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AUTONOMIA E MEIOS OP NA SALA DE AULA ESCOLAS Jorge Amado, director do Agrupamento de Escolas Dr. Francisco Sanches, sublinha a importância de uma participação com autonomia e meios As regras do Orçamento Participativo Escolar de 2016 da Câmara Municipal de Braga 4/5 6/7 11 PARTICIPAR As cidades devem ser construídas com os idadãos. Todos são, por isso, convidados a intervir, defende Luís Tarroso Gomes, fundador da Velha-a-Branca – Estaleiro Cultural 3 Propostas para um trabalho curricular do Orçamento Participativo Escolar INQUÉRITO “O que mudavas em Braga?” A resposta é dada por estudantes da Escola EB 23 André Soares e da Escola Secundária de Sá de Miranda 9 Março 2015 ANO 1 N.º 1 BRAGA PARTICIPA Orçamento Participativo Dar voz aos mais novos, escutá-los, saber quais são as suas mais legítimas e prementes aspirações, discuti- las, hierarquizá-las e concretizar as mais partilhadas são propósitos do Orçamento Participativo Escolar da Câmara Municipal de Braga. Este jornal, que ago- ra começa, procurará dar uma ajuda na tarefa. Dar voz aos mais novos dito por nós

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Page 1: ANO N.º 1 Março 2015 BRAGA PARTICIPA · Orçamento Participativo Dar voz aos mais novos, escutá-los, saber quais são as suas mais legítimas e prementes aspirações, discuti-las,

AUTONOMIA E MEIOS

OP NA SALA DE AULA

ESCOLAS

Jorge Amado, director do Agrupamento de Escolas Dr. Francisco Sanches, sublinha a importância de uma participação com autonomia e meios

As regras do Orçamento Participativo Escolar de 2016 da Câmara Municipal de Braga

4/5 6/7 11PARTICIPAR As cidades devem ser construídas com os idadãos. Todos são, por isso, convidados a intervir, defende Luís Tarroso Gomes, fundador da Velha-a-Branca – Estaleiro Cultural

3Propostas para um trabalho curricular do Orçamento Participativo Escolar

INQUÉRITO“O que mudavas em Braga?” A resposta é dada por estudantes da Escola EB 23 André Soares e da Escola Secundária de Sá de Miranda

9

Março 2015ANO 1 N.º 1

BRAGA PARTICIPAOrçamento Participativo

Dar voz aos mais novos, escutá-los, saber quais são as suas mais legítimas e prementes aspirações, discuti-las, hierarquizá-las e concretizar as mais partilhadas

são propósitos do Orçamento Participativo Escolar da Câmara Municipal de Braga. Este jornal, que ago-ra começa, procurará dar uma ajuda na tarefa.

Dar voz aos mais novos

dito por nós

Page 2: ANO N.º 1 Março 2015 BRAGA PARTICIPA · Orçamento Participativo Dar voz aos mais novos, escutá-los, saber quais são as suas mais legítimas e prementes aspirações, discuti-las,

Luís Tarroso Gomes

Braga é de todos nós. Seja por-que aqui estudamos ou vive-

mos ou trabalhamos, todos temos uma opinião sobre a cidade. Cada um de nós dá atenção a pormenores diferentes: uns preocupam-se com o abate de árvores ou com o patri-mónio histórico, outros com a lar-gura dos passeios, a frequência dos autocarros ou os estacionamentos para bicicletas, outros ainda com a promoção de artistas e músicos que estão a começar ou com a música e artes bracarenses que estão a desa-parecer. Às vezes até paramos para pensar numa forma de melhorar o que existe: aumentar o tempo do semáforo, proibir o estacionamen-to, reparar aquele muro, promover a prática de determinado desporto, organizar um ciclo de espectáculos. E, porque conhecemos o problema e nos debruçamos sobre os remédios possíveis, muitas vezes somos pre-cisamente nós que temos a melhor solução.

Melhor até que os responsáveis e os técnicos da Câmara Municipal que certamente nem deram pela existên-cia do problema. Se queremos que Braga seja mais agradável devemos por isso interagir com a gestão da cidade, aproveitando os momen-tos oficiais de participação cidadã, chamando a atenção e exigindo a adopção de medidas pelos eleitos, ou

intervindo individual ou colectiva-mente na supressão das faltas. E é ao dar esse salto, participando e inter-vindo, que exercemos a cidadania.

Por regra, em Portugal, a opinião dos cidadãos não é tida em conta na gestão autárquica diária. Para além das eleições a cada quatro anos e dos momentos em que é

obrigatório por lei ouvir os muní-cipes – por exemplo na elaboração do Plano Director Municipal – são poucos os municípios que adop-tam com regularidade instrumen-tos de participação. E, porém, há mais de 20 anos que na Europa se defende que o planeamento das cidades deve ser feito com os cida-dãos e não para os cidadãos. Isto é, as decisões nas cidades devem ser tomadas em conjunto e com a par-ticipação dos cidadãos e não ape-nas por um grupo reduzido de pes-soas num gabinete municipal de planeamento. Braga adoptou em 2014 um desses instrumentos de participação cidadã: o Orçamento Participativo aberto de forma di-recta a todos os munícipes. Pode-mos apresentar propostas, apoiar outros projectos que nos parecem válidos ou simplesmente votar. E, sem dúvida, este Orçamento será tanto mais válido e representativo quanto mais munícipes participa-rem nele. Nem que seja para pro-por melhorias ao próprio sistema do Orçamento Participativo!

