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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 122 / Abril, 2004 / No 2.101

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Alessandro Figueredo

Tema da Capa: Ressalta a vinda do CONSOLADORprometido por Jesus, com o advento da DoutrinaEspírita, na Codificação de Allan Kardec.

EDITORIAL 4O outro Consolador

ENTREVISTA: CÉSAR SOARES DOS REIS 11Oportunidade para que Kardec seja mais

conhecido e reconhecido

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 12A Paixão de Jesus – Ewerton Quadros

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Pregações – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 26Rotary International e Esperanto – Affonso Soares

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 33

Da proibição de evocar os mortos –

Allan Kardec

SEARA ESPÍRITA 42

O Evangelho segundo o Espiritismo – 140 anos – 5Juvanir Borges de Souza

O Consolador – Mário Frigéri 7Kardec e a fidelidade doutrinária – Fernando A. Moreira 8Imitação do Evangelho 10O Livro dos Espíritos – 1a edição – Evandro Noleto Bezerra 13 Oração – Frei José dos Mártires 14Conhecimento da Doutrina Espírita – Brasiliano Baraúna 15A doçura da generosidade – Carlos Abranches 16Espírita! – Lafayette Melo 17Jesus, o Educador de Almas – José Passini 18O ódio – Inaldo Lacerda Lima 20Esquecimento das vidas passadas – Gil Restani de Andrade 22O Espiritismo é milenar – Rildo G. Mouta 25Das baratas – Richard Simonetti 28A causa, o efeito e o equilíbrio – Mauro Paiva Fonseca 29 Floriano Moinho Péres – Antonio Lucena 30Jesus acima das ondas – João Martins e Martins da Silva 31O divino convite – Casimiro Cunha 34Local do lançamento de O Livro dos Espíritos – 35

Antonio Cesar Perri de CarvalhoInstituições Espíritas – Washington Borges de Souza 3618a Bienal Internacional do Livro – São Paulo 2004 37Os variegados e repetidos mecanismos de erro e acerto – 38

Mauro Paiva FonsecaRetorno à Pátria Espiritual – Joaquim da Costa Villaça 39 Eu não sou deste mundo... – Fátima Salvo 40

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4 Reformador/Abril 2004122

Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. I, item 6), Allan Kardec observa: “A lei do AntigoTestamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo Testamento tem-na no Cristo. OEspiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma in-

dividualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos (...).”

Deus nos criou como Espíritos imortais em constante processo de aprimoramento. Criou o Uni-verso e as Leis que o regem, dentre as quais a do Progresso que nos leva, gradativamente, à perfeição.Desde a fase mais primitiva da Humanidade, vem atendendo às necessidades do homem e em ne-nhum momento o abandonou. Essa assistência, todavia, sempre levou em consideração as conquis-tas já realizadas pelo trabalho do próprio homem.

Quando o homem iniciava o desenvolvimento de sua inteligência e de seus sentimentos, a Pro-vidência Divina assistiu-o com as noções básicas da religião que veio com o totemismo, onde já seencontrava a mediunidade. Quando ele apresentava condições de melhor compreender os princípiosda Justiça, enviou Moisés, com as tábuas da lei. Quando já se descortinava com possibilidade de re-ceber lições mais profundas sobre a vivência do Amor, enviou Jesus para nos ensinar e exemplificar.Quando, ampliando o seu conhecimento nos campos da ciência, da filosofia, da religião e das artes,o homem já demonstrava a possibilidade de melhor compreender a Verdade, enviou o Espiritismo.E com o Espiritismo veio o conhecimento das Leis Morais, possibilitando a compreensão maior detudo o que o cerca, da necessidade de progredir e dos meios necessários à sua evolução.

Sem dúvida, a Doutrina Espírita constitui-se no “outro Consolador” a que se refere Jesus (João14:15-17), que veio no seu devido tempo para ensinar todas as coisas e recordar tudo o que Ele ha-via dito e praticado.

Cabe-nos, pois, não apenas argumentar quanto à autenticidade de que a Doutrina Espírita éo Consolador prometido, mas, acima de tudo, demonstrar, pela qualidade da prática espírita, que oEspiritismo representa a chave com a qual melhor compreendemos o Evangelho, e que com ele se des-cortinam os horizontes espirituais do homem, estimulando-o à pratica do amor ao próximo, em to-da a sua plenitude, único caminho que realmente nos eleva moral e espiritualmente.

EditorialO outro Consolador

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Reformador/Abril 2004 5123

“Eu vos digo, em verdade,que são chegados os tem-pos em que todas as coi-

sas hão de ser restabelecidas no seuverdadeiro sentido, para dissipar astrevas, confundir os orgulhosos eglorificar os justos.”

Essas palavras do Espírito deVerdade, colocadas como parte doPrefácio de O Evangelho segundo oEspiritismo, a terceira obra da Co-dificação Espírita que Allan Kardecescreveu e deu à publicidade, emabril de 1864, representam umasíntese do caráter do Espiritismo,bem assim a finalidade dessa obraextraordinária.

Se O Livro dos Espíritos, obrafundamental da Doutrina, revelan-do muitas verdades novas, a par dareafirmação de outras já vislumbra-das pelos homens, é o marco inicialda Terceira Revelação, O Evangelhosegundo o Espiritismo contém osensinos morais do Cristo, adotadosintegralmente pelo Espiritismo.

Por isso, pela importância ex-cepcional dessa obra, cuja 1a ediçãoestá completando 140 anos nestemês de abril, os espíritas sincerossão naturalmente compelidos a re-lembrar seu lançamento, a nature-za de seu conteúdo e o motivo pelo

qual é a obra espírita mais procura-da, mais lida e mais comentada nosestudos da Doutrina Espírita, pelomenos no Brasil.

Os ensinos morais do Cristode Deus, código divino constantedo Evangelho do Mestre Incompa-rável, representam o grande Conso-lador da Humanidade, pelas verda-des que encerra.

Entretanto, tendo em vista anatureza do mundo que habitamos,a imperfeição dos homens e a ne-cessidade da permanência do códi-go divino no seio da Humanidade,o Cristo, com a presciência dos Es-píritos Puros e na condição de Go-vernador Espiritual deste orbe, de-signado pelo Pai, prevendo a in-compreensão dos homens e a de-turpação de seus ensinos, tal comoocorreu, prometeu obter de Deus oenvio de outro Consolador, para re-lembrar suas lições e revelar coisasnovas.

A promessa foi cumprida, en-contrando-se entre os homens aDoutrina Consoladora dos Espíri-tos.

A formulação desse Consola-dor obedeceu a planejamento daEspiritualidade Superior, sob aorientação do Cristo. O espírita sin-cero e estudioso percebe esse fatopelas próprias narrativas dos Espíri-tos e pelas circunstâncias da prepa-ração dos agentes encarregados dostrabalhos, especialmente o missio-

nário entre os homens – o Codifi-cador.

O Consolador prometido, oEspiritismo, ou Doutrina dos Es-píritos, diferentemente das revela-ções anteriores, em que um mis-sionário se incumbiu de transmitirnovos conhecimentos às novas ge-rações, tem como característica amanifestação de muitos Espíritos,em diversos lugares, abordando osmais diferentes temas e assuntos,convergindo tudo para uma uni-dade conceptual sem discrepân-cias, dentro de uma lógica rigoro-sa, atendendo à razão esclarecida,como jamais se encontra em ne-nhum sistema filosófico criado pe-los homens.

É nessa universalidade dos en-sinos dos Espíritos, organizada me-todicamente pelo missionário AllanKardec, que se patenteia a força daDoutrina Espírita, uma unidadedentro da diversidade.

Foram os próprios Espíritos re-veladores, conscientes da superiori-dade dos ensinos trazidos aos ho-mens, que lhes advertiram quedeveriam examinar tudo à luz darazão esclarecida.

Na Nova Revelação, a Verdaderessalta dos fatos, das realidades quese patenteiam.

Por isso, não há imposições deteorias que não se ajustem à razão eao bom senso, esclarecidos peloconhecimento. >

O Evangelho segundo o Espiritismo –140 anos

Juvanir Borges de Souza

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> Questões que se situam alémda capacidade de entendimento dohomem – como a natureza íntimade Deus, o princípio das coisas e oproblema das origens –, a própriaDoutrina adverte que os habitantesda Terra são seres em evolução queainda não atingiram o estágio ne-cessário para dominar todos os co-nhecimentos.

...O Evangelho segundo o Espi-

ritismo é a revivescência dos ensi-nos de Jesus, especialmente os deordem moral, para um mundo quese desenvolveu e adiantou-se mui-to, em cerca de dezoito e meio sé-culos, no campo do conhecimen-to, com o desenvolvimento dasciências.

Essa obra, muito mais que umsimples livro de regras religiosas, re-presenta o mais extenso elo, a maisevidente ligação entre o Cristianis-mo puro e o Espiritismo.

Nele, os ensinos morais doCristo são separados dos textos dosEvangelhos e comentados, disseca-dos e interpretados não só pelo Co-dificador mas também por muitosEspíritos, em Instruções que se en-contram na maioria dos capítulosde que se compõe a obra.

O Código Divino que Jesus re-sumiu no Amor e na Justiça, e quea Doutrina dos Espíritos denominaLei Divina ou Natural, abrange to-das as situações e circunstâncias davida, quer no que se refere a cadaindividualidade, quer no concer-nente às relações sociais.

É, pois, de extrema importân-cia o conhecimento das leis morais,para que os homens possam pautarseus pensamentos e ações dentro depadrões que não destoem do que o

Criador estabeleceu como normaspara a vida eterna.

Essa importância excepcionalcresce ainda mais depois da vindado Consolador, quando as Instru-ções dos Espíritos desvendaram osmundos e esferas espirituais, pátriasdos seres imortais que se encontramfora dos mundos materiais, sem osrevestimentos de corpos carnais.

Se todas as criaturas, Espíritoscriados simples e ignorantes, estãodestinadas à felicidade, como ensinaa Doutrina Espírita, é lógico e cru-cial que essa afirmativa doutrináriaprecisaria ser complementada com oesclarecimento da forma pela qualo objetivo deve ser alcançado.

O Cristo já se havia referido aesse objetivo e ao caminho paraatingi-lo, ao afirmar: “Eu sou o ca-minho, a verdade e a vida”, sínteseque deve ser entendida como sendoseus ensinamentos morais as nor-mas e as regras de procedimentopara que cada seguidor possa che-gar à felicidade.

É admirável e sublime a moraldo Cristo.

Entretanto, a linguagem emque estão escritos os Evangelhostorna difícil o entendimento deseus preceitos, de seus ensinos enormas, máxime ao se considerar astraduções dos escritos dos evange-listas, para as línguas atuais, nemsempre correspondendo à idéia ori-ginal, além dos interesses religiososatendidos pelos tradutores, o que éfato comprovado.

Além disso, a forma alegórica ea linguagem mística, usuais no tem-po em que foram escritos os Evan-gelhos, tornam difícil seu enten-dimento, passando despercebidosmuitos preceitos morais dissemina-dos nas muitas narrativas.

É óbvio que todas essas dificul-dades poderiam ser contornadaspor uma ou outra personalidadebem dotada, de grande saber e inte-ressada na prevalência da verdade.

Mas, onde encontrar persona-lidades assim dotadas, sem ligaçõescom outros interesses que não os darealidade e da verdade? No nossomundo, em se tratando de assuntode tal transcendência, seria pratica-mente impossível.

As religiões cristãs apóiam-senos textos evangélicos. Mas foramtantos os desvios interpretativos, osacréscimos e supressões nas idéiasoriginais, que os seguidores sincerosdos ensinos de Jesus têm enormedificuldade em identificá-los comos preceitos e regras das igrejas.

Isto ocorreu a partir dos pri-meiros séculos do Cristianismo.

Diante de tantas dificuldadesacumuladas desde que Jesus, o Cris-to, esteve pessoalmente entre os ho-mens, ensinando as leis divinas eexemplificando-as em suas ações,o Mestre veio em socorro da Hu-manidade, mais uma vez.

No bojo do Consolador pro-metido e enviado viria também oseu Evangelho revivido, em lingua-gem atual, simples e inteligível.

Allan Kardec dedicou muitosde seus esforços a essa obra, sempreassistido pela Espiritualidade Supe-rior.

Já em 1860, o Espírito de Ver-dade dirige-se ao Codificador nes-tes termos esclarecedores:

“Sinto-me por demais tomadode compaixão pelas vossas misérias,pela vossa fraqueza imensa, paradeixar de estender mãos socorredo-ras aos infelizes transviados que,vendo o céu, caem nos abismos doerro. Crede, amai, meditai sobre as

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coisas que vos são reveladas; nãomistureis o joio com a boa semen-te, as utopias com as verdades.”(Cap. VI, item 5, de O Evangelhosegundo o Espiritismo, Ed. FEB.)

E mais adiante, dirigindo-seaos espíritas, como trabalhadores daúltima hora, conclama-os nestestermos precisos, belos e que, aomesmo tempo, alargam o conheci-mento e a responsabilidade dos se-guidores da novel Doutrina:

“Espíritas! amai-vos, este o pri-meiro ensinamento; instruí-vos, es-te o segundo. No Cristianismo en-contram-se todas as verdades; sãode origem humana os erros que ne-le enraizaram. Eis que do além--túmulo, que julgáveis o nada, vo-zes vos clamam: ‘Irmãos! nada pe-rece. Jesus-Cristo é o vencedor domal, sede os vencedores da impie-dade’.” (Cap. VI, item 5.)

Não resta dúvida que os ho-mens têm, à sua disposição, o Evan-gelho do Mestre, agora em termosclaros e compreensíveis para as cria-turas comuns, sem necessidade deser entendido através de interme-diários exclusivistas, como nas reli-giões tradicionais ditas cristãs.

O Espiritismo vem, assim, es-clarecer e consolar a todos nestemundo, ricos e pobres, desde quemanifestem a intenção de se melho-rarem e crescerem espiritualmente.

O Evangelho segundo o Espiri-tismo, fonte consoladora, é, ao mes-mo tempo, o grande elo que une aSegunda e a Terceira Revelações,atualizando os ensinos de Jesus, es-pecialmente no concernente às leismorais.

Consola os humildes de cora-ção e dá força aos que procuram ocaminho das retificações, esclare-cendo o sentido da vida, não só no

mundo áspero em que vivemos,mas também nas esferas espirituaisque nos esperam.

É uma orientação permanentepara as almas sofredoras e enfermas,insuflando-lhes a esperança e a cer-teza de dias melhores, desde quecultivadas as virtudes sintetizadasno amor a Deus e ao próximo.

...O Evangelho segundo o Espiri-

tismo, tal como se apresenta hojeaos espíritas brasileiros, é a traduçãoda 3a e definitiva edição francesa.

A tradução de Guillon Ribeiro,o saudoso Presidente da FEB, re-comenda-se como a mais perfeitana língua portuguesa.

Por sua vez, na 3a edição fran-cesa Allan Kardec reviu, corrigiu emodificou as anteriores, com a as-

sistência dos Espíritos Superiores.Originariamente, a obra de-

nominava-se Imitação do Evange-lho segundo o Espiritismo, com sua1a edição em abril de 1864.

Sua denominação atual apare-ce a partir da 2a edição, em 1865.

Não se deve estranhar a modi-ficação da denominação da obra,nem sua ampliação e modificaçãopelo autor, fato que ocorreu tam-bém em outras obras da Codifica-ção, desde que se atente para a cir-cunstância de que o Codificadortrabalhava sempre assistido poruma plêiade de Espíritos Superio-res, sem prejuízo da sua contribui-ção pessoal, com seus métodos, suainteligência e suas experiências demissionário escolhido especialmen-te para uma missão extremamentedifícil.

Reformador/Abril 2004 7125

O ConsoladorMário Frigéri

“Estou convosco e meu apóstolo vos instrui.”O Espírito de Verdade

Jesus promete outro Consolador– Um novo sol fulgindo em novos dias –E o Espiritismo, sem alegorias,Cumpre a promessa com Saber e Amor.

“Deveis amar-vos sempre como irmãos,Este é o primeiro e grande ensinamento;E instruir-vos, em prosseguimento,Sem misturar o joio aos férteis grãos.”

Mesmo mesclando em seu manancialErros humanos às divinas leis,No Cristianismo está toda a Verdade.

Mas sendo o Cristo o vencedor do mal,Só com Jesus, irmãos, vos tornareisOs vencedores da impiedade!

Fonte de consulta: O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 129/132 (Advento doEspírito de Verdade). Epígrafe: idem, p. 131.

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“Há, no corpo da Doutrina, umlastro de conceitos básicos, decaráter definitivo, e a substitui-ção destes conceitos seria a des-figuração radical da Doutrina.”

Deolindo Amorim1

Toda a orientação doutrinária eas verdades da Doutrina Espí-rita estão sustentadas pelos

seus princípios básicos e quem osaceita, pode-se dizer vinculado a ela.

“O Espiritismo é uma doutri-na espiritualista, de característicaspróprias, e, como toda doutrina,tem princípios básicos, claramentedefinidos, pelos quais se norteia enos quais apóia as verdades queproclama.” 1

Neste sentido qualquer discor-dância, que não os fira, não se tor-na uma heresia, pois que não te-mos dogmas, e, no dizer do emi-nente e saudoso cirurgião Edmun-do Vasconcelos, “a verdade nãotem rótulo, nem dono a quem pres-tar obediência e por ser luminosa éela eterna, onde quer que possaaparecer, e quem a possuir no seuimo, deve proclamá-la e defendê--la, mesmo que se levante contraela uma bíblia de verdades in-tocáveis.” 2

Mesmo Kardec, referindo-se àpossessão, declarava que não haviapossessos, sendo que “(...) posses-

são seria sinônimo de subjugação(...)”,3 para mais tarde, evoluindode verdade em verdade, retificar es-te conceito, presenteando-nos comsua sabedoria e sua humildade, aoafirmar:“Temos dito que não haviapossessos, no sentido vulgar do vo-cábulo, mas subjugados. Voltamosa esta asserção absoluta, porqueagora nos é demonstrado que podehaver verdadeira possessão (...).” 4,5

O não ficou separado do sim, porum período de cinco anos.

Lição de modéstia nos dá tam-bém Emmanuel, Espírito, ao decla-rar: “Quando eu me posicionar con-tra Kardec, fiquem com Kardec.”

Assim, pode ser que, às vezes,ao estudarmos uma obra de deter-minado autor, não concordemoscom certo capítulo, ou estudandotodas elas, discordemos de determi-nado livro, por acharmos que nãoestejam de acordo com a purezadoutrinária; isto não é motivo paraque eliminemos, sumariamente, to-da a obra ou todas as obras do refe-rido autor; reservado, no entanto, énosso direito, de não a recomendar-mos.

