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  • Joo Andr Custdio Tangarrinha

    Anlise comparativa de metodologias

    para avaliao das condies de fundao

    de pavimentos rodovirios

    Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

    Engenharia Civil Perfil de Construo

    Orientador: Mestre Lus Manuel Trindade Quaresma

    Jri:

    Presidente: Prof. Doutor Daniel Aelenei Vogal: Prof. Doutora Simona Fontul

    Vogal: Mestre Lus Manuel Trindade Quaresma

    Dezembro 2011

  • Copyright Joo Andr Custdio Tangarrinha, da FCT/UNL e da UNL

    A Faculdade de Cincias e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa tm o direito,

    perptuo e sem limites geogrficos, de arquivar e publicar esta dissertao atravs de exemplares

    impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro meio conhecido ou que

    venha a ser inventado, e de a divulgar atravs de repositrios cientficos e de admitir a sua cpia e

    distribuio com objectivos educacionais ou de investigao, no comerciais, desde que seja dado

    crdito ao autor e editor.

  • Agradecimentos

    Em primeiro lugar queria agradecer ao Professor Luis Quaresma por todo o apoio,

    disponibilidade, conhecimentos transmitidos, indispensveis para a realizao deste trabalho.

    A todos os meus colegas que, directa ou indirectamente, contriburam para a realizao deste

    trabalho e para a minha formao acadmica.

    Ao Luis Barro pela ajuda e companheirismo, importante para a realizao deste trabalho.

    minha famlia, pelo apoio demonstrado ao longo do meu curso e por terem contribudo para

    a minha formao e educao ao longo de toda a minha vida.

    Ana pela companhia, preocupao, motivao transmitidos durante a realizao deste

    trabalho e noutros momentos.

  • I

    Resumo

    As caractersticas da fundao so essenciais para o bom comportamento do pavimento, para a

    circulao efectuada em fase de obra e para impedir a ascenso da gua por capilaridade, quer a curto

    quer a longo prazo.

    O objectivo do presente trabalho apresentar propostas para melhorar os procedimentos para

    classificao de plataformas de fundao de pavimentos.

    Estas propostas incidem sobre a tradicional forma de classificar plataformas com base em

    tabelas, que em Portugal corresponde ao Manual de concepo de pavimentos para a rede rodoviria

    nacional da JAE (1995).

    Foi tambm analisado uma tendncia mais recente de classificao de plataformas com base

    em ensaios de carga realizados em fase de obra. Apresentam-se sugestes para uma metodologia

    baseada neste tipo de procedimento. Os ensaios de carga analisados foram o FWD e o ECP.

    Palavras Chaves: Plataforma, Fundao de pavimentos, ECP, FWD, Mdulo de defomabilidade

  • III

    Abstract

    The characteristics of the foundation are essential both for an adequate behavior of road

    pavements and trafficability in the construction stage. The prevention of soil suction is another

    important factor.

    The aim of the present work is to prepare proposals to improve the procedures for classifying

    platforms corresponding to pavement foundation.

    These proposals focus on the traditional way of classifying platforms based on tables, in

    Portugal included in the Manual de concepo de pavimentos para a rede rodoviria nacional of JAE

    (1995).

    The more recent procedures to classify platforms based on load tests performed at the

    construction phase are evaluated and suggestions for a methodology to classify platforms based on this

    type of tests are made. Those load tests are PLT and FWD.

    Key Words: Platform, Pavement foundation, PLT, FWD, Deformability modulus

  • V

    ndice

    1. Introduo ............................................................................................................................ 1

    1.1. Enquadramento do trabalho ......................................................................................... 1

    1.2. Organizao da dissertao .......................................................................................... 1

    2. Terraplenagem ..................................................................................................................... 3

    2.1. Componentes dos trabalhos de terraplenagem ............................................................. 3

    2.1.1. Escavao ............................................................................................................... 4

    2.1.2. Aterro ..................................................................................................................... 5

    2.1.3. Particularidade das infra-estruturas de transporte lineares gesto de materiais .. 7

    3. Propriedades Tenso-Deformao do solo ........................................................................ 10

    3.1. Caractersticas de deformabilidade ............................................................................ 10

    3.2. Comportamento reversvel ......................................................................................... 12

    3.3. Mdulo de reaco ..................................................................................................... 14

    3.4. Avaliao indirecta pelo CBR ................................................................................... 16

    3.4.1. Ensaio ................................................................................................................... 17

    3.4.2. Correspondncia entre tipos de solo e classes de CBR ........................................ 18

    3.4.3. Relao entre CBR e mdulo de deformabilidade ............................................... 22

    3.4.4. Efeito da gua no CBR ......................................................................................... 23

    3.4.5. Efeito da compactao e da embebio ............................................................... 25

    4. Propriedades do solo-cimento ............................................................................................ 28

    4.1. Composio e aplicao ............................................................................................. 28

    4.2. Resistncia Mecnica ................................................................................................. 29

    4.3. Influncia do estado de compacidade ........................................................................ 32

    4.4. Influncia do tempo de cura ....................................................................................... 33

    4.5. Fadiga ........................................................................................................................ 33

    5. Avaliao das propriedades tenso-deformao com base em ensaios de carga ............... 36

    5.1. O que um ensaio de carga ....................................................................................... 36

    5.2. Placa perfeitamente flexvel ....................................................................................... 36

    5.3. Placa perfeitamente rgida.......................................................................................... 38

  • VI

    5.4. Placa perfeitamente flexvel para um sistema de duas camadas ................................ 39

    5.5. Placa perfeitamente flexvel sobre sistema multi-camadas, retro-anlise .................. 43

    5.6. Equipamentos de ensaios de carga mais utilizados e os seus procedimentos ............ 44

    5.6.1. Ensaio de carga com placa (ECP) ........................................................................ 44

    5.6.2. Deflectmetro de impacto (FWD) ....................................................................... 46

    6. Classificao de plataformas.............................................................................................. 48

    6.1. Considerao das condies de fundao no dimensionamento de pavimentos ........ 48

    6.2. Previso das condies de fundao com base em tabelas ........................................ 49

    6.2.1. Modelo Francs .................................................................................................... 50

    6.2.2. Modelo Portugus ................................................................................................ 54

    6.2.3. Modelo Espanhol ................................................................................................. 56

    6.2.4. Aspectos utilizados nas metodologias Espanhola e Francesa, a incorporar na

    metodologia Portuguesa ...................................................................................... 58

    6.3. Avaliao das condies de fundao com base em ensaios de carga ....................... 60

    6.3.1. Introduo ............................................................................................................ 60

    6.3.2. Nvel de tenso ..................................................................................................... 60

    6.3.3. Avaliao da influncia das cargas no solo com a profundidade ......................... 61

    6.3.4. Trechos homogneos............................................................................................ 71

    6.3.5. Influncia da presena de gua nos solos da fundao ........................................ 73

    6.3.6. Tempo de carga .................................................................................................... 73

    6.3.7. Sugestes para uma metodologia baseada em ensaios de carga .......................... 74

    7. Consideraes finais e desenvolvimentos futuros ............................................................. 76

    7.1. Consideraes finais .................................................................................................. 76

    7.2. Recomendaes futuras ............................................................................................. 76

    8. Bibliografia ........................................................................................................................ 78

  • VII

    ndice de Tabelas

    Tabela 3.1. - Valores de coeficiente de Poisson para solos e rocha...........................................12

    Tabela 3.2 - Classificao de solos quanto ao seu CBR, segundo o modelo Portugus............19

    Tabela 3.3 - Correspondncia entre as classes de solo e o correspondente CBR e Ev2, segundo

    o modelo Francs..................................................................................................20

    Tabela 3.4 - Correspondncia entre o tipo de solo e o respectivo CBR, segundo o modelo

    Francs..................................................................................................................21

    Tabela 3.5 - Comparao entre as classes S e o CBR................................................................22

    Tabela 3.6 - Resistncia estimada de solos de estrada na proximidade do nvel fretico..........24

    Tabela 3.7 - Influncia do teor de gua na resistncia do solo..................................................24

    Tabela 3.8 - Mdulos de deformabilidade (MPa) de camadas de base e sub-base em funo do

    estado de tenso (MPa).....................................................................................25

    Tabela 3.9 - Resultados de ensaios CBR para diferentes energias de compactao..................26

    Tabela 3.10 - CBR mnimo para a parte superior do aterro, a curto e longo prazo...................27

    Tabela 5.1 - Coeficiente Fw obtido para os diversos casos........................................................42

    Tabela 6.1 - Critrios para definir a classe de plataforma.........................................................53

    Tabela 6.2- Classes de fundao................................................................................................54

    Tabela 6.3 - Camada de leito em materiais tratados com ligantes hidrulicos..........................56

    Tabela 6.4- Constituio de plataformas segundo o modelo espanhol......................................57

    Tabela 6.5 - Correspondncia entre as classes de solo e classes de CBR..................................58

    Tabela 6.6 - Relao entre 1, 2 e 3 impacto para o ECP........................................................61

  • IX

    ndice de Figuras

    Figura 2.1- Perfil Transversal da terraplenagem, localizao do leito de pavimento num perfil

    misto (Mira Fernandes, 1997) ............................................................................................. 4

    Figura 2.2 - Constituio de um aterro (Mira Fernandes, 1997) .............................................................. 6

    Figura 2.3 - Diagrama de Bruckner (Abraham, et al, 2000) .................................................................... 8

    Figura 2.4 - Curva de Bruckner (Abraham, e tal, 2000) .......................................................................... 9

    Figura 3.1 - Ciclo de carga-descarga aps elevado nmero de cargas aplicadas (Quaresma, 1985) ..... 10

    Figura 3.2 - Evoluo da extenso com a aplicao de vrios ciclos carga-descarga (Quaresma,

    1985) ................................................................................................................................. 13

    Figura 3.3 - Extenso com parte reversvel e parte permanente devido a cargas repetidas

    (Quaresma, 1985) .............................................................................................................. 14

    Figura 3.4 - Provete que entra em rotura (Quaresma, 1985).................................................................. 14

    Figura 3.5 - Relao entre carga, deformao e modulo de reaco do solo ......................................... 15

    Figura 3.6 - Curvas de dimensionamento de pavimentos pelo mtodo CBR (Quaresma, 1985) .......... 16

    Figura 3.7 - Realizao de ensaio CBR in situ ...................................................................................... 18