Eduardo Jorge Madureira

Cidadãos do presente, as crianças e os jovens que estudam nas escolas de Braga têm, no Orçamento Participativo Escolar da Câmara Municipal de Braga, um instrumento para a construção de uma cidadania mais activa, imaginativa, esclarecida e crítica.

Há uma lenda persa que vale a pena recordar neste primeiro

número de Braga Participa, jornal do Orçamento Participativo Escolar da Câmara Municipal de Braga.

Transmite-nos ela que, no início dos tempos, os deuses se encarregaram de uma singular tarefa: proceder a uma distribuição equitativa da ver-dade. Cada pessoa ficava, assim, com uma parte dessa verdade. Para que a verdade pudesse ser integralmen-te conhecida, era imprescindível o contributo de todos. Sem que cada um emprestasse a sua parcela de ver-dade, a verdade toda jamais seria co-nhecida. Nenhuma parcela, segundo assegura a lenda, era insignificante ou desnecessária. Todas as pessoas eram indispensáveis. Se alguma fa-lhasse, a verdade não se poderia re-

construir. Na tarefa, a verdade e a comunicação surgiam inseparáveis. A participação apresentava-se como um direito que a todos era concedido e, sobretudo, como um dever indis-pensável à reconstrução da verdade.

A lenda foi aproveitada por Miguel Ángel Santos Guerra para fazer a apologia da participação num artigo cujo título, “Participar é aprender a conviver”, se revela um programa de enorme pertinência. Nesse texto, in-cluído na obra Aprender a Conviver na Escola, o professor catedrático da Universidade de Málaga defende que “a escola deve encarnar os valores democráticos e educar os alunos e as alunas em atitudes de tolerância, respeito, igualdade, solidariedade, cooperação e participação”. A demo-cracia, como previne o autor, não é uma dimensão formal, mas um estilo de vida. Miguel Ángel Santos Guerra tem razão. É necessário promover a participação dos mais novos na vida da escola – e também, evidentemen-te, da cidade, do país e do mundo – , estimulando-os a dar opiniões, a as-sumir funções de representação, a tomar decisões e a avaliar as práticas de participação.

O ensinamento da lenda não perdeu qualquer pertinência. A tarefa é hoje ainda mais urgente. Mesmo sabendo--se que a disponibilidade requerida para a sua concretização é escassa e que a cooperação está muito longe de ser, de facto, o valor mais cultivado pelo sistema educativo. Em vez de os mais novos serem, sobretudo, estimu-lados a ajudar a construir um mundo em que cada um é único e todos são imprescindíveis, eles são induzidos a acreditar que o que mais importa é vencer num mundo em que apenas uns poucos triunfadores têm lugar.

Fomentando o espírito colaborativo e a intervenção dos alunos dos estabe-lecimentos de ensino básico e secun-dário bracarenses na vida da escola, da freguesia, da cidade e do concelho, o Orçamento Participativo Escolar pretende ser um instrumento à dispo-sição das crianças e dos jovens – cida-dãos do presente – para a construção de uma cidadania mais activa, imagi-nativa, esclarecida e crítica.

BRAGA PARTICIPA03Março 2015 BRAGA PARTICIPAMarço 201502

Um instrumento ao serviço das escolas para aumentar e qualificar a cidadania

Orçamento Participativo Escolar

É necessário promover a participação dos

mais novos na vida da escola – e também,

evidentemente, da cidade, do país e do mundo – ,

estimulando-os a dar opiniões, a

assumir funções de representação, a tomar decisões e a

avaliar as práticas de participação.

Glosando um célebre quadro de René Magritte, este anúncio belga a uma acção de formação explica – e muito bem – que os Orçamentos Participativos não são subsídios

O logotipo do Orçamento Participativo de Nova Iorque (Participatory Budgeting in New York City) pode ilustrar a lenda persa que

diz que a verdade só se reconstitui quando cada um empresta a sua parcela de verdade

ParticiparAs cidades devem ser construídas com os cidadãos. As decisões devem ser

tomadas em conjunto e com a participação dos cidadãos e não apenas por um grupo reduzido de pessoas. Todos são, por isso, convidados a intervir, defende

Luís Tarroso Gomes, fundador da Velha-a-Branca – Estaleiro Cultural.

Paris é uma das cidades europeias com Orçamento Participativo. As boas ideias são úteis em todo o lado

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BRAGA PARTICIPA05Março 2015 BRAGA PARTICIPAMarço 201504

Contudo, há aspetos negativos que afetam bastante o bem-estar da população. Falamos da falta de espaços verdes e de não haver contacto com a natureza. Em relação a isto, substituíamos uma grande parte dos espaços “cimentados” por espaços ecológicos e verdes. Apostávamos na utilização dos transportes públicos e nas vias para bicicletas.

André MachadoRicardo Gomes

7. Braga é uma das cidades mais importantes de Portugal em termos de religião, tendo anualmente milhares de visitantes. Apesar de ser uma cidade conceituada, necessita de algumas mudanças.

Os transportes públicos deveriam ser mais acessíveis a nível de preços e de horários, e disponibilizar mais autocarros nas horas de ponta.

Embora tenha sido a Capital Europeia da Juventude, Braga não apresenta eventos culturais que cativem a população.

Podemos ainda afirmar que Braga tem um número reduzido de espaços verdes, que poderiam promover o desporto e o bem-estar.

Devido à crise económica atual do país, há cada vez mais sem-abrigo sem apoio por parte da população e da Câmara Municipal.

