análise da temperatura superficial de pavimentos em ......las zonas climáticas locales y las...

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1º Simpósio Brasileiro Cidades + Resilientes 28 a 30 de outubro de 2020 Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo 978-65-86753-09-7 253 EIXO TEMÁTICO: ( ) Tópico Especial: A Cidade e o Isolamento Social ( x ) Cidades Inovadoras ( ) Mobilidade Urbana Sustentável ( ) Geotecnologias e Investigação Geotécnica das Cidades ( ) Gestão e Tecnologias Aplicadas aos Sistemas de Saneamento Análise da Temperatura Superficial de Pavimentos em Diferentes Zonas Climáticas Locais Analysis of Pavements Surface Temperature in Different Local Climate Zones Análisis de la Temperatura Superficial de Pavimentos en Diferentes Zonas Climáticas Locales Luiz Fernando Kowalski Doutorando, UFSCar, Brasil [email protected] Mathews Winston Marques da Paixão Engenheiro Civil, UNASP, Brasil. [email protected] André Mendes Elias Engenheiro Civil, UNASP, Brasil. [email protected]

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978-65-86753-09-7

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EIXO TEMÁTICO: ( ) Tópico Especial: A Cidade e o Isolamento Social ( x ) Cidades Inovadoras ( ) Mobilidade Urbana Sustentável ( ) Geotecnologias e Investigação Geotécnica das Cidades ( ) Gestão e Tecnologias Aplicadas aos Sistemas de Saneamento

Análise da Temperatura Superficial de Pavimentos em Diferentes Zonas Climáticas Locais

Analysis of Pavements Surface Temperature in Different Local Climate Zones

Análisis de la Temperatura Superficial de Pavimentos en Diferentes Zonas Climáticas

Locales

Luiz Fernando Kowalski Doutorando, UFSCar, Brasil

[email protected]

Mathews Winston Marques da Paixão

Engenheiro Civil, UNASP, Brasil. [email protected]

André Mendes Elias

Engenheiro Civil, UNASP, Brasil. [email protected]

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RESUMO A alteração da cobertura natural do solo pelo revestimento asfáltico provoca modificações no microclima das cidades. Por isso, materiais com propriedades térmicas reflexivas favorecem as condições de conforto urbano, em virtude de valores de temperatura inferiores a materiais não reflexivos. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo analisar o comportamento térmico de superfícies pavimentadas e identificar se há uma relação entre as Zonas Climáticas Locais e a temperatura superficial, a fim de melhorar as condições de conforto e do microclima local. O método se classifica como teórico-experimental e consiste, inicialmente, na caracterização do local e das propriedades do pavimento. A segunda etapa corresponde a aquisição de dados in loco por meio da instalação de sensores de temperatura, umidade relativa do ar, anemômetros e imagens termográficas. Os resultados indicaram que a temperatura superficial asfáltica está associada à quantidade de superfície edificada e impermeável e o que tem mais influência na temperatura do ambiente é a quantidade de sombreamento no ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Zonas Climáticas Locais. Microclima. Morfologia. Pavimento. Temperatura de superfície. ABSTRACT The alteration of the soil’s natural cover for asphalt coating causes changes in the microclimate of the cities. Therefore, materials with reflective thermal properties are beneficial in terms of urban comfort, due to their values of temperature being lower than the ones of non-reflective materials. Thus, this work aims to analyze the thermal behavior of the paved surface and to identify if there is a relation between Local Climate Zones and the surface temperatures, in order to improve the conditions of comfort and local microclimate. It used the theoretical-experimental method, which initially consists in characterizing the place and the pavement properties. The second stage of this paper corresponds to acquiring on-site data, such as installing temperature sensors, relative humidity, anemometers, and thermal images. The results indicated that the asphalt surface temperature is associated with the amount of built up and impermeable surface and what has more influence on the ambient temperature is the amount of shading in the environment. KEYWORDS: Local Climate Zones. Microclimate. Morphology. Pavement. Surface temperature. RESUMEN La alteración de la cobertura natural del suelo por el revestimiento asfáltico provoca cambios en el microclima de las ciudades. Por este motivo, los materiales con propiedades térmicas reflectantes favorecen las condiciones de confort urbano, debido a valores de temperatura más bajos que los materiales no reflectantes. Por tanto, el objetivo de este trabajo es analizar el comportamiento térmico de la superficie pavimentada e identificar si existe una correlación entre las Zonas Climáticas Locales y las temperaturas superficiales, con el fin de mejorar las condiciones de confort y el microclima local. El método se clasifica como teórico-experimental e inicialmente consiste en caracterizar la ubicación y propiedades del pavimento. La segunda etapa corresponde a la adquisición de datos in loco mediante la instalación de sensores de temperatura, humedad relativa, anemómetros e imágenes termográficas. Los resultados indicaron que la temperatura de la superficie del asfalto está asociada con la cantidad de superficie construida e impermeable y lo que tiene más influencia en la temperatura del ambiente es la cantidad de sombra en el ambiente. PALABRAS CLAVE: Zonas Climáticas Locales. Microclima. Morfología. Piso. Temperatura de la superficie.

