análise semiótica da linguagem visual da música-aplicativo...

15
13º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, Univille, Joinville (SC) 05 a 08 de novembro de 2018 Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo Moon” do Álbum-aplicativo Didático “Biophilia” da Cantora Björk Semiotic Analysis of the Visual Language of the Song App “Moon” from the Singer Björk’s Didactic App Album “Biophilia” SALVARIO, Willian Batista; Estudante de Graduação; Universidade Positivo [email protected] VILELA, Thyenne Veiga; Mestre em Comunicação; Universidade Positivo [email protected] Resumo Esta pesquisa apresenta uma análise semiótica da linguagem visual da música-aplicativo Moon, do álbum-aplicativo didático Biophilia (2011), por meio do processo de tradução de linguagens. A fim de investigar relações construtivas entre três elementos: música, disciplinas propostas e composição visual – obteve-se o suporte teórico da Semiótica norte-americana (Peirce) e das Traduções Intersemióticas (Plaza). O aplicativo, concebido pela cantora islandesa Björk, baseia-se em seu álbum musical homônimo – com um aspecto multidisciplinar e multimídiático – tendo como premissa o ensino de temáticas do campo da Musicologia, Ciências Naturais e Humanidades. A análise ocorreu com a música-aplicativo Moon, devido a uma pré-análise com as dez músicas- aplicativo. Para o estudo de tradução de linguagens, foi desenvolvido um sistema de Operação Tradutória dos componentes adotados – orientados pela relação de “Signo em Referência”; “Signo em Substituição”; e “Signo em Definição” – apresentando a tradução dos signos propostos sob metáforas visuais e simbólicas. Palavras Chave: Design; Semiótica; Tradução de Linguagens. Abstract This research presents a Semiotic Analysis of the song app Moon’s visual language, from the didactic app album “Biophilia” (2011), endeavoring to understand constructive relationships between music, suggested subjects and visual composition – related to the translation of languages – with the assistance of theoretical framework from Semiotics (Peirce) and Intersemiotic Translations (Plaza). The app album, created by the icelandic singer Björk (based on her homonymous album), discloses multidisciplinary and multimedia aspects, with proposals of teaching Musicology, Natural Sciences and Humanities. The song app analyzed was Moon, due to a previous analysis of each 10 song apps. For the study of the Translation of Languages, we developed an analytic ordering system about the Translation Procedure of the components and languages implemented, guided by the relation of “Signs in Reference”; “Signs in Substitution”; and “Signs in Definition” – examining the translation of signs proposed in the construction of its visual and symbolical metaphors. Keywords: Design; Semiotics; Translation of Languages.

Upload: others

Post on 28-Jul-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo“Moon” do Álbum-aplicativo Didático “Biophilia” da CantoraBjörkSemioticAnalysisof theVisual Languageof theSongApp“Moon” fromtheSingerBjörk’sDidacticAppAlbum“Biophilia”

SALVARIO,WillianBatista;EstudantedeGraduação;UniversidadePositivo

[email protected]

VILELA,ThyenneVeiga;MestreemComunicação;UniversidadePositivo

[email protected]

Resumo Estapesquisaapresentaumaanálisesemióticadalinguagemvisualdamúsica-aplicativoMoon,doálbum-aplicativodidáticoBiophilia(2011),pormeiodoprocessodetraduçãodelinguagens.Afimde investigar relações construtivas entre três elementos: música, disciplinas propostas ecomposição visual – obteve-se o suporte teórico da Semiótica norte-americana (Peirce) e dasTraduçõesIntersemióticas(Plaza).Oaplicativo,concebidopelacantoraislandesaBjörk,baseia-seem seu álbummusical homônimo – com um aspectomultidisciplinar emultimídiático – tendocomopremissaoensinodetemáticasdocampodaMusicologia,CiênciasNaturaiseHumanidades.Aanáliseocorreucomamúsica-aplicativoMoon,devidoaumapré-análisecomasdezmúsicas-aplicativo. Para o estudo de tradução de linguagens, foi desenvolvido um sistemadeOperaçãoTradutóriadoscomponentesadotados–orientadospelarelaçãode“SignoemReferência”;“Signoem Substituição”; e “Signo emDefinição” – apresentando a tradução dos signos propostos sobmetáforasvisuaisesimbólicas.

PalavrasChave:Design;Semiótica;TraduçãodeLinguagens.

AbstractThis research presents a Semiotic Analysis of the song app Moon’s visual language, from thedidactic app album “Biophilia” (2011), endeavoring to understand constructive relationshipsbetween music, suggested subjects and visual composition – related to the translation oflanguages–withtheassistanceoftheoreticalframeworkfromSemiotics(Peirce)andIntersemioticTranslations (Plaza). The app album, created by the icelandic singer Björk (based on herhomonymous album), discloses multidisciplinary and multimedia aspects, with proposals ofteachingMusicology,NaturalSciencesandHumanities.ThesongappanalyzedwasMoon,duetoaprevious analysis of each 10 song apps. For the study of the Translation of Languages, wedeveloped an analytic ordering systemabout the Translation Procedure of the components andlanguagesimplemented,guidedbytherelationof“SignsinReference”;“SignsinSubstitution”;and“SignsinDefinition”–examiningthetranslationofsignsproposedintheconstructionofitsvisualandsymbolicalmetaphors.

Keywords:Design;Semiotics;TranslationofLanguages.

Page 2: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

1 IntroduçãoAtraduçãodelinguagenssebaseianoaspectode“transmutação”daforma(Jakobson),ao

consistirnainterpretaçãodesignosdeumsistemasígnicodecomunicaçãoaoutromeio,sistemaou contexto em tradução. A “transcriação” pode partir, por exemplo, dos signos verbais aoscampos sonoros oumusicais, assim como à dança, cinemaou pintura (JAKOBSON apud PLAZA,2001).Adigitalizaçãoconcedeaosindivíduosatrocasimultâneadeinformaçõesmedianteauniãodemeios tradicionais de suporte – ao ressaltar a inter-relação entre o campo sonoro, visual everbal, tornando-se “linguagens híbridas”, sendo definidos como as três grandes “matrizes dalinguagemepensamento”(SANTAELLA,2001).

