anexos sagrado feminino

Upload: lyz-anderson

Post on 02-Mar-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    1/31

    Curso de Formao em Danas Circulares Sagradas

    ::Introduo e Instrumentalizao::

    Sagrado Feminino

    Anexos:

    1. Mulheres Curadoras2. A Conscincia do Sagrado Feminino

    3. A dana da Lua ao longo do Ano4. Fiar e Tecer, as artes mgicas femininas

    5. A Perda da Pele Pele de Foca, Pele da Alma6. Brigid, Deusa e Santa

    7. As Senhoras da Plenitude8. As Faces menos conhecidas da Deusa

    9. Hipcia de Alexandria10. Lilith, Grande Deusa

    11. A Lenda das Treze Matriarcas12. Canta e Dana Mulher

    Focalizadora: Cibele de Ftima Yacy Soares Santos

    Data: 15 e 16 de agosto de 2015.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    2/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 2

    Grande Me Willendorf

    Perguntaram certa vez a Isadora Duncan quando comeara a danar. No ventre de minha

    mefoi a resposta. Esta imagem potica pe a dana na origem da vida, como

    manifestao instintiva do ser humano.

    Do livro: Histria da Dana de Maribel PortinariEditora Nova Fronteira

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    3/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 3

    1. MULHERES CURADORAS

    Erveiras, raizeiras, benzedeiras, mulheres sbias que por muito tempo andaram sumidas, ou at

    mesmo escondidas. Hoje retornam com um diploma de ps-graduao nas mos e um sorrisomaroto nos lbios.Seu saber mudou de nome. Chamam de terapia alternativa, medicina vibracional, fitoterapia, prticascomplementares...so reconhecidas e respeitadas, tem seus consultrios e fazem palestras.As mulheres curadoras fazem parte de um antigo arqutipo da humanidade.Em todas as lendas e mitos, quando h algum doente ou com dores, sempre aparece uma mulheridosa para oferecer um chazinho, fazer uma compressa, dar um conselho sbio.

    Na verdade, a mulher idosa um arqutipo da curadora, tambm chamada nos mitos de GrandeMe.No tem nada a ver com a idade cronolgica, porque esse um arqutipo comum a todas asmulheres que sentem o chamado para a criatividade, que se interessam por novos conhecimentos eesto sempre a procura de mais crescimento interno. Sua sabedoria saber que somos obras em

    andamento, apesar do cansao, dos tombos, das perdas que sofremos... a alma dessas mulheres mais velha que o tempo, e seu esprito eternamente jovem.Talvez seja por isso que, como disseClarissa Pinkola, toda mulher parece com uma rvore.Nas camadas mais profundas de sua alma ela abriga razes vitais que puxam a energia dasprofundezas para cima, para nutrir suas folhas, flores e frutos.

    Ningum compreende de onde uma mulher retira tanta fora, tanta esperana, tanta vida.Mesmo quando so cortadas, tolhidas, retalhadas, de suas razes ainda nascem brotos que votrazer tudo de volta vida outra vez.Por isso entendem as mulheres de plantas que curam, dos ciclos da lua, das estaes que vo evem ao longo da roda do sol pelo cu.Elas tem um pacto com essa fonte sbia e misteriosa que a natureza,. Prova disso que sempre

    se encontra mulheres nos bancos das salas de aula, prontas para aprender, para recomear, paraampliar sua viso interior.Elas no param de voltar a crescer...

    Nunca escrevem tratados sobre o que sabem, mas como sabem coisas! Hoje os cientistasdescobrem o que nossas avs j diziam: as plantas tm conscincia! Elas so capazes de entendere corresponder ao ambiente sua volta. Converse com o dente-de-leo para ver... comunique-secom as plantas de seu jardim, com seus vasos, com suas ervas e razes, o segredo sempre oamor.

    Minha me dizia que as rvores so passagens para os mundos msticos, e que suas razes socomo antenas que do acesso aos mundos subterrneos. Por isso ela mantinha em nossa casaalgumas rvores que tinham tratamento especial. Uma delas era chamada de rvore protetora dafamlia, e era vista como fonte de cura, de fora e energia. Qualquer problema, corramos paraabra-la e pedir proteo.O arqutipo de curadora faz parte da essncia do feminino, mesmo que seja vivenciado por umhomem. Isso est aqum dos rtulos e definies de gnero.

    Faz parte de conhecimentos ancestrais que foram conservados em nosso inconsciente coletivo.Perdemos a capacidade de olhar o mundo com encantamento, mas podemos reaprender issoprestando ateno nas lendas e nos mitos que ainda falam de realidades invisveis que nos rodeiam.Lembre-se: onde voc colocar sua percepo e sua conscincia, a energia vai atrs.

    Mani Alvarez Coordenadora do curso de ps-graduao em Prticas Complementares em Sade

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    4/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 4

    2. A conscincia do Sagrado Feminino

    Resgatando o passado, construindo o futuro

    Mirella Faur

    Durante os milnios da supremacia patriarcal, refletida nos valores espirituais, culturais, sociais,comportamentais e amparada pela hierarquia divina masculina, foi negada e reprimida qualquermanifestao da energia feminina, divina e humana. Resultou assim em uma cultura exclusiva edestrutiva, centrada na violncia, conquista e dominao, com o conseqente desequilbrio globalatual. Os homens - como gnero - no foram os nicos responsveis pelas agresses e atitudesextremistas a eles atribudas; a causa pode ser atribuda maneira pela qual a identidade masculinafoi criada e reforada pelos modelos e comportamentos de heris e super-homens.Fundamentados em seus direitos divinos, outorgados inicialmente por deuses guerreiros e depoisreiterados pela interpretao tendenciosa dos preceitos bblicos, os homens foram inspirados,instigados e recompensados para desconsiderar e deturpar as milenares tradies matrifocais e oscultos geocntricos. Em lugar de valores de paz, prosperidade e parceria igualitria, foraminstaurados princpios e sistemas de conquista, explorao e dominao da Terra, das mulheres,

    crianas e de outros homens.

    Pela sistemtica inferiorizao e perseguio da mulher, o patriarcado procurava apagar e denegriros cultos da Grande Me, interditando os seus rituais, demonizando e distorcendo seus smbolos evalores. A relao igualitria homem-mulher foi renegada, a mulher declarada um ser inferior,desprovido de alma, amaldioado por Deus, responsvel pelos males do mundo e por isso destinadaa sofrer e a ser dominada pelo homem. Os princpios masculino e femininoantes ploscomplementares da mesma unidadeforam separados e colocados em ngulos opostos eantagnicos. Enalteceu-se o Pai, negou-se a Me e usou-se o nome de Deus para justificar epromover o cdigo patriarcal, a subjugao e explorao da Terra e das mulheres. A tradio, oscultos e a simbologia da Deusa foram relegados ao ostracismo e paulatinamente caram noesquecimento. Patriarcado e cristianismo se uniram na construo de uma sociedade hierrquica edesigual, baseada em princpios, valores, normas, dogmas religiosos, estruturas sociais e culturaismasculinas.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    5/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 5

    As ltimas dcadas do sculo passado proporcionaram uma gradativa mudana de paradigmas nasrelaes e nos conceitos relativos ao masculino e feminino. No entanto, para que este avano tericose concretize em aes e modificaes comportamentais e espirituais, imprescindvel reconhecer aunio harmoniosa e complementar das polaridades e procurar novos smbolos e rituais para o seufortalecimento e equilbrio. Com o surgimento progressivo de uma dimenso feminina da Divindadena atual conscincia coletiva, est sendo fortalecido o retorno Deusa e a revalorizao do SagradoFeminino.

    Somos ns que estamos voltando Deusa, pois Ela sempre esteve ao nosso lado, apenas oculta nabruma do esquecimento e velada pela nossa falta de compreenso e conexo com seu eterno amore poder.

    A principal diferena entre o Pai patriarcal, celeste e a Me csmica e telrica universal a condiotranscendente e longnqua do Criador e a essncia imanente e eternamente presente da Criadora,em todas as manifestaes da Natureza.

    A redeno do Sagrado Feminino diz respeito tanto mulher quanto ao homem. Ao esperarrespostas e solues vindas do Cu, esquecemos de olhar para baixo e ao redor, ignorando asnecessidades da nossa Me Terra e de todos os nossos irmos de criao. Para que os valoresfemininos possam ser compreendidos e vividos, so necessrias profundas mudanas em todas asreas: social, poltica, cultural, econmica, familiar e espiritual. Uma nova conscincia do SagradoFeminino surgir to somente quando for resgatada a conexo espiritual com a Me Terra, percebidae honrada a Teia Csmica qual todos ns pertencemos e assumida a responsabilidade de zelarpelo seu equilbrio e preservao.

    O reconhecimento do Sagrado Feminino deve ser uma busca de todos, porm cabe s mulheresuma responsabilidade maior, devido sua ancestral e profunda conexo com os arqutipos,atributos, faces, ciclos e energias da Grande Me.

    Uma grande contribuio na transformao da mentalidade do passado e na expanso atual daconscincia coletiva so os encontros de homens e mulheres em crculos e vivncias comunitrias,para despertar e alinhar mentes, coraes e espritos em aes que visem a cura e a transmutaodas feridas da psique, infligidas pelo patriarcado. Apaziguar a si mesmo, harmonizar seusrelacionamentos, vencer o separatismo, reconhecer e honrar a interdependncia de todos os seres,evitar qualquer forma de violncia, dominao, competio ou discriminao so desafios do serhumano contemporneo, no nvel pessoal, coletivo e global. Incentivando a parceria entre os gnerose a interao dos planos energticos (celeste, telrico, ctnico) criam-se condies que favorecem aexpanso da conscincia individual e contribuem para a evoluo planetria.

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    6/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 6

    3. A dana da Lua ao longo do ano

    Mirella Faur

    Desde a antiguidade a Lua exerceu um profundo fascnio sobre a mente e a imaginao humanas etornou-se o principal assunto de inmeros mitos, lendas, poemas, canes e obras de arte.Considerada por vrias tradies e culturas como o smbolo celeste do princpio feminino, a Lua eraa prpria Me Divina, invocada em cultos e rituais para promover a fertilidade e assegurar ocrescimento e a nutrio vegetal, animal e humana.

    Apesar de a Lua ser comumente considerada um mero satlite da Terra, a relao Lua-Terrafunciona como um sistema planetrio binrio, no qual a Lua, do ponto de vista esotrico, exerce um

    duplo papel. Enquanto uma face est voltada para o Sol - desta forma conduzindo a luz espiritual, aoutra atrada pela Terra, pela sua dimenso fsica e material, sendo assim um smbolo do dilema edo desafio do ser humano em se equilibrar entre o esprito e a matria. A Lua desempenha, portanto,seu papel de mediadora reagindo s energias do Sol e da Terra e ocasionando entre ns os ciclos detransformaes naturais, biolgicas e humanas.