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1 INTRODUÇÃO

Com o crescimento populacional nos centros urbanos, a substituição de áreas verdes, por áreas

edificadas e superfícies pavimentadas, favorecem a alteração do microclima ocasionando

implicações nas condições de conforto térmico (FRANCO, 2013).

Segundo Neto (2015) os materiais que constituem as superfícies asfálticas armazenam energia

em forma de calor no seu interior através, devido à radiação solar incidente. Provocando assim

a diminuição da umidade relativa e aumento da temperatura do ar.

Os valores de refletância são mínimos para corpos de coloração escura e máximos para corpos

brancos (MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA, 2007). Por consequência, de acordo com Cheng

(2004) o uso de coberturas com elevado albedo pode reduzir a temperatura do ambiente

urbano.

Nas superfícies asfálticas o albedo é de aproximadamente 10% e pode chegar a absorver em

torno de 90% da radiação solar, elevando a temperatura de superfície, para depois liberá-la em

forma de calor no meio (GARTLAND, 2010).

Para Corbella e Magalhães (2008) a retenção deste calor na cobertura causa ao usuário um certo

incômodo. Para isso, técnicas de instrumentação podem ser empregadas a fim de mensurar o

impacto. Os sensores remotos (câmera termográfica, piranômetro ou pirgeômetro) absorvem e

quantificam a radiação incidente e refletida em diferentes regiões do espectro eletromagnético.

Sendo assim, pode-se estimar os valores de albedo em diferentes superfícies (FLORENZANO,

2011).

Outro fator que altera a temperatura das cidades, além das propriedades radiantes da

superfície, é a composição da paisagem e a morfologia urbana. Os padrões de adensamento,

influenciam no sombreamento e no fluxo de ar (ERELL, PEARMUTTER, WILLIAMSON, 2010).

Por isso, o método de classificação das Zonas Climáticas Locais (ZCL) proposto Stewart & Oke

(2012), através do levantamento de dados de cobertura do solo, permite relacionar as

características da morfologia ao clima de determinado recorte. Sendo assim, este trabalho visa,

por intermédio de um estudo e aquisição de dados in loco, investigar as propriedades térmicas

de dois trechos de pavimento asfáltico e identificar se há uma relação entre a ZCL e as

temperaturas de superfície, a fim de melhorar as condições de conforto e do microclima local.

2 OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é analisar o comportamento térmico da superfície pavimentada e

identificar se há uma correlação entre a Zonas Climáticas Locais e a temperatura de superfície.

3 MÉTODO DE ANÁLISE

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Esta pesquisa se classifica como teórico-experimental e foi segmentada em quatro etapas principais:

Seleção das áreas de estudo;

Aquisição dos dados de temperatura, umidade e vento;

Caracterização das ZCL;

Análise de dados.

Na Figura 1 consta um fluxograma detalhado apresentando cada passo e material utilizado na

pesquisa

Figura 1: Fluxograma do procedimento metodológico

Fonte: AUTORES, 2020.

3.1 Classificação das Zonas Climáticas Locais

Segundo Stewart e Oke (2012), as Zonas Climáticas Locais (ZLC) são áreas com uma estrutura

urbana de construção, inúmeros tipos de materiais e diversos tipos de uso do solo no meio

ambiente provenientes de atividades humanas. A ZLC é determinada conforme a temperatura

da superfície seca, com a atmosfera tranquila, noites claras em zonas com relevo suave e devem

possuir um diâmetro mínimo de 400 a 1000 m (STEWART & OKE, 2012).

