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1 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL ANIMAÇÃO DA VIDA LITÚRGICA NO BRASIL Elementos da Pastoral Litúrgica 27ª Assembléia Geral Itaici, SP, 5 a 14 de abril de 1989 INTRODUÇÃO 1. Este texto é conseqüência da pesquisa feita pela Linha 4, Dimensão Litúrgica da CNBB, quando se completaram 20 anos da promulgação da Sacrosanctum Concilium em 1983. O resultado colhido sobre a caminhada da reforma e renovação litúrgicas pós-conciliares, foi devolvido às bases através do livro Estudos da CNBB, n 42: Liturgia, 20 anos de caminhada pós-conciliar. 2. Tendo a CNBB dedicado esforços especiais às diversas dimensões da vida da Igreja, urge refletir, agora e de modo bem abrangente, sobre a dimensão celebrativa, que tem aspecto profético e transformador e é a alma de todas as outras 1 . Para unir a dimensão celebrativa à dimensão profética e transformadora, o fundamental é prover de modo positivo e permanente, a formação de todos os agentes de pastoral, começando pelos mais responsáveis pela vida litúrgica nas diversas igrejas. 3. Não pretendemos aqui apresentar um Manual de liturgia nem um Diretório dos Sacramentos, mas Elementos de Pastoral Litúrgica. Desejamos contribuir para promover e animar a Pastoral Litúrgica na formação dos agentes de Pastoral, para dinamizar as celebrações, para a constituição de suas equipes e para impulsionar a adaptação litúrgica conforme os apelos do Espírito na Igreja. 4. Este trabalho contém duas partes: Na 1ª parte refletimos sobre a caminhada litúrgica pós-conciliar, a natureza da liturgia, sua linguagem e suas múltiplas expressões, a importância da espiritualidade litúrgica e a urgência, tanto da aculturação e inculturação como da formação para a necessária adaptação e criatividade. Esta parte termina com algumas orientações pastorais sobre a liturgia em geral. Já na 2ª, mais prática, são apresentadas orientações pastorais sobre a Celebração Eucarística. I. A VIDA LITÚRGICA CAPÍTULO I: A CAMINHADA LITÚRGICA PÓS-CONCILIAR E SEUS ATUAIS DESAFIOS

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  1. 1. 1 CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL ANIMAO DA VIDA LITRGICA NO BRASIL Elementos da Pastoral Litrgica 27 Assemblia Geral Itaici, SP, 5 a 14 de abril de 1989 INTRODUO 1. Este texto conseqncia da pesquisa feita pela Linha 4, Dimenso Litrgica da CNBB, quando se completaram 20 anos da promulgao da Sacrosanctum Concilium em 1983. O resultado colhido sobre a caminhada da reforma e renovao litrgicas ps-conciliares, foi devolvido s bases atravs do livro Estudos da CNBB, n 42: Liturgia, 20 anos de caminhada ps-conciliar. 2. Tendo a CNBB dedicado esforos especiais s diversas dimenses da vida da Igreja, urge refletir, agora e de modo bem abrangente, sobre a dimenso celebrativa, que tem aspecto proftico e transformador e a alma de todas as outras1 . Para unir a dimenso celebrativa dimenso proftica e transformadora, o fundamental prover de modo positivo e permanente, a formao de todos os agentes de pastoral, comeando pelos mais responsveis pela vida litrgica nas diversas igrejas. 3. No pretendemos aqui apresentar um Manual de liturgia nem um Diretrio dos Sacramentos, mas Elementos de Pastoral Litrgica. Desejamos contribuir para promover e animar a Pastoral Litrgica na formao dos agentes de Pastoral, para dinamizar as celebraes, para a constituio de suas equipes e para impulsionar a adaptao litrgica conforme os apelos do Esprito na Igreja. 4. Este trabalho contm duas partes: Na 1 parte refletimos sobre a caminhada litrgica ps-conciliar, a natureza da liturgia, sua linguagem e suas mltiplas expresses, a importncia da espiritualidade litrgica e a urgncia, tanto da aculturao e inculturao como da formao para a necessria adaptao e criatividade. Esta parte termina com algumas orientaes pastorais sobre a liturgia em geral. J na 2, mais prtica, so apresentadas orientaes pastorais sobre a Celebrao Eucarstica. I. A VIDA LITRGICA CAPTULO I: A CAMINHADA LITRGICA PS-CONCILIAR E SEUS ATUAIS DESAFIOS
  2. 2. 2 5. Apresentamos inicialmente uma viso geral da caminhada litrgica no Brasil a partir do Conclio Vaticano II, realando dois aspectos: uma viso de conjunto das trs dcadas e os desafios atuais. 1. Viso de conjunto das trs dcadas 6. Quem lembra como era celebrar a Liturgia h 25 anos e pensa como se apresenta hoje, percebe uma transformao imensa, realizada gradativamente. H, nesse processo, caractersticas significativas em cada uma das trs dcadas passadas. 1.1. Os anos 60 7. Um grande entusiasmo marcou a acolhida da Sacrosanctum Concilium. O uso do vernculo modificou profundamente o estilo das celebraes. No altar, o sacerdote voltado para o povo, ps a presidncia face a face com o povo, criando novo espao e nova comunicao na assemblia litrgica. Aboliu-se de imediato a duplicao que se havia introduzido na celebrao da missa, com textos proclamados em latim e repetidos em vernculo. Os ritos foram simplificados e tornados mais claros para facilitar a compreenso e a participao do povo. O canto das partes do Comum da missa, em vernculo, e sobretudo a possibilidade de cantar os textos da missa em ritmo popular, tambm deram nova vida celebrao. 8. Multiplicaram-se os cursos de Liturgia, onde se insistiu na necessidade da participao ativa dos fiis e do exerccio das diversas funes, como o comentarista, os leitores, o animador e os grupos de canto. Aos poucos foram sendo introduzidos, tambm, novos instrumentos musicais. 9. Alm disso, foram-se realizando Encontros Nacionais e Regionais de Liturgia. Surgiram obras nossas e outras traduzidas. A reflexo e a prtica litrgicas tornaram-se vivas nos vrios cursos do ISPAL (Instituto Superior de Pastoral Litrgica), que prestaram inestimvel servio renovao litrgica no Brasil. 10. Neste perodo aparecem tambm algumas dificuldades. A lentido e a demora da reforma e renovao oficiais ensejou a alguns interpretar e aplicar o documento conciliar de maneira autnoma e, por vezes, arbitrria. As iniciativas, tomadas nem sempre de acordo com os critrios emanados do Conclio, exageraram, sobretudo, o descaso pelo aspecto jurdico do culto que, sendo comunitrio, dele tambm necessita. Por isso, avanaram o sinal de tal modo que no foi fcil retroceder quando necessrio. 11. Por outro lado, a descoberta do sentido e do valor da Liturgia como cume e fonte da vida da Igreja fez com que se abandonassem com certo desprezo outras formas de culto como os exerccios de piedade e as devoes populares2 . No se conseguiu ainda preencher o vazio deixado pelo seu abandono. 1.2. Os anos 70 12. Trs principais aspectos caracterizam este perodo: A introduo dos novos livros litrgicos, os Documentos pastorais e a abertura da Igreja para a dimenso social de sua vida e, conseqentemente, de sua Liturgia3 . 13. Os livros foram apenas traduzidos e no adaptados. A Liturgia das Horas teve de se contentar com a traduo da Orao do Tempo Presente, editada na Frana. Infelizmente os documentos litrgico-pastorais da CNBB, bem como as Introdues teolgico-pastorais aos novos Rituais, apesar de seu grande valor, no tiveram a esperada influncia na caminhada de nossa vida litrgica.
  3. 3. 3 14. A realidade sofrida do povo fez a Igreja crescer na conscincia de sua dimenso proftica e evangelizadora. De fato, em Medelln (1968) os Bispos latino- americanos, apontavam os rumos da promoo social. J em 1974, o Snodo dos Bispos testemunha que a Igreja toda caminhava nessa direo, esplendidamente exposta na Evangelii Nuntiandi, que a Conferncia Latino-americana em Puebla buscou aplicar nossa realidade4 . 15. Enquanto as atenes da Igreja se concentravam nos grupos marginalizados, nas grandes massas empobrecidas e oprimidas e desejosas de libertao integral, germinavam as sementes de uma nova expresso litrgica ligada vida. 16. Sobretudo nas CEBs, sob a influncia crescente da Teologia da Libertao, a nova reflexo sobre a Cristologia e Eclesiologia na Amrica Latina inova maneiras de celebrar a F. 17. Nesse contexto aparecem elementos positivos e negativos da caminhada litrgica. Foi positivo o novo modo de celebrar os sacramentos. A Penitncia, por exemplo, se enriqueceu com as celebraes comunitrias, segundo o novo Ritual. E a Uno dos Enfermos tomou outras dimenses, mais na linha da Pastoral da Sade. 18. A Orao do Tempo Presente levou o clero, as comunidades religiosas e no poucos cristos leigos a redescobrir o valor e as riquezas da orao comunitria da Igreja. 19. A valorizao dos ministrios na assemblia litrgica estimula o aparecimento de novos ministrios na pastoral. E a mulher consegue lugar de destaque na Liturgia mais participada. Enfim, tem incio a valorizao da religiosidade popular em suas diversas formas e expresses. 20. H, porm, elementos negativos nessa dcada. Com a deficiente formao litrgica nos seminrios e a insuficiente reciclagem oferecida ao clero, os padres, em geral, ficaram privados da espiritualidade litrgica, ao mesmo tempo em que, no culto, infiltrava-se descabido desprezo pelas rubricas indispensveis e novo rubricismo, na execuo material dos ritos e no uso servil dos folhetos. Sensvel foi nesse perodo como diminuiu a participao na confisso auricular. O exerccio da celebrao penitencial, com absolvio geral, no bem orientado, fez diminuir a participao na confisso auricular, privando o povo das riquezas desta forma de penitncia sacramental. 21. Aqui e ali reduziu-se a celebrao a mero meio de mentalizao ideolgica. E em que pese benfica integrao da religiosidade do povo, parece, s vezes, que se alimenta a possibilidade de outra Liturgia, a popular, em oposio oficial. 1.3. Os anos 80 e a situao atual 22. Trs fatos marcam esta dcada: a pesquisa sobre a situao da vida litrgica no Brasil (1983), a ampla avaliao das Diretrizes Gerais da Ao Pastoral da CNBB (1987) e o estudo provocado pelo instrumento de trabalho Por um novo impulso vida litrgica (1988). 23. Deles se depreendem certos dados importantes: junto com um certo cansao no campo da Liturgia cresce uma busca de solues em nvel mais profundo.
