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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 122 / Fevereiro, 2004 / No 2.099

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Jorge Victtor

Tema da Capa: O tema deste mês – PROMOÇÃO SOCIAL– ressalta a importância da caridade moral, que,na visão espírita, contempla o Espírito imortal.

EDITORIAL 4Promoção Social

ENTREVISTA: ATTÍLIO CAMPANINI 14A prioridade da União e da Unificação

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Entendamo-nos – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 2688o Congresso Universal de Esperanto – Affonso Soares Trova do Além – Lívio Barreto 27

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 33Caráter filosófico da Sociedade Espírita de Paris –

Allan Kardec

O purgatório – Lamennais 35SEARA ESPÍRITA 42

A organização social – Juvanir Borges de Souza 5A Terra – Emmanuel 7No reino do pensamento – Eurípedes Kühl 8Consolai – Antero de Quental 10Dar o pão – Richard Simonetti 11 Reflexões sobre a vida, o amor e a sabedoria – 12

Jorge Leite de Oliveira A melodia do silêncio – Meimei 13A extraordinária percepção de Paulo de Tarso – 15

Bartolomeu Márcio de SouzaVicissitude – Washington Borges de Souza 16Se eu não servir... – Paulo Nunes Batista 17Apenas um fenômeno biológico – Adésio Alves Machado 18Sabedoria do bem viver – Jorge Hessen 19O Reino de Deus está em vós – Fábio Henrique Ramos 20Santo Agostinho e o cuidado devido aos mortos – 22

João Luiz RomãoFEB comemora 120 anos fazendo homenagem a Kardec 24 Alberto Nogueira da Gama – Lauro de O. São Thiago 28FEB/CFN – Comissões Regionais – Calendário das Reuniões 29

Ordinárias de 2004 O pensamento e a vontade – Severino Barbosa 30Senhor: – Hernani T. Sant’Anna 31Somos Espíritos imortais em evolução – Marcus Vinícius Pinto 32Dimensões espirituais do Centro Espírita – Parte I –

Suely Caldas Schubert 36O pão espiritual – André Luiz 39Capacitação Administrativa para Dirigentes de Casas Espíritas 40 Bicentenário de Allan Kardec – Passos Lírio 41

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4 Reformador/Fevereiro 200442

Atendendo à questão formulada por um doutor da lei que queria saber o “que é preciso fazerpara possuir a vida eterna”, Jesus pergunta-lhe o que está escrito na lei, ao que este responde:“Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração e a teu próximo como a ti mesmo.” Em face da

resposta, Jesus observa: “Respondeste muito bem; faze isto e viverás”, observação esta que levou odoutor da lei a nova indagação: “E quem é o meu próximo?”

Respondendo a esta pergunta, relata Jesus a Parábola do Bom Samaritano1: Um homem– sem nenhuma identificação de raça, nacionalidade ou condição social –, ferido e assaltado porladrões, cai em estado de necessidade, precisando de ajuda e assistência; um sacerdote, um levi-ta e um samaritano passam por ele, mas somente o samaritano o assiste em suas necessidades.Diante do relato, o doutor da lei conclui que o próximo daquele homem foi o que agiu comcompaixão para com ele, levando Jesus a reafirmar: “Então vai e faze o mesmo.”

As questões formuladas pelo doutor da lei representam, de certa forma, os questiona-mentos levantados pelos seres humanos, interessados em saber o que lhes cabe fazer hoje paragarantir a paz no futuro que a todos aguarda. A resposta de Jesus, com a autoridade que lhe éprópria, não deixa dúvidas quanto a isto: somente a vivência do amor a Deus, ao próximo e anós mesmos, na forma como nos ensinou e exemplificou, oferece a solução para as nossas in-quietações pessoais e sociais.

Vivemos em um ambiente social no qual as pessoas se apresentam em constante esta-do de necessidade – em grau menor ou maior –, nas mais variadas formas de sua manifestação:física, moral ou espiritual. Será, por certo, pelo esforço que cada um de nós faz no sentido deajudar o próximo a superar o seu estado de necessidade que conseguiremos, com este mesmo es-forço, superar as nossas próprias limitações e atender ao nosso imperativo de evolução moral.

Esclarecidos pela Doutrina dos Espíritos, os espíritas vêm trabalhando no sentido decolocar em prática os princípios da Caridade, em seu sentido mais amplo e abrangente, tal co-mo a entendia Jesus: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dosoutros, perdão das ofensas.” 2 Esse trabalho continua sendo realizado de forma cada vez maisaprimorada, inclusive através do serviço de assistência e promoção social, atendendo a todos, in-distintamente, em suas necessidades físicas, imediatas e transitórias, e – respeitado o livre-arbítriode cada um –, atendendo-os, também, em suas necessidades morais e espirituais, de interesseconstante e permanente para o Espírito imortal.

1Lucas, 10:25-37.2O Livro dos Espíritos, questão 886.

EditorialPromoção Social

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Mundo atrasado, “de expia-ções e provas”, na classifica-ção dos Espíritos, a popula-

ção da Terra tem atravessado osmilênios, desde os tempos primiti-vos, sob as mais diferentes estrutu-ras da ordem social.

Emmanuel, no livro Roteiro,ditado a Francisco Cândido Xavier,informava, em 1950, que, parauma população terrestre de três bi-lhões de criaturas, correspondiamcerca de vinte bilhões de Espíritosdesencarnados, nas várias esferas es-pirituais terrestres.

Hoje, o número dos encarna-dos dobrou – seis bilhões. Não te-mos informações sobre o númerode desencarnados.

A partir da história conhecidada Humanidade, as populações, osgrupos, as nações, as raças vivemneste orbe sob diferentes organiza-ções sociais. Na pré-história, só po-demos deduzir que as necessidadesimediatas impuseram as normas co-muns de vivência.

O que caracteriza a ordem so-cial, ontem e hoje, é a imperfeição,produto do egoísmo, do orgulho,da indiferença e da ignorância hu-manos.

Em outras palavras, a organiza-ção social, em todos os tempos,apenas reflete as imperfeições hu-

manas, embora tenha havido gran-de progresso em conhecimentos etecnologia.

As ciências vão atendendo àsnecessidades humanas no que se re-fere ao conhecimento.

Mas o conhecimento não devese referir apenas à matéria. Torna-senecessário o conhecimento do ou-tro elemento universal – o espírito.

O próprio homem é Espíritoe matéria e, por isso, necessita, an-tes de tudo, conhecer-se a si mes-mo, como já advertia o filósofogrego.

No egoísmo e no orgulho, en-contram-se as causas de todo o atra-so e imperfeição moral do homem.

Destruir o orgulho e o egoís-mo é obra de educação individuale coletiva.

Para essa obra gigantesca a Hu-manidade recebeu do Alto as dire-trizes inconfundíveis constantes daMensagem do Cristo de Deus e doConsolador por Ele prometido eenviado.

Allan Kardec, em Obras Pós-tumas, p. 236/7, da 24. ed., FEB,pergunta e responde essa ques-tão:

“Será possível a destruiçãodo orgulho e do egoísmo? Res-ponderemos alto e terminante-mente: SIM. Do contrário, for-çoso seria determinar um pon-to de parada ao progresso daHumanidade. Que o homemcresce em inteligência, é fatoincontestável; terá ele chegado

ao ponto culminante, além doqual não possa ir? Quem ousa-ria sustentar tão absurda tese?Progride ele em moralidade?Para responder a esta questão,basta se comparem as épocasde um mesmo país. Por que te-ria ele atingido o limite do pro-gresso moral e não o do pro-gresso intelectual? Sua aspira-ção por uma melhor ordem decoisas é indício da possibilida-de de alcançá-la. Aos que sãoprogressistas cabe acelerar essemovimento por meio do estu-do e da utilização dos meiosmais eficientes.”A Doutrina Espírita, que ado-

ta integralmente os ensinos e exem-plos do Mestre Jesus, interpretadose ampliados pelos Espíritos Supe-riores, vê na ordem social do passa-do e do presente apenas etapas deuma progressão contínua em de-manda de uma organização maisjusta, mais fraterna, sem os extre-mos de miséria, de pobreza, de ig-norância, de violência e de malda-de que caracterizam as sociedadeshumanas.

Destruídos os obstáculos doorgulho e do egoísmo pela educa-ção dos sentimentos, as leis, as ins-tituições, as religiões, as ciências, to-das as atividades humanas refletirãoo progresso alcançado.

Não há outro caminho para overdadeiro progresso senão o da in-tegração do conhecimento com osentimento do Amor. >

A organização socialJuvanir Borges de Souza

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> O conhecimento de si mesmo,pelo homem, deu um passo gigan-tesco, com a Doutrina Espírita, quedesvendou o Mundo Espiritual e asLeis Morais que regem a Vida.

Será pelo conhecimento e vivên-cia dessas leis que o homem trilharáo caminho certo e transformará aTerra em um Mundo Regenerado.

Jesus, o Governador Espiritualdo nosso mundo, reconhecendo adificuldade de entendimento doshomens, dividiu em etapas suas li-ções e sintetizou no Amor a Deus eao próximo os ensinos de há 2.000anos.

Posteriormente, com o pro-gresso alcançado lentamente, en-viou o Consolador à Humanidade,relembrando seus ensinos iniciais,interpretando-os corretamente etornando patente a continuidade davida nos mundos espirituais.

O Espírito da Verdade e os Es-píritos Reveladores complementa-ram a Mensagem do Cristo, agoradispondo os homens de todas asnacionalidades, de todas as latitudese de todas as religiões, das informa-ções e esclarecimentos necessáriosao seu progresso moral.

Compete aos espíritas, agracia-dos pelo conhecimento da Verdade,levar esse conhecimento a seuscompanheiros de jornada. É o de-ver de divulgação da Doutrina Es-clarecedora, dever que compreendetambém o benefício da fraternida-de para com aqueles que não alcan-çaram ainda a libertação da igno-rância em questões que dizemrespeito à evolução de cada um.

As mudanças nas estruturas daordem social vigente em todas asnacionalidades, desejadas e vislum-bradas por governos, religiões e in-dividualidades, encontram na Dou-

trina Espírita, no seu conteúdo eabrangência, diretrizes seguras paraterminar com a ignorância e elimi-nar as diferenças gritantes geradorasda miséria material e moral de mi-lhões de indivíduos.

As transformações na ordemsocial atual, com base nos conheci-mentos trazidos pelo Cristo e pelaDoutrina Espírita, não poderão seresperadas através de imposições daforça e de movimentos revolucioná-rios baseados nos falsos conceitosdo materialismo multifário.

As experiências originadas dosmovimentos revolucionários de ba-se materialista, visando o “homemeconômico” tão-somente, esque-cendo-se do ser espiritual que o ho-mem é na realidade, mostraram, naprática, as conseqüências dolorosasde concepções divorciadas da reali-dade.

A Revolução Russa de 1917,baseada em conceitos do materialis-mo histórico-dialético, evidencia operigo de se partir de dogmas falsospara as construções superiores.

Sem se considerar o homem talcomo ele é – Espírito eterno comvárias vivências em corpos materiais–, criatura de Deus que deve aper-feiçoar-se por seu próprio esforço,as tentativas de melhoria da ordemsocial na Terra fracassarão certa-mente.

Por isso, a dedução lógica, in-contestável, é a de que as institui-ções humanas que visam o melhor,o justo, o equânime para todos de-vem partir da existência de homensjustos, fraternos e esclarecidos, isen-tos do egoísmo aviltante.

A primeira providência para aconstrução de um mundo melhorestá na educação individual deseus habitantes, educação moral

ampla capaz de formar o homemde bem.

O egoísmo característico dossistemas sociais do presente e dopassado só será superado quando amaior parcela da Humanidade con-seguir dominar as paixões que cor-roem o coração humano.

Então, a maioria dominantearrastará naturalmente a minoriarecalcitrante para o bem, ou essaminoria emigrará para outro mun-do condizente com suas condiçõesmorais.

...

As transformações necessáriaspara que a Terra e sua populaçãopossam alcançar a condição de ummundo regenerado, tal como pre-visto pelo Cristo e por diversos deseus prepostos, implicam na im-plantação de princípios morais queatingirão profundamente a ordemeconômica, social e jurídica ora vi-gentes.

Os princípios do Espiritismobaseados no amor ao Criador e aopróximo geram naturalmente umsentimento de fraternidade abran-gente, geral, capaz de abarcar nãosó os seres humanos mas a todas ascriaturas da Natureza.

Diante dos princípios espíritasque têm como fundamento o AmorSoberano, como justificar-se os bol-sões de miséria existentes em todasas nacionalidades, em todas as raças?

Como entender-se, diante dosmesmos preceitos, que governospoderosos se preocupem com a de-fesa das riquezas acumuladas, comforças poderosas capazes de do-minações iníquas e se esqueçam desocorrer os pobres, os miseráveis, osdoentes, os necessitados de todaordem?

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Por que as leis, impostas atual-mente pelos poderosos, pelos ricos,pelos bem-dotados, praticamentedesconhecem a situação dos margi-nalizados pela sociedade, gerando ainiqüidade na ordem econômica?

O excesso no uso dos bens ma-teriais, ao lado da carência absolu-ta, a ausência de sensibilidade e defraternidade são males que decor-rem do egoísmo humano, favoreci-do pela ausência da educação verda-deira, a educação moral, capaz degerar homens de bem.

Persistem os governos em con-fundir educação com instrução.

A instrução faz parte da educa-ção, sem dúvida, mas educar é trans-formar, para melhor, o caráter indi-vidual, construindo uma sociedadejusta, fraterna, unida, esclarecida.

Jesus exemplificou a vida comodeve ser vivida.

Evidentemente, os temposatuais são muito diferentes daque-les em que o Mestre pontificou, pe-lo progresso científico e técnico al-cançado pela Humanidade.

Entretanto, são imutáveis osensinos cristãos do amor, que ja-mais excluirá os mais necessitados,os pobres e os miseráveis, amor quenão exclui os ricos e poderosos.

O Espiritismo trata de destruiras causas que produzem o mal.

Essas causas, predominantesnas organizações sociais e institui-ções humanas acima referidas, sóserão extintas pela educação ereeducação do homem, substituídaspelo amor, pela solidariedade, pelatolerância.

A Terra

ATerra é um magneto enorme, gigantesco apare-lho cósmico em que fazemos, a pleno céu, nos-sa viagem evolutiva.

Comboio imenso, a deslocar-se sobre si mes-mo e girando em torno do Sol, podemos compararas classes sociais que o habitam a grandes vagões decategorias diversas.

De quando em quando, permutamos lugar comos nossos vizinhos e companheiros.

Quem viaja em instalações de luxo volta a conhe-cer os bancos humildes em carros de condição inferior.

Quem segue nas acomodações singelas, ergue-se,depois, a situações invejáveis, alterando as experiên-cias que lhe dizem respeito.

Temos aí o símbolo das reencarnações.De corpo em corpo, como quem se utiliza de

variadas vestiduras, peregrina o Espírito de existên-cia em existência, buscando aquisições novas para otesouro de amor e sabedoria que lhe constituirá di-vina garantia no campo da eternidade.

Podemos, ainda, filosoficamente, classificar o Pla-neta, com mais propriedade, tomando-o por nossa es-cola multimilenária.

Há muitos aprendizes que lhe ocupam as instala-ções, na expectativa inoperante, mas o tempo lhes co-bra caro a ociosidade, separando-os, por fim, de paisa-gens e criaturas amadas ou relegando-os à paralisia ouà cristalização, em largos despenhadeiros de sombra.

Outros alunos indagam, dia e noite... e, com asperquirições viciosas, perdem os valores do tempo.

Imaginemos um educandário, em cuja intimida-de comparecessem os discípulos de primária inicia-ção, exigindo retribuições e homenagens, antes de seconfiarem ao estudo das primeiras lições.

O menino bisonho não poderia reclamar esclare-cimentos, quanto à congregação que dirige a casa deensino onde está recebendo as primeiras letras.

E, ante a grandeza infinita da vida que nos cerca,não passamos de crianças no conhecimento superior.

Vacilamos, tateamos e experimentamos, a fim deaprender e amealhar os recursos do Espírito.

Compete-nos, assim, tão-somente, um direito: –o direito de trabalhar e servir, obedecendo às discipli-nas edificantes que a Sabedoria Perfeita nos oferece,através das variadas circunstâncias em que a nossa vi-da se movimenta.

Ninguém se engane, julgando mistificar a Na-tureza.

O trabalho é divina lei.Pesquisar indefinidamente, na maioria das vezes

é disfarçar a preguiça intelectual.A vida, porém, é ciosa dos seus segredos e somen-

te responde com segurança aos que lhe batem à portacom o esforço incessante do trabalhador que deseja pa-ra si a coroa resplendente do apostolado no serviço.

Emmanuel

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. 10. ed., Rio deJaneiro: FEB, 1998, cap. 8, p. 39, 40 e 41.

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Deus cria sem cessar! -------Dentre todas as sublimescriações divinas, destaca-se a

da nossa criação, concedendo a ca-da um de nós um figurativo reina-do, no qual somos soberanos abso-lutos.

Nesse reinado, o rei é o Espíri-to e o reino, o do pensamento.

Na origem, cada “rei” tem amesma constituição, características emeios de todos os demais incontá-veis “reis” criados por Deus, aosquais, invariavelmente, dá idênticas,intransferíveis e inexoráveis condi-ções de progresso e alcance da felici-dade, destinação essa pela qual res-pondem de forma integral.