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O método proposto representa um sistema separado em dezessete Zonas Climáticas Locais

(ZLC’s) padronizadas, sendo dez estabelecidas pela tipologia da construção do solo e sete tipos

de coberturas do solo (STEWART & OKE, 2012).

Stewart e Oke (2012) sugeriram que a intensidade dos focos de calor seja avaliada pela diferença

de temperatura entre as ZLC’s e não pela diferença entre rural e urbano.

Mas Monteiro (2018) analisou que ao se empregar e classificar a ZLC, se conhecendo a

morfologia e utilidade do solo é possível distinguir as áreas rurais das urbanas. Os centros

urbanos, em grande parte, são cobertos por materiais de cor escura que captam energia solar e

liberam calor no ambiente, além da impermeabilidade da superfície, o que acaba dificultando a

evaporação da água do pavimento assim prejudicando o resfriamento (NETO, 2015).

Para a classificação da ZCL, conforme o método de Stewart e Oke (2012), foi delimitada uma

região com um diâmetro de 400 m em relação ao ponto de coleta de dados, conforme a Figura

7 e 10 (a). O método leva em consideração parâmetros da morfologia urbana, como: Fração de

superfície permeável (S.P), Impermeável (S.I) e Edificada (S.E) conforme o Quadro 1 e 2, Fator

de Visão do Céu (FVC), Relação (H/W), a qual consiste na razão entre a Altura média das

edificações (H) e a Largura média nas seções da via (W) e a Altura dos Elementos de Rugosidade

(A.E.R), ou seja as construções.

3.2 Seleção da Área de Estudo

Engenheiro Coelho encontra-se no território sudeste do Brasil, no estado de São Paulo a 160 km

da capital. Conforme uma aproximação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020)

a região possui uma altitude de 655 metros e uma área de 109,9 km² com uma população

estimada de 21.249 habitantes. A região apresenta verões longos e abafados e inverno curto e

agradável.

O primeiro local é um recorte do pavimento asfáltico pertencente ao Condomínio Lagoa Bonita,

R. Alameda Ipê Amarelo 247, Latitude 22°29,31’93’’ Sul e Longitude 47°10’15,65’ Oeste. Este

local exibe uma densidade baixa de residências, com alguns vazios no recorte que são

preenchidos por vegetação originária do lote e solo permeável, isso em função da ausência

momentânea de construções conforme ilustrado na Figura 2.

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Figura 2: Indicação da Rua Alameda Ipê Amarelo: (a) foto aérea, (b) vista frontal

(a) (b) Fonte: (a) ADAPTADA GOOGLE MAPS, (b) AUTORES, 2020

O segundo local é um recorte do pavimento asfáltico no Condomínio Jacarandá, R. Francisco

Regiani 225, Latitude 22°28’31,32” Sul e Longitude 47°9’35,04” Oeste. Este local aponta uma

densidade construtiva inferior se comparado ao condomínio anterior, cobertura vegetal natural

e, consequentemente, um menor sombreamento por ser um condomínio com todos os lotes

demarcados de acordo com a Figura 3.

Figura 3: Indicação da Rua Francisco Regiani – Condomínio Jacarandá: (a) foto aérea, (b) vista frontal

(a) (b) Fonte: (a) ADAPTADA GOOGLE MAPS, (b) AUTORES, 2020

3.3 Coleta de Dados

O experimento ocorreu durante a estação do verão. Para a realização da pesquisa no local foram

instalados os seguintes equipamentos em cada condomínio: um anemômetro com sua biruta

orientada para o norte, um Termo – Higrômetro HOBO a uma altura de 200 cm em relação a

superfície pavimentada e cinco sensores de temperatura DS18b20 Tipo Sonda conectados a

caixa coletora de dados JVI na superfície de cada pavimento asfáltico.

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Os sensores foram posicionados em diferentes distâncias em relação à sarjeta a fim de avaliar

as possíveis diferenças de temperaturas dentro do recorte do trecho. Além disso, foram

posicionadas aproximadamente 1,0 m em relação à sarjeta pra que prejudicasse o tráfego de

veículos no condomínio, conforme ilustrado na Figura 4 e 5.