  4. 4. 4 24. Persistem falhas j apontadas, como deficiente formao litrgica dos agentes em todos os nveis, com uma defasagem agravante entre leigos que estudam e um clero pouco interessado. 25. Descobriu-se toda a amplido de um dado relativamente novo: Cerca de 70% das celebraes, no Dia do Senhor, so realizadas por comunidades que vivem e celebram sua f sem a presidncia de um ministro ordenado. 26. Nem todas as deficincias que vm tona no culto so falhas da dimenso litrgica: muitas devem ser atribudas falta de evangelizao, catequese incompleta e ausncia de vida comunitria. 27. promissor o fato de uma pastoral litrgica mais integrada na pastoral orgnica, como se verifica na presena, em cada Regional, de um bispo responsvel pela Liturgia, suscitando equipes animadoras desta pastoral em vrios nveis. Abrem-se assim perspectivas para a difcil tarefa de fazer confluir numa Liturgia viva as riquezas da tradio romana, da religiosidade popular, da orao comprometida com a transformao do mundo e a orao de louvor cada vez mais difundida, sobretudo nas grandes cidades nos grupos de orao5 . 2. Desafios 28. Na situao atual da vida litrgica surgem alguns desafios mais urgentes: Participao: o Conclio preconiza a participao ativa, consciente e frutuosa6 . Como promov-la sempre mais? At que ponto os meios atuais, como folhetos, cantos, smbolos, concorrem ou impedem essa participao? 29. Criatividade e adaptao: a participao reclama criatividade e adaptao. Como ampliar as oportunidades existentes na Liturgia, para isso? 30. Civilizao urbano-industrial: a maioria do nosso povo vive na cidade secularizada e massificada pelos Meios de Comunicao Social. Que smbolos, gestos e sinais sero realmente significativos dentro deste novo contexto? 31. A Palavra de Deus: A Palavra de Deus sempre eficaz e transformadora (cf. Is 55,10-11; Hb 4,12)7 . O que falta para que as assemblias litrgicas levem a maior compromisso de f e melhor ligao entre f, Palavra e vida? 32. O Ano Litrgico: como superar o paralelismo entre as celebraes do Ano Litrgico e os dias, semanas e meses temticos (Ms da Bblia, Dia das Misses, Ms Vocacional)? 33. A Piedade Popular: como redescobrir a riqueza da religiosidade popular e integr-la na Liturgia? 34. A Aculturao e Inculturao: como concretamente levar adiante o processo de aculturao e de inculturao desejado pelo Conclio, para que se chegue a uma expresso litrgica sempre mais de acordo com a ndole do povo brasileiro constitudo de tantas etnias? 35. Todos estes desafios deixam claro quanto e como necessrio desencadear um processo de formao litrgica sistemtica e permanente. Formao que se baseia na compreenso teolgica da Liturgia e faa superar tanto o no-rubricismo quanto a improvisao arbitrria. CAPTULO II: LITURGIA: CELEBRAO DO MISTRIO DA SALVAO
  5. 5. 5 1. A Celebrao 36. Em todos os tempos e lugares, homens e mulheres de todos os meios e nveis sociais, de todas as culturas e religies, costumam realar, ao longo da existncia, aspectos fundamentais da vida individual, familiar, social e religiosa. 37. Celebrar parte integrante da vida humana, que tecida de trabalhos e de festas, de horas gastas na construo e espaos destinados a usufruir de seus resultados. 38. A celebrao nos leva a descortinar a grandeza de nosso ser e de nosso destino de imagens de Deus, grandeza que corremos o perigo de esquecer nas lutas pela vida, nas frustraes da existncia. A celebrao nos abre espao para vivermos em comunho que o anseio profundo de nosso ser social. E completamos com nossa fantasia o que a dura realidade cerceia em nossa vocao para a plenitude e para a auto-realizao. 39. Sendo um momento em que se evoca o fato passado para reviv-lo intensamente no nosso hoje, a celebrao ocupa, na Religio, um lugar privilegiado: porque pe homens e mulheres em comunho entre si e com Deus atravs de smbolos ou sinais. No cristianismo, a celebrao consiste na memria do acontecimento fundante do Povo de Deus, isto , a morte e ressurreio do Senhor, que perpetua na Histria a salvao que Cristo veio trazer a todos. 40. Em nossas celebraes religiosas h muitos objetos, gestos e atitudes especiais de pessoas: altar, cruz, livros, luzes, toalhas, palavras, mos postas, mos estendidas, sinal da cruz, genuflexo, procisses Eles entram na Liturgia como smbolos ou sinais significativos. 41. Smbolos chamamos os objetos ou gestos que contm e expressam, de forma analgica, a realidade evocada, que ento aparece de outra maneira. Lavar as mos na missa, por exemplo, hoje, smbolo do esforo de purificao interior. Mostra uma pureza que deve existir, aqui e agora no interior de quem participa de tal gesto. Todos os sinais empregados na liturgia so simblicos. 42. A celebrao litrgica, estruturada em smbolos e sinais, corresponde perfeitamente psicologia do homem e da mulher, sobretudo dos mais simples, que preferem manifestar seus sentimentos por atitudes, gestos, objetos: uma visita, um abrao, um presente. 43. De modo especial, ns latino-americanos, preferimos reforar assim a exuberncia de nossos sentimentos. Por essa razo, nossa Liturgia deve abrir espaos para as expresses de nosso povo. Assim nossas celebraes conseguem a participao de todas as pessoas e da pessoa toda, envolvendo tambm seus corpos e a maneira caracterstica de alimentar e exprimir seus sentimentos. 2. Celebrao do mistrio da salvao 44. O projeto de comunho de Deus conosco, que chamamos de obra da salvao, foi prenunciado pelo prprio Deus no Antigo Testamento e realizado em Cristo. Hoje a Liturgia o celebra, isto , o rememora e o torna presente na Igreja. 45. De fato, Israel foi o povo convocado pelo Senhor em assemblia para o culto do Deus nico dos pais, que se revelou como Senhor: um Deus para ns, portanto, vivo e atuante na Histria. Marcou profundamente Israel a libertao exaltada no
  6. 6. 6 xodo, que junto com a criao, a eleio e a aliana so os motivos do culto do Povo ao Senhor. 46. Libertando Israel da escravido para ser seu povo, ou seja, povo sacerdotal, real e proftico, o Senhor enseja aos profetas a releitura destes acontecimentos como encaminhamento da humanidade para a nova Aliana: nesta aliana nova, o culto crescer em intensidade, em compromisso e justia com os irmos e abertura para a universalidade, at que um dia Jesus o proclame como adorao em esprito e verdade (cf. Jo 4,23)8 . 47. Em Jesus Cristo, o projeto de Deus se realiza plenamente, pois nele, se unem o divino e o humano. Por isso, no Filho que nos tornamos filhos. Sua humanidade instrumento de nossa salvao9 . Jesus juntou s palavras, aes e atitudes significativas que mostram que o Reino anunciado por Ele j se tornou presente. Seu agir em favor dos marginalizados do seu tempo expresso do plano de Deus: conduzir, a partir dos pobres, todos os homens e mulheres comunho com o Pai. 48. O mistrio pascal de Cristo o centro da Histria da salvao e por isso o encontramos na Liturgia como seu objeto e contedo principal. Esse mistrio envolve toda a vida de Cristo e a vida de todos os cristos. Por sua obedincia perfeita na cruz e pela glria da sua ressurreio, o Cordeiro de Deus tirou o pecado do mundo e abriu-nos o caminho da libertao definitiva. Por nosso servio e nosso amor, mas tambm pelo oferecimento de nossas provaes e sofrimentos, ns participamos do nico sacrifcio redentor de Cristo, completando em ns o que falta s tribulaes de Cristo pelo seu corpo que a Igreja10 . 49. Assim se entende como e por que sem a ao do Esprito Santo no pode haver Liturgia. A Pscoa de Cristo que celebramos fruto do Esprito Santo que impulsionou o Filho de Deus a realizar a vontade do Pai at as ltimas conseqncias (cf. Hb 9,14)11 . E quem envolve no mistrio pascal a vida, as lutas e as esperanas de todas as pessoas o mesmo Esprito, que na Liturgia invocado para a santificao do po e do vinho e a unio dos fiis. O Esprito continua exortando-nos a que ofereamos nossa vida e nosso compromisso de servir aos irmos na construo do Reino, como hstias vivas, santas e agradveis a Deus. Alis, este o nosso culto espiritual (cf. Rm 12,1)12 . 50. Nesta perspectiva, acolhemos com alegria o atual anseio de, nas aes litrgicas, celebrar os acontecimentos da vida inseridos no Mistrio Pascal de Cristo. De fato, na Liturgia sempre se celebra a totalidade do Mistrio de Cristo e da Igreja, com todas as suas dimenses. A vida se manifesta no apenas nos momentos fortes do culto, mas tambm no esforo por crescente comunho participativa; na conscincia de sua vocao missionria; no empenho pela acolhida e animao catequtica da Palavra; no esprito de amplo dilogo ecumnico e na sria, corajosa e proftica ao transformadora do mundo. 51. Quando os Bispos explicitaram estas seis dimenses nas Diretrizes Gerais da Ao Pastoral da Igreja no Brasil, tiveram em mente o fato de que a Liturgia o cume e a fonte de toda a ao pastoral13 . Estas dimenses no existem isoladamente e, ao mesmo tempo, tem cada qual sua identidade: Liturgia no se confunde com Catequese, nem com ao transformadora do mundo, embora deva estar presente e penetrar todas as aes da pastoral. 52. Mas em cada uma dessas dimenses todas as aes verdadeiramente pastorais tm um carter pascal, pois so vivncias da Pscoa da Igreja, imagem e pela fora da Pscoa de Cristo. E por isso a Liturgia as celebra. CAPTULO III: O POVO DE DEUS CELEBRA A SALVAO
  7. 7. 7 53. As maravilhas operadas por Deus no xodo visavam reunir o povo no Sinai para constitu-lo povo sacerdotal. Jesus Cristo, o sumo sacerdote da f que professamos (cf. Hb 3,1)14 tambm rene seu povo, a quem, pelo Batismo, deu participar do seu sacerdcio. Assim o novo Povo de Deus, que est no mundo vivenciando as alegrias e as esperanas, as tristezas e as angstias com todos os homens e mulheres de hoje, sobretudo com os pobres, convocado para assemblias, a fim de exercer de modo eminente o seu sacerdcio com Cristo, por Cristo e em Cristo. 54. O Povo de Deus, sobretudo na Assemblia litrgica se expressa como um povo sacerdotal e organizado, no qual a diversidade de ministrios e servios concorrem para o enriquecimento de todos. Sua unidade e harmonia um servio do ministrio da presidncia. Convocada por Deus, a assemblia litrgica, expresso sacramental da Igreja, unida a Jesus Cristo, o sujeito da celebrao. 55. O Povo de Deus convocado para o culto o mesmo povo que trabalha, faz festa, sofre, espera e luta na Histria. Por isso, as nossas assemblias so diversificadas. mister abrir espaos de esperana manifestao das ricas expresses religiosas das comunidades, dos grupos tnicos e das grandes massas empobrecidas. Porque no possvel celebrar um ato litrgico alheio ao contexto da vida real do povo, em sua dimenso pascal. 56. essa diversificada assemblia, que servida por ministrios e servios multiformes, que o Esprito suscita em sua Igreja. Entre os ministrios distinguem- se os ordenados, do bispo, do presbtero e do dicono, participao especfica no mnus dos apstolos, mnus este, institudo por Jesus Cristo. Hoje temos os ministrios institudos do aclito e do leitor; e chamamos de credenciados os servios que o cristo leigo exerce em virtude de seu batismo sob a coordenao de seu Bispo: so assim, o ministrio extraordinrio do Batismo, da Comunho Eucarstica e da assistncia ao Matrimnio. H tambm determinados servios litrgicos que, de modo estvel, desempenham leitores, comentaristas, recepcionistas, componentes do coral e, sobretudo, as Equipes de Pastoral Litrgica. Esta diversidade de ministrios fortalece a Igreja como comunidade e reala a dimenso comunitria da ao litrgica. 57. Nessa exuberante manifestao do Esprito, que so os ministrios, h que se destacar alguns aspectos mais significativos. 58. O servio da presidncia, como sinal visvel de Cristo-Cabea, implica para Bispos, presbteros e diconos uma renovada postura quando celebram com seu povo. 59. O dicono, como o presbtero e o bispo, no s presidem a assemblia, mas a preparam, no sentido de que a eles incumbe a responsabilidade de construir a comunidade, condio importante para a celebrao litrgica. 60. Onde a necessidade da Igreja o aconselhar, podem tambm os leigos, na falta de ministros, mesmo no sendo leitores ou aclitos, suprir alguns de seus ofcios, a saber, exercer o ministrio da palavra, presidir s oraes litrgicas, administrar o Batismo e distribuir a Sagrada Comunho, de acordo com as prescries do direito15 . 61. Hoje, para a Liturgia, o leitor institudo para servir Palavra, proclamando-a no culto e fazendo-a mais conhecida na Catequese; o aclito, no seu servio
  8. 8. 8 prestado ao altar e distribuio da Eucaristia, acrescenta a preocupao com a caridade, pois, sem amor ao prximo no tem sentido partilhar o Po eucarstico16 . 62. Alm dos aclitos e leitores, inmeros homens e mulheres assumem na celebrao servios espontneos, que a tornam mais participada. A Equipe de Pastoral Litrgica, responsvel pela animao da vida e ao litrgicas, deve dar especial ateno a estas Equipes de Celebrao, que ajudam o presidente e a assemblia nas celebraes litrgicas. 63. Assim, a assemblia litrgica, servida por um conjunto de ministros, manifesta e realiza a Igreja toda ministerial17 e a diaconia que a sua vocao. A presena e participao dos fiis atravs de gestos, palavras, aclamaes e posturas corporais tornam visvel esplendidamente a Igreja em ao18 . CAPTULO IV: AS DIMENSES DA LITURGIA 64. A Liturgia, como exerccio do sacerdcio de Jesus Cristo, tem duas dimenses fundamentais: a glorificao de Deus e a santificao da humanidade19 . Trata-se de duas dimenses e no de dois tempos ou duas atividades estanques20 . A Comunidade que celebra tem o compromisso de evangelizar o mundo21 . Neste fluxo e refluxo de realidades ns destacamos alguns aspectos relevantes. 1. Memorial 65. A ao litrgica memorial: atualiza os fatos passados que, em Cristo e por Cristo, so sacramentos de salvao. Alm disso, tem a fora de tornar presentes as realidades futuras, levando os que a celebram a se inserirem no projeto de Deus. Como torrente de graas transbordando na histria, o memorial celebra tambm em Cristo, os acontecimentos da vida do Povo de Deus. Os milhares de homens e mulheres individual ou comunitariamente, sob a ao do Esprito Santo, encheram de vida, sentido e luz a sua histria, revivendo nela o mistrio pascal de Jesus Cristo. 2. A glorificao da Trindade 66. Porque a Trindade fonte e fim da Liturgia, o louvor, a glorificao do Senhor uma constante do culto cristo. No nos esquecemos, porm, de que a glria de Deus nas alturas realiza a paz na terra para as pessoas que Ele ama. A transformao do homem e da mulher e do seu mundo o meio seguro de glorificar a Deus que os quer sua imagem e semelhana e participando do dom da vida com abundncia (cf. Jo 10,10; Is 44,23)22 . 3. Ao de graas 67. Nesta perspectiva, torna-se mais compreensvel o hino que h sculos ressoa nas igrejas: Ns vos damos graas por vossa imensa glria. A ao de graas importante porque, alm do mais, sublinha a gratuidade do dom de Deus que celebramos. 68. Dar graas exigncia do corao que se v assim beneficiado. Insistir, nas celebraes, em considerar demasiadamente a presena do pecado deturpa a realidade e esvazia a Liturgia, que nos convoca a louvar, bendizer, dar graas e esperar contra toda esperana.
