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2índice

Capa e contracapa: concelho do Seixal

Ficha Técnica

A Alma Alentejana Revista Cultural, não se responsabiliza pelas opiniões expressas pelos seus colaboradores

Propriedade: Alma Alentejana, Associação para o Desenvolvimento, Cooperação e Solidariedade SocialSede: av. Prof. Ruy luís Gomes, 13 - R/c - laranjeiro - 2810-274 almadaTelefone / Fax: 212 551 296 Email: [email protected]ção: av. Prof. Ruy luís Gomes, 13 - R/c - laranjeiro - 2810-274 Almada

Director coordenador: Joaquim AvóDirector editorial: luís MaçaricoPublicidade: Joaquim AvóColaborador Técnico: Hélio HeitorSecretariado e Distribuição: António Oliveira e Hélio HeitorTiragem: 2000 exemplaresFotolito, produção gráfica e paginação: a Triunfadora, artes Gráficas, lda.

a Palavra ao Presidente da associação.........3

Passagem de Testemunho.............................5

À Escala Humana...........................................7

Dar com uma mão e tirar com a outra - Parte II................................................9

não caminharás sozinho.............................11

um desafio constante.................................13

Psicologia na alma......................................15

Costa Vicentina - um mar de alentejo........17

TuRISMoalentejo e Turismo......................................19

MEMÓRIaContrabando, lobos e vida campesina........20Contrabando no Séc. XX, na raia da Freguesia de Santana Cambas.....................................30a Terra de Elvas...........................................31

alEnTEJo EM FoToos Segredos do olhar..................................32

MunICÍPIo Do SEIXalum concelho com qualidade de vida..........38Visita guiada ao Seixal.................................39Festas Populares animam o Seixal...............40

a Baía na centralidade do concelho...........41Seixal é uma referência cultural no País.....42Planos estatégicos para o concelho............43Pólo de desenvolvimento económico e social da Península de Setúbal.............................45Frente ribeirinha Seixal-arrentela..............46Investimento no valor de 10 milhões de euros em equipamentos sociais.................47alargamento e qualificação do Parque Escolar.........................................................48aumentar a prática da actividade física com desporto para todos...................................49

Barbeiros e Barbearias...............................50

SAÚDECaril pode prevenir alzheimer....................52

Borba em notícias... na américa.................54

PoESIaCriaturas do Sobral.....................................56Espreitando a igualdade.............................58

CulTuRaCamilo Mortágua “andanças para a liberdade” - volume II................................60

ARTEJoão antónio Paiva.....................................62

Pitéu à sombra de um chaparro.................64

Doce Pecado...............................................65

o alentejo é maior que o alentejo ............66

notícias do alentejo...................................70

Desenvolvimento.......................................74

actividades Desenvolvidas.........................76

actividades a Desenvolver..........................78

www.cm-seixal.pt

BAÍA DO SEIXALValorizar – Investir – Criar EmpregoDesenvolvimento Económico e Social

FRENTE RIBEIRINHA

SEIXAL – ARRENTELA 10 milhõesde euros

em projectosaté 2011

FRENTERIBEIRINHA

AMORA 10 milhões

de euros em projectosaté 2012 PROJECTO

ARCO RIBEIRINHO SUL – PLANO

DE PORMENORDA EX-SIDERURGIA

NACIONALInvestimento público

de cerca de 150 milhões de

euros

PLANODE PORMENOR

TORRE DA MARINHA/ /FOGUETEIROInvestimento

no espaço públicode 10 milhões

de euros

Projecto co-financiado pelo FEDER

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A PALAVRA AO PReSidenTe dA ASSOciAÇÃO

Dar continuidade… apelar à parti-cipação de TODOS

Foi com este lema que nos propu-semos como candidatos aos Ór-gãos Sociais da Alma Alentejana, Associação para o Desenvolvimento, Coope-ração e Solidariedade Social.

Dar continuidade… significa, para nós, o reconhecimento do esforço e empenhamento de anteriores Direcções e dos Órgãos Sociais que ora cessaram funções que generosamen-te têm desenvolvido um imenso trabalho, por vezes com uma enorme sobrecarga para al-guns dos seus elementos, com vista à realiza-ção da ideia sonhada e ambicionada pelos fundadores desta Associação, estatutaria-mente consagrada.

apelar à participação de todos, constitui uma decisão e um compromisso dos actuais Cor-pos Sociais em desenvolver um trabalho de equipa e partilha para dar uma resposta capaz às suas tarefas.Implica também o reconhecimento do quanto é importante e indispensável para a alma Alentejana aumentar o envolvimento e empenho dum maior número de sócios nas suas actividades de carácter social, para a ma-

nutenção, renovação, dinamiza-ção e eventual alargamento a no-vas solicitações dos Centros de Dia do laranjeiro e Pragal, Centros de Convívio da Cova da Piedade e Trafaria e o apoio Domiciliário,

este, por enquanto apenas desenvolvido na Freguesia do laranjeiro, tendo por pano de fundo o sonho antigo da criação do Monte Alentejano, com Casa de Repouso, Creche e Infantário incluindo uma oficina do Idoso e uma Quinta Pedagógica, bem como nos even-tos de âmbito cultural, desenvolvidas no seio da Alma Alentejana, das quais se destacam:- a página da Internet;- a Feira anual da alma alentejana;- Revista Cultural anual “alma alentejana”;- Boletim Trimestral de contacto e informação aos sócios;- Participação em iniciativas das autarquias quer locais quer do alentejo;- Jogos Florais;- os Grupos Culturais, desde o artesanato, às tradições e, em especial, o cante;

Esperamos também continuar a merecer o apoio das Instituições, particularmente do Po-der local Democrático do concelho, cuja pos-tura em relação a esta Associação desde sem-pre tem constituído um enorme incentivo

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para os homens e mulheres que aqui lutam, dia após dia, tentando conseguir proporcionar uma vida com maior dignidade a quem nos procura.

Por último, um agradecimento e o reconheci-mento de que sem a colaboração desinteres-sada, o voluntariado e até sacrifício pessoal de muitos dos trabalhadores da Alma Alente-jana e de muitos dos seus sócios e amigos, mais difícil seria aos órgãos sociais darem à Alma Alentejana a projecção e dimensão so-cial e cultural de que hoje desfruta.

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PASSAGeM de TeSTeMUnHO

Caros Associados e AmigosÉ verdade que passados que foram cinco anos e meio e cumprindo não só os Estatutos mas também decisões a que a própria assem-bleia Geral foi obrigada, e depois da Comissão administrativa eleita, consegui-mos eleger os Órgãos Sociais que irão gerir os destinos da alma alentejana, durante o Bié-nio 2009/2010. Como é do conhecimento de todos a quem através de comunicados nos Órgãos de Infor-mação, nas Revistas e Boletins Informativos que editámos, e em assembleias Gerais, pro-curámos a cooperação, participação e até mesmo apelos aos associados desde Dezem-bro de 2007 para que a eleição dos Órgãos Sociais se processasse, o que só agora se con-seguiu em 30 em Março de 2009. não foi fácil, mas acreditamos que os actuais eleitos conseguirão, em prol da promoção, preservação e divulgação da identidade cultu-ral e social desta instituição, preservando sempre os interesses colectivos antes dos in-teresses individuais, responder aos desafios que lhes vão sendo lançados, promovendo acções de cooperação com instituições públi-cas e privadas interessadas no desenvolvi-mento solidário do nosso alentejo e sempre com o espírito de elevação da imagem desta

associação, e assim cumprir o mandato para que foram eleitos.Para o efeito queremos informar que estamos a cumprir cabalmen-te os Acordos de Cooperação que celebrámos com o Instituto de Se-

gurança Social, dando apoio no Centro de Dia do laranjeiro a 43 utentes, no Centro de Dia do Pragal a 35, no Centro de Convívio da Cova da Piedade a 34, no Centro de Convívio da Tra-faria a 38 e no Serviço de apoio Domiciliário, no laranjeiro a 31 utentes. A situação económica é boa e não devemos nada a ninguém. Graças ao esforço dos Ór-gãos Sociais, dos Empregados, dos Colabora-dores, dos amigos e Voluntários, tornam pos-síveis as actividades que desenvolvemos, designadamente os Fins de Semana Alenteja-nos, Feiras da Alma Alentejana, Almoços Te-máticos, jantares de aniversários, fornecimen-to de refeições a instituições públicas e privadas em datas comemorativas, para que seja possível essa boa situação.Cá estaremos nós, os que por impedimento estatutário não podemos continuar com in-tervenção directa na gestão da Alma Alenteja-na, mas estamos dispostos a ajudar e transmi-tir o nosso saber e experiência adquiridos ao longo destes mais de treze anos, esforçando-nos por cumprir os planos de actividades

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aprovados e especialmente no sentido de proporcionar a melhor qualidade de vida aos mais de 180 menos jovens a quem damos apoio e que connosco coabitam, alguns deles há mais de 10 anos e com quem criámos gran-de empatia e estima e um verdadeiro espírito de família. Estamos certos que com o apoio do Instituto de Segurança Social, das instituições públicas e privadas, das pessoas singulares, das autar-quias e especialmente da Câmara Municipal de Almada, com o valoroso apoio de todos os funcionários, dos membros dos Órgãos Sociais que terminaram o seu mandato e dos volun-tários conseguiremos a real e merecida valori-zação do património cultural alentejano nos seus diferentes aspectos histórico, social, lite-rário, artístico, monumental, musical e etno-gráfico.Para todos um grande abraço solidário.

o alEnTEJo nÃo TEM FIM

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À eScALA HUMAnA...

os bastidores da elaboração de uma revista como esta, contêm pormenores que muitas vezes pas-sam despercebidos, e contudo têm uma importância, a meu ver fun-damental.Em primeiro lugar, o conteúdo. o enriqueci-mento pessoal que as temáticas trazem aos leitores e ao prestígio da associação que se espelha nestas páginas, é vital.Depois, a forma - a objectividade e clareza dos temas desenvolvidos.neste aspecto, as gralhas - por vezes inexpli-cáveis - ensombram o intuito de quem ideali-za. E não podem ser entendidas como fatali-dade.Procurar que nenhum erro ou lacuna passem para a arte final é uma responsabilidade de todos os que estão envolvidos na paginação, a começar por aqueles que acompanham este trabalho com mais acuidade. Ou seja, todos têm de funcionar - e bem.neste número, regista-se a activa participação de vários elementos da “alma alentejana”, como o novo presidente da direcção António Oliveira (que saudamos, desejando bom tra-balho), Bárbara Sebastião, José assunção, José Moutela (cidadão fraterno, que conheci num estimulante colóquio realizado na Junta de Freguesia do laranjeiro), José Rabaça Gas-

par (um entusiasta da causa alen-tejana, vindo das terras do frio), Patricia alves, Paulo Mota e a cria-tiva Rosa Dias.além da participação de Rosário Fernandes, cujo olhar continua a

cativar-nos, pelos pormenores que nos ajuda a descobrir, chamo a atenção para um olhar sobre o Contrabando, trazido por um jovem cidadão de Mafamude (Gaia), arqueólogo de profissão, que casou com uma bejense e se detém no melhor património - que são as pes-soas - com um cuidado que merece leitura atenta, apesar da sua extensão (o artigo, fruto da audição de uma testemunha, não se compadecia com meia dúzia de lugares comuns...)Mariana Costa, alentejana dum monte merto-lense e mestranda do Curso “Portugal Islâmi-co e o Mediterrâneo”, num breve mas lúcido artigo, apresenta-nos o alentejo com poten-cialidades turísticas.a revelação de uma poetisa de Beja, espontâ-nea e original, é igualmente motivo de júbilo.A procura de novos colaboradores deve ser tarefa de quem assume o compromisso de fa-zer, todos os anos, uma revista que valha a pena ler, que informe e faça reflectir.nesse sentido, faço agora o devido destaque à figura ímpar, felizmente de boa saúde e cheio

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de energia para muitos decénios mais, que continua a partilhar o seu saber na revista “Callípole”, da Câmara Municipal de Vila Viço-sa - o professor Joaquim Saial, antecessor en-tusiasta destas lidas, homem brilhante e soli-dário, discreto, práctico, peça decisiva para o bom gosto e eficácia de números anteriores da “alma alentejana”.Artur Bual, o pintor gestualista que também pintou o alentejo e utilizava terra alentejana nas suas telas, costumava dizer que ninguém nasce sozinho. Daí, ser meu dever para com o amigo, homem de cultura e ser fraterno que o professor Joaquim Saial efectivamente é, su-blinhar esta verdade incontornável que con-vém lembrar.Com Joaquim Saial (e já agora, Joaquim avó, esse sonhador-mor, paladino do associativis-mo à escala humana, incansável presidente

de uma parte dos anos felizes desta associa-ção) a revista atingiu um nível, que convém prosseguir, pois a comunidade de leitores cer-tamente desejará, como nós, o melhor.

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dAR cOM UMA MÃO e TiRAR cOM A OUTRA - PARTe ii

a última edição do nosso Boletim Informativo - n.º 27, de Março/Junho de 2009 -, dava à estampa a aberrante situação de o nosso Es-tado entender, que as instituições particulares de solidariedade so-cial:Poderiam ser ressarcidas do Imposto Sobre o Valor acrescentado - IVa - por elas suportado na aquisição de bens de investimento; Poderiam ser contempladas com uma percen-tagem do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares - IRS - desde que essas se disponibilizassem para o efeito;Tudo isto porque o “Estado reconhece e valo-riza o importante e insubstituível papel das IPSS, reconhecimento e valorização que se traduzem na concessão de tais apoios …“Só que a aberração a que acima se faz referên-cia assentava no incrível:- as duas situações não poderiam coexistir - ou as instituições se candidatavam a uma da-quelas “benesses“ ou teriam que optar pela outra;“Esta era uma solução absurda dado que os dois impostos têm uma lógica diferente entre si …“sendo que “o objectivo era, evidente-mente, o de auxiliar as instituições particula-res de solidariedade social”;“… não fazia muito sentido que, em especial

as IPSS não pudessem beneficiar, cumulativamente, da possibilida-de de usufruir da restituição do IVa (facto que está ao abrigo de legislação própria, já anteriormen-te existente) e também da possibi-

lidade de usufruir das quantias que os sujeitos passivos, em regime individual, em sede de IRS, tivessem decidido atribuir-lhes através das suas declarações anuais de rendimen-tos”.Mas … e como muito bem diz o nosso povo … mais vale tarde que nunca!Segundo informação veiculada por um matu-tino da última semana, terão já sido aprova-dos - na generalidade - em sede própria - as-sembleia da República - uma proposta de lei que visa “alargar a possibilidade de benefício da consignação de 0,5% do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Singulares por igrejas e comunidades religiosas e por instituições particulares de solidariedade social“ e um projecto de lei que visa alterar os benefícios fiscais para as IPSS;Veremos como saem as mesmas depois de discutidas na especialidade.Sabendo, muito embora, que somos demasia-do “ pequeninos “ para ter o dislate de pensar que tivemos alguma influência na pressa que agora houve em rectificar decisões erradas há

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muito tomadas, farão o favor de não levar a mal que nos sintamos um pouquinho envai-decidos…De qualquer maneira - e a não ser que a lei venha também a ser alterada nesse sentido, permitimo-nos aqui e agora recordar a todas as IPSS que, para além do facto dos sujeitos passivos de IRS terem a obrigação - se essa for a sua vontade - de o declararem na respectiva declaração anual, cumpre às instituições re-querer tal beneficio no ano imediatamente anterior -;… Mas parece que nem tudo são rosas;Vem aí o Código Contributivo.E com ele nova ameaça: ao que consta terá também já sido aprovada na assembleia da República essa nova lei que vem reunir num único tomo diversos diplomas avulsos que versam sobre a matéria;Diz-se que o Governo decidiu alterar os des-contos feitos pelas IPSS para a Segurança So-cial dos actuais 19,6% para 22,3%, o que re-presentaria um aumento da taxa social única de 2,7%;Atenção que os Acordos de Cooperação assi-nados pelas IPSS com o Estado “prevêem pre-ços que foram feitos tendo em conta os encar-gos financeiros ( … ) que as instituições têm obrigação de pagar“.aí estão eles a “sacar“ com a outra mão.… aguardemos por melhores dias para saber

o que irá acontecer.Mas vamos estar atentos!

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nÃO cAMinHARÁS SOZinHO

Muito se tem falado da “alma” da nossa Instituição, que é pertença deste ou daquele. Sabemos que in-dubitavelmente ela estará para sempre ligada aos seus criadores e sem eles nada do que foi consegui-do até hoje teria sido possível. Porém, não es-tiveram sozinhos nesta longa caminhada, que ainda vai a meio. É sobre os funcionários da Alma Alentejana que vos pretendo falar. Estes com o seu trabalho, empenho e dedica-ção, dão um importante contributo, sendo o primeiro cartão de visita desta Associação. Es-pelham desse modo a imagem da Instituição junto dos utentes, seus familiares e amigos.

Sabemos que a necessidade faz a procura dos nossos serviços e aqui gostaria de destacar o Serviço de apoio Domiciliário, que neste mo-mento integra 28 utentes, sendo no entanto, insuficiente para fazer

face às carências de uma população cada vez mais carente. Contudo, temos a esperança de um amanhã mais risonho e que nos permita chegar a mais pessoas, que reconhecem na Alma Alentejana um sinónimo de qualidade.Hoje, a equipa que compõe esta Resposta So-cial é formada por 7 senhoras todas elas com as suas capacidades e defeitos, apesar de bas-tante jovens nalguns casos, mas acima de

Utentes do Centro de Dia do Laranjeiro

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tudo com bastante empenho e profissionalis-mo, vão dando mais e melhor conforto, ale-gria e qualidade de vida aos nossos utentes. Porém, não estão sozinhas pois parte do seu trabalho tem o acompanhamento do pessoal de cozinha, que confecciona as refeições que os utentes em casa recebem. Há também que dar destaque aos motoristas e às ajudantes de Centro de Dia, que se en-contram sempre prontos para solucionar qualquer problema, com um sorriso estampa-do no rosto, dando uma vez mais uma ima-gem de solidariedade para quem mais preci-sa.Sem estes contributos diários não teria sido possível chegar onde chegamos. Todavia, não queremos apenas ficar por aqui. Pretendemos no futuro criar as condições ne-cessárias para o estabelecimento de uma Quinta Pedagógica, capaz de dar resposta a jovens e menos jovens. Por outras palavras, um espaço inter-geracional, que contemple as

Respostas Sociais de lar, Infantário e Jardim-de-infância. Foi também elaborado, um diagnóstico para aferir da real necessidade de implementação de um Serviço de apoio Domiciliário, no nosso Centro de Dia do Pragal e que comprovou essa necessidade. Para darmos continuidade ao trabalho já de-senvolvido e, aquele que esperamos vir a de-senvolver, teremos sempre que contar com o labor e empenho de todos e de mais alguns.Para finalizar e para melhor se compreender toda esta “alma”, poderei efectuar uma ana-logia com uma canção entoada em estádios de futebol, por adeptos de um mítico clube inglês: “…you’ll never walk alone.”