Devido à natureza de transmutação, esta pesquisa visa reconhecer oportunidades deanálisedalinguagemvisualpormeiodoprocessodetraduçãodelinguagens–emrelacionamentocom o cenário musical e a materialidade visual – do álbummusical-interativo Biophilia (2011)(tambémdenominado comoumálbum-aplicativo) da cantora Björk, baseado no álbummusicalhomônimo. O Biophilia apresenta objetivos didáticos, para o ensino multidisciplinar de temascomoMusicologia,CiênciasNaturaiseHumanidades.Noentanto,paraestudosemComunicaçãoe Design, as análises desta pesquisa foram estabelecidas acerca da transcrição de mídias,respondendo aos temas propostos, porém, sem o intuito de reconhecer a pragmática didáticadessas temáticas. O álbum-aplicativo estabelece aspectos de linguagem pertinentes àcompreensão da produção criativa, voltados ao campoda ComunicaçãoVisual. São ao todo 10canções existentes no álbum Biophilia, contudo, o estudo foi dirigido para a música-aplicativo“Moon”. Neste artigo, ao ter em consideração o auxílio do suporte teórico da Semiótica e daPercepção Visual, explora-se o potencial de qualidade analítica e o rendimento acerca daarticulação,complexidadeedensidadedosconteúdosabordadosnestamúsica-aplicativo.

Para responder à análise, este trabalho compreende a contextualização de Björk e oBiophilia, com seu objetivo de extensão didática e de educação tecnológica do projeto;desenvolve-setambémumafundamentaçãoaoreferencialteóricoarespeitodaSemióticanorte-americana e da Tradução Intersemiótica – esta como metodologia de análise e, por fim, acomposição e definição do corpus da pesquisa. Como resultado, as diretrizes desenvolvidasconsideramaarticulaçãoentreastemáticasasquaisfundamentamaconstruçãodamaterialidadevisualdoálbum-aplicativo–comoletramusical;teoriamusical;disciplinaetemáticasdeciênciasnaturais–emumprocessodetraduçãodelinguagens.

2 BjörkeBiophiliaemcontexto:osétimoálbummusicaldacantoraBjörkAartistaislandesaBjörkGuðmundsdóttir,conhecidaporBjörk,possuinotoriedadeemser

consideradaumacantoradeestiloeclético,deletrascomconteúdolíricoexcêntrico,alémdeserengajada às multifaces da música experimental – aplicadas ao contexto do cenário pop e detecnologiasmusicaiseaudiovisuais(MILLER,2008).

BjörkconcebeuseusétimoeambiciosoálbumconceitualBiophilia(2011),comoobjetivodeexplorarmúsica, natureza, humanidades e ciência em sua composição.O álbumpossui umaespécie demarca baseada em um símbolo de compassomusical, o qual é utilizado em todo omaterial gráfico, servindo também como um botão de navegação no “álbum-aplicativo”homônimo (FIG. 1). De modo musical, o Biophilia é estruturado por temáticas – Musicologia,Ciências Naturais e Humanidades – enfatizadas e compostas em cada uma das 10 canções doálbumpormeiodesualetramusical,doinstrumentaletambémdeseustítulos–comoformade

Page 3: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

descrição geral acerca das conexões conceituais entre os temas abordados (BIOPHILIAEDUCATIONAL,[2017];BJORK.FR,[2011],traduçãodoautor).

FIGURA1–Capade“Biophilia”(2011)esuarespectivamarca.

FONTE:https://www.amazon.com/Biophilia-Bjork/dp/B005ELQVGW;http://logos.wikia.com/wiki/Björk.Acessoem8abr.2017.

Oprojetomereceatençãopeloseucaráterdemultimídia,umavezquequeéconsideradoo “primeiro álbum-aplicativo em colaboração com aApple” (SMITH, 2011, tradução do autor).Portanto, é um projeto em que abrange com amplitude diversos temas e atividades emmeiodigital e multimidiático. O álbum Biophilia, segundo o editorial da revista DAZED&CONFUSED(2011),

[...] engloba sua música, instalações e concertos ao vivo celebrando o uso datecnologia moderna por meio da utilização da internet. O projeto visa explorar ideiassobrecomoosomfunciona,ainfinitavastidãodouniverso;desdeossistemasplanetáriosàsestruturasatômicas.(DAZED&CONFUSED,2011,traduçãodoautor).1

2.1 BiophiliaemExtensãocomoUmProjetoDidático

Oálbum-aplicativoBiophilia fazpartedoprojetodenominadocomoBiophiliaEducationalProject. De acordo com o Biophilia Educational ([2017], tradução do autor), é um projetoconstruídocomoauxíliodaparticipaçãodeestudiosos,cientistaseartistasabrangendotodososníveis acadêmicos – contando também com omanual de diretrizes intitulado Learnteach, paraapresentar o projeto do álbum-aplicativo acerca de seus aspectos educacionais e disciplinaspresentesnasmúsicas-interativas.ApartirdeseulemaListen,learnandcreate!(“Escute,aprendaecrie!”emportuguês),oprojetotemcomosuabaseacriatividadecomoferramentadepesquisaao gerar inovação por meio da união entre música, tecnologia e ciências naturais – visandoinspirarcriançasdeidadesentre10a12anos,tambémincluiralunosdeaté15anos.

O álbum-aplicativo tem sua disponibilização para as plataformas iOS e também paraAndroid,contandotambémcomacoordenaçãodoartistadeinterfaces interativasScottSnibbe.Portanto,asmúsicasquecompõemoaplicativosãoMoon;Thunderbolt;Crystalline;Cosmogony1[...]endeavourencompasseshermusic,installationsandliveshows,andcelebratingtheuseofmoderntechnologybyutilisingtheinternet.Theprojectaimstoexploreideaslikehowsoundworks,theinfiniteexpanseoftheuniverse,fromplanetarysystemstoatomicstructure”(DAZED&CONFUSED,2011).