    O padro rtmico da Lua foi o modelo primordial dos calendrios em uso pelos povos primitivos e erarelacionado ao ciclo menstrual da mulher e ao movimento das mars. Um dos primeiros calendriosastrolgicos conhecidos foi criado pelos babilnios, baseado no ciclo das lunaes e chamado Ascasas da Lua, sendo o zodaco considerado o cinturo da Deusa Ishtar. Em inmeras tradies emitos so enumeradas e descritas as fases lunares como personificaes da Deusa lunar, em seuaspecto de Donzela (lua crescente), Me (lua cheia) e Anci (lua minguante). A prpria criao do

    Universo foi atribuda pelos gregos dana da deusa Eurynome, cujos movimentos separaram a luzda escurido, e o mar, do cu.

    O padro energtico lunar o primeiro a ser absorvido pelo filho na hora do nascimento, sendodepois ativado pelo contato com a me fsica e pelas condies do mundo exterior. A partir doprimeiro alento, a influncia da Lua natal ir permear todas as experincias da vida da pessoa,definindo a estruturao e o desenvolvimento da personalidade.

    Enquanto o Sol astrolgico representa a individualidade, a Lua revela a personalidade - a mscarasocial - e a maneira de responder s experincias e aos estmulos externos. O processo deautoconhecimento inclui explorar as profundezas da Lua (da personalidade) para encontrar a luz doSol (a individualidade central). Quando o Sol e a Lua esto em equilbrio, a combinao das suasenergias permite a integrao das fraes divididas da psique, estabelecendo uma unio harmnicadas polaridades.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    7/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 7

    A Lua atua como um receptor seletivo das impresses do mundo exterior, colocando em evidncia eselecionando aquelas s quais vamos responder conscientemente. Observamos a influncia da Luana mutabilidade das nossas reaes s vivncias cotidianas, pois ela nos protege e guia, ativando oumodificando nossos padres habituais de comportamento. Pela posio da Lua no mapa natalidentificam-se os padres emocionais, o tipo e a qualidade dos relacionamentos, a maneira deresponder s necessidades prprias e as dos outros, bem como a expresso ou o bloqueio detalentos naturais como intuio, inspirao e criatividade.

    O elemento do signo astrolgico em que a Lua estiver situada no mapa natal indica a capacidade deautonutrio, os padres costumeiros da reao instintiva e o tipo de energia necessria para aadaptao s situaes e aos ambientes. A maioria das pessoas conhece seu signo solar, ou seja,aquele signo do Zodaco em que o Sol estava passando na data do seu nascimento. No entanto,muitos poucos sabem qual o seu signo lunar, importante dado astrolgico, principalmente para asmulheres, cuja energia e ciclos fluem em funo dos ritmos lunares.

    A mulher que conhece seu signo lunar e que acompanha o movimento da Lua atravs de seussignos e fases poder perceber no apenas suas flutuaes de humor e seus ciclos biolgicos, mastambm o aumento de sua percepo psquica e o aguamento de sua sensibilidade. Ela poderassim tirar proveito destas caractersticas, ou ao contrrio, proteger sua vulnerabilidade.

    Enquanto o Sol gasta um ano para percorrer a Roda do Zodaco, a Lua a percorre em um ms,permanecendo em cada signo aproximadamente dois dias e meio. A passagem da Lua pelo signosolar individual refora as caractersticas do nativo, aumentando assim o seu poder pessoal.Pedidos, oraes, rituais, afirmaes e encantamentos, feitos no dia em que a Lua est no signosolar natal, sero potencializados e sua realizao ser facilitada.

    A Lua nos signos de fogo propicia uma resposta rpida, entusiasta e uma viso otimista perante avida, podendo fluir com as mudanas, sem se apegar aos esquemas e rotina. O desafio representado pela impacincia, as aes impulsivas e precipitadas, as atitudes egocntricas ehedonistas.

    A Lua nos signos de terra incentiva a busca da segurana e da estabilidade, do enraizamento e dapraticidade. Atitudes, convices e valores dependem das percepes sensoriais e do contato com omundo tangvel. Deve ser avaliada e vencida a insegurana em relao aos sentimentos, semoes e aceitao social e pessoal. Pode ser percebida uma resistncia s mudanas e apermanente preocupao com a realizao profissional.

    A Lua em signos de ar intelectualiza os sentimentos e as emoes, colocando em primeiro plano o

    intelecto e reprimindo ou negligenciando os sentimentos. necessrio incentivar a expresso e acomunicao, tanto mental quanto emocional, para conseguir evitar uma dicotomia e umconseqente desequilbrio interior.

    A Lua nos signos de gua enfatiza a necessidade de vivenciar e lidar com emoes e sentimentos,procurando evitar a vulnerabilidade afetiva e a hipersensibilidade. A vida percebida por um filtroemocional, fato que exacerba a empatia e dificulta a adaptao s mudanas.

    Existem outros pontos lunares de poder ao longo do ano. Anualmente, cada pessoa ter uma luacheia e uma lua nova no seu signo solar. A lua nova representa um convite para a introspeco,contemplao e alinhamento espiritual. Como acontece geralmente prximo ao aniversrio, esta fasepode ser usada como uma preparao para o seu retorno solar (o novo ciclo que se estende de umaniversrio at o prximo).

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    8/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 8

    J a lua cheia convida para uma celebrao e colheita das realizaes e conquistas, bem como umaoportunidade de direcionar a criatividade ampliada para novas metas. Como a Lua passa por todasas suas fases em todos os signos zodiacais, importante tambm saber quando acontecero a luacrescente e a minguante no seu signo solar.

    A lua crescente propcia para iniciar um projeto, mudana ou viagem, enquanto a minguanterepresenta um momento de reflexo e avaliao das experincias e dos aprendizados, favorecendoo desapego ritualstico das perdas, decepes, mgoas e dores.

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

    4. Fiar e Tecer, as artes mgicas femininas

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    9/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 9

    Mirella Faur

    Fiar e tecer so antigas artes mgicas femininas e aparecem nos mitos de vrias deusas como

    expresso dos Seus poderes profticos, criativos e sustentadores dos ciclos lunares, das estaes eda vida humana. Tendo o fuso como smbolo de poder, a Deusa como Fonte Criadora controlava emantinha a ordem csmica, os ciclos naturais e a continuidade do mundo. Fiar um processo cclicoassim como tambm a alternncia das fases lunares, das estaes, da vida e da morte, do incio edo fim. Inmeros mitos descrevem deusas tecendo com fios sutis o cu, o mar, as nuvens, o tempo,os elementos da natureza, os ciclos e os destinos dos seres humanos.

    As Senhoras do Destino de vrias tradies - conhecidas como as Parcas gregas, as Moirasromanas, as Nornes nrdicas ou as Rodjenice eslavas - tinham como smbolo mgico o fuso, a rodade fiar, os fios e a tessitura. Elas fiavam, mediam e cortavam o fio da vida, entoando canes queprediziam os destinos dos recm nascidos e apareciam como deusas trplices ou trades de deusasidosas, envoltas por mantos com capuz ou vestidas de branco, preto ou com idades diferenciadas

    pelas cores das suas roupas (branco, vermelho, preto).

    A confeco de roupas de algum tipo de material tecido fazia parte das atividades femininas desde adescoberta paleoltica de preparao de fios, torcendo pequenos filamentos de fibras naturais. Comeste mtodo eram preparadas cordas para amarrar, redes, armadilhas, roupas e cobertas. Adescoberta do ato de fiar pode ser comparada em importncia nas artes domsticas com aintroduo da roda nas atividades agrcolas.

    A mais antiga tessitura foi encontrada na estatueta neoltica de Lespugue, datada de 20.000 anosa.C. cuja figura feminina chamada de Vnus usa um avental de fios torcidos amarrados com umatira na cintura. Os fios com as extremidades desfiadas indicam a sua origem vegetal ou animal,modelo semelhante saia de uma jovem, cuja mmia da Idade de Bronze (14000 a.C.) foiencontrada em um tronco de madeira nos pntanos de Dinamarca e que est exposta atualmente noMuseu Real de Copenhague.

    Seus ossos desapareceram, mas seus cabelos, roupas e objetos de madeira foram preservados pelaacidez do solo. A saia era do tipo envelope, com tiras tranadas e presas na cintura e terminandocom uma fileira de ns amarrando conchas e pedrinhas, que tilintavam com o balano dos quadris aoandar. Acredita-se que este tipo de saia - encontrada tambm em outros tmulos - no era para ouso comum, possivelmente tinha um significado mstico e usada em ritos de passagem (menarca,casamento, gravidez). Resqucios deste tipo de avental e enfeites se encontram nos trajes folclricosdos Blcs e nas saias com franjas das camponesas de Macednia, cujos bordados tm fo rmas delosangos, reconhecidos smbolos de fertilidade.

    Cintos decorados e usados com objetivos mgicos so citados na Ilade (coletnea de poemas deHomero), como no mito de Hera, que pegou emprestado o cinto mgico de Afrodite (cujos bordadosenfeitiados despertavam desejo e amor) para seduzir Zeus. Cintos longos tecidos de l vermelha ecom franjas nas extremidades - chamados zostra - eram heranas preciosas das mulhereseuropias, que passavam de me para filha e eram usados nos partos difceis, sendo colocados nosventres das parturientes, assim como era feito com a reproduo do cinto mgico da deusa celtaBrigid (chamado brat) que facilitava a concepo e o parto.

    Temos, portanto, exemplos de roupas tecidas com fins mgicos de proteo e fertilidade desdetempos muito remotos, usadas pelas prprias deusas e que podiam ser emprestadas em ocasiesespeciais. Na Grcia as deusas teciam e encorajavam as mulheres nessa arte mgica, como

    comprovam as lendas de mulheres sobrenaturais Circe e Calipso, os mitos da deusa rtemis,Afrodite e principalmente Athena, exmia tecel, que ensinou a tecelagem para Penlope e Helena eteceu as roupas de Pandora, aps ela ter sido criada pelos deuses.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    10/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 10

    A l era o principal material usado na Grcia e no Norte europeu, enquanto no Egito as roupas eramfeitas de linho e cnhamo, o linho tendo sido usado em Anatlia desde 7000 anos a.C. e destinadopara roupas, toalhas e faixas para embalsamar mmias.

    No Norte europeu a tecelagem era praticada desde a Idade de Bronze usando l, cnhamo, linho ououtras fibras, resultando em tecidos de boa qualidade como comprovam os achados dos tmulos estios arqueolgicos. Durante pelo menos 9000 anos as mulheres passaram os meses de invernosfiando e tecendo e seus tecidos serviam como moeda de troca no intercmbio com outros pases.Somente no sculo 12 o tear horizontal substituiu o fuso e a roda de fiar e confrarias masculinasforam aos poucos assumindo a tecelagem em grande escala. Porm, as mulheres continuaram a fiare tecer nas suas casas, mantendo assim vivas as lendas e tradies da tecelagem como uma artemgica feminina.

