anlise geoambiental do esturio do rio jaguaribe-ce: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018....

11
ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO RIO JAGUARIBE-CE: TENSORES NATURAIS E ANTRÓPICOS PAULA, D. P.¹ ¹Universidade Estadual do Ceará-UECE, Av. Paranjana 1700, (85) 3101 9786, [email protected] MORAIS, J. O.² 2 Universidade Estadual do Ceará-UECE, Av. Paranjana 1700, (85) 3101 9601, [email protected] PINHEIRO, L. S.³ 3 Universidade Estadual do Ceará-UECE, Av. Paranjana 1700, (85) 3101 9601, [email protected] [email protected] . RESUMO À guisa de proceder o desenvolvimento econômico sustentado nas regiões litorâneas do Estado do Ceará e áreas estuarinas, à exemplo da foz do Rio Jaguaribe vem sendo executado estas atividades de ocupação em dunas, mananciais de manguezais, potencial salineiro, degradando o sistema de falésias e dunas. O Rio Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra da Joaninha (Tauá - Ceará) até a sua foz (Fortim – Ceará). A região estuarina do Rio Jaguaribe localiza-se no litoral leste do Estado do Ceará, área que corresponde parte do baixo-curso, percorrendo os municípios de Fortim, Aracati e Itaiçaba. Por isso, este estudo teve como objetivo geral identificar e avaliar os impactos ambientais no estuário do Rio Jaguaribe mediante as transformações da paisagem pela ação natural e antrópica. Na metodologia adotada foram feitos levantamento de materiais bibliográficos, cartográficos, dados climáticos e aspectos geoambientais, processamento e classificação digital das imagens TM-Landsat (órbita 216.063-A) e Quick Bird (2003). Na etapa de campo foi realizado o reconhecimento geral da área de estudo e atualização dos sistemas ambientais e fazendas de camarão, o que resultou no mapeamento de áreas urbanas, fazendas de camarão e sistemas ambientais. A compartimentação dos sistemas ambientais presentes na bacia estuarina do Rio Jaguaribe apresentou as seguintes unidades geológicas e geomorfólogicas: Depósitos Eólicos Litorâneos (faixa praial e dunas móveis), Depósitos Flúvio-aluvionares (planícies fluviais e flúvio-marinha), Formação Barreiras (tabuleiros pré-litorâneos) e o Complexo Cristalino (maciços residuais em cristas e inselbergs). A Formação Barreiras é o depósito mais representativo na área de estudo em termos de dimensão, ocupando uma área correspondente a 518,1 km² cerca de 54,8% da área total. Além dos tensores naturais próprios desta área, outros tensores de ordem antrópica foram identificados na área, tais como: descarga de efluentes domésticos, deposição de resíduos sólidos e escoamento superficial de áreas agrícolas, conseqüentemente, contaminando a fauna, comprometendo a produtividade do sistema e a paisagem, favorecendo, portanto ao desequilíbrio ambiental do ecossistema estuarino do Rio Jaguaribe. A luz destas observações foram georeferenciadas em campo 72 fontes pontuais e difusas de poluição, onde os viveiros de camarão correspondem a 56,5% do total de fontes distribuídas na bacia estuarina. Palavras-chave: Estuário, tensores naturais e tensores antrópicos. INTRODUÇÃO À guisa de proceder o desenvolvimento econômico sustentado nas regiões litorâneas do Estado do Ceará e áreas estuarinas, à exemplo da foz do Rio Jaguaribe vem sendo executado estas atividades de ocupação em dunas, mananciais de manguezais, potencial salineiro, degradando o sistema de falésias e dunas. A bacia do Rio Jaguaribe com seus 72.440 Km 2 , ocupa, praticamente, a metade do Estado do Ceará, estando grande parte situada sobre terrenos cristalinos, razão de seu alto poder de escoamento e conseqüente deficiência no armazenamento de águas subterrâneas 1