Page 4: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

(comexceçãoaestacanção,umavezquetemocaráterdesero“aplicativo-mãe”emqueenglobatodos os demais); Dark Matter; Hollow; Virus; Sacrifice; Mutual Core e Solstice (sendo aquielencadascombasenaordemdodiscoenãoconformeoaplicativo)–cadaumapossuindoumaplicativo-interativooqualcontemplaaspropostaserelaçõesdetemáticasespecíficasparasuaconstrução(BJORK.FR,[2011];SNIBBE,2011,traduçãodoautor).

3 ATeoriaSemióticaeaTraduçãoIntersemióticaAo abordar sobre signos, Plaza (2001) descreve que para Peirce (semiótica norte-

americana), ospensamentos têm sua conduçãopormeiode três classesde signos–o ícone, oíndice e o símbolo – sendo que possuem como sua finalidade melhorar ou complementar aspalavras em relação à sua incompletude em significado. O próprio pensamento já é“intersemiótico”, uma vez que os diferentes tipos de signos servem “[...] para trazer à menteobjetosdeespéciesdiferentesdaquelesreveladosporumaoutraespéciedesignos“(PEIRCE,[19--]apudPLAZA,p.21).

Por meio dos estudos de Peirce, reconhece-se que as linguagens, assim como opensamento, possuem três aspectos importantes: “a) as suas qualidadesmateriais que dão aopensamentosuaqualidade;b)aaplicaçãodenotativaouconexãorealquepõeumpensamento-signo em relação a outro; c) a função representativa” (PEIRCE, [19--] apud PLAZA, 2001, p.21).SegundoPlaza(2001),Peircecriaadistinçãoentreasqualidadesmateriaisdosigno,seuobjetoeseu significado, estabelecendoque a operaçãode todos os processos sígnicos são pormeio de“relações triádicas” entre as três classes de signos que compõem os elementos de “semiose”,sendoentãodenominadosastrêsclassesdesignoscomo“ícone”,“índice”e“símbolo”.Ossignospossuem diferentes naturezas, diferindo-se entre suas qualidades, materialidades, sua relaçãocomo seuobjetoe tambémcomseus interpretantes.Ao se referirao signoemrelaçãoao seuobjeto, Plaza (2001) acentua o interesse maior nos ícones, índices e símbolos para o seupensamento sobre a Tradução Intersemiótica – como metodologia de análise para traduçõessígnicas.

AIntersemióticaé,segundoJakobson(apudPLAZA,2001,n.p.),uma“transmutação”–nosentidodetradução–consistindonainterpretaçãodossignosdeumsistemasígnicoaoutro,porexemplo,dossignosverbaisparaoscampossonoros,musicais,assimcomotambémparaasartesdadança,cinemaoupintura.Osignotememsiopoderdetransiçãoentreopensamentointerioreoexterior;possibilitandotransporoqueseestánamenteàoutraexpressãosígnica.AocolocarosignoemfocoaorelacionamentocomasMatrizesdaLinguagem,definidosporSantaella(2001)como a “sonora”, a “visual” e a “verbal” – é possível perceber que “a lógica visual pode semanifestaremsignosverbaisousonoros,tantoquantoasonoridadepodeadquirirformasqueaaproximam dos signos plásticos ou da discursividade própria do verbal” (SANTAELLA, 2001, p.371).

Destemodo,aTraduçãoIntersemióticatrabalhapormeiodoconceitodastrêsclassesdesignosdePeirce–icônico,indicialesimbólico–sendoprecisoestabelecerummapadeorientaçãoarespeitodasnuancesdosprocessosdetradução.Comisto,Plaza(2001)instauratrêstipologiascomoreferência,salientandoseuobjetivodeinstrumentalizaroprocessodetraduções,jáqueasdiferentes classespodematuardemodo simultâneoemumamesma tradução.Comopremissateóricaparaaanálise,compreende-seaquiumasíntesearespeitodaTraduçãoIntersemiótica–aqualtrabalhacomtrêstipologiasdetradução,segundoPlaza(2001):

Page 5: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

Tradução Icônica: atua por meio da similaridade de estrutura, criando analogias. Temaptidãoparacriarsignificadoscomformadequalidadeeaparências.Tendoapossibilidadedeser“isomórfica”(aoadmitirquediferentessubstânciassecristalizememummesmosistema,tendocorrespondência ou semelhança entre estruturas) ou “paramórficas” (ao semostrar sob formasimilar ou equivalente ao primeiro, podendo possuir estrutura diferente e equivalente, isto é,admitindograndevariedadedeformasemorganismosdiferentes).

Tradução Indicial: pauta-se pela relação de contato entre o original e a tradução. Hácontinuidadeentreambasvistoquepossuemestruturas transitivas, istoé,o “Objeto Imediato”(objeto tal comoéa sua representação)éapropriadoedeslocadoparaoutromeio.Aceitam-seaquiduas tipologias, sendoa“topológica-homeomórfica” (aose trabalharcomanoção totaldeumaestruturacomocorrespondênciasimultâneaemoutroâmbito,ouseja,osdoisconjuntossãoequivalentes)ea“topológica-metonímica”(aosetrabalharcomanoçãoparcialdeumaestrutura,como forma de instituir a continuidade entre o original e tradução, pelo deslocamento parcialparaumnovocontextosígnico).

Tradução simbólica: baseia-se na tradução mediante a continuidade instituída, sendoassim realizada por metáforas, símbolos ou outros signos de caráter convencional (isto é,aprendidos por hábito). A tradução simbólica prioriza os significados (sendo mais lógicos,abstratos e intelectuais) do que sensíveis. Atua com a tomada dominante de um aspectosimbólico,desviando-sedosaspectosdeessênciaoriginaldo“ObjetoImediato”.

A fim de evidenciar a construção poética da linguagem da música-aplicativoMoon, oestudo das Traduções Intersemiótica favorece a consciência de que o signo tem a função derepresentaroseuobjeto,colocando-seemseulugar,tendocaracterísticasequalidadesmateriaispróprias.Relacionando-setantocomseuobjetoquantocomseusinterpretantes,ossignoscriamnamente de um indivíduo um signo equivalente ou umnovo, emais desenvolvido, significado(PLAZA,2001).

