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Ano III – número 17 – janeiro/2008 3http://sisejuferj.org.br

Í N D I C E

Cartas de LeitorServidor informa sobre curso de

Direito Eleitoral. Leitor comenta aperda da histórica militante Vera Síl-via Magalhães, em dezembro.Página 5

CulturaO Sisejufe faz um balanço da área

de Formação e Cultura da atual ges-tão. Cursos, seminários, debates efesta – que ninguém é de ferro.Páginas 8 e 9

Dicas CulturaisBianca Rocha convida os leitores para

um animado Baile Pós-Carnavalesco epara assistir televisão sob um novo pon-to de vista. Para quem gosta de agito,vale pular bastante com o disco das me-lhores marchinhas de carnaval de 2008e, para quem não é de muita folia, hátambém a biografia de um principais lí-deres políticos do século XX.Página 10

EntrevistaIdéias em Revista conversou com

os autores de uma das finalistas do3° Concurso Nacional de Marchinhasde Carnaval da Fundição Progresso.Marcus Vinícius Monteiro e EvertonChierici, além de músicos, são servi-dores do TRE do Rio.Páginas 18 e 19

PolíticaRoberto Ponciano critica a “tradição

míope” e a “pureza sectária” de uma par-cela da esquerda que anda de braços da-dos com o fundamentalismo religioso.“É a esquerda que a direita ama”.Páginas 20 e 21

Nossa HistóriaNo quinto artigo da série, Helder

Molina fala do sindicalismo no iní-cio da década de 80 e da divisão en-tre a CUT e a CGT.Página Central

Outra HistóriaO escritor Eduardo Galeano narra

momentos épicos da humanidade emostra como o sangue dos derrota-dos escreveu a história oficial.Páginas 22 e 23

ArtigoO escritor John Hemingway diz

que 40% dos cidadãos norte-america-nos aprovam a violência utilizadapelo governo durante interrogatóri-os. Ele qualifica o Estado como cri-minoso e diz que Bush é uma criaçãode todo o povo dos Estados Unidos.Página 26

Sindicais – TRTMax Leone informa sobre a regu-

lamentação da jornada em 7 horas,no TRT. Sisejufe ingressa com açãopela correção da VPNI.Página 6

Ano EleitoralPara Frei Betto, o cidadão precisa

ter consciência de que político não éautoridade, é servidor.Página 11

InternacionalO jornalista britânico Robert Fisk

demonstra que nunca caiu tão bem aum presidente em fim de mandato oapelido de “pato manco”, dado a Ge-orge W. Bush.Páginas 28 e 29

Teia de IdéiasBernardo Kucinski, professor da

ECA/USP, desvela a linguagem dopreconceito utilizada pela mídia epor alguns escritores consagradospara tripudiar do presidente Lula.Páginas 24 e 25

Oficina LiteráriaCenário: Alto da Boa Vista. Trilha so-

nora: Frank Sinatra. Uma breve e fantásti-ca história de desejo e sentimentos difu-sos, na verve de Marlene de Lima.Página 27

EditorialEstamos num ano eleitoral. Elei-

ções sindicais nas Justiças Federais, elei-ções municipais no Brasil, eleições pre-sidenciais no país que se considera apolícia do mundo. Antes que a disputase acirre, o Sisejufe lembra que nãopode faltar aos adversários bom-sensoe respeito pela democracia.Página 4

CulturaUm bate-papo com Dú Basconça, ser-

vidor federal e músico que coordena oSarau Judicial Cool, do Sisejufe.Página 7

Ano EleitoralA grande imprensa não analisa

precisamente os dados divulgadospelo TSE. A crítica é de Venício deLima, do Observatório da Imprensa.Páginas 12 e 13

Fórum Social MundialVeja na reportagem de Henri

Figueiredo e Samuel Tosta como foi oevento “Rio Com Vida”, no Parque doFlamengo, que marcou o Dia de Mobi-lização e Ação Global.Páginas 14 e 15

LatuffUm olhar sobre o infanticídio.

Página 30

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4 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

Editorial Envie seu comentário para o e-mail [email protected]

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira da Silva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto da Silva, João RonaldoMac-Cormick da Costa, Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Márcio de Souza Marques, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid da Conceição, RenatoGonçalves da Silva, Ricardo de Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior e Valter Nogueira Alves.

Filiado à FENAJUFE e à CUT

SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]

IDÉIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb 18.091) – Bianca Rocha (Estagiária de Jornalismo)PROJETO GRÁFICO ORIGINAL: Claudio Camillo (Mtb 20.478) – DIAGRAMAÇÃO: Deisedóris de Carvalho – ILUSTRAÇÃO: LatuffASSESSORIA POLÍTICA – Márcia Bauer – EDIÇÃO: Henri FigueiredoCONSELHO EDITORIAL – Roberto Ponciano, João Mac-Cormick, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton Pinheiro.IMPRESSÃO: ARCTURUSVEGA Editora Ltda-ME/Gráfica Minister (8 mil exemplares)

Impresso emPapel Reciclato

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas a edição por questões de espaço.Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita a aprovação do Conselho Editorial. Todos ostextos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

O Sisejufe trabalha para que esta não seja a tôni-ca da campanha de 2008. Que em lugar de difama-ção e troca de acusações, possamos expor idéias eprojetos de gestão e que a categoria eleja os queconsiderar mais aptos para o exercício da represen-tação sindical e não os que têm maior ou menor graude agressividade e capacidade de ofender os adver-sários.

Num ano em que a disputa eleitoral tomará contada mídia, seja em relação às renovações em nossasprefeituras ou na briga pelo cargo mais poderoso domundo, nos EUA, o Sisejufe registra, com orgulho,que em nossa história de movimento sindical nuncahouve uma única denúncia de fraude ou golpe.

Estaremos trabalhando para manter o nosso pro-cesso eleitoral na mais estreita legalidade, para que achapa vencedora seja legitimada nas urnas e não naJustiça. Uma eleição tranqüila dará credibilidade ànova diretoria, a ser empossada em agosto. O sindi-cato não é propriedade de nenhum grupo político. Épatrimônio e representação do conjunto categoria.

Uma campanha realizada com ética, respeito eserenidade, onde seja possível debater idéias em lu-gar de agressões, dará à próxima gestão a possibili-dade de continuar a luta pelos direitos dos trabalha-dores construindo um sindicato cada vez mais forte.Ao olharmos para trás vemos que nós, servidores doJudiciário da União no Rio de Janeiro, já conquista-mos muitas coisas através da organização sindical.Com uma diretoria respaldada por um processo de-mocrático com lisura e sem agressões poderemosconquistar muito mais. Uma boa leitura e um ótimo2008 a todos!

EEEm julho deste ano teremos eleições para a nova

diretoria do Sisejufe. A categoria dos servidores doJudiciário da União no Rio de Janeiro terá, mais umavez, a oportunidade de eleger democraticamente osrepresentantes que conduzirão a entidade pelo triê-nio 2008-2011. Para que o processo eleitoral trans-corra sem problemas, é preciso que todos os inte-ressados em increver chapas tenham bom-senso,respeito pela democracia e pela lisura da campanha.

No ano que passou, a atual diretoria do Sisejufeacompanhou com atenção diversas eleições sindi-cais, tanto no Rio como em outros estados. O que seviu, infelizmente, foi um festival de baixarias, umverdadeiro vale-tudo, denúncias de parte à parte,minorias acusando, sem razão, maiorias de golpese golpes de fato acontecendo. Não foram poucos ossindicatos que buscaram o Poder Judiciário para le-gitimar ou não os seus processos eleitorais. Muitasdessas brigas podem ser creditadas à disputa entrea Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Coorde-nação Nacional de Lutas (Conlutas) – ambas em bus-ca de um maior número de sindicatos filiados.

Diante desse quadro de disputa acirrada, moti-vada principalmente por questões de filiação de sin-dicatos a uma ou outra central sindical, o nosso ob-jetivo, neste editorial, é indicar a necessidade deserenidade no processo eleitoral que se avizinha.Faltam, contudo, seis meses para a votação. Aindaassim, já constatamos o vírus do denuncismo vazioe covarde rondando a nossa categoria. Vazio por-que desinformado e sem conexão com a realidadedos servidores públicos federais. Covarde porqueapócrifo, como os impressos panfletários recente-mente distribuídos nas varas e nos tribunais.

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 5http://sisejuferj.org.br

Cartas dos leitores

A direção do Sisejufe, por meio doDepartamento Jurídico, entrou comação na Justiça, em 13 de dezembro de2007, cobrando a correção da parcelaincorporada da VPNI dos Quintos. Oprocesso beneficiará, por exemplo, osservidores que têm comissão CJ-4 comuma correção de 50% da VPNI, tendoem vista que não eles tiveram a incor-poração reajustada. Com a revisãogeral de 1%, a Lei 11.416/2006 aumen-tou o CJ-4 de R$ 7.791,17 para R$11.686,76. A legislação que entrouem vigor em 2006 prevê a majoraçãodas parcela incorporadas das funções

Sindicais Inicialmente, ação beneficiará somente sindicalizados

Sisejufe cobra correção da VPNIcomissionadas convertidas em CJ-1 aCJ-4, a exemplo das FC-07 a FC-10.

O processo 2007.34.00.043584-8 foidistribuído para a 22ª Vara Federal doDistrito Federal (DF) e será acompanha-do pela assessoria jurídica do Sisejufeem Brasília (Cassel e Carneiro Advoga-dos). A ação pode favorecer todos osservidores sindicalizados e que se en-quadram nas tabelas de CJ-1 a CJ-4. Naavaliação da direção do Sisejufe, a VPNIdos Quintos deve ser reajustada devi-do ao princípio do direito adquirido eda irredutibilidade remuneratória, sem

contar que a correção está prevista emlei, a 11.416/2006.

A medida foi protocolada em sistema desubstituição processual, com o Sisejufe re-presentado seus filiados. Inicialmente, a açãobeneficiará os servidores sindicalizados. Osque não estão filiados, podem se sindicalizare participar do processo. Seus nomes serãoincluídos em listagem complementar. Paraser sindicalizado, basta o servidor preenchera ficha de filiação, que pode ser encontradana nossa página de Internet (http://sisejuferj.org.br) e encaminhá-la, pelos Cor-reios ou pessoalmente, ao sindicato.

Pós-graduaçãoem Direito Eleitoral

Na primeira vez, Vera morreu sob tor-tura. Seu corpo frágil saiu do quartel daPolícia do Exército numa cadeira de ro-das, mas a alma jazia despedaçada pelabestialidade dos carrascos. Exilou-se,mas uma dor permanente matou peda-ços de seu largo sorriso. Na segunda vez,Vera foi assassinada por um farsante. Umcineasta falastrão retratou os guerrilhei-ros que seqüestraram o embaixador nor-te-americano Charles Elbrick, em 1969,como desequilibrados, maníacos e faná-ticos. Os agentes da ditadura, tortura-dores inclusive, são humanizados, numcontraste abjeto com suas vítimas. Bru-no Barreto, diretor do abominável O que éisso, companheiro, falsificou a história e,assim, imolou Vera no altar da hipocrisiaoficialista. Na terceira vez, dizem queVera Sílvia, militante do Movimento Re-volucionário 8 de Outubro (MR-8), sofreuum infarto e parou de respirar. Foi nodia 4 de dezembro de 2007. Para alguns,esta terá sido a terceira morte de Vera.Não acredito. A parada biológica não pas-sa de uma transição para a memória, deum chamado para reanimar os sonhos li-bertários que incendiaram a imaginaçãode Vera e empurraram uma geração derevolucionários para a luta por um Brasil

Sou agente de segurança do Tribu-nal Regional Eleitoral (TRE) e gostariade informar aos leitores da Idéias emRevista a abertura da terceira e da quar-ta turmas de pós-graduação em Direi-to Eleitoral, sob a chancela da Univer-sidade Cândido Mendes, além de duasturmas de pós-graduação em DireitoPúblico e outras duas em Estado deDireito e Segurança Pública. O corpodocente é formado por juízes, procu-radores, desembargadores e advoga-dos com larga experiência tais comoo des. Nagib Slaibi, o des. Roberto Fe-linto, o des. Marco Aurélio Bellize, ojuiz Claudio Brandão, a dra. Vânia Aie-ta, o dr. Luis Paulo Viveiros, o dr. LuisPaulo Ferreira, o Procurador da Repú-blica José Maria Panoeiro, o Procura-dor de Justiça Marcos Ramayana, en-tre outros. As turmas de 2008 terão aduração de 8 meses (de fevereiro a se-tembro) e terão investimento de 13parcelas de R$ 300,00 + R$ 30,00 dematrícula. Servidores públicos terãodesconto de 15%. As vagas são limita-das. Maiores informações pela páginawww.cursomultiplus.com.br.

Alexander RuasAgente de Segurança – TRE-RJ

A terceira morte de Veramais justo e fraterno. Por um Brasil soci-alista. Mesmo para os que, como eu, con-sideraram um equívoco a luta armadacontra a ditadura militar nas condiçõesobjetivas e subjetivas dos anos 60 e 70,é essencial reconhecer a convergênciaestratégica e a legitimidade do combateao terrorismo da ditadura militar. Isto,meus amigos, não é morte: é vida! Umabraço.

Jacques Gruman (ASA)

Após a perda de ex-deputadaHeloneida Studart, dia 3 de dezembro, oBrasil perdeu, um dia depois, a ativistapolítica Vera Silvia Magalhães. Vera foicasada com o atual deputado Fernando Ga-beira e em um de seus depoimentos, re-colhidos nos arquivos do Jornal do Brasil,ela afirmou sobre a decisão pela luta ar-mada, no final dos anos 60: – O AI-5 aca-bou com os nossos diretórios e expulsounossas lideranças das faculdades. Nos sen-timos encurralados. Não dava para sim-plesmente irmos para o MDB. Éramosmarxistas. Foi então que decidimos pelaluta armada. Do socialismo daquela épo-ca, desisti. Mas não desisti da utopia, dosmeus sonhos de que o mundo se tornemelhor, com um mínimo de igualdade.

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6 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

*Da Redação.

