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1 Análise ambiental da bacia hidrográfica do córrego do Mineirinho São Carlos/SP Raphael Ricardo Zepon Tarpani João Luiz Boccia Brandão Departamento de Hidráulica e Saneamento (SHS), Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 São Carlos, Brasil [email protected] Autor para a correspondência: +55 (16) 9201 7713 e-mail: [email protected] Palavras chave: Planos Diretores Municipais, Recursos Hídricos, Gestão Municipal, Mapeamento de Risco Título abreviado: Análise ambiental

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Page 1: Análise ambiental da bacia hidrográfica do córrego do ... · Departamento de Hidráulica e Saneamento (SHS), Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo

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Análise ambiental da bacia hidrográfica do córrego

do Mineirinho – São Carlos/SP

Raphael Ricardo Zepon Tarpani

João Luiz Boccia Brandão

Departamento de Hidráulica e Saneamento (SHS), Escola de Engenharia de

São Carlos – Universidade de São Paulo

Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 São Carlos, Brasil

[email protected]

Autor para a correspondência: +55 (16) 9201 7713 e-mail: [email protected]

Palavras chave: Planos Diretores Municipais, Recursos Hídricos, Gestão Municipal,

Mapeamento de Risco

Título abreviado: Análise ambiental

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ABSTRACT

Environmental damages, particularly on water resources, are becoming

increasingly visible in our day to day. This is due to decades of neglect of Brazil with its

springs, streams and adjacent areas, which ultimately impair the quantity and quality of

such a valuable natural resource, the water. The disorderly settlement, sealing of

overgrazing and lack of permanent preservation areas preserved, cannot even contribute

to a better quality of life of people but hurting communities and the environment. In this

context arises the Municipal Master Plan, which has an important role in helping the

council to diagnose and recover areas that have been degraded, as well as keeping the

areas that are still preserved, allowing the council to present a better evolution in the

quality of its urban space.

The proposed work examines the Municipal Master Plan of São Carlos - SP (as

well as applicable local, state and federal required) and through this seeking to improve

and make proposals for the site, and indicate the main points of interest for the recovery

of the micro watershed urban chosen. For the development of diagnoses and proposals

were made on-site visits seeking to verify the difficulties encountered in the region.

When researching the occupation of urbanization in the basin, can be understood as was

the occupation of the basin and its effects on the region's water resources (erosion,

silting and concentration of solid waste in inappropriate places, etc.). Analyzing all the

information acquired, together with a review of the site were proposed guidelines and

actions for the watershed, and identifying strategic points for actions of environmental

recovery.

RESUMO

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Os danos ambientais, particularmente sobre os recursos hídricos, vêm se

tornando cada vez mais perceptíveis em nosso dia a dia. Esse fato se deve a décadas de

descaso do Brasil com suas nascentes, cursos d’água e áreas adjacentes, que acabaram

por comprometer a quantidade e qualidade desse tão valioso recurso natural, a água. A

ocupação urbana desordenada, a impermeabilização excessiva do solo e a carência de

áreas de preservação permanente preservadas, acabam por não contribuir para uma

melhor qualidade de vida da população, mas sim prejudicando as comunidades e o meio

ambiente. Nesse contexto surge o Plano Diretor Municipal, que têm o importante papel

de ajudar o município a diagnosticar e recuperar as áreas que foram degradadas, bem

como manter as áreas que ainda estão preservadas, permitindo o município apresentar

uma melhor evolução na qualidade de seu espaço urbano.

O trabalho proposto analisa o Plano Diretor Municipal da cidade de São Carlos -

SP (bem como as Leis Municipais, Estaduais e Federais necessárias) e através deste

busca aprimorar e formular propostas para o local, além de indicar pontos de principal

interesse para a recuperação da micro bacia hidrográfica urbana escolhida. Para a

elaboração de diagnósticos e propostas, foram realizadas visitas in loco buscando

verificar as dificuldades encontradas na região. Ao pesquisar a ocupação da urbanização

na bacia, pode-se entender como ocorreu à ocupação da bacia e seus efeitos nos

recursos hídricos da região (erosões, assoreamentos e concentração de resíduos sólidos

em locais inadequados, etc.). Analisando todas as informações adquiridas, em conjunto

com uma análise crítica do local, foram propostas diretrizes e ações para que a bacia,

além da identificação de pontos estratégicos para ações de recuperação ambiental.