Ângela AlvesRosa Abreu

Renata Ribeiro

Alunos do 12.º 1 da Escola Secundária de Sá de Miranda

1. Braga, por si só, já é uma cidade apelativa e convidativa, mas, por certo, há sempre algo passível de ser mudado.

Braga apresenta as qualidades necessárias a uma cidade de renome, mas cremos que não estamos a tirar o devido partido de todo este património. É necessário desenvolver medidas e novas atividades de maneira a que todos possam beneficiar de tamanha substância. Estas atividades, eventos culturais e lúdicos, devem promover a confraternização e a promoção da saúde e bem-estar.

Sairíamos todos a ganhar com a criação de laços fortes entre todos e o aproveitamento de todas as regalias que nos são oferecidas pela histórica cidade de Braga.

Fábio Rafael Pereira AraújoMarta Alexandra Pereira Teixeira

2. Braga já é uma cidade reconhecida, pois consegue ser moderna sem esquecer a sua história. No entanto, há sempre espaço para melhorar, nomeadamente na renovação de alguns edifícios no centro da cidade, pois encontram-se degradados; na construção de mais espaços verdes, em vez de mais habitação; na remoção do pagamento em alguns parques de estacionamento.

Embora sejam estas as ações que tomávamos, sabemos que Braga ainda tem mais a melhorar, apesar de já ser considerada uma ótima cidade.

Bruna OliveiraPedro Coelho

3. Braga, como cidade jovem, devia dedicar mais espaços para os jovens no centro, como, por exemplo, um parque de diversões, salões de jogos, etc. Outro dos problemas de Braga é a poluição. Logo, os governantes desta região deviam incentivar a população a praticar políticas verdes, como, por exemplo, a reciclagem, assim como apelar à sensibilidade do cidadão, porque este planeta precisa de boas ações.

Hugo CoelhoJosé Dias

4. A cidade de Braga sofreu, sobretudo no final do século XX, com um horrível planeamento urbano.

Comecemos por falar do que costumava ser um pequeno rio que passa no centro da cidade. Atualmente este rio sofre de grandes índices de poluição e afunilamento, o que provoca cheias sazonais. Estas cheias ocorrem devido às inúmeras construções à beira rio e à contínua impermeabilização da cidade, sendo necessária uma grande obra em diversas estruturas da cidade para contornar o problema.

Se pudéssemos, mudávamos o perfil de construção dos bairros citadinos construídos nos anos oitenta e noventa que destruíram património cultural e provocaram o efeito designado popularmente por “cimento em cima do cimento”, ou seja, a urbanização excessiva.

Para concluir, a cidade precisa de espaços verdes e convivência familiar.

André AmaralNuno Baptista

5. Em Braga, assim como em várias outras cidades, o nível de interação social de cada individuo é relativamente baixo. A realização de eventos proporcionaria um avanço significativo nesse domínio. Força as pessoas a trabalhar em grupo, criando uma ligação mais forte nesta cidade.

Tais ideias também se podem direcionar para a atração do turismo. De certa forma, podem ser vistas como um investimento a longo prazo.

Rui FlávioAndré Ferreira

6. Vivemos e crescemos em Braga, tivemos a oportunidade de ver Braga a evoluir como cidade. Consideramos esta evolução positiva do ponto de vista do emprego de muitos cidadãos, que aqui se estabelecem, uma vez que esta cidade se encontra muito industrializada.

Um dos grandes pontos de referência é a Universidade do Minho, que chama muita juventude a usufruir de Braga.

INQUÉRITO

O que mudavas em Braga?

Os mais novos encontram-se entre os principais beneficiários

dos projectos aprovados no Orçamento

Participativo de Paris

Recuperar um centro cultural, que tinha sido destruído por um incêndio, de modo a permitir que albergue uma sala de teatro, três salas de ensaio, uma biblioteca e uma cafeteria, foi uma das propostas aprovadas no Orçamento Participativo de Montevideu, a capital do Uruguai

Mais algumas propostasColocaria mais flores e tentava que tivesse menos poluição.

Ana Rita 7.º A

Braga devia ter mais iniciativas para os jovens, pelo menos uma vez por semana, para podermos conviver.

Bárbara Lages 7.º EOs projectos do Orçamento Participativo de Lima, capital

do Peru, devem inserir-se em quatro eixos temáticos: território e meio-ambiente, desenvolvimento social,

desenvolvimento económico e bom governo

Em alguns sítios da cidade há prédios velhos e eu gostava de ver outros mais novos nesses locais.

Inês Martins 8.º H

Gostava de ver mais contentores do lixo. O lixo devia ser recolhido mais vezes. Não deveria haver tantos animais abandonados. Deveriam ser acolhidos em instituições próprias.

Maria Marquês 7.º E

Tirava os grafitti da cidade. Queria mais polícias para diminuir os assaltos.

Tatiana Santos 5.º D

Alunas da Escola EB 23 André Soares

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BRAGA PARTICIPA07Março 2015 BRAGA PARTICIPAMarço 201506

LÍNGUA PORTUGUESA

• Utilizar diferentes modalidades de linguagem – oral e escrita.

• Elaborar textos.• Produzir diferentes géneros

textuais.• Transpor ideias e informações de

uma linguagem para outra.• Utilizar, em frases, regras básicas

de concordância verbal e nominal.• Interpretar criticamente o sentido

ou valor de um texto.

MATEMÁTICA

• Perceber seu próprio corpo no espaço físico.

• Identificar critérios de classificação, seriação, ordenação e conservação de quantidade.

• Utilizar unidades de medida em situações quotidianas.

• Utilizar estratégias para resolver situações-problema.

GEOGRAFIA

• Deslocar-se em diferentes espaços, estabelecendo relações espaciais.

• Reconhecer o espaço do município.• Identificar atribuições da

administração municipal.• Localizar regiões e bairros no

mapa.• Utilizar noções topográficas para

se localizar.