Assim, em cada reino, tudo debom ou de mau que existiu, existeou existirá, tem como responsávelúnico o rei, o qual, num efeito quepromana do “escalão superior”,também cria sem cessar, utilizandoos seguintes instrumentos:

– a mente: age qual dínamogerador, proporcionando força cria-tiva;

– a vontade: é uma usina, cujafunção é armazenar e distribuir aforça gerada por aquele dínamo (amente);

– o cérebro: instrumento quetraduz a mente e gerencia não só aformação dos pensamentos, comotambém sua ação, física ou extra-física;

– os sentimentos: são os con-sultores e indutores na criação dospensamentos;

– as emoções: resultam da ex-pedição ou recepção dos pensamen-tos, próprios ou captados;

– as idéias: são as elaboraçõesoriginais do pensamento.

a) Características das criaçõesdo rei:

– Utilizando a fonte inesgotáveldo fluido cósmico universal, o reicria súditos até mesmo quando es-tá dormindo... tais súditos são cha-mados de pensamentos;

– sem forçar uma definição,talvez nos seja permitido ao menosdepreender que os pensamentospodem ser considerados como sub-produtos do fluido cósmico univer-sal, que emana de Deus1; no mes-mo instante em que nascem, ospensamentos se tornam algo palpá-veis (passam a ter vida própria), po-dendo ser bons ou maus, depen-dendo da disposição do rei no mo-mento em que os criou2;

– dentro desses dois parâme-tros – bem e mal – os pensamentosagem quais súditos extremamentefiéis e podem durar um segundo ouséculos;

– todos os pensamentos são fo-tografados no nascedouro3 e em se-guida recebem uma ficha individualque é guardada num arquivo perpé-tuo, chamado memória;

– alguns desses súditos perma-necem no reino, outros são remeti-

dos a um reino com endereço decla-rado, mas, quase sempre, a maioriadeles é arremessada coletivamenteem todas as direções;

– como no mundo existem bi-lhões de Espíritos, a emitirem tri-lhões de pensamentos, é inexorávelque pela força invencível de atração(sintonia) todos aqueles que trafe-gam em ondas de igual vibração seajuntem, passando a perambularpela psicosfera;

– assim, ao léu, acoplados, for-mam torrentes vibratórias podero-síssimas, não raro se tornando au-tônomas... e desobedientes;

– os pensamentos que perma-necem no interior do reino sãoaqueles que gravitam apenas em tor-no do próprio rei; quase sempresaem de cena e dão lugar a novoscolegas; se, ao contrário, permane-cerem ativos e em período integral,muito além de um período razoável,transformam-se em “idéias fixas”;

– quando as idéias fixas são deboa natureza, podem gerar boas rea-lizações; contudo, se forem de natu-reza perturbada – e é isso que geral-mente ocorre –, geram obsessão;

– se um pensamento em parti-cular passa a gravitar na mente dorei, repetindo sua elaboração, alémde se tornar uma “idéia fixa” assu-mirá a forma de criatura viva, daíser chamado de “forma-pensamen-to”4;

– quanto aos pensamentos quesão enviados para um determinado“reino”, depois de terem se torna-do “idéia fixa” e de terem assumi-

No reino do pensamento Eurípedes Kühl

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do forma, estarão animados degrande força, quase invencível,além de possuírem a incrível capa-cidade de se deslocar e chegar aodestino com velocidade muito su-perior à da luz5;

– forçoso será admiti-lo: todosos pensamentos enviados a deter-minado destino (outro Espírito),independentemente de serem ounão “recebidos” pelo destinatário,tornam-se reverberantes, isto é, re-tornam como “recibos infalíveis” àfonte emissora, nela produzindo assensações de que se equipavam6;

– as formas-pensamento quese transformam em figuras vivaspropagam-se e se adaptam à emo-ção de quem as capta. Exemplos:um católico ajoelhado diante deuma imagem de Nossa Senhoraemite uma vibração, cuja onda, aoalcançar um espírita, poderá in-duzi-lo a mentalizar Jesus; nummulçumano, Alá; no hindu, Kri-shna; no oriental, Buda, e assimpor diante;

– os pensamentos têm peso(!)no campo da mente, conforme asua natureza, para o bem ou para omal7;

– todos os deslocamentos sedão por ondas vibratórias e têm li-vre trânsito, tanto no plano físicocomo no extrafísico; quando ospensamentos são benignos, levambem-estar, alegria, saúde; ao contrá-rio, carreiam angústias, tristeza,doenças8;

– com referência aos desloca-mentos físicos ou extrafísicos dospensamentos, sabe-se que a únicabarreira que pode impedi-los de al-cançar o destino é a falta de sinto-nia, por parte do destinatário, cujavibração mental seja inversa à quetenta visitá-lo;

– havendo sintonia, o pensa-mento é contagioso, tanto quantouma nota musical tocada no pianoou o som de um violino ressoarãoem instrumentos semelhantes, des-de que tenham a mesma afinação;

– citada sintonia dá-se pela leidas atrações, unindo vibrações simi-lares, as quais se fixam numa oumais de uma das infinitas hastes(reencarnações) que compõem o le-que moral do destinatário;

– é dessa forma que nascem to-das as construções, de amor ou deódio, do perdão ou da vingança;

– o maior cuidado que nos as-siste na criação de formas-pensa-mento reside no perigo de elas setransformarem em verdadeiros car-cinomas, monstruosos “seres” automa-tizados e atuantes (...) capazes, emcertos casos, de subsistir até por milê-nios inteiros de tempo terrestre (...) 9.

b) Viagens do rei:

– O rei (Espírito) faz perma-nentes viagens de ida e volta, seja aoplano físico, seja ao espiritual, paraestágios de aperfeiçoamento, emperíodos nem sempre iguais;

– quando viaja para uma ououtra dimensão o rei leva consigotodos os cidadãos do seu reino (ospensamentos); a única diferençanesses estágios alternados é quequando estão no plano espiritualesses cidadãos ficam nus... Dizen-do de outra forma: desvestem-seda roupagem terrena que os enco-bria e ficam expostos à visão dosdemais transeuntes daquele pla-no... É por esse pequeno detalheque quando a “comitiva real” che-ga àquele plano é imediatamenteidentificada, quanto à sua condi-ção moral...10

– quando o rei retorna à di-mensão física traz os súditos, ador-mecidos; aos poucos, vai despertan-do e reconhecendo-os e logo tratade vesti-los com trajes fornecidosnão só pelas chamadas “convençõessociais”, mas principalmente pelogosto, enraizado...

c) Utilizando a bênção de poderpensar:

– De posse dos conhecimen-tos acima, o Espírito poderá utili-zar a dádiva divina que é a capaci-dade de elaborar pensamentos, nãonecessitando de grande esforço pa-ra integrar-se à grande obra deDeus, que visa ao bem de toda aHumanidade;

– um exercício que se mostra-rá de grande utilidade é criar o há-bito da auto-análise, imaginandoque a consciência é um espelho,perguntando-lhe (e estando prepa-rado para as respostas...):

– de onde me veio esse pensa-mento?

– o que estou pensando é bom? 11

(havendo sinceridade, logo odiagnóstico surgirá...). >

Reformador/Fevereiro 2004 947

Quando viaja

para uma ou outra

dimensão o rei

leva consigo todos

os cidadãos do

seu reino

(os pensamentos)

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> – durante o sono, o Espíritopoderá (no “plano astral”) empre-gar seus conhecimentos e sua boavontade em benefício próprio e dopróximo: para si, freqüentandocursos de conteúdo moral elevado,e para o próximo, integrando-secomo doador voluntário do seupotencial energético (ectoplasmá-tico) às caravanas socorristas queatuam caridosamente nos doisplanos;

– ninguém jamais está só: an-tes da presente existência, cada Es-pírito teve muitas vidas, muitas fa-mílias. Assim, em algum lugar,Espíritos encarnados ou desencar-nados seus conhecidos estarão tam-bém caminhando rumo à evolu-ção; se forem deixadas abertas asportas da casa mental, é certo queesses amigos o visitarão, seja na vi-gília, seja principalmente durante odesdobramento do sono;

– o Espírita compreende quediscussões estéreis e sonhos quimé-ricos constituem tremendos exaus-tores de energia mental e por isso osevita;

– tudo o que tiver que ser feitodeverá buscar a melhor maneirapossível de fazê-lo, e isso só seráconseguido quando o agente estiverconcentrado apenas naquilo quefaz;

– na Terra, a Natureza faz comque o Sol brilhe todos os dias e asestrelas surjam todas as noites na te-la celeste (isso, há mais de 4 bilhõesde anos!); raciocinando nisso não fi-ca difícil desenvolver o sentimentoda fé em Deus;

– jamais permitir que na casamental se hospedem a cólera, a im-paciência, a irritabilidade, a ironiaou o ciúme: sabe-os inquilinos ar-ruaceiros da boa ordem espiritual;

– o minuto caridoso – material(doação), oral (palavra) ou mental(prece em favor do necessitado) – échance imperdível;

– os tigres adormecidos doatavismo (germens psíquicos domal) não devem ser acordados pe-las revivescências no presente: peloexaustivo treinamento da reformamoral devem ser considerados pro-veitosas lições do passado, para ja-mais repeti-las;

– ao pensarmos em alguém,elejamos apenas suas boas qualida-des (se não as tem, vamos criá-las eendereçá-las a ele, onde formarãoalicerce na casa mental).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em

Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz. 20.ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. XIII, p. 95e 100.

2Id. Ibid., cap. XIII, p. 95 e 100.

3KARDEC, Allan. A Gênese, 41. ed., Rio de

Janeiro: FEB, 2002, cap. XIV, item 15. 4XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios

da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 29.ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. 1. 5_____. Ação e Reação, pelo Espírito André

Luiz. 23. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. 4. 6Id. Ibid., cap. 4.

7_____. Nos Domínios da Mediunidade, pelo

Espírito André Luiz. 29. ed., Rio de Janeiro:FEB, 2002, cap. 5 e 19. 8Id. Ibid., cap. 5 e 19.

9SANT’ANNA, Hernani T. Universo e Vida,

pelo Espírito Áureo. 5. ed., Rio de Janeiro:FEB, 1998, cap. 5, item 7, p. 80. 10

XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação,pelo Espírito André Luiz. 23. ed., Rio deJaneiro: FEB, 2002, cap. 5. 11

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 83.ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, Parte 2a, cap.IX, q. 459.

10 Reformador/Fevereiro 200448

ConsolaiSe eu pudesse, diria eternamente,Aos flagelados e desiludidos,Que sobre a Terra os grandes bens perdidosSão a posse da luz resplandecente.

A dor mais rude, a mágoa mais pungente,Os soluços, os prantos, os gemidos,Entre as almas são louros repartidosMuito longe da Terra impenitente.

Oh! se eu pudesse, iria em altos bradosLibertar corações escravizadosSob o guante de enigmas profundos!

Mas, dizei-lhes, ó vós que estais na Terra,Que a luz espiritual da dor encerraA ventura imortal dos outros mundos!

Antero de Quental

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de Além-Túmulo. 16. ed., Rio deJaneiro: FEB, 2002, p. 90. Edição Comemorativa – 70 Anos.

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Reformador/Fevereiro 2004 1149

Odelegado criticava com ve-emência o comportamentoagressivo do mendigo:

– Você é um mau caráter! A se-nhora registrou um boletim de ocor-rência, reclamando de sua atitude.Se ela foi tão atenciosa; se piedosa-mente deu-lhe um pão, por que jo-gou uma pedra na janela de sua ca-sa, quebrando o vidro?

O mendigo ficou indignado.– O doutor está enganado! Não

há nenhuma pedra! Atirei foi o pãoempedrado que a sovina me deu!

...Bem poderíamos discorrer sobre

a ingratidão ou, pior, o respondercom o mal ao bem que nos fazem.

Creio, entretanto, leitor amigo,que seria mais oportuno destacarneste episódio uma questão cons-trangedora: o atendimento do pe-dinte que bate à nossa porta.

Em princípio as pessoas tendema encará-lo como um importuno,que vem perturbar sua tranqüilida-de ou interromper seus afazeres.

O impulso inicial, costumeiro,é informar, taxativo, sufocando aconsciência e amputando o verná-culo:

– Tem nada não!Os mais “generosos” apressam-

-se em estender-lhe alguns centa-vos, interrompendo o relato de suascarências, a despachá-lo de pronto.

Quando se dispõem a “perdertempo”, vão um pouco além, ofere-

cendo “mimos” como surrados tra-pos, restos de refeição, ou empedra-dos pães.

Quando o infeliz é atendidopor um ateu, até se admite seme-lhante comportamento. Afinal, des-cartada a existência de Deus e a so-brevivência da alma, tudo é per-mitido, especialmente quando setrata de descumprir elementares de-veres de solidariedade.

O lamentável é que, com rarasexceções, esse comportamento éadotado por pessoas que se dizemreligiosas, aprendizes do Evangelho,que deveriam, por elementar nor-ma de comportamento, levar emconsideração a recomendação de Je-sus (Mateus, 7:12):

– Tudo o que quiserdes que oshomens vos façam, fazei-o assimtambém a eles.

Se fôssemos nós o carente, abater à porta, gostaríamos de ouvirincisiva negativa ou receber umapedra em forma de pão?

É preciso cuidado para não nosenquadrarmos na melancólica ob-servação de Jesus, lembrando o pro-feta Isaías (29:13):

– …Este povo honra-me comos lábios, mas o seu coração estálonge de mim.

...Sebastião Carlos Gomes, o

querido Carlão, companheiro naslides espíritas, costumava dizer que,

se observarmos bem, notaremosque quando um pedinte passa pelaquadra em que moramos, tendo vá-rias portas onde bater, parece guia-do por invisível mão ao nosso lar.

Explicava que os bons Espíritosos inspiram a nos procurar, conside-rando que o espírita, embora feitodo mesmo material que caracterizaa Humanidade, em que um ingre-diente básico é o egoísmo, estáconsciente de que deve lutar comtodas as forças contra essa tendênciavisceral, exercitando a solidariedade.

Aí está, leitor amigo, algo parapensar:

E se aquele que bate em nossaporta foi guiado por agentes doBem, empenhados em ajudá-lo, asoprar-lhe, pelos condutos espiri-tuais, nos refolhos de sua mente:

– Bata naquela porta! Ali mo-ra um espírita, o cristão de cons-ciência desperta. Ali será respeitadasua dignidade de ser humano e se-rão atendidas suas carências!

Se tal não acontecer, poucoprovável que o nosso irmão reajacom agressividade, como no casocitado, mas certamente, nossa cons-ciência, mais cedo ou mais tarde,nos cobrará pela omissão.

Considerando esse manancialdivino que é a Doutrina Espírita, aesclarecer que o próximo é o nossocaminho para Deus, deveríamoslembrar sempre outro princípio apre-sentado por Jesus (Lucas, 12:48):

…A quem muito foi dado, mui-to se pedirá.

Dar o pãoRichard Simonetti

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12 Reformador/Fevereiro 200450

Vivemos como se, em uma úni-ca vida, fôssemos eternos, ouquase isso. Quando o tempo

passa, porém, e com ele surge a ve-lhice, constatamos ter-nos enga-nado sobre a extensão de nossasexistências. Principalmente na ju-ventude, a possibilidade de tudoacabar de uma hora para outra nempassa pela nossa cabeça. O jovemgosta da vida e a curte tão intensa-mente que, às vezes, é surpreendidopela desencarnação. É quando sur-ge a constatação: a vida humana ébreve, muito breve.

Quanto mais novos, mais arrai-gado parece ser, nos seres vivos, oinstinto de sobrevivência. Certamen-te, esse instinto de preservação émuito útil a todos nós, qualquer queseja a nossa idade. Sem ele, o núme-ro de suicídios no mundo seria enor-me. Por outro lado, se buscarmosdesfrutar proveitosamente nossosdias na Terra, certamente o peso daslutas da vida não nos atormentarátanto quanto se não o fizermos.

Mas quando sabemos que umsimples vegetal pode viver até cin-qüenta vezes mais do que o ser hu-mano mais longevo, podemos refle-tir melhor sobre a brevidade de

nossa passagem terrestre. Segundoreportagem da revista Veja, de 30de abril de 2003, existe na Califór-nia um pinheiro com 4.600 anosde existência. De acordo com as in-formações científicas, é a árvoremais antiga do mundo, emboratambém haja muitas outras commilhares de anos.

Tal constatação, se, por um la-do, nos faz refletir no quanto é cur-ta nossa existência física, por outronivela as pessoas de todas as idades.Se uma simples árvore pode vivertanto, de que vale o orgulho e a vai-dade humana na juventude e a ar-rogância ou o desencanto na idademadura? Afinal, por maior que sejaa diferença de idade entre duas pes-soas, isso nada é em relação à exis-tência milenar de um simples vege-tal. Por isso, devemos sempre nostratar com o respeito e o amor exi-gidos de alguém consciente da bre-vidade de sua vida terrena.

Muitas pessoas ainda acredi-tam que só temos uma única vidana Terra. Se assim fosse, Deus teriaem muito mais valor a existência deuma árvore do que a de um ser hu-mano. Isso sem nos referirmos a de-terminados animais, que, em certascircunstâncias, podem sobreviverdurante séculos. Determinadas es-pécies animais, como certas espéciesde tartarugas, vivem muito maistempo do que os seres humanos.

Os jovens devem respeitar osmais velhos, que possuem toda umaexperiência de vida que aqueles ain-da não adquiriram. E as pessoasmaduras devem praticar a empatiacom os jovens, em virtude de tam-bém já terem passado por esse pe-ríodo de entusiasmo, nem sempreprudente e refletido. É importanteaconselhar, sem entretanto imporcoisa alguma. Se algum imprevistonão lhes encurtar a existência, a ex-periência a todos mostrará se a de-cisão a respeito de qualquer condu-ta em suas vidas foi a mais acertada.

Embora a juventude faça ou-vidos moucos aos sermões de seuspais, parentes ou pessoas mais ex-perientes, sábio é aquele que pro-cura escutar os bons conselhos. Aeste, o apelo de Salomão, emborade alguns milhares de anos, aindaé atual, como o pinheiro da Cali-fórnia: “Filho meu, não te esque-ças da minha lei, e o teu coraçãoguarde os meus mandamentos.Porque eles aumentarão os teusdias e te acrescentarão anos de vi-da e paz. (...) Bem-aventurado ohomem que acha sabedoria e o ho-mem que adquire conhecimento.”(Provérbios, 3:1-2 e 13.) Até por-que, entre os dias de nossa juven-tude e os da idade madura, bemcomo entre estes e os da ancianida-de, pouco tempo existe, na relati-vidade da vida física. É, pois, sábio

Reflexões sobre a vida, o amor e a sabedoria

Jorge Leite de Oliveira

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buscar conquistar, desde cedo, osbens maiores desta vida: a sabedo-ria e o amor.