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INTRODUÇÃO

Foi necessário que a situação da qualidade e quantidade dos recursos hídricos

brasileiros, indissociáveis de acordo com a Política Nacional dos Recursos Hídricos

(Lei federal n.º 9.433/97) chegasse a níveis desafiadores para que as providências

necessárias para controlar o uso desse precioso recurso natural fossem tomadas. A

perspectiva de escassez e qualidade por demais insatisfatória desse recurso fez com que

certas providências, como uma melhor fiscalização e a adoção de padrões de

potabilidade para empreendimentos de caráter poluidor, fossem adotadas em todo o

Brasil através da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6938/81) pelas resoluções

do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

A gestão do recurso natural água é por vezes deixada em segundo plano pelos

governantes, que tomam atitudes demasiadamente políticas para controlar a degradação

e uso deste recurso, acabando por comprometer cada vez mais a qualidade de vida

futura das comunidades. E mesmo quando há projetos visando recuperar os danos

causados ao meio ambiente pela urbanização, geralmente são obras de alto custo para a

sociedade, e que poderiam ser facilmente evitadas com um controle e fiscalização mais

rigorosos ao longo das administrações anteriores. Temos ainda, na visão geral política

brasileira, que obras de grande porte, altos custos e pontuais são a solução para lidar

com a nossa irresponsabilidade com o meio ambiente, sendo que cada vez mais está

sendo comprovado que a saída para solucionar os problemas ambientais são, em sua

maioria, ações pequenas, de pequenos custos relativos e difundidos pela malha urbana.

Segundo Campos Filho (1999): “aproximadamente a metade ou mais do espaço

urbano brasileiro está vazio, assim o cidadão anda em média o dobro das distâncias que

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deveria andar, caso tais vazios inexistissem, e o poder público é obrigado a pelo menos

dobrar o seu investimento e o custeio das redes de serviços públicos, que dependem da

extensão da cidade, a exemplo da pavimentação de ruas, implantação e manutenção de

redes de água, esgoto e energia elétrica, entre outros.”. Isso explica parcialmente o

processo de degradação social e ambiental que ocorre, especialmente após 1950, no

Brasil, assim como Freitas (2002) cita: “esse processo de exclusão social e territorial

acaba por explicar, em parte, uma das causas do desequilíbrio e da degradação

ambiental, quer do meio ambiente natural, quer do artificial ou construído. Explica, por

exemplo, porque famílias carentes “preferem” ocupar as encostas íngremes dos morros,

para “viver a emoção” de colocar em risco sua integridade física e de sua prole, e

porque “optam” por invadir áreas públicas ou alojar-se às margens dos córregos, nos

mangues e áreas de preservação permanente.”.

Tendo em vista os fatos acima citados, é de interesse de toda a sociedade que

haja uma boa gestão dos interesses da comunidade, respeitando os direitos da sociedade

bem como o do meio ambiente em que ela se encontra. Para isso, é necessário que se

tenha o máximo de conhecimento e informação sobre a área ser gerida, de modo que as

medidas de revitalização e recuperação se tornem mais eficazes e menos custosas tanto

ao meio ambiente quanto para a sociedade. Sendo assim, o presente estudo analisa a

bacia hidrográfica do córrego do Mineirinho, localizada na cidade de São Carlos/SP, de

um modo amplo, analisando os aspectos ambientais, sociais e físicos, em busca de

informações e pontos de interesse para uma ação mais efetiva para uma futura

recuperação da micro bacia hidrográfica.

METODOLOGIA

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Para a concretização do trabalho, utilizou-se o Plano Diretor Municipal (Lei

Federal no 10.257/01) de São Carlos; a Política Municipal do Meio Ambiente de São

Carlos (Lei Municipal no 11.236/96); artigos 182, 183 e 186 da Constituição Federal de

1988; parágrafos e artigos da Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei federal n.º

9.433/97); parágrafos e artigos da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº

6938/81); artigos e trabalhos sobre caracterização de bacias hidrográficas e sobre o

córrego do Mineirinho; entrevistas com representantes de Secretarias Municipais de São

Carlos e três visitas à bacia hidrográfica (sentido montante-jusante) em busca de

informações e de pontos críticos como obras de drenagens, vazamentos de esgoto,

erosões, etc. Assim, análise ambiental proposta está principalmente fundada nos dados e

informações obtidas com as fontes acima citadas, buscando gerar uma visão mais real e

específica da bacia, com ênfase no aspecto ambiental e enfoque nos recursos hídricos.