    Figura 3.8 - Mdulo de deformabilidade obtido atravs da frmula de Powel, W.D. et al,

    comparado com a frmula de Brown, e tal. ...................................................................... 23

    Figura 3.9 - Ensaio CBR com diferentes valores de teor em gua ........................................................ 27

    Figura 4.1 - Ensaio compresso simples (Pereira, 2003) ....................................................................... 29

    Figura 4.2 - Ensaio de resistncia traco por compresso diametral (Pereira, 2003) ........................ 30

    Figura 4.3 - Ensaio de flexo (Pereira, 2003) ........................................................................................ 30

    Figura 4.4 - Esquema referente aos vrios esforos induzidos pelos vrios ensaios (Quaresma,

    1985) ................................................................................................................................. 31

    Figura 4.5 - Valores de Modulo de deformabilidade e Resistncia traco para diversos

    materiais, e obtidos atravs de ensaios diversos (Quaresma, 1985) .................................. 31

    Figura 4.6 - Resistncia da mistura de solo-cimento ao longo do tempo (Rodrigues, 2009) ................ 33

    Figura 4.7 - Representao esquemtica da fadiga em camadas ligadas com cimento (Quaresma,

    1985) ................................................................................................................................. 34

    Figura 5.1 - Placa totalmente flexvel, solo arenoso (Rossignolo et al, 2009) ...................................... 36

    Figura 5.2 - Placa totalmente flexvel, solo argiloso (Rossignolo et al, 2009) ...................................... 37

    Figura 5.3 - Placa totalmente rgida, solo arenoso (Rossignolo et al, 2009) ......................................... 38

    Figura 5.4 - Placa totalmente rigida, solo argiloso (Rossignolo et al, 2009) ......................................... 39

    file:///C:/Users/Joao%20Tangarrinha/Desktop/tese_recente2.docx%23_Toc311208544

  • X

    Figura 5.5 - Valores de influncia para teoria de duas camadas (Burmister, 1943) .............................. 40

    Figura 5.6 - Bolbos de influncia de placas de dimetro diferentes, quando sujeitas a

    carregamento ..................................................................................................................... 41

    Figura 5.7 Bolbos de influncia de sistema de solo composto por duas camadas e solo

    homogneo ........................................................................................................................ 41

    Figura 5.8 - Resultado da aplicao da teoria de Burmister, para 2 camadas, utilizando 2 placas ........ 42

    Figura 5.9 - Bacia de influncia resultante da aplicao de uma carga com FWD (CPRengenharia,

    2011) ................................................................................................................................. 43

    Figura 5.10 - Dispositivo de ensaio de carga ......................................................................................... 45

    Figura 5.11 - Dynatest Model 800 (FWD) (Nazzal, 2003) .................................................................... 46

    Figura 5.12 - Representao esquemtica da placa de carga e geofones ............................................... 47

    Figura 6.1 - Regras de classificao de solos (SCETAUROUTE,1998) ............................................... 52

    Figura 6.2 - Abaco de determinao da zona de resistncia traco para solos tratados

    (SCETAUROUTE, 1994) ................................................................................................. 59

    Figura 6.4 - Representao esquemtica do perfil utilizado para este clculo, para uma plataforma

    F3, e uma classe de trfego T6. ......................................................................................... 62

    Figura 6.5 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente, no topo

    da camada de base, profundidade de 0,10 metros, para classe de trfego T6. ................ 62

    Figura 6.6 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente, no topo

    da camada de sub-base, profundidade de 0,30 metros, para classe de trfego T6. ......... 63

    Figura 6.7 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,no topo da

    fundao, profundidade de 0,50 metros, para classe de trfego T6. ............................... 63

    Figura 6.8 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 0,80 metros, para classe de trfego T6. .................................................. 64

    Figura 6.9 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 1 metro, para classe de trfego T6. ......................................................... 64

    Figura 6.10 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 1,2 metros, para classe de trfego T6. .................................................... 65

    Figura 6.11 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 1,5 metros, para classe de trfego T6. .................................................... 65

    Figura 6.12 - Representao esquemtica do perfil utilizado para este clculo, para uma

    plataforma F3, e uma classe de trfego T2. ....................................................................... 66

    Figura 6.13 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente, no topo

    da camada de base, profundidade de 0,24 metros, para classe de trfego T2. ................ 66

    Figura 6.14 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente, no topo

    da camada de sub-base, profundidade de 0,44 metros, para classe de trfego T2. ......... 67

    Figura 6.15 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente, no topo

    da fundao, profundidade de 0,64 metros, para classe de trfego T2. .......................... 67

  • XI

    Figura 6.16 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 0,8 metros, para classe de trfego T2. .................................................... 68

    Figura 6.17 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 1 metro, para classe de trfego T2. ......................................................... 68

    Figura 6.18 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 1,2 metros, para classe de trfego T2. .................................................... 69

    Figura 6.19 - Percentagem de tenso presente no solo em relao aplicada inicialmente,

    profundidade de 1,5 metros, para classe de trfego T2. .................................................... 69

    Figura 6.20 - Variao da percentagem de presso no solo com a profundidade, para o 1 caso .......... 70

    Figura 6.21 - Variao da percentagem de presso no solo com a profundidade, para o 2 caso .......... 70

    Figura 6.22 - Deflexo no centro da placa e a 120cm do centro da placa, obtido atravs de FWD ...... 72

    Figura 6.23 - Valor acumulado da diferena entre a deflexo e a deflexo mdia ................................ 72

  • XIII

    Lista de abreviaturas

    CBR ndice de suporte California California Bearing Ratio

    E- Mdulo de deformabilidade

    Ev2- Valor do mdulo de deformabilidade obtido no segundo ciclo do ensaio de carga com

    placa

    FWD- Deflectmetro de impacto, Falling Weight Deflectometer

    ECP- Ensaio de carga com placa

    PSA- Parte superior do aterro

  • 1

    1. Introduo

    1.1. Enquadramento do trabalho

    Nos ltimos anos tem-se dado relevo a uma correcta seleco de materiais, de forma a que os

    materiais de melhores caractersticas sejam colocados em parte superior do aterro e leito de

    pavimento. Esta necessidade de colocar os solos melhores nestas camadas prende-se com o facto de as

    cargas serem relevantes at uma profundidade de um metro, o que em aterro corresponde a PSA e leito

    de pavimento (JAE, 1995).

    Por outro lado, as condicionantes a ter em conta na altura de definir o traado conduzem

    necessidade de atravessar terrenos de pior qualidade, o que leva ao recurso a solues que evitem

    comportamentos indesejados. Para evitar estes comportamentos necessrio por vezes recorrer ao

    tratamento dos solos com cal e/ou cimento.

    Tradicionalmente classificam-se plataformas com base em documentos normativos, baseados

    em tabelas. Este trabalho compara o documento de referncia portugus, o Manual de concepo de

    pavimentos para a rede rodoviria nacional (JAE, 1995) com documentos de referncia em Espanha e

    Frana. Da anlise efectuada resultaram algumas sugestes para aperfeioar a verso actual do referido

    manual.

    Tem sido tendncia recente a utilizao de ensaios de carga para avaliar as condies de

    execuo dos pavimentos em obra, sendo os ensaios mais utilizados o deflectmetro de impacto

    (FWD) e o ensaio de carga com placa (ECP). As metodologias de avaliao de pavimentos baseadas

    nestes ensaios no esto bem definidas, pelo que foram feitas algumas reflexes sobre a metodologia a

    implementar, com base em ensaios de carga.

    1.2. Organizao da dissertao

    Optou-se por organizar esta dissertao em 8 captulos, da seguinte forma:

    No primeiro captulo faz-se uma introduo aos temos a abordar.

    No segundo captulo descrevem-se os constituintes da estrutura da plataforma.

    No terceiro captulo abordam-se as caractersticas mecnicas do solo, incluindo os aspectos de

    deformaes permanentes e reversveis. Incluem-se tambm a avaliao indirecta.

  • 2

    No quarto captulo abordam-se as propriedades de solos tratados ou melhorados com cimento.

    Tendo em conta avaliar o comportamento tenso-deformao atravs da utilizao de ensaios

    de carga, descreve-se a execuo e interpretao destes ensaios. Estes aspectos so abordados no

    quinto captulo.

    O sexto captulo estuda vrias formas de classificao de plataformas, os manuais portugus,

    espanhol, francs e apresenta algumas sugestes que poderiam ser implementadas no manual

    portugus para o tornar mais completo e actualizado. Aborda tambm outra forma de classificao de

    plataformas, atravs de ensaios de carga e prope um mtodo de avaliao das caractersticas da

    plataforma, baseado naquele tipo de ensaio.

    Reservou-se o stimo captulo para apresentar as concluses finais e sugestes para

    desenvolvimentos futuros e o captulo final para incluir as referncias bibliogrficas utilizadas para a

    elaborao deste trabalho.

  • 3

    2. Terraplenagem

    2.1. Componentes dos trabalhos de terraplenagem

    Os trabalhos iniciam com a preparao do terreno, sendo em primeiro lugar executada a

    desmatao, no qual se inclui o derrube de rvores, remoo de arbustos, remoo das razes de

    ambos, limpeza do terreno, carregamento e transporte dos materiais removidos. Em seguida, e caso

    necessrio, procede-se demolio de construes existentes na zona de trabalhos. Posteriormente,

    procede-se decapagem na linha de terra vegetal com a espessura mdia definida no projecto e a sua

    colocao em depsito ou vazadouro, o objectivo desta fase garantir a necessria preparao das

    fundaes dos aterros e salvaguardar toda a terra vegetal para posteriormente reutilizar no

    revestimento de taludes ou em aplicaes previstas no estudo paisagstico. Aps isto, procede-se

    preparao da plataforma para a execuo dos aterros, com o objectivo de garantir uma fundao

    regular e estvel, para garantir condies de suporte adequadas para a compactao da primeira

    camada do corpo do aterro e a ligao desta primeira camada ao terreno natural.

    No mbito deste trabalho tem especial relevncia referir a camada de leito de pavimento que

    faz a separao entre o pavimento e a restante terraplanagem com os terrenos restantes subjacentes. O

    objectivo desta separao, que passem as menores deformaes provocadas pelo solo ao pavimento,

    e em sentido inverso distribuir as cargas do pavimento pelo solo adjacente. Desta forma procura-se

    que a camada de leito de pavimento tenha um maior mdulo de deformabilidade possvel, de forma a

    ser o mais rgida possvel, para por um lado ter deformaes menores e por outro lado para melhor

    distribuir as cargas do pavimento sobre o solo adjacente. Uma maior rigidez do leito de pavimento

    distribui as cargas por uma rea maior, desta forma a presso actuante sobre o solo inferior, do que

    num leito mais flexvel, pois as cargas teriam um efeito mais pontual para este caso.

