ano 8 nº 83 janeiro/2016 - cileite · embrapa gado de leite publica mensalmente a evolução do...

13
1 Ano 8 nº 83 janeiro/2016

Upload: dangcong

Post on 18-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Ano 8 nº 83 janeiro/2016

2

Embrapa Gado de Leite

Rua Eugênio do Nascimento, 610 – Bairro Dom Bosco

36038-330 Juiz de Fora/MG

Telefone: (32) 3311-7405

SAC: (32) 3311-7494

Fax: (32) 3311-7401

www.embrapa.br/fale-conosco/sac

http//www.embrapa.br/gado-de-leite

Coordenação geral

Rosangela Zoccal

Equipe técnica – Pesquisadores e Analistas da Embrapa

Alziro Vasconcelos Carneiro, Médico Veterinário, D.Sc.

Glauco Rodrigues Carvalho, Economista, PhD.

João César de Resende, Engenheiro Agrônomo, D.Sc.

José Luiz Bellini Leite, Engenheiro Civil, PhD.

Kennya Beatriz Siqueira, Engenheira de Alimentos, D.Sc.

Lorildo Aldo Stock, Engenheiro Agrônomo, PhD.

Manuela Sampaio Lana, Administradora.

Paulo do Carmo Martins, Economista, D.Sc.

Rosangela Zoccal, Zootecnista, M.Sc.

Samuel José de Magalhães Oliveira, Engenheiro Agrônomo, D.Sc.

Vanessa da Fonseca Pereira, Administradora, D.Sc.

Ficha técnica

Supervisão editorial: Rosangela Zoccal

Revisão linguística: Emili Barcellos Martins Santos

Normalização bibliográfica: Inês Maria Rodrigues

Capa: Adriana Barros Guimarães

Colaboração: Victor Muiños Barroso Lima

Todos os direitos reservados.

A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em

parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610)

CIP-Brasil. Catalogação-na-publicação. Embrapa Gado de Leite

________________________________________________________________ Panorama do Leite – Ano 6, n. 65 (abr/2012) - . – Juiz de Fora : Embrapa Gado de Leite, 2012 - .

Boletim eletrônico mensal.

Coordenação: Rosangela Zoccal. 1. Leite e Derivados. 2. Conjuntura. 3. Custo de produção. I. Zoccal, R.

CDD 338.1

______________________________________________________________________________________

© Embrapa 2016

3

Sumário

1. Gigante pela própria natureza .............................................................................................. 4

2. Oferta, demanda e preço do leite – uma reflexão ............................................................... 5

3. A pequena produção, imperfeições de mercado e a gestão na pecuária de leite .............. 8

4. Perspectivas de seleção para a resistência à mastite em bovinos da raça

Holandesa no Brasil ............................................................................................................. 11

4

oferta de leite continua sofrendo a pressão de

alta de custos de produção por conta do

aumento expressivo de alguns insumos como

energia e alimentos (ex: soja, milho). Parte deste ajuste

já foi absorvido, como é o caso da energia elétrica.

Quanto aos grãos, as condições de desenvolvimento das

safras do Brasil e dos Estados Unidos poderão gerar

volatilidade nas cotações, e surpresas no câmbio não

podem ser totalmente descartadas. O volume

contratado na exportação de milho brasileiro foi

elevado, o que deixou o mercado interno bastante

ajustado. Assim, eventuais atrasos na entrada dessa

safra de verão e surpresas climáticas externas podem

refletir em fortes oscilações de preços.

A piora do ambiente econômico tem provocado a

queda da rentabilidade da produção leiteira em

importantes regiões produtoras do país. Em Minas

Gerais, o preço real do leite, deflacionado pelo custo de

produção (ICPLeite Embrapa), atingiu em dezembro/15

o menor patamar para este mês dos últimos nove anos

(Figura 1). A captação brasileira de leite está recuando a

uma taxa anual de 2%. Para os próximos meses, espera-

se um cenário ainda adverso de rentabilidade e oferta do

leite.

