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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/09/2017 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/09/2017 1 Análise da presença de mulheres na realização de longas-metragens pernambucanos entre 1997 e 2016 1 Bruna de Almeida GOMES 2 Crystal Ribeiro COSTA 3 Maria Júlia de Queiroga VIEIRA 4 Juliano Domingues da SILVA 5 Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE Resumo A presente pesquisa possui viés exploratório e investiga a presença de mulheres no mercado de realização de filmes longa-metragem de ficção no cenário cinematográfico pernambucano. Ela oferece uma resposta à pergunta: como as mulheres estão situadas no mapa da realização cinematográfica pernambucana? O recorte é do filme Baile Perfumado (1997) a Aquarius (2016). A partir de uma análise sistemática de fichas técnicas das obras compreendidas nesse período, foi possível verificar a distribuição da presença feminina nas áreas de direção, roteirização e produção. O mapeamento indicou desigualdade de gênero em termos de ocupação, principalmente na função de direção. Palavras-chave: Cinema. Economia Política da Comunicação. Mulheres. Pernambuco. Introdução Esta pesquisa se propôs a mapear a presença das mulheres na realização de longa- metragens pernambucanos, no período entre o lançamento dos filmes Baile Perfumado (1997) e Aquarius (2016), nas áreas de direção, produção e roteiro. A investigação foi guiada pelo seguinte problema: como as mulheres estão situadas no mapa da realização cinematográfica pernambucana? A hipótese do trabalho sugere que o meio cinematográfico ainda é comandado por homens e esse resultado se reflete na produção de conteúdo. O desenvolvimento da investigação foi realizado através do método de análise documental, na forma quantitativa (DUARTE, 2009). Foram identificados 23 filmes lançados entre 1997 e 2016. A partir da análise das fichas técnicas 6 desses longas-metragens, foi 1 Trabalho apresentado no IJ 8 Estudos Interdisciplinares do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Nacional, realizado de 04 de setembro a 09 de setembro de 2017. 2 Estudante de Graduação, 6º semestre do Curso de Jornalismo da Unicap, email: [email protected] 3 Estudante de Graduação, 6º semestre do Curso de Jornalismo da Unicap, email: [email protected] 4 Estudante de Graduação, 6º semestre do Curso de Jornalismo da Unicap, email: [email protected] 5 Orientador do trabalho, professor da Unicap. email. [email protected] 6 As fichas técnicas dos 23 filmes analisados neste trabalho estão em um banco de dados produzido pelas pesquisadoras disponível no link: https://drive.google.com/open?id=0B-T8Y1rmXmOWbUJMUWN3NVd3UUU

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Análise da presença de mulheres na realização de longas-metragens pernambucanos

entre 1997 e 20161

Bruna de Almeida GOMES2

Crystal Ribeiro COSTA3

Maria Júlia de Queiroga VIEIRA4

Juliano Domingues da SILVA5

Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE

Resumo A presente pesquisa possui viés exploratório e investiga a presença de mulheres no mercado de

realização de filmes longa-metragem de ficção no cenário cinematográfico pernambucano. Ela oferece

uma resposta à pergunta: como as mulheres estão situadas no mapa da realização cinematográfica

pernambucana? O recorte é do filme Baile Perfumado (1997) a Aquarius (2016). A partir de uma

análise sistemática de fichas técnicas das obras compreendidas nesse período, foi possível verificar a

distribuição da presença feminina nas áreas de direção, roteirização e produção. O mapeamento

indicou desigualdade de gênero em termos de ocupação, principalmente na função de direção.

Palavras-chave: Cinema. Economia Política da Comunicação. Mulheres. Pernambuco.

Introdução

Esta pesquisa se propôs a mapear a presença das mulheres na realização de longa-

metragens pernambucanos, no período entre o lançamento dos filmes Baile Perfumado (1997)

e Aquarius (2016), nas áreas de direção, produção e roteiro. A investigação foi guiada pelo

seguinte problema: como as mulheres estão situadas no mapa da realização cinematográfica

pernambucana? A hipótese do trabalho sugere que o meio cinematográfico ainda é

comandado por homens e esse resultado se reflete na produção de conteúdo.