4 AMúsica-aplicativoMoon“Moon” é a primeira faixa musical no álbum Biophilia e o quarto single promocional

lançadoemvideoclipeparadivulgação.Vistoquecadamúsicaretrataumarelaçãodetemáticas,MoonexploraaAstronomia(retratandosobrefaseslunares,marés,ciclossobreocorpo),oefeitoquepossuem sobre a terra e as pessoas, assim comoa relaciona comoo ciclo natural da vida,falha e sucesso – a fim de estabelecer uma conexão com sequências e estruturas musicais(BIOPHILIA EDUCATIONAL, [2017], tradução do autor). A respeito da mescla temática e dapropostaconceitualdamúsica-aplicativo,Björk[2011]explicaque:

Comcada luanovanóscompletamosumcicloenoséoferecidaa renovação–correr riscos, conectar-se a outras pessoas, amar, doar-se. O simbolismo da lua estápresente como o campo da imaginação, damelancolia, e a regeneração é expressa nacanção emúsica-aplicativoMoon pormeio dos padrõesmusicais e imagens visuais dasquaisoscilamemmudançadefases,assimcomopelaletramusicalsobrerenascimento.2(BJÖRK,[2011],traduçãodoautor).

2Witheachnewmoonwecompleteacycleandareofferedrenewal—totakerisks,toconnectwithotherpeople,tolove,togive.thesymbolismofthemoonastherealmofimagination,melancholy,andregenerationisexpressedinthemoonsongandappbymusicalpatternsandvisualimageswhichwaxandwane,andbylyricsaboutrebirth(BJÖRK,[2011]).

Page 6: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

Comocomplemento,tem-seabaixoacapturadeteladamúsica-aplicativo(Fig.2):

FIGURA2–Captura de tela da composição visual de “Moon”

FONTE:WellhartLtd,presentenopresskitdeScottSnibbe.Disponívelem:http://www.snibbe.com/apps-/biophilia/.Acessoem:1set.2017.

Por meio da letra musical de Moon, (FIG. 3), evidencia-se a construção do eu-líricomediante uma visão melancólica sobre os ciclos em começos e términos, sejam humanos,emocionais ou de fenômenos naturais. A letramusical foi composta por Björk em parceria deDamianTaylor;adireçãoeproduçãodeartedovideoclipeporBjörk,InezandVinoodh,oestúdiode design M/M Paris e JamesMerry e, por fim, a música-aplicativo foi desenvolvida por MaxWeisel. Björk propõe, então, um relacionamento ininterrupto e relacional entre a emoção,elementosde ciências naturais (envoltos aomisticismoe simbolismo) e amusicologia proposta(sequênciasmusicais) pormeio da elaboração poética emetafórica acerca da lua (BJÖRK apudSTOSUY,2011;BJÖRK,2011,traduçãodoautor).

FIGURA3–Letra musical de “Moon”

Page 7: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

FONTE:http://genius.com/Bjork-moon-lyrics/.Traduçãodoautor.Acessoem:22mai.2017.

ConsiderandoastemáticasabordadasemMoon–tantonaanálisedaletramusicalquantona análise de elementos de sua composição visual – estabelecem-se Eixos Temáticos para oregimento analítico do processo tradutório da linguagem visual damúsica-aplicativo, conformesubcapítuloaseguir.

4.1 EixosTemáticosdamúsica-aplicativo“Moon”

Os Eixos Temáticos visam um mapeamento sobre referências visuais de temáticaseducacionaisdamúsica-aplicativoMoon(astronomia,ciclosesequênciasmusicais)–procurandoreconhecervertentesparaumolharcontemplativoacercadaslinguagensadotadasnaconstruçãodesuamaterialidadevisual.Paraisto,instituem-se5EixosTemáticos:Astronomia;Oceanografia(BiológicaeFísica);Biologia (AnatomiaeEntomologia);PsicologiaeTeoriaMusical.Ressalta-setambém que Astronomia, Oceanografia e Biologia são temáticas inerentes aos itens de suacomposição visual, contudo, Psicologia e Teoria Musical são externas à visualidade – porémpresentesnaletramusical,natemáticadidático-musicalenainteraçãodamúsica-aplicativo.

ApenasoEixoTemáticodaOceanografia(Biológica)seráanalisadonesteartigo,combaseno sistema de Operação Tradutória proposto, devido à extensão e densidade das análises dasdemaistemáticas(FIG.4).

FIGURA4–Eixos Temáticos em “Moon”

Page 8: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

FONTE:AdaptadodeWellhartLtd,presentenopresskitdeScottSnibbe.Disponívelem:http://www.snibbe.com/apps-/biophilia/.Elaboradopeloautor.

É ainda pertinente elencar os componentes visuais pertencentes à composição visualtraduzidadamúsica-aplicativoMoon,combasenosEixosTemáticosdesenvolvidos,sendoestes:Lua (Astronomia); Terra (Astronomia); Pérola (Oceanografia Biológica); Maré (OceanografiaFísica);MedulaEspinhal(Biologia–Anatomia)eBorboleta(Biologia–Entomologia).

Apesar do reconhecimento das temáticas de Psicologia e Teoria Musical, estes EixosTemáticosnão serão aprofundados emanálises vistoque sua abordagemnãoestá atrelada, demododireto,àrepresentaçãovisualdacomposiçãodeMoon.Umaexploraçãoarespeitodessasramificaçõesseriasugeridaafuturasanálisesporpartedepesquisadoresdeáreasmaispróximasouafuturaspesquisasadvindasdestaanálisesemiótica.

5 DesenvolvimentodeAnálises:DiretrizesparaoRegimentoAnalíticodaMúsica-aplicativoMoon

Aapresentaçãodedadosfoidispostaemumsistemadeanálisepautadonoprocessode“OperaçãoTradutória”doselementose linguagensadotadas,epor fimmaterializadosemumanovalinguagemdentrodamúsica-aplicativoselecionada(Fig.5).

FIGURA5–Captura de tela da composição visual de “Moon”

FONTE:WellhartLtd,presentenopresskitdeScottSnibbe.Disponívelem:http://www.snibbe.com/apps-/biophilia/.Acessoem:1set.2017.