O Orçamento Participativo na sala de aula

O Orçamento Participativo Escolar não deve ser mais um projecto a somar a tantos outros que se desenvolvem à margem das actividades lectivas. Ele pode, em vez disso, ser trabalhado e avaliado em todas as áreas do conhecimento. A chamada de atenção é de Michelle Nunes Matos, assessora do Instituto Cultiva, uma organização brasileira que visa criar redes de formação para a cidadania, designadamente escolas da cidadania e orçamento participativo adolescente.

Em OP CRIANÇA. Projeto Pedagógico Para a Cidadania, Michelle Nunes Matos apresenta umas quantas “habilidades” que as crianças podem ser estimuladas a desenvolver em diversas áreas. Vale a pena ler, adaptar e aproveitar na sala de aula.

Michelle Nunes Matos

CIÊNCIAS

• Reconhecer a dependência entre seres vivos e destes com o meio ambiente.

• Utilizar medidas básicas de preservação do ambiente.

• Identificar seu corpo no espaço através de diversas percepções.

• Reconhecer seu corpo como instrumento de auto-expressão e comunicação.

HISTÓRIA

• Perceber-se a si mesmo e às suas relações sociais.

• Perceber a duração das actividades do seu quotidiano.

• Identificar suas características e de seus grupos de convivência.

• Perceber as diferentes necessidades dos grupos sociais do município para melhorar suas condições de vida.

A assessora do Instituto Cultiva sugere ainda a utilização do Orçamento Participativo para desenvolver um conjunto de atitudes, tais como:

• Saber ouvir.• Respeitar a fala e a opinião do outro.• Preservar os espaços públicos.• Respeitar as decisões colectivas.• Comprometer-se com suas tarefas.

Bom trabalho.

Depois da reunião...

Mais tarde...

Depois...

Fim

Mãe, acabou o shampoo e o chuveiro

queimou. E agora?

Grande sacrifício! Não tem shampoo e a água está gelada.

Por ele, shampoo e chuveiro podem ficar para o ano que vem.

Pois é. E tem uma goteira enorme em cima

da minha cama.

É uma conta de quanto a gente tem, do que a gente espera receber e de tudo o

que tem que comprar.

Maããe, preciso de um ténis

novo urgente!

É, mas não vai dar para fazer tudo,

o dinheiro está curto este mês.

Então vou fazer minha lista e depois a gente conversa.

Tá bom, hoje eu vou economizar. Não vou tomar

banho, viu?

Gente, faz o maior tempo que eu tó esperando

esse ténis.

Oi gente, tó atrapalhando alguma coisa?

Alguém atende a

porta

Nossa! Esqueci, mas eu vou, sim.

Pior que ficar sem ténis é

dormir embaixo da goteira.

Ah vó, nem chove todo dia.

Mas, e as outras coisas?

E aí mãe, como foi? Teve alguma ideia?

Fechado!

Com o dinheiro que sobrar, o que a gente vai comprar primeiro?

A saúde da sua avó é o mais importante, mas sem chuveiro

também não dá para ficar, né? vamos consertar o chuveiro e o telhado.

Ih! tá igual aqui em casa. Um monte de contas para

pagar.

Vamos aos poucos. Se todo mundo economizar a

gente se programa e faz uma coisa por

mês. Fechado?

É, mas eu pensei: se a gente diminuir alguns

minutos no tempo do banho, vamos

economizar nas contas de água e luz.

E como são essas reuniões?

São reuniões que acontecem em várias regiões da cidade, onde os moradores decidem o que acham que a Prefeitura

deve fazer em cada bairro.

O que é esse negócio de Orçamento Participativo, Neuza?

Calma, ainda tem os gastos com comida, ónibus e a luz que não tem como adiar. Tem que

ter paciência e ajudar a economizar.

O que é orçamento?

Eu preciso de ténis, meias, bermuda...

Eu também estou precisando

de um monte de coisas.

Ainda tem a conta de luz que venceu e falta

fazer o mercado. Mais tarde a gente

se reúne e faz um orçamento.

Imagina, Neuza, só estamos

tentando fazer um orçamento doméstico, mas tá difícil, viu?

Que coincidência, eu vim te chamar para a reunião do Orçamento Participativo

da nossa região. Lembra que a

gente combinou de ir?

As pessoas falam o que está faltando no

bairro e depois tem uma votação para escolher o que é mais importante para a maioria. E a Prefeitura faz.

Bom, se a Prefeitura faz isso com a cidade, acho que dá para a gente fazer em casa, né? Depois a gente

continua essa conversa. Vamos Neuza?

Faz mesmo?

Faz sim. Nas reuniões também são escolhidos os representantes dos moradores, que vão cobrar a Prefeitura, para que ela faça o que foi decidido nas reuniões. Sabe a escola da rua de cima?

Foi decidida no OP.

É igual aqui em casa, todos querem alguma melhoria. Mas o

pessoal da Prefeitura disse que não tem dinheiro para tudo, pois eles têm que pagar o salário dos funcionários,

construir escolas, hospitais...

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BRAGA PARTICIPA09Março 2015 BRAGA PARTICIPAMarço 201508

A participação só faz sentido se houver autonomia ou liberdade de decisão e se se dispuser de meios e condições que permitam realizar as decisões tomadas, defende Jorge Amado, diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Francisco Sanches, que, no ano lectivo passado, teve um projecto aprovado no Orçamento Participativo Escolar.

Jorge Amado

Democracia pode, só por si, constituir-se em palavra vã. Basta que não haja participação de facto dos cidadãos - valor inscrito logo no artigo 2.º da nossa Constituição.