Léon Denis, em O Problemado Ser, do Destino e da Dor, ediçãoda FEB, cap. XIX, p. 304, sobre “Alei dos destinos” esclarece “As vidasimpuras, a luxúria, a embriaguez ea devassidão conduzem-nos a cor-pos débeis, sem vigor, sem saúde,sem beleza. O ser humano que abu-sa de suas forças vitais, por si mes-mo se condena a um futuro miserá-vel, a enfermidades mais ou menoscruéis.”

Como vemos, a beleza física,nem sempre está relacionada àidade. Há jovens de aspecto físicoaté mesmo repugnante, e idososbelos, simpáticos, agradáveis, que

pautam sempre suas vidas peloequilíbrio, pelo respeito ao seue aos corpos físico e espiritual alheios.

A Doutrina Espírita, comoConsolador prometido por Jesus,segundo o Evangelho de João(14:16-17), se bem compreendida eaplicada, não somente nos dará aperfeita noção sobre a brevidade davida, mas também sobre a sua im-portância na conquista da própriafelicidade. Quanto mais nos cons-cientizarmos de que nossa existêncianão se resume nos breves oitenta,cem anos de uma única vida, porémque esse tempo é precioso minutopara o Espírito imortal, melhor seráa qualidade de nossos anos na Terra.

Por isso, o lembrete do Espíri-

to de Verdade, emissário maior doCristo, que já o anunciara há doismil anos, deve ser meditado e apli-cado a cada dia de nossas vidas, nãosomente com os companheiros defé, mas com todos os irmãos de jor-nada: amai-vos e instruí-vos. Atéporque, em seguida, ele nos esclare-ce: “(...) No Cristianismo encon-tram-se todas as verdades; são deorigem humana os erros que nele seenraizaram. Eis que do além-tú-mulo, que julgáveis o nada, vozesvos clamam: ‘Irmãos! nada perece.Jesus-Cristo é o vencedor do mal,sede os vencedores da impiedade’.”(In: Kardec, Allan.O Evangelho se-gundo o Espiritismo. 117 ed., Riode Janeiro: FEB, 2001, cap. VI,item 5, p. 130.)

Reformador/Fevereiro 2004 1351

Repara a melodia do silêncio nas criações divinas.No Céu, tudo é harmonia sem ostentação de

força.O Sol brilhando sem ruído...Os mundos em movimento sem desordem...As constelações refulgindo sem ofuscar-nos...E, na Terra, tudo assinala a música do silêncio,

exaltando o amor infinito de Deus.A semente germinando sem bulício...A árvore ferida preparando sem revolta o fruto

que te alimenta...A água que hoje se oculta no coração da fonte,

para dessedentar-te amanhã...O metal que se deixa plasmar no fogo vivo, para

ser-te mais útil...O vaso que te obedece sem refutar-te as ordens...Que palavras articuladas lhes definiriam a

grandeza?É por isso que o Senhor também nos socorre,

através das circunstâncias que não falam, por inter-médio do tempo, o sábio mudo.

Não quebres a melodia do silêncio, onde tua

frase soaria em desacordo com a Lei de Amor que nosgoverna o caminho!

Admira cada estrela na luz que lhe é própria...Aproveita cada ribeiro em seu nível...Estende os braços a cada criatura dentro da ver-

dade que lhe corresponda à compreensão...Discute aprendendo, mas, porque desejes apren-

der, não precisas ferir.Fala auxiliando, mas não te antecipes ao juízo su-

perior, veiculando o verbo à maneira do azorrague in-consciente e impiedoso.

“Não saiba tua mão esquerda o que deu a direi-ta” – disse-nos o Senhor.

Auxilia sem barulho onde passes.Recorda a ilimitada paciência do Pai Celestial

para com as nossas próprias faltas e ajudemos, semalarde, ao companheiro da romagem terrestre que,muitas vezes, apenas aguarda o socorro de nosso silên-cio, a fim de elevar-se à comunhão com Deus.

Meimei

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Instruções Psicofônicas.Diversos Espíritos, 7. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1995, cap. 14,p. 71-72.

A melodia do silêncio

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14 Reformador/Fevereiro 200452

ENTREVISTA: ATTÍLIO CAMPANINI

P. – Há quanto tempo vocêatua no Movimento Espírita?

Attílio – No Movimento Espí-rita passei a atuar a partir do tercei-ro ano em que me tornei espírita, nadécada de 50. Inicialmente freqüen-tei o Centro Espírita João Batista,na Lapa, na capital paulista, hojecom suas atividades encerradas.

P. – Como atuou no movi-mento de Mocidades Espíritas?

Attílio – Ingressei na União daMocidade Espírita LAPPA em 1950.Após breve período assumi as fun-ções de tesoureiro. Embora com al-gumas intermitências, minha vida es-pírita sempre foi na área admi-nistrativa. Participei da extinta Con-centração de Mocidades Espíritas doBrasil Central e Estado de São Paulo(COMBESP), que deu grande contri-buição ao Movimento Espírita, e domovimento de moços promovidopela União das Sociedades Espíritasdo Estado de São Paulo (USE).

P. – Como você se envolveucom o trabalho de unificação?

Attílio – Atuando junto comos moços, através de reuniões e en-contros. Participei de muitos con-gressos da USE e das reuniões doConselho Deliberativo Estadual,que se realizavam na rua SantoAmaro, 362, como dirigente, cola-borador ou mero assistente.

Participei no órgão distrital daUSE, no órgão regional e na Dire-toria Executiva.

P. – Em que período integroua Diretoria da USE?

Attílio – Minha participaçãona Diretoria Executiva da USE foia partir da gestão 1968/70, até aatual gestão, 2003/06, embora comalguns intervalos e em diferentesfunções.

P. – Qual é a dimensão, ou seja,o número de Centros e de EntidadesAssistenciais Espíritas em São Paulo?

Attílio – A USE conta hojecom 1.254 sociedades unidas, agru-padas em 104 órgãos locais (muni-cipais, intermunicipais e distritais),e com 24 órgãos regionais. Cadaórgão possui um Conselho Delibe-rativo, constituído de representan-tes das Casas Espíritas, e de umaComissão Executiva com 5 mem-bros, aproximadamente.

P. – O trabalho de unificação

em São Paulo funciona de formadescentralizada, com as USEs Mu-nicipais e Regionais?

Attílio – A USE, por ter umaadministração “horizontal” e não“vertical”, obviamente tem maioresdificuldades na preparação de seusdirigentes, que alcançam em média600.

A USE foi e continua sendoum desafio também na sua área administrativa.

P. – Desde sua participaçãoinicial no Conselho Federativo Na-cional, como avalia a evolução domesmo?

Attílio – Avalio o progresso doCFN comparando suas reuniões dehoje – realizadas com cem por cen-to de freqüência e com uma pautarica em conteúdo –, com o CFNdos seus primórdios, quando reali-zava suas reuniões no Rio de Janei-ro, muitos Estados fazendo-se pre-sentes através de procuradores. Con-sidero essa evolução um enormesalto de qualidade e quantidade,uma grande conquista do trabalhofederativo nacional.

P. – Que ação considera prio-ritária para favorecer a difusãodoutrinária?

Attílio – União e Unificação. Aunião de sentimentos e a unificaçãode propósitos e de recursos nos da-rão condições de promover umaeficiente difusão doutrinária, não sóno País como no Exterior.

A prioridade da União e da UnificaçãoAttílio Campanini, Presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, comenta

o trabalho de unificação no Estado e a evolução deste labor em nível do CFN.

Attílio Campanini

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Reformador/Fevereiro 2004 15

Olivro Paulo e Estêvão de au-toria do Espírito Emmanuel,psicografia de Chico Xavier,

certamente é um dos que ocupamas primeiras posições na lista dosmelhores da literatura espírita. To-do o livro é maravilhoso, com pas-sagens belíssimas e emocionantes.O trecho em epígrafe, porém, tal-vez seja o mais importante de todaa obra. Ele figura na Segunda Parte,capítulo IV (“Primeiros laboresapostólicos”), no qual Paulo de Tar-so empreende na companhia deBarnabé, discípulo de Simão Pedro,as suas primeiras caminhadas de di-vulgação da Boa Nova de Jesus.Barnabé falava a Paulo sobre o fun-cionamento da igreja cristã deJerusalém (então sob o comando

do apóstolo Pedro), das suas di-ficuldades no atendimento aosinúmeros necessitados, bem comodos atritos com os judeus conver-tidos ao Cristianismo, mas quetraziam consigo variados resquíciosdas práticas ritualísticas judaicas.Neste ponto do diálogo fraternal,Paulo diz, comovido, ao amigo:

“– Tenho uma idéia que parecevir de mais alto (...).

– Suponho que o Cristianismonão atingirá seus fins, se esperarmostão-só dos israelitas anquilosados noorgulho da Lei. Jesus afirmou queseus discípulos viriam do Oriente edo Ocidente. Nós, que pressentimosa tempestade, e eu, principalmente,que a conheço nos seus paroxismos,por haver desempenhado o papel de

verdugo, precisamos atrair esses dis-cípulos. Quero dizer, Barnabé, quetemos necessidade de buscar os gen-tios onde quer que se encontrem. Sóassim reintegrar-se-á o movimentoem função de universalidade.” *

Ante o espanto de Barnabé,Paulo ponderou de modo conciso:

– “É natural prever com issomuitos protestos e lutas enormes; noentanto, não consigo vislumbraroutros recursos. (...)” *E continua oesclarecimento através do trechocitado em primeiro lugar. >

A extraordinária percepção dePaulo de Tarso

Bartolomeu Márcio de Souza

53

“(...) Não é justo esquecer os grandes serviços da igreja de Jerusalém aospobres e necessitados, e creio mesmo que a assistência piedosa dos seus traba-lhos tem sido, muitas vezes, sua tábua de salvação. Existem, porém, outros se-tores de atividade, outros horizontes essenciais. Poderemos atender a muitosdoentes, ofertar um leito de repouso aos mais infelizes; mas sempre houve ehaverá corpos enfermos e cansados, na Terra. Na tarefa cristã, semelhante es-forço não poderá ser esquecido, mas a iluminação do espírito deve estar emprimeiro lugar. Se o homem trouxesse o Cristo no íntimo, o quadro dasnecessidades seria completamente modificado. A compreensão do Evan-gelho e da exemplificação do Mestre renovaria as noções de dor e sofri-mento. O necessitado encontraria recursos no próprio esforço, o doentesentiria, na enfermidade mais longa, um escoadouro das imperfeições;ninguém seria mendigo, porque todos teriam luz cristã para o auxíliomútuo, e, por fim, os obstáculos da vida seriam amados como corrigen-das benditas de Pai amoroso a filhos inquietos.” Paulo de Tarso (Do livroPaulo e Estêvão*.) [Os grifos são meus.] Apóstolo Paulo de Tarso

ElG

reco

*XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão, pelo

Espírito Emmanuel. 1a

ed. especial, Rio de

Janeiro: FEB, 2002, cap. IV, p. 352-353.

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> Percebes, caro leitor, a impor-tância dos trechos destacados?Provavelmente, se o Cristianismonão houvesse ultrapassado as fron-teiras de Jerusalém e conquistadoos estrangeiros, teria sido sufocadopelos rigores das práticas judaicasque pouco a pouco desvirtuariampor completo a pureza primitivado Evangelho. E quem poderádizer se hoje estaríamos aqui deposse dos ensinos do Cristo? Essaexpansão não impediu certos des-virtuamentos da mensagem purade Jesus, mas proporcionou quemuito fosse (como realmente foi)preservado.

A fala de Paulo a Barnabé de-monstra a extraordinária visão doconvertido de Damasco e justifica oespanto do amigo. Paulo sintetiza,em poucas palavras, todo um roteiropara o seguidor do Cristo, ou seja, oprocesso de auto-iluminação, noqual o cristão sincero se encontraráconsigo mesmo, com o Ser Crísticoque é, num processo de autoco-nhecimento ou autodescobrimento.Constitui também um roteiro parao movimento cristão... Reflitamos: oque é mais importante: o pão para ocorpo ou o pão espiritual? A as-sistência material ou a iluminação doEspírito? Qual a ênfase dada nasatuais Casas Espíritas nos dias de ho-je, à cura do corpo perecível ou à cu-ra do Espírito imortal?...

As palavras de Paulo ainda ho-je são um desafio para todos nós.Com raras e valiosas exceções, oprocesso de auto-iluminação aindanão constitui prioridade em nossasvidas, ainda não trazemos a men-sagem cristã totalmente em nossoíntimo e, por isso, ainda temos ati-tudes de mendigos espirituais pe-rante a grandiosidade da vida.

16 Reformador/Fevereiro 200454

Repetidas vezes deparamoscom a palavra vicissitude pa-ra expressar apenas sofrimen-

tos, dificuldades e revezes que atin-gem as pessoas no curso de suasvidas. Vocábulo de origem latina,significa, também, as alternativasdos fatos e acontecimentos queocorrem com a vida das pessoas ecom as coisas. São mutações queacontecem, nem sempre retratandoreve-zes ou males.

Sob o ponto de vista moral ereligioso, as vicissitudes têm outraconceituação. Em face da Lei daReencarnação, pode significar e re-presentar resgates, provas e ex-piações. Diante dos princípios decausa e efeito ou de ação e reaçãopodem ser o efeito de nossos pró-prios atos praticados na mesma exis-tência ou em vidas pretéritas; é ne-cessário, portanto, que o Espíritoque os praticou responda por eles,para que possa progredir. É essarazão, sem dúvida, pela qual as afli-ções e atribulações das pessoas estãoincluídas no majestoso Sermão dasBem-aventuranças no qual o Divi-no Mestre lega para a eternidade asverdadeiras lições da alma imortal.

Por sua vez, o outro Consola-dor, que Jesus nos enviou para com-plementar Seus ensinamentos, cla-reia não apenas a via da evolução,mas, também, o Espírito, propor-

cionando-lhe condições para a con-quista das virtudes que lhe dão se-gurança nas trilhas do destino. En-sina, outrossim, exuberantemente,que as vicissitudes de toda ordem,sejam elas alterações ou dificulda-des, são, antes de tudo, instrumen-tos da Justiça e da Misericórdia Di-vinas para impulsionar o progressodas criaturas.

Mostra, assim, a Doutrina Es-pírita a verdadeira razão da vida, deonde viemos e nossa destinação.Alerta a criatura para o aproveita-mento das oportunidades de amar,de servir e de aprimorar-se, adver-tindo-a, ainda, contra as práticasdas faltas e deslizes que a atrelam areparações penosas.

A vida é um constante desafioà superação de dificuldades e per-manente convite à prática do beme à libertação da ignorância.

A Humanidade já está capaci-tada a ouvir e entender as lições deJesus, ministradas há 2.000 anosnos sítios da Palestina. O progressointelectual e as luzes do Espiritismopermitem ao homem alcançar asverdades eternas sem o véu da letrano qual estavam envoltas naquelestempos. As dificuldades atuais paraa prática das recomendações cristãspodem ser resumidas pelo entra-nhado sentimento de egoísmo e deorgulho no coração humano e pelainfluência avassaladora da matéria,dos interesses materiais sobre a pes-soa. O Espírito imortal, além dasamarras do corpo físico, está prisio-neiro dessas influências.

VicissitudeWashington Borges de Souza

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O Espiritismo não é apenasuma religião entre os homens. Éum movimento de conscientizaçãoem torno das verdades eternas, oqual possibilita ao homem ter aces-so a elas, aprofundar o conheci-mento das leis naturais. Foi trazi-do à Terra sob a égide de Jesus, porintermédio de Espíritos que lheensejaram o próprio nome, emprocessos mediúnicos conduzidospor Allan Kardec e com a efetivaparticipação dessa alma grandiosa,cuja vida foi dedicada à edificaçãodessa obra portentosa. Não é, por-tanto, trabalho executado por per-sonalidade individual que lhe des-se o nome, mas resultado do es-forço conjunto de participantesque receberam a divina missão deexecutá-lo.

Algumas vezes, ouvimos desimpatizantes do Espiritismo e atéde adeptos, que não podem serconsiderados espíritas em razão deainda serem muito imperfeitos, co-mo se somente pudéssemos ser es-píritas se já estivéssemos livres dasinferioridades. Tal posicionamen-to se deve à modéstia ou ao desco-nhecimento dos verdadeiros obje-tivos da Doutrina. Nós, que car-reamos ainda muitas imperfeições,somos os que mais necessitamosdo amparo dela, de nos aproximarde seus postulados, de ser seuspartidários sinceros. Se perfeitos,não necessitaríamos tanto estar sobo seu abrigo. O Consolador visa,precisamente, a aproximar o ho-mem de Deus para que cada um denós possa corrigir os próprios er-ros, tornando-se mais fraterno ecaridoso, procurando ser mais hu-milde. Por isso, o próprio Espiri-tismo nos lembra: “(...) Reconhece--se o verdadeiro espírita pela sua

transformação moral e pelos esfor-ços que emprega para domar suasinclinações más.” (O Evangelho se-gundo o Espiritismo, cap. XVII,item 4.)

O Espiritismo jamais exige dealguém prova de pureza para ingres-so em suas ações e atividades. Pelocontrário, faz um amorável conviteao ser humano de qualquer condi-ção para que conheça as Leis Divi-nas e pratique as recomendações damoral cristã. Para isso, dirige-se di-retamente à razão e ao coração pa-ra conduzi-lo ao Criador, a uma vi-da digna, consciente, sábia e feliz. Aninguém impõe restrições e pu-nições. São de sua essência a conso-lação e o esclarecimento. Ensinaque o ser humano é o único naCriação que desfruta de liberdade nacondução de sua vida e tem, portan-to, de responder pelas conseqüências

de seus atos e ações. Mostra-lhe aobrigação de ajudar na Obra Divi-na mas que pode, também, usufruirdas grandezas e das belezas do Uni-verso.

A vista panorâmica da estradahumana, na Terra, dá-nos a idéiaprecisa de que, do berço ao túmu-lo, a pessoa está sujeita a dores e so-frimentos de variada natureza. Nós,Espíritos encarnados e desencarna-dos, somos imortais. Tribulações,adversidades e vicissitudes são sem-pre passageiras.