O mesmo se dá para as citaçõesbibliográficas; o fato de mencionar-mos determinado trecho, não im-plica em dizer que concordemoscom toda a obra ou todo o produ-to de um determinado autor; signi-fica apenas que o segmento citado

nos empolga e porque não somosplagiadores, o citamos.

Assim, avaliando uma opinião,uma prática ou uma obra, para sesaber se ela está em consonânciacom a Doutrina Espírita, é precisoestudar para conhecer; conhecer pa-ra discordar; discordar para confluir.

Apóia-se a Doutrina Espíritanos pilares de seus princípios bási-cos que são:

Deus“(...) inteligência suprema, cau-

sa primária de todas as coisas.” 6

Não um deus cruel, implacávele vingativo, que deserda seus filhos,condenando-os a penas eternas,imobilizando-os no mal e criandodemônios para ajudá-lO nestas ta-refas, mas sim um Deus “(...) eter-no, infinito, imutável, imaterial,único, onipotente, soberanamentejusto e bom (...).” 7

Os véus que nos impedem devê-lO não estão perto dEle, masbem próximos dos nossos olhos.

“Bem-aventurados os puros decoração porque verão a Deus”– Jesus (Mateus 5:8.)

Sobrevivência do Espírito“(...) a existência dos Espíritos

não tem fim (...)” 8

Deus nos criou Espíritos iguais,simples, ignorantes e imortais, do-tando-nos de livre-arbítrio para al-

Kardec e a fidelidadedoutrinária

Fernando A. Moreira

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cançarmos todos, por nosso mere-cimento, a perfeição. Este é o paraí-so da felicidade, não como o ho-mem o imagina, o que é uma ale-goria, mas onde se reunirão os Es-píritos puros.

Acreditamos, pois, na vida de-pois da vida, na vida antes da vidae na vida entre as vidas.

Dando-nos uma certeza disso,Jesus assim se pronunciou:

“Em verdade te digo que hojeestarás comigo no paraíso.” (Lucas,23:43.)

Comunicação entre os doismundos – Mediunidade

“Resta agora a questão de saberse o Espírito pode comunicar-secom o homem, isto é, se pode comeste trocar idéias. Por que não? Queé o homem, senão um Espíritoaprisionado num corpo? Por quenão há de o Espírito livre se comu-nicar com o Espírito cativo, como ohomem livre com o encarcerado?” 9

Há um intercâmbio contínuoentre o mundo espiritual e o físico,entre os Espíritos encarnados e de-sencarnados, que se manifesta atra-vés da mediunidade. Todos os ho-mens a possuem, embora uns maisostensivamente que outros e a estesúltimos chamamos médiuns.

Independentemente disso, noentanto, os Espíritos estão influin-do constantemente nos nossos pen-samentos e ações, de acordo com anossa sintonia e muitas vezes “(...)são eles que vos dirigem”.10

Jesus, “(...) médium de Deus”,11

nosso Guia e Modelo, nos fez sen-tir os cintilos de sua mediunidade enos exortou a praticá-la, sem nadapedir em troca:

“Curai os enfermos, ressuscitaios mortos, limpai os leprosos, expe-

li os demônios; dai de graça o quede graça recebestes.” (Mateus, 10:8.)

Reencarnação – Pluralidadedas existências corpóreas

“Depurando-se, a alma in-dubitavelmente experimenta umatransformação, mas para isso neces-sária lhe é a prova da vida corpo-ral.” 12

Para adequar-se a um Deus in-finitamente bom, justo e misericor-dioso, nada pode espelhar melhor aJustiça Divina que a reencarnação.No entanto, o processo de recorpo-rificação não é punitivo, mas edu-

cativo, quando, depurando-se osEspíritos, por experiências lapida-doras sucessivas na carne, por con-dicionamento à Lei de Ação e Rea-ção, alcançarão, todos, a felicidade,único objetivo para o qual noscriou nosso Pai Amoroso, o Senhorda Vida.

Embora possa evoluir no pe-ríodo de intermissão, na Espiritua-lidade, as experiências na carnesão indispensáveis para, por pro-vas e expiações, purificar-se o Es-pírito.

Como nos afiançou Jesus:“Ninguém pode ver o reino de

Deus, se não nascer de novo.” (João3:3.)

Evolução – Pluralidade dosmundos habitados

“Nascer, morrer, renascer aindae progredir sempre tal é a Lei.” 13

Em toda a Criação, nas leisimutáveis divinas, não existe a inér-cia; podemos perceber sempre omovimento e a evolução, tanto nomicro, quanto no macrocosmo.

Deus não seria pródigo aocriar esta imensidão de astros inutil-mente. Afinal, só na nossa Via-Lác-tea existem mais de 100 bilhões deestrelas, e no Universo visível, maisde um septilhão delas, trilhões deplanetas, cada um com suas carac-terísticas de habitabilidade, confor-me a evolução dos Espíritos, quevariam ao infinito, e evoluindosempre, eles jamais serão contem-plativos ou preguiçosos.

Como nos asseverou Jesus:“Há muitas moradas na Casa

do Pai.” (João 14:2.)

Referindo-se ao sistema da al-ma material, em que o perispíritoseria a própria alma, não havendodistinção entre ambas, e que, assimconstituída, iria se depurando gra-dualmente por meio de transmigra-ções diversas, Kardec assim se pro-nunciou em O Livro dos Médiuns:

“Este sistema não infirma qual-quer dos princípios fundamentais daDoutrina Espírita, pois que nadaaltera com relação ao destino da al-ma; as condições de sua felicidadefutura são as mesmas; formando aalma e o perispírito um todo, sob adenominação de Espírito (...) aquestão se reduz a considerar homo-gêneo o todo, em vez de considerá-loformado de duas partes distintas.”

Prossegue ainda o mestre lio-nês, analisando o comportamento ea inclinação dos discordantes: >

Reformador/Abril 2004 9127

Em toda a

Criação, nas leis

imutáveis divinas,

não existe

a inércia

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> “(...) Semelhante opinião, res-trita, aliás, mesmo que se achassemais generalizada, não constituiriauma cisão entre os espíritas (...).Os que se decidissem a formar gru-po à parte, por uma questão assimpueril, provariam, só com isso, queligam mais importância ao acessó-rio que ao principal e que se achamcompelidos à desunião por Espí-ritos que não podem ser bons, vis-to que os bons Espíritos jamais in-suflam a acrimônia, nem a cizâ-nia (...).”

Embora aceitando aquela opi-nião, Kardec mostra que não a re-comendava, completando, maisadiante, seu pensamento:

“Julgamo-nos, entretanto, naobrigação de dizer algumas pala-vras acerca dos fundamentos emque repousa a opinião dos que con-sideram distintos a alma e o peris-pírito. Ela se baseia no ensino dosEspíritos, que nunca divergiam aeste respeito (...).” 14

Assim, procuremos, pelo me-nos, repetir Kardec, seguindo suasinstruções.

Ele nos ensina que cabe a nósespíritas, diante de uma opinião di-vergente, que não fira os princípiosfundamentais da Doutrina, aceitá--la e respeitá-la, sem nos furtarmosda obrigação de esclarecer, para al-mejar confluir. Adverte-nos aindaele que, assim procedendo, estare-mos nos libertando da ação maléfi-ca de maus Espíritos, que insuflamo amargor, a discórdia e os nossoscomportamentos pueris.

Agindo ainda assim, estaremospor certo colaborando com a nossafidelidade e com eficiência, para oestabelecimento da pureza doutri-nária, como também, para a alvurados doutrinadores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo Básico.

4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1995, cap. Princí-

pios Básicos da Doutrina Espírita, (nota de ro-

dapé) p. 129.

2MOREIRA, Fernando Augusto. Ante o Evan-

gelho, SP: O CLARIM, março/2000, p. 5.

3KARDEC, Allan. Revista Espírita (outubro de

1858). Ed. Edicel, Obsedados e subjugados,

p. 278.

4Idem, ibidem, (dezembro de 1863). Ed. Edi-

cel, Um caso de possessão – Senhora Júlia,

p. 373.

5MOREIRA, Fernando Augusto. A Possessão se-

gundo Kardec. Revista Internacional de Espiri-

tismo, (SP), setembro/2001.

6KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.

83. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, q. 1, p. 51.

7Idem, ibidem, q. 13, p. 54.

8Idem, ibidem, q. 83, p. 82.

9Idem, O Livro dos Médiuns, 70. ed., Rio de

Janeiro: FEB, 2002, cap. I, item 5, p. 24.

10Idem, O Livro dos Espíritos. 83. ed., Rio de

Janeiro: FEB, 2002, q. 459, p. 246.

11Idem, A Gênese. 42. ed., Rio de Janeiro: FEB,

2002, cap. XV, item 2, p. 311.

12Idem, O Livro dos Espíritos. 83. ed., Rio de

Janeiro: FEB, 2002, q. 166a, p. 120.

13Frase esculpida no frontispício do dólmen de

Allan Kardec, no Cemitério do Père-Lachaise –

Paris, França.

14KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, 70.

ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. IV, item

50, p. 70-71.

10 Reformador/Abril 2004128

Imitação do EvangelhoPergunta – Que pensais da nova obra em que trabalho neste mo-

mento?

Resposta – Esse livro de doutrina terá considerável influência, poisque explanas questões capitais, e não só o mundo religioso encontraránele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida práticadas nações haurirá dele instruções excelentes. Fizeste bem enfrentandoas questões de alta moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais,dos interesses sociais e dos interesses religiosos. A dúvida tem que serdestruída; a terra e suas populações civilizadas estão prontas; já de hámuito os teus amigos de além-túmulo as arrotearam; lança, pois, a se-mente que te confiamos, porque é tempo de que a Terra gravite na or-dem irradiante das esferas e que saia, afinal, da penumbra e dosnevoeiros intelectuais. Acaba a tua obra e conta com a proteção do teuguia, guia de todos nós, e com o auxílio devotado dos Espíritos que tesão mais fiéis e em cujo número digna-te de me incluir sempre.

Fonte: KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Segunda Parte, comunicação recebidaem Ségur, 9 de agosto de 1863, pelo médium Sr. d’A..., p. 307, ed. FEB.

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P. – Como se tornou espírita?CSR – Atuo no Movimento

Espírita desde 1954. Tendo sidoeducado em família espírita, sobre-tudo por meu avô, um dos maisantigos associados da FEB, freqüen-tei os grupos ligados à Cruzada dosMilitares Espíritas desde os primei-ros momentos nos bancos esco-lares.

P. – Atua também no Lar Fa-biano de Cristo; qual é a abran-gência do mesmo?

CSR – No Lar Fabiano de Cris-to, estou na direção desde 1994. AObra de Fabiano conta com 223entidades, das quais 64 próprias e asdemais são parcerias, franquias ouconvênios de complementação derecursos.

P. – Como caracteriza o LarFabiano de Cristo?

CSR – O Lar Fabiano é umórgão de assistência social. Desen-volve um trabalho semelhante aopreconizado pelo nosso manual doSAPSE. Temos uma atividade, cha-mada Educação do Ser Integral,que é uma forma de evangelizaçãoespecialmente desenvolvida para osnossos irmãos mais carentes.

P. – Como se iniciou seu envol-vimento com o trabalho de unifica-ção?

CSR – Nosso envolvimentocom o trabalho de unificação come-

çou com nossa freqüência às reu-niões do Conselho Federativo Na-cional. Apaixonamo-nos por aque-le grande encontro de entendi-mentos, de experiências, pela opor-tunidade de trabalharmos juntos,planejando as ações do Movimen-to, sob a égide da FEB.

P. – Qual a sua visão sobre oCFN?

CSR – Desde nossa primeiraparticipação nas reuniões do CFN,percebemos o amadurecimento doMovimento, a busca da integração,que é crescente, o domínio gradati-vo e compartilhado de técnicas deplanejamento e gestão. Torna-se, as-sim, o CFN, poderoso instrumentode unificação e de melhoria da qua-lidade das ações do Movimento Es-pírita brasileiro.

P. – Qual sua expectativa com

relação ao ano do Bicentenário deKardec?

CSR – O ano de 2004 é exce-lente oportunidade para que Kar-dec seja mais conhecido e reco-nhecido. Devemos fazer um esforçoconjugado para que as comemora-ções do Bicentenário possam levarao mundo não espírita um pou-co da extraordinária dimensão deAllan Kardec.

P. – E o Censo Espírita?CSR – O Censo Espírita é tam-

bém oportunidade de conhecermosnúmeros confiáveis a respeito donosso Movimento. Para tanto, con-tamos com os Centros Espíritas pa-ra a divulgação e o levantamento deinformações preciosas para que pos-samos nos posicionar melhor na so-ciedade brasileira.

P. – Uma mensagem para oleitor de Reformador.

CSR – Creio que o Brasil, Co-ração do Mundo, Pátria do Evan-gelho não será uma destinação semesforço. Construir um tempo novode fraternidade e de paz far-se-á apartir de modelos de amor. O Espi-ritismo oferece-nos abençoada opor-tunidade de compreensão e de cons-trução de tais modelos. Unamo--nos para que o Consolador possafazer bem a sua parte na construçãodo mundo melhor com que todossonhamos.

Reformador/Abril 2004 11129

ENTREVISTA: CÉSAR SOARES DOS REIS

César Soares dos Reis, dirigente do Lar Fabiano de Cristo e designado pelo Conselho Federativo Nacional coordenador das Comissões do Bicentenário de Kardec e do Censo Espírita, é o entrevistado do mês

Oportunidade para que Kardec sejamais conhecido e reconhecido

César Reis falando na Reunião doCFN/2003

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12 Reformador/Abril 2004130

OEspiritismo não nos abre ocaminho da deserção do mun-do.

Se é justo evitar os abusos doséculo, não podemos chegar ao exa-gero de querer viver fora dele. Usu-fruamos a vida que Deus nos dá,respirando o ar das demais criatu-ras, nossas irmãs.

Para seguir a própria consciên-cia, podemos dispensar a virtu-de intocável que forja a santidadeilusória.

Não sejamos sombras vivas,nem transformemos nossos laresem túmulos enfeitados por filigra-nas de adoração.

Nossa fé não é campo fechadoà espontaneidade.

Encarnados e desencarnadosprecisamos ser prudentes, mas issonão significa devamos reprimir ex-pansões sadias e não nos abracemosuns aos outros. A abstinência domal não impõe restrições ao bem.

Assim como a virtude jactan-ciosa é defeito quanto qualquer ou-tro, a austeridade afetada é ilusãosemelhante às demais.

Não façamos da vida particularuma torre de marfim para encaste-lar os princípios superiores, ou es-trado de exibição para entronizar oponto de vista. A convicção espíri-ta não é insensível ou impertinente.

A inflexibilidade, no dever, nãoexige frieza de coração. Fujamos aoproselitismo fanatizante, mas, nempor isso, cultivemos nos outros aaversão por nossa fé.

Se o papel de vítima é sempreo melhor e o mais confortável, nempor isso, a título de representá-lo,podemos forçar a nossa existência,transformando em verdugos, à for-ça, as criaturas que nos rodeiam.

Não sejamos policiais do Evan-gelho, mas candidatemo-nos a ser-vidores cristãos.

Nem caridade vaidosa que agra-ve a aspereza do próximo, nem se-cura de coração que estiole a alegriade viver.

Quem transpira gelo, dentroem breve caminhará em atmosferaglacial.

A crença aferrolhada no orgu-lho desencadeia desastres tão gran-des quanto aqueles criados pelo ma-terialismo.

Não sejamos companhias ente-diantes.

Um sorriso de bondade nãocompromete a ninguém.

A fé espírita reside no justomeio-termo do bem e da virtude.

Nem o silêncio perpétuo dameia-morte, que destrói a naturali-dade, nem a fala medrosa da inibi-ção a beirar o ridículo.

Nem olhos baixos de santidadeartificiosa, nem anseio inexperientede se impor a todo preço.

Nem cumplicidade no erro, naforma de vício; nem conivência

com o mal, na forma de aparenteelevação.

Fé espírita é libertação espiri-tual. Não ensina a reserva calculadaque anula a comunicabilidade, cons-trangendo os outros, nem recomen-da a rigidez de hábitos que esterili-za a vida simples. Nem tristezasistemática, nem entusiasmo pueril.

Abstenhamo-nos da falsa idéiareligiosa, suscetível de repetir osdesvios de existências anteriores, nasquais vivemos em misticismo aca-brunhante. Desfaçamos os tabus dasuperioridade mentirosa, na certezade que existe igualmente o orgulhode parecer humilde.

O Espiritismo nos oferece averdadeira confiança, raciocinada erenovadora; eis por que o espíritanão está condenado a atividadeinexpressiva ou vegetante. Carida-de é dinamismo do amor. Evange-lho é alegria. Não é sistema de res-tringir as idéias ou tolher as ma-nifestações, é vacinação contra oconvencionalismo absorvente.

Busquemos o povo – a verda-deira paixão de Jesus –, convivendocom ele, sentindo-lhe as dores, eservindo-o sem intenções secundá-rias, conforme o “amai-vos uns aosoutros” – a senda maior de nossaemancipação.

Ewerton Quadros

Fonte: XAVIER, Francisco C., VIEIRA, Wal-

do. O Espírito da Verdade. 12. ed., Rio de

Janeiro: FEB, 2000, cap. 38, p. 94-96.

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

A Paixão de Jesus

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Reformador/Abril 2004 13131

Há cerca de dois anos descobri-mos um site na Internet dedi-cado à venda de obras raras

que abrangem todos os ramos doconhecimento e do interesse hu-manos.

Ao digitar o nome Allan Kar-dec, qual não foi nossa surpresa aonos depararmos com algumas edi-ções publicadas ainda em vida doCodificador, trazendo o selo dos li-vreiros Didier e Ledoyen, inclusiveas primeiras edições de A Gênese(1868), O Céu e o Inferno (1865), OLivro dos Médiuns (1861) e O queé o Espiritismo? (1859). Recebemosos livros pelos Correios, em enco-menda especial, em adequado esta-do de conservação, inclusive umdeles (A Gênese) com a sua capaoriginal, verde-claro, tal como foilançado na época. Os demais esta-vam encadernados.

Estimulados pela descobertainusitada, periodicamente navegá-vamos na Internet em busca de ou-tros livros. Eram incursões quasediárias, que se revelaram de grandeutilidade, pois conseguimos obter

a 2a edição de O Livro dosEspíritos (1860) e a 3a deO Evangelho segundo oEspiritismo (1866), isto é,os textos definitivos quetêm servido de base para astraduções desses livros nosdiferentes idiomas da Ter-ra.