  9. 9. 9 4. Splica e intercesso 69. Toda orao litrgica feita na unidade do Esprito Santo. Precisamos dele para que nossa orao no seja um programa que impomos a Deus em nosso favor, mas reconhecimento do poder e bondade sem limites do Senhor que, fazendo vir a ns o seu Reino, nos livra de todo o mal. Pedimos por ns e pelo mundo. 70. A splica sobretudo reconhecimento da grandeza de Deus, que nos socorre, e no apenas conscincia de nossa incapacidade. Por isso, pedimos ao Esprito que nos ensine o que devemos pedir (cf. Rm 8,26)23 . 5. Pedido de perdo 71. A nossa condio de humanidade pecadora pe em realce a misericrdia de Deus. Pedir perdo orao humilde, sincera e alegre, no encontro com a Misericrdia infinita, que perdoa os muitos pecados a quem muito ama (cf. Lc 7,47)24 . Cristo vtima, que morre e ressuscita e celebrado na Liturgia, quem d sentido tambm aos nossos sofrimentos; transformados em atitudes de orao penitencial, completam em ns, seus membros, a sua Paixo dolorosa (cf. Cl 1,24)25 . 6. Compromisso 72. Quando se tem conscincia de que pecar condio da humanidade toda, de que a unidade de todos os homens e mulheres obra do Esprito Santo, e de que a glria de Deus a realizao de seu povo tambm na Histria, fcil compreender que a Liturgia, alm da converso pessoal, comporta um compromisso social. 73. O Reino de Deus que se realiza onde Deus reina por sua graa, tambm se explicita no po de cada dia, na convivncia fraternal e nos anseios de libertao de todo o mal. A Liturgia no nos convida apenas para ouvirmos falar do Reino, mas para nos impelir e animar a constru-lo. 7. Escatologia 74. Entretanto, sabemos que a construo da sociedade justa e fraterna esforo para implantar um sinal do Reino definitivo, no qual j se encontram os nossos santos. Se fazemos memria deles, prelibando suas alegrias, porque toda a Liturgia antegozo da realidade que aguardamos, vivendo a esperana: na dimenso escatolgica de nossa Liturgia26 , celebramos, de fato, a ao salvadora e perene de Deus, que comea na criao, manifesta-se na Histria e se coroa na Ptria definitiva. CAPTULO V: ELEMENTOS E FORMAS DO CULTO CRISTO 1. Elementos da celebrao 75. No projeto do Senhor de ser o nosso Deus e fazer de ns o seu Povo (cf. Lv 26,12)27 , a comunicao fundamental e a linguagem de capital importncia. A Liturgia exprime e constri, sempre mais, a comunho que o Pai decidiu levar avante pela misso do Verbo, que se fez carne para habitar, como um dos nossos, entre ns e pelo envio do Esprito Santo. Por isso, a Liturgia faz sua a linguagem humana e comunica e celebra os mistrios com os mesmos elementos com que as pessoas celebram a sua vida.
  10. 10. 10 76. O primeiro elemento litrgico so as pessoas. A presena de homens e mulheres no recinto em que se encontram, felizes por se reconhecerem como convocados por Deus, faz de nossas assemblias reunies diferentes das que concentram pessoas em teatros ou estdios, em reunies sindicais, ou encontros partidrios, como tambm diante da TV. Elas se renem na f, em nome de Cristo, conduzidas pela ao misteriosa do Esprito que as transforma em sinais do Reino do Pai. Da emerge o sentido da assemblia litrgica. 77. A seguir, a Palavra de Deus, comunicao do prprio Deus, que nos convoca para celebrar a Aliana, ilumina nosso caminho e alimenta nossa vida. Primeiro porque Deus mesmo revelou o seu plano atravs de acontecimentos, cujo sentido foi captado e transmitido, sob inspirao do prprio Deus, atravs de palavras humanas, que hoje constituem o texto sagrado, objeto e alimento de nossas celebraes. 78. A celebrao da Palavra de Deus na Liturgia presena do mistrio de Cristo agindo aqui e agora, com sua divina proposta, que aguarda nossa resposta concreta e generosa. 79. A Pastoral litrgica esmera-se em pr em relevo o sentido e o valor da Palavra na celebrao, quando proclamada na assemblia, atualizada pela homilia e se faz resposta orante nos salmos e preces28 . 80. Alm da Palavra divina, o Povo de Deus escolhe cuidadosamente palavras que exprimem sua f, sua esperana, seus sentimentos e suas necessidades numa primorosa e venervel coleo de oraes e hinos29 . 81. Ajudam muito a comunicao humana e, portanto, fazem parte da linguagem litrgica, muitos elementos visuais, acsticos e os que falam por seu movimento. Enriquecem visualmente a celebrao no s a arte dos arquitetos, pintores, escultores e artistas populares, mas tambm o bom gosto nas vestes litrgicas, a tradio das cores, a presena das luzes e a preocupao com a beleza at nos menores objetos de que o culto se utiliza. 82. Auxiliam nossa prece, reforando a palavra que ouvimos, a linguagem universal da msica, cantada ou instrumental, que os momentos de silncio ressaltam e, ao mesmo tempo, abrem espao para outro tipo de orao. E at mesmo a simples modulao da voz pode expressar nossa alegria, nossa confiana ou nossa dor. 83. Nosso corpo, sensvel e dcil ao movimento, uma fonte inesgotvel de expresso. Por isso, na liturgia tm importncia os gestos, as posturas, as caminhadas e a dana. 84. A fora dos smbolos e sinais, sobretudo quando retirados da vida e cultura do povo, completa a grande variedade de elementos da nossa Liturgia. 2. Formas de celebrao 85. A salvao que o Pai nos oferece chega at ns por Cristo, na Igreja. Temos ali a graa de vivenciar, em momentos diversos, a ntima comunho com Deus e com os irmos. Esta a nossa vocao. Chamamos formas de celebrao os diversos momentos rituais que nos permitem experimentar esta comunho. 2.1. Os Sacramentos
  11. 11. 11 86. Os momentos mais intensos dessa comunho so os sacramentos. A Igreja cresce constantemente com novos membros que se convertem ao caminho de Jesus e aderem Aliana. Ela a celebra no Batismo, fazendo-os passar pela gua numa nova pscoa e ungindo-os na Crisma com o perfume do Esprito para que, conformados e fiis a Cristo, vivam sua vocao e misso na construo do Reino. 87. A Igreja constantemente recriada pela Eucaristia. Nela faz o memorial da morte e ressurreio de Cristo, o sacrifcio da nova Aliana, no po partido e repartido entre a comunidade, no vinho vertido no clice. Aqui o Esprito que transforma a matria; comprometida com ele, a Igreja leva cada um a partilhar o que tem, dando um novo sentido sacralizado ao universo material e aos acontecimentos de nossa vida. 88. Jesus Cristo no s exortou os homens e as mulheres penitncia, a fim de que deixassem os pecados e de todo corao se convertessem ao Senhor, mas tambm acolheu os pecadores, reconciliando-os com o Pai e com os irmos. Seguindo os seus passos, a Igreja no cessa de convidar seus membros converso e restaurao da vida e a manifestarem a vitria de Cristo sobre o pecado pela celebrao da Penitncia, esmerando-se em valorizar a prtica da confisso. 89. Atravs da Uno dos Enfermos, a comunidade eclesial concede o alvio nos sofrimentos e liberta dos pecados e Cristo une o doente ao mistrio de sua Paixo e pela graa do Esprito Santo, o associa sua ao redentora. E d ainda ao doente, que v sua existncia desestruturada pela enfermidade, a fora suficiente para rever seu projeto de vida crist. 90. A Igreja escolhe alguns homens no meio do povo, os quais marcados pelo sacramento da Ordem, agem in persona Christi e, assim, unidos ao Cristo Sacerdote, se tornam ministros da unidade e servidores do povo. 91. Atravs do Matrimnio cristo a Igreja celebra a Aliana de amor de Deus com os homens e mulheres e o amor de Cristo e da Igreja. Os esposos, mergulhados, desta forma, neste profundo mistrio de amor, proclamam, pela vida afora, a fidelidade de Deus humanidade. 92. Vemos aqui como pelos sacramentos a Liturgia leva a f e a celebrao da f a se inserirem nas situaes concretas da vida30 . 2.2. Celebraes na ausncia do presbtero 93. No Brasil a maioria do povo fiel, em milhares de comunidades, que no contam ordinariamente com o presbtero, atravs da Palavra celebram o mistrio de Cristo em suas vidas. E sendo a Palavra de per si, depois dos sacramentos, o modo mais importante de celebrar, temos mais de um motivo para refletir sobre esta forma de celebrao, como o vem fazendo, alis, a prpria S Apostlica em nvel universal31 . 94. A partir do dia de Pentecostes a Igreja no mais deixou de reunir-se em assemblia, no Dia do Senhor, para celebrar o mistrio pascal de Jesus pela proclamao da Palavra e a Frao do Po32 . A Celebrao eucarstica, portanto, a celebrao mais plena e mais apropriada do Dia do Senhor. 95. O surgimento rpido de inmeras comunidades eclesiais, ultrapassando a capacidade de atendimento dos presbteros, leva o Povo de Deus a reencontrar no tesouro da tradio litrgica da Igreja a celebrao da Palavra para alimento de sua f, de sua comunho e de seu compromisso33 .