Figura 4: Esquema de Montagem dos Sensores DS18b20 Tipo Sonda na Superfície Pavimentada

Fonte:

AUTORES, 2020

Figura 5: Esquema Real dos Sensores DS18b20 Tipo Sonda Instalados no Local

Fonte:

AUTORES, 2020

4 RESULTADOS

A análise de resultados desta pesquisa busca relacionar as características do traçado urbano às

propriedades térmicas da superfície pavimentada em dois locais de estudo, com o intuito de

identificar se há alguma influência direta da classificação das Zonas Climáticas Locais na

temperatura superficial dos pavimentos.

Para isso, a justificativa dos resultados está embasada na caracterização microclimática do local,

relacionando a umidade relativa, velocidade e direção do vento às variações térmicas do

pavimento asfáltico.

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4.1 Caracterização do Recorte no Condomínio Lagoa Bonita

Na Figura 6 é apresentado a direção do vento dominante no Lagoa Bonita, e mostra como este

passa pelo recorte estudado.

Figura 6: Microclima do recorte no Condomínio Lagoa Bonita – Rosa dos ventos indicando a direção dos ventos

dominantes e suas velocidades

Fonte:

AUTORES, 2020.

A direção do vento dominante no dia da coleta, conforme apresentado na Figura 6, incide a

sudoeste, ou seja, perpendicularmente à seção do recorte urbano e com velocidade de 0,5 a

2,10 m/s. Esses ventos ocorreram com 52,5% de frequência durante o período. Na Figura 7 é

apresentado a frequência dos ventos dominantes.

Figura 7: Frequência dos ventos dominantes no recorte do Condomínio Lagoa Bonita

Fonte: AUTORES, 2020.

Conforme mencionado por Erell, Pearlmutter e Williamson (2010), o fluxo de ar que passa sobre

o topo do recorte impede que a radiação de onda longa emitida pelas superfícies seja dissipada

41,7

52,5

50 0 0 0

0

10

20

30

40

50

60

Freq

uên

cia

do

s ve

nto

s (

%)

Vento (m/s)

Velocidade do Vento (m/s)

≥ 11,10

8,80 – 11,10

5,70 – 8,80

3,60 – 5,70

2,10 – 3,60

0,50 – 2,10

Calmo: 41,7% (m/s)

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para atmosfera, o que provoca um acúmulo de calor. No local do experimento, existe um vazio

na parte lateral direita do recorte, como pode ser observado na Figura 2 (a), este espaço permite

que uma parte da corrente de ar se dissipe no ambiente e uma porção do calor acumulado seja

perdido.

Na Figura 8 é apresentado a determinação das áreas e o fator de visão do céu do recorte no

Condomínio Lagoa Bonita.

Figura 8: Parâmetros de Estudo – (a) Frações de Superfícies, (b) FVC

(a) (b) Fonte: ADAPTADA GOOGLE MAPS, 2020 E AUTORES, 2020 .

No Quadro 1 são indicados os valores obtidos para a classificação da Zona Climática Local do

Condomínio Lagoa Bonita.

Quadro 1: Determinação da ZCL na área demarcada – Condomínio Lagoa Bonita

FVC H/W S.E (%)

S.I (%)

S.P (%)

A.E.R (M)

Imagem Classificação

0,8 0,2 17,5 44,5 37,9 5-7

ZCL 6

Fonte: AUTORES, 2020

A área delimitada para estudo no Condomínio Lagoa Bonita apresenta uma disposição

construtiva aberta com edificações baixas e com recuo frontal. As construções têm cerca de 5 a

7 metros de altura e representam 17,5% de superfície edificada no ambiente delimitado.

Mesmo tendo uma área impermeável notável de 44,5%, sua cobertura vegetal é considerável,

representando 37,9% de área permeável com plantas baixas e árvores espalhadas pelo local.

Legenda – Quadro 1 •FVC – Fator de Visão do céu’; •H/W – Relação altura e seção da via; •S.E – Superfície Edificada; •S.I – Superfície Impermeável; •S.P – Superfície Permeável; •A.E.R – Altura média das Construções.

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Seguindo os parâmetros sugerido por Stewart & Oke (2012) essa zona climática se assemelha a

ZCL 6.

4.2 Caracterização do Recorte no Condomínio Jacarandá

Na Figura 9 é apresentado a direção do vento dominante no Condomínio Jacarandá e mostra

como o vento dominante passa no recorte estudado.

