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Revista de Espiritismo Cristão

Ano 121 /Fevereiro, 2003 / No 2.087

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação da

Federação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home Page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – Brasil

Tel: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Rebouças & Associados

Tema da Capa: Carências Sociais, baseado nas re-flexões doutrinárias do Editorial e do artigo Carên-cias sociais e pobreza extrema.

EDITORIAL 4Desigualdades sociais

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 16 A campanha da paz – Irmão X

ESFLORANDO O EVANGELHO 21E olhai por vós – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 34Pronunciamentos no 87o Congresso Universal de Esperanto – Affonso SoaresCursos de Esperanto na FEB – Sede Seccional – Rio de Janeiro (RJ) 35

SEARA ESPÍRITA 42

Carências sociais e pobreza extrema – Juvanir Borges de Souza 5

Excesso e você – André Luiz 7

Os Passes – Manoel Philomeno de Miranda 8Cobiça e inveja – José Yosan dos Santos Fonseca 9O Discípulo Iludido – Richard Simonetti 10Oração da Humildade – Inaldo Lacerda Lima 12

Menino de Rua – Fábio Henrique Ramos 13

Adão e o Paraíso na concepção espírita – Severino Barbosa 14

Espiritismo – Casimiro Cunha 17

Tratamento de enfermo no Espaço – Passos Lírio 18

A Paz e o Amor – Sebastião Lasneau 20

O Homem e suas realizações – Mauro Paiva Fonseca 22

O Homem de Bem e a Biodiversidade – Vilma Mendonça 24

Referências bibliográficas 26

Sessão e não cessão – Iaponan Albuquerque da Silva 27

“Observai os lírios do campo” – Francisco Cajazeiras 28

Ser Juiz – Mário Frigéri 29O Espiritismo em Cuba – Washington L. N. Fernandes 30A visita da Luz – Paulo Nunes Batista 33

Excelência Espírita – Camilo 36

Federação Espírita do Distrito Federal –

40 anos de unificação e realizações doutrinárias 37

A Fome – Palmiro Ferreira da Costa 38

A Comunicação – Orson Peter Carrara 39

FEB/CFN – Comissões Regionais Calendário das Reuniões Ordinárias de 2003 40

Ante a Crítica – Ismael Ramos das Neves 41

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4 Reformador/Fevereiro 200342

No capítulo IX, da Parte Terceira, de O Livro dos Espíritos, que trata da Lei de Igual-dade, os Orientadores Espirituais esclarecem que a desigualdade das condições so-ciais em que vive o ser humano não é obra de Deus, mas sim, obra dos homens.

Na questão 930, do mesmo livro, quando abordam as Penas e Gozos Terrestres, sãoainda mais enfáticos: Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém de-ve morrer de fome.

No momento em que a sociedade, de forma geral, e os órgãos governamentais, emespecial, com justa razão, se preocupam com a questão da fome na Humanidade, mostra--se oportuno destacar o que o Espiritismo vem revelando a respeito, desde a metade doséculo XIX.

A Doutrina Espírita nos ensina que o homem é um Espírito imortal, reencarnadotemporariamente na Terra para a aquisição de valores que ainda não possui, e que tudoquanto existe no Universo é criação de Deus. Ensina-nos, ainda, que o fato de sermos Es-píritos imortais não nos tira a responsabilidade de bem administrar as coisas terrenas. Aocontrário, por força da Lei de Amor, dá-nos o dever de bem cuidar de tudo o que é obrada Criação divina, cuidado este que visa à defesa do meio ambiente, mas, principalmen-te, à garantia de proporcionar a toda criatura humana o direito de viver dignamente.

Não é sem razão que a Doutrina Espírita, refletindo o Evangelho de Jesus, tem pormáxima: Fora da caridade não há salvação. E não é sem razão, também, que as Institui-ções Espíritas procuram realizar permanente trabalho de atendimento ao ser humano emtoda a sua dimensão, tanto no que diz respeito às suas necessidades de ordem espirituale moral, quanto às de ordem material.

EditorialDesigualdades sociais

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Entre as resoluções constantesdo compromisso assinado pe-los líderes religiosos e espiri-

tuais em decorrência do Encontrode Cúpula Mundial pela Paz Mun-dial patrocinado pela Organizaçãodas Nações Unidas, realizado de 28de agosto a 1o de setembro de 2000(The Millenium World Peace Sum-mit), destacamos as duas seguin-tes:

“5. Despertar em todos os indi-víduos e comunidades o sensoda responsabilidade, compar-tilhada entre todos, pelo bem--estar da família humana co-mo um todo, e o reconhecimentode que todos os seres humanos– independentemente de reli-gião, raça, sexo e origem étni-ca – têm o direito à educação,à saúde e à oportunidade deobter uma subsistência segurae sustentável.”“6. Promover uma distribuiçãode riqueza eqüitativa dentro dasnações e entre as nações, erradi-cando a pobreza e revertendo aatual tendência ao distancia-mento crescente entre ricos e po-bres.”Nesses dois itens do importan-

te documento assinado pelos líde-res religiosos e espirituais de toda a

Humanidade, ficou clara não so-mente a preocupação com a misé-ria, que se traduz por pobreza extre-ma, material e moral, mas tambémcom o encaminhamento das solu-ções possíveis, com a conscientiza-ção do grande problema.

Quando se sabe que cerca de1,2 bilhões de criaturas humanas,ou seja, uma quinta parte da popu-lação mundial, vivem e morrem emcondições deprimentes, por falta dealimentação, habitação, vestuário,saúde e educação, tem-se uma idéiado atraso do mundo em que vive-mos.

Por isso, a erradicação da po-breza extrema (miséria) é um dosdesafios à comunidade humana, empleno século XXI.

Em todos os países do orbe ter-restre existem os bolsões dos mise-ráveis, dos esquecidos, dos carentesdo mínimo necessário à sustentaçãoda vida.

Mas o problema se torna alar-mante nas nações mais pobres eatrasadas do denominado “terceiromundo”, que se localizam princi-palmente no continente africano,na América Latina e em alguns paí-ses asiáticos.

A solução para essa questãocrucial, como para outras que afe-tam toda a Humanidade e particu-larmente a cada indivíduo, hoje, ouno futuro, implica na erradicaçãopaulatina, mas constante, de três fa-tores causais:

A ignorância, o egoísmo e oorgulho humanos.

Esse fatores são as causas gera-trizes dos males humanos em geral.

Como combater a ignorânciasobre questões fundamentais quedizem respeito à vida, ao homemcomo criatura e às leis divinas queregem tudo no Universo?

Como superar o egoísmo e oorgulho generalizados nos indiví-duos e nas organizações humanas?

A transformação do mundo,para melhor, depende da mudançada mentalidade de seus habitantes,mediante o encontro com a realida-de da Vida.

Portanto, a solução de todos osproblemas humanos depende, fun-damentalmente, da educação dospróprios homens, seja no campo doconhecimento, ajustado às realida-des, seja no campo dos sentimen-tos, substituindo-se o egoísmo e oorgulho dominantes pelo Amor epela Justiça.

...A educação individual e coleti-

va é a única fórmula capaz de trazera todos os idealistas de um mundomelhor a esperança de sua con-cretização.

Sempre fazemos a ressalva deque a educação, a que nos referi-mos, tem sentido amplo, lato, tan-to no terreno intelectual da instru-ção em todos os níveis, quanto noterreno espiritual-ético-moral. >

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Carências sociais e pobreza extremaJuvanir Borges de Souza

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> Conhecimento das realidades,e sentimento de Amor e Justiça, de-senvolvidos em todos na medida dacapacidade de absorção de cadaum, é programa de vastas propor-ções, para sucessivas gerações.

A lei das reencarnações, conju-gada à programação da educaçãopara as sucessivas gerações, trará aonosso mundo um progresso muitomais rápido do que o processado naatualidade e no passado.

Imaginamos o quanto seriaproveitoso para a solução dos gran-des problemas que afetam a Hu-manidade, entre os quais o da po-breza extrema, se se unissem go-vernos, religiões, e os órgãos de co-municação de massas – televisão,rádio, jornais, internet – todos coe-sos na divulgação de uma progra-mação visando a Paz, a Concórdia,o Amor, a Justiça, a Compaixão, aCompreensão entre todos os ho-mens.

Pensamentos como esse nos in-duzem ao anseio e à vontade de pro-pagar, sempre e mais, o Consolador,essa Revelação Superior que fazcompreender aos homens a necessi-dade de se tornarem sempre melho-res, pela prática do bem em todosos sentidos, amando a Deus e aopróximo.

A divulgação da Doutrina Es-pírita, com seus princípios moraiselevados e conhecimentos novosque traz à Humanidade sobre a vi-da futura, torna-se imprescindívelpara que possa influenciar na edu-cação e reeducação das gerações quese sucedem.

As transformações sociais paramelhor serão feitas a partir de idéiase ideais justos e equânimes, hojeapenas vislumbrados pelas massashumanas.

O Espiritismo, pela sua índole,pelas idéias trazidas pela Espiritua-lidade Superior, oferece ao homemo conhecimento de si mesmo, desua natureza, sua origem e seu des-tino. De outro lado, pela moral doCristo, que adota integralmente, nainterpretação racional e superiordos Espíritos Reveladores, cons-titui-se em base segura para a reeducação individual, com as trans-formações sociais dela decorrentes.

Os trabalhadores da primeirahora, da implantação do Consola-dor desde a segunda metade do sé-culo XIX e dos séculos seguintes,estão nas preliminares da obra gran-diosa de transformação, abrindo pi-cadas na densa floresta do atraso eda ignorância humanos, para queoutros obreiros futuros possam lan-çar os fundamentos de uma novacivilização mais justa, no decorrerdo milênio que se inicia.

Não devemos desanimar dian-te das dificuldades a serem enfren-tadas na gigantesca obra de trans-formação.

Na direção suprema da regene-ração do mundo encontra-se seuGuia e Governador Espiritual – oCristo de Deus –, que superará to-das as dificuldades das diversas eta-pas, contando com os trabalhado-res atuais e futuros, multiplicadosna medida das necessidades.

A importância do conheci-mento espírita, direcionando op-ções e decisões, tem particular in-fluência na aceitação das realidadespresentes nas sociedades humanas,sem prejuízo da aspiração a melho-res condições de vida na Terra, quedevem ser conquistadas pelos pró-prios homens.

Sem as luzes da doutrina dasvidas sucessivas, das leis de Justiça e

de Amor, conjugadas à lei de causae efeito, ao determinismo da evolu-ção e a todas as leis morais enuncia-das pela Terceira Revelação, fica di-fícil à Humanidade compreender oporquê das coisas e o sentido da vi-da dos seres e de toda a criação deDeus.

O materialismo e a ignorânciado que se refere ao Espírito e aosMundos Espirituais são a tônica domundo em que vivemos.

Com o Consolador, é chegadaa hora do combate ao materialismopernicioso, às suas conseqüências, àignorância do verdadeiro senti-do da vida e às inferioridades mo-rais decorrentes do egoísmo e doorgulho.

Com o progresso já alcançadoaté agora, desapareceu o direitodos poderosos sobre a vida dos fra-cos e vencidos nas guerras; termi-nou a escravidão humana, degra-dante e injusta; uma justiça brutal,egoísta, opressiva e insensível foisubstituída pelas tentativas de umajustiça social eqüitativa, com me-lhor compreensão entre indivíduose nações.

Torna-se necessário ir adiante,libertar-se a Humanidade dos errosdecorrentes da ignorância e do atra-so moral.

Alinhamos, a seguir, algumasdisposições, princípios e nortea-mentos que a Doutrina Espíritaoferece para a construção de umasociedade mais justa, sem os dese-quilíbrios sociais que levam à misé-ria, à fome, à doença, à revolta,com todas as conseqüências conhe-cidas:

I – É lei da natureza a desi-gualdade das condições sociais?“Não; é obra do homem e não deDeus.”(L.E. – q. 806.)

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II – “Numa sociedade organi-zada segundo a lei do Cristo nin-guém deve morrer de fome.” (L.E.– q. 930.)

III – “Os homens se entende-rão quando praticarem a lei dejustiça.” (L.E. – q. 812.)

IV – “(...) a sociedade é muitasvezes a principal culpada de seme-lhante coisa. (...) não tem ela que

velar pela educação moral dos seusmembros? Quase sempre, é a máeducação que lhes falseia o critério,ao invés de sufocar-lhes as tendên-cias perniciosas.” (L.E. – q. 813.)

V – “Que se há de pensar dosque açambarcam os bens da Terrapara se proporcionarem o supérfluo,com prejuízo daqueles a quem fal-ta o necessário? “Olvidam a lei de

Deus e terão que responder pelasprivações que houverem causadoaos outros.” (L.E. – q. 717.)

VI – “(...) A Natureza não po-de ser responsável pelos defeitos daorganização social, nem pelas con-seqüências da ambição e do amor--próprio. (...)”. (Comentário deKardec à resposta à questão 707 deL.E.)

Reformador/Fevereiro 2003 745

Cap. XIII – Item 10

Amigo, Espiritismo é caridade em movimento.Não converta o próprio lar em museu. llllllUtensílio inútil em casa será utilidade na casa

alheia.O desapego começa das pequeninas coisas, e o

objeto conservado, sem aplicação no recesso da mo-radia, explora os sentimentos do morador.

A verdadeira morte começa na estagnação.Quem faz circular os empréstimos de Deus, re-

nova o próprio caminho.Transfigure os apetrechos, que lhe sejam inúteis,

em forças vivas do bem.Retire da despensa os gêneros alimentícios,

que descansam esquecidos, para a distribuição fra-terna aos companheiros de estômago atormenta-do.

Reviste o guarda-roupa, libertando os cabidesdas vestes que você não usa, conduzindo-as aos via-jores desnudos da estrada.

Estenda os pares de sapatos, que lhe sobram, aospés descalços que transitam em derredor.

Elimine do mobiliário as peças excedentes,aumentando a alegria das habitações menos fe-lizes.

Revolva os guardados em gavetas ou porões,dando aplicação aos objetos parados de seu uso pes-soal.

Transforme em patrimônio alheio os livros em-

poeirados que você não consulta, endereçando-os aoleitor sem recursos.

Examine a bolsa, dando um pouco mais que ossimples compromissos da fraternidade, mostrandogratidão pelos acréscimos da Divina Misericórdia quevocê recebe.

Ofereça ao irmão comum alguma relíquia oulembrança afetiva de parentes e amigos, ora na PátriaEspiritual, enviando aos que partiram maior conten-tamento com tal gesto.

Renovemos a vida constantemente, cada ano,cada mês, cada dia...

Previna-se hoje contra o remorso amanhã.O excesso de nossa vida cria a necessidade do

semelhante.Ajude a casa de assistência coletiva.Divulgue o livro nobre.Medique os enfermos.Aplaque a fome alheia.Enxugue lágrimas.Socorra feridas.Quando buscamos a intimidade do Senhor, os

valores mumificados em nossas mãos ressurgem nasmãos dos outros, em exaltação de amor e luz para to-das as criaturas de Deus.

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. O Es-pírito da Verdade. Autores Diversos, 12. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2000, cap. 2, p. 17-18.

Excesso e você

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Apesar de conhecidos desde ascivilizações da Antiguidadeoriental e utilizados pela cul-

tura clássica ocidental o poder dopensamento e a ação do toque te-rapêutico, foi Jesus, no entanto,quem melhor os aplicou a benefícioda criatura humana.

Antes dEle, utilizando-se deprocessos complexos e sugestivos,os sacerdotes e os gurus de diversasdoutrinas esotéricas contribuíampara a recuperação da saúde dos en-fermos que os buscavam, mediantegestual bem elaborado e mantransque ensejavam a captação das ener-gias que exteriorizavam, facultando--lhes reestruturarem a organizaçãofísica e harmonizarem a emocional,avançando para o equilíbrio fisio-psicológico.

As cerimônias religiosas comobjetivos terapêuticos misturavama fitoterapia com as artes mágicas,enquanto os iniciados dispensavamas energias salutares que eram assi-miladas pelos necessitados que selhes entregavam.

A introspecção, a meditação,os cilícios e sacrifícios outros queeram impostos aos candidatos, ti-nham por finalidade facilitar o au-todescobrimento, propiciando-lheso conhecimento dos recursos psí-quicos e magnéticos que lhes jaziamadormecidos e aos quais podiam re-correr para modificar as paisagens

humanas infelizes e os coraçõessofridos.

Jesus, porém, conhecendo o pro-cesso pelo qual se manifestavam asSuas energias superiores, demitizouas velhas fórmulas sacramentaise aplicou-as de maneira variada, esem alarde, conforme a patologia decada um que O procurava.

Estabelecendo na fé dos pa-cientes um paradigma para os resul-tados eficazes, estimulava-os à per-feita sintonia com o Seu pensa-mento, a fim de bem assimilaremos recursos curativos que lhes mi-nistrava.

Sem violentar o livre-arbítriode cada qual, aguardava que Lhefosse solicitada a ajuda, e, não raro,por Sua vez, indagava se a pessoaacreditava que Ele a poderia curar,despertando-lhe as adormecidaspossibilidades de captação das vi-brações favoráveis ao seu resta-belecimento.

Graças à aquiescência, Ele in-fundia valor moral ao enfermo e di-recionava-lhe as energias restaura-doras da saúde, assim como aquelasque induziam os parasitas espiri-tuais que se lhes mantinham emconúbios obsessivos a se afastaremdas suas vítimas.

Recorreu ao toque suave e do-ce, à voz altissonante e lúcida, àvontade imbatível, assim como aosmeios materiais, quais o realizadocom o nado cego, ou apenas ao Seupensamento sempre com resultadosperfeitos...

...E desfilaram diante dEle asmisérias morais e espirituais huma-

nas, que bondosamente atendeu,tomado de infinita compaixão...

Depois dEle, inúmeros missio-nários recorreram aos mesmos re-cursos, conscientes de que, median-te a fé, poderiam fazer muito doque Ele realizara, reconhecendo,porém, as parcas possibilidades deque dispunham, aplicavam as fór-mulas que O antecederam, tantoquanto as técnicas que Ele utilizara,reunindo em tratados para estudosos métodos de direcionamento daenergia curativa.

Graças, no entanto, à Doutri-na Espírita com a revelação da leidos fluidos, se alargou a compreen-são em torno dos inimagináveis te-souros fluidoterapêuticos ao alcan-ce de todos quantos se ofereçam aoministério da caridade para com oseu próximo, na condição de tera-pista espiritual.

Os passes ou a aplicação dabioenergia são valiosos procedi-mentos de socorro aos enfermos detodo matiz que enxameiam no mun-do.

Compreendendo a gravidadedo ministério e instrumentalizan-do-se moral e espiritualmente, opassista deve alterar completamen-te a conduta mental e comporta-mental anterior, a fim de enrique-cer-se de forças psíquicas e bioe-nergéticas para melhor transmiti--las.