Sindicais Para CNJ, cada tribunal é autônomo na matéria

TRT regulamenta jornada de 7 horasMax Leone*

Pela primeira vez na história, os ser-vidores do Tribunal Regional do Tra-balho do Rio de Janeiro (TRT-RJ) terãoum horário de trabalho definido. A pre-sidente do tribunal, desembargadoraDoris Castro Neves, regulamentou ajornada de trabalho dos funcionários.Assim, a partir do dia 3 de março, osservidores sem função comissionada(FC) ou cargo em comissão (CJ) cum-prirão sete horas de trabalho. Os ser-vidores com FC ou CJ passam a traba-lhar oito horas, ou nove horas, se qui-serem tirar uma hora de almoço. A re-gulamentação acaba com a velha his-tória que até então reinava nas repar-tições: cada chefe direto determinavaa jornada dos servidores.

Para o diretor do Sisejufe, RobertoPonciano, a regulamentação da jorna-da é um avanço e acabará com casosde abusos. Ele ressalta, no entanto,que a medida ainda não é a ideal. Osindicato defende a tese da jornada deseis horas diárias de trabalho. “O TRTdeu um passo à frente fixando a jorna-da em sete horas. É uma vitória da ca-tegoria, já que nas visitas que fiz àsvaras trabalhistas averiguamos que,

com a falta de uniformidade, em al-guns locais as chefias exigiam nove oudez horas de trabalho, e em outros, porsua vez, havia funcionários que nãocumpriam nem seis horas. Mas conti-nuamos lutando pela regulamentaçãodas seis horas”, afirma Ponciano.

A regulamentação segue os limitesda lei 8.112, que prevê um mínimo deseis horas e um máximo de oito horasde trabalho. A iniciativa cria a isono-mia entre todos os setores do TRT. Atéhoje, por falta de regulamentação es-pecífica, as jornadas no TRT variavamde seis horas diárias, em alguns seto-res, por acordo com a chefia, até asnove horas (oito mais uma de almo-ço), além de jornadas ilegais de até dezhoras, exigidas em alguns setores comrelação a funcionários comissionados.O “argumento” era de que servidor co-missionado não tem limite para jor-nada de trabalho.

O Sisejufe defende que horário dealmoço não pode ser consideradocomo hora trabalhada. E a regulamen-tação deixa à disposição do servidorfazer ou não horário de almoço. Deacordo com Ponciano, o Conselho Na-cional de Justiça (CNJ), que trata da

matéria, determinou que cada tribu-nal tem autonomia para regulamen-tar seu horário.

“A luta não é jurídica, é política. Épreciso convencermos os funcionários alutar permanentemente para a reduçãode jornada, com uma grande campanha,na qual o pedido administrativo sejaapenas a ponta do iceberg da nossa luta,que deve ter como baluarte o nosso Pla-no de Carreira”, diz Ponciano.

Com a fixação em sete horas, aque-les servidores que trabalhavam oitohoras ganham uma hora a mais de des-canso – o que certamente vai se refle-tir em melhora de qualidade de vida ede saúde. Os com função comissiona-da, a partir da regulamentação, sabemque também tem um limite dentro desua jornada. Para o Sisejufe, a medidadiminuirá os caso de assédio moral, jáque as chefias ficam impedidas de ne-gociar jornadas diferentes de acordocom critérios discricionários, dandoforça à luta do movimento sindical deque é possível ter uma jornada menorcom mais eficiência no trabalho.

A Fenajufe divulga a pri-meira reunião ampliada de2008, que acontecerá nodia 24 de fevereiro, a partirdas 10h, em Brasília, nasede da federação. Durantea ampliada, serão discuti-dos vários pontos como aNegociação Coletiva, para-lisação dos trabalhadores

A XIV Plenária Nacionalda Fenajufe acontecerá de 28a 30 de março, em Recife. Du-rante o encontro delegadose observadores debaterão as-suntos de interesse dos ser-vidores do Judiciário Federale MPU, incluindo os temasgerais dos trabalhadores e osespecíficos da categoria.

Ampliada da Fenajufe em 24 de fevereirocontra as reformas que co-meçam em abril, impostosindical, luta contra o PL1987/07 (promove altera-ções na CLT) e 1990/07 (dis-põe sobre o reconhecimen-to formal das centrais sin-dicais) e a liberação paraparticipar de atividades sin-dicais.

Plenária Nacional da Fenajufe será em RecifeComo é de costume em to-dos as plenárias e congres-sos da Fenajufe, os sindica-tos e os militantes de basepodem inscrever teses outextos para serem apresenta-dos na XIV Plenária Nacional.Esse material deve ser enca-minhado ao sindicato até odia 27 de fevereiro.

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 7http://sisejuferj.org.br

Samba, poesia e cervejaCultura Sarau Judicial Cool foi uma das inovações de 2007

– Quais foram os destaques doevento em 2007?DÚ BASCONÇA – Eu diria que os destaquesforam o público presente, bastante caloro-so, interessado e participativo e a interaçãoque aconteceu entre os artistas da catego-ria e esse mesmo público. Quanto a apon-tar destaques individuais, eu acho que podenão ser muito adequado, até porque apre-sentaram-se alguns nomes que já tem uma“cena” bem conhecida, como a poetisa Gló-ria Horta, e o poeta e ator Dênison Ramos,que já havia demonstrado seu talento nosvelhos saraus do auditório aqui da Justiça.Houve, sim, algumas “revelações”, como osaxofonista Carlos Henrique, oficial de jus-tiça aqui da SEMCI-RJ, e a poetisa MariaCélia Munch, da Seção de Distribuição daVenezuela. Mas o fato é que todos forammuito bem e deram seu recado de uma for-ma bastante competente.

– Como é realizar um projetocom “servidores artistas”? É mais gratifi-cante do que um sarau com “profissionaisda área”?DÚ BASCONÇA – Acho bastante instiganterealizar o evento com servidores artistas.Vários eu já conheço o potencial, outrostêm nos procurado com seus trabalhos,coisas bonitas, feitas com capricho e talen-to. O objetivo do evento é justamente esse,fazer do Sarau do Sisejufe um espaço emque os servidores artistas (ou ainda, os ar-tistas-servidores) possam mostrar sua arte,e nisso vai-se criando também um pontode referência onde os colegas podem seencontrar para compartilhar suas afinida-des no terreno artístico.

– Quais os projetospara 2008?DÚ BASCONÇA – A próximaedição do sarau deverá acon-tecer em março de 2008,numa data ainda a ser defini-da. As “inscrições” continuamabertas para que todos os in-teressados participem do even-to, trazendo sua contribuição em forma demúsica, poesia, dança, pintura, mímica, es-quete teatral, exposição de fotos etc.

– Como tem sido a repercussão doSarau Judicial Cool na categoria?DÚ BASCONÇA – Estamos cuidando da se-mente, trazendo os artistas, as pessoas vãose aproximando, se conhecendo e aí come-

O Sisejufe inovou na área cultural no segundo semestre de 2007. Capitaneado peloservidor do Judiciário Federal Rodrigo Moreira (foto), conhecido no meio musicalcomo Dú Basconça, o Sarau Judicial Cool (“sutil” trocadilho para umencontro de música e poesia em clima de bar) teve duasedições, em 14 de setembro e em 23 de novembro, e umsaldo pra lá de positivo. Confira, nesse bate-papo, como ocantor e compositor Dú Basconça avalia o projeto.

Bianca Rocha*

çam a pintar as idéias, os projetos. A reper-cussão entre o público tem sido ótima, to-dos que foram lá saíram contentes, por te-rem presenciado um evento bom de assistir,variado, nada maçante, com momentos quevão do sublime ao hilariante.

*Da Redação.

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8 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

Comida, diversão e arteA música dos Titãs diz que a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. O Sisejufe leva osversos ao pé-da-letra e, além da luta central em defesa dos interesses da categoria, dá ênfase às questõesculturais, artísticas e de formação no triênio 2005-2008. A gestão de Formação e Cultura, tímida em outras épocas,começou a ser reorganizada já na gestão 2002-2005 com eventos importantes como o Seminário Raízes da Américae o Seminário da Jornada de 6 Horas. A atual gestão foca ainda mais as atividades de Formação e Cultura,que tornaram o sindicato, principalmente depois da inauguração da nova sede, um pólo de conhecimento, debatese de expressão artística. Reveja aqui algumas da principais atividades do sindicato nesse setor.

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Botequim do Sisejufe

Na parte artística, o sindica-to transformou a confraterniza-ção anual numa festa bimestralque vem reunindo, em média,

400 servidores. A festaaposta na cultura brasi-leira e agora é temática.Em 2007, iniciou comum baile pré-carnavales-co, depois houve a FestaPloc, a Festa Junina, aNoite da Gafieira, a Festa

do Servidor (em homena-gem ao dia do Servidor

Público) com o show deDiogo Nogueira e, em de-zembro, a grande festa

de encerramento comRock e Dance. O Bo-

tequim do Sisejufe(que terá a sua 10ª

edição em fevereiro) re-úne nomes reconhecidos da mú-

sica carioca, como o já citado Diogo No-gueira, Roberta Nistra, Marcello Mattos, Pe-dro Holanda, Edu Krieger e Liza de Am-bróis com talentos da categoria como Dú

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Sarau Judicial Cool

Criado pelo músico Dú Basconça e comapoio da diretoria do sindicato, o Sarau éum espaço privilegiado para a música e apoesia feita pela categoria, ainda que hajaespaço também para as artes plásticas. No-mes como Glória Horta, PC e Gláucia, Rena-to da 28ª Vara, Maria Célia, Denise e Kátia,Leonardo Marins, Carlos Henrique entre ou-tros, deram um show de lirismo, humor emusicalidade, recitando poemas, cantandoe tocando samba, chorinho e jazz. É umanoite mágica e imperdível que acontece dedois em dois meses. Artistas interessados po-dem se inscrever pelo endereço eletrô[email protected], aos cuidadosde Dú Basconça.

Em 2008 o Sisejufe vaiabrir novas turmas para ocurso de Espanhol. Tam-bém estamos lançando,em março, o curso de In-glês do Sisejufe. Tambémpara 2008 o sindicato pre-para um novo curso de Fi-losofia Política, num pa-drão de extensão de nívelsuperior. Na área de deba-

Cursos e seminários em 2008tes, o sindicato vai organi-zar os seminários específi-cos para a Justiça Eleitorale do Trabalho, além do se-minário de Gênero e con-tra o Assédio Moral. A dis-cussão sobre o Plano deCarreira será descentraliza-da, com eventos em todasas regiões do Estado doRio. Participe!

Basconça, Otton Cid e Sandro Viegas, líderda Banda Marafos.

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Tarde musical dos aposentados

Os encontros do Núcleo de Aposenta-dos e Pensionistas têm sido animados porapresentações musicais, o que torna a reu-nião mensal um momento lúdico e prazero-so. A reunião acontece toda última terça decada mês. Interessados em desfrutar dacompanhia (e da alegria) dos colegas maisantigos do Judiciário Federal e aproveitaruma tarde de boa música podem agendarvisita pelo endereço eletrò[email protected], com a di-retora Lucilene Lima.

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Teatro

No dia 22 de maio de 2007, o Sisejufeapresentou a peça “Diálogos de um Louqo”,com o ator/diretor Marcos Barreto, com en-trada franca para sindicalizados. O monó-logo, que também esteve em cartaz no Es-paço Sesc de Copacabana, é uma criação doescritor carioca Paulo Bauler sobre aspec-tos da vida do dramaturgo Qorpo-Santo,precursor do Teatro do Absurdo.

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L T U

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 9http://sisejuferj.org.br

Cursos, cursos e semináriosNunca o Sisejufe investiu tanto em formação. A reforma da sede viabilizou esseprojeto político e colocou o sindicato numa posição de vanguarda em termos deequipamento para treinamento e capacitação. Hoje, o Sisejufe tem um auditórioreversível em duas salas com capacidade total de 110 pessoas,sala menor para 20 alunos, retroprojetor computadorizado,sistema de som interno com capacidade para espetáculos artísticos.

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Curso de Filosofia I e II

Em conjunto com professores mestres edoutores de universidades como Gama Fi-lho, PUC, UERJ, UFRJ, oferecemos os cursosde Filosofia, módulos I e II, que abrangerama história do pensamento ocidental desde aGrécia Antiga até os dias atuais. Os coorde-nadores Abílio Azambuja e Édson Resendesão doutores em Filosofia, sendo que o últi-mo é o atual coordenador da Pós-graduaçãoem Filosofia da Universidade Gama Filho, oque atesta a excelência do ensino oferecidono sindicato.

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Curso de Marxismo

O inédito curso de marxismo, intituladoMarxismos, teve o formato de curso de ex-tensão universitária e professores com títu-los de mestrado e doutorado. Foi o primei-ro curso de marxismo no Brasil a abranger

o amplo leque de pensamentos divergentesdo marxismo mundial, desde o pensamentofilosófico inicial, de socialismo utópico, atéa atualidade, passando por Sartre e a Escolade Frankfurt. O curso foi coordenado pelosprofessores Ernesto Germano e Helder Mo-lina e pelo diretor do sindicato Roberto Pon-ciano e alunos de diversas categorias pro-fissionais, além dos servidores do JudiciárioFederal.

Curso de Atualização em língua

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Portuguesa

Ministrado pelo professor WaldemarPedro Antônio, mestre em Português, temsido um grande sucesso e tem atingido oobjetivo de atualizar o conhecimento da lín-gua e sanar as infindáveis dúvidas com asquais lidamos no nosso idioma. O curso éem módulos e as inscrições estão permanen-

Ainda no final de 2006, nos dias 7 e 8de dezembro, a atual gestão do Sisejufepromoveu o Seminário Estadual “A Segu-rança para o Judiciário, Realidade e Pers-pectivas para uma Polícia Judicial”, quereuniu mais de 100 de agentes de segu-rança. No encontro foram discutidas arealidade da segurança pública; as condi-ções de trabalho dos agentes de seguran-ça; a regulamentação do PCS; e capacita-ção dos servidores da área de SegurançaJudiciária. O seminário também teve a pre-sença de agentes de segurança da Bahia,Rio Grande do Sul, São Paulo e DistritoFederal.

Um dos principais eventos promovi-dos pelo Sisejufe em 2007 foi o Seminá-rio sobre Plano de Carreira e Gestão De-mocrática de Pessoal, que aconteceu de20 a 22 de setembro. O Sisejufe foi pio-

temente abertas pelo endereço eletrô[email protected], aos cuidados dodiretor Roberto Ponciano. O curso serve comoAdicional de Qualificação para o TRF, a JustiçaFederal, TRE e TRT.