A demanda de lácteos segue em desaceleração,

alinhada com a retração da economia brasileira. Esta

queda pode se aprofundar nos próximos meses, à

medida que a massa total de rendimentos refletir a

desaceleração econômica observada no país. Os preços

ao consumidor de leite e derivados espelham o

enfraquecimento da demanda e encerraram o mês de

dezembro/15 em queda pelo quarto mês consecutivo.

A balança comercial de lácteos segue ainda

deficitária, fechando 2015 com um saldo negativo de 100

milhões de dólares, com destaque para queijos, soro de

leite e leite em pó. Apesar da desvalorização do real

frente ao dólar, a queda recente do preço de leite e

derivados no mercado internacional ainda torna

vantajosa a importação brasileira.

Figura 1. Preço real do leite pago ao produtor no estado de Minas Gerais no mês de dezembro, 2006-2015. Valores em reais de dezembro de 2015 por litro. Fonte: CEPEA e Embrapa Gado de Leite (2016).

Samuel J. de M. Oliveira, Glauco R. Carvalho, Rosangela Zoccal, Vanessa da F. Pereira e Anderson B. S. Christ

Pesquisadores e Analistas da Embrapa

A

1,00

1,05

1,10

1,15

1,20

1,25

1,30

1,35

1,40

1,45

1,50

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

R$/ L

Gigante pela própria natureza

Conjuntura do Setor Lácteo

5

Oferta, demanda e preço do leite – uma reflexão Samuel José de Magalhães Oliveira

Pesquisador da Embrapa

A conjuntura econômica atual brasileira não é das

mais favoráveis. Após queda estimada de cerca de 4% no

PIB no ano passado, o ano de 2016 se inicia com

perspectiva de queda de 3% na atividade econômica.

Este é o período recessivo mais intenso enfrentado pelo

país desde 1900. Em consequência disto, o poder

aquisitivo da população começa a dar sinais de queda. A

massa de rendimentos reais da população brasileira, que

crescia continuamente até o início de 2014, vem

oscilando desde então, apresentando queda em alguns

meses de 2015. Oscilações no rendimento da população

afetam a sua capacidade de compra e a demanda por

serviços e produtos, inclusive os lácteos. Não se pode

descartar uma queda maior do rendimento da

população nos próximos meses, refletindo a

deterioração do quadro econômico brasileiro (Figura 1).

Figura 1 – Massa salarial real mensal média dos últimos doze meses. Brasil, 2013-2015. Valores expressos

em milhões de reais.

Fonte: PNAD-IBGE e Embrapa Gado de Leite (2016).

O custo de produção também exerce importante

influência na produção e renda do produtor de leite. A

Embrapa Gado de Leite publica mensalmente a evolução

do preço dos principais insumos utilizados na produção

leiteira do estado de Minas Gerais, o maior produtor de

leite do país. É o índice do custo de produção do leite –

ICPLeite, a inflação do leite. O índice acelerou no

segundo semestre de 2015, alcançando 17% nos doze

meses encerrados em novembro. Em dezembro houve

um pequeno recuo nesta taxa anual, que fechou o ano

de 2015 em 15%. Este valor é maior que a inflação oficial

do país, que atingiu 11% em 2015. Isto mostra que o

preço dos bens e serviços utilizados na produção leiteira

aumentou mais que a média dos preços da economia. Os

maiores aumentos foram observados nos itens energia e

alimentação do rebanho. O custo de alimentação dos

animais foi pressionado pelo preço de insumos

importantes como soja e milho, cujos preços são

atrelados ao dólar, que disparou no ano passado. O

aumento do preço da energia elétrica foi outro fator

R$ 160.000

R$ 162.000

R$ 164.000

R$ 166.000

R$ 168.000

R$ 170.000

R$ 172.000

R$ 174.000

6

importante que pressionou os custos de produção. O

arrefecimento da inflação anual do leite em dezembro

pode sinalizar para uma menor pressão destes fatores

nos próximos meses. O preço da energia não deve

aumentar mais nos níveis observados no ano passado. A

tendência de desvalorização do real pode não acabar,

mas o resfriamento da economia mundial diminui a

pressão sobre o preço das commodities, como a soja e o

milho, que podem ter seus preços ajustados em ritmo

mais lento. Mas vale ressaltar que estes preços são

influenciados pela expectativa da safra nos principais

produtores mundiais como Estados Unidos e Brasil, que

podem se alterar em função de forças de mercado e

condições de tempo durante o ciclo das culturas. (Figura

2).