Posteriormente, atra-vés do mesmo site –http://www.chapitre.com –deparamo-nos com a ofer-ta da 2a edição de ObrasPóstumas (1890) e com a5a edição de O Espiritismona sua expressão mais sim-ples. Recebemos, depois, a2a edição de O Livro dosMédiuns, 5a de O Livro dosEspíritos e 5a de O Evange-lho segundo o Espiritismo.

A Biblioteca de ObrasRaras da FEB já dispunhada 1a edição de O Evange-lho segundo o Espiritismo, publica-da com o título de Imitação doEvangelho segundo o Espiritismo(1864), oferecida aos espíritas bra-sileiros em edição fotomecânica(1979). Ou seja, com as ediçõesoriginais conseguidas em Paris, sófaltava à Federação Espírita Brasilei-ra a primeira edição de O Livro dos

Espíritos: a que foi lançada pelo li-vreiro Dentu, na mesma cidade, em18 de abril de 1857, e que marcouo surgimento da Doutrina. Comose sabe, a edição original era dividi-da em três partes e continha apenas501 perguntas.

Conseguir tal exemplar era ta-refa dificílima, para não dizer im-

O Livro dos Espíritos – 1a ediçãoA FEB é, talvez, a única, no Brasil, a possuir a edição original de

O Livro dos Espíritos, lançada por Kardec em 18 de abril de 1857

Evandro Noleto Bezerra

Capa da 1a edição (tamanho reduzido)

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14 Reformador/Abril 2004132

possível. Nem o próprio Dr. Canu-to Abreu, profundo conhecedor eestudioso do Espiritismo e detentorde valiosa biblioteca particular, pos-suía o referido exemplar. E tanto is-to é verdade que, em 1957, para co-memorar o primeiro Centenário doEspiritismo, serviu-se de fotocópiasde um dos dois únicos exemplaresexistentes na Biblioteca Nacional deParis, para publicar o texto bilíngüe(fac-símile do original francês e suatradução em português) com quebrindou os estudiosos do Espiritis-mo no Brasil.

Para obviar esses inconvenien-tes, passamos a navegar em outrossites estrangeiros, especialmente nohttp://www.abebooks.com, até duasvezes por dia, na expectativa, postomuito distante, de encontrar o pri-meiro Livro dos Espíritos. E não éque o milagre aconteceu?! No dia13 de janeiro deste ano, lá estava olivro em questão! Recebemo-lo viaCorreios, em 4 de fevereiro último,procedente de uma cidade do inte-rior da França, em bom estado, semassinaturas de proprietários anterio-res, sem anotações à parte, com al-gumas manchas e com a sua capaoriginal, em cor verde-claro. Neces-sita, naturalmente, passar por umprocesso especial de restauração,não só com vistas ao seu viço origi-nal, mas, também, à sua maiordurabilidade. Afinal de contas, épreciso que os espíritas de outrasgerações também possam ver estapreciosidade.

Está, pois, de parabéns, a Bi-blioteca de Obras Raras da Federa-ção Espírita Brasileira, talvez a úni-ca do País inteiro e uma das rarasdo Planeta a possuir em seu acervoa primeira edição do primeiro livroda Codificação Espírita.

Senhor Jesus, na condição dehumílimos trabalhadores dacausa do Bem, aqui vimos ro-

gar-te o amparo amigo para quenão resultem vãos nossos esforçosem aproveitar a oportunidade dereparação a todos concedida. Háaqui pequeninos, sofredores, neces-sitados, encaminhados a esta Casaapós recolhimento nas zonas de ví-cios e crimes existentes nos doisplanos de vida, a quem devemos as-sistência moral e material. Tua bon-dade, Senhor, os enviou a nós paraque os orientássemos à luz doEvangelho; a nós, Senhor, que ou-trora também recolheste nas mes-mas condições que eles.

Sabemos dos sofrimentos porque passam, embora possam mo-mentaneamente estar exercendo afunção de algozes, vingadores, per-seguidores cruéis. Não desconhece-mos o profundo sentimento de so-lidão que permanentemente osangustia, pois que a pestilência desuas vibrações, o negrume de suasconsciências, cria em torno de seuspsiquismos barreiras magnéticas detal intensidade que impedem lhescheguem as vibrações de carinho,afeto e amizade a eles enviadas porEspíritos que eles amaram e lhesquerem bem, pois também eles,um dia, foram filhos, pais, mães, ir-mãos, amigos...

São feras solitárias e angustia-das, mas cuja crueldade, embora fa-ça sofrer, por necessidades cármi-cas, o próximo colocado sob suaesfera de ação e influenciação, aca-ba por atingi-los com intensidade

maior do que experimentam suasvítimas.

Um dia, Mestre, o cansaço portais atitudes vergou-lhes os ombros,extrema solidão atingiu-lhes maisfortemente o coração e, saudosos,lembraram-se dos dias em que oSol, as flores da amizade e do afetoaqueciam e enfeitavam suas cons-ciências e, por um momento, cogi-taram de a tudo abandonar, reen-caminhando-se para roteiros reno-vados... E nesse instante, Senhor,tu, que és a Grande Estrela a aque-cer os corações humanos, os arreba-nhaste das negras sendas do passa-do, para conduzi-los às duras ex-piações, em que a dor e a lágrima,os mecanismos da lei de causa eefeito ser-lhes-ão os guias, por agi-rem como lapidadores do homemembrutecido no egoísmo, até quese capacitem ao redirecionamentonas renovadoras trilhas do Evange-lho.

Ajuda-nos, Senhor, a ajudá-los.Inspira-nos o verbo, revigora-nos aboa vontade nos serviços do Bem efortalece-nos nas lutas contra nos-sas próprias limitações e fraquezas,para que melhor te possamos servir,servindo a estes teus pequeninos.

Desde já, Mestre, sabemos quetua caridade nos ajudará, e, por tu-do o que nos dás e darás, num prei-to de ação de graças pelo imensoamor que a todos dedicas, ergue-mos hosanas a ti, Senhor, Filho deDavi, irmão bondoso, amigo com-passivo de todos nós.

Graças a Deus! Muita paz!

Frei José dos Mártires

(Mensagem recebida psicograficamentepela médium Tânia de Souza Lopes em 28de junho de 2002, em Reunião Pública naSede Seccional do Rio de Janeiro.)

Oração

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Reformador/Abril 2004 15

Meus bons irmãos, Glória a Deus nas alturas e fraternidade entre to-

dos nós.

Éexpressiva a força do Espiritismo no cenário dasvidas que o entenderam e que se esmeram em se-guir seus ensinamentos.Essa força tem o poder de penetrar o cerne das al-

mas e provocar as transformações mais inusitadas,mais raras, mais difíceis, com formidável homenagemao Mestre Jesus, uma vez que todas as enobrecidas al-terações que se passam no íntimo dos seres acabampor incrementar o programa evolutivo do nosso pla-neta, sob a supervisão do Excelso Pastor, que é Jesus.

A força que o Espiritismo conduz em si, de acor-do com as falas do Codificador Allan Kardec, encon-tra-se na sua estruturação filosófica, o que nos impõeo dever de conhecê-lo, com sua grandiosa proposiçãopara o pensamento da humanidade, a fim de que nãonos falte o reforço do entendimento para vivenciá-lodevidamente, dignamente.

Sem que conheçamos as entranhas do pensamen-to espírita, não passará o Espiritismo de um sistema amais de crença, capaz de, uma vez não claramentecompreendido, deixar a criatura completamente cegapelo excesso de claridade que projeta e que, sem os fil-tros do raciocínio, não consegue fazer-se útil.

O conhecimento da Doutrina Espírita, então,torna-se medida de urgência nos arraiais em que nosmovemos. Não podemos admitir que a ignorância re-lativamente ao Consolador se enraíze e se mantenhano âmago do nosso crescente movimento.

Parece-nos que, na medida em que um númeroagigantado de livros espíritas ou espiritualistas é der-ramado na correnteza do Movimento Espírita, con-tingentes consideráveis de pessoas podem cansar-seprematuramente e passar a ler somente as orelhas des-ses livros, ou colecionando autógrafos dos seus respei-táveis autores, deixando-os esquecidos nas estantes, atéque deles já ninguém se recorde.

Esse seria o fenômeno lastimável que poderíamosconsiderar como a morte do livro, que desapareceusem, sequer, ter sido conhecido para ser assimilado pe-los valores e verdades que porte, ou devidamenterejeitado em função de impropriedades que manifeste.

O Movimento Espírita, assim, é chamado aresponsabilizar-se, sim, pela divulgação dos bons textos,porém assumindo o dever de incentivar, de incremen-tar o seu estudo, desenvolvendo por meio dos recur-sos mais variados, que estejam disponíveis, o senso crí-tico dos profitentes do Espiritismo, laborando paraque não se instalem posturas fanatizantes por ausên-cia do indispensável esquadrinhamento das leituras.

É assim que sentiremos de perto a força transfor-madora do Espiritismo, pois jamais alguém poderá vi-venciar uma proposta que ignore; ninguém amará auma causa que, de fato, ainda não entenda.

Nesta oportunidade, meus bons irmãos, recebo ahonrosa tarefa de expressar-me em nome dos Espíri-tos trabalhadores do Espiritismo vinculados ao psi-quismo do nosso Brasil Central, particularmente osdo amado Mato Grosso. Entre tantos companheiros,instalados nas dimensões do Infinito, encontram-seconosco os queridos Mário Corrêa da Costa, Aristo-telino Praieiro e o nosso Dom Carlos do Amor, emnome dos quais me expresso.

Saudamos, aqui, o abençoado evento federativo,pela grandiosidade dos seus objetivos, pelo trabalhode confraternização de todos nós em torno do IdealEspírita que nos irmana.

Despedimo-nos, então, comovido e fazendo vo-tos para que sejamos, todos, os grandes divulgadoresdessa ingente força do Espiritismo, podendo oferecerà nossa sociedade e ao mundo a contribuição dos nos-sos esforços.

Recebam todo o apreço do pequeno servidor,

Brasiliano Baraúna

(Mensagem psicografada pelo médium J. Raul Teixeira em7/11/2003 durante Reunião do Conselho Federativo Nacional,na sede da Federação Espírita Brasileira, em Brasília.)

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Conhecimento da Doutrina Espírita

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16 Reformador/Abril 2004

O amor é a finalidade; a genero-sidade é o caminho.

Spinoza

Há uma razão muito simplespara saber por que as pessoasmais queridas são sempre as

primeiras a serem lembradas: é quea generosidade que lhes caracteri-za a conduta é bálsamo para nossasinseguranças, verdadeiro recantoonde se pode descansar das pressõesdo dia-a-dia.

Lembro-me de um professormuito atento a essa virtude. Em de-terminado dia, próximo de meus14 anos, diante de uma questão er-rada de matemática que não souberesolver, ele me disse, com um levesorriso no rosto:

– Não se preocupe com isso.Você já acertou tantas outras con-tas, que errar uma de vez em quan-do é normal. Vamos trabalhar paraque não volte a acontecer, em favorde sua tranqüilidade.

É por causa desses pequenosgestos que o poder dos professoresé eterno. Não é possível dizer ondetermina sua influência. Certamen-te a desse mestre me acompanha atéhoje, agindo sutilmente em minhaauto-estima quando preciso injetar--lhe ânimo.

A generosidade é irmã dajustiça. O pensador francês Sébas-tien Chamfort (1741-1794) afirmaque é preciso ser justo antes de sergeneroso. Na opinião de André

Comte-Sponville1, as duas virtudessão de um registro diferente, e porisso devem ser entendidas com suascaracterísticas específicas.

Para o filósofo francês, a gene-rosidade é mais subjetiva, mais sin-gular, mais afetiva, mais espontâ-nea, ao passo que a justiça guardaem si algo mais objetivo, universal,intelectual ou mais refletido. Paraele, a generosidade parece devermais ao coração ou ao tempera-mento; a justiça, ao espírito ou àrazão.

...Penso que o sentimento que

ressuma das páginas iluminadas deAllan Kardec é uma expressão cris-talina da verdade que caracteriza aTerceira Revelação. Os textos doCodificador são vitalizados pela for-ça da justiça, não sem deixar brilhartambém esclarecimentos sublimesacerca da misericórdia e da carida-de, dentre tantos outros valores uni-versais.

Já os textos de Léon Denis sãoo retrato mais sublime da poesiaque há no bom do pensar e no be-lo do existir. O filósofo francês sou-be falar com acendrado amor dosproblemas do ser, do destino e dador, oferecendo ao homem imortalo exato peso da consolação de queessa Doutrina se faz portadora.

Em minha opinião, a grandezado pensamento do Espírito Joannade Ângelis se manifesta de formajusta, sem grandes concessões a ar-roubos próprios da emotividade,

muito embora também nos toquema alma. Por outro lado, os Espíritosque escreveram por Chico Xavierdeixaram quase sempre a marca daemoção em páginas inesquecíveis,vestidas de candura e bondade.

O que é mais importante dian-te dessas características específicasde cada ser? Não é este o tópico aser destacado neste trabalho. O queinteressa é mostrar que ambas vir-tudes – justiça e generosidade – de-vem ocupar espaço dentro do co-ração do homem interessado naprópria renovação.

...Um aluno do curso de filosofia

aplicada à comunicação2 me per-guntou o que era maior: a solida-riedade ou a generosidade?

Para justificar a pergunta, eledisse que uma das palavras mais re-petidas nos discursos de políticosera justamente solidariedade. Ten-tando entendê-la, notou que ela fazreferência a um mundo de interde-pendências, em que as pessoas pre-cisam umas das outras, bem comode preservar a Natureza, as fontesde recursos naturais, como água ealimentos, e trabalhar para que to-dos tenham acesso ao bem-estar.

Só que ele compreendeu tam-bém que na atitude dos homensque adotam esse discurso, a solida-riedade muitas vezes passa distante.Eles não pensam em que a mortede alguém pode torná-los menos vi-vos, em que a pobreza dos outrospode fazê-los menos ricos. É aí que,

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A doçura da generosidadeCarlos Abranches

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Reformador/Abril 2004 17

para o aluno, o domínio da solida-riedade passa para o da generosi-dade.

Durante o diálogo, citei Com-te-Sponville, que afirma não ser desolidariedade que necessitam a Áfri-ca, parte da Ásia ou a América doSul, regiões pobres do Planeta, massim de justiça e de generosidade. Eudiria que todos os outros recantosdo mundo também. A solidarieda-de pode e deve ser um grande in-centivo à prática da generosidade,mas para sê-lo, é preciso que váalém do interesse apenas solidário.

É nessa hora que a atitude dobem deixa de ser um jogo, uma tro-ca, verdadeira barganha feita entrea criatura e o Criador (eu faço issoe o senhor me dá aquilo), e passa aser uma expressão pura do interes-se do ser pela transformação da Hu-manidade, a partir de seu própriocoração.

É por isso que não existe espa-ço no Espiritismo para as chama-das promessas, muito comuns entreos milhões de fiéis que visitam ossantuários religiosos espalhados pe-lo mundo. Sob o ponto de vistadoutrinário, a generosidade é o va-lor que elimina a possibilidade daprática do bem por interesse.

Sponville considera que a gene-rosidade aparece no cruzamento deduas virtudes gregas, a magnanimi-dade e a liberalidade. O magnâni-mo não é nem vaidoso nem baixo,o liberal não é nem avaro nem pró-digo, por isso são sempre generosos,quando não se identificam.

O ser generoso é consciente desua própria liberdade e da firme de-cisão de bem usá-la. O espírita ge-neroso aprende um pouco a cadadia a traduzir suas leituras e refle-xões doutrinárias nas atitudes que

toma, por menores e mais singelasque sejam. É um dos resultadospráticos de sua vivência espírita co-tidiana. Isso o deixa mais feliz, ape-sar das inúmeras batalhas que pre-cisa vencer em favor da própriamelhoria.

Há quem acredite que em tu-do é preciso vestir o manto da ra-zão, a fim de se acertar mais. Poisacredito que a generosidade é umadas virtudes que extrapolam esserigor.

É bem certo que autoconheci-mento é dever de todos os dias, maspara fazer o bem, a própria essênciada Doutrina orienta que ir além darazão significa agir com amor e ale-gria. E como é bom conviver compessoas alegres... e como ser espíri-ta nos faz alegres, com maturidadecrescente!

Repito as palavras de Sponvil-le, ao concluir a reflexão sobre agenerosidade. Ele afirma que ela,como todas as virtudes, é plural.“Somada à coragem, pode serheroísmo. Somada à justiça, faz-seeqüidade. Somada à compaixão,torna-se benevolência. Somada àmisericórdia, vira indulgência. Masseu mais belo nome é seu segredo,que todos conhecem: somada à do-çura, ela se chama bondade.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno Tra-

tado das Grandes Virtudes. Ed. Martins Fon-

tes, 1996, cap. 7.

2Disciplina do curso de jornalismo da Faculda-

de de Comunicação da Univap – Universida-

de do Vale do Paraíba –, em São José dos Cam-

pos.

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Espírita!Atende à dor maior a bramir quando passas:Homens na idade anciã gemendo em noite fria...Infratores da Lei sob as trevas madraças...Pais a implorar trabalho e pão de cada dia...

Jovens no imenso caos de aventuras devassas...Anônimos abrindo o corpo à Anatomia...Mil pedintes sem rumo a esmolar pelas praças...Mulheres onde o crime, em sombra, assalta e espia...

Petizes a esperar quem os peça primeiro...Enfermos sem socorro, ao léu da prova escura...E mães cata-papéis junto ao lixo-celeiro...

A Religião da Luz não se isola no Templo;Qual pábulo de amor para toda criatura,A grandeza da Fé fulge e cresce no exemplo!...

Lafayette Melo

Fonte: XAVIER, Francisco C., VIEIRA, Waldo. Antologia dos Imortais. 4. ed., Riode Janeiro: FEB, 2002, p. 253.

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AHumanidade começou, como advento do Espiritismo, aconhecer com mais amplitude

e profundidade o que significou,para o mundo, a vinda de Jesus, oMestre mais perfeito que a Terra co-nheceu, aquele que baseou seus en-sinamentos na pedagogia do exem-plo. Não há um só ensinamentodele que tenha ficado sem o seu tes-temunho pessoal. Jesus foi simplese minucioso no que ensinou verbal-mente e farto na exemplificação.Por isso é que se deve tomá-lo co-mo o Mestre e Guia a ser seguido,e não como um simples interme-diador entre o homem e Deus, queteria selado uma pretensa aliançacom o Criador, através do ofereci-mento do seu sangue para a salva-ção da Humanidade, conforme in-terpretações equivocadas de teólo-gos.