Figura 9: Microclima do recorte no Condomínio Jacarandá – Rosa dos ventos indicando a direção dos ventos

dominantes e suas velocidades

Fonte: AUTORES, 2020

Na Figura 10 é

apresentada a frequência dos ventos dominantes do Condomínio Jacarandá.

Figura 10: Frequência dos ventos dominantes no recorte do Condomínio Jacarandá

Fonte: AUTORES, 2020

A Rua Francisco Regiani, situada no Condomínio Jacarandá, está orientada a sudoeste conforme

a Figura 3(a). Nos dias da coleta, o vento predominante registrado pelo anemômetro neste local

incide a noroeste, ou seja, perpendicularmente à seção do recorte, provocando o mesmo efeito

33,3

55

10,8

0 0 0 00

10

20

30

40

50

60

Freq

uên

cia

do

s ve

nto

s (%

)

Vento (m/s)

≥ 11,10

8,80 – 11,10

5,70 – 8,80

3,60 – 5,70

2,10 – 3,60

0,50 – 2,10

Velocidade do Vento (m/s)

Calmo: 41,7% (m/s)

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térmico que no Condomínio Lagoa Bonita, a frequência que os ventos de 0,50 a 2,10 m/s

interferem no meio é de 55% do tempo da coleta.

Devido a uma menor densidade construtiva e a presença de espaços vazios, pode haver uma

menor turbulência do fluxo de ar, o que implica em uma melhor dissipação do calor preso na

malha intraurbana.

Entretanto, existe uma outra hipótese: se os ventos dominantes estivessem passando paralelos

à seção do recorte, a radiação emitida pelas superfícies seria carregada pelo fluxo de ar e

favorecendo a dissipação do calor juntamente com os espaços vazios.

Na Figura 11 é apresentada a determinação das áreas e o fator de visão do céu no recorte do

Condomínio Jacarandá.

Figura 11: Parâmetros de Estudo – (a) Frações de Superfícies, (b) FVC

(a) (b)

Fonte: ADAPTADA GOOGLE MAPS, 2019 E AUTORES, 2020.

No Quadro 2 são indicados os valores obtidos para a classificação da Zona Climática Local do

Condomínio Jacarandá.

Quadro 2: Determinação da ZCL na Área Demarcada – Condomínio Jacarandá

FVC H/W S.E (%)

S.I (%)

S.P (%)

A.E.R (M)

Imagem Classificação

0,9 0,1 7,6 32,9 59,4 4-6

ZCL 9

Fonte: AUTORES, 2020

A área demarcada no Condomínio Jacarandá apresenta uma distribuição construtiva mais aberta

Legenda – Quadro 2 •FVC – Fator de Visão do céu’; •H/W – Relação altura e seção da via; •S.E – Superfície Edificada; •S.I – Superfície Impermeável; •S.P – Superfície Permeável; •A.E.R – Altura média das Construções.

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e espalhada que o Lagoa Bonita. Suas edificações têm cerca de 4 a 6 metros de altura e uma

superfície edificada com cerca de 7,6%. Sua cobertura vegetal rasteira é mais abundante em

relação ao Lagoa Bonita, representando cerca de 59,4% da superfície permeável, com plantas

baixas e pouquíssimas árvores distribuídas pelo local classificando-se como ZLC 9.

4.3 Velocidade dos Ventos

Na Figura 12 é apresentada a diferença de velocidade média dos ventos nos recortes dos

Condomínios Lagoa Bonita e Jacarandá durante o período do dia e a noite.

Figura 12: Diferença de velocidade média dos ventos nos recortes dos Condomínios Lagoa Bonita e Jacarandá

Fonte: AUTORES, 2020

Nota-se que a velocidade média no recorte do Jacarandá apresentou variações de

aproximadamente 1 m/s geralmente identificadas no final da tarde em relação ao recorte do

Condomínio Lagoa Bonita em todo período de coleta, conforme apresentado na Figura 12.

Pelo fato da área demarcada no Condomínio Jacarandá ter uma maior área de campo aberto,

um menor adensamento de edificações, pouca massa vegetada e apresentar menos barreiras

que a área delimitada no Residencial Lagoa Bonita.