Upload: others

Post on 17-Dec-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO RIO JAGUARIBE-CE:

TENSORES NATURAIS E ANTRÓPICOS

PAULA, D. P.¹ ¹Universidade Estadual do Ceará-UECE, Av. Paranjana 1700, (85) 3101 9786, [email protected]

MORAIS, J. O.²

2Universidade Estadual do Ceará-UECE, Av. Paranjana 1700, (85) 3101 9601, [email protected]

PINHEIRO, L. S.³ 3Universidade Estadual do Ceará-UECE, Av. Paranjana 1700, (85) 3101 9601,

[email protected]@uece.br. RESUMO À guisa de proceder o desenvolvimento econômico sustentado nas regiões litorâneas do Estado do Ceará e áreas estuarinas, à exemplo da foz do Rio Jaguaribe vem sendo executado estas atividades de ocupação em dunas, mananciais de manguezais, potencial salineiro, degradando o sistema de falésias e dunas. O Rio Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra da Joaninha (Tauá - Ceará) até a sua foz (Fortim – Ceará). A região estuarina do Rio Jaguaribe localiza-se no litoral leste do Estado do Ceará, área que corresponde parte do baixo-curso, percorrendo os municípios de Fortim, Aracati e Itaiçaba. Por isso, este estudo teve como objetivo geral identificar e avaliar os impactos ambientais no estuário do Rio Jaguaribe mediante as transformações da paisagem pela ação natural e antrópica. Na metodologia adotada foram feitos levantamento de materiais bibliográficos, cartográficos, dados climáticos e aspectos geoambientais, processamento e classificação digital das imagens TM-Landsat (órbita 216.063-A) e Quick Bird (2003). Na etapa de campo foi realizado o reconhecimento geral da área de estudo e atualização dos sistemas ambientais e fazendas de camarão, o que resultou no mapeamento de áreas urbanas, fazendas de camarão e sistemas ambientais. A compartimentação dos sistemas ambientais presentes na bacia estuarina do Rio Jaguaribe apresentou as seguintes unidades geológicas e geomorfólogicas: Depósitos Eólicos Litorâneos (faixa praial e dunas móveis), Depósitos Flúvio-aluvionares (planícies fluviais e flúvio-marinha), Formação Barreiras (tabuleiros pré-litorâneos) e o Complexo Cristalino (maciços residuais em cristas e inselbergs). A Formação Barreiras é o depósito mais representativo na área de estudo em termos de dimensão, ocupando uma área correspondente a 518,1 km² cerca de 54,8% da área total. Além dos tensores naturais próprios desta área, outros tensores de ordem antrópica foram identificados na área, tais como: descarga de efluentes domésticos, deposição de resíduos sólidos e escoamento superficial de áreas agrícolas, conseqüentemente, contaminando a fauna, comprometendo a produtividade do sistema e a paisagem, favorecendo, portanto ao desequilíbrio ambiental do ecossistema estuarino do Rio Jaguaribe. A luz destas observações foram georeferenciadas em campo 72 fontes pontuais e difusas de poluição, onde os viveiros de camarão correspondem a 56,5% do total de fontes distribuídas na bacia estuarina. Palavras-chave: Estuário, tensores naturais e tensores antrópicos.

INTRODUÇÃO

À guisa de proceder o desenvolvimento econômico sustentado nas regiões

litorâneas do Estado do Ceará e áreas estuarinas, à exemplo da foz do Rio Jaguaribe vem

sendo executado estas atividades de ocupação em dunas, mananciais de manguezais,

potencial salineiro, degradando o sistema de falésias e dunas.

A bacia do Rio Jaguaribe com seus 72.440 Km2, ocupa, praticamente, a metade do

Estado do Ceará, estando grande parte situada sobre terrenos cristalinos, razão de seu alto

poder de escoamento e conseqüente deficiência no armazenamento de águas subterrâneas

1

Page 2: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

que acontece precípuamente nas planícies aluviais devido à construção de barragens

subterrâneas.

