análise computacional do escoamento no interior do

164
Hélio de Miranda Cordeiro Análise Computacional do Escoamento no Interior do Combustor de um Estato Reator a Combustível Sólido DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica Rio de Janeiro Setembro de 2002

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Page 1: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Hélio de Miranda Cordeiro

Análise Computacional do Escoamento no Interior do Combustor de um Estato Reator a

Combustível Sólido

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Mecânica

Rio de Janeiro Setembro de 2002

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Page 2: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Hélio de Miranda Cordeiro

Análise Computacional do Escoamento no Interior do Combustor de um Estato Reator a

Combustível Sólido

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio.

Orientadora: Prof. Angela Ourivio Nieckele

Rio de Janeiro Setembro de 2002

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Page 3: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Hélio de Miranda Cordeiro

Análise Computacional do Escoamento no Interior do Combustor de um Estato Reator a Combustível Sólido

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Angela Ourivio Nieckele Orientadora

Departamento de Eng. Mecânica - PUC-Rio

Prof. Luis Fernando Figueira da Silva Departamento de Eng. Mecânica - PUC-Rio

Prof. Darcy das Neves Nobre Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento -IPD

Prof. Ney Augusto Dumont Coordenador Setorial do Centro

Técnico Científico – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2002

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Page 4: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e da orientadora.

Hélio de Miranda Cordeiro

Graduou-se em Engenharia Química pelo IME (Instituto Militar de Engenharia) em 1993. Trabalhou na Fábrica Presidente Vargas da IMBEL (Indústria de Material Bélico) na cidade de Piquete-SP de 1994 a 1997. Cursou disciplinas do programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais do INPE (Instituto de Pesquisas Espacias) na área de Combustão e Propulsão. Atualmente, é pesquisador adjunto ao Grupo de Química do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército onde trabalha desde 1999, concentrando-se na linha de pesquisas em propulsão, combustão, propelentes e explosivos.

Ficha Catalográfica

Cordeiro, Hélio de Miranda

Análise Computacional do Escoamento no Interior doCombustor de um Estato Reator a Combustível Sólido/Héliode Miranda Cordeiro; orientadora: Angela Ourivio Nieckele. -Rio de Janeiro: PUC, Departamento de EngenhariaMecânica, 2002.

v., 163f.:il.:29,7 cm 1. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro, Departamento de EngenhariaMecânica.

Inclui referências bibliográficas. 1. Engenharia Mecânica - Teses. 2. Análise

Computacional. 3. Combustão. 4. Combustível Sólido. I. Nieckele, Angela O. (Angela Ourivio). II PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento deEngenharia Mecânica. III. Título.

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Page 5: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Para meus pais, Lincoln e Maria do Carmo, pelas lições de vida. Para minha esposa, Edlaine, pelo apoio, compreensão e carinho.

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Page 6: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Agradecimentos A minha orientadora Professora Angela Ourivio Nieckele pela dedicação, empenho e parceria para que esse trabalho fosse concluído com sucesso. Aos Exmo. Generais Andrade e Daudt que possibilitaram a minha matrícula no curso. À PUC-Rio pelos auxílios concedidos mediante o convênio firmado com o IPD. Aos professores Darcy das Neves Nobre (IPD) e Demétrio Bastos Netto (INPE/LCP) que sempre me incentivaram a concluir o curso. A todos os professores do Departamento pelos ensinamentos e pela ajuda. Aos meus pais, irmão e familiares pelo apoio, confiança e carinho de todas as horas. A minha esposa, Edlaine, que sempre esteve ao meu lado em mais um desafio.

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Page 7: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resumo

Cordeiro, Hélio de Miranda; Nieckele, Angela Ourivio. Análise Computacional do Escoamento no Interior do Combustor de um Estato Reator a Combustível Sólido. Rio de Janeiro, 2002. 163p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Engenharia Mecânica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Essa dissertação realiza uma análise do escoamento reativo e turbulento no

interior do combustor de um estato reator a combustível sólido. Investiga-se

diferentes modelos para prever a pirólise do combustível sólido. O modelo

matemático é baseado na solução numérica das equações de conservação de

massa, quantidade de movimento linear, energia e equações de transporte para

quantidades escalares. O modelo de turbulência empregado é o κ-ε para altos

Reynolds e na modelagem da combustão emprega-se o formalismo da fração de

mistura/função densidade de probabilidade prescrita. Próximo às paredes, a lei da

parede é usada, sendo a camada limite dividida em duas regiões, uma subcamada

laminar e uma região totalmente turbulenta. As transferências de calor e massa

para as paredes são calculadas utilizando-se a lei da parede modificada com uso

de um parâmetro de transferência de massa. Os resultados obtidos através do

modelo proposto foram comparados com os resultados obtidos anteriormente com

outros modelos e com dados experimentais, verificando-se que os mesmos

apresentam um boa concordância com os dados existentes na literatura,

concluindo-se que o modelo é satisfatório para o problema proposto.

Palavras-chave Combustão; combustível sólido; estato reator; análise computacional.

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Page 8: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Abstract

Cordeiro, Hélio de Miranda; Nieckele, Angela Ourivio (Advisor). Flow Field Computational Analysis in a Solid Fuel Ramjet Combustor. Rio de Janeiro, 2002. 163p. Dissertation - Departamento de Engenharia Mecânica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

This dissertation presents an analysis of reactive and turbulent flow field in

a solid fuel ramjet combustor. The ability of different models to predict solid fuel

pyrolysis is investigated. The mathematical model is based on the numerical

solution of the conservation equations of mass, momentum, energy and transport

equations for scalar quantities. The κ-ε for high Reynolds turbulence model is

employed and the combustion is modeled with the mixture fraction/prescribed

probability density function formalism. Close to the walls the law-of-the-wall is

specified, with the boundary layer divided into two regions, a viscous sublayer

and a fully turbulent region. Heat and mass transfer at the walls are calculated

using a modified law-of-the-wall based on a blowing parameter. The results

obtained using the proposed model were compared with other earlier models

predictions and with empirical data. It was verified that the results are in good

agreement with literature data, allowing to conclude that the model presented is

suitable for the prediction of the mass transfer and flow field in a solid fuel ramjet

combustor.

Keywords Combustion; solid fuel; ramjet; computational analysis.

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Page 9: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Sumário

1. Introdução 18

1.1 Motivação 18

1.2 Objetivo do Trabalho 20

2. O Estato Reator a Combustível Sólido 21

2.1 Estado da Arte 21

2.2 Evolução da Modelagem Computacional 23

3. Modelagem Matemática 27

3.1 O Funcionamento do Estato Reator 27

3.2 Equações Governantes 30

3.3 Decomposição de Reynolds e Favre 35

3.4 Equações Governantes na Média de Favre 38

3.5 Modelo de Combustão 39

3.6 Modelo de Turbulência 53

3.7 Forma Geral das Equações de Conservação e Transporte 58

3.8 Descrição dos Modelos Matemáticos 62

4. Geometria e Condições de Contorno 68

4.1 Geometria 68

4.2 Condições de Contorno 69

5. Procedimento de Solução Numérica 82

5.1 Discretização e Solução 82

5.2 Acoplamento Velocidade-Pressão 85

5.3 Critério de Convergência 87

5.4 O Código Computacional 89

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Page 10: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

6. Resultados e Discussões 90

6.1 Escoamento em Tubo Cilíndrico com Degrau na Entrada 90

6.2 Escoamento Reativo na Câmara de Combustão de um SFRJ 98

6.3 Escoamento Reativo no Combustor de um SFRJ 110

6.4 Projeto de Munição Assistida por Estato Reator 124

7. Conclusão 134

8. Referências Bibliográficas 138

APÊNDICE A 143

APÊNDICE B 155

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Page 11: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Lista de Figuras

Figura 1 - Configuração típica de um estato reator a combustível sólido 18

Figura 2 - Exemplo de aplicação de estato reator em integração comfoguete – IRR

19

Figura 3 - Configuração típica de um estato reator a combustívellíquido – LFRJ

21

Figura 4 - Desenho esquemático das partes componentes de um SFRJ 27

Figura 5 - Esquema das zonas de combustão no combustor deum SFRJ

28

Figura 6 - Relação de estado para fração em massa na combustãodo metano

43

Figura 7 - Relação de estado para fração em massa na combustãodo etileno

44

Figura 8 - Relação de estado para fração em massa na combustãodo metilmetacrilato

44

Figura 9 - Curva de R1(f) x f e expressões de R1(f) para a combustãodo etileno

48

Figura 10 - Curva de R2(f) x f e expressões de R2(f) para a combustãodo etileno

48

Figura 11 - Parâmetros geométricos do domínio computacional 68

Figura12 - Paredes adiabáticas no domínio computacional 72

Figura 13 - Parede com injeção de massa no domínio computacional 76

Figura 14 - Parâmetros geométricos do domínio computacional 91

Figura 15 - Malha utilizada no cálculo do escoamento sem regiãobloqueada

92

Figura 16 - Campo de velocidade axial para o escoamento sem regiãobloqueada (u/Uin)

93

Figura 17 - Linhas de função corrente para o escoamento sem regiãobloqueada

94

Figura 18 - Perfis de velocidade axial normalizada u/Uin 95

Figura 19 - Malha utilizada no cálculo do escoamento com regiãobloqueada

97

Figura 20 - Isolinhas de velocidade axial para o escoamento comregião bloqueada

97

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Page 12: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Figura 21 - Linhas de função corrente para o escoamento com regiãobloqueada.

98

Figura 22 - Perfis de velocidade axial normalizada u/Uin 99

Figura 23 - Malha computacional para o escoamento na câmara decombustão do SFRJ utilizando o PEAD

101

Figura 24 - Simulação do campo de temperatura e fração de misturapara o escoamento na câmara do SFRJ utilizando o PEAD

102

Figura 25 - Simulação dos perfis de velocidade axial normalizada parao escoamento na câmara do SFRJ utilizando o PEAD

104

Figura 26 - Taxa de regressão local média do polietileno 105

Figura 27 - Campo de energia cinética turbulenta normalizada previstopelo modelo proposto

107

Figura 28 - Campo da taxa de dissipação da energia cinéticaturbulenta normalizada previsto pelo modelo proposto

107

Figura 29 - Campo de fração em massa de oxigênio previsto pelomodelo proposto

108

Figura 30 - Campo de fração em massa de etileno previsto pelomodelo proposto

108

Figura 31 - Campo de fração em massa de dióxido de carbonoprevisto pelo modelo proposto

109

Figura 32 - Evolução das frações em massa de oxigênio e dióxido decarbono em quatro seções da câmara de combustão

110

Figura 33 - Variação da temperatura em quatro seções da câmara decombustão

110

Figura 34 - Malha computacional utilizada no escoamento dentro docombustor

112

Figura 35 - Esquema de superposição de malhas para o problema docombustor

114

Figura 36 - Valores previstos para os campos de temperatura e linhasde corrente dentro da câmara de combustão

115

Figura 37 - Variações radiais de temperatura 116

Figura 38 - Taxa de regressão local média ao longo da superfície doPMMA

117

Figura 39 - Campo de velocidade axial para o escoamento no interiordo combustor

118

Figura 40 - Campo de temperatura para o escoamento no interior docombustor

119

Figura 41 - Campo de fração de mistura para o escoamento no interiordo combustor

119

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Page 13: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Figura 42 - Campo previsto da fração em massa de oxigênio nocombustor

120

Figura 43 - Campo previsto da fração em massa de metilmetacrilatono combustor

121

Figura 44 - Campo previsto da fração em massa de dióxido decarbono no combustor

121

Figura 45 - Evolução da fração em massa de oxigênio e dióxido decarbono em duas seções do combustor

122

Figura 46 - Perfis de velocidade axial em duas seções do combustor 122

Figura 47 - Campo da energia cinética turbulenta normalizada para oescoamento no interior do combustor

123

Figura 48 - Campo da taxa de dissipação da energia cinéticaturbulenta normalizada para o escoamento no interior docombustor

123

Figura 49 - Projeto de munição assistida por estato reator acombustível sólido para canhão 155mm

124

Figura 50 - Malha computacional utilizada no projeto da muniçãoassistida

126

Figura 51 - Linhas de corrente previstas para o projeto da muniçãoassistida usando o HTPB

127

Figura 52 - Campo de velocidade axial previsto para o projeto damunição assistida usando o HTPB

127

Figura 53 - Campo de temperaturas previsto para o projeto damunição assistida usando o HTPB

128

Figura 54 - Campo de fração de mistura previsto para o projeto damunição assistida usando o HTPB

129

Figura 55 - Taxa de regressão local média prevista para o projeto damunição assistida usando o HTPB

129

Figura 56 - Campo da energia cinética turbulenta normalizada previstopara o pro-jeto da munição assistida usando o HTPB

131

Figura 57 - Campo da taxa de dissipação da energia cinéticaturbulenta normalizada previsto para o projeto da muniçãoassistida usando o HTPB

131

Figura 58 - Campo previsto da fração em massa de oxigênio nocombustor

132

Figura 59 - Campo previsto da fração em massa de butadienohidroxilado no combustor

132

Figura 60 - Campo previsto da fração em massa de dióxido decarbono no combustor

132

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Page 14: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Parâmetros das equações de conservação e transportena forma geral

61

Tabela 2 - Constantes empíricas do modelo de turbulência 61

Tabela 3 - Comparação entre os modelos matemáticos. 67

Tabela 4 - Condições de contorno na entrada do domíniocomputacional

71

Tabela 5 - Condições de contorno na saída e eixo de simetria 71

Tabela 6 - Parâmetros geométricos para o escoamento sem regiãobloqueada

92

Tabela 7 - Fatores de subrelaxação para o escoamento sem regiãobloqueada

93

Tabela 8 - Parâmetros geométricos para o escoamento com regiãobloqueada

96

Tabela 9 - Parâmetros geométricos para o escoamento na câmarado SFRJ

99

Tabela 10 - Propriedades físicas e termodinâmicas para a combustãodo polietileno

100

Tabela 11 - Fatores de subrelaxação para o escoamento na câmarade combustão do SFRJ utilizando o PEAD

101

Tabela 12 - Parâmetros geométricos para o escoamento nocombustor do SFRJ

111

Tabela 13 - Propriedades físicas e termodinâmicas para combustãodo polimetilmetacrilato.

112

Tabela 14 - Fatores de subrelaxação para o escoamento nocombustor do SFRJ utilizando o PMMA

113

Tabela 15 - Parâmetros geométricos para o escoamento nocombustor da munição assistida por estato reator

124

Tabela 16 - Propriedades físicas e termodinâmicas para combustãodo HTPB

125

Tabela 17 - Fatores de subrelaxação para o projeto da muniçãoassistida utilizando o HTPB

126

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Page 15: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Lista de Abreviaturas e Símbolos

a, b - parâmetros da função densidade de probabilidade ai - coeficientes combinados de convecção/difusão A - área BP - parâmetro de transferência de massa (blowing parameter) Cf - coeficiente de atrito local Cp,l - calor específico a pressão constante da espécie l C1, C2, Cµ - constantes do modelo de turbulência D - condutância de difusão Dl - Difusividade molecular da espécie l e - energia interna específica E - constante da Lei Logarítmica Universal f - fração de mistura F - fluxo de massa convectivo por unidade de área g - condutância de transferência de massa gf - variância da fração de mistura h - entalpia específica (h = e + p/ρ)

H~ - entalpia de estagnação

Hv,eff - calor efetivo de vaporização do combustível sólido ljJ - fluxo por difusão de massa da espécie l na direção j

k - constante de Von Kármán (k = 0,4)

Le - número de Lewis - )/(Pr/ DCScLe p����

ml - fração em massa da espécie l

arm� - vazão mássica de ar

m ��� - fluxo de massa

Ml - massa molecular da espécie l

p - pressão estática p(f) - função densidade de probabilidade

P - pressão modificada

Pe - número de Peclet -Pe = F/D

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Page 16: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Pr - número de Prandtl - �� /Pr pC�

qj - componente do vetor fluxo de calor na direção j

wq� - fluxo de calor para parede

r - distância radial

r� - taxa de regressão do combustível sólido R - raio

Rl - taxa volumétrica de produção da espécie l

s - razão estequiométrica massa oxidante/massa combustível

Scl - número de Schmidt - )/( ll DSc ���

St - número de Stanton - St = Cf / 2

�S - termo fonte da variável �

t - tempo

jit - tensor das tensões viscosas

T - temperatura u - velocidade axial uj - componente da velocidade na direção j

v - velocidade radial

wv - velocidade de injeção de massa através da parede

x - distância axial

xj - coordenada ao longo da direção j

X~ - taxa de dissipação de um escalar

y - distância à parede

�� - coeficiente de difusão da variável �

� - distância à parede

ij� - operador delta de Kroenecker

H� - calor de combustão por quilograma de combustível � - taxa de dissipação da energia cinética turbulenta � - variável escalar arbitrária

� - energia cinética turbulenta

� - difusividade térmica � - viscosidade molecular laminar

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Page 17: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

� - massa específica da mistura gasosa � - tensão de cisalhamento � - viscosidade cinemática � - constante universal dos gases perfeito - )/(8314 KmolKJ��

Subscritos bw - superfície com transferência de massa (blowing wall)

c - conservativo

cam - interior da câmara de combustão eff - efetivo

fg - combustível na fase gasosa fs - combustível na fase sólida

fu - combustível in - entrada do combustor

lam - laminar ox - oxidante

O2 - oxigênio N2 - nitrogênio

P - ponto nodal logo acima da parede ref - referência

st - estequiométrico t - turbulento

Sobrescrito 0 - estado padrão

( ) - média de Reynolds

( ~ ) - média de Favre

( ‘ ) - flutuação de Reynolds

( “ ) - flutuação de Favre

( )+ - adimensional

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Page 18: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

A coisa mais bela que o homem pode

experimentar é o mistério. É essa emoção

fundamental que está na raiz de toda ciência e

de toda arte. Pesquisar os segredos daquilo

que não entendemos é a força propulsora do

desenvolvimento humano.

Albert Einstein

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Page 19: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

1 INTRODUÇÃO 1.1 Motivação

Em situações onde a velocidade de vôo ao nível do mar está acima de Mach

2, o sistema de propulsão estato reator a combustível sólido (solid fuel ramjet -

SFRJ) tem encontrado importantes aplicações. Neste sistema propulsivo o

empuxo é produzido pelo aumento da quantidade de movimento linear do ar que

passa no interior e através do estato reator, de forma similar ao que ocorre nos

motores turbojatos e turboventilados. A principal diferença é a ausência de

turbinas e turboventiladores no estato reator, tornando-o mais simples, leve e de

baixo custo.

Na fig. 1 temos a configuração típica de um estato reator a combustível

sólido. Percebe-se três partes principais: a tomada (ou entrada) de ar; o combustor

(dividido em câmara de combustão e câmara de mistura posterior); e a tubeira. De

maneira geral, podemos resumir os fenômenos físicos e químicos que ocorrem

nessas três partes de seguinte maneira: na entrada de ar ocorre formação de onda

de choque e conseqüente aumento da pressão e temperatura do ar; no combustor

ocorre a pirólise do combustível sólido com a geração de produtos em fase gasosa

a alta temperatura; e, finalmente, os produtos gasosos da combustão são

expandidos através da tubeira gerando empuxo.

Figura 1 – Configuração típica de um estato reator a combustível sólido (1)

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Page 20: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Introdução 19

Para que as condições operacionais adequadas sejam geradas após a

passagem do ar pelo difusor, é necessário que a velocidade de vôo esteja acima de

Mach 2. Nesse sentido, o estato reator depende de um outro sistema de propulsão

para acelerá-lo até sua velocidade funcional, pois não consegue produzir empuxo

a partir de sua condição estática. Conforme a velocidade de vôo aumenta, a

velocidade com que o ar é inserido dentro da câmara de combustão também

cresce. Quando a combustão ocorre em regime supersônico temos os conhecidos

scramjets (supersonic combustion ramjets), ou estato reatores com combustão

supersônica.

Principalmente por sua simplicidade construtiva e operacional, os estato

reatores a combustível sólido têm sido empregados na propulsão da fase de

cruzeiro de mísseis táticos de longo e médio alcance, nas integrações com

foguetes (“Integral Rocket Ramjet – IRR”) como ilustrado na fig. 2, e na

propulsão secundária de munições assistidas de artefatos bélicos como canhões,

armas antiaéreas, entre outras.

No Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento - IPD, localizado no complexo

tecnológico do Exército em Guaratiba, estão sendo feitos estudos no sentido de

desenvolver o projeto de uma munição assistida para canhões até 155 mm. Nessa

fase da pesquisa, a simulação computacional se traduz numa poderosa ferramenta

para o projeto. A solução das equações de conservação de massa, quantidade de

movimento, energia e transporte de espécies, com as técnicas da dinâmica dos

fluidos computacional, permite a obtenção de resultados preliminares para o

campo do escoamento interno e externo ao projétil. Assim, pode-se otimizar

ensaios em bancos de prova, uma vez que os mesmos geram dados para validação

dos modelos matemáticos empregados.

Figura 2 – Exemplo de aplicação de estato reator em integração com foguete – IRR (2)

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Page 21: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Introdução 20

Um dos problemas críticos encontrados é o projeto do combustor, tornando-

se necessário o desenvolvimento de códigos computacionais capazes de simular a

combustão dentro da câmara de combustão e câmara de mistura posterior,

auxiliando na determinação da configuração ótima desses componentes (aspectos

geométricos), bem como na composição do combustível sólido mais apropriado

para determinada missão.

1.2 Objetivo do Trabalho

O objetivo do presente trabalho é, através de uma modelagem numérica,

simular computacionalmente o escoamento reativo e turbulento dentro do

combustor de um estato reator a combustível sólido empregado no projeto de uma

munição assistida. A pesquisa está direcionada para a obtenção de informações

sobre os campos de velocidades, pressão, grandezas turbulentas e temperatura.

Deseja-se ainda estimar a taxa de regressão do combustível (velocidade de

queima). Para alcançar esse objetivo foi desenvolvido um programa numérico

baseado no método de volumes finitos.

Buscou-se, na fase final do trabalho, a validação do modelo matemático pela

comparação dos resultados com aqueles obtidos em trabalhos anteriores (testes

experimentais ou outros modelos computacionais).

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Page 22: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

2 O ESTATO REATOR A COMBUSTÍVEL SÓLIDO 2.1 Estado da Arte

Atribui-se ao francês René Lorin, em artigo publicado na revista

L`Aerophile no ano de 1913, a idéia de se aproveitar a pressão dinâmica do ar

("ram pressure"), em função da velocidade de um artefato em vôo, como sistema

propulsivo ou coadjuvante do mesmo. Uma vez que ele não imaginava vôos a

velocidades supersônicas, sua análise restringia-se à operação de estato reatores

em regime subsônico, concluindo que a eficiência do sistema era muito baixa.

Somente na década de 30 houve um maior interesse no estudo dos estato reatores,

apesar de serem encontradas patentes com datas anteriores. Muitos trabalhos

foram feitos durante aquela época, porém todos eles, com exceção do estudo de

viabilidade realizado pelos alemães Schwabal e Lippisch(3), tratavam de estato

reatores a combustível líquido (liquid fuel ramjet – LFRJ). Um exemplo de

configuração para um LFRJ é mostrado na fig. 3 abaixo.

Figura 3 – Configuração típica de um estato reator a combustível líquido – LFRJ (2)

Ao final da década de 70, visando a utilização de estato reatores na

propulsão de mísseis de cruzeiro, o governo americano investiu na pesquisa e

desenvolvimento de estato reatores a combustível sólido. A sua simplicidade

operacional atraiu a atenção dos pesquisadores, uma vez que não necessitava de

tanques e dispositivos de bombeamento ou controle de combustível, como era o

caso dos LFRJ. A ausência das partes móveis gerava também uma simplicidade

construtiva. Outra característica importante observada durante os vários testes

realizados nos anos que se seguiram é a alta estabilidade da combustão. Isso se

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Page 23: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

O Estato Reator a Combustível Sólido

22

deve ao fato de que a energia é liberada uniformemente durante o processo de

queima do combustível. Apesar de apresentar um alto desempenho, baixo custo e

confiabilidade, quando comparado aos sistemas propulsivos convencionais, a

utilização operacional de estato reatores a combustível sólido em mísseis carecia

de um estudo mais aprofundado sobre: simulação das condições de vôo, seleção

do combustível, estabilização da chama (o que limita a quantidade de

combustível), comportamento da taxa de regressão do combustível como uma

função da velocidade e altitude de vôo, entre outros.

Vários estudos foram realizados a fim de esclarecer aspectos importantes no

projeto de estato reatores a combustível sólido. Alguns pesquisadores

desenvolveram trabalhos no campo teórico, modelando matematicamente os

fenômenos físicos e químicos ocorridos durante a combustão em um SFRJ. Nesse

sentido, podemos destacar os trabalhos de Hadar e Gany(4), Stevenson e Netzer(5),

Milshtein e Netzer(6) e Ronzani(7). Outros trabalhos tiveram ênfase na parte

experimental, onde parâmetros importantes como a velocidade de queima do

combustível eram medidos diretamente. Dentre os trabalhos experimentais

desenvolvidos podemos citar os de Mady et al.(8), Schulte(9), Korting et al.(10), Lips

et al.(11), Migueis(12), Veras(13), Silva(14) e Gobbo et al.(15).

Aqui no Brasil, os principais estudos foram desenvolvidos no Instituto

Militar de Engenharia – IME e no Laboratório de Combustão e Propulsão do

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – LCP/INPE. Migueis(12) projetou uma

bancada para testes estáticos de SFRJ. Nos testes realizados por Migueis(12)

utilizou-se o poliéster e uma mistura poliéster + perclorato de amônio como

combustível sólido. No estudo apresentado por Ronzani(7) desenvolve-se uma

análise teórica de um SFRJ utilizado como propulsão secundária em mísseis e

granadas, e apresenta-se um código computacional em FORTRAN para o cálculo

da velocidade de queima do combustível. Fazia-se necessário a realização de

testes experimentais para o ajuste de alguns parâmetros das equações encontradas

naquele trabalho. Seguindo-se a linha de trabalhos experimentais, mais dois

estudos foram realizados. No primeiro, Veras(13) fez uma análise experimental de

um SFRJ utilizando o polietileno de alta densidade (PEAD) como combustível

sólido e estudou o efeito da introdução da câmara de mistura posterior (“after

burner”) no desempenho do mesmo. No segundo, Silva(14) realizou uma série de

testes com um SFRJ, utilizando novamente o polietileno, estudando outros

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O Estato Reator a Combustível Sólido

23

aspectos da combustão como a formação de fuligem na superfície do combustível

e sua influência na transferência de calor por radiação.

A tecnologia envolvida nos projetos de sistemas propulsivos baseados em

estato reatores (ramjets e scramjets), continua sendo objeto de pesquisa no mundo

inteiro. Sua aplicação bélica em mísseis vem sendo intensivamente testada e

alguns trabalhos, como os de Krishnan e George(1), Buchanan et al.(16) e Waltrup et

al.(17) mostram o avançado estágio de conhecimento no projeto desses artefatos.

Os resultados obtidos têm encorajado algumas empresas a pesquisarem a

utilização dos estato reatores em outras áreas como a aeroespacial(18),

direcionando seu interesse, principalmente, em combustão hiper e supersônica.

Sem dúvida, os maiores avanços ocorridos na pesquisa e aplicação de SFRJ

devem-se, principalmente, ao desenvolvimento no campo dos combustíveis

sólidos do tipo polímeros, como comprova o trabalho apresentado por George et

al.(19), aos avanços na área numérica, com o surgimento de códigos

computacionais aplicáveis aos fenômenos físicos e químicos envolvidos no

processo, ao desenvolvimento no campo dos materiais e às novas tecnologias de

instrumentação, controle e aquisição de dados utilizadas em trabalhos

experimentais, como evidenciado no trabalho de Liou(20).

2.2 Evolução da Modelagem Computacional

A simulação computacional do processo de combustão em SFRJ foi iniciada

por Netzer(21), utilizando uma formulação função corrente-vorticidade (ψ-ω

model) através de uma adaptação do modelo PISTEP II de Gosman et al.(22,23) para

transferência de calor e massa em escoamentos com recirculação. As hipóteses

adotadas naquele modelo foram: escoamento subsônico na câmara de combustão,

em regime permanente, bidimensional e com recirculação. Um modelo de

turbulência de duas equações diferenciais �-� foi usado para calcular a

viscosidade efetiva através do campo de escoamento. A combustão foi modelada

por uma reação de única etapa, limitada pelo grau de mistura e desprezando-se a

transferência de calor por radiação.

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O Estato Reator a Combustível Sólido

24

Em trabalho subseqüente, Netzer(24) comparou os resultados obtidos por seu

modelo com os resultados experimentais obtidos por outros pesquisadores. Foram

diagnosticados alguns problemas inerentes ao modelo ψ-ω adotado, sendo os mais

importantes: a imprecisão do campo de pressão obtido; a dificuldade em se obter

soluções convergidas quando se adicionava a câmara de mistura posterior ao

domínio computacional; e a dificuldade na especificação das condições de

contorno.