É nos atos democráticos de índole participativa que se

constrói e se ergue uma sociedade. E somos nós, seja enquanto todo so-cietário, seja enquanto indivíduos, os verdadeiros interessados sem que devamos e sem que possamos deixar aos outros o poder de decidir sobre

aquilo que nos respeita. A partici-pação direta e ativa dos cidadãos na vida política constitui-se como con-dição e instrumento fundamental no ato de consolidar o sistema demo-crático. A atitude participativa na escola é um direito instituído, um dever ético e cívico. O ato de partici-par só faz sentido se as pessoas e as organizações tiverem autonomia ou liberdade de decisão e se dispuserem de meios e de condições que permi-tam realizar as decisões tomadas. Opostamente, o excesso de burocra-cia e o centralismo estatal escondem mecanismos que favorecem a passi-vidade dos cidadãos.

A dimensão humana da nossa ativi-dade intelectual define-se por dese-jos concretizáveis em projetos que nos empolgam enquanto sonhos passíveis de nos facultarem o su-

porte de realização pessoal e na pro-porção exata em que se apresentem como realizáveis.

É através dos mecanismos de parti-cipação que nos constituímos como realizadores de algo, sendo pois esse, como vimos já, o princípio bá-sico da democracia. Nunca enquan-to ato abstrato, isolado, mas antes como ferramenta concreta de ação sobre o mundo que integramos, usável apenas com os limites da vontade de quem pratica. A partici-pação consubstancia-se no conceito de cidadania, entendida esta mais como um projeto de construção em si do que propriamente um estatuto doado a uma comunidade.

Diríamos nós que o princípio da par-ticipação é também um processo que se apreende e que se aprende pela prática como forma de empenhada-mente o assumir. Os poderes polí-ticos têm, a este nível, uma enorme responsabilidade pois devem ser eles a “convocar” os cidadãos e a implicá--los neste processo. E foi esta a atitu-de da Câmara Municipal de Braga ao empenhar a sociedade do concelho no Orçamento Participativo como forma de um exercício de cidadania, justamente publicitando-o como o novo direito de todos os bracarenses.

O Agrupamento de Escolas Dr. Fran-cisco Sanches, agarrou esta possi-bilidade e envolveu toda a comuni-dade na construção de um Projeto, dinamizando docentes, discentes, não docentes, pais e encarregados de educação, numa ideia de exercí-cio de uma intervenção informada, ativa e responsável nos processos de governação local, garantindo a participação à escala individual e à dimensão do Agrupamento na deci-são sobre a afetação de recursos às políticas públicas municipais, no presente caso no vasto âmbito da educação. Através deste modus ope-randi e graças a este envolvimento, a comunidade escolar viu serem criadas as condições concretas para se envolver na dimensão deliberati-va, podendo apresentar e priorizar, através de votação, propostas de in-vestimento ligadas à escola, a serem integradas no Plano de Atividades e Orçamento Municipal.

Por uma participação com autonomia e meios

Os cidadãos de Nova Iorque são convidados a aderir a um movimento para reinventar a democracia através do Orçamento Participativo

Os poderes políticos têm, a este nível, uma enorme responsabilidade pois devem ser eles a “convocar” os cidadãos e a implicá-los neste processo.Eduardo Jorge Madureira

O Orçamento Participativo pode oferecer uma boa oportunidade para ensinar a elaborar orçamentos pessoais ou familiares ou ainda para começar a promover uma educação financeira. Antes, importa atentar bem numa preciosa recomendação que Maria Emília Brederode Santos subscreveu há tempos num editorial da revista Noesis.

A banda desenhada que Joe Sa-noli elaborou para a edição

de 2007 da revista do Orçamento Par-ticipativo de Guarulhos, a segunda cidade com maior população do Es-tado de São Paulo e a décima segun-da mais populosa do Brasil, cumpre bem o objectivo de sensibilizar os mais novos para a própria noção de orçamento, um prolegómano, se se quiser, de uma educação financeira.

Segundo a Direcção-Geral da Edu-cação (DGE), a “promoção da edu-cação financeira junto de crianças e jovens em idade escolar é reconhe-cida, designadamente pela OCDE, como um dos meios mais eficientes para chegar a toda uma geração que se quer portadora de uma cultura fi-nanceira que lhe permita, enquanto jovem e futuro adulto, desenvolver comportamentos e atitudes racio-nais face a questões de natureza eco-nómica e financeira”.

Além do Referencial de Educação Financeira para a Educação Pré--Escolar, o Ensino Básico, o Ensino Secundário e a Educação e Forma-ção de Adultos, encontram-se no site da DGE diversos recursos de apoio. Entre eles, deve destacar-se o dossier “Fazer, Gerir e Poupar”, publicado pela revista Noesis, de Outubro de 2010. O editorial de Maria Emília Brederode Santos oferece uma im-prescindível introdução a esta nova área que abarca “empreendedoris-mo, literacia financeira e educação do consumidor”.

“É frequente os temas novos, as novas correntes pedagógicas, as inovações em geral serem filhos da necessidade. E este é um bom exem-plo”, observa Maria Emília Brede-

rode Santos, acrescentando que “du-rante anos não prestámos grande atenção aos extractos bancários que recebíamos ou às aplicações que nos aconselhavam, tivemos dificuldades em escolher o tarifário do telemóvel mais adequado ou a assinatura de cabo que melhor servisse os nossos hábitos de consumo, gastámos ener-gia e recursos como se fossem inesgo-táveis”. Aparentemente, diz a direc-tora da Noesis, “tudo corria bem e a globalização da economia parecia tão distante e complexa que nos colocá-vamos nas mãos de ‘especialistas’”.