Osistemadeanálisedoprocessodetraduçãoapresentaaseguintecomposição,arelaçãode “Signo em Referência”: elementos de composição advindos das diferentes linguagens etemáticas empregadas: disciplinas, letra musical e teoria musical – considerando o termo“Referência” por um de seus significados no dicionário: “Alusão a certa obra; menção a umdeterminado fato ou trecho” (MICHAELIS, 2017); “Signo em Substituição”: um “InterpretanteDinâmico”–ainteraçãoentrediversositensafimdacriaçãodeoutrossignificados(TURIN,2007);e“SignoemDefinição”:aconcretizaçãodeumumressignificadoaplicadonalinguagemvisualdamúsica-aplicativo, pelo processode substituição e complementaçãodequalidades significantes,derivadas dos diversos elementos utilizados – com base no termo “Definição” por um de seussignificados no dicionário: “[...]Mecanismo linguístico que procura determinar clara e

Page 9: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

precisamenteumconceitoouobjeto.”(DICIO,2017)(FIG.6).

FIGURA6–ModelodesistemadeanálisedoprocessodeOperaçãoTradutória

FONTE:Elaboradopeloautor.

O próximo subcapítulo tem como objetivo a análise exploratória de cada elementocompositivodalinguagemvisualdamúsica-aplicativoMoon,especificamentecomoEixoTemáticoda Oceanografia (Biológica). Resgatam-se diferentes contextos construtivos, de significados, ecomponentesvisuais,pormeiodaestruturaapresentadapelosistemade“OperaçãoTradutória”:SignoemReferência;SignoemSubstituiçãoeSignoemDefinição.Cabeaindasalientardequeaolongo do texto as palavras-chave estarão em negrito e itálico, a fim de contribuir para com oreconhecimentoeevidenciaçãodanarrativaapartirdossignos-chavedaanálise.

5.1 OEixoTemáticodeOceanografia(Biológica):UmaAnáliseSobreAsPérolasem“Moon”

AOceanografiaBiológica,segundoUERJ[2017,n.p.],éumaciênciaquevisao“estudodasinter-relaçõesdosorganismosvivoscomosambientesquehabitam,ambientesestesoceânicos,costeiros e transicionais, como manguezais e estuários, com ênfase nas relações ecológicas”.Tendo em vista os elementos presentes na composição visual da música-aplicativoMoon, aspérolas são o resultado de reação natural de defesa sobre seu organismo contra invasoresexternos(comoparasitas,areiasouvermes)queperfuramaconchadosmoluscosesealojamemseumanto(MUNDOESTRANHO,2011).

As pérolas aparecem como um Signo em Referência na letra musical da canção, novideoclipedeMooneassimcomonacomposiçãointerativadesuamúsica-aplicativo(FIG.7).Björklhesfazreferênciacomosuas“pérolasdeadrenalina”–asquaisosdeuseslheretiramaocantar:“Como se as mornas mãos dos deuses / Viessem gentilmente e colhessemminhas pérolas deadrenalina/Pusessem-nasemsuasbocas/Eenxaguassemtodoomedo/Nutrindo-ascomcomsuasaliva/[...]”(BJÖRK,[2011],traduçãodoautor).

Page 10: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

Emrelaçãoaovideoclipe,aspérolasaparecempelaprimeiravezenquantoBjörktocaumadasmelodiasdacançãodeMoonemumaespéciedevestidodeharpanoqualestátrajada(em1min23segdovideoclipe).Épossívelnotarqueaspérolasaparecemdemodogradualàmedidaqueamelodiaavança–servindodeumacompanhamentovisual–assimcomogiramemudamsuailuminaçãoatéqueBjörk[2011]3recita“Asifthehealthiestpastime[...]”(em1min53segdovideoclipe)eassimcomoressurgemaolongodovideoclipe.

FIGURA7–As Pérolas da música-aplicativo “Moon”, como um “Signo em Referência”

FONTE:AdaptadodeBjörk(2011).Disponívelem:https://www.youtube.com/watch?v=br2s0xJyFEM.Acessoem:12out.2017.Elaboradopeloautor.

Paraumainterpretaçãosobreaspectospoético-textuais,énecessáriocompreenderqueohormôniodaadrenalinaéproduzidoeliberadonoorganismoemsituaçõesdeexcitação,estresse,nervosismo, cansaço físico e afins – provocando “reações de fuga” por meio da dilatação dapupila,sudoreses,tremores,dentreoutros(BERNE,2004apudGONÇALVES,[2017]).Björk[2011]relatasobreosdeusesatuaremcomomentoresetranquilizadoresdemedostidospelacantora.Oato de recolhimento dessas “pérolas de adrenalina” dá indícios sobre a generosidade e asolicitudedosdeusesparaqueelespossamcessaraquiloquelheaflige,assimcomopreencheraspérolascomcalmaepazdeespírito.Épossívelpensarnosignificadodaspérolascomo“[...]deadrenalina” quando contextualizadas a este hormônio: Björk sentia medo e a adrenalina éproduzidaapartirdestesentimento.

Aadrenalina lhegerariadesconfortoeagitação,comouminstintodeatençãosobrealgoquelhepossaatingir.Noentanto,osdeusesvieramatéela,recolheramaspérolascomsuasgentise“mornasmãos”paraqueelapudessedescansare,comisto,apossívelsituaçãodealtoestresse,como motivadora da produção do hormônio da adrenalina, é reforçada quando Björk recita“Como se o passatempomais saudável / Fosse correr risco demorte” (ou semuma adaptaçãomais poetizada e próxima ao literal, “circunstâncias de ameaça à vida”). Os deuses a fazemdescansar para que possa renascer e ser feliz novamente, ressaltando, então, ametáfora de“regeneração”e“renascimento”–segundoBJÖRK,[2011],traduçãodoautor–eestabelecerumvínculosimbólicocomaLuaesuasFasesLunares,emumprocessopoéticoderenovaçãonavidadacantora.

3“Comoseopassatempomaissaudável[…]Amelhorformadeserecomeçar[…]Arriscartudoéofimdetudoeoiníciodetudo”(BJÖRK,[2011]).