Com o objetivo de atacar os problemas encontrados com o primeiro modelo,

Stevenson e Netzer(5) desenvolveram uma formulação com acoplamento

velocidade-pressão (u-v-p model) bidimensional, através da adaptação do modelo

desenvolvido por Pun e Spalding(25) (CHAMPION 2/E/FIX) para a geometria do

SFRJ. Nessa nova modelagem os pesquisadores trabalharam com a solução das

equações de conservação da quantidade de movimento tendo como variáveis as

velocidades axial (u) e radial (v), em substituição das equações para vorticidade e

função corrente. Os termos de gradiente de pressão que aparecem nas equações de

conservação de quantidade de movimento linear criam um forte acoplamento

entre pressão e velocidade. Para tratar esse acoplamento o modelo utilizava o

algoritmo SIMPLE (Semi-Implicit Method for Pressure-Linked Equations). As

hipóteses de escoamento subsônico, em regime permanente, bidimensional e

turbulento foram mantidas. O domínio computacional passou a incluir a região da

câmara de mistura posterior. Como no modelo anterior, a viscosidade efetiva foi

calculada através do modelo de turbulência de duas equações diferenciais ���.

Utilizou-se para o processo de combustão uma reação de única etapa e cinética

química infinitamente rápida. Os resultados obtidos com o novo modelo foram

similares ao primeiro na região da câmara de combustão. Adicionalmente,

resultados do escoamento na região da câmara de mistura posterior foram obtidos.

Posteriormente, em trabalho apresentado por Metochianakis e Netzer(26), esse

mesmo modelo foi utilizado considerando-se efeitos de radiação das partículas de

carbono dentro da zona de chama, desprezando-se, ainda, a radiação na fase

gasosa.

O modelo de acoplamento velocidade-pressão foi aperfeiçoado por

Milshtein e Netzer(6), introduzindo-se considerações sobre efeitos tridimensionais.

O modelo aperfeiçoado era uma adaptação do código GARRAT 3D (extensão do

CHAMPION) desenvolvido pela GARRAT Turbine Engine Co(27). Uma cinética

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Page 26: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

O Estato Reator a Combustível Sólido

25

química de quatro passos e um processo de mistura turbulento eram as principais

novidades daquele modelo. Assim como nos outros modelos anteriores, obteve-se

bons resultados qualitativos a respeito dos efeitos da composição do combustível,

geometria do combustor e as propriedades dinâmicas do ar na entrada, sobre o

campo do escoamento e a taxa de regressão do combustível.

Seguiram-se a esses trabalhos uma série de outros trabalhos abordando a

modelagem numérica de escoamentos reativos turbulentos que eram aplicáveis

aos estato reatores a combustível sólido. Diversos modelos acoplando efeitos da

interação turbulência-química foram sendo propostos e avaliados(28-35). Os

resultados mais expressivos vem sendo obtidos na modelagem numérica das

chamas de difusão turbulenta, conforme mostram os trabalhos de Yaga et al.(36) e

Kim e Kim(37). Em 1998, Coelho et al.(38) apresentaram um trabalho onde foi feita

a modelagem da câmara de combustão de um SFRJ utilizando uma técnica de

decomposição do domínio computacional em multi-blocos. Em trabalho no

mesmo ano, Choi et al.(39) apresentaram uma simulação numérica do campo de

escoamento interno e externo a um estato reator a combustível sólido utilizado na

propulsão de uma munição anti-tanque utilizada em exercício de tiro.

A disponibilidade e evolução dos computadores de alto desempenho têm

levado a significativos avanços na simulação numérica direta (DNS - Direct

Numerical Simulations) da turbulência e da combustão turbulenta, encorajando o

desenvolvimento da simulação em grandes escalas (LES - Large-Eddy Simultaion)

para esses fenômenos na engenharia. A simulação em grandes escalas também

têm sido aplicada ao escoamento no interior do combustor de estato reatores,

conforme mostram os recentes trabalhos apresentados por Liou et al(40) e Cant(41).

Atualmente, existem no mercado vários códigos computacionais de CFD

que incluem diferentes modelos para a solução de escoamentos turbulentos com

combustão, dentre eles podemos citar o FLUENT® e o PHOENICS®, entre outros.

Porém, apenas alguns códigos computacionais dedicados como o COPPEF, por

exemplo, disponibilizam subrotinas para a combustão de sólidos (pirólise), como

é o caso da modelagem em um SFRJ.

É importante observar que quando se fala em modelo matemático aplicado

ao escoamento no interior de um estato reator a combustível sólido, trata-se do

conjunto de: equações governantes; modelo de combustão; modelo de turbulência;

e condições de contorno. Dessa forma, a fim de facilitar a comparação e

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Page 27: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

O Estato Reator a Combustível Sólido

26

compreensão dos resultados apresentados nesse trabalho, classificou-se os

diferentes modelos apresentados como:

�� Modelo 1 - modelo proposto por Stevenson e Netzer(5).

�� Modelo 2 - modelo proposto por Coelho et. al.(38).

�� Modelo 3 - modelo proposto nessa dissertação.

Uma breve descrição dos três modelos matemáticos destacados acima será

apresentada ao final do próximo capítulo.

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3 MODELAGEM MATEMÁTICA 3.1 O Funcionamento do Estato Reator

Para que seja feita uma modelagem matemática é necessário, antes de tudo,

conhecer os fenômenos físicos e químicos que ocorrem durante o vôo do

dispositivo, principalmente dentro da câmara de combustão (objeto da

modelagem), a fim de estabelecermos as hipóteses simplificadoras do modelo

físico aplicável.

De maneira geral, podemos esquematizar as partes componentes de um

estato reator a combustível sólido como na fig. 4 abaixo.

Figura 4 – Desenho esquemático das partes componentes de um SFRJ.

Em todas as configurações de estato reatores podemos visualizar um difusor

na entrada do ar. Esse difusor desacelera o fluxo do ar incidente (velocidades

supersônicas para velocidades subsônicas), provocando o aumento da temperatura

e pressão estáticas do ar. O ar aquecido penetra no combustor onde age como

oxidante decompondo o combustível sólido em uma reação exotérmica

praticamente isobárica. Algum meio de estabilização da chama é necessário para a

grande maioria das condições de vôo, pois a taxa de liberação de calor da reação

dos polímeros combustíveis com o ar são bem menores quando comparadas às

taxas em foguetes híbridos similares, onde oxigênio ou outro líquido oxidante é

utilizado. O mais comum é a utilização de um degrau como dispositivo

aerodinâmico de estabilização de chama, criando uma zona de recirculação rica

DIFUSOR TUBEIRA COMBUSTOR

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Page 29: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

28

em combustível. Esta zona é caracterizada pela grande turbulência e elevada taxa

de transferência de calor. Uma vez que o tempo de residência das espécies dentro

da zona de recirculação é suficientemente grande, existe uma mistura bastante

efetiva entre o ar e o combustível gasoso proveniente da pirólise do polímero. A

energia liberada, dentro e ao longo da fronteira dessa zona, tem que ser suficiente

para sustentar a combustão no restante da câmara. Uma altura crítica - HS - para o

degrau de recirculação é exigida em função da temperatura e do fluxo de ar na

entrada do combustor. Cada combustível sólido, em particular, exige uma altura

mínima para que a estabilização da chama ocorra. É importante observar que essa

altura mínima limita a quantidade de combustível a ser carregada e,

consequentemente, o alcance do SFRJ.

Ainda dentro da câmara de combustão e após o ponto de recolamento (PR)

do escoamento à parede, desenvolve-se uma camada limite turbulenta. Os

produtos da pirólise do combustível sólido difundem-se a partir da superfície,

misturando-se ao oxigênio do ar quente do escoamento central. Como resultado,

estabelece-se uma chama de difusão localizada dentro da camada limite

turbulenta. Transferência de calor por convecção e radiação através da chama vão

garantir a decomposição do polímero. Na fig. 5 abaixo, podemos ver as principais

regiões do combustor de um SFRJ.

Figura 5 – Esquema das zonas de combustão no combustor de um SFRJ(9).

A queima do combustível dentro da câmara de combustão de um SFRJ é

governada pelo grau de mistura entre o combustível e o ar. Cálculos da mistura

dentro da passagem do grão, baseados na teoria da camada limite turbulenta,

Câmara de

Mistura Posterior

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Page 30: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

29

mostraram que somente 50% do combustível havia sido misturado e queimado na

seção de saída do grão(42). Uma vez que existe combustível não queimado abaixo

da chama na saída do grão, teríamos uma eficiência de combustão muito baixa, se

a tubeira do estato reator fosse colocada nesse local. Para contornar esse

problema, normalmente introduz-se uma seção ou câmara de mistura posterior,

onde o combustível excedente e o oxigênio disponível são misturados,

favorecendo a reação de queima. Ao calcularmos o comprimento desta seção de

mistura vários fatores são considerados e balanceados: tempo de residência para

uma combustão adequada; quantidade de propelente usado como “booster”,

levando o artefato a alcançar a velocidade projetada (próxima de 2,5 Mach); e

quantidade de combustível necessária para o alcance desejado. Na maioria dos

casos, o volume necessário para o propelente sólido usado como “booster” nos

IRR (Integral Rocket Ramjet) propicia o volume e comprimento exigidos pela

câmara de mistura posterior.

Os estato reatores a combustível sólido têm como uma das características a

grande estabilidade da combustão. As taxas de queima do polímero são baixas,

quando comparadas às taxas de queima de propelentes sólidos. Em conseqüência,

modos de instabilidade de combustão ocasionados por efeitos acústicos não são

comuns em ramjets, portanto seus efeitos podem ser desprezados, mesmo em

câmaras de combustão muito longas.

Na modelagem da combustão no combustor de um estato reator a

combustível sólido usaremos as seguintes hipóteses: escoamento bidimensional

em regime permanente, isto é, efeitos transientes serão desprezados; o escoamento

é turbulento com reação química e massa específica variável; as paredes da

câmara de combustão são formadas pelo grão de combustível sólido que estará

sendo pirolisado; o degrau na entrada da câmara é utilizado como estabilizador da

chama; uma camada limite turbulenta desenvolve-se após o ponto de recolamento;

calor da chama de difusão é transferido por convecção para a superfície do sólido

causando sua vaporização (transferência de calor por radiação será desprezada); e

as condições do ar na entrada da câmara são determinadas pela geometria do

difusor e condições de vôo do dispositivo (velocidade e altitude).

O escoamento turbulento tem um tratamento matemático mais difícil do que

o caso laminar, exigindo a seleção de um modelo de turbulência adequado para

cada caso. A presença de reação química (combustão) no escoamento turbulento

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Page 31: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

30

traz complicações adicionais ao problema, uma vez que existe uma forte interação

entre combustão e turbulência. Existe um efeito duplo de um fenômeno sobre o

outro. Isto é, o calor liberado pela combustão acarretará uma expansão térmica da

mistura gasosa na câmara de combustão, forçando o escoamento e aumentando

sua velocidade. O escoamento viscoso pode perder sua estabilidade quando o

número de Reynolds do escoamento for suficientemente alto e a transição de

laminar para turbulento pode acontecer. Por outro lado, a redução da massa

específica do fluido, causada pelo aumento da temperatura, tem efeito

amortecedor sobre a vorticidade, amortecendo a turbulência(43). Simultaneamente,

nas chamas não pré-misturadas combustível e oxidante necessitam ser misturados

a nível molecular para que a reação possa acontecer. A turbulência pode melhorar

a mistura de combustível e oxidante através do aumento da densidade de

superfície de chama por unidade de volume, intensificando a combustão nas

chamas não pré-misturadas. Por outro lado, a turbulência intensa pode também

afetar a estrutura da chama através do efeito de estiramento aerodinâmico,

causando uma quebra em sua estrutura e levando a sua extinção.

3.2 Equações Governantes

Em qualquer escoamento onde ocorram reações químicas devemos estar

aptos a resolver as equações de conservação de massa (continuidade), conservação

da quantidade de movimento linear, conservação da energia e transporte das

espécies químicas. Além disso, devemos estabelecer uma equação de estado. Para

o caso dos gases a mais utilizada é a lei dos gases perfeitos que correlaciona

pressão, temperatura, massa específica e espécies químicas, assim temos:

0��

��

� )( ii

uxt

��

(3.1)

j

ji

iij

ji x

txpuu

xu

t �

��

���

��

� )()( �� (3.2)

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Page 32: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

31

j

jjii

jiij

jii x

qtu

xuuhu

xuue

t �

��

���

���

� �

��

���

���

� �

��

� )(21

21

�� (3.3)

� � � � llj

jlj

jl RJ

xmu

xm

t�

���

��

��� (3.4)

���l l

lMm

Tp � (3.5)

onde �� é a massa específica da mistura gasosa, iu e ju são componentes (radial e

axial) do vetor velocidade, p é a pressão dentro do combustor, jit é o tensor das

tensões viscosas, e é a energia interna específica, h é a entalpia específica

( �/peh �� ), jq é o vetor fluxo de calor, � é a constante universal dos gases

perfeitos igual a 8314 J/(kmol K), ml é a fração em massa da espécie l, ljJ o fluxo

por difusão de massa da espécie l, lR a taxa volumétrica de produção da espécie l

na mistura reativa e lM é a massa molecular da espécie l.

A entalpia da mistura é definida como

��

lll hmh (3.6)

onde hl é a entalpia da espécie gasosa l, definida por

��� TTl TdCThh lpl 0

00 ,)( (3.7)

sendo )( 00 Thl a entalpia de formação da espécie l nas condições padrão de

temperatura e pressão e Cp,l é o calor específico a pressão constante da espécie l.

Para que o problema possa ser resolvido é necessário introduzir equações

constitutivas para modelar as tensões viscosas, os fluxos de calor e de difusão de

massa, assim com a taxa de produção das espécies químicas. Essas equações

constitutivas serão obtidas a seguir através das leis de transporte.

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Page 33: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

32

3.2.1 Leis de Transporte

Nas situações de interesse deste trabalho, os fluidos foram considerados

como Newtonianos, isto é, o tensor tensão viscosa é expresso pela Lei da

Viscosidade de Newton/Stokes:

ijkk

i

j

ji

ij xu

xu

xu

t ��� �

� �

��

��

��

32 (3.8)

onde ���é a viscosidade molecular laminar e ij� é o operador delta de Kroenecker.

As difusividades moleculares das espécies são geralmente descritas

utilizando-se a Lei de Fick da difusividade. Assim, para a espécie l, tem-se

jl

llj x

mSc

J�

���

� (3.9)

onde Scl é o número de Schmidt da espécie l dado por )(/ ll DSc ��� , sendo

que lD é a difusividade molecular da espécie l em relação à mistura. Expressões

mais complexas podem ser utilizadas para descrever a difusão molecular em

sistemas multiespécies.

A difusão de calor pode ser descrita de acordo com a Lei de Fourier

baseada na entalpia como

���

���

��

� �

���

���

� jk

kN

k kjj x

mh

Scxhq

11Pr

Pr� (3.10)

Na expressão acima, a transferência de calor por radiação e o efeito Dufour

(difusão de calor sobre efeito do gradiente das concentrações das espécies

químicas) foram desprezados. O número de Prandtl, Pr, compara o transporte

difusivo de quantidade de movimento (forças viscosas) com o de energia, sendo

definido por Pr = ��Cp ��� , onde � é a viscosidade molecular, � é difusividade

térmica e Cp é o calor específico à pressão constante.

O número de Lewis, kLe , da espécie k é a razão entre as difusividades

térmicas e de massa, sendo igual a

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Page 34: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

33

��

��

���

���

��

kpk

k DCSc

Le�

Pr (3.11)

No presente trabalho adotou-se a hipótese de número de Lewis unitário,

portanto o fluxo difusivo de entalpia apresentado na eq. (3.10) foi simplificado

���

���

���

jj x

hqPr� (3.12)

A expressão para o cálculo da taxa de produção das espécies, Rl, depende do

modelo de combustão adotado. Porém, antes de descrever o modelo de combustão

adotado na modelagem do problema é conveniente introduzirmos o conceito de

fração de mistura o qual será útil na redução do número de equações a serem

resolvidas.

3.2.2 Fração de Mistura

Consideremos uma reação de uma única etapa, infinitamente rápida, onde as

reações intermediárias são desprezadas. Neste caso, tem-se que o oxidante é

combinado (ou reage) com o combustível em proporções estequiométricas para

formar produtos de acordo com a equação química simplificada

1 kg de combustível + s kg de oxidante � (1+s) kg de produtos (3.13)

onde s é a razão estequiométrica massa de oxidante/massa de combustível.

As equações de transporte para a fração em massa instantânea de

combustível e oxidante em regime permanente podem ser escritas utilizando-se a

eq. (3.4). Assim, temos

� � � � fufuj

jfuj

j

RJx

mux

��

���

�� (3.14)

� � � � oxoxj

joxj

j

RJx

mux

��

���

�� (3.15)

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Page 35: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

34

Vamos considerar uma variável auxiliar definida como

oxfu mms ��� (3.16)

Consideremos ainda que os coeficientes de difusão de massa das espécies

sejam iguais e constantes, isto é, ����Sc = ����Scfu =�����Scox. Uma vez que a reação

ocorre em uma única etapa, tem-se que 0RRs oxfu �� )( . Logo, combinando-se

as eq. (3.14) e (3.15), determina-se uma equação de transporte para �

� � ��� j

jj

jJ

xu

x �

��

� (3.17)

Vamos definir a variável adimensional f chamada de fração de mistura

como

olof��

��

�� (3.18)

onde o índice "o" indica corrente de oxidante e o índice "l" indica corrente de

combustível. A eq. (3.18) pode ser escrita na seguinte forma

ooxfuloxfu

ooxfuoxfummsmms

mmsmmsf

][][][][

���

���� (3.19)

Nos casos tratados nesse trabalho, a corrente de combustível só possui

combustível e a corrente de oxidante possui oxidante e inerte. Em conseqüência,

têm-se [mfu]l = 1, [mox]l =0 e [mfu]o = 0. Nessas condições, a eq. (3.19) pode ser

simplificada para

ooxlfu

ooxoxfumms

mmmsf

][][][][

��

� (3.20)

Numa reação estequiométrica nem combustível nem oxidante encontram-se

presentes nos produtos e a fração de mistura estequiométrica - fst - pode ser

definida como

ooxlfuoox

st mmsm

f][][

][�

� (3.21)

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Page 36: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

35

Como f relaciona-se linearmente com �, também é possível escrever uma

equação de transporte em regime permanente para f como abaixo

� � fj

jj

j

Jx

fux �

���

�� (3.22)

Desprezando-se os efeitos Soret (difusão de espécies sobre efeito do

gradiente de temperatura) e de transporte molecular devido aos gradientes de

pressão, pode-se descrever o fluxo difusivo da fração de mistura como:

DScx

fJ fj

ffj �

��� ��

��� ; (3.23)

A forma como as frações em massa das espécies participantes da reação de

combustão se apresentam como funções da fração de mistura em reações químicas

de única etapa e cinética infinita é definida através das relações de estado que

serão deduzidas mais adiante. Portanto, no presente trabalho será resolvida apenas

a equação de transporte para a fração de mistura em lugar das equações de

conservação das espécies, reduzindo, como mencionado anteriormente, o número

de equações a serem resolvidas.

3.3 Decomposições de Reynolds e Favre

O escoamento no interior de um estato reator é não só reativo, mas também

turbulento. O escoamento turbulento, rigorosamente falando, é sempre

tridimensional e transiente. Consiste de flutuações aleatórias das várias

propriedades do escoamento. Para o engenheiro, muitas vezes é suficiente

conhecer o comportamento do valor médio dessas propriedades.

É comum utilizar-se métodos estatísticos para decompor as variáveis

instantâneas apresentadas no item anterior em uma soma de um valor médio e

uma flutuação. Sendo � uma variável qualquer, podemos escrever

��� ��� (3.24)

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Page 37: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

36

A representação acima é conhecida como decomposição de Reynolds, sendo

� o valor médio no tempo (Média de Reynolds) e � � a flutuação do escalar � .

Por definição

���

T

Tdttx

T 0),(1lim �� (3.25)

Das eq. (3.24) e (3.25) podemos deduzir que �� � e 0��� . As

propriedades da operação de média de Reynolds no tempo definida pela eq.

(3.24), podem ser encontradas em Hinze (44) e Kays (45).

Aplicando-se a definição dada pela eq. (3.24) para � e ui, substituindo na eq.

(3.1) para regime permanente e operando-se a média no tempo:

0))(( ������

�ii

i

uux

�� (3.26)

resultando em

0) ( �����

�ii

i

uux

�� (3.27)

A equação (3.27) é a equação da continuidade na média de Reynolds para

escoamentos em regime permanente. Percebe-se o surgimento de um termo

adicional com uma correlação � �iu��� entre iu�� e � , o que implica na criação de

um modelo ou aproximação para a determinação de mais essa incógnita. O

problema se complica na equação de conservação da quantidade de movimento

linear, onde surge uma tripla correlação do tipo jiuu ���� . Note a diferença deste

termo em relação a correlação jiuu ��� , conhecida como tensor das tensões de

Reynolds, cujo modelo está bem difundido sendo largamente empregado.

Em 1969, Favre(46) sugeriu um procedimento de média no tempo que

simplifica bastante a forma das equações de conservação assim geradas. Ele

introduziu o conceito de média no tempo ponderada pela massa específica,

definida por:

���

�T

Tdttxtx

T 0),(),(11~ lim ��

�� (3.28)

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Page 38: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

37

onde � é a média de Reynolds da massa específica definida pela eq. (3.24). A

decomposição de Favre é dada por

iii ��� ����~ (3.29)

Comparando-se as eq. (3.29) e (3.24), e utilizando as propriedades da

operação da média de Reynolds podemos escrever:

���� �

~ (3.30)

então

���������� ��������� ))((~ (3.31)

De acordo com a eq. (3.31), a equação da continuidade expressa pela eq.

(3.27) pode ser escrita de forma análoga àquela apresentada pela eq. (3.1) como:

0)~ ( i ��

� uxi

� (3.32)

Ao se utilizar a média de Favre é comum decompor a velocidade instantânea

em uma média mássica iu~ e uma flutuação iu �� , como mostrado abaixo.

iii uuu ����~ (3.33)

Multiplicando-se a eq. (3.33) por � e operando-se a média de Reynolds no

tempo temos:

iiiiiiii uuuuuuuu �������������� ��������~~~~ (3.34)

Utilizando a identidade dada pela eq. (3.30) na eq. (3.34), obtém-se

0���iu� (3.35)

Foi visto que uma das propriedades da decomposição de Reynolds dada pela

eq. (3.24) é que 0��iu . Na decomposição de Favre, eq. (3.33), a média da

flutuação da velocidade não é nula, como mostrado abaixo.

iii uuu ~���� (3.36)

� � ���

��

� ������

��

��

� ����

��

��

� ������

� iiii

iii

iiii

uuuu

uuu

uuuu

(3.37)

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Page 39: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

38

� 0����

�����

������

� iiii

uuuu (3.38)

3.4 Equações Governantes na Média de Favre

A fim de se obter as equações de conservação e transporte na média de

Favre, as várias propriedades do escoamento foram decompostas em valores

médios e flutuações, como mostrado abaixo, e substituídas nas eq. (3.1), (3.2)

(3.3), (3.5) e (3.26), para escoamento em regime permanente.

iii uuu ����~

��� ��� ppp ���

hhh ����~

eee ����~

TTT ����~

jjj qqq ���

jijiji ttt ���

lll mmm ����~

lll RRR ���

(3.39)

Operando-se a média de Reynolds das expressões assim obtidas e

utilizando-se a definição da média de Favre apresentada pela eq. (3.31) e a

propriedade mostrada na eq. (3.35), obtêm-se as seguintes expressões:

0)~( ��

ii

ux

� (3.40)

)()~~( jijiji

ijj

uutxx

puux

������

��

���

��� (3.41)

)(][]~~[ jiij

jjj

jj

tux

Huqx

Hux �

��������

��

��� (3.42)

� � )(~~ fuJx

fux j

fj

ii

i

������

���

��� (3.43)

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Page 40: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

39

��

j j

j

MmT

p~

1~�

(3.44)

onde H~ é a entalpia de estagnação média definida por kuuhH ii ���~~

21~~ , sendo �

a energia cinética turbulenta.

A demonstração dessas equações encontra-se no Apêndice A do presente

trabalho. Um aspecto físico a ser destacado é que embora a média de Favre

elimine as flutuações da massa específica dentro das equações de conservação, a

mesma não remove o efeito dessas flutuações sobre a turbulência.

Consequentemente, a média de Favre é apenas uma simplificação do ponto de

vista matemático e não físico.

Para o tratamento das eq. (3.41-43) necessita-se de modelos para explicitar

os termos que envolvem correlações de flutuações de velocidades e flutuações de

outro escalar. É o que se chama normalmente na literatura de problema do

fechamento. Esses modelos serão tratados mais adiante quando for detalhado o

modelo de turbulência adotado.

3.5 Modelo de Combustão

A modelagem da combustão turbulenta é um campo bastante extenso.

Podemos distinguir alguns passos na modelagem numérica de chamas:

�� a análise assintótica, que permite a determinação analítica de

propriedades da chama para problemas simples, levando a fatores de

escala úteis (como números adimensionais), sendo adequada para a

comparação quantitativa de vários fenômenos;

�� experimentos simplificados são úteis para o entendimento das

características básicas da combustão (chamas laminares, interação

vórtices-chama, etc.);

�� criação do modelo matemático para o problema; e

�� validação do modelo contra resultados experimentais ou comparação

com resultados através de simulação numérica direta (DNS).

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Page 41: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

40

A queima do combustível sólido dentro da câmara de combustão de um

SFRJ ocorre em regime não pré-misturado, onde combustível e oxidante estão

segregados pela chama dentro da camada limite turbulenta. Assim, pode-se

utilizar o modelo de chama de difusão não pré-misturada, onde a velocidade de

queima é controlada pela difusão molecular dos reagentes através da zona de

reação, ou seja, controlada pelo grau de mistura.

Existem na literatura vários modelos matemáticos propostos para as chamas

de difusão(47). As hipóteses formuladas na construção desses modelos podem ser

agrupadas em dois grupos principais: cinética química infinitamente rápida e

cinética química de taxa finita. No presente trabalho, utilizou-se um modelo de

cinética química infinitamente rápida, conhecido como modelo de fração de

mistura formulação PDF (Probability Density Function) presumida, onde a

combustão é descrita como uma reação irreversível de única etapa entre

combustível e oxidante gerando produtos de combustão.

3.5.1 Fração de Mistura – Formulação PDF

O modelo é o mais popular em combustão subsônica e faz uma abordagem

estatística para o problema, a fim de levar em conta a interação turbulência-

combustão. Uma vez que o sistema não é adiabático, os valores médios de

algumas propriedades do escoamento podem ser obtidos através de uma relação

matemática (relações de estado) entre o valor instantâneo dessa propriedade, como

função da variável escalar conservativa (fração de mistura) e da entalpia, e uma

função densidade de probabilidade conjunta dessas mesmas variáveis. De maneira

geral, sendo � a propriedade que se pretende avaliar, seu valor médio pode ser

calculado por:

� ��

hdfdhhfphf

0

1

0),(),(~

�� (3.45)

onde p( f, h) é a função densidade de probabilidade conjunta da fração de mistura

e da entalpia.

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Page 42: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

41

3.5.2 Relações de Estado - Fração em massa

Neste trabalho a abordagem da combustão através da fração de mistura foi

tratada com uma reação de única etapa e cinética infinitamente rápida. O modelo

de cinética química infinitamente rápida (IFCM - Infinitely Fast Chemical System)

empregado, permite que se obtenha de maneira simples as frações em massa das

espécies como funções da fração de mistura apenas. Desse modo, a função

densidade de probabilidade também pode ser definida como função apenas da

fração de mistura. Assim, o valor médio da fração em massa de cada espécie j

considerada nos produtos da combustão foi calculado, pela expressão:

��

1

0)()(~ dffpfmm jj (3.46)

A forma da função )( fm j é obtida pelo modelo de combustão adotado de

acordo com a seguinte hipótese. Pressupõe-se que combustível e oxidante reagem

em qualquer temperatura gerando produtos. Desse modo, considera-se não haver

combustível e oxidante presentes simultaneamente em um ponto do domínio

computacional. Se o combustível entrasse em contato com o oxidante na razão

estequiométrica, apenas produtos estariam presentes no domínio

computacional(48). Caso contrário, além dos produtos haveria a presença de

combustível ou oxidante, o que estivesse em excesso. Pode-se verificar essa

afirmativa da seguinte forma. Assumindo-se que um combustível do tipo CxHyOz

esteja sendo queimado, a reação estequiométrica de queima completa desse

combustível pode ser escrita como:

22222 76,3)24

(2

)76,3)(24

( NzyxOHyxCONOzyxOHC zyx ��������� (3.47)

Variando-se, então, a quantidade de oxigênio disponível para a reação e

supondo que a quantidade de oxigênio disponível para a reação seja uma fração

� , onde � varia de 0 (zero) a � (infinito), da quantidade estequiométrica

requerida, assumindo combustão ideal a eq. (3.47) torna-se:

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Modelagem Matemática

42

22

22

22

7632424

10

211

1076324

NzyxOzyxMax

OHyMinxCOMin

OHCMaxNOzyxOHC zyxzyx

,)())]((,[

],[],[

],[),)((

������

��

�������

��

��

��

(3.48)

Usando-se a definição de fração de mistura apresentada na eq. (3.20), é

possível traçar um gráfico com a variação das frações em massa dos produtos na

eq. (3.48) como uma função da fração de mistura (f). Conforme � varia de � a 0

(zero), a fração de mistura varia de 0 (zero) a 1 e relações de estado para as

frações em massa das espécies podem ser expressas em função da fração de

mistura.

