angela anastácio silva - o significado social da psicologia voltada para a educação
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Ref. Bibliográfica: Anastácio Silva, A. - O significado social da psicologia voltada para a educação. Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, 2008.Este é o primeiro texto da matéria Psicologia da Educação na UnB, com a professora Angela Anastácio Silva - a própria autora do texto.TRANSCRIPT
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Universidade de-BrasiUa
Faculdade de Educacao
Disciplina: PSICOLOGIA da EDUCA<;:AO
t.,
1 .- __
o significado social da psicologia voltada para a educacao 'Angela Anastacio Silva
Faculdade de Educacao/Unfl, 2008
A trajetoria percorrida ao longo de aproxirnadamente cinco
seculos pennite-nos construir uma visao de conjunto das ideias
pedagogicas no Brasil. Espera-se que essa visao de conjunto
[ ...] auxilie as professores a situar, nos cursos que ministram, 0
objeto de suas disciplinas na historia c ia educacao brasileira(SAVLANl, 2007, p. 442).
Inspirada nas colocacoes acima, proponho neste trabalho compartilhar algumas
reflexoes sabre a papel da Psicologia da Educadio2
nos Cursos de Formacao de
Professores (CFP), Nesse sentido, serao apresentadas algumas questoes que relacionam
a Psicologia Educacional, enquanto area de conhecimento e como disciplina, com os
modelos de formacao docente e com a pratica educativa. Serao analisados os caminhos
percorridos pela psicologia em busca da consolidacao de seu projeto cientificoe a sua
interdependencia com 0 universo da educacao escolar,
Tal proposta de trabalho nao tern a intencao explicita de dar respostas, mas,
buscando valorizar a perspectiva da reflexao sobre a problematica da relacao teoria e
pratica, tern apenas 0 compromisso de oferecer uma contribuicao ao debate sobre 0
significado social da psicologia voltada para a educacao.
Os rumos tornados pela ciencia psicologica na realizacao de seus progressos,
tanto no campo teorico como no sentido da interacao com diversos setores da atividade
social, dentre des a educacao, levou ao desenvolvimento da area que se configura como
1 Texto parcialmente baseado DB dissertaeao de mestrado '"Contribui90es da disciplina Psicologia da
Educaodo segundo professores do ensino media", de Angela Anastacio Silva, com orientacao de
Elizabeth Tunes. Facu1dade de Educacao da Universidade de Brasilia, 2003.
2 Esta expressao e utilizada para designar tanto a a r e a de conhecimento quanto a disciplina Para a area, 0
termo pode variar entre Psicologia da Educacao, Psicologia e Educacao, Psicologia na Edncacao,
Psicologia Educacional on, ainda, Psicologia Educacional e Escolar, confonne 0 posicionamento do
estudioso acerca da relacao psicologia e educacao, Para designar a disciplina pode haver uma variacao
maior ainda na nomenclatura de acordo com a organizacao do curso de formacao docente no qual ela
esteja inserida. No presente estudo os termos apresentados serao usados como sinonimos.
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Psicologia e Educacao (PINO, 1990). Essa area pode ser definida como sendo urn
espaco de producao de conhecimentos especificos, baseado nas teorias psicoiogicas e na
analise da realidade educativa. Trata-se de urn campo de estudos que direciona sua
producao para a compreensao do ser humano no processo de ensino-aprendizagem,
Ao mesmo tempo, 0 termo Psicologia na Educacao pode ser considerado urn
conhecimento escolar, pais serve para designar uma discipline dos curriculas dos cursos
de formacao de professores. A disciplina refl ete 0 desenvolvimento da area de
conhecimento. Tanto a area quanta a disciplina constituem-se no contexte das politicas
educacionais e dos movimentos pedagogicos, ambos definidores dos rumos da
educacao, Definidores, tamb e m , dos modelos/concepcoes que desenham 0 formato de
urn curso de formacao de professores.
Em sendo a psicolcgia uma ciencia, 0 que vern a ser educacao?
A educacao pode ser entendida como sendo uma pratica social, "urn ato de
intervencao no mundo" especifico da condicao humana (FREIRE, 1996, p. 122). 0 ate
educativo necessita, ainda, ser entendido como urn fenomeno social abrangente, pois
que ocorre em diferentes ambitos, dentre eles 0 escolar, e par meio de conhecirnentos de
naturezas diversas (LOPES, 1999). Do mesmo modo, necessita ser assinalado como urn
processo multidimensional posto que apresenta uma dimensao humana, uma dimensao
tecnica e uma dimensao politico-social, sendo que essas dimensoes estao articuladas
entre si de uma forma dinamica e coerente (FREIRE, 1996; GOMES, 2002).