Figura 2 – Índice do custo da produção de leite, variação acumulada dos últimos 12 meses em Minas

Gerais, 2012-2015.

Fonte: Embrapa ICP Leite – últimos valores.

A Embrapa calcula o preço do leite pago ao produtor

em Minas Gerais corrigido pelo ICPLeite. O preço

deflacionado do leite mostra o valor real do produto,

eliminando o efeito da inflação. Este preço tem

apresentado quedas contínuas intercaladas de pequenas

recuperações desde o final de 2013. Este movimento é

consistente com o cenário de retração econômica e

menor crescimento da demanda por lácteos. Esta queda

do preço real do leite já afeta o lucro da atividade leiteira,

como tem sido observado pela Embrapa Gado de Leite.

O preço real pago pelo leite atingiu R$ 1,06/ L em

dezembro de 2015 no estado de Minas Gerais. É o menor

valor observado para o mês de dezembro desde 2006,

ano de início desta série histórica. O valor se encontra R$

0,06 abaixo do observado no mesmo mês do ano

anterior e R$ 0,21 abaixo de dezembro de 2013. Uma

eventual queda mais acentuada do rendimento da

população pode reduzir a demanda por lácteos e forçar

novas baixas nos preços reais do leite (Figuras 3 e 4).

O ambiente econômico atual requer cautela ao

produtor de leite. De um lado, os preços de insumos

estão pressionando os custos. Por outro lado, a recessão

econômica e a perda do poder aquisitivo da população

diminuem o espaço para aumento de preço do produto.

Neste cenário a renda do produtor está diminuindo. A

eficiência da gestão, incluindo a redução de custos e

avaliação criteriosa de riscos e eventuais investimentos,

é um dos caminhos para atravessar com menor

sobressalto este momento de instabilidade.

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

7

Figura 3 – Preço pago por litro de leite ao produtor em Minas Gerais, valores deflacionados pelo ICP Leite

em reais de dezembro de 2015.

Fonte: CEPEA e Embrapa Gado de Leite (2016).

Figura 4 – Preço pago por litro de leite ao produtor em Minas Gerais no mês de dezembro, valores

deflacionados pelo ICP Leite em reais de dezembro de 2015.

Fonte: CEPEA e Embrapa Gado de Leite (2016).

R$ 1,00

R$ 1,05

R$ 1,10

R$ 1,15

R$ 1,20

R$ 1,25

R$ 1,30

R$ 1,35

R$ 1,40

R$ 1,45

1,16

1,46

1,17 1,20

1,26 1,25

1,09

1,27

1,12

1,06

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

R$/ L

8

A pequena produção, imperfeições de mercado e a gestão na pecuária de leite

Vanessa da Fonseca Pereira

Analista da Embrapa

Na busca por permanecer e crescer na atividade

leiteira, os pequenos produtores lidam cotidianamente

com questões ligadas à eficiência técnica, as quais

envolvem a gestão dos recursos produtivos e as relações

com o mercado. Ao mesmo tempo, precisam avaliar a

escala e o escopo mais eficientes das atividades. Isso

inclui decisões sobre o tamanho do rebanho e as

atividades que são realizadas na propriedade. A

terceirização de etapas do processo produtivo é uma

opção para aqueles que buscam aumentar a produção

sem elevar muito os custos. Como exemplo, um número

cada vez maior de produtores opta por transferir para

parceiros especializados a produção de alimentos, como

silagem, ou a recria de bezerras. Ao se especializar em

produzir leite, o produtor reduz a estrutura produtiva e,

consequentemente, tem menor necessidade de

investimentos, além de garantir a qualidade dos

processos, que passam a ser realizados por especialistas.