Como exemplo, tomemos a combustão do metano. A reação de combustão

segundo a eq. (3.48) é escrita como:

222

24224

76,3)2(2)]1(,0[2],1[],1[]1,0[)76,3)(2(

NOMaxOHMinCOMinCHMaxNOCH

���

���

����

����� (3.49)

Sabendo que a fração em massa de oxigênio no ar é de aproximadamente

23,31%, tomando-se a reação estequiométrica (� =1) obtemos os valores de s e fst,

segundo a eq. (3.21), para a combustão do metano

4161322

42

��

CHmassaOmassas ; 055070

233104123310 ,

,,

��

�stf (3.50)

A massa total (MTot) dos produtos da combustão expressa na eq. (3.49) é

calculada por:

����� 56,210]1,0[64],1[36],1[44]1,0[16 ������� MaxMinMinMaxMTot (3.51)

Para a reação apresentada na eq. (3.49) podemos escrever uma expressão

para a fração de mistura, de acordo com a eq. (3.20), da seguinte forma:

233104

23310106410416

,

,],[],[

��

���

�TotTot M

MaxMMax

f

��

(3.52)

Agora, variando � entre 0 e � para cada valor de � , encontramos a massa

de cada espécie nos produtos através da eq. (3.50). Calculamos a massa total dos

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Page 44: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

43

produtos pela eq. (3.51) e a fração de mistura pela eq. (3.52). A fração em massa

da espécie é a razão entre sua massa e a massa total (MTot) da mistura. Obtem-se,

então, as relações de estado para as frações em massa das espécies em função da

fração de mistura na combustão do metano, conforme mostrado na fig. 6.

De maneira análoga, o procedimento pode ser adotado para determinar as

relações de estado para frações em massa na combustão de outros combustíveis.

Como exemplo, as fig. 7 e 8 mostram as relações de estado para a combustão do

etileno (C2H4) e metilmetacrilato (C2H5O2), respectivamente. Percebe-se que o

ponto de inflexão das curvas está relacionado diretamente com o valor da fração

de mistura estequiométrica. Esse é um parâmetro da reação química que depende

exclusivamente do combustível utilizado. Por outro lado, a curva de fração em

massa do inerte (N2) é a única que independe do valor da fração de mistura

estequiométrica e sim do valor da fração em massa de inerte na corrente de

oxidante, sendo, portanto, idêntica para todos os combustíveis.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

FRAÇÃO DE MISTURA - f

FRAÇ

ÃO E

M M

ASSA

O2 CO2 H2O N2 CH4

Figura 6 - Relação de estado para fração em massa na combustão do metano.

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Page 45: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

44

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

FRAÇÃO DE MISTURA - f

FRAÇ

ÃO E

M M

ASSA

O2 CO2 H2O N2 C2H4

Figura 7 - Relação de estado para fração em massa na combustão do etileno.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

FRAÇÃO DE MISTURA - f

FRAÇ

ÃO E

M M

ASSA

O2 CO2 H2O N2 C2H5O2

Figura 8 - Relação de estado para fração em massa na combustão do metilmetacrilato.

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Page 46: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

45

Observando-se as fig. 6 a 8 pode-se resumir as relações de estado para

fração em massa do combustível (mfu), oxigênio (mO2), nitrogênio (mN2) e

produtos (mprod), lembrando que nos casos estudados nesse trabalho o inerte (N2) é

introduzido apenas na corrente de oxidante, ou seja, a corrente de combustível só

possui combustível.

st

stfuOst f

ffmmff�

������

1;01 2 (3.53)

oOst

stOfust m

fff

mmff ,22;00�

����� (3.54)

)1(,22 fmm oNN �� (3.55)

)(1 22 NOfuprod mmmm ���� (3.56)

onde mO2,o = 0,2331 e mN2,o = 0,7669.

As espécies consideradas como produtos para efeito dos cálculos acima são

CO2 e H2O. Para determinar as frações em massa de CO2 e H2O isoladamente,

basta multiplicar a fração em massa dos produtos, obtida pela eq. (3.56), pela

razão em massa de cada espécie dentro dos produtos. Por exemplo, na combustão

do metano temos a formação de um mol de CO2 (44g) e dois moles de H2O (36g),

somando um total de 80g de produtos. Assim, as razões em massa das duas

espécies serão: 55080442 ,/ ��COr e 45080362 ,/ ��OHr

Dessa forma, em qualquer reação de combustão as frações em massa de CO2

e H2O podem ser determinadas pelas expressões:

)](1[ 2222 NOfuCOCo mmmrm ���� (3.57)

)](1[ 2222 NOfuOHOH mmmrm ���� (3.58)

Para explicitar as eq. (3.57) e (3.58) em função da fração de mistura

substitui-se as eq. (3.53-55) dentro das mesmas.

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Page 47: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

46

3.5.3 Relações de Estado - Temperatura

Foi mostrado que as frações em massa instantâneas das espécies nos

produtos da combustão podem ser obtidas como funções da fração de mistura

apenas, de acordo com as relações de estado. No caso da temperatura, a

determinação de seu valor instantâneo em função da fração de mistura não é tão

direta. Isso se deve ao fato de que a temperatura da mistura deve ser calculada a

partir da entalpia da mistura pela expressão(49):

refpO TC

sHmhT �

��� /)( 2 (3.59)

onde H� é o calor de combustão por quilograma de combustível na temperatura

de referência ( refT ). O calor específico da mistura a pressão constante é dado por

��j

jpjp CmC , (3.60)

onde mj é fração em massa e Cp,j o calor específico médio da espécie j tomado à

temperatura de 1200 K.

Como definido pela eq. (3.59), a temperatura não pode ser calculada apenas

como uma função da fração de mistura e sim como função da fração de mistura e

da entalpia da mistura, isto é, T=T( f ,h ). Essa característica é própria de sistemas

onde existe transferência de calor para as paredes da fronteira por convecção e/ou

radiação. Nesses sistemas, o estado termoquímico local deixa de ser função

apenas da fração de mistura, para se tornar função da entalpia também.

O cálculo do valor médio da temperatura deveria ser feito de acordo com a

eq. (3.45). Porém, o desenvolvimento de p( f, h ) é bastante trabalhoso e não tem

aplicações práticas em problemas de engenharia. Usualmente, assume-se que a

fração de mistura e a entalpia são estatisticamente independentes. Além disso,

assume-se que as flutuações da entalpia são independentes do nível de entalpia,

isto é, as perdas de calor não interferem significativamente nas flutuações

turbulentas da entalpia. Dessa forma, o valor médio da temperatura média pode

ser calculado por:

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Page 48: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

47

��

1

0)(),(~ dffphfTT (3.61)

No presente trabalho, o lado direito da eq. (3.59) foi dividido em três termos

da seguinte maneira:

�� 1o Termo: pCh / , onde o valor de h é obtido pela solução da equação de

conservação de energia e pC foi calculado pela eq. (3.60), porém os valores

de mj foram expressos como funções da fração de mistura (relações de

estado). Assim, o primeiro termo foi assumido como função de h e f.

�� 2o Termo: )/( pox CsHm �� . Nesse termo H� e s são constantes e

dependem apenas do combustível. A fração em massa de oxigênio ( 2om ) é

função da fração de mistura (relação de estado) e pC foi calculado pela eq.

(3.60), porém os valores de mj foram expressos como funções da fração de

mistura (relações de estado). Desse modo, o segundo termo é uma função

apenas da fração de mistura.

�� 3o Termo: Tref. É uma constante.

Substituindo-se a temperatura dada pela eq. (3.59) na eq. (3.61) podemos

escrever a seguinte expressão para o cálculo da temperatura média da mistura:

� �� ��

��1

0

1

0

1

0

2 )()()()(

)()(

1~ dffpTdffpfCfm

sHdffp

fChT ref

p

O

p

(3.62)

Foi mostrado na seção anterior, eq. (3.53-58), como as frações em massa

instantâneas das espécies variam com f. Assim, uma vez que o calor específico

definido pela eq. (3.60) é uma combinação linear de mj(f), conhecendo-se os

valores dos Cp,j pode-se traçar uma curva mostrando a variação das

razões )(/)( fCfR p11 � e )(/)()( fCfmfR pO22 � . Como exemplo, as fig. 9 e

10 mostram as curvas obtidas para R1(f) � f e R2(f) � f e as expressões para R1(f) e

R2(f) no caso da combustão do etileno.

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Page 49: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

48

0,E+00

5,E-05

1,E-04

2,E-04

2,E-04

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0FRAÇÃO DE MISTURA - f

R2(

f) =

MO

2(f)

/ Cp(

f)

0)(106367,010).98,3210,2()(06367,00

2

42

����

������

fRfffRf

Figura 10 - Curva de R2(f) x f e expressões de R2(f) para a combustão do etileno.

y = -2,860E-04x + 6,308E-04

y = -5,527E-04x + 7,845E-04

y = -9,611E-04x + 8,718E-04

y = -1,417E-03x + 9,008E-04

0,E+00

1,E-04

2,E-04

3,E-04

4,E-04

5,E-04

6,E-04

7,E-04

8,E-04

9,E-04

1,E-03

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

FRAÇÃO DE MISTURA - f

1/C

P M

ÉDIO

42

42

42

42

10).86,2308,6()(157623,0

10).527,5845,7()(57623,02138,0

10).611,9718,8()(2138,006367,0

10).17,14008,9()(06367,00

�����

�����

�����

�����

ffRf

ffRf

ffRf

ffRf

Figura 9 - Curva de R1(f) x f e expressões de R1(f) para a combustão do etileno.

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Page 50: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

49

A partição das curvas em trechos lineares facilita o cálculo das integrais

envolvendo a função densidade de probabilidade, como será mostrado mais

adiante. Portanto, para completar os cálculos dos valores médios das frações em

massa das espécies e da temperatura média da mistura, falta apenas definir a

forma da função densidade de probabilidade p(f). Como já foi mencionado, o

modelo adotado utiliza uma forma presumida para a função densidade de

probabilidade, que utiliza os valores obtidos da solução das equações de

transporte da fração de mistura e sua variância, que será tratada na próxima seção.

Uma vez calculados os valores médios das frações em massa das espécies na

mistura através da eq. (3.46) e o valor médio da temperatura da mistura pela eq.

(3.62), podemos calcular o valor médio da massa específica da mistura

diretamente pela aplicação da equação de estado como abaixo

��

j j

j

MmT

p~

1~�

(3.63)

onde jm~ é a fração em massa média e Mj a massa molecular da espécie j.

O valor médio da massa específica da mistura gasosa também poderia ter

sido calculado pela expressão:

��1

0 ),()(1 dfhf

fp��

(3.64)

Dessa maneira, para se encontrar o valor médio da massa específica da

mistura gasosa não seria necessário calcular os valores médios das frações em

massa das espécies e da temperatura da mistura gasosa. Uma expressão contendo

valores instantâneos das frações em massa e da temperatura representaria o valor

instantâneo da massa específica ),( hf� . Um procedimento análogo ao que foi

descrito para o cálculo do valor da temperatura média na eq. (3.62), teria que ser

utilizado para o cálculo da integral do lado direito da eq. (3.64).

O cálculo da massa específica através da eq. (3.64) é bastante vantajoso,

computacionalmente, quando não estamos interessados em analisar os campos

médios de temperatura e concentração das espécies, uma vez que evita o cálculo

das integrais apresentadas nas eqs. (3.46) e (3.62).

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50

3.5.4 Variância da Fração de Mistura e sua Equação de Transporte

O modelo de fração de mistura/formulação PDF, para escoamentos

turbulentos, envolve a solução das equações de transporte na média de Favre para

a fração de mistura e sua variância. Uma vez que no escoamento turbulento a

fração de mistura flutua aleatoriamente sobre um valor médio em cada ponto da

câmara de combustão, utiliza-se uma hipótese física de modelagem que estabelece

uma ligação entre o processo de mistura e as reações químicas. Como ponto de

partida, para modelar as flutuações da fração de mistura, define-se uma variância

fg como:

� �������

��

t

tf dff

tfffg

0

222 ]~)([1)~( lim �� (3.65)

onde t é grande, comparado à escala de tempo da turbulência local.

Pode-se obter a equação de transporte para fg na média de Favre em regime

permanente a partir da eq. (3.22). A demonstração completa encontra-se no

Apêndice A.

��

������

��

��

�����

��

jjj

j

ff

jfj

j xffufu

xg

xgu

x

~2)~( 2���

��

��

��

���

jf

jjjf x

fx

fxf

xf ~

22

(3.66)

3.5.5 Definindo a forma da PDF

A função densidade de probabilidade pode assumir diferentes formas. No

presente trabalho, )( fp foi construída utilizando-se os valores da fração de

mistura ( f~ ) e sua variância ( fg ) obtidos da solução das respectivas equações de

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Modelagem Matemática

51

transporte (3.43) e (3.65). Usando-se a função Beta normalizada(50) podemos

definir a pdf como:

���

��

� 1

0

11

11

)1(

)1()(dfff

fffpba

ba

(3.67)

onde os parâmetros a e b estão relacionados com f~ e fg através das expressões

���

���

��

�� 1)~1(~~

fgfffa (3.68)

ffab ~

)~( �

1 (3.69)

Uma vez definida a forma da pdf, cabe uma explicação de como foram

implementados os cálculos das integrais nas eqs. (3.46) e (3.62). Inicialmente,

apresenta-se a definição da função Beta (a,b)(50).

���

��

1

0

11 )1(),( dtttbaBeta ba (3.70)

Tomando-se agora as eq. (3.69) e (3.66) e substituindo na eq. (3.45) tem-se:

���

1

0

11

),(])1([)(~

baBetadffff

ba

�� (3.71)

Porém, como foi visto nas eq. (3.52-58) e na eq. (3.62), )( f� se apresenta

na forma BAff ��)(� (função linear de f), onde A e B são constantes.

Substituindo na eq. (3.70) a expressão definida para )( f� e a definição da função

Beta tem-se:

BbaBeta

baBetaA

baBetabaBetaB

baBetabaBetaA

baBeta

dfffB

baBeta

dfffA baba

��

��

��

���

���

),(),1(~

),(),(

),(),1(

),(

)1(

),(

)1(~1

0

111

0

1

� (3.72)

A expressão obtida na eq. (3.71) pode ser ainda mais simplificada com o uso

de uma propriedade da função Beta. Inicialmente, utiliza-se a definição da função

Gama dada por(50):

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Modelagem Matemática

52

��

��

��0

1)( dtetn tn , com n > 0 (3.73)

Então, pela definição acima, tem-se:

��

���0

)1( dtetn tn (3.74)

Integrando por partes, o lado direito da eq. (3.73), pode-se escrever:

���

���

��

���0

1

00dtentetdtet tntntn (3.75)

Uma vez que o primeiro termo do lado direito da eq (3.74) tende a zero para

n >0, e usando as eq. (3.73) e (3.72) encontra-se a seguinte equação funcional

para a função Gama(51):

)()1( nnn ���� (3.76)

Existe a seguinte relação entre a função Beta e a função Gama, cuja

demonstração pode ser encontrada em livros de matemática estatística e em

tabelas de funções e fórmulas matemáticas(51):

)()()(),(

nmnmnmBeta

��

��� (3.77)

Então, pela definição na eq. (3.76), pode-se escrever:

)1()()1(),1(

���

�����

nmnmnmBeta (3.78)

Usando-se a equação funcional (3.75) na eq. (3.77) tem-se:

)()()()(),1(nmnm

nmmnmBeta���

���� (3.79)

Assim, usando-se as eq. (3.76) e (3.78) tem-se:

)()()(

)()()()(

),(),1(

nmnm

nmnmnmm

nmBetanmBeta

��

��

���

��

��

� nm

mnmBeta

nmBeta�

),(),1( (3.80)

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Page 54: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

53

Substituindo-se o resultado da eq. (3.79) na eq. (3.71) encontra-se a seguinte

expressão para o cálculo do valor médio da variável �~ .

Bba

aA ���

���

��

)(~� (3.81)

Essa simplificação facilita bastante os cálculos dos valores médios das

frações em massa das espécies e do valor médio da temperatura da mistura,

tornando mais dinâmico, computacionalmente, o procedimento de atualização dos

valores dessas variáveis e o cálculo da massa específica da mistura.

3.6 Modelo de Turbulência

Como mencionado anteriormente, alguns termos contendo correlações com

flutuações das variáveis nas equações de conservação e transporte na média de

Favre necessitam ser modelados, a fim de que o sistema de equações diferenciais

obtido seja fechado. Esse é o conhecido problema do fechamento da modelagem

matemática, ou seja, o número de equações no sistema tem que ser igual ao

número de incógnitas. A seguir, apresenta-se os modelos de fechamento adotados

para analisar o problema da combustão no SFRJ.

Modelou-se as tensões de Reynolds através da aproximação de Boussinesq

(1877)(44), o qual propõe para o núcleo turbulento uma analogia entre as tensões

turbulentas e as tensões existentes no regime laminar. Assim,

ijijkk

ti

j

ji

tji xu

xu

xu

uu �������32

32

����

����

��

��

��

������

~~~ (3.82)

O parâmetro de proporcionalidade com a taxa de deformação do escoamento

é a viscosidade turbulenta, �t, a qual depende do escoamento. O termo �� na

expressão acima representa a pressão dinâmica associada aos turbilhões, em

analogia à pressão estática, termodinâmica, sendo � a energia cinética turbulenta.

Para escoamentos a baixo Mach, pode-se considerar que �� << p .

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Page 55: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

54

O vetor fluxo turbulento de um escalar ( �� ����ju ) foi modelado utilizando-

se a clássica analogia de Reynolds (1874)(44), de modo que o mesmo é

proporcional ao gradiente do valor médio do escalar. Assim, pode-se escrever

jt

tj x

hhu�

�������

~

�� (3.83)

jt

tj x

ffu�

�������

~

�� (3.84)

onde �t é o número de Prandtl turbulento.

Uma vez que o modelo de turbulência adotado para a resolução do

escoamento foi o modelo de duas equações � (energia cinética turbulenta) e

�����taxa de dissipação da energia cinética turbulenta) para altos Reynolds,

proposto por Launder e Spalding (52), a viscosidade turbulenta foi definida por

���� � /2Ct � (3.85)

onde C��é uma constante empírica.

Para avaliar a viscosidade turbulenta, referente ao modelo de duas equações

�-� devemos resolver as equações de transporte na média de Favre para essas

duas variáveis.

A energia cinética turbulenta é definida como

ii uu �����21

� (3.86)

Logo, a maneira mais simples de se obter a equação de transporte para � na

média de Favre é multiplicar a diferença entre as equações de quantidade de

movimento linear, eqs. (3.2) e (3.41), por iu �� , e operar a média no tempo da

expressão assim obtida. A obtenção da equação de transporte para � na média de

Favre requer um esforço algébrico bem maior. Inicialmente, também calcula-se a

diferença entre as equações de quantidade de movimento linear instantânea e

média, eq. (3.2) menos eq. (3.41). Diferencia-se a expressão assim obtida em

relação a kx � �kx�� / , faz-se o produto escalar com ki xu ���� /� e opera-se a

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Page 56: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

55

média no tempo. No Apêndice A são apresentados os passos descritos

anteriormente para a dedução de ambas as equações de transporte. Ao final,

obtemos as seguintes expressões para as equações de transporte na média de Favre

para � e � , respectivamente.

ii

j

ijiiijiji

jj

ijij

j xpu

xu

tuuuutxx

uuuu

x �

����

�������������

��

�������

� )21(

~)~( ���� (3.87)

���

��

���

���

��

i

j

il

ij

jjj

j xu

xp

xu

uxx

ux

����

��� 2)~(2

���

���

���

��

���

���

���

��

��

���

������

li

jli

jii

ji

ji xu

xxu

xxpu

xu

uuC ����

� 21~

(3.88)

Os termos de difusão molecular ( ijiut �� ) e transporte turbulento ( iij uuu ������

21

� )

que aparecem na equação de transporte da energia cinética turbulenta, eq. (3.86),

foram modelados segundo a aproximação mais comumente utilizada para

escoamentos com baixos número de Mach(53)

( ijiut �� - iij uuu ������

21

� ) = jk

tx��

���

����

��

�� (3.89)

Na equação de transporte para a variância da fração de mistura (gf), eq.

(3.65), o termo com a correlação 2fu j ����� foi modelado adotando-se o conceito da

difusividade turbulenta e utilizando-se a analogia de Reynolds (1874)(44), da

seguinte maneira:

j

f

g

tj x

gfu

��������

��

2 (3.90)

Ainda na equação de transporte para gf , o termo difusivo ��

��

��

jf

j xf

xf

~,

apesar de não nulo, foi desprezado, o que é usualmente feito em escoamentos com

alto número de Reynolds. Nesta equação, o último termo a ser modelado,

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Modelagem Matemática

56

��

��

���

���

jjf x

fxf , é a taxa de dissipação das flutuações da fração de mistura. Essa

grandeza mede diretamente a velocidade de decaimento das flutuações através da

micromistura turbulenta. São encontradas várias expressões associadas a esse

termo(43).

Como mencionado no trabalho de Veynante e Vervisch(43) pode-se escrever,

Xxf

xfD

jj

~�� �

���

��� (3.91)

onde X~ é taxa de dissipação do escalar e D a difusividade de f.

Agora, para encontrar uma expressão para X~ , pode-se derivar uma equação

de transporte para essa variável a partir da equação de transporte da fração de

mistura. Detalhes dessa derivação podem ser encontrados em Veynante e

Vervisch(43). A condição de equilíbrio (produção = dissipação) nos leva a uma

expressão simples para X~ .

)/(~ 2

��

fCX S��

� (3.92)

onde CS é a constante de Spalding, usualmente definida com valor unitário.

Assim, na equação (3.91) tem-se

2fCxf

xfD s

jj���

���

���

���

(3.93)

O primeiro termo do lado direito da equação de transporte de �, eq. (3.86),

representa a produção de energia cinética turbulenta P� devido as tensões viscosas

ijji

kk

tji

i

j

ji

tji

jik xu

xu

xu

x

u

xu

xu

uuP �������

���

���

��

���

��

��

��

��

�������

~~~~~~

32 (3.94)

O terceiro termo do lado direito da equação (3.86) representa a dissipação

de �, sendo definido por

����

���

j

iji x

ut (3.95)

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Page 58: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

57

O efeito do gradiente de massa específica sobre a turbulência é levado em

consideração no termo de correlação pressão-velocidade que aparece nas equações

de transporte na média de Favre para � e �. No entanto, a modelagem desse termo

ainda carece de comprovações experimentais, sendo o mesmo, usualmente,

desprezado em escoamentos onde as forças devido ao empuxo não são

consideradas(54).

0��

����

ii x

pu (3.96)

Os termos de correlação que surgem na equação de transporte da taxa de

dissipação da energia cinética turbulenta na média de Favre, eq. (3.87), foram

modelados seguindo-se a análise dimensional e a intuição física. De uma maneira

simplificada, pode-se rescrever a eq. (3.87) como:

����� dPDu

x jj

����

� )~( (3.97)

onde os termos do lado direito representam, respectivamente, os mecanismos de

difusão, produção e destruição de �.

O termo de difusão é aproximado usando-se o gradiente de �, de forma

análoga ao que foi feito nas outras equações. Assim, tem-se(44)

j

t

i

j

il

ij xx

uxp

xuu

���

���

�����

�����

����

22

(3.98)

���

���

��

����

����

��

j

t

ji

j

il

ij

jj xxxu

xp

xu

uxx

D �

�����

��

�)(]2[

2

(3.99)

O termo de produção na equação (3.96) apresenta parcelas de geração

devido a mecanismos como alongamento dos vórtices e o efeito da variação da

massa específica sobre a turbulência. Sabe-se que a produção de � devido as

tensões viscosas e pressão é dada por(44)

kj

iji P

xuuu �

������

~� (3.100)

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Modelagem Matemática

58

Uma vez que a produção de � deve ser balanceada pela produção de �, para

evitar um aumento infinito de �, o termo P� será igual ao termo Pk multiplicado

por �� / (inverso da escala de tempo) e por uma constante empírica C1.

kPCP�

� 1� (3.101)

Finalmente, o termo de destruição na equação (3.96) deve tender a infinito

quando 0�� , caso contrário, teremos valores negativos para �. O modelo

adotado para o termo de destruição é apresentado abaixo.

��

����

� 22 Cxu

xxu

xd

li

jli

j�

���

���

��

���

���

���

���

��

���

���

�� (3.102)

3.7 Forma Geral das Equações de Conservação e Transporte

As equações apresentadas em (3.40), (3.41), (3.42), (3.43), (3.65), (3.86) e

(3.87) utilizando as aproximações e modelos das seções anteriores, podem ser

escritas na forma geral abaixo para regime permanente.

���

��� Sxx

ux jj

jj

��

��

� )()~( (3.103)

Esse procedimento facilita a implementação das equações dentro do código

computacional. A equação, na forma geral, fica dividida em três termos distintos.

O primeiro, localizado à esquerda é o termo convectivo. O segundo, primeira

parcela do lado direito, é o termo difusivo. O terceiro, segunda parcela do lado

direito, é o chamado termo fonte.

A equação da continuidade, apresentada pela eq. (3.40), pode ser rescrita

como:

00 ��

��

� )()~(jj

jj xx

ux

�� (3.104)

Na equação de conservação da quantidade de movimento linear (3.41), foi

introduzida a lei constitutiva, eq. (3.8), e o modelo de Boussinesq, eq. (3.81),

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Modelagem Matemática

59

alterando sua forma para:

��

���

��

���

��

��

��

��

��

��

��

���

ijijkk

i

j

ji

tj

iij

j

xu

x

u

xu

x

xpuu

x

������

32

32 ~~~

)(

)~~(

(3.105)

Introduzindo-se a definição de viscosidade efetiva como

teff ��� �� (3.106)

e considerando que o escoamento é para alto número de Reynolds, pode-se

desprezar a viscosidade molecular em relação a turbulenta, então

teff �� � (3.107)

Consequentemente, podemos rescrever a equação (3.104) como:

ii

jt

jji

tj

ijj x

Pxu

xxu

xuu

x �

���

��

����

��

��

�~~

)~~( ��� (3.108)

onde introduziu-se a seguinte definição para a pressão modificada P :

� ����32

32

����

����

��

kk

t xu

pP~

(3.109)

Para rescrever a equação de conservação da energia (3.42) usou-se o fato de

que para escoamentos a baixo número de Mach (entre 0,3 e 0,4 no caso dos estato

reatores), considera-se que o trabalho viscoso é desprezível. Assim,

0)( ��

jiij

tux

(3.110)

Temos ainda que a viscosidade molecular é muito menor que a viscosidade

turbulenta, de acordo com o modelo de turbulência adotado. Finalmente, usando-

se a eq. (3.82), a eq. (3.42) pode ser rescrita como

���

���

��

jt

t

jj

j xH

xHu

x

~)~~(

�� (3.111)

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Page 61: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

60

A equação de transporte da fração de mistura (3.43) foi simplificada

utilizando as eq. (3.23) e (3.83), e desprezando-se a viscosidade molecular, 0�� :

� � )~

(~~jf

t

ii

i xf

xfu

x �

��

�� (3.112)

A equação de transporte para a variância da fração de mistura (3.65) foi

simplificada utilizando-se as eq. (3.83), (3.89) e (3.93). Introduzindo-se

aproximações para escoamento com alto Reynolds, isto é, 0~

���

��

jf

j xf

xf e

0�� , tem-se:

fjt

tj

f

tt

jfj

jg

xf

xg

xgu

x �

��

�� 22

2�

��

��

��

��

��

�~

)~( (3.113)

Para simplificar a equação de transporte da energia cinética turbulenta

(3.86) foram inseridas as eq. (3.94), (3.95) e (3.96) e a viscosidade molecular foi

desprezada, resultando em

���

���

���

���

���

Pxx

ux jk

tj

jj

)~( (3.114)

A equação de transporte da taxa de dissipação da energia cinética turbulenta

(3.87) pode ser simplificada utilizando-se as equações (3.99), (3.101) e (3.102).

Rescrevendo-a com 0�� encontramos:

��

��

���

221 CPC

xxu

x jt

jj

j��

���

���

)~( (3.115)

Comparando-se as expressões dadas pelas eq. (3.103), (3.107) e (3.110-114)

com a forma geral apresentada na eq. (3.102), podemos criar a Tabela 1 onde

estão detalhados os valores de � , �� e �S para tais equações no sistema de

coordenadas cilíndricas axi-simétrico. Os valores das constantes empíricas do

modelo de turbulência adotado encontram-se na Tabela 2.