A constituicao da ciencia psicolngica e sua rela~ao coma pratica educativa
A ciencia para se oeupar das coisas do mundo deve antes se ocupar de S I mesma,
Como parte do fazer cientifico encontra-se a reflexao critica sobre a atividade cientifica
e acerca de seu relacionarnento com as praticas sociais. Diante disso podemos fazer
perguntas como: Qual a origem do conhecimento psicol6gico? Qual e a sua relacao com
o mundo? Quais sao suas finalidades? E, par fim, como a psicologia se relaciona com 0
contexto educative?
Em prirneiro lugar e necessario que se diga que as producoes cientificas devem
ser avaliadas considerando-se as condicoes economicas, politicas e sociais que as
permeiam. Nesse sentido, tern-se que a ciencia modema e urn fenorneno hist6rico e uma
criacao propria de nossa civilizacao. Discutir ciencia, assim, implica ponderar 0 tempo
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da modemidade. ainda que de forma breve, bern como 0 significado ideo16gico e etico
deste trabalho cientifico desde entao ate as tempos atuais (FOUREZ, 1995).
A ciencia, na modernidade, passa a ter urn grande valor. A vinculacao existente
entre a ciencia e os empreendimentos da burguesia leva a supor que ha uma relacao de
interdependencia entre 0 desenvolvimento da ciencia eo crescimento do capitalismo. A
v~"G-pr:atica que focaliza qualquer coisa a partir da utilidade que possa ter atravessa nao
56 os neg6cios burgueses GOmO t~em 0 conhecimento cieutifico, "que nasceu para
- - - - -ervi-los e desenvolve-los' CALVES, 2007, p. 61). -- _
Assirn sendo, pode-se dizer que a ciencia moderna e urn produto do capitalisrno.
Por sua vez, a modernidade consolida-se como sendo a era da tecnociencia. "No
capitalismo historico a acumulacao de capital sempre implicou uma tendencia
generalizada e crescente a mercantilizacao de todas as coisas" (GENTILI, 1995, p. 228).
A psicologia, neste contexte, assim como todas as ciencias hurnanas e sociais,
surge como forma cientifica imbuida do espirito da modernidade e sob forte influencia
do fazer das ciencias naturais. Seu desenvo lvimento, no inicio, esteve basicamente
atrelado a COnCeP9aO positivista de saber cientifico. Atualmente, as ciencias
antropossociais distanciararn-se do positivisrno que durante muito tempo determinou 0
encaminhamento de sua metodologia de investigacao. Porem, considerando-se 0 seu
pouco tempo de vida, elas tern apenas urn seculo de existencia, esse distanciarnento nao
e tao longinquo assim. As marcas do positivismo sao ainda bastante perceptiveis em
suas traietorias
Essa heranca tern marcado significativamente 0 percurso da psicologia no
ocidente. Em sua pratica de pesquisa, houve forte preponderancia da psicologia
empirica, baseada no metodo experimental. Esta vertente psieologica, no afii de colocar
a psicologia na posicao de ciencia, se aproximou da metodologia das ciencias naturais
que entendia a producao de conhecimento baseada na busca da objetividade, da
previsibilidade, da mensurabilidade, bern como na garantia de aplicabilidade de seus
conceitos.
A ciencia psicologica encontrou no campo educacional urn dos seus primeiros
espacos para a consolidacao de seu intento de cientificidade. Essa ciencia almejou 0
aproveitamento pratico de suas "leis" no contexto escolar, que foi visto como urn
ambiente de "aplicacao' dos conteudos previamente elaborados pela psicologia. A
educacao, sob esta otica, passou a ser pensada por urn conhecimento cientifico que se
adiantava ao ato pedag6gico e apresentava urn saber em forma de teoria sobre0
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processo educative. Mas, sera que a psicologia deve ter carater prescritivo, ela deve ter
a faculdade de fundamentar a educacao? Esse pode ser avaliado como urn equivoco
presente na historia da psicologia ern interacao com a situacaoeducativa, Trata-se de
urn dos pontes mais frageis da interacao entre a psicologia e a educacao, pais que a
orientacao da ciencia psicologica para a pratica tern se dado em funcao da perspectivada racionalidade tecnica. ~
Porem, a educacao tambem foi fortemente influenciacl-tr-'pelo pragmatismo e
utilitarismo da ciencia mQ_dem~i\:ssilfl ~do, pode-se dizer que, no ambito da
complexa organizacao escolar, houve interesse em sustentar a relacao teoria e pratica
nos moldes da racionaiidade tecnica,
E, num movimento de interferencia e influencia mutua entre cienciae ac;::ao
pedagogica, dois saberes da psicologia foram especialmente importantes, posto que
atendiam prontamente is finalidades educativas da escola Hum dado momenta historico.