  • 4

    E s c a v a oA t e r r o

    F u n d a o d o

    p a v i m e n t o

    L e i t o d o

    p a v i m e n t o

    Figura 2.1- Perfil Transversal da terraplenagem, localizao do leito de pavimento num perfil misto (Mira

    Fernandes, 1997)

    2.1.1. Escavao

    As escavaes so locais mais baixos que o local anterior interveno humana, pelo que

    natural que sejam locais de maior propenso passagem de gua, assim devem assegurar um

    escoamento bastante eficaz das guas superficiais.

    Quando se executa uma escavao no se deve ultrapassar as cotas mnimas previstas em

    projecto, mas caso isto acontea, deve ser utilizado material com as caractersticas de leito de

    pavimento para repor os nveis previstos.

    Ao realizar a escavao tem que se ter em conta as caractersticas do material a ser escavado e

    se este tem caractersticas apropriadas zona que constitui o leito de pavimento. Assim, se tivermos a

    escavar um solo com caractersticas para leito de pavimento, deve ser efectuada uma escarificao de

    cerca de 30 cm segundo JAE (1995), e em seguida a regularizao e compactao, de forma a obter as

    caractersticas necessrias, tais como inclinao transversal, a regularidade e compactao pretendida.

    Para o caso de os solos abaixo da camada de pavimento no sejam apropriados para a fundao do

    pavimento, deve-se proceder substituio deste solo por materiais com caractersticas de leito de

  • 5

    pavimento, e executar a sua compactao, at atingir a compactao pretendida (Mira Fernandes,

    1997). Em alternativa pode-se optar pelo tratamento dos solos, com cimento ou cal, de forma a atingir

    as caractersticas necessrias.

    Para o caso da escavao ser efectuada em rocha, dever limpar-se a plataforma e colocar

    materiais britados com uma espessura mnima de 15 cm, como leito de pavimento (JAE, 1995).

    Um cuidado importante a escolha do processo de escavao, podendo adoptar-se uma

    escavao por camadas ou uma escavao frontal, sendo esta ltima soluo que menos expes os

    materiais s condies atmosfricas (humedecimento em perodos de pluviosidade e secagem em

    perodos de insolao). Alguns elementos devido sua grande dimenso, precisam de ser

    fragmentados ou eliminados. O teor em gua de colocao dos solos deve ser o mais prximo possvel

    do teor ptimo obtido no ensaio de compactao. Quando o material chegue ao aterro com um teor em

    gua fora destes limites poder actuar-se no sentido de modificar o seu estado hdrico, aumentando ou

    diminuindo o teor em gua.

    2.1.2. Aterro

    O projectista deve especificar quais os materiais a ser utilizados em aterro, em projecto, bem

    como a forma a ser colocados e compactados. As exigncias so diferentes consoante o local onde so

    colocados. Os materiais a ser colocados em leito de pavimento so muito mais exigentes do que os

    colocados abaixo.

    Normalmente os materiais utilizados, so provenientes de escavaes a realizar ao longo do

    traado, tentando aproveitar ao mximo os materiais existentes na obra. Para os materiais do leito de

    pavimento, se os existentes no tiverem as caractersticas necessrias, pode-se recorrer a materiais

    existentes nas proximidades, ou tratar os materiais existentes, com cimento ou cal.

    Os materiais escavados para poderem ser reutilizados tm que estar em determinadas

    condies. No caso de um aterro, os materiais vo ser compactados, logo isto tem que ocorrer de

    forma controlada. Dois factores com grande importncia a natureza do solo e o seu teor em gua, por

    isso, necessrio recorrer a certas medidas para tornar estes materiais mais apropriados sua

    colocao nos aterros. Algumas formas de obter um teor mais desejvel podem ser atravs da

    colocao em depsito provisrio com o objectivo de expor o solo s condies atmosfricas

    existentes pode visar a reduo ou o aumento do teor em gua, pode tambm ser o espalhamento que

    permite por arejamento e exposio solar reduzir a humidade em excesso, caso as condies

    atmosfricas o favoream. Para facilitar esta secagem podem remexer-se os solos com grades de disco

  • 6

    ou motoniveladora. A rega pode visar manter o teor em gua (compensando o efeito de evaporao

    intensa) ou, por outro lado, alterar o estado hdrico do material. Esta segunda operao bastante

    delicada pois deve exigir uma rega abundante e um remeximento simultneo para que a gua penetre

    no material. A operao pode ser simplificada se for efectuada a rega no depsito ou na escavao. A

    proteco dos materiais durante o transporte de forma a no alterar o teor em gua bastante

    importante. Uma outra soluo pode ser ainda o tratamento com cal, pois permite reduzir o teor em

    gua e reduzir a argilosidade de solos finos, ou um tratamento com ligante hidrulico, em geral

    cimento (Mira Fernandes, 1997).

    Os aterros podem ser diferenciados em seis zonas, que podem ser observadas durante a sua

    execuo. Sendo essas seis zonas a fundao do aterro, parte inferior do aterro (PIA), corpo ou ncleo

    do aterro, parte superior do aterro (PSA), leito do pavimento e espaldar do aterro.

    A fundao do aterro o terreno sobre o qual se constri o aterro. A Parte inferior do Aterro

    (PIA) a parte do aterro que assenta sobre a fundao, normalmente constituda pelas duas primeiras

    camadas do aterro. O corpo ou ncleo do aterro a parte do aterro que fica entre a fundao e a parte

    superior do aterro. A parte superior do aterro (PSA) deve ter entre 0,40 e 0,85 metros de espessura

    (Mira Fernandes, 1997), sobre esta parte que assenta a camada de leito de pavimento, esta parte

    pertence fundao de pavimento. O leito de pavimento a ltima camada do aterro, e tem uma

    relevante importncia em garantir boas condies de fundao ao pavimento, no s aps a obra, mas

    tambm durante a realizao da obra, garantindo que seja possvel o trfico na fase de obra e uma boa

    compactao da primeira camada de pavimento. Espaldar do aterro a zona de aterro que inclui os

    taludes e compreendida entre a superfcie e uma faixa de no mnimo 4 metros, tendo por vezes uma

    funo de macio estabilizador (Mira Fernandes, 1997).

    L e i t o d o p a v i m e n t o

    P S A

    E s p a l d a r

    C o r p o

    F u n d a o d o

    a t e r r o

    F u n d a o d o

    p a v i m e n t o

    P I A

    Figura 2.2 - Constituio de um aterro (Mira Fernandes, 1997)

  • 7

    Nas vrias zonas do aterro h que ter cuidados especiais com os materiais a ser utilizados. Na

    parte inferior do aterro e espaldar, devemos evitar a utilizao de finos (material que passa no peneiro

    n200 ASTM, ou material que passa no peneiro < 0,063 mm, segundo a EN 933-1:2000), por norma

    no deve exceder os 15%. Deve ser evitado a utilizao de solos muito erodveis na zona dos

    espaldares. Deve ser garantida a necessria resistncia ao corte, na base do aterro. No caso de se optar

    por utilizar enrocamento, devem ser utilizados materiais pouco sensveis gua e no devem ser

    utilizados materiais provenientes de rochas argilosas ou fragmentveis e degradveis.

    No corpo do aterro, de evitar a utilizao de materiais com matria orgnica ou muito

    argilosos, evitar tambm o recurso a tcnicas do tipo sandwich de modo a garantir um comportamento

    uniforme e contnuo do aterro. No caso de se recorrer a material rochoso, dever ser reduzida

    dimenso dos blocos sucessivamente, da base para o topo do corpo do aterro.

    Para o leito de pavimento, deve ser tido em conta que os solos a ser utilizados devero

    respeitar as seguintes condies: no mximo 15% passar no peneiro n200 (ASTM), limite de liquidez

    mximo de 25% e ndice de plasticidade mximo de 6%. Podendo tambm ser utilizados agregados

    britados ou no britados e ainda solos tratados (Mira Fernandes, 1997).

    2.1.3. Particularidade das infra-estruturas de transporte lineares gesto de

    materiais

    Para a movimentao de terras h dois estudos fundamentais para o correcto dimensionamento

    das equipas de trabalho e a adequada elaborao do cronograma de uma obra, o clculo dos volumes a

    movimentar e o clculo das distncias de transporte.

    Para obteno dos volumes a movimentar, comea-se por realizar o clculo das reas das

    seces. Estas seces, quer de escavao, quer de aterro, encontram-se em macios de terra que quase

    sempre so, de forma aproximada, prismas trapezides. Os volumes so inicialmente obtidos,

    calculando o volume de cada segmento compreendido entre duas seces transversais consecutivas.

    Para isto admite-se que o terreno varia de forma linear entre duas seces consecutivas, o que de certa

    forma, para distncias de 20 metros, no gera erros significativos. Os volumes genricos totais dos

    cortes e/ou aterros podem ser obtidos pela somatria dos valores calculados entre as suas diversas

    seces. Estes volumes podem-se considerar de sinal positivo (+) escavao e negativo (-) aterro. Ao

    longo do traado vo-se somando estes volumes, obtendo o volume acumulado nas diferentes

    distncias do percurso.

  • 8

    Com estes volumes acumulados constri-se o Diagrama de Bruckner, com base numa tabela

    de volumes acumulados elaborada aps o clculo das reas das seces transversais e dos volumes

    entre as seces prismticas. Primeiro, calcula-se as chamadas ordenadas de Bruckner, as quais

    correspondem aos volumes de escavao (+) e aterros (-), acumulados sucessivamente, sendo o

    somatrio dos volumes feitos a partir de uma ordenada inicial arbitrria. As ordenadas calculadas so

    plotadas, de preferncia sobre uma cpia do perfil longitudinal do projecto. No eixo das abcissas

    colocado o avano no percurso da estrada e no eixo das ordenadas, numa escala adequada, os valores

    acumulados para as ordenadas de Bruckner (volumes + ou -), seco a seco. Unindo os pontos

    marcados, por uma linha curva, formam o Diagrama de Bruckner (Abraham, et al, 2000).