O desenvolvimento da investigação foi realizado através do método de análise

documental, na forma quantitativa (DUARTE, 2009). Foram identificados 23 filmes lançados

entre 1997 e 2016. A partir da análise das fichas técnicas6 desses longas-metragens, foi

1 Trabalho apresentado no IJ 8 – Estudos Interdisciplinares do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

Nacional, realizado de 04 de setembro a 09 de setembro de 2017. 2 Estudante de Graduação, 6º semestre do Curso de Jornalismo da Unicap, email: [email protected]

3 Estudante de Graduação, 6º semestre do Curso de Jornalismo da Unicap, email: [email protected]

4 Estudante de Graduação, 6º semestre do Curso de Jornalismo da Unicap, email: [email protected]

5 Orientador do trabalho, professor da Unicap. email. [email protected]

6 As fichas técnicas dos 23 filmes analisados neste trabalho estão em um banco de dados produzido pelas pesquisadoras

disponível no link: https://drive.google.com/open?id=0B-T8Y1rmXmOWbUJMUWN3NVd3UUU

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contabilizado o número de mulheres que participaram da realização dos filmes nas áreas de

direção, produção e roteiro.

A investigação baseou-se em Rodrigues (2007) como referência para estabelecer a

distinção entre as três funções. Nesse sentido, entende-se como diretor “o responsável pelo

resultado final das imagens no sentido artístico”, de modo a registrar de maneira eficaz cada

ação, detalhe, cena e enquadramento. Já o produtor tem como principal papel tornar o filme

algo concreto, ou seja, captar recursos, contratar roteirista, diretor, produtor executivo e tudo

o que for necessário para a realização do projeto. A função do roteirista, por sua vez, varia

muito com relação ao estilo de filme produzido. Ele pode adaptar um livro em filme,

desenvolver uma ideia ou escrever um musical. O filme nasce a partir do roteiro. Para efeitos

deste trabalho, considera-se o termo “realizador” como aquele que contribui

significativamente para que o filme se torne realidade, seja ele diretor, produtor ou roteirista.

O trabalho de “realização” de um filme se concretiza com o empenho de todos esses

profissionais juntos. O levantamento teve como objetivo principal apresentar o quantitativo de

mulheres presentes nas áreas de produção, direção e roteiro nesse intervalo de tempo e

sistematizar a evolução feminina na indústria cultural cinematográfica pernambucana.

Como resultados, a análise mostrou que a mulher, ainda que presente em mais da metade

dos longas realizados entre 1997 e 2016 em Pernambuco, não possui uma participação

equiparada à do homem, que está presente em 100% dos filmes. Sua presença se dá em maior

quantidade em áreas administrativas que é o caso da produção. Ela está presente em menos

quantidade em cargos de chefia (direção) e exigência criativa (roteiro). A investigação

também identificou que esta presença também se dá, em parte, pela relação conjugal entre

diretores (cargo de chefia) e cargos subordinados (produção e roteiro).

Cinema pernambucano: uma breve contextualização

A história do cinema em Pernambuco começou no século XX, com a primeira exibição

em 1902, no centro da cidade, no Animatografo da Rua Imperatriz, segundo Nogueira (2009).

Mais tarde, houve o Ciclo do Recife (1923 a 1931). Chama-se “ciclo” porque é um período de

grande produção e realização cinematográfica.

A produção cinematográfica do Ciclo do Recife possui como características a utilização

de recursos próprios para a realização dos filmes, a apropriação da linguagem dos clássicos

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americanos e largo emprego de profissionais sem formação específica em cinema ou

audiovisual, pois, naquela época, não existia ainda uma graduação em cinema. De acordo com

Figuerôa (1994), com o advento do som, elevou-se o custeio para se produzir um filme e isso

acarretou no declínio desse ciclo.

Na década de 1970 existiu o movimento Super 8 e surgiu como um cinema mais

doméstico, ainda com os cineastas arcando com os custos da filmagem e da revelação, o que

ocorria de maneira caseira (Nogueira, 2009). Nos anos 70 ainda não existia uma graduação

específica, então a maioria dos cineastas era formado em jornalismo, a exemplo de Geneton

Moraes Neto. Segundo Figuerôa (1994), em cerca de 200 filmes, entre curtas, médias e

longas-metragens, os amantes da sétima arte percorreram as ruas do Recife falando sobre

vaqueiros, caboclinhos, maracatus, capturando imagens de pontes e rios.

