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XVIIº ENCONTRO NACIONAL DOS QUÍMICOS E TÉCNICOS DA INDÚSTRIA DO COURO
Título:
ANÁLISE COMPARATIVA DO TANINO DE TARA CULTIVADA x NATIVA
Autores:
Transformadora Agrícola SA – Gutiérrez, Jaime / Loli, Héctor ([email protected]).
Grupo Mathiesen – Kolling, Carlos ([email protected]).
1. Resumo:
A indústria curtidora mundial faz uso com freqüência de extratos vegetais. Seja para confecção de couros
pleno vegetal ou combinando-os com curtentes minerais ou sintéticos. Sobre esta freqüente busca, destacamos a
vasta variedade de opções disponíveis. Desenvolvemos processos de curtimento ou recurtimento de couros com
extratos de Castanheiro, Quebracho, Mimosa, Valônea, Mirabolano, Gambir, Sumac e Tara, apenas para citar os
mais comuns. Esta última, Caesalpinea Spinoza, até o presente momento era obtida através da colheita extrativista
de arbustos nativos do Peru.
Dentro deste universo de taninos vegetais, podemos destacar duas metodologias de obtenção destas matérias
primas:
Extrativismo
Método originalmente desenvolvido para colheita da Tara.
O conceito do extrativismo contempla toda atividade de coleta de produtos naturais, sejam estes produtos de
origem animal, vegetal ou mineral. É a mais antiga atividade humana, antecedendo a agricultura, a pecuária e a
indústria. Praticado mundialmente através dos tempos por todas as sociedades.
Cultura Agrícola
Agricultura é a arte ou processo de usar o solo para cultivar plantas com o objetivo de obter alimentos, fibras,
energia e matéria prima para roupas, construções, medicamentos, ferramentas e contemplação estética.
Caracterizada pela prévia opção do produto a ser plantado ou colhido.
Acompanhada pelo acurado controle das condições de plantio, preservação e renovação dos bens cultivados.
Conceito adotado pela Transformadora Agrícola para disponibilizar matérias primas vegetais à produção de
pó de Tara Micronizado, entre outros.
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2. Fator Inovação
Considerando-se os conceitos acima mencionados – Extrativismo e Cultura Agrícola – a empresa
Transformadora Agrícola SAC quebrou o paradigma. Como é de domínio público, a Tara é um arbusto nativo
explorado por extrativismo desde tempos remotos. As propriedades curtentes da vagem, moída e micronizada são
bastante conhecidas e sua aplicação é difundida em curtumes que produzem todo tipo de couros, com destaque
especial ao estofamento automotriz ou de móveis.
Com base nesta informação, os engenheiros da empresa desenvolveram tecnologias e sistemas de cultivo, que
possibilitaram a produção controlada deste tanino vegetal. Ao contrário do tradicional sistema de coleta do arbusto
silvestre, que utiliza matérias primas extraídas da natureza.
Pela primeira vez na história da indústria curtidora mundial, realizou-se uma pesquisa comparativa entre as
propriedades curtentes do Pó de Tara Micronizado obtido pelo extrativismo, com o produto similar obtido a partir de
culturas controladas. A primeira foi resultado da extração da vagem de arbustos naturais da região do centro sul do Peru.
A segunda foi selecionada depois de elaborado estudo genético, visando aperfeiçoar o plantio, a manutenção e o ótimo
rendimento da colheita.
3. Conceito do Tanino de Tara:
O pó de Tara é uma fonte natural de taninos.
É produzido a partir da vagem de uma leguminosa de nome Tara, conhecida como Caesalpinea Spinoza.
Trata-se de um tanino vegetal de classe pirogálico, com uma pequena quantidade de catequínicos.
É solúvel em água, possui pH ácido + 3,6 e boa solidez à luz.
Sementes de Tara Vagem madura de Tara
4. Características
A Tara Micronizada é um pó bege claro, solúvel em água, com densidade de 0,52 g/cm3, 5 – 10% de umidade e
que apresenta aproximadamente 57% de taninos.
O tanino de Tara aporta ao couro coloração clara e uniforme, resultando em artigos com bom enchimento e
maciez pronunciada. Produz couros com felpa curta e excelente lixabilidade.
É suscetível aos sais de ferro, resultando em escurecimento pronunciado.