    Figura 2.3 - Diagrama de Bruckner (Abraham, et al, 2000)

    Analisando o diagrama de Bruckner, podemos observar que um troo ascendente no diagrama,

    corresponde a uma escavao, e um troo descendente do diagrama corresponde a um troo de aterro.

    A diferena de ordenadas entre dois pontos do diagrama mede o volume de terra entre esses pontos.

    Os picos do diagrama correspondem aos pontos de inverso escavao/aterro e o inverso, isto , o

    ponto mximo corresponde a uma passagem de escavao para aterro, e o ponto mnimo corresponde a

    uma passagem de aterro para escavao.

  • 9

    Momento de transporte quando se executa um transporte de solo de uma escavao para um

    aterro, as distncias de transporte alteram-se a cada viagem, sendo necessria, portanto, a

    determinao de uma distncia mdia de transporte. Pelo diagrama, esta distncia dever ser igual

    distncia entre os centros de gravidade dos trechos de escavao e aterro compensados.

    O clculo do momento de transporte feito de forma bastante simples, primeiro considera-se

    metade da altura da curva e traa-se uma horizontal nesta altura. A distncia mdia de transporte a

    distncia entre os pontos de interseco desta recta com o diagrama, medida na escala horizontal do

    desenho.

    Figura 2.4 - Curva de Bruckner (Abraham, e tal, 2000)

    O momento de transporte igual rea da onda de Bruckner, que pode ser estimada pelo

    produto da altura da onda (V) pela distncia mdia de transporte (dm), como apresentado na figura

    2.4. O momento de transporte total de um troo ser dado pelo somatrio dos troos compensados,

    mais os volumes dos troos que no foram reutilizados, mais os troos de emprstimo.

    Emprstimo a situao em que o volume de escavao no suficiente para a construo dos

    aterros, efectua-se escavao complementar em local escolhido em funo da localizao, da distncia

    e da qualidade do solo e transporta-se o material at ao aterro.

    H situaes em que o material escavado no reutilizado. Nestes casos em que no serve

    para a construo dos aterros, devido falta de qualidade, estamos perante material de refugo, ou

    casos em que o volume de terra escavada superior ao necessrio para construo de aterros. Nestes

    casos, o excesso de material, ser descartado, sendo transportado e depositado em local conveniente.

  • 10

    3. Propriedades tenso-deformao do solo

    3.1. Caractersticas de deformabilidade

    Admitindo-se um comportamento elstico, tem que se ter em conta duas caractersticas:

    mdulo de deformabilidade e coeficiente de Poisson.

    O mdulo de deformabilidade a relao entre a tenso aplicada num material e a

    deformao, medida sob a forma de extenso. Esta relao corresponde a um comportamento no

    linear, uma vez que com o aumento da presso aplicada, o incremento de deformao ser menor.

    Este comportamento no linear leva a um comportamento no elstico, como se pode ver na

    figura 3.1 a linha de carga e descarga no so coincidentes.

    Figura 3.1 - Ciclo de carga-descarga aps elevado nmero de cargas aplicadas (Quaresma, 1985)

    Ao longo do tempo houve vrias formas de tentar estimar o valor do mdulo de

    deformabilidade, atravs de relaes constitutivas do tipo linear e das camadas granulares de

    pavimentos flexveis. A Shell Oil Company, props a seguinte expresso que permite obter o mdulo

  • 11

    de deformabilidade de uma camada granular (E1) em funo da sua espessura (h2) em mm, e do

    mdulo de deformabilidade (E2) do solo da fundao:

    E1=K1. E2 [3.1]

    em que K1=0,2.h20,45

    [3.2]

    O estado de compacidade influenciado pela granulometria, a natureza do material granular e

    a forma das partculas. Desta forma, pretende-se atravs da granulometria adequada, obter a mxima

    compacidade possvel. Para que isto acontea ser necessrio haver o menor espao livre entre

    partculas possvel, organizando os elementos de forma a que, os espaos entre os elementos de

    maiores dimenses fique preenchido pelos de menores dimenses, e que os espaos entre estes de

    menores dimenses fique preenchido tambm por elementos de ainda menores dimenses, desta forma

    sucessivamente at se obter o mnimo espao de vazios possvel. H a ter em conta estes elementos

    mais finos, pois em excesso podem ser prejudiciais uma vez que so por norma sensveis gua,

    comprometendo o comportamento da camada.

    A seguinte expresso relaciona as granulometrias com a compacidade mxima:

    p=100.(

    )

    n [3.3]

    em que:

    p- material passado no peneiro com malha de dimenso d, em %

    D- dimenso mxima do material

    n- parmetro que geralmente dever ser igual a 0,5 para se obter uma compacidade mxima

    A outra caracterstica referida anteriormente o coeficiente de Poisson que mede a

    deformao transversal (em relao direo longitudinal de aplicao da carga) de um material

    homogneo e isotrpico.

    Os valores do coeficiente de Poisson para materiais elsticos e isotrpos, variam entre 0 e 0,5.

    Na tabela 3.1 constam alguns valores de coeficiente de Poisson para vrios materiais.

  • 12

    Tabela 3.1 - Valores de coeficiente de Poisson para solos e rocha (Rossignolo et al, 2009)

    Tipo de solo Coeficiente de Poisson ()

    Argila

    Saturada 0,4 a 0,5

    No saturada 0,1 a 0,3

    Arenosa 0,2 a 0,3

    Silte 0,3 a 0,35

    Areia

    Compacta 0,2 a 0,4

    Grossa (espessura=0,4 a 0,7) 0,15

    Fina (espessura= 0,4 a 0,7) 0,25

    Rocha Depende do tipo 0,1 a 0,4

    3.2. Comportamento reversvel

    importante ter em conta o facto dos materiais granulares no terem um comportamento

    fsico linear. Desta forma ao se utilizar modelos elsticos lineares para representar as suas

    caractersticas, uma aproximao ao real comportamento destes materiais.

    O comportamento de solos de fundao, e outros materiais, como materiais granulares

    utilizados em camadas de sub-base e base dos pavimentos, caracteriza-se por curvas tenso-

    deformao que correspondem a relaes no-lineares, o que leva definio de parmetros variveis

    para relacionar diferentes valores de tenso com a deformao correspondente (Neves, 2006).

    O ensaio triaxial dos ensaios mais adequados para caracterizar o comportamento reversvel

    dos solos, pois permite a validao e calibrao de modelos mais ajustados ao comportamento real dos

    solos quando colocados na fundao de pavimento.

    Quaresma (1985), refere um ensaio realizado com um provete de material granular, submetido

    a um ensaio de compresso triaxial dinmico em que se mantm constante a presso de confinamento,

    fazendo-se variar a tenso axial (a) em ciclos de carga-descarga sucessivos. Se da realizao deste

    ensaio se registar um comportamento semelhante ao da figura 3.2, significa que houve evoluo da

    tenso axial a e da extenso axial a durante os vrios ciclos de carga-descarga, sendo que apenas

    uma parte da extenso causada recuperada na descarga.

  • 13

    Figura 3.2 - Evoluo da extenso com a aplicao de vrios ciclos carga-descarga (Quaresma, 1985)

    Com o aumento do nmero de ciclos de carga realizados, vai aumentando a extenso

    recuperada em cada ciclo, aproximando-se de constante (fig. 3.3), designando-se por extenso

    reversvel. A parte no recuperada em cada ciclo vai-se acumulando, sendo o valor designado por

    extenso permanente ap.

    Esta anlise foi realizada com base no ensaio representado na curva I da fig. (3.4), que no

    atinge a rotura do material.

    A rotura surge devido a uma extenso permanente numa situao no estvel, como se verifica

    na curva II da fig. (3.4). Se na realizao do ensaio, as solicitaes se mantiverem afastadas da rotura,

    ao longo da realizao dos ciclos de carga-descarga, a parcela da extenso no recuperada ser menor

    em cada ciclo, sendo que ao fim de um elevado nmero de ciclos poder considerar-se perfeitamente

    reversvel (fig. 3.1).

  • 14

    Figura 3.3 - Extenso com parte reversvel e parte permanente devido a cargas repetidas (Quaresma,

    1985)

    Figura 3.4 - Provete que entra em rotura (Quaresma, 1985)

    3.3. Mdulo de reaco

    O mdulo de reaco uma propriedade necessria para a determinao das caractersticas do

    solo abaixo da superfcie de carga.

  • 15

    O mdulo de reaco do solo surge atravs de um trabalho realizado por Westergaard, na

    dcada de 1920, em que desenvolveu o valor de Ks (mdulo de reaco), como o de uma mola

    constante para o modelo de apoio sob a laje.

    Figura 3.5 - Relao entre carga, deformao e modulo de reaco do solo

    O valor do mdulo de reaco do solo (Ks) determinado atravs da curva carga-deformao:

    [3.4]

    max Tenso mxima aplicada no carregamento

    s Assentamento devido a essa tenso mxima

    A placa a ser utilizada para a determinao do mdulo de reaco, ter um dimetro de 762

    milmetros, como descrito nas normas ASTM D 1196 ou AASHTO T-222.

    O valor de Ks em MPa/m e varia entre valores de 13,5MPa/m para suportes fracos, at 270

    MPa/m para suportes fortes. Normalmente o mdulo de reaco calculado a partir de testes de

    carga/espessura, os valores podem ser medidos utilizando o ensaio de carga com placa.

  • 16

    3.4. Avaliao indirecta pelo CBR

    No inicio do sculo XX, havia pouco trfego, e as cargas transportadas eram muito reduzidas,

    pelo que as solicitaes a que os pavimentos estavam sujeitas, eram muito baixas. Apesar disto j se

    observava que o comportamento de um pavimento que passava por terrenos naturais de pior qualidade

    era diferente de outro, com semelhante constituio, mas fundado sobre material granular. Desta forma

    surge a necessidade de caracterizar os materiais e de os ter estes em conta na escolha da espessura das

    camadas.

    Assim surgiram as primeiras formas empricas de dimensionamento de pavimentos, sendo a

    mais conhecida, o CBR, que atravs da percentagem de CBR do material, nos d a espessura a aplicar.

    Este mtodo foi desenvolvido por Porter, atravs de ensaios realizados pela Diviso de Estradas da

    Califrnia entre 1928 e 1929, citado por Quaresma (1985).