Segundo Erell, Pearlmutter, Williamson (2010), a direção do vento também é afetada pela forma

de edifícios, pelo padrão de ruas e espaços abertos, inclusive pela topografia local. Em termos

de velocidade, o fluxo de ar do dossel pode ser caracterizado pela calmaria nas regiões de

topografia mais baixa, ventos fortes ao longo de ruas orientadas na direção paralela ao vento e

redemoinhos através das ruas perpendiculares aos ventos.

4.4 Propriedades Radiantes do Pavimento

0,56

-1,13

0,15

-1,01

-1,39

0,49

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

ΔV

elo

cid

ade

méd

ia (

m/s

)

UTCVMÉD_LAG - JAC

Dia Dia Dia Dia Dia

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São apresentados no Quadro 3 os índices de refletância e absortância das superfícies

pavimentadas das duas áreas de estudo.

Quadro 3: Índices de refletância e absortância dos pavimentos estudados

Fonte: AUTORES, 2020

Figura 13: Imagens termográficas das ruas estudas: Jacarandá (a), Lagoa Bonita (b)

(a) (b)

Fonte: AUTORES, 2020

As imagens termográficas apresentadas na Figura 13, demonstram que há um maior acúmulo

de calor na superfície do pavimento do Condomínio Lagoa Bonita. Esse fato pode ser explicado

em consequência da coloração mais escura e maior taxa de absorção desse pavimento (0,93),

além do sombreamento vegetal e orientação do vento dominante em relação a superfície

pavimentada do Condomínio Jacarandá (0,89).

4.5 Pavimento e Microclima – Temperatura do Ar e Superficial

A Figura 14 é apresentada uma comparação da temperatura superficial do pavimento com a do

ar dos Condomínios Lagoa Bonita e Jacarandá. Figura 14: Comparação das temperaturas superficiais dos pavimentos asfálticos e do ar – Recorte do Lagoa Bonita

e Jacarandá

Local de Análise Jacarandá – (JAC) Lagoa Bonita - (LAG)

Refletância [ρ] 0,11 0,07

Absortância [α] 0,89 0,93

Dia Dia Dia Dia

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Fonte: AUTORES, 2020

Na Figura 14, percebe-se que a temperatura de superfície e do ar no trecho do Lagoa Bonita

(LAG) é superior em relação ao Jacarandá (JAC). Além disso, percebe-se que a maior variação

ocorre no período diurno, e é de aproximadamente 2°C.

4.6 Pavimento e Microclima – Umidade Relativa do ar e Temperatura Superficial Asfáltica

A Figura 15 é mostrada uma comparação da temperatura superficial do pavimento com a

umidade relativa do ar dos recortes do Lagoa Bonita e Jacarandá.

Figura 15: Diferença da temperatura dos pavimentos asfálticos e umidade relativa do ar – Recorte do Lagoa

Bonita e Jacarandá

Fonte: AUTORES, 2020

20

25

30

35

40

45

50

Tem

per

atu

ra [

°C]

TS_LAG (°C) Tar_LAG (°C) TS_JAC (°C) Tar_JAC (°C)

Dia

96,6595,09 97,31 100 100 91,39

93,72 93,25 94,09

97,51 98,0390,95

40

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Na Figura 15 nota-se a diferença de umidade relativa do ar em ambos os Condomínios. Sendo

assim, no recorte do Lagoa Bonita a umidade é superior, isso se dá em virtude de uma maior

cobertura vegetada em comparação com o recorte do Jacarandá. Durante o período de coleta

ocorria chuvas em focos específicos, isso explica a alta umidade diurna nos dias 12, 14 e 15 de

março.

5 CONCLUSÃO

Este estudo teve como finalidade analisar se a morfologia urbana influencia as variáveis

climáticas de um recorte espacial em dois condomínios no município de Engenheiro Coelho –

SP. Para isso, foram consideradas algumas variáveis climáticas, como: Temperatura de

superfície, temperatura do ar, umidade relativa, velocidade e direção do vento.

Nesse processo, percebe-se que os ventos dominantes em ambos os condomínios passam

perpendicularmente às vias, ou seja, nas orientações sudoeste e noroeste dos recortes. Desta

forma, poderia ocorrer a formação de redemoinhos, conforme mencionado por Erell,

Pearlmutter, Williamson (2010). É importante destacar também que em ambas as configurações

o fator de visão do céu possui um valor elevado, o que associado ao vento, pode favorecer a

dissipação de calor.