Page 11: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

A tradução icônica do Objeto-Pérola traduzido acontece mediante às analogias emestruturase formas remetentesao“Objeto Imediato” (oObjeto-Pérolaoriginale seusatributosqualitativos).Assemelhançasentreaformaarredondada,ascores,obrilho(eavariaçãosutilemrelaçãoaosombreamento)estabelecemumaatribuiçãode referênciadiretaavalores inerentesaoseu“referente”–arepresentaçãojáexistenteeperceptíveldoObjeto-Pérolaoriginalefísicoemambientemarítimo.Oaspecto“paramórfico”datraduçãoicônicadoObjeto-Pérolasedápormeio a utilização de formas similares (ou equivalentes) ao objeto original, ainda que estejamempregados em uma tradução com uma estrutura diferente (ou equivalente) em um outrosistema (PLAZA, 2001) (FIG. 8). Apesar de ser um hipoícone de “Imagem”, o Objeto-Pérolatraduzido tem estruturas representacionais equivalentes, de modo parcial, ao Objeto-Pérolaoriginalvistoquenãoéumareproduçãofielaoseutodooriginal.

FIGURA8–As Pérolas da música-aplicativo “Moon”, como um “Signo em Substituição”

FONTE:Adaptadodehttp://miguelalcade.com.br/luxo/caracteristicas-das-perolas-oriente-e-brilho;Biophilia,Aplicativo,GooglePlay.Elaboradopeloautor.

OsaspectosqualitativoseestruturaissãoreforçadoscomoumSignoemSubstituiçãonatraduçãoindicialdoObjeto-PérolaeemseurelacionamentocomoObjeto-Lua.OObjeto-Pérolatraduzido possui partes de objetos originais (por exemplo, da própria pérola e da Lua) sendodeslocados como forma demanter a continuidade entre o que é original e o que é tradução,repostos emumnovomeio (a linguagemvisual interativadamúsica-aplicativo), gerandonovossentidossobresuarepresentaçãoporintermédiodonovomeioquelheacolhe.Oaspectodestatradução é de ser “topológica-metonímica”, visto que se trabalha com a noção parcial deestruturasemdeslocamentoparaumnovocontextodelinguagemsígnica(PLAZA,2001).

ArepresentaçãodoObjeto-Pérolaapontaparaalgoquelheéexterno(aPérola,aLuaeoSol, ao ato de movimento ou modificação) devido à mudança de contrastes, de variação deiluminação e cores de simesmo. Além disto, é importante ressaltar que a tradução indicial seresolvepelasingularidadedoObjeto-Pérolatraduzido,sendoprecisoperceberqueavariaçãodecontrastes e iluminação não possuem regularidade tão fiel a uma representação física com avariaçãoreferenteàalteraçãode iluminaçãodeumObjeto-Pérolaoriginal.Ocontrastede luzesombra remetem de modo mais abstraído à variação de Fases Lunares (devido à estrutura econtrastes mais próximos ao Objeto-Lua original) – resultando que seja possível interpretar oObjeto-Pérolatraduzidocomominiluasemumprocessodeconstruçãodeumnovosentido(oude“ressemantização”),emumnovocontexto–omeiodigitaleinterativo.

O Objeto-Pérola também apresenta um relacionamento com o Objeto-Harpa como um

Page 12: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

SignoemSubstituiçãoparaalinguagemvisualdamúsica-aplicativo,emumprocessodetraduçãosimbólica.Paracompreendera interaçãoentreambososobjetosemumprocessotradutório,éprecisocontextualizá-losàconstruçãodacomposiçãomusicaldacançãoMoon.

De acordo comDibben (2011), Björk se uniu ao engenheiro de áudio e estúdio DamianTaylor para transmitir a ideia de ciclos na natureza, pormeio de um software de programaçãovisual para o campodaMúsica (chamadodeMax), o qual permite criar “padrões” ao conectardiferentes elementos. Como complemento, Dibben (2011) relata sobre o aplicativo econtroladores digitais auxiliarem na utilização de compassos musicais não usuais, evitandotambémqueseutilizassemmétricaspopulares (asquais tendemaousodemúltiplosdedois)eenfimusarumamétricaincomum:ocompasso17/8.

EmTeoriaMusical,compassossão,conformeCarlini(2005,p.155),uma“unidademétricaconstituídaporrepresentaçõesdetemposmusicaisagrupadosemporçõesiguaisequeéseparadadaunidadeseguinteporumtravessãooubarradecompasso”, tendosua fórmula representadapormeio de dois números (“um sobre o outro”). Considerando queMoon possui o compasso17/8,onúmerosuperior(oprimeiro)representaaquantidadedepulsos(uma“marcaçãoregularconstante”,talcomosegundos,minutosehoras)quecadacompassomusicaldevepossuiremsuareprodução (CARLINI, 2005;DIBBEN, 2011;).Na composiçãodeMoon, segundoFig. 9, tem-se asoma“6+6+5”(resultandoem17)emsuanotaçãomusical–naseção“Score”damúsica-aplicativo–eestetipodesomaserveparafacilitaravisualizaçãoecompreensãodocompasso,assimcomodelimitarcomoacontageméfeita.Onúmeroinferiorcompreendeafiguraqueseráaunidadedemedidaparaadivisãodospulsosdocompasso,ouseja,afiguradenúmero8(“colcheia”)valerá1pulso (ou “tempo”) e, destemodo, para completar um compasso, usando 1 nota por pulso, énecessáriousar17colcheias.

FIGURA9–O compasso rítmico musical 17/8 da canção “Moon”

FONTE:AdaptadodeAdaptadodeBiophilia,Aplicativo,GooglePlay;Carlini(2005);Dibben(2011);Finale2014,conjuntodeprogramas,MAKEMUSICInc.,2017.Elaboradopeloautor.