Dados do Censo Agropecuário de 2006 mostram

que a participação de pequenos produtores é marcante

na pecuária de leite no Brasil. Essa realidade é ilustrada

na Figura 1, que representa os 931.215 que afirmaram

vender ou beneficiar leite e são pouco menos de 70% dos

1,3 milhões de estabelecimentos que produziram leite

em 2006. A Figura mostra que os estabelecimentos com

volume inferior a 50 litros por dia eram responsáveis por

70% da produção de leite vendida ou beneficiada. Apesar

disso, a produção se concentrava nos estratos de maior

produção diária. Tal fato chama a atenção para a

tendência de elevação da escala produtiva.

Figura 1. Distribuição dos estabelecimentos que beneficiaram ou venderam leite e do volume produzido por estrato de

produção diária, 2006

Fonte: Adaptado de Zoccal et al. (2015)

Embora sejam a maioria no Brasil, os produtores de

menos de 50 litros diários enfrentam um conjunto de

imperfeições de mercado, que se manifestam por

diferentes mecanismos. As condições de negociação de

insumos e de produtos dependem do volume

transacionado. Em geral, os grandes produtores

conseguem pagar menos pelos insumos e receber mais

pelo produto, além de ter melhores taxas de juros e

20%

21%

29%

25%

4%

1%

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000

Menos de 10

10 a menos de 20

20 a menos de 50

50 a menos de 200

200 a menos de 500

500 e mais

Número de estabelecimentos

Estr

ato

s d

e p

rod

uçã

o (

L/d

ia/e

stab

ele

cim

en

to)

3%

5%

16%

40%

19%

16%

0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000

Volume de leite produzido (1.000L)

9

maior prazo para pagar. As imperfeições dos mercados

de insumos e produtos beneficiam os grandes

produtores e fazem com que a margem dos pequenos

seja relativamente menor. Ao mesmo tempo, por possuir

mais recursos, os grandes produtores têm acesso à

assistência técnica de melhor qualidade. De forma

similar, os grandes possuem melhores condições de

acessar as fontes de financiamento. Essas diferenças são

potencializadas pelas assimetrias educacionais.

No conjunto, essas condições assimétricas

beneficiam os grandes produtores também na adoção de

tecnologias, uma vez que eles têm acesso facilitado pelos

recursos disponíveis e avaliam melhor os benefícios e

riscos de aplicar as inovações. Tem-se, portanto, uma

esperada diferenciação nas chances de se alcançar

eficiência técnica e de escala produtiva, o que reflete em

diferentes competitividades.

Nesse contexto, a gestão aparece como um

componente essencial para o enfrentamento das

imperfeições de mercado, afinal, seu objetivo é fazer

com que a empresa gere os resultados almejados por

meio dos recursos produtivos. Algumas orientações

básicas merecem consideração dos produtores e serão

ressaltadas a seguir.

O ponto de partida da gestão é sempre um bom

diagnóstico da situação atual. Portanto, é importante

que os produtores conheçam sua propriedade, saibam

quais são os recursos utilizados e seus custos, além de

saber a produção que é gerada com aquela estrutura em

vigor, bem como a que poderia ser obtida com o uso

ótimo dos recursos. Para tanto, o registro das

informações é imprescindível. É ele que permite

acompanhar as atividades, em busca de identificar os

pontos críticos. Ao fazer os registros, tem-se a

possibilidade de avaliar a evolução ao longo do tempo e,

possivelmente, comparar a situação individual com a de

outras propriedades. Aqui, merece destaque a

capacidade de os produtores observarem outros

produtores e, a partir disso, aprender e adotar práticas

novas. Pode-se dizer que o uso de benchmarks tem

grande potencial para os pequenos produtores no Brasil,

dada a existência de produtores com diferentes níveis de

eficiência. A heterogeneidade é marcante mesmo entre

produtores de pequeno porte.