    Um antigo mtodo de tecer, usando pequenas tbuas furadas no meio e giradas com as mos, erausado pelas videntes da Irlanda para prever o resultado das batalhas e os cataclismos naturais. O

    fuso era usado tambm como arma feminina nas disputas domsticas para se defenderem daviolncia masculina, alm de ser o principal meio para ganhar o seu sustento. Alm de roupas elenis, as mulheres teciam tambm tapearias para as paredes, com cenas mticas ou de guerra eque adornavam palcios e templos. Essas cenas tecidas pelas mulheres de vrias pocas histricase diversos lugares, no apenas divulgavam os mitos quando expostas em datas festivas, masinfluenciaram a sua interpretao histrica posterior.

    Na Escandinvia, Alemanha e os pases blticos permaneceram vrias supersties e proibiesligadas ao ato de fiar, bem com certos dias dedicados s deusas, quando era proibido fiar, tecer oucosturar, talvez para proporcionar um merecido descanso aps a labuta diria. As lendas das deusasHolda, Perchta, Holle, Latvia, Habetrot - que puniam as preguiosas com seus fusos - na verdadeserviam como incentivo para que o trabalho fosse bem feito e prometiam recompensas para aquelas

    que se esmeravam na sua arte. A deusa padroeira das fiandeiras existiu em vrias tradies como aegpcia (sis), alem (Holle, Perchta), basca (Mari), lituana (Laima), italiana (Befana), eslava (BabaYaga, Mokosh), japonesa (Amaterassu), grega (rtemis, Athena), nrdica (Frigga), bltica (Saule,Sunna, Rana Neida), alm da Rainha das Fadas de Frana, Espanha, Irlanda, Inglaterra.

    As figuras sobrenaturais - que persistiram nas tradies femininas at o sculo 20 - guardam certascaractersticas das antigas deusas da fertilidade, cujas bnos eram procuradas por moas emulheres adultas e cuja ira se direcionava contra aqueles que as exploravam ou maltratavam. Ashistrias contadas nas longas e escuras noites de inverno preservaram o legado ancestral, quepermanece nos contos de fadas e nas imagens das fadas benvolas ou vingativas. Em diversasbracteate de ouro do sculo 6 encontradas na Alemanha e usadas como amuletos, aparecem figuras

    femininas segurando objetos ligados ao fiar e tecer, reminiscncias das deusas pr-crists.

    No tempo dos Vikings o predomnio das permanentes batalhas nas lendas associou as atividades defiar e tecer com os pressgios dos desfechos dos combates e dos sinais do destino. Em um poemanoruegus do sculo 11 descreve-se uma cena dramtica em que doze Valqurias tecem entranhashumanas sobre um tear feito de espadas e caveiras e cuja cano pressagia o fim funesto de umabatalha e a morte de muitos guerreiros. O poema talvez mesclasse as figuras das Nornes com asValqurias, que tambm aparecem em outros mitos com a misso de prever ou determinar oresultado das batalhas e a escolha daqueles que iriam morrer. Ecos das deusas tecels existem nocristianismo, como so vistas nas cenas da Anunciao de vrios afrescos, onde Maria aparecesegurando um fuso e o fio passa iluminado acima da cabea de Jesus, enfatizando a ligao entre oato de fiar como smbolo do destino, da vida e do nascimento da criana divina.

    O papel importante desempenhado pela tecelagem na vida das mulheres ao longo dos milnios e oprocesso pelo qual o fio criado pelo giro do fuso e da roda, seguido do ato de tecer vrios padres

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    11/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 11

    em diversas cores, o tornaram um smbolo mtico efetivo na criao da ordem csmica e nadeterminao dos destinos humanos. Tecer um ato criativo e expansivo, fios, cordas, redes etecidos foram usados como smbolos da criao do mundo e da vida humana. As mulheres antigas oassociavam com o nascimento da criana para um futuro desconhecido, um elo evidente entre tecere parir, o cordo umbilical sendo o elo que ligava a me ao filho e que devia ser cortado para queuma nova vida comeasse, cujo fio tambm iria ser cortado pela tesoura das Senhoras do Destino nomomento da morte. As esperanas e os medos atvicos das mulheres perante os mistrios dagravidez e do parto as fizeram apelar, honrar e reverenciar a Deusa como a Grande Tecel da vida eda morte.

    A herana folclrica da tecelagem foi ignorada e mal compreendida por muito tempo peloshistoriadores homens, apesar de ser a mais valiosa arte feminina at o comeo da revoluoindustrial no sculo 18, que levou a seu esquecimento no mundo moderno. Nos contos de fada ofuso mais do que uma ferramenta, ele o elo mgico entre o mundo sobrenatural e o humano; emvrias lendas as moas pediam a ajuda das fadas madrinhas untando o fuso com seu sangue

    menstrual e depois pulavam em um poo ou entravam em uma gruta. Estes misteriosos atos solembranas dos antigos rituais xamnicos em que se ofertava algo a Deusa e depois se buscava aconexo com um transe, que dava a sensao de cair no vazio ou penetrar no mundo das sombras.

    As tecels atraiam criaturas sobrenaturais (fadas, elfos, goblins, anes) que as ajudavam obterprosperidade, por isso aquelas que sabiam tecer eram mais cobiadas como parceiras pelos homensdo que as bonitas, pois a sua arte iria garantir a sobrevivncia nas pocas difceis. Por ser o fuso umsmbolo feminino e atribudo a vrias deusas, criou-se a associao entre fiar, seres sobrenaturais emagia. Os teutes atriburam s mulheres atributos mgicos devido ao uso dos feitios eencantamentos tecidos com habilidade nas noites de lua cheia ou nova, enquanto os saxeschamavam suas mulheres de tecels da paz.

    Fontes muito antigas descreviam a deusa anci como Tecel e Senhora do Destino, enquanto asSenhoras Brancas se deslocavam nas noites de lua cheia carregando fusos, predizendo a sorte oudando mensagens s mulheres reunidas nos crculos de menires ou prximo aos locais de poder daterra. As camponesas europias deixavam meadas de l ou linho nestes lugares junto comoferendas de po e manteiga; na manh seguinte o po tinha desaparecido e os fios tinham sidotecidos. As mulheres da tribo nativa dos sami da Lapnia untavam suas rodas de fiar com sanguemenstrual, pedindo as bnos da deusa Rana Neida para a produtividade do seu trabalho.

    Vrios monumentos megalticos de Bretanha, Inglaterra, Portugal, Bretanha, Espanha, Irlanda, Maltaso consideradas obras das Fadas Gigantes, que carregavam as pedras nas suas cabeas enquantofiavam e cantavam. Muitos destes lugares tm nomes associados s fadas tecels ou ao fuso e roda

    de fiar. Na Irlanda conta-se que vrias colinas e ilhas foram cridas pela anci Cailleach, que levavapedras no seu avental e as espalhava a seu gosto pela terra. Essa ligao entre seres sobrenaturais,menires e locais de poder telrico levou sua demonizao pela igreja crist, que as denominou depedras do diabo, onde as bruxas teciam suas maldies e feitios malgnos.

    A aranha vista como uma intermediria entre o cu e a terra, no seu trabalho infinito de fiar,capturar, desfazer e renovar sua teia, por isso ela simboliza a alternncia das foras que sustentam aestabilidade csmica. Jung a considerou smbolo do Self, a parte da personalidade que inclui eintegra o subconsciente e o consciente, o claro e o escuro, a luz e a sombra. Em vrios mitos adeusa criadora aparece como aranha: A Mulher Aranha dos ndios hopis e navajos, as deusaslunares da Indonsia, as guardis do tempo e do destino da ndia e a deusa da morte dos Mares doSul.

    Os crculos sagrados femininoscomo a Teia de Theatm como objetivo principal a formao esustentao de uma teia feminina de conexo e de reverncia sacralidade feminina, cujos fios

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    12/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 12

    esto sendo tecidos, fortalecidos e renovados permanentemente por todas aquelas mulheres que sedispem celebrar, honrar e servir Deusa sob Suas inmeras faces e manifestaes. Esse serviodeve ser feito sem qualquer apego aos resultados e frutos dos seus esforos, assim como tambmas antigas tecels cumpriam apenas a sua tarefa ancestral visando o bem estar das suascomunidades.

    Para servir precisa abrir o corao com a vontade de contribuir com a beleza, a plenitude e a alegriado trabalho bem feito, em benefcio de outras irms e da Terra, oferecendo Deusa a sua gratido eo seu amor, sem esperar em troca reconhecimento, recompensas ou sucesso, com a certeza de tercumprido a sua misso espiritual e evolutiva nesta encarnao.

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

    O Chamado da Alma (Luz Divina)

    www.artmagic.com/ artist Baron Arild Rosenkrantz

    5 . A PERDA DA PELE - PELE DE FOCA, PELE DA ALMA

    correto e conveniente que as mulheres procurem, liberem, conquistem, criem, conspirem paraobter e afirmem seu direito volta ao lar. O lar uma sensao ou uma disposio constante que

    nos permite vivenciar sensaes no necessariamente mantidas no mundo concreto: o assombro, aimaginao, a paz, a despreocupao, a falta de exigncias, a liberdade de estar afastada da

    tagarelice constante. Todos esses tesouros do lar deveriam ficar armazenados na psique para seuuso futuro no mundo objetivo.

    CLARISSA PINKOLA ESTSMULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    13/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 13

    6. BRIGID, DEUSA E SANTA.

    Brigid, mulher excelente, chama espontnea dourada e flamejante, brilho do sol radiante, conduza -nos para o reino divino.

    Do hino irlands Brigid be Bithmaith

    No h como duvidar do extenso cultoantigo e atualdedicado a Brigid. Ela um arqutipopoderoso no mundo contemporneo, que ultrapassa barreiras religiosas ou filosficas. Seu poderalcana tanto os adeptos do neopaganismo (druidismo, Wicca, seguidores da Tradio da Deusa)que a cultuam no Sabbat Imbolccomo uma Deusa Trplice, padroeira das artes, cura e magia, bemcomo os cristos, que a reconhecem como uma mulher real, santificada e venerada, cujos milagrescontinuam a acontecer at hoje.