Jamais devemos esquecer que aluz do sol de cada manhã deveacender em nossa alma, no dia nas-cente, a esperança, mesmo que oshorizontes do mundo e da vida es-tejam nublados pelos sofrimentosmais atrozes, porque o Senhor daVida nunca abandona nenhum deSeus filhos.

Reformador/Fevereiro 2004 1755

Se eu não servir...Paulo Nunes Batista

Se eu não servir, não sirvo para nada e joguei fora os dias da existência.Se eu não levar amparo à indigência,sou a garra que a tem encarcerada.

Servir, com todo o Amor, Benevolênciaque estende a mão a uma alma amarguradae a deixa pelo Amor iluminadaalém das crenças, muito além da Ciência.

É só para servir que enfim existo.Quem me guia no Bem é Jesus Cristo,que entronizei no próprio coração.

E é no mister de Luz do meu Serviçoque me ilumino do sagrado Viçoque muda em luzes toda Escuridão...

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As células físicas do corpo agru-pam-se no campo energéticoperispiritual e formam, atra-

vés do comando mental do Espíri-to reencarnante, a sua aparência fí-sica que prevalecerá na vida terrena.

Malgrado o desconhecimentoque sinaliza ainda a maioria da Hu-manidade a respeito da morte, estaabre novos horizontes existenciaispara o Espírito, cuja atividade nãocessa ao deixar a sua indumentáriacarnal.

As circunstâncias apresentam--se mudadas, mas sempre obede-cendo a um mecanismo evolutivo,no tempo e no espaço, sem o míni-mo aniquilamento da vida na suaacepção real.

O corpo carnal é colhido pelotúmulo após vencer mais uma eta-pa – a física –, descerrando umaoutra, bem mais real – a espiritual– na sua peculiar expressividade.Desta forma, morrer, falecer é umtransladar-se de freqüência vibracio-nal, mas, o Espírito continua mer-gulhado na vida, a qual existia an-tes do berço e prosseguirá depois dotúmulo.

Há, nesse processo desencarna-tório, em verdade, uma desestrutu-

ração molecular que expulsa, por is-so mesmo, o Espírito do seu seio,por este não dispor mais das ener-gias vitalizantes que circulam pelamassa sangüínea, sob o comandoautomático do perispírito dirigidopelo Espírito. Desorganizando-se aforça de atração das células, a ener-gia pensante perde a sua condiçãode manter-se ligada à matéria e al-ça vôo às paragens espirituais aindatão malcompreendidas por nós.

A morte vai-se constituindo,para nós espíritas principalmente, edepois para os demais, na porta quese abre para a plenitude da vida.Deriva daí a necessidade de bemaproveitarmos os instantes aqui,disponibilizados por Deus, para orefazimento de nossos enganos dopassado.

Torna-se, é bem verdade, ne-cessária a compreensão do sentidoreal da vida física, suas finalidades,a fim de que nos conscientizemosdos objetivos a serem alcançados, enos disponhamos ao tentame comfé e determinação.

A finalidade da estância terres-tre é ensejar ao Espírito a aquisiçãode importantes experiências, apri-morá-las sob uma visão cristã e,desta forma, crescer em amor esabedoria.

Saibamos da existência da lei decausalidade, segundo a qual as nos-sas ações haverão de gerar reações

equivalentes, as quais se revestirãode liberdade ou aprisionamento, go-zo ou desconforto, alegria espiritualou sofrimento material-moral-espi-ritual, dependendo da qualidadeboa ou má de nossos atos.

Jesus já deixou às nossas medi-tações que o Reino de Deus, a serpor nós alcançado, não haveria dechegar com aparências exteriores,implicitamente mostrando que se-ria fruto de um esforço todo inte-rior de renovação.

Joanna de Ângelis, em váriasde suas mensagens, sempre tão ricasde conteúdos e fartas de elucida-ções, convida a nos prepararmos,todos os dias, para o momento danossa desencarnação e a dos nossosentes queridos.

Com sua sabedoria sugere que,se nossos dias forem longos aqui, fa-çamos deles um “ministério deamor” que naturalmente rutilará naImortalidade de forma luminífera,abençoando a nossa vida.

Relevante, mais e mais, consi-derarmos o ato de morrer comtranqüilidade, sem medo ou horrorinjustificáveis, pelo fato de a vida,em sendo momentos de bênçãos,passagem à vida espiritual, pela por-ta da desencarnação, é fase comple-mentar de uma renovação que seestá processando em toda a nossaexistência, tanto no âmbito físicoquanto no espiritual.

Apenas um fenômenobiológico

Adésio Alves Machado

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Sendo o período de vida nocorpo físico doloroso, marcadopor aflições, só temos que agrade-cer a Deus esse estágio de provas eexpiações. Todavia, sendo ela boae feliz, facultemos aos demais,dentro de nossas possibilidades,fruí-la também, dividindo aquiloque desfrutamos no momento.Por um motivo inamovível, cedodeixaremos tudo e para o Além

somente levaremos o bem queaqui realizarmos.

Diante dos entes queridos de-sencarnados, recordemo-los resig-nadamente, orando por eles, fazen-do o bem em sua memória. Não hámotivo para nos afligirmos em de-masia com a sua ausência, tendoem vista que em breve a eles nosjuntaremos, porque a morte nãopassa de um fenômeno biológico.

Reformador/Fevereiro 2004 1957

Em nome do amor, deixou planta-da a portentosa semente que foiposteriormente regada por Henri-que Dunant, materializada na por-tentosa instituição “Cruz VermelhaInternacional”.

O que sobrou a Hellen Kellerfoi determinação e coragem ro-busta para vencer as suas limita-ções físicas (era surda, muda e ce-ga de nascença). Um dia, Kellerconseguiu falar e falou como nin-guém. Seu vigor moral fê-la pro-jetar-se no cenário do mundo,dando-lhe características de umasingular mulher. Seu verbo infun-dia ao homem a necessária refle-xão sobre o quanto somos poten-cialmente ilimitados quando ama-mos a vida. Por isso, foi conside-rada uma das dez mulheres maisimportantes dos Estados Unidos,no século XX.

Certa ocasião, o jornalista Ha-rold Gibson disse: “Por onde MissEartha andava, os famintos, aflitose desamparados de todas as idadessentiam a sua presença compassivae animadora.” Referia-se a EarthaMary Magdalene White, uma ver-dadeira lenda no norte da Flórida,Estados Unidos. Ela fundou umaInstituição de amparo ao negroamericano. Eartha desencarnou em1974, com 95 anos de idade, dei-xando um segredo para vivermos agrande mensagem do Evangelho:“Façam todo o bem que puderem,de todos os modos, em todos os lu-gares para todas as pessoas enquan-to puderem.”

Em verdade, a cada instanteque vivemos, a cada minuto que seesvai nos báratros do dia-a-dia,construímos nosso destino e escre-vemos nas páginas da vida a histó-ria que nos é peculiar.

Otempo é implacável, sagradoe transformador de destinos.Alguns não lhe atendem o

chamado – envelhecem e nadarealizam. Outros, ao contrário,consolidam em si a fé verdadeira,entronizam o amor ao próximocomo forma de se eximirem dasruidosas propagandas da falsa vir-tude.

O filósofo francês Alexis Car-rel afirmava: O importante não éacrescentar anos à sua vida, masvida aos seus anos. Estribado nesseaxioma, destacamos alguns perso-nagens da História que, ao acres-centarem vidas aos seus anos, traça-ram linhas retilíneas sobre painéisemoldurados com excelsa virtudecristã.

Recordemos David Livingsto-ne que, no século XIX, entoou osdúlcidos cânticos evangélicos paraos negros sul-africanos após ter es-tereotipado belíssimos contos lite-rários que o colocaram ao lado deexpoentes da literatura mundial, aexemplo de Victor Hugo.

Livingstone renunciou à ri-balta da fama, abandonou a Es-cócia, sua terra natal, e juntou--se àquelas almas sofredoras, nas-cidas na mais acérrima misériamaterial.

A vida não passou em vão nasestradas de Florence Nightingale, afamosa “Dama da Lâmpada”, queenvergou a túnica da renúncia,afastando-se do convívio do faustopara abraçar voluntariamente a ár-dua tarefa de cuidar das vítimas daGuerra da Criméia no final do sé-culo XIX, e acolheu junto ao seucoração muitas vítimas, sem a preo-cupação de qual sua nacionalidade.

Sabedoria do bem viver

Jorge Hessen

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Leão Tolstoi, sábio que viveu nofinal do século XIX e início doXX, também chamado de “o

apóstolo russo”, escreveu incontá-veis livros durante sua vida. Osmais famosos no Ocidente sãoGuerra e Paz e Anna Karenina, es-critos na primeira fase de suavida e que lhe trouxeram famainternacional. Mas, a partir doscinqüenta anos, ele entra emgrande “crise” existencial, queo faz questionar sua vida até alie toda sua extensa obra, com-posta de novelas, contos e ro-mances monumentais. Consi-derou que tudo era fruto davaidade e de interesses mun-danos, quando falava dos pro-blemas dos homens, mas semlhes apontar um caminho se-guro de felicidade. O suicídiode uma de suas heroínas maisfamosas, tornando moda na Euro-pa esta fuga infeliz, causou-lhe arre-pendimento e grande desgosto. Ini-ciou então sua fase apostólica,escrevendo como nunca, comba-tendo as guerras, a manutenção dosexércitos em tempos de paz e o ser-viço militar obrigatório. Fez críticascorajosas às igrejas em geral e à Igre-ja Ortodoxa russa em particular,acusando-as por seus interesses pu-ramente materiais, ligando os ho-

mens a rituais vazios e afastando-os,cada vez mais, do verdadeiro Cris-tianismo. Tolstoi pregou a igualda-de entre os homens e a solidarieda-de, como veículo para se atingir estefim.

O livro O reino de Deus estáem vós é uma síntese destas idéias,nascidas na propriedade rural doautor, em Iasnaia Poliana. A obraganhou o mundo, causando grandecontrovérsia. Os conservadores, das

instituições dos governos e igrejas,o condenaram, vendo seus interes-ses ameaçados; os críticos literárioso ignoraram, considerando-o frutodo trabalho de um homem senil;mas as pessoas de espírito aberto emente progressista o receberamcom o respeito e consideração devi-dos. Perceberam um sopro de vidanos assuntos religiosos, antes enri-jecidos na tradição e na letra mor-ta. Sentiram a mensagem de paz e

fraternidade entre todos os povos, ase irradiarem das páginas do livro eque, se acatadas, teriam evitado ashecatombes da Revolução Russa edas Grandes Guerras, que se segui-ram no século XX.

Defensor da natureza, do vege-tarianismo e da não-violência, Tols-toi serviu de inspiração e modelo aum outro grande homem, que na-quele momento dava os primeirospassos na criação de um movimen-

to que iria mudar o mundo:Gandhi e a Ahimsa.

Muito mais que um sim-ples teórico de idéias utópicas,o grande escritor russo viven-ciou o Cristianismo dos pri-meiros tempos, que ele tantodefendia. Fundou escolas paracamponeses e restaurantes po-pulares. Abriu mão de seus di-reitos sobre a propriedade ruralem benefício da esposa e dosfilhos, o que lhe valeu um fim,aos oitenta e dois anos, aban-donado numa estação de trem.

Excomungado pela igrejade seu país, Tolstoi defendeu abusca de Deus na vida simples docampo, no amor a todos os seres,no confronto ativo ao mal e à vio-lência, através do bem, da carida-de e da não-violência. Avesso aoscultos exteriores, ensinou que ca-da homem deve procurar a divin-dade no mais recôndito de seupróprio ser, não num isolamentoegoísta, mas na convivência frater-na e solidária.

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O Reino de Deus está em vósFábio Henrique Ramos

Leão Tolstoi

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Entendamo-nos“Mas, sobretudo, tende ardente caridade

uns para com os outros.” – Pedro. (I Pedro, 4:8.)

Não existem tarefas maiores ou menores. Todas são importantes em signifi-cação.

Um homem será respeitado pelas leis que implanta, outro será admirado pe-los feitos que realiza. Mas o legislador e o herói não alcançariam a evidência em quese destacam, sem o trabalho humilde do lavrador que semeia o campo e sem o es-forço apagado do varredor que contribui para a higiene da via pública.

Não te isoles, pois, no orgulho com que te presumes superior aos demais.

A comunidade é um conjunto de serviço, gerando a riqueza da experiência. Enão podemos esquecer que a harmonia dessa máquina viva depende de nós.

Quando pudermos distribuir o estímulo do nosso entendimento e de nossa co-laboração com todos, respeitando a importância do nosso trabalho e a excelênciado serviço dos outros, renovar-se-á a face da Terra, no rumo da felicidade perfeita.

Para isso, porém, é necessário nos devotemos à assistência recíproca, com ar-dente amor fraterno...

Amemos a nossa posição na ordem social, por mais singela ou rudimentar, em-prestando ao bem, ao progresso e à educação as nossas melhores forças.

Seremos compreendidos na medida de nossa compreensão.

Vejamos nosso próximo, no esforço que despende, e o próximo identificar--nos-á nas tarefas a que nos dedicamos.

Estendamos nossos braços aos seres que nos cercam e eles nos responderão como melhor que possuem.

O capital mais precioso da vida é o da boa-vontade. Ponhamo-lo em movi-mento e a nossa existência estará enriquecida de bênçãos e alegrias, hoje e sempre,onde estivermos.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. 28. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. 122,p. 277-278.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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“(...) Sei haver muitos quedizem ser positivo o presen-te e incerto o futuro. Ora, es-ta exatamente a idéia que es-tamos encarregados de eli-minar do vosso íntimo, vistodesejarmos fazer que com-preendais esse futuro, demodo a não restar nenhumadúvida em vossa alma (...).”Santo Agostinho (O Livrodos Espíritos, q. 919a, Ed.FEB.)

Muitos irmãos de outras cren-ças religiosas negam que os“mortos” se comuniquem

ou se preocupem com os “vivos”;que venham em auxílio destes paraajudá-los em suas dificuldades. Va-lem-se, dessa forma, de certas pas-sagens bíblicas para justificar tal im-possibilidade: “Os mortos nãosabem coisa nenhuma” (Eclesiastes,9:5) ou “Mortos não tornarão aviver, sombras não ressuscitam”(Isaías, 26:14).

A Doutrina Espírita narra, eminúmeras obras, que não só os “mor-tos” nos auxiliam como igualmentenos influenciam decisivamente, co-mo podemos verificar na obra bási-ca O Livro dos Espíritos, questão459: “Influem os Espíritos [desen-

carnados] em nossos pensamentos eem nossos atos? R. – “Muito mais doque imaginais. Influem a tal pontoque, de ordinário, são eles que vosdirigem.”

Mas, apesar desta negação, os“mortos” sempre se manifestaram.Santo Agostinho (354-430 d.C.),filósofo cristão de inspiração platô-nica e um dos Pais da Igreja, não ig-norava tal interferência e nos narra,em uma de suas obras (Agostinho,1990), casos interessantes sobre es-sas “aparições”, em especial, duran-te o sono. Nega a possibilidade des-sas visões serem falsas, pois iria deencontro ao testemunho de diver-sos autores cristãos antes dele. Emvista disso questiona: “O que há,pois, de espantoso, se os mortos semnada saberem ou sentirem, sejamvistos em sonhos pelos vivos e digamcoisas das quais, ao acordarem, reco-nheçam ser verdade?” (Idem, p. 44.)

Agostinho acredita que esses“mortos” apareçam devido a media-ção dos “anjos”, que permitem ouordenam que venham manifestar-seaos homens e não por sua própriavontade. Para ilustrar bem estesacontecimentos, narra um fato in-teressante:

“Um credor reclamava o paga-mento de uma dívida e exibiauma cautela assinada por se-nhor recém-falecido ao filhodeste, que ignorava ter o pai jápago o empréstimo. O jovem es-

tranhava seu pai não ter comu-nicado nada acerca dessa dívi-da, apesar do testamento ter si-do redigido. Em sua extremaansiedade, eis que vê seu paiaparecer-lhe em sonho e indicaro lugar em que se encontrava orecibo que anulava a cautela.Tendo-o encontrado, mostra-oao credor e não somente anulaa reclamação mentirosa, comorecupera o documento assinado,que não fora devolvido no mo-mento do pagamento da dívidapor seu pai.” (Idem, p. 45.)Agostinho não só narra este fa-

to de a “alma do defunto” ter sepreocupado com o filho e vir ao seuencontro, enquanto dormia, paracomunicar o que este ignorava e as-sim tirá-lo de séria dificuldade, co-mo também conta outro aconteci-mento envolvendo agora sua pessoa:

“Na mesma época, quando eumorava em Milão (Itália), su-cedeu a Eulógio, meu discípuloe professor em Cartago (norteda África), o seguinte acon-tecimento. Seu curso se desen-volvia sobre as obras retóricasde Cícero. Ao preparar sua li-ção para o dia seguinte, deteve--se sobre passagem obscura. Ora,eis que eu lhe apareço duranteo sono e explico-lhe as frasesque não chegava a compreen-der (...). Encontrava-me eu,bem longe, ocupado em outro

Santo Agostinho e o cuidadodevido aos mortos

João Luiz Romão

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trabalho e não sentindo nenhu-ma preocupação com as dificul-dades dele.” (Idem, p. 45.)Este caso já é um tanto dife-

rente do anterior, pois Agostinho seencontrava vivo, ou melhor, encar-nado. O que mostra não só a preo-cupação dos “mortos” em ajudarcomo também dos “vivos”. O pró-prio Agostinho se questionava co-mo se produziriam esses fenô-menos. E responde a nós, seusleitores, em determinada altura dolivro: “– Ignoro!”.