Promover um olhar crítico

A situação, todavia, mudou. As ra-zões encontram-se, segundo Maria Emília Brederode Santos, nas notí-cias da falência de tantas empresas nas mãos desses “especialistas”, na crise orçamental que o país atraves-sa e, agora, nas dificuldades finan-ceiras que recaem sobre todos nós. Fomos instados a tomar outra ati-tude: “queremos saber para não nos sentirmos dependentes de forças que não dominamos”.

Em consequência, tal como Maria Emília Brederode Santos assinala, sobra para a escola mais uma tare-

fa: “Como sempre, pede-se à escola, se não que resolva problemas que manifestamente a ultrapassam, pelo menos que vá formando pessoas ca-pazes de fazer face ao desemprego criando o seu próprio emprego e pro-duzindo autonomamente. Fala-se en-tão do ‘empreendedorismo’”. E tam-bém se fala da “literacia financeira”, outra das incumbências escolares.

Perante essas abordagens, consi-deradas “duma grande actualidade e obviamente importantes”, Maria Emília Brederode Santos lança uma incontornável advertência, explican-do que elas “não podem ser encara-das como uma simples informação técnica sem intenções ideológicas. Defender, por exemplo, a ‘literacia financeira’ como necessária não pode significar apresentar como inevitável – como ‘pensamento úni-co’ – aquilo que é uma opção políti-ca naturalmente sujeita a esclareci-mento e debate. Por isso se alertam as escolas e os professores para o interesse destes temas, mas também para a necessidade de os enquadrar numa perspectiva de educação para a cidadania, isto é de formação de ci-dadãos capazes de fazerem escolhas informadas e de agirem autónoma e responsavelmente”.

Uma advertência sobre a educação financeira dos jovens

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BRAGA PARTICIPA11Março 2015 BRAGA PARTICIPAMarço 201510

livros Sugestão de Leitura CMB Orçamento Participativo Escolar

O que fazer, quando e com que dinheiro

Qual é o princípio geral do Orça-mento Participativo Escolar?O princípio geral é delegar nos mais novos a decisão relativamente ao que fazer com uma parte do Or-çamento do Município.

O Orçamento Participativo Es-colar oferece novos direitos e novas responsabilidades à comunidade es-colar.

Qual é o montante do Orçamento Participativo Escolar?Uma parte do Orçamento Partici-pativo, 100.000 euros, destina-se ao Orçamento Participativo Escolar. Essa verba será cabimentada no Or-çamento de 2016 da Câmara Munici-pal de Braga.

Que propostas podem ser apre-sentadas?Ao Orçamento Participativo Esco-lar (OPE) podem concorrer projetos de natureza diversa que ofereçam um evidente benefício para a comu-nidade escolar.

Todas as outras propostas devem ser apresentadas no âmbito do Or-çamento Participativo geral.

O que é necessário para uma proposta ser apresentada a vota-ção em 2016?Para serem consideradas, cada pro-posta deve inserir-se no quadro de competências e atribuições da Câ-mara Municipal de Braga.

Além disso, deve:• ser concreta;• estar delimitada em território

municipal;• ter um custo global igual ou in-

ferior a 20 mil euros (incluindo IVA e projetos específicos);

• ter um prazo de execução infe-rior a 12 meses;

• ser compatível com outros pro-jetos e planos municipais.

A proposta deve ser apresentada de um modo totalmente elabora-do e orçamentado?As propostas serão devidamente con-sideradas desde que respeitem os di-versos critérios de elegibilidade.

Qual a razão por que as propos-tas devem ser específicas?Apenas sendo concretas será pos-sível uma análise que permita estabelecer com rigor uma orça-mentação e um prazo de execução. De outro modo, a adaptação da proposta a projeto por parte dos serviços municipais pode ser im-possível.

As propostas demasiado genéri-cas poderão tornar difícil ou impos-sível uma adaptação a projeto.

A Câmara Municipal de Braga analisa todas as propostas?A Câmara Municipal de Braga ana-lisará tecnicamente todas as pro-postas. As que estiverem de acordo com os parâmetros definidos serão adaptadas a projeto e submetidas a votação.

Se se verificar que algumas pro-postas são semelhantes, pelo seu conteúdo ou pela sua proximida-de geográfica, poderá justificar-se que sejam integradas num só pro-jeto.

Após o trabalho de adaptação a projeto, As propostas, assim como os documentos que as acompa-nhem, passam a ser propriedade da Câmara Municipal de Braga.

Quantas propostas podem ser apresentadas por cada agrupa-mento?Cada agrupamento pode apresen-tar até cinco propostas. Cabe a cada agrupamento decidir qual a melhor forma de selecionar as cinco melho-res propostas a submeter à votação final.

Cada agrupamento organizará sessões sobre o OPE, nos locais e no número julgados mais convenien-tes.

Para quê um jornal do Orçamen-to Participativo?O jornal do Orçamento Partici-pativo pretende promover uma educação para a cidadania, esti-mulando a participação ativa, es-clarecida e crítica dos alunos dos estabelecimentos de ensino básico e secundário do município de Bra-ga. Cada agrupamento encarre-gar-se-á de dinamizar a colabora-ção no jornal.

Quem decide quais os projetos a incluir no Orçamento e Plano de Atividades da Câmara?Um júri – integrando os diretores dos agrupamentos, os presidentes das associações de estudantes no ano letivo 2014/15 (ou seus repre-sentantes), a vereadora do pelouro da Educação e o coordenador do Orçamento Participativo – ordena de 0 a 10 os projetos apresentados. Serão considerados aprovados os que obtiverem mais votos até ao montante definido para o Orça-mento Participativo.