Por isso, este estudo teve como objetivo geral identificar e avaliar os impactos

ambientais no estuário do Rio Jaguaribe mediante as transformações da paisagem pela ação

natural e antrópica.

ÁREA DE ESTUDO

Segundo dados da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH,

1992), o Rio Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

da Joaninha (Tauá - Ceará) até a sua foz litorânea (Fortim – Ceará). A região estuarina do

Rio Jaguaribe localiza-se no litoral leste do Estado do Ceará, área que corresponde parte do

baixo-curso, percorrendo os municípios de Fortim, Aracati e Itaiçaba (Figura 1).

620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000

9475000

9480000

9485000

9490000

9495000

9500000

9505000

9510000

Aracati

Fortim

Pontal de Maceió

ItaiçabaBarragem de Itaiçaba

Oceano Atlântico

0 5000 10000 15000 20000

Ilha Grande

Ilha do CordeiroIlha do Pinto

Ilha dos Veados

Dunas

Legenda:

Zona Urbana

Ilhas

Lagos e/ou lagoas

Rio Palhano

Lagoa S. Tereza

Lagoa saco da velha

Lagoa Tanque Salgado

Lagoa Alagamar

Rio

Jag

uarib

e

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo.

2

Page 3: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

O estuário do Rio Jaguaribe possui uma extensão de 36 km e ocupa uma área de

aproximadamente 641.216 km², sendo limitada a montante pela barragem de Itaiçaba. O

Rio Jaguaribe deságua no oceano Atlântico equatorial em uma região onde predominam

praias do tipo arenosas, falésias marinhas e um vasto campo de dunas na margem leste.

METODOLOGIA

Foram feitos levantamento de materiais bibliográficos, cartográficos, dados

climáticos (séries históricas locais e regionais) e aspectos geoambientais, processamento e

classificação digital das imagens TM-Landsat (órbita 216.063-A) e Quick Bird (2003)

cedidas pela Fundação Cearense de Recursos Hídricos e Meteorologia (FUNCEME) e

Superintendência do Meio Ambiente do Estado do Ceará (SEMACE). As informações

extraídas foram utilizadas na confecção do mapa base e dos mapas temáticos, integrados

aos softwares do Sistema de Informações Geográfica (SIG): ARC GIS 8, IDRISI e o

SPRING 4.1.

Na etapa de campo foi realizado o reconhecimento geral da área de estudo e

atualização dos sistemas ambientais e fazendas de camarão, o que resultou no mapeamento

de áreas urbanas, fazendas de camarão e sistemas ambientais. Também, foram

georeferenciados os principais tensores antrópicos e fontes pontuais de poluição presentes

na bacia estuarina do Rio Jaguaribe. Utilizou-se no georeferenciamento um aparelho de

GPS (Sistema de Posição Global) no sistema de coordenadas Universal Transversa de

Mercator (U.T.M) zona 24 sul. As informações extraídas deste monitoramento foram

utilizadas na montagem de um banco de dados em ambiente SIG (Figura 2).

Dados de sensoriamento remoto e geoprocessamento

Imagens de satélite e fotografias aéreas

Fotointerpretação Cartografia digital

Mapas temáticos pré-existentes Banco de Dados

Digitalização

Sistema de Informações Geográficas-SIG

Mapas: - Sistemas Ambientais; - Perfil Unifilar; - Fontes Pontuais de Poluição;

- ARC GIS 8; - IDRISI; - SPRING.

Figura 2: Fluxograma metodológico para o levantamento de informações em ambiente SIG.

