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ANIDRITA – CaSO4 A anidrita é um sulfato anidro de cores claras, constituinte importante de sequências evaporíticas e depósitos relacionados. Geralmente é muito pura, podendo apresentar baixos teores de Sr e Ba substituindo o Ca. Possui fusibilidade 2 (funde na chama da vela). Cristais de anidrita atingem 15 cm de comprimento, com 40 formas combinadas reconhecidas. São comuns as maclas simples ou polissintéticas, por {011}. Maclas de contato por {120} podem ocorrer. Há uma série de variedades: “chicken wire anhydrite” é formada por um mosaico de nódulos irregulares, formados em planícies de maré nas sabkhas do Golfo Pérsico; “tripe-stone” ou “bowlstone” são massas concrescionárias contorcidas assemelhadas a tripas; “angelita” é uma anidrita de cor azul celeste que é usada na produção de peças ornamentais; “volpinita” é uma variedade granular escamosa que ocorre em Costa Volpino (Itália), usada para finalidades ornamentais. 1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem Ortorrômbico, classe bipiramidal rômbica. Incolor, branco, cinzento-azulado, mais raramente azul, laranja, rosa, avermelhado, amarelo ou violeta. . Cristais (prismáticos ou tabulares) são raros, normalmente forma massas compactas, granulares ou fibrosas (paralelas ou radiais) {010} e {100} perfeitas, {001} boa, originando fragmentos pseudocúbicos (daí o nome “cube spar”) Tenacidade Quebradiça Maclas Fratura Dureza Mohs Partição (ver texto acima) Irregular a lascas. 3 – 3,5 não Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm 3 ) Branco a cinza claro Perláceo em {010} e vítreo em {001} e {100}. Transparente a translúcido 2,9 – 3,0 2. Geologia e depósitos: A anidrita é um mineral de cores claras comum, típico componente principal de sequências evaporíticas e depósitos relacionados, como domos de sal. Inicialmente cristaliza o gipso (CaSO4.2H2O) quando a concentração de sais na água marinha atravessa o intervalo entre 68% e 88%. Por desidratação do gipso forma-se depois a anidrita. A perda de água implica em redução de volume (60%) e pode formar cavernas (“karst de anidrita”). A reação é reversível, criando cristais parcialmente de anidrita, parcialmente de gipso. Anidrita forma-se no topo de domos de sal, também pela desidratação do gipso. Anidrita constitui depósitos economicamente muito importantes. Em jazidas de minérios sulfetados ocorre na zona de oxidação. Em casos raros ocorre em vesículas (cavidades) de rochas vulcânicas básicas (basaltos). Cristais de anidrita podem dissolver, deixando uma cavidade que pode depois ser preenchida por quartzo, ametista, calcita, dolomita ou prehnita, criando pseudomorfos. . 3. Associações Minerais: A associação com gipso é muito comum, visto que gipso desidrata para anidrita e anidrita hidrata para gipso. Em sequencias evaporíticas associa-se, além do gipso, a halita, silvita, calcita, dolomita, illita, polyhalita, brucita, boracita, dolomita, magnesita, calcita, celestita e enxofre nativo. Não é comum, mas pode ocorrer primária em veios hidrotermais, associada a fluorita, quartzo, rhodocrosita e sulfetos como galena, calcopirita, molibdenita e pirita. Em cavidades de rochas vulcânicas ocorre com calcedônia, quartzo (ametista), calcita e zeolitas.

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  • ANIDRITA – CaSO4 A anidrita é um sulfato anidro de cores claras, constituinte importante de sequências evaporíticas e depósitos relacionados. Geralmente é muito pura, podendo apresentar baixos teores de Sr e Ba substituindo o Ca. Possui fusibilidade 2 (funde na chama da vela).

    Cristais de anidrita atingem 15 cm de comprimento, com 40 formas combinadas reconhecidas. São comuns as maclas simples ou polissintéticas, por {011}. Maclas de contato por {120} podem ocorrer. Há uma série de variedades: “chicken wire anhydrite” é formada por um mosaico de nódulos irregulares, formados em planícies de maré nas sabkhas do Golfo Pérsico; “tripe-stone” ou “bowlstone” são massas concrescionárias contorcidas assemelhadas a tripas; “angelita” é uma anidrita de cor azul celeste que é usada na produção de peças ornamentais; “volpinita” é uma variedade granular escamosa que ocorre em Costa Volpino (Itália), usada para finalidades ornamentais.

