o colocam na manifestação dele. Ele

prefere que você peça as maiores coisas que o

céu pode permitir, do que as ninharias deste

mundo; porque sua generosidade não é

descoberta em presentes inferiores: ele adora

ter a oportunidade de manifestar seu afeto

acima da liberalidade e ternura dos pais

mundanos. Ele espera mais para dar em um

caminho de graça, do que de implorar; e,

“portanto, o Senhor esperará, para que tenha

misericórdia para com você” (Isaías 30:18). Ele

está esperando seus ternos, e emprega sua

sabedoria em lançar-se sobre as ocasiões mais

aptas, quando a manifestação de sua bondade

pode ser mais graciosa em si mesma, e a

misericórdia que você mais deseja para você;

como segue, "porque o Senhor é um Deus de

juízo". Ele escolhe o tempo em que seus dons

podem ser mais aceitáveis para seus

suplicantes; "Em tempo aceitável te ouvi" (Isaías

49: 8).

Ele frequentemente abre a mão enquanto

abrimos nossos lábios, e suas bênçãos

encontram nossas petições no primeiro

momento de sua jornada ao céu: "Enquanto eles

ainda estiverem falando, eu vou ouvir" (Isaías

65:24). Quantas vezes ouvimos uma voz secreta

dentro de nós, enquanto estamos orando,

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dizendo: "A sua oração é concedida", bem como

ouvimos uma voz atrás de nós, enquanto

estamos errando, dizendo: "Este é o caminho,

andai nele!"

E sua liberalidade excede frequentemente

nossos desejos, assim como nossas deserções; e

dá mais do que nós tivemos a sabedoria ou

confiança para pedir. O apóstolo insinua-o nessa

doxologia: "Àquele que é capaz de fazer

abundantemente acima de tudo o que pedimos

ou pensamos" (Efésios 3:20).

Esse poder não seria um argumento de conforto

tão forte, se nunca fosse posto em prática: ele é

mais liberal do que suas criaturas desejam.

Abraão pediu pela vida de Ismael, e Deus lhe

promete o "nascimento de Isaque" (Gên 17:18,

19). Isaque pede um “filho” e Deus lhe dá “dois”

(Gên 25:21, 22). Jacó deseja “comida” para comer

e “vestimenta” para vestir; Deus não confina sua

generosidade dentro dos limites estreitos de sua

petição, mas em vez de um "cajado", com o qual

ele passou a Jordânia, o faz retornar com “dois

bandos” (Gên 28:20). Davi pediu a vida a Deus, e

ele deu a ele “vida” e uma “coroa” (Salmo 21: 2-

5).

Os israelitas teriam se contentado com uma vida

livre no Egito; eles só choravam para ter suas

correntes arrancadas; Deus lhes deu isso e

adota-os para ser o seu "povo peculiar" e eleva-os

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a um estado famoso. É uma maravilha que Deus

devesse tanto, que ele deveria ouvir orações tão

fracas, tão frias, tão errantes, e recolher nossas

petições sinceras do excremento de nossas

distrações e desconfiança.

Davi expõe seu espanto com isso; “Bendito seja

o SENHOR, que engrandeceu a sua misericórdia

para comigo, numa cidade sitiada! Eu disse na

minha pressa: estou excluído da tua presença.

Não obstante, ouviste a minha súplice voz,

quando clamei por teu socorro.” (Salmos 31:21,

22).

7º. A bondade de Deus é vista suportando as

fraquezas de seu povo e aceitando a obediência

imperfeita. Embora Asa tivesse muitos borrões

em seu escudo, mas eles são negligenciados, e

esta nota foi registrada pela bondade Divina, que

seu coração era perfeito em relação ao Senhor

todos os seus dias; “Mas os altos não foram

removidos; no entanto, o coração de Asa foi

perfeito com o Senhor todos os seus dias” (1 Reis

15:14).

Ele é de tão boa disposição que ele se deleita em

uma fraca obediência de seus servos, não na

imperfeição, mas na obediência (Salmos 37:23);

"Ele se deleita no caminho de um homem bom",

embora às vezes ele escorregue: ele aceita um

pombo de um homem pobre, bem como um boi

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de um homem rico; tem uma garrafa para as

lágrimas e um livro para os “serviços dos retos”,

bem como para a mais perfeita obediência dos

anjos (Salmo 56: 8): ele preserva suas lágrimas,

como se fossem um vinho rico e generoso.