3

Page 4: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A compartimentação dos sistemas ambientais presentes na bacia estuarina do Rio

Jaguaribe apresentou as seguintes unidades geológicas e geomorfólogicas: Depósitos

Eólicos Litorâneos (faixa praial e dunas móveis), Depósitos Flúvio-aluvionares (planícies

fluviais e flúvio-marinha), Formação Barreiras (tabuleiros pré-litorâneos) e o Complexo

Cristalino (maciços residuais em cristas e inselbergs) (Tabela 1).

Tabela 1:Valor da área em km² das unidades geoambientais presentes na bacia estuarina do Rio Jaguaribe.

Unidade Geoambiental Área (km²) Área (%)

Maciços residuais 92,2 9,8

Dunas 43,2 4,6

Faixa praial 0,9 0,1

Ilhas fluviais 3,1 0,3

Apicum 26,5 2,8

Planície fluvial 78,8 8,3

Planície Fluvio-marinha 182,1 19,3

Tabuleiros pré-litorâneos 518,1 54,8

A Formação Barreiras é o depósito mais representativo na área de estudo em

termos de dimensão, ocupando uma área correspondente a 518,1km² cerca de 54,8% da

área total. Segundo Bigarella (1965), essa unidade data do mioceno superior ao

pleistoceno, quando os sedimentos foram depositados sob condições de clima semi-árido,

sujeito a chuvas esporádicas e violentas, formando amplas faixas de leques aluviais

coalescentes em sopés de encostas mais ou menos íngremes. Em alguns trechos do litoral

de Fortim e do próprio estuário a Formação Barreiras aflora como falésias marinhas e

fluviais respectivamente.

A planície flúvio-marinha ocupa cerca de 182km², que corresponde a 19,3% do

total da área de estudo, sendo formado pela interação dos fatores fluviais e marinhos.

Sendo composta, principalmente, por manguezais que se concentram em sua grande

maioria na margem leste do Rio Jaguaribe. Este ambiente, ao longo dos últimos anos, vem

sendo alvo de intensas transformações por atividades econômicas, destaque para a

carcinicultura, que predomina em termos de área e importância econômica na bacia

estuarina do Rio Jaguaribe (Figura 3).

4

Page 5: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

Figura 3: Degradação das margens do Rio Jaguaribe para construção de viveiros de camarão.

O litoral leste é o maior produtor e detentor de fazendas instaladas no Estado. De

acordo com os dados disponibilizados pela SEMACE, na região drenada pelo Rio

Jaguaribe existem cerca de 174 empreendimentos instalados, licenciados e não licenciados,

sendo 122 somente na área restrita a bacia do estuário, que envolve os municípios de

Fortim, Aracati e Itaiçaba (Figura 4).

Figura 4: Mapa de Localização das fazendas de camarão licenciadas na bacia do estuário do Rio Jaguaribe.

5

Page 6: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

Outros tensores de ordem antrópica foram identificados na área, tais como: descarga de

efluentes domésticos, deposição de resíduos sólidos e escoamento superficial de áreas

agrícolas, conseqüentemente, contaminando a fauna, comprometendo a produtividade do

sistema e a paisagem, favorecendo, portanto ao desequilíbrio ambiental do ecossistema

estuarino do Rio Jaguaribe (Tabela 2).

Tabela 2: Tensores de origem antrópica e respectivos impactos sobre o sistema

estuarino do Rio Jaguaribe. Tensor Impacto no estuário Prejuízo

Efluentes domésticos

e resíduos sólidos

• Paisagem

• Coluna d´ água

• Biota

• Comunidade

Local

Qualidade da água para usos múltiplos,

contaminação de organismos

aquáticos, perda de valores estéticos,

paisagísticos e do potencial turístico e

da pesca.

Remoção da

cobertura vegetal

• Paisagem

• Solo

• Curso d´água

• Erosão pluvial

Erosão e carreamento do material

erodido para o interior do canal

estuarino conseqüentemente

dificultando a navegação,

assoreamento dos pequenos tributários

fluviais e perdas socioeconômicas.