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Modelagem Matemática

61

� �

� �

S

1 0 0

u~ t� ��

���

���

���

xvr

rrxu

x tt

~1~��

xP

��

v~ t� ��

���

���

���

��

rvrµ

rr1

ruµ

xr

vµ2 tt2

t ~~~

rP

��

H~ t

t

� 0

f~ t

t

� 0

fg t

t

� fs

tt gC

rf

xf

��

�22

22�

��

��

��

���

���

���

��

~~

k k

t

� ���

�P

ε �

�t � ����

� 21 CPC �

���� � /2Ct �

� ����32

32

����

����

��

kk

t xu

pP~

rv

rv

xuvr

rrxu

xu

kk

���

��

��

��

� ~~~)~(

~~ 1

��

j j

j

MmT

p~

1~�

���� iiuuhH ~~~~21

);~(~~ 2

refpo TTC

sHm

h ���

� ��j

jpjp CmC ,~

kk

ii

t

tk

xu

xu

xv

ru

rv

rv

rv

rv

xuP

����

����

��

���

���

��

��

��

��

���

���

��

���

���

���

���

��

~~

~~~~~~~

���

32

222222

Tabela 1 - Parâmetros das equações de conservação e transporte na forma geral

C1 C2 Cµ σk t� σε Cs

1,43 1,92 0,09 1,0 1,0 1,3 1,00

Tabela 2 - Constantes empíricas do modelo de turbulência

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Page 63: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

62

3.8 Descrição dos Modelos Matemáticos 3.8.1 Modelo 1

No modelo matemático proposto por Stevenson e Netzer(5) o escoamento no

combustor foi assumido estacionário, bidimensional e subsônico. O calor

específico foi considerado constante, isto é, independente da temperatura e

composição da mistura gasosa. O modelo de turbulência modificado de Jones e

Launder(55) foi adotado para o cálculo da viscosidade efetiva. O modelo requer a

solução das equações de transporte para duas variáveis: a energia cinética

turbulenta (��) e sua taxa de dissipação (� ). A viscosidade efetiva foi calculada

por:

tlameff ��� �� (3.116)

onde ���� � /2Ct � e �

C assume o valor padrão mostrado na Tabela 2.

Uma vez que a transferência de calor por radiação foi desprezada e os

números de Prandtl e Schmidt turbulentos foram adotados como unitários, assim

como o número de Prandtl laminar, a equação da energia em termos da entalpia de

estagnação não apresenta termo fonte. Desse modo, o modelo 1 resolve a equação

da energia em termos da entalpia de estagnação como uma variável escalar

conservativa.

A reação de combustão considerada envolve quatro espécies: oxigênio,

nitrogênio, combustível e produtos. Essa reação ocorre em mecanismo de única

etapa e cinética química infinitamente rápida. Assim, para modelar o escoamento

reativo, Stevenson e Netzer(5) calcularam mais duas variáveis escalares

conservativas. A primeira definida por:

smmZ Ofu /2�� (3.117)

e a segunda a fração em massa do nitrogênio ( 2Nm )

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Page 64: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Modelagem Matemática

63

Assim, o modelo 1 envolve a solução das equações de conservação e

transporte na média de Reynolds para as variáveis ZHvu ,,,,, �� e 2Nm , onde

H é a entalpia de estagnação definida por ���� 2/)( iiuuhH , sendo a entalpia

h calculada por:

- recolamento sem reação química: TCh p��� (6.118)

- escoamento com reação química: )(/2 refPO TTCsHmh ���� (6.119)

Para a solução do escoamento próximo às paredes sem transferência de

massa o modelo matemático de Stevenson e Netzer(5) utiliza as funções de parede

de Launder e Spalding(52), dividindo-se a camada limite em duas subcamadas

limitadas de acordo com o valor da variável �

Py . Os detalhes dessa abordagem

serão mostrados no capítulo 4. Assim, o valor da tensão de cisalhamento na

parede proporciona as condições de contorno para as velocidades u e v.

Para a superfície do combustível sólido Stevenson e Netzer(5) adotaram o

procedimento do cálculo das funções de parede de Launder e Spalding(52)

modificadas com a utilização do parâmetro de transferência de massa (blowing

parameter) para o cálculo da tensão de cisalhamento na parede com injeção de

massa. As condições de contorno assim geradas também serão discutidas no

capítulo 4 e os detalhes de sua implementação podem ser vistos no Apêndice B.

3.8.2 Modelo 2

O segundo modelo matemático tratado nesse trabalho foi proposto por

Coelho et al.(38). Nesse modelo o escoamento no combustor também foi assumido

estacionário, bidimensional e subsônico. O calor específico da mistura foi

calculado por

)(~)( , TCmTC jpj

jp �� (3.120)

sendo, portanto, dependente da temperatura e da composição da mistura gasosa.

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Modelagem Matemática

64

O modelo de turbulência de duas variáveis �� � de alto Reynolds foi

adotado. Assim, a viscosidade efetiva foi aproximada pelo valor da viscosidade

turbulenta calculada por �����

/2Ct � . O modelo também requer a solução das

equações de transporte para a energia cinética turbulenta (�) e sua taxa de

dissipação (� ).

A transferência de calor por radiação também foi desprezada. O número de

Prandtl turbulento adotado foi de 0,7 e o número de Prandtl laminar unitário. A

equação da energia foi resolvida em termos da entalpia definida por

� �� ���j

TT jpjj o

dtTChmh )(~~,

0 (3.121)

Considerou-se uma reação de combustão envolvendo cinco espécies:

oxigênio, nitrogênio, combustível, dióxido de carbono e água (vapor). Essa reação

ocorre em mecanismo de única etapa e cinética química infinitamente rápida,

como no modelo anterior. O escoamento reativo foi modelado segundo o

formalismo da fração de mistura/ função densidade de probabilidade prescrita. O

formalismo já foi descrito nesse capítulo e prevê a solução das equações de

transporte da fração de mistura e sua variância. Assim, o modelo matemático de

Coelho et al.(38) resolve as equações de conservação e transporte na média Favre

para as variáveis fgfhvu e ~,~,,,~,~�� .

Próximo às paredes o modelo de turbulência não é válido, uma vez que o

número de Reynolds nesses locais é baixo. Nessas regiões, Coelho et al.(38)

utilizaram as funções de parede de Chieng e Launder(56), modificadas para paredes

com injeção ou sucção de massa. A camada limite também foi dividida em duas

regiões como no caso anterior. A interface entre essas subcamadas ocorre em

20Re �v , onde vRe é um número de Reynolds baseado na distância à parede , vy ,

e na raiz quadrada da energia cinética turbulenta local, v� . Considerou-se um

perfil parabólico para a energia cinética turbulenta na subcamada viscosa e perfil

linear na região totalmente turbulenta.

Baseado nas informações sobre os valores de vy e v� o modelo cria um

sistema de equações que, após resolvido em cada iteração, determina o valor da

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Modelagem Matemática

65

tensão de cisalhamento na parede, da constante E do perfil logaritmo universal e

da velocidade axial na interface entre as subcamadas, vu .

Com o valor obtido para a tensão de cisalhamento na parede, um segundo

sistema de equações pode ser resolvido, obtendo-se o fluxo de calor para a parede

e o valor da velocidade de injeção de combustível (blowing). Além disso, o valor

da tensão de cisalhamento na parede também é substituído em expressões

definidas para o cálculo dos termos de produção e dissipação na equação

discretizada de transporte de �� para os pontos nodais próximos à parede.

Uma vez resolvida a equação de transporte para a energia cinética turbulenta

nos pontos próximos às paredes, o valor de P� é utilizado para calcular o valor da

taxa de dissipação da energia cinética turbulenta nesses pontos

[ )/(//PP yC ��� �

2343� ]. O mesmo procedimento de solução foi adotado

tanto para as paredes com injeção de massa, como para as demais paredes do

domínio computacional.

3.8.3 Modelo 3

O modelo proposto nesse trabalho faz uma combinação de ambos os

modelos mencionados anteriormente. O escoamento no combustor é assumido

estacionário, bidimensional e subsônico. O calor específico das variáveis foi

assumido ser independente da temperatura, tomando-se um valor médio a 1200K.

Assim, o calor específico da mistura é função apenas da composição da mistura

gasosa.

jpj

jp CmC ,~�� (3.122)

Como no modelo anterior adotou-se o modelo de turbulência �-� de alto

Reynolds para o cálculo da viscosidade efetiva, sendo teff �� � e �����

/2Ct �

A transferência de calor por radiação foi desprezada e os números de Prandtl

e Schmidt turbulentos foram adotados como unitários, assim como o número de

Prandtl laminar. Assim como o modelo 1, o modelo proposto resolve a equação da

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Modelagem Matemática

66

energia em termos da entalpia de estagnação como uma variável escalar

conservativa.

Considerou-se uma reação de combustão envolvendo cinco espécies:

oxigênio, nitrogênio, combustível, dióxido de carbono e água (vapor). Essa reação

ocorre em mecanismo de única etapa e cinética química infinitamente rápida. O

escoamento reativo foi modelado segundo o formalismo da fração de mistura/

função densidade de probabilidade prescrita, conforme descrito nesse capítulo e

prevê a solução das equações de transporte da fração de mistura e sua variância.

Assim, o modelo matemático proposto consiste na solução das equações de

conservação e transporte na média Favre para as variáveis

fgfHvu e ~,~,,,~,~�� , onde H~ , a entalpia de estagnação, foi definida por

���� 2/)~~(~~ii uuhH . A entalpia h~ foi calculada por:

- escoamento sem reação química: TCh p~~

��� (3.123)

- escoamento com reação química: )~(/~~2 refPO TTCsHmh ���� (3.124)

Todo o procedimento para tratamento das condições de contorno nas

paredes com e sem transferência de massa foi semelhante ao utilizado por

Stevenson e Netzer(5). A diferença ocorre quando se trata da solução da equação

de transporte da energia cinética turbulenta para os pontos nodais próximos às

paredes. No modelo 1, o valor da energia cinética turbulenta no ponto nodal acima

da parede ( P� ) era definido em função do valor calculado para a tensão de

cisalhamento na parede. Na ausência de injeção de massa, tem-se )( wP ��� � ,

enquanto que na presença de injeção de massa têm-se ),( BPwP ��� � . No

modelo proposto nesse trabalho o valor da energia cinética turbulenta nos pontos

nodais próximos às paredes são obtidos pela solução de sua equação discretizada

de transporte sem qualquer modificação nos termos de fonte. Todos os detalhes da

implementação das condições de contorno do modelo proposto estão descritos no

Apêndice B.

A Tabela 3 mostra as principais características e diferenças entre os modelos

matemáticos descritos anteriormente.

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Modelagem Matemática

67

MODELO

Parâmetro Modelo de Coelho et al.(38)

Modelo de Stevenson e Netzer(5) Modelo Proposto

Variáveis resolvidas fgfhkvu ,~,~,,,~,~

� onde

� �

���

j

TT jpj

jjj

odtTCm

hmh

)(~

~~

,

0

Equações na média de Favre.

2,,,,,, NmHkvu �� onde

kuuhH ii ���

21 .

Equações na média de Reynolds

fgfHkvu ,~,~,,,~,~�

onde

kuuhH ii ���~~

21~~ .

Equações na média de Favre

Modelo de Turbulência

�� � de alto Reynolds �� � : Jones e Launder(55) modificado

�� � de alto Reynolds

Modelo de

Combustão

Reação de único passo e cinética infinitamente rápida. Reação simulada pela

solução das variáveis f~

e fg , associadas a uma função densidade de probabilidade presumida, para cálculo das variáveis médias. Fração de Mistura / PDF presumida (beta normalizada).

Reação de único passo e cinética infinitamente rápida. Reação simulada pela solução das variáveis � e 2Nm

Reação de único passo e cinética infinitamente rápida. Reação simulada pela solução das variáveis

f~ e fg , associadas a uma função densidade de probabilidade presumida, para cálculo das variáveis médias. Fração de Mistura / PDF presumida (beta normalizada).

Condições de contorno

- Paredes sem reação química

Funções de parede de Launder e Spalding(52)

Funções de parede de Launder e Spalding(52)

- Paredes com reação química (superfície do combustível sólido)

Funções de parede de Chieng e Launder(56), modificadas para utilização em paredes com injeção ou sucção.

Funções de parede de Launder e Spalding(52) modificadas pelo uso do parâmetro de transferência de massa (blowing parameter)

Funções de parede de Launder e Spalding(52) modificadas pelo uso do parâmetro de transferência de massa (blowing parameter)

Tabela 3 - Comparação entre os modelos matemáticos.

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Page 69: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

4 GEOMETRIA E CONDIÇÕES DE CONTORNO 4.1 Geometria

Estamos interessados em resolver o campo de escoamento no interior do

combustor de um estato reator a combustível sólido. Uma vez que foram

realizadas simulações com diferentes tamanhos de combustor, definiremos nessa

seção os parâmetros geométricos que determinam a geometria básica do mesmo.

Na fig. 11 apresentamos esquematicamente esses parâmetros.

Figura 11 - Parâmetros geométricos do domínio computacional.

Segue abaixo a definição de cada um dos parâmetros apresentados:

��L - comprimento do combustor (câmara de combustão + câmara de mistura

posterior)

��H - raio interno do combustor (raio da câmara de mistura posterior)

��Xcomb - comprimento do grão de combustível sólido (comprimento da câmara

de combustão)

��Rin - raio do orifício de entrada de ar na câmara de combustão

��Hs - altura do degrau na entrada da câmara de combustão.

Das definições acima, têm-se que sincam HRR �� , onde camR é o raio da

câmara de combustão (ou raio interno da passagem de ar no grão combustível).

L

Xcomb

H

Rin

Hs

Combustível Sólido

Simetria

Saída

Entrada

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Geometria e Condições de Contorno

69

4.2 Condições de Contorno

Para resolver o sistema de equações diferencias devemos estabelecer

corretamente as condições de contorno para o problema. As condições de

contorno geram condições restritivas dentro do espaço de coordenadas para as

equações diferenciais. No presente trabalho, o domínio computacional têm até seis

tipos de regiões onde as condições de contorno são estabelecidas: entrada, saída,

simetria, superfície do combustível sólido, interior do combustível sólido e

paredes adiabáticas.

4.2.1 Entrada

Para definirmos as condições de contorno na entrada necessitamos conhecer

alguns parâmetros de vôo do dispositivo, como velocidade de cruzeiro e altitude, e

outros parâmetros de projeto, como a geometria do difusor supersônico. Com base

nessas informações ficam determinados a vazão em massa de ar entrando no

combustor ( inarm ,� ), assim como a temperatura ( inT~ ) e pressão ( camp ) de

estagnação do ar dentro da câmara de combustão. Outro dado de projeto é o raio

da entrada de ar na câmara de combustão (Rin).

A vazão em massa é definida como

ininininar Aum ~, ��� (4.1)

onde in� , inu~ e Ain são a massa específica, o componente de velocidade axial na

entrada e a área do orifício de entrada de ar na câmara, respectivamente. Dessa

forma, admitindo o ar como gás perfeito e perfil uniforme de velocidade, podemos

calcular a velocidade axial na entrada da câmara. Combinando-se a definição de

vazão em massa, eq, (4.1) e a eq. (3.44) para o gás perfeito temos:

arcamin

ininarin MpR

Tmu

�� 2

,~

~ �

(4.2)

onde Mar é a massa molecular média do ar e � a constante universal dos gases.

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Geometria e Condições de Contorno

70

Os valores da energia cinética turbulenta e sua taxa de dissipação na entrada

só poderiam ser melhor estimados através de dados experimentais. Porém, muitas

vezes esses dados não estão disponíveis. Nesse caso, é comum estimar esses

valores com base na intensidade da turbulência (normalmente um valor entre 1-

6% dessa grandeza) e no comprimento de escala da turbulência

( ��� // 23C�� )(53). Assim,

2~005,0 inin u���� (4.3)

)03,0/(09,0 2/3inin R�� � (4.4)

A velocidade radial ( v~ ) e a variância da fração de mistura (gf ) são nulos na

entrada. Como na entrada tem-se apenas ar aquecido, então 0~�fum e oOO mm ,22

~~� .

Logo, de acordo com a eq. (3.20), a fração de mistura f~ na entrada é nula.

O valor da entalpia de estagnação na entrada ( inH~ ) é obtido utilizando-se as

seguintes equações:

inin

ininu

hH ����

2

2~~ (4.5)

)~)(~~(~~

2,,22,,2,2

refinNpoNOpoOoO

in TTCmCms

Hmh ���

�� (4.6)

onde a temperatura de referência (Tref) adotada nesse trabalho foi de 700K, s é a

razão de massas estequiométrica definida no capítulo anterior e o calor de

combustão ( H� ) foi estimado para a temperatura de referência. O valor de 700K

para a temperatura de referência foi adotado com o objetivo de tornar nulo o valor

da entalpia de estagnação na superfície do combustível sólido, como será

mostrado mais adiante.

Convém lembrar que os valores de Cp,j das espécies j foram valores médios

avaliados à temperatura de 1200K. No capítulo 6 serão apresentados os valores

adotados para os Cp,j na solução dos casos estudados, juntamente com outras

propriedades termodinâmicas de interesse.

A Tabela 4 resume as condições de contorno para a entrada do domínio

computacional.

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Geometria e Condições de Contorno

71

Dados do Problema: incamininar RpTm ,,~,,� Calcula-se: inu~

Variável Condição de contorno na entrada

u~ inu~

v~ 0 k 2~005,0 inu � )03,0/(09,0 2/3

inin Rk

H~ inin

in kuh ��

2

~~ 2

onde )~)(~~(~~

2,,22,,2,2

refinNpoNOpoOoO

in TTCmCms

Hmh ���

��

f~ 0

gf 0

Tabela 4 - Condições de contorno na entrada do domínio computacional.

4.2.2 Simetria e Saída

Na linha de simetria, a condição de contorno para todas as variáveis � ,

exceto a velocidade radial, consiste em gradiente nulo na direção radial. Para a

componente radial da velocidade temos valor nulo na simetria.

Para a saída do domínio computacional adotou-se como condição de

contorno desprezar o fluxo difusivo na direção axial de todas as variáveis. A

Tabela 5 apresenta o resumo das condições de contorno na simetria e saída:

Velocidade Radial – v~ Demais variáveis

Simetria 0 0��

r�

Saída 0~�

xv

0��

x�

Tabela 5 - Condições de contorno na saída e eixo de simetria. 4.2.3 Paredes Adiabáticas

No presente trabalho foram consideradas paredes adiabáticas e

impermeáveis: a parede vertical no degrau formado na entrada da câmara de

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Geometria e Condições de Contorno

72

combustão; a parede vertical do combustível sólido; e as paredes da câmara de

mistura posterior. A parede vertical do combustível sólido é normalmente coberta

com uma fina resina isolante (liner), por isso também é considerada adiabática.

Para efeito de ilustração a fig. 12 mostra esquematicamente com linhas mescladas

em diagonal, as paredes consideradas adiabáticas impermeáveis no domínio de

interesse.

Combustível Sólido

Câmara de Combustão

Câmara de Mistura Posterior

Figura 12 - Paredes adiabáticas no domínio computacional.

Para as paredes, a condição de não deslizamento nos garante que as

velocidades axial e radial são nulas ( 0~~�� vu ). Uma vez que não há reação

química nessas paredes adiabáticas e, na região bem próxima a elas, o escoamento

laminar domina, o valor da variância da fração de mistura pode ser considerado

nulo. Considerando ainda que as paredes são impermeáveis, podemos considerar

que o gradiente da fração de mistura na direção normal às paredes é nulo.

Próximo à parede os efeitos viscosos tornam-se importantes devido à

condição de não deslizamento. Assim, o modelo de turbulência adotado não pode

ser aplicado diretamente nessa região, onde o número de Reynolds é baixo. Por

simplicidade, adotou-se o procedimento comum conhecido como funções de

parede(55) dividindo-se a camada limite em duas subcamadas: uma subcamada

laminar (ou viscosa) e uma camada totalmente turbulenta (ou lei universal

logarítmica). A fronteira entre as duas subcamadas está localizada em 511,��y .

Para 511,��y estamos na região totalmente turbulenta, caso contrário estamos

na subcamada laminar. A variável adimensional �y é definida por:

lam

wyy�

���2/1)/(

�� (4.7)

Entrada

Saída

Simetria

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Geometria e Condições de Contorno

73

onde y é a distância à parede, lam� é a viscosidade laminar do fluido, �w é a

tensão cisalhante na parede e � é avaliado na posição y .

Para uma camada limite estacionária, bidimensional, na ausência de

gradiente de pressão e transferência de massa na superfície, é válida a seguinte

relação na região turbulenta, conhecida como lei logarítmica universal:

)(ln ��� yE

ku 1 (4.8)

onde �� //~wuu �

� , 40,�k é a constante de von Kárman e 0,9�E para

paredes lisas.

A partir da eq. (4.7) e (4.8), pode-se estimar a tensão cisalhante baseada nos

valores das grandezas avaliadas a uma distância pouco acima da superfície sólida,

yp, com

PP

lamPPw y

y�

���

�/ e )(ln1

~/

P

PPw

yEk

u��

(4.9)

Combinando estas duas expressões, a tensão cisalhante na parede pode ser avaliada por

)(ln1/~

P

PlamPPw

yEk

yyu ��

(4.10)

Para a região próxima a parede, na sub-camada laminar, o perfil de

velocidade adimensional é linear, logo para de 511,��y :

��� yu (4.11)

A tensão cisalhante na parede também pode ser avaliada a partir de

propriedades existentes na região da sub-camada laminar. Neste caso, combinando

a eq. (4.7) com a eq. (4.11) tem-se

P

lamPw y

u ��

~� (4.12)

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Geometria e Condições de Contorno

74

Para 511,��y , podemos considerar que existe equilíbrio entre produção e

destruição de energia cinética turbulenta, o que nos leva a permitir avaliar a tensão

cisalhante pela seguinte expressão

PPw C ����

2/1� (4.13)

onde �

C é a constante empírica, já definida no modelo de turbulência e �P o valor

da energia cinética turbulenta logo acima da parede, na posição yP, assim como

P� . Como na região da parede a tensão cisalhante é aproximadamente constante,

pode-se concluir pela eq. (4.13) que a energia cinética também será. Logo na

região próxima à parede considera-se gradiente nulo da energia cinética em

relação a direção normal à parede

0��

r� (4.14)

Ainda considerando equilíbrio entre produção e destruição de energia

cinética e considerando o perfil logarítmico de velocidade, pode-se determinar que

a dissipação da energia cinética turbulenta no ponto logo acima da parede varia

com o inverso da distância à parede como:

PP

P ykC 2343 //

��

� (4.15)

No caso das paredes adiabáticas e impermeáveis do problema, o fluxo

difusivo das variáveis H~ , f~ e gf através das paredes é nulo.

4.2.4 Superfície do Combustível Sólido

Hadar e Gany(4) estudaram um modelo para o mecanismo de pirólise do

combustível sólido em estato reatores. Concluíram que no processo de pirólise do

combustível sólido a temperatura na superfície permanece praticamente constante.

Isso seria uma conseqüência da alta energia de ativação para o processo de

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Geometria e Condições de Contorno

75

decomposição do polímero, revelando que a regressão (ou queima) do

combustível é um processo de quasi-equilíbrio, onde a taxa é controlada pelo

fluxo de calor para a parede, obedecendo a seguinte equação:

effvfs

w

Hqr

,�

�� � (4.16)

onde r� é a taxa de regressão (ou velocidade de queima) do combustível, wq� é o

fluxo de calor para a parede, fs� a massa específica do combustível sólido e

effvH , o calor efetivo de vaporização ou gaseificação do combustível sólido

(praticamente constante).

Hadar e Gany(4) trabalharam com duas hipóteses simultâneas para tratar o

problema da pirólise do combustível sólido:

- a transferência de calor pode ser representada pela convecção forçada na

camada limite turbulenta do escoamento totalmente desenvolvido; e

- a força motriz do mecanismo de transferência de calor é a diferença entre a

temperatura da chama e a temperatura da parede.

Portanto, temos um processo de retroalimentação onde o calor transferido

para a parede do combustível sólido é utilizado para vaporizar o combustível. O

combustível na fase gasosa é misturado e queimado com o oxigênio da corrente de

ar aquecido aumentando a temperatura do escoamento. Sendo a diferença de

temperatura a força motriz da transferência de calor, o processo inicia-se

novamente.

A velocidade com que o combustível na fase gasosa é liberado na superfície

do combustível sólido pode ser calculada através da expressão(38):

effvfg

ww H

qv

,

~�

�� (4.17)

onde fg� é a massa específica do combustível na fase gasosa (podendo ser

calculada pela equação de estado). Para a maioria dos polímeros utilizados como

combustível sólido em estato reatores essa velocidade é da ordem de 10-2 m/s.

Apesar de pequena, quando comparada a ordem de grandeza da velocidade do

escoamento de ar, a presença dessa velocidade requer um tratamento especial para

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Geometria e Condições de Contorno

76

a superfície do combustível sólido, uma vez que além da transferência de calor

existe uma transferência de massa acoplada a mesma. As condições de contorno

devem sofrer algumas alterações para levar em consideração esse efeito. Na

literatura costuma-se denominar essa injeção de massa através da parede de

blowing.

A fig. 13 mostra, com linha pontilhada mais espessa, a superfície do

combustível sólido onde foram aplicadas as condições de contorno para paredes

com injeção de massa (blowing).

Combustível Sólido

Câmara de Combustão

Câmara de Mistura Posterior

Figura 13 - Parede com injeção de massa no domínio computacional.

4.2.4.1 Parâmetro de Transferência de Massa (Blowing Parameter)

Denomina-se variável escalar conservativa, a variável que possui equação

de conservação na forma geral apresentada no capítulo 3 onde o termo de fonte é

nulo. Desse modo, a entalpia de estagnação e a fração de mistura são consideradas

variáveis escalares conservativas nesse problema. As hipóteses adotadas para o

escoamento reativo - número de Prandtl turbulento ( t� ) e número de Schmidt

( Sc ) unitários, calores específicos constantes (independentes da temperatura) e

reação química irreversível de única etapa resultam em uma condição de contorno

generalizada para as variáveis escalares conservativas na superfície com

transferência de massa(45). Sendo c� a variável escalar conservativa (entalpia de

estagnação ou fração de mistura), na superfície do combustível sólido temos:

Entrada

Saída

Simetria

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Geometria e Condições de Contorno

77

)/( ,, fscbwcbw

cbw r

mc

���

� ���

���

���� (4.18)

onde bwm ��� é o fluxo de massa através superfície e os subscritos bw (blowing wall)

e fs referem-se a valores calculados na superfície do combustível sólido e no

interior do mesmo, respectivamente, sendo c�� o coeficiente de difusão da

variável c� .

Uma condutância de transferência de massa (g) é freqüentemente definida

de modo que

)( ,bwccbw

cPc

gr

���

� ����

���

(4.19)

onde Pc� é o valor da variável conservativa imediatamente acima da superfície do

combustível.

Substituindo-se a eq. (4.19) na eq. (4.18) temos:

)/()( ,,, fscbwcbwccbw Pgm ���� ������ (4.20)

Define-se, então, um parâmetro de transferência de massa BP (Blowing

Parameter) da seguinte forma(45).

)/()( ,,, fscbwcbwcPcBP ���� ��� (4.21)

Assim, a eq. (4.20) pode ser apresentada como

BPgmbw ���� (4.22)

A condutância de transferência de massa é aproximada usando-se a

expressão(45)

Stug P)~(�� (4.23)

onde o Pu )~(� é avaliado logo acima da superfície do combustível sólido e St é o

número de Stanton, ])~(/[ Pp uChSt �� , sendo h o coeficiente de transferência de

calor.

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Geometria e Condições de Contorno

78

Uma vez que o número de Prandtl do escoamento é unitário, utilizando-se a

analogia de Reynolds podemos escrever

Pwf uCSt )~/(2/ 2���� (4.24)

onde Cf é o coeficiente (ou fator) de atrito local. Substituindo-se a eq. (4.24) na

eq. (4.23) obtemos

Pw ug ~/�� (4.25)

Porém, usando-se a hipótese de escoamento de Couette, ou seja,

cisalhamento uniforme, para o comportamento da camada limite com

transferência de massa(45), temos:

BPBPgg o /)ln( �� 1 (4.26)

onde gg BPo

0lim�

� .

Usando-se as eqs. (4.25) e (4.26), podemos deduzir uma expressão para a

tensão de cisalhamento na superfície do combustível sólido ( bw� ).

BPBPwbw /)1ln( �� �� (4.27)

onde w� é a tensão de cisalhamento calculada sem levar em consideração o efeito

da transferência de massa na superfície.

4.2.4.2 Condições de Contorno - Lei da Parede Modificada

Os efeitos da transferência de massa na superfície do combustível sólido

sobre o comportamento da camada limite foram inseridos nas condições de

contorno das variáveis utilizando-se BP. No presente trabalho BP foi calculado

pela eq. (4.21), utilizando-se a entalpia de estagnação como variável conservativa.

)~~/()~~( fsbwbwP HHHHBP ��� (4.28)

O valor de PH~ foi obtido através da solução de sua equação de

conservação. Uma vez que no interior do combustível sólido 0~~��� �vu , o

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Geometria e Condições de Contorno

79

valor de fsH~ foi obtido por

fsfspfssreffspfsfs TCTTChH ,, )(~~�����

(4.29)

onde fgpC , é o calor específico do combustível sólido, srefT�

é a temperatura de

referência (zero absoluto) para o calculo da entalpia de substâncias sólidas e fsT a

temperatura do grão de combustível sólido.

Na superfície do combustível, por definição, só existe combustível

vaporizado, logo 0~,2 �bwOm e 1~

, �bwfum . A temperatura do combustível sólido foi

admitida constante e adotada como temperatura de referência, assim

KTTT fsbwref 700��� . Com base nesses valores tem-se

0))(~(~~

,,,2

����

� refbwfupbwfubwO

bw TTCms

Hmh (4.30)

Da mesma forma que no interior do grão combustível, na superfície do

combustível 0~���� fgu �� . Assim, 2~

21~

wbw vH � . Porém, a velocidade wv~ ,

calculada pela eq. (4.17), têm valores muito pequenos de modo que pode-se fazer

a seguinte aproximação

Pwbw HvH ~~21~ 2

��� e fswbw HvH ~~21~ 2

��� (4.31)

Dessa forma, a eq. (4.28) pode ser escrita como:

)/(~~/~, fsfspPfsP TCHHHBP ��� (4.32)

Como foi visto na eq. (4.27), pode-se determinar o valor da tensão de

cisalhamento na superfície do combustível utilizando o valor de BP, calculado

pela eq. (4.32), e os valores da tensão de cisalhamento na parede calculados de

acordo com a lei da parede pelas eqs. (4.10) e (4.12). Assim, tem-se:

- No caso de 5,11��

Py

BPBP

yEk

yyu

P

PlamPPbw

)1ln(

)(ln1/~

��

�� (4.33)

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- No caso de 5,11��

Py

BPBP

yu

P

Plambw

)1ln(~�

� �� (4.34)

Conhecido bw� , pode-se definir uma lei da parede modificada para a

velocidade wv~ na superfície do combustível sólido.

Uma observação importante a ser feita é que no caso de blowing o valor da

constante E na eq. (4.33) depende das condições do escoamento e da estrutura da

camada limite local, portanto depende da velocidade wv~ . Uma vez que o valor

dessa velocidade é obtido de forma iterativa, o mesmo também deveria ser feito

para o valor de E(56). No entanto, para os valores típicos de wv~ em estato reatores,

pode-se admitir um valor médio para esta constante. Então, para a aplicação da lei

da parede com transferência de massa adotou-se 0,10�E , baseando-se no

trabalho apresentado por Vos(56).

Como uma conseqüência dos baixos valores para a velocidade wv~ , as

condições de contorno para as variáveis � , � e fg nas paredes sem transferência

de massa também podem ser aplicadas à superfície do combustível sólido. Assim,

as condições de contorno para essas variáveis na superfície do combustível sólido

foram as mesmas aplicadas às paredes adiabáticas da câmara de mistura posterior.

Usando-se a eq. (4.19) pode-se escrever as condições de contorno na