Dentre as bacias hidrográficas da cidade de São Carlos, a bacia do córrego do

Mineirinho apresenta características singulares, o que a torna interessante para o estudo.

Duas das principais características são estar localizada no vetor de crescimento urbano

do município de São Carlos e pelo fato de esta ser uma bacia de ocupação bastante

recente. Portanto essa bacia propicia um ótimo exemplo de como o Plano Diretor

Municipal pode ser aplicado para melhorar a infra-estrutura de uma região, sem que a

mesma atinja um alto estágio de degradação ambiental. A Bacia do Mineirinho engloba

desde áreas carentes até condomínios fechados de alto padrão, além de uma

universidade (USP São Carlos – Campus 2) e um shopping center (Iguatemi São

Carlos). Para se entender melhor a dinâmica e os problemas que atingem a área,

apresenta-se a seguir a caracterização física e social da bacia.

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Características Físicas

A ocupação desordenada da área da Bacia do Mineirinho prejudicou a malha

viária, que não possui continuidade (traçado podâmico), causando diversos problemas

para o deslocamento dos veículos que trafegam pela área. Há também uma grande

quantidade de crianças que brincam em áreas inapropriadas (como em ruas de tráfego

pesado que não possuem meio fio), facilitando a ocorrência de acidentes, como

atropelamentos. O padrão habitacional da bacia do Mineirinho varia bastante ao longo

do seu curso. A montante prevalece habitações de caráter popular e de baixo padrão,

com más condições de infra-estrutura e desconectados entre si; já a jusante encontra-se

condomínios fechados de alto padrão, com bastante infra-estrutura e ligados a uma

malha viária capaz de suportar tal adensamento com facilidade.

Figura 1 - Limites da bacia hidrográfica do córrego do Mineirinho

A bacia possui uma área aproximada de 5.85 Km2 e possui basicamente, de

acordo com artigos analisados sobre a bacia do Mineirinho, o seu uso e ocupação do

solo em 2007-2008 assim divididos basicamente: 40% de área urbanizada (80% dessa

urbanização se dão na margem esquerda); 15% da área são cobertas pela cultura de

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cana-de-açúcar e Pinus; 10% da área da bacia está coberta por Pinus; 20% da cobertura

da bacia é composta por campos e/ou pastagens; 15% da área é composta por solo

exposto (basicamente terrenos baldios, praças mal-consolidadas e despejos

clandestinos); 10% da área são matas ciliares que se encontram beirando os córregos e

nascentes (florestas Paludosas).

Características Sociais

A Bacia do Mineirinho foi primeiramente ocupada nas décadas de 60 e 70, com

os lotes localizados próximo ao bairro Santa Felícia, enquanto que as áreas mais

próximas das nascentes e do córrego em si vieram a ser urbanizadas somente na década

de 90. A área da bacia hidrográfica começou a ser habitada por habitantes oriundos do

antigo vetor de crescimento da cidade, localizado no bairro Jardim Gonzaga (sudeste da

cidade), que devido ao fato de apresentar um relevo muito acidentado não podia mais

receber construções, principalmente as precárias como as encontradas na área. Assim,

parte da população carente da cidade se deslocou para a área da Bacia do Mineirinho,

acelerando a ocupação do local. Moradores oriundos da zona rural da cidade, com

geralmente pouco poder aquisitivo e educação primária, também se instalaram na bacia

ao se mudarem para a cidade.

O Plano Diretor Municipal de São Carlos subdivide a bacia em praticamente

duas grandes zonas, com nomes auto-explicativos: Zona de Ocupação Induzida – Zona

1 e Zona de Ocupação Condicionada – Zona 2. A bacia também apresenta Área de

Principal Interesse Social e Área de Especial Interesse Ambiental. Para cada zona

delimitada pelo Plano Diretor na bacia, analisaram-se as diretrizes propostas pelo

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mesmo para área, de modo a obter informações de como a gestão municipal caracteriza

certas áreas municipais, o que influencia na tomada de decisões futuras na área. As

diretrizes foram analisadas também foram comparadas com as informações coletadas

durante as visitas técnicas.