8º. A bondade de Deus é vista em aflições e

perseguições. Se é bom para nós sermos

afligidos, para o qual temos o testemunho do

salmista (Salmo 119: 71), então a bondade em

Deus é a principal causa e ordenadora das

aflições. É sua bondade arrebatar isso de onde

nós buscamos apoio para nossa segurança, e nos

encorajamos para nossa insolência contra ele:

ele tira a coisa que nós atribuímos algum valor,

mas tal como a sua infinita sabedoria vê

inconsistente com a nossa verdadeira

felicidade. Não é má vontade do médico afastar

a matéria nociva que o paciente ama, e

prescrever poções amargas, para promover a

saúde que o outro prejudicou; nem marca de

indelicadeza em um amigo, arrancar uma

espada da mão de um louco, com a qual ele

estava prestes a se matar.

Evitar o que é mal é nos fazer o maior bem. É

uma gentileza impedir que um homem caia em

um precipício, embora seja com um golpe

violento, que o coloca no chão a certa distância

da borda dele.

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Por aflições, Ele muitas vezes rompe aquelas

cadeias que nos prenderam e sufocam as

paixões que nos devastaram: ele aguça nossa fé

e vivifica nossas orações; ele nos traz ao

aposento secreto do nosso próprio coração, que

antes tínhamos pouca atenção para visitar por

um autoexame. É uma bondade que ele vai

conceder ao homem correção para a felicidade

eterna dele, que Jó faz isto uma parte do

assombro dele (Jó 7:17,18); “Que é o homem, para

que tanto o estimes, e ponhas nele o teu

cuidado, e cada manhã o visites, e cada

momento o ponhas à prova?” Seus golpes são

muitas vezes as magnificações e exalações do

homem. Ele coloca seu coração no homem,

enquanto ele inflige sabiamente a sua vara: ele

mostra assim, que conta ele faz dele, e que

afeição especial que ele carrega para ele.

Quando ele pode nos tratar com mais

severidade após a quebra de seu pacto, e fazer

com que seu zelo se apague contra nós em

métodos furiosos, ele não destruirá sua relação

conosco e nos deixará com nossas próprias

inclinações, mas lidará conosco como pai com

seus filhos; e quando ele leva este curso

conosco, é quando não pode ser evitado sem a

nossa ruína: sua bondade não lhe permitiria

fazê-lo, se nossa maldade não forçá-lo a isso

(Jeremias 9: 7), “Portanto, assim diz o SENHOR

dos Exércitos: Eis que eu os acrisolarei e os

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provarei; porque de que outra maneira

procederia eu com a filha do meu povo?” Que

outro caminho posso tomar nisso, de acordo

com a natureza do homem? O ourives não tem

outra maneira de separar a escória do metal,

senão derretendo no fogo. E quando as

impurezas de seu povo o conduzem a este

procedimento, “ele se assenta como um

refinador” (Mateus 3: 3): ele observa para a

purificação da prata, não para seu próprio

benefício como o ourives, mas para o cuidado

deles, e boa vontade para eles; como ele fala

(Isaías 48:10): “Eu te refinei, mas não como

prata”, ou, como alguns leem, “não para a

prata”. “Portanto, diz: Assim diz o SENHOR

Deus: Ainda que os lancei para longe entre as

nações e ainda que os espalhei pelas terras,

todavia, lhes servirei de santuário, por um

pouco de tempo, nas terras para onde foram."

(Ezequiel 11:16): ele seria pela sua presença com

eles o suprimento do lugar das ordenanças, ou

seja uma arca para eles no meio do dilúvio: sua

mão que os atingiu, nunca está sem bondade

para consolá-los e ter pena deles.

Quando Jacó deveria entrar no Egito, o que

provaria uma fornalha de aflição aos seus

descendentes, Deus promete descer com ele, e

“trazê-lo de novo” (Gên. 46: 4): uma promessa

não só feita a Jacó em sua pessoa, mas a Jacó em

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sua posteridade. Ele não retornou do Egito em

sua pessoa, mas como o pai de uma numerosa

posteridade. Ele que iria para baixo com a sua

raiz e depois os ramos, estava certamente com

eles em todas as suas opressões: “Descerei

contigo”. “Abaixo” diz alguém; que palavra é

essa para uma Divindade! No Egito idólatra; que

lugar é esse para sua santidade!

E ainda, a bondade de Deus! Ele nunca se acha

baixo o suficiente para fazer bem ao seu povo,

nem qualquer lugar ruim para sua sociedade

com eles. Assim, quando ele mandou para o

cativeiro o povo de Israel pela mão da Assíria,

suas entranhas o perseguem em sua aflição (Is

52: 4, 5); o assírio "oprimia-os sem causa", ou

seja, sem justa causa no conquistador para

infligir tão grande mal sobre eles, mas não sem

causa de Deus, a quem eles provocaram. "Agora,

pois, o que eu tenho aqui, diz o Senhor?" Eu

estou aqui? Eu não vou ficar atrás deles. Porque

eu redimirei as joias que o inimigo levou. Este

capítulo é uma profecia de redenção: Deus se

mostra tão bom para o seu povo em suas

perseguições, que ele lhes dá ocasião para

glorificá-lo nos próprios fogos, como é a ordem

Divina.

