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Ano III – número 18 – março/2008 1 http://sisejuferj.org.br

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Page 1: Ano III – número 18 – março/2008sisejufe.org.br/wprs/wp-content/uploads/2012/08/REVISTA-18.pdfContestado curso de oficiais de justiça ad hoc. E mais: Sindicato co-bra ressarcimento

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Ano III – número 18 – março/2008 3http://sisejuferj.org.br

Í N D I C E

EditorialDizer que brasileiro tem memó-

ria curta é uma aposta na despoliti-zação. O Sisejufe lembra, no editori-al, que após a luta vitoriosa peloPCS3, agora é a hora de encararmoso debate sobre o Plano de Carreira.Página 4

TRTSisejufe impede terceirização de

cargos de Segurança e Informática.E também: Servidores da JustiçaMilitar recebem reenquadramentodo PCS.Página 6

Redução da JornadaSisejufe prepara nova campanha

no TRT para provar que 6 horas sãosuficientes.Página 8

InternacionalKosovo: a admirável independên-

cia de uma colônia da Otan dentro daNova Ordem Mundial.Páginas 16 e 17

InternacionalAs eleições nos EUA sob a som-

bra da invasão norte-americana noIraque.Central

Teia de IdéiasO jornalista Luís Nassif abre fogo

contra o “jornalismo de esgoto” daVeja e desvenda como a revista tor-nou-se a trincheira da oposição em-presarial ao governo Lula com o usode práticas macartistas.Páginas 18, 19, 20 e 21

Nossa HistóriaNo sexto e úlitmo artigo da sé-

rie, o historiador Helder Molina co-menta a crise de identidade do sin-dicalismo no período de 1992 a2008.Páginas 12 e 13

MulheresA secretária de Política Sindical da

CUT Nacional, Rosane da Silva, faz adefesa feminista da Redução da Jor-nada.Páginas 22 e 23

Meio AmbienteCampanha da Cúria de Veneza

estimula o consumo crítico como for-ma de “penitência” na Quaresma.Página 24

SindicaisHora de debater o Plano de Car-

reira: sindicato promove encontrospelo Interior do Rio de Janeiro.Página 9

Dicas CulturaisDarwin, poesia erótica, boa mú-

sica e a morte de George W. Bush naprogramação elaborada por BiancaRocha.Página 10

Oficina CulturalA funcionária aposentada do TRT-

RJ Marlene de Lima apresenta maisum pequeno conto em que trata domedo e da solidariedade.Página 11

LatuffNosso cartunista retrata a estatu-

ra mundial de Fidel Castro, mesmofora do poder.Página 26

Fulgêncio Pedra BrancaNosso colaborador desanca a Liga

das Escolas de Samba e a campeãBeija Flor. E não apenas por ser por-telense desde menininho...Página 25

Justiça FederalRemoção de magistrada de Angra

deixa servidores de outras varas fe-derais apreensivos. Leia também: Ufire INPC serão usados para corrigir atra-sados.Página 5

TRTContestado curso de oficiais de

justiça ad hoc. E mais: Sindicato co-bra ressarcimento do plano de saú-de no TRT.Página 7

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DDEditorial Envie seu comentário para o e-mail [email protected]

riosos na luta e, conosco, toda a categoria que recebeuum aumento de 60%. Ora, depois de aprovado o projeto,seria lógico que os que defendiam a urgência do Planode Carreira estivessem na linha de frente da tramitaçãodo plano. Aconteceu o contrário: não falam mais em Pla-no de Carreira e desvela-se o seu interesse em criar umadisputa política-partidária sem projeto para a categoria.

Nós, da diretoria do Sisejufe, que defendíamos na-quele momento o PCS3, de maneira correta e estratégi-ca, imediatamente após a aprovação do projeto come-çamos a discussão do Plano de Carreira. Para isso járealizamos um seminário estadual e tiramos uma teseguia para o Rio de Janeiro. Estamos organizando umcalendário regional de debates, preparando encontrosespecíficos na Justiça Eleitoral e na Justiça do Trabalhoe vamos alavancar a luta pela jornada de 6 horas.

O Sisejufe cumpre a palavra empenhada. Depois doPCS3 aprovado, temos feito a discussão sobre o Planode Carreira. Tomamos em nossas mãos essa bandeira ejunto com a categoria do Rio de Janeiro vamos cons-truir mais uma vitória.

Dizem que no Brasil a memória é curta. Nunca com-pactuamos com este ditado porque é uma aposta nadespolitização das pessoas. Para rememorar nossaslutas e objetivos, temos que voltar um pouco no tempoe lembrar da luta pelo Plano de Cargos e Salários (PCS)3. Ela não foi unânime, um grupo de oposição, articu-lado nacionalmente e com representantes no Rio de Ja-neiro, atacava o nosso PCS3 dizendo que o projeto eraruim. Além disso, propalavam um Plano de Carreira ela-borado por um sindicato paulista e que seria mais avan-çado e melhor do que o nosso. Nós, da diretoria do Sise-jufe, defendíamos que o PCS3 daria tranqüilidade finan-ceira à categoria para discutir com vagar um Plano deCarreira – que é algo que não se resolve tão facilmente.

Durante dois anos enfrentamos os defensores daantecipação do debate sobre o Plano de Carreira, di-zendo que eles apenas queriam palanque eleitoral eque dividiam a luta pelo PCS3. Assumimos o compro-misso de que, ao fim da tramitação do PCS3, entraría-mos na discussão do Plano de Carreira.

O que aconteceu? Os defensores do PCS3 foram vito-

Assembléia Geral5 de março de 2008 – 12h

Av. Rio Branco, 243 ( em frente prédio da JF)

Pauta1) Eleição de delegados(as) para

XIV Plenária Nacional da Fenajufe

2) Campanha pela reduçãoda jornada para 6 horas

Convocatória

Assembléia GeralPrestação de Contas

Convocatória

12 de março de 2008 – 19hAuditório do Sisejufe

(Av. Presidente Vargas, 509/11º andar)

Pauta 1) Prestação de Contas de 2007

2) Planejamento Financeiro de 2008

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira da Silva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto da Silva, João RonaldoMac-Cormick da Costa, Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Márcio de Souza Marques, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid da Conceição, RenatoGonçalves da Silva, Ricardo de Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior e Valter Nogueira Alves.

SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]

IDÉIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb 18.091) – Bianca Rocha (Estagiária de Jornalismo)PROJETO GRÁFICO ORIGINAL: Claudio Camillo (Mtb 20.478) – DIAGRAMAÇÃO: Deisedóris de Carvalho – ILUSTRAÇÃO: LatuffASSESSORIA POLÍTICA – Márcia Bauer – EDIÇÃO: Henri FigueiredoCONSELHO EDITORIAL – Roberto Ponciano, João Mac-Cormick, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton Pinheiro.IMPRESSÃO: ARCTURUSVEGA Editora Ltda-ME/Gráfica Minister (8 mil exemplares)

Impresso emPapel Reciclato

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas a edição por questões de espaço.Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita a aprovação do Conselho Editorial. Todos ostextos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

Filiado à Fenajufe e à CUT

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Ano III – número 18 – março/2008 5http://sisejuferj.org.br

Se por um lado a notícia da remo-ção de ofício da juíza Monique Calmonde Almeida Bilchini, deixou os servi-dores da Vara Federal de Angra alivia-dos, por outro, os funcionários dasdemais Varas Federais do Rio estãobastantes apreensivos. O motivo é aindefinição de onde será a nova lota-ção da magistrada. Pesa contra a juízadenúncias de abusos de poder e per-seguições contra servidores da Justiçaem Angra. A transferência teria sidouma forma de punição a Monique Bil-chini. Embora ela esteja afastada desuas funções há mais de um ano, pordecisão do TRF, somente no dia 7 defevereiro ela foi removida de ofício semdeterminação de lotação.

A remoção se deu em virtude dedois processos administrativos. Umdeles, movido por um empresário de

Justiça Federal Remoção de magistrada deixa servidores apreensivos

TRF-2 remove juíza de AngraDa Redação Angra dos Reis cuja residência foi in-

vadida pela juíza. O outro processo foimovido por funcionários do setor deRecursos Humanos da Justiça Federalque foram agredidos verbalmentepela magistrada.

Ainda aguardam julgamento trêsprocessos administrativos e dois cri-minais, todos movidos pelo Sisejufe,e que correm em segredo de Justiça. OSisejufe briga, inclusive, para que sejarevogada a determinação que impedeo acesso ao andamento das ações. “As-sim fica muito difícil acompanhar. Semvistas nos autos é impossível formularqualquer procedimento em relaçãoaos processos”, diz Valter NogueiraAlves, diretor do sindicato.

Em fevereiro de 2006, o sindicatoprotocolou várias representações con-tra a juíza na Corregedoria do TRF-2. Areclamação formal foi baseada em de-

núncias de servidores da Vara Federalde Angra dos Reis que relatavam casosde assédio moral e agressões psicoló-gicas protagonizados pela juíza con-tra os trabalhadores.

De acordo com as denúncias, elateria se dirigido aos servidores em vá-rios momentos com termos como“mentirosos”, “babacas”, “burros”,“desgraçados”, e “otários”, além defazer ameaças de instaurar processosadministrativos e fazer avaliação ne-gativa de estágio probatório. O sindi-cato aguarda tanto o levantamento dosegredo de Justiça quanto o acesso aosautos para preparar os próximos pas-sos nos processos. Caso não seja defe-rida tal solicitação, o sindicato recorre-rá ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).O Sisejufe entende, também, que amagistrada deve continuar afastada desuas funções enquanto todos os pro-cessos estiverem em andamento.

Atualizações monetárias devidasaos servidores do Judiciário Federal eaos magistrados serão corrigidas pelaUnidade Fiscal de Referência (Ufir) epelo Índice Nacional de Preços ao Con-sumidor (INPC). A determinação de usaros dois índices é do Conselho de Justi-ça Federal (CJF).

A decisão foi tomada em sessão dodia 11 de fevereiro, cujo relator damatéria é o coordenador-geral da Jus-tiça Federal, ministro Gilson Dipp. Deacordo com o ministro, a decisão doCJF se refere apenas às atualizaçõesmonetárias devidas para as reposições

Ufir e INPC serão usados para corrigiratrasados de servidores e magistrados

determinadas pela Administração apartir da vigência da Medida Provisó-ria 2.225-45/2001, ou seja, a partir de5 setembro de 2001.

Para as reposições anteriores a estadata, ou seja, até 4 de setembro de2001, mantém-se as regras da legisla-ção anterior.

Também ficou estabelecido que, nahipótese de reposições e indenizaçõesaos cofres públicos, que a data limitepara uso dos índices é 30 de junho de1994. De acordo com o Artigo 46 daLei 8.112/90, essas reposições deverão

ser previamente comunicadas ao ser-vidor ativo, aposentado ou ao pensio-nista, para pagamento, no prazo má-ximo de 30 dias, podendo ser parcela-das, a pedido do interessado.

Segundo determinou o CJF, no quese refere à reposição ao erário de valo-res recebidos pelo servidor ou magis-trado em decorrência de cumprimentoà decisão liminar, à tutela antecipadaou à sentença que venha a ser revogadaou rescindida, os valores deverão seratualizados até a data da reposição.

Imprensa – Fenajufe

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6 Ano III – número 18 – março/2008http://sisejuferj.org.br

Sisejufe impede terceirizaçãoOs setores de segurança e informá-

tica do Tribunal Regional do Trabalhoda 1ª Região (TRT-RJ) não poderão serterceirizados. O Órgão Especial do TRTacatou, em parte, na sessão do dia 21de fevereiro, a ação do Sisejufe contraa Resolução Administrativa 04/07 daPresidência. A iniciativa extinguia vá-rias especialidades. O desembargadorCésar Marques fez pedido de vistas noprocesso, depois de ter votado pela re-visão apenas da uma parte da resolu-ção, que trata da extinção dos cargosde programadores e de segurança/transporte. A maioria do Órgão Especi-al acompanhou o voto de Marques. O

processo do sindicato (1.163/07) foianalisado pelo Órgão Especial, combase no voto do relator, que indicava arevisão total da resolução do TRT. Essadecisão eliminava toda possibilidade deterceirização prevista pela resolução dodireção do TRT.