AressignificaçãodoObjeto-Pérola,comoumprocessodeSignoemDefinição,ocorrepormeiodatraduçãosimbólica(emumvínculocomosObjetosetemáticasabordadosnoprocessode Signo em Substituição). A disposição de diversos Objetos-Pérolas traduzidos na linguagemvisual da música-aplicativo dá indícios sobre a interação proposta por Moon, à medida quedetermina signos simbólicos ao Objeto-Pérola na interface digital interativa. O Objeto-Pérolatraduzidoédispostoem repetição, resultandoem17Objetos-Pérolas emcada ladodoObjeto-Medulatraduzido,aopensaremumrecortesimétricoeverticaldacomposiçãovisualcomoumtodo.

Page 13: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

Adisposiçãode17Objetos-Luatraduzidos,emcadaladodacomposiçãovisual,dáindíciosdeumrelacionamentosimbólicoemreferênciaaocompasso17/8,utilizadono instrumentaldeharpas da canção Moon. A ordenação visual – como signos indiciais – dos Objetos-Pérolas,repetidos diversas vezes, aponta para algo externo a si mesmo (ao compasso utilizado nacomposição musical) e institui uma ligação convencionada em uma inter-relação à estruturamusical(porintermédiodesignossimbólicos,vistoqueoinstrumentaldacançãonãopossuiumvínculoestruturalcomarepresentaçãoimagéticaevisualdoObjeto-Pérolatraduzidoerepetido).

Afunçãodaspérolasnamúsica-aplicativoédeaumentaroudiminuiraalturadenotasaomoverasluas,resultandonatrocadasFasesLunarespormeiodosombreamentoeiluminação.Alinguagem sonora é atrelada de modo simbólico à linguagem visual de Moon, mediante autilizaçãodasharpasquecompõemaestruturamusicaldacanção.Osomdaharpaéumsímboloconvencional – em relação aos Signos em Referência da própria canção, letra musical e dovideoclipe (emqueBjörkaparece tocandoumaespéciedevestidodeharpa).OvínculoentreaharpaepérolaséinstaladodemodoarbitrárioeinstituídonoObjeto-Pérolatraduzido,vistoqueacompreensãosobreorelacionamentoentreambosocorrepormeiodeumprocessomaislógicoeabstrato

Logo, a construção do signo sonoro-visual do Objeto-Pérola traduzido é arbitrária. Amudança de altura das notas só pode acontecer se o usuário entender que elementoscompositivos servem como leis (como a mudança de contraste de cores, de iluminação, demovimento das pérolas ou o aparecimento de notações musicais), no contexto da música-aplicativo,paraquepossajogarapartirdasregrasestabelecidas.Comisto,delimitamereforçamametáforadevariaçãoede“renascimento”–pormeiodarepresentaçãodeFasesLunares(combase em Björk [2011]). O processo relacional e associativo do Objeto-Pérola traduzido dispõeconsigo a articulação em conjunto de signos icônico-indiciais (de diferentes contextos), rumo àinstauraçãodeumsignosimbólicoedeaspectosonoro-visual(pérolascomsomdeharpaesuasvariaçõesdealturadenotas).

6 ConsideraçõesFinaisAmotivaçãodestapesquisasurgiuapartirdo fomentoecuriosidadeementendercomo

diversasreferênciaspodemsemesclaraumcenáriomusicalevisual.Amaterialidadevisualestásempre presente nos materiais de divulgação de um álbum musical (em sua capa, em seusvideoclipesoumateriaispromocionais),noentanto,asrepresentaçõesimagéticaseosdiferentessimbolismos estabelecidos contemplam as ideias – em um primeiro momento – abstratas ourestritasàsdistintasimagensmentaisdoscriadoresecriativos?

Flusser(2007)utilizaaetimologiadapalavra“de-signar”–aqualétantoumsubstantivoquantoumverbo–para refletir sobreo conceitodedesign.Apalavra latina “signum” temseusignificadocomopropósito,plano,esquemamaligno,forma,fraude,conspiração;poroutroladooverbo significa simular, projetar, esquematizar, configurar, proceder de modo estratégico. Odesignéumalicerceeestánabasedetodacultura,vistoqueservecomoummeiode“enganar”anaturezadascoisasmedianteousodatécnica.OBiophiliautilizadosuporteemmídiaeletrônica,emconjuntodalinguagemvisualesonora,paracombinaraspectosqualitativosdestasmatrizesereconfigurar–assimcomosimular–umanovalinguagem(umaplicativodidáticoeinterativoparafinseducacionais).

Aadoçãodediferentescódigos,advindosdediferentescontextos,concedeaoexpectador

Page 14: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

apossibilidadede interpretardiferentesestruturasemummesmoobjetopostoemtradução.OObjeto-Pérola traduzido possui qualidades que o representa como referência a uma pérolaoriginal, do mesmo modo em que também se torna compreensível como umaminilua – portambémadquiriraspectosdeoutroobjetoecontextooriginais–paraquepossa,então,resultarna inter-relação simbólicae simultâneaentre linguagens (pérolasquemudamaalturadenotasmusicais quando interagidas pelo usuário). Logo, a recombinação destes diferentes signos eobjetos se baseia na substituição. A leitura e utilização de códigos imagéticos tradicionaisacontecem por meio da imaginação – sendo resultado de aplicação de códigos específicos,podendoserlidasporqualquerumquepossuafamiliaridadeerepertórioemcomumaoobjeto.Osuporte eletrônico (um aplicativo interativo emmultimídia) é um “performatizador” que servecomopotencializaçãodoprocessode“retradução”(FLUSSER,2007;PLAZA,2001).

O Biophilia (2011) utiliza um denso repertório, proveniente de diferentes contextossígnicosecientíficos,atraindoaatençãoacercadacompreensãosobre relaçõesconstrutivasdesentidoentremúsicaecomposiçãovisualemumprocessodetraduçãode linguagens,pormeiodo suporte em âmbito digital (em multimídia e hipermídia) – retomando e potencializando acomunicaçãoporintermédiodeimagens.A“transmutação”sígnicadePlaza(2001),norteadapelateoriasemióticadePeirce,podeserrelacionadaaoprocessodeatribuiçãodecódigosesímbolosaimagensemumcontextosocial,refletidasporFlusser(2007).Sendousadas–demodoprimitivo,nos primórdios históricos – como expressão a desejos e inspirações, caminhando aoaprimoramentocomunicativodeumaescrita linear (“pensamento-em-linha”),paraquepossam,enfim, direcionar os novos meios tecnológicos como mediadores de imagens por meio doimaginário.