    1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem

    Ortorrômbico, classe bipiramidal rômbica.

    Incolor, branco, cinzento-azulado, mais raramente azul, laranja,

    rosa, avermelhado, amarelo ou violeta.

    . Cristais (prismáticos ou tabulares) são raros, normalmente forma massas compactas,

    granulares ou fibrosas (paralelas ou radiais)

    {010} e {100} perfeitas, {001} boa, originando

    fragmentos pseudocúbicos

    (daí o nome “cube spar”) Tenacidade

    Quebradiça

    Maclas Fratura Dureza Mohs Partição

    (ver texto acima) Irregular a lascas. 3 – 3,5 não

    Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)

    Branco a cinza claro Perláceo em {010} e vítreo em {001} e {100}.

    Transparente a translúcido

    2,9 – 3,0

    2. Geologia e depósitos:

    A anidrita é um mineral de cores claras comum, típico componente principal de sequências evaporíticas e depósitos relacionados, como domos de sal. Inicialmente cristaliza o gipso (CaSO4.2H2O) quando a concentração de sais na água marinha atravessa o intervalo entre 68% e 88%. Por desidratação do gipso forma-se depois a anidrita. A perda de água implica em redução de volume (60%) e pode formar cavernas (“karst de anidrita”). A reação é reversível, criando cristais parcialmente de anidrita, parcialmente de gipso. Anidrita forma-se no topo de domos de sal, também pela desidratação do gipso.

    Anidrita constitui depósitos economicamente muito importantes. Em jazidas de minérios sulfetados ocorre na zona de oxidação. Em casos raros ocorre em vesículas (cavidades) de rochas vulcânicas básicas (basaltos). Cristais de anidrita podem dissolver, deixando uma cavidade que pode depois ser preenchida por quartzo, ametista, calcita, dolomita ou prehnita, criando pseudomorfos.

    . 3. Associações Minerais:

    A associação com gipso é muito comum, visto que gipso desidrata para anidrita e anidrita hidrata para gipso. Em sequencias evaporíticas associa-se, além do gipso, a halita, silvita, calcita, dolomita, illita, polyhalita, brucita, boracita, dolomita, magnesita, calcita, celestita e enxofre nativo. Não é comum, mas pode ocorrer primária em veios hidrotermais, associada a fluorita, quartzo, rhodocrosita e sulfetos como galena, calcopirita, molibdenita e pirita. Em cavidades de rochas vulcânicas ocorre com calcedônia, quartzo (ametista), calcita e zeolitas.

  • 4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA:

    Índices de refração: nα: 1,567 - 1574 nβ: 1.574 – 1.579 nγ: 1.609 – 1.618

    ND Cor / pleocroísmo: incolor. Anidritas de cores violetas apresentam pleocroísmo: X = incolor a amarelo muito claro ou rosa, Y = violeta claro ou rosa, Z = violeta.

    Relevo: Baixo a médio

    Clivagem: {010} perfeita, {100} muito boa e {001} boa a imperfeita. O conjunto das 3 clivagens cria fragmentos cúbicos. Quando os cristais são tabulares, mas muito finos, geralmente não se observa clivagem. Em cristais mais largos torna-se visível a clivagem paralelamente ao alongamento. A clivagem pode estar deformada devido a tensões.

    Hábitos: cristais tabulares, granulares anédricos a subédricos, maciça, fibrosa (radial ou plumosa), encurvada, formas concrescionárias contorcidas. São possíveis agregados radiais de cristais tabulares de gipso e anidrita, pois os dois minerais geralmente ocorrem juntos.

    NC Birrefringência e cores de interferência:

    birrefringência alta, de 0,042 a 0,044: cores intensas, muito coloridas, até o verde de 3ª ordem.

    Extinção: paralela às direções de clivagem.

    Sinal de Elongação: SE(+) ou SE(-), não é diagnóstico.