A superação dos hábitos vicio-sos, o desencharcamento dos tóxi-cos fluídicos inferiores, dos pensa-mentos vulgares e insanos, do ta-baco, do álcool e de outras drogas

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Os Passes

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químicas aditivas, energizam o de-votado obreiro da saúde física e es-piritual que, munido dos tesourosdo amor e da oração, se coloca aserviço dos Espíritos superiores pa-ra tornar a vida humana melhor emais rica de saúde e de paz.

Concomitantemente, cabe-lheinstruir o paciente com informaçõesclaras e enérgicas, que o auxiliem anão retornar aos comprometimen-tos anteriores a que se entregava, pa-ra que não lhe aconteça nada pior,conforme advertia Jesus.

A terapia pelos passes, destituí-da de gestual cabalístico ou de pro-postas sugestivas, supersticiosas, de-ve infundir ânimo e despertar re-flexão naqueles que lhe recorrem aoprocesso de recuperação.

Por meio de uma sintonia har-mônica com as Esferas espirituaiselevadas, agente e paciente da tera-

pia pelos passes conseguirão harmo-nia interior, saúde e paz, mesmoquando por ocasião dos momentosdifíceis do testemunho e dasprovações.

Ao alcance de todos quantosdesejem renovação, os passes de-verão servir de procedimento deemergência antes de serem tomadasoutras providências, assim consti-tuindo notável contributo de sus-tentação para as atitudes posterio-res a serem utilizadas.

Através dos passes, da trans-missão de forças vivas, canalizadaspara os enfermos de ambos os pla-nos da Vida, os Espíritos perversose alucinados igualmente se benefi-ciam e podem ser deslocados dosseus hospedeiros, ensejando a recu-peração moral da vítima e o esclare-cimento do algoz.

Nos transtornos, portanto, ob-

sessivos, os passes são de salutar re-sultado, propiciando a renovaçãodo campo vibratório do enfermo ealterando a indução perturbadoraque é imposta pelo hóspede indese-jado, mas portador de grande ener-gia deletéria.

Face aos problemas perturba-dores nas áreas da saúde e da con-duta, os passes constituem preciosorecurso terapêutico que deve serbuscado, a fim de que ocorra a ins-talação do bem e da alegria de viverem todas as criaturas.

Manoel Philomeno de Miranda

(Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, na sessão mediúnica do dia29 de agosto de 2001, no Centro Espíri-ta Caminho da Redenção, em Salvador,Bahia.)

Reformador/Fevereiro 2003 947

Na vida prática essas duas imperfeições da per-sonalidade são muito confundidas, parecem amesma coisa. A verdade é que devemos es-

forçar-nos para que não cultivemos nem uma nemoutra.

Para ajudar o leitor a distingui-las, propomos oseguinte critério: cobiça é querer o que é do outro –bens, posses, coisas, situações. Inveja é não quererque o outro tenha – situação, prestígio, boa reputa-ção, amor, boa imagem, vantagens, independente-mente do fato de que ele não tendo, isto nos benefi-cie, ou não.

Se o leitor observar bem, verá que na maioriadas circunstâncias, tanto da cobiça quanto da inve-

ja, nada resulta em nosso benefício, apenas frustra-ção e prejuízo para o próximo, o que é uma flagran-te violação da lei de amor que nos manda querer pa-ra os outros aquilo que quereríamos para nós.

Usamos, semanticamente, palavras com valoresatenuados, que freqüentemente transformam gran-des imperfeições, tais como a ambição, a inveja e acobiça, em “valores” sociais.

Ante uma informação de que alguém conseguiualgo de bom, lá vem um “se inveja matasse eu estariamorto”, que é tomado como um cumprimento, umestímulo, mas que no fundo expressa muito freqüen-temente o que significa: eu gostaria de ter isso no seulugar, você ganhou isso por sorte; por que não eu?

A idéia não é que você se torne santo de um diapara o outro, mas que seja a cada dia um pouco me-lhor, identificando condutas, problemas e dominan-do impulsos negativos.

Quando se vir ante um impulso de inveja ou co-biça, identifique claramente seu sentimento e procu-re corrigi-lo na hora, por palavras, sentimentos ouatos corretivos.

Cobiça e invejaJosé Yosan dos Santos Fonseca

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10 Reformador/Fevereiro 2003

Mateus, 26:1-5, 14-16

Marcos, 14:1-2, 10-11

Lucas, 22:1-6

Em sua derradeira visita a Jeru-salém, Jesus estava perfeita-mente consciente do que o

aguardava, revelando notável capa-cidade premonitória.

Dizia aos discípulos:– Sabeis que daqui a dois dias

acontecerá a Páscoa e o filho doHomem será entregue para ser cru-cificado.

A cúpula religiosa judaica tra-mava neutralizar aquele profetaatrevido que subvertia a lei mosaica.

A idéia de que deveria ser eli-minado tomara corpo. Que fossesubmetido a sumário julgamento econdenado à morte, imprimindo-seforo de legalidade à criminosa ini-ciativa.

A providência inicial, sua pri-são, deveria ocorrer de forma discre-ta. O profeta galileu contava com asimpatia do povo. Beneficiara muitagente. Não seria prudente qualqueração passível de gerar tumultos, oque implicaria sérios embaraços jun-to às autoridades romanas.

Foi quando entrou em cena Ju-das.

Espontaneamente, procurou ossacerdotes, oferecendo-se para en-tregá-lo aos seus algozes, na caladada noite, em local ermo.

Enigmática figura. Pouco se sa-be dele, além do fato de que o cha-

mavam Iscariotes, para distingui-lode outro discípulo, Judas Tadeu. Osobrenome indicava sua naturalida-de: Queriote, na Judéia. Não era,portanto, galileu, como os com-panheiros.

Tendo exercido a profissão decomerciante, fora encarregado decontrolar a economia do grupo,cuidando do dinheiro.

A tradição o situa como mes-quinho e avarento, mas é difícilconceber que Jesus tenha convoca-do para seu círculo íntimo alguémcom esse perfil. Provavelmente, es-sa concepção surgiu posteriormen-te, inspirada na indignação da co-munidade cristã, em face de sualamentável iniciativa.

Judas propôs-se a trair Jesuspor trinta dinheiros. Equivalia aosalário mensal de um trabalhadorbraçal, quantia insignificante, quede modo algum justificava a trai-ção. Bem mais poderia subtrair daseconomias do grupo, se o desejasse.

Há quem diga que o apóstolo ofez movido pelo ressentimento. Su-postamente, Jesus o teria criticadopor sua avareza. Esse argumento ca-rece de fundamento, porquanto ha-via um clima de cordialidade no co-légio apostólico. As admoestaçõesdo Mestre eram sempre carinhosas,sem o caráter de agressividade quejustificasse tão maldosa iniciativa.

Alguns cronistas vêem em Ju-das um mau-caráter, mas peça in-dispensável no drama do Calvário,que exigia um traidor, à semelhan-ça das tragédias gregas. As forças do

destino o teriam colocado naquelaposição, em que fatalmente cederiaàs próprias fragilidades.

Essa idéia parece-me inconsis-tente. Seria o mesmo que justificaras atrocidades de um facínora quemata muita gente, situando-o comoum instrumento de Deus, porquesuas vítimas assim devem morrer.

Por outro lado, talvez o leitornão concorde, mas acredito que Ju-das foi personagem secundária edispensável, pouco mais que umfigurante. Se o eliminarmos, nadase perderá, em substância e drama-ticidade, nos acontecimentos quemarcaram o final do apostoladomessiânico, mesmo porque ele nãofoi o único traidor.

Quase todos os que cercavamJesus traíram sua confiança, na me-dida em que se omitiram.

O colégio apostólico desagre-gou-se.

Os simpatizantes de sua dou-trina permaneceram longe.

Nem mesmo os ex-cegos, mu-dos, paralíticos, surdos, beneficia-dos por suas mãos abençoadas, es-tiveram presentes.

O medo foi mais poderoso econvincente do que o dever, a ami-zade, a gratidão! O medo niveloutodos, situando-os por ingratos be-neficiários daquele homem admirá-vel, que mesmo ante as perspec-tivas da morte degradante, não per-deria, por um instante sequer, a se-renidade que marcava seu compor-tamento.

Só há uma maneira de desven-

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O Discípulo IludidoRichard Simonetti

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Reformador/Fevereiro 2003 11

dar as motivações de Judas: ouvir oseu próprio testemunho.

...Em 1937, em pleno exercício

de sua produção mediúnica, Fran-cisco Cândido Xavier psicografou olivro Crônicas de Além-Túmulo, di-tado pelo Espírito Humberto deCampos, famoso e querido escritorbrasileiro, membro da AcademiaBrasileira de Letras.

O autor descreve, num dos ca-pítulos, a viagem que fez a Jerusa-lém, sonho acalentado por muitoscristãos. Transitar pelos lugares sa-grados, pisar o mesmo solo por on-de andou Jesus...

Idosa senhora desejava, arden-temente, realizar essa peregrina-ção. O marido, um tanto preocu-pado com o clima de belige-rância entre árabes e judeus, ebem mais com a preservação desuas economias, procurava contor-nar a situação.

– Vamos esperar um pouco.Viajaremos de graça.

Ela se animou:– Verdade! Alguma promoção?– Não, meu bem. É que den-

tro de alguns anos nos livraremosda carcaça de carne. Invisíveis, nin-guém nos verá no avião...

Bem, não sabemos se Hum-berto de Campos viajou de carona,ou volitando, como o fazem os Es-píritos que já se desvencilharam dolastro pesado das paixões huma-nas...

O fato é que lá esteve, certanoite. Com a sensibilidade dos de-sencarnados, experimentou, emo-cionado, a vibração que ainda pai-rava sobre aqueles lugares santos,onde Jesus dera seus gloriosos teste-munhos.

Em dado momento, viu umEspírito em atitude meditativa. Ir-radiava cativante simpatia.

Alguém informou: era Judas.Humberto não resistiu. Apro-

ximou-se e, após apresentar-se, feza pergunta que todos gostaríamosde formular:

– É uma verdade tudo quantoreza o Novo Testamento a respeitoda sua personalidade, na tragédiada condenação de Jesus?

Judas respondeu que em ne-nhum momento pensou em di-nheiro. Era um apaixonado pelasidéias socialistas de Jesus. Sem en-tender os fundamentos do Evange-lho, pensava mais em termos políti-cos. Não acreditava que, com suamansuetude e o santo horror à vio-lência, o Mestre conseguisse algo deprodutivo. Imperioso conquistar opoder, a partir de enérgicas iniciati-vas.

Planejou, então, uma revolu-ção, colocando Jesus em plano se-cundário. Imaginava que sua prisãoprovocasse uma reação popular.Com o concurso de colaboradoresafinados com suas convicções,aproveitaria o ensejo e alcançariaseus objetivos, envolvendo a mul-tidão.

Jamais poderia imaginar o ru-mo que os acontecimentos to-maram. Após a tragédia, ralado deremorsos, concluiu que o suicídioera a única maneira de redimir-se.

Judas foi um idealista transvia-do, a imaginar que seria possível eli-minar as diferenças sociais e as in-justiças em bases de violência.

...Humberto de Campos lhe per-

guntou se o suicídio teria sido sufi-ciente para redimi-lo.

Judas explicou que o remorsofora apenas uma providência preli-minar, em face da reparação que lhecompetia. Durante séculos pade-ceu, em múltiplas encarnações, osofrimento expiatório. Foi cristãoem existências que se sucederam.Sofreu horrores nas perseguiçõesaos adeptos do Cristianismo.

Seus tormentos culminaramnuma fogueira inquisitorial, quan-do também foi traído, vendido eusurpado, isto já em pleno séculoXV, quando fechou o ciclo de suasreencarnações expiatórias, com operdão da própria consciência.

Humberto de Campos lhe per-guntou se estava ali meditando so-bre os dias passados.

– Sim... estou recapitulando osfatos como se passaram. E agora, ir-manado com Ele, que se acha noseu luminoso Reino das Alturas,que ainda não é deste mundo, sin-to nestas estradas o sinal dos seuspassos divinos. Vejo-o ainda nacruz, entregando a Deus o seu Des-tino... Sinto a clamorosa injustiçados companheiros que o abandona-ram inteiramente e me vem umarecordação carinhosa das poucasmulheres que o ampararam no do-loroso transe. Em todas as homena-gens a Ele prestadas, eu sou semprea figura repugnante do traidor.Olho complacentemente os que meacusam sem refletir se podem atirara primeira pedra... Sobre o meunome pesa a maldição milenária,como sobre estes sítios cheios de mi-séria e de infortúnio. Pessoalmente,porém, estou saciado de justiça,porque já fui absolvido pela minhaconsciência, no tribunal dos suplí-cios redentores.

Quanto ao Divino Mestre – con-tinuou Judas com seus prantos –,

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infinita é a sua misericórdia e nãosó para comigo, porque, se recebitrinta moedas, vendendo-o aos seusalgozes, há muitos séculos Ele estásendo criminosamente vendido nomundo, a grosso e a retalho, por to-dos os preços, em todos os padrõesdo ouro amoedado...

...Um dia, quando as faculda-

des psíquicas humanas estiverem

mais desenvolvidas, permitindo oacesso aos arquivos espirituais,que registram os eventos huma-nos, teremos uma historiografiaespírita.

Reescreveremos a História apartir das informações que emanamda Espiritualidade, com uma visãoobjetiva de como as coisas aconte-ceram, realmente.

Então, a figura de Judas deixa-rá de simbolizar a do traidor exe-

crável que vendeu seu Mestre pordinheiro. Saberemos que foi o dis-cípulo iludido, que pretendeu cons-truir o Reino dos Céus à sua mo-da.

Em seu favor, como ele pró-prio destaca, devemos lembrar queJesus continua sendo traído porincontáveis religiosos, que susten-tam inconcebível coexistência en-tre os ideais cristãos e suas maze-las.

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“Oh! Faça-se, meu Pai, tua vontade e não a minha, face à atrocidade

deste mundo cruel.”– Assim, Jesus, ao Pai te confiaste diante da taça a que te reservaste

transbordante de fel!...

Tu que eras puro, Mestre, e eras perfeitoe pelo Pai de Amor, enfim, eleito

para então nos salvar!...“Ah! Se quisesse, ao Pai eu pediria as milícias do céu que, com alegria,

viriam me amparar...”

– Falaste, assim, à soldadesca em fúria que, a serviço do mal, em ânsia espúria

viera te prender.Pois eles ignoravam, certamente, sob a ação da maldade irreverente,

teu imenso poder.

Não obstante, Jesus, nós, neste mundoque transformamos em abismo fundo,

não queremos a dor...E a dor é conseqüência, nestes ermos, do mal que praticamos como enfermos

do nosso desamor!...

E nos desajustamos quase em tudo:No pensar, no sentir, no próprio estudo!...

Perdemos a visão de Deus, até da Vida, do sustentomesmo da Fé, e do temperamento,

inibindo a Razão!...

Espíritas, agora, ó Mestre amado, Ouvimos do Evangelho o lúcio brado:

“Sois arautos do Bem!”E desviar-nos das sagradas sendas com tentações, com mágoas ou contendas

não permitas ninguém!

Cumula-nos com a bênção da Humildade, com o espírito solar da Caridade

e as luzes do Porvir, que preferimos, pois, todas as dores, todas as provas, todos dissabores,

ao teu Amor trair!

Sê conosco, Jesus! Teu Evangelhoem cada um de nós mude o homem velho

num ser pleno de Amor!Almas cheias de Amor e de paciência faze de nós com tua Luz e Ciência.

Assim seja, Senhor!

Oração da HumildadeInaldo Lacerda Lima

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Sou pequeno e pouco desen-volvido, acho que é porquecomo quase só pão. Mas as

pessoas ainda assim têm medo demim. Afastam-se temerosas quandome aproximo. Nos carros, os vi-dros se fecham, como por encanto,quando me vêem. Aprendi a usareste poder e várias vezes já conseguique me dessem dinheiro ou outrosobjetos. É só fechar a cara e osgrandes tremem, dando-me o quequero. Não dá para entender! Masé claro que os cacos de vidro emminhas mãos devem ajudar a con-vencê-los!

Deito-me nos passeios, comen-do alguma coisa, ou circulo entre oscarros, testando minha perícia emdesviar-me deles, enquanto passamem alta velocidade. Às vezes pensoque se algum carro me pegasse seriamelhor. Isso tudo acabaria.

É, esta vida é tão ruim, tão se-ca! Meus companheiros me agri-dem por qualquer coisa e me to-mam o que eu consigo, se lhesinteressa. Não há amizade! Fazem--me lembrar do homem que mora-va com minha mãe. Só me batia edizia palavras ásperas, que me cor-tavam por dentro, enquanto me fi-tava com ódio. Um dia fugi dele ede tudo aquilo. Mas fiquei sem mi-nha mãe, único ser que já me afa-gou e dirigiu palavras de carinho.

Sinto-me tão só! Queria fugirde novo, mas para onde? Já cheireicola e delirei por horas seguidas,mas era ruim, como um sonholouco. E, ao voltar a mim, lá esta-vam de novo as pessoas com seussemblantes frios passando, os carrosque não param (para onde elesvão?) e a fome.

Ah!, a fome! Aquela queimaçãopor dentro, te corroendo o estôma-go! Dá vontade de roubar, de ma-tar, de fazer qualquer coisa paraacalmar a maldita. Se peço, dão-mesó pão duro, seco. Uma vez, quan-do ainda vivia com a minha mãe,lembro-me de que ela fez uma co-mida quentinha. Tinha arroz, fei-jão, batata e até salsicha! Que delí-cia! Mas depois, nunca mais senti oprazer de comer algo com cheiro,acabado de fazer na hora.

Um dia vi pela janela de umacasa uns meninos, assim do meu ta-manho, brincando de videogame.Pareciam tão felizes! Sorriam des-preocupados do que iam comer na-quele dia, ou onde iam dormir. De-pois, entrou uma dona lá no quartoe os beijou e falou com eles comtanto amor que me enchi de vonta-de de ter aquilo também. Então,pulei a grade do jardim e me apro-ximei da janela para sentir tudomais de perto. Não sei que idéiamaluca foi aquela, mas eu fui atraí-do por aquela cena. A mulher separecia tanto nos gestos, com a mi-nha mãe! Eu queria fazer parte, poruns minutos que fosse, daquelareunião de onde se irradiava tantaenergia, tanto afeto!

Mas o primeiro menino meviu e arregalou os olhos em minhadireção, incapaz de emitir um som,tamanho o seu pavor. Olhei paratrás, assustado, procurando a razãode todo o seu medo, mas nada vi.Compreendi, tarde demais, que euera a razão. A senhora começou agritar desesperada, acompanhadados meninos, e logo surgiu pelaporta de entrada da casa um ho-mem alto com alguma coisa namão. Não deu tempo de ver o queera, somente sei que ele bateu fortecom aquilo na minha cabeça e tu-do se escureceu à minha volta.