Redução da vazão

fluvial

• Paisagem

• biota

• Manguezal

• Circulação

estuarina

Redução de espécies aquáticas,

alteração na produção primária e

biodiversidade, declínio da pesca

artesanal, avanço da maré salina e

dinâmica, aumento da condutividade

elétrica e diminuição do percentual de

oxigênio dissolvido na água

Atividades

econômicas

• Paisagem

• Biota

• Circulação

estuarina

Perda de áreas de manguezais para

construção de viveiros de camarão,

lançamento de rejeitos dos viveiros no

estuário sem prévio tratamento,

alteração no ciclo reprodutivo da fauna

aquática.

6

Page 7: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

Dentre estes tensores antrópicos foram georeferenciadas em campo 72 fontes

pontuais e difusas de poluição, onde os viveiros de camarão correspondem a 56,5% do

total de fontes distribuídas na bacia estuarina (Figura 5).

Fontes pontuais e difusas de poluição no estuário do Rio Jaguaribe (%)

56%

4%5%

6%6%

4%4%

6%9%

Viveiros de Camarão Olárias Currais

Matadouros Lixões Fab. Textil

Fab. de Mineração Bombas de Captação Outros

Figura 5: Representação gráfica das fontes pontuais e difusas de poluição no estuário do

Rio Jaguaribe.

Esses tensores geram impactos na hidrodinâmica e na circulação estuarina, pois as

descargas de água advindas das gamboas alteram, em determinados trechos, o volume de

água na Zona de Mistura. Como resultado tem-se, entre outros, a diminuição da

produtividade estuarina, má qualidade das águas do estuário, destruição de habitats de

espécies aquáticas, prejuízo nos valores estéticos e paisagísticos locais e diminuição da

qualidade de vida das comunidades locais.

As águas dos viveiros de camarão são renovadas freqüentemente e tem acesso

direto ao estuário através de gamboas. Tal processo lança no estuário os efluentes destes

viveiros. Estes são ricos em nutrientes e possibilitam a poluição do rio. A carcinicultura,

que trata do cultivo de camarão contribui com 33 a 44 t de N e 13 a 39 t de P (ABREU,

2004) (Figura 6).

7

Page 8: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

Figura 6: Fazenda de camarão instalada na bacia estuarina do Rio Jaguaribe em Aracati.

Outras fontes difusas e pontuais de poluição foram identificadas na área, tais como:

lixão, matadouros, rejeitos industriais, dentre outros. Essas fontes de poluição estão

espacialmente representadas na figura 7. Todas essas contribuições de fontes pontuais e

difusas de poluição comprometem a qualidade das águas: das lagoas próximas, açudes,

reservatórios e canais (como do canal do trabalhador).

Dentre as ações antrópicas a construção da barragem de Itaiçaba promoveu

alterações significativas no estuário do Rio Jaguaribe com redução da vazão de água doce

para o interior do sistema estuarino e interferências no balanço sedimentológico. Vale

salientar que esta obra impediu que a influência da maré salina se prolongasse a montante,

assim limitando a região estuarina ao trecho compreendido entre a foz e a barragem de

Itaiçaba.

8

Page 9: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

Figura 07: Perfil Unifilar do estuário do Rio Jaguaribe.

9

Page 10: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

CONCLUSÕES

Na área da bacia estuarina foram identificados sete sistemas ambientais (planície

fluvial, planície flúvio-marinha, faixa praial, dunas móveis, tabuleiros pré-litorâneos,

formação faceira e maciços residuais). A Formação Barreiras é representada pelos

tabuleiros pré-litorâneos e a formação faceira e possui maior expressão, ocupando cerca de

54,8% da área da bacia, recobrindo as seqüências litológicas mais antigas e aflorando no

litoral de Fortim apresentando estruturas sedimentares tipo ruiniformes, produzidas pela

ação pluvial, ravinamentos e voçorocas, produzidas pela ação conjugada da precipitação

pluviométrica e água subterrânea, e solapamento de falésias em período de maré de sizígia.