O próprio conceito de religiãofoi modificado a partir dos seus en-sinamentos. Com Jesus, aprende-seque religião não é algo mágico a serlevado a efeito no interior dos tem-plos. Não mais aquela idéia de quereligião é prática mística, contem-plativa, ritualística, cheia de oferen-das e fórmulas repetitivas vivencia-das no interior das assim chamadas“Casas de Deus”. Religião, confor-me seus ensinamentos e, principal-

mente seus exemplos, passou a ser,para aquele que lhe entendeu as li-ções, um novo modo de viver, derelacionar-se com o próximo, emtodos os ambientes, em todos osmomentos. Ensinando que Deusestá presente em todo o Universo,alargou os limites dos templos,transformando o mundo num tem-plo imenso: “Na casa de meu Pai hámuitas moradas.” (João, 14:2.)

Jesus não foi um Mestre degestos largos, de atitudes místicas econtemplativas, que vivesse confi-nado em ambiente religioso, ou emlocal distante, isolado do convíviodiário, longe da vida prática. Nemera um profissional religioso: eraum simples carpinteiro, que causouespanto em alguns, diante do quefalava e fazia: “Donde lhe vêm estas

coisas? E que sabedoria é esta quelhe foi dada? E como se fazem taismaravilhas por suas mãos? Não éeste o carpinteiro, filho de Maria,e irmão de Tiago, e de José, e de Ju-das, e de Simão? e não estão conos-co aqui suas irmãs? E escanda-lizavam-se nele.” (Marcos, 6:2-3.)

Jesus foi um educador de al-mas, que sempre enfatizou a neces-sidade do empenho da criatura nosentido de educar-se, de progredir:“Assim resplandeça a vossa luz dian-te dos homens” (Mateus, 5:16), dis-se no Sermão do Monte. Toda amensagem religiosa de Jesus se fun-damenta no esforço da criatura nosentido de revelar essa herança divi-na que todos trazemos. Nada degraças, além da graça da vida. Nadade privilégios: “(...) e então dará acada um segundo as suas obras.”(Mateus, 16:27.)

Sua mensagem é um verdadei-ro desafio, no sentido de transcenderos limites da lei antiga, que preconi-zava “olho por olho, dente por den-te”: “(...) se a vossa justiça não exce-der a dos escribas e fariseus, demodo nenhum entrareis no reinodos céus.” (Mateus, 5:20.) “Ouvis-tes o que foi dito: amarás o teu pró-ximo e aborrecerás o teu inimigo.Eu, porém, vos digo: amai a vossosinimigos, bendizei os que vos maldi-zem, fazei bem aos que vos odeiam,e orai pelos que vos maltratam e vosperseguem.” (Mateus, 5:43-44.)

Jesus não desejou discípulospassivos, encantados, deslumbrados.

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Jesus, o Educador de AlmasJosé Passini

Jesus foi um

educador de almas,

que sempre enfatizou

a necessidade do

empenho da criatura

no sentido de

educar-se, de

progredir

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Pelo contrário, sempre buscou tocaro sentimento, juntamente com oapelo para que a criatura raciocinas-se, a fim de saber, de compreenderporque deveria agir desse ou daque-le modo. O Sermão do Monte, quepara muitos é apenas um hino aosentimento, é, também, uma fortemensagem à inteligência, ao raciocí-nio: “E qual dentre vós é o homemque, pedindo-lhe pão o seu filho,lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhepeixe, lhe dará uma serpente? Sevós, pois, sendo maus, sabeis darboas coisas aos vossos filhos, quan-to mais vosso Pai, que está nos céusdará bens aos que lhos pedirem?”(Mateus, 7:9-11.)

A fé raciocinada começou,inquestionavelmente, com Jesus:“Olhai para as aves do céu, quenem semeiam, nem segam, nemajuntam em celeiros; e vosso Pai ce-lestial as alimenta. Não tendes vósmuito mais valor do que elas?”(Mateus, 6:26.) Ao ensinar a criatu-ra a não criar fantasias sobre a fé,mostra a linha divisória entre aqui-lo que deve ser objeto da preocupa-ção do homem, e o que deve ser en-tregue a Deus, perguntando: “Equal de vós poderá, com todos osseus cuidados, acrescentar um côva-do à sua estatura?” (Mateus, 6:27.)

A educação religiosa que Jesuspropicia ao homem leva-o a cons-cientizar-se de que não será atravésde orações repetidas que estaremosagradando a Deus: “E, orando, nãouseis de vãs repetições, como osgentios, que pensam que por mui-to falarem serão ouvidos.” (Mateus,6:7.) Nem através de oferendas oubajulações: “Portanto, se trouxeresa tua oferta ao altar e aí te lembra-res de que teu irmão tem algumacoisa contra ti, deixa ali diante do

altar a tua oferta, e vai reconciliar--te primeiro com teu irmão, e de-pois vem e apresenta a tua oferta.”(Mateus, 5:23-24.)

No seu trabalho educativo doespírito humano, Jesus mostrou aimportância do bom relacionamen-to com o próximo como caminhopara Deus, conforme bem enten-deu o Apóstolo João, que registrou:“Pois quem não ama a seu irmão,ao qual viu, como pode amar a Deus,a quem não viu?” (I João, 4:20.)

Significativo é o diálogo entreo doutor da lei e Jesus, conformerelatado no Evangelho de Lucas(10:25): “Mestre, que farei paraherdar a vida eterna?” Ali se vê umhomem, conhecedor profundo dasleis religiosas, a ponto de citá-las decor, logo que inquirido por Jesus:“Amarás ao Senhor teu Deus de to-do o teu coração, e de toda a tua al-ma, e de todas as tuas forças, e detodo o teu entendimento, e ao teupróximo como a ti mesmo.” (Deu-teronômio, 6:5 e Levítico 19:18.)Efetivamente, os judeus sabiam decor esses dois mandamentos maio-res. Entretanto, quando Jesus lhedisse: “Faze isso e viverás”, aquelehomem não compreendeu, porquepara ele não havia conexão entre opreceito religioso, que lhe enfeitavao campo intelectual, com a vidaprática, a ponto de perguntar:“Quem é o meu próximo?” Por sa-ber disso, é que o Mestre lhe con-tou a Parábola do Bom Samaritano,mostrando que o samaritano fez suaoferenda a Deus, não diante de umaltar, mas através do mais legítimorepresentante de Deus: o próximo!

Ele próprio deu-se como exem-plo no serviço a Deus na pessoa dopróximo. Curava sempre, impondoas mãos sobre os doentes, embora

não precisasse fazê-lo para curar (vi-de cura do servo do centurião: Ma-teus, 8:5-13), mas o fez para ensi-nar, recomendando que se fizesse omesmo: “(...) e porão as mãos sobreos enfermos e os curarão.” (Marcos,16:18.) Deixou bem clara, também,a gratuidade da prática religiosa:“(...) de graça recebestes, de graçadai.” (Mateus, 10:8.)

Vê-se, assim, que Jesus trouxeà Terra uma mensagem religiosasem precedentes. Simples, sem sersuperficial; profunda, sem ser com-plicada.

Uma concepção religiosa liber-tadora não agrada àqueles que dese-jam exercer o poder religioso. Estesprocuram conservar a religião comoalgo mágico, místico, extático, com-plexo, a ponto de a ela só teremacesso os doutos e os sábios, pessoaspretensamente especiais, que esta-riam mais habilitadas a intermediaras mensagens das criaturas ao Cria-dor. Jesus concedeu carta de alfor-ria à Humanidade, em relação à in-termediação sacerdotal, ao infor-mar a criatura humana de que elatem o direito legítimo e inalienávelde comunicar-se com seu Criador,diretamente, em qualquer lugaronde se encontre: “Mas tu, quandoorares, entra no teu aposento, e, fe-chando a tua porta, ora a teu Paique está em oculto; e teu Pai, quevê secretamente, te recompensará.”(Mateus, 6:6.)

Jesus libertou a criatura huma-na também da necessidade do com-parecimento ao templo, a fim de aliencontrar-se com Deus. O Mestrejamais convidou alguém a orarnum templo. Pelo contrário, quan-do a Samaritana se manifestou nosentido de adorar a Deus no Tem-plo de Jerusalém, o Mestre desauto-

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rizou tal atitude, dizendo-lhe: “Mu-lher, crê-me que a hora vem, emque nem neste monte nem em Je-rusalém adorareis o Pai. Deus é es-pírito e importa que os que o ado-ram o adorem em espírito e emverdade.” (João, 4:21-24.) ParaJesus não havia santuários, lugaresespeciais. Seus ensinamentos, suascuras, suas orações sempre foram le-vados a efeito onde quer que ele seencontrasse.

Ele foi crucificado exatamentepela coragem de contrapor-se aopoderio sacerdotal, àquela verdadei-ra ditadura religiosa.

Infelizmente, com o passar dostempos, o eixo da mensagem cristãfoi se desviando, saindo da área doestudo, da meditação à luz da ora-ção consciente, passando às práticasexteriores.

Essas verdades religiosas sim-ples, que estiveram ao alcance dehumildes pescadores, de viúvas e dedeserdados, foram, com o passar dotempo, relegadas a segundo plano,tendo sido postos em primeiro lu-gar o ritual, a solenidade, o manu-seio de objetos de culto, a vela, o vi-nho, a fumaça, os cantochãos, todoum conjunto imenso de práticas ex-teriores alienantes, buscadas no Ju-daísmo e no paganismo romano,que distanciavam o homem cadavez mais do esforço de auto-apri-moramento preconizado por Jesus.

Os pronunciamentos liberta-dores de Jesus não foram objeto deestudo pelos teólogos, que criaramas liturgias, os sacramentos, e, piorainda, a hedionda teoria das penaseternas, desfazendo a imagem doDeus Misericordioso, tão bem deli-neada pelo Mestre.

A mensagem cristã foi apeque-nada, podada, enxertada por aque-

les que dela se apossaram, cons-truindo uma religião atemorizado-ra e salvacionista, com base em ati-tudes místicas e na crença de queseria o sangue de Jesus o remissordos pecados da Humanidade. Foienfatizada a adoração extática a Je-sus-morto, em detrimento do esfor-ço em seguir Jesus-vivo.

Mas, o Mestre, conhecedor dafragilidade humana, sabia que, dealguma forma, isso iria acontecer,razão por que prometeu o Conso-lador: “Mas aquele Consolador, oEspírito Santo, que o Pai enviaráem meu nome, esse vos ensinará to-das as coisas, e vos fará lembrar de

tudo quanto vos tenho dito.” (João,14:26.)

Cumprindo sua promessa, en-viou-nos o Espiritismo, que não éapenas mais uma religião cristã,mas o próprio Cristianismo primi-tivo, que ressurge na sua pureza,pujança e objetividade originais,destacando-se das demais religiões,pelo menos das do Ocidente, peloseu aspecto altamente educativo.

BIBLIOGRAFIA:

A Bíblia Sagrada. Trad. João Ferreira de Almei-da. Ed. Sociedade Bíblica Britannica e Es-trangeira – 1937.

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O ódioInaldo Lacerda Lima

“Ouvistes que foi dito: Amareis o vosso próximo, eodiareis os vossos inimigos. Eu, porém, vos digo: Amai osvossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pe-los que vos perseguem e caluniam.”

Ah!... O ódio, irmão, é um cáustico terrível,é fogo que tortura a própria mente,que entenebrece o ser, pois impossívelé Deus estar presente em quem o sente!...

De todas as paixões que a um ser sensívelpossa atingir desordenadamente,nenhuma existe, enfim, mais corrosívelque a ira expressa em ódio atro e fremente!...

Nunca odeies a ninguém, prezado irmão,envenenando o próprio coração,condenando-o a bulcões sem paz, sem luz...

Portanto, a quem te fere ou caluniaperdoa sempre à Fé que hoje te guiaaos sublimados braços de Jesus!

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Pregações“E ele lhes disse: Vamos às aldeias vi-

zinhas para que eu ali também pregue;porque para isso vim.”

– (Marcos, 1:38.)

Neste versículo de Marcos, Jesus declara ter vindo ao mundo para a pregação.

Todavia, como a significação do conceito tem sido erroneamente interpretada, é

razoável recordar que, com semelhante assertiva, o Mestre incluía no ato de pregar

todos os gestos sacrificiais de sua vida.

Geralmente, vemos na Terra a missão de ensinar muito desmoralizada.

A ciência oficial dispõe de cátedras, a política possui tribunas, a religião fala de

púlpitos. Contudo, os que ensinam, com exceções louváveis, quase sempre se ca-

racterizam por dois modos diferentes de agir. Exibem certas atitudes quando pre-

gam, e adotam outras quando em atividade diária. Daí resulta a perturbação geral,

porque os ouvintes se sentem à vontade para mudar a “roupa do caráter”.

Toda dissertação moldada no bem é útil. Jesus veio ao mundo para isso, pre-

gou a verdade em todos os lugares, fez discursos de renovação, comentou a neces-

sidade do amor para a solução de nossos problemas. No entanto, misturou pala-

vras e testemunhos vivos, desde a primeira manifestação de seu apostolado sublime

até a cruz. Por pregação, portanto, o Mestre entendia igualmente os sacrifícios da

vida. Enviando-nos divino ensinamento, nesse sentido, conta-nos o Evangelho que

o Mestre vestia uma túnica sem costura na hora suprema do Calvário.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. 21. ed., Rio de Janeiro: FEB,2001, cap. 38, p. 91-92.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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Por que perde o Espírito encar-nado a lembrança do seu passa-do? “Não pode o homem, nemdeve, saber tudo. Deus assimo quer em sua sabedoria. Sem ovéu que lhe oculta certas coisas,ficaria ofuscado, como quem,sem transição, saísse do escuropara o claro. Esquecido de seupassado, ele é mais senhor desi.”

(O Livro dos Espíritos, q. 392.)

Dentre os obstáculos interpos-tos para a compreensão, o en-tendimento e a aceitação da

reencarnação como a verdade ine-lutável que é, encontra-se o questio-namento feito com freqüência so-bre o fato de não nos lembrarmosdas vidas anteriores.

Vários e numerosos são os ar-gumentos explicativos sobre essadeliberação divina para cada retor-no à vida carnal, podendo-se citar,do ponto de vista científico:

O restringimento do peris-pírito no processo reencarnatório;

O estado de perturbaçãoque acompanha o Espírito reencar-nante;

A imaturidade das célulasno sistema nervoso central, nosprimeiros anos de vida.

O momento exato da reencar-nação ocorre quando da fecundação

do óvulo feminino pelo gametamasculino, mas, precedendo essemomento tão especial, onde a atua-ção divina se faz presente, muitasoutras ações são necessárias, no Pla-no Espiritual.

No livro Missionários da Luz(André Luiz/Francisco Cândido Xa-vier), tais providências são descritasde forma magistral, no episódio quetrata da reencarnação de Segismun-do. A ligação fluídica do reencar-nante com os futuros pais implicana perda dos pontos de contatocom os vínculos que consolidou naesfera espiritual: alimentação dife-renciada, novos hábitos e outroselementos, dos quais “é necessárioque se desfaça, para penetrar, comêxito, a corrente da vida carnal.”Por interveniência da Espiritualida-de, atuando através de poderosacarga magnética, é procedida umaredução do corpo perispirítico doreencarnante, até que sua forma seassemelhe à de uma criança. Os Es-píritos induzem a vontade do reen-carnante, através de mensagens deincentivo: “(...) Imagine sua neces-sidade de tornar a ser criança paraaprender a ser homem!” Esse fatocorresponde à morte física carnal,com todas as suas características deperturbação.

O Instrutor Alexandre expõe,comparando: “(...) A enfermidademortal, para o homem terreno, nãodeixa, em certo sentido, de ser pro-

longada operação redutiva, liber-tando por fim a alma, desembara-çando-a dos laços fisiológicos (...).”

Necessário se diga que o proce-dimento de restringimento do pe-rispírito não é o mesmo em todosos processos reencarnatórios: “(...)Há companheiros de grande eleva-ção que, ao voltarem à esfera maisdensa em apostolado de serviço eiluminação, quase dispensam onosso concurso.Outros irmãos nos-sos, contudo, procedentes de zonasinferiores, necessitam de cooperaçãomuito mais complexa que a exerci-da no caso de Segismundo.”

O iluminado mentor Emma-nuel, guia espiritual de Chico Xa-vier, no livro Religião dos Espíritos,oferece novas luzes sobre estes tó-picos:“Encetando uma nova exis-tência corpórea, para determinadoefeito, a criatura recebe, desse mo-do, implementos cerebrais (...) nodomínio das energias físicas, e, pa-ra que se lhe adormeça a memória,funciona a hipnose natural comorecurso básico, de vez que, em mui-tas ocasiões, dorme em pesada le-targia, muito tempo antes de aco-lher-se ao abrigo materno. Na me-lhor das hipóteses, quando desfrutade grande atividade mental nas es-feras superiores, só é compelida aosono, relativamente profundo, en-quanto perdure a vida fetal. Emambos os casos, há prostração psí-quica nos primeiros sete anos de

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Esquecimento das vidaspassadas

Gil Restani de Andrade

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tenra instrumentação fisiológicados encarnados, tempo que se lhesreaviva a experiência terrestre.

Temos, assim, mais ou menostrês mil dias de sono induzido ouhipnose terapêutica, a estabeleceremenormes alterações nos veículos deexteriorização do Espírito, as quais,acrescidas às conseqüências dos fe-nômenos naturais de restringimen-to do corpo espiritual, no refúgiouterino, motivam o entorpecimen-to das recordações do passado, paraque se alivie a mente na direção denovas conquistas (...).”

No livro O Pensamento deEmmanuel, do estimado irmãoMartins Peralva, lê-se, no capítulo20: “Com o encolhimento do veícu-lo perispiritual – operação reduti-va, por ação magnética – subme-te-se o Espírito às limitações corpo-rais, com o que, praticamente, en-clausura-se na libré física, alteran-do-se-lhe, em conseqüência, o mo-vimento vibratório do perispírito.”

Do ponto de vista moral, oCodificador Allan Kardec enumeraas principais razões para o olvido dopassado:

As perturbações da vidacontingente, no lar e na sociedade:Se o reencarnante reconhecesse aspessoas que havia odiado, talvez oódio reaparecesse, sendo certo queficaria humilhado perante quemhouvesse ofendido. Importa acres-centar que a reencarnação, normal-mente, ocorre dentro do mesmocírculo de relacionamento da vidaanterior.