Funcionários da Alma Alentejana

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UM deSAFiO cOnSTAnTe

aprender, adaptar, integrar, inserir-se no meio…no fundo palavras e expressões que, transmitem ao ser humano um sentido contínuo e processual de experiências desa-fiantes, onde os obstáculos são um princípio determinante que é necessário ul-trapassar. Em resumo, a vida humana carece de objectivos, os quais são essenciais para po-dermos descodificar a nossa razão de ser, de estar e de nos relacionarmos com os outros.O ambiente, o espaço envolvente, funciona como um dos factores determinantes que es-trutura as nossas acções, seja na construção dos nossos valores, das nossas relações fami-liares, económicas e culturais, seja ao nível comunitário como numa visão mais global.ao nível comunitário, as Instituições de Soli-dariedade Social encontram-se dependentes na construção dos seus objectivos, articulados com a necessidade de intervir junto de uma população alvo que carece de necessidades específicas e distintas do resto da população. São determinadas por uma conduta exterior no seu modo de funcionamento, a organiza-ção torna-se um sistema aberto, entra em in-teracção com o meio e necessita da sua ener-gia, ou seja, torna-se essencial para a sua sustentabilidade a troca de informação com o meio exterior. Pensemos na nossa Instituição, a alma alen-tejana, como um Sistema Aberto que perma-nentemente troca informação com outras Ins-tituições, a Segurança Social, os Poderes locais (ex. Juntas de Freguesia, Câmara Muni-cipal), unidades de Saúde Familiares, Hospi-tais e até os próprios Familiares fazem parte desta rede de informação. Em síntese, um todo organizado formado por elementos in-

terdependentes.Referenciando os cinco meses já passados desde a minha integra-ção numa “Casa” que me recebeu muitíssimo bem, posso descrever esta nova etapa e experiência da

minha vida como um desafio constante, traça-do por objectivos profissionais que pelo seu caminho vão encontrando alguns obstáculos a serem ultrapassados, através de soluções alternativas ao alcance dos mesmos. O espaço envolvente é um dos primeiros factores que determinam o comportamento organizacional de uma Instituição, no caso do Centro de Dia do Pragal, esse espaço determi-na formas de estar que se enquadram em so-luções alternativas, por exemplo, o facto de estarmos inseridos num edifício cuja estrutu-ra interior é caracterizada por andares em es-cada, determina quem pode ou não pode su-bir as mesmas, já que no piso inferior se encontra a sala de refeições e no piso superior a zona de convívio e lazer. a solução a adoptar implica um esforço constante não só por parte dos utentes menos habilitados a subir esca-das, como da parte destes, a compreensão de que não é possível permanecer nas horas pós refeições na sala indicada para esse efeito.a solução alternativa, já que se pretende cons-tantemente alcançar as necessidades e satis-fação dos nossos utentes, o que por vezes pa-rece uma tarefa quase impossível, passa por alguns passeios na zona exterior, quando o tempo o permite, onde existe uma zona de lazer, mesmo assim pouco espaçosa para o número de utentes existente.Entrando em articulação com outras entida-des, designadamente o Poder local, o Institu-to de Segurança Social de Setúbal e sua Exce-

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Festa de Carnaval no Centro de Dia do Pragal

lência o Secretário de Estado do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, tentamos en-contrar uma solução válida e estabilizadora para este problema, através da possível im-plementação de uma cadeira elevatória entre o rés-do-chão e o primeiro piso. Por conse-guinte, é esta troca de informação, já que um sistema fechado torna inviável o seu funcio-namento, essencial de modo a adoptar uma via apta a responder às necessidades de gru-pos alvo específicos, como é o caso dos nos-sos Idosos. Planeando sempre um futuro melhor, surgem obstáculos que proporcionam um alongamen-to do processo pensado, a demora na obten-ção de subsídios e o facto de estarmos inseri-dos num edifício e num espaço que não facilita a mobilidade dos nossos utentes, são elementos reactivos que nos forçam a actuar com persistência no intuito de alcançar as nossas convicções e cumprirmos o acordo de Cooperação estabelecido com o Instituto de Segurança Social de Setúbal. na certeza, de que com o nosso empenho, dedicação e parti-cipação das entidades às quais solicitámos apoio, conseguiremos proporcionar a melhor

qualidade de vida aos nossos utentes.num Mundo em constante inter-relação tor-na-se premente a cooperação e articulação com o meio onde nos inserimos, as Institui-ções de Solidariedade Social são constante-mente confrontadas com essa necessidade, já que a sua sustentabilidade advém dessa arti-culação, tornando-se um desafio, não apenas individual mas colectivo e uma responsabili-dade de todos nós cooperar nesta rede de in-formação para que o seu resultado seja positi-vo.

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PSicOLOGiA nA ALMA

Encontro-me a exercer a função de Psicóloga na alMa alEnTEJana desde Janeiro do corrente ano. Como tal tenho feito o acompanhamento dos utentes dos Centros de Dia do laranjeiro e do Pragal.a faixa etária com que trabalho é maioritaria-mente a idosa. O processo de envelhecimento é complexo, uma vez que tanto podem existir idosos bem-sucedidos e activos como idosos com uma autonomia reduzida devido à situa-ção de doença ou pelo fraco contexto social em que vivem.É necessário promover um envelhecimento saudável, não só em termos de saúde mas também do funcionamento físico e mental,

que conduzirão a uma maior auto-nomia e independência. o Psicó-logo tem um papel importante, o de promover o bem-estar psicoló-gico. Este bem-estar é caracteriza-do por sentimentos de competên-

cia, autonomia, estabelecimento de relações sociais significativas, o estatuto socioeconó-mico e a integração na sociedade.não é fácil para os idosos manter este bem-estar psicológico, no entanto nunca é tarde para nos reajustarmos e adaptarmos, de modo a permitir uma vida o mais sã possível! Com ajuda torna-se mais fácil adquirir este bem-estar. nesta fase da vida, o que aparece como obstáculo são uma série de adaptações que o idoso tem de fazer. Tem de se adaptar

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ao facto de ser reformado e à consequente perca de vida activa, ter um menor poder eco-nómico, o ser viúvo ou de um modo geral adaptar-se a uma série de percas, tanto de fa-miliares como amigos e vizinhos. Tem também de enfrentar, por vezes, o fraco ou nenhum amparo familiar. Se juntarmos a isto as ques-tões inevitáveis relacionadas com a saúde que lhes diminui a autonomia, tornam a vida do idoso mais difícil, sendo assim muito impor-tante a ajuda psicológica. Se tiver satisfação pela vida, surge consequentemente o bem-estar psicológico.um dos factores referidos em cima destaca-se por ser um factor determinante a esta satisfa-ção pela vida, que são todas as questões rela-cionadas com a convivência social. O relacionamento com os familiares molda o estado de espírito dos idosos e determina de modo bastante intenso a sua facilidade e feli-cidade em viver o dia-a-dia. A perca de familiares, amigos e do(a) companheiro(a) de uma vida, revela-se assim como o factor chave para uma maior tristeza e fechamento em si. Desta forma, todo o apoio dado pelas Instituições como a alMa alEnTE-JANA vem colmatar estas percas, não porque se substituem as relações perdidas mas por-que permite ao idoso estar acompanhado e sentir-se estimado e acarinhado. Muitos deles vêm a alMa alEnTEJana como uma segunda casa!

A ajuda psicológica reforça este apoio dando, na instituição, um espaço exclusivo ao utente, onde ele e o psicólogo estabelecem uma rela-ção terapêutica. o psicólogo dá o suporte emocional, é compreensivo e apoia o utente. Cria-se um espaço onde o utente pode falar do que quiser e onde se procura encontrar a melhor forma para lidar com os problemas. O apoio é essencial para assegurar a autonomia, uma imagem positiva de si e um equilíbrio mental. É sempre necessário ter em conta que cada individuo tem uma história de vida e de comportamentos única, por isso, cada caso tem de ser encarado como único, até porque não existem duas pessoas iguais. na relação terapêutica procura-se um sentido para a vida do indivíduo, tentando sempre ter em conta a sua história pessoal e as limitações que pos-sam existir na vida. O envelhecimento não deve ser encarado como uma fase sombria mas sim como uma fase de descoberta de novos aspectos da vida, vistos de um modo mais sabedor e equilibra-do, onde se retira partido de todas as aprendi-zagens que fez ao longo da existência. neste sentido, o psicólogo surge como um meio faci-litador para ajudar a encarar a fase de envelhecimento com um maior positivismo.o apoio psicológico que presto estende-se também pelos utentes do apoio domiciliário, aos sócios da alMa alEnTEJana mas tam-bém a toda a comunidade que recorra a esta ajuda, incluindo qualquer faixa etária.Ser psicóloga na alMa alEnTEJana constitui um trabalho muito abrangente e que me per-mite desempenhar a função que sempre quis!

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cOSTA VicenTinA - UM MAR de ALenTejO

Também nestas mini-férias rumámos a Santo André, passando primeiro por Santiago do Cacém onde de-parámos com uma vila muito bonita, muito asseada, cativadora da nossa

simpatia e do nosso orgulho, pois como diz um amigo meu, “gosto de ver uma casa limpa, pode-se comer no chão”. Das ameias do seu castelo a nossa vista atravessa o arvoredo e alcança as chaminés altaneiras das fábricas de Sines. Por en-tre curvas e contra curvas, chegámos a Vila nova de Santo André, onde umas sardinhas assadas fizeram as delícias de estômagos que estavam mesmo a pedi-las. a barriga cheia e a sonolência consequente pediam o que se seguiu: o espraiar a mente e o corpo nas limpas areias da lagoa de Santo andré. Meu Deus, como está linda aquela praia, como nos chama aquele murmúrio dum mar tão azul, onde um mar com ondas tão suaves e constantes quase nos dizem o que queremos ouvir... Com a tarde a aproximar-se da noite, numa pequena esplanada, na nova povoação de Santo andré, uns caracóis, um “panito” torrado e umas imperiais selaram um dia magnífico, por tudo, pela praia, pelo sol, pela paisagem, pela família, pelos amigos. Por este formidável litoral alentejano.E de Vila nova de Mil Fontes a Zambujeira do Mar, é um descobrir de paisagens e lugares sedentos duma descrição poética de que assumi-mos a nossa incapacidade para tal. Mas o que vi-mos foi digno de fazer registo e partilhar. Zambu-jeira é tão bonita, com as suas falésias rompendo de cima para baixo um mar sempre revolto. Há eventos que têm a capacidade de pôr as terras no mapa. a juventude e a Música criaram um es-

a Ilha do Pessegueiro desviada cerca de 200 metros das praias de Porto Covo, com uma história rica de feitos na defesa estratégica da costa em tem-pos remotos (consta-se que desde os anos 218-202 a.C., no período dos cartagineses, parece vigiar Sines, dá-nos a sensação de guarda-mor dum futuro que a vista não alcança. Ao largo, os navios, os grandes petroleiros, vão e vêm num frenesim imenso, lavrando o mar e alimentando as fábricas de matéria-prima a transformar, na produção de bens e riqueza, concretizando, em parte, o sonho de muita gente quando nas dé-cadas de 60/70 os mentores do projecto Sines - um porto para a Europa idealizaram a criação de milhares de postos de trabalho, e a consequente valorização social, criando infra-estruturas, aces-sibilidades, dando incentivos fiscais para a fixação de empresas no Concelho de Sines.Hoje, para além dos petroleiros, dos pesquei-ros, há uma nova realidade que são os barcos de recreio, os veleiros. Os tempos são outros. As motivações para “remar” a Sines são tam-bém outras. o turismo está a descobrir a Costa Vicentina. o Poeta “foi além da Taprobana”, nós, numas mini-férias, fomos para além da Comporta e descobrimos um mundo novo. abancámos em Sines, onde revimos uma terra linda e rica cultural-mente, não nos esquivamos a contar que na noite de 10 de Junho, fomos obsequiados com um con-certo de música renascentista, sublinhando um texto histórico, síntese da vida de Vasco da Gama, onde não faltaram excertos de os lusíadas. Tudo isto no espaço renovado e acolhedor do Castelo. Foi bonito comemorar o Dia de Camões, a portu-galidade, desta forma.

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paço próprio no mapa para que a todos apeteça um dia visitar Zambujeira do Mar. E sem demora o devem fazer.De regresso a Vila nova de Mil Fontes, que desde sempre foi conhecida pela Princesa do Alentejo, gozámos a beleza das praias e visitámos o Forte de São Clemente, cuja história é digna duma visi-ta mais detalhada e duma leitura atenta, para que se perceba a importância das fortificações no lito-ral alentejano na defesa da nação portuguesa.Esta incursão pelo Sudoeste Alentejano não ficaria completa sem uma abordagem à gas-tronomia alentejana... aquela massada de peixe em Porto Covo, estava de comer e (não) chorar por mais. Seria pecado. A superior qualidade e frescura do peixe ficou na nossa memória. as migas com entrecosto na Zambujeira do Mar só pecaram pelo tempo de espera. um serviço que esperamos seja melhorado. Já as sardinhas em Sines eram do tipo “á boca das urnas”. acabadas de sair da brasa, num instante surgiam na mesa. E que dizer daquele tinto? Da pipa. De graduação adequada. E paladar a condizer. Que se “devia mastigar com cerimónia”, disse o empregado.

Concluimos, dizendo que um alentejano no alentejo não faz turismo. anda por ali. Vive e revive, ora a infância, ora as origens. Com alma. Com alma de alentejano. Sempre. E como é bom constatar que visitar o litoral alentejano é de alguma maneira fazer o regadio de um corpo sedente de mar.

Ilha do Pessegueiro

Castelo de Sines

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TURiSMO

Alentejo e Turismo

Mariana Costa

cia. os últimos trinta e cinco anos transformaram a sociedade e a paisagem agrícola como nunca sucedera antes. A deslocação em massa da popu-lação activa para o litoral ou para o estrangeiro, a modernização do país e as políticas agrícolas e económicas da união Europeia, determinaram o desaparecimento de modos de vida, profissões e técnicas ancestrais.o desenvolvimento turístico pode constituir um factor de fixação da população mas, em cada região, e em cada Município, essa estratégia deve ter em conta a identidade e a realidade local, para que as populações se possam identificar com os projectos e o visitante possa realmente viver a ex-periência do que é ser alentejano!

o alentejo é, actualmente, um destino turístico em ascensão, alternativo ao chamado turismo de “mar e sol”. Sabemos também que o vasto e riquíssimo património cultural e natural, aliado ao sossego e à qualidade de vida que o Alentejo proporciona, está na base desta procura. Sem es-quecer, obviamente, a gastronomia!Quando falo em património cultural não me re-firo apenas ao património construído ou arque-ológico, embora sejam determinantes para a nossa identidade histórica e para a estratégia de desenvolvimento turístico. Refiro-me também ao imaterial. aquele que infelizmente corre o risco de desaparecer se não agirmos rapidamente em defesa dos saberes ancestrais, se não revi-talizarmos as nossas aldeias e os nossos centros históricos; se não devolvermos à agricultura a sua originalidade; se não preservarmos o cante e as tradições…a estratégia para um desenvolvimento turístico integrado no Alentejo é, primeiro que tudo, não deixar morrer a nossa identidade. a verdadeira hospitalidade alentejana implica partilhar com o visitante o que temos de melhor: dormirem nas nossas casas, comerem à nossa mesa, contar-lhes a história da nossa terra. É isso a alma alente-jana… Mas para que isso seja possível é preciso combater urgentemente a desertificação. Como escreveu Orlando Ribeiro a emigração é um facto novo na sociedade alentejana mas generalizou-se em menos de um decénio. Dela se pode ter uma imagem nos montes abandonados e nas fiadas de habitações fechadas nas aldeias, onde apenas os velhos se juntam nos largos, co-mentando casos do passado e a saudade e a for-tuna dos filhos. não é fácil inverter esta tendên-

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20MeMÓRiA

Contrabando, lobos e vida campesinaMemórias da Dona Catarina Conceição Maria Pedro

Marco Paulo G. F. Valente

tas nessa Quinta, onde tinham todo o género de animais: ovelhas, vacas, perus, galinhas, patos. Os guardas-fiscais caçavam lebres – o que era proi-bido, mas faziam-no – e traziam também para a mãe da Dona Catarina arranjar e fazer grandes ensopados2. os guardas-fiscais eram quase todos do Norte. Estes eram tão bem tratados aqui que costumavam dizer: «É a minha mãe e as minhas