9. A bondade de Deus é vista nas tentações.

Nelas ele aproveita para mostrar seu cuidado e

vigilância, como um pai usa a angústia de um

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filho como uma oportunidade para manifestar a

ternura de sua afeição. Deus está no começo e

no fim de cada tentação; ele mede tanto a

qualidade quanto a quantidade: ele os expõe não

à tentação além da habilidade que ele já tinha

lhes concedido, ou que irá no momento, ou

depois se multiplicar neles. Ele prometeu ao seu

povo que “as portas do inferno não prevalecerão

contra eles ” (1 Coríntios 10:13): que “em todas as

coisas ”eles serão “mais do que vencedores por

meio daquele que os amou”. A malícia do

inferno não os arrancará de suas mãos. Sua

bondade não é menos no desempenho do que

quando foi o promissor e como o cuidado de sua

providência se estende ao menor e ao maior, de

modo que a vigilância de sua bondade se

estende a nós também.

1. A bondade de Deus aparece no encurtamento

das tentações. Nenhuma delas pode ir além de

seus “tempos designados” (Dan 11:35): a

explosão forte da respiração de Satanás não

pode soprar, nem as ondas que ele levanta se

enfurecem um minuto além do tempo que Deus

lhes permite; quando elas têm feito seu

trabalho, e chegam ao período de seu tempo,

Deus fala a palavra, e o vento e o mar do inferno

devem obedecê-lo, e se aposentar em suas tocas.

Quanto mais violentas são as tentações, menor

é o tempo que Deus distribui para elas. Os

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assaltos que Cristo teve no momento de sua

morte era da natureza mais urgente: os poderes

das trevas estavam todos em armas contra ele;

as repreensões e desprezos colocados sobre ele,

questionando sua filiação, eram muito afiados;

ainda um pouco antes de seu sofrimento ele o

chama, senão uma hora (Lucas 22:53), "Isto é sua

hora e o poder das trevas.” Pouco tempo depois

homens e demônios se uniram contra ele; e o

tempo da tentação que deve vir sobre todo o

mundo para o seu julgamento, é chamado de

uma "hora" (Apocalipse 3:10). Em todas essas

tentações, a grandeza da ira é um certo

prognóstico de o diabo saber que lhe resta

pouco tempo (Apo 12:12).

2. A bondade de Deus é vista nas tentações,

dando grandes confortos nelas ou depois delas.

Os israelitas tiveram uma mais imediata

provisão de maná do céu quando eles estavam

no deserto. Nós não lemos que o Pai falou

audivelmente ao Filho, e deu a ele tão alto

testemunho, que ele era seu "Filho amado, em

quem ele estava bem satisfeito", até que ele

estava à beira de fortes tentações (Mat 3:17):

nem enviou anjos para ministrar

imediatamente à sua pessoa, até depois de seu

sucesso (Mat 4:11). Jó nunca teve tais evidências

de amor divino até depois de ter sentido os

golpes afiados da malícia de Satanás; ele tinha

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ouvido falar de Deus antes, pelo "ouvir do

ouvido", mas depois é admitido em maior

familiaridade (Jó 42: 5).

E, embora o seu povo caia em tentação, no

entanto, após a sua ascensão, eles têm mais

marcas de sinal de seu favor do que outros têm,

ou eles mesmos, antes de caírem. Pedro tinha

sido alvo da ira de Satanás, tentando-o a negar a

Cristo, e ele vergonhosamente cumpriu a

tentação; contudo, para ele particularmente, as

primeiras notícias da ressurreição do Redentor

devem ser levadas, pela ordem de Deus, na boca

de um anjo (Marcos 16: 7): "Mas ide, dizei a seus

discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós

para a Galileia; lá o vereis, como ele vos disse."

Temos maior comunhão com Deus depois de

uma vitória; as verdades mais refrescantes

depois que o diabo fez o seu pior. Deus está

pronto para nos fornecer força em combate, e

confortos depois disso.

3. A bondade de Deus é vista nas tentações,

descobrindo e avançando a graça interior por

esse meio. A questão de uma tentação de um

cristão é muitas vezes como a de Cristo, por

manifestar um maior vigor da natureza divina,

em afeições a Deus e inimizade para o pecado.

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As especiarias não perfumam o ar com seu

aroma até que sejam invadidas pelo fogo: a

verdade da graça é evidenciada por elas.

As aflições são como aquelas nuvens que

parecem negras e eclipsam o sol da terra, mas

ainda assim, quando se dispersam, refrescam o

solo que elas parecem ameaçar e multiplicam a

erva na terra, para servir à nossa comida; e

assim nossos problemas, enquanto eles nos

molham até a pele, tiram muito desse pó de

nossas graças que em um dia mais claro foram

soprados sobre nós. Muito descanso corrompe;

o exercício nos ensina a manejar nossas armas:

a armadura espiritual se tornaria enferrujada,

sem oportunidade de usá-la; a fé recebe um

novo coração em todos os combates e em todas

as vitórias; como um fogo, ela se espalha ainda

mais e reúne força pelo sopro do vento.