    F- Carga por roda

    Esta relao foi possvel estabelecer devido grande similaridade entre as estruturas de

    pavimentos utilizadas, materiais, condies de trfego e condies climticas. Embora esta limitao,

    a grande similaridade entre os casos estudados, limita a aplicabilidade deste mtodo.

    O nome do ndice CBR, significa California Bearing Ratio que em portugus quer dizer

    ndice de suporte Califrnia. Este ndice mede a capacidade de suporte de um solo compactado.

    Figura 3.6 - Curvas de dimensionamento de pavimentos pelo mtodo CBR

    (Quaresma, 1985)

  • 17

    Este um mtodo de ensaio emprico, muito utilizado no meio rodovirio, em todo o mundo.

    O seu objectivo determinar o ndice CBR. Este ensaio est descrito na especificao LNEC E

    198.

    3.4.1. Ensaio

    O ensaio CBR utilizado para determinar a espessura necessria de pavimentos flexveis. O

    valor de CBR expresso em percentagem, obtido atravs da diviso da fora de penetrao exercida

    no pisto com 49 milmetros de dimetro, para que penetre 2,5 milmetros no solo, pela da fora

    standard que 1355 kgf. Esta fora de penetrao standard em grosso modo, o que necessrio para

    que este mesmo pisto penetre 2,5 milmetros numa massa de rocha britada. O CBR pode ser visto

    como uma indicao da fora necessria para que este mesmo pisto penetre em 2,5mm nessa rocha

    britada.

    Anota-se a fora necessria para fazer penetrar 2,5 milmetros e experime-se em percentagem

    da fora necessrias para produzir as mesmas penetraes num material tomando para padro, que so

    1355 kgf.

    CBR=

    [3.5]

    de notar que os 1355 kgf que esto no denominador so a fora de penetrao normalizada

    para uma penetrao de 2,5 milmetros. Para uma penetrao de 5 milmetros a correspondente fora

    de penetrao standard de 2033 kgf. Se o resultado obtido com o ensaio a 5 milmetros for superior

    ao obtido com a penetrao de 2,5 milmetros, o teste dever ser repetido, e se o resultado for similar,

    o valor obtido na penetrao de 5milmetros dever ser considerado o valor de CBR.

  • 18

    Figura 3.7 - Realizao de ensaio CBR in situ (Rocamix)

    Este ensaio sensvel textura do solo, quantidade de gua presente e sua compacidade. O

    resultado do teste CBR depende tambm da resistncia penetrao do pisto. Portanto, este ensaio

    indirectamente estimar a resistncia ao corte do material a ser testado.

    3.4.2. Correspondncia entre tipos de solo e classes de CBR

    A correspondncia entre os vrios tipos de solos existentes e o CBR, expresso em

    percentagem, pode ser encontrada em manuais referentes concepo de pavimentos, como o caso

    do Manual de Concepo de Pavimentos para a Rede Rodovia Nacional (JAE, 1995), ou o

    Manuel de Conception des plates-formes autoroutires (SCETAUROUTE, 1998), tal como se

    apresenta na tabela 3.2.

  • 19

    Tabela 3.2 - Classificao de solos quanto ao seu CBR, segundo o modelo Portugus (JAE, 1995)

    Classe CBR (%) Tipo de

    solo Descrio

    S0 < 3

    OL Siltes orgnicos e siltes argilosos orgnicos de baixa

    plasticidade (1)

    OH Argilas orgnicas de plasticidade mdia a elevada;

    Siltes orgnicos (2)

    CH Argilas inorgnicas de plasticidade elevada;

    Argilas gordas. (3)

    MH Siltes inorgnicos;

    Areias finas micceos;

    Siltes micceos. (4)

    S1 3 a < 5

    OL idem (1)

    OH idem (2)

    CH idem (3)

    MH idem (4)

    S2 5 a < 10

    CH idem (3)

    MH idem (4)

    CL

    Argilas inorgnicas de plasticidade baixa a mdia;

    Argilas com seixo, argilas arenosas, argilas siltosas

    e argilas magras.

    ML

    Siltes inorgnicos e areias muito finas;

    Areias finas, siltosas ou argilosas;

    Siltes argilosas de baixa plasticidade.

    SC Areia argilosa;

    Areia argilosa com cascalho. (5)

    S3 10 a < 20

    SC idem (5)

    SM Areia siltosa;

    Areia siltosa com cascalho.

    SP Areias mal graduadas;

    Areias mal graduadas com cascalho.

    S4 20

    SW Areias bem graduadas;

    Areias bem graduadas com cascalho.

    GC Cascalho argiloso;

    Cascalho argiloso com areia.

    GM-u Cascalho siltoso;

    Cascalho siltoso com areia. (6)

    GP Cascalho mal graduado;

    Cascalho mal graduado com areia. (7)

    S5 40

    GM-u idem (6)

    GP idem (7)

    GW Cascalho bem graduado;

    Cascalho bem graduado com areia.

  • 20

    Esta tabela para alm da correspondncia entre o tipo de solo e o valor de CBR, d tambm a

    informao de onde possvel a aplicao de cada tipo de solo.

    Esta correspondncia apresentada de forma um pouco diferente no manual da

    SCETAUROUTE, uma vez que feita em duas tabelas, em que na primeira se faz a correspondncia

    entre as classes S e os valores de CBR e os resultados de Ev2, obtidos atravs do 2 ciclo do ensaio de

    carga com placa (SCETAUROUTE, 1998).

    Tabela 3.3 - Correspondncia entre as classes de solo e o correspondente CBR e Ev2, segundo o modelo

    Francs (SCETAUROUTE, 1998)

    Resistncia dos

    solos de suporte

    CBR aps imerso

    correspondente Ev2 (MPa)

    S0 0 a 3 No se realiza

    S1 3 a 6 No se realiza

    S12 6 a 10 30 a 50

    S2 10 a 20 50 a 80

    S23 20 a 30 80 a 120

    S3 No representativo 120 a 200

    S4 No representativo > 200

    Classes Sk, de acordo com a tabela 3.5

    A tabela 3.4 mostra a correspondncia dos vrios tipos de solo a classes S, para efeitos de

    dimensionamento. Ao utilizar a tabela anterior para fazer correspondncia entre as classes S e os

    valores de CBR, obtemos os respectivos intervalos de CBR para cada tipo de solo.

  • 21

    Tabela 3.4 - Correspondncia entre o tipo de solo e o respectivo CBR, segundo o modelo Francs

    (SCETAUROUTE, 1998)

    Resistncia

    Solo 0 a 3 3 a 6 6 a 10 10 a 20 20 a 30

    A1 XXX

    A2 XXX A3 XXX B1 XXX B2 XXX B31 XXX

    B32 XXX B4 XXX B5 XXX B6 XXX C1

    XXX

    C2 XXX

    C1B11 XXX C2B11 XXX C1B31 XXX

    C2B31 XXX

    D1 XXX D2 XXX

    D3 XXX

    R11 XXX

    R12

    XXX

    R13 XXX R21 XXX

    R22 XXX

    R23 XXX R31

    XXX

    R32 XXX

    R33

    XXX

    R34 XXX

    R41 XXX

    R42 XXX R43

    XXX

    R61 XXX

    R62 XXX

    R63 XXX

  • 22

    Como se pode observar, as classes Sk correspondem a diferentes valores de CBR entre a

    publicao Portuguesa e a publicao Francesa, isto deve-se ao facto de em Frana, existirem classes

    intermdias de S, sendo elas S12 e S23, sendo estas correspondentes na publicao portuguesa a S2 e S3,

    respectivamente. J em Inglaterra os intervalos so algo diferente, como se pode observar na tabela

    abaixo.

    Tabela 3.5 - Comparao entre as classes Sk e o CBR

    CBR (%) para as seguintes classe de plataforma:

    S0 S1 S12 S2 S23 S3 S4 S5 S6

    Portugal 0 a 3 3 a 5 - 5 a 10 - 10 a 20 >20 >40 -

    Frana 0 a 3 3 a 6 6 a 10 10 a 20 20 a 30 * * - -

    Reino Unido - 2 - 3 a 4 - 5 a 7 8 a 14 15 a 29 > 30

    * Valores bastante elevados para o qual no foi atribudo um valor especfico de CBR

    3.4.3. Relao entre CBR e mdulo de deformabilidade

    O valor de CBR, por simplificao de clculos, normalmente convertido em valores de

    mdulo de deformabilidade. Estas converses diferem um pouco de autor para autor. Como se pode

    ver na tabela 3.5, a SCETAUROUTE atribui valores de mdulo de deformabilidade 4 a 5 vezes

    maiores que o valor de CBR, sendo que para valores de CBR at 10 faz corresponder um valor de

    mdulo de deformabilidade 5 vezes maiores. J para valores de CBR superiores a 20 faz corresponder

    valores de mdulo de deformabilidade 4 vezes maiores.

    Brown (1990) props a seguinte equao [3.6], esta tem limites de aplicao para valores de

    50MPa, aplicvel a solos compactados com teor de humidade superior ao limite de plasticidade:

    [3.6]

    Powel, W.D., et al (1984) propuseram a seguinte expresso:

    E= 17,6 * (CBR0.64

    ) [3.7]

  • 23

    Ao aplicar esta expresso a vrios valores de CBR, pode-se observar que quanto maior o valor

    de CBR, menor ser a relao entre CBR e mdulo de deformabilidade. Esta frmula traduz uma

    melhor aproximao da correspondncia do valor de mdulo de deformabilidade e CBR.

    Figura 3.8 - Mdulo de deformabilidade obtido atravs da frmula de Powel, W.D. et al, comparado com

    a frmula de Brown, e tal.

    3.4.4. Efeito da gua no CBR

    A gua influencia o nvel de CBR, pois a sua presena faz diminuir o nvel de CBR, ou seja,

    quanto maior for a proximidade do solo ao nvel fretico, ou quanto maior for o grau de saturao do

    solo, menor ser a percentagem do ndice de CBR daquele solo.

    O Transport Research Laboratory do Reino Unido, atravs do Road Note of Overseas 31

    (TRL, 1993), apresenta a tabela 3.6, que relaciona a classe de solo com a distncia da superfcie ao

    nvel fretico. Pode-se observar na tabela que para uma maior distncia da superfcie ao nvel fretico,

    a classe de solo melhor, logo o ndice CBR maior.