Catarina da Conceição Maria Pedro, 72 anos, filha de augusto Pedro e de Conceição Maria. nasceu na freguesia do Espírito Santo, concelho de Mér-tola. Vivia com os pais e dois irmãos na Quinta de Malpique, próxima da ribeira de Chança1. Foi para lá viver com a sua família por volta dos seus 7 / 9 anos. o seu pai era o “Hortelã” da Quinta, o caseiro digamos. Esta quinta ficava situada numa zona elevada e nas proximidades situavam-se dois outros casais. um que ficava encarregue da criação das ovelhas, e que estava sob a respon-sabilidade do Sr. José Mendes e outro que estava direccionado para a criação das vacas, do qual era responsável o Sr. Manuel Horta, natural de San-tana de Cambas. O dono destes terrenos era o Dr. Emídio. Esta quinta era enorme, de acordo com as palavras da minha interlocutora.a mãe da Dona Catarina é que fazia a comida para este pessoal. os seus pais não faziam dis-criminação de ninguém, conviviam com todos: guardas-fiscais, carabineiros, e como não po-dia deixar de ser, os contrabandistas. Do lado espanhol os contrabandistas vinham cá buscar mais o café e o açúcar. “os nossos” quando ven-diam os produtos que levavam, compravam se-das, roupas bonitas na povoação que ficava do lado de lá, em Espanha, em Cumbres.os pais da Dona Catarina costumavam fazer fes-

1Nos nossos dias, e de acordo com conversas que a Dona Catarina tem tido com pessoas dos seus con-hecimentos, a dita Quinta encontra-se submersa pela albufeira da Barragem do Chança, concluída em 1986.2Os carabineiros já não traziam caça, mas costumavam trazer também prendas: louças e panelas, ou seja, os próprios carabineiros também faziam contrabando às escondidas. Não era pelo negócio, nem para gan-har a vida, mas para recompensar aquilo que esta família fazia por eles todos sem distinção. Não eram to-dos, só aqueles com quem se tinha mais confiança, quando eram desconhecidos “eles lá e a gente cá.”

foto de D. Catarina Conceição Maria Pedro

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irmãs!». Eles comiam todos juntos também com os carabineiros, sendo todos muito jovens, quer os portugueses, como os espanhóis. Assim Dona Catarina e seus familiares tinham também liber-dade para irem à Espanha quando quisessem e eles não lhes faziam mal.Havia alturas que a ribeira estava quase seca de um dos lados e eram as melhores alturas para os contrabandistas passarem de um lado para o outro. andavam a pé, quer guardas-fiscais, quer contrabandistas. As mulheres quando iam, iam sempre duas ou três juntas. os pais da Dona Catarina apiedavam-se dessa gente e quando o rio enchia de repente ou as comportas abriam e não tinham estes(as) maneiras de o atravessar em segurança ficavam a dormir na Quinta. os pais da Dona Catarina fizeram em segredo uma divisão na casa que tinha uma entrada camuflada, onde os contrabandistas repousavam e se escondiam, quando era caso disso. Esta divisão tinha a par-ticularidade de ter janelas mais baixas que o resto

da casa, e mais adiante veremos qual o porquê.Nesta divisão não entravam guardas nem cara-bineiros, só se quisessem «rabiscar», mas como havia uma grande confiança entre estes e a família da Dona Catarina tal nunca veio a suceder-se. Muitas vezes dava-se o caso de guardas-fiscais e carabineiros estarem a comer na Quinta e a mãe da Dona Catarina lhes dizer “Comam! Comam!” e enquanto estes comiam, ia à pressa à rua abrir as janelas dessa divisão que era para as contra-bandistas “espanholas” poderem fugir e escapar à vontade por aqueles cerros. Nessa divisão os contrabandistas também por vezes deixavam lá as cargas escondidas. Aquilo era muito perigoso (o contrabando), porque para além de serem estes perseguidos, quer por guardas-fiscais como carabineiros havia muito lobo por ali.Para os lobos não havia fronteira, quer atacavam lá como cá. atacavam pessoas e rebanhos. Das ovelhas comiam tudo e deixavam só a lã, com que a esposa do Sr. augusto fazia colchões. um dia o Sr. Augusto, que andava perto da ribeira de Chança viu qualquer coisa estranha e foi ver do que se tratava. Encontrou farrapos de roupas e umas botas com os pés de um homem lá den-tro. Nunca se soube de quem se tratava, quem é que falava, quem é que dizia alguma coisa com medo?uma vez o irmão da Dona Catarina – Manuel augusto ou Filipe como era mais conhecido – ia sendo comido pelos lobos. O Homem que guar-dava as ovelhas, o pastor, o Sr. José Mendes, mui-tas das vezes dizia ao patrão que uma ou duas ovelhas tinham morrido devido a alguma erva que tivessem comido, como por exemplo a «alfa-vaca», porque quem comesse daquela erva mor-ria, homem ou animal. E as mais das vezes era este Sr. que as matava para poderem ter carne com que se alimentarem e como moeda de troca para favores que a família da Dona Catarina lhe pudesse prestar. Este Sr. também ia dando alguns borreguinhos de vez em quando ao Filipe e um dia o Filipe – que teria uns seis ou sete aninhos – virou-se para a mãe e disse: “Mãe, eu vou ali ver os meus borreguinhos!” muito entusiasmado. a mãe virou-se para ele e disse-lhe que levasse

foto de Sr. Augusto Pedro

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o «tarro»3 , onde estava a comida para o pastor se alimentar. E assim foi. O moço pegou no tarro e lá foi ver os borreguinhos. Porém já começava a entardecer e o moço não havia modos de aparecer. Ele já estava de regresso a casa e os pais interrogando-se que seria feito dele. o Sr. augus-to sobressaltou-se e disse logo “ai os lobos!” e assomaram à janela mais baixa da casa gritando pelo nome dele. E o Filipe gritava, quase já sem forças “os lobos! os lobos”. o seu pai solta logo três ou quatro rafeiros, com coleiras com pontas metálicas à volta do pescoço, secundados por outros tantos ainda mais pequenos que estes três ou quatro mas superiores em valentia.Acorrem as pessoas das quintas assim que ouvem a gritaria gritando eles também. os guardas-fiscais

que iam entrar ao serviço de noite apercebem-se da comoção e reboliço e da situação em si e vá de dar tiros para o ar. ainda viram os primeiros a che-gar ao local os lobos que arrancavam os sargaços e as estevas com os dentes para cima do miúdo que entretanto desmaiara4, como que preparan-do a lauta refeição que se avizinhava. os lobos tal foi a quantidade de pessoas que se aproximavam do local, os cães rafeiros e os tiros da guarda-fis-cal puseram-se logo em fuga, em busca de presa mais fácil.Por vezes, também quando os cães iam dar as suas voltas os lobos aproveitavam e começa-vam a rodear a casa e aproximavam-se, arranhando as janelas – as que ficavam mais baixas e uivando continuamente. E as pessoas de dentro da casa assomavam às janelas de cima e gritava o Sr. augusto – para dar confiança à esposa e filhos – “Venham cá!!! Venham cá se as querem ver!!!” ao que a esposa retorquia também tendo os lobos como destinatários: “Querias comer-me, mas aqui não chegas tu!!!”. E os lobos pulavam, mas nada conseguiam, pois as janelas eram mui-to altas.Não havia dia em que não aparecesse uma ovelha morta. Muitos eram aqueles que morriam às mãos destes animais, que escolhiam o entar-decer ou o breu da noite para atacar. De dia só ousavam atacar em algum sítio mais ermo. Tam-bém numa outra altura, e perto do sítio onde o irmão da Dona Catarina tinha sido atacado, em Malpique, ia a passar uma senhora já de uma certa idade de visita a uma filha que vivia lá para os lados de Espanha. Mas a hora já era tardia e começava a escurecer. Subiu por uma árvore aci-ma e ali passou a noite entre aquelas ramagens. Os lobos saltando para a apanhar e ela a tremer de medo lá em cima. De manhãzinha, com o raiar

3Ou a marmita, para quem não saiba o seu significado.4O rapaz, algum tempo mais tarde, após se ver a salvo, dizia que ao regressar tinha começado a sentir frio, muito frio – era o medo que lhe tolhia os membros – e quando olhou em volta começou a ver os lo-bos. As pessoas terão chegado na altura precisa em que estes se estavam preparando para o tolher. Foi quando ele desmaiou. O irmão da Dona Catarina ficou com um trauma tão grande que nos anos que se seguiram acordava sobressaltado em sua cama gritando em alta voz: “Os Lobos! Os Lobos!”

Monte Alentejano - Pintura de Maria da Luz

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3Ou a marmita, para quem não saiba o seu significado.4O rapaz, algum tempo mais tarde, após se ver a salvo, dizia que ao regressar tinha começado a sentir frio, muito frio – era o medo que lhe tolhia os membros – e quando olhou em volta começou a ver os lo-bos. As pessoas terão chegado na altura precisa em que estes se estavam preparando para o tolher. Foi quando ele desmaiou. O irmão da Dona Catarina ficou com um trauma tão grande que nos anos que se seguiram acordava sobressaltado em sua cama gritando em alta voz: “Os Lobos! Os Lobos!”

do sol e o afastar dos lobos é que a dita senhora abalou para ir à da filha em Espanha. Só se soube desta história porque a dita senhora sobreviveu para a contar.um tio da Dona Catarina, o Sr. antónio Filipe – irmão da Dona Conceição –, também era contra-bandista. Vivia este Sr. no Espírito Santo. E quando tinha algum tempo, pois também subsistia pela agricultura ia a Espanha fazer o seu contrabando. uma certa noite, já nas cercanias da Quinta de Malpique este Sr. teve de se esconder numa toca de uma árvore sob chuva torrencial, pois os carabineiros, guardas-fiscais e cães andavam por perto. Chegando completamente enregelado pela manhã e dizendo que depois ia com tempo buscar as mercadorias onde as tinha escondido, embrulhadas em sacos de serapilheira, que car-regava às costas com umas cordas a fazer de mo-chila. uma vez, o filho deste senhor, rapaz dos seus 16/17 anos e de seu nome Manuel antónio Filipe, virou-se para o pai dizendo-lhe: “Eu gos-

tava de ir contigo pai! leva-me!” ao que o pai lhe respondia: Cala-te, tu não sabes onde te vais meter.” e ele retorquia “Eu não tenho medo!!”. E o pai lá lhe fez a vontade “Então vem lá. Que é para saberes. Vem lá buscar aquilo que queres.” Ele foi. Quando vinham de regresso estavam os carabineiros a patrulhar perto do sítio onde eles andavam, e os guardas-fiscais do lado de cá. as-sim que o pai vê os carabineiros por perto estes também se apercebem da sua presença, mas não tinham visto ainda o filho que vinha mais abaixo cá atrás na encosta. Este joga a carga ao filho dizendo que se escondesse e vai de correr para outro lado para atrair os carabineiros atrás de si. Galgou muros e sebes pelo meio das quintas e conseguiu escapar-se aos seus perseguidores, regressando então para trás, a buscar o filho. o filho tremia de medo escondido. Quando ouviu o pai chamando pelo seu nome disse “Óstia! Es-tava a ver que eles o tinham matado! Vossemecê nunca mais aparecia!”. assim que o filho viu que

Mértola - Pintura de Maria da Luz

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se encontravam do lado de cá e a salvo virou-se para o pai dizendo: “nunca mais na minha vida! nem que eu morresse à fome!”. a vida do contra-bando não era para qualquer um.Quanto aos guardas-fiscais5 , o Sr. Augusto che-gava a dar-lhes parcelas de terreno na horta para estes cultivarem o que mais lhes aprou-vesse. Quando estes queriam ir às festas do lado de Espanha mudavam de roupa na Quinta de Malpique. Vestiam a fatiota dos dias festivos e lá iam. O mais irónico de toda esta estória era que as armas e fardas ficavam arrecadadas na mesma divisão secreta onde se abrigavam os contra-bandistas quando por ali passavam e necessita-vam de um local onde repousar. De manhã quan-do os guardas-fiscais regressavam após a festa do lado espanhol a mãe da Dona Catarina tinha já as fardas deles preparadas e as armas para eles vestirem, numa outra divisão da casa. arrecadava novamente a farpela dos bailaricos e eles vestiam a farda para ir para o posto6. As pessoas que iam trabalhar para Espanha7 por vezes traziam alguns “regalos” para os familiares, alguma prenda. Pois os guardas apanhando-os tiravam-lhes tudo, muitas das vezes para ficarem eles próprios com a mercadoria. E diziam-lhes eles: “E podem ir muito contentes de não irem presos para o posto!”. num tal episódio um desses homens muito choroso dizia a propósito

foto de Guarda Rodrigues

5Dona Catarina recorda-se dos nomes de alguns desses guardas-fiscais, que eram naquela altura maiori-tariamente nortenhos, ou “galegos”, como por aqui eram conhecidos. Desde o Rodrigues (Bragança) – es-tória dos brincos, contada em seguida –, ao Alferes (Chaves), passando pelo Gomes (mais idoso) e o Firmino (que falava achim). Todos eram nortenhos. Este último, inclusive, casou-se com uma tal Maria Leonor, que era das Cortes Pereiras. Quanto a este Firmino, Dona Catarina contou duas estórias que me apraz registrar. Eche – referindo-se ao Firmino – era muito engrachado. Uma vez perguntou à minha mãe: “Qué icho Chen-hora Concheichão ?” E depois eram figos da Índia. E ele nunca tinha visto: “E icho cómeche ?” E minha mãe: “Come-se pois !”. E ele começou a comer e diz assim: “E agora, o que facho às grainhas ?” E minha mãe disse assim: “Olhe, engula-as !”. Esse era muito engraçado. E depois no posto ele tinha que apresentar serviço e ele não apresentava nunca serviço. Nunca apanhava ninguém. E diziam-lhe assim: “Mas você nunca os apanha (aos contrabandistas) ? Os outros apanham e você não os apanha porquê? ” Ao que ele respondia: “Eh. Não bejo contrabandistas ! Chó bejo é pachar de noite, toda a noite, para cá e para lá homens com chacos de batatas ach cochtas!” Muito engraçado. “Chó bejo é pachar os homens com chacos de batatas ach cochtas!”6Aquela vivência daqueles tempos e todos estes episódios ainda são hoje recordados com muitas saudades e nostalgia pela Dona Catarina. 7Já naqueles tempos havia falta de trabalho, deslocando-se as pessoas também para Espanha para a apanha da fruta, mormente o figo.

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da apreensão de uns certos brincos vermelhos: “Tanto que a minha filha me pediu os brincos!8 E eu levava os brinquinhos. Senhor, deixe-me ao menos os brinquinhos!”. E o guarda, duro e impassível não acedia ao pedido do homem. o Sr. augusto cerrava os punhos dizendo: “aqui não há mais contrabando para ninguém. Vão rabiscar para outro lado porque aqui não rabiscam mais!” E a Dona Catarina apiedou-se deste homem. Mas um dos guardas, lá do norte, de Bragança, Rodrigues de seu nome afirmava: “Escusa de se estar a lamentar que não apanha os brincos coisís-sima nenhuma! os brincos já têm dono! Estes são para a Catarininha! E eu (Dona Catarina) vendo o homem chorar olhei para os brincos – que eram muito bonitos por sinal – e disse assim «Mas eu não os quero, são para a menina daquele senhor»! E não quis os brincos!” Os contrabandistas e aqueles que iam trabalhar para Espanha traziam por vezes vestimentas, so-bretudos e outras peças de vestuário e a esposa do Sr. augusto recorria a uma artimanha para enganar os guardas. Espalhava salpicos de água pelo chão, pisando as roupas e amarrotando-as para lhes dar uma aparência de usadas. Dizia ela para os contrabandistas que aquela sujidade com água saía. ora os guardas fiscais quando iam ver a carga destes, aqueles retorquiam que eram mudas de roupa, que era roupa velha. As roupas com aquela aparência enganavam qualquer um. assim, com esta artimanha, se passavam estas mercancias. Os pais da Dona Catarina, no seu entender, e assim nos quer parecer, foram mui-to bons para todos sem discriminação. Tinham sempre comida a mais para alguém que pudesse aparecer fugido ou que necessitasse de se ali-mentar e de pernoitar por aquelas bandas.

Também armazenava lenha por causa do frio, e também esta era alvo de cobiça, pois as noites por aqueles lados são gélidas, quanto mais naqueles tempos, e as pessoas necessitavam de se aquecer. o Sr. augusto armazenava a lenha, mas vinham sempre um grupo de homens para a roubar e este Sr. não podia fechar os olhos sem-pre. Numa certa ocasião vieram roubar lenha em plena luz do dia. os homens já tinham os molhos feitos para levar. o Sr. augusto chegou-se ao pé deles dizendo: Sr. augusto: “«Shut! Por favor! Isto já é a gozar, ponham já aí a lenha! não levam a lenha.» o meu pai, pois, conhecia-os. «não levam a lenha, já disse!»um dos homens: «Eh! Faz-nos tanta falta!» Pois, com que é que eles se aqueciam? aquecimento e comida era tudo feito à base de lenha.Sr. augusto: «Já vos disse! Ponham aí a lenha e vão-se embora! Porque aqui isso foi à descarada.» Quando era a safra dela o meu pai fechava os olhos. Na altura o meu pai falou assim e eles puseram a lenha no chão. Mas disseram assim:«o senhor tem filhos. Quer criá-los?»Sr. augusto: «Que conversa é essa?»um dos homens: «Se os quer criar...deixe-nos le-var a lenha!» E o meu pai disse-lhe assim:Sr. augusto: «ai que vocês agora é que nunca mais levam daqui nem um graveto!» - com o jeito dele. Eles pediram desculpa ao meu pai. Meu pai disse: «nunca mais vocês levam daqui – o meu pai sabia que eles que levavam. (...) De maneiras que eles pediram depois desculpa ao meu pai. O meu pai fez de conta que não coiso e disse: «levem lá a lenha e vejam lá a hora em que vêm-na roubar!» E eles ficaram muito contentes9.” Ambos os avós de Dona Catarina eram mineiros

5Dona Catarina recorda-se dos nomes de alguns desses guardas-fiscais, que eram naquela altura maiori-tariamente nortenhos, ou “galegos”, como por aqui eram conhecidos. Desde o Rodrigues (Bragança) – es-tória dos brincos, contada em seguida –, ao Alferes (Chaves), passando pelo Gomes (mais idoso) e o Firmino (que falava achim). Todos eram nortenhos. Este último, inclusive, casou-se com uma tal Maria Leonor, que era das Cortes Pereiras. Quanto a este Firmino, Dona Catarina contou duas estórias que me apraz registrar. Eche – referindo-se ao Firmino – era muito engrachado. Uma vez perguntou à minha mãe: “Qué icho Chen-hora Concheichão ?” E depois eram figos da Índia. E ele nunca tinha visto: “E icho cómeche ?” E minha mãe: “Come-se pois !”. E ele começou a comer e diz assim: “E agora, o que facho às grainhas ?” E minha mãe disse assim: “Olhe, engula-as !”. Esse era muito engraçado. E depois no posto ele tinha que apresentar serviço e ele não apresentava nunca serviço. Nunca apanhava ninguém. E diziam-lhe assim: “Mas você nunca os apanha (aos contrabandistas) ? Os outros apanham e você não os apanha porquê? ” Ao que ele respondia: “Eh. Não bejo contrabandistas ! Chó bejo é pachar de noite, toda a noite, para cá e para lá homens com chacos de batatas ach cochtas!” Muito engraçado. “Chó bejo é pachar os homens com chacos de batatas ach cochtas!”6Aquela vivência daqueles tempos e todos estes episódios ainda são hoje recordados com muitas saudades e nostalgia pela Dona Catarina. 7Já naqueles tempos havia falta de trabalho, deslocando-se as pessoas também para Espanha para a apanha da fruta, mormente o figo.