superfície do combustível sólido para as duas variáveis escalares conservativas.

)~~(~

~ bwPbw

H HHgrH

�����

����

(4.35)

)~~(~

~ bwP

bwf ffg

rf

�����

����

(4.36)

Usando-se as eqs. (4.25) e (4.26) pode-se deduzir que Pbw ug ~/�� . Sendo

0~�bwH e 1~

�bwf , pode-se avaliar os fluxos difusivos da entalpia de estagnação e

fração de mistura na superfície do combustível.

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Geometria e Condições de Contorno

81

4.2.5 Interior do Combustível Sólido

Considerou-se como a região do interior do combustível sólido aquela na

qual todas as variáveis têm valores definidos e constantes, uma vez que não há

escoamento dentro dela e a mesma foi admitida isotérmica.

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5 PROCEDIMENTO DE SOLUÇÃO NUMÉRICA 5.1 Discretização e Solução

A fim de que se possa obter a solução para o escoamento utilizando

computadores digitais que podem basicamente realizar operações matemáticas e

lógicas pré-definidas, as equações governantes precisam ser discretizadas dentro

do domínio computacional tetra-dimensional (espaço-tempo). Para essa

discretização adotou-se o método dos volumes finitos proposto por Patankar(57).

Nesse método, o domínio computacional foi dividido em um número de

volumes de controle de modo que existe um volume de controle ao redor de cada

ponto nodal. As equações diferenciais de conservação e transporte são integradas

sobre cada volume de controle, obtendo-se equações algébricas contendo os

valores das variáveis nos pontos nodais. As equações algébricas resultantes

implicam que o princípio de conservação integral (de massa, energia, etc.) é

satisfeito para todo volume de controle e, consequentemente, para todo domínio

computacional.

Como foi colocado no capítulo 3, considerou-se regime permanente, logo

equação de conservação na forma geral é:

���

��� Sxx

ux jj

jj

��

��

� )()( (5.1)

onde: � é a variável dependente; ���é o coeficiente de difusão que nada mais é do

que uma representação geral das propriedades dos fluidos como viscosidade ou

condutividade térmica, que juntamente com o gradiente da variável leva ao fluxo

difusivo como a tensão viscosa e o fluxo de calor; e S� é o termo fonte definido

para mecanismos como geração de calor, produção e destruição de espécies

químicas, forças de corpo, etc., também podendo ser usado para representar

qualquer termo que não possa ser representado pelos dois primeiros termos na eq.

(5.1). Os valores de � , ��� e S� para cada equação governante do problema já

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Procedimento de Solução Numérica

83

foram apresentados na Tabela 1.

A discretização espacial da eq. (5.1) nos leva a realizar uma linearização do

termo fonte S, uma vez que, em geral, esse termo depende da variável dependente.

O coeficiente angular da linearização deve ser negativo para garantir a

convergência(57). A fonte média pode ser aproximada pelo seu valor no ponto

nodal.

Ppc SSS ��� com 0�pS (5.2)

As equações discretizadas podem ser colocadas na forma geral(57):

�� �� ���i

ciiPP Saa (5.3)

onde o índice i refere-se a todos os pontos nodais vizinhos ao ponto nodal P e

xrrP ��� �� é o volume do volume de controle em coordenadas cilíndricas por

unidade de ângulo.

Na eq. (5.3) os coeficientes ai dependem do fluxo de massa convectivo por

unidade de área (F), da condutância de difusão (D), definida como a razão entre o

coeficiente de difusão e a distância entre dois pontos nodais vizinhos, e do

Número de Peclet (F/D) nas faces. Para as faces norte e leste são

xrAAvFrA

D nnnnnnn

nnn ��

���� ;; (5.4)

xrrAAuFxA

D eeeeneeee

e ����

���� ;; (5.5)

onde u e v são os componentes axial e radial da velocidade. O subscrito minúsculo

indica que as propriedades estão sendo avaliadas nas faces norte e leste do volume

de controle.

Cada aproximação para os fluxos nas faces origina um esquema diferente de

discretização. O código utilizado nesse trabalho utiliza o esquema Power-law(57)

de modo que os coeficientes associados aos vizinhos norte N e sul S, do ponto

nodal P são

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Procedimento de Solução Numérica

84

],max[]),(,max[ 01010 5nnnN FPeDa ���� (5.6)

],max[]),(,max[ 01010 5sssS FPeDa ��� (5.7)

Os coeficientes associados aos vizinhos leste E e oeste W, aE e aW,

respectivamente, são análogos.

O coeficiente de P� na eq. (5.3) é dado por

���� �pi

iP Saa (5.8)

A solução do sistema algébrico foi feita utilizando-se um método iterativo.

As iterações são fundamentais, uma vez que as equações, em geral, são não

lineares e acopladas. Essas não linearidades e os acoplamentos são tratados pelo

processo iterativo ao se recalcular os coeficientes de forma repetitiva até se obter a

convergência. As equações nominalmente lineares também foram resolvidas pelo

método iterativo. Utilizou-se para o método iterativo o algoritmo TDMA (Tri-

Diagonal Matrix Algorithm) linha-por-linha(57). Para acelerar a convergência foi

empregado um algoritmo de correção por blocos(58) para a solução das equações

discretizadas.

O desenvolvimento de um método numérico que respeite as quatro regras

básicas definidas por Patankar(57), leva a um conjunto de equações discretizadas

que, para coeficientes constantes, possui convergência garantida ao se utilizar

métodos de solução ponto a ponto ou linha por linha. Se os coeficientes variam

lentamente, ainda se pode garantir convergência. Fatores de sub-relaxação

apropriados para as variáveis dependentes diminuem as variações das variáveis e,

portanto, dos coeficientes. Dessa forma, pode-se controlar a variação da solução e

garantir a convergência. A sub-relaxação é empírica e depende de fatores como:

equação de conservação; tipo de problema; malha computacional; acoplamento

velocidade-pressão; e solução do sistema algébrico. De maneira geral, utilizou-se

nos problemas tratados nesse trabalho fatores de sub-relaxação para as seguintes

variáveis e grandezas auxiliares.

- velocidades u~ e v~ ;

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Page 86: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Procedimento de Solução Numérica

85

- energia cinética turbulenta k;

- taxa de dissipação da energia cinética turbulenta � ;

- pressão;

- entalpia de estagnação H~ ;

- fração de mistura f~ ;

- variância da fração de mistura fg ;

- massa específica; e

- viscosidade turbulenta.

Como mencionado anteriormente, os fatores de sub-relaxação adequados

variam de problema para problema. Os valores utilizados em cada caso são

apresentados juntamente com os resultados no capítulo 6.

5.2 Acoplamento Velocidade-Pressão

As equações de conservação de quantidade de movimento linear envolvem

gradientes de pressão. Porém, não existe uma equação de conservação de pressão.

A pressão é especificada indiretamente através da equação da continuidade.

Assim, para um campo de pressões estimado *p ,

)( ****EPe

nbnbnbee ppAbuaua ����� (5.9)

Em geral, o campo de velocidades "estrela" não satisfaz a equação da

continuidade. Desse modo, um campo correto de pressão faz com que as equações

de quantidade de movimento linear gerem um campo de velocidade que satisfaz a

equação da continuidade. Portanto, aplica-se uma correção ao campo de pressões,

isto é,

ppp ���* (5.10)

onde p� é a correção de pressão. De maneira análoga, pode-se deduzir fórmulas

de correção para as velocidades.

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Procedimento de Solução Numérica

86

ppp ���* e uuu ���

* (5.11)

)( EPenb

nbnbee ppAbuaua ����� (5.12)

)( ****EPe

nbnbnbee ppAbuaua ����� (5.13)

Subtraindo-se as eq. (5.12) e (5.13) têm-se

)( EPenb

nbnbee ppAuaua ������� � (5.14)

No presente trabalho o acoplamento velocidade-pressão foi resolvido

utilizando-se o algoritmo SIMPLE (Semi-Implicit Method for Pressure-Linked

Equations) de correção de pressão(57). O termo � �nbnbua na eq. (5.14) é omitido,

sendo a equação de correção da velocidade apresentada na forma

)(*EPeee ppduu ����� (5.15)

onde eee aAd /� .

A equação da continuidade bidimensional em regime permanente pode ser

escrita como:

� � � � � � � � 0���� nsew uAuAuAuA ���� (5.16)

Substituindo as fórmulas de correção de velocidade dadas pela eq. (5.15) na

eq. (5.16) obtém-se uma equação de Poisson para a correção de pressão , na forma

bpapapapapa SSNNWWEEPP ���������� (5.17)

onde eE Ada )(�� , etc. Na eq. (5.17) têm-se ainda

SNWEP aaaaa ���� (5.18)

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Procedimento de Solução Numérica

87

� � � � � � � �nsew AuAuAuAub ****���� ���� (5.19)

A fim de que não sejam encontradas soluções irreais com oscilações, usou-

se uma malha computacional deslocada para a solução das equações de

quantidade de movimento linear, de modo que os componentes da velocidade

foram localizadas nas faces dos volumes de controle. Assim, a diferença de

pressão entre dois pontos nodais adjacentes é o "forçamento" para o componente

da velocidade entre eles.

5.3 Critério de Convergência

Os problemas práticos em engenharia, em geral, dão origem a sistemas de

equações complexos sobre cujos comportamentos matemáticos pouco se conhece.

Quando se tem um problema governado por uma única equação, e ainda linear,

existem ferramentas matemáticas que podem provar se uma determinada

aproximação numérica é estável e convergente. Quando se está trabalhando com

sistemas de equações não-lineares, resolvidas em geral de forma seqüencial e

iterativa, acoplamentos delicados estão presentes, é muito difícil provar,

matematicamente, que uma aproximação numérica é estável e convergente. É uma

tarefa complicada para os analistas numéricos fornecer as condições (tamanho de

malha, tamanho do intervalo de tempo, coeficientes de relaxação, etc.) para que as

aproximações numéricas dos problemas acoplados e não-lineares sejam estáveis e

convergentes. Por não se ter esses parâmetros é que simular numericamente, além

de exigir o perfeito conhecimento da física do problema, requer experiência para

encontrar os parâmetros que levem o processo iterativo para convergência.

Um dos requisitos fundamentais de uma aproximação numérica é que ela

reproduza a equação diferencial quando os tamanhos da malha espacial e temporal

tendam a zero. Isto é, os erros de truncamento devem tender a zero quando a

malha tender a um infinito número de pontos. A aproximação numérica que

possuir essa característica é dita consistente. Em resumo, as equações

discretizadas devem tender às equações diferenciais, quando a malha tender a

zero. Aparentemente, esta é uma questão óbvia, mas existem aproximações na

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Page 89: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Procedimento de Solução Numérica

88

quais os erros de truncamento crescem com o refinamento da malha. Felizmente,

todo modelo numérico desenvolvido a partir das equações na forma conservativa

usando volumes finitos é consistente(59).

Outra característica importante desejada é que a solução numérica obtida

seja a solução exata das equações discretizadas, ou seja, tenha estabilidade. Aqui,

diversos fatores interferem, tais como erros de arredondamento de máquina, que

vão se multiplicando e podem instabilizar a solução; dificuldades de tratamentos

de acoplamentos entre as variáveis, fazendo com que algumas variáveis evoluam

mais rapidamente que outras, provocando instabilidades, etc. A questão da

estabilidade é o mais sério problema na obtenção da solução numérica,

exatamente pela falta de conhecimento das características matemáticas das

aproximações, conforme já discutido. Consistência e estabilidade são condições

necessárias e suficientes para a convergência. A solução numérica é convergente

quando é estável e tende para a solução das equações diferenciais quando a malha

é refinada.

O critério de convergência utilizado no presente trabalho consistiu em

garantir que o resíduo máximo Resmax de todas as equações discretizadas fosse

menor que uma determinada tolerância, Tol, isto é

Tol)max(RRes esmax �� ; )]([ �� ��� ∆SφaφaRi

ciiPPes (5.20)

O termo b definido na eq. (5.19) para a equação de correção de pressão ( p� )

é uma "fonte de massa" devido às velocidades "estrela". Assim, quando estas

velocidades estiverem corretas, a continuidade também estará satisfeita e a fonte

de massa será nula. Esse termo é, portanto, um bom parâmetro para monitorar a

convergência. Portanto, além de obrigar que o resíduo máximo de cada variável

fosse inferior a uma tolerância, obrigou-se também que a máxima fonte de massa,

Smax

])()()()[( ****nsewmax AvAvAuAumaxS ���� ���� (5.21)

fosse inferior a uma tolerância, TolSmax.

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Page 90: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Procedimento de Solução Numérica

89

5.4 O Código Computacional

Para as simulações realizadas no presente trabalho foi utilizado o código

computacional CFT.FOR desenvolvido por Patankar e aperfeiçoado por

Nieckele(60). O código, escrito em FORTRAN, é composto por diversas rotinas

desde de rotinas de geração de malha, discretização da equação geral de

conservação e algoritmo SIMPLE, até algoritmos de solução de sistema algébrico.

O programa possui uma rotina especial, denominada de USER, onde as

particularidades de cada problema devem ser implementadas, isto é, o usuário

deve definir o domínio (geometria e malha) e especificar dos valores de �� , cS e

pS para as variáveis a serem resolvidas, assim como as condições de contorno e

inicias do problema. Todas as operações de pós-processamento, como

determinação da distribuições das frações em massa das espécies, temperatura, etc

também são implementadas na sub-rotina do usuário.

No Apêndice B encontram-se detalhes para implementação computacional

das condições de contorno nos diferentes tipos de fronteiras em função da

especificação dos valores de �� , cS e pS para pontos específicos dentro da

malha computacional.

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6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesse capítulo serão apresentados os resultados obtidos para a solução do

campo do escoamento em um estato reator a combustível sólido utilizando o

código computacional descrito no capítulo 5. Foram estudados quatro casos. Os

três primeiros apresentam uma comparação dos resultados obtidos com o modelo

matemático proposto neste trabalho com resultados disponíveis na literatura,

utilizando-se diferentes modelos matemáticos e computacionais. O primeiro caso

considerado consiste na validação da metodologia e do método numérico

empregado, através da análise do escoamento na câmara de combustão de um

estato reator com combustível inerte. A seguir é analisado o escoamento reativo

na câmara de combustão de um SFRJ, seguido da análise do escoamento reativo

no combustor de um SFRJ. No quarto e último caso, aplica-se o modelo

matemático ao problema do estato reator utilizado como propulsão adicional de

uma munição assistida. 6.1 Escoamento em Tubo Cilíndrico com Degrau na Entrada

O primeiro problema estudado resume-se a um escoamento isotérmico de ar

em um tubo com súbita expansão na entrada (degrau), o que representaria o

escoamento dentro da câmara de combustão de um estato reator quando o

combustível sólido é substituído por um sólido inerte. Este problema foi utilizado

como validação do código numérico implementado, para determinação do campo

de velocidade e temperatura no regime turbulento, na presença de uma região de

cálculo bloqueada, a qual corresponderia ao combustível sólido. Os cálculos

foram feitos baseados em um escoamento de ar a 650K e número de Reynolds

4×105 (baseado no diâmetro da entrada de ar , Din= 2 Rin, e na velocidade média

da entrada, uin). Os resultados obtidos foram comparados com aqueles

apresentados por Coelho et. al.(38) e com os resultados experimentais de

Chaturvedi(62). Foram realizadas simulações para dois casos, ilustradas na Fig. 14.

No primeiro, limitou-se o domínio computacional pela superfície do sólido inerte.

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Page 92: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 91

No segundo, uma vez que a interface entre a região bloqueada e a região do

escoamento merece tratamento especial, incluiu-se o sólido inerte no domínio

computacional para avaliar o comportamento do modelo matemático proposto na

solução do problema.

6.1.1 Domínio computacional sem região bloqueada

A primeira providência ao se trabalhar com simulação computacional é

definir, de acordo com a geometria do problema, Fig. 14a, o domínio

computacional. No capítulo 4 foram definidos os parâmetros geométricos para o

problema do escoamento no interior do combustor de um SFRJ. Com base nas

definições apresentadas para aqueles parâmetros, apresentam-se os valores dos

mesmos na Tabela 6.

L

X comb

H

Y ent

H s

Combustível Sólido

Simetria

Saída

Entrada

(a) sem região bloqueada.

L

X comb

H

Y ent

H s

Combustível Sólido

Simetria

Saída

Entrada

(b)com região bloqueada.

Figura 14 - Parâmetros geométricos do domínio computacional.

Rin

Rin

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Page 93: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 92

Parâmetro Geométrico Valor

L 1,0 m

H= Rin+Hs 0,1 m

Xcomb (=L) 1,0 m

Rin 0,05 m

HS 0,05 m Tabela 6 - Parâmetros geométricos para o escoamento sem região bloqueada.

Os resultados foram obtidos usando-se uma malha não uniforme com 82 ×

62 pontos. Efetuou-se uma maior concentração da malha na região de recirculação

logo após a entrada e próximo às paredes, buscando-se uma aproximação com a

malha utilizada no trabalho de Coelho et al.(38).

A criação da malha computacional não uniforme foi realizada utilizando

uma lei de potência do tipo xi = L [i /(N-2)]α , onde xi é a coordenada da face i do

volume de controle, L é o tamanho do domínio, N é o número de pontos nodais e

α é o parâmetro que fornece a não uniformidade a malha. O expoente α de não

uniformidade usado na direção x foi 1,4. Na direção y a malha é não uniforme por

zonas, sendo a primeira zona correspondendo a entrada onde se utilizou expoente

0,7 e a segunda zona correspondendo ao degrau com expoente 0,8.

A fig.15, mostra a malha computacional usada no problema do escoamento

em tubo cilíndrico com degrau na entrada sem região bloqueada. A escala na

direção radial está ampliada, a fim de facilitar a visualização dos resultados.

Figura 15 - Malha utilizada no cálculo do escoamento sem região bloqueada.

0 0.25 0.5 0.75 1X

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

R

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Page 94: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 93

Uma vez que o problema não envolve reação química, não foram resolvidas

as equações de transporte para a fração de mistura e sua variância.

Os fatores de subrelaxação das variáveis usados durante o procedimento

iterativo foram mantidos constantes desde a primeira iteração até o final

(aproximadamente 5400 iterações), quando foram atingidos os critérios de

convergência adotados para o problema (Smax ≤ 10-6 e Resmax ≤ 10-6). Os fatores de

subrelaxação utilizados estão apresentados na Tabela 7.

Variável Fator de Subrelaxação Velocidade axial (u) 0,5 Velocidade radial (v) 0,4 Pressão (p) 0,8 Energia cinética turbulenta (κ) 0,4 Dissipação de energia cinética turbulenta (ε) 0,4 Entalpia (H) 1,0 Viscosidade Turbulenta (µt) 0,4

Tabela 7 - Fatores de subrelaxação para o escoamento sem região bloqueada.

Na fig. 16 apresenta-se o resultado para o componente de velocidade axial

do escoamento, através de isolinhas. A velocidade axial foi normalizada pela

velocidade média na entrada da câmara (u/uin). Observa-se a região de alta

velocidade central, próximo a entrada, assim como a região de velocidade

negativa indicando a presença de recirculação. Na saída, pode-se observar que a

distribuição de velocidade é aproximadamente uniforme, com gradiente acentuado

na parede, condizente com a condição de escoamento turbulento desenvolvido. Figura 16 - Campo de velocidade axial para o escoamento sem região bloqueada (u/uin)

0 0.25 0.5 0.75 1X

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

R

0.900.800.700.600.500.400.200.100.050.00

-0.02-0.10-0.15

u/Uin

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Page 95: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 94

A fig. 17 mostra as linhas de função corrente do escoamento, podendo-se

observar mais claramente a região de recirculação. Figura 17 - Linhas de função corrente para o escoamento sem região bloqueada.

Traçou-se o perfil da velocidade normalizada (u/uin) em função da

coordenada radial normalizada pelo raio da câmara de combustão (como definido

na fig. 12 do capítulo 4, Sincam HRR += ), em quatro pontos diferentes na direção

axial. Do mesmo modo, os pontos tomados na direção axial também estão

normalizados pelo raio da câmara de combustão ( 2/ =camRx , 4/ =camRx ,

6/ =camRx e 8/ =camRx ). Os resultados obtidos foram comparados com aqueles

apresentados por Coelho et. al.(38) e com os resultados experimentais de

Chaturvedi(62), conforme mostra a fig. 18.

A análise das curvas apresentadas na fig. 18 mostra que existe uma

concordância muita boa entre os resultados experimentais e os resultados obtidos

com o modelo proposto nesse trabalho. Até mesmo o redesenvolvimento após o

ponto de recolamento, que apresenta-se de forma mais lenta, nas simulações

numéricas da literatura em geral, com modelo de turbulência κ-ε, apresenta uma

melhora significativa, aproximando-se dos resultados experimentais.

O ponto de recolamento foi calculado por

SPRR HxP /= (6.1)

onde PRx é a distância do ponto de recolamento à entrada e HS a altura do degrau

na entrada. Seu valor foi estimado em 28,=RP . Os valores observados

0 0.25 0.5 0.75 1X

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1R

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Page 96: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 95

experimentalmente estão na faixa de 8,3 - 9,0. Portanto, o valor encontrado nessa

simulação, apesar de fora da faixa dos valores experimentais, está dentro dos

limites de incerteza experimental e pode ser considerado satisfatório.

0.0 0.5 1.0 u/U

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

r/R

0.0 0.5 1.0 u/U

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

x/R = 2 x/R = 4

0.0 0.5 1.0 u/U

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

r/R

0.0 0.5 1.0 u/U

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

x/R = 6 x/R = 8

o - valores obtidos experimentalmente por Chaturvedi(62) - valores obtidos da simulação numérica com malha de único bloco(38) - valores obtidos com simulação numérica com técnica multi-bloco(38) - valores obtidos com o modelo computacional utilizado nesse trabalho.

Figura 18 - Perfis de velocidade axial normalizada u/Uin.

Uma vez que nessa simulação não ocorre reação química, vale lembrar que

a diferença entre o modelo proposto nesse trabalho e o modelo de Coelho et. al(38)

reside nas funções de parede e na condição de contorno para a energia cinética

turbulenta(κ) na parede. As funções de parede de Chieng e Launder(56), utilizadas

no modelo de Coelho et. al.(38), estabelecem que os valores de κ para o primeiro

ponto nodal acima da parede são calculados através de sua equação de transporte

com os termos de produção e dissipação substituídos por expressões adequadas ao

u/Uin u/Uin

u/Uin u/Uin

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Page 97: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 96

perfil proposto para a variável dentro da camada limite(56). No modelo proposto

nesse trabalho, os valores de κ para o primeiro ponto nodal acima da parede são

calculados, conforme a lei da parede tradicional de Launder e Spalding(52),

diretamente pela equação de transporte de κ sem alterar os termos de produção e

dissipação. Assim, fica válida a condição de contorno na parede 0=∂∂ n/κ ,

onde n indica a coordenada na direção normal à parede. Essa abordagem também

é adotada em outros códigos computacionais como o FLUENT®(63).

6.1.2 Domínio computacional com região bloqueada

Continuando a validação do modelo matemático, foi efetuada a simulação

do escoamento isotérmico turbulento de ar através da câmara de combustão de um

estato reator como no caso anterior, porém o domínio computacional inclui a

região bloqueada ao escoamento (sólido inerte), como ilustrado na Fig. 14b. Os

parâmetros geométricos (Tabela 8) são os análogos ao caso anterior, só que neste

caso H > Rin +Hs.

Parâmetro Geométrico Valor L 1,0 m H 0,15 m Xcomb 1,0 m Rin 0,05 m HS 0,05 m

Tabela 8 - Parâmetros geométricos para o escoamento com região bloqueada.

Os dados deste caso, são os mesmos do caso anterior, isto é, número de

Reynolds igual a 4,0 × 105 e ar sendo admitido a 650K na entrada da câmara. Os

resultados foram obtidos usando-se uma malha não uniforme com 82 × 102

pontos, conforme fig. 19. Efetuou-se uma maior concentração da malha na região

de recirculação, logo após a entrada e próximo às paredes, como no caso anterior.

Na região do sólido inerte a malha pode ser mais grosseira, com exceção das

proximidades da superfície. Na fig. 19, como no caso anterior, a escala na direção

radial está ampliada a fim de facilitar a visualização dos resultados. A região do

sólido inerte está apresentada na cor amarela, para efeito de ilustração.

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Page 98: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 97

Figura 19 - Malha utilizada no cálculo do escoamento com região bloqueada.

Os fatores de subrelaxação das variáveis usados durante o procedimento

iterativo foram idênticos ao caso anterior (ver Tabela 7). Foram necessárias 8500

iterações para atingir os critérios de convergência (idênticos ao caso anterior).

A fig. 20 mostra as isolinhas do componente axial de velocidade

normalizado, enquanto a fig. 21 apresenta as linhas de função corrente do

escoamento. Observa-se o mesmo padrão de escoamento que no caso anterior. Figura 20 – Isolinhas de velocidade axial normalizada para o escoamento com região

bloqueada (u/uin)

0 0.25 0.5 0.75 1X

0

0.03

0.06

0.09

0.12

0.15

R

0 0.25 0.5 0.75 1X

0

0.03

0.06

0.09

0.12

0.15

R

0.900.800.700.600.500.400.200.100.050.00

-0.02-0.10-0.15

u/Uin

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Resultados e Discussões 98

Figura 21 - Linhas de função corrente para o escoamento com região bloqueada.

Assim como no caso anterior, traçou-se o perfil da velocidade normalizada

em quatro pontos diferentes na direção axial, em função da coordenada radial

normalizada pelo raio da câmara, conforme fig. 22. Do mesmo modo, os pontos

tomados na direção axial também estão normalizados por essa grandeza.

O perfil de velocidade foi comparado com os resultados obtidos sem utilizar

a região bloqueada e com os dados numéricos de Coelho et. al.(38) e com os

resultados experimentais de Chaturvedi(62). A análise das curvas apresentadas na

fig. 22, mostra que existe um pequeno desvio em relação à simulação sem região

bloqueada. Observa-se ainda que, como no caso anterior, existe uma concordância

muita boa entre os resultados experimentais e os resultados obtidos com o

presente modelo, permitindo-nos considerar o resultado bastante satisfatório, e a

metodologia validada, também para o caso de domínio computacional com região

bloqueada, o que será importantíssimo no estudo dos casos a seguir

6.2 Escoamento Reativo na Câmara de Combustão de um SFRJ

Visando avaliar o modelo matemático proposto, o mesmo foi aplicado ao

escoamento dentro da câmara de combustão de um SFRJ, para o qual existem

resultados experimentais(30) para a taxa de regressão do combustível sólido e

resultados numéricos obtidos com o modelo de Coelho et al.(38) disponíveis para

0 0.25 0.5 0.75 1X

0

0.03

0.06

0.09

0.12

0.15

R

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Resultados e Discussões 99

comparação. Os parâmetros geométricos do problema, Fig. 14a, são mostrados na

Tabela 9.

Parâmetro Geométrico Valor L 0,3 m H=Rin+Hs 0,0225 m Xcomb=L 0,3 m Rin 0,0075 m HS 0,015 m

Tabela 9 - Parâmetros geométricos para o escoamento na câmara do SFRJ.

Uma vez que o combustível está sendo pirolisado o diâmetro interno vai

aumentando com o tempo, porém, como é comum em simulações dessa natureza,

u/Uin

r/R

u/Uin 0.0 0.5 1.0

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

0.0 0.5 1.0

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

x/R = 2 x/R = 4 1.0

0.0 0.5 1.0 u/Uin

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

r/R

0.0 0.5 1.0 u/Uin

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0 x/R = 6 x/R = 8

o - valores experimentais obtidos por Chaturvedi(62) - valores obtidos da simulação numérica com malha de único bloco(38) - valores obtidos com simulação numérica com técnica multi-bloco(38) - valores obtidos com o modelo utilizado nesse trabalho (sem região

bloqueada) - valores obtidos com o modelo utilizado nesse trabalho (com região

bloqueada) Figura 22 - Perfis de velocidade axial normalizada u/Uin.

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Resultados e Discussões 100

esse processo não é considerado no modelo matemático. Normalmente, o

diâmetro interno da câmara de combustão é tomado como um valor médio entre o

diâmetro inicial e o diâmetro após a combustão(38).

O combustível sólido utilizado foi o polietileno de alta densidade (PEAD).

O ar entra na câmara de combustão a temperatura de 300 K, pressão de 0,40 MPa

e vazão em massa de 150g/s. A temperatura da superfície do combustível sólido,

tomada como temperatura de referência, foi admitida constante e igual a 700 K. A

reação de combustão, segundo o modelo de reação química de único passo

infinitamente rápida, pode ser escrita como:

2222242 28,1122)76,3(3 NOHCONOHC ++→++ (6.2)

As propriedades físicas e termodinâmicas das espécies envolvidas na reação

de combustão (C2H4, O2, N2, CO2 e H2O) foram obtidas nas mesmas referências

bibliográficas utilizadas no trabalho experimental de Elands et al.(30). Os valores

são mostrados na Tabela 10.

Espécie Propriedade C2H4 O2 N2 CO2 H2O

Calor específico a pressão constante -

jpC , (valor médio calculado a 1200 K)

(J/KgK)(64, 65, 66)

2900,00 1072,87 1121,46 1208,46 2279,48

Massa Molecular (kg/Kmol) 28 32 28 44 18 Mistura Gasosa

Viscosidade média da mistura (Kg/ms)(67) 2,15.10-5 Combustível Sólido (PEAD)(68)

Calor específico a pressão constante -

fspC , (calculado a 700 K) (J/KgK) 1820,00

Massa específica - fsρ (kg/m3) 948

Calor de combustão - H∆ (@700 K) (J/Kg) 4,75.107

Calor efetivo de vaporização - effvH , (J/Kg) 2,32.106

Entalpia - fsfspfs TCh ,= (J/Kg) 1,27.106

Tabela 10 - Propriedades físicas e termodinâmicas para a combustão do polietileno.

A massa específica dos gases foi calculada através da equação de estado.

Assim, a massa específica do combustível na fase gasosa (vaporizado) foi

calculada com base na pressão da câmara e temperatura na superfície do

combustível. Os cálculos foram realizados utilizando-se uma malha

computacional não uniforme com 82 × 62 pontos, concentrando-se a mesma na

região de recirculação e próximo à superfície do combustível sólido, como no

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Resultados e Discussões 101

caso anterior sem bloqueio, conforme a fig. 23. A escala na direção radial está

ampliada para melhor visualização dos resultados.

Figura 23 - Malha computacional para o escoamento na câmara de combustão do SFRJ

utilizando o PEAD

O sistema algébrico também resolve nesse caso as equações discretizadas de

transporte para a fração de mistura e sua variância, uma vez que ocorre a