  12. 12. 12 96. Nesta celebrao da Palavra, o Cristo se faz verdadeiramente presente, pois ele mesmo que fala quando se lem, na Igreja, as Sagradas Escrituras34 . Alm de sua presena na Eucaristia, eventualmente distribuda, est tambm, na assemblia, pois prometeu estar entre os seus que se renem em seu nome (cf. Mt 18,20)35 . 97. nesta celebrao que muitas de nossas comunidades encontram o alimento de sua vida crist. Formadas por gente simples, em luta pela sobrevivncia e mais abertas solidariedade, estas comunidades espontaneamente unem a Escritura vida e, criativamente, integram preciosos elementos da religiosidade popular. 98. Contudo, no confundimos nunca estas celebraes com a Eucaristia36 . Missa missa. Celebrao da Palavra, mesmo com a distribuio da Comunho, no deve levar o povo a pensar que se trata do sacrifcio da missa. errado, por exemplo, apresentar as oferendas, proclamar a Orao eucarstica, rezar o Cordeiro de Deus e dar a bno prpria dos ministros ordenados37 . 99. A celebrao da Palavra tem seus prprios valores nos vrios elementos que a integram: reunio dos fiis para manifestar a Igreja38 proclamao e atualizao da Palavra que a faz transformadora; preces, hinos, cantos de louvor e agradecimento, que so a resposta orante dos fiis; saudao da paz, ofertas de bens e, quando houver, Comunho eucarstica que, a um tempo, expressam a solidariedade eclesial e o compromisso de transformar o mundo. 100. A coordenao desses elementos exige um servio de presidncia. Os diconos so os primeiros encarregados de dirigir esta celebrao39 . Entretanto, quando no houver dicono ou ministro institudo, todo o cristo leigo, homem e mulher, por fora de seu Batismo e Confirmao, assume legitimamente este servio40 . Recomenda-se que os encarregados desta atividade sejam apresentados comunidade em celebrao especial para tornar mais evidente a comunho eclesial. Seja feita esta designao por um perodo determinado de tempo. 101. Assim presidida, a celebrao se desenvolve num ritmo, que exprime bem o dilogo entre Deus e a assemblia: Os Ritos iniciais expressam o Senhor, que chama e rene seu povo, e o povo que alegremente vem e se apresenta. Breve monio lembrar comunidade sua unio com a Igreja local, onde os irmos celebram e lutam na construo do Reino41 . Na Liturgia da Palavra, proclamada e explicada, o Senhor fala da salvao ao seu povo, que responde professando a f, pedindo perdo, suplicando, louvando e bendizendo. A ao de graas um ponto alto, porque a grande resposta ao Deus que se faz Salvador o homem e a mulher agradecendo. Por ela se louva e se bendiz a Deus por seu grande amor. Um hino, um canto, uma orao litnica podem exprimi-la aps a Orao dos fiis, da Comunho ou no final da celebrao42 . Pela Comunho eucarstica, a assemblia exprime e realiza a ntima unio com Cristo e com a Igreja. Pelos Ritos de concluso os fiis, que tomaram conscincia de que so enviados, assumem o compromisso da sua misso a servio do Reino na vida concreta. 102. Finalmente, no podemos esquecer que a celebrao da Palavra tem uma ampla dimenso educativa, levando o povo sadia criatividade, valorizao dos
  13. 13. 13 ministrios, ao compromisso com o Reino e ao amor Eucaristia, como expresso da plena comunho eclesial. 2.3. Sacramentais 103. Na vida celebrativa do nosso povo tm relevo tambm as bnos, as exquias, as oraes comunitrias. A Santa Igreja mostra seu apreo aos lugares e pessoas consagradas atravs de ritos solenes, por exemplo, para a dedicao das igrejas e a profisso religiosa. 104. As bnos. A Igreja, que louva e bendiz a Deus, tambm abenoa e consagra as pessoas e tudo que concorre para sua vida. Benzer, para a Igreja, significa afastar o vu que encobre o bem que j na criao o Senhor depositou nas coisas e o Redentor deseja e oferece aos homens e mulheres que ele salva. 105. nos acontecimentos e situaes de sua vida que o povo deseja e procura os vestgios da bondade de Deus. Abenoando, sempre a partir da proclamao da Palavra, a Liturgia d resposta plena a estes anseios humanos43 . 106. As bnos, alm de sua dimenso evangelizadora, abrem perspectivas para a pastoral, que busca a mtua fecundao entre Liturgia e religiosidade popular. 107. Exquias. A dura realidade da morte com seu doloroso cortejo de sofrimentos e separaes de entes queridos toca no mais profundo anseio de toda a humanidade: anseio de vida e convvio perene e feliz. Nossa f no mistrio pascal, no sentido da morte e ressurreio de Cristo, nos conduz Pastoral da esperana, celebrada na Liturgia com grande respeito pelos sentimentos e costumes do povo nas diversas regies. Na ausncia do ministro ordenado, os ministros de culto, especialmente, nas capelas rurais, presidam as exquias, com ritual prprio, ressaltando a liturgia da Palavra e as oraes adequadas ocasio. 2.4. Orao comunitria 108. A nossa orao participao no dilogo de Cristo com o Pai e da orao que lhe dirigiu durante sua vida terrena em nome e pela salvao de todo o gnero humano44 . essa piedade de Cristo que continua na Igreja de modo eminente na Liturgia das Horas. 109. Santificando o dia, ela santifica os homens e as mulheres em todas as suas atividades e louva a Deus em todos os momentos: porque preciso orar sempre sem nunca interromper esse dilogo (cf. Lc 18,1; 1Ts 5,17)45 . Todos, portanto, so convidados a participar da Liturgia das Horas, fazendo seus os sentimentos e desejos da Igreja46 . 110. Quando circunstncias diversas privaram o povo das riquezas desta orao, os fiis se refugiaram na chamada piedade popular, e, conservando as reminiscncias do culto de louvor, chegaram, a seu modo, a expressar sua f, celebrar sua vida e cultuar o seu Deus. Haja vista o Rosrio de Nossa Senhora, o Angelus, celebrando a Encarnao nas horas marcantes do dia e a Via sacra, explicitando os passos da Paixo. E as romarias rumo aos santurios traduzem de modo concreto a nossa caminhada, seguindo o Cristo peregrino e festejam a universalidade da Igreja aberta para todos. No ser demais, por isso mesmo, recordar que os santurios devem dar Liturgia uma especialssima ateno.
  14. 14. 14 CAPTULO VI: A IGREJA CELEBRA NO TEMPO 111. O Domingo, como um dia especial, Natal e Pscoa, como tempo de festa, so realidades na vida de todas as pessoas, sejam ou no membros da comunidade eclesial47 . 112. Nossa f, porm, v mais em tudo isso. Tem conscincia da plenitude da salvao realizada por Cristo, em quem tudo foi criado, razo por que sua misso recapitular em si todas as coisas (cf. Cl 1,16)48 . Seguindo a sucesso de dias e noites e o movimento regular do sol, que pe ritmo evidente no nosso universo, o cristo se compraz em celebrar tambm ritmadamente o mistrio de Cristo. O Senhor santificou todo o tempo e, por isso, todos os dias so santificados. Na vida concreta, porm, para recordarmos esta verdade, chamamos de santos certos dias e certos tempos em que abrimos mais espao para celebrar o mistrio de Cristo ou algum aspecto da salvao. 1. O Domingo 113. O cristo, semelhana dos judeus, consagrou um dia por semana celebrao de seus mistrios. A escolha recaiu sobre o primeiro dia da semana, dia da Ressurreio do Senhor, dia tambm que recorda a criao em Cristo, o recapitulador da Histria. Por isso, alm de ser o Dia do Senhor, o Domingo tambm o dia do Homem que busca viver a liberdade49 . 114. Em nenhum momento, homens e mulheres seguidores de Cristo se sentem melhor como filhos de Deus do que na celebrao da Eucaristia. O memorial da morte e ressurreio de Cristo, que nos faz filhos no Filho (cf. Jo 1,12; Gl 3,26)50 , nos une de tal modo a Jesus que em Cristo, com Cristo e por Cristo, na unidade do Esprito Santo, damos ao Pai toda a honra e toda a glria. Por isso, a Eucaristia a celebrao primordial do Domingo. Celebrao eucarstica a que esto ligadas de certo modo as inmeras celebraes da Palavra nas comunidades que no tm padre. 115. Mas no s a missa que celebra o Dia do Senhor. As primitivas celebraes do Domingo, centradas na Frao do Po se realizavam dentro da reunio alegre dos que juntos comiam com simplicidade de corao (cf. At 2,26)51 . Cessar o trabalho neste dia no s para descansar, que tem tambm o seu valor, mas para oferecer oportunidade de encontro com os irmos. So celebraes do Domingo, acolhendo o Ressuscitado, que deseja nossa unio fraterna (cf. Jo 17,21)52 , as horas de convvio alegre e gratificante com os seus, as obras de misericrdia com os que sofrem e a partilha da Palavra em momentos de aprofundamento e reflexo. 116. O Senhor, dizendo aos homens e mulheres dominai a terra (cf. Gn 1,28)53 , nos fez senhores deste mundo. Este senhorio restaurado por Cristo deve ser intensa e conscientemente celebrado. Urge ver no descanso no apenas um espao para o cio, mas a proclamao crist da libertao dos filhos de Deus de todo o mal, que o pecado injetou no trabalho atravs do suor, da ganncia, da competio e explorao. E ver ainda no passeio, na recreao e no esporte o exerccio daquela realeza com que Deus coroou seus filhos e suas filhas, capacitando-os para dominar a natureza, brincar com ela e usufruir de suas riquezas inesgotveis. 117. Sentimos fundo no corao a deturpao do Domingo, imposta pelas injustias e pelo consumismo de nossa poca dominada pelo esprito secularista. Alguns so obrigados a trabalhar no Domingo por imposio de suas profisses. A caridade com que exercem seus deveres seu sacrifcio espiritual, j que esto
  15. 15. 15 impedidos de celebrar plenamente o Dia do Senhor. Inaceitvel, outrossim, a sociedade que obriga multides luta pela sobrevivncia por causa do trabalho mal remunerado, que desfigura o Domingo feito dia de horas-extras. A prpria realidade urbana dificulta, muitas vezes, a vivncia crist do Dia do Senhor. 118. Lamentamos tambm o consumismo secularista, que leva centenas de pessoas ao mero lazer, viagens e programas, que mais parecem criados para distrair ou dirigir as atenes em direo oposta ao culto e religio. 119. Corremos tambm o risco de esvaziar o sentido do Domingo com o excesso e superposio de comemoraes, que pretendemos realar neste dia, sem notar que no sobra espao para celebrar o mistrio pascal. Ncleo de todo o Ano Litrgico e ponto de convergncia de todos os dias da semana, o Domingo espera, urgentemente, mais ateno de nossa pastoral. Nas parquias com muitas comunidades, programe-se a celebrao das missas dominicais de modo a possibilitar, por turno, o Santo Sacrifcio em todas elas. Para isso necessrio reeducar as comunidades centrais no sentido de se contentarem com a celebrao da Palavra, quando a missa celebrada nas outras. 120. A Semana tem tonalidade pascal particular, quando celebrada luz do Domingo. Elementos do mistrio de Cristo e da Igreja so recordados na sucesso de seus dias, sendo que a consagrao do Sbado a Maria muito cara piedade popular. Se a Liturgia das Horas faz deste ltimo dia, o dia da feliz consumao, com razo celebramos aquela que, assunta ao cu em corpo e alma, j se encontra na glria. Associada ao Cristo, ela tambm prottipo da pessoa humana glorificada. 2. Os Ciclos do Ano Litrgico 121. A Pscoa e as alegrias de celebr-la so grandes demais para caberem nos limites de um Domingo. Desde cedo a Igreja passou a consagrar a isso o ano todo, dividindo-o em ciclos: um conjunto de domingos para celebrar o Salvador, que se manifesta ao mundo; e outro grupo dedicado Paixo-Morte e Ressurreio de Cristo, que nos envia o Esprito Santo. E entremeando estes dois ciclos, numa longa srie de domingos, revive-se o que Jesus fez e disse como nosso Redentor. 122. Trduo Pascal. Assim como o Domingo o ponto alto da semana, o Trduo pascal da Paixo-Morte, Sepultura e Ressurreio do Senhor o pice luminoso de todo o Ano litrgico54 . 123. O Trduo pascal comea na Quinta-Feira, hora da Ceia do Senhor, quando Cristo antecipa sacramentalmente sua Morte e Ressurreio. Aps um dia de penitncia, que a Sexta-feira Santa e um dia de silncio, o Sbado, o povo cristo concentra suas atenes na Viglia pascal, me de todas as viglias55 , porque celebra a Ressurreio de Jesus e a dos cristos com ele. 124. Tempo pascal. Os cinqenta dias entre o Domingo da Ressurreio do Senhor e o Domingo de Pentecostes sejam celebrados como um grande domingo, um s dia de festa56 . So celebraes que convergem para o Cristo vitorioso e entre ns, enquanto Pentecostes, com a vinda do Esprito Santo, lembra o coroamento e a culminncia da Pscoa do Senhor. 125. Pscoa festa e novo ritmo de vida. O Esprito que o Senhor nos d nos impulsiona continuamente a viver a nossa pscoa, que so as mltiplas passagens da morte para a vida.