8Após este episódio, o pai da Dona Catarina, o Sr. Augusto abraçou-a dizendo-lhe: “Tiveste coração filha. Tiveste coração.” Este tal Rodrigues tinha-se encantado pela Dona Catarina, ainda menina e moça, mas esta nunca corre-spondeu às suas pretensões. Ele queria com ela casar e oferecia-se inclusive para pagar a sua educação e tratan-do-a sempre com respeito. Mas o sentimento de Catarina por tal homem nunca passou da amizade e admiração e gosto numa primeira fase pela atenção que ele lhe dispensava. Pois se ela era uma moça ainda menor e ele um homem já feito.9Com este singelo episódio se verifica como as pessoas se tratavam de comum acordo, quase que à boa ma-neira oriental, não “perdendo a face” de parte a parte e praticando a interajuda comunitária. A vida era dura.

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nas minas de S. Domingos. o avô, Joaquim Filipe, esposo de Catarina Gaspar, e residentes ambos na almoinha Velha (Espírito Santo) comandava equipas de mineiros, assim como seu outro avô, antónio Pedro, esposo de Guilhermina Mariana, e moradores na Bicada (Espírito Santo). “Quem comandava aquilo eram os ingleses.”a propósito dos pais dessa tal de Catarina Gaspar – avó de Dona Catarina – um pequeno episódio demonstra o tal alentejo sem lei, que por vezes se ouve falar, e que sucedia por esses tempos que já lá vão. os tempos da bisavó de Dona Catarina. A sua bisavó, Catarina também de seu nome, es-tava casada com um tal de Gaspar, homem rude e com instintos de malvadez. Dos seus filhos, só três sobreviveram, a tal avó de Dona Catarina, a Silvéria e o lifonso10. Estes seus bisavôs eram pessoas muito ricas, tinham muitas fazendas e muitos homens a trabalhar. Mas o Gaspar é que administrava o dinheiro todo e não prestava con-tas à esposa. Punha e dispunha à vontade dele e ninguém se podia meter. Matavam animais e tinham uma casa só para as petiscadas, onde filhos e esposa deste homem estavam proibidos de entrar. Algum empregado dissesse algo que ele não gostava de ouvir ou dissesse alguma má resposta e ele matava-o logo naquele mesmo instante, sendo sepultado no local e bico calado. até dos próprios filhos ele matou. Pelo menos três sei que ele os matou11. os irmãos e a mãe tinham que calar a tristeza que cá dentro sentiam, não fosse lhes suceder o mes-mo. Tratava bem a esposa... desde que ela não se metesse nos seus assuntos. nunca lhe batia nem nada. Só que ela imagino, matando-lhe os

filhos! Houve uma altura que esse meu tio lifon-so estava muito mau numa cama, das porradas que tinha levado. ora morre, ora não morre, que nessa altura não havia medicamentos. A minha bisavó chorava muito e andava muito triste. Foi lá a casa uma senhora muito rica, família, parenta, e minha bisavó contou-lhe a vida que estava a levar e que ele matava-lhe os filhos e aquilo tudo. E ela disse-lhe: “Eu queria salvar estes! aquele está no estado em que está! Eu tenho estas duas.” E en-tão ela disse para aquela Sra. (que era cá de Beja): “ai que eu quero salvar as minhas filhas! Quero salvar aquele!” ao que esta Sra. Respondeu: “Eu levava-as, mas como é que eu as levo sem au-torização dele?” E a minha bisavó lá combinou e disse: “a comadre vai para Beja e eu vou mandar um dos homens, foi fazer aqui o enxovalzinho delas, para elas depois irem no carro para Beja.”Ela então virou-se para as filhas e disse-lhes: “olhem filhas – com muitas lágrimas nos olhos disse - filhas, para eu vos salvar do vosso pai. (Es-tava já tudo feito) Mas têm que dizer ao teu pai. Têm que pedir licença.” “Mas como é que agora se pede licença? – responderam. Mas tiveram, tiveram que a pedir.Filhas: “Meu pai, nós gostávamos de conhecer Beja. não conhecemos Beja! lá a Dona Fulana! Íamos para a casa dela passar lá uma temporada. Se o pai nos dá licença!” E ele, ele sorriu-lhe e disse:Gaspar: “oh minhas filhas! Então não dou? Pois dou! Sim senhor. Querem ir não querem?”Filhas: “Pois queremos.”Gaspar: “Então vão. agora vão lá além buscar aqueles paus grossos que estão além. Tragam

10Este último ficou para sempre deficiente do braço e perna esquerda, de tantas agressões que suportou de seu pai, o tal Gaspar. Pontapés, sopapos e pauladas eram o Pão Nosso de Cada Dia.11 Um matou-o porque ele tinha curiosidade de saber qual o sabor da aguardente. Entrou às escondi-das nessa tal casa – onde mãe e seus irmãos estavam proibidos de entrar, só os amigalhaços – para be-ber um copinho. Quando ia para beber o copinho da aguardente o pai apanhou-o “Quem te deu autori-zação ?”. O gaiato foge e pula para cima de uma árvore para se safar ao pai. O pai pega em pedras e vai de atirá-las até que o miúdo caiu de lá de cima morrendo estatelado no chão. Ou da queda, ou das pedra-das que levou. Outro seu irmão, também curioso com o sabor dos vinhos entrou também à socapa e a mes-ma história sucedeu. Só que este nem tempo teve de subir para uma árvore. Levou tanta porrada cá em baixo, que deverá ter morrido com um pontapé que o pai lhe deu que o arrojou contra a parede dessa casa.

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27lá.”E elas coitadinhas foram buscar a vara. Porrada numa e porrada noutra e deixou-as todas es-calavradas. Mas mesmo assim elas vieram. To-das doentes, todas feridas depois, mas vieram. Chegaram a Beja. Entretanto, houve um dos que comeu e bebeu, que também lhe chegou já aquilo e disse: “Então mas tu! Quem te julgas tu que és? Então tu matas os teus filhos, matas os teu empregados! Mas tu pensas que só tu é que és Homem? Então dá cá um abraço!” E estoirou-o todo. E disse para a minha bisavó, levando-o de rojo “Prepare aí a cama!” E deitou-o lá para cima. “Mande já as suas filhas já de volta, que ele não está aí nem por horas.” aquilo era assim naquele tempo, olho por olho, dente por dente. um Homem valente. a polícia não se metia nisso,

nem havia polícia naquele tempo. ali teve que o ouvir. E ela mandou um homem montar-se lá num carro e ir chamar as suas filhas. E ele lá foi. Elas nem aqueceram o lugar (em Beja) todas con-tentes.A minha bisavó andava sempre (de semblante) muito carregado. lenço na cabeça, chapéu na ca-beça, tudo assim é que ela levava a vida. E depois, o homem, o meu bisavô morreu. E ela: “Enter-rem-no praí, onde ele tem enterrado os outros!” E tirou a roupa toda preta. Vestiu-se toda de ver-melho! um belo chapéu na cabeça, toda vestida de vermelho. Montou-se num cavalo e desatou a cantar por aquelas terras fora a ver o que era dela. o que é que era e o que não era já dela. a ver se ainda tinha alguma coisa. Porque ele ven-dia tudo. E então ela ia cantando.

Guadiana - Pintura de Maria da Luz

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Dizia um: “Pois ei! Parece ali a Sra.! aí é a Sra. Catarina!”Dizia o outro: “Éh, não pode sêri! ai não pode sêri! Então ela vem cantando! alguma vez? Vem ela sempre de luto! não era ela.”E ela aproximou-se: “Sou eu! não tão enganadas! Sou eu, sou! Sou eu própria! Olhem, enquanto eu havia de cantar, chorei. Agora ao invés de chorar, canto.”Ela foi ver o que tinha de fazendas e ainda as recu-perou. Ainda a minha avó herdou e agora aquilo está tudo ao abandono. as terras ficaram todas abandonadas lá. Pois. Eles lá viveram com a mãe e quando ela morreu eles dividiram entre os três e se não tiveram herdeiros aquilo lá continuará ao abandono. Hortas, searas, olivais tudo ficou ao abandono. Hortas, só meus tios que vivem lá

ao pé vão cultivando. abalaram quase todos já, e pronto! Minha mãe ainda disse: “Fica um monte daqueles ao abandono! não deixamos perder o monte! a gente faz aquilo entre todos, fica uma casa para irmos passar um Natal, uma festa as-sim, ou um casamento. Fazíamos lá, tipo rús-tico.” Minha mãe pensou: “ Se você fizer, todos querem! Entrar ninguém quer, mas se você fizer todos querem!” E a minha mãe depois olha, deixa12. não queríamos deixar de fazer referência a um poema da autoria da neta do Sr. Augusto, Homem exemplar e a quem convém prestar a devida homenagem, dando assim voz àqueles que a maior parte das vezes nunca é ouvida. Sem mais delongas, aqui fica. »»»

12Muitos dos montes abandonados que temos observado um pouco por todo o Alentejo, também têm uma es-tória de abandono semelhante. Como os herdeiros eram muitos optaram por deixá-los abandonados do que por os recuperar. O espírito comunitário tão característico desta região tem-se vindo a esbater com o passar dos tempos.

A caminho da ceifa - Pintura de Maria da Luz

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“O Bê à Bá do meu avô”o Bê à Bá não conhecimas não deixei de vivero Bê à Bá nunca escrevie também não soube ler

Para o Bê à Bá aprenderEu tinha que ir à escolaMas para poder comerusei a enchada não a sacola

Se o tivesse aprendidoTinha tido melhor futuronão tinha tanto sofridoCom este trabalho tão duro

nunca tive uma infânciaComo as crianças de agoraEu sempre vivi na ânsiaDe não recorrer à esmola

Por isso desde pequenoNo campo eu trabalheiDe branco passei a morenoanalfabeto eu fiquei

Assim sem conhecer as letrasNunca o meu nome escreviPara mim eram secretasAs cartas que recebi

Com uma cruz se assinavaQuem na escola não aprendeuEra assim que se marcavaO nome que Deus nos deu

Podiam parecer iguais

Túnel - Pintura de Maria da Luz

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30MeMÓRiA

Contrabando no século XX, na raia da freguesia de Santana de CambasUm crime, ou uma luta pela sobrevivência?

José Rodrigues Simão

Das gerações que viveram dos anos trinta aos anos sessenta do século passado, não há nin-guém que não se recorde do contrabando para Espanha. Eram grupos de homens e até mulheres com 25 kg e mais de café, açúcar, ovos e farinha às costas. Era tudo aquilo que servia para mini-mizar as dificuldades das famílias, a maioria com-posta por sete, oito, nove e mais pessoas. A vida do campo era muito complicada e o trabalho na mina não dava para todos. E mesmo aqueles que ali trabalhavam, encontravam no contrabando um complemento para fazer face às condições difíceis da vida de então.Por outro lado, os espanhóis viviam com grandes dificuldades. o regime franquista tal, como o de Salazar no nosso país, limitara-lhes o desenvolvi-mento, para além de ter envolvido toda a Espanha numa guerra civil. Essas dificuldades fizeram-se sentir de uma forma profunda na raia. Tanto com a escassez de géneros de primeira necessidade, como as perseguições e os fuzilamentos de todos aqueles que se opunham ao poder ditatorial.Foi através do contrabando de sobrevivência, que

muitos homens e mulheres, andando duas, três, quatro noites a palmilhar dezenas e dezenas de quilómetros, conseguiam trazer mais meia dúzia de tostões para casa (isto quando não perdiam a carga, por ser capturada pela guarda fiscal ou pelos carabineiros) para proporcionar uma vida melhor aos seus filhos.Sabemo-lo dos depoimentos orais, de vários con-trabandistas da altura, e que hoje infelizmente se vão perdendo se nada fizermos. E nós queremos que esta história seja transmitida aos nossos ne-tos.Foi com a edição do livro “Memórias do Contrabando em Santana de Cambas”, de luís Maçarico, e na perspectiva de construir a história da freguesia de Santana de Cambas que criamos o museu do contrabando. Que queremos sempre aberto a novos relatos, histórias, depoimentos e outros elementos que possam vir a engrandecer o já vasto historial deste museu.Contamos consigo!

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MeMÓRiA

A Terra de Elvas

Maria Ramalho

Esta é a pequena história da minha avó Maria e da sua amada Elvas, terra mítica de lendas familiares.a minha avó nasceu nos finais do século XIX, no seio de uma família alentejana abastada. Habituou-se a ver o ciclo dos campos através da “mais linda janela do alentejo”, a sentir o cheiro forte da terra, a amá-la. Casou com um beirão, e acompanhou-o na subida ao litoral, tendo-se fixado nas Caldas da Rainha. Por morte dos pais, nos anos 20, herdou a chamada “Terra de Elvas”, uma pequena propriedade em que assentam os formidáveis arcos do aqueduto da amoreira. E a avó Maria passou a dizer: “nunca vendam aquela terra” como se o seu coração ali estivesse preso para sempre. E a terra tornou-se uma lenda. Só a avó Maria a conhecia. Éramos pobres, não havia recursos para aventuras alentejanas. Mas a Terra de Elvas estava em nós. Tornou-se parte de nós, tal a veemência com que aquele pedido de “não a vendam nunca” era dito. Contava que, quando todo o alentejo secava, aquela terra era a única que frutificava em espigas, que sempre assim tinha sido e sempre assim seria. não havia expli-cação para o facto. Dois palmos de terra perdidos no coração de uma terra ressequida, frutificando. a proximidade da água do aqueduto e a extrema com o cemitério davam um ar racional ao “mila-gre”. De facto nunca o soubemos. a terra estava arrendada e era paga em alqueires de trigo. Não era, portanto, pelo dinheiro que a avó Maria insistia naquele pedido. Quando uma bela fatia lhe foi roubada para ser construída a estrada para Portalegre, vi-a chorar.o tempo passou, a minha avó morreu em 1958 pedindo sempre “não a vendam, não a vendam”.

E aqueles palmos de chão se já eram lenda, mais lenda se tornaram. Que podia ter de tão valioso aquela terra? Seria o fim do arco-íris e lá estaria enterrado o pote de ouro prometido? ou só re-pousaria ali finalmente o coração de alguém que amou profundamente a sua terra?Entretanto a Câmara de Elvas quis a terra. Ou a bem ou a mal. Foi a bem. Alugada pelo preço de coisa nenhuma, “o chão do meu pão” transfor-mou-se em chão da feira de S. Mateus.Em 2007 a minha mãe viu-se confrontada de novo pela câmara de Elvas. Já com muita idade, cedeu e vendeu-a. a Terra de Elvas é hoje estra-das e rotundas...Casei entretanto. Quis o destino que uma parte da família de meu marido fosse de Pias. E tam-bém para ele Alentejo fosse sinónimo de terra solidária, de gente boa que o acolheu quando a PIDE o perseguiu e onde, por força das circunstân-cias, se tornou aprendiz de podador de oliveiras.a voz da avó Maria e a de meu marido fazem-se ouvir em mim cada vez que o alentejo está presente. no telúrico do cheiro, na cor dos seus campos, na luta das suas gentes, no seu cante, no imenso espaço de liberdade, na memória de uma terra que não conheço mas que amo como uma raiz.

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32ALenTejO eM FOTO

Os Segredos do Olhar

Foto Rosário Fernandes - Igreja em Montemor-o-Novo

Rosário Fernandes

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Foto Rosário Fernandes -Marvão

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Foto Rosário Fernandes - Brasão em Portalegre

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Foto Rosário Fernandes - Évora

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Foto Rosário Fernandes - Montemor

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38MUnicíPiO dO SeixAL

Um concelho com qualidade de vida

o Seixal é um Município ribeirinho inserido na Área Metropolitana de lisboa e na Península de Setúbal. Situado a poucos minutos da capital, o concelho conta com uma localização geográfica muito privilegiada, factor atractivo para os mui-tos visitantes que por cá passam. as actividades culturais e desportivas, aliadas a uma gastrono-mia de qualidade e a um património valorizado são alguns dos motivos que fazem com que o Seixal conte actualmente com cerca de 170 mil habitantes.Fisicamente o concelho tem uma área de 93,6 km2, divididos por seis freguesias: aldeia de Paio Pires, Amora, Arrentela, Corroios, Fernão Ferro e Seixal. É hoje o concelho da Península de Setúbal com maior número de habitantes e conta com

uma população jovem e activa, que aqui encon-tra os factores necessários para uma boa quali-dade de vida.não faltam motivos para visitar este Município. a Baía, com uma área de 500 ha convida a passeios a bordo de embarcações tradicionais ou aos mais variados desportos náuticos. as iniciativas como o Seixal Jazz, o Março Jovem ou a Seixalíada, são também motivo de visita. As Quintas Senhoriais, como a Fidalga ou a Trin-dade, com a sua história e património merecem um passeio alargado. Para descansar, o Parque do Serrado ou o Parque urbano das Paivas oferecem a tranquilidade necessária para umas horas de repouso.