combustão. Portanto, com o aumento no número de variáveis sendo resolvidas e

com as variações de densidade em virtude do processo de combustão (devido ao

aumento de temperatura, já que considerou-se a pressão praticamente constante),

os fatores de subrelaxação das variáveis tiveram fundamental importância. A

densidade, atualizada a cada iteração, também foi subrelaxada. A Tabela 11

mostra os fatores de subrelaxação das variáveis utilizados no problema.

Variável Fator de Subrelaxação Velocidade axial )~(u 0,5 Velocidade radial )~(v 0,4 Pressão )( p 0,8 Energia cinética turbulenta )(k 0,4 Dissipação de energia cinética turbulenta )(ε 0,4

Entalpia de estagnação )~(H 0,5

Fração de Mistura )~( f 0,5

Variância da fração de mistura )( fg 0,5

Densidade )(ρ 0,5

Viscosidade Turbulenta )( tµ 0,4

Tabela 11 - Fatores de subrelaxação para o escoamento na câmara de combustão do SFRJ utilizando o PEAD

0 0.1 0.2 0.3X

0

0.0025

0.005

0.0075

0.01

0.0125

0.015

0.0175

0.02

0.0225

R

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Page 103: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 102

Foram necessárias mais de 20000 iterações para se atingir os critérios de

convergência adotados para o problema (Smax≤10-6 e Resmax≤10-3).

A fig. 24 mostra os campos de temperatura e fração de mistura previstos

pelo modelo de Coelho et. al(38) e pelo modelo proposto nessa dissertação,

apresentando as mesmas isolinhas para uma melhor comparação dos resultados.

Os resultados apresentados para o campo de fração de mistura estão bastante

próximos e de acordo com o comportamento esperado para a variável. Valores

muito baixos próximos a região central do escoamento (eixo de simetria) são

característicos da mistura pobre (excesso de oxidante) nessa região. Valores altos

eram esperados em uma região bem próxima à parede do combustível onde a

mistura torna-se rica (excesso de combustível). Esse comportamento se deve às

Temperatura Fração em Massa

(a) resultados previstos por Coelho et al(38) para malha de único bloco;

(b) resultados previstos por Coelho et al(38) para malha multi-bloco;

(c) resultados previstos com o modelo proposto no presente trabalho.

Figura 24 - Simulação do campo de temperatura e fração de mistura para o escoamento na câmara do SFRJ utilizando o PEAD

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Page 104: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 103

baixas velocidades de injeção do combustível, fazendo com que a reação ocorra

(onde 0637.0=≈ stff ), efetivamente, nas proximidades da superfície do

combustível e na região de recirculação após o degrau da entrada, conhecidas

como zonas de reação. Como pode ser visto a concordância com os dados de

Coelho et al(38) é bastante razoável, com valores ligeiramente superiores de fração

de mistura próximo a superfície superior do domínio.

Os resultados para o campo de temperaturas também estão compatíveis com

o comportamento esperado para a variável. As zonas de reação correspondem às

regiões onde ocorrem as temperaturas mais altas, podendo ser identificadas como

as regiões com temperatura acima de 2100K. Comparando-se os resultados, nota-

se que o modelo proposto aqui prevê uma maior zona de reação. Pode-se observar

ainda que o presente modelo apresenta gradientes mais acentuados próximo à

parede de entrada. Observa-se linhas horizontais próximo à saída nos resultados

de Coelho el al(38), quando utiliza multi-blocos, indicando o uso de malha

grosseira nesta região. De um modo geral, pode-se novamente afirmar que uma

boa concordância com dados da literatura foi obtida.

Como no caso do escoamento na câmara de combustão com combustível

inerte, também traçou-se curvas para os perfis do componente axial de velocidade

normalizado (u/uin) em função da direção radial normalizada ( camRr / ). Os

resultados foram comparados com aqueles obtidos por Coelho et. al(38), como

mostrado na fig. 25.

Para a seção x/R=2,46 observa-se que a região central apresenta velocidade

mais elevada devido a obstrução na entrada. Observa-se ainda a região de

velocidade negativa corresponde a região de recirculação. Para x/R = 4,92, a

recirculação não é mais observada e o perfil começa a se desenvolver com

redução da velocidade máxima. Observa-se boa concordância entre as soluções

para as coordenadas x/R = 2,46 e x/R=4,92. Para as seções mais a jusante,

x/R=7,38 e x/R=9,85, observa-se no resultado do modelo proposto uma redução

na velocidade máxima, levando a uma uniformização do perfil de velocidade na

seção transversal, com gradiente acentuado na parede, o que corresponde ao perfil

de velocidade de escoamento hidrodinamicamente desenvolvido. Porém, os

resultados de Coelho et at(38) apresentam somente uma pequena redução na

velocidade máxima.

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Page 105: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 104

Para explicar as diferenças apresentadas entre os perfis de velocidade

previstos pelos dois modelos, faz-se necessário uma comparação com os

resultados obtidos anteriormente na fig. 18, para o caso do escoamento na câmara

com inerte. As curvas apresentadas naquele caso, também apresentavam

diferenças para a região próxima ao eixo de simetria. Porém, os resultados

apresentados pelo modelo proposto nesse trabalho estavam em melhor

concordância com os resultados experimentais.

Um dos parâmetros operacionais mais comuns no estudo de estato reatores a

combustível sólido é a taxa de regressão (ou velocidade de queima) do polímero.

Seu valor é calculado, experimentalmente, através do tempo de duração do ensaio

e do perfil obtido efetuando-se um corte longitudinal no grão do polímero. No

caso de simulações computacionais, o valor da taxa de regressão é calculada com

-0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

-0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

-0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

-0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

r/R

r/R

a) x/R = 2,46 b) x/R = 4,92

c) x/R = 7,38 d) x/R = 9,85

u/U u/U

Valores previstos com malha de único bloco por Coelho et al(38). Valores previstos com malha de multi- bloco por Coelho et al(38). Valores previstos com o modelo proposto neste trabalho.

Figura 25 - Simulação dos perfis de velocidade axial normalizada para o escoamento na câmara de um SFRJ utilizando o polietileno como combustível sólido

u/Uin u/Uin

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Resultados e Discussões 105

base na velocidade normal à superfície do combustível, velocidade de blowing, de

acordo com a seguinte expressão:

wfs

fg

effvfs

wfgeffv

effvfs

w vrH

vHH

qr ~

~

,

,

, ρρ

ρρ

ρ=⇒== &

&& (6.3)

A fig. 26 mostra os resultados para a taxa de regressão local média calculada

pelo modelo de Coelho et. al(38) e pelo modelo proposto nesse trabalho que podem

ser comparados aos valores experimentais obtidos por Elands et al(30). Para os dois

modelos comparados na fig. 26 o comportamento da taxa de regressão local média

é bastante semelhante. A partir da entrada da câmara de combustão há um

aumento significativo no valor da taxa de regressão, alcançando um valor máximo

nas proximidades do ponto de recolamento. Desse ponto em diante, o valor da

taxa de regressão diminui de forma mais suave.

Valores previstos com malha de único bloco por Coelho et al(38). Valores previstos com malha multi- bloco por Coelho et al(38). Valores previstos com o modelo proposto neste trabalho ( 22,0=r& ).

○ Valores experimentais medidos por Elands et al(30) ( 22,0=r& ).

Figura 26 – Taxa de regressão local média do polietileno.

Qualitativamente, os resultados apresentados pelos dois modelos são

satisfatórios e o modelo proposto nesse trabalho prevê um valor para a taxa de

regressão média ( r& ) igual ao experimental. Comparando-se as previsões dos dois

modelos aos resultados experimentais, existe uma superestimação dos resultados

Distância Axial (mm)

Taxa

de

Reg

ress

ão L

ocal

Méd

ia (m

m/s

)

0 100 200 300

0.0

0.1

0.2

0.3

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Page 107: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 106

numéricos na região anterior ao ponto de recolamento (região de recirculação) e

uma subestimação dos resultados após esse ponto. Esses resultados ratificam as

observações feitas por Elands et al(30) sugerindo que as divergências entre os

resultados numéricos e experimentais são atribuídas, em parte, à ineficiência do

modelo de turbulência εκ − , em conjunto com as funções de parede, para a

previsão do fluxo de calor para as paredes do combustível sólido. Uma vez que a

taxa de regressão está linearmente relacionada ao fluxo de calor para as paredes, a

taxa de regressão é afetada por erros associados ao cálculo desse fluxo de calor.

Outro fator a ser destacado é que os perfis previstos pelos modelos

matemáticos apresentam comportamentos semelhantes na porção final da câmara

de combustão, porém diferentes do comportamento experimental (diferença de

curvatura). Existe, portanto, uma indicação de que há um mecanismo importante

que foi desprezado. De acordo com o trabalho de Methochianakis e Netzer(26), a

inclusão do calor transferido por radiação dentro do cálculo do fluxo de calor para

as paredes tende a diminuir um pouco essa diferença entre os resultados previstos

e os resultados experimentais naquela porção da câmara de combustão.

Uma vez que o modelo proposto aqui prevê temperaturas maiores na região

de recirculação, conforme mostrado na fig. 24, os valores mais altos para a taxa de

regressão local média previstos por esse modelo estão coerentes. De fato, se as

temperaturas são maiores o fluxo de calor para as paredes é maior e,

consequentemente, o valor da velocidade de injeção de combustível e a taxa de

regressão local.

Nas fig. 27 e 28 apresenta-se os campos de energia cinética turbulenta e taxa

de dissipação da energia cinética turbulenta normalizados previstos pelo modelo

proposto.

Observa-se altos valores das duas grandezas próximo a região de

recirculação da entrada. Após o recolamento, há uma uniformização da velocidade

como observado no caso anterior, e ilustrado na fig. 25, com conseqüente redução

e uniformização das grandezas turbulentas no domínio.

Nas fig. 29, 30 e 31 apresenta-se os campos previstos pelo modelo proposto

para as frações em massa de oxigênio, etileno e dióxido de carbono. Como era

esperado, o comportamento desses campos está diretamente relacionado ao

comportamento do campo de fração de mistura, mostrado na fig. 24c.

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Page 108: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 107

0 0.1 0.2 0.3X

0

0.0025

0.005

0.0075

0.01

0.0125

0.015

0.0175

0.02

0.0225R

0.170.160.150.140.130.120.10.090.080.070.060.01

0 0.1 0.2 0.3X

0

0.0025

0.005

0.0075

0.01

0.0125

0.015

0.0175

0.02

0.0225

R

0.370.340.310.270.240.210.180.150.120.090.060.03

Figura 27 – Campo de energia cinética turbulenta normalizada previsto pelo modelo

proposto. Figura 28 – Campo da taxa de dissipação da energia cinética turbulenta normalizada

previsto pelo modelo proposto.

A fração em massa de oxigênio, fig. 29, tem seu valor máximo na região da

entrada da câmara, vai diminuindo com o aumento da fração de mistura e se torna

nula na região onde a fração de mistura é maior que a fração de mistura

estequiométrica. De maneira oposta, se comporta a fração em massa do etileno,

fig 30. Seu valor máximo ocorre na superfície do combustível sólido e seu valor

decresce com a diminuição da fração de mistura, até se tornar nula para frações de

mistura menores que a estequiométrica. Observa-se na fig. 30, que parte do

combustível sublimado fica preso na região de recirculação próximo à entrada.

2

21/ inuκ

3

21/. incam uRε

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Page 109: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 108

0 0.1 0.2 0.3X

0

0.0025

0.005

0.0075

0.01

0.0125

0.015

0.0175

0.02

0.0225

R

OXIG0.210.190.170.150.130.110.090.070.030.01

0 0.1 0.2 0.3X

0

0.0025

0.005

0.0075

0.01

0.0125

0.015

0.0175

0.02

0.0225

R

FUEL0.160.120.100.080.060.040.020.01

Porém, a baixa concentração na região da saída, indica que o mesmo foi

praticamente todo consumido.

Figura 29 – Campo de fração em massa de oxigênio previsto pelo modelo proposto.

Figura 30 – Campo de fração em massa de etileno previsto pelo modelo proposto.

A medida que o etileno e oxigênio são consumidos, formam-se os produtos,

fig 31. A fração em massa de dióxido de carbono cresce com o aumento da fração

de mistura enquanto a mistura é pobre (excesso de oxigênio, portanto stff < ). O

valor máximo da fração em massa de dióxido de carbono é alcançado quando

temos a mistura estequiométrica. A partir daí, a medida que a mistura se torna

mais rica (excesso de combustível) a fração em massa de dióxido de carbono

diminui com o aumento da fração de mistura. Deve-se perceber, comparando-se as

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Page 110: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 109

0 0.1 0.2 0.3X

0

0.0025

0.005

0.0075

0.01

0.0125

0.015

0.0175

0.02

0.0225

R

CO20.180.160.130.110.090.070.040.02

figuras acima com a fig. 24c, que na região onde stff ≈ temos as maiores

temperaturas, maiores concentrações de dióxido de carbono e menores

concentrações de combustível e oxigênio.

Figura 31 – Campo de fração em massa de dióxido de carbono previsto pelo modelo

proposto.

A fig. 32 apresenta a evolução das frações em massa do oxigênio e dióxido

de carbono para as mesmas coordenadas axiais que o perfil de velocidade foi

apresentado. Mais uma vez, pode-se ressaltar que o jato da entrada de ar, que

apresenta a concentração máxima de oxigênio, se expande após o degrau da

câmara, sendo direcionado para a superfície do combustível, onde o mesmo é

consumido, criando o dióxido de carbono. As concentrações do oxidante e

produtos são proporcionais.

A variação de temperatura é apresentada na fig. 33, para as mesmas

coordenadas utilizadas para a apresentação do perfil de velocidade axial e

evolução das frações em massa. Observa-se que na região central o fluido frio da

entrada é aquecido ao longo da câmara, devido a difusão de calor dos gases

quentes gerados com a combustão próximo à superfície do combustível. Note a

alta temperatura dos gases na coordenada x/R = 2,46, coordenada esta que

coincide com a região de recirculação. Comparando-se a variação de temperatura

apresentada com a distribuição das espécies químicas, confirma-se a observação

de que a combustão é confinada a uma região bem próxima a superfície, a qual

corresponde as mais altas temperaturas.

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Page 111: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 110

6.3 Escoamento Reativo no Combustor de um SFRJ

O terceiro caso considerado para avaliar o desempenho do modelo

matemático proposto nesse trabalho é a simulação computacional do escoamento

reativo no interior do combustor (câmara de combustão e câmara de mistura

posterior) de um estato reator utilizando o polimetilmetacrilato (PMMA) como

combustível sólido. Esse é um dos combustíves sólidos precursores no estudo da

aplicação de polímeros para essa finalidade. Os resultados previstos para a taxa de

0.00 0.10 0.20 0.30Fração em Massa de O2

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

r/Rx/R=2,46

x/R=4,92

x/R=7,38

x/R=9,85

0.00 0.10 0.20 0.30Fração em Massa CO2

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

r/R

x/R=2,46

x/R=4,92

x/R=7,38

x/R=9,85

(a) oxigênio (b) dióxido de carbono

Figura 32 – Evolução das frações em massa de oxigênio e dióxido de carbono em quatro seções da câmara de combustão

0. 1000 2000 3000Temperatura(K)

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

x/R=2,46

x/R=4,92

x/R=7,38

x/R=9,85

Figura 33 - Variação da temperatura em quatro seções da câmara de combustão

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Page 112: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 111

regressão média local do combustível foram comparados aos resultados

experimentais obtidos por Boaz e Netzer(69) e aos resultados previstos pelo modelo

de Stevenson e Netzer(5), todos nas mesmas condições operacionais e sob os

mesmos parâmetros. Comparam-se também os resultados previstos pelo modelo

proposto e pelo modelo de Stevenson e Netzer(5) para a temperatura. Ao final, são

mostrados alguns campos e perfis previstos para o caso utilizando-se o modelo

proposto nesse trabalho.

Os parâmetros geométricos do problema, com a geometria ilustrada na fig.

11, são mostrados na Tabela 12.

Parâmetro Geométrico Valor L 0,4628 m H 0,027 m Xcomb 0,3048 m Rin 0,00681m HS 0,01224m

Tabela 12 - Parâmetros geométricos para o escoamento no combustor do SFRJ.

O ar é admitido na câmara de combustão a temperatura de 800 K,

velocidade média de 197,4 m/s e vazão em massa de 0,08049 Kg/s. A temperatura

da superfície do combustível sólido mais uma vez foi tomada como temperatura

de referência, admitida constante e igual a 700 K.

A reação de combustão, segundo o modelo de reação química de único

passo infinitamente rápida, pode ser escrita como:

22222285 56,2245)76,3(6 NOHCONOOHC ++→++ (6.4)

As propriedades físicas e termodinâmicas das espécies envolvidas na reação

de combustão (C5H8O2, O2, N2, CO2 e H2O) são mostradas na Tabela 13.

No trabalho de Stevenson e Netzer(5) não foi feita nenhuma referência sobre

os valores utilizados para as propriedades físicas e termodinâmicas das espécies

envolvidas. A única informação nesse sentido, já mencionada anteriormente, diz

respeito a adoção de um calor específico constante para a mistura gasosa, porém

não apresentava indicações sobre o valor adotado para essa propriedade.

Como no caso anterior, a massa específica dos gases foi calculada através da

equação de estado, sendo a massa específica do combustível na fase gasosa

calculada com base na pressão da câmara e temperatura na superfície do

combustível sólido.

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Resultados e Discussões 112

Espécie Propriedade C5H8O2 O2 N2 CO2 H2O

Calor específico a pressão constante -

jpC , (valor médio calculado a 1200 K)

(J/KgK)(67)

1600,00 1072,87 1121,46 1208,46 2279,48

Massa Molecular (kg/Kmol) 100 32 28 44 18 Mistura Gasosa

Viscosidade média da mistura (Kg/ms) 2,00×10-5 Combustível Sólido (PMMA)(68, 69, 70)

Calor específico a pressão constante -

fspC , (calculado a 700 K) (J/KgK) 1300,00

Massa específica - fsρ (kg/m3) 1190

Calor de combustão - H∆ (@700 K) (J/Kg) 2,99×107

Calor efetivo de vaporização - effvH , (J/Kg) 1,615×106

Entalpia - fsfspfs TCh ,= (J/Kg) 9,1×105 Tabela 13 - Propriedades físicas e termodinâmicas para combustão do PMMA.

Utilizou-se uma malha computacional não uniforme com 62 × 57 pontos,

concentrando-se a mesma nas regiões de recirculação e próximo às paredes

(superfície do combustível sólido e parede da câmara de mistura posterior). Neste

caso, existem três regiões na direção y: entrada, degrau e combustível. O

parâmetro de não uniformidade em cada região foi 1,0; 0,9 e 0,8 respectivamente.

Já na direção x, utilizou-se duas regiões, com parâmetro de não uniformidade

iguais a 1,2 e 1,1 para a região do combustível e câmara posterior. A fig. 34

mostra a malha computacional utilizada no problema, sendo a região amarela

indicativa do combustível sólido. A escala na direção radial está ampliada oito

vezes para melhor visualização dos resultados.

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

R

Figura 34 - Malha computacional utilizada no escoamento dentro do combustor.

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Resultados e Discussões 113

Uma vez que o escoamento é reativo, as equações resolvidas foram as

mesmas do caso anterior. Mais uma vez, fatores de subrelaxação foram utilizados

para garantir a convergência. A Tabela 14 mostra os fatores de subrelaxação das

variáveis utilizados nesse caso.

Variável Fator de Subrelaxação

Velocidade axial )~(u 0,5 Velocidade radial )~(v 0,4 Pressão )( p 0,7 Energia cinética turbulenta )(k 0,4 Dissipação de energia cinética turbulenta )(ε 0,4

Entalpia de estagnação )~(H 0,5

Fração de Mistura )~( f 0,5

Variância da fração de mistura )( fg 0,5

Densidade )(ρ 0,5

Viscosidade Turbulenta )( tµ 0,4

Tabela 14 - Fatores de subrelaxação para o escoamento no combustor do SFRJ utilizando o PMMA

Um dos principais problemas encontrados nesse caso foi a inicialização das

variáveis. Uma inicialização realizada sem critério, geralmente resultava em

divergência, isto é, não era possível obter solução convergida. O procedimento

adotado para contornar essa dificuldade foi aplicar inicialmente o código

numérico a um problema onde o domínio computacional fosse restrito à câmara

de combustão. Seria um caso análogo ao anterior, alterando-se a geometria e o

tipo de combustível sólido. Fica claro que as faces dos volumes de controle no

problema da câmara de combustão devem ser coincidentes com as faces dos

volumes de controle nessa região para o problema do combustor. Os resultados

obtidos foram, então, implementados como valores iniciais das variáveis nos

pontos comuns às duas malhas (combustor e câmara de combustão).

Quando da inicialização das variáveis, convém alertar para o fato de que o

código computacional trabalha com malhas deslocadas para as velocidades.

Portanto, os valores dessas variáveis são localizados nas faces dos volumes de

controle. Dessa maneira, os valores obtidos para as velocidades axial e radial

durante a simulação dentro da câmara de combustão são totalmente aproveitados,

já que nessa região, como definido anteriormente, as faces dos volumes de

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Page 115: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 114

controle das duas malhas são coincidentes. Na fig. 35 temos um exemplo

esquemático da superposição de malhas descrita.

● ● ● ● ● ● ● ● ●

● ● ● ● ● ● ● ● ●

● ● ● ● ● ● ● ● ●

◘ ◘ ◘ ◘ ◘ ● ● ● ●

◘ ◘ ◘ ◘ ◘ ● ● ● ●

◘ ◘ ◘ ◘ ◘ ● ● ● ●

◘ ◘ ◘ ◘ ◘ ● ● ● ●

◘ ◘ ◘ ◘ ◘ ● ● ● ●

Região do Combustível Sólido

● Ponto nodal da malha do combustor

○ Ponto nodal da fronteira da malha da câmara de combustão

◘ Ponto nodal pertencente as duas malhas (combustor e câmara de combustão)

Faces dos volumes de controle coincidentes nas duas malhas. Figura 35 – Esquema de superposição de malhas para o problema do combustor.

Com a inicialização definida acima, o número de iterações realizadas até

que o critério de convergência (igual ao caso anterior) fosse alcançado ficou em

torno de 16000.

A fig. 36 mostra os campos de temperatura e linhas de corrente previstos

pelo modelo de Stevenson e Netzer(5) e pelo modelo proposto no trabalho, para a

região da câmara de combustão. Essa simulação gerou os dados para a

inicialização do problema do escoamento no combustor.

As linhas de corrente mostradas na fig. 36 indicam que o modelo proposto

nesse trabalho prevê uma zona de recirculação menor, ou seja, a localização do

ponto de recolamento está mais próxima da entrada da câmara de combustão. Esse

fato pode estar relacionado com as condições de contorno para a energia cinética

turbulenta implementadas pelas funções de parede utilizadas nos modelos. Para

Stevenson e Netzer(5) o valor de k no primeiro ponto nodal acima da parede era

calculado através de sua equação de transporte, porém alterando-se o valor dos

○ ○

○ ○ ○ ○ ○

● ●

● ● ● ● ● ● ● ● ●

● ● ● ● ● ● ◘ ◘ ◘ ◘ ◘ ◘

● ◘

● ◘

● ◘

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Resultados e Discussões 115

termos fontes em função da tensão de cisalhamento na parede ( wτ ). Como foi

mencionado anteriormente, o modelo proposto não faz distinção na resolução da

equação de transporte para κ no primeiro ponto nodal acima da parede, ou seja,

seu valor é obtido pela solução de sua equação de transporte de forma idêntica aos

demais pontos internos no domínio computacional.

a)

b)

Figura 36 – Valores previstos para os campos de temperatura e linhas de corrente

dentro da câmara de combustão: a) resultados do modelo de Stevenson e Netzer(5); e b) resultados do

modelo proposto.

No modelo utilizado por Stevenson e Netzer(5) a combustão é simulada

através da solução da variável escalar conservativa Z e da fração em massa do

nitrogênio, 2Nm , conforme já discutido no capítulo 3. Assim, o modelo de

Stevenson e Netzer(5) não prevê qualquer interação turbulência-química, que é o

que se pretende ao utilizar o formalismo fração de mistura/PDF. Desse modo,

concordância entre as soluções para o campo de temperatura indica que a

utilização do formalismo fração de mistura/pdf não influenciou de forma

acentuada na determinação do campo de temperatura dentro da câmara de

combustão.

800 1500 1000

2500

2000

Linhas de Corrente

Temperatura (K)

Linhas de Corrente

Temperatura (K)

1000 800 2000 1500

2500

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Resultados e Discussões 116

Outra comparação entre as soluções obtidas com os dois modelos é

apresentada na fig. 37, na qual traçou-se as variações radiais de temperatura em

dois pontos distintos da coordenada axial: próximo ao final da câmara de

combustão (x = 30 cm); e em um ponto na câmara de mistura posterior (x = 38,26

cm).

__ Variação prevista com o modelo proposto __ Variação prevista com o modelo proposto

__ Variação prevista com o modelo de Stevenson e Netzer(5)

__ Variação prevista com o modelo de Stevenson e Netzer(5)

Figura 37 - Variações radiais de temperatura.

As variações radiais de temperatura à direita na fig. 37, obtidas numa

localização axial muito próxima ao final do grão combustível (final da câmara de

combustão), confirmam o alto grau de concordância entre os modelos para o

campo de temperatura dentro da câmara de combustão. As variações à esquerda

na fig. 37, obtidas numa localização axial de aproximadamente uma vez e meia o

diâmetro do combustor a partir do final do grão combustível, mostram

comportamentos qualitativamente semelhantes, porém com um desvio entre as

soluções de até 8%. As temperaturas ligeiramente mais elevadas para o modelo

proposto podem estar relacionadas ao modelo de combustão utilizado que leva em

conta a interação turbulência-química. Uma vez que a função principal da câmara

de mistura posterior é promover uma mistura mais efetiva entre oxidante e

combustível, através da criação dos vórtices na região de recirculação após o

degrau, era esperado que o modelo proposto captasse melhor esse fenômeno. O

Dis

tânc

ia ra

dial

(cm

)

1500 2000 2500 3000 35000.0

0.4

0.8

1.2

1.6

2.0

Temperatura 1500 2000 3500

0.00.30.60.91.21.51.82.12.42.7

2500 3000 Temperatura

Dis

tânc

ia ra

dial

(cm

)

x = 30 cm x = 38,26 cm

Superfície do combustível

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Resultados e Discussões 117

mesmo poderia acontecer na região de recirculação na câmara de combustão,

porém naquela região a mistura entre combustível e oxidante depende de outros

fatores também, como transferência de calor para a superfície do combustível e

pirólise do combustível.

Uma possível razão para as diferenças encontradas entre as variações de

temperatura obtidas com os dois modelos pode ser a diferença entre os valores

especificados para algumas propriedades termodinâmicas, como calor de

combustão e calor efetivo de vaporização do combustível sólido. Isso poderia

acontecer uma vez que, como já foi explicado, as fontes de consulta para

aquisição dos valores dessas propriedades podem ter sido diferentes. Outra

possível explicação é a diferença entre os modelos matemáticos utilizados.

A fig. 38 apresenta os perfis da taxa de regressão local média do

polimetilmetacrilato previstas por três modelos matemáticos: de Netzer(21);

Stevenson e Netzer(5); e o modelo proposto nesse trabalho. Mostra também os

perfis obtidos experimentalmente por Boaz e Netzer(69) para duas condições de

entrada de ar na câmara.

Taxa

de

Reg

ress

ão L

ocal

Méd

ia (m

m/s

)

Distância Axial (mm) 0 100 200 300

0.00

0.10

0.20

0.30

Valores previstos com modelo ψ-ω de Netzer(21) ( 24,0=r& ).

.............. Valores previstos com modelo u-v-p de Netzer(5) ( 24,0=r& ).

⋅ ⋅ Valores experimentais com entrada de ar a 45º dentro da câmara(69, 71).

- - - - - - Valores experimentais com entrada de ar axial na câmara(69, 71) ( 22,0=r& ).

Valores previstos com o modelo proposto neste trabalho ( 21,0=r& ). Figura 38 - Taxa de regressão local média ao longo da superfície do PMMA

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Page 119: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 118

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

R

U170.00140.00110.00

70.0050.0030.0010.00

5.00-5.00

-10.00-30.00

O resultado previsto pelo modelo proposto nesse trabalho está

qualitativamente de acordo com o resultado experimental. Da mesma forma que

os outros modelos computacionais, existe uma superestimação dos valores da taxa

de regressão local média na região de recirculação, assim como uma subestimação

da localização do ponto de recolamento. Como discutido anteriormente, uma

explicação para esse comportamento pode estar nas restrições do modelo de

turbulência εκ − e das funções de parede em simular o escoamento nessa região.

O modelo proposto apresenta valores mais baixos para a taxa de regressão

local média do que o modelo de Stevenson e Netzer(5) dentro da região de

recirculação. O comportamento está coerente com os resultados apresentados nos

campos de temperatura onde o modelo proposto prevê temperaturas ligeiramente

mais baixas do que o modelo de Stevenson e Netzer(5) (fig. 34) na região de

recirculação próximo à superfície do combustível. Note, no entanto, que o valor

da taxa de regressão média prevista pelo modelo proposto ( 21,0=r& mm/s) está

mais próximo do valor experimental ( 22,0=r& mm/s) do que os valores previstos

pelos outros dois modelos matemáticos(5, 21).

As fig. 39, 40 e 41 mostram os campos do componente de velocidade axial,

temperatura e fração de mistura obtidos com o modelo proposto para o

escoamento no interior do combustor do estato reator utilizando o

polimetilmetacrilato como combustível sólido.

Figura 39 - Campo de velocidade axial para o escoamento no interior do combustor

Observa-se na fig. 39, a região de altas velocidades na região central

próximo a entrada e a região de velocidade negativa indicando a presença de uma

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Page 120: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 119

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

R

TEMP3200.003000.002900.002600.002400.002100.001800.001500.001200.001000.00

850.00

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

R

FRAC.M0.160.140.120.100.080.060.040.030.020.01

recirculação. O jato da entrada se expande, atinge a superfície do combustível e se

desenvolve, resultando em uma distribuição aproximadamente uniforme de

velocidade. Após o fim do combustível, surge uma nova recirculação.

Figura 40- Campo de temperatura para o escoamento no interior do combustor

Figura 41 - Campo de fração de mistura para o escoamento no interior do combustor

Analisando o campo de temperatura, fig. 40, pode-se observar que o jato

frio de entrada é aquecido pela difusão de calor, além da reação química, e altas

temperaturas são observadas na região em que o fluido está preso na recirculação.

Ocorre uma redução da temperatura próximo a superfície do combustível, na

região do ponto de recolamento, em função da incidência do jato de ar mais frio

da entrada, ocorrendo, posteriormente, novo aquecimento pelas reações. Mais a

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Page 121: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 120