  16. 16. 16 126. Quaresma. A Igreja preparou os catecmenos para a iniciao crist nos quarenta dias que precedem a Pscoa. Hoje a Quaresma convoca-nos para a orao, o jejum e a caridade expressa pela esmola. Assim manifestamos a nossa abertura para a Palavra de Deus, que nos leva converso de nossos pecados, para vivermos a fraternidade em que fomos inseridos pelo Batismo. 127. A Campanha da Fraternidade, com que a Igreja, no Brasil, desencadeia um grande movimento de evangelizao, recebe da Liturgia o incentivo para seu esprito de caridade e o desejo de converso com que anima sua pregao nos Meios de Comunicao Social, nas aulas de religio e grupos de estudo e orao. A Campanha da Fraternidade, por outro lado, cada ano pede Liturgia, um gesto concreto de converso para todas as comunidades do pas. 128. Advento, Natal e Epifania. A salvao comea com o mistrio do Natal, quando Cristo, edificando sua tenda entre ns (cf. Jo 1,14)57 , une o homem a Deus e aos irmos, reconstituindo a grande famlia humana. 129. A preparao para o Natal tem caractersticas prprias. Evocando a expectativa que precedeu a vinda do Messias, nos pe no corao toda a alegria e gratido por sermos salvos. Ao mesmo tempo aprofunda o sentido da segunda vinda, o fim dos tempos, onde teremos em plenitude os bens que o Natal comea a dar-nos e nos convida a procurar. 130. A Liturgia do Natal celebra ainda a visita dos magos, o Batismo de Jesus e o Casamento de Can: porque Cristo quis revelar-se desde o princpio como o Salvador de todos, veio capacitar-nos para sermos filhos no Filho e santificar as grandes realidades humanas. 131. Chamamos, de maneira no completamente feliz, de Tempo comum o mais longo tempo de celebraes litrgicas em que evocamos o mistrio de Cristo em sua plenitude: so 33 ou 34 semanas dedicadas ao memorial do que Cristo fez e disse, esclarecendo as dimenses de nossa salvao. Foi para pregar e operar sinais que ele nasceu; morreu para se mostrar fiel sua misso; e ressuscita para continuar suas atividades na Igreja de maneira sacramental. 132. O Tempo comum no tempo vazio. tempo de a Igreja continuar a obra de Cristo nas lutas e nos trabalhos pelo Reino. 133. O Santoral. Temos na Liturgia, sobretudo no Tempo comum, um calendrio de comemoraes e festas dos santos e, em especial, da Virgem Maria. Ningum desconhece quanto cara ao nosso povo a devoo aos santos, abrindo-nos horizontes para nossa pastoral. A Liturgia valoriza este culto. Se nos ciclos do Natal e da Pscoa celebramos o que Cristo fez para sua Igreja, j na comemorao da Me de Deus e de todos os santos evocamos o que a Igreja realiza, em Cristo, para a glria do Pai. 134. Por isso, no basta procurar nos santos apenas proteo nas diversas contingncias da vida; impe-se mais t-los como verdadeiros modelos de vida, inspiradores de nosso projeto cristo. 135. Assim, Maria, para alm de toda ternura que sua devoo inspira, deve ser vista sobretudo como Me da Igreja; pois assim como o filho traz em seu rosto os traos de sua me, ns cristos nos empenhamos por marcar nossa vida com a escuta da Palavra, o amor incondicional a Cristo e a caridade solcita para com os irmos, que caracterizam a santidade de Maria.
  17. 17. 17 136. Finalmente, no podemos deixar de notar uma certa defasagem que sofremos, celebrando a Liturgia nica em nossas regies. O Ano litrgico, calcado sobre os ciclos csmicos, encontra maior fora de expresso quando se celebra a Pscoa para a nova Vida num cenrio em que a natureza eclode numa florao de cores e vida. Cabe-nos suprir esse desencontro, ressaltando na Liturgia outros sinais; em vez da vida que ressurge no cosmos, uni-la Vida que anseia na Histria. Nesta linha se compreende melhor, por exemplo, a Campanha da Fraternidade, que nos faz refletir sobre os sinais de morte, que marcam nossa sociedade para nos abrir, na Pscoa e pela Pscoa, s perspectivas de Vida, que Cristo nos oferece e ns devemos construir. Por isso tambm merece ateno a iniciativa de algumas regies do Brasil, que celebram no ltimo domingo de maio, final das grandes colheitas, o Dia do Louvor. CAPTULO VII: ESPAOS E OBJETOS PARA A CELEBRAO 137. No nosso pas, por toda parte, onde quer que se aglomerem moradias, o povo sente necessidade de local de reunio para celebrar sua f. 138. No Missal e na Liturgia das Horas tm um natural destaque as festas de Dedicao das igrejas. Embora as exigncias pastorais faam surgir hoje novos lugares para celebrao litrgica, o templo o espao mais conveniente para nosso culto. 139. O templo sinal da presena e ao salvfica do Pai; imagem do Corpo Mstico de Jesus Cristo, nico e verdadeiro templo, construdo com pedras vivas para oferecer sacrifcios novos (cf. Jo 2,19 e 21)58 . O prprio Deus consente que nossos edifcios sejam sua casa59 , pois nesse espao ele nos d vivenciar a sua unio conosco e a unio fraterna entre ns. 140. Por isso, a igreja-edifcio sinal tambm da Igreja-Comunidade60 . Assim este edifcio no uma construo qualquer: sinal da Igreja peregrina, imagem da Igreja celeste61 . 141. A Igreja, como famlia de Deus, precisa de uma casa para reunir-se, dialogar, viver na alegria e na comum-unio os grandes momentos de sua vida religiosa. Tendo em vista a crescente urbanizao, os pastores cuidem, devidamente, de que todas as comunidades sejam dotadas de locais de culto identificados claramente. Para manter a memria do sagrado no mundo que se dessacraliza, valorize-se o toque dos sinos nos horrios devidos. 142. A Igreja-edifcio deve ser funcional e significativa, favorecendo, atravs de configurao e distribuio dos dois espaos fundamentais, tanto a execuo da ao litrgica quanto a participao ativa dos fiis62 . Para que cada um possa exercer corretamente a sua funo, tenham o devido destaque, o presbitrio, o altar, a sede da presidncia, a mesa da Palavra, a cruz, o tabernculo e lugar para os diferentes ministrios, para favorecer a participao dos fiis63 . 143. A ornamentao do local concorre muito para expressar o sentido do templo. Por isso, nossas igrejas e tambm os outros lugares onde se celebra o culto, devem recorrer arte e ao bom gosto para criar um ambiente religioso digno, cmodo,
  18. 18. 18 funcional e simples, sem ser banal. Cuidado especial se deve ter com a acstica, para possibilitar a comunicao da palavra e a execuo da msica, que pode impregnar o ambiente de nobreza e religiosidade quando ressoa bem. 144. Os vasos sagrados, os lugares, os livros e as vestes merecem ateno especial. No altar mantenha-se apenas o estritamente necessrio para a Celebrao eucarstica. tradicional o costume de empregar material nobre para os vasos sagrados, dando-se liberdade aos artistas para execut-los com criatividade e bom gosto64 . 145. Os livros litrgicos sempre foram cercados de especial venerao e trabalhados com arte esmerada por conterem a Palavra de Deus. Proclam-la, lendo folhetos, no expressa a dignidade da Palavra e o apreo que por ela temos. Urge reintroduzir em nossas celebraes o uso dos Lecionrios ou ao menos da Bblia, para que possamos melhor sentir e expressar o apreo por Deus que nos fala. 146. As vestes litrgicas com suas formas especiais e cores variadas65 , so sinais para o povo e para os prprios ministros de que eles agem aqui e agora em nome e na pessoa de Cristo e da Igreja. Indicam ainda a diversidade dos servios prestados na celebrao atravs do ministro66 . 147. A CNBB aprovou o uso da tnica ampla de cor neutra com a estola da cor do tempo ou da festa. Na confeco destas vestes deixa-se campo aberto criatividade artstica, que sabe respeitar o decoro do culto e a expresso de nossa cultura. 148. Os elementos-sinais na celebrao. Como sacramento de Cristo, a Igreja revela e realiza a glorificao de Deus e a santificao da humanidade atravs de elementos naturais: po, vinho, leo, gua, luz, fazem parte do comer, beber, ungir, lavar e iluminar, que so sinais nos sacramentos. A Liturgia recupera assim o sentido do mundo criado, revelando nos vrios elementos a sua capacidade de expressar simbolicamente a bondade do Criador. conveniente que esses elementos, para melhor serem sinais, sejam usados com certa abundncia, que represente a refeio, o banho purificador, a uno reconfortante. CAPTULO VIII: LITURGIA E ESPIRITUALIDADE 149. Vida espiritual uma vida orientada e alimentada pelo Esprito, que Cristo prometeu e derramou em Pentecostes. Desde ento o prprio Esprito que, dando testemunho ao nosso esprito de que somos filhos de Deus, nos leva a viver como irmos e irms e a construir o mundo, sinal do Reino, que Deus quer para sua famlia. 150. Como testemunham os Atos dos Apstolos (At 2,42)67 os primeiros cristos assimilaram logo as dimenses bblica, comunitria, sacramental e de compromisso da vida crist. Pois freqentavam a doutrina das testemunhas da Ressurreio, o encontro com os irmos, o partir do po entre oraes, conquistando a simpatia de todo o povo (cf. At 2,27)68 . 151. Na Igreja existem diversas formas de espiritualidade, nascidas do modo de viver o seguimento de Cristo sob o impulso do Esprito Santo, que sempre o mesmo e, entretanto, distribui generosamente sua diversidade de dons (cf. 1Cor 12,4-11)69 .
  19. 19. 19 152. Muitos santos, e alguns deles fundadores de Congregaes e Ordens religiosas, graas ao carisma que lhes prprio, iniciam um estilo de vida expresso na maneira de aceitar o dom da filiao e o projeto do Pai. E para felicidade da Igreja, fizeram escola. 153. A Liturgia fonte de vida e expresso celebrativa da comunidade eclesial. Nela, homens e mulheres chegam ao mais alto patamar da comunho com Deus, quando a criatura amada e redimida por seu Senhor, dilata seu corao numa perene ao de graas, que se torna, por sua vez, bendita escola de gratuidade. Por outro lado, os leigos encontram fundamento para sua espiritualidade no Evangelho vivido por tantos cristos leigos ao longo da histria da Igreja. 154. Alm disso, as comunidades eclesiais encontram na Liturgia os grandes elementos de toda vida espiritual: ali est a Palavra nos espaos privilegiados que as celebraes lhe do. 155. Nunca rezamos to unidos como na Liturgia, que se define como ao comunitria por excelncia e vista como escola e expresso alta de comunho. 156. A Liturgia sinal e instrumento da graa e se desenvolve na celebrao da Palavra, da Eucaristia e dos outros sacramentos. 157. E porque o mistrio pascal de Cristo celebrado e atualizado em cada sacramento deve ressoar e completar-se na vida, toda a Liturgia deve levar a um compromisso social. O cristo celebrante sinal vivo do mistrio pascal e portanto instrumento de salvao integral. Por outro lado, na medida em que as comunidades esto comprometidas com a transformao do mundo, seu engajamento repercute na Liturgia, fonte e pice de toda a vida crist. 158. A espiritualidade ou seja a vida que o Esprito implanta na escuta da Palavra, na construo da comunidade, na Frao do Po, a vida dos seguidores de Cristo. Portanto, Cristo o centro de toda espiritualidade. E para aliment-la que ele se encontra no centro da Liturgia. 159. As celebraes so o exerccio do sacerdcio de Cristo, revelam, anunciam e tornam presentes as aes redentoras do Filho de Deus, sacrificado pela libertao e salvao da humanidade. 160. Ligada a Cristo, que o Verbo feito carne para viver as realidades humanas, a Liturgia anima a vida crist como a alma, todo o corpo. D dimenso espiritual Semana pela celebrao do Domingo, ao Ano todo pela seqncia dos ciclos; est presente nos pontos altos da vida, pelos sacramentos e nos acontecimentos e situaes do dia-a-dia, atravs da celebrao de bnos apropriadas. Em sntese, pode-se dizer: a espiritualidade litrgica o exerccio autntico da vida crist, como vida em Cristo, enraizada nos sacramentos da Iniciao Cris CAPTULO IX: ADAPTAO E CRIATIVIDADE 161. A reforma litrgica provocou uma onda de reflexes e iniciativas, visando a encarnao das celebraes na vida, na ndole e expresso do nosso povo. Para torn-la mais atraente, buscaram-se meios, nem sempre felizes, de torn-la menos desencarnada, fria e sem vida e mais espontnea, alegre e popular70 .