Não senti mais fome, nem dor,nem frio. Fiquei muito tempo nu-ma espécie de anestesia, vendo so-mente vultos e mal compreenden-do o que se passava em torno demim. Quando recobrei totalmenteos sentidos, vi-me deitado em umacama muito limpa, com flores lin-das em vasos nos cantos do quarto,e uma suave música dava-me umadeliciosa sensação de bem-estar.Depois de alguns minutos, entrouno quarto uma enfermeira muitoagradável, que, sorrindo, pegou emminhas mãos e disse muito natural-mente:

– Acabou meu filho! Você estálivre! O estágio foi concluído.

– Como assim moça?– Você retornou à sua verda-

deira vida, deixando no mundo seucorpo perecível, com todas suas do-res e necessidades.

– O quê?– Isso mesmo, querido, você

morreu!

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Menino de RuaFábio Henrique Ramos

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Consultando O Livro dos Espí-ritos, obra básica do Espiritis-mo, na questão 50 – Povoa-

mento da Terra, Adão – percebe-mos o gênio curioso de Allan Kar-dec, ao fazer aos Espíritos esta per-gunta: “A espécie humana começoupor um único homem?” Em res-posta, os mensageiros espirituais es-clarecem: “Não; aquele a quemchamais Adão não foi o primeiro,nem o único a povoar a Terra.”

Como vemos, a resposta dosEspíritos é clara e objetiva. Não dei-xa margem à dúbia interpretação.

Assim, as crenças religiosas quefundamentam seus princípios dou-trinários na Bíblia devem ter muitacautela. Porque os textos bíblicosinterpretados ao pé da letra podemnos conduzir ao fanatismo, que aolongo dos séculos tem sido motivode rivalidades, perseguições e guer-ras entre as religiões que se dizemcristãs.

Em primeiro lugar, diríamosque incorreria em absurdo equívo-co toda criatura que considerasse aBíblia como sagrada, por ser ela apalavra de Deus. Afirmaríamos,simplesmente, que esse livro não ésanto, nem tampouco representa

a palavra do Senhor de tudo e detodas as coisas. Desse modo, quema estudar com atenção e senso críti-co constatará que ela é contraditó-ria (ou aparentemente contraditó-ria) em algumas de suas partes.

Para confirmação do que afir-mamos, basta este exemplo: Gêne-sis, primeiro livro do Pentateuco deMoisés, reza que o primeiro ho-mem a povoar a Terra foi Adão.Depois, tirou-se-lhe uma costelapara formação de Eva. Após esseacontecimento, nasceram seus doisprimeiros filhos, Caim e Abel. Lo-go, naquela longínqua época, haviasomente quatro pessoas. Caim ma-tou Abel, ficaram apenas três cria-turas. Caim, envergonhado, fugiupara outras terras e, lá, encontrouuma jovem com quem casou e for-mou família. (Gênesis: cap. 2 a 5.)

Agora, uma pergunta: a jovemtinha pais, avós, bisavós... De ondeveio esse povo?

Eis aí, pois, a frontal con-tradição.

O Livro dos Espíritos (LE) temrazão ao afirmar que Adão não foio primeiro nem o único a povoar omundo.

Com as luzes da Filosofia Espí-rita, apoiada pelas pesquisas cientí-ficas, hoje sabemos que a raça hu-mana surgiu em diversas partes doPlaneta e em diferentes épocas, fa-to causal que vem confirmar as teo-

rias da diversidade das raças. E, co-mo é lógico, do entrecruzamentodas raças, surgiram outros modelosraciais. (LE, questão 53.)

Dessa forma, bom seria que,com o Espiritismo, considerásse-mos os personagens Adão e Eva,bem como os seis dias da criação domundo, o paraíso, a serpente, a ma-çã, etc., como seres e lugares, acon-tecimentos e coisas mitológicos oulendários, já que a Bíblia se consti-tui verdadeiro celeiro de alegorias.Alegorias, por trás das quais se ocul-tam grandes verdades.

Vamos questionar?

Retirando a capa que envolveas alegorias, as figuras Adão e Evanão representariam a Humanidade?Os seis dias da Criação não seriamas primeiras idades do planeta Ter-ra e, em seu conjunto, um longoperíodo de milhões de anos comopreparação para surgirem os seresvivos? O paraíso, alegoricamente fa-lando, não representaria um plane-ta superior, de onde emigrou parteda raça humana? A serpente não se-ria a personificação do mal em ge-ral, sendo a maçã a alegoria dos ar-rastamentos ao mal?

Segundo a Bíblia, Deus expul-sou Adão do Éden, por desobediên-cia, e pôs um anjo com espada pa-ra guardar o paraíso. Para explicar

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Adão e o Paraíso na

concepção espírita Severino Barbosa

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esse fato, passamos a palavra aomestre Allan Kardec, que, em seulivro A Gênese (Ed. FEB, cap. XII,item 23), afirma: “O paraíso ter-restre, cujos vestígios têm sido inu-tilmente procurados na Terra, era,por conseguinte, a figura do mun-do ditoso, onde vivera Adão, ou,antes, a raça dos Espíritos que elepersonifica. A expulsão do paraísomarca o momento em que esses Es-píritos vieram encarnar entre os ha-bitantes do mundo terráqueo e amudança de situação foi a conse-qüência da expulsão. O anjo que,empunhando uma espada flame-jante, veda a entrada do paraísosimboliza a impossibilidade em quese acham os Espíritos dos mundosinferiores, de penetrar nos mundossuperiores, antes que o mereçampela sua depuração.”

Confirmando as interpreta-ções de Allan Kardec, acima, oguia espiritual de Chico Xavier,o venerável Espírito Emmanuel,em seu A Caminho da Luz (Ed.FEB), explica que o paraíso da Bí-blia, do qual, simbolicamente, a fi-gura lendária de Adão fora expul-sa por Javé, representa a expulsãode milhares de Espíritos rebeldesde um planeta que pertence ao solCapela, distante da Terra cerca de42 anos-luz.

Segundo ainda informaçõesdesse elevado Espírito, aqueles Es-píritos, como exilados, reencarna-ram em nosso mundo e, assim, for-maram a raça adâmica.

É importante assinalar que es-se fato não ocorreu apenas há qua-tro mil anos antes do Cristo, comoindica a Bíblia. A idade exata per-de-se na noite dos tempos. Isto sig-nifica que muito antes do persona-gem Adão – ou pessoa mitológi-

ca –, já existiam homens espalhadospor diversas localidades do Planeta.É o que também confirma a Ciên-cia, através das escavações, pesqui-sas e estudos dos fósseis, como afir-ma Allan Kardec.

Além dessa sensata afirmativa,o Codificador do Espiritismo dizque tal idéia não é nova, acrescen-tando: “La Peyrère, sábio teólogodo século dezessete, em seu livroPreadamitas, escrito em latim e pu-blicado em 1655, extraiu do textooriginal da Bíblia, adulterado pelastraduções, a prova evidente de quea Terra era habitada antes da vindade Adão e essa opinião é hoje a demuitos eclesiásticos esclarecidos.”(A Gênese, cap. XII – nota do item25.)

Em nossa atualidade, se enxer-garmos a realidade com a visão es-piritual, verificamos que muitosteólogos, em nome da religião, têmempreendido mudanças em suasmentalidades. Citemos como exem-plo o Papa João Paulo II que, re-centemente, aboliu o dogma “céu,inferno e purgatório”. Em seu fun-

damento, alegou que esse dogmaé mero estado da alma de cadacriatura. Portanto, não faz maisparte da lista dos dogmas da IgrejaCatólica Romana.

Assim, pouco a pouco, as reli-giões irão fazendo suas necessáriase úteis transformações, ajustando--se melhor aos ensinamentos doCristo.

Por tudo isso, pode-se afirmarque estamos no fim dos tempos?Claro que não! Segundo os Evange-lhos, estamos apenas no começodas mudanças.

Com relação a Eva, que segun-do o texto bíblico teria sido forma-da de uma costela de seu compa-nheiro Adão, também é outra ale-goria. Allan Kardec explica: “(...)aparentemente pueril, se admitidaao pé da letra, mas profunda, quan-to ao sentido. Tem por fim mostrarque a mulher é da mesma nature-za que o homem, que é por conse-guinte igual a este perante Deus enão uma criatura à parte, feita pa-ra ser escravizada e tratada qualhilota.” (A Gênese, cap. XII, item11.)

Allan Kardec, no mesmo racio-cínio interpretativo, vai mais além:“(...) Tendo-a como saída da pró-pria carne do homem, a imagem daigualdade é bem mais expressiva,do que se ela fora tida como for-mada, separadamente, do mesmolimo. Equivale a dizer ao homemque ela é sua igual e não sua escra-va, que ele a deve amar como partede si mesmo.” (Idem.)

Por tudo isso se vê, mais umavez, que a Bíblia está envolta nummanto de alegorias, que precisa deinterpretações e esclarecimentos àluz da Doutrina Espírita.

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Pode-se afirmar queestamos no fim dostempos? Claro quenão! Segundo os

Evangelhos, estamosapenas no começo

das mudanças

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Estabelecidos em Jerusalém, de-pois do Pentecostes, os discí-pulos de Jesus, sinceramente

empenhados à obra do Evangelho,iniciaram as campanhas imprescin-díveis às realizações que o Mestrelhes confiara.

Primeiro, o levantamento demoradia que os albergasse.

Entremearam possibilidades,granjearam o apoio de simpatizan-tes da causa, sacrificaram pequenosluxos, e o teto apareceu, simples eacolhedor, onde os necessitados pas-saram a receber esclarecimento econsolação, em nome do Cristo.

Montada a máquina de traba-lho, viram-se defrontados por novoproblema. As instalações demanda-vam expressivos recursos. Convoca-ções à solidariedade se fizeram ati-vas. Velhos cofres foram abertos,canastras rojaram-se de borco, en-tornando as derradeiras moedas, eo lar da fraternidade povoou-se deleitos e rouparia, candeias e vasos,tinas enormes e variados apetrechosdomésticos.

Os filhos do infortúnio chega-ram em bando.

Obsidiados eram trazidos delonge, velhinhos que os descenden-tes irresponsáveis atiravam à rua en-grossavam a estatística dos hós-pedes, viúvas acompanhadas por fi-lhinhos chorosos e magricelas au-

mentavam na instituição, dia a dia,e enfermos sem ninguém arras-tavam-se na direção da pousada deamor, quando não eram encami-nhados até aí em padiolas, com asmarcas da morte a lhes arroxearemo corpo enlanguescido.

Complicaram-se as exigênciasda manutenção e efetuaram-se co-letas entre os amigos. Corações ge-nerosos compareceram. Remédiosnão escassearam e as mesas foramsupridas com fartura.

Obrigações dilatadas reclama-ram concurso humano.

Os continuadores de Jesus ape-laram das tribunas, solicitando bra-ços compassivos que lavassem osdoentes e distribuíssem os pratos.Cooperadores engajaram-se gratui-tamente e formaram-se os diáconosprestimosos.

Criancinhas começaram a des-pontar na estância humilde e outraespécie de assistência se impôs, rá-pida. Era necessário amontoar omaterial delicado em que os recém--nascidos, à maneira de pássarosfrágeis, pudessem encontrar o acon-chego do ninho. Senhoras abnega-das esposaram compromissos. A le-gião protetora do berço alcançouprodígios de ternura.

E novas campanhas raiavam,imperiosas. Campanhas para o tra-to da terra, a fim de que as despe-sas diminuíssem. Campanhas parasubstituir as peças inutilizadas pelosobsessos, quando em crises de fúria.Campanhas para o auxílio imedia-to às famílias desprotegidas de com-

panheiros que desencarnaram. Cam-panhas para mais leite em favor dospequeninos.

Entretanto, se os apóstolos doMestre encontravam relativa facili-dade para assegurar a mantença dacasa, reconheciam-se atribulados pe-la desunião, que os ameaçava, ter-rível. Fugiam da verdade. Levi cri-ticava o rigor de Tiago, filho deAlfeu. Tiago não desculpava a tole-rância de Levi. Bartolomeu inter-pretava a benevolência de Andrécomo sendo dissipação. André con-siderava Bartolomeu viciado em so-vinice. Se João, muito jovem, fossevisto em prece, na companhia de ir-mãs caídas em desvalimento diantedos preconceitos, era indicado porinstrumento de escândalo. Se Filipedormia nos arrabaldes, velando ago-nizantes desfavorecidos de arrimofamiliar, regressava sob a zombariados próprios irmãos que não lhe pe-netravam a essência das atitudes.

Com o tempo, grassaram con-flitos, despeitos, queixumes, per-turbações. Cooperadores insatisfei-tos com as próprias tarefas inva-diam atribuições alheias, provo-cando atritos de conseqüências amar-gas, junto dos quais se sobrepu-nham os especialistas do sarcasmo,transfigurando os querelantes emtrampolins de acesso à dominaçãodeles mesmos.

Partidos e corrilhos, aqui e ali.Cochichos e arrufos nos refeitórios,nas cozinhas enredos e bate-bocas.Discussões azedavam o ambientedos átrios. Fel na intimidade e des-

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PRESENÇA DE CHICO XAVIER

A campanha da paz

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prezo por fora, no público que se-guia, de perto, as altercações e asdesavenças.

Esmerava-se Pedro no sustentoda ordem, mas em vão. Aconselha-va serenidade e prudência, sem qual-quer resultado encorajador. Por fim,cansado das brigas que lhes des-gastavam a obra e a alma, propôsreunirem-se em oração, a benefícioda paz. E o grupo passou a congre-gar-se uma vez por semana, com se-melhante finalidade. Apesar disso,porém, as contendas prosseguiam,acesas. Ironias, ataques, remoques,injúrias...

Transcorridos seis meses sobrea prece em conjunto, uma noite deangústia apareceu, em que Simãoimplorou, mais intensamente co-movido, a inspiração do Senhor. Osirmãos, sensibilizados, viram-no en-gasgado de pranto. O companheirofiel, rude por vezes, mas profunda-mente afetuoso, mendigou o auxílioda Divina Misericórdia, reconheciaa edificação do Evangelho compro-metida pelas rixas constantes, esmo-lava assistência, exorava proteção...

Quando o ex-pescador paroude falar, enxugando o rosto molha-do de lágrimas, alguém surgiu ali,diante deles, como se a parede, àfrente, se abrisse por dispositivosocultos, para dar passagem a umhomem.

À luz mortiça que bruxuleavano velador, Jesus, como no passado,estava ali, rente a eles... Era ele, sim,o Mestre!... Mostrando o olhar lú-cido e penetrante, os cabelos des-nastrados à nazarena e melancoliaindefinível na face calma, ergueu asmãos num gesto de bênção!...

Pedro gemeu, indiferente aosamigos que o assombro empolgava:

– Senhor, compadece-te de nós,

os aprendizes atormentados!... Quefazer, Mestre, para garantir a segu-rança de tua obra? Perdoa-me se te-nho o coração fatigado e desdito-so!...

– Simão – respondeu Jesus,sem se alterar –, não me esqueci derogar para que nos amássemos unsaos outros...

– Senhor – tornou Cefas –, te-mos realizado todo o bem que nosé possível, segundo o amor que nosensinaste. Nossas campanhas nãodescansam...

Temos amparado, em teu no-me, os aleijados e os infelizes, asviúvas e os órfãos...

– Sim, Pedro, todas essas cam-panhas são aquelas que não podemesmorecer, para que o bem se espa-lhe por fruto do Céu na Terra; noentanto, urge saibamos atender àcampanha da paz em si mesma...

– Senhor, esclarece-nos por pie-dade!... Que campanha será essa?!...

Jesus, divinamente materializa-do, espraiou o olhar percuciente nadiminuta assembléia e ponderou,triste:

– O equilíbrio nasce da uniãofraternal e a união fraternal não apa-rece fora do respeito que devemosuns aos outros... Ninguém colheaquilo que não semeia... Conse-guiremos a seara do serviço, conju-gando os braços na ação que noscompete; conquistaremos a diligên-cia, aplicando os olhos no dever acumprir; obteremos a vigilância,empregando criteriosamente os ou-vidos; entretanto, para que a harmo-nia permaneça entre nós, é forçosopensar e falar acerca do próximo,como desejamos que o próximopense e fale sobre nós mesmos...

E, ante o silêncio que pesava,profundo, o Mestre rematou:

– Irmãos, por amor aos fracose aos aflitos, aos deserdados e aostristes da Terra, que esperam pornós a luz do Reino de Deus, faça-mos a campanha da paz, começan-do pela caridade da língua.

Irmão X

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido.Contos Desta e Doutra Vida, 10. ed. Riode Janeiro: FEB, 1995, cap. 31, p. 143--145.

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EspiritismoEspiritismo é uma luzGloriosa, divina e forte,Que clareia toda a vidaE ilumina além da morte.

É uma fonte generosaDe compreensão compassiva,Derramando em toda parteO conforto d'Água Viva.

É o templo da CaridadeEm que a Virtude oficia,E onde a bênção da BondadeÉ flor de eterna alegria.

É árvore verde e fartaNos caminhos da esperança,Toda aberta em flor e frutoDe verdade e de bonança.

É a claridade benditaDo bem que aniquila o mal,O chamamento sublimeDa Vida Espiritual.

Se buscas o Espiritismo,Norteia-te em sua luz:Espiritismo é uma escola,E o Mestre Amado é Jesus.

Casimiro Cunha

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido.Parnaso de Além-Túmulo. 14. ed.Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 202--203.

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Embora já com 42 anos, é comose o fato tivesse ocorrido on-tem. A carta do médium Fran-

cisco Cândido Xavier ao Prof. Is-mael Gomes Braga e a deste aoPresidente A. Wantuil de Freitas, aprimeira relatando o acontecimen-to, a segunda reportando-se ao mes-mo, são provas disso, como vere-mos.

O caso é que o grande espiri-tista-esperantista brasileiro fora aco-metido de mal súbito, que o levoua funda prostração, inspirando cui-dados à sua abnegada esposa, e nanoite de 29 para 30 de janeiro de1960 recebeu medicação no PlanoEspiritual, em circunstâncias taisque são de molde a nos chamar aatenção.

A presença de Emmanuel soli-citando a uma das Entidades pre-sentes – D. Aldana – que “assumis-se a direção dos trabalhos”; aaplicação, por parte dessa, de medi-camentos no tórax do enfermo, en-volvendo-o “em forças magnéticas”que tinham cor – “uma espécie deondas rosadas” –; uma segunda se-nhora (Estevina) trazendo do inte-rior do domicilio um volume, den-tre outros de coletâneas de tra-balhos do Prof. Ismael, escritos noperíodo de dois anos, explicandoque os há, separadamente, tanto deEspiritismo quanto de Esperanto –

são particularidades verdadeiramen-te dignas de nota.

Há outras nuanças de singularbeleza, mas, se nos predispusésse-mos a relatá-las, tiraríamos às duascartas, alusivas ao assunto, o saborde novidade que o leitor precisa ex-perimentar do contato com o textode ambas.