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

R

OXIG0.210.190.170.150.130.110.080.060.040.02

jusante o fluido quente fica preso na região de recirculação após o degrau formado

pelo fim do combustível na câmara de mistura posterior. Os valores máximos são

coincidentes com as regiões onde a fração de mistura está próxima a fração de

mistura estequiométrica, conforme pode ser visto na fig. 41.

As figuras 42, 43 e 44 mostram os campos previstos para as frações em

massa do oxigênio, do metilmetacrilato e do dióxido de carbono. Da análise dos

resultados observa-se que o comportamento desses campos na região da câmara

de combustão é totalmente análogo ao caso anterior.

Percebe-se, nesse caso, a importância da câmara de mistura posterior.

Observa-se na fig. 44 que na região de recirculação formada após o final do

combustível, dentro da câmara de mistura posterior, existe uma concentração

maior de combustível. Esse é um indicativo de que, se a tubeira fosse colocada

logo ao final da câmara de combustão, uma quantidade de combustível

gaseificado e não queimado estaria sendo expelido pela tubeira. Esse foi um dos

problemas relatados por Myer(42) em seus trabalhos experimentais.

Figura 42 - Campo previsto da fração em massa de oxigênio no combustor.

Analisando-se, então, a fig. 42, 43 e 44 pode-se perceber que a combustão

prossegue em algumas regiões dentro da câmara de mistura posterior, mais

especificamente a partir da região de recirculação, uma vez que as concentrações

de oxigênio e metilmetacrilato vão diminuindo e a concentração de dióxido de

carbono atinge valor máximo. A eficiência da combustão em estato reatores a

combustível sólido está intimamente ligada a um bom projeto e configuração da

câmara de mistura posterior(1).

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Resultados e Discussões 121

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

RFUEL

0.100.080.040.020.010.010.010.000.00

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

0

0.003

0.006

0.009

0.012

0.015

0.018

0.021

0.024

0.027

R

CO20.220.180.140.10.080.060.020.01

Figura 43 - Campo previsto da fração em massa de metilmetacrilato no combustor. Figura 44 - Campo previsto da fração em massa de dióxido de carbono no combustor.

A fig. 45 mostra a evolução da fração em massa de oxigênio e dióxido de

carbono e a fig. 46 mostra os perfis de velocidade axial nas mesmas coordenadas

axiais utilizadas na fig. 37. A primeira coordenada está localizada ao final do

combustível sólido, portanto ao final da câmara de combustão e a segunda dentro

da câmara de mistura posterior. Como já discutido anteriormente, observa-se um

máximo de oxigênio na região central, correspondendo a um mínimo de dióxido

de carbono. Como a reação ocorre muito próximo à superfície do combustível,

nesta coordenada encontram-se os valores máximos dos produtos da combustão.

Na câmara de mistura posterior, obtém-se a queima final do combustível, com

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Page 123: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 122

pequena alteração na quantidade de fração em massa das espécies, e com uma

suavização dos perfis, que se distribuem no domínio.

Com relação a fig. 46, pode-se perceber, pelo perfil de velocidade

apresentado, que ao final da câmara ( x= 30cm) o escoamento é quase uniforme,

típico de escoamento desenvolvido. Após o degrau, na entrada da câmara de

mistura posterior (x=38,26cm) o redesenvolvimento do escoamento torna-se mais

rápido em virtude da ausência da velocidade de blowing na parede, e da

velocidade mais lenta do escoamento ao entrar nessa câmara.

Figura 46 - Perfis de velocidade axial em duas seções do combustor.

0.00 0.04 0.08 0.12Fração em Massa de O2

0.00

0.30

0.60

0.90

1.20

1.50

1.80

2.10

2.40

2.70

r (cm

)

x=30cm

x=38,26cm

0.00 0.10 0.20 0.30Fração em Massa de CO2

0.00

0.30

0.60

0.90

1.20

1.50

1.80

2.10

2.40

2.70

r (cm

)

x=30cm

x=38,26cm

(a) oxigênio (b) dióxido de carbono

Figura 45 - Evolução da fração em massa de oxigênio e dióxido de carbono em duas seções do combustor

x = 30 cm x = 38,26 cm

x = 30 cm x = 38,26 cm

0.00 40.00 80.00 120.00Velocidade Axial u (m/s)

0.00

0.30

0.60

0.90

1.20

1.50

1.80

2.10

2.40

2.70

r (cm

)

x=30cm

x=38,26cm

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Page 124: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 123

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

R

0.230.210.190.170.150.130.110.090.070.050.03

As fig. 47 e 48 apresentam o campo previsto pelo modelo proposto para a

energia cinética turbulenta e sua taxa de dissipação normalizadas. Note que as

distribuições de energia cinética turbulenta e sua taxa de dissipação são análogas

as obtidas para o caso anterior, de escoamento reativo na câmara de combustão de

um SFRJ. No entanto como existe uma segunda recirculação após o fim do grão

combustível, observa-se outro pico de κ e ε na quina.

Figura 47 - Campo da energia cinética turbulenta normalizada para o escoamento no interior do combustor

Figura 48 - Campo da taxa de dissipação da energia cinética turbulenta normalizada para o escoamento no interior do combustor

0 0.1 0.2 0.3 0.4X

00.0030.0060.0090.0120.0150.0180.0210.0240.027

R

0.500.400.300.250.200.150.100.080.050.030.01

2

21/ inuκ

3

21/. incam uRε

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Resultados e Discussões 124

6.4 Projeto de Munição Assistida por Estato Reator

A principal motivação para este trabalho está associada ao projeto de uma

munição assistida para canhão 155mm. Esta seção apresenta os resultados para o

campo de escoamento no interior do combustor de um estato reator a combustível

sólido, utilizado no projeto deste tipo de munição. A construção típica dessa

munição é mostrada na fig. 49. Todos os detalhes operacionais e parâmetros

preliminares do projeto da mesma podem ser encontrados em Krishnan e

George(1).

Figura 49 - Projeto de munição assistida por estato reator a combustível sólido para

canhão 155mm(1).

De acordo com a fig. 11 podemos definir os parâmetros geométricos do

combustor para a simulação computacional, conforme a Tabela 15 abaixo.

Parâmetro Geométrico Valor

L 1,08 m H 0,0725m Xcomb 0,830 m Rin 0,03 m HS 0,015 m

Tabela 15 - Parâmetros geométricos para o escoamento no combustor da munição

assistida por estato reator.

O ar é admitido na câmara de combustão a temperatura de 652,8 K,

velocidade média de 134,6 m/s. A pressão dentro da câmara foi calculada em

0,8MPa. Esses dados foram obtidos através de cálculos iniciais levando-se em

consideração uma velocidade de cruzeiro em torno de 2,2 Mach e uma altitude

inferior a 10 Km. A temperatura da superfície do combustível sólido mais uma

Carga útil Aletas Retráteis

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Resultados e Discussões 125

vez foi tomada como temperatura de referência, admitida constante e igual a

700 K. O combustível utilizado foi o HTPB (hidroxyl-terminated-polibutadiene),

comercialmente conhecido como R-45. A reação de combustão, segundo o

modelo de reação química de único passo infinitamente rápida, pode ser escrita

como:

22222284 8,1844)76,3(5 NOHCONOOHC ++→++ (6.14)

As propriedades físicas e termodinâmicas das espécies envolvidas na reação

de combustão (C4H8O2, O2, N2, CO2 e H2O) são mostradas na Tabela 16.

Espécie Propriedade C4H8O2 O2 N2 CO2 H2O

Calor específico a pressão constante -

jpC , (valor médio calculado a 1200 K)

(J/KgK)(67)

2886,00 1072,87 1121,46 1208,46 2279,48

Massa Molecular (kg/Kmol) 88 32 28 44 18 Mistura Gasosa

Viscosidade média da mistura (Kg/ms) 2,00 × 10-5 Combustível Sólido (HTPB)(68, 70)

Calor específico a pressão constante -

fspC , (calculado a 700 K) (J/KgK) 2170,00

Massa específica - fsρ (kg/m3) 970

Calor de combustão - H∆ (@700 K) (J/Kg) 3,00 × 107

Calor efetivo de vaporização - effvH , (J/Kg) 1,563 × 106

Entalpia - fsfspfs TCh ,= (J/Kg) 1,519 × 106

Tabela 16 - Propriedades físicas e termodinâmicas para combustão do HTPB.

A massa específica dos gases foi calculada através da equação de estado,

sendo a massa específica do combustível na fase gasosa (vaporizado) foi calculada

com base na pressão da câmara e temperatura na superfície do combustível.

Os cálculos foram realizados utilizando-se uma malha computacional não

uniforme com 70 × 60 pontos, concentrando-se a mesma nas regiões de

recirculação e próximo às paredes (superfície do combustível sólido e parede da

câmara de mistura posterior), com os mesmos parâmetros de não uniformidade do

caso anterior. A fig. 50 mostra a malha computacional utilizada no problema,

sendo a região amarela indicativa do combustível sólido. A escala na direção

radial está ampliada para melhor visualização dos resultados.

A Tabela 17 mostra os fatores de subrelaxação das variáveis utilizados nesse

caso.

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Resultados e Discussões 126

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

Figura 50 - Malha computacional utilizada no projeto da munição assistida

Variável Fator de Subrelaxação Velocidade axial )~(u 0,5 Velocidade radial )~(v 0,4 Pressão )( p 0,7

Energia cinética turbulenta (κ) 0,5 Dissipação de energia cinética turbulenta )(ε 0,5

Entalpia de estagnação )~(H 0,5

Fração de Mistura )~( f 0,5

Variância da fração de mistura )( fg 0,5

Densidade )(ρ 0,5

Viscosidade Turbulenta )( tµ 0,5

Tabela 17 - Fatores de subrelaxação para o projeto da munição assistida utilizando o HTPB

Como no caso do escoamento no interior do combustor com PMMA, visto

na seção anterior, inicialmente obteve-se resultados para o escoamento na câmara

de combustão apenas. Os resultados obtidos foram, então, implementados como

valores iniciais das variáveis nos pontos comuns às duas malhas (combustor e

câmara de combustão), conforme ilustrado na fig. 35.

Como pode-se perceber pelos aspectos geométricos, o grão combustível tem

um comprimento bem maior do que os estudados anteriormente, permitindo um

melhor desenvolvimento do escoamento após o ponto de recolamento. Além

disso, a altura do degrau na entrada é pequena em relação ao diâmetro do orifício

de entrada do ar na câmara. O degrau na entrada da câmara de mistura posterior é

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Resultados e Discussões 127

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

STRFCT0.3000.2960.2900.2800.2400.2200.1800.1200.0800.0400.020

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

U119.50110.00100.0075.0050.0030.0016.00

8.00-8.00

-20.00-36.00

mais acentuado. Os aspectos geométricos analisados implicam na formação de um

campo de escoamento com uma região de recirculação na entrada da câmara de

combustão relativamente pequena quando comparada às dimensões da câmara de

combustão. No caso da região de recirculação na entrada da câmara de mistura

posterior (após o final do grão combustível), a situação se inverte, tendo essa

região dimensões maiores.

Essas considerações são ratificadas pelo campo de linhas de corrente para o

escoamento, mostrado na fig. 51 e pelo campo do componente axial de

velocidade mostrado na fig. 52.

Figura 51 – Linhas de corrente previstas para o projeto da munição assistida usando o HTPB Figura 52 – Campo de velocidade axial previsto para o projeto da munição assistida

usando o HTPB.

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Resultados e Discussões 128

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

TEMP3000.002800.002500.002200.002000.001800.001600.001400.001200.001000.00

800.00

Uma vez que o cálculo de fluxo de calor para as paredes está baseado

apenas na transferência de calor por convecção, desprezando-se os efeitos de

radiação, o campo de temperaturas, mostrado na fig. 53, apresenta uma zona de

reação (regiões onde as temperaturas estão acima de 2000 K) limitada às regiões

de recirculação e nas proximidades da superfície do combustível sólido.

Figura 53 – Campo de temperaturas previsto para o projeto da munição assistida usando o HTPB.

O resultado é semelhante ao obtido anteriormente para o caso do

escoamento no combustor com PMMA. Porém, no caso anterior podia-se perceber

que na câmara de mistura posterior a zona de reação era bastante pronunciada,

indicando a existência de gás combustível não queimado deixando a câmara de

combustão. Portanto, naquele caso, o objetivo da câmara de mistura posterior foi

alcançado, aumentando a eficiência da combustão pela mistura e queima efetiva

do excedente de combustível da câmara de combustão com o oxigênio do ar. No

presente caso, a zona de reação na câmara de mistura posterior é pequena,

proporcionando um aumento pequeno na eficiência da combustão.

A fig. 54 ilustra a distribuição da fração de mistura. Observa-se, como

esperado, que o campo de fração de mistura é análogo ao campo de temperatura

com as regiões de temperaturas mais altas coincidindo com as regiões de frações

de mistura mais altas, estando essas regiões situadas próximo à superfície do

combustível sólido.

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Resultados e Discussões 129

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07R

FRAC.M0.180.140.100.080.060.040.020.01

Figura 54 - Campo de fração de mistura previsto para o projeto da munição assistida usando o HTPB.

Na fig. 55 foi traçado o perfil da taxa de regressão local média do HTPB.

Como nos casos anteriores, temos a curva mostrando uma acentuada elevação da

taxa de regressão dentro da região de recirculação próxima a entrada da câmara de

combustão até as proximidades do ponto de recolamento. Depois do ponto de

recolamento o valor da taxa de regressão vai decrescendo até um valor

praticamente constante. O valor da taxa de regressão média r& obtido foi igual a

0,33 mm/s, e está de acordo com os valores experimentais típicos para esse

combustível, de 0,25-0,35 mm/s(1).

Figura 55 – Taxa de regressão local média previsto para o projeto da munição assistida usando o HTPB ( smmr /33,0=& )

Distância Axial (mm)

Taxa

de

regr

essã

o lo

cal m

édia

(mm

/s)

5004000 100 200 300 600 700 800 900

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

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Page 131: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 130

Esse comportamento da curva também foi observado nos modelos propostos

por Stevenson e Netzer(5) e Coelho et al(38). A medida que a camada limite se

desenvolve, após o ponto de recolamento, ocorre um afastamento da chama em

relação à superfície do combustível sólido, acarretando diminuição na velocidade

de queima local. Além disso, a grande velocidade do escoamento central em

relação a velocidade de injeção do combustível torna deficiente o processo de

difusão, diminuindo a mistura ar/combustível na zona de chama.

Um comportamento análogo ao obtido para a taxa de regressão ao longo da

câmara de combustão também foi observado experimentalmente por Veras(13)

quando trabalhou com grãos de comprimento maiores, onde a região de

redesenvolvimento do escoamento é maior. O fato pode ser explicado pela

ocorrência de erosão nas partes finais do combustível. Gases com velocidades

elevadas e altíssimas temperaturas, quando se encaminham para deixar a câmara

de combustão, podem aproximar a chama da superfície do combustível sólido,

melhorando o processo de transferência de calor para a parede, gaseificando uma

quantidade maior de combustível e, portanto, aumentando localmente a taxa de

regressão do combustível.

Esse fenômeno necessitaria de um maior número de ensaios para sua

comprovação, uma vez que o perfil uniforme na região próxima ao final do grão,

também pode ser devido ao aumento da velocidade de queima pela transferência

de calor por emissão de radiação das partículas incandescentes de fuligem que se

formaram. Esse tipo de mecanismo não foi incluído na modelagem matemática do

problema.

As figs. 56 e 57 apresentam o campo previsto pelo modelo proposto para a

energia cinética turbulenta e sua taxa de dissipação normalizadas. Como no caso

anterior existe uma geração de energia cinética turbulenta e sua taxa de dissipação

nas regiões de recirculação, com valores bem mais elevados nessas regiões do que

no resto do domínio, onde a distribuição apresenta variações menos acentuadas.

As figs. 58, 59 e 60 apresentam os campos de frações em massa para o

oxigênio, o dióxido de carbono e o butadieno hidroxilado. As distribuições de

oxigênio e dióxido de carbono são correspondentes, isto é, as isolinhas são

similares, sendo que os valores máximos de oxigênio correspondem aos mínimos

de dióxido de carbono e vice-versa. Observa-se neste caso, que parte do oxigênio

admitido na câmara não foi queimado. Observa-se ainda que o combustível sólido

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Resultados e Discussões 131

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

0.510.460.410.360.310.250.200.150.100.05

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

0.900.750.500.400.300.200.10

vaporizado encontra-se confinado a uma pequena região próxima a superfície do

combustível sólido, sendo queimado rapidamente. Regiões de recirculação onde

encontrou-se combustível preso nos casos anteriores são desprezíveis neste caso.

Figura 56 - Campo da energia cinética turbulenta normalizada previsto para o projeto da

munição assistida usando o HTPB.

Figura 57 - Campo da taxa de dissipação da energia cinética turbulenta normalizada previsto para o projeto da munição assistida usando o HTPB.

Analisando as frações em massa das espécies observa-se que a taxa de

regressão do combustível é realmente maior do que nos casos estudados

anteriormente, conforme mostrado na fig. 55. Analisando-se os campos de

temperatura e fração em massa do combustível percebe-se que a chama está

localizada muito próxima à superfície do combustível sólido. Essa proximidade da

chama junto à superfície torna a transferência de calor para as paredes mais

efetiva e, portanto, a gaseificação do combustível é melhorada.

2

21/ inuκ

3

21/. incam uRε

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Resultados e Discussões 132

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07R

OXIG0.210.180.160.130.100.080.050.03

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

FUEL0.750.500.250.200.150.080.050.01

0 0.5 1X

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

R

CO20.200.180.150.100.080.060.040.030.020.01

Figura 58 - Campo previsto da fração em massa de oxigênio no combustor

Figura 59 - Campo previsto da fração em massa de butadieno hidroxilado no combustor

Figura 60 - Campo previsto da fração em massa de dióxido de carbono no combustor

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Page 134: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Resultados e Discussões 133

A capacidade de sustentação da chama sob uma grande faixa de condições

de operação torna o HTPB um dos combustíveis sólidos mais adequados para uso

em SFRJ. No entanto, pode-se perceber que a configuração apresentada para o

projeto implica em uma combustão com um grande excesso de oxidante (mistura

pobre). A concentração dos produtos na seção de saída é bastante baixa nas

proximidades do eixo de simetria. Esse fato pode ser observado comparando-se o

campo apresentado na fig. 60 com aquele mostrado na fig. 44 para o combustor

com PMMA. Conclui-se que alguns aspectos do projeto, principalmente

geométricos, devem ser revistos, uma vez que o comportamento previsto pode

gerar uma baixa eficiência ao sistema propulsivo.

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Page 135: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

7 CONCLUSÃO

Foi proposto um modelo matemático para a resolução do escoamento no

interior do combustor de um estato reator a combustível sólido. O modelo foi

testado em diferentes situações utilizando o método numérico de volumes finitos.

A aplicação do modelo matemático a diferentes casos de escoamentos em estato

reatores e a comparação dos resultados obtidos com os dados disponíveis, serviu

para avaliar a adequação e o desempenho do modelo proposto.

Quando aplicado a escoamentos não reativos, como no caso de grãos

inertes, o problema foi tratado como escoamento em tubo cilíndrico com súbita

expansão (degrau) na entrada. A comparação entre os resultados obtidos no

presente trabalho e dados experimentais, mostrou uma concordância muito boa

entre os mesmos. Conclui-se dessa aplicação que o modelo de turbulência, em

conjunto com as funções de parede e condições de contorno, utilizados no

problema foram capazes de simular adequadamente o comportamento do

escoamento turbulento não reativo, na presença de uma expansão abrupta.

Para o caso de escoamento reativo no interior do combustor, dois fatores

trazem complicações adicionais ao escoamento turbulento. O primeiro fator é a

combustão, ou seja, a reação química. O segundo fator é a pirólise do combustível

que promove o surgimento de uma velocidade normal na superfície do

combustível. Essa velocidade, conhecida como velocidade de blowing faz com

que haja uma alteração na camada limite turbulenta, e consequentemente as

funções de parede tem que ser adaptadas para essa alteração.

Para tratar o primeiro fator, a reação química, um modelo de combustão

onde a reação química ocorria em uma única etapa com cinética química

infinitamente rápida (reação controlada pelo grau de mistura) foi adotado. Uma

equação de transporte para fração de mistura e outra para a variância da fração de

mistura foram resolvidas para a implementação do modelo de combustão fração

de mistura/pdf presumida. Assim, buscou-se acoplar os fenômenos da turbulência

e da combustão.

Para abordar o segundo fator utilizou-se o conceito de variável escalar

conservativa e as propriedades dessa variável nas paredes onde ocorria adição de

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Page 136: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Conclusão

135

massa. A equação de conservação de energia foi resolvida em função da entalpia

de estagnação, pois com as hipóteses de número de Lewis unitário e reação

controlada pelo grau de mistura, a entalpia de estagnação tornou-se uma variável

escalar conservativa. Essa foi a mesma abordagem sugerida por Stevenson e

Netzer(5).

Trabalhados os dois fatores de acordo com os modelos e técnicas relatados

anteriormente, o modelo foi aplicado a casos onde haviam dados disponíveis de

forma completa para comparação. Dos resultados apresentados, conclui-se que o

modelo prevê razoavelmente bem o campo de escoamento no interior do

combustor. Para uma definição mais clara dos pontos falhos do modelo, é

necessário realizar um número maior de comparações com outros dados

experimentais, principalmente no que diz respeito a distribuição das espécies no

combustor, os quais infelizmente não se encontram disponíveis.

Por fim, o modelo foi aplicado para a simulação computacional do

escoamento no interior do combustor de um estato reator utilizado no projeto de

uma munição assistida para canhão 155mm. O combustível sólido previsto no

projeto foi o HTPB. Os resultados foram compatíveis com aqueles obtidos nos

casos anteriores, mostrando ser o modelo computacional adequado para a

utilização na fase de desenvolvimento do projeto. Uma vez que no caso da

munição assistida o grão combustível tem um comprimento bem maior do que nos

outros casos, o perfil uniforme da taxa de regressão local média na porção final do

grão combustível, fato observado experimentalmente por Veras(13), tem explicação

através do fenômeno da queima erosiva, já que o modelo matemático usado não

inclui transferência de calor por radiação.

Os problemas de não convergência verificados durante a solução do

problema do escoamento no combustor estão intimamente ligados à inicialização

das variáveis e aos fatores de subrelaxação. Deve-se usar valores baixos para os

fatores de subrelaxação das variáveis �, � e � . Dependendo do problema que

estiver sendo solucionado, esses valores podem ser aumentados após um número

considerável de iterações (geralmente acima de 300 iterações), a fim de acelerar a

convergência. Quanto à inicialização das variáveis, recomenda-se adotar o

procedimento de solucionar o problema na câmara de combustão e, depois,

utilizando uma malha onde as faces dos volumes de controle sejam coincidentes

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Page 137: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Conclusão

136

naquela região, inicializar as variáveis com os valores obtidos da solução da

câmara, conforme discutido no capítulo 6. A presença da região bloqueada

também contribui para diminuir a velocidade da convergência da solução.

Tomando-se como base o desenvolvimento do modelo proposto, as

dificuldades encontradas e todos os resultados apresentados, seguem abaixo

algumas sugestões para futuros trabalhos:

- Implementação da técnica de resolução da malha em multi-blocos(38).

Isso otimizaria o tempo computacional, uma vez que a região do

combustível sólido não precisaria ser resolvida. Além disso, seria mais

simples a implementação das condições de contorno na superfície do

combustível sólido.

- Verificar a influência do cálculo da massa específica da mistura gasosa

através da eq. (3.64) sobre os resultados previstos para o campo do

escoamento, analisando precisão dos resultados e o esforço

computacional relativos a esse cálculo.

- Utilizar rotinas do software Chemkim para avaliar a temperatura, assim

como o calor específico a pressão constante, eliminando a restrição de

valor constante.

- Implementação das funções de parede modificadas adotadas por Coelho

et Al(38). As condições de contorno para � e � seriam as mesmas do

modelo proposto nesse trabalho. Porém, os valores da tensão de

cisalhamento na parede ( w� ) e da velocidade de blowing ( wv ) seriam

obtidos simultaneamente através de um sistema de equações envolvendo

também a constante de parede E, e não mais através do parâmetro de

transferência de massa (blowing parameter) envolvendo valores da

variável escalar conservativa ( H~ ).

- Resolução da equação de conservação da energia em função da entalpia

( h~ ) e não entalpia de estagnação, levando-se em consideração a

transferência de calor por radiação para a superfície do combustível(54)

como termo fonte nessa equação. Essa alteração seria importante para o

caso de combustíveis sólidos como o polietileno, em que, as altas

pressões na câmara de combustão (próximas a 1MPa) e a formação de

fuligem na superfície do grão combustível durante a queima. Isso

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Page 138: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Conclusão

137

poderia tornar o calor radiante tão importante quanto o calor convectivo

transmitido para a superfície do grão(13).

- Alterações nos parâmetros geométricos do projeto da munição assistida

apresentado nesse trabalho, uma vez que os campos previstos para o

escoamento indicam uma baixa eficiência do combustor.

- Considerar a superfície do combustível como convergente, visando um

melhor rendimento, ampliando a região de queima.

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42 MYER, T. D. "Special Problems of a Ramjet with Solid Fuel", Ramjet and Ramrocket Propulsion Systems for Missiles, 1984, AGARD Lectures Series 136.

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Page 142: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Referências Bibliográficas

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47 LIBBY, P. A.; WILLIAMS, F. A. "Turbulent Reacting Flows", Academic Press, London, 1994.

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50 WOLFRAM, S. "The Mathematic Book", Cambrige University Press, 2002.

51 SPIEGEL, M. R. "Manual de Fórmulas, Métodos e Tabelas de Matemáticas", 2ª Ed, Coleção Schaum, Makron Books Ltda, 2002.

52 LAUNDER, B. W.; SPALDING, D. B. "The Numerical Computation of Turbulent Flows", Computer Methods in Applied Mechanics and Engineering, Aug, 1973, pp. 269-289.

53 WILCOX, D. C. "Turbulence Modeling for CFD", 2ª Ed, DCW Industries, 1998.

54 YAN, Z. "Numerical Modeling of Turbulent Combustion and Flame Spread", Center of Combustion Science and Technology, Sweden, 1999.

55 JONES, W. P.; LAUNDER, B. E.."The Predicitons of Laminarization with a Two-Equation Model of Turbulence", International Journal of Heat and Mass Transfer, Vol. 15, 1972, pp. 68-87.

56 CHIENG, C. C.; LAUNDER, B. E. "On the Calculation of Turbulent Heat Transport Downstream from na Abrupt Pipe Expansion", Numerical Heat Transfer, Vol. 3, 1980, pp. 189-207.

57 CHIENG, C. C.; LAUNDER, B. E. "On the Calculation of Turbulent Heat Transport Downstream from na Abrupt Pipe Expansion", Numerical Heat Transfer, Vol. 3, 1980, pp. 189-207.

58 CHIENG, C. C.; LAUNDER, B. E. "On the Calculation of Turbulent Heat Transport Downstream from na Abrupt Pipe Expansion", Numerical Heat Transfer, Vol. 3, 1980, pp. 189-207.

59 SETTARI, A.; AZIZ, K.."A Generalization of the Additive Correction Methods for the Iteractive Solution of Matrix Eq", SIAM Journal of Numerical Analysis, Vol. 10, 1973, pp. 506-521

60 MALISKA, C. R. "Transferência de Calor e Mecânica dos Fluidos Computacional", Livros Técnicos e Científicos S.A., 1995.

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Page 143: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

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69 BOAZ, L. D.; NETZER, D. W. "An Investigation of the Internal Ballistics of Solid Fuel Ramjets", Naval Postgraduate School, Rept. NPS-57NT73031a, Mar., 1973.

70 TEWARSON, A.; PION, R. F. "Flammability of Plastics-I. Burning Intensity", Combustion and Flame, 26, 1976, pp. 85-103.

71 PHANEUF, J. T.; NETZER. D. W. "Flow Characteristics in Solid Fuel Ramjets", Naval Postgraduate School, Rept. NPS-57NT74081, Jul. 1974.

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Page 144: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

APÊNDICE A Equações de Conservação e Transporte na Média de Favre 1ª DEMONSTRAÇÃO: Equação da Continuidade - Regime Permanente

0��

ii

xu )(�

(A.1)

Decompondo as variáveis segundo Reynolds :

0)~)(( �������

�� ii

i

uux

�� 0) ( ���������

�� iiii

i

uuuux

����

(A.2)

Operando-se a média de Reynolds no tempo e usando as propriedades das médias

têm-se:

� �

0) ( ���������

�i

zero

iizero

ii

uuuux

���� (A.3)

0) ( �����

�� ii

i

uux

�� (A.4)

mas pelas igualdades mostradas nas eqs. (3.30) e (3.31) temos:

���� �

~ e

������ ����~

(A.5)

Assim, na eq. (A.4) podemos escrever

0)~( ��

ii

ux

� (A.6)

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Page 145: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 144

2ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Momentum - Regime Permanente

j

ji

iij

j xt

xpuu

x �

��

���

� )(� (A.7)

j

jiji

iiijj

j xtt

xppuuuu

x �

����

�����������

��

)()()]~)(~([�(A.8)

j

jiji

iijijijij

j xtt

xppuuuuuuuu

x �

����

����������������

��

)()()~~~~( ���� (A.9)

Operando-se a média de Reynolds no tempo e usando as propriedades das médias

temos:

�� j

ji

iijj

zeroii

zerojij

j xt

xpuuuuuuuu

x �

��

��������������

�� )~~~~( ����

(A.10)

)()~~( ijjiji

ijj

uutxx

puux

������

��

���

���

(A.11)

3ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Conservação da Energia - Regime

Permanente

j

jjii

jiij

j xq

tux

uuhux �

��

���

���

� �

��

� )(21

(A.12)

j

jjjii

jiiiijj

j xqq

tux

uuuuhhuux �

����

��

���

���

� ��������������

��

)()()~)(~(

21~)~( ��

(A.13)

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Page 146: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 145

iijjjjjj

uuuhuhuhuhux