    A deusa Brigid foi descrita em mitos, lendas, biografias e histrias como uma mulher extraordinria,poderosa, amorosa e enrgica, com traos contraditrios, mesclando fogo e gua, determinao ecompaixo, cura e combate, virgindade e maternidade, centrada e dedicada na sua misso deproteger e cuidar do seu povo. Para os seus seguidores pagos, ela a Deusa Trplice, padroeira daarte, cura e magia, Senhora do fogo sagrado e das fontes curativas. Para os cristos, ela SantaBrigid, uma mulher simples, mas que pela sua vida pura, sua f e a doao irrestrita para auxiliardoentes e pobres, pode vir a alcanar a santidade. Para os poetas e artistas, ela a Musa, que osinspira e conduz para a fonte da criatividade. Para os camponeses, ela era a protetora dos rebanhose da fertilidade da terra, regente da prosperidade, associada s colheitas e ao gado.

    A data exata do incio do seu culto pago desconhecida, acredita-se que foi h milnios, sendouma das deusas mais antigas, contempornea com Inanna, Ishtar, sis, Hera, Gaia, Freyja. AIrlanda pag foi formada por uma amalgamao de povos indgenas, os construtores dosmonumentos neolticos e as tribos celtas, que chegaram em vrias ondas migratrias entre o sculo

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    14/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 14

    VII a.C. e o primeiro d.C. No se sabe ao certo qual a sua verdadeira origem, nem a antiguidade doseu culto. Porm, independentemente das suas razes histricas ou geogrficas, seu culto floresceuna Irlanda, Esccia e Bretanha e seu nome imortalizado em vrias fontes na Frana, Espanha,Sucia. Adaptado para a figura crist da santa, este culto persiste at hoje e centenas de lugares epessoas na Irlanda guardam seu nome e seus costumes.

    A tradio oral celta preservou muitos mitos, lendas e poemas, mas com o passar do tempo e ascontnuas guerras, muito do legado ancestral foi perdido. Suas lendas permaneceram ao longo degeraes, transmitidas pelos bardos e poetas ( filid) e, mesmo truncadas ou distorcidas pelos mongese historiadores cristos, preservaram fragmentos da sua esquecida sabedoria e poder. Muitas daslendas da Santa so compilaes dos mitos da Deusa, mescladas com elementos cristos, com opropsito de atrair os pagos celtas para o cristianismo. Referncias escritas apareceram apenassculos depois da sua morte, reunindo histrias confusas sobre sua suposta identidade,considerando-a ora como a parteira e madrinha de Jesus (que nasceu sculos aps) e invocadapelas parturientes, ora a prpria Maria. A Deusa foi transformada em Santa a fim de legitimar e

    promover a converso para a nova religio, um passo importante para estabelecer a mudana decostumes. O antigo templo de fogo de Kildare da deusa na Irlanda, destrudo pelas guerras e ossaques, foi recuperado e transformado em catedral da santa. A sua chama sagrada, depois deextinta pela perseguio reformista, foi acesa novamente e continua sendo mantida at hoje pelasfreiras da ordem Brigidina.

    Os inmeros nomes da deusa Brigid originaram-se nos vrios lugares do seu culto, assim como suasrepresentaes: Breo Saighit, a Flecha Ardente celta (o nome que melhor representa o poder dasua chama sagrada), a escocesa Bride, a irlandesa Brigid, Brighdou Bhrid, a galica Brighid(pronuncia-se Breed), a inglesa Brigantia,cultuada nas terras do Norte da Inglaterra e parte daFrana e Espanha (o seu aspecto de Guerreira, com flecha e cetro, mas tambm mediadora da paz),Briganduna Glia, Bridgetna Sucia, Briidou Brede na Ilha de Man, Ffraid no Pas de Gales e Maryof the Gael nos poemas. To diversos quanto os nomes so os seus ttulos, que descrevem seusatributos: Brigid, a Vitoriosa, Guerreira imortal, Rainha do Povo das Fadas, Me das canes epoesias, Senhora das fontes, Chama do corao das mulheres, Fogo que arde sem deixar cinzas,Me da sabedoria,A mais elevada, Deusa da curacom manto verde e cabelos vermelhos.

    Em algumas lendas Brigid aparece como filha dos deuses arcaicos da terra Dagda eDanu(ouBoann), fazendo parte do povo sagrado Tuatha de Dannan. Em outros mitos considerada consortede Dagdaou de Bres, o Lindo Guerreiro (descendente dos Fomorians, a raa que regeu a Irlandaantes dos Tuatha de Danaan), ou sendo Senhora do mar, f ilha do deus do oceano Lir.Da sua uniocom Bres teria tido um filho - Ruadan- que representava a mescla das energias dos seus genitores:Danaan eFomorian. Na maioria dos mitos prevalecem, no entanto, suas caractersticas de deusa

    virgem, guardi da tocha e da lareira, protetora das mulheres e dos caminhos, sua energia sendognea, direta, rpida, iluminadora e vitalizadora.

    Brigid o raio do relmpago ou a chama do fogo que ilumina a terra, deixando atrs um rastro de luzou clareza nas mentes e coraes humanos. s vezes vista como a face jovem da Deusa, Danu ouCerridwen sendo a Me e Cailleacha Anci, que cede seu lugar para Brigid no Sabbat Imbolc,substituindo o frio do inverno pelas promessas da primavera, trocando o cetro de gelo pelo ramoverde. O seu aspecto de regente das fontes permaneceu no culto da deusa Sulis,adotada pelosromanos como Sulis Minervae cultuada nas antigas termas deAquae Sulis, atual cidade inglesa deBath, onde a energia dela ainda pode ser percebida na fonte subterrnea, repleta de oferendas dosvisitantes.

    Brigid foi equiparada a vrias deusas: com Juno pela tribo dos Brigantes, com Minerva, Hcate,Hstia, Vesta, rtemis, Diana, Tanit e Sulis pelos romanos. Existem semelhanas entre o mito deBrigid e os de algumas deusas solares como Lucina, a padroeira romana da luz, a bltica Saule e a

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    15/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 15

    nrdica Sunna. Algumas lendas celtas atribuem a Brigid uma dupla apresentao: donzela e anci,Brigid e Cailleach, primavera e inverno, dualidade semelhante s gregas Persfone e Demter.Como uma Tuatha de Danaan ela era ligada aos Sidhe, o Povo das Fadas, sendo a sua rainha; elausava como emblema um manto verde, um cinto mgico e uma coroa de ouro. Foi ela quemimplantou o keening,os lamentos das viglias irlandesas que pranteavam os mortos. Nas lendasarturianas, Brigid descrita como a Guardi da macieira sagrada de Tir nan Gog, a terra dasmulheres ou da juventude e a maga artes que forjou a espada Excalibur. Ela era descrita comodoadora da vida e parteira, poeta e artes, curadora e guerreira, fada e soberana, maga e profetisa,uma figura mtica e multifacetada, que transita entre realidade e fantasia. O arqutipo complexo emltiplo de Brigid - a mais cultuada das deusas celtastambm amalgamou vrios aspectos dasantigas deusas irlandesas como Boann, Danu, Macha, Morrigan. Mas ela uma divindade tointensamente relacionada com a sacralidade feminina, que a nenhum homem era permitidoultrapassar a cerca ao redor do seu santurio.

    Deusa soberana e provedora da terra, guardi do fogo celeste e telrico, regente das fontes e ervas

    curativas, ficou mais conhecida como uma Deusa Trplice, regente das artes (poesia, canto,artesanato, tecelagem, metalurgia, joalheria), da cura, fertilidade, purificao e renovao pela gua(pelas fontes e os mistrios das ervas), da magia, orculos e profecia. Como Senhora do FogoTrplice ela regia a inspirao (sendo a Musa), a forja (padroeira da me talurgia e das artesmarciais), a tocha e a lareira (protetora das casas, das mulheres, famlias e dos viajantes). Nasimagens, Brigid aparece como uma jovem com cabelos ruivos, segurando uma chama, junto de seusanimais totmicos (vaca branca com orelhas vermelhas, cisne, peixe, ovelha, javali ou serpente) ouperto de uma fonte. Outra apresentao como uma trade de deusas, cada uma segurando osmbolo dos seus dons (tocha ou chama, ferramentas, clice cercado com serpentes entrelaadas ouervas curativas).

    Brigid era honrada como Senhora dos Bardos pelos seus dons de inspirao, criatividade,

    encantamento, fluidez e graa. Para os antigos celtas o fogo era a fonte da inspirao, a iluminaodivina procurada pelos poetas, bardos e magos. As suas criaespoemas, canes, histrias,lendas - eram compartilhadas com os demais ao redor de fogueiras, para assim lembrar e honrar osantigos caminhos, mantendo viva a memria da tribo e a reverncia dos ancestrais. No fim doinverno, a famlia ou o cl se reunia prximo ao fogo ou lareira (buscando o aconchego da chamade Brigid, deusa me e protetora do lar), quando o msico, poeta ou o contador de histriasreanimava as pessoas enfraquecidas pelo frio com canes, poemas, relatos e sagas de heris. Porserem faladas e no escritas, estas histrias eram transitrias na sua natureza e assim como o fogo,no podiam ser dominadas por aqueles que no tinham preparo; o uso das palavras exigiareverncia e competncia, habilidades alm do alcance dos no iniciados. Por isso Brigid foiassociada com as propriedades etreas de todos os tipos de fogo (Imbas) - da forja, da lareira efogueira, do sol, da transmutao, da cura e do sopro mgico. O fogo era visto pelos celtas comouma energia espiritual latente em todas as coisas e inerente a certos processos cognitivos dointelecto humano, bem como a alguns estados emocionais como paixo, caridade, amor, etc.

    A inspirao e a poesia eram associadas pelos celtas tambm com a gua, outro domnio de Brigid,reverenciada como Senhora das fontes sagradas, que uniam simbolicamente o mundosubterrneo, mediano e o superior, por nascerem na escurido da terra, flurem para a superfcie erefletirem a luz do cu. Da mesma forma, as ideias e vises ocultas do subconsciente podiam serreveladas pela inspirao e intuio, energias sutis que fluam livremente para a mente consciente eracional.