Qual é o calendário do Orçamen-to Participativo?O Orçamento Participativo Escolar compreende as seguintes etapas:

• Apresentação de propostas – de 6 a 26 de julho;

• Análise técnica das propostas – de 3 a 23 de agosto;

• Divulgação dos projetos que se-rão submetidos a votação – 1 a 29 de setembro;

• Votação dos projetos – 29 de se-tembro.

O jornal do Orçamento

Participativo pretende

promover uma

educação para a

cidadania, estimulando

a participação ativa,

esclarecida e crítica

dos alunos dos

estabelecimentos de ensino

básico e secundário do

município de Braga. Cada

agrupamento encarregar-

-se-á de dinamizar a

colaboração no jornal.

“O nosso dinheiro, a nossa cidade, a nossa escolha”. É uma boa síntese a que se encontra num dos materiais de divulgação do Orçamento Participativo de Nova Iorque

72 Perguntas frequentes sobre Orçamento Participativo, uma publicação do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), apresenta, como o título sugere, as respostas às questões mais comuns sobre os Orçamentos Participativos. Contém, além disso, abundante informação sobre o modo como esta experiência democrática tem decorrido em Portugal e no estrangeiro.

Yves Cabannes, professor de Planeamento do Desenvolvimento da University College Lon-

don, que assessorou o Orçamento Participativo de vários municípios, entre os quais Porto Alegre, é o autor principal desta obra, que tem a coordenação de Giovanni Allegretti, arquitecto e urbanista, coor-denador do Observatório da Participação, Inovação e Poderes Locais do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; Juliana Torquato Luiz, socióloga, colaboradora do mesmo Observatório; e Nelson Dias, sociólogo, coordenador do Projecto Orçamento Participativo Portugal e presidente da di-recção da Associação In Loco.

Aqui fica um extracto da edição portuguesa, que pode ser lida gratuitamente na Internet.

O que é o Orçamento Participativo?

Não existe uma definição única, já que o Orçamento Participativo (OP) se apresenta de formas diferen-tes de um lugar para outro. […] Em termos gerais, um OP é “um mecanismo (ou processo) através do qual a população decide, ou contribui para a toma-da de decisão sobre o destino de uma parte, ou de todos os recursos públicos disponíveis”.

Ubiratan de Souza, um dos principais responsáveis pelo OP em Porto Alegre (Brasil), propõe uma defi-nição mais precisa e teórica, que pode ser aplicada à maioria dos casos no Brasil: “Orçamento Partici-pativo é um processo democrático directo, volun-tário e universal, onde as pessoas podem discutir e decidir sobre orçamentos e políticas públicas. A participação do cidadão não se limita ao acto de votar, para eleger o poder executivo ou legislativo, mas envolve também as prioridades para os gastos públicos e o controle da administração do governo. Ele deixa de ser alguém que possibilita a continui-dade da política tradicional e torna-se um protago-nista permanente na administração pública. O OP combina a democracia directa com a democracia representativa, uma conquista que deve ser preser-vada e valorizada”.

Quantas cidades já tiveram experiência de OP?

Actualmente, pelo menos 1000 cidades, à escala mundial, adoptaram este método de administração pública.

Que benefícios comporta o Orçamento Participativo para a cidade e para os cidadãos?

A maioria dos estudiosos e participantes dos Orça-mentos Participativos concordam que um dos seus principais benefícios é contribuir para aprofundar o exercício da democracia através do diálogo que o poder público estabelece com os cidadãos. Outro benefício é que o OP faz com que o Estado preste contas aos cidadãos, contribuindo, assim, para a modernização da administração pública.

Em diversos casos, o OP é uma ferramenta para ordenar as prioridades sociais e para promover a justiça social. Os cidadãos passam de simples ob-servadores a protagonistas da administração públi-ca, ou seja, participantes integrais, activos, críticos e reivindicadores. O OP dá aos cidadãos melhores oportunidades de acesso a obras e serviços como saneamento básico, pavimentação das ruas, melho-rias na rede de transportes públicos e centros de saúde e educação. Os cidadãos, participando acti-vamente no processo do OP, definem as suas priori-dades e, ao fazê-lo, têm a oportunidade de melhorar de forma significativa a sua qualidade de vida dentro de um período relativamente curto. Além disso, eles têm a possibilidade de controlar e monitorar a exe-cução do orçamento.

Por outro lado, o OP também incentiva os proces-sos de modernização administrativa e alimenta o processo de planeamento estratégico do muni-cípio.

Quais são os princípios básicos do Orçamento Participativo?

Os princípios fundamentais assentam na adopção da democracia participativa enquanto modelo polí-tico e enquanto estratégia de boa governação. Se esses princípios forem considerados universais, cada cidade ou país convertê-los-á em meios prá-ticos capazes de reflectir as suas necessidades e o contexto local.

Como ilustração, são apresentados sucintamente os princípios norteadores da Lei do OP no Peru. Entre eles, podemos encontrar: a participação, a trans-parência, a igualdade, a tolerância, a eficiência e a eficácia, a imparcialidade e o respeito pelo que for acordado.

Cinco das 72 Perguntas frequentes sobre Orçamento Participativo

cartoon

Os contributos para os Orçamentos Participativos são muito variados, como sugere este cartoon de Hervé Fayol publicado no jornal francês La Nouvelle République.

Quando se iniciou o Orçamento Participativo?