  20. 20. 20 162. Este esforo de incorporao das expresses culturais em nosso culto tem suas razes de ser. A longa histria da Liturgia nos mostra como e quanto as adaptaes lhe so conaturais. 163. Haja vista o apelo que nos vem, neste sentido nos grandes documentos da renovao litrgica, pois a Igreja no deseja impor forma nica e rgida de celebrao, sem atender s legtimas variaes exigidas pela diversidade dos grupos, regies e povos71 . 164. Entretanto, estamos aqui num terreno complexo e difcil, no s devido herana pesada de quatro sculos de imobilismo, mas tambm porque no fcil mudar as formas da celebrao sem violentar a identidade da Liturgia. Alm de um profundo conhecimento da Liturgia em suas dimenses teolgicas e histrica, impe-se formar uma idia clara e firme do que se pretende com as vrias adaptaes que buscamos72 . 165. A este propsito as palavras que mais se repetem so: adaptao, criatividade, aculturao e inculturao. So noes ricas, mas s vezes no bem e inteiramente compreendidas. 166. Adaptao. O objetivo da Liturgia comunicar humanidade a vida de Cristo e apresentar ao Pai seu culto de glorificao. Ela o alcana atravs de formas litrgicas renovveis conforme os tempos e situaes culturais dos povos. Essa renovao pedaggica e pastoral que chamamos adaptao. 167. O grande motivo para mudar palavras, gestos, sinais e ritos no o gosto das pessoas celebrantes ou a moda em voga em determinados momentos, mas a maior participao no culto a Deus73 integrado em nossa vida atual. 168. Por isso, a adaptao litrgica se faz com critrios: para tornar os sinais mais transparentes mentalidade e cultura do povo; para conseguir aquela participao consciente e ativa que nos pe em comunho com a Igreja local e universal; para ressaltar melhor o contedo fundamental de nossa Liturgia, que celebrao da f no mistrio de Cristo, ponto culminante do projeto de Deus. 169. Esta adaptao com estes critrios se exerce em vrios nveis: tem lugar tanto na traduo dos textos e modificao dos ritos, como na celebrao dos sacramentos e da Eucaristia, atenta ndole das diferentes assemblias. 170. Criatividade. Tanto a adaptao, como a aculturao e a inculturao, exigem muita sensibilidade e inteligncia clara na hora de se reformular ritos, gestos, sinais e textos. Por criatividade no se deve entender tirar como que do nada expresses litrgicas inditas. Pelo contrrio, a verdadeira criatividade orgnica: est ligada aos ritos precedentes como o celebrante de hoje aos do passado. Uma f, que no cria cultura, no foi suficientemente anunciada, no foi completamente assimilada ou no foi plenamente vivida. 171. Para melhor entender a criatividade mais prtico observar onde ela se realiza. Celebrar bem o primeiro princpio da criatividade. O presidente da assemblia, por exemplo, no pode executar gestos e textos sempre do mesmo modo, quando est s com crianas ou num pequeno grupo ou numa igreja lotada.
  21. 21. 21 172. E sobretudo, em qualquer situao, fazer com que os ritos e as palavras tenham vida e exprimam a f que desperta a Palavra proclamada, a oferta trazida ao altar, a procisso rumo mesa eucarstica. Nada disto se encontra nas rubricas: preciso criar. 173. J h espao para a criatividade nas opes oferecidas pelos livros para vrios ritos, como o ato penitencial, leituras para os sacramentos e para o canto. com as atenes voltadas para a assemblia que a escolha deve ser feita, quando se prepara seriamente a celebrao. O mesmo se diga, com mais razo, das vrias aberturas que so dadas ao presidente para fazer a sua exortao ao seu povo. Os folhetos deveriam oferecer possibilidades para as devidas adaptaes dentro de uma sadia criatividade. 174. meta da criatividade a introduo de novos smbolos, mais compreensveis do povo de hoje, porque criados pela piedade popular ou experimentados nas CEBs e outros grupos de orao74 . Para isso inaugure-se um processo de pesquisa, reflexo e anlise, com ajuda de um grupo de trabalho, integrado por telogos, liturgistas, pastoralistas e outros especialistas. 175. Finalmente, a Igreja vista hoje como toda ministerial e Cristo, compreendido como Libertador do homem todo, sob a ao do Esprito que a anima, ho de levar o homem todo a novas maneiras de celebrar, na Liturgia, a f que professamos na vida. 176. Aculturao. A criatividade vai alm da adaptao que transplanta ou enxerta elementos culturais na Liturgia. Por ela espera-se mais, e quer se chegar a um nvel mais profundo que se chama aculturao. 177. De modo geral, aculturao acontece no encontro de duas culturas resultando da uma sntese ou a dominao de uma pela outra. Aplicado Liturgia, o termo designa o processo dinmico que se desencadeia quando a f se instala nas bases de uma cultura. H elementos culturais prprios de cada povo que so compatveis com a liturgia romana, primeiro porque so isentos de erro e superstio e assim, facilmente, podem ser incorporados por ela; alm disso, se a Igreja cultiva os valores das vrias naes, no apenas para atender ao desejo dos povos, mas para secundar as exigncias da prpria Liturgia. 178. Na medida em que este processo leva elaborao de novos elementos nos ritos, preciso aprovao da Conferncia Episcopal e da S Apostlica75 , pois cabe a essas instncias garantir o autntico esprito litrgico e preservar a unidade substancial do rito romano. 179. Inculturao. A inculturao j processo mais profundo: simplesmente incorpora ritos sociais ou religiosos, dando-lhes sentido cristo, sem desfigurar sua natureza. A prpria liturgia romana assim se formou, incorporando, por exemplo, a festa pag do Sol invicto na celebrao do Natal. 180. Por esta inculturao a Liturgia se prope continuar na Histria o milagre de Pentecostes quando, sob o impulso do Esprito, multides entendiam a linguagem nica do amor e proclamavam as maravilhas de Deus, expressando-se cada um em sua lngua (cf. At 2,4.6)76 .
  22. 22. 22 181. Nas Misses modernas, voltando ao esprito de So Paulo, missionrio das naes, a Igreja descobriu na florao dos valores culturais dos povos, as sementes do Verbo presentes no ntimo das pessoas espera da luz do Evangelho. 182. O Conclio confiou competncia e ao zelo das Conferncias Episcopais de todo o mundo a incumbncia de estudar com seus peritos os elementos que oportunamente podem ser incorporados na Liturgia. Isto vem ao encontro dos anseios de integrar em nossas celebraes expresses da religiosidade popular. 183. Entre ns os vrios grupos tnicos, como os ndios, os negros, os orientais, apresentam muitos desses elementos, que j merecem ser inculturados em nossas celebraes, sobretudo nos sacramentos. CAPTULO X: A PASTORAL LITRGICA 184. Uma viso geral da Liturgia abre novos horizontes para a vida da Igreja e no dissimula, mas ressalta os grandes desafios que urge enfrentar. 185. A reflexo que empreendemos tem um objetivo concreto e premente que a Pastoral litrgica, ou seja, a ao organizada e corajosa da Igreja para levar o Povo de Deus participao consciente, ativa e frutuosa na Liturgia. 186. Promover a Liturgia j ao pastoral pelas dimenses comunitria e ministerial, catequtica, missionria, ecumnica e transformadora que ela possui. Ela no esgota toda a ao da Igreja, mas promovendo-a, estamos desencadeando o dinamismo de todas as pastorais, pois a Liturgia fonte e pice de toda atividade eclesial77 . 187. Corao e crebro desta pastoral a Equipe de Pastoral Litrgica em nvel nacional, diocesano e paroquial. Cabe-lhe com a CNBB, com o bispo ou com o proco planejar, nos respectivos campos de ao, a Pastoral litrgica, o que ser mais eficiente se continuamente pesquisar a situao real dos que celebram, aprofundar sempre mais seu contedo teolgico, formar agentes e organizar sua ao. 188. Estas equipes, grande anseio do Conclio, ns as estamos organizando de modo lento demais face s urgncias desta pastoral78 . 189. A grande tarefa destas equipes dinamizar um processo de formao de todos os participantes da Liturgia, visando, de um lado, que a celebrao seja sempre mais expressiva e, de outro lado, o enriquecimento espiritual de todo o povo. 190. fundamental que os seminaristas se familiarizem com o esprito litrgico e se preparem bem para presidir as celebraes; para isso importa que os diversos aspectos da formao no seminrio encontrem expresso privilegiada nas celebraes litrgicas, alm de observar atentamente a carga horria mnima e o contedo programtico estabelecido79 . Assim, a vivncia da Liturgia acompanha todas as etapas da vida do formando. importante que desde o incio do seminrio tenha uma participao consciente e ativa na Liturgia e aprenda gradativamente a celebrar a Liturgia das Horas. O Ano Litrgico deve orientar a espiritualidade comunitria do seminrio. 191. Que os presbteros se aprimorem de modo permanente para crescerem na compreenso e animao dos vrios ministrios80 , j que para a maioria do nosso povo a celebrao da Liturgia a nica evangelizao de que participam de fato ao longo de sua vida. E no se esquea que a Liturgia mal celebrada causa
  23. 23. 23 freqentemente o afastamento dos fiis. Os presbteros valorizem, a celebrao da Liturgia das Horas, como parte de seu ministrio. 192. Os homens e mulheres que assumem funes ou s participam na Liturgia sejam imbudos do esprito litrgico, tenham conscincia dos mistrios que celebram e sejam capacitados para executar as suas funes81 ; e que os irmos e irms religiosos tenham no programa de seu processo formativo a preocupao de transformarem a Liturgia em fonte da prpria espiritualidade e de se tornarem animadores da celebrao litrgica82 , inclusive, participando de cursos promovidos pela CRB e dioceses. 193. A nossa comunidade eclesial caminha na Histria, interpretando o homem luz de Cristo na Igreja. Portanto, que a formao litrgica se aprofunde, estudando o mistrio de Cristo e da Igreja. Pois as variaes nos enfoques da Cristologia e Eclesiologia determinam maneiras diversificadas de celebrar. A Liturgia tem a tarefa de construir comunidades eclesiais vivas e missionrias. 194. Por outro lado, a pessoa humana que celebra, sendo profundamente marcada pelas circunstncias histricas, sociais, culturais e polticas, tem naturalmente maneiras diferentes de se expressar. Isso importante para a Liturgia, que dever ser sensvel s condies da populao: se urbana ou rural, se vive em ambiente secularizado, ou dominada pelos Meios de Comunicao Social83 . preciso estudar esta antropologia que d to precioso contributo para a formao litrgica. 195. Tenha-se presente que a grande meta desta formao ampla e profunda preparar agentes para a aculturao e a inculturao da Liturgia, porque homens e mulheres que vivem as duas realidades, a scio-cultural e a celebrativa, podero facilitar a tarefa para os responsveis por esse processo. 196. importante, enfim, partir para este enriquecimento da Liturgia, porquanto, precisamos fazer a celebrao sempre mais autntica, mais unida vida, para transformar a vida toda em orao. II. ORIENTAES PASTORAIS SOBRE A CELEBRAO EUCARSTICA 197. Tendo em mente o que vimos na I PARTE, vamos agora considerar apenas a missa dominical celebrada com o povo. Esta a forma de celebrao denominada tpica pela Instruo Geral sobre o Missal Romano (cf. n.77-78)84 . Eventualmente, pela escassez de padres, pode acontecer, especialmente em ambientes rurais, que esta forma, infelizmente, s deva realizar-se em dias de semana. 198. Estas celebraes da comunidade reunida para a Ceia no Dia do Senhor, embora tenham uma unidade fundamental, so muito diferentes, dependendo do lugar e dos grupos de pessoas. No o mesmo celebrar no centro da cidade ou na periferia, na capela rural ou numa catedral, com muitos fiis ou poucas pessoas numa CEB. O mesmo se pode dizer de celebraes no Norte, Nordeste, ou no Extremo Sul. No se pode deixar de levar em considerao estas particularidades, em conseqncia do princpio: o sujeito da celebrao a Igreja reunida em assemblia, com suas particularidades prprias. 199. com profundo respeito por esta diversidade da Igreja reunida para a celebrao que foram elaboradas as orientaes que se seguem. Elas ho de contribuir para uma celebrao mais ativa, consciente e frutuosa da missa na Igreja no Brasil, que quer dar novo nimo vida litrgica. 200. Estas orientaes pastorais no substituem a Instruo Geral sobre o Missal Romano e demais diretrizes dos Dicastrios Romanos ou as orientaes do