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PATRiMÓniO

Visita guiada ao Seixal

Pelas suas características ribeirinhas, pela sua cultura e património, o Seixal tem para oferecer diariamente uma agenda muito diversificada de actividades onde toda a família pode participar.aconselha-se um passeio pedestre junto à Marginal, entre o núcleo urbano antigo do Seixal e de arrentela, onde existe um passeio ribeirinho ao longo das margens da Baía.ao longo deste percurso sugere-se uma visita ao núcleo da Mundet do Ecomuseu Municipal, para uma visita a exposições sobre a cortiça. Encontra-se um pouco mais à frente, em arrentela, o núcleo naval do Ecomuseu, onde são construídos artesanalmente barcos do Tejo.Continuando o percurso sempre junto à Baía do Seixal, uma sugestão é o passeio pelos Jardins da Quinta da Fidalga, um espaço do século XV que foi propriedade de Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama. numa subida ao Miradouro da Igreja Matriz de

arrentela, tem-se uma vista privilegiada sobre a Baía e sobre lisboa. E se a visita ao Seixal for pla-neada atempadamente pode navegar a bordo do bote- -de-fragata Baía do Seixal, uma embarcação tradicional do Tejo, ou aproveitar um dos progra-mas turísticos temáticos que acontecem ao longo de todo o ano.

Horários de funcionamento

núcleo naval do Ecomuseu Municipal e núcleo da MundetHorário de Verão ( de Junho a Setembro ) – De terça a sexta, das 9 às 12 e das 14 às 17 horas. Sábados, domingos e feriados, das 14.30 às 18.30 horas.

Jardins da Quinta da Fidalgaaté final de Setembro, este espaço funciona de terça a domingo, entre as 10.15 e as 19.45 horas.

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40FeSTiVAL de VeRÃO ATÉ 30 de AGOSTO

Festas Populares animam o Seixal

até 30 de agosto, o Festival de Verão anima o Seixal com as Festas Populares a acontecerem em todas as freguesias. São meses de muita música, marchas, artesanato e convívio popular. Já se realizaram as Festas de S. Pedro, no Seixal e as Festas de arrentela. Mas ainda vão subir aos palcos das festividades muitos artistas consagra-dos e nomes do concelho.

Fernão FerroDe 18 a 26 de Julho, no Parque das lagoas, têm lugar as Festas de Fernão Ferro. Diversos grupos de dança e projectos musicais sobem aos dois palcos das festividades para animar as noites de baile da freguesia. A Grande noite do Fado Vadio, aberta à participação popular, o Festival de Folclore e o espectáculo de encerramento com Miguel e andré são apenas alguns dos destaques destas Festas.

Aldeia de Paio PiresEstas Festas têm início a 29 de Julho e as celebrações em honra de n.ª Sra. da anunciada estendem-se até ao dia 2 de agosto. Do progra-ma fazem parte as actuações do Grupo “Brazil”, Banza e Cláudia Isabel. Destaque também para as largadas Taurinas e para a noite da Sardinha as-sada, no dia 31 de Julho.

AmoraDe 12 a 16 agosto a freguesia de amora recebe as actuações dos uHF, angélico, Clã e Deolinda.

CorroiosDe 21 a 30 de agosto esta freguesia recebe os concertos de ana Moura, Quim Barreiros, Xutos e Pontapés, anjos, Blasted Mechanism, Martinho da Vila e Marco Paulo. o Festival de Folclore faz também parte da programação.

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AcTiVidAdeS ReLAciOnAdAS cOM O RiO

A Baía na centralidade do concelho

não se poderia falar do Seixal sem se falar da sua Baía, pois é esta que mais caracteriza o con-celho. Foi junto às suas margens que cresceram os núcleos antigos de arrentela, Seixal e amora, que acolheram pessoas provenientes de todo o País e que fazem do Seixal aquilo que hoje é. as tradições e costumes que estas pessoas trouxeram das suas terras de origem criaram a diversidade gastronómica e de costumes que proliferam hoje no Seixal. Foi também junto à Baía do Seixal, que conta com uma área de cerca de 500 ha, que cresceram as quintas seculares, como a Fidalga e a Trindade. As suas condições naturais permitem o desenvolvi-mento de diversas actividades relacionadas com o rio, tais como a canoagem, a pesca desportiva ou o passeio em embarcações tradicionais.

Seixal tem serviço de Marinheiro desde MaioDesde Maio que o Seixal passou a contar com o Serviço de Marinheiro que permite transportar os nautas entre terra e a sua embarcação. Os nautas que se desloquem ao Seixal têm agora possibili-dade de deixar os seus barcos ancorados na Baía e serem transportados para terra através de uma embarcação da autarquia, que fará também o regresso dos passageiros. Os interessados podem requisitar este serviço através da frequência rádio – Canal VHS 9.

Horário: De 30 de Maio a 1 de novembro Das 10 às 18 horasDe 14 de novembro a20 de Dezembro Das 10 às 16 horasCusto: 3 Euros

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42cULTURA

Seixal é uma referência cultural no País

o Seixal assume-se hoje como um concelho que aposta num programa cultural de qualidade. O Seixal Jazz é um dos exemplos. actualmente, este evento é uma referência incontornável no pano-rama nacional de festivais e encontros desta área da música, apresentando um elevado padrão de qualidade e um modelo totalmente inovador que já cativou um público próprio e procura agora não só mantê-lo como atrair apreciadores de outras áreas musicais.o Seixal Jazz conta este ano com a sua 10.ª edição, que decorre entre 21 de outubro e 7 de novem-bro, no Fórum Cultural do Seixal e nos antigos Re-feitórios da Mundet, como vem sendo habitual.Para além desta iniciativa, destaca-se também o Festival de Teatro, que traz anualmente ao con-celho várias peças e actores bem conhecidos do público.o Março Jovem, uma iniciativa dedicada particu-larmente à juventude conta com muitos adeptos

nas inúmeras actividades que proporciona, como concertos, workshops, ateliês, exposições, entre tantas outras. Destaque ainda para o Seixal Graffiti, que tem como objectivo a divulgação e promoção do graffiti, elevando-o a um estatuto de arte urbana. Todos os anos, diversos writters mostram a sua arte nas paredes da antiga Fábrica Corticeira Mundet, transformando as paredes brancas em arte.a Medalha tem também o seu espaço no Seixal, com a realização de Congressos Mundi-ais de Medalhística como a Bienal Internacional de Medalha Contemporânea, que integra uma Exposição Internacional de Medalha Contem-porânea, uma Feira da Medalha e diversos work-shops sobre a temática.É de referir ainda a programação cultural regular no auditório Municipal.

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TeRRiTÓRiO dinâMicO e ATRAcTiVO

Planos estratégicos para o concelho

o Município do Seixal é um território dinâmico e atractivo, com crescente diversificação de activi-dades e modernização do seu tecido económico. Tendo em conta esta realidade, a proposta de revisão do Plano Director Municipal enquadra

um conjunto de planos estratégicos que irão pro-mover novos investimentos públicos e privados, a criação de emprego e qualidade de vida da população

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Plano de Pormenor de arrentela-Torre da Marinha-FogueteiroContempla a reestruturação da rede viária entre o nó do Fogueteiro e a Baía do Seixal; a valorização ambiental do corredor ecológico do rio Judeu; a criação de um parque urbano e de novos equipa-mentos colectivos e a recuperação do património industrial da Companhia de lanifícios de arren-tela.

Plano de urbanização da Zona Ribeirinha de AmoraIntegra a construção e ligação do passeio ribeirinho entre o Correr d’ Água e o Talaminho; a preservação do património construído e valorização do núcleo ur-bano antigo; a qualificação dos estalei-ros navais, dinamização da náutica de recreio e criação de um complexo desportivo e de lazer.

Plano de urbanização arrentela-Seixal e Plano de Pormenor Baía SulPrevê a qualificação das frentes ribeirinhas e revitalização dos núcleos urbanos antigos; a preservação e valorização do património natural e construído; criação de novos equipamentos colectivos e de lazer; qualificação do estaleiro na-val, promoção da náutica de recreio e do desen-volvimento turístico.

Plano de Pormenor da Área da ex-Siderurgia na-cional, Paio PiresVai permitir o desenvolvimento económico e a criação de emprego, com a localização de novas indústrias, logística, náutica de recreio e escola de novas tecnologias; a recuperação e qualifi-cação ambiental; a criação de um parque urbano e de equipamentos públicos; a valorização do património do alto-Forno e a construção de no-vas acessibilidades com a travessia Seixal-Barreiro e a ligação à CRIPS.

Estudo de Reordenamento e Qualificação urbana de CorroiosInclui a qualificação das acessibilidades e mobili-dade; criação de uma ciclovia; criação e requalifi-cação de equipamentos colectivos e valorização da estrutura ecológica urbana, sapal de Corroios e espaço ribeirinho.

Plano de urbanização de Fernão Ferro nascente e reconversão urbanísticaVisam a qualificação urbana do território e de infra-estruturas; a consolidação da rede viária e ligação às acessibilidades municipais e regionais e a criação de novos equipamentos colectivos, espaços verdes e áreas de lazer.

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ÀReA dA SideRURGiA nAciOnAL

Pólo de desenvolvimento económico e Social da Península de Setúbal

a área da antiga Siderurgia nacional, com cerca de 500 hectares, pela sua localização, dimensão e capacidade de dinamização económica, repre-senta um espaço estratégico na organização da estrutura do território municipal, constituindo uma área de oportunidades na atractividade de novos investimentos e criação de emprego.O Plano de Pormenor da Área da Siderurgia Na-cional consagra a sustentabilidade ambiental, económica e urbanística, o desenvolvimento de infra-estruturas viárias, a instalação de equi-pamentos educativos, sociais e desportivos e a valorização do património do alto-Forno.

Projecto do Arco Ribeirinho Sul.a zona da Siderurgia nacional é uma das três áreas industriais da margem sul integradas no Projecto do Arco Ribeirinho Sul.Este projecto contempla ainda 55 hectares na Margueira, concelho de almada, e 290 hectares nos terrenos da Quimiparque, no concelho do Barreiro. o objectivo é requalificar estas 3 áreas da margem sul do Tejo, com potencialidades de reconversão, capazes de protagonizar uma estratégia de desenvolvimento urbanístico sus-tentável e de contribuir para a valorização e com-petitividade da Área Metropolitana de lisboa.

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46PROjecTOS

Frente Ribeirinha Seixal - Arrentela

o Programa de acção Integrada de Regeneração e Valorização da Frente Ribeirinha Seixal-arrente-la foi alvo de uma candidatura ao QREn, já apro-vada, e engloba a concretização de 20 projectos até ao 3.º trimestre de 2011. Irá criar novas dinâmicas económicas e sociais, permitir a regeneração urbana dos núcleos anti-gos, dinamizar o turismo e criar emprego. Repre-senta um investimento total de 9 657 620 euros, sendo 6 361 820 euros do orçamento municipal e 3 500 000 euros provenientes do FEDER.Esta acção integrada engloba a reformulação do passeio ribeirinho, com o seu alargamento e melhoramento, a qualificação do espaço público e do núcleo urbano antigo, o aumento de zonas verdes, criação de áreas de lazer e recreio, o au-mento de lugares de estacionamento automóvel, a qualificação e dinamização dos serviços e do comércio local e a instalação de um pontão.na Quinta da Fidalga, vão ser desenvolvidos três

importantes projectos: o Museu-oficina de artes Manuel Cargaleiro; o Centro Internacional de Medalha Contemporânea e a qualificação dos jardins e do lago de Maré.Em termos de equipamentos, é de referir a re-qualificação do Centro de Dia da associação unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos do Seixal e a adaptação de um edifício para nova sede da associação Portuguesa de Deficientes – delegação do Seixal. Está também prevista a criação da CInaRTE – Centro De Inclusão pela arte, de um Centro In-tegrado de actividades Culturais nos antigos Re-feitórios Mundet e do Espaço Cultura e Educação na actual Escola Básica Conde de Ferreira.O programa envolve ainda a criação do Parque urbano D’ana, a recuperação de embarcações tradicionais e a formação do núcleo náutica de Recreio do Seixal e do núcleo Empresarial do Seixal.

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AcÇÃO SOciAL

Investimento no valor de 10 milhõesde euros em equipamentos sociais

até 2011, serão construídos 10 novos equipa-mentos sociais no Concelho, que permitirão uma resposta social no apoio à infância e terceira idade, num investimento total de cerca de 10 milhões de euros.Estes equipamentos vão ser construídos no âm-bito do programa Pares e Modelar da adminis-tração Central, mas não são financiados na totali-dade pelo Governo. Como as instituições sociais não possuem ca-pacidade financeira para suportar a construção dos equipamentos, será através do investimento municipal que as infra--estruturas se tornarão uma realidade. A Autarquia apoia com um inves-timento na ordem dos 4 milhões de euros, tendo cedido os terrenos para a construção dos equipa-mentos. De referir que este investimento irá atenuar algu-mas das carências que o Seixal e o próprio distrito de Setúbal sofrem na área social. o distrito vai ficar com um rácio de 30 por cento na rede de creches e lares quando o rácio do País é de 35 por cento. Quanto ao concelho do Seixal, actualmente com 170 mil habitantes, terá uma oferta a nível de equipamentos sociais que contribuirá para uma melhor qualidade de vida dos munícipes.

Equipamentos sociais a construir

•Creche Social, lar e Centro de Dia de Idosos do Seixal;•Creche Sonho azul da Cooperativa Pelo Sonho é que Vamos, aldeia de Paio Pires;•Creche Social de amora;•Creche Social de Sta Marta Pinhal, Corroios;•Creche Social de Corroios;•Creche Social de Fernão Ferro;

•unidade Cuidados Continuados de amora;•unidade de Cuidados Continuados de arrentela *;•lar de Idosos de Corroios *;•lar da Cercisa.

* As candidaturas aos programas de financiamento encontram--se em fase de definição, estando o espaço para edificação dos equipamentos garantido pela Câmara Municipal do Seixal.

Lar da Cercisa

Unidade de Cuidados Continuados de Amora

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48edUcAÇÃO

Alargamento e qualificação do Parque Escolar

até 2012 a Câmara Municipal do Seixal vai in-vestir 34 milhões de euros no alargamento e qualificação do Parque Escolar do concelho. o in-vestimento inclui novas escolas e a ampliação de equipamentos, bem como a construção de giná-sios, refeitórios e pavilhões desportivos.na rede do 1.º ciclo e jardins-de-infância, a Câ-mara Municipal vai realizar um investimento de cerca de 26 milhões de euros, criando mais 128 salas de aulas, sendo que 76 são do 1.º ciclo e 52 de jardim-de--infância.a autarquia tem vindo a apresentar várias candi-daturas a programas de apoio do Governo (PID-DaC) e da união Europeia (QREn), sendo que até, ao momento, nove equipamentos foram já apro-

vados, o que representa um apoio na ordem dos 4 milhões de euros.o investimento irá qualificar o parque escolar, alargando de forma significativa a rede pública de jardins-de-infância. Este programa significa um aumento qualitativo na rede pública, que passará a responder às ne-cessidades do crescimento do concelho, dando condições a todas as famílias para que as crianças possam frequentar o ensino pré-escolar e do 1.º ciclo da rede pública. as obras já estão no terreno e vão passar pelas 6 freguesias do concelho. Incluem a construção de 10 equipamentos e a ampliação ou remodelação de 4 edifícios escolares.

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deSPORTO

Aumentar a prática da actividade físicacom Desporto para Todos

no Concelho do Seixal, o desporto é entendido como um fenómeno social, cultural, formativo e económico de valor incontornável que visa que os benefícios que resultam da sua prática, quando correctamente concebida e orientada, cheguem a um número progressivamente mais alargado de pessoas que vivem e trabalham no Município. assim, a Câmara Municipal do Seixal lançou, há cerca de uma década, o Plano de Desenvolvimen-to Desportivo Municipal. Este Plano integra diversos projectos, realizados em articulação com as escolas do Concelho, Jun-tas de Freguesia e movimento associativo, bem como um investimento no alargamento da rede de equipamentos desportivos municipais e na

variedade de modalidades colocadas à disposição dos munícipes. Em termos de projectos, destacam-se a Milha urbana Baía do Seixal, o Corta-Mato Cidade de amora – Cross Internacional, Jogos do Seixal ou a Seixalíada. Especialmente dirigidos aos alunos das escolas do 1.º ciclo, estão a ser desenvolvidos o Projecto de apoio à Educação Física e o Plano de Desen-volvimento do Xadrez. o Programa Continuar integra actividades físicas destinadas aos idosos do Concelho e o Projecto de Desporto para a População com Deficiência contribui para a melhoria da qualidade de vida e inclusão desta população.