Como seria a vida de relaçãoentre pai e filho, se aquele reconhe-cesse no filho seu assassino de anta-nho? No livro Nosso Lar (AndréLuiz/Francisco Cândido Xavier), asenhora mãe de André Luiz comu-

nica-lhe que deverá partir para no-va reencarnação, quando então se-rá, novamente, esposa de Laerte,seu pai carnal, o qual, no Plano Es-piritual, achava-se em zona trevosa,ainda magnetizado, em termos ob-sidiantes, a duas entidades femini-nas, suas amantes na última vida fí-sica; dizia mais: que receberia asduas entidades como suas filhasqueridas, na vida carnal futura.Ora, sem o esquecimento do passa-do, como seria o relacionamentodessas criaturas, na vida de relaçãona Terra?

O maior mérito em praticaro bem e exercitar o livre-arbítrio:Em O Evangelho segundo o Espiri-tismo (capítulo V, item 11) encon-tramos: “Para nos melhorarmos,outorgou-nos Deus, precisamente, ode que necessitamos e nos basta: avoz da consciência e as tendênciasinstintivas (...).

Ao nascer, traz o homem con-sigo o que adquiriu, nasce qual sefez; em cada existência, tem umnovo ponto de partida.”

Léon Denis, em O Grande Enig-ma, lembra-nos a citação evangélica:

“Infeliz daquele que, tendo posto amão na charrua, olhar para trás.”

Efetivamente, neste mundo deprovas e expiações, onde o peso dasdificuldades, às vezes, verga a maisrija vontade, se fossem somados osequívocos do passado, a criaturanão poderia cuidar de seu progres-so, tendo um óbice muito forte àsua evolução. Quantas ocorrênciasdesta vida somos levados a esquecer,propositadamente, para liberar nos-sa vontade para agir.

Neste caso, o esquecimento éfator de estímulo ao progresso.Com muito mais razão, é justo queseja promovido o esquecimento dasvidas anteriores, onde os erros, pos-sivelmente, serão tão mais mar-cantes. Ainda no livro Nosso Lar,já especificado, o Espírito D. Laurainforma a André Luiz que lhe forapermitido o acesso, no Ministériodo Esclarecimento, ao registro desuas anteriores reencarnações, até olimite de 300 anos, porque mais doque isso, não suportaria.

Como nos afirma Léon Denis,em O Problema do Ser, do Destinoe da Dor (Ed. FEB): “É necessárioa ignorância do passado para quetoda a atividade do homem se con-sagre ao presente e ao futuro, paraque se submeta à lei do esforço e seconforme com as condições do meioem que renasce.”

Recordações humilhantes eorgulhosas: Diz Léon Denis, em OProblema do Ser, do Destino e daDor: “Todos os criminosos da His-tória, reencarnados para expiar, se-riam desmascarados; as vergonhas,as traições, as perfídias, as iniqüi-dades de todos os séculos seriamde novo assoalhadas à nossa vista.”Com que proveito? Em caso de ter-mos tido uma vida de grandes

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realizações no bem, tais fatos nãofuncionariam como impeditivos ànossa evolução, isto no caso de nãonos debruçarmos no orgulho portermos tido tal comportamento?Teríamos de ser ainda melhores nanova vida.

Em Obras Póstumas (Ed. FEB),Allan Kardec faz excelente observa-ção, a respeito, no item “O cami-nho da vida”: “(...) que proveito po-de o homem tirar de suas existên-cias anteriores, para melhorar-se,dado que ele não se lembra das fal-tas que haja cometido. O Espiritis-mo responde, primeiro, que a lem-brança de existências desgraçadas,juntando-se às misérias da vidapresente, ainda mais penosa torna-ria esta última. Desse modo, pou-pou Deus às suas criaturas umacréscimo de sofrimentos. Se assimnão fosse, qual não seria a nossahumilhação, ao pensarmos no quejá fôramos! Para o nosso melhora-mento, aquela recordação seriainútil. Durante cada existência,sempre damos alguns passos para afrente, adquirimos algumas quali-dades e nos despojamos de algumasimperfeições. Cada uma das taisexistências é, portanto, um novoponto de partida, em que somosqual nos houvermos feito, em quenos tomamos pelo que somos, semnos preocuparmos com o que tenha-mos sido. (...)”

Os preconceitos raciais, so-ciais, religiosos etc.: Prevalecemem nosso mundo os preconceitos.Imagine-se as criaturas tendo lem-branças de terem sido integrantesde famílias nobres ou extremamen-te humildes, de terem sido de famí-lias tradicionais de certos credos re-ligiosos etc. Na Índia, por exem-plo, ainda predominam os concei-tos de casta. Como viveriam, sa-

bendo que, em vida anterior, inte-graram tal ou qual casta, inferior ousuperior? E alguém que, tendo si-do judeu em uma vida, tenha re-nascido como palestino?

No livro Renúncia (Emma-nuel/Francisco Cândido Xavier),encontramos uma frase lapidar, queencerra toda uma filosofia a respei-to do esquecimento das vidas pas-sadas: “Sem a paz do esquecimentotransitório, talvez a Terra deixassede ser uma escola abençoada paraser um ninho abominável de ódiosperpétuos.”

Entretanto, a Codificação Es-pírita nos leciona que examinandoas nossas aptidões e inclinações, po-demos inferir de nosso passado ebuscar elementos para nossa rees-truturação moral e intelectual. Mais:não é somente após a morte que oEspírito terá recordações de suasoutras existências. Muitas vezes,quando Deus julga útil, permiteque o Espírito, durante o desdobra-mento natural do sono, tenha lem-

branças fragmentárias de outras en-carnações. Mesmo não recordandototalmente delas ao acordar, asmanterá no campo psíquico sob aforma de reflexos e condicionamen-tos positivos que, nos momentosde dúvida, podem ser preciosos ele-mentos de auxílio na tomada de de-cisões corretas.

São as “Reminiscências Cons-trutivas”, de que nos informa Mar-tins Peralva, em O Pensamento deEmmanuel, concluindo: “(...) em-bora vagas, ou talvez por isso mes-mo, constituem incentivo e susten-tação para o Espírito em novaexperiência, considerando-se querepresentavam valiosa ponte entreo Ontem e o Hoje, na áspera ca-minhada para o Amanhã.”

BIBLIOGRAFIAS:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, Parte 2a, cap.VII, p. 214.

______. O Evangelho segundo o Espiritismo.121. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. V,item 11, p. 105.

______. Obras Póstumas. 30. ed., Rio deJaneiro: FEB, 2001, p. 188.

XAVIER, Francisco C. Missionários da Luz,pelo Espírito André Luiz. 38. ed., Rio deJaneiro: FEB, cap. 13, p. 270 e 272.

______. Nosso Lar, pelo Espírito André Luiz,FEB.

______. Religião dos Espíritos, pelo EspíritoEmmanuel. 14. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001,Esquecimento e reencarnação, p. 111-112.

______. Renúncia, pelo Espírito Emmanuel.FEB.

DENIS, Léon. O Grande Enigma. 11. ed., Riode Janeiro: FEB, 1999, cap. XV, p. 196.

______. O Problema do Ser, do Destino e daDor. FEB.

PERALVA, José Martins. O Pensamento deEmmanuel. 7. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2000,cap. 20, p. 136 e 138.

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Sem a paz do

esquecimento

transitório, talvez a

Terra deixasse de ser

uma escola

abençoada para ser

um ninho abominável

de ódios perpétuos

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As idéias e as práticas espíritassão milenares. Basta abrirmoslivros sagrados antigos, e en-

contraremos, ali registrados, pensa-mentos e mesmo fatos que, hoje emdia, se somam àqueles formadoresda base da Doutrina Espírita, codi-ficada por Allan Kardec. Isso vematestar a antigüidade das comunica-ções entre vivos e “mortos”, e con-testar todos os que, malevolamen-te, tentam diminuir a importânciadas mesmas para o progresso daHumanidade.

Já os homens da Pré-história,por exemplo, na chamada épocaneolítica, ao sepultarem seus mor-tos, colocavam junto aos cadáveresarmas e adornos, num testemunhoinequívoco de que acreditavam navida futura.

Na secular Índia, diziam os Ve-das: “Há uma parte imortal no ho-mem, o Agni; ela é a que é precisorescaldar com teus raios, inflamarcom os teus fogos. De onde nasce aalma? Umas vêm para nós e partem;outras partem e voltam”. Krishnaensinava aos seus discípulos: “Ocorpo, envoltório da alma, que nelefaz sua morada, é uma coisa finita,porém a alma que o habita é infini-ta, imponderável, imortal.” E acres-centava: “Nascemos muitas vezes.”Buda, cerca de seiscentos anos antesde Cristo, após entrar em transe, co-municava-se com as almas dos cha-mados mortos.

No Egito, a esfinge – corpo detouro, garras de leão, asas de águiae cabeça de mulher – simbolizava a

imagem do homem que, saindo daanimalidade, atinge nova existência.

Na antiga Grécia, o filósofo Pi-tágoras chamava de Espírito ou in-teligência a parte imortal e ativa doser humano, afirmando ser a almao Espírito envolvido em seu corpofluídico, etéreo. Sócrates dizia ter oseu Daimon ou gênio. Platão, umdos fundadores da escola de Ale-xandria, admitia a teoria das trans-migrações das almas ou encarna-ções, registrando-a em suas obras –Fedro, Fedon e Timeo.

Na Gália, os druidas acredita-vam nas reencarnações progressivasda alma que, segundo eles, percorriatrês ciclos, correspondentes a três es-tados sucessivos. No primeiro, sofriao jugo da matéria, ou seja, o períodoanimal; no segundo, penetrava nosmundos de expiações e provas, entreeles a Terra; e, no terceiro, entravanos mundos beatificados ou alegres,onde penetrava em meio à espiri-tualidade maior, iluminada, atingin-do, tempos depois, o ciclo do infini-to, isto é, aquele pertencente a Deus.

Com o advento do Cristianis-mo, após a vinda do Cristo, a Hu-manidade começou, então, a receber,através dEle, uma outra revelação,isto é, o ensinamento até aquele mo-mento oculto aos homens, e lhesmostrou, “sob formas ainda desco-nhecidas, um poder de amar, umadoçura penetrante, uma fé comuni-cativa, que fundia a frieza glacial doscéticos e arrebanhava os ouvintes, ar-rastando-os após si” (palavras de LéonDenis, no livro Depois da Morte).

Depois, começaram a vir oschamados tempos modernos e,com eles, outra gama de antecesso-res do Espiritismo codificado. Noséculo XVIII surgiram as visões eestudos do sábio sueco Sweden-borg, as profecias de Cagliostro, asmanifestações da vidente de Pre-vorst, tão bem estudadas pelo Dr.Justinus Kener, em sua obra A Vi-dente de Prevorst publicada em1829, na Alemanha; os rappings oupancadas ocorridas na aldeia norte--americana de Hydesville em 1848;os fenômenos das “mesas girantes”que se espalhavam rapidamente portodo o mundo. Inicialmente, nonorte da Escócia, em 1852, com ochamado “moderno espiritualis-mo”, exportado dos Estados Uni-dos, principalmente por meio da fa-mosa médium, Sra. M. B. Hayden,que chegou a converter ao espiri-tualismo famosas personalidades,entre elas o não menos famoso re-formador social Robert Owen.

Aqui terminamos essas nossaspequenas considerações, a respeitode tão importante assunto, saben-do, porém, ser muito pouco, ainda,para mostrarmos o grande númerode antecessores do Espiritismo.

E as fechamos com pequenatranscrição da Introdução, item I àobra O Evangelho segundo o Espi-ritismo, de Allan Kardec: “(...) OEspiritismo se nos depara por todaa parte na antigüidade (...) Por to-da a parte se lhe descobrem os ves-tígios: nos escritos, nas crenças enos monumentos (...).”

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O Espiritismo é milenarRildo G. Mouta

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26 Reformador/Abril 2004

Por ocasião da 93a ConvençãoAnual do Rotary Internatio-nal, realizado em 2002 na ci-

dade espanhola de Barcelona, osmais de 19.000 rotarianos ali reuni-dos, oriundos de 146 países, pude-ram ainda mais intensamente mo-tivar-se para a prática dos generososprincípios éticos daquela grande or-ganização, inspirando-se na divisaque naquele ano foi escolhida paraas suas atividades mundiais: “Plan-te Sementes de Amor”.

Nossos queridos co-idealistas dotríplice ideal EEE (Evangelho, Espi-ritismo, Esperanto), o casal Giu-seppe e Úrsula Grattapaglia, quetambém são rotarianos, com inten-sa atuação no Rotary Club de AltoParaíso (GO), lá estiveram para, co-mo afirmou Giuseppe, “plantar asprimeiras Sementes de Amor ao Es-peranto”, com a esperança de vê--las já germinando quando da pró-xima Convenção Anual, que jáaconteceu na cidade australiana deBrisbane.

Os resultados certamente fo-ram animadores e fecundos, poisem 2003 o Secretário-geral, emChicago, aceitou proposta, enviadapelos Distritos 4530 (Distrito Fe-deral, Goiás e Tocantins) e 4410(Vitória-ES) para uma Resoluçãono sentido de que o Esperanto seja

gradualmente introduzido nos clu-bes rotários de todo o mundo, semqualquer custo adicional para a or-ganização.

A estratégia adotada na pro-posta para a conscientização dos ro-tarianos sobre a utilidade do Espe-ranto levou em conta a tremendadimensão do problema lingüísticocom que se defronta uma comuni-dade organizada em 32.000 clubes,espalhados em 166 países e usando10 línguas oficiais.

Os dois Distritos acima men-cionados também tiveram o cuida-do de não sugerir a adoção do Es-peranto como 11a língua oficial,pois que uma proposta dessa natu-reza, por implicar elevação de cus-tos com tradução e interpretação,fatalmente determinaria a sua re-jeição.

O texto também é embasadoem dois argumentos a que a gene-rosa comunidade rotariana é parti-cularmente sensível: o Esperanto éuma solução do problema lingüís-tico em plena sintonia com os direi-tos humanos, e sua adoção se en-quadra perfeitamente na famosaregra four-way-test (teste dos qua-tro critérios), tão cara aos rotarianos– o que você faz, diz e pensa é jus-to, verdadeiro, oportuno e honesto?

A proposta de nossos dois ati-vos “esperotarianoj” (expressão emEsperanto que define a condição deesperantista-rotariano) repercutiude modo tão simpático nos círculos

do movimento esperantista neutroque o portal esperantista “gxanga-lo” www.gxangalo.com publicouum excelente texto sobre o assunto,produzido por Lucas Yassumura,redator do Esperanto-Brasil, no en-dereço (URL)http://gxangalo.com/brazilo/ar-ticle.php/storyid=13, que abaixotranscrevemos como arremate des-ta notícia:

“Mais de 32.000 clubes espalha-dos em mais de 160 países, que usam10 línguas oficiais entre si. Esta ver-dadeira Babel é um cenário promis-sor para o Esperanto apresentar suaproposta de unificação lingüística? Osmembros do Rotary International quefalam Esperanto acreditam que sim.Úrsula Grattapaglia analisa a condu-ção do Esperanto no Rotary Interna-tional.

O movimento de 32.000 clubesem 166 países pode causar problemaslingüísticos a qualquer tipo de orga-nização. O Rotary International,apesar do nome em inglês, tenta seruma instituição verdadeiramente in-ternacional que promove a paz e obem-estar em todo o planeta. Nasci-da praticamente na mesma época dosurgimento do Esperanto, no começodo século passado, mais precisamenteem 1905, está ciente da necessidadede um idioma neutro em sua organi-zação internacional. A partir daí,surgiu um grupo chamado “esperota-rianoj”, composto de membros espe-

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A FEB E O ESPERANTO

Rotary International e EsperantoAffonso Soares

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rantistas do Rotary International(RI).

Os representantes de 530 dis-tritos ao redor do mundo receberãoem breve uma documentação deta-lhada sobre a proposta por uma re-solução que conduza gradativa-mente o Esperanto para ser umadas dez línguas oficiais do RI. ‘Fi-nalmente, centenas de pessoas sufi-cientemente inteligentes deverão sepreocupar com o problema lingüís-tico e com uma solução eventual,mesmo que votem contra’, confiaÚrsula Grattapaglia. ‘Outro pontoda proposta é não criar encargos fi-nanceiros ao RI. Se pedíssemos queo RI usasse o Esperanto como adécima primeira língua, isso acarre-taria em milhões de traduções e in-terpretações, bloqueando a aprova-ção da proposta por razões finan-ceiras. Compreendemos que se tra-ta somente de uma recomendação– da mesma forma como o queacontece com a Unesco –, mas já éum bom começo para uma cons-cientização concreta’, completa.

O texto da proposta diz que oRotary International, para facilitare promover a paz, ‘deve consideraruma condução gradual da línguaneutra internacional nos clubes aoredor do mundo, sem custos adi-cionais, para ser uma segunda lín-gua ao lado das línguas naturais’. OSecretário Mundial do RI aborda-rá o assunto durante o ConselhoLegal em junho de 2004, na cida-de de Evanston, Estado de Illinois,nos EUA. Nessa ocasião, estarãoreunidos os delegados de 530 distri-tos para votarem pelas melhorias daorganização. Esse evento ocorre acada três anos.”

...

Os esperantistas-espíritas, queigualmente sonhamos com a ado-ção do Esperanto como língua pa-ra as relações internacionais da fa-mília espírita mundial, devemosrefletir sobre a sutileza com que ocírculo de esperantistas rotarianosorganiza a sua estratégia para atin-gir o mesmo fim: tudo a seu tempo,sem saltos demasiado largos e in-tempestivos, preparando-se o futu-ro com o material e as circunstân-cias disponíveis no presente etendo-se sempre em mente que oprogresso se faz, inexoravelmente,tanto pelo sacrifício das almas devanguarda como pela própria forçadas coisas.

A inércia ante os impositivosda evolução é forte traço caracterís-tico das coletividades humanas,mesmo entre aquelas que já empu-nham estandartes que anunciamnovos tempos, novos ideais, mascontra o progresso não há obstácu-los invencíveis.

A idéia de uma língua interna-cional neutra para as relações entreos povos, como toda idéia efetiva-

mente progressista, não será aceitapor imposições de cima para baixo,por leis, decretos, resoluções decongressos ou iniciativas seme-lhantes.

Assim também será entre nós,os que compomos o círculo de es-perantistas adeptos do Espiritismo.O início da difusão se deu no seioda família espírita do Brasil, e ago-ra, quando se forma a grande famí-lia espírita mundial, a idéia se es-praiará entre os seus membros,levada com paciência, espírito fra-terno e a inabalável convicção deque tal objetivo está nos desígniossuperiores, sendo, portanto, dignode ser perseguido e atingido. Mas,sem precipitações prejudiciais, a fimde que não se retarde a sua conse-cução.