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Curso de Língua Espanhola

O curso de Espanhol Clase García Lorcaé outro sucesso. Cerca de 35 alunos estãohá quase um ano aprendendo a gramática econversação em espanhol. As professorasPatrícia Oliveira de Barros Alves, Fátima Cris-tina Soares Braga e o professor Roberto Pon-ciano são formados em Literatura e LínguaEspanhola e usam método similar ao utiliza-do pelo próprio Instituto Cervantes. Em par-ceria com a CUT, há uma segunda turma,aos sábados, com vagas abertas.

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Curso de História da Arte

Os cursos de História da Arte Universal ede História da Arte Brasileira, ministrados pelamestre em História da Arte Juliana Rodriguesda Silva, foram um tremendo sucesso. Alunosda categoria e de fora dela investiram numcurso de nível superior que perpassou as-pectos teóricos, estéticos e ideológicos daarte em diferentes culturas.

neiro nas discussões que devem pautar acategoria dos servidores do Judiciário Fe-deral nos próximos meses. Com o encerra-mento do seminário, o sindicato sugeriu àFenajufe a organização de eventos similaresem todos os sindicatos do Judiciário Federalno Brasil. Os debates aconteceram na sededo Sisejufe e contaram com a presença desindicalizados, dirigentes sindicais de todo opaís e painelistas da CUT, do Dieese, da Fena-jufe, do STF, da UFRJ e do Sintrajufe-RS.

De 22 a 25 de outubro de 2007, o Sise-jufe, a CUT e o Sindicato dos Bancários pro-moveram o Seminário 90 Anos da Revolu-ção Russa para lançar luz sobre alguns epi-sódios históricos e discutir as suas distor-ções, principalmente após a queda do Murode Berlim. O evento reuniu lideranças e mi-litantes dos movimentos sindical e social, es-tudantes e trabalhadores em geral. O semi-

Seminários: a categoria em foco

nário analisou o contexto histórico, o sig-nificado político, as heranças deixadas pelaRevolução Russa, a atualidade do marxis-mo e da luta pelo socialismo. Os painéis,com historiadores e nomes importantes dapolítica e da sociologia brasileira, ocorre-ram no auditório do Sisejufe e no auditó-rio do Sindicato dos Bancários.

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10 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

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I S Fidel Castro: biografia a duas vozes

Baile Pós-Carnavalesco do Sisejufe

Prolongue seu Carnaval com o Sisejufe! Na 10° ediçãodo Botequim do Sisejufe será realizado um baile pós-car-navalesco, com muita alegria, música, confete e serpenti-na! A música ficará por conta de Edu Krieger voz e violão,Samuel Oliveira no sax, Alexandre Bitencourt também nosax, Anderson Vilmar na percussão, Marcelo Mattos tam-bém na percussão e Roberta Nistra com voz e cavaquinho.Preparem as máscaras e o modelito, pois haverá prêmios

Escrito pelo jornalista franco-espanhol Ignacio Ramonet, diretor do LeMonde Diplomatique, o livro é o resultado de cem horas de entrevista comFidel Castro, a mais longa já concedida por ele a um jornalista. O lançamen-to da Editora Boitempo é fundamental para se conhecer a vida, as idéias e aversões pessoais de fatos históricos de um dos mais polêmicos e importan-tes líderes políticos dos últimos 50 anos. O livro, com fotos inéditas dosprincipais momentos da vida do dirigente comunista, revela os bastidoresde momentos importantes da história contados do ponto de vista do diri-gente cubano, como a participação de Cuba na luta pela independência dospaíses africanos e a sobrevivência frente à derrocada do Bloco Soviético. Naobra, apresentada por Fernando Morais e traduzida por Emir Sader, Fideltambém comenta a situação política contemporânea. Globalização, terro-rismo, meio ambiente, a proposta da Área de Livre Comércio das Américas(Alca), e os movimentos e governos de esquerda e centro-esquerda da Amé-rica Latina, como o de Hugo Chávez na Venezuela, os zapatistas em Chia-pas, Evo Morales na Bolívia, Néstor Kirchner na Argentina e Lula no Brasil.

para a melhor fantasia e para o folião mais animado. Seráuma noite agradável e animada embalada pelo som dasboas marchinhas de Carnaval. A festa acontece no dia 22 defevereiro, sexta-feira, às 19h, no Clube do Empresário (Ruada Candelária, n° 9, 14° andar). Convites serão distribuídosaos servidores do Judiciário Federal em seu local de traba-lho e também podem ser retirados na sede do sindicato(avenida Presidente Vargas n° 509, 11° andar).

Ver TV

Há quase um ano no ar pela TV Câmara, e agora sen-do retransmitido pela TV Brasil, o programa de deba-tes Ver TV é comandado pelo jornalista e pesquisadorda área de políticas de Comunicação da Universidadede São Paulo (USP) Laurindo Leal Filho, ou simplesmen-te Lalo Leal. “Sempre achei que a TV brasileira tinhauma grande lacuna: ela não se analisava. E como noBrasil as pessoas praticamente só se informam pelatelevisão, isso era uma lacuna muito séria. Ela criticatodas as áreas, discute todos os assuntos, menos a pró-

pria televisão”, afirma Leal. O programa é produzidonuma parceria da TV Câmara com a Comissão de Direi-tos Humanos da Câmara e a cada edição dá visibilidadeàqueles que são os dois eixos dos debates: a democra-tização da comunicação e a ética na televisão. Temascomo os critérios de distribuição das concessões, a con-centração dos meios e a propriedade cruzada são roti-neiros nas discussões. Além da TV Câmara, o programapode ser visto em sinal aberto pela TV Brasil todo sá-bado, às 21h30min.

As Melhores Marchinhas do Carnaval 2008

O CD da Som Livre trás de volta a alegria de um Carnaval familiar, irrevente esem preocupações comerciais. O disco reúne as 10 composições finalistas doConcurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso, cujafinal aconteceu em dia 20 de janeiro. O concurso foi idealizado pelo produtorcultural Perfeito Fortuna, responsável pela Fundição Progresso, e está na sua 3ºedição. Nesta edição houve 612 músicas inscritas e as finalistas que foram esco-lhidas pelo júri composto por Sérgio Cabral, Xico Chaves, Kiko Horta e NilzeCarvalho. O CD foi gravado por intérpretes da Banda Fundição e contou comparticipações especiais de cantores como Luciane Menezes, Moyséis Marques,Alfredo Del-Penho e Mariana Bernardes. A coletânea, com patrocínio da Petro-

bras e direção de Marcelo Bernardes, faz uma homenagem a Lamartine Babo, com as músicas Hino do Carnaval Brasileiro eLinda Morena. (Veja a Entrevista desta edição, nas páginas 18 e 19).

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 11http://sisejuferj.org.br

Chamar de novo o ano que se iniciame deixa de pé atrás. Mineiro, sobra-me desconfiança. Porque novo só mes-mo o avanço de um dígito no calendá-rio anual deste século XXI.

Ano que se inicia é como casa nova,vem junto toda a tralheira da velha.Parece aniversário, a gente muda deidade e conserva os mesmos vícios, asmesmas manias, os mesmos(des)propósitos. E ainda acha, de que-bra, que não ficou mais velho. Porqueruga só se enxerga em rosto alheio.

Este novo ano convergirá para aseleições municipais. Vai rachar na basecitadina a coalizão articulada nas lúli-cas altitudes do Planalto. Partidos quese bicam em Brasília haverão de que-brar o pau na disputa municipal pelacadeira de prefeito. E uma avassalado-ra multidão de candidatos estará deolho no mandato de vereador. Uns,porque imbuídos de espírito cívico,aspiram sinceramente a servir à popu-lação. Outros sonham em ganhar semtrabalhar.

Ser vereador no Brasil é prêmio daloteria eleitoral. O eleito compareceuma ou duas vezes por semana à Câ-mara Municipal e, graças ao cargo,dedica o resto do tempo ao que lhe dána telha. Uns poucos se interessam defato pela cidade; outros cuidam de seusnegócios pessoais; e há ainda os quepreferem a ociosidade bem remunera-da, turistando mundo afora à custa docontribuinte e do erário público.

A maioria faz tráfico de influência.É o chamado nacotraficante. De cadajeitinho dado o sujeito arranca umnaco em proveito próprio: um saco de

Ano Eleitoral Ser vereador no Brasil é prêmio da loteria eleitoral

2008: eleições municipaisFrei Betto*

cimento aqui, a matrícula do meninoali, uma passagem rodoviária interes-tadual acolá…

O bom pra eles é que nós, eleito-res, votamos e, quinze dias depois,nem mais recordamos o nome do can-didato. Se eleito, o sujeito fica à von-tade, sem sofrer pressão de quem oelegeu. É a democracia delegativa.Nem chega a ser representativa. E estáa mil anos-luz da participativa – aque-la em que a sociedade civil organizadainterage permanentemente com o po-der público. E tem consciência de quepolítico não é autoridade, é servidor.Nós o elegemos e lhe pagamos o salá-rio. Autoridade é o povo, a quem eledeve prestar contas. O eleitor tem odireito de cobrar, propor, pressionar;o político, o dever de prestar contas.

O discurso e a prática

Bom seria que escolas, associa-ções, sindicatos, igrejas, empresas etc.promovessem debates com partidos ecandidatos, e exigissem, por escrito, agarantia de que cumprirão determina-

dos compromissos. Fiz isso na últimaeleição para deputado federal. Houvequem se recusasse a assinar… E olhaque era gente de partido pretensamen-te progressista. É assim, na hora dodiscurso, uma beleza; na hora do com-promisso, uma tristeza…

E é bom ter presente também que,neste ano, comemoram-se os 60 anosda Declaração Universal dos DireitosHumanos. O que a direita raivosa con-sidera “coisa de bandido”. Falta incluirna Declaração os direitos internacio-nais, planetários e ambientais, demodo a obrigar o governo dos EUA atirar as patas de Cuba (Guantánamo +bloqueio) e de Porto Rico (colônia USAdesde 1898, quando o processo dedescolonização já ocorreu no resto domundo).

Bons votos e feliz 2008, querido(a)leitor(a)!

Frei Betto:“É a democracia delegativa.Nem chega a serrepresentativa. E está a milanos-luz da participativa –aquela em que a sociedadecivil organizada interagepermanentemente como poder público. E temconsciência de que políticonão é autoridade,é servidor.”

* Escritor; autor de “A arte de seme-ar estrelas” (Rocco), entre outros

livros. Artigo originalmentepublicado na Caros Amigos.

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12 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

O Tribunal Superior Eleito-ral (TSE) vem divulgando, aolongo desse mês de janeiro, di-ferentes informações sobre oseleitores brasileiros consolida-das para dezembro de 2007. Naquarta-feira (16/1), foi a vez daescolaridade do eleitor. Trata-se de dados de grande interes-se público, sobretudo para po-líticos, partidos e outras enti-dades envolvidas no processoeleitoral no ano em que serãorealizadas eleições municipaisem todo o país. Como não po-

deria deixar de ser, houve repercussãoimediata na grande mídia. O principal te-lejornal da televisão brasileira, o JornalNacional da Rede Globo, deu matériacom a chamada “Mais de 6% dos eleito-res brasileiros são analfabetos”, seguidado texto:

“Mais da metade dos eleitores brasi-leiros não completou o ensino funda-mental. O levantamento do Tribunal Su-perior Eleitoral mostra ainda que maisde 6% são analfabetos e pouco mais de3% têm formação universitária. O Nor-deste concentra o maior percentual deeleitores com baixo grau de escolarida-de: 70% não completaram o ensino fun-damental.”

No dia seguinte (17/1), os principaisjornais de referência nacional trouxerammatéria sobre o assunto com os seguin-tes títulos:

** O Globo: “Maioria dos eleitores tembaixa escolaridade”

** Folha de S.Paulo: “51% dos eleito-res não têm ensino fundamental”

** O Estado de S.Paulo: “57,96% doseleitores têm baixa escolaridade”

** Jornal do Brasil: “Eleitores têm bai-xa escolaridade”

** Correio Braziliense: “Eleitores es-tudaram pouco”

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Obra-prima do jornalismo apressadoO TSE e a escolaridade do eleitor

Venício A. de Lima* O enquadramento predominantenas matérias salientava o “quadro dra-mático” da baixa escolaridade dos elei-tores brasileiros, expresso no fato deque a maioria deles “não conseguiusequer completar o ensino fundamen-tal” e também nas enormes desigual-dades regionais.

No Estadão e no Correio há tambéma opinião de dois cientistas políticos –versão impressa dos fast-thinkers de Pi-erre Bourdieu – interpretando os dadosdo TSE como indicadores de que “cria-se um ambiente pavimentado para quemquiser se eleger, se aproveitar” e de que“esse tipo de eleitor [de baixa escolari-dade] é mais suscetível à barganha. Qual-quer oferta de tijolos, telhado, qualquerfavor pode influenciar” (sic).

Jornais comeram mosca

É necessário, no entanto, que se fa-çam qualificações importantes sobre osdados do TSE e, sobretudo, sobre a for-ma de sua divulgação pela grande mídia.

1. Primeiro, o leitor atento deve terobservado que nas matérias de quatrodos cinco jornalões brasileiros – O Glo-bo não julgou necessário incluir a infor-mação – havia, apenas de passagem, umaadvertência fundamental feita pelo pró-prio TSE: “os dados podem apresentardefasagens porque a escolaridade foideclarada no ato do alistamento”.

O que isso significa exatamente?

Ao contrário das informações sobrefaixa etária, atualizadas anualmente a par-tir da data de nascimento do eleitor, aescolaridade para o TSE continua a seraquela declarada quando se faz o alista-mento eleitoral. Quem se alistou com 18anos (até 1988) ou com 16 (desde a Cons-tituição de 1988), quando – no limite –se alcançava o 2º grau (hoje, ensino mé-dio), mesmo que tenha prosseguido nosestudos (concluído o ensino médio e/ouo superior) aparecerá nas estatísticascom a escolaridade declarada no alista-mento, salvo se procurar o TSE para atu-

alização dos dados. Vale dizer, os dadosdo TSE sobre escolaridade do eleitor sãoapenas indicativos, não podem ser con-siderados como estatisticamente con-fiáveis.

Ao analisar as eleições presidenciaisde 2006, o sociólogo Marcos Coimbra,diretor do Instituto Vox Populi, atribuiàs mudanças nos padrões de escolarida-de a primeira e mais fundamental razãopara a inadequação do modelo de “for-mação de opiniões” que prevalece entrenós. Valendo-se de dados do censo doIBGE e da PNAD, ele comenta que...

Da mesma forma, a sexta edição doIndicador de Alfabetismo Funcional(INAF/Brasil), estudo realizado pelo Ibo-pe em parceria com o Instituto PauloMontenegro e a ONG Ação Educativa,divulgado em dezembro de 2007, revelasignificativo avanço em termos de alfa-betismo funcional.