Figura 2 - Bacia do Mineirinho e zonas do Plano Diretor (fonte: Plano Diretor Municipal de São Carlos)

Mapeamento ambiental da bacia

As visitas realizadas buscaram, além de problemas sócio-ambientais, a

espacialização de pontos estratégicos visitados ao longo do percurso das visitas, através

de coordenadas geográficas UTM (Universal Transverse Mercator). Através do uso

dessas coordenadas, buscou-se facilitar a comparação ao longo do tempo dos pontos

visitados, ficando assim mais fácil monitorar as condições de cada ponto em uma

próxima visita ou estudo de caso na região, e assim concluir se a região do ponto

relatado está apresentando melhorias ou não.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir é apresentado um mapa com alguns dos pontos visitados na terceira

visita realizada na bacia do córrego do Mineirinho, e após algumas fotos com

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comentários sobre os pontos de interesse. As visitas foram todas realizadas no horário

das 14:00 às 17:00 nos meses de fevereiro e novembro de 2007 e fevereiro de 2008.

Figuras 3(a) e 3(b) - Bacia do Mineirinho: pontos de interesse visitados e classificação da urbanização proposta

Abaixo é apresentada uma classificação da urbanização proposta para a bacia:

Classe 1: área urbana consolidada, distante do centro da cidade, ausência de arborização

urbana e vegetação intra lote, meio lote (maioria 5x25), alta densidade, predomínio de

coberturas com laje e cimento amianto; Classe 2: área urbana consolidada, tipo conjunto

residencial classe média-baixa, afastados do centro, quadras, lotes e residências

padronizados, presença de arborização urbana de médio porte, presença de meios lotes

(5x25), casas geminadas, coberturas cerâmicas; Classe 3: Mais próxima ao centro, lotes

e quadras bem definidos, arborização urbana de grande porte, presença de áreas verdes

intra lotes, lotes inteiros, um domicilio por lote incluindo piscinas, predomínio de

cobertura cerâmica;

As Figuras 4(a) e 4(b) demonstram uma obra de drenagem (localizada no ponto

1 da figura 3(a), de coordenadas UTM 23K 198123; 7564668), que perdeu totalmente a

sua utilidade. A obra deveria drenar a água pluvial de uma parte da bacia para outra,

sem prejudicar as margens do rio.

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Figuras 4(a) e 4(b) - Obra de drenagem de água pluvial (ponto 1)

As más condições da obra acabaram por causar a degradação acelerada do canal

e uma grande erosão em volta da obra, que aumenta a cada chuva de grande intensidade,

assoreando o leito do rio de modo crítico a jusante da obras. A erosão também, além de

causar a perda de solo em uma área de APP, também dificulta o crescimento de

vegetação local, seja ela nativa ou não. Durante a última visita ficou evidente a

contaminação por esgoto clandestino no local, devido ao forte cheiro característico deste

nas margens do córrego. Essa obra fere, portanto, vários artigos da Política Municipal

do Meio Ambiente de São Carlos, bem como outros pressupostos de Leis Federais.

Na parte de drenagem, a cidade de São Carlos não distingue condições das obras

da bacia, orientando os locais específicos onde será necessária atenção especial

futuramente. Um exemplo de ações para a área seria a de localizar as antigas obras de

drenagens que foram feitas e não estão funcionando corretamente e aprimorá-las, já que

as possibilidades de revitalização total do leito são quase nulas; outra seria a de

delimitar áreas que possuam uma fragilidade natural especificá-las para que recebam

atenção especial por parte das ações e prioridades da prefeitura. Assim, percebe-se o

descaso municipal com obras de drenagem de águas, que prejudica todo o ambiente.

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Outro problema que é comum em praticamente toda a área urbanizada da bacia,

que é a questão dos resíduos sólidos (ponto 2 da figura 3(a), de coordenadas UTM 23K

198180; 7564551). Devido à baixa renda da população local, crianças e adultos

trabalham retirando materiais de valor do lixo comum ou de construções visando

aumentar a renda da família. Materiais que não possuem mais valor e lixo são jogados

sem qualquer controle em vários locais da bacia, preferencialmente nas margens dos

córregos, nascentes e remanescentes de áreas verdes, contaminando e prejudicando o

curso natural do córrego.