O recorte estudado no condomínio Jacarandá não possui uma forma bem definida. No local

existem muitos espaços vazios e uma frequência de ventos mais elevada, assim o calor tende a

se dissipar, registrando temperaturas superficiais menores.

No recorte do Lagoa Bonita os valores do albedo da superfície pavimentada, apresenta um

menor albedo, o que explica a maior absorção de calor, resultando em uma temperatura

superficial do pavimento mais elevada.

Em relação à temperatura do ar, há uma variação média de 2°C, com um registro máximo de

aproximadamente 5°C entre os dois condomínios. Esse fato pode ser explicado, devido à baixa

velocidade do vento causada pela turbulência na malha interurbana, que é mais intensa no

recorte do condomínio mais adensado, no caso o Lagoa Bonita.

A velocidade do vento no recorte do Condomínio Jacarandá apresentou registros de até 1,0 m/s

a mais do que o Lagoa Bonita, por conta da rugosidade da malha, em função da altura média

das edificações e dos elementos que compõe esse recorte.

Em relação à umidade relativa no recorte do Condomínio Lagoa Bonita, a Figura 15 mostra que

por ter uma maior área de cobertura vegetal, os valores de umidade relativa são superiores ao

Condomínio Jacarandá.

Com o modelo de Stewart & Oke percebe-se que na ZCL 6, a temperatura superficial dentro da

malha urbana é superior em relação à ZCL 9. Esse fato pode ser explicado devido à maior

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quantidade de superfície impermeável e edificada.

A ZCL 9 apresenta uma maior intensidade de ventos, possivelmente por haver menor

turbulência em consequência dos poucos obstáculos. Além disso, apresenta um pavimento com

maior albedo, e poucos elementos de sombreamento, o que torna um ambiente com condições

térmicas menos favoráveis.

Por fim, entende-se que este trabalho pode ser ampliado, considerando o estudo de outras

superfícies, morfologias, locais de implantação, correlacionando as variáveis, como Fator de

Visão do Céu, Relação H/W, Taxa de superfície permeável, edificada e impermeável à variação

de temperatura do ar.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e ao Centro Universitário

Adventista de São Paulo (UNASP) pelo suporte em todas as etapas da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORBELLA, O. D. Ã.; MAGALHÃES, M. A. A. A. Conceptual differences between the bioclimatic urbanism for Europe and for the tropical humid climate. Renewable Energy, v. 33, p. 1019–1023, 2008. CHENG, V. Predicting thermal performance of building design in Hong Kong: scale-model measurement and field study. 2004. 171p. Thesis (Master of Philosophy in Architecture) - The Chinese University of Hong Kong, Hong Kong. 2004. ERELL, E.; PEARLMUTTER, D.; WILLIAMSON, T. Urban Microclimate: Designing the Spaces between Buildings. London: Earthscan, 2010. FLORENZANO, T. G. Iniciação em sensoriamento remoto: imagens de satélite para estudos ambientais. São Paulo: ficina de textos, 2007. 101p. FRANCO, F. M. Análise do comportamento termo-higrométrico urbano sob a ótica do uso e ocupação do solo em Cuiabá-MT. 2013, 124f. Tese (Doutorado em Física Ambiental), Instituto de Física, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2013. GARTLAND, L. Ilhas de calor: como mitigar zonas de calor em áreas urbanas / Lisa Gartland; Tradução Silvia Helena Gonçalves. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais: Estimativas da população residente com data de referência 1 ͦ de julho de 2020 MENDONÇA, F; DANNI-OLIVEIRA, I M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de texto, 2007. 206p. Sociedade & Natureza, v. 22, n. 3, 18 mar. 2011. MONTEIRO, V. S. Zonas Climáticas Locais e a relação com a morfologia urbana. Estudo de caso: Campinas/SP. 2018, 167f. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, Brasil, 2018. NETO, R. X. DE M. Temperatura da Superfície nos Materiais de Pavimentação: uma contribuição ao desenvolvimento urbano. 2015, 159f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2015.

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STEWART, I. D.; OKE, T. R. Local climate zones for urban temperature studies. Bulletin of the American Metheorological Society, v. 93, n. 12, p. 1879–1900, 2012.