“...na nossa primeira eleiçãopresidencial moderna, apenas 20%dos eleitores tinha mais que o pri-meiro grau. Hoje, ultrapassam os40%. Inversamente, a parcela combaixíssima escolaridade caiu de per-to de 60%, para cerca de um terçodo eleitorado. Em termos absolu-tos, tivemos, em 2006, mais de cin-qüenta milhões de eleitores com,pelo menos, parte do segundo grau,com ele completo ou com acesso àeducação superior, contra apenasdezoito milhões em 1989, nas mes-mas condições”. [cf. quadro abaixoe Marcos Coimbra, “A mídia tevealgum papel durante o processo elei-toral de 2006?” in V. A. de Lima(org.); A mídia nas eleições de 2006;Perseu Abramo, 2007).

As conclusões do estudo indicam:

“Reduz-se a proporção de indivídu-os classificados como analfabetos ab-solutos e no nível rudimentar de alfa-betismo (equivalente, neste ano, a 7% e25% da população na faixa etária pes-quisada, ante 12% e 27% nas primeiras

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 13http://sisejuferj.org.br

Escolaridade do Eleitorado - Brasil 1989 e 2005BRASIL

1989 2005

Até 4ª sérieDe 5ª a 8ª série

MédioSuperior

Escolaridade Absoluto % %Absoluto

Fonte: IBGE/PNAD-1989/2005.

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56%23%14%7%

36%24%29%11%

mais um ano, isto é, um ano do antigopré-primário, todo o antigo curso pri-mário mais o antigo ginásio. Não é ape-nas saber ler e escrever, é muito mais doque isso.

3. Terceiro, e talvez mais importan-te, o leitor atento haverá notado que asmatérias dos jornalões não fazem qualquerdiferença entre escolaridade e capacidadecognitiva, de análise, do eleitor. Indepen-dente do fato de que a escolaridade se rela-ciona positivamente com maior articula-ção do pensamento e capacidade crítica, aausência de instrução formal não pode seridentificada, sem mais, com a incapacida-de de pensar e raciocinar de forma inde-pendente. O que se viu nas eleições de2006, aliás, foi exatamente o contrário.

Desde a década de 1960, nosso mai-or educador, Paulo Freire, já chamavaatenção para o fato de que mais impor-tante do que ser alfabetizado, isto é, sa-ber ler e escrever, era saber “ler o mun-do”. Aliás, Freire mostrou que, muitasvezes, o processo de alfabetização for-mal (do tipo “Pedro viu a asa; a asa é daave” e “Eva viu a uva”) dificulta a aprendi-zagem da leitura do mundo, ao contráriode facilitá-la.

No mundo contemporâneo, a escolae a educação formal fornecem apenasparte do imenso conjunto de informa-ções de que cada um de nós necessitapara fazer o sentido do mundo, compre-endê-lo e tomar as decisões do dia-a-dia,inclusive nos processos eleitorais.

Jornalismo apressado

No final das contas, as matérias so-bre os dados divulgados pelo TSE reve-lam a pobre qualidade do jornalismo que,infelizmente, tem prevalecido na grandemídia brasileira: não se questionam nemse contextualizam as informações. Essejornalismo apressado e pouco profissi-onal, além de desrespeitar e informar malao leitor, certamente contribui para dis-tanciar, ainda mais, a mídia brasileira deseu principal papel, que é servir ao inte-resse público.

*Observatório da Imprensa(22 de janeiro de 2008).

edições do INAF em 2001/2002). Jáos níveis básico e pleno têm crescidosolidamente: de 34% para 40% e de26% para 28%, respectivamente nomesmo período. Esta evolução podeser associada à crescente escolariza-ção da população brasileira, que au-mentou significativamente nas últi-mas décadas. A parcela de crianças eadolescentes entre 7 e 14 anos fre-qüentando a escola, por exemplo,praticamente se universalizou, gra-ças ao maior acesso e permanênciana escola”.

explicação sobre o que seja ensino fun-damental. Na verdade, desde 2006 (Leinº 11.274), o artigo 32 da Lei de Diretri-zes e Bases da Educação passou a ter aseguinte redação:

Como se vê, ao não questionarem osdados do TSE e não contextualizá-los emperspectiva histórica, os jornalões dei-xaram de perceber que a grande notíciasobre a escolaridade dos eleitores no Bra-sil é o seu formidável avanço nos últi-mos anos e, inclusive, as importantes im-plicações desse avanço já observadas nocomportamento eleitoral.

Leitura do mundo

2. Um segundo ponto que o leitordeverá ter observado é que, embora asmatérias dos jornalões (e do JN) se refi-ram ao fato da maioria dos eleitores nãohaver conseguido completar o “ensinofundamental”, não existe nelas qualquer

“O ensino fundamental obrigató-rio, com duração de 9 (nove) anos,gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terápor objetivo a formação básica do ci-dadão, mediante: I - o desenvolvi-mento da capacidade de aprender,tendo como meios básicos o plenodomínio da leitura, da escrita e docálculo; II - a compreensão do ambi-ente natural e social, do sistema po-lítico, da tecnologia, das artes e dosvalores em que se fundamenta a so-ciedade; III - o desenvolvimento dacapacidade de aprendizagem, tendoem vista a aquisição de conhecimen-tos e habilidades e a formação de ati-tudes e valores; IV - o fortalecimen-to dos vínculos de família, dos laçosde solidariedade humana e de tole-rância recíproca em que se assenta avida social.”

O ensino fundamental completo, por-tanto, se refere hoje ao que antigamen-te se chamava de 1º grau, acrescido de

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14 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

Depois de aportar em Nai-róbi, capital do Quênia, em2007, o Fórum Social Mundi-al (FSM) reuniu ativistas queacreditam que um outromundo é possível durante osábado, 26 de janeiro, no Par-que do Flamengo, no Rio deJaneiro. Pela primeira vez des-de que foi criado, o FSM seespalhou simultaneamentepor cerca de 80 países. NoBrasil, a maior concentraçãofoi no evento “Rio Com Vida”,no Aterro, mas outras 19 ci-dades, incluindo Fortaleza,

Belém, Natal, Recife, São Paulo e Pelo-tas (RS), também promoveram mobili-zações e um dia de debates e manifes-tações artísticas. “Queremos mostrarque nós, os que querem mudar o mun-do, somos muito e estamos em todosos lugares”, diz Chico Whitaker, umdos idealizadores do Fórum.

O foco da 7ª edição do evento, queocorre sempre nos mesmos dias doFórum Econômico Mundial, em Davos,na Suíça, foi a diversidade cultural. NoRio, isso ficou evidente desde gruposíndígenas vendendo artesanato atéequipes médicas esclarecendo sobre a

Por um outro mundo possívelHenri Figueiredo*

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dengue ou a febre amarela, passandopor cariocas que participam do movi-mento de boicote ao pagamento doIPTU. Desde sua criação em 2001, emPorto Alegre, por iniciativa de ONGsbrasileiras e estrangeiras, o FSM setornou um processo permanente debusca e construção de alternativas àspolíticas neoliberais. O propósito deuma edição pulverizada por várias par-tes do mundo é ampliar a ligação dasONGs com as populações locais.

As atividades do Dia de Mobiliza-ção e Ação Global começaram às 10he, ao longo dia, foram realizadas per-formances, feira de trocas, debates,exibição de filmes, apresentações mu-sicais e debates em oito tendas e qua-tro palcos localizados entre o Museuda República e o Hotel Glória. Foramum total de oito tendas, com os temas:Idéias, Trocas e Economia Solidária,Alimentação, Conexão Mundial, Au-diovisual, Artes Cênicas, Crianças ePonto de Encontro.

Muitas outras pequenas tendasabrigaram representantes sindicais eda sociedade civil. Estiveram presen-tes personalidades ligadas à luta porum mundo melhor como o dramatur-go Augusto Boal, o teólogo LeonardoBoff, o músico Tico Santa Cruz, o atorMilton Gonçalves e o ministro PauloVannuchi – Secretário Especial de Di-reitos Humanos (SEDH) da Presidên-cia da República.

Para Leonardo Boff, o FSM discute“o que realmente é importante parauma qualidade de vida mínima, umavida decente não só para os seres hu-manos, mas também para os animaise as plantas”. Boff ressaltou que o fó-rum visa “mostrar que há gente nomundo inteiro, em todos os países,que resiste a esse sistema de ocupa-ção do nosso planeta” e que temoscondições, tecnologia e vontade, paraque um novo mundo não seja apenasum sonho, mas se torne real atravésda mobilização e de novas práticas.

Para Tico Santa Cruz, músico e ati-vista do grupo Voluntários da Pátria, amúsica e a poesia dentro do FSM podedivulgar uma nova consciência políti-ca. “A revolução começa dentro decada um de nós, que a gente consigacomeçar essa revolução interna”, dis-se o músico. O ministro Paulo Vannu-chi lembrou que este evento aconteceno ano em que celebramos o 60º ani-

Cândido Grzybowski:“O povo carioca é muitocriativo, muito heterogêneo.Nas outras cidades, não sevê tantas apresentaçõesligadas à cultura. Nelas ofoco é mais político, ocorremmarchas e caminhadas.A intenção, no entanto,é a mesma em todos oseventos: mostrar nossadiversidade, para reunirgrupos sociais diferentese promover o entendimentoe a solidariedade”.

Boff: um mundo melhor através da mobilização e de novas práticas.

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 15http://sisejuferj.org.br

versário da Declaração Universal dosDireitos Humanos, que prega o direi-to à liberdade, saúde, alimentação ediversidade sexual.

O show de encerramento foi dosambista Martinho da Vila, no palcoprincipal, e atraiu centenas de pesso-as, apesar da chuva. Antes do espetá-culo, Leonardo Boff e Cândido Grzy-bowski, diretor geral do Ibase e um doscoordenadores mundiais do FSM, fa-laram ao público.

De acordo com Cândido, “o povocarioca é muito criativo, muito hete-rogêneo. Nas outras cidades, não sevê tantas apresentações ligadas à cul-tura. Nelas o foco é mais político, ocor-rem marchas e caminhadas. A inten-ção, no entanto, é a mesma em todosos eventos: mostrar nossa diversida-de, para reunir grupos sociais diferen-tes e promover o entendimento e asolidariedade”. Em 2009, o FSM deveacontecer em Belém (PA), mas Salva-dor ainda está na disputa. A definiçãoda nova cidade-sede deve acontecer atéjunho deste ano.

*Da Redação. Com informações deCreuza Gravina (Ciranda da Informação

Independente) e Agência Brasil.

Fotos: Samuel Tosta

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16 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

A década de 80 e a ruptHelder Molina*

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Ano II – número 17 – janeiro/2007

Nos anos de 1979 a 1981 osindicalismo combativo foiderrotando os pelegos nas elei-ções de importantes sindica-tos, tanto de categorias da in-dústria, quanto de serviços ecomércio. As assembléias, pas-seatas e piquetes passaram ater a presença constante depoliciais, jagunços, elementosprovocadores, com a função decontrolar, espionar, ameaçar eagredir os que estavam na li-nha de frente das mobiliza-ções. Alguns setores do sindi-

calismo atrelado passaram a participarmais das atividades nas fábricas, dispu-tando hegemonia com o Novo Sindica-lismo. Os pelegos tradicionais buscaramse renovar, conformando alianças comsetores da esquerda, como o PCB, PCdoBe MR8. Muitas eleições sindicais nosanos de 1979 a 1983 tiveram a partici-pação de chapas compostas pelos pele-gos e forças políticas que lutavam con-tra a ditadura e que foram vítimas da re-pressão do fascismo de Estado.

Essas organizações de esquerdaestavam presentes em muitas e impor-tantes direções sindicais, em compo-sição com o sindicalismo da estruturaoficial. Argumentavam que o Novo Sin-dicalismo era divisionista, fragmenta-va e enfraquecia os trabalhadores e de-fendiam uma organização mais rígida,unificada em torno dos sindicatos. Naprática foram contra a autonomia sin-dical, buscando enquadrar o movimen-to sindical a uma proposta de reformasno modo de produção capitalista e detransição sem traumas da ditadura aoEstado democrático de direito. Esseconfronto dos sindicalistas autênticose combativos com a estrutura sindicalpelega e aliada a estas organizações deesquerda se aprofundava na medidaque as lutas se intensificavam. Havia emdisputa duas concepções não só de es-trutura sindical, mas principalmente de

seu papel na sociedade e de que proje-to de sociedade e de Estado se preten-dia construir.

O trabalhador se educa nas lutas, sepolitiza nos conflitos, se torna sujeitode sua história, e rompe a alienação. Osindicato é importante instrumento deeducação coletiva das massas. As lutascontra os patrões e o enfrentamento àrepressão policial, os debates travadosnas assembléias, as palavras de ordensgritadas nas passeatas, os congressose as discussões de propostas contra ocapital e o capitalismo são espaços emecanismos de educação política dostrabalhadores. A formação política, e areflexão crítica organiza as idéias e ateoria que se produz da prática das lu-tas. Esses elementos o Novo Sindicalis-mo resgatou e os trabalhadores assu-miram seu protagonismo. No início dadécada de 1980 (precisamente nosanos 1981 a 1983), o movimento sindi-cal buscou construir um projeto políti-co que unificasse as lutas e superasse aestrutura herdada do Varguismo e apro-fundada na ditadura.

Imposto sindical:o divisor de águas

A busca da unidade passava pelaconstrução de uma nova estruturasindical, que negasse o imposto sin-dical (base de sustentação financei-ra da burocracia sindical à época),revogasse os entraves e entulhos aolivre exercício da liberdade e auto-nomia sindical (presentes na estru-tura corporativa e vertical, produzi-da pelo Estado Novo), garantisse alivre organização da classe, com par-ticipação das bases, e que se colocas-se contra o Estado capitalista, pelofim do regime militar e de sua políti-ca econômica de arrocho e explora-ção dos trabalhadores. Essas reivin-dicações, dentre outras, formaram oterreno por onde caminharam os au-tênticos e os pelegos, na busca de cri-ação de uma central sindical que re-

presentasse o Novo Sindicalismo. Acriação de uma comissão nacional pró-CUT foi a representação concreta doesforço pela unidade em torno de umprojeto sindical livre, autônomo, de-mocrático e de classe. Em 1983, apósencontros por vários estados, foi orga-nizado o Congresso Nacional das Clas-ses Trabalhadores (Conclat), ondedois campos políticos se constituíram.Os pelegos e seus aliados à esquerdadefendiam uma integração à estrutu-ra sindical oficial, uma transição pordentro, entre o modelo corporativo eo de livre organização. Os represen-tantes do Novo Sindicalismo defendi-am uma ruptura com a estrutura ofi-cial, a livre organização imediata, aautonomia para os trabalhadores seorganizarem independentemente doEstado e dos patrões. O imposto sin-dical foi o grande divisor de águas. Ovelho sindicalismo insistia na perma-nência de sua cobrança, e os autênti-cos se posicionaram abertamente con-tra sua existência. O congresso nãoconseguiu um ponto de unidade, e osdois setores se separaram, vindo aconstituir duas centrais diferentes.