    Maclas: são comuns as maclas simples ou repetidas (lamelas polissintéticas por deformação por pressão) segundo {011}. Maclas de contato são raras.

    Zonação: não apresenta.

    LC Caráter: B(+) Ângulo 2V: 36-45º

    Alterações: a gipso, por hidratação. Esta hidratação aumenta o volume em até 60% e inicia pelos planos de clivagem.

    Pode ser confundida com: gipso, mas o gipso apresenta cores de interferência cinzas, extinção oblíqua e clivagem de qualidade pior. Barita mostra relevo médio, clivagem de qualidade inferior e maclas mais raras. Celestita pode ser semelhante, mas possui relevo médio. Quartzo e feldspatos em geral não mostram clivagem.

    Anidrita (colorida) e gipso (cinza) a NC,

    uma associação muito característica,

    exibindo os cristais tabulares longos

    que são um dos hábitos que a anidrita

    pode apresentar.

  • A mesma imagem de anidrita e gipso a ND (à esquerda) e a NC (à direita). A ND, ambos são incolores, possuem relevos um pouco distintos e podem mostrar clivagem se os cristais não forem muito estreitosou pequenos. A NC, o gipso é cinza enquanto a anidrita apresenta estas cores intensas.

    Agregado radial de cristais tabulares longos de anidrita (colorida) e gipso (cinza), a NC. Esta estrutura é denominada de “flor de gelo”. Em preto, buracos na lâmina delgada.

    Cristais de anidrita a NC mostrando maclas, que são as bandas coloridas paralelas quepodem ser vistas nos cristais (lembram muito as maclas da calcita).

    Cristais de anidrita a NC, mais largos e, com isso, mostrando sua clivagem, cuja qualidade varia de perfeita a imperfeita.

  • 5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:

    A microscopia de Luz Refletida evidentemente não é o método analítico recomendado para a identificação da anidrita. Mas é importante a confecção de uma lâmina ou seção polida para a identificação dos minerais opacos que se associam à anidrita.

    Preparação da amostra: a anidrita é fácil de polir, como a calcita, mas sempre haverá sulcos de polimento em função da baixa dureza do mineral. É interessante iniciar o polimento com um abrasivo mais fino que o comum, usar mais água e aplicar menos pressão em todas as etapas de desbaste e polimento.

    ND Cor de reflexão: Cinza escuro

    Pleocroísmo: Não

    Refletividade: Muito baixa (4-7%) Birreflectância: forte

    NC Isotropia / Anisotropia: Anisotropia possível em cores cinza amarronzadas.

    Reflexões internas: Generalizadas, claras, leitosas a multicoloridas.

    Pode ser confundida com: quando em cristais pequenos, pode ser confundida com muitos outros minerais transparentes de baixa refletividade e reflexões internas claras a brancas. Sulcos de polimento, maclas frequentes e hábito de grãos tabulares longos e finos são características diagnósticas.

    Sulcos de polimento são difíceis de eliminar; geralmente continuam presentes.

    Figuras de arranque triangulares alinhadas ocorrem quando o polimento não é perfeito.

    Reflexões internas multicoloridas são visíveis em alguns pontos mesmo a Nicóis Descruzados.

    Forma dos grãos: arranjos de cristais longos e finos, semiparalelos, frequentemente formando arranjos radiais, as chamadas “flor de gelo”. É fácil de identificar a ND.

    Maclas polissintéticas são comuns, lembrando as maclas da calcita.

    Anidrita nodular a ND (esquerda) e a NC (direita), observados com a objetiva de aumento médio (10x). Trata-se de um agregado, macroscopicamente maciço e branco, de cristais extremamente pequenos de anidrita. Em função disso, as características diagnósticas da anidrita ao microscópio são quase impossíveis de reconhecer.

  • Versão de julho de 2019

    Esquerda: agregado de cristais tabulares de anidrita a ND. Em alguns casos formam-se os agregados radiais conhecidos como “flor de gelo”. Direita: a mesma imagem a NC, mostrando generalizadas reflexões internas incolores a leitosas.

    Anidrita a ND em agregado de

    cristais grandes, mostrando figuras

    de arranque geradas em função das

    clivagens perfeitas da anidrita.

    Melhorando o polimento as figuras

    tendem a desparecer.