4. Sua bondade é vista nas tentações, na

prevenção do pecado em que provavelmente

cairíamos. O espinho de Paulo na carne era para

evitar o orgulho de seu espírito, e soltar a

ventania do seu coração (2 Cor 12: 7), para que

não fosse exaltado acima da medida.

A bondade de Deus faz do diabo um polidor,

enquanto ele pretende ser um destruidor. O

diabo nunca funciona, senão apropriadamente

a alguma corrupção que espreita em nós; mas a

bondade divina faz de seus dardos inflamados

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meios para descobrir e, assim, impedir a traição

daquele prisioneiro pérfido em nossos

corações; a humildade é um benefício maior do

que um orgulho putrefato; se Deus nos leva a um

deserto para ser tentado pelo mal, é para

derrubar nosso orgulho, para privar nossa

confiança carnal e expulsar nossa “segurança”

enferrujada (Dt 8: 2); nós muitas vezes voamos

sob a provação de Deus, de quem nos sentamos

muito solto antes. Não é bom usar esses meios

que podem nos levar a seus próprios braços?

Não é uma falta de bondade ensaboar a roupa, a

fim de tirar as manchas; temos razão para

abençoar a Deus pelos assaltos do inferno, bem

como pela pura misericórdia do céu; e é pecado

ignorar tanto um como o outro, pois a bondade

Divina brilha em ambos.

5. A bondade de Deus é vista nas tentações, nos

ajustando mais para o seu serviço. Aqueles a

quem Deus pretende fazer instrumentos em seu

serviço, são primeiro temperados com fortes

tentações, como a madeira reservada para as

fortes vigas de um edifício é exposta pela

primeira vez ao sol e vento, para torná-la mais

compacta para seu uso adequado. Por este meio

homens são trazidos para responder ao fim de

sua criação, o serviço de Deus, qual é sua boa

bondade. Pedro foi, depois de sua disposição por

uma tentação, mais corajoso na causa de seu

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Mestre do que antes, e mais adequado para

fortalecer seus irmãos.

Assim, a bondade de Deus aparece em todas as

partes do seu governo.

Como Deus é infinitamente bom, não pode

haver uma queixa justa contra Deus, se os

homens forem punidos por abusarem de sua

bondade.

Deus nunca fez, ou melhor, nunca poderia,

sacar sua espada contra o homem, até que o

homem o desprezasse e o afrontasse pela força

de seu próprio castigo. É por este Deus que

justifica seus procedimentos mais severos

contra os homens, e muito raramente os cobra

com qualquer outra coisa como a questão de

suas provocações (Os 2: 9): “Portanto, tornar-

me-ei, e reterei, a seu tempo, o meu trigo e o

meu vinho, e arrebatarei a minha lã e o meu

linho, que lhe deviam cobrir a nudez.”

Quando os homens sofrem, eles sofrem

justamente; eles não foram constrangidos por

qualquer violência, ou forçados por qualquer

necessidade, nem provocados por qualquer

mau uso, para virar a cabeça contra Deus, mas

quebram os laços das obrigações mais fortes e

das mais tenras seduções. Que homem, que

demônio, pode justamente culpar a Deus por

puni-los, depois de terem sido tão

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intoleravelmente audaciosos, a ponto de fugir

diante dessa bondade que tinha-os obrigado,

dando-lhes seres de uma elevação mais elevada

do que a criaturas inferiores, e fornecendo-lhes

força suficiente para continuar em sua primeira

habitação?

Quem pode culpar a Deus por vindicar sua

própria bondade de tais desesperados desdém e

extrema ingratidão do homem? Se Deus for

bom, é nossa felicidade aderir a ele; se nos

afastarmos dele, nos afastamos da bondade; e se

o mal acontecer conosco, não podemos culpar a

Deus, senão a nós mesmos, por nossa partida.

Por que os homens são felizes? Porque eles se

apegam a Deus. Por que os homens são

miseráveis? Porque eles recuam de Deus. É

então nossa culpa que somos miseráveis; Deus

não pode ser acusado de qualquer injustiça se

somos miseráveis, pois a bondade dele deu

meios para evitá-lo, e depois acrescentou meios

de nos recuperar disso.

A doutrina da bondade Divina justifica toda

pedra colocada no fundamento do inferno, e

toda centelha naquela fornalha ardente, já que é

pelo abuso da bondade infinita que foi aceso.

NOTA: Usamos na composição deste livro

citações de Stephen Charnock que traduzimos

para a língua portuguesa.