A Resolução Administrativa 04/07,de 5 de fevereiro de 2007, da presidên-cia do tribunal, acaba com especiali-dades nas áreas de segurança, de téc-nico de operador de computadores,carpintaria e marcenaria, artes gráfi-cas, telecomunicações e eletricidade,mecânica, programador e transporte.

O Artigo 2° da resolução abre espa-

ço para a substituição servidores con-cursados por trabalhadores terceiriza-dos de empresas contratadas. “As es-pecialidades colocadas em extinçãoserão objeto de terceirização, median-te a substituição gradativa por empre-sas contratadas, de modo que, no in-teresse da Administração, as ativida-des não sofram descontinuidade”, dizo referido artigo.

“Quanto às demais especialidades,continuaremos insistindo na tese danão-terceirização/privatização. Estaserá sempre uma bandeira do Sindica-to”, advertiu o diretor do Sisejufe Nil-ton Alves Pinheiro, que acompanhoua sessão do Órgão Especial do TRT.

Servidores da Justiça Militarrecebem reenquadramento do PCS

Os servidores da Justiça Militar rece-beram, junto com o folha do mês de fe-vereiro, o pagamento do passivo relati-vo ao reenquadramento do novo Planode Cargos e Salários (PCS). O crédito foifeito no dia 20 de fevereiro, segundoconfirmou a Assessoria de Imprensa doSuperior Tribunal Militar (STM), em Bra-sília. A informação de que o pagamentoseria feito junto com o salário de feve-reiro foi dada pelo diretor-geral doSTM, Afonso Ivan Machado, durante reu-nião com representantes da Fenajufe.Têm direito ao pagamento do passivoos servidores aprovados em concursopúblico anterior a 1996, mas que toma-ram posse após a implementação do pri-

meiro Plano de Cargos e Salários (Lei9.421/96). O direito ao enquadramentoestá previsto no Artigo 22 do novo Pla-no de Cargos e Salários. A maioria dosservidores do Judiciário com direito aoreenquadramento já recebeu o que eradevido, entre eles os funcionários doTribunal Superior Eleitoral (TSE), do Su-premo Tribunal Federal (STF), da Justi-ça Federal e de vários Tribunais Regio-nais Eleitorais (TRE). Os servidores daJustiça do Trabalho ainda aguardam au-torização para liberação dos recursos.A direção da Fenajufe já agendou umareunião com o Conselho Superior daJustiça do Trabalho (CSJT) para tratar doassunto.

Relatório feito pela presidente doConselho Nacional de Justiça (CNJ) e doSupremo Tribunal Federal (STF), minis-tra Ellen Gracie, mostra que o Proces-so Virtual e o combate à morosidadesão as prioridades do CNJ para a agendajudiciária em 2008. O documento foientregue ao presidente do Congresso,senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) no dia 11 de fevereiro. O objetivoé implementar o Processo Virtual emtodos os órgãos do Poder Judiciário,buscando sua padronização. Hoje, dos27 tribunais de Justiça do país, o siste-ma já é usado somente em 17, e outrosnove estão em processo de implanta-ção. O relatório ainda recomenda ao Ju-diciário dar “prioridade à moderniza-ção das primeiras instâncias”. O docu-mento lista ainda as principais decisõesdo Plenário do CNJ em 2007, onde sedestacam, por exemplo, o afastamentode titulares de cartórios que ocupavaminterinamente a vaga, sem aprovaçãoem concursos público.

Pelo combate àmorosidade da Justiça

TRT Sindicato defendeu concursados na Segurança e na Informática no Rio

Da Redação

3º Sarau Judicial CoolSexta-feira – 4 de abril – 19h

no auditório do Sisejufeav. Presidente Vargas, 509/11º andar

Participe!

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Ano III – número 18 – março/2008 7http://sisejuferj.org.br

Em defesa da realização de concur-so para entrar no serviço público, a di-reção do Sisejufe protocolou, em 19de fevereiro, pedido de suspensão docurso de formação de oficiais de justi-ça ad hoc, que está programado peloTribunal Regional do Trabalho do Rio(TRT-RJ). O sindicato considera que ainiciativa viola uma série de regrasconstitucionais e infraconstitucionais,como a Lei 11.416/2006 e as PortariasConjuntas 1 e 3, de 2007, assinadaspelos presidentes do Conselho Supe-rior da Justiça do Trabalho (CSJT) e doTribunal Superior do Trabalho (TST).

Caso, o TRT não cancele o curso, o

Contestado curso de oficiais ad hocSisejufe entrará com recurso no CSJT ecom representação no Tribunal deContas da União (TCU) que poderá re-sultar na responsabilização cível e pe-cuniária do administrador que tenhausado verba para fins não permitidospela legislação.

Com o requerimento administrativo,o Sisejufe quer que a presidente do TRTdo Rio, desembargadora Dóris CastroNeves, reconheça a ilegalidade e a in-constitucionalidade do curso para for-mação de oficiais de justiça ad hoc.

O sindicato defende a realização deconcurso para o preenchimento dequalquer cargo ou função no serviçopúblico.

Da Redação Além disso, os oficiais de justiça sãoprovidos em cargo com funções insti-tucionais específicas no Plano de Car-reira dos Servidores do Poder Judiciá-rio da União. Assim, a realização decurso de formação para os oficiais tem-porários desrespeita o plano de carrei-ra e abre uma lacuna que permite acontratação de pessoal sem que tenhasido realizado concurso público.

“Temos que acabar com essa práti-ca no serviço público, a de usar cursos,que não têm critérios transparentes,para prover um cargo com especiali-dade para o qual se exige concurso.Isto fere a impessoalidade e a transpa-rência”, afirma Roberto Ponciano, di-retor do Sisejufe.

TRT Iniciativa da administração viola regras constitucionais

O Sisejufe entrou com requerimen-to administrativo para que os servi-dores do Tribunal Regional do Traba-lho (TRT) também sejam ressarcidosdas despesas e gastos com planos desaúde não contratados diretamentepelo tribunal. O pedido se baseia naorientação da Tribunal de Contas daUnião (TCU) que mandou estender opagamento dos valores de ressarci-mento dos convênios médicos ao fun-cionários do Conselho Nacional daJustiça (CNJ).

No ano passado, o sindicato arti-culou junto ao CJF o reconhecimentodo benefício para os servidores do TRFe da Justiça Federal de Primeira Ins-tância, o que beneficiou os servido-res em âmbito nacional. O pedido noTRT é para que a administração dotribunal siga a orientação do TCU e

estenda o pagamento aos servidoresque não usam o plano da Amil, o ofi-cial do TRT. Na prática, essa medidadá aos funcionários que pagam quais-quer planos de saúde particular o di-reito de serem ressarcidos de parte dopagamento, igualando àqueles queusam o plano contrato diretamentepelo administração.

A direção do sindicato cobrará umparecer da Assessoria Jurídica da Presi-dência do TRT, responsável pela análisedo pedido administrativo. A diretoria doSisejufe espera que um deferimentobreve para a questão. Do contrário, en-caminhará o caso ao Conselho Superiorda Justiça do Trabalho (CSJT) e ao TCU.“Vamos cobrar uma posição da presi-dência do TRT para garantir o direitodos servidores do tribunal”, afirma Ro-berto Ponciano, diretor do Sisejufe.

Sisejufe cobra direito de ressarcimentodo plano de saúde no TRT do Rio

Na sessão plenária administrativa dodia 21 de fevereiro, o Supremo TribunalFederal decidiu que o imposto de rendanão incide sobre os juros moratóriosdecorrentes do pagamento tardio da di-ferença de 11,98% (processo nº 323.526).A jurisprudência do Supremo já havia sefirmado no sentido de serem devidas aosservidores do Poder Judiciário as dife-renças decorrentes da errônea conver-são dos seus salários em URV (11,98%).Entendimento este que foi seguido pelaadministração dos órgãos do Poder Ju-diciário, que promoveu o pagamento tar-diamente, incluído juros.

A controvérsia que se mantinha, ago-ra desfeita pelo Supremo, dizia respeitoà natureza dos juros devidos pela demo-ra da quitação do direito. Se remunera-tórios, sobre os juros recebidos ou a re-ceber deve incidir o imposto de renda;de outro lado, se indenizatórios, sobretais juros o tributo não deve incidir,porque não seriam classificados comoacréscimo patrimonial.

IR não incide sobreos juros de 11,98%

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8 Ano III – número 18 – março/2008http://sisejuferj.org.br

Os servidores do Tribu-nal Regional do Trabalho doRio (TRT-RJ) vão trabalharseis horas diárias, ou seja,30 horas semanais durantea Semana de Lutas pela Re-dução da Jornada, em dataainda a ser definida. Essa foiuma das decisões tomadasna assembléia realizada narua do Lavradio, no dia 20de fevereiro, que marcou ocomeço da campanha e aadesão do funcionalismo àluta pela diminuição da car-ga horária. Também ficoudecidida a circulação de umabaixo-assinado reivindi-cando a redução da cargahorária e que será protoco-lado um pedido administra-tivo à direção do TRT para aalteração da jornada diária.Os servidores presentes àassembléia aprovaram ain-da levar à Fenajufe a suges-tão de transformar o indica-

tivo em ponto de luta nacio-nal. O tema é antigo e prio-ritário para o Sisejufe hápelo menos quatro anos.

Na avaliação da diretoriado sindicato, com a aprova-ção dos últimos Planos deCargos e Salários (PCS), quefizeram a categoria con-quistar um patamar salari-al digno, a redução da jor-nada para seis horas passoua ser fundamental. Em suasintervenções, os diretoresdo sindicato Roberto Pon-ciano, David Batista Cordei-ro e a ex-diretora Vera Lú-cia Pinheiro deixaram claroque a luta por jornadas me-nores não será travada ape-nas no campo jurídico.Será, sim, uma conquistapolítica da categoria, ne-cessitando a mobilizaçãode todos os servidores daJustiça do Trabalho, da Jus-tiça Eleitoral, da Justiça Mi-litar e da Justiça Federal.

Redução da Jornada Sisejufe lança nova campanha no TRT

Para provar que 6 horas são suficientesDa Redação Os diretores do Sisejufe

Roberto Ponciano e Lucile-ne Lima participaram, no dia23 de fevereiro, da plenáriada Fenajufe, em Brasília, re-presentando o Rio. Na oca-sião, denunciaram a tenta-tiva de aumento de jornada

Durante a assembléia, osindicato foi informado deque o objetivo da atual pre-sidente do TRT-RJ, desem-bargadora Dóris Castro Ne-ves é aumentar a produtivi-dade aumentando a carga ho-rária. O Sisejufe consideraque isto é um equívoco daadministração. Os servido-res do TRT não são os culpa-dos pelo atravancamento doJudiciário. Apesar do esfor-ço do funcionalismo, o nú-mero de demandas cresce acada ano e este crescimentonão é acompanhado por ummaior número de varas, nempor maior número de funcio-nários. Não fosse o esforçodos funcionários, que traba-lham em cartórios com o nú-mero de servidores reduzi-díssimo, a Justiça do Traba-lho já teria parado.

O resultado do acrésci-mo de carga horária no TRTserá o aumento das doençaslaborais, LER/Dort e doençaspsicossomáticas. Com oprolongamento inútil da jor-nada, a produtividade cairá.Os servidores não devem sesacrificar para cumprir me-tas desumanas de produtivi-dade. A direção do sindica-

Na assembléia da rua doLavradio estiveram presentescerca de 25 servidores. Embo-ra pequeno, o encontro foirepresentativo. As primeirasassembléias dos PCs 2 e 3também contaram com pou-cos participantes e logo omovimento cresceu a pontode o sindicato promover pas-seatas com 2 mil servidores.Para Roberto Ponciano, “érepresentativo que a largadatenha sido no TRT-RJ, um tri-bunal que vem tendo dificul-

dades na mobilização dos ser-vidores, e que, por esta ra-zão, o tornou-se prioritárionas ações do Sisejufe”. Deacordo com a direção do sin-dicato, a redução da jornadanão vai ser algo que se con-quiste na disputa legalista, oufruto da “boa vontade” dasadministrações. “Os servido-res tem de acreditar em simesmos e trazer os compa-nheiros que estão em dúvidapara a mobilização”, diz Pon-ciano.

Assembléia no TRTdefine metas de luta

proposto pelo TRT-RJ. Elesaproveitaram para reivindi-car que a federação assumaa luta por uma jornada naci-onal permanente de 30 ho-ras semanais, como formade estender a luta do TRT-RJpara todo o Brasil.