  24. 24. 24 Episcopado. Querem, apenas, sublinhar alguns pontos que parecem mais importantes, interpretando-os luz da realidade do nosso povo, simples e sedento da Palavra. 201. Queremos incentivar as comunidades a valorizar ainda mais a celebrao da missa e encorajar pastores e Equipes de Pastoral Litrgica a prosseguirem no esforo de tornar mais evidentes suas riquezas. A celebrao da Ceia do Senhor , de fato, o grande momento da ao do Esprito Santo sobre a comunidade. Nela se realiza o verdadeiro encontro celebrativo de irmos, num momento comunitrio, festivo, participativo e orante, que brota do cho da vida, ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada da vida crist. 202. Primeiramente se trata de alguns elementos que dizem respeito missa em geral, mas do ponto de vista pastoral, complementando as consideraes da I PARTE. Em seguida, se abordam, pormenorizadamente, as diversas partes da missa. CAPTULO I: A CELEBRAO DA EUCARISTIA 1. Celebrao da Eucaristia e Comunidade 203. Ser cristo fundamentalmente, pelo Batismo, seguir o caminho de Cristo na vida e entrar como Igreja na caminhada pascal do Senhor. A celebrao da missa, como toda celebrao, sempre tempo especial, que os batizados tomam para fazer o memorial da ao de Deus em favor de seu povo: o que Deus fez ontem, faz hoje e far sempre. A vida antecede e sucede celebrao, porque celebrar um momento de nossa vida, mas diferente da labuta cotidiana. Existncia crist e celebrao esto intimamente relacionadas, pois a vida precisa de momentos de celebrao para ser vivida em Cristo. 204. Com freqncia, porm, no Brasil como em outras partes, sente-se um anseio para que a relao entre Liturgia e vida aparea melhor na celebrao. Ora, na Eucaristia-Pscoa do Senhor, onde a vida se articula mais com a celebrao; pois a missa que melhor celebra a Morte e Ressurreio de Cristo, acontecimento fundante no s da Liturgia, mas de toda a Histria. 205. Celebrar o mistrio de Cristo celebrar Cristo em nossa vida e a nossa vida em Cristo. luz do mistrio pascal, a caminhada do continente latino-americano, marcado pelo mal e em busca de uma libertao integral, deve ser interpretada como processo pascal. Portanto, no alheia celebrao. 206. As comunidades, na sua caminhada, sabero como integrar Liturgia e vida. A tradio litrgica da Igreja lhes apontar outros dois caminhos: a aculturao e a integrao dos acontecimentos na celebrao. 207. A fidelidade linguagem litrgica nos dar segurana no aproveitamento desse terreno novo. Sobretudo na missa, forma mais freqente e mais freqentada de Liturgia, deve transparecer prevalentemente a ao e no s longa comunicao verbal. Uma leitura dramatizada, uma procisso em ritmo de dana esto nessa perspectiva. A missa, que sempre comportou os elementos visuais que ajudam a orao, pode hoje beneficiar-se com os modernos recursos, como slaides, posters, vdeos e retro-projetores. 208. A recomendao para dar no s valor, mas grande valor ao canto e msica nos leva a insistir neste particular.
  25. 25. 25 Fundamental que a assemblia se expresse a seu modo e por isso, ela escolha e at, sem excluir outros, componha seus prprios cantos. Para que o povo tenha formao para isso e produza letra e msica adequadas missa e outras celebraes, preciso educ-lo. Um subsdio, por exemplo, o Hinrio publicado pela CNBB. 209. Alm disso, necessrio ampliar a rea do canto, hoje ainda um tanto restrita em nosso meio. A Orao eucarstica, nas partes permitidas ou ao menos o Prefcio e a Narrao da Instituio; as leituras ou a sua concluso so um campo quase inexplorado ainda. E as aclamaes, pelo seu valor de dilogo, comunicao e participao dos fiis, devem ter mais incentivo e ser mais variadas: cantos, palmas ou vivas. 210. Os instrumentos musicais disponveis em cada regio podem ser admitidos no culto divino a juzo e com o consentimento do Bispo Diocesano contanto que sejam adequados ao uso litrgico ou possam a ele se adaptar, condigam com a dignidade do templo e favoream realmente a edificao dos fiis85 . 2. Preparao da Celebrao da Eucaristia 211. Todas as recomendaes e perspectivas acima lembradas exigem que a missa no seja uma celebrao improvisada ou rotineira, mas preparada com esmero. 212. A missa renovada pelo Vaticano II ao de Cristo e do Povo de Deus hierarquicamente organizado86 , reunido em assemblia, onde cada um tem o direito e o dever de participar segundo a diversidade de ministrios, funes e ofcios87 . 213. Mas no basta a mera distribuio de tarefas ou a simples escolha de cantos, como muitas vezes ocorre, fazendo o povo ser apenas executor de funes e no verdadeiro agente da ao litrgica88 . 214. Por isso, necessrio envolver a comunidade de modo mais amplo e mais ativo, por exemplo, na seleo e ensaio dos cantos e na preparao prvia das leituras bblicas: na escolha de gestos e ritos expressivos, conforme seus costumes, bem como possa sugerir pistas para monies e introdues. Pode ainda colaborar na escolha do rito penitencial, com eventuais questionamentos ou invocaes, propondo intenes para a Orao dos fiis, e at sugestes para a homilia. 215. Sobretudo nesta busca de uma missa sempre bem preparada, indispensvel ter uma Equipe estvel de Pastoral Litrgica, distinta eventualmente de Equipes de Celebrao. No h evidentemente normas quanto a constituio e ao funcionamento de uma Equipe de Pastoral Litrgica. As experincias das comunidades so importantes neste ponto. Assim a Equipe de Pastoral Litrgica aquela que, de modo estvel, se preocupa com a vida litrgica da comunidade local, que celebra no somente a Eucaristia, mas tambm os outros sacramentos e sacramentais. 216. A Equipe h de reunir pessoas que tenham dom e capacidade ou que j exeram ou gostariam de exercer funes especficas na celebrao. O ideal que ela reflita a assemblia na sua diversificao de idades, sensibilidades e engajamentos nas diversas dimenses da pastoral da Igreja. A renovao peridica dos seus membros, para evitar monoplios, cansao, rotina e permitir efetivamente a participao da comunidade, muito importante.
  26. 26. 26 217. Quanto s Equipes de Celebrao, alm de estarem abertas participao para um nmero maior e mais varavel de pessoas, podem ser constitudas por grupos definidos, sob a orientao da Equipe de Pastoral Litrgica. A Parquia ter ento a equipe dos jovens, dos casais, das catequistas, do quarteiro, do bairro ou do movimento, que vo se revezando na animao das missas e dos sacramentos. 218. O padre participar o mais possvel da preparao. De qualquer forma, antes da celebrao, por exemplo, atravs de uma folha-roteiro e de um breve encontro, o sacerdote e cada um dos que iro exercer uma funo particular, saibam quais os textos, cantos, ritos, oraes que lhes competem, pois a boa ordenao da celebrao importante para a participao de todos89 . 219. Haver certamente muitas maneiras de se preparar uma celebrao. Indicamos uma, ao lado de outras possveis: 220. 1 Passo: situar a celebrao no Tempo litrgico e na vida da comunidade. 1) Situar a celebrao no Tempo litrgico: ver o Domingo e o Tempo litrgico. Por exemplo: IV Domingo da Pscoa, Evangelho do Bom Pastor. No incio de um novo Tempo litrgico ser til aprofundar o sentido do Tempo, discutir algumas caractersticas prprias que daro um estilo sua celebrao. No se celebra do mesmo jeito na Quaresma ou no Tempo pascal. 221. 2) Situar a celebrao na vida da comunidade: auscultar os acontecimentos que marcam a vida de nossa comunidade que passaram ou que vm: sociais, religiosos; do dia-a-dia, da comunidade, da regio; nacionais, internacionais Para enraizar a celebrao no cho da vida, na histria onde nos atinge o mistrio de Cristo que celebramos, bom ver a realidade que marca as nossas vidas. 222. 3) Ver outros acontecimentos que marcam a celebrao: por exemplo, uma data especial, dia da Bblia, ms de maio, dia das mes, aniversrio do proco e outros j citados, marcaro a orao dos fiis, o rito penitencial, a homilia. 223. 4) Ver com quem se vai celebrar: o conhecimento da assemblia com suas caractersticas prprias, sem esquecer os grupos minoritrios, importante, tambm, para situar a celebrao no tempo e na histria. 224. 2 Passo: Aprofundar as leituras. Neste segundo passo da preparao lem-se os textos bblicos luz dos acontecimentos da vida e do mistrio celebrado (1 passo). Convm iniciar pelo Evangelho que a leitura principal do mistrio de Cristo celebrado; e, a seguir, a 1 leitura, o salmo responsorial e a 2 leitura. 225. Opera-se, ento, o confronto entre a Palavra de Deus e a vida ajudado pelas perguntas: o que dizem as leituras? o que significam para a nossa vida? como podem orientar o nosso agir? quais os desafios de nossa realidade hoje? como a palavra de Deus ilumina nossa realidade? como ligamos a Palavra com o mistrio celebrado? 226. 3 Passo: Exerccio de criatividade. luz dos passos anteriores vida da comunidade, Tempo litrgico, Palavra de Deus procura-se, num exerccio de criatividade, fazer surgir idias, mesmo sem ordem, maneira de uma tempestade mental. Selecionar depois as idias a respeito de ritos, smbolos, cantos, para os ritos da entrada, o ato penitencial, o gesto da paz, a proclamao das leituras etc.