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5. Classificação dos materiais curtentes segundo as principais matérias primas:
1. Casca – Mimosa, Encina e Pinho;
2. Madeira – Quebracho, Castanheiro, Encina, entre outros;
3. Folhas – Gambir e Sumac;
4. Frutos – Mirabolano, Valônea e Tara;
6. Tabela comparativa entre os Taninos Vegetais mais usados:
EXTRATO TANANTES NÃO TANANTES INSOLÚVEIS
Acácia Negra 75% 18% 1,0%
Quebracho 78% 8% 0,1%
Castanheiro 73% 21% 0,2%
Mirabolano 70% 18% 2,0%
Valônea 68% 22% 0,5%
Sumac 62% 30% 1,0%
Gambir 50% 17% 12,0%
Tara Nativa 57% 22% 0,8%
Tara Cultivada 59% 20% 1,0%
Fonte: Manual para a Indústria do Couro
7. Projeto de Tara Cultivada:
Um dos maiores limitantes da produção de pó de Tara Micronizado é a fonte das matérias primas, seja pela
sazonalidade dos arbustos nativos que recebem água da chuva de maneira natural, seja pela limitante geográfica. Esta
última resulta na inacessibilidade logística aos arbustos de tara, que estão naturalmente distribuídos em regiões
montanhosas ou de péssimas vias.
Relacionamos os principais objetivos do projeto de cultivo controlado dos arbustos de Tara:
1. Controlar o acesso às plantas, sem interferências meio ambientais;
2. Controlar o volume de frutos cultivados, possibilitando manejo controlado da produção;
3. Controlar a qualidade do fruto tanto no que refere à genética, quanto à colheita madura da vagem.
4. Recuperação agrícola dos 200 hectares de terreno desértico;
5. Desenvolvimento da região, com a geração de empregos diretos e indiretos;
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Arbustos de Tara nativa.
Panorama antes do cultivo; A mesma área depois de seis meses.
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Vista com irrigação instalada; Detalhe de planta irrigada.
As imagens ilustram o projeto dos 200 hectares de terra desértica, com rochas de origem vulcânica e baixo teor de
água e nutrientes. Na seqüência vemos as fileiras de arbustos recém cultivados, sendo que no detalhe verificamos o
moderno sistema de irrigação que possibilita o controle de umidade e aporte de micro nutrientes, vitais ao
desenvolvimento da planta. Foram cultivados 625 arbustos por hectare que produzirão 400 toneladas mensais de tara
micronizada.
Cacho de flores que precedem a vagem; Detalhe de arbustos irrigados por canaletas.
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Cacho de vagem verde; Detalhe de arbustos irrigados por canaletas.
Cacho de vagem madura; Sementes de Tara usadas na indústria de alimentos.
8. Análise Comparativa entre a Tara Nativa e a Tara Cultivada:
Foram feitas análises químicas comparando os dois pós de Tara obtidos após processo de micronização.
O principal objetivo foi comprovar a qualidade similar de ambos os produtos.
Os dados investigados de maior relevância foram taninos, não taninos, sólidos solúveis, sólidos insolúveis, sólidos
totais, cinzas, conteúdo de ferro e pH.
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Vejamos a tabela obtida:
Análise Tara Nativa Tara Cultivada
Tanantes 54,9 % 55,0 %
Não Tanantes 4,3 % 4,2 %
Sólidos Solúveis 59,0 % 59,5 %
Sólidos Totais 83,4 % 84,0 %
Sólidos Insolúveis 24,4 % 24,5 %
Cinzas 3,25 % 3,19 %
Ppm de Ferro 2,5 >10
pH 3,7 3,6
Como se observa, os valores analíticos são bastante esclarecedores. O produto obtido a partir do cultivo da Tara é
similar ao normalmente aportado ao mercado, com um pequeno detalhe, menos presença de ferro.
A explicação vem do método de colheita, que no sistema de cultivo é muito mais controlado, evitando que as
vagens coletadas se sujem com terra. O solo é de origem vulcânica e apresenta alto conteúdo de sais de ferro.
9. Aplicação em Fulão da Tara Nativa e da Tara Cultivada:
O método adotado para avaliação dos taninos obtidos, foi o de aplicação comparativa em couros.
Os ensaios foram realizados primeiramente em fulão de testes e posteriormente reproduzidos em escala industrial.
Com uma fórmula desenhada para o recurtimento de couros tipo Napa Estofamento, aplicamos sobre os couros
em testes paralelos, o primeiro lote foi feito com tanino de Tara Cultivada e o segundo com a Tara Nativa.