Quem sabe faz 6 horas,não espera acontecer

to informa que os trabalha-dores que sofrerem retalia-ção por parte da administra-ção, por não cumpriremmetas relacionadas ao au-mento de carga de trabalho,devem procurar o Sisejufe.“Nosso sindicato consideraassédio moral qualquer ten-tativa de impôr à força o au-mento irracional da produ-tividade”, afirma RobertoPonciano. “Qualquer tenta-tiva de coação por parte daadministração deve ser res-pondida à altura e denuncia-da ao sindicato. Não deve-mos trabalhar mais paracumprir metas surreais tra-çadas pela administração”,conclui.

Estudos já divulgadospelo Sisejufe, na Idéias emRevista, demonstraram queo aumento da carga horáriasó aumenta as doenças labo-rais, não a produtividade.Ignorar tal fato é retroagirao século XIX. Países capi-talistas avançados como aAlemanha, Holanda e Françajá reduziram a carga horáriacomo maneira de diminuiro desemprego, as doençaocupacionais e aumentar aqualidade de vida.

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Ano III – número 18 – março/2008 9http://sisejuferj.org.br

De março a maio deste ano, as dis-cussões sobre o Plano de Carreira vol-tam a ser o centro das atenções dosservidores do Judiciário Federal no Rio.Agora com a participação mais efetivados funcionários do Interior do esta-do. Seguindo orientação da Fenajufe,que acatou uma sugestão do próprioSisejufe de realizar fóruns regionaisde discussão, a direção do Sindicatoorganizará debates e seminários des-centralizados em municípios do in-terior entre março e o final de maio.O primeiro encontro da série vai serdia 25 de março na Justiça Federalde Niterói.

Os eventos terão a participação detécnicos do Dieese, de tribunais supe-riores, do movimento sindical e da ca-tegoria. A iniciativa seguirá o exemplopioneiro do Seminário sobre Plano deCarreira e Gestão Democrática de Pes-soal, promovido em 22 de setembrodo ano passado pelo Sisejufe, na sededo sindicato. Na ocasião, os debatescontaram com as presenças de servi-dores sindicalizados, dirigentes sindi-cais de todo o país e painelistas daCUT, do Dieese, da Fenajufe, do STF,da UFRJ e do Sintrajufe-RS.

“Agora, é hora de aprofundar o de-bate e transformar o Plano de Carreiraem realidade, depois da iniciativa pio-neira do Sisejufe de ser o primeiro afazer esse debate. Temos que discutire transformar em realidade idéias fun-damentais como a redução da jornadapara 6 horas”, afirma Roberto Poncia-no, diretor do Sisejufe.

Para um maior participação da ca-tegoria, os organizadores dos seminá-rios descentralizados dividiram o es-

Sindicais Sisejufe programa seminários no Interior no primeiro semestre

Hora de debater o Plano de CarreiraMax Leone* tado em cinco regiões. A Região 1 –

Niterói e São Gonçalo – dará a largadanos trabalhos, com a reunião aconte-cendo em Niterói, no dia 25 de março.Em seguida, os debates serão realiza-dos na Região 2 – Campos, Macaé e Ita-peruna –, com as discussões marcadaspara a cidade de Campos, dia 2 de abril.A Região 3 – Volta Redonda, Resende,Barra do Piraí e Angra dos Reis – terácomo sede dos trabalhos Volta Redon-da, dia 9 de abril, e Angra, no dia 16.

A Baixada Fluminense também es-tará presente nos debates sobre Planode Carreira. Será representada pela Re-gião 4 – Nova Iguaçu, Nilópolis, SãoJoão de Meriti e Duque de Caxias –,com Nova Iguaçu, no dia 23 de abril, eSão João de Meriti, dia 30, recebendoos palestrantes para os eventos. E porfim, a Região 5 – Magé, Petrópolis,Nova Friburgo, Teresópolis e Três Rios– fechará o ciclo de encontros peloInterior até o mês de junho. Os semi-nários acontecem no dia 7 de maio emPetrópolis e no dia 14 de maio, emNova Friburgo.

Uma cartilha com os principaispontos de discussão será produzidapara servir de referência nas discus-sões. As novas propostas que surgiremfarão parte de um relatório a ser enca-minhado à Plenária do II Encontro Na-cional sobre Plano de Carreira da Fe-najufe, em novembro, para ser votado eaprovado como resolução. O resultado fi-nal será entregue aos representantes doSupremo Tribunal Federal (STF).

A primeira etapa de debates nacio-nais ocorrerá nos dia 28, 29 e 30 demarço, quando acontecerão o I Encon-tro Nacional sobre Plano de Carreirase XIV Plenária Nacional da Fenajufe,com a participação de delegados elei-tos na assembléia de 5 de março. Deabril a outubro, encontros estaduais elocais aprofundarão o tema até a reali-zação do II Encontro Nacional em no-vembro. O Encontro Estadual da Justi-ça Eleitoral no Rio está marcado parao dia 20 de maio e o evento da Justiçado Trabalho, para o dia 27 de maio.

3 – Volta Redonda, Volta Redonda 9 de abril 19h

Resende, Barra do Piraí e Angra dos Reis Angra 16 de abril 19h

4 – Nova Iguaçu, Nilópolis, Nova Iguaçu 23 de abril 19h

São João de Meriti e Duque de Caxias São João 30 de abril 19h

5 – Magé, Petrópolis, Petrópolis 7 de abril 19h

Nova Friburgo, Teresópolis e Três Rios Friburgo 14 de abril 19h

Cronograma dos debates no Interior

1 – Niterói, São Gonçalo

Sede Data HoraRegião

Niterói 25 de março 19h

2 – Campos, Macaé e Itaperuna Campos 2 de abril 19h

*Da Redação.

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Literatura – Feitiços, de Roberto PoncianoD

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É da figura da mulher, vista de formasuave, transcendente, mística e mágica,que brotam os fios que tecem cada um dostextos de Feitiços, estréia literária de Ro-berto Ponciano. Bacharel em Direito e emLetras, ativista político, servidor da Justi-ça Federal e atual diretor do Sisejufe, Pon-ciano reúne escritos, em verso e prosa, de1999 a 2003. Editado pela Booklink, com107 páginas, Feitiços conta histórias que re-metem a Anaïs Nin e em cujo lastro teóricopodemos identificar autores libertários

Exposição – Darwin: descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo

Em cartaz no Museu Histórico Naci-onal até o dia 20 de abril, a mostra re-cria a viagem de descoberta de Darwin,que transformou a percepção sobre aorigem e a natureza das espécies. Alémde retratar aspectos exclusivos da pas-sagem de Darwin pelo Rio de Janeiro,em 1832, a mostra inclui a recriação ce-nográfica da Mata Atlântica. A exposi-ção do Instituto Sagari, representanteoficial do Museu de História Natural deNova York no Brasil, dá aos cariocas aoportunidade de conhecer mais sobrea vida e a obra do criador da Teoria da

Evolução. O horário de funcionamentoé de terça à sexta-feira, de 9h às 18h.Aos sábados, domingos e feriados ohorário é de 10h às 18h. O Museu His-tórico Nacional fica na Praça MarechalÂncora, Centro, Rio de Janeiro. Entra-das a R$ 15 (inteira) e R$ 7 (estudantese professores). Entrada franca para cri-anças menores de 7 anos, grupos deescolas públicas agendados e idosos apartir de 60 anos. Para maiores infor-mações e agendamento de grupos, li-gar para (21) 4062.0089 ou acesse o sitewww.darwinbrasil.com.br.

Música – Centro Cultural Light apresenta nova temporada de shows

De terça-feira à sexta-feira o CentroCultural Light oferece uma diversidadede programas musicais para diversos pú-blicos, do clássico ao popular. Às ter-ças-feiras, o Centro Cultural apresentao projeto “Terças Musicais” com nomesimportantes da música brasileira, comoa dupla Kleiton & Kledir, Alcione, Wan-do e o grupo Azymuth. Às quartas-fei-ras há o “MPB 12h30 em ponto”, um talk-show comandado pelo jornalista e pes-

como Wilhelm Reich. Para a poetisa GlóriaHorta, que prefacia a obra: “O grande encan-to de seus versos é que neles não nos depa-ramos com o poeta idealizador da mulherdiáfana, devoradora e inacessível, nem como amante traído imerso em lamúrias. (...)Ponciano grita na nossa cara: a liberdade dabusca do prazer , sem culpas, sem medo esem vergonha. A entrega plena.”. O livropode ser encontrado na páginawww.booklink.com.br a R$ 20,00 na ver-são impressa e a R$ 10,00 na versão digital.

quisador Ricardo Cravo Albin. Nas quin-tas-feiras acontecem homenagens os 50anos da Bossa Nova, com o projeto“Sempre Bossa Nova” e músicos que fi-zeram parte dessa história como Car-los Lyra, João Donato, Marcos Vale, Ro-berto Menescal e Leny Andrade. O pro-jeto “Música no Museu”, às sextas-fei-ras, com sessões mensais, apresenta fe-ras da música clássica como o QuartetoAlevare. O Centro Cultural Light fica na

Avenida Marechal Floriano, n° 168, Cen-tro, Rio de Janeiro (próximo ao metrôda Presidente Vargas). Todas as apre-sentações acontecem às 12h30, os sho-ws são gratuitos, com senhas distribuí-das uma hora antes das apresentações.Apenas o projeto “Terças Musicais” cus-ta R$ 5 – valor que será revestido para aSociedade Viva Cazuza. Para maiores in-formações ligar para: (21) 2211-4515 e2211-4420.

Imagine que o presidente norte-america-no George W. Bush está em Chicago para umencontro com líderes locais e é atingido mor-talmente por um tiro disparado por um fran-co-atirador. Eis o mote do filme “A Morte deGeorge W. Bush”, de Gabriel Range, que es-tréia dia 7 de março em todo Brasil. A polêmi-ca produção britânica, feita originalmentepara TV, é um misto de ficção e documentá-rio e foi eleita pela crítica o melhor filme de2006 no Festival de Toronto, no Canadá. Olonga-metragem narra o drama político quese instaura no país após o assassinato do atu-al presidente norte-americano, o republica-

Cinema – A Morte de George W. Bush

no George W. Bush. Com um orçamento dedois milhões de dólares, a obra apresenta ce-nas que reproduzem, com riqueza de deta-lhes, uma manifestação contra o atual presi-dente diante do Hotel Sheraton, em Chicago,local do suposto crime que acontece em meioa esta manifestação, em outubro de 2007.Dois anos depois, um documentário investi-gativo é feito para narrar as ações de todas aspessoas envolvidas naquele dia fatídico: sãoouvidos os parentes dos 300 suspeitos pre-sos, a maioria com origem árabe. Entre ossuspeitos há também pais dos soldados quemorreram na guerra no Iraque.

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*Funcionária aposentada do TRT-RJ

Oficina Literária O álibi de Amparo era precário e a polícia não acreditava

Flores de Cetim

Marlene de Lima*

Tudo escuro na estação da Leopol-dina. Eu dava aula na Avenida Brasil, eo último conselho de classe do ano ter-minara tarde. Apreensiva, esperava asegunda condução para casa. Os faróisdos carros jogavam luz nos rostos ansi-osos tentando ler os letreiros dos ôni-bus. Todo mundo solidário no medo,mas temendo a aproximação do outro.

Uma mulher tocou meu ombro. Namão aberta, mostrava algo difícil dever naquele breu. Me aproximei de unsrapazes que falavam de futebol. A es-curidão inibia o volume das vozes, e osilêncio aumentava a sensação de in-segurança.

A desconhecida me seguiu. “Tenhamedo não, moça. Sou do bem, faço flo-res. Só cinco reais.” Chegou mais per-to. Eu quase em pânico. “Não tenhodinheiro. E isso não é hora de se ven-der nada!” “E fome tem hora? São onzee pouco, dona.” — Alteou a voz. — “Pracomprar comida, viu? Tô vindo de umafaxina na Ilha. A mulher só paga no fimdo mês. Desaforo, né? Mas ouviu pou-cas e boas. Tenho uma filha de sete anos

me esperando, pra não dormir de barri-ga vazia. Dê quanto quiser.”

Vi com alegria meu frescão paradono sinal. Os sete anos da menina mefizeram tirar os cinco reais separadosno bolso do casaco e pegar a flor. Naclaridade do ônibus, a rosa azul faziajus ao preço e minha consciência esta-va em paz.