  27. 27. 27 227. 4 Passo: Elaborar o roteiro da celebrao, levando em conta os passos anteriores. Define-se primeiramente o tom da celebrao, isto , o estilo global que convm a uma missa de Pscoa, ou de 7 Dia, ou com crianas A seguir, passando em revista as diversas partes da missa, escolhem-se os cantos, os ritos etc., para cada momento da mesma, registrando tudo numa folha-roteiro, que servir de guia para os diversos ministros. 228. A tambm se distribuem as tarefas e os servios; anotam-se coisas a fazer antes da celebrao, como cartazes decorao, ensaios etc; e tambm o que deve ser feito durante a celebrao: no s o que fazer, mas quem o faz e quando. CAPTULO II: AS PARTES DA CELEBRAO EUCARSTICA 229. A missa compe-se das seguintes partes: A) Ritos iniciais; B) Liturgia da Palavra; C) Liturgia Eucarstica; D) Rito de Encerramento90 . importante que saibamos reconhecer estas diversas partes, que formam a espinha dorsal da celebrao, pois no interior deste esquema fundamental que sero feitas as escolhas que visam a eficcia pastoral. 230. Ao considerar as diversas partes da celebrao, sublinhamos apenas aquelas que parecem mais importantes nas circunstncias pastorais diversificadas da Igreja no Brasil, luz da caminhada de 25 anos de celebrao da Eucaristia, desde o Vaticano II. 1. Ritos iniciais da missa: formar assemblia, entrar no clima da celebrao. 231. O ESQUEMA RITUAL Canto de abertura Sinal da Cruz, Saudao, Acolhida Ato penitencial Hino Glria a Deus Orao do dia AMM 232. As partes que precedem a Liturgia da Palavra, isto , introduo eventual celebrao pelo(a) animador(a), entrada dos ministros, saudao, ato penitencial, Senhor, tende piedade, Glria e Orao do dia (Coleta) tm carter de exrdio, introduo, preparao91 . Por isso mesmo tem grande importncia para uma boa celebrao. 233. Esses ritos tm por finalidade fazer com que os fiis reunidos constituam a comunidade celebrante, se disponham a ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia92 . 234. Para suscitar estas disposies poder ser oportuno, sempre segundo as circunstncias locais, desenvolver ou sublinhar mais um ou outro elemento inicial, evitando acentuar tudo ao mesmo tempo. 235. O Diretrio para missas com crianas prev, para evitar a disperso, que se possa omitir um ou outro elemento do rito inicial, exceto a Orao do dia (Coleta) e sem que nenhum seja sempre desprezado93 .
  28. 28. 28 236. Em certas circunstncias tradicionais, o Missal Romano prev tambm a omisso parcial ou total dos ritos iniciais, excetuada a Orao do dia, quando outros ritos precedem e integram a liturgia do dia, por exemplo, no Domingo de Ramos e da Paixo e na Apresentao do Senhor, aps a procisso. Nestes casos, os ritos de bno e procisso desempenharo tambm a funo dos ritos iniciais, que a de constituir a assemblia, bastando a Orao do dia e o Glria, quando previsto. O mesmo poder dar-se, se oportuno, em certas circunstncias de nossas comunidades, por exemplo, na Festa do Padroeiro ou encerramento do ms de Maio etc., quando a missa segue imediatamente a procisso solene. Tambm no caso de integrao da Liturgia das Horas com a missa, h substituio de ritos iniciais. Nunca h de faltar, no entanto, a Orao do dia (Coleta), que a mais tradicional forma de abertura de uma celebrao. Entrada 237. Nossas celebraes costumam ser precedidas por breves palavras iniciais do(a) animador(a). Mais do que uma exortao ou de uma introduo temtica, prefervel situar a celebrao deste Domingo particular no contexto do Tempo litrgico e das circunstncias concretas da vida da comunidade; evocar algumas grandes intenes subjacentes orao, suscitar atitudes de orao e convidar ao incio da celebrao com o canto da entrada. 238. Enquanto o sacerdote entra com os demais ministros, a assemblia convidada a levantar-se, para dar incio celebrao com o canto da entrada. A finalidade deste canto justamente dar incio celebrao, criar o clima que vai promover a unio orante da comunidade e introduzir no mistrio do Tempo litrgico ou da festa94 . Por isso, pode ser til prolongar o tempo deste primeiro canto, para que atinja a sua finalidade. 239. Este canto de abertura acompanha tambm a entrada do sacerdote e dos ministros95 . Onde for possvel, conveniente valorizar uma verdadeira procisso de entrada do sacerdote e dos demais ministros, que prestaro um servio especfico na celebrao: aclitos, ministros extraordinrios da Comunho, leitores e outros ministros, como, por exemplo, os que vo ler as intenes da Orao dos fiis, os que vo trazer as oferendas, eventualmente, cantores etc. Estes ministros, oportunamente, tomaro lugar no presbitrio. 240. H possibilidade de uma grande variedade nesta procisso. O Missal Romano96 prev, se oportuno, o uso de cruz processional acompanhada de velas acesas, turbulo j aceso, livro dos Evangelhos ou Lecionrio. Outras circunstncias podero sugerir novos elementos como crio pascal, gua benta, bandeira do padroeiro numa festa de santo, ramos, cartazes com dizeres, participao de representantes da comunidade (adultos, jovens, crianas)97 . 241. A introduo da dana litrgica na procisso de entrada, onde for conveniente e a juzo e consentimento do bispo diocesano, poder ser de grande proveito para criar o clima de celebrao festiva da f. 242. No havendo nenhuma possibilidade de procisso de entrada, como ocorre freqentemente em capelas com muita gente, o sacerdote poder fazer primeiramente a saudao, para convidar, em seguida, o povo a cantar o canto inicial98 . Saudao ao povo reunido
  29. 29. 29 243. Para saudar o povo reunido, expressando a presena do Senhor nele e o mistrio da Igreja99 , o sacerdote convidado a usar uma frmula ritual de inspirao bblica qual o povo responde com uma frmula conhecida e sempre a mesma. Eventualmente, a saudao ritual ganhar mais significado se for cantada. 244. desejvel que aps esta saudao ritual haja uma palavra mais espontnea de introduo do sacerdote ou de outro ministro idneo100 . Uma sadia criatividade saber desenvolver com fruto diversas inovaes possveis como: saudao espontnea aos presentes, em particular aos visitantes ou novos membros da comunidade que se apresentam; a categorias especficas, conforme as circunstncias (jovens, casais, mes etc.), seguida eventualmente por um breve canto de boas vindas. A motivao para a celebrao pode incluir intenes da assemblia, ou acontecimentos a comemorar luz do mistrio pascal. Oportunamente, gestos da assemblia podero intervir, por exemplo, acolher-se mutuamente atravs de saudaes aos vizinhos, bater palmas, dar vivas em honra do Cristo Ressuscitado, a Nossa Senhora, ao Padroeiro(a) em dia de festa etc. 245. Em tudo isso, trata-se de ajudar a criar um ambiente acolhedor, fraterno e formar uma verdadeira comunho na f, usando de discernimento e variedade, conforme as circunstncias do Tempo litrgico, de lugar e de cultura. Ato penitencial 246. Em seguida, o sacerdote convida ao ato penitencial, realizado ento por toda a comunidade, por uma confisso geral, sendo concludo com a absolvio geral101 . 247. Geralmente, entre ns, o ato penitencial um momento importante da celebrao, valorizado por uma sadia criatividade. Muito bem acolhido em nossas comunidades, tem como funo preparar a assemblia para ouvir a Palavra de Deus e celebrar dignamente os santos mistrios102 . 248. Alm de celebrar a misericrdia divina, duas atitudes bsicas podem ser sublinhadas: o reconhecer-se pecador, culpado e necessitado de purificao, na atitude do publicano descrita em Lucas 18,9-14, e o reconhecer-se pecador como expresso de temor diante da experincia do Deus Santo e Misericordioso, a exemplo de Pedro, conforme Lucas 5,8 e Isaas 6,1-7. De acordo com as circunstncias, pode-se acentuar um ou outro aspecto. 249. O Missal Romano prev o seguinte esquema: Introduo do rito pelo sacerdote momento de silncio frmulas vrias para reconhecer-se pecador: a) Confesso a Deus (Ato de contrio) b) Versculos: Tende compaixo c) Forma litnica: invocao escolha e resposta: Senhor, tende piedade Concluso: absolvio geral 250. Temos, pois, os seguintes elementos: a) introduo pelo sacerdote; b) parte central do rito, que permite a interveno de outros ministros que no sejam o sacerdote; c) concluso com a absolvio geral, onde o sacerdote tambm se inclui para deixar claro que no se trata do sacramento da Penitncia.
  30. 30. 30 Todo o rito, por sua vez, pode ser substitudo pelo Rito da Bno e Asperso da gua103 . O ponto central do rito comporta, alm de um tempo de silncio, frmulas diversas de reconhecer-se pecador: 1) Ato de contrio (Confesso a Deus); 2) Versculos: Tende compaixo; 3 Forma litnica com invocaes escolha e resposta: Senhor, tende piedade de ns. 251. Este esquema, respeitando o esprito da variedade, poder ser usado com grande flexibilidade. Um ministro que no seja o sacerdote poder orientar o momento de silncio com um exame de conscincia para cada um olhar a sua vida e deixar que Deus olhe o seu corao ou orientar as invocaes livres do Senhor, tende piedade104 . 252. Existe a possibilidade de o rito penitencial integrar ou ser complementado por cantos populares de carter penitencial, refres variados, atitudes corporais (inclinar-se, ajoelhar-se, erguer as mos em splica, bater no peito, fechar os olhos, colocar a mo no corao etc.), smbolos (objetos ou gestos), bem como de elementos visuais (cartazes, slaides) que se julgarem mais aptos para externar os sentimentos de penitncia e de converso. 253. Os tempos penitenciais como a Quaresma e outros, quando no se canta o Glria, sero mais propcios para um rito penitencial mais desenvolvido, de acordo com a pedagogia do Ano litrgico, permitindo assim maior variedade. 254. Embora se deva educar a conscincia moral, cuidar-se- para no se cair nem no perigo do moralismo nem no de acusao aos outros nem ainda no psicologismo atico; devem ser valorizadas sobretudo as dimenses teolgicas, experienciais e libertadoras do amor de Deus e da reconciliao. 255. O rito penitencial bem realizado pode tornar-se um lugar importante para o ministrio pastoral da educao ao senso do pecado pessoal, comunitrio, social e do ministrio da reconciliao de toda a Igreja, que encontra o seu pice de sacramentalidade no Batismo e na Penitncia. Kyrie eleison - Senhor, tende piedade 256. De vez em quando convm valorizar o Senhor, tende piedade em si, sem ser integrado no rito penitencial, como canto em que os fiis aclamam o Senhor e imploram a sua misericrdia105 , a sua ateno. uma aclamao pela qual podemos louvar o Senhor Jesus pelo perdo, por olhar por ns na sua misericrdia. Glria 257. O Glria um hino antiqussimo e venervel, pelo qual a Igreja glorifica a Deus Pai e ao Cordeiro. No constitui uma aclamao trinitria. Orao do dia (Coleta) 258. A seguir o sacerdote convida o povo a rezar; todos conservam-se em silncio com o sacerdote por alguns instantes, tomando conscincia de que esto na presena de Deus e formulando interiormente os seus pedidos106 . 259. Se os ritos anteriores tiveram bastante dinamismo, fcil para o sacerdote motivar com poucas palavras o povo para uma orao silenciosa de alguns
  31. 31. 31 instantes. Ser um verdadeiro momento de recolhimento profundo, onde se experimentar a presena de Deus que fala nos coraes. 260. A orao presidencial, a seguir, rezada pelo sacerdote reassumindo em Cristo toda a orao do povo, exprime em geral a ndole da celebrao. O tom de voz e a maneira de rezar, o gesto de mos abertas, que o povo, eventualmente, poderia acompanhar, uma palavra melhor explicitada, ajudaro a fazer deste momento o lugar de uma verdadeira splica a Deus Pai, expresso de sua vida e de sua experincia religiosa107 . 261. A coleo das Oraes do dia (Coletas), as Oraes sobre as oferendas e Depois da Comunho do Missal Romano constituem um acervo de valor teolgico inestimvel. Nem sempre, no entanto, a sua linguagem e contedo correspondem s sensibilidades culturais de nosso tempo. Por isso, na 2 edio tpica do Missal Romano a ser aprovada pela S Apostlica, a CNBB oferece uma traduo mais popular dessas oraes dos domingos, e uma srie de Oraes do dia alternativas para cada um dos domingos dos Anos A, B e C, inspiradas no Evangelho do dia. 2. Liturgia da Palavra: Celebrar a Palavra 262. Resumindo