Em meados dos anos 80, o ciclo já havia entrado em declínio. Foi quando surgiu uma

produção de curtas-metragens realizados por alunos do curso de Comunicação Social da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Destacam-se as produções de um grupo

denominado de Vanretrô, contração do termo Vanguarda Retrógrada. “Essa dicotomia entre a

modernidade/tradição, passado/presente, que se observa já no nome do grupo, vai acompanhar

a produção posterior dos cineastas” (NOGUEIRA, 2009, pág. 41).

O grupo Vanretrô era constituído por dez pessoas, seis delas mulheres e quatro homens.

Eles eram: Adelina Pontual, Andréa Paula, Cláudia Silveira, Patrícia Luna, Valéria Ferro,

Solange Rocha, Cláudio Assis, André Machado, Samuel Paiva e Lírio Ferreira. Paulo Caldas

participava de reuniões do grupo, mas não o integrava. (Op. Cit., 2009).

A Retomada do Cinema Pernambucano

A retomada do cinema pernambucano ocorreu na década de 90, mais precisamente em

1997 com o filme Baile Perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. Segundo Gomes

(2016), a recuperação do cinema foi bastante frutífera para Pernambuco, cujas produções

receberam diversos prêmios internacionais e nacionais.

O cenário formado foi próspero tanto com relação ao conteúdo produzido quanto as

mudanças trazidas pelas tecnologias digitais. “Com o cenário favorável, pequenas produtoras,

como a Símio Filmes e a Trincheira Filmes têm lançado filmes de boa repercussão”

(GOMES,2016, p.59).

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Uma série de fatores caracteriza esse momento como um ciclo, mas, um dos itens

relevantes nesse processo foi à criação de mecanismos de financiamento, algo que tinha sido

almejado pelos cineastas.

“A prefeitura de Recife, por exemplo, criou o Sistema de Incentivo à Cultura

(SIC), que funciona por meio de renúncia fiscal e teve o último edital

publicado em 2012. No âmbito dos mecanismos estaduais, o principal recurso

é o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, o Funcultura, instaurado em

2002.” (GOMES, 2016, p.59)

Mulher na Indústria Cultural

Indústria cultural7 é o termo usado para designar um modo de fazer cultura a partir da

lógica da produção industrial. Ela pode ser literária, cinematográfica, teatral, musical e entre

outras.

O espaço cinematográfico é palco para a representação do melhor e pior da

humanidade. Atores, diretores, roteiristas, figurinistas e todos que cercam esse meio ficam

durante meses ou até mesmo anos se dedicando a dar vida aos projetos.

Ao falar sobre a mulher na indústria cultural, deve-se analisar:

Macro estruturas: participação das mulheres nos níveis financeiros das

empresas, como acionistas ou patrocinadoras, por exemplo;

Médias estruturas: participação das mulheres na produção, criação e

edição de conteúdos, incluindo as políticas de produção e edição;

Micro estruturas: se os conteúdos produzidos pelos meios de

comunicação analisam a representação das mulheres como sujeitos

promotores dos seus direitos humanos. (BYERLY; ROSS apud

VELOSO, 2013, p.103)

Filmografia analisada

Não se sabe ao certo quantos filmes de longa-metragem foram realizados entre 1997 e

2016. Ao pesquisar sobre o assunto, foi elaborada pelas autoras uma lista baseada nas fichas

técnicas disponíveis no site Cineclick8. A partir delas, 23 filmes foram identificados. Em 18

7 O termo foi usado pela primeira vez, no primeiro capítulo do livro: Dialética do Esclarecimento, escrito em 1942, mas

publicado somente em 1947, escrito por Theodor Adorno (1903-1969) e Marx Horkheimer (1895-1973). 8 Foram selecionadas 23 fichas técnicas do banco de dados do portal Cineclick para a produção da tabela 1 e 2.

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deles, observa-se a presença de mulheres na sua produção, direção ou roteiro de longa-

metragem.