Enfim, férias, verdes mares. Na ca-deira de praia, eu folheava sem muitointeresse o jornal local, quando, numpequeno espaço, dei com uma notíciado Rio. Maria do Amparo, diarista, sol-teira, quarenta anos, matou com umafaca de cozinha a dona de casa HelenaDamasceno, na noite de treze de de-zembro, na Ilha do Governador. Os vi-zinhos tinham visto a acusada discu-tindo com a patroa na varanda, porvolta das dez. O marido da vítima en-controu o corpo à meia-noite, ao che-gar do hospital onde era enfermeiro.E, como Helena levara o lixo para acalçada às onze — quando passava ocaminhão — o crime só poderia terocorrido depois daquela hora. Ampa-ro alegava ter saído da casa às dez etrinta e pegado um ônibus na Estrada

do Galeão. Seu álibi era precário:às onze e pouco, vendera uma florazul a uma mulher de óculos, na Leo-poldina. Ninguém para confirmar. Apolícia não acreditava.

Natal, Ano Novo, e a figura sem ros-to da vendedora de flores na minhacabeça. Eu me sentia partilhando a celacom Maria do Amparo. Alterei os pla-nos de passar em Salvador e retornei aoRio. No dia seguinte ao da chegada, fui à37ª DP, na Ilha, me apresentar como amulher de óculos da Leopoldina.

Em fevereiro recomeçaram as aulas.“Professora Celeste” — o inspetor mechamava à portaria do colégio. Eu nãoconhecia a mulata magrinha de cabe-los entrançados e dentes que não ca-biam dentro da boca. Trazia pela mãouma menina sorridente, que se adian-tou e me entregou a caixa de plástico.Vi uma lágrima no rosto de Amparo.Sob a tampa transparente, resplande-cia uma rosa de cetim intensamentevermelho.

Era a cor da gratidão.

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A crise de identidade do sindiHelder Molina*

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A ofensiva neoliberal nos anos90 produziu profundos e exten-sos estragos nas economias, nassociedades e principalmente nosmovimentos sociais organizados.Dentre estes, os sindicatos sofre-ram profundas derrotas. A CUTnão ficou imune a essa ofensiva.Muitas de suas lideranças ficaramdivididas entre a perplexidade, aresistência fragmentada (setorese correntes minoritárias no inte-rior da CUT), e a “adesão propo-sitiva” a alguns pressupostos danova ideologia (setores e corren-tes majoritárias da Central).

No decorrer desta discussão, afirmamosque a CUT era uma concepção sindical cons-truída pela base, democrática, autônoma eclassista e sobretudo de combate anticapi-talista, um contraponto político e ideológi-co às concepções e práticas cupulistas (ondeas direções decidem sem consultar a base, eem nome dela), burocráticas, autoritárias ede colaboração de classe do sindicalismooficial tutelado pela Ditadura Militar, heran-ça do Estado Novo e da Era Vargas.

Dissemos que a fundação da CUT foi pro-duto histórico da luta organizada de ummúltiplo e diversificado leque de forças so-ciais e políticas que resultou num amplomovimento de contestação e combate aoregime militar, suas doutrinas e práticas vi-olentas e autoritárias e pelo resgate do Es-tado democrático de direito. A existência daCUT significou, no campo sindical, um rom-pimento concreto com os limites da estru-tura sindical oficial corporativa, e um pro-fundo avanço dos trabalhadores na conquis-ta de direitos humanos, civis e sociais.

Dados do Censo Sindical, produzido peloIBGE, em 2002, indicavam que a CUT – mes-mo enfrentando o vendaval neoliberal– eraa quinta maior central sindical do mundo,em número de trabalhadores representados(22 milhões) e de sindicatos filiados (3.864entidades).

Um dos principais obstáculos à consoli-dação das políticas neoliberais do grandecapital internacionalizado no Brasil foi, semdúvida alguma, a resistência dos trabalha-

dores, especialmente os setores mais orga-nizados e combativos, com experiênciasacumuladas de lutas, reunidos em torno daCUT. Para as classes dominantes, era urgen-te construir uma ferramenta que fosse ins-trumento de disputa de hegemonia dentrodo próprio mundo do trabalho. Não basta-va só atacar os sindicatos e as organizaçõespopulares, era necessário disputar no pró-prio campo. É nesse contexto e em acordocom as necessidades do capital que nasce aForça Sindical, uma central sindical de cu-nho governista e neoliberal criada em 1991.

Mas o neoliberalismo não influencia sóa Força Sindical. O próprio sindicalismo cu-tista não fica imune a essa contaminaçãoideológica. O IV Congresso foi, com certe-za, o mais tumultuado desde a fundação daCUT, um congresso marcado pela violênciafísica e pela intolerância, de todos os lados.Foram 16 teses em que as divergências polí-ticas estratégicas se mostraram com todaclareza e profundidade. Trata-se do marcode adesão propositiva da CUT ao ideário ne-oliberal e seu impactos s sobre o movimen-to sindical combativo, onde um processo deconcessão ideológica se alia à fragmenta-ção política.

De uma Central que nasceu com um ca-ráter de contestação da ordem capitalista,de defesa dos interesses históricos (estraté-gicos) dos trabalhadores, como a luta pelo

socialismo e pela auto-emancipação dos tra-balhadores, inserida em seus estatutos des-de a fundação, passa a assumir uma políticade negociação e colaboração, dentro dosmarcos econômicos e políticos definidospela globalização do capital e do avanço doneoliberalismo.

Mesmo que negue, a CUT, com a impor-tância social e política que construiu naslutas específicas e gerais ao longo dos anos,legitima o fetiche da qualificação do traba-lhador como forma de enfrentamento dodesemprego. O problema da empregabili-dade é do trabalhador, defasado e desquali-ficado para o novo mercado de trabalho epara a nova lógica produtiva destes tempos

Quase 65% dostrabalhadores brasileirosestão na informalidade,excluídos do mundosindical. Daqueles queestão formalmenteempregados, apenas 20%têm algum vínculo comsindicatos e menos de 5%dos trabalhadores formaisparticipam da vida políticade suas entidadesrepresentativas.

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icalismo no período 1992-2008

neoliberais. Essa ideologia da empregabili-dade diz que empregos há, diminui a oferta,é verdade, aumentou a demanda, outra ver-dade, mas, segundo os neoliberais, o pro-blema é do próprio trabalhador, que agoraterá que ser mais competitivo, qualificado,polivalente e produtivo.

Tal complexidade coloca aos sindicatose à CUT um conjunto de exigências políticasimediatas, propriamente sindicais, combina-das com políticas de cunho estratégico, demacro alcance sócio-econômico e político-cultural, com relevância e urgência. As tare-fas políticas dessa agenda envolvem umarede de temas, como a organização dos tra-balhadores por locais de trabalho, um novo

padrão de negociação e contratação coleti-va, a constituição da verticalidade da CUTpor ramos produtivos e a horizontalidadepor temáticas relacionadas ao mundo dotrabalho, sociedade e desenvolvimento eco-nômico, social e cultural, tais como a refor-ma agrária, as reformas tributária e fiscal,políticas sociais concretas e abrangentes nosentido de ampliar o acesso ao saneamentoambiental, saúde, educação, habitação, se-gurança pública e seguridade social.

As contradiçõessob o governo Lula

Sob o governo Lula as contradições dosindicalismo cutista só se agravaram. Entreo compromisso de defender um governocom características populares, com tarefasde romper com a histórica desigualdadeeconômica e social brasileira, instituir direi-tos sociais, superar a exclusão, resgatar asoberania nacional e inverter a lógica doEstado, e o perigo de se tornar uma correiade transmissão do governo, a CUT vive umdilema e uma crise de identidade. Essa crisede identidade, ou da escolha de uma adap-tação, de transição gradual, de desenvolvi-mento social sem ruptura com o capitalis-mo, têm provocado grandes reflexos nomundo sindical. Vamos aqui apontar ape-nas uma das repercussões: a fragmentaçãoe divisão do movimento sindical.

Na árvore da estrutura sindical brasilei-ra, que em 1983 tinha dois galhos, hoje te-mos 8 galhos que se afastam, apesar de umfalacioso discurso de unidade. Dados doDiap, Diesat , Dieese e das centrais sindicais,de dezembro de 2007, cruzados e estuda-dos em conjunto, informam que a CUT ain-da representa cerca de 50% dos sindicatos.Eesta diminuição percentual em relação aosdados do IBGE de 2002 se deve, principal-mente, à saída dos sindicatos que formarama Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas)– cujo lastro está em partidos como o PSTUe em sindicatos nacionais independentes,como ANDES, dos professores universitári-os – e a Intersindical (sindicalistas ligadosao PSOL e ao PCB). Estes, juntos, represen-tam cerca de 4% dos sindicatos.

A Força Sindical reúne 21%; a SDS se fun-diu com a CAT e a CGT fazendo nascer aUGT (União Geral dos Trabalhadores) queincorporou uma parcela de 10% dos sindi-

catos. Ao final de 2007, com saída da Cor-rente Sindical Classista (ligada ao PCdoB) daCUT, foi criada a Central dos Trabalhadoresdo Brasil (CTB), com participação do PCdoBe setores ligados ao PSB, que passam a terinfluência em cerca de 20% do movimentosindical organizado, embora muitos dos sin-dicatos que poderão migrar para a CTB ain-da permaneçam filiados à CUT. Tais núme-ros, portanto, não são definitivos. Grandeparte dos sindicatos ideologicamente vin-culados à Conlutas não estão filiados a ne-nhuma central sindical, ou se consideramindependentes, visto que essa organizaçãonão se reivindica organicamente uma cen-tral e sim uma coordenação de lutas, comodiz o próprio nome.

Em todo caso, esses dados demonstramo neocorporativismo, o sectarismo e cupulis-mo, visto que a imensa maioria dos trabalha-dores, quase 65%, estão na informalidade,excluídos do mundo sindical, dos direitossociais e sem representação política. Daque-les que estão formalmente empregados, ape-nas 20% têm algum vínculo com sindicatos emenos de 5% dos trabalhadores formais par-ticipam da vida política de suas entidades.

*Historiador. Assessor de FormaçãoPolítica da CUT-RJ.

Bibliografia básica consultadapara a série de artigos:

• BADARO. Marcelo. Novos e VelhosSindicalismo no Brasil. Tese de Doutorado/História-UFF, RTexto Impresso, 1998, RJ

• BOITO, Armando Boito JR. Sindi-calismo e política neoliberal no Brasil,Boitempo editorial, 2000, SP

• MOLINA. Helder. Breve História dasLutas e Concepções Políticas dos Traba-lhadores no Brasil.. Texto para Curso deFormação Sindical, Rio de Janeiro, Sin-dpd/RJ, 1999.

• MOLINA. Helder. Capitalismo, sin-dicalismo e educação dos trabalhado-res: Uma análise da política nacional deformação da CUT. Dissertação de Mes-trado em Educação, UFF, 2003

• ROLLEMBERG, Denise. MovimentoSindical no Brasil, Mimeo, 1998, RJ.

• SEGATTO, Jose A. História do Movi-mento Sindical no Brasil. Mímeo, 1990, RJ

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Iraque: a sombra das Apesar de as últimas pesquisas

indicarem que o declínio da econo-mia ultrapassou o fracasso no Iraqueem termos de importância para oeleitorado estadunidense, a própriaocupação do país e “a mentalidadeque nos colocou nessa guerra”,como descreveu Barack Obama, cer-tamente voltarão a assombrar aseleições neste ano. Mas será que al-gum candidato irá, dessa vez, seopor aos interesses corporativos es-tadunidenses?

Embora o Iraque recentementeter deixado de aparecer nas capasdos jornais estadunidenses, o paísocupado continua em irrupção, umbarril de pólvora pronto para explo-dir. A redução da violência em Bag-dá nos últimos meses, creditada ao“plano de aumento de tropas” de Ge-orge W. Bush, se provou muito maisuma mudança das estratégias deguerra das diversas milícias iraquia-nas do que realmente qualquer su-cesso das forças de ocupação. Alémdisso, qualquer mudança de planosde outros fatores contribuintes(como exemplos, uma nova ação ira-niana, o retorno oficial do Jaish al-Mahdi, ou uma inversão de apoiodas facções sunitas), levaria a um au-mento significativo no número debaixas das forças de ocupação – oúnico fator que afeta o eleitorado.