Foram utilizados couros curtidos ao cromo – wet blue inteiro – divididos e posteriormente rebaixados a 1,0 – 1,2
mm de espessura. A classificação não foi considerada na eleição das peças.
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nº 01 ensayo / trial: Napa Estofamento Low Fogging
fecha / date: firma / company: técnico / technician:
20.03.05 Transformadora Agrícola
estado / condition: grosor / thickness tipo / type: peso / weight % referido a / refer to:
Wet Blue 1,1 mm inteiro 150 rebaixado
proceso / process % Kg productos / products ºC time observaciones / notes
Lavagem 250.00 375.00 Água 35
0.25 0.38 Tensoativo nao iônico 20 min
Esgotar
Recromagem 100.00 150.00 Água 35
3.00 4.50 Sal de Cromo 33% bas. 5 min
1.50 2.25 Tanino Complexo Ativo 30 min pH: 3,8
no mesmo banho
Neutralizaçao 30.00 45.00 Água 35
1.50 2.25 Formiato de Sódio
1.00 1.50 Bicarbonato de Sódio 10 min
3 4.50 Óleo Low Fogging 50 min pH: 5,5
Esgotar e lavar ∅ vbc: azul atravessado
Recurtimento 80.0 120.00 Água 45
10.0 15.00 Tanino de Tara
2.0 3.00 Tanino sintético 5 min pela boca
3 4.50 Óleo Low Fogging 35 min pelo eixo
20.0 30.00 Água
3.0 4.50 Tanino naftalênico 5 min
3.0 4.50 Corante 40 min
1.0 1.50 Ácido Fórmico (1:10) 20 min esgotamento total
Esgotar e Lavar pH: 3,7
Engraxe 100.0 150.00 Água 60
12 18.00 Óleo Low Fogging 60 min bom esgotamento
1.2 1.80 Ácido Fórmico (1:10) 20 min pH: 3,9
Esgotar e Lavar bien
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7.208.76 8.99
Norma IUP 9 Nativa Cultivada
Lastômetro
120158 163
Norma IUP 8 Nativa Cultivada
Rasgamento
250
300287
Norma IUP 6 Nativa Cultivada
Tração
10. Resultado Físico – Mecânico dos Couros Semi – Acabados.
Uma vez secos, condicionados e devidamente amaciados, retiram-se amostras dos couros testados e enviados a
laboratório credenciado para avaliação de qualidade.
Os testes escolhidos para avaliação dos couros foram:
Lastômetro –
Avalia a elasticidade da flor dos couros; O resultado é expresso em milímetros de elongação da flor.
Rasgamento Contínuo –
Verifica a resistência das fibras, em especial sobre couros recurtidos fortemente com taninos vegetais (adstringência);
Tração – identifica resistência mecânica das fibras;
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DIN 75201 Nativa Cultivada
Fogging Gravimétrico
Fogging –
Analisa possíveis voláteis presentes na estrutura fibrosa dos couros para estofamento de automóvel.
11. Conclusões
A constante evolução das matérias primas e a capacidade de superação do ser humano comprovam neste estudo,
que é possível disponibilizar de um recurso natural de maneira controlada.
Os resultados deste trabalho são bastante conclusivos, podemos contar com uma nova modalidade de taninos de
Tara Cultivada. As usuais crises de fornecimento ou variáveis de sazonalidade farão parte de um passado recente e
permitirão ao usuário uma nova percepção de qualidade.
Qualidade esta, que em nosso entender, é o elo fundamental da corrente produtiva, será mantida no que tange à
performance do produto. Como foram avaliados nesta investigação, os quesitos de produto – como tanino – foram
plenamente mantidos e até melhorados. Os couros apresentaram excelentes características e mantiveram a qualidade
requerida em relação ao aspecto e às resistências físicas.
Os aspectos ambientais também foram plenamente atendidos. Na primeira fase foram cultivados 100 hectares de
arbustos de tara e o projeto contempla outros 100 hectares de terreno árido e improdutivo.
O fator humano também teve relevo no projeto. Estão em plena atividade 40 pessoas que se ocupam de plantar,
podar, colher e transportar o fruto da colheita. Por tratar-se de uma região pobre, com alta taxa de desocupação, a
iniciativa da Transformadora Agrícola brindou ao povoado local uma oportunidade única de obter remuneração justa
pelo trabalho no campo.