    Uma composio de personagens dos mitos irlandeses e galeses deu origem Santa, cujo principal

    ttulo era Brigid, a santa do manto verde e cabelos de ouro (ou fogo),traos marcantes dasimagens da Deusa. Ela supostamente nasceu entre 439-452 e morreu entre 518-525 da nossa era,sendo filha de um druida e uma escrava pag. Seu nascimento foi cercado de fenmenos estranhos

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    16/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 16

    (a presena de dois sois no cu) e aconteceu quando sua me passava pela soleira da casa,trazendo a ideia dos limiares e fronteiras, considerados lugares sagrados para os celtas. Os quepresenciaram o nascimento deste beb de mstica beleza puderam relatar que da sua cabeasurgiam chamas de cor vibrante, como se fosse uma coroa de raios solares. Alguns dias depois, osvizinhos alarmados viram labaredas saindo da casa em que os pais de Brigid moravam; maschegando l, encontraram a menina dormindo tranquila no seu bero e sem nenhuma marca do fogo.Enquanto criana, Brigid recusava qualquer tipo de comida alm do leite de uma vaca branca comorelhas vermelhas (cores atribudas aos animais do povo das fadas). Quando jovem ela era umamoa generosa, doando seus pertences e comida aos pobres, sem se interessar em namorar oucasar, almejando apenas a vida religiosa. Era amiga e seguidora dos ensinamentos de So Patrcio(o missionrio que cristianizou Irlanda). Quando o seu pai permitiu que se dedicasse vidamonstica, foi consagrada diretamente como abadessa em lugar de ser ordenada como simplesfreira, devido a uma falha inexplicvel do oficiante, que recitou o juramento errado (sendo vista nestahora uma coroa de chamas cercando a cabea de Brigid).

    Brigid se empenhou em criar uma comunidade de mulheres, junto com outras dezenove novias emCill Dara, a igreja de carvalho (atual Kildare), na Irlanda, que foi crescendo at se transformar emum grande mosteiro, o primeiro centro irlands de estudos e artes, que inclua trabalhos com metaise ilustrao dos manuscritos antigos. L, as mulheres dos arredores aprendiam como cuidar depobres e doentes, auxiliar as gestantes e parturientes, curar com ervas e a energia das mos, fiar,tecer, bordar, abenoar, fazer encantamentos e predies. A vida de Brigid foi repleta de milagrescomo: a cura de doenas com o toque das suas mos, a multiplicao da comida (leite, manteiga,gros, cerveja), o encontro de animais extraviados e a descoberta dos ladres; o mais famoso fatomgico foi quando pendurou seu manto molhado sobre um raio de sol. Quando Brigid foi pedir maisterra para sua comunidade ao rei, ele lhe concedeu uma rea que o seu manto pudesse cobrir. Brigidtirou seu manto e quando o estendeu, ele cobriu uma enorme rea ao redor, que lhe foi depoisconcedida pelo rei, impressionado com este milagre. Como ferrenha defensora das mulheres, Brigid

    educava as jovens para seguirem uma profisso, libertava escravas, incentivava esposasmaltratadas para pedirem divrcio, auxiliava nos partos ou abortos. Todos estes atos de poderreproduziam os atributos da Deusa: fertilidade, abundncia, cura, comunicao com animais, auxliopermanente dado s mulheres e parturientes, aos pobres e doentes.

    Aps a sua morte, o fogo do seu templo continuou aceso, guardado cada dia por uma das dezenovesacerdotisas ou freiras da sua ordem; na vigsima noite era a prpria Brigid que o cuidava. O fogorequeria muita lenha, porm as cinzas dele no aumentavam jamais. A preservao da chamasagrada de Brigid foi mantida pelas freiras at que o seu culto foi proibido mil anos depois. Ela foienterrada num caixo de ouro e prata em Kildare, mas depois, devido aos saques das incursesVikings, seus ossos foram levados para o tmulo do Santo Patrcio, porm despareceram algumtempo depois. Algumas das suas relquias ainda existem em igrejas e museus como seu mantoverde na Blgica, seus sapatos no museu de Dublin e outros objetos em lugares mais distantes, quea santa viva jamais percorreu. Santa Brigid padroeira da Irlanda (junto com So Patrcio), dasordens das freiras irlandesas e de Nova Zelndia. Mesmo como santa, ela continua sendo - assimcomo a deusa - protetora dos agricultores, fazendeiros e criadores de gado, ferreiros, curandeiras eparteiras, crianas e mulheres, poetas, artistas e escritores (que comeavam seus escritos com afrase galicaAdjuva Brigitta, ajude Brigid).

    A sua representao como Santa tem elementos reais e mticos, alguns historiadores negam a suareal existncia, mas foi atravs dela que a Igreja crist celta permitiu a perpetuao - de maneiravelada e modificadado culto da deusa Brigid, que, por no poder ser erradicado, foi readaptado pelaigreja e transformado para a reverncia atual da Santa. Na Irlanda, 1500 anos depois da morte de

    Brigid, sua memria permanece viva nos coraes dos seus fiis e seus smbolos continuam sendoconfeccionados e usados, mesmo que nem todos os que os confeccionam e usam conheam seusignificado sagrado. Tendo feito a transio da condio de Deusa para Santa, preservando o nome,

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    17/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 17

    os smbolos e costumes antigos, a f igura de Brigid representa uma ponte (bridgeem ingls) entrepaganismo e cristianismo, continuando como guardi da sacralidade feminina.

    O Sabbat Imbolc da Roda do Ano celta se originou de um antigo ritual de bno da terra (honradacomo o ventre da deusa), feito na chegada da primavera, antes do campo ser semeado, parapropiciar fertilidade e proteo. Gros e espigas da colheita anterior eram usados como oferendasnesta celebrao e depois de abenoados com gua de uma fonte sagrada, eram misturados com assementes destinadas ao prximo plantio. Imagens de Brigid eram levadas em procisso paraabenoar os campos e atrair a fertilidade, costume preservado mesmo aps a cristianizao eperpetuado at hoje pelos padres cristos. Atualmente inmeros peregrinos buscam as bnos deBrigid nos seus lugares sagrados como: Kildare (onde ainda existe sua antiga fonte, a catedral e umanova igreja), Faughart (o lugar onde ela nasceu e onde vrios locais so a ela associados), ambos naIrlanda e as Ilhas Hbridas (cujo nome associado Deusa). Glastonbury - na Inglaterra - umlugar sagrado muito ligado ao arqutipo de Brigid, a forma do seu relevo topogrfico parece um cisne(animal sagrado da Deusa), enquanto a pequena colina de Brides Mount e a gravura da Deusa (ao

    lado da sua vaca) sobre o portal da igreja na colina do Tor lembram a estadia da Santa durantealgum tempo na cidade. Na fonte sacra de Chalice Well sacerdotisas do Goddess Templerealizamrituais e bnos noSabbat Imbolc. Existem inmeras fontes (chamadas Tobar Brighde e ClootieWells)na Irlanda, Esccia, Gr-Bretanha, onde colares, rosrios, tranas de fitas, cruzes de palha epedaos de roupas dos doentes amarrados nas rvores ao redor, comprovam a continuidade doculto de Brigid, como Deusa e Santa, at hoje.

    A conexo com Brigid no Sabbat Imbolcpode ser feita individualmente nas margens de um rio,cachoeira, crrego ou simplesmente em casa perto de uma fonte usada na decorao; visualiza-se apurificao pelo poder da gua e pede-se deusa a cura para algum problema especfico (seu ou defamiliares). Antigamente, as mulheres abriam as portas e janelas das casas pedindo para que Brigidentrasse e as abenoasse, o que pode ser feito tambm agora. No final da meditao, aps

    agradecer Deusa pela ajuda recebida, deve-se abenoar-se com gua, riscando o smbolo sagradode triskelion sobre si mesma. Uma antiga tradio irlandesa recomenda deixar um pedao de panode algodo (branco ou verde) perto da sua imagem no dia dedicado celebrao do Sabbat Imbolc(primeiro de fevereiro) pedindo deusa para impregnar o pano com suas energias curadores.Guarda-se depois o pano envolvido em papel de seda para us-lo quando precisar, colocando-osobre a parte doente do corpo.

    Um smbolo tradicional de Brigid pode ser confeccionado com palha seca ou espigas de trigo emforma de triskelion ou cruz de Brigid (Cros Bhrid), cujos modelos e tcnicas de tranar se encontramna internet. Um antigo costume irlands recomenda confeccionar uma figura feminina de palha pararepresentar a Bhrid Doll. Esta boneca, feita tradicionalmente com as ltimas espigas (de trigoou aveia) colhidas, era colocada perto da lareira na vspera de Imbolc, em uma cama de palha ou lde ovelhas, junto com um basto enfeitado com fitas, tudo cercado por velas acesas. Convidava-seassim a presena da Deusa para abenoar a casa e seus moradores. Antigamente esta boneca eradepois enterrada junto com as sementes durante o plantio, mas atualmente, em Glastonbury, asmulheres que reverenciam e celebram Brigid guardam as bonecas por elas confeccionadas (BrideDoll)no Goddess Templedepois de abeno-las na fonte sagrada de Chalice Well.A fileira de BrideDollmostra as diversas representaes da inspirao e sabedoria femininas.

    Nos grupos e crculos de mulheres Brigid invocada para conferir criatividade, inspirao, podermgico e a capacidade de manifestar ideias no mundo material. Para honr-la, ou pedir sua ajuda ouproteo, usam-se velas laranja, que devem ficar acesas durante dezenove dias, reservando emcada dia um tempo para orar e visualizar seu projeto, sendo ento abenoado por Brigid. Durante a

    meditao, podem aparecer vises e mensagens de Brigid; no final deste perodo deve ser feita umaoferenda de gratido para ela (gros, sementes, po, mingau de aveia, mel, manteiga, leite, cerveja).

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    18/31

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    19/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 19

    variavam, porm os seus atributos comuns eram: abundncia, plenitude, felicidade, alegria,celebrao. Os povos indo-europeus reverenciavam a Me dos gros ou a Senhora da vegetaosob diversos nomes e manifestaes.

    No folclore dos povos eslavos, saxes, nrdicos e celtas permaneceram ocultados - em lendas,histrias e supersties - resqucios dos antigos cultos, principalmente a importncia da ltimaespiga remanescente nos campos, que estaria retendo o esprito de fertilidade dos gros. Ela eracortada ritualisticamente, modelada e vestida como uma mulher, enfeitada com flores e frutos ecarregada como representao da Me dos gros em alegres procisses nos vilarejos.

    Em alguns lugares era transformada em guirlanda e usada pela moa escolhida como Rainha dacolheita, depois guardada e enterrada no prximo plantio. O cristianismo adotou algumas dasantigas datas e prticas da poca da colheita nas festas e procisses dedicadas Maria, naAssuno e nas benzeduras de casas, pessoas, animais, ainda realizados nas reas rurais deHungria, Polnia, Romnia.

    Na mitologia hngara a regente da fertilidade, nascimentos e abundncia (vegetal, animal, humana)era Boldog Asszony (A Rainha plena e alegre); os seus atributos foram adotados pela igrejacatlica e transferidos para o culto de Maria, sendo nomeada Padroeira do pas e festejada no dia17/10 como a Grande Rainha da Hungria. Deusa protetora da terra, das famlias e curas, BoldogAsszony era filha de Nagy Boldogaszony (A Grande Rainha), Me Divina ancestral que tinha seteaspectos, cada um regendo um dia da semana e cujas datas ritualsticas foram preservadas nascomemoraes do calendrio cristo (25/03, 15/08, 17/10 e 26/12).