Dessa forma, é previsível que ocandidato republicano John McCain,aliado de George W. Bush, continu-ará a impor a sua ideologia milita-rista que vem conquistando os cora-ções de milhares de eleitores – o usode jargões como “não nos rendere-mos ao terrorismo” realmente mexecom o povo estadunidense.

A posição dos republicanos, parao bem ou para o mal, está clara, mascomo o adversário democrata de

McCain responderá à questão doIraque? Até o momento, nem Ba-rack Obama nem Hillary Clintontrataram o assunto com a devidaimportância. Para recuperar umpouco da reputação estaduniden-se, os candidatos democratas te-rão que tomar um rumo diferen-te do que tomaram há cinco anos,quando tudo isso começou. Na-quele caso, quando Bush soou astrombetas de guerra, os mesmosse esconderam, para evitar pare-cerem fracos ao lidar com a ques-tão da segurança nacional – vo-taram a favor e permitiram a in-vasão do Iraque. Ainda em 2003,os democratas votaram nova-mente contra uma resoluçãoque os posicionaria contra aguerra, uma vez que a mesmarepresentava somente os inte-resses corporativos de Bush eseus aliados. (...)

No dia 18 de fevereiro, três ba-ses estadunidenses foram alvo defoguetes da Resistência Iraquiana– a base de Al-Habbaniyah, a base“Campo Cropper”, no AeroportoInternacional de Bagdá, e “Cam-po Anaconda”, a ex-base aérea ira-quiana de Al-Bakr. Informaçõessobre os danos causados foramsuprimidas pelas forças estaduni-denses, mas como resultado dasexplosões, as três bases sofreramincêndios que levaram de uma aquatro horas para serem contidos.

O governo local e as forças deocupação não divulgaram qual-quer nota sobre o ocorrido. No dia19, o governo-fantoche iraquianodistribuiu fotos de 400 “membrosprocurados do Jaish al-Mahdi” naregião xiita de Karbala. Shakir Ja-wdat, Comandante de Operaçõesda província, comunicou oficial-mente que imagens de Muqtada

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eleições dos EUAas-Sadr, clérigo e líder da milícia xii-ta, estariam banidas desde então naregião. O cerco contra As-Sadr e suamilícia, a organização paramilitarmais eficiente no Iraque, faz parteda pressão estadunidense contra ainfluência iraniana no Iraque – é vi-tal lembrar que o próprio As-Sadrfez parte, por muitos meses, do go-verno-fantoche iraquiano.

No dia 20, militares do governo-fantoche falharam ao desativar fo-guetes capturados em um cami-nhão na região de Al-Ubaydi, emBagdá. O erro transformou o cami-nhão em um veículo-bomba, quedeixou todos os oito iraquianos es-pecialistas em explosivos mortos,além de 42 policiais gravementeferidos.

O dia 21 de fevereiro foi marca-do por um ataque da ResistênciaIraquiana contra um comboio demercenários pró-ocupação na re-gião norte de Bayji. A explosão acon-teceu às 19h25min, horário local, edetonou um veículo estaduniden-se GMC, deixando dois mercenári-os estrangeiros e dois segurançasiraquianos mortos. Atualmente,existem pelo menos 70 mil merce-nários contratados pelo Pentágonoagindo em solo iraquiano. No dia22, um ataque de atiradores de eli-te da Resistência Iraquiana contraforças estadunidenses em Bagdádeixou dois soldados mortos. Atéo momento, segundo as fontes oci-dentais, 3.970 soldados estaduni-denses foram mortos, e mais de 28mil feridos, desde 2003, início dainvasão promovida pelos EstadosUnidos. Os números, todavia, po-dem ser muito mais altos.

Texto extraído do sítio:www.orientemediovivo.com.br

Edição 91–fotos retiradas da internet

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Em fevereiro, a máquina depropaganda ocidental festejouo último milagre da Otan: atransformação do Kosovo sér-vio no Kosovo albanês. O ter-ritório vergonhosamenteocupado pelos Estados Uni-dos, que se serviu do proble-ma do Kosovo para instalaruma enorme base militar(Camp Bondsteel) num territó-rio estrategicamente posicio-nado, pertencente a outraspessoas, está transformadopelo poder dos meios de co-municação numa lenda fabrica-

da de “libertação nacional”. (...)

No que se refere ao Kosovo, a verda-de é como as palavras escritas na areiaquando o tsunami da propaganda chegade rompante. A verdade está acessível –por exemplo, no artigo cuidadosamenteinformativo de George Szamuely, noCounter Punch. Por vezes também apare-cem fragmentos da verdade nos meios decomunicação predominantes, normal-mente em cartas de leitores. Mas como éimpossível remar contra a maré que ofi-cialmente patrocina a lenda, vou exami-nar apenas uma gota deste imparável marde propaganda: uma coluna de Roger Co-hen intitulada “O novo Estado da Euro-pa”, publicado no Herald Tribune.

O artigo de opinião de Cohen é bas-tante típico no modo desprezível comotrata Milosevic, a Rússia os sérvios. Co-ehn escreve: “Slobodan Milosevic, o fa-lecido ditador, pôs em marcha a ondanacionalista assassina da Sérvia em 24 deabril de 1987, quando foi ao Kosovo de-clarar que os ‘antepassados sérvios fica-riam desonrados’ se a etnia albanesa le-vasse a melhor”.

Não sei onde é que Roger Cohen foibuscar esta citação, que não se encontrano discurso que Milosevic fez em Koso-vo naquele dia. E de certeza que Milose-vic não foi a Kosovo para declarar umacoisa destas, mas sim para consultar osfuncionários da Liga Comunista de Pol-

Diana Johnstone*

Kosovo: a admirável independ

je, município do Kosovo, sobre os gra-ves problemas econômicos e sociais daprovíncia. Para além da pobreza crônicada província, do desemprego e da mágestão dos fundos de desenvolvimentoprovenientes do resto da Iugoslávia, oprincipal problema social era o constan-te êxodo dos habitantes sérvios e mon-tenegrinos sob a pressão da etnia alba-nesa. Na época, este problema foi noti-ciado nos principais meios de comuni-cação ocidentais.

Por exemplo, já em 12 de julho de1982, Marvine Howe noticiava no NewYork Times que os sérvios abandonavamo Kosovo às dezenas de milhares por cau-sa da discriminação e intimidação porparte da maioria étnica albanesa: “Os na-cionalistas [albaneses] têm uma platafor-ma com dois pontos”, segundo BeciHoti, secretário executivo do PartidoComunista do Kosovo, “o primeiro parainstaurar aquilo a que chamam uma repú-blica albanesa etnicamente limpa e a se-guir para a fundir com a Albânia para for-mar uma Albânia maior.

Mr. Hoti, albanês, manifestou a suapreocupação com as pressões políticasque estavam forçando os sérvios a sairdo Kosovo. “Agora o importante”, dis-se, “é instalar um clima de segurança ecriar a confiança”. E, sete meses depoisda visita de Milosevic ao Kosovo, DavidBinder noticiou no New York Times (1ºde novembro de 1987): Albaneses noGoverno [do Kosovo] manipularam fun-dos públicos e regulamentos para se

apropriarem de terras pertencentes asérvios. Foram atacadas igrejas ortodo-xas, e foram rasgadas bandeiras. Foramenvenenados poços e incendiadas sea-ras. Foram esfaqueados rapazes eslavose alguns jovens de etnia albanesa foraminstigados pelos mais velhos a violar mo-ças sérvias. O objetivo dos nacionalistasradicais entre eles, disse numa entrevis-ta, é uma “região de etnia albanesa queinclua a Macedônia ocidental, o sul deMontenegro, parte do sul da Sérvia, oKosovo e a Albânia propriamente dita”.

Limpeza étnica

Como os eslavos estão fugindo dian-te a violência prolongada, o Kosovo estáse tornando o que os nacionalistas deetnia albanesa exigem há anos, e que setornou particularmente forte desde osmotins sangrentos da etnia albanesa emPristina em 1981 – uma região albanesa“etnicamente pura”.

Esta é que foi de fato a primeira ocor-rência da “limpeza étnica” na Iugosláviaapós a II Guerra Mundial, conforme noti-ciado no New York Times e em outrosmeios de comunicação ocidentais, e assuas vítimas foram os sérvios. O culto da“memória” é uma religião contemporâ-nea, mas há memórias mais iguais do queoutras. Na década de 90, o New York Ti-mes obviamente tinha-se esquecidocompletamente do que havia dito sobreo Kosovo nos anos 80. Por quê? Talvezporque o bloco soviético desmoronou ea unidade da Iugoslávia independente enão-alinhada já havia deixado de ser uminteresse estratégico para os EstadosUnidos. (...)

Em Genebra, o ministro russo do Ex-terior, Sergei Lavrov, tentou alertar osjornalistas para a sua grande preocupa-ção sobre o modo como os Estados Uni-dos tratam do problema do Kosovo. “Es-tamos falando da subversão de todos osfundamentos e princípios do direito in-ternacional, que foram conquistados einstituídos como base da existência daEuropa com enorme esforço, e à custade sofrimento, de sacrifício e de derra-mamento de sangue”, disse.

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“Ninguém tem um claro plano de açãoa propor, no caso de uma reação em ca-deia [de outras declarações de indepen-dência unilaterais]. Verifica-se que eles[os Estados Unidos e os seus aliados daOtan] planejam agir de modo descuidadonuma questão da maior importância. Istoé totalmente inaceitável e irresponsável”,disse o diplomata russo. “Sinceramentenão consigo compreender quais são osprincípios que orientam os nossos cole-gas americanos e os europeus que adota-ram esta posição”, acrescentou.

Roger Cohen reduz estas considera-ções a cinco palavras: “o urso russo vairugir”. A Rússia, acrescenta, “vai dar gri-tos. Mas apostou no cavalo errado”. Aquinão há questões, não há princípios. Ape-nas rugidos e apostas. “Milosevic lançouos dados do nacionalismo genocida eperdeu”, diz Cohen.

Isto não é apenas uma afirmação fal-sa, é uma metáfora grosseira e sem sen-tido. Milosevic tentou suprimir um mo-vimento divisionista armado, secretamas eficazmente apoiado pela vizinhaAlbânia, pelos Estados Unidos e pelaAlemanha, que propositadamente pro-vocou a repressão assassinando sérvi-os e albaneses leais ao governo. Talcomo os americanos em circunstânciassemelhantes, Milosevic confiou dema-siado na superioridade militar em vezde utilizar a perícia política. Mas o pró-prio Tribunal Criminal para a ex-Iugos-lávia, de Haia, patrocinado pela Otan,teve que abandonar as acusações de “ge-nocídio” contra Milosevic no Kosovo.Pela simples razão de que nunca houveponta de provas para tal acusação.

Milosevic já não está vivo, e a Rússiaestá muito longe. Mas e quanto aos sér-vios que ainda vivem na parte históricada Sérvia que se chama Kosovo? Cohenresolve o problema em poucas palavras:“Parte dos 120 mil sérvios do Kosovopodem fazer-se à estrada”.

Como Aldous Huxley realçou, “o ob-jectivo do propagandista é fazer com queum grupo de pessoas se esqueçam que

há outros grupos de pessoas que sãohumanas”.

Depois podem dizer-lhes para “se fa-zerem à estrada”.

O caso “único”

A Rússia chamou a atenção para o fatode que a independência do Kosovo esta-belecerá um precedente perigoso, enco-rajando outras minorias étnicas a seguiro exemplo dos albaneses e a exigirem aseparação e um Estado independente. OsEstados Unidos minimizaram estas pre-ocupações afirmando lisonjeiramenteque o Kosovo é um caso “único”. Poisbem, o Kosovo é um caso único, e é oúnico reconhecido pelos Estados Unidosaté que apareça o próximo “caso único”.Depois de derrubados os critérios le-gais, haverá mais “casos únicos”, unsatrás dos outros.

O “caso único” apregoado pelos Es-tados Unidos é uma construção propa-gandística. Baseia-se no suposto “casoúnico” da repressão de Milosevic domovimento divisionista armado, quenão foi nada único. Foi um procedimen-to de atuação habitual em toda a histó-ria e em todo o mundo, em tais circuns-

tâncias. Deplorável, sem dúvida, masnada único. Na verdade, foi bem menorse comparado com operações repressi-vas semelhantes mas muito mais pro-longadas e muito mais sangrentas naColômbia, no Sri Lanka e na Chechênia,para não falar da Irlanda do Norte, daTailândia ou das Filipinas. E, ao contrá-rio das operações contra insurreiçõesno Iraque e no Afeganistão, que mata-ram incomparavelmente mais civis, foilevado a efeito pelo governo legal, de-mocraticamente eleito do país, e nãopor um poder estrangeiro.