Paraopensamentoanalíticodoartigo,definiu-seadivisãodeMoonemEixosTemáticos:Astronomia;Oceanografia (BiológicaeFísica);Biologia (Anatomiae Entomologia);Psicologia eTeoria Musical – focando-se em discorrer a respeito do Eixo Temático da Oceanografia(Biológica). Esteselementos foramdispostosemumpensamentonarrativoemconsideraçãoaosistemadeOperaçãoTradutóriadesenvolvido(SignoemReferência;SignoemSubstituiçãoeSignoemDefinição)–tendoemmenteaapropriaçãodecódigosdediferentesmeios,suasinterações,ea concretização de um ressignificado. A interpretação do Objeto-Pérola traduzido, como umreforçoàsmetáforasde“renovação”e“renascimento”(sugeridasporBjörk[2011]),éfrutodeumprocessoicônico,indicial,eenfim,simbólicodediferentessignospostosemumanovatradução–gerando,demodoincessante,novossignificados.Logo,astrêstipologiasdetraduçõessígnicassãointer-relacionaisemumprocessode“remessa”, istoé,nãoatuamdemodo isoladoenãosãooobjeto em si,mas simuma constante transformaçãoemoutros signos, a fimde criaremnovossentidospara“Interpretantes”(PLAZA,2001).

7 ReferênciasBIOPHILIAEDUCATIONAL.LEARNTEACH:Biophiliainaschoolsetting.MinistryforEducation,Science&CultureeBiophiliaEducation,[2017].Disponívelem:<http://biophiliaeducational.org/>Acessoem:10abr.2017.

BJÖRK.Moon–InfosetParoles.Bjork.fr,[2011].Disponívelem:<http://bjork.fr/Moon>.Acessoem:1out.2017.

BJORK.FR.Biophilia–bjork.fr.Bjork.fr,[2011].Disponívelem:<http://bjork.fr/-Biophilia-special->Acessoem:18maio2017.

Page 15: Análise Semiótica da Linguagem Visual da música-aplicativo ...pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/design...e crie!” em português), o projeto tem como sua base a criatividade

13ºCongressoBrasileirodePesquisaeDesenvolvimentoemDesign,Univille,Joinville(SC)

05a08denovembrode2018

CARLINI,ÁlvaroL.R.S.Amúsicaeamatemática.In:MAIA,EnyMarisa(Coord.);MURRIE,ZuleikadeFelice(Coord.).Arte:ProjetoEscolaeCidadaniaparaTodos.SãoPaulo:EditoradoBrasil,2005.

DAZED&CONFUSED.BjörkUnveilsLiveResidency.Dazed&Confused,2011.Disponívelem:<http://dazeddigital.com/music/article/10006/1/bjork-unveils-liveresidency>.Acessoem:8abr.2017.

DIBBEN,Nicola.Biophilia-TheManualEdition.WellhartLtd.,2011.Disponívelem:<http://bjork.fr/Biophilia-Manual>.Acessoem:8abr.2017.

DICIO.Definição–DicionárioOnlinedePortuguês.Dicio,DicionárioOnlinedePortuguês,2017.Acessoem:1set.2017.Disponívelem:<https://dicio.com.br/definicao/>.

FLUSSER,Vilém.Omundocodificado:porumafilosofiadodesignedacomunicação.VilémFlusser,organizadoporRafaelCardoso.SãoPaulo:CosacNaify,2007.244p.

GONÇALVES,FabianaSantos.Adrenalina.InfoEscola,[2017].Disponívelem:<http://infoescola.com/hormonios/adrenalina/>Acessoem:1out.2017.

MILLER,ClairCain.Bjork,IcelandicSingerand…VentureCapitalist?TheNewYorkTimes.Disponívelem:<https://nyti.ms/2Iafksd>Acessoem:10abr.2017.

MUNDOESTRANHO.Comoaostraproduzapérola?RedaçãoMundoEstranho,2011.Acessoem24deset.2017.Disponívelem<https://mundoestranho.abril.com.br/mundo-animal/como-a-ostra-produz-a-perola/>.

MICHAELIS,DicionárioBrasileirodaLínguaPortuguesa.Referência|MichaelisOn-Line.EditoraMelhoramentosLtda.,2017.Acessoem:1set.2017.Disponívelem:<http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portuguesbrasileiro/referencia/>

SANTAELLA,Lucia.Matrizesdalinguagemepensamento:sonora,visual,verbal:aplicaçõesnahipermídia.3ed.SãoPaulo:EditoraIluminurasLtda,2001.432p.

SMITH,CasparLlewellyn.BjorkdevelopsBiophiliawhileDamonAlbarnshunsTudordressforfestival.TheGuardian,2011.Disponívelem:<https://theguardian.com/culture/2011/mar/18/bjork-albarn-manchester-international-festival>.Acessoem:11abr.2017.

SNIBBE,Scott.björk:biophilia:tourapptutorial.YouTube,2012.Disponívelem:https://youtube.com/watch?v=n8c0x6dO2bg&.Acessoem:10abr.2017.

______.Björk:Biophilia.ScottSnibbe,2011.Disponívelem:<https://snibbe.com/apps#/biophilia/>.Acessoem:16.abr.2017.

STOSUY,Brandon.StereogumQ&A:BjörkTalksBiophilia.Stereogum,2011.Acessoem:27ago.2017.Disponívelem:<http://stereogum.com/744502/stereogum-qa-bjork-talks-biophilia/franchises/interview/>

PLAZA,Julio.TraduçãoIntersemiótica.SãoPaulo:Perspectiva,2001.211p.

TURIN,RotiNielba.Aulas:introduçãoaoestudodaslinguagens.SãoPaulo:Annablume,2007.

UERJ.OCEANOGRAFIABIOLÓGICA.UERJ,FaculdadedeOceanografia(FAOC),[2017].Acessoem24deset.2017.Disponívelem<http://oceanografia.uerj.br/ocnbio/index.php>.