Mas, passados mais de 14 sécu-los, volta ele mesmo, Santo Agosti-nho, do “reino dos mortos”, revelar,através das obras da Doutrina Espí-rita, como esses supostos mortos in-terferem no mundo dos vivos, comlições altamente profundas. Erasto,discípulo de Paulo, comenta naobra O Evangelho segundo o Espi-ritismo, cap. I, item 11, sobre a per-sonalidade de Santo Agostinho:

“Santo Agostinho é um dosmaiores vulgarizadores do Es-piritismo. Manifesta-se quasepor toda parte. A razão disso,encontramo-la na vida dessegrande filósofo cristão. Perten-ce ele à vigorosa falange dosPais da Igreja, aos quais devea cristandade seus mais sólidosesteios (...). Podem ler-se, nasnotáveis confissões que esseeminente espírito deixou, ascaracterísticas e, ao mesmotempo, proféticas palavras queproferiu, depois da morte deSanta Mônica: ‘Estou conven-cido de que minha mãe mevirá visitar e dar conselhos,revelando-me o que nos espe-ra na vida futura’. Que ensi-namento nessas palavras e queretumbante previsão da dou-

trina porvindoura! Essa a ra-zão por que hoje, vendo chega-da a hora de divulgar-se a ver-dade que ele outrora pressen-tira, se constituiu seu ardorosodisseminador (...).” – Erasto,discípulo de S. Paulo. (Paris,1863.)

Nota de Kardec – Dar-se-ávenha Santo Agostinho demoliro que edificou? Certamente quenão. Como tantos outros, ele vêcom os olhos do espírito o quenão via enquanto homem. Li-berta, sua alma entrevê clari-dades novas, compreende o queantes não compreendia. Novasidéias lhe revelaram o sentidoverdadeiro de algumas sen-tenças. Na Terra, apreciava ascoisas de acordo com os conhe-cimentos que possuía; desdeque, porém, uma nova luz lhebrilhou, pôde apreciá-las maisjudiciosamente (...). Agora queo Cristianismo se lhe mostra emtoda a pureza, pode ele, sobrealguns pontos, pensar de mododiverso do que pensava quandovivo, sem deixar de ser umapóstolo cristão. Pode, sem rene-gar a sua fé, constituir-se disse-minador do Espiritismo, porquevê cumprir-se o que fora predi-to. Proclamando-o, na atuali-dade, outra coisa não faz senãoconduzir-nos a uma interpreta-ção mais acertada e lógica dostextos (...).” (Destaques nossos.)E especificamente quanto aos

“mortos”? O que nos diz hoje,Agostinho, Espírito, sobre essa rela-ção entre “mortos” e “vivos”? Estãodistantes, ignorando o que aconte-ce aqui na Terra? É o próprio quemnos diz em comunicação que cons-ta na Revista Espírita, editada por

Allan Kardec, do ano de 1864, emSessão Comemorativa na Socieda-de de Estudos Espíritas de Paris:

“(...) elevastes vossas almaspara Deus, por todos os quepartiram da terra; lançastessuaves lembranças ao passadoe, neste presente, não vos sentismais fortes? Não sentistes, hápouco, enquanto vossas almassubiam ao céu, num impulsocomum, o quente hálito de ou-tras almas misturando suaspreces às vossas? (...).

Ah! vossos caros mortos nãoesperam este dia para vir a umde vós; agora mesmo não os sen-tis se comprimindo ao vosso la-do, e vos dando, por essa vozque chamais consciência, os se-gredos castos e divinos do dever?Não os sentis aproximarem-sebastante em vossas horas de tris-teza e de desfalecimento? Elesvos dizem: Coragem! e sobretu-do a vós, Espíritas, eles vos mos-tram o céu e as inumeráveis es-trelas que rolam sobre o céuazul, em sinal de aliança entreo Senhor e vós.

(...) vêm dizer-vos o que eumesmo disse: que a morte nãorompe os laços do coração e queas uniões se continuam noalém-túmulo.” (Grifo nosso.)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AGOSTINHO, Santo. O Cuidado Devido aosMortos (original De cura pro mortus gerenda,ano de 421 d.C.). São Paulo: Paulinas, 1990,p. 44-45.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1995, q. 459.

_____. O Evangelho segundo o Espiritismo. 108.ed., Rio de Janeiro: FEB, 1994, cap. I, item, 11.

_____. Revista Espírita (dezembro de 1864).Sobradinho-(DF) Edicel, 1985, p. 365-366.

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Uma solenidade na sede daFederação Espírita Brasileira(FEB), em Brasília, assinalou,

no dia 4 de janeiro passado, o iní-cio das comemorações do Bicente-nário de Nascimento de Allan Kar-dec e os 120 anos de existência daFEB. Centenas de pessoas participa-ram do evento e espíritas de quatropaíses assistiram à transmissão aovivo pela Internet.

A programação comemorativainiciou-se com a apresentação doCoral Espírita Irmão Saulo Urias(COESU), do Centro Espírita Portalda Luz, de Brasília (DF). O Coral,que tem como regentes Andréa Du-si e Rafael Silva, cantou cinco pe-ças musicais, entre elas Aleluia, de

Wolfgang Mozart e Gloria, do com-positor italiano Antonio Vivaldi.

Após a prece inicial, o Presi-dente da FEB, Nestor João Masot-ti, lembrou a personalidade de Al-lan Kardec, destacando sua biogra-fia exemplar, e sua dedicação àDoutrina Espírita, e louvando a al-ta qualidade de seu trabalho, tantocomo Codificador do Espiritismoquanto como professor em Paris.“As comemorações do Bicentenáriode Allan Kardec devem estimular--nos a conhecer e estudar mais pro-fundamente a vida e a obra do Co-dificador”, disse.

O Presidente assinalou que em2004 serão comemorados os 140anos de lançamento de O Evangelho

segundo o Espiritismo: “Nós, espíri-tas, devemos aproveitar esta opor-tunidade para promover ainda maisestudos do Evangelho, elegendo suaprática como roteiro de vida.”

O Presidente rememorou o es-forço da Federação Espírita Brasilei-ra, em seus 120 anos de existência,no sentido de estudar, divulgar e pra-ticar a Doutrina Espírita com fideli-dade aos postulados da CodificaçãoKardequiana e à mensagem de Jesus.Reiterou a intenção da Casa em am-pliar a divulgação da Doutrina atra-vés do livro, “de forma a propiciar atodas as criaturas o acesso facilitadoàs obras espíritas”. O Presidente agra-deceu aos trabalhadores da Casa, co-nhecidos e anônimos, que contri-

buíram para o cres-cimento e a consoli-dação do trabalhoda FEB, e destacou aamizade fraternal queune Divaldo PereiraFranco à Federação.

Em uma confe-rência, que emocio-nou profundamenteo público, DivaldoFranco traçou umalinha cronológica quese iniciou com Jesuse estendeu-se aos diasatuais, culminandocom uma reflexão so-bre a responsabilida-de dos espíritas pe-rante o legado deAllan Kardec.

FEB comemora 120 anos fazendo homenagem a Kardec

Aspecto da Mesa quando falava o Presidente Masotti

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Pela terceira vez a FEB transmitiu umevento ao vivo através da Internet. Sessentainternautas de onze Estados brasileiros –além de três da Espanha, dois dos EstadosUnidos e cinco do Japão – assistiram à sole-nidade e elogiaram a qualidade do áudio e daimagem. Entre estes estavam Salvador Martín,Presidente da Federação Espírita Espanhola,e diversos trabalhadores do IRC-Espiritismo,entidade de divulgação da Doutrina Espíritana Internet. O evento foi transmitido pelosistema de comunicação interativo Tivejo(Categoria Educação/Espiritismo).

Integraram a Mesa o Presidente da FEB,Nestor João Masotti; a Vice-Presidente Ce-cília Rocha; o Presidente da Federação Espí-rita do Distrito Federal (FEDF), João de Je-sus Moutinho; Antonio Cesar Perri de Car-valho, que representou a Comissão instituí-da pelo Conselho Federativo Nacional paratratar das comemorações do Bicentenário deAllan Kardec; e o conferencista Divaldo Pe-reira Franco. Divaldo Franco proferindo sua palestra

Aspecto parcial do público. Ao fundo (dir.), o Coral Irmão Saulo Urias

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A FEB E O ESPERANTO

Os cerca de 1.800 esperantis-tas de 63 países, reunidosem Gottemburgo, Suécia,

de 26 de julho a 2 de agosto de2003, para a mais alta manifesta-ção do Movimento Esperantistamundial, trataram do tema “Di-reitos lingüísticos e responsabili-dades”.

Examinado e debatido sobdiversos ângulos, o ponto alto dasabordagens a respeito do proble-ma, que é o principal foco dosesforços dos esperantistas nomundo, situou-se exatamente naalocução com que o Prof. CharlesDurand, da França, especialista eminformática e autor de dois livrossobre a posição da língua inglesa,inaugurou os trabalhos do Con-gresso.

Charles Durand, que (ainda)não é esperantista, desenvolveu, comexpressiva e atualíssima riqueza dedetalhes, o argumento que justificaa existência do Esperanto como aúnica solução justa e racional para oproblema lingüístico: um instru-mento lingüístico para as comuni-cações internacionais não pode enão deve ser uma língua nacional.

Do texto de Charles Duranddestacaremos alguns trechos bastan-te significativos, não obstante aconsciência de que somente a peça

inteira nos pode dar a justa medidade seu valor. Ei-los, em tradução doEsperanto, colhidos em o númerode setembro de 2003 da revista Es-peranto, órgão oficial da AssociaçãoUniversal de Esperanto (Rotter-dam, Holanda):

“Os esperantistas não apenaspromovem o Esperanto, mas tam-bém pleiteiam o direito, comum atodos os povos por sua dignidade,de pensar, trabalhar através de suaslínguas, viver segundo suas própriasculturas, ser o que são, em plenitu-de e sem constrangimentos.”.....................................................

“Hoje, os esperantistas são osúnicos a nos oferecer uma língua

verdadeiramente internacional eacessível a todos. Não vou aquidescrever as vantagens do Espe-ranto, pois todos vocês as conhe-cem melhor do que eu que aindanão falo essa língua. Entretanto,outras vozes nos asseveram que alíngua materna de um grupo,que representa não mais de 6a 7% da população mundial, éo idioma universal, o que nospõe diante de um sério proble-ma. Com efeito, se uma línguanacional é proclamada univer-sal, fica subentendido que as ou-tras línguas não o são. Se umalíngua é superior às demais, na-turalmente está evidenciada a in-ferioridade das demais. A isso sedá o nome de duplicidade dequalificadores, o que configura

algo bastante constrangedor, pois seuma língua é superior às outras,seus falantes, queiramos ou não,são igualmente considerados supe-riores aos que falam as outras lín-guas.”

Muito mais gostaríamos detranscrever do pensamento do Prof.Durand que, com profundidade,clareza e objetividade, evidencia anecessidade de solucionar-se o pro-blema lingüístico à luz dos direitoshumanos, individuais e coletivos,ao mesmo tempo que magistral-mente focaliza as virtudes do Espe-ranto como solução desse proble-ma, assim se constituindo num le-gítimo instrumento de construção

88o Congresso Universal de EsperantoAffonso Soares

Lazáro Luís Zamenhoff

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da paz, da justiça, da liberdade.Mas, a angústia de espaço e a neces-sidade de aqui enfeixar outras notí-cias sobre o evento nos aponta limi-tes que não devemos ultrapassar.

Não faltaram ao Congressoas habituais manifestações da Unes-co e do Dr. Louis C. Zaleski-Za-menhof, neto de Lázaro LuísZamenhof, o criador do Esperanto.

Pela Unesco manifestou-se, emnome de seu Secretário-Geral, o Dr.John Daniel, de cuja saudação des-tacamos o seguinte trecho:

“As línguas são a expressão dacultura de uma coletividade e ins-trumento de preservação dessa cul-tura para as gerações vindouras.Ca-da uma delas revela um modoparticular de perceber a realidade.Há um perigo de que muitas dessaslínguas, protetoras da diversidade,venham a desaparecer daqui a al-guns anos, se não fizermos signifi-cativos esforços no sentido de con-servá-las.

Pelo fato de estimular um mé-todo de comunicação, o movimen-to do Esperanto ajuda a que seconstruam pontes de compreensãoentre diferentes povos e culturas.Com isso, o Esperanto contribui pa-ra a demonstração de que a unida-de na diversidade é possível e ne-cessária.”

Da palavra do Dr. Louis C.Zaleski-Zamenhof, carregada deemoção pessoal, colhemos o se-guinte:

“Temos a esperança de que os re-sultados de nossos debates (...) contri-buirão significativamente para o for-talecimento dos direitos lingüísticos e,conseqüentemente, do direito de todas

as coletividades no mundo a que te-nham, cada uma, a sua própria iden-tidade cultural; direitos cuja proteçãoé o objetivo de nossa língua neutra Es-peranto. Em linha reta, com corageme sem desvios, sigamos na via cons-truída por Zamenhof, a qual conduza uma harmoniosa compreensão en-tre os povos, cujo legítimo direito à di-versidade lingüística não mais sejamotivo para ódios recíprocos, mas seconstitua em preciosa riqueza cultu-ral comum a todos.”

A reunião dos esperantistas-es-píritas, sob a presidência de nossoco-idealista Ismael de Miranda eSilva, também se constituiu emapreciado item da programação do88o Congresso Universal de Espe-ranto, quando aos congressistas pre-sentes foi exposta a substância dou-trinária da obra La Genezo (AGênese), de Allan Kardec, recente-mente lançada pela FEB. Aos parti-cipantes foi ofertado um exemplardo livro, com o que os organizado-res da reunião, além de estender aDoutrina ao entendimento de ir-mãos de outras terras, também te-

ceram laços de fraternidade entreeles e os Movimentos do Esperantoe do Espiritismo no Brasil.

Concluamos, transcrevendo sig-nificativo trecho da obra Memóriasde um Suicida, recebida psicogra-ficamente pela médium Yvonne doAmaral Pereira e que já circula nomeio esperantista em tradução pu-blicada pela Sociedade EditoraEspírita F. V. Lorenz (Caixa Pos-tal 3133 – 20001-970 – Rio deJaneiro-RJ):

“E tais eram as perspectivasque nos acenavam os fatos do cimoglorioso daquela conquista [a possedo Esperanto], que nos sentimostriplicemente irmanados a toda aHumanidade: pelos laços amoráveisda Doutrina do Cristo; pelo bene-plácito da Ciência que nos ilumi-nava o coração e pela finalidade aque nos arrastaria o exercício de umidioma que futuramente nos habi-litaria a nos reconhecermos comoem nossa própria casa, estivéssemosem nossa Pátria ou vivendo no seiode nações situadas nas mais diferen-tes plagas do globo terrestre, comoaté no seio do mundo invisível!”

Trova do AlémDuas certezas na Terra, Certa5oj du sur la Tero,Nas lutas de qualquer nível: 0eestaj en /ia peno:A vida – navegação, Vivo – ja marveturado,A morte – porto infalível. Morto – fatala haveno.

Lívio Barreto

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Trovas do Outro Mundo. Diversos Espíri-tos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992, p. 17.El la libro Troboj el la Transmondo – Diversaj Spiritoj – Mediume skribis Fran-cisco Cândido Xavier. (Eldono FEB.)

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R EFORMADOR de janeiro noti-ciou a desencarnação de nos-so confrade Alberto Noguei-

ra da Gama, ocorrida na madru-gada de 29 de novembro de 2003.

Foi, então, apenas uma brevenotícia. Agora, porém, aqui quere-mos novamente recordar o nossoGama – como todos nós, seus con-frades espíritas da FEB, afetuosa-mente o tratávamos –, lembrandode maneira mais demorada o devo-tado trabalhador que ele foi na sea-ra espírita e acompanhada essa maisdemorada lembrança de nossos sen-timentos de afeto e já, agora, deverdadeira saudade.

Nesta revista – Reformador, queé órgão de imprensa da FEB – elecolaborou intensamente por váriasdécadas com artigos por ele muitobem elaborados, neles adotando di-versos pseudônimos, tais comoLaureano Prado, Plínio Lúcio, Lu-cas Pardal e Passos Lírio. Foi inclu-sive com este último, Passos Lírio,que ele escreveu sob o título “Natalcom Jesus” um notável artigo pu-blicado em Reformador de dezem-bro de 2003.

Ele não era apenas um escritorde linguagem escorreita e fluente,mas também um orador eloqüenteque deleitava ou comovia a quantoso ouviam.

Nasceu Alberto Nogueira da

Gama no Estado do Espírito San-to, na cidade de Linhares, em30/4/1918.

Tinha, portanto, quando de-sencarnou, pouco mais de 85 anosde idade, sendo sepultado no cemi-tério de S. João Batista.

Foram seus pais Francisco dePaula Nogueira da Gama e D. Ida-lina Paulina Nogueira. Proporcio-naram eles ao filho a possibilidadede realização de estudos completosde 1o e 2o graus. O curso primárioele o realizou em Colatina e o se-cundário em Vitória, a capital doEstado capixaba. Mas o Gama quisdedicar-se também à prática da ta-quigrafia e a tal ponto que, no Cen-tro Taquigráfico Brasileiro, chegoua exercer funções de professor detaquigrafia.

Além destas funções no CentroTaquigráfico Brasileiro, ele foi tam-bém funcionário da Rhodia e daFederação Espírita Brasileira.

Em primeiras núpcias casou onosso confrade com D. Maria deLourdes Barros da Gama, comquem teve oito filhos. Enviuvandomais tarde, casou em segundas núp-cias com a nossa estimada MariaAngélica, não tendo, porém, delanenhum descendente.

Ingressou no Espiritismo no al-vorecer da vida, mal saído da ado-lescência, e já aos 18 anos ascendiaà presidência do Centro Espírita“Paz e Amor em Deus”, no subúr-bio de São Torquato. Em 1939 mu-dou-se para o Rio de Janeiro.

Foi representante, no ConselhoFederativo Nacional, da FederaçãoEspírita do Estado do Espírito San-to, de 1958 a 1962. Diretor do De-partamento de Juventude da FEBem 1953 e de 1959 a 1965, do qualera membro ativo desde 1949. Di-retor do Departamento de Infânciae Juventude da FEB de 1966 a1969.

Tornou-se em 1947 o primei-ro presidente da União das Juven-tudes Espíritas do Distrito Federal,da qual faziam parte jovens de sau-dosa memória, como Antonio Vil-lela, Arnaldo Ávila Campos, ClovisTavares, Laís Teixeira Dias, AgadyrTeixeira Torres, Célia Xavier, JoelSoares de Castro, Hernani Trinda-de Sant’Anna, Abelardo IdalgoMagalhães, além de outros. AU.J.E.D.F. foi fundada na Federa-ção Espírita Brasileira em 31 deagosto de 1947, com a presença deDeolindo Amorim, Lins de Vascon-

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Alberto Nogueira da GamaLauro de O. São Thiago

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cellos Lopes, Ismael Gomes Braga,tudo sob a presidência de A. Wan-tuil de Freitas, de quem o Gama eraadmirador incondicional.