A partir desta pesquisa, foi elaborada a tabela a seguir, a qual resume a base de dados

para esta investigação:

Tabela 1 – Lista de filmes pernambucanos (1997-2016)

Nome dos Filmes Ano

Baile Perfumado 1997

Amarelo Manga 2002

Cinema, Aspirinas e Urubus 2005

Árido Movie 2006

Baixio das Bestas 2007

Deserto Feliz 2007

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo 2009

Febre do Rato 2011

Boa Sorte, Meu Amor 2012

Eles Voltam 2012

O Som ao Redor 2012

Era uma Vez Eu, Verônica 2012

Jardim Atlântico 2012

Amor, Plástico e Barulho 2013

Tatuagem 2013

A História da Eternidade 2014

Sangue Azul 2014

Ventos de Agosto 2014

A Luneta do Tempo 2015

Boi Neon 2015

Permanência 2015

Aquarius 2016

Big Jato 2016

Fonte: As autoras, 2016.

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Análise dos dados

O panorama da produção de longas-metragens de ficção em Pernambuco mostra que dos

23 filmes analisados no período entre Baile Perfumado (1997) e Aquarius (2016), 18 tiveram

participação de mulheres em alguma de suas três categorias principais de realização (direção,

roteiro e produção). Cinco deles, entretanto, não apresentam mulheres em suas respectivas

fichas técnicas.

Gráfico 1 – Presença de mulheres e homens na Direção, Roteiro e Produção (1997-2016)

Fonte: As autoras, 2016.

Dessa forma, é possível notar que, enquanto os homens estiveram presentes em todas as

áreas analisadas, não se observou nenhum caso de filme em que só houve mulheres em sua

realização. Ao mesmo tempo, há cinco longas-metragens cujas funções analisadas foram

apenas preenchidas por homens. Ainda assim, as mulheres estiveram presentes em mais da

metade da realização de filmes pernambucanos.

A participação de mulheres é verificada tanto na direção quanto no roteiro e na produção.

Uma das diferenças entre a atuação delas e a dos homens se dá pela quantidade de vezes em

que é possível observar somente mulheres nessas áreas. Enquanto apenas um filme da lista foi

dirigido somente por mulheres (Amor, Plástico e Barulho, 2013), nenhum dos longas entre

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1997 e 2016 foi apenas escrito por mulheres, todos têm homens presentes nessa área. Já

enquanto produtoras, a área em que foi observada a maior participação de mulheres, seis dos

longas metragens foram somente produzidos por mulheres e 18 têm, pelo menos, um homem

na produção.

Dentre as três áreas analisadas, as mulheres estão presentes em maior número na área de

produção. Os números decaem quando se analisa a área de roteiro (três deles têm mulheres

em sua realização) e mais ainda no exercício da direção (existe apenas um filme dirigido por

uma mulher em todo o período).

A tabela a seguir mostra a distribuição das funções das mulheres nos filmes analisados:

Tabela 2 – Lista de longas-metragens pernambucanos e suas funções (1997-2016)

Nome do Filme Ano Função Quantidade

de mulheres

presentes Baile Perfumado 1997 Direção: Lírio Ferreira e Paulo Caldas

Roteiro: Hilton Lacerda, Lírio Ferreira e Paulo

Caldas Produção: Aniceto Ferreira, Beto Monteiro

0

Amarelo Manga 2002 Direção: Cláudio Assis Roteiro: Hilton Lacerda Produção: Cláudio Assis, Paulo Sacramento

0

Cinemas, Aspirinas e

Urubus 2005 Direção: Marcelo Gomes

Roteiro: Karim Ainouz, Paulo Caldas, Marcelo

Gomes Produção: João Vieira Jr, Maria Ionescu, Sara

Silveira

2

Árido Movie 2006 Direção: Lírio Ferreira Roteiro: Lírio Ferreira, Hilton Lacerda, Sérgio

Oliveira, Eduardo Nunes Produção: Lírio Ferreira, Murilo Salles

0

Baixio das Bestas 2007 Direção: Cláudio Assis Roteiro: Cláudio Assis, Hilton Lacerda Produção: Cláudio Assis, Julia Moraes

1

Deserto Feliz 2007 Direção: Paulo Caldas Roteiro: Paulo Caldas, Marcelo Gomes, Manoela