De posse das informações organizadas, o produtor

pode implementar análises simples como a identificação

de pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças

(FOFA). Essa matriz de fatores internos e externos à

propriedade fornece direcionamentos de ações para a

solução de problemas e o aproveitamento de

oportunidades. Internamente, deve-se atentar para os

recursos materiais e financeiros, as pessoas, a qualidade

do produto gerado, a qualidade e as falhas dos processos

envolvidos na produção, na negociação e na logística dos

insumos e produtos, buscando identificar os problemas

que aparecem com mais frequência e aqueles que

implicam em maiores perdas para a propriedade. A

análise externa engloba o ambiente onde a empresa

rural atua, ou seja, fatores sob os quais o produtor não

exerce influência. Aqui, há de se considerar tendências

do mercado consumidor, políticas públicas (legislação

ambiental e de sanidade, por exemplo), comportamento

dos concorrentes e tendências econômicas, entre outros

fatores.

Tão importantes quanto o diagnóstico da situação

atual são a definição dos objetivos da atividade leiteira

na propriedade e a escolha das variáveis e dos

parâmetros que indiquem como o produtor está

evoluindo em relação aos objetivos que traçou. A

limitação dos recursos – identificada no diagnóstico –

deve ser considerada na definição dos objetivos e metas.

Aumento da renda familiar, redução dos custos de

produção, participação de novos mercados e ganhos de

qualidade são exemplos que podem direcionar os

objetivos das atividades.

O delineamento do diagnóstico e a definição dos

objetivos são a base da primeira etapa do ciclo de gestão:

o planejamento. De maneira genérica, planejar é definir

o caminho a ser seguido para chegar no ponto esperado:

um plano de ação. No processo de planejamento, é de

grande importância que se considere a relação de

dependência entre os resultados de amanhã e as ações

de hoje. Embora pareça natural, essa constatação

simples é capaz de direcionar os esforços para ações que

10

não seriam seguidas, pois teriam custo elevado no curto

prazo e benefícios expressivos, mas que só seriam

desfrutados no médio ou longo prazo. A avaliação

relativa dos custos e resultados ao longo do tempo visa

a aumentar as chances de que o produtor permaneça e

cresça na atividade.

Na sequência do planejamento, o ciclo envolve a ação

(colocar o plano em prática), a checagem

(acompanhamento e avaliação do realizado em relação

ao planejado) e as ações de correção de falhas e de

redirecionamento do plano. Não se pode dizer que

alguma dessas etapas seja o fim do ciclo, pois o mesmo

ocorre de forma iterativa. A ideia de melhoria contínua

permeia todo o ciclo, representado na Figura 2.

Figura 2 – Ciclo PDCA

Seguramente, há algumas variáveis institucionais

que podem contribuir para que os pequenos produtores

consigam crescer na atividade nesse contexto de

imperfeições de mercados. A assistência técnica é a

principal delas. A orientação profissional pode ser muito

útil nas variadas e complexas decisões que o produtor de

leite precisa tomar no seu dia a dia. De forma similar, a

participação em treinamentos e a busca por informações

qualificadas pode melhorar a qualidade das decisões. A

participação em cooperativas também é um meio de

superação de imperfeições. Melhor condição de compra

de insumos, garantia de compra do produto e

conhecimento antecipado do preço minimizam as

incertezas e, possivelmente, resultam em menor

achatamento das margens de preço. A contratação de

crédito via programas de financiamento da atividade é

outro fator importante. Nesse caso, é importante que a

aplicação dos recursos siga as orientações técnicas, de

forma a ser um meio de impulsionar o alcance dos

resultados definidos no planejamento.

Referências

ZOCCAL, R.; PEREIRA, V.P.; OLIVEIRA, O.; ALMEIDA, M. A pecuária de leite no Brasil: quantificação e caracterização dos

produtores. In: 53º CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL,

2015, João Pessoa.

• Implementar, observar e

coletar informações

• Os resultados saíram conforme o planejado?

• Quais são as metas?

• Quais são os recursos?

• Corrigir as falhas

• Como melhorar da próxima vez?