Pela ordem, primeiro devería-mos apresentar a do medianeiro dePedro Leopoldo e Uberaba ao fe-cundo beletrista das letras espíritase notável mestre de Esperanto, masoptamos pela missiva deste ao, en-tão, Presidente da Federação Espí-rita Brasileira, o grande e mui sau-doso Dr. Wantuil, na qual o sig-natário, com a sua autoridade dehomem erudito e simples, destacaligeiros lances de muita oportu-nidade.

Vamos aos “arquivos docu-mentais” da Casa de Ismael, que apassagem dos anos só faz é atua-lizá-los cada vez mais, sem jamaisconseguir envelhecê-los nem des-colori-los, retrocedendo a 9 de feve-reiro de 1960.

...“Wantuil,Como lhe prometi pelo telefo-

ne, fiz cópia da carta do Chico, naqual ele me relata uma sessão de ca-ridade feita em meu beneficio noPlano Espiritual, na madrugada de30 de janeiro de 1960.

É pasmosa a memória do Chicopara os nomes próprios de entidadesespirituais que ele viu uma única vez

ou só lhes ouviu uma vez o nome,como Oscar, Anselmo, Augusta.

Como estudo de Espiritismome parece muito interessante o re-lato.

Curioso que um Espírito ami-go esteja colecionando e encader-nando no Plano Espiritual meuspobres escritos e formando séries devolumes – uns sobre Espiritismo,outros sobre Esperanto.

A caridade que me foi dispen-sada nessa reunião é um belo ensinosobre a bondade de Espíritos de es-feras muito diferentes, reunidos ape-nas pela caridade. Entre uma mes-tra-escola como a Aldana, umadona de casa como Carlinda, e Em-manuel, há uma escala imensa, masno caso todos se reuniram para daresmolas a um miserável sofredor,carregado de pecados e mazelas.

Muitos Espíritos ficam per-turbados depois da morte, mas eujá fiquei perturbado antes da mor-te.

Pode conservar a cópia, porquetenho outra e o original.

Um abraço doIsmael.”

...De poucos dias antes, daquele

mesmo mês, é a carta do Chico aoProf. Ismael, cujo texto na íntegra éo seguinte:

“Querido Ismael,Deus nos abençoe.

Estou recebendo hoje a tuacarta de 29 último e agradeço-tepor tudo, rogando a Deus nos per-

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Tratamento de enfermo no EspaçoPassos Lírio

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mita a felicidade de saber-te plena-mente restaurado de saúde.

Muito grato pelas notícias emque me confirmas a existência donosso caro irmão Álvaro Damasce-no, apresso-me a contar-te novoencontro que tivemos no PlanoEspiritual, de 29 para 30, ou desexta para sábado últimos. – Vimtarde para casa, porque a nos-sa sessão pública terminou nasprimeiras horas da madruga-da. Deitei-me e, pouco tempopassado, vi-me conduzido auma região que não sei descre-ver corretamente. Tive a idéiade que no estado em que meachava não me afligia por qual-quer aspecto exterior. Acom-panhado, entrei numa casa deagradável aparência, ladeadade flores e num ambiente ale-gre como se houvesse ali mú-sica que não era ouvida. Nãotenho outra expressão para fi-gurar o que senti. Fui recebi-do pelo mesmo Espírito quefiquei conhecendo por ÁlvaroDamasceno. Mandou-me en-trar com afabilidade. Entrei.Numa sala grande e bela, massimples e acolhedora, estavam se-nhoras. Conheci logo Estevina, airmã dela, que já conhecia de nos-sos trabalhos espirituais em Pe-dro Leopoldo, uma outra que fi-quei sabendo ser D. Aldana, mui-to singular pela formosa cabelei-ra escura, e uma outra muito sim-pática que me apresentaram co-mo sendo Carlinda. Ao lado de-las, reconheci-te e, de improviso,reconheci Emmanuel, percebendoque fora ele que me conduzira atélá, porque cumprimentava-te, dan-do a entender que estava chegan-do.

Com o Álvaro, formamos aotodo oito pessoas. Reunimo-nos dealma alegre. Felizes. Uma felicidadeleve, estranha.

Emmanuel, sorrindo, pediu aD. Aldana que assumisse a direçãodos trabalhos espirituais. Compre-endi que estava ali para seguir umareunião.

Não estávamos em torno demesa grande como na Terra, emreuniões habituais de nossa fé. Sen-távamo-nos à vontade, em espéciesde divãs compridos, mas D. Alda-na se deslocou e sentou-se ao pé deum móvel diferente, que parecia ca-racterístico para salientar a pessoaque o ocupasse.

D. Aldana fez uma prece quenos deixou em lágrimas de profun-da emoção. Em seguida, leu numexemplar de O Evangelho segundoo Espiritismo alguns trechos do ca-pitulo V, em que se fala de bem--aventurança aos aflitos. Comentou

em minutos rápidos e, em seguida,a senhora de nome Carlinda se le-vantou e, caminhando para teu la-do, aplicou-te muita medicação nazona do tórax, envolvendo-te emforças magnéticas que tomavam coraos meus olhos. Uma espécie de co-leção de ondas rosadas que absor-vias, através da respiração a longos

haustos.Agradeceste em pranto

mal contido o socorro que aca-baste de receber, chamando aSra. Carlinda por “Vovó”, masnão fiquei sabendo se era mes-mo alguma de tuas avozinhas.O ambiente doce, mas extre-mamente respeitável, não mefavorecia perguntas. D. Aldanaencerrou a reunião enquanto airmã Quininha tocava um ins-trumento que me pareceu umpiano diferente, porque era al-to e exigia da musicista a posi-ção de pé. A melodia era suave,de grande beleza. Finda a mú-sica, a irmã Quininha disse-te:

– Ismael, dediquei a músi-ca não apenas ao teu coraçãofraterno, mas também ao Os-car e à mamãe Augusta, ausen-

tes de nossas preces.Sorriste e aprovaste, mas não

fiquei sabendo de quem se tratava.Perguntaste a ela sobre a ma-

mãe Augusta e ela disse que o “Pa-dre Anselmo estava prestando a elagrande auxílio”.

Seguia tudo com atenção, massentia de mim para comigo que nãodevia perguntar sobre o que vinhaobservando.

Logo após, todos os presentes,inclusive Emmanuel, te dirigirampalavras de reconforto. Pediam-tecoragem, tranqüilidade, bom âni-mo, alegria. >

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Ismael Gomes Braga

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20 Reformador/Fevereiro 2003

> Estevina, que falava com mui-to amor e carinho, foi ao interior etrouxe um belo livro e explicou, ri-sonha, que era um dos volumes deteus escritos, por ela colecionados.Estavas, como eu mesmo, surpreso.Abriste o livro, admirado. Linda en-cadernação. Todas as páginas ti-nham sinais luminosos, mas algu-mas delas brilhavam, com expressãode grande beleza. Não me contive eindaguei por quê. Estevina explicouentão que se tratava dos artigos queescreveste com mais sacrifício, nosdias de mais luta íntima, de maio-res sofrimentos morais. O volumeincluía páginas escritas por ti emdois anos, esclarecendo Estevinaque apenas trazia um dos volumes,dos muitos que tens no Plano Espi-ritual e informou, ainda, que o tra-balho Esperantista é separado dotrabalho espírita, mas que tens li-vros de um e de outro setor. Con-versamos alegremente. Comenta-mos as lições da vida e quando mereferia ao ensinamento das páginasluminosas, quando escreveste commais sacrifícios, notei que Emma-nuel me fez o sinal de voltar e, em-bora com mágoa, despedi-me dei-xando-te lá, esclarecendo-me aEstevina que te demorarias apenasalguns minutos a mais, para voltarao Rio por vias diferentes. Em se-guida, num fragmento mínimo detempo, despertei. Eram cinco damanhã.

Guardei tudo que pude reterna memória e conto-te como estãoas lembranças, ainda agora, em mi-nha mente.

(a) Chico.”Em nota no rodapé de cópia

dessa carta enviada ao Presidente A.Wantuil de Freitas, o Professor Is-mael Gomes Braga registrou suas

observações comprobatórias quantoà exatidão dos nomes das Entidadescitadas, fazendo-o nestes termos:

“Álvaro Damasceno, Vovó Car-linda, Augusta, Oscar, Padre Ansel-mo são conhecidos meus numa sé-rie de sessões de materializaçõesrealizadas de 1927 a 1929 em An-daraí. O mesmo quanto a Quini-nha e Estevina. D. Aldana foi mi-nha tia, irmã de minha mãe.

Parece que a reunião foi em ca-sa dos Magalhães, porque a Estevi-na foi ao interior apanhar um livropara nos mostrar.

Naquela noite eu, Ismael, pas-sei muito mal, mas despertei-mebem disposto. Pela madrugada esti-ve dormindo sono profundo, sem

sonhos. Todos os nomes própriosestão certos. Vovó era como todosnós tratávamos a Carlinda, que foimadrasta do Estevão de Magalhãese estava em lugar de avó das moçasQuininha, Estevina e outras.”

Vemos, assim, como os doisplanos – material e espiritual – seinterpenetram, alternando-se emregime de recíproca influenciação,num fluxo e refluxo de causas eefeitos, de forças e vibrações queraiam pelos domínios do sublime,entrelaçando almas e corações pelosmais sacrossantos laços afetivos pa-ra a regência da partitura da sinto-nia do Amor, em que encarnados edesencarnados participam da or-questração.

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A Paz e o AmorCada um responde pelo que faz,Seja o que for, no mal, seja no bem; Responde já na Terra ou lá, no além,Construindo a sua tormenta ou a sua paz.

De acordo com a vontade que se tem,Pode fazer-se pouco ou muito mais,Frustrações e euforias isso traz,Pela omissão ou serviço no bem.

Ninguém se negue, então, a cooperarCom Cristo, enquanto nos surge o ensejo,De sementar o mundo com valor.

O tempo corre. É tempo de atuar.Forjando a luz, ainda que um lampejo,Pelas bênçãos da paz,Que integra o amor.

Sebastião Lasneau

(Mensagem psicografada pelo médium J. Raul Teixeira, em 8/11/2002, durante aReunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, em Brasília-DF.)

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E olhai por vós“E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se

carreguem de glutonaria, de embriaguez e dos cuidados destavida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.”

– Jesus. (Lucas, 21:34.)

Em geral, o homem se interessa por tudo quanto diga respeito ao bem-es-tar imediato da existência física, descuidando-se da vida espiritual, a sobrecar-regar sentimentos de vícios e inquietações de toda sorte. Enquanto lhe sobratempo para comprar aflições no vasto noticiário dos planos inferiores da ativi-dade terrena, nunca encontra oportunidade para escassos momentos de medi-tação elevada. Fixa com interesse as ondas destruidoras de ódio e treva que as-solam nações, mas não vê, comumente, as sombras que o invadem. Vasculha osmales do vizinho e distrai-se dos que lhe são próprios.

Não cuida senão de alimentar convenientemente o veículo físico, mergu-lhando-se no mar de fantasias ou encarcerando-se em laços terríveis de dor, queele próprio cria, ao longo do caminho.

Depois de plasmar escuros fantasmas e de nutrir os próprios verdugos, cla-ma, desesperado, por Jesus e seus mensageiros.

O Mestre, porém, não se descuida em tempo algum e, desde muito, reco-mendou vele cada um por si, na direção da espiritualidade superior.

Sabia o Senhor quanto é amargo o sofrimento de improviso e não nos fal-tou com o roteiro, antecedendo-nos a solicitação, há muitos séculos.

Retire-se cada um dos excessos na satisfação egoística, fuja ao relaxamentodo dever, alije as inquietações mesquinhas – e estará preparado à sublime trans-formação.

Em verdade, a Terra não viverá indefinidamente, sem contas; contudo, ca-da aprendiz do Evangelho deve compreender que o instante da morte do corpofísico é dia de juízo no mundo de cada homem.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz, 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. 23,

p. 57-58.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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Arquiteto do próprio porvir, éo Espírito, encarnado ou de-sencarnado, o responsável di-

reto ou indireto pelos acontecimen-tos que ponteiam seu caminho. Asações meritórias representarão cré-ditos computados a favor de sua fe-licidade futura; os erros, crimes efraquezas ser-lhe-ão debitados, aguar-dando, na corrente do futuro, omomento adequado para eclodiremsob a forma de sofrimento e dor.

Quando atingido pelo infortú-nio, o homem busca, geralmenteinconformado, a causa da própriadesventura, elegendo alguém porresponsável. Mas a lei de justiça,que tudo preside, marca com preci-são exata as conseqüências das cau-sas que ele próprio gerou, promo-vendo o desequilíbrio em sua vida.Ao desviar-se da Lei Divina, estabe-lece o determinismo humano, en-gendrando uma série sucessiva deocorrências, que mais não objeti-vam, senão restabelecer o equilíbriointerrompido.

Não existe a preocupação depunir, castigar ou impor quaisquersofrimentos por parte do Criador:as leis são perfeitas, justas e automá-ticas, e determinam por inscriçãona natureza intrínseca do perispíri-to todos os acontecimentos da vidapretérita, dentre os quais, aqueles

que estão a reclamar reparação, eque aguardam o momento de ma-turação apropriada para que pos-sam alcançar o maior proveito pos-sível, no trabalho individual daauto-iluminação.

Pensamentos, palavras e atossão os elementos à disposição dacriatura para exercício do livre-ar-bítrio. Do seu uso, com maior oumenor sabedoria, decorrerá o indis-pensável estado de equilíbrio e emconseqüência, a maior ou menorcota de ventura; ou o desequilíbrio,e a maior ou menor soma de sofri-mento.

Enquanto vivermos, estaremosmergulhados na ambiência adequa-da ao exercício dos atributos emque nos encontrarmos enfraque-cidos. As dificuldades, tropeços,agressões, tentações e vicissitudesconstituem recursos de elevada sig-nificação, para incrementação doprogresso. Aceitá-los com paciência,resignação e humildade será a ma-neira mais rápida e inteligente deprogredirmos. A revolta, a negligên-cia, o desespero, a rebeldia, a indi-ferença e a inércia são atitudes alta-mente nocivas ao objetivo superiorque nos cumpre alcançar, e quecom boa vontade e compreensãopoderão ser evitadas, através do es-forço libertador do esclarecimento.

A vida na matéria é uma con-tingência a que se submete o Espí-rito, por imposição da Lei de Evo-lução; e a meta a ser alcançada serásempre a elevação do Espírito. Eter-

no, indestrutível, energeticamentepoderoso, contém implícito o pla-no organogênico da constituição fí-sica da criatura em cada jornadaterrena, orientando o desenvolvi-mento celular, segundo as linhas deforça dos diferentes sistemas orgâ-nicos do corpo material, do mesmomodo que a semente contém o pla-no organogênico da árvore que de-la se originará, ao conjuminarem ascondições ideais para a germinação.Será desta maneira que traremospara a vida as deformações, as insu-ficiências, as enfermidades congêni-tas contidas em potencial, na natu-reza espiritual.

No trabalho pelo progresso, es-taremos sujeitos ao princípio da re-ciprocidade, que determina ser oefeito, sempre, correspondente àcausa que o originou. Sua natureza,boa ou má, criará conseqüências deigual teor. Este conceito está implí-cito no ensinamento do Cristo, en-fatizando que “a semeadura é livre,mas a colheita é obrigatória”; isto é,o homem sempre colherá o que se-mear à sua volta.

Bem e mal são conceitos rela-tivos. Muita vez o que se nos afigu-ra um mal gera, ao longo de nos-so porvir, uma conseqüência boa,abrindo-nos os olhos à razão.

O bem, tendo como base es-trutural o amor, é a força propulso-ra do Universo por excelência. Omal, não sendo obra de Deus, temapenas existência efêmera, já quecomo a sombra, que desaparece

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O Homem e suas realizaçõesMauro Paiva Fonseca

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com a presença da luz, o mal se ex-tingue com o advento do esclareci-mento, que, alterando o modo depensar, faz que o mal praticadoalhures seja anulado pelo bem quepraticamos agora: o bem de hojedestrói o mal do passado.

Em um planeta de expiação eprova como a Terra, a existência domal é ainda uma necessidade, quese extinguirá um dia, quando asconsciências dos homens que o ha-bitam houverem assimilado a verarealidade do destino que os aguar-da, bem como a finalidade da exis-tência outorgada pelo Criador àssuas criaturas. O mal é, assim, aconseqüência dos pensamentos deuma consciência sem esclarecimen-to, como a sombra o é, de um localprivado de luz.

O que resulta desta situaçãotemporária das consciências não es-clarecidas, quando atingidas pelador é, geralmente, o nascimento darevolta, da inconformação e into-lerância. Nesses estados, quando sãoinúteis todos os recursos para des-pertá-las, resta apenas como soluçãoo sofrimento; sofrimento represen-tado por um número infinito de va-riantes, por infinitas nuanças, mui-ta vez interpretados como castigode Deus. Entretanto, o SupremoPai não castiga, não pune nem sevinga, mas simplesmente preside ocurso da vida, com o automatismode suas leis.

Quando quem sofre procura oresponsável por sua dor, geralmen-te o encontra na pessoa do seme-lhante, a quem culpa por sua des-ventura, e elege por traidor, agres-sor ou destruidor de sua paz. Estemodo de pensar, porém, emboraaparentemente justo, carece de ló-gica. É ledo engano! As razões dos

sofrimentos acham-se indelevel-mente inscritas nos refolhos da al-ma, nos arquivos etéricos da perso-nalidade espiritual. Aí se registra,gravado para a eternidade, o acervode conquistas do Espírito, de ondese originam todas as conseqüênciasgeradoras da ventura ou desventurade cada um. Vemos, assim, que aprimeira e indispensável condiçãodeterminante dos nossos sofrimen-tos será sempre o endividamentodiante da Lei de Justiça: a necessi-dade de resgate. Por isso, o seme-lhante que entendemos por agres-sor é apenas um instrumento, paracumprimento da lei.

Como semelhante atrai seme-lhante, nosso estado vibratório en-trará em sintonia com aqueles que,estando ao nosso alcance, sejam ca-pazes de proporcionar a situaçãoideal para a concretização dos resga-tes inadiáveis, uma vez que nossoperispírito contém, em detalhes, oplano diretor dos eventos necessá-

rios correspondentes às nossas ne-cessidades de aprendizagem.

Que sentido teria então a vin-gança? Que proveito nos traria aoprogresso espiritual? Ao nos vingar-mos não estaríamos nos igualandomoralmente ao nosso agressor? Norevide não estaríamos dando mos-tras de nossa incapacidade de supe-rar o ódio que ainda somos capazesde agasalhar? Que outros sentimen-tos nos compelem à vingança senãoo orgulho, a vaidade e o personalis-mo injusto? Mas estes são senti-mentos que devemos destruir. Oculto à egolatria se mascara na so-ciedade mundana com o nome de“amor-próprio”; porém, ele nadamais é que a desculpa para justifi-carmos a incapacidade de superaruma agressão sofrida.