Sao eles: 0 comportamentalismo e a psieometria. Essas duas correntes psicologicas
eonseguiram estabelecer relacoes mais lineares com a educacao que outras teorias
porque fomeceram tecnicas especificas para aplicacao no ensino,contribuindo assim
para a perpetuacao dos equivocos relatives a relacao teoria e pratica,
o comportamentalismo ou behaviorisrno objetiva prever e controlar 0
comportamento. A psicologia comportamentalista, diante da demanda escolar, ficou
responsavel par fornecer instrumentacao tecnica para aeducac;:ao. 0 tecnicismo,
sustentado pela visao comportamental, concebe a educacao a partir do principia da
racionalidade tecnicae exige dos professores a especializacao no uso de metodos da
didatica, tendo em vista 0 controle do exito do aluno em situacoes de aprendizagem.
'Esta perspectiva deve ser tomada como sendo bastante reducionista na compreensao dos
processos psiquicos envolvidos na sitnacao educativa porque associa 0 seu
desenvolvimento apenas ao exercicio doensinar, ou seja, ao pape! do professor. Nesse
caso, 0 trabalho pedag6gico enfatiza os metodos e tecnicas empregados na
aprendizagem ignorando possiveis traces a priori nos individuos.
A visao tecnicista considera que 0 fator principal do trabalho pedagogico e a
organizacao racional dos meios. Nessa perspective, apesar de ser treinadocom
instrumentacso tecnica, 0 professor tern uma posicao secundaria tornando-se rnero
executor "de u.m processo cuja concepcao, planejamento, coordenacso e centrale fiearn
a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais"
(SAVIANI, 2007, p. 380). Par isso0
ermo tecnicismo, porque nesta visao compreende-
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se a educacao como a exeeucao de tecnicas, como uma pratica subordinada aos
preceitos dos conhecimentos cientificos. Os pressupostos que norteavam a concepcao
tecnicista tinham relacao direta com 0 modelo cientifico de orientacao positivista:
neutralidade, racionalidade eficiencia e produtividade, alem da objetividade e
operacionalidade (GERMANO, 1999).
A psicornetria, com 0 estudo e medicao de caracteristicas hurnanas, relacionou-
se com a educacao fomecendo igualmente tecnicas, porem, neste caso, especificas para
serem aplicadas no reconhecimento das capacidades dos alunos. A psicornetria de
Alfred Binet organizou a bastante conhecida escala de medir a inteligencia. 0 teste de
Q 'L como ficou conhecido, foi feito com a fmalidade de se aplicar seus resultados a
quest5es educacionais especificas. Sua tarefa foi "desenvolver tecnicas para identificar
criancas cujo fracasso escolar sugerisse a necessidade de alguma forma de educacao
especial" (GOULD, 1999, p. 152).
A problemarica maior que relaciona 0 teste de inteligencia com a escola se deu
em funcao do usa incorreto desse teste entre as psicologos americanos, pois esses
profissionais falsearam as ideias de Binet e associaram a teoria do QI a fatores ligados Ii
hereditariedade. E, a maior falacia hereditarista nao esteve ligada a ideia de que a QI
seria alga "herdavel", em maior ou menor grau, mas a uma falsa identificacao com 0
termo "inevitavel", Nesse sentido, a "teo ria do QI hereditario" tornou-se urn produto de
cientistas arnericanos que elaboraram uma serie de argumentos enganosos a partir de
resultados obtidos nos testes de inteligencia entre pessoas de urn mesmo grupo.cultural,
cornparando hereditariedade it caracteristica etnica e considerando os resultados como
incontormiveis (GOULD, 1999, p. 159).