A propaganda do “caso único” é umaabstração. Tal como qualquer lugar qual-quer na Terra, o Kosovo é de fato único.Mas em coisas que nada têm a ver com opretexto dos EUA para o ocuparem e otransformarem num bastião militar doimpério. (...)

*Autora de Fools’ Crusade: Yugoslavia,Nato, and Western Delusions (Monthly

Review Press) e Cruzada de Cegos(Editorial Caminho/Portugal)

A íntegra dessa artigo emhttp://resistir.info/europa/

kosovo_18fev08_p.html

Base militar de Camp Bondsteel: enclave norte-americano no Kosovo

dência de uma colônia da Otan

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18 Ano III – número 18 – março/2008http://sisejuferj.org.br

Luís Nassif*

Veja troca o jornalismo peloOs momentos de catarse e a mídia

Estilo neocon, política e negócios

O maior fenômeno de anti-jor-nalismo dos últimos anos foi o queocorreu com a revista Veja. Gra-dativamente, o maior semanáriobrasileiro foi se transformando emum pasquim sem compromissocom o jornalismo, recorrendo aataques desqualificadores contraquem atravessasse seu caminho,envolvendo-se em guerras comer-ciais e aceitando que suas páginase sites abrigassem matérias e colu-

nas do mais puro esgoto jornalístico.

Para entender o que se passou com arevista nesse período, é necessário juntarum conjunto de peças.

O primeiro, são as mudanças estruturaisque a mídia vem atravessando em todo mundo.

O segundo, a maneira como esses pro-cessos se refletiram na crise política brasi-leira e nas grandes disputas empresariais, apartir do advento dos banqueiros de negó-cio que sobem à cena política e econômicana última década.

A terceira, as características específicasda revista Veja, e as mudanças pelas quaispassou nos últimos anos.

O estilo neocon

De um lado, há fenômenos gerais, quemodificaram profundamente a imprensamundial nos últimos anos. A linguagem ofen-siva, herança dos “neocons” americanos foiadotada por parte da imprensa brasileira,como se fosse a última moda.

Durante todos os anos 90, Veja havia de-senvolvido um estilo jornalístico onde cam-peavam alusões a defeitos físicos, agressõese manipulação de declarações de fonte.Quando o estilo “neocon” ganhou espaçonos EUA, não foi difícil à revista radicalizarseu próprio estilo.

Um segundo fenômeno desse períodofoi a identificação de uma profunda antipa-

tia da chamada classe média midiática emrelação ao governo Lula, fruto dos escânda-los do “mensalão”, do deslumbramento ini-cial dos petistas que ascenderam ao poder,agravado por um forte preconceito de clas-se. Esse sentimento combinava com a catar-se proporcionada pelo estilo “neocon”. Ou-tros colunistas utilizaram com talento –como Arnaldo Jabor –, nenhum com a fúriagrosseira com que Veja enveredou pelosnovos caminhos jornalísticos.

O jornalismo e os negócios

Outro fenômeno recorrente – esse ain-da nos anos 90 – foi o da terceirização dasdenúncias e o uso de notas como ferramen-ta para disputas empresariais e jurídicas.

A marketinização da notícia, a falta deestrutura e de talento para a reportagemtornaram muitos jornalistas meros recepta-dores de dossiês preparados por lobistas.

Ao longo de toda a década, esse tipo dejogo criou uma promiscuidade perigosa en-tre jornalistas e lobistas. Havia um círculoférreo, que afetou em muitos as revistas se-manais. E um personagem que passou acumprir, nas redações, o papel sujo antesdesempenhado pelos repórteres policiais: oschamados repórteres de dossiês.

Consistia no seguinte:O lobista procurava o repórter com um

dossiê que interessava para seus negócios.

O jornalista levava a matéria à direção, e,com a repercussão da denúncia, ganhavastatus profissional.

Com esse status ele ganhava liberdadepara novas denúncias. E aí passava a entrarno mundo de interesses do lobista.

O caso mais exemplar ocorreu na pró-pria Veja, com o lobista APS (Alexandre PaesSantos).

Durante muito tempo abasteceu a revis-ta com escândalos. Tempos depois, a Polícia

Federal deu uma batida em seu escritório eapreendeu uma agenda com telefones demuitos políticos. Resultou em uma capa es-candalosa na própria Veja em 24 de janeirode 2001 em que se acusavam desde assesso-res do Ministro da Saúde José Serra de tentarachacar o presidente da Novartis, até o ban-queiro Daniel Dantas e o empresário NelsonTanure de atuarem através do lobista.

Na edição seguinte, todos os envolvidosna capa enviaram cartas negando os episó-dios mencionados. As cartas foram publica-das sem que fossem contestadas.

O que a matéria deixou de relatar é que,na agenda do lobista, aparecia o nome deuma editora da revista – a mesma que publi-cara as maiores denúncias fornecidas porele. A informação acabou vazando atravésdo Correio Braziliense, em matéria dos re-pórteres Ugo Brafa e Ricardo Leopoldo.

A editora foi demitida no dia 9 de no-vembro, mas só após o escândalo ter se tor-nado público.

Antes disso, em 27 de junho de 2001Veja produziu uma capa com a transcriçãode grampos envolvendo Nelson Tanure. Umdos “grampeados” era o jornalista RicardoBoechat. O grampo chegou à revista atravésde lobistas e custou o emprego de Boechat,apesar do grampo não ter revelado nenhu-ma irregularidade de sua parte.

Graças ao escândalo, o editor responsá-vel pela matéria ganhou prestígio profissio-nal na editora e foi nomeado diretor da re-vista Exame. Tempos depois foi afastado,após a Abril ter descoberto que a revistapassou a ser utilizada para notas que nãoseguiam critérios estritamente jornalísticos.

Um dos boxes da matéria falava sobre asrelações entre jornalismo e judiciário.

O box refletia, com exatidão, as relaçõesque, anos depois, juntariam Dantas e a re-vista, sob nova direção: notas plantadas ser-vindo como ferramenta para guerras em-presariais, policiais e disputas jurídicas.

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Ano III – número 18 – março/2008 19http://sisejuferj.org.br

o macartismo e manipulaçãoA mudança de comando

A entrada de Eurípides Alcântara e Mário Sabino

Não vem ao caso discorrer, agora, sobreo fenômeno “Veja”. Mino Carta a lançou nofinal dos anos 60. A conformação final foidada nos anos 80 pela dupla José RobertoGuzzo e Elio Gaspari, um misto de sensocomum com matérias brilhantes, tendocomo foco uma classe média não muito so-fisticada.

O modelo não prescindia de ataquesmuitas vezes desqualificadores contra ter-ceiros, lista negra de pessoas que não pode-riam aparecer na revista, o direito de “deto-nar” quem quisesse, especialmente pessoasque se recusassem a passar informaçõespara a revista, e coisas do gênero, uma espé-cie de “marca da maldade”, mas com talen-to, que seria continuada por seguidoresmenos talentosos.

Com a saída de ambos, nos anos 90 hou-ve uma sucessão de diretores seguindo umpadrão: os que entravam eram jornalistica-mente inferiores aos que eram substituídos.

Gradativamente o modelo passou a sertocado por mãos menos habilidosas e, ano aano, seus principais vícios acabaram exacer-bados: agressividade desmedida, desqualifi-cação, uso abusivo de dossiês suspeitos, ma-térias ficcionais. Mantinha-se a maldade, massem o talento.

Guzzo foi substituído por Mário SérgioConti. Mais tarde, assumiu Tales Alvarenga,falecido recentemente, e que foi o primeiroa estrear o estilo chulo dos “neocons”.

Logo depois, Tales foi chutado para cima,e seu posto ocupado por Eurípides Alcânta-ra, o mais antigo dos quadros da Veja, e oúltimo de sua geração a chegar ao posto decomando.

Nos anos 80 Eurípides se destacara pelamaior barriga da imprensa brasileira na dé-cada: o caso do “boimate” – um trote de 1ºde abril da revista New Science, falando emcruzamento de boi com tomate na Universi-dade Hamburger, pelo Dr. McDonalds.

A matéria foi publicada em 27 de abrilde 1983 como se fosse verdadeira.

Com a ascensão de Eurípides, subiu tam-bém Mário Sabino, promovido a diretor ad-junto. Sabino veio do jornalismo cultural edeixou má impressão por redações poronde passou, pela truculência desmedida,tosca, que lhe custara piadas venenosas emaliciosas, como única forma de reação dossubordinados.

Uma característica do jornalismo de Vejaé que todas as matérias passam pelo diretorou diretor adjunto. A imagem do “pregoarranhando vinil” é antiga na revista, e servepara identificar os “cacos” que são planta-dos em reportagens por diretores pouco su-tis. Em linguagem não jornalística, “cacos”são as modificações introduzidas no textoda reportagem original.

Dentre todos os diretores que Veja teve,nenhum praticou “cacos” tão ostensiva-mente grosseiros quanto Sabino. É capazde assinar pessoalmente críticas recheadasde elogios ao último livro de Otávio FriasFilho, diretor da “Folha”, ou de Ali Kamel,diretor de “O Globo”. E enfiar um prego nocomentário do crítico da revista, cometen-do ataques gratuitos e não assinados con-tra colegas, como fez contra Mário Rosaou outro jornalista cultural, Daniel Piza, porocasião do lançamento de seu livro sobreMachado de Assis.

Eurípides e Sabino, tinham em comum ainexperiência com os chamados temas “du-ros” do jornalismo – política, economia e agrande reportagem. Sabino era da área cul-tural. Eurípides trafegara pela Editoria deCiência e Internacional.

Sem grande ferramental técnico, passa-ram a exacerbar a agressividade, a desquali-ficação, a agressão gratuita.

Em 5 de outubro de 2005, após ter serecusado a dar uma entrevista exclusiva aVeja, a revista soltou uma matéria contraMaria Rita, tratando-a como “a filha de Elis”,sem mencionar seu nome, e acusando-a dedar um “mensalinho” para a imprensa: “Gra-vadora presenteia jornalistas com iPods. Eeles agradecem falando bem da cantora”.Aproveitavam para começar a exercer ata-ques contra colegas.

Nem se preocuparam em ouvir os acu-sados. Mesmo tendo um deles, Luiz AntonioGiron, enviado carta antes de a matéria tersido publicada, dizendo que havia recusadoo presente. Essa agressividade se repetiriacontra José Miguel Wisnick, Marcelo Tass eum sem-número de artistas e intelectuais.

Embora assinadas por repórteres comoJerônimo Teixeira, Sérgio Martins e FelipePatury, em todas elas havia as impressõesdigitais de Sabino.

Continua nas páginas 20 e 21Eurípides Alcântara

Mário Sabino

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20 Ano III – número 18 – março/2008http://sisejuferj.org.br

O macartismocomo blindagem

Passo relevante para entender o que sepassou com Veja é se debruçar sobre a natu-reza do macartismo. Trata-se de um clima deguerra, onde se tolera tudo em nome da vitó-ria sobre o inimigo.

É o cenário ideal para criar blindagens,porque permite jogar tudo no mesmo balaio,atacar indiscriminadamente pessoas como sefossem inimigas, defender interesses obscu-ros, tudo em nome da guerra santa.

Era o que faltava para a direção da revis-ta romper com um dos pontos centrais daauto-regulação no jornalismo: os critériosjornalísticos para a publicação de matérias,o filtro técnico. É esse filtro que impede ma-nipulações.

No macartismo, pode-se atropelar qual-quer lógica em nome da guerra contra oinimigo externo. Sem filtros técnicos, o jor-nalismo pode ser manipulado e esconder-se atrás de supostas posturas ideológicaspara praticar toda sorte de lobby.

Durante algum tempo, Veja se revestiudesse poder. Através de Eurípides e Sabi-no, usou e abusou da truculência. Criouum clima de noite de São Bartolomeu, emque tudo foi permitido, de ataques a políti-cos, artistas e jornalistas, até uma campa-nha inusitada contra um intelectual da USP,José Miguel Wisnik, por pura implicânciade um editor.