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    0 5 10 15 20 25

    Powel

    Brown

    E (MPa)

    CBR %

  • 24

    Tabela 3.6 ndice CBR estimado de solos de estrada na proximidade do nvel fretico (TRL, 1993)

    Distncia entre o

    nvel fretico e o topo

    da fundao (m)

    CBR (%)

    Areia no

    plstica

    Argila

    arenosa

    IP=10

    Argila

    arenosa

    IP=20

    Argila siltosa

    IP=30

    Argila gorda

    IP>40

    0,5 8 a 10 8 a 10 3 a 4 3 a 4 2

    1 15 a 29 8 a 10 5 a 7 3 a 4 2

    2 15 a 29 15 a 29 8 a 10 5 a 7 3 a 4

    3 < 30 15 a 29 8 a 10 5 a 7 3 a 4

    IP ndice de plasticidade

    O manual da SCETAUROUTE tem uma abordagem um pouco diferente quanto influncia

    da gua nas caractersticas do solo. Utilizando o teor em gua do solo como caracterstica para

    classificar a influencia da gua no solo. O manual apenas refere a importncia da gua nos solos A e

    B, e alguns solos C e D, sendo eles correspondentes a solos finos e argilas ou solos argilosos, ou seja,

    solos sensveis gua.

    Tabela 3.7 - Influncia do teor de gua na resistncia do solo (SCETAUROUTE, 1998)

    Como se pode observar os solos tm classes inferiores de Sk consoante a percentagem de gua

    existente, ou seja, valor de CBR inferior na presena de gua, como acontecia na tabela 3.6.

  • 25

    Esta necessidade de ter em conta a quantidade de gua em materiais granulares, tambm pode

    ser observada na tabela 3.8, que mostra valores obtidos no ensaio AASTHO em funo do estado de

    tenso e do teor em gua.

    Tabela 3.8 - Mdulos de deformabilidade (MPa) de camadas de base e sub-base em funo do estado de

    tenso (MPa) (TRL, 1993)

    Camada Teor em gua =0,035 =0,05 =0,07 =0,14 =0,21

    Seco 150 - 225 340 430

    BASE Intermdio 75 - 110 170 215

    Hmido 60 - 90 135 170

    SUB- Intermdio 100 125 150 - -

    BASE Hmido 85 110 130 - -

    - primeiro invariante do tensor de tenses

    3.4.5. Efeito da compactao e da embebio

    Durante a realizao do ensaio importante ter a compactao e a embebio.

    A compactao tem uma elevada importncia, pois quanto maior for, maior ser o CBR a obter para

    esse solo, influenciando tambm o teor de gua ptimo daquele solo, como se pode ver na tabela 3.9,

    obtido por Lelis (2004), realizados em trs solos diferentes:

  • 26

    Tabela 3.9 - Resultados de ensaios CBR para diferentes energias de compactao (Lelis, 2004)

    ENSAIOS

    Resultados obtidos para os seguintes solos com as energias de compactao:

    Proctor Normal Energia intermdia Proctor modificado

    LU PVB SP LU PVB SP LU PVB SP

    d,max (kN/m3) 13,88 13,53 15,57 14,47 14,48 16,86 15,59 15,47 17,65

    Wot (%) 30,73 31,20 20,23 29,02 27,63 15,97 26,53 24,94 14,46

    CBR (%) 8 8 8 12 14 14 14 21 18

    Expanso CBR (%) 0,18 1,34 1,24 0,91 1,62 1,92 0,15 1,34 1,92 LU- Latossolo Vermelho-Amarelo

    PVB- Solo Podzlico Vermelho-Amarelo

    SP- Saproltico-Gnaisse

    d,max Peso volmico do solo

    Wot- teor de gua ptimo do solo

    Na tabela 3.9 bastante perceptvel que o CBR aumenta com o nvel de compactao,

    chegando a atingir valores superiores ao dobro. Assim essencial uma boa compactao para a

    obteno de melhores resultados.

    O CBR no se mantm constante ao longo do tempo, vai diminuindo ao longo do tempo.

    Assim, importante saber o comportamento do solo a longo prazo e a evoluo das caractersticas

    deste a longo prazo. A forma utilizada para prever esse comportamento do solo a longo prazo atravs

    da embebio, que simula condies muito desfavorveis ao solo. A embebio consiste em manter

    um provete imerso durante 4 dias, em gua. Este ensaio realizado num provete aps embebido 4

    dias, representativo de condies bastante desfavorveis e da evoluo ao longo do tempo das

    caractersticas do solo. Na figura 3.9 perceptvel essa perda de resistncia ao longo do tempo.

  • 27

    Figura 3.9 - Ensaio CBR com diferentes valores de teor em gua (Neves, 2005)

    A SCETAUROUTE, no Manuel de conception des chausses dautoroutes (1994), faz

    correspondncia entre os valores de CBR e de mdulo de deformabilidade de curto termo ou estaleiro

    e os valores a longo prazo.

    Tabela 3.10 - CBR mnimo para a parte superior do aterro, a curto e longo prazo (SCETAUROUTE,

    1994)

    ARi Sk

    CBR

    imediato

    %

    CBR

    longo

    prazo %

    AR1 S1 8 4

    AR12 S12 8 6

    AR2 S2 16 10

    AR3 S3 25 25

    AR4 S4 40 40

  • 28

    AR significa arase e corresponde fundao do leito de pavimento.

    4. Propriedades do solo-cimento

    4.1. Composio e aplicao

    A utilizao de solo-cimento surgiu da necessidade de melhorar as caractersticas de materiais

    de m qualidade. As melhorias deste tratamento tm principalmente a ver com o aumento da rigidez e

    a reduo da plasticidade. Para conseguir estas melhorias bastar utilizar 3% a 5% de cimento, do peso

    total da amostra. Com um teor em cimento superior a 5% e at 15% do peso total, estamos perante

    solo-cimento com elevadas caractersticas mecnicas, utilizado frequentemente em camadas base e

    sub-base de pavimentos.

    A aplicao em obra pode ser feita da seguinte forma, aps escavao e britagem do solo,

    seguida da sua colocao em camadas, espalha-se o cimento sobre a camada a tratar, em seguida

    procede-se fresagem de forma a misturar o solo e o cimento. Em seguida adiciona-se gua por

    asperso, na quantidade que corresponde ao teor de humidade ptimo, de forma a permitir a hidratao

    da mistura, que aps compactao pesada, endurece e atinge uma resistncia para que possa cumprir

    as suas funes de fundao de leito de pavimento, e com uma durabilidade aceitvel para obras

    rodovirias.

    A adio de cimento pode tambm ser feita a materiais granulares de elevada granulometria e

    de boa qualidade, obtendo-se materiais bastante mais resistentes e rgidos. Esta adio permite-nos

    obter agregado de granulometria extensa com cimento e beto pobre. O agregado de granulometria

    extensa com cimento diferencia-se do beto pobre pela principalmente pela sua granulometria, uma

    vez que este constitudo por materiais grosseiros, brita produzida localmente qual posteriormente

    adicionado cimento. O beto pobre por sua vez tem uma granulometria mais homognea. Quaresma

    (1985) refere para estes elementos dimenses mximas aconselhveis para os agregados, sendo no

    primeiro caso elementos com dimenso mxima de 14 mm ou 20 mm e para o segundo caso de 20 mm

    a 32 mm, e uma quantidade de finos (material passado no peneiro #200) de 4 a 11% para o agregado

    de granulometria extensa com cimento. e de 0% a 2% para o beto pobre.

  • 29

    4.2. Resistncia mecnica

    Para caracterizar mecanicamente as misturas com cimento, os ensaios laboratoriais mais

    utilizados so: o ensaio de compresso simples, o ensaio de traco simples, o ensaio de flexo e o

    ensaio de compresso diametral.

    Nos ensaios de compresso simples e de traco simples, as foras actuam nos provetes

    segundo o seu eixo. Os provetes para este efeito so por norma cilndricos e normalmente adopta-se

    uma relao entre a altura e o dimetro (h/d) igual a 2, e sendo o dimetro 5 vezes superior mxima

    dimenso das partculas.

    Figura 4.1 - Ensaio compresso simples (Pereira, 2003)

    O ensaio de compresso diametral, consiste em aplicar uma fora de compresso uniforme ao

    longo das duas geratrizes opostas do provete cilndrico. A rotura dar-se- ao longo do plano que passa

    pelas duas geratrizes carregadas.

  • 30

    Figura 4.2 - Ensaio de resistncia traco por compresso diametral (Pereira, 2003)

    H dois tipos de ensaios de flexo, num utilizam-se vigas de seco rectangular apoiadas sobre

    roletes, noutro, consolas com forma de tronco de pirmide com dimenses que tornem possvel que as

    tenses normais na zona intermdia sejam constantes. Nestes ensaios h ainda variantes dependendo

    da posio dos apoios e das cargas (fig. 4.4). Estes ensaios so uma aproximao ao real

    funcionamento das camadas granulares tratadas com cimento.

    Figura 4.3 - Ensaio de flexo (Pereira, 2003)

  • 31

    Figura 4.4 - Esquema referente aos vrios esforos induzidos pelos vrios ensaios (Quaresma, 1985)

    Atravs de resultados de testes diversos podemos ter uma ideia dos valores do mdulo de

    deformabilidade e resistncia dos referidos materiais. Como se pode observar na figura 4.5, os valores

    de mdulo de deformabilidade obtidos so bastante variados, desde 50 a 100 MPa, at valores a rondar

    os 20.000 a 35.000 MPa, variando com a percentagem de cimento e o tipo de material utilizado. Sendo

    que as com menor mdulo de deformabilidade sero as com menor presena de cimento e as com

    maior mdulo de deformabilidade as com maior quantidade de cimento (Quaresma, 1985).

    Figura 4.5 - Valores de Modulo de deformabilidade e Resistncia traco para diversos materiais, e

    obtidos atravs de ensaios diversos (Quaresma, 1985)

  • 32

    Outro ensaio bastante utilizado nesta rea o ensaio Brasileiro. Este ensaio consiste no

    carregamento de provetes de amostras cilndricas, carregados por duas placas rgidas paralelas. A

    rotura obtida ao longo do plano vertical, ligando as duas faces carregadas. Este ensaio tem vrias

    vantagens, entre elas a facilidade de preparao de amostras, o equipamento a utilizar semelhante ao

    do ensaio de compresso simples, a rotura indiferente em relao s condies da superfcie de

    contacto da amostra, as tenses de traco perpendicular e ao longo do plano diametral provocadas

    pela carga normal aplicada que provoca a rotura so mais ou menos uniformes (Villar, et al, 2007).