Outro representante do movimento da psicornetria, Francis Galton, desenvolveu
urn modelo antropornetrico com estudo das diferencas individuais que se dava atraves
da comparacao entre as realizacoes dos sujeitos estudados. Deve-se destacar, contudo,
que, para Galton, as. diferencas encontradas eram de responsabilidade dos proprios
individuos, au seja, as diferencas eram atribuidas it natureza humana, Tais ideias
influenciaram as praticas pedag6gicas no sentido da corroboracao do insucesso escolar,
pois que a sua proposta de desenvolvimento humane pressupunha a inteligencia como
algo inato (GONZALEZ REY, 1999).
Tanto a psicometria quanto a modele antropometrico acabaram por fornecer
subsidies para uma pratica educativa descompromissada par parte do sistema escolar e
em relacao ao papel do professor no processo ensino-aprendizagem, ja que as resultados
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da educacao ficavam relacionados a capacidade inata do aluno, Nesse caso, a professor
flea destituido de sua tarefa principal de ensino; 0 anmue vista como uma entidade
portadora de qualidades que a priori permitem prever seu exito ou nao na escola.
Retomando ao tempo da modemidade, berco da ciencia, pode-se dizer que este
periodo avancou vitorioso em seu intento de fazer veneer a raeionalidade tecnica e0
utilitarisrno do conhecimento cientifico. Alem disso, 0 periodo modemo pode ser
considerado como sendo 0 marco da fragmentacao do pensamento humano e da perda
da nocao de unidade universal. Como consequencia da analise fragmentada passou a
haver diversas separacoes entre conceitos, em principio inseparaveis, como 0 suj eito e a
objeto a saciedade e a natureza au 0 corpo e a alma.
Na ciencia psicologica, a fragmentacao conceitual tarnbem pode ser observada.
A psicologia desenvolveu uma visao reducionista do fenomeno psiquico analisando de
maneira dissociada corpo e mente ou afeto e cognicao, contribuindo para a dissociacao
no estudo de aspectos edueativos como 0 ens ina versus a aprendizagem.
A Psicologia Educacional e os modelos de formacao docente
Na situacao do ensino de psicologia para futures professores, a Psicologia
Educacional acabou por corroborar as ideias do modelo tradicional au instrumental de
formacao docente. Uma das principais caracteristicas do modelo tradicional de
formacao docente e que essa concepcao valoriza a racionaLidade tecnica, onde a pratica
do professor e entendida como aplicacao de principios derivados da investigacao
cientifiea. 0 professor, assim, e urn tecnico especialista que apliea com rigor as regras
que derivarn do conhecimento cientifico, sendo que a ciencia fomece as instrumentos e
as tecnicas para a atividade docente.
A crenca de que a reforma edncacionaI e, acima de tudo, uma questao
tecnica, uma questao de reunir as pesquisas e delas deduzir quais asmelhores intervencoes, esta bern firmada no universo educacional. A
hierarquia de instituicoes de ensino culmina nas universidades, elas
pr6prias produtoras de pesquisa sobre educacao] ...JOs/as professores/assao definidos/as, nessa perspectiva, como receptadores/as passivos da
ciencia educacional e n a o como produtores/as, eles/as pr6prios/as de
conhecimento fundamental (CONNELL, 1995, p. 20).
Pode-se dizer que historicamente a psicologia voltada para a edncacao tern
contribuido em muito para perpetuar a visao tradicional de formacao docente. Com 0
comportamentalismo e a psicometria, principalmente, a Psicologia da Educaeao passou
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a ser vista como urn "sistema de praticas e instrumento" em detrimento de urn 'sistema
de ideias" a service da reflexao acerca da pratica pedagogica (GONzALEZ REY
1999).
Adernais, as concepcoes reducionistas na psicologia cientifica, alem de
reforcarem0
utilitarisrno e0
pragrnatismo na educacao, levam, muitas vezes, alimitacoes na cornpreensao de urn dos principais aspectos do trabalbo pedagogico, a
questao da relacao ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva, 0educador vern a perceber
o processo de aprender do aJuno como algo individual sem relacao, portanto, com 0 seu
trabalho, 0 ensinar.