~~~~~~~(21

����� �������������

�iijiij uuuuuu ��������

~~~��

21

���������������� )~~~iijiijiij uuuuuuuuu ���

21

21

j

jjjii

j xqq

tux �

����

� )()(

(A.14)

Operando-se a média de Reynolds no tempo e usando as propriedades das médias

temos:

����������������������

ijiiijiijjjjjj

uuuuuuuuuhuuhhuhux

~~21~~~

21~~~~~( �������

j

jjjii

jiijiijiij x

qqtu

xuuuuuuuuu

����

�����������������

)()()~

21~~

21

���(A.15)

�������������

�� huuuuuuuhu

x jiijiijjj

����21~~~

21~~~(

j

jjii

jiijiij x

qtu

xuuuuuu

��

�������������� )()~

21

��

(A.16)

��������

�� ]

21~)~~

21~(~[ iijiij

j

uuuuuhux

��

)()~21( jii

jiijiijjj

j

tux

uuuuuuhuqx �

��������������������

�� ���

(A.17)

Por definição temos:

iiuu �����21

��� (A.18)

iiuuhH21

�� (A.19)

onde H é a entalpia de estagnação. Decompondo o lado direito de (A.19) em

valores médios e flutuações temos:

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Page 147: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 146

iiiiii uuuuuuhhH �������������21~~~

21~

(A.20)

Multiplicando-se por �, operando-se a média de Reynolds no tempo e utilizando-

se as propriedades da média temos:

iiiiii uuuuuuhhH ��������������21~~~

21~

������ (A.21)

iiii uuuuhH ��������21~~

21~~

����(A.22)

����� iiuuhH ~~~~21 (A.23)

De (A.23) em (A.20) pode-se obter diretamente o valor de H �� abaixo

iiiiii uuuuuuhhHH ����������������21~~~

21~~

(A.24)

���������������� iiii uuuuhH21~

(A.25)

Tomando-se (A.23), (A.25), (A.20) e lembrando-se que 0��� �� ju , pode-se

rescrever a expressão (A.17) como

���������������

����

�iijjj

jiij

juuuhuq

xuuhu

x 21

21

���� ()]~~~(~[

)()~jii

jjiij tu

xuuuu

���������� ���

(A.26)

)(])~([]~~[ jiij

iiiijjj

jj

tux

uuuuhuqx

Hux �

�����������������

��

�� ���

21 (A.27)

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Page 148: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 147

)(][]~~[ jiij

jjj

jj

tux

Huqx

Hux �

��������

��

�� ��

(A.28)

4ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Conservação das Espécies - Regime

Permanente

� � llj

jlj

j

RJx

mux

��

���

�� (A.29)

lllj

lj

jlljj

j

RRJJx

mmuux

������

���������

�� )()]~)(~([� (A.30)

lllj

lj

jjjljljlj

jRRJJ

xmumumumu

x�����

��������������

� )()~~~~( ���� (A.31)

Operando-se a média de Reynolds no tempo e usando as propriedades das médias

temos:

lj

lj

jjjlljljj

RxJ

muummumux

��

��������������

�� )~~~~( ���� (A.32)

ljjlj

jlj

j

RmuJx

mux

��������

��

�� )()~~( �� (A.33)

5ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Transporte da Fração de Mistura - Regime

Permanente

Definiu-se fração de mistura de acordo com a expressão

1��

�s

msmf oxfu (A.34)

e pela reação de único passo controlada pelo grau de mistura tem-se:

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Page 149: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 148

01

sRsR oxfu (A.35)

Decompondo-se as frações em massa de combustível e oxidante temos:

fufufu mmm ����~ (A.36)

oxoxox mmm ����~ (A.37)

De (A.34) e (A.35), (A.36) e (A.37) tem-se

oxfuoxfu ms

mssm

sm

ssf ��

����

��

��

��

11

1~

11~

1 (A.38)

Da expressão (A.34), deduz-se que:

1

~~~�

��

smms

f oxfu (A.39)

1�

�����

���

smms

f oxfu (A.40)

O fluxo difusivo definido pela Lei de Fick é expresso por

j

ll

lj x

mJ

���� (A.41)

Uma das hipóteses usadas para o escoamento é de número de Lewis unitário

(Le=1). Logo os coeficientes de difusão das espécies são iguais ( fuoxl ����� ).

Definiu-se, então

1�

��

sJsJ

Joxj

fujf

j (A.42)

Assim,

jf

oxj

fujf

j xf

sJJsJ

����

��

~

1 (A.43)

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Page 150: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 149

Agora, aplicando a expressão apresentada em (A.33) para o combustível e

oxidante têm-se

fufujfuj

jfuj

j

RmuJx

mux

��������

��

� )()~~( �� (A.44)

oxoxjoxj

joxj

j

RmuJx

mux

��������

��

�� )()~~( �� (A.45)

Realizando-se a operação � �)45.A()44.A(1

1�

ss

e utilizando-se os resultados de

(A.39-A.42) obtêm-se a seguinte expressão para equação de transporte da fração

de mistura na média de Favre.

)()~~( fuJx

fux j

fj

jj

j

�������

��

��� (A.46)

6ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Transporte da Variância da Fração de Mistura

- Regime Permanente

Por definição

22 )~( fffg f ����� (A.47)

A equação de transporte da fração de mistura instantânea é expressa por

fj

jj

j

Jx

fux �

���

� )(� (A.48)

Multiplicando-se a eq. (A.48) por f �� e tomando-se a média de Reynolds

fj

jj

j

fj

jj

j

Jx

ffux

fJx

ffux

f�

�����

����

�����

��� )()( �� (A.49)

Trabalhando-se os lados da eq. (A.49) separadamente

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Page 151: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 150

- Lado esquerdo

jjj

jj

j xfufu

xfffu

xf

����

����

��� ��� )()( (A.50)

Usando-se a equação da continuidade, eq. (A.1) na eq. (A.50)

jj

jjj

jjj

j xfuf

xfuuf

xfuffu

xf

������

�������

����

���� ����

~)~()(

��

������

������

����

jj

jj

jj x

ffuxfuf

xfuf ���

~~~

����

��

������

����

������ )(

~~2

2

21

21 fu

xxfuf

xfu

xfuf j

jjj

jj

jj ����

)()~()~(~

22221

21

21 fu

xfu

xfu

xxfuf j

jj

jj

jjj ����

����

����

��

������ ����

(A.51)

)()~(~

2221

21 fu

xfu

xxfuf j

jj

jjj ����

����

��

������ ��� (A.52)

- Lado direito

Usando-se (A.43) têm-se

��

��

���

���

��

��

���

��

��

���

����

jf

jjf

jjf

j

fj

j xf

xf

xf

xf

xf

xfJ

xf ���

~

��

��

���

���

��

��

�����

��

��

��

����

jjf

jf

jjf

j xf

xf

xff

xxf

xf

~

(A.53)

)~

(21 2

jf

jjjf

j

f

j

fj

j xf

xf

xf

xf

xf

xJ

xf

��

����

���

�����

��

����

��

���� (A.54)

Usando (A.47) e substituindo (A.52) e (A.54) em (A.49)

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Page 152: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 151

��

�����������

��

��

jjj

j

ff

jfj

j xffufu

xg

xgu

x

~)(

21)~(

21 2

���

)~

(j

fjjj

f xf

xf

xf

xf

��

����

���

�����

(A.55)

��

�����������

��

��

��

jjj

j

ff

jfj

j xffufu

xg

xgu

x

~2)()~( 2���

)~

(22j

fjjj

f xf

xf

xf

xf

��

����

���

�����

(A.56)

7ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Transporte da Energia Cinética Turbulenta -

Regime Permanente

O ponto de partida para a demonstração é a diferença entre a equação instantânea

de conservação da quantidade de movimento e a equação média.

j

ji

iij

j xt

xpuu

x �

��

���

� )(�

j

jiji

iijijijij

j xtt

xppuuuuuuuu

x �

����

����������������

��

)()()~~~~( ���� (A.57)

)()~~( ijjiji

ijj

uutxx

puux

������

��

���

��� (A.58)

Resultando em

j

ji

iijijij

j xt

xpuuuuuu

x �

���

��������������

� )~~( ��� (A.59)

Multiplicando-se por iu �� e efetuando-se a média de Reynolds têm-se

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Page 153: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 152

j

jii

iiijijij

ji x

tu

xpuuuuuuu

xu

�����

����������������

��� )~~( ��� (A.60)

Trabalhando o lado direito

������������

��� )~~( ijijij

ji uuuuuux

u ���

���

���

��

��

����

��� )()~()~(

22

22i

jj

ij

jij

ji

uu

xu

ux

uux

u ���

���

���

��

��

��

�����

���

���

��

��

��

������

�����

)()~(~

)()](~[~~

22

22

22

22

ij

ji

jjj

iji

ij

ji

jj

zero

j

jii

ji

ji

uu

xu

uxx

uuu

uux

uuxx

uuu

xuuu

���

���

���

(A.61)

Trabalhando o segundo termo do lado esquerdo

ji

jijiji

j

jii x

utx

ut

xt

u�

�����

����

��

���� (A.62)

Substituindo eq. (A.61) e (A.62) em (A.60), temos

ji

jijiji

ii

ij

jji

jijj x

ut

x

ut

xpu

uu

xxu

uuux �

�����

����

��

�����

����

��

�������

� )(~

)~(2

2���� (A.63)

Porém, por definição têm-se:

����

����

ji

ji xut (A.64)

Então a eq. (A.47) pode ser escrita como

������ ��

���������������

��

�������

iiiijiji

jji

jijj x

puuuuutxx

uuuux

)(~

)~(21 (A.65)

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Page 154: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice A 153

8ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Transporte da Taxa de Dissipação da Energia

Cinética Turbulenta - Regime Permanente

Por definição:

j

i

j

i

xu

xu

���

������ (A.66)

Sejam as equações de conservação da quantidade de movimento apresentadas por

(A.7) e (A.11). Para se obter a equação de transporte de � deve-se efetuar a

seguinte operação:

l

i

l xu

x �

����

� )]7.A()11.A[(� (A.67)

Obtêm-se a seguinte expressão:

��

���

��

�������

��

�����

l

iij

jll

iij

jll

iij

jl xu

uuxxx

uuu

xxxu

uuxx

)]~~([)]([)]~([ ������

��

�����

��

��

��

����

�����

��

l

i

j

ij

ll

i

ill

iij

jl xu

xt

xxu

pxxx

uuu

xx���� ][)]~([

l

iij

jl xu

uuxx �

�������

�� )]([ ��

(A.68)

A expressão acima contêm vários termos que necessitam de tratamento

algébrico. A hipótese básica para a simplificação de alguns termos é de que a

produção de energia cinética turbulenta tem que ser compensada pela sua taxa de

dissipação. Assim, analisando-se os termos de fonte da eq. (A.65), a eq. (A.68)

pode ser expressa por:

���

��

���

���

��

i

j

il

ij

jjj

j xu

xp

xu

uxx

ux

����

��� 2)~(2

���

���

���

��

���

���

���

��

���

���

� ���

������

li

jli

jii

ji

ij xu

xxu

xxpu

xu

uuk

C ���� 21

~

(A.69)

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Apêndice A 154

9ª DEMONSTRAÇÃO: Equação de Estado – Gases Perfeitos

A equação instantânea dos gases perfeitos é expressa por:

���

l l

l

MmTp � (A.70)

Assim, pode-se escrever

����

�������

l l

ll

MmmTTpp )~()~(� (A.71)

Efetuando-se a média de Reynolds no tempo da eq. (A.71) e desprezando-se as

correlações entre flutuações de temperatura e fração em massa têm-se:

�����

�������

����

l l

ll

l l

ll

MmmT

MmmTpp )~()~(~

�� ����

l l

l

MmTp~~

� (A.72)

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APÊNDICE B B.1 Implementação das Condições de Contorno

Foi definido que o domínio computacional têm até seis tipos de regiões

onde as condições de contorno são estabelecidas: entrada, saída, simetria,

superfície do combustível sólido, interior do combustível sólido (região

bloqueada) e paredes adiabáticas. Também foi mencionado no capítulo 4 que o

tipo de condição de contorno ou região irá influenciar na implementação dos

coeficientes de difusão (�

� ) para alguns pontos, bem como pode determinar a

inclusão de fontes adicionais ( adcS , e adpS , ) nas equações discretizadas de

conservação e transporte das variáveis. Nesse apêndice serão mostrados alguns

detalhes da implementação das condições de contorno de acordo com o tipo de

região no domínio computacional.

B.1.1 Entrada

No capítulo 4 foi mostrado que na entrada as variáveis têm valores

definidos, obtidos por estimativa ou parâmetros de projeto. Portanto, na entrada

não há necessidade de fontes adicionais ou alterações nos coeficientes de difusão

nas equações discretizadas de conservação ou transporte de nenhuma variável.

B.1.2 Simetria e Saída

Na linha de simetria, a condição de contorno para todas as variáveis � ,

exceto a velocidade radial, consiste em gradiente nulo na direção radial. Para a

componente radial da velocidade temos valor nulo na simetria.

Para a saída do domínio computacional adotou-se como condição de

contorno desprezar o fluxo difusivo na direção axial de todas as variáveis. A

maneira mais simples de implementar um gradiente nulo (ou fluxo difusivo nulo)

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Apêndice B

156

é definir o valor do coeficiente de difusão como nulo. Então, na simetria os

valores de �

� devem ser nulos para todas as variáveis, exceto v, e na saída os

valores de �

� devem ser nulos para todas as variáveis. Não são necessárias fontes

adicionais nesse caso. A Tabela B.1 apresenta o resumo das condições de

contorno na simetria e saída:

Velocidade Radial – v~ Demais variáveis

Coeficiente de difusão Fontes Adicionais Coeficiente

de difusão Fontes Adicionais

v� adcS , adpS , �

� adcS , adpS ,

Simetria Não é alterado 0 0 0 0 0

Saída 0 0 0 0 0 0

Tabela B.1 - Implementação das condições de contorno na saída e eixo de simetria.

B.1.3 Paredes Adiabáticas

Foi mostrado, até o momento, como funciona a implementação das

condições de contorno no caso de variáveis com valores definidos e variáveis cujo

fluxo difusivo é nulo. No capítulo 4 foram estabelecidas as condições de contorno

para as paredes adiabáticas. A principal novidade nesse tipo de região são as

funções de parede. Inicialmente, a título de ilustração, a fig. B.1 mostra um

modelo de distribuição da malha computacional numa região próxima à parede da

câmara de mistura posterior (uma das paredes adiabáticas).

Figura B.1 - Malha computacional próximo à parede da câmara de mistura posterior.

Utilizando-se as expressões deduzidas para a tensão de cisalhamento na

parede em função de �

Py , pode-se implementar a lei da parede para a velocidade

u~ . Uma vez que existe ponto nodal sobre a parede (como é o caso da parede da

● ● ●

● ●

●●

P (I,J)

δ

Parede da CMP

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Apêndice B

157

câmara de mistura posterior mostrado na fig. B.1), o procedimento consiste em

alterar o valor de gama na parede para a variável u~ ( wu ,� ) utilizando-se as

expressões abaixo:

Se 5,11��

Py lamwu ���� , (B.1)

Se 5,11��

Py)ln(1,

���

P

Plamwu

Ey

y

� (B.2)

De forma análoga, deduz-se expressões para a implementação da lei da

parede para a velocidade v na parede vertical do degrau na entrada do combustor.

Se 5,11��

Px lamwv ���� , (B.3)

Se 5,11��

Px)ln(1,

���

P

Plamwv

Ex

x

� (B.4)

Na região próxima à parede considera-se gradiente nulo da energia cinética

em relação a direção normal à parede, conforme discutido no capítulo 4. Foi

mostrado ainda que, considerando equilíbrio entre produção e destruição de

energia cinética e considerando o perfil logarítmico de velocidade, pode-se

determinar a dissipação da energia cinética turbulenta no ponto logo acima da

parede.

P

PP y

kC�

��

2/34/3

� (B.5)

Assim, as condições de contorno adotadas para k e � , de acordo com as

funções de parede, implicam em adotar gradientes nulos nas paredes para ambas

as variáveis (definindo 0,, ���� wwk �) e fixar ���

�/2/34/3

PP kC� para o valor

da taxa de dissipação da energia cinética turbulenta no primeiro ponto nodal logo

acima da parede. Isso foi feito, definindo-se os seguintes valores para as fontes do

primeiro ponto acima da parede na equação discretizada de transporte de � :

3010��pS e 302/34/3

10.��

� Pc

kCS � (B.6)

No caso das paredes adiabáticas, o fluxo difusivo das variáveis H~ , f~ e gf

através das paredes é nulo. Portanto, basta definirmos 0,,~,~ ������ wgwfwH f.

Não existem fontes adicionais para essas variáveis nesse caso.

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Apêndice B

158

A Tabela B.2 resume a implementação das condições de contorno nas

paredes do degrau na entrada da câmara de combustão e paredes da câmara de

mistura posterior - CMP.

Variável Parede Condição de contorno w,�

� adcS , adpS .

Degrau u~ = 0 0 0 0

u~ CMP u~ =0

5,11��

Py

lamwu ���� ,

5,11��

Py

)ln(1,�

���

P

Plamwu

Ey

y

0 0

Degrau 0~�v

5,11��

Px

lamwv ���� ,

5,11��

Px

)ln(1,�

���

P

Plamwv

Ex

x

� 0 0 v~

CMP 0~�v 0 0 0

Degrau �k 0��

xk

0 0 0 k

CMP �k 0��

rk

0 0 0

Degrau 0�

��

x�

����

/2/34/3PP kC�

0 3010.P� 3010�

CMP 0�

��

r�

����

/2/34/3PP kC�

0 3010.P� 3010�

Degrau 0~�

xH

0 0 0 H~

CMP 0~�

rH

0 0 0

Degrau 0~�

xf

0 0 0 f~

CMP 0~�

rf

0 0 0

Degrau gf = 0 0 0 0 gf CMP gf = 0 0 0 0

Tabela B.2 - Implementação das condições de contorno nas paredes da câmara de mistura posterior e do degrau na entrada do combustor.

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Apêndice B

159

A parede vertical do combustível sólido também foi considerada adiabática,

conforme discutido no capítulo 4. O tratamento dessa parede é um pouco diferente

das outras duas anteriores, visto que, nesse caso não existem pontos nodais sobre

a mesma. A fig. B.2 mostra a malha computacional próximo à parede vertical do

combustível sólido.

Região do combustível sólido

_____ Parede vertical do combustível sólido Figura B.2 - Malha computacional próximo à parede vertical do combustível sólido.

Nesse caso, a única diferença com relação às paredes adiabáticas anteriores

reside na implementação da lei da parede para v~ . Como não existe ponto nodal

sobre a parede, utiliza-se o artifício das fontes adicionais na equação discretizada

de conservação da quantidade de movimento para v~ . O procedimento consiste em

se definir o coeficiente de difusão da variável no primeiro ponto interno próximo a

parede (W) como nulo, isto é, 0, �� Wv . Daí, introduz-se a força de cisalhamento

na parede ( celww AF ��� ) como fonte adicional na equação discretizada de

conservação da quantidade de movimento para v~ no ponto P. Assim, tem-se

Se 5,11��

Px 0, ��� Wv e �

� cellamadp

AS ��, (B.7)

● ● ●

● ●

●●

P (I,J)δ

● ● ● ●

W (I-1,J)

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Apêndice B

160

Se 5,11��

Px 0, ��� Wv e cel

P

Plam

adp AEx

x

S)ln(1(

.�

��

��

(B.8)

onde Acel é a área da face do volume de controle em contato com a parede para P.

A Tabela B.3 resume a implementação das condições de contorno para as

variáveis na parede vertical do combustível sólido.

Variável Condição de contorno W,�

� adcS , adpS .

u~ 0~�u 0 0 0

v~ 0~�v 0 0

Se 5,11��

Px

�� cel

lamadpAS ��� ,

Se 5,11��

Px

cel

P

Plam

adp AEx

x

S)ln(1(

.�

���

��

k �k 0��

xk

0 0 0

� 0�

��

x�

����

/2/34/3PP kC�

0 3010.P� 3010�

H~ 0~�

xH

0 0 0

f~ 0~�

xf

0 0 0

gf gf = 0 0 0 0 Tabela B.3 - Implementação das condições de contorno na parede vertical do combustível sólido. B.1.4 Superfície do Combustível Sólido

A título de ilustração, a fig. B.3 mostra um modelo de malha computacional

na região próxima à superfície do combustível sólido. Da mesma forma que na

parede vertical do combustível sólido, na sua superfície também não existem

pontos nodais da malha computacional.

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Apêndice B

161

Região do combustível sólido - fg (fuel grain)

_____ Superfície do combustível sólido - bw (blowing wall) Figura B.3 - Malha computacional próximo à superfície do combustível sólido.

Foram deduzidas as eq. (4.31) e (4.32) para a tensão de cisalhamento na

parede no caso de blowing. Após o cálculo de bw� pode-se implementar uma lei

da parede modificada para a velocidade u~ na superfície do combustível sólido.

Uma vez que os pontos nodais não coincidem com a superfície (como mostrado

na fig. B.3), o procedimento consiste em definir 0, �� Nu e introduzir a força de

cisalhamento na parede ( celbwbw AF ��� ) como fonte adicional na equação

discretizada de conservação da quantidade de movimento para u~ no ponto P.

Assim, tem-se:

Se 5,11��

Py 0, ��� Nu e BP

BPAS cel

lamadp)1ln(

,�

��

�� (B.9)

Se 5,11��

Py 0, ��� Nu e BP

BP

Ey

yA

SP

Pcel

lam

adp)1ln(

)ln(1(.

��

��

(B.10)

onde Acel é a área da face do volume de controle em contato com a parede para P.

Foi mostrado que as condições de contorno para � , � e fg nas paredes

sem transferência de massa também podem ser aplicadas à superfície do

combustível sólido, portanto a implementação segue a metodologia adotada para

as paredes adiabáticas da câmara de mistura posterior.

● ● ●

● ●

●●

P (I,J)

δ

● ● ● ●

fg

bw

N (I,J+1)

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Page 163: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice B

162

Para as variáveis escalares conservativas, as condições de contorno são

expressas pelas eq. (4.33) e (4.34). Na implementação dessas condições de

contorno adotou-se o mesmo procedimento usado na lei da parede para a

velocidade u. O coeficiente de difusão no ponto N será nulo para ambas as

variáveis. A condição de contorno é introduzida como termo de fonte adicional

para o ponto P nas equações discretizadas de conservação e transporte de H~ e f~ ,

respectivamente, na forma geral:

celPcbwccelbw

cad AgA

rS

c)(. ,, ��

�� ���

���

��

celbwcadc AgS ,, ��� e celadp gAS ��,

(B.11)

onde Acel é a área da face do volume de controle em contato com a parede para P.

A Tabela B.4 resume a implementação das condições de contorno para a

superfície do combustível sólido.

Variável Condição de contorno N,�

� adcS , adpS .

u~ 0~�u 0 0

Se 5,11��

Py

BPBPAS cel

lamadp)1ln(

,�

���

��

Se 5,11��

Py

BPBPA

Ey

y

S cel

P

Plam

adp)1ln(

)ln(1(.

����

��

v~ wvv ~~� 0 0 0

k �k 0��

xk

0 0 0

� 0�

��

x�

����

/2/34/3PP kC�

0 3010.P� 3010�

H~ 0~�bwH 0 0

Se 5,11��

Py

BPBPAS cel

lamadp)1ln(

,�

���

��

Se 5,11��

Py

BPBPA

Ey

y

S cel

P

Plam

adp)1ln(

)ln(1(.

����

��

gf gf = 0 0 0 0

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Page 164: Análise Computacional do Escoamento no Interior do

Apêndice B

163

Variá-vel

Condição de

contorno N,�

� adcS , adpS .

f~ 1~�bwf

0

Se 5,11��

Py

BPBPA

S cellamadc

)1ln(,

���

��

Se 5,11��

Py

BPBPA

Ey

y

S cel

P

Plam

adc)1ln(

)ln(1(.

���

��

Se 5,11��

Py

BPBPAS cel

lamadp)1ln(

,�

���

��

Se 5,11��

Py

BPBPA

Ey

y

S cel

P

Plam

adp)1ln(

)ln(1(.

����

��

Tabela B.4 - Implementação das condições de contorno na superfície do combustível

sólido.

B.1.5 Interior do Combustível Sólido

Considerou-se como a região do interior do combustível sólido aquela na

qual todas as variáveis têm valores definidos e constantes, uma vez que não há

escoamento dentro dela e a mesma foi admitida isotérmica. Essa região é o que se

costuma chamar na literatura de "região bloqueada"(58). Existem duas maneiras de

se tratar essa região. A primeira é estipular um valor bastante alto para o

coeficiente de difusão (no presente trabalho adotou-se o valor de 1030) das

variáveis, tomando-se cuidado com as regiões próximas à superfície do

combustível sólido, onde as leis da parede foram aplicadas. Dessa forma, todas as

informações da fronteira são passadas para o interior do domínio computacional.

A segunda consiste em adotar coeficientes de difusão nulos em toda região e fixar

os valores das variáveis com o uso das fontes dominantes. Assim, se uma variável

deve ter um valor P� num ponto P da malha computacional dentro da região

bloqueada, então 0, �� P� e as fontes para o mesmo ponto serão dadas por:

PcS ��

30, 10� e 30

, 10���pS . Após a solução numérica ter atingido o critério de

convergência, essa região é novamente "decorada", fazendo com que as variáveis

assumam seus valores corretos dentro dela.

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