À medida que a queda de padrão darevista começava a despertar críticas, Eu-rípides e Sabino desenvolveram uma táti-ca de intimidação em cima dos jornalis-tas. Ataques a Alberto Dines, Luiz Weiss,Observatório da Imprensa. Depois, extra-vasando para outros jornalistas, comoKennedy Alencar, Eliane Catanhede, LuizGarcia, Tereza Cruvinel, Franklin Martins.O recado estava implícito: nós temos umcanhão; não se metam com a gente. (...)

O segundo serviço de Veja foi a tentativade “assassinato de reputação” do MinistroEdson Vidigal (foto), presidente do SuperiorTribunal de Justiça (STJ).

A matéria vinha com uma manchete dú-bia: “Não pode pairar a dúvida. O presidentedo STJ é envolvido em casos que precisamser esclarecidos”.

Era uma matéria exemplar para se en-tender como fabricar um escândalo sem cri-me. A matéria não enfocava uma suspeitaespecífica. Havia um estoque de fatos relaci-onados a Vidigal – o que demonstrava, niti-damente, que se tratava de um dossiê espe-cialmente preparado contra ele.

A primeira acusação era um “esquenta-mento” de fato banal, visando conferir trata-mento escandaloso: a de que Vidigal viajarapara o Chile, para um Congresso patrocina-do pela Amil, empresa de seguro saúde, sen-do que, na semana anterior, havia liberadoum reajuste de 26% para o setor de planosde saúde.

A viagem tinha sido em um final de se-mana, em um seminário para discutir a le-gislação chilena para o seguro saúde. Amatéria procurava ressaltar aspectos demordomia:

“O seminário realizou-se em Santiago,no Chile. Foi uma curta temporada regadaa bons vinhos daquele país e com todas asmordomias que costumam acompanhar es-ses rega-bofes”.

O “prego sobre vinil” esquentava a ma-téria com obviedades. É óbvio que qualquerCongresso tem coquetéis e almoços e, sen-do no Chile, vinhos chilenos.

Pouco importava se o patrocinador nãotinha ingerência na programação, ou se umfinal de semana trabalhando em Santiagode Chile está longe de configurar subornoou mordomia.

Para tornar mais estranha a acusação,não havia a prova do suborno: a matériainformava que, com sua sentença, Vidigallimitara-se a convalidar um parecer da Se-cretaria de Direito Econômico sobre o tema.Onde a relação, então, entre favor recebi-do e serviço prestado?

Dizia mais:“Muito provavelmente, o pedido da Amil

é justo. Mas, depois da viagem ao Chile, tam-bém é justo levantar suspeita sobre o julga-mento da liminar.”

O caso Edson VidigalComo criar escândalos sem crimes

Dida Sampaio/AL

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Mas, para efeito de levantar a manchada suspeita, dizia que “um observador defora tem o direito de enxergar no episódioos contornos de improbidade administrati-va. O caso deverá ser analisado pelo Conse-lho Nacional de Justiça, órgão recém-cria-do com a incumbência de exercer o contro-le externo do Judiciário.”

De fato, a “denúncia” foi feita por umaAssociação de Defesa da Cidadania e do Con-sumidor... mencionando justamente a ma-téria de Veja.

Era de um amadorismo constrangedor.Como Veja poderia saber que haveria umadenúncia baseada na própria reportagemque sequer havia sido publicada? É evidenteque havia uma armação da qual a revistaparticipava. Não se contentava meramenteem espalhar notícias falsas sobre os adver-sários de Dantas, mas em participar direta-mente de armações bisonhas.

A denúncia nasceu morta. O correge-dor Antonio de Pádua Ribeiro rejeitou-a pornão estar “consubstanciada infração disci-plinar nem violação dos deveres funcionaisda magistratura”.

A segunda denúncia do dossiê é que onome de Vidigal aparecera em grampos commembros da quadrilha do argentino Cesarde La Cruz Arrieta. Como eram fitas de uminquérito sigiloso, era óbvio que o dossiêfora obtido de forma ilegal por membrosdo submundo que habita Brasília.

A matéria reconhecia que a menção aVidigal poderia ser apenas bravata de con-traventores. Mas colocava como agravanteo fato do apartamento de um enteado deVidigal ter sido alugado para os bandidos.

Vidigal explicou que o apartamento ti-nha sido entregue a uma imobiliária, que seresponsabiliza por quem aluga.

“O apartamento, pelo que sei, estavaentregue a uma imobiliária. E ninguém pedeatestado de bons antecedentes quando alu-ga um imóvel.” Mas a coincidência envol-vendo um dos mais altos magistrados do paísprecisa ser esclarecida.”

Que tipo de favor Vidigal poderia terprestado a Arrieta?

Consultando seus arquivos, ele consta-tou ter atuado em apenas um caso envol-vendo Arrieta. E sua decisão tinha sido a denegar um habeas corpus a ele.

A troco de quê aquela marcação?Apenas os leitores mais bem informados

entenderam a ginástica jornalística perpe-trada por Veja.

Pouco tempo antes, Vidigal havia dado aliminar que permitiu aos fundos de pensãoe ao Citibank retomar o controle da BrasilTelecom das mãos de Daniel Dantas. Foi umasentença dura contra o Opportunity.

“Com olhos voltados à defesa do inte-resse público, notadamente porque envol-vidos vultosos recursos do erário, antevejoameaçada a ordem econômica. Neste con-texto, considero que eventual prejuízo so-frido pelos fundos de investimento, em últi-ma análise, será suportado pelo erário, comvistas a garantir a milhares de brasileiros,beneficiários dos mesmos — e que acredi-taram nos fundos de pensões e deles de-pendem —, a necessária subsistência”, re-gistrou o ministro Vidigal na ocasião.

“Considerei, também, nas razões de de-cidir, as informações trazidas pelo reque-rente que dão conta que a decisão objetoda suspensão entrega a gestão de mais de10 bilhões de reais em ativos financeiros,materiais e societários ao Grupo Opportu-nity que, anteriormente, já fora destituídoda gestão deste fundo por quebra dos deve-res fiduciários, o que, também, recomendaa concessão da contracautela”, afirmou tam-bém o presidente do STJ.

A sentença de Vidigal foi proferida nodia 15 de junho de 2005. A tentativa de umnovo “assassinato de reputação”, por partede Veja, em 21 de setembro de 2005.

No dia 16 de maio de 2006 - quase umano depois -, acuado pela revelação do dos-siê falso sobre as contas de autoridades noexterior, Dantas mostraria claramente aspeças que se encaixavam nas duas tentati-vas de “assassinato de reputação” da Veja.

Na entrevista à “Folha”, mencionada nocapítulo anterior, Dantas disse o seguinte:

O controlador do Opportunity, DanielDantas, disse à Folha ter recebido informa-ções de que o governo pressionou o Judici-ário brasileiro para favorecer os fundos depensão na briga pela telefônica Brasil Tele-com.

“Informaram a mim que teria havido umaintervenção do ministro Palocci [ex-minis-tro da Fazenda] junto ao ministro Edson Vi-digal [ex-presidente do Superior Tribunalde Justiça] para dar uma decisão favorável

aos fundos de pensão”, disse Dantas em en-trevista concedida no último sábado, porvideoconferência. “Fui conferir e ouvi deuma pessoa que esteve com Palocci que opróprio teria dito não ter sido ele direta-mente, mas alguém ligado a ele [que procu-rou Vidigal].”

(...) A versão segue as declarações feitaspor advogados do banco em Nova York. Emdocumento público, eles lembram que o STJtem 21 ministros, mas que os litígios entre oOpportunity e os fundos costumavam serjulgados por Vidigal (o ex-ministro assinoupelo menos três liminares favoráveis aos fun-dos de pensão).

No texto, os defensores do Opportunityressaltam que Vidigal deixou o Judiciário eque concorre ao governo do Maranhão -pelo PSB, com apoio do PT.

(...) Questionado se o Planalto pediu quenão fizesse declarações contundentes so-bre o caso Gamecorp, Dantas confirmou.Segundo ele, o recado chegou por meio deYon Moreira, então diretor da Brasil Tele-com. Ele não soube dizer quem foi o emis-sário do governo. A empresa Gamecorp tementre os sócios um filho do presidente LuizInácio Lula da Silva.

Foi o segundo capítulo de uma longasérie de matérias que, nos anos seguintes,marcaria de forma indelével a parceria Dan-tas-Veja.

*Luis Nassif é jornalista.Textos publicados no blog:

http://luis.nassif.googlepages.com

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22 Ano III – número 18 – março/2008http://sisejuferj.org.br

Uma defesa feminista da Redução

Todos e todas nós, sindi-calistas e feministas, sabemosque a inserção da mulher nomercado de trabalho tem umperfil absolutamente desigualem relação ao homem trabalha-dor. Da mesma forma, sabe-mos muito bem que o alonga-

mento da jornada de trabalho prejudicaprincipalmente a mulher trabalhadora.Como somos a parcela mais pobre da po-pulação brasileira, essa inserção desigualnos condena a reproduzir e intensificar apobreza. A ação sindical em torno da re-dução da jornada de trabalho tem enor-me potencial para alterar a condição damulher trabalhadora, mas tal medida so-mente logrará sucesso rumo a esse ob-jetivo se vier acompanhada de políti-cas públicas que possibilitem a valoriza-ção social do trabalho doméstico não re-munerado.

A opção de política econômica quefoi hegemônica durante toda a década de1990 provocou impactos extremamentenegativos sobre a situação do trabalhono Brasil. A escolha do neoliberalismocomo modelo de gestão da economiabrasileira sob a égide dos tucanos impôsa desregulamentação do mercado de tra-balho, com sua flexibilização e precariza-ção, como se fosse uma necessidade paraadaptação à perversa lógica da ordemmundial. Conseqüências graves para aclasse trabalhadora ficaram cada vez maisevidentes: desemprego e informalidadeelevados, diminuição da média salarial,terceirização.

No ano de 2005, as mulheres consti-tuíam 40,3 % da PEA (População Econo-micamente Ativa). Elas são as mais atin-gidas pelo desemprego e pelo cresci-mento do setor informal da economia.

Rosane da Silva*Sua inserção desigual no mercado de tra-balho torna-se marca, perpetuando-seem sua estrada. Desta forma, com a des-regulamentação, o que significa despro-teção social, as mulheres são as princi-pais vítimas. Por mais que aumente asua participação na PEA, essa elevaçãoocorre em um contexto de precariza-ção das condições de trabalho, cujoalvo prioritário são elas próprias – aolado dos jovens.

De acordo com pesquisa realizadapela Secretaria de Política Sindical daCUT Nacional em parceria com a Sub-Seção do Dieese em cinco ramos de ati-vidades, o número de mulheres que re-alizam jornada extraordinária (hora ex-tra ou banco de horas) é inferior a reali-zada pelos homens. A mesma pesquisa,no entanto, apresenta um alto índice detrabalhadoras que dizem ter sofrido as-sédio moral, especialmente nos seto-res tradicionalmente femininos (calça-dos e comércio e serviços). A recusa damulher em alargar sua jornada quasesempre lhe rende punições. O sentidodo tempo de trabalho para a mulher ad-quire conotação diferenciada. Não é àtoa que, de acordo com a mesma pes-quisa, são as mulheres que dão maisimportância à necessidade de limitarlegalmente o uso de horas extras.

O sentido diferenciado sobre o tem-po de trabalho está relacionado à desva-lorização social do trabalho doméstico.A reivindicação da igualdade entre ho-mens e mulheres tem menor sentido senão for incorporado o reconhecimentona esfera pública do trabalho realizadopelas mulheres na esfera privada. Segun-do dados PNAD (Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílios), do IBGE, em2005, 91% das mulheres brasileiras exer-cem tarefas domésticas contra 51% doshomens que realizam esse mesmo tipode atividade.

Nós continuamos a ser responsabili-zadas pela esfera doméstica, mesmo as-sumindo cada vez mais participação naesfera pública por meio da inserção nomercado de trabalho. A menor participa-ção dos homens nas tarefas domésticasfoi observada na região Nordeste, onde46% dos homens realizam tais tarefas. Avalorização do machismo é fortalecidapela tradição segundo a qual trabalhodoméstico é sinônimo de sexo femini-no. Trata-se de uma tradição que vem “deberço”, pois 83% das meninas são orien-tadas para os afazeres do lar enquantoentre os meninos a proporção é de 47%.O cuidado das crianças e de grande partedos idosos terminaram, ao longo da his-tória, se firmando como responsabilida-de natural das mulheres.