A partir de 18 de abril de1950, a FEB lançou o jornal BrasilEspírita, órgão mensal orientador,noticioso e doutrinário do Depar-tamento de Juventude da FEB. Co-mo seu Diretor, o Gama era real-mente o redator desse periódico,cabendo-lhe a revisão de todos osartigos, não se falando daqueles queeram de sua própria lavra. Em ja-neiro de 1971, Brasil Espírita pas-sou a ser suplemento de Reforma-dor, agora como órgão da Coorde-nadoria de Infância e Juventude daFEB.

Em 1978 e 1979 o Gama veioa ser Diretor-Adjunto da FEB, pas-sando em 1980 a exercer o cargo deSecretário-Geral, no qual se man-teve até a sua desencarnação.

Foi ainda autor do opúsculoJuventude em Marcha, editado pe-la FEB em 1949, e que relevantesserviços prestou na organização domovimento espírita juvenil.

Finalmente, queremos aindalembrar que o Gama foi por muitosanos sucessivos Presidente do Cen-tro Espírita Manoel Martins, sedia-do na rua Ubatinga, em Benfica, noRio de Janeiro (RJ).

Eis o que pudemos lembrar so-bre as atividades, sobretudo espíri-tas, de nosso inolvidável irmão.

Aos seus familiares, os nossossentimentos de solidariedade antea partida do ser querido, mas fica--nos a certeza de que o estimadocompanheiro esteja agora receben-do a recompensa a que faz jus, pelasua vida honesta e digna, sobretu-do dedicada a Jesus, o nosso Divi-no Mestre.

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FEB/CFN – Comissões RegionaisCalendário das Reuniões Ordinárias de 2004

1. Comissão Regional Nordeste

1.1 – Cidade-sede: Fortaleza (CE).1.2 – Período: 16 a 18 de abril.1.3 – Assunto:“Ação da Casa Espírita ante os avanços e necessi-

dades espirituais do homem – com vistas à ava-liação das experiências colhidas com a aplicaçãodo Projeto”.

2. Comissão Regional Sul

2.1 – Cidade-sede: Niterói (RJ).2.2 – Período: 30 de abril a 2 de maio.2.3 – Assuntos: 1. “Critérios para o trabalho conjunto das Fede-

rativas no campo da divulgação do livro espíri-ta (editoração, distribuição e vendas)”; 2. “Políti-ca de participação nas atividades comunitárias(Órgãos, Comissões, Conselhos e outros)”.

3. Comissão Regional Norte

3.1 – Cidade-sede: Belém (PA).3.2 – Período: 10 a 13 de junho.3.3 – Assuntos: a) “Recursos para a manutenção das atividades

espíritas: busca de soluções”; b) “Planejamen-to orçamentário”. Será realizado, também, oseminário “Qualificação do Trabalhador deUnificação”.

4. Comissão Regional Centro

4.1 – Cidade-sede: Campo Grande (MS).4.2 – Período: 25 a 27 de junho.4.3 – Assunto: “Como preparar o Centro Espírita para atender

à família e integrá-la nas suas atividades (ava-liação da implementação do projeto correspon-dente).”

5. Áreas Específicas

Serão realizadas, concomitantemente com a Reunião dos Diri-gentes, e com temas próprios escolhidos em 2003, as reuniões dasÁreas Específicas de Assistência Espiritual na Casa Espírita, Assistên-cia e Promoção Social Espírita, Atividade Mediúnica, ComunicaçãoSocial Espírita, Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, Infânciae Juventude.

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Aforça e o poder que emanamdo pensamento e da vontadesimplesmente estão fora do al-

cance da nossa imaginação. Tanto éassim, pois, que os Espíritos desen-carnados, utilizando-se com firme-za dessas forças reunidas – e bemconduzidas –, são capazes de provo-car extraordinários fenômenos, osquais, por falta de conhecimentodas Leis da Natureza que os regem,as religiões preferiram chamar demaravilhosos e sobrenaturais.

Um pensamento seguro e umavontade poderosa constituem for-ças criadoras. Acontece, no entan-to, que a maioria das pessoas, infe-lizmente, ainda desconhecem essespotenciais existentes em si mesmas.Conseqüentemente, também igno-ram as profundas influências malé-ficas e benéficas que tais poderespodem exercer sobre o organismohumano e suas funções.

O venerável filósofo espíritaLéon Denis, discípulo que deucontinuidade à obra do mestreAllan Kardec, em seu livro No In-visível, à pág. 310, diz: “(...) o nos-so pensamento pode adquirir bas-tante intensidade para criar formase imagens suscetíveis de impressio-narem placas fotográficas”. E comoreforço de sua afirmativa, ele cita aobra Animismo e Espiritismo, do

cientista russo Alexandre Aksakof.Neste livro, o autor relata o caso deuma senhora que desejava ardente-mente, por mentalização, aparecernuma placa fotográfica com umaguitarra nos braços. Seu pensamen-to e sua vontade foram intensos detal modo, que a forma desejadaapareceu impressa com toda ni-tidez. A experiência foi realizada pe-lo doutor Child, em 1862.

Segundo a conclusão do pes-quisador Child, em sendo o pensa-mento uma finíssima variedade damatéria, este, poderosamente diri-gido pela firme vontade daquela se-nhora, conseguiu impressionar asensível placa fotográfica.

O fenômeno acima descritoevidência que o pensamento bemmentalizado pode influenciar obje-tos e coisas. Segundo o pesquisador,outros há, resultantes de fortes im-pactos emocionais, a exemplo os ca-sos que vamos mencionar.

Conta-nos Léon Denis, na ci-tada obra, que em uma localidadeda Itália, num recinto festivo, de re-pente penetrou um morcego baru-lhento, causando pânico no am-biente. Sobre o ombro nu de umasenhora que tentava expulsar o in-truso voador, este pousou. Ela, queestava grávida, em pânico, des-maiou. Não muito tempo após es-se fato traumatizante, a dama deu àluz uma criança do sexo feminino,em cujo ombro estava gravada aimagem nítida de um morcego

com as asas estendidas, apresentan-do todos os seus característicos: pe-los cinzentos, garras e focinho.

Ocorre, porém, que as infor-mações que chegaram ao conheci-mento do pesquisador foram as deque aquela criança, mesmo depoisde adulta, continuou com a ima-gem do morcego gravada em suapele e, por isso mesmo, nunca usouvestuário decotado.

Outro caso, entre tantos, nar-rados pelo ilustre discípulo de AllanKardec, é o de Luísa Mirbel, umajovem de apenas 19 anos, que foicompanheira por um bom tempode um rapaz com 27 anos, popular-mente conhecido pela alcunhade “o Tatuado”. Este apelido, bemque tinha uma razão. É que o moçose tornou uma celebridade em de-terminado setor de Montparnasse(em Paris) pelas belas tatuagens queexibia em seu corpo. Comentava-seque ele não era de bom caráter. Eraviolento e alcoólatra. Espancava acompanheira. Ela não o abandona-va, com receio de suas reaçõesvingativas.

O “Tatuado”, amante de Luí-sa, por haver roubado, foi condena-do e preso. Ela aproveitou a opor-tunidade e fugiu para libertar-se deuma vida que só lhe trouxe humi-lhação e desdita. Acontece que, pa-ra sua felicidade, em bairro distan-te da capital, onde ela passou aresidir, conheceu um cidadão ma-duro, de bom caráter e trabalhador.

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O pensamento e a vontadeSeverino Barbosa

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Ambos se casaram. Mas, pressentin-do que brevemente seria mãe, opossível retorno do seu ex-amanteconstituía-lhe um receio perma-nente. Ela, então, em certa ocasiãoconversou sobre o assunto com oatual marido que, por sua vez, pro-curou tranqüilizá-la. Mas, à noite,ela sempre sonhava com o “Tatua-do” e despertava em pânico.

Conta-nos o autor de No Invi-sível que, para surpresa do marido,uma bela manhã Luísa contou-lheque teve um sonho horrível. Ela so-nhara que tivera uma criança e es-tando presente o ex-amante, estetomara o recém-nascido nos braçose lhe desenhara no corpo todas astatuagens que trazia em si mesmo.O marido, ao ouvi-la e considerá-lalouca, tentou acalmá-la, asseguran-do que o “Tatuado” jamais voltaria.

Luísa Mirbel, finalmente deu àluz um filho pouco tempo após osonho. As pessoas que a assistiramno parto ficaram tomadas de espan-to ao verem que no corpo da crian-ça havia várias manchas de cor azul,possibilitando o reconhecimentodos traços de letras e desenhos.Acrescenta o autor que o mais es-pantoso, porém, é que exatamenteno peito da criança, via-se distinta-mente a tatuagem de um coraçãoatravessado por um punhal.

Eis aí os fatos, falando mais al-to. Maravilhosos? Sobrenaturais?Milagrosos?... Não. São fenômenosnaturais, que Allan Kardec, ao ex-plicá-los, chama-os de anímicos, oumais propriamente, fenômenosproduzidos pelos Espíritos reencar-nados.

Partindo-se da premissa de queos homens são Espíritos reencarna-dos, eles são capazes de causar, como pensamento e a vontade, profun-

das influências sobre a matéria. Cla-ro que muito mais podem fazer osEspíritos desencarnados, uma vezque nesse estado de ampla liberda-de já se encontram reempossadosde todas as suas faculdades.

Desse modo, a conclusão éque, assim como o pensamento damulher da guitarra imprimiu a suaforma na placa fotográfica, assimtambém as imagens-pensamentoem formas de impactos emocionais,foram gravadas indelevelmente noscorpos das crianças, marcadas pelomorcego e pelas tatuagens, especial-mente aquela de um coração atra-vessado por um punhal.

O Espiritismo ensina que exis-te uma inter-relação entre o Espíri-to e a matéria, de sorte que os trau-mas, as emoções, as fobias e as im-pressões de toda natureza repercu-

tem inevitavelmente sobre o corpo,que é habitação do Espírito encar-nado; por outro lado, todos os gol-pes que atingem o corpo, têm tam-bém ressonância sobre o seu ha-bitante, que é o Espírito. Mas é im-portante esclarecer que o elementomediador que estabelece as ligaçõesentre o ser pensante (o Espírito) esua residência (o corpo), é o perispí-rito, que o apóstolo Paulo, por sinalinspiradíssimo, chamava corpo ce-leste. É este elemento, portanto,que, através dos canais fluídicos,transmite as mensagens do Espíritopara o corpo e deste para aquele.

Para consulta, indicamos aobra Cristianismo e Espiritismo,págs. 162 e 293, de Léon Denis,edição FEB e O Livro dos Espíritos,de Allan Kardec, Parte 2a, cap. I,questões 93 a 95, edição FEB.

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Senhor:Dai que vençamos a fraqueza imensaDa carne veladora e transitória,E que fulgure, em dadivosa glória,O marco da esperança, ao sol da crença!

Se a batalha é cruel e a sombra é intensa,Se dos pecados é vultosa a escória,Que não se apague, taciturna e inglória,Do amor a chama, sob a noite extensa!

Amparai-nos os nobres sentimentos,Coroando de paz e de serviçoNossos pobres e justos sofrimentos!

E que a flor da esperança e da alegriaDesabroche, em perene e excelso viço,Na alvorada feliz do Eterno Dia!

Hernani T. Sant’Anna

Fonte: SANT’ANNA, Hernani T. Canções do Alvorecer. 3. ed., Rio de Janeiro:FEB, 1994, p. 108.

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Avida e a morte sempre foramenigmas para o ser humano.“Conhece-te a ti mesmo”, a

sábia frase encontrada no pórticode Delfos, na Grécia antiga, temdesafiado o homem, desde aqueleslongínquos tempos, a autodesco-brir-se, a analisar sua estrutura in-tegral. Sábios, filósofos e grandespensadores do passado, bem comoos grandes líderes de religião têmprocurado encontrar a razão da vi-da, do sofrimento, das diferençasentre os homens e qual o valor damoral e da ética para a sociedade.Coube ao Espiritismo a tarefa dedesvelar as realidades transcenden-tes da vida além da matéria de for-ma mais ampla, num contexto deciência, filosofia e religião.

Revela-nos o Espiritismo que averdadeira vida é a espiritual, queé eterna, preexiste e sobrevive a tu-do, independentemente do nossomundo material, o planeta Terra. Avida corporal é transitória, passagei-ra, fugaz. O ser inteligente, o Espí-rito, que é imortal e revestido deum corpo semimaterial, teve umprincípio, quando foi criado porDeus, porém não terá fim, ou seja,nunca deixará de existir como indi-

vidualidade pensante e atuante. Eleestá inserido num processo de pro-gresso infinito, a Evolução. Evo-lução significa desenvolvimento,progresso, transformação. Afirma-va Lavoisier que “na Natureza nadase cria, nada se perde, tudo se trans-forma”. Nosso corpo físico, quandodesativado pelo fenômeno chama-do morte, retorna ao pó de ondeveio, tornando-se matéria orgânicadecomposta que irá integrar outros

corpos na Natureza. O Espírito (al-ma), que habitava o corpo carnal,passará a existir fora da matéria, nomundo ou dimensão espiritual, suaverdadeira pátria, seu lar de origem.Ao findar a estadia no mundo ma-terial, realiza uma revisão de tudoaquilo que fez e deixou de fazer, dasconseqüências de seus atos nas vi-das com as quais conviveu, analisaseus pensamentos e emoções. Apartir daí, no chamado período deerraticidade, ou seja, entre duas en-carnações, irá preparar-se para um

futuro mergulho na carne, quandoiniciará novo processo de aprimo-ramento intelectual e moral. Nestemeio tempo, o Espírito poderá evo-luir, se buscar esforçar-se por alcan-çar tal meta. Há casos de Espíritosrebeldes que permanecem estacio-nários, passivos, apegados às sensa-ções e fatos materiais, os quais, as-sim agindo, atrasam seu processoevolutivo. Chega, porém, o mo-mento em que eles se cansam, arre-pendem-se e procuram a forma deseguir em frente e evoluir.

Somos Espíritos imortais emevolução. Esta é a grande realidadeque precisamos assimilar, cons-cientizando-nos de que a vida hu-mana é um período escolar, dentrode uma série de existências, ondenos educamos e reeducamos, sofre-mos e nos alegramos, erramos eacertamos, progredindo sem cessar.A vida espiritual é a principal e amaterial é secundária. Não deve-mos, entretanto, negligenciar a vi-da humana com seus deveres ine-rentes e as leis naturais que aregem. Necessitamos, sim, priori-zar nossa auto-evolução para, ao fi-nal da jornada, tornados Espíritospuros, podermos contemplar o PaiCeleste e ser os seus mensagei-ros diretos, cooperando na grandeobra de evolução das humanidadese dos mundos que compõem oUniverso.

Somos Espíritos imortaisem evolução

Marcus Vinícius Pinto

A vida espiritual

é a principal e

a material é

secundária

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Como resposta a certas calúniasque os adversários do Espi-ritismo se comprazem em

despejar contra a Sociedade, jul-gamos por bem publicar os pedidosde admissão, formulados nas duascartas seguintes, seguindo-as de al-gumas observações.

Ao Senhor Presidente daSociedade de Estudos Espíritas

de Paris.“Senhor,“Ser-me-ia permitido aspirar a

ser admitido como membro da res-peitável sociedade que presidis?

“Também tive a felicidade deconhecer o Espiritismo e de experi-mentar, em toda a plenitude, a suabenéfica influência. Há muito tem-po eu era vítima de sofrimentos fí-sicos e, conseqüentemente, de sofri-mento moral, que naturalmente selhe segue, quando o pensamentonão vê como compensação senão adúvida e a incerteza. O Livro dosEspíritos entrou em minha casa co-mo o salvador, cuja mão benfeitoranos tira do abismo, como o médicoque cura instantaneamente.

“Li e compreendi; e logo o so-

frimento moral deu lugar a umaimensa felicidade, ante a qual se ex-tinguiu o sofrimento físico, por-quanto, desde então, este não maisme apareceu senão como um efeitoda vontade e da sabedoria divinas,que só nos envia males para nossomaior bem.

“Sob a influência desta crençabenfazeja, meu estado físico já me-lhorou sensivelmente e espero queDeus complete sua obra, porque sehoje desejo o restabelecimento dasaúde, não é mais, como outrora,para gozar a vida, mas para con-sagrá-la unicamente ao bem, isto é,empregá-la exclusivamente em mar-char para o futuro, trabalhandocom ardor e por todos os meios aomeu alcance, para o bem de meussemelhantes e, particularmente, de-votando-me à propagação da subli-me doutrina que Deus, em sua in-finita bondade, envia à pobrehumanidade para a regenerar.

“Glória seja, pois, rendida aDeus pela divina luz que, em suamisericórdia, ele se dignou enviar àssuas cegas criaturas! E graças vos se-jam dadas, senhor, a quem ele esco-lheu para lhes trazer o archote sa-grado!

“Senhor, se vos dignardes aco-lher o meu pedido, ser-vos-ei pro-

fundamente reconhecido por suatransmissão aos vossos distintoscolegas. Não tenho a honra de vosconhecer pessoalmente, pois o meuestado de saúde sempre me impe-diu de vos visitar; mas o Sr. Canu,meu amigo e vosso colega, respon-derá por mim.

“Recebei, senhor e caro mestre,a garantia de meus respeitosos sen-timentos e de meu sincero devota-mento.”