    Das et al.(1995), props a seguinte frmula para avaliao da resistncia traco:

    t =

    [4.1]

    Onde:

    P : carga mxima do ensaio de compresso diametral;

    d : dimetro da amostra;

    h : a altura da amostra.

    Esta relao no rigorosa para materiais que tenham grande diferena entre os mdulos de

    deformabilidade na compresso e na traco, como os solos (Villar, et al, 2007). Desta forma utiliza-se

    uma correco para os resultados do ensaio brasileiro. Esta correco de 0,9, sendo Rt= 0,9xRtb (Rtb

    a resistncia traco obtida no ensaio brasileiro). Este coeficiente referido pela SCETAUROUTE

    (1994).

    4.3. Influncia do estado de compacidade

    O estado de compacidade em geral avaliado pelo grau de compactao. Uma maior

    compacidade aumenta as caractersticas mecnicas das misturas com cimento, sendo influenciada pela

    granulometria do agregado, dosagem em cimento, energia de compactao e pelo tempo entre a

    produo do material e a altura em que compactado. Se este tempo entre produo e compactao for

    excessivo, a compactao possvel, poder ser de um grau muito mais baixo. Uma forma de manter as

    caractersticas do material por mais tempo ser a utilizao de retardadores de presa. Sendo o valor

    referncia, o valor obtido atravs do ensaio proctor.

  • 33

    4.4. Influncia do tempo de cura

    Nos primeiros dias o crescimento do mdulo de deformabilidade bastante acentuado, para

    solos e elementos tratados com cimento. Normalmente considera-se que aos 28 dias de cura, o

    elemento j tem um mdulo de deformabilidade relevante, sendo que vai continuar a aumentar com o

    tempo, mas de forma muito mais lenta que at aos 28 dias.

    Este facto pode ser observado na figura 4.6, na qual se mostram vrios materiais tratados com

    cimento, e se v a evoluo da resistncia em funo do tempo.

    Figura 4.6 - Resistncia da mistura de solo-cimento ao longo do tempo (Rodrigues, 2009)

    4.5. Fadiga

    Os pavimentos constitudos por camadas granulares ligadas com cimento, esto sujeitos a

    tenses de traco devido passagem dos eixos dos veculos, retraco e a gradientes internos de

    temperatura. Caso estas cargas excedam a resistncia traco do material, levam-no ruptura,

  • 34

    causando fendas que se propagaro at superfcie do pavimento, originando a sua runa (Quaresma,

    1985).

    Sendo que estas roturas podem tambm surgir aps vrios carregamentos, provenientes das

    passagens sucessivas dos veculos, mesmo que as tenses de traco actuantes sejam inferiores

    tenso de rotura para um nico carregamento, sendo assim rotura por fadiga.

    Figura 4.7 - Representao esquemtica da fadiga em camadas ligadas com cimento (Quaresma, 1985)

    A figura 4.7 representa o caso de uma camada ligada com cimento, que apresenta uma tenso

    de rotura superior para quando sujeita a apenas uma carga, e que vai diminuindo com a aplicao de

    um nmero de cargas N1. Isto representa o fenmeno fadiga. Assim, este pode ser definido como a

    diminuio de resistncia de um corpo por efeito de uma solicitao peridica, sendo que no caso de

    uma estrada, a solicitao no ser peridica, mas se pode aceitar como peridica. H tambm a referir

    que os veculos no so todos iguais, logo no aplicam todos a mesma carga, nem o mesmo nmero de

    passagens, logo ter contributos diferentes para a diminuio de resistncia (Quaresma, 1985).

  • 35

    Pode-se ento traduzir o fenmeno fadiga pela seguinte equao:

    [4.2]

    N nmero de ciclos carga-descarga, com tenso de pico, at atingir a rotura

    a constante que varia com as caractersticas do material

  • 36

    5. Avaliao das propriedades tenso-deformao com base em

    ensaios de carga

    5.1. O que um ensaio de carga

    Desde h muitos anos que existem trabalhos que procuram estabelecer uma relao entre a

    deformao sofrida por um solo e as suas propriedades tenso-deformao. Procura-se obter estas

    propriedades atravs da aplicao duma carga e analisando a reaco do material, medindo-se o

    deslocamento vertical de um ou mais pontos na superfcie de um sistema de camadas, resultante da

    carga aplicada.

    Nas seguintes seces apresenta-se os principais trabalhos e os procedimentos usuais para a

    realizao de ensaios de carga.

    5.2. Placa perfeitamente flexvel

    Considera-se o caso de uma placa perfeitamente flexvel, est sujeita a uma tenso uniforme

    em toda a rea da placa, quando aplicada a um solo arenoso, transmite superfcie do solo uma

    presso uniforme. Sabendo que a resistncia ao corte de uma areia directamente proporcional

    presso confinante, temos ento que o centro da rea carregada (neste caso o ponto C) a areia tem

    uma maior resistncia, desta forma sofrer deformaes menores.

    Figura 5.1 - Placa totalmente flexvel, solo arenoso (Rossignolo et al, 2009)

  • 37

    Observando os bordos da placa, ou seja, os pontos B, a tenso menor, a resistncia ao corte

    diminui, e desta forma as deformaes so maiores.

    Pode-se concluir ento, que para uma placa flexvel, carregada de forma uniforme, aplicada a

    uma areia, surgem assentamentos maiores nas bordas da placa e menores no centro, sendo as presses

    uniformes em toda a rea sob o efeito da carga.

    Tendo agora o caso de um solo argiloso, uma placa totalmente flexvel, carregada de forma

    uniforme, transmite superfcie do solo uma presso uniforme. Esta placa introduz maiores presses

    na superfcie do solo junto ao centro da placa, e menores presses consoante mais afastado do centro

    se encontra. Desta forma decorrem maiores assentamentos no centro e menores nos bordos da placa.

    Figura 5.2 - Placa totalmente flexvel, solo argiloso (Rossignolo et al, 2009)

    A frmula de Boussinesq [5.1], permite-nos calcular o mdulo de deformabilidade para este

    tipo de placas.

    [5.1]

    onde:

    n- coeficiente de Poisson

    a - raio da placa [mm]

    - diferena entre 0.7 e 0.3 da presso mxima no primeiro carregamento [MN/m2]

    d - diferena de assentamentos entre 0,7 e 0,3 da presso mxima [mm]

    d

    aE

    212

  • 38

    5.3. Placa perfeitamente rgida

    Consideramos o caso de uma placa perfeitamente rgida, carregada uniformemente, ir

    produzir deformaes uniformes na superfcie do terreno, ou seja tem um assentamento uniforme. Em

    comparao com as placas flexveis, pode-se concluir que as presses no centro so bastante maiores

    que nos bordos da placa, de forma a que os assentamentos sejam uniformes. A forma das presses de

    contacto ser aproximadamente a de uma parbola.

    Figura 5.3 - Placa totalmente rgida, solo arenoso (Rossignolo et al, 2009)

    Uma placa perfeitamente rgida, carregada uniformemente, vai provocar deformaes

    uniformes na superfcie do terreno carregado. Assim, a placa rgida faz uma redistribuio da presso

    uniforme na superfcie da rea carregada, de forma a que sejam uniformes as presses transmitidas a

    qualquer ponto, situado no interior da massa do solo coesivo, prximo ou distante do eixo vertical de

    carregamento. Assim, as presses na superfcie de contacto sero maiores nas bordas da placa do que

    no seu centro.

  • 39

    Figura 5.4 - Placa totalmente rigida, solo argiloso (Rossignolo et al, 2009)

    A frmula de Boussinesq [5.2], permite-nos calcular o mdulo de deformabilidade para este

    tipo de placas.

    [5.2]

    Onde:

    - coeficiente de Poisson

    a - raio da placa [mm]

    - diferena entre 0.7 e 0.3 da presso mxima no primeiro carregamento [MN/m2]

    d - diferena de assentamentos entre 0,7 e 0,3 da presso mxima [mm]

    5.4. Placa perfeitamente flexvel para um sistema de duas camadas

    Burmister desenvolveu uma teoria para um sistema de duas a trs camadas elsticas, para

    calcular tenses e deslocamentos de alguns pontos do sistema em estudo, atravs da aplicao de uma

    carga uniformemente distribuda. Esta teoria considera (Medina, 1997):

    - a hiptese de que os materiais so elsticos, isotrpicos e homogneos;

    -a lei de Hooke vlida e o mdulo de compresso igual ao de traco;

    d

    aE

    21

    2

  • 40

    -o peso das camadas desprezvel, as camadas tm uma dimenso longitudinal infinita, e a

    camada inferior semi-infinita;

    -as condies de fronteira so de que a camada superior est livre de tenses exceptuando as

    da placa circular;

    -na rea carregada existem apenas tenses normais;

    -as tenses e deformaes a grandes profundidades so nulas;

    -o estudo foi realizado para um coeficiente de Poisson de 0,5.

    Figura 5.5 - Valores de influncia para teoria de duas camadas (Burmister, 1943)

    Para interpretar resultados do ensaio de carga com duas camadas, recorre-se teoria de

    Burmister, representando num grfico, a coleco de valores de E1/E2, em funo de E2, que representa

    uma deflexo reversvel igual medida no ensaio. Sendo E1 e E2 os mdulos de deformabilidade, da

    camada superior e inferior, respectivamente. As placas tero dimetros diferentes, o que vai criar reas

    de influncia diferentes, abrangendo diferentes seces.

  • 41

    Figura 5.6 - Bolbos de influncia de placas de dimetro diferentes, quando sujeitas a carregamento

    Ao realizarmos um ensaio com apenas uma placa existe uma infinidade de solues para o

    sistema composto por dois solos. Sendo que se o ensaio for realizado por duas placas diferentes, s

    haver uma soluo possvel, sendo essa na intercepo referida.

    Com o baco representado na figura 5.5, e sabendo a espessura da camada superior, relaciona-

    se com o raio das placas a utilizar, de forma a obter os coeficientes Fw. Este coeficiente traduz uma

    relao entre o solo superior e o solo inferior, que sero multiplicados pelo valor de E obtido no

    ensaio, para permitir representar a curva, relativa placa. Ser repetido o mesmo processo para a

    segunda placa, retirando novos coeficientes Fw. Ao obtermos a intercepo, permite-nos saber o

    mdulo de deformabilidade da camada inferior.