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O tema que vos apresento, sobre as barbearias e dos barbeiros no concelho de Santiago do Cacém, deu o mote ao primeiro número dos Cadernos do Património, editado em 2008, pelo Museu Municipal de Santiago do Cacém, intitulado «a Barbearia: a arte de bar-bear e pentear». Esta publicação resultou de uma pesquisa antropológica no terreno realizada por mim em 2004, tendo contado também com a co-laboração de nuno Vilhena, na realização de algu-mas entrevistas a antigos barbeiros da região.Espaço dedicado à arte de barbear e pentear, ao encontro e convívio masculino, a barbearia repre-sentou até aos anos 70, um ponto de referência importante, no concelho de Santiago do Cacém. Estes estabelecimentos encontram-se porém, à beira do fim, ameaçados pela idade avançada da maioria dos seus praticantes e à falta de trans-missão do seu saber às gerações mais jovens. Este trabalho de natureza etnográfica caracteriza assim a figura do barbeiro, não só na região de Santiago do Cacém, mas do seu papel ao longo da história, resgata memórias e histórias de vida de inúmeros profissionais, salientando-se aspectos ligados à aprendizagem do ofício e ao exercício do mesmo, assim como descreve ambi-entes, espaços e sociabilidades.Como pude comprovar nesta região do Alentejo, estes espaços têm vindo a perder a sua caracteri-zação, sendo hoje marcados pelos novos ritmos da modernidade, contrariamente à assiduidade semanal do passado, pois quer o rico, quer o pobre tinha de cortar “barba e cabelo” no bar-beiro. Com a invenção das máquinas de barbear descartáveis, e com o corte da barba em casa, as

barbearias começaram a ver decair a sua clientela.Porém, as barbearias ainda existentes, sobretudo as localizadas nas freguesias mais rurais, como

abela, ou alvalade do Sado, são autênticos mu-seus vivos. a cadeira de barbeiro rotativa, da antiga fábrica antónio Pessoa é uma presença quase obrigatória em todas estas barbearias. Os espelhos enchem esses espaços, muitas vezes exíguos e acatitados. as paredes encontram-se forradas com calendários, galhardetes clubísticos ou fotografias antigas. nas bancadas expõem-se uma multiplicidade de objectos, alguns dos quais já sem uso, como navalhas, assentadores, limpa-navalhas, máquinas manuais de cortar o cabelo, perfumes, loções, entre outros produtos, que servem apenas para decoração.Do ponto de vista social, estes lugares desempenharam desde sempre um papel crucial na sociabilidade masculina. Num passado re-cente, esse convívio era favorecido também pelo

bARbeiROS e bARbeARiAS

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horário alargado que estes estabelecimentos possuíam, sobretudo ao sábado quando se junta-vam mais homens, funcionando, muitas vezes até à meia-noite, uma hora da manhã. alguns chegavam a ir para este estabelecimento apenas para passar o tempo, depois dos cafés fecharem. A barbearia era de tal modo conotada com um local onde se sabiam as notícias, que os clientes quando chegavam à barbearia costumavam per-guntar ao barbeiro se haviam novidades. actualmente, nas poucas barbearias existentes, do concelho de Santiago do Cacém, ainda se vive um certo ambiente familiar e acolhedor, promovido pela figura do barbeiro, mas a sua função social tem vindo, gradualmente, a perder importância, tendo encerrado muitos destes es-paços comerciais, consoante os seus proprietári-os ou empregados vão falecendo ou entrando na reforma. a par da sua actividade nos estabelecimentos comerciais, os barbeiros, até cerca dos anos 40/ 50, do século XX, possuíam também alguma

actividade ambulante, sobretudo em alturas de feiras, deslocando-se até elas para trabalhar. não precisavam de muito espaço, apenas o indispen-sável para desempenhar as suas funções, ocupan-do um lugar geralmente perto de uma taberna ou café, para se abastecerem de água. armavam uma barraquinha com uns panos, colocavam uma ou duas cadeiras e com a ferramenta que traziam dentro de uma mala ou de um caixote e começavam a trabalhar. Diz quem se lembra, que na feira da Abela costumava haver sempre um ou outro barbeiro a cortar barbas e cabelo. outra das vertentes curiosas do ofício de bar-beiro foi em tempos recuados a de sangrador e dentista. Existem relatos dos finais do século XIX, inícios do século XX, que nos indicam este tipo de práticas entre os barbeiros, já não nos hospitais e com a projecção que noutro tempo tiveram, mas como técnica de recurso, em pequenas localidades, onde nem sempre o acesso a um médico era possível. nessas situações, o barbeiro continuou a desempenhar esse papel, sendo

© Ana Machado - Barbearia Ramos, Alvalade, Concelho de Santiago do Cacém

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© Ana Machado - Aspecto da Barbearia de António Cardita, em S. Domingos

também uma espécie de curandeiro. no início do século XX, era vulgar encontrar os barbeiros Tira Dentes também em feiras. outros barbeiros, exibiam à porta dos seus esta-belecimentos, tabuletas onde informavam que arrancavam dentes, fazendo-o dentro das lojas,

ou tendas, onde trabalhavam. Nos primeiros anos do século passado, essa função tornou-se exclusiva dos dentistas, que se especializaram nesse domínio, embora ainda haja recordação entre os barbeiros mais antigos do concelho de Santiago do Cacém, de colegas de profissão, que arrancaram dentes, sem as mínimas condições de higiéne e de segurança.Todo este imaginário popular em relação aos dotes terapêuticos do barbeiro, encontra-se actualmente esquecido, sobrevivendo apenas o ditado “a quem dói um dente, vai ao barbeiro”, citado por muitos dos barbeiros do concelho de Santiago do Cacém. actualmente, o ofício de barbeiro, tal como o conhecemos no passado, está em mudança, começando a existir em Santiago do Cacém algumas barbearias com estilo moderno, que só fazem praticamente cortes de cabelo, assemelhando-se a salões de cabeleireiro mascu-lino.O património imaterial do saber do barbeiro, tal como as navalhas e os instrumentos de trabalho, vão-se convertendo gradualmente em objectos museológicos. Em pouco tempo, restará apenas a memória e as histórias que os mais velhos contarão sobre a convivência nas barbearias, as peripécias lá passadas, as “navalhadas” dos aprendizes, os dentes que se arrancavam de forma dolorosa. Mais um capítulo da história dos ofícios se escreve.

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SAÚde

Caril pode prevenir alzheimer

Comer caril, uma ou duas vezes por semana, pode ajudar na prevenção de alzheimer ou demência, revela um investigador americano. Se você não é fã de comida asiática, a pesquisa agora revelada no Reino unido pode fazê-lo mudar de ideias: segundo o professor Murali Do-raiswamy, da universidade de Duke na Carolina do norte, Eua, a curcumina - componente de uma raiz usada para fazer caril - consegue evitar que se espalhem as placas amilóides, depósitos de proteínas que degradam as ligações entre as células cerebrais. Este efeito poderia prevenir doenças como alzheimer ou demência, um benefício para os amantes de caril que incluam na sua alimentação esta mistura de especiarias entre duas a três vezes por semana. Segundo o site da BBC, os investiga-dores obtiveram resultados positivos nos testes que efectuaram com ratos, estando agora a es-tudar uma forma de aplicar a mesma terapêutica em pacientes de alzheimer, que poderão tirar proveito da curcumina.ainda assim, Doraiswamy sublinha que só uma

dieta equilibrada, aliada ao exercício físico e à ingestão de caril conseguirá os efeitos de pre-venção desejados. Está também a ser estudada a hipótese de desenvolver um comprimido com esta substância, a curcumina, para que não seja necessária a ingestão de caril em grandes quanti-dades.

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A história dos locais, pode ser be-bida em muitas fontes. Encontra-mo-las em arquivos de vária ordem, nacionais ou estrangeiros, municipais, paroquiais, na posse de particulares, até na tradição oral. um deles é a imprensa. E essa imprensa, mais uma vez, pode ser de âmbito diverso e por vezes imprevista. nesta curta prosa, mostramos algumas notícias saídas nos primeiros anos 20 do século passado, no jornal alvorada Diária (depois Diário de notícias), de new Bed-ford, Massachussets, Estados unidos da américa, recentemente digitalizado com a comparticipação do Governo Regional dos açores e dos doadores luís Pedroso (accutronics) e Mark e Elisa Saab (advandec Polymers Incorporated). Encabeçado pelo título de “Único jornal diário de origem por-tuguesa publicado nos Estados unidos, com larga circulação” e concebido para a grande colónia de portugueses ali radicada (com imensos açorianos e cabo-verdianos), recebia notícias de Portugal que depois divulgava, sendo na maior parte dos casos, para além da correspondência familiar, a única ponte que os nossos compatriotas dessa época estabeleciam com a pátria de origem.

Caso de Borba… Tanto podemos ver retratado no Alvorada um assalto como um ataque de cães raivosos, passando por questões de melhoramen-tos locais (instalação da luz eléctrica), crimes de morte, situação das vindimas e do tempo atmos-férico e até inventário de actividades profissionais e outras do burgo. aqui seguem então as notícias, transcritas na grafia original, com os muitos erros ortográficos e gralhas que nela surgem (que num caso ou

outro corrigimos ao lado, para melhor compreensão do texto):

8.Junho.1920Foi assaltado e roubado, quando en-

trava para sua casa, ficadno gravemente ferido, o comerciante dsta vila, sr. João lopes Pereira. a au-toridade administrativa tomou conta do caso.

7.abril.1921a RaIVaPor um cão atacado de raiva, foram mordidos: alexandre de Jesus, Maria do Rosario, antonia Rosa Branco, Catarina d Rsari [do Rosário] e ana de Jesus Branco.

11.abril.1921Brevemente o sr. Squiapa [Schiappa?] Monteiro fará uma conferencia sobre a apresentação dos trabalhos referentes á instalação da luz electrica nesta localidade.

12.Maio.1921aGRESSÃo MoRTalum homem temido, assassinado á cacetada

no logar de S. Gregório foi morto á cacetada José Siga. Era um homem temido por todos os haitantes do concelho, por isso era objeto de re-pulsa geral. Ignora-se quem sea [seja] o autor ou autores do assassínio.

4.outubro.1922ESTRanGulaDa PElo MaRIDoNa visinha freguesia de Orada, um individuo cha-mado Francisco Maria Baton, apoz uma breve al-

bORbA eM nOTíciAS... nA AMÉRicA

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tercação com sua mulher, Maria Joana Rebola, de 54 anos, estrangulou-a.Quando no dia seguinte uma patrulha da G.n.R. o foi prender, atirou-se aos soldados, atacando-os á dentada. Conduzido a Borba, confessou o crime ao administrador do concelho, declarando estar arrependido do ato praticado.o assassino, que tem 60 anos, deu entrada na ca-deia de Vila Viçosa.

27.outubro.1922Está no auge a faina das vindimas. a uva vende-se a 4$50 e 5$00 os 15 kilos e o vinho, que tem tido rande [grande] procura, a 15$00 os 20 litros.

18.abril.1924O tempo tem corrido chuvoso e bastante frio, o que tem beneficiado a agricultura, apresentando as cearas um bonito aspecto.

31.agosto.1926(…) Em Borba ha um advogado, dois medicos, uma parteira, um notario, tres professores offici-aes, um solicitador e um veterenario. Possue uma Comissão de Assistencia publica, uma asociação de Socorros Mutuos (Monte Pio operario Borbense), uma Misericordia de que é provedor o sr. Joaquim José Nunes, duas socie-dades de recreio (Recreativa e Philarmonica pro-bidade).Tem um teatro, Municipal.Em Borba ha 4 hospedarias e tres estalagens.Tem duas grandes companhias: oleicola limitada, Marmores e Ceramica, dirigidas respectivamente

por D. Sebastião de Heredia e alfredo lisboa de lima.Freguezias:orada (nossa Senhora) a 9 kilometros da villa. Escola.Santa Barbara, a 5 kilometros da villa.S. Thiago de Rio de Moinhos, a 7 kilometros da villa. Tem estação postal e escolas.

Eis aqui, pois, algumas anotações relacionadas com a história da mais nova cidade do Alentejo, curiosos e demonstrativos exemplos noticiosos de um tempo afinal não tão longínquo como isso e que muitos ainda guardam na memória – mesmo que em segunda ou terceira geração de conversas familiares. Em pitoresca prosa, vinda do outro lado do atlântico, embora na generalidade ali recebida pelos portugueses ou luso-descendentes um tanto requentada, devido às contingências comunicacionais da época…

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56POeSiA

Criaturas do Sobral

O Alentejo vibrou de novoEu vi, no olhar do nosso povoEspanto, orgulho e emoçãoPreso a um pequeno ecrã Nesse dia de manhãCom gente da televisão lá no café da aldeiaonde a notícia escasseia Foi uma surpresa e tantouma pequena caixinhaEm cima duma mesinhaPrendia o povo de espanto Era um filme virtualFeito aqui em PortugalQue p’rá <BBC> foi ensejoMostrando o que há por aquiuma passarada sem fim Nos céus do nosso Alentejo

Gato bravo atiradiço De olhar fixo qual feitiçoCorrendo veloz sem medoMostrando a raça, na caçaDuma elegância com graçaExpondo p’ra nós seu segredo Nem se queria acreditarTanta bicharada a saltar Por essa planície inteirao pastor dizia entãoEste, <ê nâ> conheço nãoMas esta, esta é a águia caçadeira o sobro árvore imponenteNasce ali à nossa frenteNos campos da solidãoTem nove anos de pousio E volta de novo a ter briona cortiça, <sê> cascarão

Rosa Guerreiro Dias

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Diz o homem <ê nã> resistoMas <tô> a gostar de ver istoPor esta, <nã> esperava agoraVer aqui a nossa terraQue tanta beleza encerraParecem coisas de fora Pelo cante <ê sê> dizerSeu nome, sem estar a verPassarada que aqui se acoitaConheço cada passadaCada pedacinho de estradaCada árvore cada moita Depois de tanto passaremE por esses campos penaremChora o pastor de saudadelembrando as histórias contadasAs reais e as inventadasTodas contêm verdade Cai a lágrima, molha o rostoVem sereno o Sol - postoAquietar o coraçãoA estes homens de aldeiaQue vão em busca da ceia Depois de tanta emoção Como é que numa pequena caixaTanta coisa ali se encaixaÉ demais p’ró <mê> pensarMudou tudo tanto, tantoFica a gente meio tontoSe nos vêem a explicar

Estas modernices de agoraFeitas aqui e lá foraAté que são engraçadasEscarafuncham por todo o ladoMostram o presente e o passadoCom máquinas sofisticadas Se <mê> pai erguesse a cabeçaE visse tanta diferençaNesta nova geração Morria <da’ repentemente> Nem sequer dava tempo à genteDe lhe explicar a evolução Agradeço estes momentosAo lembrar outros encantos Das sofridas mocidadesTinham muito mais purezaMais apego à natureza E deixaram tantas saudades Ficamos de novo à esperaSeja Verão, ou PrimaveraHá por aqui muitas belezas Raras pedras, flores rarasHá papoilas e searasNestas terras Portuguesas Voltem sempre meus amigosMostrem aos novos e aos antigosMemórias da nossa genteDo povo a que pertencemosSerá bom, nunca esquecermosPassado sempre presente

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58POeSiA

Espreitando a igualdade

Homem, acorda do teu sonhoPorque esta mulher é realNão levantes tanta poeiraDeixa-me ver o meu caminhoPorque te cansas a erguer-me muros?Para eu não conseguir subir?E porque me pões tantas pedras no caminho?Para eu tropeçar?Mas repara, eu posso sempre contorná-losMesmo que leve mais tempoMesmo que o vento me faça retrocederEu rompo através dele, eu rasgo-o

Eu bracejo, eu furo-oMas avançoO que importa é chegarCuidado, eu não te quero ferir, nem derrubarEu preferia-te ao meu ladoVem!Não sejas tolo, não me empurres maisRepara que o teu travarFaz-me mais forteCria-me mais músculo, mais caloaté já enfrento melhor a dorDizes que tenho rugas, é verdade

Maria da Luz

Ceifa - Pintura de Maria da Luz

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Rugas. Mas não,não as escondo mais de tiSão marcas da minha vitóriaorgulho-me delasPor isso não me olhes com desdémEstão no meu rosto para não me esquecerVá lá, acompanha-meDá-me a mãoPorque eu sei o caminho para chegarE chegarei, ou contigo, ou sem tiEu chegareiÉ verdade que posso já chegarSem a beleza em que me vias no teu sonhoMas uma coisa te digo:Chegarei ainda como mulher.A história da tartaruga e da lebrenada te ensinou?

Castelo de Beja - Pintura de Maria da Luz

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60cULTURA

Camilo Mortágua “Andanças para a liberdade” - volume I

Partindo de uma aldeia portuguesa da Beira litoral, estas “andanças” atravessarão mares e continentes, em viagens de ida e volta. nos dois volumes desta obra dá-se conta, nomeada-mente: do derrube da ditadura venezuelana e das solidariedades com a revolução cubana; da concepção, preparação e execução do assalto ao Santa Maria; da ascensão e queda de Jânio Quadros e da implantação da ditadura militar no Brasil; do assalto ao quartel de Beja e da cam-panha de Humberto Delgado para a Presidência da República; de certos «mistérios» relacionados com os primórdios da guerra colonial; da pre-paração e execução da operação VaGÓ (desvio do avião da TaP a partir de Marrocos); das miséri-as e dos desânimos de quem não se conformava, e das traições entre militantes; da oposição do PCP à luta armada; da preparação e execução do

José Rabaça Gaspar

assalto ao Banco da Figueira da Foz e do subse-quente aparecimento da luaR; dos percursos de muitos dos nossos “líderes” de hoje nesses tem-pos de Medo e Resistência…

Estas «andanças» de Camilo Mortágua, para além de nos oferecerem uma visão global dos tempos da Ditadura Salazarista, remetem-nos para três valências (3Ms) que no contexto da obra assumem especial relevância: 1) a Metáfora das raízes: não há cultura válida sem ligação às ori-gens; 2) a Mestria da arte de contar: pelo expres-

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61sivo visualismo que se traduz numa escrita feita de oralidade; 3) o Mito das utopias: daquelas que afinal se tornam possíveis e realizáveis…

Nota extra – Camilo Mortágua, estabeleceu a sua residência em alvito, alentejo, desde os anos oitenta. É no Alentejo que, depois de uma vida de aventuras que nos vai contar no anunciado segundo e provavelmente terceiro volume, desde o assalto ao Santa Maria, onde termina este pri-meiro, passando pelo desvio do avião da TAP, o assalto ao banco da Figueira da Foz e o trabalho desenvolvido para o derrube da ditadura, integra-do na luaR…, nos há-de dar conta do seu imenso trabalho em dezenas de cooperativas e trabalho

Notas na contra capaAtravés da memória do autor ficamos a conhecer andanças de desespero e esperança, e algumas das estórias dos combates contra a ditadura, num inesperado contributo para a história da luta dos portugueses pela liberdade e

pela democracia.

cultural, que assenta especialmente no empenho dos cidadãos no Desenvolvimento local da sua terra… da sua região… do seu país… do mundo… não será por acaso que, vivendo no alentejo profundo, é, pela sua experiência e dinamismo o Presidente da associação das universidades Ru-rais Europeias (aPuRE). (Pode ver mais em http://www.ure-apure.org/Base-PT/Base-PT.htm e tam-bém http://camilomortagua.no.sapo.pt/ e ainda em www.joraga.net/camilo)

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62ARTe

João António Da Costa Paiva

nascido a 23 de Janeiro de 1940 no lugar da Fonte-Santa – Caparica, cresceu no seio de uma família de fracos recursos encontrando em seu pai, sapa-teiro de profissão, a figura de um homem inteli-gente e de grande experiência de vida. Costuma dizer a propósito: “… sou filho de sapa-teiro, mas toda a vida andei descalço!..”Como aluno, cedo deixou a escola, ao ser expulso quando frequentava a 3ª classe, por ser notória a sua irreverência e contestação a tudo o que lhe parecia injusto. Acabou por terminar a instrução primária, embora tardiamente, na escola da azenha. no entanto, o contacto com o ensino e a influência que sofreu dos seus familiares, to-dos eles com grande vocação artística, permi-tiu-lhe a descoberta da sua própria vocação. o

desenho, a sua grande especialidade, serviu tam-bém para encobrir trabalhos dos seus colegas que generosamente a troco de um tostão ele (João), executava mentindo aos professores para beneficiar aqueles que menos jeito tinham para concluir os respectivos desenhos. É obvio que isso lhe custou imensas vezes várias reguadas e grandes castigos.aos 14 anos iniciou a aprendizagem de outra arte, que lhe permitiu sobreviver ao longo de 30 anos. Durante todo esse tempo assumiu a profissão de cabeleireiro, criando novos penteados para as caras que então desenhava, alimentando a mágoa de não poder aprofundar o estudo das

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Belas-artes.ao fim de 30 anos e cansado de cabelos, entra para a Câmara Municipal de almada. Passa então a deixar a sua marca nos cartazes mais bonitos do concelho.a par da sua vida profissional, demonstrou tam-bém estar alerta para as transformações sociais do país, integrando a luta antifascista desde 1968 sempre em prol do bem-estar comum.não existindo a categoria de pintor artístico nos quadros da C.M.a., sujeitou-se então a ganhar pouco mais que o ordenado mínimo nacional, desempenhando no entanto, as funções com brio, aplicação e entrega total ao que lhe era so-licitado, mas como poeta que também é, lá vai resistindo a todas as agrugras, transmitindo para a pintura e para a poesia todo o seu sentimento.a alma alentejana orgulha-se de apresentar este artista e amigo, filho deste concelho, que connosco tem colaborado desinteressadamente e com mérito, cuja arte permanece encoberta para a maioria de todos nós.