Numa sociedade na qual o conheci-mento é cada vez mais um pré-requisitopara a disputa por emprego – quiçá pormelhores empregos – a utilização dotempo livre para o trabalho domésticonão remunerado firma-se como mais umcruel mecanismo de desvantagem femi-nina. Ela tem a função de, para além dajornada legal de trabalho, cuidar do filho,da casa, do idoso. Ele, no mesmo perío-do, pode ter acesso ao lazer, ao descan-so, à informação e, em alguns casos, àformação profissional. A disputa pelotempo livre, é necessário ressaltar, nãoé feita com o sexo masculino, mas comas regras do sistema capitalista que im-põe essa desqualificação.

A crescente participação feminina nomercado de trabalho veio acompanhada– pelo contexto desse mercado e pelalógica diferenciada da exploração da for-ça de trabalho das mulheres – de um au-mento da jornada de trabalho não pago,caracterizado pelas tarefas domésticas.A carga semanal delas supera a dos ho-mens em quase cinco horas.

Uma agenda feminista para aredução da jornada de trabalho

Um desafio central é a ampliação doconceito de trabalho, incorporando otrabalho doméstico. Deve-se tratar o va-lor do trabalho em sua dimensão econô-

A crescente participação feminina no mercado de trabalhoveio acompanhada de um aumento da jornada não paga,caracterizado pelas tarefas domésticas. A carga semanaldas mulheres supera a dos homens em quase cinco horas.

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mica e social. É por isso que a luta pelaredução da jornada de trabalho assumeuma dimensão diferenciada para as mu-lheres. Diz respeito ao uso do tempo li-vre de forma autônoma, governada porela própria. Significa construir mecanis-mos que possibilitem romper com asimposições sobre as formas de utiliza-ção do tempo livre das mulheres.

A História nos mostrou que a redu-ção legal da jornada de trabalho não ésuficiente, por si só, para a geração denovos postos de trabalho. Após a pro-mulgação da Constituição Federal de1988, com a redução de 48 para 44 ho-ras, os capitalistas conseguiram rasgaras leis através do uso abusivo de horasextras, cujo símbolo maior de tal abusoé o banco de horas. Essa constatação le-vou a CUT a elaborar um Projeto de Leique limita o uso de horas extras e põefim ao banco de horas. Sem isso, pormais que seja reduzida legalmente a jor-nada, o mecanismo da hora extra conti-nuará a ser utilizado para aumentar a ex-ploração do capital sobre o trabalhador ea trabalhadora.

Esse exemplo ajuda-nos a compreen-der que a redução da jornada de trabalhosomente terá impacto positivo sobre avida das mulheres se vier acompanhadapor um amplo programa de políticas pú-blicas que transformem o trabalho do-méstico em política de Estado.

A reprodução da vida humana, sua for-ma de organização e as decisões sobre o

que e como produzir estão relacionadasao trabalho. Cresce cada vez mais o tra-balho que é realizado por fora da econo-mia formal. São as mulheres que reali-zam a maioria deste trabalho não formal:doméstico, informal, para o consumopróprio, projetos da economia solidáriacom parte da geração de renda.

Uma agenda feminista, como afirmao manifesto da Marcha Mundial das Mu-lheres lançado no 8 de Março de 2007,deve fortalecer a luta para que o cuidadoda vida humana através do trabalho do-méstico seja reconhecido como traba-lho e não como uma obrigação naturaldas mulheres, em decorrência do seuamor pela família. É necessário que esteseja assumido também pelos homens eque uma parte seja garantido por políti-cas do Estado através de creches, res-taurantes e lavanderias coletivas.

Para um programa que, ao lado daaprovação da PEC 393/01, que reduza jornada de trabalho para 40 horas,

é necessário defender:

• O desenvolvimento de políticas públi-cas diferenciadas que considerem oacesso, a permanência e a ascensãoprofissional das mulheres. As políti-cas públicas devem considerar essarealidade, priorizando, por exemplo,as mulheres nos programas habitaci-onais e de geração de emprego;

• Ampliação de equipamentos públicosvoltados para a educação, qualificaçãoprofissional, saúde, lazer, dentre ou-tros;

• Instalação de creches nos espaços pú-blicos e nos locais de trabalho;

• Ratificação da Convenção 156 da OIT,que trata da responsabilidade familiar;

• Ratificação da Convenção 158 da OIT,que dispõe sobre a demissão imoti-vada;

• Aplicação da Convenção 100 da OIT: sa-lário igual para trabalho igual; e daConvenção 111: igualdade de oportu-nidades entre homens e mulheres;

• Fortalecimento da fiscalização do tra•Contrato coletivo de trabalho compauta permanente da questão de gê-nero.

Por fim, é necessário enfatizar que a po-lítica econômica que privilegia o su-perávit fiscal primário e os gastoscom os juros altos, não tem capaci-dade de atender o conjunto das rei-vindicações acima.

A continuidade da lógica ortodoxa deprivilegiar o câmbio elevado e jurosaltos, mantém o aprofundamento dadesigualdade social, ao engessar oEstado para o financiamento de polí-ticas públicas universalizantes. (...)Portanto, na agenda feminista pelaredução da jornada de trabalho, a pa-lavra de ordem em destaque precisaser a mudança da atual política eco-nômica. Assim, a redução da jornadade trabalho sem redução de saláriospoderá contribuir para a geração demais e melhores empregos.

*Secretária de Política Sindicalda CUT Nacional

Uma agenda feministadeve fortalecer a luta paraque o trabalho domésticodeixe de ser consideradouma obrigação natural dasmulheres. É necessário queseja garantido porpolíticas do Estado atravésde creches, restaurantese lavanderias coletivas.

o da Jornada

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Meio Ambiente Campanha é da Cúria e estimula o consumo crítico

Veneza propõe “renúncia à água mineral”Assimina Vlahou*

*De Roma para a BBC Brasil(12 de fevereiro de 2008)

A cúria da cidade de Veneza, na Itália,lançou uma campanha para que os mora-dores deixem de tomar água mineral epassem a beber água da torneira comopenitência durante a Quaresma, períodoque vai da Quarta-Feira de Cinzas até odomingo de Páscoa.

Os organizadores pretendem promo-ver a qualidade da água encanada da cida-de, própria para o consumo, e dizem que“com o dinheiro economizado com gar-rafas de água de plástico será possívelconstruir um aqueduto na Tailândia”.

“Nosso centro diocesano propõe arenúncia à água mineral porque somos afavor do consumo crítico”, afirmou domGianni Fazzini, coordenador da campanha,ao jornal italiano Corriere della Sera.

A campanha conta com o apoio do pre-feito da cidade, o filósofo Massimo Cac-ciari. Ele afirmou que só toma água datorneira e que oferece apenas jarras deágua corrente durante as reuniões na Pre-feitura. Segundo Cacciari, a água mineralé dispensável, e as famílias poderão eco-nomizar muito no final do mês se deixa-rem de comprá-la. Na esperança de que acampanha continue depois da Páscoa, oaqueduto de Veneza está enviando gar-rafas de vidro para 100 mil famílias.

A idéia é que as pessoas substituam asgarrafas de plástico, adquiridas quandocompram água mineral, pelas de vidro. Gru-pos ambientalistas e associações de con-sumidores se dizem satisfeitos com a ini-ciativa da cúria veneziana.

“Se a água que sai da torneira é deótima qualidade, é contraditório consu-mir água em garrafa de plástico”, escre-ve em seu site o grupo ambientalista Al-treconomia, que reivindica o fim dascampanhas publicitárias de água mineral.

“Custa mais, aumenta o aquecimen-to global por causa do transporte em ca-minhões e produz uma montanha de plás-tico que, só na Itália, é de 9 bilhões degarrafas por ano”, acrescenta o Altreco-nomia. Atingidos pela campanha, os pro-dutores defendem a qualidade da águamineral. “A água mineral é mais segura etem propriedades que a água correntenão possui, sendo um verdadeiro alimen-to”, disse ao Corriere dela Sera MatteoZoppas, superintendente da água SanBeneddetto.

Segundo as estatísticas, a Itália é o paísonde mais se toma água mineral no mun-do, mesmo tendo água corrente de exce-lente qualidade em quase todas as regiões.Cada italiano consome em média 172 li-tros de água mineral por ano, e as prefeitu-ras de diversas cidades têm tentado mudaresse hábito. Em Florença, escolas e re-partições públicas não consomem águamineral há três anos. Em Roma, a águadisponível em centenas de bicas espalha-das pela cidade é considerada uma dasmelhores do país.

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Fulgêncio Pedra Branca Como é proba a Liga das Escolas de Samba

E a campeã é a Hurricane Beija-Flor

Temos que acreditar na lisura dequem montou a máfia dos caça-ní-queis através de um esquema de com-pra, venda, aluguel e franquia de sen-tenças. Ora, quem tem competênciapara comprar liminares com certeza vaiter ética e honestidade para gerir umsimples julgamento de desfiles, seminterferir na decisão dos jurados. Ofato de o coordenador dos jurados nodesfile da Sapucaí ser a mesma pessoaresponsável pela distribuição da vastagorjeta governamental demonstra altosprincípios de economia na administra-ção de recursos. Afinal, quem já tem ex-periência em manipular jurados, podeusar esta habilidade para que tenhamoscerteza que as notas foram dadas comtotal e absoluta isenção, e sem nenhumtipo de ameaça (eu nunca ouvi falar quealguém tenha sido executado a mandoda máfia dos caça-níqueis).

E o fato de uma das juradas ter umcaso amoroso com o coordenador dosjurados? Deixa tudo em lençóis bemlimpos, desde que o motel seja cincoestrelas. E o fato de os jurados leva-rem as notas para casa enquanto fa-zem um churrasquinho com os ami-gos e familiares? Isto só prova a trans-parência da organização.

Para que tirar o julgamento do car-naval da mão de tão probas pessoas?Quem executa tão bem o controle e aadministração de tão azeitada indús-tria dos jogos, quem já teve experiên-cia em órgão tão respeitado como oDOPS (como é o caso de um dos co-mandantes do samba no Rio, acusadode usar alta tecnologia nos procedimen-tos de interrogatório, made in USA)deve continuar a manipular, digo, or-ganizar o do desfile do carnaval do Riode Janeiro. Um julgamento independen-te, não controlado e organizado pelaLiga dos Caça-Níqueis, perdão, pela Ligadas Escolas de Samba, nem pensar. Paraquê? Ficaríamos com dúvida por tão altopadrão de julgamento.

Piada: a Globo disse que a comuni-

*Fulgêncio Pedra Brancaé escritor, alcoólatra, hipocondríaco;escreve de graça para esta página por

falta de coisa mais útil para fazer.

Não há nada mais íntegroe probo do que o resultadodas escolas de samba no Riode Janeiro. Mais lisura só emeleição para presidência doPaquistão. Afinal de contas,temos que acreditar que adupla Anísio Abraão–AíltonGuimarães (que supostamentetentou comprar ministros doSTJ, desembargadores do TRF,juiz do Trabalho, ProcuradorRegional da República,Procuradora da AgênciaNacional do Petróleo,delegados da PF, 234.327policiais civis, 334.987 policiaismilitares, três lanterninhas edois pipoqueiros) seria incapazde tentar subornarum juradinho sequer.

dade de Nilópolis estava mordida pe-las acusações de favorecimento feitaspelo delegado que investiga a opera-ção Hurricane, já que a Beija-Flor ga-nhou cinco de seis títulos, o outro foiganho pela Vila, escola do CapitãoGuimarães, braço direito de Anísio.Nilópolis mordida... é mesmo? Imagi-na as comunidades da Império Serra-no, Estácio, São Clemente, Ilha do Go-vernador, entre outras, rebaixadas emjulgamentos duvidosos.

Coincidências: 1. Depois que Cas-tor de Andrade morreu a Mocidadenunca mais ganhou um carnaval. 2.Depois que Luisinho Drummond per-deu a presidência da Liga, a Impera-triz nunca mais foi campeã (acabaramos desfiles “técnicos?”). 3. Depois queAnísio-Capitão Guimarães assumirama Liga, Beija-Flor ganhou cinco títulose a Vila Isabel um. Conclusão: o quedecide um desfile de escola de sambaé mesmo um bom carnavalesco.

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