    Pesquisas atuais encontraram semelhanas do Seu arqutipo e culto com os de Astarte, Inanna,Ishtar e principalmente Bau, a Grande Me da Mesopotmia. Supe-se que os ritos agrriosneolticos e os mitos das deusas da fertilidade migraram da Sumria e Anatlia para a Europacentral, os seus atributos tendo equivalncias em vrias lnguas: dravidiana (da ndia), sumria,persa, turca, balcnica e hngara. Os termos comuns aos atributos divinos so: plena, abundante,alegre, feliz, doadora, parteira, grvida, matrona, senhora, rainha, deusa.

    O culto de Bau data de 2500 a.C. e semelhante ao da deusa sumeriana Gula, ambas sendoregentes da fertilidade, abundncia e cura, mes divinas doadoras da vida, parteiras, rainhas dacolheita e protetoras das almas na sua passagem entre os mundos. Acreditava-se que os espritosdas crianas ficavam escondidos nas pregas das Suas saias espera da reencarnao. Seu smboloera uma taa medidora chamada Bar, cujo hierglifo X era equivalente runa nrdica da doao etroca. Nos nascimentos das crianas as parteiras ou avs faziam oferendas de po e vinho, pois nosmitos existiam advertncias para aquelas mulheres que no reverenciavam ou agradeciam Grande

    Me, privando assim seus filhos das bnos divinas.

    Assim como as deusas sumrias, Boldog Asszony era celebrada como A Mulher Abenoada, A Meplena, Rainha alegre da colheita ou Senhora da foice (usada antigamente pelas mulheres nascolheitas de cereais). Em uma dana folclrica hngara, contempornea, encena-se a reverncia Maria (a herdeira crist da Deusa) com uma roda de mulheres, com saias coloridas e tiarasbordadas, que pedem cantando Mulher Abenoada (personificada por uma me humana no centroda roda) visitar e abenoar suas casas, famlias, lavouras e bens.

    Infelizmente, as proibies religiosas do regime comunista na Hungria, continuando a perseguiosecular da igreja catlica, suprimiram muitas das tradies antigas remanescentes no meio rural.Aps a cristianizao forada no sculo 12, a lngua originalde origem asitica (ramo ugro-fnico)

    foi europeizada, perdendo-se assim antigos significados de palavras associadas aos ritos agrrios. Oatual povo hngaro originou-se da mescla de tribos citas, hunos, persas e magiares vindos dasestepes da sia central. A religio pag original era monotesta, centrada em uma divindade incriada,

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    20/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 20

    etrica, sem forma, sexo ou nome, cercada por seres divinos. Reverenciavam-se as foras danatureza, o cu e a Me Terra, as deusas mais cultuadas sendo a Grande Me - Nagy Asszony - esua filha Boldog Asszony, (Senhora da plenitude e alegria), a Velha Mulher Lua e o casal solar.

    Inspirados pela riqueza mtica das antigas deusas ns podemos criar um singelo ritual atual degratido, oferecendo Me Divina o tradicional po e vinho, junto com smbolos da nossa colheita.Aps fazer uma autoavaliao das realizaes dos meses anteriores, agradeceremos os frutoscolhidos, refletiremos sobre as medidas necessrias para limpar nossos plantios, deles retirando aservas daninhas, os insetos invasores e animais predadores. Depois, iremos assumir o compromissode cuidar e proteger os brotos tnues dos nossos sonhos e aspiraes, nutrindo-os com a energia daperseverana, confiana e f, nos sentindo guiados pelas Mes do plantio e da colheita eabenoados pelas Senhoras ancestrais da plenitude.

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

    8. As faces menos conhecidas da Deusa

    Mirella Faur

    O aspecto menos compreendido da Grande Me - e, por isso, o mais temido - a Deusa Negra, aFace Ceifadora.

    Assim como a Donzela, a Me e a Anci regem etapas do eterno ciclo da vida - do nascimento(plantio), amadurecimento (florescimento e frutificao) e do inevitvel declnio, a Deusa Negraencerra o ciclo e representa a decomposio e a morte.

    Como Ceifadora, ela a destruidora de tudo que esgotou seu tempo, de tudo que cumpriu suafinalidade e no serve mais. ela quem limpa a terra aps a colheita para o repouso necessrio germinao de novas sementes. Seu poder da Lua Negra, dos mistrios ocultos na escurido, dovazio e do silncio que antecedem o surgimento da luz, o raiar do dia e o comeo de um novo ciclo.Ela ensina que sem morte no h renascimento, sem fim no pode haver um novo comeo, semdissoluo do velho no h a renovao.

    Como mestra da escurido, ela orienta e conduz ao encontro da sombra, o aspecto perturbador erenegado do prprio ser. Se voc pedir sua ajuda e tiver a coragem de mergulhar nas profundezasde seu mundo interior para descobrir, encarar, reconhecer e aceitar sua sombra, voc encontrar suaautntica identidade, livre das mscaras da personalidade. Confrontar, contemplar e assimilar opoder da sombra representam a verdadeira iniciao nos mistrios da Deusa Escura e da Lua Negra,iniciao que exige, como preo, mudanas, transformaes e novos rumos. "Abraar a sombra"significa aceitar-se assim como voc realmente - mescla de dor e alegria, medo e coragem,conquistas e perdas, sucessos e fracassos, acertos e erros, luz e sombra. Somente assim encontrarseu verdadeiro e completo poder de mulher e a integrao de sua totalidade.

    So manifestaes da Deusa Negra: Hcate, Kali, Baba Yaga, Lilith, Cailleach, Morrigan, Hel, Ran,Sekhmet, Ereshkigal, Coatlicue.

    Outro aspecto que foge da costumeira manifestao da Deusa Trplice, relacionada lua crescente,cheia e minguante, a Rainha, conhecida como a Imperatriz e as rainhas dos naipes do Tarot.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    21/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 21

    Esta face da Deusa corresponde fase da lua balsmica, entre a lua minguante e a negra. Ela regea maturidade, entre os 40 e os 50 ou mais anos, da mulher que ultrapassou ou negou a fase damaternidade, que est no auge e plenitude de sua expresso, afirmao e realizao, mas que aindano atingiu a sabedoria da Anci.

    Nessa fase, chamada de pr-climatrio, ocorrem mudanas no corpo fsico, a mente torna-seinquieta, os pensamentos so volteis e tumultuados, a percepo aguada, a sensibilidadeexacerbada, as emoes em conflito. um perodo de inquietao e aparentes contradies, demudanas de gostos e atitudes, de busca de algo vago ou indefinido no campo espiritual,profissional ou afetivo. Surgem temores em relao ao futuro, o medo do desconhecido, apreocupao com o envelhecimento, ainda mais em uma sociedade que enaltece o valor e o vio dajuventude.

    Depender da mulher passar por esta fase com dor ou com a alegria de quem j venceu batalhas,cumpriu deveres, plantou e colheu e est se aproximando de um tempo de paz e realizao interior,

    com a segurana da experincia e as promessas de futura sabedoria.

    Abenoar esta fase, rever o passado e transmutar os resduos com o auxlio da Deusa Negra,agradecer Donzela e Me pelo plantio e a colheita, so medidas recomendveis que abrem asportas para a Grande Mudana, quando seu sangue no mais ser vertido, mas retido em seuventre, e quando o tempo assinalar sua coroao - no mais como Rainha, mas como uma SbiaMulher Coroada, herdeira das Matriarcas e das Mes de Cl do passado ancestral.

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

    9. Lilitih na Astrologia

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    22/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 22

    No comeo era a Grande Deusa e a Grande Deusa era a Terra e a Terra era a Grande Deusa. Asorigens do culto Grande Deusa jazem obscurecidas na indistinta penumbra dos tempos pr-histricos. A Deusa imperou durante centenas de milhares de anos. Com o passar dos tempos, aDeusa-me foi sobrepujada e superada pelo mais patriarcal dos arqutipos - Jav (Yaweeh), Deus-Pai, Al. Este arqutipo patriarcal aperfeioou-se nos mundos judaico, cristo e muulmano. Algunsaspectos da Deusa-me foram permitidos, porm de forma controlada, na imagem de Maria, me deDeus. So algumas Madonas Negras, de antigos santurios, que ainda nos do testemunho daDeusa-me.

    A figura de Lilith representa um aspecto da Grande Deusa. Na antiga Babilnia, ela era venerada sobos nomes de Lilitu, Ishtar e Lamaschtu. A mitologia judaica coloca-a em domnios mais obscuros,como um demnio (feminino) do mal, a adequada companheira de Sat, que tenta os homens eassassina as criancinhas.

    A Lilith astronmica

    A Lua descreve uma trajetria elptica ao redor da Terra. Uma elipse possui dois pontos focais eaquele que fica vazio foi denominado Lua Escura, Lua Negra ou Lilith. Isto se constitui numadefinio um tanto simplificada, pois, na realidade, a Lua e a Terra movem-se ambas ao redor de seucentro comum de gravidade, e a trajetria da Lua no uma elipse exata, mas um tanto oscilante.Assim necessrio estabelecer a diferena entre a rbita mdia da Lua, que uma elipse levementealongada, e a rbita real, que oscila ao redor da rbita mdia devido a diversas interferncias. Assimcomo h um Nodo Lunar mdio e outro real, e como h uma elipse mdia e outra real, tambmh uma Lilith mdia e outra real. Escrevo real entre aspas salientando que o Nodo da Lua s real umasduas vezes ao ms, quando a Lua se encontra realmente sobre ele, j que no resto dotempo, ele to irreal quanto o Nodo Mdio. A propsito, quando se trabalha com um ponto toprximo Terra, devemos considerar o efeito paralaxe, isto , devemos ponderar que um

    determinado ponto da Terra visto a partir de um certo ngulo de um ponto no cu. A Astrologiaobserva os planetas sob o ponto-de-vista geocntrico, ou seja a partir da Terra, e no de maneiratopocntrica, a partir do ponto de vista de um observador.

    A Lua tambm j foi definida como um apogeu da rbita lunar, isto , como aquele ponto da rbitamais distante da Terra. Ambos os pontos, o apogeu e o segundo ponto focal, localizam-se no eixomaior da elipse orbital, chamado tambm de linhas das apsides. Vistos da Terra, esto na mesmadireo, portanto, ocupam o mesmo lugar no Zodaco. O segundo ponto focal se encontra a umadistncia aproximada de 36.000 km da Terra, enquanto o apogeu a cerca de 400.000 km. partedessa diferena de distncias, as duas definies podem ser consideradas equivalentes. Tendo emvista que a rbita da Lua move-se para frente continuamente no espao, a Lua Negra percorre oZodaco cerca de 40 por ano. Uma revoluo completa demora 8 anos e 10 meses.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    23/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 23

    Lilith no mapa astral

    O glifo de Lilith uma lua negra, oposto quele empregado para a Lua real. Lilith includa nosgrficos de cartas tipo 2.AC. Outros tipos de grfico, como os 2.AT, apresentam Lilith na tabela dasposies planetrias.