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64PiTeÚ À SOMbRA dO cHAPARRO

Sopa de Beldroegas

na década de 70, motivos profissionais levaram a família Monteiro, da Figueira da Foz para Évora. uma nova cultura gastronómica iria ser experi-mentada. assim, não resistimos a contar uma pequena estória que se passou com estes amigos. Numa das primeiras idas às compras, na praça (mercado), uma vendedeira sugeriu-lhes a com-pra dum molho de beldroegas e recebe como resposta: “na minha terra nem os burros comem isso”. Passado algum tempo, em casa de amigos é-lhes servido uma sopa de que gostaram muito. Era uma sopa de beldroegas! Ainda hoje se fala neste episódio, pois foi o início da “entrada” des-tas pessoas nos sabores da comida alentejana, de que são, ainda hoje, militantes entusiastas. assim, trazemos hoje às páginas da nossa Revista uma das muitas receitas de Sopa de Beldroegas, retirada do livro os Comeres dos Ganhões, de Anibal Falcato Alves.

Ingredientes:1 molho de beldroegas 2 queijos alentejanos de meia cura4 cabeças de alho½ dl de azeitePão alentejano 4 ovosColorau e sal q.b.

Preparação:Partem-se as beldroegas em bocados, até onde os caules oferecem resistência. Tiram-se as cas-cas exteriores dos alhos, mantendo as cabeças inteiras. aquece-se o azeite e refogam-se as ca-beças dos alhos, mexendo para não queimar. Quando estiverem refogadas, juntam-se os quei-jos partidos em quartos e as beldroegas. Deixa-se refogar ligeiramente e junta-se o colorau e água suficiente para o caldo. Quando estiverem cozi-das, rectifica-se o sal e verte-se o caldo numa ter-rina, sobre o pão cortado ás fatias. os queijos e os alhos são servidos numa travessa à parte. Tam-bém há quem, para enriquecer este prato, adi-cione ovos escalfados.

José Moutela

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Em Moreanes (Mértola) quando terminado o almoço ( uma fantástica sopa de grão) pedimos a sobremesa, o empregado disparou: querem umas migas doces? não hesitámos, já que no alentejo quando nos “aventam” um petisco, ou mesmo um doce, é sempre uma boa sugestão. Espantou-nos o facto de ter vindo para a mesa um só dose e duas colheres. Justificação: comam esse que deve chegar... Tudo tão linear e tão sim-ples, como é a vida quando vivida com amor. O resto é conversa. Que no final também a houve, na companhia de excelente café e respectivo di-gestivo. agora vem a receita:

Ingredientes:250gr de açúcarMiolo de 1/2 pão6 gemas1/2 copo de água

dOce PecAdO

Migas DocesJosé Moutela

canela

Preparação:leve ao lume o açúcar com a água.Quando estiver a ferver bem misture o miolo de pão e deixe ferver até engrossar e ficar uma papa espessa. Retire do lume e deixe arrefecer.Bata as gemas e misture no pão.leve de novo ao lume mexendo sempre até cozer as gemas.Deite numa travessa e polvilhe com canela.

NOTA: Doce excelente para aproveitar restos de pão. Pode enriquecer esta sobremesa juntando noz ou amêndoa ralada.

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66O ALenTejO É MAiOR qUe O ALenTejO

No rescaldo do 14º Congresso Alentejo XXIUma sugestão/desafio para o Alentejo

Sou um sobrevivente do 1º Congresso sobre o alentejo, Évora, outubro de 1985.a proposta da criação de um IaC/D (Instituto alentejano de Cultura / Desenvolvimento para investigar, recolher, catalogar, estudar, divulgar e promover os Valores Culturais do Alentejo, parece ter sido bem aceite e ficou registado tanto nas actas como na síntese final! a ideia foi poste-riormente objecto de várias reuniões e apareceu em várias publicações. Vinte e três anos depois, nada de concreto e visível, mas muita gente a tra-balhar no património.Inscrevi-me para este 14º Congresso. Fui cha-

mado para intervir, no sábado, dia em que tinha avisado não poder estar presente e, no Domingo, já não havia espaço para as inúmeras intervenções! aí ficam:

José Rabaça Gaspar

Em 3 pontos, 3 ideias:

1º - o alEnTEJo é maior que o alEnTEJo.aliás, este simples nome alEnTEJo envolve uma série de equívocos e contradições. o noME alEnTEJo, basta uma simples análise linguística, nem sequer é propriedade de alEnTEJanoS! Nenhum Alentejano, mesmo analfabeto ou as-sim considerado, diria, na solidão do seu alEn-TEJo: Eu (nÓS) estou (estamos) aQuI, alÉM do Tejo!!!além disso e talvez como consequência deste nome imposto com laivos de colonização, os pretensos “colonizadores” delimitaram-lhe um território mais ou menos indefinido, tentando espartilhá-lo em sub-regiões: primeiro em duas, Baixo e alto alentejo, depois, como Baixo alente-jo ou Sul (Beja), alentejo litoral (Sines), alentejo Central (Évora), Norte Alentejano (Portalegre). Apesar de tudo, olhando o mapa de Portugal, a mancha do alentejo impõe um certo respei-to. Cerca de um terço do t e r r i t ó r i o N a c i o n a l .Considerado durante sécu-los o celeiro do País, foi, contu-do, considerada como região d e p r i m i d a , sujeita ao abandono, à exploração e à desertificação. Pouco mais.

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2º - o alEnTEJo MIGRanTE e EMIGRanTE Certamente, por causa ou como consequência disto mesmo, muitos alentejanos, um dia (ver grá-ficos de migração para Grande lisboa e Margem Sul, anos 1930 e 1960) (ver ainda EMIGRaÇÃo para o CanaDÁ e EuRoPa) viram-se obrigados a partir, por constatarem o que o nome alÉM TEJo lhes indica – o alentejo, como o próprio nome diz: não lhes pertencia. apesar deste impulso, as comunidades de forte migração de Alentejanos, observáveis, (ver por ex a zona de Grande lisboa e Margem Sul) matêm os fortes sinais da sua identi-dade na preservação dos seus usos costumes, desde a alimentação, convívio, cultura, que mani-festamente se torna mais visível (ou audível) no CanTE e no número de Grupos Corais actuantes nas zonas de migrantes (Ver gráfico com dados) que, quando actuam, permitem muitas vezes a manifestação de outros Valores Culturais, como os Poetas Populares, a Comida, além dos seus produtos de referência: o Pão, o azeite e as azei-tonas (pisadas, retalhadas ou curadas), o Vinho e os saborosos enchidos!!!. Quando for possível fazer um recenceamento real da presença de alentejanos em empresas, colectividades, associ-ações e até autarquias nestas zonas, poderemos tomar consciência da re/conquista do seu espaço próprio. Conviria também alargar o estudo às simples manifestações e festas familiares em que

um casamento, um baptizado, um funeral se tor-nam ocasião de encontros de grande número de Alentejanos.Além das visitas regulares e permanentes à sua terra natal, estamos possivelmente na HORA, apesar da estabilidade e integração conseguida e adaptação às novas comunidades, de reconhecer que, a maioria dos alentejanos Migrantes e Emi-gantes, uma vez refeitos e recuperados no essen-cial, estão em condições de voltarem os olhos para a sua terra natal de uma forma mais interventiva e tomarem consciência, que a distanciação lhes proporcionou, de que, afinal, a TERRa alEnTEJo é sua, são eles os donos do seu território, que continua a ser cobiçado por muitos, que é seu o Património natural e Construído e são eles, os alEnTEJanoS (apesar do nome) os respon-sáveis pelo seu desenvolvimento sustentável e sustentado. afinal, como os alentejanos que permaneceram no Alentejo e procuraram dar uma vida melhor aos seus filhos e descendentes, também estes abriram os horizontes e a maioria permitiu que os seus filhos tirassem um curso

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superior que, além de servir para governarem a sua vida, pode ser útil à região donde eles ou seus pais e avós são oriundos. (Ver exemplo dos jovens “alentejo2015”-http://www.alentejo2015.com/)

3º - Como utilizar tudo isto para transformar o Alentejo dos Alentejanos, de região deprimida, desprezada e tantas vezes ignorada ou aban-donada, em motor do seu Desenvolvimento do PaÍS? (Ver palavras do ilustrePresidente da CM Beja e do 14º Congresso em diversas inter-venções – ver http://www.otic.uevora.pt/index.php/noticias_e_informacoes/eventos/universi-dade_empresa/141_congresso_alentejo_xxi).

a InVEnTaRIaÇÃo - REColHa – CaTaloGaÇÃo – ESTuDo – DIVulGaÇÃo – PRoMoÇÃo dos ValoRES CulTuRaIS que tornam visíveis os sinais marcantes da sua IDEnTIDaDE.Para que isto aconteça de modo sustentado e sustentável e de um modo verdadeiro e autên-tico, este regresso às origens, tem de ser (ape-sar e por causa da globalização) devidamente alicerçado nas suas raízes. “não esperemos que de fora nos venham trazer o que nos compete e somos capazes de fazer.” Presidente do CCDRa no 13º congresso de Montemor. “São os alentejanos os obreiros do rumo do futuro e do desenvolvi-mento” a. Biscainho, vice Pr da CM Portalegre no 13º congresso.Desafio a todos os Centros de Saber (Ver inter-venção do Reitor da universidade de Évora no 13º Congresso, 2004, Montemor): universidade de Évora, Instituto Politécnico de Beja, Instituto Politécnico de Portalegre, com todas as Escolas de todos os níveis em ligação com os guardiães e criadores de Cultura Popular e Tradicional. Ter em conta ainda as universidades Séniores que estão

a aparecer por todo o lado e os Centros de Saber nas zonas com grande presença de alentejanos Migrantes, como o Instituro Piaget em almada, a universidade aberta prevista para ter a sua sede no Seixal; e as universidades Séniores uSalMa (almada) e unISSEIXal (Seixal), Barreiro…Talvez apoiados no trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo CPAE (Centro do Património da alta Estrmadura -leiria, recomendado como exemplo pelo Professor José Mattoso, ver Ex-presso, 1996.04.13) Criar um IaC/D, animalEn-TEJo, e ou alEnTEJoemredeCulTuRa ou o que os representantes destes Centros do SABER em conjunto com as Instituições e associações do Património locais vierem a decidir. É preciso que este contributo reflita a evolução e as novas descobertas, que supõem a inventari-ação, recolha, estudo e valorização de todos os sinais válidos da sua Identidade marcante: a qualidade da cultura das sua gentes, mesmo dos considerados analfabetos (vide MPatrício, Reitor da uniÉvora, 13º Congr. que fala dos «po-etas analfabetos que não erram um verso»!!!)… verificada e estudada e sancionada no seu valor autêntico em ligação com os Centros do Saber – (univ. Évora, Politécnicos de Portalegre e Beja) (ver mais universidades Séniores emergentes e Fundações… sugestão de Manuel Malheiros, Pres. as. Geral, Casa do alentejo…) (ver ainda, Es-colas desde o Superior ao Básico, associações de Defesa do Património, Entidades, associações e Individualidades empenhadas no estudo e defesa dos valores culturais do Alentejo) que são e seri-am uma fonte permanente de InVEnTaRIaÇÃo, REColHa, ESTuDo e DIVulGaÇÃo dos Valores da Cultura (Tradicional, Popular e Erudita) e sinais de uma marcante e visível Identidade alentejana. Enfim conseguir a desejável interligação entre os

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“guardiães” e “criadores / fazedores” das mais diversas manifestações de Cultura (tradições, alimentação, poesia, contos, lendas, anedotas, cante…) e os especialistas das diversas áreas do saber que entretanto nasceram e se formaram nos Centros do Saber no e fora do Alentejo.

ConCluSÃo - assim, com um IaC/D, animalEn-TEJO ou outro nome, estariam criadas as con-dições para a um alEnTEJoemredeCulTuRa ou outro nome, coordenado e validado pelos considerados responsáveis e capazes, conseguir aquilo que todos desejamos: ao mesmo tempo que estimularia e desenvolveria as capacidades dos criadores, lhes permitiria uma actuação e mostra e promoção regular e gratifcante das suas criações – no alentejo territorial… no alentejo dos alentejanos migrantes… e num intercâmbio saudável com as outras culturas e Povos…a SEDE ou sedes naturais que já são pó-los de aglutinação, empenho e encontro de numerosos alentejanos, sem distinção de sub-regiões, propomos, à falta de outra ideia melhor, a CaSa Do alEnTEJo em lisboa em interligação com a alMa alEnTEJana em almada e Seixal.Com um protocolo com as 47 Câmaras de todo o alentejo e as autarquias das zonas de acolhi-mento, Grande lisboa e Margem Sul tendo como associados tanto Pessoas, Entidades, associações particulares como também as Entidades Públicas que já trabalham e seja preciso estimular e /ou apoiar ou as que se venham a criar onde se mos-

trar necessário, teríamos criado, na PRÁTICa a Região alEnTEJo.Em vez de p e r d e r -mos tempo e energias numa cíni-

ca e desgastante luta pelo referendo ou decisão milagrosa e exterior, MÃoS À oBRa. “nós somos os responsáveis e temos de ser o motor do nosso próprio Desenvolvimento… e, olhando os nosos Valores e Dimensão, seremos, sem dúvida, um importante motor do Desnvolvimento deste País que não sai de uma permanente crise!!!” Quan-do os “os Grandes Senhores” decidirem, enfim, nós já teremos a nossa Região empenhada num Desenvolvimento sustentado.Temos já em carteira o esboço dos documentos, como Fichas de Inscrição, rascunho de Protoco-los a estabelecer com Entidades e associações, e um esboço de um Regulamento Interno ou pro-jecto de Estatutos para serem estudados, discuti-dos até uma forma definitiva por uma Comissão Instaladora a definir, para serem enviados ao maior número possível de possíveis aderentes. Documentos em estudo: http://www.joraga.net/ealentejo/

Já agora, se me é permitida mais uma sugestão atrevida, propunha que este projecto pudesse ser uma tarefa do Secretariado do Congresso – entre – Congressos, sem que seja redutora, mas devido à delicadeza e ao número de contactos a fazer, à definição do faseamento da calen-darização e à logística e conhecimentos sobre o Alentejo que esta tarefa implica, para que possa vir a ter o êxito e a eficácia desejada com resulta-dos gratificantes.

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70nOTíciAS dO ALenTejO

V Festival Islâmico em “Martulah”.

Em Maio, realizou-se em Mértola, antiga capital do reino Islâmico, nos séculos XI e XII, o V Festival Is-lâmico. Composto por um mercado-feira “souk” que se estende ao longo das ruas de Mértola com a venda de produ-tos marcantes do artesanato árabe, roupas e ervas, em especial chás. as ruas transformam-se em verdadeiros bazares, onde a música de raíz árabe misturada com o cante alentejano e os sons da andaluzia, a par dos cheiros e sabores da gastronomia, os trajes de seda com cores brilhantes, carregados de lantejoulas e de sensualidade, trazendo à memória de todos as vivências de um passado rico de história e de tradição, e no qual está pre-sente, também muita da nossa história e raízes culturais.o Município de Mértola está de parabéns por este magnífico evento que propicia a toda a população e aos muitos milhares de visitantes que, ao que ouvimos, já têm programada a próxi-ma ida a Mértola - no VI Festival.