Apesar das experiências parciais anteriores, o OP só teve formalmente início em 1989, em algumas cidades brasileiras, particularmente Porto Alegre. Fora do Brasil, a partir de 1990, a população de Montevideu, Uruguai, foi convidada a participar na utilização dos recursos do município no seu planeamento quinquenal.

Page 7: ANO N.º 1 Março 2015 BRAGA PARTICIPA · Orçamento Participativo Dar voz aos mais novos, escutá-los, saber quais são as suas mais legítimas e prementes aspirações, discuti-las,

Promover a inclusão é o propó-sito das duas propostas mais

votadas, no ano passado, no âmbito do Orçamento Participativo Esco-lar (OPE) de 2015 da Câmara Mu-nicipal de Braga, “Despertar para a Autonomia”, do Agrupamento de Escolas de Maximinos, e “Bra-ga concelho inclusivo: reconhecer – decidir – agir”, do Agrupamento de Escolas Francisco Sanches. A proposta aprovada em terceiro lu-gar promoverá a “Identificação e sinalização dos estabelecimentos escolares do Agrupamento de Esco-las Mosteiro e Cávado”.

A escolha das propostas foi da res-ponsabilidade dos diretores dos Agrupamentos de Escolas do con-celho de Braga, da vereadora com o pelouro da educação e do coor-denador do Orçamento Participa-tivo. Na ocasião, foram apreciadas onze propostas apresentadas pelos Agrupamentos de Escolas Alberto Sampaio, André Soares, Celeirós, D. Maria II, Francisco Sanches, Maxi-minos, Mosteiro e Cávado, e Sá de Miranda.

A proposta vencedora visa instalar no Agrupamento de Escolas de Ma-ximinos, agrupamento de referência para alunos cegos e com baixa visão, um equipamento que permita a re-alização de actividades idênticas às que se realizam nas casas desses alu-nos. “Trabalhar esta área reveste-se de grande importância uma vez que a autonomia no meio doméstico é essencial na vida futura do aluno: é fundamental saber cuidar de si, da sua higiene e alimentação e aju-dar a família em todas as tarefas relacionadas com a manutenção da casa de modo eficaz e seguro”, diz a proposta. De facto, “pouco adiantará à pessoa cega ou com deficiência in-telectual adquirir inúmeros conhe-cimentos teóricos ou habilidades, se

não souber desempenhar adequada-mente as actividades comuns exigi-das para a participação em qualquer grupo, podendo comprometer a acei-tação e consequente inclusão”. A “Área Casa”, a sala disponibilizada para o funcionamento das “Activida-des de Vida Diária”, terá uma cozi-nha equipada, uma sala de jantar; e um quarto.

A projecto “Braga concelho inclusi-vo: reconhecer – decidir – agir”, do

Agrupamento de Escolas Francisco Sanches, contempla três iniciati-vas. Haverá um programa áudio dirigido a “pessoas com deficiência visual ou baixa visão”, a “pessoas

idosas com dificuldades de visão e/ou que não sabem ler” e ao pú-blico em geral. O programa, reali-zado na Rádio Francisco Sanches, será disponibilizado aos parceiros na última semana de cada mês, ca-bendo a cada instituição parceira a escolha do melhor modo de o “fazer chegar” aos seus membros (“com-putadores / leitores mp3 existen-tes na instituição, site, plataforma moodle, outros…”). Num primeiro momento, nos conteúdos do pro-grama, serão privilegiados os tra-balhos realizados pelos alunos do agrupamento e temas do interesse dos destinatários. Também serão incluídas “rubricas da responsa-bilidade dos docentes, como por exemplo, narrações de histórias, recitação de poemas, canções, re-flexões sobre a actualidade, notí-cias variadas”. Realizada para ser disponibilizada ao mesmo público, a segunda iniciativa inclui a elabo-ração, na Rádio Francisco Sanches, de uma audiodescrição dos museus do município. A terceira iniciativa procurará eliminar barreiras ar-quitectónicas e comunicacionais e permitir o acesso a informação relevante, a circulação no espaço escolar e a participação na vida da escola a todos, independentemente de possuírem ou não algum tipo de deficiência.

A terceira proposta mais votada permitirá a “Identificação e sina-lização dos estabelecimentos esco-lares do Agrupamento de Escolas Mosteiro e Cávado”. Os nove edifí-cios escolares do agrupamento te-rão uma identificação em material resistente na fachada principal. Nos diversos cruzamentos e entron-camentos das freguesias, desde a estrada principal até aos edifícios escolares, serão colocadas trinta placas sinaléticas de indicação de direcção.

2015

Orçamento Participativo Escolar decidiu promover a inclusão

BRAGA PARTICIPA

No cartaz da autoria de Rui Pedro Palmeira, o Orçamento Participativo de 2015 da Câmara Municipal de Braga é apresentado como “um novo direito”

BRAGA PARTICIPA – Jornal do Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Braga. N.º 1- Março 2015. Coordenação Eduardo Jorge Madureira Lopes. Design João Almeida. Colaboraram neste número Ana Rita, André Amaral, André Ferreira, André Machado, Ângela Alves, António Rocha, Bárbara Lages, Bruna Oliveira, Fábio Rafael Pereira Araújo, Hugo Coelho, Inês Martins, Jorge Amado, José Dias, Luís Tarroso Gomes, Maria Helena Borralheiro, Maria Marquês, Marta Alexandra Pereira Teixeira, Nuno Baptista, Pedro Coelho, Renata Ribeiro, Ricardo Gomes, Rosa Abreu, Rui Flávio e Tatiana Santos. Imagem da Capa João Catalão. Propriedade Câmara Municipal de Braga – Praça do Município 4704-514 Braga.

http://participe.cm-braga.pt