Hermann Hobach

“Senhor e venerado mestre,

“Confiante em vossa benevo-lência, venho dirigir-vos uma preceque, se acolhida favoravelmente,me cumularia de alegria. Já tive ahonra de vos escrever, há algumtempo, com o duplo objetivo devos exprimir os sentimentos, a bemdizer novos, que fez nascer em mima leitura séria de O Livro dos Espí-ritos, e obedecer ao dever sagradode agradecer ao homem veneradoque estende a mão socorrista à co-ragem vacilante dos fracos destemundo, em cujo número ainda meachava até bem pouco tempo, pelaignorância destes princípios subli-mes que, enfim, designam ao ho-mem uma tarefa a cumprir, deacordo com suas forças e facul-dades. >

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Caráter filosófico daSociedade Espírita de Paris

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> “Destes a essa carta uma res-posta cheia de amenidades, pelaqual me convidáveis a vir, comoouvinte, assistir às sessões gerais daSociedade. Essas sessões e a leiturade O Livro dos Médiuns só me de-ram mais força e coragem, inspi-rando-me o desejo de participar deuma sociedade fundada sobre osmesmos princípios que acabaramde afastar a perturbação, a difusão,o caos, que presidiam a todas as mi-nhas ações. Eu chegara a supor quea chave do enigma da existência de-via ser muito insignificante, poismeu espírito ainda não me haviafeito compreender que, fora domundo material que me cercava,havia um mundo espiritual, mar-chando concomitantemente comoo nosso para o progresso.

“Assim, senhor, manifesto no-vamente a minha felicidade, se pu-der demonstrar perante o mundointeiro dos incrédulos e dos cépti-cos, que a Doutrina Espírita operouem mim tão radical mudança namaneira de ser que, por certo, essamudança poderia, sem qualquerexagero, ser qualificada de milagre,posto que, abrindo-me os olhos pa-ra todo o bem que se pode fazer enão se faz, percebi, antes de tudo,um fim para a nossa vida atual e,depois, que sobrecarregado de fal-tas de toda espécie, vi, enfim, que aProvidência não nos havia deixadofaltar à tarefa, e que ao Espírito nãobastava uma existência para se aper-feiçoar, trabalhando por dominarprimeiro o corpo, para em seguidadominar-se a si próprio.

“Se julgardes conveniente rece-ber-me, senhor, não obstante sejaeu ainda muito jovem, como um

dos membros da Sociedade Espíri-ta, rogo-vos a bondade de apresen-tar meu pedido ao conselho e lheafirmar a honra que me faria a So-ciedade em me receber em seu seio;isto seria por mim apreciado com osentimento do mais completo re-conhecimento.

“Recebei, senhor, a certeza deminha profunda veneração.”

Paul Albert

Se tais cartas honram os seusautores, também honram a Socie-dade à qual são dirigidas, e que vêcom satisfação os que nela pedempara entrar, animados por tais sen-timentos. São uma prova de quecompreendem o objetivo exclusiva-mente moral que a Sociedade sepropõe, pois não são movidos poruma vã curiosidade que, aliás, nãoentraria em nossos propósitos satis-fazer. A Sociedade só acolhe pessoassérias, e cartas como estas, que aca-bam de ser relatadas, indicam o seuverdadeiro caráter. É de adeptosdesta categoria que ela se sente felizem recrutar e é a melhor respostaque pode dar aos detratores do Es-piritismo, que se esforçam em apre-sentá-lo, bem como as suas irmãsdos departamentos e do estrangei-ro, que marcham sob a mesma ban-deira, como focos perigosos para arazão e a ordem pública, ou comouma vasta especulação. QueiraDeus que o mundo não tenha ou-tras fontes de perturbação!

Como temos dito, o Espiritis-mo moderno terá a sua história,que será a das fases que terá percor-rido, de suas lutas e de seus suces-sos, de seus defensores, de seus már-tires e de seus adversários, pois é

preciso que a posteridade saiba deque armas se serviram para o atacar;é preciso, sobretudo, que ela conhe-ça os homens de coração, que se de-votaram à sua causa com inteira ab-negação, completo desinteresse ma-terial e moral, a fim de que lhespossa pagar um justo tributo de re-conhecimento. Para nós é umagrande alegria quando podemosinscrever um novo nome, gloriosopor sua modéstia, coragem e virtu-des, nestes anais onde se confun-dem o príncipe e o artesão, o rico eo pobre, homens de todos os paísese de todas as religiões, porquantonão há para o bem senão uma cas-ta, uma única seita, uma só nacio-nalidade e uma mesma bandeira: ada fraternidade universal.

A Sociedade Espírita de Paris, aprimeira fundada e oficialmente re-conhecida, aquela que, a bem dizer,deu o impulso, sob cuja égide se for-maram tantos outros grupos e socie-dades; que se tornou, pela força dascoisas e por mais restrito que seja onúmero de seus membros, o centrodo Movimento Espírita, desde queseus princípios são os da quase uni-versalidade dos adeptos, esta Socie-dade, dizíamos nós, também teráseus anais para a instrução daquelesaos quais preparamos o caminho, epara a confusão de seus caluniadores.

Não é somente ao longe que acalúnia lança o seu veneno, mas, atémesmo, às nossas portas. Ultima-mente alguém nos disse que há mui-to tinha o maior desejo de assistir aalgumas sessões da Sociedade, masque tinha sido impedido porque lhehaviam afirmado que devia pagardez francos. Grande foi sua surpresae, podemos dizer, também sua ale-

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gria, quando lhe dissemos que talboato era fruto da malevolência; quedesde que a Sociedade existe, jamaisum ouvinte pagou um centavo; quenão é imposta nenhuma obrigaçãopecuniária, sob qualquer forma e aqualquer título, nem como assinatu-ra da Revista Espírita, nem comocompra de livros; que nenhum denossos médiuns é retribuído e todos,sem exceção, dão seu concurso porpuro devotamento pela causa; que osmembros titulares e associados sãoos únicos a participar nas despesasmateriais; que os membros corres-pondentes e honorários não supor-tam nenhum encargo, limitando-sea Sociedade a prover as despesas cor-rentes, tanto quanto possível restri-tas, e não acumulando dinheiro; que

o Espiritismo é uma coisa inteira-mente moral, que não pode, comotodas as coisas santas, ser objeto deuma exploração que sempre repudia-mos verbalmente e por escrito; que,assim, só uma insigne malevolênciaé capaz de emprestar semelhantesidéias à Sociedade.

Acrescentaremos que o autordessa informação oficiosa disse ha-ver pago os seus dez francos, o queprova que não era inocente ao ecode um falso boato. A Sociedade Es-pírita de Paris, por sua própria po-sição e pelo papel que desempenha,não deixará de ter mais tarde umacerta repercussão. É, pois, necessá-rio aos nossos futuros irmãos que oseu objetivo e as suas tendências

não sejam desnaturados pelas ma-nobras da malevolência e, para isto,não bastam algumas refutações in-dividuais, que só têm efeito no pre-sente e se perdem na multidão. Asretratações que se obtêm não pas-sam de uma satisfação momentâ-nea, cuja lembrança logo passará. Épreciso um trabalho especial, autên-tico e durável, e este trabalho se fa-rá em tempo hábil. Enquanto isto,deixemos nossos adversários se de-sacreditarem por si mesmos e pelamentira: a posteridade os julgará.

Allan Kardec

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –julho de 1863. Tradução de EvandroNoleto Bezerra.

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(Sociedade Espírita de Paris, 31 dejulho de 1863 – Médium: Sr. AlfredDidier)

Areligião católica nos mostra opurgatório como um lugaronde a alma, sofrendo terrí-

veis expiações, alivia suas faltas e,pela dor, pouco a pouco reivindicaseus direitos ao sol da vida eterna.Imagem esplêndida! a mais verda-deira, a mais perfeita da grandetrindade dogmática do inferno, dopurgatório e do paraíso. Mau gradosuas severidades desesperadoras,compreendeu a Igreja que era pre-ciso um meio-termo entre a dana-ção eterna e a felicidade eterna.Nessa estranha combinação, entre-tanto, ela confundiu o tempo infi-nito e progressivo, que é apenasum, com três situações limitadas eincompreensíveis. À religião, ou an-

tes, ao ensino inteiramente huma-nitário e progressivo do Cristo, oEspiritismo adiciona os meios derealizar esta humanidade ideal. Nosdesvios filosóficos de nossa época,há mais de um germe espírita; e talfilósofo céptico, que não aconselhapara a felicidade definitiva da hu-manidade senão o afastamento e adestruição de toda crença humanae divina trabalha mais do que sepensa para a tendência universal doEspiritismo. Somente é uma rotaem que o céu pouco aparece, a exis-tência futura quase não aparece,mas onde, pelo menos, a tranqüili-dade material e, por assim dizer,egoística desta vida é compreendi-da com a clareza do legislador e, senão do santo, pelo menos de um fi-lantropo humanitário.

Ora, no estado latente, a bemdizer, da vida extracorpórea, e que

poderia ser chamada intravital,tratar-se-ia de saber se, com a me-dida de conhecimentos e de sagaci-dade clarividente que possuem osEspíritos superiores, o progressouniversal é tão eficaz quanto o pro-gresso terrestre. Esta questão, fun-damental para o Espiritismo até opresente, é resolvida por detalhesque não satisfazem. Já não é apenas,como diz a Igreja, um lugar de ex-piação, mas um foco universal on-de as almas que aí circulam receiamangustiadas ou aceitam esperanço-sas as existências que se lhes desve-lam. Aí está, segundo nós, apenas ocomeço do que se chama o pur-gatório. A erraticidade, esta fase im-portante da vida da alma, não nosparece de modo algum explicada,nem mesmo mencionada pelosdogmas católicos.

Lamennais

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –setembro de 1863. Tradução de EvandroNoleto Bezerra.

O purgatório

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Introdução:

Costumamos freqüentar o Cen-tro Espírita durante anos sem aten-tarmos para aspectos mais profundosda sua importância, pois o vemosapenas como o local onde vamosbuscar ajuda, consolo, amparo e es-clarecimento, e onde se tem um bomambiente espiritual, apropriado paraas reuniões espíritas. Não nos damosconta de toda a complexa estruturaespiritual que mantém uma sede deatividades espíritas, no âmbito dosencarnados, para que ela possa atuarnos dois planos da vida.

Entretanto, há alguns anos, es-tamos sendo conscientizados, prin-cipalmente através de mensagensdos Instrutores Espirituais, do queé, na realidade, o Centro Espírita ea premente necessidade que temosde adequá-lo e preservá-lo de acor-do com as diretrizes da Codificação,bem como dos cuidados com que aEspiritualidade Maior cerca e dis-pensa, ao longo do tempo, aos nú-cleos espíritas que estão incluídosentre os que são merecedores dessasprovidências, pelo trabalho sério,nobre e edificante que realizam.

O Espírito Manoel Philomenode Miranda relata no capítulo 21 dolivro Tramas do Destino, como sãoos planejamentos espirituais de umCentro Espírita, inclusive relatando

os compromissos assumidos pelaequipe espiritual que trabalharia di-retamente com os encarnados, jun-to àquele que seria o seu patrono,no caso o Espírito Francisco Xavier,que foi abnegado trabalhador doCristianismo no século XVI.1

Iremos enfocar aqui alguns des-ses planejamentos do plano extra-físico, e como são efetuados na prá-tica pelos Benfeitores Espirituais,fazendo uma reflexão em torno daparticipação dos encarnados, en-quanto tarefeiros da seara espírita.

Alicerces espirituais

O Centro Espírita é muitomais do que a casa física que lheserve de sede. Transcende às pare-des, aos muros que o circundam eao teto que o cobre. Em verdade, oCentro Espírita é um complexo es-piritual em que se labora nos doisplanos da vida, a física e a extrafísi-ca, e com as duas humanidades, ados encarnados e a dos Espíritosdesencarnados.

Em razão disso, as providênciase cuidados da Espiritualidade Maiorsão imensos quanto ao planejamen-to e a organização de uma institui-ção espírita.

Já há muito sabemos que asplanificações espirituais antecedemas dos encarnados, por isso se diz,

comumente, quando se pensa eprojeta uma obra espírita, que estajá estava edificada na Espirituali-dade. O que é real e verdadeiro.

Os alicerces espirituais, por-tanto, são “levantados” bem antes,servindo de modelo para a obraque se pretende edificar no planoterreno.

O Centro Espírita não é a casaonde ele se abriga, mas, sim, o laborque ali se desenvolve, o ambienteque se cultiva e preserva, a organi-zação intemporal que o orienta eassessora, os objetivos e finalidadesque o norteiam, o ideal e o senti-mento com que o conduzem. Porisso prescinde a obra espírita doluxo e do supérfluo para atender àsimplicidade e ao conforto que atornem acolhedora.

As suas bases, os seus alicercesespirituais assim argamassados farãocom que a obra se erga firme naTerra e permaneça de pé vencendoas tormentas e vicissitudes humanas.É “a casa edificada sobre a rocha”,de que nos fala Jesus, capaz de resis-tir através dos tempos. Mas que sóse materializará se a equipe encar-nada colocar dia a dia os tijolos doamor e o cimento da perseverança;se os labores ali efetuados levarem osinete da caridade e do desinteressepessoal, transformando-se assim emtemplo e lar, hospital e escola.

Dimensões espirituaisdo Centro Espírita

Parte ISuely Caldas Schubert

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Reafirmamos: para isto não hánecessidade de que a obra seja lu-xuosa ou grandiosa; ela poderá seruma casinha simples, despojada,de acordo com a realidade local, eter uma atmosfera espiritual res-plandecente, resultante do traba-lho que ali se realiza, pois no dizerde Léon Denis “no mais miseráveltugúrio há frestas para Deus e parao Infinito”.

A direção espiritual

Os planos iniciais para a fun-dação de um Centro Espírita ocor-rem na Espiritualidade com ante-cedência de muitos anos, quando aequipe espiritual assume a respon-sabilidade de orientar e assessorar asfuturas atividades que ali serão de-senvolvidas. Isto é feito em sintoniacom aqueles que irão reencarnarcom tais programações. Para che-gar-se a estabelecer esses compro-missos são estudadas as fichas cár-micas daqueles que estarão à frenteda obra no plano material, convitessão feitos, planos são delineados eprojetados para o futuro.

Não podemos nos esquecerque aqueles que se reúnem para umlabor dessa ordem não o fazem porcasualidade. Existem planificaçõesda Espiritualidade que antecedem,portanto, à reencarnação dos queirão laborar no plano físico.

O projeto visa essencialmentea atender aos encarnados, poisatravés desse labor são concedidasoportunidades de crescimento espi-ritual, ensejos de resgate e reden-ção; reencontros de almas afins, decompanheiros do passado ou, quemsabe, desafetos no caminho da tole-rância e do perdão que a diretrizclarificadora do Espiritismo e a at-

mosfera balsâmica do Centro pro-piciarão. Para que isto seja alcança-do, a Casa Espírita apresenta umleque de opções variadas de apren-dizado e trabalho, onde se favorecea transformação moral, que deve sero apanágio do verdadeiro espírita,através do exercício da caridadelegítima a encarnados e desencar-nados, da tolerância e da frater-nidade no convívio com os com-panheiros – o que, em última aná-lise, é a vivência espírita, que traznos seus fundamentos a mensagemlegada por Jesus.

Todavia, muitos desses ensejosde reconciliação, de harmonia, deprogresso espiritual; muitas das es-peranças e expectativas dos Ben-feitores Espirituais são desdenhadaspor nós, os encarnados, que esque-cidos dos compromissos assumidosdeixamo-nos envolver pelo persona-lismo, pela vaidade, pela disputa decargos e deferências, pelo ciúme einveja, por nos acreditarmos melhorque os outros, que somente nóssabemos e somos espíritas de ver-

dade, que temos missão especial,quando não enveredamos por essenovo prisma de considerarmos aCasa Espírita como uma empresa,que deve ser dirigida friamente edar constantes lucros, não impor-tando que a Causa seja postergadae colocada em segundo plano paraque tais resultados sejam alcança-dos, enfim, todos esses desvios decurso, todas essas idiossincrasias queabrem campo às dissidências e àsintonia com espíritos interessadosem retardar a marcha do bem quan-to a de nós próprios.

Quando, porém, sentimos evivemos as diretrizes espíritas, émais fácil compreender o nossocompanheiro difícil e com ele con-viver, aprendendo a estimá-lo real-mente. Porque é mais fácil amaraquele que vem pedir socorro e quenos estende a mão do que o com-panheiro ao nosso lado, investido,muita vez, da posição de “fiscal” denossas atitudes. Os Amigos Espiri-tuais muito esperam de nós nessecampo da rearmonização com onosso passado, porque, talvez, pelaprimeira vez já sabemos quanto àsimplicações do passado e respon-sabilidades no presente.

Por isto é essencial que nos es-forcemos para viver as diretrizes es-píritas, a fim de que honremos oEspiritismo não somente “com oslábios”, mas essencialmente como coração, com o melhor de nósmesmos.

Os recursos magnéticos de defesa

Vejamos como Manoel Philo-meno de Miranda explica quais asprovidências adotadas com relaçãoà fundação do Centro EspíritaFrancisco Xavier: >

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> “(...) antes mesmo que se de-finissem os planos da edificaçãomaterial da Casa, foram tomadasmedidas no que dizia respeito aoscontingentes magnéticos no local eoutras providências especiais.

Ergueu-se, posteriormente, oNúcleo, em cuja construção se ob-servaram os cuidados de zelar pelaaeração, conforto sem excesso, pre-servando-se a simplicidade e a to-tal ausência de objetos e enfeitesque não os mínimos indispensáveismóveis e utensílios para o seu fun-cionamento...

Todavia, nos respectivos depar-tamentos reservados à câmara depasses, recinto mediúnico e sala deexposições doutrinárias, foram pro-videnciadas aparelhagens comple-xas e com finalidades específicas,para cada mister apropriadas, noplano espiritual.” 2

Esses recursos magnéticos queconstituem as defesas espirituais deum Centro Espírita fiel aos princí-pios da Codificação Kardequiana,conforme as circunstâncias o exi-gem, podem ser intensificados talcomo é relatado no notável livro daquerida médium Yvonne Pereira,Memórias de um Suicida, quandoé mencionada a instituição na qualseriam realizadas algumas sessõesmediúnicas especiais para atendi-mento de um grupo de suicidas.

A sala de exposição doutrinária

Toda Casa Espírita tem o seuespaço destinado à realização dereuniões públicas, de portas abertas,onde os expositores abordam estu-dos e palestras doutrinárias, espe-cialmente das obras que constituema Codificação Kardequiana.