Eis por que a vingança é umsentimento desarrazoado. Com ela,estaremos destruindo uma grandio-sa oportunidade de galgar um de-grau, na senda da auto-iluminação.A tolerância, o perdão, a resignaçãoteriam dupla vantagem: mostrarinequivocamente o grau de superio-ridade já alcançado por nós e o ha-vermos quitado com a Lei de Justi-ça os gravosos débitos do passado,que nos comprometiam e inferiori-zavam, impedindo-nos a ascensãoàs paragens de luz, quando libertosda vida física.

O Espiritismo, fonte inesgotá-vel de conhecimentos e recursos pa-ra libertação das consciências hu-manas, tem a missão de trans-feri-las das trevas da inferioridade edo sofrimento para a resplandecen-te luz da superioridade espiritual.Mas, como toda ciência, a Doutri-na Espírita há que ser estudada emeditada, para ser bem compreen-dida e aplicada.

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A vingança é um

sentimento

desarrazoado. Com

ela, estaremos

destruindo uma

grandiosa

oportunidade de

galgar um degrau, na

senda da

auto-iluminação

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Entramos no 3o milênio, quan-do muitos místicos e profetasde última hora diziam que não

chegaríamos.A chegada do novo século e de

um novo milênio estimula-nos algu-mas reflexões e temos a certeza deque uma das palavras mais faladasno final do 2o milênio foi ecologia.Com o conhecimento dos proble-mas ambientais, o homem gradati-vamente se tem conscientizado deque depende de um ambiente sau-dável para ter uma vida saudável.

“...o ar que respiramos, a águaque bebemos e o solo e o mar de on-de os alimentos são retirados estãosendo contaminados por substân-cias tóxicas. Os recursos minerais seesgotam e a erosão e as pragas cau-sam sérios danos à agricultura. To-dos estes fatos agridem a saúde dohomem e chegam mesmo a ameaçarsua própria sobrevivência. Precisa-mos tomar consciência desses pro-blemas e adotar, já, algumas medi-das para solucioná-los.” 1

O homem preocupa-se comseu ambiente, constata que emboraseja o grande controlador do meio,a Natureza tem lhe respondido aosataques com veemência.

“Quando se admite que o ho-mem é um ser independente, com opapel de dominador da natureza,todas as suas ações depredadoras são

justificadas. No entanto, quandocompreendemos que o homem é umser integrante da natureza e que adepredação é a degradação da pró-pria sociedade, obrigatoriamenteteremos que mudar nosso enfoquesobre a questão.” 2

O homem moderno, do alto desua soberba, é obrigado a curvar-sediante do descontrole que causounos ecossistemas do Planeta. Afinal,estamos em transição de um mun-do de provas e expiação para ummundo de regeneração, o ser huma-no evolui e se conscientiza de quedeve viver em harmonia não só comoutros homens, mas também com oplaneta que lhe serve de escola, ouseja, com tudo que há na terra:água, solo, ar, plantas, animais, etc.

“O homem, infelizmente, vemsaqueando e agredindo a natureza,poluindo e exterminando seres vivos erecursos naturais. Por isso, a ecologiapode ser considerada a ciência da so-brevivência. Na visão ecológica, o ho-mem é despojado de sua posição decentro do universo para ser apenasuma espécie entre tantas outras; mas,como animal racional, tem a obriga-ção de reconhecer os danos praticadose restabelecer o equilíbrio abalado danatureza.” 3

Como o progresso não podeser detido, inúmeras criaturas já seesforçam para conviver com o am-biente, deixando de lado o orgulhode ser o suposto senhor das decisõesno Planeta. Hoje, o homem se vêpequeno diante das enchentes, de-sertificações, chuvas ácidas, incên-

dios que duram dias em florestas,buracos na camada de ozônio, ex-tinção de espécies, etc. Toda a sua“inteligência” e tecnologia não con-segue livrá-lo das reações da Natu-reza resultante de suas ações.

Houve uma evolução intelec-tual muito grande nos últimos sé-culos: em 1450 Gutenberg inventaa imprensa; em 1510 Copérnicoapresenta os princípios do heliocen-trismo; em 1590 Zacharias Janssenfabrica o microscópio; em 1601,funda-se, em Roma, a primeira so-ciedade científica; em 1608 Galileuconstrói um telescópio; em 1862Louis Pasteur derrota a teoria da ge-ração espontânea; em 1866 Mendeldesvenda as leis da hereditariedade;em 1876 Graham Bell inventa o te-lefone; em 1894 Guglielmo Marco-ni inventa e constrói o primeiro rá-dio; em 1944 Howard Aiken cons-trói o primeiro computador; em1969 Armstrong é o primeiro ho-mem a pisar na Lua; em 1997 nas-ce Dolly, o primeiro clone de ummamífero adulto, etc.4

Hoje é preciso mudar a ideolo-gia do progresso irracional e devas-tador. Fala-se no desenvolvimentosustentável, que conserva, preserva,cuida da Natureza, usando-a comrespeito e cuidados.

“Sonhamos com um mundoainda por vir, aonde não vamosmais precisar de aparelhos eletrôni-cos com seres virtuais para superarnossa solidão e realizar nossa essên-cia humana de cuidado e de gen-tileza. Sonhamos com uma socieda-

O Homem de Bem e a BiodiversidadeVilma Mendonça

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de mundializada, na grande casacomum, a Terra, onde os valores es-truturantes se construirão ao redordo cuidado com as pessoas, sobretu-do com os diferentes culturalmente,com os penalizados pela naturezaou pela história, cuidado com os es-poliados e excluídos, as crianças, osvelhos, os moribundos, cuidadocom as plantas, os animais, as pai-sagens queridas e especialmente cui-dado com a nossa grande e genero-sa Mãe, a Terra.” 5

Aos poucos o homem deste no-vo século e milênio conscientiza-sede que seu corpo, morada do Espí-rito, é o primeiro ambiente que elehabita, tendo então que cuidar delepara ter um estágio, o mais saudávelpossível, enquanto necessitar desseambiente para evoluir. Muitos jácuidam de seus corpos, alimentan-do-se com moderação e qualidade,abstendo-se de degradá-lo com ni-cotina, álcool ou excesso de glicídios(açúcares) e lipídios (gorduras).

Buscando esse ambiente saudá-vel, que não se traduz só em reflo-restar, despoluir águas e reproduzirespécies em extinção no cativeiro, ohomem se dá conta de que a violên-cia, o preconceito, o analfabetismoe a fome também são problemasambientais, ou seja, desequilíbriosambientais – desarmonia no am-biente que prejudica o meio e/ou osseres vivos que com ele interagem.

Conclui-se que a família, otemplo religioso, o local de trabalho,o bairro, o estado, o país, o mundosão ambientes ou ecossistemas dosquais o homem faz parte, participa,interage. Que a sua ação ou inaçãoinflui, participa dos resultados desucesso ou insucesso de cada umdesses ambientes que formam a cha-mada Biosfera (esfera de vida).

O ser que busca a harmoniainterna e externa e quer ser um ho-mem de bem não pode isentar-seda responsabilidade de cuidar daTerra; afinal Deus nos emprestoutudo isso (corpo físico, água, ar,animais, plantas, etc.) para que fi-zéssemos bom uso e não para des-truí-los. Existe a Lei de Destruição6

e Jesus disse que o escândalo é ne-cessário, mas ai daquele por quemvenha o escândalo7.

A biodiversidade (diversidade,variedade de vida ou espécies) queexiste nos ambientes, nos mostra acomplexidade que são as teias de vi-da dos seres vivos, a ligação de de-pendência de uns com os outros e arapidez da destruição, confrontadacom a lentidão da recuperação.Lembrando-nos de todos os am-bientes, precisamos considerar quese levamos muito tempo destruin-do, precisaremos de muito maistempo para reconstruir.

A elevação da consciência mo-ral levará o homem a respeitar suavida, seu meio e tudo que vive econvive com ele no planeta Terra.

Embora tenhamos passadoanos, séculos destruindo, começa-mos a reconstruir todos os ambien-

tes do primeiro (corpo) ao último(Universo) e por isso já podemos verresultados positivos das nossas açõespara buscar o equilíbrio ambiental:os cuidados com o corpo, a reestru-turação das famílias, as comunida-des de bairros, as associações contraa fome, contra os preconceitos e aviolência, mais leis ambientais sen-do cumpridas, a preocupação depessoas, grupos e países com o am-biente, informações e divulgação so-bre a importância do ambiente co-mo um todo; por exemplo: cam-panhas de preservação na mídia,criação do Direito Ambiental, cria-ção do CONAMA (Conselho Na-cional do Meio Ambiente), etc.

Em O Evangelho segundo oEspiritismo8 temos as característicasdo Homem de Bem, que indepen-dentemente da religião que se sigasão características dos Cristãos (se-guidores de Jesus), e lá se encontraescrito que: “O verdadeiro homemde bem é o que cumpre a lei de jus-tiça, de amor e de caridade, na suamaior pureza. Se ele interroga aconsciência sobre seus próprios atos,a si mesmo perguntará se violou es-sa lei, se não praticou o mal, se feztodo o bem que podia, se desprezouvoluntariamente alguma ocasião deser útil, se ninguém tem qualquerqueixa dele; enfim, se fez a outremtudo o que desejara lhe fizessem.”E mais adiante: “Usa, mas não abu-sa dos bens que lhe são concedidos,porque sabe que é um depósito deque terá de prestar contas e que omais prejudicial emprego que lhepode dar é o de aplicá-lo à satisfa-ção de suas paixões.”

Para sermos Homens de Bemnão bastará cuidarmos da biodiver-sidade verde do Planeta, será preci-so cuidar da biodiversidade hu-

“O verdadeiro

homem de bem é o

que cumpre a lei de

justiça, de amor e de

caridade, na sua

maior pureza”

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mana, mudando e criando hábitossaudáveis nas relações do homemcom outros homens e do homemcom o ambiente verde. Aí sim, res-peitando os nossos semelhantes e osoutros seres que habitam conosco abiosfera terrestre, seremos efetiva-mente Homens de Bem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1 VASCONCELLOS, José Luiz e GE-

WANDSZNAJDER, Fernando. Programas de

Saúde. São Paulo: Editora Ática, 1992.

2 NETO, Salvador Hernandes Esteves. Saúde:

Visão Ecológica e Contribuição Espírita. In

PAIVA, Maria Eny Rossetini (org.), Sobreviver.

Lins (SP): Edição do Albergue Noturno Hum-

berto de Campos, 1990.

3 PAULINO, Wilson Roberto. Ecologia Atual.

São Paulo: Ed. Ática, 1992.

4 Help! Ciência e Tecnologia (O Globo) – 1996.

5 BOFF, Leonardo. Saber cuidar. Petrópolis:

Editora Vozes, 1999.

6 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed.

FEB, Rio de Janeiro: 1987.

7 O Novo Testamento (Os Gideões Internacio-

nais –1979) – Mateus, cap. 18, v. 7.

8 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Es-

piritismo. Ed. FEB, Rio de Janeiro: 2000,

cap. XVII, item 3.

Areferência bibliográfica é umconjunto de elementos quepermitem a identificação, no

todo ou em parte, de documentosimpressos ou registrados em diver-sos tipos de material.

Quando a citação de uma obraé realizada pela primeira vez, a suareferência bibliográfica deve sercompleta.

Ex.: PEREIRA, Yvonne A. Avoz do Consolador. 2. ed. Rio deJaneiro: FEB, 1997.

As iniciais das palavras quecompõem o título devem ser maiús-culas apenas quanto a primeira le-tra da primeira palavra e dos nomespróprios.

A referência bibliográfica deuma obra mediúnica é feita assim:

XAVIER, Francisco Cândido.A caminho da luz: história da civi-lização à luz do Espiritismo. Dita-da pelo Espírito Emmanuel. 20. ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 1994.

Cabe aqui uma explicação.Qualquer informação incluída emuma referência bibliográfica não ex-traída da folha de rosto, que seconstitui no principal elemento deinformações para a referência, deveser citada entre colchetes. Portanto,para os livros editados pela FEB quenão trazem o local de publicação“Rio de Janeiro”, mas apenas “Rio”,é necessário que se anote assim: Rio[de Janeiro]. Os lançamentos daeditora e reedições já estão trazendoa catalogação na fonte, incluindo olocal por completo. Em tais casos,dispensam-se os colchetes.

Sugerimos que a entrada da re-ferência seja feita pelo médium pa-ra efeito de simplificação e cite-se,posteriormente, “pelo Espírito tal”.

A expressão latina Opus cita-tum (obra citada), na forma abre-viada Op. cit., será incluída após onome do autor sempre que umaobra for citada mais de uma vez,desde que não haja intercalações deoutras publicações do mesmo autor.

Para obras diferentes de ummesmo autor já referenciado em no-ta imediatamente anterior, usa-se otermo latino Id. (mesmo autor), deforma abreviada, seguido do títuloe demais elementos da referência.

Ex.: Id. Religião dos Espíritos.Pelo Espírito Emmanuel. Rio [deJaneiro]: FEB, 1993, p. 29.

Quando se vai citar novamentea mesma obra do mesmo autor esendo esta citação imediatamenteposterior, na mesma página ou empágina não distante, emprega-se a ex-pressão latina Id. Ibid. (mesmo autore mesma obra), na forma abreviada.

Ex.: Na mesma página: Id. Ibid;em página diferente da citada: Id.Ibid., p. 195.

É importante ainda saber quea referência bibliográfica pode apa-recer em nota de rodapé ou de fimde texto.

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Referências bibliográficasSolicitamos aos nossos distintos colaboradores, cujos artigos va-

lorizam as páginas de Reformador, o obséquio de, nas citações etranscrições de textos de terceiros, citarem a respectiva fonte, fazen-do a devida remissão no rodapé da página ou no final do artigo. A tí-tulo de subsídio, transcrevemos as Referências bibliográficas do ar-tigo de Geraldo Campetti Sobrinho – Não esqueça as fontes –,publicado em Reformador de novembro de 1998, p. 340-341.

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ADoutrina Espírita nem sempreé bem compreendida, seja pe-los que a combatem, velada ou

ostensivamente, seja por aqueles queapenas a conhecem superficialmen-te, ou, ainda, até mesmo por deter-minados adeptos que nela militam.

O ditado “Fulano entrou noEspiritismo, mas o Espiritismo nãoentrou nele”, tão vulgarizado nos cír-culos espiritistas, funciona maravi-lhosamente, por adaptar-se a certosprofitentes que pretendem fazer daDoutrina dos Espíritos o que bementendem, buscando antes a satisfa-ção de seus gostos e interesses quemesmo a concretização, em si mes-mos, do sentido e objetivo dos pos-tulados doutrinário-evangélicos deque deveremos fazer-nos intérpretes.

Não existe doutrina, sociedade,país, partido, sistema político-socialou socioeconômico que logre sub-sistir sem a força vigorosa e estabi-lizadora da disciplina.

Criatura desorganizada, sinalde perturbação.

Sociedade sem ordem, prenún-cio de balbúrdia.

Semelhantes considerações nosacodem à mente a propósito de umcaso ocorrido quando eclodiu, emnosso País, antes ainda da Revolu-ção de 31 de março de 1964, ummovimento militar com implica-ções políticas. Na ocasião, muitagente ficou entusiasmada, inclusivealguns “confrades”, aderindo e plei-teando adesões. (Referimo-nos aofato, mesmo assim por alto, apenaspara justificar o título e o escopo do

nosso trabalho, sem a pressuposiçãoou preocupação de qualquer outrointuito.)

Em conseqüência desse aconte-cimento, deu-se outro, surpreen-dente e triste: certas Sociedades quese diziam espíritas (se-lo-iam mes-mo?), foram sumariamente fechadaspelo fato de terem cedido suas sedespara reuniões de caráter político.

Agindo assim, com essa indis-ciplinada, contraditória e inconve-niente atitude, os dirigentes dasmesmas confundiram duas ordensde coisas completamente distintasentre si, misturando o Cristo comMamon, numa patente demonstra-ção de incoerência e insensatez, an-te a cristalinidade e singeleza dosensinamentos espíritas.

Naturalmente teriam esqueci-do que Centro Espírita é local apro-priado apenas a sessões de estudoscientífico-filosófico-evangélicos, on-de entramos em contato com ascoisas que nos prendem a Deus,aprendendo como nos libertarmosde nós mesmos, e jamais pontos dereuniões de fundo político, que nosagrilhoam a interesses e ambições,por vezes inconfessáveis, e cuja tô-nica, via de regra, é a predominân-cia de paixões desordenadas.

É justo respeitemos partidos emovimentos enquadrados no senti-do de brasilidade e compreendamosos anseios de seus aficcionados; éimprescindível cumpramos, compatriotismo, o dever cívico do voto,e é até mesmo muito natural quenos candidatemos a cargos eletivos,junto às Câmaras Municipais, As-

sembléias Legislativas e ao próprioParlamento Nacional; mas o quenão podemos e não devemos fazeré transformar as Casas Espíritas, detão grandiosas finalidades, em baseseleitorais, pois semelhante condutaé atentatória ao excelente conceitode que desfruta o Espiritismo nosdomínios da opinião pública.

Faz-se indispensável atentemosbem na diferença marcante que háentre sessão e cessão, sessão no Cen-tro e cessão do Centro, para quepossamos entender com justeza oque significa sessão e cessão, discer-nindo claramente uma coisa da ou-tra, porque, enquanto a primeiracontribui decisivamente para a nos-sa libertação e aprimoramento, a se-gunda nos arrasta ao cultivo dos ca-prichos e voluntariedades, grilhõesque nos algemam ao lodo da Terra,à lama dos apetites, ao pântano dosinteresses subalternos e imediatistas.

Mobilizemos, assim, todas asnossas forças e energias, na área dasconvicções que esposamos, semprecom elevação de propósitos e senti-mentos, fazendo sentir aos nossosconcidadãos, indistintamente, re-presentantes dos poderes públicosou não, que a Doutrina Espírita –efetivamente – se impõe ao respei-to e admiração de todos, por tudoquanto somos e fazemos nela e pe-lo que ela faz em nós e para os ou-tros, mediante a projeção dos seusensinos em nossa própria vida, quenos fazem crescer de dentro para fo-ra à medida que nos retraímos doexterior para o interior, na justa me-dida dos valores do espírito.

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Sessão e não cessão Iaponan Albuquerque da Silva

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28 Reformador/Fevereiro 2003

Somos todos passageiros doveículo da evolução, utilizan-do-nos da instrumentália da

nave terrena que viabiliza os recur-sos de que necessitamos para o nos-so treinamento anímico. Para tantorecebemos o kit corporal, compos-to de todo o material para a vida nadimensão física.

Porém, no atual estadiamentoem que se encontra a Humanidade,como decorrência das andançasinumeráveis a que já nos expusemose especialmente porque temos per-corrido a escalada do progresso es-piritual, invariavelmente atrelado àmatéria mais densificada, é muitoforte a nossa identificação com essamesma matéria e a nossa atraçãopor ela.