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A Américaminada

A Colômbia já é a líder mundial de vítimas de minas terrestres

*Historiador, assessor de forma-ção da CUT-RJ e coordenador

do curso Marxismos do Sisejufe.

Ano II – número 17 – janeiro/2008

tura entre a CGT e a CUT

As forças ligadas à estrutura cor-porativa se retiraram do Conclat efundaram, em 1984, a Central Geraldos Trabalhadores (CGT) tendo oSindicato dos Metalúrgicos de SãoPaulo (dirigido pelo agente da dita-dura e arquipelego Joaquim dos San-tos Andrade, o Joaquinzão) à frentedaquela central. Antes, os setoresque se reuniam no chamado NovoSindicalismo fundaram, em 1983, aCentral Única dos Trabalhadores(CUT). Portanto, a CUT viria a se cons-tituir na primeira central sindical in-dependente, ao arrepio da estruturaoficial, que não permitia a existênciade centrais sindicais pois elas remeti-am à herança da COB (Central Operá-ria Brasileira), de 1908, de inspiraçãoanarco-sindicalista – ou seja, um pe-rigo para a ordem capitalista.

Os novos movimentos,no campo e na cidade

A CUT esteve na linha de frente nacampanha por eleições diretas parapresidente da República, e pela convo-cação de uma Assembléia Nacional

Constituinte, que veio construir, em1988, uma nova carta constitucionalpara o Brasil. A conjuntura dos anos 80foi de lutas dos trabalhadores, retoma-da das entidades e do movimento estu-dantil, de surgimento de novos movi-mentos sociais urbanos (movimentosde mulheres, negros, homossexuais,reforma urbana e moradia, saúde pú-blica, educação pública e de qualidadesob responsabilidade do Estado, entreoutros) e também rurais – o mais im-portante deles foi surgimento do Movi-mento dos Trabalhadores Sem Terra(MST), que é produto da injusta e per-versa concentração da propriedade daterra no Brasil, uma herança do coloni-alismo, das capitanias hereditárias e dolatifúndio monopolista.

A CUT se consolidou em três con-gressos nacionais realizados na déca-da de 1980, imprimindo a marca daliberdade de organização sindical.Muitos sindicatos se constituíram aoarrepio da CLT, e a autonomia foi colo-cada em prática na criação de estrutu-ras horizontais, coletivos, plenárias, ede uma estrutura sindical baseada nas

formas de federações democráticas. Aschapas encabeçadas pelo Novo Sindi-calismo-CUT passaram a dirigir impor-tantes sindicatos industriais, como osdo ABC, Volta Redonda, Rio de Janeiro,Campinas, Contagem e Belo Horizon-te, e os sindicatos de bancários de pra-ticamente todas as capitais brasileiras.

No meio rural, a Confederação Na-cional dos Trabalhadores na Agricul-tura (Contag), que existe deste a es-trutura montada pelo Varguismo, pas-sou a ter participação crescente de li-deranças e sindicatos ligados à CUT,até que, na década de 1990, efetiva suafiliação à CUT. O novo sindicalismotambém cresceu no campo, impulsio-nado pelas lutas dos assalariados ru-rais e dos pequenos produtores e cam-poneses, que assumiram a luta pelareforma agrária. O MST, apesar de nãose organizar em sindicatos, tambémcontribuiu para que o campo se tor-nasse protagonista político e sujeitosocial importante nas lutas pela demo-cratização do acesso e posse da terra,bem como para constituição de políti-cas sociais públicas, como saúde, edu-cação, moradia, saneamento e eletri-ficação do espaço agrário.

A CUT se consolidou em trêscongressos nacionais realizadosna década de 1980, imprimindoa marca da liberdade deorganização sindical. Muitossindicatos se constituíram aoarrepio da CLT, e a autonomiafoi colocada em prática nacriação de estruturashorizontais, coletivos, plenárias,e de uma estrutura sindicalbaseada nas formas defederações democráticas.

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No Carnaval, o TRE nãBianca Rocha* – Como foi a experiência de par-

ticipar do Concurso de Marchinhas deCarnaval da Fundição Progresso?EVERTON – Ter ficado entre os dez fina-listas, juntamente com compositores eintérpretes famosos como Eduardo Dus-sek, Mauro Diniz, Aroldo Bastos, foi umgrande prazer e uma ótima forma de tro-ca de conhecimento artístico.MARCUS – Esse foi o primeiro ano queinscrevemos uma marchinha. Foi uma ex-periência muito bacana. Até porque o júrifoi formado por nomes de peso na músi-ca, como o Sérgio Cabral pai, o maestroKiko Horta e João Roberto Kelly. Ter fica-do entre as dez, já foi uma grande vitória.

– Vocês estão na música há mui-to tempo? Como começou essa parceria?EVERTON – A gente já tem um trabalhodesenvolvido, eu e o Marcus temos umaparceria. Eu componho desde os noveanos de idade, sou formado em piano clás-sico e toquei na noite durante 12 anos. Agente compõe de tudo. Eu gosto muitode samba, eu componho mais samba queé onde me sinto mais à vontade.

– Como conciliar a carreira deservidor federal com a de músico?EVERTON – Eu desenvolvo atividade mu-sical, tenho um home studio e ainda estu-do Direito. Tenho que fazer uma jornal

da tripla. A marchinha “Amor não me se-gura”, por exemplo, foi feita muito rapi-damente. O Marcus me entregou a letrano fim das inscrições, e durante a ma-drugada bolei os arranjos. Além de fazera parte escrita há também a melodia, ti-vemos que gravar... E deixar uma coisabem feita para tentar ir para as finais.Trabalhamos de madrugada, sábado edomingo, para apresentar na segunda-feira.MARCUS – Eu já tive o sonho de viver demúsica, há uns dez, doze anos, e bus-quei isso por mais de um ano, briguei,tomei muita cara na porta, foi um perío-do difícil. Depois fui buscar outros pro-jetos mas sempre tendo a música comoum hobby.

– Como foi a reação dos com-panheiros de trabalho quando vocêsemplacaram a marchinha no disco doconcurso?MARCUS – Isso foi uma coisa bacana. Atéque você tenha um trabalho para mos-trar, uma coisa que seja mais ou menosconhecida, as pessoas acham que você éaquele carinha que escreve música equestionam: “Quem gravou sua música?Ninguém!” ou “Escreve música entãopara quê?”. Quando o teu trabalho ganha

uma certa visibilidade o tratamen-to muda muito, é impressi-

onante. Muitos dos quesabiam que éramos

compositores, masolhavam com uma

O 3º Concurso Nacional deMarchinhas Carnavalescas daFundição Progresso, cuja finalaconteceu em 20 de janeiro, naLapa, teve entre os finalistasdois servidores do Tribunal Re-ginal Eleitoral (TRE) do Rio deJaneiro. Marcus Vinícius Mon-teiro, 31 anos, de Nova Igua-çu, e Everton Chierici, 27 anos,da Vila da Penha, compuserama marchinha “Amor não me se-gura”, que ficou entre as dezprimeiras colocadas e faz par-

te do CD do concurso, na voz da revela-ção do samba carioca Moyséis Marquese com arranjo de Alexandre Caldas. Amarchinha vencedora foi “Volante comCachaça não Combina”, de Mauro Dinize do Cláudio Jorge; o segundo lugar fi-cou com “Pijama de Bolinha”, de Janjão,Nuno Neto e Pedro Holanda; e o terceirolugar foi para “Maria do Cabelo Bom”, deJoão Cavalcanti. Os autores Marcus eEverton, no entanto, não se sentem der-rotados. Afinal, sua composição concor-reu com outras 612 e o fato de estar noCD, da Som Livre, dá uma visibilidade iné-dita para o trabalho artístico que vêmdesenvolvendo.

*Da Redação.

Everton Chierici, Moyséis Marques e Marcus Vinícius Monteiro: parceria que retoma o melhor das marchinhas carnavalescas.

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ão me seguracerta desconfiança, passaram a acreditarna gente, e é muito bom você ver o seutrabalho reconhecido.

– Nos últimos anos tem acon-tecido uma retomada dos blocos deruas, das marchinhas, o carnaval comoera antigamente. Concursos comoesse da Fundição contribuem para essaretomada?MARCUS – Sim, até porque o carnaval sedescaracterizou muito. Hoje em dia emqualquer cidade litorânea, até nas proxi-midades do Rio de Janeiro, encontramoscarros abertos tocando funk. A músicadesse verão infelizmente vai ser o Créu.O bacana é que no domingo, 20 de janei-ro, no baile da Fundição, havia muitosjovens, um público de todas as idadesdançando marchinhas, as boas e velhasmarchinhas de carnaval, que são músicaseternas. Muita gente não quer ouvir funke isso explica também a retomada dosblocos como um movimento cultural.Nos últimos anos surgiram inúmerosblocos, criaram a Liga Sebastiana, quereúne 12 blocos de Carnaval da cidade doRio de Janeiro.EVERTON – Eu acho que essa retomadados blocos de rua resgata o carnaval dabrincadeira, da felicidade, um carnaval dis-tanciado do comércio. O carnaval da Sa-pucaí virou um grande comércio, tudoficou distanciado do verdadeiro espíritodo carnaval que é a brincadeira e a des-

contração. Por isso torna-setão importante retomar ocarnaval de rua.MARCUS – Na rua tem até os“chatos” com seu tambo-rim, aquele cara que traz seutamborim de casa e acabaatravessando o samba do blo-co. O bom do carnaval de rua éque ele é democrático, está todomundo brincando e se divertindonuma boa. O ruim é quando o blocoquer virar carnaval baiano, põe uma cor-da, exige camiseta ou abadá. Carnaval émais despojado, mais alegre, todo mun-do brincando, na paz.

– Iniciativas como as do concur-so da Fundição ajudam a divulgar aidéia de um carnaval menos comer-cial?EVERTON – Esse trabalho da Fundiçãoajuda a divulgar novos talentos. Nós, porexemplo, entramos por méritos, semparentes importantes e vindos do inte-rior (risos). Adorei ter participado, mas épreciso registrar uma crítica: a organiza-ção do concurso deveria tratar os artis-tas com igualdade. Se o concurso é denovas marchinhas deve-se valorizar tam-bém o compositor. O público precisasaber quem são as pessoas que compu-seram. Muitas vezes o intérprete ficaidentificado como o dono da música. Oque esperamos para 2009 é que o con-

curso seja mais equânime na forma de tra-tamento com os famosos e com os de-mais que estão galgando um espaço.MARCUS – O papel do compositor é mui-to importante, sem ele não há músico. Enós fomos meros coadjuvantes no baile,durante o concurso, ninguém sabia quemera quem. Falta também integração en-tre os músicos, os participantes não fo-ram apresentados, ninguém se conhecia,tinha gente até de outros estados queeu não sei nem quem era, podia estar domeu lado, poderia ter conversado comessas pessoas e feito contatos profissi-onais. Mas era um concurso de compo-sição, por isso faltou esse tipo de inte-gração. Eis aí uma sugestão para a próxi-ma edição.

Amor Não me SeguraMarcus Monteiro e Everton Chierici

Amor não me seguraÉ carnaval tá tudo bemVem curtir essa foliaQue outra igual,só no ano que vem (REFRÃO)

Esse ano que passou não foi fácilTeve muita confusãoFoi a bela e o SenadorBoi valendo um dinheirãoCPI e Apagão no BrasilE o dono da casa não sabe não viu

Eu pra tudo esquecer vou brincarE vem você me segurar (ai, ai, ai...)

(refrão)Quatro dias de folia,sei que vou me acabarVou seguir no Simpatia,Bola Preta e BoitatáBrilhar na banda de IpanemaPros problemas esquecerQuero ter um carnaval paz e amorE na quarta voltar pra você

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20 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

Giordano Bruno queimou na fogueirapor, dentre outras coisas, acreditar que aterra gira em torno do sol; que o infernonão existe; por pregar a tolerância, inclusi-ve a religiosa; a política laica, sem interven-ção da religião, que passa a ser coisa priva-da; a universalização do ensino sem dog-mas e sem monopólio do saber pelos erudi-tos. Isto foi há mais de 400 anos. Bruno évenerado pela esquerda e sua tradição depensamento tolerante e anti-obscurantistanos faz colocá-lo ao lado da tradição ilumi-nista que irá desaguar, por fim, em Marx ena dialética materialista.

É preciso evocar Bruno para cobrar daesquerda uma posição mais coerente emrelação à tolerância, à secularização da po-lítica, o uso da razão em lugar da fé, à lutacontra o dogmatismo, à luta contra o fana-tismo, contra a meritocracia dos títulos aca-dêmicos que deixa o saber recluso para pou-cos... Olhando para o Brasil de hoje pareceque andamos recrudescendo para uma nova

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Tradição míope

Essa tradição míope faz determinadascorrentes de esquerda apoiarem o funda-mentalismo islâmico, acreditarem que a fu-tura revolução socialista nascerá de umajihad e se calarem contra a intolerância e adesvalorização da figura da mulher, que mui-tos destes movimentos anti-estadunidensescarregam. A lógica é perversa e pervertida.E fica igualzinha à lógica do imperialismonorte-estadunidense que defende ditadores,quando lhe convém, e ataca a democraciaquando não lhe é interessante. O caso maisilustrativo é o do Talibã fundamentalista, in-tolerante e obscurantista mas queridinho daCIA enquanto combatia os soviéticos e se ali-nhavam contra a esquerda. Quando passa-ram a combater os EUA muita gente da es-querda saudou a “resistência Talibã”. E temmuita gente que continua a defendê-los...Peraí, camaradas, resistência do que contrao quê? Do imperialismo islâmico contra oimperialismo estadunidense? A causa em sisumiu. A secularização do ensino, a liberta-ção das mulheres, a separação da religião e

A InquisiçãoVermelha

era das trevas, tal a intolerância e o obscu-rantismo das discussões, inclusive as políti-cas, mesmo entre a esquerda.