Os círculos espíritas de outrasterras mostram-se receptivos, sen-síveis à generosa idéia, e uma dasmais concretas provas se revela nasiniciativas do Conselho Espírita In-ternacional a respeito do tema. Etudo em perfeita consonância como espírito da Doutrina, que é omesmo espírito do Evangelho: ne-nhuma imposição, mas tão-somen-te persuasão, argumentação bemfundamentada e, sobretudo, bas-tante paciência sustentada pela fé epela esperança. Jamais percamos devista que os Espíritos Superiorestêm prestigiado e incentivado apropaganda, o ensino e a utilizaçãodo Esperanto no seio do Movi-mento. Eis, entre tantos outros, umforte motivo para que nunca desa-nimemos, sempre perseveremos,absolutamente certos de que traba-lhamos para o futuro, para a cons-trução da Nova Era, em que certa-mente brilhará a estrela do Espe-ranto.

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Os Espíritos

Superiores têm

prestigiado e

incentivado a

propaganda, o

ensino e a

utilização do

Esperanto

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Não era um modelo de donade casa, meio para a displi-cência.

Não obstante, esforçava-se porevitar restos de alimentos ao léu eacúmulo de pratos e panelas por la-var, mantendo relativa ordem nacozinha.

Isso porque, como é próprioda sensibilidade feminina, guarda-va instintivo horror às baratas.

Elas costumavam fazer incur-sões quando seu lado desleixadoaflorava.

Então, literalmente, sapateava,espavorida, a gritar socorro, comose ameaçada por monstros.

Depois, reclamava, indignada:– Só queria saber por que Deus

criou esse bicho indecente!Em meio a um desses chili-

ques, o filho de sete anos, na suainocência, tentou uma explicação:

– Será, mamãe, que não foi pa-ra você botar ordem na cozinha?

...Bem, caro leitor, certamente

não foi para isso apenas, mesmoporque as baratas são fósseis vivos.

Povoam o Planeta há milhõesde anos, muito antes do apareci-mento do Homem, antes que exis-tissem donas de casa às voltas comelas na cozinha.

Terá sido um cochilo divino,um erro de planejamento?

Considerando que o Criador“é a inteligência suprema, causa pri-mária de todas as coisas”, como estána questão primeira de O Livro dosEspíritos, certamente não agiu co-mo mero aprendiz de feiticeiro ouum doutor Frankenstein a dar o so-pro da vida a aberrações.

Obviamente, o Eterno tinha umobjetivo ao colocar em nosso plane-ta esse famigerado ortóptero, da fa-mília dos blatídeos, vulgo “barata”.

Quando não benéfico estimu-lante da limpeza na cozinha, e ou-tras funções menos conhecidas, te-mos nele um dos estágios pelosquais passa o princípio espiritualem evolução, no desdobramento deexperiências necessárias ao seu acri-solamento, a caminho da razão.

Não fique perplexo, leitor ami-go. É isso mesmo!

Provavelmente já andamos porlá, no reino das baratas, em priscas

eras, quando éramos apenas umprojeto de Espírito, tanto quantoanimamos multifários seres, no rei-no vegetal e animal, até que come-çássemos a exercitar o bestunto.

...Ainda que desconhecendo, tal-

vez, tais meandros da evolução aní-mica, Franz Kafka (1883-1924), ogenial escritor tcheco, descreve emMetamorfose a aterradora experiên-cia de um homem que se transfor-ma numa barata.

“Numa manhã, ao despertar desonhos inquietantes, Gregório Sam-sa deu por si na cama transformadonum gigantesco inseto. Estava deita-do sobre o dorso, tão duro que pare-cia revestido de metal, e, ao levan-tar um pouco a cabeça, divisou oarredondado ventre castanho divi-dido em duros segmentos arqueados,sobre o qual a colcha dificilmentemantinha a posição e estava a pon-to de escorregar. Comparadas com oresto do corpo, as inúmeras pernas,que eram miseravelmente finas, agi-tavam-se desesperadamente diantede seus olhos…”

Horripilante fantasia, que in-verte a ordem natural e evoca a me-tempsicose.

Doutrina milenar, presente nastradições religiosas das mais antigasculturas, é uma idéia equivocada, acontrariar a realidade proposta pelaDoutrina Espírita:

A evolução é via de mão única.

Das baratasRichard Simonetti

A evolução é via

de mão única.

Para nossa felicidade

jamais retornaremos a

estágios inferiores da

Criação

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Para nossa felicidade jamais re-tornaremos a estágios inferiores daCriação.

Creio que você já ouviu, ami-go leitor, em relação a certas pes-soas, expressões assim: barata ton-ta (não sabe o que faz), entregue àsbaratas (sem rumo, abandonado,negligenciado), sangue de barata(não reage às provocações).

Pois é! Se existisse a involução,

teríamos a ficção de Kafka transfor-mada em realidade.

Há muita gente “preparada”para isso!

...Em sua infinita sabedoria o

Criador estabelece que, além de ser-vir de degrau para o princípio espi-ritual em evolução, os seres inferio-res tenham outras utilidades, favo-

recendo o equilíbrio ecológico quesustenta a vida na Terra.

Às baratas reservou, também,a nobre missão de estimular disci-plinas que nos ajudam a vencer adisplicência que caracteriza o serhumano, no estágio de evoluçãoem que nos encontramos, envol-vendo, não raro, a higiene e alimpeza.

Abençoada barata!

Sem dúvida, a liberdade é o principal atributoconcedido pelo Criador, que caracteriza a exis-tência das criaturas. Desde os primórdios de sua

origem, o ser exerce o sagrado direito da opção, sem-pre regido, automaticamente, pelo grau de responsa-bilidade que haja alcançado.

No exercício pleno desse direito, lançando-se nabusca da satisfação das necessidades e interesses, opensamento, planejando a ação, aciona a intenção ea vontade, corporificando o ato e criando, deste mo-do, as causas das quais se origina o determinismo,que o automatismo da Justiça Divina impõe, comofator indispensável ao cumprimento da grande leique preside os destinos de todos os seres.

Assim, no uso pleno do próprio livre-arbítrio, li-gamos rigidamente causa e efeito; isto é: dependen-do da natureza da causa, será a natureza do efeito!Dos complexos motivos geradores da causa, nasceráa complexidade do efeito, representando a infinitavariedade de conseqüências, cujo desenrolar ficará in-trinsecamente estabelecido.

Esta é uma lei que providência alguma poderámudar; é a grande Lei Causal que preside à vida e agoverna, onde ela exista: do infinitamente pequenoao infinitamente grande, do microcosmo ao macro-cosmo!

Há que compreender-se, no entanto, que embo-ra toda causa gere um efeito, a sujeição da criatura àsconseqüências do efeito poderá acontecer ou não! Afatalidade não existe, senão para determinar o efeitodecorrente do ato praticado. Não teremos, assim, quesofrer inevitavelmente as conseqüências dos atos dopassado. Quando por ingentes esforços o devedor de-monstre haver-se modificado, superando radicalmen-te as imperfeições que originaram aquele ato, os Es-píritos Superiores, encarregados de fazer cumprir osdesígnios do Altíssimo, poderão, com seus poderes eprerrogativas, livrá-lo das conseqüências geradas ouamenizá-las, consoante o mérito que já haja conquis-tado, e a maior ou menor influência que esses acon-tecimentos tenham, no objetivo do progresso espiri-tual a ser alcançado.

Uma vez que a santificação e a angelitude são es-tados de alma que estamos longe de possuir, pois sãoapanágio dos que já superaram as barreiras das im-perfeições e fraquezas, comuns aos habitantes do nos-so planeta, resta-nos buscar o permanente equilíbrio.Só assim teremos possibilidade de progredir sem osgraves sofrimentos, que são, em realidade, a terapiapara cura da rebeldia, da revolta, da negligência, doorgulho, da vaidade e de outros tantos sentimentosmais, desta mesma natureza.

O grau de perfeição alcançado se expressará pe-lo equilíbrio entre o intelecto e a moral. Toda vez quefor violado este equilíbrio, por não se haver aplicadona vida de relação o fruto do conhecimento adquiri-do, cria-se o desequilíbrio, e com ele, as conseqüên-cias dos compromissos e resgates.

A causa, o efeito eo equilíbrio

Mauro Paiva Fonseca

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Depois de um longo períodode sofrimento, preso ao leito,regressou ao Plano Espiritual

o companheiro Floriano MoinhoPéres, no dia 28 de novembro de2003. O sepultamento de seu cor-po ocorreu no fim da tarde do mes-mo dia, no Cemitério da Colina,em Niterói (RJ), com expressivoacompanhamento.

Floriano Moinho Péres nasceuno dia 4 de agosto de 1915, filho doSr. Segundo Moinho Péres e D. An-gelina Martins Péres. Era natural deNiterói, onde realizou todos os es-tudos preliminares, depois ingressouno Colégio Salesiano, em Santa Ro-sa, na mesma cidade, realizando porfim o Curso de Direito na Faculda-de Clóvis Bevilacqua em Campos(RJ), até o terceiro ano, quando ob-teve transferência para a Faculdadede Direito de Niterói, formando-sena turma de 1940.

Era inscrito na OAB-RJ, desde1945, estando constantemente emexercício no Fórum de Niterói. Foifuncionário do extinto INAMPS, nafunção de administrador, ondeexerceu também várias outras fun-ções, como, por exemplo, chefe daseção de contencioso, chefe do pes-soal, presidente de banca examina-dora, supervisor de concursos pú-blicos, presidente de comissões deinquérito, até sua aposentadoria.

Floriano realizou muitas tarefasna Doutrina Espírita. Durante 14

anos apresentou na Rádio Rio de Ja-neiro o programa “Mensagem paraVocê”, colaborou com a imprensaespírita e não espírita, em jornais co-mo Itaborayense, Correio da Ma-nhã e O Fluminense, de Niterói;órgãos doutrinários, como Aurora,Jornal Espírita, Revista Internacio-nal de Espiritismo, O Clarim, Mun-do Espírita etc.

Associou-se à Federação Espíri-ta do Estado do Rio de Janeiro(FEERJ), e foi seu presidente pormais de 15 anos, empreendendograndes esforços para a construçãoda monumental sede própria, numedifício de vários andares, onde tam-bém funciona uma grande livraria.

Deixou prontos diversos livrosde sua lavra, que até hoje não forameditados.

Floriano era casado com D.Luzia Machado Péres, também nos-sa confreira. Tiveram dois filhos:Sônia Luzia Machado Péres e Flo-riano Moinho Péres Júnior.

Pertenceu ele a diversas Acade-mias, dentre as quais a AcademiaAnapolina de Filosofia, AcademiaGoianense de Letras, Academia deEstudos Literários e Lingüísticos deAnápolis, e ao Instituto Histórico eGeográfico Goiano.

Ingressou no Espiritismo quan-do participou de um estudo sobreO Evangelho segundo o Espiritismo,na residência do confrade NorbertoHerdy Boechat, no bairro do Fon-seca. Em seguida, associou-se à Fe-deração Espírita do Estado do Riode Janeiro.

Suas atividades no Espiritismoconvergiram para muitas facetas.Usando a fé raciocinada, inauguroucom sua digníssima esposa o cultodo Evangelho no Lar. Foi eleito Se-cretário da FEERJ, Vice-Presidentee depois Presidente.

Expositor de muitos recursos,percorreu todo o Estado do Rio deJaneiro. Nessa tarefa, visitou diver-sos outros Estados. Participou demuitos eventos, como: Semanas Es-píritas, Congressos, Cultos Ecumê-nicos e outros. Ele e sua esposa fo-ram muito dedicados à evangeli-zação das crianças e à orientaçãodos jovens, tendo instituído diver-sos cursos intensivos, com a partici-pação de companheiros de diversosEstados brasileiros e do interior doRio de Janeiro.

Foi muito amigo da FEB, ten-do mantido com o Presidente A.Wantuil de Freitas contacto perma-nente, num entendimento harmô-nico e frutuoso.

30 Reformador/Abril 2004148

Floriano Moinho PéresAntonio Lucena

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Reformador/Abril 2004 31149

“Vendo que se fatigavam a re-mar, pois o vento lhes era con-trário, pela quarta vigília danoite, dirigiu-se a eles, cami-nhando sobre o mar.”

(Marcos, 6:48.)

Os discípulos haviam iniciado atravessia do mar da Galiléiana tarde do dia anterior, após

a multiplicação de pães. Jesus man-dou-os passar para a outra margem,embora ele próprio permanecesseem terra para dispersar a multidão.Além disso, queria ficar sozinho,em colóquio com o Pai, através daprece.

A alvorada já avançava noiteadentro, combatendo a escuridão eanunciando a chegada de um novodia. O barco, porém, posicionando--se ainda na metade do caminho,lutava contra violenta tempestade devento que soprava em direção con-trária, dificultando o seu avanço.

Dentre os discípulos, os encar-regados dos remos – tudo fazendopara manter o barco à tona – já seencontravam quase exauridos, peloesforço de remarem na escuridãodesde a tarde do dia anterior, con-tra o vento forte e o mar revolto.

Repentinamente, levitando aci-ma das ondas, qual aparição divina,Jesus aproxima-se do barco, inun-dando de luz a escuridão adjacentee deixando atemorizados aquelesexperimentados homens do mar. Ébem possível que qualquer pessoa

naquelas circunstâncias tambémsentisse medo, vendo aproximar-seuma figura luminosa, acima das on-das e indene aos efeitos do vento eda fúria do mar.

Os discípulos, pessoas simplese rudes, estavam acostumados a na-vegar em meio às tempestades. Atéentão só estavam fatigados, mas nãoevidenciavam medo da fúria dovento e das ondas. Mas à vista da-quela visão luminosa, puseram-se agritar, acreditando tratar-se de umfantasma.

Profundo conhecedor da natu-reza humana, Jesus apressa-se a seidentificar, dizendo afetuosamente:

– Tende ânimo, sou eu, não te-mais!

O Evangelista Mateus acres-centa que Pedro, duvidando tratar--se do Divino Amigo, solicita umaprova concreta que lhe permita vercom os seus próprios olhos se o do-no daquela voz era de fato Jesus:

– Senhor, se és tu, manda queeu vá ao teu encontro sobre as águas...

O discípulo incrédulo solicitauma prova e Jesus concorda ematendê-lo.

– Vem! – autoriza o Mestre.Pedro, mais que depressa, num

verdadeiro arroubo de coragem,salta do barco, e avança noiteadentro, pairando acima das ondasrevoltas, ao encontro do SenhorJesus.

A princípio, anda sem receio;entretanto, quando uma lufada maisforte de vento sopra contra ele, o

medo domina o calejado pescadorque, desequilibrando-se, começa asubmergir. O temor de ser tragadopelas ondas aciona-lhe desesperadareação, traduzida num brado de so-corro a Jesus:

– Senhor, salva-me!O Mestre prontamente lhe es-

tende as mãos, levantando-o acimado perigo e reconduzindo-o em se-gurança ao barco, não sem o re-preender fraternalmente:

– Homem fraco na fé, por queduvidaste?

Assim que Jesus entra no barcodos discípulos, o vento amaina ins-tantaneamente; as ondas diminuema sua impetuosidade e a tempesta-de cessa como que por encanto,dando lugar à calmaria.

A embarcação volta a navegarsuavemente, ao som compassadodas remadas vigorosas e precisas dosdiscípulos, até aportar na outramargem, onde os passageiros de-sembarcam em segurança

...A passagem evangélica guarda

lição de profundo alcance à nossareflexão.

Também nós outros somos for-çados a embarcar no barco do cor-po físico, que nos conduzirá damargem do berço à “outra margem”da vida, tantas vezes quantas neces-sárias, até atingirmos a perfeição,através das muitas idas e vindas.Nas travessias, enrijecemos os nos-sos músculos, remando e enfrentan-

Jesus acima das ondasJoão Martins e Martins da Silva

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32 Reformador/Abril 2004

do as muitas tempestades do per-curso. Ondas bravias tentam sub-mergir o nosso barco, a escuridãoda noite busca amedrontar-nos. Ocansaço às vezes nos traz o desâni-mo. Entretanto, esse e muitos ou-tros obstáculos são colocados à nos-sa frente mais com o objetivo deenrijecer a nossa “musculatura” es-piritual, no exercício de conduzir obarco, do que propriamente fazercom que ele afunde.

Em cada viagem adquiriremosmais força e mais experiência, seconduzirmos o barco enfrentando evencendo ondas bravias e ventoscontrários, do que se remarmossempre em meio à calmaria.

A travessia é feita ao lado de ou-tros barcos, conduzidos por outrosmarujos – nossos familiares, amigos,inimigos ou simples conhecidos.

No nosso barco, porém, cadatripulante deve desempenhar umafunção específica: um é o capitão,que comanda os tripulantes, tomaas decisões, traça a rota, mudandoo curso do barco quando necessá-rio; outro, é o timoneiro, que con-trola o leme e conduz a embarca-ção; outros, controlam as velas;alguns retiram o excesso de águapara diminuir o peso do barco; ou-tros, enfim, mantêm a conservaçãoe limpeza da embarcação, de ma-neira que, pela contribuição coor-denada de todos, o veículo possasingrar o mar da vida, vencer osventos contrários, enfrentar as vagasrevoltas e atingir a “outra margem”,sem naufragar.

Nos momentos difíceis da tra-vessia, em meio às tempestades quenos envolvem sem dar aviso, quan-do a noite desce sobre o mar, a con-centração de esforços faz-se aindamais necessária entre os tripulantes,

especialmente quando os ventos sãoadversos. Aí então os remadorestêm o dever de redobrar os seus es-forços ao remo, exigindo-se do ti-moneiro maior rapidez nas mano-bras com o leme, para que o barconão soçobre; o comandante, porsua vez, tem de aguçar sua vista pa-ra perscrutar a noite, traçar o rumo– usando a bússola ou orientando--se pelas estrelas –, dar as ordens ne-cessárias e tudo fazendo para que obarco não colida contra os arrecifesda rota.

Cada um deve estar a postospara que o barco não afunde. Po-rém, a tensão e o esforço despendi-do deixam os tripulantes tensos efatigados. Costumam ficar tão preo-cupados com o uivar do vento ecom o reboar das ondas contra o

casco da embarcação, que se esque-cem por completo dAquele que os“forçou” à travessia...