A P

DC

11

Perspectivas de seleção para a resistência à mastite em bovinos da raça Holandesa no Brasil

Claudio Napolis Costa e Glaucyana Gouvea dos Santos

Pesquisadores da Embrapa

Introdução

Tradicionalmente, os programas de melhoramento

genético de bovinos leiteiros enfatizavam o aumento da

produtividade animal. Nas décadas recentes percebeu-

se que o foco na melhoria da produção estava

comprometendo um melhor desempenho do animal em

outras características, principalmente as reprodutivas.

Passou-se então a definir os objetivos dos programas de

seleção com um conjunto de características que

melhorassem a eficiência da produção, incluindo,

também, aquelas que representassem a funcionalidade

e adaptabilidade dos animais ao sistema de produção.

A mastite é reconhecidamente a doença infecciosa

mais importante em rebanhos de bovinos leiteiros. Além

de perdas na receita devido à redução da produção, da

qualidade do leite e do valor de venda de animais, eleva

o custo de produção com gastos em medicamentos e

mão-de-obra. Outros impactos negativos associados são

o bem-estar animal e a preocupação do consumidor

quanto à presença de resíduos de antibióticos e a

qualidade nutricional do leite.

A incidência da mastite nos rebanhos pode ser

reduzida por terapia, melhoria do manejo dos animais

nas práticas de ordenha e ainda por aumento da

resistência por meio de seleção. Entretanto, a resposta

esperada pela seleção direta para resistência a mastite é

muito baixa, pois a herdabilidade para a mastite clínica

tem valor médio igual a 0,10. Dessa forma, uma

alternativa para a redução da mastite é a seleção

baseada na contagem de células somáticas (CCS). A

eficiência da CCS como critério de seleção para reduzir a

mastite clinica depende da correlação genética entre

elas, considerada de moderada a alta (~0,70), em vários

estudos.

Em vários países, a CCS já vem sendo usada como

critério de seleção indireta para resistência a mastite. A

CCS é obtida da análise laboratorial de amostras de leite

cru coletadas de vacas em controle leiteiro. A CCS é o

número de células por mL e, no sentido de atender a

condição de normalidade e pressupostos de métodos

estatísticos, deve ser transformada em escore de células

somáticas (ECS). O cálculo do ECS baseia-se na equação

ECS = log 2 (CCS/ 100.000) + 3, em que CCS é a contagem

do número de células por mL. A heritabilidade para o ECS

ao longo da lactação varia de 0,05 a 0,14. Na Tabela 1 é

apresentada a relação de equivalência entre o ECS e a

CCS.

12

Tabela 1. Relação entre o escore (ECS) e a contagem de células somáticas (CCS).

ECS Média da CCS (x 1000/ml) Variação (x 1000/ml)

0 12,5 0-17

1 25 18-34

2 50 35-70

3 100 71-140

4 200 141-282

5 400 283-565

6 800 566-1130

7 1600 1131-2262

8 3200 2263-4525

9 6400 4526

Fonte: NMC (1996). No Brasil, com a instalação de Laboratórios de

Qualidade de Leite a partir da década de 90, as

associações de criadores das raças leiteiras estimularam

os criadores participantes do controle leiteiro a realizar

análises para a CCS. A participação de produtores de leite

nos sistemas controle leiteiro tem possibilitado o

registro da CCS do leite analisado de amostras coletadas

de vacas individualmente.

Em 2015, foi publicado um estudo liderado pela

Embrapa Gado de Leite que utilizou os registros de CCS

dos controles leiteiros mensais da primeira lactação de

vacas da raça Holandesa no Brasil. A disponibilidade

destes registros permitiu estimar os parâmetros

genéticos para a CCS, em realidade para o ECS. Os

resultados do estudo incluem algumas recomendações

para a realização das avaliações genéticas para o ECS em

vacas e touros da raça Holandesa no Brasil.