Diário do Alentejo não vai ser privatizado

o presidente da associação de municípios, propri-etária do jornal «Diário do alentejo» mostrou-se satisfeito com o veto do Presidente da República à lei do «pluralismo» e da não concentração dos meios de comunicação social. «Estamos plena-mente satisfeitos, porque isto não é o “quero posso e mando”, que é aquilo que este governo acha» , afirmou à agencia lusa o presidente do conselho directivo da associação de Municípios do Baixo alentejo e alentejo litoral (ambaal), João Rocha. Cavaco Silva vetou no dia 20 pela segunda vez, a lei do «pluralismo» e da não con-centração dos meios de comunicação social, de-pois de ter devolvido o diploma pela primeira vez ao Parlamento a 2 de Março.Em nota divulgada no site da Presidência da República, o Chefe de Estado justifica a nova devolução do diploma à assembleia da República por considerar que as al-terações introduzidas pelo Parlamento mantêm, «no essencial, inalteradas quer a substância do anterior diploma, quer as condições políticas de aprovação do mesmo».A entrada em vigor da lei implicaria que o Governo Regional da Madeira privatizasse o «Jornal da Madeira» e a ambaal o «Diário do alentejo». afirmando-se desfavorável à lei do Governo, João Rocha advertiu tratar-se de um diploma «claramente dirigido a dois órgãos de comunicação». «Já no primeiro veto achámos bem que o [Presidente da República] o tivesse feito, porque é uma lei que era dirigida ao “Diário do alentejo” e ao “Jornal da Madeira”, disse. «no fundo, era o Governo a querer silen-ciar aquilo que não está com o Governo», acusou considerando que a lei «não tem pés nem cabeça e nem é democrática».

In Alentejo Popular de 28/05/09

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Chainho homenageado Santiago do Cacém dá nome do artista a auditório

«Temos finalmente um novo equipamento para servir a popu-lação do Município, as crianças, os jovens, a boa idade, toda a população, um equi-pamento ao serviço da cultura». Foram pala-vras do Presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, Vitor Proença, no Sábado passado, na inauguração do auditório Municipal António Chainho. O equipamento custou mais de um milhão de euros e tem capacidade para 242 pessoas. Para além da sala de espectáculos, o edifício conta ainda na recepção com uma zona para bar/cafetaria e outra dedicada a informações e bilheteira. Vitor Proença, acompanhado pelo Presidente da assembleia Municipal, Sérgio Ben-to, por vereadores da Câmara e Presidentes de Juntas de Freguesia, homenageou o guitarrista, natural de S.Francisco da Serra, uma das fregue-sias de Santiago do Cacém. Reconhecido, antónio Chainho, acompanhado pela família, considerou que o seu nome no auditório municipal repre-senta “o topo de tudo o que fiz até hoje”. o gui-tarrista manifestou no desejo de o equipamento contribuir a divulgação da música e de outras manifestações de cultura junto dos mais jovens.um dos momentos altos da noite foi o concerto de inauguração do auditório municipal. António Chainho, acompanhado à viola por Fernando alvim e pelas cantoras Teresa Salgueiro e Isabel de noronha, protagonizou um espectáculo que ficará na memória da todos os presentes.

In Alentejo Popular de 28/05/09

Alentejo Solidário

as Câmaras Municipais de Beja e de Vidigueira ajudaram o campo de refugiados de Dakhla, com um donativo de dois mil euros. o objectivo é a construção de uma escola.As câmaras municipais de Beja e de Vidigueira entregaram um cheque de dois mil euros ao campo de refugiados de Dakhla, situado no Sul da argélia, com o intuito de ser construída uma es-cola, para crianças saharauís.o presidente da Câmara Municipal de Beja, Francisco Santos, classificou os saharauís como um “povo que luta pela sua independência”. E afirmou:”a decisão de entregar o donativo foi unânime”.Salem lebhrir, governador do campo de refugia-dos de Dakhla, agradeceu o gesto das autarquias, e considerou que “a presença das pessoas é mais importante que o apoio material, sobretudo no que diz respeito à ajuda política e moral”.o responsável saharauí contou que o seu povo “vive há 34 anos em campos de refugiados” e acusou Espanha, antigo colonizador, “ de ter abandonado os seus compromissos, em relação a um referendo sobre a independência, tendo entregado o país a Marrocos e á Mauritânia”. na verdade, passados três anos a Mauritânia retirou-se do território e reconheceu a soberania do Sahara ocidental. no entanto Marrocos inten-sificou a sua presença e construiu um muro com quase dois mil kilómetros, com minas antipessoais. Em cada 10 kilómetros existem postos de controle marroquinos.

In Alentejo Popular de 28/05/09

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CEBAL convida investigador de Universidade dos EUA.Interacção entre comunidade científica e população

Angus Kingon, profes-sor universitário ameri-cano, esteve em Beja na passada segunda-feira, para participar na ini-ciativa ”um dia com…”, organizado pelo Centro de Biotecnologia agrí-cola e agro-alimentar do Baixo alentejo (Cebal).“Este evento pretende trazer à região especialistas em áreas distintas”, disse Sónia Gonçalves, investigadora do Cebal. aqui os oradores são convidados a partilhar as suas experiências profissionais com a plateia e o objectivo é realizar estas acções de dois em dois meses.a pretensão, segundo a investigadora “é fomen-tar a interacção entre a comunidade científica e a população, mas, por outro lado, permitir que os alunos do IPB troquem ideias com especialistas de determinadas áreas”. Sónia Gonçalves men-cionou igualmente “investigadores e associações empresariais” como público-alvo desta iniciativa.Angus Kingon, o protagonista da segunda edição que se intitulou “Transferência de Tecno-logia – Criação de Empresas Inovadoras de Base Tecnológica”, é professor de Engenharia de Ma-teriais de Empreendedorismo nas universidades de north Carolina State e Brown. Sónia Gonçalves destacou “a importância da presença deste espe-cialista” e salientou “os concelhos que foram da-dos, durante a sua intervenção, nomeadamente no que diz respeito às decisões que as instituições devem de tomar sobre o tipo de investigação que realizam para criar valor”.

In Alentejo Popular de 28/05/09

Hotel de 5 estrelas avança em Vila Viçosa

um hotel de cinco estrelas vai ser construído em Vila Viçosa, distrito de Évora, num investi-mento de 6,7 milhões de euros, revelou uma responsável da empresa promotora.Mariana alves, sócia-gerente da empresa Jardimagestic, de capitais privados, que vai in-vestir na construção da unidade hoteleira cujo nome não está ainda definido, adiantou que o ho-tel será construído no edifício do antigo lagar da Cooperativa de olivicultores da localidade.Segundo a empresária, o novo hotel vai ter 47 quartos e duas suites e a obra deve iniciar-se em Setembro ou outubro deste ano, prevendo-se a sua conclusão em 2011.De acordo com Mariana alves, a empresa Jardimagestic, de Vila Viçosa, adquiriu o edifício do antigo lagar, frente ao largo da feira, que vai ser recuperado e adaptado a unidade hoteleira. a empresária indicou que o investimento no ho-tel deve atingir os 6,7 milhões de euros, prevendo a empresa vir a beneficiar de fundos da união Eu-ropeia para apoio ao turismo, através do Quadro de Referência Estratégico nacional (QREn).O novo hotel vai nascer numa altura em que o município de Vila Viçosa está a desenvolver um processo de candidatura da localidade alentejana a Património Mundial, galardão atribuído pela

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unESCo (organização das nações unidas para a Educação, Ciência e Cultura).Vila Viçosa, conhecida por “Vila Museu”, possui um importante património histórico, monumen-tal e cultural.o Palácio Ducal, castelo, pelourinho, igreja de Nossa Senhora da Conceição (Padroeira de Portu-gal) e os antigos conventos dos agostinhos e das Chagas são alguns dos monumentos da vila.Vila Viçosa dispõe ainda de diversos museus, tais como de armaria, arte sacra, arqueologia, caça e de carruagens, além do Arquivo Histórico da Casa de Bragança.A vila alentejana é também conhecida pelos seus mármores, integrando o triângulo dos mármores alentejanos, juntamente com Estremoz e Borba.

In Diário do Sul online de 14/07/09

Alentejo “mais verde”

Cinco unidades de alojamento do Alentejo con-tam-se entre os empreendimentos turísticos na-cionais que foram galardoados com o Diploma Chave Verde, selo de qualidade de dimensão in-ternacional que pretende reconhecer boas práti-cas empresariais no domínio da racionalização dos consumos de água e de energia.o alentejo foi a segunda região turística do con-tinente a receber mais Chaves, logo a seguir ao Centro. Os empreendimentos seleccionados fo-

ram as unidades hoteleiras “o Poejo” e “El Rei D. Manuel”, ambas localizadas no concelho de Mar-vão, o turismo rural “Quinta da Dourada”, de Por-talegre, o agro-turismo “Quinta da Bela Vista”, de Castelo de Vide e o “Hotel Vila Park”, situado em Santo andré, concelho de Santiago do Cacém.As unidades foram premiadas pelo seu desem-penho e melhoria contínua de Boas Práticas de Gestão e Educação ambientais, incluindo a sua promoção junto dos respectivos clientes.O Turismo do Alentejo, ERT integrou a comissão de auditoria que a nível regional visitou os em-preendimentos premiados. o objectivo dos responsáveis da entidade regional de turismo do alentejo passa por aumentar nos próximos anos o número de unidades distinguidas com aquele diploma internacional, indo ao encontro de uma das prioridades do seu plano de acção quadrie-nal, que aponta para o desenvolvimento e pro-moção de um destino turístico ambientalmente responsável.

In Diário do Sul de 14/07/09

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Energias renováveis

A central solar fotovoltaica de Amareleja começou a produzir energia em Março de 2008, tendo começado a produzir em pleno a partir de Dezembro do mesmo ano.

Esta é a maior central solar fotovoltaica do mun-do, com 46 Mwp de potência, a produzir 93 milhões de Kw, o equivalente ao consumo de 30 mil habitações. o investimento foi de 261 milhões de euros. anualmente será evitada a emissão de 89,383 toneladas de Co2.a central ocupa uma superfície de 250 hectares, sendo composta por 2.520 seguidores de 140 m2 cada, os quais contém cada um 104 painéis de silício policristalino. no total são 262.080

deSenVOLViMenTO

painéis. obviamente está a cumprir todas as nos-sas expectativas, não só pelo facto de estar con-cluída e em funcionamento, mas também pelas perspectivas de desenvolvimento de outras acções em torno da energia solar.

na sua construção, a central criou cerca de 250 postos de trabalho e, facto extremamente posi-tivo, com recurso a mão de obra local, quase na sua totalidade, com excepção de três ou qua-tro casos. Para a sua manutenção, foram criados cerca de 20 postos de trabalho. a juntar a estes há cerca de 100 postos de trabalho criados pela fábrica de assemblagem de painéis solares, em Moura, o que faz com que, parte do objectivo da

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Câmara de Moura esteja cumprido.

a central solar fotovoltaica e a fábrica de painéis solares sempre foram assumidos pela Câmara Municipal de Moura como o ponto de partida para outras iniciativas. Foi pensada, desde logo, na criação de um Parque Tecnológico/Zona In-dustrial que teria, entre outras valências, um laboratório de investigação na área do

fotovoltaico, o qual está já a funcionar, com dois investigadores a trabalhar.

a lógica, EM, empresa criada pela Câmara Municipal de Moura para gerir o fundo de três milhões de euros resultantes da venda da am-per à acciona, está a dinamizar estes processos. Estão também em desenvolvimento dois novos projectos, desta vez na área do termo-solar. Por outro lado, têm sido estabelecidas parcerias, a nível nacional, com a Rede ECoS, em que par-ticipam municípios de várias regiões do país, e o Projecto SunFlower, do qual a Câmara de Moura é coordenadora e que envolve mais sete países da Europa.São acções passíveis de atrair investimentos para o concelho, gerando a criação de emprego, factor que foi sempre um dos motivos que levou à concepção e execução do projecto das energias renováveis.

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De 2 de Dezembro a 9 de Janeiro, 30 actuações das Cantadeiras da alma alentejana, na iniciativa “Do natal aos Reis”, em lares, Centros de Dia, Juntas de Freguesia do laranjeiro e Cova da Pie-dade e no Solar dos Zagalos, Escola Básica nº. 1 do laranjeiro, e Igrejas de almada e da Cova da Piedade, no concelho de Almada.

16 de Janeiro de 2009, integrado no Grupo de Idosos actuação do Grupo de Teatro da alma alentejana no auditório lopes Graça do Fórum Municipal Romeu Correia em almada

De 2 a 8 de Fevereiro de 2009, participação no II EnConTRo InTERCulTuRal DE SaBoRES E SaBERES, no Pavilhão Municipal do alto do Moinho, a convite do Centro Cultural e Recrea-tivo do alto do Moinho onde tivemos em ex-posição e venda produtos regionais do Alentejo e actuação do Grupo de Cantadeiras e do Grupo de Cavaquinhos da Alma Alentejana.

27 e 28 de Fevereiro e 1 de Março, Fim de Semana alentejano, nas instalações da Junta de Freguesia da Charneca de Caparica, com exposição e venda de produtos regionais alentejanos e animação cultural diária.

8 de Março de 2009 nas comemorações do “Dia Internacional da Mulher” actuação das Cantadei-ras da alma alentejana no Museu da Cidade de Almada.

14 de Março de 2009, ainda integrado nas Comemorações do Dia Internacional da Mulher, actuação do Grupo de Cavaquinhos da alma alentejana, também no Museu da cidade de al-mada.

21 de Março de 2009 actuação na 10ª. Semana Cultural alentejana do Grupo de Cantadeiras da alma alentejana, a convite do Clube Recreativo do Feijó.

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29 de abril de 2009 actuação do Grupo de Can-tadeiras da Alma Alentejana na Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos do Concelho de Almada.

28 de Maio de 2009 participação da alma alente-jana no VII Concurso de Doçaria na a.R.P.I.l.F., no Feijó, Almada

19 de Junho de 2009 , a convite da Associação do Grupo Coral da Granja, actuação do Grupo de Cantadeiras da alma alentejana no 4º.Encontro de Grupos Corais naquela localidade, concelho de Moura.

24 de Junho de 2009, Nas vésperas do dia de S. João, a Alma Alentejana, reuniu os utentes dos Centros de Dia do Pragal, Cova da Piedade e laranjeiro, nas instalações do laranjeiro, onde organizámos uma tarde de convívio, num espaço decorado a preceito pelos colaboradores, tendo actuado o nosso Grupo de Cavaquinhos. Foi uma tarde de alegria, com muita música, muita dança e grande participação de todos, terminando com um lanche.

27 de Junho de 2009, a convite da Associação dos amigos da Cidade de almada, participação “Burricadas - Festas da cidade de almada, com actuações do Grupo de Cavaquinhos da alma alentejana e anúncio dos “Pregões” através das utentes do Centro de Convívio da Cova da Pie-

dade, da Alma Alentejana.

4 de Julho de 2009, festa amarela, no laranjeiro, Almada. A Alma Alentejana esteve mais uma vez presente com uma mostra-venda de produtos alentejanos, desde o artesanato aos queijos e aos enchidos, passando pelos vinhos e azeites, for-necendo também 130 almoços e 130 jantares aos participantes. na vertente cultural, as Cantadei-ras da Alma Alentejana actuaram e encantaram toda a assistência com as modas e cantares do nosso alentejo. actuou também o nosso Grupo de Sevilhanas.a Festa amarela é um evento desportivo e cul-tural, em que os clubes e associações, partici-pam mostrando à população o resultado do seu trabalho em prol da juventude, do desporto, da cultura e com uma componente muito forte no aspecto intercultural, já que na margem sul do Tejo há uma forte implantação de imigrantes, no-meadamente, dos países lusófonos.

8 de Julho de 2009 colóquio sobre Antropologia com a participação do Dr. luis Maçarico e da Dra. ana Machado, a convite da Junta de Freguesia do laranjeiro, e nas suas instalações, também com actuação do Grupo de Cantadeiras da alma alen-tejana.

9 de Julho de 2009 ainda a convite da Junta de Freguesia do laranjeiro e integrado numa Tertúlia”os Poetas e os Trovadores são Eternos”, actuação das Cantadeiras da Alma Alentejana

10 de Junho de 2009 ainda integrada na 10ª. Se-mana Cultural do laranjeiro, actuação do Grupo das Cantadeiras da Alma Alentejana, num encon-tro de “Grupos da nossa Terra”, também a con-vite da Junta de Freguesia do laranjeiro.

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24 de Julho a 2 de agosto de 2009 11ª. Feira da Alma Alentejana no pavilhão da Escola Se-cundária Cacilhas-Tejo, em almada onde teremos em exposição e venda os tradicionais produtos alentejanos com animação cultural diária, com a tradicional cozinha alentejana e actuação de 24 agentes culturais, a maior parte vindos do nosso Alentejo, durante estes dias, e uma tradicional noite de “Poesia e Fados” com artistas alente-janos.

De 25 de Setembro a 30 de outubro de 2009 estará presente no Museu Municipal de avis a nossa “Exposição Fotográfica – alentejo com alma – Terras com História”, composta por 47 painéis de 1,2x0,90m, um de cada concelho do alentejo, com fotografias históricas e monografia

de cada concelho, as 47 bandeiras de todos os concelhos e os respectivos suportes.

25 de outubro de 2009 encerramento dos IX Jogos Florais da alma alentejana, no auditório lopes Graça, do Fórum Municipal Romeu Cor-reia, em Almada, tendo este ano como Patrono o nosso mui digno Presidente da Assembleia Municipal de almada, José Manuel Maia nunes de Almeida.

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80www.cm-seixal.pt

BAÍA DO SEIXALValorizar – Investir – Criar EmpregoDesenvolvimento Económico e Social

FRENTE RIBEIRINHA

SEIXAL – ARRENTELA 10 milhõesde euros

em projectosaté 2011

FRENTERIBEIRINHA

AMORA 10 milhões

de euros em projectosaté 2012 PROJECTO

ARCO RIBEIRINHO SUL – PLANO

DE PORMENORDA EX-SIDERURGIA

NACIONALInvestimento público

de cerca de 150 milhões de

euros

PLANODE PORMENOR

TORRE DA MARINHA/ /FOGUETEIROInvestimento

no espaço públicode 10 milhões

de euros

Projecto co-financiado pelo FEDER