Este recinto recebe da Espiri-

tualidade o cuidado compatívelcom a importância das tarefas alidesenvolvidas. Espíritos especiali-zados magnetizam o ambiente e opreservam e renovam constante-mente, propiciando uma psicosferasalutar, consoante informa ManoelPhilomeno de Miranda.

São instaladas defesas magnéti-cas que impedem a entrada de en-tidades desencarnadas hostis e mal-feitoras, assim, só entram aquelesque obtêm permissão.

Tais cuidados são imprescin-díveis em razão da natureza do tra-balho que os Centros realizam. Sen-do um local para onde convergempessoas portadoras de mediunidadeem fase inicial ou em desequilíbrioou, ainda, obsidiados de todos osmatizes, é fácil concluir que se nãohouvesse tais cautelas do Plano Es-piritual, principalmente, graves pro-blemas poderiam surgir decorrentesdo ambiente espiritual e da pre-sença de sensitivos não equilibra-dos.

Imaginemos, por um instante,a ambiência desta sala, relativa-mente aos encarnados presentes. Agrande maioria dos que compare-cem ao Centro o faz impelida pelosproblemas e sofrimentos que osaguilhoam. Quando chegam estãoaflitos, cansados, desesperados e,não raro, com idéias de suicídio ououtros tipos de pensamentos ex-tremamente negativos. Recorremao Espiritismo na condição de náu-fragos de tormentas morais que seagarrassem a uma tábua salvadora.Trazem o pensamento enrodilhadono drama em que vivem e que é co-mo um clichê estampado na pró-pria aura. Vibrando em enarmoniaa quase totalidade dessas criaturasestão imantadas a desafetos do pas-

sado ou a entidades outras, igual-mente em desequilíbrio, que porsua vez, as envolvem em fluidosperniciosos. Várias são portadorasde monodeísmo, isto é, trazem opensamento fixo em determinadaidéia negativa, como por exemplo,no suicídio, no remorso de atocometido etc. Diversas estão ma-goadas, sofridas, ulceradas interior-mente e com as forças deperecidas.Outras estão perdidas em si mes-mas, sem saber qual o sentido davida e que rumo tomar. Muitas es-peram milagres que as libertem deimediato de seus problemas e umaspoucas chegam por curiosidade oudesejosas de conhecer melhor o queé o Espiritismo. Mas todas essaspessoas têm um denominador co-mum: a esperança.

Esse conjunto de vibrações de-sarmônicas e a malta de desencar-nados que gravitam ao seu redor –todos interessados em obstar tudoaquilo que pode significar liberta-ção para suas vítimas, no caso apalavra esclarecedora da Doutrina –por certo afetariam os médiuns pre-sentes ainda não equilibrados, nãofossem os cuidados e vigilância dosBenfeitores Espirituais.

Há ainda outro ponto a con-siderar: é que sendo um local detratamento das almas enfermas, quesomos quase todos nós, é impres-cindível que os recursos do “labo-ratório do mundo invisível” sejammobilizados e acionados para oatendimento espiritual.

Os Espíritos especializados fa-zem, portanto, a triagem dos desen-carnados que irão entrar, semprevisando os que estão em condiçõesde ser beneficiados, mas outrossão momentaneamente afastados desuas vítimas enquanto estas per-

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manecem no Centro. Em decor-rência, grande é o número de enti-dades que ficam postadas do ladode fora da Casa, como que aguar-dando permissão para entrar ou in-teressados em achar alguma brechanas defesas magnéticas com o intui-to de causarem perturbações. Mes-mo estes não ficam sem a ajudado Alto, pois aparelhagem especialtransmite a palavra dos expositoresamplificando-lhes a voz.

No transcurso da exposiçãodoutrinária grande amparo é pres-tado ao público. Equipes especiali-zadas atendem aos que apresen-tarem condições espirituais-men-tais favoráveis, receptivas, medican-do-os e, até mesmo, realizando ci-rurgias espirituais.

Por outro lado, a aproximaçãode entidades benfeitoras junto aosencarnados torna-se mais fácil pelanatureza do ambiente e por estaremestes com o pensamento voltadopara os ensinos clarificadores daDoutrina, o que lhes modifica, tem-porariamente, os panoramas men-tais, favorecendo o otimismo e arenovação interior. Concomitante-mente, os “espíritos arquitetos”,muitas vezes, utilizam dos recursosdos painéis fluídicos que “dão vida”aos comentários do expositor, fa-vorecendo o entendimento dos de-sencarnados presentes. Isto, aliás,acontece em palestras sempre que oambiente favoreça.

Toda essa programação, toda-via, só se realizará se o Centro Es-

pírita tiver o seu ambiente preser-vado de quaisquer frivolidades emercantilismo; de intrigas e per-sonalismo; se ali se cultivar a con-versação sadia e edificante; se na-quele local se praticar a verdadeiracaridade e o estudo sério, e onde asprincipais metas sejam esclarecer,aliviar e consolar as almas que porali aportarem, colocando-se assimà altura da proteção dos EspíritosSuperiores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:1FRANCO, Divaldo P. Tramas do Destino, pe-

lo Espírito Manoel P. de Miranda. 7. ed., Riode Janeiro: FEB, 2000, cap. 21, p. 196.2Idem, ibidem, p. 200.

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O pão espiritualO pão espiritual, amassado em luz invisível,É alimento do coração – constante e durável.

Dado embora em migalhas – é valor infinito...

Semente de sabedoria – tornar-se-á celeiro farto,Minuto de esclarecimento – rasga horizontes eternos,Verbo silencioso – criará mundos novos,Toque de fé – salvará muitas vidas,Bênção de amor – renovará o estímulo apagado,Gota de consolação – amenizará muitas dores,Água da vida – fecundará campos mortos,Dom divino – sustenta milhares de criaturas,Réstia de esperança – erguerá desesperados,Pétala da paz – elimina incêndios da discórdia,Raio de luz – descerra caminhos ocultos,Dádiva de compreensão – extingue as sombras da

[ignorância e do ódio.Abençoadas sejam as mãos – que cooperam à Mesa

[Imperceptível de Deus,Acrescentando esse pão – sublime e imperecível...

Distribui-o, em torno de teus passos,E semearás gloriosos destinos,Desfazendo as trevas em derredor,Arando o chão duro dos corações cristalizados no

[mal,Restituindo a visão aos cegos dos vales da morte,Devolvendo alegria aos tristes,Levantando os que tombaram,Socorrendo náufragos,Enriquecendo os pobres de luz,Abrindo portas redentoras,Rompendo muralhas e fronteirasE unindo almas no Grande Amor...

Segue, mundo afora, espalhando-lhe as graças,Na certeza de que o CristoÉ o Pão que desceu do Céu!

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Correio Fraterno. Di-versos Espíritos. 5. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap. 33,p. 81-82.

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Oprojeto “Capacitação Admi-nistrativa para Dirigentes deCasas Espíritas” foi apresen-

tado e aprovado pelo Conselho Fe-derativo Nacional da FEB, em no-vembro de 2002. Em seguida, foidiscutido nas quatro Reuniõesdas Comissões Regionais doCFN da FEB, entre abril e julhode 2003. Nestas Reuniões, comas Federativas estaduais, foi de-finido que a atividade de prepa-ração de agentes multiplicadoresseria implementada em algunspólos das regiões, com a partici-pação de companheiros indica-dos pelas Federativas.

Essa etapa foi cumpridacom a realização de onze encon-tros, que contaram com a pre-sença de futuros monitores in-dicados pelas Federativas. AsFederativas, como responsáveispela implementação do Cursonos Estados, têm realizado reu-niões preparatórias e de sensibi-lização de dirigentes, com o objeti-vo de dar início ao Curso durante oano de 2004, algumas ainda no pri-meiro semestre. As Federativas tam-bém poderão proceder a algumasadequações e complementações deinformações de caráter regional, re-passando as informações para a Co-missão Assessora da Secretaria Ge-ral do CFN.

O Curso proposto reúne doisaspectos inovadores: o tema e ametodologia. Tem uma duraçãomédia de seis meses. Por isso, requerde todos os envolvidos no processomuita persistência e dedicação, poisestará quebrando paradigmas etranspondo estradas que, possivel-mente, antes não trilhávamos.

O presente projeto envolvecinco apostilas, referentes às cincoUnidades do Curso, já de posse detodas as Federativas. A redação dasapostilas corresponde aos textosempregados durante a aplicação-pi-loto, sob a responsabilidade da Fe-deração Espírita do Distrito Fede-ral, com um grupo de Dirigentesda Capital Federal.

O tema em questão para esteCurso justifica-se por todas as mu-danças que afetam diretamente opapel do Dirigente da Casa Espíri-ta. No passado, quando o Espiritis-mo foi perseguido e ameaçado, opapel do Dirigente foi o do batalha-dor, que defendeu a Causa e a Ca-sa com empenho, coragem, colo-

cando-se mesmo em posição desacrifício em prol da DoutrinaConsoladora.

Hoje, os desafios propostosao Dirigente são um pouco di-ferentes, envolvendo questõesquanto à sobrevivência da Casa(tendo em vista as dificulda-des econômicas), o acompa-nhamento efetivo do trabalho(considerando que a clientela seencontra mais exigente), o aten-dimento às exigências legais efiscais da Casa e especificamen-te das instituições beneficentes ea independência/autonomia daCasa (apesar das parcerias esta-belecidas com o poder público,a fim de cumprir uma parte dassuas atividades assistenciais).É com este propósito que este

Curso se realiza, para preencheruma lacuna já percebida por mui-tos que se dedicam ao árduo traba-lho de administrar uma InstituiçãoEspírita.

A metodologia que será utili-zada inclui as atividades de sala deaula já realizadas há muito tempopor todos, porém o grande enfo-

Capacitação Administrativa paraDirigentes de Casas Espíritas

UNIDADE I

A CASA ESPÍRITA

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que será no período de atividadesde autodesenvolvimento a distân-cia –, que precede o encontro pre-sencial em sala de aula –, quando oeducando deverá estar adquirindoconhecimentos e aplicando-os ematividades práticas, para que possatrazer aos encontros com os de-mais alunos as suas experiências,dúvidas e aprendizagens, a fim desistematizar o que construiu, e di-rimir as dúvidas que provavelmen-te terá.

Os encontros para multiplica-dores visam a capacitar os adminis-tradores deste processo de curso,para que possam desenvolver comsegurança o trabalho em suas uni-dades. Por isso, o enfoque centraldo mesmo está no aspecto andragó-gico (educação do indivíduo adul-to), enfatizando-se ainda a educa-ção a distância enquanto metodo-logia que será utilizada.

Os materiais que estão sendoempregados foram elaborados poruma equipe de trabalho que esperareceber dos participantes deste pro-cesso as informações relativas à ava-liação dos conteúdos e atividades, afim de que haja o aprimoramentodo que foi construído.

A Comissão Assessora da Se-cretaria Geral do CFN, coordenadapor Antonio Cesar Perri de Carva-lho, estará acompanhando o desen-volvimento do Curso nos Estados eatenta para receber sugestões e con-tribuições com vistas ao seu aper-feiçoamento. Maiores informações:e-mail: gestã[email protected] oupelo correio:Federação Espírita BrasileiraA/c Gestão da Casa EspíritaAv. L-2 Norte – Quadra 603 –Conjunto FCEP 70.830-030 Brasília-DF.

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3de Outubro! Mais um natalí-cio de Allan Kardec – oducentésimo. É um aniversário

de nascimento diferente, que se co-memora para a frente. Para a frente,porque nos segue os passos de anopara ano, acompanha-nos pela vidaafora, esteve conosco ontem, estáconosco hoje, estará conosco ama-nhã; passará de uma geração a ou-tra, de pais a filhos, de avós a netos,e assim por diante, sucessivamente.

Há datas natalícias que não fi-cam nunca para trás, que não pre-cisamos deslocar-nos, no tempo eno espaço, à sua procura no passa-do, que não necessitamos ir ao en-contro delas, porque, por assim di-zer, elas fazem parte do séquito denossas horas e dias de vida, partici-pam de nossa existência diária, co-mo que nos assinalando os passos eatos com o esplendor de suas di-vinas claridades.

É desta ordem a data de nasci-mento do Codificador do Es-piritismo. Parece que ela é tanto de3 de outubro de 1804 quanto de 3de outubro de 2004. Aconteceu háduzentos anos, como acontece comtoda a atualidade, no ano quecorre; sua oportunidade é a mesma,seu valor não se altera, sua signifi-cação não diminui, sua grandezanão decai, seu sentido não se des-figura, seu alcance não se retrai. Por

isso é que, para comemorar o na-talício de Allan Kardec, não pre-cisamos retroceder à época em quenasceu, basta que o busquemosonde estamos e nos encontramos.Suas obras são o seu berço e opróprio monumento de si mesmo.Nelas temos a imagem do Homemsempre presente no Mundo, par-ticipando ativamente dos nossosproblemas, de nossas lutas, de nos-sas dificuldades, de nossos destinos,de tudo que somos, pensamos, sen-timos, fazemos.

Allan Kardec permanece entrenós, em sua infância, juventude ematuridade; vive conosco à medidaque o revivemos em nós e revive-mos nele. Está no lar, na escola, notemplo, na oficina, no laboratório,nas atividades de gabinete e nas deexpressões externas, nas tarefasmanuais, intelectuais, espirituais esociais, em suas facetas privadase públicas. Ele nos faz companhia,em toda parte, em qualquer cir-cunstância, juntamente com a pre-sença do Cristo, porque em tudopor tudo, pensa e age de acordocom o Mestre e deseja que tambémprocedamos assim, pensando eagindo segundo a Palavra do Se-nhor, copiando-Lhe as lições, apli-cando Seus ensinamentos para nosunirmos a Ele e com Ele formar-mos a família do Pai Celestial,caracterizada pelos mesmos ensi-namentos, sentimentos, desejos,idéias, atos e atitudes.

Bicentenário deAllan Kardec

Passos Lírio

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Rio de Janeiro: Congresso EspíritaO processo de unificação do Movimento Espírita doEstado do Rio de Janeiro deu mais um fruto. Com otema principal Qualidade Total na Casa Espírita, foirealizado, no período de 23 a 25 de janeiro passado,o I Congresso Espírita do Estado do Rio de Janeiro.A abertura no dia 23, na sede da União das SociedadesEspíritas do Estado do Rio de Janeiro, ficou a cargode Nestor João Masotti, Presidente da Federação Es-pírita Brasileira, e durante todo o dia 24, sábado, ain-da na USEERJ, os trabalhadores espíritas inscritos noCongresso participaram de diversas oficinas, onde otema foi tratado. O encerramento, dia 25, com Di-valdo Pereira Franco, ocorreu na sede da Federação Es-pírita do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói (RJ).

Goiás: XX Congresso EspíritaA Federação Espírita do Estado de Goiás promove noCentro de Cultura e Convenções de Goiânia, de 21 a22 do mês corrente, o XX Congresso Espírita Esta-dual, tendo como tema central Com Jesus, ao encontroda Paz. Esse tradicional evento, que já se tornou ummarco para os espíritas de Goiás e de outros Estados,contará com a participação dos expositores DivaldoPereira Franco, Octaciro Rangel, Marlene Rossi Se-verino Nobre, Júlio Cesar Sá Roriz, Manoel Tibúrcio,Suely Caldas Schubert e José Carlos de Luca.

Paraíba: Integração do Espírita ParaibanoNos dias 21 a 24 deste mês será realizada em CampinaGrande o XXXI Movimento de Integração do Espíri-ta Paraibano, promovido pela Associação Municipalde Espiritismo, com o apoio da Federação EspíritaParaibana. O tema central – O Cristo Consolador –será debatido por meio de minicursos, mesas-re-dondas, fóruns e palestras, que abordarão aspectosfilosóficos, científicos e religiosos contidos na men-sagem do Cristo, com subsídios colhidos das obras daCodificação de Allan Kardec, em homenagem ao Bi-centenário de seu Nascimento.

Alemanha: União dos Grupos Espíritas AlemãesA União dos Grupos Espíritas Alemães foi fundada noúltimo Encontro Fraterno em Berlim, e tem um cará-

ter informal, sendo suas metas principais: 1. A divul-gação e o incentivo do Espiritismo na Alemanha, se-gundo seus princípios, os quais foram traçados naCodificação de Allan Kardec; 2. Engajamento para aunião fraternal dos Grupos Espíritas na Alemanha; e3. Incentivar a caridade moral, espiritual e material naAlemanha.

Suíça: Feira do Livro EspíritaA União dos Centros Espíritas em Suíça promoveu,no período de 31 de outubro a 2 de novembro de2003, a Feira do Livro Espírita, em Fribourg. Além daexposição de centenas de títulos, houve palestras du-rante o evento com oradores de outros países, entre osquais os brasileiros Dorival Sortino e Benjamim Tei-xeira. No último dia, foi prestada uma homenagem aFrancisco Cândido Xavier, com abordagens em tornode algumas das obras por ele psicografadas.

Projeto “SOS Abrade”A Associação Brasileira de Divulgadores do Espiri-tismo, membro do Conselho Federativo Nacional daFEB, lançou o projeto “SOS Abrade”, cujo objetivo édar apoio à mídia espírita, estabelecendo contato comos responsáveis por programas espíritas veiculados nosdiferentes meios de comunicação. A idéia é estabele-cer interação e uma parceria produtiva, sem criar ne-nhuma ingerência por parte da Associação. Os inte-ressados deverão fazer contato através do correio ele-trônico: [email protected]

Evangelização da criança especialO I Encontro dos Evangelizadores do Portador deNecessidades Especiais será realizado em 14 de março,no Auditório da Associação Cristã Vicente Moretti,Bangu, Rio de Janeiro (RJ), instituição que assistecrianças deficientes. O evento debaterá temas rela-cionados com o assunto, como O uso de linguagemde comunicação e recursos lúdicos, O sentimento co-mo base do relacionamento e A evangelização do Es-pírito, sendo os estudos desenvolvidos pela psicope-dagoga Vânia Duarte, a fonoaudióloga Denise Cardo-so, a psicóloga Jussara Fernandes e a professora DarcyNeves Moreira. (SEI.)

SEARA ESPÍRITA

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