A esquerda tem de celebrar e recobrar oque tem de mais generoso e progressista enão o que há de obscuro e irracional. Temosde aprender com nossos erros tanto quantocom nossos acertos. Temos de aprender comas lutas de libertação dos povos oprimidos ecom as revoluções vitoriosas, mas temos deaprender também com os equívocos comoos gulags e os processos de Moscou, as exe-cuções da Revolução Cultural chinesa, PolPot, a dinastia “socialista” da Coréia do Nor-te... Uma tradição falsamente “maquiavéli-ca” (Maquiavel nada tem que ver com isto)da esquerda, nos levou a tolerar atos deopressão desenfreada e de total obscuran-tismo numa lógica torta do “mal menor”.Mal que de menor não teve nada, haja vista aincorporação pela esquerda de elementosestranhos e nocivos a seu pensamento queainda nos faz perder a luta por corações ementes – luta que se trava diariamente nomundo moderno, contra um inimigo suma-mente poderoso: o capitalismo imperialista.

Roberto Ponciano*

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 21http://sisejuferj.org.br

*Diretor do Sisejufe.

propósitos. Há desde grupos progressistase com visões laicas, que defendem um terri-tório comum para palestinos e israelenses,até grupos que defendem a guerra santacontra os infiéis. Não me venham acusar deantipalestino ou de não entender a diversi-dade cultural. Fundamentalismos têm de sercombatidos, sejam cristãos, muçulmanos oude que religião for. Não há base crível emnenhum livro sagrado para o sexismo e asegregação das mulheres ou para a intole-rância religiosa. Mas, efetivamente, para al-guns grupos que lutam contra Israel esta éa base teórica sobre a qual se movimentam.Numa falsa defesa da “diversidade cultural”,certos intelectuais de esquerda evitam criti-car as bandeiras destes movimentos porquese deve ter a “mente aberta para o orienta-lismo”. É algo absurdo. De maneira nenhu-ma a característica anti-estadunidense decertos movimentos políticos nos deve cegarpara o fato de que são reacionários! Se fos-sem vitoriosos nas lutas que travam não tra-riam felicidade para seus povos, trariam,como fizeram no Afeganistão, despotismo,tirania, crueldade e intolerância.

Mas há grupos e partidos no Brasil quede maneira torpe fingem acreditar que mo-vimentos com bandeiras de guerra religio-sa podem garantir o futuro socialista dahumanidade... Estranha dialética. Comofalava o Barão de Itararé, de onde menos seespera é que não sai nada mesmo. Na Palesti-na se trava uma luta pela independência deum povo, e a única bandeira factível e justa éa de dois Estados e duas nações, laicas, paraque judeus e palestinos, em estados secula-res e livres, possam levar suas vidas sem guer-ra, para que as mulheres não sejam segrega-das em nome de um Estado falsamente inspi-rado em princípios “divinos”.

A pureza sectária

Quero chamar atenção para o caráterde seita (daí o adjetivo sectário) que cer-tos grupos políticos adquiriram no Brasilao reclamarem o monopólio do saber deesquerda. Eles é que conferem atestadosde “pureza esquerdista”. Só podem serconsiderados de esquerda, socialistas oumarxistas aqueles que rezam na sua carti-lha ou são seus aliados, ainda que tempo-rariamente. Assim, todos aqueles que fo-gem da “pureza” das suas concepções es-tão relegados ao fogo do inferno não-marxista. São traidores, pelegos, gover-nistas, direitistas, stalinistas, burocratas,revisionistas, e mais quantos rótulos pu-derem inventar. Tais seitas de esquerdafuncionam como determinadas seitasevangélicas e vivem apartadas do mundo

real. Se a conjuntura não concorda comminha análise, dane-se a conjuntura; se omundo não coincide com meu pensamen-to, dane-se o mundo. Só sabem fazer polí-tica na negação porque não conseguemconstruir nenhum projeto político factí-vel. Se reduzem a difamar as outras cor-rentes de esquerda e provar a seu própriogrupo de fiéis que a sua igreja é a únicainspirada na divina trindade Marx-Engels-Lenin, além do grande profeta Trotsky, éclaro. Demonizam os movimentos reais deresistência latino-americana, como Chá-vez e Evo, se aliam e comemoram vitóriascom o DEM e os tucanos.

É a esquerda tresloucada que a direitaama. Sua mentalidade protofascista assus-ta. Agressivos e intolerantes, não admitemdiscussão e a democracia só tem validadequando eles têm maioria. Derrotados, nodebate ou no voto, tentam bagunçar osprocessos eleitorais e acusam de golpista amaioria. Do marxismo só aprenderam osinsultos, não a tolerância e a convivênciarespeitosa. Lêem pouco ou quase nada etransformam o materialismo dialético, ci-ência e método, numa liturgia sagrada ondenão cabe a dúvida e a inquirição. Escon-dem a ignorância da luta real e dos desejosdo povo numa meritocracia de cursos, cer-tificados, diplomas e títulos que conferemuns aos outros. De novo chamo GiordanoBruno em meu socorro: ele censurava oenclausuramento do ensino e a meritocra-cia, com as universidades poucas da épocasendo destinadas só aos doutos, e pregavaa abertura dos muros. Já alguns dos nos-sos Marxistas dos Últimos Dias são comoos doutores da época da inquisição. Te-mem o povo na universidade, mas aindaassim se dizem de esquerda e pretendemfalar em nome deste povo...

Vivem num mundo próprio, só se re-produzem com os que militam na mesmaseita, longe do povo e de suas lutas diárias.Por esta razão, sobrevivem como quackerszelando pela pureza de seus ritos e proibi-ções e, por isso, nunca ultrapassam 0,5%do eleitorado. Ainda assim, se jactam desuas próprias construções artificiais eaguardam a volta de Lênin, tal qual DomSebastião, que em seu cavalo vermelho sal-vará a todos do revisionismo diabólico. Sãoa esquerda que a direita adora, a esquerdapela qual a direita pede a Deus longa vidaconservadora. Uma esquerda inquisitoriale intolerante que “queima” e afasta a qual-quer um que queira sonhar com um mun-do melhor e socialista.

do Estado, que existiu no curto período degoverno socialista afegão, a causa em si, pelaqual vale a pena lutar, desapareceu.

Tem gente da esquerda até hoje fazen-do apologia de Saddam Hussein! O assassi-no de curdos e opositores, inclusive de es-querda. Na mesma ótica míope dos EUA.Quando Saddam era amigo dos Estados Uni-dos, era nosso inimigo; virou inimigo dosEUA, então passa a valer a pena a sua defesa.É lógico que se deve atacar a invasão esta-dunidense no Iraque e defender que o povoiraquiano decida seu próprio destino, sem aintervenção dos mariners. Mas disto à defesade Saddam vai uma enorme distância. Soucompletamente a favor da luta dos palesti-nos por uma terra sua, luta justa e anti-im-perialista. Mas transformar esta luta, em quevários grupos dentro da Palestina se engal-finham entre si, numa luta socialista, comopregam certos esquerdistas, é uma tremen-da fraude histórica. Na luta contra o imperi-alismo israelita e contra o Estado de Israel (enão contra o povo israelense ou contra osjudeus) há uma grande divisão de grupos e

Certos grupos políticosadquiriram o caráterde seita (daí o adjetivosectário) ao reclamaremo monopólio do saberde esquerda.Tentam provar que o seugrupo é o único inspiradona divina trindadeMarx-Engels-Lenin, alémdo grande profeta Trotsky.É a esquerda tresloucadaque a direita ama. Suamentalidade protofascistaassusta. Agressivose intolerantes, nãoadmitem discussãoe a democracia só temvalidade quandoeles têm maioria.

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O paradoxo andanteEduardo Galeano*

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Cada dia, ao ler os diári-os, assisto a uma aula de his-tória. Os diários ensinam-mepelo que dizem e pelo quecalam. A história é um para-doxo andante. A contradiçãomove-lhe as pernas. Talvezpor isso os seus silêncios di-zem mais que suas palavrase muitas vezes as suas pala-vras revelam, mentindo, averdade.

Dentro em breve será publicado umlivro meu chamado Espejos. É algo as-sim como uma história universal, edesculpem o atrevimento. “Posso re-sistir a tudo, menos à tentação”, diziaOscar Wilde, e confesso que sucumbià tentação de contar alguns episódiosda aventura humana no mundo doponto de vista dos que não saíram nafoto. Pode-se dizer que não se trata defatos muito conhecidos. Aqui resumoalguns, apenas uns poucos.

Quando foram desalojados do Pa-raíso, Adão e Eva mudaram-se para Áfri-ca, não para Paris. Algum tempo de-pois, quando seus filhos já se haviamlançado pelos caminhos do mundo, foiinventada a escrita. No Iraque, não noTexas. Também a álgebra foi inventa-da no Iraque. Foi fundada por Moha-med al Jwarizmi, há mil e duzentosanos, e as palavras algoritmo e alga-rismo derivam do seu nome.

Os nomes costumam não coincidircom o que nomeiam. No British Mu-seum, por exemplo, as esculturas doPartenon chamam-se “mármores deElgin”, mas são mármores de Fídias.Elgin era o nome do inglês que as ven-deu ao museu. As três novidades quetornaram possível o Renascimentoeuropeu, a bússola, a pólvora e a im-

prensa, haviam sido inventadas peloschineses, que também inventaramquase tudo o que a Europa reinventou.

Os hindus souberam antesde todos que a Terra eraredonda e os maias haviamcriado o calendário mais exatode todos os tempos. Em 1493,o Vaticano presenteou a Améri-ca à Espanha e obsequioua África negra a Portugal,“para que as nações bárbarassejam reduzidas à fé católica”.Naquele tempo a América tinhaquinze vezes mais habitantesque a Espanha e a África negracem vezes mais que Portugal.Tal como havia mandadoo Papa, as nações bárbarasforam reduzidas. E muito.

Tenochtitlán, o centro do impérioazteca, era de água. Hernán Cortésdemoliu a cidade pedra por pedra e,com os escombros, tapou os canais poronde navegavam duzentas mil cano-as. Esta foi a primeira guerra da águana América. Agora Tenochtitlán cha-ma-se México DF. Por onde corria aágua, agora correm os automóveis. Omonumento mais alto da Argentina foierguido em homenagem ao generalRoca, que no século XIX exterminouos índios da Patagônia.

A avenida mais longa do Uruguaitem o nome do general Rivera, que noséculo XIX exterminou os últimos ín-dios charruas. John Locke, o filósofoda liberdade, era acionista da RoyalAfrica Company , que comprava e ven-dia escravos. No momento em que nas-cia o século XVIII, o primeiro dos Bour-bons, Felipe V, estreou o seu trono as-sinando um contrato com o seu pri-mo, o rei da França, para que a Com-

pagnie de Guinée vendesse negros naAmérica. Cada monarca ficava com 25por cento dos lucros. Nomes de algunsnavios negreiros: Voltaire, Rousseau,Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.

Dois dos Pais Fundadores dos Esta-dos Unidos desvaneceram-se na névoada história oficial. Ninguém se recordade Robert Carter nem de GouvernerMorris. A amnésia recompensou osseus atos. Carter foi a única personali-dade eminente da independência quelibertou seus escravos. Morris, redatorda Constituição, opôs-se à cláusula es-tabelecendo que um escravo equivaliaàs três quintas partes de uma pessoa.

“O nascimento de uma nação”, aprimeira super-produção de Ho-llywood, foi estreada em 1915, na CasaBranca. O presidente, Woodrow Wil-son, aplaudiu-a de pé. Ele era o autordos textos do filme, um hino racistade louvação à Ku Klux Klan. Algumasdatas: desde o ano 1234, e durante ossete séculos seguintes, a Igreja Católi-ca proibiu que as mulheres cantassemnos templos. As suas vozes eram im-puras, devido àquele caso da Eva e dopecado original.

No ano de 1783, o rei da Espanhadecretou que não eram desonrosos ostrabalhos manuais, os chamados “ofí-cios vis”, que até então implicavam aperda da fidalguia. Até o ano de 1986foi legal o castigo das crianças, nas es-colas da Inglaterra, com correias, varase porretes. Em nome da liberdade, daigualdade e da fraternidade, em 1793 aRevolução Francesa proclamou a Decla-ração dos Direitos do Homem e do Ci-dadão. A militante revolucionária Olym-pia de Gouges propõe então a Declara-ção dos Direitos da Mulher e da Cida-dã. A guilhotina cortou-lhe a cabeça.

Meio século depois, outro governo

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 23http://sisejuferj.org.br

e

revolucionário, durante a Primeira Co-muna de Paris, proclamou o sufrágiouniversal. Ao mesmo tempo, negou odireito de voto às mulheres, por una-nimidade menos um: 899 votos con-tra, um a favor. A imperatriz cristã Te-odora nunca disse ser uma revolucio-nária, nem nada que se parecesse. Mashá mil e quinhentos anos o império bi-zantino foi, graças a ela, o primeiro lu-gar do mundo onde o aborto e o divór-cio foram direitos das mulheres.

O general Ulisses Grant, vencedorda guerra do Norte industrial contra oSul escravocrata, foi a seguir presiden-te dos Estados Unidos. Em 1875, res-pondendo às pressões britânicas, res-pondeu: – Dentro de duzentos anos,quando tivermos obtido do protecionis-mo tudo o que ele nos pode proporcio-nar, também nós adotaremos a liberda-de de comércio. Assim, pois, em 2075,o país mais protecionista do mundoadotará a liberdade de comércio.

“Botinzito” foi o primeiro cão pe-quinês que chegou à Europa. Viajoupara Londres em 1860. Os inglesesbatizaram-no assim porque era partedo botim extorquido à China no fimdas longas guerras do ópio. Vitória, arainha narcotraficante, havia impostoo ópio a tiros de canhão. A China foi

convertida num país de drogados, emnome da liberdade, a liberdade de co-mércio. Em nome da liberdade, a li-berdade de comércio, o Paraguai foianiquilado em 1870. Ao cabo de umaguerra de cinco anos, este país, o úni-co das Américas que não devia um cen-tavo a ninguém, inaugurou a sua dívi-da externa. Às suas ruínas fumeganteschegou, vindo de Londres, o primeiroempréstimo. Foi destinado a pagar umaenorme indenização ao Brasil, Argenti-na e Uruguai. O país assassinado pa-gou aos países assassinos, pelo traba-lho que haviam tido em assassiná-lo.