Um dos problemas mais sérios encontrados nas visitas à bacia do Mineirinho se

encontra no ponto 3 (figura 3(a), de coordenadas UTM 23K 197784; 7564343). Trata-se

de um vazamento de esgoto doméstico bruto nas margens de um afluente do córrego

Mineirinho, visualizado nas figuras 5(a) e 5(b). Tal vazamento pode causar tanto

problemas ambientais quanto de saúde para a população que passa nos arredores da

tubulação. Doenças como hepatite A, cólera e outras podem ser transmitidas com o

contato com o esgoto, principalmente em áreas onde há muitas crianças.

Figuras 5(a) e 5(b) - Vazamento de esgoto sanitário em APP (ponto3)

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Na nascente localizada no ponto 4, encontra-se principalmente problemas

relacionados a uma urbanização irregular (ponto 4 da figura 3(a), de coordenadas UTM

23K 197344; 7565200). Na nascente encontram-se plantações, como por exemplo,

milho e mandioca, ao invés de mata ciliar (figuras 6(a) e 6(b)).

Figuras 6(a) e 6(b) - Culturas plantadas em Área de Preservação Permanente (ponto 4)

A jusante do Campus 2 da USP – São Carlos o córrego já apresenta melhores

condições devido a um menor coeficiente de urbanização, porém em certas partes há

falhas na mata ciliar e na drenagem superficial como um todo, prejudicando o asfalto e

o calçamento, além de erosão em diversos pontos, com freqüentes refluxos de água

pluvial por bocas-de-lobo. O ponto 6 da figura 3(a), de coordenadas UTM 23K 198197;

7563287 é um exemplo de onde ocorre tais problemas.

A construção de um novo condomínio fechado na área, o Parque Faber II, tende

a piorar a situação de erosão no local, já que a água de drenagem pluvial do condomínio

será direcionada para o córrego do Mineirinho. O ponto 5 da figura 3(a), de coordenadas

UTM 23K 199231; 7562539 exemplifica o problema do assoreamento e erosão no leito

do córrego.

As visitas à bacia mostraram que a área possui uma quantidade significativa de

lotes não ocupados, sendo que provavelmente os donos dos lotes e imobiliárias esperam

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que a grande valorização esperada para a área valorize também seus terrenos, a chamada

a especulação imobiliária. Tal ato descumpre claramente a função social da propriedade

(artigo 182 § 2 º: da Constituição Federal de 1988) e a Prefeitura tem o dever de evitar

tal especulação, através da aplicação dos instrumentos como o IPTU progressivo, etc.

como descrevem a legislação vigente.

CONCLUSÃO

É de suma importância que os fatos da degradação de uma bacia sejam

interligados. A evolução da qualidade do meio ambiente na bacia só pode ser

compreendida ao se analisar todos os aspectos que envolvem o ambiente da mesma. As

visitas técnicas foram de vital importância para se analisar o quão distante as propostas

do Plano Diretor Municipal estão para a real situação da área, ou seja, descobrir as

ações básicas necessárias para que as diretrizes propostas possam ser efetivadas.

Foram propostos alguns pontos de interesse urbano-ambiental na região, que

merecem especial atenção por parte da gestão municipal, além de áreas mais degradadas

que devem ser prioritariamente recuperadas. Esses pontos merecem especial atenção por

descumprirem claramente várias leis estaduais e municipais vigentes no Brasil. Os

problemas ambientais apresentados devem ser devidamente sanados, de modo a

propiciar uma melhora na qualidade do ambiente da região, e assim suportar a

expectativa de aumento populacional da área (principalmente da área de ocupação

induzida do Plano Diretor) sem maiores problemas futuros como enchentes,

erosões,invasões de área de preservação permanente, etc.

Portanto o presente estudo, após uma análise geral de vários temas pertinentes

não só a bacia do Mineirinho, mas também ao município de São Carlos, permitiu que a

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bacia fosse entendida não apenas como um sistema fechado, mas sim como parte de um

sistema de gerenciamento municipal. A documentação de pontos críticos da bacia

permitirá que se controle a situação ao longo do tempo dos pontos listados, dando base

para o monitoramento da evolução de ações municipais na bacia e dos danos causados

por eventos naturais ou antrópicos (como chuvas e resíduos sólidos respectivamente).

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Ahrens, S. 2003. O “novo” código florestal brasileiro: conceitos jurídicos fundamentais,

trabalho voluntario apresentado no VIII Congresso Florestal Brasileiro – São Paulo/SP.

1 CD-ROM.