...Meu amigo, se o vento da ad-

versidade está fustigando o seu bar-co; se as ondas da dúvida, da an-gústia ou da dor estão tentando ar-rastá-lo às profundezas do oceanoda vida; se, por mais que você se es-force com os remos, o seu barco nãoavança, por causa do mar tempes-tuoso, antes, corre o risco de sub-mergir; se, fatigado de tanto remarcontra a violência das ondas, foivocê repentinamente surpreendidoem meio à travessia, pela noite dadesesperança, ainda assim, não sedesespere nem pare de remar. É pru-dente, porém, que você eleve o seupensamento e aguce a sua visão es-piritual, rogando o auxílio do Alto.Foi o próprio Jesus quem prometeualiviar todos aqueles que, fatigadose sobrecarregados, recorressem à Suaajuda. Após isso, olhe em torno desi. A ajuda pode estar vindo ao seuencontro, iluminando tudo à suavolta, embora a você pareça outracoisa. Não duvide: É Ele! Não oconfunda, porém, com um fantas-ma, nem O deixe passar ao largo.Peça-lhe ajuda e Ele certamente lheestenderá as mãos amigas! Chame--O! Convide-O para entrar no seubarco. Você se aperceberá entãode que no mesmo instante, o ventodeixará de soprar forte, as ondasperderão progressivamente o seuímpeto assassino, até se acalmaremde vez. E, então, você sentirá àsua volta uma suave e perfumadaaragem que lhe permitirá continuarremando o seu barco com segu-rança, até à “outra margem”, da vi-da, até o PORTO DA PAZ!

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É prudente, porém,

que você eleve o seu

pensamento e aguce a

sua visão espiritual,

rogando o auxílio do

Alto. Foi o próprio

Jesus quem prometeu

aliviar todos aqueles

que, fatigados e

sobrecarregados,

recorressem à

Sua ajuda

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Reformador/Abril 2004 33151

Alguns membros da Igrejaapóiam-se na proibição deMoisés para proscrever as co-

municações com os Espíritos; masse sua lei deve ser rigorosamenteobservada neste ponto, deve sê-loigualmente sobre os demais. Porque seria boa em relação às evoca-ções e má em outras partes? É pre-ciso ser conseqüente; se, para certascoisas, reconhece-se que sua lei jánão se harmoniza com os nossoscostumes e a nossa época, não hárazão para que não se dê o mesmocom a proibição das evocações. Aliás,é necessário nos reportarmos aosmotivos que os levaram a fazer talproibição, motivos que, então, ti-nham uma razão de ser, mas que,seguramente, hoje não mais subsis-tem. Quanto à pena de morte in-fligida a quem desrespeitasse essaproibição, forçoso é reconhecer quenisto Moisés era muito pródigo eque, na sua legislação draconiana, aseveridade do castigo nem sempreera um indício da gravidade da fal-ta. O povo hebreu era turbulento,difícil de conduzir e não podia serdomado senão pelo terror. Por ou-tro lado, Moisés não tinha grandeescolha nos seus meios de repressão;não dispunha de prisões, nem decasas de correção e seu povo não erapassível de sofrer o medo de penas

puramente morais; assim, ele nãopodia graduar sua penalidade comose faz nos nossos dias. Ora, por res-peito à sua lei, seria preciso mantera pena de morte para todos os casosem que a aplicava? Aliás, por queressuscitam esse artigo com tantainsistência, enquanto guardam si-lêncio sobre o começo do capítuloque proíbe aos sacerdotes a possedos bens da Terra e de ter parte emqualquer herança, porque o próprioSenhor é a sua herança? (Deutero-nômio, cap. XVIII.)

Há duas partes distintas na leide Moisés: a lei de Deus propria-mente dita, promulgada no MonteSinai, e a lei civil ou disciplinar,apropriada aos costumes e ao cará-ter do povo; uma é invariável, a ou-tra se modifica com o tempo.

A ninguém pode vir à menteque possamos ser governados pelosmesmos meios que os hebreus nodeserto, assim como a legislação daIdade Média não poderia aplicar-seà França do século dezenove. Quempensaria, por exemplo, em reviverhoje este artigo da lei mosaica: “Seum boi fere com o chifre a um ho-mem ou a uma mulher, e a pessoamorrer, o boi será lapidado sem re-missão, ninguém comerá sua carnee seu dono será absolvido.” Ora,que diz Deus em seus mandamen-tos? “Não terás outro Deus senãoeu; não tomarás o nome de Deusem vão; honra teu pai e tua mãe;não matarás; não cometerás adulté-rio; não roubarás; não dirás falso

testemunho; não cobiçarás os bensde teu próximo.” Eis uma lei que éde todos os tempos e de todos ospaíses, e que, por isto mesmo, temum caráter divino; mas não trata daproibição de evocar os mortos, don-de forçoso é concluir que tal proi-bição era simples medida discipli-nar e circunstancial.

Mas Jesus não veio modificar alei mosaica, e sua lei não é o códigodos cristãos? Não disse ele: “Ouvis-tes o que foi dito aos Antigos tal ouqual coisa; eu, porém, vos digo ou-tra coisa?” Ora, em parte alguma doEvangelho se faz menção da proibi-ção de evocar os mortos; é um pon-to muito grave para que o Cristo otivesse omitido em suas instruções,embora tenha tratado de questõesde ordem bem mais secundária. Ouse deve pensar, como um eclesiásti-co a quem tal objeção foi feita, que“Jesus se esqueceu de falar nisso?”

Como o pretexto da proibiçãode Moisés é inadmissível, eles seapóiam na desculpa de que a evoca-ção é uma falta de respeito aos mor-tos, cujas cinzas não devem ser per-turbadas. Quando essa evocação éfeita religiosamente e com recolhi-mento, não se pode falar em desres-peito; mas há uma resposta pe-remptória a dar a tal objeção: é queos Espíritos vêm de boa vontadequando chamados e, mesmo, es-pontaneamente, sem serem chama-dos; manifestam satisfação por secomunicarem com os homens e fre-qüentemente se queixam do esque-

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Da proibição de evocar os mortos

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34 Reformador/Abril 2004152

cimento em que por vezes são dei-xados. Se fossem perturbados emsua quietude ou ficassem descon-tentes com o nosso apelo, eles o di-riam ou não viriam. Se vêm, é por-que isto lhes convém, pois nãosabemos de ninguém que tenha opoder de constranger os Espíritos,seres impalpáveis, a se incomoda-rem, caso não o queiram, já quenão os podemos prender ao corpo.

Alegam outra razão: as almas,dizem, estão no inferno ou noparaíso. As que estão no inferno da-li não podem sair; as que estão noparaíso conservam-se em inteirabeatitude e muito acima dos mor-tais para se ocuparem com eles.Restam as que estão no purgatório;mas estas são sofredoras e devempensar antes de tudo em sua sal-vação. Portanto, se nenhuma delaspode vir, somente o diabo vem emseu lugar. No primeiro caso seriamuito racional supor que o demô-nio, autor e instigador da primeirarevolta contra Deus, em perpétuarebelião e não experimentando ar-rependimento nem pesar pelo quefaz, fosse mais rigorosamente puni-do do que as pobres almas por elearrastadas ao mal e que, muitas ve-zes, são apenas culpadas de umafalta temporária que lhes causaamargos remorsos. Longe disso: éexatamente o contrário que acon-tece. Essas almas infelizes são con-denadas a sofrimentos atrozes, semtrégua nem mercê por toda a eter-nidade, sem um só instante de alí-vio e, durante esse tempo, o diabo,autor de todo o mal, goza de plenaliberdade, corre o mundo recrutan-do vítimas, toma todas as formas, sepermite todas as alegrias, faz traqui-nices, diverte-se até mesmo em in-terromper o curso das leis de Deus,

já que pode fazer milagres. Na ver-dade, restaria às almas culpadas in-vejar a sorte do diabo. E Deus odeixa agir, sem nada dizer, sem lheopor nenhum freio, sem permitiraos bons Espíritos que ao menosvenham contrabalançar suas açõescriminosas! De boa-fé, isto é lógico?e os que professam tal doutrina po-dem jurar, com a mão na consciên-cia, que a poriam no fogo para sus-tentar que é a verdade?

O segundo caso também le-vanta uma dificuldade muito gran-de. Se as almas que estão na beati-tude não podem deixar sua ventu-rosa morada para vir socorrer osmortais – o que, diga-se de passa-gem, seria uma felicidade muitoegoísta – por que invoca a Igreja aassistência dos santos, que devemgozar da maior soma possível debeatitude? Por que diz ela aos fiéisque os invoquem nas doenças, nasaflições e para se preservarem dosflagelos? Por que, segundo ela, ossantos, a própria Virgem, vêm mos-trar-se aos homens e fazer milagres?Então eles deixam o Céu para vir àTerra? Se o podem deixar, por queoutros não o poderiam?

Como os motivos alegados pa-ra justificar a proibição de se comu-nicar com os Espíritos não supor-tam um exame sério, é preciso quehaja outro, não confessado. Estemotivo bem poderia ser o temor deque os Espíritos, muito clarividen-tes, viessem esclarecer os homenssobre certos pontos e lhes dar a co-nhecer exatamente como se passamas coisas no outro mundo e as ver-dadeiras condições para ser feliz ouinfeliz. Eis por que se diz a umacriança: “Não vá lá; existe um lobi-somem”; e se diz aos homens: “Nãochameis os Espíritos; são diabos.”

Providência inútil, porquanto, mes-mo que se proíba os homens dechamar os Espíritos, não se impedi-rá que os Espíritos venham aos ho-mens tirar a lâmpada de debaixo doalqueire.

Allan Kardec

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –outubro de 1863. Tradução de EvandroNoleto Bezerra.

O divino convite

“Vinde a Mim, vós que [sofreis!...”–

E a palavra do Senhor,Tocando nações e leis,Ressoa, cheia de amor.

Herdeiros tristes da cruz,Que seguis de alma ferida,Encontrareis em JesusCaminho, verdade e vida.

Famintos de paz e abrigo,Que lutais no mundo incréu,Achareis no Eterno AmigoO Pão que desceu do Céu.

Almas sedentas de pouso,Que à sombra chorais cativas,Tereis no Mestre AmorosoA Fonte das Águas Vivas.

Vinde, irmãos, a Jesus-Cristo,O Guia que nos conduz!Vosso caso está previstoEm suas lições de luz.

Casimiro Cunha

Fonte: XAVIER, Francisco C. Gotasde Luz. 6. ed., Rio de Janeiro: FEB,1994, cap. 1, p. 9-10.

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Énatural os espíritas desejaremconhecer os locais que guar-dam alguma relação com o

trabalho do Codificador, por oca-sião de viagem a Paris e, sem dúvi-da, ao ensejo das homenagens peloBicentenário de Allan Kardec.

Embora a monumental capitalfrancesa conserve prédios antiqüís-simos, evidentemente que há algu-mas alterações nas edificações, in-troduzidas ao longo do tempo.

Essa realidade é sentida quan-do se procura localizar a livraria on-de, a 18 de abril de 1857, Kardeclançou O Livro dos Espíritos. A re-

ferência é correta, na Livraria Den-tu, na Galeria Orléans, no interiordo Palais Royal.

O Palais Royal localiza-se auma quadra curta da lateral do Mu-seu do Louvre. O acesso se faz pelaestação de metrô Palais-Royal/Mu-sée du Louvre e a entrada principaldo Palais Royal pela Place du Pa-lais Royal, na rue St. Honoré.

Todavia, ao adentrar no PalaisRoyal, o visitante somente encon-tra, com muita atenção, no iníciode uma fileira de pares de colunas,uma coluna no lado esquerdo doPalais com uma placa de mármorebranco contendo a inscrição Gale-rie D’Orléans.

Ao procurar as informações his-tóricas, encontramos dados muito

interessantes sobre o Palais Royal.Foi edificado por etapas, entre osséculos XVII e XIX, a partir de jar-dins e construções iniciais que per-tenceram ao Cardeal Richelieu. Orei Luís XIV doou a área e os pré-dios então existentes a seu irmãoPhilippe d’Orléans. O patrimôniopassou pelos herdeiros deste, atéchegar às mãos do controvertidoDuque de Orléans, conhecido co-mo Philippe “Égalité”, e finalmen-te para seu filho Louis-Philippe, quese tornou rei da França em 1830.Além da sede do Théâtre Français,localizado à frente e à esquerda, oPalais Royal abrigou principalmen-te atividades comerciais e passoupor momentos de deturpação. Embons momentos, entre 1781-1790,

o Palais Royal já era consideradocomo empreendimento comerciale cultural, “o único marco nomundo”, pois, segundo anotaçãode Louis-Sébastien Mercier pu-blicada em Tableau de Paris(de Pérouse de Montclos), não seencontraria nada parecido emoutras capitais européias. No rei-nado de Louis-Philippe o PalaisRoyal foi recuperado, recebeuacréscimos e atingiu o apogeucomo galeria comercial.

Entre os pares de colunas,que unem as alas esquerda e direi-ta da área interna e central do Pa-lais Royal e antes de se chegar aosjardins, no final do século XVIII,

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Local do lançamento de O Livro dos Espíritos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Palais Royal

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o Duque de Orléans edificou umaestrutura de madeira, coberta, ecom áreas envidraçadas. No seu in-terior existiam várias lojas e, entreelas, no número 13, se estabeleceua E. Dentu, Libraire. Nesta livraria,o Codificador lançou a obra inau-gural da Doutrina Espírita. Poste-riormente, a referida estrutura foidestruída, e entre os pares de colu-nas está aquela que mantém a men-cionada Galerie D’Orléans, atual-mente a única referência objetiva dalocalização da livraria que pertenciaa um amigo de Kardec e que já ha-via publicado seus livros didáticoscomo Prof. Rivail.

O Palais Royal também foi se-de da pioneira Sociedade Parisiensede Estudos Espíritas. Esta, desde afundação por Kardec, a 1o de abrilde 1858, até um ano depois, fun-cionou na Galeria Valois (lado di-reito do Palais), e, de 1o de abril de1859 a 1o de abril de 1860, em de-pendência do restaurante Douix, naGaleria Montpensier (lado esquer-do do Palais).

O Livro dos Espíritos e a So-ciedade, que foi o primeiro centroespírita do mundo, tornaram-se pú-blicos, num dos marcos da capitalfrancesa.

BIBLIOGRAFIAS:

AUDI, E. Vida e obra de Allan Kardec. Niterói:Lachâtre, 1999.

ABREU, Canuto. O primeiro Livro dos Es-

píritos. São Paulo: Companhia Editora Ismael,

1957.

PÉROUSE DE MONTCLOS, J.M. Paris. City

of Art. (Trad. A-P-E International). New York:

The Vendome Press, Chapter X, 2003.

WANTUIL, Z.; THIESEN, F. Allan Kardec.

Volume II. Rio de Janeiro: FEB, 1980.

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ADoutrina Espírita está im-plantada na Terra por meioda Codificação Kardequiana,

composta de cinco obras básicas,publicadas na segunda metadedo século XIX e elaboradas porHippolyte Léon Denizard Rivailcom base nos ensinos trazidos pelosEspíritos.

Fundamenta-se em preceitosnaturais, com rigorosa observânciado que os Espíritos vieram revelar.Essa Doutrina não é, portanto, obrade um só autor, mesmo porque, pe-la sua grandiosidade, não seria coe-rente com a lógica ser procedentede uma única individualidade.

A origem divina da DoutrinaEspírita é indiscutível. Jesus, Gover-nador Espiritual do Planeta, afastaqualquer dúvida quando asseverou:“E eu rogarei a meu Pai e ele vosenviará outro Consolador, a fim deque fique eternamente convosco”(João, 14:16).

Desse modo, ressalta das pró-prias palavras de Jesus, que o Es-piritismo é oferta da Divina Pro-vidência. Ademais, é revelação deleis naturais e de verdades inconcus-sas, sobre as quais se assenta. Quemde boa-fé e em sã consciência se derao trabalho de examinar as obras daCodificação Kardequiana, facilmen-

te chegará à conclusão da sua pro-cedência divina, graças à sua na-tureza, que deixa patente a incon-fundível sabedoria do Criador.

É marcante a simplicidadecom que o Espiritismo se mostra aomundo. Tal caráter ressalta aindamais a sua grandeza.

O seguidor dos princípios espí-ritas, quem deles se aproxima deboa-fé, quem busca consolação ouauxílio, encontra na Doutrina dosEspíritos o socorro e sustentação,infalível código de conduta moral.O Espiritismo jamais hostiliza quais-quer outras organizações e tendên-cias religiosas, seus adeptos, oumesmo os que caminham sem fé.Por outro lado, enseja plena cons-ciência das verdades que ensina etransmite plena convicção da desti-nação da criatura humana.

Nós, peregrinos dos caminhosda vida, somos todos irmãos. Fo-mos criados simples e ignorantes, li-vres para a pratica de ações às quaisnos vinculamos. A soberana JustiçaDivina, no curso das nossas suces-sivas vidas, obriga-nos a responderpor todos os nossos atos. A miseri-córdia de Deus indica os caminhosque levam à felicidade, cabendo acada um de nós perlustrá-los.

As atividades espíritas são, ge-ralmente, exercidas em centros,grupos, associações, uniões, socie-dades, entidades, e em instituiçõesde âmbito nacional e internacional,bem como no recesso dos lares pa-

Instituições EspíritasWashington Borges de Souza

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ra o culto do Evangelho e o estudodoutrinário de inestimável valia pa-ra a família, resultando em benefí-cios para toda a sociedade. É rele-vante, contudo, ressalvar que otemplo dos Espíritos é a própriaNatureza, tendo em vista que, en-carnados ou desencarnados, estãoem toda parte.

Também é sempre oportunolembrar que o Espiritismo não temchefes humanos. Suas organizaçõestêm seus responsáveis, de acordocom as leis dos homens, mas sem-pre devem observar disciplina, or-dem, fraternidade etc., a fim de quepossam funcionar em harmoniacom os princípios estabelecidos pe-la Doutrina.

É imperiosa para a pessoa abusca permanente da perfeição, dahumildade, da prática da caridade.O amor ao semelhante e o conheci-mento da verdade através de estudocontinuado e outras recomendaçõesde Jesus são imprescindíveis. A fédeve sempre acompanhá-la.

O intercâmbio com o mundoespiritual é muito proveitoso e, poresse meio, colhemos valiosas orien-tações e consolações, além de cons-tituir inesgotável fonte de socorropara alívio de dores e sofrimentos eaté curas de enfermidades do corpoe da alma.

Os preceitos espíritas trazidosao mundo são primorosos e indis-pensáveis aos homens porque têmcaráter divino, mostram a irrecusá-vel e inconfundível expressão da in-finita sabedoria e bondade de Deus.

A Doutrina Cristã foi transmiti-da oralmente aos homens por Jesus.Houve, portanto, necessidade deseus ensinamentos serem consubs-tanciados em normas escritas, posi-tivas, insofismáveis, que não deixam

margem a duvida ou discussão esem o véu da letra exigido ao tem-po do Cristo. Certamente, foi essanecessidade a razão da vinda doConsolador prometido, então, peloDivino Mestre.