O Haiti também pagou uma enor-me indenização. Desde que, em 1804,conquistou a sua independência, anova nação arrasada teve que pagar àFrança uma fortuna, durante um sécu-lo e meio, para espiar o pecado da sualiberdade. As grandes empresas têmdireitos humanos nos Estados Unidos.Em 1886, a Suprema Corte de Justiçaestendeu os direitos humanos às cor-porações privadas, e assim continua aser. Poucos anos depois, em defesa dosdireitos humanos das suas empresas,os Estados Unidos invadiram dez paí-ses, em diversos mares do mundo.Mark Twain, dirigente da Liga Antiim-perialista, propôs então uma nova ban-deira, com caveirinhas em lugar de

estrelas. E outro escritor, Ambroce Bi-erce, confirmou: – A guerra é o cami-nho escolhido por Deus para nos ensi-nar geografia. Os campos de concen-tração nasceram na África. Os inglesesiniciaram o experimento, e os alemãesdesenvolveram-no. Depois disso Her-mann Göring aplicou na Alemanha omodelo que o seu papa havia ensaia-do, em 1904, na Namíbia. Os professo-res de Joseph Mengele haviam estuda-do, no campo de concentração da Na-míbia, a anatomia das raças inferiores.As cobaias eram todas negras.

Em 1936, o Comitê Olímpico Inter-nacional não tolerava insolências. NasOlimpíadas de 1936, organizadas porHitler, a seleção de futebol do Peru der-rotou por 4 a 2 a seleção da Áustria, opaís natal do Führer. O Comitê Olímpi-co anulou a partida. A Hitler não lhe fal-taram amigos. A Rockefeller Foundati-on financiou investigações raciais e ra-cistas da medicina nazi. A Coca-Cola in-ventou a Fanta, em plena guerra, para omercado alemão. A IBM tornou possívela identificação e classificação dos judeus,e essa foi a primeira façanha em grandeescala do sistema de cartões perfurados.

*Escritor uruguaio. Texto publica-do originalmente no jornal

argentino Página 12.

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Um dia encontrei Lula, ainda noInstituto Cidadania, em São Paulo,

empolgado com um livro de Câmara Cascu-do sobre os hábitos alimentares dos nor-destinos. Lula saboreava cada prato menci-onado, cada fruta, cada ingrediente. Lem-brei-me desse episódio ao ler a coluna re-cente do João Ubaldo Ribeiro, “De caju emcaju”, em que ele goza o presidente por fa-lar do caju, “sem conhecer bem o caju”. Diasantes, Lula havia feito um elogio apaixona-do ao caju, no lançamento do Projeto Caju,que procura valorizar o uso da fruta na dietado brasileiro.

“É uma pena que o presidente Lula nãoseja nordestino, portanto não conheça bema farta presença sociocultural do caju naquelaremota região do país...”, escreveu João Ubal-do. Alegou que Lula não era nordestino por-que tinha vindo ainda pequeno para São Pau-lo. E em seguida esparramou citações sobreo caju, para mostrar sua pró-pria erudição. Estou falandode João Ubaldo porque, alémde escritor notável, ele já foium grande jornalista.

Outro jornalista ilustre, oquerido Mino Carta, escreveuque Lula “confunde” parla-mentarismo com presidenci-alismo. “Seria bom”, disseMino, “que alguém se dispu-sesse a explicar ao nosso pre-sidente que no parlamenta-rismo o partido vencedor daseleições assume a chefia do go-verno por meio de seu líder...”Essa do Mino me fez lembraroutra ocasião, no Instituto Ci-dadania, em que Lula defen-deu o parlamentarismo.

A linguagem do prVirou moda dizer que “Lula não entendedas coisas”. Ou “confundiu isso com aquilo”.É a linguagem do preconceito, adotadaaté mesmo por jornalistas ilustrese escritores consagrados.

Bernardo Kucinski*

Parlamentarista convicto, Lula diz quepartidos são os instrumentos principais deação política numa democracia. Pelo mes-mo motivo Lula é a favor da lista partidáriaúnica e da tese de que o mandato pertenceao partido. Em outubro de 2001, o InstitutoCidadania iniciou uma série de semináriospara o Projeto Reforma Política, aos quais

Lula fazia questão de assistir docomeço ao fim. Desses semináriosresultou um livro de 18 ensaios, Re-forma Política e Cidadania, organi-zado por Maria Victória Benevidese Fábio Kerche, prefaciado por Lulae editado pela Fundação PerseuAbramo.

Clichês e malandragem

Se pessoas com a formação deum Mino Carta ou João Ubaldo su-cumbiram à linguagem do precon-ceito, temos mais é que perdoar asdezenas de jornalistas de menosprestígio que também dizem otempo todo que “Lula não sabenada disso, nada daquilo”. Acabouvirando o que em teoria do jorna-lismo chamamos de “clichê”. É Mino Carta

muito mais fácil escrever usando um clichêporque ele sintetiza idéias com as quais oleitor já está familiarizado, de tanto que foirepetido. O clichê estabelece de imediatouma identidade entre o que o jornalista querdizer e o desejo do leitor de compreender.Por isso, o clichê do preconceito “Lula nãoentende” realimenta o próprio preconceito.

Alguns jornalistas sabem que Lula não énem um pouco ignorante, mas propagamessa tese por malandragem política. Nessecaso, pode-se dizer que é uma postura con-trária à ética jornalística, mas não que sejapreconceituosa. Aproveitam qualquer excla-mação ou uso de linguagem figurada de Lulapara dizer que ele é ignorante. “Por que Lulanão se informa antes de falar?”, escreveuRicardo Noblat em seu blog, quando Luladisse que o caso da menina presa junto comhomens no Pará “parecia coisa de ficção”.Quando Lula disse, até com originalidade,que ainda faltava à política externa brasileiraachar “o ponto G”, William Waack escreveu:“Ficou claro que o presidente brasileiro nãosabe o que é o ponto G”.

Outra expressão preconceituosa quepegou é “Lula confunde”. A tal ponto quejornalistas passam a usar essa expressão parafazer seus próprios jogos de palavras. “Lulaconfunde agitação com trabalho”, escreveuLucia Hippolito. Empregam o “confunde”para desqualificar uma posição programá-tica do presidente com a qual não concor-dam. “O presidente confunde choque degestão com aumento de contratações”, dizo consultor José Pastore, fonte habitual daimprensa conservadora.

Kucinski

João Ubaldo

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reconceitoConfunde coisa alguma. Os neoliberais

querem reduzir o tamanho do Estado, opresidente quer aumentar. Quer contratarmais médicos, professores, biólogos para oIbama. É uma divergência programática.Carlos Alberto Sardenberg diz que Lula “con-fundiu” a Vale com uma estatal. “Trata-acomo se fosse a Petrobras, empresa que se-gundo o presidente não pode pensar só emlucro, mas em, digamos, ajudar o Brasil.”Esse caso é curioso porque no parágrafoseguinte o próprio Sardenberg pode seracusado de confundir as coisas, ao recla-mar de a Petrobras contratar a construçãode petroleiros no país, apesar de custar mais.Aqui, também, Lula não fez confusão: o pre-sidente acha que tanto a Vale quanto a Pe-trobras têm de atender interesses nacionais;Sardenberg acha que ambas devem pensarprimeiro na remuneração dos acionistas.

Filosofia da ignorância

A linguagem do preconceito contra Lulasofisticou-se a tal ponto que adquiriu novasdimensões, entre elas a de que Lula teria atéproblemas de aprendizagem ou de compre-ensão da realidade. Ora, justamente por tertido pouca educação formal, Lula só che-gou aonde chegou por captar rapidamentenovos conhecimentos, além de ter memóriade elefante e intuição. Mas, na linguagemdo preconceito, “Lula já não consegue maisencadear frases com alguma conseqüêncialógica”, como escreveu Paulo Ghiraldelli,apresentado como filósofo na página decomentários importantes do Estadão. Ou,como escreveu Rolf Kunz, jornalista especi-alizado em economia e também professorde filosofia: “Lula não se conforma com ofato de, mesmo sendo presidente, não en-tender o que ocorre à sua volta”.

Como nasceu a linguagem do precon-ceito? As investidas vêm de longe. Mas opredomínio dessa linguagem na crônicapolítica só se deu depois de Lula ter sidoeleito presidente, e a partir de falas de po-líticos do PSDB e dos que hoje se autode-nominam Democratas. “O presidente Lulanão sabe o que é pacto federativo”, disseSerra, no ano passado. E continuam a fa-lar: “O presidente Lula não sabe distin-guir a ordem das prioridades”, escreveuGilberto de Mello. “O presidente Lula emcinco anos não aprendeu lições básicas de

gestão”, escreveu Eve-rardo Maciel na GazetaMercantil.

A tese de que Lula“confunde” presidenci-alismo com parlamenta-rismo foi enunciadaprimeiro por RodrigoMaia, logo depois porCésar Maia, e só entãorepetida pelos jornalis-tas. Um deles, DanielPiza, dias depois dessasfalas, escreveu que “sómesmo Lula, que nãosabe a diferença entrepresidencialismo e par-lamentarismo, podeachar que um gover-nante ter a aprovaçãoda maioria é o mesmoque ser uma democraciano seu sentido exato”.

Preconceito é juízode valor que se faz sem conhecer os fatos.Em geral é fruto de uma generalização oude um senso comum rebaixado. O precon-ceito contra Lula tem pelo menos duas raí-zes: a visão de classe, de que todo operárioé ignorante, e a supervalorização do sabererudito, em detrimento de outras formas desaber, tais como o saber popular ou o queadvém da experiência ou do exercício daliderança. Também não se aceita a possibili-dade de as pessoas transitarem por formasdiferentes de saber.

A isso tudo se soma o outro preconcei-to, o de que Lula não trabalha. Todo jorna-lista que cobre o Palácio do Planalto sabeque é mentira, que Lula trabalha de 12 a 14horas por dia, mas ele é descrito com fre-qüência por jornalistas como uma pessoaindolente.

Não atino com o sentido dessa mentira,exceto se o objetivo é difamar uma lideran-ça operária, o que é, convenhamos, umaexplicação pobre. Talvez as elites, e com elasos jornalistas, não consigam aceitar que opresidente, ao estudar um problema comseus ministros, esteja trabalhando, já queele é “ incapaz de entender” o tal problema.Ou achem que, ao representar o Estado ou

o país, esteja apenas passeando. Afinal, ondejá se viu um operário, além do mais ignoran-te, representar um país?

Fontes: João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S.Paulo, 2/9/2007. Blog do Mino Carta, 16/11/2007. Blog do William Waack, 2/12/2007. Tex-to de Lúcia Hipólito no UOL, 24/07/2007. JoséPastore, artigo no Estadão, 11/12/2007. CarlosAlberto Sardenberg, “De bronca com o capital”,Estadão, 10/12/2007. Filósofo Paulo Ghiralde-lli, Estadão, 29/8/2007. Rolf Kunz, “Lula, o via-jante do palanque”, Estadão, 29/11/2007. JoséSerra, em Folha On Line, 1º/8/2006, em reporta-gem de Raimundo de Oliveira. Gilberto de Mello,escritor e membro do Instituto Brasileiro de Filo-sofia, no Estadão de 2/8/2007, reproduzido nosite do PSDB. Everardo Maciel, na Gazeta Mer-cantil de 4/10/2007. Rodrigo Maia, em declara-ção à Rádio do Moreno, 6/11/2007, 17h20.César Maia em seu blog, 12/11/2007. E DanielPiza em texto do Estadão de 2/12/2007.

*Bernardo Kucinski é professor titular doDepartamento de Jornalismo e Editoração

da ECA/USP. Foi produtor e locutor no servi-ço brasileiro da BBC de Londres e assistentede direção na televisão BBC. É autor de vári-

os livros sobre jornalismo. Artigo original-mente publicado na Revista do Brasil.

Foto: Valter Campanato/Abr

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26 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

*Escritor e tradutor. Historiador for-mado pela Universidade da Califórnia

(UCLA). Neto do célebre escritor ErnestHemingway. Originalmente publicado no

sítio http://diretodaredacao.com

A tortura é americana como a tortade maçã. Ela é parte do que nós so-mos, a atual política da administraçãodos EUA, e considerada uma ferramen-ta prática por 40% dos americanos naguerra contra o terror (segundo recen-te pesquisa). Isso é o que nós fazemoscom os estrangeiros capturados noscampos de batalha do Afeganistão edo Iraque e com cidadãos americanospresos no Aeroporto InternacionalO’Hare, em Chicago. Nós colocamostodos na prisão e então usamos o queBush e companhia gostam de chamarde “avançadas técnicas de interroga-tório”, para extrair confissões e “colo-car a inteligência em ação”.

Nós praticamos a privação de sen-tidos, cobrindo os prisioneiros comcapuz preto e conectando seus órgãosgenitais e unhas a baterias de carrosno Iraque ou no “gulag”cubano. Nósos ameaçamos com cães latindo, nósquebramos seus ossos e os violenta-mos com cabos de vassoura, nós prati-camos o “water-board” (técnica de tor-tura que consiste em jogar um balded’água no rosto do prisioneiro amar-rado pelos pés e pelas mãos), fazen-do-os acreditar que serão afogados,lentamente deixando-os sufocar e en-gasgar enquanto a água enche seuspulmões e estômagos.

Nós somos uma nação de crimino-sos e gangsters e mesmo que a maio-ria de nós nunca tenha praticado qual-quer uma dessas torturas, isso não nosdeixa de fora. Os crimes são semprecometidos em nosso nome, pelo nos-so governo, e enquanto esse governoestá aí, nós somos responsáveis portudo que acontece. Isso é verdadeiroem qualquer lugar do mundo , e mui-to especialmente nos EUA, onde a De-

Artigo A tortura é americana como a torta de maçã

Somos uma nação de gangstersJohn Hemingway*

claração de Independência fala em “go-verno para o povo, pelo povo e dopovo”. Essa administração de torturapertence a nós. Nós a criamos e Bush énosso garoto, nosso pequeno homemcruel.

Nós compartilhamos com Bush deseus desejos mais obscuros porquefundamentalmente nós não somos di-ferentes. Nós fingimos que queremoso fim das guerras de Bush mas nuncaacabamos com elas. Nós elegemos umnovo Congresso e um novo Senado para“trazer as tropas de volta para casa” eentão assistimos, sem reclamar, esteCongresso e este Senado votarem pelamanutenção das guerras, liberandomais dinheiro e mais homens.