Aliás, mesmo quando retorna-mos à dimensão dita “espiritual”aqui na Terra, ainda assim somostransferidos para planos materiais,ou, como queiram, semimateriais,o que implica uma gradação fluídi-ca que, ao ser comparada à do cor-po planetário, é bastante sutil con-quanto ainda seja matéria.

O fato é que grande parte daspessoas se considera unicamentecorpo somático e aplica todos osseus recursos para a manutenção doprazer corporal, fixando sua idéia econsumindo toda a sua energia pa-

ra a execução desse ideal: saúde físi-ca, modelagem corporal, manuten-ção da vida somática.

Busca-se sofregamente ampliaros bens terrenos e desviar a própriaatenção com exclusividade para afaceta humana da sua considera-ção: o imóvel, o carro, a roupa, odinheiro...

Até as religiões que, em núme-ro, crescem de forma vertiginosa,prometem, no comum (e indevida-mente), a solução para todos osproblemas daquele que se lhes sub-mete: afetivos, familiares, sociais, deemprego, relativos à aquisição de ri-quezas etc...

E por orientar-se, especialmen-te, para tal posição, quando nãoconsegue ver esses seus problemassolucionados, deprime-se e torna-seamargurado o indivíduo.

É indiscutível a necessidade decertos bens materiais para que se-jam asseguradas as mínimas condi-ções para uma vida digna e produ-tiva. Porém, preciso é entender quesomos muito exigentes quanto a es-sas supostas necessidades e freqüen-temente ocupamos demais a nossaatenção na ânsia de possuirmos ca-da vez mais, esquecendo-nos quevia de regra somos mesmo é possuí-dos pela posse, permitimo-nos es-cravizar por Mamon.

Jesus, em sua fabulosa sabedo-ria, deixou-nos singular e belo ensi-namento inserido no denominadoSermão do Monte:

“Não andeis ansiosos pela vos-

sa vida quanto ao que haveis de co-mer ou beber; nem com o vosso cor-po, quanto ao que haveis de vestir.Não é a vida mais que o alimentoe o corpo mais que o vestuário? (...)

Observai como crescem os líriosdo campo. Eles não trabalham nemfiam.

Eu porém vos digo que nemmesmo Salomão em toda a sua gló-ria se vestiu como qualquer um de-les.

Se Deus assim veste a erva docampo, que hoje existe e amanhã élançada no forno, não vestirá mui-to mais a vós, homens de pequenafé? (...).

Portanto não andeis ansiosospelo dia de amanhã, pois o ama-nhã se preocupará consigo mesmo.A cada dia basta o seu própriomal.” (Mateus, 6:25-34.)

Essa magnífica e bela passagemevangélica não deve naturalmenteser observada de modo literalista,posto que assim veríamos abolidoqualquer esforço no sentido da au-tomanutenção, o que sem dúvidaviria a redundar em retumbante de-sastre.

O trabalho é uma das leis na-turais de que nos falam os EspíritosReveladores no Terceiro Livro daobra primeira da Codificação Kar-dequiana: O Livro dos Espíritos.

É exatamente pela realizaçãodessa atividade mantenedora da so-brevivência do ser que o Espíritovai desenvolvendo a sua capacidadeintelectual e de discernimento, bem

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“Observai os lírios do campo”Francisco Cajazeiras

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como cumprindo a sua parte no de-senvolvimento da obra da Criação.

Como se vê não é possível nosatermos à letra do ensinamento,mas extrairmos a mensagem de queé detentor.

Aqui, vemos Jesus, de formadidática e em consonância com acapacidade interpretativa de suaépoca, lembrar-nos da improprie-dade de nos mantermos apegados àcoisa material, assim como tambémnos fazer refletir e compreender aação da Providência Divina em nos-sas vidas.

O Criador a ninguém desam-para. Estejamos em qualquer lugar,façamos o que fizermos, digamos oque dissermos, Deus nunca nos fal-tará e sempre nos proverá das me-lhores possibilidades, a fim de nospermitir agir invariavelmente damelhor forma e sempre com o desi-derato no Bem. Para tanto, con-

tamos com a nossa consciência,falando-nos pela via intuitiva; con-tamos com os familiares e amigos(encarnados e desencarnados) quese fazem consciente ou inconscien-temente mensageiros da Divindade,alertando-nos para os perigos, di-rigindo-nos a atenção para as me-lhores soluções e pondo ao nossodispor as mais diversas situações ca-pazes de facilitar o nosso melhordesempenho.

Se a Natureza é tratada comindiscutível amor, por que ocorre-ria o oposto conosco, também cria-ção divina?

O grande problema é que re-petidas vezes fazemo-nos surdos aosclamores naturais, cegos à luz da ló-gica e do bom senso, impermeáveisà ação do orvalho ameno que se fazem nossas existências. Essas limita-ções que nos impedem de perce-ber a ação magnânima do Criador,

através do que se passou a chamarde Providência Divina, são uma de-corrência da descrença, da ambição,da inveja, do egoísmo, do inconfor-mismo e de outras tantas mazelasque nos amarguram a existência ter-rena.

Indispensável, pois, a adoçãode uma postura mais humilde antea vida, do desenvolvimento da fépela razão, do conhecimento capazde iluminar as consciências.

Nesse sentido, muito poderábeneficiar-nos o estudo continuadoda Doutrina dos Espíritos, capaz deoferecer-nos os recursos de que ca-recemos para esse despertar para ascoisas do Espírito.

Deus está conosco! É bastanteatentarmos para a observação doMestre de Nazaré:

“Observai os lírios do cam-po... Eles não trabalham nemfiam...”

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Ser Juiz, bom Juiz, é empolgar a CiênciaDo Direito e aplicá-la atendendo a seu fim;É avocar a Justiça e julgar sempre assim:Sob o império da lei e da reta consciência.

Ser Juiz, bom Juiz, é ter vasta experiênciaE a sabença da vida e dos homens, enfim,Sem jamais se isolar em torreões de marfimNem furtar-se ao crisol da humildade e indulgência.

Ser Juiz, bom Juiz, é imbricar Fé e Razão,Escalando o intelecto (Everest fecundoDo Saber), geminado a um gentil coração;

E, de joelhos, cingir, no apogeu da subida,– Quando o inverno o laurear com a coroa do mundo –,Do Supremo Juiz, a Coroa da Vida!

Ser JuizMário Frigéri

“Combati o bom combate, encerrei a car-reira, guardei a fé; espero, agora, a coroa dajustiça que o Senhor, reto Juiz, me daránaquele dia (...).”

Paulo (II Tim. 4:7-8.)

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30 Reformador/Fevereiro 2003

OEspiritismo completará seusesquicentenário (150 anos)em 2007, e precisamos co-

nhecer suas raízes e desenvolvimen-to em todos os lugares. Por isso, va-le a pena saber seu histórico numlugar em que pouco se conhece so-bre ele, mas que um dia foi um dosmais destacados e atuantes do Mo-vimento Espírita internacional. Tra-ta-se de Cuba, 111.000km2, 11 mi-lhões de habitantes, atualmentecom taxa de analfabetismo de 4%,país sem religião oficial, e que foiuma colônia espanhola até 1898,passando por curta dominaçãoamericana até 1902, quando o paísse tornou independente; mas osEUA continuaram por muitos anosa exercer constante influência polí-tica na Ilha. Em 1959, através deum golpe, assumiu o governo Ma-nuel Urtia, continuando a instabi-lidade no país, e em seguida FidelCastro (1927- ) assumiu o gover-no, com o apoio comunista daURSS, acabando com todos os mo-vimentos religiosos do país, e levan-do à dissolução da ConfederaçãoNacional Espírita de Cuba e de to-do o Movimento Espírita oficial,em 1963. Mas antes deste fator po-lítico, o país foi um dos mais ativosque existiram em todo o mundo naadoção e prática do Espiritismo.

Este fato extraímos do registro

de um grande trabalhador que lá vi-veu mais de cinqüenta anos, oSr. Luís Guerrero Ovalle (1895--1990), que nasceu em Léon, Espa-nha, e em 1906 se transferiu com afamília para a Argentina, onde estu-dou e seu pai trabalhou como notá-rio público. Em 1909 ele se mudoupara Cuba, continuando os estudose passando a trabalhar na área ban-cária, tendo sido administrador devários bancos neste país, onde resi-diu até 1960, quando se transferiupara Miami/EUA. Aos 21 anos,plenamente adaptado à cultura cu-bana, ingressou no Movimento Es-pírita, pois começou a ler e estudarO Livro dos Espíritos, quando suamãe desencarnou. Exerceu cargosem várias instituições espíritas, co-laborou em muitos periódicos e tra-duziu ao espanhol obras mediú-

nicas de Francisco Cândido Xa-vier (1910-2002), Divaldo Franco(1927- ), Yvonne A. Pereira(1900-1984) e outros. Nos EstadosUnidos, o Sr. Ovalle foi fundadorda Ciência Espiritualista Kardecia-na e graças a ele pudemos tomarapontamentos da história do Espi-ritismo em Cuba, conforme estápublicado no periódico Credo Espí-rita, fundado em 1981, e editadopela Libreria Kardec (Ano IV, Num2, Miami, março de 1985 e ss.).

As fases da história espíritano país

Inicialmente, há notícias deque no período colonial os índiosTaínos e Siboneyes tinham o hábi-to de produzir vários fenômenos es-píritas, mas a partir de 1856 é quecomeçaram a surgir os primeirosnúcleos mediúnicos nas cidades deHavana, Sagua La Grande, SanctiSpiritus, Manzanillo, Caibarien eSantiago. A partir de 1870 começa-ram a se constituir um grande nú-mero de periódicos espíritas, comoLa Luz de Ultratumba (1874), LaIlustración (1878), Luz de los Es-pacios (1881), La Antorcha de losEspíritus (1882), El Buen Desejo(1884), La Luz del Evangelho(1885), La Buena Nueva (1886),La Alborada (1888), La Nueva

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O Espiritismo em CubaA história desconhecida de um país onde o Movimento Espírita

foi muito atuanteWashington L. N. Fernandes

Visconde Solanot e Eulogio Prieto no 1o

Congresso Espírita NacionalBarcelona/Espanha – Setembro/1888

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Alianza, de Cienfuegos. As insti-tuições se estruturaram e, em trintaanos, por ocasião do Primeiro Con-gresso Internacional Espírita, em1888, em Barcelona, três cubanosestiveram presentes e cinco institui-ções se fizeram representar: CentroLa Reencarnación, Havana, CentroEl Salvador, de Sagua La Grande,Sociedad Espiritista, de Matanzas,Centro Lazo Unión, de Cienfuegos,Centro San Pablo de Malpáez,Quemado de Güines. Para dar-nosum referencial, desconsiderando aEspanha, país-sede do Congresso, ea França, berço do Espiritismo, Cu-ba foi o país que teve maior repre-sentação no evento, juntamentecom o México, pois quase todos ti-veram só uma entidade represen-tante, dois países tiveram dois gru-pos, a Bélgica teve somente quatro.A admiração pelos cubanos aumen-ta se compararmos o número deperiódicos espíritas que enviaramadesão a este primeiro encontro in-ternacional pois, novamente des-considerando a França e a Espanha(países dos quais somente quatro enove periódicos aderiram, respecti-vamente), Cuba foi também o paísque mais se fez representar, comtrês periódicos. Os outros países ti-veram somente um ou dois periódi-cos representados, e só a Itália tevetambém três. Estes números de-monstram que os cubanos erammuito conscientes e atuantes naprópria organização e na divulgaçãoespírita.

Federação Espiritista de Cuba

Em 22/7/1890 foi fundada aFederación Espiritista da la Isla deCuba (Federação Espiritista da Ilhade Cuba), reunindo vinte e três ins-

tituições do país, considerando quenão puderam participar as institui-ções de Matanzas e Oriente. O ob-jetivo da Federação estava bem clarono artigo primeiro de seu Regula-mento: A Federação tem por objeti-vo a união de todos os centros espi-ritistas de Cuba, para estender apropaganda do Espiritismo por meioda palavra, escrita ou falada, e a

prática de toda virtude pública eprivada. A diretoria da Federaçãodenominava-se Conselho Regional,e nos anos seguintes aumentou mui-to o número de instituições e perió-dicos no país, a tal ponto que, porocasião do Primeiro Congresso Na-cional Espiritista de Cuba, no TeatroPayret, em 1920, houve 562 Dele-gados, 113 Centros Espíritas e 336representações pessoais. Neste Con-gresso lançaram-se as bases para que,em 1922, fosse criada a FederaçãoNacional Espiritista da Cuba inde-pendente que, em 1941, passou adenominar-se Confederação.

Os cubanos marcaram presen-ça no Congresso Internacional Es-pírita de Barcelona, em 1934, e em

1935 deram início a uma série nun-ca vista de Concentrações EspíritasNacionais, que a partir de 1944passaram a chamar-se Congressos,tendo se realizado vinte e seis even-tos, de 1935 até 1963, o que signi-fica que houve praticamente umpor ano, abrangendo vários lugaresda Ilha (Santa Clara, Camagüey,Havana, Matanzas, Santiago deCuba, Villa de Guanajay, Bayamo,Cóton e Pilar del Rio). Na 8a Con-centração, em 1942, decidiu-secriar a importante instituição socialClínica del Alma, em Camagüey,hospital que objetivava a cura e re-cuperação de obsidiados, a qual até1966 exerceu um importante papelpara a ajuda aos necessitados, quan-do por Decreto foi incorporada aoMinistério da Saúde Pública. Des-tacamos também que Cuba teve vá-rios programas de rádio em Hava-na, desde 1941, como O Psiquis eo Doutrina Espírita, na rádio Al-varez.

Importantes trabalhadores espíritas cubanos

Naturalmente, impossível assi-nalar todos os grandes trabalhado-res de Cuba, em face da pujança deseu histórico, com muitos periódi-cos e sociedades. Os nomes destesvalorosos tarefeiros são totalmentedesconhecidos dos espíritas de ho-je, e por isso fazemos questão de ci-tar alguns: no século XIX, JoséMartí (1853-1895), líder revolucio-nário e autonomista da Ilha, quepassou por vários países da Améri-ca Central, EUA e Paris, veneradoainda hoje pela população cubana,por causa de sua atuação em prol daindependência do país, e que tinhaconvicções espíritas; os Srs. José A.

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Revolucionário José Martí

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Perez Carrión, fundador do perió-dico La Ilustración; o grande con-ferencista Jose Jimenez Torres, quefoi um dos criadores da FederaçãoEspiritista de Cuba, em 1890, aqual teve também a participação deDoroteo Venero, seu primeiro Pre-sidente, Miguel Muñoz, José R.Montalvo e Francisco Castillo Ca-talina de Güines, todos represen-tando diversas sociedades existentes;Eulogio Prieto, que foi o único sul--americano pertencente às Comis-sões Organizadoras dos 1o e 2o

Congressos Internacionais Espíritas(Barcelona, em 1888, e Paris, em1889), estando presente nesteseventos com os outros cubanosDon Tomás de Oña e Don JuanGarayo; Miguel Rubert e SantiagoCañizares, fundadores do periódicoLa Buena Nueva, em 1886, o estu-dioso do tema psiquismo filosófico,José Maria Alfonso; Miguel Cho-mat, Felix Ríos e José Ferrera, todoslíderes de organizações; o Juiz cor-recional Marcos Garcia. A partir de1895, o país teve que parar suas ati-vidades espíritas, em face dos con-flitos internos para a sua eman-cipação, mas em 1902, com a inde-pendência de Cuba, lentamente umgrupo de idealistas e dez CentrosEspíritas foram retomando as ativi-dades doutrinárias. Assim, no sécu-lo XX, destacamos o livro espíritaLa Filosofia Penal de los Espiritis-tas, com edições também na Argen-tina e no Brasil, do escritor, antro-pólogo e criminologista FernandoOrtiz (1881-1969), que curiosa-mente se declarava “não-espírita”(!!); Francisco Armenteros, Francis-co M. González Quijano (1862--1926), que trabalhou com JoséMartí, Alberto Peralca, Aquiles Or-tega e o escritor Don Salvador Mo-

lina, que esteve no Congresso deBarcelona, em 1934, todos da So-ciedade Espiritista de Cuba, pro-motora do 1o Congresso Nacionaldo país, em 1920, o qual recebeufelicitações até do Instituto de Me-tapsíquica de Paris; Fidel de Céspe-des, Francisco M. Gonzáles, o ora-dor Miguel Santiesteban Barciela(desencarnado em 1979, foi Presi-dente da Confederação Espiritistade Cuba, desde 1936, e também daCEPA, de 1953 a 1956) e Leopol-do Lópes, que participaram da cria-ção da Federação Espírita da Cuba

independente, em 1922; o promo-tor Manuel Garcia Consuegra, Ra-món Garcia Martí, Plácido JulioGonzalez, diretor do periódico Ro-sendo, todos que muito trabalha-ram para a primeira ConcentraçãoEspírita, em 1935; o escritor, poli-glota e articulista Antônio Soto PazBasulto (1889-1943); Ramón Gar-cia Martí e o advogado ArmandoLabrada Canto, fundador da Clíni-ca del Alma e ambos Presidentes das1a e 2a Concentrações Espíritas(1935 e 1936), que teve Hortensia

Naranjo de Casas como secretáriacorrespondente; o Sr. Armando foiPresidente também do 20o Con-gresso; Benito Carballo y Arnau,Presidente da 4a Concentração, em1938, que teve o médium RobertoCarmona y Cuesta como secretárioe Ernesto Prieto Figueroa, como te-soureiro; o médium do Grupo Ro-sendo Juan Francisco Casanova,onde Carlos Millares era o Presi-dente; o médium Angel ManuelBalbona y Pedroso, do Grupo Fran-cisco de Paula; Medardo LafuenteRubio (?-1939), do núcleo de Ca-magüey, homenageado pelas socie-dades da cidade pelo seu incansávellabor espírita; na 6a ConcentraçãoEspírita, em 1940, o Sr. Luís Oval-le fez parte da Comissão Organiza-dora, e destacamos neste tempo oprofícuo trabalho da União dasMulheres Espíritas, em Havana eMatanzas, tendo como Secretária--Geral Ofélia Dominguez, servindode modelo para criação da Federa-ção Argentina de Mulheres Espíri-tas, em 1950, pela Sra. Josefina deRinaldi (1909-1952); em 1946, no12o Encontro, publicou-se um livrocom um histórico de todas as Con-centrações cubanas; no 14o Con-gresso, em 1948, comemorou-se oCentenário do Espiritismo, no Sa-lon del Círculo de Bellas Artes e pa-lestra do orador Dr. Ignacio Travie-so Figueras, celebrando o feito dasIrmãs Fox, nos EUA; no 20o Con-gresso, em 1955, enviou represen-tação o Governador de Camagüey,e o chefe do Regimento Militar,com a presença da Banda Munici-pal da cidade. Em 1957, houveuma grande comemoração peloscem anos do lançamento de O Li-vro dos Espíritos, ocasião em que aFederação Espírita Brasileira e La

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Promotor Manuel Garcia Consuegra

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Editorial Constancia, da Argentina,venderam exemplares deste livroaos cubanos por preço ínfimo. ASra. Eva Guevara Arias, ativa traba-lhadora da Federação Provincial doOriente, até 1963, ano em que secelebrou um Congresso EspiritistaExtraordinário, em Regla, Havana,o qual dissolveu a Confederação Es-piritista, em face da situação políti-ca da Ilha.