    A interpretao de Lilith"Durante meus anos de prtica astrolgica, tenho utilizado a Lua Negra em todas as minhas anlisesde mapas natais, como complemento da interpretao da Lua. Jamais pensei em ignorar estainfluncia. A Lua Negra descreve nosso relacionamento com o Absoluto, com o sacrifcio como tal, emostra-nos como abrimos mo de certas coisas. Em trnsito, a Lua Negra indica-nos alguma formade castrao ou frustrao, freqentemente nos assuntos relacionados ao desejo; uma incapacidadeda psique; ou uma inibio em geral. Por outro lado tambm indica nossas reas deautoquestionamento, a nossa vida, nossos trabalhos, nossas crenas. Acho que isto importante,

    pois nos d a oportunidade de abrir mo de algo. A Lua Negra mostra onde podemos deixar que aTotalidade fale dentro de ns, sem atravessar um eu pelo caminho, sem erigir um muro formadopelo nosso ego. Ao mesmo tempo, ela no nos indica a passividade. Ao contrrio, simboliza a firmevontade de mantermo-nos abertos e confiantes, de deixar que o Mundo Transcendental infiltre-se emns, confiando inteiramente nas grandes leis do Universo, naquilo que chamamos Deus. A fim de nospreparar para essa abertura, a Lua Negra cria um vazio necessrio."

    (Jolle de Gravelaine in "Lilith und das Loslassen", Astrologie Heute Nr. 23)

    Traduo:Maria-Fernanda Alves GuimaresFonte:http://www.astro.com/astrology/in_lilith_p.htm

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

    10. Hipcia de Alexandria

    Em comemorao ao Dia da Mulher eu posto aqui uma matria sobre Hipcia de Alexandria, a ltima

    diretora da Escola de Alexandria. Na Histria da Cincia poucas vezes vemos mulheres atuarem

    sozinhas, pois na maioria das vezes ou so apenas assistentes dos cientistas homens ou so co-autoras dos trabalhos cientficos, Por isso escolhi Hipcia para homenagear as mulheres cientistas, e

    http://www.astro.com/people/trans_pt_p.htm#guimaraeshttp://www.astro.com/astrology/in_lilith_p.htmhttp://www.astro.com/astrology/in_lilith_p.htmhttp://www.astro.com/people/trans_pt_p.htm#guimaraes
  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    24/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 24

    no s a elas, mas a todas aquelas que gostam ou admiram o progresso da cincia como um

    caminho para um mundo melhor

    Hipcia de Alexandria(c. 370 d.C - 415 d.C)

    "Todas as religies dogmticas formais so falaciosas e nunca devem ser

    aceitas como palavra final por pessoas que respeitem a si mesmas."

    "Ensinar supersties como uma verdade absoluta uma das coisas mais

    terrveis."

    A cidade de Alexandria foi fundada por Alexandre, o Grande, no ano de 332 a.C, e logo se tornou o

    principal porto do norte do Egito. Localizada no delta do rio Nilo, numa colina que separa o lago

    Mariotis do mar Mediterrneo, foi o principal centro comercial da Antigidade. Seu porto foi

    construdo com um imponente quebra-mar que chegava at a ilha de Faros, onde foi erguido o

    famoso Farol de Alexandria, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.

    Sua localizao privilegiada, na encruzilhada das rotas da sia, da frica e da Europa, transformou a

    cidade num lugar ideal para concentrar a arte, a cincia e a filosofia do Oriente e do Ocidente.

    A Biblioteca de Alexandria foi construda por Ptolomeu I Soter no sculo IV a.C, e elevou a cidade ao

    nvel de importncia cultural de Roma e Atenas. De fato, aps a queda do prestgio de Atenas como

    centro cultural, Alexandria tornou-se o grande polo da cultura helenstica. Todo manuscrito que

    entrava no pas (trazido por mercadores e filsofos de toda parte do mundo) era classificado em

    catlogo, copiado e incorporado ao acervo da biblioteca. No sculo seguinte sua criao, ela j

    reunia entre 500 mil e 700 mil documentos. Alm de ser a primeira biblioteca no sentido que

    conhecemos, foi tambm a primeira universidade, tendo formado grandes cientistas, como os gregos

    Euclides e Arquimedes.

    Os eruditos encarregados da biblioteca eram considerados os homens mais capazes de Alexandria

    na poca. Zendoto de feso foi o bibliotecrio inicial e o poeta Calmaco fez o primeiro catlogo

    geral dos livros. Seus bibliotecrios mais notveis foram Aristfanes de Bizncio (c. 257-180 a.C) e

    Aristarco da Samotrcia (c. 217-145 a.C).

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    25/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 25

    Hipciafoi a ltima grande cientista de Alexandria. Nasceu em 370 d.C (?) -- os historiadores so

    incertos em diferentes aspectos da vida de Hipcia e a data de seu nascimento debatida

    atualmente. Foi filha de Theon, um renomado filsofo, astrnomo, matemtico e autor de diversasobras, professor da Universidade de Alexandria.

    Durante toda a sua infncia, Hipcia foi mantida por seu pai em um ambiente de idias e filosofia.

    Alguns historiadores acreditam que Theon tentou educ-la para ser um ser humano perfeito. Hipcia

    e Theon tiveram uma ligao muito forte e este ensinou a ela seu prprio conhecimento e

    compartilhou de sua paixo na busca de respostas sobre o desconhecido. Quando estava ainda sob

    a tutela e orientao do seu pai, ingressou numa disciplinada rotina fsica para assegurar um corpo

    saudvel para uma mente altamente funcional.

    Hipcia estudou matemtica e astronomia na Academia de Alexandria. Devorava conhecimento:

    filosofia, matemtica, astronomia, religio, poesia e artes. A oratria e a retrica, com grande

    importncia na aceitao e integrao das pessoas na sociedade da poca, tambm no foram

    descuidadas. No campo religioso, Hipcia recebeu informao sobre todos os sistemas de religio

    conhecidos, tendo seu pai assegurado que nenhuma religio ou crena lhe limitasse a busca e a

    construo do seu prprio conhecimento.

    Quando adolescente, viajou para Atenas para completar sua educao na Academia Neoplatnica,com Plutarco. A notcia se espalhou sobre essa jovem e brilhante professora, e quando regressou j

    havia um emprego esperando por ela, para dar aulas no museu de Alexandria, juntamente com

    aqueles que haviam sido seus professores.

    Hipcia um marco na Histria da Matemtica que poucos conhecem, tendo sido equiparada a

    Ptolomeu (85 - 165), Euclides (c. 330 a. C. - 260 a. C.), Apolnio (262 a. C. - 190 a. C), Diofanto

    (sculo III a. C.) e Hiparco (190 a. C. - 125 a. C.).

    Seu talento para ensinar geometria, astronomia, filosofia e matemtica atraa estudantesadmiradores de todo o imprio romano, tanto pagos como cristos.

    Aos 30 anos tornou-se diretora da Academia de Alexandria. Do seu trabalho, infelizmente, pouco

    chegou at ns. Alguns tratados foram destrudos com a Biblioteca, outros quando o templo de

    Serpis foi saqueado. Grande parte do que sabemos sobre Hipcia vem de correspondncias suas e

    de historiadores contemporneos que dela falaram. Um notvel filsofo, Sinesius de Cirene (370 -

    413), foi seu aluno e escrevia-lhe freqentemente pedindo-lhe conselhos sobre o seu trabalho.

    Atravs destas cartas ficou-se a saber que Hipcia inventou alguns instrumentos para a astronomia(astrolbio e planisfrio) e aparelhos usados na fsica, entre os quais um hidrmetro.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    26/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 26

    Sabemos que desenvolveu estudos sobre a lgebra de Diofanto ("Sobre o Canon Astronmico de

    Diofanto"), que escreveu um tratado sobre as sees cnicas de Apolnio ("Sobre as Cnicas de

    Apolnio") e alguns comentrios sobre os matemticos clssicos, incluindo Ptolomeu. E emcolaborao com o seu pai, escreveu um tratado sobre Euclides.

    Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Matemticos que haviam passado

    meses sendo frustrados por algum problema em especial escreviam para ela pedindo uma soluo.

    E Hipcia raramente desapontava seus admiradores. Ela era obcecada pela matemtica e pelo

    processo de demonstrao lgica. Quando lhe perguntavam porque nunca se casara ela respondia

    que j era casada com a verdade.

    A tragdia de Hipcia foi ter vivido numa poca de luta entre o paganismo e o cristianismo, com este

    a tentar apoderar-se dos centros importantes ento existentes. Hipcia era pag, fato normal para

    algum com os seus interesses, pois o saber era relacionado com o chamado paganismo que

    dominou os sculos anteriores e era alicerado nas tradies de liberdade de pensamento.

    O cristianismo foi oficializado em 390 d.C, e o recm nomeado chefe religioso de Alexandria, o bispo

    Cirilo, disps-se a destruir todos os pagos assim como seus monumentos e escritos.

    Por causa de suas idias cientficas pags, como por exemplo a de que o Universo seria regido por

    leis matemticas, Hipcia foi considerada uma hertica pelos chefes cristos da cidade. A admirao

    e proteo que o poltico romano Orestes dedicou a Hipcia pouco adiantou, e acirrou ainda mais o

    dio do bispo Cirilo por ela e, quando este tornou-se patriarca de Alexandria, iniciou uma

    perseguio sistemtica aos seguidores de Plato e colocou-a encabeando a lista.

    Assim, numa tarde de 415 d.C, a ira dos cristos abateu-se sobre Hipcia. Quando regressava do

    Museu, foi atacada em plena rua por uma turba de cristos enfurecidos, incitados e comandados por

    "So" Cirilo. Arrastada para dentro de uma igreja, foi cruelmente torturada at a morte e ainda teve

    seu corpo esquartejado (dilacerado com conchas de ostra, ou cacos de cermica, consoante as

    verses existentes) e queimado.

    O historiador Edward Gibbon faz um relato vvido do que aconteceu depois que Cirilo tramou contra

    Hipcia e instigou as massas contra ela: "Num dia fatal, na estao sagrada de Lent, Hipcia foi

    arrancada de sua carruagem, teve suas roupas rasgadas e foi arrastada nua para a igreja. L foi

    desumanamente massacrada pelas mos de Pedro, o Leitor, e sua horda de fanticos selvagens. A

    carne foi esfolada de seus ossos com ostras afiadas e seus membros, ainda palpitantes, foramatirados s chamas".