A luta constante do adepto daDoutrina dos Espíritos deve ser emdemanda da sua transformação mo-ral, em consonância com a condu-ta e as prédicas de Jesus. São osmeios de fazer cessar o egoísmo en-tranhado no pequenino coraçãohumano e de promover a Terra etorná-la um mundo melhor, dignodos homens de bem.

O Espírito tem necessidade deprogredir por meio de sucessivasreencarnações, de acordo com os de-sígnios divinos. Cumpre-lhe, assim,a obrigação de aproveitar as oportu-nidades que a vida lhe dá, paraadiantar-se nas longas trilhas evolu-tivas em busca da própria felicidade.

Allan Kardec foi o pseudônimousado por Hippolyte Léon DenizardRivail para promover a elaboraçãoda portentosa obra da CodificaçãoKardequiana. Inicialmente, limitou--se a observar e examinar os fenôme-

nos espirituais, então muito fre-qüentes. Depois, deu seguimento àgloriosa tarefa, recolhendo, coligin-do e confrontando dados e docu-mentos de diversas proveniências re-lativos às manifestações dos Espí-ritos. Finalmente, após coligir todoesse material e examiná-lo cuidado-sa e meticulosamente, constatou quese tratava de questões da maior rele-vância para a vida e os destinos hu-manos, as quais constituíam a es-trutura de portentosa edificaçãodoutrinária. Homem de vasta cultu-ra, de admirável bom senso, afeito aexaminar com profundidade temastranscendentes, cumpriu sua honro-sa missão de Codificador da Doutri-na Espírita com denodo e inexcedí-vel devotamento.

Kardec, em todo o desenvolvi-mento das obras da Codificação,aditou a elas seus magníficos, judi-ciosos e insuperáveis pronunciamen-tos, aperfeiçoando-a ainda mais. Aesse ingente e fatigante labor, dooua própria vida, procedimento queexprime sua grandeza e simboliza,com fidelidade, seu amor e sua gra-tidão ao Criador.

Reformador/Abril 2004 37155

18a Bienal Internacional do Livro– São Paulo 2004 –

A Federação Espírita Brasileira estará presente na Bienal Interna-cional do Livro em São Paulo, no Centro de Exposições Imigrantes,no período de 15 a 25 de abril, corrente, objetivando, como sempre,a divulgação do Livro Espírita. A FEB participará de forma institucio-nal – como pólo distribuidor para os Stands de diversas Livrarias eCentros credenciados – com suas principais obras, dentre elas, a Co-leção A Vida no Mundo Espiritual, os Romances de Emmanuel, aColeção Yvonne Pereira, as obras de Allan Kardec e livros de ChicoXavier. Será dada ênfase à comemoração do Bicentenário de Nascimen-to de Allan Kardec.

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38 Reformador/Abril 2004

“Porque não faço o bem quequero, mas o mal que não queroesse faço.” – Paulo. (Romanos,7:19.)

Éflagrante a defasagem psicoló-gico-moral entre o homem-ve-lho e o ser que se candidata

aos acumes espirituais. Ambos resi-dem no mesmo condomínio, e oconflito é a onipresente e altisso-nante nota nesse drama do concer-to evolutivo...

Herdeiras de si mesmas, as cria-turas vão arrecadando – por so-matório – os seus acervos de erros eacertos que, em forma de atavismosfluem para a presente e futurasreencarnações.

O equacionamento feliz dosdesajustes só começa a acontecerquando é percebida a importânciado autoconhecimento. Os binô-mios erro-reparação, acerto-cresci-mento, uma vez identificados, le-vam o indivíduo a moderar os im-pulsos primitivos do homem-ve-lho, completando o elenco de pro-vidências felizes com a erradicaçãoda ignorância, iniciando-se, destar-te, a alteração dos painéis existen-ciais que acenam para a elevação glo-riosa. Alinhando-se com as Leis Di-vinas, emancipa-se o ser dos sofri-mentos.

A evolução até à firmeza da de-cisão pela travessia da porta-estreita

vai-se operando através de vários erepetidos mecanismos de erro eacerto, marchas e contramarchas.

No estágio evolutivo em quenos encontramos, lícito é admitir-mos os tropeços, uma vez que nãosomos incólumes nem especiais: so-mos ainda humanos em busca daangelitude.

Atentemos para o alerta deJoanna de Ângelis1 sobre a

CANALIZAÇÃO BEM ORIENTADA

DAS ENERGIAS

“A necessidade de cada um di-gerir os próprios problemas é indis-cutível e inadiável, devendo fazerparte da agenda diária de todoaquele que desperta para a cons-ciência de si, não se permitindoagasalhar conflitos, mesmo que sobhábeis camuflagens do inconsciente.

Mediante uma auto-análisehonesta, na qual se dispensem oelogio, a condenação e a justifi-cação, o indivíduo deve permitir-sea identificação do erro, do proble-ma, e sem consciência de culpa di-gerir o acontecimento, buscando osmeios de reparação e a libertaçãodo sentimento perturbador.

Não são poucos os malesorgânicos que defluem das emoçõese sentimentos nas áreas da afetivi-

dade e do comportamento, que po-dem ser evitados e solucionadosgraças a uma atitude de boa von-tade para consigo mesmo e paracom os outros, permitindo-lhes odireito de serem como são e nãoconforme gostariam que fossem.

A cuidadosa auto-análise, semcaráter exigente nem condenatório,abrirá possibilidades inúmeras parao equilíbrio e ajudará a desenvolvera tolerância em relação aos outros,produzindo harmonia interior.

Surgem, então, os ensejos derecuperação pelo trabalho e bemorientada canalização das energias,que se transformam em dínamosgeradores de força, que propiciamsaúde, bem-estar e harmonia. Re-flexão e diálogo, honestidade paraconsigo mesmo e para com o seupróximo, esforço constante para aidentificação dos limites e amplia-ção deles constituem terapias emétodos para transformar os pro-blemas em soluções, as dificuldadesem experiências vitoriosas, crescen-do sem cessar.

O ser psicológico – amadureci-do – ama e confia, fitando o alvo eavançando para ele, sem ter, nemser problema na própria trajetó-ria.”

Na singular obra de AndréLuiz, familiarizamo-nos com umimportante equipamento existencialchamado pensamento.

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Os variegados e repetidosmecanismos de erro e acerto

Rogério Coelho

1Joanna de Ângelis/Franco, D. P. Autodesco-brimento – LEAL.

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Reformador/Abril 2004 39

Não menosprezando a opiniãodos psicólogos organicistas que afir-mam ser o pensamento uma se-creção do cérebro à semelhança deum produto glandular qualquer,preferimos optar pelas mais amplase lógicas elucidações do Espiritismo,que o coloca como emanação doEspírito com funções plasmadorase vinculado à Lei de Causa e Efeito.

Por constituir fulcro geradordos erros e acertos, faz-se mistermaiores aprofundamentos nas ques-tões que elucidam as potencia-lidades e virtudes do pensamento.Ainda uma vez mais, deixamos asconceituações a cargo da MentoraJoanna de Ângelis sobre a

VISÃO ESPÍRITA DO PENSAMEN-TO

“A mente plasma no cérebro aidéia, através das multifárias reen-carnações, evoluindo o ser espiri-tual, desde simples e ignorante,quando se manifesta por meio dopensamento primitivo até o mo-mento em que, desenvolvendo todasas potencialidades que nele jazem,estas se desvelam e se fixam nossutis painéis da sua constituiçãoenergética.

O mecanismo filogenético émanipulado pela mente que pro-grama a cerebração, pela qual exte-rioriza o pensamento na próximareencarnação, tendo por base asconquistas anteriores.

À medida que o Espírito evolui,o corpo se aprimora, face às vi-brações do perispírito que o organi-za e mantém. Nesse seguimento, aorganização material depende dasenergias espirituais, que necessitamdo processo da reencarnação comoa semente precisa do solo para de-satar a Vida que nela estua embrio-nária e o espermatozóide com o

óvulo o reduto próprio, para libe-rar a Vida material.

Assim, o pensamento, que pro-cede da máquina mental, recorreao cérebro a fim de fazer-se enten-dido no atual estágio de evoluçãoda Humanidade.

Disciplinar e edificar o pensa-mento através da fixação da menteem idéias superiores da Vida, doamor, da arte elevada, do bem, daImortalidade, constitui o objetivomoral da reencarnação, de modoque a plenitude, a felicidade seja aconquista a ser lograda.

Pensar bem é fator de Vidaque propicia o desenvolvimento, aconquista da Vida...”

Jesus, ao seu tempo, já nosalertava quanto à vigilância que de-veríamos manter sobre o pensa-mento (Mateus, 5:27-28), porqueEle como ninguém conhece a for-ça plasmadora desse equipamentoexistencial que, de acordo com olivre-arbítrio, pode levar-nos para ospântanos das iniqüidades ou paraos alcandorados acumes espirituais.Conheçamo-nos, pois e... vigie-mos!...

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Português de nascimento, foium espírita ativo, querido de to-dos os que o conheceram e comele privaram, não só pela suapalavra evangélica, mesclada, àsvezes, de um humor sadio, senãotambém pelos seus comentários,ora de profunda filosofia, ora degraça e leveza.

Serviu condignamente à Fede-ração Espírita Brasileira, juntoaos quatro presidentes anterio-res ao atual, conforme a relaçãoabaixo. Seu estado de saúde im-pediu-o de continuar a ocuparcargos na FEB após 1991. Ele pró-prio se afastou, para dar oportu-nidade a que outros companhei-ros melhor desempenhassem asfunções administrativas na Casade Ismael. Desencarnou em 4 dedezembro de 2003, com avançadaidade.

Vejamos, agora, o quanto eledeu de si em diferentes car-gos na Federação Espírita Brasi-leira:

– Suplente da antiga Assem-bléia Deliberativa, de 1946 a 1950.

– Membro efetivo da Assem-bléia Deliberativa, de 1951 a 1955.

– Membro efetivo do Conse-lho Superior, de 1956 a 1960.

– 2o Secretário, de 1960 a1978, exceto 1962, ano em queocupou o cargo de 1o Procura-dor.

– Membro efetivo do Conse-lho Fiscal, de 1979 a 1991.

Seu corpo foi sepultado noCemitério de São Francisco Xa-vier, tendo Juvanir Borges de Sou-za, seu velho amigo e admirador,feito a prece de despedida, comorepresentante da Federação Espíri-ta Brasileira.

RETORNO À PÁTRIA ESPIRITUAL

Joaquim da Costa Villaça

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“Eu não sou deste mundo,estou aqui só de pas-sagem.” “Jesus nos aben-

çoe no propósito de ao Bem servir.”“Nem sempre ocorre o melhor, mastudo concorre para o melhor.”

Assim se expressava Paulo Dal-tro de Oliveira, criador e diretor, por14 anos, da Revista Espírita AllanKardec, desencarnado, aos 68 anos,na tarde do dia 28 de janeiro últi-mo, em Goiânia, vitimado por rarainfecção pulmonar, a histoplasmoseprofunda, causada por fungos disse-minados por pombos.

Natural de Batatais (SP), mas,goiano de coração, era conhecido pe-la exemplificação do Evangelho deJesus, numa vida dedicada à Doutri-na Espírita. Paulo esteve à frente deinúmeras atividades, desde organiza-ção de cursos e eventos doutrinários,ações de promoção social, até à cons-trução de centenas de casas popula-res para famílias carentes, em regimede mutirão, para os quais arregimen-tava companheiros de todas as clas-ses sociais. Não era raro vê-lo, odon-tólogo dos mais renomados, ao ladodos amigos, a socar barro, misturarcimento, abrir valas para alicerces etodo tipo de tarefa, em inesquecíveisfins de semana. Neste regime, cons-truiu também o Posto de Auxílio Es-pírita e as instalações da Gráfica eEditora Espírita Paulo de Tarso, am-bas construções de grande porte emdois andares, ao lado do Lar EspíritaFrancisca de Lima, antigo orfanatode meninas e hoje abrigando creche,berçário e escola infantil.

Em meados da década de 80,numa atitude considerada audacio-sa por muitos, adquiriu maquináriodiretamente da Alemanha para mon-tar a Gráfica e Editora Paulo deTarso que, além de propiciar traba-lho a profissionais da área, abrigoudezenas de menores aprendizes,sustentou as obras de promoção so-cial, atendeu às necessidades de im-pressos de companheiros, espíritasou não.

Em 1989, dando curso ao tra-balho que mais o empolgava, queera a divulgação do Espiritismo,lançou a Revista Espírita AllanKardec, apreciada por espíritas enão espíritas em todo o Brasil e noExterior, abordando temas do dia--a-dia à luz da Doutrina Espírita.

Incentivador das artes comomeio de expressão quintessencia-da do Espírito e como meio deevangelização, Paulo apreciava apoesia, especialmente a mediúnica,a ponto de declamar várias, emo-cionadamente, sempre que haviaoportunidade. Seus cinco filhos e a

esposa Suzi Daltro seguiram seuexemplo, dedicando-se à música,eles no Grupo Arte Nascente e elano Coral Vozes da Esperança, doqual é a regente.

Entusiasta e desprendido aoextremo, bancava do próprio bolsoinúmeras obras filantrópicas e cus-tos de manutenção da Gráfica, gra-ças a uma situação financeira está-vel, fruto de seu trabalho comoodontólogo.

Ao adoecer, permaneceu inter-nado por mais de dois meses, amaior parte na UTI. Não obstanteos cuidados intensivos, com a assis-tência de sua filha, a enfermeiraAna Lúcia Daltro, e da nora, médi-ca Claudinelli Alvarenga Daltro, aolado de competente equipe médicae assistência espiritual, o debilitadoorganismo de Paulo não pôde maissustentar o seu forte Espírito.

Ele não gostava da hora vazia.Assim, a noite de sua comoventedespedida foi um momento deedificação, matizada por reflexõesentremeadas por canções espiri-tualizadas, em meio às lágrimas desaudades e aos depoimentos dequantos receberam algum conso-lo, a orientação na hora precisa, osocorro material. Exemplares daRevista e mensagens impressas es-tavam à disposição dos partici-pantes.

Na manhã seguinte, depois depesada chuva, o Sol se fez lumino-so para entregar à EspiritualidadeMaior um abnegado apóstolo daDoutrina Espírita.

Eu não sou deste mundo...Fátima Salvo

Paulo Daltro de Oliveira

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Amazonas: Congresso EspíritaComo parte da programação comemorativa do seu 1o

Centenário, a Federação Espírita Amazonense promo-ve de 8 a 11 deste mês o 1o Congresso Espírita doAmazonas, no Instituto Denizard Rivail, com o temacentral O Espiritismo na construção de um mundomelhor, desdobrado nos subtemas Espiritismo e Re-forma Íntima e Espiritismo e Transformação Social,havendo, ainda, um subtema especial – Aspectos his-tóricos do Movimento Espírita, com destaque para oCentenário da FEA, o Bicentenário de Nascimento deAllan Kardec e os 120 anos da FEB. O programa com-preende duas conferências, sete palestras e três painéis,a cargo dos expositores: Alberto Ribeiro de Almeida(PA), Altivo Ferreira (SP), André Luiz Peixinho (BA),Luciano Klein Filho (CE) e Samuel Magalhães (AM).

Maranhão: Confraternização EspíritaA Federação Espírita do Maranhão realizou no pe-ríodo de 21 a 24 de fevereiro passado a XXIVCONESMA – Confraternização Espírita do Mara-nhão –, com o tema ESPÍRITO, O Grande Desco-nhecido, abordado na conferência de abertura e atra-vés de vários subtemas, por Geraldo Guimarães (RJ),André Henrique de Siqueira (DF) e Luciano Klein Fi-lho (CE). O evento ocorreu na Universidade Federaldo Maranhão (UFMA) e teve por objetivo permitir atroca de experiências e a confraternização entre os es-píritas.

Espanha: O ESDE na InternetA Federação Espírita Espanhola está promovendo o seuprimeiro Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita(ESDE) pela Internet. Na página www.espiritismo.cc ointernauta pode ampliar conhecimentos sobre o Espi-ritismo e ficar informado quanto a eventos espíritas queserão realizados na Espanha e em outros países. O en-dereço para correspondência com a Federação, via cor-reios, é: Calle Ruiz Morote, 12 – 13200 Manzanares –Ciudad Real – Espanha. (SEI.)

R. G. do Sul: Congresso Médico-Espírita Será realizado em Porto Alegre, em 1 e 2 de maio, noCentro de Eventos Plaza São Rafael, o II Congresso

Médico-Espírita do Rio Grande do Sul, com o temaSaúde perfeita, harmonia da alma, a ser desenvolvi-do por Divaldo Pereira Franco, Marlene Rossi Severi-no Nobre e outros renomados expositores. Um dosobjetivos do evento, promovido pela Associação Mé-dico-Espírita do Rio Grande do Sul, é colaborar como Hospital Espírita de Porto Alegre.

Porto Seguro (BA): Jornada EspíritaO Centro Espírita Porto da Paz, com o apoio da Fe-deração Espírita do Estado da Bahia, através da ARE26 (Aliança Regional Espírita), promoverá no Centrode Cultura, de 29 de abril a 2 de maio, a IX JornadaEspírita de Porto Seguro, com o tema central Somostodos imortais. Divaldo Pereira Franco fará a palestrade abertura e um seminário, havendo mais três pales-tras, de Richard Simonetti (SP), Alberto Ribeiro deAlmeida (PA) e Abigail Guimarães (BA), e dois semi-nários com Simonetti e Alberto Almeida.

São Paulo (SP): USE – Mocidades e JuventudesEspíritas

A União das Sociedades Espíritas do Estado de SãoPaulo (USE), através do seu Departamento de Moci-dades, desenvolve profícua ação junto às Mocidades eJuventudes Espíritas do Estado. No período de 8 a 11de abril corrente realizam-se as Confraternizações Sec-cionais nas cidades de São José dos Campos, São Joãoda Boa Vista, Franca e Adamantina, que reúnem asMocidades e Juventudes Espíritas das respectivasregiões. Em 13 e 14 de novembro deste ano ocorreráem São Paulo (Capital) o 6o Encontro Estadual deComissão Diretora de Mocidades Espíritas.

Guarulhos (SP): Fundação da UNIESPÍRITOFoi criada com sede na Fundação Espírita André Luiz,em 25 de janeiro de 2004, a UNIESPÍRITO (Univer-sidade Internacional de Ciências do Espírito), cujolançamento se deu através do Programa Boa Nova naTV, às 10 horas da manhã. A UNIESPÍRITO irá uti-lizar os instrumentos da Ciência Contemporânea pa-ra explorar as questões de espiritualidade e suas apli-cações junto à Medicina, Psicologia, Pedagogia,Sociologia e outras áreas.

SEARA ESPÍRITA

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