Conclusão

Devemos registrar que foi apro-vada no Congresso de 1920 umamoção pela qual se estabeleceu odia 31 de março como o Dia Espí-rita, por iniciativa do Centro Espí-rita Luy y Caballero; em outu-bro de 1953, realizou-se o TerceiroCongresso Espiritista Panamerica-no, em Havana; em 21/4/1957 foierigido em praça pública o busto deAllan Kardec, também em Havana,por iniciativa da Associação Espiri-tista Enrique Carbonell, mas com arevolução comunista o mesmo foiretirado da praça. O Sr. Dante Cul-zoni Soriano, Presidente da CEPA,enviou carta ao Presidente de Cu-ba, em 1972, protestando contra aretirada do busto de Allan Kardecda praça e pedindo sua reinstalação,mas não obteve resposta. Uma pes-soa, o Sr. Alfredo Duran, em Hava-na, teria conseguido recuperar estapeça, a qual teria ficado em suaposse. Com dificuldade, consegui-mos localizá-lo por telefone em Ha-vana, e ele confirmou a história, in-formando que o busto se encontraem sua residência, guardado comveneração. Tendo em vista uma re-portagem saída na Revista Interna-cional de Espiritismo, que falava so-bre Cuba, contatamos por telefone

Clóvis Portes, brasileiro, residenteem Belo Horizonte e Ipatinga/MG,que informou que nas oito vezesem que esteve em Cuba, nos últi-mos dez anos, ele lá encontrou dis-cretas sociedades espíritas, não ofi-ciais, muitas praticando um tipo demediunismo caribenho, e nestasviagens ele vem tentando levar umavivência do Espiritismo fiel aosprincípios de Allan Kardec.

Enfim, pela precocidade comque o Espiritismo surgiu em Cuba,em 1856, antes do próprio adventoda Codificação, pelo número de so-ciedades e periódicos espíritas nosséculos XIX e XX, que o colocamcomo um dos primeiros em nívelinternacional; pelas incomparáveisrealizações no tocante a Congressose Concentrações Espíritas, coisanunca vista em nenhum país domundo; por estabelecer por moção,

em 1920, o dia 31 de março comoo Dia Espírita, o que só depois dedécadas algumas cidades começa-ram a fazê-lo; por ter erigido na Ca-pital um busto de Allan Kardec empraça pública, em 1957; pelos pro-gramas espíritas de rádio na décadade 1940; por movimentar até as au-toridades civis e militares em seuseventos, da Europa e América, porestes motivos Cuba possui umagrande riqueza histórica a ser desco-berta e relatada. Contatos estão sen-do estabelecidos com Clóvis Portese o Sr. Alfredo Duran para se tentarlevar oficialmente grandes oradoresespíritas brasileiros a Cuba, ajudan-do a plantar as sementes para o res-surgimento dos ideais espíritas nes-ta Ilha, cujo histórico, apesar dedesconhecido hoje, muito dignificaa Doutrina Espírita...

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A visita da LuzPaulo Nunes Batista

Eu me visito na Manhã nascida e me visto de Luz num grande Abraço.Agora é Deus Quem faz o que me façona glória ascensional dessa Subida!

Oh como é belo o mundo e linda a vidada Música divina no compasso.Na água, na terra, no ar, por todo o espaçoressoa uma aleluia colorida.

Digo-me coisas que ninguém me dissena asa da luminosa garridicecom que transporto o céu para o meu chão.

E no bailar sutil das puras Almasouço de Deus as generosas palmasno hosana que me enfeita o coração.

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Do General Alberto Mendes

Cardoso,Chefe do Gabinetede Segurança Institucional

da Presidência da República e Pre-sidente de Honra do 87o CongressoUniversal de Esperanto, realizadoem Fortaleza (CE), de 3 a 10 deagosto de 2002.

Convém ressaltar que o Gene-ral Alberto Cardoso leu sua mensa-gem, em perfeito Esperanto, na Ses-são Solene de Abertura:

“Caros esperantistas,No Brasil, quando pensamos

na vastidão do nosso território cos-tumamos dizer como somos aben-çoados, porque os brasileiros nãotêm problemas lingüísticos. Exce-tuando-se as pequenas comunida-des indígenas, todos falam uma sólíngua. Essa unidade lingüística mui-to nos orgulha no país.

Porém, agora, vendo este im-ponente e grandioso evento, quan-do muitas pessoas chegam das maisdiversas partes do mundo, de paísesdas mais diferentes línguas, encon-tram-se e, com toda a naturalidade,

compreendem-se, uns aos outros,isso permite que meu sentimentode amor à Pátria imagine mental-mente: ‘O mundo tornou-se o Bra-sil e o Brasil fez-se o mundo, graçasao verdadeiro milagre que é a uni-dade lingüística do Esperanto!’

E, neste momento, pergunto:– Eu me sinto um brasileiro do

mundo ou um cidadão do mundobrasileiro?

Caros congressistas!Eu sou o Presidente de Honra

do 87o Congresso Mundial de Es-peranto, e este convite muito mehonrou. Desejo a todos uma boaestada no Brasil. Que o Congressoseja proveitoso e entusiasme muitoshomens do nosso país a aprende-rem a língua internacional. Além

disso, desejo que a realidade quevocês vivenciam agora seja em bre-ve também vivenciada por todos oscidadãos do mundo. Que a luta devocês não seja apenas lingüística,mas que a paz seja a ordem do diade todos!

Paz e compreensão a todos vo-cês – são os nossos sinceros desejos.

Obrigado!”

...Do Sr. John Daniel, Diretor

Geral Assistente para Assuntos deEducação, da UNESCO:

“Sinto-me honrado em dirigirminha saudação aos participantesdo 87o Congresso Universal de Es-peranto, em Fortaleza, Brasil.

A UNESCO dá especial im-portância ao incremento de umacultura de paz entre os povos. Esta-mos convencidos de que somentepor meio de uma boa compreensão,tanto dos povos entre si, como dosdiferentes aspectos da cultura de ca-da um, se poderá contribuir para es-se objetivo. A UNESCO agradece àAssociação Universal de Esperantopor sua fidelidade à expressão dosideais de nossa Organização em suasdiversas iniciativas pelo mundo.

Não é possível conceber umamelhor intercompreensão dos po-

Pronunciamentos no87o Congresso Universal de Esperanto

Affonso Soares

A FEB E O ESPERANTO

O Gen. Alberto Cardoso é entrevistadono local do Congresso de Esperanto

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vos sem o intercâmbio cultural quese realiza por meio da linguagem. Alíngua é, ao mesmo tempo, garan-tia de uma história cultural e instru-mento de comunicação que possi-bilita a aproximação das culturasentre si, o erguimento de pontesentre os diferentes modos de pensa-mento, com que se atinja um enri-quecimento recíproco, lingüístico eespiritual, como via de acesso auma cultura de paz. A partir daconscientização sobre diferenças lin-güísticas chega-se à conscientizaçãosobre a diversidade de culturas, pe-la qual se dá a sua aceitação.

O trabalho da UNESCO emfavor da educação, da intercomuni-cação e da cultura objetiva tanto asustentação da multiplicidade delínguas como a proteção dessa diver-sidade lingüística no atual contextoglobalizante. Entretanto, a valoriza-ção dessa diversidade não deve ser-vir de pretexto a qualquer violência.Nossa organização, muito pelo con-trário, vê tal valorização tão-somen-te como forma de tolerância e enri-quecimento espiritual na luta contraos conflitos. E nisso reside a ligaçãoentre a posição lingüística de cadauma de nossas organizações, as quaisevidentemente visam ao mesmo ob-jetivo no mundo, isto é, a uma me-lhor intercompreensão e a um me-lhor conhecimento recíproco entreas civilizações.

Formulo votos de pleno suces-so ao vosso congresso.”

...Além dessas relevantes mani-

festações, também destacamos as se-guintes:

Trecho da Resolução do 87o Con-gresso Universal de Esperanto:

“O 87o Congresso Universal deEsperanto, reunido em Fortaleza, Bra-sil, de 3 a 10 de agosto de 2002, coma presença de 1.484 participantes de58 países, sob o tema ‘Diversidade –oportunidade e não uma ameaça’,......................................................

CONSTATA que os princípiose objetivos da UNESCO, nessecampo, correspondem aos ideais domovimento em favor do Esperanto,movimento que visa, por meio deum instrumento neutro de comu-nicação, lançar pontes entre as cul-turas, assim criando um fórum emque se estabeleça eqüitativo inter-câmbio de valores culturais;”

Trecho da mensagem do Dire-tor do Departamento de Espe-ranto da Federação EspíritaBrasileira, dirigida aos espíri-tas reunidos em sessão especialno quadro das atividades doCongresso:

“(...) com a formação de umacrescente família espírita mundial,

atingimos nova fase da divulgaçãodo Esperanto em nosso Movimen-to Espírita. A primeira foi a cons-cientização dos espíritas brasileirossobre o valor do Esperanto. Seguiu--se a divulgação do Espiritismo en-tre os esperantistas. Agora, devemosconstruir a consciência, entre osmembros dessa família espíritamundial, de que o Esperanto deveser a língua comum para suas rela-ções internacionais. O CongressoEspírita em Paris, em 2004, poderáconstituir-se em belo marco no de-senvolvimento dessa nova fase, des-de que os espíritas brasileiros quenele vão participar levem o Espe-ranto como bagagem, como instru-mento de serviço. Mas levem umEsperanto fluente, que possibilite arealização de trabalhos convincen-tes entre nossos confrades de outrasterras. Há bons cursos no Brasil, ex-celente material didático, e até2004 os espíritas brasileiros que irãoa Paris podem tomar a plena possedo Esperanto desde já.”

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Cursos de Esperanto na FEB Sede Seccional – Rio de Janeiro (RJ)

Terão início na primeira semana de março os seguintes cursos gra-tuitos da Língua Internacional Neutra:

Elementar: às quartas-feiras, no horário de 15h45 às 17h, a cargode Elmir dos Santos Lima;

Aperfeiçoamento: às sextas-feiras, no horário de 17h às 19h, soba direção de Arnaldo Ribeiro da Silva;

Estudos Doutrinários em Esperanto: às segundas-feiras, nohorário de 15h às 16h30, sob a condução de Affonso Soares.

As inscrições serão acolhidas na Secretaria, na Av. Passos no 30,Centro, durante o horário comercial.

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Reformador/Fevereiro 200374

Com profunda lucidez, esta-beleceu o Codificador AllanKardec que a excelência do

Espiritismo não se apóia nos fenô-menos materiais que produz, masem sua filosofia, conforme pode-seler nas Conclusões de O Livro dosEspíritos.

Nada obstante o Mestre Lionêshaja estabelecido tal grandeza dou-trinária, é ainda o fenômeno quegrande número dos que se acercamda Doutrina veneranda costumabuscar.

Pouco informados muitos, mal--acostumados, outros, aventureirostantos, garantem que o que de maisimponente existe na pauta do Con-solador é a gama dos fenômenosobjetivos. E passam a dar-lhes cur-so, a divulgar-lhes as proezas, e as-sim por diante.

Vale recordar, contudo, que,apesar de toda a fenomenologia pa-rapsíquica efetuada por Moisés,conforme enumeram os livros sa-grados, isso não foi suficiente paraalterar as disposições morais do po-vo hebreu, desde aqueles remotostempos até os dias atuais.

Embora a multiplicidade desensitivos que luxuriaram em to-dos os quadrantes planetários, isso,igualmente, não correspondeu à re-novação do coração humano.

O próprio Senhor de Nazaré

realizou fenômenos dos mais expres-sivos à sua época, sem lograr cativaros daquela ocasião, tampouco sensi-biliza a alma dos dias presentes.

Água é convertida em capitosovinho; corpos chagados pela lepraretornam à limpeza; transforma emcaminhantes lépidos antigos ancilo-sados; dá visão a cegos; audição asurdos; lucidez a obsessos ferozes.Reergueu Lázaro tido por morto,em profundo surto letárgico-cata-léptico; refez a saúde de uma mu-lher que sofria fluxo sangüíneo; des-pertou da suposta morte o filho daviúva de Naim e a filha de Jairo,um dos grandes da sinagoga. Ne-nhum desses feitos foi capaz deconverter a alma terrena. Somentea empolgou. Apenas provocou ad-miração, estupefação... Não passoudisso.

Se na atualidade começamos anos acercar do Divino Amigo, istose deve às reflexões em torno dosseus ensinamentos e da sua vivênciaperfeitamente correta.

A Doutrina Espírita, na condi-ção de reeditora do pensamento au-gusto do Mestre, na interpretaçãodos nobres Mentores da Humani-dade, vive sob a mesma condição.

Médiuns espíritas de granderelevância, que realizaram seriíssi-mos trabalhos do bojo dos fenôme-nos espíritas, conseguiram formargrupos de seguidores da sua facul-dade, mas não do Cristo, menosainda da formosa Doutrina.

É por meio das meditações aoredor da filosofia espírita, das aná-

lises sobre os milenários questiona-mentos que ela responde com ma-turidade e clareza, que o indivíduoinicia a compreensão da sua própriaexistência, dos problemas do ser, dador, da reencarnação, enfim.

Chegamos à fase do entendi-mento da luminosa mensagem. Al-cançamos o momento em que nãopodemos prescindir do uso do dis-cernimento, da análise amadureci-da, a fim de aprofundar a consciên-cia quanto aos objetivos da vidahumana terrena.

Urge abrir mão das palavras deordem ou da necessidade sensorialde ver para crer.

Jesus, respondendo à agônicadescrença do discípulo Tomé, dis-se-lhe: “bem-aventurados os quenão viram e creram...” Não viramcom os olhos físicos, embora te-nham compreendido com os recur-sos da sua lucidez, do seu poder delogicar e de avaliar tudo com bomsenso.

Não se trata de menosprezar ofenômeno como imprestável oudesnecessário. Mas, trata-se de en-tender a proeminência do pensa-mento, da reflexão, do raciocíniosobre aquilo que é meramentefenomênico. E mesmo quando setenha que lançar mão de algum fe-nômeno para o enriquecimento dateoria ou para exemplificação dostextos, vale a pena cuidar na boaqualidade desse fenômeno, a fim deque o Espiritismo não se veja enxo-valhado por fenômenos chulos,inexpressivos, que mais se prestam

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Excelência Espírita

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à zombaria, ao achincalhe do que àconfirmação dos seus ensinamentosformidáveis.

Estudar e estudar muito deveser ocupação dos verdadeiros espí-ritas, ao lado de tudo o mais quevenha enriquecer a pregação espiri-tista.

Vale refletir que a força do Es-piritismo advém da sua filosofia...

Irmanados sob essa expressãode inabordável bom senso de AllanKardec, verifiquemos cuidadosa-

mente o modo como temos apre-sentado essa feliz Revelação, traba-lhando para expressar da melhorforma possível o pensamento vene-rando e glorioso da Doutrina Es-pírita.

Camilo

(Mensagem psicografada pelo médiumJ. Raul Teixeira na noite de sábado, 9 denovembro de 2002, durante o diálogo deDivaldo Franco com os participantes doCFN, na sede da FEB em Brasília.)

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Inspirados nas diretrizes e reco-mendações do Pacto Áureo – Acor-do de Unificação do MovimentoEspírita Brasileiro –, firmado em5 de outubro de 1949 entre a Fede-ração Espírita Brasileira e as Enti-dades Federativas Estaduais, noqual o Distrito Federal foi conside-rado como Estado, espíritas idealis-tas que moravam na recém-funda-da Brasília reuniram-se em As-sembléia Geral, no dia 1o de de-zembro de 1962, como represen-tantes de oito Sociedades Espíritassediadas no Distrito Federal, e fun-daram a União das Sociedades Es-píritas do Distrito Federal (USE--DF), da qual passaram a fazer par-te, como fundadores: ComunhãoEspírita de Brasília, Grupo EspíritaBoa Nova, Centro Espírita AndréLuiz, Centro Espírita Bezerra deMenezes, Centro Espírita Emma-nuel, Centro Espírita Alvorada deLuz, Centro Espírita Sebastião, o

Mártir, e Centro Espírita Jesus é aHumildade.

A primeira Diretoria da USE--DF foi constituída por GilsonMendonça Henriques, Presidente,Javert Lacerda Santos, Secretário, eCelso Xavier dos Santos, Tesou-reiro. Foram, também, seus presi-dentes, com mandatos sucessivos

Federação Espírita do Distrito Federal

40 anos de unificação e realizações doutrinárias

ou alternados, Javert Lacerda San-tos, Inaldo de Lacerda Lima, Pau-lo José de Carvalho, José Carlos daSilva Silveira, William Miguel eJoão de Jesus Moutinho (desde1987, sendo reeleito em 2002).

Na década de 60, a União pas-sou a denominar-se Federação Es-pírita do Distrito Federal (FEDF),período em que foi construída suasede própria na Entrequadra Sul407/408.

Nos anos 90, em decorrênciada ampliação do seu trabalho, a Fe-deração Espírita do Distrito Fede-ral transferiu sua sede para outrolocal, em Brasília, onde seu Con-selho Federativo realiza reuniõesordinárias e onde desenvolve assuas demais atividades, tanto as decaráter doutrinário como assisten-cial.

Graças ao trabalho da FEDF,ao longo dessas quatro décadas, oMovimento Espírita do DistritoFederal mantém-se unido e ope-rante.

Fonte: Texto redigido com base em da-dos compilados por nosso colaboradorJorge Hessen.

Nova sede da FEDF

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Não há necessidade de se elaborar profunda pesquisa,nem acuradas análises estatísticas, nem tampoucodetalhada avaliação da conjuntura, nacional e in-

ternacional, para se deparar com a extensão do grandeproblema da Humanidade, nos dias atuais, que é a Fome.

Nunca tantos passaram tanta fome. São 840 mi-lhões de pessoas atingidas pela fome, de acordo com oRelatório da ONU. No Brasil, apontam os dados doIbase, os miseráveis alcançam 54 milhões, uma massa decarentes de alimentação básica, necessária para uma vi-da digna e plena de direitos humanitários. Decerto, a fo-me resulta de vários fatores causais e, por outro lado, po-derá gerar uma imensa gama de violências, pois violentaa integridade e os direitos do homem.