Por fim, pode-se conciuir que, com base nas ideias do comportamentalismo e da
psicometria, a ciencia psicologica foi, durante muito tempo, essenciaImente
normatizadora porque passou a descrever comportarnentos e capacidades tipicas para
cada faixa etaria au a prescrever metodos e tecnicas de ensino. Auxiliou, com isso,a
diagnosticar desajustes e dificuldades no cotidiano das escolas. Tambem, ofereceu
treinamentos e orientacoes, com caracteristicas normativas, pois estes tratavam do ritmo
e das sequencias "normais" do desenvolvirnento do aluno. Com isso, esta area de
conhecimento teve como papel orientar os educadores em geral atraves de manuais de
instrucao com concertos da ciencia psicologica; os manuais tratavam de individuos
abstratos, mas que deveriarn ser entendidos como concretos e indiscutiveis (Yazlle,
1997 eFontana eCruz, 1997 apudANASTAcIO SlLVA, 2003, p. 25).
Pautadas em criticas a preparacao docente tradicional surgem, na decada de RO ,
diferentes visoes de formacao que giram em tome de uma abordagem denominada
critico-reflexiva, D. Schon, K. Zeichner e A. Novoa sao alguns dos estudiosos ligados a
essa abordagem. Eles tern como ponto de convergencia teorico 0 principio de reflexao
como paradigma orientador de suas propostas para a formacao docente.
A abordagem critico-reflexiva prima pelo conceito de desenvolvimento
profissional 0 que remete a ideia de que a formacao inicial nao deve ser considerada a
unica nero a principal fonte de formacao docente, tendo em vista 0 continuo e crescente
processo de producao de conhecimentos acerca dos assuntos educacionais. Aliada a este
juizo, existe a proposta de que a pratica profissional deve ser considerada a enfoque
central de analise do processo de formacao, A reflexao te6rica deve partir da atividade
educativa em que surgem as necessidades dos sujeitos envolvidos. Por f im, destaca-se a
figura do professor reflexivo como 0 objetivo primordial do processo de formacao
(LEITE, 2000).
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Para os teoricos dessa abordagem, 0 trabalho educative esta marcado pela
compiexidade, i.nstabilidade, incerteza e singularidade. Nessa perspectiva, acredita-se
que 0 ato pedagogico nao pode estar sujeito "a esquemas preestabelecidos de natureza
tecnico-cientifica' (LEITE, 2000 p. 42).
Cousideracoes finais
A psicologia tern-se beneficiado dos avances nas discussoes epistemologicas
acerca do papel das pesquisas, em ciencias humanas e socials, voltadas aD contexte
educacional. Desde os anos 80 as ciencias antropossociais tern buscado a superacao dos
principais impasses para a contribuicao efetiva de suas producoes no trabalho
pedag6gico. Associado a constituicao da tendencia critico-reflexiva, urn movimento de
autocritica vern permeando as producoes em Psicologia da Educacao. Com isso, essa
area cientifica tern buseado ir alem do paradigms tecnicista, valorizando 0 paradigma
critico, baseado na reflexao da realidade social. Tambem tern buseado a passagern de
urn paradigma que considera 0 aluno como urn sujeito passive para a perspectiva do
aluno ativo no processo de construcao do conhecimento. E, fmalmente, a psicologia ternnegado 0 modelo pedagogico que apenas informa, instrui, para aquele que valoriza 0
questionamento a partir de problernaticas concretas.
AtuaLmente, a produeao de conhecimento no ambito da Psicologia Educacional
vern senda chamada a atender as demandas sociais na perspective da complexidade e da
multidimensionalidade do seu objeto de trabalho, 0 ser humane (pETRAGLIA, 1995).
o ensino de Psicologia da Educacao tern dimensionado sua contribuicao nos cursos de
preparacao docente baseando-se nosprincipios da formacao critico-reflexiva de modo a
poder propiciar 0 desenvolvimento da compreensao da ayao educativa e nao apenas a
aquisicao de conceitos de forma unilateral ou a apropriacao de ideias de forma passiva
por parte do professor.
Assim, a Psicologia na Educacao tern direcionado sua producao com 0 proposito
de servir a educacao, oferecendo situacoes e conteudos de reflexao aeerea do fen6rneno
educative, Sua funcao enquanto ciencia e 0 de estender 0 saber psicologico ao estudo do
processo educative, sendo que os encaminhamentos em ambito pedagogico cabem aos
atores responsaveis pela pratica educativa, os educadores e os educandos.
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