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    27/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 27

    O estpido episdio da morte de Hipcia considerado um marco do fim da tradio de Alexandria

    como centro de cincias e cultura. Pouco depois, a grande Biblioteca de Alexandria seria destruda e

    muito pouco do que foi aquele grande centro de saber sobreviveria at os dias de hoje.

    Enrico Riboni descreve os motivos e as conseqncias dessa ao fantica dos religiosos: "a

    brilhante professora de matemtica representava uma ameaa para a difuso do cristianismo, pela

    sua defesa da Cincia e do Neoplatonismo. O fato de ela ser mulher, muito bela e carismtica, fazia

    a sua existncia ainda mais intolervel aos olhos dos cristos. A sua morte marcou uma reviravolta:

    aps o seu assassinato, numerosos pesquisadores e filsofos trocaram Alexandria pela ndia e pela

    Prsia, e Alexandria deixou de ser o grande centro de ensino das cincias do mundo antigo. Alm do

    mais, a Cincia retroceder no Ocidente e no atingir de novo um nvel comparvel ao daAlexandria antiga seno no incio da Revoluo Industrial. Os trabalhos da Escola de Alexandria

    sobre matemtica, fsica e astronomia sero preservados, em parte, pelos rabes, persas, indianos e

    tambm chineses. O Ocidente, pelo seu lado, mergulhar no obscurantismo da Idade Mdia, do qual

    comear a sair somente mais de um milnio depois. Em reconhecimento pelos seus mritos de

    perseguidor da comunidade cientfica e dos judeus de Alexandria, Cirilo ser canonizado e

    promovido a Doutor da Igreja, em 1882."

    E Carl Sagan nos acrescenta: "H cerca de 2000 anos, emergiu uma civilizao cientfica esplndidana nossa histria, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela

    decaiu. Sua ltima cientista foi uma mulher, considerada pag. Seu nome era Hipcia. Com uma

    sociedade conservadora respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento

    progressivo do poder da Igreja, formadora de opinies e conservadora quanto cincia, e devido

    Alexandria estar sob domnio romano, aps o assassinato de Hipcia, em 415, essa biblioteca foi

    destruda. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e

    perdidos para sempre, e com ela todo o progresso cientfico e filosfico da poca."

    Francisco Saiz, julho de 2002

    Fonte: http://br.geocities.com/perseuscm/hipacia.html

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    28/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 28

    11. A Lenda das 13 Matriarcas

    Texto de Mirella Faur

    extrado do Anurio da Grande Me

    Ao longo dos tempos, entre os Kiowa, Cherokee, Iroquois, Sneca e em vrias outras tribos nativas

    norte-americanas, as ancis contavam e ensinavam, nos "Conselhos de Mulheres" e nas "TendasLunares", as tradies herdadas de suas antepassadas. Dentre vrias dessas lendas e histrias,sobressai a lenda das "Treze Mes das Tribos Originais", representando os princpios da energiafeminina manifestados nos aspectos da Me Terra e da Vov Lua.

    Neste momento de profundas transformaes humanas e planetrias, importante que todas asmulheres conheam este antigo legado para poderem se curar antes de tentarem curar e nutrir osoutros. Dessa forma, as feridas da alma feminina no mais se manifestaro em atitudes hostis,separatistas, manipuladoras ou competitivas. Alcanando uma postura de equilbrio, as mulherespodero expressar as verdades milenares que representam, em vez de imitarem os modelosmasculinos de agresso, competio, conquista ou domnio, mostrando, assim, ao mundo umexemplo de fora equilibrada, se empenhando na construo de uma futura sociedade de parceria.

    Como regentes das treze lunaes, as Treze Matriarcas protegem a Me Terra e todos os seresvivos, seus atributos individuais sendo as ddivas trazidas por elas Terra. O smbolo da Me Terra a Tartaruga e seu casco, formado de treze segmentos, simboliza o calendrio lunar.

    Conta a lenda que, no incio da no nosso planeta, havia abundncia de alimentos e igualdade entreos sexos e as raas. Mas, aos poucos, a ganncia pelo ouro levou competio e agresso, aviolncia resultante desviou a Terra de sua rbita, levando-a a cataclismos e mudanas climticas.Em conseqncia, para que houvesse a purificao necessria do planeta, esse primeiro mundo foidestrudo pelo fogo.

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    29/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 29

    bordado Matizes Bordados Dumont

    Assim, com o intuito de ajudar em um novo incio e restabelecer o equilbrio perdido, a Me Csmica,manifestada na Me Terra e na Vov Lua, deu humanidade um legado de amor, perdo ecompaixo, resguardado no corao das mulheres. Para isso, treze partes do Todo representando astreze lunaes de um ciclo solar e atributos de fora, beleza, poder e mistrio do Sagrado Feminino.Cada uma por si s e todas em conjunto, comearam a agir para devolver s mulheres a fora doamor e o blsamo do perdo e da compaixo que iriam redimir a humanidade. Essa promessa deperfeio e ascenso iria se manifestar em um novo mundo de paz e iluminao, quando os fi lhos daTerra teriam aprendido todas as lies e alcanado a sabedoria.

    Cada Matriarca detinha no seu corao o conhecimento e a viso e no seu ventre a capacidade degerar os sonhos. Na Terra, elas formaram um conselho chamado "A Casa da Tartaruga" e, quandovoltaram para o interior da Terra, deixaram em seu lugar treze crnios de cristal, contendo toda a

    sabedoria por elas alcanada. Por meio dos laos de sangue dos ciclos lunares, as Matriarcascriaram uma Irmandade que une todas as mulheres e visa a cura da Terra, comeando com a curadas pessoas. Cada uma das Matriarcas detm uma parte da verdade representada, simbolicamente,em uma das treze ancestrais, as mulheres atuais podem recuperar sua fora interior, desenvolverseus dons, realizar seus sonhos, compartilhar sua sabedoria e trabalhar em conjunto para curar ebeneficiar a humanidade e a Me Terra.

    Somente curando a si mesmas que as mulheres podero curar os outros e educar melhor asfuturas geraes, corrigindo, assim, os padres familiares corrompidos. Apenas honrando seuscorpos, suas mentes e suas necessidades emocionais, as mulheres tero condies de realizar seussonhos.

    Falando suas verdades e agindo com amor, as mulheres atuais podero contribuir para recriar a paze o respeito entre todos os seres, restabelecendo, assim, a harmonia e a igualdade originais, bemcomo o equilbrio na Terra.

    Meditao para entrar em contato com a Matriarca de qualquer lunao

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    30/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    7 Mdulo - 30

    bordado Matizes Bordados Dumont

    Transporte-se mentalmente para uma plancie longnqua. Ande devagar por entre os arbustos ediferente tipos de cactos, nascendo do cho pedregoso. O ar est calmo, o silncio quebrado apenaspelo canto de alguns pssaros. Veja o Sol se pondo, colorindo o cu nos mais variados tons dedourado e prpura.

    No meio dos arbustos voc enxerga uma construo rudimentar de adobe, meio enterrada no cho,lembrando o casco de uma tartaruga. Ao redor, h um crculo de treze ndias, algumas idosas, outrasjovens, vestidas com roupas e xales coloridos e enfeitadas com colares e pulseiras de prata,turquesa e coral. A mais idosa bate um tambor, as outras cantarolam uma cano que lhe parecefamiliar. Uma delas lhe faz sinal para que voc se aproxime e voc a segue respeitosamente.

    Sabendo que chegou Casa do Conselho, onde receber apoio e orientao, voc entra naestranha construo de teto, por uma abertura, descendo por uma escada rstica de madeira. Ao

    descer a escada, voc se percebe dentro de uma "Kiva", a cmara sagrada de iniciao dos povosnativos. As paredes esto decoradas com treze escudos, cada um ornado de maneira diferente, compenas, smbolos, conchas e fitas coloridas. O cho de terra batida est coberto de ervas cheirosas ealgumas esteiras de palha tranada. No fundo da "Kiva", voc v duas pequenas fogueiras, cujafumaa sai por duas aberturas no teto. Esses "fogos cerimoniais" representam os dois mundos - omaterial e o espiritual - e as aberturas representam os canais ou "antenas " que permitem apercepo dos planos sutis. A fumaa representa o caminho pelo qual os pedidos de auxlio e aspreces so encaminhados para o Grande Esprito.

    No centro, perto de um caldeiro, est sentada a Matriarca que voc veio procurar. Ajoelhe-se eexponha-lhe seu problema. Oua, ento, sua orientao sbia ecoando em sua mente. Pea, emseguida, que ela toque seu peito, acendendo assim o terceiro fogo, a chama amorosa de seu prprio

    corao. Sinta o calor de sua beno curando antigas feridas e dissolvendo todas as dores,enquanto a chama lhe devolve a coragem, a fora, a f e a esperana. Agradea Matriarca peladdiva que lhe devolveu seu dom inato e comprometa-se a restabelecer os vnculos com aIrmandade das mulheres, lembrando e revivendo a sabedoria ancestral.

    Despea-se e volte pelo mesmo caminho, tendo adquirido uma nova conscincia e a certeza de quejamais estar s, pois a Matriarca da Lunao de seu nascimento a apoiar e guiar sempre.

    x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

  • 7/26/2019 Anexos Sagrado Feminino

    31/31

    Formao em Danas Circulares Sagradas::Introduo e Instrumentalizao::

    The Damsel of Sanct Grael por Rossetti O Feminino: O Graal

    12. Canta e Dana Mulher

    Lembra mulher de quando teus ps descalos pisavam na terra molhada, depois da tempestade toesperada...

    Recorda quando teus ouvidos sabiam compreender as mensagens que o vento assoprava para o teuesprito...

    Inspira fundo e sente o aroma daquela poca onde viveste prxima aos frutos e s flores e tudoacontecia em tempo certo, sem apressamentos...

    Compreende que teu corpo e tua alma obedeciam voz da Grande Me, e tua vida flua plena desabedoria, pois tu representavas a Deusa, o sagrado feminino, e de ti resplandecia toda a

    generosidade...Recorda que conhecias bem os mistrios da lua, tua irm, e te guiavas por instintos e intuies,sonhavas com as respostas e cheia de confiana em teu corao guiava a tua vida e de tan tos

    outros por caminhos seguros...Tua natureza, sempre disposta a dar vida e dela cuidar, ligada por estreitos laos aos ritmos e ciclosdo universo, sabia cantar e danar, e assim espalhava alegria pelo norte, pelo sul, pelo leste e pelo

    oeste, sem perder o teu centro...Rosa dos ventos e dos tempos, hoje ests novamente aqui, mas no te esquea jamais de continuar

    a cumprir o teu sagrado papel...O Universo ainda carece do teu feminino...

    Ah! Ento canta e dana e o destino dos homens se cumprir!

    A t i D h id