Não tem limite o que nós tolera-mos. A decadência moral é significati-va e completa. Nós nos destruimos anós mesmos, a nossa economia e onosso país ao matar mais de um mi-lhão de pessoas no Iraque e ninguémvai para as ruas protestar e exigir umnovo governo.

Enquanto não houver convocaçãoobrigatória, a guerra não nos afeta enossos filhos e filhas estão seguros, ouachamos que sim. Somente os pobrese membros das minorias se alistamcomo voluntários. Os outros são isen-tos. Livres para continuar gastando en-

quanto o mercado imobiliário despen-ca, o dólar se desvaloriza e a mais re-cente nomeação de Bush para o cargode Advogado Geral, Michael Mukasey,declara diante do Senado que não sabese “water-boarding” é tortura ou não.Mukasey, é claro, acha a tortura “re-pugnante” mas não sabe o suficientesobre “water-boarding” e os efeitos deuma simulação de afogamento para di-zer se a prática pode constituir uma vi-olação da Constituição americana.

E o Senado o que faz? Rejeita furio-samente a indicação dele porque é ób-vio que qualquer idiota sabe muitobem que “water-boarding” é tortura ecomo tal viola a Convenção de Gene-bra e a Constituição (que proíbe “casti-go cruel e incomum”)? Coloca ele prafora e ao mesmo tempo manda um re-cado a Bush e seus assassinos cobran-do dignidade moral? Nos leva a per-correr o longo caminho de reparar osprejuízos que nós causamos?

Nada disso. O Senado aprova a in-dicação e Mukasey será confirmado nocargo de Advogado Geral dos EUA, ouseja, o xerife encarregado de cumprir alei nessa terra de tortura.

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 27http://sisejuferj.org.br

Oficina literária Passei o resto da noite buscando aquele rosto

A bela da noiteO casarão do Alto da Boa Vista todo

iluminado. Bodas de prata de Ana eCelso. A festa ia pela madrugada e,àquela altura dos uísques e champa-nhes, Roberto e Sinatra perdiam feiopra Zeca Pagodinho. No vai-e-vem dosgarçons, os olhos turquesa de umadesconhecida desafiavam minha timi-dez. O vestido, também azul, mal lhecobria os joelhos, em desacordo comos modelitos das outras mulheres –longos, como exigia a ditadura dosestilistas. Eu sustentava a mirada, e adiva sorria de leve.

No início da festa, a vi perto do ta-blado, no jardim, bem no momentoem que o vocalista da banda mandouum “Stranger in the night”. Notou mi-nha presença e parecia gostar de Sina-tra, tanto quanto eu. Sempre fui umromântico. Depois, no salão, ia falarcom ela, mas, atropelado por um gar-çom, eu a perdi no meio da confusãode pessoas dançando.

Antes de procurá-la, porém, preci-sava de um banheiro. Fugi da fila hu-milhante e fui pela entrada lateral, quelevava aos dormitórios – sorte ser ir-mão da dona da casa. Ouvi passosatrás de mim, na escada. Alguém maistivera a mesma idéia.

Pasmado, vi minha dama de azul,lépida, me ultrapassar. Meu fraco boa-noite se perdeu no silêncio. Ela per-correu com familiaridade o pequenovestíbulo e, mais devagar, caminhouaté o banheiro. Pude observá-la: esta-tura mediana, cabelos curtos e louros.Seus saltos à Luís XV calcavam, sutis,o carpete cinza. O tecido mole do ves-tido se apoiava no drapeado dos qua-

Marlene de Lima* dris, realçados por uma faixa de cetimbranco balançando com graça.

Sentei-me num pufe, disposto aesperar. Meus trinta anos não ajuda-vam em nada com as mulheres. Umacorreria escada acima – meu sobrinhode treze anos chegou esbaforido. “TioMax, aí sentado?” “Na fila do banhei-ro!” “E eu, idem!”

O papo se estendia pelas praias,meninas, skates, e nada de chegar anossa vez. Pedro achou que um de nósdevia bater na porta. Protestei, masninguém é de ferro. Enfim, ele foi lá.Bateu, e nada.

Girou a maçaneta e entrou. “Tio,não tem ninguém aqui.” Abri a cortinado box. Olhei atrás do biombo de ri-pas trançadas. A bela virou fumaça. Ogaroto ria do meu cochilo, mas passeio resto da noite buscando aquele ros-to em cada mulher loura de azul.

Ana não se lembrava dela: “Ah, amigade alguém.” Cansado, caí feito uma pedrana cama do quarto de hóspedes.

Lá pelo meio-dia, eu curava a ressa-ca na piscina. A empregada acenoupara mim com alguma coisa branca.Me aproximei. Era a tal faixa de cetim.Neide não segurou o sorrisinho safa-do: “Encontrei no chão do seu quarto.Nem viu quando acordou, hein, seuMax?” Abismado, perguntei: “Neide,viu a moça que usava isto no vestido?Lourinha, magra, de azul...” Descrevia roupa, os sapatos. “Isso foi moda faztempo, seu Max. Dormiu com algumavelhota? É nisso que dá encher o pote.”– concluiu às gargalhadas.

*Funcionária aposentada do TRT-RJ.

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28 Ano III – número 17 – janeiro/2008http://sisejuferj.org.br

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L O Oriente Médio nada tem Robert Fisk*

Enquanto uma bomba explo-de em Beirute, e Israel mata 19 emataques a Gaza, Bush leva sua mis-são de paz à Arábia Saudita (e fe-cha negócio de 20 bilhões de dó-lares em armas para esse regimerepressor). Entre lençóis de seda– num quarto de paredes tambémrevestidas de seda – e no própriopalácio do rei Abdullah, da ArábiaSaudita, George Bush acordounum Oriente Médio que nada tema ver com as políticas de seu go-verno nem com o que ele repete

incansavelmente aos reis e emires e oligar-quias do Golfo: que o inimigo não é Israel,mas o Irã. (...)

Tudo fantasia e mentiras, é claro, comoas palavras que os árabes ouviram dos ame-ricanos desde que o presidente em final demandato começou sua rodada turística peloOriente Médio. Mas parecia “de verdade”, aquem visse aquela figura ridícula e sem sen-tido, de braços dados com o rei, em passosque, presumo, deveriam ser alguma espéciede dança, brandindo uma enorme e fulgu-rante espada saudita, espécie de Saladinofora de hora, que deixaria embasbacado olíder curdo que destruiu os cruzados, nolocal ao qual hoje Bush refere-se como “adisputada margem oriental”.

A explosão do carro-bomba

É isto um “lame duck”? É esta a imagemque querem mostrar ao mundo os presi-dentes norte-americanos em final de man-dato? Esta pergunta deve estar em todas ascabeças, no Oriente Médio, depois de as-sistir àquela cena espantosa. Desde a revo-lução iraniana de 1979, o Oriente Médioestá sendo devastado por uma Guerra Friamuçulmana – mas... será este o modo peloqual Bush supõe que se deva lutar pela almado Islã?

Na mesma noite, o mundo de Bush voa-va pelos ares em Beirute, quando um enor-me carro-bomba explodiu perto de uma ca-minhonete que conduzia funcionários daembaixada norte-americana, matando qua-tro libaneses e ferindo gravemente, pelo quese sabe, um motorista da embaixada. E en-quanto Bush descansava na casa de campo

do rei saudita, em Al Janadriyah, o exércitode Israel matou 19 palestinos na Faixa deGaza, a maioria dos quais membros do Ha-mas, um dos quais filho de MáhmoudeZahar, um dos líderes do movimento. Zaharfalou para dizer que Israel não teria ataca-do – no dia em que um israelense foi mortopor um foguete palestino – se não tivessesido encorajado a agir, por George Bush.

Realidade e delírio

A diferença entre a realidade e os delíriosdo governo dos EUA não poderia ser maisselvagem e mais claramente ilustrada. Depoisde prometer aos palestinos “um Estado so-berano e contíguo” para antes do final doano, e pregando “segurança” para Israel –embora não tenha falado, como os árabesobservaram, de segurança “para os palesti-nos” – Bush chegou ao Golfo para aterrori-zar os reis e oligarcas de impérios encharca-dos de petróleo, sobre o perigo de uma agres-são iraniana. Como sempre, trouxe as sem-pre repetidas oferendas de armas norte-ame-ricanas para proteger regimes e estados co-nhecidos em todo o mundo por serem anti-democráticos, para que combatam contra amais poderosa nação do “eixo do mal”.

Foi exemplo potente – embora perverso– da perambulação de Bush pelo OrienteMédio árabe, da “volta à política do medo”que Washington regularmente requentapara os líderes do Golfo. Concordou em for-necer aos sauditas pelo menos 41 milhõesde libras em armas, valor que deve chegara mais de 10 bilhões de libras em armaspara os potentados do Golfo, em negóciosanunciados no ano passado – armas quese espera que os blindem contra supostasambições territoriais do fanático Mahmou-de Ahmadinejad. Como sempre, Washing-ton prometeu aos israelenses preservar “opadrão qualitativo” do armamento maismoderno, na hipótese de que os sauditas –que nunca fizeram guerra senão contraSaddam Hussein depois que invadiu oKuwait em 1990 – decidam embarcar numataque suicida contra o único real aliadodos EUA no Oriente Médio.

Nada, evidentemente, foi exposto nestestermos aos árabes. Bush deixou-se fotogra-far beijando ostensivamente as bochechasdo rei Abdullah e de mãos dadas com o tira-no cujo Estado muçulmano recentemente“perdoou” uma mulher saudita acusada de

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Ano III – número 17 – janeiro/2008 29http://sisejuferj.org.br

a ver com os delírios de Bushadultério depois de ter sido estuprada setevezes no deserto nos arredores de Riad. Ossauditas, desnecessário lembrar, sabem queo reinado de Bush está terminando, afunda-do no caos no Paquistão, em desastrosaguerrilha contra o ocidente no Afeganistão,enfrentando feroz resistência em Gaza, à beirada guerra civil no Líbano e tendo de sobrevi-ver no inferno que criou no Iraque. (...)

A fábula do bem contra o mal

Para os líderes árabes, a mensagem deBush aos líderes do Golfo nada traz de novi-dade. Nos anos 80, quando Reagan apoiouSaddam Hussein na invasão do Irã, Washing-ton consumiu horas em advertências aos lí-deres do Golfo, sobre o perigo que o Irãrepresentaria. Depois que Saddam invadiuo Kuwait, o discurso dos EUA mudou: omaior perigo, então, passou a ser o Iraque.Mas tão logo o emirado foi libertado, os mili-onários do petróleo, outra vez, foram infor-mados de que, outra vez, o inimigo era o Irã.

Os árabes já não se deixam enganar poresta fábula de “o bem contra o mal”, tam-pouco acreditam nas promessas de Bush deque ajudará a criar um Estado palestino atéo final do ano, promessas feitas apenas umdia antes de Israel admitir publicamente queplaneja construir mais prédios para alocarcolonos em terras palestinas, além das colôni-as ilegais já existentes em território palestino.

Para entender a natureza deste extraor-dinário relacionamento com os monarcasdo Golfo, é preciso lembrar que desde queBush-pai prometeu criar “um oásis de paz,sem armas” no Golfo, Washington – alémda Inglaterra, França e Rússia – jamais pa-rou de fazer chover armas na região.

Ao longo da última década, os árabes doGolfo trocaram bilhões de petrodólares porarmamento norte-americano. As estatísticassão claras. Só em 1998 e 1999, os militaresárabes do Golfo gastaram 40 bilhões de li-bras. Entre 1997 e 2005, os xeques dosEmirados Árabes Unidos – que receberamBush antes de ele partir para Riad – assina-ram contratos de compras de armas equiva-lentes a 9 bilhões de libras com fornecedo-res ocidentais. Entre 1991 e 1993 – quando“o inimigo” era o Iraque – a Missão de Trei-namento Militar do EUA administrava negó-cios de mais de 14 bilhões de libras relativosa armas sauditas e 12 bilhões de compras

de novas armas norte-americanas. Nestaépoca, os sauditas já possuíam 72 aviões-bombardeiros, F-15 norte-americanos e 114Tornados ingleses.

Pouca coisa mudou nos últimos 17 anos.Dia 17 de maio de 1991, por exemplo, Bush-pai disse que então havia “razões reais parasermos otimistas” sobre a paz no OrienteMédio. “Continuaremos a trabalhar no pro-cesso [de paz]”, disse então, “Não desistire-mos.” James Baker, então Secretário de Es-tado, declarou, dia 23 de maio de 1991, quecontinuar a construir prédios nas colôniasisraelenses, em território palestino, “amea-ça gravemente uma futura paz no OrienteMédio”, exatamente o que disse, semanapassada, a atual Secretária de Estado. Em1991, era Dick Cheney quem garantia, emnome dos EUA, a “segurança” de Israel.

O Velho Oriente Médio

O Ocidente tem memória curta. Os ára-bes, não. Os árabes vivem na área de propri-edade privada que conhecemos como Ori-ente Médio e não são idiotas. Eles entendemperfeitamente o que Bush está fazendo. De-pois de muito pregar “a democracia” na re-gião – pregação que resultou em vitóriaseleitorais democráticas dos xiitas no Iraque,do Hamas em Gaza e importante ganho depoder político para a irmandade muçulma-na no Egito – até Washington já percebeuque alguma coisa não deu muito certo nomodelo de prioridades de Bush.

Em vez de insistir em algum “Novo Ori-ente Médio”, Bush, refestelado nos lençóisde seda do palácio do rei saudita, está falan-do, hoje, sobre todos voltarem ao “VelhoOriente Médio”, ao tempo das polícias se-cretas, das câmaras de tortura – nas quaisos prisioneiros podem ser proveitosamente“convencidos” – e aos presidentes e monar-cas ditatoriais e “moderados”. Quem, dosdéspotas do Golfo, teria alguma objeçãocontra isto?

* © 2008 Independent News andMedia Limited – “Bloody reality bears

no relation to the delusions of this Presi-dent”, The Independent, UK, 16/1/2008.

A íntegra deste artigo pode ser encon-trada em http://news.independent.co.uk/

fisk/article3342174.eceTradução: Castor Filho (Beatrice13)

A diferença entre arealidade e os delíriosdo governo dos EUA nãopoderia ser mais selvageme mais claramenteilustrada. Brandindo umaenorme e fulguranteespada saudita, espéciede Saladino fora de hora,Bush deixariaembasbacado o líder curdoque destruiu os cruzados.

Fotos retiradas da internet

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