Dias, Xico Sá Produção: Germano Coelho Filho

1

Viajo Porque Preciso,

Volto Porque Te

Amo

2009 Direção: Marcelo Gomes, Karim Ainouz Roteiro: Eduardo Bernardes, Karim Ainouz,

Marcelo Gomes Produção: Daniela Capelato

1

Febre do Rato 2011 Direção: Cláudio Assis 1

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Roteiro: Hilton Lacerda Produção: Cláudio Assis, Marcello Ludwig Maia,

Julia Moraes Boa Sorte, Meu

Amor 201 Direção: Daniel Aragão

Roteiro: Daniel Aragão, Gregorio Graziosi, Luiz

Otávio Pereira Produção: Isabela Cribabi, Manoela Torres,

Nara Aragão, Pedro Severien

3

Eles Voltam 2012 Direção e Roteiro: Marcelo Lordello Produção: Mannuela Costa

1

O Som ao Redor

2012

Direção e Roteiro: Kléber Mendonça Filho Produção: Emilie Lesclaux

1

Era uma Vez Eu,

Verônica 2012 Direção e Roteiro: Marcelo Gomes

Produção: João Vieira Jr, Sara Silveira 1

Jardim Atlântico 2012 Direção e Roteiro: Jura Capela Produção: Fransérgio Araújo, Mariano Mattos

Martins e Sylvia Prad

1

Amor, Plástico e

Barulho 2013 Direção: Renata Pinheiro

Roteiro: Renata Pinheiro, Sérgio Oliveira Produção: Iván Granovsky, Leticia Friedrich,

Lourenço Sant’Anna

2

Tatuagem 2013 Direção e Roteiro: Hilton Lacerda Produção: João Vieira Jr.

0

A História da

Eternidade 2014 Direção e Roteiro: Camilo Cavalcante

Produção: Camilo Cavalcante, Marcello Maia,

Stella Zimmerman

1

Sangue Azul 2014 Direção: Lírio Ferreira Roteiro: Fellipe Barbosa, Lírio Ferreira, Sérgio

Oliveira Produção: Renato Ciasca

0

Ventos de Agosto 2014 Direção: Gabriel Macaro Roteiro: Gabriel Mascaro Rachel Ellis Produção: Rachel Ellis

1

A Luneta do Tempo 2015 Direção e Roteiro: Alceu Valença Produção: Tuinho Schwartz, Yanê Montenegro

1

Boi Neon 2015 Direção e Roteiro: Gabriel Mascaro Produção: Raquel Ellis

1

Permanência 2015 Direção e Roteiro: Leonardo Lacca Produção: Emilie Lesclaux

1

Aquarius 2016 Direção e Roteiro: Kléber Mendonça Filho Produção: Emilie Lesclaux, Said Ben Said,

Michel Merkt

1

Big Jato 2016 Direção: Cláudio Assis Roteiro: Cláudio Assis, Xico Sá Produção: Marcello Ludwig Maia, Stella

Zimmerman

1

Fonte: As autoras, 2016.

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O gráfico a seguir apresenta a proporção entre mulheres e homens na direção, área em

que se verificou uma maior participação de profissionais do sexo masculino.

Gráfico 2 – Presença de mulheres e homens na Direção (1997-2016)

Fonte: As autoras, 2016.

Dentre os 23 filmes analisados, apenas um deles, Amor Plástico e Barulho (2013) foi

dirigido por uma mulher. Os outros 22 filmes foram dirigidos apenas por homens e nenhum

com a cooperação entre ambos os gêneros.

O gráfico abaixo apresenta a proporção entre mulheres e homens na produção de roteiro.

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Gráfico 3 – Presença de mulheres e homens no Roteiro (1997-2016)

Fonte: As autoras, 2016.

A partir do gráfico, é possível notar a presença de mulheres em três dos filmes analisados,

mas essa participação se dá em parceria com homens. Não se observou nenhum roteiro que

tenha participação exclusiva de mulheres. Enquanto isso, no caso da presença exclusivamente

masculina, é possível observar essa ocorrência em 20 filmes.

O gráfico a seguir apresenta a proporção entre a presença de mulheres e homens na área

de produção, função em que se verifica uma divisão menos desequilibrada quando comparada

às áreas anteriormente analisadas.

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Gráfico 4 – Presença de mulheres e homens na Produção (1997-2016)

Fonte: As autoras, 2016.