A metodologia - avanços na modelagem estatística dos registros de controle leiteiro

As avaliações genéticas de gado de leite para

características produtivas têm utilizado a produção

acumulada obtida das produções medidas em controles,

geralmente realizados pelas associações de criadores,

em intervalos de 30 dias durante a lactação, que é então

ajustada para o período de até 305 dias. Nos últimos

anos, o desenvolvimento de métodos estatísticos e de

recursos computacionais permitiram avanços

consideráveis nos procedimentos de avaliação genética

dos animais. Uma metodologia já validada como

alternativa ao uso da produção total da lactação é a que

utiliza a produção registrada no dia do controle leiteiro

(PDC). O uso dos registros dos controles possibilita uma

definição mais precisa dos efeitos ambientais a eles

associados, e, portanto, uma descrição mais específica

dos efeitos de estádio de lactação e reprodutivo

(gestação) dos animais em produção. Outros aspectos

associados ao uso das PDC são o uso de maior número

de informações de uma mesma vaca, a avaliação de

animais com lactações em curso ou parciais, a realização

de avaliações mais frequentes, e assim, a redução do

intervalo de gerações.

As vantagens associadas aos modelos para ajuste

das PDC motivaram pesquisadores de vários países a

investigarem a implantação destes procedimentos para

as características medidas nos controles ao longo da

lactação, nos sistemas nacionais de avaliação genética.

Entre os modelos de ajuste das PDC tem predominado a

metodologia de regressão aleatória com uso dos

Polinômios de Legendre, pelas suas propriedades

estatísticas. No Brasil, resultados de estudos já realizados

indicaram a adequabilidade dos polinômios de Legendre

para a modelagem das PDC das características

produtivas da raça Holandesa. Tais resultados sugeriram

a sua aplicação na modelagem da CCS obtida da análise

laboratorial de amostras de leite cru coletadas de vacas

em controle leiteiro.

13

Principais resultados do estudo O uso da regressão aleatória permite a análise dos

parâmetros genéticos dos ECS obtidos ao longo da

lactação. Os parâmetros genéticos para ECS estimados

neste estudo estão de acordo com os resultados

relatados em estudos utilizando a mesma metodologia:

aumento da herdabilidade com o progresso da lactação,

correlações genéticas maiores entre ECS no estágio

intermediário, que diminuem entre os estágios inicial e

final da lactação.

Exceto nos extremos da lactação, as estimativas de

herdabilidade do ECS para as diferentes ordens dos

Polinômios de Legendre (LP) foram semelhantes, como

ilustradas na Figura 1. As estimativas variaram de 0.06 a

0.14, com médias iguais a 0,08, 0,09, e 0,10 para LP3,

LP4, e LP5, respectivamente. A comparação incluindo

outros parâmetros genéticos estimados indicou pouco

benefício no uso de LP ordem maior que 3 para modelar

os efeitos genéticos e ambientais permanentes dos

animais.

As estimativas dos parâmetros genéticos obtidas no

estudo possibilitam a implantação de avaliação genética

e seleção para resistência à mastite em animais da raça

Holandesa no Brasil. A alta correlação genética relatada

em vários estudos indica que pode haver uma redução

nos casos de mastite clínica no rebanho, pela seleção e

acasalamento entre animais com valores genéticos

associados a baixo ECS.

Entretanto, a seleção para redução de ECS não

substitui as práticas de manejo e cuidado preventivo

com os animais, sendo essas medidas recomendadas e

efetivas, de curto a médio prazo, para o controle da

mastite nos rebanhos leiteiros.

Figura 1. Estimativas de herdabilidade para o ECS da primeira lactação de vacas da raça Holandesa, obtidas pelo ajuste de

modelos de regressão aleatória com Polinômios de Legendre (LP) de ordens 3 a 5.

PS: Interessados em maiores detalhes do estudo podem obtê-lo pelo acesso ao sítio de sua publicação:

<http://www.geneticsmr.com//year2015/vol14-4/pdf/gmr7440.pdf>.

Referência Bibliográfica

Encontro Anual do NMC, p.93-100, 1999

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

6 30 60 90 120 150 180 210 240 270 305

Herd

ab

ilid

ad

e

Dias em Lactação

LP3 LP4 LP5