    Figura 5.7 Bolbos de influncia de sistema de solo composto por duas camadas e solo homogneo

    Para uma melhor percepo fsica do coeficiente Fw, foi aplicada a mesma carga de 20 kN

    numa placa circular de 300 milmetros de dimetro, sobre um solo homogneo e sobre solos com uma

  • 42

    camada superior com mdulo de deformabilidade superior, e foram medidas as respectivas

    deformaes. A relao entre a deformao obtida para o sistema de 2 camadas e a deformao obtida

    para o meio homogneo o coeficiente Fw.

    Tabela 5.1 - Coeficiente Fw obtido para os diversos casos

    E1 E2 Deslocamento Fw=d'/d

    Situao 1 50 50 1,43 1

    Situao 2 100 50 0,922 0,644755

    Situao 3 150 50 0,737 0,515385

    Situao 4 250 50 0,571 0,399301

    E1 ,E2, d e d como indicado na Figura 5.7

    Pode-se observar atravs da tabela 5.1 que quanto maior a diferena entre mdulos de

    deformabilidade das camadas superior e inferior, menor ser o valor do coeficiente Fw.

    A figura 5.8 resultado de um ensaio realizado com duas placas diferentes, num sistema

    constitudo por 2 camadas, ao qual foi aplicado o processo anteriormente descrito, sendo que os

    valores obtidos permitiram obter estas 2 curvas na qual se obtem a intercepo referida anteriormente.

    Figura 5.8 - Resultado da aplicao da teoria de Burmister, para 2 camadas, utilizando 2 placas

    0,1

    1,0

    10,0

    0 20 40 60 80

    Placa D 760mm

    Placa D 450mm

    E2 (MPa)

    E1/E2

  • 43

    5.5. Placa perfeitamente flexvel sobre sistema multi-camadas, retro-anlise

    Para proceder determinao do mdulo de deformabilidade das vrias camadas, ser preciso

    que o nmero de medies realizadas seja superior ao nmero de incgnitas, mais propriamente o

    nmero de camadas constituintes do meio ensaiado. Sendo que o valor do coeficiente de Poisson

    arbitrado, no constituir uma incgnita.

    Na seco anterior onde existem duas incgnitas, recorreu-se medida da deformao no

    centro de duas placas de dimetro diferente. A utilizao do FWD uma alternativa aos ensaios de

    carga, principalmente quando os solos so constitudos por vrias camadas. Para proceder anlise

    dos valores obtidos procede-se a um processo de retro-anlise.

    Com base nos trabalhos de Burmister, foram desenvolvidos programas que permitem obter

    deformaes em sistemas multi-camadas. A aplicao da carga provoca bacias de deformao, sendo

    estas no exclusivamente consequncia do carregamento no topo do pavimento, mas tambm das

    espessuras das camadas e mdulo de deformabilidade das vrias camadas que compem esse

    pavimento.

    Atravs da medio de deformaes em vrios pontos da superfcie da estrada, espaados ao

    longo da zona de influncia da carga, ou seja, na bacia de deformao, permite-nos uma melhor

    caracterizao da resposta do pavimento aplicao da carga.

    Assim sabendo que os valores dos geofones mais afastados, so relativos s camadas mais

    profundas, permite-nos saber as caractersticas das camadas inferiores. Prosseguindo a anlise para os

    geofonos mais aproximados da zona de carga, permite-nos caracterizar as camadas superficiais.

    Figura 5.9 - Bacia de influncia resultante da aplicao de uma carga com FWD (CPRengenharia, 2011)

  • 44

    A retro-anlise uma forma de interpretao dos ensaios de carga, com o objectivo de

    determinar os mdulos de deformabilidade das vrias camadas. Este mtodo consiste por via analtica

    e atravs dum processo de tentativas, na obteno de uma deformada calculada o mais prxima

    possvel da deformada medida, considerada representativa para um dado conjunto de ensaios. A

    deformada medida a parte do deflectograma registado na descarga, ou seja, quando retirada a carga.

    Deformada calculada consiste no assentamento calculado para os vrios pontos superfcie do

    pavimento, tendo em conta uma dada combinao de caractersticas de deformabilidade das camadas,

    devido aplicao na superfcie dos materiais granulares das cargas relativas ao ensaio. Um programa

    para o clculo das deformadas, por exemplo, o ELSYM5 da Universidade de Berkeley (EUA)

    (Quaresma, 1985).

    Para o caso de utilizao do deflectmetro de impacto, so medidos os assentamentos em sete

    pontos da superfcie dos materiais granulares, quando aplicada uma carga de impacto devido queda

    de uma massa. Esta fora transmitida atravs duma placa circular e os assentamentos so medidos

    atravs de geofonos ou sismgrafos. Os valores so registados e controlados atravs dum mini-

    computador. Atravs do ecr do mini-computador pode-se visualizar os resultados no decurso dos

    ensaios, podendo ser estes imprimidos ou gravados em suporte digital (Nazzal, 2003).

    5.6. Equipamentos de ensaios de carga mais utilizados e os seus procedimentos

    Antes de realizar um ensaio de carga com placa, necessrio haver uma rea adequada para a

    placa de carga. A superfcie de solo em que ser realizado o ensaio deve ser regular, pode ser feito

    com a ajuda de uma rgua metlica ou de uma colher de pedreiro. Caso seja necessrio para equilibrar

    a irregularidade, pode-se utilizar uma camada de areia ou pasta de gesso seca, de forma a colocar a

    placa de carga na horizontal. Tambm nas zonas inclinadas, o solo na zona de ensaio deve ser

    colocado na posio horizontal, para evitar o movimento do dispositivo de carga.

    5.6.1. Ensaio de carga com placa (ECP)

    O ensaio de carga com placa realizado com uma placa de carga de forma circular, o seu

    dimetro pode ser de vrios valores, os mais comuns sendo variveis de 6 em 6 centmetros, os

    300mm (12), 452mm (18), 600mm (24) e 762mm (30). A espessura da placa nunca deve ser

    inferior a 25mm (Vu, M., 2005).

  • 45

    Sendo que numa mesma obra ser importante utilizar sempre uma placa do mesmo dimetro,

    pois os resultados so um pouco diferentes mediante o dimetro da placa. A medio das deflexes

    poder ser efectuada num ponto, situado a menos de 2 cm do centro da placa, ou em trs pontos

    concntricos, igualmente afastados entre si.

    O aparelho para realizao do ensaio auxiliado por um veculo pesado, normalmente um

    camio. Este aparelho consiste nas placas, podem ser utilizadas apenas uma placa ou mais, no

    dispositivo de carga, num sensor que l as medies e um computador que coordena todo o processo.

    Figura 5.10 - Dispositivo de ensaio de carga

    A aplicao da carga deve comear, como preparao do teste, com uma pr-carregada de 30

    segundos sob presso de 0,01MN/m2, e ser novamente desrecarregada depois disso e o calibrador

    ajustado a zero. Em seguida, o carregamento ser efectuado pelo menos 6 vezes, com a mesma carga,

    at atingir uma deformao de 7 mm ou que a presso sob a placa seja 0.25MN/m2 (Vu, M., 2005).

    Para cada estgio, a carga dever ser mantida constante durante dois minutos, no caso de

    ensaio sobre solos, ou de um minuto, para ensaios sobre materiais de sub-base. Para a determinao do

    valor do mdulo de deformabilidade, Ev, para construo de estradas, dever ser utilizada uma placa

    de 300 mm e a carga dever ser aumentada at se induzir um assentamento de 5 mm ou se atingir uma

    tenso normal sob a placa de 0,5 MN/m2 (Vu, M., 2005).

    Para os ciclos de carga e recarga, a fase seguinte de carga s pode comear quando a

    recuperao do solo ou o abatimento for inferior a 0,02mm/min. Aps o ciclo de carga mxima, a

    carga da placa ser retirada em trs ciclos (50%, 25% e 0% do carregamento mximo). Aps o solo

  • 46

    recuperar completamente, o segundo ciclo de carga ser implementado. No segundo ciclo de

    carregamento dever ser atingida uma fora tal que traduza uma tenso mdia sob a placa de

    0,20MN/m2. A descarga s dever ser efectuada aps a estabilizao da deformao.

    Este ensaio bastante demoroso, pelo que permite apenas a realizao de poucos ensaios por

    dia. Assim sendo, numa estrada a realizao deste ensaio apenas ser possvel com uma baixa

    frequncia, ou seja, em pontos distantes entre si.

    5.6.2. Deflectmetro de impacto (FWD)

    O objectivo deste ensaio visa, com este equipamento, simular uma massa em andamento lento

    e medir a deformao na sua zona de passagem, com o objectivo de medir a rigidez das diversas

    camadas do pavimento e leito de pavimento. Os detalhes de funcionamento do ensaio variam de

    fabricante para fabricante, mas os princpios de funcionamento so os mesmos.

    O aparelho consiste num reboque com duas rodas, que pode ser rebocado por veculos

    convencionais, e suporta um sistema que permite a uma massa cair livremente sobre o solo.

    Figura 5.11 - Dynatest Model 800 (FWD) (Nazzal, 2003)

  • 47

    O peso desta massa varivel entre 50 a 300 Kg, e a sua altura de queda pode igualmente

    variar entre 50 mm a 510 mm. A placa a ser utilizada pode ser de duas dimenses, 300 e 450mm de

    dimetro, e a massa lanada sobre uma borracha para amenizar o choque da carga e para melhor

    distribuir a carga por toda a rea da placa. A fora aplicada ao solo pode variar entre 7 a 105 kN,

    exercendo uma presso de 0,1 a 1,5 MPa. A ttulo de comparao uma roda de um camio exerce uma

    presso de cerca de 0,7 MPa para uma superfcie de contacto equivalente a uma placa com 450 mm de

    dimetro. O efeito produzido pela queda da massa medido por uma clula de carga ou gefono,

    situado em cima da placa de carga. Este sistema composto por uma fila de sete gefonos, que esto

    ligados a um quadro metlico que preso ao chassis de um veculo, e com capacidade de ler

    deformaes de +/- 0,023 mm e com uma preciso de 2%. A distncia dos gefonos da aplicao da

    carga regulada em funo do tipo de pavimento ou da camada testada. As distncias entre cada

    sensor e a carga so normalmente incrementos de