Dentre os 23 longas-metragens analisados, 11 deles possuem participação tanto de

mulheres quanto homens na área de produção. Isso representa quase metade dos filmes, o que

significa a área com a maior presença feminina. Dos outros 12 filmes, seis deles são

produzidos apenas por mulheres; e seis apenas por homens.

A relação entre produtoras e diretores

Durante a pesquisa verificou-se que o caso de produtoras e diretores se repetiu quatro

vezes: Júlia Moraes foi casada com Cláudio Assis; Emilie Lesclaux é casada com Kléber

Mendonça Filho e Rachel Ellis é casada com Gabriel Mascaro (BARROS, 2016); Yanê

Montenegro é casada com Alceu Valença (ALBERTO, 2012). Isso representa um número de

sete parcerias no total dos 23 filmes analisados. Significa que 30% dos longas-metragens

realizados em Pernambuco no período analisado foram produzidos por esposas de seus

diretores.

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Essas parcerias ocorrem nos filmes Baixio das Bestas, 2007, e Febre do Rato, 2011 (Júlia

Moraes e Cláudio Assis); O Som ao Redor, 2012, e Aquarius, 2016 (Emilie Lesclaux e Kléber

Mendonça Filho); Ventos de Agosto, 2014, e Boi Neon, 2015 (Rachel Ellis e Gabriel

Mascaro); A Luneta do Tempo, 2015 (Yanê Montenegro e Alceu Valença). Das áreas

analisadas, a de produção é a que possui maior representação feminina: são 17 filmes que

possuem ao menos uma mulher na produção, sendo onze deles produzidos por homens e

mulheres e seis apenas por mulheres.

Essa proporção demonstra que, sendo a produção a área de maior teor administrativo e

menos criativo dentre as três analisadas e que ela é a que possui numericamente a maior

presença feminina, essa presença se dá em parte pela relação conjugal entre seus realizadores.

Por ser um cargo que exige cooperação entre ele e o de direção, este é outro fator que pode

contribuir para a escolha de esposas na produção dos longas, o que traria um maior controle

criativo do produto final.

Outro caso que tem relação com a pesquisa é o de Manuela Dias, de acordo com Merten

(2016). Ela foi roteirista de Deserto Feliz (2007), longa dirigido e também escrito por Paulo

Caldas, que era seu marido na época em que o filme foi realizado. Três dos 23 longas

analisados foram escritos por mulheres e homens, os outros 20 só possuem homens no roteiro.

Esses números demonstram que, dos três casos em que existe a presença de mulheres na

produção do roteiro, um deles se dá, em parte, também pela relação conjugal entre seus

realizadores.

Considerações finais

Notou-se que, dentre as três áreas de realização analisadas, a mulher está presente em

maior número naquela que possui função mais administrativa (produção) e menos em áreas de

liderança e criação (direção e roteiro, respectivamente).

A área de direção, que é o cargo de chefia dentre os profissionais presentes na realização

de filmes, é a que é possível ver a menor participação feminina: apenas uma diretora, Renata

Pinheiro, foi creditada dentre os 23 filmes analisados. Isso pode ser reflexo, principalmente, à

presença ainda pequena de mulheres em cargos de chefia na sociedade. Pode-se supor, ainda,

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que a baixa presença em comparação aos homens na área de roteiro se deva à falta de

estímulo que existe através da baixa publicação de escritoras no mercado editorial.

Foram encontradas também informações que comprovam que, dos 23 filmes

pernambucanos lançados entre 1997 e 2016, 30% deles foram produzidos por esposas dos

diretores dos longas. E dos três roteiros que tiveram participação de mulheres, um deles foi

escrito em parceria entre o diretor e sua esposa. Estes números demonstram que a presença

feminina no cinema pernambucano, ainda que mal distribuída, acontece em parte pela relação

entre diretores, líderes principais desses longas, e suas mulheres, que ocupam via de regra

cargos mais baixos na hierarquia cinematográfica.

Por serem cargos próximos que exigem certa parceria, é possível concluir que essa

escolha ocorre porque existe um maior controle criativo sobre o produto final. Ao mesmo

tempo, reflete e reforça um cenário de desequilíbrio em termos de gênero quanto as atividades

ligadas à produção cinematográfica pernambucana.

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