O principal tensor de origem antrópica identificado na bacia estuarina do Rio

Jaguaribe foi a carcinicultura que, além de ser uma atividade que vem degradando,

principalmente, área de manguezal, contribui com o lançamento de rejeitos dos viveiros no

sistema estuarino sem prévio tratamento.

Os tensores de origem antrópica presentes no sistema estuarino do Rio Jaguaribe

resultam da falta de ordenamento do uso e ocupação do solo. Os problemas levantados no

presente estudo estão, essencialmente, relacionados à falta de planejamento sustentável dos

municípios e suas respectivas atividades econômicas, e, conseqüente, ineficiência dos

serviços de saneamento básico.

A principal interferência da barragem de Itaiçaba, assim com das demais

construídas no Rio Jaguaribe, foi à alteração do fluxo hidrossedimentológico em direção ao

ambiente estuarino comprometendo sua a estabilidade ambiental. A construção de

barragens no Estado do Ceará, em função das irregularidades das chuvas, apesar de

necessária ao desenvolvimento, precisa ser feita em consonância com a capacidade de

suporte dos estuários para que não venha a comprometer o potencial dos recursos naturais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, I. M. Distribuição Geoquímica de Carbono, Nitrogênio e Fósforo em

Sedimentos Estuarinos do Rio Jaguaribe, Ceará. 2004. 215 f. Dissertação (Mestrado em

Agronomia)-Universidade Federal do Ceará, Ceará.

BIGARELA, J. J. et al. Pediplanos, pedimentos e seus depósitos correlativos no Brasil.

Revista B. Paran. Geogr, Curitiba, v. 16, n. 17, p. 153-197, 1965.

10

Page 11: ANLISE GEOAMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE: …lsie.unb.br/ugb/sinageo/6/6/245.pdf · 2018. 3. 9. · Jaguaribe percorre aproximadamente 610 km desde suas nascentes na Serra

CAVALCANTE, A. A. Aspectos da produção de sedimentos e seus efeitos na gestão

dos recursos hídricos no baixo vale do Rio Jaguaribe. 2001. 139 f. Dissertação

(Mestrado em Geografia)-Universidade Estadual do Ceará, Ceará.

CEARÁ. Secretária de Recursos Hídricos-SRH. Atlas Eletrônico dos Recursos Hídricos

e Meteorológicos do Ceará. 1992. Disponível em: <http://atlas.srh.ce.gov.br/>. Acesso

em: 25, fev. 2005.

MORAIS, J. O.; PINHEIRO, L. S. P. The impacts of the Jaguaribe river flow on the

erosion and sedimentation of Pontal de Maceió – State of Ceará – NE Brazil. Trabalho

apresentado no VII Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário, Porto

Seguro, 1999.

MORAIS, J. O.; PINHEIRO, L. S.; LEMOS, R. S. Processos erosivos no litoral de

Fortim-Ce: Implicações no Desenvolvimento Urbano. Trabalho apresentado IX

Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário, Recife, 2003.

PAULA, D. P. Elaboração de Paisagens Contíguas ao Estuário do Rio Jaguaribe-CE.

2006. 200 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Geografia)-Universidade Estadual do

Ceará, Ceará.

PINHEIRO, L. S. Riscos e Impactos Ambientais no Estuário do Rio Malcozinhado,

Cascavel-CE. 2003. 235 f. Tese (Doutorado em Oceanografia)-Universidade Federal de

Pernambuco, Pernambuco.

SOUZA, M. J. N. Base geoambiental e esboço do zoneamento geoambiental do Estado do

Ceará. In: LIMA, L. C. (org.). Compartimentação territorial e gestão regional do

Ceará. Fortaleza: Editora da Fundação Universidade Estadual do Ceará, 2000. Parte 1, p.

6-104.

11