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec na questão880 indagou qual o primeiro de todos os direitos natu-rais do homem. Responderam: Viver. Ora, para viver pre-cisa o homem de abrigo, agasalho, roupa, emprego, lazer,educação, família, e antes de tudo, necessita comer. Dis-pensa, não obstante, a esmola. Hoje a situação exige umaação de promoção planejada e estrategicamente con-duzida. A ação de promoção requer projetos adequadosà transformação da realidade social. Projetos que tenhamvisão global desta realidade. Mário Barbosa, em seu livroPlanejamento e Serviço Social, estudando os passos me-todológicos, lembra aos planificadores que, antes de tu-do, “os planos, programas e projetos devem gerar um sen-timento de agradabilidade para as pessoas. Conhecer osvalores da comunidade e dos grupos sociais é um passopara assegurar a respeitabilidade dos mesmos. Nenhumacomunidade existe sem valores. Negá-los ou destruí-losé abalar suas condições de auto-realização sociocultural.

Os valores devem informar todo o processo de pla-nejamento, pois isso constitui matéria específica deplanejamento. Não se trata tão-só de uma metodologiade planejar, mas uma postura de intervenção planejada,observando as finalidades principais do processo de pla-nejamento, a saber: antecipação de situações previsíveis;predeterminação de acontecimentos; e preservação dalógica entre eventos.

Considerando a especificidade do serviço na Casa

Espírita, que funciona como instrumento de interven-ção na realidade social-humana-espiritual, o planejamen-to de atividades levará em conta a proposta da Doutri-na Espírita de fazer o homem avançar na direção dosseus valores morais, numa proposta educativa na visãodo homem integral. Mário Barbosa aduz, ainda, que “asdecisões advindas do processo de planejamento devemestar integradas, a fim de garantir a visão da totalidadedos interesses sociais, os quais vão além da posse e do go-zo dos bens materiais, pois em sua essência, no esforçode ser mais, o homem procura outras satisfações, de or-dem espiritual, a partir das quais ele continuamente setranscende”.

Nos tempos iniciais do Cristianismo, a Casa do Ca-minho vivenciou três fases metodológicas nesse campode atuação. Emmanuel apresenta detalhadamente essasfases em Paulo e Estêvão (Ed. FEB). No início, as açõeseram assistencialistas, havia uma divisão entre as tarefasassistenciais e doutrinárias. Na 2a fase a questão doutri-nária foi abolida. A tarefa tornou-se mais ainda assisten-cialista. Por último, Paulo de Tarso, o estrategista dos pri-meiros tempos do Cristianismo, elaborou um trabalhoassistencial de dimensão mais ampla. Estabeleceu umverdadeiro planejamento. Não descurou da análise da si-tuação vigente; definiu metas e objetivos, atento à mis-são da Casa: formulou e conduziu estratégias de execu-ção; e delineou os recursos aplicáveis. O plano as-sistencial enfatizava uma promoção pelo trabalho. Umadas estratégias adotadas era o espaço de convivência atra-vés de elementos de serviços que habilitassem a Casa aviver de recursos próprios. Utilizava os que melhoravame buscava encontrar atividades para quem fosse aprovei-tável, além dos trabalhos agrícolas, e produzir algumacoisa para a renda indispensável. Porém, cada qual tra-balharia de conformidade com as próprias forças, sob adireção dos irmãos mais experimentados.

Diante do exposto, como estruturar as tarefas depromoção integral, contrapondo-se à fome e acolhendoos carentes que batem à porta da Casa Espírita? Emagosto de 1858, Kardec, atento com a questão da esmo-la e da caridade, expôs na Revista Espírita a afirmaçãode Vicente de Paulo, que os espíritas saberão “discerniraqueles que podem trabalhar, e então a caridade nosobriga tudo fazer para lhes proporcionar trabalho”. Vis-to que, como proferiu Paulo de Tarso: “onde há traba-lho há riqueza, e onde há cooperação há paz”.

A FomePalmiro Ferreira da Costa

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Define-se comunicação como aação de comunicar, infor-mar, avisar, dar a conhecer.

Processo necessário ao relaciona-mento e progresso da Humanidade,foi usado de forma rudimentar nosprimórdios da evolução e atingeatualmente patamares inimaginá-veis no passado. Desde a simplici-dade do telégrafo ao rádio até a ve-locidade da Internet, a comuni-cação tem papel decisivo na vidahumana.

Em dados de 19991 havia noBrasil 371 jornais de circulação diá-ria, 38 milhões de domicílios comaparelhos de TV, 215.000 sites naInternet, quase 3.000 emissoras derádio AM/FM (com 90% dos bra-sileiros dispondo de acesso ao rá-dio), um número considerável derevistas semanais ou mensais, 6emissoras de TV aberta e seus mi-lhares de retransmissoras, entre ou-tros dados na área de informação,que colocam à vista o patrimôniocultural da comunicação.

Quando se usa a expressãocomunicação no ambiente espírita,pensa-se logo nos variados meios damanifestação mediúnica. É claroque não deixam de ser também co-municação, pois trazem muita in-formação, instruem, ensinam, edu-cam... Mas a comunicação espíritanão se restringe à manifestação dosEspíritos. Ela vai além, com o pró-

prio conteúdo da Codificação, suasobras complementares e a naturalcontinuidade das instruções quechegam do Plano Maior, a exigirnossa atenção, prudência e contí-nuo estudo.

Isto pede o interesse pelo estu-do e divulgação, convidando aos es-forços pelo espalhar da mensagemespírita.

Em O Livro dos Espíritos2, noitem VI da Introdução, encontra-mos o comentário de Kardec sobreo caráter das comunicações com osEspíritos – que podem ser ocultas(pela influência que exercem mal-grado nosso) ou ostensivas (pelasvariadas formas de manifestações).Já no comentário à resposta da per-gunta 973, o Codificador mostra osresultados dessas comunicações, co-locando-nos cientes das realidadesda vida além da morte. Em outraobra, O Livro dos Médiuns2 (capí-tulo X, na 2a parte), podemos en-contrar a classificação das comuni-cações dos Espíritos, divididas emgrosseiras (que chocam a decência),frívolas (levianas), sérias (úteis sobvários aspectos) e instrutivas (quevisam a um ensinamento).

Porém, dentro das narrações doEvangelho e dos inúmeros exemplosque apresentam – na área da comu-nicação – extraímos um deles comoexemplo para ilustrar a importantequestão da comunicação, objetivodeste artigo.

Na visão de Ananias (de Atosdos Apóstolos, 9:10-19), citada porEmmanuel no monumental Pauloe Estêvão3, recebendo a visita de Je-

sus pela visão e audição para infor-mar-lhe sobre a situação de Sau-lo em Damasco, temos magníficoexemplo de comunicação vital paraa transformação de um homem.Saulo fora informado para aguardarem Damasco sobre o que fazer –após o episódio da também visãodo Mestre na entrada de Damasco,quando visava a prisão do mesmoAnanias. O processo de comunica-ção* foi completo.

Cairbar Schutel, em seu livroVida e Atos dos Apóstolos4, comentacom muita propriedade que “(...) otrabalho de Ananias se limitaria arestituir a vista ao novo discípulo?Certamente que não. A missão deAnanias foi muito superior a esta.O principal escopo de Jesus, en-viando Ananias a Saulo, foi fazê-loconfirmar a manifestação de Da-masco, foi dar sanção à conversãoiniciada na Estrada (...)”.

No não menos valioso livroCristianismo e Espiritismo5, deLéon Denis, já em sua introduçãoencontramos à página 11, 3o pará-grafo: “Para quem quer que obser-ve atentamente as coisas, os temposque vivemos estão carregados deameaças. Parece brilhante a nossacivilização, e, todavia, quantas

A ComunicaçãoOrson Peter Carrara

*No processo de comunicação temos umtransmissor e um receptor da informação e entreeles um canal. Como característica de um bomcomunicador temos o perfil de um bom ob-servador. Por sua vez, a qualidade da comuni-cação é avaliada pelo receptor. Observem os lei-tores na qualidade dos personagens envolvidosna questão, em vista da qualidade da informa-ção e da recepção da mesma informação.

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manchas lhe obscurecem o esplen-dor! O bem-estar e a riqueza se têmespalhado, mas é acaso por suas ri-quezas que uma sociedade se en-grandece? O objetivo do homem naterra é, porventura, levar uma vi-da faustosa e sensual? Não! Um po-vo não é grande, um povo não seeleva senão pelo trabalho, pelo cul-to da justiça e da verdade. (...).”

E prossegue nas páginas se-guintes:

“(...) Contra essas doutrinas denegação e morte falam hoje osfatos. Uma experimentação metó-dica, prolongada, nos conduz a es-ta certeza: o ser humano sobreviveà morte e o seu destino é obra sua..................................................

Todos, por esse meio, com-preenderão que a vida tem um ob-jetivo, que a lei moral tem umarealidade e uma sanção; que nãohá sofrimentos inúteis, trabalhosem proveito, nem provas sem com-pensação, que tudo é pesado na ba-lança do divino Justiceiro. (...).”

Considerando que a meta daDoutrina Espírita, através de seusfundamentos, é o despertamento pa-ra os valores morais e éticos; o aper-feiçoamento moral da Humanidade– através da lei do amor e no comba-te ao egoísmo, ao orgulho e seus de-rivados; a evolução moral do Planeta,promovendo a fraternidade nos doisplanos existenciais, vale pensar que:

a) Somente o estudo continua-do da Doutrina Espírita pode ga-rantir uma comunicação (e por ex-tensão sua divulgação) coerentecom sua proposta;

b) o julgamento prévio (depessoas, situações, instituições ouideologias) é a maior barreira da co-municação;

c) temos um conhecimento

útil para a Humanidade, que podecombater eficazmente a pressão so-ciocultural negativa que tenta do-minar o Planeta.

Queremos construir uma so-ciedade melhor! Que estamos espe-rando?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:1Almanaque Abril 2000, Editora Abril.2Edição FEB.3Psicografia de Chico Xavier, edição FEB.49. edição – Editora O Clarim.58. edição FEB, tradução de Leopoldo Cirne.

FEB/CFN – Comissões RegionaisCalendário das Reuniões Ordinárias de 2003

1. Comissão Regional Nordeste

1.1 – Cidade-sede: São Luís (MA).1.2 – Período: 11 a 13 de abril.1.3 – Tema: “Ação da Casa Espírita ante os avanços e neces-

sidades do homem”.

2. Comissão Regional Sul

2.1 – Cidade-sede: Curitiba (PR).2.2 – Período: 2 a 4 de maio.2.3 – Tema: “Recursos para a manutenção das atividades es-

píritas – Capacitação gerencial dos Dirigentes Espíritas”.

3. Comissão Regional Norte

3.1 – Cidade-sede: Rio Branco (AC).3.2 – Período: 19 a 22 de junho.3.3 – Tema: “Apoio aos Centros Espíritas: trabalho que está

sendo desenvolvido, levantamento das necessi-dades e mecanismos de atendimento”.

4. Comissão Regional Centro

4.1 – Cidade-sede: Goiânia (GO).4.2 – Período: 4 a 6 de julho.4.3 – Tema: “Como preparar o Centro Espírita para orientar

doutrinariamente a Família e integrá-la nas suas atividades”.

5. Áreas Específicas

Serão realizadas, concomitantemente com as Reuniões Ordi-nárias das Comissões Regionais, com temas próprios escolhidos em2002, as reuniões das Áreas Específicas de Infância e Juventude,Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, Comunicação SocialEspírita, Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita, Ativi-dade Mediúnica e Assistência Espiritual.

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Muitas vezes, quando nos sen-timos identificados por al-gumas pessoas, como sus-

cetíveis de receber críticas e censu-ras por algum ato impensado, quetenhamos praticado – ou mesmoquando alguém opina sobre nós,nos colocando na condição de ine-ficiente, ou quando discordam denossos pontos de vista pessoais –,nos inquietamos, nos acabrunha-mos e, às vezes, chegamos ao pontode desanimar na execução de tare-fas importantes, que pedem o nos-so empenho decidido para que asreferidas tarefas sejam executadas,como penhor da nossa fidelidade aoglorioso ideal da divulgação do Es-piritismo.

Ninguém está livre de receberreprovações e até mesmo de ser al-vo de observações descabidas. Cadacriatura vive no círculo de sua pró-pria capacidade espiritual, sem com-preender, numerosas vezes, as ne-cessidades e os problemas do seusemelhante; e por isso mesmo, cadaespírito só pode alcançar a visão da-quilo que o seu entendimento de-termina, em razão do que se estabe-lecem na convivência social, mani-festações variadas acerca de ummesmo episódio ou de um mesmofenômeno.

Dessa forma, quando críticas

e comentários desairosos venhama focalizar o nosso nome e algu-mas vezes surjam como motivo pa-ra alterar a nossa condição de tran-qüilidade pessoal, é importanteque, além de buscar o recurso pro-videncial da prece em favor daque-les que nos criticam, acendamos aluz do perdão no nosso íntimo ereconheçamos que aqueles que dis-cordam de nós podem ser instru-mentos da nossa própria evolução,levando-nos a reconhecer nossaspossíveis omissões e deficiências.

O espinho que nos fere poderepresentar um grito de advertên-cia para que não venhamos a res-valar na inconseqüência e no erroante o precipício que se nos depa-ra à frente. Saibamos, pois, recebera discordância que alguém venha aendereçar-nos, mesmo quando is-so represente para nós obstáculo àrealização dos nossos mais ilumi-nados anelos.

Todos os mártires e heróis, aolongo de sua caminhada, contaramcom a presença de adversários, osquais, algumas vezes, mesmo semse constituírem detratores de suaspersonalidades, discordaram desuas idéias, no elevado tentame decontribuírem para que eles corrigis-sem suas possíveis faltas, que eramimperceptíveis aos seus olhos, masperfeitamente visualizadas pelosopositores. É preciso considerar,nesse caso, que aqueles que nos cri-ticam não são nossos adversários,mas, sim, colaboradores que nos vi-

giam os passos, para que não ve-nhamos a cair ou tropeçar ante aspedras que se interpõem em nossamarcha, ou os espinhos que nosameaçam ferir.

Jesus nos deu exemplo da pa-ciência e da resignação quando,diante daqueles que O escarneciame Lhe dirigiam palavras agressivas,soube manter a serenidade e a paz,aproveitando os momentos mais di-fíceis para legar à Humanidade li-ções de profunda sabedoria, inscul-pindo nas páginas da História Hu-mana o hinário de eternal beleza doSeu alcandorado amor. Quando Pe-dro decepou a orelha do soldadoMalcus, o Celeste Amigo teve a fra-se lapidar: “Pedro, embainha a tuaespada; pois todos os que lançammão da espada, à espada perecerão.”E, perante o momento culminantedo sacrifício, na cruz, exclamou:“Pai, perdoai-lhes, porque eles nãosabem o que fazem.”

Se alguém nos crítica ou dis-corda de nós, tenhamos, pois, cora-gem de continuar praticando obem, como o agricultor previdentee laborioso que não se cansa deplantar árvores benfeitoras ao lon-go do caminho; guardemos a certe-za de que, prosseguindo em nossafaina luminosa, anos depois, aque-les que hoje se nos erigem na con-dição de nossos opositores, amanhãse curvarão, em silêncio, ante a vi-são do plantio abençoado que hou-vermos realizado mesmo com suore lágrimas!

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Ante a CríticaIsmael Ramos das Neves

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A FEB na posse do Presidente LulaConvidada pelo Cerimonial do Palácio do Planalto, aFederação Espírita Brasileira integrou o seleto gru-po de autoridades e convidados que presenciaram acerimônia de transmissão da faixa presidencial porFernando Henrique Cardoso ao Presidente da Repú-blica Luiz Ignácio Lula da Silva. A FEB participou doato de cumprimentos ao Presidente que se despedia eao Presidente Lula, representada por seu presidenteNestor João Masotti.

Goiás: Congresso EspíritaA Federação Espírita do Estado de Goiás promoverá,no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia, de1o a 4 de março, o XIX Congresso Espírita Estadual.O tema central Jesus: Guia e Modelo da Humanida-de, que será abordado na conferência de abertura porZalmino Zimmermann, desdobra-se em dezenas detemas específicos que serão desenvolvidos através depalestras e oficinas no Anfiteatro Rio Vermelho (para2.007 pessoas), no Lago Azul (para 600 pessoas) e emvárias salas do Centro de Convenções.

Mato Grosso: Encontros espíritasSerão realizados pela Federação Espírita do Estado deMato Grosso, em março vindouro, os seguintes En-contros:

V Encontro Estadual da Família Espírita: nos dias1o e 2 de março, em Cuiabá, na sede da FEEMT, como tema central FAMÍLIA – Base de um Mundo Me-lhor.

I Encontro de Comunicação Social Espírita: nosdias 28, 29 e 30 de março a FEEMT realizará esseevento, promovido pela Comissão Regional Centrodo Conselho Federativo Nacional da FEB. A coorde-nação será de Merhy Seba, com a participação doCoordenador das Comissões Regionais e dos represen-tantes, na área da CSE, das Federativas da Região.

Casas Espíritas centenáriasA Sociedade Espírita “Anjo da Guarda”, de Santos(SP), fundada em 2 de novembro de 1883, completa120 anos de funcionamento, tendo criado em 1895 aAssociação Auxílio aos Necessitados.

O Grêmio Espírita de Beneficência, de Barra doPiraí (RJ), fundado em 1886, completa 117 anos deininterrupta atividade evangélico-doutrinária. Desdeo início do século XX mantém o Asilo Santo Agosti-nho, destinado a idosos.

O Grêmio de Propaganda Espírita Luz e Amor, deBangu, Rio de Janeiro (RJ), fundado em 1o de junhode 1901, está comemorando 102 anos de atividadesno estudo e prática da Doutrina Espírita e na assis-tência espiritual e material.

Santa Catarina: Jornada EspíritaRealizou-se no período de 2 a 23 de janeiro, em Bal-neário Camboriú, a 11a Jornada Espírita do ConselhoRegional Espírita da 13a Região de Santa Catarina, ór-gão da Federação Espírita Catarinense. A palestra deabertura foi proferida por Sandra Della Pola (RS), noCentro Espírita Bezerra de Menezes, havendo Semi-nários no Centro Espírita Casa de Jesus em 5, 12 e 19de janeiro. A Jornada estendeu-se às cidades de Piçar-ras, Armação, Penha e Navegantes.

Amazonas: Federativa comemora 99 anos defundaçãoA Federação Espírita Amazonense comemorou, em1o de janeiro de 2003, Dia da Confraternização Uni-versal, os 99 anos de sua fundação, com o lançamen-to da Campanha Construamos a Paz promovendo oBem. Durante uma semana, o tema PAZ foi aborda-do e desenvolvido em todas as atividades dos CentrosEspíritas do Amazonas.

R. G. do Norte: Congresso EspíritaRealizou-se no Centro de Convenções de Natal o 12o

Congresso Espírita do Rio Grande do Norte, noperíodo de 28 de novembro a 1o de dezembro do anopassado. O tema central – A Família e os Graves Pro-blemas Sociais – teve vários desdobramentos, queabrangeram a família e todo seu campo de envolvi-mento com a sociedade e os relacionamentos entrecônjuges e destes com os filhos. O evento, do qualparticiparam expositores de vários Estados brasileiros,foi promovido pela Casa de Caridade Adolfo Bezerrade Menezes, de Natal.

SEARA ESPÍRITA

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